Joana Freitas Manchete SociedadeIec Long | Caso “chocante” e críticas sobre inércia do Governo Deputados pedem uma investigação mais profunda.Advogados consideram que a retirada dos terrenos permutados não tem consequências para a Shun Tak e um especialista do Centro “Um País, Dois Sistemas” diz existir uma violação à Lei Básica [dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m caso absurdo, chocante e que viola a Lei Básica. As repercussões do relatório do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) sobre a troca de terrenos entre Governo e Iec Long já se fizeram sentir. Para o deputado Si Ka Lon o caso é “absurdo” e foi “o mais potente desde o retorno de Macau à pátria”. O número três de Chan Meng Kam no hemiciclo aplaude a iniciativa do CCAC e questiona a “inconsciência” encontrada no caso. “Uma empresa e um director das Obras Públicas é que negoceiam uma troca de um terreno destes e só 16 anos depois da transferência é que se sabe? Ninguém nunca reparou nisso? Onde está a supervisão?”, atira o deputado. Kwan Tsui Hang concorda, descrevendo o assunto como “chocante”, pelo facto dos documentos nunca terem sido verificados por outra pessoa. A deputada também aplaude o CCAC e diz que o Governo deve retirar os terrenos trocados sem autorização. Algo que não é fácil. Uma das questões prende-se precisamente com a troca de terrenos entre os proprietários da Iec Long e outras empresas. Uma delas é a Shun Tak, que pagou 500 milhões de dólares de Hong Kong à Sociedade de Desenvolvimento Predial da Baía Nossa Senhora da Esperança em troca de 99 mil metros quadrados de terreno para a construção do Mandarin Oriental e dos prédios do One Central. O problema é que a Sociedade não tinha autorização para ceder o que quer que fosse. Para mais tarde O advogado Chio Song Meng considera que os empreendimentos da Shun Tak não serão afectados pelo facto do acordo ter sido agora considerado nulo pelo CCAC. Contudo, em declarações ao Ou Mun, alerta que entre a Shun Tak e Sociedade é provável que ocorra um processo. Também o advogado Miguel de Senna Fernandes aponta que o relatório do CCAC não tem qualquer efeito legal, portanto “tudo depende da posição do Governo”. Se o Governo decidir que os terrenos já permutados são nulos, a consequência será grande, avisa ao mesmo jornal. O HM tentou perceber junto das Obras Públicas se há algum tipo de consequência, mas não foi possível até ao fecho desta edição. Entretanto, sabe-se que Raimundo do Rosário fica responsável pela anulação de acordo. O Chefe do Executivo determinou que o Secretário para os Transportes e Obras Públicas vai ser o responsável pelo acompanhamento da anulação do acordo sobre a permuta de terrenos e pelas consequências dessa anulação. Num comunicado, Chui Sai On indica que “há algumas questões que importa resolver” e é preciso que “a legalidade seja reposta”. Lei Básica em risco Num comentário feito pelo Coordenador do Centro de Estudos “Um País, Dois Sistemas” do Instituto Politécnico de Macau, Leng Tiexun, no Jornal Ou Mun, este considera que o caso viola a Lei Básica. O responsável relembra que o artigo 7º da Lei Básica indica que os solos e os recursos naturais são propriedade do Estado, excepto os que forem propriedade privada antes do estabelecimento da RAEM. Portanto, diz, não se pode produzir nova propriedade privada depois de 1999, “senão é uma directa violação da Lei Básica”. No caso da Fábrica de Panchões, todo o terreno ocupado pela fábrica foi considerado como propriedade privada, mas de facto só algumas partes do terreno o eram, relembra. Um dos responsáveis da Sociedade da Baía Nossa Senhora da Esperança é Sio Tak Hong, também membro da Conferência Chinesa e do Conselho Executivo local. É também presidente-fundador da Associação dos Conterrâneos de Kong Mun, ao lado de Mak Sui Kun, vice-presidente da mesma associação. Questionado sobre o paradeiro de Sio Tak Hong, o também deputado respondeu que não sabia se este estava em Macau. Mak Soi Kun disse apoiar o Governo, mas afirma que o relatório do CCAC “é uma descrição básica do caso e a informação fornecida é parcial”, pelo que não é conveniente fazer comentários. Pereira Coutinho rejeita culpas de Carion O relatório do CCAC é claro: as trocas ilegais de terrenos foram feitas pelo ex-director das Obras Públicas, Jaime Carion, que representou a RAEM nesse sentido. O ex-responsável não reagiu ainda ao relatório, tendo-se mostrado sempre incontactável, mas o deputado José Pereira Coutinho não gostou da acusação. “O CCAC levanta algumas questões cuja responsabilidade põe nos ombros do ex-director da DSSOPT. Acho anedótico estar a culpar um ex-director, é uma forma simplista e fácil de sacudir a água do capote dos actuais dirigentes. Como ele já está aposentado é mais fácil acusar porque já não faz parte da família. Não acredito que se ele ainda fosse o director da DSSOPT o CCAC teria a coragem de o culpabilizar. Não aceito de maneira nenhuma que ele assuma a responsabilidade total, quando se trata de matéria de terrenos. Lau Si Io (Secretário a partir de 2007) está no activo e deveria ser ouvido e investigado. Na Lei de Terras já há muitos deputados [que o querem ouvir], eu próprio. Se ele fez alguma promessa que não está a ser cumprida tem de ser apontada a responsabilidade disciplinar”, frisou aos jornalistas. IC vai “acelerar” classificação da Fábrica O Instituto Cultural (IC) assegura concordar com as ideias deixadas no relatório e admite que vai acelerar a classificação da Fábrica de Panchões Iec Long. Para o instituto, acusado pelo CCAC de ter gasto cinco milhões de patacas em preservações que não eram da sua responsabilidade – e que levaram a um “embaraço” – a infra-estrutura tem grande importância. Mas o organismo também frisa que vai ter atenção às acusações de falta de cumprimento da lei. “A Fábrica possui um valor cultural importante, sendo um dos objectos do levantamento do património cultural. O IC irá acelerar a recolha de provas das informações relevantes e dar o início ao procedimento de classificação da Fábrica segundo as condições”, diz. “O IC irá, segundo as sugestões emitidas pelo CCAC e em conformidade escrupulosa com a Lei de Salvaguarda do Património Cultural, tratar adequadamente os trabalhos de conservação e a responsabilidade e atribuição das partes envolvidas na reparação.” As ruínas da Iec Long são das melhores preservadas “em larga escala no sul da China”, mas o local foi abandonado após o encerramento, em meados de 80. Até agora, o IC reparou um total de 16 edifícios, sendo que a oficina para produzir panchões, as paredes reforçadas contra explosões e o armazém “estão basicamente bem preservadas”. Em 2014, o IC assegura que enviou dois ofícios aos proprietários, mas apenas para exigir que estes cuidassem das plantas e ervas a mais.
Joana Freitas Manchete SociedadeIec Long | CCAC considera nula permuta de terrenos com Governo e fala em violação à lei Violações graves à antiga Lei de Terras, competências ultrapassadas e um acordo nulo. É conhecida a conclusão da investigação do CCAC face à troca de terrenos da Iec Long com o Governo, numa história tão complexa que mete o ex-Procurador, o Secretário Ao Man Long, o ex-director Jaime Carion e muitas empresas [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]acordo que o Governo fez com os proprietários da antiga Fábrica de Panchões Iec Long é nulo e viola a lei. A conclusão é do Comissariado contra a Corrupção (CCAC), que diz que o acordo para a permuta de terrenos feito em 2001 está errado em vários princípios, que vão desde violações “graves à lei”, a falta de competência do director dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) e a um cálculo de valores de terrenos prejudicial à RAEM. “O CCAC verificou algumas práticas da Administração Pública que violaram manifestamente o princípio da legalidade”, começa por apontar o organismo liderado por André Cheong. “As formas, os procedimentos e os princípios da permuta de terrenos estão previstos expressamente na antiga Lei de Terras, mas os adoptados na permuta do terreno da Iec Long desviam-se gravemente do disposto na lei. O [acordo] firmado pelo director da DSSOPT e pelo representante da Sociedade da Baía da Nossa Senhora da Esperança não está em conformidade com o disposto na antiga Lei de Terras.” Entre as falhas apontadas, estão o facto do director nem sequer ter exigido à Sociedade a apresentação do documento comprovativo dos seus direitos sobre todo o terreno da Fábrica de Panchões e o facto do valor do terreno da Iec Long incluir coisas que não devia. “Inclui não só o valor das parcelas que constituem propriedade privada e das aforadas, mas também o valor das arrendadas já devolvidas ao Governo, das parcelas vagas e das parcelas da propriedade do Estado. [Tudo] foi deduzido do prémio, o que violou manifestamente a igualdade das prestações consagrada na antiga Lei de Terras.” Contornos de novela O caso da troca de terrenos da Iec Long, na Taipa, voltou à baila em 2015, quando a Macau Concelears deu a conhecer que o Governo e os donos do terreno da Iec Long tinham celebrado um acordo onde o Executivo se comprometia a conceder um lote na Baía de Nossa Senhora da Esperança, na Taipa, com 152 mil metros quadrados, em troca do terreno da fábrica, com 28 mil. A ideia do Governo era construir um parque temático no local e, depois de diversas sugestões e desacordos, o Executivo finalmente cedeu outros lotes. Foi em 1950 que o terreno da Fábrica foi concedido por arrendamento a Tang Kun Hong e Tang Ming Hong, proprietários da Iec Long, para que pudessem continuar a actividade. Na década de 1980, o Governo decide retirar a concessão devido ao declínio da indústria. Com a “fábrica parada”, não fazia sentido os terrenos estarem nas mãos dos empresários. O terreno da fábrica contava, contudo, com mais de 3200 metros quadrados de lotes privados, que pertenciam aos dois proprietários. Cada um deles acaba por passar essa parte, igualmente dividida, a herdeiros. Estes, por sua vez, acabam por fazer negócio com outras empresas, entre as quais a Companhia San Tat. O desejo de trocar os terrenos da Iec Long por outros continua e os titulares apresentam por mais do uma vez sugestões: primeiro pedem um terreno na ZAPE, que o Executivo rejeita, propondo a troca de um no Pac On. Mas o tamanho inferior leva a que os concessionários desistam da troca e apresentem, em 1997, um projecto de reaproveitamento de todo o terreno da Iec Long: no local querem construir 11 edifícios de habitação e comércio, mas tal não é autorizado pelo Governo. No mesmo ano, em Dezembro, os proprietários voltam a pedir um terreno da Baía de Nossa Senhora da Esperança. No ano seguinte, o Executivo aceita dar três lotes com pouco mais de nove mil metros quadrados e os proprietários não querem. Dedo de Procurador O caso começa a ficar mais complicado quando o herdeiro de um dos proprietários, Kong Tat Choi, passa não só a ser titular de parcelas privadas no terreno da Iec Long, mas é-o também de um outro lote na Taipa. O BT27, na Rua de Fat San e Rua de Bragança, foi concedido em 1989 para a construção de um prédio de habitação. Quatro anos depois, Kong Tat Choi passa o lote à Companhia de Investimento e Fomento Predial Samtoly. Nesse mesmo ano, o Governo aceita uma alteração no plano de aproveitamento desde que a Samtoly pagasse 87 milhões de patacas de prémio adicional. “A Samtoly pagou a primeira prestação, bem como outras três prestações, no entanto recusou-se a pagar a última prestação do prémio vencida em 1995, no valor de 14,1 milhões de patacas.” Um conflito de pagamento leva a que os proprietários da Iec Long peçam ao Governo para ter “em consideração a resolução da disputa no processo da permuta do terreno da Fábrica de Panchões Iec Long”. O conflito dá-se porque os donos de dois lotes ao lado do BT27 pagaram “muito menos” do que a Samtoly para a alteração do projecto. A empresa pede para pagar menos, mas o Governo rejeita e a Samtoly passa ao ataque em tribunal porque não só não viu o preço do prémio do seu terreno reduzir, como não se viu satisfeito o pedido de permuta dos proprietários da Iec Long. E é aqui que entra o Ministério Público (MP). Em 1999, pede às Obras Públicas o processo do BT27 e pede ao organismo que fixe um novo prémio “mais razoável” para a Samtoly, de forma a existir uma conciliação das duas partes. A DSSOPT diz que a empresa pode ser isenta do pagamento da última prestação de 14,1 milhões e ser restituída de 12,5 milhões e, em 2000, o Procurador convoca uma outra reunião onde se decide que, como os donos do BT27 e da Iec Long são os mesmos, a questão passa a ser resolvida no processo de permuta de terrenos da Fábrica. “O Secretário para os Transportes e Obras Públicas aceitou a proposta do Procurador e no processo de negociação sobre a permuta do terreno da Baía de Nossa Senhora da Esperança, além do terreno da Iec Long é tida em consideração a restituição do prémio do Lote BT27”, explica o CCAC. A Samtoly vê a DSSOPT sugerir a restituição de 66 milhões de patacas, contando com o pagamento da última prestação, e o terreno da Iec Long a ser avaliado em 136 milhões. O Secretário concorda e os titulares do terreno da Iec Long e os representantes