Andreia Sofia Silva PolíticaAinda há 83 cursos de bacharelato a funcionar no ensino superior [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]futuro Regime Jurídico do Ensino Superior vai eliminar os bacharelatos, mas ainda há um total de 83 cursos deste tipo a funcionar no ensino superior em Macau. Os dados constam no website do Gabinete de Apoio para o Ensino Superior (GAES) e mostram que a maior parte dos bacharelatos continuam a funcionar no Instituto Politécnico de Macau (IPM). O deputado Chan Chak Mo, que preside à 2ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), encarregue de analisar o diploma na especialidade, explicou que o Executivo pretende acabar com os cursos de bacharelato recorrendo ao mesmo método que serviu para o fim das secções na Função Pública. “O Governo disse-nos que vai adoptar um método para resolver o problema dos cursos de bacharelato, semelhante ao que foi adoptado para o posto de chefe de secção na Função Pública. O Governo disse-nos que o mais importante é que os estudantes consigam concluir os seus cursos de bacharelato.” Segundo o mesmo deputado, “nos últimos anos as instituições do ensino superior não abriram cursos de bacharelato”. Segundo a lista publicada no website do GAES, vários bacharelatos já foram alterados ou mesmo cancelados. Mudanças a caminho Com a nova lei o GAES vai passar por uma reestruturação, mas os deputados ainda não sabem o nome da futura entidade que irá substituir o organismo liderado por Sou Chio Fai. No caso das sanções, “quando as instituições públicas cometerem erros ou infringem a lei aplica-se a sanção ao reitor ou a uma pessoa”. “Vão ser adoptados os procedimentos da Função Pública, nomeado o Estatuto dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ETAPM). Quanto às instituições privadas vão aplicar-se multas. As instituições do ensino superior sediadas no exterior com actividade na RAEM também vão ser sujeitas a multas”, explicou Chan Chak Mo. A análise do diploma já foi concluída mas os deputados e os assessores ainda vão acertar alguns detalhes técnicos da nova lei.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaAL | Exigidos mais assentos para classe média, Jogo e ambiente Vários deputados deixaram o alerta: a Assembleia Legislativa necessita de ter mais deputados eleitos pela via directa e indirecta para que possa acompanhar o desenvolvimento da sociedade. Mas quais as novas áreas que devem estar representadas? Especialistas pedem mais assentos para o Jogo, classe média ou ambiente [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]última sessão de auscultação aos deputados sobre a revisão da Lei Eleitoral resultou num apelo ao Executivo. Vários deputados pediram mais assentos para a Assembleia Legislativa (AL) pela via directa e indirecta. “Nos últimos anos verificou-se uma maior participação da população e devem ser aumentados os assentos no sufrágio directo. A falta de assentos directos originou actos de corrupção que carecem de uma investigação profunda”, disse José Pereira Coutinho. Angela Leong, também administradora da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), falou da necessidade de uma maior representatividade do hemiciclo. “Tendo em conta o crescimento demográfico há mais solicitações por parte da sociedade e deve ser aumentado o número de vagas do sufrágio indirecto e directo. O sufrágio indirecto tem como objectivo representar os diversos sectores da sociedade e estão a surgir mais sectores. Actualmente o sufrágio indirecto apenas representa quatro sectores e isso é insuficiente. Temos de aumentar o profissionalismo e a representatividade na AL”, disse a deputada. Em falta Mas quais os sectores que deveriam ser mais representados no hemiciclo? Larry So, politólogo e ex-docente do Instituto Politécnico de Macau (IPM), alerta para a necessidade de mais deputados que representem o sector do Jogo. “Deveríamos ter mais assentos no sufrágio directo”, disse ao HM. “Há diferentes sectores que representam interesses que não representam verdadeiramente a sociedade de Macau. Não temos uma única pessoa que represente verdadeiramente a indústria do Jogo. Sabemos que há muitos deputados que estão relacionados com a indústria do Jogo, mas isso não significa que tenham sido eleitos por pessoas que pertencem a esse sector”, acrescentou Larry So. Para o ex-docente do IPM, Angela Leong não é suficientemente representativa deste sector. “Cerca de um quarto da população trabalha na indústria do Jogo então como é possível que não tenhamos um representante? Sem dúvida que precisamos de mais um assento. Se eu votasse na Angela Leong votava não por ela fazer parte da indústria do Jogo, mas porque fez algum trabalho junto da comunidade, sobretudo na zona norte.” Larry So referiu ainda que há necessidade de uma maior representatividade dos profissionais liberais ligados à classe média. “Deveríamos também ter outro assento para representar as profissões liberais, como médicos ou assistentes sociais. Tratam-se de grupos de pessoas qualificados e as suas vozes não têm sido ouvidas. Há novos profissionais na comunidade, fazem parte da classe média e estão mais preocupados com os problemas da sociedade.” Um máximo de 40 O líder da Macau Union Green Student, Joe Chan, defende que é preciso eleger pelo menos um ambientalista para o hemiciclo. “Os deputados devem representar os diferentes sectores da sociedade, então penso que um dos maiores problemas actualmente é a poluição ambiental e conflitos em termos de ambiente e desenvolvimento. Seria bom ter alguém na AL que pudesse chamar a atenção para estas questões.” Joe Chan pensa que o “que tem sido feito na AL (sobre essa matéria) não tem sido suficiente”, apesar dos inúmeros pedidos de debate que já foram feitos em prol da preservação de Coloane. “Não há uma representatividade completa em termos de todos os problemas ambientais existentes.” Para Scott Chiang, presidente da Associação Novo Macau (ANM) e ex-candidato às eleições legislativas, o actual modelo de eleição e de assentos no hemiciclo está completamente ultrapassado. “Definir assentos para representar vários sectores da sociedade é um modelo obsoleto. Deveríamos pensar em frente e dar o poder à sociedade para decidir o tipo de pessoas que são eleitas para a AL. Dessa forma os deputados eleitos poderiam representar uma maior variedade de problemáticas e questões. Temos um número indefinido de grupos de interesses e é impossível representar todos tendo em conta a dimensão do nosso hemiciclo. O sufrágio indirecto é uma coisa do passado, pertence a um museu e temos de ter mais assentos directos para que possamos escolher as pessoas que queremos colocar na AL”, defendeu ao HM. “O próprio Chefe do Executivo pode eleger sete deputados e precisamos de mais assentos que possam pertencer à sociedade e aí poderemos eleger mais pessoas capazes de nos representarem”, disse ainda. Larry So acredita que daqui a cinco ou seis anos seria ideal ter um máximo de 40 deputados, a maioria eleita pela via directa. Scott Chiang exige que todos eles sejam deputados directos. Representação de não residentes pouco provável Os portadores de blue card (trabalhadores não residentes) acabam por representar uma grande fatia da população (mais de 200 mil) mas não estão representados no hemiciclo local por não serem eleitores. Para Paul Pun, secretário-geral da Cáritas e ex-candidato às eleições legislativas, essa possibilidade só existe se for o próprio Chefe do Executivo a nomear um deputado com esse objectivo. “Os TNR não têm direito de voto, então não têm direito a essa representatividade. O Chefe do Executivo deveria nomear alguém que tivesse a mente aberta para representar os não residentes, ou através do sufrágio indirecto. Mas no sufrágio indirecto não há qualquer espaço para uma representatividade dos não residentes, no sector empresarial ou do trabalho. Todos eles são residentes. O Governo pode seguir o desenvolvimento da sociedade e nomear alguém mais preocupado com as minorias e com os não residentes, que fale Chinês ou não. Alguém com a mente aberta para fazer isso, que não apoie apenas o Governo mas também a população”, defendeu. Larry So afasta por completo essa possibilidade. “Eles não podem votar, então como podem constituir um sector para a eleição? Não são um grupo de moradores permanentes, há uma grande mobilidade neste grupo de pessoas que vivem em Macau. Tenho reservas quanto à representatividade de um grupo com tanta mobilidade na AL. Mas eventualmente podemos pensar naqueles TNR que ao fim de sete anos se podem tornar residentes e que com isso se tornam eleitores.” Scott Chiang prefere que seja dada uma maior atenção às minorias. “Quanto a ter um assento específico para os não residentes, a melhor solução seria melhorar a nossa capacidade, enquanto sociedade, de cuidar dos direitos das minorias. Não podemos ter pessoas na AL que apenas falem pela maioria, temos de ter mais pessoas que representem a minoria. Isso é o mais importante.”
Filipa Araújo Manchete PolíticaAnimais | Proposta de lei é “aceitável”, diz AAPAM José Tavares desvaloriza as acusações da ANIMA e diz ter ouvido as opiniões e alterado a proposta de Lei de Protecção dos Animais. Associações presentes mostram-se conformadas com uma lei que já vem tarde e que deverá subir a plenário até Julho [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]o todo eram seis, mas só apareceram cinco. O Governo convidou algumas associações locais ligadas à protecção dos direitos dos animais para as colocar a par das últimas alterações que realizou na proposta de Lei de Protecção dos Animais. Alterações estas com que a 1.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) diz estar de acordo e, por isso, irá atribuir luz verde para a votação na especialidade no hemiciclo, depois do Governo redigir a proposta final. No final do encontro de ontem, José Tavares, presidente do Instituto para os Assuntos Municipais e Cívicos (IACM), explicou que a reunião serviu para dar a conhecer às associações as últimas alterações à proposta, sendo que, na sua opinião, todos pareceram agradados. Quando questionado sobre a ausência da ANIMA – Sociedade Protectora dos Animais, que acusou o grupo de trabalho de não ter ouvido as associações antes de tomar decisões, José Tavares desvalorizou a acusação e diz que o diploma sofreu alterações por causa desses grupos. “Não é verdade, recebi Albano [Martins, presidente da ANIMA], há dois meses. Há muitas coisas que foram alteradas por causa dessa conversa, por exemplo a [proposta] de que a licença [para animais domésticos] seja feita de três em três em anos. Eu aceitei logo”, explicou. “Também aceitei a proposta de Albano [Martins] para haver uma esterilização para podermos diminuir o número de animais que temos em Macau. Que é um número bastante superior ao que podemos ter”, acrescenta. Quase tudo pronto José Tavares indica que as últimas alterações à proposta de lei são uma “achega àquilo que [as associações] queriam”. “Acho que esta versão final é mais ou menos aquilo que [preocupava] as pessoas.” Por outro lado, Antonieta Manhão, da Associação de Protecção dos Animais Abandonados de Macau (AAPAM), caracterizou a proposta final como “aceitável”. “Aceitável para estar lei avançar”, reforçou. A AAPAM, diz, não quer insistir muito com novas alterações para não arrastar um processo que só por si tem sido bastante lento. “Se está na última fase, na última etapa da lei, eu prefiro aceitar a lei para a ter em vigor ainda este ano”, indicou. A responsável acrescentou ainda que a lei não define pontos inaceitáveis, tendo em conta que o Governo alterou as condições de obrigatoriedade de uso de açaime para os cães. Agora, tal como noticiado na semana passada, mesmo os cães com mais de 23 quilos poderão não ter de usar o açaime caso passem numa avaliação conduzida pelo IACM. Durante a reunião este ponto foi bastante discutido, assim como a pena máxima de prisão para quem maltratar animais. As associações voltaram a apelar ao aumento da pena para três anos, algo que o Governo recusou. “Também recebemos queixas de pessoas que não querem animais (…) e que pedem prisão para os donos dos cães que atacarem”, contra argumentou Kwan Tsui Hang, presidente da Comissão. A deputada afirmou ainda que a votação da lei depende agora da rapidez de trabalho do próprio Governo, sendo que é possível que a mesma suba ao hemiciclo antes ou até Julho. A revisão da mesma não está definida na lei, mas Kwan Tsui Hang garante que foi pedido ao Governo uma revisão nos próximos dois a três anos. Licença por três anos De acordo com a Comissão, a licença para animais domésticos vai passar a estar válida por três anos, algo que tinha sido pedido pela ANIMA anteriormente. Em Macau os donos de cães pagam 940 patacas, no mínimo, para licenciarem os seus animais e têm de se deslocar ao canil anualmente, uma vez que as licenças são apenas válidas de Janeiro a Dezembro. Em Hong Kong, a licença é válida por três anos e o dono paga 80 dólares. Os preços não vão mudar (sendo a primeira licença de 500 patacas), mas agora estas estarão válidas por três anos, o mesmo período em que está também válida a vacina anti-rábica.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaRendas | Pensados contratos mínimos de três anos Alguns deputados defendem que a nova lei de rendas pode uniformizar os contratos de arrendamento para fins comerciais e habitacionais, para que todos sejam, no mínimo, de três anos. Lei não deverá ficar pronta este ano [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]ctualmente o Código Civil prevê que um contrato de arrendamento para habitação deve ter o mínimo de dois anos, sendo que um contrato de arrendamento para fins comerciais deve ser de três anos. Na reunião de ontem da 3ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), a propósito da proposta de lei do regime jurídico do arrendamento previsto no Código, foi falada a possibilidade de ambos os contratos serem, no mínimo, de três anos. “Houve um deputado que defendeu que, ou se passam todos os contratos para três anos ou não se mexe (no que actualmente está estipulado). Uma ideia (que existe) é a de unificar e que ambos os contratos passem a ser de três anos, mas não chegamos a nenhum resultado”, explicou o deputado Cheang Chi Keong, que preside à comissão. O deputado garantiu que será difícil implementar esta proposta de lei até ao final desta sessão legislativa, ou seja, até Agosto, mês em que a AL fecha portas. “Quando me perguntam se estou confiante se este trabalho pode ser concluído nesta legislatura posso assegurar que sim, mas nesta sessão legislativa é difícil.” Equilibrar interesses A reunião de ontem serviu ainda para debater as “garantias que são dadas aos arrendatários”, já que, nos contratos de habitação, “o senhorio não goza do direito de denuncia unilateral decorridos dois anos de contrato”. “Isso foi estendido para o arrendamento comercial e de exercício de profissões liberais. Temos discutido se isto viola o principio de igualdade, porque se trata de uma inclinação que beneficia a actividade comercial e há pessoas que questionam se isto altera a garantia dada no actual regime aos arrendatários de habitação. Não chegamos ainda a uma conclusão”, disse Cheang Chi Keong. O deputado lembrou que Macau tem “um mercado capitalista” e uma “economia livre”, sendo que “não podemos através de uma lei inclinarmo-nos para determinados sectores e pessoas”. “A dificuldade reside aqui: como podemos reduzir a distância das discrepâncias e melhor proteger os senhorios e arrendatários? Há pessoas que entendem que se devem proteger mais os arrendatários. Demos este passo e talvez influencie o ritmo dos próximos trabalhos”, rematou.
