As novas alterações à Lei de Protecção dos Animais não estão a agradar aos deputados: agora, o Executivo não quer obrigar os estaleiros de construção civil que tenham animais de guarda a ser responsáveis pela esterilização, algo que deveria ser obrigatório por lei
[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s proprietários de estaleiros de obras não vão ser responsáveis por esterilizar os animais que se encontrem nos espaços de construção, algo que deverá ser obrigatório na nova Lei de Protecção dos Animais. Os deputados discordam das alterações.
A mudança foi anunciada ontem de manhã, pelo Governo, na Assembleia Legislativa, mas os deputados da 1.ª Comissão Permanente – que analisa o diploma na especialidade – discordam, avança a Rádio Macau. Note-se que quase todos os estaleiros estão à guarda de cães que, depois de fechadas as obras, são abandonados no local. Actualmente, são associações de protecção aos animais sem fins lucrativos que se voluntariam para esterilizar os cães, de modo a evitar que se reproduzam.
A questão é “polémica”, diz Kwan Tsui Hang, presidente da Comissão. De acordo com a deputada, o Governo defende que a esterilização “não vai ser cumprida” pelos proprietários dos estaleiros de obras.
“Para estes locais específicos é necessária a esterilização. Mas nesta nova versão [da proposta de lei], o Governo eliminou a norma. Perguntámos como vai ser tratada a questão da reprodução excessiva […]. Têm de abater os animais. Então parece que estão a contrariar a lógica de proteger os animais”, argumentou Kwan Tsui Hang, citada pela rádio, que pede ponderação ao Executivo.
Votos contra
[quote_box_left]“Para estes locais específicos é necessária a esterilização. Mas nesta nova versão [da proposta de lei], o Governo eliminou a norma. Perguntámos como vai ser tratada a questão da reprodução excessiva […]. Têm de abater os animais.” – Kwan Tsui Hang, deputada[/quote_box_left]
Os deputados também estão contra outra mudança. Com a entrada em vigor da Lei de Prevenção e Controlo do Ruído Ambiental, o Executivo defende que não é preciso que a proposta de Lei de Protecção dos Animais compreenda normas relacionadas com este tema e a responsabilização dos donos.
“Não concordamos com esta eliminação e pedimos ao Governo para ponderar novamente sobre esta matéria. [Ontem], o Governo não respondeu e disse que vai estudar [a possibilidade]”, explicou Kwan Tsui Hang.
A Lei de Prevenção e Controlo do Ruído Ambiental não permite actividades “geradoras de ruído perturbador”, em edifícios habitacionais, entre as 22h00 e 9h00, incluindo latir de cães. No entanto, os deputados querem que os donos dos animais sejam sempre responsabilizados e a questão do ruído deve estar inscrita no campo das obrigações desta nova lei.
Recorde-se que esta é mais uma das mudanças no diploma dos animais, sendo que as outras passaram por reduzir as penas para maus tratos e poderão passar pela redução também daquelas que dizem respeito a abandono, já que os deputados consideram as penas altas.
Alexis Tam condena o acto de agressão a uma idosa, apelidando a situação de violência doméstica. O Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura admite que o Governo precisa de ter um papel mais activo na divulgação dos serviços de ajuda aos idosos. Serviços a que a agressora terá recorrido, mas acabou por rejeitar
[dropcap style =’circle’]A[/dropcacp] mulher que agrediu uma idosa em praça pública chegou a pedir ajuda ao Instituto de Acção Social (IAS) para cuidar da família, mas optou por desistir desta ajuda posteriormente. Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, defende a condenação da agressora.
Questionado sobre os pedidos de ajuda que a agressora fez chegar ao IAS, Alexis Tam afirmou que as soluções apresentadas pelo instituto não foram aceites pela filha da vítima. “Sim, foi pedida ajuda e já lhe foi dada resposta. O IAS disse que sim, que lhe dava ajuda. A questão não é não haver espaço [para acolher a idosa], há lugares, temos muitas vagas, mas o que aconteceu aqui é que a filha queria um assistente social individual para ajudar a mãe. Isso não pode ser, em Macau existem cerca de 300 mil famílias com familiares [a seu cargo], o [Governo] não consegue atribuir um serviço [individual]”, esclareceu, frisando que é a família que deve assumir o primeiro plano de ajuda aos seus membros com necessidades.
Em causa está o caso de uma idosa que foi agredida pela própria filha, mulher que tem ainda a seu cargo o pai e um irmão com deficiência mental. Foi através da internet que Macau tomou conhecimento da situação, condenada ontem pelo Secretário. “Quero dizer que também vi na internet o vídeo que foi partilhado nas redes sociais e fiquei muito chocado, este é um caso típico de violência doméstica”, afirmou Alexis Tam, ontem, em declarações à imprensa à margem de uma reunião na Assembleia Legislativa.
“Nada justifica a violência. Temos que manifestar a nossa censura aos casos de violência doméstica, porque a família é um elemento importante da sociedade e os nossos familiares devem ser bem tratados”, argumentou o Secretário, acrescentando: “há muitas famílias com idosos em casa, ou com pessoas doentes, esta atitude é errada. Para nós, os chineses, a família tem que [ter] paz e harmonia. Neste caso, em que dizem que a filha estava a sofrer pressão, não pode acontecer”, afirmou, sublinhando que não sabe se o episódio de violência se repetiu outras vezes.
[quote_box_left]“Nada justifica a violência. Temos que manifestar a nossa censura aos casos de violência doméstica, porque a família é um elemento importante da sociedade e os nossos familiares devem ser bem tratados” – Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura[/quote_box_left]
Lei de Bases quase aí
Admitindo que é necessária uma aposta maior por parte do Governo na oferta de serviços de apoio aos idosos, o Secretário garantiu ainda que a Lei de Bases dos Idosos, proposta marcada pela demora de resolução, “está quase pronta”. “A proposta está quase pronta. Pretende prestar serviços de apoio aos idosos. Penso que muito em breve, a partir de Agosto ou Setembro este projecto estará pronto”, clarificou.
Para Alexis Tam é preciso ainda apostar na divulgação dos serviços do IAS para que a população saiba quais os programas e apoios a que pode recorrer. “Poucas pessoas sabem dos nossos serviços, já chamei à atenção aos serviços de acção social para fazerem mais promoções sobre isso”, disse.
O caso da idosa agredida já foi transmitido ao Ministério Público e Alexis Tam não esconde que a agressora deve ser “sancionada criminalmente”. “Esta senhora vai ser julgada, se calhar vai ser condenada, nada justifica bater nos nossos pais ou nossos familiares”, rematou.
José Drummond e Peng Yun juntam-se às 18h00 da próxima sexta-feira para apresentar uma exposição “pop-up”, cujo conceito é único na cidade. As artes performativas dão forma ao corpo da mulher, sem deixarem de explorar conceitos de dor, amor, prazer e atitude
[dropcap stgyle =’circle’]O[/dropcap] conceito da próxima exposição conjunta do artista José Drummond e Peng Yun dá pelo nome de “pop-up show” e vai durar exactamente quatro horas, com direito a um jogo de fotografias que versam sobre o erotismo, o corpo e a figura feminina e sentimentos e sensações como a dor, o prazer e o amor.
“Sonho de uma Noite de Verão” realiza-se na próxima sexta-feira e começa às 18h00, com encerramento marcado para as 22h00 desse mesmo dia. Este projecto inovador, explica Drummond, teve o seu nome baseado na conhecida peça teatral de William Shakespeare, de nome homónimo. Nesta, os protagonistas estão hipnotizados até quase à última cena, até que finalmente seguem o caminho que devem, explica. São os temas da peça original que parece terem inspirado aquela que toma forma daqui a dois dias, na Casa Garden.
“[A exposição] tem um certo lado performativo precisamente por durar tão pouco tempo e acredito que vai ser interessante ver a adesão do público a um evento deste género, uma vez que não há a possibilidade de lá ir no dia seguinte”, comentou o artista ao HM. No entanto, este projecto único apenas foi possível através da colaboração entre os dois artistas, sendo Drummond português e Peng Yun chinesa.
Sombras, luz, erotismo e a Mulher
Este tipo de exposição conjunta tem vindo a ser debatida há já algum tempo, diz o artista ao HM, explicando no entanto que a ideia desta “pop-up” só teve pernas para andar no final de Abril deste ano. Peng irá apresentar as séries relativas ao Verão de Xiaoduo, que “entram em diálogo” com os trabalhos “The Ghost” e “The Winker”, do artista português.
São as artes plásticas que aqui desempenham um papel crucial, numa mostra que promete encantar durante quatro horas de intensidade, seguidas de um cocktail. Também a ideia da dicotomia artística tem um papel crucial: serão confrontados e explorados dois pontos de vista “sobre o corpo da mulher onde o visível e o invisível, sombras e luzes, fantasia e realidade, desencanto e sedução entram em jogos e tensões”, totalmente levadas à interpretação dos presentes.
Dos quatro cantos à Casa Garden
Embora José Drummond tenha já os temas e o tipo de exposição mentalmente bem montados, será decerto um conceito inovador, uma vez que esta é uma das primeiras deste género em Macau. O artista vive em Macau há vários anos e já expôs nos quatro cantos do mundo, incluindo Tailândia, China, Alemanha, EUA, Austrália, Itália e Hungria.
Actualmente, frequenta o doutoramento em Artes Visuais no Transart Institut, que inclui residências artísticas em cidades como Nova Iorque e Berlim. Espelhados na Casa Garden estarão sensações e sentimentos comuns e básicos do ser humano e das suas relações, sendo esse o tema que mais aproxima os autores. Além de contar com a exibição de um total de 40 fotografias, serão ainda passados quatro vídeos, dois de cada artista.
Peng Yun nasceu em Sichuan, mas vive em Macau há vários anos. Licenciou-se em Pintura a óleo na sua terra-natal. Tal como as de Drummond, também as suas peças percorreram meio mundo, tendo ocupado lugar em galerias de Singapura, Taiwan, Bélgica, Roterdão, EUA, Holanda, Veneza, Pequim e Xangai.
A entidade curadora da mostra é a BABEL, uma organização cultural sem fins lucrativos. A mostra é organizada pela Xiang Art, tendo como parceiros a já referida BABEL, a Fundação Oriente e a Casa de Portugal. A pouca duração da mostra tem, também ela, uma mensagem: uma noite de exibições equivale à duração de muitos amores, conquistas e dissabores, explica a BABEL em comunicado.
Uma antiga cadeira de dentista, um espaço livre para exposições e workshops, um corredor cheio de motas antigas e vários projectos futuros. É assim que as galerias de arte Iao Hin se desenvolvem, com o novo espaço aberto há seis meses
[dropcap style =’circle’]O[/dropcap] mais recente espaço da galeria Iao Hin encontra-se em frente ao Mercado Vermelho, num daqueles edifícios à beira-rio, quase em ruína, não fosse o investimento de alguns patrões do ramo imobiliário. É o caso deste lugar, localizado num dos andares mais altos do prédio em questão.
A entrada, essa, denota um sentido de gosto e conhecimento cultural de quem não se presta a faltas de talento. Simon Lam é o curador dos dois espaços, ambos em funcionamento desde 2012. No entanto, aquele mais perto do mercado tem uma particularidade: foi inteiramente remodelado para abrir ao público há cerca de seis meses, com um conceito e aspecto completamente novos.
Em conversa com o HM, Simon Lam confessa que o principal motivo para o estabelecimento das galerias foi o facto deste ser “um nicho de mercado”, já que mais ninguém detinha um espaço do género naquela altura. “Não havia qualquer galeria de arte em Macau. Havia museus, concertos e eventos de arte, mas não havia um único espaço dedicado à arte, como em Hong Kong”, frisou Lam. “Começou com o conceito dos artistas virem cá para fazer workshops, conferências e reuniões e foi aí que começámos a expor os trabalhos de artistas locais”, começa Simon por explicar. “Nesta altura, alguns artistas estrangeiros contactaram-nos para expor os seus trabalhos na galeria, pelo que tiveram início as exposições de maior envergadura”, acrescenta.
No entanto, tal diz respeito à galeria existente na Rua de Tercena, travessa bem tradicional da região. O local junto ao mercado servia anteriormente como armazém para mobílias antigas encontradas e estúdio para trabalhos de design. “Eu estava a fazer trabalho de design e, passado um ano, começámos a ter um volume estável de negócio, pelo que acrescentámos a organização de aulas e workshops sobre esta indústria”, disse. “Em 2011, o mercado de arte estava a explodir em Hong Kong e lembrámo-nos de criar aqui um conceito que na altura era inexistente”, confessou. O início, admite, foi complicado, uma vez que a adesão foi fraca, tendo começado com “20 ou 30 pessoas” nas suas primeiras exposições. Hoje em dia este número cresceu e Simon calcula que mais de cem pessoas aparecerem para ver as mostras em exibição, de entre as quais estão especialistas de arte, como curadores e críticos.
“De tempos a tempos temos exposições de artistas locais para ir avaliando as vontades da população e saber quais os seus gostos e sinto que o mercado está cada vez mais receptivo, embora a maioria dos visitantes continue a ser estrangeira”, acrescentou ao HM. Assim, ambas as galerias têm conceitos distintos. Aquela localizada na baixa da cidade é mais selectiva e acolhe exposições de artistas de renome. A do Mercado Vermelho foca-se mais na proliferação de talentos locais menos conhecidos, onde todos são bem-vindos, após aval do curador.
