Hoje Macau China / ÁsiaPequim insta Trump a reduzir controlo sobre importações de alta tecnologia [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China pressionou sexta-feira o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a reduzir o controlo sobre as exportações de alta tecnologia para o país, como forma de reduzir o déficit comercial entre as duas maiores economias do mundo. “Se os EUA relaxarem o controlo sobre as exportações de alta tecnologia para a China e (…) facilitarem o investimento chinês nos EUA, será uma grande ajuda para reduzir o desequilíbrio comercial entre os dois países”, afirmou o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Zheng Zeguang, em conferência de imprensa. Trump acusa frequentemente a China de ter destruído milhões de postos de trabalho nos EUA, através de concorrência desleal e manipulação do valor da sua moeda. O líder norte-americano disse na quinta-feira que o encontro com o seu homólogo chinês, Xi Jinping, na próxima semana, será “muito difícil”. “A reunião na próxima semana com a China deverá ser muito difícil”, escreveu Trump, na sua conta na rede social Twitter. “Não podemos continuar a ter enormes déficits comerciais e massivas perdas de emprego. As empresas americanas devem procurar outras alternativas”, acrescentou. Os comentários surgiram poucas horas após Pequim confirmar que Xi vai reunir com Trump, na luxuosa residência deste no Estado da Florida, Mar-a-Lago, a 6 e 7 deste mês. “A China não procura ter um superavit comercial e não temos a intenção de impulsionar as nossas exportações através da desvalorização da moeda. Essa não é a nossa política”, afirmou o vice-ministro. Zheng considerou que as relações entre ambas as potencias baseiam-se no “benefício mútuo” e afirmou que o investimento chinês nos EUA gerou postos de trabalho naquele país. O vice-ministro assegurou que ambas as partes esperam que o encontro entre Trump e Xi seja um êxito. Problemas de rede Face ao apelo para que Trump levante as restrições nas importações de alta-tecnologia, os jornalistas perguntaram ao vice-ministro se estaria disposto a terminar com o controlo que Pequim exerce sobre a Internet, permitindo a gigantes norte-americanos como o Google e Facebook reforçarem as operações na China. “A China está comprometida com a reforma e abertura (…) Damos as boas-vindas às empresas estrangeiras para que explorem o mercado chinês, com respeito pela lei”, disse. Empresas e políticos europeus ou norte-americanos acusam frequentemente a China de impedir as empresas estrangeiras de participar em vários sectores do mercado chinês, ou a forçá-las a fazer parcerias com empresas locais e transferir tecnologia chave, apesar da postura pró-globalização e em defesa do livre comércio adoptada pelos líderes chineses.
Hoje Macau China / ÁsiaMinistro da Economia português quer China a investir no sector produtivo [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] ministro da Economia português, Manuel Caldeira Cabral, quer atrair investimento chinês para o sector produtivo em Portugal, depois de a China ter comprado nos últimos anos importantes activos portugueses. “Neste momento, estamos a realçar as oportunidades que existem de atrair investimento na área produtiva, que complemente o investimento das empresas chinesas em activos”, afirmou em Pequim Caldeira Cabral. A China tornou-se, nos últimos anos, um dos principais investidores em Portugal, comprando participações importantes nas áreas da energia, dos seguros, da saúde e da banca. O ministro português defende que o objectivo agora é que os chineses “venham produzir para dentro da Europa a partir de Portugal”. “Portugal é hoje um país que se afirma também pelo conhecimento, diferenciação da sua produção, qualidade da sua indústria e posição estratégica, que é uma vantagem e uma boa porta de entrada para as empresas chinesas no mercado europeu”, disse. Manuel Caldeira Cabral participou na China no Fórum Asiático BOAO, conhecido como ‘Davos asiático’, na província de Hainan, extremo sul do país. O evento, que reuniu empresários, investidores, empresas e organizações internacionais, teve nesta edição como tema “Globalização e livre-comércio na perspectiva asiática”, e contou com a presença de 80 ministros de vários países. Contra o proteccionismo Numa altura em que as tendências populistas se alastram por vários países ocidentais, o fórum serviu para reforçar a nova postura pró-globalização adoptada por Pequim. “O tema foi a globalização e eu penso que foi no sentido de seguir a intervenção do Presidente da China [Xi Jinping] no [Fórum Económico Mundial de] Davos, uma intervenção muito forte a favor da globalização”, explicou o ministro português. “A mensagem que levei de Portugal é que é um país que está aberto ao comércio, quer estar envolvido no comércio internacional e não acredita neste novo proteccionismo”, revelou. A retórica pró-globalização dos líderes chineses parece contrastar com as suas políticas internas, que continuam a impedir as empresas estrangeiras de participar em vários sectores do mercado chinês ou a forçá-las a fazer parcerias com empresas locais e transferir tecnologia chave. Caldeira Cabral diz, no entanto, que presenciou em BOAO o “empenho das autoridades chinesas em abrir o mercado em áreas-chave como, por exemplo, a área das compras públicas, em que querem, cada vez mais, tratar as empresas europeias e estrangeiras que estão na China como empresas nacionais”. Valor estratégico A nova visão global de Pequim ganha forma através da iniciativa Nova Rota da Seda, um gigante plano de infra-estruturas, que pretende reactivar a antiga Rota da Seda entre a China e a Europa através da Ásia Central, África e Sudeste Asiático. Segundo as autoridades chinesas, aquela iniciativa vai abranger 65 países e 4,4 mil milhões de pessoas, cerca de 60% da população mundial. Durante a visita que fez à China, em Outubro passado, o primeiro-ministro português, António Costa, destacou a importância estratégica do porto de Sines, apelando à inclusão deste na Nova Rota da Seda. Caldeira Cabral admitiu que “há um interesse muito grande do Governo chinês e das empresas chinesas pela posição estratégica que Sines tem, sendo o porto mais próximo do Pacífico, devido à rota que passa pelo canal do Panamá”. “O que realçamos aqui é que Portugal, com todos os seus portos, e em especial o porto de Sines, pode ser a porta de entrada da China para a Europa”, concluiu.
Hoje Macau China / ÁsiaPequim adverte Washington sobre venda de armas a Taiwan [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China reiterou ontem a sua firme oposição à venda de armamento a Taiwan pelos Estados Unidos, face às informações de que Washington está a preparar um grande carregamento de armas para a ilha. “A China opõe-se firmemente à venda de armas a Taiwan pelos EUA. Isto é consistente e claro”, disse a porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros Hua Chunying, em conferência de imprensa. “Esperamos que o lado norte-americano reconheça plenamente a elevada sensibilidade e graves danos das suas vendas a Taiwan”, acrescentou. Hua apelou a Washington para que obedeça ao princípio “Uma só China” e “suspenda a venda de armas a Taiwan”, de forma a preservar as relações entre os dois países e a estabilidade no Estreito de Taiwan. Os comentários, feitos um dia após o secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, concluir uma visita oficial a Pequim, são uma reacção às informações veiculadas pela imprensa norte-americana de que a administração de Donald Trump prepara uma venda de larga escala de armamento a Taiwan. Pequim considera Taiwan uma província chinesa e defende a reunificação pacífica, mas ameaça usar a força caso a ilha declare independência. As relações voltaram a deteriorar-se após a tomada de posse em Taipé da Presidente Tsai Ing-wen, do Partido Democrata Progressista, que defende a independência do território. O amigo americano Os EUA são o aliado mais importante da ilha e o seu principal fornecedor de armas, apesar dos dois lados não terem relações diplomáticas, desde 1979. A vitória de Trump nas eleições norte-americanas suscitou a preocupação de que este utilize a questão de Taiwan como moeda de troca em disputas comerciais com Pequim. Trump chegou mesmo a aceitar uma chamada telefónica de Tsai, felicitando-o pela vitória nas eleições, e por várias vezes disse que poderia reconsiderar a política “Uma só China” – vista como uma garantia de que a ilha é parte da República Popular e não uma entidade política soberana. Após essa chamada, o Governo de São Tomé e Príncipe anunciou o corte das relações diplomáticas com Taipé e o reconhecimento da República Popular da China, numa decisão que a imprensa estatal chinesa disse ser um castigo para Tsai. Na semana passada, Taiwan reconheceu pela primeira vez publicamente que tem capacidade para lançar mísseis contra a China. Segundo Taipé, a China tem mais de 1.500 mísseis apontados para Taiwan.
