Flora Fong Manchete PolíticaJiang Chaoyang, professor da Faculdade de Direito da UM O Governo precisa de aumentar a eficácia da governação electrónica e deveria implementar procedimentos disciplinares na avaliação ao desempenho dos principais cargos. É o que diz o especialista em Lei Básica e Administração, que considera que a Lei Sindical é necessária mas não tão urgente, como é a revisão da Lei do Trânsito Rodoviário [dropcap style=’circle’]É[/dropcap] especialista em Administração e Lei Básica. Como avalia as recentes reformas no Governo? É de salientar a reorganização de funções e o aumento de eficácia da Administração Pública. No relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) de 2016 do Chefe do Executivo, bem como nas políticas da Secretária para Administração e Justiça, são mencionadas estas duas tarefas. Em 2015, o Governo trabalhou muito na reorganização, incluindo [na reestruturação] de funções de 13 departamentos e eliminou cinco departamentos. Segundo o plano do Governo, é preciso reorganizar mais organismos, portanto acho que a situação é positiva e considero que estes trabalhos vão ser concluídos rapidamente. Em relação ao aumento de eficácia, o Governo está a esforçar-se em desenvolver a governação electrónica, incluindo internamente. Sobre o Governo electrónico alguns deputados já apresentaram interpelações criticando a insuficiência da eficácia até porque os cidadãos ainda precisam de se dirigir a muitos departamentos para pedir documentos simples. Esta questão tem a ver com a gestão de diversos departamentos. Actualmente, é verdade que para abrir um restaurante é preciso entregar documentos ao Corpo de Bombeiros e à Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental, entre outros, para pedir um licenciamento. É preciso uma revisão e “limpeza” dos actuais regimes de licenciamento, mas nas LAG deste ano isso não está mencionado. Acredito que é um plano futuro, do qual é preciso fazer um estudo aprofundado, mas onde se deve considerar simplificar e acelerar os processos de requerimento, por exemplo, quando o licenciamento envolver diversos departamentos, permitir ser feito por uma vez só. O Governo precisa fazer mais sobre esta questão. Um dos pontos principais das LAG de 2016 tem a ver com a revisão do regime do concurso centralizado. Tem alguma sugestão sobre a matéria? Existem problemas no actual concurso centralizado para ingresso na Função Pública, isso é verdade. Demora muito, pelo menos um ano desde a inscrição. Os procedimentos são complicados e os funcionários que querem ingressar podem não corresponder [às necessidades]. É preciso rever o regime e o modelo a ser pensado é correcto: diminuir o tempo, adicionar um exame que avalie as capacidades integradas e um profissional por departamento onde é provável a entrada de candidatos. A reforma do regime de avaliação do desempenho dos trabalhadores da Administração Pública é outro ponto principal. São três aspectos que estão a ser tidos em conta: a avaliação dos titulares dos principais cargos, a avaliação do desempenho de chefes e directores e a dos funcionários públicos em geral. Nesta reforma, a importância está no facto do Governo estar a pensar fazer com que a avaliação seja feita por uma terceira parte no pessoal da direcção. Isso é vantajoso e é mais justo e científico, fugindo também da actual medida, que é uma avaliação dependente de chefes ou directores. Contudo, a escolha de “uma terceira parte” é uma questão que levanta dúvidas: como vai ser? Uma empresa? Vale a pena pensar. Além disso, as queixas dos funcionários públicos aos chefes podem também ser apreciadas por essa terceira parte, em vez de serem tratadas pelos mesmos chefes, como acontece agora, o que é injusto. Tanto deputados, como residentes já têm vindo a pedir que seja criado um regime de responsabilização porque consideram que sempre que houve erros nunca ninguém foi responsabilizado, ou despedido. Concorda? Na minha opinião, já existe um regime de responsabilização política para os titulares dos principais cargos. Mas em Macau, raramente os governantes são despedidos por causa disso, porque existem regulamentos rigorosos sobre o despedimento no Estatuto dos Trabalhadores da Administração Pública. O mau desempenho dos governantes [é punido] com procedimentos disciplinares. Esta medida é diferente de Hong Kong e de outras regiões, onde os próprios governantes se demitem quando desempenham mal os cargos. O regime já entrou em vigor nos anos 80, mas não é fácil de alterá-lo, porque o contexto das leis é diferente. Mas acho que se pode adicionar um artigo no regime onde se defina melhor quais os actos ou erros cometidos por governantes que devem dar origem a procedimentos disciplinares. O projecto da Lei Sindical foi chumbado pela sétima vez na Assembleia Legislativa. Todos os projectos apresentados até agora foram através de deputados. Há uma falha neste caso? A Lei Sindical é uma lacuna no sistema legislativo de Macau, é óbvio, porque a Lei Básica regula a sua existência. Até ao momento, todos os projectos de lei foram apresentados por deputados, mas acho que se deveria primeiro fazer a sociedade saber o conteúdo da lei, fazer uma consulta pública e gerar o consenso. Só depois levar os deputados a votar na AL, de forma a que haja mais maturidade. Mas as consultas públicas normalmente são feitas pelo Governo, antes de se apresentar uma proposta de lei e o Executivo ainda não mostrou intenções de apresentar esta proposta da lei. Não é urgente legislar? Penso que agora não há grande urgência em criar a Lei Sindical, porque temos a Lei das Relações Laborais e existem outras propostas de lei ligadas à vida da população que são mais urgentes. Mas isso não significa que não seja necessária. O Conselho de Estado do Governo Central já autorizou a gestão de 85 quilómetros de águas marítimas. Considera necessário criar regulamentos e leis para cumprir esta jurisdição? É necessário. Existem várias razões. Primeiro, porque antes da transferência de soberania havia um regime do domínio público hídrico do território, mas esse foi revogado em 1999, porque Macau não tinha gestão sobre as águas. Agora, não existe nenhum regime ou lei neste âmbito, apenas umas leis sobre o domínio público hídrico, mas que não são claras. Além disso, isto levanta outras questões: como gerimos as águas? E a protecção ambiental? Como evitar a poluição das águas? E a economia marinha? Por exemplo, um residente pode tirar ostras do mar, é permitido? É preciso voltar a ter polícias marítimos? Toda a gestão está nas mãos de Macau e antigamente não estava, pelo que tem de haver legislação. É preciso muito tempo para criar essas leis? Acredito que sim. É preciso consideração e planeamento para criar um quadro de gestão, de segurança, de protecção ambiental e de economia marinha. Crê que o Governo possa concluir essa legislação ainda este ano? De certeza que não vai ser tão rápido, porque não podemos ter como referência as leis de Portugal, nem usar as leis do interior da China. O Comissariado contra a Corrupção criticou a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes em relação aos terrenos desocupados cujos 25 anos de concessão terminaram. Sugeriu melhorar o regime e esclarecer os critérios de imputabilidade. Como avalia a situação? Concordo com as sugestões do CCAC, porque de facto “terrenos desocupados” não é um termo jurídico, não há definição clara, é uma descrição de um fenómeno existente. Esta questão envolve a Lei de Terras, mas para mim, a DSSOPT precisa de reforçar a supervisão e instar ao aproveitamento dos terrenos, isso é que está claro na lei. O organismo não pode avisar sobre o aproveitamento de terrenos só quando o período de concessão já passou ou está quase a terminar. Tem de fazer com que a cinco, dez ou 15 anos da expiração isso seja feito. Caso exista um mecanismo que leve os concessionários a aproveitar esses terrenos, então evitam-se estes prejuízos para o interesse público, bem como se tornam as informações mais transparentes para o público. Quanto aos critérios de imputabilidade aos concessionários, seria muito melhor defini-los na lei, em vez de cada caso ser julgado pelos tribunais. Além das leis que falámos, quais as leis ou regulamentos cuja revisão é urgente? Além das leis que fazem parte do plano do Governo, tal como a revisão do Código Penal, do Estatuto dos Trabalhadores da Administração Pública e da legislação eleitoral, acho que a Lei do Trânsito Rodoviário também precisa de ser revista, porque a última revisão foi em 2007, já passaram nove anos e a situação do trânsito está cada vez mais complicada. Há cada vez mais carros mas as ruas continuam a ser estreitas, os acidentes de trânsito aumentaram muito, sobretudo com excesso de velocidade, droga e álcool, mas os condutores são apenas multados, poucos deles sofreram punições como a retirada da carta de condução. É preciso subir as sanções.
Isabel Castro PolíticaOs hipócritas 1. [dropcap style=’circle’]I[/dropcap]sto era tudo muito mais fácil se não houvesse hipocrisia política – pelo menos, ficávamos a saber com o que é que podemos contar. Mas não: a política é hipócrita e de cada vez que se fala do assunto, que não é novo, vem a ladainha do costume. Eles gostam muito de nós, eles todos de nós todos, eles não mudaram as regras, não há qualquer alteração em relação ao passado, continua tudo na mesma, nós é que andamos a sonhar com uma nova situação, com dificuldades adicionais que só existem na nossa imaginação. Mentira. Nos últimos anos, tem sido cada vez mais difícil contratar trabalhadores em Portugal, porque o processo de autorização de residência passou a ser, em muitos casos, uma impossibilidade. Por várias razões. O quadro mais optimista é aquele em que a residência é autorizada, mas a demora é tão grande que – a não ser que o futuro contratado se encontre completamente desesperado ou queira muito, mas mesmo muito, vir para Macau – quando os documentos estão prontos o candidato ao cargo já desistiu. No outro cenário, a autorização de residência não chega a ser dada, uma recusa que, frequentes vezes, é feita com fundamentos nada éticos e, nalguns casos, muito pouco em conformidade com a lei. Um dos argumentos para negar a residência a portugueses é o salário que vêm para cá ganhar. Entendem os responsáveis pela matéria que com menos de 25 mil patacas não se vive, não se vive nada bem, e eu fico sensibilizada com as autoridades da RAEM, que querem que os portugueses que se expatriam estejam muito bem na vida, não querem que de Macau sigam cartas de gente remediada que escreve à família a lamentar a vã emigração. Sucede que esta exigência de ordem salarial não bate certo com nada, não tem rigorosamente nada que ver com a realidade de Macau. Ainda esta semana, uma entidade governamental contava que, de acordo com um inquérito feito aos recém-licenciados de Macau, muitos deles entram no mundo do trabalho a ganhar entre 10 mil e 14 mil patacas. Não consta que tenham morrido de fome. Poder-me-ão dizer que são miúdos que contam com o apoio da família – argumento válido –, mas terão dificuldade em justificar por que razão não se exigem condições salariais melhores para os trabalhadores não-residentes que, ao contrário daqueles a quem é concedida a residência, estão impedidos de acumular trabalhos e remunerações, condenados a viver com as 3500 patacas mensais que a lei dita, se o patrão não for mais generoso. O requisito salarial é uma hipocrisia. Candidatos a trabalho especializado em Macau, por mais cândidos, puros e inexperientes que possam ser, têm noção para onde vêm, sabem do custo das coisas, vão à Internet, fazem amigos no Facebook e não fazem as malas ao engano. Há áreas em que é impossível a sobrevivência da actividade sem a contratação a Portugal. O jornalismo é uma delas – e é o sector que conheço bem, razão pela qual o uso aqui como exemplo. Não há órgão de comunicação social em língua portuguesa que possa sobreviver sem jornalistas de língua materna portuguesa. Sucede que, ao contrário do que algumas autoridades de Macau possam pensar, o jornalismo – aqui e em qualquer parte do mundo – é uma actividade que não dá para enriquecer. A comunicação social é um negócio pouco rentável, quer para os investidores, quer para quem lá trabalha. A hora de um jornalista vale pouco. É assim. Em Macau, o modelo empresarial dos jornais é especial e há razões de ordem política para a sobrevivência dos media em português, que se faz em moldes muito específicos, sem um mercado que os sustente e sem uma ideia de mecenato em defesa da língua portuguesa que, por essa diáspora fora, é comum encontrar. Os jornais existem com redacções que cabem num carro e é assim que se fazem. Não vendem fichas, nem lavam ouro e diamantes. São empresas pequenas que vivem com as mesmas dificuldades de muitas outras empresas pequenas, com a diferença de que não podem ir contratar às Filipinas por 3500 patacas e os recém-licenciados de Macau, a 10 mil por mês, não lhes resolvem o problema. Um dia destes, com esta história de tornar difícil a vida aos portugueses que querem vir para trabalhar para Macau, deixa de haver gente em áreas específicas, porque uns reformam-se, outros cansam-se, outros desistem de cá estar e os outros, os outros que os deveriam substituir, estão à espera num aeroporto a Ocidente de uma autorização de residência que jamais chegará. Apesar de nada ter mudado e sermos nós, os que cá estão há mais tempo, que andamos a imaginar dificuldades. E hipocrisias. 2. Ainda sobre o trabalho e o direito ao trabalho. Numa cidade em que há tanta preocupação com o que ganham ou deixam de ganhar os emigrantes portugueses, chumba-se – mais uma vez – um projecto de lei sindical. A preocupação é só mesmo de alguns e destina-se apenas a meia dúzia. De nada adianta este tipo de legislação – um bicho-papão para o grande empresariado local – estar previsto na Lei Básica. Não vale a pena gastar linhas neste jornal a tentar analisar o que ali se ouviu, o que foi dito por alguns deputados, os suspeitos do costume. Há coisas em que Macau me envergonha e de que Macau devia ter vergonha.
