Leonor Sá Machado Eventos MancheteExposição | “Saudade” inaugurou ontem com organização da AFA e do MGM Com o artista José Drummond na linha da frente, o MGM inaugurou ontem a primeira mostra totalmente portuguesa, sob o tema do sentimento mais luso do mundo: a saudade. Esta é a primeira vez que uma operadora de Jogo investe numa exibição colectiva de expressão totalmente portuguesa [dropcap type=”2″]“S[/dropcap]audade” é o nome da exposição que inaugurou ontem no MGM, com a particularidade de ser uma das primeiras mostras colectivas de expressão totalmente portuguesa. O intuito, explicou o curador José Drummond, é tentar transmitir o significado deste sentimento para cada um dos 12 artistas convidados. Nela participam os fotógrafos Carmo Correia e António Mil-homens, o pintor Victor Marreiros, a artista plástica Sofia Arez, Adalberto Tenreiro, Rui Calçada Bastos, Marta Ferreira e a dupla fundadora do Lines Lab, Clara Brito e Manuel Correia da Silva. Ao HM, Drummond explicou que a ideia passa por transmitir o amor e sentimento de pertença com que os portugueses que por aqui passam, ficam. Quase como uma espécie de dicotomia saudosista que se sente por Macau quando se está em Portugal e vice-versa. “O tema da saudade surgiu porque os portugueses que cá estão há muito tempo têm saudades de Portugal e o contrário também acontece, não esquecendo que é também o mais português dos sentimentos, difícil de explicar, mesmo na Língua Portuguesa”, começou por dizer ao HM o curador da mostra. Uma dúzia em um São 12 os artistas que se unem sob o tema da saudade, sentimento único que vai além do que é “sentir falta de uma pessoa ou de alguma coisa”, diz Drummond. No MGM estarão expostas mais de 40 obras, algumas delas já parte de exposições ou obras lançadas. É o caso das fotografias seleccionadas de Carmo Correia, que estão também presentes na sua mais recente obra sobre a presença portuguesa no Oriente. Fazem parte de “Saudade” dez fotografias da sua mais recente mostra individual, que teve lugar na Casa Garden. Para Carmo Correia, a aceitação do convite passa não só pela identificação com o tema, mas também pela diferenciação de público, comparando com aquele que visitou a mostra anterior. “Normalmente não gosto de repetir um trabalho dentro de Macau, mas esta foi uma excepção, porque o público-alvo do MGM não é, de forma alguma, aquele que tinha na Casa Garden, porque são dois espaços completamente diferentes”, avança a fotógrafa. Outro dos artistas convidados é António Mil-Homens, também fotógrafo de profissão. As suas peças do MGM têm, no entanto, uma particularidade: trata-se de uma sobreposição de planos de imagem que tentam reflectir o passado e presente, expor a dicotomia entre a memória e o distanciamento. “O meu tema pessoal é a Metamorfosis e tem três trabalhos que têm que ver com transformações – concretamente de três pontos da cidade – que também são saudade do antigo Macau”, começa por explicar. Uma das imagens problematiza o desaparecimento de uma conhecida barbearia do território, aliada à eternização do presente. “São duas fotografias impressas separadamente em tela para dar o efeito tridimensional do antes e depois, onde apliquei uma distorção para dar o aspecto de queda”, continuou Mil-Homens. Se Victor Marreiros opta pela apresentação de pinturas que reflectem figuras e sentimentos humanos, a artista plástica Sofia Arez preferiu concentrar-se em fenómenos mais naturais, através de uma espécie de ensaio de luz. “[Os meus trabalhos] são fragmentos de copas de árvores vistos de baixo ao longo do dia, desde o amanhecer até ao anoitecer”, esclarece. Trata-se, no fundo, de um trabalho que discursa sobre a luz e a passagem do tempo. “Captado o momento, fica ali eternizado”, continua. Saudade é, para a artista, a palavra que “nos une a todos”, sejam artistas ou simplesmente portugueses que estão num país estrangeiro que, ainda que tenha um pedaço da terra de Camões, não o é verdadeiramente. “É uma aposta [do MGM] na arte que espero que continue e seja só a primeira de muitas”, acrescentou. Saudade é quando um artista quiser Aqui, a saudade assume diferentes formas, inspirações, histórias, passados e memórias para cada um dos autores, apresentando uma série de trabalhos variada, mas que se une através de um mesmo tema. É o “objecto” que mais importa, mas são vários os meios artísticos empregues, nomeadamente instalações, pintura, fotografia e trabalhos de outra natureza, que estão, directa ou indirectamente relacionados com o verter da saudade na arte. O próprio curador tem também quatro fotografias em exposição. Todas elas são de grande dimensão e tentam espelhar um pouco mais do que apenas a saudade. “O meu trabalho tem uma ligação muito forte com temas bastante existenciais, como a solidão, o amor, o sonho e, em virtude disso, também a memória”, conta. Para “Saudade” especificamente, o artista vai apresentar trabalhos que mostram a “tensão do que é visível e invisível, do que é e não é perceptível e de reportar um lado de sonho e de memórias que se começam a desvanecer”. Do público ao apoio das artes Também Drummond diz rever-se “completamente” na questão da saudade dicotómica que existe em quem vive entre dois mundos: Portugal dos portugueses e Portugal de Macau. A exposição, frisa, não se destina apenas à comunidade portuguesa, mas sim a todo o público em geral, pretendendo-se com ela dar a conhecer um pouco de Portugal em Macau. Para Carmo Correia, a iniciativa é “bastante interessante e bem escolhida para Macau”, não esquecendo que “se adapta perfeitamente” aos trabalhos da fotógrafa. “Quem deixa Macau ou por cá passa fica sempre com saudade”, confessa ao HM. Já António Mil-Homens concorda com Carmo Correia e mostra-se satisfeito com a iniciativa do MGM, deixando a sugestão de que os seus pares sigam as pegadas da operadora. “Acho que isto tem que ver com a predisposição do MGM em apoiar a arte, algo que me agrada sobremaneira”, diz. A mostra tem entrada gratuita e estará em exibição até 30 de Setembro.
Andreia Sofia Silva SociedadeTabaco | Pansy Ho diz que proibição nos casinos gera receios A co-presidente da MGM China diz que a intenção do Governo de proibir na totalidade o fumo nos casinos “preocupa” todas as seis operadoras, não tendo, contudo, comentado os resultados de um inquérito ontem divulgado [dropcap style=’circle’]P[/dropcap]ansy Ho, filha do magnata Stanley Ho e co-presidente da MGM China, disse ontem aos jornalistas que o plano do Governo em avançar com a proibição total do fumo nos casinos está a gerar uma onda de receios em todo o sector do Jogo. “Se essa questão me preocupa? Preocupa-nos a nós, a todas as seis operadoras”, disse, à margem da apresentação de mais uma edição do Fórum do Turismo Global, que decorre em Outubro (ver caixa). Pansy Ho não quis, contudo, fazer mais comentários sobre um estudo divulgado pelas seis operadoras de Jogo esta terça-feira, que mostra que 66% dos 34 mil trabalhadores da indústria inquiridos apoiam a manutenção das salas de fumo, enquanto que 47% dos jogadores das salas VIP defendem que a proibição total terá um “impacto negativo” na economia local e no emprego. “Os dados do inquérito estão publicados e são o que são, apenas partilhámos a informação do inquérito. Caso haja mais questões devem ser colocadas aos departamentos de relações públicas das seis concessionárias”, apontou a empresária. Sem comentários Questionada sobre o anúncio de venda de 16% das acções da MGM International Resorts por Kirk Kerkorian, Pansy Ho considerou não ser a altura ideal para fazer projecções sobre a possível compra dessas acções. “Penso que esta não é a melhor altura para fazer comentários. Essa informação acaba de ser avançada e é difícil comentar algum tipo de interesse. Pessoalmente não penso que isso vá trazer algum efeito na MGM International Resorts”, referiu. As acções, avaliadas em 1,75 mil milhões de dólares norte-americanos, pertencem à Tracinda Corporation Holding desde 2009, data em que Kirk Kerkorian, fundador do MGM Grand Hotel, em Las Vegas, decidiu reduzir a sua presença na empresa em 37% de uma participação accionista de 54%. Foi aí que nomeou a empresa Tracinda e a Fundação Lincy, das filhas Tracy e Linda. Kirk Kerkorian faleceu esta semana aos 98 anos de idade. _____________________________________________________________ Fórum de Turismo vai convidar Portugal e Espanha A quarta edição do Fórum de Turismo Global irá decorrer entre os dias 12 e 14 de Outubro e o programa foi ontem apresentado não só por Pansy Ho, secretária-geral do evento, mas também por Helena de Senna Fernandes, directora dos Serviços de Turismo, e Isaac Lai, chefe do gabinete de Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura. Pansy Ho garantiu que vão ser endereçados convites aos Ministros do Turismo de Portugal e Espanha para estarem presentes no Fórum, cuja edição de 2015 pretende apostar na estratégia de “Uma Faixa, Uma Rota”, bem como lembrar os dez anos de adesão do património de Macau à UNESCO. Novidade é a presença do Peru, México, Colômbia e Chile, sendo a primeira vez que a América Latina se faz representar no evento. Pansy Ho referiu que estes países não só estão atentos aos serviços oferecidos por Macau como na possibilidade de poderem entrar no mercado chinês. “Estamos numa zona com cem milhões de pessoas e esses países dão muita importância a Macau pela entrada no Delta do Rio das Pérolas. No passado, Macau não era mais do que jogo mas hoje já não é assim, é cada vez mais um destino turístico de entretenimento”, referiu. Em Outubro será ainda apresentado o relatório das novas tendências do turismo global.