O preencher de uma lacuna
O curador gere a marca e os espaços com a sua esposa Florence, a directora. O casal viveu no estrangeiro e foi no Reino Unido que mais tempo esteve, cerca de dez anos. Daí mudaram-se para outros países europeus, até que em 2011 decidiram criar raízes em Macau, onde viram uma grande falha. A Iao Hin junto ao rio está decorada com uma série de artigos antigos, nomeadamente mobília descoberta no lixo e nos grandes contentores, como são uma antiga cadeira de dentista – actualmente considerada vintage –, várias cadeiras e mesas, um hall com algumas motas locais de diferentes décadas, entre outros itens. Existe ainda uma espécie de quarto munido de um pequeno espaço de trabalho que serve para vários fins, nomeadamente projectos artísticos.
A necessidade de cultivar
O maior obstáculo, neste caso, parece ser o aparente desinteresse da comunidade local chinesa na arte contemporânea. As rendas aqui não desempenham um papel determinante, já que os espaços não estão a ser alugados. “O mais difícil é incutir à comunidade local o gosto pela arte”, lamenta Simon, que refere ser complicado explicar às pessoas que a arte é um valor acrescentado. Uma das vantagens, diz, é o facto das obras ali expostas poderem “vir a ser uma excelente fonte de investimento”, seja agora ou futuramente.
O curador ilustra com uma situação em particular: “vamos agora ter uma mostra do French May com esculturas feitas a partir de raízes de árvores, mas a comunidade chinesa não dá valor e acha-a desinteressante porque diz serem coisas feitas pela natureza”. Actualmente, o casal trabalha com um estagiário e um outro funcionário. Questionado sobre uma nova onda de expansão da Iao Hin, Simon Lam comenta que para já os planos não vão nesse sentido. Não só porque “as rendas estão muito caras”, mas também devido ao facto de não sentirem necessidade de expandir.
Para além de uma galeria, o espaço é também uma loja e um local com potencial para talentos desconhecidos. Para já, o futuro da empresa passa pela organização de workshops, aulas temáticas e leilões de pequena envergadura, que contam com a total participação dos residentes. “As pessoas vão poder trazer itens que já não queiram ou não lhes façam falta para vender na galeria, depois do seu valor ser mensurado por especialistas convidados”, diz entusiasmado.
Estão finalmente atribuídas quatro licenças para o funcionamento da rede 4G no território, às empresas CTM, Hutchinson, China Telecom e Smartone, por um período de oito anos. As empresas deverão investir vários milhões na rede até 2018
[dropcap style =’circle’]F[/dropcap]oram ontem publicados em Boletim Oficial (BO) os despachos e detalhes contratuais das quatro licenças que o Governo decidiu atribuir a quatro operadoras de telecomunicações, por forma a implementar a rede 4G, há muito pedida em Macau. As licenças terão a duração de oito anos e as empresas deverão investir milhões.
A Companhia de Telecomunicações de Macau (CTM) é a única que se compromete a avançar com uma cobertura de rede no território de 95% já este ano. “No primeiro ano, a cobertura territorial da rede será progressivamente alargada após o lançamento do serviço, ultrapassando os 95%. No período inicial de lançamento do serviço (…) a CTM irá assegurar a cobertura de rede nos postos fronteiriços de Macau (aeroporto, terminal marítimo, postos fronteiriços com o interior da China) e expandir, gradualmente, a cobertura até 50% no final de 2015 e uma cobertura total no ano seguinte”, pode ler-se no contrato publicado em BO.
A cor do dinheiro
Quanto ao plano de investimento, a CTM planeia investir já este ano cerca de 260,8 milhões de patacas no desenvolvimento da rede e construção de infra-estruturas de apoio. Até 2018, a empresa “irá continuar a investir na expansão da rede”, num investimento total de 485 milhões de patacas.
Quanto à Smartone, promete estabelecer uma rede 4G que cubra apenas 50% do território este ano, estando previstos 25 milhões de patacas investidos também para 2015. Deverá ser feito um investimento de 60 milhões de patacas entre o segundo e quarto ano da implementação, com a empresa a prometer “acompanhar o acréscimo de clientes e oferecendo novos serviços aos clientes de valor acrescentado”. No primeiro semestre do quinto ano, a Smartone garante investir 15 milhões de patacas na expansão da rede.
Em relação à China Telecom, a empresa compromete-se a investir já este ano 126 milhões de patacas, cobrindo apenas 50% do território, ou as “zonas principais”, “planeando-se a constituição de 70 estações base (de fornecimento)”. Em 2016 a rede da China Telecom deverá abranger todo o território, com um número de estações inferior a 150. Quanto ao investimento, entre 2016 e 2018 a operadora quer gastar 345 milhões de patacas.
Já a Hutchinson, pretende investir nos primeiros quatro anos um total de 239 milhões de patacas, sendo que já este ano serão investidos 91 milhões. A operadora compromete-se também a “construir um sistema que garante a cobertura de 50% do território da RAEM, com boa qualidade, durante o ano de 2015 e que assegure a cobertura da totalidade do território durante o ano de 2016”.
O tribunal deu razão ao Governo sobre a anulação da venda dos terrenos em frente ao aeroporto, onde estava a ser construído o La Scala. Raimundo do Rosário não comenta e os advogados não estiveram contactáveis
[dropcap style =’circle’]O[/dropcap] Tribunal de Segunda Instância deu razão ao Governo na anulação da venda dos terrenos envolvidos no maior caso de corrupção do território, onde estava em construção o empreendimento La Scala, pertencente ao empresário de Hong Kong Joseph Lau.
De acordo com o jornal Ponto Final, os terrenos junto ao aeroporto de Macau, que estavam reservados para o empreendimento de luxo do dono da empresa Moon Ocean, vão voltar ao Governo.
O magnata Joseph Lau, juntamente com o seu antigo sócio Steven Lo, foi condenado em 2014 por corrupção e lavagem de dinheiro no negócio envolvendo a compra do terreno, um caso que já tinha levado à prisão, anos antes, do antigo Secretário para as Obras Públicas Ao Man Long, naquele que foi o maior escândalo de corrupção da RAEM.
A decisão é de quinta-feira passada mas só ontem foi publicada pelo jornal, que dá conta que o acórdão não está disponível para consulta e que as partes ainda não foram notificadas da decisão. O HM tentou contactar Rui Sousa, advogado de Lau, e Jorge neto Valente, que defende Steven Lo, mas até ao fecho desta edição não foi possível obter resposta.
Compras e corrupção
A Moon Ocean, empresa offshore, comprou os cinco lotes em 2006, tendo o Tribunal Judicial de Base entendido que os dois empresários de Hong Kong conseguiram os terrenos em troca de um suborno de 20 milhões de patacas pago a Ao Man Long.
No entanto, lembra o Ponto Final, a decisão do Governo de anular a venda dos terrenos à Moon Ocean foi tomada antes de os magnatas serem julgados, sendo esse um dos argumentos usados pela defesa dos empresários quando decidiram recorrer desta medida. Os lotes de terreno pertenciam à CAM – Sociedade do Aeroporto e ao empresário Ng Fok que, diz o Ponto Final, poderão agora ser, juntamente com o Governo, abordados para o pagamento de 2,7 milhões de patacas à Moon Ocean.
Ontem, o Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, escusou-se a comentar o caso. “Sobre o La Scala, é muito simples: decisões judiciais não comento”, disse apenas.
[dropcap stye =’circle’]Z[/dropcap]hugue Liang foi o mais importante estratega do turbulento Período do Três Reinos da História da China, (220d.C. – 280d.C.), no ocaso dos Han. O seu outro nome era Kong Ming, tendo-se celebrizado pelo modo como liderou a estratégia do Estado de Shu, senhoreado por Lio Bei, contra o Estados de Wu e de Wei, este último liderado por Cao Cao (leia-se Chou Chou).
Kong Ming era conhecido pelo epíteto de “dragão escondido”, pois os que o rodeavam desconheciam a sua capacidade de protagonizar grandes feitos. Assim era o homem que é representado com vestes taoistas e um leque de penas de ganso.
Liu Bei, um dos heróis do “Romance dos Três Reinos” e descendente de um dos ramos da casa imperial dos Han, visitou-o por três vezes, pedindo-lhe para ser o seu principal conselheiro e estratega. Liu Bei teria 47 anos e Zhugue Liang, aliás Kong Ming, teria apenas 26, quando ambos estabeleceram o reino de Shu, naquela que é hoje a província de Szechuan.
Na batalha dos Penhascos Vermelhos, Kong Ming recomenda a Lio Bei que se alie a Sun Quan para derrotar o plano de Cao Cao de conquistar toda a China.
O vento do Oriente
A Batalha dos Penhascos Vermelhos começou com uma escaramuça nas ditas rochas, seguida por um recuo para Wulin, nos campos de batalha na margem noroeste do Yangtze, e finalizada por uma batalha naval decisiva, com a desastrosa retirada de Cao Cao.
Cao Cao tinha acorrentado os seus navios uns aos outros, com o objectivo de criar uma frente intransponível. Kong Ming percebeu que essa força era também uma fraqueza, com o vento soprando de Oriente, isto é, contra a frota acorrentada. O estratega utilizou ardilosamente o vento de Oriente, expressão ainda hoje utilizada. Sob o pretexto de rendição, enviou sete barcos cheios de material inflamável na sua direcção. Com vento pela popa, os sete navios rapidamente chegam àquela frota estacionada no rio e, quando bem próximos, os poucos tripulantes incendiaram os navios, fugindo em pequenos botes. O resultado foi um incêndio de enormes proporções e a consequente destruição da frota de Cao Cao.
Eça escreveu que, no mundo, a não ser a China, tudo muda. Não posso deixar de concordar, sobretudo quando lembro o ditado que diz que “no rio Yangtze, a onda de trás empurra a da frente”, significando que as gerações devem suceder-se no fluir da história. Entre e longínquo Lio Bei e o contemporâneo Xi Jing Ping, passaram muitos líderes, fazendo jus às ondas do Yangtze.
[quote_box_right]O país prepara-se para estar na linha da frente da sustentabilidade e da ecologia. O tempo joga a favor da China. O Império Imóvel move-se pausadamente, em passos gigantescos[/quote_box_right]
A captura das flechas
Desde a abertura da China ao mundo, quando Deng Xiao Ping aplicou o princípio estratégico da “Fortaleza Vazia” e convidou o mundo a aí ganhar dinheiro, e o Ocidente foi transformando a China na sua “fábrica”, mais uma vez se aplicou uma velha táctica de Kong Ming.
Faltavam cem mil flechas ao exército de Lio Bei antes das primeiras escaramuças nos Penhascos Vermelhos e não havia como municiar o exército. Kong Ming deu ordem para que, durante a noite, pequenos barcos fossem enviados com “soldados de palha” até às proximidades dos navios de Cao Cao. Incontáveis flechas voaram para atingir os inúmeros barquitos que, à luz dos distantes archotes, lembravam intenções malévolas. Em pouco tempo as flechas abundavam no campo de Lio Bei.
Hoje, a China não é apenas o maior mercado do mundo mas, também o maior produtor doméstico. Que o digam, por exemplo, os telemóveis da Huawei, da Vivo, Xiaomi, Umi, para citar só os maiores.
O dragão Acordado
Napoleão Bonaparte, em 1816, terá dito “quando a China despertar, o mundo tremerá”. Em 1973, Alain Peyrefitte retoma a frase na sua obra “Quando a China despertar”, numa feliz premonição de um observador atento.
Enquanto a terra de Vespúcio e o velho continente se procuram desenrolar da teia que criaram, paulatinamente a Oriente, o velho Império do Meio dispõe de uma nova arma: mais de um milhão de bilionários, encabeçados por Jack Ma do Alibaba. Dando um salto para o 25o. lugar do ranking dos mais endinheirados, este é ocupado por Guo Gangchang, que adquiriu recentemente a Thomas Cook, o Club Med, o Cirque du Soleil, o Hospital da Luz-Saúde (ex-Espírito Santo Saúde) e o mais que se verá. Xu Jiayin, fundador do grupo Imobiliário Evergrande, que detém 45.8 milhões de m2 de terrenos em 22 cidades da China. Xu Jiayin está instalado em cem cidades do continente, diversificou os seus negócios para os painéis solares, e detém o Guangzhou Evergrande, campeão de futebol da Superliga chinesa. Aos bilionários, todos eles gente de grande visão como se pode ver, a liderança considera-os os novos heróis desta nova e renovada China.
O país prepara-se para estar na linha da frente da sustentabilidade e da ecologia. O tempo joga a favor da China. O Império Imóvel move-se pausadamente, em passos gigantescos.
Perante todos estes cenários, perante todos os planos que a já mais poderosa economia do mundo tem para os seus Territórios, pergunto-me qual o verdadeiro desígnio para este minúsculo pedaço de terra, para esta pequena cidade que habitamos, para este legado, esperando que tal como no Yangtze as ondas de trás empurrem as da frente, seguindo o curso da natureza.
