Orçamento 2020 | Deputados questionam verbas do Fórum Macau 

O hemiciclo aprovou ontem na generalidade a proposta de lei do Orçamento para o próximo ano, que prevê gastos de 100 milhões de patacas por parte do Fórum Macau na realização da próxima conferência ministerial. Deputados questionaram este montante bem como o elevado orçamento destinado ao arrendamento de imóveis

 

[dropcap]O[/dropcap] Fórum Macau prevê gastar cerca de 100 milhões de patacas com a realização da próxima conferência ministerial, em 2020, mas os deputados questionaram ontem na Assembleia Legislativa (AL) as razões para o elevado orçamento. O debate surgiu em torno da proposta de lei do Orçamento para 2020, aprovado por unanimidade e na generalidade.

“Porque é preciso gastar tanto para uma reunião ministerial?”, questionou o deputado Leong Sun Iok. A colega de bancada, Ella Lei, levantou as mesmas questões.

“Em 2018 o Fórum Macau apresentou despesas de 87 milhões de patacas, mas para 2020 esse valor sobe para 230 milhões. Em 2020 será realizada uma conferência ministerial, não sei se o secretário pode disponibilizar mais informações.”

Contudo, Lionel Leong, secretário para a Economia e Finanças, disponibilizou-se a prestar mais esclarecimentos posteriormente. “Vamos ter uma reunião ministerial e se esse valor é ou não razoável na próxima reunião poderemos apresentar mais dados pois não temos aqui um representante do Fórum Macau.”

Os deputados levantaram também a questão do orçamento gasto no arrendamento de imóveis para albergar serviços públicos, mas o secretário manteve a premissa de que o objectivo é reduzir o mais possível o arrendamento.

“Temos um armazém no Pac On e neste momento há uma margem de melhoria quanto ao seu aproveitamento. Em termos de gestão de recursos públicos temos a expectativa de no futuro contar com instalações próprias. Pretendemos reduzir a necessidade de arrendamento.”

A subdirectora da Direcção dos Serviços de Finanças (DSF), Ho In Mui, assegurou que o Governo procura sempre discutir o valor das rendas com os proprietários. “Só quando há real necessidade é que arrendamos espaços. Os aumentos das rendas estão dependentes dos senhorios, mas envidamos esforços para manter esses valores.”

Mais transparência

Os deputados questionaram também o Governo sobre os montantes injectados nas empresas de capitais públicos, mas Lionel Leong frisou que ainda estão a ser estudadas novas regras.

“Foram criadas normas sobre empresas com capitais públicos e ainda estamos a discutir estas normas. Antes esse funcionamento era regulado pelo Código Comercial, mas como os capitais têm carácter de erário público estamos a discutir o aumento da transparência.”

O debate aconteceu também em torno das despesas relacionadas com o funcionalismo público em alguns serviços, mas Joana Maria Noronha, subdirectora dos Serviços de Administração e Função Pública, assegurou que o aumento do número de funcionários está congelado e que haverá apenas transferência de pessoal em caso de necessidade.

Além disso, foi levantada a questão da continuação do programa de comparticipação pecuniária por parte dos deputados Mak Soi Kun e Sulu Sou. Mas Lionel Leong deixou a resposta para o próximo Governo, liderado por Ho Ian Seng.

“Houve um consenso entre o actual e o futuro Chefe do Executivo, e cabe ao novo Governo decidir como será feita a distribuição do erário público no âmbito deste programa. Isso implica que temos de dar acompanhamento à situação financeira, e essa questão irá colocar-se num futuro próximo, aquando da revisão orçamental”, rematou o secretário.

O Orçamento ontem aprovado para o próximo ano prevê um saldo superior a 22 mil milhões de patacas, com o Governo a prever que as receitas do orçamento ordinário integrado em 2020 se cifrem em 122,697 mil milhões de patacas, mais 0,3 por cento em relação à previsão para o fim do ano corrente. No que diz respeito ao Imposto Especial sobre o Jogo, o Governo espera recolher 91 mil milhões de patacas, cerca de 74,5 por cento do total das receitas. Quanto às despesas, as autoridades antecipam 100,689 mil milhões de patacas, uma diminuição de 2,6 por cento em relação a 2019, frisou Lionel Leong.

19 Nov 2019

10 anos de Chui Sai On | Deputados apresentam críticas face ao passado e expectativas sobre o futuro

[dropcap]V[/dropcap]ários deputados à Assembleia Legislativa (AL) usaram hoje do período antes da ordem do dia, em mais uma sessão plenária, para comentar a actual situação política, numa altura em que Chui Sai On se prepara para deixar o cargo de Chefe do Executivo dez anos depois da primeira tomada de posse.
Na sua interpelação oral, Lam Lon Wai defendeu que é necessário “reforçar as exigências quanto ao desenvolvimento da educação, para formar os talentos adequados ao futuro desenvolvimento de Macau”.

“Espero que o novo Governo continue as políticas do actual, aumentando continuamente o investimento na educação, agilizando a resolução dos problemas relativos à insuficiência de espaço e de terrenos destinados à educação”, apontou o deputado.

Para Lam Lon Wai, “o Governo deve colaborar com as escolas na organização de mais acções de formação, diversificadas e de aplicação na prática, destinadas aos professores e encarregados de educação. Há que retirar lições das experiências do Interior da China e do estrangeiro para a criação dum sistema curricular favorável à educação integrada, para garantia do desenvolvimento sustentável de Macau com base na formação de talentos”.

Na área económica, o deputado nomeado Lao Chi Ngai defendeu um maior investimento público pela via da reserva financeira “face ao aumento de factores externos de incerteza e à desaceleração da economia”.

Lao Chi Ngai acredita que deve apostar-se com maior rapidez na “exploração e o aproveitamento dos 85 quilómetros quadrados de área marítima”, acelerar “os investimentos e a construção de instalações de turismo e de lazer nas zonas costeiras, aumentar os elementos turísticos e reforçar a capacidade de acolhimento de turistas”.

Ai a saúde

Já Wong Kit Cheng defendeu melhorias no sistema de saúde. “Muitos projectos de instalações médicas foram adiados pelas mais diversas razões, em particular, o projecto do Complexo do Hospital das Ilhas, planeado em 2010, cujas estruturas principais só vão começar a ser construídas no quarto trimestre deste ano. O plano inicial previa a criação de um centro de oncologia, de um centro de transplante de órgãos, e a introdução de salas de cirurgia modernamente equipadas, para diagnóstico e tratamento de alta qualidade, porém, ainda não existe uma data para a sua concretização.”

Nesse sentido a deputada, formada em enfermagem, espera que o “novo Governo acelere e aperfeiçoe a construção das diversas instalações médicas”, além de assegurar “a coordenação entre os serviços utentes e as Obras Públicas, melhorando a fiscalização das obras com vista à sua rápida conclusão”, sem esquecer a necessidade de “coordenar a construção das instalações para as instituições médicas sem fins lucrativos, para proporcionar aos residentes serviços médicos de qualidade e mais rápidos”.

Ho Ion Sang, por sua vez, chamou a atenção para os problemas habitacionais, entre outros. “Neste mandato do Governo ainda ficaram por resolver muitos problemas relacionados com a vida da população, tal como os preços dos imóveis privados que continuam em alta, a oferta de habitação pública que não é suficiente e que continua sem prazo de conclusão, e o plano director urbanístico que ainda não foi divulgado.”

No que diz respeito ao trânsito “é um problema que preocupa a população”, uma vez que “os contratos dos autocarros foram duas vezes renovados por curto prazo e até ao momento ainda não se ouviu qualquer notícia sobre isso”.

Ho Ion Sang alerta para o facto de “a capacidade das três pontes estar quase saturada”, além de que “ainda não foi optimizada a rede rodoviária nas proximidades da Pérola do Oriente, e o escoamento nos postos fronteiriços e as instalações complementares de trânsito não foram devidamente planeados”.

“Todos estes velhos problemas que afectam gravemente a vida quotidiana da população vão ser deixados para o próximo Governo. Com a criação da Grande Baía, Macau passou a ser parte integrante, o que trouxe novas oportunidades e um espaço mais amplo de desenvolvimento para a RAEM, mas é necessário enfrentar os problemas de trânsito e de articulação das leis com as regiões vizinhas, questões que o próximo Governo tem de enfrentar e resolver”, adiantou o deputado ligado à União Geral das Associações dos Moradores de Macau.

Quanto ao futuro, liderado pelo Chefe do Executivo eleito a 25 de Agosto, Ho Iat Seng, o deputado espera, sobretudo, que sejam cumpridas promessas, tal como “acelerar os respectivos trabalhos, aprofundar a reforma da Administração Pública, concretizar o regime de responsabilização dos governantes, aperfeiçoar a construção do Regime Jurídico, aumentar a transparência das acções governativas e construir um Governo íntegro e eficiente”.

No entanto, para Ho Ion Sang, “o mais importante é ainda prestar alta atenção e resolver os conflitos sociais e as velhas questões ligadas à vida da população, tal como a habitação, trânsito, tratamento das águas, renovação urbana, preço dos produtos, pois só assim se consegue promover o desenvolvimento estável e harmonioso da economia e da sociedade de Macau”.

18 Nov 2019

Jornalistas de Hong Kong impedidos de entrar em Macau

[dropcap]O[/dropcap]s hotéis estavam marcados, as viagens compradas e a acreditação tinha sido tratada junto da Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau.

No entanto, o Corpo de Polícia de Segurança Pública impediu os repórteres do jornal Apple Daily, de Hong Kong, de entrarem no território. De acordo com os agentes, que estão sob a tutela do secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, os jornalistas foram considerados uma ameaça para a segurança da RAEM.

A informação foi avançada pelo jornal de Hong Kong, no seu portal, logo na quinta-feira, o primeiro dia de prova. A Lei Básica de Macau estipula a protecção da liberdade de imprensa, no artigo 27.º.

18 Nov 2019

Motas | Michael Rutter vence prova atípica e pede desculpas a Peter Hickman

No final da corrida de sábado, os membros da organização anunciaram, na sala de imprensa, que a 53.ª edição do Grande Prémio ficaria sem vencedor, após dois acidentes. Mas o que agora é verdade à noite é mentira, e horas depois Michael Rutter foi declarado vencedor. Ontem, Pun Weng Kun negou que tivesse havido qualquer comunicado “oficial” a informar que não haveria vencedor

 

[dropcap]M[/dropcap]ichael Rutter (Honda) conquistou pela nona vez na carreira o Grande Prémio de Macau em Motas, no sábado, e acabou a pedir desculpa ao colega de equipa Peter Hickman (BMW), que dominou todo o fim-de-semana. A 53.ª edição ficou marcada por dois acidentes, que levaram à suspensão da corrida, num primeiro momento, e ao cancelamento, após o segundo acidente, que terminou com três pilotos no hospital.

Após a confusão, a organização anunciou, no sábado à tarde, que não ia haver vencedor, visto que depois do recomeço apenas tinha sido realizada uma volta completa, quando o regulamento exigia um mínimo de três. Contudo, após as críticas dos pilotos, a organização voltou atrás e atribuiu a vitória a Michael Rutter, que liderava no final da única volta da segunda corrida. A decisão final tomada após uma reunião da direcção de corrida e com base no artigo 17 do regulamento que define que quando uma situação que “não está directamente estipulada nas regras”, que impera a deliberação da direcção de corrida.

A decisão não deixou o vencedor satisfeito, que nas redes sociais pediu desculpa ao colega de equipa Peter Hickman. “Acabei de saber que me foi dada a vitória da corrida de hoje. É uma vergonha porque o Peter [Hickman] merecia ganhar. Desculpa, Peter”, escreveu Michael Rutter, na conta do twitter, apesar de não ter controlo sobre a situação.

Peter Hickman que dominou todas as sessões do fim-de-semana e esteve sempre na liderança da corrida à excepção da volta que foi contabilizada para definir o vencedor. Porém, reagiu com desportivismo ao comentário do colega de equipa, antes dos dois se encontrarem numa discoteca local. “Hoje pagas a conta.Traz o dinheiro todo do prémio da vitória porque vais precisar”, comentou o vencedor do ano passado.

Comunicado inédito

No sábado, a prova de motas contou com duas partidas. Na primeira corrida foram realizadas mais de três voltas, até que um acidente entre Robert Hodson (BMW) e Marek Cerveny (BMW) levou à interrupção da prova. Meia hora depois, houve um recomeço, que terminou à segunda volta, após um acidente no Ramal dos Mouros que levou Dan Kruger (BMW), Erno Kostamo (BMW) e Derek Sheils (Suzuki) ao hospital.

Na altura da interrupção foi anunciado aos jornalistas por membros da organização que não haveria vencedor, o que aconteceria pela primeira vez na História da prova, porque não tinha sido cumprida a distância mínima.