Joana Freitas SociedadeHospital | SS garantem que profissionais não trabalham horas extra [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s Serviços de Saúde (SS) garantem que os profissionais do hospital público não estão a trabalhar demasiadas horas, depois de terem sido “difundidas algumas reclamações de que o Centro Hospitalar Conde de São Januário não considerou a situação de falta de recursos humanos” quando decidiu implementar a medida de prolongamento do horário de funcionamento das consultas externas em alguns serviços de especialidade. Num comunicado, os SS garantem que avaliaram as diversas necessidades de recursos humanos no hospital e que as áreas abrangidas por esta medida “concordaram” com a ideia. Os SS negam que estas medidas tenham provocado “horários de trabalho pesados e impactos sobre o desempenho profissional e a saúde física e mental dos profissionais”. Recorde-se que o hospital público implementou a 1 de Junho, a título experimental, a nova medida para que possa ser reduzido o tempo de espera de marcação das consultas externas e para treinar os novos profissionais de saúde que farão parte do novo hospital na Taipa. “Refira-se que, apesar da aplicação de horas de funcionamento flexíveis, as horas de trabalho dos profissionais de saúde destas especialidades não sofrerão nenhuma alteração. Ou seja, não há aumento das horas de trabalho efectuado. Aliás esta medida pretende evitar excesso de pressão física e mental sobre os profissionais de saúde devido ao horário extraordinário”, dizem os SS. A medida será implementada por um período de três meses.
Hoje Macau China / ÁsiaÚltimo preso de Tiananmen será libertado em 2017 [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] último preso relacionado com os protestos pró-democracia na praça de Tiananmen em 1989 será libertado em Setembro de 2017, depois das autoridades chinesas terem reduzido a pena aplicada em um ano, divulgou ontem uma organização local. Num comunicado, a organização Dui Hua, que defende os direitos dos presos na China, confirmou a redução da pena de Miao Deshun, que na altura dos protestos tinha 25 anos, mas sem precisar o motivo que originou esta decisão, nem o dia exacto da libertação ou o actual estado físico do detido. “Quando for libertado, [Miao Deshun] terá passado mais tempo na prisão do que aquele que viveu como um homem livre”, frisou a organização. Em 1989, Miao Deshun, um operário fabril, foi detido com outros quatro amigos na noite de 4 de Junho, pouco depois de o exército chinês ter irrompido com tanques nas ruas de Pequim e de ter acabado, com recurso à força, com quase sete semanas de protestos pró-democracia. A detenção deste homem aconteceu depois de centenas – milhares segundo algumas fontes – de estudantes e de trabalhadores em greve terem morrido no massacre de Tiananmen. Na altura, os manifestantes estavam concentrados na emblemática praça para exigir reformas democráticas e o fim de uma corrupção desenfreada. Depois de enfrentar, juntamente com outros operários, o exército chinês, o jovem Miao Deshun, actualmente com 51 anos, foi acusado de “incêndio intencional” por ter alegadamente arremessado um contentor contra um blindado em chamas. Penas atenuadas Com base nesta acusação, o regime chinês condenou Miao Deshun à morte, mas a sua execução foi suspensa por diversas vezes, tendo sido posteriormente anulada. Na altura, muitos acusados foram condenados à pena capital ou à prisão perpétua, mas as autoridades chinesas acabaram por substituir algumas destas sentenças com penas menores. Ao longo dos anos, milhares de presos acabaram por ser libertados, de acordo com os dados das organizações de defesa dos direitos humanos. No total, menos de 100 pessoas acabaram por ser executadas, segundo diversas fontes. Em declarações à agência espanhola EFE, um ex-companheiro de cela de Miao Deshun relatou que o homem sempre mostrou uma atitude combativa dentro da prisão. A organização não-governamental Defensores Chineses dos Direitos Humanos acredita que foi este o motivo que condicionou ao longo dos anos a libertação de Miao Deshun.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaCoutinho fala em pressões na Lei Sindical. Rendas com diploma até Agosto José Pereira Coutinho continua a apoiar o projecto de Lei do Arrendamento do deputado Chan Meng Kam, apesar da sua abstenção na Lei Sindical, e diz que tanto ele como Song Pek Kei “sofreram pressões” dos deputados empresários para não votarem a favor. O deputado acredita que a lei que controlará as rendas pode ser aprovada antes de Agosto [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] abstenção de Chan Meng Kam e Song Pek Kei em relação ao projecto de Lei Sindical de José Pereira Coutinho não vai fazer o deputado recuar na sua decisão de apoiar o projecto de Lei do Arrendamento. Ao HM, Pereira Coutinho garantiu que a parceria política é para continuar, por estarem em causa “coisas distintas”. O deputado diz mesmo que a lei poderá ser votada na Assembleia Legislativa (AL) ainda antes de Agosto. “O que queremos é uma lei que controle as rendas. Não vamos complicar as coisas e politizar. O que estamos a fazer é para o bem dos cidadãos de Macau. Não é um diploma complexo e é nosso objectivo termos a lei cá fora já em Agosto”, referiu o deputado, também presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM). [quote_box_left]“Acho que Chan Meng Kam e a sua parceira tiveram pressões a nível político, dos empresários, para retroceder na votação” – Pereira Coutinho, deputado[/quote_box_left] Outras influências Sobre a abstenção de Chan Meng Kam e Song Pek Kei face à Lei Sindical – o parceiro dos dois, Si Ka Lon, votou favor – Pereira Coutinho revela que já estava à espera dessa votação. “Acho que Chan Meng Kam e a sua parceira tiveram pressões a nível político, dos empresários, para retroceder na votação. Esta é a única razão que posso justificar o facto de Si Ka Lon ter apoiado e os outros dois se terem abstido.” Recorde-se que o deputado José Pereira Coutinho retirou do hemiciclo o seu projecto de Lei do Arrendamento para apoiar o diploma apresentado por Chan Meng Kam, com a promessa de apoio deste na Lei Sindical, o que acabou por não acontecer. O deputado não votou contra, mas o projecto de Pereira Coutinho chumbou por falta de votos a favor suficientes. Na declaração de voto, Chan Meng Kam e Song Pek Kei justificaram-se com a conjuntura actual. “Há que ter uma Lei Sindical para proteger o exercício dos direitos. Neste momento será que a actual conjuntura sócio-económica é a melhor para legislar sobre a matéria? Este projecto, comparando com 2014, não sofreu alterações e não concordamos com esta precipitação, tendo em conta o contexto social. Por isso abstivemo-nos. Apelamos ao Governo para iniciar de imediato os trabalhos.” Pereira Coutinho afirma estar “muito contente” pelo facto dos deputados exortarem o Governo a apresentar uma proposta de Lei Sindical. “Já é um avanço significativo, mas isto nada impede que para a próxima sessão legislativa eu volte à carga com a Lei Sindical”, disse. Si Ka Lon, número três de Chan Meng Kam, deu o seu apoio. “Há que implementar o quanto antes a lei, com vista a proteger os direitos dos trabalhadores. Da última vez votei numa posição diversa, e acho que o Governo deve avançar já com um projecto de lei, é uma irresponsabilidade do Governo. Por isso, votei a favor desta proposta.”
Leonor Sá Machado SociedadeFIC | Atribuídos cem milhões a projectos. Empresa de familiar de vogal incluída [dropcap style =’circle’]O[/dropcap]Fundo das Indústrias Culturais divulgou, finalmente, os montantes e nomes de 50 dos 73 projectos qualificados a receber apoio. No total, foram gastos cem milhões de patacas para design de produto, espectáculos e marcas. Entre as entidades, está a empresa do familiar afastado do FIC O Fundo das Indústrias Culturais (FIC) divulgou ontem que despendeu metade do valor inicialmente previsto para o efeito de financiamento de empresas e projectos locais. No total, foram cem milhões de patacas entregues para os 73 projectos financiados. Entre as empresas seleccionadas para receber o fundo, que pode ir até aos nove milhões de patacas, está a empresa de um dos familiares do vogal do FIC, que acabou por ser afastado pelo Governo. Leong Heng Teng recusou-se a identificar o nome da empresa, referindo apenas que a selecção dos candidatos foi efectuada antes de toda a investigação do Executivo e do Comissariado Contra a Corrupção ter lugar, pelo que não foi necessário reavaliar o projecto. “Esses projectos foram aprovados ainda antes da ocorrência do caso de Chao (…) Cumprimos as regras e os requisitos legais, percorrendo o procedimento estabelecido para avaliar e aprovar”, disse Leong aos média, na sessão de apresentação das empresas, ontem. O caso, recorde-se, diz respeito a Chao Son U, cujo afastamento pelo Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura se deveu a “implementar mais rigor e transparência” do FIC. Alegadamente, segundo funcionários do fundo, o vogal terá tentado fazer pressão para que o projecto do familiar fosse aprovado. Desistir do prémio no pódio Dos candidatos, 13 empresas concorrentes acabaram por desistir do financiamento depois de já se encontrarem na lista de aprovados. O presidente do FIC justifica as desistências com duas razões: “eles desistiram porque acham o valor concedido muito baixo e consideram que foi atribuído tardiamente”, nomeadamente para projectos em datas específicas, como são concertos. Algumas das empresas, assegura Leong, iriam receber mais de um milhão de patacas, mas consideraram o valor baixo. Houve ainda três reclamações, todas elas relacionadas com o atraso na decisão e atribuição do financiamento e requisitos alegadamente demasiado exigentes para cumprir. Leong Heng Teng deixou ainda claro que o FIC serve de “complemento ao investimento já feito pelas empresas”, não pretendendo ser um orçamento para a totalidade de um projecto. Contudo, o FIC exige que os projectos apresentados sejam cumpridos como descritos, mesmo com menos dinheiro, pelo que foi acusado de estar a exigir projectos que as empresas não conseguiam cumprir com o dinheiro que lhes foi atribuído. Através de um comunicado, o FIC explica que se trata de “garantir a aplicação lógica e eficiente” dos recursos públicos. “O FIC exige que a empresa beneficiária seja obrigada a executar o respectivo projecto na dimensão descrita nas informações apresentadas. Parte das empresas que acham que as verbas de apoio financeiro concedidas são bem diferentes do que as solicitadas, e, pensam em desistir a recepção do apoio financeiro por não terem angariado fundos suficiente para desenvolverem os projectos”, escreve ainda. [quote_box_right]Entre as empresas seleccionadas (…) está a de um dos familiares do vogal do FIC, que acabou por ser afastado pelo Governo. O FIC não desvenda nem o nome, nem o montante cedido[/quote_box_right] Espaços para fazer e vender A atribuição foi feita a dois tipos de projectos, sendo eles plataformas de serviços e projectos comerciais comuns. No que toca às plataformas, estas deverão servir para “reduzir os custos de funcionamento”, preparando-se para oferecer cerca de 110 espaços como armazéns, estúdios ou lojas. “Irão fornecer 110 espaços de trabalho a longo prazo, por preços relativamente baixos e arrendamento de espaços a curto prazo para vendas e exposições” e outras actividades, explicou o responsável do FIC. A selecção deu primazia às empresas com bastante experiência, em média, de cinco anos. Entre os projectos escolhidos estão vários que tencionam expandir-se além-fronteiras, tendo pedido apoio para exposições e bolsas de contacto no estrangeiro. Outras debruçaram-se sobre o comércio electrónico e formas de vender os seus produtos online. Há ainda lojas tradicionais “de memória colectiva da população” que pretende transformar-se para condizer com os tempos. A marca Cocoberryeight, de Bárbara Barreto Ian encontra-se entre os qualificados, tendo sido atribuídas 164.500 mil patacas para a criação de um centro de moda em Macau. Oito das 50 empresas já reveladas vão receber, cada uma, mais de cinco milhões de patacas e concentram-se em projectos de design, vestuário e moda, desenvolvimento de marcas e fornecimento de serviços comerciais e plataformas empresariais. No total, apenas quatro destas vão receber um empréstimos sem juros, ficando as restantes com pagamento de projectos, que deverá ser dinheiro a fundo perdido.
