Auditoria | Pedida intervenção do CCAC na investigação a organismos

O dinheiro que foi gasto por diversos organismos do Governo em serviços de sondagens e consultas foi “inútil”, dizem deputados, que pedem a intervenção do Comissariado contra a Corrupção no caso

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s deputados da Assembleia Legislativa (AL) querem uma investigação do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) aos gastos “inúteis” de diversos organismos do Governo em três anos e meio. O caso foi revelado na semana passada pelo Comissariado de Auditoria (CA) e os deputados querem, agora, que o CCAC e o Chefe do Executivo entrem em acção.
Para Ho Ion Sang, a situação apontada no relatório é “muito grave” e afecta directamente o prestígio do Governo. Segundo o Jornal do Cidadão, Ho Ion Sang apela a que o Chefe do Executivo exija aos organismos públicos a entrega de relatórios de correcção e acompanhamento e diz mesmo que, devido às ilegalidades, o CCAC deveria intervir na investigação. pereira coutinho
Também o deputado José Pereira Coutinho critica que o Governo adjudique serviços de consultoria, estudos e sondagens de opinião a instituições “mais obedientes”, defendendo que os resultados das consultas públicas são diferentes daquilo que a sociedade realmente pensa.
“O relatório de Auditoria já apontou várias vezes a mesma questão, mas não se consegue evitar a repetição de problemas”, apontou ao mesmo jornal. O deputado sugere que o Governo publique o conteúdo de contratos públicos na internet, para que todos possam ter acesso.

Poucas explicações

Ng Kuok Cheong criticou a função da Direcção dos Serviços de Finanças (DSF) face à aplicação descontrolada de fundos do erário público. “Cada despesa com serviços de adjudicação faz parte do orçamento financeiro da DSF e, agora que foram descobertos tantos problemas, o relatório da Auditoria não tem as opiniões dadas pela DSF. Ponho as minhas dúvidas sobre se isto não foi negligência deste organismo”, afirmou.
O deputado considera que as sondagens de opinião são inúteis porque o Governo não implementa medidas oportunas depois da conclusão dessas mesmas sondagens.
“Actualmente o Governo está em fase de austeridade, deve evitar todas as sondagens de ‘decoração’. Cada Secretário deve também verificar a responsabilidade dos organismos públicos”, apontou.
Também o deputado Si Ka Lon apresentou uma interpelação escrita, no dia seguinte à publicação do relatório da Auditoria, a questionar qual foi a eficácia destas consultorias, estudos e sondagens de opiniões em três anos e meio e onde foram gastos mais de 150 milhões de patacas do cofre público.
“O CCAC vai fazer uma investigação avançada sobre a adjudicação de 280 serviços que foram de grande risco?”, indagou o deputado.
Si Ka Lon apontou ainda que, na resposta de uma parte dos organismos públicos, se dão como justificações o facto das empresas “serem muito profissionais” ou terem “mais experiências” ou de “haver necessidade urgente”, mas poucos responderam sobre o acompanhamento a dar à situação. O número três de Chan Meng Kam quer saber como é que o Governo vai apelar aos organismos para se fazer uma revisão profunda, assegurando a governação dentro da legalidade.

25 Jan 2016

CA | Organismos públicos gastaram dinheiro e adjudicaram serviços sem autorização

Por comodismo ou por falta de conhecimento, mais de mil serviços de consultadoria foram adjudicados de forma errada por organismos do Governo – e isto apenas em três anos e meio. Um relatório do CA dá conta de dinheiro mal empregue e situações de abuso de competências

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]emasiados estudos e sondagens de opinião. Pagamentos acima do permitido. Dispensas de concurso público que não deveriam ter acontecido. Um relatório do Comissariado de Auditoria (CA) ontem tornado público arrasa diversos organismos do Governo, apontando falhas ao nível da interpretação da lei, que deram origem à adjudicação de projectos sem contratos e sem consultas.
O relatório começa por indicar que, em três anos e meio, 65 serviços públicos adjudicaram 1514 serviços de consultoria, estudos e sondagens de opinião, cujas despesas excederam 1,4 milhões de patacas. Entre os casos apresentados, fica a saber-se que a adjudicação de 280 destes serviços foi “de grande risco” e que 81 revelam mesmo “situações problemáticas”. O Fundo dos Pandas, a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), a Direcção dos Serviços para a Protecção Ambiental (DSPA), a Fundação Macau e a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) estão na lista do CA como os serviços com o pior desempenho. função pública governo
Por exemplo, no caso do Fundo dos Pandas foi ultrapassado – em muito – o limite estabelecido para a autorização de despesas nos anos 2011 e 2012. E isto, com a Fundação a dispensar consultas às entidades competentes e ultrapassando as suas competências, nomeadamente por ter adjudicado por ajuste directo três serviços num total de 795 mil patacas, quando o “limite de competência do Conselho Administrativo do Fundo dos Pandas para autorização de despesas” era de 94 mil patacas.
“O Fundo dos Pandas fez uma errada interpretação das disposições legais respeitantes ao limite da competência para autorização de despesas e à delegação dessas competências”, diz o organismo dirigido por Ho Veng On, que acrescenta ainda que “foi excedido o montante do limite de competência para autorizar despesas”.

Pelos ajustes

A DSSOPT, DSAT e DSPA estão também na lista, por terem adjudicado serviços sem consulta pública – ou, no caso da última, apenas recorrendo a um fornecedor – de valores acima das 750 mil patacas. O problema, contudo, reside no facto “das circunstâncias invocadas e ou fundamentos apresentados não justificarem o recurso ao ajuste directo, nomeadamente no que se refere à conveniência para a RAEM”.
O relatório do CA continua, desta vez apontando baterias à DSAL: o organismo contrata um funcionário aposentado em regime de aquisição de serviços, mas o que era para ser um contrato de seis meses, passou a ser de dez anos. “Foram sendo celebrados novos contratos por iguais períodos de tempo, embora com um intervalo de dois a cinco dias entre cada contrato.” O mesmo fez a DSPA, com um consultor, que ficou cinco anos nestes termos.
“Os referidos serviços públicos não observaram o regime jurídico adequado à natureza das actividades em causa – funções exercidas sob dependência do empregador ou exercidas de forma autónoma”, ressalva o CA.
Segue-se a Fundação Macau, organismo especialmente reconhecido pela atribuição de subsídios, que decidiu celebrar 18 contratos “através de documento particular” entre as partes, ao invés de assinar contratos. Além disso, sete deles foram adjudicados por menos de meio milhão de patacas, mas “com prazos de prestação superiores a seis meses, quando é legalmente exigível a celebração de contrato escrito para as aquisições de serviços com prazo de entrega ou execução superior a seis meses”. O CA aponta, mais uma vez, “errada interpretação” das leis, mas o que é facto é que a Fundação também atribuiu 11 projectos que valiam mais de meio milhão de patacas sem um contrato por “razões de urgência”.

Empresas sortudas

Nas quase cem páginas do relatório a DSPA é outra vez criticada, desta vez por causa das cinzas volantes de Ká Hó o organismo adjudicou a uma empresa o serviço de avaliação da qualidade ambiental da vila, em Coloane. Tudo sem concurso público, sem consulta e sem contrato.
“Invocou a qualificação profissional e vasta experiência [da empresa]. O prazo de prestação decorreu entre 14 e 21 de Dezembro de 2010 e, posteriormente, foram feitas à mesma empresa 23 novas adjudicações de serviços de monitorização da qualidade do ar no aterro de cinzas volantes de Ka Hó e zonas circundantes, para o período de Dezembro de 2010 a Junho de 2013, no valor total de 37,2 milhões de patacas, tendo-se verificado que não foram observados os procedimentos legais previstos no regime de aquisição de serviços, o que impediu o Governo da RAEM não só de se inteirar dos preços praticados no mercado como da consequente possibilidade de negociação”, frisa o CA.
A DSAT fez igual, mas com a Política Geral de Transportes Públicos. Depois de ter criado um grupo de trabalho para o estudo do trânsito de Macau – que consultou duas empresas para a elaboração desta política -, a DSAT decidiu adjudicar directamente a uma terceira empresa o trabalho. O CA não sabe porquê. “Não foram disponibilizados ao CA os elementos que teriam servido de suporte aos procedimentos adoptados, uma vez que apenas lhe foi facultado o extracto de uma acta de reunião sem a assinatura dos participantes. O respectivo procedimento põe em causa o princípio da igualdade de tratamento e de imparcialidade entre os participantes e revela falta de transparência nas aquisições por parte das entidades públicas”, escreve o organismo de Ho Veng Hon.
Dentro da DSAT, apontar de dedos também para a Divisão de Relações Públicas e para a Divisão de Planeamento de Tráfego, que “adjudicaram dois projectos de inquérito ao número de lugares de estacionamento em Macau” – isto depois de um inquérito semelhante já ter sido feito. Mais uma vez, a culpa é da DSAT. “Não sendo necessários dois inquéritos, a sua realização ocasionou um eventual desperdício dos dinheiros públicos e falta de ponderação, por parte do serviço público, quanto à eficácia das despesas antes da sua autorização.”
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Nada meigo

O Comissariado de Ho Veng On admite que os resultados desta auditoria – que foi feita apenas com informações até 2013 – mostram que os serviços públicos “não possuem o conhecimento necessário dos principais diplomas legais que regulam a aquisição de bens e serviços”, motivo pelo qual estes não se cumprem ou não se aplicam de forma correcta. O organismo aponta mesmo que os serviços “fazem uso abusivo da dispensa de procedimentos legais”, sem sequer prestarem atenção tanto à lei, como “aos interesses do Governo”. O motivo? “Por mera conveniência, nomeadamente a relacionada com a morosidade do processo normal”, diz o CA.
O organismo remata dizendo que os funcionários públicos têm de conhecer a lei – de forma “obrigatória” – e que a falta de conhecimento não pode ser uma justificação.
“Não podem alegar que a sua gestão deficiente e ou falta de capacidade de execução se devem a um regime legal desadequado, a procedimentos complexos e morosos ou a técnicas avançadas”, termina.

O que dizem os visados

“Os comentários apresentados pelo Comissariado da Auditoria irão servir como indicadores, garantindo a execução das despesas em conformidade com a legislação”
Fundo dos Pandas

“Concorda e aceita o parecer, podendo pelo mecanismo de consulta, conhecer os fornecedores existentes no mercado, nomeadamente a sua capacidade profissional e as novas técnicas, reduzindo-se, assim, o risco da ocorrência de problemas resultantes da adjudicação directa a um fornecedor, apenas com fundamento na sua experiência. Irá observar futuramente os procedimentos do concurso público ou da consulta de preços para estudo de outros projectos sem carácter de urgência ou de especialidade. 90d86e89dbac14053f4be6f867e05c7e3a1b8
Quanto aos estudos de carácter urgente ou específicos recorrerá ao procedimento de ajuste directo, fundamentando a conveniência para a RAEM”
Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes

“Concorda, basicamente, com o conteúdo do relatório, pelo que irá proceder, com seriedade, a uma revisão das questões aí referidas, que reclamam atenção e aperfeiçoamento, ao mesmo tempo que servirá de referência para o desenvolvimento de projectos similares no futuro. A aquisição de serviços por concurso ou ajuste directo será feita nos termos da legislação aplicável e em cumprimento das indicações das entidades internas competentes e no caso de ser dispensada a realização de concurso público, será obrigatório apresentar esclarecimentos complementares para a
entidade competente verificar a conveniência ou não para o território e irá, ainda,
examinar com rigor a necessidade de efectuar a despesa, e bem assim evitar a repetição da execução em trabalhos de natureza similar”
Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego

“Concordou com as opiniões apresentadas no relatório de auditoria e admitiu existir espaço para a melhoria dos procedimentos de aquisição de serviços. Quanto à
questão da contratação de pessoal, a DSPA irá ter em consideração as situações e o
respectivo planeamento, a longo prazo, especialmente em matéria de recrutamento, a
contratação de pessoal para prestação de serviços será feita ao abrigo do regime de
recrutamento dos trabalhadores. Em relação aos serviços de consultadoria sobre o estudo de monitorização da qualidade do ar de Ka Hó, a DSPA aceitou as opiniões do CA, nomeadamente no que respeita às novas adjudicações dos serviços anteriormente prestados, as quais devem ser analisadas e planeada a continuação desses trabalhos de monitorização, considerando a realização de consultas a outros fornecedores sobre os serviços em questão”
Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental

“Os projectos realizados estavam em conformidade com os seus fins, tendo, já, produzido, efeitos positivos. Admitiu que a forma legalmente exigida é a redução a escrito do contrato, pelo que, da sua parte, houve um certo desvio, na interpretação das disposições legais que regulam a dispensa de contrato escrito. No entanto, desde Julho de 2013, que passaram a ser celebrados contratos escritos, no notário privativo da Fundação, para os projectos adjudicados a entidades locais com valor superior a 500 000,00 patacas ou com prazo de execução superior a seis meses. Embora não tenha sido celebrado o respectivo contrato escrito, foi celebrado um protocolo escrito para cada um daqueles casos e o seu conteúdo não se distanciou muito do que seria o conteúdo do contrato escrito, pelo que, entende que foram assegurados os interesses da RAEM”
Fundação Macau

“Aceitou as opiniões apresentadas no relatório do CA. Desde 2012, a mesma
tem vindo a reforçar a fiscalização de vários procedimentos de trabalho, designadamente na aquisição de bens e serviços, tendo levado a efeito a sua revisão, reorganização e aperfeiçoamento gradual. Em 2013, os “contratos de prestação de serviços” deixaram de ser renovados. Vai continuar a cumprir o princípio da legalidade, respeitando rigorosamente a lei no recrutamento de pessoal, nas aquisições de bens e serviços, e nas adjudicações, e vai continuar, ainda, a reforçar a formação dos trabalhadores para melhorar a execução e optimização dos trabalhos administrativos”
Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais

22 Jan 2016

“É preciso considerar seriamente o relatório” do CA

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, disse ontem que espera os serviços da sua tutela – os mais visados no relatório do CA – “considerem, seriamente, o relatório” e, em especial, “os procedimentos, leis e diplomas sobre contratos de aquisição de serviços”. lionel leong_GCS
Leong diz que acredita que através de uma formação contínua e eficaz os serviços possam elevar os conhecimentos jurídicos, “de forma a que o trabalho seja bem executado logo desde o início”.
O Secretário remeteu-se ainda para o facto de que a nova Lei de Enquadramento Orçamental – que ainda não está feita – deverá ajudar os serviços públicos a cumprir escrupulosamente a legislação, mas referiu que “a Direcção dos Serviços de Finanças deve também ter em atenção o conteúdo do relatório de auditoria para autenticar o devido cumprimento”. Isto porque, diz, “a DSF é responsável pela recolha, junto de todos os serviços, de informação sobre a execução orçamental para elaborar a conta geral da RAEM e o relatório sobre a execução do orçamento, a qual será posteriormente entregue ao CA”.
Lionel Leong disse ainda esperar que os serviços públicos tomem a iniciativa de elevar a qualidade do trabalho sem terem que aguardar pela divulgação do relatório de auditoria.

22 Jan 2016

Jiang Chaoyang, professor da Faculdade de Direito da UM

O Governo precisa de aumentar a eficácia da governação electrónica e deveria implementar procedimentos disciplinares na avaliação ao desempenho dos principais cargos. É o que diz o especialista em Lei Básica e Administração, que considera que a Lei Sindical é necessária mas não tão urgente, como é a revisão da Lei do Trânsito Rodoviário

[dropcap style=’circle’]É[/dropcap] especialista em Administração e Lei Básica. Como avalia as recentes reformas no Governo?  
É de salientar a reorganização de funções e o aumento de eficácia da Administração Pública. No relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) de 2016 do Chefe do Executivo, bem como nas políticas da Secretária para Administração e Justiça, são mencionadas estas duas tarefas. Em 2015, o Governo trabalhou muito na reorganização, incluindo [na reestruturação] de funções de 13 departamentos e eliminou cinco departamentos. Segundo o plano do Governo, é preciso reorganizar mais organismos, portanto acho que a situação é positiva e considero que estes trabalhos vão ser concluídos rapidamente. Em relação ao aumento de eficácia, o Governo está a esforçar-se em desenvolver a governação electrónica, incluindo internamente.

Sobre o Governo electrónico alguns deputados já apresentaram interpelações criticando a insuficiência da eficácia até porque os cidadãos ainda precisam de se dirigir a muitos departamentos para pedir documentos simples.
Esta questão tem a ver com a gestão de diversos departamentos. Actualmente, é verdade que para abrir um restaurante é preciso entregar documentos ao Corpo de Bombeiros e à Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental, entre outros, para pedir um licenciamento. É preciso uma revisão e “limpeza” dos actuais regimes de licenciamento, mas nas LAG deste ano isso não está mencionado. Acredito que é um plano futuro, do qual é preciso fazer um estudo aprofundado, mas onde se deve considerar simplificar e acelerar os processos de requerimento, por exemplo, quando o licenciamento envolver diversos departamentos, permitir ser feito por uma vez só. O Governo precisa fazer mais sobre esta questão.

Um dos pontos principais das LAG de 2016 tem a ver com a revisão do regime do concurso centralizado. Tem alguma sugestão sobre a matéria?
Existem problemas no actual concurso centralizado para ingresso na Função Pública, isso é verdade. Demora muito, pelo menos um ano desde a inscrição. Os procedimentos são complicados e os funcionários que querem ingressar podem não corresponder [às necessidades]. É preciso rever o regime e o modelo a ser pensado é correcto: diminuir o tempo, adicionar um exame que avalie as capacidades integradas e um profissional por departamento onde é provável a entrada de candidatos. DSC_0008

A reforma do regime de avaliação do desempenho dos trabalhadores da Administração Pública é outro ponto principal.
São três aspectos que estão a ser tidos em conta: a avaliação dos titulares dos principais cargos, a avaliação do desempenho de chefes e directores e a dos funcionários públicos em geral. Nesta reforma, a importância está no facto do Governo estar a pensar fazer com que a avaliação seja feita por uma terceira parte no pessoal da direcção. Isso é vantajoso e é mais justo e científico, fugindo também da actual medida, que é uma avaliação dependente de  chefes ou directores. Contudo, a escolha de “uma terceira parte” é uma questão que levanta dúvidas: como vai ser? Uma empresa? Vale a pena pensar. Além disso, as queixas dos funcionários públicos aos chefes podem também ser apreciadas por essa terceira parte, em vez de serem tratadas pelos mesmos chefes, como acontece agora, o que é injusto.

Tanto deputados, como residentes já têm vindo a pedir que seja criado um regime de responsabilização porque consideram que sempre que houve erros nunca ninguém foi responsabilizado, ou despedido. Concorda?
Na minha opinião, já existe um regime de responsabilização política para os titulares dos principais cargos. Mas em Macau, raramente os governantes são despedidos por causa disso, porque existem regulamentos rigorosos sobre o despedimento no Estatuto dos Trabalhadores da Administração Pública. O mau desempenho dos governantes [é punido] com procedimentos disciplinares. Esta medida é diferente de Hong Kong e de outras regiões, onde os próprios governantes se demitem quando desempenham mal os cargos. O regime já entrou em vigor nos anos 80, mas não é fácil de alterá-lo, porque o contexto das leis é diferente. Mas acho que se pode adicionar um artigo no regime onde se defina melhor quais os actos ou erros cometidos por governantes que devem dar origem a procedimentos disciplinares.

O projecto da Lei Sindical foi chumbado pela sétima vez na Assembleia Legislativa. Todos os projectos apresentados até agora foram através de deputados. Há uma falha neste caso?
A Lei Sindical é uma lacuna no sistema legislativo de Macau, é óbvio, porque a Lei Básica regula a sua existência. Até ao momento, todos os projectos de lei foram apresentados por deputados, mas acho que se deveria primeiro fazer a sociedade saber o conteúdo da lei, fazer uma consulta pública e gerar o consenso. Só depois levar os deputados a votar na AL, de forma a que haja mais maturidade.

Mas as consultas públicas normalmente são feitas pelo Governo, antes de se apresentar uma proposta de lei e o Executivo ainda não mostrou intenções de apresentar esta proposta da lei. Não é urgente legislar?
Penso que agora não há grande urgência em criar a Lei Sindical, porque temos a Lei das Relações Laborais e existem outras propostas de lei ligadas à vida da população que são mais urgentes. Mas isso não significa que não seja necessária.  

O Conselho de Estado do Governo Central já autorizou a gestão de 85 quilómetros de águas marítimas. Considera necessário criar regulamentos e leis para cumprir esta jurisdição?
É necessário. Existem várias razões. Primeiro, porque antes da transferência de soberania havia um regime do domínio público hídrico do território, mas esse foi revogado em 1999, porque Macau não tinha gestão sobre as águas. Agora, não existe nenhum regime ou lei neste âmbito, apenas umas leis sobre o domínio público hídrico, mas que não são claras. Além disso, isto levanta outras questões: como gerimos as águas? E a protecção ambiental? Como evitar a poluição das águas? E a economia marinha? Por exemplo, um residente pode tirar ostras do mar, é permitido? É preciso voltar a ter polícias marítimos? Toda a gestão está nas mãos de Macau e antigamente não estava, pelo que tem de haver legislação. DSC_0044

É preciso muito tempo para criar essas leis?
Acredito que sim. É preciso consideração e planeamento para criar um quadro de gestão, de segurança, de protecção ambiental e de economia marinha.
 
Crê que o Governo possa concluir essa legislação ainda este ano?
De certeza que não vai ser tão rápido, porque não podemos ter como referência as leis de Portugal, nem usar as leis do interior da China.  

O Comissariado contra a Corrupção criticou a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes em relação aos terrenos desocupados cujos 25 anos de concessão terminaram. Sugeriu melhorar o regime e esclarecer os critérios de imputabilidade. Como avalia a situação?
Concordo com as sugestões do CCAC, porque de facto “terrenos desocupados” não é um termo jurídico, não há definição clara, é uma descrição de um fenómeno existente. Esta questão envolve a Lei de Terras, mas para mim, a DSSOPT precisa de reforçar a supervisão e instar ao aproveitamento dos terrenos, isso é que está claro na lei. O organismo não pode avisar sobre o aproveitamento de terrenos só quando o período de concessão já passou ou está quase a terminar. Tem de fazer com que a cinco, dez ou 15 anos da expiração isso seja feito. Caso exista um mecanismo que leve os concessionários a aproveitar esses terrenos, então evitam-se estes prejuízos para o interesse público, bem como se tornam as informações mais transparentes para o público. Quanto aos critérios de imputabilidade aos concessionários, seria muito melhor defini-los na lei, em vez de cada caso ser julgado pelos tribunais.

Além das leis que falámos, quais as leis ou regulamentos cuja revisão é urgente?
Além das leis que fazem parte do plano do Governo, tal como a revisão do Código Penal, do Estatuto dos Trabalhadores da Administração Pública e da legislação eleitoral, acho que a Lei do Trânsito Rodoviário também precisa de ser revista, porque a última revisão foi em 2007, já passaram nove anos e a situação do trânsito está cada vez mais complicada. Há cada vez mais carros mas as ruas continuam a ser estreitas, os acidentes de trânsito aumentaram muito, sobretudo com excesso de velocidade, droga e álcool, mas os condutores são apenas multados, poucos deles sofreram punições como a retirada da carta de condução. É preciso subir as sanções.