A primeiro decisão resultou em várias críticas por parte dos pilotos, como aconteceu com Hickman: “Merda! Foi uma grande desilusão, a equipa gasta muito dinheiro para vir aqui. Viemos de longe para fazer um grande espectáculo e é muito desapontante que as coisas terminem assim. Poderia ter sido tomada outra decisão, mas a organização preferiu não se chatear”, afirmou, de acordo com a Rádio Macau.

Uma reacção semelhante foi partilhada por Michael Rutter. “É uma vergonha para o evento. É uma vergonha para todas as equipas. É sempre bom ter uma corrida. Espero que os pilotos estejam todos bem, mas estamos todos atordoados com a decisão”, defendeu, segundo a Rádio Macau.

“Sucesso” paranormal

No domingo, Pun Weng Kun, coordenador da Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau, fez um resumo do evento e recusou que tivesse havido qualquer comunicado “oficial” sobre a não atribuição da vitória. “Se calhar há pessoas que não entenderam o regulamento. Ontem [no sábado] só houve uma decisão final” afirmou Pun, quando confrontado com as declarações prestadas na sala de imprensa. “Oficialmente nunca foram anunciados dois resultados, oficialmente só houve um que foi o que definiu a classificação. A primeira [comunicação] não era oficial. Não sabemos através de que meios é que [os jornalistas] receberam essa informação”, defendeu-se.

Apesar de continuar a ser questionado sobre o assunto, Pun abandonou nessa altura a sala em que prestava declarações.

Este incidente e a confusão gerada durante várias horas ao longo da tarde de sábado não evitou que Pun Weng Kun considerasse o evento um sucesso. “Após quatro dias o evento foi realizado com um grande sucesso”, disse no início do encontro com os jornalistas.

Pires foi ao chão

Quanto aos resultados, além de Rutter e Hickman, o pódio ficou completo com o australiano David Johnson (Ducati). Por sua vez, André Pires (Yamaha) não ficou classificado, depois de ter caído na Curva da Melco, na zona mais lenta do circuito, logo na primeira volta.

O português teve um fim-de-semana difícil e ficou de fora da corrida logo na primeira volta, sem que tenha tido oportunidade de se posicionar na segunda grelha de partida. Pires caiu à saída da Curva de Melco, quando rodava muito próximo de um adversário, embora a ritmo lento. Como consequência seguiu directamente para as boxes e ficou fora da prova. “É um pouco triste para nós, mas estou contente porque ia a tentar rodar bem e acho que íamos fazer um bom resultado”, afirmou André Pires, no final. “Espero voltar novamente para o ano e tenho que encarar as corridas assim mesmo, estes erros fazem parte”, sublinhou.

Kostamo operado à coluna vertebral

Os pilotos Dan Kruger, Erno Kostamo e Derek Sheils foram transportados para o hospital depois de terem estado envolvidos na queda que levou ao fim definitivo da prova. Kostamo foi o piloto que ficou em pior estado e teve mesmo de ser operado à coluna vertebral, uma intervenção que, segundo a organização, foi bem-sucedida. No entanto, as lesões não serão graves e o finlandês não corre perigo de vida. Kruger e Sheils foram igualmente observados, mas receberam alta horas depois.

18 Nov 2019

CCAC | Fórum Macau não discriminou locais na contratação de tradutores 

[dropcap]O[/dropcap] Fórum Macau não levou a cabo práticas irregulares ou discriminatórias na contratação de cinco tradutores-intérpretes não residentes, dadas as especificidades do trabalho em causa, que exigem o domínio do mandarim e não do cantonense. A conclusão é do Comissariado contra a Corrupção (CCAC), que na sexta-feira concluiu a investigação sobre este caso depois de uma queixa apresentada pela Associação Sinergia Macau.

“O recrutamento dos intérpretes-tradutores do Interior da China com o mandarim como língua materna não envolve qualquer discriminação linguística nem exclusão de quadros qualificados locais”, lê-se no comunicado divulgado na sexta-feira.

Ao HM, o deputado Sulu Sou disse estar em causa uma questão de falta de transparência. “Penso que a existência de um sistema de recrutamento sem transparência gera um grande desperdício de verdadeiros talentos. É uma má tradição em Macau e leva a vários comportamentos passíveis de serem ilegais ou injustos. Todos os departamentos governamentais devem aprender as suas lições, caso contrário a credibilidade do Governo vai continuar a decair.” O HM tentou também chegar à fala com o deputado José Pereira Coutinho, que sempre se mostrou muito crítico face a estas contratações, mas até ao fecho da edição não foi possível estabelecer contacto.

O CCAC considera que a forma de recrutamento levada a cabo pelo Fórum Macau, sem concurso público, “não é, obviamente, a ideal, o que merece uma revisão séria por parte do serviço para o respectivo melhoramento”.

Para o organismo liderado por André Cheong, a contratação destes trabalhadores sem a utilização de “meios mais científicos e públicos, de que é exemplo o recrutamento público, faz não apenas com que um número reduzido de trabalhadores locais, que possuem a capacidade de fazer interpretação de ‘mandarim/português’, percam a oportunidade de candidatura, como dificilmente se poderá verificar, de forma objectiva e plena, se Macau está verdadeiramente em falta relativamente à existência dos referidos quadros qualificados”.

Análise em Pequim

Em resposta ao CCAC, o Gabinete de Apoio do Secretariado Permanente do Fórum Macau esclareceu que, “os intérpretes-tradutores, além de dominarem as técnicas de tradução e interpretação de alta qualidade, devem ainda estar familiarizados com os assuntos relacionados com o Interior da China”. Neste sentido, fazer contratações em Macau seria difícil, uma vez que os intérpretes-tradutores dominam o cantonense, pelo que teriam dificuldades em “enfrentar o trabalho de interpretação de ‘mandarim/português’”.

O CCAC conclui também que “devido ao facto de os intérpretes-tradutores locais terem essencialmente o cantonense como língua materna, tecnicamente, é difícil para estes tradutores desenvolverem o trabalho de interpretação de ‘mandarim/português’”.

A contratação destes cinco profissionais não residentes aconteceu depois de o concurso de gestão uniformizada ou “empréstimos” de outros serviços, não terem tido resultados satisfatórios. O secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, aceitou o pedido de contratação em Maio de 2018, tendo sido enviada uma carta à Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim e à Universidade de Estudos Estrangeiros de Xangai, solicitando a recomendação de graduados com habilitações na área de tradução de chinês-português ou com qualificações profissionais em língua portuguesa. Para esse efeito, foi constituído um júri para a escolha de cinco pessoas de entre 16 candidatos.

18 Nov 2019

Imigração | Sulu Sou pede revisão legal para atribuição de residência

Sulu Sou perguntou ao Governo se a atribuição de residência a portadores de salvo-conduto singular sem que tenham de provar formas de subsistência é justa face a outras pessoas que procuram obter BIR. Além disso, o deputado questiona se o Executivo tem planos para combater casamentos fraudulentos

 
[dropcap]N[/dropcap]o ano 2000, a população de Macau totalizava 431 mil pessoas, um número que no terceiro trimestre deste ano se situava nos 676.100 residentes. Um crescimento de 56 por cento (241 mil residentes) ao longo de 19 anos, empurrado substancialmente pela importação de mão-de-obra.
É face a este panorama que Sulu Sou escreveu uma interpelação escrita ao Executivo a pedir a reforma às leis que regulam a imigração. Um dos aspectos destacados pelo deputado é a forma de atribuição de residência a imigrantes oriundos do Interior da China. Segundo informação prestada pela secretaria da Segurança ao legislador, entre 2000 e 2018 o número de pessoas oriundas do Interior da China que se mudaram para Macau foi de 84.841 com salvo-conduto singular. Deste universo, 72.803 pessoas ficaram no território.
Quanto aos portadores de salvo-conduto singular, Sulu Sou pergunta ao Executivo se o facto de estarem isentos de provar que têm meios de subsistência não é injusto face às exigências feitas a outros candidatos a BIR, que são obrigados a apresentar certificados de habilitações, registos bancários e uma panóplia variada de outros documentos.
Além disso, Sulu Sou refere que o Governo deveria atender a factores socioeconómicos de Macau para atribuir residência, estabelecer um limite anual de atribuição de BIR e um sistema que premeie o mérito.

Nós da conveniência

O deputado acrescenta ainda que em Junho de 2018 o Governo concluiu uma consulta pública para rever o regime geral de entrada, permanência e fixação de residência em Macau, uma lei que remonta a 2003, em especial para criminalizar os casamentos por arranjo para atribuição de residência. Após esta consulta, o Executivo não avançou em termos legislativos de forma a combater aquilo o que para Sulu Sou é uma fonte desenfreada de fraudes para a obtenção de residência.
Além disso, o deputado questiona se o Executivo concorda que Macau enfrenta um aumento excessivo de imigrantes.

18 Nov 2019

Imigração | Sulu Sou pede revisão legal para atribuição de residência

Sulu Sou perguntou ao Governo se a atribuição de residência a portadores de salvo-conduto singular sem que tenham de provar formas de subsistência é justa face a outras pessoas que procuram obter BIR. Além disso, o deputado questiona se o Executivo tem planos para combater casamentos fraudulentos

 

[dropcap]N[/dropcap]o ano 2000, a população de Macau totalizava 431 mil pessoas, um número que no terceiro trimestre deste ano se situava nos 676.100 residentes. Um crescimento de 56 por cento (241 mil residentes) ao longo de 19 anos, empurrado substancialmente pela importação de mão-de-obra.

É face a este panorama que Sulu Sou escreveu uma interpelação escrita ao Executivo a pedir a reforma às leis que regulam a imigração. Um dos aspectos destacados pelo deputado é a forma de atribuição de residência a imigrantes oriundos do Interior da China. Segundo informação prestada pela secretaria da Segurança ao legislador, entre 2000 e 2018 o número de pessoas oriundas do Interior da China que se mudaram para Macau foi de 84.841 com salvo-conduto singular. Deste universo, 72.803 pessoas ficaram no território.

Quanto aos portadores de salvo-conduto singular, Sulu Sou pergunta ao Executivo se o facto de estarem isentos de provar que têm meios de subsistência não é injusto face às exigências feitas a outros candidatos a BIR, que são obrigados a apresentar certificados de habilitações, registos bancários e uma panóplia variada de outros documentos.

Além disso, Sulu Sou refere que o Governo deveria atender a factores socioeconómicos de Macau para atribuir residência, estabelecer um limite anual de atribuição de BIR e um sistema que premeie o mérito.

Nós da conveniência

O deputado acrescenta ainda que em Junho de 2018 o Governo concluiu uma consulta pública para rever o regime geral de entrada, permanência e fixação de residência em Macau, uma lei que remonta a 2003, em especial para criminalizar os casamentos por arranjo para atribuição de residência. Após esta consulta, o Executivo não avançou em termos legislativos de forma a combater aquilo o que para Sulu Sou é uma fonte desenfreada de fraudes para a obtenção de residência.

Além disso, o deputado questiona se o Executivo concorda que Macau enfrenta um aumento excessivo de imigrantes.

18 Nov 2019

Hong Kong | Comunidade portuguesa apreensiva face à escalada de violência 






A comunidade portuguesa a residir em Hong Kong está apreensiva face à escalada de violência no território mas não quer, para já, partir. Se antes era fácil contornar os protestos, que tinham dia e hora marcada, essa situação acabou. Fernando Dias Simões, professor da Universidade Chinesa de Hong Kong, explica que há muito que os professores preparavam aulas online. Com o fim prematuro do semestre, os alunos vão fazer os exames em casa

 
[dropcap]E[/dropcap]m Agosto, a situação estava longe de ser a ideal. Jason Santos, português a residir em Hong Kong, contava ao HM que o seu dia-a-dia estava a ser “muito afectado” pelos protestos na região vizinha. “Ainda hoje demorei mais de duas horas a voltar a casa depois de ir buscar os meus filhos à escola. A viagem costuma demorar 20 minutos.”
A residir na zona de Yuen Long, onde decorreu o ataque no metro perpetrado por homens vestidos com camisolas brancas e envergando bastões de bambu, Jason Santos relatava que muitas lojas estavam fechadas. 
“Muitas pessoas estão a ficar seriamente fartas das acções das pessoas que participam nestes protestos, uma vez que estão a afectar o seu dia-a-dia gravemente”, apontou o português.
Meses depois, mudou quase tudo.
Depois dos episódios graves de Yuen Long e das manifestações no Aeroporto Internacional de Hong Kong, os protestos chegaram às universidades. Na terça-feira, o campus da Universidade Chinesa de Hong Kong tornou-se num autêntico campo de batalha, com confrontos violentos entre estudantes e polícia. Nos dias seguintes, os estudantes começaram a proteger vários campus universitários com guarda-chuvas e tijolos da acção da polícia. 
Jason Santos não tem dúvidas de que, desde Agosto, a situação nas ruas piorou bastante.
“O meu dia-a-dia sofreu um pouco com as interrupções das escolas. Mas como conduzo tenho-me livrado do pior a nível de transportes.” No entanto, o membro da comunidade portuguesa em Hong Kong assegura que ainda não há um pânico generalizado junto dos portugueses. 
“A percepção geral varia. Não posso falar em nome da comunidade mas vemos pessoas em espectros opostos, desde os que defendem veemente as acções dos manifestantes aos que defendem a acção policial como a única resposta possível. Maioritariamente tentamos mantermo-nos afastados das zonas de conflito”, apontou.
No caso de Isabel Pinto, a maternidade faz com que esteja a maior parte do tempo em casa. Ainda assim, a portuguesa nota a escalada de violência mas, para já, não pondera mudar a sua localização. 
“Só tive o azar de estar em Sai Wai Ho no dia do tiroteio. Fiquei retida como muitas outras pessoas na estação de metro porque era arriscado sair por volta das 10h00. É só um exemplo típico, o que se nota é a diferença nos transportes e o acesso a certas zonas onde já se sabe que vai haver eventos”, contou ao HM.
Isabel Pinto denota que o nível de violência “piorou em intensidade”. “Antes só havia protestos ao fim-de-semana e os confrontos eram menos agressivos. Agora há mais classes profissionais envolvidas, vê-se mais impacto. No nosso bairro, por exemplo, já houve um café Starbucks vandalizado, taparam vitrines publicitárias no metro e em outras zonas há mesmo violência mais extrema”, acrescentou.
No dia do tiroteio em Sai Wai Ho, Isabel Pinto diz ter visto “pedras, garrafas e vasos atirados à estrada”. “Claro que ficamos conscientes dos riscos mas temos forma de evitar as cenas de confronto porque a polícia avisa os residentes por sms”. 
Sobre a possibilidade de deixar Hong Kong, Isabel Pinto diz que, a curto prazo, não é algo em que a família pense. “Por enquanto não pensamos nisso, mas é provável que quem já tenha esse projecto comece a antecipar a ida para Portugal”, declarou.