Tomás Chio PolíticaResíduos | Relatório de consulta em Junho. Triagem só em 2019 [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) afirmou ao Jornal Ou Mun que vai publicar, já no próximo mês, o relatório da conclusão da consulta pública sobre o Regime de Gestão de Resíduos de Materiais de Construção. Mas nem tudo são boas notícias: o mesmo organismo indicou que a instalação de um sistema de triagem de materiais de construção só poderá funcionar em 2019. Segundo a publicação, o número total de resíduos recolhidos na zona de aterro disponível para o efeito e desde 2013 já ultrapassou os 2876 metros cúbicos. Valor demasiado alto para a DSPA, que sugere com a nova lei a exigência de um pagamento às empresas de construção que pretendem deixar os resíduos no aterro. O jornal chinês, a DSPA afirma que o novo regime vai entrar no processo legislativo dentro de dois anos. A proposta vai ainda dividir os resíduos em dois grupos, correspondendo a valores diferentes. Um para matérias não-inertes de construção, a 130 patacas por tonelada, e outro para os inertes, com valor superior a 30 patacas por tonelada. A DSPA indica ainda que o trabalho poderá demorar um pouco mais. A Assembleia Legislativa terá ainda de discutir os detalhes e votar a proposta. Sem saber Está ainda em cima da mesa, conforme anteriormente divulgado pela Direcção, a possibilidade de transportar os resíduos de construção para a China, através de uma cooperação regional. Mas para o efeito é necessário a instalação de um sistema de triagem de materiais inertes, sendo que ainda nem sequer foi aberto concurso para o efeito. A DSPA explica que já começou a preparar os trabalhos para o sistema de instalação mas estes só poderão terminar em 2019. O plano poderá fazer a triagem de duas mil toneladas por dia de resíduos e será a empresa Nam Yue a responsável pelo transporte dos materiais tratados. Esta instalação resulta de um trabalho de cooperação entre Macau e Cantão. Faz sentido, explica a DSPA, que a empresa que ganhar o concurso para a construção desta instalação conheça bem as leis dos dois territórios.
Filipa Araújo PolíticaAL olha para a qualidade de serviços das telecomunicações [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Administração Pública da Assembleia Legislativa (AL) quer resolver a problemática das telecomunicações. A ideia foi ontem partilhada pela voz de Chan Meng Kam, presidente da Comissão, depois de uma reunião de trabalho com o grupo. “Por unanimidade” os deputados consideram ser um assunto de importância máxima porque “mexe com o quotidiano da vida das pessoas”, até porque para os deputados, a qualidade dos serviços prestados pelas operadoras de telecomunicações não correspondem ao preços praticados, que estão “muito acima dos das regiões vizinhas”, como por exemplo Hong Kong. A falta de qualidade dos serviços põe em causa a imagem que Macau quer criar de si mesmo. “Às vezes cai o sinal e isso afecta a imagem turística de Macau”, apontou Chan Meng Kam. O aumento do lucro da Companhia de Telecomunicações de Macau (CTM) foi ainda mencionado, sendo que os deputados consideram que, a crescer anualmente, a operadora poderá baixar os preços. “A CTM tem um lucro anual de 1,1 mil milhões de patacas. O lucro tem aumentado. Porque é que não pode baixar o preço cobrado?”, argumentou. A Comissão quer ainda que o Governo elabore um relatório sobre os activos da concessão da CTM. Com o fim do contrato de exclusividade, estes deverão ser revertidos em bens de utilidade pública. Isto porque a Comissão considera que está na altura de acabar com o monopólio e garantir a concorrência leal entre a CTM e a MTEL, segunda operadora no mercado.
Joana Freitas Manchete PolíticaLei dos Animais | ANIMA recusa participar em reunião com deputados Ir à Assembleia Legislativa para falar sobre processos concluídos, não obrigada. É assim que a ANIMA reage a um convite dos deputados para falar sobre a Lei de Protecção dos Animais, feito após alterações a um diploma que “não teve em conta” as opiniões de associações de animais [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]ANIMA – Sociedade Protectora dos Animais recusa-se a ir hoje à reunião dos deputados com as associações para falar sobre a nova Lei de Protecção dos Animais. A justificação é simples: o processo está concluído e nada do que as associações da área possam dizer vai fazer mudar a lei, já criticada por não ir ao encontro do objectivo do diploma. “Todo o processo legislativo foi invertido desde o início, a começar pela iniciativa do próprio Governo”, começa por defender Albano Martins, presidente da ANIMA, numa carta enviada a Kwan Tsui Hang, presidente da 1ª. Comissão Permanente, que analisa a lei na especialidade. “Uma vez decidido pelo Governo iniciar este processo, de imediato deveriam ouvir-se as associações, tomando nota das suas opiniões e podendo vir a considerá-las ou não. A AL, que nada sabe naturalmente sobre a matéria, deveria ter ouvido as associações mal recebeu o documento para que pudesse vir a tomar conhecimento das suas preocupações e sugestões.” Não vale pena A ANIMA até tinha aceite deslocar-se à AL para a reunião, ainda que não conhecesse o documento final. Contudo, as declarações de Kwan Tsui Hang após o convite fizeram a organização mudar de ideias. “Entendemos ser desnecessária a nossa presença numa exposição que visa colocar as associações perante factos consumados. Cortar fitas não é propriamente a nossa especialidade e das declarações prestadas [pela deputada] deduz-se que já está tudo acordado entre o Governo e a AL.” A organização de utilidade pública enviou diversas cartas ao hemiciclo, dadas inclusivamente a conhecer ao público, durante todo o processo de elaboração da lei, que teve início em Outubro de 2014. Mas, tal como outras associações, só foi ouvida depois da proposta estar já na AL e só na fase final, “devido às mudanças para melhor das duas últimas administrações do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais”, como refere a organização. O diploma tem suscitado controvérsia: primeiro devido à diminuição da pena para maus tratos a animais (que passou de três para um ano de prisão), depois pela obrigatoriedade de uso de açaime em todos os cães (que entretanto mudou) e depois pela falta de protecção em casos de reincidência em abandono, entre outros problemas que levaram associações de animais à rua. “Depois de todo um processo legislativo invertido, meio turbulento e moroso, onde questões de mero pormenor parecem sobrepor-se a questões éticas de fundo, onde o reconhecimento dos direitos dos animais como seres sensíveis nunca foi sequer consagrado, habituámo-nos a ser chamados para reuniões que surgem depois de manifestações no terreno, como que para acalmar os ânimos exaltados.” A ANIMA refere que, já que nada pode mudar, prefere ficar à espera da publicação da lei, defendendo que “num ambiente de total falta de protecção animal, qualquer lei que surja, por muitos furos que possa ter, será sempre melhor do que nada”. A organização diz-se, contudo, “estupefacta” com o convite, que considera “inaceitável” e que denomina como “uma cerimónia de beija-mão”, onde “é na fase final do processo que as associações que trabalham no terreno e conhecem os problemas são ouvidas” e onde se fica apenas pela autoridades a falar em vez de ser “ao contrário”. A reunião tem lugar hoje às 10h00 e tem como título “apresentar o ponto de situação” da lei aos interessados. Na última reunião, Kwan Tsui Hang foi questionada sobre se haveria possibilidade de alteração do texto actual da lei, mas a deputada limitou-se a dizer que esta proposta era a melhor até agora. Galgos? Não é para agora Na carta enviada aos deputados, a ANIMA diz-se também “estupefacta” pelas declarações de que o problema do Canídromo – agora ainda mais um assunto internacional que tem levado a petições e manifestações para o encerramento – não foi abordado. “Lamentável que se passe uma esponja sobre qualquer coisa que parece incomodar discutir”, refere Albano Martins, indicando que a questão “dá a Macau uma imagem de selvajaria”. Os deputados disseram que os galgos deverão ficar protegidos com esta lei, mesmo que não sejam considerados animais domésticos, mas nada mais discutiram. “Em que planeta vivem? Mas que centro internacional de lazer querem passar ao mundo moderno?”, indaga a ANIMA.
Tomás Chio PolíticaDeputada apela a conclusão de Regime Especial devido a discriminação [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]deputada Chan Hong apelou à conclusão da alteração ao Regime Educativo Especial o “mais depressa possível”. Só isto, diz, poderá resolver o problema dos portadores de deficiência que não viram os seus certificados serem admitidos por departamentos do Governo e por empresas privadas. Segundo o Jornal Ou Mun, Chan Hong recordou os trabalhos de promoção de contratação de deficientes que têm vindo a ser feitos pelo Governo. Contudo, a deputada diz que, para que sejam efectivamente implementados, é preciso que os deficientes tenham um certificado de competência para o mercado de trabalho, um documento que certifica a experiência educativa. Algumas empresas privadas e departamentos governamentais não admitiram este certificado, pelo que é preciso, diz, que o Governo se esforce para concluir o Regime. A não aceitação destes certificados surge porque os responsáveis não os consideram equiparados aos certificados de educação regular. Sem este documento de habilitações os deficientes não conseguem sequer entrar na Função Pública, nem em outras entidades, porque, diz, os empregadores não concordam com a contratação dos mesmos. A deputada critica a falta de direitos dos deficientes, discriminação e tratamento diferenciado. “Os deficientes têm de ter as mesmas oportunidades que os que não o são”, frisou. Terminada a consulta pública sobre o Regime, em Março de 2015, e concluído o relatório da mesma, a deputada espera que o proposta possa ser aprovada ainda nesta sessão legislativa.
Filipa Araújo PolíticaTsui Wai Kwan pede censura a protestos. Ng Kuok Cheong quer transparência Os mais recentes protestos junto à casa de Chui Sai On incomodaram Tsui Wai Kwan. Em sessão plenária, o deputado apelou à censura de manifestações perto da casa do Chefe do Executivo. Por outro lado, Ng Kuok Cheong volta a apontar o dedo ao Governo [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]deputado Tsui Wai Kwan afirmou, em sessão plenária, na passada sexta-feira, que manifestações junto à residência oficial devem ser censuradas. “Não se deve reunir ilegalmente junto da residência oficial do Chefe do Executivo, nem gritar, nem lançar aviões de papel. Os manifestantes não sabem que os seus actos estão a incomodar os habitantes das proximidades e a assustar os idosos e as crianças dessas casas? Será que esses habitantes não têm familiares? As manifestações têm os seus limites e os manifestantes não devem actuar a seu bel-prazer. Este acto dever ser censurado”, afirmou o deputado. Tsui Wai Kwan referia-se à manifestação de há uma semana, que pedia a demissão de Chui Sai On, depois de tornado público o caso de atribuição de 123 milhões de patacas à Universidade de Jinan. Sim ou não? Ainda sobre o caso, o deputado Ng Kuok Cheong exigiu respostas claras e directas ao Governo. Durante a sessão plenária foram várias as perguntas que o deputado apresentou ao hemiciclo, acusando clara “violação ao regime de impedimento” da Fundação Macau (FM), entidade que atribuiu o montante à universidade chinesa e da qual é presidente do Conselho de Curadores o próprio líder do Governo. Chui Sai On é ainda vice-presidente do Conselho Geral da Universidade que recebeu o apoio. “Em todo este processo de concessão de cem milhões de yuan à Universidade de Jinan, os membros do Conselho de Curadores da Fundação Macau, que são também titulares de cargos de entidade que beneficia do financiamento (incluindo o Chefe do Executivo), não pediram escusa. Se isto não é uma violação ao regime de impedimento, então, é claramente conluio e tráfico de influências por parte da FM”, afirmou o deputado. FM negra Para Ng Kuok Cheong a FM “dispõe de recurso avultados” e os titulares dos cargos dos seus órgãos colegiais são, na sua maioria, também membros de outras associações e entidades sem fins lucrativos. “Se o regime de impedimento da FM permite a participação directa daqueles seus membros, desde que não sejam remunerados, no processo de apreciação e concessão de financiamento às associações e entidades a que pertencem, então, a FM concedeu, no passado, financiamentos sob a situação de conluio e tráfico de influências. Sim ou não?”, questionou o deputado. Para o legislador, o Governo tem de “esclarecer o público” sobre o assunto e aperfeiçoar de imediato o regime em causa. Ng Kuok Cheong apontou ainda que os esclarecimentos após a divulgação do caso – do Gabinete do Porta-voz do Governo – só suscitaram “ainda mais dúvidas”. O deputado indica também que, depois deste caso, o Governo deve tirar os devidos ensinamentos. “[O Governo] deve perceber que o sistema da FM não é credível para ser esta a assumir estes financiamentos e entidades fora de Macau, não deve permitir que daqui para diante seja a FM, uma entidade que aprecia e concede financiamento à porta fechada, a tratar deste tipo de apoios e deve criar um regime de fiscalização e apreciação pública dos financiamentos concedidos a entidades fora de Macau (por exemplo, deve tomar a iniciativa de apresentar as propostas de financiamento à AL para apreciação e debate)”, argumentou.