Hoje Macau China / ÁsiaChina | Parceiros comerciais protestam contra novas medidas de inspecção de alimentos [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s parceiros comerciais da China vão trazer a Pequim o responsável máximo da ONU pelas normas alimentares, numa tentativa de persuadir as autoridades a recuar com um plano que visa reforçar o controlo sobre as importações alimentares. Segundo as medidas anunciadas por Pequim, que devem entrar em efeito em Outubro, todos os produtos alimentares – incluindo de baixo risco, como vinhos e chocolates – vão precisar de um certificado que prove que satisfazem os padrões de qualidade chineses. Outros países exigem apenas aquele certificado para importações de carne, lacticínios e outras mercadorias perecíveis. Europa e Estados Unidos consideram que as novas regras visam proteger os produtores chineses, em detrimento das suas exportações. A medida pode ainda agravar as tensões entre Pequim e a administração norte-americana de Donald Trump, que prometeu subir os impostos sobre as importações chinesas. A China é ainda um mercado cada vez mais importante para os produtos alimentares europeus, incluindo portugueses. Em 2015, o sector dos alimentares português foi o que mais aumentou as vendas para a China: 161,1%, em termos homólogos. Diplomatas e empresários estão apreensivos face às novas medidas. “Pode reduzir as importações de forma dramática”, afirmou o embaixador da Alemanha em Pequim, Michael Clauss, citado pela Associated Press. “Parece mais uma forma de proteger os produtores chineses do que os padrões de segurança alimentar”, disse. As regras vão acrescentar “uma complexidade de regulamentos desnecessária”, num período em que Pequim prometeu reduzir os regulamentos, afirmou Jake Parker, vice-presidente do Conselho Empresarial EUA-China, citado pela AP. Os reguladores chineses consideram que é necessário um reforço do controlo, à medida que as importações aumentam. As autoridades chinesas argumentam que a inspecção está de acordo com o Codex Alimentarius, as “regras para produtos alimentares” definidas pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura e a Organização Mundial de Saúde. O presidente do Conselho, Awilo Ochieng Pernet, um advogado suíço, vai estar em Pequim, em Abril, num seminário com funcionários chineses para explicar as normas, segundo fonte não identificada citada pela AP. Peso desnecessário Em Janeiro passado, os embaixadores dos EUA e vários países da União Europeia (UE) expressaram a sua preocupação numa carta enviada a Wang Yang, o vice-primeiro-ministro chinês encarregue da agricultura e comércio. Em comunicado, a delegação da UE na China afirmou também que exigir certificados sanitários para todos os produtos “não é cientificamente necessário”. As regras seriam um peso para as empresas estrangeiras e um desperdício de “recursos preciosos de inspecção, que deviam focar-se em produtos de risco”, acrescenta a mesma nota. As medidas surgem após uma série de escândalos alimentares envolvendo fornecedores chineses apanhados a vender produtos alimentares contrafeitos. Funcionários ocidentais dizem ainda que as novas regras visam também desresponsabilizar a Administração para Inspecção de Qualidade, Supervisão e Quarentena, que os consumidores chineses culpam pelas falhas na segurança alimentar.
Hoje Macau China / ÁsiaXi Jinping e Rex Tillerson prometem fortalecer laços entre os países [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente chinês Xi Jinping e o secretário de Estado norte-americano Rex Tillerson comprometeram-se este domingo, em Pequim, a trabalhar para fortalecer os laços entre os seus países. Xi e Tillerson encontraram-se horas depois de a Coreia do Norte ter lançado um ‘rocket’ e quando decorrem negociações para uma cimeira no próximo mês com Xi e Donald Trump, nos Estados Unidos. Xi disse a Tillerson que ele e Trump decidiram, num telefonema no mês passado, “fazer um esforço conjunto para desenvolver a cooperação China-Estados Unidos”. “Acreditamos que podemos garantir que a relação vai avançar de forma construtiva para uma nova era”, afirmou. “Estou confiante que, desde que consigamos fazer isto, a relação pode certamente avançar na direcção certa”, acrescentou o Presidente chinês. A caminho de Pequim, Tillerson visitou o Japão e a Coreia do Sul, onde declarou que Washington vai abandonar a estratégia “falhada” de paciência diplomática com Pyongyang, algo que pode desagradar à China. Na sexta-feira, Trump escreveu no Twitter que a China não está a fazer o suficiente para controlar o vizinho e aliado histórico norte-coreano. As relações com Pequim foram também postas à prova com a instalação de um sistema de defesa antimísseis na Coreia do Sul, a que a China se opõe. Ainda assim, Tillerson adoptou uma postura conciliatória: “Sabemos que através do diálogo chegaremos a uma melhor compreensão, que conduzirá a um reforço dos laços entre a China e os Estados Unidos e definirá o tom da nossa futura relação de cooperação”. Alta tensão Washington e Pequim concordaram ainda que a tensão na península coreana alcançou um nível “bastante perigoso” e comprometeram-se a fazer “todo o possível” para evitar um conflito, afirmou o secretário de Estado dos Estados unidos. “Penso que partilhamos a opinião de que as tensões na península são agora bastante elevadas e de que as coisas alcançaram um nível bastante perigoso”, afirmou Tillerson numa conferência de imprensa depois de se reunir com o ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi. “Comprometemo-nos a fazer tudo o que possamos para prevenir o rebentamento de qualquer conflito”, adiantou. Tillerson disse ainda que Washington e Pequim iriam trabalhar para ver se conseguiam convencer Pyongyang a corrigir o percurso a afastar-se do desenvolvimento das armas nucleares. O secretário de Estado dos Estados Unidos debateu com o Governo chinês uma nova estratégia para lidar com a Coreia do Norte, naquela que é a primeira visita ao país asiático de um membro do gabinete de Trump. Rex Tillerson chegou este sábado a Pequim proveniente da Coreia do Sul e do Japão, onde lembrou a necessidade de mudar a estratégia de Washington em relação a Pyongyang e assegurou que todas as “opções estão abertas”. Em outras escalas desta viagem à Ásia, o secretário de Estado defendeu um novo plano para fazer frente aos avanços norte-coreanos após os seus últimos ensaios, mas não deu quaisquer detalhes. Na sexta-feira, o secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson disse que uma acção militar dos Estados Unidos contra o regime de Pyongyang era “uma opção que está em cima da mesa”, após visitar a zona desmilitarizada que divide a península coreana. “Nós não queremos que as coisas cheguem a um conflito militar”, disse Tillerson, acrescentando que se a Coreia do Norte incrementar “as ameaças”, as opções passam a ser militares. “Se eles [Coreia do Norte] elevarem a ameaça através do programa de armamento a um nível que, acreditamos, pode obrigar a uma acção [militar], então essa opção fica em cima da mesa”, afirmou o secretário de Estado norte-americano.
Hoje Macau China / ÁsiaChina e Arábia Saudita com projectos até 60.500 milhões de euros [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China e a Arábia Saudita acordaram ontem estudar projectos conjuntos, em diferentes áreas, num valor total de 60.500 milhões de euros, durante a vista do rei Salman bin Abdulaziz a Pequim. O Presidente chinês, Xi Jinping, recebeu o monarca no Grande Palácio do Povo, numa visita em que ambos os lados estiveram acompanhados por uma larga comitiva empresarial e ministerial. Os dois líderes presidiram à assinatura de 14 memorandos de entendimento em várias áreas, desde o comércio, energia ou cultura, que poderão resultar em projectos no valor total de 60.500 milhões de euros, segundo o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Zhang Ming. Entre os acordos anunciados consta um memorando de entendimento entre a firma chinesa Norinco e a gigante da Arábia Saudita Aramco, a firma estatal que controla a indústria do petróleo no país. A petroquímica Sabic e a principal refinaria da China, a Sinopec, acordaram também estudar o desenvolvimento de projectos em ambos os países. “Xi e o rei Salman são velhos amigos. Têm uma relação muito boa”, destacou Zhang Ming. Alianças reforçadas A visita de três dias surge depois de Xi se ter deslocado no ano passado à Arábia Saudita, na primeira vista de Estado de um líder chinês ao Médio Oriente nos últimos sete anos. O rei Salman bin Abdulaziz Al Saud, 81 anos, aterrou na quarta-feira em Pequim, com uma comitiva composta por 1.000 pessoas, e já depois de ter estado no Japão, Malásia e Indonésia, parte de um périplo de um mês pela Ásia. A China tem procurado aproximar-se do Médio Oriente, enquanto a Arábia Saudita reforça as suas alianças no leste asiático, face à incerteza quanto à política externa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Pequim é um dos principais clientes do petróleo dos países do Médio Oriente, mas tradicionalmente opta por uma postura de não intervenção na região. Porém, desde que Xi ascendeu ao poder, em 2012, o país adoptou uma nova abordagem, que inclui mediar a discussão entre diferentes partes envolvidas no conflito sírio. O Presidente chinês lançou também a iniciativa Nova Rota da Seda, um plano que visa reforçar as rotas comerciais entre a China e a Europa, através da construção de estradas e linhas ferroviárias de alta-velocidades entre as duas regiões. “Esta visita irá impulsionar e continuar a melhorar a qualidade das nossas relações”, disse ontem Xi ao rei, no início do encontro entre os dois. A China é, desde 2015, o principal parceiro comercial da Arábia Saudita, que durante vários anos foi o principal fornecedor de petróleo do país asiático. É a primeira visita do monarca à China, desde que assumiu o trono, em 2015, após a morte do seu meio-irmão Abdullah.
