Trump | Pequim pode resolver “fácil e rapidamente” crise norte-coreana

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse ontem que a China pode “solucionar fácil e rapidamente” a crise nuclear e de mísseis balísticos da Coreia do Norte, durante uma visita de Estado a Pequim.

Trump apelou ao seu homólogo chinês, Xi Jinping, que estava sentado ao seu lado, que trabalhe “muito intensamente” nesta questão.

“Uma coisa sei sobre o vosso Presidente: se trabalha em algo intensamente, consegue o que quer, não tenho dúvidas”, afirmou Trump, perante os executivos das maiores empresas da China.

O líder dos EUA agradeceu a Xi pelas medidas já adoptadas por Pequim, nos últimos meses. Para além de apoiar as sanções impostas pelas Nações Unidas a Pyongyang, a China adoptou ainda sanções unilaterais.

Trump apelou ainda à Rússia “para que ajude a controlar esta situação, que pode ser potencialmente muito trágica”.

“Todos os países” se devem unir para evitar que o regime “assassino” da Coreia do Norte “ameace o mundo com as suas armas nucleares”, insistiu Trump numa conferência de imprensa posterior.

O Presidente norte-americano disse que acordou com Xi “não replicar métodos que falharam no passado”, nos esforços pela desnuclearização da península coreana.

E revelou que ele e Xi Jinping se comprometeram a “aumentar a pressão económica até que a Coreia do Norte abandone o seu caminho imprudente e perigoso”.

Xi Jinping assegurou que Pequim e Washington estão “comprometidos com a desnuclearização” da península coreana e procurarão uma solução através do “diálogo pacífico”, visando alcançar a “estabilidade a longo prazo” na região.

10 Nov 2017

China / EUA |  Assinados acordos no valor de 253,4 mil milhões de dólares

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China assinou ontem acordos de negócios com empresas norte-americanas no valor total de 253,4 mil milhões de dólares, durante a visita do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a Pequim.

Os acordos foram assinados durante uma cerimónia que contou com a presença de Trump e o seu homólogo chinês, Xi Jinping, e incluem a compra de chips, aviões, componentes para automóveis e soja dos EUA.

Ambos os lados concordaram em cooperar num projecto de gás no Alasca avaliado em 43.000 milhões de dólares e num projecto de gás de xisto avaliado em 83,7 mil milhões de dólares.

O ministro chinês do Comércio, Zhong Shan, avançou à imprensa que os acordos ontem assinados valem, no total, 253,4 mil milhões dólares. A este valor somam-se outros acordos, avaliados em 9 mil milhões de dólares, e assinados na quarta-feira.

Donald Trump definiu como prioridade reduzir o défice dos EUA na balança comercial com a China – 347 mil milhões de dólares, em 2016. Ross revelou que esse foi o “enfoque principal” nas suas reuniões com Xi.

Bom ambiente

Após a assinatura dos acordos, Xi prometeu um ambiente de negócios mais aberto para as empresas estrangeiras na China, depois de Trump ter apelado a uma mudança nas relações comerciais “injustas”.

“A China não fechará as suas portas e irá abrir-se ainda mais”, afirmou o líder chinês, prometendo que as empresas estrangeiras terão um mercado chinês “mais aberto, mais transparente e mais ordenado”.

Os contratos ontem assinados incluem a aquisição de jactos da construtora norte-americana Boeing, no valor de 37 mil milhões de dólares, chips para telemóveis da Qualcomm, por 12 mil milhões de dólares, e veículos e componentes para automóveis da General Motors e da Ford, por um total de 11,7 mil milhões de dólares.

Os contratos assinados na quarta-feira incluem o compromisso de uma das maiores plataformas de vendas ´online’ chinesas, o JD.com, de comprar 1,2 mil milhões de dólares  de bife e carne de porco dos Estados Unidos.

O excedente comercial da China com os EUA, em Outubro, aumentou 12,2%, face ao mesmo mês do ano passado, para 26,6 mil milhões de dólares. No conjunto, entre Janeiro e Outubro, Washington registou um défice de 223 mil milhões de dólares no comércio com Pequim.

A China é o terceiro maior mercado para os produtos norte-americanos, depois do Canadá e do México.

Durante a sua campanha eleitoral, Trump acusou várias vezes a China de concorrência desleal e, antes de partir para a visita à Ásia em curso, o líder norte-americano afirmou que o défice norte-americano na balança comercial com Pequim “é tão mau que dá vergonha”.

Cuidar da imagem

O Presidente dos Estados Unidos rejeitou ontem responder a qualquer questão, durante uma conferência de imprensa conjunta com o homólogo chinês, Xi Jinping, cooperando com os esforços de Pequim para controlar a imagem da sua visita à China. Durante a conferência de imprensa, os jornalistas não puderam fazer perguntas, uma redução na já mínima interacção com a imprensa habitual em visitas de Estado de líderes estrangeiros a Pequim. Trump, que já chamou à imprensa “inimigos do povo americano”, não aceitou ontem questões.

10 Nov 2017

Visita | Crianças e guarda de honra dão boas-vindas a Trump

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, foi ontem recebido no aeroporto em Pequim com uma cerimónia que incluiu guarda de honra, banda de marcha e crianças a entoar bem-vindo.

Chefes de Estado em visita a Pequim têm geralmente uma recepção discreta no aeroporto, reservando-se a pompa e circunstância para o Grande Palácio do Povo, no centro da capital chinesa.

Ao sair do avião, o líder norte-americano e a sua mulher, Melania Trump, foram recebidos por dignitários chineses e dos EUA, guarda de honra, música marcial e crianças que agitaram as bandeiras dos dois países enquanto entoavam bem-vindo.

As cerimónias de boas-vindas na China têm-se tornado cada vez mais elaboradas, desde a ascensão ao poder do Presidente chinês, Xi Jinping, cuja política externa se tem revelado mais assertiva do que a dos seus antecessores.

Mais tarde, Donald Trump e Xi Jinping tomaram chá juntos, acompanhados pelas suas mulheres.

A Cidade Proibida, um antigo complexo imperial situado no coração de Pequim, está normalmente repleto de turistas, mas ontem encontrava-se vazio para receber Trump.

Os líderes das duas maiores economias do planeta terão entre várias reuniões, centradas em questões comerciais e no programa nuclear da Coreia do Norte.

Pressões habituais

Trump aterrou em Pequim horas após ter feito um discurso na Assembleia Nacional da Coreia do Sul, onde voltou a pressionar a China a parar de apoiar a Coreia do Norte.

Pequim é o principal aliado diplomático e parceiro comercial de Pyongyang.

A visita ocorre também numa altura de crescente tensão entre Washington e Pequim em torno de questões como o acesso ao mercado e transferência de tecnologia.

Durante a sua campanha eleitoral, Trump acusou várias vezes a China de concorrência desleal.

Antes de partir para a visita à Ásia em curso, o líder norte-americano afirmou que o défice norte-americano na balança comercial com Pequim – 347 mil milhões de dólares em 2016 – “é tão mau que dá vergonha”.

Um óptimo momento”

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse ontem que está a ter um “óptimo momento” na China, horas após ter aterrado em Pequim para aa visita oficial de dois dias. O comentário de Trump aos jornalistas foi feito após o chefe de Estado e a mulher, Melania Trump, terem assistido a uma ‘performance’ com música e dança na Cidade Proibida, antigo complexo imperial situado no coração de Pequim, por jovens estudantes de ópera vestidos com trajes tradicionais chineses.

Trump e Melania foram acompanhados pelo Presidente chinês, Xi Jinping, e a mulher, Peng Liyuan.

Acordos assinados

Empresas chinesas e norte-americanas assinaram acordos de negócios no valor de 9 mil milhões de dólares (7,7 mil milhões de euros), anunciaram os dois países, no arranque da visita do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a Pequim. Até ao momento, não foram avançados detalhes sobre os 19 acordos assinados ontem, durante uma cerimónia que contou com a presença do Secretário do Comércio norte-americano, Wilbur Ross.

9 Nov 2017

Análise | Trump será recebido em Pequim com grande pompa e circunstância

Donald Trump visita Pequim numa altura de grande fragilidade interna e num momento de pico de força de Xi Jinping. A China procura equilibrar o jogo de poder no xadrez internacional, enquanto Washington pretende uma resposta regional dura para os desvarios bélicos de Pyongyang e alterar os pratos da balança comercial entre as duas potências

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] visita do Presidente norte-americano a Pequim acontece numa altura em que os dois chefes-de-estado estão em pólos opostos em termos de situação política. Xi Jinping viu renovada e fortalecida a sua liderança.

Por outro lado, Donald Trump chega hoje a Pequim à medida que se aperta o cerco da investigação do procurador-especial Robert Mueller, ex-director do FBI e Presidente da Conselho Especial de Investigação que se debruça sobre as alegadas interferências de Moscovo na corrida à Casa Branca.

De momento, Paul Manafort, ex-director da campanha que ganhou as presidenciais, encontra-se com pulseira electrónica e já foi formalmente acusado de crimes, onde se inclui lavagem de dinheiro. Também a braços com a justiça está George Papadopoulos, conselheiro para assuntos internacionais da Administração Trump que admitiu ter mentido ao FBI e mantido contacto com os serviços secretos do Kremlin.

Entretanto, o foco da investigação aproxima-se do próprio Presidente, com a investigação a virar-se para o filho mais velho de Trump.   

Este é o contexto em que a visita decorre, também numa altura em que Xi Jinping almeja um papel de maior relevo da China num panorama internacional dividido entre duas superpotências. Um assumida aspiração geopolítica de Pequim, que foi negada pela Administração Obama por receio de isso significar a diminuição da influência norte-americana na Ásia.

“Pela primeira vez, a China não está numa posição de humildade em relação a Washington, que normalmente tem a vantagem”, diz ao The New York Times Yan Xuetong, professor de relações internacionais da Universidade de Tsinghua de Pequim.

Esplendor chinês

Donald Trump tem sido ambivalente quando o tema é a China. Durante a visita ao Japão, o Presidente norte-americano propôs a venda de armamento a Abe Shinzo e voltou a mencionar a construção de um espaço “Indo-Pacífico livre e aberto”, uma expressão que enfatiza o equilíbrio de forças na região entre os aliados americanos face à crescente influência chinesa.

Se por um lado, Trump diz que a China beneficia de uma posição comercial injusta para os interesses americanos, por outro não poupa elogios a Xi Jinping.

Ouvido pelo The New York Times, David M. Lampton, professor na Faculdade de Estudos Internacionais da John Hopkins, considera que “o resultado do choque de ambições nacionais será o maior, e talvez mais perigoso, das próximas décadas”.

Neste contexto, Pequim tem uma estratégia montada para impressionar o Presidente norte-americano, naquilo que os chineses estão a designar de “visita de Estado com um extra”. Donald Trump terá uma elaborada cerimónia a aguardá-lo no Grande Salão do Povo, onde se realiza o Congresso Nacional Popular e uma recepção nos pavilhões antigos da Cidade Proibida. O objectivo é fazer com que Trump se sinta importante, reflectindo a ideia de que esta é a melhor forma de lidar com o grande ego do bilionário.

O Presidente norte-americano, que já havia ficado surpreendido com a parada militar aquando da visita a França, terá oportunidade de assistir à impressionante precisão de marcha do Exército de Libertação Popular e a um faustoso banquete de Estado. Os detalhes foram revelados pelo Embaixador chinês nos Estados Unidos, Cui Tiankai, no site da embaixada.

“Esperamos que a família Trump tenha oportunidade para conhecer a cultura e a história do povo chinês e que se estabelecem conversações para aprofundar as relações sino-americanas”, projectou o embaixador.

A cerimónia servirá ainda para Xi Jinping apresentar o seu “Sonho Chinês”, a ideia da liderança sino-americana do mundo, quebrando um quadro histórico de conflito entre as duas potências. Na frente económica, na comitiva de Trump viajam representantes de cerca de 40 empresas norte-americanas.

Incógnita Donald

Não foram raras as vezes que o bilionário norte-americano teceu rasgados elogios a Xi Jinping, inclusive descrevendo-o como um amigo, algo que não é nada comum na história das relações diplomáticas entre as duas maiores potenciais económicas mundiais. Trump chegou mesmo a repetir argumentos usados pelo próprio secretário-geral do Partido Comunista Chinês.

Ainda assim, existe alguma preocupação quanto à imprevisibilidade do magnata nova-iorquino, principalmente no que toca ao seu temperamento online. Pequim tem sempre uma grande atenção ao detalhe e ao protocolo quando recebe chefes-de-estado. Neste capítulo importa lembrar que o Twitter está bloqueado na China, mas que está, geralmente, acessível em telefones estrangeiros.

Porém, o vice ministro chinês, Zheng Zeguang, veio a terreiro dizer que não havia motivos para preocupação sobre a forma como o Presidente norte-americano comunicará com o exterior.

Apesar da água na fervura, a visão algo dúbia que Trump tem demonstrado em relação à China é motivo para preocupação no seio do partido. Principalmente tendo em conta a semente de isolacionismo plantada por Stephen Bannon, e que ainda germina na Casa Branca, sobre uma posição mais firme em termos comerciais com Pequim. Na génese da tese de Bannon está a ideia de que a China se aproveita da abertura comercial americana, enquanto mantém os seus mercados chegados. Para a ala mais isolacionista existem razões para se avançar para uma guerra comercial caso não se chegue à reciprocidade.

Biliões e mais biliões

Noutro patamar está o genro de Trump, Jared Kushner, que considera a China um inevitável parceiro económico e uma gigantesca oportunidade de negócio. Aliás, o marido de Ivanka tem levado este mantra demasiado a peito, ao ponto da Kushner Companies, uma empresa de imobiliário gerida pela irmã de Jared, estar sob investigação por suspeita de garantir vistos a magnatas chineses em troca de investimentos em activos da sua empresa.

Uma das companhias americanas que se fará representar em Pequim é a Viroment, uma empresa de tratamento de águas, que tem em vista fechar um negócio no valor de 900 milhões de dólares com a construtora Guangye Guangdong Environmental Protection Industrial Group e a Hangzhou Iron and Steel.

O negócio irá equipar mais de 800 empresas do sector têxtil situadas na província de Zhejiang e 80 estações de tratamento de águas de Guangdong, de forma a que sejam cumpridas as regulações ambientais de Pequim.

Este é apenas um exemplo dos possíveis negócios que se podem firmar ao longo da visita de Estado. Na comitiva de Donald Trump viajam empresários de sectores económicos tão distintos como empresas de tecnologias, comerciantes de soja, empresas ligadas às energias renováveis ou engenharia digital.

Outra das empresas que poderá estar prestes a firmar um acordo milionário é a Digit Group, que deverá assinar um contrato de construção de um parque temático de realidade virtual com 200 hectares em Qingdao. O negócio está estimado em 4,85 mil milhões de dólares.

Seja qual for o ramo económico, entre os empresários norte-americanos há um desejo comum: a flexibilização e a redução das tensões nas relações comerciais que permitam a entrada na apetecível economia chinesa.

