Hoje Macau China / ÁsiaTrês organizações e dois cidadãos recebem Prémio Sérgio Vieira de Mello em Timor-Leste Três organizações não-governamentais e dois cidadãos são hoje agraciados na edição de 2022 do Prémio de Direitos Humanos Sérgio Vieira de Mello, atribuído pela Presidência de Timor-Leste. Na 15.ª edição, os prémios, no valor de 10 mil dólares cada, reconhecem cidadãos timorenses e estrangeiros, organizações governamentais e não-governamentais que se destaquem na promoção, na defesa e na divulgação dos direitos humanos no país. Entre os agraciados este ano, contam-se o timorense Gil Horácio Boavida, fundador da organização HASATIL, que reúne organizações envolvidas nos setores do turismo e da agricultura e responsável por vários projetos, de acordo com o decreto assinado pelo Presidente, José Ramos-Horta. A outra agraciada é a brasileira Simone Assis, diretora executiva do projeto Pro-Ema, criado em 2018 para apoiar jovens mulheres sobreviventes de abusos sexuais. A edição deste ano reconhece ainda a associação ATKOMA, da ilha de Ataúro, a trabalhar desde 2005 para desenvolver o turismo sustentável na região. Serão ainda agraciados o Leeuwin Care Centro Santa Bakhita, em Díli, e a organização Masine Neo, do enclave de Oecusse-Ambeno. Criados a 18 de março de 2009, por José Ramos-Horta, durante o primeiro mandato como chefe de Estado timorense, os prémios visam igualmente assinalar, anualmente, o Dia dos Direitos Humanos. A iniciativa tem ainda como objetivo reconhecer o trabalho realizado pelo brasileiro Sérgio Vieira de Mello enquanto chefe da Missão da ONU de Administração Transitória de Timor-Leste, entre novembro de 1999 e maio de 2002. O diplomata brasileiro morreu em 19 de agosto de 2003, vítima de um atentado no Iraque. Normalmente os prémios são atribuídos em duas categorias, Direitos Civis e Políticos e Direitos Económicos, Sociais e Culturais, sendo que na edição deste ano apenas serão entregues galardões correspondentes à segunda categoria. A cerimónia de entrega do prémio vai decorrer no Palácio Presidencial, em Díli, pelo Presidente interino e presidente do Parlamento timorense, Aniceto Guterres Lopes, na ausência de José Ramos-Horta, que se encontra em visitas no estrangeiro.
Hoje Macau China / ÁsiaMorreu Jill Jolliffe, jornalista que testemunhou invasão indonésia de Timor A jornalista australiana Jill Jolliffe, que testemunhou as primeiras incursões militares indonésias em Timor-Leste, morreu na sexta-feira, aos 77 anos de idade, afirmou à agência Lusa fonte ligada à família. A jornalista, que chegou a viver em Portugal, testemunhou as primeiras incursões militares indonésias em território timorense, em Setembro de 1975, tendo noticiado a morte de cinco colegas de profissão em Outubro daquele ano (Brian Peters, Greg Shackleton, Gary Cunningham, Malcolm Rennie e Tony Stewart), assassinados na localidade de Balibó, tendo ficado conhecidos como os “Cinco de Balibó”. Os cinco jornalistas foram mortos numa operação clandestina das forças especiais da Indonésia, em preparação para a invasão do território, que era até então uma colónia portuguesa. O livro que Jill Jolliffe escreveu, “Cover Up – The inside story of the Balibo Five”, inspirou a longa-metragem realizada por Robert Connolly e protagonizada por Anthony LaPaglia, que estreou em 2009 na Austrália. Uma “de nós” O antigo presidente timorense Xanana Gusmão lamentou no sábado a morte da jornalista australiana. “É com grande tristeza que soubemos da morte de Jill Jolliffe, uma aclamada jornalista australiana, activista política e que sempre lutou pela justiça em Timor-Leste. Jill era uma heroína do povo timorense”, afirmou Xanana Gusmão, numa nota enviada à agência Lusa. “Jill foi uma activista, uma rebelde, uma lutadora. Expôs de forma persistente a realidade da ocupação militar indonésia e apoiou a luta do povo timorense. Terá sempre um lugar especial na nossa história nacional. Ela é uma de nós”, afirmou. Xanana Gusmão salientou que a jornalista apoiou a luta de independência timorense, com grandes sacrifícios pessoais, recordando a cobertura que fez em 1975, aquando das primeiras incursões indonésias e do caso dos “Cinco de Balibó”. “Jill estava em Dili para cobrir a proclamação de independência a 28 de Novembro de 1975. Ela tirou fotografias dos nossos líderes, incluindo do presidente Nicolau Lobato, que serão para sempre imagens preciosas e icónicas para a nossa nação”, recordou o antigo presidente timorense.
Hoje Macau Grande PlanoAs poderosas mergulhadoras de Ataúro, vencedoras em corrida de barcos tradicionais Reportagem de António Sampaio, da Agência Lusa O suor escorre pelo rosto de Prisca de Araújo, 52 anos, pescadora em apneia de Bikele, em Ataúro, enquanto ergue os remos com que acaba de vencer a pequena corrida de ‘beiros’, os barcos tradicionais timorenses. A seu lado, também com os rostos ofegantes e suados, remos de madeira toscos erguidos nas mãos, estão as duas companheiras de equipa, Querima Soares, 37, e Mariana de Araújo, 48 anos, esta última a única a quem não se vê o sorriso triunfante, eventualmente escondido atrás da máscara. “Somos todas família, pescadoras de Bikele”, explica a ‘chefe de equipa’, vencedora entre seis grupos de mulheres na primeira prova das “Corridas de Barcos”, primeiro evento desportivo do Festival de Música e Cultura em Ataúro que decorre esta semana na ilha a norte de Díli. Na costa os principais líderes do país, incluindo o Presidente da República, José Ramos-Horta – que deu a ‘largada’ acenando uma bandeira preta e branca – aplaudem a vitória da curta regata, uma viagem rápida de ida e volta, da praia até ao início da barreira de coral. Praticamente ninguém prestou atenção à corrida dos homens, logo a seguir, preferindo – atletas e VIP – vir para a sombra do tosco mercado ao lado do cais de Beloi, para beber uns cocos abertos na hora. “Hoje foi a primeira vez que algumas delas remaram, por isso andavam aos ziguezagues. Normalmente são mergulhadoras. Juntaram-se hoje para esta corrida”, explica à Lusa José Ramos-Horta, a quem coube a iniciativa do festival, evento a que se juntou depois o Governo. Quatro dias com competições, concursos e várias atividades, que começou na segunda-feira de uma forma inovadora, com embaixadores acreditados em Díli, em trajes tradicionais, a liderar delegações de todos os municípios e da Região Administrativa Especial de Oecusse-Ambeno (RAEOA). “É uma forma de trazer entretenimento para esta ilha que está perto de Díli, mas está muito isolada. Vem pouca gente cá e até vem mais estrangeiros residentes em Díli que dão alguma animação e animação económica à ilha”, nota o chefe de Estado. “Pretende-se que haja mais turismo doméstico, que os timorenses venham a Ataúro e a outros locais. Novembro não é o mês ideal, é época das chuvas, mas para o ano vamos fazer em julho ou agosto. Se calhar até conseguiremos reanimar a corrida de iates entre Darwin e Díli, que existiu no tempo português”, disse. Normalmente, em Ataúro, a divisão de tarefas no mar não é como foi hoje, para esta pequena corrida no mar cristalino da maior atração turística de Timor-Leste. Normalmente, nos ‘beiros’, quem rema são os homens, deixando às mulheres, as poderosas ‘wawata topu’ de Ataúro a outra tarefa: a de mergulhar em apneia, arpão na mão, para pescar. Wawata Topu é o termo no dialeto rasua que descreve mulheres mergulhadoras, as sereias de Ataúro, que se lançam dos pequenos beiros, a vários metros de profundidade, para pescar. Nas mãos levam um arpão tosco, de madeira, ferro e borracha e na face os óculos de mergulho tradicionais, feitos de madeira ou bambu esculpido e duas lentes de plástico ou, tradicionalmente, de vidro de garrafa. Mergulham vestidas e descem tranquilamente vários metros, flutuando junto a corais que são considerados dos mais biodiversos do mundo e que, claramente, são o principal atrativo turístico de Timor-Leste. A corrida de hoje de manhã – sob o sol forte e perante dezenas de personalidades que viajaram de Díli especialmente para o Festival – é um dos vários eventos programados para estes dias. Fora do programa oficial, mas eventualmente mais importante para o futuro mais imediato da ilha, está a decisão do Governo realizar um Conselho de Ministros em Ataúro, que se transformou este ano em município. “É a primeira e provavelmente a última vez. O programa do festival inclui uma quarta-feira e optámos por reunir o Governo, como normalmente, aqui”, explica o primeiro-ministro, Taur Matan Ruak, à Lusa. José Ramos-Horta espera que seja um encontro que possa começar a fazer nascer alguns projetos cruciais para a ilha. “Tem que haver mais investimento na água potável, um porto pequeno de atracagem, incluindo para iates. Depois uma clínica mais profissional e até com uma câmara hiperbárica, para os mergulhadores”, refere, entre outros projetos essenciais. Taur Matan Ruak concorda com essas questões, avança ainda aspetos como a eletricidade e nota que a transformação da região em município e a criação de um fundo especial de investimento demonstra a aposta nas melhorias. “A comissão do fundo está agora a analisar o que há para fazer. Só o orçamento para Ataúro em 2022 são cerca de 15 milhões, ultrapassa duas vezes os orçamentos de Díli, Baucau e Ermera”, notou. “A questão da água é um problema sério. E na eletricidade estamos a pensar avançar para energias renováveis. Temos que melhorar as estradas também”, referiu. Entre várias questões, disse, é importante também enquadrar o desenvolvimento que algum setor privado tem feito, especialmente no turismo, no plano de ordenamento para Ataúro. Temas complicados para resolver que as gentes de Ataúro esperam não fiquem esquecidos nas ‘espumas’ de uma maré de líderes timorenses que estão esta semana na ilha.
Hoje Macau China / ÁsiaHá mais jovens timorenses a compreender o português, mas falta a prática escrita Especialistas disseram hoje que mais jovens timorenses do que nunca entendem português, mas que é necessária mais prática de uso da língua, em todos os níveis de ensino, para fomentar o uso oral e escrito. No arranque das VII Jornadas Pedagógicas, na Universidade Nacional Timor Lorosa’e (UNTL), académicos referiram-se ao progresso feito no ensino do português em Timor-Leste, destacando o crescente número de jovens que conhecem a língua. Mas, ao mesmo tempo, apontaram preocupações sobre um processo que tem que ser reforçado a todos os níveis de ensino, da pré-primária em diante, para que possa depois ser consolidado no ensino superior. “Desde que existe a UNTL que temos trabalhado na introdução da língua portuguesa, apesar das dificuldades iniciais. Tem sido algo gradual e já estamos num patamar diferente, com a língua portuguesa mais desenvolvida”, sublinhou o vice-reitor para Assuntos Académicos, Samuel Freitas, na abertura das jornadas. “Mas cabe a cada um fazer esse trabalho. A língua portuguesa vai para a frente, dependendo da vontade de cada um. E há muitos estudantes que entendem, mas para quem falar ou escrever é mais difícil, o que mostra a falta de prática da língua”, disse. Intervindo na mesma ocasião, Benjamim Corte-Real, diretor do Centro de Língua Portuguesa da UNTL, disse que a evolução dos últimos anos, com cada vez mais jovens a entenderem a língua portuguesa, mostra que o português “deixou de ser a língua da elite”. “Essa visão, de há 10 anos, era uma ilusão. Até porque na prática a decisão do português como uma das duas línguas oficiais foi feita na Assembleia Constituinte que, de facto, era uma representação da vontade democrática do povo timorense”, disse o docente. “E não nos devemos ficar por dizer só que é a língua oficial. É a língua do povo, porque o povo assim o quis, porque entrou no seu reportório diário. Não é a elite que canta em português nos bailes e nas festas de casamento aos sábados. É o povo, jovens e adolescentes”, ilustrou. Mostrando-se convicto na contínua progressão do português em Timor-Leste, Corte-Real disse que a língua portuguesa “não pode ser desvinculada da afirmação de identidade” do povo timorense. “O português, pela sua parceria linguística, cultural, histórica com o tétum, já é uma realidade. É uma realidade pela sua complementaridade com o tétum, na afirmação do pilar da entidade e é com este objetivo e visão que continuamos a trabalhar”, afirmou. Também Afonso de Almeida, vice-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa da UNTL, destacou a progressão registada no ensino e no uso do português na instituição, afirmando que toda a direção e várias faculdades continuam muito empenhadas neste processo. O dirigente destacou recentes apresentações de trabalho de mestrado em que os alunos usaram o português, mas vincou que é preciso fazer mais, especialmente fora de faculdades “pioneiras” nesta questão como as de Direito, Educação e Ciências Exatas. “Fizemos um estudo para ver se as faculdades estão a ensinar em língua portuguesa, mas dizem-nos que em várias ainda estão em fase de transição [o indonésio é uma das opções]. Mas essa transição vai até quando? Vamos ter que estar com esta transição até quando?”, questionou Afonso de Almeida. “Obviamente isto não depende só da UNTL, mas das qualidades do ensino secundário, de jovens que até tentam fazer trabalho em português, mas depois com professores não dão essa oportunidade de trabalhar em português. É algo que temos que melhorar”, disse. Para a embaixadora de Portugal em Díli, Manuela Bairos, estes esforços podem ser apoiados com a “produção de materiais didáticos”, permitindo enquadrar e apoiar professores a todos os níveis de ensino. Fortalecer a capacitação de professores, mas também de funcionários e do público em geral é “fundamental e necessita de ser encarado com meios e recursos agressivos”, disse Bairos. A diplomata defendeu mais programas infantis em língua portuguesa nas televisões, planos de leitura, bibliotecas municipais e o reconhecimento de que o sistema de ensino “não vive em compartimentos fechados”, tendo por isso que se atuar a todos os níveis de escolaridade. “Vejo com satisfação a vontade de jovens, pais e sociedade em geral em investir na aprendizagem da língua portuguesa como parte da sua identidade de nação”, disse ainda, reiterando o compromisso de Portugal em apoiar no fortalecimento do ensino e da consolidação do português “em aliança com o tétum”, em Timor-Leste. Organizadas pelo Centro de Língua Portuguesa da UNTL e na sua sétima edição, as jornadas são subordinadas ao tema “Ler e falar o mundo em português”. Promovidas no âmbito do projeto FOCO-UNTL e em articulação com a Embaixada de Portugal em Díli, as jornadas incluem seminários e debates sobre vários temas, incluindo a situação geral do ensino da língua portuguesa em Timor-Leste.