Hoje Macau PolíticaBlur – “Lonesome Street” “Lonesome Street” What do you got? Mass produced in somewhere hot You’ll have to go on the Underground To get things done here (And then you have to see) If you need a yellow duck, service done This is a place to come to, Or, well, it was I know a hot spot oh oh Crossing on the guillotine And if you have nobody left to rely on I’ll hold you in my arms and let you drift It’s got to be that time again And June, June will be over soon again So get yourself up, get a past glitch on your way There’s nothing to be ashamed of Taking off again The 514 to East Grinstead (You’ve sent me off to see) (we’re going up, up, up, up, up) Coursing on our greatest night And talking types will let us down, again Talk, talk on your arse all night You wanna be there Step inside the tarmac ride To the land that crime forgot Oh, just don’t go there Cracks inside the tarmac ride To the land that crime forgot, oh no And if you have nobody left to rely on I’ll hold you in my arms and let you drift Going down to Lonesome Street, ooh Going down to Lonesome Street, ooh Lonesome Street, ooh Going down to Lonesome Street, ooh Lonesome Street, ooh Going down to Lonesome Street, ooh Blur STEVEN ALEXANDER JAMES / DAVID ROWNTREE / DAMON ALBARN / GRAHAM COXON
Filipa Araújo SociedadeAssédio Sexual | Criado grupo para prevenir casos nas universidades [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Gabinete de Apoio ao Ensino Superior (GAES) criou um Grupo de Trabalho formado pelas “dez instituições de ensino superior de Macau” que pretende ajudar as entidades a “melhorarem os mecanismos sobre a igualdade de género e a prevenção do assédio sexual, bem como para optimizar as respectivas políticas”. De acordo com uma nota à imprensa, o grupo teve já a sua primeira reunião onde os “representante das instituições do ensino superior apresentaram as suas actuais situações, partilhando, ainda, experiências sobre o tratamento de casos da igualdade de género e de assédio sexual”. Numa primeira fase, o grupo pretende explorar de forma conjunta as “definições da igualdade de género e do assédio sexual”, e por isso, deverão ser elaborados enquadramentos e orientações que se possam aplicar às instituições do ensino superior de Macau, para que estas possam definir ou melhorar as políticas concretas, conforme as circunstâncias de cada uma. Criar referências “Os intervenientes disseram que, através da participação neste Grupo, as instituições podem reforçar o intercâmbio e a comunicação nestas áreas, elaborando em conjunto as orientações destes aspectos, para adquirirem uma referência para a continuação da verificação e melhoramento dos respectivos mecanismos”, pode ler-se no comunicado. Recorde-se que desde o ano passado que a Universidade de Macau (UM) tem sido alvo de crítica devido a vários alegados casos de assédio sexual, motivando protestos por parte de alunos e até uma declaração do novo secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, que pediu que fossem lançadas investigações para um problema que considerou muito importante. Também nesta universidade se falou na criação de um grupo vigilante face a estes casos. Segundo a UM, desde 2008, foram registados quatro casos de assédio sexual, mas apenas um, em que uma aluna se queixou de um professor que terá manifestado “contacto físico inapropriado”, foi concluído, apesar de a UM não revelar os resultados.
Leonor Sá Machado EventosCiência | UM acolhe palestras com Prémios Nobel de Química [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s professores e vencedores do Prémio Nobel de Química, Ada Yonath e Aaron Ciechanover, estarão em Macau nos dias 10 e 11 de Julho para falar sobre a sua área de especialização. No total, estão organizadas duas palestras distintas a acontecer às 9h00 e às 9h30 de sexta-feira e de sábado, na Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Macau. Ada Yonath vai discursar sobre a resistência aos antibióticos e a preservação dos micróbios, enquanto Ciechanover se debruça sobre a problemática da cura de todas as doenças do mundo, colocando a questão do que tal vai poderá custar. Ada Yonath Yonath foca-se em Cristalografia, ou seja, a ciência que estuda átomos e sua transformação em cristais. Em 2013, a académica israelita foi apontada directora do Centro de Estrutura Biomolecular Helen & Milton Kimmelman e da Assembleia do Instituto de Ciência Weizmann. Foi juntamente com outros dois cientistas que Yonath venceu o Nobel em Química, sendo reconhecida como a primeira mulher do Médio Oriente a receber este galardão de ciências e a primeira, em 45 anos, a ganhar este especificamente. Aaron Ciechanover tem no seu portefólio o estudo da degradação das células e reciclagem de proteínas, tendo recebido o Prémio Nobel de Química em 2004. Aaron Ciechanover Também de Israel, o académico é professor da Faculdade de Medicina Ruth & Bruce Rappaport e no Instituto de Investigação de Technion. Ciechanover é também membro da Academia de Ciências e Humanidades de Israel, da Academia Pontífice de Ciências e da associação estrangeira Academia Nacional Norte-Americana de Ciências. A entrada nas palestra é livre e o website oficial da Universidade dispõe de um formulário de registo de participação nos eventos.
Leonor Sá Machado SociedadeTáxis | Melco cria sistema de avaliação de viagens. MTPA concorda O grupo Melco Crown criou um sistema de avaliação do serviço de táxis, em conjunto com a Show Media. A apreciação fica a cabo dos passageiros e o presidente da Associação de Passageiros de Táxi de Macau, Andrew Scott concorda com a iniciativa [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Melco Crown desenvolveu um sistema de avaliação do serviço de táxis da região, juntamente com a empresa Show Media. O intuito é descobrir quais os condutores mais profissionais e que proporcionam as melhores viagens, algo com que o presidente da Associação dos Passageiros de Táxi de Macau (MTPA, na sigla inglesa) concorda. Contactado pelo HM, Scott mostrou-se contente com a iniciativa, que disse ao HM apoiar a 100%. “[Concordo] com tudo o que faça com que o serviço prestado pelos condutores de táxis de Macau seja óptimo, especialmente tendo em conta o passado manchado destes condutores durante vários anos até final do ano passado”, começou o responsável por dizer. A iniciativa da Melco, anunciada em comunicado, passa pela atribuição de prémios àqueles que se revelarem os melhores taxistas nesta avaliação, que é feita através de um botão no interior de cada veículo, localizado no ecrã da Show Media, instalado para o efeito. Mais impulsos Questionado sobre se mais operadoras de Jogo deveriam investir num sistema semelhante, Scott apoia completamente a medida, já que considera ser uma “coisa positiva” para impulsionar um bom serviço deste transporte. Quanto a uma iniciativa destas pelo Governo, o presidente da Associação disse apenas que “o Executivo já está a fazer um excelente trabalho no sentido de melhorar este serviço”, diferente daquele que desenvolveu até final de 2014. “[As autoridades responsáveis] não fizeram quase nada até 2014, mas depois começaram a ouvir as fortes opiniões pública expressas através da MTPA e reagiram, tanto que desde 1 de Janeiro deste ano tem-se visto um óptimo trabalho no reforço da lei”, acrescentou. Na sessão de lançamento desta plataforma, a directora dos Serviços de Turismo, Helena de Senna Fernandes disse estar “contente” por ver que o City Of Dreams e a Show Media tomaram uma posição pró-activa no reconhecimento do bom trabalho do serviço de táxis de Macau, assim apoiando o sector do Turismo e ajudando ao desenvolvimento da cidade como Centro Mundial de Lazer e Turismo.
