Relações entre Pequim e Pyongyang mais distantes

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] professor chinês de Relações Internacionais Wang Li diz que a política da China para a Coreia do Norte “não se alterou”, mas admite que a actual liderança chinesa se distanciou do regime de Kim Jong-un.

“Os princípios da política externa chinesa não se alteraram: a China opõe-se a que qualquer país estrangeiro, incluindo os Estados Unidos, mudem o regime pela força”, disse Wang à agência Lusa.

Para além da afinidade ideológica, Pequim e Pyongyang combateram lado a lado na Guerra da Coreia (1950-53).

Nos mapas chineses impressos até há cerca de 20 anos, a península coreana correspondia a apenas um país, a Republica Democrática Popular da Coreia, com a capital em Pyongyang. Seul tinha então o estatuto de cidade de província.

O Tratado de Cooperação e Assistência Mútua sino-norte-coreano, assinado em 1961, é tido como uma garantia de que a China intervirá em caso de uma agressão contra o país vizinho.

A retórica na imprensa estatal dos dois lados, contudo, aponta para um deterioramento nas relações, com a agência noticiosa de Pyongyang a acusar a China de “comentários irresponsáveis” sobre o seu programa nuclear, e um jornal oficial do Partido Comunista Chinês a avisar que Pequim poderá cortar o fornecimento de petróleo ao país vizinho, caso este persista com os testes atómicos.

Wang Li, professor da Universidade de Jilin, província chinesa situada junto à fronteira com a Coreia do Norte, reconhece mudanças numa relação até há pouco tempo descrita como sendo “unha com carne”.

O meu tio

Desde que, em 2013, ascendeu ao poder, o Presidente da China, Xi Jinping, nunca se encontrou com Kim Jong-un, tendo-se mesmo tornado no primeiro líder chinês a visitar a Coreia do Sul antes de ir à Coreia do Norte.

Segundo Wang, a postura de Xi deve-se à decisão de Kim Jong-un de executar o seu próprio tio Jang Song-Thaek, considerado a segunda figura do governo norte-coreano e interlocutor do regime com Pequim.

O académico refere que Jang terá aceitado a proposta da China de adoptar reformas económicas e abdicar do programa nuclear em troco do apoio de Pequim.

“Quando Kim Jong-un descobriu, mandou executar o tio”, conta.

O académico chinês admite que o líder norte-coreano, que assumiu o poder em 2011, com apenas 27 anos, “não deve ser sobrestimado”.

“Ele é jovem, mas muito maduro politicamente”, defende. “É cruel e esperto; um tipo perigoso”.

Para além de executar o tio e dezenas de outros altos quadros do Governo, Kim Jong-un terá mandado assassinar o seu meio irmão Kim Jong-nam, que vivia em Macau sob protecção da China, num outro golpe que não caiu bem em Pequim.

“Não há agora ninguém que possa desafiar Kim”, comenta o professor.

Wang Li admite que é “muito difícil” para a China lidar com a situação na península coreana.

“O Partido [Comunista Chinês] e o exército [da China] não querem perder um aliado no norte”, afirma.

Pequim “deseja, no entanto, manter boas relações com os EUA e estabilizar as relações económicas com a Coreia do Sul e Japão, mas a Coreia do Norte age como uma criança e gera problemas para todas as partes”, diz.

Em entrevista à agência Lusa, o professor Wang Li compara a actual situação na Coreia do Norte à da China durante a Revolução Cultural, uma radical campanha política de massas lançada pelo fundador da China comunista, Mao Zedong, entre 1966 e 1976, que mergulhou o país no caos e isolamento.

“A comida é racionada. Os vegetais, carne e leite são escassos”, conta. “Eu vivi a Revolução Cultural e senti isso também”.

Em Jilin, vivem cerca de dois milhões de chineses de étnica coreana; muitos têm familiares no país vizinho para os quais enviam frequentemente roupa e alimentos.

“Excepto pelo ar fresco e ruas limpas, não há muito mais na Coreia do Norte”, diz. “Pode-se sobreviver, mas existe escassez de quase tudo”.

23 Mai 2017

China apoia criação de Zona Económica Especial na ilha de São Vicente

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China vai apoiar a criação de uma Zona Económica Especial ligada ao mar na ilha cabo-verdiana de São Vicente, um projecto que o governo cabo-verdiano acredita estará concluído até ao final da legislatura.

A decisão de apoiar o projecto, que tinha sido apresentado pelo primeiro-ministro cabo-verdiano ao seu homólogo chinês durante o Fórum Macau, em Outubro, foi confirmada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, sábado na cidade da Praia, durante uma reunião com o chefe da diplomacia cabo-verdiana, Luís Filipe Tavares.

“A China vai apoiar a criação da Zona Económica Especial de São Vicente, um projecto na área da economia marítima muito importante para o país, que tem o apoio total e incondicional do governo chinês”, disse Luís Filipe Tavares.

O ministro dos Negócios Estrangeiros de Cabo Verde anunciou que o Governo chinês irá financiar também a construção de uma nova maternidade em São Vicente, para servir a região norte do país.

Durante o encontro, os dois ministros passaram em revista a cooperação económica e política entre os dois países, actualmente traduzida em 12 projectos, num valor estimado de 30 milhões de euros.

Luís Filipe Tavares adiantou que Cabo Verde vai começar agora a fazer o estudo de viabilidade económica dos projectos da Zona Económica Especial e da maternidade, estimando que estejam a funcionar até final da legislatura.

“Há uma firme vontade e uma decisão de apoiar estes projectos de Cabo Verde, nomeadamente a Zona Económica Especial que vai transformar São Vicente num grande centro de economia marítima e criar milhares de postos de trabalho”, disse.

Por seu lado, o ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi lembrou que a cooperação chinesa tem sempre em atenção as necessidades do país, garantido o apoio necessário aos projectos cabo-verdianos.

“A economia chinesa começou a descolar a partir da criação das Zonas Económicas Especiais. Temos experiências consolidadas, boas e bem-sucedidas e capacidade para as construir. Se Cabo Verde quiser podemos fazer uma parceria importante na construção da zona de São Vicente”, disse.

Os novos trilhos

O chefe da diplomacia chinesa sublinhou a importância da posição geográfica de Cabo Verde, adiantando que o Governo cabo-verdiano “manifestou vontade de participar na iniciativa “Uma faixa, Uma rota”, do Governo chinês.

A iniciativa, também conhecida como a “Nova Rota da Seda”, pretende recriar a Rota da Seda que uniu a China aos mercados ocidentais durante séculos.

Na prática, trata-se de um conjunto de percursos ferroviários e rodoviários, oleodutos e portos, que se estendem da China até à Europa, com percursos alternativos que passam por países do Sul da Ásia, Índia, Irão e Turquia, e chegam a África.

Mais de meia centena de países aderiram à ideia.

Além da reunião como o homólogo cabo-verdiano, o ministro chinês tem encontros de cortesia agendados com o primeiro-ministro Ulisses Correia e Silva e com o Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca.

22 Mai 2017

Turismo | Portugal promove voo directo com China e três regiões

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Turismo de Portugal promove esta semana o novo voo directo entre Portugal e a China, e três regiões portuguesas, na primeira edição do ITB China, feira de turismo que decorre até sexta-feira em Xangai.

“Acima de tudo, queremos promover o novo voo, que é este ano a grande marca na ligação entre o mercado chinês e Portugal”, disse à agência Lusa Filipe Silva, vogal do conselho directivo do Turismo de Portugal.

A ligação aérea directa entre a China e Portugal arranca em 26 de Julho, com partida da cidade de Hangzhou, na costa leste da China, e com destino a Lisboa, parando em Pequim.

Filipe Silva apontou que a abertura do voo é acompanhada por uma estratégia de comunicação, que visa reforçar a notoriedade de Portugal no país asiático.

Com duzentos metros quadrados, o pavilhão português promove ainda a Madeira, a região centro e o Alentejo, para além de oito empresas, entre as quais a companhia aérea responsável pelo voo, Beijing Capital Airlines (BCA).

O voo terá três frequências semanais e ficará a cargo do modelo 330-200 da Airbus, aeronave com capacidade para 242 passageiros em classe económica e 18 lugares em classe executiva.

Nos últimos três anos, o número de turistas chineses que visitaram Portugal triplicou, para 183.000.

A China é já o maior emissor mundial de turistas e, segundo estatísticas oficiais, 135,1 milhões de chineses viajaram para fora da China continental, em 2016, num aumento de 12,5% em relação ao ano anterior.

A ITB (International Tourism Berlin) é a entidade que organiza a maior feira de turismo do mundo, que decorre todos os anos em Berlim, e que este ano realiza pela primeira vez uma feira na China, em Xangai, a “capital” económica do país.

11 Mai 2017

Pequim | Tudo a postos para receber fórum “Uma faixa, Uma rota”

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]equim está a postos para a realização do Fórum “Uma faixa, Uma rota” para a Cooperação Internacional, agendado entre os dias 13 e 15 de deste mês, com os trabalhos de preparação em andamento, disse um porta-voz do governo municipal.

O evento será realizado no Centro Nacional de Convenções da China e no Centro de Convenções Internacionais do Lago Yanqi, na periferia a norte da capital, disse o porta-voz Wang Wenjie em conferência de imprensa.

A construção foi concluída em todos os locais de reunião no Centro Nacional de Convenções, onde se realizará a cerimónia inaugural e a sessão plenária do encontro de alto nível. As reparações no centro Yanqi, o local principal do fórum, estão já também terminadas, informa o Diário do Povo.

O centro de imprensa, instalado no Centro Nacional de Convenções foi concluído esta quarta-feira, enquanto um homólogo temporário está também já pronto em Yanqi.

O evento contará com o apoio de mais de dois mil voluntários, que receberam formação para a participação no Fórum, segundo Wang.

Verde pálido

A organização utilizou materiais de construção recicláveis, amigos do ambiente, e papel reciclado, revelou Wang.

Na tentativa de minimizar o impacto do evento na vida quotidiana dos cidadãos durante o fórum, o controlo de veículos não será aplicado, ou seja, a as autoridades não limitarão a circulação segundo o número (par ou ímpar) das matrículas.

Cerca de 20 países e mais de 20 organizações internacionais assinarão documentos de cooperação com a China durante o fórum, que contará com representantes de 110 países.

A iniciativa “Uma faixa, Uma rota” proposta pela China em 2013 consiste na Faixa Económica da Rota da Seda e da Rota de Seda Marítima do Século XXI. A iniciativa pretende construir uma rede de comércio e de infra-estruturas que liguem a Ásia, a Europa e África.

