Facções democráticas modernas e conservadoras

[dropcap type=”circle”]A[/dropcap]Associação do Novo Macau vai organizar um jantar de recolha de fundos no dia 11 de Julho, altura em que celebra o seu 23º aniversário. Como é normal neste tipo de eventos, todas as receitas obtidas nessa noite, uma vez subtraída a quantia necessária para cobrir as despesas de produção do evento, vão ser aplicadas num fundo para apoiar o desenvolvimento futuro da Novo Macau. Um amigo meu chegou mesmo a ligar-me para descobrir se já havia organizado este tipo de eventos no passado, mas no meu caso, esta será a primeira vez.

Para dizer a verdade, a Associação do Novo Macau já organizou jantares para recolha de fundos no passado, mas sempre na altura antecedendo as eleições para a Assembleia Legislativa. Em 2012, por exemplo, quando o Novo Macau celebrou o seu 20º aniversário, eu mesmo sugeri que se marcasse a ocasião com um jantar celebrativo, mas nessa altura ninguém apoiou a  ideia.

Já em 2015, os novo líderes da Associação propuseram mais uma vez este género de iniciativa, mas desta vez com data e local previamente estabelecido. Desta vez a ideia mereceu o apoio da maioria dos nossos membros, o que me faz feliz tendo em conta que nos últimos anos tivemos de enfrentar inúmeras dificuldades.

Para além de terem de aguentar as críticas debilitantes que nos são dirigidas, os nossos apoiantes têm se mostrado preocupados com os persistentes rumores acerca da nossa falta de coesão e ainda sobre os nossos conflitos internos. Entendo assim que a melhor resposta que posso dar a estas questões é mesmo a minha comparência no banquete que está agendado para o mês de Julho. Devo fazer notar aos nossos leitores que dentro da Associação existem facções democráticas modernas e conservadoras, o que aliás considero ser um fenómeno natural no desenvolvimento normal de qualquer organização. Até em Hong Kong, encontramos hoje duas frentes dentro do Campo Pró-Democracia da RAEHK. Enquanto que uma promove “a paz e a lógica ao mesmo tempo que recusa a violência e o obsceno”, a outra apela aos seus apoiantes para “ousarem lutar”. Podemos assim observar que, em Hong Kong, os diferentes grupos políticos são bem definidos e distintos uns dos outros, enquanto que em Macau se agrupam todos “dentro de um só barco”.

Eu tenho o privilégio de ser um dos membros fundadores da Associação Novo Macau quando esta foi criada em 1992. Na altura, a principal motivação para esta iniciativa era assistir Ng Kuok Cheong na sua candidatura para as eleições da Assembleia Legislativa, que iam ter lugar nesse mesmo ano. Assim, Ng concorreu com uma lista apelidada de Associação do Novo Macau Democrático, e acabou mesmo por assegurar um assento na AL. Uma vez decorrido o acto eleitoral, a Associação deixou de ser uma simples plataforma de angariação de votos e assumiu um papel de supervisão e fiscalização. Para o efeito, Ng desviou uma parte do seu salário de deputado para cobrir as despesas de operação do Novo Macau.

Aliás, esta prática foi igualmente adoptada por Au Kam San quando o mesmo foi eleito deputado da Assembleia Legislativa através do suporte da Associação. Quando em 2009 se formou a quarta AL, foi decidido atribuir um subsídio equivalente a 65% do salário dos deputados para que estes pudessem arrendar um escritório e contratar um assistente pessoal. Para receber esta ajuda, o deputado só precisava de declarar o montante que pagava mensalmente em rendas, assim como o salário mensal da pessoa que preenche a função de assistente. Quando esta medida foi implementada, eu acumulava a posição de deputado com a de presidente da Comissão Executiva do Novo Macau, por isso propôs que se mantivesse a já tradicional medida de usar parte do salário do deputado por nós eleito para pagar as despesas da Associação. Já em relação ao subsídio que eu, Ng e Au tínhamos direito de receber, o montante total que requisitamos da AL foi estabelecido pela própria Associação, de modo a que sua operação ficasse garantida. Além disso, foram criadas contas suplementares de modo a preencher os pré-requisitos necessários para que cada um dos deputados pudesse gozar desta mesma regalia. Escolhemos proceder desta maneira de modo a evitar qualquer repercussão desfavorável caso cada deputado ficasse encarregado de gerir este montante a seu bel-prazer, ao mesmo tempo que desejávamos ter uma gestão adequada e correcta das finanças, sabendo nós de antemão que dinheiro e poder conseguem corromper qualquer indivíduo.

No que diz respeito às eleições para a AL de 2013, o Novo Macau concorreu com três listas diferentes, mas conseguiu obter apenas dois lugares. Há muitas razões que levaram a este insucesso e à consequente perda de um dos prévios três assentos, mas não tenciono discutir essa questão neste artigo. Basta dizer que no dia 15 de Outubro de 2013, eu já não exercia as funções de deputado da Assembleia Legislativa. Ao mesmo tempo, decidi abandonar a minha posição na Comissão Executiva da Associação, de modo a dar oportunidade a outros mas também para reflectir sobre a nossa posição naquele momento. Durante a Assembleia Geral do Novo Macau que teve lugar em 2014, ofereci-me como voluntário para fornecer relatórios sobre o trabalho empreendido pelos nossos deputados (eu, Ng e Au) antes e durante o ano de 2013, de acordo com o papel de supervisão que a Associação agora assumia. Decidi também nessa altura não me candidatar para nenhuma das posições de liderança quando esses lugares foram alvo de uma nova eleição. Na verdade, o número dois da lista de Au para as eleições da AL de 2013 foi eleito o novo presidente da Comissão Executiva, e assim previa-se que não houvesse qualquer problema em garantir a cooperação entre os novos e os velhos líderes da Associação. E, mesmo que alguma divergência viesse a se manifestar, certamente que isso não seria mais do que pontos de vista díspares e também diferente estilos de gestão praticados pelos diferentes membros.

O rumo do desenvolvimento não costuma estar dependente das boas intenções de um indivíduo. Mas, no mínimo, não se deveria divergir nem tão pouco abandonar os ideias originais pelo caminho. O jantar comemorativo para a celebração do 23º aniversário da Associação representa uma boa oportunidade para as novas e as velhas facções democráticas do Novo Macau se juntarem à mesa e confraternizarem, ao mesmo tempo que serve de teste para a prática da democracia.

22 Jun 2015

Entrevista | Rodrigo Quaresma, guarda-redes da Casa de Portugal

Aos 23 anos, e a grande referência do plantel da Casa de Portugal. Com as suas seguras exibições, a equipa de matriz portuguesa conseguiu, pelo menos, o feito de chegar á última jornada da Liga de Elite e poder continuar a sonhar com a permanência. Rodrigo Quaresma acredita que a sorte está com os lusos. O guarda-redes português, nascido nos Açores, dá prioridade à vida académica mas não descarta o sonho da sua vida: chegar à I Liga portuguesa. Ao HM, revelou ser fã de Michel Preud’homme e acusa os dirigentes de acabarem com o futebol português

[dropcap type=”circle”]Q[/dropcap]uem é o Rodrigo Quaresma?
Sou um açoriano apaixonado pelo futebol. Considero-me uma pessoa humilde, mesmo almejando dar um passo gigante neste desporto. Seja como for, a prioridade está nos estudos e pretendo terminar o curso universitário. Sou tímido, um pouco introvertido mas, quando ganho confiança, torno-me mais amigo.

Com que idade começou a jogar futebol federado?
Com seis anos, no Santa Clara [dos Açores]. A minha família esteve sempre ligada ao clube. Aliás, um dos meus avôs chegou mesmo a ser presidente do clube. Ao longo da minha vida, foi com grande prazer que joguei pelo Santa Clara. Lá fiz toda a minha formação, desde os seis até aos 18 anos, ou seja, desde as escolinhas até aos juniores.

E depois?
No meu primeiro ano de faculdade, que correspondeu ao meu último ano de júnior no futebol, fui para Coimbra estudar. Parei dos 18 aos 19 anos, mas o bichinho estava sempre presente. Depois desse ano, fui jogar para o Tabuense, depois joguei no Arganil, onde tive um ano muito bom, até que cheguei ao Febres onde fiquei duas épocas até vir para Macau.

Todo esse percurso que fez nesses clubes do distrito de Coimbra foi nos Distritais?
Sim, certo. Basicamente, na Divisão de Honra de Coimbra que é a ‘pole’ de acesso ao Campeonato Nacional de Seniores, coisa que quase aconteceu quando estava no Febres, o ano passado. Acabámos o campeonato na segunda posição e vencemos a Taça de Coimbra. Ao termos vencido esse troféu, carimbámos a nossa presença na Taça de Portugal. Foi, até hoje, o momento mais alto da minha carreira como futebolista sénior.

Falou em terminar o curso universitário. Como consegue conciliar os estudos com o futebol?
Para ser honesto, sempre sonhei ser jogador de futebol. Contudo, tive a sorte de ter uns pais que sempre me encaminharam para os estudos. O futebol, sempre paralelo, é um hobbie. Repare, por mais que queira singrar no mundo do futebol, sei que esse mundo é muito instável, ingrato e injusto. Nem todos serão jogadores de topo e, mesmo que o sejam, têm apenas 14/15 anos para ganhar dinheiro. Depois há ainda as lesões. Enfim, tendo estudos, as coisas podem tornar-se mais fáceis. É sempre mais uma muleta que possuo. Este é o meu plano B.

Tentando perceber melhor o seu percurso. Quando chega aos juniores do Santa Clara, era titular? Porque não ficou e apostou ficar no clube, já que se trata de um emblema de II Liga?
Na altura, tanto eu como o meu companheiro éramos os melhores guarda-redes da ilha de São Miguel. Ora jogava ele, ora jogava eu. Pessoalmente, as coisas começaram a correr melhor para ele, mas depois correram melhor a mim e acabei por ter directa influência na conquista da Taça de São Miguel, onde defendi três penáltis. Contudo, ele não tinha estudos e estava mais vocacionado para seguir o futebol. Os dirigentes sabiam que a minha prioridade era a escola. Naturalmente, que tenho desgosto de nunca ter representado a equipa sénior do Santa Clara mas julgo ter a porta aberta para um dia, quem sabe, regressar.

Que curso é que está a frequentar?
Ciências do Desporto. Parei agora, este semestre, para poder abraçar esta oportunidade que a Casa de Portugal me deu, mas tenho estado a estudar e vou fazer os exames de recurso assim que regressar a Portugal, no final do campeonato.

FOTO: Gonçalo Lobo Pinheiro

Sendo que os seus pais sempre o fizeram ver que os estudos estavam primeiro, como é que reagiram a esta decisão de vir para Macau?
A minha mãe, ao início, ficou em choque [risos]. Não estava à espera deste cenário. Contudo, depois de ter falado com ela a sério, deu-me todo o apoio. Já o meu pai, mostrou-se sempre mais à vontade desde o primeiro instante. Ele entendeu que tinha uma oportunidade que não deveria ser deitada fora. Posto isso, não pensei duas vezes e vim para Macau, muito por culpa do Leonel [Carlos Leonel, jogador do Benfica de Macau, que jogou com Rodrigo no Febres na época 2013/2014].

Chegou a Macau com a época em andamento, numa altura em que a Casa de Portugal estava muito mal na classificação e as coisas têm corrido bem
A grande maioria do plantel é composta por jogadores amadores, que têm outras profissões e outras preocupações. Por isso, nem sempre levam a sério esta coisa de ser jogador de futebol. O mister Pelé pediu-me o máximo de trabalho e concentração na luta pela manutenção na Liga de Elite. Pessoalmente, penso que tenho correspondido.

O Rodrigo tem sido uma das boas surpresas do campeonato. Lá atrás sente o desequilíbrio que é notório no plantel da Casa de Portugal? É fácil ser guarda-redes nesta equipa?
Vim para ajudar a equipa mas não é fácil, confesso. Há jogos em que me sinto incapaz e desamparado. Os meus companheiros da frente de ataque também falham muitas ocasiões de golo o que torna ainda mais difícil a luta contra os adversários. Mas o pior mesmo são as condições de trabalho. Em Portugal, mesmo que um clube seja minúsculo, tem sempre o seu terreno de jogo próprio. No Febres, treinava várias vezes por semana. Aqui, as coisas são bem diferentes. Para piorar esse cenário, é quase impossível fazer um treino em que esteja o plantel todo reunido. Enfim, são situações que fazem parte deste futebol de Macau, às quais não estava habituado, mas que temos de saber encarar com a naturalidade possível. Macau é o que se pode chamar do reverso da moeda no futebol.

Mas sente-se bem aqui.
Muito bem. Quero, desde já, agradecer à Casa de Portugal por tudo o que tem feito por mim. Ao mister Pelé, ao Vilar, a todos os meus companheiros. Nada tenho a apontar, sempre me acolheram muito bem.

Quando chegou, qual foi a primeira impressão do território?
Em Portugal toda a gente sabe o que é Macau. Aliás, mesmo nos Açores, esta parte do mundo não é desconhecida. Sabia, mais ou menos, ao que vinha. Apesar disso, é sempre um choque quando se chega muito por culpa do clima. Penso que isso é o maior ponto negativo de Macau. Quando ao património, à comida, às pessoas só tenho a dizer bem. Apesar de ter chegado há pouco tempo, penso que me adaptei facilmente. Tem sido uma experiência muito boa.

E é uma experiência para repetir?
Não descarto. Vejo-me, perfeitamente, para o ano a vir jogar novamente a Liga de Elite. A Bolinha não me atrai. Sou jogador de futebol de 11, mas regressarei com todo o gosto para o ano, se surgirem convites. Penso que o campeonato de Macau tem potencial para ser muito melhor mas é preciso que a Associação de Futebol de Macau crie, urgentemente, condições para isso.

Esse regresso a acontecer será para a Casa de Portugal ou almeja algo melhor?
Tudo depende. Voltar a Macau só se me convidarem, naturalmente. Se os clubes daqui acreditarem em mim e no meu trabalho, oferecerem boas condições, terei todo o gosto em regressar. E nesse particular, tanto a Casa de Portugal como o Benfica ou o Ka I estão em igualdade. O futuro é uma incógnita. Tudo é possível.

Mas agora que o guarda-redes do Benfica, Rui Nibra, assumiu que pretende regressar ao futebol português, o lugar dele não é tentador?
[Risos]. Sou uma pessoa humilde. Não quero estar aqui a entrar por esse caminho e dizer que sou a pessoa ideal para substituir quem quer que seja. Vou esperar que as pessoas venham ter comigo e apresentem as suas condições. Mas, é óbvio, que Benfica, Ka I, Sporting, Monte Carlo ou Chao Pak Kei são equipas que despertam outro tipo de ilusão aos jogadores. Quem é que não gosta de jogar para ficar entre os primeiros?