Ao lado do braço-de-ferro económico existe a omnipresente ameaça de conflito na península coreana. Durante a visita ao Japão, Trump afirmou que “a Era de paciência estratégica chegou ao fim”, horas antes de se descolar para a Coreia do Sul, onde discursou a apenas 100 quilómetros da fronteira com Coreia do Norte.

O Presidente norte-americano, antes de partir para a China, afirmou que 25 anos de fraqueza retórica levaram ao estado actual na península coreana, acrescentando que está na altura de aplicar a máxima pressão sobre Pyongyang. Para já, Pequim não adianta muito sobre qual será a sua posição nesta matéria. Mas uma coisa é certa, Xi Jinping não verá com bons olhos uma demonstração de poder bélico norte-americano na região.

8 Nov 2017

“Nenhum ditador deve subestimar a determinação dos EUA”

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Presidente norte-americano afirmou ontem, no arranque da sua primeira visita oficial à Ásia, que “nenhum regime nem nenhum ditador deveriam subestimar a determinação dos Estados Unidos”, numa referência velada à Coreia do Norte.

Donald Trump falava na base aérea de Yokota, a 40 quilómetros de Tóquio, diante das tropas norte-americanas destacadas no Japão, a primeira etapa da sua visita de mais de dez dias à Ásia que inclui ainda Coreia do Sul, China, Vietname e Filipinas.

Apesar de não ter mencionado directamente a Coreia do Norte, advertiu que “nenhum país pode impor-se às capacidades militares norte-americanas”, e assinalou que as tropas dos Estados Unidos “não irão vacilar nem um instante diante de qualquer ameaça”.

Durante a viagem a bordo do Air Force One, Trump afirmou, citado pela Casa Branca, que a ameaça da Coreia do Norte será um dos “principais temas” da sua visita à Ásia, uma vez tratando-se de “um dos maiores problemas para os Estados Unidos e para o mundo” que tem de “ser resolvido”.

“Os últimos 25 anos foram de fraqueza total, pelo que agora apostamos num enfoque muito diferente”, afirmou Trump sobre o endurecimento da sua retórica relativamente ao regime liderado por Kim Jong-un.

O Presidente norte-americano indicou ainda que “muito em breve” irá tomar uma decisão sobre a possibilidade de voltar a incluir a Coreia do Norte na lista dos países “patrocinadores do terrorismo”, da qual o regime de Pyongyang saiu em 2008, durante a presidência do republicano George W. Bush.

O fim da designação da Pyongyang como Estado patrocinador do terrorismo resultou de negociações entre a Rússia, os Estados Unidos, o Japão, a China e as duas Coreias, para pôr um fim ao programa atómico militar daquele país.

 

Amizades orientais

Durante a sua intervenção diante das tropas norte-americanos em Yokota, Trump também enfatizou a importância da aliança entre Washington e Tóquio, elogiando os “enormes sacrifícios” dos militares destacados na Ásia que “têm contribuído para a paz e a estabilidade” da região.

“Não me ocorre um lugar melhor do que esta base para iniciar a minha visita à Ásia”, realçou, ao assinalar que Yokota “é uma das melhores bases operacionais do mundo”, a partir donde foram lançadas operações “cruciais” durante a Guerra da Coreia (1950-53) ou a missão de ajuda após o terramoto e tsunami que devastou o Japão em Março de 2011.

O Japão é um “aliado e parceiro fundamental, além de um belo país com gente maravilhosa”, disse Trump, manifestando “profundo respeito e grande admiração pela sua cultura e pela sua honrosa história”, diante de milhares de soldados norte-americanos e japoneses em Yokota.

Trump dirigiu-se às tropas norte-americanas poucos minutos depois de chegar ao Japão, tendo trocado o fato por vestuário militar com as insígnias de “comandante chefe” das Forças Aéreas do Pacífico (PACAF) dos Estados Unidos antes de proferir o discurso.

De Yokota, o Presidente dos Estados Unidos embarcou num helicóptero com destino ao clube de golfe golf Kasumigaseki Country Club de Saitama, a norte de Tóquio, onde foi recebido pelo primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe.

Após o almoço informal, os dois dirigentes, que já testaram a “diplomacia do golfe” em Fevereiro, na Flórida, vão disputar uma partida na companhia do golfista profissional japonês Hideki Matsuyama, actual número quatro no ‘ranking’ mundial, segundo a agenda oficial citada pelas agências internacionais.

Este jogo de golfe tem um sabor particular para Shinzo Abe, dado a que há 60 anos o seu avô, Nobusuke Kishi, então primeiro-ministro do Japão, partilhou as alegrias do golfe com um outro Presidente norte-americano, Dwight Eisenhower.

Já à noite, os dois líderes, acompanhados pelas suas respectivas mulheres, jantaram num prestigiado restaurante em Tóquio.

Esta segunda-feira, o Presidente dos Estados Unidos vai reunir-se com o primeiro-ministro japonês, bem como os imperadores Akihito e Michiko, entre outras actividades.

A visita de Trump à Ásia, que inclui cinco países, estende-se por mais de dez dias, figurando como mais longa realizada por um Presidente dos Estados Unidos à região em mais de um quarto de século.

6 Nov 2017

Os Estados Unidos e a saúde mundial

“Global Health Governance must be understood broadly. Health is made in all policy and political areas-from agricultural through education policy. Without adequate nutrition, education and hygienic standards, mechanisms to fight global pandemics will remain a drop in an ocean.”
“Coordinating Global Health Policy Responses: From HIV/AIDS to Ebola and Beyond” – Annamarie Bindenagel Sehovic

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] governo dos Estados Unidos tem permanecido na vanguarda do estabelecimento de políticas internacionais, o que até à eleição do Presidente Donald Trump trouxe maior segurança para os cidadãos americanos e de outros países, através da melhoria da saúde e ajudando a criar sociedades mais estáveis em outros países e um mundo mais humano para milhões de pessoas que enfrentam sérias e graves doenças.Os Estados Unidos trabalham com outros países para criar a “Aliança das Vacinas (GAVI na sigla inglesa)” que é uma organização internacional, constituída em 2000, para melhorar o acesso a novas e subutilizadas vacinas para crianças que vivem nos países mais pobres do mundo. Tem sede em Genebra e reúne os sectores públicos e privados, com o objectivo comum de criar acesso igual a vacinas para crianças, onde quer que vivam.

A GAVI tem desempenhado um importante papel na redução da mortalidade por doença evitável por vacinação, sendo um contribuinte importante para se atingirem os “Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM)”. Os Estados Unidos a trabalhar com Oganizações Não Governamentais (ONG`s) apoiaram a criação da “Iniciativa Global de Erradicação da Pólio (GPEI na sigla inglesa)” que é uma parceria público-privada liderada por governos nacionais, com cinco parceiros, a “Organização Mundial da Saúde (OMS)”, o “Rotary International”, os “Centros para o Controlo e Prevenção de Doenças (CDC na sigla inglesa)” dos Estados Unidos, o “Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF na sigla inglesa)” e a “Fundação Bill & Melinda Gates”.

O seu objectivo é erradicar a pólio em todo o mundo e conta com vinte milhões de voluntários, catorze mil milhões de dólares de investimento internacional, duzentos países envolvidos e mais de dois mil e quinhentos milhões de crianças vacinadas, o que levou o mundo à beira da permanente vitória sobre o vírus da pólio. A indústria dos Estados Unidos e as ONG`s têm estado na linha da frente  para dar resposta a emergências sanitárias globais, e ao avanço da pesquisa e inovação que ajudou a reduzir os patógenos mais perigosos do mundo. Os esforços de colaboração internacional, especialmente o fortalecimento da capacidade dos sistemas nacionais de saúde, são essenciais para prevenir e se preparar para um variedade de ameaças, de pandemias de doenças infecciosas aos assassinos silenciosos de doenças não transmissíveis crónicas.

O “Comité de Saúde Global e Futuro Papel dos Estados Unidos” tem lutado pelo bom equilíbrio no cumprimento do seu mandato para examinar o papel dos Estados Unidos no futuro da saúde global, ao mesmo tempo que reflecte como membro da comunidade global de estados, que tem desafios e lições comuns para aprender com outros para influenciar o nosso futuro. O Comité deu prioridade aos desafios globais da saúde com o potencial de perda catastrófica da vida e impacto na sociedade e na economia, como pandemias, doenças transmissíveis persistentes, como a SIDA, tuberculose e malária e doenças não transmissíveis, como a saúde cardiovascular e diversos tipos de cancro, bem como áreas onde os investimentos significativos dos Estados Unidos criaram ganhos que devem ser consolidados e sustentados, como promover a saúde das mulheres e das crianças, aumentar a capacidade,  inovar e implementar a saúde global.

O Comité concluiu que o governo deve manter a sua posição de liderança na saúde global como um interesse nacional urgente e como um benefício público global, que melhore a posição internacional da América. Embora seja necessário um investimento adicional, pois o dinheiro por si só não é a única resposta. O Comité elaborou um relatório qur contém catorze recomendações, significativas, para fortalecer os programas de saúde globais dos Estados Unidos, reconhecendo que muitas outras áreas merecem atenção. A fim de maximizar o trabalho em direção aos desafios de saúde globais priorizados, o Comité concentrou-se em como aproveitar os recursos, fazendo negócios de forma diferente, especialmente através do uso de processos de pesquisa e desenvolvimento aperfeiçoados, e mecanismos de financiamento de saúde digital para maximizar o retorno dos investimentos, e demonstrar a liderança dentro da arquitectura e governança da saúde global.

Ao investir na saúde global nos próximos vinte anos, existe a possibilidade de salvar a vida de milhões de crianças e adultos. Além desses benefícios de saúde para os indivíduos, a saúde global está directamente ligada à produtividade e ao crescimento económico em todo o mundo. Assim, e de acordo com a “Comissão Lancet sobre Investir na Saúde”, o retorno dos investimentos em saúde global pode ser substancial, pois os benefícios podem exceder os custos, nos países de baixo rendimento e países de baixo rendimento médio. Trata-se de a nível mundial, investir em capacidades básicas para prevenir, detectar e responder a surtos de doenças infecciosas através do desenvolvimento de sistemas multidisciplinares.

O “One Health” focado na interacção da saúde humana e animal pode resultar em uma economia estimada em quinze mil milhões de dólares anuais contra a prevenção de surtos isolados. À luz desses benefícios, bem como o surgimento contínuo e ressurgimento de doenças infecciosas e a crescente ameaça de resistência antimicrobiana, um compromisso sustentável com a segurança sanitária global é um imperativo para todos os países. É de recordar que “One Health” é um esforço de colaboração de múltiplas disciplinas, a trabalharem a nível  local, nacional e global para alcançar a saúde ideal para pessoas, animais e meio ambiente.  O “One Health” é uma nova frase, mas o conceito  remonta aos tempos antigos.

O reconhecimento de que os factores ambientais podem afectar a saúde humana, foi defendida pelo médico grego Hipócrates no seu texto “On Airs, Waters e Places”, em que promove o conceito de que a saúde pública dependia de um ambiente limpo. Os Estados Unidos têm sido um líder na saúde global, inclusive através de programas de alto desempenho como o “Plano de Emergência do Presidente dos Estados Unidos Para Alívio do Sida, (PEPFAR na sigla inglesa)”; a “Iniciativa Presidencial Contra a Malária (PMI na sigla inglesa” que foi criada em 2005; o “Fundo Mundiall de Combate à Sida, Tuberculose e Malária (GFATM na sigla inglesa).”

O GFATM é uma associação criada em 2002, entre governos, sociedade civil, o sector privado e as pessoas afectadas pelas doenças e concebida para acelerar o fim das epidemias de SIDA, tuberculose e malária, recolhendo e investindo quatro mil milhões de dólares anualmente, para financiar programas dirigidos por especialistas locais nos países e comunidades mais necessitados, tendo salvo mais de vinte e dois milhões de vidas, e recentemente a “Agenda Global de Segurança da Saúde (GHSA na sigla inglesa)” que foi criada em 2014, e é uma parceria crescente de mais de cinquenta países, organizações internacionais e partes interessadas não governamentais para ajudar a construir a capacidade dos países a criar um mundo seguro e protegido contra ameaças de doenças infecciosas, e elevar a segurança sanitária global como uma prioridade nacional e global.

A GHSA prossegue uma abordagem multilateral e multissectorial para fortalecer tanto a capacidade global, quanto a capacidade dos países de prevenir, detectar e responder a ameaças de doenças infecciosas humanas e animais, que ocorrem naturalmente, acidentalmente ou deliberadamente. Todavia, os recursos não são ilimitados, e o compromisso contínuo deve ser realizado.  A nova administração americana no contexto do legado influente dos Estados Unidos no desenvolvimento da saúde global, enfrenta a escolha de garantir ou não os ganhos na saúde global, tendo em conta os beneficios de milhares de milhões de dólares, anos de dedicação e programas fortes que são sustentados e preparados para um maior crescimento.

O enorme crescimento das viagens e do comércio internacional que ocorreu nas últimas décadas, aumenta a urgência de investimentos contínuos na saúde global. A crescente interconexão do mundo e a interdependência entre os países, economias e culturas trouxeram melhor acesso a bens e serviços, mas também a uma variedade de ameaças para a saúde. A assistência externa é muitas vezes considerada um tipo de caridade, ou suporte para os menos afortunados. Ainda que,  possa ser verdade para as populações mais pobres e vulneráveis, a maioria desses auxílios, especialmente,  quando direccionado para a saúde, são um investimento na saúde do país receptor, bem como dos Estados Unidos e do mundo em geral.

Tal motivação de investimento para os Estados Unidos tem duas vertentes, a de proteger contra ameaças globais à saúde e promover a produtividade e o crescimento económico em outros países. Embora o ónus das doenças infecciosas recaia predominantemente em países de baixo rendimento, essas doenças representam ameaças globais, que podem ter consequências terríveis para qualquer país, incluindo os Estados Unidos, em termos de custos humanos e económicos. Aproximadamente duzentas e oitenta e quatro mil mortes foram atribuídas ao surto gripe  H1N1 em 2009, por exemplo, e dois milhões de mortes são previstas em caso de surto de uma pandemia de gripe moderada futura. Em apenas alguns meses, de 2003, o surto do “Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS na sigla inglesa) custou ao mundo entre quarenta e cinquenta e quatro mil milhões de dólares, enquanto em 2014 os Estados Unidos dispenderam 5,4 mil milhões de dólares como  resposta ao surto Ebola, dos quais cento e dezanove milhões foram gastos em monitorização doméstica e acompanhamento dos passageiros das companhias aéreas.