“Ninguém fica indiferente”

Francisco Mota Alves, arquitecto, está em Hong Kong há um ano e assume que os protestos o afectam “não do ponto de vista prático mas moral”, uma vez que “ninguém pode ficar indiferente”. No seio da comunidade portuguesa, “há apreensão sem gerar grande pânico, ainda não se está a atingir um estado de preocupação, mas começa a surgir alguma apreensão”.
“Hong Kong não é Lisboa, no sentido em que aquilo que acontece em Yuen Long não afecta o resto da cidade. Existe apreensão, mas não sinto que haja pessoas com vontade de fazer as malas. Quanto a mim, depende da minha situação laboral, pois trabalho para uma empresa australiana e, na eventualidade de este escritório ser encerado, poderei ter uma oportunidade de ir para Melbourne”, frisou. 
Depois de um Verão quente nas ruas, o Inverno trouxe uma maior violência, ao ponto de Francisco Mota Alves “condenar” os actos de ambas as partes.
“O que achava serem actos de vandalismo por parte dos manifestantes já considero actos de anarquia. Nunca votei aqui e não tenho como criticar, mas o Governo não está a conseguir gerir a situação.”
Do lado dos manifestantes, “a insistência nos cinco objectivos é um bocado utópica, penso que deveriam focar-se num objectivo de cada vez”.  “O Governo demorou a agir na questão da lei, mas agiu. O próximo passo deveria ser a brutalidade da polícia. O sufrágio universal nunca vai acontecer”, frisou.
Patrick Rozario, presidente do Clube Lusitano, disse à agência Lusa que, seis meses depois de intensos protestos, os luso-descendentes em Hong Kong ainda não desesperam, uma vez que a grande maioria detém um passaporte estrangeiro que lhes permitiria emigrar.
O cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, Paulo Cunha Alves, disse na quarta-feira à Lusa que existem “cerca de 20.000 indivíduos em Hong Kong com passaporte português”, sendo que apenas “entre 500 e 1.000 serão portugueses expatriados”.
 A maior parte são luso-descendentes que começaram a chegar à cidade assim que foi fundada pelos ingleses, há quase 180 anos. É o caso de Francisco da Rosa, que nasceu em Xangai e cresceu entre Macau e Hong Kong. “Hong Kong é a nossa casa e nós sentimos o seu sofrimento”, afirmou à Lusa o investigador.
Tal como Patrick Rozario, que tem a nacionalidade canadiana, a maioria dos luso-descendentes em Hong Kong tem um ou mais passaportes estrangeiros.
“Muitos membros da nossa comunidade têm uma perspectiva mais internacional, têm casa em Cascais ou em São Francisco [nos Estados Unidos] e por isso podem sempre partir quando quiserem”, apontou.
Patrick começou há vários anos, muito antes do início dos protestos, a tentar reaver o passaporte português. “Há muitos de nós a tentar fazer o mesmo, porque mesmo que já não saibamos falar a língua, eu pessoalmente continuo a sentir que sou macaense e que a nacionalidade portuguesa nos dá essa identidade”, frisou.
Ouvida também pela Lusa, uma outra portuguesa nascida em Hong Kong, Viena Mak Hei-man, argumentou que os manifestantes estão a romancear um movimento cada vez mais violento.
Para Viena, membro da Sociedade para a Protecção dos Golfinhos de Hong Kong, o receio era real em relação à proposta de lei da extradição, entretanto retirada do Conselho Legislativo. Em Janeiro, a activista foi a Xiamen, no sudeste da China, proferir uma palestra sobre o negócio de criação de golfinhos em cativeiro, para serem vendidos a parques aquáticos de todo o mundo.
“Não achei que estivesse em perigo, mas com esta lei, já não iria lá porque é perigoso ser um ambientalista e estar contra esta indústria”, argumentou Viena. “Todos sabemos”, disse, “as coisas terríveis que acontecem no sistema judicial chinês”, descrito por dissidentes como opaco, politizado e incapaz de garantir a salvaguarda dos direitos humanos.
A actuação do Governo de Hong Kong tem sido “um desastre completo”, lamentou a também cidadã portuguesa Georgine Leung, nascida no território.
A Chefe do Executivo, Carrie Lam, começou por suspender a proposta em Julho e acabou mesmo por a retirar em Setembro. Mas a situação não acalmou, salientou Viena Mak, devido “à ridícula resposta do Governo”, que rejeitou as restantes quatro exigências do movimento, entre as quais a criação de uma comissão de inquérito independente para investigar a actuação da polícia, que é acusada de usar força excessiva.
“Foi por isso que me juntei aos protestos, devida à forma como a polícia tratou, não apenas os que estavam na linha da frente, mas também aqueles na retaguarda. Mesmo os jovens, os idosos, os jornalistas foram tratados como baratas”, recordou, usando um insulto usado pela polícia contra os manifestantes.
A jovem tem ajudado a transportar e distribuir material durante os protestos, incluindo guarda-chuvas e ‘kits’ de primeiros socorros.
Viena emociona-se ao recordar os acontecimentos de 12 de Junho, quando os protestos cercaram o Conselho Legislativo, o parlamento de Hong Kong. “Eu vi a primeira vez que a polícia disparou gás lacrimogéneo. Nessa altura achávamos que tudo era possível, mas desde então já aconteceu tanta coisa”, afirmou.

Universidade preparou-se

Na terça-feira passada o ‘campus’ da Universidade Chinesa de Hong Kong foi palco de alguns dos combates mais violentos desde que os protestos começaram, com os estudantes a lançarem centenas de bombas incendiárias contra a polícia, que respondeu com balas de borracha e granadas de gás lacrimogéneo.
Isto um dia depois da polícia ter baleado dois manifestantes, um dos quais teve de ser operado de urgência, e de um homem ter ficado em estado crítico após ter sido regado com um líquido inflamável e incendiado por alegados manifestantes.
“A maioria dos meus amigos continua a ser fortemente a favor dos protestos”, declarou Georgine Leung. “Mas a verdade é que os manifestantes estão a romancear tudo o que se está a passar”, acrescentou a mãe de duas crianças, uma delas afectada pela suspensão das aulas já decretada em Hong Kong.
Viena Mak não vê um fim para o caos vivido na cidade. Tal como aconteceu com a chamada “revolução dos guarda-chuvas”, em 2014, admitiu que é improvável que o Governo aceite as exigências dos manifestantes, sobretudo no que toca à implementação do sufrágio universal para a eleição do chefe do Executivo e do Conselho Legislativo.
Ainda assim, a jovem nascida em Macau opta pela filosofia: “podemos perder esta guerra, mas os nossos ideais vão perdurar”.
Um estoicismo que não descansa os pais de Viena, que ainda vivem em Macau, onde está em vigor desde 2009 uma lei de defesa da segurança do Estado que pune “qualquer acto de traição à pátria, de secessão, de sedição, de subversão contra o Governo popular central”.
“Eles pedem-me frequentemente para não colocar no Facebook certas coisas relacionadas com os protestos, porque têm medo que seja detida em Macau”, explicou.
Ao HM, Fernando Dias Simões, professor de Direito na Universidade Chinesa de Hong Kong, assumiu que há muito que a instituição se vinha preparando para o pior.
“Há três ou quatro semanas que andamos a gravar aulas porque não sabemos se os alunos conseguem apanhar transporte. As condições para dar aulas não estão reunidas, daí ter-se adoptado medidas mais ajustadas. Recebi um email da universidade que diz que todos os edifícios estarão fechados porque estão a avaliar danos e a preparar um plano de reabilitação. Não creio que o campus volte a funcionar antes disso.”
Fernando Dias Simões não presenciou a verdadeira batalha em que se tornaram os acontecimentos de terça-feira, tendo acompanhado apenas nas redes sociais. “Não tinha noção de que os alunos tinham tanto material para se barricarem, estive no dia anterior e o campus estava perfeitamente pacifico. Não sabia que estavam preparados para um confronto com a polícia.”
O professor, que continua a residir em Macau a maior parte do tempo, afirma que, desde terça-feira que “a vida quotidiana é mais difícil, pois o metro pode não estar a funcionar correctamente, mas não há insegurança física”. “A polícia não anda indiscriminadamente a bater nas pessoas nas ruas, desde que não se envolvam nos protestos. É uma situação preocupante, mas acho que as pessoas não estão a pensar deixar a cidade”, rematou.

18 Nov 2019

Hong Kong | Comunidade portuguesa apreensiva face à escalada de violência 






A comunidade portuguesa a residir em Hong Kong está apreensiva face à escalada de violência no território mas não quer, para já, partir. Se antes era fácil contornar os protestos, que tinham dia e hora marcada, essa situação acabou. Fernando Dias Simões, professor da Universidade Chinesa de Hong Kong, explica que há muito que os professores preparavam aulas online. Com o fim prematuro do semestre, os alunos vão fazer os exames em casa

 

[dropcap]E[/dropcap]m Agosto, a situação estava longe de ser a ideal. Jason Santos, português a residir em Hong Kong, contava ao HM que o seu dia-a-dia estava a ser “muito afectado” pelos protestos na região vizinha. “Ainda hoje demorei mais de duas horas a voltar a casa depois de ir buscar os meus filhos à escola. A viagem costuma demorar 20 minutos.”

A residir na zona de Yuen Long, onde decorreu o ataque no metro perpetrado por homens vestidos com camisolas brancas e envergando bastões de bambu, Jason Santos relatava que muitas lojas estavam fechadas. 
“Muitas pessoas estão a ficar seriamente fartas das acções das pessoas que participam nestes protestos, uma vez que estão a afectar o seu dia-a-dia gravemente”, apontou o português.
Meses depois, mudou quase tudo.

Depois dos episódios graves de Yuen Long e das manifestações no Aeroporto Internacional de Hong Kong, os protestos chegaram às universidades. Na terça-feira, o campus da Universidade Chinesa de Hong Kong tornou-se num autêntico campo de batalha, com confrontos violentos entre estudantes e polícia. Nos dias seguintes, os estudantes começaram a proteger vários campus universitários com guarda-chuvas e tijolos da acção da polícia. 
Jason Santos não tem dúvidas de que, desde Agosto, a situação nas ruas piorou bastante.

“O meu dia-a-dia sofreu um pouco com as interrupções das escolas. Mas como conduzo tenho-me livrado do pior a nível de transportes.” No entanto, o membro da comunidade portuguesa em Hong Kong assegura que ainda não há um pânico generalizado junto dos portugueses. 
“A percepção geral varia. Não posso falar em nome da comunidade mas vemos pessoas em espectros opostos, desde os que defendem veemente as acções dos manifestantes aos que defendem a acção policial como a única resposta possível. Maioritariamente tentamos mantermo-nos afastados das zonas de conflito”, apontou.

No caso de Isabel Pinto, a maternidade faz com que esteja a maior parte do tempo em casa. Ainda assim, a portuguesa nota a escalada de violência mas, para já, não pondera mudar a sua localização. 
“Só tive o azar de estar em Sai Wai Ho no dia do tiroteio. Fiquei retida como muitas outras pessoas na estação de metro porque era arriscado sair por volta das 10h00. É só um exemplo típico, o que se nota é a diferença nos transportes e o acesso a certas zonas onde já se sabe que vai haver eventos”, contou ao HM.