Filipa Araújo PolíticaNegado debate sobre Coloane e custos de obras. Táxis aceites A preservação de Coloane e a transparente adjudicação de obras parecem não interessar aos deputados que votaram contra os pedidos de debate sobre estes assuntos. Os táxis são a personagem principal no único pedido aceite, que segue agora para discussão a pedido de Mak Soi Kun e Zheng Anting [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s pedidos de debates dos deputados Au Kam San e Ng Kuok Cheong, sobre a preservação de Coloane e a adjudicação de obras e serviços, respectivamente, foram chumbados pelo hemiciclo, em sessão plenária, na passada sexta-feira. “Não é oportuno” foi a expressão que mais vezes se ouviu. Durante a apresentação do seu pedido, Ng Kuok Cheong afirmou que, quanto à questão de conluio e corrupção no âmbito da adjudicação de obras, bens e serviços da Administração Pública, deve “com determinação estabelecer mecanismos de fiscalização pública, para que os projectos de adjudicação se sujeitem à apreciação da Assembleia Legislativa”. O debate, apontou, mostra-se importante para o Governo acolher a opinião de todos para melhor saber fazer. Com apenas sete votos a favor, três abstenções e 16 contra, Ng Kuok Cheong viu chumbado o seu pedido. O deputado Ma Chi Seng contra argumentou que o “Governo tem ouvido a opinião de todos” e que, por isso, o debate “não tem fundamento”. Em contrapartida, a deputada Song Pek Kei votou a favor. “A AL tem o dever de fiscalizar a administração do Governo. Por exemplo, nas obras como o metro, o túnel para a Universidade de Macau e até o novo campus demonstra-se o excesso de gastos. Os membros do Governo podem gastar de livre vontade, temos o dever de fiscalizar. Temos de racionalizar o aumento dos gastos. Nesta ocasião acho que através do debate podemos esclarecer também a sociedade”, frisou. Verde, verdinho Também Au Kam San, que apelou a um debate sobre a protecção do ecossistema de Coloane, viu ser-lhe negado o pedido. “Macau deve estimar este ‘pulmão da cidade’, nunca permitindo que, com vista à satisfação de interesses pessoais, se alargue o limite de altura dos edifícios, se destruam as colinas e se danifique a flora”, argumentava, referindo-se à construção de um edifício habitacional de luxo junto ao Alto de Coloane, na Estrada do Campo, que está a ser alvo de investigação pelo Comissariado Contra a Corrupção (CCAC). O deputado nomeado Sio Chi Wai acusou o legislador de não querer discutir a protecção de Coloane, mas sim de um projecto em específico. “Lendo a sua nota justificativa vejo que está à volta do projecto”, atirou. Também Lau Veng Seng, deputado nomeado e empresário na área da construção, admite a “polémica” do assunto. “É difícil encontrar uma resposta (…) mas já foi aberto um processo no CCAC. Não é adequado a realização de um debate”, afirmou o deputado. A concordar esteve também Vong Hin Fai, também ele nomeado, que afirmou que um debate agora poderia interferir com a independência do organismo contra a corrupção. Gabriel Tong, deputado nomeado, caracterizou a solicitação de “muito legítima” mas frisou que claramente o seu “conteúdo é diferente do tema”, sendo que um debate sobre o terreno é o CCAC que o deve fazer. Au Kam San recolheu 12 votos a favor, 14 contra e uma abstenção. Buzinas ao alto Só os táxis vão continuar a dar que falar. Os deputados Mak Soi Kun e Zheng Anting consideram que muito se tem feito e que as mais recentes alterações aplicadas pelo Governo para solucionar o problemas dos táxis, como por exemplo a implementação voluntária de gravações áudio e a introdução de agentes disfarçados passivos, têm gerado alguma polémica. É por isso necessário, defendem, que o hemiciclo se reúna para debater e chegar a “um consenso” sobre o novo regulamento a ser aplicado, por forma “a garantir um diploma mais científico, realista e bem acolhido pelos cidadãos”, salvaguardando os “direitos e interesses legítimos” da sociedade. Com apenas dois votos contra – dos deputados Kou Hoi In e Chui Sai Cheong – o debate será agendado. “Como podemos melhorar a qualidade? Precisamos deste debate que vai contribuir para a futura alteração do regulamento dos táxis”, apontou Sio Chi Wai. “Mesmo depois das acções [aplicadas pelo Governo] continuam a ser recorrentes as queixas. Acho que este debate vem responder à aspiração da sociedade”, apontou Ma Chi Seng. Para Chui Sai Cheong este é um debate desnecessário visto o Governo já estar a preparar a respectiva proposta de lei. “Vamos ter tempo de apresentar as nossas opiniões na apreciação da lei, depois”, rematou, durante a sua declaração de voto.
Filipa Araújo Manchete PolíticaViolência Doméstica | Lei que torna crime público aprovada A tão esperada proposta de Lei de Combate à Violência Doméstica foi aprovada na especialidade. Sem questões profundas e comentários polémicos, o hemiciclo votou e decidiu por unanimidade tornar o crime público. “Tolerância zero” é o objectivo de Alexis Tam [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]proposta de Lei de Combate e Prevenção à Violência Doméstica foi finalmente aprovada na especialidade. Depois de dois anos em análise após a aprovação na generalidade, e com muita discórdia entre os envolvidos, o plenário aprovou por unanimidade, na passada sexta-feira, o diploma que torna este tipo de violência crime público. Depois de publicada em Boletim Oficial, algo que deve acontecer nas próximas duas semanas, a lei entrará em vigor 120 dias depois, em Setembro. Durante a discussão no plenário, o deputado Vong Hin Fai foi o legislador mais activo, pedindo vários esclarecimentos sobre termos jurídicos que compõem o articulado da proposta. Alguns deputados voltaram as suas atenções para a questão da prevenção, uma das cinco medidas propostas pela lei, seguindo-se a proteccionista, sancionatória e restaurativa. José Pereira Coutinho foi um desses deputados, que questionou Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, sobre a responsabilidade de prevenção na sociedade. Na visão do deputado não faz sentido essa medida ser da responsabilidade do Instituto de Acção Social (IAS). Alexis Tam assegurou que nenhum organismo do Governo está a trabalhar sozinho. A ideia foi reafirmada por Vong Yim Mui, presidente do IAS, que esclareceu que o Governo tem realizado um trabalho interdepartamental, envolvendo várias direcções e entidades públicas, estando “tudo a postos” para a entrada em vigor da lei. Quando questionada sobre a formação do pessoal para saber lidar com os casos, Vong Yim Mui garantiu que durante os últimos dois anos os recursos humanos do Governo receberam formações de especialistas de Hong Kong e Taiwan, estando por isso, agora, preparados para lidar com os casos e, acrescentou, dar formação a novo pessoal. “A formação na violência doméstica exige muito profissionalismo. No ano passado procedemos a acções de formação para o nosso pessoal, para serem formadores, nesta vertente, no futuro. Convidámos peritos, professores de Hong Kong e Taiwan, para formar o pessoal. Para serem no futuro professores habilitados para o efeito. (…) Vai ser um trabalho contínuo. [Os casos vão] ser acompanhados por profissionais”, garantiu. Rever para crer Alexis Tam mostrou-se satisfeito com a decisão dos deputados, afirmando que este é o caminho para a “tolerância zero” face aos casos de violência doméstica. O Secretário afirmou acreditar que estes irão diminuir com a entrada em vigor da lei, sendo que é preciso, frisou, educar e formar a sociedade. “A família é o elemento fundamental constitutivo da nossa sociedade e a harmonia familiar é um pressuposto para a harmonia da sociedade. A tolerância zero para com a violência doméstica constitui não só a meta suprema desta lei, como também uma linha mestra da nossa acção governativa”, reagiu o Secretário, após a aprovação. “O Governo está convicto de que com a publicação [da lei] se irá travar ainda mais a ocorrência de casos deste tipo e permitir que, em caso de uma qualquer infeliz ocorrência, se detecte o caso precocemente e se intervenha de forma urgente no sentido de proteger a vítima e, simultaneamente, efectivar a responsabilidade penal do agressor. As medidas permitem ainda dar uma reposta positiva às orientações das Nações Unidas”, rematou. A futura lei, explicou o Governo, vai ser revista dentro de três anos, permitindo à Administração perceber as possíveis falhas a melhorar em 2019.
Hoje Macau PolíticaMak Soi Kun sugere pontos para calcular imposto de jogo [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]deputado Mak Soi Kun sugeriu a criação de um regime de pontos para o cálculo do imposto sobre o jogo, a fim de garantir a competitividade da principal indústria da cidade. “Segundo especialistas e académicos, o Governo pode criar um regime de pontuação para o cálculo do imposto do jogo e para decidir acerca das futuras concessões e renovações dos contratos para a exploração do jogo”, afirmou na passada sexta-feira, na Assembleia Legislativa. “Por exemplo, pode definir-se, expressamente, no respectivo contrato de exclusividade, medidas de incentivo fiscal, tais como a redução de imposto, para as concessionárias que assumirem as suas responsabilidades sociais e que promoverem, com sucesso, projectos não ligados ao jogo. E quando, pelo contrário, tal não acontecer, o Governo pode descontar pontos e aumentar a taxa do imposto”, sublinhou. Na semana passada, foi apresentado o relatório da revisão intercalar do sector do jogo após a liberalização, em 2002, que traça um retrato macro da indústria, sem facultar, no entanto, pistas sobre o futuro das actuais seis licenças de jogo, que expiram entre 2020 e 2022. O deputado adverte que o Governo “deve preparar-se, antecipadamente, para reforçar a sua competitividade a nível regional”, dado que jurisdições vizinhas “já estão a liberalizar, progressivamente, o jogo” e o imposto cobrado é “bastante diferente” do de Macau, dando o exemplo das Filipinas e do Vietname, onde o valor corresponde a 15% e 10%, respectivamente. As receitas dos casinos encontram-se em declínio há aproximadamente dois anos, um cenário que Mak Soi Kun também não ignorou. “Tudo isto é um risco para o desenvolvimento a longo prazo dos elementos extra-jogo e do próprio sector, o qual terá de enfrentar a possibilidade da redução sucessiva da sua competitividade a nível regional”, apontou. “Como é que Macau, sob a influência de tantos factores, vai manter as vantagens concorrenciais do seu sector do jogo e, ainda, manter ou reforçar o desenvolvimento dos outros sectores? Trata-se de uma missão importante para o Governo.” Trabalho sim, mas mais Ella Lei também usou o relatório sobre o jogo para a sua intervenção, mas colocou a tónica no mercado laboral. “É verdade que o desenvolvimento do sector do jogo, ao longo de mais uma década, criou muitos postos de trabalho. Segundo a revisão intercalar, seis empresas concessionárias de jogo recrutaram mais de 95 mil trabalhadores e, face à pressão das aspirações sociais, nos últimos anos, entre 94 e 97% dos postos na área do jogo passaram a ser desempenhados por residentes, assim, o emprego destes é relativamente estável”, começou por observar. No entanto, ressalvou, o número de trabalhadores locais na área não ligada ao jogo só é um pouco maior do que o dos não residentes. “É de notar que neste sector ainda há 2247 cargos de gerente, ou de categoria superior, desempenhados por não residentes, registando-se um aumento anual desde 2010, o que contraria, evidentemente, a política de ascensão dos residentes para um patamar superior”, acrescentou. “Estas concessionárias devem assumir a responsabilidade social de criar mais oportunidades de emprego para os residentes e o Governo também tem a responsabilidade de não permitir tantos trabalhadores não residentes em postos não ligados ao jogo e adequados aos residentes”, defendeu ainda.