22 Jan 2016

Os hipócritas

1. [dropcap style=’circle’]I[/dropcap]sto era tudo muito mais fácil se não houvesse hipocrisia política – pelo menos, ficávamos a saber com o que é que podemos contar. Mas não: a política é hipócrita e de cada vez que se fala do assunto, que não é novo, vem a ladainha do costume. Eles gostam muito de nós, eles todos de nós todos, eles não mudaram as regras, não há qualquer alteração em relação ao passado, continua tudo na mesma, nós é que andamos a sonhar com uma nova situação, com dificuldades adicionais que só existem na nossa imaginação.
Mentira. Nos últimos anos, tem sido cada vez mais difícil contratar trabalhadores em Portugal, porque o processo de autorização de residência passou a ser, em muitos casos, uma impossibilidade. Por várias razões.
O quadro mais optimista é aquele em que a residência é autorizada, mas a demora é tão grande que – a não ser que o futuro contratado se encontre completamente desesperado ou queira muito, mas mesmo muito, vir para Macau – quando os documentos estão prontos o candidato ao cargo já desistiu. No outro cenário, a autorização de residência não chega a ser dada, uma recusa que, frequentes vezes, é feita com fundamentos nada éticos e, nalguns casos, muito pouco em conformidade com a lei.
Um dos argumentos para negar a residência a portugueses é o salário que vêm para cá ganhar. Entendem os responsáveis pela matéria que com menos de 25 mil patacas não se vive, não se vive nada bem, e eu fico sensibilizada com as autoridades da RAEM, que querem que os portugueses que se expatriam estejam muito bem na vida, não querem que de Macau sigam cartas de gente remediada que escreve à família a lamentar a vã emigração. still-of-will-smith-and-jaden-smith-in-the-pursuit-of-happyness-large-picture
Sucede que esta exigência de ordem salarial não bate certo com nada, não tem rigorosamente nada que ver com a realidade de Macau. Ainda esta semana, uma entidade governamental contava que, de acordo com um inquérito feito aos recém-licenciados de Macau, muitos deles entram no mundo do trabalho a ganhar entre 10 mil e 14 mil patacas. Não consta que tenham morrido de fome.
Poder-me-ão dizer que são miúdos que contam com o apoio da família – argumento válido –, mas terão dificuldade em justificar por que razão não se exigem condições salariais melhores para os trabalhadores não-residentes que, ao contrário daqueles a quem é concedida a residência, estão impedidos de acumular trabalhos e remunerações, condenados a viver com as 3500 patacas mensais que a lei dita, se o patrão não for mais generoso.
O requisito salarial é uma hipocrisia. Candidatos a trabalho especializado em Macau, por mais cândidos, puros e inexperientes que possam ser, têm noção para onde vêm, sabem do custo das coisas, vão à Internet, fazem amigos no Facebook e não fazem as malas ao engano.
Há áreas em que é impossível a sobrevivência da actividade sem a contratação a Portugal. O jornalismo é uma delas – e é o sector que conheço bem, razão pela qual o uso aqui como exemplo. Não há órgão de comunicação social em língua portuguesa que possa sobreviver sem jornalistas de língua materna portuguesa.
Sucede que, ao contrário do que algumas autoridades de Macau possam pensar, o jornalismo – aqui e em qualquer parte do mundo – é uma actividade que não dá para enriquecer. A comunicação social é um negócio pouco rentável, quer para os investidores, quer para quem lá trabalha. A hora de um jornalista vale pouco. É assim.
Em Macau, o modelo empresarial dos jornais é especial e há razões de ordem política para a sobrevivência dos media em português, que se faz em moldes muito específicos, sem um mercado que os sustente e sem uma ideia de mecenato em defesa da língua portuguesa que, por essa diáspora fora, é comum encontrar. Os jornais existem com redacções que cabem num carro e é assim que se fazem. Não vendem fichas, nem lavam ouro e diamantes. São empresas pequenas que vivem com as mesmas dificuldades de muitas outras empresas pequenas, com a diferença de que não podem ir contratar às Filipinas por 3500 patacas e os recém-licenciados de Macau, a 10 mil por mês, não lhes resolvem o problema.
Um dia destes, com esta história de tornar difícil a vida aos portugueses que querem vir para trabalhar para Macau, deixa de haver gente em áreas específicas, porque uns reformam-se, outros cansam-se, outros desistem de cá estar e os outros, os outros que os deveriam substituir, estão à espera num aeroporto a Ocidente de uma autorização de residência que jamais chegará. Apesar de nada ter mudado e sermos nós, os que cá estão há mais tempo, que andamos a imaginar dificuldades. E hipocrisias.

2. Ainda sobre o trabalho e o direito ao trabalho. Numa cidade em que há tanta preocupação com o que ganham ou deixam de ganhar os emigrantes portugueses, chumba-se – mais uma vez – um projecto de lei sindical. A preocupação é só mesmo de alguns e destina-se apenas a meia dúzia. De nada adianta este tipo de legislação – um bicho-papão para o grande empresariado local – estar previsto na Lei Básica.
Não vale a pena gastar linhas neste jornal a tentar analisar o que ali se ouviu, o que foi dito por alguns deputados, os suspeitos do costume. Há coisas em que Macau me envergonha e de que Macau devia ter vergonha.

22 Jan 2016

Kaifong pedem revisão à constituição de Conselhos Consultivos

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]han Ka Leong, chefe da Comissão de Assuntos Sociais da União Geral das Associações dos Moradores de Macau (Kaifong), pede que sejam melhorados os regimes para a constituição de Conselhos Consultivos. O responsável aponta, como tem vindo a ser defendido por deputados, que continua a haver casos em que uma pessoa detém diversos cargos em diferentes Conselhos e diz que se mantém a falta de transparência.
Ao jornal Ou Mun, Chan Ka Leong defendeu que “o número de Conselhos Consultivos aumentou em seis vezes nos últimos 15 anos” e que “as pessoas mais conhecidos desdobram-se em cargos em Conselhos de várias áreas”. Para o responsável, isto “influencia a diversidade consultiva de Macau e leva a que os residentes comecem a desacreditar nos resultados dos estudos ou das investigações feitos por estes Conselhos, porque são feitos pelas mesmas pessoas”.
Chan Ka Leong sugere que o Governo reveja o Regime que cria os Conselhos Consultivos e ajuste o mandato dos membros até um máximo de dois ou três anos, para que cada Conselho tenha o seu profissional.

Tudo como dantes

Recentemente, o Governo assegurou que iria rever esta questão, mas até agora ainda não houve quaisquer novidades. Chan Ka Leong acusa, por isso, o Executivo de falta de transparência porque diz não ser possível perceber se as sugestões feitas por deputados e associações são ponderadas pelo Governo. “Assim, os residentes terão a ideia que o Governo aceita todas as sugestões, mas não as aplica.”
O responsável queixa-se ainda de não serem publicadas informações sobre os trabalhos dos Conselhos Consultivo e insta a que isso seja feito através de um sistema, não só para que os trabalhos sejam alvo de reacções da sociedade, como para que também se possam apontar responsabilidades à elaboração de determinados estudos ou falta deles. Tudo, diz, para que a sociedade possa testemunhar que os trabalhos dos Conselhos e do Governo não são apenas “um show político”.

21 Jan 2016

Encerramento de fronteira do Porto Interior incomoda deputados

O encerramento da fronteira de Wanchai que fazia a ligação, de barco, com o Porto Interior incomodou alguns deputados que querem que o Governo apresente justificações e soluções para a questão e criticam a falta de comunicação entre os dois lados. Com a saturação das outras fronteiras, defendem, é preciso manter esta hipótese em aberto

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]semana começou com as autoridades de Zhuhai a anunciar o encerramento do posto fronteiriço de Wanchai, também conhecido por Ilha da Lapa, terminando com as rotas marítimas que diariamente transportavam centenas de utentes, residentes e turistas. As autoridades de Macau anunciaram que receberam um anúncio por parte da região vizinha justificando o encerramento devia a problemas de segurança, mas os deputados não se mostram satisfeitos com a “impotência” do lado de cá.
Mak Soi Kun, deputado, considerou a postura das autoridades de Macau deficitárias, algo que, diz, mostra que as partes envolvidas, Zhuhai e Macau, não estão a comunicar como seria suposto. Citando o Acordo-Quadro de Cooperação Guangdong-Macau, o deputado indica que o “encerramento do posto fronteiriço, por ser um assunto relevante, devia, supostamente, ser anunciado e justificado”. Mak-Soi-Kun
“Porque é que só um dia antes da suspensão do funcionamento do posto fronteiriço da Ilha da Lapa é que foi divulgada a respectiva notícia e os cidadãos e turistas apenas ficaram a saber através do aviso afixado no posto?”, indagou durante a sua intervenção em sessão de plenário na Assembleia Legislativa (AL).
Para o deputado, este encerramento veio trazer “enormes inconvenientes” tanto a cidadãos como turistas, mas mais que isso dá a entender que o Governo não estaria inteirado da situação. “Será que existem problemas no próprio mecanismo de comunicação ou há outras razões? Será este um mecanismo apropriado de comunicação e cooperação entre Zhuhai e Macau?”, questionou.
Mak Soi Kun considera que é essencial que o Governo assuma o problema e tome medidas para resolver a situação, logo agora, tão perto do Ano Novo Chinês, altura de maior entrada de turistas.

Menos que é mais

“O Porto Interior é a fronteira que fica mais perto da zona central da cidade. O reforço das suas funções e aperfeiçoamento das instalações periféricas e de transporte pode contribuir para reduzir a utilização dos transportes públicos, por exemplo, um turista que chegue pelo Porto Interior pode deslocar-se a e pé”, começou por argumentar Kou Hoi In, durante a sua intervenção, apoiada também pelos deputados José Chui Sai Peng e Cheang Chi Keong.
Apesar da taxa de utilização desta fronteira ser a mais baixa de todas as outras disponíveis, tal como as Portas do Cerco ou a Flor de Lótus, representando apenas 0,47% do número total, é mais rápida, demorando-se apenas três a cinco minutos para fazer a travessia.
Os deputados assumem que existem dois problemas que fazem com que aquele posto fronteiriço não seja mais atractivo: os horários dos barcos e a insuficiência de equipamentos. E, mais uma vez, pedem a Macau que faça algo.
“Apelamos novamente às autoridades de Macau para acelerar as conversações com os serviços competentes do interior da China, no sentido de melhorar, quanto antes, as actuais instalações do posto fronteiriço de Wanchai, para o seu aproveitamento adequado, assim como para reabrir esse posto com um horário mais prolongado, sem intervalo e com mais carreiras”, argumentaram. Os deputados apelam ainda a que o Governo de Macau aperfeiçoe as comunicações com as autoridades para a melhor gestão do serviço.

21 Jan 2016

Alimentos | China pede mais fiscalização e qualidade de produtos

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Ministério do Comércio da China pediu ao Governo local que seja feita uma fiscalização mais apertada à qualidade dos produtos alimentares importados. A sugestão teve lugar durante a visita do director do departamento dos Assuntos de Taiwan, Hong Kong e Macau do Ministério do Comércio chinês, Sun Tong. O responsável pede ainda uma “intensificação da coordenação dos serviços prestados” e o arranque de um “plano de contingência” e de ligação entre departamentos no sentido de assegurar que a quadra festiva do Ano Novo Chinês – no início de Fevereiro – decorre sem problemas.
“Durante a estadia na cidade, a comitiva reuniu-se com o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) e as empresas de agenciamento dos respectivos produtos locais, tendo ainda realizado uma visita a mercados no sentido de se inteirar in loco da situação do abastecimento dos ditos produtos”, informa o Ministério em comunicado. A visita teve o objectivo de esclarecer o departamento quanto ao poder de Macau em satisfazer as necessidades da população e turistas que nessa altura estarão na região. Em causa está a importação de produtos alimentares como farinha, legumes, cereais, ovos, leite, água potável, entre outros.
“Apenas os produtos provenientes dos viveiros de criação de animais e das hortas que tenham sido registados nas autoridades de inspecção e quarentena estatais são permitidos ser exportados para Macau”, define o Ministério. Além disso, é sublinhado o “cumprimento escrupuloso” das normas, que até aqui tem ditado a forma de fazer comércio em Macau.
No ano passado, vieram da China 110 mil porcos, 1800 vacas e 2,6 milhões de galinhas. Os números, avança o mesmo Ministério, “corresponderam a 100% da procura” no território.

21 Jan 2016

Lei Sindical reprovada por 18 deputados

Eles tentam, mas não conseguem. O projecto de Lei Sindical continua a não agradar aos deputados. Momento inoportuno, complicações para o investimento, pressões – muitas foram as justificações dadas para reprovarem pela sétima vez o diploma

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]inda não foi desta que o projecto relativo à Lei Sindical convenceu a Assembleia Legislativa (AL). Esta é a sétima vez que um projecto sobre este assunto é chumbado pelos deputados e desta vez não foi excepção: da responsabilidade dos deputados Kwan Tsui Hang, Ella Lei e Lam Heong Sang, o projecto reuniu 12 votos a favor, 18 contra e uma abstenção do deputado Leonel Alves. O estado da economia e, para alguns deputados, o facto dos direitos dos trabalhadores “já estarem” salvaguardados deram as justificações para mais um chumbo.
Muitas foram as vozes que se elevaram contra a existência dessa lei, recorrendo a todas as razões possíveis. O deputado Tsui Wai Kwan, por exemplo, afirmou que a esta “lei vai afectar o investimento” numa altura em que Macau passa por uma “situação económica” frágil. O deputado nomeado pelo Chefe do Executivo acredita que regulamentar esta lei “em nada contribui para a promoção do trabalho”, tendo em conta que o que Macau precisa neste momento é de investimentos. “Se aprovarmos esta lei vamos assustar [os investidores]”, apontou.
Não sendo o momento “oportuno” para os deputados – justificação que tem sido, aliás, a principal para a reprovação de projectos anteriores – esta lei vem ainda mexer, defendeu Tsui Wai Kwan, com a “relação patronal e laboral” que vive agora “uma fase harmoniosa”. “Não é a altura certa”, rematou.
Por sua vez, o deputado Ma Chi Seng defendeu que esta lei deve surgir de uma vontade tanto do Governo como das partes interessadas. “Este projecto não convém ser apresentado só por uma das partes”, indicou o deputado nomeado, referindo-se ao facto dos deputados que apresentaram a proposta serem do sector Operário. O deputado sublinhou a necessidade desta ser uma legislação da vontade de todos.