Neste momento, quais são os seus horizontes no mundo do futebol?
Gostava de chegar à I Liga portuguesa mas sei que não é fácil. Em Portugal, há muitos jogadores de qualidade mas existe um grande problema. Os dirigentes têm medo de apostar em jogadores portugueses e isso, a meu ver, é incompreensível. Assim, não vejo que seja fácil chegar alto no futebol. No entanto, sou novo, tenho 23 anos, e penso que, com trabalho e paciência, posso chegar mais alto. Veja isto que lhe vou dizer. O Rui Nibra é, claramente, o melhor guarda-redes a actuar em Macau e não é preciso perceber muito de futebol para ver que ele tem valor para jogar em melhores campeonatos, quem sabe chegar à I Liga portuguesa. Macau é pequeno demais para ele.

Este ano, o futebol de Macau revelou bons guarda-redes. Destaque para o segundo bom ano de Rui Nibra mas também para as boas exibições de Batista, do Ka I, e as suas. Estes são os melhores de Macau na baliza?
Pergunta difícil e ingrata [risos]. É muito complicado para mim falar sobre o meu trabalho. Penso que não o devo fazer. Deixo isso para outros, como por exemplo, para vocês jornalistas que gostam de fazer esse tipo de apreciações. Contudo, sei que tenho valor e os outros dois nomes que falou são excelentes profissionais.  Vejo no Nibra e no Batista grandes guarda-redes, contudo o Rui é o melhor de todos.

Falta uma jornada para o fim do campeonato. A Casa de Portugal está em posição de descida mas o calendário apresenta-se muito interessante para vocês. Sentem-se motivados?
Temos tudo para ficar na Liga de Elite. Teoricamente, não dependemos apenas de nós, mas, se olharmos para o calendário, penso que dependemos exclusivamente de nós. Repare, o Benfica para ser campeão tem de vencer. Não há outra possibilidade, uma vez que o Ka I está apenas a um ponto. O Chuac Lun, ao perder com o Benfica – como esperamos -, fica à nossa mercê. O nosso jogo será último a ser realizado, no domingo. Vamos jogar contra o Lai Chi, equipa do nosso campeonato e a quem já vencemos na primeira volta. Eles estão descansados e penso que vão jogar tranquilamente. Nós só pensamos na vitória. E, como se costuma, dizer meio-a-zero chega. Estamos muito motivados e convictos de que vamos deixar a Casa de Portugal entre os maiores de Macau. Vai ser um jogo de matar ou morrer.

Quem é o seu ídolo?
Gosto de vários jogadores. Admiro o Iker Casillas, o Oliver Kahn e o Gianluigi Buffon. Contudo, e muito por culpa do meu pai que sempre me chamou esse nome, o guarda-redes mais importante da minha vida foi o Michel Preud’homme.

A eterna discussão dos últimos anos. Quem é melhor: Ronaldo ou Messi?
Penso que é o Cristiano Ronaldo. É o jogador mais completo. E, acima de tudo, temos de acreditar no que é nosso. Ronaldo é um trabalhador incansável. E está em alto nível em diversas situações, até mesmo nas suas acções da vida privada. É um jogador completo e, por isso, é o melhor do mundo.

O Rodrigo é açoriano. O Pauleta é a maior referência do futebol do arquipélago?
Com toda a certeza. O Pauleta é uma referência nacional e não regional. Aliás, até mesmo em França, é uma grande referência e um ídolo. Trata-se de uma pessoa muito humilde que chegou longe no futebol mundial. Até bem há pouco tempo, era o melhor marcador da Selecção de Portugal, já ultrapassado pelo Cristiano Ronaldo. É com muito orgulho que vejo um açoriano tornar-se num dos grandes nomes da história do futebol português.

22 Jun 2015

Ricardo Alves, Chef de cozinha: “Sinto-me bem aqui”

[dropcap type=”circle”]S[/dropcap]e lhe falarmos sobre os bifes tão famosos da cervejaria mais conhecida de Macau, a Portugália saberá identificar qual é a cara por trás do sabor? O HM esclarece. Chama-se Ricardo Alves e é o chef que guarda o segredo do molho que conquista apreciadores gastronómicos há 85 anos.

Engane-se quem acredita que para a cozinha só é bom quem nasceu com o gosto. Ricardo Alves é exemplo disso. Formado em Engenharia Mecânica, o engenheiro trocou os fios por panelas, abandonou a produção de máquina para se dedicar por inteiro à produção gastronómica. “Cheguei a um ponto enquanto estava a tirar o curso de Engenharia que me sentia completamente desiludido com a área, percebi que não era de todo aquilo que queria fazer”, começa por contar Ricardo Alves.

A cozinha não era uma paixão “mas tornou-se depois”. O que aconteceu é que o jovem chef abraçou uma “oportunidade que surgiu” na área da cozinha e, como é curioso, foi experimentando. “Gostei muito e já lá vão 15 anos de cozinha”, relembra.

Já fez um ano que o chef chegou ao território e não se arrepende nada do ‘sim’ que disse quando recebeu o convite para embarcar nesta aventura. Antes de chegar a Macau, Ricardo Alves já fazia parte da equipa da cervejaria há mais de cinco anos. “Trabalhava na Portugália no departamento de inovação e desenvolvimento, como cozinheiro criativo. Depois disso passei para a chefia da cervejaria da Almirante Reis [Lisboa] e foi aí que me foi apresentado o convite da empresa para vir para [Macau]”, conta o chef ao HM.

Degrau a degrau

Separar a figura de Ricardo Alves à cervejaria não faria sentido. Envoltos sobre o azulejo português que serviu como mote de decoração para o restaurante, acolhido numa das ruas mais típicas da Taipa, Ricardo Alves explica ao HM as dificuldades que sentiu com o projecto.

“O primeiro impacto foi o estranhar tudo, adaptar-me a um cenário completamente diferente, tanto profissional como pessoalmente. Foi preciso conhecer o mercado, que é muito diferente”, relembra Ricardo Alves.

Quando chegou, o chef pensou que seria mais fácil e rápido abrir a cervejaria. “Houve todo o tipo de imprevistos que podiam existir, desde burocráticos a técnicos de obra, tudo o que tinha que correr mal, correu”, recorda, sorrindo agora, enquanto relembra o verdadeiro desafio que foi.

Por todos esses obstáculos no caminho, a inauguração do espaço sofreu um atraso de seis meses, mas o dia e a casa cheia compensaram tudo. “O momento mais glorioso que tive desde que aqui estou, foi, obviamente, a abertura da Portugália”, conta com o sentimento de dever cumprido.

Mercado de duas faces

Completamente absorvido pelo trabalho, Ricardo Alves, aproveita o muito escasso tempo livre que tem para se passear por Macau. Não há um sítio preferido, até porque tudo se torna bom quando o tempo para aproveitar é pouco.

Mesmo com pequenas arestas a limar no que diz respeito às questões logísticas que um restaurante implica, Ricardo Alves não esconde a excelente oportunidade que Macau proporciona principalmente nesta área”, em que a oferta é tão vasta.

“A grande diferença aqui, neste lado do mundo, é como as coisas funcionam. A interligação com o fornecedor, os clientes… Mas o trabalho de chef é exactamente o mesmo”, explica Ricardo, destacando o contacto com os clientes que tem sido muito gratificante.

Aqui estamos bem

Deste chef, que se mostra adepto de qualquer gastronomia, pode esperar-se muito, principalmente criatividade. De espírito curioso, Ricardo Alves não esconde as surpresas que gosta de implementar nos seus menus e isso mesmo vai acontecer no restaurante onde trabalha.

“Apesar de estar preso a um conceito neste momento, gosto muito de experimentar coisas novas. Especialmente no início da carreira tentei experimentar gastronomia diferente, desde coreana, vietnamita, francesa, italiana… tentei beber de todas as fontes. Experimentar, conhecer outros trabalhos e tentar adaptar tudo”, enumera, admitindo que não há um tipo de prato que prefira fazer, mas a cozinha tradicional portuguesa é uma das suas escolhas. “O que eu gosto é de mostrar os vários pratos, das várias gastronomias”, brinca.

Por norma, Ricardo Alves é o tipo de pessoa que deixa a vida acontecer, sem excessivas preocupações, ciente que tudo pode mudar. Por isso, à pergunta sobre o futuro, o chef sorri e diz: neste momento é estabilizar este restaurante e depois logo se vê.

“Não sou pessoa de fazer planos a longo prazo e de ter uma meta traçada, estou tranquilo aqui”, afirma, rematando a conversa com um “estou bem neste lado do mundo. Sinto-me bem aqui”.

22 Jun 2015

Vizinhos lunares

[dropcap type=”circle”]A[/dropcap]esta hora em que começo a escrever, olho para o lado e há uma lua enorme e hipnótica sobre o telhado em frente. Em dois dias será lua cheia. Exactamente às 18:21:57. A precisão do tempo, tão contrária à ilusória precisão da percepção. Ou da mesma ordem. Este planeta tão vizinho e o fascínio que exerce sobre nós. Como um espelho de que precisamos, a dizer que existimos como ela ali solta no universo, e igualmente visíveis de fora. E pensei nos meus vizinhos lunares. Tenho um lugar na varanda das traseiras que curiosamente me dá uma enorme abstracção da minha vida. Talvez porque nele me sento geograficamente de costas para o meu pequeno mundo. O lugar de sair. De ficar horas pela noite fora a beber e a fumar cigarros colados uns aos outros. Gosto da ilusão de que não sou vista ali, nestas noites finalmente amenas.

Dados: a minha vizinha das traseiras, Rosário, provavelmente um rosário de lágrimas por detrás desse nome. Vi-a perder os dentes, a tinta do cabelo ao longo de meses, o marido com cancro depois de muito tempo acamado, a mãe no andar de baixo. O pai, uma figura tristíssima e lenta a estender a roupa depois disso e mais tarde a perder as pernas, ele. Cruzávamo-nos muitas vezes as duas, naquele espaço apertado de saguão, a estender roupa. Ou a passar a ferro de janelas abertas. Eu no quarto do fundo e ali a quatro, cinco metros, ela, a passar pilhas imensas da roupa do restaurante e outra, com que ganhava a vida. Ouvia-lhe a máquina de lavar non stop pela noite adentro. Há muito que não a vejo. Mudou-se para o rés-do-chão com o pai depois da tragédia. Esse prédio de empena feia está tão silencioso desde há uns tempos. Não sei destes meus vizinhos que me ofereciam plantas. As últimas vezes que a vi foi na rua a distribuir aqueles papelinhos dos restaurantes. Uma vida difícil é assim.

E aqueles, num outro pequeno prédio ali mesmo mas num recanto de difícil acesso ao olhar, de tal forma que nunca os vi, que cantavam em coro nas noites quentes do verão passado, belas canções numa língua de leste. Mesmo com o karaoke, quase bem de mais para ser verdade assim só, em reuniões de expatriados nostálgicos. E aquela figura de rapaz oriental enquadrada pelo rectângulo da janela, sempre frente ao computador, com um prato de comida sem mais. O outro ano após ano, mal as janelas começam a abrir, a improvisar notas num saxofone sem nunca evoluir numa melodia sequer. E a senhora que passeia entre a padaria e a mercearia em robe azul turquesa.

Não sei se me interesso mais pelas almas ou pelos indivíduos. Num momento direi uma coisa e logo no momento seguinte a outra…suponho que pelos segundos talvez, mas a uma distância assim lunar. Mas a mais lunar figura de todas, aquela rapariga de ar renascentista, branca como não é possível ser mais, e que estendia uma toalha com gestos lentos e repetitivos, de emenda meticulosa. E nua. Nua e abstraída de toda a possibilidade de haver um mundo para além daquela toalha que levava uma eternidade a ser presa nas molas. Corrigida na posição, esticada. Vi-a mais do que uma vez assim. Eternizou-se nos meus sentidos e na memória a figura extática, alheada, lenta, de olhos baixos. Até porque a via de cima. Depois pareceu-me ver no arredondado do ventre que talvez estivesse grávida o que explicaria esse lado lunar, talvez. Mas nunca entendi porquê nua. Sem sensualidade, sem pudor, sem consciência. Sem tempo. Sem realidade. Aquela rapariga de leste ou de Marte. Branca, etérea e suave até quase à transparência. Tão real ou tão pouco, como aquela minha figura querida, que vi em sonhos pendurada na janela em frente daquela, numa altura de ímpetos suicidas. Envolta numa luz de madrugada. Ambas vistas do mesmo canto da visão.

Estes são os dados.

Não sei bem o que é que a lua tem a ver com este meu deambular pela varanda das traseiras, exceptuando o facto de que à escala do universo também ela é simultaneamente próxima e inalcançável. Pomos os olhos nela e sonhamos. Nesse desfasamento de um segundo-luz que nos separa. Mas precisamos dessa distância satélite.

Dados: eu, no bom tempo, sentada na varanda das traseiras, um microcosmos, a fumar e a beber cervejas. A não querer ser vista. A ver o que se oferece. Não espio, mas também não evito ver. Gosto de ver as pessoas. Os indivíduos interessam-me a essa distância orbital. Desconhecidos girando na órbita uns dos outros recobertos de camadas de sentido que permitem aproximações e afastamentos alternados. Outros mais aquém numa outra camada, aquém mesmo dos limites do tacto. Embora mesmo o olhar, à partida pareça possuir também esse sentido.

Toda a vida me disseram distante, porque a proximidade é secreta. A minha. Aproximo as coisas com os olhos e escondo-o. Mas aproximo-as. Às vezes com uma carícia. e forja-se assim com estes e outros personagens uma órbita próxima, definida pela persistência do olhar, como uma corda esticada. Em camadas sucessivas a diferentes distâncias, medidas na intensidade da minha consciência delas. Mas não porque eu seja o centro deste sistema, nada gravita em meu torno que não sou centro de nenhuma força gravitacional. De nada. A distância é uma coisa relativa que se palmilha com os olhos.