Flora Fong Manchete PolíticaRejeitado recurso de funcionários de associação de Chan Meng Kam Os dois voluntários que terão pedido votos em Chan Meng Kam, Song Pek Kei e Si Ka Lon nas eleições de 2013 a troco de refeições gratuitas continuam a enfrentar uma pena de um ano de prisão por corrupção eleitoral. Os funcionários da associação que é a sede dos membros do hemiciclo perderam o recurso no tribunal [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Tribunal de Segunda Instância (TSI) rejeitou o recurso dos dois funcionários da Aliança do Povo de Instituição de Macau – associação dos deputados Chan Meng Kam, Song Pek Kei e Si Ka Lon – face à condenação de mais de um ano de prisão por corrupção eleitoral. Os dois funcionários foram acusados de telefonarem a eleitores – incluindo dois investigadores do Comissariado contra a Corrupção (CCAC), que revelaram o caso – para oferecer refeições gratuitas e transporte, como forma de comprar votos para os três deputados durante as eleições da Assembleia Legislativa (AL) em 2013. O Tribunal Judicial de Base (TJB) tinha condenado os funcionários, em Julho do ano passado, a uma pena de prisão de mais de um ano, mas estes apresentaram recurso ao TSI, alegando que os funcionários do CCAC estavam à paisana e, por isso, as provas obtidas por esse acto devem ser proibidas. Na sentença da semana passada, o TSI considera que não há informações concretas mostrando que os dois investigadores do CCAC “foram enviados com antecedência” pelo organismo, nem sobre a alegada identidade falsa, como agentes à paisana, utilizada na Aliança do Povo de Instituição de Macau. Conforme o caso na primeira instância, os dois funcionários do CCAC “nunca incentivaram, nem encorajaram a intenção dos dois arguidos na prática de crime de corrupção nas eleições”, pelo contrário, diz o tribunal, os dois réus fizeram telefonemas directamente aos investigadores, pedindo o apoio e votação no grupo de candidatos, tendo garantido que pudessem ter refeições gratuitas. O TSI considera que os dois arguidos “concordaram mutuamente em levar a cabo trabalhos para promover a compra de votos durante as eleições da AL em 2013”, mesmo que a refeição que iria ser oferecida acabasse por ser cancelada por causa da acção do CCAC. “O tribunal analisou os factos provados e não provados da primeira sentença e considera que qualquer pessoa pode perceber, depois de ler a sentença e conforme as experiências de vida quotidiana, que o resultado da primeira decisão não é irracional. Os dois arguidos não podem tentar derrubar o resultado através das opiniões subjectivas sobre os factos”, lê-se na sentença em língua chinesa. Assim, o TSI não aceitou os argumentos de “crime impossível” e “acção não consumada” dos dois arguidos e julgou improcedente o pedido de recurso para alterar a condenação e a punição. A condenação a mais de um ano de prisão mantém-se. Furioso outra vez Ao HM, Chan Tak Seng, presidente da Aliança do Povo de Instituição de Macau, afirmou que está furioso sobre a decisão do TSI, que considera ser uma “grande injustiça” para o grupo porque os seus funcionários são inocentes mas o CCAC “executou a lei de forma selectiva”. “O caso mostra que no sistema judicial há pressões políticas. Durante o caso, os funcionários do CCAC foram investigar à paisana, mas segundo a actual lei esta forma não é legal. Porque é que fizeram isso à nossa Associação que serve sempre a sociedade? Não somos um grupo criminoso.” Chan Tak Seng defendeu que os dois funcionários “nunca garantiram a oferta de refeições gratuitas” mas os investigadores insistiram em perguntar. Sendo líder da Aliança, Chan disse que não concorda com corrupção, pelo que não deu indicações aos funcionários para estes instigarem à compra de votos. Os dois condenados, uma mulher e um homem, têm 67 e 64 anos. Não é a primeira vez que a candidatura de Chan Meng Kam é associada à compra de votos. O primeiro caso de corrupção eleitoral resultou na condenação de 12 pessoas, que pagaram ou receberam 500 patacas em troca de um voto no deputado. Os três deputados da lista, que foi pioneira em ocupar três assentos no hemiciclo em 2013, nunca compareceram em tribunal por considerarem que os condenados, voluntários na Associação, não trabalhavam para eles.
Filipa Araújo PolíticaAL | Salários em atraso de TNR em destaque Os deputados Kwan Tsui Hang e Lam Heong Sang trouxeram casos de trabalhadores não-residentes (TNR) com salários em atraso para a sessão plenária da Assembleia Legislativa, na passada sexta-feira. “Estes casos demonstram que existem muitas lacunas no mecanismo de importação de trabalhadores, que este carece de uma fiscalização eficaz e que há uma má gestão e dificuldades de imputação de responsabilidades no regime de subempreitada no sector da construção civil”, argumentou Kwan Tsui Hang. A deputada diz que o Governo deveria, através de trabalho de cooperação entre a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) e o Gabinete para os Recursos Humanos, “efectuar melhor os trabalhos de fiscalização e de controlo, exigindo que o empreiteiro geral e o subempreiteiro cumpram os deveres do empregador nos termos legais”, apontou. Lam Heong Sang reforça a ideia apresentada pela deputada. Casos destes demonstram “bem as falhas que existem na importação e fiscalização de trabalhadores não residentes e a falta de regulação do regime de subempreitada no sector da construção civil”. Os deputados referem-se a casos de TNR que não recebem os salários e que têm dificuldades em ser pagos, uma vez que as empresas principais dos estaleiros contratam outras, os chamados subempreiteiros, e as responsabilidades com os pagamentos são empurradas de uns para os outros.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaAL | Em 15 anos maioria dos debates foi chumbada. Pró-democratas lideram pedidos Contam-se pelos dedos das mãos os pedidos de debate e audições feitos pelos deputados no hemiciclo nos últimos 15 anos. A maioria deles foi chumbada. Os deputados do campo pró-democrata têm sido protagonistas, mas o panorama parece estar a mudar [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]stávamos no ano de 2000 quando a Assembleia Legislativa (AL) acolheu o seu primeiro debate proposto por três deputados. João Manuel Baptista Leão, deputado nomeado, juntou-se aos deputados eleitos pela via directa Cheong Vai Kei, Iong Weng Ian e Kou Hoi In. O objectivo seria debater a criação de uma lei que obrigasse os jovens com menos de 16 anos a andarem na rua acompanhados pelos seus pais ou tutores após a meia-noite. “Achamos que este tema suscita a atenção de todos. Espero que possamos ouvir amplamente as vossas opiniões para atingirmos o objectivo do debate com a maior brevidade possível. Desejo obter os vossos apoios”, disse Cheong Vai Kei, a quem coube a apresentação da proposta. O debate acabaria por ser aprovado, mas a lei nunca foi feita. Uma análise aos diários dos plenários da AL desde o estabelecimento da RAEM permite chegar à conclusão que as aprovações dos debates não têm sido o prato forte do hemiciclo. A preservação de Coloane, terrenos, a atribuição das campas no cemitério de São Miguel Arcanjo, a inflação, o fim do monopólio dos produtos alimentares, a necessidade da AL fiscalizar melhor as contas públicas, a implementação do sufrágio universal. Todos estes temas já foram propostos para debate e foram chumbados. Muitos problemas que não foram analisados permanecem por resolver em Macau, como é o caso da elevada inflação e do alegado monopólio existente no sector dos alimentos e telecomunicações, temas levantados por Au Kam San já em 2000. Olhando para os diários do hemiciclo, três nomes saltam à vista. Ng Kuok Cheong, Au Kam San e Paul Chan Wai Chi, que não conseguiu ser reeleito em 2013, lideram os pedidos de debate feitos nos últimos 15 anos. Todos estes são da bancada pró-democrata e foram escolhidos pela população. Batatas quentes Nem sempre os temas foram pacíficos e muitas vezes os deputados foram acusados de confundir o hemiciclo com o tribunal. Veja-se o exemplo do pedido de debate feito em 2012 por Ng Kuok Cheong e Paul Chan Wai Chi sobre os terrenos em frente ao aeroporto, envolvidos no caso La Scala. “Acho estranho que os dois colegas tenham proposto a realização da audição sobre um assunto que tinha sido tratado nos órgãos judiciários, na situação em que o senhor deputado Au Kam San, que pertence à mesma associação dos mesmos deputados (Associação Novo Macau), tinha participado o caso junto do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) e do Ministério Público”, disse o deputado Tsui Wai Kwan, na altura. No pedido de debate sobre a atribuição de dez sepulturas perpétuas no cemitério de São Miguel Arcanjo (caso onde a ex-Secretária Florinda Chan acabou por ser ilibada), em Novembro de 2011, houve mais uma farpa aos proponentes do debate. “Tendo em consideração o facto de o Ministério Público ter instruído o processo penal sobre a mencionada atribuição de dez sepulturas perpétuas, assim como o apuramento dos respectivos factos se ter tornado o objecto de um processo judicial, acho que é inconveniente à AL proceder a uma audição para o esclarecimento do assunto”, apontou a deputada directa Angela Leong. Quando as acusações se fizeram ouvir no pedido de debate sobre a demolição violenta feita ao bairro de lata da Ilha Verde, realizado em 2011, Paul Chan Wai Chi não se calou. “Trata-se apenas de um pedido de audição, não é um julgamento em tribunal. Sou novato aqui, mas, por sorte, temos cá uns veteranos, isto quando se fala na incongruência entre o regulamento das audições e o regimento da AL. Por este andar ainda teremos de mexer nas coisas, ao nível interno do funcionamento”, alertou. Desde sempre Levar assuntos que interessam à sociedade ao hemiciclo “sempre foi uma intenção dos democratas”, como conta ao HM Ng Kuok Cheong. “Quando entrei na AL, em 1992, sempre tentámos várias formas para levar o hemiciclo a debater os assuntos sociais. Na altura os deputados não propunham debates e quase não falavam e o Governo português também não respondia.” No meio dos chumbos houve pedidos bem sucedidos, como foi o caso do ensino secundário gratuito, já implementado, e sobre o metro ligeiro. “Nos últimos anos começou a haver maior probabilidade dos debates serem aprovados. Há dois anos um debate sobre o metro foi aprovado e só aqui se soube que a construção ia ser adiada”, lembrou Ng Kuok Cheong. Hong Kong começou João Manuel Baptista Leão, um dos proponentes do primeiro debate de sempre na AL, já não se recorda daquilo que gostaria de debater com o Governo, pois deixou de ser deputado em 2002. Fala de um tempo em que os próprios deputados não sabiam bem qual seria o seu papel no hemiciclo após 1999. Questionado sobre o facto de muitos dos pedidos de debate acabarem chumbados, João Manuel Baptista Leão é directo. “Bom, isso é democracia, a maioria vence. Se um deputado propõe um moção tudo vai depender da votação. Temos de aceitar o método.” O antigo deputado nomeado diz que é sempre importante à AL acolher pedidos de debate. “Qualquer entidade ou organização carece sempre de debates para que se explique bem aos membros o estado das diversas coisas.” Jorge Fão, que foi deputado entre 2001 e 2005, recorda que “antes da [transferência] nunca houve qualquer pedido de debate”, sendo que após 1999, “começou a surgir uma ténue experiência de pedir debates com a presença do Governo para discutir os problemas”, algo que, segundo Fão, aconteceu por influência de Hong Kong. “Estes pedidos envolviam matérias muito sensíveis e como Macau não estava preparada os deputados não aprovavam sequer esses pedidos. Houve pedidos e alguns não foram aprovados, outros acabaram por decorrer. A verdade é que de facto, apesar de existir um maior número de debates, não significa que foram encontradas as melhores soluções para o tema em causa. Não vejo nesses debates o encontro de melhores soluções, por parte do Executivo e da própria Assembleia, proponentes e deputados, que não estavam preparados para este tipo de debates”, defendeu. Jorge Fão fala de um hemiciclo que precisa de amadurecer. “O debate em si é útil, na maneira em que devem existir mais. Mesmo que não se encontrem as melhores soluções, é sempre lícito que o Governo seja chamado para dar explicações sobre matérias menos transparentes. Essa é a função da própria AL e dos deputados. Sobretudo para mostrar ao mundo que Macau tem uma Assembleia que funciona. Temos de dar tempo ao tempo e reconhecer esse aspecto (falta de maturidade).” Novas facções Nos últimos tempos deputados de outras áreas têm vindo a pedir debates, nomeadamente Ella Lei, eleita pela via indirecta em representação da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), ou até os parceiros políticos de Chan Meng Kam, como Song Pek Kei e Si Ka Lon. Leong Veng Chai, Mak Soi Kun e Zheng Anting também fizeram as suas propostas. Os vários pedidos de debate sobre o edifício de doenças infecto-contagiosas, que aconteceu esta semana, foi um dos raros exemplos de aprovação ao qual o hemiciclo assistiu. Para Jorge Fão, os pedidos vindos de outras facções são um sinal de que há assentos a manter. “Talvez nos primórdios fosse o campo pró-democrata (a pedir debates), mas nas últimas duas sessões legislativas os mais tradicionais também estão a pedir debates, como a FAOM. E porquê? Porque todos eles sabem que precisam de fazer esse trabalho. São pessoas eleitas pela via directa. Se tal não viesse a acontecer correriam o risco de perder o assento amanhã. Não tem a ver apenas com o assunto, mas com a sua própria representação. Os deputados indirectos têm uma menor responsabilidade, os nomeados não têm”, rematou. Paul Chan Wai considera que a “cultura começou a mudar”. “A alteração ao regimento da AL fez com que o pedido de audição seja mais rigoroso e os deputados podem ter chegado à conclusão que podem expressar melhor as suas ideias através de um debate, tal como aconteceu com o edifício das doenças.” “Fazemos um braço-de-ferro” Defendida fim da votação para diálogo com o Governo “É preciso mudar. Porque é que os debates têm de receber a aprovação do plenário? Antes a apresentação de interpelações orais também precisava de aprovação, mas isso mudou com a entrada de Susana Chou para a presidência. Deve existir o mesmo modelo para os debates, para que se possa eliminar essa barreira e tornar os debates uma coisa comum. Os debates não são bichos de sete cabeças, é apenas um diálogo com o Governo”, considerou Au Kam San ao HM, quando questionado sobre o assunto. “Os debates sobre temas sociais são uma função muito importante para a AL. No passado era difícil aprovar os debates, porque é preciso obter a maioria. Esta dificuldade faz com que uma parte dos deputados não considere esta uma ferramenta importante, optando por obter informações do Governo através das associações”, acrescentou o deputado. A raíz do problema Au Kam San apresenta uma explicação para tantos chumbos nos últimos anos. Os problemas repetem-se, diz, e continuam a acontecer porque há “grandes interesses por detrás deles”. O deputado recorda um pedido de debate que fez para a implementação do ensino secundário gratuito, no qual “foi bem sucedido, talvez porque essa medida não prejudique os interesses de ninguém”. “Mas sobre a construção de habitação pública ou a diminuição do número de não residentes alguém pode perder, então surgem muitos obstáculos.” Ng Kuok Cheong opta por dizer que os pró-democratas fazem “um braço-de-ferro”. “O sistema deve ser aperfeiçoado. Os deputados que apoiam o Governo continuam a ocupar o espaço e só temos a hipótese de apresentar uma audição depois de um debate. Há problemas que continuam por resolver há muitos anos e o problema está no regime político. O Chefe do Executivo é eleito por um pequeno grupo de pessoas, os deputados não são todos eleitos e estão mais preocupados com os interesses das pessoas com riqueza e poder”, referiu. “Consegue-se ver que os temas mais sensíveis não foram aprovados e os menos sensíveis conseguiram ser aprovados. Os deputados não deixaram que fossem aprovados”, alertou Paul Chan Wai Chi. “Mesmo que os debates não tragam soluções claras para os problemas, mas isso faz com que os residentes conheçam melhor as questões e conheçam o desempenho dos deputados”, referiu ainda.