António Katchi avisa: o projecto de lei que Chan Meng Kam está a preparar para regular as rendas poderá representar um “ataque brutal aos inquilinos”, por permitir o despejo sem recorrer a uma sentença judicial. Pereira Coutinho não confirma e diz defender o que já consta no Código Civil
[dropcap style=’circle’]O[dropcap]jurista António Katchi considera que o projecto de lei sobre as rendas do deputado Chan Meng Kam poderá seguir a mesma linha que já vinha sendo preparada por um anterior diploma semelhante, levado a cabo por Song Pek Kei, no intuito de facilitar os despejos dos arrendatários.
Em declarações ao HM, Katchi disse poder haver um grupo de deputados “pró-governamentais e pró-oligárquicos que se encontram a preparar um ataque brutal aos inquilinos”: a abolição do carácter judicial da resolução do contrato de arrendamento. “Dito por outras palavras, esses deputados, alinhados com o Governo e com os interesses dos especuladores imobiliários, pretendem conferir aos senhorios o direito de, em casos como os de atraso no pagamento da renda, despejarem os inquilinos com a mera intervenção policial, sem necessidade de prévia acção e sentença judiciais”, adianta o jurista. “Em algumas ocasiões passou cá para fora a informação de que uma das intenções desse grupo – penso que a principal – era facilitar os despejos, acabando com a exigência de processo judicial para a resolução do contrato. Esse tem sido um objectivo prosseguido desde há muito pelos proprietários e especuladores imobiliários”, acrescentou o jurista.
Apesar de se referir ao anterior diploma, Katchi esclarece que o novo projecto de lei de Chan Meng Kam não deverá andar longe desse objectivo. “Não conheço o projecto, mas não acredito que não vá na mesma linha: estou firmemente convencido de que o seu objectivo não será, ao contrário do apregoado, limitar o aumento das rendas, mas facilitar os despejos. Veremos! Mas vindo de um capitalista grande do proprietário imobiliário…”, apontou.
Poucas palavras
Recorde-se que o projecto de lei apresentado por Chan Meng Kam continua a receber apoio de Pereira Coutinho, deputado que António Katchi diz não pertencer ao grupo de deputados pró-Governo. Contactado pelo HM, José Pereira Coutinho não quis avançar se o novo diploma vai ou não facilitar os despejos dos arrendatários.
“É cedo para me pronunciar sobre um projecto que ainda não foi aprovado na generalidade”, começa por dizer o deputado, que já disse ao HM que o diploma poderia ser aprovado antes de Agosto. “Acho que a questão do despejo nada tem a ver com o arrendamento, na medida em que o que queremos é controlar os contratos de arrendamento que outrora tinham que ser visados pela Direcção dos Serviços de Finanças (DSF) possam continuar a existir e para que nos primeiros dois anos se mantenha inalterado o valor da renda e nos anos seguintes as rendas virem a ser aumentadas consoante o valor da inflação”, apontou.
Quanto à questão jurídica do despejo, Pereira Coutinho diz apoiar o que já consta no Código Civil, que prevê uma acção judicial para retirar os inquilinos das casas arrendadas.
“Não vale a pena estar a mexer na estrutura do despejo que consta no Código Civil. Neste momento o sistema está bastante bem regulado pelo e não vejo que alterações pontuais através de uma lei do arrendamento devam ser alteradas no Código. Achamos que é preciso ter algum cuidado ao mexer com a estrutura geral do nosso Direito Civil”, referiu.
O HM tentou contactar Gabriel Tong, que apoiou juridicamente o primeiro projecto de Song Pek Kei, e Chan Meng Kam para obter mais esclarecimentos, mas até ao fecho desta edição não foi possível.
[dropcap type=”circle”]M[/dropcap]ais de 60 trabalhadores não-residentes (TNR) que trabalhavam no empreendimento Windsor Arch vão reunir com a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), a quem pediram ajuda para receber salários em atraso.
De acordo com a imprensa chinesa, 20 homens fizeram 12 horas de protesto no sétimo andar do empreendimento, obrigando os Bombeiros a colocar colchões de ar na estrada, devido ao risco de saltos. Os trabalhadores da área da construção civil entregaram primeiramente uma petição na sede do Governo, na qual pedem a ajuda do Executivo para receberem os salários referentes a Junho e mais dez mil patacas de depósito para trabalharem.
Na semana passada, estes TNR tinham-se manifestado junto ao Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM. A manifestação obrigou ao corte da Rotuda dos Ocean Garden ao Windsor Arch, sendo que no local estiveram presentes além dos Bombeiros, a polícia, com uma equipa de negociadores. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, um dos responsáveis pela contratação dos operários garantiu que o diferendo já está resolvido, dizendo que não entende o motivo deste protesto.
A artista portuguesa desenvolve no próximo sábado, na EPM, um workshop de Suminagashi, uma arte de desenhar japonesa que é tida como uma das técnicas mais antigas de marmorear papel
[dropcap type=”circle”][/dropcap]A artista plástica Ana Jacinto Nunes vai dirigir um workshop de Suminagashi – uma técnica milenar japonesa – de pintura na água. O momento acontecerá nas instalações das Escola Portuguesa de Macau já no próximo sábado, dia 27 de Junho pelas 10 horas na sala de desenho.
O suminagashi é uma técnica de pintura na água em que é utilizada tinta e adicionada terebintina, um solvente vegetal. “Esta é uma técnica muito antiga em que se coloca a tinta à superfície da água e quando se coloca o papel na água, para fazer a impressão, este bate primeiro na tinta que é absorvida imediatamente e só depois é que chega a água”, explica ao HM Ana Jacinto Nunes.
O resultado é uma espécie de “marmoreado que se vê na contra capa dos livros antigos”. O suminagashi, conta-nos a artista plástica, foi um das primeira técnicas de marmorear papel e é por isso considerada uma das formas mais antigas.
A artista plástica não esconde que “gostaria muito de ver continuidade na técnica”, acreditando que os professores podem depois continuar a leccionar esta vertente. As inscrições já estão abertas e podem ser feitas pela Associação de Pais da Escola Portuguesa. O momento criativo é aberto à população e tem um custo de 50 patacas para os sócios e 100 para não sócios.
Bichos até ao fim do mês
Ana Jacinto Nunes está no território até ao final do presente mês com a exposição “Desta vez os bichos não dormem” no Albergue da Santa Casa da Misericórdia que termina também no sábado. Em exposição estão à venda desenhos em funcionam como base de um projecto que posteriormente resulta na criação de uma vida nova.
A autora portuguesa, vive actualmente na Alemanha, mas da sua história já fez parte Macau, em 1996, local que permitiu a Ana Jacinto Nunes desenvolver o gosto pelos pincéis, técnicas, papéis e tintas chinesas. Arte que fundiu com o registo português criando azulejos de tecido, agora expostos no território.
Ana Jacinto Nunes deu os primeiro passos no ballet, arte que considera ser uma mais valia para o desenho, devido à linguagem corporal, e formou-se em várias áreas técnicas, desde animação, pintura, serigrafia e ilustração.
Com algum prémios angariados, a artistas plástica já expôs em Portugal, Macau, EUA e Alemanha.
[dropcap type=”circle”]F[/dropcap]Foi oficialmente criado no passado dia 18 o Centro de Incubação de Negócios para Jovens, o qual passa a funcionar sob tutela dos Serviços de Economia (DSE). Os jovens que queiram começar o seu próprio negócio podem apresentar a candidatura ao arrendamento de um local de atendimento provisório para um período de seis meses, podendo requerer a renovação por mais seis meses, até ao máximo de um ano.
Falando à margem da inauguração do Centro, o Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, referiu que esta entidade “tem como objectivo responder às expectativas da sociedade, nomeadamente ao apoio aos jovens empreendedores e melhoria da situação de emprego”. O Centro não só financia quem queira começar o seu negócio, como disponibiliza “várias formas de ajuda”. Sou Tim Peng, director da DSE, explicou que o novo local pretende prestar “serviços de apoio one stop, incluindo formação nesta matéria, consultadoria e assessoria, espaço para trabalho, bolsa de contactos comerciais e informações de mercados”.
Segundo um comunicado, o Centro “desenvolverá o reforço da cooperação com as associações e entidades na divulgação do projecto-piloto de empreendedorismo e do programa de orientação, para os quais serão convidados empresários juvenis e jovens empreendedores a fim de trocarem directamente impressões sobre esta matéria e a partilharem experiências de criação de negócios com êxito”, remata um comunicado.
A sua saída do cargo político que ocupava, o metro e o património são alguns dos assuntos em cima da mesa com o ex-coordenador do GIT. Com algumas reticências, André Ritchie fala de alguns assuntos mais polémicos, mas defende que não é altura para tudo ser revelado
[dropcap type=”circle”]E[/dropcap]steve à frente do gabinete que coordena o metro ligeiro. É realmente necessária esta construção em Macau? Não existem alternativas mais económicas? Acho que Macau precisa acima de tudo de ser uma cidade mais “user friendly”. Neste território, a distância não pode ser medida pela distância em si, mas pelo tempo que demoramos nas nossas deslocações. Macau está a tornar-se uma cidade muito desconfortável. Há distâncias curtas, que a pé são pouco confortáveis devido aos passeios e ao número de pessoas. É preciso, por isso, um sistema integrado de transportes e isso implica o metro, autocarros, táxis e circulação pedonal. Em Hong Kong, por exemplo, o sistema pedonal funciona bem. Em Macau, devido à sua marca portuguesa de zona alta e baixa da cidade, é preciso compreender o que é possível neste espaço e este sistema pode funcionar muito bem aqui. É inaceitável demorar-se tanto tempo nas deslocações e, por isso, acho que o metro faz sentido.
Mas a construção do metro vai resolver este problema? Não. O metro em si não vai resolver este problema das deslocações. Mas claro, tem que ser visto como uma das soluções do puzzle. O Governo tem que apostar mais na circulação pedonal, porque em Macau as pessoas habituaram-se muito ao carro, a um meio de transporte para deslocações curtas, o que não acontece em Hong Kong. Em Macau as pessoas são preguiçosas, é verdade. Mas a pessoa de Macau quando vai à região vizinha anda muito. Porquê? Porque tem conforto, seja no sistema pedonal ou no metro. Quando há conforto as deslocações tornam-se mais fáceis e rápidas.
Quando é que acha que esta obra estará concluída? Prefiro não responder a essa pergunta.
Há muitas perguntas sem resposta. Porquê esta decisão de nunca comentar, nunca falar em assuntos considerados sensíveis? Nunca falo porque é uma atitude que decidi ter e colocar em prática. Não quero dar a ideia de que bati com a porta e saí aborrecido e agora disparo contra [o Governo]. Olho para trás e acho que tive muita sorte, vim [para Macau] com a economia de rastos, mas depois assistiu-se ao crescimento. Aprendi muito, tivemos imensos projectos, foi estimulante para um novato como eu estar ali na linha da frente. E por isso mesmo não falo por respeito à casa. Naturalmente o Governo também comete erros, eu também cometi erros. Agora não quero aprofundar esses assuntos porque não quero meter o dedo na ferida.
Mas a verdade tem que ser dita, é direito da sociedade ter conhecimento dos erros… Sim, acho que sim. Mas não é por mim, mas posso adiantar um aprendizado meu. O meu chefe de Portugal tinha muitas histórias para contar, muitos erros, devido às obras em que estava envolvido e sempre me passou o testemunho que não podia contar e mandar para a sociedade aquelas verdades. Disse-me um dia que iria escrever um livro com o título “As Memórias de um Burro” com essas verdades.
O André vai seguir o exemplo? Um dia. As memórias de um burro escrito por mim com essas histórias.
Porque é que saiu do Governo? Bem, foram 12 anos no Governo. Nunca foi intenção minha estar eternamente no Governo, há essa tendência geral das pessoas verem os cargos públicos como âncoras para o futuro, mas nunca aconteceu comigo. Há uma postura errada do acomodar-se ao cargo. Há um ditado chinês que diz que fazer ou não fazer é a mesma coisa e isto é errado. Profissionalmente, é super desmotivador e castrante. Ao longo dos anos que trabalhei fui sempre recebendo algumas propostas mas recusei, até que, chega-se a um ponto da nossa motivação em que temos que mudar. Não escondo que comecei a ficar desmotivado.
Porquê? Enfim, porque o Governo tem o seu ambiente e modo de trabalho, do ponto de vista legal, jurídico, a nível de procedimentos que eu já conhecia bem. Estava a precisar de algo novo. Foram 12 anos a trabalhar com os mesmos mecanismos, mesmos procedimentos, mesmo método. Tinha que mudar.
Disse que aprendeu muito, boas e más experiências. Podemos ter como exemplo a condenação de Ao Man Long? Sim, essa foi uma das situações que foi uma grande lição para mim. Fui testemunha e todo o processo foi intenso. Aprendi muito, porque aprendemos sempre com os bons e os maus momentos.
Ao Man Long foi o bode expiatório para uma situação que envolvia muita gente? As pessoas têm essa tendência de generalizar. Por exemplo, agora no caso recente da FIFA alguns deles são suspeitos, o que faz com que as pessoas acusem o presidente [Joseph] Battler imediatamente. Neste caso, não sei, não estou dentro do assunto. Mas acredito que há de facto tendência para culpabilizarmos o outro.
