Violência Sexual | Juiz afasta criação de lei contra o assédio

Jerónimo Santos, juiz no território, afasta a criação de uma lei contra o assédio sexual, por considerar que o Direito Penal vigente já protege a vítima ao nível dos crimes que possam atentar contra a sua liberdade. A ideia foi avançada aos jornalistas à margem de um debate sobre criminalidade sexual, ocorrido ontem na Fundação Rui Cunha (FRC).
“Primeiro é preciso saber o que é o assédio sexual, porque pode comprometer muitas coisas. O Direito Penal não tem por função ensinar como se conquista e como se seduz, as pessoas são livres. Se no âmbito do trabalho, entre patrão e empregado, se disser ‘se não fazes isto não te dou horas extraordinárias’, não vejo que esta seja uma conduta que atente contra a liberdade da outra pessoa. É uma forma de sedução. Mas se se disser ‘se não fazes isto, despeço-te’, isso já está coberto com o crime de coacção sexual. Já há uma ameaça grave. Não é preciso criar a figura do assédio sexual para essas condutas. O que ficará de fora são coisas mínimas, margens que eu tenho muitas dúvidas que se justifique a integração no Direito Penal”, disse Jerónimo Santos.
“Na realização das pessoas a sexualidade é importantíssima. Asfixiá-las, com normas pequeninas, com condutas demasiado pequenas, se calhar em vez de favorecer a liberdade, prejudica-a. Em privado as pessoas são livres de terem o comportamento sexual que quiserem. A lei não se deve intrometer, a meu ver. Para matar um mosquito não vamos disparar um canhão”, defendeu.

Livres de mudar

Questionado sobre se o sistema jurídico abrange todos os crimes de natureza sexual e protege as vítimas, Jerónimo Santos acredita que sim. “O sistema nunca é imutável, está completo, mas pode-se mudar. Se a sociedade muda o Direito deve acompanhar. No nosso caso o sistema recrutou as condutas que têm uma dignidade penal, que é a liberdade e a auto-determinação”, disse.
No debate participou ainda o médico legista Pedro Resende, a trabalhar no serviço de medicina legal do Centro Hospitalar Conde de São Januário desde 2012. Para o especialista, o serviço público de saúde em Macau “dá resposta [aos crimes sexuais] até certo ponto”. “Aqui em Macau ainda pode ser feito bastante mais, porque não temos falta de recursos como existem noutros sítios. A especialidade de medicina legal está subaproveitada em Macau”, disse Pedro Resende, que defendeu a criação de um laboratório de polícia científica. Isto apesar de alertar para a pequena dimensão do território. “São precisos materiais, máquinas e os técnicos, mas para rentabilizar esse material é necessário haver casos suficientes.”

30 Mar 2016

Vacinas do Governo apenas para residentes

O Governo lançou ontem um comunicado onde assegura que as vacinas adquiridas pelos Serviços de Saúde “são destinadas gratuitamente aos residentes e não são distribuídas aos não-residentes”. “Os visitantes de Macau apenas podem aceder, por conta própria, à administração de vacinas e somente em casos urgentes, como por exemplo em caso de ferimentos, será administrada a vacina contra o tétano”, explica o organismo, que justifica o comunicado por terem sido manifestadas “preocupações” da parte da população. Preocupações que chegam devido ao escândalo relacionado com o fornecimento de vacinas na China continental e que levaram a população a pensar “que os cidadãos do interior da China podem recorrer ao território”. Os SS dizem que há vacinas suficientes e relembram que o Plano de Vacinação inclui vacinas que previnem 13 doenças, além de ter ainda “uma reserva de vacinas e instrumentos contra a evolução das doenças infecto-contagiosas”.

30 Mar 2016

Forças de Segurança | Queixas contra agentes aumentaram 65% em 2015

Atitude rude, imparcialidade ou procedimentos mal feitos: a Comissão de Disciplina das Forças de Segurança está de olho na polícia e deixa recomendações

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s Forças de Segurança foram alvo de mais queixas no ano passado, maioritariamente por razões que se prendem com a forma de actuação de agentes policiais e “denegação da justiça”. De acordo com o último relatório da Comissão de Fiscalização da Disciplina (CFD) das Forças de Segurança, o aumento nas queixas foi de 65% face ao ano anterior.
“A CFD recebeu em 2015 um total de 73 queixas, tendo verificado um aumento de quase 65% em relação a 2014”, explica o organismo, que justifica a subida com o facto de haver mais acções de promoção e publicidade a este órgão.
Dos 73 casos contam-se principalmente queixas por causa de “irregularidades de procedimento legal, atitude dos agentes, denegação de justiça e má conduta”, como admite a CFD, que acrescenta ainda que subiram também as queixas de insatisfação face à aplicação da Lei de Trânsito Rodoviário.
“[Estas] aumentaram substancialmente, de 12 casos para 32 casos. A CFD admite que uma das causas poderá estar relacionada com o reforço das operações da PSP contra as infracções dos taxistas e condutores que exerceram actividades não autorizadas de transporte de passageiros.”

Amigos, amigos

A Comissão explica que emitiu recomendações a agentes policiais, muito por causa de casos concretos que admite terem sido encontrados. Passaram de quatro para 14 em 2015 e “todas mereceram atenção da polícia e tiveram resposta positiva”. Isto não impediu, contudo, que no ano passado tenham sido descobertos várias casos
de “violações graves do dever disciplinar”. Da falta de imparcialidade à atitude rude dos agentes, os casos são dados a conhecer pelo próprio organismo.
“São recorrentes as queixas de mau acolhimento nos postos policiais, especialmente de suspeitos e de pessoas a expulsar de Macau. Não obstante a situação particular em que esses cidadãos se encontram, a CFD recomenda um acolhimento sereno e humano, [uma vez que] os cidadãos não podem desmerecer da justiça. São [também] recorrentes as queixas de deficiente atendimento telefónico, ou porque o operador não tem conhecimentos para resolver a questão, ou porque é notória a falta de instrução quanto ao encaminhamento, sinalizando-se por vezes um atendimento rude, que contraria a urbanidade que é suposto o cidadão encontrar quando solicita ajuda de uma autoridade policial”, pode ler-se no relatório, onde fica ainda saber-se que a CFD recomendou a criação de um Protocolo de Atendimento para estas situações. “São recorrentes as queixas de arrogância policial no ano 2015, o que a CFD muito lamenta e censura.”
A igualdade de tratamento é outro dos âmbitos onde é apontado o dedo a alguns agentes de segurança em Macau. Neste caso, são especialmente os agentes de trânsito – que passam multas – quem está na mira da CFD, mas não só.
“[Os agentes de fiscalização de trânsito] devem ter uma atitude policial igual para situações iguais, por forma a não se dar aos cidadãos uma imagem de conduta selectiva e de favorecimento pessoal. A CFD tomou conhecimento da intervenção de agentes policiais em conflitos de natureza privada, designadamente quando neles estão envolvidos seus familiares e amigos. A CFD recomenda que, [nestes casos], o agente deve de imediato informar do facto o seu superior hierárquico. O agente policial deve abster-se de corresponder a pedidos pessoais de intervenção em quaisquer conflitos ou resolução de crimes.”

Vamos equipa

Das 73 queixas recebidas no ano passado, 12 delas ainda estão em processamento devido “à sua complexidade”. Parte delas deu entrada apenas no final do ano – por exemplo, de Novembro a Dezembro de 2015 uma dúzia de queixas foram apresentadas.
Do relatório da CFD fazem ainda parte recomendações, que passam, por exemplo, pela introdução de mais das passagens automáticas nos postos fronteiriços e “a extensão do universo de documentos elegíveis” para a utilização destas, de forma a “reduzir o contacto do agente com o cidadão em situações que, potencialmente, possam agravar o stress profissional, como sejam a gestão de multidões”.
A CFD admite que, apesar das queixas serem imputadas a indivíduos, estas afectam a imagem de toda a polícia. Mas diz-se também “confiante” na melhoria da actuação, até porque “foram tomadas medidas pelas autoridades de segurança” para reduzir as motivos de insatisfação da população. “De um modo geral, a CFD concluiu que a disciplina geral das Forças de Segurança apresenta um bom nível e a situação melhorará, certamente”, remata a Comissão.

Pedida interdição de entrada “só quando necessário”

No relatório é ainda dado destaque ao caso levado por Au Kam San à AL, quando um bebé de um ano foi impedido de entrar no território por agentes da PSP. A CFD diz compreender e apoiar a preocupação das autoridades de segurança, mas pede que estas recusas “devem ser excepção e apenas quando haja fundamentado perigo para a segurança interna, paz e tranquilidade públicas da RAEM, especialmente em ocasiões mais sensíveis”. A CFD diz ainda que deve ser dado conhecimento ao sujeito da interdição sobre os factos que fundamentam a decisão, algo que também não aconteceu nessa altura: os pais da criança não ficaram esclarecidos no momento, sendo que só mais tarde se veio a saber que o bebé tinha o mesmo nome de alguém impedido de entrar na RAEM.

30 Mar 2016

EPM | Carlos Marreiros diz que classificação deve prever ampliação

Carlos Marreiros aplaude a decisão do Governo de incluir o edifício da Escola Portuguesa de Macau na lista de imóveis para classificar, mas defende que esta deve contemplar a ampliação do actual espaço para a criação de “novas valências”

Guilherme Ung Vai Meng, presidente do Instituto Cultural (IC), revelou, em entrevista ao Jornal Tribuna de Macau, que o edifício onde se localiza a Escola Portuguesa de Macau (EPM) vai ser incluído na lista de imóveis a classificar como tendo valor patrimonial. “A Escola Portuguesa está na lista proposta para a conservação geral. Quando houver condições poderemos avançar [com o processo da EPM]. Na minha opinião, a escola é muito bonita”, disse Ung Vai Meng.
Contactado pelo HM, o arquitecto Carlos Marreiros, autor de um projecto de restauro realizado na escola, defende que o processo de classificação deve contemplar uma futura ampliação do edifício.
“O facto do edifício vir a ser classificado deve prever a ampliação da escola, porque esta precisa de mais valências. A escola tem sido procurada pelo seu valor do ensino e pelo interesse que a língua e cultura portuguesas têm sido objecto em Macau. É uma escola procurada não apenas pela comunidade portuguesa mas também por outras comunidades. O bom desempenho da escola e o nível de ensino têm feito aumentar a procura e naturalmente que a escola precisa de outros espaços lectivos, administrativos e para actividades extra-curriculares, que neste momento não tem”, defendeu o arquitecto.
Carlos Marreiros acredita que a EPM até pode crescer em altura na actual zona onde se encontra o pavilhão gimnodesportivo.
“É uma área próxima de edifícios com algum volume e o actual pavilhão não tem a delicadeza funcional e de arquitectura que o conjunto na área sul (zona de entrada) tem. Pode ser feita uma ampliação até em altura e, por isso, a classificação do edifício vem em boa hora, porque se criarão desde já condições arquitectónicas e urbanísticas para o futuro desenvolvimento da nova ala da EPM”, acrescentou.