Isabel Pinto denota que o nível de violência “piorou em intensidade”. “Antes só havia protestos ao fim-de-semana e os confrontos eram menos agressivos. Agora há mais classes profissionais envolvidas, vê-se mais impacto. No nosso bairro, por exemplo, já houve um café Starbucks vandalizado, taparam vitrines publicitárias no metro e em outras zonas há mesmo violência mais extrema”, acrescentou.

No dia do tiroteio em Sai Wai Ho, Isabel Pinto diz ter visto “pedras, garrafas e vasos atirados à estrada”. “Claro que ficamos conscientes dos riscos mas temos forma de evitar as cenas de confronto porque a polícia avisa os residentes por sms”. 
Sobre a possibilidade de deixar Hong Kong, Isabel Pinto diz que, a curto prazo, não é algo em que a família pense. “Por enquanto não pensamos nisso, mas é provável que quem já tenha esse projecto comece a antecipar a ida para Portugal”, declarou.

“Ninguém fica indiferente”

Francisco Mota Alves, arquitecto, está em Hong Kong há um ano e assume que os protestos o afectam “não do ponto de vista prático mas moral”, uma vez que “ninguém pode ficar indiferente”. No seio da comunidade portuguesa, “há apreensão sem gerar grande pânico, ainda não se está a atingir um estado de preocupação, mas começa a surgir alguma apreensão”.

“Hong Kong não é Lisboa, no sentido em que aquilo que acontece em Yuen Long não afecta o resto da cidade. Existe apreensão, mas não sinto que haja pessoas com vontade de fazer as malas. Quanto a mim, depende da minha situação laboral, pois trabalho para uma empresa australiana e, na eventualidade de este escritório ser encerado, poderei ter uma oportunidade de ir para Melbourne”, frisou. 
Depois de um Verão quente nas ruas, o Inverno trouxe uma maior violência, ao ponto de Francisco Mota Alves “condenar” os actos de ambas as partes.

“O que achava serem actos de vandalismo por parte dos manifestantes já considero actos de anarquia. Nunca votei aqui e não tenho como criticar, mas o Governo não está a conseguir gerir a situação.”

Do lado dos manifestantes, “a insistência nos cinco objectivos é um bocado utópica, penso que deveriam focar-se num objectivo de cada vez”.  “O Governo demorou a agir na questão da lei, mas agiu. O próximo passo deveria ser a brutalidade da polícia. O sufrágio universal nunca vai acontecer”, frisou.

Patrick Rozario, presidente do Clube Lusitano, disse à agência Lusa que, seis meses depois de intensos protestos, os luso-descendentes em Hong Kong ainda não desesperam, uma vez que a grande maioria detém um passaporte estrangeiro que lhes permitiria emigrar.

O cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, Paulo Cunha Alves, disse na quarta-feira à Lusa que existem “cerca de 20.000 indivíduos em Hong Kong com passaporte português”, sendo que apenas “entre 500 e 1.000 serão portugueses expatriados”.
 A maior parte são luso-descendentes que começaram a chegar à cidade assim que foi fundada pelos ingleses, há quase 180 anos. É o caso de Francisco da Rosa, que nasceu em Xangai e cresceu entre Macau e Hong Kong. “Hong Kong é a nossa casa e nós sentimos o seu sofrimento”, afirmou à Lusa o investigador.
Tal como Patrick Rozario, que tem a nacionalidade canadiana, a maioria dos luso-descendentes em Hong Kong tem um ou mais passaportes estrangeiros.

“Muitos membros da nossa comunidade têm uma perspectiva mais internacional, têm casa em Cascais ou em São Francisco [nos Estados Unidos] e por isso podem sempre partir quando quiserem”, apontou.
Patrick começou há vários anos, muito antes do início dos protestos, a tentar reaver o passaporte português. “Há muitos de nós a tentar fazer o mesmo, porque mesmo que já não saibamos falar a língua, eu pessoalmente continuo a sentir que sou macaense e que a nacionalidade portuguesa nos dá essa identidade”, frisou.

Ouvida também pela Lusa, uma outra portuguesa nascida em Hong Kong, Viena Mak Hei-man, argumentou que os manifestantes estão a romancear um movimento cada vez mais violento.
Para Viena, membro da Sociedade para a Protecção dos Golfinhos de Hong Kong, o receio era real em relação à proposta de lei da extradição, entretanto retirada do Conselho Legislativo. Em Janeiro, a activista foi a Xiamen, no sudeste da China, proferir uma palestra sobre o negócio de criação de golfinhos em cativeiro, para serem vendidos a parques aquáticos de todo o mundo.

“Não achei que estivesse em perigo, mas com esta lei, já não iria lá porque é perigoso ser um ambientalista e estar contra esta indústria”, argumentou Viena. “Todos sabemos”, disse, “as coisas terríveis que acontecem no sistema judicial chinês”, descrito por dissidentes como opaco, politizado e incapaz de garantir a salvaguarda dos direitos humanos.
A actuação do Governo de Hong Kong tem sido “um desastre completo”, lamentou a também cidadã portuguesa Georgine Leung, nascida no território.

A Chefe do Executivo, Carrie Lam, começou por suspender a proposta em Julho e acabou mesmo por a retirar em Setembro. Mas a situação não acalmou, salientou Viena Mak, devido “à ridícula resposta do Governo”, que rejeitou as restantes quatro exigências do movimento, entre as quais a criação de uma comissão de inquérito independente para investigar a actuação da polícia, que é acusada de usar força excessiva.

“Foi por isso que me juntei aos protestos, devida à forma como a polícia tratou, não apenas os que estavam na linha da frente, mas também aqueles na retaguarda. Mesmo os jovens, os idosos, os jornalistas foram tratados como baratas”, recordou, usando um insulto usado pela polícia contra os manifestantes.
A jovem tem ajudado a transportar e distribuir material durante os protestos, incluindo guarda-chuvas e ‘kits’ de primeiros socorros.

Viena emociona-se ao recordar os acontecimentos de 12 de Junho, quando os protestos cercaram o Conselho Legislativo, o parlamento de Hong Kong. “Eu vi a primeira vez que a polícia disparou gás lacrimogéneo. Nessa altura achávamos que tudo era possível, mas desde então já aconteceu tanta coisa”, afirmou.

Universidade preparou-se

Na terça-feira passada o ‘campus’ da Universidade Chinesa de Hong Kong foi palco de alguns dos combates mais violentos desde que os protestos começaram, com os estudantes a lançarem centenas de bombas incendiárias contra a polícia, que respondeu com balas de borracha e granadas de gás lacrimogéneo.
Isto um dia depois da polícia ter baleado dois manifestantes, um dos quais teve de ser operado de urgência, e de um homem ter ficado em estado crítico após ter sido regado com um líquido inflamável e incendiado por alegados manifestantes.

“A maioria dos meus amigos continua a ser fortemente a favor dos protestos”, declarou Georgine Leung. “Mas a verdade é que os manifestantes estão a romancear tudo o que se está a passar”, acrescentou a mãe de duas crianças, uma delas afectada pela suspensão das aulas já decretada em Hong Kong.
Viena Mak não vê um fim para o caos vivido na cidade. Tal como aconteceu com a chamada “revolução dos guarda-chuvas”, em 2014, admitiu que é improvável que o Governo aceite as exigências dos manifestantes, sobretudo no que toca à implementação do sufrágio universal para a eleição do chefe do Executivo e do Conselho Legislativo.

Ainda assim, a jovem nascida em Macau opta pela filosofia: “podemos perder esta guerra, mas os nossos ideais vão perdurar”.
Um estoicismo que não descansa os pais de Viena, que ainda vivem em Macau, onde está em vigor desde 2009 uma lei de defesa da segurança do Estado que pune “qualquer acto de traição à pátria, de secessão, de sedição, de subversão contra o Governo popular central”.
“Eles pedem-me frequentemente para não colocar no Facebook certas coisas relacionadas com os protestos, porque têm medo que seja detida em Macau”, explicou.
Ao HM, Fernando Dias Simões, professor de Direito na Universidade Chinesa de Hong Kong, assumiu que há muito que a instituição se vinha preparando para o pior.

“Há três ou quatro semanas que andamos a gravar aulas porque não sabemos se os alunos conseguem apanhar transporte. As condições para dar aulas não estão reunidas, daí ter-se adoptado medidas mais ajustadas. Recebi um email da universidade que diz que todos os edifícios estarão fechados porque estão a avaliar danos e a preparar um plano de reabilitação. Não creio que o campus volte a funcionar antes disso.”

Fernando Dias Simões não presenciou a verdadeira batalha em que se tornaram os acontecimentos de terça-feira, tendo acompanhado apenas nas redes sociais. “Não tinha noção de que os alunos tinham tanto material para se barricarem, estive no dia anterior e o campus estava perfeitamente pacifico. Não sabia que estavam preparados para um confronto com a polícia.”

O professor, que continua a residir em Macau a maior parte do tempo, afirma que, desde terça-feira que “a vida quotidiana é mais difícil, pois o metro pode não estar a funcionar correctamente, mas não há insegurança física”. “A polícia não anda indiscriminadamente a bater nas pessoas nas ruas, desde que não se envolvam nos protestos. É uma situação preocupante, mas acho que as pessoas não estão a pensar deixar a cidade”, rematou.

18 Nov 2019

Hong Kong | Polícia cerca universidade, situação “inaceitável”

[dropcap]A[/dropcap] polícia está a criar um cordão de segurança à volta à Universidade Politécnica de Hong Kong para isolar os manifestantes que ocuparam o estabelecimento de ensino. Hoje, um carro blindado foi incendiado à saída do túnel Cross Harbour e teve de recuar em chamas. Pelo menos um agente da autoridade foi atingido por uma flecha.
Por seu lado, a polícia disparou hoje gás lacrimogéneo contra manifestantes junto à Universidade Politécnica de Hong Kong, onde os manifestantes construíram barricadas. O reitor Rocky Tuan disse que a universidade “foi tomada por mascarados”, alheios ao estabelecimento de ensino, e que “a situação é inaceitável”.

Hoje, um grande grupo de pessoas voltou a tentar limpar uma estrada cheia de escombros perto do campus daquele ensino superior, mas foi advertido pelos manifestantes de que se devia afastar. A polícia antimotim alinhou-se a algumas centenas de metros e disparou várias granadas de gás lacrimogéneo contra os manifestantes, que se abrigavam atrás de uma ‘parede’ de guarda-chuvas.A oposição parlamentar criticou as forças armadas chinesas que no sábado ajudaram a retirar escombros das ruas.

O confronto ocorreu horas depois de intensos confrontos durante a noite de sábado em que os dois lados trocaram bombas de gás lacrimogéneo e bombas incendiárias que deixaram focos de incêndio na rua. Muitos manifestantes retiraram-se para o interior do campus, onde bloquearam entradas e montaram pontos de controlo de acesso. Os manifestantes, que ocuparam vários campus importantes durante a passada semana, recuaram quase por completo, à exceção de um contingente que permanece na Universidade Politécnica. O mesmo grupo também está a bloquear o acesso a um dos três principais túneis rodoviários que ligam a Ilha de Hong Kong ao resto da cidade.

Em outros lugares, trabalhadores e voluntários – incluindo um grupo de soldados chineses que saíram da guarnição – limparam estradas repletas de entulhos no sábado, quando a maioria dos manifestantes abandonou os locais. Houve incidentes dispersos de manifestantes discutindo e confrontando as pessoas que limpavam as estradas.

Os legisladores da oposição emitiram uma declaração na qual criticam os militares chineses por se juntarem às operações de limpeza. Os militares têm permissão para ajudar a manter a ordem pública, mas apenas a pedido do Governo de Hong Kong. O Governo de Hong Kong disse que não havia solicitado a assistência dos militares, descrevendo-a como uma actividade voluntária da comunidade.

17 Nov 2019

Hong Kong | Polícia britânica anuncia inquérito a agressão de ministra em Londres

[dropcap]A[/dropcap] polícia britânica anunciou hoje que abriu um inquérito à agressão de uma ministra de Hong Kong em Londres, durante uma altercação com apoiantes do movimento pró-democracia da antiga colónia britânica.

O incidente, ocorrido na quinta-feira ao final do dia, suscitou duras críticas da China, que acusou o Reino Unido de “deitar achas na fogueira” em Hong Kong e exigiu uma investigação imediata dos factos.

“A polícia está a investigar uma suposta agressão ocorrida ontem [quinta-feira] por volta das 17:05”, anunciou a polícia de Londres num comunicado. O texto precisa que “uma mulher foi transportada ao hospital devido a ferimentos num braço”, mas não confirma a identidade da secretária da Justiça de Hong Kong, Teresa Cheng. “Até ao momento” não foi feita qualquer detenção, disse ainda a polícia.