Hoje Macau China / ÁsiaVietname quer organizar missão empresarial a Timor-Leste no início de 2023 O ministro da Indústria e Comércio do Vietname, Nguyen Hong Diên, disse ter planos para organizar uma missão empresarial, no início de 2023, para procurar oportunidades de comércio e investimento em Timor-Leste. O ministro falava durante um encontro com o seu homólogo timorense do Turismo, Comércio e Indústria, José Lucas da Silva, avançou na quinta-feira a agência noticiosa oficial vietnamita VNA. Nguyen frisou que o Vietname está interessado em apoiar Timor-Leste no desenvolvimento de áreas onde o país tem “potencial” para se tornar um importante exportador O ministro vietnamita deu como exemplo a prospeção e exploração de petróleo e gás natural, a exploração de minério e o processamento de recursos florestal e recursos marinhos. Nguyen pediu ainda ao seu homólogo timorense a ratificação do acordo de comércio livre entre os dois países, assinado em 2013. Segundo a VNA, José Lucas da Silva disse que Timor-Leste espera mais presença e investimento de empresas vietnamitas nos setores dos transportes, importação e exportação e operação de portos. O futuro desenvolvimento do projeto de processamento de gás natural do poço Greater Sunrise está há anos parado devido a um diferendo com a Austrália sobre a construção de um gasoduto em direção a Timor-Leste. O Presidente da República timorense José Ramos-Horta já ameaçou que, se a Austrália se mantiver intransigente em defender um gasoduto em direção a Darwin (norte), o país poderá procurar outros parceiros, incluindo a vizinha Indonésia, a Coreia do Sul, Japão ou a China. O encontro entre Nguyen Hong Diên e José Lucas da Silva decorreu à margem de uma cimeira dos ministros da Economia da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), em Siem Reap, no norte do Camboja. A 07 de setembro, José Ramos-Horta disse esperar que a adesão de Timor-Leste à ASEAN, um processo que se arrasta desde 2012, fique concluída em 2023. Também o primeiro-ministro do Camboja, Hun Sen, que preside atualmente à ASEAN, disse em 03 de agosto estar “otimista” que a adesão de Timor-Leste esteja concluída “o mais tardar no próximo ano”.
Hoje Macau China / ÁsiaAdesão de Timor-Leste à ASEAN na agenda de visita de PR timorense à Indonésia A adesão de Timor-Leste à Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) e a dinamização dos laços bilaterais com Jacarta vão dominar a agenda da visita à Indonésia que o Presidente timorense inicia hoje. “Viajo com quatro membros do Governo e deputados e vamos assinar vários acordos relacionados com laços económicos e comerciais, e especificamente com a província [indonésia] que inclui Timor Ocidental”, disse José Ramos-Horta à Lusa, horas antes de partir para Jacarta. “Importantíssimo, no topo da minha agenda, está a adesão à ASEAN. Por isso, e além do encontro com o Presidente Joko Widodo, terei um encontro no secretariado da ASEAN em Jacarta”, frisou, recordando que o seu homologo indonésio irá assumir a presidência do órgão regional em novembro. Ramos-Horta, que assumiu funções a 20 de maio, disse que esta semana estará em Timor-Leste mais uma missão de avaliação preliminar da ASEAN, desta vez focada nas questões económicas, depois de uma outra, focada na componente social, ter visitado recentemente o país. “Terminam assim as missões de avaliação de Timor-Leste em relação à sua preparação para a adesão à ASEAN. Os relatórios vão ser enviados para os chefes de Estado que decidirão o ‘timing’ da adesão”, notou. O Presidente timorense disse que a escolha da Indonésia como primeiro destino numa deslocação ao exterior cumpre a tradição que se tem verificado com os seus antecessores, tendo em conta igualmente as “importantíssimas relações políticas, diplomáticas, sociais, cultuais, económicas e de segurança”. Entre outros aspetos na agenda, Ramos-Horta explica que vai defender a necessidade de acelerar a demarcação da fronteira terrestre e de lançar as negociações em relação à fronteira marítima. “A Indonésia tem uma situação especial, com muitas outras prioridades na resolução de fronteiras marítimas, por ser um país vastíssimo. Mas acreditamos que Timor-Leste, sendo uma situação especial, não pode ficar para trás na resolução destas questões”, explicou. Reduzir o isolamento do enclave de Oecusse-Ambeno, facilitando a mobilidade para a região e para a metade indonésia da ilha é outro dos objetivos das conversas, com Ramos-Horta a defender “um regime especial de circulação de pessoas e bens”, e a possibilidade de eliminação do pagamento de vistos. O chefe de Estado timorense disse que tem prevista, ainda sem data, uma viagem à Austrália e que antecipa uma deslocação em novembro a Portugal, data sobre a qual conversou com Marcelo Rebelo de Sousa, durante a visita do Presidente português a Timor-Leste, em maio de 2023. “Faria uma visita de Estado e aproveitaria para participar no Web Summit”, explicou. Ramos-Horta parte hoje ao início da tarde para Jacarta, onde na terça-feira tem prevista uma visita ao cemitério Kalibata, onde está o monumento ao soldado desconhecido, e um encontro com o seu homólogo, Joko Widodo. No mesmo dia está previsto um encontro com o ex-Presidente Susilo Bambang Susilo Yudhoyono, uma palestra na Universidade da Indonésia e um diálogo com jornalistas. Na quarta-feira, Ramos-Horta reúne-se com a maior organização islâmica da Indonésia, a Nahdatul Ulama, e terá várias visitas a instituições e um encontro com o secretariado da ASEAN, antes de entrevistas a duas das principais televisões indonésias: Kompas TV e Metro TV. A agenda da visita inclui ainda visitas à Universidade Atmajaya e um encontro com a Câmara de Comercio da Indonésia, antes de viajar para Nusa Tenggara Timur (NTT), a província indonésia que inclui Timor Ocidental. Antes do regresso a Díli, Ramos-Horta tem previsto visitar Labuan Bajo e as ilhas de Rinva e Padar, todas na NTT.
Hoje Macau EventosConselho de Imprensa timorense cria Prémio Max Stahl para documentários O Conselho de Imprensa de Timor-Leste anunciou hoje a criação de um novo prémio de jornalismo Max Stahl que reconhecerá anualmente o melhor documentário produzido no país, informou o órgão. “Decidimos em plenário criar um novo Prémio de Jornalismo Max Stahl que é também uma forma de honrar e reconhecer o jornalista Max Stahl, uma figura nacional, herói para todo o povo de Timor-Leste”, disse Virgílio Guterres. “O prémio reconhecerá documentários, trabalhos audiovisuais, com mais de 30 minutos produzidos sobre conteúdos de direitos humanos, conteúdos que elevam a dignidade das pessoas, publicado em órgão de comunicação social, televisão, rádio ou online”, frisou. O novo prémio soma-se a cinco outros já atribuídos pelo Conselho de Imprensa, incluindo o Prémio Adelino Gomes, que reconhece obras em língua portuguesa e o prémio Borja da Costa, para trabalhos da imprensa escrita. A organização atribui ainda o Prémio Grega Shackelton para trabalhos de televisão, o Prémio Bernardino Guterres para fotojornalismo e o Prémio Conselho de Imprensa para o melhor órgão de comunicação social. Os prémios anuais têm todos uma compensação de 1.500 dólares. O jornalista australiano Max Stahl, que morreu em outubro de 2021, foi fundamental na cobertura do conflito armado em Timor-Leste, nomeadamente do massacre no cemitério de Santa Cruz, provocado pelas tropas indonésias, em 12 de novembro de 1991.
Hoje Macau China / ÁsiaEscola Portuguesa de Díli leva Timor-Leste a quarto lugar mundial em calculo matemático Um aluno timorense do 7.º ano da Escola Portuguesa de Díli foi o terceiro classificado entre quase 52.300 estudantes de todo o mundo num concurso internacional de cálculo matemático, levando Timor-Leste ao quatro lugar entre os países participantes. Simplício de Deus foi o terceiro mais rápido da sua categoria na 16.ª Edição do concurso Supertmatik International Mental Math Competition, com Timor-Leste a ficar em quarto lugar na competição atrás de Malta, Espanha e Portugal. A classificação de Timor-Leste colocou o país à frente de nações como o Canadá, Nova Zelândia, Coreia do Sul, Reino Unido, Alemanha e China. Alunos da Escola Portuguesa conseguiram resultados de destaque noutros grupos escolares, com Graciela Santos a ser 47.ª entre 10.430 alunos do 1.º ano, Susana Rosa a ser 51.ª entre 46.200 alunos do 4.º ano e Maria Salve Rainha a ser 52.ª entre 41.720 alunos do 8.º ano. O concurso envolve centenas de milhares de estudantes entre os 06 e os 15 anos de todo o mundo que competem entre si para resolver um jogo de exercícios matemáticos. Na sua 16ª edição, o concurso conta com a participação de alunos da Escola Portuguesa de Díli há vários anos. A mesma escola obteve também bons resultados num outro concurso, o Canguru Matemático, que envolve todas as escolas portuguesas em Portugal e no resto do mundo. Nas categorias – que vão do 1.º ao 12.º ano – o melhor resultado da escola portuguesa de Díli foi o de Sangjoon Park, que ficou na 60.ª posição entre 6.428 alunos.
Hoje Macau China / ÁsiaTimor-Leste | Diplomacia chinesa defende reforço da cooperação O chefe da diplomacia chinesa esteve em Timor-Leste na sequência do périplo pelos pequenos países do Pacífico Sul. Durante a visita, Wang Yi destacou a contribuição chinesa para o desenvolvimento do país e o aumento substancial das exportações de Timor-Leste para a China O ministro dos Negócios Estrangeiros chinês comprometeu-se sábado a reforçar e a expandir a cooperação da China com Timor-Leste e saudou o relacionamento de duas décadas entre os dois países. “Já estabelecemos esta parceria e gostaríamos de elevar a parceira entre a China e Timor-Leste a um novo patamar, criando um bom exemplo de respeito mútuo, benefícios mútuos e para o desenvolvimento comum entre países”, disse Wang Yi, aos jornalistas em Díli. “Já realizámos projectos exemplares na área da rede eléctrica, estradas e porto e isso ajuda muito o desenvolvimento das infraestruturas do país. As exportações de Timor-Leste para a China aumentaram 90 por cento e o café de Timor-Leste é cada vez mais procurado na China”, disse. Wang Yi falava aos jornalistas numa curta conferência de imprensa, com apenas três perguntas no total, no final de um encontro com o Presidente timorense, José Ramos-Horta. “A China é a segunda maior economia do mundo e membro do conselho permanente da ONU e é um país em desenvolvimento e está sempre ao lado dos outros países em desenvolvimento. Visitei Timor-Leste para ouvir as necessidades de Timor-Leste e promover colaboração bilateral e ajudar Timor-Leste a acelerar o desenvolvimento e elevar a vida do povo”, afirmou. O encontro com os jornalistas não estava previsto na agenda da visita e realizou-se depois de várias críticas, incluindo do Conselho de Imprensa timorense, pela recusa do governante chinês de prestar declarações aos meios de comunicação social. Questionado sobre as preocupações em alguns países, incluindo Austrália e Estados Unidos, sobre os interesses da China na região, Wang Yi disse tratarem-se de relações normais que Pequim tem vindo a promover. “A China quer desenvolver relações amigáveis com todos os países, não apenas no Pacífico. Fomos a África, à América Latina e ao Médio Oriente também”, afirmou. “Se a nossa viagem à região ajuda a motivar outros países a darem mais atenção a estas regiões e encorajar outros países a ajudar o desenvolvimento destas regiões, então porque não? Isto é normal e creio que é positivo para todo o mundo. Se não, é injusto deixar estas regiões abandonadas e esquecidas pelo mundo”, sublinhou. Relações saudáveis Durante a visita foi possível chegar a “vários consensos”, incluindo a “defesa do multilateralismo e do papel central da ONU para enfrentar os desafios” do planeta, disse Wang Yi, salientando que a China “continua a apoiar a adesão de Timor-Leste à ASEAN [Associação de Nações do Sudeste Asiático]”. Em concreto, no caso de Timor-Leste, o ministro destacou a colaboração no sector da saúde, comprometendo-se a enviar mais material de apoio e vacinas para combater a pandemia da covid-19 e equipas médicas. “Nos últimos 20 anos, as nossas equipas médicas já trataram 300 mil doentes em Timor-Leste. Vamos enviar mais equipas médicas de acordo com as necessidades de Timor-Leste”, disse. Sobre as duas décadas de relações bilaterais, Wang Yi lembrou que foi o próprio Ramos-Horta, então ministro dos Negócios Estrangeiros, que “assinou o comunicado conjunto”. Por seu lado, José Ramos-Horta afirmou que o encontro serviu para analisar as relações bilaterais, tendo agradecido à China pelos “20 anos de relações bilaterais, de apoio que tem dado em infraestruturas, educação e saúde”, com centenas de jovens a estudar na China. O chefe de Estado disse ter pedido a Wang Yi para que, no quadro da reunião do G-20, se discuta o perdão ou a reestruturação da dívida dos países em desenvolvimento. “Pedi a atenção do MNE [ministro dos Negócios Estrangeiros] e da China, no quadro da reunião do G20, e como consequência da pandemia e da guerra na Ucrânia que agravou a situação económica mundial, para seriamente a comunidade internacional ver a questão do perdão ou reestruturação de dívidas dos países do terceiro mundo, a única possibilidade para esses países poderem recuperar economicamente”, disse. Questionado sobre os receios, no ocidente, relativamente à acção da China no Pacífico, Ramos-Horta disse que “não há razões para alarme” e lembrou que Pequim sempre teve interesses na zona, por exemplo, na pesca. “Estes países do Pacífico tem feito muito lóbi com a China para ter mais apoios e a China está a responder a isso. Esses acordos pontuais com um ou outro país, não afectam os interesses de longa data de países como a Austrália e os Estados Unidos”, afirmou. “A China está a levar isto com muita naturalidade e sem qualquer emoção. Estão a querer apoiar o Pacífico, como apoiam países em África ou na América Latina, algo que têm feito ao longo de décadas”, disse. “Eu gostaria de ver uma relação expandida com a China, mas advogo apenas os programas e pedidos do nosso Governo que é quem define as áreas prioritárias em que precisa de apoio da China e isso será sujeito a acordos”, acrescentou. Ramos-Horta disse que durante a reunião não se falou “sobre segurança marítima ou segurança no Pacífico” e afirmou que a delegação chinesa até considerou “divertido as reacções de outros países à visita do ministro ao Pacífico”.