Mais apoio
Também o arquitecto Nuno Roque Jorge se mostrou satisfeito com a decisão do Executivo, por se tratar de um edifício com a assinatura de Chorão Ramalho e um exemplo da arquitectura modernista.
“Parece-me uma decisão importante, por se tratar de uma obra emblemática do arquitecto Chorão Ramalho, que fez outras obras em Macau, também elas classificadas, como é o caso das vivendas na Coronel Mesquita. Acho óptimo pelo lado urbano, porque pelos prédios de grande volume que se estão a erguer, um pedaço de arte no meio da cidade fica sempre bem. Concordo com essa decisão”, rematou.
O HM contactou ainda Rui Leão, arquitecto que, juntamente com Carlota Brunni, assinou o projecto da sala de leitura da EPM, reconhecida pela UNESCO, mas até ao fecho desta edição não foi possível obter uma reacção a esta notícia. Na altura do prémio da UNESCO Rui Leão disse que a classificação do edifício da EPM seria “um passo fundamental e um sinal importante que as comunidades portuguesa e macaense esperam para se reconhecer que há interesse em preservar o património e as condições para assegurar esse compromisso”.

30 Mar 2016

mART | Nova publicação online divulga cultura de Macau, Portugal e não só

“mART” dá nome à publicação que se dedica exclusivamente à cultura, de cá e de lá, dando o pontapé para a inovação da comunicação na área. É a nova revista digital criada por três residentes da RAEM: Luciana Leitão, Sofia Jesus e Sérgio Rola

Macau dispõe agora de uma nova publicação totalmente virada para a cultura da casa e não só. Chama-se “mART” e, segundo Luciana Leitão, co-fundadora do projecto, a ideia terá nascido de um desejo partilhado com Sofia Jesus de criar uma revista cultural que abrangesse de uma forma diferente as actividades da região. Não contentes com a restrição geográfica, viram em “mART” um projecto capaz de ser uma ponte de partilha com o que se vai passando em Lisboa e daí passaram para a Europa e outras partes do mundo, representado a capital portuguesa uma “metáfora”.
Se, numa fase inicial a edição em papel estava em cima da mesa, a edição em formato digital foi ganhando pontos pelas vantagens que apresentava, não só a nível prático e custos inerentes, como enquanto plataforma capaz de uma maior acessibilidade e partilha. E também como portadora de uma maior diversidade de linguagens, incluindo conteúdos multimédia. A esta ideia veio juntar-se Sérgio Rola, a “cara” gráfica da “mART”.

Primeiros passos

Estando ainda num processo embrionário, que Luciana Leitão apela de “teste”, a publicação ainda é predominantemente preenchida com conteúdos de Macau, onde residem os seus fundadores, mas já com alguns “pozinhos de Lisboa”. O objectivo é um futuro crescimento com a possibilidade de uma equipa maior e em que uma divisão equitativa entre a proveniência de conteúdos seja possível. Ainda acerca desta fase, Luciana sublinha ao HM a satisfação perante a aceitação do público, não só português mas também fornecida pelo feedback dos leitores chineses. A responsável salienta que os mesmos têm referido o aspecto inovador da publicação, não só a nível de forma como também de conteúdo dado o carácter único na região.
O barómetro das reacções neste momento é, essencialmente, o Facebook, visto que a “mART” é uma coisa nova “e ainda não entrou na rotina das pessoas”. Assim, a rede social serve de referência pelo progressivo aumento de partilhas e seguidores.
Acerca da opção por uma publicação em Inglês, Luciana Leitão adianta que numa fase inicial o objectivo até seria uma abordagem trilingue – Chinês, Português e Inglês – mas, dadas as dificuldades nomeadamente no que respeita à qualidade de conteúdos em Chinês, optaram por atingir todo e qualquer público que entenda o Inglês e que abrange também uma comunidade cada vez mais internacional que também reside em Macau.
Umas das características distintivas da “mART” prende-se com a colaboração bilateral entre artistas portugueses e de Macau. Relativamente a esta iniciativa de carácter trimestral e materializada pela rubrica “showcase” é impulsionada a interactividade entre os intervenientes, bem como entre os diferentes agentes culturais. Neste sentido é lançado, pela edição, um tema para o qual são convidados artistas a fazer uma pequena “amostra” do seu trabalho tendo como referência a ideia proposta.
Para o futuro, para além da continuação do trabalho que tem vindo a ser desenvolvido, é ambição da “mART” dar forma a uma secção do site que albergue perfis de artistas, associações e agentes culturais, capaz de, quem sabe, vir a servir de base de dados de modo a confluir numa maior interacção e comunicação. Novidades para breve passam também pela criação de uma newsletter e de uma agenda online.
Fazem parte da equipa da “mART”, para além dos fundadores, Maria Caetano e Clara Tehrani e a publicação está disponível em https://martmagazine.net/.

30 Mar 2016

Taiwan | Assassínio de criança debilita oposição à pena de morte

O recente assassínio de uma criança aqueceu o debate a pena de morte em Taiwan. O movimento abolicionista reforçou o activismo mas os defensores ficaram ainda mais motivados pelo macabro episódio. A grande maioria da população, por seu lado, pretende que a pena se mantenha

A decapitação de uma menina, esta segunda-feira, em frente da mãe e em plena luz do dia, desencadeou a ira social em Taiwan e os opositores da pena capital têm evitado defender claramente a sua posição, que anteriormente já não granjeava apoio popular.
O director executivo da Aliança de Taiwan contra a Pena de Morte, Lin Hsin-yi, declarou à imprensa e escreveu na sua página no Facebook que estava “muito, muito, muito triste” pela tragédia e que gostaria de encontrar formas de pôr fim a este tipo de incidentes.
Freddy Lim, conhecido por ser líder da banda de “death metal” Chthonic, ex-homem forte da Amnistia Internacional em Taiwan e agora deputado do Partido Novo Poder, questionado se o assassínio da menina poderá afectar a sua oposição à pena capital, disse já propôs reformas do sistema penal e uma maior protecção das crianças e familiares das vítimas.
Na frente favorável à pena de morte, as vozes são mais contundentes, algo visível na Internet, onde se pede a execução automática de condenados por “homicídio com dolo” e que os assassinos “paguem pelo que fizeram” com a morte.
A deputada do Partido Kuomintang Wang Yu-min pediu apoio público para a sua proposta de penas de morte e prisão perpétua automáticas para assassinos de menores de 12 anos, a qual vai ser debatida na próxima quinta-feira.
A nova presidente da mesma formação política, Hung Hsiu-chu, atacou os que se opõem à pena capital e perguntou se, após o brutal assassínio, ainda eram capazes de apoiar “a abolição da pena de morte”.
Segundo a agência estatal Central News Agency, o suspeito do crime de segunda-feira, de apelido Wang, tem cadastro por delitos relacionados com droga e foi submetido no passado a um tratamento psiquiátrico.
Segundo relatos citados na imprensa, o homem, de 33 anos, agarrou a criança por trás e decapitou-a com uma faca, num aparente ataque ao acaso numa rua de Taipé.

Maioria do contra

Taiwan regista taxas de criminalidade baixas, com menos de três homicídios por cada 100.000 habitantes.
Em 2015 foram registadas seis execuções, contra cinco em 2014, precedidas por uma moratória na aplicação da pena capital entre 2006 e 2009.
Todas as sondagens de opinião em Taiwan mostram um apoio maioritário contra a abolição da pena de morte. Na mais recente, realizada em meados de Fevereiro pela Universidade Chung Cheng, 83% dos inquiridos defendeu a sua manutenção.

30 Mar 2016

Que estamos nós aqui a fazer, tão longe de casa? | O homem sem rosto

Quando a viúva ficou em silêncio, ouviu-se claramente o chilrear de um pássaro através da vidraça. Um som que se prolongou durante algum tempo, até que se ouviu um bater de asas e o pássaro voou para um qualquer outro lugar.
As pálpebras da viúva tremem de raiva quando fala. Por momentos está em silêncio. Mantém a calma. Pouco depois perde-a e os lábios mexem, e as pálpebras tremem de raiva. Tenta recordar-te. Quem poderá saber da nossa existência? Quem poderá ter encomendado este trabalho? Observa bem o espaço. O que poderá ser usado para nos libertar?  Tem que existir alguma coisa. Tem que existir uma saída. A viúva não vai ficar o tempo todo nesta sala. Quieto nesta sala sombria. A viúva continua a remexer nos armários. Ali daquele lado existe uma pequena janela. Existe esperança. Uma esperança diferente daquela que vivi nos dias seguintes aos teus olhos se apagarem. Uma esperança que perdi na base da colina, atrás da casa. Atrás de um alto monte de terra. Uma casa com a entrada escondida por ervas daninhas. Uma casa modesta. Uma casa onde me escondi até esquecer que nome era o meu. Até esquecer que nome era o teu. Entre as ervas daninhas floresceu um grupo de flores de cor azul. Violetas. De um azul forte. Um azul brilhante.