Sofia Margarida Mota Eventos MancheteLiteratura | Yu Hua fala de livros, censura e influências Yu Hua é um dos principais nomes da literatura contemporânea chinesa. O autor, que oscila entre romances autorizados e ensaios proibidos na China Continental, não abdica da liberdade da escrita. Está em Macau para participar no Rota das Letras [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] autor de “Viver”, “A China em Dez Palavras” e “Crónicas de Um Vendedor de Sangue” está em Macau para participar no festival literário Rota das Letras. Conhecido pela sua escrita “violenta” que retrata essencialmente a sociedade ao tempo da Revolução Cultural, época em cresceu, Yu Hua tem no seu trabalho um retrato do absurdo. No entanto, não é um non-sense confinado ao contexto chinês. “Passa-se no Continente mas podemos ver o absurdo em todo o lado porque está na vida diária. A China é um exemplo e um país cheio de contradições”, referiu num encontro realizado ontem com a imprensa. Alvo de censura em várias obras, nomeadamente ensaios, o autor explica que “não há muitas preocupações quando em causa estão romances”. A razão, aponta, é que o trabalho de ficção pode incluir o uso de estratégias muito diferentes para expressar o que gostaria de dizer de forma explícita. Quando se trata de ensaios, como “A China em Dez Palavras”, que é proibido no Continente, a expressão é diferente. “Temos de dizer as coisas de forma directa”, assume. A proibição do livro, diz, não foi surpresa. “Mal escrevi a primeira palavra, ‘Povo’, em que falo do 4 de Junho em Tiananmen, sabia que aquele livro nunca seria publicado na China”, aponta. No entanto, continuou a escrever tendo em consideração o mercado de Taiwan e de Hong Kong. Para o autor, a atitude do Governo Central é “infantil”. Enquanto escritor, Yu Hua considera que o maior requisito é a independência seguida de sentido crítico. Actualmente, aponta, é mais fácil ser crítico. “Temos de admitir que o Governo Central é mais tolerante agora do que antes e conseguimos ouvir mais vozes críticas que podem ou não ser aceites”, diz, acrescentando que “o sentido de independência na escrita deve ser sempre prioritário à crítica”. Do esquecimento A Revolução Cultural é um tema transversal nos livros de Yu Hua, quase como se fosse uma inevitabilidade. “O meu período de estudos em criança apanhou a década da Revolução. O que passei naqueles anos influenciou o resto da vida, porque o pensamento acerca do mundo nasce das experiências tidas nesses anos e que, depois, vão sendo revisitadas”, explica. O facto de continuar dentro de histórias daquela altura é importante ainda hoje. Para Yu Hua, o problema que se levanta na actualidade é o facto de “os mais novos não saberem nada do que se passou na Revolução Cultural”. O autor sublinha que os tempos e acontecimentos que marcam a história recente da China estão a ser apagados e que é precisamente essa a intenção das autoridades. “O Governo Central é o primeiro a proibir a discussão das coisas. No ano passado, na altura do aniversário da Revolução, pensei que fosse feito algum festejo, mas tal não aconteceu, não vi nada. A informação na Internet acerca da Revolução Cultural estava completamente bloqueada”, ilustra. Yu Hua considera que o comportamento dos dirigentes, 50 anos depois, está a dar resultados porque “os jovens não sabem nada e nem se preocupam em saber”. Na sua opinião, a situação é perigosa e a história precisa de ser recordada para que se evitem repetições. “Hoje em dia, a Revolução Cultural aparece no dia-a-dia das pessoas como se fosse a dinastia Qing, está muito distante.” Ainda assim, entende que é um período da história da China que vai deixar um rasto para sempre. Kafka, salva-vidas Não é fácil escolher as obras que conseguiu ler durante a juventude e que lhe marcaram o rumo literário. Mas “havia uma cópia impressa de um livro de Alexandre Dumas, na altura banido”. As opções eram limitadas e só podia ler Lu Xun. Na altura era um autor de que não gostava. Obrigado o recitar o poeta chinês que não entendia, Lu Xun só mais tarde regressou à vida de Yu Hua e participou das suas referências fundamentais. Após os anos conturbados na década de 1950, deram entrada na China vários livros e com eles os “três mestres” de Yu Hua. “O meu primeiro professor foi o escritor japonês Yasunari Kawabata.” Com a leitura do autor nipónico, Yu Hua sentiu que se estava a afastar de si mesmo. “Mais tarde senti-me preso por ele, estava a imitá-lo e não estava a ser eu. Foi quando em 1996 encontrei Kafka. Salvou-me a vida”, recorda. Não é que tenha aprendido a escrever com o autor checo. Mais que isso, foi Kafka que ensinou a liberdade da escrita a Yu Hua. “Percebi que podia escrever o que me apetecesse. Kafka deu-me o direito e as asas da liberdade.” O terceiro professor foi William Faulkner, o autor que lhe “educou os sentimentos”. A literatura ocidental constitui o instrumento da sua escrita e, sem a sua presença, muitos dos seus livros nunca teriam existido, admite. Os clássicos são imperdíveis, até porque acompanham a escrita, mesmo que de forma subliminar. Tolstoi é um exemplo de referência. Yu Hu, apesar de ateu, não deixa de mencionar a Bíblia como referência maior porque, considera, “é o melhor livro do mundo”. Macau numa palavra Se Yu Hua escolhesse uma palavra para Macau, dentro da lógica do livro “A China em Dez Palavras”, seria a “ignorância”. O termo, explica, deve-se ao facto de não conhecer o território. No entanto, não deixa de anotar as mudanças, nem sempre muito positivas, que constata. Numa visita em 1996, recorda, Macau era mais limpo. “Lembro-me de passear de carro perto do mar e a água era limpa. Na altura, pensei que Macau fosse muito asseado”, diz. A ideia agora é outra. Sente-se a poluição e, “não estando como Pequim, aproxima-se desse estado”, lamenta.
Hoje Macau China / ÁsiaChina | Redução de poluição pode evitar três milhões de mortes prematuras [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China pode evitar três milhões de mortes prematuras em cada ano, se reduzir a poluição atmosférica para o nível recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), segundo um estudo publicado ontem na The British Medical Journal (BMJ). O estudo foi realizado por investigadores chineses, que estudaram os efeitos da poluição atmosférica sobre as mortes registadas em 38 grandes cidades do país, que têm uma população de 200 milhões de pessoas no total, entre Janeiro de 2010 e Junho de 2013. Durante este período, a concentração diária de partículas finas PM10, emitidas sobretudo pelo tráfego rodoviário, sistemas de aquecimento e agricultura) atingiu, em média os 92,9 microgramas (µg) por metro cúbico (m3) nas 38 cidades, com um máximo de 136 µg/m3 em Urumqi, situada no noroeste, e um mínimo de 66,9 µg/m3 em Qinhuangdao, 300 quilómetros a leste de Pequim. A OMS recomenda que o valor médio anual seja reduzido para os 20µg/m3, quando, na realidade, mais de 80% das pessoas que vivem nas cidades, à escala mundial, estão expostas a níveis de poluição que ultrapassam este limite. As partículas PM10 (cujo diâmetro é inferior a 10 microns) são particularmente perigosas, porque podem alojar-se nas vias respiratórias. Ao estudarem as 350 mil mortes ocorridas nas 38 cidades entre 2010 e 2013, os investigadores, dirigidos por Zhou Maigeng, do Centro de Controlo de Doenças de Pequim, descobriram que uma subida da concentração em PM10 de 10µg/m3 estava associada a um aumento do número diário de mortes na ordem dos 0,44%. Mais expostos A exposição às PM10 revelou-se particularmente mais nefasta para as mulheres e os adultos com mais de 60 anos, segundo o estudo. Teve também um impacto mais importante sobre as doenças cardiovasculares, com um aumento das mortes em 0,62% por cada aumento das PM10 em 10µg/m3, enquanto nas outras patologias a subida foi só de 0,26%. Os investigadores chegaram ao número de três milhões de mortes prematuras que se poderiam evitar cada ano na China fazendo um “cálculo básico”, baseado designadamente numa população chinesa de 1,33 mil milhões de habitantes. Mas sublinharam que este número está subestimado, “porque o efeito da poluição atmosférica pode ser mais importante nas zonas rurais (que não fruam estudadas) e porque as PM10 têm um efeito sobretudo no longo prazo”.