A crescente prevalência de doenças não-transmissíveis (DNTs) também afectou negativamente as economias globais, ameaçando ganhos societários na expectativa de vida, produtividade e qualidade de vida global. As perdas de produtividade associadas à incapacidade, ausências não planeadas ao trabalho e aumento dos acidentes incidem em custos até 400 por cento superiores aos custos de tratamento. As pesquisas também mostram que os investidores são menos propensos a entrar em mercados onde a força de trabalho sofre uma pesada carga de doenças. Assim, populações saudáveis são importantes em vários níveis. Investir no capital humano contribui significativamente para o crescimento económico, prosperidade e estabilidade nos países e cria parceiros mais confiáveis e duradouros no mundo. Tal estratégia mostrou-se bem-sucedida, como é evidenciado pelo facto de onze dos quinze principais parceiros comerciais dos Estados Unidos serem ex-receptores de assistência estrangeira.

O Comité foi encarregado de realizar um estudo de consenso para identificar prioridades globais de saúde à luz das ameaças e desafios actuais e emergentes para a saúde global e fornecer recomendações ao governo dos Estados Unidos, e outras partes interessadas, para aumentar a capacidade de resposta, coordenação e a eficiência para enfrentar essas ameaças e desafios, estabelecendo prioridades e mobilização de recursos. Tendo o apoio de um conjunto amplo de agências federais, fundações e parceiros privados, foi nomeado um Comité ad hoc composto de catorze membros para realizar esta tarefa ao longo de seis meses e com base em um processo de consenso rigoroso e fundado em evidências. Os membros do Comité formularam um conjunto de catorze recomendações que implementadas, oferecerão uma forte estratégia global de saúde e permitirão aos Estados Unidos manter o seu papel como líder mundial em saúde.

As recomendação passam por melhorar a coordenação internacional de resposta às  emergência, combater a resistência antimicrobiana, construir a capacidade de saúde pública em países de baixo e médio rendimento, observar o próxima actuação do PEPFAR, confrontar a ameaça da tuberculose, sustentar o desenvolvimento na eliminação da malária, melhorar a sobrevivência de mulheres e crianças, assegurar uma vida saudável e produtiva para mulheres e crianças, promover a saúde cardiovascular e prevenir o cancro, acelerar o desenvolvimento de produtos médicos, melhorar a infra-estrutura digital da saúde, realizar investimentos de transição para bens públicos globais, optimizar recursos através de financiamento inteligente e comprometer-se a liderar continuamente a saúde global. A paisagem da saúde global é vasta, e com prioridades novas e por vezes díspares em todo o sector da saúde, pelo que considerar cada questão ou doença no seu local próprio pode ser contraproducente. Uma perspectiva tão estreita, dificulta a capacidade de incentivar investimentos em outros programas e adaptar recursos de programas existentes quando surge uma nova ameaça.

Assim, embora a prioridade para os recursos seja necessária, também é essencial adoptar conceitos holísticos e centrados no sistema de integração, capacitação e parceria para obter resultados de forma mais abrangente e com esse entendimento, o Comité identificou quatro áreas prioritárias para acções de saúde global que, se abordadas, terão um maior efeito positivo na saúde, sendo a primeira alcançar a segurança da saúde global, pois nos últimos dez anos, os surtos de pandemia de gripe,  no  Médio Orienteo, o síndrome respiratório  coronavírus (MERS-CoV), Ebola e, mais recentemente, o Zika ameaçaram populações em todo o mundo. A segunda, será manter uma resposta sustentada às ameaças contínuas de doenças transmissíveis. Os esforços dedicados dos governos nacionais, das fundações e da comunidade global resultaram em milhões de vidas salvas da SIDA, tuberculose e malária, mas as três doenças continuam a apresentar ameaças imediatas e de longo prazo para a saúde das populações em todo o mundo. Mais de trinta e seis milhões de pessoas vivem com o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV na sigla inglesa), com dois milhões de novas infecções em cada ano.

A terceira área, será economizar e melhorar a vida das mulheres e das crianças. Os esforços para salvar a vida de mulheres e crianças em todo o mundo, historicamente foram um múcleo importante para o governo dos Estados Unidos, embora as taxas de mortalidade infantil e materna tenham diminuído a partir de 2000, em cada ano cerca de seis milhões de crianças morrem antes de fazerem cinco anos de vida e mais de trezentas mil mulheres morrem por causas relacionadas com a gravidez e o parto. A quarta área, será promover a saúde cardiovascular e prevenir o cancro, pois as doenças infecciosas muitas vezes atraem os meios de comunicação, mas uma preocupação igualmente importante é o aumento das taxas de doenças não transmissíveis, em todos os países, independentemente do seu  nível de rendimento. Os custos para gerir essas doenças está a aumentar. As doenças cardiovasculares deverão custar ao mundo um trilião de dólares por ano em custos de tratamento e perdas de produtividade até 2030.

22 Set 2017

ONU | Pequim e Moscovo ajudam países do BRICS a ter mais voz

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]hina e Rússia, membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, comprometeram-se ontem a ajudar os restantes países do bloco de economias emergentes BRICS a ter um maior papel na ONU.

“Reafirmamos a necessidade de uma reforma completa das Nações Unidas, incluindo do seu Conselho de Segurança”, lê-se na declaração conjunta dos líderes do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

A mesma declaração reconhece o desejo do Brasil, Índia e África do Sul de ter maior voz na ONU.

“É necessário aumentar a representação dos países em desenvolvimento, para que [as Nações Unidas] possam responder adequadamente aos desafios globais”, refere.

A Índia, o Brasil e outros países, como o Japão e Alemanha, reclamam o direito de serem membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, um privilégio ostentado desde o fim da Segunda Guerra Mundial por apenas cinco países: EUA, França, Reino Unido, China e Rússia.

A declaração de ontem aludiu também à necessidade do diálogo em crises internacionais como na Síria, Israel e Palestina, ou no Iraque, e manifestou a oposição dos cinco países do BRICS ao uso de armas químicas.

Ameaça de Trump sobre Pyongyang considerada inaceitável

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China classificou ontem de inaceitável e injusta a ameaça do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de suspender o comércio com países que fazem negócios com a Coreia do Norte. Trump escreveu no domingo na rede social Twitter que Washington está a considerar suspender o comércio com “qualquer país que faça negócios com a Coreia do Norte”. O comentário do Presidente dos Estados Unidos surgiu após Pyongyang ter realizado o seu sexto nuclear e o mais poderoso de todos até à data.“É inaceitável uma situação em que, por um lado, trabalhamos para resolver esta questão pacificamente, mas por outro lado, os nossos interesses são sujeitos a sanções e ameaças”, disse ontem Geng Shuang, porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros. “Isto não é nem objectivo, nem justo”, acrescentou. A China é o maior aliado diplomático e parceiro comercial do regime de Kim Jong-un.

5 Set 2017

Pequim |  Investigação de Trump é ataque ao sistema de comércio mundial

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Ministério do Comércio chinês criticou ontem a decisão dos Estados Unidos de lançar uma investigação sobre as práticas da China na área da “propriedade intelectual”, que considerou um ataque ao sistema de comércio mundial.

Várias associações comerciais enalteceram a ordem do Presidente norte-americano, Donald Trump, para averiguar se Pequim exige indevidamente que as empresas estrangeiras transfiram tecnologia, em troca de acesso ao mercado chinês.

O representante do Comércio Externo dos EUA anunciou esta semana formalmente a investigação.

A acção emprega inapropriadamente a lei norte-americana e significa a “destruição do sistema de comércio internacional existente”, disse Gao Feng, porta-voz do Ministério do Comércio chinês.

“Estamos profundamente insatisfeitos com esta prática unilateral e proteccionista e tomaremos todas as medidas necessárias para defender firmemente os direitos e interesses legítimos das empresas chinesas”, disse.

Regras do jogo

Pequim exige que fabricantes de automóveis e empresas estrangeiras na China estabeleçam parcerias com firmas locais, normalmente grupos estatais.

As entidades estrangeiras têm frequentemente que partilhar tecnologia com parceiros que talvez se venham a tornar concorrentes.

Mais de 20% das 100 empresas norte-americanas que responderam a um inquérito do Conselho Comercial Estados Unidos-China, uma associação industrial, afirmaram ter sido pedida a transferência de tecnologia, nos últimos três anos, em troca de acesso ao mercado da segunda maior economia mundial.

Em Abril, Trump disse que iria pôr de lado disputas sobre o acesso ao mercado e política cambial, enquanto Washington e Pequim trabalharem juntos para persuadir a Coreia do Norte a desistir do programa nuclear.

Nas últimas semanas, a administração norte-americana voltou a adoptar uma posição mais dura em relação às questões comerciais.

Em 2016, Pequim registou um excedente de 347 mil milhões de dólares no comércio com Washington. Trump culpa frequentemente a China pelo défice comercial norte-americano, apontando práticas de concorrência desleal de Pequim.

Há várias décadas que as empresas estrangeiras acusam empresas chinesas de pirataria e roubo de tecnologia.

Pequim está a lançar um plano designado “Made in China 2025”, para transformar o país numa potência tecnológica, com capacidades nos sectores de alto valor agregado, incluindo inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros eléctricos.

25 Ago 2017

Bluff de Trump atira jovem são-tomense de Taipé para Pequim 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]os 21 anos, o são-tomense Reginaldo Trindade foi apanhado pelo efeito borboleta: um bluff do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, lançou-o de Taipé para Pequim, arrastado pelas correntes da geopolítica mundial.

“Foi tudo da noite para o dia”, recorda à agência Lusa Trindade, que até Março passado estudava numa universidade de Taiwan, com uma bolsa de estudo oferecida pelo governo local.

Taiwan, a ilha onde se refugiou o antigo governo chinês depois de o Partido Comunista (PCC) tomar o poder no continente, em 1949, assume-se como República da China, mas Pequim considera-a uma província chinesa e ameaça usar a força caso declare independência.

São Tomé e Príncipe era um dos poucos países que mantinha relações diplomáticas com o território, mas em Dezembro passado anunciou o reconhecimento da República Popular da China, rompendo com Taiwan.

Reginaldo Trindade, e dezenas de outros jovens são-tomenses que estudavam em Taiwan, foram imediatamente notificados de que as suas bolsas seriam canceladas.

“O pânico instalou-se”, recorda. “Ligávamos para São Tomé e ninguém sabia dizer nada”.

Reginaldo tinha aterrado em Taiwan dois anos e meio antes e era ali que via o seu futuro: “Já tinha a minha vida ali. Universidade, amigos, namorada.”

No início, pensou em ficar. Mas, se o fizesse, “teria que contar com a ajuda da família. E isso era algo que queria evitar”.

Apanhado de surpresa

Em Março, após concluir o ano lectivo, já resignado e de malas feitas, foi surpreendido: “Dois dias antes de sairmos de Taiwan fomos informados de que iriamos para a China”, conta. “Nada estava previsto”.

Por detrás da reviravolta na vida do jovem são-tomense surge o agudizar das relações entre Taipé e Pequim, em torno de um bluff do então Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump.

Dezoito dias antes de São Tomé cortar relações diplomáticas com Taipé, a presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen, telefonou a Trump a felicitá-lo pela vitória nas eleições, assumindo assim o estatuto de chefe de Estado, à revelia de Pequim, que não considera Taiwan uma entidade política soberana.

A chamada durou pouco mais de dez minutos, mas quebrou com um protocolo de quase 40 anos e gerou expectativas em Taipé de uma maior cooperação com Washington.

Pequim protestou, mas Trump parecia decidido a fazer da questão de Taiwan uma moeda de troca para travar o que considera serem práticas comerciais injustas por parte da China.

Em entrevista à Fox News, poucos dias depois da conversa com Tsai, Trump afirmou: “Não sei porque temos de estar limitados à política `Uma só China` a menos que façamos um acordo com a China sobre outras coisas, incluindo o comércio”.

Após assumir o cargo, contudo, o novo inquilino da Casa Branca voltou atrás e reafirmou o seu compromisso com aquela política, não voltando a tocar no assunto.

Mas a audácia de Tsai teria de ser punida e Pequim jogou então com o seu peso económico para atrair São Tomé, num “óbvio castigo” para a líder taiwanesa, como referiu então um jornal do PCC.

Final feliz

Reginaldo aprendeu depressa que a política está em todo o lado, mas no seu caso garante que foi para o lado melhor.

“Oportunidades é o que não falta na China”, conta. “Sinto que estou no lugar certo, na altura certa”.

Antes de aterrar em Pequim, no entanto, o jovem são-tomense vinha receoso, imaginando o país como um lugar poluído e governado por um Estado repressivo, onde “a polícia andava sempre na rua a apanhar pessoas e fazer perguntas”.

“Estava completamente enganado”, admite. E se alguém lhe perguntar hoje se deve ir para a China, responde: “Vem, não penses muito, é o lugar certo para vir”.

Quanto ao que sente mais falta em Pequim, Reginaldo aponta sem hesitar: “Família, praia e comida”.

Apesar de a capital chinesa ser “boa para ganhar dinheiro, falta qualidade de vida”, admite.

“A população em São Tomé chega a ser quase o equivalente a um bairro em Pequim”, diz. “Em São Tomé vivia a dez minutos da praia. Aqui, acordo, abro a janela e vejo prédios e prédios”.

21 Ago 2017

Chefe de Estado Maior dos EUA condena “racismo e intolerância”

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] chefe de Estado Maior norte-americano, Joseph Dunford, condenou ontem o “racismo e a intolerância”, em linha com outros altos oficiais do exército dos Estados Unidos da América, depois da violência em Charlottesville.

“Posso dizer com firmeza e de forma inequívoca que não há lugar para o racismo e intolerância no Exército dos EUA e nos EUA como um todo”, disse o general Joe Dunford.

Vários funcionários militares dos EUA condenaram prontamente os confrontos que fizeram, no sábado, um morto no Estado de Virgínia, onde alguns manifestantes de extrema direita envergavam uniformes ou usavam insígnias do exército.

“A marinha dos EUA sempre se opôs ao ódio e à intolerância”, disse no sábado o almirante John Richardson, chefe da Marinha dos EUA.

Os líderes da Força Aérea e do Pentágono também condenaram fortemente a violência.

Uma postura enaltecida por Dunford, que se encontra numa visita oficial à China: “os nossos líderes deixaram claro que este tipo de racismo e intolerância não têm lugar nas fileiras das nossas Forças Armadas”.

“Eles lembraram ao povo americano os valores pelos quais lutamos no exército dos EUA, e que reflectem o que eu acredito serem os valores norte-americanos”, acrescentou.

Um neonazi foi detido por ter atropelado mortalmente, no passado sábado, uma mulher, ao investir com o seu veículo contra um grupo de manifestantes antifascistas que protestava contra a marcha de supremacistas na cidade universitária de Charlottesville.

Fala Donald

A condenação de altos responsáveis norte-americanos contrasta com a posição assumida pelo Presidente Donald Trump, que culpou ambos os lados pela violência.

Donald Trump condenou a violência, mas de forma geral e sem se referir aos supremacistas brancos que tinham convocado a manifestação.

Depois de criticas generalizadas, Donald Trump acabaria por condenar a violência racista, incluindo “os supremacistas brancos, o KKK, os neonazis e todos os grupos extremistas”.

Porém, na terça-feira, voltou a defender a sua controversa posição inicial e disse que na violência de sábado houve erros de ambas as partes.