Hoje Macau EventosNovo livro aborda ligação de Ruy Cinatti a Timor-Leste “Senhor da Chuva” é o título de um novo livro ilustrado editado em Díli sobre a ligação do poeta e antropólogo português Ruy Cinatti a Timor-Leste, vincada com ‘pactos de sangue’ com duas famílias de chefes tradicionais. “Quando falava do Cinatti às pessoas, parecia estar a falar de uma lenda. Via a curiosidade que as pessoas tinham e daí esta ideia de um livro, que não pretende ser uma biografia, mas é sim uma exploração dessa rica ligação a Timor-Leste”, disse a autora Mara Bernardes de Sá à Lusa. “É mais um ponto de partida para descobrir Cinatti, um tributo. Um projecto que depois o artista Bosco Alves abraçou e que agora é publicado”, afirmou. O livro de Mara Bernardes de Sá, em Timor-Leste desde 2015, está ‘pintado’ com telas desenhadas propositadamente para o projecto pelo pintor timorense Bosco Alves, actualmente um dos mais conceituados do país. O primeiro exemplar foi entregue ao Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, aquando da visita a Timor-Leste e o lançamento oficial da obra decorre no Centro Cultural Português, na quinta-feira. Uma ligação antiga A autora explicou à Lusa que a ligação a Cinatti é praticamente tão antiga quanto a ligação a Timor-Leste, já que na primeira viagem ao país recebeu o livro “Condição Humana em Ruy Cinatti” de Peter Stilwell. “Foi a minha ligação a Ruy Cinatti e a Timor-Leste, lia como se ouvisse o poeta e estava encantada com a ilha, quando viajava levava comigo recortes de poemas e fotografias de Ruy Cinatti que deixava em lugares que sentia terem significado”, explicou. Depois, mais tarde, percebeu o vinco ainda mais forte do poeta e agrónomo português ao país, em virtude de dois pactos de sangue celebrados com Adelino Ximenes, então ‘liurai’ [chefe tradicional] de Loré, e Armando Barreto, ‘liurai’ de Ai-Assa. Natural de Chaves, Mara Bernardes de Sá tem obras publicadas, incluindo na antologia de poesia “Mouth Ogres”, em várias edições de autor de alguns livros infantis e com textos em livros, como “Timor Ruguranga” e “Olhares que falam”. Da nova obra e da exposição que a acompanha, fazem parte quatro telas pintadas especialmente para o livro por Bosco Alves, de 57 anos, artista que fez a primeira exposição, em Timor-Leste, em 2000, e já com obras em coleções privadas em vários países. A par da apresentação do livro, está patente uma exposição de vários documentos relacionados com Ruy Cinatti, espólio do Arquivo Nacional de Timor-Leste, incluindo vários livros, na maioria em primeiras edições e fotografias da vida do poeta. O livro é editado pela Plural Editores, do grupo Porto Editora, e a iniciativa é apoiada pela Embaixada de Portugal em Díli, Escola Portuguesa de Díli, Fundação Oriente, Camões-Instituto da Cooperação e da Língua e Arquivo e Museu da Resistência.
André Namora Ai Portugal VozesTimor com 20 anos de independência Na verdade, o tempo passa depressa. Parece que foi ontem que vi o novo Presidente da República de Timor-Leste, José Ramos-Horta, em condições precárias de vida em Nova Iorque lutando pela libertação do seu país e correndo o mundo a tentar convencer os diplomatas que Timor-Leste nada tinha a ver com a Indonésia e, infelizmente, com Portugal muito pouco. Portugal esteve militarmente no território anos e anos. Os portugueses sofreram lá as agruras das colunas negras dos japoneses e javaneses, durante a Segunda Guerra Mundial, que mataram milhares de timorenses e portugueses. As autoridades de Lisboa nunca se preocuparam com Timor-Leste, muito menos em enraizar a língua portuguesa de forma bem audível. As autoridades portuguesas do antigo regime apenas souberam enviar deportados políticos para morrerem em Timor-Leste. Felizmente, muitos conseguiram contar a história da nulidade da administração portuguesa junto de um povo que o que aprendia em português nunca mais esquecia. A língua portuguesa tem sido de tal forma divulgada, que nem um jornal ou uma revista em português é editado. Mas, o bahassa-indonésio não falta nas páginas de um pasquim que se vende diariamente. O nosso Presidente Marcelo Rebelo de Sousa esteve em Timor-Leste pela primeira vez para as comemorações dos 20 anos de independência e para a posse de Ramos-Horta como o novo Chefe de Estado, que por sinal, proferiu, em português, um discurso memorável. Triste é que tenha sido anunciado que a presença do Presidente Marcelo visou essencialmente reforçar uma série de (in)verdades sobre Timor-Leste como as políticas de cooperação. Basta atendermos à implantação da língua portuguesa, que é oficial, e que apenas serve para justificar orçamentos ou a balela do investimento português naquele país, que nunca existiu nem existirá em termos significativos. Em 20 anos nem uma fábrica de nada. Em Manatuto existe uma das melhores minas de mármore de grande qualidade e nunca se fez nada. No território existe um lugar paradisíaco com águas sulfurosas que daria uma das melhores termas da Ásia que poderia atrair centenas de turistas para a cura do reumatismo, além de se poder construir no local um hotel de luxo que de imediato daria emprego a centenas de nativos. Em 20 anos é lamentável que apenas se tivesse apresentado ao Presidente português um hotel com o mesmo nível de uma pensão em Sintra, um mercado que foi renovado por portugueses e umas águas límpidas para Marcelo mergulhar e deliciar-se com uma temperatura que nem no Algarve. Em 20 anos alargaram-se umas estradas e nas primeiras chuvadas tempestuosas logo se assistiu a derrocadas por todo o lado. Recordo-me de uma conversa em Díli, com o ex-Presidente Bill Clinton, onde ele afirmava que o petróleo e o gás natural iriam proporcionar que Timor-Leste fosse um dos países mais ricos em toda a Ásia e Oceânia. Afinal, onde estão os milhões de dólares oriundos da exploração do petróleo e gás natural no Mar de Timor, mais concretamente no Great Sunrise (?), onde os australianos têm manifestado grande satisfação pelos lucros do acordo que fizeram com as autoridades timorenses. Essa riqueza imensa ainda não deu para construir escolas pelo país com o ar refrigerado, ainda não deu para construir bairros sociais e apenas se tem assistido à ocupação de terrenos por crápulas que sabem perfeitamente que a terra não lhes pertence, ainda não deu para ocupar as crianças que deambulam pela rua a vender jornais, algumas órfãs do tempo da invasão militar indonésia, ainda não deu para renovar o aeroporto de Bacau, que tem uma pista de dimensão dupla à de Díli, ainda não deu para os timorenses terem uma residência decente, transporte que não os ponha em perigo de vida e ainda não deu para que seja criada uma Autoridade Contra a Corrupção. Timor-Leste tem de mudar radicalmente para que daqui a 20 anos alguém não escreva estas mesmas palavras. Os estudantes que terminam os cursos superiores têm emprego aonde? Na função pública? Não chega nem para um terço dos que se tornam “doutores”. Os jovens timorenses estão a aderir a gangues ou a grupos disfarçados de arte marcial para que possam ter um pecúlio resultante do crime praticado, nem que seja a venda de estupefacientes. Os jovens têm um futuro muito negro pela frente porque a tecnologia não avança. Até nos dias em que o povo viveu em festa pela comemoração de 20 anos de independência, a Timor Telecom, fez o favor aos jornalistas e demais servidores de não lhes fornecer internet. Em 20 anos não se construiu uma Central Eléctrica que não danificasse os aparelhos eléctricos domésticos e que não estivesse constantemente a energia a falhar. Em 20 anos não se construiu uma marina para abarcar os muitos iates que passam pela frente da ilha do crocodilo. Em 20 anos parece que estão quase a terminar um novo porto, o qual há muito já devia estar finalizado para que o desenvolvimento de Timor-Leste deixasse de ser uma batata frita… Esperemos que o Presidente Marcelo tenha tido vergonha do pouco que fizemos em Timor e que a tal cooperação tem sido uma falácia ao longo de 20 anos de independência. Esperemos que o novo Presidente Ramos-Horta consiga obrigar os governantes a trabalhar para o povo e não para os seus palacetes e vivendas compradas na Austrália…
Hoje Macau China / ÁsiaTimor-Leste/20 anos: Ana Gomes em Díli defende que país tem importância estratégica para Portugal A diplomata Ana Gomes chegou hoje a Díli para as celebrações dos 20 anos da restauração da independência de Timor-Leste, país que defende ter uma importância estratégica para Portugal maior do que muitos portugueses percepcionam. “Vou ficar até domingo, vim convidada pelo Presidente, Ramos-Horta, e é sempre para mim uma emoção vir a Timor e claro que no 20.º aniversário da independência ainda mais”, declarou Ana Gomes à agência Lusa, num hotel em Díli. Questionada pela Lusa, a antiga embaixadora em Jacarta contou que já iniciou a escrita do seu livro sobre o processo de independência de Timor-Leste: “Estava a escrevê-lo quando começou a guerra na Ucrânia, e perturbou-me tanto que o adiei por uns meses. Mas ainda retomarei este ano a escrita, porque acho que tenho obrigação de escrever esse livro”. Ana Gomes era para ter chegado há dois dias, mas houve uma ligação aérea que falhou: “Só cheguei esta manhã, mas cá estou para o dia da independência”. Hoje, em Díli, assistiu à cerimónia do içar da bandeira nacional em comemoração da independência, no Palácio da Presidência, onde também esteve o chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, que representa o Estado português e a União Europeia nestas cerimónias oficiais, na sua primeira visita oficial a Timor-Leste. “Não troquei impressões, mas já cumprimentei o senhor Presidente. A sensação que eu tenho é muito importante, claro, que o nosso Presidente aqui esteja, porque este é um tempo também especial para todos os portugueses que vibraram com Timor”, disse. Ana Gomes acrescentou que “Timor é muito mais muito importante do que a maior das pessoas hoje em Portugal percepciona”, assinalando que “vai em breve ser membro da ASEAN [Associação de Nações do Sudeste Asiático]” e que “é a parte do território asiático que fala português”. “Ao contrário de Macau, aqui fala-se português. Mais e melhor se podia falar se também houvesse mais investimento da nossa parte – e não estou a falar do trabalho extraordinário feito pelos professores de português, mas ao nível, por exemplo, dos órgãos de comunicação social”, considerou. Segundo a ex-eurodeputada, “a televisão e outros media eletrónicos podiam ser aqui muito úteis no aprofundamento da qualidade do português que se fala aqui”. “Eu sou das pessoas que acham que a decisão de escolher o português é estratégica para Timor, para o reforço da identidade timorense. Mas também devia ser entendida como estratégica por Portugal, porque esta é obviamente a nossa grande porta de interesses na Ásia para o tipo de relações que eu penso que são profícuas para Portugal”, sustentou. Na Ásia, Portugal deve procurar relações que não sejam “de dependência de uma grande potência como é o caso da China”, mas antes “de valorização da capacidade do nosso relacionamento económico, comercial, mas também político com todos os povos da região”, advogou. Ana Gomes, militante socialista, foi candidata às presidenciais de 2021 sem apoio do PS, nas quais Marcelo Rebelo de Sousa foi reeleito Presidente da República. Como diplomata, serviu nas missões junto da Organização das Nações Unidas (ONU) em Genebra e Nova Iorque e nas embaixadas em Tóquio e Londres. Entre 1999 e 2003 foi chefe de missão e embaixadora em Jacarta, tendo acompanhado o processo de independência de Timor-Leste, conseguida após uma luta de libertação contra a ocupação indonésia, e de restabelecimento das relações diplomáticas luso-indonésias.