Doidos à mesa

Com um discurso muito polémico e provocador esteve o deputado Fong Chi Keong que chegou a perguntar em plena sessão plenária se os deputados que apresentaram o projecto estavam “doidos”, “malucos” ou “tolos”.
Começando o seu discurso com um “espero que esta lei seja aprovada” – mas não para já – Fong Chi Keong criticou severamente o projecto em causa. “Todo o conteúdo deste projecto… qualquer pessoa inteligente irá discordar destes artigos”, apontou.
Referindo vários problemas, desde a dispensa de trabalho para participarem em reuniões sindicais, por exemplo, o deputado defendeu que esta não é altura para aprovar a lei. “Em Macau os trabalhadores nunca foram descriminados. Nunca foram tratados de forma injusta. Isto é uma realidade, verdade. É verídico”, apontou.
Não existe, para o deputado, necessidade de recorrer a sindicatos quando o “Governo consegue resolver” os problemas. “Ele [o Governo] não é inútil”, frisou.

Prejudicar outros

Num discurso que parecia de apoio, a deputada Melinda Chan mostrou várias preocupações quanto à interferência que o projecto de lei poderá ter para com as “mais de seis mil associações do território”. “Isto poderá afectar os interesses das associações, não podemos afectar os interesses das outras associações que estão a funcionar há muito tempo. Também não podemos obrigar as associações a construir uniões”, refutou.
Gabriel Tong também se mostrou muito reticente ao projecto apresentado pelos três deputados. “Acho que é preciso ter em conta a realidade de Macau. A vida das associações… é preciso ver. O que é que deve ser melhorado? Esta é a grande pergunta”, apontava, frisando que na sua opinião o projecto apresentado não era maduro o suficiente para aprovação. “É um bom direito, mas ainda precisa de maturidade, acho que há muitas questões para seguir para a especialidade”, apontou.
O autor de cinco projectos sobre o assunto, José Pereira Coutinho, não se mostrou muito convencido. “Este projecto tem coisas diferentes daqueles que já apresentei”, disse em plenário, aplaudindo, ainda assim, a iniciativa e mostrando-se completamente a favor. “Claro que aprovo, apesar do conteúdo ser diferente. Este é um passo dado para conseguir cumprir o dever e responsabilidade da Lei Básica”, disse, referindo-se ao artigo 27, que determina a liberdade dos residentes de Macau em “organizar e participar em associações sindicais e em greves”. “Somos legisladores, temos essa responsabilidade”, frisou.
O deputado Au Kam San assumiu que esta é uma lei que deve ser regulada e que a resposta ao momento certo nunca será encontrada. “Quando é que podemos avançar com a lei, então?”, indagou o hemiciclo. Au Kam San admitiu que nenhum projecto é perfeito na sua primeira apresentação, por isso é que depois existe a avaliação na especialidade. “Podemos discutir para melhorar a lei, para cuidar dos direitos dos trabalhadores e empregadores”, referiu.
Ng Kuok Cheong, deputado, foi ainda mais longe e disse que se, caso a lei não fosse aprovada – como não foi –, o Governo deveria assumir a sua responsabilidade e avançar com uma proposta, cumprindo o que a própria Lei Básica indica. “Isto é lamentável”, apontou, referindo ao desinteresse claro por parte de alguns deputados. O Governo já disse ao HM, recorde-se, que está “aberto” à possibilidade, mas que ainda se encontra a estudar a ideia.

Votos a favor:

Ng Kuok Cheong, Kwan Tsui Hang, Ho Ion Sang, Leong Veng Chai, Si Ka Lon, Ella Lei, Song Pek Kei, Au Kam San, José Pereira Coutinho, Lam Heong Sang, Chan Meng Kam e Wong Kit Cheong

Votos contra:

Zheng Anting, Ma Chi Seng, Lau Veng Seng, Sio Chi Wai, Mak Soi Kun, Melinda Chan, Gabriel Tong, Chan Iek Lap, Tsui Wai Kwan, Chan Chak Mo, Cheong Chi Keong, Vong Hin Fai, José Chui Sai Peng, Angela Leong, Vitor Cheong, Fong Chi Keong e Chui Sai Cheong

O que disseram os deputados

“Será mesmo necessário legislar? Já passaram tantos anos, não sei se isto é um vazio legal, porque se fosse já tínhamos sido pressionados pelo Governo Central. Será que estamos a violar a Lei Básica? Se tivéssemos, o país dizia alguma coisa”, Chan Chak Mo

“Não são só os trabalhadores que levam uma vida árdua, os patrões também”, Fong Chi Keong

“Se a economia já esteve em alta e não se produziu esta lei, então só posso chegar à conclusão que se deve à estrutura da AL, onde a maioria dos deputados não foi escolhido por sufrágio universal e, por isso, não apoia [a lei]. Por outro lado, porque é que o Governo nunca apresentou a proposta de Lei Sindical? Porque não está a assumir a sua responsabilidade”, Ng Kuok Cheong

“Noutras jurisdições nota-se que a Lei Sindical estimula o crescimento económico. Estão todos a olhar para esta lei como se fosse um mostrengo. Um sindicato não é uma arma”, Lam Heong Sang, um dos promotores do projecto

“Disse que há empregados que se suicidam ou ameaçam suicidar-se por causa dos salários? Os empregadores também se suicidam por causa da falta de dinheiro. Deve ser o Governo a ser o interlocutor [entre os conflitos laborais]. Há sindicatos que são seitas, como no Japão”, Tsui Wai Kwan

“Associações e sindicatos são coisas diferentes, as regras são diferentes e há leis diferentes. Não deve haver comparações entre as duas figuras, se não é perigoso. Podia ser que, com a Lei Sindical, os trabalhadores a quem são devidos salários deixassem de ter de ir ao Gabinete de Ligação do Governo Central”, Leong Veng Chai

“A lei não resolve o problema, mas a Lei Sindical só vai dar mais trabalho à Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais e ao Conselho de Concertação Social”, Chan Chak Mo

21 Jan 2016

Droga | Deputados aprovam aumento de penas, mas deixam alertas

Está aprovada na generalidade a revisão que vai fazer subir as penas para o consumo e tráfico de droga e para implementar testes de urina como prova. Gabriel Tong absteve-se, Leonel Alves pediu atenção às disparidades das penas

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]revisão à Lei de Proibição da Produção, do Tráfico e do Consumo Ilícitos de Estupefacientes e de Substâncias Psicotrópicas foi, sem surpresas, aprovada na generalidade com uma única abstenção do deputado Gabriel Tong. O diploma agrava as penas do consumo até um ano e do tráfico até 15 anos, introduzindo testes de urina como método de prova, mas deixou alguns deputados de pé atrás.
“Abstive-me porque entendo que o tratamento para as situações [do consumo de droga] não é o ideal, porque limita-se a aumentar apenas a moldura penal. Parece-me que as penas são demasiado elevadas”, defendeu Tong, durante a declaração de voto, em sessão plenária da Assembleia Legislativa (AL), ontem, ainda que assegurasse concordar com as restantes normas.
Em discussão no plenário esteve a recolha de urina, os locais de investigação e a introdução da definição da quantidade – a revisão propõe que caso alguém tenha em sua posse cinco vezes mais do que a quantidade do mapa de referência. O deputado Leonel Alves apontou algumas questões relativas à definição de artigos, mas, no mesmo registo pediu uma maior reflexão quanto ao que diz ser a disparidades das penas.
“Na especialidade é preciso reflectir com mais ponderação. O artigo diz que o mero consumo dá azo a uma pena de prisão de três meses a um ano, mas o consumidor com [quantidade superior a] cinco vezes, incorrerá numa pena de cinco a 15 anos. Uma milésima a mais [origina esta pena]. Acho que há uma discrepância muito grande”, apontou.

Abertos à discussão

Sónia Chan, Secretária para Administração e Justiça, garantiu abertura para um maior diálogo em sede de análise na especialidade. Em explicações, indicou que a revisão tem como propósito aumentar as penas para obrigar os consumidores a recorrerem ao processo de desintoxicação. “Agora a pena é curta e poucos optam pela suspensão e vão para a prisão”, apontou, adiantando ainda que a definição de cinco doses diárias poderá resolver uma das maiores dificuldades desta lei, que é como definir consumo de tráfico. Para os Serviços dos Assuntos de Justiça este método foi introduzido porque muitos traficantes estavam a conseguir ludibriar as autoridades e receber uma pena mais leve.
Recorde-se que em causa está a elevação do limite mínimo de penas do consumo de três meses para três meses a um ano e do crime de tráfico de droga de três para cinco anos, mas mantendo o máximo de 15 anos. O crime de detenção indevida de utensílios ou equipamentos passa a ser considerado como o crime de consumo.

21 Jan 2016

Presidenciais | Portugueses dividem-se entre vitória de Marcelo ou segunda volta

Marcelo Rebelo de Sousa reúne uma maioria de 54,8% dos votos nas últimas sondagens, mas há quem acredite que uma segunda volta reúna consenso num dos candidatos de Esquerda. As opiniões dividem-se, mesmo face às evidências

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s eleições presidenciais portuguesas, que têm lugar este domingo, integram dez candidatos mas, na opinião de portugueses contactados pelo HM, apenas três reúnem condições para seguir em frente. As opiniões dividem-se: enquanto alguns acreditam na vitória clara numa primeira ronda do professor e jurista Marcelo Rebelo de Sousa, outros prevêem que haja uma segunda volta, com um dos candidatos de Esquerda na linha da frente. À Direita – mas com um apoio popular maioritário – está Rebelo de Sousa, com António Sampaio da Nóvoa em segundo plano e Maria de Belém em terceiro lugar, ambos com ligações ao Partido Socialista (PS). sampaio da novoa
O Primeiro-Ministro e líder do PS, António Costa, também já confirmou liberdade de voto aos seus militantes. É que neste caso específico, os militantes do partido dividem-se em termos de apoio, com uma maioria a suportar a candidatura de Sampaio da Nóvoa. Embora Maria de Belém seja adjectivada como “uma figura pouco carismática”, tem um passado marcante na política nacional, tendo já sido Ministra da Saúde, Secretária de Estado portuguesa e administradora da TDM, entre 1986 e 1987.
Poucos estão confiantes na figura feminina para Presidente da República, ainda que a maioria acredite numa segunda volta.

Torna a virar

Para Tiago Pereira, representante do PS de Macau, as campanhas “não trouxeram questões especialmente controversas” e decorreram sem altos e baixos. Chegada a altura de prever os resultados do próximo domingo, o socialista manifesta esperança em que se siga para uma segunda ronda.
“Estou confiante”, declarou ao HM. “As sondagens indicam uma presumível vitória de Marcelo Rebelo de Sousa, mas as estatísticas, especialmente no caso das Presidenciais, têm um grau de incerteza maior e, nesta altura, é perfeitamente possível que os resultados levem a uma eventual segunda volta”, continuou. marcelo rebelo de sousa presidenciais portugal
As posições de Maria de Belém e de Sampaio da Nóvoa, acrescenta Tiago Pereira, são semelhantes. “Maria de Belém é uma figura do PS que comanda enorme respeito perto de todos os socialistas e Sampaio da Nóvoa é uma pessoa de quem a simpatia com o PS é conhecida, mas cuja candidatura é declaradamente independente”, avança.
O PS, faz notar o representante da secção local, não apoia qualquer uma das candidaturas em termos formais. Há, no entanto, simpatizantes e militantes dentro do partido que se identificam com um dos dois.
Filipa Rodrigues também se mostrou “confiante” numa segunda volta, estando no entanto indecisa sobre qual dos socialistas segue em frente. A residente local espera ainda que haja “menos abstenção” do que em eleições anteriores. Embora tenha confessado não saber ainda em que vai votar, Filipa defende que “é preciso uma nova forma de ver o mundo”, sendo “interessante para o país” que fosse eleita uma mulher para o cargo de Presidente. “Se Marcelo Rebelo de Sousa tiver entre 30% e 40% numa primeira volta, isso obrigá-lo-á a uma segunda com um dos outros dois candidatos com uma percentagem semelhante”, prevê.