Na realidade nunca me senti o centro de nada. Sou mais uma personagem periférica. Ou talvez mesmo marginal. Com curtas incursões ao vórtice. Porque me prendem a atenção as pessoas na sua generalidade de indivíduos tanto como na sua especificidade de seres ou entes. Ou vice versa. Não porque eu as ache interessantes ou bonitas por defeito. Interessam-me na sua realidade por vezes estranha. Mas aquilo que as desfeia, aos meus olhos é a vida que as estraga. É uma expressão de antigamente esta de dizer da aparência de alguém envelhecido, que está estragado. Não sendo necessariamente a mesma coisa. A existência que desgasta e retira a dinâmica muscular que dá vida aos olhos, por exemplo. Nada tão revelador da alma como um certo encurvar dos ombros. Nada diz mais do indivíduo do que a forma como se apresenta fisicamente, como diz de si com o corpo, não: estou; mas: pesa-me. A alma imprime uma dinâmica ao sentir e este é um motor corporal. E não existe forma sem expressão. E por isso o indivíduo é uma forma tocada de uma expressão própria ou uma impressão da alma nele enquanto forma em acção. O modo e o rítmo do andar. Com as mãos é a mesma coisa, sempre senti estranho o facto de tantas pessoas darem uma particular atenção a esta parte expressiva do corpo. Esteticamente. Nunca me aconteceu. Entendi porquê…O que me atrai é a forma como as pessoas movem os objectos, como se pressente a sua consciência do tacto. Como tocam as coisas e as tacteiam. E nas pessoas. Isso sim, fascina-me. E a boca. Interessa-me a relação da boca com ela própria, como pronúncio da sua vocação terna ou sensual. É tudo uma questão de autoconsciência. Observo a consciência de si numa boca, num gesto que se faz no próprio corpo…No andar. Muito mais do que a forma desse todo, é a sua gestão que me fascina…

O segredo de muitos dos sintomas, diria da alma, está nessa existência muscular, na disciplina ou no desalento que ao longo do tempo franze em rugas, crispações, revira os sorrisos para baixo nos cantos. E aos sintomas, não adianta muito tratar. É como uma representação barata de um estar que não se confirma de dentro. Como na medicina oriental não se tratam os sintomas, no teatro, uma boa representação é aquela em que se interpreta não esses sintomas exteriores, mas se actua em função das causas, sentidas por dentro, vistas de dentro e traduzidas numa expressão que pode ser representada e como tal ilusória, mas é sentida.

Há muitos anos alguém me referiu um livro, que na realidade nunca li, mas retive o nome em tradução livre: As escadas traseiras da Filosofia (“Die Philosophische Hintertreppe”, Wilhelm Weischedel, um livro de 1966). Não se trata de eu não encarar com alguma desconfiança, a tentativa de ler no quotidiano de alguém, aqui trinta e quatro filósofos, os sinais ou sintomas do seu interior intelectual, emocional, espiritual. Mas o próprio Wittgenstein, um dos filósofos referidos, afirma que nada é melhor do entender o indivíduo, para se lhe entender a alma. Geralmente pensamos o contrário. Mas a alma é de impossível acesso. É uma causa de que só se apreendem os sintomas ou sinais. Alguns. O caso de W. fascina-me porque se debruçou como ante o segredo de todas as coisas, sobre a linguagem e as suas armadilhas. As palavras como erro ou aparência. Nem estou bem certa de que ele tenha usado a palavra alma. Também não estou segura de ter grande apreço por esta, senão num sentido poético. Wittgenstein não é nada fácil, não é nada lúdico no seu discurso. Aliás nos seus diálogos socráticos. É preciso sentí-lo de dentro. De resto, a partir de uma certa altura na vida, as grandes revelações parecem vir por vezes de reflexos como num espelho que nos diz aquilo que já intuíramos. Uma empatia ou reconhecimento um pouco centrados na validação do que a humildade não trazia à consciência.

Mas esta perspectiva da análise de grandes pensadores no seu quotidiano, antecede no fundo o conceito de inteligência emocional dos anos noventa. De como os factores não intelectuais influenciam o comportamento inteligente. Mas já Darwin referia a importância da expressão emocional na sobrevivência e na adaptação.

E esse lado privado da vida é parcialmente visível nas traseiras dos prédios. São um lugar de exposição não esperada, da privacidade das roupas interiores estendidas, no seu melhor e no seu pior. Dos cabelos despenteados ao acordar, das camisolas de alças transpiradas. Dos robes desbotados. Dos telefonemas de sedução, que oiço a vizinhos de várias gerações. Das discussões sem pudor porque se passam lá atrás. Dos cães fechados em varandas mínimas e que ladram e ganem a horas desorbitadas. E dos gatos, claro.

Do lado da frente, da janela do meio tenho desde há meses a vizinhança um pouco desalinhada, meio andar mais abaixo, mas ali em frente, de uma nova habitante. O quarto, neste caso não é resguardado lá atrás, e é igual a todos os outros que vejo pelas outras janelas, as colchas iguais, a mesma síntese um pouco fria, a limpeza, e poucos objectos pessoais. Ela tem uma característica diferente das outras habitantes, é noctívaga como eu. E tem a janela aberta de dia e de noite. É um pouco embaraçoso mas eu vejo-a deitada na cama, a dormir. Pouco. De vez em quando. Gosto desta companhia. Não sei se ela me observa discretamente como eu a ela. Às vezes vou ver se já dorme e fico desapontada por que me parece que desistiu de esperar algo da noite. Ali fechada nada de especial pode acontecer mas ela espera. Se calhar só que o sono venha. É uma mulher com história de vida. Parece repleta. Fuma à janela e ouve um aparelho de rádio minúsculo às escuras. Não é nada nova mas tem postura de alguém que não encolheu nunca os ombros. Poderia ser uma actriz ou uma cantora de ópera, fantasio, pela figura volumosa mas empertigada. Com dignidade. Não é bonita, parece-me, mas mal a vejo. É de noite que está ali. Debruçada no parapeito e a fumar. Sempre. O que me perturba um pouco nestas vidas que se vão sucedendo nestes quartos, é o pouco que elas trazem consigo. Poucos objectos, poucas testemunhas físicas da vida vivida. Como se não tivesse sobrado nada ou fosse uma etapa passageira, como o é sempre, mas ali, um pouco mais.

Pensando melhor, poderia ter sido dona de um bordel mediano, ou patroa de pensão, arrumadora num clube de encontros para lá de clandestinos, camareira num teatro ou mesmo actriz. Ou uma cantora de ópera de segundo plano. Tem volume e pose para isso tudo, volto a pensar. E neste país, tanto acabam num lar da Misericórdia uns como outros. Ou pior. Esquecidos em quartos, em casas mantidas a custo, numa vergonha do insucesso da velhice e da pobreza, nada mais que uma subvivência marginal. Tem um ar vivido. Sei lá eu porque é que naquela geração, uma mulher que fuma tem sempre um ar mais vivido. E o que significará isso a mais de existência. Mas de existência agora não lhe vejo camadas. Não lhe vejo gente, e só parece aparentar uma espera. Ou uma chegada, afinal. Não consigo deixar de pensar que a vida não lhe anda.

Chegada à última estação. E sentir que é o fim da linha. E só.

Tenho medo.

22 Jun 2015

Zhou Yongkang e Xi Jinping

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] condenação de Zhou Yongkang, o poderoso membro do Comité Permanente do Politburo do Partido Comunista Chinês e antigo chefe dos serviços de segurança da China à pena de prisão perpétua por crimes de aceitação de subornos, abuso de poder e revelação de segredos de Estado despertou enorme atenção da imprensa internacional e propicia importantes leituras.

O perfil do arguido, os termos invulgares da condenação e a sua ligação à campanha anti-corrupção promovida pelo presidente Xi Jinping revelam que o tema ‘corrupção’ se tornou uma prioridade essencial da liderança chinesa para as próximas décadas. Revelam, ao mesmo tempo, as dificuldades de compatibilizar o desígnio da construção de um estado de direito com a preservação do domínio do Partido Comunista no Estado. Coloca dúvidas incontornáveis quanto aos limites da campanha em curso.

Zhou é o mais proeminente membro do Politburo a ser alguma vez condenado por crimes desta gravidade, em seis décadas de vida do PCC. O seu julgamento segue-se ao processo mediático de Bo Xilai e à condenação por crimes de idêntica natureza de ministros, generais do Exército, CEO de empresas estatais, responsáveis provinciais da RPC e dezenas de milhares de dirigentes comunistas. Secretário da Comissão de Assuntos Jurídicos e Políticos do Politburo entre 2007 e 2012, Ministro da Segurança Pública desde 2002, Zhou foi um homem de confiança de Hu Jintao, presidindo ao vastíssimo sistema de segurança interna e de justiça da China.

A sua condenação, a projecção pública interna que foi dada `a sentença, mostra que o regime quis fazer do caso ‘Zhou Yongkang’ um exemplo de que não recuará no propósito de punir ‘tigres e moscas’ (como Xi Jinping gosta de referir) por actos de indisciplina que atentem contra os interesses do Estado, a probidade no desempenho de funções públicas e a imagem interna e externa da China. Mas coloca, ao mesmo tempo, importantes incertezas.

Desde logo a questão do poder e de quem o detém. Visa a condenação de Bo Xilai e agora de Zhou Yongkang a limpeza do aparelho do Estado e do partido de dirigentes corruptos e subornáveis? Ou é apenas um pretexto para o reforço do poder pessoal de Xi Jinping, em termos que não se viam desde o período de liderança de Deng Xiaoping e para o apartamento do princípio da responsabilidade colectiva na direcção política do partido e do Estado? Se assim é, o que distingue, afinal, Xi Jinping de Mao Zedong?

Depois a questão do alcance da campanha anti-corrupção. Segundo a acusação, Zhou Yongkang terá recebido subornos de Jiang Jiemin, presidente da China National Petroleum Corporation no valor de 118 000 US (cerca de um milhão de patacas). Jornais de referência afirmaram que Zhou e o círculo familiar detêm uma fortuna avaliada em 160 milhões de dólares (1.2 biliões de patacas) não contando com contas bancárias, propriedades e aplicações financeiras. Longe de ser um caso isolado, as mesmas fontes afirmam que outros dirigentes seniores do PCC – desde logo o ex-Primeiro-Ministro Wen Jiabao, o ex-presidente da Comissão Politica e Consultiva do Povo Chinês, Jia Qinglin e a família próxima de Xi Jinping – detêm patrimónios de montante várias vezes superior ao apontado a Zhou. A pergunta que se coloca é como pode a campanha anti-corrupção ‘caçar outros tigres’ sem atingir o núcleo essencial do poder na China e das famílias que manifestamente o co-partilham? Ou é a campanha selectiva e dirigida apenas contra inimigos internos?

A delicadeza da questão, o facto de Zhou Yongkang deter, seguramente, informações relevantes que não interessa que sejam tornadas públicas, levou a que fosse feita uma excepção à regra anunciada em Março, pelo Tribunal Superior da China, de que os julgamentos de quadros seniores do partido serão abertos ao público. O julgamento foi feito à porta fechada e apenas a confissão de Zhou quanto aos crimes de que era acusado foi gravada e retransmitida pela televisão chinesa. Segundo alguns observadores, o segredo que rodeou o julgamento pode ser sinal que Zhou não terá cooperado com as autoridades tanto quanto se esperaria e que a sentença terá sido combinada ainda antes de o julgamento começar. Com arguidos desta proeminência, a decisão nunca é deixada à polícia, à procuradoria e aos magistrados. É tomada pela liderança política em consulta com os ex-lideres, num processo de consensualização da decisão que singulariza o sistema político chinês.

Qual a extensão da corrupção na China e em que medida pode pôr em causa a sobrevivência do regime chinês? É difícil responder à questão. Desde logo, porque não há dados fiáveis quanto à  grandeza do problema. O país tem surgido nos rankings de Transparency International’s Corruption Perceptions Index (que organiza os países de 0 a 100, dos mais corruptos aos mais transparentes) no meio da tabela. Em 2014 foi-lhe atribuída a pontuação de 36, o que coloca a China em 100 lugar, num conjunto de 174 países, a par da Indonésia e do Vietname. Quanto à realidade concreta do problema e às possíveis soluções as opiniões dividem-se.

Fareed Zakaria, jornalista e especialista em relações internacionais, tem defendido que a corrupção na China é diferente da que se verifica em países em vias de desenvolvimento como a Índia e a Indonésia (é aqui crónica, alargada, massiva). A corrupção na China, diz Fareed, envolve gente bem posicionada que recebe tratamento preferencial em empréstimos do Estado, investimentos e contratos públicos. Minxin Pei, especialista em questões chinesas e director do Centro de Estudos Estratégicos do Claremont McKenna College, tem uma posição contrária e diz que a corrupção na China é um problema histórico e endémico, transversal à sociedade e que põe em perigo o futuro da China’. Minxin adianta ainda que, por razões internas, a actual liderança chinesa será incapaz de levar a campanha anti-corrupção muito mais longe do que o fez até agora.   

Tenho uma posição mais próxima de Roderik MacFarquhar, professor de relações internacionais na Universidade de Harvard. É demasiado cedo para perceber até onde quererá Xi Jinping levar a campanha em curso. Por um lado, porque o julgamento de Zhou Yongkang foi recente e não é ainda perceptível qual o seu impacto na opinião pública interna. Barómetro a que a actual liderança dá muita atenção. O carisma e a confiança do cidadão comum na liderança de Xi Jinping parece não ter sido atingida. Ele incorpora o ideal popular do político íntegro que combate o nepotismo e o favorecimento ilegítimo onde quer que ele se esconda. Mas, por outro lado, o presidente da China não pode alargar excessivamente a ‘caça aos tigres’ sem pôr em risco a legitimidade do partido, a natureza monopolista do seu poder e a própria coesão da liderança. Mao – figura que manifestamente o inspira – soube, quase sempre, parar as ‘campanhas de rectificação de massas’ quando elas corriam o risco de destruir o partido. A Revolução Cultural revelou os limites da sua obsessão em aniquilar os inimigos internos.   

Xi Jinping é um líder forte como há muito tempo não se via na China. Mas o sistema de cooptação de líderes em que assenta a máquina do PCC tem as suas próprias limitações. Xi Jinping nunca governará contra os interesses do partido e da sua elite dirigente. Xi não é Gorbatchov, como muitas vezes tem referido. A perestroika não faz parte do seu vocabulário.   