Hoje Macau China / ÁsiaRamos-Horta: Há “desafios exigentes” que continuam por sanar em Timor-Leste Foto de António Dasiparu Timor-Leste já percorreu um longo caminho de consolidação democrática, mas continua a enfrentar “desafios exigentes”, alguns dos quais continuam por sanar, particularmente no que toca a desigualdades sociais, afirmou hoje o Presidente timorense. “Timor-Leste percorreu já um longo caminho para a consolidação de uma democracia jovem, vibrante e assente nos princípios de um estado de direito. Não podemos pensar que tudo está feito, o nosso país tem pela frente desafios exigentes próprios do nosso contexto histórico e cultural”, afirmou José Ramos-Horta num discurso no parlamento, numa sessão que evoca os 20 anos da restauração da independência e de vida da constituição. “Desafios estes que já nos acompanham há algum tempo, isto apesar da constituição estabelecer os fundamentos e a base jurídica necessária para o Estado poder atuar no sentido de atenuar as desigualdades identificadas”, afirmou. Ramos-Horta, que tomou posse ao final da noite de quinta-feira como Presidente da República, hora local, falava numa sessão solene do Parlamento Nacional de comemoração do 20.º aniversário da constituição timorense, na qual participaram, entre outros, o Presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa. Num discurso em que destacou o que já foi conseguido e o que falta conseguir para uma verdadeira implementação dos princípios orientadores da constituição, que cumpre 20 anos de vida, Ramos-Horta disse que o país se deve orgulhar de ser uma democracia “livre e plural, multiétnica e multirreligiosa”. Falta, porém, consolidar os princípios de proteção social próprios de um estado de direito, afirmou, sublinhando que o Estado “deve desenvolver e implementa políticas capazes de responder de forma eficaz às necessidades” atuais. “Só assim terá a capacidade de servir plenamente os seus cidadãos, e assegurar os seus direitos fundamentais”, afirmou, considerando essencial uma alteração de pensamento “privilegiando” as regras e normas, mas, “acima de tudo, as pessoas”. Num longo discurso, Ramos-Horta analisou os vários componentes da lei base, aprovada pelos 88 deputados da Assembleia Constituinte, que a 20 de maio de 2002 se transformou em Parlamento Nacional. Um texto que enfatiza o respeito pelos direitos humanos e fundamentais, separação de poderes e respeito pela democracia pluralista, sendo essencial “na construção de um Estado de Direito Democrático, assente na dignidade da pessoa humana e na soberania do povo”.
Hoje Macau Manchete SociedadeCafé | Timor-Leste sem resposta para procura em Macau e no Interior A popularidade do café no Interior com o desenvolvimento da cultura de pequenos bares tem levado a um aumento da procura pelos grãos de Timor-Leste. Nesta indústria, Macau consegue mesmo ser uma plataforma Timor-Leste “já não tem café que chegue” para a crescente procura, nomeadamente no Interior da China, disse um empresário de Macau, que importa grãos de café do país desde a restauração da independência, há 20 anos. “Tenho importado sete a oito contentores de café por ano”, disse à Lusa Eduardo Ambrósio. Parte dos grãos são vendidos a fábricas em Macau, onde são torrados e processados e o café empacotado, antes de ser exportado para a China, sem pagar taxas alfandegárias. Mas a maioria dos grãos que Ambrósio importa de Timor-Leste vão já directamente para a China continental, onde as vendas “têm crescido muito, a uma média de 20 por cento ou mais ao ano”, disse o empresário. A procura por café na China tem aumentado, assim como a sofisticação dos consumidores. “Antes só bebiam café instantâneo, agora já começam a aprender mais. Há cursos de apreciação de café, competições de baristas”, sublinhou o macaense. Desde a presença na Exposição Internacional de Importação da China em 2020 que Timor-Leste já exportou café no valor de cinco milhões de dólares para a China continental. Ambrósio defendeu que Timor-Leste “ainda tem muitos terrenos” para novas plantações de café, que poderiam ser financiadas pelo Fundo de Cooperação e Desenvolvimento China-Países de Língua Portuguesa. Diz quem sabe O fundo de cooperação, no valor de quase mil milhões de euros, foi criado há quase 10 anos pelo Banco de Desenvolvimento da China e pelo Fundo de Desenvolvimento Industrial e Comercial de Macau. Segundo o Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Fórum de Macau), o fundo apoiou um investimento total de mais de quatro mil milhões de dólares de empresas chinesas em países de língua portuguesa. “O fundo não se aproveita nada”, lamentou Eduardo Ambrósio. As empresas interessadas têm de garantir um investimento mínimo de cinco milhões de dólares e o fundo apenas financia 20 por cento, explicou. “Deviam baixar para um milhão de dólares. Então poderíamos apresentar muitos projectos para os países de língua portuguesa, não só para Timor”, defendeu o empresário. Ambrósio é também o presidente da Associação Comercial Internacional para os Mercados Lusófonos, que vai assinalar estasexta-feira, em conjunto com a Associação de Amizade Macau-Timor, os 20 anos da restauração da independência de Timor-Leste. “Vamos fazer um convívio com à volta de 40 pessoas, a maioria dos quais timorenses radicados cá em Macau. Agora são pouquíssimos, anteriormente havia mais”, lamentou Ambrósio. O macaense lembrou que, desde que Macau fechou as fronteiras a estrangeiros em Março de 2020, que as universidades locais não recebem o habitual contingente de estudantes vindos de Timor-Leste.
Hoje Macau Grande Plano MancheteTimor-Leste | Protocolo e muitos VIP dominam cerimónias do 20.º aniversário Celebram-se hoje 20 anos da restauração da independência do Estado timorense. Dili vestiu-se de gala para receber as várias delegações diplomáticas que acorreram à capital de Timor-Leste, com destaque para a presença de Marcelo Rebelo de Sousa. O Presidente português encontrou-se com Xanana Gusmão e visitou o Cemitério de Santa Cruz, palco do massacre que despertou a comunidade internacional para as atrocidades cometidas pelo regime indonésio Fotografia de António Cotrim, Lusa A presença de delegações de dezenas de países e das principais individualidades do Estado timorense domina as celebrações do 20.º aniversário da restauração da independência, nos próximos dois dias, com uma extensa agenda. As comemorações, que coincidem também com a investidura do novo Presidente, José Ramos-Horta, envolvem uma complexa máquina protocolar, com inúmeros eventos oficiais, reuniões bilaterais e multilaterais e visitas. Os momentos mais importantes da investidura decorrem no recinto de Tasi Tolu, exactamente no mesmo local em que decorreram, em 20 de Maio de 2002, as cerimónias que assinalaram o nascimento do 192.º país do mundo. As cerimónias oficiais do 20.º aniversário da restauração da independência começaram na quarta-feira, com uma missa, antes de um jantar de “despedida e reconhecimento” aos funcionários públicos e contratados da Presidência, com vários portugueses condecorados pelo Presidente cessante, Francisco Guterres Lú-Olo. Na manhã de ontem foi inaugurado um memorial do 1.º Governo Constitucional no Palácio Nobre de Lahana. A agenda do Presidente terminou ontem com um banquete oferecido aos convidados que participaram na investidura do seu sucessor José Ramos-Horta e nas celebrações dos 20 anos da independência, que decorreu ao final do dia no recinto de Tasi Tolu. As celebrações contam com a presença do Presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa, que chegou hoje a Dili às 06h (hora de Macau). Ontem, também chegou a comitiva do governador-geral australiano, David Hurley, entre representantes de outros países. As cerimónias dos 20 anos da restauração da independência, por outro lado, começaram hoje às 08h30, na zona à frente do Palácio Presidencial, estando prevista, à tarde, uma sessão plenária no Parlamento Nacional que comemora o aniversário e onde participa, entre outros, Marcelo Rebelo de Sousa. Corrupio diplomático Desde o início da semana que Díli tem sentido uma azáfama que já não se via há vários anos, com delegações de diversos países e equipas avançadas das principais individualidades, incluindo o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, já no país. Ontem, realizaram-se já vários encontros, tanto com responsáveis timorenses como entre delegações diplomáticas de vários países acreditadas em Timor-Leste, uma fatia das quais oriundas de Jacarta, de onde acompanham o país. Mas um dos momentos mais simbólicos, foi o encontro entre o líder histórico timorense Xanana Gusmão e o Presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa, abraçaram-se efusivamente, trocando beijos no rosto, no início de um encontro entre ambos em Díli. Xanana Gusmão deslocou-se ao hotel onde Marcelo Rebelo de Sousa está alojado para um encontro fora da agenda prevista em que entregou ao chefe de Estado português um tais timorense, o pano tradicional oferecido a convidados especiais e reconhecido como património imaterial pela UNESCO. “Um tais especial para um amigo especial”, disse Xanana Gusmão, pedindo que o pano fosse pendurado “na sala principal” do Presidente português. “De um amigo muito especial. Especialíssimo”, respondeu Marcelo Rebelo de Sousa. Depois, já sentados, Marcelo Rebelo de Sousa quis ‘entrevistar’ o líder timorense, questionando Xanana Gusmão sobre os 20 anos desde a restauração da independência de Timor-Leste e qual era a sua memória mais forte. “A memória mais forte foi termos conseguido ultrapassar as cicatrizes da guerra. Depois do 20 de Maio, o estigma da guerra vivia ainda no espírito e no comportamento dos timorenses. Entrámos num ciclo de crises que criou quase 150 mil deslocados internos no jardim aqui ao lado”, disse, referindo-se aos confrontos e tensão política de 2006. “Uma crise que dividiu os timorenses, com violência, queimaram casas, a matar-se e até membros das forças armadas mataram membros da polícia”, explicou Xanana Gusmão. O líder histórico timorense disse que “depois de dois anos” foi possível resolver a crise levando o país “a adoptar o mote de adeus conflito, bem-vindo desenvolvimento”. “E aí é que se conseguiu uma unidade de pensamento, sobretudo em termos de que é necessário paz para o desenvolvimento”, afirmou. Meridiano de sangue O Presidente da República português visitou ontem o cemitério de Santa Cruz, em Díli, palco do massacre de 12 de Novembro de 1991, recordando que as imagens desse trágico acontecimento foram uma “faísca” no despertar das consciências internacionais. “De repente, certo tipo de realidades, são uma espécie de faísca que despertam as consciências em Portugal e no mundo. O que se passou foi espantoso. Aquele povo que tinha a nossa solidariedade, mas estava muito isolado ao nível de grandes potências mundiais, acordou as opiniões públicas, povos de todo o mundo e os responsáveis desses povos”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa. Acompanhado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho, e pela vice-presidente da Assembleia da República portuguesa Edite Estrela, Marcelo Rebelo de Sousa fez questão de atravessar praticamente todo o cemitério para visitar a campa de Sebastião Gomes. O jovem, de 18 anos, foi morto num ataque à igreja de Motael em Outubro de 1991, tendo sido num cortejo fúnebre em sua honra que milhares de jovens se concentraram em Santa Cruz, acabando por ser baleados por militares indonésios. Mais de 200 pessoas morreram nesse dia e nos seguintes e a grande maioria dos corpos nunca foi recuperada, com Santa Cruz a tornar-se um dos principais símbolos da violência da ocupação indonésia que durou quase um quarto de século. “Quando aqui chegamos (…) temos uma emoção muito forte porque é ver o local onde tudo se passou e imaginamos como se terá passado e em condições dramáticas”, disse. Um momento, considerou, em que se funde “religião, identidade nacional, espírito de independência e liberdade” na “procura de um cemitério para se fazer o último refúgio contra os invasores”. “Todos os portugueses que tenham mais de 50 anos, porque isto se passou há mais de 31 anos, têm memória do que aqui se passou e nos chegou no dia seguinte. Para fugir, um punhado de timorenses teve que se refugiar num cemitério, no fim do fim do cemitério. O último e desesperado grito de defesa”, afirmou. “Percebe-se bem o que foi a luta timorense para chegar ao que chegou contra todos os argumentos, toda a geopolítica, da localização geográfica, de estar em condições de isolamento no mundo. Apesar disso tudo resistiu, resistiu e venceu”, afirmou. Importante testemunho O chefe de Estado português referiu-se à importância das imagens, recolhidas pelo jornalista Max Stahl, considerando que sem elas o processo até à independência poderia ter sido mais demorado ainda. “Com o que sabemos hoje do povo timorense sabemos que chegaria sempre à independência, mas quanto tempo mais não demoraria. Mesmo assim foram mais oito anos até ao referendo, 11 até à independência”, disse. “O que não seria necessário de resistência, mortes, sacrifícios, prisões de dominação sobre uma cultura e identidade nacional muito forte”, sublinhou. Um dos momentos mais fortes das imagens de Stahl, pelo menos para Portugal, foi o facto de sobreviventes se terem juntado na pequena capela do cemitério, começando a rezar em português, língua que se tornou da resistência. “Lembro-me perfeitamente. É uma mistura muito identitária, fortíssima, identitária e de história, de cultura, de tradição nacional e de componente religiosa e naturalmente depois de afirmação em língua portuguesa uma maneira de rejeitar a língua do invasor, a imposição cultural do invasor”, considerou. Marcelo Rebelo de Sousa destacou o “respeito, admiração, a coragem” do povo de Timor-Leste, referindo que o apoio dado por Portugal durante a ocupação indonésia, e desde então, pode ter servido como alguma “redenção” de alguns aspectos que “não correram bem no processo de descolonização”. “Uma espécie de redenção, ao menos parcial, do nosso país e do nosso povo quando, compreendendo os erros cometidos, alinha ao lado do povo timorense, sem uma dúvida, sem uma hesitação, se bate pela causa timorense, talvez a única causa que teve o apoio de 100 por cento dos portugueses em tantos anos de democracia”, considerou. Em particular, disse, ajudando a convencer a comunidade internacional a agir, para que a Indonésia renunciasse a “violentar o povo timorense”. “Aquilo que se fez nesse período, nesses 25 anos, no período de transição para a independência e depois no apoio a seguir, explica talvez porque é que o povo timorense tem uma relação tão doce, tão fraternal e apesar de tudo grata em relação em Portugal”, afirmou.