O que a viúva não sabe é que nessa casa, com a entrada escondida, uma estranha aparição surgiu uma vez à porta. Uma estranha mulher que parecia estar em baloiço. Para frente e para trás. Parecia que estava realmente em baloiço. Talvez fosse por causa da paisagem ao fundo. Uma paisagem com grossas folhas e sobrepostas camadas de gelo. Grossas folhas que antecipavam uma cadeia de montanhas nevadas. Nevadas como só as montanhas podem ser e com aquela sensação de imensidão que só as montanhas possuem. Essa estranha mulher parecia em baloiço mas podia ser o fundo. Lembro-me que eu próprio me senti em baloiço. Em baloiço com aquela cascata de montanhas nevadas que eram de um branco-neve fria. E eis que o frio da neve tornou-se cor quente soltando uma música inebriante. A mulher começou a soltar sons. Consonantes.

As consonantes dos teus olhos que ao chocarem na neve não eram mais um uniforme branco. Estas consonantes não eram um uniforme branco mas sim muitas cores harmonizadas. Eram consonantes com muitas cores e muitas outras tonalidades dentro de cada cor. Com variações de vermelho, e verde, e azul, e roxo, e amarelo, e muitas outras cores, e muitos outros tons. Talvez fossem os pinheiros vermelhos. Os mesmos pinheiros que se erguiam para além do telhado de palha. Essa estranha aparição que parecia em baloiço, para frente e para trás, e que parecia desvanecer-se nesse movimento tinha os mesmos olhos consonantes. Essa estranha aparição tinha os teus olhos e eu levei esses olhos até uma sala ao fundo da casa. Uma sala onde comemos bagas de uvas e todas as pétalas das violetas de azul forte que floresceram por entre as ervas daninhas. Essa mulher não me mostrou logo todo o seu rosto. Não me mostrou logo tudo. Demoraram meses até que ela me mostrasse as marcas dos meus dedos no seu pescoço. No teu pescoço. O que a viúva não sabe é que tu voltaste para nunca mais me deixares. O que a viúva não sabe é que me acompanhas para todo o lado e que estás agora aqui sentada no sofá e que tudo vês, e que tudo ouves, e que tudo sentes.

A viúva desloca-se a espaços, para observar a sopa que tem no fogão. Ali ao fundo existem umas portas de vidro deslizantes. Penso que dêem para a casa-de-banho. Levanta-te e vai até lá. Espera até que ela aqui volte e investiga se existe algo que possamos usar. Podes olhar-te ao espelho para te certificares de que não há problemas com a tua aparência. Enquanto isso investiga o espelho. Vê se é grande e se o poderemos de algum modo utilizar. Investiga se tem banheira. E depois segue até ao corredor e investiga o resto da casa.
A viúva respirou fundo várias vezes antes de dizer. “Tu vais ser o meu último trabalho. Uma vez que faça isto desapareço”. Vai já. Vai agora que ela se inclina sobre mim. Estamos aqui agora, mas não amanhã. Eu amanhã nem vou saber quem sou, nem vou voltar a ter um nome diferente, nem uma cara diferente, nem sequer te vou conseguir ver. Vai agora. Por favor. Não consigo sacudir a consciência. Sinto a minha respiração a aumentar ao mesmo tempo que o meu bater de coração acelera. Sinto uma gota de suor. Um formigueiro na pele. Sinto a droga que ela me injectou começar a fazer efeito. Não quero ter nenhuma premonição. Mas sinto algo de mau. Como um aviso. Desta vez é diferente. Estou a ficar demasiado tenso. Não quero dar indícios de medo à viúva. Olha. Ela vai aumentar o som da televisão. Vai agora.

“A polícia revelou que foi descoberta uma outra mulher grávida morta na Vila da Taipa. A mulher, também com 32 anos, foi igualmente encontrada com o abdómen aberto. O marido terá chamado a polícia depois de ter chegado a casa e ter encontrado a mulher na sala de jantar do apartamento. O feto, de 7 meses, foi encontrado deitado ao lado dela, dando ideia que o assassino não teve tempo para o levar como nos casos anteriores. A polícia está agora num impasse, procurando por novos indícios, depois de ter preso um suspeito de 23 anos que havia confessado ser o responsável dos anteriores casos. Em relação à rapariga da ponte não existem mais desenvolvimentos.”

José Drummond

30 Mar 2016

Palmyra libertada

[dropcap]O[/dropcap] exército sírio libertou Palmyra das mãos dos bárbaros e, para surpresa geral, a destruição não foi tão maciça como se temia. É certo que alguns dos principais monumentos foram dinamitados, o grau de vandalismo e os seus efeitos estão ainda por calcular. Contudo, dizem as notícias, poderia ser bem pior.

A pergunta que me assalta é: Porquê? Qual a razão (ou acaso) que terá poupado o grosso das ruínas de Palmyra? Que fenómeno terá detido a barbárie, que os homens do Daesh trazem acantonada no coração? Estando ali, entre ruínas pagãs, deveriam ter arrasado tudo, destruído radicalmente os vestígios de outras crenças, incendiado os restos e espalhado as cinzas aos ventos do deserto. Isso não aconteceu. A destruição foi significativa mas não foi total. A mão bárbara suspendeu o acto, não o levou até ao fim. Porquê?

Numa visita a um templo de Angkor Wat, junto a uma enorme estátua de um buda, um guia contava que, durante o regime despótico, um destacamento de Khmers Vermelhos se preparava para a destruir mas que uma voz, vinda do artefacto, fôra por todos ouvida, pondo em fuga os soldados de Pol Pot.

Não sei se em Palmyra sucedeu a mesma coisa. Se uma voz ressoou do interior das pedras, das colunas, dos arcos, evitando a sua destruição. No entanto, a ter existido, prefiro acreditar que essa voz veio do fundo da consciência daqueles homens: é o rumor da História à qual todos pertencemos e sem a qual faríamos muito menos sentido. Eles saberiam, no fundo, que se estavam a destruir a si mesmos, a uma parte da sua identidade e isso soa tão indiscutivelmente ao Mal como um crime cometido contra o próprio sangue.

Não terá sido nada disto. Talvez falta de explosivos. Talvez demasiadas mulheres para violar, talvez demasiados sábios para cortar a cabeça. Talvez outra razão qualquer. Seja ela qual for, a História resiste, não somente como memória de factos, de reinos ou de actos heróicos. Resiste, sobretudo, a Beleza e é ela que nos permite aceder às partes mais interessante dos humanos que nos antecederam. Era esta beleza intemporal, inesgotável enquanto fonte de informação e incomparável enquanto fonte de deleite, que dormia prisioneira em Palmyra, depois de ter sido violada pelo Daesh. Agora terá de ser gentilmente acordada.

30 Mar 2016

Ficção? Já foi

Escrevia há tempos nesta página que vivíamos tempos interessantes convicto de atravessarmos um período de profunda transição onde grande parte do que temos vindo a assumir como pressupostos de vida se vêem em profunda crise. Admitia estarmos à beira de uma revolução. Não necessariamente daquelas com ao tiro e à bomba (quer dizer…) mas uma profunda remodelação de forma de vida. Todavia, não pensava que a coisa pudesse ser tão dramática.
Lia a semana passada um artigo (https://bit.ly/aistatus) de Scott Santens, escritor, activista e psicólogo (scottsantens.com), uma explanação brilhante sobre o estado actual da Inteligência Artificial (IA), um assunto que, aliás, o Hoje Macau (HM) abordou na edição de ontem. Basicamente, argumenta ele que, e copio do artigo de ontem, “quando o AlphaGo derrotou o tricampeão Europeu de Go a comunidade científica começou a perceber que as mudanças que se esperavam bem mais para frente vão começar bem mais depressa. Apenas meses antes, vários especialistas entendiam que precisaríamos de mais uns 10 anos para tal ser possível.” Argumenta ainda Santens, com base num estudo do Bank of America do final do ano passado sobre a revolução robótica (https://bit.ly/botrevolution), que esta conquista é apenas mais um sinal que passámos do paradigma da evolução tecnológica linear para uma evolução parabólica, significando isso que a partir de agora tudo vai acontecer a um ritmo muito mais acelerado.
Scott faz ainda referência a vários sistemas de inteligência artificial actualmente em desenvolvimento, com especial destaque para o “Amélia” da IPsoft, em beta teste em várias grandes empresas mundiais, que irá substituir todos os serviços de assistência ao cliente e de telefonistas, estimando-se na ordem dos 250 milhões de postos de trabalho (!) a serem extintos em todo o mundo. “Amélia”, descreve Santens, aprende em segundos o que a nós, humanos, leva meses e fala mais de 20 idiomas. Mas há mais: um estudo da Universidade de Oxford prevê que nos próximos 20 anos cerca de metade dos empregos nos Estados Unidos venham a ser entregues a máquinas porque elas já não se vão limitar a actividades mecânicas e repetitivas mas chegar muito mais longe. Até às artes…
Isto leva-nos à questão essencial: se as máquinas vão fazer o nosso trabalho, nós vamos fazer o quê? Se as empresas vão ter trabalhadores gratuitos, para onde vai o dinheiro? Scott encontra-se no grupo, onde se inclui Andrew Ng, cientista chefe da Baidu e fundador do projecto de Deep Learning “Google Brain” entre muitos outros, que advoga o rendimento universal garantido para toda a gente e a necessidade urgente que os governos têm de se debruçar sobre o assunto. Porque vai ser um problema, algo que vai transfigurar a vida na Terra sem comparação com algo visto no passado.
Por isso, torna-se absolutamente necessário que todos, e não apenas os governos, em casa, nas escolas e entre grupos de amigos comecemos a debater o advento da IA pois quanto mais se pensa mais são as questões que se levantam. Como vamos reagir ao ócio? Como vão reagir as máquinas? Que vamos fazer com a nossa vida? Como é a vida quando o trabalho desaparecer?…
Isto, claro, partindo do princípio que as máquinas não nos vão tomar como um vírus e acabar connosco como, aliás, Stephen Hawking e até Bill Gates temem. Para já, sinto apenas reforçada a ideia de que o discurso político do crescimento económico está morto e enterrado e tem de ser substituído pelo discurso da distribuição, pelo da mudança de paradigma de vida.
Mesmo após a pesquisa que efectuei, parece-me irreal escrever sobre isto. Mas não é. A verdade é que estamos prestes a entrar na realidade de “2001: Odisseia no Espaço”, “Ex Machina”, “Matrix” e “Exterminador” todos juntos e de uma assentada. Porque não é apenas a IA em plena evolução pois, como a Boston Dynamics está farta de provar, os robots já mexem e andam quase como nós. Ao ponto da Google querer vender esta sua divisão pois as imagens do seu mais recente robot, o Atlas, estão a apavorar meio mundo. Em boa verdade, não é muito difícil imaginar um bicho daqueles com uma arma nas mãos deixando-nos a pensar no que andarão a fazer os produtores de armamento no segredo dos seus laboratórios…
Stephen Hawkins, no final do ano passado, disse mesmo que as máquinas podem acabar connosco porque são muito inteligentes. De facto, quando ainda brandimos Corões e Bíblias para provar um qualquer ponto invisível no céu e destruímos o meio ambiente para ganhar mais uns trocos, esta assumpção não tem nada de extraordinário.
Estamos perante uma revolução como nunca foi vista. O prof. Lionel Ni, no artigo de ontem do HM, comparava a emergência da IA com a invenção da máquina a vapor mas eu acho que ele está ser demasiado comedido. Para mim, o que aí vem situa-se para além do domínio do que consideramos fantástico. Com uma pequena diferença: é híper real e está aí, a bater-nos à porta. Já não é ficção.