Leonor Sá Machado PerfilRostam Neuwirth, professor de Direito na UM [dropcap style=’circle’]R[/dropcap]aro é saber de quem tenha memórias para lá dos seus cinco anos de idade. Foi na Universidade de Macau que encontrámos Rostam Neuwirth, professor de Direito com especial interesse por legislação internacional e económica. A primeira memória que o académico tem de Macau remonta à sua infância, mais precisamente de quando tinha quatro anos de idade e era criança de brincar no chão, com pequenos carros “Made in Macau”. No entanto, só mais tarde, quando veio à China visitar a sua irmã, que por aqui tinha arranjado um emprego em 1986, deu com as maravilhas da Ásia. “Voámos via Hong Kong e vim a Macau nessa altura. Era uma cidade completamente diferente, mas a diferença que senti de vir da Europa e chegar à Ásia foi profunda”, conta. Rostam viajava numa altura em que a China estava relativamente fechada ao mundo. No entanto, conseguiram, “sem guias”, fazer grande parte do país: da experiência fizeram parte os pais e a irmã. O regresso para a sua terra-natal, a Áustria, foi feita via Transiberiano, uma das linhas ferroviárias mais conhecidas e cobiçadas do mundo. Esta liga a China a Berlim, passando pela Mongólia e Rússia. “Esta foi a primeira memória que criei da China”, sublinha. Volta ao mundo em 30 anos De Viena partiu para um programa de Direito em França, saltando para a Bélgica e Venezuela em trabalho, mas as coisas não ficaram por aqui. “Entretanto licenciei-me e não consegui ficar parado”, continua. Dali mudou-se para o Canadá, o “que teve bastante influência” no seu trabalho, mas foi em Itália que fez o doutoramento. “Depois disso trabalhei para o governo austríaco, mas como já sabia que o contrato ia acabar, comecei a procurar trabalho e o próximo destino foi a Índia, onde leccionei em duas universidades durante um ano”, relata o professor da UM. Foi já deste lado do mundo que começou a crescer o bichinho pelo Oriente, tendo Rostam voltado a procurar trabalho. É em 2006 que surge então a oportunidade de vir para Macau, devido à proximidade do Direito europeu e que aqui vigora. Em grande parte, o académico quis também experienciar Macau devido ao facto de também a RAEM ser território da China, que por sua vez, estava a ter um crescimento anormalmente positivo por volta dessa altura. Até à crise das bolsas mundiais, em 2008. Faz agora oito anos que o austríaco faz vida na cidade, onde até já casou e teve dois filhos. Todos vivem confortavelmente nas instalações de alojamento para professores da UM, na Ilha da Montanha. A experiência, diz, é certamente diferente de viver no centro da península, já que ali imperam os espaços verdes, a ausência de buzinas, de fumo de restaurantes e tubos de escape. Enfim, a calmaria no centro do caos. Os filhos, que não têm mais de seis anos de idade, lidam agora com quatro diferentes línguas em casa, mas o Alemão não convence os pequenos. “Eu tento falar com o mais velho em Alemão e sei que percebe tudo, mas às vezes olha para mim como se eu fosse o único a falar uma língua esquisita porque não ouve alemão em mais lado nenhum”, brinca o professor. Ambos sabem já falar Inglês, Cantonês e Mandarim e a ideia é que assim se mantenha a tradição. Talvez até possa ser poliglotas, quem sabe. Economias criativas “Macau tem exactamente o benefício de ser pequeno. Aqui, é possível observar e tomar nota das várias diferenças e, numa perspectiva mais abrangente, de apreender a economia num sentido macro, porque as distâncias são mínimas”, continua. Rostam está presentemente a estudar a relação entre o Direito e oximoros – paradoxos na linguagem – para, em última instância, compreender se em determinados casos o culpado pode também ser inocente. “É muito interessante olhar para Macau do ponto de vista académico”, confessa. Numa perspectiva pessoal, o professor diz gostar da cidade, mas não só do ponto de vista investigativo. “Toda esta combinação entre Ocidente e Oriente e a forma como o pensamento pode ser diferente de cultura para cultura. Tudo isto é interessante”, disse. Austríaco de gema, confessa por vezes ter saudades da neve e dos espaços verdes, onde frequentemente fazia caminhadas pelas montanhas. A falta de espaços verdes e paisagens de horizonte a perder de vista é, ressalva, uma falha a apontar. No entanto, é o Cantonês que mais dores de cabeça dá a Rostam. Pai de filhos locais, afasta a ideia de ser difícil viver por estes lados, afirmando até que gosta bastante da terra. É que Macau “tem um magnetismo inexplicável”.
Hoje Macau BrevesEscolas chinesas encerram face a onda de frio histórica [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] China ordenou ontem o encerramento de escolas em várias cidades do sul do país, face à chegada de uma onda fria que atingirá várias regiões, provocando temperaturas mínimas históricas e nevões. O Centro Meteorológico Nacional da China emitiu ontem o alerta azul (o nível menos grave), face à alta possibilidade de neve e temperaturas até 14 graus negativos, nas regiões próximas ao rio Yangtze. A previsão oficial é que cidades como Xangai ou Changsha alcancem até sábado as temperaturas mais baixas dos últimos 30 anos, enquanto em Pequim os termómetros deverão atingir os 17 graus negativos, o mais baixo em quase três décadas. Na província de Zhejiang, na costa leste da China, as autoridades suspenderam as aulas face à possibilidade de ocorrência de um nevão, informou o jornal oficial China Daily.
Hoje Macau BrevesEI destrói o mosteiro cristão mais antigo do Iraque O EI (Estado Islâmico) destruiu esta quinta-feira o mosteiro cristão de Santo Elias de Mossul, o mais antigo do Iraque. Resistiu 1400 anos. A destruição foi confirmada por imagens de satélite da Associated Press. O local era denominado de Dair Mar Elia, nome do monge cristão assírio Santo Elias, que o construiu entre os anos de 582 e 590. Durante 1.400 anos, o mosteiro sobreviveu a ataques da natureza e humanos na terceira maior cidade do Iraque. Desde a instauração do califado do Estado Islâmico no país, o templo passou a ser frequentado, sobretudo, por tropas norte-americanas, que voltaram a realizar manobras militares na região em 2015, com autorização do governo iraquiano. Na entrada da capela do mosteiro estão gravadas as letras gregas «chi» e «rho», representando as duas primeiras letras do nome de Cristo. O Chi Rho é uma das primeiras formas de cristograma, e é usado por alguns cristãos, sendo formado pela sobreposição das letras chi e ró ( ΧΡ ) de tal forma a produzir o monograma. «Não consigo descrever a minha tristeza. A nossa história cristã em Mossul está a ser barbaramente destruída. Nós vemos isto como uma tentativa de nos expulsar do Iraque, eliminando a nossa existência nesta terra», disse ao Haaretz o reverendo Paul Thabit Habib, de Mossul, que vive em exílio na cidade de Irbil. O grupo extremista, que controla grandes porções de territórios do Iraque e da Síria, já demoliu mais de 100 edifícios históricos e religiosos, incluindo túmulos, igrejas e até mesquitas nos dois países. Museus e bibliotecas foram saqueadas, livros foram queimados e obras de arte foram destruídas ou vendidas ilegalmente. Um dos casos mais famosos é a pérola arqueológica de Palmira.
Tomás Chio PolíticaKaifong pedem revisão à constituição de Conselhos Consultivos [dropcap style=’circle’]C[/dropcap]han Ka Leong, chefe da Comissão de Assuntos Sociais da União Geral das Associações dos Moradores de Macau (Kaifong), pede que sejam melhorados os regimes para a constituição de Conselhos Consultivos. O responsável aponta, como tem vindo a ser defendido por deputados, que continua a haver casos em que uma pessoa detém diversos cargos em diferentes Conselhos e diz que se mantém a falta de transparência. Ao jornal Ou Mun, Chan Ka Leong defendeu que “o número de Conselhos Consultivos aumentou em seis vezes nos últimos 15 anos” e que “as pessoas mais conhecidos desdobram-se em cargos em Conselhos de várias áreas”. Para o responsável, isto “influencia a diversidade consultiva de Macau e leva a que os residentes comecem a desacreditar nos resultados dos estudos ou das investigações feitos por estes Conselhos, porque são feitos pelas mesmas pessoas”. Chan Ka Leong sugere que o Governo reveja o Regime que cria os Conselhos Consultivos e ajuste o mandato dos membros até um máximo de dois ou três anos, para que cada Conselho tenha o seu profissional. Tudo como dantes Recentemente, o Governo assegurou que iria rever esta questão, mas até agora ainda não houve quaisquer novidades. Chan Ka Leong acusa, por isso, o Executivo de falta de transparência porque diz não ser possível perceber se as sugestões feitas por deputados e associações são ponderadas pelo Governo. “Assim, os residentes terão a ideia que o Governo aceita todas as sugestões, mas não as aplica.” O responsável queixa-se ainda de não serem publicadas informações sobre os trabalhos dos Conselhos Consultivo e insta a que isso seja feito através de um sistema, não só para que os trabalhos sejam alvo de reacções da sociedade, como para que também se possam apontar responsabilidades à elaboração de determinados estudos ou falta deles. Tudo, diz, para que a sociedade possa testemunhar que os trabalhos dos Conselhos e do Governo não são apenas “um show político”.