da Samtoly dizem à DSSOPT que qualquer negociação e assinatura de documentos sobre a permuta do terreno na Baía de Nossa Senhora da Esperança ficaria a cargo da Sociedade de Desenvolvimento Predial Baía da Nossa Senhora da Esperança. É neste contexto que o director da DSSOPT assina em 2001 um acordo para a permuta de um terreno com 152 mil metros quadrados na Taipa, para construção de um complexo turístico e habitacional pela Sociedade. A empresa tem de pagar prémio, mas desse são deduzidos 428 milhões de patacas. Não acaba aqui É no ano seguinte que a Shun Tak entra na história. Em Fevereiro de 2002, a Sociedade da Baía pede a divisão do terreno no local homónimo em duas parcelas: uma delas, a A – com 99 mil metros quadrados – para ser entregue à empresa Shun Tak para a construção de um hotel. O Governo autoriza e a Shun Tak paga 500 milhões de dólares à Sociedade para poder desenvolver o terreno. Mas a Shun Tak não fica satisfeita e, três anos e um requerimento conjunto com a Propriedades Sub F depois, consegue que o Governo ceda à parceira uma área de mais de 18 mil metros quadrados nos NAPE para a construção de um hotel e habitação. Em troca, cede o mesmo espaço ao Governo na parcela A da Baía Nossa Senhora da Esperança. Não chega e, em 2006, a Shun Tak apresenta outro pedido, que não é aceite pelo Executivo: a troca do resto da parcela A, agora com 80 mil metros quadrados, por um terreno no Cotai com 65 mil metros quadrados, para a construção de um casino, hotéis e comércio. O ano passado, depois de ter sido dado a conhecer o caso, alegações de falta de transparência, transferência de interesses e dívidas ocultas do Governo foram imediatamente levantadas. Raimundo do Rosário, Secretário para os Transportes e Obras Públicas, pediu ao CCAC que começasse uma investigação. A conclusão chega agora e não é meiga, sendo que a única empresa que fica com alguma coisa deste negócio é a Shun Tak. “O [acordo] não constitui instrumento legal através do qual o Governo possa conceder ou prometer a concessão de terrenos, face à sua desconformidade com o disposto na antiga Lei de Terras (…) e porque violou o disposto na antiga Lei de Terras, tornando-se assim impossível que se considerem quaisquer efeitos jurídicos relativamente à permuta ou ao compromisso da permuta daquele terreno. Não é possível considerar que o mesmo configure um contrato de concessão legalmente vinculativo. Poderia considerar-se a possibilidade de o [acordo] ser considerado informal na perspectiva da sua natureza jurídica, mas, ainda assim, tal acordo informal dificilmente pode constituir fonte de direitos ou deveres jurídicos, devido à impossível concretização do respectivo objecto”, frisa o CCAC. O organismo aponta o dedo directamente às Obras Públicas, para dizer que a responsabilidade é deles e é “iniludível neste caso”. Diz ainda que o “dever de fundamentação” não foi cumprido pelo Governo em algumas decisões. Por exemplo, a sugestão do procurador na restituição à concessionária do Lote BT27 de mais de 60 milhões, sem qualquer indicação que justificasse esta mudança e o valor do terreno da Fábrica, que passou de 42,4 milhões para 136 milhões “sem fundamentação”. Apesar do terreno na Baía de Nossa Senhora não ter concedido nos termos da lei – o que impedia a Sociedade de dividir o terreno e ceder as parcelas divididas, “os procedimentos da concessão [à Shun Tak] foram realizados em conformidade com o disposto na antiga Lei de Terras. E, ao abrigo do contrato de concessão, a Shun Tak já concluiu o aproveitamento do terreno”, tendo até o hotel entrado já em funcionamento. As caras envolvidas Sociedade de Desenvolvimento Predial Nossa Senhora da Esperança: tem como administradores Sio Tak Hong, membro de Macau no Comité Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, presidente-fundador da Associação dos Conterrâneos de Kong Mun de Macau e membro do Conselho Executivo e da Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo, e Tat Choi Kong, membro do quadro da Universidade de Macau e da Câmara de Comércio Director das Obras Públicas: Jaime Carion, agora reformado Secretário para os Transportes e Obras Públicas: Ao Man Long, agora preso por 29 anos e meio por corrupção Procurador da RAEM: Ho Chio Meng, agora detido preventivamente, por acusações de corrupção Shun Tak: Pansy Ho Propriedades Sub F: Daisy Ho À espera de mais O Chefe do Executivo, Chui Sai On, já reagiu ao relatório, tendo admitido que já incumbiu entidades de continuar a dar acompanhamento ao caso. Uma dessas entidades é Raimundo do Rosário, que vai perceber os desenvolvimentos advindos da falta de vinculação jurídica da troca dos terrenos. O líder do Governo admite ainda que o CCAC vai agora investigar eventuais indícios criminais, “por exemplo de corrupção ou burla” e põe em cima da mesa a instrução de um processo disciplinar caso “se verifique infracção disciplinar cometida por funcionário público”. A DSSOPT diz apenas estar a fazer uma análise do caso e o HM não conseguiu estabelecer ligação com Jaime Carion, na altura director do organismo. Sobre as eventuais infracções penais neste caso o CCAC diz não ter “nesta fase” quaisquer comentários a fazer. Decisões que pesam O acordo de permuta “não está em conformidade com o disposto na antiga Lei de Terras e, do ponto de vista jurídico, tem por base um objecto impossível. Não é legalmente vinculativo para o Governo, sendo nulo” “O Governo não tem qualquer encargo para com a Sociedade de Baía da Nossa Senhora da Esperança ou quaisquer outras empresas a nível de concessão de terrenos” “Desde a sua celebração em 2001, o [acordo] nunca foi publicado no Boletim Oficial, o que viola a antiga Lei de Terras” Nem o acordo, nem o processo “foram remetidos à Comissão de Terras” “Todas as parcelas da Iec Long são propriedade do Estado” “Uma vez que o terreno na Baía de Nossa Senhora da Esperança não foi concedido nos termos da lei, a Sociedade da Baía da Nossa Senhora da Esperança não podia dividir o terreno e ceder as parcelas divididas. [Mas] os procedimentos da concessão [à Shun Tak] foram realizados em conformidade com o disposto na antiga Lei de Terras. E, ao abrigo do contrato de concessão, Shun Tak já concluiu o aproveitamento do terreno e construiu neste terreno um complexo constituído por um hotel e por uma área residencial, sendo que tal hotel já entrou em funcionamento” IC gasta cinco milhões em conservação que “não devia” O CCAC atira ainda críticas face à conservação da Fábrica de Panchões, que custou aos cofres do Instituto Cultural (IC) mais de cinco milhões de patacas. Para o organismo, as reparações feitas de 2009 a 2015 deveriam ter sido paga pelos proprietários da Iec Long. “Nas acções de conservação da Fábrica, o IC não exerceu de forma plena as competências que o regime jurídico lhe atribui, dando origem a situações de incumprimento da lei e de embaraço. O IC suportou as despesas resultantes de trabalhos de reparação e reordenamento, mas nos documentos disponibilizados pelo IC não se encontra fundamento que justifique o facto de tais despesas terem sido adiantadas pelo IC e também não se constata que o IC tenha cobrado ao ‘proprietário’ o montante de mais de cinco milhões de patacas entretanto despendidos.” O CCAC acrescenta ainda que a abertura do procedimento de classificação da Fábrica como património “é necessária e premente”, até porque já foram feitas as conservações. O organismo critica ainda o IC por não ter pedido quaisquer informações junto dos serviços de Obras Públicas sobre a propriedade da fábrica, ainda que tenha pedido ao proprietário autorização para lá entrar. Cronologia 1950: concedido terreno a Tang Kun Hong e Tang Ming Hong, proprietários da Fábrica 1986: Administração portuguesa declara a rescisão dos contratos 1995: proprietários pedem a permuta entre os terrenos da Iec Long e um terreno situado na ZAPE. Governo não aceita, mas admite dar um terreno no Pac On. Proprietários não querem 1997: proprietários da Iec Long apresentam um projecto de concepção de reaproveitamento de todo o terreno, pretendendo construir 11 edifícios de 42 pisos, destinados a habitação e comércio. Não recebem autorização Dezembro 1997: proprietários pedem novamente permuta do terreno por um da Baía de Nossa Senhora da Esperança 1998: Governo aceita permuta em troca dos direitos e interesses sobre o terreno da Iec Long. Mas a área de 9417 metros quadrados era diferente da fábrica, pelo que não é firmado qualquer acordo 2000: Procurador convoca uma reunião com a DSSOPT onde se decide que, como os donos do BT27 e da Iec Long são os mesmos, a questão é resolvida no processo de permuta de terrenos da Iec Long. O Secretário aceita 2000: Terreno da Iec Long é avaliado em 136 milhões de patacas e é calculado um prémio do terreno de troca. Proposta merece a concordância do Secretário e a DSSOPT continua as negociações Novembro de 2000: os titulares do terreno da Iec Long e os representantes da Samtoly dizem à DSSOPT que qualquer negociação e assinatura de documentos sobre a permuta do terreno na Baía de Nossa Senhora da Esperança ficaria a cargo da Sociedade de Desenvolvimento Predial Baía da Nossa Senhora da Esperança 2001: director da DSSOPT e representante da Sociedade firmam acordo sobre a entrega de um terreno na Baía de Nossa Senhora da Esperança com 152 mil metros quadrados para construção de um complexo turístico e habitacional. A empresa tem de pagar prémio, mas desse são deduzidos 428 milhões de patacas 2002: Sociedade da Baía da Nossa Senhora da Esperança pede ao Governo a divisão do terreno na Baía de Nossa Senhora da Esperança em duas parcelas – uma com 99 mil metros quadrados e outra com 53 mil. A empresa pede ao Governo para autorizar a cedência da maior parcela à Shun Tak, para a construção de um hotel 2002: Governo aceita e a Shun Tak paga 500 milhões de dólares de Hong Kong à Sociedade da Baía da Nossa Senhora da Esperança 2005: Shun Tak e Propriedades Sub F apresentam um pedido de concessão conjunto para um terreno na zona B dos NAPE, com 18.363 metros quadrados, para construir um hotel e residências. Em troca davam parte da sua parcela A do terreno na Baía da Nossa Senhora da Esperança 2006: Governo concede por arrendamento à Propriedades Sub F um terreno com 18.344 metros quadrados nos NAPE. A Shun Tak abdica do mesmo espaço mas na parcela A
Sofia Margarida Mota Eventos MancheteCreative Macau | Fotógrafos apresentam livro que junta música, poesia e fotografia É um projecto experimental que chega agora ao público. Rusty Fox e Chong Hoi, artistas locais, apresentam o livro “BRutAL”, que junta artes numa composição improvável [dropcap style=’circle’]”[/dropcap]BRutAL” dá nome ao livro recentemente publicado pelos criativos locais Chong Hoi e Rusty Fox. Este é um foto-livro experimental, que concretiza um projecto que junta o design, a música electrónica e a poesia à fotografia. Vai ser apresentado na Creative Macau, a 21 de Julho, pelas 18h30. O projecto começou com o uso de uma fábula oriental de modo a representar um sentimento distópico do mundo. Segundo a organização, é um livro que retrata a complexidade de sentimentos que fazem parte da RAEM, um dia pertença portuguesa. É ainda uma abordagem contemporânea dos problemas emergentes globais, tais como a crise económica, a inflação e as questões sociais que de alguma forma afectam o quotidiano de todos. “Há de alguma forma, receio de fazer parte da cauda da cadeia alimentar dentro desta sociedade capitalista”, afirma a organização em comunicado de imprensa. Chong Hoi é pós graduado em Design Gráfico pelo Instituto Politécnico de Macau. Depois de alguns anos em Xangai, onde aprofundou carreira na área da publicidade e tem trabalho feito nas áreas de fotografia, literatura, música electrónica e arte de rua, regressa a Macau. Actualmente trabalha como designer no Museu de Arte de Macau, enquanto participa na realização de filmes documentais. O artista vê cada projecto criativo como uma oportunidade de crescer e promover o design de Macau ao nível da classe mundial, insistindo em obras únicas capazes de comunicar com os outros. Para Chong Hoi, a fotografia é um meio e uma técnica de ver o mundo, sendo que considera este conceito como “além da criação”. Através das técnicas de composição e das faculdades oferecidas pelos equipamentos, o “verdadeiro espírito de fotografia é o de sentir o mundo através dos sentidos”, afirma o artista. Já Wang Lap Wong, conhecido artisticamente por Rusty Fox, sempre teve como preocupação os equilíbrios e desequilíbrios da cidade dentro da dinâmica dos seres que a habitam e que influenciam a própria percepção do conceito. Para o artista, “a maioria das pessoas anda como máquinas, dormentes e sem alma”. Neste contexto, a fotografia documental não tem limites, sendo que o seu trabalho pretende permitir ao público entender a relação, muitas vezes escondida, entre homens e os seres inanimados que os rodeiam. Tudo para que possa ter noção do extraordinário que existe na normalidade. Rusty Fox nasceu em Macau e é mestrado em Fotografia Documental pela University of South Wales. O evento marcado para a semana conta com a presença dos autores, que vão explicar como o projecto nasceu e cresceu. A entrada é livre.