Joana Freitas SociedadeJunkets | IUOE envia carta a Pequim a apontar falhas na regulação A lei que regula o Jogo de Macau não é suficiente para impedir lavagens de dinheiro e outras ilegalidades. Quem o diz é a IUOE, que enviou uma carta a Pequim onde aponta falhas e diz mesmo que uma regulação mais forte iria servir os interesses anti-corrupção da China [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] União Internacional dos Engenheiros Operacionais do Nevada (IUOE na sigla inglesa) enviou uma carta a Pequim onde aponta falhas na regulação dos ‘junkets’. O documento, assinado por Jeffrey Fiedler, presidente da União, aponta que é preciso melhorar a fiscalização em nome da “transparência” e das políticas anti-corrupção da China. A IUOE insiste que as leis de Macau não são suficientes para permitir um controlo mais apertado sobre as operações dos ‘junkets’ e chega mesmo a dizer que isto facilita a lavagem de dinheiro. “Depois de termos visto as leis de Macau e a informação pública sobre muitos dos maiores promotores de jogo, concluímos que as iniciativas anti-corrupção da Comissão Central de Inspecção de Disciplina não conseguem atingir os seus objectivos sem haver uma maior regulamentação da indústria dos ‘junkets’ em Macau”, começa por escrever a IUOE na carta a que o HM teve acesso. “Os reguladores [de Jogo] dos EUA não conseguem de forma eficaz fiscalizar as operações dos casinos norte-americanos em Macau, do nosso ponto de vista, porque eles aparentemente toleram a falta de uma regulação significativa face a participantes essenciais no mundo do jogo de Macau.” A carta dirigida a Wang Qishan, Secretário da Comissão, aponta em especial baterias a credores e outras figuras dentro da indústria dos ‘junkets’ e diz que “pelas falhas na regulação, estes participantes têm a melhor posição para permitirem à lavagem de dinheiro e assistir ao movimento de capital para fora da China, em montantes que excedem os limites”. [quote_box_left]“As iniciativas anti-corrupção da Comissão Central de Inspecção de Disciplina não conseguem atingir os seus objectivos sem haver uma maior regulamentação da indústria dos ‘junkets’ em Macau” – IUOE[/quote_box_left] Todos juntos A IUOE deixa uma sugestão, que inclui a mudança na forma de licenciar ‘junkets’. Algo que depende da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) e que a União – responsável pelo site macaugamingwatching.com – diz ser feita, actualmente, de forma inadequada, uma vez que não tem em conta todas os envolvidos na empresa promotora. “A licença é atribuída com base nos accionistas mais substanciais, sendo que [a DICJ] passa um atestado de que [o promotor] é adequado. Esse atestado analisa o ‘background’ pessoal, profissional e financeiro da pessoa e os seus associados profissionais e pessoais”, começa por descrever Fiedler, acrescentando que isto é algo vital para que a entidade do Governo possa identificar eventuais associações problemáticas. “Contudo, a lei de Macau não exige que licença para uma terceira parte que usufrua dos lucros gerados por estes promotores, ou os credores que injectam o capital necessário para os empréstimos dos ‘junkets’.” A IUOE pede, por isso, que a DICJ passe a obrigar ao licenciamento de “todas os indivíduos e entidades – neste caso, também os seus administradores – que adquiram mais de 5% dos lucros gerados pelos promotores de jogo de Macau” e a todos os que “providenciam financiamento de mais de um milhão de yuan a junkets”. Fiedler pede que também estes sejam alvo de investigação do ‘bakcground’ e que seja apertada a regulamentação de “toda” a indústria ‘junket’. Dando como exemplo Cheung Chi Tai, empresário indicado como estando alegadamente ligado a tríades, mas que “tinha um posição onde podia exercer influência e controlo sobre a indústria dos junkets” e era accionista da Neptuno e um dos principais financiadores de promotores”, a IUOE escreve que os ‘junkets’ são uma força essencial no mercado de Macau e que “contam para mais de metade das receitas geradas pela RAEM”. Recorde-se que os promotores funcionam nas salas VIP, sendo que estas geraram mais de 200 milhões de patacas no ano passado.
Andreia Sofia Silva SociedadeInvestimento | Cônsul de Moçambique pede mais acção de Macau Rafael Custódio Marques, cônsul-geral de Moçambique em Macau e China, pede que mais empresas locais invistam no país, que quer apostar no turismo. Face à desaceleração económica na China, não há receios O cônsul-geral de Moçambique em Macau e China, Rafael Custódio Marques, pede que mais empresas de Macau invistam no país africano, depois da empresa de engenharia Charles Strong ter participado na construção de casas sociais em Maputo. “Existe uma empresa macaense a investir em Moçambique, na área da construção de casas, e as primeiras ficarão construídas em Outubro deste ano. Gostaríamos que mais empresários macaenses investissem em Moçambique”, disse Rafael Custódio Marques aos jornalistas, à margem de um evento de promoção das oportunidades de investimento no país, que decorreu no hotel Grand Lapa. Apesar disso, o cônsul-geral não esqueceu as outras áreas onde já existem laços. “Macau está a cooperar com Moçambique através da formação de quadros, na área do Turismo, Finanças e Educação, porque temos estudantes aqui que frequentam os seus cursos na Universidade de Macau. Há muitas áreas cobertas pela cooperação com o nosso país”, referiu. Questionado sobre se a desaceleração económica na China poderá afectar a captação de investimento em Moçambique, Rafael Custódio Marques considera que ainda não se sentiram consequências. “Esta desaceleração económica na China não tem tido efeitos em Moçambique. Penso que não vai acontecer no futuro, porque Moçambique é um mercado novo, com muitas potencialidades, em que o investimento chinês é bem-vindo. Não acredito que isso venha a retrair investimento chinês”, apontou. “Há empresas chinesas a investir na área do turismo, na construção de hotéis, em Maputo e Tete. Está aberto o caminho para mais investimento chinês”, referiu o cônsul-geral, frisando que as áreas do turismo e gás natural são “um factor de esperança e um desafio para o desenvolvimento económico de Moçambique”. “Não basta termos recursos é preciso capacitar as pessoas, criar infra-estruturas e melhorar uma grande quantidade de serviços”, explicou. Melhorias no Fórum Macau Até à data, apenas um projecto de Moçambique contou com apoio financeiro do fundo ministrado pelo Fórum Macau, o que leva Rafael Custódio Marques a considerar que é preciso fazer mais. “Se calhar tem de se fazer um bocadinho mais pelo Fórum Macau, no sentido de divulgar mais esta porta que está criada para o investimento de Macau ou de empresários chineses. Tem de haver mais massificação de informação junto das empresas de Macau para que vejam países como Angola ou Moçambique como oportunidades de investimento.” No ano em que Moçambique celebra 40 anos como país independente, a estabilidade política traça-se de forma frágil, com a Renamo, partido da oposição, a não reconhecer os resultados eleitorais de Outubro. Contudo, o cônsul-geral do país para Macau e China diz que essa questão não vai afectar futuros investimentos. “Houve num passado recente alguns sinais de instabilidade, mas por via do diálogo penso que se conseguiu ultrapassar isso. Temos vindo a captar investimento, tanto que há grandes companhias na exploração do gás natural e carvão e o turismo tem fluido com normalidade. O Governo vai fazer tudo o que estiver ao seu alcance para se encontrar um meio termo para erradicar a tendência de recurso à violência.” _____________________________________________________________Projecto de David Chow em Cabo Verde parado Mário Vicente, representante de Cabo Verde junto do Fórum Macau, disse ontem que o projecto de construção de um resort com casino em Cabo Verde, do empresário local David Chow, ainda não viu a luz do dia. Segundo a Rádio Macau, o empresário “mantém o interesse”, mas “o projecto mantém-se ao nível das ideias”, sendo que “as discussões continuam”. Mário Vicente afirmou desconhecer as razões para que o projecto continue na gaveta. Vicente admitiu ainda que o desconhecimento impede a aposta de empresas de Macau em Cabo Verde e pede que haja mais procura neste sentido.
Andreia Sofia Silva PolíticaChui discute áreas marítimas em Pequim. Calendário de cheques a chegar [dropcap style =’circle’]C[/dropcap]hui Sai On, Chefe do Executivo, partiu ontem para Pequim com definição das novas áreas marítimas e as fronteiras como pontos principais na agenda. Mas antes falou à imprensa chinesa sobre o Plano de Comparticipação Pecuniária, tendo garantido que ainda este mês serão conhecidas as datas de distribuição dos cheques. “Já aprovámos o regulamento administrativo e o Secretário para a Economia e Finanças irá começar os trabalhos em causa”, disse, citado pela Rádio Macau. Acerca dos motivos de mais uma visita oficial à capital e a um encontro com representantes do Governo Central, um comunicado aponta que “os trabalhos relacionados com a definição das áreas marítimas sob a jurisdição da RAEM terão fim no dia 31 de Dezembro do presente ano”, sendo que “neste momento encontra-se em fase de trabalho técnico, nomeadamente a definição da área marítima, dimensão, legislação, gestão e o futuro desenvolvimento da economia oceânica”. Aos jornalistas, Chui Sai On terá ainda referido que “abordará o assunto do novo modelo de passagem alfandegária”. Quanto aos casos de ilegalidades cometidas no seio das Forças de Segurança de Macau, Chui Sai On garantiu que “o Governo da RAEM tem exigido que os trabalhadores da Função Pública sejam íntegros e ajam conforme a lei”. O Chefe do Executivo terá dito, segundo o mesmo comunicado oficial, que já terá contactado com Wong Sio Chak, Secretário para a Segurança, tendo sido obtido “consenso de que é importante o trabalho de sensibilização e de prevenção. O próximo passo seria reforçar de forma razoável os trabalhos destes dois âmbitos”, pode ler-se.