Como nos 80

A facção Socialista e simpatizante do sector da Esquerda acredita numa segunda volta, com uma maioria a crer que o frente a frente acontece entre o professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e Sampaio da Nóvoa. Nesta próxima ronda deixam de ter presença todos os restantes candidatos, com Maria de Belém a perder força e dar espaço ao concorrente Socialista.
O cenário que se segue é uma vitória, tal como em 86, quando Mário Soares destrona Freitas do Amaral pela simples razão de toda a Esquerda ter apoiado a candidatura do socialista numa segunda volta. Gonçalo Pinheiro é um dos residentes que acredita neste cenário: “A minha dúvida é se só existe uma volta e penso que há necessidade de uma segunda. Se numa primeira volta Rebelo de Sousa se apresentar como um candidato destacadíssimo dos outros, pode acontecer como nos anos 80, quando Mário Soares foi o vencedor. Ou seja, a Direita arrisca-se a perder, porque a Esquerda vai votar toda num só, não no Marcelo”, explica o jornalista e fotógrafo.

Sem hipótese

Sebastião Gomes (nome fictício) afirma que não foi uma opção inteligente, por parte do PS, lançar aos leões dois candidatos. “Só se devia ter candidatado um militante, porque os resultados seriam muito mais marcantes”, esclarece. “O PS está todo repartido e o que fazia sentido era haver só um candidato”, continua. Para o português, Marcelo Rebelo de Sousa não reúne apenas os votos da Direita, mas também de outras facções da população, devido à sua simpatia e presença. Já Maria de Belém não tem, a seu ver, “carisma”, nem é a pessoa indicada para subir à Presidência. “Maria de Belém não tem hipótese”, reitera, em declarações ao HM.
O residente e advogado crê realmente numa vitória de Rebelo de Sousa à primeira tentativa. Se assim não for, “certamente” à segunda, mas na probabilidade remota de se seguir para um regresso às urnas.

Professor ao poder

Conhecido pelos seus comentários semanais – primeiro na rádio TSF e, mais recentemente, no canal televisivo TVI – Marcelo Rebelo de Sousa tornou-se não só uma voz conhecida, como querida da população portuguesa. A arte da oratória e os comentários públicos de crítica (positiva e negativa) a atitudes e situações da vida política e social de Portugal fizeram-no conquistar um lugar na televisão nacional. maria-belem270615
No entanto, como nota Sebastião Gomes, “pouco se conhece de Rebelo de Sousa político”, ficando-se a familiaridade pelos comentários de domingo à noite. É o jurista que mais consenso reúne nas mais recentes sondagens realizadas pelo canal SIC, vencendo com maioria numa primeira volta. Previsões há muitas, mas apenas duas são expressivas: ou Rebelo de Sousa vence à primeira volta, ou terá um frente a frente com Sampaio da Nóvoa numa segunda volta. Nessa altura, surgem duas outras hipóteses: ou a maioria insiste no professor de Direito, ou a Esquerda se une para votar, de forma massiva, em Sampaio da Nóvoa.
No entanto, três dos cinco residentes contactados focam um problema eterno: a abstenção. É que se for alta, pode tramar a vitória de Rebelo de Sousa e aproximar Sampaio da Nóvoa da meta. Questionado acerca da votação em Macau, Tiago Pereira acredita que as urnas terão afluência, já que, ao contrário das Legislativas, estão são presenciais. “Faz muito mais sentido que seja presencial, simplifica a vida a muita gente”, ressalva.

Campanha sui generis

Para o militante Social-Democrata Óscar Madureira, houve na presente campanha uma certa “orfandade partidária”, no sentido em que nenhum candidato mostrou oficialmente as cores da sua vestimenta. O também jurista considera que “o número de candidatos é anormal”, o que não deu grande espaço para que cada um desse conta dos seus planos. Além disso, faz notar que os candidatos de esquerda são “fracos” e não têm a mesma presença de Rebelo de Sousa, com Maria de Belém a ser novamente caracterizada como não tendo “carisma suficiente”.
Sampaio da Nóvoa teve uma máquina de campanha bem oleada, diz, mas não tem grande passado político e por isso, para Madureira, sobra o jurista da universidade alfacinha. Para o advogado, só um socialista podia ter feito frente ao professor: António Guterres. Portugal vai a votos no domingo.

Perfis

Maria de Belém Roseira
A única mulher na corrida à Presidência da República, tornou-se figura conhecida dos portugueses quando ocupou o cargo de Ministra da Saúde. Mais tarde, em 2011, apresentou-se como mandatária de Manuel Alegre às Presidenciais desse ano, mas cinco anos antes, o seu apoio foi para o então adversário de Alegre, Mário Soares. Além disso, cumpriu funções como presidente do PS. Nascida em 1949, entrou nas lides políticas com tenra idade e tem estado, desde sempre, associada ao Partido Socialista.

Marcelo Rebelo de Sousa
Professor catedrático de profissão, lecciona Direito na Faculdade de Direito na Universidade de Lisboa. No entanto, é como comentador político e social – agora na TVI e antes na rádio TSF – que os portugueses o conhecem. Rebelo de Sousa é figura emblemática, cujo voz e presença é querida de vários portugueses. Está neste momento à frente nas últimas sondagens e é militante do PSD.

António Sampaio da Nóvoa
Conhecido pelo apelido, o candidato à Presidência traz na sacola um doutoramento em Ciências da Educação e outro em História Moderna e Contemporânea, ambos tirados lá fora. Actualmente, lecciona Educação no Instituto de Educação da Universidade de Lisboa. Nascido em 1954, tem mais de 150 publicações da sua autoria, contando com o apoio de António Costa para as eleições de domingo.

20 Jan 2016

Wong Kit Cheng preocupada com falta de recursos humanos na Alfândega

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]deputada Wong Kit Cheng está preocupada com a falta de recursos humanos nos Serviços de Alfândega (SA) e por isso quer saber como é que as autoridades irão melhorar o regime de carreiras para preencher o que diz ser uma insuficiência.
Numa interpelação escrita, Wong Kit Cheng lembrou que o Conselho de Estado da China confirmou, em Dezembro passado, a gestão a cargo de Macau de 85 quilómetros quadrados de águas marítimas, conotando-a como uma política que irá trazer grandes vantagens para o território. No entanto, o alargamento desse direito de gestão, diz, faz também aumentar a necessidade de mão-de-obra, instalações e regulamentos complementares.
Segundo o quadro dos SA devem existir 1600 funcionários ao todo, algo que não acontece actualmente, pois de momento os Serviços contam com 1100 trabalhadores, menos 500 do que os necessários.
Apesar de um aumento de 37 funcionários alfandegários, que entraram para o Departamento de Inspecção, a deputada considera ser difícil lidar com todos os novos trabalhos. É necessário, apontou, melhorar o sistema e os equipamentos do pessoal para atrair mais trabalhadores.
“O subdirector dos SA, Sin Wun Kao, admitiu durante o debate das Linhas de Acção Governativa (LAG) a falta de mão-de-obra e necessidade de revisão do regime de promoção [nas carreiras]. Pergunto como é que o organismo vai melhorar o regime para preencher a insuficiência do pessoal alfandegário?”, indagou.
Além disso, Wong Kit Cheng quer ainda saber como é que a Alfândega irá aumentar a formação do pessoal, assegurando a capacidade de cumprir todos os trabalhos com a nova gestão sobre as águas.

20 Jan 2016

Eleições | Governo diz não ter condições para votos no exterior

Zheng Anting pediu, mas o Governo diz que não. Os eleitores que não estão em Macau vão continuar sem poder votar, porque a Administração não tem condições para que isso aconteça

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s residentes de Macau que moram no exterior vão continuar sem poder votar nas eleições para a Assembleia Legislativa (AL), uma vez que não existe mecanismo para que isso possa acontecer e não há condições para tal. Quem o diz é o Governo, numa resposta ao HM.
“Para colocar pontos de votação fora do território é necessário considerar o transporte de votos, número de pontos de votação, a escolha da localização e os recursos humanos”, diz o Executivo, que enumera ainda as despesas das eleições e a coordenação com as entidades de outras regiões, entre outros “factores incertos”, como justificações. “Antes de haver condições maduras, a RAEM não considera adicionar esse mecanismo na legislação eleitoral.”
O esclarecimento dado ao HM surge depois de, numa interpelação escrita entregue no início do mês, o deputado Zheng Anting apelar ao Governo a implementação de um sistema que permita aos residentes de Macau no estrangeiro votar. O deputado chega mesmo a pedir que seja realizada uma consulta pública sobre o assunto antes de 2017, altura das próximas eleições para a AL.

Direito de todos

Existindo milhares de residentes de Macau a trabalhar ou estudar no estrangeiro, assim como idosos que se encontram a viver em lares do interior da China, o deputado argumentou os benefícios da implementação de um novo sistema de voto. Para Zheng Anting, estas pessoas usufruem dos mesmos direitos de eleger e ser eleitos, tal como dita a Lei Básica.
“Já há muitas opiniões que apelam ao Governo para estudar o regime de votação à distância através da designação de locais de voto, para que os residentes possam participar nas eleições quando estão no estrangeiro. Actualmente vários países e regiões com sistemas mais democráticos usam este sistema”, lembrou o deputado.
O Governo explica, na resposta, que “a legislação eleitoral tem regulamentos claros sobre os procedimentos de votação, para assegurar a justiça e equidade” e que “ não existe um mecanismo de colocar pontos de votação em regiões fora de Macau”, nem vai haver.

20 Jan 2016

BIR | Conselho das Comunidades pede intervenção de Sereno

As exigências salariais e registos bancários que estão a ser pedidos no processo de atribuição do BIR levou o Conselho das Comunidades Portuguesas a pedir a intervenção do Cônsul-geral de Portugal, Vítor Sereno. Este promete abordar o assunto no próximo encontro com o Secretário

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s portugueses que pretendem obter o seu Bilhete de Identidade de Residente (BIR) pela primeira vez, ou que visam apenas renovar a residência, têm sido confrontados pelas autoridades com a obrigatoriedade de apresentação de extractos bancários, para além de serem exigidos salários superiores a 25 mil patacas para garantir a permanência no território.
Tais requisitos levaram o Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP) a pedir ontem ao Cônsul-geral de Portugal, Vítor Sereno, uma intervenção junto do Executivo. Segundo José Pereira Coutinho, um dos três Conselheiros, a situação acontece desde 2014, ano em que Aníbal Cavaco Silva, presidente da República, visitou o território.
“Chegou a altura do Cônsul-geral intervir e fazer um ponto de situação sobre esta matéria. Temos recebido dezenas de pedidos de apoio dos portugueses e sabemos que estas situações só se podem resolver a nível diplomático junto das autoridades locais, para que o sistema seja mais transparente e para que todas as pessoas percebam quais são os requisitos, para que estes sejam iguais para todos”, disse José Pereira Coutinho ao HM. Desbloqueámos vários casos junto do Secretário para a Segurança [Wong Sio Chak], mas achamos que com o novo Governo [em Portugal] essas questões têm de ser resolvidas de uma vez para sempre, para que as pessoas que vêm trabalhar para Macau mantenham a confiança”, disse ainda o Conselheiro do CCP.

Ilegalidades?

Para o Conselheiro, as exigências dos extractos bancários e dos salários são ilegais. “Nada vem na lei que as pessoas, para determinadas profissões, tenham de ter um determinado salário e os salários que estão a ser exigidos são extremamente elevados, na medida em que há várias profissões em que os salários são inferiores a 25 mil patacas”, referiu.
Para além disso, diz, apresentar os movimentos bancários não é a forma mais correcta de controlo das pessoas. “Não temos casos de pessoas que se tenham aproveitado do sistema para permanecer em Macau e que tenham tido problemas sociais com a sua sobrevivência”, apontou Pereira Coutinho.
Na carta, o CCP pede que a intervenção do Cônsul-geral ajude “a proceder de uma forma mais expedita os pedidos de autorização de permanência e acabar de vez com os pedidos de movimentos bancários e salários exagerados aquando da análise dos pedidos”.
Confrontado com esta questão, Vítor Sereno garantiu ao HM que vai abordar o assunto no próximo encontro com Wong Sio Chak, Secretário para a Segurança. “Tenho mantido contactos regulares com o Gabinete do Secretário para a Segurança e feito avaliações periódicas sobre tudo o que diz respeito à comunidade portuguesa. Temos tido [do Secretário] a maior abertura e simpatia para a resolução dos nossos problemas. Este tema de [ontem] na carta será seguramente um dos assuntos que será colocado no próximo encontro”, disse o Cônsul-geral de Portugal em Macau.
Numa recente entrevista concedida à Rádio Macau, Amélia António, presidente da Casa de Portugal em Macau, também fez críticas às exigências burocráticas que têm sido feitas, considerando a situação um “exagero” e uma prática “ilegal”. O HM tentou obter mais esclarecimentos junto dos Serviços de Emigração e da Direcção dos Serviços de Identificação, mas até ao fecho da edição não foi possível obter respostas.