Hoje Macau China / Ásia MancheteMar do Sul | Pequim diz ter “o direito” de instaurar zona de defesa aérea [dropcap style=’circle’]P[/dropcap]equim afirmou ontem ter “o direito” de instaurar uma “zona de identificação de defesa aérea” (ADIZ, na sigla em inglês) no Mar do Sul da China, um dia depois de um tribunal internacional ter decidido contra as suas reivindicações em águas estratégicas. “A eventual necessidade de estabelecer uma [ADIZ] no Mar do Sul da China depende do nível de ameaça que enfrentarmos”, declarou o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros Liu Zhenmin. “Não transformem o Mar do Sul da China num berço de guerra”, afirmou, em declarações aos jornalistas, insistindo: “o objectivo da China é transformar o Mar do Sul da China num mar de paz, amizade e cooperação”. A China reitera as suas reivindicações territoriais na região, que se estendem por quase toda a costa de países vizinhos, depois de o Tribunal Permanente de Arbitragem de Haia ter decidido a favor das Filipinas, considerando não haver base legal para a pretensão de Pequim. Liu Zhenmin descreveu a decisão como um “pedaço de papel usado” durante uma conferência de imprensa, alegando que o tribunal tem sido “manipulado”. Os cinco juízes que avaliaram o caso “fizeram dinheiro com as Filipinas”, disse ainda Liu, acrescentando que “talvez outras pessoas também tenham ganho dinheiro” com o processo. Sublinhou também que quatro dos cinco juízes são de países da União Europeia e que o presidente, embora oriundo do Gana é um residente de longa data na Europa. “São estes juízes representativos?”, questionou, de forma retórica. “Entendem a cultura asiática?” Um antigo presidente japonês do Tribunal Internacional sobre Direito do Mar, Shunji Yanai, “manipulou todos os procedimentos” nos bastidores, alegou ainda o vice-ministro chinês. Yanai, antigo embaixador do Japão na Coreia do Sul e nos Estados Unidos, deixou o cargo em 2014. Razões da História Liu falava na apresentação de um ‘white paper’ sobre a resolução das disputas com as Filipinas, o país que levou o caso ao Tribunal Permanente de Arbitragem, com sede em Haia. A China foi “a primeira a descobrir, dar nome e a explorar e aproveitar” as ilhas do Mar do Sul da China e as suas águas, e “tem exercido contínua, pacífica e eficazmente” a sua soberania e jurisdição sobre elas”, refere Pequim no documento. Pequim boicotou os procedimentos do Tribunal Permanente de Arbitragem, afirmando que esta instância não tem competência para se pronunciar, e lançou uma ofensiva diplomática e publicitária para tentar desacreditar o tribunal. A China reivindica a soberania sobre quase todo o Mar do Sul da China, com base numa linha que surge nos mapas chineses desde 1940, e tem investido em grandes operações nesta zona, transformando recifes de corais em portos, pistas de aterragem e em outras infra-estruturas. Vietname, Filipinas, Malásia e Taiwan também reivindicam uma parte desta zona, o que tem alimentado intensos diferendos territoriais com a China. Em 2013, Manila levou o caso ao tribunal internacional, após 17 anos de negociações. Seul pede soluções pacíficas A Coreia do Sul defendeu ontem uma resolução “pacífica e criativa” para as disputas no Mar do Sul da China, após a decisão do Tribunal Permanente de Arbitragem de Haia sobre o conflito entre a China e as Filipinas. Em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Seul manifestou o seu apoio à decisão anunciada na véspera que dá razão às Filipinas na contenda territorial entre Manila e Pequim. A Coreia do Sul “tem em conta a decisão do tribunal de arbitragem” e “deseja uma resolução pacífica da disputa através de esforços diplomáticos pacíficos e criativos”, assinalou a diplomacia sul-coreana, reafirmando também a necessidade de se defender a “estabilidade e a liberdade de navegação e de voos numa área que constitui uma rota comercial-chave”. Austrália pede respeito A Austrália avisou ontem a China que ignorar a sentença do Tribunal Permanente de Arbitragem (TPA), com sede em Haia, sobre as disputas territoriais no Mar do Sul da China é uma “transgressão internacional séria”. “Ignorar [a sentença] seria uma transgressão internacional séria”, afirmou a ministra dos Negócios Estrangeiros da Austrália, Julie Bishop, em declarações à cadeia de televisão australiana ABC. Bishop acrescentou que a decisão do tribunal internacional é “final e vincula legalmente” a China e as Filipinas, o país que levou a questão ao TPA. Para a Austrália, a sentença conhecida na terça-feira representa uma “oportunidade para provar que se podem negociar as disputas de forma pacífica”. Taiwan responde em força Taiwan enviou ontem uma fragata para a ilha Taiping, no disputado arquipélago Spratly, para mostrar a sua rejeição à sentença do tribunal internacional que na terça-feira negou a Taipé direito a 200 milhas de zona económica exclusiva. A Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, sublinhou, numa declaração a partir da fragata transmitida pela televisão, a sua determinação na defesa da soberania de Taiwan sobre Taiping e outras ilhas do Mar do Sul da China. No entanto, defendeu que deve ser encontrada uma solução através da negociação entre os vários países que pretendem o controlo das Spartly. “As disputas devem resolver-se pacificamente, através de negociações multilaterais”, disse Tsai, que assegurou que Taiwan está disponível para cooperar com todos os envolvidos “para promover a paz e a estabilidade no Mar do Sul da China”. Na terça-feira, o gabinete da Presidente afirmou que Taiwan “rejeita totalmente” a sentença do Tribunal Permanente de Arbitragem (TPA), com sede em Haia, e que “fará tudo o que for possível para salvaguardar a soberania e o território do país e proteger os seus interesses”.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaLei de Terras |Pereira Coutinho quer saber valores de consultadorias O deputado José Pereira Coutinho quer saber quanto é que o Governo gastou em consultadoria a escritórios de advogados antes da Lei de Terras ser apresentada no hemiciclo. Pereira Coutinho diz que há “interesses directos” a favor da nova proposta de Gabriel Tong e rejeita-a completamente [dropcap style=’circle’]C[/dropcap]erca de três anos antes da proposta de Lei de Terras ser apresentada na Assembleia Legislativa (AL), o Governo terá contactado escritórios de advogados para ouvir opiniões quanto ao novo diploma. José Pereira Coutinho, deputado, veio ontem questionar os valores que terão sido pagos. “Sabemos que este diploma foi encomendado ao exterior, para a elaboração da proposta, e que participaram vários deputados, advogados da praça. Gostaríamos de perguntar qual foi o montante pago para a elaboração desse projecto ou outro em termos de consultadoria e quem são os escritórios que receberam esse projecto.” O deputado, que prometeu votar contra a proposta apresentada pelo deputado Gabriel Tong, como o HM já tinha noticiado, disse não compreender as razões de advogados e deputados para agora virem defender uma nova interpretação do diploma. “Se naquela altura a lei foi aprovada por unanimidade e entrou em vigor sem qualquer problema, é curioso ver por que é que agora existe tanta celeuma.” Pereira Coutinho, que se apresentou na conferência ao lado de Rita Santos e sem o seu número dois no hemiciclo, Leong Veng Chai, disse estar contra a proposta de Tong, já que “não é correcto que os deputados apresentem normas interpretativas quando essa competência legislativa pertence ao Governo”. Secretário “cumpre a lei” José Pereira Coutinho adiantou que existem “interesses directos” que querem que a proposta de Gabriel Tong avance, interesses de “pessoas que têm terrenos que vão ser objecto de caducidade”. Serão “deputados, advogados e ex-deputados, como é o caso de Ung Choi Kun, que assinou o parecer da Comissão, que nunca votou contra a lei e que agora está a barafustar”, frisa. “O assunto está agora a tocar-lhes na pele e sempre pensaram que conseguiriam dar a volta ao assunto. A Lei de Terras é um diploma que veio mudar toda a vivência de Macau. O engenheiro Raimundo do Rosário está a cumprir a lei”, frisou. Lembrando que são os tribunais quem deve analisar as responsabilidades quanto ao não aproveitamento dos terrenos, Pereira Coutinho quis saber porque é que em 25 anos de concessão nada foi feito. “O Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais despendeu milhões de patacas e elevados recursos humanos para fazer a limpeza de toneladas de lixo em terrenos concedidos em regime de concessão provisória. Perguntamos porque é que esses terrenos não foram aproveitados durante esse tempo. Para apurar todas essas responsabilidades a sede própria são os tribunais. Poderá haver situações em que foi falha do Governo, mas na eventualidade disso acontecer, a entidade que deve ter a competência para apurar responsabilidades é o tribunal.” O deputado defende ainda que o que está a acontecer não vai afastar investimento. “Não acredito que essas questões afugentem os investidores de Macau. Pelo contrário, vai atrair mais investidores internacionais porque acham que há uma concorrência leal”, concluiu. FAOM contra proposta de Gabriel Tong Lam Heong Sang, dirigente da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), disse ao jornal Ou Mun que a entidade está do lado do Governo quanto ao cumprimento da Lei de Terras e à recuperação dos terrenos cujo prazo de concessão está quase a chegar ao fim, mostrando, assim, uma clara posição discordante face à proposta apresentada pelo deputado Gabriel Tong. O também vice-presidente da Assembleia Legislativa (AL) sugeriu que não seja feita uma ligação entre a Lei de Terras com a Lei Básica, porque o diploma recebeu, em 2013, o aval do Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional (APN), em Pequim. Lam Heong Sang disse mesmo que todas as propostas de lei são analisadas pela APN e que, caso a Lei de Terras estivesse contra a Lei Básica, o diploma nunca teria avançado. Por isso, o dirigente da FAOM pediu aos envolvidos para não fazerem um “espalhafato por causa de um assunto normal”, muito menos para fazerem uma associação da lei com a mini constituição. Lam Heong Sang lembrou o facto da Lei de Terras ter passado por um longo processo de análise e votações por unanimidade. E frisou que tudo o que tem a ver com interesses leva a posições a favor e contra. “O Governo começou a recuperar os terrenos e é normal que as empresas concessionárias apresentem as suas reivindicações e peçam justificações, a menos que sejam insensatas.” No seminário ocorrido esta terça-feira, promovido pela Associação dos Empresários do Sector Imobiliário de Macau, liderada por Ung Choi Kun, a Lei de Terras foi alvo de várias críticas. Citado pelo Jornal do Cidadão, Paulo Tse, presidente da Associação de Construtores Civis e Empresas de Fomento Predial, disse que apoia a lei, mas que esta peca por não definir bem a responsabilização quanto ao aproveitamento dos terrenos. Lam Tak Wa, da Associação Geral do Sector Imobiliário, referiu que muitas das concessionários não aproveitaram os terrenos por estarem à espera das aprovações e planos do Executivo.
Joana Freitas China / Ásia MancheteMar do Sul | Tribunal de Haia dá razão às Filipinas. China rejeita decisão A China não só não tem direitos históricos no Mar do Sul da China como também está a prejudicar o ambiente da zona. É a decisão do Tribunal de Arbitragem de Haia, que dá razão às Filipinas na tensão que opõe os dois países. Pequim fala de uma decisão “infundada” e ilegítima” [dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]exeu com a fauna e a flora, não respeitou os direitos soberanos das Filipinas e nem sequer tem qualquer ligação histórica com o mar. Foram estes os fundamentos do Tribunal Permanente de Arbitragem de Haia para decidir que a China não tem razão na disputa que envolve o Mar do Sul da China. Apesar do nome, tribunal diz que o mar não pertence ao continente, que não tem bases legais para o reivindicar. “Não há evidências históricas que a China tenha controlado exclusivamente as águas do Mar do Sul da China”, indica o Tribunal, que denota, ainda assim, que Pequim o reivindica inteiramente, bem como aos territórios nele existentes, como são as ilhas Spratley. “O Tribunal chega à conclusão de que não há base legal para que a China reivindique direitos históricos sobre as zonas marítimas dentro da ‘linha das nove raias’”, diz o tribunal num comunicado. A “linha” refere-se a uma demarcação num mapa de 1947 rica em recursos minerais, energéticos e da pesca. Recursos que o tribunal considera serem das Filipinas e que a China violou. “A China violou os direitos soberanos das Filipinas na sua zona económica exclusiva ao interferir com a sua exploração de pesca e petróleo mediante a construção de ilhas artificiais”, frisou o tribunal numa decisão com quase 500 páginas, onde refere mesmo que Pequim não cumpriu a obrigação de proteger ecossistemas frágeis e habitat de espécies em extinção. “As autoridades chinesas têm noção que os pescadores chineses têm colocado em perigo tartarugas quase extintas, corais e amêijoas gigantes. Patrulhas de segurança da China arriscaram colidir com barcos de pesca das Filipinas em partes do mar e causaram danos irreversíveis a recifes de corais, com construções. A China permitiu ainda que barcos de pesca chineses pescassem no local.” China rejeita Pequim reivindica a soberania sobre quase todo o Mar do Sul da China e tem investido em grandes operações nesta zona, transformando recifes de corais em portos, pistas de aterragem e em outras infra-estruturas. A disputa não se dá apenas com as Filipinas – que levou o caso ao Tribunal de Haia -, mas também com o Vietname, Malásia e Taiwan, que reivindicam uma parte desta zona. Nos últimos meses, Pequim lançou uma campanha para desacreditar o Tribunal de Arbitragem, tendo rejeitado participar no julgamento. Já tinha feito o mesmo em 2013, quando as Filipinas levaram a questão ao Tribunal Internacional do Direito do Mar. Ontem, enquanto se festejava em Manila, a China voltou a contestar a decisão. É, para o Governo Central, “infundada e ilegítima” e não vai ser acatada. “A China indicou por múltiplas vezes que o Tribunal Permanente de Arbitragem, não tem nenhuma jurisdição sobre o tema. A soberania territorial da China e os seus direitos e interesses no Mar do Sul da China não devem ser afectados por decisões arbitrárias”, afirmou em comunicado o ministério chinês dos Negócios Estrangeiros. A China diz ainda que o caso foi unilateralmente levado ao tribunal, pelas Filipinas, e afirma que a decisão pode ser pior do que está neste momento a acontecer. “Se tivermos de falar do impacto, seria para dizer que esse vai fazer aumentar as tensões entre os países da região envolvidos e vai seriamente minar a fundação de um consenso político entre esses países”, referiu Lu Kang, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, horas antes da decisão ser conhecida. Lu Kang frisou ainda que a China vai continuar a resolver as disputas directamente com esses países e vai continuar com os seus navios e aviões livremente na zona, continuando “a criar um código de conduta no Mar do sul da China”. Um complô liderado pelos EUA é outra das acusações de Pequim para caracterizar a tensão na zona. Os média chineses, como o China Daily e a agência oficial Xinhua, tem publicado artigos com opiniões unilaterais, com títulos como “A arbitragem no Mar do Sul da China viola a lei internacional: académico chinês”, “O TPA deve evitar ser usado para propósitos políticos” e “O mar onde os pescadores chineses vivem e morrem”. O jornal oficial China Daily cobriu ontem a sua primeira página com uma fotografia da Ilha Woody, no arquipélago das Paracels, acompanhada do título “Arbitragem inválida”. As Filipinas aplaudem a decisão e consideram-na uma “contribuição importante para os esforços continuados para lidar com as disputas no Mar do Sul da China”. Entretanto, diversos países já mostraram o seu apoio à China (ver caixa), que fez questão de dizer que isso se deve à “justiça e integridade” do país. Apelos e apoios Diversos países já pediram à China que respeite a decisão do tribunal, algo que Pequim já disse que não vai acontecer, mas houve também quem mostrasse apoio ao gigante asiático. Numa conferência de imprensa, Lu Kang, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, assegurou que o Camboja reafirmou “o apoio sólido à posição chinesa no Mar do Sul da China”, a par de países como Angola, Libéria, Madagáscar, Papua-Nova Guiné e República do Senegal, entre outros. Já o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, defendeu ontem em Pequim que esta era uma ordem internacional “assente em regras, que é do interesse da China e União Europeia (UE). O que se segue? Rodrigo Duterte, presidente Filipino recentemente eleito, pode estar agora numa posição complicada. Momentos depois da decisão de Haia, Perfecto Yasay, Secretário para os Assuntos do Exterior, pediu à China “restrição e sobriedade” face à disputa. Mas a decisão, que levou ainda as Filipinas a “demonstrar o seu maior respeito”, pode complicar a vida a um Presidente que demonstrou querer reatar laços com a China. “As Filipinas deverão tentar uma ‘aterragem suave’, procurando por exemplo concessões económicas com a China”, dizem analistas citados pelo South China Morning Post. “Duterte vai assegurar que a decisão não vai fazer escalar o conflito. Não vai utilizar essa decisão para embaraçar a China internacionalmente, ou retratá-la como uma fora da lei”, explica Richard Javad Heydarian, da Manila’s De La Salle University. Já antes da decisão, Duterte tinha referido que “falar” seria bom para os dois países. Marinha chinesa faz exercícios de combate A Marinha chinesa realizou na sexta-feira um exercício de combate nas águas próximas às ilhas de Hainan e de Xisha, no Mar do Sul da China. De acordo com o jornal Diário do Povo, a Frota de Nanhai, junto com algumas forças da Frota de Beihai e Frota de Donghai, participaram do exercício militar de rotina anual que cobriu todos os tipos de plataformas de combate, incluindo a frota aérea, submarino, navio de superfície e força de defesa costeira. A manobra concentrou-se em operações de controlo aéreo, combate marítimos e guerra anti-submarina, dias antes de se conhecer a decisão de Haia. Taiwan rejeitado O Tribunal de Arbitragem Permanente de Haia também rejeitou um pedido de Taiwan, que queria reconhecida a soberania de uma ilha. O tribunal diz que é uma rocha, não uma ilha, que Taiwan controla. A Formosa requeria o reconhecimento de 200 milhas náuticas “na zona económica exclusiva da ilha de Taiping”, conhecida também como Itu Aba e incluída nas Ilhas Spratley, no Mar do Sul da China. O Tribunal diz que só ilhas, “não rochas ou corais”, podem ser zonas económicas, de acordo com o jornal South China Morning Post.