11 Mai 2017

A diplomacia de Cubo de Rubik

“Classic geopolitical concerns such as the nuclear non-proliferation regime, the maintenance of the reputation of United States as nuclear and global hegemon, Sino-Japanese hostility, Sino-US distrust and the Taiwan Straits issue, and the desire of Russia to participate in regional security and development schemes are all super-imposed on and shape the fundamental insecurity of Korea.”
“Complexity, Security and Civil Society in East Asia: Foreign Policies and the Korean Peninsula” – Peter Hayes and Kiho Yi

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] palavra dissuasão soa a mofo, pois trata-se de uma construção da Guerra Fria, e era uma teoria complicada, seguida de um conjunto de políticas em evolução que mantiveram os Estados Unidos e a União Soviética em um Armagedão nuclear. Foi em grande parte uma bolinha de neve durante a era do após Guerra Fria. Trata-se do passado e actualmente com um novo conjunto de ameaças em todo o mundo, como na Coreia do Norte, Síria, Estados Bálticos e Mar do Sul da China, o governo do presidente Donald Trump poderá ser beneficiado se reaprender e reaplicar as lições de dissuasão para esta nova era turbulenta. Qual a razão pela qual a dissuasão interessa?

A primeira razão é porque o poder americano de dissuadir é fraco para manter as alianças dos Estados Unidos, e a administração de Donald Trump pode não conseguir impedir outros países de os atacar com armas nucleares. Muito poucos duvidariam da disposição dos Estados Unidos, ou da sua capacidade para neutralizar qualquer país que lançasse um ataque nuclear contra o seu território. A administração Obama redescobriu o seu significado, quando a Rússia anexou a Crimeia e invadiu a Ucrânia, e constatou que os Estados Unidos tinham um problema crescente em dissuadir os adversários de usar armas convencionais, ou mesmo comandos especiais operacionais para atacar Estados regionais fracos, o que é profundamente desestabilizador.

A segunda razão pela qual a dissuasão importa, é que as ameaças à segurança dos Estados Unidos e dos seus aliados estão a aumentar. As guerras das últimas décadas, especialmente a partir do 11 de Setembro de 2001, tiveram um grande custo para os Estados Unidos. Os Estados Unidos lutaram em guerras prolongadas como nos Balcãs, no colapso da Somália, nos conflitos do Iraque, Afeganistão, Líbia e Síria, e viveram a crescente crise sobre as ambições nucleares do Irão, mas nenhuma dessas ameaças era existencial.

Ainda não existiu qualquer ameaça que pusesse em causa a sobrevivência do povo americano, ou a destruição em larga escala do seu território, e nenhuma situação ameaçou directamente os principais aliados dos Estados Unidos, à excepção da guerra psicológica que a Coreia do Norte tem criado com o desenvolvimento de um denominado, mas não comprovado programa nuclear, com armas nucleares capazes de atingir a Coreia do Sul, Japão e menos provável, o solo americano. As ameaças emergentes ao longo do próximo quarto de século, provavelmente, serão muito mais consequentes.

A China, Rússia e Coreia do Norte estão a modernizar rapidamente os seus arsenais nucleares e actualizar os seus sistemas de defesa. A Rússia e a China também estão a melhorar amplamente as suas capacidades militares convencionais, mudando o equilíbrio de poder e criando novas incertezas. As armas químicas e biológicas são mais fáceis de obter do que nunca, a ameaça dos ataques cibernéticos parece ilimitada e o terrorismo internacional não vai desaparecer em breve. Como será possível aos Estados Unidos dissuadir essas ameaças? Deve em primeiro lugar, entender que não existe uma dissuasão global. Em vez disso, precisa de impedir um adversário específico de tomar uma acção especial.

A dissuasão significa antecipar as intenções de um adversário e influenciá-las. Os Estados Unidos não podem, por exemplo, dissuadir a Rússia. No entanto, podem planear dissuadir o presidente Vladimir Putin de apoderar-se da Estónia, rapidamente. Há dois anos, os especialistas em geoestratégia advertiram que tal cenário era bastante provável. A NATO e os Estados Unidos desde então, tomaram medidas para incutir dúvidas na mente dos líderes russos, que tal ataque poderia ter êxito.

Os Estados Unidos, igualmente, podem impedir a Coreia do Norte de iniciar um ataque nuclear contra a República da Coreia ou do Japão, ou iniciar um ataque convencional de grande escala contra a Coreia do Norte. Em ambos os casos, os Estados Unidos e os seus aliados oferecem respostas credíveis que seriam tanto esmagadoras quanto devastadoras. É de acreditar que será difícil, senão impossível, os Estados Unidos ou mesmo a China impedir a Coreia do Norte de continuar com o seu programa de desenvolvimento de armas nucleares, pois está a fazer por instinto de sobrevivência, ou pelas provocações regulares do sul, que lhe trouxeram atenção internacional e recompensas ao longo de décadas.

O fim do programa nuclear norte-coreano exigirá um acordo negociado, que possivelmente obrigará que a China seja uma garantia do regime. A abordagem holística para essas ameaças deve incluir o aumento das capacidades da administração de Donald Trump para antecipar ameaças emergentes, incluindo eventos, que são improváveis ​​que aconteçam, mas que seriam devastadores se ocorrerem. Os Estados Unidos nunca conseguirão prever o futuro, mas podem antever múltiplas possibilidades e tomar as medidas apropriadas. Os planeadores civis e militares, também devem desenvolver políticas e capacidades específicas para dissuadir as grandes ameaças que podem augurar, devendo enfatizar os meios convencionais de dissuasão, mais do que os meios nucleares.

As ameaças dos Estados Unidos precisam de ser credíveis e prepararem-se para dissuadir em vários domínios, incluindo o espaço e o ciberespaço, devendo adaptar as capacidades de dissuasão e mensagens para influenciar distintos potenciais adversários. O que afasta Vladimir Putin pode não perturbar Kim Jong-un. Algumas ameaças não serão antecipadas ou dissuadidas, como as pandemias, desastres naturais ou ataques furtivos, por exemplo. Aumentar a resiliência nacional poderá ajudar os Estados Unidos a recuperarem-se mais rapidamente e de forma mais sólida de quaisquer desastres ou ataques que ocorram.

A interrupção pode ser inevitável, mas a antecipação, dissuasão e resiliência podem ajudar. Os Estados Unidos, amigos e aliados, por mais de sete décadas, construíram uma ordem internacional liberal que abriu uma era de paz e prosperidade sem precedentes. Actualmente, e após quinze anos de guerras inconclusivas, desencanto generalizado com o desempenho económico do país e uma eleição presidencial polarizadora que dividiu os americanos, e que levaram à eleição de um presidente mal preparado e imprevisível, que após cem dias de governo, apresenta 54 por cento de descontentamento e que começam a desconfiar do seu governo. As grandes mudanças de poder e realinhamentos estão a ocorrer por todo o mundo.

A administração de Donald Trump terá de lidar com a modernização militar russa e chinesa e posições mais agressivas, mas procurar a sua cooperação em questões de segurança globais e económicas, exigirá uma diplomacia hábil de “Cubo de Rubik”. O pensamento multidimensional e a capacidade de gerir relacionamentos ambíguos, com governos que têm interesses compartilhados e conflituantes será um desafio. As perspectivas de crescimento dos Estados Unidos são melhores do que as de outro grande país desenvolvido, e está melhor posicionado do que qualquer dos seus rivais para resolver problemas, incluindo a dívida, empregos, deslocação e demografia.

O lento crescimento global, a fraqueza do mercado de trabalho interno e a relação recorde da dívida/PIB serão enormes desafios. Os Estados Unidos não enfrentam nenhuma ameaça existencial, mas a liderança americana será necessária para enfrentar ameaças potencialmente existenciais de armas nucleares russas e chinesas, ameaças biológicas emergentes e alterações climáticas repentinas. Reduzir estas ameaças supranacionais é um interesse central dos Estados Unidos. Os únicos adversários não aliados dos Estados Unidos são a Coreia do Norte e os violentos movimentos jiadistas, como o Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIL na sigla inglesa), a Al Qaeda e grupos similares.

A nova era que se apresenta, está cheia de desafios importantes aos interesses dos Estados Unidos, e exigirá que se adaptem a mudanças e realinhamentos internacionais significativos. Os realinhamentos na Ásia incluem a sempre agressiva Coreia do Norte, que continua a testar as suas armas nucleares e os mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs na sigla inglesa) para os lançar. A China reafirmou o seu apoio básico ao regime norte-coreano, apesar das relações com o jovem líder Kim Jong-un, estando a exercer pressão no sentido da desistência do programa nuclear, que será extremamente difícil de acontecer.

A Coreia do Norte é o país mais secreto e estranho do mundo. A fome é horrenda e desenfreada. A tortura e a execução comuns, infligidos por uma única família que perpetua um culto de personalidade, tornou-se em um hábito. O seu líder, exibe a letal paranóia dos ditadores, tendo assassinado vários altos funcionários e familiares, mais recentemente, o seu meio-irmão em um aeroporto da Malásia como uma advertência pública. O líder norte-coreano aprendeu com Muamar Kadafi o que acontece quando um tirano desiste de armas nucleares. Quer no exterior, como internamente, o medo garante a sobrevivência e as suas ogivas nucleares proliferam.

Os seus testes de ICBMs aceleram e por erro de cálculo ou desenho, a Coreia do Norte poderá desencadear uma calamidade nuclear. As três décadas de mudança de estratégias americanas, como ameaças, negociações, sanções, ajuda e isolamento, deixaram aos Estados Unidos e aos seus aliados um perigo nuclear. A China, ex-inimigo da Coreia do Sul, tornou-se no seu principal parceiro comercial, mas as relações têm sido desgastadas, pelas crescentes ameaças de um ataque nuclear pela Coreia do Norte, levando os Estados Unidos a instalar o sistema anti-mísseis balístico, denominado de “Sistema de Defesa Terminal de Área a Grande Altitude (THAAD na sigla em inglês) ”.

A China considera que o dispositivo é uma ameaça à sua segurança. As Filipinas, sob a presidência de Rodrigo Duterte, melhoraram as relações com a China e Rússia, e criticaram duramente os Estados Unidos. Enquanto os Estados Unidos são muito populares no país, a postura do presidente Duterte lançou alguma dúvida sobre o futuro do “Tratado de Defesa Mútua”, acordado em 30 de Agosto de 1951, entre os dois países, acrescido das graves violações aos direitos humanos, pelo assassinato de traficantes e consumidores de droga, considerados crimes contra a humanidade.