Música da Semana

David Bowie – Saviour Machine (1970)

Your minds are too green, I despise all I’ve seen
You can’t stake your lives on a Saviour Machine

I need you flying, and I’ll show that dying

Is living beyond reason, sacred dimension of time
I perceive every sign, I can steal every mind

Don’t let me stay, don’t let me stay
My logic says burn so send me away

30 Mar 2016

“IES”, restaurante | Larry Chen, proprietário: “Estamos concentrados no melhor”

O espaço desliga o cliente do mundo lá fora. Cor, luzes e decoração tornam-se elementos fundamentais que, aliados aos sabores, nos fazem voar até Itália. Assumindo uma aposta na aparência dos pratos, e fazendo jus ao sabor, a nova surpresa da gerência é “o pão”

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]negócio está-lhe no sangue. Larry Chen traz consigo uma grande bagagem de trabalho na área de restauração, mas “esta é a primeira vez que tem um negócio mais pequeno”. “Sempre trabalhei em restaurantes, mas eram grandes e com muita saída, desta vez decidi apostar num espaço mais pequeno, mas criando condições para crescer e se espalhar para fora de Macau”, começa por partilhar com o HM aquele que é um, dos dois, sócios do restaurante “IES”.
Entre o Teatro D. Pedro V e as antigas instalações da Polícia Judiciária, o “IES” não passa despercebido. Uma porta de madeira dá entrada a um espaço acolhedor, com dois andares, e carregado de cheiro a comida caseira.
Bem no centro, no balcão, está uma equipa que rasga um sorriso sempre que um cliente chega. A atenção à nacionalidade dos que acabam de chegar é um ponto de dedicação da equipa, até porque, explica o proprietário, cada cultura tem os seus hábitos.

A crescer

Aberto há menos de um ano, “IES” – nome que surge de “IExpresso” – quer “criar um café com comida decente”, como explica Larry Chan. “Queremos criar uma marca que se possa estender para outros horizontes. Por isso é que criámos localmente uma marca sofisticada, moderna, com traços e uma atmosfera italiana”, acrescenta.
Mas não estamos só a falar do espaço. “Obviamente também falamos da comida, do café, das sobremesas, todo o conjunto”.
Macau, aponta o sócio-gerente, é tão diversificado que “mesmo com a competição louca que se sente nos dias de hoje”, o território “é um mercado emergente” e por isso precisa de novos espaços e novos conceitos.
“Aqui [em Macau] é possível encontrar um pouco de tudo. Seja comida portuguesa, seja chinesa… Mesmo as pessoas que vêm de Hong Kong ou do interior da China, mesmo que seja uma viagem curta, conseguem encontrar aqui em Macau uma grande diversidade”, acrescentou.

Pasta e pão

Uma breve passagem de olhos pelo menu facilmente nos remete para um restaurante italiano. A razão é simples, “a comida italiana não é cara, pode ser consumida todos os dias e os asiáticos estão ligados à massa”. Larry Chan explica que a vantagem deste tipo de gastronomia para com outras nacionalidades é a possibilidade de se optar por comida italiana diariamente. “Por exemplo, a comida tradicional francesa não é uma comida que se coma todos os dias, até porque é mais sofisticada e, por vezes, até mais cara. A comida italiana não é assim, é uma comida que se pode comer todos os dias”, apontou.
Variados tipos de massa, pizza, pão e sobremesas fazem parte da oferta da casa, que garante a qualidade e sabor dos seus pratos. Todos os dias existe um menu diário com opções variadas e a um preço simpático.
Uma das vantagens do espaço é que está aberto até tarde. “Uma das nossas particularidades é essa. Não fechamos a parte das refeições ou café. Ou seja, as pessoas podem vir aqui só para beber um café, ou um chá, ou uma sobremesa, mas também comer refeições a qualquer hora”, clarificou.

A grande aposta

É o pão a menina dos olhos do “IES”. A abertura de uma padaria foi a grande aposta do gerente para este ano. “A padaria abriu há poucos meses, estamos a tentar crescer”, apontou, explicando que existem variadíssimos tipos de pão dependendo dos gostos e necessidades de cada cliente.
Mas desengane-se quem acha que abrir um negócio em Macau, principalmente na área de restauração, é fácil. “É muito difícil”, partilha o empreendedor. Principalmente, diz, por causa da falta de recursos humanos dispostos a trabalhar na área. “É muito difícil encontrar pessoas que estejam prontas a oferecer um serviço bom e de qualidade, portanto isto não nos facilita o trabalho. E depois existe a concorrência, antigamente poucos ligavam ao mercado da restauração, agora há muito interesse”, apontou.
O trabalho nos casinos é também um dos grandes entraves ao negócio. “Trabalhar num casino é mais fácil do que trabalhar na restauração”, apontou.
Ainda assim, Larry Chan não está nada arrependido de ter arriscado num novo negócio. “Eu gosto disto, é um bom desafio. Abri vários restaurantes no passado, não em Macau, mas não estou arrependido, acho que é um desafio. É divertido, gosto desta combinação de café com comida. Gosto disto”, reforçou, sonhando expandir o “IES” para Hong Kong, Singapura e Taiwan.
“Por agora, eu e a minha equipa, queremos dar tudo por tudo para os nossos clientes. O feedback tem sido bom, mas estamos concentrados no melhor que podemos fazer”, rematou.

30 Mar 2016

Quem foi, foi

[dropcap style=’circle’]Q[/dropcap]uem foi outrora um amante e o deixou de o ser, junta-se à colecção daqueles que deixámos para trás, mas que, ainda assim, preenchem histórias e as memórias românticas/sexuais de uma vida. As separações e os divórcios vão acumulando um manancial de pessoas popularmente conhecidas por ‘ex’. Pessoas com quem partilhámos grandes momentos de intimidade, sem roupa, com gemidos, outros sorrisos e às vezes choros. E agora já não se partilha: é a morte do conjunto, da sinergia. O fim de relacionamentos românticos traz a dor de perda e a necessidade de um processo de luto, com a excepção que ninguém morreu, só o relacionamento. Morrem relacionamentos, partem-se corações, fala-se de dor e chora-se (bastante) por ela, perdemo-nos em ataques de ansiedade e em negativismo. A vida nunca será a mesma. E com corações partidos criam-se mundos de vidas, de músicas, literatura e arte. Não só pela necessidade de ventilação pelo criador, mas pela partilha que poderá levar a tantos outros corações a se sentirem entendidos. Há sempre corações a precisarem de cura.
Independentemente da duração do relacionamento, cada um de nós desenvolve-se e cresce em função desta ligação que apareceu com a mais bela história de amor e de sexo e que, por várias razões, pode torna-se num thriller de ansiedade e tristeza. Acabar com um relacionamento traz dificuldades emocionais, por mais psicologicamente apto que uma pessoa se possa sentir. A nossa identidade é moldada e incorporada na coisa que se cria. A coisa que se cria é uma vida a dois que, ao terminar, obriga a um renascimento individual. Torna-se num período de negociação de identidade, e o luto não é só do desaparecimento do outro, mas do desaparecimento de si próprio com o outro.
Não admira, portanto, que mesmo com relacionamentos que estejam com os pés para a cova e a morte esteja mais do que anunciada, que a tristeza persista. Para os não-pessimistas a cisão permite mudança e oferece-nos liberdade para fazermos aquilo que nos dá na gana. Mas o desconhecido não deixa de ser o desconhecido, nem deixa de ser assustador para muitos.
O que deixámos no passado são pessoas que muito provavelmente nos tocaram nus e com quem fodemos continuamente. Por isso, para além de um coração partido temos um sexo destroçado. Os órgãos nunca mais se tocarão, os corpos nunca mais se enrolarão nos lençóis que trocaram em conjunto. Porque se há um coração em sofrimento e uma cabeça num constante diálogo interno de raiva, insatisfação e de auto-comiseração, o sexo demorará a encontrar uma nova via de expressão. Depois de um hábito sexual, por mais excitante que seja diferença, o sexo sente-se arrancado do conforto que é estar com alguém de quem se gosta e de quem se conhece as manhas (sexuais).
Os popularmente conhecidos como ‘rebound’ são aqueles engates de pouca ligação emocional: uma ligação estritamente sexual na esperança que o acto faça esquecer o anterior amante e amor. O problema, e muitos esquecem-se disso, é que não se trata de uma forma de resolução eficaz, bom sexo não vai cuidar uma ferida emocional da mesma forma que um sentimento de satisfação pessoal vai em muito influenciar sexo potencialmente espectacular, ou seja, alta auto-estima resulta em sexo fantástico, mas sexo fantástico não vai necessariamente contribuir para um aumento de auto-estima, especialmente quando nos sentimos emocionalmente debilitados por uma separação.
Se há dicas para emocionalmente ultrapassar separações, com alguma certeza afirmo que não há dicas para o luto sexual por aí. O pénis e a vagina precisam de ser ouvidos e entendidos, de alguma forma. No remoinho maniaco-depressivo onde o coração e o cérebro se encontram em permanente conflito, quanto espaço o sexo precisa?