Filipa Araújo PolíticaEncerramento de fronteira do Porto Interior incomoda deputados O encerramento da fronteira de Wanchai que fazia a ligação, de barco, com o Porto Interior incomodou alguns deputados que querem que o Governo apresente justificações e soluções para a questão e criticam a falta de comunicação entre os dois lados. Com a saturação das outras fronteiras, defendem, é preciso manter esta hipótese em aberto [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]semana começou com as autoridades de Zhuhai a anunciar o encerramento do posto fronteiriço de Wanchai, também conhecido por Ilha da Lapa, terminando com as rotas marítimas que diariamente transportavam centenas de utentes, residentes e turistas. As autoridades de Macau anunciaram que receberam um anúncio por parte da região vizinha justificando o encerramento devia a problemas de segurança, mas os deputados não se mostram satisfeitos com a “impotência” do lado de cá. Mak Soi Kun, deputado, considerou a postura das autoridades de Macau deficitárias, algo que, diz, mostra que as partes envolvidas, Zhuhai e Macau, não estão a comunicar como seria suposto. Citando o Acordo-Quadro de Cooperação Guangdong-Macau, o deputado indica que o “encerramento do posto fronteiriço, por ser um assunto relevante, devia, supostamente, ser anunciado e justificado”. “Porque é que só um dia antes da suspensão do funcionamento do posto fronteiriço da Ilha da Lapa é que foi divulgada a respectiva notícia e os cidadãos e turistas apenas ficaram a saber através do aviso afixado no posto?”, indagou durante a sua intervenção em sessão de plenário na Assembleia Legislativa (AL). Para o deputado, este encerramento veio trazer “enormes inconvenientes” tanto a cidadãos como turistas, mas mais que isso dá a entender que o Governo não estaria inteirado da situação. “Será que existem problemas no próprio mecanismo de comunicação ou há outras razões? Será este um mecanismo apropriado de comunicação e cooperação entre Zhuhai e Macau?”, questionou. Mak Soi Kun considera que é essencial que o Governo assuma o problema e tome medidas para resolver a situação, logo agora, tão perto do Ano Novo Chinês, altura de maior entrada de turistas. Menos que é mais “O Porto Interior é a fronteira que fica mais perto da zona central da cidade. O reforço das suas funções e aperfeiçoamento das instalações periféricas e de transporte pode contribuir para reduzir a utilização dos transportes públicos, por exemplo, um turista que chegue pelo Porto Interior pode deslocar-se a e pé”, começou por argumentar Kou Hoi In, durante a sua intervenção, apoiada também pelos deputados José Chui Sai Peng e Cheang Chi Keong. Apesar da taxa de utilização desta fronteira ser a mais baixa de todas as outras disponíveis, tal como as Portas do Cerco ou a Flor de Lótus, representando apenas 0,47% do número total, é mais rápida, demorando-se apenas três a cinco minutos para fazer a travessia. Os deputados assumem que existem dois problemas que fazem com que aquele posto fronteiriço não seja mais atractivo: os horários dos barcos e a insuficiência de equipamentos. E, mais uma vez, pedem a Macau que faça algo. “Apelamos novamente às autoridades de Macau para acelerar as conversações com os serviços competentes do interior da China, no sentido de melhorar, quanto antes, as actuais instalações do posto fronteiriço de Wanchai, para o seu aproveitamento adequado, assim como para reabrir esse posto com um horário mais prolongado, sem intervalo e com mais carreiras”, argumentaram. Os deputados apelam ainda a que o Governo de Macau aperfeiçoe as comunicações com as autoridades para a melhor gestão do serviço.
Leonor Sá Machado SociedadeDesvalorização do dólar de Hong Kong não preocupa economistas locais O dólar de Hong Kong apresentou ontem os valores mais baixos desde 2007, mas economistas locais afastam receios. Mostram, no entanto, reservas quanto à saúde da economia chinesa e das RAEs [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]professor e economista Bruce Hall desvaloriza a queda do dólar de Hong Kong que nos últimos cinco dias tem feito tremer bolsas e investidores. Hall fala, até, de “possíveis consequências positivas” para a RAEM, como a promoção de turismo estrangeiro, agora que compensa converter patacas. “Não me parece que seja razão para alarme, até porque ficaria receoso era se o dólar norte-americano aumentasse rapidamente, principalmente contra o reminbi”, acrescenta. No entanto, faz previsões negras para o mercado chinês que, por sua vez, afectarão todos os outros. “A China vai continuar a sentir-se pressionada a reduzir as suas taxas de conversão para maximizar as exportações, mas isto vai implicar negativamente o valor do reminbi face a moedas como a pataca”, defende. Ao HM, o académico da Universidade de Macau explicou que a presente queda do HKD é pouco expressiva face ao que se está a passar na China. O HKD caiu 0,79% nos últimos cinco dias, de acordo com o índice Hang Seng (bolsa de Hong Kong), pelo que 1 dólar norte-americano valia ontem 7,8 HKD em vez de valer os 7,76 HKD do passado dia 13. Questionado sobre esta tendência da moeda, o economista local Albano Martins não se mostra preocupado, já que, diz, “está dentro do limite” estabelecido na década de 80. “Não me parece que vá haver grande intervenção [da RAEHK]”, acrescentou. O valor ontem registado será o mais baixo desde 2007, ano que antecedeu uma das mais profundas crises económicas do milénio. No entanto, Albano Martins olha para os números como estando “dentro do limite” do aceitável, não sendo assim necessário amparar a queda. A descida do HKD é atribuída à subida das taxas de juro nos EUA e à crise mundial. “Os EUA estão a implementar medidas restritivas como subir as taxas de juro, para fazer com que as empresas e pessoas paguem mais para importar crédito, numa altura em que Macau está em recessão e Hong Kong também não está numa fase famosa”, lembra Albano Martins. Soluções à vista Martins explica que, no caso da reserva financeira vizinha ter de largar os cordões à bolsa e ceder USD, tal não será um problema, uma vez que “Hong Kong tem biliões na sua reserva”. O cenário de um apoio não está colocado de parte: “Se a Autoridade Monetária de Hong Kong entender que esse limite mínimo do valor do HKD está a querer ser ultrapassado, intervirá comprando USD ou actuando no sentido de evitar a especulação pela subida das taxas de juro”, explica o economista. Publicações como a Bloomberg ou o Wall Street Journal (WSJ) tinham ontem títulos que indicavam um futuro negro baseado na descida do HKD. Para Ira Iosebashvili e Carolyn Cui do WSJ, a presente crise da moeda chinesa chegou, na passada terça, a um limite e tal é “o mais recente sinal de que os problemas da economia chinesa estão agora a contaminar” os mercados mundiais. “Alguns investidores acreditam que Hong Kong vai ser forçada a abandonar a relação cambial que se mantém há 30 anos”, escrevem. Já Albano Martins tem vindo a defender que a pataca e o HKD deviam passar a estar indexados ao reminbi, dada a proximidade do país e as estruturas social e económica que imperam nos três locais. No entanto, o problema mantém-se: a moeda chinesa não é ainda convertível, impossibilitando qualquer indexação. O poder que se esvai Hall também apoia a tese do economista português, embora justifique a sua despreocupação com outros factores. Um deles é a queda – já visível – da economia chinesa. O enorme fomento ao investimento e a dívida são dois dos males. “A China já esgotou todo o potencial do modelo de negócios que implementou: o Governo Central percebeu que a procura, por parte da Europa e dos EUA, tenderia a diminuir e era preciso ir buscar capital a algum lado.” As pessoas, diz, deixaram de “querer comprar o bom e barato da China”, pelo que o país teve que se virar para onde pôde: mercados de investimentos, com enfoque em projectos de desenvolvimento. “Como consequência, temos hoje cidades e aeroportos-fantasma, com a China a somar o mesmo que cinco Nova Iorques em apartamentos construídos, mas abandonados”, repara.
Leonor Sá Machado PolíticaAlimentos | China pede mais fiscalização e qualidade de produtos [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Ministério do Comércio da China pediu ao Governo local que seja feita uma fiscalização mais apertada à qualidade dos produtos alimentares importados. A sugestão teve lugar durante a visita do director do departamento dos Assuntos de Taiwan, Hong Kong e Macau do Ministério do Comércio chinês, Sun Tong. O responsável pede ainda uma “intensificação da coordenação dos serviços prestados” e o arranque de um “plano de contingência” e de ligação entre departamentos no sentido de assegurar que a quadra festiva do Ano Novo Chinês – no início de Fevereiro – decorre sem problemas. “Durante a estadia na cidade, a comitiva reuniu-se com o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) e as empresas de agenciamento dos respectivos produtos locais, tendo ainda realizado uma visita a mercados no sentido de se inteirar in loco da situação do abastecimento dos ditos produtos”, informa o Ministério em comunicado. A visita teve o objectivo de esclarecer o departamento quanto ao poder de Macau em satisfazer as necessidades da população e turistas que nessa altura estarão na região. Em causa está a importação de produtos alimentares como farinha, legumes, cereais, ovos, leite, água potável, entre outros. “Apenas os produtos provenientes dos viveiros de criação de animais e das hortas que tenham sido registados nas autoridades de inspecção e quarentena estatais são permitidos ser exportados para Macau”, define o Ministério. Além disso, é sublinhado o “cumprimento escrupuloso” das normas, que até aqui tem ditado a forma de fazer comércio em Macau. No ano passado, vieram da China 110 mil porcos, 1800 vacas e 2,6 milhões de galinhas. Os números, avança o mesmo Ministério, “corresponderam a 100% da procura” no território.