O Vietname ameaçado pelas reivindicações marítimas da China está a fortalecer os laços de segurança com o Japão e os Estados Unidos. Outros países da “Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN na sigla em inglês) ” e a Austrália também estão a trabalhar com os Estados Unidos para melhorar suas capacidades marítimas. O Japão está a aumentar as despesas militares, e a fomentar relações de defesa mais fortes com o Vietname, Birmânia, Filipinas e Austrália, para equilibrar a influência da China. O recente pedido de desculpas do Japão à Coreia do Sul pelo uso de “mulheres de conforto”, abre a porta para uma maior cooperação em questões de segurança entre os dois países.

O Japão preocupado com as actividades marítimas da China, tem forçado o “Conceito de Diamante” no qual os Estados Unidos, Japão, Austrália e Índia formariam os quatro pontos de uma zona de segurança, em forma de diamante no Indo-Pacífico. A Índia há muito tempo segue uma política externa não-alinhada, compartilhando com os Estados Unidos preocupações sobre a construção naval chinesa no Indo-Pacífico. Ao mesmo tempo, a Índia está a alargar a cooperação em matéria de segurança com o Japão, cooperando em tecnologia de defesa, partilha de conhecimentos e modernização de infra-estrutura nas Ilhas Andaman, mantendo vínculos estreitos com a Rússia, seu fornecedor tradicional de armas.

11 Mai 2017

Dez frases sobre a China 随时翻翻《红楼梦(第一部分)

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]onho da Câmara Vermelha foi sempre ao longo de todas as épocas um dos livros que mais vendeu. Escrito no séc. XVIII, é considerado uma obra-prima e um dos pontos mais altos da ficção chinesa. A “Vermelhologia” é um campo de estudo dedicado exclusivamente a esta obra. Para dar um exemplo, o Presidente Mao, tinha consigo um vermelhologista de renome. No entanto, eu não sou uma vermelhologista, vou apenas desfolhando este clássico só para preservar no meu ADN a marca da língua chinesa, eu que me tornei uma escritora de língua inglesa. Recentemente, coleccionei dez frases para partilhar com os meus leitores. Trata-se de literatura, mas também de política (chinesa). Pode servir igualmente como uma Bíblia dos negócios.

Sê um louco no meio dos loucos 入乡随俗

A história: Quando a nossa jovem heroína Daiyu chega ao palácio dinástico da família Jia, é recebida pela matriarca que lhe pergunta se sabe ler. Daiyu responde-lhe que aprendeu a ler com os Quatro Clássicos de Confúcio. Quis saber se as raparigas da família Jia também tinham aprendido. A matriarca respondeu que as suas raparigas poderiam não ser tão avançadas na leitura, mas que sabiam o suficiente para não serem cegas! Na cena seguinte, o nosso jovem herói Baoyu entra e quer saber quais foram os clássicos que Daiyu leu. Daiyu aceita o desafio e responde prontamente: “Eu não sei ler. Só sei reconhecer algumas palavras.”

O Poder é algo que não deve (não queres) mudar. Por isso esconde os teus talentos.

Que sejas um excelente situacionista 伺机而动

Um situacionista é basicamente um oportunista, embora no contexto chinês tenha uma conotação menos negativa.

A história: A poderosa Dama Wang Xifeng acena do alto da colina a uma serviçal, de seu nome Hongyu. Hongyu abandona prontamente a multidão e corre ao encontro de Wang Xifeng. Toda ela é obediência e sorrisos.  A Dama diz: “Hoje a minha criada não me acompanhou. Preciso de alguém que me faça um serviço. Mas como posso saber se estás à altura da missão?” Hongyu responde: “Senhora, estou completamente à sua disposição. Se a desiludir, castigue-me como bem entender!”

As oportunidades são raras. Agarra todas as hipóteses que se te apresentam com prontidão E, com toda a tua alma e as tuas garras.

Quando mentir é uma qualidade desejável避实就虚

A história: A concubina Zhao está a fazer os preparativos para o funeral do irmão e apercebe-se que uma das criadas não tem as roupas apropriadas. Além disso, a rua onde ela queria ir comprar o fato está toda suja. Então pede a Xueyan, uma serviçal com um cargo elevado, que lhe empreste os trajes adequados. Xueyan recusa-se com estas palavras: “Claro que era óptimo que as suas criadas usassem as minhas roupas, Tia Zhao! Mas as minhas roupas são guardadas por Zijuan (o meu superior), que também precisa da autorização da minha patroa. Não é que eu receie vir a ter problemas. É que a minha patroa está de cama, doente, e não é altura para a preocupar com esse tipo de coisas. Além disso, tenho medo que, se for andar para a frente e para trás para pedir autorização, a vá atrasar quando tem tanta pressa.”    

Aprender a recusar é uma via sinuosa. Aparentemente, os chineses apreciam quem sabe contar uma boa mentira.

Fica para sempre junto à cerca (e evita as colisões) 不偏不倚

A poderosa Dama Wang Xifeng está doente. Uma jovem senhora ficou a dirigir a morada dinástica em seu lugar e quer fazer algumas mudanças. Ping Er, a criada de Wang, ficou numa posição desagradável, porque não quer ofender a jovem senhora, mas também não quer ser desleal à sua poderosa patroa.   

A estratégia que adoptou foi a de louvar a jovem senhora pelas suas iniciativas. No entanto, ao mesmo tempo foi-lhe dizendo que a sua patroa também já em tempos as queria ter realizado, mas que ficou com dúvidas por razões de muito peso. Desta forma, elogiava a jovem senhora e louvava a sua dama. Voilá, já está bem lançada para a próxima promoção. Quando um dia chegar a chefe, ninguém espere dela uma opinião, porque ela conseguiu lá chegar precisamente por nunca expressou nenhuma.

(continua)

10 Mai 2017

Hong Kong | Advogado chinês diz que foi alvo de lavagem cerebral 

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m tribunal na China disse ontem que o advogado de direitos humanos chinês Xie Yang se declarou culpado de subversão contra o Estado, admitindo que foi “erradamente alvo de lavagem cerebral” durante uma visita a Hong Kong.

O tribunal em Changsha, capital da província de Hunan, disse que Xie afirmou que recebeu formação duas vezes em Hong Kong e uma vez na Coreia do Sul, segundo a Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK), que também cita a agência France-Presse.

Questionado pelo juiz sobre o tipo de treino, Xie respondeu que era “lavagem cerebral dos pensamentos constitucionais ocidentais”, de forma a “descartar o sistema existente e desenvolver o constitucionalismo ocidental na China”.

O tribunal disse também que Xie referiu o nome de duas organizações em Hong Kong, que alegadamente forneceram o treino.

A RTHK, todavia, disse que não conseguiu encontrar os contactos de nenhum dos dois grupos mencionados.

O advogado foi ainda citado como tendo admitido que enviou mais de 10.000 mensagens através da rede social Weibo, habitualmente descrita como o Twitter chinês, e que essa acção fazia parte de uma campanha de difamação contra o Governo, sistema judicial, legislação chinesa e sistema político.

O tribunal disse ainda que o Xie, de 45 anos, se declarou culpado de perturbar os procedimentos do tribunal.

Do confessionário

Num vídeo divulgado na conta oficial do Weibo do tribunal, Xie disse que não foi torturado quando fez a confissão durante uma investigação pela polícia e procuradores, contrariando uma declaração anterior da sua família, a qual afirmava que o advogado tinha confessado crimes sob tortura, nomeadamente “privação do sono, longos interrogatórios, pancadaria, ameaças de morte e humilhação”.

Na sessão de tribunal de ontem, Xie disse que as autoridades respeitaram plenamente os seus direitos.

Xie foi preso em Julho de 2015, juntamente com centenas de outros advogados e activistas, no âmbito da maior repressão registada em Pequim contra o movimento de direitos humanos na China.

O caso de Xie ganhou particular proeminência em Janeiro, quando a sua família divulgou os seus relatos de tortura na prisão, desencadeando uma declaração de preocupação por parte de 11 governos ocidentais.

Vários apoiantes de Xie também foram detidos nos meses recentes, incluindo o seu antigo advogado de defesa.

9 Mai 2017

China | Duas pessoas condenadas a 20 anos de prisão por acidente 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] justiça chinesa condenou duas pessoas a 20 anos de prisão pela avalancha de escombros que soterrou um parque industrial e matou 73 pessoas há dois anos no sul do país, informou ontem o diário China Daily.

O acidente ocorreu na cidade de Shenzen em 2015 e os tribunais chineses concluíram agora que foi resultado de subcontratações irregulares, de uma gestão deficiente, corrupção e outras negligências.

Quarenta e cinco pessoas no total foram condenadas neste caso, entre as quais Long Renfu, o presidente da empresa Shenzen Yixianglong, a gestora do armazém de detritos de obras em que houve a avalancha, e Meng Jinghang, antigo director do Departamento de Gestão Urbana de Shenzen.

Ambos foram condenados a 20 anos de prisão, no caso de Long, “por causar um sério acidente e subornar funcionários governamentais” e, a respeito de Meng, por “aceitar subornos e por abuso de poder”.

Além disso, os tribunais multaram-nos em 10 milhões de yuans e oito milhões de yuans, respectivamente, segundo o diário, que não especificou as sentenças dos demais funcionários e empresários envolvidos no caso.

O Governo chinês já determinou num relatório anterior que o acidente, considerado muito grave, foi devido a erro humano, uma vez que foi permitido o depósito excessivo de detritos de construções e, ainda, à falta de um sistema de esgoto eficaz no local.

O acidente ocorreu no dia 20 de Dezembro de 2015 e destruiu 33 edifícios e causou euros e causou perdas económicas de 880 milhões de yuans.

8 Mai 2017

Pequim diz que quer manter laços de amizade com Pyongyang

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China diz que continua comprometida em manter laços de amizade com a Coreia do Norte, face aos sinais de deterioramento nas relações entre os dois aliados devido à insistência de Pyongyang no seu programa nuclear.

O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês Geng Shuang afirmou ontem que a posição de Pequim “em desenvolver uma boa vizinhança e cooperação amigável com a Coreia do Norte é consistente e clara”.

Geng reagia a um comentário difundido pela agência noticiosa oficial norte-coreana contendo uma rara crítica directa de Pyongyang a Pequim.