29 Mar 2016

Coloane | CCAC investiga construção de edifício de luxo

[dropcap style=’circle’]O[/dropca]Comissariado contra a Corrupção (CCAC) já se encontra a investigar a construção de um edifício habitacional de luxo junto ao Alto de Coloane, na Estrada do Campo, depois de ter recebido uma denúncia sobre eventuais irregularidades no processo.
Em declarações ao Jornal do Cidadão, André Cheong, Comissário, disse que o facto do CCAC ter iniciado um processo de investigação “não significa que existam problemas”, sendo que o mesmo só foi iniciado depois de uma análise preliminar a uma queixa recebida e com base na Lei Orgânica do CCAC. André Cheong referiu que existem “elementos básicos” para iniciar uma investigação.
Questionado sobre o tempo de duração do processo, André Cheong disse “ser difícil” avançar já com um calendário, mas por se tratar de um caso que envolve o interesse público “o CCAC vai acelerar a investigação2.
No início do mês a Associação Novo Macau (ANM) pediu ao CCAC uma investigação ao projecto, apontando que as restrições à altura de construção do edifício foram “eliminadas” em 2012. A ANM apontou que, em 2011, a altura máxima permitida para o edifício era de 11,6 metros, mas que, um ano depois, a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) aprovou a construção de um prédio com um limite máximo de cem metros de altura, com a duração de um ano.

Caso Iec Iong só em Abril

André Cheong falou ainda do processo de investigação relativo ao terreno da antiga Fábrica de Panchões Iec Long, em Coloane, o qual deverá ser publicado em Abril, sendo que Fevereiro foi a data inicialmente apontada para a publicação do relatório. André Cheong pediu à população para ter paciência e explicou que estão em causa questões jurídicas “complicadas”, que envolvem vários contratos assinados e o próprio Governo, sendo, por isso, necessário auscultar mais opiniões jurídicas.

29 Mar 2016

Turismo | Mecanismo de alerta avança este ano

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]directora dos Serviços de Turismo (DST), Helena de Senna Fernandes, garantiu que o mecanismo de alerta de turismo deverá ser implementado este ano através de regulamento administrativo. Citada pelo Jornal do Cidadão, a directora confirmou que 74 países ou regiões serão integradas na lista de avaliação do mecanismo. Helena de Senna Fernandes disse ainda que as despesas com o seguro de turismo não deverão ser influenciadas por este mecanismo, porque as seguradoras vão adicionar mais cláusulas nos contratos visando a nova medida.
A decisão de implementar um mecanismo de alerta foi avançada em Novembro do ano passado. “Temos como referência o sistema de alerta de turismo de Hong Kong, das regiões vizinhas e do interior da China, depois fazemos um sistema apropriado à situação de Macau”, indicou Helena de Senna Fernandes.
Segundo o Jornal do Cidadão, o Conselho de Estado da China divulgou novas orientações de cooperação na zona do Delta do Rio das Pérolas que incluem a autorização de mais vistos individuais para Macau com partida de outras cidades chinesas. Helena de Senna Fernandes referiu que a DST vai ajustar a estratégia de promoção para atrair mais visitantes com vistos individuais do interior da China, sobretudo fora da província de Guangdong.
Questionada sobre a queda do número de excursões provenientes da China nos primeiros dois meses do ano, Senna Fernandes garantiu que isso não se deve aos desacatos ocorridos na zona de Mong Kok, em Hong Kong, tendo prometido uma maior promoção de Macau como destino turístico em países como a Coreia do Sul.
Lam U Tou, secretário da Associação Choi In Tong Sam, afirmou ao mesmo jornal que não discorda da política do Governo Central de incluir mais cidades da China na lista de atribuição de vistos individuais, mas pediu que o Governo melhore a estrutura do turismo em Macau. Para Lam U Tou, é necessária uma gestão coordenada com Pequim em relação às excursões realizadas.
“Os turistas são levados a fazer compras depois de uma viagem aos pontos turísticos mais importantes ou vão aos monumentos. Embora isso traga mais consumo para Macau, também traz mais pressão e conflitos, o que prejudica a imagem do turismo. Isso faz com que as excursões normais não consigam manter-se em Macau ao mesmo tempo”, disse Lam U Tou.
Wu Keng Kuong, secretário da Associação da Indústria Turística de Macau, disse que a capacidade de acolhimento de turistas não vai ser influenciada com o aumento dos vistos individuais.

29 Mar 2016

Terrorismo | 72 mortos e centenas de feridos em atentado em Lahore

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]everia ter sido um domingo normal no Parque Gulshan-e-Iqbal, em Lahore, no Paquistão. Centenas de pessoas comemoravam a Páscoa, que terminava três dias de feriados. Outros aproveitavam a folga para passear. Mas um bombista suicida escolheu a data propositadamente para tirar a vida a, até agora, 72 pessoas. Mais de três centenas ficaram feridas. A maioria das vítimas era mulheres e crianças.
O ataque em Lahore prova que nem só o Daesh (Estado Islâmico) está a declarar guerra ao mundo. Pelo menos sozinho. O atentado terrorista deste domingo foi reivindicado por um grupo talibã paquistanês, o Jamaat-ul-Ahrar, que assumiu em tempos ter ligações com o Daesh. O grupo admitiu já que o atentado foi perpetrado contra a minoria cristã paquistanesa, reunida no parque no final deste domingo de Páscoa. Contudo, como aconteceu num ataque em Março de 2015 na mesma cidade – a segunda maior do Paquistão -, poderá haver muçulmanos entre as vítimas, como avançam os média internacionais.
“O alvo eram os cristãos”, disse o porta-voz desta facção, Ehsanullah Ehsan, citado pela agência Reuters. “Queremos mandar ao primeiro-ministro, Nawaz Sharif, a mensagem de que entrámos em Lahore. Ele pode fazer o que quiser, mas não será capaz de nos travar. Os nossos bombistas vão continuar estes ataques.” 56f81149c3618880778b4595
O grupo já assumiu responsabilidades por outros atentados, que normalmente têm como alvo o exército, a polícia, o governo e interesses ocidentais. Mas cristãos e outras minorias religiosas também entram na lista desde há 15 anos, quando o Paquistão se juntou a uma campanha norte-americana contra o extremismo islâmico, depois dos ataques de 2001 às Torres Gémeas, nos EUA.
Em Dezembro de 2014, por exemplo, um grupo de talibãs armados matou mais de 134 crianças numa escola militar em Peshawar. No ataque deste domingo naquela que é a capital de uma das províncias mais ricas do Paquistão, Punjab, o bombista suicida terá feito explodir pelo menos oito quilogramas de explosivos “apenas a uns metros” de baloiços para crianças. De acordo com o jornal Pakistan Today um superintendente da polícia, Muhammad Iqbal, deu ainda conta que a bomba estava carregada de “esferas [em metal] para provocar um maior número de ferimentos e mortes”.

Antecedentes e terror

Lahore é também a cidade onde Shahbaz Sharif, chefe da província de Punjab, nasceu. Sharif anunciou três dias de luto e apelou a que os responsáveis pelo atentado sejam levados à justiça. O responsável condenou o ataque e definiu-o como sendo “um acto cobarde”.
De acordo com os média internacionais, o bombista suicida foi identificado como sendo Yousuf, nascido em 1988 no Paquistão. A informação foi retirada de um documento de identificação recuperado perto do corpo do homem.
Relatos de testemunhas citados por diversos jornais dão conta de que dezenas de crianças e mulheres foram levadas para o hospital em táxis ou riquexós, devido à falta de ambulâncias.
Amanat Masih foi uma das pessoas que levou três filhos e duas crianças ao parque – perdeu um sobrinho e dois filhos. “Estávamos aqui apenas para aproveitar o bom tempo e ter uma boa tarde. Que tipo de pessoas têm como alvo inocentes e crianças num parque?”, disse, citado pelas agências internacionais enquanto “era assistido por uma enfermeira”.
A detonação da bomba aconteceu ao início da noite de domingo. “Quando a explosão aconteceu, as chamas eram tão grandes que chegaram ao topo das árvores e vi corpos a voar pelos ares”, disse à Reuters Hasan Imran, uma testemunha que passeava perto do local no momento da detonação. “Tudo estava a tremer, havia pó em todo o lado e choros. Depois de dez minutos fui lá fora e vi carne humana nas paredes de minha casa”, descreveu Javed Ali, que vive em frente ao parque.
“Há muitas pessoas a receberem tratamento no teatro de operações e tememos que o número de vítimas aumente consideravelmente”, alertou à Reuters um conselheiro de Saúde no governo regional de Punjab, Salman Rafique.

Pakistani rescuers use a stretcher to shift a body from a bomb blast site in Lahore on March 27  2016    At least 25 people were killed and dozens injured when an explosion ripped through the parking lot of a crowded park where many minority Christians had gone to celebrate Easter Sunday in the Pakistani city Lahore  officials said    AFP PHOTO   ARIF ALI
Pakistani rescuers use a stretcher to shift a body from a bomb blast site in Lahore on March 27 2016 At least 25 people were killed and dozens injured when an explosion ripped through the parking lot of a crowded park where many minority Christians had gone to celebrate Easter Sunday in the Pakistani city Lahore officials said AFP PHOTO ARIF ALI

O atentado coincide com várias manifestações violentas em outras partes no país, que têm acontecido desde a execução de Mumtaz Qadri, no final de Fevereiro. Este foi condenado à morte depois de assassinar Salman Taseer, o governador da província de Punjab de quem era guarda-costas e que era tido como uma das mais populares vozes a favor da reforma das leis de blasfémia, quando pessoas são condenadas por criticarem o Islão, Alá ou o Corão. A execução por enforcamento de Mumtaz Qadri incendiou a parte mais extremista da comunidade muçulmana paquistanesa, que se opõe ao actual governo. Depois do ataque de domingo, o governo de Punjab fechou todos os parques públicos, sendo que também centros comerciais da cidade foram encerrados. O exército foi chamado a controlar multidões fora do local do atentado ao mesmo tempo que centenas de manifestantes atearam vários fogos diante do Parlamento e arremessaram pedras contra a polícia. Mais de 60 pessoas, a maioria polícias, ficaram feridas.