Raimundo do Rosário, Secretário para os Transportes e Obras Públicas, afirmou que ia mexer em alguns serviços e gabinetes organizando-os, fundindo-os ou até eliminando-os. Concorda com esta espécie de arrumar da casa? Vejo esta decisão mais como algo global do que só desta pasta específica. Acho que isto está acontecer transversalmente, não é só na pasta dirigida pelo Secretário Raimundo. Parece-me bem, porque defendo que a reforma administrativa é sempre necessária e contínua. A cidade vai-se transformando, portanto o Governo tem sempre necessidade de criar serviços para dar resposta a algumas lacunas ou desafios e isso acontece com várias tutelas. Ao longo dos últimos anos foram criados vários serviços na pasta das Obras Públicas, para dar resposta. Mas claro, é sempre oportuno perceber se esses serviços são necessários ou se é possível fundir alguns deles para se conseguir um melhor desempenho. Não sei se a casa está desarrumada, pelo menos não quero assumir isso, vejo a reforma administrativa como algo necessário. Quando se faz este [trabalho] de extinção ou união é preciso perceber porque é que esses serviços foram criados, perceber a sua natureza, cultura e orgânica. É preciso perceber se são úteis ou não.
FOTO: Gonçalo Lobo Pinheiro
O Gabinete para o Desenvolvimento das Infra-Estruturas (GDI) é útil? Foi renovada por mais dois anos a sua existência. O GDI foi muito útil desde a criação da RAEM devido a três grandes construções: a fronteiras das Portas do Cerco, a ponte Sai Van, que é essencial para o acesso ao Cotai, e depois o próprio Cotai. Quando vim em 2003 e comecei a trabalhar no GDI o Cotai não existia, foi o gabinete que o construiu e isso foi muito importante para que os investidores pudessem investir. O GDI foi muito útil nessa altura e agora no último Governo foi responsável pela habitação pública. Quer se goste ou não, existe e está construída e foi este gabinete que a executou, assim como a nova Universidade de Macau, que é uma grande obra. Este serviço é um gabinete de intervenção rápida, tem uma agilidade que muitos serviços não têm e acho que qualquer Governo deve ter este tipo de serviço, sem departamentos, de respostas rápidas.
Em Portugal trabalhou na obra do metro do Porto, projecto de grande dimensão. Porque decidiu voltar para Macau? Acabei o curso de Arquitectura no Porto em 2001 e mal acabei o curso comecei a trabalhar lá. Foi sorte, tinha acabado de defender a minha tese sobre o plano inicial sobre os NAPE e cruzei-me com um professor meu, no próprio bar da universidade, que logo ali me fez o convite para a obra do metro do Porto. Nunca pensei em regressar a Macau, confesso, pensei sempre que o meu futuro era na Europa, mas a verdade é que o salário, com os impostos, assustaram-me um bocado. Com o primeiro salário pensei: então é só isto? Quando o António Guterres abandona o cargo e entrou o Durão Barroso com o discurso do ‘país de tanga’ pensei que Portugal não estava a entrar num bom caminho. Precisava de alternativas, a experiência de trabalho estava a deixar-me infeliz e mexi-me aqui em Macau. Pronto, voltei.
O Regime de Acreditação de Arquitectos e Engenheiros em Macau entra em vigor agora no início de Julho. Concorda com este regime? Não conheço muito bem a lei, mas acho que é um bom princípio. É importante porque tem que existir um controlo de qualidade. Faz sentido ter este regime. Portugal recentemente também passou por isso, até se criou a ordem dos arquitectos, portanto acho que sim. Caso contrário qualquer pessoa que tenha um curso inscreve-se nas Obras Públicas e está apto a assinar projectos, não pode ser assim. Este regime é importantíssimo do ponto de vista técnico e profissional.
Mas Macau tem capacidade para formar arquitectos? De facto existe um curso de Arquitectura em Macau, na Universidade de São José, mas tenho algumas dúvidas. Conheço as pessoas que estão à frente do curso e posso dizer que são pessoas competentes, são bons, não há dúvidas. Mas o plano de curso em si deixa-me com muitas dúvidas. É preciso começar em algum lado, é uma universidade nova e ninguém lhe tira o mérito, mas não sei que referências tem. Por outro lado, pode ser chato dizer isto, mas não compreendo porque é que este curso não é dirigido pela “prata da casa”. Temos aqui em Macau excelentes profissionais, tais como o Carlos Couto, Carlos Marreiros, Luís Sá Machado, Isabel Bragança… Macau tem bons arquitectos e aparentemente estes profissionais não estão directamente ligados a este curso. O Rui Leão, um bom profissional, já esteve, mas já não está. Não percebo. Acho que é preciso este apadrinhamento.
FOTO: Gonçalo Lobo Pinheiro
Mas apenas o curso não é suficiente. Não, de facto. Até pode não fazer sentido para alguns, mas para mim uma pessoa que nasça aqui, viva aqui e estude Arquitectura aqui não sei que cultura arquitectónica assumiu. A vivência no exterior, essa experiência como ser humano e profissional, seja em que área for, é muito importante. A bagagem cultural é muito importante, ganhar motivações de desenho, ver como se vive nas outras culturas, perceber o verdadeiro significado da área, não é só desenhar umas coisas bonitas. Neste lado do mundo há muito esta ideia do design, do moderno ou clássico. Não é nada disto, é muito mais profundo que isso. Digo sempre às pessoas que da necessidade, a motivação de desenho, nasce uma moda e não o contrário.
Sobre o Património de Macau, como vê o que foi até ao momento classificado pela UNESCO e o que poderá ser? O que já foi classificado devia ter mais alma. Não pode ser só fachada. Olhamos para o Largo do Senado, é um sítio bonito e rico, mas o que se passa com os edifícios? Temos fachadas bem cuidadas mas completamente desrespeitadas a nível de rés-do-chão pelo comércio, não há o mínimo de disciplina a nível de desenho de lojas, cada um faz o que quer. É vergonhoso, vivemos de fachada. Acho que é preciso disciplina e dar vida. Por exemplo o Largo do Lilau tinha mais vida antigamente do que agora, que é considerado património. Na altura tinha um café, uma tasca chinesa, moravam pessoas nas casas em volta, tinha muita vida e nem sequer era considerado património.
E o novo? Bem, espero que da lista não saiam só edifícios antigos com arcos. Espero sinceramente que haja arquitectura moderna porque em Macau fez-se muita interessante, como é o caso da Escola Portuguesa. Há muitas obras de arquitectura moderna que deviam ser preservados. Estamos a entrar numa fase triste para arquitectura porque maioritariamente o que se constrói na cidade é habitação. Antigamente, os arquitectos desenhavam edifícios para habitação muito interessantes, agora perdeu-se isto, por força do mercado e das imobiliárias. Só se constrói edifícios de catálogo.
E o Hotel Estoril? É um edifício muito interessante, mas é preciso que a sociedade perceba que é necessário manter-lhe a alma. Entenderem que o património não são só arcos e o antigo, o que é novo é também património. O que se faz hoje é património. Não é só o Clube Militar, o Senado, não é só isso.
Existe planeamento urbanístico em Macau? Sempre existiu. O que as pessoas têm que compreender é que o planeamento urbanístico é gestão de interesses, económicos e públicos. É preciso haver este equilíbrio. Sempre existiu, mas fala-se muito em planeamento urbanístico porque as pessoas confundem o planeamento com o zonamento, que é organização por zonas. O planeamento não é isto e a população tem que perceber isto. O planeamento pretende equilibrar e criar ferramentas legais e jurídicas para o ordenamento do território.
Como vê Macau daqui a 20 anos? Quando era miúdo, o meu pai, como não havia pontes de ligação a Coloane, combinava excursões com os amigos ao fim-de-semana. No meu tempo, com a ponte, ir à Taipa era uma aventura, pagávamos a portagem e íamos fazer os trabalhos da escola, voltar para casa era outra aventura. Era tudo diferente. Agora em dez minutos estamos em Coloane. Macau expandiu. Para a minha avó ainda existe a ideia dos piratas de Coloane. A expansão vai continuar, vamos crescer e crescer. As fronteira vão estar muito mais premiáveis, vai abarcar Zhuhai e a zona de Cantão, a circulação de bens e pessoas será cada vez maior. Inevitavelmente o nosso estilo de vida vai mudar. Para mim agora ir a Zhuhai é cansativo, tenho que passar a fronteira e aquilo tudo, para o meu filho possivelmente vai ser como ir à Taipa. Ir a Cantão vai ser já ali.
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Chega ao fim mais uma edição da Liga de Elite de Macau. Benfica sagra-se novamente campeão depois de golear o Chuac Lun. Casa de Portugal não aproveita ajuda alheia, perde com Lai Chi e despede-se do convívio entre os grandes
[dropcap type=”circle”]A[/dropcap]última jornada da Liga de Elite, edição de 2015, acabou por não trazer grandes surpresas: Benfica de Macau renova o título de campeão, com Ka I a tentar chegar à frente até ao último instante. Monte Carlo perde a medalha de bronze para o Chao Pak Kei, apesar da igualdade pontual. Lai Chi “quis ajudar” o Chuac Lun e não permitiu que a Casa de Portugal pudesse fazer a festa da permanência, acompanhando o lanterna vermelha Sub-23 na descida à 2.ª Divisão.
O Benfica teve de esperar até domingo para golear o Chuac Lun por 7-0 e se sagrar campeão de futebol do escalão máximo da RAEM. Num jogo fácil para os encarnados, a equipa de matriz chinesa nunca conseguiu impor qualquer perigo. Aliás, não fosse a vitória do Lai Chi ante a Casa de Portugal e poderiam neste momento estar a chorar a despromoção.
Os encarnados, muito entrosados e apostados em ajudar William a subir mais na tabela de melhores marcadores, chegaram ao intervalo a vencer por 4-0 com um hat-trick do avançado brasileiro aos 24, 31 e 37 minutos. Iuri Capelo, abriu a contenda logo aos sete minutos de jogo.
A segunda metade, mais descansada, trouxe mais golos aos comandados por Bruno Álvares. William voltou a fazer o gosto ao pé, aos 61 minutos, completando um poker. O lateral-direito Chan Man marcou aos 76 e Fabrício, entrado aos 58 minutos para o lugar de Juary, fechou o marcador com um golo já nos descontos.
Sensação de dever cumprido
Fabrício, que com o golo marcado este fim-de-semana chegou ao top10 dos melhores marcadores, fala em “grande alegria” por mais uma conquista numa época em que, ao nível pessoal e devido a lesões, as coisas não correram como esperava.
“Estou muito satisfeito. Este bi-campeonato traz uma grande felicidade. Todos temos o sentimento de dever cumprido uma vez que trabalhámos muito para conseguir mais este título. A nível pessoal, as coisas podiam ter corrido melhor. Esperava ter jogado mais vezes, mas ter partido um dedo da mão direita acabou por me afastar um pouco.”
Agora segue-se a tão falada e almejada Liga Asiática, assim como, internamente, a Taça de Macau. “São duas competições muito importantes para o Benfica. A Taça de Macau está aí, a decorrer. Em relação à Liga Asiática, vamos ter de aguardar. Qualquer jogador do clube quer ter a chance, que a meu ver é única, de participar nessa competição. Vamos ver o que acontece durante esta próxima semana”, disse.
O estreante Marco Meireles também conversou com o HM. Para o médio português, as coisas não podiam ter corrido melhor. “Um título de campeão na minha estreia? Quero dizer que me sinto concretizado. Vim mesmo com esse objectivo e as coisas correram bem. Penso que, pessoalmente, gostaram e gostam do meu trabalho. A equipa também se mostrou muito unida nos momentos cruciais.”
William, goleador encarnado e melhor marcador da Liga de Elite, também se manifestou muito feliz pelo desfecho final. “Sinto-me muito bem. Estou, acima de tudo, muito feliz. Ser campeão é muito bom e melhor marcador é fantástico, ainda mais depois de uma fase difícil que tive. Valeu a pena todo esforço. Graças a Deus!”
E a Deus, o futuro pertence. Depois da boa época, William despertou a cobiça de alguns clubes portugueses a evoluir na II Liga e Campeonato Nacional de Seniores. “Tenho sido abordado, informalmente, por alguns empresários no sentido de perceberem a minha disponibilidade para jogar em Portugal. Tenho 28 anos e isso seria um sonho enorme, um passo de gigante mesmo, fosse na II Liga ou no Campeonato Nacional de Seniores. Contudo, tudo depende da proposta. Não posso largar tudo e ir, assim, de repente. Preciso de sentir que do outro lado sou aposta segura e que existem condições para poder desenvolver o meu futebol. Ao mesmo tempo, estar no Benfica e poder jogar a Liga Asiática é algo de muito interessante também. Vamos ver o que acontece nas próximas semanas.”
Casa de Portugal sem hipóteses
Com grandes probabilidades de sorrir no final do campeonato, muito por culpa do cenário que o calendário apresentava, a Casa de Portugal, acabou por não aproveitar as oportunidades e acabou derrotada por 3-1 pelo Lai Chi.