Andreia Sofia Silva Ócios & Negócios Pessoas“My Art: Sweets”, loja de doces | Carina Ribeiro, criadora O percurso de Carina Ribeiro pelo mundo da culinária e doçaria começou nos idos anos 2000. Primeiro em Macau, depois em Portugal, Carina foi chef de cozinha. Até que regressou ao território e decidiu começar a vender bolos de aniversário e sobremesas para fora. A “My Art: Sweets” começou no Facebook, mas agora já tem um espaço físico na zona do Dom Bosco [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s bolos de Carina Ribeiro têm a fama de serem deliciosos, de várias cores, tamanhos e feitios. Tudo depende do gosto do cliente e da pessoa a que se destinam. Há quatro anos que Carina começou a fazer bolos por encomenda via Facebook, através da sua página “My Art: Sweets”, mas o que era um projecto pessoal que funcionava através do ‘passa a palavra’, depressa se transformou num negócio com pernas para andar. A loja propriamente dita abriu esta semana junto ao Colégio Dom Bosco e disponibiliza bolos e sobremesas já feitos, prontos a comprar, café, chás, crepes e panquecas. Carina Ribeiro planeia um dia ter refeições, mas, para já, os mais gulosos podem também desfrutar de crepes e panquecas na “happy hour”, que dura entre as 16h00 e as 17h00. Chegar a um público mais vasto foi o objectivo desta chef de cozinha, mãe de três filhos. “Quis abranger um maior mercado, porque através do Facebook, apesar das pessoas irem passando a palavra, acabamos por ficar nos clientes regulares. Não há tanta gente, as pessoas deixam de visitar a página. Então comecei a ver que já tinha a minha cadeia de clientes e decidi deixar a minha página no Facebook, que apesar de tudo continua a funcionar e a aceitar pedidos. Quero chegar a uma maior clientela e poder dar a conhecer o meu produto a mais pessoas”, contou ao HM. Carina Ribeiro garante que não quer ficar por aqui, pretendendo continuar a dar cartas como empresária no mundo da cozinha. “Depois do Facebook, o próximo passo seria abrir a minha loja de bolos, mais tarde o meu café, mais tarde um restaurante (risos). É esse o meu objectivo.” Com poucos dias de funcionamento, a loja é um sucesso, apesar de muitos ainda não ousarem passar para o lado de lá da porta e provar as sobremesas. “O público ainda tem um bocado de receio, porque vêem que não sou chinesa, ficam mais cépticos para entrar. A pessoa tem de sorrir um bocadinho, convidar a entrar. Se falarem inglês, entram. Vou tentar mudar isso aprendendo um bocadinho mais de chinês, porque o meu chinês ainda não é perfeito”, referiu. A mentora da “My Art: Sweets” conta que há quatro anos, quando começou, havia pouca oferta no mercado ao nível dos bolos e sobremesas personalizados. Mas agora começam a surgir as lojas de bolos e Carina Ribeiro não quis ficar para trás. “De há dois anos para cá já se vêem várias lojas em Macau como a minha e essa foi uma das razões que me fez sair do online. Pensei que, se não começasse agora, depois iria ser apenas mais uma loja. Já houve um pequeno ‘boom’. Mas esta é das poucas lojas onde as pessoas podem comer na hora, beber um café ou um chá, onde todas as coisas são caseiras”, aponta. No início eram as marmitas Carina Ribeiro chegou a Macau pela primeira vez em 1994 e começou a trabalhar nesta área porque, um dia, experimentou uma refeição num restaurante perto do Centro Cultural de Macau (CCM) e não gostou do que provou. Mas antes disso já Carina Ribeiro fazia refeições para fora, a partir de casa. “Tive de criticar, porque o bacalhau com natas tinha açúcar. Mas a pessoa que estava no restaurante perguntou-me se não gostaria de trabalhar com eles. Fui, fiz uma entrevista, gostaram muito e passei a trabalhar lá e foi assim que virei chef de cozinha. Durante algum tempo trabalhei lá, depois mudei e trabalhei em vários restaurantes. Mas aí não fazia doces, era só comida tradicional portuguesa. Depois abri o meu café em Portugal e foi aí que comecei a fazer bolos e a apostar na doçaria, para não pedir bolos de outros lados. Foi aí que comecei a ganhar paixão por fazer bolos.” Carina Ribeiro deixou Macau em 2004 para voltar em 2011. Ainda passou pelo Westin Resort, até que decidiu ser mãe a tempo inteiro. Nascia então a “My Art: Sweets”. “Organizei uma festa de aniversário e achei os bolos caríssimos, então pensei que não valia a pena pagar aquele preço, porque eu sabia fazer melhor. Decidi abrir a minha página no Facebook.” O gosto pelos bolos de chocolate de Carina fez-se logo notar: “comecei logo com muitas pessoas”.
Hoje Macau China / ÁsiaHong Kong | Dez detidos após descoberta de explosivos [dropcap style=circle]S[/dropcap]ubiu para uma dezena o número de detidos ligados ao fabrico de explosivos. Segundo as autoridades os suspeitos planeavam detonar um engenho de “forte potência” no passado domingo. A polícia de Hong Kong deteve uma décima pessoa pela suspeita de fabrico de explosivos, num caso supostamente ligado a um grupo político “radical” ocorrido nas vésperas da votação da polémica reforma do sistema eleitoral. As autoridades da antiga colónia britânica não descartam a possibilidade de levar a cabo mais detenções na sequência da descoberta, esta segunda-feira, de potentes explosivos numa aparente fábrica montada nos antigos estúdios da ATV, já abandonados, em Sai Kung. Um homem de 58 anos foi detido “sob a suspeita de conspirar para o fabrico de explosivos” na noite de segunda-feira, elevando para dez o número de suspeitos, seis homens e quatro mulheres, todos locais com idades compreendidas entre os 21 e os 58 anos. Alguns dos detidos afirmaram ser membros de um “grupo radical local”, mas a polícia indicou que uma investigação está em curso. Caso sejam condenados pela acusação de conspiração para o fabrico de explosivos, transversal a todos os detidos, arriscam uma pena máxima de 20 anos de prisão. Dois dos suspeitos estariam a planear, segundo a polícia, detonar um engenho explosivo no passado domingo, dia 14. O tipo de bomba encontrado consistia num explosivo de “forte potência” que já foi utilizado em diferentes atentados, como o de Julho de 2005 em Londres, em que morreram 52 pessoas e mais de 700 ficaram feridas. Reforma em discussão As detenções aconteceram a poucos dias da votação, pelo Conselho Legislativo (LegCo, parlamento), da proposta de reforma eleitoral que define a metodologia da eleição do chefe do Executivo da Região Administrativa Especial chinesa. O LegCo vai analisar o diploma esta quarta-feira mas, tendo em conta o intenso debate que deve desencadear, prevê-se que a votação propriamente dita seja protelada para quinta ou mesmo para sexta-feira. A proposta de lei prevê a introdução do sufrágio universal nas eleições para o chefe do Executivo em 2017, mas só depois de uma pré-seleção de dois a três candidatos, que ficará a cabo de um comité composto por 1.200 membros, num processo descrito pela ala democrata como uma “triagem”. A proposta de lei surge após a decisão, no final de Agosto de 2014, do Comité Permanente da Assembleia Nacional Popular sobre a reforma política. Dado que, no passado, Pequim tinha prometido à população de Hong Kong, cujo chefe do Governo é eleito por um colégio eleitoral de cerca de 1.200 pessoas, que seria capaz de escolher o seu líder em 2017, esse anúncio desencadeou um forte movimento de contestação. Esse movimento levou a que, a 28 de Setembro do ano passado, o ‘Occupy Central’ iniciasse uma campanha de desobediência civil, reforçando os protestos estudantis então em marcha contra a recusa de Pequim em garantir o sufrágio universal pleno. As manifestações, pautadas pelo cariz pacífico, pese embora uma série de incidentes, desenrolaram-se sob a forma de ocupação das ruas – em pelo menos três distritos, incluindo no centro da cidade – e mantiveram-se até 15 de Dezembro, altura em que as autoridades procederam ao despejo dos últimos acampamentos.
Joana Freitas EventosAnimais |Equipa de ciclistas de Macau vai pedalar mil quilómetros para ajudar a MASDAW A RECOIL, uma equipa de ciclismo de Macau, vai estar no Japão de sexta-feira a domingo para ajudar, através da paixão pelas bicicletas, os animais abandonados de Macau. Os ciclistas deverão percorrer até mil quilómetros para passar a mensagem de que há muitos animais para adoptar [dropcap style=circle]A[/dropcap] RECOIL, uma equipa de ciclismo de Macau, vai ajudar a angariar fundos para a Associação para os Cães de Rua e o Bem-Estar Animal em Macau (MASDAW, na sigla inglesa). A equipa promove actividades destinadas a recolher fundos para apoiar eventos de beneficência e agora é a vez da MASDAW. Mark Arcadia De acordo com um comunicado, este ano a equipa propõe-se percorrer até mil quilómetros sem parar no Japão e completar a volta em 48 horas, num tour que decorrerá entre 19 e 21 de Junho. O tema do evento é “NÃO COMPRE! ADOPTE!” “É uma tour de ciclismo solidário, denominado RESGATE RECOIL para recolher fundos destinados ao auxílio dos animais carenciados de Macau”, começa por explicar a associação. “Os fundos ajudarão a MASDAW a resgatar e esterilizar cães abandonados ou errantes, bem como outros animais, para tornar Macau uma cidade amiga dos animais.” Miguel Nos últimos quatro anos, a RECOIL concretizou anualmente várias actividades de apoio e recolha de fundos para instituições como a Cruz Vermelha de Macau e a Hong Kong Community Chest. Por exemplo, para ajudar a primeira, os ciclistas fizeram uma digressão de 300 quilómetros a Hainão. errisNos limites Nos limites O evento deste ano será levado a cabo exclusivamente pela equipa e “vai testar os limites da resistência humana, na expectativa de que as dificuldades a enfrentar possam inspirar as pessoas a sentir a sua paixão pela causa da protecção animal”. Os ciclistas vão, então, para o Japão, onde cada um dos seis membros da equipa estabeleceu para si próprio um desafio. “Mark, um assumido viciado em endurance, pretende percorrer mil quilómetros em 48 horas, Miguel, conhecido como o Rei da Montanha em Macau, tem como desafio um mínimo de 500 quilómetros em 48 horas, Herris tem como objectivo 500 quilómetros em 48 horas, tal como Ivan, Arcadia, uma sprinter furiosa, e Diana.” Diana A digressão será gravada através de aparelhos que conseguem verificar a velocidade média e a distância percorrida por cada ciclista. Durante o evento a RECOIL vai disponibilizar fotos e vídeos à MASDAW para que estes sejam colocados nas redes sociais, a fim de actualizar os apoios ao evento e ajudar a recolher mais fundos e donativos. O patrocínio será feito quer através de doação para a totalidade do desafio, quer por quilómetro completado por um ciclista escolhido. Para ajudar a MASDAW – que se tem dedicado a esterilizar e alimentar animais abandonados no território – está ainda disponível para venda uma edição limitada de t-shirts com os logótipos da RECOIL e da MASDAW com a mensagem “ADOPT! DON’T SHOP!”. Estas poderão ser autografadas. Ivan Todos os lucros revertam para a MASDAW e todos os donativos podem ser feitos para as contas BOC MOP – 13-01-20-024733, BOC HKD – 13-11-28-414400, BNU MOP – 9012686823 ou BNU HKD – 9012686891. Uma actualização diária estará disponível no site oficial (www.masdaw.org) e no Facebook da MASDAW.