Reacções à volta do mundo

“Portugal condena mais este atentado e reafirma o seu compromisso com a luta internacional contra o terrorismo. É mais um atentado bárbaro. Além do que é comum a todos os atentados terroristas, atacar pessoas indefesas, este atentado visou especificamente uma minoria religiosa e muitas crianças”, Ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva

“Este atentado lança uma sombra de angústia na festa da Páscoa e é um horrível massacre de dezenas de inocentes. Atinge com uma violência fanática os membros das minorias cristãs. Mais uma vez, o ódio homicida atinge vilmente as pessoas que menos se podem defender”, porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi.

“Terroristas cobardes tiveram como alvo mulheres e crianças, o que é extremamente condenável e lamentável”, Narendra Modi, primeiro-Ministro indiano

“Enquanto cristãos em todo o mundo celebravam a Páscoa, um ataque terrorista chocante em Lahore relembrava-nos que o terrorismo é um problema à escala global”, Julie Bishop, Ministro dos Negócios Estrangeiros australiana

Bombista suicida em jogo de futebol – Iraque | Atentado do EI perpetrado por adolescente

Sexta-feira, estádio de futebol em Iskanderiyah, no Iraque. Um adolescente fez-se explodir, matando 32 pessoas e deixando cerca de 84 feridos, 12 em estado crítico. A explosão ocorreu quando a taça estava a ser entregue à equipa vencedora e o atentado foi já reivindicado pelo Estado Islâmico.
“Dos mortos, 17 são rapazes com idades entre os dez e os 16 anos”, segundo as autoridades. “O suicida abriu caminho entre a multidão para chegar ao centro dos acontecimentos e fez-se explodir quando o presidente da câmara entregava os prémios aos jogadores”, contou à AFP Ali Nashmi, de 18 anos.
O presidente da câmara, Ahmed Shaker, é um dos mortos – assim como um dos seus guardas pessoais e cinco elementos da polícia. Iskandariyah fica a cerca de 40 quilómetros da capital iraquiana.
A federação iraquiana de futebol publicou um comunicado a condenar o atentado: “O futebol é uma força poderosa e o nosso jogo sobreviveu sempre, mesmo quando houve conflitos no mundo. É uma cobardia usar recintos onde se joga futebol e se pratica desporto para realizar odiosos actos de violência; é injusto e vergonhoso.”
O EI tem estado a sofrer derrotas às mãos do exército iraquiano que está a ser apoiado pelas Unidades de Mobilização Populares, uma milícia xiita, e por elementos da coligação internacional que combate o EI, com os americanos a realizarem raides aéreos. Está em curso uma grande operação do exército de Bagdad para recuperar Nínive (Norte) e a sua capital, Mossul, que é a segunda cidade mais importante do país e a capital do EI no território que ocupa no Iraque. Foi em 2014 que o EI realizou uma ofensiva que lhe permitiu conquistar importantes partes do território do Iraque, a Norte e a Sul de Bagdad. As derrotas estarão, agora a levar o Daesh a intensificar atentados como este.

Bruxelas ainda conta vítimas mortais – Quase todos os mortos identificados mas números podem subir

As autoridades forenses belgas identificaram formalmente 28 vítimas mortais dos atentados de terça-feira em Bruxelas, enquanto três famílias esperam ainda a verificação oficial após uma análise de ADN. O número oficial de mortos dos atentados da semana passada no aeroporto e no metro de Bruxelas subiu para 31 e poderá aumentar, de acordo com a mais recente informação do Centro de Crise da Bélgica.
A actualização dos últimos dados, publicada no domingo pelo Centro de Crise da Bélgica, não inclui os terroristas suicidas, oficialmente três até agora. As autoridades precisaram que, das vitimas identificadas até ao momento, 15 morreram nas explosões no aeroporto internacional de Zaventem. Dessas, seis têm nacionalidade belga e nove são estrangeiros, de Estados Unidos, Holanda, Suécia, Alemanha, França e China.
No ataque ao metro de Maelbeek, a poucos metros das instituições comunitárias, foram identificadas até agora 13 vítimas, dez das quais belgas e três estrangeiras, de Itália, Suécia e Reino Unido.
O Centro de Crise precisou que as nacionalidades dos estrangeiros podem diferir dos dados divulgados pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, já que algumas das vítimas podem ter dupla, ou mesmo tripla, nacionalidade, como a espanhola Jennifer Scintu Waetzmann (alemã e italiana também).
“Identificamos então, formalmente, um total de 28 vítimas. Três famílias esperam no entanto a identificação formal do seus entes queridos. Nesses casos estamos à espera dos resultados de uma análise de ADN”, informou o Centro de Crise.
O número pode ainda subir já que “algumas vítimas que acabaram por morrer em diferentes hospitais não estão ainda incluídas nos números mais recentes”, como alertou o Centro de Crise.
Nos atentados de Bruxelas ficaram feridas 340 pessoas de 19 países. Destas, 101 continuavam ontem internadas, 662 delas nos Cuidados Intensivos e metade com queimaduras graves. Os três bombistas suicidas, dois no aeroporto e um no metro, não entram na contagem do número de vitimas mortais.

Palmira está de volta

O regime sírio declarou o fim de quase um ano de domínio jihadista de Palmira, ao anunciar este domingo ter reconquistado a totalidade da cidade património mundial da UNESCO ao grupo Estado Islâmico (EI), que sofre assim uma das — se não a — mais pesada derrota militar desde que proclamou o seu “califado” na Síria e Iraque, indica o jornal Público.
“A libertação da cidade histórica de Palmira é uma conquista importante e uma nova indicação do sucesso da estratégia do exército sírio e dos seus aliados na guerra contra o terrorismo”, afirmou o Presidente Bashar al-Assad, citado pela televisão estatal.
A derrota em Palmira faz o EI perder de uma vez só o seu mais importante palco mediático na Síria e um território estratégico. Os jihadistas perderam cerca de 400 combatentes só nestas três semanas da campanha por Palmira, muitos deles reforços enviados dos seus bastiões em Deir Ezzor e da cidade que reclamam como capital, Raqqa, que ficam assim expostos ao avanço das forças de Damasco. Regime e milícias aliadas perderam menos de metade dos homens: 188, segundo contas da organização oposicionista Observatório Sírio para os Direitos Humanos.
O Público diz ainda que a Rússia foi fundamental para o sucesso militar em Palmira, já que, mesmo depois de Vladimir Putin anunciar a retirada de grande parte das suas forças na Síria, a aviação russa redobrou a ofensiva sobre os jihadistas na cidade, enquanto as milícias libanesas do Hezbollah e o exército sírio avançavam lentamente sobre os campos armadilhados pelo EI.

29 Mar 2016

Centro de Ciência acolhe exposição de dinossauros

[dropcap style=’circle’]”[/dropcap]Dinossauros em carne e osso” já podem ser vistos no Centro de Ciência de Macau. Uma exposição “espectacular e única”, como indica a organização, que tem como objectivo dar uma melhor compreensão ao público sobre esta espécie que terá assumido o domínio do planeta durante cerca de 160 milhões de anos e cujo desaparecimento ainda hoje permanece envolto em controvérsia.
Esta é a oportunidade de entrar em contacto com as diferentes espécies, com o seu comportamento e habitat, bem como com o papel que desempenharam nesta era geológica – a Mesozóica. Para o efeito estão à disposição dos visitantes 14 réplicas mecânicas de dinossauros, jogos interactivos de realidade virtual e realidade aumentada, 72 modelos de dinossauros em escala reduzida e livros electrónicos referentes à exposição.
Para enriquecer a experiência, o Centro de Ciência de Macau alarga ainda o leque de actividades oferecidas, sendo que tem preparadas diferentes acções tendo em vista um público de todas as idades. Entre elas destacam-se a organização de palestras como a colaboração com escolas locais, palestras científicas, workshops para famílias, visitas guiadas dramatizadas, teatro científico e concursos de desenho e de escrita.
Em destaque está um convite de regresso ao passado com a exibição do filme premiado na cúpula do planetário – “Dinossauros ao Entardecer: as origens do voo 3D” convida o público a acompanhar a vida e extinção destes “míticos” seres.
A organização sublinha ainda a realização do Concurso Multimédia e o Concurso de Pintura de Dinossauros enquanto forma de promoção da exposição, em que terão sido superadas as expectativas com a recepção de 1500 trabalhos dos mais pequenos através da participação de 47 escolas primárias locais e cujos vencedores estão expostos no átrio do Centro. Outra novidade vai para os guias da exposição, em que o visitante pode ser surpreendido com a companhia de estudantes locais com idades compreendidas entre os 8 e 12 anos dentro da iniciativa formativa de “Pequenos Comunicadores de Ciência”.
A exposição estará patente até 11 de Setembro.