Joana Freitas Manchete PolíticaMacau analisa pedidos de asilo da Síria. Mais de 20 cidadãos da RAEM à espera Mais de 20 residentes de Macau esperam a análise de pedidos de asilo por outros países. Cinco pediram-no o ano passado, período em que sete pessoas de quatro países críticos procuraram ajuda da RAEM [dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]ais de duas dezenas de pessoas de Macau estão à espera que lhes seja dado asilo noutros países e cinco delas pediram-no o ano passado. Os dados são lançados pelo último relatório “Global Trends”, da Agência dos Refugiados da ONU, onde se pode ver que sete pessoas chegaram a Macau na condição de refugiados. Mais de três milhões de pessoas estão à espera que os seus pedidos de asilo sejam analisados, sendo a Alemanha um dos países mais procurados. Com mais de 60 milhões de refugiados em todo o mundo, é da Síria, Índia e Camarões que vem a maioria. E, de acordo com informações prestadas ontem ao HM pela porta-voz da ONU na China, o território não escapou ao problema. “Sete pessoas pediram asilo em Macau. São dos Camarões, Índia, Libéria e Síria”, explica a responsável, sem fornecer quantos vêm de cada país. O relatório não aponta quantos pedidos de asilo foram aceites no ano passado, não tendo sido possível ao HM obter resposta do Governo neste sentido durante os dois dias de espera para o fecho desta edição. Em 2014, seis pedidos foram feitos. Em 2016, um relatório dos EUA dava conta que Macau ainda não tinha resolvido quatro pendentes. Medo local Mas o relatório da ONU fala ainda em residentes de Macau que procuraram asilo noutros países. Só no ano passado, houve cinco pessoas que pediram asilo, tendo a ONU admitido a sua posição como “refugiados” ou “condição semelhante a refugiados” devido a terem conseguido demonstrar que estavam em perigo na RAEM. A porta-voz da ONU refere que nem todos os que buscam asilo vêm de zonas de guerra e, apesar de “não poder dar detalhes” sobre os residentes de Macau que pediram protecção noutros países “por uma questão de confidencialidade”, a representante explica que podem estar a ser perseguidos por uma questão de nacionalidade, raça ou até por serem membros de um determinado grupo político ou social. “Desde que mostre que tem medo por não se sentir protegido nesse país [ou região], pode pedir asilo”, explica ao HM. De Hong Kong, há quase 80 pessoas a pedir asilo noutros locais do mundo, com a região vizinha a analisar mais de 2300 pedidos neste momento. No relatório da ONU, Ban Kin-moon, secretário-geral da organização diz que o mundo está a enfrentar “a maior crise de refugiados de todos os tempos”. O responsável afiança, contudo, que não se pode só pensar em números, já que esta, diz, “é uma questão de solidariedade”.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaLei de Terras | Empresa acusa Governo. Ex-deputado lança farpas ao hemiciclo Deputados “calaram-se por causa de Pequim” Ung Choi Kun diz que, apesar da discordância, alguns deputados deixaram passar a Lei de Terras depois de um declaração de Li Gang. Entretanto, ontem, veio a público mais uma empresa a queixar-se do Governo [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ng Choi Kun, ex-deputado e presidente da Associação dos Empresários do Sector Imobiliário, organizou um seminário sobre a Lei de Terras onde afirmou que os deputados se “calaram”, em 2013, por causa de Pequim, após Li Gang, ex-director do Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM, ter dado uma entrevista em que disse que não concordava com a ideia de retirada da Lei de Terras e que o mesmo não violaria a Lei Básica. Para o ex-deputado, isso fez com que os membros do hemiciclo “se calassem” porque acharam que o Governo Central “falou”. Segundo o canal chinês da TDM, Ung Choi Kun disse que a Lei de Terras viola a Lei Básica quanto ao direito de propriedade privada, tendo referido que vários empresários do sector lhe disseram que não tencionam fazer mais investimentos no território caso corram o risco de verem os seus terrenos retirados. Ung Choi Kun disse, no entanto, que não lamenta o facto de ter votado a favor da lei. Apesar de estar ligado a uma empresa concessionária de um terreno já retirado pelo Governo (Grupo Polytec), Ung Choi Kun garantiu que a realização do seminário foi apenas para garantir a justiça no processo e não para ser próprio benefício. Imobiliária culpa Governo Ontem chegou mais um grito de alerta no âmbito da polémica sobre a Lei de Terras. Numa carta enviada às redacções, a Sociedade de Investimento Imobiliário Tim Keng Van diz que o Governo foi o principal responsável pelo atraso do seu projecto habitacional, a ser desenvolvido num dos terrenos da Zona C, junto ao lago Nam Van. Também o prazo de concessão do terreno da Tim Keng Van termina já no dia 30 deste mês. “Após a efectuação das fundações em estacas no ano de 2007, a Imobiliária Tim Keng Van, na esperança de ajustar a obra ao seu desenvolvimento, fez chegar sucessivamente à Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) diversos pedidos para a alteração do esquema de construção, mas até ao dia de hoje não foi tomada nenhuma decisão em relação a estes pedidos. O Governo limitou-se a alegar que, devido à candidatura da RAEM à UNESCO, os terrenos das Zonas C e D da Baía da Praia Grande teriam de ser planeados de novo”, lê-se na carta. A Tim Keng Van afirma ter-se juntado a outros concessionários para “enviar uma carta ao Chefe do Executivo a solicitar ao Governo para reiniciar com a maior brevidade possível o planeamento do desenvolvimento dessa zona”. A empresa pede que o Executivo “reconheça a sua responsabilidade pelo atraso na obra que é causado pela ausência de uma nova directriz de planeamento”, além de exigir que “recorra a medidas adequadas para obter uma solução”. Só assim será possível “garantir os interesses dos concessionários, estar em conformidade com a política da diversidade económica e assegurar um bom ambiente para o investimento em Macau”. “Na sequência da reforma da Lei de Terras, esperamos que toda a sociedade possa conhecer a questão da imputação da responsabilidade jurídica e política, além de se pôr um fim ao conflito social originado por este incidente”, concluiu a Tim Keng Van. Com Angela Ka
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeRota da Seda | Macau “sem nada para oferecer”, defende Arnaldo Gonçalves Arnaldo Gonçalves vai falar da estratégia “Uma Faixa, Uma Rota” no próximo dia 25, na Polónia. O académico diz não conseguir encontrar um posicionamento estratégico nesta iniciativa da China. Só depois da ponte Hong Kong-Macau-Zhuhai poderá revelar algum potencial, admite [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] RAEM está bem atrás em relação a Hong Kong no que diz respeito à participação na estratégia da China “Uma Faixa, Uma Rota”. Quem o diz é Arnaldo Gonçalves, académico que irá abordar o assunto no 24º Congresso Mundial de Ciência Política, a ter lugar a 25 de Julho na cidade de Poznan, Polónia. “Macau tem de ter massa crítica para investir neste projecto. É provável que Hong Kong tire partido disso porque tem ligação à infra-estrutura ferroviária e viária que vai ligar ao centro da China. Hong Kong tem capital financeiro e ‘know-how’, tecnologia e especialistas para se poder envolver nisso e há um esforço grande de associações empresariais. O que Macau pode oferecer? Até agora ainda não percebi o que é que Macau pode oferecer. O que é que as Pequenas e Médias Empresas (PME) têm em termos de capacidade para o projecto? Só depois da ponte [Hong Kong-Macau-Zhuhai] estar construída é que se podem criar sinergias, mas antes disso não estou a ver que algo aconteça. E isso ainda vai demorar uns anos”, disse ao HM. Quanto à estratégia apresentada pelo presidente chinês Xi Jinping há três anos, Arnaldo Gonçalves vai falar de algumas “fragilidades” de que padece esta iniciativa. Iniciativa que, para o académico, depende da boa vontade de outros parceiros. “A China tem dinheiro e apresenta a ideia de que tem capacidade económica para isto e infra-estruturas ferroviárias. Mas esses são países encostados no espectro da Ásia Central, em que as populações vivem ainda no tempo do nomadismo e têm um atraso em termos de desenvolvimento. A questão é essa: o que é que cada uma dessas repúblicas pode ter a ganhar com o projecto, em termos de acesso à riqueza e iniciativas de desenvolvimento”, explicou. Desconfianças russas Arnaldo Gonçalves vai ainda chamar a atenção para o facto da Rússia não olhar com bons olhos para a estratégia “Uma Faixa, Uma Rota”. “Essa aproximação não é bem vista da Rússia, junto das empresas, milionários e das grandes empresas de extracção do petróleo, porque olham com suspeição esta aproximação à China. A China, ao desenhar este projecto, está a pôr em causa a comunidade euro-asiática, lançada por [Vladimir] Putin há alguns anos. Essa é uma comunidade económica, europeia, mas de países que faziam parte da União Soviética. É o grande projecto de Putin e que vai de alguma forma confrontar e pôr em causa esta estratégia. Os dois têm falado sobre a forma de haver complementaridade.” Segundo Arnaldo Gonçalves, a China tem de fazer um esforço de mostrar as vantagens desse projecto, além de provar que não está a criar uma zona de influência, “uma esfera proto-imperial sobre esses países”, numa suspeição que existe em “algumas cabeças”. Arnaldo Gonçalves vai presidir ao painel “China na encruzilhada entre o nacionalismo e o regionalismo”, estando prevista a apresentação da palestra “A condução pela China da estratégia ‘Uma Faixa, Uma Rota’”. O congresso é organizado pela Associação Internacional de Ciência Política e terá convidados de todo o mundo.
Joana Freitas Manchete SociedadeNobre de Carvalho | Túneis Macau-Taipa dividem opiniões Os túneis que o Governo quer construir ao largo da Ponte Nobre de Carvalho irão servir para escoar o trânsito, já que a ponte só serve autocarros e táxis. Mas, se há quem concorde, há quem diga que não é urgente [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo já explicou por que quer criar dois túneis entre Macau e a Taipa ao lado da Ponte Nobre de Carvalho: para o trânsito poder passar entre as Zonas C e D dos novos aterros à Zona B dos novos aterros de Macau, numa altura em que esta ponte serve apenas autocarros e táxis. A ideia é que cada túnel subaquático tenha, no mínimo, duas faixas de rodagem num único sentido – um túnel em direcção a Macau e outro na direcção da Taipa. Cada uma das infra-estruturas teria 1200 metros de comprimento, metade do que tem a Ponte Nobre de Carvalho, e o Governo tem três hipóteses de construção, todas elas ao largo da ponte. O anúncio da construção da ligação foi feito em Boletim Oficial, num despacho do Chefe do Executivo que incumbia a CCCC Highway Consultants Macau Branch da elaboração de um estudo de viabilidade para a construção dos dois túneis. Estudo que custa 7,2 milhões de patacas. Addy Chan, presidente da Associação de Engenheiros de Macau, considera que a construção dos dois túneis não é urgente. Em declarações ao HM, o engenheiro diz ainda que o Executivo deveria estar a planear as construções todas ao mesmo tempo. “Na altura em que foi feita a consulta pública sobre os novos aterros, o Governo disse que pretende construir uma quarta ligação entre Macau e a Taipa. A questão é que este novo projecto tem de ter ligação com todo o sistema de transportes, porque no futuro o fluxo do trânsito vai aumentar. Têm de dizer aquilo que vão planear no futuro, em 15 ou 20 anos”, frisa. “A construção de dois túneis subaquáticos não é uma questão urgente e tem de estar ligada com outras áreas.” Para Chan, a construção de túneis é arriscada e o Governo deveria aprender com o exemplo do túnel da Universidade de Macau, cujo orçamento foi ultrapassado. “Agora já temos uma experiência na construção de túneis e temos de aprender com ela, educar o Governo e garantir um controlo de orçamento, para que haja uma maior eficiência”, acrescentou. Já o presidente da Associação de Ensaio, Manutenção de Betão e das Obras de Impermeabilização de Macau, Wu Chou Kit, diz que a opção do Governo é a melhor para que não haja grandes impactos na paisagem. Em declarações ao Jornal Ou Mun, Wu Chou Kit explica que, como o espaço perto da ponte velha é limitado, não será suficiente para a construção de uma passagem bidireccional e o custo também vai ser alto, pelo que dois túneis são “uma opção mais económica”. O engenheiro relembra que a proibição da passagem de veículos que não táxis ou autocarros fez com que “os cidadãos perdessem uma das vias mais convenientes”, dada a curta distância da ponte. “Construir uma nova via ao lado desta ponte [vai ajudar] a atenuar o trânsito das duas pontes actualmente existentes e da futura nova ponte, a quarta passagem Macau-Taipa, pelo que terá uma importância enorme”, remata. Em comunicado, o Governo explica que o estudo vai não só analisar a viabilidade de construção, mas também comparar projectos com diferentes localizações, definir as características (largura e altura) dos túneis e os acessos, tendo em conta também análises de hidrografia e sondagens geológicas. A empresa, uma das maiores companhias estatais chinesas, conseguiu o serviço através de um concurso público para o qual concorreram mais três empresas, todas com preços mais altos do que a CCCC. O estudo vai durar 260 dias e o Governo prevê a apresentação de um relatório preliminar em meados do próximo ano. A Direcção dos Serviços de Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) diz ter decidido pelo local devido à “distância do mar entre a península de Macau e a ilha da Taipa ser mais curta” e também para evitar “impactos na Ponte Nobre de Carvalho e nas paisagens das zonas circundantes”. Com Angela Ka