Filipa Araújo Manchete PolíticaLei Sindical reprovada por 18 deputados Eles tentam, mas não conseguem. O projecto de Lei Sindical continua a não agradar aos deputados. Momento inoportuno, complicações para o investimento, pressões – muitas foram as justificações dadas para reprovarem pela sétima vez o diploma [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]inda não foi desta que o projecto relativo à Lei Sindical convenceu a Assembleia Legislativa (AL). Esta é a sétima vez que um projecto sobre este assunto é chumbado pelos deputados e desta vez não foi excepção: da responsabilidade dos deputados Kwan Tsui Hang, Ella Lei e Lam Heong Sang, o projecto reuniu 12 votos a favor, 18 contra e uma abstenção do deputado Leonel Alves. O estado da economia e, para alguns deputados, o facto dos direitos dos trabalhadores “já estarem” salvaguardados deram as justificações para mais um chumbo. Muitas foram as vozes que se elevaram contra a existência dessa lei, recorrendo a todas as razões possíveis. O deputado Tsui Wai Kwan, por exemplo, afirmou que a esta “lei vai afectar o investimento” numa altura em que Macau passa por uma “situação económica” frágil. O deputado nomeado pelo Chefe do Executivo acredita que regulamentar esta lei “em nada contribui para a promoção do trabalho”, tendo em conta que o que Macau precisa neste momento é de investimentos. “Se aprovarmos esta lei vamos assustar [os investidores]”, apontou. Não sendo o momento “oportuno” para os deputados – justificação que tem sido, aliás, a principal para a reprovação de projectos anteriores – esta lei vem ainda mexer, defendeu Tsui Wai Kwan, com a “relação patronal e laboral” que vive agora “uma fase harmoniosa”. “Não é a altura certa”, rematou. Por sua vez, o deputado Ma Chi Seng defendeu que esta lei deve surgir de uma vontade tanto do Governo como das partes interessadas. “Este projecto não convém ser apresentado só por uma das partes”, indicou o deputado nomeado, referindo-se ao facto dos deputados que apresentaram a proposta serem do sector Operário. O deputado sublinhou a necessidade desta ser uma legislação da vontade de todos. Doidos à mesa Com um discurso muito polémico e provocador esteve o deputado Fong Chi Keong que chegou a perguntar em plena sessão plenária se os deputados que apresentaram o projecto estavam “doidos”, “malucos” ou “tolos”. Começando o seu discurso com um “espero que esta lei seja aprovada” – mas não para já – Fong Chi Keong criticou severamente o projecto em causa. “Todo o conteúdo deste projecto… qualquer pessoa inteligente irá discordar destes artigos”, apontou. Referindo vários problemas, desde a dispensa de trabalho para participarem em reuniões sindicais, por exemplo, o deputado defendeu que esta não é altura para aprovar a lei. “Em Macau os trabalhadores nunca foram descriminados. Nunca foram tratados de forma injusta. Isto é uma realidade, verdade. É verídico”, apontou. Não existe, para o deputado, necessidade de recorrer a sindicatos quando o “Governo consegue resolver” os problemas. “Ele [o Governo] não é inútil”, frisou. Prejudicar outros Num discurso que parecia de apoio, a deputada Melinda Chan mostrou várias preocupações quanto à interferência que o projecto de lei poderá ter para com as “mais de seis mil associações do território”. “Isto poderá afectar os interesses das associações, não podemos afectar os interesses das outras associações que estão a funcionar há muito tempo. Também não podemos obrigar as associações a construir uniões”, refutou. Gabriel Tong também se mostrou muito reticente ao projecto apresentado pelos três deputados. “Acho que é preciso ter em conta a realidade de Macau. A vida das associações… é preciso ver. O que é que deve ser melhorado? Esta é a grande pergunta”, apontava, frisando que na sua opinião o projecto apresentado não era maduro o suficiente para aprovação. “É um bom direito, mas ainda precisa de maturidade, acho que há muitas questões para seguir para a especialidade”, apontou. O autor de cinco projectos sobre o assunto, José Pereira Coutinho, não se mostrou muito convencido. “Este projecto tem coisas diferentes daqueles que já apresentei”, disse em plenário, aplaudindo, ainda assim, a iniciativa e mostrando-se completamente a favor. “Claro que aprovo, apesar do conteúdo ser diferente. Este é um passo dado para conseguir cumprir o dever e responsabilidade da Lei Básica”, disse, referindo-se ao artigo 27, que determina a liberdade dos residentes de Macau em “organizar e participar em associações sindicais e em greves”. “Somos legisladores, temos essa responsabilidade”, frisou. O deputado Au Kam San assumiu que esta é uma lei que deve ser regulada e que a resposta ao momento certo nunca será encontrada. “Quando é que podemos avançar com a lei, então?”, indagou o hemiciclo. Au Kam San admitiu que nenhum projecto é perfeito na sua primeira apresentação, por isso é que depois existe a avaliação na especialidade. “Podemos discutir para melhorar a lei, para cuidar dos direitos dos trabalhadores e empregadores”, referiu. Ng Kuok Cheong, deputado, foi ainda mais longe e disse que se, caso a lei não fosse aprovada – como não foi –, o Governo deveria assumir a sua responsabilidade e avançar com uma proposta, cumprindo o que a própria Lei Básica indica. “Isto é lamentável”, apontou, referindo ao desinteresse claro por parte de alguns deputados. O Governo já disse ao HM, recorde-se, que está “aberto” à possibilidade, mas que ainda se encontra a estudar a ideia. Votos a favor: Ng Kuok Cheong, Kwan Tsui Hang, Ho Ion Sang, Leong Veng Chai, Si Ka Lon, Ella Lei, Song Pek Kei, Au Kam San, José Pereira Coutinho, Lam Heong Sang, Chan Meng Kam e Wong Kit Cheong Votos contra: Zheng Anting, Ma Chi Seng, Lau Veng Seng, Sio Chi Wai, Mak Soi Kun, Melinda Chan, Gabriel Tong, Chan Iek Lap, Tsui Wai Kwan, Chan Chak Mo, Cheong Chi Keong, Vong Hin Fai, José Chui Sai Peng, Angela Leong, Vitor Cheong, Fong Chi Keong e Chui Sai Cheong O que disseram os deputados “Será mesmo necessário legislar? Já passaram tantos anos, não sei se isto é um vazio legal, porque se fosse já tínhamos sido pressionados pelo Governo Central. Será que estamos a violar a Lei Básica? Se tivéssemos, o país dizia alguma coisa”, Chan Chak Mo “Não são só os trabalhadores que levam uma vida árdua, os patrões também”, Fong Chi Keong “Se a economia já esteve em alta e não se produziu esta lei, então só posso chegar à conclusão que se deve à estrutura da AL, onde a maioria dos deputados não foi escolhido por sufrágio universal e, por isso, não apoia [a lei]. Por outro lado, porque é que o Governo nunca apresentou a proposta de Lei Sindical? Porque não está a assumir a sua responsabilidade”, Ng Kuok Cheong “Noutras jurisdições nota-se que a Lei Sindical estimula o crescimento económico. Estão todos a olhar para esta lei como se fosse um mostrengo. Um sindicato não é uma arma”, Lam Heong Sang, um dos promotores do projecto “Disse que há empregados que se suicidam ou ameaçam suicidar-se por causa dos salários? Os empregadores também se suicidam por causa da falta de dinheiro. Deve ser o Governo a ser o interlocutor [entre os conflitos laborais]. Há sindicatos que são seitas, como no Japão”, Tsui Wai Kwan “Associações e sindicatos são coisas diferentes, as regras são diferentes e há leis diferentes. Não deve haver comparações entre as duas figuras, se não é perigoso. Podia ser que, com a Lei Sindical, os trabalhadores a quem são devidos salários deixassem de ter de ir ao Gabinete de Ligação do Governo Central”, Leong Veng Chai “A lei não resolve o problema, mas a Lei Sindical só vai dar mais trabalho à Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais e ao Conselho de Concertação Social”, Chan Chak Mo
Filipa Araújo Manchete PolíticaDroga | Deputados aprovam aumento de penas, mas deixam alertas Está aprovada na generalidade a revisão que vai fazer subir as penas para o consumo e tráfico de droga e para implementar testes de urina como prova. Gabriel Tong absteve-se, Leonel Alves pediu atenção às disparidades das penas [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]revisão à Lei de Proibição da Produção, do Tráfico e do Consumo Ilícitos de Estupefacientes e de Substâncias Psicotrópicas foi, sem surpresas, aprovada na generalidade com uma única abstenção do deputado Gabriel Tong. O diploma agrava as penas do consumo até um ano e do tráfico até 15 anos, introduzindo testes de urina como método de prova, mas deixou alguns deputados de pé atrás. “Abstive-me porque entendo que o tratamento para as situações [do consumo de droga] não é o ideal, porque limita-se a aumentar apenas a moldura penal. Parece-me que as penas são demasiado elevadas”, defendeu Tong, durante a declaração de voto, em sessão plenária da Assembleia Legislativa (AL), ontem, ainda que assegurasse concordar com as restantes normas. Em discussão no plenário esteve a recolha de urina, os locais de investigação e a introdução da definição da quantidade – a revisão propõe que caso alguém tenha em sua posse cinco vezes mais do que a quantidade do mapa de referência. O deputado Leonel Alves apontou algumas questões relativas à definição de artigos, mas, no mesmo registo pediu uma maior reflexão quanto ao que diz ser a disparidades das penas. “Na especialidade é preciso reflectir com mais ponderação. O artigo diz que o mero consumo dá azo a uma pena de prisão de três meses a um ano, mas o consumidor com [quantidade superior a] cinco vezes, incorrerá numa pena de cinco a 15 anos. Uma milésima a mais [origina esta pena]. Acho que há uma discrepância muito grande”, apontou. Abertos à discussão Sónia Chan, Secretária para Administração e Justiça, garantiu abertura para um maior diálogo em sede de análise na especialidade. Em explicações, indicou que a revisão tem como propósito aumentar as penas para obrigar os consumidores a recorrerem ao processo de desintoxicação. “Agora a pena é curta e poucos optam pela suspensão e vão para a prisão”, apontou, adiantando ainda que a definição de cinco doses diárias poderá resolver uma das maiores dificuldades desta lei, que é como definir consumo de tráfico. Para os Serviços dos Assuntos de Justiça este método foi introduzido porque muitos traficantes estavam a conseguir ludibriar as autoridades e receber uma pena mais leve. Recorde-se que em causa está a elevação do limite mínimo de penas do consumo de três meses para três meses a um ano e do crime de tráfico de droga de três para cinco anos, mas mantendo o máximo de 15 anos. O crime de detenção indevida de utensílios ou equipamentos passa a ser considerado como o crime de consumo.