Teresa Cheng dirigia-se para uma conferência no Chartered Institute of Arbitrators (CIAbr), uma instituição especializada na arbitragem de conflitos internacionais, quando foi cercada por manifestantes.

Vídeos mostram a ministra cair ao chão, sem se perceber se foi empurrada ou se desequilibrou, e pouco depois levantar-se e afastar-se escoltada por seguranças.

“A senhora Cheng foi agredida pela multidão quando se preparava para entrar no nosso edifício”, afirmou o CIAbr num comunicado, precisando que a ministra “sofreu um ferimento num braço”. A conferência foi cancelada devido ao incidente. A China denunciou “uma agressão bárbara” e exigiu que o Reino Unido garanta “a segurança e a dignidade de todos os funcionários chineses”.

Teresa Cheng é um dos membros mais impopulares do governo de Hong Kong e é nomeadamente considerada uma das principais impulsionadoras do projeto de lei sobre extradição para a China, na origem dos protestos que desde junho se realizam na antiga colónia britânica.

A chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, condenou hoje a “agressão bárbara”, que “violou os princípios de uma sociedade civilizada”, e afirmou que a secretária ficou “gravemente ferida”, apelando à polícia britânica que investigue.

Em resposta, a diplomacia chinesa culpou as autoridades britânicas pelo incidente. “Há algum tempo que alguns políticos britânicos misturam o verdadeiro e o falso, obscurecendo atos violentos e ilegais em Hong Kong e mantendo contacto direto com manifestantes anti-China”, acusou Geng.

“Se o Reino Unido não mudar o seu comportamento e continuar a atirar gasolina para o fogo, semeando a discórdia e incitando (a desordem), vai pagar as consequências”, ameaçou o porta-voz de Pequim.

15 Nov 2019

Grande Prémio | Tiago Monteiro frustrado com a “lotaria de Macau”, parte em 14.º na primeira corrida

[dropcap]T[/dropcap]iago Monteiro parte este sábado da 14.º posição para a primeira corrida do Grande Prémio de Macau e no domingo da 26.º, que deixou o piloto português com “uma frustração muito grande”, como reconheceu à Lusa.

“É uma frustração muito grande, o tempo que fiz não é um tempo de competição é um tempo de aquecer pneus”, lamentou Tiago Monteiro no final da qualificação para a Corrida da Guia da Taça do Mundo de Carros de Turismo de domingo, na qual o britânico Rob Huff foi o mais rápido, com o tempo de 2.29,019 minutos.

Tiago Monteiro fez 2.29,919 minutos na qualificação para a corrida de sábado, enquanto na qualificação para as corridas de domingo, o piloto português fez a sua melhor volta em 2.32,183.

“Infelizmente, temos vindo a falar da lotaria de Macau, dos acidentes que há em Macau, muitas vezes aproveitei isso, mas desta vez apanhei com tudo em cima e cada vez que ia à pista havia um acidente”, disse, referindo-se ao icónico traçado citadino de 6,12 quilómetros, considerado uma das provas mais perigosas do mundo.

Pelo facto de ser “uma lotaria”, Tiago Monteiro reforçou que “tudo pode acontecer em Macau”: “Mas não estou com grande esperança”, admitiu.

Já em relação à corrida que se disputa no sábado, para a qual o piloto português arranca do 14.º lugar da grelha de partida, o objetivo passa por ficar entre os dez primeiros. “Amanhã [Sábado] estou em 14.º e gostava de entrar no ‘top 10’”, afirmou.

O 66.º Grande Prémio de Macau decorre até domingo e, para além, de Monteiro, o primeiro português a vencer a Corrida da Guia da Taça do Mundo de Carros de Turismo, em 2016, participa ainda o português André Pires, no 53.º Grande Prémio de Macau de motos, depois de em 2018 ter ficado em 19.º lugar.

15 Nov 2019

F3 | Jake Hughes provisoriamente na pole position

O recorde da melhor volta ao Circuito da Guia caiu ontem, com Jake Hughes a rodar na primeira qualificação do Grande Prémio de Macau de Fórmula 3 num “tempo canhão” de 2:06.673

 
[dropcap]C[/dropcap]omo em todos os primeiros dias do Grande Prémio, amplificada com a introdução do novo monolugar de Fórmula 3 da FIA no Circuito da Guia, esta foi uma quinta-feira a apalpar terreno para os intervenientes. Todas as equipas começaram os trabalhos de pista com uma folha em branco, pois os dados da telemetria recolhidos em edições passadas com a anterior geração de F3 de pouco ou nada servirão este fim-de-semana. Com o objectivo de recolher toda a informação possível, a ordem era para que os pilotos realizassem o maior número de voltas exequível e se mantivessem longe dos muros. Obviamente, nem todos cumpriram tal missão.
Depois do treino livre matinal, em que Marcus Armstrong registou o melhor tempo, na parte da tarde teve lugar a primeira sessão de qualificação. Jake Hughes foi o mais rápido, o que lhe dá a pole-position provisória para a corrida de qualificação de sábado. O ano passado a melhor volta no primeiro dia foi de Daniel Ticktum em 2:11.004, ele que era o detentor do recorde da pista com um “crono” de 2:10.266. O vencedor da prova nos dois últimos anos ficou-se ontem pelo sexto lugar numa sessão que terminou prematuramente devido a um acidente, sem consequências, do japonês Yuki Tsunoda.
Apesar da excelente prestação, Hughes apenas superou por quatro décimas de segundo o alemão David Beckmann. Dois dos candidatos ao triunfo, Juri Vips e Armstrong, obtiveram o terceiro e o quarto tempo, respectivamente.
Charles Leong, o representante de Macau, teve um dia relativamente tranquilo, colocando o Dallara-Mechachrome da Jenzer Motorsport no 21º posto, com uma marca três segundos mais lenta que o pole-position provisório. Sophia Flörsch ficou duas posições atrás, no 23º lugar, ficando-se a quatro segundos do tempo mais rápido do dia.
Amanhã haverá outra sessão de qualificação para determinar a grelha de partida para a Corrida de Qualificação de sábado.

Novo carro passa primeiro teste

Foram muitas as vozes com peso na disciplina que expressaram publicamente o seu receio e oposição sobre a introdução deste novo F3, mais potente, pesado e potente no Circuito da Guia, um carro que obrigou mesmo a alterações, relacionadas com a segurança, em vários pontos da pista. Estas críticas tinham razão de ser e estão mais relacionadas com direcção diferente que a FIA decidiu para a categoria que visita Macau desde 1983.
“Penso que as queixas vêm mais da parte dos puristas, nos quais me incluo, que consideram os novos FIA F3 como monolugares demasiado grandes e pesados para serem considerados verdadeiros F3 que eram o exemplo supremo de equilíbrio de chassis”, explicou Nuno Pinto, o Director Desportivo da favorita SJM Prema Theodore Racing, ao HM. “A existência de um sistema DRS pode desvirtuar um pouco as características únicas do que era o Grande Prémio de Macau e o desafio de ter de fazer a zona da montanha com uma afinação de pouca carga aerodinâmica como acontecia até agora. A questão da velocidade de ponta antes da curva Lisboa não é tão significativa para mim, já que anteriormente se chegou a rodar a 280km/h mas o facto de serem bem mais pesados pode tornar um incidente ainda mais grave, sim.”
Apesar de vários chefes de equipa terem apontado que este monolugar desvirtua a categoria e por sua vez a sua prova rainha, Nuno Pinto admite que não havia outra hipótese: “esta é a nova F3, é a do campeonato FIA e Macau tem de continuar a ser a prova rainha da F3. Como tal, tinha de ser disputado com os monolugares mais actuais.”
Mesmo sendo quase cinco segundos mais rápidos em pista que os seus antecessores, no primeiro dia do evento o número de incidentes em pista não foi superior ao de edições passadas, tendo a quinta-feira decorrido de uma forma perfeitamente normal para mais importante corrida de F3 do planeta. É previsível que o melhor tempo obtido ontem por Hughes possa ainda ser superado durante o fim-de-semana.

15 Nov 2019

F3 | Jake Hughes provisoriamente na pole position

O recorde da melhor volta ao Circuito da Guia caiu ontem, com Jake Hughes a rodar na primeira qualificação do Grande Prémio de Macau de Fórmula 3 num “tempo canhão” de 2:06.673

 

[dropcap]C[/dropcap]omo em todos os primeiros dias do Grande Prémio, amplificada com a introdução do novo monolugar de Fórmula 3 da FIA no Circuito da Guia, esta foi uma quinta-feira a apalpar terreno para os intervenientes. Todas as equipas começaram os trabalhos de pista com uma folha em branco, pois os dados da telemetria recolhidos em edições passadas com a anterior geração de F3 de pouco ou nada servirão este fim-de-semana. Com o objectivo de recolher toda a informação possível, a ordem era para que os pilotos realizassem o maior número de voltas exequível e se mantivessem longe dos muros. Obviamente, nem todos cumpriram tal missão.

Depois do treino livre matinal, em que Marcus Armstrong registou o melhor tempo, na parte da tarde teve lugar a primeira sessão de qualificação. Jake Hughes foi o mais rápido, o que lhe dá a pole-position provisória para a corrida de qualificação de sábado. O ano passado a melhor volta no primeiro dia foi de Daniel Ticktum em 2:11.004, ele que era o detentor do recorde da pista com um “crono” de 2:10.266. O vencedor da prova nos dois últimos anos ficou-se ontem pelo sexto lugar numa sessão que terminou prematuramente devido a um acidente, sem consequências, do japonês Yuki Tsunoda.

Apesar da excelente prestação, Hughes apenas superou por quatro décimas de segundo o alemão David Beckmann. Dois dos candidatos ao triunfo, Juri Vips e Armstrong, obtiveram o terceiro e o quarto tempo, respectivamente.

Charles Leong, o representante de Macau, teve um dia relativamente tranquilo, colocando o Dallara-Mechachrome da Jenzer Motorsport no 21º posto, com uma marca três segundos mais lenta que o pole-position provisório. Sophia Flörsch ficou duas posições atrás, no 23º lugar, ficando-se a quatro segundos do tempo mais rápido do dia.

Amanhã haverá outra sessão de qualificação para determinar a grelha de partida para a Corrida de Qualificação de sábado.

Novo carro passa primeiro teste

Foram muitas as vozes com peso na disciplina que expressaram publicamente o seu receio e oposição sobre a introdução deste novo F3, mais potente, pesado e potente no Circuito da Guia, um carro que obrigou mesmo a alterações, relacionadas com a segurança, em vários pontos da pista. Estas críticas tinham razão de ser e estão mais relacionadas com direcção diferente que a FIA decidiu para a categoria que visita Macau desde 1983.

“Penso que as queixas vêm mais da parte dos puristas, nos quais me incluo, que consideram os novos FIA F3 como monolugares demasiado grandes e pesados para serem considerados verdadeiros F3 que eram o exemplo supremo de equilíbrio de chassis”, explicou Nuno Pinto, o Director Desportivo da favorita SJM Prema Theodore Racing, ao HM. “A existência de um sistema DRS pode desvirtuar um pouco as características únicas do que era o Grande Prémio de Macau e o desafio de ter de fazer a zona da montanha com uma afinação de pouca carga aerodinâmica como acontecia até agora. A questão da velocidade de ponta antes da curva Lisboa não é tão significativa para mim, já que anteriormente se chegou a rodar a 280km/h mas o facto de serem bem mais pesados pode tornar um incidente ainda mais grave, sim.”

Apesar de vários chefes de equipa terem apontado que este monolugar desvirtua a categoria e por sua vez a sua prova rainha, Nuno Pinto admite que não havia outra hipótese: “esta é a nova F3, é a do campeonato FIA e Macau tem de continuar a ser a prova rainha da F3. Como tal, tinha de ser disputado com os monolugares mais actuais.”

Mesmo sendo quase cinco segundos mais rápidos em pista que os seus antecessores, no primeiro dia do evento o número de incidentes em pista não foi superior ao de edições passadas, tendo a quinta-feira decorrido de uma forma perfeitamente normal para mais importante corrida de F3 do planeta. É previsível que o melhor tempo obtido ontem por Hughes possa ainda ser superado durante o fim-de-semana.

15 Nov 2019

Toxicodependência | Registo central não reflecte realidade de Macau

O Instituto de Acção Social indica que o número de toxicodependentes registados em Macau nos primeiros três trimestres do ano desceu 31 por cento em relação a 2018. A contabilidade do Governo não reflecte o número de consumidores, por se centrar nos que são detidos ou procuram reabilitação, além de ir contra os crimes de consumo detectados

 

[dropcap]O[/dropcap] Instituto de Acção Social (IAS) apresentou ontem os números do primeiro semestre de 2019 do Sistema de Registo Central dos Toxicodependentes de Macau, algo que está longe de reflectir a realidade do consumo de droga no território. Segundo os números do IAS, os casos registados nos primeiros seis meses deste ano foram 186, número que contrasta com as 269 pessoas registadas em 2018, uma descida de 31 por cento.