Hoje Macau PolíticaPequim | Associação quer eleição directa dos representantes de Macau A Associação Poder do Povo entrega hoje no Gabinete de Ligação do Governo Central uma carta em que defende o sufrágio directo para a eleição dos representantes de Macau junto da Assembleia Popular Nacional e da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês. É ainda pedida a abertura das fronteiras durante 24 horas [dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]alam de falta de representação e pedem, por isso, uma mudança. A carta que a Associação Poder do Povo vai hoje entregar junto do Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM, endereçada a Zhang Dejiang, exige mudanças profundas na forma como os deputados por Macau à Assembleia Popular Nacional (APN) e delegados da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC) são escolhidos. Na visão da associação, os representantes da RAEM nestes órgãos não representam a população chinesa de Macau, pelo facto de não terem sido eleitos directamente pelos residentes. A Poder do Povo alerta ainda para o facto de não se saber como é que foi realizada a eleição dos representantes. A entidade fala ainda do exemplo do interior da China, que elegeu representantes oriundos das classes baixas para a APN, que foram escolhidos por cidadãos que vivem em aldeias. Assim, a Poder do Povo acredita que também os locais devem ter o direito de votar nos seus representantes. Cheong Weng Fat, vice-presidente da Poder do Povo, defendeu ao HM que há uma falta de representatividade. “Os deputados expressam as suas vozes mas não representam as vozes dos cidadãos. Muitos dizem que desconhecem notícias sobre a APN ou o CCPPC, pelo que esperamos que um dia se possa eleger estes representantes através do sistema ‘uma pessoa, um voto’”, explicou. Em comunicado, a Poder do Povo afirma que a população do Continente dá importância à APN e à CCPPC, pelo facto de ter expectativas de uma representatividade das suas preocupações e anseios, e também para que haja uma maior fiscalização dos trabalhos do Governo. Fronteiras a toda a hora A carta da Poder do Povo surge numa altura em que os deputados da APN estão reunidos em Pequim. A representar Macau estão oito deputados, incluindo o secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong. São eleitos por um colégio eleitoral. A associação pede, por isso, que se instalem vários postos no território para recolha de opiniões, para que sejam entregues junto dos governantes em Pequim. A Poder do Povo pede ainda que seja disponibilizado o acesso de 24 horas na fronteira das Portas do Cerco, uma medida que poderia facilitar a vida das pessoas que circulam com frequência entre Macau e a China.
Hoje Macau China / ÁsiaXi Jinping quer exército a modernizar-se tecnologicamente [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, instou as Forças Armadas do país a aproveitar o desenvolvimento tecnológico da China para modernizar o seu equipamento e integrar-se mais com o sector civil. Segundo avançou ontem a imprensa oficial, o líder chinês fez estas declarações no domingo, ao reunir-se com delegados do exército na Assembleia Nacional Popular, o órgão máximo legislativo da China. O exército deve aproveitar os êxitos alcançados pela China na ciência e tecnologia para actualizar as suas armas e equipamento e os militares devem melhorar a sua formação e treino para incluir estas matérias e serem mais profissionais, afirmou. Xi Jinping disse ainda que as tecnologias militares e civis estão cada vez mais conectadas. O Presidente chinês pediu aos militares que façam pleno uso das tecnologias civis, visando a modernização do exército, e que facilitem a transferência das inovações de origem militar para as empresas para que possam ter uma utilidade mais prática. Nesse sentido, o chefe de Estado chinês apelou à eliminação de barreiras institucionais e dos grupos de interesse que travam essa integração entre a sociedade e o exército. Processo em curso As Forças Armadas chinesas atravessam um processo de reforma, que arrancou há dois anos, e que visa modernizar a organização e reduzir o número de efectivos em 300.000, para dois milhões, até ao final deste ano. Parte dessa remodelação inclui uma maior integração entre os sectores civil e militar, para a qual foi criada uma comissão específica em Janeiro, presidida por Xi. A China vai aumentar em 7% os gastos com a Defesa este ano, para 151.000 milhões de dólares, o ritmo mais lento desde 1991, revelou o Governo na semana passada. O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, disse que as defesas aérea e marítima serão reforçadas, assim como os controlos fronteiriços, visando salvaguardar o interesse e segurança nacionais. Segundo avança ontem o jornal de Hong Kong South China Morning Post, o exército chinês planeia quintuplicar o seu corpo de marinheiros, de 20.000 para 100.000 efectivos, para proteger os crescentes interesses do país além-fronteiras.
Hoje Macau China / ÁsiaIdosos chineses vivem mais mas são menos aptos [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] número de pessoas na China com mais de oitenta anos tem vindo a aumentar, mas a sua saúde física e mental está a deteriorar-se, segundo um estudo publicado ontem pela revista médica The Lancet. A pesquisa compara dados recolhidos entre 1998 e 2008 com quase 20.000 entrevistados, cuja faixa etária se situa entre os 80 e os 105 anos. Entre os octogenários e nonagenários, a taxa de mortalidade caiu quase um por cento ao longo daquela década. Já entre os idosos com mais de cem anos registou-se uma queda de três por cento no número de mortes. A percentagem de população com idade superior a oitenta anos é a que mais tem aumentado no país. Ao mesmo tempo, as suas funções físicas e cognitivas têm-se vindo a deteriorar. Tarefas simples, como levantar de uma cadeira ou apanhar um livro do chão, tornaram-se mais difíceis de fazer, enquanto os resultados em testes de memória pioraram. “Isto tem implicações claras para as políticas adoptadas pelos sistemas de saúde e de segurança social, não só na China, mas também globalmente”, concluíram os autores do estudo. “Muitos mais programas subsidiados pelo Estado, ou privados, e empresas, são necessários para prestar serviços que satisfaçam as necessidades da população idosa em rápido crescimento”, especialmente aqueles com mais de 80 anos, indica a publicação. Já os inquiridos em 2008 demonstraram menores dificuldades em executarem actividades diárias – como comer, vestir ou tomar banho – do que aqueles que participaram do estudo em 1998. Novo tempo O grupo de cientistas, liderado por Yi Zeng, professor da Escola Nacional de Desenvolvimento da Universidade de Pequim, justificou aquele fenómeno com a maior comodidade e melhoria dos instrumentos utilizados hoje. Os resultados ilustram o braço-de-ferro entre duas abordagens diferentes em como lidar com o envelhecimento da população. Uma valoriza a longevidade, enquanto outra sugere que, apesar de terem uma vida mais longa, os idosos vivem com problemas crónicos de saúde. O novo estudo diz que os governos terão de se adaptar ao novo cenário. “Os resultados fornecem um aviso claro para as sociedades com populações envelhecidas”, disse Yi, num comunicado. “Apesar do tempo de vida estar a aumentar, outros factores da saúde estão ambos a melhorar e a piorar, levando a uma variedade de necessidades de assistência social e de saúde entre a população mais idosa”, acrescentou.
Hoje Macau China / ÁsiaTaiwan | Detido ex-estudante chinês por espionagem “Foram registados 55 casos de espionagem desde 2008, mas esse número é só a ponta do iceberg… A China enviou numerosos agentes para infiltrar a nossa sociedade e governo”, disse um investigador do Ministério Público citado pelo jornal Taipei Times [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] primeira detenção em Taiwan de um cidadão chinês, que estudou na ilha até há poucos meses, desencadeou novas tensões com a China e o endurecimento da luta contra-espionagem em Taiwan. Zhou Hungxu, de 29 anos e antigo estudante das universidades taiwanesas de Tamkang e Chengchi desde 2009 até Julho de 2016, foi detido e acusado de espionagem na sexta-feira, encontrando-se incomunicável, segundo um tribunal de Taipé. Zhou voltou a Taiwan no mês passado com um visto de “investimentos e negócios” para trabalhar numa empresa de Taipé e na sua página de Facebook, que conta com mais de 1.400 amigos, podem ver-se numerosas fotografias em diversos locais de Taiwan e variados tipos de eventos. Os investigadores taiwaneses dizem que Zhou ofereceu a um diplomata taiwanês dinheiro e uma viagem com tudo pago ao Japão em troca de informação classificada, que devia entregar nesse país a um contacto chinês. O Ministério Público de Taiwan afirma que Zhou trabalha para o Gabinete de Assuntos de Taiwan do Conselho de Estado da China, que o enviou para a ilha para fazer contactos e estabelecer uma rede de espionagem de estudantes e funcionários. “Foram registados 55 casos de espionagem desde 2008, mas esse número é só a ponta do iceberg… A China enviou numerosos agentes para infiltrar a nossa sociedade e governo”, disse um investigador do Ministério Público citado pelo jornal Taipei Times. A primeira vez Zhou é o primeiro chinês que estudou em Taiwan a ser acusado de espionagem, um caso que desencadeou alerta no governo, já que na ilha há mais de 36.000 estudantes chineses e o território é visitado anualmente por mais de três milhões de turistas daquele país. Na maioria dos casos, os acusados em Taiwan de espionagem a favor da China são oficiais ou ex-oficiais da Defesa ou Serviços Secretos da ilha. O primeiro-ministro taiwanês, Lin Chuan, apelou na sexta-feira a “tomar medidas preventivas” para lutar contra a alegada espionagem chinesa, incluindo “a criação de um sistema de defesa” específico. Pequim considera Taiwan uma província chinesa e defende a “reunificação pacífica”, mas ameaça “usar a força” caso a ilha declare independência.