A equipa lusa cedo se viu correr atrás do prejuízo, uma vez que aos 28 minutos de jogo já perdia por 2-0 com golos marcados por Cheok Ka Fai, aos 17, e por Lai Ka Him, aos 28, ambos do Lai Chi. A Casa de Portugal ainda esboçou um pequeno sorriso de alento quando o mexicano Leonel Velasco reduziu a vantagem do adversário aos 36 minutos.
Mas nada mais que isso. O que se viu foi o costume. Muitas ocasiões de golo perdidas e ninguém que quisesse agarrar no jogo. Os lusos acabaram por permitir mais um golo do adversário que, através de Sio Ka Un, aos 75 minutos, sentenciou a partida e mostrou o caminho da 2.ª divisão aos comandados por Pelé, que viu assim ruir um sonho. “Estou muito triste e ainda nem consegui dormir. Assumo toda a responsabilidade porque fui eu quem fez as escolhas apesar que sempre acreditei até ao último jogo que podíamos ficar na Liga de Elite. Agradeço, obviamente, aos meus atletas pois tudo fizeram com muita dedicação.”
O treinador lembra que as entradas do “salvador” Rodrigo Quaresma e do “mágico” Velasco, trouxeram futebol de qualidade à equipa, mas salienta também que a lesão de Jean Peres, “referência de ataque e líder no campo”, foi algo muito difícil de superar. “Perder o Jean foi algo que não estava a contar. Ele era o líder da equipa no rectângulo de jogo. Nesse dia, perdemos 75% da equipa. O Jean Peres era mais que um jogador. Era um grande líder como outros já o foram – lembro o meu irmão Cuco e o José Costa. Sem o Jean, só ganhámos aos Sub-23. Empatámos com a Polícia e com o Chuac Lun, jogos que deveríamos ter vencido tais foram os golos que desperdiçámos. Ontem, sem um líder, seria ainda mais difícil vencer pois, naquelas circunstâncias, o nervosismo era muito grande e não houve um jogador que tivesse a coragem de pegar no jogo.”
Pelé relembrou que “os jogadores tudo fizeram para dignificar a instituição Casa de Portugal” e que, para o ano, o projecto passa por garantir a subida de volta à Liga de Elite.
Chao Pak Kei apanha Monte Carlo
Com o terceiro lugar isolado à sua mercê, o Monte Carlo não conseguiu levar de vencida a única equipa que, ainda assim, poderia roubar a tão desejada medalha de bronze.
Algo nervosos, os canarinhos viram-se chegados ao intervalo a perder por 1-0. Numa primeira parte equilibrada, coube ao Chao Pak Kei a única oportunidade de se adiantar no marcador com um golo marcado pelo brasileiro Diego patriota, aos 24 minutos.
Na segunda parte, mais do mesmo, mas com o CPK a mostrar maior ascendente. O Monte Carlo tinha os seus melhores jogadores em campo mas nem isso chegou para inverter o decurso dos acontecimentos. Aos 62, através da marcação de uma grande penalidade, e aos 76 minutos, o CPK voltaria a marcar por intermédio de Patriota que acabou a fazer um ‘hat-trick’. O Monte Carlo apenas conseguiu reduzir a vantagem aos 57 minutos, através do inevitável Thiago Silva, mas o golo mostrou-se insuficiente para, sequer, empatar o jogo, resultado que já permitiria ao Monte Carlo ficar no terceiro lugar destacado.
No final sorriu o Chao Pak Kei, que acabou por ver premiado um campeonato interessante e que promete, no futuro, outros voos.
Ka I e Sporting a cumprir
Se houve dois jogos que apenas permitiram cumprir calendário, eles foram o embate entre Polícia e Ka I, bem como o Sub-23 vs. Sporting.
No primeiro jogo, venceu o Ka I sem grandes dificuldades. Ainda com a ténue esperança de chegar ao primeiro lugar, os comandados por Josecler Filho mostram-se competentes e, sem grandes hipóteses para a Polícia, marcaram três golos aos 4, 6 e 62 minutos por, respectivamente, Ricardo Torrão, Roni e Milton. A Polícia fez o gosto ao pé, já no final, através de Leong Chan Pong.
No outro jogo para cumprir calendário, o Sporting, já em ritmo de férias e sem Bruno Brito, venceu por 2-0 os condenados Sub-23. Os golos surgiram em ambas as partes do encontro, aos 22 minutos através de Alex Sampaio – médio defensivo que se tem demonstrado goleador – e, aos 67 minutos, por intermédio de Ieong Ka Hong.
[dropcap type=”circle”]O[/dropcap]deputado pró-democracia de Hong Kong, Ronny Tong Ka-wah anunciou ontem que vai abandonar o Conselho Legislativo, na sequência do chumbo do pacote de reforma política, na quinta-feira.
“Gostava de aproveitar esta oportunidade para pedir desculpa às pessoas que me apoiaram. Não consegui quase nada, apesar de ter empenhado todos os meus esforços nos últimos 11 anos”, disse o deputado, citado pelo jornal South China Morning Post.
“Entreguei a minha carta de demissão ao presidente do LegCo [Conselho Legislativo] Jasper Tsang Yok-sing às 8:30. A minha demissão terá efeito a 1 de Outubro”, declarou.
Tong disse considerar inapropriado manter o seu assento no órgão legislativo local já que foi eleito como membro do Partido Cívico, de que foi co-fundador mas com o qual entrou em conflito e que também vai abandonar.
“Espero que haja um partido político em Hong Kong que represente a visão das pessoas do meio-termo. Adoptar uma abordagem de meio-termo não significa que se desistiu da luta pela democracia ou que se está a ser subserviente ao Governo central (chinês)”, disse.
[dropcap type=”circle”]O[/dropcap]economista Albano Martins está confiante no “potencial de lucro” do aumento da taxa de rentabilidade da reserva financeira a 5%, mas adverte que tal poderá não durar até final do ano, hora de tirar teimas
Albano Martins adverte que há que ter atenção quando se fala no aumento da taxa de rentabilidade da reserva financeira local, pois pode significar apenas um “potencial de lucro” e não efectivo. De acordo com o Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, a reserva financeira teve lucros na ordem dos 6,9 mil milhões de patacas, assim representando uma taxa de rentabilidade de 5% só entre Janeiro e Maio deste ano. Se é verdade que há factores positivos, o economista pede atenção.
“É uma percentagem relativamente boa, comparando com o passado histórico de Macau, em que a rentabilidade era às vezes de menos de 1%”, começou por dizer Albano Martins ao HM. A Autoridade Monetária de Macau (AMCM) tem vindo a ser, desde a criação da reserva – em 2012 – criticada pela falta de ousadia nos investimentos feitos, tendo a taxa de lucro ficado sempre abaixo dos 3%.
Ao HM, o economista disse ainda que embora se tenha verificado um aumento de 2% relativamente a 2013, deve esperar-se pelo prazo final das aplicações de investimento para saber se o aumento representa um lucro real. “[Este aumento não significa] que Macau não esteja a perder dinheiro em termos reais, porque a taxa de inflação é superior, o que implica que até ao final do ano o valor real da reserva tem menos poder de compra do que no início do ano”, explicou.
O que importa, para o economista, são os valores alcançados no final de cada ano ou do prazo das aplicações que a AMCM faz. “O que isto pode querer dizer é que há hoje um resultado positivo, mas é preciso chegar-se ao final da aplicação”, adverte.
Dos números
Criada em 2012, a reserva financeira de Macau é composta por reserva básica e reserva extraordinária. A primeira é equivalente a 150% da totalidade das dotações da despesa dos serviços centrais, constante do último orçamento aprovado pela Assembleia Legislativa, enquanto a reserva extraordinária equivale aos saldos remanescentes após a satisfação da reserva básica. No final de Maio, a reserva financeira de Macau tinha um total de 349,6 milhões de patacas, dos quais 134,3 milhões de patacas ou 38,4% dos activos estavam alocados na reserva básica e 215,3 milhões de patacas ou 61,6% na reserva extraordinária. Segundo a AMCM, os lucros decorrentes dos investimentos da reserva financeira têm vindo a crescer desde a sua criação: “No primeiro ano, a rentabilidade manteve-se no nível de cerca de 1,6%, enquanto em 2013 subiu para 3% em resultado da extensão do leque dos produtos de investimentos, e em 2014 a taxa de retorno situou-se em 2%, com lucros de cerca de 4670 milhões”.
A RAEM aplica as disponibilidades da reserva financeira em depósitos, em investimentos em títulos, em divisas, e em investimentos associados a acções. Entre Janeiro e Maio deste ano, os investimentos em títulos registaram 2165 milhões de patacas quando nos 12 meses de 2014 foram 3.652,2 milhões de patacas e os investimentos em acções até ao quinto mês deste ano geraram 3.296 milhões de patacas acima dos 1.412,6 milhões de patacas atingidos no ano passado.
Por outro lado, verifica-se ainda que as perdas nas aplicações em divisas são muito menores: de 3.139,2 milhões de patacas em 2014 passaram a 16,1 milhões de patacas entre Janeiro e Maio deste ano. Recorde-se que o Secretário Lionel Leong vai à AL apresentar explicações sobre os investimentos de Macau através da reserva financeira, algo que poderá vir a ser feito por Guangdong, conforme avançado nas Linhas de Acção Governativa.
[dropcap type=”circle”]C[/dropcap]ausa alguma perplexidade que nesta página apenas existam quatro crónicas sobre Fassbinder. Este é um daqueles realizadores, como Imamura, Pasolini, Satyajiy Ray ou Bergman, cuja carreira é um paradigma, uma referência constante, pelas suas temáticas, pelo seu lugar na história e pela sua estética.
Não é possível passar-se sem o seu cinema pois este é um exercício imprescindível. Fassbinder fez filmes e encenou peças de teatro como quem respira, com uma urgência difícil de encontrar noutros autores, e a sua morte violenta só vem coroar, como se se tratasse de uma encenação, esta imensa e brutal performance artística que foi toda a sua vida.*
A propósito de Katerina Izmailova, de Mikhail Shapiro, que mostra uma história de aborrecimento, adultério e morte, lembrei-me de um dos seus filmes mais excêntricos, Fontane Effi Briest. É-o a vários títulos. Por ser a preto e branco, por ser um filme de época, por ter tido um período de rodagem anormalmente longo para o hábito de Fassbinder, por ter sido um enorme sucesso comercial já em 1974, porque tem uma voz inolvidável e uma linguagem própria.
Muito do cinema de Fassbinder é desconjuntado e brutal, resultado da sua enorme vontade de mostrar e de contar, vítima das suas grandes contradições pessoais e da avassaladora paixão que colocava em tudo o que fazia, nos seus filmes ou nas peças de teatro em cuja montagem (cerca de 30) se viu envolvido, e/ou, provavelmente – por muito que me custe incluir pormenores biográficos nestas considerações – como espelho das condições caóticas em que viveu durante os primeiros anos da sua vida.
Effi Briest tem, no entanto, um aspecto muito trabalhado, sem improvisos. Cada plano parece pensado com minúcia e não há um objecto (e há muitos objectos, esculturas provincianas) fora de lugar e gosto de pensar que Fassbinder terá dispendido um grande esforço para manter esta limpeza de aspecto e esta falta de naturalismo, uma falta que, mais tarde, de um modo muito diferente, encontraremos nos seus últimos filmes (incluindo Berlin Alexanderplatz).
O que teria sido a sua carreira após o estilizadíssimo Querelle?
Poucos têm o aspecto ritualístico e estático que Effi Briest, um que a existência de intertítulos que anunciam as suas várias partes mantém. Este filme sobre o livro de Fontane parece ir contra a ideia de que toda a sua obra é espontânea e física, e essa será uma das suas atracções.
É uma atracção que nasce da sua fidelidade ao livro de Theodor Fontane. Este é mais um livro em filme que um filme feito a partir de um livro e traz consigo uma curiosidade. O seu título vem acompanhado de um longo subtítulo. Em tradução minha, (Fontane Effi Briest) ou Muitos, que têm uma noção das suas possibilidades e necessidades e, no entanto, através dos seus comportamentos aceitam a ordem estabelecida e acabam assim por a fortalecer e defender.
A maneira como o realizador nos mostra a língua contribui muito para criar esta impressão dramática. Por vezes parece que as falas não vêm directamente das personagens mas que o seu corpo é um modelo para uma voz que vem de outro lugar, mais profundo e mais misterioso. Isto é porque as vozes de alguns dos actores foram dobradas e colocadas em cima de figuras diferentes. A voz de Irma Hermann, por exemplo, é a de Margit Carstensen, e a figura de Hark Bohm tem voz de Kurt Raab. Estas são, afinal, as vozes directas de Fontane.
Manoel de Oliveira fez coisas parecidas, com graus diferentes de sucesso, mas em 1972-74 ia ainda em Benilde ou a Virgem Mãe. Não escondo que o que mais me atrai em Effi Briest, como em muito cinema alemão, especialmente o de Werner Schroeter, pode ser a sua voz.