Filipa Araújo PolíticaSanções no ensino superior só para privadas [dropcap style=’circle’]S[/dropcap]anções? Só para privadas. Quem o diz é Chan Chak Mo, presidente da 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), que está a analisar, na especialidade, a proposta de Lei para o Ensino Superior. Quando questionado sobre a aplicação do Regime Sancionatório, definido no artigo 53º do articulado, o deputado diz que as sanções podem ir até um milhão e meio de patacas, mas não são para todos. “As sanções são só para as privadas (…) As públicas não vale a pena porque o dinheiro também é público”, justificou o presidente da Comissão. O que acontecerá é que as instituições de ensino público serão submetidas a um processo disciplinar em caso de violação da lei, sendo que o castigo máximo será “a demissão do reitor”, exemplificou. Define a lei que é o Chefe do Executivo, Chui Sai On, o responsável pela aplicação das sanções previstas na lei, mas considera a Comissão ser necessário que o Governo “elabore um documento para sabermos em que situações se aplicam estas sanções”. Fim aos erros Durante a reunião de ontem foi ainda discutido o artigo que define o encerramento compulsivo das instituições. Chan Chak Mo cita a lei indicando que serão alvo de encerramento escolas ou cursos que manifestem degradação pedagógica ou de grave violação da lei. “Pode o Chefe do Executivo, por decisão fundamentada, através de ordem executiva, determinar o encerramento compulsivo da instituição ou dos cursos por esta ministrado”, pode ler-se na proposta. Chan Chak Mo explicou aos jornalistas que estas situações são raras, mas em caso de acontecer cabe ao Governo garantir a continuidade dos estudos aos alunos em causa. Os alunos podem ser transferidos para outras instituições de ensino, ou pode ser “contratado alguém para gerir até que os alunos terminem o curso”. Casos os docentes, por alguma razão, desistirem também de leccionar serão substituídos ou os alunos transferidos. Apesar de Chan Chak Mo, no mês passado, ter admitido que a análise desta lei iria arrastar-se até 2017, é possível que aconteça mais cedo. “Segundo este andamento, já estamos no artigo 53, só nos faltam sete artigos. (…) depois o Governo vai-nos entregar uma versão alternativa (…) não sei quando é que vai conseguir entregar o novo texto de trabalho para podermos apreciar”, explicou adiantando que se o texto for elaborado de forma correcta então a Comissão demorará menos tempo na apreciação. No entanto, não é possível saber se este trabalho estará concluído até ao fim desta sessão legislativa.
Andreia Sofia Silva PolíticaUber | Deputados sugerem legalização da aplicação móvel O Governo deverá analisar a possibilidade de legalizar a Uber e de criar uma aplicação móvel semelhante para o transporte de passageiros. As sugestões foram feitas pelos deputados do hemiciclo [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] legalização da aplicação de telemóvel que permite obter transporte em poucos minutos poderá acontecer no futuro. É a ideia que sobressai do mais recente relatório da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos da Administração Pública sobre a situação dos táxis. Segundo o documento, alguns deputados sugeriram ao Governo para, tendo em conta a procura de serviços de táxis por parte do público, estabelecer através da internet uma plataforma para a chamada de carros, assim como criar condições para a abertura dessa plataforma. “Tudo para que com base nisto se possa conseguir alcançar a meta da partilha conjunta de recursos, uma vez que isso facilita a vida aos passageiros e motoristas. Mais ainda, permite resolver a questão da exploração dos veículos de aluguer não licenciados”, pode ler-se no relatório da Comissão que analisa a nova lei de táxis. Os deputados lembraram o Governo que, apesar de ser considerada ilegal aos olhos da lei, a Uber tem recebido a adesão dos residentes. “Apesar de este tipo de transporte de passageiros não satisfazer as disposições da lei vigente, o certo é que obteve o reconhecimento dos cidadãos que o têm utilizado. Na opinião destes a qualidade do serviço é muito melhor do que a dos táxis normais, o serviço é rápido e resolve, eficazmente, as necessidades ao nível das deslocações”, pode ler-se. Inicialmente, quando a Uber chegou ao mercado, o Governo disse “ver com grande importância” e manter-se atento relativamente ao lançamento da aplicação móvel para smartphones da empresa, tendo igualmente ordenado às autoridades para acompanhar de perto a situação e “combaterem de forma séria a prestação ilegal de serviços por parte desses veículos.” O Executivo dizia que a Uber não é um “meio para colmatar a insuficiência de automóveis de aluguer”, já que será difícil “regular o funcionamento e a remuneração do serviço cobrado”.
Filipa Araújo PolíticaLei dos animais | Açaime pode não ser obrigatório A análise à proposta de Lei de Protecção dos Animais está quase terminada, faltando apenas uma reunião com associações. Um ano de prisão é mesmo a pena máxima decidida, bem como o uso de açaime para cães com ou mais 23 quilos, sendo que podem existir excepções [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]ada a fazer. Por muitas queixas que o Governo e a 1.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) tenha recebido contra as definições da proposta de Lei de Protecção dos Animais, a Administração vai mesmo avançar. De fora está a obrigatoriedade de aplicar um chip aos gatos e o aumento das penas para todos aqueles que praticarem abusos contra os animais. “A Comissão concorda com as alterações introduzidas”, afirma Kwan Tsui Hang, presidente do grupo que analisa a proposta. O impasse entre três anos – tal como definia a primeira proposta – e um ano de prisão como pena máxima terminou com a escolha da última opção. Mas já uma grande alteração, no polémico uso de açaime nos cães com mais de 23 quilos. Depois de retirar a ideia de tornar o açaime obrigatório, o Governo abre excepções. Com a aprovação da lei, que “em princípio acontecerá a 1 de Setembro”, conforme explica Kwan Tsui Hang, os donos dos cães terão, nos 90 dias seguintes, a oportunidade de requerer junto do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) a dispensa do uso do açaime no seu animal de estimação. “Se o dono achar que o animal é manso pode pedir ao IACM que faça uma avaliação para não usar o açaime”, explicou a presidente. Ao passar nessa avaliação, que implica a verificação da raça, um teste à obediência do animal ao dono e à sua reacção com outras pessoas, o animal ficará certificado como não sendo perigoso. Barato, baratinho Kwan Tsui Hang indicou ainda que a Comissão recebeu várias queixas sobre a necessidade de aplicar a lei de forma correcta, como por exemplo na fiscalização e limpeza do espaço público. Relativamente às queixas sobre os cães que estão nos estaleiros – muitas vezes deixados pelos donos como cães de guarda – a presidente explicou que a esterilização será obrigatória, bem como o uso de trela durante o dia. “Da parte do dia, estes cães têm de ter uma trela (…) e da parte da noite (…) não podem sair dos estaleiros. No caso de violação da lei, os donos dos estaleiros serão sancionados”, explicou. Com a nova lei, diz a presidente, o Governo terá forma para fiscalizar situações dos cães dos estaleiros, dos cães vadios e todas as outras situações. Apesar da esterilização ser obrigatória para os cães que estão nos estaleiros, não o será para os domésticos. Ainda assim, como forma de incentivo à esterilização, o Governo irá baixar os preços do processo. Voz activa O parecer será elaborado depois de uma última reunião, agendada para o próximo dia 24, terça-feira. A Comissão irá receber membros de associações de protecção dos animais e alguns membros do Governo. Ainda assim, Kwan Tsui Hang afasta a hipótese de o Executivo mudar de ideias sobre as alterações agora definidas. Muitas associações defendem que a pena de prisão deve ir até três anos mas o Governo já respondeu que esta moldura penal é a solução mais equilibrada, argumentou a deputada quando questionada sobre a possível abertura tanto do grupo de trabalho, como do Governo aos pedidos das associações.