22 Jun 2015

Medeiros/Lucas – “Fado do Regresso”

“FADO DO REGRESSO”

Voltei com a mesma fome
Ai como andara enganado
A quem renega o seu fado
Nem o céu lhe sabe o nome

Não achei o paraíso
E sei que tudo é pequeno
Mas no teu rosto sereno
É cada ruga um sorriso

Encontro as flores outra vez
O sol perguntou por mim
E foi sobre o meu jardim
Que uma nuvem se desfez

Ó sombra da minha sorte
Que traí com cem mulheres
Podes vir quando quiseres
Senhora da Boa Morte

Na firme paz de quem ama
Acabei o meu desatino
Vejo os sonhos de menino
À roda da minha cama

Adeus ó ilhas desertas
Velas à raiva do vento
A cadeira em que me sento
É as minhas descobertas

Nem mesmo o teu fumo quero
Meu cachimbo de Xangai
Agora que já sou pai
No meu filho é que me espero

Ó sombra da minha sorte
Que traí com cem mulheres
Podes vir quando quiseres
Senhora da Boa Morte

MEDEIROS/LUCAS

CARLOS MEDEIROS / PEDRO LUCAS / IAN CARLO MENDONZA

21 Jun 2015

A culpa é do primo

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]dmito: numa terra em que uns são primos dos outros e vice-versa, será difícil, à partida, fazer prova do mérito. Se para alguns é de uma enorme conveniência ter irmãos, primos e tios espalhados em locais estratégicos, para outros será uma dor de cabeça ter a genealogia em constante perseguição. Mas a vida é feita destas coisas e de muitas outras chatices: já todos nós, em situações diversas, tivemos de abdicar da nossa vontade para evitar acusações injustas. É aquela velha história do ser e do parecer. E a verdade é que em Macau, quando há negócios que não parecem bem, por norma há um tio, um primo, um cunhado e talvez uma amiga à mistura.

No final de Abril, numa invulgar posição política, Alexis Tam afastou um vogal do Fundo das Indústrias Culturais, de seu nome Chao Son U. A decisão do secretário para os Assuntos Sociais e Cultura foi motivada por falta de confiança política, na sequência de uma história que, para a opinião pública, se contou da seguinte forma: uma empresa de familiares de Chao Son U concorreu aos apoios financeiros dados pelo Fundo das Indústrias Culturais. Concorreu e ganhou. A dada altura do processo, a coisa não correu bem lá para os lados de Chao Son U.

O caso chegou a ser enviado para o Comissariado contra a Corrupção que, em tempo recorde nos anos de vida que levo de Macau, analisou, investigou, discutiu e engavetou o processo: nada a apontar a Chao Son U. A rapidez da justiça mereceu reparos – de quem conviveu com o antigo vogal – e foi louvada com críticas ferozes de algumas forças políticas locais. É, sem dúvida, uma decisão que abre um precedente em termos de celeridade. O assunto dava um texto – ou vários.

Voltemos a Chao Son U, um ilustre desconhecido da nossa imprensa até Abril. Esta semana, em declarações aos jornalistas, o presidente do Fundo das Indústrias Culturais confirmou que a empresa detida pelos familiares do antigo vogal consta da lista de seleccionadas aos apoios aprovados no ano passado. Leong Heng Teng, o presidente do fundo – que o leitor mais distraído conhecerá dos outros 2500 cargos que desempenha, homem com longa carreira política em várias frentes –, ficou aparentemente surpreendido com a insistência dos jornalistas, que quiseram saber se houve uma reavaliação da candidatura do familiar de Chao Son U, reponderação essa depois de o caso ter sido tornado público.

Leong Heng Teng explicou que não, que não houve qualquer reavaliação da candidatura. Garantiu também que tudo correu como mandam as regras, que não houve qualquer irregularidade, que já não há caso. Ou seja, o caso Chao são águas passadas. Leong Heng Teng não identificou o nome da empresa detida pelos familiares do antigo vogal mas, na sequência destas declarações, o jornal Ponto Final foi à procura e descobriu que pertence ao irmão de Chao Son U.

O irmão de Chao Son U não tem culpa de ter irmãos. E também não será culpado de ter irmãos com importância suficiente para pertencerem a entidades que mexem com dinheiros públicos em áreas – as coincidências são tramadas – que têm que ver com a actividade profissional que lhe ocupa os dias. O irmão de Chao Son U podia não se ter candidatado ao apoio financeiro da instituição onde trabalha o filho da mesma mãe e/ou do mesmo pai, podia ter ido bater à porta de outro fundo ou fundação, que dinheiro é o que não falta por aí, mas calhou assim e não calhou bem. Ter irmãos e primos e tios e compadres é bom, mas nem sempre.

Toda esta história é estranha: não acredito que Alexis Tam tenha acordado uma manhã com vontade de andar a dizer por aí que houve alguém que podia ter estado melhor, que é preciso rigor e transparência – e vai daí toca a escrever um despacho e afastar quem fez o que não devia. No meio de tudo isto, já depois de conhecida a supersónica decisão do CCAC, chegou a declaração conjunta de quem trabalhou com o antigo vogal: oito funcionários do Fundo das Indústrias Culturais vieram para os jornais dizer que foram pressionados por Chao Son U para que não revelassem detalhes durante a investigação levada a cabo pelo gabinete de Alexis Tam.

Toda esta história é estranha e acredito que, bem lá no fundo, sejam todos bons rapazes, um irmão e o outro, apesar de, não os conhecendo, me parecer que têm ambos falta de jeito. Leong Heng Teng diz que está tudo bem e a gente acredita, os milhões já estão distribuídos e as regras foram cumpridas à risca, mas há que começar a pensar em redesenhá-las para evitar as confusões entre tios e primos, irmãos e irmãs, sobrinhos e afilhados.

A culpa é dos primos. É o que dá ter muitas tias.

20 Jun 2015

Tabaco | Governo “não cede”. Proposta entregue ao Conselho Executivo

Uma vez mais Alexis Tam mostra-se decidido. O fumo nos casinos é para desaparecer, mesmo que um estudo das operadoras se mostre contrário às intenções do Governo. Sem comentar, o Secretário diz estar confiante com a decisão que prevê ser aprovada em pouco tempo, até porque a revisão da Lei do Tabaco já foi entregue ao Conselho Executivo

[dropcap type=”circle”]”[/dropcap]O que nos importa é a saúde da população”, repetiu três vezes Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, quando questionado sobre a medida de proibição total de fumo nos casinos. Uma vez mais, ontem, o Secretário reforçou a intenção do Governo em não voltar atrás na sua decisão de proibição total do fumo nos casinos, sendo que Tam garante que a revisão da Lei de Prevenção e Controlo do Tabagismo já foi até entregue ao Conselho do Executivo.

Depois de tornado público um estudo encomendado pelas seis operadoras que indica que 66% dos quase 35 mil funcionários dos casinos estão a favor das salas de fumo nos casinos, Alexis Tam diz que a decisão está tomada e prefere não comentar a posição das operadoras, que dizem que a proibição vai magoar a economia.

“Já fizemos uma análise do estudo e temos a nossa resposta. Pessoalmente não vou dar a minha opinião em relação ao estudo feito pelas seis operadoras do Jogo (…), não vou dar a minha opinião”, afirmou o Secretário, relembrando que no ano passado também o Governo avançou um estudo, realizado pela Universidade de Macau, sobre o mesmo tema, que indicava que “cerca de 70% da população de Macau estava a favor da proibição total do fumo nos casinos”.

No estudo encomendado pelo Governo, os dados indicavam que mais de 80% dos turistas inquiridos não era contra a proibição, como relembrou o Secretário, insistindo que a única coisa que é importante é a “saúde dos cidadãos”.

“Macau é uma cidade saudável, por isso, quer seja nos recintos fechados, quer seja nos casinos, vamos aplicar esta política”, reforçou Alexis Tam, enquanto falava à margem da 2.ª reunião plenária do Conselho de Acção Social.

Recorde-se que os dados do estudo encomendado pelas operadoras indicavam que 32% dos clientes VIP confirmam que vão escolher outros países ou regiões para jogar devido à proibição total do fumo em Macau. Valores desvalorizados por Alexis Tam que contra argumentou com os dados do estudo do Governo, que indicava que apenas “10% dos fumadores disseram que, se calhar, não vinham”.

Mealheiro seguro

A proposta para a revisão da lei, indicou o Secretário, já foi entregue ao Conselho Executivo que aguarda agora por uma decisão. “Já apresentámos o nosso projecto ao Conselho Executivo e eles ainda estão a analisar, penso que muito em breve, até ao final do mês ou início de Julho, o porta-voz do Conselho Executivo vai explicar à sociedade [a decisão]”, informou o Secretário, frisando que há um feedback positivo.

A lei terá de ser depois aprovada pelos deputados da Assembleia Legislativa.

Sobre a possibilidade desta medida prejudicar as receitas do Jogo, Alexis Tam não se mostrou preocupado, apresentando os incentivos ao turismo como uma alternativa. “O Governo de Macau, e eu, que sou economista, sabemos a importância das receitas financeiras, isso é muito importante para nós, mas o meu trabalho também é defender a saúde da população e temos que fazer um equilíbrio. Já disse várias vezes, o número de turistas no ano passado foi de 32 milhões, dos quais 22 milhões são da China, é uma pequena percentagem e podemos fazer mais, vamos fazer mais para atrair mais consumidores para Macau”, defendeu, descredibilizando as salas de fumo, que segundo o mesmo, não são uma solução viável.

20 Jun 2015

Terrenos | Raimundo do Rosário na AL para dar explicações

Raimundo do Rosário vai explicar porque é que o Governo decidiu retirar da lista de terrenos a reaver 16 lotes. Chui Sai On garante que foi tudo feito de acordo com a lei

[dropcap style =’cicrle’]R[/dropcap]aimundo do Rosário vai à Assembleia Legislativa (AL) para falar dos terrenos aos deputados. Isso mesmo disse Chui Sai On, Chefe do Executivo, que acredita que é “da responsabilidade do Governo” esclarecer as pessoas sobre os lotes que o Executivo diz não poder reaver.

“O Governo tem acompanhado activamente as questões de terrenos desocupados e, seja o ex-secretário para os Transportes e Obras Públicas seja o actual secretário, Raimundo do Rosário, ambos [trabalham] sob o mesmo Executivo, portanto, [Chui Sai On] considera que o Governo é responsável por esclarecer o público sobre os motivos e fundamentos legais das referidas decisões”, pode ler-se num comunicado enviado pelo Gabinete do Chefe do Executivo.

Por isso mesmo, Raimundo do Rosário estará presente na Assembleia Legislativa, na próxima semana, para esclarecer a população sobre esta matéria.

“Relativamente aos 16 lotes não classificados como terrenos com caducidade da concessão, Chui Sai On disse que o Governo é responsável por esclarecer os fundamentos legais e os motivos dessa opção, no sentido de dissipar as dúvidas do público”, escreve o Gabinete.

Decisão partilhada

Recorde-se que, esta semana, o Secretário para os Transportes e Obras Públicas anunciou que o Executivo desistiu de recuperar 16 dos 48 terrenos cujo prazo de desenvolvimento chegou ao fim. O responsável não deu detalhes sobre a questão – tal como os locais, ou as concessionárias – justificando que estes não vão ser recuperados “porque não preenchem os requisitos de caducidade”. A decisão, acrescentou ainda Raimundo do Rosário, foi também de Lau Si Io, anterior Secretário da tutela.

O Chefe do Executivo assegura que o Governo tem empenhado todos os esforços na execução de trabalhos destinados à resolução dos casos relativos aos 48 terrenos concedidos mas não aproveitados e afirma “que a utilidade dos mesmos terá sempre em consideração o interesse público”.

De acordo com o líder do Governo, Lau Si Io não só abriu uma série de processos, nos serviços competentes, como também criou um grupo de trabalho composto por especialistas para proceder a um estudo e revisão sobre os terrenos em questão. “Os casos são resolvidos de acordo com a legislação e os diplomas vigentes”, garantiu Chui Sai On.

O mesmo aconteceu com os terrenos que não vão, afinal, ser reavidos, afirma o Chefe do Executivo. “Quanto aos 16 casos dos terrenos não integrados no âmbito da declaração de caducidade, Chui Sai On indicou que todas as decisões atribuídas foram tomadas através de uma série de procedimentos e apreciações levadas a cabo por um grupo de juristas, ou seja, cada deliberação teve as suas causas.”

20 Jun 2015

Assistentes Sociais | Governo quer 150 profissionais, mas serão locais

Assistente Sociais são precisos, mas não são uma urgência e Macau tem capacidade para os contratar. Quem o diz é o presidente do IAS, que assegura que a contratação do exterior pode ser uma hipótese mas só se for realmente necessário. O índice de subsistência não vai ser ajustado

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] presidente do Instituto de Acção Social (IAS), Iong Kong Io, garantiu que neste momento não é necessário contratar assistentes sociais de fora do território. Numa conferência à imprensa depois da 2.ª Sessão plenária do Conselho de Acção Social, o presidente avançou que neste momento são necessários 150 novos profissionais da área.

Feitas as contas, actualmente, existem 881 assistentes sociais em plena funções e 590 alunos da área, o que faz com que os necessários não ultrapassem as duas centenas. “Acho que precisamos de cerca de 150 assistentes sociais”, afirmou o presidente, indicando que em princípio não será necessária a contratação do exterior.

“Não precisamos de recrutar pessoas de fora. Mas temos de ver o tipo de trabalho e dar mais atenção aos grupos de minorias”, argumentou Iong Kong Io, sublinhando que este tipo de contratação poderá acontecer caso seja necessário para as comunidades estrangeiras. Algo que só se saberá depois de novos estudos.

Tudo como dantes

Durante a reunião foi discutida a segunda consulta pública sobre o Regime de Credenciação e Inscrição para o Exercício de Funções de Assistente Social, que decorreu entre Janeiro e Fevereiro do presente ano.

A consulta, explica o Conselho, recolheu cerca de 600 opiniões do sector e um total de 3065 da população, mas ainda não existem resultados públicos. Os temas de maior atenção da população foram a composição do Conselho Profissional dos Assistentes Sociais e a forma de escolha dos seus membros, a criação do exame de avaliação, o estabelecimento de Regime de Grandfathering, o recrutamento de assistentes sociais não residentes, o mecanismo de recurso e o código de ética profissional.

Recorde-se que têm sido muitas as reclamações sobre a necessidade de ser obrigatório um exame de avaliação para os assistentes sociais do público, algo que não existe para o privado.

Já sobre o relatório de estudo sobre o mecanismo de ajustamento do nível da subsistência mínima, também discutido na reunião, o Conselho não irá mexer no montante, que está fixado nas 3800 patacas. “Caso o resultado da avaliação efectuada em meados de cada ano aponte para um diferença inferior a 3% entre a previsão da evolução do valor do risco social e o montante na altura em vigor, não haverá lugar a ajustamento. Nesta conformidade, dado que após a avaliação se constatou uma diferença de 1,96% entre a previsão e o valor de risco social actualmente em vigor, este não será alterado em Julho de 2015, mantendo-se portanto o seu actual valor até ao fim do corrente ano, altura em que se realizará uma nova avaliação”, justifica o IAS.

20 Jun 2015

Animais | Multa para abandono é “pesada”, dizem deputados

[dropcap type=”circle”]O[/dropcap]s deputados que discutem a proposta de Lei da Protecção de Animais consideram que a multa para quem abandonar bichos é elevada. “É pesada esta multa e para outras infracções são só uns milhares”, disse a presidente da 1.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL).