Hoje Macau China / ÁsiaTimor-Leste/20 anos: Os ‘veteranos’ portugueses há duas décadas no país Reportagem de António Sampaio com imagens de António Cotrim, da Agência Lusa Praticamente desde o referendo em que os timorenses escolheram a independência, em 1999, que uma pequena comunidade portuguesa, de dimensão variável ao longo dos tempos, se instalou permanentemente em Timor-Leste. Inicialmente dominada por elementos ligados a várias facetas da cooperação portuguesa, a comunidade diversificou-se, apesar da constante presença de professores e assessores em várias áreas – da justiça à defesa. Álvaro Antunes é um dos que vive há mais tempo em Timor-Leste, mesmo sem contar o período entre 1972 e 1975, em que esteve aqui destacado na polícia militar e se acabou por casar com a ex-deputada do PSD, Natália Carrascalão, hoje embaixadora timorense. Regressou ao país a 27 de setembro de 1999, como um dos dois coordenadores da grande missão de cooperação inicial portuguesa e, desde aí, nunca mais saiu. “Pediram-me para vir cá uma semana e a semana ainda não acabou”, recorda, relembrado o cheiro a queimado que encontrou quando aterrou em Díli uma semana depois da chegada da força internacional Interfet, enviada depois da violência pós-referendo. A comunidade cresceu a chegada de emigrantes portugueses, hoje com pequenas empresas ou negócios em Timor-Leste, com jovens, em início de profissão ou ao abrigo de projetos a viajarem para o país e, depois a decidir ficar por cá. De uma presença mais individual passou igualmente a evidenciar-se uma maior presença de famílias, algumas fruto de casamentos entre portugueses e timorenses. Hoje, vários dos ‘veteranos’ portugueses fazem balanço dos primeiros 20 anos da vida do país em que decidiram viver e onde querem permanecer, sublinhando a relação especial que os timorenses ainda mantêm com Portugal, reconhecendo o muito que já foi feito, mas apontado o dedo a problemas que persistem em vários setores. “Para alguém que tenha vindo em 1999 ou 2000 e se foi embora, se voltar agora vai ficar de boca aberta, não vai reconhecer isto, vai dizer que está uma maravilha”, explica Álvaro Antunes. “Para quem vive cá, isto foi um bocadinho enfeitado, mas podia ter-se feito tanto mais. Em 20 anos pode fazer-se muita coisa, mesmo quando se tem pouco dinheiro. Não sei se é alguma inexperiência, falta de vivência de alguns líderes, da cúpula administrativa, a insularidade, que não ajuda muito”, sublinha. Reconhece que para os mais velhos, do período da luta no mato contra a ocupação indonésia, pode ser difícil ter ideias do século 21 e nota que os mais jovens, até com formação no estrangeiro, “não são bem aproveitados”. Falta de confiança na formação nas universidades locais, o peso da tradição em que só o liurai, o chefe tradicional, é que tinha as ideias que todos seguiam, são igualmente apontados como aspetos que condicionam o desenvolvimento. Hoje empresário, no setor da hotelaria, nota as dificuldades de se fazer negócio, num mercado onde, em muitos casos, “há preços estapafúrdios” e falta de medidas adequadas do Governo para proteger ou apoiar empresas. Falhanços no setor primário sem apoio a empresas que possam dar dimensão à agricultura, predominantemente de subsistência e uma ausência total de indústria a penalizarem a economia nacional. “O comércio não precisa de tanta ajuda Tínhamos um comercio péssimo com preços altíssimos, dominado por alguns comerciantes indonésios e chineses timorense. A salvação do comercio para a população em geral foi a vinda dos comerciantes chineses. Passou a haver 10 ou 20 vezes mais lojas, 100 vezes maior variedade de produtos e a um preço que quem ganha centro e poucos dólares podem comprar”, afirmou. Filipe Silva é outros dos mais antigos portugueses no país. Chegou a Timor-Leste em setembro de 2000 – conheceu a sua mulher, a Cândida, “nas filas das vacinas em Portugal” -, e vive “na mesma casa” há 15 anos, num bairro de Díli, com as duas filhas do casal. Destaca as grandes mudanças em Díli, recordando a memória de quando chegou, com casas queimadas e destruídas e o contraste com a mais expandida capital – “houve uma explosão no número de pessoas a viver aqui” – e a maior oferta no retalho. Uma das áreas onde destaca as carências é no setor educativo, com melhorias nas infraestruturas, mas carências de bons professores, com boa metodologia de ensino, agravada pelas carências na formação de docentes. E, nesta área, sugere, por exemplo, a importância que poderia ter um projeto conjunto de cooperação da CPLP, virado em termos gerais para o setor educativo e apostando também na língua portuguesa. Com a mais velha prestes a ir para universidade, Filipe Silva não pensa em sair de Timor-Leste: “já sou do meu bairro”, explica, “não penso na ideia de regressar”. João Paulo Esperança, em Timor-Leste desde abril de 2001, casado com uma timorense e com quatro filhos (três nasceram aqui) e uma adotada, está para ficar, apesar de preocupações com o futuro. “Esta é a minha casa. Sou um cidadão do mundo. Já sonhava vir para Timor-Leste antes da independência. Vim para cá, fiz família cá. A minha intenção é ficar por aqui até morrer”. “Preocupa-me o futuro dos meus miúdos. O país vive com o dinheiro do petróleo que não sabemos quando vai terminar e não estou a ver que a economia se tenha desenvolvido para permitir que se possa viver bem em Timor-Leste sem o dinheiro do petróleo”, disse. Fala de um contexto em que “há mais dinheiro, mas parece haver menos sonhos”, depois dos anos iniciais se pensar que as coisas em Timor-Leste poderiam ser feitas diferentes, aprendendo com erros noutras geografias. “Hoje vejo mais desencanto, de pessoas que acham que alguns erros se deviam ter evitado, e que consideram que já passaram 20 anos algumas coisas poderiam estar a funcionar melhor, especialmente em áreas sociais, como a educação”, explicou. As infraestruturas melhoraram, Díli cresceu imenso, mas na educação, por exemplo, o sistema “não esta a preparar os alunos para os desafios necessários”, com “miúdos que chegam ao pré-secundário e mal sabem ler e escrever”. Melhorias na saúde, com mais médicos que nunca, mas que depois têm que trabalhar “hospitais sem material, equipamento, medicamentos, equipamento de diagnóstico”, com o hospital nacional em Díli, a continuar a ser “um desastre”. A população jovem, distante da luta contra ocupação, e “cuja realidade do dia a dia tem a ver com outras dificuldades, nomeadamente arranjar emprego”, apesar das lideranças políticas vincarem, muitas vezes, “as questões da resistência”. Considera haver falta de consciência crítica, em parte devido uma herança educativa herdada do período indonésio, e que educa jovens “que não conseguem articular os problemas que têm e pensar em soluções”.
Hoje Macau China / ÁsiaTimor-Leste / 20 anos | O quase desconhecido impacto da cooperação social portuguesa Reportagem de António Sampaio com fotografias de António Cotrim, da Agência Lusa O caminho de terra castanha da entrada contrasta com as cores que decoram as paredes do recinto principal do Centro Social de Nª Sr.ª de Fátima, um dos mais de 30 projetos sociais apoiados pela cooperação portuguesa em Timor-Leste. No espaço ouve-se o som de música e as vozes de dezenas de crianças que ao ritmo compassado de palmas estão nas várias salas de aula do ATL, instalado ao lado da igreja de Padiae, perto da nova estrada alcatroada que une a capital do enclave de Oecusse-Ambeno à zona de Tono, no sul. O projeto nasceu em 2002, iniciativa da congregação das Irmãs Franciscanas da Divina Providência que decidiram criar aqui, ainda hoje uma das zonas mais isoladas do país, um centro de acolhimento e apoio a crianças. “Começamos com 37 crianças, as mais carenciadas, que não tinham pais ou quem os ajudasse a continuar o estudo. Hoje já temos 320”, explica a irmã timorense Mariana da Costa Araújo, rodeada de dezenas de crianças, de todas as idades. Praticamente desde o início que o projeto contou com o apoio da cooperação portuguesa a que se juntou, mais tarde, o Ministério da Solidariedade Social e Inclusão, e hoje o centro de Padiae é um dos melhores exemplos do grande impacto da cooperação portuguesa no país. Entre 2002 e 2021 a cooperação do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social português canalizou para Timor-Leste mais de 19 milhões de dólares para mais de 30 projetos e iniciativas em todo o país. Centradas em particular no combate à pobreza, as iniciativas incluíram apoio a duas dezenas de equipamentos, beneficiando no total quase 30 mil pessoas anualmente. Entre as extensas áreas abrangidas contam-se apoio socioeducativo de crianças e jovens, apoio alimentar, formação, apoio social à educação, saúde, apoio domiciliário, língua e bibliotecas, internatos, alfabetização de adultos e animação comunitária e apoio a populações vulneráveis, incluindo doentes com tuberculose e HIV. O espaço de Padiae funciona como um ATL, acolhendo as crianças nos turnos em que não estão na escola. “Quem tem escola de manhã, vêm para aqui à tarde. Os que têm escola à tarde ficam aqui de manhã e depois o nosso autocarro leva-os às várias escolas. Apoiamos com três refeições por dia, pequeno-almoço, almoço e merenda”, refere Mariana Araújo. “Vejo as crianças ao nosso cuidado, que têm acesso a refeições melhores. E podem ver que eles estão bem alimentados. Temos muita atenção na alimentação porque quando as crianças andam na escola, sem alimentação razoável, isso não ajuda a aprender”, vinca. O plano educativo – sob o mote “crescer na estatura, sabedoria e graça com Jesus” – abrange várias atividades, “a língua portuguesa acima de tudo, matemática, expressão plástica e música”. Há atividades para crianças entre o primeiro e o 12º ano e até apoio para jovens que vão com bolsas estudar para Portugal ou a quem o centro aluga casa em Díli para estudarem na capital. “Entre os medidos alguns foram tirar cursos em Portugal com bolsas de estudo, e outros no Brasil ou Moçambique, apoiados por padrinhos e que agora estão a trabalhar em Timor. Digo aos meninos: comeram aqui os vossos pratos, por isso têm que regressar para trabalhar em Timor”, refere a irmã. A ligação a Portugal é evidente nas canções em língua portuguesa que as crianças ensaiam nas salas de aula – todo o complexo está em excelentes condições, fruto de limpeza e manutenção regular – mas também no exterior. No recinto desportivo, as tabelas de uma quadra de basquetebol têm as bandeiras de Timor-Leste e Portugal, com as paredes decoradas com bonecos infantis a segurarem as bandeiras dos dois países. Ao longo de uma das alas, pinturas dos rostos de alguns dos líderes históricos timorenses e também do padre João Felgueiras, hoje com mais de 100 anos e o português a viver há mais tempo no país. Ao lado de cada uma das imagens, uma frase em defesa da língua portuguesa e da sua importância histórica para o país, incluindo o primeiro Presidente, Nicolau Lobato, Xanana Gusmão, Mari Alkatiri e José Ramos-Horta. “O ensino da língua portuguesa em Timor é uma atividade que brota mais da alma e da vontade do povo do que qualquer outra iniciativa”, lê-se ao lado da imagem com o busto de João Felgueiras. “Sem a língua portuguesa Timor seria um eterno escravo da cultura javanesa”, a frase de Xanana Gusmão, boné da resistência e camuflado, praticamente ao lado de outra do líder histórico, ‘à civil’ e montado numa mota: “Somos a meta de uma das 13 mil ilhas da Indonésia e só somos diferentes porque a nossa língua é o português”. Numa das paredes está o retrato de Mari Alkatiri e uma das suas frases históricas sobre o português: “a interação entre a língua portuguesa, o tétum e a fé levou ao nascimento da nação timorense”.