Joana Freitas PolíticaDSAL encarregue da contratação de TNR a partir de 28 de Maio Já tinha sido pedido por diversos deputados e agora foi aceite pelo Governo. O Gabinete de Recursos Humanos vai passar a estar sob a alçada da DSAL, numa reestruturação que entra em vigor no fim do mês [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Gabinete de Recursos Humanos (GRH) vai ser agora parte integrante da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL). A decisão foi ontem anunciada pelo Conselho Executivo, que indica que a DSAL vai agora ficar encarregue da contratação de trabalhadores não-residentes (TNR). “O projecto propõe manter basicamente inalteráveis as actuais atribuições da DSAL”, indica o Governo num comunicado, onde refere que uma das únicas diferenças é a de que a DSAL passa “também a tratar dos pedidos de contratação dos TNR”. Este era um pedido que já tinha sido feito por diversos deputados, dado que é a DSAL que gere também os conflitos entre estes trabalhadores e os seus empregadores. Com o ajustamento, a DSAL continua a ser dirigida por um director coadjuvado por dois subdirectores, mas vai aumentar o quadro de pessoal, que passa dos actuais 228 trabalhadores para 320. Ganhos e perdas O organismo perde ainda quatro secções existentes, mas passa a ter o Departamento de Contratação de TNR, que integra as atribuições do GRH. Conta ainda com o Departamento de Estudos e Informática, o Departamento de Inspecção do Trabalho – que compreende a Divisão das Relações Laborais, a Divisão de Protecção da Actividade Laboral e a nova Divisão de Licenciamento e de Apoio Técnico – que trata dos pedidos de licenciamento de agências de emprego e trata também do trabalho de consulta jurídica na área do trabalho. Surge ainda o Departamento de Segurança e Saúde Ocupacional, que compreende a Divisão de Promoção e Formação e a Divisão de Fiscalização de Riscos, o Departamento de Formação Profissional e o Departamento de Emprego, alguns destes tendo apenas pequenos ajustes nos nomes e funções. A DSAL vai passar a funcionar com a nova estrutura a 28 de Maio, sendo que esta foi feita através de um Regulamento Administrativo.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaCorrupção eleitoral | Ella Lei exige perda do estatuto de deputado. Pedidos mais assentos A deputada Ella Lei exigiu a perda do estatuto de deputado em casos semelhantes ao que envolveu membros da associação ligada a Chan Meng Kam, Si Ka Lon e Song Pek Kei, acusados pelo tribunal de compra de votos. Vários deputados dizem que a revisão da lei não contempla actos de corrupção fora do sufrágio directo [dropcap style=’circle’]F[/dropcap]oi uma farpa a evocar o que aconteceu nas eleições legislativas de 2013 e que visou de forma quase directa os colegas do hemiciclo Chan Meng Kam, Si Ka Lon e Song Pek Kei. A deputada Ella Lei defendeu ontem que um deputado eleito deve deixar de o ser caso se comprove que a associação à qual está ligado cometeu actos de corrupção eleitoral. “Quando há uma decisão do tribunal a dizer que os apoiantes de um candidato participaram em actos ilegais os votos a favor desse candidato não devem ser contabilizados. Há um vazio legal e quando esses apoiantes cometerem acções ilegais esse candidato não deve ser considerado como um deputado eleito, mesmo que não tenha participado de forma directa nesses actos. Temos de colocar em causa a legitimidade da eleição do deputado. Há procedimentos que devem ser incluídos para garantir a destituição do deputado”, disse Ella Lei no âmbito de uma sessão de auscultação de opiniões dos deputados sobre a revisão da Lei Eleitoral para a Assembleia Legislativa (AL). Kou Peng Kuan, director dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP), afastou a possibilidade de inserir essa punição na nova proposta de lei. “Isso está dependente da Lei Básica e do estatuto dos deputados. Mesmo em Hong Kong e Taiwan a perda do estatuto de deputado depende também se esse deputado estiver envolvido directamente nesses actos ilegais”, referiu. Chan Meng Kam e os seus parceiros políticos não estiveram presentes na sessão de auscultação. Em Julho do ano passado o tribunal considerou culpados do crime de compra de votos dois membros da Aliança do Povo de Instituição de Macau, base eleitoral e associativa dos três deputados. Chan Meng Kam queixou-se de “perseguição política”. Corrupção por todo o lado Vários deputados consideraram que a proposta de revisão apresentada pelo Governo não contempla os actos de corrupção no sufrágio indirecto e até no sistema de nomeação dos deputados pelo Chefe do Executivo. “Não são suficientes as alterações, pois a corrupção não existe apenas no sufrágio directo. Não há oferta de jantares no sufrágio indirecto e até mesmo na nomeação de deputados? Não houve casos, mas não se pode prever o futuro. Tem de haver normas para os três sufrágios”, disse Au Kam San. Leong Veng Chai, número dois de José Pereira Coutinho, questionou se para além da oferta de jantares e prendas não haverá mais problemas. “Os outros actos não são considerados crimes eleitorais? Não vejo aqui uma revisão dos procedimentos do sufrágio indirecto, pois neste sufrágio também há possibilidade de ocorrer corrupção eleitoral, e o documento só prevê a existência de corrupção no sufrágio directo”, frisou. Kou Peng Kuan negou essa acusação, referindo que é impossível controlar e proibir todas as actividades levadas a cabo pelas associações. “Não é possível proibir todas as actividades porque não podemos proibir o direito de associação. Se alguma associação quiser realizar essas actividades terá de pedir autorização à Comissão Eleitoral. O texto não se foca apenas nos actos ilícitos do sufrágio directo.” Deputados exigem mais assentos no hemiciclo [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s deputados consideraram ontem que a Assembleia Legislativa (AL) deve ter mais assentos pela via directa e até indirecta, por forma a garantir uma maior representatividade. “Deve aperfeiçoar-se o regime do sufrágio indirecto para que seja reforçada a justiça nas eleições, mas não vejo nada neste texto”, alertou a deputada directa Angela Leong, referindo-se à revisão proposta pelo Executivo para a Lei Eleitoral. “Tendo em conta o crescimento demográfico há mais solicitações por parte da sociedade e deve ser aumentado o número de vagas do sufrágio indirecto e directo. O sufrágio indirecto tem como objectivo representar os diversos sectores da sociedade e estão a surgir mais sectores. Actualmente o sufrágio indirecto apenas representa quatro sectores e isso é insuficiente. Temos de aumentar o profissionalismo e a representatividade na AL”, acrescentou. O deputado José Pereira Coutinho defendeu que a falta de novos assentos pela via directa levou a mais actos de corrupção. “Nos últimos anos verificou-se uma maior participação da população e devem ser aumentados os assentos no sufrágio directo. A falta de assentos directos originou actos de corrupção que carecem de uma investigação profunda”, disse. Democracia ainda não Os deputados Ng Kuok Cheong e Au Kam San voltaram a alertar o Governo sobre a necessidade de implementar o sufrágio universal nas eleições, mas os colegas eleitos pela via indirecta e nomeados garantem que Macau não é como Hong Kong. “Desde o retorno à pátria que toda a população conseguiu participar nas eleições. O progresso gradual do sistema democrático satisfaz as solicitações da população. Não é adequado fazer uma reforma rápida do nosso sistema democrático. Em Hong Kong a situação é diferente e cada país tem o seu modelo. A Lei Básica não diz que temos de ter uma eleição universal. Temos de ver a situação real de Macau”, referiu Sio Chio Wai. Já Lau Veng Seng fez uma referência aos movimentos do Occupy Central. “A RAEM está a atravessar um período diferente na economia e não nos devemos envolver em conflitos ou disputas relacionadas com o desenvolvimento político.” Coutinho diz não entender “limitação” a cargos A nova Lei Eleitoral deverá prever que os “deputados à AL não podem ser titulares de cargo político de outro país durante o mandato”. O deputado José Pereira Coutinho, que foi candidato à Assembleia da República pelo partido português “Nós! Cidadãos” disse “não entender a limitação”, referindo que a Lei Básica nada prevê sobre o assunto. O deputado disse anteriormente que a nova alteração era uma perseguição política à sua pessoa.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaEdifício de Doenças | Empresa privada fez análise ambiental. Orçamento já acima dos 630 milhões Os Serviços de Saúde decidiram contratar uma empresa privada para realizar o relatório de impacto ambiental do futuro edifício de doenças infecto-contagiosas. À DSPA apenas coube o trabalho de analisar as conclusões. O relatório diz que o futuro edifício não trará grandes impactos ambientais. O Governo admite que o preço do centro vai ficar acima dos 630 milhões, mas não tem orçamento [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]construção de um edifício de doenças infecto-contagiosas foi o tema discutido na tarde de ontem na Assembleia Legislativa (AL), num debate marcado pela repetição de argumentos e dúvidas sobre o projecto (ver texto secundário). O Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, entregou aos deputados o “relatório de avaliação do impacto ambiental no edifício de serviços médicos especializados (doenças transmissíveis)”, o qual foi elaborado por uma empresa privada, uma adjudicação feita pelos Serviços de Saúde (SS). À Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) coube apenas o trabalho de análise das conclusões. A 12 de Maio, este organismo, liderado por Raymond Tam, referiu que “o conteúdo do relatório de avaliação do impacto ambiental sobre a primeira fase das obras de ampliação do Centro Hospitalar Conde de São Januário está em conformidade com os pareceres técnicos constantes nos ofícios desta Direcção e as exigências técnicas relativas à avaliação em questão”, lê-se no relatório. Questionado durante o debate sobre o assunto, Alexis Tam, não referiu o nome da empresa e garantiu tratar-se de um procedimento normal na Administração. “Cada serviço faz dessa maneira e tem de se fixar primeiro o conteúdo e o enquadramento e só depois, com a concordância da DSPA, avançamos para o concurso público. Fizemos tudo de acordo com as formalidade e a empresa fez a avaliação com base em sete vertentes”, explicou. O deputado José Pereira Coutinho questionou a adjudicação do trabalho a uma empresa privada. “O relatório de impacto ambiental diz que a 12 de Maio a DSPA elaborou as opiniões a esse pretexto. Porque é que o hospital incumbiu uma empresa privada para elaborar esse relatório, que depois foi encaminhado para a DSPA?”. Poucos estragos O relatório confirma que o futuro edifício de doenças “não terá um impacto global significativo em relação à qualidade do ar”. “Aquando do funcionamento do edifício o aumento de concentração de poluição provocada pelo aumento do tráfego não será evidente, julgando-se um impacto mínimo conforme o estudo”, garante o documento. “Os principais edifícios ao redor do presente projecto são altos e desenvolvidos com alta densidade. A compatibilidade e a integridade com o ambiente em geral são boas (…). Devido ao impacto de bloqueio dos edifícios construídos em redor, o grau de impacto no miradouro não é evidente, mas haverá alterações na vista para quem se encontra no Centro Hospitalar Conde de São Januário, algumas estradas de transito, parques, praças e demais áreas”, acrescenta o relatório. Muralha protegida O relatório de impacto ambiental alerta para a necessidade de proteger a muralha histórica que está localizada perto do Hospital Conde de São Januário, e Alexis Tam garantiu que essa sugestão vai ser seguida. “Quanto à muralha, já fizemos uma visita ao local. Vai haver uma certa distância entre o edifício e a muralha, e esta não vai ser prejudicada. Já adoptamos todas as medidas e podem ficar descansados”, alertou o Secretário. Deputados querem calendário e orçamento, que não existem Os deputados continuam a ter dúvidas em relação ao futuro edifício de doenças infecto-contagiosas que será construído junto ao Complexo Hospitalar Conde de São Januário. Os membros do hemiciclo questionaram Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, sobre a ausência de um orçamento concreto e até de um calendário para a conclusão do projecto. O projecto, sabe-se agora, vai custar mais do que o orçamento previsto inicialmente, de mais de 600 milhões de patacas. O Secretário foi ainda acusado de não dispor de um plano concreto em relação ao número de camas ou de ter levado a cabo “falsas” auscultações públicas. O deputado Ng Kuok Cheong chegou mesmo a entregar uma carta a Alexis Tam com dúvidas de residentes sobre o projecto. Alexis Tam manteve até ao fim do debate a ideia de construir o edifício na península de Macau e não no Cotai, como muitos têm vindo a defender. “A auscultação não foi falsa, nunca parámos de trabalhar. Só dois moradores dos edifícios é que levantaram dúvidas nas sessões que organizámos. A maior parte da população concorda com a decisão do Governo e sabe que o São Januário tem de ser ampliado. Nunca mudámos as nossas informações. O projecto não vai afectar as residências e o que estamos a fazer é correcto”, garantiu. O Secretário disse ainda “lamentar” o facto de não dispor de um orçamento concreto para o edifício, que deverá ser superior a 630 milhões de patacas. “A minha tutela não é responsável pela construção, orçamento ou data de finalização, terão de perguntar ao Secretário Raimundo do Rosário (das Obras Públicas e Transportes). A outra tutela conhece a situação melhor que nós e lamento isso”, apontou. “Passados dois ou três meses poderemos entrar noutra fase e poderemos avançar com mais informações sobre o custo e prazo de conclusão da obra”, disse Alexis Tam. Troca de galhardetes O debate ficou ainda marcado pela intervenção do deputado nomeado Fong Chi Keong. “O senhor Secretário não é especialista e tem de ouvir as opiniões dos moradores. Na imprensa só há opiniões de apoio ao Governo mas essas informações são falsas. Não fique contente com isto, parece que tem sempre razão e nós só dizemos palavras inúteis. As preocupações da população são falsas? Naturalmente que vive em Sai Van, junto da Penha, mas os que vivem junto do hospital têm outras preocupações. Eu também vivo numa casa grande e não tenho preocupações mas temos de ouvir as opiniões dos outros”, acusou. Alexis Tam respondeu à letra: “Não sou especialista mas o senhor deputado também não é. Esta não foi uma decisão pessoal. Um total de 57 associações da área da saúde mostraram apoio ao projecto do Governo. Não fomos nós que pedimos às pessoas para nos apoiar. Se calhar devemos mudar a nossa posição e pensar que em cada quilómetro temos cerca de 20 mil residentes. Precisamos de construir este edifício junto ao São Januário. A população apoia o nosso projecto e a sua posição é errada”, assumiu. O deputado Chan Iek Lap, eleito pela via indirecta e médico, aplaudiu a intervenção do Secretário.