19 Jan 2016

Iniciativa para apresentação de Lei Sindical pelo Governo continua a ser “estudada”

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Governo continua a não revelar uma posição clara quanto à possibilidade de apresentar uma proposta de Lei Sindical. Em resposta ao HM, a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) afirma que o Executivo “tem vindo a manter uma atitude aberta sobre a elaboração da Lei Sindical”, mas não avança nada de concreto. O Governo acrescenta apenas que “irá auscultar, através de diferentes meios, as opiniões e sugestões dos sectores sociais sobre a elaboração da mesma”.
É esta a posição oficial numa altura em que a Assembleia Legislativa (AL) se prepara para votar, pela sétima vez, um projecto de Lei Sindical apresentado pelos deputados. Ella Lei, Kwan Tsui Hang e Lam Heong Sang, todos ligados à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), tiveram a iniciativa de apresentar o diploma. Anteriormente, a Associação dos Trabalhadores da Função Pública (ATFPM), através de Jorge Fão, quando deputado, e José Pereira Coutinho teve a mesma iniciativa, que registou sucessivos chumbos do hemiciclo.
Aqueles que há muito esperam pela legislação de um dos direitos dos cidadãos consagrado na Lei Básica têm esperança que, desta vez, possam obter o apoio de todos os membros da AL. Numa recente entrevista ao HM, a deputada Kwan Tsui Hang admitiu já ter contactado os deputados para obter votos a favor e disse que cerca de metade dos membros admitiram apoiar o projecto de lei.
“Não tenho muita certeza, mas estamos a tentar ganhar apoio. Mas alguns já mostraram que não vão votar a favor”, alertou, contudo, a deputada.
Kwan Tsui Hang frisou ainda que o Executivo não deverá apresentar o seu projecto de lei a curto prazo. “Creio que o Governo não vai apresentar [a lei] num futuro próximo, porque o Conselho Permanente de Concertação Social (CPCS) ainda não discutiu sobre esse assunto, apesar dos constantes pedidos dos representantes dos trabalhadores”, rematou.
José Pereira Coutinho garantiu ao HM que espera que os deputados nomeados possam votar a favor da lei no plenário de amanhã. “Vejo com grande esperança o facto de haver colegas que finalmente decidiram apresentar o projecto. Espero que reúna o consenso e os votos necessários para a sua apreciação na generalidade. Não vai ser fácil [obter o apoio], mas acredito que se houver da parte do Chefe do Executivo uma boa vontade, e se der indicações positivas para que os deputados nomeados tenham abertura em relação a este diploma, então não vejo razão para que continuemos a aceitar lacunas desta natureza”, frisou o deputado directo.

19 Jan 2016

Revisão a crimes Sexuais entra em processo legislativo este ano

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]proposta de lei que vai alterar o capítulo do Código Penal referente aos crimes sexuais no território vai entrar em processo legislativo entre Julho e Dezembro deste ano, de acordo com declarações de Anson Ham, um representante da Direcção dos Serviços de Assuntos de Justiça (DSAJ). Foi no programa Fórum Macau da TDM que o chefe substituto do Departamento de Estudo do Sistema Jurídico e Coordenação Legislativa da DSAJ confirmou a vontade do organismo em ter estes crimes em processo legislativo no segundo semestre deste ano.
“Será elaborado o relatório final de consulta pública e a proposta de lei, para que se possa iniciar o processo legislativo de revisão, no decurso do segundo semestre do corrente ano”, escreve a DSAJ em comunicado.
Em cima da mesa está uma revisão parcial ao Código Penal, nomeadamente à parte que diz respeito aos crimes sexuais, como são o assédio sexual, o lenocínio e a introdução de novos crimes.
A ideia é “fortalecer o combate à actividade de prostituição e a introdução do crime de recurso à prostituição de menor para melhor proteger os menores, a introdução da importunação sexual”, entre outras alterações”, escreve a DSAJ.
Recorde-se que, como o HM noticiou o ano passado, na revisão aos crimes sexuais inscritos no Código Penal, o Governo quer também rever os artigos relacionados com lenocínio e prostituição, uma “deixaram de estar ajustados ao desenvolvimento e às exigências sociais”.
O programa teve lugar no passado dia 17 e contou com a presença da deputada Wong Kit Cheng, o coordenador do departamento de Sociologia da Universidade de Macau, Spencer Li, e o advogado Leong Weng Pun. A DSAJ garante já ter ouvido a opinião dos Tribunais, do Ministério Público, de advogados e de associações académicas e sociais e estudado, “intensiva e cientificamente, as políticas criminais gerais de Macau, a realidade social, a opinião do público e as características e tipos de comportamentos criminais”, informa a mesma direcção. A revisão está na fase da consulta pública até dia 22 de Fevereiro.

19 Jan 2016

Bilinguismo | Ho Ion Sang questiona medidas do Governo

O deputado directo quer saber se o Governo vai reforçar acções para a formação de profissionais que dominem o Português e o Chinês no campo jurídico. Um sector, cuja situação, diz, é horrível

[dropcap style=’circle’]H[/dropcap]o Ion Sang entregou uma interpelação escrita ao Governo onde questiona os planos de longo prazo para a formação de profissionais bilingues na área jurídica, bem como as medidas que serão adoptadas para melhorar os conteúdos das publicações de Direito de Macau.
“No relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2016 o Governo disse que vai formar mais profissionais bilingues. Quais os recursos que o Governo vai investir nesta área a curto e longo prazo? Será que existe um mecanismo para reforçar a formação de profissionais bilingues na área judicial?”, questionou o deputado directo.
Ho Ion Sang lembrou que os departamentos governamentais são os que mais necessitam de profissionais que dominam o Português e o Chinês mas, segundo dados divulgados pelo Executivo em 2014, só 30% dos funcionários públicos falavam Português. “No futuro, a ideia de ‘Um Centro, Uma Plataforma’ vai continuar a desenvolver-se em Macau e a procura destes profissionais vai aumentar. Neste momento há algum tipo de formação disponível para os funcionários públicos? Será analisada a situação dos recursos humanos bilingues em Macau?”, acrescentou.
O deputado à Assembleia Legislativa (AL) fala ainda da fraca participação nos cursos existentes. “De acordo com os dados da Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública, de 2014, só sete pessoas se inscreveram no curso de tradução e interpretação organizado pelo Governo. A situação dos funcionários bilingues na área jurídica é horrível, sendo que faltam 91% destes profissionais para o sector”, frisou.

19 Jan 2016

Kwan Tsui Hang questiona falta de supervisão de espaços de entretenimento

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]deputada Kwan Tsui Hang está preocupada com a segurança das instalações de entretenimento de grande dimensão e pede uma fiscalização mais apertada no que diz respeito à manutenção e reparação destes espaços. A ideia foi sugerida numa interpelação escrita, redigida depois do incidente na roda-gigante do Studio City em Dezembro passado, que deixou uma série de visitantes presos dentro das cápsulas durante uma hora.
Kwan Tsui Hang lembra que, embora o Governo tenha elaborado, em 2014, as Instruções para Apreciação, Aprovação, Vistoria das Instalações de Entretenimento de Grande Dimensão, estas apenas incidem sobre o design e a obras até que o espaço fique concluído. No entanto, faltam requisitos que obriguem à manutenção e reparação depois desta entrar em funcionamento.
“Mesmo que a construção destas instalações seja devidamente fiscalizada, faltam normas que regulamentem o seu funcionamento futuro e que obriguem a certos critérios de manutenção e reparação”, explicou. 
A deputada duvida que o Governo consiga assegurar a segurança dos cidadãos e turistas sem a devida supervisão numa base de manutenção diária. “Que medidas é que o Governo tem para garantir a manutenção e reparação a um nível positivo, de instalações de entretenimento de grande dimensão?”, questionou.
Além disso, Kwan Tsui Hang afirma ainda que o Governo criou, em 2012, um grupo de trabalho interdepartamental para a melhoria da supervisão de instalações mecânicas e eléctricas. O grupo é responsável por criar uma base de dados centralizada, um regime de formação e um exame para os trabalhadores. A deputada quer saber como está o processo desses trabalhos.

19 Jan 2016

Secretário pede mais consciência a nova equipa do IAS

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]ecorreu ontem a tomada de posse dos dois novos vice-presidentes do Instituto de Acção Social (IAS), Hon Wai e Au Chi Keung, e de vários cargos de chefia do mesmo organismo. Depois da reestruturação que atribuíram ao organismo as funções de reinserção social, que eram dos Serviços dos Assuntos de Justiça, os novos vice-presidentes mostram-se confiantes com o futuro.
Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, presente no momento, apelou ao trabalho da nova equipa. “Gostaria de aproveitar o momento para alertar todos os colegas que no futuro têm de aumentar a vossa consciência no trabalho e perceber melhor quais as necessidades da população, bem como aumentar a vossa capacidade profissional. Peço-vos para trabalhar no futuro ainda mais activamente”, rematou.
Hon Wai mostrou-se muito empenhado no desafio que agora abraça, garantindo esforços no atendimento das solicitações da sociedade.
“Após o retorno de Macau à China, tem-se assistido ao rápido desenvolvimento político e económico e os problemas familiares e comunitários tendem não só a complicar-se como também a ficar camuflados. Irei desempenhar as minhas funções no sentido de conjugar forças das equipas do serviço social (…)”, discursou Au Chi Keung.

19 Jan 2016

Lei Sindical | Ella Lei critica atitude passiva de Chui Sai On: “O Governo não pode não ter um papel a assumir”

A Lei Sindical é fundamental e o Governo tem a “responsabilidade” de a fazer, mas está há anos a esquivar-se. É o que diz Ella Lei, que apresentou com Kwan Tsui Hang e Lam Heong Sang um projecto que vai a votos amanhã. Tudo se pode esperar de deputados nomeados, diz, habitualmente “contra” a protecção aos trabalhadores

[dropcap style=’circle’]P[/dropcap]orque é que decidiram apresentar agora o projecto da Lei Sindical?
Não apresentámos o projecto de forma repentina mas, como temos vindo a dizer, a [criação] da Lei Sindical está fundamentada através da legislação de Macau. A Lei Básica regulamenta a liberdade de organizar e participar sindicatos, de fazer greve. A Convenção Internacional assinada por Macau [relativamente ao trabalho] tem artigos sobre os direitos de organização sindical. No entanto, ao longo dos anos, o Governo nem fez muitos estudos, nem impulsionou a criação da lei. Já consultámos as associações da Federação das Associações de Operários de Macau (FAOM) e queremos apresentar o projecto e ganhar apoio, sendo que, se for aprovado [na generalidade], podemos discutir mais detalhes da lei. É mesmo preciso haver esta discussão neste território para que todos entendam porque é que necessitamos da Lei Sindical.

Existem algumas diferenças entre este projecto e os anteriores apresentados pelo deputado Pereira Coutinho?
Não comparamos, mas o projecto que elaborámos, fizemo-lo junto das associações e tendo em conta as suas opiniões.  

Tiveram ajuda de especialistas ?

Agradecemos também aos assessores jurídicos da Assembleia Legislativa, porque eles apresentaram sugestões e eventuais problemas do projecto original para fazermos uma correcção. Acredito que cada associação tem o seu ponto de vista sobre a Lei Sindical e ouvimos diferentes opiniões. O que quero é apenas promover, discutir e implementar a lei.

Os antigos projectos de Lei Sindical foram seis vezes chumbados. Acredita que desta vez os deputados vão votar a favor? Já contactaram alguns?
Quando nos encontrámos com alguns deputados, ficamos com a esperança de que eles vão apoiar o projecto, mas não posso dizer agora quantos colegas do hemiciclo vão votar a favor. Cada deputado tem as suas opiniões. Só demos as nossas opiniões e razões para a necessidade da Lei Sindical. Quando há conflitos laborais, a parte laboral fica sempre em desvantagem face ao patronato, em qualquer situação económica. A Lei Sindical fará equilibrar esse problema e vai ajudar a resolver os conflitos laborais. Daí que tentemos ao máximo ganhar apoio.