20 Ago 2017

Pequim vai proteger interesses chineses face a investigação dos EUA

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo chinês criticou ontem a decisão do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de ordenar uma investigação sobre as práticas da China na área da “propriedade intelectual” e garantiu que protegerá os interesses chineses.

Em comunicado, o Ministério do Comércio chinês afirmou que o memorando, assinado na segunda-feira por Trump, viola os acordos de comércio internacionais.

A mesma nota garantiu que Pequim vai agir, caso as empresas chinesas sejam prejudicadas, mas sem avançar como.

Trump pediu aos responsáveis pelas políticas comerciais norte-americanas para averiguar se Pequim exige indevidamente que as empresas estrangeiras transfiram tecnologia, em troca de acesso ao mercado chinês.

Organizações comerciais de empresas tecnológicas enalteceram a decisão, mas as autoridades chinesas criticaram o “forte unilateralismo”, que viola o espírito internacional dos acordos comerciais.

“Se o lado norte-americano ignora o facto de que não respeita regras comerciais multilaterais e age para prejudicar as relações económicas e comerciais entre os dois lados, o lado chinês nunca se irá acomodar”, indicou o comunicado.

Pequim “adotará todas as medidas apropriadas para proteger firmemente os interesses e direitos legítimos do lado chinês”, afirmou.

Fala Donald

Em Abril, Trump disse que iria pôr de lado disputas sobre o acesso ao mercado e política cambial, enquanto Washington e Pequim trabalharem juntos para persuadir a Coreia do Norte a desistir do programa nuclear.

Nas últimas semanas, a administração norte-americana voltou a adoptar uma posição mais dura em relação às questões comerciais.

“Acreditamos que o lado norte-americano deve respeitar rigorosamente os compromissos e não ser o destruidor de regras multilaterais”, afirmou o Ministério em comunicado.

Na véspera do anúncio de Trump, o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês pediu ao líder norte-americano para evitar uma “guerra comercial”.

Em 2016, Pequim registou um excedente de 347 mil milhões de dólares  no comércio com Washington. Trump culpa frequentemente a China pelo défice comercial norte-americano, apontando práticas de concorrência desleal de Pequim.

Há várias décadas que as empresa estrangeiras acusam empresas chinesas de pirataria e roubo de tecnologia.

Pequim está a lançar um plano designado “Made in China 2025”, para transformar o país numa potência tecnológica, com capacidades nos sectores de alto valor agregado, incluindo inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros eléctricos.

16 Ago 2017

Xi Jinping pede a Trump que evite aumentar tensão com Pyongyang

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente da China, Xi Jinping, pressionou sábado o homólogo norte-americano, Donald Trump, a evitar “palavras e ações” que possam “exacerbar” a situação já tensa na península coreana.

“Neste momento, as partes envolvidas devem exercer contenção e evitar palavras e actos que possam agravar a tensão na península coreana”, afirmou Xi Jinping, durante a conversa mantida ao telefone com Donald Trump.

Xi defendeu que as partes devem exercer “contenção” e “continuar na direção do diálogo, das negociações e de uma solução política”, informou a CCTV.

Segundo a televisão estatal, o líder chinês sublinhou ainda que Pequim e Washington partilham o “interesse comum da desnuclearização da península coreana e da manutenção da paz e da estabilidade”.

Xi Jinping transmitiu ainda que a China “está disposta a trabalhar com a Administração norte-americana para resolver a questão de forma adequada”, refere a agência noticiosa oficial Xinhua.

A Casa Branca destacou, por seu turno, em comunicado, que os dois líderes concordaram que a Coreia do Norte tem de parar com o seu comportamento “provocador” que leva a uma crescente escalada da tensão, e “reiteraram o compromisso mútuo com vista à desnuclearização da península coreana”.

Segundo refere a agência de notícias norte-americana Associated Press (AP), Trump instou Pequim a exercer mais pressão sobre a Coreia do Norte para que suspenda o seu programa de armas nucleares.

Os dois líderes congratularam-se ainda com a resolução, adoptada recentemente pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, que impõe novas sanções a Pyongyang, descrevendo-as como “um passo importante e necessário” para a estabilidade na península coreana.

Trump e Xi têm “uma relação muito próxima” que poderá contribuir para “uma resolução pacífica do problema da Coreia do Norte”, enfatizou a Casa Branca.

Outras conversas

Num outro diálogo ao telefone, desta feita, com o governador de Guam, Eddie Calvo, Donald Trump declarou que as forças norte-americanas estão “prontas” para proteger a ilha, depois de a Coreia do Norte ter ameaçado lançar um ataque com mísseis para as proximidades daquele território no Pacífico, que acolhe importantes bases norte-americanas.

A Coreia do Norte ameaçou, na quinta-feira, bombardear as águas territoriais de Guam, ilha com uma população estimada em 160 mil habitantes, em cujas bases norte-americanas se encontram estacionados bombardeiros estratégicos que o Pentágono envia com regularidade para as proximidades da península coreana.

O plano, que Pyongyang prometeu finalizar dentro de dias, detalhava o lançamento de quatro mísseis Hwasong-12 de médio-longo alcance que sobrevoariam “as prefeituras japonesas de Shimane, Hiroshima e Kochi (oeste) e percorreriam 3.356,7 quilómetros durante 1.065 segundos [quase 18 minutos] antes de caírem na água, a cerca de 30 ou 40 quilómetros de Guam”.

Detida mãe que tentou enviar bebé pelo correio

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] polícia chinesa deteve na cidade de Fuzhou uma mãe de 24 anos que tentou enviar pelo correio a sua filha recém-nascida para um orfanato, dentro de um pacote com sacos de plástico, noticiou sexta-feira a imprensa local. A mãe contactou um serviço de mensageiros para entregar a invulgar encomenda no orfanato. O estafeta, estranhando que a mulher o tivesse impedido de revistar o conteúdo do pacote, observou mais tarde que este se movia e que do interior se ouviam ruídos, pelo que decidiu abri-lo e descobriu, com espanto, que ali estava um bebé recém-nascido. A criança encontra-se bem, segundo fontes do hospital para onde foi transportado, e a mulher está sob custódia policial. A mãe prometeu tomar conta da menina e não voltar a abandoná-la, o que desencadeou um grande debate nas redes sociais do país.

Sobe para 24 número de mortos no sismo em Sichuan

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] número de mortos na sequência do forte sismo que sacudiu, na noite de terça-feira, a província de Sichuan, no sudoeste da China, subiu sábado para 24, com a descoberta de quatro corpos, informou a agência oficial Xinhua. O sismo fez ainda 493 feridos, dos quais 45 continuam em estado grave, segundo as autoridades locais que informaram ainda de pelo menos cinco desaparecidos. O terramoto de magnitude 6,5 – segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos – ocorreu na terça-feira às 21:30, numa zona de elevada altitude e difícil acesso do planalto tibetano, onde se encontra a reserva de Jiuzhaigou, um dos parques naturais mais reputados do país e classificado pela Unesco. Mais de 85 mil pessoas, incluindo 126 turistas estrangeiros, foram retiradas daquela localidade, onde existem inúmeros hotéis junto ao parque. O abalo de terça-feira foi sentido numa vasta região, desde a capital da província de Chengdu a 284 quilómetros do epicentro, até à cidade de Xian, a mais de 400.

14 Ago 2017

Crise | Pyongyang e Estados Unidos trocam novas ameaças. Trump muda de retórica

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Coreia do Norte está a pensar num ataque às bases norte-americanas em Guam. Kim Jong-un irritou-se com Donald Trump que, em declarações feitas a partir do seu campo de golfe, disse que Pyongyang terá de enfrentar uma “fúria e fogo jamais vistos no mundo” se não deixar de ameaçar os Estados Unidos. O mundo já teve mais razões para estar sossegado

O Departamento de Segurança Nacional de Guam descartou ontem um hipotético ataque com mísseis balísticos por parte da Coreia do Norte, depois de Pyongyang ter ameaçado bombardear as bases militares dos Estados Unidos naquela ilha do Pacífico.

“Quero tranquilizar o povo de Guam de que actualmente não há ameaças à nossa ilha ou à das Marianas”, afirmou Eddie Calvo, governador de Guam, ao diário Pacific Daily News.

Não obstante, Eddie Calvo assinalou ter falado sobre o desafio bélico com responsáveis da Casa Branca e militares. “Um ataque ou ameaça contra Guam é um ataque ou uma ameaça contra os Estados Unidos”, frisou o governador. Guam, um dos territórios “não incorporados” dos Estados Unidos, localiza-se a 3430 quilómetros a sudeste da Coreia do Norte.

Um porta-voz do Exército Popular da Coreia do Norte afirmou ontem que Pyongyang “analisa meticulosamente um plano operacional” para um ataque em torno de Guam com mísseis de médio/longo alcance Hwasong-12 para “conter as principais bases estratégicas dos Estados Unidos na ilha, incluindo a de Andersen”, segundo um despacho da agência oficial norte-coreana KCNA.

A base aérea de Andersen, situada no nordeste da ilha, acolhe bombardeiros B-1B com capacidade nuclear que, na terça-feira, chegaram a ser enviados pelos Estados Unidos para a península coreana, de acordo com fontes militares sul-coreanas citadas pela agência de notícias da Coreia do Sul, a Yonhap.

O conselheiro de Segurança Nacional de Guam, George Charfauros, afirmou que o Departamento de Defesa dos Estados Unidos está a “monitorizar de perto a situação”, garantindo que confia no sistema de defesa destacado para este tipo de ameaças, em declarações proferidas ao jornal Pacific Daily News.

A ameaça da Coreia do Norte teve lugar horas depois de o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter advertido o regime de Kim Jong-un que “é melhor não fazer mais ameaças aos Estados Unidos”, dado que terão como resposta “fogo e fúria jamais vistos no mundo”.

Retórica de fim do mundo

O apocalíptico aviso deixado por Donald Trump – feito a partir do seu campo de golfe em Nova Jérsia – também foi uma reacção, horas depois de a imprensa norte-americana ter noticiado que Pyongyang conseguiu fazer, com sucesso, uma ogiva nuclear em miniatura.

O Washington Post citou um analista dos serviços de inteligência que diz que as autoridades acreditam que a Coreia do Norte tem armas nucleares para serem usadas através de mísseis – incluindo os intercontinentais –, o que representa que a ameaça aos vizinhos e aos Estados Unidos se encontra agora num novo patamar.

O Pentágono não teceu qualquer comentário sobre esta matéria, mas o Washington Post garantiu que duas fontes oficiais conhecedoras da análise feita ao armamento norte-coreano confirmam as conclusões. Também a CNN confirmou a existência de um relatório nesse sentido.

Até ao mês passado, os peritos na matéria pensavam que o regime de Kim Jong-un ainda precisaria de mais dois ou três anos para desenvolver um míssil intercontinental. Estas contas tiveram de ser revistas depois de, em Julho, Pyongyang ter testado dois mísseis do género, numa demonstração das novas capacidades bélicas do regime. O primeiro teste – que Kim Jong-un descreveu como sendo um presente para os Estados Unidos – permitiu perceber que o míssil poderá chegar ao Alasca. O segundo tem ainda um maior alcance, com alguns peritos a não afastarem a hipótese de Nova Iorque estar também vulnerável.

Nas declarações feitas a partir do campo de golfe, Donald Trump defendeu que Kim Jong-un “tem estado muito mais ameaçador do que é no seu estado normal”, vincando que não estará com meias medidas perante novas ameaças.

Apesar do estilo que tem vindo a ser adoptado pelo Presidente norte-americano em relação à Coreia do Norte, estas declarações marcam uma mudança de discurso, uma vez que Washington tem, nas últimas semanas, optado por defender uma solução que não passe pelo recurso ao armamento.

Um para o outro

A ameaçada deixada pelo Presidente dos Estados Unidos não foi bem recebida interinamente. Ontem, em editorial, o Washington Post classificou o aviso como sendo “desnecessário e imprudente”, comparando a linguagem usada por Donald Trump ao tipo de discurso que Kim Jong-un costuma ter. “Porque é que o Presidente do país mais poderoso do mundo quer descer a esse nível?”, lança o jornal.

Num texto em que recorda as consequências da utilização das bombas atómicas e em que defende que a força militar norte-americana deverá ter um efeito dissuasor, o jornal sublinha que a questão norte-coreana só poderá ser resolvida com diplomacia e com elevadas capacidades diplomáticas, “talvez durante anos”. “Em vez disso, Trump pavoneou-se na arena com uma surpreendente granada retórica”, remata o Washington Post.

Já congressista democrata Eliot Engel afirmou que o comentário do líder norte-americano “soa a loucura”, condenando-o por estar a traçar uma “absurda” linha vermelha que Kim Jong-un inevitavelmente pisará.

“Não há ilusões: a Coreia do Norte é uma ameaça real, mas a reacção louca do Presidente sugere que está a ponderar a utilização do armamento nuclear americano em resposta a um comentário abominável de um déspota norte-coreano”, escreveu Engel num comunicado.

Já o porta-voz do Pentágono, o tenente-coronel Chris Logan, tentou pôr água na fervura, ao vincar que os Estados Unidos procuram uma solução pacífica para a desnuclearização da Península Coreana. Acrescentou, porém, que a possibilidade de uma acção militar não pode ser deixada de lado.

“Continuamos preparados para nos defendermos e protegermos os nossos aliados, e para usar todas as capacidades que temos ao nosso dispor face a crescente ameaça que representa a Coreia do Norte”, disse Logan.

Já o vice-secretário de Estado John Sullivan garantiu que Washington está a trabalhar para garantir que a China e outros países aplicam as novas sanções determinadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.

A Coreia do Norte considera que os Estados Unidos têm uma grande responsabilidade no novo pacote de sanções da ONU, que procuram reduzir as receitas das exportações do regime em mil milhões de dólares por ano e figuram como as mais duras até à data. Foram aplicadas em resposta ao lançamento, em Julho, de dois mísseis balísticos intercontinentais por Pyongyang, com capacidade para alcançar solo norte-americano.

Coreia do Sul quer reformar forças armadas

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, instou ontem a uma “reforma completa” das forças armadas do país, considerando o reforço da defesa sul-coreana uma “tarefa urgente” perante os avanços da Coreia do Norte. “Creio que poderemos necessitar de uma reforma completa, em vez de realizar apenas melhorias ou alterações”, afirmou o chefe de Estado sul-coreano durante uma reunião com novos comandantes da Marinha, Força Aérea e Exército, disse um porta-voz do Ministério da Defesa sul-coreano. “Um acto pendente para nós é a tarefa urgente de reforçar as nossas capacidades defensivas para travar as provocações realizadas pela Coreia do Norte com mísseis e armas nucleares”, sublinhou Moon.

As palavras do Presidente da Coreia do Sul foram deixadas já depois de a Coreia do Norte ter ameaçado atacar com mísseis as bases norte-americanas de Guam, no Pacífico, como resposta ao envio de dois bombardeiros estratégicos para a península coreana e às advertências lançadas por Donald Trump.