Hoje Macau China / ÁsiaComércio com países de língua portuguesa subiu 33 por cento em Janeiro [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s trocas comerciais entre a China e os países de língua portuguesa recuperaram em Janeiro, aumentando 33,47% em termos anuais homólogos para 8,21 mil milhões de dólares, indicam dados oficiais. Dados dos Serviços de Alfândega da China publicados ontem no portal do Fórum Macau indicam que a China comprou aos países de língua portuguesa bens avaliados em 5,26 mil milhões de dólares em Janeiro – mais 38,26% – e vendeu produtos no valor de 2,95 mil milhões de dólares – mais 25,71% face ao período homólogo do ano passado. Os dados relativos a Janeiro revelam uma recuperação, depois de 2016 ter marcado o segundo ano consecutivo de declínio do comércio sino-lusófono (-7,72%), após uma diminuição de 25,73% em 2015 naquele que foi o primeiro recuo desde 2009. O Brasil manteve-se como o principal parceiro económico da China, com o volume das trocas comerciais bilaterais a cifrar-se em 5,59 mil milhões de dólares, valor que traduz um aumento de 26,69% face a Janeiro do ano passado. As exportações da China para o Brasil atingiram 2,39 mil milhões de dólares, reflectindo uma subida de 42,12%, enquanto as importações chinesas totalizaram 3,20 mil milhões de dólares, mais 17,21% em termos anuais homólogos. Com Angola, o segundo parceiro chinês no universo da lusofonia, as trocas comerciais deram um ‘pulo’ de 84,09%, atingindo 2,02 mil milhões de dólares. Pequim vendeu a Luanda produtos avaliados em 167,2 milhões de dólares – mais 6,67% – e comprou mercadorias avaliadas em 1,85 mil milhões de dólares – ou seja, quase o dobro em termos anuais homólogos (+96,94%). De bronze Já com Portugal – terceiro parceiro da China no universo de países de língua portuguesa –, o comércio bilateral foi de 407,1 milhões de dólares – menos 17,69% –, numa balança comercial favorável a Pequim que vendeu a Lisboa bens na ordem de 259,8 milhões de dólares – menos 37,05% – e comprou produtos avaliados em 147,2 milhões de dólares, mais 79,2% face a Janeiro do ano passado. Os dados divulgados incluem – como sempre incluíram – São Tomé e Príncipe, apesar das relações diplomáticas que mantinha com Taiwan e de não participar no Fórum Macau. A 20 de Dezembro, o Governo são-tomense anunciou o corte com Taiwan e, dias depois a China anunciou o estabelecimento de laços diplomáticos com São Tomé e Príncipe. Na sequência disso, o Gabinete de Apoio ao Secretariado Permanente do Fórum Macau afirmou ter uma “atitude aberta” quanto à participação de São Tomé e Príncipe no Fórum Macau. A China estabeleceu a Região Administrativa Especial de Macau como a sua plataforma para o reforço da cooperação económica e comercial com os países de língua portuguesa em 2003, ano em que criou o Fórum Macau, que reúne a nível ministerial de três em três anos. A quinta conferência decorreu em Macau entre 11 e 12 de Outubro com a presença de cinco primeiros-ministros (da China, Portugal, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Moçambique), naquela que foi a representação de mais alto nível de sempre. Angola, Brasil e Timor-Leste fizeram-se representar por ministros.
Hoje Macau China / ÁsiaConcedida aprovação preliminar a 38 marcas do grupo Trump [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China concedeu aprovação preliminar a 38 marcas do grupo Trump, suscitando preocupações de que o Presidente norte-americano, Donald Trump, esteja a receber tratamento especial do Governo chinês, no que constituiria um conflito de interesses. O registo daquelas marcas permite ao grupo Trump abrir spas, casas de massagens, clubes de golfe, hotéis e até serviços privados de segurança. Os advogados de Trump na China solicitaram o registo da marca em Abril de 2016, enquanto o magnata atacava, em comícios políticos, o país asiático por manipulação da moeda e tirar postos de trabalho aos Estados Unidos. Os críticos dizem que os interesses globais de propriedade intelectual de Trump poderão ser usados por países estrangeiros como forma de o influenciar. Além disso, violam a cláusula da Constituição norte-americana que proíbe os funcionários públicos de aceitarem presentes de valor de governos estrangeiros, a não ser quando aprovado pelo Congresso. Trump disse que não fará negócios com o exterior enquanto estiver na Casa Branca. A Administração de Marcas da China publicou a aprovação provisória esta semana e, se não houver objecções, as marcas serão formalmente registadas ao fim de noventa dias. Em Fevereiro passado, o país asiático concedeu ao Presidente dos Estados Unidos o uso comercial do seu próprio nome para serviços no sector da construção. Custou mas foi O registo estava pendente há mais de uma década e ocorreu após várias tentativas falhadas de assegurar os direitos sob o seu nome. Na China, os tribunais estão subordinados ao poder político, que está concentrado no Partido Comunista, partido único no poder. Alan Garten, director jurídico da Organização Trump, afirmou que o grupo tem vindo a reforçar os seus direitos de propriedade intelectual na China desde há mais de dez anos e que registou a sua marca para o sector imobiliário muito antes do magnata anunciar a sua candidatura. “A conclusão recente do processo de registo é o resultado natural desses esforços constantes e empenhados”, disse. “Qualquer sugestão contrária demonstra um completo desprezo pelos factos, assim como uma falta de entendimento sobre as leis internacionais de registo de marcas”, acrescentou, citado pela AP. No entanto, Richard Painter, chefe da Casa Branca para questões de ética durante o mandato de George W. Bush, considera que o volume de novas aprovações pelas autoridades chinesas é motivo de alerta. “O registo de uma patente, marca ou direitos de autor por um Governo estrangeiro não é, à partida, inconstitucional, mas com tantos registos a serem concedidos dentro de um período tão curto de tempo, a questão é se não existirá uma ingerência em pelo menos alguns deles”, afirmou.
Hoje Macau China / ÁsiaGoverno chinês critica situação dos direitos humanos nos EUA [dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]equim criticou ontem a violência policial, descriminação racial e natureza hipócrita da democracia nos Estados Unidos, em resposta às acusações à China no relatório anual de direitos humanos do Departamento de Estado norte-americano. “[os EUA] apontam o dedo e acusam a situação dos direitos humanos em muitos países, enquanto negligenciam os seus próprios terríveis problemas”, aponta o relatório publicado ontem pelo Conselho de Estado chinês. O “Relatório sobre os Direitos Humanos nos Estados Unidos em 2016”, difundido pela agência oficial Xinhua, denuncia o papel do dinheiro na política norte-americana e acusa a eleição presidencial nos EUA de estar “cheia de mentiras e farsas”. O documento, que recolhe dados sobretudo a partir de órgãos de comunicação dos EUA, afirma ainda que a imprensa norte-americana não fez uma cobertura objectiva e imparcial das eleições presidenciais, sublinhando que a taxa de abstenção destas foi a mais alta dos últimos vinte anos. E aponta ainda que o país tem a segunda taxa mais alta prisional no mundo – 693 prisioneiros por cada 100.000 habitantes. Crimes e desigualdades Citando estatísticas do FBI, Pequim salienta que, em 2015 registaram-se nos EUA mais de um milhão de crimes violentos, entre os quais 63,8% foram agressões agravadas, 27,3% assaltos, 7,5% violações e 1,3% homicídios. Segundo a China, em 2016 as desigualdades sociais acentuaram-se nos EUA, com a proporção de adultos com trabalho a tempo inteiro a atingir a proporção mais baixa desde 1983. O relatório destaca que, ajustado à inflação, o salário do trabalhador norte-americano está estagnado há 50 anos, enquanto a percentagem de pessoas nos EUA que faz parte da classe média caiu de 61%, em 2008, para 51%, em 2016. “Um em cada sete norte-americanos, ou pelo menos 45 milhões de pessoas, vive em pobreza”, aponta o documento, citando o jornal Daily Mail. A questão dos direitos humanos é uma fonte de persistente tensão entre o governo chinês e os países mais ricos, sobretudo na Europa e na América do Norte, que tendem a enfatizar a importância das liberdades políticas individuais. Para as autoridades chinesas, “o direito ao desenvolvimento é o mais importante dos direitos humanos” e o “papel dirigente” do Partido Comunista, no poder desde 1949, é “um principio cardial”. Desde a ascensão ao poder do Presidente chinês, Xi Jinping, em 2012, as autoridades prenderam dezenas de activistas dos Direitos Humanos, acusados de subversão do poder do Estado ou perturbação da ordem social.