A Korean Central News Agency aponta que os “comentários irresponsáveis” da China sobre o programa nuclear do país estão a testar a paciência de Pyongyang e podem ter “consequências sérias”.

O artigo cita comentários difundidos pela imprensa estatal chinesa, acusando esta de inventar “desculpas esfarrapadas para dançar ao ritmo dos Estados Unidos” e culpar Pyongyang pelo deterioramento das relações bilaterais.

“A China não deve mais testar os limites da paciência da RPDC”, lê-se no comentário, que usa a sigla para o nome oficial do país, República Popular Democrática da Coreia.

Pequim “deve antes pensar bem nas graves consequências de derrubar o pilar das relações” entre os dois países, acrescenta.

O artigo não é atribuído a nenhuma agência ou funcionário do Governo e o escritor é apenas identificado como Kim Chol. Ainda assim, é raro ler uma crítica directa da Coreia do Norte dirigida à China.

Anteriormente, a agência norte-coreana optou por fazer uma crítica velada, optando por se referir à China apenas como um “certo país vizinho”.

Má imprensa

Entretanto, a imprensa estatal chinesa tem feito críticas frequentes a Pyongyang.

Em editorial, o Global Times, jornal de língua inglesa do grupo do Diário do Povo, órgão oficial do Partido Comunista Chinês, avisa ontem que as acções da Coreia do Norte ameaçam o tratado de não-agressão assinado entre os dois países em 1961.

A publicação apela ao regime para pôr fim aos seus testes nucleares.

“A China não vai permitir que a sua região nordeste seja contaminada por actividades nucleares da Coreia do Norte”, afirma.

O jornal avisou já em edições anteriores que a China poderia cortar o fornecimento de petróleo ao país vizinho, caso este persista com os testes atómicos.

Esta semana, o Diário do Povo afirmou também que as ambições nucleares da Coreia do Norte “colocam o próprio país e toda a região em grande perigo”.

Apelos presidenciais

O Presidente chinês, Xi Jinping, abordou ontem a situação da Coreia do Norte numa conversa por telefone com o seu homólogo filipino, Rodrigo Duterte, que destacou o papel de Pequim em assegurar a paz na península coreana. Xi apelou a todas as partes envolvidas para que exerçam contenção e regressem ao diálogo e negociações, visando a desnuclearização da península coreana, segundo a agência noticiosa oficial chinesa Xinhua. O porta-voz de Duterte, Ernesto Abella, afirmou que os dois líderes trocaram pontos de vista sobre questões regionais e o líder filipino apelou à paz e estabilidade. Abella disse que Duterte “referiu o importante papel desempenhado pela China na promoção da paz na península coreana”. A conversa por telefone entre Xi e Duterte surge depois de o Presidente norte-americano, Donald Trump, ter também falado com o líder filipino, no sábado, expressando o compromisso de Washington para com a aliança entre os dois países.

5 Mai 2017

China cria o seu próprio Wikipedia, mas cibernautas não podem escrever ou editar

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China está a compilar a sua própria enciclopédia ‘online’, que rivalizará com o Wikipedia, mas deverá apresentar a versão oficial dos acontecimentos históricos sensíveis, não permitindo aos cibernautas escrever ou editar as páginas.

No “Wikipedia chinês”, apenas académicos e especialistas seleccionados pelas autoridades poderão adicionar ou alterar informação, em mais um esforço do regime chinês para controlar o conteúdo disponível na Internet.

Os académicos afirmam, no entanto, que são guiados apenas pela verdade e rigor e que, em caso de haver diferença de opinião, esta deve ser resolvida por um comité, segundo Zhang Baichun, editor chefe da secção de história da ciência e tecnologia.

“Claro, a ciência não provém de uma votação democrática. Para convencer os outros, terás que apresentar provas incontestáveis”, disse à agência Associated Press.

Manual de instruções

A elaboração de 300.000 páginas nas áreas da ciência, literatura, política e história é directamente gerida pelo departamento central de propaganda do Partido Comunista Chinês (PCC), que guia a opinião pública do país através de instruções dadas à imprensa, firmas da Internet e ao sector editorial, para além de supervisionar a educação.

Pequim tem-se esforçado por controlar a opinião pública perante o ‘boom’ do número de cibernautas do país – são já mais de 700 milhões -, que podem comentar notícias e informação sensível ou difundir fotografias de protestos nas redes sociais.

Ferramentas como o Google, Dropbox e Youtube, ou as redes sociais Facebook e Twitter estão bloqueadas no país.

A versão em chinês do Wikipedia está também censurada no país.

Jiang Lijun, editor-chefe da Encyclopedia of China Publishing House, empresa contratada pelo Governo para fazer a enciclopédia ‘online’, revelou que haverá páginas sobre líderes políticos e sobre a história do PCC.

Jiang recusou, porém, comentar como são retratados eventos como a Revolução Cultural, ou a sangrenta repressão dos protestos pró-democracia em Tiananmen.

Qiao Mu, um analista independente sediado em Pequim, afirmou que a enciclopédia chinesa será “muito diferente” do Wikipedia, devido à necessidade de estar em concordância com a versão oficial do Governo.

“Se não quiser ser bloqueado na China, o editor terá que aceitar a censura, seja através de autocensura ou censura pelas autoridades”, afirmou.

5 Mai 2017

Visita | Zhang Dejiang em Macau começa na próxima segunda-feira

O presidente do Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional chega a Macau na próxima segunda-feira. Zhang Dejiang é o homem de Pequim responsável pelas duas regiões administrativas especiais, mas deverá afastar-se da política ainda este ano

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] convite partiu de Chui Sai On. Zhang Dejiang vai estar na próxima semana em Macau, entre os dias 8 e 10, “para se inteirar sobre o desenvolvimento actual” do território, indica uma nota do porta-voz do Governo.

Membro do Comité Permanente do Politburo do Partido Comunista da China (PCC) e presidente do Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional, Zhang Dejiang ficará “a conhecer a realidade do desenvolvimento social de Macau e terá encontros com diversas personalidades dos diferentes sectores, estando previstas ainda declarações importantes”.

Nascido em 1946, Zhang é o número três do Politburo do PCC. É vice-presidente da Comissão Nacional de Segurança e o principal responsável de Pequim pelos assuntos de Hong Kong e Macau.

“Será sobretudo uma visita de cortesia”, observa Arnaldo Gonçalves, especialista em relações internacionais. Salientando que Zhang Dejiang “é a pessoa que, nestes últimos anos, tem acompanhado a situação política das duas regiões administrativas especiais”, o analista recorda que, “por via da regra não escrita dos 68 anos, deverá ser substituído no congresso do PCC em Novembro”. Assim sendo, “é natural que se queira despedir e que venha a Macau nesse sentido”.

Considerado próximo de Hu Jintao, o presidente do Comité Permanente da APN foi chefe do PCC na província de Guangdong entre 2002 e 2008. Foi nessa qualidade que veio a Macau, em 2004, numa altura em que se começou a atribuir particular importância à questão da integração regional.

Nem que pudesse

O facto de haver eleições legislativas marcadas para Setembro próximo não deverá ter qualquer influência na visita do emissário do Governo Central, que lida com problemas mais complicados na região vizinha.

“Vai fazer as declarações habituais acerca do desenvolvimento sustentado, falar da grande área de desenvolvimento do Sul da China. É uma visita cerimonial. Não lhe atribuo mais importância”, resume Arnaldo Gonçalves.

Em Maio último, Zhang Dejiang esteve em Hong Kong. Na altura, encontrou-se com a ala pró-democrata da antiga colónia britânica. Citado pelo South China Morning Post, Au Kam San diz que não tem propriamente interesse em encontrar o político da China Continental, mesmo se houvesse essa oportunidade.

“Se for apenas uma forma de nos dar um sermão, em vez de haver uma troca significativa de dias, não estou interessado”, afirmou.

2 Mai 2017

Pequim pede fim dos exercícios militares americanos na Coreia do Sul

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China voltou ontem a pedir aos Estados Unidos para pararem com os exercícios militares na Coreia do Sul, num momento em que existe um agravamento do clima de tensão entre Washington e o regime norte-coreano.

“A continuação dos testes nucleares viola as resoluções da ONU, mas as manobras militares em redor da península [coreana] também não respeitam as resoluções da ONU”, declarou ontem o chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, reiterando o apelo para o fim dos exercícios militares conjuntos dos exércitos americano e sul-coreano.

O ministro dos Negócios Estrangeiros chinês falava numa conferência de imprensa em Berlim após um encontro com o seu homólogo alemão, Sigmar Gabriel.

As autoridades de Seul anunciaram exercícios conjuntos com um porta-aviões americano que é aguardado em breve naquela região.

Washington mobilizou o porta-aviões nuclear USS Carl Vinson e respectiva escolta para a península coreana, onde deverá chegar até ao final da semana.

“O perigo que novos conflitos ecludam a qualquer momento é grande, é por essa razão que apelamos a todas as partes que mostrem sangue frio e evitem qualquer acção ou palavra que possa levar a novas provocações”, declarou Wang Yi na capital alemã.

Questionado sobre os riscos de um eventual conflito armado, o ministro chinês considerou que “mesmo um risco de 1% não pode ser tolerado” porque uma guerra teria consequências “inimagináveis”.

Pára tudo

Pequim tem defendido nas últimas semanas uma solução que tem por base a ideia “suspensão contra suspensão”, ou seja, o regime de Pyongyang deve interromper as suas actividades nucleares e balísticas e Washington deve parar com as manobras militares comuns com a Coreia do Sul, exercícios anuais considerados pela ‘vizinha’ Coreia do Norte como uma provocação.

Os Estados Unidos rejeitaram o plano chinês e voltaram a insistir que a China, um aliado tradicional de Pyongyang, pressione o regime norte-coreano, que tem intensificado os avisos e as ameaças a Washington. Responsáveis norte-americanos já avisaram que todas as opções, incluindo militares, estão “em cima da mesa”.

Pequim, que continua a defender que a solução da mútua suspensão é “a única opção viável”, desafiou Washington a avançar com “uma melhor proposta”.

Sobre a influência de Pequim sobre o regime norte-coreano, o ministro chinês afirmou em Berlim que é limitada.

“A Coreia do Norte é um Estado soberano e deve decidir por si mesmo se quer ou não parar com as suas actividades nucleares”, argumentou Wang Yi.

“Naturalmente, também acreditamos que estas actividades não são do interesse da Coreia do Norte”, acrescentou o ministro, sublinhando que Pyongyang justifica as suas acções com a “ameaça americana”.