10 Ago 2017

Registo da marca “Trump” sem aplicação concreta

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] recente registo da marca “Trump” em Macau, por uma empresa com ligações ao Presidente norte-americano, revela, segundo o analista Ben Lee, uma utilização do cargo para acelerar o registo de patentes em vários países, incluindo na China, onde estavam pendentes.

A empresa DTTM Operations LLC efectuou na semana passada quatro registos da marca “Trump”, com diferentes finalidades, incluindo serviços de jogo e casinos, serviços de hotel, restaurantes e imobiliário.

No entanto, o analista de jogo consultora IGamix desvaloriza este facto, já que o registo de marcas é muito comum em Macau e não deve ser lido como sinal de que a empresa irá definitivamente operar.

“Não acho que seja muito significativa esta decisão de registar o nome da marca em Macau. Acredito que está a olhar para todo o mundo e está a usar o facto de estar neste cargo para acelerar o patenteamento dos direitos de autor da sua marca em todo o mundo, em diferentes jurisdições”, disse à Lusa.

Ben Lee destaca que esta utilização do cargo se tem revelado particularmente útil na China que “tem sido sempre muito lenta a aprovar registos de marca”.

“Vimos que assim que Trump tomou posse, a China imediatamente aprovou 30 e tal candidaturas que estavam pendentes há muito, muito tempo”, salientou.

No início de Março, foi noticiado que a China aprovou 38 registos da marca “Trump” no país, que estavam pendentes há cerca de um ano.

Para o analista, o registo em Macau é uma continuação dessa estratégia e não concretamente uma tentativa de entrar no mercado de jogo de Macau após expirarem as actuais licenças de concessão, entre 2020 e 2022.

Até à data, não é conhecido um calendário para a revisão das licenças de jogo, nem é claro se será mantido o modelo de concessões e subconcessões.

Tal não significa que o magnata não possa vir a fazê-lo e as probabilidades de ser bem-sucedido podem depender do cargo que ocupar na altura: “Coisas mais estranhas já aconteceram (…) Há a probabilidade de novas concessões em Macau. Se ele ficar no poder a probabilidade [de obter uma concessão] é muito maior do que se não estiver. O facto de a China ter aprovado candidaturas [de registo de marcas] que estavam pendentes há muito tempo indica que a China sabe o que está a fazer”.

EUA preparam resposta à decisão russa de reduzir diplomatas americanos

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] secretário de Estado norte-americano afirmou ontem que Washington vai responder até 1 de Setembro à decisão de Moscovo de reduzir significativamente o pessoal diplomático norte-americano na Rússia.

Rex Tillerson, que falava aos jornalistas durante uma visita às Filipinas, indicou ter informado o homólogo russo, Sergei Lavrov, dos planos dos Estados Unidos de responder até 1 de Setembro à retaliação russa às recentes sanções norte-americanas.

Lavrov e Tillerson estiveram reunidos no domingo em Manila, à margem de um fórum regional sobre segurança.

Tillerson afirmou ter dito a Lavrov que Washington ainda não decidiu de que forma vai responder e que lhe fez “várias perguntas clarificadoras” sobre a retaliação de Moscovo às novas sanções contra a Rússia.

As novas sanções, adoptadas pelo Congresso norte-americano para punir Moscovo, foram promulgadas pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na passada quarta-feira, e deveram-se designadamente à alegada ingerência russa nas eleições presidenciais norte-americanas de novembro e ao envolvimento no conflito na Ucrânia.

A 30 de julho, o Presidente russo, Vladimir Putin, anunciou que 755 diplomatas norte-americanos deverão sair da Rússia, reduzindo para menos de metade o corpo diplomático dos Estados Unidos em território russo.

8 Ago 2017

Enviado de Trump vai a Moscovo para negociações sobre Ucrânia

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov, disse ontem que a administração de Donald Trump acordou enviar o seu representante especial para as negociações sobre a Ucrânia e que a viagem a Moscovo deverá ocorrer em breve.

Após o seu primeiro encontro ontem em Manila com o secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, desde as novas sanções americanas, Lavrov surgiu com uma avaliação optimista no encontro de pontos comuns sobre a Ucrânia, a Síria e outras questões.

Lavrov disse que concordaram em manter um canal diplomático de alto nível que a Rússia suspendeu em protesto face às sanções dos EUA.

“Sentimos que os nossos homólogos americanos precisam manter o diálogo aberto”, afirmou Lavrov.

Sergey Lavrov referiu que o representante especial do Presidente Donald Trump para as negociações da Ucrânia, Kurt Volker, fará em breve a sua primeira viagem a Moscovo e que se encontrará com Vladislav Surkov, o enviado russo para a crise da Ucrânia.

Na quinta-feira o Presidente dos EUA, Donald Trump, definiu como “muito perigoso” o actual estado das relações com a Rússia e atribuiu as responsabilidades ao Congresso, que aprovou o reforço das sanções económicas contra Moscovo.

“As nossas relações com a Rússia estão no mais baixo nível histórico e muito perigoso. Podem agradecer ao Congresso,  a essas mesmas pessoas que se mostram incapazes de aprovar uma reforma da Saúde”, divulgou no Twitter.

Donald Trump promulgou na quarta-feira novas sanções adoptadas por uma esmagadora maioria de deputados norte-americanos para punir Moscovo, designadamente pela sua alegada ingerência na eleição presidencial e o seu envolvimento no conflito na Ucrânia.

Baixo nível

O secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, advertiu em diversas ocasiões que as relações entre as duas potências estão “no nível mais baixo desde o final da Guerra Fria” e poderiam “ainda deteriorar-se”.

Na quarta-feira, Moscovo denunciou uma “declaração de guerra económica total contra a Rússia” após a promulgação das novas sanções, ironizando com a “fraqueza total” da administração Trump face ao seu Congresso.

Sem aguardar, a Rússia já ripostou na semana passada, ao anunciar uma redução drástica do pessoal diplomático norte-americano no seu território.

Toyota e Mazda juntam-se para investir em carros eléctricos

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Toyota e a Mazda juntaram-se para apostar na tecnologia de carros eléctricos e investir 1,6 mil milhões de dólares numa unidade nos EUA, criando quatro mil empregos, anunciaram sexta-feira as empresas nipónicos.

Os dois fabricantes automóveis decidiram avançar com uma aliança para desenvolver em conjunto tecnologia para carros elétricos e construir uma nova fábrica nos EUA, que deverá começar a laborar em 2021 com uma produção anual estimada em 300 mil veículos, refere um comunicado conjunto sexta-feira divulgado.

A nova unidade, que vai receber um investimento de 1,6 mil milhões de dólares para fabricar os novos modelos ‘crossover’ da Mazda e o Corolla da Toyota – o segundo em vendas nos EUA – destinados ao mercados norte-americano.

A Toyota tinha previsto produzir aquele modelo nas instalações que está a construir em Guanajuato, México, decisão que teve o desacordo do Presidente dos EUA, Donald Trump, conforme transmitiu nas redes sociais.

A Toyota anunciou que na fábrica de Guanajuato vai ser produzida a sua camioneta Tacoma.

Apesar da mudança, o fabricante japonês garante que “não haverá qualquer impacto substancial no plano de investimento e emprego da Toyota” na unidade mexicana.

O acordo de cooperação entre as duas empresas também inclui a aquisição por parte da Toyota de 5,05% das acções da Mazda, que por sua vez ficará com 0,25% dos títulos da sua concorrente, de modo a terem ambas uma participação equivalente do sócio, operação que vai concretizar-se em 2 de Outubro.

7 Ago 2017

Coreia do Norte | Tensão entre Pequim e Washington. Japão e Estados Unidos reiteram aliança

Pequim não gostou da twittada de Donald Trump e respondeu: não há que confundir assuntos quando se fala em controlar o regime de Kim Jong-un. Já Tóquio não quer perder a protecção norte-americana. Washington garante que a aliança está mais forte do que nunca

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China exortou ontem os Estados Unidos a separar a questão nuclear norte-coreana das discussões sobre o comércio entre os dois países, depois de o Presidente norte-americano, Donald Trump, ter acusado Pequim de inacção face a Pyongyang.

“Acreditamos que a questão nuclear da Coreia do Norte e o comércio entre China e Estados Unidos são dois assuntos separados, que pertencem a áreas completamente diferentes”, afirmou o vice-ministro chinês do Comércio Qian Keming, em conferência de imprensa. Estas questões “não estão a ser abordadas juntas”, disse.

Qian Keming considerou ainda que as “relações comerciais entre China e Estados Unidos são, no geral, mutuamente benéficas” para os dois países, e que os “Estados Unidos beneficiam muito do comércio bilateral e cooperação no âmbito do investimento”.

O responsável chinês reagia assim ao comentário feito por Trump, através da rede social Twitter, no sábado passado. O líder norte-americano sugeriu uma retaliação contra Pequim, acusando os líderes chineses de fazerem muito pouco para enfrentar a Coreia do Norte, depois de Pyongyang ter voltado a testar um míssil balístico intercontinental.

“Estou muito decepcionado com a China. Os nossos antigos líderes, ingénuos, permitiram-lhes ganhar centenas de milhares de milhões de dólares por ano em comércio e, no entanto, não fazem nada por nós em relação à Coreia do Norte”, escreveu na rede social Twitter. “Não permitiremos que isto continue. A China poderia facilmente resolver este problema!”, acrescentou Trump.

Um problema de muitos

Sobretudo desde que Donald Trump tomou posse, Washington tem vindo a pedir a Pequim para que controle as aspirações bélicas do seu vizinho, mas o Governo Central, que já suspendeu as importações de carvão norte-coreano, afirma que a solução passa por dialogar.

A China é o principal aliado do regime de Kim Jong-un, mas condenou o novo teste conduzido pelo país, apelando a que respeite as resoluções do Conselho de Segurança da ONU, e pediu a “todas as partes” para que exerçam moderação.

O secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, afirmou também que a Rússia e a China são “os principais facilitadores económicos do programa de desenvolvimento de armas nucleares e mísseis balísticos da Coreia do Norte”, e têm uma “responsabilidade única e especial pelo crescimento da ameaça à estabilidade regional e global”.

Já depois da acusação deixada por Trump, a embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas, Nikki Haley, defendeu que a China “sabe que deve actuar” na procura de uma solução para a crise com a Coreia do Norte, um “problema” que “não é apenas norte-americano”.

“Já chega de falar sobre a Coreia do Norte. A China sabe que deve actuar. O Japão e a Coreia do Sul devem aumentar a pressão. Não é apenas um problema norte-americano. Exigirá uma solução internacional”, considerou a diplomata, uma posição manifestada na sua conta no Twitter.

Num comunicado divulgado pouco depois, Haley insistiu que a China “deve decidir se finalmente quer dar este passo vital”, porque “o tempo de falar acabou”. “O perigo que o regime norte-coreano representa para a paz internacional é claro para todos agora”, sustentou.

Haley informou também que os Estados Unidos não pretendem convocar uma sessão de emergência do Conselho de Segurança da ONU, como tem acontecido nas Nações Unidas após os mais recentes testes com armas de Pyongyang. O Conselho de Segurança é composto pelos Estados Unidos, China, França, Rússia e Reino Unido.

Inúteis sanções

“Não faz sentido realizar uma sessão de emergência se não houver nenhuma consequência”, considerou Nikki Haley, comentando que a Coreia do Norte “já está sujeita a inúmeras resoluções do Conselho de Segurança, que viola com impunidade, e que não são respeitadas por todos os Estados-membros da ONU”.

Assim, uma resolução “adicional” que não incremente “significativamente” a pressão internacional sobre Pyongyang “não tem qualquer valor”. “De facto, é pior que nada, porque envia uma mensagem ao ditador norte-coreano de que a comunidade internacional não quer desafiá-lo seriamente”, adiantou.

Na quinta-feira passada, o Congresso dos Estados Unidos deu luz verde a um conjunto de sanções contra a Coreia do Norte, Irão e Rússia, que estão a aguardar a assinatura de Trump.

Dois dias antes, Haley tinha assinalado que se estavam a fazer progressos nas negociações entre Estados Unidos e a China para endurecer as sanções da ONU contra a Coreia do Norte, apesar de não ter concretizado quais eram esses avanços.

Em resposta aos mais recente teste levado a cabo por Pyongyang, os Estados Unidos e a Coreia do Sul realizaram um exercício militar conjunto. Seul anunciou que vai acelerar a implementação no seu território do sistema antimísseis norte-americano THAAD.

Pequim reagiu de imediato à posição de Seul, afirmando que o THAAD “só vai complicar a situação”.

Washington acusa frequentemente Pequim de proteccionismo. Em 2016, o comércio bilateral registou um défice de 310 mil milhões de dólares para a Administração norte-americana.

Japão e Estados Unidos reforçam cooperação

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] primeiro-ministro japonês anunciou ontem que Tóquio e Washington concordaram em reforçar as acções contra a Coreia do Norte, na sequência do lançamento, pelo regime de Kim Jong-un, do mais recente míssil balístico intercontinental. A ideia foi deixada depois de Shinzo Abe e Donald Trump terem conversado ao telefone, ontem de manhã.

O líder do Governo nipónico referiu que Trump está disposto a “tomar todas as medidas necessárias para proteger” o Japão que, por seu turno, vai dar todos os passos necessários para reforçar o seu sistema de defesa.

Os especialistas que estiveram a analisar o lançamento do míssil balístico intercontinental chegaram à conclusão de que o armamento norte-coreano tem agora capacidade para chegar à quase totalidade do território norte-americano.

Shinzo Abe fez ainda referência ao fracasso dos esforços diplomáticos, a via que tem sido defendida por Pequim. “A sociedade internacional, incluindo a Rússia e a China, precisam de olhar para isto com seriedade e aumentar a pressão”, declarou. Apesar de frisar que o Japão e os Estados Unidos vão dar passos concretos neste sentido, não divulgou qualquer detalhe sobre o que pretendem fazer.

Já o porta-voz do Executivo japonês, Koichi Hagiuda, garantiu que Abe e Trump não estiveram a discutir qualquer acção militar contra a Coreia do Norte, nem tampouco que atitudes por parte de Pyongyang serão consideradas como “pisar o risco vermelho”.

Os protectores

Em comunicado acerca do telefonema de ontem de manhã, a Casa Branca disse que os dois líderes estão de acordo em relação “à grave e crescente ameaça que a Coreia do Norte representa directamente para os Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul e outros países, perto e longe”.

Acrescenta-se na nota que Donald Trump reafirmou “o inabalável compromisso” de defesa do Japão e da Coreia do Norte de qualquer ataque, “usando todas as capacidades dos Estados Unidos”.

A conversa ao telefone durou cerca de 50 minutos. O papel que a China deverá desempenhar, “extremamente importante”, foi destacado em conferência de imprensa em Tóquio, com o Governo de Shinzo Abe a anunciar que pretende contactar todos os países envolvidos – a Coreia do Sul, mas também a China e a Rússia –, bem como as Nações Unidas, para que haja uma pressão adicional ao regime de Kim Jong-un. Não foram relevadas informações sobre as acções que se vão pedir ao grupo de nações em causa.