Fernando Eloy VozesMacaios, uni-vos! Um manifesto [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]u sou macaio. Senão pergunto-me: alguém no seu perfeito juízo, estando ou sendo da terra, se pretender dar-se ao respeito poderá ser outra coisa que não macaio? Macaio tem muito mais “tchan” do que macaense, macaísta ou macaês. É bem melhor que português ou mesmo chinês. Não se compara com norueguês e muito menos com tailandês. Macaio rima com malaio e só alguém de mente “canhês” pensará em meter-se com um malaio. Não se brinca com um malaio, como não se brinca com um macaio! O macaio dá-se ao respeito. O macaio não é parvo. Catraio talvez, mas não é parvo. O macaio olha de soslaio com um riso “mambaio”. Como macaio eu atraio, falo com o aio e com o catraio e depois saio. Como macaio eu vaio de Maio até Maio até que me dê o badagaio. Macaio rima com paraguaio. Para quê? Para guaio! Como macaio não sou lacaio mas também não desmaio. Macaio rima com paio e viver sem paio não é viver, c’um raio! Só como macaio rimo com paio. Como macaio eu ensaio e reensaio, e depois sobressaio. Por isso, somos todos macaios. Que me interessa a mim de onde vens ou para onde vais se aqui vives e aqui respiras, aqui te agasalhas e aqui procrias, se aqui comes e aqui amas, se aqui esmoreces e aqui rejuvenesces, se aqui estás, é tudo o que me interessa. É preciso ser macaio para sentir Macau. Quem não sente… “c’um raio!” Não é filho de bom macaio. O macaio é da terra, adoptou a terra, é daqui, está aqui. Calcorreia da San Ma Lo à Areia Preta, de Hac Sa ao Venetian. Os macaios são tugas, são filipinos ou portugueses, chineses, indonésios, cabo-verdianos, moçambicanos, angolanos e outros africanos; são os italianos, os franceses, os japoneses, os tailandeses, gajos de Hong Kong, gajos de Fukien, os vietnamitas, gajos com mais disto, gajas com mais daquilo. São Han, são isto, são aquilo e qualquer outra coisa de impensável. Até são macaenses. Os macaios são daqui. Os macaios vivem aqui. Os macaios somos nós. Eu sou macaio! “Guetos”, dizem uns, quiçá momentaneamente esquecidos das lições da sociologia ou temporariamente arrebatados por uma crise epidérmica. A prática também mostra, se quisermos ver, como os grupos não se juntam por nacionalidades mas por afinidades. Eu, por exemplo, recuso a dar-me com microcéfalos, campestres, esgalgados e outros parvos chapados. Por isso não me misturo nesse gueto, como os desse gueto não se misturam no meu por o acharem ainda pior do que eu acho o deles. Guetos?… só os forçados me incomodam. Como macaio eu ensaio e reensaio, e depois sobressaio. Posso ser garraio mas prefiro ser macaio. Borrifo-me nos “enses” e nos “eses” e em todos os outros que não rimarem macaio. Sou fundamentalista. Racista, quiçá. Ou se é macaio ou se é estrangeiro, mas os macaios dão-se bem com os estrangeiros porque todos os macaios são estrangeiros. E estamos zangados. Macaios e outros aios, estamos zangados. A terra mudou, mudou como um raio. Foram-se as rimas e os espaços, os sagrados e os profanos, foram-se as tradições da comarca, como também foram as da Dinamarca. Eles lá se queixarão…. Mas talvez na Dinamarca não se tenham encantado com jorros de ouro, nem alguém tivesse trocado forma de vida por vida de forma. Mas que sei eu da Dinamarca? Sei que as tradições mudam e que a coisa também não vai bem. Também sei, ou desconfio que sei: quando o ar fica espesso, quando o espaço não chega, macaio ou paraguaio, tailandês ou finlandês, a todos nos dá para bater no freguês. Alguns batem na mulher. Outros levam da mulher. Mas normalmente batemos, figurada ou literalmente, nos que nos estão mais perto. Talvez na esperança do perdão por afinidade. Do amor, quiçá… Afinal de contas a culpa não é nossa. É da cena. É de tudo, nós somos apenas umas vítimas das circunstâncias… mas entretanto já arriámos o malho! Já dissemos o que não queríamos. Podíamos até partir a cara àquela outra figura desconhecida, àquele cara de “chupa-ôvo”, mas não – porque esse não nos ia perdoar. À partida. Mais vale bater a quem nos está próximo, talvez porque o perdão sabe tão bem. Como mel para urso. Grave ou menos grave, os agressores precisam sempre de ajuda e os que reagem também. Como o bebé chora para pedir colo, pedir mama. A pedir compreensão ou apenas um carinho. Pois. Isn’t that a bitch? Como macaio eu ensaio e reensaio, e depois sobressaio. O macaio desde há muito, muito tempo habituou-se a viver o mundo, pelo que só lhe resta vivê-lo. Esta disciplina? Aquela? Aprendemos isto ou aquilo? O macaio aprende tudo e depois vai para o gandaio. “Boeuf”.. diria o francês, por ente odores de Beaujoulais, olhado de soslaio pelo macaio mas com um sorriso catraio, como um brasiliguaio, a pensar no desmaio. Ser macaio é ser tudo. Poderemos nós ser menos do que tudo? Qual seria o gozo de semelhante cambaio? Macaios uni-vos! MÚSICA DA SEMANA David Bowie – “Scary Monsters (And Super Creeps)” (…) She could’ve been a killer if she didn’t walk the way she do, and she do She opened strange doors that we’d never close again She began to wail jealousies scream Waiting at the light know what I mean [CHORUS (twice)] Scary monsters, super creeps Keep me running, running scared (…)
Leocardo VozesComo a gente (é) muda… I [dropcap style=’circle’]M[/dropcap]uito daquilo que NÃO se faz em Macau se deve a uma espécie de “tilt” administrativo, algo que não vemos, não sentimos, é inodoro e não-tóxico, mas que está lá, isso está. Cada vez que se apregoam chavões do tipo “capacidade de decisão”, “liderança” ou “meritocracia” (deixa-me rir), é sinal de que realmente há ou havia algo de que estávamos à espera desde que a RAEM viu a luz da noite de 19 para 20 do doze dos noventa e nove. O novo hospital público, eis um exemplo tão perfeito que nos grita aos ouvidos. Eu não acredito por um segundo que as calendas que se vêem gregas para as quais atiraram essa infra-estrutura que tanta falta nos faz, tão doentinhos que somos, pobrezinhos, se devem (ou deviam) a falta de terreno para montar a barraca hospitalar. Mesmo aquele argumento da falta de pessoal médico, ou de técnicos que operem o material hospitalar XPTO de que dizem dispor deixa-me com muitas dúvidas – não que seja mentira, atenção, mas com toda a certeza há dinheiro de sobra para tapar o problema que não é problema nenhum. O que faz falta é quem decida, quem assuma, quem dê um murro na mesa, em suma, quem afirme alto e bom som: “Sim! Fui eu quem mandou fazer esta treta, e depois? Acordaste hoje com vontade de levar nas ventas? Uh?” (Passo mais uma vez o exagero). O que temos são serviçais, e para que não se pense que estou a cometer alguma inconfidência, ou mandar larachas à socapa, acrescento que esses serviçais somos todos nós, sem excepção. É verdade que aqui a coisa pública funciona muitas vezes mal, ou não funciona, e isto pode-se talvez explicar pela falta de “fé na Santa” logo à partida, com pouca ou nenhuma confiança por parte da administração anterior (pré-transição, entenda-se), que sempre que tinha oportunidade sussurrava-nos entre dentes: “pisguem-se mas é daqui para fora”. Digamos que logo aí fica posta de parte a vertente romântica do “gostar por amor”. Eu pessoalmente julgo que muitos de nós – senão mesmo a maioria – ficaram na base do “…até me chatearem”. O que ficou, bem, é o que há, e aqui entre o ulular angustiante dos queixumes do costume temos como ruído de fundo os murmúrios que a nada de estranho nos soam: “…elevado grau de autonomia”, “Macau governado pelas suas gentes” – e este último já nem da cassete oficial consta, de tão ilusório e torto que nasceu, coitadito. E no fim com tudo descascado, lavado e temperado, temos o prato principal: ninguém decide, com medo de morrer decida (subtil, tão subtil). E quem decide? “É a China” – resposta padrão, como quem diz “cala-te e come a sopa”. E é isso mesmo que “China” aqui representa, uma palavra que nos poupa a considerações, conjecturações, teorizações das conspirações, todos esses “ões” que até ajudam a engolir mais depressa o comprimido – “ Ah pois…a China. Como é que me fui esquecer de uma coisa tão grande”. E pronto, quando quiserem a reforma administrativa, a “meritocracia” (outra vez e em internetês: LOL) e todas essas patranhas que queríamos ver por aí à solta descascadinhas e de cabelos ao vento, mas sempre soubemos que eram só gases, perguntem antes, ahem, “à China”. (Piscar de olhos). II Vamos ter eleições presidenciais em Portugal, e parece que é já este Domingo. Ou no próximo. Sei lá? Juro pelo que quiserem que estava convencido que eram só para o ano que vem, imaginem só. E de facto a figura do Presidente da República de Portugal parece ter entrado no vasto leque de “coisas que não dão dinheiro, só chatices”. Para apicantar as coisas (ou torná-las insuportavelmente insonsas), tivemos lá nos últimos dez anos um figurão que fazia lembrar a Morte, ceifeira das almas. O Exmo. E Revendíssimo Cavalheiro a que me refiro (afinal, haja um bocadinho de respeito, bois. Perdão, “pois”) andou uma década aparentando estar a passar por um tormento, daqueles destinados aos danados do Inferno, deixados às mãos do próprio Demo, e que através do seu olhar fechado e impenetrável nos parecia querer mostrar que não há esperança. Ser presidente de Portugal é uma coisa que ninguém quer, mas “tem que ser”. E aquele santo que agora nos deixa, e vai tarde desde a primeira hora, resolveu sacrificar-se por nós, pecadores, e mesmo não sendo da Galileia, é de Boliqueime, que é mais ou menos o mesmo. Têm ambas as letras “a”, “i” e “e”, como podem ver. Ah, já agora, este ano temos 10 (dez) candidatos! Uau, e se antes era tudo resolvido entre candidatos indigitados pelos crónicos e alternantes funileiros do tachismo lusitano, estes agora marimbam-se para essa “seca” e temos dez patetas alegres, tão maus, que qualquer um que ganhe me deixa com vontade de me tornar apátrida. Desde que me lembro de assistir às Presidenciais (leia-se 1985, rei Marocas I), havia pelo menos um candidato que eu me importava menos se ganhasse. Hoje penso que aquela gente que tem vindo para a televisão dizer aqueles disparates e entrar em peixeiradas mil devia era ser toda presa. É como se vê, como a gente (é) muda.