1 Mai 2017

Protejam a moral chinesa tradicional 中国高校现反同性恋横幅

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]a semana passada, duas estudantes da província de Hubei provocaram uma onda de protestos no campus universitário, e também online, no seguimento de se ter tornado viral nos media chineses uma foto de ambas a segurarem uma faixa com conteúdos homofóbicos. A faixa dizia: “Protejam a moral chinesa tradicional. Defendam os valores centrais do socialismo. Resistam à corrosão provocada pelo decadente pensamento ocidental. Mantenham a homossexualidade fora do campus.”

A foto foi tirada junto às linhas laterais de um campo de basquetebol, durante um torneio que se realizou na Universidade de Ciência e Tecnologia de Huazhong, em Wuhan (HUST- sigla em inglês). O treinador da equipa feminina de basquetebol, que tirou a fotografia, postou: “Este é desejo do público que eu trago sempre no coração.” Uma das mulheres fotografadas escreveu: “O basquetebol feminino era um desastre em termos de homossexualidade. Mas depois das reformas e de uma educação positiva, restam muito poucas lésbicas nas nossas equipas.”

A HUST, situada na China central, é conhecida por ter uma atitude relativamente acolhedora em relação aos homossexuais. Os estudantes exibem bandeiras com o arco-íris nas cerimónias de graduação e a escola promove eventos em que estão representados autores e artistas homossexuais. Até 1997 a China considerava a homossexualidade um crime. Mas nos últimos anos o país foi ficando gradualmente mais tolerante em relação a estas questões. Este incidente desencadeou uma discussão alargada sobre a discriminação nas escolas chinesas contra estudantes homossexuais, bissexuais e transgénero.

Mas qual é exactamente a “moral chinesa tradicional” que as jogadoras de basquetebol querem proteger?

Companheira perfumada《怜香伴》é uma peça de Li Yu, escrita em 1651.

A peça conta a história de Cui Jianyun, mulher de Fan Jiefu, um homem erudito. Madame Cui tinha ido ao templo queimar incenso para os deuses, logo a seguir ao seu regresso da lua de mel. No templo conheceu Cao Yuhua, filha de Lord Cao, dois anos mais nova do que ela. Cui sentiu-se imediatamente atraída pelo invulgar perfume de Cao. Cao sentiu-se atraída pelo talento poético de Cui. Apaixonaram-se e juraram que na próxima vida seriam marido e mulher. De forma a poderem viver juntas, Cui persuadiu o marido a enviar uma casamenteira a casa de Lord Cao, para, em seu nome, pedir a filha em casamento como segunda mulher. Lord Cao ficou enraivecido com a ideia de a filha se vir a tornar uma mera concubina. Expulsou a casamenteira e partiu imediatamente para a capital com Cao. Depois de inúmeras voltas e reviravoltas, Cui Jianyun e Cao Yuhua conseguem finalmente reunir-se. No final, o rei dá permissão a Mestre Fan de tomar as duas por legítimas esposas.

Li Yu (李渔1610–1680 DC), também conhecido por Li Liweng, foi dramaturgo, romancista e editor. É o presumível autor de Tapete da Oração Carnal (肉蒲團), uma comédia bem arquitectada e um clássico da literatura erótica.  Nos seus contos abordou o tema do amor entre pessoas do mesmo sexo. Li Yu foi muito lido e apreciado pela ousadia com que tratava este tema inovador.

As estradas da vida são muitas vezes distorcidas ou desmanteladas por pessoas que querem decidir que caminhos elas devem trilhar. Lamentável.

26 Abr 2017

Poluição | Quase três mil empresas violam regras ambientais

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s autoridades ambientais da China encontraram 2.808 empresas que violaram os padrões estabelecidos durante a primeira ronda de inspecção da poluição do ar. As equipas de inspecção em 28 cidades na região de Pequim-Tianjin-Hebei e nas áreas nos arredores descobriram que as 2.808 das 4.077 empresas não cumpriram as normas, disse o Ministério da Protecção Ambiental em comunicado. Os problemas incluíram produção sem licença, prevenção ineficiente de poeira e falta ou mau funcionamento de instalações de tratamento da poluição, informa o comunicado.Os inspectores também descobriram algumas empresas que tinham sido fechadas pelas violações e retomaram a produção ilegal fornecendo dados falsos de controlo. A taxa de dias com boa qualidade do ar em Pequim-Tianjin-Hebei aumentou 14,6 pontos percentuais em relação ao ano transacto, para 66,3% em Março, mesmo que tenha caído no primeiro trimestre, segundo os dados.

25 Abr 2017

China espera que Venezuela consiga manter a estabilidade

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China expressou sexta-feira o seu apoio à Venezuela, nação que considerou “país amigo”, e expressou a sua confiança de que o povo venezuelano consiga “gerir os seus assuntos domésticos, manter a estabilidade e o desenvolvimento social e económico”.

Numa reacção aos confrontos entre manifestantes e forças de segurança do país, que resultaram na morte de três pessoas, o porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros Lu Kang afirmou que a “China está atenta à situação”.

“Sabemos que o Governo da Venezuela expressou a sua confiança de retomar o diálogo com a oposição”, acrescentou.

O porta-voz chinês assegurou que Pequim considera essa “a linha a seguir, para bem dos interesses fundamentais” do povo venezuelano.

O secretário-geral das Nações Unidas, o português António Guterres, pediu que sejam tomadas medidas para “reduzir a polarização” no país latino-americano, um apelo repetido pela Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, México, Paraguai, Perú e Uruguai, que condenaram a violência dos últimos dias.

Segundo Caracas, três pessoas morreram na quinta-feira durante as manifestações da oposição contra o presidente do país, Nicolás Maduro, e outras 62 ficaram feridas.

Foram detidos 312 manifestantes.

24 Abr 2017

Federica Mogherini diz que China é “parceiro chave” para os desafios europeus

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] responsável pela diplomacia da União Europeia (UE), Federica Mogherini, disse ontem que a China é um parceiro chave para enfrentar os conflitos e desafios que atingem a Europa, como a guerra na Síria ou o ‘Brexit’.

“A China é uma peça muito importante para a segurança no nosso lado do mundo, na nossa região”, afirmou Mogherini, durante um encontro com estudantes na Universidade de Tsinghua, em Pequim.

A UE e a China “têm a responsabilidade global de se comprometerem com a defesa da segurança”, acrescentou.

Mogherini assegurou que, ao contrário de outros actores internacionais, a “UE não vê a autoconfiança da China como uma ameaça”, considerando o país asiático um parceiro com o qual existem “muitas oportunidades” para cooperar.

A também vice-presidente da Comissão Europeia sublinhou que é necessário “esperança nos tempos difíceis que decorrem” e apelou à comunidade internacional a manter-se unida e “afastada da via militar”, tanto na península coreana, como na Síria.

E assinalou que a China e a UE devem usar a sua influência com todas as partes implicadas e “salvaguardar os direitos humanos” no conflito sírio, ao qual a representante prestará “especial atenção” nos próximos dias, durante a sua visita à Rússia.

Como membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a Rússia voltou a vetar, no passado dia 12, uma resolução contra ao regime de Bashar al-Assad por ataques a civis com armas químicas na semana anterior, enquanto a China se absteve.

Refugiados e ‘Brexit’

Mogherini falou ainda da crise migratória, que na sua opinião “não é uma crise da Europa, mas sim de refugiados”.

A política italiana excluiu qualquer vínculo entre a chegada dos refugiados e atentados terroristas, lembrando que os “últimos ataques na Europa foram perpetuados por europeus”.

“Não é como a imprensa conta”, afirmou.

Sobre o ‘Brexit’, cujas negociações arrancaram em Março passado e deverão terminar num prazo máximo de dois anos, Mogherini destacou a “determinação a favor da integração europeia”.

“Temo que o Reino Unido venha a perder muito mais do que a UE”, disse.

A alta representante iniciou na China uma viagem por três potências emergentes, que inclui ainda a Rússia e a Índia.

21 Abr 2017

Ivanka Trump registou três marcas na China

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] empresa de Ivanka Trump, a filha mais velha do Presidente norte-americano, Donald Trump, obteve autorização das autoridades chinesas para registar três marcas na China, durante a visita do Presidente chinês, Xi Jinping, aos Estados Unidos.

Segundo a cadeia de televisão CNN, Ivanka foi autorizada a registar a sua linha de malas, jóias e um serviço de SPA na China, na mesma noite em que se sentou junto a Xi e à sua esposa num jantar no ‘resort’ de Trump na Florida.

A empresa da filha de Trump, que desde há algumas semanas trabalha como assistente do pai, tem já 16 marcas registadas no país asiático.

A advogada de Ivanka, Jamie Gorelick, argumentou que a filha do Presidente “não participou nas solicitações de registo da marca apresentadas pela sua empresa” ao Governo chinês, desde que renunciou à direcção da empresa.

Gorelick defendeu ainda que as normas étnicas não obrigam a sua cliente a abdicar das responsabilidades na Casa Branca, em questões de política externa, só porque a sua empresa solicitou o registo num determinado país.

O ministério dos Negócios Estrangeiros chinês qualificou ontem de “coscuvilhice” as informações de que Ivanka obteve autorização para registar novas marcas na China.

“Alguns órgãos de comunicação estão interessados em coscuvilhice e em tentar exagerar as coisas”, disse em conferência de imprensa o porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros Lu Kang.

A China “protege os interesses dos donos das marcas de forma igual”, acrescentou.

O porta-voz chinês lembrou que “este processo é desenvolvido de acordo com a lei e não deveria dar-se excessiva importância ao assunto”.

20 Abr 2017

Economia | Líderes de 28 países no Fórum Nova Rota da Seda

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s líderes de 28 países participam entre 14 e 15 de Maio, em Pequim, no Fórum Nova Rota da Seda, uma iniciativa do Governo chinês, anunciou ontem o ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi.

Entre os países cujos presidentes acorrem ao Fórum constam a Rússia, Turquia, Cazaquistão, Bielorrússia, Filipinas, Argentina ou Chile.

Espanha, Itália, Polónia, Malásia ou Mongólia enviarão os respectivos primeiros-ministros.

A abertura do fórum caberá ao Presidente chinês, Xi Jinping, que participará de seguida numa mesa de redonda com os restantes lideres presentes.