Uma vez que este sistema se baseia nos consumidores apanhados pelas autoridades policiais e naqueles que se dirigem a instituições e organizações privadas em busca de tratamento, não apresenta um quadro fidedigno do fenómeno do consumo. Aliás, contraria mesmo a realidade apresentada pelo balanço da criminalidade para o primeiro semestre, que apontou para um aumento de 48,1 por cento dos crimes de consumo de estupefacientes.

“Não reflecte o universo de consumidores de forma nenhuma, porque existe uma camada enorme dessas pessoas que consomem drogas, seja de forma constante ou irregular e esporádica, que só sabemos quando pedem ajuda, ou quando são apanhados pela polícia”, comenta Augusto Nogueira, presidente da Associação de Reabilitação de Toxicodependentes de Macau (ARTM).

Quanto à redução do número registado pelo sistema, o presidente da ARTM aponta que algumas possíveis justificações podem passar pelo número de pessoas que deixaram de recorrer aos serviços, deixaram de tomar metadona, que abandonam o território ou que morreram. “Não tem ligação com diminuição de consumo, porque não sabemos qual a realidade do consumo”, esclarece Augusto Nogueira.

Após a sessão plenária da Comissão de Luta contra a Droga, a chefe do departamento de prevenção e tratamento da dependência do jogo e droga, Lei Lai Peng, vincou que o sistema de registo recolhe dados de várias instituições, além da polícia. “Segundo as vinte unidades de cooperação há uma descida do número de toxicodependentes que é o resultado de uma conjugação de esforços”, referiu a responsável do IAS. Dos dados mencionados que carecem de contexto, destaque para o número de jovens consumidores, com idade inferior a 21 anos, que segundo o IAS totalizou 8,1 por cento dos casos registados, seguindo uma tendência de descida, que não foi especificada, em relação ao período homólogo do ano passado.

Questionada sobre o valor da contabilidade, Lei Lai Peng referiu que “é claro que o registo central não reflecte, nem representa o fenómeno total da toxicodependência na sociedade”, acrescentando que “não há no mundo um método para saber concretamente o número de toxicodependentes num país ou cidade”.

Fora de validade

Segundo os dados apresentados, a droga mais consumida continua a ser a metanfetamina. Outro índice de destaque pela responsável do IAS foi para o “o consumo de cocaína que tem uma tendência de aumento de 18,8 por cento”. Lei Lai Peng referiu ainda que “a maioria das pessoas que consomem cocaína são provenientes de Hong Kong”, apesar de se basear no “Sistema de Registo Central de Toxicodependentes de Macau”.

Neste capítulo, Iu Kung Fei, chefe do Departamento de Investigação Criminal da Polícia Judiciária, deu uma achega referindo a ocorrência frequente de residentes da região vizinha que são apanhados a traficar em Macau. “Em Hong Kong a sociedade e a estrutura familiar são diferentes, com mais problemas familiares que em Macau e os membros da família podem ser atraídos por redes de traficantes para transportar droga para Macau”, comentou.

Há dois anos, as Nações Unidas e a Organização Mundial de Saúde fizeram um apelo mundial para a descriminalização do consumo e da posse para consumo, por motivos de saúde. Outra das consequências é conseguir contabilizar com mais assertividade o universo de consumidores, uma vez que os inquiridos não estariam a confessar um crime.

Para comentar a possibilidade de descriminalização em Macau, o representante da PJ foi quem respondeu entre o painel de membros da Comissão de Luta Contra a Droga. “Se o consumo de droga não é penalizado isso significa que a polícia não pode fazer nada se encontrar um consumidor. Não se pode simplesmente seguir a tendência internacional, é preciso olhar para a realidade de cada região e cidade”, referiu Iu Kung Fei.

Augusto Nogueira, que lida de perto com o tratamento da doença e vive pessoalmente as vitórias pessoais de quem consegue fugir às garras da toxicodependência vê a situação por outro prisma. “A prioridade deveria ser o tratamento e aconselhamento, porque nem todos precisam de tratamento. Enviar alguém para a prisão por consumo é contraproducente.”

15 Nov 2019

ATFPM reúne com secretário Lionel Leong 

[dropcap]J[/dropcap]osé Pereira Coutinho, deputado, reuniu na qualidade de presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) com o secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong. No encontro estiveram também presentes outros dirigentes da ATFPM.

De acordo com um comunicado de imprensa, foram abordados “os problemas das Pequenas e Médias Empresas (PME)”, nomeadamente no que diz respeito “à operacionalidade das PME, que sofrem limitações e lutam com dificuldades de sobrevivência”. Pereira Coutinho e a sua equipa chamaram a atenção para o facto de as PME “enfrentarem problemas com os procedimentos administrativos complicados, o prolongado tempo de espera nos pedidos de licenças, as rendas elevadas, a escassez de recursos humanos e a perda de talentos locais”.

Nesse sentido, a ATFPM sugeriu que o Governo “promova reformas administrativas o mais rápido possível, eliminando os procedimentos complicados e redundantes para que os empresários de Macau possam ter melhores dias”.

No encontro foram também abordadas as problemáticas associadas a leis como a Lei de Protecção dos Direitos e Interesses do Consumidor, actualmente em análise na Assembleia Legislativa, bem como a Lei de Concorrência Leal e a Lei da Contratação Pública de bens e serviços. Para a ATFPM, estes diplomas “são pilares importantes para salvaguardar a justiça social de Macau, a transparência do Governo e evitar a corrupção”.

Ir a jogo

A direcção da ATFPM fez também uma série de alertas relacionados com o sector do jogo, tal como a necessidade de “elevar a comparticipação no regime de previdência” por parte das concessionárias.

“A ATFPM é da opinião que a protecção dos trabalhadores das empresas de jogos (deve ser assegurada)”, lê-se no comunicado, onde se defende a criação de seguros de saúde, o aumento da contribuição da proporção das pensões e o pagamento de 14 meses de salário.

A associação presidida por José Pereira Coutinho chamou ainda a atenção para a “falta de protecção dos trabalhadores das empresas de jogo em casos de acidentes de trabalho”, uma vez que muitas seguradoras “procuram todas as formas e meios de não assumir estas responsabilidades”. “Além de se atrasar o pagamento dos salários para os trabalhadores que estejam de baixa médica por mais de três meses devido a um acidente de trabalho, muitos deles não receberam o respectivo salário”, acrescenta Coutinho.

Foi também pedido a Lionel Leong que o Governo proceda a uma melhoria do ambiente de trabalho dos trabalhadores do jogo, uma vez que há, de acordo com a ATFPM, relatos de violência entre jogadores e croupiers. Além disso, foi pedido que “as autoridades competentes assegurem que todas as empresas de jogos cumpram as suas responsabilidades sociais e forneçam alojamento, equipamentos de lazer e serviços das creches” aos trabalhadores.

A ATFPM voltou a pedir mais casas para funcionários públicos e a actualização de salários e subsídios para aqueles que trabalhem durante a noite e por turnos para a Administração.

15 Nov 2019

Hong Kong | Apple e o Twitter ajudam a mobilizar milhões

Dois académicos estão a investigar a forma como a tecnologia AirDrop, da Apple, e a rede social Twitter têm ajudado na mobilização de pessoas e na organização dos protestos em Hong Kong. Andy Buschmann, doutorando da Universidade de Michigan, concluiu que 70 por cento dos inquiridos tem recebido, desde Junho, mensagens via AirDrop a apelar à participação nos protestos, com a garantia de anonimato. Já o professor Łukasz Zamęcki aponta que o Twitter tem sido usado, sobretudo, para chamar a atenção da comunidade internacional

 
[dropcap]H[/dropcap]á muito que as redes sociais desempenham um papel fundamental na feitura de revoluções, protestos ou na mobilização de pessoas em prol de causas. Os protestos em Hong Kong, que duram desde o Verão, não são excepção e têm acontecido não apenas nas ruas, mas também online. No entanto, os promotores das acções não recorrem apenas a grupos de WhatsApp ou Facebook para passar a mensagem, tirando também partido da tecnologia disponibilizada pela gigante Apple.
Andy Bushmann, doutorando no departamento de Ciência Política da Universidade de Michigan, Estados Unidos, está a investigar a forma como a tecnologia peer-to-peer da Apple, o sistema AirDrop, tem sido usado nos protestos de Hong Kong. O estudo está ainda a ser desenvolvido, mas o académico contou ao HM que, tendo em conta resultados preliminares de um inquérito já feito, 70 por cento dos entrevistados afirmam ter recebido mensagens mobilizadoras desta forma.
Mas o que torna o sistema AirDrop tão especial? O facto de utilizadores da Apple poderem enviar mensagens entre si através de bluetooth, a uma curta distância, sem necessitar de Internet, o que assegura o anonimato de quem envia e de quem recebe.
“Em lugares onde há muitos utilizadores de Iphone, tal como as estações de metro em hora de ponta, é possível enviar centenas de mensagens por AirDrop num curto período de tempo”, disse.
Andy Bushmann assegura que não foi a tecnologia AirDrop a principal responsável por colocar cerca de dois milhões de pessoas nas ruas, nos primeiros protestos contra a proposta de lei da extradição, mas teve um importante impacto.
“A tecnologia AirDrop pode chegar a públicos que, de outra forma, não teriam conhecimento dos protestos, talvez porque não estão nas redes sociais ou não aderiram a grupos do Telegram. É possível que as pessoas tenham feito apelos ao movimento através do AirDrop mesmo que eles próprio não tenham participado nessas acções.”
O facto de 70 por cento dos inquiridos ter recebido estas mensagens de mobilização constitui “um número impressionante”. “É difícil imaginar que não haja qualquer efeito, tendo em conta a quantidade de mensagens via AirDrop que têm vindo a circular. Na minha pesquisa actual estou a tentar analisar o efeito exacto, em comparação com outros factores, que a tecnologia AirDrop teve na participação individual dos indivíduos”, acrescentou Andy Buschmann.
Para o doutorando, o sistema AirDrop “está a tornar-se cada vez mais importante para disseminar a informação relativa aos protestos no seio do público”, apesar de considerar que a génese destas acções não vai sofrer grandes alterações. No entanto, “o sistema AirDrop já está a mudar, parcialmente, o sentido de mobilização destes protestos”, frisa o académico.
Questionado sobre a possibilidade de o Governo chinês poder vir a controlar o uso do sistema AirDrop, Andy Bushmann responde “sim e não”. “A Apple tem sido bem-recebida pelo Governo da República Popular da China por acatar ordens, mas o sistema AirDrop recorre à mesma tecnologia que os acessórios da Apple, tal como AirPods ou estações de carregamento. Não vai ser fácil à Apple desactivar completamente essa função.”
O académico acredita que esta tecnologia “possa vir a ser desactivada nos iPhones, mas pode vir a ser reactivada com os programas de hacking”. “Nesta fase, contudo, a tecnologia AirDrop ainda funciona em todo o mundo e os activistas vão, mais cedo ou mais tarde, aprender com o caso de Hong Kong”, frisou.

Chamada global

Łukasz Zamęcki, doutorado em ciência política e professor assistente da Faculdade de Ciencia Política e Estudos Internacionais da Universidade de Varsóvia, na Polónia, encontra-se a investigar o efeito que a rede social Twitter tem tido nos protestos da região vizinha. Apesar de estar a começar agora esse trabalho, o académico assegurou ao HM que o Twitter tem sido mais usado para chamar a atenção da comunidade internacional do que propriamente para mobilizar pessoas, através de contas como “Fight4HongKong”, “antiELAB” ou “save_hk_please”, entre outras. O académico, que há sete anos faz investigação sobre Hong Kong, também analisou hashtags usadas nas publicações, tendo concluído que as mais comuns sao #hongkongprotests, #chinazi, #antilabmovement e #hongkonglastword.
“Acredito que as restantes plataformas sociais foram mais importantes para mobilizar as pessoas a ir para as ruas do que o Twitter, que serviu mais para informar a comunidade internacional sobre o que está a acontecer. Mas o Twitter desempenhou um papel importante para tornar estes protestos mais visíveis junto da comunidade internacional”, apontou o autor do estudo.
Łukasz Zamęcki concluiu também, para já, que a maior parte dos tweets analisados versa sobre a acção da polícia, que tem sido acusada de ataques aos direitos humanos e de perpetrar violência gratuita através do uso de gás pimenta e balas de borracha.
“Notei que houve mais tweets durante os protestos mais violentos em relação aos dias normais de manifestação, ou quando havia novas informações. Na maior parte das contas analisadas os utilizadores aderiram ao Twitter em 2019, claro que podemos ver que o número de contas criadas teve como base os protestos.”
Assegurando que, em sete anos de investigação, “muita coisa mudou em Hong Kong”, Łukasz Zamęcki conclui que “os jovens recorrem a uma justificação normativa e utilitária para o uso da violência nos protestos, e noto que esta justificação tem vindo a aumentar junto dos estudantes”.