Joana Freitas Manchete SociedadeTabaco | Operadoras pedem recuo. Governo poderá negociar tolerância zero “nos casinos” Um estudo assinado por todas as operadoras contraria os dados do Governo e prevê que 32% dos jogadores VIP escolherão destinos alternativos de Jogo em caso de proibição total de fumo. O Executivo poderá, no entanto, estar aberto a negociar a tolerância zero [dropcap type=”3″]O[/dropcap] Governo da RAEM estará disposto a negociar a tolerância zero do fumo nos casinos, soube o HM junto de fonte bem informada. Declarações que surgem no dia em que as seis operadoras de Jogo publicam um estudo conjunto que indica que a maioria de funcionários e clientes concorda com a criação de salas de fumo nos casinos. “Se analisarem bem as palavras do Secretário Alexis Tam e do próprio Chefe do Executivo, é fácil chegar à conclusão que existe algum espaço de negociação”, diz a mesma fonte ao nosso jornal. Ainda ontem, Chui Sai On disse que dificilmente o Governo mudará de ideias em relação à política do fim do fumo nos casinos, mas salientou que o Governo está aberto “a ouvir opiniões”. No estudo lançado, contudo, as operadoras juntam-se para pedir ao Governo que pense duas vezes, dizendo mesmo que os jogadores assumem deixar de cá vir. “Apesar das operadoras apoiarem a ideia do Governo face à Lei de Controlo do Tabagismo, uma vez que a saúde e o bem-estar de empregados e funcionários é de extrema importância, elas estão também unidas na posição de que as salas de fumo para clientes deveriam manter-se”, começa por dizer um resumo do estudo, enviado aos média. Mais ainda, as operadoras sublinham mesmo que “deveria ser feita uma consideração mais cuidadosa face às consequências que a activação dessa proposta [de proibição de fumo] virá a ter”. Segundo os dados fornecidos, o estudo mostra que “os clientes VIP iriam reduzir as suas visitas a Macau em 17% e a duração da sua estadia em 24% com a proibição total de fumar”. Ainda por cima, realça o estudo, a competição está a crescer em termos de casinos e 32% dos entrevistados “disseram que iriam viajar para outros destinos de jogo devido a ser possível nesses outros locais fumar dentro dos casinos”. Pressão alta [quote_box_right]“O estudo mostra que, de entre 34 mil funcionários das seis operadoras, 66% concordam com a manutenção e criação de salas de fumo. Destes, 81% são trabalhadores de dentro do casino (…) e estão incluídos fumadores e não-fumadores. Todos os que a lei pretende proteger” – estudo das operadoras[/quote_box_right] Recorde-se que responsáveis do sector e alguns deputados se queixam de que a proibição do fumo nos casinos irá magoar ainda mais indústria. Algo com que Chui Sai On não concorda. “As receitas têm estado a cair há 12 meses. Não foi por causa da Lei de Controlo do Tabagismo. Depois da Assembleia Legislativa (AL) aprovar [as alterações] é que iremos analisar a situação, mas dentro das Linhas de Acção Governativa (LAG) está escrito que vamos rever [a lei] a cada três anos”, disse, citado num comunicado. O estudo foi feito por “profissionais internacionais” e englobou clientes e trabalhadores. “De entre 34 mil funcionários das seis operadoras, 66% concordam com a manutenção e criação de salas de fumo. Destes, 81% são trabalhadores de dentro do casino, 19% são de outras áreas, e estão incluídos fumadores e não-fumadores. “Todos os que a lei pretende proteger”, salientam as empresas. Mas há mais: segundo os dados das empresas “47% dos clientes VIP e 31% dos clientes do jogo de massa mostram-se preocupados com o facto de que a proibição total de fumar irá ter um enorme impacto na economia de Macau”. Preocupação semelhante à das operadoras, que indicam ainda que o Governo deveria ter em conta as consequências. Cuidados intensivos “A criação das salas de fumo tem tido um feedback positivo. Por isso, sentimos que se deveria que as opiniões das pessoas deveria ter sido medida independentemente e documentadas, de forma a que se possa ter um ponto de vista mais compreensivo sobre a aceitação pela população da proibição de fumar e se isto poderia realmente ser atingido sem comprometer o objectivo de tornar Macau um centro mundial de turismo e lazer”, escrevem as operadoras. “Macau está já a enfrentar obstáculos e estar a introduzir restrições adicionais que poderão magoar ainda mais a economia deveria ser cuidadosamente avaliada. Especialmente se há alternativas.” A publicação do estudo – que é contrário ao do Governo, que indicava que 70% da população concorda com a proibição total de fumo e 80% dos turistas também – é propositada para que “todas as partes preocupadas” com a saúde dos funcionários “reconheçam que há um grande apoio no que à manutenção das salas de fumo diz respeito” e que a proibição total “pode ter um impacto negativo na economia geral de Macau”.
António Conceição Júnior MancheteDo Aroma ao Perfume [dropcap style=’circle’]V[/dropcap]iemos de um outro tempo em que o que nos era mais caro era a sinceridade. Inocência dos tempos da juventude e, possivelmente, de muita ingenuidade. Vivíamos um tempo que a si mesmo se dava generosamente mais. Tal como agora, havia acácias, árvores de polpudas flores de cor de romã que se estatelavam no chão, soltando fibras que semelhavam algodão, pairando no ar. Projectavam sombras frondosas enquanto os triciclos nos traziam frescas brisas e a barraca de pesca permanecia na meia-laranja. No ar pairavam aromas tantos, misturas indiscerníveis, metáforas do que são os macaenses, nação de singularidades, de indivíduos multilingues que por aqui permanecem ou pelo mundo se espalharam em diáspora. Há trinta ou mais anos, disse que o que fazia a diferença em Macau do resto da China era a existência de uma comunidade que tinha conseguido, pela genética, legitimar a fugaz presença portuguesa, configurando-se, ela sim, como embaixadora, usufrutuária e portadora da Portugalidade. Saltando o desfiladeiro das décadas, é grato constatar que desde a Transição, a República Popular da China encontra em Macau a mais adequada plataforma para a relação com os Países Lusófonos. Macau sempre foi, de forma inexplicável, um sortilégio que por aqui nutriu as raízes, não apenas de tantos portugueses aqui radicados ad aeternum, como de chineses que por aqui se instalaram, provenientes de províncias diversas. A nós, portugueses e luso-macaenses, é-nos requerido que saibamos encontrar e emanar a essência da singularidade, para que o aroma se transmute em perfume singular para o Lótus de Macau. A cada um de nós, de origem vária, diversa e dispersa, cumpre-nos ser a diferença. Que fiquem para trás os tiques de outros mundos que a este não pertencem. Que nos afirmemos pela qualidade, pela natural capacidade de nos misturarmos, em vez de nos atermos a refúgios de círculos fechados. Macau é, deve ser, sobretudo, um espaço para relações singulares, sempre pronto ao reatamento. A idade tem destas coisas, potencia o tempo distante e traz a cada reencontro a certeza de que, aos Amigos de verdade, Macau nunca lhes é indiferente. À medida que o tempo passa, os aromas apuram-se.
Filipa Araújo Manchete PolíticaTerrenos | Governo desiste de recuperar 16 da lista de 48 Eram 113 os terrenos que formavam a lista de espaços a serem analisados para definir a sua caducidade ou não. Depois o número desceu para 48 e agora são menos 16 os terrenos que o Governo pretende recuperar. Detalhes não existem e Raimundo do Rosário justifica apenas que a decisão vem “do antigo Governo” [dropcap style =’circle’]O[/dropcap] Governo retirou 16 terrenos da lista dos 48 que deveriam ser recuperados pela Administração, por não aproveitamento ou caducidade da concessão. O anúncio é feito pelo Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, depois de uma reunião com a Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Terras, que decorreu ontem. “Há 48 terrenos [na lista de terrenos para declarar a caducidade] e a situação é o seguinte: há 18, como é de conhecimento público, estando até publicados em Boletim Oficial com declaração de caducidade, há mais cinco que em breve serão publicados, há nove que estão ainda em análise nas Obras Públicas e há 16 que não preenchem os requisitos da declaração de caducidade”, começou por explicar Raimundo do Rosário. Em síntese, o Secretário explicou o que aconteceu a estes 16 terrenos é que “não foram preenchidos os requisitos para a declaração da caducidade”. Contudo, mais informações o Secretário não dá, ficando por se saber a quem pertenciam estes lotes ou sequer a sua localização. “Se não preenchem os requisitos para declarar a caducidade confesso que não estou a ver porque é que devemos divulgar. Analisámos o caso e chegámos à conclusão que no fundo estão bem, ou que não estão assim tão mal que seja necessário declarar a caducidade”, argumentou Raimundo do Rosário, adiantando que a decisão já “vem do antigo Governo”. “No início do ano dei instruções às Obras Públicas para verem duas situações: uma são as concessões que estão em situação de incumprimento e a outra são as concessões provisórias que não têm condições de ser renovadas, ou não podem. Portanto isto é um trabalho que as Obras Públicas estão a fazer”, rematou. Também na reunião da Comissão pouco ou nada foi adiantado, sendo que os deputados aguardam que, numa nova visita, Raimundo do Rosário venha munido de detalhes. “A Comissão tem interesse por esses 16 terrenos, mas o Secretário disse que não trouxe essas informações para a reunião de hoje (ontem). Vai entregar-nos mais informações em breve sobre o que se passou com esses terrenos que foram excluídos da lista e por quê”, esclareceu Ho Ion Sang, presidente de Comissão. Seis reclamações Recorde-se que ao ser declarada a caducidade dos terrenos, as concessionárias podem reclamar, no prazo de 15 dias depois da caducidade ser publicada em Boletim Oficial, tendo ainda 30 dias para recurso em tribunal. De acordo com Raimundo do Rosário, o Executivo já recebeu reclamações face aos mais de dez terrenos que recuperou. “Já recebemos seis reclamações [ao Chefe do Executivo] e dos recursos [judiciais] já fomos citados em quatro”, esclareceu o Secretário, quando questionado sobre os, até ao momento, 18 terrenos com declaração de caducidade. Relativamente ao uso que será dado aos terrenos que o Governo poderá vir a recuperar, Raimundo do Rosário ainda não sabe. “Ainda não está decidida [a finalidade dos terrenos], porque como já disse, ainda estão em fase de reclamação ou de recurso, mas o Departamento de Planeamento Urbanístico das Obras Públicas certamente estará a pensar nesse assunto”, esclareceu, sublinhando que são trabalhos demorados. Ainda sobre os terrenos já recuperados, Ho Ion Sang esclareceu que grande parte fica na zona do Pac On, local, que segundo os conselhos de Raimundo do Rosário, não reúne as condições para a construção de habitação. “O Secretário disse que, neste momento, esses lotes estão a ser pensados para o armazenamento de ficheiros, ou logística.” _______________________________________________________________ GDI fora da reestruturação Durante a apresentação da Linhas de Acção Governativa, Raimundo do Rosário tornou pública a decisão de reestruturar e organizar a sua pasta, sendo que haveria a possibilidade de alguns serem fundidos. Ontem, em Boletim Oficial, foi publicada a extensão do Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-Estruturas (GDI) por mais dois anos e, questionado sobre o assunto, o Secretário assume que a decisão é reflexo da utilidade do Gabinete. “É simples, se foi renovado é porque sentimos a necessidade de renovar. Neste ano damos um primeiro passo na reestruturação dos serviços e foi entendido que o GDI não fazia parte dessa primeira fase, porque não é prioritário”, esclareceu. Este ano, o Governo, explicou, vai reestruturar o Conselho de Ciência e Tecnologia, o Conselho da Segurança dos Combustíveis e a Direcção de Regulação dos Serviços de Telecomunicações. “Esses farão parte do que eu chamo de primeira fase [da reorganização dos serviços]. Depois de encerrarmos esta primeira fase, iniciaremos a segunda fase”, rematou.