1 Ago 2017

Coreia do Norte arrisca uma grave escassez de alimentos

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Coreia do Norte poderá sofrer uma grave escassez de alimentos devido à pior seca dos últimos 15 anos no país, advertiu onde a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

As culturas foram penalizadas devido à falta de chuvas, num país onde a desnutrição já é um flagelo, referiu a FAO num relatório.

“A chuva que caiu entre Abril e Junho nas principais regiões agrícolas do país foi muito abaixo da média a longo prazo, o que causou graves perturbações nas atividades de plantio e danos às culturas na principal estação”, indicou o documento.

Isso poderá traduzir-se em “uma forte deterioração da segurança alimentar para uma grande parte da população”, de acordo com Vincent Martin, representante da FAO para China e para a Coreia do Norte.

“É necessário implementar ações agora para ajudar os agricultores afetados e para prevenir que os mais vulneráveis se voltem para estratégias de adaptação não sustentáveis, como reduzir a sua ingestão diária de alimentos”, acrescentou.

“É vital que esses agricultores beneficiem agora de uma assistência agrícola adequada, incluindo ferramentas e equipamentos de irrigação”, sublinhou Martin.

“Um aumento nas importações de alimentos (…) também será necessário durante os próximos três meses (…) para garantir um abastecimento alimentar adequado para os mais vulneráveis, incluindo crianças e idosos”, referiu a FAO.

Desgoverno

A Coreia do Norte experimentou na década de 1990 uma falta de alimentos que deixou várias centenas de milhares de mortos.

Mesmo em anos sem a seca, mais de 40% da população norte-coreana sofre de subnutrição, segundo a ONU.

Segundo especialistas, a escassez alimentar resulta de uma má gestão por parte do Governo norte-coreano, que consagra uma importante parte do seu orçamento aos programas balísticos e nucleares.

As entregas internacionais de alimentos, nomeadamente pelos norte-americanos e sul-coreanos, diminuíram fortemente com a escalada da tensão ligada aos programas militares de Pyongyang.

Um outro relatório da FAO sobre a Coreia do Norte estimou que em 2016 a produção agrícola foi penalizada pela falta de terras aráveis, pela degradação do solo devido a exploração intensiva, a falta de sementes, pesticidas e fertilizantes de qualidade.

A FAO, que tem um escritório permanente no país asiático, estima que 50.000 hectares de terras agrícolas foram afetados este ano pela seca, nomeadamente as culturas de arroz, milho, batatas e soja.

“A produção ligada às culturas do início da safra de 2017 caiu mais de 30% em relação ao ano anterior, passando de 450.000 para 310.000 toneladas”, advertiu ainda a FAO.

Duterte diz que não visita Estados Unidos porque “não prestam”

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente das Filipinas declarou que nunca irá visitar os Estados Unidos enquanto for chefe de Estado, afirmando que “já viu a América e não presta”. Rodrigo Duterte fez o mais recente ataque verbal contra os Estados Unidos quando foi instado, numa conferência de imprensa na sexta-feira, a reagir às declarações do congressista Jim McGovern. McGovern afirmou que irá liderar um protesto se o Presidente filipino aceitar um convite do Presidente norte-americano, Donald Trump, para visitar a Casa Branca. “O que o leva a pensar que eu vou à América?”, questionou Duterte. “Em nenhum momento durante a minha administração irei à América, ou depois… Eu já vi a América e não presta”, afirmou. O porta-voz de Duterte disse, em Abril, que Trump tinha convidado, durante um telefonema, o Presidente filipino a visitar Washington, o que causou protestos de ativistas dos direitos humanos, que pediram a Trunp para não receber um líder acusado de violações dos direitos humanos e de execuções extrajudiciais.

24 Jul 2017

O desprezível regime da Coreia do Norte

“Throughout the post–Cold War period, U.S. responses to North Korea’s nuclear ambitions have been based on a simple premise: a nuclear North Korea would destabilize regional stability and thus cannot be permitted under any circumstances. At the height of each of the North Korean nuclear crises, both the Clinton and Bush administrations imposed a series of economic sanctions and considered military options.”
“Global Rogues and Regional Orders: The Multidimensional Challenge of North Korea and Iran” – Il Hyun Cho

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Coreia do Norte tem sido particularmente contraditória nos últimos meses, aumentando acentuadamente o número e a ambição dos seus testes de mísseis balísticos. Ainda não é claro, porque razão o seu governo optou por se comportar de uma maneira tão desviante em termos internacionais. A opinião convencional é de que o regime de Kim Jong-un parece sente-se repentinamente muito mais ameaçado pelos Estados Unidos e pelos seus aliados, temendo que seja o próximo país escolhido para uma intervenção militar em grande escala e subsequente mudança de regime político. Assim, e de acordo com essa linha de pensamento, Kim e os seus seguidores estão à procura desesperadamente por construir um programa de mísseis balísticos e armas nucleares, que seja suficientemente grandioso, potente e de grande alcance para dissuadir os americanos e s o seus aliados de os atacar militarmente.

Se considerarmos em termos de valor nominal, esta posição parece razoável, pois a Coreia do Norte é um estado desonesto, que é amplamente criticado pela maior parte do mundo, não fazendo uma análise minuciosa da situação em termos globais. Em primeiro plano, não existe motivo para que a Coreia do Norte se sentira mais ameaçada, actualmente, do que nos anos anteriores. As doutrinas de invasões preventivas e mudanças de regime chegaram ao seu ponto culminante, sob o governo George W. Bush, declinaram com Barack Obama e não há motivo para acreditar antes da crise actual, que Donald Trump teve algum interesse real em uma guerra com a Coreia do Norte.

Os comentários de Trump sobre o Kim Jong-un, em verdade, foram geralmente corteses durante a sua campanha eleitoral e, recentemente, em Maio de 2017, Trump elogiou Kim como um biscoito muito inteligente, e sentir-se-ia feliz por sentar-se à mesa e comer na sua companhia um hamburguer. A declaração de que o regime começou a testar mísseis com mais rapidez do que nunca, porque se tornou dominada por um súbito terror de que os Estados Unidos e os seus aliados iriam invadir o país sem aviso, não tem qualquer fundamento. Em segundo lugar, há poucos desejos estratégicos da parte dos Estados Unidos e dos seus aliados de derrubar o regime de Kim Jong-un e os norte-coreanos bem o sabem.

Os sul-coreanos preocupam-se com os milhões de refugiados que inundarão as suas fronteiras, se o regime de Kim Jong-un entrar em colapso, e o gigantesco custo financeiro que uma unificação subsequente poderia acarretar. Os japoneses estão mais preocupados com a ameaça representada pela China do que pela Coreia do Norte, e temem que uma mudança de regime neste país possa reduzir o número de forças militares dos Estados Unidos estacionadas na região, o que também reduziria a necessidade estratégica que une a Coreia do Sul e o Japão, apesar das nefastas memórias que existem entre os dois estados, sobre o horrível tratamento japonês dado ao povo coreano de 1910 a 1945. Sem a ameaça da Coreia do Norte, o Japão poderia sentir-se abandonado pelos seus dois principais aliados e ter de enfrentar só o emergente gigante chinês.

A Coreia do Norte fornece aos Estados Unidos um pretexto para estacionar as tropas e forças navais na região, o que ajuda a conter a China, enquanto minimiza a necessidade de fazer uma menção exagerada ao elefante na sala da região. Em terceiro lugar, mesmo que Kim Jong-un realmente se sentisse em pânico sobre a administração Trump, já possui o dissuasor mais efectivo, que pode realisticamente esperar alcançar. O regime testou com sucesso, em termos nucleares, uma bomba atómica em 2006 e, posteriormente, construiu uma reserva pequena, mas letal, de armas nucleares. Tem a capacidade de fazer ataques nucleares contra os parceiros americanos na Ásia-Pacífico, nos próximos anos, e poderá até atacar os Estados Unidos usando a sua grande força submarina ou colocando ogivas em contentores de carga, que poderiam ser enviados e não detectados para os portos americanos e detonados remotamente.

Além disso, as suas ogivas foram feitas de forma impenetrável contra um primeiro ataque americano por algum tempo, inclusive através da ocultação em “bunkers” subterrâneos fortificados. Pelo menos alguns seriam provavelmente carregados em submarinos lançadores de mísseis, que a Coreia do Norte testou com êxito em Setembro de 2016. Isso garante que a Coreia do Norte possui uma capacidade nuclear poderosa de retaliação. Ao reforçar a sua dissuasão nuclear, a Coreia do Norte também possui a capacidade de responder a uma invasão ou ataque nuclear americano, infligindo uma destruição terrível aos aliados dos Estados Unidos e aos americanos com base na Ásia-Pacífico usando meios não-nucleares, incluindo o ser capaz de devastar a capital sul-coreana com rajadas massivas de artilharia aptas a realizar ataques químicos, ainda que exista qualquer proximidade entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos em termos de paridade nuclear.

Temos de considerar que em quarto lugar se a Coreia do Norte realmente procura evitar ser atacada, deve manter uma atitude tão moderada quanto possível. A Coreia do Norte não tem escassez de problemas internos e externos que estão sob observação da administração Trump, e seria fácil manter-se em segurança se resolver deixar de ser o centro das atenções mundiais. As acções da Coreia do Norte foram particularmente provocatórias, quase deliberadamente estudadas para fomentar uma resposta hostil. O assassinato de Kim Jong-nam em Fevereiro, usando uma arma química em plena luz do dia em um aeroporto da Malásia, só faz sentido se o objectivo fosse estimular os actores estrangeiros a níveis mais altos de hostilidade.

O retorno do cidadão dos Estados Unidos, Otto Warmbier, em estado de coma e que acabou por falecer a 19 de Junho de 2017, quando tinha sido condenado a uma pena de quinze anos de trabalho e não era visto há mais de um ano, parece intencionalmente preparado para inflamar os ânimos. Porque não o mantiveram escondido, fingindo que ainda estava a cumprir a sua sentença? Mesmo os próprios testes de mísseis foram realizados de forma mais conflituante possível, com o regime norte-coreano a responder às críticas dos Estados Unidos, proclamando que realizaria os testes semanalmente, mensalmente e anualmente, juntamente com o lançamento de novos vídeos de ataques nucleares da Coreia do Norte contra importantes cidades americanas.

O momento para o teste do mais recente míssil efectuado pela Coreia do Norte, foi no dia de feriado nacional dos Estados Unidos, a 4 de Julho de 2017, sendo uma verdadeira bofetada provocativa. Se a Coreia do Norte tivesse realmente medo de uma invasão pelos Estados Unidos e seus aliados, chamar deliberadamente e repetidamente a atenção de forma negativa é uma acção completamente descabida. Ainda podia testar os mísseis, mas tentaria evitar anunciar ao máximo o que está realmente a preparar. Se a série de testes de mísseis que aumentam rapidamente não está a ser feita principalmente para evitar um ataque dos Estados Unidos contra a Coreia do Norte, qual a razão porque o regime está agir tardiamente de forma tão beligerante?

Alguns dos possíveis motivos são bem conhecidos e um deles é que o governo pode estar a usar os novos testes para divulgar a força e as conquistas técnicas do regime à sua população, a fim de distraí-los e reduzir o seu descontentamento. O outro motivo é de que Kim Jong-un pode acreditar que inúmeros testes permitirão fazer os Estados Unidos retornarem às negociações, e fazerem novas concessões à Coreia do Norte, tendo como moeda de troca a paralisação do seu programa de armas nucleares.

Há também, no entanto, outra razão potencial que recebeu pouca consideração nos círculos políticos e académicos, que é o facto da Coreia do Norte estar intencionalmente a incitar os Estados Unidos, ao lançamento de ataques punitivos em pequena escala contra si. Tal pode parecer contra-intuitivo, qual a razão porque um país quer ser atacado por forças externas? Os ganhos em popularidade do seu líder, provavelmente, superariam as perdas materiais incorridas pelos bombardeamentos, especialmente porque a história mostrou que tais ataques de mísseis americanos raramente têm qualquer efeito militar significativo.

A história também mostrou que um governo sob ataque de um inimigo internacional muitas vezes experimenta um enorme impulso de popularidade, como resultado do aumento de patriotismo, um maior desejo de cooperação contra um agressor, e uma melhor disposição para tolerar as dificuldades internas como parte do esforço de guerra e conhecido como “Síndrome ao redor do efeito de bandeira.”

O mesmo aconteceu, por exemplo, no início da campanha de bombardeamento da OTAN a Belgrado, durante a Guerra do Kosovo, o que levou a uma explosão de popularidade para o anteriormente aviltado presidente Slobodan Milosevic, e que permitiu que permanecesse no poder por mais tempo do que seria possível (a sua popularidade apenas possibilitou, depois de se saber que os bombardeamentos seriam sustentados, algo que a dissuasão norte-coreana desde longa data, bem como as protecções chinesas e russas, converteriam em suicidas para que os Estados Unidos se acaso tentassem). O regime norte-coreano vem a trabalhar para acumular benefícios de popularidade, por estar em estado de animosidade com os Estados Unidos há décadas, mas a realidade do conflito essencialmente ilusório que descreve para o seu povo, sofre de uma grande falha que é a ausência de ataques inimigos palpáveis que a população pode ver, ouvir e sentir. Um ataque real dos Estados Unidos preencheria bem esse vazio.

Além disso, uma das fraquezas da posição de Kim Jong-un como líder é a ausência de credenciais militares reais. Ter a oportunidade de agir como o líder que, valentemente, enfrenta o poder da superpotência mais importante do mundo e sobrevive, ajudaria também, a preencher essa lacuna com facilidade. Kim Jong-un tem uma razão clara para desejar um impulso interno em termos de popularidade. O estado fortaleza sobre o qual reina, está a ser atacado por uma multiplicidade de factores que podem prejudicar o controlo do seu regime sobre a população, incluindo uma escassez generalizada de alimentos, prestação inadequada de cuidados de saúde, extrema escassez de energia e aumento do acesso da população a informações do mundo exterior, através de meios ilegais.

Apesar de o regime parecer ser seguro contra o risco de revolta interna ou golpe militar em futuro previsível, só se mantém devido ao intenso e contínuo trabalho do governo e das suas forças de segurança para manter o “status quo”, e patrocinar uma manifestação patriótica em torno do regime de Kim, face a ataques americanos abertos, bem como elevar o próprio líder a herói militar, pode ser visto como suficientemente benéfico para valer a pena o sofrimento de um dano físico, resultante de um ataque que um míssil ou drone pode causar. Assim, Kim Jong-un recuaria na ideia de um ataque nuclear americano ou de invasão em grande escala, que significaria o fim do seu regime.