Este desfasamento (que é muito normal em Fassbinder a um outro nível, ao nível do desfasamento entre a música e a acção**) tem uma sedutora companhia no desfasamento – na desconstrução – que se faz através do uso de um outro costume seu, o da inclusão de jogos de espelhos e planos em que as personagens estão meio escondidas por portas ou outros lugares de passagem que as cortam ou apenas semi-revelam. Até na depurada cena do duelo entre Innstetten e Crampas se interpõe uma rede de pesca que a torna ainda mais inacessível. Em Effi Briest existe uma inacessibilidade às personagens que é contrária à violência expositiva de muitas de muitos dos seus filmes.
(Infelizmente, há muitos anos que não consigo ver um favorito filme feito para televisão em 1973, Nora Helmer, baseado em A Doll’s House, de Ibsen, em que, se me não falha a memória, se faz uso intenso destes artifícios especulares).
Outra atracção ainda de Effi Briest consistirá na tentação de pensar (mas a sua impossibilidade é dolorosa) que Fassbinder se afastara por um momento (lembremos que Nora Helmer, um filme de época feito para televisão é de 1974) da exposição das profundas feridas da sociedade alemã do pós-guerra que percorrem grande parte da sua obra.
Os seus filmes, sendo extremamente humanos e muito intensos emocionalmente, obrigam o espectador a pensar na técnica, na montagem, nas imensas escolhas que é preciso fazer a nível da montagem (ou não), da iluminação ou da direcção de actores, obrigam a pensar na construção e no tempo. No fundo, obrigam a pensar no cinema.
Fontane Effi Briest é um dos seus filmes de mulheres, como Die bitteren Tränen der Petra von Kant, Lola, Die Ehe der Maria Braun, Die Sehnsucht der Veronica Voss, Martha, Nora Helmer, Mutter Küsters fahrt zum Himmel, Lili Marleen, para citar apenas aqueles em que no título figura um nome de mulher. Outros há em que o título não trai esta importância. Só um perfeito bruto poderá continuar a pensar que Fassbinder tratou mal, nos seus filmes, as imensas mulheres com que trabalhou quando é claríssimo que elas são neles muito mais importantes e interessantes que os homens.
No livro de Christian Braad Thomsen, Fassbinder, the life and work of a provocative genius, este agrupa, num capítulo chamado “Filmes de Mulheres”, Martha, o incómodo Angst Essen seele auf/O medo come a alma e Fontane Effi Briest.
Neste demonstra-se o poder da imagem do amor e a necessidade de rejeitar as convenções sociais. No entanto, o que permanece, no fim, é um lodo de que é difícil sair-se, a resignação doentia e fraca que o longo título anuncia e cuja ideia a mãe (que é interpretada pela mãe de Fassbinder) ajuda a perpetuar mais do que qualquer outra personagem: a de que vida em sociedade obriga ao cumprimento de reparações que pouco têm que ver como amor.
É interessante que as cenas dedicadas ao adultério, ou ao encantamento da bela Effi, são quase inexistentes, ao contrário das considerações do Barão Geert von Innstetten sobre as consequências da sua revelação – o formidável diálogo com Wüllersdorf em que se mostra, paralelamente, uma acção cujo desenlace funesto se torna mais evidente de minuto a minuto.
Nele se inscreve outro movimento circular, alucinante e a que não se pode fugir, o da necessidade de denunciar os podres de uma sociedade onde, no entanto, se busca um constante reconhecimento – uma das doenças do seu autor total Fontane/Fassbinder.
Não se deve esquecer que Fassbinder foi um realizador de mulheres mas também um realizador (e encenador) de actrizes de muitos tipos: Schygulla, Sukowa, Zech (que constam de uma crónica anterior, apenas a elas dedicada), Irm Hermann, Ingrid Caven, Margit Carstensen ou a sua mãe, Liselotte Eder.
Nelas ele encontra um misto difícil de reproduzir entre a naturalidade (por vezes distanciamento) e um glamour do cinema que reproduz o modo como a sua actividade profissional e a sua vida privada estavam intimamente ligadas. Como ao mesmo tempo as suas actrizes são banais e estrelas de cinema é um acontecimento que se dá a cada momento.
*São 33 longas metragens para cinema e televisão, 4 séries de televisão e 4 vídeos longas metragens num espaço de 13 anos. Junte-se-lhe o teatro, 30 peças para palco e 4 para a rádio. Foi actor em muitos dos seus filmes e em 13 filmes de outros autores. Também produziu filmes próprios e de outros e montou vários dos seus. Foi até operador de câmara de um dos seus filmes (cf. o livro de Braad Thomsen pág. 8).
Um dos filmes, Ich will doch mur, dass Ihr mich liebt/I Only Want You to Love Me, fala sobre a sua obsessão com o trabalho.
** cf. especialmente o capítulo 2 (Fassbinder e a música de Peer Raben) mas também 5 e 6 de 2004, Flinn, Caryl, The New German Cinema. Music, History, and the Matter of Style.
O caso de maus tratos a uma idosa está a ser investigado pela PSP e sabe-se que a agressora tem a seu cargo o pai e um irmão com deficiência mental. Apesar de realçar que as pessoas que lidam com este tipo de casos não têm, muitas vezes, apoio, Cecília Ho, da Coligação Anti-Violência Doméstica fala em mais casos do género que não são reportados
[dropcap type=”circle”]A[/dropcap]Polícia de Segurança Pública (PSP) está a investigar o caso de agressão a uma idosa, que aconteceu no domingo na zona norte. Em causa, está uma mulher de idade que se encontra numa cadeira de rodas e que terá sido agredida alegadamente pela filha, numa acção que foi filmada e cujo vídeo circula na internet.
Ontem, em conferência de imprensa, o Instituto de Acção Social (IAS) anunciou que a idosa foi admitida num lar, mas este não será o único caso no território.
A Coligação Anti-Violência Doméstica de Macau manifestou-se ontem preocupada com a agressão contra idosos, dizendo que muitos casos não são denunciados.
Para Cecilia Ho, que lidera a Coligação, o mais importante é perceber os motivos por detrás destas agressões. “Não há serviços de apoio suficientes para os cuidadores como esta filha, que está sob uma grande pressão. Na maioria dos casos, são as mulheres que arcam com estas situações”.
Alerta na rede
Na situação que ocorreu neste fim-de-semana, foi o circular do vídeo nas redes sociais que deu o alerta às autoridades. Contudo, Cecília Ho alerta que “a maioria dos casos não é reportado, já são agressões escondidas”. Os cuidadores, diz a activista, “não sabem como pedir ajuda” e a comunidade em geral desconhece que estas agressões são crime público e podem ser reportadas à polícia.
As autoridades policiais, entretanto, conseguiram localizar a idosa, que acabou por ser levada para o hospital para tratamento.
A PSP diz que vai entregar o caso ao Ministério Público no final da investigação. A PSP conseguiu identificar a mulher e contactá-la, avisando, ao mesmo tempo, o IAS.
O IAS apela a testemunhas do incidente que liguem para a linha aberta para fornecerem mais informações e explicou que a idosa foi, ontem de manhã, admitida num lar, que será pago pelo organismo. De acordo com a Rádio Macau, a agressora terá também a seu cargo o pai doente e um irmão com deficiência mental, tendo sido obrigada a deixar o emprego para cuidar destes. O IAS considera, por isso, que a mulher estava “sob imensa pressão psicológica para apoiar a família” e que foi “por isso que maltratou a mãe”, segundo Au Chi Keung, chefe do Departamento de Família e Comunidade.
Apesar de o IAS só ter registado sete casos semelhantes a este desde 2012, de agressão contra idosos, Cecilia Ho garante que são situações “muito comuns”, até porque a maioria dos idosos está ao cuidado da família.
“Muitos voluntários da coligação têm tido conhecimento de abusos contra idosos, a maioria com doenças crónicas. Temos de apoiar mais os cuidadores, financeira e psicologicamente, e a comunidade tem de saber que pode ir à polícia”, conclui.
Decorre hoje o acto público para a abertura de propostas para as 200 novas licenças de táxi. O Governo recebeu um total de 643 propostas, número inferior a anos anteriores. Já está a ser pensado um novo plano para mais alvarás
[dropcap type=”circle”]D[/dropcap]ecorre hoje o acto público de abertura das candidaturas à concessão de 200 novos alvarás de táxi. Segundo a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), foram recebidas 643 propostas, as quais serão tornadas públicas hoje numa sessão a decorrer no Instituto Politécnico de Macau (IPM). O prazo para a recepção das propostas terminou no passado dia 18.
As 200 novas licenças de táxi terão a duração de oito anos e o preço base de cada alvará é de 200 mil patacas, incluindo 10% do selo de verba. Para ser admitido ao concurso, cada candidato pagou uma caução de 50 mil patacas. A DSAT esclarece que “a concessão dos alvarás será feita conforme a ordem decrescente do valor dos preços unitários propostos pelos concorrentes e os alvarás não serão atribuídos em grupos como no passado, para que, por esta forma, se possa acelerar o processo da entrada em funcionamento destes novos táxis”.
Recorde-se que o Jornal Tribuna de Macau já noticiou a fraca adesão ao processo, sendo que em 2013 um total de 120 candidaturas chegaram à DSAT, também para 200 alvarás. Em declarações ao JTM, Tony Kuok, presidente da Associação de Mútuo Auxílio de Condutores de Táxi, explicou que “os investidores têm receios devido às incertezas económicas e, por outro lado, as rendas do aluguer das viaturas envolvem montantes elevados, sem esquecer que faltam profissionais para conduzir os táxis”.
Tony Kuok frisou a descida de rendimentos dos taxistas na ordem dos 20% devido à quebra das receitas do Jogo e ao abrandamento da economia, lembrando que nos próximos tempos poderá ocorrer a fuga de condutores de táxis para outros sectores económicos, que ofereçam melhores salários. O mesmo responsável garante que o preço proposto para este concurso não deverá ultrapassar um milhão de patacas, valor atingido em 2013.
Mais táxis a caminho
Findo este concurso, a DSAT garante que vai arrancar com um novo concurso para a atribuição de mais licenças. “Visto que, durante o corrente ano e o próximo 230 alvarás de licença de táxis terão o seu prazo de validade terminado, o Governo está actualmente empenhado na preparação e execução de um plano de atribuição de novos alvarás de táxis, visando a manutenção do serviço de táxis”, lê-se no comunicado. A DSAT considera ainda que “na sequência do rápido desenvolvimento da sociedade de Macau, tem-se observado um crescente acréscimo da procura pelo serviço de táxis”.
[dropcap type=”circle”]O[/dropcap]Chefe do Executivo dirige-se esta quinta-feira à cidade de Jiangmen, na província de Guangdong, por forma a participar na edição deste ano da Conferência de Cooperação Conjunta Guangdong-Macau. O encontro deverá servir para fazer um balanço sobre os resultados alcançados ao longo do ano passado e estudar temas como a intensificação da liberalização de serviços e negócios entre as duas regiões, o impulsionamento da criação da zona experimental de comércio livre de Guangdong e a implementação das prioridades para o ano de 2015 no âmbito do Acordo-Quadro de Cooperação entre Guangdong e Macau. Para além disso, deverá ser debatida a promoção da ilha da Montanha, de Nansha, de Cuiheng e da baía de Daguang em Jiangmen “como plataformas principais para a diversificação adequada da economia de Macau, bem como o projecto do novo acesso entre as fronteiras de Guangdong e Macau”.
Segundo um comunicado oficial, “vai estar ainda em debate o reforço constante da cooperação bilateral na área do turismo de barcos de recreio, protecção ambiental, saúde, cultura, bem como o início da cooperação na área laboral, segurança social e outros domínios ligados à vida da população”.
A Conferência de Cooperação Conjunta Guangdong-Macau vai ainda servir para a assinatura de “vários protocolos de cooperação”. Chui Sai On faz-se acompanhar por Lionel Leong, Secretário para a Economia e Finanças, “vários governantes” do Executivo e ainda O Lam, chefe do seu gabinete.
“Pela primeira vez a China acreditou que podia mudar o curso do Yangtzé. Mudar o velho rio que se agarra a uma lua velha. Mudar regras arcaicas que não são melhor nem pior mas exactamente o mesmo. A mesma crueldade, a mesma dureza inquestionável contra as suas gentes e a raça humana.” em “The Night That Hides Things From Us” um conto de Julie O’Yang*
[dropcap type=”circle”]T[/dropcap]odos fazemos asneiras, umas mais graves outras menos. Mas nem todos nós somos capazes de pedir desculpa. Por orgulho ou por medo. Ou ambos. Medo de parecermos fracos, medo de darmos munições ao outro lado, medo de mancharmos a reputação, medo do embaraço, medo de sermos mal interpretados… Medo, medo, medo!… Mas quando passamos do nível pessoal para o dos Estados esses medos ganham ainda mais peso. O que, apesar de normal, ou corriqueiro, deve ser entendido como um supremo ridículo.