Hoje Macau EntrevistaJosé Ramos-Horta, presidente eleito de Timor-leste: “Gostaria de mobilizar investidores portugueses” O Presidente eleito timorense disse que vai aproveitar a visita prevista a Timor-Leste do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa para pedir ajuda na mobilização de investidores portugueses para o país, a pensar nas potencialidades regionais. “O que gostaria de ver, via o Presidente e o Governo, era realmente mobilizar investidores portugueses para Timor-Leste, com a CGD e outros bancos portugueses e, via Portugal, o europeu Exim Bank, ajudem e apoiem investimentos portugueses e europeus em Timor-Leste”, afirmou José Ramos-Horta em entrevista à Lusa. “Não é filantropia. Temos um mercado de 700 milhões de pessoas e Timor-Leste é o trampolim e é do interesse pragmático”, acrescentou. José Ramos-Horta falava à Lusa a menos de um mês de tomar posse oficialmente no cargo, em 20 de maio, numa cerimónia em que estarão presentes várias individualidades internacionais, com destaque para Marcelo Rebelo de Sousa, esperado em Díli a 18 de maio. “Há muitos anos que não temos a visita de um chefe de Estado português, mas Portugal está sempre presente. Felizmente Portugal, embora longe, tem sido um amigo seguro em tempos maus, em tempos bons. Portugal tem estado sempre connosco e é a porta de Timor para a Europa”, referiu. Entre outras questões que quer abordar no seu diálogo com Rebelo de Sousa, José Ramos-Horta destacou a questão “concreta mas que faz muito diferença” da agilização do processo de obtenção de nacionalidade portuguesa pelos timorenses que a ela têm direito. O moroso processo obriga a que os documentos tenham que viajar até aos serviços centrais em Lisboa com a resolução a demorar, em alguns casos, vários anos. “Faz muita diferença se colocarem aqui funcionários, reforçar a embaixada, alguém dos serviços centrais para com maior celeridade outorgar aos timorenses que têm direito ao passaporte português que é o cartão de livre de acesso à União Europeia”, declarou. “Já não é apenas para o Reino Unido, mas muitos estão a ir para outros países e eu estou em contacto com amigos na Alemanha para ver se a Alemanha abre um programa especial para trabalhadores timorenses. E Portugal pode agilizar a questão dos passaportes para timorenses”, frisou. Ramos-Horta recordou que a CPLP celebrou um novo acordo de mobilidade, mas notou que, “olhando para os detalhes, não há ali muita mobilidade”. O Presidente eleito insiste na questão dos laços económicos, afirmando que com a adesão de Timor-Leste à ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático) “nos próximos dois anos”, o país “vai fazer parte de uma região de livre comércio com quatro triliões de PIB [Produto Interno Bruto]”. E, concretizou, considerando que as indústrias farmacêutica e alimentar portuguesa, “de grande qualidade e com padrões da União Europeia”, poderiam instalar-se em Timor-Leste a pensar no mercado regional. “O problema é não vir a Timor-Leste só à procura de contratos, vir para investir, para um mercado da região. Quero incentivar a industria farmacêutica portuguesa, de medicamentos e equipamento, porque a pandemia pôs a nu o falhanço do sistema de fornecimento, demasiado concentrado na China e na Índia”, apontou. “E também a indústria de manutenção naval. Falar com Portugal, com os estaleiros para estabelecerem em Timor-Leste um estaleiro naval, para responder às nossas necessidades domésticas, que estão a aumentar, e temos que acorrer a Surabaya. Numa segunda fase trazer barcos de recreio da Austrália, e de Bali”, afirmou. Portugal, do seu lado, advogou, deve procurar ser “mais ágil” e dá como exemplo o “impecável trabalho” que tem sido feito pela euroAtlantic, com vários voos por ano para Timor-Leste, que são “caríssimos porque ninguém os apoia”. “E não me venham dizer que outras companhias não têm financiamento dos Estados. Portugal, Macau e Timor-Leste deviam apoiar a euroAtlantic a fazer voos regulares Lisboa-Macau-Díli, que comercialmente é totalmente viável”, disse. Ainda no quadro da lusofonia, Ramos-Horta referiu-se à redução da presença e das ações do Brasil em Timor-Leste, considerando que, neste caso, o falhanço parece ter sido timorense. “A presença brasileira foi muito visível nos primeiros anos, mas quando um país começa a distanciar-se ou diminuir a sua cooperação, não vou imediatamente encontrar as falhas do lado deles. Nós é que estamos ou não interessados”, admitiu. “Creio que do lado timorense não houve ativismo e ‘lobby’ do Brasil, devíamos dizer que queremos professores, por exemplo, e não houve ativismo em procurar promover e trazer investimento brasileiro para Timor-Leste, motivado também pela oportunidade numa das regiões das mais dinâmicas do mundo”, concluiu. Uma questão orçamental José Ramos-Horta disse que vetaria a proposta de Orçamento Geral do Estado (OGE) retificativo, por discordar da inclusão da criação de um fundo de mil milhões de dólares para os veteranos e do aumento de impostos. “Eu pediria para ser novamente debatido porque é obvio que o programa para os veteranos não é nada urgente, não é uma situação de emergência”, disse Ramos-Horta em entrevista à Lusa, referindo-se à proposta de OGE retificativo que está em tramitação parlamentar timorense. “Os veteranos têm tido muitos benefícios ao longo desses 10 anos, e mil milhões de dólares foram transferidos entre 2007 e 2021 para os veteranos. Não é muito eficaz”, afirmou. Ramos-Horta refere-se a uma proposta de OGE retificativo apresentado pelo Governo ao parlamento no valor total de 1.129 milhões de dólares, dos quais mil milhões de dólares, referiu, destinam-se à criação de um fundo para veteranos. O fundo foi uma das promessas feitas pelo primeiro-ministro, Taur Matan Ruak, e pelo secretário-geral do maior partido do Governo, a Fretilin, Mari Alkatiri, durante a campanha para as eleições presidenciais, em que os três partidos do Governo apoiaram a candidatura de Francisco Guterres Lú-Olo, que acabou derrotada por José Ramos-Horta. O Governo pediu ao parlamento que debata o OGE retificativo com urgência para concluir o processo ainda a tempo de ser Lú-Olo a apreciar o documento, dias antes do fim do seu mandato, que termina em 20 de maio. José Ramos-Horta considerou que o Governo deve ter pensado nessa proposta da “nova situação criada pela guerra Rússia-Ucrânia e pelo ‘lockdown’ de Shangai que cria a maior crise de todos os tempos”, com efeitos “brutais em cascata” que farão agravar também a crise em Timor-Leste. “Não é que não haja comida, não há é dinheiro, devido ao aumento grande de preços. E Timor é um pais quase felizardo. Só temos 1,3 milhões de pessoas, das quais 40% em pobreza e com prioridade temos que acudir a essas 40%”, advogou. “Esses mil milhões deviam ir, primeiro para emergência, as pessoas têm que comer, mas ao mesmo tempo para criar focos de emprego, mobilizar milhares de jovens pelo país e adultos para fazer manutenção de infraestruturas rurais”, considerou. Ramos-Horta considerou essencial canalizar esforços para isso, neste momento, mobilizando ao mesmo tempo as agências das Nações Unidas para “ajudar a distribuir alimentos e apoio a essas populações mais carenciadas”, com assistência “em géneros” da Austrália, da Coreia do Sul ou outros parceiros. “Trata-se aqui de mobilizar mil milhões de dólares para apoiar a população e a economia. E via diálogo tentaria convencer o Governo a repensar isto. Os veteranos podem esperar, porque de certeza que não é para depositar mil milhões de dólares de imediato numa conta à parte”, afirmou. José Ramos-Horta contestou outro dos elementos do OGE retificativo que prevê o aumento de impostos seletivos do consumo em vários produtos, considerando que “é melhor não pensar em aumentar impostos”, pois o setor produtivo timorense “já tem sido tão penalizado durante esta crise toda” e agora é mais penalizado pelo “pesadíssimo” custo da energia e do combustível. “É melhor termos incentivos para o setor privado. Compreendo o Ministério das Finanças e o Governo que anda há vários anos a pensar nisso, mas quando se começou a pensar em impostos foi em situação de pré-crise política, económica e social”, salientou. O Presidente eleito considerou ainda que o Governo deveria incentivar o diálogo com o setor bancário, no intuito de baixar as elevadas taxas de juro que chegam aos 14%, rejeitando o argumento do risco e da falta de garantias. “É uma grossa distorção das coisas. Entre alguém a pagar juros de 14 e alguém a pagar 4%, nas mesmas condições, sem colaterais, qual dessas é que acham que vai pagar? O Governo tem que intervir, dialogar com os bancos sobretudo com o BNCT e o BNU”, defendeu. “O Governo deve dar garantias, parcerias com os bancos para fazer os empréstimos, com partilha de risco para fazer empréstimos com juros mais baixos”, disse. José Ramos-Horta toma posse no cargo de Presidente da República às 00:00 de 20 de maio.
Hoje Macau China / ÁsiaTimor-Leste/Eleições | José Ramos-Horta regressa ao Palácio Presidencial 10 anos depois As divisões do escritório atribuído a José Ramos-Horta, que toma posse em 20 de maio e pela segunda vez como Presidente da República de Timor-Leste, são pequenas para a vasta coleção de prémios, reconhecimentos e memorabilia que acumulou. Ao longo de longos meses, a voz ‘internacional’ da luta timorense contra a ocupação indonésia, usou as paredes da antiga casa colonial portuguesa – atribuída na categoria de ex-Presidente – para criar uma galeria de parte da sua vida. Depois de 20 de maio, quando regressa ao cargo que ocupou entre 2007 e 2012, Ramos-Horta vai transferir-se do escritório no Farol para o relativamente próximo Palácio Presidencial Nicolau Lobato. Jornalista, diplomata, jurista e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, ex-primeiro-ministro e ex-Presidente, Ramos-Horta é uma das figuras mais conhecidas de Timor-Leste, graças ao papel que assumiu junto das Nações Unidas e noutros fóruns entre 1975 e 1999. Natural de Díli, onde nasceu em 26 de dezembro de 1949, o ‘tio Horta’ como prefere ser chamado – não gosta que o chamem de avô – recebeu o Prémio Nobel da Paz, conjuntamente como o então administrador apostólico de Díli, Ximenes Belo. O diploma com esse reconhecimento, que ajudou a mobilizar ainda mais a comunidade internacional para a causa da independência timorense, soma-se a vários outros reconhecimentos de vários países e a dezenas de ‘honoris causa’ de universidades de todo o mundo. Entre os reconhecimentos contam-se a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, atribuída por Portugal e a Ordem da Austrália, atribuída por este país. Filho de mãe timorense e pai português, passou os primeiros anos no Colégio Pedro Alvares Pereira, em Soibada, região que quis visitar durante a campanha da segunda volta das presidenciais e onde conviveu com vários líderes nacionais. Estudou direito internacional em Haia e nos Estados Unidos, onde completou um mestrado em Estudos de Paz, a que somou várias pós-graduações. Fundador da Associação Social-Democrata Timorense (ASDT), o segundo partido timorense a nascer em 1974 – e que passaria depois a ser a Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), Ramos-Horta foi secretário para Relações Externas e Informação. Nos poucos dias entre a declaração unilateral da independência, em 28 de novembro de 1975 e a invasão indonésia, foi ministro das Relações Externas e Informação. No dia da invasão estava em Nova Iorque, cidade que visitou centenas de vezes para fazer vincar a situação de Timor-Leste junto das Nações Unidas, onde inicialmente representou a Fretilin. Foi novamente responsável dos Negócios Estrangeiros nos anos de transição, até à restauração da independência em 2022 – cumprem-se 20 anos dessa data no dia da sua tomada de posse –, permanecendo no cargo até junho de 2006, no início da crise que se viveu nessa altura em Timor-Leste. Foi ainda primeiro-ministro antes de se apresentar às eleições de 2007, que venceu na segunda volta também contra Francisco Guterres Lú-Olo, considerando ainda hoje ter tido, nessa altura, um papel relevante para ajudar a acalmar a violência que se vivia no país. A nível internacional, e além da missão que desempenhou na Guiné-Bissau, em nome das Nações Unidas, foi presidente do Painel Independente de Alto Nível para as Operações de Paz da ONU e copresidente da Comissão Internacional sobre o Multilateralismo. Um dos momentos mais duros da vida ocorreu na manhã de 11 de fevereiro de 2008, quando Ramos-Horta decidiu quebrar a sua rotina rigorosa e saiu de casa 15 minutos mais cedo do que o normal, para os exercícios matinais, na marginal ao longo do mar. Menos de duas horas depois estava nas traseiras de uma ambulância no centro de Díli, com a sobrinha Dulce e o enfermeiro português Jorge Marques, a pedir ao condutor para ir mais devagar e a sangrar de três ferimentos de bala, um no estômago e dois nas costas. “Disse ao condutor da ambulância: vá devagar. E a minha sobrinha, a Dulce, repetia: o Presidente está a dizer para ir devagar. Mas ele não. Ia a toda a velocidade. E eu com medo que nos íamos espetar em alguém”, recordou, em entrevista à Lusa. “Ainda bem que não me ouviu porque quando chegámos ao hospital, praticamente tinha perdido os sentidos. Os médicos imediatamente começaram com a ressuscitação. Cem australianos fizeram fila para dar sangue. Tinha perdido mais de quatro litros. Se demorasse mais cinco minutos teria morrido por perda de sangue”, explicou. José Ramos-Horta foi eleito pela segunda vez Presidente da República de Timor-Leste, com 62,09% dos votos, derrotando o atual chefe de Estado, Francisco Guterres Lú-Olo, numa repetição do que ocorreu em 2007, segundo o resultado final provisório.
Hoje Macau China / ÁsiaEleições/Timor-Leste | Ramos-Horta vence com 46,58%, à frente de actual Presidente José Ramos-Horta venceu a primeira volta das eleições presidenciais de sábado em Timor-Leste, com 301.481 votos (46,58%), o que obriga à realização de uma segunda volta em 19 de abril, segundo dados finais provisórios. Dados do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) – que vão ser agora confirmados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) – mostram que o atual chefe de Estado, Francisco Guterres Lú-Olo, foi segundo, com 143.408 votos (22,16%). Em terceiro ficou a atual vice-primeira-ministra, Armanda Berta dos Santos, com 56.289 votos (8,7%). O ex-comandante das forças armadas Lere Anan Timur foi o quarto mais votado com 48.959 votos (7,57%), à frente do deputado Mariano Sabino, do Partido Democrático (PD), com 47.008 votos (7,26%). Os restantes 11 candidatos, nas mais concorridas eleições de sempre, somam entre si 7,73% dos votos, segundo este escrutínio provisório. A taxa de abstenção nas eleições de sábado foi de 22,74%, mais baixa que os 28,84% registados nas presidenciais de 2017.