Manuel Nunes Desporto MancheteDesporto | Portugal é Campeão Europeu de Futebol e sétimo nos Europeus de Atletismo O verde e vermelho invadiu o mundo. Não foi só a torre do Eiffel porque, se em Paris Portugal se sagrou pela primeira vez campeão europeu de futebol, em Amsterdão o atletismo arrecadou 6 medalhas e, em Andorra, Rui Costa foi segundo na nona etapa do Tour. Nunca tal se “haverá” visto [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]ão será necessário relatar o filme do jogo épico que todos, ou quase todos, assistimos na madrugada de domingo. Valerá, quiçá, recordar algumas das frases proferidas após a conquista da equipa portuguesa em Paris. Honra aos derrotados seja feita, destaque para a reacção de Didier Deschamps, o treinador gaulês, que sempre primou pela elegância nas suas declarações em relação a Portugal. “A desilusão é o principal sentimento. Há coisas positivas, mas é difícil vê-las nesta altura. É muito duro, mas isto é futebol de alta competição”. Para além do desânimo natural, Deschamps disse ainda em relação à equipa portuguesa que “O vencedor merece sempre. Podem fazer as vossas análises, mas eu disse que não tinha chegado à final por acaso. Ficou em terceiro no grupo e é campeão da Europa. Não ganharam muitos jogos mas ganharam o mais importante. Não retiro nenhum mérito a Portugal. Há muita gente que vai tentar fazer comparações, e se calhar tiveram gerações com mais talento, mas não ganharam, e estes ganharam. Estão de parabéns. Não tenho nada a dizer para beliscar o mérito da equipa portuguesa.” Antoine Griezmann, o avançado francês com origens portuguesas, também estava desiludido apesar de levar como prémio de consolação o título de melhor marcador do Euro. Todavia, não teve pejo em destacar Ronaldo em relação à Bola de Ouro, um título que ambiciona, “O Cristiano ganhou as maiores competições, por isso acho que é isso, está feito”, disse. Euforia Lusitana Poucos esperariam que entrasse e muito menos que viesse a confirmar a fábula de Hans Christian Andersen, a história do “Patinho Feio” que afinal era um garboso cisne em desenvolvimento. Após uma experiência falhada em Inglaterra, no Swansea, Éder tinha conseguido este ano ficar em definitivo no Lille, de França, onde foi preponderante. Todavia, isso não chegou nem para lhe dar a titularidade na selecção, nem para conquistar o amor dos fãs. Diz-se, inclusive, que esse desamor terá mesmo provocado a necessidade de apoio psicológico antes do Campeonato da Europa. Mas, apesar de ter inscrito o seu nome a ouro na história do futebol português (nunca mais será esquecido), não esqueceu a humildade no meio das celebrações e até disse compreender a alcunha: “Patinho feio? Eu compreendo, as pessoas têm de falar, muitas vezes com razão, outras nem tanto”. Para além disso, em relação ao golo que deu o troféu, uma clara atitude de raiva e querer, Éder disse que “é um golo que sai do esforço de todos os portugueses, de todos os jogadores. Trabalhámos imenso, é sempre muito difícil, mas acreditámos sempre. O mister sempre disse que só saíamos daqui com a taça, que íamos ser campeões. É um golo de uma vida, muito merecido. Claro que não tenho noção da dimensão. Agora temos de desfrutar. Quero agradecer à Susana Torres, minha treinadora de alta performance que vocês deviam conhecer. Muita crença com os meus amigos, consegui fazer o que fiz no Lille e Fernando Santos e os meus companheiros acreditaram em mim.” Claro que não se pode esquecer o menino Sanches que deslumbrou meio mundo e conquistou o prémio para melhor jogador jovem do torneio. Orgulhoso, mas humilde também, até revelou que iria “autorizar” os seus amigos do ex-rival a festejar com ele: “Quero dizer aos meus amigos que hoje vão poder festejar comigo porque eles são quase todos sportinguistas”. Para além disso, considerou estar a viver um momento único “… é um sonho. Aos 18 anos ganhar um Campeonato da Europa… Espero ter mais anos como este, para mim vou guardar este ano no coração” E só falta o capitão que, como escreveu o diário inglês The Independent, “Transformou as lágrimas de tristeza em alegria.” “São momentos que não conseguimos controlar. Estava, de facto, muito emocionado, era algo que queria muito para o nosso país. Senti o apoio de todos os portugueses em Portugal e fora e aqui em Marcoussis, principalmente. Ganhei tudo a nível de clubes e individual, mas sempre disse que queria ganhar algo por Portugal. O nosso treinador merece, a nossa estrutura merece, ninguém acreditava. Obviamente, queria jogar mais, mas não consegui. Levei uma porrada e não consegui, senti o joelho a inchar, se continuasse podia piorar, ia correr um risco enorme”, disse Cristiano que ainda explicou a confiança que tinha em Éder “Foi feeling, não quero dizer que sou o rei da cocada preta ou bruxo, mas tive feeling que o Éder ia marcar. Fiz uma reza para ele, merece. Estou muito feliz por ele.” Palavras de capitão O papel de Ronaldo, ainda sem jogar, foi mesmo fundamental na coesão e motivação do grupo. As palavras ditas antes do prolongamento foram cruciais conforme divulga o jornal Mirror, de Inglaterra, através de Cédric Soares: “Ele deu-nos muita confiança e disse-nos: ‘Oiçam pessoal, tenho a certeza que vamos ganhar o Euro, por isso mantenham-se unidos e lutem por isso’. “Foi incrível”, disse ainda Cédric, “a equipa toda teve uma atitude fantástica e mostrou que, quando se luta como se fossemos apenas um, é-se muito mais forte”. E vai mais longe na análise de Ronaldo que qualifica de “fantástico. A sua atitude é inacreditável. Ao intervalo ajudou-me muito e aos meus colegas, teve sempre palavras de motivação. A equipa toda reagiu por isso foi muito, mas muito bom!” Imprensa Internacional A imprensa internacional engalanou-se com as cores portugueses classificando, de uma forma geral, a conquista de Portugal no Euro como “heróica” salientando o facto de ter sido conseguida sem o contributo de Cristiano Ronaldo. Aqui ficam alguns dos títulos: França France Football “Uma terrível desilusão” Le Monde “Portugal priva os ‘Bleus’ de uma vitória no seu Europeu” Espanha El Pais “Portugal consola Cristiano” Marca “Em nome de Cristiano” e “Assim é Éder, o novo herói de Portugal”. El Mundo “Portugal, campeão da Europa: a crueldade é bela” Mundo Deportivo “Heróico, mesmo sem Cristiano” As “Maracanazo em Saint-Denis” Inglaterra The Independent “As lágrimas de Ronaldo transformam-se em alegria com Portugal a bater a França e conquistar a glória europeia” The Guardian “Os ‘patinhos feios’ de Fernando Santos partem os corações franceses” The Sun “Quem precisa de Ronaldo? Éder, o flop de Swansea marca no prolongamento e atordoa a nação anfitriã” Mirror “Portugal choca a França com vitória 1-0 após Ronaldo sair lesionado” Estados Unidos CNN “Portugal coroado campeão europeu” Brasil O Globo “Portugal bate a França e vence a Eurocopa pela primeira vez” Alemanha Die Welt “Na sua noite mais amarga, ele levantou a taça” Argentina Olé “Rebentos de Cristiano” (“Flor de Cristianos”, no original) Hong Kong South China Morning Post “Treinador Santos inspira Portugal para uma derradeira vitória ‘feia’” Estatísticas no Euro Esta prova que continua a ser liderada na conquista de títulos pela Alemanha/RFA (1972, 1980 e 1996) e Espanha (1964, 2008 e 2012) gera toneladas de estatística. De entre essa miríade de dados, seleccionámos os que tocam às cores portugueses. Uns melhores, outros nem por isso. Mais presenças em fases a eliminar após ultrapassar a fase de grupos: 7 – Alemanha/RFA (1980, 1988, 1992, 1996, 2008, 2012 e 2016) e Portugal (1984, 1996, 2000, 2004, 2008, 2012 e 2016) Mais presenças sem nunca cair na fase de grupos: 7 – Portugal (1984, 1996, 2000, 2004, 2008, 2012 e 2016). Menos vitórias de um campeão (desde 1980): 3 – Dinamarca (1992) e Portugal (2016) Mais jogos sem vitórias de um campeão: 4 – Portugal (2016) Mais empates consecutivos: 4 – Portugal (um em 2012 e três em 2016) Menos golos numa final: 1 – Portugal-Grécia, 0-1 (2004), Alemanha-Espanha, 0-1 (2008) e Portugal-França, 1-0ap (2016) Jogador mais velho a sagrar-se campeão: 38 anos e 53 dias – Ricardo Carvalho, Por (Portugal-França, 1-0ap, 2016) Jogador mais novo a sagrar-se campeão: 18 anos e 327 dias – Renato Sanches, Por (Portugal-França, 1-0ap, 2016) Jogador mais novo a actuar numa final: 18 anos e 327 dias – Renato Sanches, Por (Portugal-França, 1-0ap, 2016). Corridas para a vitória Medalhas e títulos extra futebol Nem só de futebol vive a espécie e este fim de semana trouxe mais motivos de orgulho paras hostes lusitanas com resultados espectaculares no atletismo e, claro, o segundo lugar de Rui Costa numa difícil etapa do Tour… de França… nos Pirenéus. Em Amesterdão acabou este fim de semana outro campeonato europeu, o de atletismo. No final, as cores lusitanas terminaram num honroso 7º lugar à frente da… França ao conquistarem três medalhas de ouro, uma de prata e duas de bronze. O ouro foi para Sara Moreira, na meia maratona, Patrícia Mamona, no triplo salto, e para a equipa da meia maratona. A prata seguiu para Patrícia Félix na corrida dos 10,000 metros e o bronze para Tsanko Arnaudov no lançamento do peso e para Jessica Augusto na Meia Maratona. No triplo salto, com uma tirada final de 14,58 metros, Patrícia Mamona melhorou também o recorde nacional por seis centímetros e conquistou a quinta medalha de Portugal nestes Europeus, e a 34.ª desde sempre. Na estreia da meia-maratona em Europeus, Sara Moreira completou o percurso em 1:10.19 horas, enquanto Jéssica Augusto ficou com a medalha de bronze, ao fechar o pódio com mais 36 segundos. Na meia-maratona dos Europeus estreou-se igualmente a Taça da Europa da distância, para a qual contam os registos das três melhores de cada país, tendo Ana Dulce Félix fechado a equipa lusa no 12.º posto, dando o triunfo colectivo a Portugal. Nos 10,000 metros, Jéssica Augusto, que perto do final seguia na quarta posição, acabou por ultrapassar a turca Haydar e terminou, bem isolada, na terceira posição, com 1:10.55. Susana Costa ficou em quinto lugar com um salto de 14,34 metros, e novo recorde pessoal. No lançamento do peso, Tsanko Arnaudov conquistou a medalha de bronze tendo como o melhor arremesso a 20,59 metros. Em Andorra, o português Rui Costa (Lampre-Mérida) conseguiu o segundo lugar na nona etapa da Volta a França em bicicleta, mas promete mais. “Estou feliz e quero mais. Até Paris ainda temos muitas etapas e mais oportunidades. Vamos dar luta”, escreveu Rui Costa, no seu diário ‘online’. O corredor poveiro terminou a etapa rainha dos Pirenéus a 38 segundos do holandês Tom Dumoulin (Giant-Alpecin), vencedor da tirada, e admitiu que o segundo posto foi positivo. “Que dureza que foi esta etapa. Aquela subida final parecia interminável! Foi um dia super complicado, mas a vontade de vencer era maior. Um resultado que me anima. Não foi uma vitória, mas depois de tanto esforço e tantas tentativas que eu fiz, acho que foi uma boa recompensa”, frisou. Rui Costa subiu à 48.ª posição, a 42.27 minutos do britânico Chris Froome.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeCPLP | Vinte anos celebrados “sem visão estratégica” e em crise Criada há 20 anos, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa tem hoje um país membro onde não se fala Português e tem vindo a sofrer diversas crises. Arnaldo Gonçalves e Carlos André dizem que a CPLP ainda não sabe qual é a sua missão [dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]aiu das malhas da Guerra Colonial entre Portugal e as suas colónias africanas, propôs-se unir o que corria o risco de se destruir, mas, ao fim de 20 anos de existência, ainda não definiu a sua missão e estratégia. É desta forma que a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), criada a 17 de Julho de 1996, é vista por dois analistas com quem o HM falou: Arnaldo Gonçalves, especialista em Relações Internacionais, e Carlos Ascenso André, director do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do Instituto Politécnico de Macau (IPM). “Foi pensada para fazer uma ponte diplomática [entre Portugal] e as antigas colónias. Mas desde o início a junção do Brasil, que ganhou a independência desde muito cedo, baralhou um pouco as coisas”, disse Arnaldo Gonçalves. “A CPLP tem sido uma estrutura de diálogo e de cooperação mas que nunca teve objectivos nem metas bem definidas. É uma reunião multilateral que acontece uma vez por ano e tem-se visto muito pouco do trabalho da CPLP em termos da aproximação dos países de Língua Portuguesa. Tem sido mais uma entidade de diplomacia multilateral sem grande impacto na relação entre os países”, acrescentou ainda o especialista em Relações Internacionais. Para Carlos André, a CPLP ainda não descobriu o seu rumo. “Do ponto de vista da língua, a CPLP não tem feito muito, porque o único país que investe verdadeiramente em política de língua é Portugal. A CPLP não investe e os outros países também não, como se a responsabilidade da política do português fosse de Portugal.” Carlos André considera ainda que os rostos que fazem a CPLP estão demasiado presos à diplomacia. “A CPLP ainda anda à procura da sua missão e isso porque talvez ainda não tenha descoberto o seu cimento agregador. Era preciso que os países descobrissem outra missão e acho que ainda não descobriram. E isso porque a CPLP talvez continue a enredar-se excessivamente nas malhas da diplomacia, com todos os cuidados e rendas. Há quanto tempo é que a CPLP anda a discutir se Portugal, por ser o país sede, pode ou não pode ter um secretário-geral?” Guiné francesa Um dos últimos debates intensos na CPLP prendeu-se com a entrada da Guiné Equatorial como membro. Para Carlos André a entrada de um país onde não se fala Português não faz qualquer sentido. “A CPLP é uma forma de agregação dos países de Língua Portuguesa e o que une os países é a língua. Há um país que não conto, que é a Guiné Equatorial, que para mim não faz parte. Não se fala Português no país e foi um tremendo disparate.” Arnaldo Gonçalves considera mesmo que a entrada da Guiné Equatorial veio descaracterizar os objectivos para os quais a CPLP foi criada. “Juntar tudo com a Guiné Equatorial foi uma cedência que descaracteriza o que é o espaço da língua e da cultura portuguesa. A Guiné Equatorial não tem nada a ver com Portugal, não têm cultura portuguesa e não falam Português. Se calhar é algo que mostra como funciona a CPLP, que não se vê nada de trabalho em conjunto.” China já tem o Fórum Para além dos países membros que falam a língua de Camões, a CPLP passou a admitir a partir de 1998 países com o estatuto de membro observador. Tanto Arnaldo Gonçalves, como Carlos André defendem que não há qualquer necessidade da China adoptar essa posição. “Não me parece que faça sentido, não há razão para ser membro observador da CPLP, só porque Macau tem o Português como língua oficial?”, questionou Carlos André. “Curiosamente a China já resolveu o seu problema, porque criou uma missão e definiu um organismo para levar por diante essa missão, que é o Fórum Macau.” Para o director do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa, nem o facto do Português estar a crescer na China é motivo para uma ligação à CPLP. “Assim também os Estados Unidos seriam [membro observador], porque têm mais universidades onde se estuda o Português, não penso que esse seja um motivo forte”, remata. Período conturbado financeira e politicamente A CPLP atravessa um período conturbado, de tal forma que, pela primeira vez, e devido à crise política brasileira, vê uma conferência de chefes de Estado e de Governo adiada, possivelmente para Novembro. Dos “nove”, apenas os Estados insulares da organização – Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste (aderiu em 2002) – estão fora de grandes atribulações, apesar das dificuldades económicas crónicas inerentes ao estatuto de insularidade, mas sem fazer perigar as respectivas democracias. A Angola, Guiné Equatorial (que aderiu oficialmente em 2014) e Portugal, com crises financeiras, Guiné-Bissau, com os endémicos conflitos políticos, e Moçambique, a braços com problemas político-militares, junta-se o Brasil, que, face ao afastamento da chefe de Estado, Dilma Rousseff, se viu obrigado a adiar a cimeira em que deverá assumir a presidência rotativa, assegurada actualmente por Timor-Leste. Por outro lado, as divisões entre os Estados-membros estiveram patentes em Março último, quando Portugal, que já tinha cedido na questão da adesão da Guiné Equatorial à CPLP, viu-se também obrigado a prescindir, nos próximos dois anos, do secretariado-executivo da organização, função em que, segundo o critério da ordem alfabética, sucederia a