Joana Freitas Manchete PolíticaEUA/Presidenciais | Sheldon Adelson vai doar “cem milhões ou mais” a Trump O magnata da Sands disse publicamente estar disposto a contribuir com mais dinheiro para eleger Donald Trump do que aquele que doou em qualquer outra campanha. E a ajuda não se fica por mais de cem milhões de dólares: Sheldon Adelson diz que este é o homem que os EUA precisam, mesmo que “não se concorde” com algumas coisas que ele diz [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s EUA precisam de alguém “forte” na liderança e esse alguém é Donald Trump. É a opinião bem vincada de Sheldon Adelson, o magnata dos casinos da Sands, com casinos em Macau, que justifica assim a doação de mais de cem milhões de dólares que poderá atribuir àquele que é um dos candidatos mais polémicos da corrida presidencial norte-americana. Em 2012, Sheldon Adelson tornou-se o maior dador republicano de sempre, depois de doar entre 98 e 150 milhões de dólares americanos aos candidatos do partido que apoia. Mas este montante incluiu a corrida ao congresso e à presidência. Agora, o magnata está disposto a bater um novo recorde: mais de cem milhões de dólares apenas para Trump e a sua candidatura presidencial, como reportou o New York Times a semana passada. E Sheldon Adelson explica, ele próprio, porquê. “[Entre tantos candidatos], um ganhou a corrida e agora os Republicanos têm de se juntar de forma a garantir que ele vença na etapa seguinte. Enquanto as primárias ainda têm algumas eleições importantes pela frente, está claro que Donald Trump será o Republicano nomeado para presidente”, começou por escrever numa coluna de opinião no jornal Washington Post. “Eu apoio publicamente Trump para a presidência e recomendo fortemente os meus colegas Republicanos – especialmente os oficiais eleitos através do Partido Republicano, os leais ao Partido e aqueles que fornecem um importante apoio financeiro – a fazerem o mesmo.” A opinião de Adelson continua, considerando “assustador” a alternativa à presidência se não Trump. Num longo parágrafo onde critica Barack Obama – o homem que “conseguiu atingir os seus objectivos em muitos assuntos, ainda que estes não fossem os objectivos dos EUA” -, Adelson diz que é preciso colocar na Casa Branca alguém com um “R” (de Republicano) atrás. Esta é, assegura, a única forma de melhorar a situação. E essa oportunidade “ainda existe”. “Sinto realmente que alguém com nível de experiência como CEO está suficientemente bem treinado para o trabalho de presidente. Isso é exactamente o que temos com Trump: ele é um candidato com experiência como CEO, moldado pelo compromisso e risco de utilizar o seu próprio dinheiro em vez do do público. Ele é um CEO com uma história de sucesso, que exemplifica o espírito de auto-determinação americano, compromisso para uma causa e boa gestão de negócios.” Sheldon Adelson não menciona, por exemplo, as mais de duas dezenas de negócios montados por Donald Trump que não foram, de todo, “bem geridos”. Notícias correntes na imprensa norte-americana mostram esses casos – aliás motivo de chacota nos mais populares programas de comédia na televisão. São os bifes de Trump (um ano em funcionamento), o Trump Game (igual ao Monopólio, mas versão Trump, menos de um ano em produção), um restaurante (três meses), um motor de busca de viagens (um ano), água Trump Ice (menos de um ano), uma revista que durou dois anos e até uma universidade que acabou processada por diversos alunos porque, durante os seis anos em que funcionou, nunca conseguiu cursos acreditados. [quote_box_left]Menos de 0,01% é o valor do apoio de Adelson a Trump quando comparado com o valor das receitas totais do ano passado da Sands, já que só a Sands China obteve lucros líquidos de 1,45 mil milhões de dólares em 2015[/quote_box_left] Comer no prato que cuspiu Apesar de alguns problemas nos negócios, a verdade é que Donald Trump foi sempre, de acordo com ele próprio e com média norte-americanos, “auto-financiado” na sua corrida à Casa Branca. Até porque “ele conseguiu alienar muitos dos seus doadores” devido a comentários menos próprios, como realça a imprensa dos EUA. “Para começar a ter mais recursos [financeiros], Trump terá de ser mais activo em conseguir conquistar doadores que isolou durante as primárias”, escreve a CNN. “Charles e David Koch (dois dos maiores apoiantes das presidenciais) não parecem querer apoiar Trump. Charles Koch, em particular, foi publicamente crítico sobre a forma de candidatura de Trump durante as primárias.” Esses comentários não passam sequer pela forma como Donald Trump fala das mulheres, ou da contínua ideia de construir um muro que separe o México do país. Os comentários foram dirigidos precisamente às figuras que agora poderão apoiar o candidato. “Trump foi claro durante a campanha, criticando os oponentes que esperam os ‘super PACS’ e dizendo que eles estavam a ser comprados por doadores ricos”, relembra o Wall Street Journal, referindo-se aos comités organizados para receber somas de dinheiro ilimitadas de empresas, indivíduos e uniões sem contribuírem directamente com o Partido ou os candidatos. Trump dizia mesmo que o poder da sua campanha centrava-se no facto de ser “auto-financiado” e que isso acontecia porque as contribuições “têm um efeito de corrupção nos oficiais do governo”. Palavras que justificava com o facto de ser “um dos maiores doadores ricos a fazer essa compra”, como relembra o site MSNBC. Nem Sheldon Adelson escapou. Quando o magnata apoiou Marco Rubio, Donal Trump não foi meigo. “Ele está a apoiar Marco Rubio para moldá-lo, para que ele seja a sua pequena marioneta”, escrevia o candidato em Novembro do ano passado, acrescentando no início deste ano que “os americanos não têm de se preocupar com esses ricos a dizer ao Trump o que fazer, porque ele não quer – e não recebe – o dinheiro deles”. Apesar da retórica, a ira contra os ‘super PACS’ parece ter amainado, tal como a contra os “doadores ricos”: Donald Trump vai ser apoiado em “cem milhões de dólares ou mais” por Sheldon Adelson e a contribuição deverá ser feita precisamente através de ‘super PACS’. A reacção de Trump quando confrontado pelos jornalistas? “Eu sei que as pessoas gostam de mim e formam um super PAC, mas eu não tenho nada a ver com isso. Vamos ser o que acontece”, disse à NBC News. O dinheiro, escrevem analistas citados pela imprensa americana, é agora um ponto vital na corrida de Trump. É que, para combater Hillary Clinton na corrida geral à Casa Branca, Donald Trump deverá precisar de “700 milhões a mil milhões de dólares”. Trump tem neste momento cerca de 11 milhões de votos, precisando de cerca de 50 a 60 milhões para vencer. As eleições são em Setembro. [quote_box_right]“Ele [Sheldon Adelson] está a apoiar Marco Rubio para moldá-lo, para que ele seja a sua pequena marioneta” – Donald Trump, em Novembro de 2015[/quote_box_right] Jogo, ódio a Obama e Israel – Que interesses estão por trás dos apoios? [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]encontro entre Adelson e Trump de onde surgiu a notícia do apoio aconteceu há duas semanas em Manhattan. Desde então, o magnata do jogo tem insistido na necessidade de se juntarem a ele todos os republicanos possíveis, que ainda estão de pé atrás com Trump. “Apesar de ter sido o neto de um mineiro e filho de um taxista, tenho muito experiência em ser parte de quase meia centena de diferentes negócios nos meus mais de 70 anos de carreira. (…) Ganhei o direito de falar sobre liderança e sucesso. Podem não gostar do estilo de Trump, ou daquilo que ele diz no Twitter, mas este país precisa de uma liderança executiva forte hoje em dia, mais do que em qualquer outro período na sua história”, escreveu Adelson na opinião publicada no Washington Post. Mas, que interesses estão por trás do apoio a Trump? Primeiro, o “ódio” que Sheldon Adelson já manifestou contra Obama e a visão de que Hillary poderá ser a sua substituta mais parecida. “Se os Republicanos não se juntarem no apoio a Trump, Obama vai, basicamente, ter algo que a Constituição não permite – um terceiro mandato em nome de Hillary Clinton. Passei algum tempo a falar com Donald Trump. Se concordo com ele em todos os pontos? Não. Mas é natural que nenhum americano concorde com o seu candidato preferido em todos os assuntos”, defendia Adelson na semana passada. Outra das razões pode ser o interesse de Trump nos casinos. Como recorda a NewsWeek, Adelson é conhecido por apoiar políticos que poderão ajudar nos seus negócios de jogo, ainda que os casinos não pareçam ser o ponto forte do candidato à presidência. Trump declarou falência de três propriedades em Atlantic City: primeiro o casino Trump Taj Mahal, em 1991, depois de um ano em operação. Depois, em 2004, foi a vez do Trump Marina e o Trump Plaza. Depois disto, a Trump Hotels e Casino Resorts decidiu mudar para Trump Entertainment Resorts. Quatro anos depois, também esta empresa faliu. E depois há a questão de Israel. Um dos cavalos de batalha de Adelson, judeu, a segurança de Israel é uma das maiores preocupações do magnata e parece ser, agora, também a de Trump, que Adelson considera ser “bom para Israel”. Mas a situação é confusa. “Durante toda a corrida vimos reviravoltas que não eram suposto acontecer. Uma das maiores razões de Adelson para apoiar Trump é o grande apoio a Israel, ainda que Trump tenha feito comentários no passado que deveriam fazer os zionistas preocupar-se com tal presidência. Mas também já vimos as ideias de Trump mudar em diferentes eventos públicos”, frisou Myles Hoenig, activista e analista político, em declarações à Press TV. Unidos por muros Trump chegou a fazer comentários contrários sobre a questão Israel-Palestina, mas a última declaração pública é favorável à ideia de Sheldon Adelson. E mais uma vez, Trump usa-se a si próprio como exemplo. “Acontece que eu tenho um genro e uma filha que são judeus ok? E dois netos que são judeus.” Para Hoenig, a liderança republicana sempre foi muito pró-Israel, mas também os democratas o têm sido, como refere, frisando que Hillary Clinton até é a candidata que mais apoia o país e que é activa nas suas acções para tal. Mas, para o activista, a dúvida não existe: por que razão Adelson apoia Trump? “Não é só para promover a conversa sobre Israel, mas para mostrar a oposição a todos os aspectos levantados por Obama nestes últimos oito anos. Obama é visto como uma oposição a Israel nas decisões que toma, mas ele apoiou o país em tudo o que fez e até cobriu crimes israelitas contra o povo palestiniano”, diz o analista, assegurando que, seja como for, a política dos EUA face a Israel não deverá mudar. Uma das coisas que os dois milionários parecem ter certamente em comum é a ideia de construir um muro: Trump tem um planeado para o México. Adelson sugeriu construir “um grande, maior do que já existe”, para manter os palestinianos fora de Israel. Wynn amigo de Hillary Clinton? Dentro da política é habitualmente conhecido o papel de Sheldon Adelson como um dos grandes doadores, mas Steve Wynn também pondera apoiar alguém. Ainda que o nome do empresário do jogo, dono do Wynn em Macau e com um novo complexo a nascer no Cotai, não seja tão sonante nos meandros da candidatura, duas coisas são bem conhecidas: Steve Wynn “desaprova Barack Obama”, ao ponto de o comparar ao ex-presidente Richard Nixon, envolto num escândalo de escutas. Mas, ao contrário de Adelson (ver texto principal), o facto de Wynn não gostar de Obama pode não o impedir de apoiar Hillary Clinton, candidata pelos Democratas. Wynn assegura ter tido um “jantar charmoso com Clinton”, ainda que social e “não político” e que não descurava a eventualidade de apoiar a candidata, numa entrevista ao canal de televisão PBS. Do conhecimento público é também que Wynn não está nos melhores termos com Adelson ou Trump. Muito por causa dos negócios de casinos, já que o candidato republicano foi considerado, em tempos, provável competição de Wynn em Atlantic City. Quem apoia quem? Hillary Clinton: apoiada por Ben Affleck, Christina Aguilera, Tony Bennett, Drew Barrymore, Bon Jovi, Mary J. Blige, George Clooney, Bryan Cranston, Leo Dicaprio, Ellen Degeneres, Cher, Jesse Eisenberg, Morgan Freeman, Lady Gaga, Robert De Niro, Richard Gere, Tom Hanks, Ben Harper, Elton John, Beyoncé, Katy Perry Donald Trump: apoiado por Hulk Hogan, Sarah Pallin, Stephen Baldwin, Azealia Banks, Kid Rock, Dennis Rodman, Mike Tyson Bernie Sanders: Rosario Dawson, Danny De Vito, Mark Ruffalo, Danny Glover, Spike Lee, Seth MacFarlane, Michael Moore, Susan Sarandon, Red Hot Chilly Peppers,