15 Nov 2019

Hong Kong | Apple e o Twitter ajudam a mobilizar milhões

Dois académicos estão a investigar a forma como a tecnologia AirDrop, da Apple, e a rede social Twitter têm ajudado na mobilização de pessoas e na organização dos protestos em Hong Kong. Andy Buschmann, doutorando da Universidade de Michigan, concluiu que 70 por cento dos inquiridos tem recebido, desde Junho, mensagens via AirDrop a apelar à participação nos protestos, com a garantia de anonimato. Já o professor Łukasz Zamęcki aponta que o Twitter tem sido usado, sobretudo, para chamar a atenção da comunidade internacional

 

[dropcap]H[/dropcap]á muito que as redes sociais desempenham um papel fundamental na feitura de revoluções, protestos ou na mobilização de pessoas em prol de causas. Os protestos em Hong Kong, que duram desde o Verão, não são excepção e têm acontecido não apenas nas ruas, mas também online. No entanto, os promotores das acções não recorrem apenas a grupos de WhatsApp ou Facebook para passar a mensagem, tirando também partido da tecnologia disponibilizada pela gigante Apple.

Andy Bushmann, doutorando no departamento de Ciência Política da Universidade de Michigan, Estados Unidos, está a investigar a forma como a tecnologia peer-to-peer da Apple, o sistema AirDrop, tem sido usado nos protestos de Hong Kong. O estudo está ainda a ser desenvolvido, mas o académico contou ao HM que, tendo em conta resultados preliminares de um inquérito já feito, 70 por cento dos entrevistados afirmam ter recebido mensagens mobilizadoras desta forma.

Mas o que torna o sistema AirDrop tão especial? O facto de utilizadores da Apple poderem enviar mensagens entre si através de bluetooth, a uma curta distância, sem necessitar de Internet, o que assegura o anonimato de quem envia e de quem recebe.

“Em lugares onde há muitos utilizadores de Iphone, tal como as estações de metro em hora de ponta, é possível enviar centenas de mensagens por AirDrop num curto período de tempo”, disse.
Andy Bushmann assegura que não foi a tecnologia AirDrop a principal responsável por colocar cerca de dois milhões de pessoas nas ruas, nos primeiros protestos contra a proposta de lei da extradição, mas teve um importante impacto.

“A tecnologia AirDrop pode chegar a públicos que, de outra forma, não teriam conhecimento dos protestos, talvez porque não estão nas redes sociais ou não aderiram a grupos do Telegram. É possível que as pessoas tenham feito apelos ao movimento através do AirDrop mesmo que eles próprio não tenham participado nessas acções.”

O facto de 70 por cento dos inquiridos ter recebido estas mensagens de mobilização constitui “um número impressionante”. “É difícil imaginar que não haja qualquer efeito, tendo em conta a quantidade de mensagens via AirDrop que têm vindo a circular. Na minha pesquisa actual estou a tentar analisar o efeito exacto, em comparação com outros factores, que a tecnologia AirDrop teve na participação individual dos indivíduos”, acrescentou Andy Buschmann.

Para o doutorando, o sistema AirDrop “está a tornar-se cada vez mais importante para disseminar a informação relativa aos protestos no seio do público”, apesar de considerar que a génese destas acções não vai sofrer grandes alterações. No entanto, “o sistema AirDrop já está a mudar, parcialmente, o sentido de mobilização destes protestos”, frisa o académico.

Questionado sobre a possibilidade de o Governo chinês poder vir a controlar o uso do sistema AirDrop, Andy Bushmann responde “sim e não”. “A Apple tem sido bem-recebida pelo Governo da República Popular da China por acatar ordens, mas o sistema AirDrop recorre à mesma tecnologia que os acessórios da Apple, tal como AirPods ou estações de carregamento. Não vai ser fácil à Apple desactivar completamente essa função.”

O académico acredita que esta tecnologia “possa vir a ser desactivada nos iPhones, mas pode vir a ser reactivada com os programas de hacking”. “Nesta fase, contudo, a tecnologia AirDrop ainda funciona em todo o mundo e os activistas vão, mais cedo ou mais tarde, aprender com o caso de Hong Kong”, frisou.

Chamada global

Łukasz Zamęcki, doutorado em ciência política e professor assistente da Faculdade de Ciencia Política e Estudos Internacionais da Universidade de Varsóvia, na Polónia, encontra-se a investigar o efeito que a rede social Twitter tem tido nos protestos da região vizinha. Apesar de estar a começar agora esse trabalho, o académico assegurou ao HM que o Twitter tem sido mais usado para chamar a atenção da comunidade internacional do que propriamente para mobilizar pessoas, através de contas como “Fight4HongKong”, “antiELAB” ou “save_hk_please”, entre outras. O académico, que há sete anos faz investigação sobre Hong Kong, também analisou hashtags usadas nas publicações, tendo concluído que as mais comuns sao #hongkongprotests, #chinazi, #antilabmovement e #hongkonglastword.

“Acredito que as restantes plataformas sociais foram mais importantes para mobilizar as pessoas a ir para as ruas do que o Twitter, que serviu mais para informar a comunidade internacional sobre o que está a acontecer. Mas o Twitter desempenhou um papel importante para tornar estes protestos mais visíveis junto da comunidade internacional”, apontou o autor do estudo.

Łukasz Zamęcki concluiu também, para já, que a maior parte dos tweets analisados versa sobre a acção da polícia, que tem sido acusada de ataques aos direitos humanos e de perpetrar violência gratuita através do uso de gás pimenta e balas de borracha.

“Notei que houve mais tweets durante os protestos mais violentos em relação aos dias normais de manifestação, ou quando havia novas informações. Na maior parte das contas analisadas os utilizadores aderiram ao Twitter em 2019, claro que podemos ver que o número de contas criadas teve como base os protestos.”

Assegurando que, em sete anos de investigação, “muita coisa mudou em Hong Kong”, Łukasz Zamęcki conclui que “os jovens recorrem a uma justificação normativa e utilitária para o uso da violência nos protestos, e noto que esta justificação tem vindo a aumentar junto dos estudantes”.

15 Nov 2019

Hong Kong | Manhã marcada por corte de vias e lançamento de gás lacrimogéneo sobre manifestantes

[dropcap]O[/dropcap] corte de importantes estradas e o disparo de gás lacrimogéneo sobre manifestantes marcaram a manhã em Hong Kong, no quarto dia seguido de confrontos violentos que começaram com uma greve geral convocada para segunda-feira.

Pouco depois das 07:00, grupos de manifestantes bloquearam o túnel que liga a ilha de Hong Kong ao continente, enquanto uma outra importante via, a de Tolo, que liga várias áreas da periferia, permanece cortada desde a noite de quarta-feira.

A ponte número 2 dessa rodovia está localizada ao lado da Universidade Chinesa de Hong Kong, onde foram registados os confrontos mais violentos nos últimos dias e onde numerosos estudantes permanecem entrincheirados, construindo barricadas e armazenando bombas incendiárias.

A associação estudantil daquela universidade tentou ontem obter uma ordem judicial para impedir que a polícia anti-motim entre novamente no campus, mas o tribunal rejeitou a reivindicação. Por outro lado há uma centena de estudantes barricados na Universidade Politécnica, que anunciou ontem que suspendeu as aulas até ao fim da semana por razões de segurança.

Dada a situação, as autoridades de educação da cidade decidiram cancelar hoje os dias lectivos em todos os jardins de infância, escolas primárias e secundárias e centros especiais até segunda-feira.

Os ‘media’ locais indicaram que há a registar pelo menos dois feridos graves na quarta-feira: um trabalhador de um departamento do Governo, que foi atingido na cabeça por um objecto supostamente lançado por manifestantes, e um jovem de 15 anos que foi também atingido na cabeça por uma granada de gás lacrimogéneo. Ambos permanecem em estado grave.

Estes dois casos fazem crescer o saldo de feridos graves: um jovem de 21 anos que foi baleado por um polícia de trânsito na segunda-feira e um homem de 57 anos que, no mesmo dia, foi incendiado por um manifestante após uma discussão política.

Além disso, a polícia encontrou na quarta-feira à noite, um homem de 30 anos morto, vestido de preto, a cor usual dos manifestantes, supostamente após ter caído de um prédio.

O jornal de Hong Kong South China Morning Post noticiou hoje que a chefe do Governo local, Carrie Lam, reuniu-se na quarta-feira à noite com altos funcionários do Governo para discutir se as eleições para os conselhos distritais, programadas para dia 24, devem ser adiadas, não existindo para já uma comunicação oficial das autoridades sobre o assunto.

As manifestações em Hong Kong começaram em Junho, após uma proposta de emendas a uma lei de extradição, já retirado pelo Governo, mas que espoletou em um movimento que exige uma reforma dos mecanismos democráticos de Hong Kong e uma oposição à crescente interferência de Pequim.

No entanto, alguns manifestantes optaram por tácticas mais radicais do que protestos pacíficos e confrontos violentos com a polícia tornaram-se habituais nas ruas de Hong Kong.

14 Nov 2019

Dívida de jogo na origem de ataque com arma branca em pensão ilegal

[dropcap]U[/dropcap]m homem do Interior da China atacou com um cutelo um conterrâneo, numa pensão ilegal, e foi detido, de acordo com a informação revelada ontem pela Polícia Judiciária (PJ). Na origem da agressão terá estado uma dívida de jogo e o atacante está indiciado pela prática do crime de ofensa qualificada à integridade física e posse de arma proibida.

Segundo a informação revelada pela PJ, os dois envolvidos são do Interior da China e de apelido Ding. Conheceram-se no dia 11 de Novembro na pensão ilegal, onde pagaram por uma cama, cada um, e decidiram ir jogar juntos. Porém, nas mesas de um dos casinos do território, o atacante perdeu todo o seu dinheiro e pediu ao recém-conhecido que lhe emprestasse 10 mil dólares de Hong Kong. A vítima aceitou adiantar o dinheiro, na esperança de que o empréstimo fosse devolvido na totalidade.

No entanto, a sorte do agressor não mudou e no dia seguinte, já a 12 de Novembro, o dinheiro emprestado foi totalmente perdido. Com uma dívida de 10 mil dólares de Hong Kong, o atacante sugeriu à vitima que lhe emprestasse mais 15 mil dólares. O objectivo do agressor era utilizar o dinheiro para levantar da loja de penhores um relógio, que já havia penhorado anteriormente.

A vítima concordou com mais um empréstimo, porque lhe tinha sido prometido que receberia o relógio como forma de pagamento pelos dois empréstimos. Contudo, depois de levantar o relógio de luxo, o agressor quis ficar na posse do bem e recusou entregá-lo. Foi este comportamento que levou ao desentendimento entre os dois recém-conhecidos.

No MP

Já no quarto, e quando discutiam, o agressor foi à cozinha buscar um cutelo e atacou a vítima, cansando-lhe lesões na cabeça, testa, orelha direita, braço esquerdo e no dedo anelar da mão direita.

Após as agressões, o agredido tentou fugir e já fora da pensão, com ajuda de residentes locais, conseguiu chegar à esquadra do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), onde apresentou queixa. Após este momento, as forças da autoridade foram à pensão ilegal e procederam à detenção do agressor.

O caso está agora a ser seguido pelo Ministério Público e o atacante enfrenta acusações pela prática do crime de ofensa qualificada à integridade física, punida com pena de até 13 anos de prisão. Já a posse de arma proibida prevê uma pena que pode chegar aos dois anos.

14 Nov 2019

Hong Kong | Estudantes do continente retirados da cidade

[dropcap]E[/dropcap]studantes universitários oriundos do continente estão a ser retirados de Hong Kong, numa altura em que a região é palco de confrontos cada vez mais violentos entre manifestantes antigovernamentais e a polícia.

Pelo terceiro dia consecutivo, manifestantes causaram interrupções no serviço ferroviário, bloquearam ruas e ocuparam o centro financeiro da cidade. Os confrontos, que só na segunda-feira causaram 128 feridos e mais de 260 detenções, alargaram-se, entretanto, a alguns campus universitários.

As autoridades disseram que a polícia marítima usou um barco para ajudar um grupo de estudantes do continente a deixar a Universidade Chinesa de Hong Kong, que permaneceu barricada por manifestantes após confrontos violentos com a polícia na terça-feira.

Segundo o jornal chinês Beijing Evening News, estudantes do continente dizem que os seus dormitórios foram invadidos e que foram pintados insultos nas paredes.
Muitos estão a beneficiar de um programa que oferece uma semana de acomodação grátis em hotéis e albergues de Shenzhen.

Várias estações de metropolitano e de comboio foram encerradas depois de os manifestantes antigovernamentais terem bloqueado as entradas e vandalizado as instalações.

O Departamento de Educação de Hong Kong disse inicialmente que os pais podiam escolher se manteriam os filhos em casa, mas acabou por suspender as aulas nas escolas primárias e secundárias.