Moçambique. O argumento, assumido por Portugal mas não comentado por outros Estados-membros, passou pelo facto de, até 2018, se Lisboa assumisse o secretariado executivo, a CPLP não contaria com países africanos na liderança da organização, uma vez que o Brasil estaria na presidência da comunidade. Da rotatividade Até hoje, cada país – Angola (Marcolino Moco (1996/2000), Brasil (Dulce Pereira (2000/02) e João Augusto de Médicis (2002/04)), Cabo Verde (Luís Fonseca (2004/08), Guiné-Bissau (Domingos Simões Pereira (2008/12) e Moçambique (Murade Murargy (desde 2014)) – escolheu a personalidade para o cargo de secretário-executivo, com mandatos de dois anos, mas que tem sido sempre renovado. Este acordo quebra-se nos próximos quatro anos, com São Tomé e Príncipe a assumir a função até 2018 e Portugal desse ano até 2020. Desta forma, na próxima cimeira, ainda só com data indicativa para Novembro, será provavelmente empossada a actual governadora do Banco Central de São Tomé e Príncipe, Maria do Carmo Silveira, antiga primeira-ministra e ministra das Finanças do arquipélago, bem como adoptada a nova Visão Estratégica de Cooperação da CPLP. Pela primeira vez também desde a fundação, as celebrações de mais um aniversário da CPLP decorrerão sem a respectiva cimeira associada com iniciativas em cada um dos Estados-membros, com destaque para as que decorrerão em Lisboa, não só na sede da CPLP, como também na Assembleia da República, estas a 18 deste mês. Datas da comunidade 1983 No decurso de uma visita oficial a Cabo Verde, o então ministro dos Negócios Estrangeiros português, Jaime Gama, propõe a realização de cimeiras rotativas bienais de chefes de Estado e de Governo dos então sete Estados lusófonos – Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe -, bem como reuniões anuais dos chefes da diplomacia e consultas frequentes entre directores políticos e de representantes na ONU e noutras organizações internacionais. Novembro de 1989 Graças ao empenho do então embaixador do Brasil em Portugal, José Aparecido de Oliveira, é dado em São Luís do Maranhão (Brasil) o primeiro passo concreto para a criação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), na sequência da realização de um encontro de chefes de Estado e de Governo dos Estados lusófonos, a convite do então Presidente brasileiro José Sarney. Na mesma reunião, decide-se criar o Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), que visava promover e difundir o idioma comum da comunidade. Fevereiro de 1994 Os sete ministros dos Negócios Estrangeiros e das Relações Exteriores, reunidos pela segunda vez, em Brasília, decidiram recomendar aos respectivos Governos a realização de uma Cimeira de Chefes de Estado e de Governo com vista à adopção do acto constitutivo da CPLP. Decidem também a criação de um Grupo de Concertação Permanente, sedeado em Lisboa. 17 de Julho de 1996 Em Lisboa realiza-se a Cimeira de Chefes de Estado e de Governo que marcou a criação da CPLP. Julho de 1998 2.ª Cimeira da CPLP cria o Estatuto de Observador Julho de 2000 A brasileira Dulce Maria Pereira assume a liderança do secretariado-executivo, funções que manterá até à 4.ª Cimeira (Julho de 2002). Tem como secretário-executivo adjunto o moçambicano Zeferino Martins. 20 de Maio de 2002 Adesão de Timor-Leste à CPLP, que se torna o oitavo membro da comunidade. Julho de 2002 Na 4.ª Cimeira, o diplomata brasileiro João Augusto de Médicis substitui Dulce Pereira na liderança do secretariado-executivo da CPLP, funções que manterá até Abril de 2004, altura em que morreu subitamente em Roma. Julho de 2004 Na 5.ª Cimeira, o diplomata e antigo combatente cabo-verdiano Luís Fonseca torna-se secretário executivo da CPLP. Julho de 2005 Conselho de Ministros da CPLP cria categorias Observador Associado (actualmente seis Estados – Geórgia, Japão, Ilhas Maurícias, Namíbia, Senegal e Turquia) e Observador Consultivo (64 membros). Julho de 2006 10.º aniversário da fundação da CPLP assinalado em Bissau, que acolhe a 6.ª Conferência de Chefes de Estado e de Governo da organização lusófona. Guiné Equatorial e Ilhas Maurícias são aceites como observadores associados. 8 de Janeiro de 2008 Acabam as funções de secretário-executivo adjunto, passando a organização a contar com a figura de Director Geral. O político guineense Hélder Vaz Lopes torna-se o primeiro director-geral da CPLP, função que ocupará até Janeiro de 2013. Fevereiro de 2014 A economista cabo-verdiana Georgina Benrós de Mello é nomeada Directora-Geral da CPLP, funções que mantém até à actualidade. 23 de Julho de 2014 Na Cimeira de Díli, é confirmada a adesão da Guiné Equatorial à CPLP, passando a organização lusófona a contar com nove membros. 17 de Março de 2014 Portugal, que deveria assumir o secretariado executivo da CPLP a partir da cimeira prevista para Julho, cede a posição a São Tomé e Príncipe, alegando a necessidade de evitar a ausência de África nos cargos da organização, pois o Brasil ocupa a presidência da comunidade até 2018. São Tomé e Príncipe assumirá o cargo de secretário executivo da CPLP até 2018, altura em que dará lugar a Portugal (2018/2020) 5 de Maio de 2016 A governadora do Banco Central de São Tomé e Príncipe, Maria do Carmo Silveira, anuncia formalmente que é a candidata do seu país ao cargo de secretária-executiva da CPLP. Maria do Carmo Trovoada Pires de Carvalho Silveira é governadora do banco central são-tomense desde 2011 e já foi também primeira-ministra e ministra das Finanças do arquipélago. 20 de Junho de 2016 O novo embaixador do Brasil na CPLP, Gonçalo Mourão, confirma o adiamento da 11.ª cimeira prevista para Julho. Brasil propõe realização para Novembro, embora sem data precisa. Na Cimeira que assinala os 20 anos da organização, está previsto que seja aprovada a Nova Visão Estratégica da CPLP e eleito um novo secretário executivo.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaLei de Terras | Só Coutinho e Leong Veng Chai assumem voto contra Complexa e sem necessidade de urgência. É assim que os deputados vêem a proposta de clarificação de Gabriel Tong, que dizem ainda não saber se vão apoiar. Pereira Coutinho e Leong Veng Chai já afirmam que vão votar não [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s deputados Au Kam San e Ng Kuok Cheong pretendem ganhar apoios para que a proposta de uma nova interpretação da Lei de Terras, apresentada por Gabriel Tong, não seja aprovada na Assembleia Legislativa (AL). O HM tentou perceber de que lado estarão os deputados, mas apenas José Pereira Coutinho confirmou o seu voto contra a proposta, juntamente com o seu número dois, Leong Veng Chai. Pereira Coutinho confirmou ainda com o HM que irá promover uma conferência de imprensa para amanhã, onde promete explicar as suas razões. Se Lau Veng Seng assume ainda não ter tomado uma decisão, a maioria dos restantes deputados contactados admite nem sequer ter lido a proposta, estando a pensar no assunto. “Estamos a discutir a proposta cá fora e a nossa atitude vai revelar-se no dia da votação. Mas se o presidente da AL a rejeitar terá de dar explicações aos deputados, veremos até lá”, disse Kwan Tsui Hang. “A discussão que teremos na AL será transmitida ao vivo e aí os cidadãos vão conseguir saber quais as razões concretas pelas quais votaremos a favor ou contra. O problema é bastante complexo”, acrescentou. O assunto é tido como delicado e muitos defendem que não deve ser feita uma proposta de forma urgente, numa altura em que muitas concessões de terrenos estão a chegar ao fim. “Esta é uma lei importantíssima que envolve o interesse público e isto não deveria ser tratado como uma situação urgente. A Lei de Terras passou por um processo de análise e votação e teve o consenso para ser legislada. Um deputado usou um processo urgente para apresentar esta proposta e não achamos que seja muito adequado”, disse Song Pek Kei, que confirmou que os seus parceiros Chan Meng Kam e Si Ka Lon têm a mesma posição. “Uma mudança enorme” Para Ella Lei, a proposta de Gabriel Tong “não é algo que possa ser tratado de forma apressada”. “É necessário um processo que envolva discussão, já que o objectivo principal da lei é deixar que os cidadãos utilizem bem os terrenos. O Governo tratou os processos sobre os terrenos de forma leve e não tratou muitos dos casos em conformidade com a lei. Esta será uma mudança enorme e é um processo bastante sério.” A lei aprovada nos anos 80 já não permitia a prorrogação do prazo de concessão de um terreno por arrendamento, relembra a deputada. “A proposta de que estamos a falar vai mudar uma componente extraordinariamente importante, já que todos os terrenos têm um limite para o seu desenvolvimento. Se depois dos 25 anos não se conseguir concluir o aproveitamento do terreno, a sua concessão temporária não será prorrogada. Só depois de tudo ser feito, até a obtenção da licença, é que o Governo permite a solicitação da prorrogação”, explicou Ella Lei. Tempo perdido O deputado Zheng Anting, número dois de Mak Soi Kun, lembrou que, em 2013, ano que a nova Lei de Terras foi aprovada, já os deputados Gabriel Tong e Leonel Alves alertavam para as possíveis consequências do novo diploma e com a possibilidade dos terrenos virem a ser retirados, “mas isso não gerou muita atenção”. “Na altura aconteceu uma situação imputável ao concessionário, porque o Governo exigiu a suspensão de um empreendimento por causa da protecção do património, o que levou mais tempo à sua conclusão. Será que isto é justo? O Governo deve dar explicações sobre isto”, alertou Zheng Anting. “Deveria repor o tempo que foi perdido por causa das suas solicitações, deveria dar explicações e isso deveria ser divulgado junto do público”, concluiu o membro do hemiciclo. O HM tentou ainda chegar à fala com o deputado Leonel Alves, mas o mesmo não se mostrou disponível. Em recentes declarações ao HM, o deputado indirecto deixou bem claro o seu apoio a esta proposta. “A lei tem trazido muitos problemas para a economia. A situação está cada vez mais insustentável para a economia de Macau. Neste momento, e independentemente do resultado da votação, é importante haver um debate na sociedade sobre estas questões. Não houve um debate adequado na altura própria, nem uma consulta pública, nem as vítimas ou potenciais vítimas foram auscultadas, portanto foi uma lei passada com muitos silêncios no seu procedimento”, concluiu o também advogado. Com Angela Ka
Tomás Chio Manchete PolíticaÁlcool | Deputado pede lei que regule venda a menores Zheng Anting diz haver uma lacuna legal relativamente à proibição de venda de bebidas alcoólicas a menores. Fala num crescimento do número de consumidores e pede mais legislação e medidas, algo prometido já em 2013 [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]ão é um pedido novo e já em 2013 tinha sido feito o hemiciclo: Macau continua a não ter uma lei que regule a venda de álcool a menores de idade. Desta vez foi o deputado Zheng Anting quem alertou para a necessidade de criação de uma lei que contemple esta proibição ou, pelo menos, para a revisão da lei que regula bares e discotecas, de forma que estes locais possam impedir menores de 18 anos de beber. Numa interpelação escrita, o deputado questiona ainda o Governo sobre a criação de novas medidas para chamar a atenção de todos para as consequências e efeitos nefastos aliados ao consumo. Na base da interpelação, Zheng Anting refere o caso de uma jovem recentemente violada quando levava uma amiga embriagada para casa, enquanto sublinha o aumento do número de consumidores mais jovens e adverte para os problemas sociais que podem advir deste consumo. Mais vulneráveis Segundo um inquérito realizado em 2014 pelo Instituto de Acção Social (IAS) acerca da situação dos jovens que bebem e fumam, os resultados revelam que mais de metade dos sujeitos abrangidos, num total de 5233, já tinha tido experiências com o uso de álcool e drogas. São estes dados que sugerem ao deputado que os mais novos são mais susceptíveis para aderir a este tipo de comportamento, que os pode levar cometer actos menos próprios como, “o envolvimento em discussões violentas ou mesmo a violação”, escreve. As jovens menores também serão afectadas visto que, sob estado de embriaguez, se tornam um alvo mais fácil. Apesar de haver decretos para bares, karaokes e discotecas estes não só não limitam a idade, como não condicionam a entrada de menores. Em 2013, André Cheong, que era na altura director dos Serviços para os Assuntos de Justiça, prometeu estudar o assunto. Mas até agora não houve mais novidades. Zheng Anting refere a situação de outros países que já vêem contemplada em lei a proibição de álcool a menores, enquanto que em Macau existe apenas a proibição de consumo de tabaco por menores. Neste contexto, o deputado questiona o Executivo para quando está agendada a revisão e se esta vai ou não incluir a restrição na venda de bebidas alcoólicas.
Joana Freitas Manchete PolíticaDebate sobre táxis marcado para quinta-feira na AL [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stá finalmente marcada a data para avançar com o debate sobre táxis proposto pelos deputados Mak Soi Kun e Zheng Anting. Quinta-feira, pelas 15h00, juntam-se no hemiciclo os responsáveis do Governo para responder a questões relacionadas com o Regulamento dos Táxis, numa altura em que o Executivo assegura ter a lei pronta. O debate foi proposto por Mak Soi Kun e Zheng Anting em Abril deste ano, mas só agora, e depois de ter sido aprovado pelo hemiciclo, é que sobe a discussão. Os dois deputados colocam em causa as alterações feitas ao Regulamento de Táxis, nomeadamente no que concerne ao cancelamento e suspensão da carteira dos motoristas em caso de incumprimento e penalizações para a reincidência. Para os deputados, “é incerto” que estas alterações ajudem a combater as irregularidades nesta área, a “proteger os legítimos direitos e interesses dos profissionais que cumprem a lei” e a resolver as dificuldades em apanhar táxi. Da discórdia O debate foi pedido numa altura em que as mudanças propostas estão a gerar muitos protestos por parte do sector. Os deputados eleitos pela via directa disseram, em Abril, querer “esclarecer as dúvidas da sociedade e evitar que sejam originados fenómenos de injustiça”. Além da introdução de polícias à paisana, o Governo propõe introduzir gravações áudio não obrigatórias no interior dos veículos e retirar as licenças de circulação após a concretização de oito infracções. Na altura da aprovação do debate em plenário, só Kou Hoi In e Chui Sai Cheong votaram contra. Para Chui Sai Cheong este é um debate desnecessário visto o Governo já estar a preparar a proposta de lei. “Vamos ter tempo de apresentar as nossas opiniões na apreciação da lei, depois”, dizia. Já Sio Chio Wai e Ma Chi Seng admitiram a necessidade do debate até em nome das “aspirações da sociedade”. Entretanto, numa resposta ao deputado José Pereira Coutinho o mês passado, o Executivo anunciou que o diploma está pronto. “Temos a proposta concluída e esperamos que entre em processo legislativo o mais breve possível”, escreveu Lam Hin Sang, director dos Serviços para os Assuntos de Tráfego. Ainda assim, a lei não deverá dar entrada na AL nesta sessão legislativa.