Recorde-se que esta é segunda vez que os deputados consideram as punições elevadas, sendo que anteriormente o Governo cedeu ao pedido da Comissão em diminuir as penas para maus tratos a animais, que previam até três anos de prisão.

Neste momento, a legislação propõe uma multa entre as 20 mil e as cem mil patacas para quem abandonar propositadamente os seus animais ou os libertar fora do seu habitat natural. “A última versão de trabalho não permitia a libertação, mas para respeitar as práticas tradicionais e costumes, a lei define que em certas situações isto se possa fazer, mas num habitat natural adequado”, referiu Kwan Tsui Hang.

Ainda nada está definido sobre o valor das multas, sendo que Kwan referiu apenas que o assunto vai ser debatido na próxima reunião com o Governo, no dia 23 deste mês.

Pela ciência

Outra das novidades na lei passa pela permissão de utilizar cães e gatos para aplicações científicas. Os requerentes dos animais são obrigados a pedir autorização ao Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), mas será permitido a utilização destes animais em casos especiais em laboratório.

O IACM terá ainda que ser avisado no caso da utilização de animais para “determinados fins”, como é o caso de espectáculos, incluindo circo. Já no que diz respeito à captura de animais selvagens, o Governo e os deputados chegaram, finalmente, a um consenso: será permitido criar animais importados de outros países, mas vai haver uma punição para quem tentar capturar bichos deste género no território, como é o caso de algumas aves. “Os animais que são importados não vão ser proibidos”, assegurou Kwan.

Ficou ainda definido que é proibida, por lei, a incitação à luta entre animais e entre pessoas e animais. Outro dos impedimentos é o de vender cães e gatos domésticos com idade inferior a três meses, tendo-se igualmente limitado a idade dos animais vendidos para consumo.

20 Jun 2015

HK | Reforma política chumbada com mais de 30 deputados fora do LegCo

Foi chumbada a proposta de C.Y.Leung que iria permitir a implementação de uma espécie de sufrágio universal. A população de Hong Kong poderia eleger o Chefe do Executivo em 2017, ainda que de entre três candidatos previamente seleccionados. Para os democratas esta é “uma falsa democracia”. Para os outros é totalmente de rejeitar e para alguns parece nem sequer ter interessado, já que abandonaram a sala

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] proposta de reforma política em Hong Kong foi ontem chumbada. O Conselho Legislativo de Hong Kong (LegCo) não aprovou a proposta apresentada pelo Governo, sendo que apenas oito deputados – pró-Governo – votaram a favor e mais de 30 abandonaram mesmo a sala, levando a abstenções.

No total, a proposta recebeu 28 votos contra. Como seria de esperar, à excepção de um, todos vieram do lado de deputados que integram partidos democratas. O único voto contra de um deputado considerado pró-Pequim chegou pelas mãos de Leung Ka-la.

Segundo as agências de notícias e a imprensa da região vizinha, a votação ocorreu no segundo dia de debate da proposta, dez horas depois de um debate que só se esperava que acabasse hoje de manhã. A polémica proposta implicava uma reforma no sistema eleitoral do Chefe do Executivo, concedendo a hipótese de que a população de Hong Kong pudesse eleger através de sufrágio universal o próximo Chefe do Executivo. Contudo, a população só podia escolher entre três candidatos previamente designados por uma Comissão pró-Pequim, algo muito contestado pela ala pró-democrata.

A menos de um minuto da votação, como referem os média da região, 31 deputados tidos como pró-Pequim abandonaram a sala, fazendo com que a proposta chumbasse com 32 abstenções. Entre esses deputados estavam apoiantes da Democratic Alliance for the Betterment and Progress of Hong Kong, da Federation of Trade Unions e da Business and Professionals Alliance. Também o presidente do LegCo, Jasper Tang, decidiu não votar na proposta apresentada por C.Y.Leung, Chefe do Executivo de Hong Kong.

“Este documento não obteve uma maioria de dois terços dos votos”, disse Jasper Tsang. “Anuncio que o texto foi vetado.”

[quote_box_right]A menos de um minuto da votação, 31 deputados tidos como pró-Pequim abandonaram a sala fazendo com que a proposta chumbasse com 32 abstenções[/quote_box_right]

Absurdo e surpreendente

A saída dos deputados surpreendeu tudo e todos, segundo declarações de membros do LegCo aos órgãos de comunicação social. “Não fazemos ideia do que aconteceu com o resto do grupo, que decidiu de repente deixar o Conselho”, disse James Tien, do Liberal Party, também pró-Governo. “Decidimos ficar para votar.”

Também a líder do Partido Democrático, Emily Lau disse à Reuters que a decisão destes membros do hemiciclo foi um “absurdo”, tendo em conta que “estas são as pessoas que deveriam ajudar a governar Hong Kong”. Para Lau, se “se olhar para este comportamento, não se pode evitar sentir pena” pela RAEHK.

Mas, as justificações dos deputados que abandonaram a sala não tardaram, com alguns a dizer aos jornalistas que a saída se deveu “a um erro de comunicação”, uma vez que tinham pedido um intervalo de 15 minutos, algo que foi rejeitado. (ver texto abaixo)

Para que a eleição de 2017 acontecesse como o Governo pretendia, a proposta teria de ter passado com 47 votos a favor. Apesar da Lei Básica de Hong Kong garantir a possibilidade de eleições através de sufrágio universal, ao contrário da de Macau, activistas pró-democracia caracterizam a sugestão de C.Y.Leung como sendo de “falsa democracia” (ver texto da página seguinte).

Com esta votação, tudo fica na mesma: o Chefe do Executivo de Hong Kong em 2017 será escolhido pela Comissão que iria eleger os três candidatos, composta por 1200 pessoas de diferentes sectores, à semelhança do que acontece em Macau, ainda que em menor escala.

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Deputado que originou saídas diz que “esperava por colega” para votar

A “história” afinal é outra

[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]uma votação que iria ficar para a “história”, como foi caracterizada pelos órgãos de comunicação social e pelos próprios intervenientes, o que foi como mais marcante foi a saída de mais de 30 deputados do LegCo. O deputado que terá incentivado à saída dos restantes colegas foi, de acordo com a imprensa da região vizinha, Jeffrey Lam Kin-fung. Este assumiu mesmo as culpas pelo sucedido, que diz ter sido uma falha na comunicação. Afinal, Kin-fung estava a tentar atrasar a votação para que um colega que estava fora pudesse regressar ao hemiciclo.

“Peço desculpa, o Uncle Fat tem estado doente, mas ele sempre quis voltar para votar”, disse Lam ao South China Morning Post. “Queríamos deixá-lo satisfazer o seu desejo e, por isso, pedimos 15 minutos de suspensão. Mas, devido a uma falha na comunicação, alguns [dos deputados] acabaram por não sair.”

O deputado, que tem 79 anos, faz parte do The Business and Professionals Alliance e queria fazer atrasar a votação para que Lau Wong-fat pudesse chegar ao LegCo.

Segunda a imprensa presente no local, o alarme do Conselho Legislativo tocou para alertar os deputados que tinham cinco minutos para votar, sendo que o pedido de Lam aconteceu a menos de um minuto desta votação. Depois da rejeição do pedido de intervalo, Lam “levantou-se em conjunto com Ip Kwok-him e este acenou aos colegas, que o seguiram na maioria para fora do LegCo”.

Imprudências

A saída dos deputados causou mais controvérsia do que a própria votação. Por exemplo, salienta a BBC, Felix Chung Kwok-pan disse não ter conhecimento do plano para sair e criticou os colegas. “Mesmo se soubesse que estavam à espera do Uncle Fat teria ficado na mesma. Este é o momento de Hong Kong e as pessoas estão à espera de um resultado em dez segundos. Como é que eles podem ter saído assim? Foi pouco esperto terem saído, até porque o voto de Uncle Fat não ia afectar o resultado.”

Ao South China Morning Post, Tam Yiu-chung, antigo presidente da Democratic Alliance for the Betterment and Progress of Hong Kong, admitiu que a saída tinha sido “imprudente”. Este foi um dos que se juntou ao grupo.

“Não somos miúdos a brincar aqui no LegCo. Alguns deles até disseram que este seria o voto mais importante da sua vida”, atirou ainda Emily Lau, presidente do Partido Democrático ao mesmo jornal.

“Vergonhoso” foi outro dos nomes que deputados utilizaram para descrever a cena, com Lau a dizer mesmo que Pequim deveria repreender esta atitude.  

Hong Kong |Democratas acusam CE de tentar enganar população

[dropcap style=’circle’]P[/dropcap]ara a ala pró-democrata não há qualquer dúvida. A proposta de lei para a reforma política é nada mais nada menos do que “uma falsa democracia”, já que, na sua opinião, o Chefe do Executivo iria apenas ser escolhido entre três candidatos apontados da mesma forma como agora acontece.

O líder do Partido Cívico, Alan Leong, afirmou que a votação da proposta de reforma política iria ficar para a história pelo facto de apenas oito pessoas terem votado a favor. E afirma também que as pessoas de Hong Kong não se deixaram enganar, posição contraria à do próprio Chefe do Executivo ter dito que a reprovação desiludiu a população.

“A mensagem que estamos a enviar para o Governo Central e para o Governo de Hong Kong é a de que a população de Hong Kong não quer este pacote de falsa democracia”, afirmou. “Não queremos que os nossos votos sejam usados para legitimar a designação de um chefe do Executivo apoiado por interesses velados”, acrescentou ainda. democrates hong kong umbrella

A votação foi acompanhada em directo por imagens de televisão, num ecrã gigante instalado no exterior do LegCo e o resultado foi recebido com aplausos e vaias pelas centenas de manifestantes de grupos rivais, separados por barreiras de metal e sob alto dispositivo de segurança.

Durante o debate no LegCo, os pró-democratas argumentaram contra o plano eleitoral do governo, que segundo eles, nega às pessoas de Hong Kong uma “verdadeira escolha”, contrariando a posição dos adversários pró-Pequim que argumentaram que o plano de reforma constituía um grande passo em direcção à democracia.

[quote_box_left]“A mensagem que estamos a enviar para o Governo Central e para o Governo de Hong Kong é a de que a população de Hong Kong não quer este pacote de falsa democracia” – Alan Leong, líder do Partido Cívico[/quote_box_left]

Da filtragem

O processo de escolha foi, contudo, descrito pela ala democrata como uma “triagem”, sendo que Alan Leong se juntou a outros deputados para mostrar cartazes e guarda-chuvas amarelos no final da votação. Guarda-chuvas que, recorde-se, são símbolo do forte movimento de contestação, que levou à ocupação de ruas em Hong Kong durante 79 dias o ano passado.

As manifestações surgiram depois da decisão, no final de Agosto de 2014, do Comité Permanente da Assembleia Nacional Popular sobre a reforma política, e os protestos tiveram o seu epicentro exactamente no complexo de Tamar, que alberga o gabinete do Chefe do Executivo, o Conselho Legislativo e as principais secretarias do Governo de Hong Kong.

Mas, se os democratas consideram que a acção vai mostrar que as pessoas não acreditam no Governo, a opinião de académicos é diferente. Ouvido pelo South China Morning Post, o professor de Ciência Política da City University Cheung Chor-yung considerou que “o chumbo da reforma talvez possa fazer os pró-democratas sentirem-se bem, mas isso não aproxima Hong Kong da democracia”. “Pequim dificilmente vai suavizar a sua posição”, afirmou.

O professor e director do Departamento de Ciências Sociais do Instituto de Educação de Hong Kong, Sonny Lo, também manifestou uma opinião similar: “Pequim encara a aprovação do plano de reforma como a pedra de toque do grau de lealdade política da população de Hong Kong.”

Cá fora, estavam ainda apoiantes de Pequim, que fizeram um minuto de silêncio depois da reprovação da proposta e pediram que não se votasse em deputados democratas nas próximas eleições ao LegCo.

Reacções à votação

“Votaram contra a vontade de cinco milhões de pessoas e negaram-lhes a hipótese de um sufrágio universal para as próximas eleições do Chefe do Executivo, que foi agora bloqueado. O sufrágio universal para os membros do LegCo também se tornou incerto. Eu, o Governo e os milhões de pessoas de Hong Kong estamos desiludidos”, C.Y.Leung, Chefe do Executivo da RAEHK

“Promover o desenvolvimento democrático de Hong Kong e pôr em prática o objectivo de sufrágio universal para escolher o Chefe do Executivo é a posição consistente do Governo Central e a aspiração comum dos compatriotas de HK. Os governos da RAEHK e o Central têm feito um grande esforço neste sentido. Este resultado é algo que não queríamos ver”, Lu Cang, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China

“Se a proposta for reprovada, esta é uma grande perda para Hong Kong. [Quem votou a favor] não se incomoda a pensar que isto causará danos na confiança da população, se a oportunidade da reforma política se perder”, editorial do jornal pró-Pequim Global Times

20 Jun 2015

Caso Bella | Ausência de nome feminino no BIR impede tratamentos na saúde

O facto de Bella não ter o nome feminino no BIR faz com que não tenha acompanhamento médico na toma de hormonas e enfrente suspeitas diárias quanto à sua verdadeira identidade. A Associação Arco-Íris quer reunir com Sónia Chan. DSI confirma estar a estudar mudança de legislação

[dropcap class=”type1″]“S[/dropcap]omos um grupo de pessoas normais, temos as nossas vidas como qualquer pessoa. Queremos mostrar à sociedade que há transexuais a viver em Macau com BIR.” De saia pronta, unhas cor-de-rosa e uma maquilhagem perfeita, Bella, a segunda transexual em Macau a dar a cara, conta ao HM que continua a viver diariamente as consequências de não poder mudar o nome no seu BIR. Por isso mesmo, a jovem não consegue ter um tratamento normal em questões como a saúde.

A operação foi feita na Tailândia mas a continuação do processo de mudança de sexo, com a toma de hormonas, está a ser feita sem o devido acompanhamento médico, uma vez que no sector público ou privado não aceitam Bella numa consulta de ginecologia, por não ser mulher no papel.

Para além disso, como conta, no dia-a-dia as pessoas suspeitam sempre da identidade da jovem. “Se sou mesmo a pessoa portadora do BIR… Tenho alguns inconvenientes, se for viajar, se for ao banco abrir uma conta”, contou ainda.

Bella e Avery foram as primeiras transexuais de Macau a dar a cara pelo problema, mas Avery recusou dar uma entrevista ao HM, por se encontrar em Londres e “muito ocupada”.

Revisão confirmada

Para já, o Executivo parece estar, pelo menos, a dar atenção ao assunto. A Direcção dos Serviços de Identificação (DSI) já confirmou que “está a estudar” a mudança de legislação para permitir a mudança de nome. Jason Chao, da Associação Arco-Íris, disse também que enviaram uma carta ao Executivo para reunir com a Secretária para a Administração e Justiça.