O evento contará também com seis fóruns temáticos paralelos, em que participarão mais de 1.200 altos funcionários, oriundos de cem países e organizações internacionais, assim como executivos e académicos.

O secretário-geral das Nações Unidas, o português António Guterres, a directora-geral do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, e o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, também participarão no evento.

A maioria dos países ocidentais, nomeadamente Estados Unidos da América, Canadá, Reino Unido, Alemanha ou França, não terão, no entanto, representantes ao mais alto nível.

Wang afirmou que Berlim e Paris manifestaram interesse em enviar os respectivos líderes, mas que não o farão devido ao processo eleitoral que ocorre em ambos os países.

“Não queremos politizar esta iniciativa”, afirmou ainda Wang Yi sobre as ausências.

Plano em movimento

A Nova Rota da Seda, divulgada em 2013 pelo Presidente chinês, Xi Jinping, constitui um plano de infra-estruturas que pretende reactivar a antiga Rota da Seda entre a China e a Europa através da Ásia Central, África e sudeste Asiático.

Este plano, que inclui a construção de uma malha ferroviária de alta velocidade entre a China e a Europa, vai abranger 65 países e 4,4 mil milhões de pessoas – cerca de 60% da população mundial, segundo Pequim.

Portugal tem afirmado a sua intenção de integrar aquela iniciativa, particularmente com a inclusão do porto de Sines.

Os projectos, que são financiados pelo Banco Asiático de Investimento em Infra-estruturas (BAII), de que Portugal é membro fundador, são comparados ao norte-americano ‘Plano Marshall’, lançado a seguir à Segunda Guerra Mundial.

O objectivo do Fórum é promover o diálogo e a cooperação no âmbito internacional, frisou o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês.

Wang Yi disse ainda que a iniciativa visa dinamizar o crescimento económico global, perante a “débil recuperação” da crise financeira internacional de 2008.

“Não faltaram recursos económicos para promover a recuperação”, afirmou, acrescentando que existe, no entanto, uma fragmentação desses meios e que chegou a hora de “consolidar os recursos”.

19 Abr 2017

Voo directo entre China e Portugal arranca a 26 de Julho

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] ligação aérea directa entre a China e Portugal arranca a 26 de Julho deste ano, anunciou ontem a companhia aérea Beijing Capital Airlines, coincidindo com os esforços de Portugal para atrair mais turistas chineses.

O voo terá três frequências por semana – quarta-feira, sexta-feira e domingo – entre a cidade de Hangzhou, na costa leste da China, e Lisboa, com paragem em Pequim, avançou à agência Lusa o departamento de marketing da companhia aérea chinesa.

A Beijing Capital Airlines quer iniciar uma quarta frequência, mas esta não foi ainda aprovada pelo ministério da Aviação chinês, disse a mesma fonte.

O voo entre a China e Portugal será feito pelo modelo 330-200 da Airbus, uma das maiores aeronaves comerciais de passageiros da construtora europeia, com capacidade para 475 passageiros.

A Beijing Capital Airlines é uma das subsidiárias do grupo chinês HNA, accionista da TAP através do consórcio Atlantic Gateway e da companhia brasileira Azul.

A Ctrip, o principal motor chinês de pesquisa de viagens, já incluía ontem o voo nos resultados, com o preço de ida e volta fixado em 6.400 yuan (870 euros).

Nos últimos três anos, o número de turistas chineses que visitaram Portugal triplicou, para 183.000, e deverá aumentar “exponencialmente” com a abertura da ligação directa, afirmou no início deste mês a secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho.

“Os chineses que chegam a Portugal são sempre canalizados através de outra porta na Europa, nomeadamente através de Espanha (…), o que leva a que passem poucas noites em Portugal”, disse à Lusa, em Pequim, Mendes Godinho, afirmando que o grande objectivo é “inverter essa tendência”.

Os maiores

A China é já o maior emissor mundial de turistas e, segundo estatísticas oficiais, 135,1 milhões de chineses viajaram para fora da China continental, em 2016, num aumento de 12,5% em relação ao ano anterior.

O crescente poder de compra e maior facilidade em obter o visto para muitos países explicam o rápido aumento do número de turistas chineses.

De acordo com a Organização Mundial do Turismo, os chineses são também os turistas que mais gastam: só no ano passado deixaram 246 mil milhões de euros além-fronteiras.

A acompanhar este fluxo crescente, o Turismo de Portugal tem, desde 2014, uma representação permanente em Xangai, a “capital” económica da China.

Portugal conta também com nove centros de emissão de vistos no país asiático, distribuídos pelas cidades de Pequim, Xangai, Hangzhou, Nanjing, Chengdu, Shenyang, Wuhan, Fuzhou, Cantão (Guangzhou).

19 Abr 2017

Efeméride | Declaração Conjunta Luso-Chinesa assinada há 30 anos

Há três décadas Portugal e a China assinavam o documento que decretou a transferência de soberania de Macau. Em 1987 começou o chamado período de transição em que foi preciso arregaçar mangas para formar, legislar, traduzir. Anos depois, analistas garantem que os direitos e liberdades foram garantidos, tal como a continuação da presença portuguesa. Falta apenas um sistema político mais representativo

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]m 1987 a China espreitava o mundo por uma janela em bicos dos pés, e ninguém imaginava o gigante em que se tornaria. Portugal administrava Macau, mas era altura de preparar a entrega do território. Há 30 anos, Cavaco Silva, presidente da República portuguesa, e Zhao Ziyang, chefe do Governo da República Popular da China (RPC), assinaram, em Pequim, a Declaração Conjunta Luso-Chinesa.

Estava dado o pontapé de saída para aquilo que Macau é hoje. Criou-se, a partir daí, o Grupo de Ligação Luso-Chinês, responsável por fazer tudo o que faltava na área da justiça e da Administração pública. Não havia tempo a perder: Macau passaria para a China em 1999, transformando-se na RAEM, com autonomia política e administrativa face à China, e regida pela Lei Básica, segundo o princípio “Um País, Dois Sistemas”, até ao ano de 2049.

O deputado Leonel Alves recorda ao HM que a China não era obrigada a assinar acordo algum. “Macau e Hong Kong sempre foram territórios chineses. E se a China entendeu celebrar acordos com Estados soberanos estrangeiros [Portugal, no caso de Macau, e Reino Unido, no caso de Hong Kong] foi uma forma de mostrar a sua vontade de firmar os seus compromissos internacionais.”

Em 12 anos foi necessário fazer a chamada locação dos quadros, de forma a garantir que a Administração pública da RAEM teria funcionários públicos bilingues em número suficiente. Foi preciso formar pessoas e, sobretudo, fazer a locação a nível jurídico, pois as leis feitas em Portugal deixariam de estar em vigor depois de 1999. Para além da adaptação das leis seriam elaborados os cinco principais códigos, ainda hoje a vigorar.

“Foi um período em que se lutou contra o tempo e também se aproveitou para modernizar o sistema jurídico de Macau”, lembrou Leonel Alves. “A Administração de Macau não estava devidamente preparada para, daí a uns anos, o exercício de soberania ser transferido e protagonizado por outras pessoas.”

Leonel Alves considera ainda que, a partir de 1987, começou “um período em que o Governo de Macau fez um grande esforço, e com muito mérito”. “Preparou-se muitos quadros bilingues nestas duas vertentes. Formaram-se técnicos chineses, muitos deles bilingues, e magistrados. Acreditava-se que a transição tinha de ser pacífica. Era preciso ter tudo em condições para que, no dia da transferência de soberania, o território pudesse continuar a ser a mesma Macau de sempre nos próximos 50 anos”, disse o também advogado.

Incertezas do futuro

Para Anabela Ritchie, que à época estava no Leal Senado, tendo sido presidente da Assembleia Legislativa, a Declaração Conjunta Luso-Chinesa “foi um documento de carácter geral que tinha as potencialidades necessárias para uma elaboração posterior”.

O clima era de ansiedade e de algum receio do que poderia acontecer após 1999. “As pessoas não tinham certezas, estavam na expectativa, porque ninguém sabia o que ia acontecer no processo de transição. Era algo novo. Iam ser tomadas decisões importantes para Macau e para a vida de todos em particular. Não foi um período isento de incertezas.”

Independentemente dos medos, tudo correu da melhor forma, na óptica do académico Arnaldo Gonçalves, ex-assessor do secretário-adjunto para a Educação, Saúde, Assuntos Sociais e Económicos, Francisco Murteira Nabo e do secretário-adjunto para a Coordenação Económica, Vítor Rodrigues Pessoa.

“Com a Declaração Conjunta os objectivos de Portugal foram atingidos. Por um lado manteve-se a identidade de Macau, ligada ao património e à língua portuguesa, e isso tem-se conseguido”, apontou o também presidente do Fórum Luso-Asiático.

Ao nível da garantia dos direitos dos residentes, Arnaldo Gonçalves defende que, “no essencial, são preservados”, não tendo sido “minimamente beliscados”. “Há liberdade de expressão e de associação, liberdade de imprensa, de religião, liberdade de participação política”, apontou.

Mundo português garantido

Para Arnaldo Gonçalves, todos estes anos mostraram que a comunidade portuguesa ganhou o seu lugar, com o devido respeito por parte do Governo local. Ainda assim, o académico alerta para a necessidade de maior trabalho por parte de algumas instituições de matriz portuguesa, como é o caso da Fundação Oriente (FO) e do Instituto Português do Oriente (IPOR).

“Felicito as instituições chinesas, como o Instituto Politécnico de Macau ou a Universidade de Macau [ao nível do ensino do português], mais do que propriamente a FO e o IPOR, que teriam a obrigação institucional de ter outra determinação na preservação do legado. Nos últimos 17 anos não vi isso acontecer. São instituições que funcionam um pouco de forma burocrática.”

Larry So, analista político, olha para a Declaração Conjunta Luso-Chinesa como um documento que “transformou Macau naquilo que é hoje”, ao abrigo da política chinesa “Um País, Dois Sistemas”. “Houve desenvolvimento económico nos últimos anos e uma tentativa de integração regional na China. Há 30 anos havia esta ideia.”

O facto dos chineses nascidos em Macau terem obtido a cidadania portuguesa é, para Arnaldo Gonçalves, a “primeira vitória do processo de negociação”. “Queríamos preservar a nacionalidade portuguesa e essa era uma questão de honra para nós. Os cidadãos chineses nascidos em Macau deveriam ser portadores de um passaporte português, e aí fomos profundamente diferentes e melhores do que a Grã-Bretanha, que deu aos seus cidadãos nascidos na colónia um passaporte de segunda classe.”