Isabel Castro China / Ásia MancheteChina | Diplomacia de Pequim quer contribuir para acalmar crises regionais Diálogo com os Estados Unidos, uma possível visita de Xi Jinping a Washington, menos fricção no Mar do Sul da China, evitar o pior na península da Coreia. O ministro dos Negócios Estrangeiros da China falou ontem aos jornalistas. Wang Yi faz um apelo à calma, mas não deixa de apontar o dedo aos culpados [dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]êm todos culpa: a Coreia do Norte, porque não desiste das suas intenções nucleares, e a aliança liderada pelos Estados Unidos que, ao promover ensaios militares na região, contribui para a escalada da tensão na península. A ideia foi deixada ontem pelo ministro dos Negócios Estrangeiros da China. Wang Yi encontrou-se com os jornalistas, durante as reuniões da Assembleia Popular Nacional e da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês. O diplomata deixou um apelo às partes envolvidas, pedindo para que refreiem os seus ímpetos, de modo a que se evite uma crise ainda maior. A situação na península, comparou Wang Yi, “é como dois comboios a acelerar, a irem de encontro um ao outro, sem que nenhum deles esteja disposto a ceder a passagem”. O chefe da diplomacia chinesa reconhece que os mais recentes testes de mísseis levados a cabo por Pyongyang “ignoram a oposição da comunidade internacional”, mas diz também que os exercícios militares conjuntos dos Estados Unidos e da Coreia do Sul vieram acrescentar pressão ao regime de Kim Jong-un. Para Wang Yi, há apenas uma solução para o conflito: a Coreia do Norte tem de suspender as suas actividades bélicas, e Washington e Seul devem cancelar as simulações em grande escala que realizam com frequência. “As armas nucleares não vão trazer segurança”, sublinhou. “O recurso à força não é solução”, disse também, defendendo que a tensão pode ser diminuída se houver uma “resolução das preocupações de ambas as partes feita de forma recíproca”. À baila veio ainda o reatamento das negociações a seis. Pequim quer voltar a sentar-se à mesa com a Coreia do Norte, com os Estados Unidos e com os restantes países que, entre 2003 e 2009, tentaram convencer Pyongyang a abandonar o programa nuclear do país. As conversações estão suspensas por iniciativa do regime comandado por Kim Jong-un. A China é o principal aliado de Pyongyang, apesar de a relação entre os vizinhos ter sofrido alterações nos últimos tempos. No mês passado, o Governo Central suspendeu todas as importações de carvão da Coreia do Norte até ao final do ano, terminando temporariamente com uma importante fonte de divisas estrangeiras para o empobrecido país. Teoria da aceitação Ainda no que toca às pastas regionais, Wang Yi deixou algumas ideias sobre a relação de Pequim e Tóquio. O mais alto representante da diplomacia chinesa entende que o Japão tem de ultrapassar a sua ansiedade em relação à China, enfrentar o facto de o vizinho ter hoje uma nova dinâmica e dar passos concretos para a melhoria das relações, em vez de andar para trás. Recordando que este ano fica marcado pelo 45.o aniversário da normalização das relações diplomáticas sino-japonesas, o ministro pediu a Tóquio que aprenda com as lições do passado – com os resultados do expansionismo militar – e que deixe de se preocupar com o crescimento da China em termos internacionais. Neste discurso de aparente conciliação não faltou, no entanto, o factor “culpa”, com Wang Yi a acusar o Japão de prolongar o clima de tensão entre os dois países e a garantir que Pequim tentou sempre que as conversações bilaterais fossem retomadas. “A chave [do problema] é o Japão adoptar a forma correcta de pensar e aceitar a realidade do crescimento da China”, vincou. O ministro dos Negócios Estrangeiros culpa ainda Tóquio e Seul pelo adiamento do encontro trilateral. “Temos de lidar bem com as questões que estão a impedir o desenvolvimento saudável das nossas relações de modo a que se possa assegurar o encontro entre líderes”, comentou. Há muito que as relações da segunda e terceira economias mundiais estão ensombradas. Às feridas por cicatrizar que ainda restam dos conflitos bélicos de meados do século passado juntaram-se, mais recentemente, as disputas territoriais no Mar do Sul da China. A este propósito, Wang Yi defendeu que a situação acalmou “visivelmente” desde a decisão do tribunal internacional em Julho. Destacou que Pequim e os vizinhos fizeram progressos para a elaboração de um código de conduta, sendo que o primeiro rascunho foi concluído recentemente. Ainda no que diz respeito a assuntos marítimos, o diplomata deixou um aviso que é entendido como dirigido aos Estados Unidos, apesar de não ter identificado directamente o destinatário. “Se alguém está a tentar fazer ondas [no Mar do Sul da China], não terá apoio e encontrará a oposição de todas as partes envolvidas”, declarou, assegurando que Pequim não vai autorizar atentados à paz e à estabilidade na região. Rodrigo Duterte não foi esquecido durante a conferência de imprensa, com Wang Yi a elogiar a postura do Presidente das Filipinas nos processos que envolvem conflitos territoriais. A reviravolta nas relações entre os dois países vai beneficiar as duas partes, assim como a região, salientou. Friends, pengyou Já a fechar a conferência de imprensa, o ministro dos Negócios Estrangeiros foi confrontado com a possibilidade de o Presidente Xi Jinping ir aos Estados Unidos ainda durante 2017. “Vai haver boas notícias este ano”, disse apenas. Uma hora antes desta resposta, o chefe da diplomacia chinesa tinha dado a entender que o anunciado encontro entre Xi Jinping e o homólogo Donald Trump já está a ser coordenado. “Estamos a ter uma comunicação produtiva para que haja um encontro entre os nossos dois presidentes, bem como a outros níveis”, afirmou, acrescentando que a conversa dos chefes de Estado ao telefone, mantida no mês passado, permitiu criar condições para laços estáveis. Não obstante, Wang Yi defendeu que as duas nações têm de ser capazes de ultrapassar as suas diferenças para que a relação seja “madura”. “Os nossos interesses estão intimamente interligados. É impossível construir o sucesso de um às custas do outro.” O diplomata fez uma referência positiva ao novo secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, que conheceu no encontro de ministros dos negócios estrangeiros do G20 no mês passado, dizendo que é “um bom ouvinte e comunicador”. Por isso, espera – e diz acreditar – que seja possível construírem uma boa relação de trabalho. Mediador disponível Noutros temas internacionais na ordem do dia, destaque para a visita iminente do rei Salman bin Abdulaziz al Saud da Arábia Saudita. Wang Yi diz que a China recebe com agrado o monarca, até porque está disposta a desempenhar “o papel necessário” no processo de paz do Médio Oriente. A luta contra o terrorismo, a conquista de resoluções políticas e a manutenção das Nações Unidas à frente do processo são, para Pequim, três “princípios indispensáveis” que não podem ser abandonados no Médio Oriente. “Existem riscos de que a turbulência possa aumentar, mas também existe esperança de paz”, apontou Wang Yi. O ministro dos Negócios Estrangeiros apontou o acordo nuclear com o Irão como um exemplo da capacidade política de negociação, um conceito que deve ser colocado em prática sempre que possível. Pequim mostra-se disponível para mediar as negociações para a paz entre a Palestina e Israel. Wang Yi disse também que a China espera que a Arábia Saudita e o Irão possam resolver os problemas que têm através de um diálogo amigável e justo. “Como amigos de ambos os lados, estamos disponíveis para desempenhar o papel necessário se assim for preciso”, garantiu. Europa única Houve ainda tempo para se falar do Brexit e da Europa. A China diz que vai continuar a apoiar a integração europeia independentemente do que o Reino Unido pretenda fazer em relação. O chefe da diplomacia de Pequim explicou que gostaria de ver uma Europa mais unida, mais estável e mais próspera. “Acreditamos que os desafios com que a União Europeia se depara podem ser uma oportunidade para que se torne mais madura”, defendeu. “Nós valorizamos a importância estratégica e o papel da Europa.”
Hoje Macau China / ÁsiaChina | Gastos militares com menor aumento do último quarto de século [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China vai aumentar em sete por cento os gastos com a Defesa, este ano, para 151.000 milhões de dólares, o ritmo mais lento desde 1991, seguindo a tendência de desaceleração do crescimento económico. O orçamento para a Defesa é normalmente incluído nos documentos tornados públicos durante a abertura da sessão anual da Assembleia Nacional Popular (ANP), o órgão máximo legislativo da China. Este ano, porém, Pequim ocultou o número exacto, suscitando preocupações sobre a transparência das despesas militares da China. Mas, segundo avançou ontem a agência Bloomberg, que cita um responsável do ministério das Finanças chinês, o orçamento da Defesa para 2017 vai fixar-se em 1.044 biliões de yuan (142.000 milhões de euros). O Governo não detalhou porque o número não foi divulgado na abertura da reunião da ANP, no domingo, como é habitual. “Não mantivemos o valor privado deliberadamente”, disse o funcionário do ministério, citado pela Bloomberg. Na semana passada, o Presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou planos para aumentar os gastos com a defesa em cerca de dez porcento. O exército dos EUA continua a ser o mais poderoso e com o maior orçamento do mundo, num valor superior 566.000 milhões de euros. Ganhar terreno A China tem vindo a modernizar as suas forças armadas, à medida que procura elevar a sua influência militar ao nível do seu poder económico e adopta uma postura assertiva em territórios cuja soberania disputa com países vizinhos. O orçamento da Defesa chinês registou aumentos de dois dígitos durante vários anos, até 2016, quando subiu 7,6%. Analistas consideram, porém, que os números oficiais são inferiores aos gastos reais. Um relatório do Pentágono difundido no ano passado indica que os gastos superam o valor oficial em dezenas de milhares de milhões de dólares. “A falta de transparência [da China] com a sua crescente capacidade militar e decisões estratégicas continuam a aumentar as tensões e levaram os países na região a reforçar os seus laços com os Estados Unidos”, indica o relatório. Fu Ying, a porta-voz da ANP, afirmou no sábado que os futuros gastos de Pequim com o exército vão depender das movimentações de Washington na Ásia. “Precisamos de nos proteger contra a interferência externa nas disputas territoriais”, disse. Nos últimos anos, o país asiático adoptou uma política assertiva no Mar do Sul da China, que inclui a construção de ilhas artificiais capazes de receber instalações militares em arquipélagos disputados pelos países vizinhos. Os EUA acusam Pequim de ameaçar a liberdade de navegação na região, uma via marítima estratégica pela qual passa um terço do petróleo negociado internacionalmente, e enviam regularmente navios e aviões militares para as proximidades das ilhas. Fu Ying lembrou que o poder militar chinês continua a ser modesto, face ao dos EUA, e que as preocupações com a força bélica do país são injustificadas. “A China nunca causou danos a ninguém, a nenhum país”, disse.