“Vamos ter um encontro com Sónia Chan ou com os seus representantes para falarmos do progresso de revisão da lei, porque esta questão deve ser tratada o mais depressa possível. Estes casos vão continuar a surgir e Macau precisa de ter legislação que reconheça a identidade dos transexuais. Não se pode evitar esta situação.”

Bella acredita que, desta vez, o Governo vai mesmo fazer algo pelo seu processo e pelo de Avery. “O Governo está empenhado em ajudar-nos. Se olharmos para o que acontece nas outras partes do mundo, os procedimentos para a mudança de sexo já são muito comuns e fáceis. Olhando para a tendência a nível global, penso que o processo também será fácil aqui em Macau.”

Lidar com a descriminação

[quote_box_right]Pensei em sair e desistir, mas acredito que viver uma boa vida aqui enquanto transexual não é impossível. Há algumas questões políticas e sociais que ainda não funcionam, mas acredito que no futuro Macau vai ser um melhor lugar” – Bella [/quote_box_right]

Actualmente Bella encontra-se sem trabalho, mas por opção. Diz querer parar para pensar. Já trabalhou numa loja de cosméticos e afirma que, caso o seu BIR tivesse o nome feminino, poderia ter maior abertura no local de trabalho local. A jovem chegou a ponderar sair de Macau, tal como fez Avery, mas decidiu ficar.

“Pensei em sair e desistir, mas acredito que viver uma boa vida aqui enquanto transexual não é impossível. Há algumas questões políticas e sociais que ainda não funcionam, mas acredito que no futuro Macau vai ser um melhor lugar”, apontou.

Se no início tinham receio, hoje os pais de Bella aceitam-na tal como é. “Os meus pais ficaram assustados no início, porque queriam que eu continuasse um rapaz. Também ficaram assustados, pois achavam que se eu mudasse de sexo teria de enfrentar a descriminação ou comportamentos estranhos por parte da sociedade.”

A descriminação, essa, Bella sentiu-a na pele, mas conta que aprendeu a lidar com ela. “Quando eu andava na escola secundária as reacções dos meus professores e colegas eram bastante diferentes. Alguns achavam que era estranho, que não era aceitável, mas muitos deles consideravam-me normal e queriam que vivesse a minha vida feliz. Foi uma escolha pessoal a forma como lidei com essa discriminação.”

De unhas pintadas e cara maquilhada, Bella olha-nos e diz acreditar num futuro mais risonho para a comunidade LGBT em Macau. “Quando comparamos Macau com outros lugares do mundo, mesmo a China, Hong Kong ou Taiwan, a sociedade ainda é um pouco conservadora. Ainda acredito que no futuro os cidadãos vão ter formas de abrir as mentalidades e ter maiores conhecimentos sobre os nossos direitos”, conclui.

20 Jun 2015

Sufrágio | Jason Chao diz que resultado em HK influencia Macau

A reprovação da proposta de reforma política em Hong Kong pode influenciar Macau no caminho para a democracia. Para Jason Chao, Pequim pode indicar à RAEM que implemente o mesmo tipo de sufrágio que se esperava em Hong Kong, ou pode também servir como desculpa para que não haja sequer a tentativa de se criar a hipótese de voto individual 

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] líder do grupo Macau Consciência acredita que a reprovação da proposta de reforma política em Hong Kong poderá influenciar a implementação do voto individual também em Macau. Jason Chao esteve ontem na região vizinha, no dia em que o Conselho Legislativo da RAEHK reprovou a hipótese de que a população pudesse escolher um Chefe do Executivo entre três apresentados por uma comissão.

“Vai afectar Macau, claro. Uma das possibilidades é que o Governo de Macau, à semelhança de Hong Kong, possa querer introduzir este falso sufrágio universal [e aprová-lo], como forma de se mostrar à RAEHK, ainda que sob a liderança do Governo Central”, começa por dizer Chao ao HM. “Nós rejeitamos qualquer forma de falsos sufrágios universais.”

A Macau Consciência enviou um comunicado às redacções na tarde de ontem, dizendo apoiar os democratas de Hong Kong contra a proposta de C.Y.Leung, por considerar que esta distorce o conceito de sufrágio universal. Para o grupo de activistas de Macau, esta não é nada mais nada menos do que uma forma de “reforçar o poder e interesse da classe que lidera e de negar aos cidadãos a liberdade de escolher o Chefe de Governo”.

Na nota, Chao diz que “os destinos políticos de Macau e Hong Kong estão intimamente relacionados”. Questionado sobre se a reprovação da proposta poderia servir de desculpa ao Governo local para a não implementação de sufrágio universal – algo que a Lei Básica não prevê na RAEM, ao contrário da de Hong Kong – Chao é peremptório.

“Acho que o destino está nas mãos do Governo chinês, ainda que a acção seja do Governo de Macau, será seguindo a linha do que o Governo Central quiser. Mas, em Macau, não há sequer interesse nenhum em implementar qualquer forma de sufrágio”, aponta ao HM. “O referendo civil no ano passado foi exemplo disso mesmo”, acrescenta, referindo-se à acusação de ilegalidades de que foi alvo depois do inquérito feito pela sua associação indicar que a maioria da população queria votar no Chefe do Executivo. Algo contrário às opiniões do Governo.

Desiludido com deputados

[quote_box_right]“Acho que o destino está nas mãos do Governo chinês, ainda que a acção seja do Governo de Macau, será seguindo a linha do que o Governo Central quiser. Mas, em Macau, não há sequer interesse nenhum em implementar qualquer forma de sufrágio”[/quote_box_right]

Membro da Associação Novo Macau, da qual fazem parte os deputados pró-democratas Au Kam San e Ng Kuok Cheong, Jason Chao diz-se descontente com os colegas. A divisão entre associação e escritórios de deputados já foi feita há algum tempo, com as partes a não concordarem com alguns pontos de vista, e ontem Chao reafirmou o que já tinha vindo a dizer ao HM.

“Não percebo porque é que Au Kam San e Ng Kuok Cheong apoiam este ‘falso sufrágio universal’ em Macau, como em Hong Kong. Eles apelaram a isso, dizendo que é melhor que nada, mas eu nao acredito nisto como forma de eleger o nosso Chefe do Executivo.”

Para a Macau Consciência, os cidadãos “das duas cidades” deveriam poder escolher de forma verdadeiramente livre. Chao diz-se muito satisfeito com o resultado da votação, já que “o caminho de Macau para o sufrágio universal seria mais complicado se Hong Kong adoptasse este falso sufrágio”. Ainda assim, acredita que uma proposta semelhante no território iria ser aprovada.

20 Jun 2015

Márcia e Samuel Úria – “Menina”

“MENINA”

Menina assenta o passo
Sem medo ou manha
Ou muito te passa da vida
Tem que haver quem faça o que muito queira
Caminha sem falsa fascinação
O teu coração
Ainda pára
Forçando a apatia pelo medo de dançar
Não se avista um dia em que um ego não destrate
Uma mais bela parte
Escondida em ti.

Menina sê quem passa para lá da ideia
Quem muito se pensa fatiga
Nem vais ver quem são
Sem os olhos no chão
Os que andam para ver-te vencida a ti.
O teu coração
Sem querer dispara
Força e simpatia ao Ser que te vê dançar
Vai chegar o dia em que o medo não faz parte
E, por muito que tarde, esse dia é teu.

Desfaz o Nó
Destrava o pé
Desmancha a trança e avança
Chocalha o chão
Esquece os que estão
Rasga o marasmo em ti mesma
Vê corações
Na cara que pões
Vira do avesso esse enguiço
Desamordaça a dança para te convencer

O teu coração
Sem querer dispara
Força e simpatia ao Ser que te vê dançar
O teu coração
Ainda pára
Forçando a apatia pelo medo de dançar

MÁRCIA E SAMUEL ÚRIA

19 Jun 2015

Águas marítimas | Chefe do Executivo fala em cooperação com Pequim

[dropcap type=’circle’]C[/dropcap]hui Sai On assegura que a questão da jurisdição das águas marítimas teve um grande avanço nas negociações no primeiro semestre, mas o Chefe do Executivo, que está em visita a Pequim, acredita que Pequim terá de ajudar Macau em termos de colaboração entre a RAEM e a China face a estratégias de desenvolvimento neste domínio das águas.

“O máximo responsável da RAEM revelou que os trabalhos sobre a gestão das áreas marítimas sob jurisdição da RAEM tiveram grande avanço no primeiro semestre do corrente ano”, escreveu o Governo num comunicado, ontem. Também as fronteiras terrestres foram tema de debate. No encontro com a Administração das Alfândegas da China, Chui Sai On mostrou vontade de “inovar o modelo de passagem de fronteira”. O líder do Governo espera que o novo mecanismo seja aprovado pelo Governo Central.

Apoio tecnológico

O Chefe do Executivo frisou ainda a necessidade do apoio do Governo Central ao nível da “tecnologia legislativa”. Além disso, Chui referiu às autoridades chinesas ter vontade que Macau integre os trabalhos da política “Uma Faixa, Uma Rota”, tendo a discussão entre os governos incidido sobre as áreas em que a RAEM irá desenvolver para esse efeito. “[Chui Sai On] revelou que o governo da RAEM vai manifestar junto do Governo Central quais são as áreas em que Macau pretender participar e será divulgado atempadamente ao público, caso esses planos avancem”, assegura o Executivo em comunicado.

Como já tinha sido referido, Chui Sai On acredita que os trabalhos relativos à gestão das águas marítimas possam estar totalmente concluídos até final deste ano. O Chefe do Executivo reuniu com a Administração Geral das Alfândegas e com a Administração Estatal Oceânica, entidades com as quais o Governo tem vindo a debater o alargamento do espaço de águas marítimas do território, bem como das fronteiras terrestres.

19 Jun 2015

Especialistas analisam primeiro semestre do novo Governo

Celebram-se amanhã os seis meses da tomada de posse do novo Governo. O fumo nos casinos, a área das Obras Públicas e os 3% de limite às mesas de Jogo são apontadas as grandes questões de um Executivo que, para muitos, ainda tem problemas para resolver, mas que se tornou mais próximo da população. Raimundo do Rosário e Alexis Tam são consideradas as “estrelas” do Executivo. E também Li Gang

[dropcap type=’circle’]A[/dropcap] 20 de Dezembro de 2014, cinco novos rostos do Executivo da RAEM levantavam a mão e prestavam juramento perante Xi Jinping, Presidente chinês. Seis meses depois, o que foi alterado em Macau com um Governo que herdou uma pesada herança? Se para o jurista António Katchi pouco mudou, Albano Martins, economista, Leonel Alves, deputado, e Eilo Yu, académico, falam de um Governo que está a tentar executar e a arrumar a casa.

“Há pastas que – em seis meses, no cenário em que [os Secretários] as tomaram – é muito difícil dizer se as coisas estão ou não a correr bem. Há outras em que se nota que as coisas estão a andar para a frente. Ainda é preciso fazer-se muito trabalho de casa e só ao final de um ano é que podemos dizer se o balanço é ou não positivo”, referiu ao HM o economista Albano Martins.

O especialista defende, contudo, que a tutela das Obras Públicas é a área onde é bem mais difícil encontrar resultados em seis meses. “O Secretário vai ter de reconstruir uma equipa toda, que domine as quatro áreas de gestão. A casa está profundamente desorganizada dos tempos do Lau Si Io, que meteu pessoas que desconheciam a cultura da sua unidade de trabalho”.

Para Eilo Yu, o novo Executivo começou a seguir um plano e a mobilizar os directores dos departamentos para discutir as políticas. “Penso que têm estado a levar a cabo uma boa estratégia”, diz ao HM.

O deputado Leonel Alves considera que, no final de seis meses de governação, estamos perante um Executivo que é “realmente executivo”. “Na área social, ao nível do hospital, nota-se que há um ritmo bastante acelerado, para a resolução das questões mais prementes. A questão dos transportes, habitação, hospital e a questão social foram onde o Governo tem vindo a dar o seu melhor, quer com medidas administrativas, quer com um diálogo bastante intenso com a Assembleia Legislativa (AL), através das comissões de acompanhamento”, referiu ao HM.

Apenas António Katchi traça uma análise mais negativa. “Nestes primeiros seis meses do Governo de Li Gang/Chui Sai On, não observo qualquer mudança significativa. Sei que alguns jornalistas consideram que a postura dos novos Secretários perante a comunicação social é melhor que a dos anteriores; se assim for, congratulo-me evidentemente por isso. Poderá ter havido também um ou outro gesto positivo da parte dos novos Secretários, mas isso está longe de implicar ou sequer prenunciar uma mudança substancial de políticas, até porque as políticas seguidas ao longo dos últimos anos 15 anos – e mesmo antes – têm sido tão más que deveriam ser globalmente invertidas e não simplesmente ajustadas”, referiu por email ao HM.

As estrelas políticas

Do grupo dos cinco Secretários, estas personalidades destacam as prestações de Raimundo do Rosário, Secretário das Obras Públicas e Transportes, e Alexis Tam, da pasta dos Assuntos Sociais e Cultura.

“O Secretário das Obras Públicas, quer pela sua maneira de se expressar, quer pela acuidade das questões em que toca, parece-me que tem sido bastante inovador. Destaco-o pela diferença, sem prejuízo dos outros”, disse ao HM Leonel Alves.

Eilo Yu destaca, “obviamente”, Alexis Tam, “que tem sido bastante comunicador com o público” e que também “tem estado a lidar com diversas questões”, como a Universidade de Macau (UM) ou os cuidados de saúde. “Parece-me que é aquele que está mais no centro das atenções em relação aos restantes Secretários. Mas tanto Alexis Tam, como Rosário têm uma imagem mais positiva junto do público, apesar do público não estar satisfeito com as questões da sua tutela. Sónia Chan e Wong Sio Chak não estão a receber tanto o alvo dos média”, referiu o docente de Ciência Política da UM.

António Katchi prefere nomear Li Gang, director do Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau, como a figura principal do novo Executivo. “A figura que se destaca é a sua eminência parda, Li Gang. Aliás, nas primeiras semanas do segundo mandato de Chui Sai On, praticamente não passava um dia sem que Li Gang aparecesse na televisão a emitir afirmações interpretáveis como directivas políticas. Entre outras coisas, ele afirmou que os chineses de Macau não eram patriotas e que, por isso, tinham de ser reeducados num sentido ‘patriótico’ e que Macau só teria uma economia diversificada daqui a 20 ou 30 anos.”