O dia 4 de Junho de 1989 é uma das piores recordações destes meus quase 50 anos. Muita coisa me impressionou na vida, várias mortes chorei, diversos acontecimentos me chocaram mas o que se passou em Tiananmen naquele fatídico dia de Verão está lá bem em cima no rol dos horrores. Talvez porque fosse novo, talvez porque fosse jornalista e portanto muito mais próximo da notícia, talvez… Certamente porque foi um evento infernal para o qual nenhuma palavra parecia servir para descrever o terror que nos assaltava. Lembro-me de estarmos na redacção transidos com as imagens que nos chegavam no feed internacional. Aquela imagem do Jeff Weidener, agora icónica, do até hoje incógnito indivíduo que resolveu enfrentar os tanques com dois sacos de compras na mão – a irredutibilidade chinesa perante a magnitude avassaladora do inevitável, a coragem quase irracional de um simples indivíduo que na sua alma sonhava deter sozinho um dos piores episódios da história humana, manteve-nos num suspense brutal, com uma vontade enorme de estar lá para o ajudar. A “Cortina de Ferro” tinha praticamente acabado de cair na altura e, como sempre que algo dessa magnitude acontece, viviam-se momentos de optimismo no mundo. Por isso também nós, naquela redacção, partilhávamos da ingenuidade do homem da camisa branca, acreditando piamente que Praga não iria ser revisitada naquele dia. Mas foi… O impossível tornou-se possível à frente dos nossos olhos. O horror instalou-se. Até hoje. Ler histórias que incluam os acontecimentos de Tiananmen ainda agora me causam dor. A dor do “podia ter sido diferente”, a dor de amores despedaçados, de jovens com as suas vidas terminadas daquela forma abrupta e brutal. A dor das rajadas de metralhadora sobre putos que sonhavam. “Vivia-se um clima de festa”, recordou mais tarde Cui Jian, “Quando subi ao palco senti que tinha chegado a uma grande festa”, disse. Na redacção havia quem chorasse, o ambiente geral era de incredulidade e revolta e esses sentimentos estão tão presentes hoje como há 26 anos atrás. Não consigo evitar um arrepio ao revisitá-los na memória. Foi mau demais e não está resolvido. Ainda a semana passada o Hoje Macau noticiava que o último preso do conflito, Miao Deshu, só talvez seja libertado no próximo ano. Foi preso com 25 anos, alegadamente por ter arremessado um contentor contra um tanque. David contra Golias.
Sabemos que a China de hoje não é a China de 1989. Sabemos também que a China de hoje pretende afirmar-se no plano internacional como um país moderno, justo e equilibrado. De um ponto de vista clássico, pedir desculpa pelo sucedido surgirá aos olhos do poder chinês como uma fraqueza insuportável, como o entreabrir de uma porta que tanto temem, ou seja, a do regresso dos protestos de há 26 anos especialmente agora com o que vai observando em Hong Kong e com o que sabe passar-se em casa. Mas o método da avestruz não resolve nada, a desculpa, essa sim, liberta. A capacidade de pedir desculpa é fundamental se pretendermos manter relações saudáveis. Neste caso com o seu próprio povo e com o resto do mundo. Numa relação entre um estado e a sua população, tal como ao nível pessoal, a noção de que o outro lado não está disposto a assumir as suas próprias culpas gera apenas desconfianças e más-vontades. Podemos sempre dizer que o governo chinês quis manter a ordem pública, mas a desproporcionalidade dos meios empregues e a forma como o foram matando milhares de jovens que apenas ousaram sonhar com um mundo novo, como um dia Mao Zedong ou Sun Yat Sen também o fizeram, foi tão díspar que esse argumento não pega. Nem aqui… nem na China.
É impossível construir uma relação sã de amizade com esqueletos no armário – caso contrário, porque insiste tanto a China nas desculpas (justificadas) do Japão pelos crimes da Segunda Guerra Mundial? Apenas para enfraquecer o Estado nipónico ridicularizando-o ou para cimentar um clima de paz e boas relações? Eu prefiro acreditar na segunda possibilidade.Por isso, a ideia que fica desta crispação do Governo chinês em relação a Tiananmen é a de que espera que o milagre do tempo faça desaparecer a memória. Mas isso seria uma ingenuidade e um Estado não se compadece com ingenuidades porque, mais tarde ou mais cedo, os esqueletos saltam do armário e, quando assim é, e a China já o viu por demasiadas vezes, eles vêm vingativos. Mais vale desmantelá-los e enterrá-los enquanto é tempo. Tínhamos todos a ganhar, na China e no resto do mundo porque uma das melhores formas de liderar é pelo exemplo e se o governo chinês conseguir de uma vez por todas encarar de frente a triste história de Tiananmen, o exemplo que dará ao país e ao mundo terá, certamente, um eco positivo muito superior ao silêncio ensurdecedor do momento que apenas serve para dar vida a esses tenebrosos esqueletos que se vão acotovelando no armário com os da Revolução Cultural. A China de hoje pede aos seus cidadãos que sonhem, mas nenhum sonho será suficientemente grandioso enquanto este pesadelo não estiver resolvido e o mundo precisa de uma China que sonhe e seja capaz de iluminar um futuro melhor para todos.
[dropcap type=”circle”]O[/dropcap] Secretário para a Economia e Finanças garantiu aos jornalistas que o Executivo vai mesmo implementar medidas de controlo do erário público caso as receitas do Jogo fiquem abaixo do limite pensado. Segundo um comunicado, Lionel Leong referiu que “o Governo já definiu um limite e, caso a receita seja inferior, serão tomadas imediatamente medidas de austeridade”, sendo que além de “se usar o dinheiro de forma cautelosa, será também prestada atenção ao ambiente e situação dos outros sectores”. Lionel Leong confirma que “os serviços públicos relacionados com a vida da população, regalias sociais, obras públicas e comparticipação pecuniária não serão afectados” e desdramatiza a quebra das receitas do Jogo, referindo que “conforme as experiências dos anos anteriores, mesmo que haja uma subida das receitas brutas, o mês de Junho apresenta todos os anos uma descida dentro dos 20%”.
Confiança no futuro
Já o Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, referiu à imprensa, à margem de um evento público, “que os benefícios sociais dos residentes disponibilizados pela sua tutela não serão reduzidos” e que, caso sejam reduzidas as despesas financeiras, “serão primeiro adoptadas as medidas necessárias dentro dos serviços da Administração Pública”. O Secretário garantiu ainda que os residentes não devem estar preocupados com os benefícios sociais, até porque as finanças do Governo são ainda estáveis, “sendo normal uma redução momentânea das despesas”.
Alexis Tam confirmou que já deu instruções a todos os serviços sob a sua tutela para reduzir as despesas, como por exemplo diminuindo ou cancelando visitas ao exterior, “bem como outras actividades desnecessárias”.
O governante considera que a economia de Macau mostra boas perspectivas, tendo em conta que o mercado do turismo é muito forte, sendo que caso se verifique uma descida económica de curto prazo, “[Alexis Tam] e a sua equipa irão reforçar a promoção turística no interior da China e no exterior, procurando o apoio do Governo Central, fazendo o possível para atrair mais turistas de qualidade”. Tam está confiante que consegue enfrentar os desafios surgidos no desenvolvimento económico, aponta o mesmo comunicado.
[dropcap]E[/dropcap]nquanto os Estados Unidos da América (EUA) têm desempenhado, nalguns casos com particular desvelo, o papel de polícia do mundo, a França, por seu lado, tem-se mostrado muito confortável no fato de gendarme do continente africano. Os casos de intervenção das forças armadas francesas sucederam-se durante o século XX. Este novo milénio tem mostrado a mesma tendência. Embora com o Presidente Jacques Chirac, na sequência do papel desastroso desempenhado pela França no Ruanda, tenha parecido que os franceses se estavam a afastar de África, as recentes intervenções autorizadas por Hollande, na República Centro-Africana e no Mali, reforçaram esse papel de polícia do continente africano.
Ao contrário de Portugal, que fez a descolonização pela batuta do processo revolucionário em curso, com um resultado final que pode ser resumido pela ideia de uma debandada institucional generalizada – afinal, Portugal combatia os movimentos de libertação nacional em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique e estava à beira de uma guerra civil –, as circunstâncias da continuidade da ligação militar de Paris com as suas antigas colónias são diferentes. Acima de tudo – e esta é a principal diferença – a França procurou continuar a ligação orgânica com as colónias e tratou de garantir que os novos regimes africanos a aceitavam como o mais relevante parceiro – senão o único – no sector estratégico da cooperação e assistência técnica militares. Em troca, Paris requeria apoio nas votações nas Nações Unidas. Simples, bonito e eficaz
Na verdade, essa proximidade não foi muito difícil de estabelecer. Como no caso das antigas colónias portuguesas, a maioria dos líderes políticos que saíram dos processos de independência tinham grandes proximidades com o antigo poder colonial – ou haviam estudado na “metrópole” ou tinham até tido papéis de destaque no aparelho colonial. Criaram-se pois redes de contactos mais ou menos informais que tiveram em Jacques Foccart, assessor do Presidente Charles de Gaulle e responsável pela célula africana dos serviços secretos, o principal impulsionador desta relação privilegiada. Esta relação de proximidade adquiriu um nome próprio: “Françafrique”, que chegou aos dias de hoje e que expressa uma certa intimidade entre as elites africanas e o poder em França traduzida, na prática, pela manutenção de generosos orçamentos da Europa para o continente africano. Quem o inventou foi o primeiro presidente da Costa do Marfim, Félix Houphouet-Boigny, logo em 1973.
Passados mais de 40 anos, a relação de proximidade com a África sub-sahariana mantém-se. Num recente artigo para a Political Science Quarterly, a revista académica publicada pela Academia de Ciência Política de Nova Iorque, o investigador francês Victor-Manuel Vallin faz o balanço desta relação especial. A França mantém acordos de cooperação militar com oito países africanos, alguns da sua esfera de influência tradicional (como são os casos do Senegal, Costa do Marfim, Benim, Camarões, Gabão, Republica Centro-Africana, Comoros) e outros mais recentes, mas com uma importância geo-estratégica capital (como é o caso do Djibuti, país onde a França instalou uma das suas maiores bases militares em África e onde, além dos EUA, está presente o Japão que, em 2011, estabeleceu ali a sua primeira base militar no estrangeiro desde o final da II Guerra Mundial).
Estes acordos de defesa implicam nalguns casos a manutenção de uma presença militar no país. A França tem bases no Senegal, Mauritânia, Mali, Burkina Faso, Costa do Marfim, Níger, Chade, Gabão, Republica Centro-Africana e Djibuti. Estas têm como principal objectivo contribuir para a manutenção da ordem pública – leia-se o status quo, que a alteração de regime pode sempre pôr em risco os interesses nacionais. Mas Paris mantém também nestes países um número considerável de assessores (e não apenas nos Ministérios da Defesa), que aconselham as autoridades na definição das diferentes políticas. Durante a minha estada na República Centro-Africana, por exemplo, conheci vários destes assessores que tinham acesso privilegiado ao ouvido dos respectivos ministros. Estes assessores constituem uma fonte considerável de informação sobre a situação do país, o que dá à França a upper hand em termos de conhecimento rigoroso do que se passa de um ponto de vista politico e militar, que faz dela um caso único, por exemplo na África Central. Esta proximidade levou ao estabelecimento de academias militares, em 17(!) países, com as quais a França gasta 10 milhões de euros por ano e nas quais os militares franceses dão formação à futura elite castrense.
Este é um papel decisivo para a afirmação internacional da França. É no continente africano, por exemplo, que a língua francesa tem capacidade de crescimento. Não é em França, na Bélgica ou na Suíça, ou mesmo no Canadá, que o francês pode sonhar de novo em desempenhar um papel de destaque na política internacional, como tinha no início do Século XX, em que era, ainda, a língua da diplomacia internacional, um papel que desempenhou em regime de monopólio praticamente desde o Século XVII. São agora longínquos os tempos em que os diplomatas britânicos e americanos usavam o francês para vincular a posição dos seus Estados.
Mas França já não está só neste papel de polícia voluntário do continente africano. Há outros actores no continente a ganhar destaque. Desde logo, os EUA. No âmbito da luta contra o terrorismo, Washington aumentou consideravelmente a presença em África, onde criou, em 2007, o Africom, um comando militar dedicado para o continente. Essa vontade de contribuir para a solução dos problemas africanos foi visível, por exemplo, recentemente, quando Obama enviou contingentes militares para a África Ocidental, para ajudar na contenção do vírus do ébola e, anteriormente, havia despachado assessores militares para darem formação, no âmbito da luta contra Joseph Kony e o seu Exército da Libertação do Senhor. Embora os EUA – e a China,que entretanto também reforçou o seu envolvimento com o continente, tendo já assinado acordos de cooperação militar com 15 Estados africanos – sejam os “new comers”, a França mantém-se, hoje em dia, como um parceiro quase único do chamado “mundo ocidental” contra as consequências do extremismo em África. Os números actuais da presença francesa em África não são conhecidos. Mas quando o primeiro-ministro Lionel Jospin, em 2002, deixou o poder após cinco anos de contínua diminuição da presença militar no estrangeiro, continuavam pela África sub-sahariana 5300 operacionais franceses. Este número cresceu, indesmentivelmente, nos últimos anos após as operações na República Centro-Africana e no Mali. E assim se deverá manter nos próximos anos. Como também a tentação de, por vezes, interferir directamente no desenrolar dos acontecimentos nos países onde os interesses e a presença francesa são muito grandes.