Manuel Afonso Costa Fichas de Leitura h | Artes, Letras e IdeiasO Demiurgo incondicionado Ferreira, Virgílio, Até ao Fim, Quetzal, Lisboa, 2009 Descritores: Romance, Morte, Existência, Memória. ISBN: 9789725647745 Sinopse e Ficha Crítica de Leitura Vergílio Ferreira nasceu na aldeia de Melo, no Distrito da Guarda a 28 de janeiro de 1916 e faleceu em Lisboa no dia 1 de Março de 1996. Formou-se na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra em Filologia Românica. Em 1942 começou a sua carreira como professor de Português, Latim e Grego. Em 1953 publicou a sua primeira colecção de contos, “A Face Sangrenta”. Em 1959 publicou a “Aparição”, livro com o qual ganhou o Prémio “Camilo Castelo Branco” da Sociedade Portuguesa de Escritores. Em 1984, foi eleito sócio correspondente da Academia Brasileira de Letras. As suas obras vão do neo-realismo ao existencialismo. Considera-se geralmente que o romance Mudança assinala justamente a mudança de uma fase para outra. Na fase final da sua carreira pode-se dizer que Vergílio Ferreira tocou as fronteiras de um puro niilismo. Em 1992 foi eleito para a Academia das Ciências de Lisboa e além disso, recebeu o Prémio Camões, no mesmo ano. Obras principais: Mudança (1949), Manhã Submersa (1954), Aparição (1959), Para Sempre (1983), Até ao Fim (1987), Em Nome da Terra (1990) e Na tua Face (1993). O autor faleceu em 1996, em Lisboa. Deixou uma obra incompleta, Cartas a Sandra, que foi publicada após a sua morte. A partir de 1980 e até 1994 foram sendo publicados os seus diários, com a designação de Conta Corrente. Deve ainda salientar-se a publicação do conjunto de ensaios intitulado O Espaço do Invisível entre 1965 e 1987. “Tenho ainda um bocado de vida a cumprir, foi-me guardado pelo destino. Sobrou do que me roubaram, o destino guardou-me como um bocado de pão.” Vergílio Ferreira, Até ao Fim. [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]história do romance, a intriga, é enquanto ponto de partida para a narrativa, muito simples, embora pouco óbvia, até porque pouco verosímil. É um pretexto. Um homem, Cláudio, vela o corpo do filho, numa capela sobre o mar. Está só, apenas ele faz o velório. Na sua solidão acompanhada pela presença-ausência do filho, ele passa em revisita a sua vida. É um balanço, que Cláudio quer partilhar, com aquele que já não partilha. A verdade é que partilhar ou não, não depende de Miguel, e sendo assim também a questão de poder considerar a obra como um longo monólogo interior ou um diálogo me parece uma falsa questão. Para mim trata-se de um diálogo, uma vez que é o narrador omnisciente que assim o decide. Este é um ponto em que o leitor pouco ou nada manda. Há um diálogo entre um pai vivo e um filho morto. Eles encontram-se ali justamente porque um está vivo e vela, o outro está morto e ouve, ainda que não ouça nada. Mas ouve até porque responde e responde porque Vergílio Ferreira o escreveu. Mas isso não importa. A partir de Para Sempre Vergílio Ferreira abandonou muitas das questões subordinadas aos critérios diegéticos tradicionais, como tempos, verosimilhança, diálogos fictícios e monólogos que possuem apenas a função de proporcionar os diálogos impossíveis, etc. Há recursos notáveis que o autor passa a cultivar e que continuará a usar até ao fim da sua vida e da sua obra. O mais interessante para mim tem a ver com o modo como os personagens entram e saem do cenário, vindos do seu exterior, às vezes vindo de uma exterioridade que não é apenas espacial, mas que é sobretudo temporal e muitas vezes mesmo vindos de uma outra dimensão da existência; da morte por exemplo. A erupção dos personagens atenta contra o tempo e é na maior parte dos casos anacrónica de forma múltipla. O modo como o autor os justifica e integra, o modo como os manipula e condiciona, a vida que lhes dá e a vida que lhes retira, o modo como os subordina ou não às questões de verosimilhança é o que de mais notável o autor inaugurou nesta fase do seu estilo, o chamado estilo tardio. Só com um estilo assim, um autor assume com plenitude o seu estatuto de demiurgo. A partir de Para Sempre Vergílio Ferreira torna-se um demiurgo incondicionado, absoluto, usando sem parcimónia todo o seu imenso império. O narrador possui os personagens tal como o bonecreiro possui os seus fantoches ou marionetas e dispõe deles como muito bem entende, contudo por vezes os bonecos parecem ganhar vida e agitam-se e dão sinais de querer entrar ou sair de cena de forma extemporânea pondo em causa a fluidez lógica da narrativa. O modo como o narrador os domestica, digamos assim, quase sempre com uma infinita tolerância e ternura, para os integrar na narrativa sentimental de uma maneira particular, constitui também um dos segredos estilísticos relevantes e em certa medida experimentais da última fase da obra de Vergílio Ferreira. No fim de contas acabamos por não considerar os personagens divididos em verdadeiros e fictícios, pois são todos verdadeiros e ao mesmo tempo todos fictícios igualmente. Isto que digo prende-se com a questão da ausência e da presença enquanto modos dinâmicos da realidade. No romance Na Tua Face, mais ainda do que em Para Sempre ou em Até ao Fim, Vergílio Ferreira desenvolve uma ideia nuclear, ou seja, a ideia de que o que vemos se complementa com o que nos olha, ou muito simplesmente a ideia de que aquilo que nos olha através do que vemos, pois é disso que se trata, configura um outro mundo que não se resume ao que ver acrescenta, mas antes ao que no acto de ver, convoca a partir do ser o que nos falta, aquilo que sendo ausência e vazio, possui uma existência inalienável. Eu quero aqui ressalvar estes dois aspectos de uma mesma realidade, este aspecto que acabei de referir e que possui uma dimensão ontológico e um outro que é o modo estilístico de lhe dar vida no interior de uma narrativa. Para Vergílio Ferreira estão todos ali, estando ali ou noutro qualquer lugar da Terra, estando vivos ou mortos, podendo estar ou não em função do tempo parcelar de cada parte da narrativa. Estão todos ali porque os presentes os convocam de forma irrecusável. Estão todos ali porque o narrador os faz entrar em cena na altura em que muito bem entende, faça sentido ou não. A verdade é que só depende do narrador que faça sentido ou não. O sentido aqui não é o sentido da lógica ou da verosimilhança, integra uma outra economia, puramente sentimental e rememorativa. Mas dizia eu, o modo como o autor entretém essa tensão entre a sua disciplina enquanto narrador e a agitação dos personagens, exige recursos que Vergílio Ferreira nunca terá usado antes. “Talvez venha a chamá-las. Mas não agora”. “Clara. Mas não é ainda tempo de haver sol. Não é ainda tempo de tu vires”. E muitas outras expressões, … espera, não é ainda a tua vez, … agora não, depois, agora ainda tenho outras coisas para dizer… e assim infinitamente… o caudal suporta e não suporta estas erupções, … Foi no Para Sempre que isto começou e começou em boa hora!
Hoje Macau SociedadeCPU pede plano geral das zonas em vez de análise caso a caso A análise a determinados terrenos ou construções leva a que não se possa ter a ideia total do que vai nascer em determinadas zonas de Macau. Membros do CPU pedem, por isso, que se analisem planos gerais [dropcap style=’circle’]W[/dropcap]u Chou Kit, membro do Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU), pediu ontem que o Governo se dedicasse a fazer um planeamento alargado das zonas, em vez de se analisarem os projectos para novos imóveis caso a caso, como tem acontecido desde a entrada em vigor da Lei do Planeamento Urbanístico. Na primeira reunião do CPU, que decorreu ontem e onde estavam em discussão a atribuição de licenças de construção a 14 imóveis em Macau e nas ilhas, Wu Chou Kit alertou para necessidade de existência de um plano alargado por zona, de forma a que se perceba o que está a ser avaliado. A Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) respondeu vagamente, referindo apenas que, no futuro, quando existirem mais dados recolhidos, essa opção poderá ser adoptada. Foi também discutido na reunião o poder vinculativo, ou não, dos pareceres do Instituto Cultural (IC) sobre as construções, já que na prática, como disse Wu Chou Kit, os construtores acabam por fazer o “que bem entendem”. Relativamente a este assunto, o Secretário para as Obras Públicas e Transportes Raimundo do Rosário, também presidente da Comissão, assegurou que se as indicações do IC estiverem na planta os construtores têm tendência a segui-las. Cuidado com as imitações O arquitecto Rui Leão, outro dos membros da Comissão, manifestou-se contra a vinculação obrigatória no que às linhas arquitectónicas dos imóveis diz respeito, alertando para o problema da autenticidade pois, conforme disse, “descobriu-se em várias cidades que esse método era um erro pois dava origem à criação de obras falsas e à eventual demolição das originais por já não estarem ao nível daquelas que entretanto vão sendo construídas.” Em discussão ontem estiveram diversas construções, como o caso de um terreno junto ao Largo da Ponte, na Taipa, que terá sido o que mais comentários suscitou, quer da parte dos conselheiros, quer por via da consulta pública. Como o terreno em causa é público – e é apenas uma parcela de um terreno maior e desocupado – vários conselheiros voltaram a trazer à discussão a necessidade de um planeamento geral, interrogando-se porque se avalia apenas aquela parcela e não o terreno todo. Edifício de 93 metros no centro da cidade? Segundo notícia ontem avançada pelo jornal Tribuna de Macau, o lote na Av. Dr. Mário Soares ao lado do hotel Grand Emperor, que foi excluído da lista de terrenos cuja concessão iria caducar, poderá albergar um edifício até 93 metros de altura nos 41.69 metros quadrados disponíveis. O imóvel será destinado a comércio, escritórios e estacionamento e está agora em consulta pública a viabilidade da sua construção. É ainda referido no projecto que a futura construção terá o mérito “de melhorar a paisagem na Travessa Central da Praia Grande pois irá providenciar a manutenção dos canteiros”.
Hoje Macau Manchete SociedadeÓbito | Nuno Teotónio Pereira: Da habitação social ao combate ao regime [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]arquitecto Nuno Teotónio Pereira, que faleceu ontem, em Lisboa, aos 93 anos, foi um dos pioneiros da habitação social, contestou a arquitectura do regime de Salazar e defendeu a importância da beleza e do bem-estar nos edifícios. Com mais de 60 anos de carreira, o arquitecto nascido em Lisboa, em 1922, foi homenageado pelos pares na Ordem dos Arquitectos, em 2010, e recebeu no ano passado o Prémio Universidade de Lisboa. Na altura, a Universidade destacou o exercício “brilhante” na área da arquitectura e apontou-o como uma “figura ética”. Nuno Teotónio Pereira, que faria 94 anos a 30 de Janeiro, foi galardoado por três vezes com o Prémio Valmor para edifícios como a Torre de Habitação Social, nos Olivais Norte, o chamado Edifício “Franjinhas” e a Igreja do Sagrado Coração de Jesus, todos em Lisboa. Pioneiro na área da habitação social, foi também um activista dos direitos cívicos e políticos, integrando o movimento dos chamados “católicos progressistas”, que o levou por várias vezes à prisão no regime ditatorial do Estado Novo. Participou no 1.º Congresso Nacional de Arquitectura, em 1948, afirmando-se como um dos opositores à estética do regime de Salazar, nomeadamente contra a ideia de uma “arquitectura portuguesa” típica. Assinou, ao longo da vida, dezenas de projectos em nome próprio ou em co-autoria com arquitectos como Bartolomeu da Costa Cabral, Nuno Portas, João Braula Reis e Gonçalo Byrne, entre outros. Amor alfacinha O histórico arquitecto, continuava a declarar “um grande amor por Lisboa”, uma cidade onde procurou sempre “contribuir para a beleza do espaço e o bem-estar das pessoas”. “A construção está quase parada em Portugal. Há pouco dinheiro, mas um projecto feito por um arquitecto competente sai mais económico do que se for feito por um arquitecto incompetente”, comentou, em 2010, numa entrevista à agência Lusa. Formado na Escola de Belas Artes de Lisboa, recordou que, “antigamente, havia um conceito errado ao recorrer aos arquitectos apenas para criar obras sumptuosas”. “Hoje, os arquitectos devem fazer desde as obras mais modestas às mais grandiosas”. Com uma experiência de vinte anos na área da habitação social, defendeu que este conceito “continua a fazer sentido, enquanto houver pessoas ou famílias sem casa digna”. “Estou esperançado que acabem com os bairros de lata no país”, comentou o co-autor do projecto de Habitação Social para Olivais Norte, que viria a receber o Prémio Valmor em 1968. Defendia, contudo, que a habitação social devia ter certas características, como não se diferenciar da restante paisagem urbana para evitar ser de imediato classificada como “casa dos pobres”, e fugir à criação de “ilhas” sociais. Boas influências Nuno Teotónio Pereira decidiu seguir arquitectura contagiado pelo entusiasmo de um colega, Carlos Manuel Ramos (filho do arquitecto Carlos Ramos), numa altura em que se sentia mais inclinado pela Geografia. A paixão pela arquitectura manteve-se ao longo da carreira, mas “houve momentos difíceis”, sobretudo durante o regime salazarista, quando foi preso várias vezes pela PIDE, a polícia política da ditadura. Teotónio Pereira repudiava as pressões para alterar projectos conforme o gosto do regime: “Sempre defendi que os edifícios devem ser construídos de acordo com o seu próprio tempo. Eles queriam que se construísse tudo no estilo antigo”.