O jurista, docente do Instituto Politécnico de Macau (IPM), considera que a 20 de Dezembro não houve apenas uma mudança de Secretários, mas também um “reforço da intervenção das autoridades centrais” na governação de Macau. “Um dos instrumentos dessa intervenção foi, aliás, a própria escolha dos Secretários: tem sido dito por muitas pessoas que eles foram escolhidos (e não apenas nomeados) pelo Governo Central e tem sido igualmente observado que o percurso pessoal e escolar de alguns deles tem estado muito mais ligado à China continental do que sucedia com os seus antecessores”, ultimou.

Fumo nos casinos, essa “pedra no sapato”

António Katchi não só não encontra mudanças no semestre político que passou, como vê uma continuidade “dos problemas mais candentes de Macau”, como a “monocultura do jogo, a carestia dos imóveis, o terceiro mundismo laboral, a bagunça no ensino e o regime político oligárquico”. Para o jurista, para nada disto “o Governo de Li Gang/Chui Sai On apresentou, até ao momento, vias de solução”.

Já Albano Martins prefere destacar a medida do fim do fumo nos casinos como a “pedra no sapato” de Alexis Tam e do Executivo. “Tem de ser prudente. Há vícios com os quais não podemos ser moralistas e os nossos concorrentes, mesmo em Singapura, não estão a tomar as medidas draconianas que estamos a tomar. Em termos económicos não me parece que essa seja a medida mais correcta a tomar”, disse o economista.

Na área da Administração e Justiça, Albano Martins defende que “é muito difícil fazer-se pior do que fez Florinda Chan”, sendo que “Sónia Chan vai ter de fazer uma aposta na resolução de questões na sua área, tem de fazer uma análise e tentar fazer até que ponto não será mais vantajoso ter mais técnicos recrutados por três ou quatro anos para resolver as questões jurídicas”. Os custos que serão mais agora terão mais benefícios no futuro, repara.

Na Segurança, Albano Martins considera que a tutela de Wong Sio Chak está a funcionar bem, já que o Secretário tem outra formação e é um indivíduo que está actuar. “Estou a ver tendências meio moralistas de intervenção mas acho que dominará melhor a máquina”.

Face ao trabalho do Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, Albano Martins volta a pedir flexibilidade quanto ao limite máximo de 3% para as mesas de jogo. “[Lionel Leong] tem uma política que não se consegue ver livre dela e que surgiu para que os competidores não ganhassem mercado no jogo, mas neste momento isso afecta toda a indústria e a economia de Macau profundamente. Lionel Leong vai ter de ser mais flexível, a não ser que isso seja imposição de Pequim e ele não possa fazer nada, mas aí o segundo sistema devia ter autonomia necessária. De resto tudo na sua secretaria funciona razoavelmente bem.”

Criticando a forma como o Governo quer diversificar a economia, por via do entretenimento, António Katchi fala ainda da questão do imobiliário, cujo arrefecimento dos preços não se deve, na sua óptica, a medidas do Governo. “Isso, além de ser completamente insuficiente para a resolução do grave problema da carestia dos imóveis, não resultou de qualquer medida do Governo de Macau destinada a isso, antes representando um efeito colateral da chamada ‘campanha anti-corrupção’ em curso na China”, concluiu.

Olhando para o quadro no geral, Leonel Alves acredita que este é o mandato “em que a população deposita mais confiança, no sentido dos governantes executarem todas as acções governativas que interessam à população”.

Fórum Macau “não funciona”, diz Albano Martins

Um dos pontos negros do mandato de Lionel Leong à frente da tutela da Economia e Finanças é o funcionamento do Fórum Macau, o qual, para o economista Albano Martins, simplesmente “não funciona”. “A verdade tem de ser dita, custe o que custar. O Fórum não tem autonomia nenhuma, parece mais uma feira de vaidades em que as pessoas andam de um lado para o outro do que um local onde se juntam compradores e vendedores, empreendedores. Quem de facto sabe utilizar o Fórum é a China, mas a China tem os recursos necessários. O Fórum ainda tem muito que andar e Lionel Leong tem de conseguir dar o pontapé de saída.” Questionado sobre se o Fórum Macau pode funcionar melhor com Echo Chan, que substituiu Rita Santos no cargo de secretária-geral adjunta, Albano Martins afirma não querer “pessoalizar as questões”, mas acredita que Echo Chan “por experiência, tem outra perspectiva em relação ao que o Fórum deve ser”. Ainda assim, o economista diz que a própria estrutura do Fórum “não funciona”.

19 Jun 2015

De sexo a sexo

[dropcap style=”circle”]O[/dropcap] sexo caracteriza-se pela versatilidade inusitada a que se propõe, na sua semântica ou na morfologia da sua actividade, este alicerça a vida de muito boa gente que se entrega ao complicado universo de relações humanas. O sexo encontra-se no entendimento de género, no desejo e no afecto, no marketing e no consumo. Sob o véu que o tabu (ainda) carrega, a sexualidade mostra-se nas mais inocentes formas de agir e nos mais ingénuos dos entendimentos. Teria escrito uma carta de agradecimento a Freud pelo seu esforço e contributo à fornicação, ademais, pela fantástica capacidade de se incluir na cultura popular pós-moderna com os mistérios que a sexualidade se envolve. Se o sexo (e o desejo) é popular, ao seu mistério agradecemos.

Tenho dificuldade em ir em conversas onde o sexo, na sua complexidade conhecida, é reduzido a um instinto. Sim, é verdade que há a necessidade de uma legitimidade biológica para fugir de concepções sexuais de uma absurdidade metafísica sem igual. Contudo, a vantagem de aplicar um modelo inserido na dinâmica de relações e actos de comunicação a que o mundo se rege, insiste no glamour que o sexo merece e que dele nos entusiasma. Afinal o que seria do sexo do séc. XXI sem pornografia, comédias românticas, revistas femininas ou viagra? A verdade é que não sabemos e nunca havemos de descobrir. O sexo contemporâneo vive na imaginação individual e colectiva, nos paradigmas intelectuais a que se insistem e, consequentemente, na sua tão excitante discussão ideológica. O sexo presenteia, satisfaz, magoa e ofende. A sede que nos leva a beber um copo de água dificilmente chega a ter tão confusas proporções.

Um professor e amigo sugere que a sexologia dificilmente deveria ser abordada como uma terapêutica de cariz individual mas inserida nas problemáticas conjugais (porque se temos sex problems, temos marital problems). A inserção do sexo na problemática relacional tem de ser melhor considerada, especialmente porque transpõe os limites de uma cama conjugal, para as extras- e para todas as outras relações, sugestões e pressões sociais que põem em desconforto aquilo que a actividade deveria ser: saudável e confortável, para todos os envolvidos. Fantasiar sexualmente é um exercício adorável. Um manifesto à criatividade sexual e íntima urge em ser escrito e declamado entre mulheres e homens conjuntamente. Strap-ons, ménage à trois, aquilo das 50 sombras de qualquer coisa, clareamento anal caseiro. De Olhos Bem Fechados do Kubrick. Lovely jubbly. Pano para muitas mangas.

[quote_box_right]E é isto: na sede pela competição quantitativa e qualitativa pela performance, o sexo salpica-se de uma crueldade movida pelo desejo de ser o melhor. Surpresa! Parece que não há grande consenso sobre o significado de ser bom na cama (ou fora dela). O pessoal faz como pode[/quote_box_right]

O problema (como tantos outros) é que as representações do sexo estão muito longe de ser unânimes. Ainda bem e ainda pior, é que a sua diversidade leva a um desentendimento por vezes interessante, por vezes problemático, mas que poucas pessoas têm consciência da sua natureza. E não, os homens não são de Marte e nem as mulheres são de Vénus (literatura encontrada em bibliotecas masculinas que em nada lhes poderá ter ajudado a um relacionamento heterossexual feliz). Homens e mulheres são o que se fazem deles, na tentação irresistível de fazer generalizações. Já se sabe que os homens medem o seu Júnior na esperança de atingir um heroísmo sexual isento de esforço, e as mulheres discutem os seus tamanhos no café, espalhando a fama dos detentores de um tal objecto fálico que facilmente se compra numa sex shop, em muito melhores condições. E é isto: na sede pela competição quantitativa e qualitativa pela performance, o sexo salpica-se de uma crueldade movida pelo desejo de ser o melhor. Surpresa! Parece que não há grande consenso sobre o significado de ser bom na cama (ou fora dela). O pessoal faz como pode.

A proposta é simples: um tema daqueles que precisam de ser discutidos, por cada conjunto de palavras que teimam em ser escritas. Uma tentativa de integrar as ideias e as experiências do sexo na sua pluralidade, ou, pelo menos, pensar nelas. Ideias carregadas na bagagem de quem salta por aqui, ali, por Macau e por acolá. Exercícios de semi-associação livre do tal tema do sexo.

18 Jun 2015

Sufrágio | Com o não, Hong Kong terá caminho árduo, dizem especialistas

A proposta de sufrágio universal em Hong Kong já está a ser debatida no Conselho Legislativo, estando prevista para amanhã a votação final. Em Macau, Eilo Yu, Agnes Lam e Larry So prevêem um futuro difícil para o território caso os democratas chumbem a proposta

[dropcap style=’circle’]M[/dropcap]uitos protestos e paralisações depois, os 70 deputados Conselho Legislativo (LegCo) de Hong Kong começaram ontem a discutir a proposta de reforma política feita por Pequim, que determina o sufrágio universal com uma pré-selecção dos candidatos a Chefe do Executivo por parte de uma comissão, tida como próxima de Pequim. O campo pró-democrata já anunciou que não vai votar a favor da proposta do Governo Central, mas em Macau os especialistas temem um futuro complicado para o território caso isso venha mesmo a acontecer.

[quote_box_left]“Votar contra neste momento não é apenas votar contra uma proposta, é quebrar a ligação com o Governo Central. Ninguém vai ganhar com isso, nem mesmo os democratas ou Hong Kong” – Agnes Lam, docente da Universidade de Macau[/quote_box_left]

“Votar contra a proposta vai tornar mais difícil o caminho de Hong Kong em relação a um progresso. Compreendo que os democratas não estão satisfeitos com a proposta, mas votar contra neste momento não é apenas votar contra uma proposta, é quebrar a ligação com o Governo Central. Ninguém vai ganhar com isso, nem mesmo os democratas ou Hong Kong.

A situação política de Hong Kong poderá ficar afectada e esse não é o movimento certo”, disse Agnes Lam, docente da Universidade de Macau (UM), ao HM.

Eilo Yu, docente de ciência política na UM, fala sobretudo de dificuldades em lidar com o período pós-chumbo. “Os democratas não vão votar a favor da proposta de reforma, penso que não vai ter apoio suficiente e provavelmente não vai ser aprovada. Será difícil para o Governo de Hong Kong e para o Governo Central lidarem com a situação e com o período após a proposta de reforma política, no caso dos deputados não a aprovarem. Hong Kong vai ficar numa posição difícil e isso pode durar até às próximas eleições. Mas a sociedade pode ficar exausta com este debate e as pessoas podem abrandar um pouco”, disse o académico ao HM, numa clara referência aos acontecimentos do “Occupy Central” e aos protestos que continuam a invadir as ruas de Hong Kong.

Larry So, politólogo e ex-docente do Instituto Politécnico de Macau (IPM), considera que “vai tudo ficar como está”, dado a ausência de apoio por parte dos democratas.

Macau sem interesse

Do lado de Macau, o Executivo está a prestar atenção ao que poderá acontecer no LegCo, mas isso não significa que esteja interessado em algo semelhante, defendeu Eilo Yu.

“Não me parece que o Governo de Macau queira um pacote de reformas nos próximos um ou dois anos. Temos de ver o que acontece em Hong Kong e a sociedade pode não procurar uma reforma do sistema para eleger o Chefe do Executivo. Pelo contrário, nas legislativas vão aparecer cada vez mais pessoas que querem competir e que gostariam de ter uma reforma. Parece-me que Pequim não quer ter outra batalha em Macau, como teve em Hong Kong.”

Tanto Agnes Lam como Larry So defendem que a Assembleia Legislativa (AL) facilmente votaria a favor de uma proposta de sufrágio universal semelhante, sem o tumulto social que acontece na região vizinha.

“Assim que Hong Kong começar a ter o seu modelo de sufrágio universal, vai ser mais fácil para as pessoas em Macau traçarem o seu caminho. A não ser que o Governo Central tenha outros ideais. A maioria vai seguir a tendência, não penso que teremos a mesma situação num futuro próximo”, disse Agnes Lam. “Macau não teria qualquer problema em passar este tipo de proposta”, rematou Larry So.

O debate arrancou ontem às 11 horas da manhã, sendo que 200 agentes da polícia entraram no LegCo, algo inédito desde a transferência de soberania. Cerca de sete mil polícias foram destacados para as ruas, depois do episódio da ameaça de bomba ter levado dez pessoas para a prisão.

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Democratas em Macau divididos Jason Chao, membro da direcção da Associação Novo Macau (ANM) e promotor do referendo civil, desloca-se amanhã para Hong Kong para dar apoio ao movimento, tal como Sulu Sou, presidente da ANM. E revela que ambos estão contra as ideias de Ng Kuok Cheong e Au Kam San para o sufrágio universal de Macau. “Estamos preocupados com o facto de Ng Kuok Cheong e Au Kam San apoiarem o falso sufrágio universal. Discordamos totalmente deles, porque consideramos que deveríamos ter um verdadeiro sufrágio universal. Mas os dois deputados estão agora a apoiar essa ideia e defendem que é melhor ter esse modelo de sufrágio universal do que não ter nenhum. Não deveríamos aceitar isso”, frisou ao HM. Divisões políticas à parte, Jason Chao acredita que Macau pode mesmo vir a adoptar o modelo de Hong Kong, apesar de não o desejar. “O Governo não está de todo interessado em ter um falso sufrágio universal, estamos muito satisfeitos com a manutenção do status quo e o sistema que está implementado.” O HM tentou contactar o deputado Ng Kuok Cheong, sem sucesso.

18 Jun 2015

Encontro | Jovens macaenses a contribuir para “desenvolvimento” da RAEM

Começou ontem o terceiro encontro de jovens macaenses, que tem como objectivo mais do que criar laços. Duarte Alves, da organização, diz que também estes jovens querem contribuir para um melhor desenvolvimento do território

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]uarte Alves, presidente da Associação dos Jovens Macaenses, acredita que a comunidade mais nova poderá ajudar ao desenvolvimento de Macau. Este é, pelo menos, um dos objectivos do terceiro encontro da comunidade juvenil macaense, que ontem começou.

O presidente da Associação, que organiza o evento, explica ao HM que o encontro passa por permitir aos jovens de segunda e terceira gerações de macaenses, ou até os que nasceram lá fora, mas têm raízes aqui, que conheçam o território e criem laços, mas não só.