Andreia Sofia Silva EventosFestival de Gastronomia de Moçambique arranca amanhã [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]ntre amanhã e o dia 28 deste mês decorre no hotel Grand Lapa, em Macau, mais uma edição do Festival de Gastronomia de Macau. Este ano o evento conta com a presença do chef Carlos Khan da Graça, que promete trazer novidades ao nível da doçaria e alguns pratos, conforme disse ao HM Carlos Barreto, vice-presidente da Associação dos Amigos de Moçambique (AAM). “O chef Graça, ao longo da sua actividade profissional em Moçambique, desenvolve sempre qualquer coisa nova. Negociamos com ele a questão dos menus. Ele traz umas cervejas de Moçambique para fazer uns petiscos e uma das coisas que se faz muito é matapa com caranguejo, então pedimos-lhe para não fazer assim, porque dá trabalho a comer, por isso vamos fazer com camarão. Há algumas variantes, sobretudo ao nível da doçaria.” Este ano o festival coincide com a celebração dos 40 anos da independência de Moçambique, que se comemoram a 25 de Junho. “Já tivemos salas com 200 pessoas e este ano vamos ter uma sala só com 120. Foi o espaço que nos determinaram, mas estamos satisfeitos. O que interessa é que as pessoas venham nos outros dias”, apontou. Sempre a crescer Carlos Barreto diz que o festival tem tido cada vez mais adesão desde o primeiro ano em que se realizou, em 2007, sendo que este ano a AAM pretende atrair mais a comunidade chinesa. “As pessoas gostam de comer qualquer coisa que seja diferente. A nossa aposta neste hotel é para alargarmos a gastronomia moçambicana à comunidade chinesa. Sabemos que há muitos clientes chineses que são habituais e também queremos que eles conheçam a nossa comida. Tivemos essa experiência sempre em eventos anteriores, sempre com um crescimento”, disse. O festival vai ter buffet de almoço a 220 patacas para adulto, jantares a 310 patacas e jantares de fim-de-semana a 368 patacas para adulto. As crianças até aos 11 anos têm direito a descontos. Por restrições orçamentais, a AAM aposta apenas, para já, na vinda do chef Carlos Khan da Graça. Para Novembro, está marcada uma exposição na Torre de Macau sobre o Parque Nacional da Gorongosa. “É fauna selvagem, mas não só. É um caso de sucesso na revitalização de um parque, já foi um dos melhores parques de África e voltará a sê-lo. Queremos mostrar não só os animais como todo o trabalho de recuperação que foi feito”, concluiu Carlos Barreto.
Leonor Sá Machado Manchete SociedadeCotai | Especialista critica organização do espaço Num artigo da revista Forbes, o especialista em Jogo Muhammad Cohen critica a organização do espaço dos casinos do Cotai, justificando falta de coesão com o ambiente circundante. No entanto, deixa uma nota de esperança de que aconteça uma ‘mimesis’ do tradicional no Broadway Macau [dropcap style=’circle’]P[/dropcap]ara o especialista em Jogo Muhammad Cohen o aspecto mais negativo das construções do Cotai está relacionado com um “virar de costas” ao resto do património e zonas antigas, aquilo que considera ser a particularidade da cidade. É o que escreve Cohen num artigo de opinião escrito para a revista Forbes, onde o também editor do website Inside Asian Gaming refere que os acessos dos casinos – nomeadamente do Galaxy – para zonas como a Vila da Taipa são quase inexistentes. “Atravessar do Galaxy até à vila Velha da Taipa obriga à passagem de seis faixas de rodagem que não têm um único semáforo ao longo de cem metros desde o principal acesso da vila”, frisa como um dos exemplos. Cohen escreve para a Forbes e redigiu o seu artigo na óptica de alguém que não vive na RAEM a tempo inteiro, mas o HM consultou arquitectos locais sobre este assunto e a opinião é unânime: o Cotai deveria ter mais acessos pedonais para que a deslocação das pessoas fosse facilitada. Carlos Marreiros partilha desta perspectiva, referindo mesmo que toda a cidade precisava de mais acessos, tanto nas principais artérias como nas menos movimentadas. “O Cotai surge como uma zona de concentração de casinos em Macau e, naturalmente, que os acessos não são suficientes”, começa Marreiros por dizer ao HM. “É preciso, em termos de espaços e percursos pedonais e de passagens superiores, apostar mais nessas infra-estruturas, nomeadamente para as zonas vizinhas”, explicou. A lógica que deve ser seguida, de acordo com o arquitecto, é a de “interacção” entre o Cotai e toda a zona circundante. Da entrada se fez saída Em “Macau Peninsula, Cotai – A Tale of Two Cities For Urban Casino Integration”, Cohen compara o arranjo urbano dos casinos da península e do Cotai, explicando que as primeiras construções conseguiram imiscuir-se melhor na cidade do que aquelas feitas na zona entre a Taipa e Coloane. O texto do especialista apoia-se num outro artigo, desta vez de foro académico. Os seus autores – Andrew Klebanow e Steven Gallaway – montaram, em Abril deste ano, um documento completo sobre a história dos casinos pelo mundo. Sobre Macau, um dos problemas apontados foi precisamente a falta de acessos e consequente desconhecimento da maioria de turistas sobre a cidade além-Jogo. “Os peões devem primeiro fazer todo um caminho até à estrada principal e depois encontrar uma passagem pedestre para uma travessia segura e isso é uma pena porque as ruas perto dos resorts estão repletas de restaurantes, lojas e construções arquitectónicas feitas durante a governação portuguesa. Trata-se de um bairro atractivo e interessante, mas apenas conhecido pelos seus residentes e turistas ocasionais”, escrevem no artigo. Tal demonstra, assim, que o planeamento urbano da RAEM não passa despercebido lá fora. Um dos principais pontos é a falta de portas de entrada e saída, que na maioria das vezes dão para outros casinos e hotéis, mas não para zonas de lazer não relacionadas com o Jogo. No entanto, as críticas atingem somente o Cotai e não a península, já que também Klebanow e Gallaway – como Cohen – descrevem os casinos de Macau como sendo os que “mais harmonia” têm com o ambiente circundante. “Não há melhor exemplo de harmonização com os bairros vizinhos do que o dos casinos integrados no distrito central de casinos da península”, começam por explicar. A razão, dizem, reside no facto de haver espaços limitados de terrenos para que grupos como a MGM, a Wynn ou a SJM expandissem, acabando por permitir “uma movimentação livre de visitantes para dentro e para fora dos casinos”. No caso destes complexos, as entradas e saídas levam à rua, nomeadamente a uma frente ribeirinha e à zona dos NAPE, munida de uma série de restaurantes, bares e clubes nocturnos e joalharias. Não se esqueçam dos residentes Marreiros foca a evolução da cidade no bem dos seus residentes, mais do que no Turismo. Assim, o profissional lamenta a carência de meios e acessos de deslocação do Cotai para a Taipa e Coloane. “A comunicação entre as duas ilhas que formam aquela zona devia ser maior e melhor para que assim a população de Macau pudesse usufruir deles”, continua. Para o arquitecto, a passagem superior – que liga o Cotai à zona do aeroporto e da Taipa – e a rua pedonal frente ao Quartel do Exército de Libertação que dão para os casinos “demoraram muito tempo a ser construídas”. Na sua opinião, não faltará muito tempo para que estes acessos sejam parcos para as necessidades do turismo e residentes locais. “A visão tem que ser holística e a RAEM, sendo constituída por uma península e duas ilhas, tem que ser pensada assim porque a cidade vai continuar a ter problemas de grandes concentrações e tráfego”, sublinhou Carlos Marreiros. [quote_box_right]“Atravessar do Galaxy até à vila Velha da Taipa obriga à passagem de seis faixas de rodagem que não têm um único semáforo ao longo de cem metros desde o principal acesso da vila” – Muhammad Cohen, especialista em Jogo[/quote_box_right] Broadway, um espelho faz de conta Mohammad Cohen deixa, no entanto, a nota de uma possível mudança de paradigma. O colunista vê na abertura do Broadway Macau – parte do Galaxy – o início de um hipotético bom caminho. Isto porque, de acordo com Cohen, este complexo e a sua rua de restaurantes e entretenimento ao ar livre vêm dar aos turistas e visitantes a oportunidade de experienciar toda a cidade num só local. “A expansão do Galaxy inclui o Broadway Macau, desenhado para trazer os sabores de Macau para o Cotai, usando vendedores locais num cenário de rua ao ar livre. Talvez, não surpreendentemente, esta actividade no rés-do-chão deite cá para fora toda a periferia de propriedade”, explica Cohen. Já Marreiros considera que, embora o Cotai seja “uma história de sucesso” em termos de construção concentrada de uma só indústria, não espelha exactamente o conteúdo de toda a cidade, da qual fazem parte os monumentos, outros edifícios patrimoniais, restaurantes e lojas típicas e afins. Em suma, uma das soluções para revitalizar o turismo em zonas turísticas mas não muito visitadas é melhorar os acessos oferecidos, tanto em qualidade como em quantidade. O HM tentou contactar outros especialistas da área do Urbanismo e Arquitectura, mas tal não foi possível até ao fecho desta edição.