[dropcap type=”circle”]”[/dropcap]Apesar de os Governadores de Cantão terem comunicado a Fernão Peres de Andrade, em 1518, que a embaixada fora aceite pela Corte Imperial, Tomé Pires aguardou quinze meses em Cantão” Gonçalo Mesquitela. A razão devia-se a Portugal não pertencer aos países tributários da China e por tal, para ser aceite em Cantão e obter autorização para ir à capital imperial, era necessário encontrar uma solução. Para ultrapassar tais impedimentos, os Governadores de Cantão aceitavam o Embaixador Tomé Pires como sendo oriundo de Malaca. Depois, já em Cantão, Fernão Peres terá ditado uma carta aos intérpretes, que a adaptaram com os termos tradicionais da diplomacia chinesa. Ficavam assim resolvidos os entraves iniciais para a Embaixada ser aceite em Cantão e poder seguir até Pequim.
Fernão Peres de Andrade, antes da partida da sua frota para Portugal, disse aos Governadores de Cantão que, no ano seguinte, outro Capitão português iria com uma armada buscar o Embaixador. Fernão Peres chegou à Índia em finais de 1518 e o novo Governador das Índias, Diogo Lopes de Sequeira, que tomou posse em 27 de Dezembro, nomeou o sobrinho António Correia para ir com uma esquadra à China e trazer de volta Tomé Pires e seus companheiros. Mas o então Capitão do Mar, Simão de Andrade tinha escrito de Malaca em 10 de Agosto de 1518 ao Rei D. Manuel enumerando os bons serviços prestados. Segundo João Paulo Oliveira e Costa, Simão servira “a Coroa na Índia desde 1504, quando acompanhou Duarte Pacheco Pereira na defesa de Cochim contra as investidas do samorim de Calecut. Nos vinte anos que se seguiram, participou na maior parte das campanhas militares que levaram à criação do futuro Estado da Índia. Afonso de Albuquerque, por exemplo, cita-o sempre entre os combatentes mais aguerridos e os conselheiros mais temerários”. Fora um dos heróis da tomada de Malaca em 1511 conjuntamente com o seu irmão Fernão Peres. Pedia ao Rei para ser nomeado para um cargo mais importante. O Rei sabendo já do êxito da visita de Fernão Peres de Andrade à China, acedeu e enviou a Simão de Andrade um alvará autorizando a sua ida como Capitão duma esquadra, quando seu irmão regressasse. Assim, Simão de Andrade com o alvará real foi enviado à China em lugar de António Correia, que parecia um homem muito mais qualificado para tal missão. Esta substituição revelou-se fatal tanto para a Embaixada de Tomé Pires, como foi causadora das desgraças que os portugueses sofreram na China durante os trinta anos seguintes. Contrastando com seu irmão Fernão, Simão de Andrade era homem de pouco tacto, caprichoso, violento, de um espírito conflituoso e muito cioso da sua posição social, características que os cronistas fazem salientar.
Em Abril de 1519 partiu de Cochim para Malaca a esquadra comandada por Simão de Andrade e para além da sua nau, outros juncos acompanhavam-na cujos capitães eram “Jorge Botelho, Álvaro Fuzeiro, Jorge Álvares e Francisco Rodrigues (o cartógrafo),” segundo refere Gonçalo Mesquitela, que continua: “No entanto, Jorge Álvares ficou retido em Malaca por o seu junco ter aberto um veio de água, só conseguindo partir para a China no ano seguinte, com Diogo Couto.” Mas Armando Cortesão diz que à nau de Simão de Andrade só em Malaca se juntaram os três juncos. A pequena frota capitaneada por Simão de Andrade chegou a Tamão (que João de Barros chama Tumon, a actual Lin Tin) em Agosto do mesmo ano e “aí se instalou mas, devido à sua prepotência destruiria o trabalho pacientemente realizado por Fernão Andrade, criando uma situação muito embaraçosa na China para todos os portugueses” Gonçalo Mesquitela.
“Simão de Andrade julgava, não sem razão, que quando chegasse a Tamão acharia Pires já de regresso de Pequim. Em vez disso, verificou que o Embaixador nem sequer tinha ainda partido de Cantão. Pires devia estar muito aborrecido com as insuportáveis demoras chinesas e certamente se queixou ao Capitão português. Acostumado ao prestígio e respeito então desfrutados pelos portugueses no Oriente, (Simão de) Andrade deve ter-se ressentido com tal procedimento, tomando-o como afronta ao brio lusitano. É natural que grande fosse a sua indignação e irritação. Isso, sem dúvida, contribuiu para os lamentáveis desmandos que cometeu – circunstância em que não atentaram tanto os historiadores do passado como os do presente, embora essencial ao juízo deste muitas vezes discutido ponto da história” Armando Cortesão.
Fernão Peres com o Rei D. Manuel
Após ter chegado ao Oriente como um dos Capitães da armada de 1505, Fernão Peres de Andrade, destacou-se nas campanhas contra Mombaça, Calecut, Cochim, Ormuz, Goa e Malaca e ainda, em 1513 na conquista da fortaleza de Upi, na Costa do Malabar, Índia.
Apesar dos seus vinte e seis anos, Fernão Peres era já um veterano da Índia, onde servira a Coroa entre 1505 e 1513, enchendo-se de prestígio, primeiro sob o comando de D. Lourenço de Almeida, depois com D. Francisco de Almeida e por fim sobre a alçada do Governador Afonso de Albuquerque, que o deixou em Malaca como Capitão-mor do mar para defender a cidade recém-conquistada. Fernão regressou a Portugal onde esteve entre o Verão de 1514 e a Primavera de 1515, tendo a oportunidade de explicar ao Rei D. Manuel a importância do mercado chinês. Voltou Peres de novo ao Oriente, agora como comandante dum dos dezassete barcos da esquadra de Lopo Soares de Albergaria com duas missões, a de explorar o Golfo de Bengala (que não teve tempo de realizar) e de se dirigir a Cantão para deixar o Embaixador português, por ele escolhido na Índia, ao Imperador do Celeste Império. Tendo ficado catorze meses na China, aí deixou boas relações e uma boa imagem dos portugueses, causando um excelente efeito os pregões lançados na cidade antes de partir para, se qualquer chinês tivesse recebido agravo de algum português ou algo lhe fosse devido, se lhe queixasse a fim de receber reparação ou pagamento.
Saindo de Tamão em Setembro de 1518, Fernão Peres de Andrade chegou a Malaca onde “foi bem recebido e melhor festejado, assim pela riqueza que trazia a sua armada e provimento de munições de toda a sorte contra o Rei de Bintão. Resolvidas as coisas da guerra contra a sagacidade daquele rei, se partiu Fernão Peres com D. Aleixo de Menezes, capitão daqueles mares, e chegaram ambos a Goa a tempo que já tinha acabado seu governo o Governador Lopo Soares” Gonçalo Mesquitela.
Demorou-se na Índia um ano, partindo em Janeiro de 1520 para Lisboa, onde chegou em Julho. Damião de Góis diz: <por a cidade de Lisboa estar tocada de peste, se foi (Fernão Peres) a Évora, onde então El-Rei estava com a Rainha D. Leonor, sua derradeira mulher, dos quais foi mui bem recebido, e El-Rei lhe perguntava muitas vezes pelas coisas da China, e das outras províncias daquela região, ouvindo-as com muito gosto, porque de seu natural era curioso de saber o que passava pelo mundo, para disso tomar o que mais cumprisse ao governo de seu Estado, Reinos e Senhorios>. “Isto mostra o interesse que as minuciosas notícias da China – trazidas directamente por Andrade e seus companheiros – despertaram em Portugal e explica como os cronistas tiveram tanto material para as suas extensas descrições de Cantão, chegada de Pires e tudo o que se passou com Andrade e a sua esquadra” A Cortesão. E João Oliveira e Costa refere: “O sucesso da viagem de Fernão Peres de Andrade entusiasmou, certamente, D. Manuel I. O monarca via, assim, coroados de êxito os esforços de mais de uma década, para levar os seus súbditos até aos limites do espaço que lhe cabia segundo o tratado de Tordesilhas.
A partir de 1519, o rei promoveu um novo surto expansionista no Oriente, a que não escapou a China; convicto de que se conseguiria estabelecer um acordo com os chineses, D. Manuel concebeu para o mar da China o mesmo modelo de fixação que já resultara noutras regiões do Oriente.”…”estabelecimento de uma feitoria no Celeste Império, criação de uma armada da China e de outra para fazer a viagem entre Samatra e Cantão, construção de navios e de uma fortaleza na própria China.”
A razão da demora
Simão de Andrade chegou a Tamão em 1519, para recolher de volta a Embaixada, mas Tomé Pires ainda se encontrava em Cantão. Segundo a leitura de Wu Zhiliang, após consultar um documento coreano, a morosidade burocrática de três anos do Tribunal dos Ritos, cujo responsável era natural de Cantão e hostil aos portugueses, foi propositada. Uma das razões foram as palavras irreverentes sobre a pousada oficial que os portugueses acharam pouco digna para albergar a embaixada, o que deixou o Tribunal dos Ritos ofendido e por isso, atrasou o despacho para a sua recepção.
Referindo-se às demoras impostas a Tomé Pires e sua Embaixada, João de Barros comenta: <É tanta a majestade deste Príncipe (o Rei da China), e os negócios desta qualidade são tão vagarosos, principalmente quando gente estrangeira há-de ir a ele, por tudo ser resguardos, e cautelas, que há mister muita paciência quem houver de esperar seus vagares>. Paciência não era a principal virtude de Simão de Andrade, e ele cometeu vários actos que as autoridades chinesas consideraram que infringiam as suas leis, tais como a construção dum forte de pedra e madeira em Tamão, sob pretexto de defesa contra os piratas, e o levantamento duma forca em que um marinheiro foi executado.
Sobre o comportamento bárbaro de Simão de Andrade pesavam, a construção de uma fortaleza sem qualquer permissão da parte chinesa, ter roubado os mercadores que foi encontrando, ter matado um marinheiro e raptado crianças. Tais acções levaram os chineses a ficarem alarmados, tanto com a força das armas, como com o carácter velhaco dos portugueses e por isso passaram a olhá-los como “fan kwei” (em mandarim feng gui 疯鬼) – diabos estrangeiros. Não sabemos se estes e outros actos mais repreensíveis foram praticados antes de Pires ter partido de Cantão, mas sem dúvida tiveram a mais desastrosa repercussão em acontecimentos futuros.
Viagem até Nanjing
A embaixada de Tomé Pires só em 23 de Janeiro de 1520 iniciou a viagem até Beijing (北京, Pequim). No entanto, a meio caminho, em Nanjing (南京, conhecida pelos portugueses por Nanquim) encontraram-se com o Imperador, nessa altura Zhengde (1505-21).
De Cantão, Tomé Pires e o seu séquito partiram rio acima em três galés chinesas movidas a remos “com toldos de seda e desfraldando bandeiras portuguesas” segundo A. Cortesão, mas Rui Loureiro diz serem as bandeiras da Embaixada imperiais e representavam um dragão, que João de Barros chama “um leão rompente”. Continuando com A. Cortesão: “Ao chegarem ao sopé da serrania Norte da província de Kuantung (Guangdong), deixaram as galés e seguiram em liteiras, a cavalo e a pé, através do Passo de Meiling (Meiguan, 梅岭关), provavelmente de Nanhsiung (Nanxiong南雄) para Nan’an (南安).”
Segundo Rui Loureiro: “a missão portuguesa apenas teve de desembarcar em Nanxiong, para a travessia das serras de Nanling, a que Barros chama Malenxam, que se estendem na fronteira entre as províncias de Guangdong, Jiangxi e Fujian. Daqui, Tomé Pires escreveu pela primeira vez a Simão de Andrade por um mensageiro chinês, comunicando-lhe os sucessos da jornada.” A. Cortesão refere que: “Durante a travessia das montanhas morreu Duarte Fernandes. Seguiram então para o norte, em direcção a Nanquim, mas não se sabe exactamente o caminho tomado. É de supor que a embaixada tenha feito percurso idêntico ao de outros viajantes europeus posteriores, como o padre Ricci, em fins do século XVI”.
Essa jornada, após atravessada a passagem de Meiling e já em Nan’an, que hoje é a vila de Dayu (大余), de novo se voltava a embarcar e navegando primeiro pelo Zhangjiang (章江) passando por Nankang (南康) chegava-se a Ganzhou (赣州), onde o rio desaguava no Ganjiang (赣江), que era um afluente do Yangtzé (长江, Changjiang). Ao longo do percurso atravessava as povoações de Wan’an (万安), Ji’an (吉安), Linjiang (临江, hoje conhecida por Zhangshu), Nanchang (南昌) e entrando pelo Lago Poyang (鄱阳湖) chegava à cidade de Jiujiang (九江), já banhada pelo Changjiang, o terceiro rio mais longo do mundo. Daí era só seguir navegando pelo Rio Yangtzé (nome por que é conhecido o Rio Chang pelos ocidentais) uns quinhentos quilómetros, para chegar a Nanjing. A Embaixada portuguesa levava já mais de três meses desde que saíra de Guangzhou, quando chegou em Maio de 1520 a Nanjing.