Hoje Macau China / ÁsiaÂngela Freitas anuncia recandidatura a Presidente de Timor-Leste Ângela Freitas, presidente do Partido Trabalhista (PT) timorense, anunciou hoje a sua recandidatura à Presidência da República como independente, defendendo uma revisão da constituição e criticando a ação do atual chefe de Estado. “Estou pronta a candidatar-me a Presidente da República para o período 2022 a 2027”, disse Freitas, em conferência de imprensa, garantindo que já tem reunidas 12 mil assinaturas, mais do dobro das 5.000 necessárias. Freitas, que se candidatou pela primeira ao cargo há cinco anos – tendo obtido apenas 4.353 votos ou 0,84% dos votos válidos – explica que decidiu recandidatar-se perante apelos nesse sentido de apoiantes que querem uma “nova voz” e “um novo rosto” na liderança. “Como dirigente político da nova geração, tenho responsabilidade moral de competir na festa da democracia, que se realiza a 19 de março de 2022”, afirmou. “O motivo pelo qual me encorajaram a candidatar-me tem a ver com os efeitos do impasse político desde 2017 até agora e as violações da constituição de Timor-Leste”, acusando o atual Presidente, Francisco Guterres Lú-Olo, de responsabilidade pela crise e de “falta de sensibilidade” perante os problemas do povo. A plataforma e programa de Ângela Freitas evidenciam várias contradições, com propostas de decisões fora da competência do Presidente da República e críticas à constituição que o chefe de Estado é obrigado a defender. Assim, se for eleita, Ângela Freitas disse que vai “dissolver o Parlamento Nacional”, levar ao Tribunal “os autores da viabilização” do atual Governo, demitir o executivo e nomear Xanana Gusmão, “comandante-em-chefe das Falintil” (o braço armado da resistência timorense), como chefe de um Governo de Salvação Nacional. Quer ainda a “recomposição da mesa do parlamento” e “uma revisão obrigatória das leis para refletir a cultura” timorense, elementos que traçou numa longa exposição sobre a “visão e missão” do seu programa e plataforma de candidatura. A posição de Freitas cria uma situação complexa no que toca à tomada de posse, já que a candidata considera ilegal o atual presidente da mesa do Parlamento Nacional e rejeita a constituição, que quer reformar. Questionada sobre como fará a tomada de posse nessa situação, a candidata disse que o Presidente pode convocar extraordinariamente o Parlamento Nacional para “aprovar um decreto a determinar quem tem competência para dar posse ao Presidente da República”. “Houve um assalto de poder no parlamento. Mas o Presidente tem a competência quando a maioria do povo lhe dá confiança, no momento em que o resultado é anunciado”, afirmou. Ângela Freitas referiu-se ainda, sem explicar o contexto, a uma resolução de 1982 da Assembleia-Geral das Nações Unidas, que definia na altura Portugal como potência administrante do território timorense, porque Timor-Leste deve ser “um país aliado de Portugal e não um país subordinado”. Freitas considerou prioritários temas como a definição das fronteiras do país – falta ainda concluir a fronteira marítima e alguns pontos da fronteira terrestre com a Indonésia – como elemento essencial para o desenvolvimento do país e para “evitar que se torne um Estado falhado”. Quer ainda o aumento do salário mínimo para 500 dólares (o que implica mais que triplicar o valor atual), promover a diversificação económica, melhorando o ordenamento das cidades e promover o turismo e realizar uma “auditoria forte de controlo aos gastos orçamentais” No que toca à constituição nacional, Freitas referiu-se à questão da separação de poderes defendendo uma revisão de “artigos que não refletem o interesse do povo, a tradução ou a sua cultura e não garantem ‘checks and balances’ dos órgãos de soberania”. Prometendo independência de qualquer grupo ou partido, Freitas disse estar contra a adesão para já de Timor-Leste à Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN, na sigla em inglês), por considerar que o país não está ainda pronto e que acabaria por ser “explorado por capitalistas e pela ordem económica mundial. A conferência de imprensa começou com mais de uma hora de atraso, porque estavam à espera da chegada dos apoiantes”, sendo que na sala estavam praticamente tantos jornalistas como apoiantes. As eleições de 19 de março poderão ser as mais concorridas de sempre. O extenso leque de candidatos, que têm que reunir 5.000 assinaturas para se poder candidatar, poderia tornar as eleições de 2022 as mais concorridas de sempre, batendo o recorde de 2012, em que houve 12 candidatos. A lei define que se podem apresentar apenas timorenses com cidadania originária e com pelo menos 35 anos. O Tribunal de Recurso, com o apoio do Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (STAE), analisa as candidaturas, verificando a regularidade do processo, autenticidade dos documentos e a elegibilidade dos candidatos, e, depois de eventuais situações sanadas, anuncia a lista final de candidatos. A primeira volta das eleições presidenciais decorre a 19 de março, com o período de registo de candidaturas a decorrer até 04 de fevereiro e a campanha a realizar-se entre 02 e 16 de março.
Hoje Macau EntrevistaComandante das Forças Armadas timorenses será candidato nas eleições presidenciais O comandante das Forças Armadas timorenses anunciou hoje que vai ser candidato às eleições presidenciais previstas para março, mas referiu que, para isso, precisa da boa vontade do atual chefe de Estado para poder passar à reforma. “Vou avançar. O senhor Presidente da República ainda não anunciou a data das eleições. Mas quando decretar, sem dúvida que me vou pronunciar”, afirmou Lere Anan Timur, em entrevista à agência Lusa. “Já tenho 70 anos e este é o último passo na carreira. Vou tentar chegar até lá”, disse. Para que isso ocorra, depois de o chefe de Estado marcar as eleições, é necessário concluir a sucessão na liderança das Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL). “É um processo que não é complicado, mas que depende da boa vontade do senhor Presidente da República, para não complicar a minha situação”, explicou. “Eu estou na idade da reforma, já cumpri até mais do meu mandato. Já estou no terceiro mandato, que é uma coisa nova. É tempo de pedir a minha reforma”, acrescentou. O requerimento com o pedido vai ser enviado ainda este mês para o Presidente, disse, iniciando-se depois o processo de nomeação do seu sucessor. “Tem de haver boa vontade do senhor Presidente. Somos irmãos e um irmão não pode trair outro. Se recusar tem de explicar porque é que recusa a minha reforma”, disse. Se o pedido de passagem à reforma for aceite, Lere Anan Timur vai preparar uma proposta com potenciais sucessores no cargo que enviará ao ministro da Defesa, Filomeno Paixão de Jesus, a quem cabe depois reunir o Conselho Superior Militar. Uma proposta será levada por Filomeno Paixão ao Conselho de Ministros, que fará depois uma recomendação para o Presidente, a quem cabe fazer as nomeações. Para Lere, porém, a boa vontade de Francisco Guterres Lú-Olo devia ser ainda mais ampla, cedendo o espaço ao comandante militar para que seja só ele o único candidato do partido em que os dois militam, a Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin). Lere, aliás, considera que a Fretilin tem de apoiar a sua candidatura, “queiram ou não queiram”, porque é membro do Comité Central do partido e que assim é preciso “chegar a um entendimento” com o atual chefe de Estado. “Eu e o Lu-Olo temos de chegar a um entendimento. Eu vou dizer: irmão, já estiveste como presidente do Parlamento, como PR, porque é que não me cedes este período agora? Quero chegar a um acordo com o irmão Mari [secretário-geral da Fretilin] e Lu-Olo de um só candidato”, afirmou. O mesmo relativamente a outro dos potenciais candidatos, o ex-Presidente da República José Ramos-Horta, que tem sido apontado como potencial candidato apoiado por Xanana Gusmão, presidente do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT). “O irmão Horta também podia pensar bem nisso. Já foi Presidente, é Nobel da Paz. O meu irmão deve refletir e pensar bem. Que obra é que deixou incompleta no seu mandato? Deixou alguma”, questionou. “Eu sempre disse que de 2022 a 2027 são cinco anos decisivos. A última oportunidade para a velha geração, dos katuas. Até lá Xanana terá 80 e tal anos, assim como Ramos-Horta e Mari. É bom serem só pais da nação nessa altura”, considerou. Para já, referiu, o seu apoio mais consolidado está entre “os veteranos, o pessoal da resistência” e da luta contra a ocupação indonésia, mas garantiu que o seu apoio é maior, “e em todo o país, não só na ponta leste” de onde é originário, ou da Fretilin. Questionado sobre se gostava de ter o apoio de Xanana Gusmão, Lere recordou que o líder histórico é seu padrinho de casamento e os laços que os unem. “Estivemos sempre ao lado do nosso irmão, prontos até a oferecer a nossa vida para salvar a dele, como irmão dele. E um irmão não abandona outro. Mas com ou sem o apoio dele, vou avançar”, garantiu. Nas últimas semanas tem se falado de outro eventual apoio à candidatura de Lere, de José Naimori, líder do Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO), um dos três partidos no Governo e cuja mulher, Armanda Berta, presidente do partido e atual vice-primeira-ministra, anunciou já a intenção de também se candidatar à Presidência da República. Lere Anan Timur nega acordos políticos e explicou que as conversas e diálogos com Naimori – estiveram juntos recentemente em cerimónias tradicionais, por exemplo – tem a ver exclusivamente com “relações emocionais e pessoais e não políticas”. “O partido do Naimori veio das artes marciais, do Korka. Até a minha própria família está dentro da Korka e há esta relação emocional de tio e tia, irmão e irmã. Falámos por causa desta relação pessoal, mas não é política”, reforçou. Ainda que agora assuma uma corrida eminentemente mais política, Lere nunca deixou de ser uma voz política, mesmo nas funções atuais, o que suscitou várias críticas de vários quadrantes, algo que rejeita. “Muitos desses que falam dizem que o padre se quer falar de política deve tirar a batina. Mas o padre quando fala política não fala de partidos. A sua função e obrigação é estar ao lado dos indefesos, dos que não têm voz. Assim como eu”, considerou. “Sou militar, sempre disse que sou Fretilin, desde 1975 fui sempre da Fretilin. Se a Fretilin não existisse eu diria que era da Fretilin. Mas não sou general da Fretilin. Quem critica, não pensa”, insistiu. E rejeitou comparações com outros generais do mundo que aproveitaram as independências para “se sentar na cadeira”, afirmando: “Eu edifiquei o Estado, a nação de Timor-Leste, com o meu próprio sangue e eu preocupo-me com a estabilidade nacional e o desenvolvimento”. “Se falasse do meu partido ou do partido A ou B, estria contra a Constituição, mas sou como o padre, que está ao lado dos desprotegidos, que não têm voz e que sofrem. No impasse político, não podem calar a boca dos militares e andarem a fazer como querem”, afirmou. “Aqui em Timor-Leste, toda a gente diz: ‘fakaran ba rai Timor’, derramar o sangue pelo povo de Timor. Eles só falam teoria, mas eu não, eu derramei o meu próprio sangue”, disse, apontando para o dedo que perdeu num combate”, disse. Reiterando que nada o impede de falar, assegurou que vai manter sempre a “voz política”. “E quando for político só vou ter ainda mais voz”, enfatizou. Perfil | O comandante que quer ser chefe de Estado Lere Anan Timur, 69 anos, hoje comandante das Forças Armadas timorenses e pré-candidato presidencial, terá para sempre o seu nome ligado ao braço armado da luta contra a ocupação indonésia, quando conquistou uma reputação feroz e destemida. Se vencer as próximas presidenciais, previstas para março próximo, será o quarto membro do braço armado da resistência à ocupação indonésia, depois de Xanana Gusmão, Taur Matan Ruak e o atual, Francisco Guterres Lú-Olo, a assumir o cargo. Nascido em 02 de fevereiro de 1952, “dia de S. Tito”, de que ‘emprestou’ o nome de batismo, Tito da Costa Cristóvão, o outrora comandante das Falintil, o braço armado da resistência, é natural de Iliomar e descendente “de combatentes” de outrora. O nome por que hoje é conhecido – e pelo qual criou uma reputação quase mítica entre os adversários militares indonésios – é uma mistura de tradição e de ‘batismo’ da guerrilha. “Lere é um nome que vem da tradição da minha zona, de Illiomar, de bisavós lutadores. O Anan é da língua do Xanana Gusmão. Numa reunião, estávamos a discutir sobre nomes e o Xanana disse, olha tu ficas Anan. Perguntei o que isso significvaa e ele explicou que queria dizer ‘filho”, conta, em entrevista à Lusa. “Eu era Lere Timur, e no nosso dialeto Timur é gente da montanha. Anan Timur ficava filho da Montanha. Filho da Montanha de Iliomar”, explica. Perdeu os três irmãos no mato, sobreviveram duas irmãs e três meios-irmãos, filhos do pai, polígamo e que tinha outra mulher. É, aliás, quando fala da morte do seu último irmão, numa operação militar nos anos 1990, que a voz, marcada pelo bom humor e pela descontração, lhe fica embargada, obrigando-o a secar lágrimas. “Foi uma operação de 1995, que me doeu muito moralmente, porque o meu próprio irmão tombou. Éramos quatro irmãos. Agora sou o único. Morreram todos no mato. Mas essa, em que morreu o meu irmão, foi a mais dura”, conta. Como muitos em Timor-Leste, o nacionalismo e o patriotismo veio da influência de portugueses e da igreja, e em concreto, no seu caso, quando tinha “18 ou 19 anos” um padre português no colégio Salesiano incutiu-lhe o patriotismo e nacionalismo. “Apesar de ser português, incutiu-me o patriotismo de Timor e isso fez com que começasse a desprezar o colonialismo português. O padre falou-me de colonização, de opressão, das lutas anticolonialistas de África e isso inspirou-me a olhar para a frente, para o futuro de Timor-Leste”, recorda. O 25 abril só lhe fez reforçar a coragem para “prosseguir o espírito patriótico”, que viu traduzido no partido que, considera, desde aí se tornou “sangue no corpo”, a Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), que assumia uma “política anticolonialista e anti-imperialista e combatia a exploração do homem pelo homem. “Eu estava na altura na vida militar, no exército português quando a Fretilin nasceu. Fui militar português, estava destacado aqui no destacamento de paraquedistas em Díli. Eu e os meus colegas militares reuníamo-nos sempre e até falámos de fazer um golpe”, recorda, sorrindo. “Simpatizei-me à Fretilin, o partido revolucionário, que representa mais os meus ideais. Sinto isso sem dúvida ainda hoje, apesar de estar fardado. Durante a luta também houve a despartidarização das Falintil, como elemento de unificação. Mas isso não apaga o que está na alma. A Fretilin é o sangue que me corre nas veias”, afirma. A vida desde aí foi sempre um misto de política e combate: começou como quadro político até à queda das bases de apoio, em 1978, e depois com funções cada vez mais militares na fase da luta de guerrilha. Foi comandante de destacamento sul, entre 1978 e 1979, em 1981 com a Conferência Nacional de Maubara foi eleito para o Comité Central da Fretilin (CCF), onde tem estado desde aí. Com uma reputação feroz na luta, temido pelas forças indonésias, Lere diz que houve “muito heróis que tombaram”, e que sem querer dizer se foi melhor ou pior que outros, “assustava os indonésios”. “Os próprios generais diziam quando me conheceram: Este é que é o Lere, que tanto procuraram no mato”, refere. Durante a luta, só uma vez, em março de 1983, esteve prestes a ser capturado, depois de ser atingido nas pernas e num dos dedos, da mão direita. “A agressividade dos meus camaradas safou-me e eles conseguiram tirar-me do cerco do inimigo”, recorda. Foi Comissário Político da Ponta Leste e depois na região fronteiriça e a partir de 1984 assumiu “tarefas puramente militares”, com operações “intensas e consecutivas” até ao final da década. Lere assume depois o comando da quarta unidade, composta por duas companhias, A e B, sendo primeiro comandante da unidade e primeiro comandante da Companhia B. “Podemos dizer que quem vai à guerra dá e leva. Perdemos homens e armas, mas o inimigo também levou bem. Até 1990, conseguimos tirar mais de cento e tal armas ao inimigo. Tivemos sucesso, mas também perdemos, armas e homens”, diz. Mais do que os combates, da luta recorda “o próprio sacrifício” que diz ter unido todos os timorenses. “Não havia discriminação ou uma separação de loromonu ou lorosae, de fataluku ou makassae de firakos ou caladis”, diz, referindo-se às várias linhas que têm dividido os timorenses. “O próprio sacrifício e sangue derramado dos nossos companheiros da luta construiu o espírito de camaradagem e solidariedade. Foi uma luta verdadeiramente nacional, uma luta generalizada de todo o povo de Timor-Leste”, insiste.