Andreia Sofia Silva Manchete ReportagemCaminho das Hortas | Dois prédios vão nascer no sítio onde todos querem ficar O Caminho das Hortas é o um dos poucos lugares que sobreviveu à urbanização da ilha da Taipa. Ali moram pessoas em barracas com parcas condições de higiene e habitação, mas nem isso faz com que desejem sair de um lugar que sentem como seu. Sabem que vão ser construídos dois prédios e que um dia terão de encontrar uma nova casa, mas é ali que encontram a felicidade [dropcap styl≠’circle’]D[/dropcap]entro dos painéis de zinco forrados a plástico e madeira habitam pessoas que desde sempre só conheceram aquele lugar e aquela casa. No Caminho das Hortas, logo à entrada da ilha da Taipa e no meio dos muros de betão, persiste uma quase aldeia que parou no tempo. As barracas continuam a existir, sem saneamento básico nem condições mínimas de habitação, mas nem por isso as pessoas querem sair daquele lugar pautado pela pobreza. Ainda assim, o tempo marca a hora e também ali o betão vai passar a existir. Em dois terrenos vão nascer dois edifícios com 90 metros de altura. Os projectos são privados e estão neste momento a ser analisados pelo Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU). Todos os dias Alessandra faz aquele caminho de terra batida. Tem a sorte de viver num apartamento localizado bem à entrada do Caminho das Hortas. O vai e vem para ir levar e buscar os filhos à escola faz com que o seu olhar se cruze com os dos moradores chineses. “Gosto de viver aqui, é tranquilo, calmo, ninguém mexe com ninguém. Mesmo que eu não fale Chinês eles cumprimentam”, disse ao HM. Alessandra desconhece os planos que estão pensados para aquele local, mas não tem dúvidas: com certeza que um dia também aquele local vai ser destruído. “Aqui em Macau tudo se destrói para construir casinos, hotéis e prédios altos. Não queria que isto fosse destruído porque tem muita área verde, até para respirarmos um pouco, temos de manter este pulmão de Macau que é cada vez menor”, diz ao HM. Se por debaixo do zinco moram pessoas sem nada, que caminham quase por cima dos esgotos e que têm as cozinhas na rua, a verdade é que há famílias que moram em barracas com um pouco mais de condições e exibem o carro que possuem à porta. “O Governo poderia fazer algo por estas famílias, mas provavelmente vai fazer o que faz sempre, que é colocá-las nestes prédios de habitação pública e construir algo aqui”, aponta Alessandra. O sítio que os viu nascer Min sai da garagem da barraca que habita com a sua família e já sabe que um dia vai ter de sair dali, mas não vê como pode vencer o braço de ferro com os construtores. Nasceu ali e ali viveu toda a vida. “Os meus avós já aqui moravam”, relembra, e agora divide o lar com os pais e a irmã mais velha. Tem a vida folgada e afirma que se ali mora é por opção. “Não preciso de viver aqui, mas prefiro este sítio”, confessa. É uma casa de família de quem não conhece outra. Tem um lugar de garagem e Min encara quase com indiferença a mudança nesta terra que está em constante mutação. “Gosto de viver aqui. Mas teremos que procurar outro lugar.” Não sabe ainda onde, nem quando, e aguarda o desenvolvimento do processo “com alguma preocupação”. Wu, outro residente que ali nasceu diz que “aqui vivem pessoas com poucas posses.” Enquanto fuma um cigarro à porta na entrada do bairro diz ao HM que considera ainda que, por parte do Governo, deve vir uma ajuda. “Não precisamos de ajuda monetária”, afirma, mas sim “de um lugar para viver e acho que o Governo deveria arranjar um apartamento para nós”. Não deixa de referir que considera que as casas normalmente arranjadas pelo Governo “são pequenas para as famílias que ali vivem, sendo que se juntam várias gerações”. Não obstante o tamanho, Wu refere a existência de uma cozinha nos apartamentos, “o que é bom”. Já para Lang, uma residente com cerca de 30 anos, é precisamente a cozinha que representa a mais valia daquela localização. A sua situa-se na rua, à entrada do quarto de dormir e único também. Lang nasceu e vive ali com o marido. Tem uma vida despreocupada e, apesar de saber do destino do lugar que a sua casa ocupa, não parece ter grandes preocupações. Na perspectiva de mudar para uma casa num prédio, engelha o nariz. “São casas muito pequenas”, afirma, “com muito pouco espaço”. Lang vive da confecção de petiscos e é a cozinha que mais a preocupa. Ali tem uma placa de fogão improvisada numa banca de madeira ao ar livre em frente ao quarto onde mora. “Cozinho aqui ao ar livre, o que é bom”, continua, justificando que gosta “de uma cozinha assim”, enquanto aponta com entusiasmo e orgulho para a panela ao lume e a panóplia de tachos e pratos que se acumulam na pequena bancada que é também o seu ganha pão. “Se for para uma dessas casas do Governo não tenho uma cozinha arejada e é tudo muito pequeno. Gosto assim como está”, remata com um sorriso. Para Lang este lugar é um pouco melhor que “esses prédios altos” dos quais os moradores “não gostam”. O corredor comum continua beco dentro em direcção ao interior da cozinha-sala-despensa de Hua. A vizinha partilha da opinião daqueles que por sempre ali viveram. Nasceu ali, mas para ela uma das razões fundamentais para lá querer permanecer é mesmo o facto de não gastar dinheiro em rendas. “Ganhamos muito pouco e aqui também gastamos muito pouco”, afirma. “Pessoas com dinheiro vivem em sítios bons, nós não o temos e temos que viver aqui”, continua, com um sorriso de satisfação. “Eu gosto mesmo é de viver aqui.” Na perspectiva de ter efectivamente que mudar, Hua tenciona ir procurar uma casa “nova” sendo que “gostaria que fosse semelhante àquela em que habita agora”. Ao mesmo tempo acha que o Governo “não os pode ajudar”. A preocupação não se sente no bairro. É antes substituída por um certo conformismo, mais ou menos triste, ditado pelo destino. Para nenhum dos moradores a falta de saneamento parece representar um problema maior, sendo que casas de banho são lugares por ali desconhecidos e, se calhar por isso, desnecessários. Para quem sempre assim viveu, a vida ensinou como rodear obstáculos e transformar alguns em vantagens. Sem consulta Os dois terrenos nos quais vão nascer os edifícios fazem parte do Plano de Ordenamento Urbanístico da Zona Norte da Taipa, o mesmo que já levou a Associação Novo Macau (ANM) a protestar e a pedir uma consulta pública sobre mesmo. Jason Chao, membro da direcção da ANM, mostra-se contra a construção sem que tenha havido uma consulta prévia à população. “Não sei se os habitantes têm outros sítios para viver, mas devem ser realojados em habitações públicas”, disse ao HM. “Estamos contra o plano da zona norte da Taipa porque pensamos que deveriam ser construídas mais zonas verdes.” Rui Leão, arquitecto e membro do CPU, apenas referiu que “quando as pessoas ocuparam e construíram lá barracas tinham a obrigação cívica de ter consciência de que, mais cedo ou mais tarde, iriam ter de sair dos locais. Quando as pessoas constroem uma barraca têm de ter consciência de que estão a construir num terreno que, à partida, vai ter destino”. Ainda assim, no tempo da Administração portuguesa foi dado aos moradores do local uma espécie de licença para lá habitar. Para Francisco Vizeu Pinheiro, arquitecto, “as pessoas devem ser compensadas, tal como foi feito noutras zonas de barracas em Macau”. Isto, apesar das habitações públicas “nem sempre darem às famílias a dignidade que estas merecem”. “Há que ver caso a caso, se há famílias com idosos e crianças. Macau está bem fornecida em termos económicos e não deve tratar estas famílias como refugiados económicos ou sociais, mas sim dar-lhes um tratamento digno.” O arquitecto lembrou a história do Caminho das Hortas, de um tempo em que o território tinha “muitas áreas com bairros de lata e pequenas povoações”. “A Taipa tinha as suas aldeias pequenas, havia muitas fábricas de panchões e zonas agrícolas que foram sendo invadidas por estaleiros de construção, uns legais e outros ilegais. Antes de ser concluída a ponte entre Macau e Taipa já havia zonas de aterros e essas zonas mais antigas ficaram abaixo do nível dos aterros, dos diques. Era interessante manter a memória dessa zona.” Para Vizeu Pinheiro, “o grande perigo é autorizar apenas a construção de grandes torres sem que se tenha um plano global da zona com uma boa proporção de zonas verdes, paisagismo e zonas de ventilação”, concluiu. Nos últimos anos, com o desenvolvimento de Macau e a chegada dos trabalhadores não residentes (TNR), o Caminho das Hortas começou a ser habitado por emigrantes que nada sabem da história daquele lugar. Junto a uma oficina moram Sandro Rana e Rojan Lam, vindos do Nepal. Falam com o HM enquanto fazem o almoço e lavam a roupa na máquina de lavar comum. As casas são pobres, mas aqui os dois homens conseguem pagar uma renda inferior àquelas que são cobradas nos grandes edifícios: cinco mil patacas. Sandro e Rojan vivem alheados do que se passa com as famílias chinesas e desconhecem os planos de construção que existem para aquele lugar. Também não se preocupam que a História do Caminho das Hortas seja destruída: afinal de contas, sempre é melhor casas novas para morar em vez de barracas de quinze metros quadrados sem casas de banho e onde o plástico serve as vezes de chão.
Tomás Chio Manchete PolíticaTerras | Pró-democratas querem apoio para chumbar proposta de Gabriel Tong Apoio para que a proposta de “clarificação” da Lei de Terras não passe na AL é o que pedem os deputados Ng Kuok Cheong e Au Kam San, que falam mesmo iniciativas para fazer pressões ao Governo caso a proposta avance para plenário [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]g Kuok Cheong e Au Kam San querem unir esforços com outros deputados da Assembleia Legislativa (AL) para chumbar a proposta de clarificação da Lei de Terras apresentada por Gabriel Tong. Os dois deputados da ala pró-democrata, e fundadores da Iniciativa de Desenvolvimento Comunitário de Macau, vão ainda realizar uma conferência para discutir o diploma com o público no próximo domingo, ponderando mesmo “iniciativas sociais” caso a proposta vá avante. Depois de Ng Kuok Cheong ter dito que preferia o tribunal a resolver casos de conflitos de terrenos, o deputado e o seu colega de bancada, Au Kam San, dizem mesmo que vão “aliar-se com outros deputados para que a proposta de Tong seja negada”. Embora Au Kam San tenha referido que ainda não leu a proposta do deputado nomeado pelo Chefe Executivo, o desejo é ir contra ela. Gabriel Tong apresentou um pedido que diz não ser de alteração, mas de clarificação da lei e onde o Chefe do Executivo é quem tem o poder de decidir sobre a suspensão ou prorrogação do prazo de concessão do terreno, “sempre que haja motivo não imputável ao concessionário e que tal motivo seja, no entender do Chefe do Executivo, justificativo”. Esse acto deve ser feito com o “requerimento do concessionário”. Tong já afirmou ter do seu lado mais de dez deputados que concordam com a proposta, mas Au Kam San diz que, se encontrarem um mínimo de problema, “vão aliar-se com outros deputados para chumbar a proposta, bem como convocar iniciativas sociais para pressionar o Governo e a AL”. Outras vozes Além dos dois deputados, Ella Lei e Chan Meng Kam foram outros dos membros do hemiciclo que se mostraram contra a alteração do diploma aprovado em 2013. Questionado sobre se acha que consegue votos suficientes para chumbar a proposta de Tong, Au Kam San diz que não compete à AL “clarificar leis”, como Tong deseja, pelo que acredita na viabilidade dela não passar pelo hemiciclo. A associação dirigida por Ng Kuok Cheong e Au Kam San disse ainda que não concorda com um eventual passo atrás na decisão de retirar os terrenos nos Nam Van à sociedade com o mesmo nome – os lotes que têm dado mais polémica – e afirma que vai, por isso, fazer uma conferência pública no próximo domingo para explicar a Lei de Terras. Os deputados dizem que vão convidar todos os membros do hemiciclo eleitos directamente. Ng Kuok Cheong referiu que os construtores têm “um mau hábito”, que é o de não desenvolverem os terrenos no prazo devido, muito devido à falta de preocupação do Governo face ao problema, acusa.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeCosta Nunes | Lola Couto do Rosário na direcção do jardim-de-infância Miguel de Senna Fernandes decidiu ir buscar um nome com ligações ao jardim-de-infância Dom José da Costa Nunes. Lola Couto do Rosário foi afastada em 2001 do cargo de directora por suspeitas de desvio de dinheiro, mas o presidente da APIM afasta esses boatos e relembra o currículo da educadora. “Isso não pesa minimamente na nossa decisão”, diz [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]omina três línguas e é um rosto conhecido do jardim-de-infância Dom José da Costa Nunes. Lola Couto do Rosário é o nome escolhido pela direcção da Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM) para dirigir a instituição de ensino infantil, com um contrato renovável por um ano. É este o nome que vai substituir Vera Gonçalves, que assumia as funções de directora desde 2009. Lola Couto do Rosário esteve no Costa Nunes entre 1998 e 2001, de onde saiu sob suspeitas de desvio de fundos, segundo fonte ligada à escola. Foi a APIM e o seu presidente na altura, José Manuel Rodrigues, que a afastaram do cargo, ainda que não tenha sido provado nada. O HM sabe ainda que a nomeação de Miguel de Senna Fernandes deixou muitas pessoas dentro e fora da instituição surpreendidas, sendo que algum do pessoal docente diz só ter sabido da nomeação através das notícias. Confrontado com aquilo que considera “boatos”, Miguel de Senna Fernandes, presidente da APIM, afasta essa possibilidade. “Vamos supor a hipótese disso se confirmar. Não é isso que está aqui em causa. A Lola deixou o Costa Nunes em 2001, passaram-se alguns anos, e mesmo que se confirmem esses boatos, achamos que o perfil dela serve este propósito. Claro que também equacionámos todo o percurso da Lola. Se existirem rumores sobre a idoneidade [dela] isso não pesa minimamente na nossa decisão, uma vez que a nova directora vai trabalhar num ambiente completamente diferente, com toda a direcção da APIM por cima. Só terá o nosso apoio. Isso pesaria apenas se tivéssemos dúvidas sobre a capacidade de gestão de recursos, então claro que nunca iríamos escolher este nome”, disse Senna Fernandes. O presidente da APIM garantiu que será aberto “um novo capítulo” na vida do jardim-de-infância, até porque domina três línguas, algo que era tido como necessário devido à diversidade de alunos da instituição. “Julgamos que a nova directora, com a supervisão da direcção, fará o seu trabalho como deve ser, dadas as suas capacidades. É uma pessoa com larga experiência de direcção e que domina várias línguas. Não há uma razão pessoal mas é uma pessoa que preenche os requisitos. Havia outros nomes também, mas decidimos por este. A pessoa que reuniu maior consenso foi a Lola”, frisou Miguel de Senna Fernandes. O HM tentou falar com algumas educadoras que trabalharam de perto com Lola Couto do Rosário, mas nenhuma delas quis prestar declarações sobre esta nomeação. A nova directora do Costa Nunes está neste momento em Portugal onde continua ligada ao ensino infantil, no jardim-de-infância de Ferreiras, tendo coordenado o jardim-de-infância de Olhos de Água, no Algarve e acumulado funções como coordenadora do Departamento de Educação Pré-escolar. Esteve, nos anos 90, seis anos como directora do jardim-de-infância luso-chinês Veng Tim, tendo começado a carreira no Colégio Dom Bosco em 1982.