Pelo menos 11 instituições de ensino superior anunciaram que as aulas estão suspensas, de acordo com a emissora de Hong Kong RTHK. Descrevendo a situação como desanimadora, a agência apelou para “as crianças em idade escolar ficarem em casa, não saírem à rua, ficarem longe do perigo e não participarem em actividades ilegais”.

Violência à solta

Na Universidade Chinesa de Hong Kong, estudantes e outros preparavam-se para confrontos com a polícia. Bombas e cocktails Molotov iluminaram partes do campus na noite anterior, enquanto a polícia lançava gás lacrimogéneo e disparava balas de borracha contra os manifestantes.
Grupos de polícia de choque foram mobilizados para o centro de Hong Kong e territórios periféricos para tentar conter a violência.

Nos arredores da metrópole, muitos estudantes universitários estavam armados com bombas incendiárias, enquanto outros carregavam arcos e flechas.

14 Nov 2019

Escola Pui Ching | Professor publica posts violentos sobre Hong Kong

Um docente do ensino secundário publicou uma série de posts no Facebook usando retórica violenta. Um deles, em tom irónico, refere que os manifestantes deviam usar AK 47 contra a polícia. Um ex-aluno da escola, onde estudaram muitos elementos da elite política local, repudiou a linguagem usada. A DSEJ apela à integridade dos professores

 

[dropcap]H[/dropcap]á pouco mais de uma semana, um aluno foi chamado à direcção da escola secundária Keang Peng devido a publicações numa rede social a demonstrar alguma simpatia para com manifestantes de Hong Kong e com Taiwan. Não foi mencionado em qualquer publicação que o teor das mensagens tivesse alguma conotação violenta.

A situação inverteu-se ontem com a denúncia numa página de Facebook, de mensagens publicadas por um professor da Escola Secundário Pui Ching.

Numa das publicações, o docente refere-se aos manifestantes de Hong Kong como “baratas ou cruzados”, enquanto lança um ultimato: “Se não saírem amanhã do aeroporto, e se impedirem a minha família de passar férias comigo, olho por olho não vai bastar. Quero dez vezes mais do que isso”.

Numa outra publicação, cujo print screen também foi divulgado, o professor respondeu a uma pergunta. “O que fazem a quem diz algo com que discordam? Lançam uma bomba incendiária”. O comentário é seguido de um emoji de coração.

Noutra publicação, o professor apela à imaginação. “Quem concorda com os manifestantes são heróis, os que não concordam são idiotas azuis. Todos os dias falam de 31.8 e de 18.9. Se detestam os polícias porque não usam AK47? Sinto nojo quando os vejo destruir lojas”. Nesta publicação, o docente alude às datas usadas nos protestos. Por exemplo, 31.8 é 31 de Agosto, dia da carga policial dentro de uma carruagem do MTR e do confronto com contra-manifestantes, alegadamente ligados a tríades. A ideia foi ironizar com os números usados, que mais valia usar AK47.

Resposta do Governo

Em resposta enviada ao HM, a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) cingiu-se a dizer que “os professores devem manter uma imagem conducente com a profissão, respeitar a ética profissional com integridade, focarem-se no seu trabalho, concentrarem-se na educação e assegurarem a ordem que o ensino requer”. A DSEJ acrescenta ainda que “os docentes devem ser objectivos e equilibrados em qualquer tema e expressar as suas opiniões de forma pacífica e racional”.

Quanto à eventualidade de investigar o caso, a DSEJ não respondeu até ao fecho da edição.
Outra reacção veio de dentro, mais propriamente de um antigo aluno da Escola Secundário Pui Ching, que publicou no Facebook a resposta. O ex-aluno categoriza as palavras do docente como “ofensivas e agressivas”, e confessa-se “desapontado com os comentários”, porque considerar contrárias ao espírito e lema da escola, que traduzido para português será algo como “Faz o teu melhor e age com correcção”. Além disso, sublinha que parte do papel de um docente é servir de exemplo para os alunos e deixa o desejo de que a escola actue e garanta a qualidade do corpo docente.

Importa referir que a Associação de Antigos Alunos da Escola Secundária Pui Ching inclui nomes como Alexis Tam, o director dos Serviços do Ensino Superior Sou Chio Fai, os deputados Chui Sai Peng e Wong Kit Cheng, o ex-director dos Serviços para os Assuntos do Trânsito Wong Wan, o ex-presidente o IPIM Jackson Chan, entre outros notáveis da elite política local.

14 Nov 2019

Escola Pui Ching | Professor publica posts violentos sobre Hong Kong

Um docente do ensino secundário publicou uma série de posts no Facebook usando retórica violenta. Um deles, em tom irónico, refere que os manifestantes deviam usar AK 47 contra a polícia. Um ex-aluno da escola, onde estudaram muitos elementos da elite política local, repudiou a linguagem usada. A DSEJ apela à integridade dos professores

 
[dropcap]H[/dropcap]á pouco mais de uma semana, um aluno foi chamado à direcção da escola secundária Keang Peng devido a publicações numa rede social a demonstrar alguma simpatia para com manifestantes de Hong Kong e com Taiwan. Não foi mencionado em qualquer publicação que o teor das mensagens tivesse alguma conotação violenta.
A situação inverteu-se ontem com a denúncia numa página de Facebook, de mensagens publicadas por um professor da Escola Secundário Pui Ching.
Numa das publicações, o docente refere-se aos manifestantes de Hong Kong como “baratas ou cruzados”, enquanto lança um ultimato: “Se não saírem amanhã do aeroporto, e se impedirem a minha família de passar férias comigo, olho por olho não vai bastar. Quero dez vezes mais do que isso”.
Numa outra publicação, cujo print screen também foi divulgado, o professor respondeu a uma pergunta. “O que fazem a quem diz algo com que discordam? Lançam uma bomba incendiária”. O comentário é seguido de um emoji de coração.
Noutra publicação, o professor apela à imaginação. “Quem concorda com os manifestantes são heróis, os que não concordam são idiotas azuis. Todos os dias falam de 31.8 e de 18.9. Se detestam os polícias porque não usam AK47? Sinto nojo quando os vejo destruir lojas”. Nesta publicação, o docente alude às datas usadas nos protestos. Por exemplo, 31.8 é 31 de Agosto, dia da carga policial dentro de uma carruagem do MTR e do confronto com contra-manifestantes, alegadamente ligados a tríades. A ideia foi ironizar com os números usados, que mais valia usar AK47.

Resposta do Governo

Em resposta enviada ao HM, a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) cingiu-se a dizer que “os professores devem manter uma imagem conducente com a profissão, respeitar a ética profissional com integridade, focarem-se no seu trabalho, concentrarem-se na educação e assegurarem a ordem que o ensino requer”. A DSEJ acrescenta ainda que “os docentes devem ser objectivos e equilibrados em qualquer tema e expressar as suas opiniões de forma pacífica e racional”.
Quanto à eventualidade de investigar o caso, a DSEJ não respondeu até ao fecho da edição.
Outra reacção veio de dentro, mais propriamente de um antigo aluno da Escola Secundário Pui Ching, que publicou no Facebook a resposta. O ex-aluno categoriza as palavras do docente como “ofensivas e agressivas”, e confessa-se “desapontado com os comentários”, porque considerar contrárias ao espírito e lema da escola, que traduzido para português será algo como “Faz o teu melhor e age com correcção”. Além disso, sublinha que parte do papel de um docente é servir de exemplo para os alunos e deixa o desejo de que a escola actue e garanta a qualidade do corpo docente.
Importa referir que a Associação de Antigos Alunos da Escola Secundária Pui Ching inclui nomes como Alexis Tam, o director dos Serviços do Ensino Superior Sou Chio Fai, os deputados Chui Sai Peng e Wong Kit Cheng, o ex-director dos Serviços para os Assuntos do Trânsito Wong Wan, o ex-presidente o IPIM Jackson Chan, entre outros notáveis da elite política local.

14 Nov 2019

As reacções aos dez anos de governação de Chui Sai On

Sulu Sou | Não podemos estar satisfeitos

[dropcap]S[/dropcap]egundo o pró-democrata Sulu Sou não é possível estar satisfeito com a governação de Chui Sai On porque foram várias as promessas que ficaram por cumprir, tanto na área política como na social. “Não podemos estar satisfeitos com o trabalho feito nos últimos 10 anos. Em relação às questões da comunidade, o Plano Director ficou por concluir, a lei da renovação urbana ficou por fazer, não foi criada uma lei sindical. Não deixou habitações públicas para os jovens nem para a classe média. O metro ainda não está em funcionamento”, exemplificou o deputado. “Depois de 10 anos, também não há um calendário ou uma definição dos procedimentos para a implementação do sufrágio universal. E no balanço que fez sobre a acção do Governo, não há uma única menção sobre democracia ou desenvolvimento democrático”, considerou. Sulu Sou afirmou que mesmo que o Governo distribua muito dinheiro, tal não tem sido suficiente para “comprar a felicidade” da população.

Ella Lei | Não se viu nada na habitação económica

A deputada Ella Lei, ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau, considerou que durante 10 anos o Chefe do Executivo mais não fez do que pagar dívidas antigas, em termos de habitação económica. “O Chefe do Executivo diz até ao final do mês vai abrir um concurso para atribuição de económica, mas nos últimos dez anos, e sobretudo nos cinco mais recentes, as habitações construídas foram apenas para pagar dívidas antigas, ou seja para fracções que já tinham sido atribuídas”, disse a deputada. “A habitação é o aspecto onde o Governo tem de melhorar, porque o problema vai passar para o próximo Executivo”, indicou. Outras das áreas em que Ella Lei criticou Chui Sai On foi na formação de quadros locais, uma vez que para a legisladora Macau continua a depender da mão-de-obra estrangeira nas profissões especializadas, e na não conclusão dos trabalhos do Plano Director.

Chan Chak Mo | Pessoas estão felizes

O deputado Chan Chak Mo considerou que após 10 anos de Chui Sai On que as pessoas estão felizes, que a saúde e a educação são comparáveis ao melhor que se faz no mundo e que o único factor menos positivo é a habitação. “A economia está bem, todas as pessoas estão felizes com o padrão de vida, o nível dos impostos é bom, por isso acho que o aspecto em que se poderia ter feito mais é a habitação”, disse Chan. Contudo, considerou que o problema pode ser facilmente resolvido. “Só na Zona A podemos construir cerca de 40 mil casas, que permitem alojar cerca de 146 mil pessoas. Também como a população não é muita… Aliás eu temo é que nem tenhamos pessoas suficientes para as casas que vamos construir”, acrescentou. Chan Chak Mo elogiou ainda a saúde e a educação local: “Acho que nessas áreas estamos muito bem, se tivemos em conta o resto do mundo”, opinou. O empresário disse também ainda desconhecer se no futuro integrará o Conselho Executivo: “Ainda ninguém falou comigo sobre o futuro. Actualmente sinto-me bem, estou quase na idade de reforma e se não me pedirem para servir no Governo, ou em outro cargo político, por mim está tudo bem”, admitiu.

Kou Hoi In | Desenvolvimento são notórios

O presidente da Assembleia Legislativa fez um balanço positivo dos mandatos de Chui Sai On e afirmou que os resultados estão à vista. “Podemos verificar através do balanço feito pelo Chefe do Executivo, que nos últimos 10 anos os desenvolvimentos e avanços são notórios, tanto a nível de cuidados médicos, das estradas, de infra-estruturas. Podemos reparar que muito foi feito nestes anos” sustentou Kou Hoi In.

Apesar dos resultados positivos da governação, o presidente do hemiciclo reconheceu que há espaço para melhorar e que tal até poderá ser feito pelo próximo Executivo, liderado pelo seu antecessor, Ho Iat Seng. “Em qualquer área há sempre margem para melhorar. Como se diz, é impossível alcançar a perfeição, mas é sempre possível melhorar”, afirmou. “Espero que a nossa economia e bem-estar venham a conhecer mais melhorias nos próximos anos”, acrescentou. Nesse sentido deixou um desejo: “Faço votos para que o nosso futuro Chefe do Executivo possa juntar a população de Macau, para que em conjunto avancemos em direcção a um novo patamar do desenvolvimento de Macau”, apelou.

Na análise ao desempenho de Chui Sai On, Kou aproveitou para elogiar igualmente o antecessor, Edmund Ho, que à imagem de Chui, cumpriu dois mandatos à frente do Governo. “Tanto ao nível da economia como do bem-estar da população podemos verificar houve grandes desenvolvimentos em ambos os níveis. Estamos gratos aos esforços de Chui Sai On, mas também do primeiro Chefe do Executivo que nos conduziram a este nível de desenvolvimento”, opinou. Porém, Kou Hoi In destacou que o que considera quatro mandatos bem sucedidos não foram possíveis sem o “imprescindível” apoio do Governo Central.

13 Nov 2019