 

29 Mar 2016

AL | Governo vai amanhã responder a perguntas dos deputados

Tem lugar amanhã um plenário dedicado a responder a perguntas dos deputados que, num raro momento, vai ter em discussão temas que não estão relacionados com habitação e terrenos. A sobrecarga de infra-estruturas, os desperdícios do erário público e lacunas nas leis são as questões que imperam

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Executivo vai amanhã à Assembleia Legislativa (AL) para responder a diversas interpelações dos deputados. Segurança e ampliação de infra-estruturas são temas em destaque, num hemiciclo que vai versar ainda sobre construções em Coloane e políticas monetárias.
Poderá ser desta que os representantes do Governo vão indicar quando vão avançar as obras da Estação de Tratamento das Águas Residuais (ETAR) de Macau, que está sobrecarregada desde 2009. Como relembra Ella Lei, que interpelará os responsáveis sobre a questão, esta situação já levou a que, em 2014, “cerca de 85 mil metros cúbicos de água fossem lançados directamente ao mar sem passar pelo processo normal de tratamento biológico” e apenas passando por um processo de purificação simples.
“Esta água ultrapassa gravemente os parâmetros e vai levar ao agravamento da poluição das águas costeiras de Macau”, atira a deputada, que quer ver respondida a questão de quando é que vai ser concluída a negociação entre Governo e empresa vencedora do concurso público para obras de ampliação em 2011. De resíduos vai falar também Leong Veng Chai, que quer ouvir da boca da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental quando é que vão ser implementadas medidas que diminuam o desperdício de alimentos e transformem os resíduos alimentares em diferentes recursos.
Mas, a questão da ampliação de infra-estruturas não passa apenas pela ETAR, mas também pela pressão nas fronteiras, assunto a ser levado ao hemiciclo por Mak Soi Kun. O deputado quer saber quais as medidas do Executivo para acabar com as intermináveis filas de espera nas fronteiras, especialmente nas Portas do Cerco, para quem passa de carro.
Wong Kit Cheng também se debruça sobre o alargamento de espaços, este direccionado às instalações desportivas públicas.
A segurança nos templos vai ser tema desencadeado por Kwan Tsui Hang que, depois do incêndio em Na Tcha, quer saber se há possibilidade de se implementar uma administração centralizada em todos os espaços de culto de Macau. Algo que foi já contestado pelos administradores dos templos, que são, neste momento, dirigidos por diferentes associações.
Já Kou Hoi In e José Chui Sai Peng vão questionar os representantes do Executivo sobre o problema da falta de electricidade nos bairros antigos, depois da Companhia de Electricidade de Macau ter prometido a entrada em funcionamento de novas subestações eléctricas e, até agora, “isso não ter acontecido”.

Dinheiro é problema

O desperdício do erário público e as medidas de apoio aos residentes são também temas que os deputados querem ver melhor esclarecidos na sessão de amanhã com representantes do Governo. Em tempos de contracção na economia, Ho Ion Sang leva ao hemiciclo os gastos com a aquisição de bens e serviços, muitos deles desnecessários como aponta um relatório do Comissariado de Auditoria. O deputado quer perceber quem vai, afinal, ser responsabilizado por estas adjudicações e “o que vai ser feito para reforçar a gestão das receitas e despesas do Governo”. O mesmo tema, que deverá ser respondido pelos serviços da tutela de Lionel Leong ou pelo próprio Secretário para a Economia e Finanças, vai também ser levantado por Song Pek Kei.
No âmbito da economia, destaque ainda para as interpelações de Si Ka Lon – sobre o “plano de incentivo à aposentação antecipada” – e de Melinda Chan, que versa sobre o montante das atribuições para a segurança social, tema que não viu ainda uma conclusão apesar de estar em discussão no seio do Conselho de Concertação Social há anos.
As leis e questões políticas não vão também faltar no plenário marcado para as 15h00, com Ng Kuok Cheong, por exemplo, a trazer ao hemiciclo a questão da criação de órgãos municipais. Se o Governo vai avançar com a consulta pública sobre isto é uma das questões que o deputado da bancada pró-democrata quer ver respondidas.
Da mesma bancada, mas de Au Kam San, partem questões sobre construções em Coloane, a área verde de Macau, e do vice-presidente da AL, Lam Heong Sang, vão ser feitas perguntas sobre o motivo que levou o Governo a não ter ainda criado um regulamento administrativo previsto na Lei de Contratação de Trabalhadores Não-Residentes, em vigor há seis anos, e que diz respeito ao limite de contratação de locais.

29 Mar 2016

Urbanismo | Exigida protecção de paisagens antes de Plano Director

[dropcap style=’circle’]M[/dropca]anuel Wu Iok Pui, membro do Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU), considera que o Governo tem de implementar regras para a protecção das paisagens antes da elaboração do Plano Director do território, por forma a proteger as características tradicionais de algumas ruas e vistas de Macau.
O membro do CPU defendeu, ao Jornal do Cidadão, que a construção do edifício que alberga o Gabinete de Ligação do Governo Central, que tapa a vista do Farol da Guia, é um bom exemplo de que como a legislação local falhou na protecção completa do património cultural. Manuel Wu Iok Pui lembrou que, ainda que seja uma construção feita dentro da lei, é também irracional.
O responsável considera que a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) deveria permitir a construção desse edifício com um máximo de 90 metros de altura, apesar deste limite não ultrapassar o permitido no despacho do Chefe do Executivo.
Para Manuel Wu Iok Pui, o Governo deveria olhar para os exemplos de outras cidades estrangeiras para manter as paisagens urbanas e conservar as vistas mais importantes. “As instruções devem ser preparadas pelo Instituto Cultural (IC) em conjunto com a DSSOPT, porque cabe a esta aprovar as plantas de construção e o IC tem a responsabilidade de dar sugestões ao nível do património para a sua protecção”, referiu.
O membro do CPU lembrou que o Plano Director deverá entrar em vigor daqui a três a cinco anos, sendo que o desenvolvimento da região está a avançar rapidamente. As novas instruções serviriam para proteger as paisagens históricas antes da conclusão do Plano Director. Para o responsável, caso não sejam criadas, as principais paisagens de Macau ficarão escondidas atrás dos prédios.

29 Mar 2016

PLP | Centro de Exposição de Produtos abre quinta-feira

[dropcap style=’circle’]O[/dropca]Centro de Exposição dos Produtos Alimentares dos Países de Língua Portuguesa em Macau vai ser inaugurado na quinta-feira para fomentar as oportunidades de negócios para as empresas do universo lusófono, anunciou o Governo. O Centro vai abrir oficialmente a 31 de Março com cerca de 700 produtos alimentares vindos de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e Timor Leste, incluindo alimentos naturais, petiscos, alimentos enlatados, café e bebidas alcoólicas, refere um comunicado do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM).
“Com vista a desempenhar a função de plataforma de serviços para a cooperação económica e comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa”, o Centro é composto por dois andares com uma área de cerca 390 metros quadrados.
A inauguração do espaço, no centro comercial da Praça do Tap Seac segue o lançamento, a 1 de Abril de 2015, do Portal para a Cooperação na Área Económica, Comercial e de Recursos Humanos entre a China e os Países de Língua Portuguesa(www.platformchinaplp.mo).
Organizado pelo Ministério do Comércio da República Popular da China e pela Secretaria para a Economia e Finanças, e coordenado pelo IPIM, o portal é composto por uma base de dados de quadros e serviços profissionais bilingues (Chinês-Português), base de dados dos produtos alimentares dos países de Língua Portuguesa, informação sobre convenções e exposições, informação económica e comercial e legislação dos vários países.
Já em Janeiro deste ano, o IPIM instalou em Fuzhou, no interior da China, “a primeira zona de exposição de produtos alimentares dos países de Língua Portuguesa”.
“A par disso, o IPIM irá analisar a viabilidade de instalação da “Zona de Exposição dos Produtos Alimentares dos Países de Língua Portuguesa” nos seus gabinetes de ligação em Shenyang, Hangzhou, Chengdu, Guangzhou e Wuhan”, refere o comunicado.
As trocas comerciais entre a China e os países de Língua Portuguesa caíram 24,38% em Janeiro, face ao mesmo mês do ano passado, totalizando 6,15 mil milhões de dólares, segundo dados oficiais divulgados este mês. Comparando com o mês anterior, o comércio entre a China e os países de Língua Portuguesa recuou 18,69%.
A China comprou a esses países bens avaliados em 3,80 mil milhões de dólares – menos 3,69% – e vendeu produtos no valor de 2,35 mil milhões de dólares, menos 43,9% face a Janeiro de 2015.
 

29 Mar 2016

Quatro ou cinco filmes, dissemelhantes.