A dificuldade para o seu governo é de encontrar a resposta correcta. Se agir de forma muito beligerante, ao disparar uma ogiva nuclear contra Tóquio ou Seul, por exemplo, provavelmente criaria uma resposta de grande intervenção ou erradicação nuclear. Ao invés, trata de irritar e ofender os Estados Unidos a um nível que seja suficiente para incitar um bombardeamento em pequena escala, mas não a nível tão grave que possa vir a incorrer em algo pior. As acções que o regime tomou nos últimos meses, incluindo o teste de novos mísseis, mas que na verdade não atacaram país algum, matando ínfimas pessoas, em vez de grande número de civis estrangeiros, e nivelando as ameaças que são preenchidas com hipérbole, mas cuja pouca essência alinharia exactamente com esta estratégia.

É altamente improvável que os Estados Unidos arrisquem que a Coreia do Norte dispare armas nucleares contra os seus aliados, ou fazendo explodir um contentor de carga nuclear em São Francisco, ou provocando uma retaliação nuclear maior da China, ou mesmo lançando uma invasão em grande escala da Coreia do Norte por causa de um único cidadão morto e alguns testes de mísseis ilegais. Todavia, não é de todo improvável que possa responder com o mesmo tipo de ataques militares que Trump usou contra a Síria este ano, depois do governo de Assad ter usado armas químicas contra a sua população, Bill Clinton usou contra o Afeganistão e a Somália após os ataques da embaixada dos Estados Unidos em 1998, e contra o Iraque no mesmo ano, por não terem cooperado com os inspectores de armas da ONU, e Ronald Reagan utilizou contra a Líbia em 1986, após o bombardeamento da discoteca de Berlim e contra Beirute, em 1983, pelo bombardeamento de um quartel militar multinacional.

É de considerar que, enquanto a administração Trump considera as suas respostas ao recente aumento de beligerância da Coreia do Norte, deve ter em consideração que o lançamento de ataques limitados pode, de facto, ser exactamente o que o regime de Kim Jong-un quer. Existem muitas outras razões pelas quais os Estados Unidos devem agir com extrema prudência, antes de tomar esse caminho, que não deve ser negligenciado. Fazer exactamente o que um ditador totalitário desprezível quer, pode em geral ser uma má decisão. A verdade é que as sanções ocidentais e as promessas de acção da China não conseguiram controlar o seu programa nuclear, tendo a Coreia do Norte realizados testes de mísseis a cada duas semanas desde o início do ano. As sanções são destinadas a prejudicar a economia, mas apesar de toda a miséria, o país está a crescer entre 1 por cento a 5 por cento ao ano.

A ONU tentou bloquear o acesso da Coreia do Norte ao dólar americano, limitando a quantidade de carvão que o estado pode exportar, potencialmente privando-o de mais de um quarto da sua receita total de exportações. A China, compradora de 99 por cento das vendas de carvão da Coreia do Norte, afirmou em Fevereiro de 2017 que suspenderia todas as importações. Tais medidas não tem impedido que a Coreia do Norte continue por meios fraudulentos a vender carvão e a ter acesso a moeda estrangeira, bem como usa agentes de terceiros países para vender drogas, armas e produtos falsificados. O governo permite que as pessoas singulares criem negócios lucrativos, Além de produzirem para o Estado, os agricultores e as fábricas têm alguma liberdade para procurar os seus clientes. As imagens de satélite mostram que os mercados crescem em tamanho e número entre as cidades. As pequenas e médias empresas estão a proliferar e seis empresas de táxi operam em Pyongyang.

A fúria apocalíptica da Coreia do Norte na realização de um programa de armas nucleares, incluindo o seu não cientificamente e militarmente provado primeiro lançamento de mísseis balísticos intercontinentais é fundamentado no que dizem ser um conjunto racional de metas em que o mais importante é a auto-preservação. O regime diz que quer uma bomba nuclear porque viu o que aconteceu, quando o Iraque e a Líbia ficaram sem as armas de destruição massiva. Os seus regimes foram derrubados por intervenções apoiadas pelo Ocidente. A Coreia do Norte quer travar outros países de fazerem o mesmo, nomeadamente a administração do presidente Donald Trump, de derrubar o seu regime totalitário.

14 Jul 2017

China e Alemanha preenchem lacuna de liderança deixada pelos EUA

O presidente americano é um bónus para as outras potências mundiais.

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s EUA tradicionalmente assumem a liderança na procura de abordagens comuns aos grandes problemas mundiais do momento nas cimeiras do G-20. Mas não desta vez. Quando os líderes mundiais se reunirem em Hamburgo na sexta-feira, China e Alemanha vão tentar usurpar esse papel aos EUA.

As duas potências industriais da Ásia e da Europa estão a ser incentivadas a formar uma aliança informal para assumir a batuta da liderança que os EUA perderam desde que o presidente Donald Trump tomou posse no começo deste ano, de acordo com diplomatas e autoridades de diversos integrantes do G-20.

A situação cristalizou-se antes da reunião anual do G-20 deste ano, que será realizada no mais movimentado porto comercial da Alemanha. Pela primeira vez desde a fundação do grupo, os EUA serão representados por um presidente adepto do proteccionismo, abandonando décadas de uma fervorosa defesa do comércio livre por parte dos EUA.

“O carácter estratégico das relações entre China e Alemanha está continuamente a ganhar importância”, disse o presidente chinês, Xi Jinping, num artigo publicado na terça-feira no jornal alemão Die Welt. Os dois países “deveriam intensificar a cooperação para implementar ‘Uma Faixa, uma Rota da China’ e contribuir conjuntamente para a segurança, a estabilidade e a prosperidade dos países vizinhos”.

Os EUA também se isolaram em relação ao aquecimento global na cimeira realizada em Maio pelo G-7 em Itália, onde o comunicado final se dividiu em seis contra um nesta questão. Desta vez, Trump corre o risco de ficar sozinho contra uma frente unida de aliados europeus, vizinhos como o Canadá e o México, e antigos inimigos dos EUA na Guerra Fria nos dois tópicos mais importantes da cimeira.

Na condição de anfitriões actual e anterior, a chanceler alemã Angela Merkel e Xi Jinping teriam trabalhado juntos na programação do G-20 de qualquer modo. No entanto, três visitas do primeiro-ministro chinês Li Keqiang à Alemanha até o momento, a mais recente no mês passado, sugerem que os dois países estão alinhados para ocupar um espaço maior que, pelo menos temporariamente, os EUA deixaram vazio na presidência de Trump.

“A nova aproximação entre China e Alemanha aconteceu por causa da situação Trump”, disse Diego Ramiro Guelar, embaixador em Pequim da Argentina, que também integra o G-20. “Os dois líderes mais importantes do mundo no momento são o presidente Xi e a chanceler Merkel.”

Interesses comuns

Os vínculos entre a China e a Alemanha têm se fortalecido há anos, graças a interesses económicos comuns que não enfrentam obstáculos como as rivalidades geopolíticas que complicaram as relações entre Pequim e Washington muito antes da eleição de Trump. A Alemanha precisa de mercados para os seus veículos e máquinas industriais de ponta, e a China deseja-os — tanto que comprou a companhia alemã de robótica Kuka.

Os EUA “deixaram uma espécie de lacuna” na região quando abandonaram a proposta do acordo de comércio livre Parceria Transpacífico, disse Michael Clauss, embaixador da Alemanha em Pequim, em entrevista recente com jornalistas. O objectivo do acordo era construir um bloco de livre comércio centrado nos EUA entre os países do Círculo do Pacífico, do Chile ao Vietname, como alternativa às iniciativas mais dominadas pela China, como “Uma Faixa, uma Rota”. Trump retirou os EUA dos planos da Parceria Transpacífico um dia depois de tomar posse.

6 Jul 2017

Trump acusa Pequim de falhanço nas relações com Pyongyang

O presidente americano sugere que, face ao falhanço chinês, os EUA devem avançar. Com quê não se sabe mas teme-se o pior.

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] presidente norte-americano Donald Trump disse nesta terça-feira que os esforços chineses para persuadir a Coreia do Norte a parar o seu programa nuclear falharam, uma declaração que surge logo após a morte de um estudante americano que se encontrava detido em Pyongyang.

Uma das apostas de Trump em lidar com o regime de Kim Jong-un era que Pequim conseguisse exercer a sua influência sobre o país asiático. Nesse sentido, chegou a conversar com o presidente chinês Xi Jinping no início do ano.

“Embora aprecie muito os esforços do presidente Xi e da China para ajudar com a Coreia do Norte, não funcionou. Pelo menos eu sei que a China tentou!”, escreveu Trump no Twitter.

Não está claro se a mensagem significa uma mudança significativa na abordagem da Casa Branca em relação aos norte-coreanos e ao seu programa nuclear, ou se pode significar alguma alteração na relação com a China.

De acordo com especialistas, a mensagem de Trump pode expressar a frustração de Washington com a falta de avanços em relação ao regime norte-coreano, o que pode levar a uma nova abordagem para a questão em um futuro próximo.

Enquanto isso, há um forte temor que um sexto teste nuclear possa ser conduzido por Pyongyang a qualquer momento. O mais recente do género aconteceu em Setembro do ano passado. Já neste ano, o país asiático já realizou uma dezena de testes balísticos, outro aspect que preocupa a Casa Branca.

Coreia do Sul chama drone de ‘provocação’

Militares sul-coreanos confirmaram que um drone encontrado na zona fronteiriça entre os dois países neste mês era mesmo da Coreia do Norte, e que trata-se de uma “grave provocação” que viola o armistício da Guerra da Coreia, estabelecido em 1953 entre os dois países da península.

No equipamento foi encontrada uma câmara e várias imagens aéreas feitas do sistema norte-americano de defesa antiaérea THAAD. “A intrusão de nosso espaço aéreo pelo drone norte-coreano e a fotografia de uma base militar é uma violação do armistício e de um acordo de não agressão, e é também um acto de grave provocação”, afirmou Jeon Dong-jin, funcionário do Estado-Maior sul-coreano.

“Condenamos vivamente as contínuas tentativas do Norte de penetrar no Sul com drones e, mais uma vez, exigir que todos os actos de provocação sejam interrompidos. Se a Coreia do Norte continuar a se envolver em actos de provocação contra o Sul, nossas forças armadas retaliarão com força e avisamos que toda a responsabilidade pelos eventos que acontecem é com o Norte”, concluiu.

22 Jun 2017

Lições de uma eleição

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]ão há volta a dar. Nestes tempos da informação instantânea, político que é político deve evitar eleições. (As derivas autoritárias aliás vão nesse caminho). A imprevisibilidade dos resultados é cada vez maior, como os institutos de sondagens sentem cada vez mais a cada eleição que passa. No caso britânico, no entanto, as sondagens, apesar de tudo, foram dando conta, nas duas últimas semanas, de que a vantagem do Partido Conservador estava a ficar curta. E diminuiu ao ponto de os Tories terem perdido a maioria no Parlamento. A “vitória” de Theresa May (assim, com aspas, porque os conservadores queriam ver o povo legitimar a sua estratégia de saída da União Europeia e acabaram a noite eleitoral a contar os círculos eleitorais que se aguentaram e à procura de quem lhes pudesse dar uma maioria estável no Parlamento) acabou por não surpreender. Mas os números alcançados pelos conservadores deixam-na de mãos atadas. De facto, o que este resultado determina é a incapacidade de o Reino Unido negociar com Bruxelas um entendimento que não preveja as quatro liberdades de movimento.

Depois de David Cameron ter alcançado o seu lugar na história como o político que levou o Reino Unido para a porta de saída da União Europeia, agora, um outro líder conservador, leva o partido para uma “derrota” (assim, com aspas, porque, de facto, os conservadores continuam a ter mais deputados no Parlamento do que qualquer outra formação política). É a segunda derrota nas urnas para os conservadores em 12 meses (no referendo que determinou a saída do Reino Unido, no ano passado, e agora nestas legislativas antecipadas). Isto depois de terem obtido uma maioria absoluta extraordinária há apenas… dois anos. Todo esse capital foi deitado por terra assim, como quem queima um fósforo.

Na sequência do resultado, Theresa May demitiu os seus dois chefes de gabinete, acusados, pelos que contestam May nos Tories, de serem os principais responsáveis pela definição da estratégia perdedora da líder conservadora. A contestação não fica, no entanto, por aqui e os pedidos para a sua demissão vão continuar a ouvir-se. O fim da maioria dos conservadores levou, uma vez mais, à queda da libra e à incerteza dos mercados, coisas que a City não gosta… Se May queria com estas eleições obter uma posição de força para as negociações com Bruxelas e reforçar a maioria no Parlamento, tudo lhe saiu ao contrário.

E, agora, ainda vai ter de negociar um governo com os unionistas da Irlanda do Norte, que têm como cartão-de-visita uma visão do aquecimento global parecida com Donald Trump e opõem-se ao casamento homossexual. Mas, ao mesmo tempo, os conservadores da mesma Irlanda do Norte dizem-lhe que o “hard Brexit” não é o caminho.

A imprevisibilidade é a norma agora na política internacional. Os tempos são de incerteza, como sublinhava Paulo Portas na semana passada em Macau, no âmbito da conferência internacional sobre a iniciativa chinesa da “Uma faixa, uma rota”. Uma imprevisibilidade e incerteza que, devido à voragem da informação, têm premissas novas a cada dia que passa. Nos tempos de hoje, ontem é uma eternidade. Amanhã, um futuro muito distante. É neste tempo de excesso de informação, de notícias falsas, de comunicação não mediada entre líderes, instituições e público, que torna a vida dos políticos ainda mais difícil. Prever a reacção do público a novas iniciativas, antecipar o que os eleitores vão querer e em que candidatos vão votar, está a tornar-se num exercício muito difícil. Para quem acredita, a bola de cristal pode ser um bom investimento.

12 Jun 2017

Donald Trump suspende visita ao Reino Unido

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]egundo o The Guardian, Donald Trump terá dito a Theresa May num telefonema que não queria avançar com a visita de estado por receio de manifestações de larga escala. O gabinete da primeira-ministra britânica veio entretanto desmentir a informação, dizendo que nada foi alterado.

Adianta o jornal britânico que o telefonema teve lugar há algumas semanas, de acordo com uma fonte do n.º10 de Downing Street, a residência oficial da primeira-ministra. Trump terá dito a May que queria suspender a visita por receio de protestos, decisão que apanhou May de surpresa.

Agora, um porta-voz do gabinete de May veio desmentir essa informação: “Não vamos comentar sobre a especulação em torno de conversas telefónicas privadas. A rainha [Isabel II] estendeu um convite ao Presidente Trump para visitar o Reino Unido e não há alterações a esses planos”, disse uma porta-voz de Theresa May, citada pela Reuters.

Pouco pacífico

A visita do Presidente norte-americano ao Reino Unido tem a gerado muita polémica.

A primeira-ministra britânica, a conservadora Theresa May, convidou Trump a realizar uma visita de Estado ao Reino Unido, com a rainha Isabel II como anfitriã, no seu encontro com o Presidente dos EUA, na Casa Branca, em Janeiro deste ano.