Hoje Macau China / ÁsiaEncerrado sistema que fez sair sete mil milhões de euros para fora do país [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] China anunciou ontem ter encerrado um sistema que transferiu ilegalmente 6,8 mil milhões de euros para fora do país, numa altura em que Pequim tenta travar a fuga de capitais. Em comunicado, a Administração Estatal de Divisas da China anunciou ter investigado seis empresas com sede em Shenzhen, no sul do país. Outras firmas terão usado documentos falsos ou falsificado compras ao exterior como forma de transferir dinheiro para fora do país, revelou o regulador. Entre os métodos utilizados consta ainda a transferência de grandes montantes através de várias pequenas transferências, visando despistar as autoridades. O regulador chinês disse que este ano vai “fortalecer a supervisão do mercado de troca de divisas e atacar seriamente as violações das regras do câmbio, como forma de proteger a balança de pagamentos da China com o exterior”. “Ao mesmo tempo, vamos aumentar a transparência das políticas e promover a abertura dos mercados financeiros ao exterior”, acrescentou. Ser racional No ano passado, o aumento do investimento chinês além-fronteiras, procurando melhores retornos, levou Pequim a criticar o que designa de investimento “irracional” e a adoptar uma série de restrições à transferência de dinheiro para o exterior, face à fuga de capitais, abrandamento do crescimento económico e queda do valor do yuan. Em Portugal, o país asiático tornou-se, nos últimos anos, um dos principais investidores, comprando participações nas áreas da energia, seguros, saúde e banca. Em Janeiro passado, no entanto, o Banco de Portugal escolheu o fundo norte-americano Lone Star para negociar a compra do Novo Banco, em detrimento do fundo chinês China Minsheng Financial Holding. Apesar de ter a melhor proposta financeira, o Minsheng não apresentou provas de que conseguiria pagar o montante oferecido, devido às restrições nas transferências de divisas para fora da China. As reservas cambiais do país asiático, as maiores do mundo, caíram consecutivamente nos últimos sete meses, à medida que o banco central chinês gastou entre 40.000 e 60.000 milhões de dólares para aumentar o valor da moeda chinesa, o yuan. Em janeiro, as reservas chinesas caíram para o valor mais baixo em seis anos, ao atingir 2,99 biliões de dólares (2,82 biliões de euros), uma queda de 992 mil milhões de dólares (937 mil milhões de euros), comparativamente ao valor máximo de 3,99 biliões de dólares, atingido em unho de 2014.
Hoje Macau China / ÁsiaÁsia tem de gastar 26 biliões de dólares em infra-estruturas até 2030 [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s nações asiáticas têm de gastar 26 biliões de dólares em infra-estruturas até 2030 para combater a pobreza, os efeitos das alterações climáticas e impulsionar o crescimento económico, aponta um relatório do Banco Asiático de Desenvolvimento (BAD) ontem divulgado. No seu relatório apresentado ontem em Hong Kong, o BAD, instituição com sede em Manila, afirma que os governos de alguns dos países mais pobres do mundo que devem investir em quase todas as áreas, desde transportes, a telecomunicações, passando pelo saneamento e fornecimento de electricidade e de água. Os especialistas do BAD instam os legisladores da Ásia a duplicar a actual despesa em infra-estruturas, que se situa aproximadamente em 881.000 milhões de dólares por ano. “A procura de infra-estruturas ao longo da Ásia e no Pacífico excede em muito a actual oferta”, afirmou o presidente do BAD, Takehiko Nakao, em comunicado. Em falta A Ásia é uma das regiões economicamente mais dinâmicas do planeta, mas também é ‘casa’ de 400 milhões de pessoas que vivem sem electricidade, de 300 milhões que carecem de água potável e de 1.500 milhões que não têm acesso a saneamento básico, segundo os dados do BAD. Além disso, muitos países precisam de portos, caminhos-de-ferro e estradas adequadas que permitir ligar os seus territórios de forma eficiente, observa o BAD no relatório. Em concreto, o banco estima que, até 2030, nos países asiáticos em desenvolvimento falta investir 14,7 biliões de dólares em electricidade, 8,4 biliões em transportes, 2,3 biliões em telecomunicações e 0,8 biliões em instalações sanitárias. Os 1,7 biliões por ano que o BAD aconselha que sejam investidos até 2030 no seu mais recente relatório representam mais do dobro do que o calculado no anterior relatório do tipo que elaborou, em 2009, para o período 2010-2020, altura em que instava a investimentos na ordem dos 750.000 milhões de dólares por ano. Os especialistas da instituição atribuem essa diferença, por um lado, ao aumento do número de países incluídos no relatório – dado que o de 2009 referia 32 e o deste ano abarca todos os 45 países em desenvolvimento da Ásia e Pacífico e, por outro, ao aumento dos preços que se verificou desde então.
Hoje Macau China / ÁsiaSeguros | Detentor de quarta maior fortuna do país expulso da indústria [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Comissão Reguladora de Seguradoras da China expulsou da indústria por dez anos Yao Zhenhua, quarta maior fortuna do país, por cometer irregularidades na compra de acções do gigante imobiliário Vanke, informou sábado a imprensa oficial. Yao, fundador do conglomerado financeiro Baoneng, facultou informação falsa para ser autorizado a aumentar o capital da sua filial seguradora Foresea Life, uma operação com a qual financiou a aquisição de títulos da Vanke, segundo a imprensa oficial chinesa. Após uma investigação, o regulador chinês concluiu que a Foresea Life não utilizou fundos dos seus accionistas, como afirmado na altura, para o aumento de capital em Novembro de 2015 o que permitiu que se tornasse no sócio maioritário na Vanke e desencadeou uma luta pelo controlo da imobiliária. A comissão responsabilizou directamente Yao por essa informação errónea, decidindo retirá-lo da presidência da Foresea Life e proibiu-o de participar no sector dos seguros durante a próxima década. O regulador dos seguros da China anunciou também que, a partir de agora, irá oferecer aconselhamento para “melhorar” a gestão da Foresea Life, uma empresa que já puniu, em Dezembro, pela sua implicação na disputa pelo controlo da Vanke. Fim de ciclo A suspensão da indústria seguradora trava a ascensão no mundo empresarial chinês de Yao Zhenhua, um empresário praticamente desconhecido até há pouco mais de um ano e que, no espaço de meses, ascendeu à quarta posição da lista dos mais ricos, publicada pela Hurun, equivalente chinês da Forbes. Além disso, encerra-se mais um capítulo no caso Vanke, uma longa disputa que implica várias das maiores imobiliárias chinesas e que aparentemente ter-se-á resolvido no passado mês de Janeiro com a entrada no capital da empresa do grupo estatal Shenzhen Metro Group que ficou como segundo maior accionista. A batalha pelo controlo desta empresa, a maior no ramo imobiliário residencial na China, teve início no final de 2015, quando a Baoneng se tornou no principal accionista, apesar da oposição do fundador da imobiliária, o magnata Wang Shi. Para comprar as ações da Vanke, a Baoneng fez com que a Foresea Life pedisse um crédito equivalente ao dobro do seu capital, decisão que motivou a investigação da Comissão Reguladora de Seguradoras e resultou agora na sanção imposta a Yao. A equipa de gestão da imobiliária tentou travar a manobra da Baoneng por diversas ocasiões e, em Janeiro, conseguiu finalmente a esperada entrada no universo de accionistas da Shenzhen Metro Group, a firma que opera a rede de metro da cidade chinesa de Shenzhen, em substituição do conglomerado estatal China Resources. Assim, a Vanke espera obter acesso à edificação de terrenos disponíveis junto às novas linhas de suburbano de Shenzhen, a cidade onde tem a sua sede, de modo a garantir a sua futura viabilidade. Os reguladores também estão a analisar a compra de títulos da Vanke efectuadas pela imobiliária Evergrande, no final do ano passado, que lhe permitiu converter-se na terceira maior accionista, seguindo métodos similares aos da Baoneng e também através de uma filial seguradora.