[dropcap style=’circle’]N[/dropca]o seguimento da moda britânica do filme de acção com marginais, uma sub-espécie da longa e provinciana tradição realista das ilhas, recomenda-se, com um pequeno frisson mas com um entusiasmo comedido, Catch me Daddy, de Daniel Wolfe. Uma história de uma noite apenas, passada no Yorkshire, começada pela fuga de Leila, uma adolescente ajudante de cabeleireiro de origem paquistanesa para junto do namorado Aaron que vive numa roulotte. A perseguição que lhe movem dois grupos, um por dinheiro e o outro por honra, a instâncias do pai, envergonhado perante o comportamento da filha, dura toda a noite e mostra um mundo cinzento e pleno de desajustes sociais.
Outros dois filmes em que este complexo marginal (suburbia/cabeças rapadas/caras de mau) se exibe como pano de fundo, de maneira exemplar mas em modo francês, são Deephan, 2015, de Jacques Audiard e Bande de Filles, 2014, de Céline Sciamma, já aqui suficientemente elogiado noutra edição desta página. 71e551b7a4
Existe já uma estética do filme chinês de actividade mineira. Exemplos são Mangjing/Blind Shaft, de Li Yang, 2003, ou a primeira parte do penúltimo filme de Jia Zhengke, 2013, Tian zu Ding/A Touch of Sin.
Consiste num cortejo já familiar, a inexpressividade dos rostos, masculinos e femininos, dos mineiros, as doenças associadas a esta profissão, os imensos riscos de desabamento, a poluição, a desumanidade, a fealdade dos lugares de extracção e de tudo, a magnitude olímpica da intervenção sobre a terra, etc.
Em Beixi Moshuo/Behemoth, de Zhao Liang, um documentário de 2015 (estreado no Festival de Veneza do mesmo ano e que consta do programa do HKIFF que decorre neste momento*), esta actividade enquadra-se em dois outros complexos: o do contraste que as feridas que a exploração mineira estabelece com a verdejante paisagem original que destrói e o da exploração de uma terra que é ocupada, a da Mongólia Interior – uma troca do verde pelo negro. Este segundo complexo torna muito mais dolorosa a ferida que expõe. As imagens mais dilacerantes são aquelas em que se sobrepõe às estepes do norte a destruição causada pela ganância do invasor. media-title-5831a
O estilo de Zhao Liang é económico, minimalista, documental e artístico. O impacto do filme é muito grande. Este é um filme sobre uma Marca, uma marca indelével sobre o corpo dos mineiros, sobre o corpo social e sobre a paisagem, seguindo um trajecto inspirado na tripartição de A Divina Comédia. O Paraíso, onde chegamos com o homem que carrega consigo um espelho, é uma cidade desumanizada e deserta (penso que a famosa cidade de Ordos), sinal de um futuro disfórico muito próximo.
A mola de L’Enlèvement de Michel Houellebecq, um telefilme de Guillaume Nicloux de 2014, é a sua improbabilidade. A improbabilidade do rapto do divertido autor e dos acontecimentos que se sucedem durante a sua captura. É muito útil por nos dar a conhecer o escritor através de um procedimento inesperado (provavelmente inspirado por um desaparecimento do autor em 2011).
Houellebecq come, fuma, bebe, resmunga, discute e fornica como se tivesse esquecido a sua condição de raptado. Pouco esperada a bonomia com que o escritor francês se deixa levar e o modo como se relaciona com os seus raptores. Inesperadamente leva-nos a lugares e a discussões para que não nos julgávamos convocados. Será que Michel foi raptado em 2011? Ter-se-á divertido?
Uma das marcas mais persistentes do cinema alemão das últimas décadas é o interesse por obras de conteúdo abertamente político. O período da segunda grande guerra, a divisão da Alemanha e o terrorismo urbano fornecem vasto material. A análise política de filmes é um costume próprio à crítica alemã. Sameena-Jabeen-Ahmed-5
Os nomes de Fassbinder, Kluge, Syberberg, Schlöndorff, Schroeter, von Trotta, Sanders-Brahms ou Uli Edel facilmente se associam a este interesse. Favoreço alguns filmes políticos dos anos 60 e 70 em que ao empenho social e político se junta uma marca densa do cinema e da literatura em língua alemã – uma extrema melancolia. Da mistura entre a agressividade e a melancolia dimana uma estética muito particular. Grande favorito é Das zweite Erwachen der Christa Klagers/The second Awakening of Christa Klagers, 1978, de Margarethe von Trotta, ou Nicht Versöhnt oder Es hilft nur Gewalt, wo Gewalt herrscht/Not Reconciled or Only Violence helps Where Violence Rules, 1965, de Straub.
Deutschland im Herbst/Germany in Autumn, de 1978, é um filme colectivo icónico. Inspirado pelos acontecimentos que rodearam o rapto de Hanns-Martin Schleyer pelas R.A.F. (Rote Armee Fraktion), em 1977, é puro cinema político dos anos 70, agressivo e glacial, urgente e com cara de poucos amigos, carregado de um desejo bestial de culpar e de expor, guerrilhamente em cima do acontecimento.
Se aqui me não alargo no seu elogio é porque em breve este poderá incluir-se num texto (outro) sobre Fassbinder (curiosidade: a parte de Rainer Werner, a mais longa e que inclui discussões acaloradas com a mãe e o namorado, foi filmada apenas num fim de semana **).
Vivemos num tempo de reaparecimento de actos de terrorismo. Como tal, alguns filmes desta época têm uma actualidade inesperada.
Na Áustria, que atravessa actualmente um período de vigor (Henckel von Donnersmerck, Haneke e Jessica Hausner, de quem eu gosto tanto), os interesses têm sido outros (nomeadamente, como há pouco aqui foi notado, a propensão para o cinema experimentalista com Peter Kubelka, Kurt Kren ou Peter Tscherkassky). maxresdefault
VALIE EXPORT é um artista feminista austríaca de muitas faces – happening, body art, performance art – influenciada pelo movimento Actionismo de Viena. Algumas das suas atrevidas performances ganharam muitos inimigos.
Mas ela está nesta página a propósito de um filme favorito – Die Praxis der Liebe/The Practice of Love, 1984.
Judith Wiener é uma repórter que denuncia situações de melindre e em Die Praxis der Liebe há uma cor amarelada que é a cor ao mesmo tempo da sedução e da desilusão, uma insistência pastosa que é irresistível. É o apelo do Norte e da solidão mesmo quando, como é o caso de Judith, se tem dois homens, um dos quais traficante de armas.
Mas, sobretudo, passados 30 anos, esta história de VALIE EXPORT ganhou o apelo de um tempo disfarçado, o tempo de uma temperatura aparentemente acolhedora mas, afinal, envolventemente fria, o tempo dos enigmáticos anos 80, da cor macia e ameaçadora, muito voluptuosa, do Betamax e do VHS e do visionamento doméstico em solidão. Entalado entre o desejo da revolução e a posterior apatia, hoje não nos resta senão retirar da década de 80 uma melancolia opressiva e sem contornos bem definidos e uma sensualidade de televisão.

* este filme sincrético, de características documentais e de art-house, Tharlo, um filme tibetano de 2015, ou Jia/The Family, de Shumin Liu, também de 2015, seriam bem vindos, assim como muitos outros documentários que na China foram recentemente banidos, a um local que se está a revelar, como se suspeitava, uma verdadeira desilusão: a Cinemateca Paixão.
** ver o artigo de Dietrich Leder em The Cinema of Germany, 2012, ed. por Joseph Garncarz e Annemone Ligensa, um livro que inclui um conjunto de artigos sobre filmes alemães escolhidos segundo uma perspectiva muito pertinaz: a da sua popularidade à altura da exibição.

29 Mar 2016

Vacinas | Rejeitada ligação a comércio ilegal na China

Os Serviços de Saúde (SS) emitiram um comunicado onde garantem que Macau não recebeu vacinas envolvidas num caso de comercialização ilegal destes produtos ocorrido no interior da China. O organismo garante que “as vacinas que são utilizadas em Macau não estão relacionadas com esta situação”. Ainda assim os SS afirmam que vão “acompanhar a evolução do caso e manter contactos estreitos com as autoridades de saúde competentes do interior da China, no sentido de controlar de forma rigorosa a qualidade das vacinas a serem utilizadas em Macau”. Actualmente o Programa de Vacinação de Macau abrange vacinas que previnem 13 doenças, sendo que todas são adquiridas através de concurso público. Os SS garantem que “entre os critérios de selecção de vacinas, o preço não constitui o único factor a ser considerado. São também tidos em conta como factores de consideração primordial na escolha dos produtos a boa reputação, a qualidade e a segurança das vacinas.”

29 Mar 2016

Meteorologia | Previstas seis tempestades tropicais

Os Serviços Metereológicos e Geofísicos prevêem entre quatro a seis tempestades tropicais este ano, sendo que a primeira poderá surgir na primeira quinzena de Junho. Segundo um comunicado, a última tempestade poderá surgir em finais de Outubro, “relativamente mais tarde do que o normal”.

29 Mar 2016

Cinemateca Paixão| Palestra sobre montagem cinematográfica

A Cinemateca Paixão vai ser palco da palestra intitulada “Como pode uma história ser contada através da montagem cinematográfica?”, proferida pelo “experiente” produtor de Hong Kong, Wong Hoi, no dia 23 de Abril, das 15h00 às 17h00 horas. Wong Hoi irá abordar o processo de montagem cinematográfica, tendo como foco não só os aspectos técnicos inerentes, como o lado criativo que a compõe. O público é convidado a entrar na construção de todo um universo cinematográfico. Fazem parte da filmografia do orador a edição de “Inisharu D”, “Bodyguards and Assassins” e “As The Light Goes Out”. Com “Cold War” foi vencedor do prémio de Melhor Montagem na 32ª edição dos Hong Kong Film Awards e no 50º Festival de Cinema da Ásia-Pacífico. É ainda referência o seu trabalho em diversas produtoras televisivas de Hong Kong. A entrada é livre mas limitada a 60 lugares pelo que se aconselha a reserva online antecipada através do site do IC, até às 12h00 do dia 22 de Abril.

29 Mar 2016

UM | Conferência sobre “Português como segunda língua”

É já no dia 8 e 9 de Abril que a Universidade de Macau, em conjugação com a Universidade de Lisboa e a Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim, vai apresentar uma conferência internacional para discutir a aprendizagem do Português como segunda língua. O objectivo, diz a organização, é o de estimular a ligação entre universidades asiáticas no ensino e aprendizagem do idioma. Assim, vão ser discutidos na conferência a interacção na sala de aula, perfil dos estudantes chineses, métodos de ensino do Português como segunda língua, ensino por conteúdos, análise e produção de materiais didácticos, Português para propósitos específicos, proficiência e avaliação, ensino de e política de idiomas na China, tradução como ferramenta de ensino, novas tecnologias, design do curriculum para ensino de língua estrangeira, formação de professores para contextos asiáticos, ensinar Português como uma língua transnacional e literatura e cultura na segunda língua.

29 Mar 2016

IAS | Confirmadas 148 famílias à espera para adopção de crianças

O Instituto de Acção Social (IAS) afirmou que actualmente existem 148 famílias na lista de pedidos de adopção de crianças. Nos últimos 15 anos, apenas 33 casos de adopção em Macau foram de sucesso.
Ao canal chinês da Rádio Macau, a assessora técnica superior da Divisão de Serviços para Crianças e Jovens do IAS, Wong Wai Ying, afirmou que o número de crianças abandonadas dos últimos anos está abaixo de dois dígitos.
A responsável revelou que, entre o ano de 2000 e 2015, foram 33 os casos de sucesso, incluindo dois pedidos de estrangeiros. O IAS avalia situações como a saúde, economia, contexto familiar, capacidade de cuidados e os planos futuros.
Wong Wai Ying explica que as famílias têm um ano de período para a tentativa de adopção, sendo que os processos após essa avaliação “podem demorar um a dois anos”. Como o HM já noticiou, contudo, demoram mais.

29 Mar 2016