Mas pensa que a área que os deputados representam pode ter influência? Por exemplo, os deputados nomeados e da área comercial podem votar contra?
Não apenas face à Lei Sindical, mas também quando discutimos a revisão de leis sobre o trabalho, metade de deputados tem opiniões contra. Agora é ver se nos apoiam no dia 20.  
Esses deputados poderão votar a favor apenas se Chui Sai On concordar com o projecto da lei?
Não faço ideia se esse será o caso. O Governo declara sempre que tem uma atitude aberta perante a Lei Sindical, mas não concordo com isso. Em relação aos assuntos sociais, o Governo não pode não ter um papel para assumir. Por exemplo, quando as associações internacionais laborais pedem ao Governo que entregue um relatório para ver se está a pôr em prática o que diz a Convenção Internacional, o Governo diz apenas e sempre que “tem uma atitude aberta”. Para mim, isso não chega. O Governo deve ter uma ideia fundada, não apenas deixar os representantes dos trabalhadores e empregadores sozinhos face a um eventual consenso sobre a lei.

Portanto, considera que tanto o Governo como o Chefe do Executivo ainda não têm uma opinião clara sobre a Lei Sindical?
Considero que eles têm essa responsabilidade. Isto não é apenas uma política que mereça discussão, é um princípio consagrado na Lei Básica e é preciso esta lei para pôr em prática os direitos e liberdade dos trabalhadores e sindicatos. O Governo tem um grande papel nesta matéria mas, depois de tanto tempo, o Chefe do Executivo ainda não promoveu a implementação desta lei.

Se este projecto de lei for reprovado, acredita que o Governo irá apresentar outro no futuro?
Como já disse, o Governo tem essa responsabilidade e é também o que vamos solicitar [se o projecto reprovar]. O que nós vamos fazer é continuar a impulsionar a Lei Sindical, mesmo que possa demorar muitos anos, temos que nos esforçar.

O vosso projecto de Lei Sindical também engloba os Trabalhadores Não Residentes (TNR).
Quando elaborámos o projecto de lei não separamos a definição de trabalhadores locais e de TNR. O objecto da lei são os trabalhadores. Daí termos incluído os TNR propositadamente.
 

19 Jan 2016

Nova passagem entre Zhuhai e Macau pode abrir em 2017

As autoridades de Zhuhai apontam 2017 como data de abertura de mais um canal fronteiriço, mas o GDI diz que só há condições para tal depois da transferência do mercado abastecedor, que não se sabe quando acontecerá

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s autoridades de Zhuhai asseguraram que o projecto de construção da nova passagem Guangdong-Macau poderá ser concluída este ano, sendo que, assim, tudo aponta para que o futuro posto fronteiriço abra no próximo ano. O Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas (GDI) não confirma o anúncio, afirmando que a obra só pode começar depois de se mudar o mercado abastecedor da Nam Yue de sítio.
Segundo o Jornal Ou Mun, o governo da cidade vizinha publicou recentemente numa proposta de trabalhos de construção esta nova passagem, onde afirma que vai “acelerar” a construção do projecto transfronteiriço, que fica na zona norte. As autoridades vizinhas dizem que vão criar um edifício de inspecção e instalações complementares acima do Canal dos Patos, bem como ligar esta saída à estação ferroviária de Zhuhai. A proposta revelou ainda que o novo modelo de passagem do posto fronteiriço – verificação de documentos de identidade só uma vez – poderá ser utilizado na nova passagem.
Ao mesmo jornal, o GDI afirmou ainda que o projecto vai incluir a melhoria ambiental da zona do Canal dos Patos – onde aparecem muitas vezes peixes mortos – e da Avenida do Comendador Ho Yin. Mas, o GDI diz que ainda está a ser concebido o design e a planta de construção do posto fronteiriço. O organismo diz ainda que a obra só tem condições para avançar quando se fizer a transferência do actual mercado abastecedor da Nam Yue da Zona Industrial Transfronteiriça da Ilha Verde para a nova localização.
A questão do mercado abastecedor já vem de uma longa data, sendo que só o ano passado a obra foi adjudicada por 860 milhões de patacas, desconhecendo-se um calendário para a sua conclusão.

18 Jan 2016

Vong Yim Mui, presidente do Instituto de Acção Social: “Não acordámos agora para a violência doméstica”

A nova presidente do IAS afirma que o envelhecimento da população é prioridade, com consulta pública sobre o assunto marcada para Março. Vong diz ainda que a Lei da Adopção poderá ser revista e que a UM está a fazer um estudo sobre creches. Mais: jura que a prevenção da violência doméstica esteve sempre na mira do Governo

Acabou de tomar posse como presidente do Instituto de Acção Social (IAS). Quais são os planos de trabalho que gostaria de ver realizados?
Com o constante desenvolvimento social, a acção social assume um papel muito relevante na sociedade, na medida em que está intimamente relacionada com a vida e bem-estar de milhares de residentes. Sendo o IAS o organismo público do Governo encarregado de assegurar os benefícios sociais, deve o mesmo estar imbuído de um elevado sentido de responsabilidade, uma vasta visão profissional, um grande espírito de solidariedade social, bem como de uma capacidade de acção delicada e minuciosa para organizar, planificar, promover e elevar cada projecto desta área específica e os respectivos trabalhos. O IAS tem vindo a empenhar-se na implementação das políticas e medidas inseridas das Linhas de Acção Governativa (LAG), estando actualmente a desenvolver de forma ordenada os diversos planos de trabalhos de curto, médio e longo prazos.

Mas isso é, de algum modo, o trabalho regular e que espera do Governo. Algo de novo para o futuro?
Perspectivando o futuro, o IAS vai continuar a consolidar o apoio aos grupos sociais vulneráveis, reforçar a rede dos serviços de apoio à família e comunidade, procurar aumentar o número de vagas das creches, implementar de forma ordenada o Plano Decenal de Desenvolvimento dos Serviços de Apoio a Idoso e de Reabilitação, promover constantemente o desenvolvimento dos serviços de prevenção e tratamento da dependência do Jogo e da droga, optimizar o novo regime de subsídios às instituições, acompanhar a construção e o funcionamento dos novos equipamentos sociais, promover os trabalho relativos à prevenção e tratamento da violência doméstica, bem como assegurar os trabalhos legislativos relativos ao Regime de Garantia dos Direitos dos Idosos e ao Regime de Credenciação Profissional dos Assistentes Sociais.

O IAS foi alvo de uma reestruturação orgânica…
O IAS encetou uma nova página da sua história, com um âmbito de atribuições mais vasto por englobar agora os serviços de reinserção social. No futuro, irá reunir todos os seus trabalhos para nos empenharmos de forma incansável na prestação de apoio aos cidadãos, na resolução das suas dificuldades e na construção de uma nova vida, reforçando e desenvolvendo deste modo a cooperação amistosa com as instituições com as instituições particulares e os outros serviços do Governo, com vista a elevar conjuntamente o nível do seu profissionalismo, a fim de proporcionar à população serviços de elevada qualidade e eficiência e melhorar o bem-estar dos residentes.

Em termos práticos, o que significam esses planos?

O valor de risco social foi já aumentado de acordo com o mecanismo de ajustamento. O montante do seu valor para as famílias com um agregado familiar subiu de 3920 patacas para 4050 patacas, o que representa uma taxa de aumento de 3,3%. Quanto ao serviço de apoio alimentar de curto prazo, o mesmo irá transformar-se num serviço regular, prevendo-se que cerca de 3800 famílias ficarão beneficiadas com essa alteração. Além disso, será reforçado o trabalho de divulgação para mais famílias carenciadas tomarem conhecimento da existência do serviço. Paralelamente, serão implementados mais serviços diversificados de valorização pessoal e familiar. Em relação aos serviços de apoio às minorias, mediante o contacto directo ou encaminhando-os para os respectivos serviços de apoio, com vista a ajudar a uma mais rápida integração comunitária. Vong Yim Mui

Há uma lista vasta de serviços prestados pelo IAS. Serão suficientes?
O IAS tem uma enorme área de actuação e com muitas tarefas. E todas as tarefas são importantes, mas temos que as dividir em várias fases, por exemplo trabalho a curto prazo, médio prazo e longo prazo. Todos são importantes, mas temos em foco o apoio aos grupos sociais vulneráveis, aos idosos e deficientes. Em relação a isto, temos à nossa frente – e damos a nossa importância – à área que está relacionada com o envelhecimento da população. Vamos criar mais lares para idosos, isso é um ponto essencial e prioritário do trabalho que temos pela frente. No primeiro trimestre vamos ter o plano decenal para o serviço de idosos – vamos concretizar isso este ano.

Portanto, nos primeiros três meses de trabalho – e do ano – o foco serão os idosos.
Sim. Temos de enfrentar o problema de envelhecimento populacional que se regista actualmente. Para prosseguir as diversas medidas do Plano Decenal de Acção para o Desenvolvimento dos Serviços de Reabilitação, será lançada em Março uma consulta pública. No âmbito das suas atribuições, o IAS irá empenhar-se na concretização do trabalho do primeiro ano de implementação desse plano, como tarefa prioritária, na promoção do desenvolvimento do planeamento do serviço de tratamento precoce, do serviço de reabilitação para deficientes, da saúde mental da população, da construção de equipamentos sociais para deficientes e do alargamento do serviço de autocarro de reabilitação.

O facto de ser mulher é uma mais valia para o cargo que agora ocupa por ter, porventura, outra sensibilidade por exemplo para os casos de violência doméstica em que maioritariamente, em Macau, as vítimas são mulheres?
Claro que o IAS dá muita importância à violência doméstica. Mas é preciso esclarecer que o IAS não está à espera que a Lei da Violência Doméstica seja aprovada para fazer o que quer que seja. Não ficamos aqui sem fazer nada. Já estamos a fazer muitas coisas, por exemplo, os contactos com os serviços [de apoio]. Quando a lei for aprovada os serviços já estão preparados: a polícia, os Serviços de Saúde, o Instituto de Habitação. Está tudo preparado. E não é só com os serviços públicos, também com os privados, para que haja comunicação sobre a problemática. Temos na mão alguns dados e estamos a promover acções de formação para as pessoas da linha da frente, para que possam lidar com o problema da violência doméstica. É preciso ainda apontar que a nossa visão é unilateral, ou seja, os alvos de violência doméstica não são só mulheres, também podem ser homens. Esta é a nossa visão. Homens e mulheres. Vamos sempre dar apoio e formação às vítimas, para evitar mais ofensas. Temos ainda uma linha aberta, que já está a funcionar, que lida com este problema. Portanto, não acordámos agora.

Concorda com que a violência doméstica seja crime público?

Quanto a esta questão, após muitas discussões, o ponto essencial é definir a natureza do acto ou o próprio acto de violência doméstica. Na minha opinião pessoal, se realmente se verificar que é um acto de violência doméstica, então deve ser um crime público. O mais importante é preciso distinguir o acto, se é violência doméstica. Por exemplo, uma bofetada, como é que as pessoas vêem? Qual o ponto de vista? Depois da saída da lei isto vai estar muito bem definido.

Tem-se notado um acréscimo nos pedidos de ajuda?
De uma forma geral, o IAS recebe dois tipos de pedidos, os que surgem pelas instituições particulares ou pelo próprio IAS. A porta do IAS está sempre aberta, por exemplo, na sua sede e nos centros de acção social. É o grupo de deficientes que tem mais solicitações de ajuda. Por exemplo, sobre o plano decenal de apoio à deficiência – como sabemos ainda está em fase de consulta pública. É este grupo e o dos idosos os que mais pedidos de ajuda solicitam.

A Lei da Adopção foi alvo de críticas sobre a protecção aos progenitores, permitindo que as crianças não possam ser adoptadas. Segundo o que o HM apurou, numa reportagem, existem poucas crianças disponíveis para adopção, sendo que as que estão não o são por serem deficientes. Como é que o IAS pretende resolver esta questão?
Este é de facto um assunto importante. Temos de dar mais importância a isto. Temos aqui dois lados: o primeiro é o Regime de Protecção das Crianças e o Regime de Actuação. Vamos analisar o conteúdo e depois dar uma opinião aos serviços competentes para se estudar a possibilidade e viabilidade de alterar os regimes. Quanto à acusação da lei proteger os progenitores e, nesse caso, as crianças deficientes estarem mais vulneráveis, isso é preciso ver de forma concreta. É preciso estudar casos concretos. Se isto se confirmar, a nossa primeira preocupação será proteger a criança. Temos a responsabilidade de prestar cuidados e atenção. Podemos fazer isso também com as instituições privadas. Quanto ao Regime de Actuação já é um domínio diferente. Portanto temos de dividir a situação em dois lados: protecção e actuação. Por enquanto é assim. Sei que os Serviços de Justiça estão a propor uma revisão do regime, mas por enquanto só sabemos isso.