E a democracia?

Apesar do desenvolvimento económico e da transição pacífica, Larry So lamenta que, 30 anos depois, o território não tenho percorrido um caminho mais rápido em prol da democracia.

“Se olharmos para trás podemos dizer que tivemos desenvolvimento económico, mas não podemos ficar satisfeitos com o lento progresso a nível político. Não temos eleições directas e uma democracia, e para muitos de nós isso não é satisfatório”, defendeu o analista.

Larry So não acredita mudanças profundas até 2049, altura em que os efeitos da Declaração Conjunta deixarão de se fazer sentir. “Não vejo nenhumas mudanças a acontecer, especialmente se falarmos de uma verdadeira democratização. Há o controlo de alguns deputados na Assembleia Legislativa e não vejo um progresso nesse sentido. Se tivermos mais deputados eleitos pela via directa muitos interesses serão confrontados e eles vão tentar controlar o mais depressa possível.”

Arnaldo Gonçalves prefere ir ao passado para explicar a ausência do sufrágio universal para eleger o Chefe do Executivo e os deputados da AL. “Essa é uma tentativa de aplicação do mindset de Hong Kong a Macau. Uma questão que ficou clara no processo de negociação é que Macau era um caso singular que não se comparava a Hong Kong.”

As diferenças políticas revelaram-se desde cedo. “Hong Kong tinha, como colónia, associações políticas, que se tornaram em partidos políticos. Nós não tínhamos isso. Tínhamos meras associações cívicas, que não são estruturas de partidos políticos. Há disposições legais em Hong Kong que indicam que a eleição do Chefe do Executivo e a composição do LegCo deve ir no sentido democrático, mas nós não temos essas disposições.”

Arnaldo Gonçalves explica que, em 1987, essa questão acabou por se tornar secundária. “Não temos [essas disposições] porque a sociedade de Macau, na altura, também não sugeriu, ou não impôs aos negociadores portugueses. Era difícil estarmos a assumir uma posição de firmeza perante essa questão, quando a população não o queria.”

Ainda assim, “gostaríamos de ter um sistema de representação mais democrático, com maior representação simbólica da população”, apontou o académico.

“Não temos, mas é o que é possível. Deputados eleitos, os que representam associações e os que são designados pelo Chefe do Executivo, temos o compósito possível, mas representam de certa forma a sociedade de Macau”, acrescentou Arnaldo Gonçalves.

Leonel Alves mantém a posição que a maioria dos deputados da AL mantém: o sufrágio universal chegará quando houver condições para isso. “É preciso garantir a estabilidade social e o desenvolvimento económico. Qualquer alteração ao figurino político e do funcionamento de Macau não pode prejudicar a estabilidade e o desenvolvimento.”

Na opinião do deputado, “a própria sociedade civil que tem de demonstrar que já encontrou um patamar de desenvolvimento que permita que haja uma nova forma de gerir a coisa pública através da eleição ou da modificação das leis eleitorais. É a própria sociedade civil que tem de reflectir”, conclui.

13 Abr 2017

Análise | Cimeira entre Trump e Xi Jinping marcada por ataque a base síria

O encontro entre os líderes das duas maiores economias mundiais tinha inúmeros assuntos quentes para discutir. No entanto, foi marcado pelo ataque a uma base aérea síria, em plena cimeira. Uma jogada ousada que ameaça ser repetida na Coreia do Norte, depois de Trump ter enviado um porta-aviões e navios de guerra para a península coreana

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]ra esperado um encontro protocolar, que pusesse água na fervura no plano geopolítico e foi isso que transpareceu cá para fora. Poses amistosas e um discurso padronizado sem grande conteúdo. Porém, antes do jantar do primeiro dia de cimeira, Donald Trump deu luz verde para o bombardeamento de uma base aérea síria, reforçando a aura de imprevisibilidade do recém eleito Presidente e a força da posição americana no xadrez geopolítico global.

A muito antecipada reunião vinha sendo vista como uma oportunidade para o Presidente chinês demonstrar força, maturidade diplomática e reforçar o seu lugar como um poderoso líder mundial. Depois de terem sido lançados 59 mísseis Tomahawk sobre Shayrat, os pratos da balança penderam para o lado de Washington, sem que Pequim tivesse reagido oficialmente. No entanto, o assunto passou ao lado dos discursos no fim das conversações.

Dois dias depois da reunião, Donald Trump enviou para as águas da península coreana um porta-aviões e uma frota de navios de guerra.

Porém, no rescaldo da cimeira, os assuntos bélicos não foram tocados. “Fizemos tremendos progressos na relação com a China.” Esta foi a forma como o Presidente norte-americano caracterizou a cimeira de dois dias com Xi Jinping. Em contrapartida, de acordo com um comunicado no site do Ministério dos Negócios Estrangeiros chineses, Xi Jinping terá dito a Trump que “existem mil razões para melhorar as relações entre a China e os Estados Unidos e nenhuma razão para as estragar”. Este tom conciliatório, assim como as fotos de circunstância que rodearam o encontro na Florida, parece estar a milhas de distância do discurso inflamatório que prometia incendiar o plano internacional durante a corrida à Casa Branca.

Trump, repetidas vezes, apelidou os chineses de serem os “campeões de manipulação cambial” e de violarem os Estados Unidos em matéria de comércio externo. Além disso, estendeu a mão ao poder político de Taiwan, quebrando uma tradição diplomática com décadas, criticou a militarização do Mar do Sul da China, assim como a falta de pulso forte a lidar com o regime da Coreia de Norte.

Bombas à sobremesa

Donald Trump, durante a campanha, apelidou inúmeras vezes a política externa norte-americana de previsível, logo votada ao insucesso. Apesar do ataque às forças de Bashar al-Assad poder representar um desastre a todos os níveis, a imprevisibilidade da nova política externa norte-americana será um problema difícil de deslindar para Xi Jinping. Principalmente, depois das repetidas ameaças de acção militar para travar o desenvolvimento do programa nuclear norte-coreano. Esta posição de Washington é uma mudança de paradigma em termos de política externa. Tradicionalmente, a imprevisibilidade é uma arma usada pelos países mais fracos, que tem sido afastada das grandes potências desde a Guerra Fria.

Outro aspecto a reter foi o timming do ataque, tendo em conta que o líder chinês se aproximava mais da posição de Moscovo do que de Washington na questão síria. É de salientar que Pequim tem rejeitado, consecutivamente, as resoluções do Conselho de Segurança da ONU contra o regime sírio.

“O primeiro ataque norte-americano às forças de Assad deram credibilidade e poder negocial a Trump”, avançou ao The Guardian Paul Haenle, conselheiro das administrações Bush e Obama. A questão aqui é o que fazer com Kim Jong-un.

A China compra 90 por cento das exportações norte-coreanas, um factor que não agrada a Washington. Porém, Pequim tem usado esse ascendente comercial como um tampão que pretende prevenir uma vaga de refugiados norte-coreanos para o seu território e uma destabilização ainda maior de Pyongyang.

Nesse sentido, o Secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, lembrou que ambas as nações acordaram em refrear as ambições nucleares de Kim Jogn-un. Apesar de confirmar que “não houve nenhum pacote de medidas acordadas”, Tillerson adiantou que Washington pode agir sozinho, se a China se sentir constrangida a fazê-lo.

Do outro lado do tabuleiro, o Ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, diz que é necessário livrar a península coreana de material nuclear. Mas acrescentou ainda, à agência Xinhua, que se deve evitar intervenção militar contra Pyongyang.

Estas eram as posições até domingo, quando o presidente norte-americano enviou para as águas da península coreana um porta-aviões e uma frota de navios de guerra de forma a dar resposta à que considera ser a maior ameaça na região.

Guerra comercial

Durante a campanha Trump prometeu ser implacável com Pequim em termos comerciais. Sob o lema de trazer os empregos de volta a solo norte-americano, fez promessas de rotular, oficialmente, a China como manipuladores cambiais. No entanto, esta retórica parece ter acalmado para um tom mais reconciliador. Um dos indícios disso mesmo é a perda de força nos últimos tempos da ala mais isolacionista da Casa Branca, como o prova o afastamento de Stephen Bannon do Conselho de Segurança Nacional. Estas manobras parecem aproximar mais a administração Trump de uma posição mais tradicional republicana na abordagem ao comércio internacional. Daí podem advir boas notícias para Xi Jinping.

Numa altura em que Trump atravessa uma impopularidade histórica em termos estatísticos, terá de mostrar algo ao eleitoral operário, em particular do “Rust Belt” que lhe deu a eleição em bandeja enferrujada. Como tal, não é de estranhar que o líder chinês faça algumas concessões comerciais a Washington. Entre as ofertas discutidas estará o aumento de importação de gás natural líquido americano, produtos agrícolas e automóveis por parte de Pequim. Algo que não representará uma grande concessão por parte de Xi Jinping, enquanto Trump pode puxar dos galões perante o eleitorado norte-americano como exímio homem de negócios.

O líder chinês regressa a Pequim com a questão de Taiwan enterrada e algo para mostrar internamente no próximo Congresso do Partido Comunista Chinês de Outubro.   

No entanto, complexas questões comerciais não se resolvem em dois dias. “Normalmente, estas discussões, em especial entre os Estados Unidos da América e a China, desenrolam-se ao longo de múltiplos anos”, comentou o Secretário do Comércio norte-americano Wilbur Ross no final da cimeira. Nesse sentido, vão ser encetadas conversações multilaterais ao longo de 100 dias. Ross acrescentou que “é uma meta temporal ambiciosa, mas que representa uma enorme mudança nas relações entre a China e os Estados Unidos”. Para a administração Trump o grande objectivo será reduzir o superavit chinês na balança comercial.

Em declarações à agência Xinhua, Xi Jinping afirmou que “usará os novos canais de comunicação e cooperação estabelecidos para atingir objectivos concretos”. O Presidente chinês afirmou ainda que ficou a promessa de uma visita de Estado de Trump à China.

Questões territoriais

Taiwan parece ser um assunto arrumado nas relações sino-americanas, o que representa um bónus para Xi Jinping, depois de Trump voltar atrás e defender que não se opõe à política “Uma Só China”. Antes da cimeira e da demonstração de força da nova administração norte-americana, as mudanças de opinião de Trump em relação à Formosa tornaram-no num “tigre de papel” aos olhos de algumas facções das elites políticas chinesas.   