Flora Fong Manchete PolíticaJinan | Mais de mil pediram retirada da doação e demissão de Chui Sai On A manifestação de domingo contra a doação de mais de cem milhões de patacas à Universidade de Jinan juntou mais de mil nas ruas para pedir a demissão de Chui Sai On [dropcap style=’circle’]M[/dropcap]ais de mil pessoas saíram à rua no domingo para protestar contra a doação de cem milhões de yuan (123 milhões de patacas) à Universidade de Jinan. O grupo – que contava, de acordo com a organização, com 3300 pessoas e com 1100 de acordo com a PSP – pedia, entre gritos e cartazes, a demissão de Chui Sai On, a retirada da doação e uma reforma do regime de donativos do Governo. Chui Sai On, Chefe do Executivo, foi confrontado com a acusação de tráfico de influências devido a ser presidente do Conselho de Curadores da Fundação e vice-presidente do Conselho Geral da Universidade de Jinan. O líder do Governo não pediu escusa da apreciação do pedido de doação, ainda que tenha indicado ser membro desses cargos. A polémica doação da FM sem consulta aos residentes e sem comunicação oficial antes da imprensa do continente deu o mote para a saída à rua da Associação Novo Macau (organizadora), da Love Macau, da Associação Iniciativa de Desenvolvimento Comunitário de Macau, da Associação de Activismo para a Democracia e da Associação de Mútuo Auxílio dos Operários. Eram três da tarde, quando o Jardim Vasco da Gama foi ocupado pelos participantes no protesto. A marcha “vermelha” da Associação de Mútuo Auxilio de Operários de Macau começou primeiro, em direcção à Sede do Governo, onde foi entregue uma petição para a retirada da doação de cem milhões, mas os manifestantes levantaram também cartazes que pedem a implementação do “ensino superior gratuito”. O deputado Au Kam San, que se juntou à marcha da Associação Love Macau, criticou a falta de “razoabilidade” da doação, porque a FM é composta por “amigos” do Chefe do Executivo e por si próprio, o que permite que a decisão para a entrega de subsídios para entidades “que tenham boas relações com Chui Sai On” seja fácil, diz o deputado. “Quem dá e recebe os subsídios é a mesma pessoa”, criticou ainda. Cloee Chao, líder da Associação Love Macau, defendeu que a manifestação não foi só contra a doação de cem milhões, mas também para evitar que o Governo conceda mais dinheiro a entidades de fora de Macau sem consultar os residentes. Porcos e pérolas Como já é hábito, foi a Novo Macau, que contou com a participação do deputado Ng Kuok Cheong, a associação mais interventiva: um cartaz com a imagem da cabeça de Chui Sai On com orelhas de porco e um carimbo vermelho na testa com o número 380 – o número de votos com que conquistou a reeleição, em 2014 – foi levantado durante toda a manifestação, com o presidente Scott Chiang a explicar que o cartaz significa que “Chui Sai On está a engordar com o dinheiro do Executivo”, criticando o papel do líder do Governo no caso da doação à Jinan. “Quais são as nossas três solicitações principais?”, questionava alto Scott Chiang. “Primeiro, a retirada dos cem milhões. Segundo, a demissão do Chefe do Executivo. Terceiro, a apreciação pública de grandes doações através da Assembleia Legislativa”, respondiam os participantes. Sou Ka Hou, ex-presidente da ANM que veio de Taiwan para participar na manifestação, recordou que no mesmo mês, há dois anos, aconteceu a manifestação contra o Regime de Garantias dos Titulares de Cargos Políticos, que juntou mais de 20 mil pessoas. Na altura, Chui Sai On afirmou “sou gordo mas não vou engordar com o dinheiro”, em tom de brincadeira. No entanto, o jovem activista leva a ideia a sério e diz o Governo ainda “não é suficientemente sério para corrigir as falhas do regime jurídico-político” e está a permitir que Macau continue a ser “um viveiro de corrupção”. “Não estamos a visar qualquer instituição, nem a convocar conflitos entre os ex-estudantes [da universidade] e os residentes. Mas o cofre público continua a ser usado por debaixo da mesa, sem uma fiscalização pública, ao mesmo tempo que os assuntos sociais e da população ainda não foram tratados. Nenhum residente de Macau aceita isso, é preciso defender os recursos financeiros públicos de Macau”, continuou. Para Ng Kuok Cheong, um dos fundadores da Novo Macau, existe conflito de interesses e um problema que radica na própria FM. “Se o sistema realmente permite que qualquer pessoa deixe de estar em conflito de interesses por não receber salário então isto é um problema muito significativo para Macau porque mostra que o próprio sistema está errado. Este caso que acontece actualmente demonstra muito claramente que a FM não tem legitimidade para lidar com tanto dinheiro (…). Os residentes não acreditam nesta fundação, não têm confiança nela”, sublinhou à agência Lusa. Ng Kuok Cheong indicou que irá propor um mecanismo, como um “debate aberto na Assembleia Legislativa”, onde sejam tomadas decisões sobre a atribuição de fundos para fora de Macau. E os locais? Vestidos com camisolas brancas, a maioria dos manifestantes da ANM era jovem, mas havia também crianças com as famílias. Leong, uma dos manifestantes, afirmou ao HM que saiu à rua porque mais pela falta de transparência do que pelo dinheiro por si. Criticou o facto de o Governo não utilizar o dinheiro que deu à Jinan para “fazer bem os trabalhos na área do ensino”, mas justificar a doação pela formação de alunos de Macau naquela instituição. Outras três jovens, incluindo duas estudantes e uma trabalhadora, decidiram juntar-se por não apoiar o donativo, defendendo que os fundos públicos deviam ser usados em prol da população de Macau. Isabel Neves, outra participante e funcionária pública, juntou vários argumentos: “Esse montante que foi doado não percorreu os caminhos correctos (…). Um montante tão grande devia passar através da Assembleia para eles autorizarem. Esse dinheiro pertence à população de Macau”, frisou à Lusa. Recorde-se que, para o Governo, Macau está numa altura de crise económica que levou à diminuição de algumas despesas. O protesto, sob o ‘slogan’ de três R (“Refund, Resign e Reform”, “Reembolso, Resignação e Reforma), seguiu-se a uma petição lançada online contra a atribuição do apoio. “Desobediência” criticada Quando a marcha da ANM chegou à Praia Grande a confusão instalou-se: depois do TUI ter impedido o grupo de usar a estrada porque o passeio era suficientemente grande para todos, a Novo Macau deparou-se com metade do passeio bloqueado com barreiras, tendo por isso pedido à PSP para continuar a marcha na faixa de rodagem. Mas as autoridades proibiram a passagem, pelo que as duas parte entraram em conflito durante 15 minutos. A PSP diz que a falta de cumprimento do combinado afectou o trânsito e que não se exclui a possibilidade de haver acusados pelo crime de desobediência qualificada. Aviões em Santa Sancha O protesto da ANM não acabou até Sou Ka Hou, Scott Chiang e cerca de cem manifestantes terem tentado chegar ao Palácio de Santa Sancha, na Colina da Penha, para deixar na caixa do correio da residência oficial do Chefe do Executivo uma carta com as reivindicações. Depararam-se com a estrada cortada, pelo que a manifestação terminou com os participantes a transformarem as reivindicações impressas em pequenos aviões de papel que foram lançados, por cima do muro, para o interior da residência. O presidente da Novo Macau, Scott Chiang, prometeu que as iniciativas não vão parar enquanto não forem cumpridos os objectivos da marcha.
Hoje Macau PolíticaRevolução Cultural | Incidentes em Macau trouxeram problemas à relação luso-chinesa [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s incidentes em Macau provocados pela Revolução Cultural, como o “1,2,3”, tiveram “profundas consequências” nas relações entre Portugal e China, nomeadamente com a política externa portuguesa a ser condicionada pelos interesses de Pequim, defende o investigador Moisés Silva Fernandes. Como exemplos dados estão duas votações de Portugal favoráveis a Pequim na Assembleia-Geral das Nações Unidas no início da década de 1970 e a adopção de uma “política de silêncio” da diplomacia portuguesa em relação ao continente. O primeiro voto foi sobre o reconhecimento da República Popular em vez de Taiwan (República da China) na ONU em Outubro de 1971. “Portugal foi pressionado a apoiar a admissão da República Popular da China” por líderes da comunidade chinesa de Macau alinhada com Pequim, sustenta o professor universitário. “Em Portugal a questão não era falada, mas através do Governador da altura, Nobre de Carvalho, houve influências muito grandes, nomeadamente dos líderes chineses de Macau Ho Yin e Roque Choi, que foram claros na posição de que Portugal tinha que votar favoravelmente a questão chinesa”, para prevenir problemas no território. O voto a favor de Pequim causou “grande satisfação em Macau”, informou Nobre de Carvalho em comunicação para Lisboa, diz o investigador, que fala à Lusa a propósito dos 50 anos da Revolução Cultural. No ano seguinte, Pequim volta a marcar pontos na ONU, ao conseguir a aprovação da resolução que retira Macau e Hong Kong da lista de territórios a descolonizar – datada de Dezembro de 1960 –, na tentativa de evitar que fosse levantada a questão de uma eventual auto-determinação ou independência, refere Moisés Silva Fernandes. Mais uma vez, os líderes da comunidade chinesa de Macau transmitiram a mensagem de Pequim de que Portugal “não devia dizer nada, ou o mínimo possível”. A resolução foi aprovada, mas a postura do Reino Unido e de Portugal foi “bem diferente”: Londres rejeitou-a publicamente e Lisboa remeteu-se a um “silêncio hermético”. Início para o 1,2,3 A Grande Revolução resultou, em Macau, nos chamados incidentes do “1,2,3” (3 de Dezembro de 1966). Para João Guedes, o eco da Revolução por cá foi um golpe de morte para a presença nacionalista no território, palco durante anos de uma “guerra surda” entre comunistas e nacionalistas. O jornalista e investigador da História de Macau assinala que, depois da proclamação da República Popular da China em 1949, “a luta entre comunistas e nacionalistas só continuou em Macau”, onde os dois grupos encontraram um refúgio. “Era uma situação difícil para a China resolver – dado que Macau era administrado por portugueses. Eles não podiam tocar em Macau, porque se não também tinham de tocar em Hong Kong. A diferença é que a Inglaterra era uma superpotência e, portanto, a China não tinha hipótese”, explica. No início dos anos 1960, com a fundação da Polícia Judiciária, os agentes lançaram uma série de raides e apreenderam “quantidades industriais” de armamento trazido pelos nacionalistas para Macau. “O ataque da PJ vem provocar o vazio que é ocupado pelos comunistas que começam a tomar conta” desses núcleos e ficam em pé de igualdade”, adianta João Guedes. Entre as exigências feitas ao governo português no âmbito do ‘1,2,3’ – além da expulsão de dirigentes, de pedidos de desculpas ou de indemnizações – figurava a “eliminação de todas as organizações nacionalistas”, uma reivindicação “menos falada, mas não menos importante”. “E, de repente, Macau deixa de ser nacionalista e passa a ser comunista”, realça o historiador. Daí existirem em Hong Kong “aqueles partidos todos anti-comunistas e a bradar pela democracia”, algo que não existe por cá “porque os nacionalistas [cá] acabaram em 1966”, observa. “Isto da História não é uma coisa passada sem consequências. É por essa e por outras razões que um movimento como o Occupy seria absolutamente impossível cá”, avalia João Guedes. O que és? Meio século depois continuam a existir divergências sobre as causas dos chamados incidentes do “1,2,3” em Macau. Na obra “Macau na Política Externa Chinesa (1949-79)”, publicada em 2006, o investigador Moisés Silva Fernandes divide em quatro as correntes de pensamento de autores portugueses sobre as causas do incidente, um assunto ainda hoje considerado “tabu” na comunidade chinesa local. A primeira atribui a ocorrência dos acontecimentos à tentativa gorada de reconhecimento e estabelecimento de relações diplomáticas com o regime de Pequim em 1964, a segunda às actividades subversivas do Kuomintang em Macau, a terceira remete para a “incompetência política” da administração portuguesa e a quarta “avalia os acontecimentos como um conflito entre uma classe média chinesa em ascendência e uma classe média macaense defensora do status quo”. Para o jornalista José Pedro Castanheira, na obra “Os 58 dias que abalaram Macau”, tudo começou “com uma concentração de estudantes e professores junto ao Palácio do Governador” no dia 3 de Dezembro. A intervenção da polícia resultou em “manifestações um pouco por toda a cidade, acompanhadas de desacatos e tumultos de violência crescente, provocados pelos sectores comunistas mais extremistas e radicais”. Esses confrontos entre populares e polícia generalizaram-se, “edifícios públicos foram saqueados, estátuas derrubadas”, foram decretados a lei marcial e o recolher obrigatório. O saldo foi de oito mortos e de mais de uma centena de feridos. Fotos da época mostram marchas de jovens com o livro vermelho de citações de Mao Zedong, um dos símbolos da Revolução Cultural, em riste. “Durante 58 dias, os sectores comunistas mais radicais, inspirados pelos Guardas Vermelhos, impuseram a sua lei e a sua ordem no território até à satisfação integral das suas reivindicações e à capitulação do governador Nobre de Carvalho, obrigado a assinar um acordo humilhante para as autoridades portuguesas”, escreveu José Pedro Castanheira, resumindo o “1,2,3”. A Grande Revolução Cultural Proletária, que agitou a China de Maio de 1966 até à morte de Mao Zedong dez anos depois, pretendeu purgar a República Popular da “infiltração de elementos burgueses” nas estruturas do governo e da sociedade. Por todo o país, os Guardas Vermelhos, na larga maioria grupos de adolescentes e jovens sempre acompanhados pelo “livro vermelho” com os ensinamentos de Mao, ocuparam todas as estruturas da sociedade para impor o novo modelo, enquanto milhões de estudantes e intelectuais foram enviados para os campos para “reeducação” pelo trabalho. Milhões de pessoas sofreram humilhação pública, prisão arbitrária, tortura, confiscação de bens. A tradição cultural milenar foi renegada, museus, monumentos e livros foram destruídos. Estimativas falam em 750 mil mortos. Diana do Mar (agência Lusa) / editado por HM Lição para HK Hong Kong aprendeu com Macau “uma lição valiosa” sobre o que não fazer para reagir aos motins durante a Revolução Cultural chinesa, defende Peter Moss, antigo quadro dos serviços de informação da região. “Graças à humilhação infligida à administração portuguesa em Macau no ano anterior, o governo de Hong Kong aprendeu uma lição valiosa sobre como não tratar os esquerdistas quando tentaram os mesmos estratagemas em Hong Kong em 1967”, disse, referindo-se ao 1,2,3. “Sentimos que foi uma vantagem para Hong Kong que Macau tenha tido aquela experiência, porque ensinou-nos o que não devíamos fazer quando encontrássemos o tipo de oposição que Macau encontrou. Eles humilharam o vosso governador, fizeram-no ficar de pé no pátio. E nós aprendemos bastante com essa lição”, afirmou à Lusa.