Hoje Macau China / ÁsiaSentença de ex-padre julgado por abusos sexuais menores em Timor-Leste lida em Dezembro A sentença do julgamento de um ex-padre norte-americano acusado de abusos sexuais de crianças em Timor-Leste vai ser lida, à porta aberta, no próximo dia 21 de Dezembro, confirmou hoje à Lusa um oficial de justiça. “A leitura da sentença vai ser feita às 09:00 do próximo dia 21 de Dezembro, no Tribunal de Oecusse” onde Richard Daschbach, 84 anos, começou a ser julgado a 23 de fevereiro deste ano, à porta fechada, disse o oficial de justiça. “As alegações finais foram concluídas na semana passada e o juiz já deliberou que a leitura da sentença será feita à porta aberta”, explicou a mesma fonte. Daschbach está acusado de 14 crimes de abuso sexual contra menor, um de pornografia infantil e violência doméstica, alegadamente cometidos ao longo de anos no orfanato Topu Honis, no enclave de Oecusse-Ambeno, em Timor-Leste. Daschbach foi expulso da congregação da Sociedade do Verbo Divino (SVD) em Timor-Leste e do sacerdócio pelo Vaticano pelo “cometido e admitido abuso de menores”, com a decisão a basear-se numa detalhada investigação, incluindo a sua confissão oral e escrita. Fonte judicial confirmou à Lusa que, nas alegações finais, o Ministério Público pediu uma pena mínima de 18 anos de prisão, com a defesa a pedir a absolvição de todos os crimes. Ao longo do julgamento foram ouvidas 14 vítimas, das quais oito solicitaram depor sem a presença de Daschbach na sala de audiências, confirmou a mesma fonte. Testemunharam ainda dezenas, arroladas tanto pelo Ministério Público como pela defesa, entre elas o ex-Presidente da República, Xanana Gusmão, chamado pela defesa de Daschbach. Miguel Faria, advogado da equipa de defesa, disse à Lusa que a defesa pediu a absolvição por considerar que “nenhum dos factos foi provado pelo Ministério Público”, sublinhando ter apresentado dezenas de testemunhas que confirmam a inocência. “Não podemos publicar os factos ainda por causa do segredo de justiça. Só poderemos falar em detalhe depois do caso transitar em julgado. Mas os factos não foram provados pelo Ministério Público. Os crimes não foram cometidos”, disse. Matias Soares, um dos procuradores do Ministério Público que liderou o processo, disse à Lusa estar “totalmente confiante” de ter conseguido provar todos os crimes. “Temos a certeza absoluta que provamos a culpabilidade do arguido pelos crimes que cometeu, pelos atos que foram investigados e apresentados. E este é apenas um número mínimo de vítimas, já que há muitas outras que não tiveram coragem para falar”, afirmou. O caso causou amplos debates no país, levando a ataques e a ameaças de alguns dos apoiantes de Daschbach contra jornalistas, alegadas vítimas e organizações de apoio a vítimas. Depois de sucessivos adiamentos e atrasos, o julgamento decorreu com maior normalidade, com as sessões a decorrerem em vários momentos dos últimos nove meses. O caso começou a ser investigado há cerca de quatro anos e decorreu com pressão públicas de vários apoiantes do ex-padre, incluindo do ex-Presidente da República Xanana Gusmão. Sem precedentes, o caso marcou um antes e um depois para a Igreja Católica em Timor-Leste levando mesmo a Conferência Episcopal Timorense (CET) a desenhar um novo protocolo, seguindo regras e orientações do Vaticano, para lidar com eventuais casos de abuso sexual que possam surgir na igreja no país. “A CET já fez um protocolo, depois deste primeiro caso, e isso é um passo muito forte e importante”, explicou em agosto, o arcebispo Virgílio do Carmo da Silva, em entrevista à Lusa, reafirmando disponibilidade total para ouvir qualquer alegada vítima. Em meados de julho, a organização que representa as alegadas vítimas do ex-padre disse que um dos seus elementos foi alvo de ameaças de morte por parte do arguido, no Tribunal de Oecusse. á em janeiro a Conferência Episcopal Timorense apelou a toda a comunidade católica em Timor-Leste para que aceite e respeite a decisão do Papa Francisco expulsar do sacerdócio o ex-padre. “O senhor Richard Daschbach já recebeu a sua sentença pela Doutrina da Fé, com o número 208/2018-67069 de 06 de novembro de 2018 do Papa Francisco: ele já não é padre, agora é leigo”, refere o comunicado da CET, “confirmado pela Arquidiocese de Díli” e dirigido “aos padres, religiosos, diáconos, irmãos, freiras e a todos os batizados em Timor-Leste”. Mesmo antes do caso se tornar público, a diocese já tinha conhecimento do início da investigação pela hierarquia da Igreja que culminou na condenação e expulsão de Richard Daschbach. “Foi a primeira vez que ocorreu isto aqui na Igreja de Timor. Mas desde o início sempre colaborei e quis tratar o assunto com a orientação da igreja universal. O papa já tem instruções e orientações claras para todo o clero sobre como orientar-nos e processar essa situação”, recordou, admitindo que o caso criou problemas internos. O caso já foi investigado pelo Vaticano, num processo detalhado, disse. “Esta não é uma decisão tomada de ânimo leve pelo Vaticano. Conheço o processo. foi feita uma suspensão provisória, e depois ele aceitou e assinou, não temos mais dúvidas. o importante é respeitar e convencer os outros a aceitar. E inclui uma confissão escrita e uma confissão oral”, sublinhou. No mais recente comunicado, de 22 de julho, a Arquidiocese recorda que Daschbach foi laicizado depois de uma investigação e posterior sentença da Doutrina da Fé, pedindo a toda a estrutura da igreja para “respeitar” essa decisão e evitar comentários adicionais. “Quando o processo terminou, voltaram com os documentos e apresentaram ao senhor. Ele leu, concordou e assinou o documento. E ainda foram dados três meses para ele poder contestar ou recorrer. E não recorreu”, disse o arcebispo.
Hoje Macau China / ÁsiaMorte de Max Stahl é “grande perda” para Timor-Leste, diz José Ramos-Horta O ex-Presidente da República timorense, José Ramos-Horta, considerou ontem que a morte de Max Stahl é uma “grande perda” para Timor-Leste e para o mundo, e que vai causar “profunda consternação e dor” em toda a população timorense. “Que grande perda para todos nós, para Timor-Leste, para o mundo. Alguém como o Max, de um grande coração, de uma grande dedicação e amor a Timor-Leste (…), ser levado para outro mundo”, afirmou à Lusa. Em 2019 o parlamento timorense deliberou atribuir a nacionalidade ao jornalista britânico Max Stahl, que filmou o massacre de Santa Cruz, em reconhecimento pelo seu papel na luta pela libertação de Timor-Leste. “Na troca de mensagens com o Max, quando ainda estava mais lúcido, há algumas semanas, eu dizia-lhe: não morras, porque não sei como vamos gerir a situação do drama, da dor do povo timorense. Ele respondeu daquela forma dele, dizendo que ‘eu não quero partir, mas a luta continua em todas as frentes’”, afirmou. Ramos-Horta, que tem nas últimas semanas mantido um contacto quase diário com a mulher de Max Stahl, disse que a notícia da morte já era esperada, dado o agravamento de estado de saúde do jornalista. “Já se sabia que medicamente era irreversível, que era uma questão de dias”, afirmou. A sua morte, disse, será sentida em todo o país, onde o seu nome teve já o reconhecimento do Estado, mas, especialmente, o amor de toda a população. “Mais do que o reconhecimento do Estado, era o reconhecimento universal em Timor-Leste. A presença dele era conhecida e visível, desde Santa Cruz, até hoje. E então era uma figura muito querida”, disse. Max Stahl – jornalista que filmou o massacre de Santa Cruz a 12 de novembro de 1991 – foi condecorado com o Colar da Ordem da Liberdade, o mais alto galardão que pode ser dado a um cidadão. Christopher Wenner, que começou a ser conhecido como Max Stahl, iniciou a sua ligação a Timor-Leste a 30 de agosto de 1991 quando, “disfarçado de turista”, entrou no território para filmar um documentário para uma televisão independente inglesa. Entrevistou vários líderes da resistência e, depois de sair por causa do visto, acabou por regressar, entrando por terra, acabando, a 12 de novembro desse ano por filmar o massacre de Santa Cruz. Morreu hoje num hospital da cidade de Brisbane, vítima de doença prolongada. A resolução do parlamento timorense em 2019 recomendava ao Governo “proceder ao registo do processo de naturalização de Max Stahl e emitir com a maior brevidade possível toda a documentação relevante”. “Durante o longo e difícil percurso rumo à independência, Timor-Leste contou com o apoio genuíno e incansável de muitos amigos, com os quais o povo timorense estabeleceu fortes laços de amizade. Max Stahl é um desses grandes amigos”, afirmou. “Num dos momentos mais difíceis vividos em Timor-Leste durante a ocupação estrangeira, o profissionalismo, coragem e tenacidade de Max Stahl contribuíram de forma inestimável para que a luta do nosso povo fosse vista no palco internacional”, refere ainda. Sublinhando o “profissionalismo e rigor” da sua carreira, o Parlamento timorense refere ainda o “caráter destemido de Max Stahl que deu a conhecer ao mundo o Massacre de Santa Cruz e os atos de crueldade e violações dos direitos humanos perpetrados contra os timorenses”. Uns meses antes de receber a nacionalidade timorense, Max Stahl foi condecorado pelo Presidente da República timorense, Francisco Guterres Lú-Olo, que destacou a sua nobreza e coragem em defesa do direito à autodeterminação. “Alguém que, com tanta nobreza, arriscou a sua vida em horas de extrema gravidade e que se entregou totalmente ao nosso país, ganhou o direito de ser cidadão timorense”, afirmou na altura Francisco Guterres Lu-Olo. “O nosso irmão Max Stahl é tão timorense quanto nós. Solicito ao Parlamento Nacional a atenção para este caso, por uma questão da mais elementar justiça”, disse.