Hoje Macau China / ÁsiaMarcelo diz que 2017 pode ser um ano de aprofundamento entre Portugal e China [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente da República antecipou esta terça-feira que 2017 pode vir a ser “um ano particularmente significativo no aprofundamento de relações” entre Portugal e a China, considerando que a União Europeia percebe que tem a ganhar com a aproximação chinesa. “Tudo indica que é de esperar nos próximos anos um aprofundamento nas relações entre esse mundo e a China. E Portugal – presente nas três comunidades [União Europeia, CPLP e Comunidade Ibero-americana] – será um protagonista activo e importante nesse relacionamento”, disse Marcelo Rebelo de Sousa no discurso de encerramento da conferência “Macau – Uma ponte na relação económica entre a China e os países de língua portuguesa”, que decorreu terça-feira em Lisboa. Na opinião do chefe de Estado, “o ano de 2017 pode vir a ser particularmente significativo no aprofundamento de relações que são seculares entre os dois povos, mas que a democracia portuguesa permitiu que fossem muito intensas entre os dois Estados”. “A União Europeia percebe que, para além das amizades, das parcerias, das alianças históricas que mantém – nomeadamente transatlânticas -, tem tudo a ganhar com a aproximação relativamente à China. Passa-se com a União Europeia, passa-se em particular com Portugal”, defendeu. Novos vectores Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou que não quer que se retire destas palavras “a ideia de que Portugal é menos fiel às relações transatlânticas ou a União Europeia pode prescindir desse parceiro fundamental que são os Estados Unidos da América”, porque “não pode”. “Só que o mundo é feito de aditamentos, não de subtracções. Trata-se de aditar novos vectores estratégicos. Portugal não está a descobrir a China pela primeira vez. Macau assim o demonstra”, sublinhou. Para o chefe de Estado, “é preciso estudar esta nova realidade” e não se pode “apenas registá-la tomando conhecimento dos factos do dia-a-dia”. “O Presidente da República está atento a esta realidade, às coordenadas fundamentais da nossa política externa, que no essencial são as mesmas desde a Constituição de 1976. Está atento à evolução do mundo, da realidade geo-estratégica, da realidade económica e esta nova coordenada fundamental”, justificou.
Hoje Macau China / ÁsiaChina | Novas medidas contra a Coreia do Norte a caminho [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China afirmou ontem que continuará a adoptar medidas contra a Coreia do Norte, visando aplicar integralmente a resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas contra o programa nuclear e de mísseis balísticos de Pyongyang. Pequim suspendeu no fim-de-semana passado as importações de carvão a partir do país vizinho. Em conferência de imprensa, o ministro do Comércio chinês, Gao Hucheng, disse que a China “é séria” no cumprimento das suas obrigações internacionais, não tendo, porém, detalhado quais serão as novas medidas contra a Coreia do Norte. Pequim, o mais importante aliado de Pyongyang, cortou com um dos poucos canais que o regime de Kim Jong-un tem para obter divisas externas, ao proibir as compras de carvão do país, a partir de domingo passado e até ao final deste ano. Esta decisão inscreve-se na aplicação da resolução do Conselho de Segurança da ONU, aprovada em Novembro passado, segundo afirmaram num comunicado conjunto o Ministério do Comércio e a Administração Geral de Alfândegas da China. Em Dezembro passado, as importações chinesas de carvão da Coreia do Norte aumentaram, num fenómeno que Gao justificou com os “ciclos normais” de adaptação das políticas internacionais à legislação local. Sem margem para dúvidas O ministro insistiu que a seriedade da China na implementação da resolução do Conselho de Segurança “é inquestionável”. A decisão surge depois do assassínio de Kim Jong-nam, irmão do líder da Coreia do Norte, na Malásia, mas o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês recusou qualquer relação entre ambos os acontecimentos. Até há pouco tempo, as relações entre Pequim e Pyongyang eram descritas como sendo de “unha com carne”. A insistência de Pyongyang num controverso programa nuclear levou, porém, Pequim a alinhar com a Coreia do Sul, Japão, Estados Unidos da América e Rússia, condenando os testes com explosões atómicas do país vizinho. As duas nações mantêm, no entanto, laços diplomáticos e comerciais.
Hoje Macau China / ÁsiaPequim recorre ao crédito para impulsionar economia [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s bancos chineses emprestaram mais dinheiro em Janeiro do que o valor equivalente ao Produto Interno Bruto (PIB) português, à medida que Pequim tornou o crédito mais barato e acessível, visando incentivar o crescimento económico. O incentivo ao crédito gerou, no entanto, uma dívida insustentável, que levou a China a tentar restringir a sua política monetária, ao mesmo tempo que evita o abrandamento do ritmo de crescimento económico. Só no primeiro mês do ano, os bancos chineses concederam 2,03 biliões de yuan em novos empréstimos. No final de 2016, o endividamento do país ultrapassou os 270% do PIB, impulsionado por múltiplos cortes das taxas de juro e pelo crescimento de empréstimos através de esquemas ilegais. Devido em parte ao crédito fácil, a economia chinesa cresceu 6,7%, no ano passado, num ritmo suportado pelo ‘boom’ na construção e aumento dos gastos públicos com infra-estrutura. A segunda economia mundial está agora sobrecarregada com um endividamento difícil de gerir, afirmou no mês passado em comunicado Andrew Fennell, analista da agência de ‘rating’ Fitch. “A estabilidade do crescimento económico da China deve-se a estímulos e não à sustentabilidade”, lê-se. Dinheiro fácil A agência Standard & Poor’s advertiu ainda que “a dependência num crescimento alimentado pelo crédito implica o risco de uma ‘aterragem dura’ [abrandamento súbito] para a economia”, O Banco do Povo Chinês (banco central) cortou por várias vezes as taxas de juro, entre 2014 e 2016, ajudando a contribuir para um ‘boom’ no crédito. A abundância de dinheiro fácil teve consequência imprevisíveis, como a forte subida do preço do imobiliário ou o investimento na moeda virtual ‘bitcoin’. No ano passado, o preço médio por metro quadrado subiu 14% em Pequim, 38% em Nanjing e 49% em Shenzhen, o centro tecnológico da China, no sul do país. Milhões de novas habitações continuam, porém, por vender, nas médias e pequenas cidades do país. O empréstimo para compra de habitação atingiu um terço do crédito concedido pelos bancos chineses em Janeiro, uma percentagem recorde. Entretanto, o banco central chinês subiu, em Fevereiro, as taxas de juro a curto prazo pela primeira vez em quatro anos. Citado pela agência France Presse, Wei Yao, analista do banco Société Generale afirmou que Pequim está a arriscar um equilíbrio do fluxo de crédito. “O alto nível de endividamento e a forte expansão dos balanços dos bancos tornam o sistema financeiro vulnerável a uma mudança abrupta”, disse. “A restrição da política monetária não pode ser demasiado súbita”.
Hoje Macau China / ÁsiaPequim e Maputo expandem cooperação [dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]oçambique e China comprometeram-se na terça-feira a reforçar a cooperação em diversas áreas, durante a visita da presidente da Assembleia da República do país africano, Verónica Macamo, a Pequim, noticiou ontem a agência noticiosa oficial Xinhua. A agência cita o presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC), Yu Zhengsheng, que se reuniu com Macamo. “A China está disposta a trabalhar com Moçambique para expandir a cooperação mutuamente benéfica em várias áreas”, afirmou Yu, citado pela Xinhua. O responsável máximo pelo principal órgão de consulta do Governo e do Partido Comunista Chinês disse ainda que Pequim quer trabalhar com Maputo no sentido de impulsionar a implementação dos acordos alcançados durante o Fórum de Cooperação China-África, que se realizou em Joanesburgo, em 2015. Durante o evento, o Presidente chinês, Xi Jinping, anunciou 60 mil milhões de dólares em assistência e empréstimos para os países africanos. Macamo, que lidera uma delegação de empresários numa visita de cinco dias à China, disse ainda apreciar a assistência prestada pela China a Moçambique, desde que o país se tornou independente, em 1975. Pequim é o principal credor de Maputo. Princípios do acordo No ano passado, os dois países assinaram um Acordo de Parceria e Cooperação Estratégica Global, durante a visita do Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, ao país asiático. Aquele documento, que estabelece os 14 princípios que deverão nortear as relações bilaterais, prevê fortalecer os contactos entre o exército, polícia e serviços de inteligência dos dois países. No aspecto económico e comercial, o mesmo acordo dedica ainda uma cláusula à iniciativa chinesa Rota Marítima da Seda do século XXI, um gigante plano de infra-estruturas que pretende reactivar a antiga Rota da Seda entre a China e a Europa através da Ásia Central, África e sudeste Asiático. Neste sentido, os dois países devem cooperar nas áreas de transporte marítimo, construção de portos e zonas industriais portuárias, aquacultura em mar aberto e pesca oceânica, detalha. Moçambique atravessa uma grave crise desde da descoberta, no ano passado, de empréstimos de 1,4 mil milhões de dólares que não foram contabilizados nas contas públicas ou reportados ao Fundo Monetário Internacional (FMI), descredibilizando o país perante os mercados financeiros e doadores internacionais. No mês passado, Maputo entrou em “incumprimento financeiro soberano”, ao falhar o pagamento de 60 milhões de dólares referentes à prestação de Janeiro da emissão de 727,5 milhões em dívida pública, feita em Abril passado.