Na sequência do convite, alguns deputados avançaram com uma moção para impedir Trump de discursar no parlamento britânico. A moção pedia aos líderes da Câmara dos Comuns e da Câmara dos Lordes que não dessem “autorização ao Governo de sua Majestade para que o Presidente Trump pronuncie um discurso em Westminster Hall ou em qualquer outro lugar do Palácio de Westminster”.

Ainda no sentido de travar a visita, avançou-se com uma petição que já tinha mais de um milhão de assinaturas quando Londres assumiu que não iria recuar e retirar o convite.

Recentemente, o mayor de Londres, Sadiq Khan, disse estar contra a visita.

“Há muito tempo que digo que o convite da primeira-ministra Theresa May a Donald Trump para fazer uma visita de Estado foi prematuro”, declarou à AFP-TV Sadiq Khan, a 6 de Junho. “As visitas de Estado são dirigidas a líderes internacionais que se distinguiram”, sublinhou.

“Dado que muitos britânicos não concordam com muitas das políticas de Donald Trump, não deveríamos ter uma visita de Estado”, acrescentou o presidente de câmara da capital do Reino Unido, que explicou que, naturalmente, apoiava o diálogo com o Presidente dos Estados Unidos.

Sadiq Khan foi recentemente criticado por Donad Trump, que acusou o mayor de Londres de não levar o terrorismo a sério ao pedir aos britânicos que não se “alarmassem” com uma “maior presença da polícia” depois do ataque de sábado, 3 de Junho, que custou a vida a oito pessoas e feriu mais de 40.

12 Jun 2017

Virgens e meninos rabinos

05/05/2017

Max Ernst – “Virgem que espanca o Menino Jesus observada por três testemunhas” (1926)

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma vez, pensava na vida olhando a minha filha mais pequena que brincava com um pato amarelo, de plástico, e perguntei-lhe de chofre: Filha, o que é a mentira? Ela, entretida com o  pato, atirou: Uma tartaruga. Não me desmanchei: E quantas patas tem? Respondeu firme: Duas.

Depois, sob pretexto de lhe ler uma história, mostrei-lhe uma gravura com uma tartaruga. Ela concluiu o resto, não precisei de lhe dizer uma palavra. Chama-se a isto a racionalidade: a capacidade de mudarmos as nossas concepções quando confrontamos aquilo  em que acreditávamos com a experiência da realidade.

O que se denota pelo comportamento de Trump é que para ele as tartarugas ainda têm duas patas e continuarão a ter.

Dizia o presidente americano que os EUA abandonam o acordo por ser mau para o emprego nos Estados Unidos, pois afecta a indústria do carvão e de outros combustíveis fósseis. O que ele não diz – eis uma personagem em quem até as omissões mentem – é que o acordo, simultaneamente, estimula outras indústrias bem mais florescentes na economia dos EUA. Elucidam os jornais: «Segundo números do Departamento da Energia, citados pela CNN, a indústria do gás natural emprega 362 mil pessoas, a solar 374 mil e a eólica 102 mil. Já a indústria do carvão dá emprego a 164 mil funcionários, um número que tem vindo a descer há décadas. Os dados mostram ainda que a empregabilidade na indústria solar cresceu, em 2016, 17 vezes mais que o crescimento total do emprego.» Não são recicláveis os operários americanos? A tal da perna curta, etc.

Na verdade, a única coisa que lhe interessa são duas.

A primeira é exibir músculo para ver se ganha ao resto do mundo a discussão sobre quem estabelece as regras da relação, o vulgo “quem manda em casa!”. E as coisas não estão a sair-lhe bem.

A segunda é a que resulta disto: em Trump, neste momento, por detrás da máscara da arrogância, existe uma criança tremendamente assustada. Alguém que deu conta de que pode haver despistes mortais num triciclo.

Em estudando-lhe as expressões faciais, nos momentos chaves da sua exposição mediática, nota-se alguém tremendamente dividido entre o papel de que ele se acha investido e a mortificação de já não saber que máscara adoptar com precisão em cada ocasião. A urgência pomposamente solene com que empurrou Montenegro (a macia matéria do mundo) para depois apertar um botão do casaco em Grande-Plano não é congruente com o ar de pilhéria com que anuncia que se está nas tintas para que o planeta fique estufado – um ar de puto radiante por contrariar os outros.

A lição dura que Trump está a ter através de humilhações sucessivas, dentro e fora – e proporcionais à irrealidade com que as nega no twitter – é a derrota do homem comum americano: a sua impropriedade para enfrentar a complexidade do mundo actual, dado padecer da inércia de nunca se interrogar se a tartaruga terá mesmo duas patas.

Por isso jamais poderá agir Trump como diplomata e nunca almejará ser mais do que o ladino intermediário de alguns negócios, não coincidindo exactamente o seu primeiro interesse com os interesses da  América, antes fixando-os na manutenção do rating da sua imagem. Será que o triciclo se aguenta na curva?

Só este pânico explica a inadequação dos tuites em que desqualifica o mayor londrino. Não é a pertinência, a justeza da palavra que ele visa, isso é irrelevante, ele apenas roga, desesperadamente, por atenção e, quiçá, ternura.

Apetecia convocar aqui a “Virgem que espanca o Menino Jesus observada por três testemunhas”, de Max Ernst (o quadro que ilustra a crónica)” – são imensamente friáveis as nádegas do Menino, seu filho. E, para já, tirar o triciclo a Trump. Quanto a mim prometo não voltar ao tema dos meninos rabinos.

06/05/2017

Esta Virgem e a crónica de há duas semanas do Valério sobre as 72 Virgens que aguardam por mártir de um Islão no Paraíso, fez-me pensar no tipo de virgens que quereria para mim, depois duma minha virtual conversão. Eis algumas que já me ocorreram:

  1. a) Têm todas de ter um certificado de garantia de que nunca estiverem em hotel russo ao mesmo tempo que um milionário americano, não quero hímenes restaurados;
  2. b) quero uma virgem com uma genitália que seja uma espiral de quatrocentos e cinquenta metros de diâmetro, com rochas negras de basalto, para que eu exercite os meus dotes de montanhista;
  3. c) outra com uma (sic) como a que descrevi exaustivamente num conto: com quatro cantões como a Suiça. Já que a nomeei mereço frequentá-la;
  4. d) uma virgem, como pediria o filósofo Agamben, de “uma beleza-por-vir” mas que não seja demasiado linguaruda como a Xerazade, podendo no entanto herdar-lhe as axilas, que diziam aromatizadas em jasmim. Melhor, que seja só axilas…
  5. e) uma virgem que, como queria o gnóstico Valentim, não obre e não urine e saia ilesa de todas as minhas fantasias;
  6. f) uma virgem cuja palavra menstrue, para que me lembre. Outra
  7. g) tão inteligente que, de cada vez que me veja nu, não sinta logo necessidade de chamar os bombeiros;
  8. h) uma virgem que tenha pomares nas virilhas e exsude em aparos moles;
  9. i) uma virgem tão feliz em sê-lo que a cole num postal para o Papa Francisco;
  10. j) uma virgem especialista sobre o vasto mundo do paguro;    
  11. k) uma virgem inautêntica, até sincera nisso, e duma fantasmagórica vacuidade para que eu possa dormir lá dentro;
  12. l) uma especialista em sânscrito que me possa ler o Kama Sutra, na língua que o incarna, sem precisarmos de nos cansarmos no espaldar;
  13. m) uma não-virgem, que pode ser a minha mulher (troco-a por vinte e cinco virgens), pra que naquela imensa eternidade tenha alguém que me diga que não;
  14. n) uma virgem que respeite a minha decisão de não querer ser informado sobre os pormenores da incandescente cópula do gafanhoto (16 horas de labor operático).

Por favor, recrutadores, passem a palavra.

8 Jun 2017

Análise | Saída americana de acordo ambiental é oportunidade para a China

Enquanto Donald Trump retira os Estados Unidos do Acordo de Paris, Xi Jinping tem uma oportunidade única de liderar num dos tópicos que dominará o futuro do mundo. A China pode passar de maior poluidor para referência mundial na luta contra as alterações climáticas, ocupando o antigo papel dos norte-americanos

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Acordo de Paris foi o culminar de mais de duas décadas de luta diplomática num assunto de vital importância para o futuro do planeta. Ainda assim, surgiu envolto em polémica por ser pouco ambicioso nas metas acordadas de cortes nas emissões de dióxido de carbono para a atmosfera. No final da semana passada, Donald Trump anunciou a saída do histórico acordo, ratificado por 148 países, incluindo a China e a Índia.

Nos últimos anos os Estados Unidos têm conseguido reduzir as emissões de dióxido de carbono, apesar dos constantes ataques por parte de republicanos e lobistas de produtores de petróleo, principalmente através de políticas de iniciativa local e da descida do preço do gás natural.

Neste aspecto importa esclarecer que o gás natural produz cerca de metade das emissões da queima de carvão, assim como acrescentar que Trump tem sido, desde a campanha eleitoral, um defensor da indústria do carvão, uma das formas mais poluentes de produção energética.

Com a promessa de colocar os Estados Unidos primeiro, a persistência nas políticas isolacionistas por parte de Washington podem ter um efeito adverso ao pretendido, com a possibilidade das empresas exportadoras americanas serem vistas como poluidoras, o que pode representar um desastre de marketing.

No entanto, o Presidente norte-americano no discurso em que anunciou a cisão rotulou o Acordo de Paris como uma forma da China, Índia e outros países, ganharem vantagens económicas sobre Washington.

Aliás, Donald Trump há anos que reitera uma teoria de que o “aquecimento global é uma conspiração organizada pela China para tornar a indústria norte-americana menos competitiva”. Isto, apesar do consenso científico em torno do assunto.

Em resposta à decisão de Washington, o primeiro-ministro chinês Li Keqiang reforçou que Pequim “se mantém fiel ao compromisso firmado”. Numa alfinetada à Casa Branca, Li afirmou que “lutar contra as alterações climáticas é um consenso mundial, não é algo inventado pela China”. É de salientar que as declarações do representante chinês foram feitas à margem de um encontro em Berlim com a chanceler Angela Merkel.

Vantagem Xi Jinping

Esta tomada de posição de Washington pode representar uma oportunidade para Pequim tomar a liderança política a lidar com uma das mais sérias ameaças à segurança do planeta.

A assinatura do Acordo de Paris foi em parte possível graças à acção concertada dos Estados Unidos e da China, os dois maiores produtores mundiais de emissões de dióxido de carbono. Ainda assim, os chineses são responsáveis pelo dobro das emissões norte-americanas.

No últimos anos, Pequim tem investido muito dinheiro em políticas amigas do ambiente, tendo estabelecido um investimento de 361 mil milhões de dólares em energias renováveis até 2020, isto com o objectivo de cortar as emissões de carbono entre 40 a 45 por cento até esse ano. É de salientar que o Presidente chinês firmou a defesa do Acordo de Paris, no início do ano, durante o Fórum Económico Mundial, apelando a uma cooperação internacional mais forte.

Aliás, aquando da assinatura do acordo em questão, Barack Obama agradeceu a Xi Jinping a ajuda nas negociações. Em reacção à renúncia norte-americana, o antigo ocupante da Casa Branca considerou o postura da nova administração como uma desgraça internacional e o abdicar de liderança.

Esta não é a primeira vez que os Estados Unidos voltam atrás num compromisso resultante de um processo que lideraram, o mesmo já havia acontecido em 1997 quando George W. Bush renunciou ao Acordo de Quioto. Mas Paris conseguiu o feito de reunir consenso mundial das principais potências, apesar de muitos críticos acharem as metas pouco ambiciosas. Como seria de esperar, a reacção dos aliados tradicionais de Washington não se fez esperar e a saída norte-americana do acordo que pode levar, por exemplo, a Europa a aproximar-se mais de Pequim em matérias de produção energética.

Reacção mundial

Num encontro com o recém-eleito Presidente francês, Narendra Modi, primeiro-ministro indiano reiterou que o compromisso de Paris faz parte da “herança compartilhada do mundo”. Modi não só se mostrou intrépido na defesa do acordo, como garantiu que o seu país irá “mais longe” que os objectivos firmados no compromisso na luta contra o aquecimento global.

A reacção indiana havia sido precedida por Emmanuel Macron, que reagiu de imediato à toma de posição de Donald Trump.

O novo ocupante do Eliseu fez um apelo na sequência da saída norte-americana do Acordo de Paris que se tornou viral. Num vídeo que correu mundo, Macron lançou um desafio “a todos os cientistas, engenheiros, empreendedores e cidadãos responsáveis que ficaram desapontados com a decisão dos Estados Unidos”. A ideia é que esta mão-de-obra especializada pode encontrar na França “um segundo lar”. O francês garantiu que o seu país não vai desistir da luta e que se mantém confiante no sucesso do compromisso firmado em Paris. Macron afirmou que o mundo inteiro “partilha a mesma responsabilidade: tornar o planeta bom outra vez”, numa alusão ao lema que elegeu Donald Trump “make America great again”.

Em declarações à CNN, o comissário europeu que lida com os assuntos energéticos e climatéricos, Miguel Arias Cañete, expressou a aproximação de Bruxelas a Pequim. “Ninguém deveria ficar para trás, mas a UE e a China decidiram seguir em frente”, garantiu o comissário. Cañete adiantou ainda que há “uma cooperação de sucesso em assuntos como o comércio de emissões e tecnologias amigas do ambiente que está a dar frutos”. O responsável europeu, na sequência do anúncio da Casa Branca, afirmou que esta é a altura para “fortalecer laços” de forma a alcançar objectivos na luta contra o aquecimento global.

O próprio presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker referiu que o vazio deixado na liderança das negociações pelas alterações climáticas “será preenchido, e os chineses estão numa posição privilegiada para se assumirem como líderes”. Juncker acrescentou que aquando da Cimeira do G7, na Sicília, foi explicado a Donald Trump que não seria positivo o desaparecimento norte-americano do plano internacional. “Parece que essa tentativa não teve sucesso”, comentou o líder europeu.

À margem do encontro com Li Keqiang, Angela Merkel reforçou a ideia de que “o papel da China, enquanto parceiro estratégico, tem assumido uma importância crescente”. As conversações entre os dois líderes não se ficaram pelas questões climatéricas, tendo sido também discutidos dossiers quentes como a crise da Coreia do Norte, direitos humanos e acordos comerciais.

No ano passado, a China já era o principal parceiro comercial da Alemanha, com os negócios a atingir um volume de 170 mil milhões de euros. A chanceler alemã adjectivou este montante como “impressionante” e confirmou que “ambas as partes querem aumentar o comércio” entre os dois países.

Merkel revelou que está previsto no futuro mais cooperação e negócios no sector dos automóveis, tecnologia de aviação, reciclagem e inteligência artificial. Um dos acordos já firmados aconteceu entre a alemã Daimler e a chinesa BAIC Motor Corporation, para a implementação de uma fábrica da Mercedes-Benz em Pequim que produzirá carros eléctricos.

Enquanto os Estados Unidos se encerram em si próprios, a China aproveita a inoperância da Administração Trump para tomar o papel dianteiro no palco internacional.

5 Jun 2017