José Simões Morais VozesDESLUMBRAr ACONTECIMENTO [dropcap style=’circle’]F[/dropcap]ascinante reflexão do Estar. Há cerca de uma semana ocorreu o lançamento da revista Órfão, homenagem à Cidade de um Artista, Poeta e Escritor, para além de Jornalista, que resultou num Momento Cultural em Macau de plena Arte. O local? Livraria Portuguesa, mas para escapar ao enterrar sobre o peso dos livros que às nossas cabeças se sobrepõem, somos fugidiamente levados para dentro da cave. O anúncio está à descida, por escadas, ao Outro Mundo e provado no veneno, entra-se de golada. A negridão da sala, avivada branco luz negra, recebe com um obrigado por ter vindo e como boas-vindas à entrada, para entrar, oferece um copo de acolhimento. Há a escolha entre o álcool, dois de destilação cerealífera e um de fermentação de fruta. Bebido num golo, então está-se entrado. Aos olhos, o Momento esperou para, depois de o todo, comprimido na multidão do compartimento, expandir e abrir-se à representação. As figuras difusas ali se aglomeravam a preencher o Espaço. Esperava-se algo! Viajante volatizo para os fins de um canto encontrado, tal o número de pessoas que tiveram o privilégio de ao vivo assistir a este Acontecimento. Acontecimento já a acontecer na sala cheia, não de sombras, mas pela difusa luz negra que soleirava na sombra os espectadores, muitos sentados e os que de pé ficaram, sobre um ambiente que retirava a comunicação às pessoas e por isso, não se falava e entre si cochichavam. Na sala já não se repara e do negro Aparece. Sentado, capa e máscara negras, atrás da mesa. Medita para chamar o que está para trás e com alma (ling) vai qual mar Pessoalizando-as em etapas com focos no seu bordado do Céu. Assinalando o despir das personagens, des-cobrindo-as ao retirar as roupagens de cada figurino representante de si mesmo, chega à camisa branca englobado no Surrealismo sem Política e por isso, Sobre-Real. Chama dos fundos os viajantes e, um pelo órfão do Orfeu, escutando os murmúrios do reconhecer o acolher de quem recebe, distribui novos copos de ligação. Ressuscitar 1 As palmas emocionadas bateram-se e abertas as brancas luzes com mais entusiasmo ecoaram, hora chegada das perguntas. Apareceu o Brilho das respostas num estádio elástico de espaço de conhecimento, primorosamente abarcado pela criança que, sem o intelectual, traz o instinto do ser Arte, no acto artístico de Estar. Arte essa que pela definição da Natureza espartilha-a em significados cuja imagem mental reflecte pela sabedoria do Todo, pois já não se distancia para se olhar/observar/ver a observar-se. Sim, Está. E foi o Escritor, o Actor, o Editor e Produtor, Homem dos sete ofícios e artes, que se desenovelou como só quem é criança tem em si. Fora do si próprio (do subconsciente), envolve um ambiente de uma viagem a um todo que é o estar em criação e representando-se atinge o seu melhor nas respostas às perguntas. E das suas? Envolveu-se no ser Órfão, onde perdidas as referências qual morte no Ovo, está sem pais, não os biológicos, mas como artista na dispersão de o ficar sem nada, não há narrativa e repesca-se no Autor. Argonauta Órfão Macao, o cenário para recriar ainda no quotidiano, o Paraíso de um reavivar Universo que já acabou e apenas pelos que reconhecem… um palco de Excelência no acto da Criação. Uma Obra. Arte! Ficou de fora quem não esteve e esse momento de comunhão nas catacumbas de uma livraria serrou estares, sem erros da perspectiva com que se projectou e esmiuçando se perspectivou num fundo de personagens. Colocou-se fora do ponto feito apenas pelos nossos olhos, escutado e lido atrás das palavras, pois pelo resto dos sentidos, ele deu-nos o Vivo. Confundiu a imagem mental no que os nossos olhos não vêem e foi construindo-a para isso. Foi num Sábado a ocorrência do Acontecimento, tão (im)pressionante momento realizado por CARLOS MORAIS JOSÉ onde vincada esteve a Arte mágica do Estar. Verdadeiro, tão que se despediu representado já no relógio daquela peça num Domingo, extensão que levamos para casa como Órfão. Por esse momento que se expandiu até hoje, deixo aqui o proibido Olhar para trás, sabendo reviver apenas em memória as que se seguirão para de novo trazer um momento à Cidade, como Este, que acontece há uma semana. Momento que nos revê e faz, sentido de quem tem a direcção em dois sentidos. Um Bem Haja! Obrigado Carlos. NOTA: Por razões éticas profissionais prolonguei esta reflexão do acontecimento que presenciei e esperançado de o ver registado em Outros jornais, já que pela aceitação da descriminação positiva para contrapor à negativa, hoje se vê pelo que É. Demonstrada em competição num mundo de reinóis, ou de multinacionais redes que não alinham no Universo sem o viva Al e El do dinheiro. Macaus, onde a dialéctica do positivo para contrariar o negativo, não deixa de ser de uma comercial herança, mas crendo porque a Arte não traz competição, faltaram mais projecções e os jornais ficaram em silêncio. Falta de Ética era não deixar registado o Acontecimento que presenciei na Livraria Portuguesa no sábado, 9 de Janeiro de 2016.
Hoje Macau EventosCinema | DocLisboa até 5 de Fevereiro no Consulado de Portugal De 27 de Janeiro a 5 de Fevereiro vai poder assistir a filmes de realizadores portugueses e chineses de Macau. O DocLisboa regressa pela terceira vez ao território e traz consigo uma dezena de filmes [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Festival Internacional DocLisboa chega pela terceira vez a Macau, através de uma extensão trazida pelo Instituto Português no Oriente (IPOR), e este ano integra também uma secção dedicada às produções e realizadores de Macau. De 27 de Janeiro a 5 de Fevereiro são exibidos no Consulado-Geral de Portugal os nove filmes de realizadores portugueses que competiram no DocLisboa’14 e os vencedores das edições de 2014 das competições locais Sound & Image Challenge e European Union Short Film Challenge, além de uma sessão para outros realizadores de Macau. O festival abre com “Mio Pang Fei”, um documentário do realizador de Macau Pedro Cardeira sobre o conceituado artista plástico chinês que se interessou pela arte moderna numa época em que esta era considerada anti-revolucionária pelo regime do continente. Mio Pang Fei acabou por se refugiar em Macau onde desenvolveu um novo estilo de pintura “baseado no cruzamento das técnicas artísticas ocidentais com o espírito cultural chinês, a que chamou Neo-Orientalismo”, segundo explica o IPO. No dia 28 é exibido “Volta à Terra”, do português João Pedro Plácido, que estará presente para falar sobre o filme e responder às perguntas da audiência. A película conta a história de uma “comunidade em extinção”, de 49 camponeses que praticam agricultura de subsistência numa aldeia, Uz, nas montanhas do norte de Portugal. A terceira sessão, no dia 29, é dedicada ao filme “Fado Camané”, de Bruno de Almeida, sobre o processo de criação do artista, e a quarta, a 2 de Fevereiro, “As Cidades e as Trocas”, aborda a chegada da economia de escala a Cabo Verde e os efeitos que esta teve na transformação da paisagem física e humana da ilha. Três em um Na quinta sessão vão ser exibidos três filmes, dois de Portugal – “Triângulo Dourado”, de Miguel Clara Vasconcelos, e “Da Meia Noite para o Dia”, de Vanessa Duarte – e um de Macau, “Um Olhar sobre os Deficientes”, de Zélia Lai. “Triângulo Dourado” dá voz às “memórias, encontros e sentimentos” das viagens que levaram a personagem principal até Paris e “Da Meia Noite para o Dia” lança um olhar sobre a “memória colectiva e sentido de identidade dos trabalhadores fabris da Covilhã”. Por fim, “Um Olhar sobre os Deficientes”, vencedor do Sound & Image Challenge, reflecte sobre as dificuldades dos portadores de deficiência. No dia 4 de Fevereiro é exibido “Flor Azul”, do português Raul Domingues, e “São”, de Susana Valadas, sobre um dia na vida de uma operária fabril. Para acabar O último dia é dedicado a três obras: “O Pesadelo de João”, do português Francisco Botelho, e “Western Star” e “Fonting the City”, dos realizadores de Macau Wu Hao I e Wallace Chan, respectivamente. “Western Star”, vencedor do European Union Short Film Challenge, relata o encontro de “uma mulher natural de Macau, que tem feito a sua vida no estrangeiro, com um homem” que conhece na sua cidade natal, quando a visita como turista. “Fonting the City” conta a história de um grupo de designers que percorre Macau em busca de “caligrafias esquecidas”, encontrando “letreiros de lojas antigas, caracteres manuscritos de antigos artesãos e até exemplos de caligrafia pós-década de 80 numa ementa de chá”. As sessões decorrem às 18h30 no auditório do Consulado-geral de Portugal em Macau e têm entrada livre.
Joana Freitas SociedadeJogo | Receitas descem 34% em 2015. Galgos no fim da lista [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s receitas do jogo VIP sofreram uma quebra de 39,86% em 2015, atingindo 127.818 milhões de patacas, indicam dados oficiais. Segundo dados publicados no portal da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), os proventos do jogo VIP representaram 55,3% das receitas brutas arrecadadas pelos casinos em 2015, quando no cômputo de 2014, a proporção correspondeu a 60,4%. Já o segmento de massas sofreu uma quebra de 25,8% em 2015 – por comparação com 2014 –, de acordo com os mesmos dados, totalizando 103.022 milhões de patacas. Os casinos fecharam 2015 com receitas de 230.840 milhões de patacas sofrendo um tombo de 34,3%. Tratou-se do segundo ano consecutivo de quebra das receitas dos casinos depois de, em 2014, terem sofrido uma diminuição de 2,6%. As corridas de galgos continuam em último lugar no que às receitas de apostas diz respeito. Em primeiro figuraram as apostas nos jogos de futebol que, ao longo do ano passado, renderam 503 milhões de patacas. Seguiram-se as receitas das apostas nos jogos de basquetebol, com 170 milhões, que ultrapassaram as das corridas de cavalos, com 166 milhões de patacas e as corridas de galgos com 125 milhões de patacas. Em 2015, Macau contava com 5957 mesas de jogo e 14.578 slot machines distribuídas por um universo de 36 casinos.