Uma questão que poderá ser mais difícil de contornar é a “alegada” militarização do Mar do Sul da China e os territórios em disputa com o Brunei, Filipinas, Malásia, Vietname e Taiwan, ou seja, uma autêntica embrulhada diplomática. Apesar de Pequim ter afastado a hipótese de fortificar as ilhas artificiais construídas nas concorridas águas territoriais, imagens de satélite mostraram sistemas antimísseis e baterias de armamento anti-aéreo.

Bonnie Glaser, directora do Projecto China Power, do Centro de Estratégia e Estudos Internacionais em Washington, considera que “a relutância de Barack Obama em agir em termos bélicos encorajou a China estabelecer-se militarmente nos territórios disputados”.

A analista do think-thank norte-americano considera que esta posição de relativa liberdade por parte de Pequim pode mudar com a administração Trump.

Esta é uma das muitas questões que ficaram por resolver, algo que não é de estranhar numa reunião introdutória. As relações bilaterais entre as duas maiores potenciais económicas vão prosseguir, enquanto ambos os líderes enfrentam importantes desafios internos. Apesar da dureza de algumas palavras, as relações entre a China e os Estados Unidos parecem ter estabilizado. Vejamos se nenhuma tempestade de tweets lança pelos ares o trabalho diplomático conseguido, ou se não há intervenção militar na península coreana. Para já, em termos de geopolítica, a incerteza parece ser a única constante.

10 Abr 2017

Turismo | Gabinete de Ligação sugere voos directos para o espaço lusófono

A representação de Pequim em Macau propôs ontem o investimento da RAEM em voos directos com os países de língua portuguesa. A ideia é usar a situação privilegiada do território para multidestinos turísticos. O Governo Central quer ainda estabelecer mecanismos de ajuda na criação de um produto turístico próprio

 

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]acau deve estudar a possibilidade de ter voos directos entre o território e os países de língua portuguesa. O recado foi deixado ontem pelo subdirector do Gabinete de Ligação do Governo Central, Yao Jian, na reunião anual de 2017 da comissão conjunta de trabalho para impulsionar a construção de Macau num centro mundial de turismo e lazer.

“Macau é uma plataforma importante entre a China e os países de língua portuguesa e, por isso, devem ser desenvolvidas actividades que envolvam o intercâmbio entre o Continente e estes países”, disse o responsável. Para o efeito, “deve estudar a possibilidade de explorar voos directos com os países de língua portuguesa, de modo a atrair mais visitantes destes países para o território e, ao mesmo tempo, dar oportunidade a estes turistas para que possam transitar para outros destinos na China”, explicou.

No final da reunião, o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, não acrescentou qualquer informação acerca da vontade do Gabinete de Ligação, sendo que, garantiu, seria uma iniciativa acarinhada pela sua tutela. “É uma boa ideia, mas é necessária ainda uma análise. Não falámos dela durante a reunião, o que não significa que não a vamos desenvolver no futuro”, afirmou.

Acção conjunta

De acordo com Li Shihong, vice-presidente da Administração Nacional do Turismo da China, o Governo Central está disponível para ajudar nas políticas do território que tenham como fim a promoção de um turismo diversificado e “a criação de um produto internacional de grande procura”. “O desenvolvimento do território está no bom caminho e temos, em conjunto, de depositar confiança no Governo local e ajudar na colaboração com províncias chinesas”, sublinhou.

A ideia do responsável do turismo do Continente vai no sentido de fomentar tempos de estadia maiores no território e, em simultâneo, explorar o turismo para multidestinos. “O Governo Central já o faz e podemos associar Macau às políticas aplicadas a outras províncias chinesas.”

Por outro lado, Li Shihong considerou que é importante que as medidas a serem tomadas sejam práticas e concretizáveis. “Discutimos acerca das políticas em que podemos apoiar Macau na elevação da indústria turística, e como aprofundar os serviços e fiscalização numa cooperação integrada de todos os sectores”, disse.

A entrada facilitada no território também esteve em discussão na reunião de ontem. A ideia é que os turistas não tenham de pagar para entrar em Macau, prática que, segundo o Alexis Tam, tem sido desenvolvida à margem da lei. É fundamental, disse o secretário, “aumentar a fiscalização das actividades turísticas, sendo que a abertura da ponte Hong Kong-Macau-Zhuhai é também uma grande oportunidade para o desenvolvimento da cooperação”.

De acordo com Li Shihong, o Governo Central está a estudar, com Fujian e Guandong, uma cooperação conjunta com o território.

No bom caminho

O secretário para os Assuntos Sociais e da Cultura não deixou de se mostrar particularmente entusiasmado com as iniciativas que a sua tutela tem desenvolvido. “Desde a celebração do acordo entre o Interior da China e Macau sobre a criação de uma comissão conjunta, em Junho de 2015, bem como a realização da reunião anual de trabalho desta comissão em Fevereiro do ano passado, o Governo e a China Continental aceleraram a cooperação. Tem sido aprofundado tanto o nível, como o conteúdo, no âmbito do turismo”, recordou.

Na prática, Alexis Tam refere alguns dos trabalhos que o Governo tem vindo a desenvolver em cooperação com o Continente, entre eles “a participação nas acções de promoção conjuntas para itinerários multidestinos, a implementação do projecto pioneiro de turismo individual com embarcações de recreio Macau-Zhongshan, o reforço de cooperação com a Administração do Turismo da Província de Guangdong e vários serviços turísticos de outras cidades da China na fiscalização da qualidade turística para assegurar o desenvolvimento saudável no mercado”.

Para o secretário, o turismo local atingiu uma fase de estabilidade. “Actualmente, a indústria turística de Macau encontra-se numa fase de desenvolvimento estável. Em 2016, mesmo havendo factores externos de instabilidade económica, o número de visitantes manteve-se em mais de 30 milhões, registando-se um ligeiro acréscimo em termos anuais”, afirmou.

De sublinhar, para o secretário, é a formalização, com o apoio do Ministério da Educação da China, da candidatura de Macau à Rede de Cidades Criativas da UNESCO, enquanto Cidade Gastronómica.

7 Abr 2017

Diplomacia | Cancelada visita de políticos australianos à China

Dois membros do parlamento da Austrália estavam de viagem marcada para a China, devido a uma investigação sobre tráfico de estupefacientes. Acontece que Camberra é signatária de uma carta enviada a Pequim por causa dos direitos humanos. O Governo Central não gostou

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]equim desmarcou a visita de dois políticos da Austrália por causa de uma carta de vários países em que foram feitas acusações sobre o modo como as autoridades chinesas lidam com os direitos humanos.

De acordo com a Reuters, que dá conta do cancelamento da deslocação, os dois membros do Parlamento – um da coligação no poder e outro da oposição – tinham como missão fazer uma investigação sobre a vaga de drogas sintéticas traficadas a partir do sudeste da China.

No entanto, depois de ter recebido uma missiva assinada por 11 países – a Austrália está entre as signatárias, bem como o Canadá e o Japão – em que se pedia que a China investigasse as queixas sobre a alegada tortura a advogados defensores dos direitos humanos, a visita dos dois políticos de Camberra foi cancelada. A informação foi dada à agência sob anonimato, uma vez que as fontes da Reuters não estão autorizadas a falar com a comunicação social.

“Pequim disse-lhes que a visita não poderia ser feita e, na sequência de um conselho deixado pelo Departamento de Negócios Estrangeiros e Comércio da Austrália, a deslocação foi cancelada”, indicou uma fonte.

Estava tudo bem

Desde que Xi Jinping chegou ao poder, em 2012, que o controlo da sociedade civil foi sendo reforçado em quase todos os aspectos, contextualiza a Reuters. O secretário-geral do Partido Comunista Chinês e Presidente tem usado como argumento a necessidade de estabilidade e segurança nacionais.

Nos últimos cinco anos, segundo as denúncias de organizações internacionais de defesa dos direitos humanos, as autoridades do país detiveram ou interrogaram centenas de advogados que defendem activistas e outros críticos do Governo Central. Os advogados têm sido acusados de cooperarem com “forças hostis estrangeiras” para minarem o poder estatal.

Na semana passada, a ministra dos Negócios Estrangeiros da Austrália, Julie Bishop, foi obrigada a convocar um encontro de emergência com o embaixador chinês no país para afastar um eventual desentendimento diplomático, depois de Camberra não ter ratificado um tratado de extradição com a China.

Tratou-se de um episódio invulgar nas relações sino-australianas, que têm conhecido melhorias nos últimos meses, um entendimento que culminou com a assinatura, em Março, de uma série de acordos, na sequência da visita do primeiro-ministro chinês Li Keqiang.

7 Abr 2017

EUA aprovam oferta chinesa por empresa suíça

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s reguladores norte-americanos aprovaram a compra da gigante suíça do sector agro-alimentar Syngenta pela estatal China National Chemical Corp., na condição de que a empresa chinesa venda alguns dos seus negócios, visando cumprir regras anti-monopólio. Caso se confirme, o negócio, avaliado em 43 mil milhões de dólares, será o maior investimento de sempre por uma empresa chinesa além-fronteiras. O anúncio da Comissão Federal do Comércio dos Estados Unidos surge após, no ano passado, os reguladores europeus terem também aprovado a aquisição.

A Chem China concordou vender os negócios de fabrico de um herbicida, insecticida e fungicida, cujas quotas de mercado combinadas com as da Syngenta nos EUA poderiam “causar perturbações significativas”, refere a Comissão em comunicado.

Pequim tem encorajado as empresas do país a investir além-fronteiras, como forma de assegurar tecnologia e marcas, que melhorem a sua competitividade, e fontes confiáveis de retornos, face aos sinais de abrandamento na economia doméstica.

Por outro lado, a indústria global de químicos e biotecnologia para agricultura atravessa um período instável, face à queda dos preços das matérias-primas, que levaram os agricultores a reduzir custos.

Em Agosto passado, um júri do Governo norte-americano para a segurança nacional aprovou o negócio, apesar das acusações de alguns legisladores de que este acarretaria “riscos para o sistema alimentar” norte-americano.

O presidente da ChemChina, Ren Jianxin, disse que espera expandir a presença da Syngenta na China e em outros mercados emergentes. Ren é o mais agressivo investidor chinês além-fronteiras, tendo gastado mais de 60.000 milhões de dólares em aquisições, desde 2010.

Os negócios incluem a marca de pneus italiana Pirelli, o fornecedor norueguês de produtos químicos Elkem e o fabricante de máquinas industriais alemão KraussMaffei.

6 Abr 2017