Tal como avançado pelo HM, há pessoas a dormirem em restaurantes, por exemplo o McDonald’s, que estão abertos 24 horas por dia. O IAS tem conhecimento disto?
Neste momento funcionamos em cooperação com uma instituição particular [Cáritas] para gerir um centro para os desalojados. Em Macau há um mecanismo para proteger estes desalojados, mas há pessoas que não querem essa ajuda. Quando elas não querem e optam por ficar nos McDonald’s, o IAS tem que ver a intenção da pessoa. Não sabemos qual a causa, pode não ser um desalojado. Há também casos de pessoas com perturbações psicológicas – é preciso ver o contexto e a intenção da pessoa. Temos ainda trabalhadores de um serviço extensivo, cabe-lhes a eles irem fazer as rondas. Vão à rua para tratar destes casos, perceber as necessidades. Temos uma equipa que faz isso.

Relativamente às vagas nas creches, o IAS quer aumentar o número. Como?
Para continuar a aumentar o número de vagas das creches, vamos cooperar com as instituições particulares e os serviços públicos, no âmbito da criação de novas creches e da ampliação das instalações das creches existentes, com vista a aumentar as vagas até mais de dez mil. Paralelamente, vamos continuar a desenvolver os serviços de creche diversificados que abrangem o prolongamento do horário de funcionamento, o serviços nos feriados, o serviço em situações de urgência e temporárias, etc., no sentido de responder às necessidades diferentes dos encarregados de educação. Além disso, será incumbida à Universidade de Macau a criação de um curso de diploma para monitores de creches com duas edições, para formar cem pessoas, no sentido de melhorar os seus conhecimentos e técnicas de cuidar e educar crianças. Entretanto, foi encarregada também a mesma universidade de efectuar um estudo sobre a procura dos serviços de creche e o planeamento da respectiva política, a fim de definir o plano de desenvolvimento dos serviços de creche de 2018 a 2022.

Falou numa maior necessidade de prevenção da droga. A lei foi alterada recentemente, aumentando as penas. Concorda que é através de maiores penas que se controla o consumo?
Na revisão da lei, todo o trabalho legislativo passou pela Comissão da Luta Contra a Droga e já tivemos discussões mais do que suficientes sobre o assunto. Demos os nossos pareceres também. Portanto, a maneira de estruturar a lei partiu de um consenso. O essencial é ajudar os toxicodependentes, apesar da lei ser mais rigorosa. É preciso ver que existe um mecanismo de suspensão de penas, num período onde é encorajado o tratamento dos toxicodependentes. Isso já é uma medida para dar a oportunidade para corrigir. A lei é o último meio.

Dados

Entre 2011 a 2015 foram recebidos 20 mil casos de pedidos de avaliação de deficiência, sendo que 50% são considerados portadores do Cartão de Registo de Avaliação de Deficiência válido. Entre Janeiro a Outubro do ano passado foi atribuído o subsídio regular a cerca de 4500 famílias. O apoio alimentar de curto prazo do Centro do Serviço de Fornecimento Temporário de Alimentos da Cáritas foi atribuído – no mesmo período de tempo – a cem novas pessoas, ultrapassando os 3100 beneficiários regulares. Em 2015 o subsídio de idosos garantiu a sobrevivência a 65 mil pessoas.

18 Jan 2016

Rendas | Advogados apontam falhas a projecto de lei de deputados

[dropcap style=’circle’]J[/dropcap]uristas ouvidos pelo HM não têm dúvidas: é preciso rever a lei que controla as rendas, mas tem de se ter atenção ao projecto apresentado por deputados e que foi aprovado no ano passado na generalidade. Uma das ideias mais defendida é que Chui Sai On não fique, como sugerido, com a responsabilidade de definir o coeficiente de aumento das rendas – um organismo autónomo, defendem alguns, deveria ficar com essa matéria a seu cargo. 161215P5T1
“Este projecto de lei tem algumas desvantagens pois pode afectar o mercado livre, porque actualmente, com o Código Civil, existe a liberdade para os inquilinos e senhorios decidirem as rendas”, começa por apontar o advogado Lei Wun Kong, relativamente ao projecto de Lei de Arrendamento, apresentado pelo deputado Chan Meng Kam e assinado por Leonel Alves, Pereira Coutinho, Ho Ion Sang e Kwan Tsui Hang.
Ainda assim, diz, existem vantagens. “Caso o projecto seja aprovado, os senhorios não podem aumentar a renda à vontade, pois as rendas devem seguir o acordo do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), sendo que o coeficiente das actualizações deve ser aprovado pelo próprio Chefe do Executivo [Chui Sai On]. Isto é uma vantagem, assim conseguimos evitar os aumentos constantes do preços das rendas”, referiu.
Para o advogado, contudo, esta é de facto uma lei que vem proteger mais os inquilinos do que os senhorios. “Mas por outro lado, evita os casos de pessoas que não aguentam os aumentos e são obrigadas a sair das suas casas, portanto, posso dizer que este projecto tem tanto de vantagens como de desvantagens”, sublinhou.

Três pontos principais

Para o advogado Bruno Almeida existem três pontos importantes no projecto que se encontra agora em consulta pública até Fevereiro. Parece-lhe ser um documento neutro, defende, beneficiando ambos os lados.
A consideração de meios alternativos para a resolução de litígios é uma das alterações propostas que merecem destaque. “Neste caso, a previsão do recurso à arbitragem como uma via para resolução de conflitos, relativamente ao arrendamento, é relevante, porque permite que as partes recorram a meios mais céleres para pequenas causas, com valores pouco significativos”, apontou.
Esta alteração vem permitir que alguns processos não precisem de chegar aos tribunais. “É uma proposta bem-vinda e que me parece trazer vantagens”, defendeu.
Também o advogado José Filipe Salreta fez notar este primeiro ponto, defendendo que está é uma medida “positiva”, que “pode de facto simplificar a resolução de problemas nos contratos de arrendamento e descongestionar os tribunais, desviando litígios de menor complexidade jurídica para centros arbitrais especializados”.
Bruno Almeida destaca ainda a actualização das rendas, ainda que aponte falta de clareza na forma como isso acontece. “Julgo que a formulação não é absolutamente clara sobre se alguma das partes pode impor alguma actualização dentro do coeficiente [determinado]”, defendeu, afirmando que o projecto em causa parece mostrar que a ideia é “definir um tecto máximo”.
“Não me parece possível que, não havendo acordo e não estando previsto no contrato, algumas das partes possa obrigar a outra a actualizar a renda. Mas acho que o projecto não é absolutamente claro quanto a isso. Pode haver quem o interprete de outra forma”, referiu.
Questionado sobre a última palavra de Chui Sai On na definição do coeficiente, Bruno Almeida concorda com esta hipótese. “Sim, julgo que [é viável], mas tenho algumas reticências quanto ao facto da situação do mercado imobiliário ser um factor considerado para esse efeito. Aquilo que se pretende com a fixação de um coeficiente de actualização é algo muito objectivo, é uma percentagem (…) e o critério da situação do mercado imobiliário parece-me que é demasiado aberto e subjectivo.” Por isso é que, indica, a habitação não costuma ser considerada no IPC.
Para José Filipe Salreta a lei parece clara: esta medida envolve não só questões de ordem prática, mas também opções de política económica. “Muito embora a situação no mercado exigisse um travão às rendas especulativas – e muitas vezes predatórias -, esta revisão ao Código Civil vai obrigar o Chefe do Executivo a rever todos os anos o coeficiente de actualização e qualquer atraso implicará um desfasamento económico por imposição administrativa. Talvez fosse mais avisado autonomizar legislativamente o arrendamento urbano em Macau e atribuir a revisão do referido coeficiente a uma entidade autónoma, sem prejuízo de a mesma poder ser corrigida por intervenção do Governo”, apontou.
A decisão de ser Chui Sai On a rever o coeficiente de actualização parece, ao advogado, uma “solução pouco ágil”, na medida que “obriga o Chefe do Executivo a rever todos os anos – ou quiçá mensalmente caso haja flutuações acentuadas na economia de Macau – o coeficiente de actualização”.
Já para a advogada Helena de Nazaré Valente esta decisão, para além de exequível, é “desejável”, visto “que o assunto é urgente”. No entanto, alerta para os prazos apertados e para o facto de não poder haver atrasos na definição deste coeficiente. “Se se conseguir garantir que no dia 1 de Janeiro de cada ano teremos um coeficiente de actualização das rendas definido, isso parece-me perfeito. Caso contrário, penso que seria desejável constituir um organismo, ou um departamento, responsável apenas por esse assunto”, defendeu.

Tudo às claras

Bruno Almeida aponta ainda um outro ponto no novo diploma como positivo: uma maior solenização do contrato, já que se exige que, além da forma escrita, também haja uma intervenção de um notário. Esta alteração, aponta, vem “trazer à luz do dia arrendamentos que hoje, por falta de forma ou intervenção notarial, não são [re]conhecidos”. Isto traz também um maior protecção aos arrendatários, sendo que “obriga a que todas as situações de arrendamento sejam formalizadas e delas seja dado conhecimento às autoridades”.
José Filipe Salreta admite que a “exigência de reconhecimento notarial das assinaturas pode dificultar o arrendamento a pessoas sem autorização de permanência ou em situação ilegal”, diz, enquanto fala ainda de consequências desta nova exigência formal, como a obrigatoriedade de todas as agências imobiliárias estarem devidamente legitimadas. Isto faz com que tenham de estar munidas de uma procuração, para “poderem assinar em nome dos senhorios que frequentemente não estão em Macau e deixam as referidas agências negociar – e muitas vezes inflacionar artificialmente – o valor da renda”.

A pensar na prática

O advogado Lei Wun Kong alerta ainda para os limites para as renovações dos contratos relativamente à actualização dos preços, sendo que esta obrigatoriedade deixa de existir se os inquilinos do imóvel em causa forem novos. Quer com isto dizer, explica, que este projecto poderá estar a provocar que os senhorios “prefiram estar a fazer novos contratos com novos inquilinos de forma constante em vez de renovarem com os mesmos, por causa das actualizações”. “É preciso olhar as questões na prática”, rematou. pessoal_comofuncionaosubsidioderendadecontratoarrendamento-540x347
Ainda assim, para Helena de Nazaré Valente, só o facto deste projecto existir é positivo, visto que significa que “finalmente os órgãos decisores tomaram consciência de que alguma coisa precisa de ser feita neste campo”.

Com Flora Fong

15 Jan 2016

Segurança | Secretário fala de grande aumento de imigração ilegal

Wong Sio Chak alerta para um elevado aumento de imigrantes ilegais em Macau, na ordem dos 60%, sendo que a maioria terá chegado ao território para trabalhar

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, disse numa entrevista ao jornal Ou Mun que Macau registou um elevado número de imigrantes ilegais em 2015 face a 2014, um aumento que será na ordem dos 60%. Para o Secretário, quase 99% desses trabalhadores terão chegado à RAEM para trabalharem de forma ilegal.
“O Governo tem feito muito para ultrapassar o problema da imigração ilegal, sendo que mais de 1800 imigrantes ilegais foram detectados e presos de Janeiro a Setembro do último ano. Desses, 30% deles são oriundos de países do sudeste asiático”, apontou Wong Sio Chak.
Cerca de 900 imigrantes ilegais terão entrado em Macau pelo trilho de Long Chai Kok, localizado junto à praia de Hac-Sá, em Coloane, sendo que muitos terão afirmado ter chegado a Macau apenas para jogar nos casinos. Contudo, o Secretário para a Segurança disse ao Ou Mun acreditar que muitos vêm para trabalhar.

Resposta à altura

O facto desses imigrantes terem sido presos significa, para o Secretário, que Macau tem capacidade de resposta para este problema, mas também é um sinal de que o problema é grave. Com a aprovação da nova área marítima, Wong Sio Chak espera poder reorganizar os trabalhos nesta área. O Secretário explicou que, enquanto os Serviços de Alfândega são responsáveis pela captura dos imigrantes ilegais no mar, a Polícia de Segurança Pública (PSP) trata dos casos em terra. Foi ainda garantida a cooperação entre a PSP e os Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), por forma a resolver o problema dos ilegais nas obras.
“O Governo vai continuar a cooperar com o departamento de segurança de Guangdong, por forma a evitar que grupos criminosos utilizem o vazio legal para aumentar as actividades ilegais”, disse Wong Sio Chak na entrevista.
O Secretário referiu ainda que o Governo já tem um plano para a segurança informática, mas que “o maior problema é que será difícil recrutar profissionais no futuro para este centro”.

14 Jan 2016