“É mais uma oportunidade que temos para trabalhar par o bem da comunidade, em conjunto. Conhecermo-nos melhor uns aos outros, termos oportunidades também para discutir vários assuntos sobre a sociedade em Macau e como podemos conseguir dar o nossa contributo para o desenvolvimento da RAEM, na qual a comunidade jovem está também inserida”, aponta Duarte Alves.

Governo apoia

Na preparação do programa, a Associação de Jovens Macaenses teve encontros oficiais com o Governo: Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alex Vong, presidente do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais, e Helena de Senna Fernandes, directora dos Serviços de Turismo, foram alguns dos representantes que se sentaram à mesa com Duarte Alves.

“Sempre tivemos constante apoio do Governo na organização do encontro e de outras actividades.”

Com 41 participantes de 12 casas espalhadas pela diáspora, o encontro quer abrir portas à “criação de laços que possam durar largos e largos anos”, de forma a que os jovens macaenses que acabam por regressar aos seus países de origem mostrem mais de Macau além do que é conhecido lá fora.

“Quando voltarem aos países onde moram, vão ser os embaixadores de Macau e vão mostrar o que Macau é, o que Macau tem”, explica Duarte Alves, que acrescenta ainda que também poderá haver um contributo económico. “São jovens empresários de diversas áreas e vêm para cá também para verem o que podem fazer para manter a ligação, não só na amizade mas também na área económica.”

O presidente da Associação explica ainda que os encontros e trabalhos a ele subjacentes são para continuar, até porque “a contribuição para o desenvolvimento da RAEM não implica que estes jovens estejam sempre em Macau”.

18 Jun 2015

Salário Mínimo | Para implementar é preciso mudar, diz estudo

A forma como está a ser introduzido o salário mínimo em Macau é um caso único no mundo. Quem o diz é Ao Io Weng, académico e doutorando na Universidade Renmin da China, que estuda o tema no território. Para o autor, é preciso um reforço na consciência dos problemas sociais, investir na formação de empreendedores das políticas e aproveitar a abertura do Governo para se poder vir a ter um salário geral

[dropcap type=”2″]“A[/dropcap]o contrário do que sucedeu noutros lugares, a proposta de salário mínimo do Governo de Macau tem aplicação limitada aos trabalhadores dos sectores da administração de condomínios, limpeza e segurança, em vez de ser aplicável a todos os sectores de actividade. Por esta razão, a política do Governo de Macau pode ser descrita como um caso especial no mundo”. Assim começa a análise levada a cabo por Ao Io Weng, doutorando da Faculdade de Administração Pública da Universidade Renmin da China, sobre a questão do ordenado mínimo no território.

Num estudo publicado na última Revista da Administração, Weng contextualiza a análise com a proposta de lei do Governo sobre o salário mínimo e defende que é necessário apostar em diferentes frentes: maior consciência dos problemas sociais, formação de empreendedores, fortalecer o nível científico do reforço dos sistemas políticos e aproveitar a oportunidade-chave da abertura política da parte da Administração. Abertura política que é justificada pelo académico pela aceitação do Governo em discutir com o Conselho de Concertação Social a implementação deste salário.

[quote_box_right]“A pobreza do trabalho de Macau aumentou e as vozes da sociedade que querem definir o salário mínimo aumentaram igualmente”[/quote_box_right]

Em parte, o académico defende que “actualmente Macau está num período de rápido desenvolvimento e uma variedade de problemas sociais interligados estão a começar a vir à tona”. Assim, para se conseguir uma compreensão acertada dos problemas sociais é “preciso ter uma forte consciência do problema”. O Governo tem por isso, argumenta, que perceber qual a situação actual na sociedade relativamente ao salário mínimo e adicionar na sua agenda as “preocupações da sociedade”.

Da polémica

Ao Io Weng não esconde a “controvérsia” que o salário mínimo traz, mas será apenas através desta legislação que o Governo irá conseguir garantir que os trabalhadores recebam um salário base que lhes permita resolver os seus problemas.

“O salário mínimo não é apenas para melhorar o nível de vida dos trabalhadores e do poder de compra, mas também faz parte de uma sociedade justa e equitativa, sendo um elemento importante para garantir que os trabalhadores gozem de valores básicos e dignificantes”, argumenta o académico, adiantando que o salário mínimo, do ponto de vista normativo, “é uma condição necessária de uma sociedade equitativa para que os cidadãos vivam com dignidade”.

Na análise, o autor argumenta que após a transferência de soberania, a liberalização do Jogo em 2002, especialmente, conduziu Macau a uma economia que tem visto um rápido desenvolvimento. Algo que não trouxe apenas coisas positivas. “A vida dos cidadãos em geral melhorou, enquanto o fosso entre os ricos e os pobres, obviamente se intensificou”, escreve, indicando que o salário mínimo servirá “para tentar resolver o problema da ‘pobreza do trabalho’”.

Há mais de 12 anos que a implementação de um salário mínimo está a ser discutida, sendo que, finalmente, foi aprovada a lei que estipula um salário mínimo para porteiros e empregados de limpeza. Contudo, dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) indicam que, em 2005, havia cerca de 42.500 pessoas que ganhavam menos de metade do rendimento mediano. Apesar do Governo, em 2008, ter colocado em prática o programa que atribui subsídios de forma temporária aos trabalhadores que ganhem menos de quatro mil patacas por mês, isto não foi suficiente para melhorar o cenário. Em 2009 ainda havia 46.200 que ganhavam menos de metade do rendimento médio da população trabalhadora como um todo.

Devido aos dados, para o autor, “a pobreza do trabalho de Macau aumentou e as vozes da sociedade que querem definir o salário mínimo aumentaram igualmente”.

Actualmente, com a mediana salarial mensal a 15 mil patacas, continuam a existir cerca de 41 mil pessoas que ganham menos do que este valor. E, mesmo com a implementação do salário mínimo, os trabalhadores da segurança e limpeza de edifícios vão receber por oito horas de trabalho diário, seis dias por semana, 6240 patacas mensais.

Empreendedores políticos

O nível científico do reforço dos sistemas políticas é um segundo ponto defendido pelo autor. Ao Io Weng acredita “a formulação de políticas não é apenas responsabilidade do Governo e os grupos sociais também têm a responsabilidade de propor regimes políticos”. Mas para isso é preciso que cada grupo “apresente um programa que precisa de ter alguma justificação científica”.

Outro ponto defendido é a formação de empreendedores políticos. O académico acredita que o Governo deve “exercer plenamente o papel de empreendedor de políticas e reforçar a sua função de suavização do processo político”. No processo político, argumenta, os empresários políticos desempenham um papel muito importante, por terem fortes capacidades de comunicação e capacidade de persuadir, diminuindo assim a resistência dos grupos sociais e do público. “Embora a actividade de abrandamento seja uma tarefa longa e difícil no campo da educação, é indispensável para melhorar o processo político em Macau. Portanto, o Governo, na implementação dos objectivos da política de formação de talentos, deve considerar que a formação de empreendedores das políticas deve ser um dos pontos-chave.

Por fim, e por considerar que há um “sinal de abertura política”, o académico considera ser necessário aproveitar esta fase do Governo. Uma abertura que poderá empurrar soluções políticas para a agenda da Administração, tornando possível “reduzir a resistência” na implementação de uma lei geral.

18 Jun 2015

Não sei. Falta-me um sentido

[dropcap type=”2″]“N[/dropcap]ão sei. Falta-me um sentido…”, reza um verso de Álvaro de Campos, espelhando talvez a consciência da finitude, a fraqueza do animal abandonado ao dever de entender o universo e de o narrar como os contadores de histórias, nos largos das cidades, narravam as vidas impossíveis dos deuses e dos heróis.

Existe, pois, essa distância entre o mundo e esses mesmos sujeitos destinados a falar dele, a ler nas estrelas o destino, a coleccionar bibliotecas, construir labirintos que eles mesmos, como Dédalo, não compreendem e como o Minotauro enclausurados o percorrem, a decifrar os segredos da matéria e dar conta das representações das volutas da mente, a que se convencionou chamar espírito.

Como cumprir então a nossa “obrigação” de procurar um sentido para as acções em que ao longo da vida nos comprometemos, ou não fossemos esse difícil animal “capaz de fazer promessas”?

Do desespero ao tédio, que emerge quase que como panaceia inconsciente e perversa, deliberamos pouco e seguimos muito as vias que à nossa frente se abrem como inevitabilidades. Somos assim não porque tenhamos decidido assim ser, mas porque assim resultou o que somos. O controlo é, em geral, uma ilusão.

Mas isso é também parte da beleza da vida e do seu sublime. O inesperado, o segredo para lá da curva, o acidente, o evento inquieto, é ainda o que nos resta de verdadeira singularidade e que nos empurra um pouco mais além da manada infeliz a que pertencemos.

Não saber, faltar um sentido, é o primeiro passo para essa “abertura” ao mundo, para uma possibilidade de conquista, de abrasamento de um território, apenas pela virtude de um olhar.

Eles chegam inesperados e terríveis, esses artistas de olhar de bronze. De outro modo seriam rechaçados, esmagar-se-iam de encontro às permanentes muralhas da razão coxa, da culpabilidade e do esquecimento.

18 Jun 2015

Violência Doméstica | ONU volta a pedir relatórios sobre Macau

Jason Chao, um dos membros da Coligação Anti-violência Doméstica, confirmou que o Comité das Nações Unidas voltou a pedir relatórios sobre o estado da legislação sobre o assunto. Até final do mês será entregue o primeiro de dois

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Comité das Nações Unidas (ONU) para a Eliminação da Discriminação da Mulher voltou a pedir ideias às organizações não-governamentais de Macau para que tracem o estado da legislação sobre a violência doméstica no território. Segundo confirmou ao HM Jason Chao, um dos membros da Coligação Anti-Violência Doméstica, o primeiro relatório será entregue até finais deste mês.

“O Comité pediu indicações ao Governo sobre o progresso da Lei da Violência Doméstica e sabemos que está a ser discutida na Assembleia Legislativa (AL). A AL também não está a responder às recomendações feitas. Deveríamos agarrar esta oportunidade para voltar a submeter novos relatórios à ONU. Da parte da Associação Arco-Íris, vamos continuar a focarmo-nos na igualdade dos direitos dos indivíduos e pedimos que os casais do mesmo sexo sejam incluídos no diploma”, disse o também membro da Associação que defende os direitos LGBT.

Depois deste relatório, deverá ser entregue à ONU “um outro mais detalhado sobre as implementações em Macau do tratado”, sendo que em Novembro Jason Chao irá deslocar-se a Genebra para uma reunião com representantes da ONU.

“Vou pessoalmente a Genebra, mas ainda não falámos sobre [que representantes de outras associações também irão]. É possível que mais representantes de Macau também participem no encontro, como Juliana Devoy (directora do Centro Bom Pastor)”, acrescentou ao HM Jason Chao.

[quote_box_right]“A AL também não está a responder às recomendações feitas. Deveríamos agarrar esta oportunidade para voltar a submeter novos relatórios à ONU”- Jason Chao, membro da Coligação Anti-Violência Doméstica[/quote_box_right]

Dados de Outubro

O último relatório preparado pela Coligação foi entregue à ONU em Outubro do ano passado. Nele retratava-se que uma em cada dez mulheres em Macau continuava a ser vítima de violência doméstica e temia-se o conteúdo de uma lei que ainda não tinha chegado ao hemiciclo.

“Estamos preocupados que a lei sofra de falhas fundamentais e não disponibilize protecção adequada”, podia ler-se. Em Novembro, as associações mostravam-se satisfeitas com a análise da ONU, que tinha tido em conta as suas recomendações.

“Se olharmos para as recomendações do Comité penso que levaram em conta o nosso relatório. Fizemos uma descrição detalhada da actual legislação e, obviamente, o comité teve em consideração estas questões”, disse Melody Lu, membro da coligação, na altura, ao Jornal Tribuna de Macau.

Ao mesmo jornal, Juliana Devoy disse tratarem-se de “boas notícias uma vez que o relatório é muito específico em assinalar algumas das questões que têm vindo a ser repetidas, como a punição dos agressores, porque anteriormente este não era o foco, mas antes a protecção da vítima”.

Entretanto a proposta de lei já foi aprovada na generalidade, mas desde o início do ano que os deputados não reúnem para discutir a matéria. A última reunião serviu para falar com representantes da Coligação Anti-Violência Doméstica.

18 Jun 2015

Segurança | Secretário com novo espaço no site

[dropcap style =’circle’]C[/dropcap]hama-se “Alarme da Polícia Sempre Soa” e é a nova coluna no website do Gabinete do Secretário para a Segurança. Um dos objectivos é, diz o gabinete de Wong Sio Chak num comunicado, permitir à população acompanhar e fiscalizar “permanentemente” a eficiência do trabalho levado a cabo pela tutela da Segurança e perceber se esta está em “conformidade com as Linhas de Acção Governativa”.

Com a nova coluna, o Secretário para a Segurança pretende ainda que existam mais mecanismos de fiscalização “internos e externos”, além de que, no espaço, vão ser colocadas notícias sobre a actividade policial. “[O objectivo é] elevar o grau de transparência, reforçar o trabalho de gestão disciplinar do pessoal, alcançar o objectivo de auto-fiscalização e obter a atenção [da população]”, pode ainda ler-se.

Mais perto do povo

Este é o segundo espaço dedicado especialmente à população em sites do Governo lançado recentemente, depois de Chui Sai On, Chefe do Executivo ter feito o mesmo. Para Wong Sio Chak, esta é uma hipótese de aproximação aos residentes.

“Acreditamos profundamente que apenas com [esta coluna] se possibilitará ao pessoal em todos os níveis de hierarquia das autoridades de segurança [que] se mantenha sempre alertado e que as Forças e Serviços de Segurança Pública e a sociedade, em comunhão de forças, se empenhem na reforma e optimização contínua de gestão policial e na construção de uma equipa policial moderna caracterizada pela integridade e pela eficiência”, pode ler-se no comunicado.

Na primeira mensagem, Wong Sio Chak diz que, uma vez que a conduta, ética e integridade do seu pessoal são pressupostos para a garantia da justiça e para a optimização de eficiência da execução da lei, “não serão toleradas a prática de quaisquer actos que violem a lei e a disciplina” e ainda que a tutela se congratula “com a ajuda da sociedade e dos serviços públicos, no sentido de fiscalizar a conduta ética”.

Na mesma coluna serão divulgados eventuais caso de violação da lei por autoridades, as respostas face a esses casos e medidas de reorganização e saneamento internas, “por forma a facultar à sociedade a fiscalização da conduta ética do pessoal sob tutela da Segurança”.

18 Jun 2015