Carlos Morais José EditorialUma baforada de bom senso [dropcap style=’circle’]C[/dropcap]hui Sai On tem razão quando diz que a quebra das receitas do Jogo nada tem a ver com proibição de fumar. Mas não tem a razão toda e os números que as operadoras hoje apresentam são disso testemunho. Se pensarmos um pouco, não é do interesse das operadoras que se fume nos casinos. Estou convencido que os seus donos prefeririam um ambiente mais saudável para todos. Por isso acredito mais nos dados agora revelados, no que na estatística apresentada pelo Governo, certamente através dos Serviços de Saúde, os mesmos que montaram a campanha mais fundamentalista que alguma vez aconteceu em Macau. De facto, não vislumbramos que interesse poderiam ter os casinos em albergar fumadores, se não soubessem que uma parte significativa das suas receitas desaparecerão com o fumo. Sobretudo, nas salas VIP, afinal onde se realiza diariamente a mais importante recolha de dinheiro para os cofres das operadoras, da RAEM e da população de Macau. [quote_box_right]E é bom não esquecer também que, sendo a maior parte do dinheiro aqui gasto de cidadãos chineses e de origem chinesa, é muito bom para o país que parte desse dinheiro fique em terra chinesa e não desapareça para os cofres e as economias de outros países.[/quote_box_right] (Interessante o facto do estudo governamental ter feito um “referendo informal” à população, tendo obtido o resultado de 70% a favor da proibição total do fumo nos casinos. Não se percebe bem é porque razão a população há-de ter opinião sobre isto, que não a afecta directamente, e não sobre… outras coisas. Esperamos que tenha existido uma cuidadosa protecção dos dados pessoais dos “referendados”.) A verdade é que nem sempre a realidade nem se curva perante os nossos desejos e tem aquele mau feitio de ir contra o que nos parece mais lógico, mais saudável e etc.. Basta, contudo, um pouco de bom senso para que se encontre uma alternativa ou várias alternativas que deixem todos satisfeitos. É por isso positivo que o Governo não se incruste na “tolerância zero” e deixe aberta uma porta aberta à negociação. Se assim fizer, mais não mostrará que entende a realidade da cidade que governa e, nesse sentido, não correrá o risco de ver biliões a serem desviados para outros casinos das redondezas que, provavelmente, estão a esfregar as mãos de contentes com esta atitude da RAEM. E é bom não esquecer também que, sendo a maior parte do dinheiro aqui gasto de cidadãos chineses e de origem chinesa, é muito bom para o país que parte desse dinheiro fique em terra chinesa e não desapareça para os cofres e as economias de outros países. Uma baforada de bom senso, na hora certa, tem evitado enormes descalabros. Agora precisa-se.
Joana Freitas Manchete SociedadeDoação de Órgãos | Serviços de Saúde “não estão preparados” para processo Mais de duas dezenas de pessoas saíram de Macau para poderem receber transplantes, mas nem esse número leva a que os SS reúnam “condições” para activar o sistema de transplante de órgãos na RAEM. O organismo não se mostra aberto a isso, não diz quantos dadores existem e não desvenda se Macau tem médicos especialistas para o efeito. Ainda que sem solução à vista, os SS continuam a permitir a existência de um grupo que tem “efectuado estudos e pareceres” desde 1999 [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s Serviços de Saúde (SS) ainda não estão preparados para levar a cabo transplante de órgãos, nem para implementar um regime de doação. É o que confirma o director do organismo ao HM, que indica ainda que, até hoje, nunca foi possível efectuar qualquer transplante em Macau. Mais de duas dezenas de pessoas foram para o estrangeiro para o efeito. Apesar de existirem uma lei e um decreto que “regulam claramente o acto de doação de órgãos”, como se pode ler numa resposta dos SS ao HM, a verdade é que um regime sobre a doação e transplante de órgãos tem vindo a ser pedido há vários anos pelos deputados da Assembleia Legislativa. Ainda recentemente Leong Veng Chai voltou a frisar a necessidade de se implementar este tipo de legislação na RAEM. Contudo, para os SS há muito a fazer e a questão do transplante de órgãos ainda não é bem recebida na sociedade. “A legislação de Macau que se encontra em vigor regula que a morte cerebral é a condição relevante da doação de órgãos de origem humana. No entanto, a definição de morte cerebral é um processo rigoroso. Considerando não haver nenhum mecanismo e condição que evite eventuais e desnecessárias controvérsias relativas à doação, os SS ainda não efectuam este tipo de procedimentos”, pode ler-se na resposta do organismo ao HM. Também numa resposta a uma interpelação sobre o tema, Lei Chin Ion explica que a definição de morte cerebral é um dos motivos para que existam obstáculos – já que este “é um tema rigoroso e altamente científico, cheio de controvérsia e [que conta] com os impactos de vários factores, como ciência, tecnologia, religião, cultura e região”. Contudo, o HM sabe que, em Macau, a doação de órgãos ainda é encarada como tabu pela cultura chinesa, algo que poderá estar relacionado com a decisão dos SS em não activar este sistema. “Em Macau, presentemente, ainda não há nenhuns critérios e regras a respeito da morte cerebral. Quer dizer, na prática, ainda não existiu qualquer autorização para a colheita de órgãos em cadáver”, escreve o director dos SS. [quote_box_right]”Considerando não haver nenhum mecanismo e condição que evite eventuais e desnecessárias controvérsias relativas à doação, os SS ainda não efectuam este tipo de procedimentos” – Resposta dos SS[/quote_box_right] Fígados e dadores Nos últimos cinco anos, de 2009 ao ano passado, os SS enviaram 23 pessoas para serem submetidas à transplantação de órgãos no exterior. O fígado é o órgão mais procurado. “No caso de existirem doentes com necessidades de transplante de órgãos, os SS, através de deliberação legal em regime de diagnóstico e terapêutica no exterior, a efectuar pela Junta para Serviços Médicos no Exterior, enviam os utentes para tratamento no exterior de modo a que os casos elegíveis possam obter o tratamento mais adequado. Desde 2009 e até 2014, foram enviados e submetidos à transplantação de órgãos no exterior 23 casos. Entre estes, 16 casos referem-se a situações de transplantação de fígado e sete casos a transplantação de rim”, diz o organismo ao HM. Apesar da lei que existe desde 1996 e de um decreto-lei de 1998, que regula o registo de dadores e implementa a emissão individual de dador, os SS não desvendam ao HM quantos dadores estão inscritos no REDA, o registo de dadores de órgãos em Macau, ou sequer se este sistema ainda está activo. Quase quatro meses depois do HM ter enviado as perguntas ao organismo, fica ainda outra pergunta por responder: se a RAEM dispõe de profissionais médicos especializados para proceder ao transplante de órgãos, tal como pede a lei. De acordo com o que o HM conseguiu apurar, a licença existe, mas nenhum médico na RAEM é licenciado para que não seja possível efectuar transplantes. Comissão para que te quero? Considerando não haver nenhum mecanismo e para evitar uma eventual controvérsia ao doar, os SS ainda não estão em condições para prestar o serviço relacionado.” Em resposta ao HM, o organismo admite então não estar ainda preparado para que este tema seja regulado e activado. Contudo, ainda continua a existir um grupo de trabalho responsável pela emissão de pareceres e estudos sobre o assunto. Grupo que viu entrarem novos membros no ano passado e que existe desde 1999. Mas, se ainda não é possível levar a cabo transplantes em Macau, porque é que está activa a Comissão de Ética para as Ciências da Vida? E porque é que esta ainda se mantém a estudar as regras para a morte cerebral desde que foi criada? E emite pareceres sobre quê, se não é possível o transplante em Macau? Os SS não conseguiram responder. “No passado mês de Outubro de 2014, o Governo nomeou os novos membros da Comissão de Ética para as Ciências da Vida. Esta Comissão irá discutir as matérias relacionadas com o transplante, estudar os critérios e as regras de cada um dos temas, emitir os pareceres para legislação a respeito da dádiva, colheita e a transplantação de órgãos de origem humana”, dizem apenas em resposta ao HM. Deste grupo fazem parte representantes dos serviços públicos, associações religiosas, sector jurídico e de saúde e representantes de universidades. Entre eles, estão o próprio director dos SS, Lei Chin Ion, o ex-Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Cheong U, que preside e o advogado e deputado Vong Hin Fai.
Andreia Sofia Silva PolíticaDeputados recusam debater investimentos em Guangdong [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Assembleia Legislativa (AL) votou contra a proposta de debate do deputado Au Kam San, sobre os investimentos da reserva financeira de Macau que poderão vir a ser investidos por Guangdong, alegando que já existe um diploma que dá competências à Autoridade Monetária de Macau (AMCM) para regular e fiscalizar esse tipo de investimentos. Mak Soi Kun, da Comissão de Acompanhamento para as Finanças Públicas da AL, referiu tratar-se de um debate desnecessário, uma vez que Lionel Leong, Secretário para a Economia e Finanças, e restantes membros do Executivo irão deslocar-se à AL esta sexta-feira para prestarem esclarecimentos sobre o assunto. “Será que agora é o tempo oportuno para realizar um debate? Penso que só depois do Governo ter tomado uma decisão definitiva”, disse Mak Soi Kun. À margem do debate, Lionel Leong poucos pormenores adiantou aos jornalistas sobre os investimentos na região vizinha. “Queremos investir em projectos de cooperação regional e ver como podemos utilizar bem a reserva do Governo. Não temos ainda um calendário para estes projectos. O nosso objectivo é ter alguns projectos de segurança para garantir que o investimento de Macau não seja afectado”, disse. Em comunicado, o Secretário para a Economia e Finanças salientou “ser muito provável que parte da reserva financeira será investida através da cooperação regional”. Lionel Leong garantiu que o Governo “gere o dinheiro de forma cautelosa e que exige que o investimento seja seguro e eficiente”. No comunicado, o Secretário diz ainda que espera “que o investimento possa integrar o desenvolvimento da China” e que iria haver “investimento caso os projectos assegurem o retorno financeiro do investimento aplicado e estejam relacionados com a vida da população”.