Flora Fong SociedadeCancro dos ovários coloca mulheres de Macau em risco [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Associação de Oncologia de Macau alertou ontem para o facto do cancro dos ovários ser um dos dez cancros com maior taxa de mortalidade em Macau. O grande problema, refere a Associação, é que a maioria das mulheres não tem noção sobre o risco que corre, sendo que 70% das pacientes diagnosticadas com este tipo de cancro só o foi já na fase terminal. A Associação deu esta semana a conhecer o relatório da tendência recente de mortalidade e tratamento do cancro dos ovários no interior da China, Hong Kong e Macau. Wong Io Pan, chefe do Departamento de Ginecologia do Hospital Kiang Wu, referiu que o cancro dos ovários é muito encontrado em mulheres que têm entre os 50 e os 70 anos de idade. “Entre os tipos de doenças ginecológicas malignas, os casos não são muitos, mas a mortalidade é elevada”, explicou. O médico acrescentou que os sintomas do cancro dos ovários incluem barriga inchada, indigestão, dores ao urinar, dores abdominais e lombares. Os sintomas são semelhantes a outras doenças e as pacientes podem não ter consciência do risco que correm, pelo que os especialistas apelam às mulheres com mais de 50 anos que façam o exame periodicamente. “Tive uma paciente cujo tumor tinha um diâmetro de 20 centímetros, semelhante a uma bola”, exemplificou. Cao Ya Bing, médico de Oncologia, afirmou que no ano passado foram diagnosticados 33 casos, 70% deles já na fase terminal e 30% foram alvo de mutações mais comuns. Wong Io Pan considera que a maioria das mulheres não tem conhecimentos suficientes sobre o cancro dos ovários.
Joana Freitas BrevesDoença terminal leva livreira a pedir ajuda na compra de livros Uma residente de Hong Kong radicada no território e que abriu uma livraria em Macau há 11 anos está a pedir, através das redes sociais, clientes para comprarem todos os seus livros. O objectivo é encerrar o mais rápido possível a livraria que detém há mais de uma década, de nome Creative Culture, uma vez que a mulher tem cancro e está em fase terminal. Vivian tem ainda que cuidar do pai idoso e necessita, por isso, de regressar a Hong Kong, onde vai também fazer o resto do tratamento. Segundo a Macau Concealers, Vivian tinha um comprador para todos os livros, mas este desistiu da promessa. A Creative Culture fica na Rua Nova de São Lázaro.
Amélia Vieira h | Artes, Letras e IdeiasA memória do corpo [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s sociedades são matérias em transformação constante mas com grandes reservatórios de memória condensada e enquanto à superfície avançam indemnes as ideias, o pensamento e as trocas, as suas estruturas mais pesadas encontram-se inamovíveis. São aterradoramente paradas e silenciosas, imperceptíveis para os apaixonados e aqueles que manejam os futuros, pois que não navegam jamais no oceano gentil dos entusiasmos e sabem suportar até à monotonia o ciclo biológico da vida. Pensamento é acrescentar à realidade definida outros elementos que não estavam lá, dado que o Homem não é exactamente como a natureza: faz-se Humano, inventando-se. Andar pelo caminho do leve é já o princípio natural das sociedades, desmaterializar, tentar combater a escravidão das bolsas atávicas nessa base que não canse por tão imperecível e estática… Estamos no momento transformado e isso sente-se diante dos que marcham adiante. Vem este primeiro prólogo a propósito das eleições presidenciais, deste entrançado de tempos que não culmina numa visão de ecrã único e tridimensional, mas num regresso de fundo que tresanda a mofo. Tal como nas operações físicas, o corpo melhora com… vamos chamar-lhes, novos ares… dado que transformações são revoluções, onde podem ser implantados órgãos novos e membros, transformando para sempre a primeira condição. Se experimentamos uma rinoplastia, passado uns anos o septo está de novo torto na mesma direcção, o efeito dura poucos anos, só o tempo dele restruturar a sua memória, ora, olhando para isto, para o que se vai passar, quarenta anos volvidos sobre aquela “operação cirúrgica”, o organismo social capitulou: eis que vêm todos agora ainda mais veementes ocupar a cena social. Acresce mesmo que não faltam Marcelos, Senhoras de Belém e até Padres. Poder-se-ia dizer — eis um acaso — só que não o é, e numa linha muito estóica permito-me agora considerar: ordenada é a Natureza permeada de racionalidade e nós o princípio passivo que sofremos a acção de uma razão maior, o que faz com que a haver um fio condutor inquebrantável ele se deva a tal desígnio dessa memória que permeia todas as coisas. A memória que criámos de um “pathos” vai certamente marcar toda a estrutura do tema. Por uma qualquer falha do pensamento colectivo, a Nação não tem uma sã consciência da morte, essa noção de rigor e de limite que lhe daria um sentido da prioridade — não, não deseja essa abordagem — bem como desistir dos ciclos que passaram. Somos amigos dos que se foram e não raro mantemos com eles relações de continuidade tais que é difícil saber-se onde ficam nos nossos tempos. É assim no amor, no trabalho, nos pequenos e grandes artefactos, seguros que estamos que toda esta tralha acumulada, não só é riqueza, como requerida por alguém nalgum tempo, e em qualquer lugar. O corpo, na sua memória, não tem espaço para inovar, e uma coisa é consumir o que nos deu o progresso e outra é mudar as rotas do seu sangue. A Nação encontra-se bizarramente no mesmo lugar de há quarenta anos. Até acho que mesmo sem “Revolução” se tinha produzido pela inevitável marcha dos tempos internacionais os mesmos resultados, ou melhor, talvez até tivéssemos exactamente no mesmo lugar volvidos quarenta anos, dado que uma senhora das missões, um afilhado de um ditador e um ex-seminarista , é tudo o que sobrou para a representar. Efectivamente não há mais, não há mais por onde escolher mas, neste mesmo lugar que de quarentena em quarentena se nos apresenta vazio, o século vinte, no início, deu sinais de ser vivo e passível de entendimento revolucionário de vanguarda, em dez anos mataram um rei e um presidente, houve «Orpheu» de Almada, Pessoa, Sá-Carneiro, existiu envolvimento que poderia ter impulsionado o futuro, mas uma avareza insaciável apossa-se de cada um e lá vem o Santo Ofício mascarado em Pide e o Povo fazer o que sempre soube de melhor: guardar a sua herança parada. As leis físicas são alarmantes, sobretudo num local de gente frágil e medrosa pela sua condição estrutural e também pela sua fragilíssima condição social que prefere não ousar naquilo a que tem direito. Nunca esquecem o passado, mas negligenciam o presente e esquecem o futuro. Este corpo, com estados de progresso e de avanços conseguido, o corpo que cresce, onde por vezes as pernas se tornam gigantes e saem da moldura, como disse Eugénio de Andrade, este corpo lembra-se de nós sempre pequenos e nós apenas quiséramos sair da moldura, e ficar, um pouco lá, só no coração, mas não enfiados dentro dela, e então, ele trazendo todos os ecos de antanho, meios mortos, meios arquétipos, vem dizer algo de medonho: pensaram andar, mas basicamente ainda estão parados; e queremos tirar este sangue denso que nos cobre de atraso e lei, como se arrancássemos um órgão congelado. Devia haver um mantra que nos permitisse dizer: — Nação, nenhum de nós forçará a tua morte todos te ensinaremos a morrer, nenhum dissipará teus anos, mas te oferecerá os seus. Fomos guiados para aqui no momento em que não sonhávamos que iria entrar nas nossas vidas este sistema tão programado como os ciclos banais. E nem há que olhar mais para o que está. Tal como o Barco de Peter Pan : eu acho que já o vi este navio há muito tempo, mas nesse tempo eu era feliz. Fatigantes e atormentadas provas nos trazem invariavelmente aos mesmos lugares, e não vale a pena acrescentar que não quero ninguém que se candidate desta maneira, por que esta maneira, mesmo a do tempo em que era feliz, também por isso, ou sobretudo por isso, não quero voltar a lembrar.
Joana Freitas EventosHip hop com artistas locais para apresentação de EP [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]grupo de hip hop Macau Blacklist apresenta, esta sexta-feira, o seu mais recente EP. Composto por LH, Key, Tickman, AK e 7DC, o colectivo junta-se a outros músicos e artistas para uma festa no Golden Bar do casino Kam Pek. Composto por cinco músicas, o EP – intitulado “União”, na tradução literal para Português – vai ser dado a conhecer ao público ao lado do grupo local Macau Human Beatbox, que utiliza o próprio corpo para fazer música, e de outros convidados. Rocklee é um deles. Desde os 15 anos a fazer breakdance, o também DJ é um apaixonado por hip hop, mas também r&b, funk, soul e música dos anos 70, o que o leva a apresentar uma mistura de “velha e nova escola”. Luka é outros dos convidados, este vindo de Hong Kong. Influenciado por rock & roll desde jovem, o músico começou também a interessar-se por música étnica, coleccionando inclusive instrumentos musicais utilizadas por minorias. Entre outros convidados, está ainda o grupo Fission, que tem como membros Kreezy, Ah Tong e Mu Ben, rappers que assumem um estilo “diverso”, e o músico Kwokkin. O Macau Blacklist começou por ser composto por AK e Key 0713, passando depois a integrar o rapper LH e MC Tikman. Desde 2014 que 7DC integra o colectivo, que produz músicas originais desde o beat à letra. O concerto de dia 22, marcado para as 21h00, é o primeiro para a apresentação do EP dos Blacklist, que se deslocam a Guangdong no dia a seguir. Os bilhetes custam entre 80 a 150 patacas.
Tomás Chio BrevesSS | S. Januário continuará a ser o preferido da população Lei Chin Ion acredita que o hospital Conde S. Januário vai continuar a ser aquele a quem mais a população recorre. Pelo menos nos próximos dez anos. O director dos Serviços de Saúde (SS) disse de sua sentença ontem, no programa Macau Talk do canal chinês da TDM. A afirmação surgiu durante um debate sobre a construção do Complexo das Ilhas. “Caso o Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas seja concluído em breve, os residentes vão continuar a ir ao S. Januário porque já têm esse hábito, até porque o Centro de Doenças Infecciosas vai lá ficar ao lado”, disse. No mesmo programa, alguns ouvintes mostraram-se preocupados com o facto das instalações do futuro Centro não serem seguras. A estes, Lei disse que será organizada uma visita prévia ao prédio em questão. “Os SS vão organizar uma visita às instalações do Centro que está já construído em Coloane para que as pessoas percebam como será este próximo”, disse. O responsável garantiu ainda que serão seguidos “todos os padrões indicados pela Organização Mundial da Saúde”.