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeDavid Chow | Associações portuguesas esperam resort amigo do ambiente A Quercus e a Associação dos Cidadãos pela Arrábida e Estuário do Sado esperam que o futuro empreendimento do empresário David Chow possa respeitar a protecção ambiental, já que ficará situado bem junto ao Estuário do Sado. É ainda exigida transparência no processo de avaliação ambiental que será feito pelo Ministério do Ambiente [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]esenvolver sim, mas com cuidado. O projecto que o empresário de Macau David Chow pretende construir junto à zona ribeirinha de Setúbal e à área protegida do Estuário do Sado já trouxe o alerta a algumas entidades portuguesas de defesa do ambiente. Confrontados pelo HM sobre esta questão, tanto a Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza, uma das mais importantes em Portugal, como a Associação dos Cidadãos pela Arrábida e Estuário do Sado mostraram estar atentos ao empreendimento. “Tomámos conhecimento do projecto pela comunicação social e é de facto um projecto de grande dimensão para aquela zona ribeirinha de Setúbal”, disse ao HM Nuno Sequeira, membro da direcção nacional da Quercus. “Só nos poderemos pronunciar de uma forma mais concreta quando tivermos acesso às informações de avaliação do impacto ambiental, que terá de ser obrigatório. Neste momento há algumas cautelas porque estamos a falar de um projecto de grandes dimensões a ser implantado numa zona junto à entrada do Estuário do Sado, que é sempre sensível do ponto de vista ambiental e também porque estamos a falar de um projecto que irá acrescentar mais uma porção urbana e turística a uma zona onde já existem outros empreendimentos, nomeadamente na zona de Tróia.” A primeira fase do projecto da Macau Legend inclui um complexo com hotel, lojas e residências, uma marina, um complexo desportivo e até uma área com slot-machines, indica um comunicado da empresa à Bolsa de Valores de Hong Kong. Sob pressão Nuno Sequeira pede um processo transparente por parte do Ministério do Ambiente, que vai agora realizar o estudo de impacto ambiental. O empreendimento de David Chow “vai acrescentar mais pressão turística e urbana a uma zona sensível”, considera. “Esperamos que todos esses impactos sejam tidos em conta e que seja feita uma avaliação rigorosa. Vamos estar atentos a esta situação nos próximos meses, participando na consulta pública, e esperamos que da parte de todas as entidades que estão envolvidas no processo, desde públicas a privadas, exista toda a transparência para dar conta às associações de defesa do ambiente que digam respeito ao projecto”, disse o responsável da Quercus. Fernanda Rodrigues, presidente da Associação dos Cidadãos pela Arrábida e Estuário do Sado, espera a junção de desenvolvimento sócio-económico da região com a protecção ambiental. “Encaro este projecto como um desafio interessante para o desenvolvimento da região, desde que tenham em conta a especificidade da região em termos de defesa ambiental e a preocupação com a população que cá reside. Temos de compatibilizar a defesa do ambiente com um desenvolvimento sustentável, mas sem pôr em causa o papel do ser humano nesse ambiente. Se a criação de postos de trabalho e a geração de riqueza tiver em conta o crescimento sustentável com base em critérios ambientais, já que esta é uma região especial, estamos de acordo”, concluiu. Na apresentação do projecto em Macau, a presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira, referiu que “se encontra tudo em negociação”, estando ainda a ser feito um plano pormenor para a área. David Chow pretende construir ainda numa área maior do que a prevista inicialmente, num projecto que poderá ir dos cem milhões de euros já anunciados para 500 milhões. O plano de pormenor poderá demorar entre seis meses a um ano a ser realizado. Maria das Dores Meira falou da zona que tem ainda a fábrica de construção naval Lisnave, uma cimenteira e uma fábrica de papel. “Não temos por que duvidar da obstrução por parte do Ministério do Ambiente em relação ao estudo, mas ele tem de ser feito. Estamos numa zona sensível, temos o privilégio e a honra de ter uma colónia de golfinhos e não queremos que nada belisque esta unidade piscatória”. Macau Legend adquire parte do casino de Tróia Além do projecto pensado para Setúbal, a empresa de David Chow entrou ainda em acordo com três empresas portuguesas – a Fundo Aquarius, Amorim Turismo e B&G – para a obtenção de interesses do casino de Tróia, a 15 minutos de barco de onde vai ficar o espaço de Chow. Assim, e de acordo com o que a empresa comunicou à Bolsa de Valores de Hong Kong, a B&G (detida pela Fundo Aquarius e Amorim Turismo) vai “transferir a concessão e o casino de Tróia” para uma joint-venture. “A Empresa Joint Venture – B&G e Macau Legend – passa a ser a dona e gere a operação do já existente Casino Tróia e vai utilizar [esses] meios financeiros para desenvolver o projecto de Setúbal. A B&G e a Macau Legend esperam formar a Joint Venture Company a 31 de Dezembro de 2016 e 55% das acções serão detidas pela Macau Legend.” Com a proposta, a empresa de David Chow fica com a concessão do casino e o casino por 343,6 milhões de dólares de Hong Kong. A concessão termina em 2031.
Andreia Sofia Silva Entrevista ManchetePedro Pires, ex-presidente de Cabo Verde: “Investimento chinês ajuda, mas não é a única solução” Deixou a presidência da República de Cabo Verde em 2011, depois de ter feito quase tudo pela independência e pela estabilidade do seu país. Aos 82 anos, o comandante Pedro Pires defende que o continente africano ainda não é homogéneo e que Cabo Verde deve procurar mais investimento para além daquele que a China pode dar Esteve em visita oficial à China. Como encontrou o país seis anos depois de o ter visitado? A China deve ser dos países em que houve maiores mudanças nos últimos 50 anos, mudanças económicas, culturais e mudanças de gosto (risos). O que me surpreendeu mais foi a mudança estética. Houve mudança em matéria de crescimento económico, criação de riqueza, em matéria de conhecimento e no domínio das tecnologias de ponta. Isso é fundamental para quem queira ser uma potência económica. E a China é essa potência. Claro que todos essas mudanças teriam de ter impacto na cara do país. Se fosse a Xangai poderia comparar, mas a terceira vez que estive na China foi nos anos 80 e já se notavam mudanças, mas agora as diferenças são enormes. Vê-se que a China se afirma como uma grande potência económica. Na conferência que deu falou da necessidade de não ser apenas o continente asiático a liderar o mundo. A China vai, ainda assim, continuar a dominar? Será uma das potências líderes, mas isso não significa que deva liderar. Todas as razões injustas vão ser contestadas, estamos num mundo diferente. Por isso é preferível começar desde cedo, de uma forma mais equilibrada e equitativa, digamos assim. Acho que a equidade deve ser o princípio que orienta as relações internacionais. É o princípio das vantagens recíprocas. Cabo Verde pode ganhar ainda mais com a China? Que acordos trouxe desta viagem? Não vim para assumir compromissos, porque não tenho funções oficiais. Vim para apresentar Cabo Verde e promover o país, não mais do que isso. Mas quando desenvolvemos relações, são sempre para ganhar qualquer coisa. Cabo Verde pode ganhar sim nas suas relações com a China, e deve organizar-se e trabalhar para que isso seja possível. África deve assumir-se mais como um continente líder? Quando falamos de África pensamos que há uma África homogénea, que funciona em bloco, mas isso está por construir. Os países africanos terão de ser líderes, esses devem trabalhar para isso, devem estar consciente do papel que lhes cabe. Um país com peso económico e demográfico terá mais facilidades em liderar sem dominar. Liderar um processo, um projecto do crescimento africano, da infra-estruturação africana. Mas África não é ainda homogénea, embora tenha um porta-voz, que é a União Africana. E isso vai levar um tempo para se apresentar como uma frente comum. Será difícil de atingir? Há bastante coordenação, há bastante desejo. Mas vai levar algum tempo. Como olha para a crise que Angola vive neste momento? Até que ponto é que essa crise pode afectar a futura união de África? Angola, como todos os países, passa por situações de transição. Cabe às lideranças verem isso, para que qualquer dificuldade não tenha uma repercussão excessiva nas relações do país com outros. Há crises financeiras, económicas, políticas, mas no caso de Angola, a principal origem vem da quebra de rendimentos devido à quebra do preço do petróleo. Aí há bons sinais no sentido da diversificação, para se socorrer de outros recursos. Mas há que diversificar mais a economia. Esteve presente no processo de independência da Guiné-Bissau. Fica triste com a instabilidade política e económica que o país hoje vive? Quando as coisas não correm bem ninguém fica contente. Mas o importante agora é promover o diálogo interno. Não é suficiente pressionar de fora, é fundamental promover o diálogo interno, porque as soluções estão dentro da Guiné e nas mãos dos guineenses. Mesmo as entidades que estão de fora, como a União Africana ou a ONU, deveriam estimular o diálogo interno, sendo que os líderes guineenses também devem chegar a essa conclusão. Seria melhor se houvesse um compromisso interno. Cabo Verde, pelo contrário, conseguiu a sua estabilidade. Conseguiu a sua estabilidade política, mas não económica. Há um grande esforço que deve ser feito no sentido da consolidação dos ganhos económicos e no sentido de dar durabilidade e sustentabilidade ao seu crescimento económico e resolver alguns problemas prementes, como o desemprego. As coisas não são lineares. Há avanços, há ganhos, mas há novos desafios. O investimento chinês pode ajudar a resolver esses desafios? Não resumiria a isso, a apenas ao investimento chinês. Esse pode ter um papel importante mas é preciso atrair mais investimentos de outros países. Não devemos excluir a participação de outros investimentos. O investimento chinês vai ajudar a resolver, mas não é a solução. É uma das soluções. Não devemos absolutizar as coisas. A própria China também tem investimento em casa. O mercado turístico: precisamos de levar turistas europeus, mas de outros cantos do mundo. Cabo Verde evitou sempre situações de “monopólio”. Diversificámos sempre e vamos continuar a diversificar. Sente saudades da política, que deixou em 2011? Não sinto saudades, e sabe porquê? Já sei que não posso continuar a fazer política activa. Concluí, tirei as conclusões e esqueço. Mas posso fazer outra coisa, que é política, mas na forma de intervenção social. Faz isso através do Instituto Pedro Pires. Que projectos novos vai desenvolver? Vamos insistir na formação, mas poderemos tentar algo sobre debates virados para questões críticas, de interesse para o país. Pedro Pires diz que projecto de David Chow em Cabo Verde terá “impacto interessante” A Macau Legend Development irá construir um resort no ilhéu de Santa Maria e o comendador Pedro Pires olha para o projecto do empresário local David Chow com bons olhos. “Na vida temos de ousar, aqueles que se acanham e têm medo não sei se chegam lá, mas é um projecto de grande dimensão. Se for realizado com sucesso poderá ter um impacto interessante em Cabo Verde e na sociedade.” Questionado sobre a sua posição em relação ao impacto ambiental que o projecto poderá ter, após as acções do grupo Korrenti di Ativista, Pedro Pires desvalorizou os eventuais impactos negativos do empreendimento turístico. “É normal que cada um tenha a sua opinião, ajuda a pensar e a corrigir o que está mal. Mas na situação em que nos encontramos o projecto vai avançar”, referiu aos jornalistas à margem da inauguração de uma exposição no Clube Militar sobre Amílcar Cabral, político assassinado em 1973 e que esteve intimamente ligado ao processo de independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde, tendo fundado o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC). “É extremamente interessante trazer a figura de Amílcar Cabral para este espaço em Macau. É sempre uma homenagem merecida mas muito longe do país de origem, mas isso é que dá importância à exposição e cerimónia”, disse Pedro Pires sobre a exposição. Dimensão cultural O antigo presidente da República de Cabo Verde deu depois uma conferência, também no Clube Militar, intitulada “Dimensão cultural no relacionamento entre os países de língua oficial portuguesa”. Perante uma sala cheia, Pedro Pires falou da importância de criação de políticas de incentivo à cultura, pois “o grande erro é pensarmos que o dinheiro e a força resolvem tudo”. “Podemos através de políticas públicas promover a cultura, temos de aceitar o que é diverso. Não faz sentido falar da pureza de uma só cultura. As relações correctas e duradouras entre países passam necessariamente pela cultura, mas claro que no mundo a política tem de estar em tudo”, referiu. Sobre Macau, onde esteve a primeira vez, e onde reuniu com o Chefe do Executivo, Chui Sai On, Pedro Pires falou de um território “bastante dinâmico, com sinais de prosperidade”, apesar de não saber “se essa prosperidade beneficia a todos”. No encontro com o Chefe do Executivo ficou confirmada a realização da 5ª sessão ministerial do Fórum Macau para o final deste ano, tendo ficado prometido um reforço dos laços económicos.
Joana Freitas Manchete PolíticaLei de Terras | Escritório de Manuela António junta-se a pedidos de revisão De um lado continuam os que não querem a Lei de Terras alterada com mais poder para o Chefe do Executivo, do outro continuam os que defendem que a lei foi aprovada no hemiciclo e com o consenso da população e que, por isso, deve ficar como está. O escritório de advogados Manuela António não é meigo nas críticas [dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]ontinuam as críticas à actual Lei de Terras e mais advogados e deputados vêm pedir uma revisão ao diploma, aprovado em 2013. Depois de uma conferência de imprensa organizada pela Sociedade Nam Van, há quem diga agora que a lei tem de ser revista para que se coadune com a Lei Básica. No outro lado da balança continuam os que concordam com o diploma. Para o escritório de advogados Manuela António, a interpretação que está a ser feita da actual Lei de Terras é sinónimo de um Direito “espezinhado”. É o que indicam os advogados, num recente “legal alert” enviado aos média e onde urgem à revisão. “Lamentavelmente, o estado de Direito que sempre constituiu o suporte em que assenta a grandeza de Macau vê-se agora espezinhado por quem deveria na verdade ser o seu maior guardião. Tal está a suceder relativamente à interpretação da nova Lei de Terras no âmbito da renovação das concessões de terreno provisórias (e consequente reversão)”, começa por apontar o comunicado. “Na verdade, embora não seja concebível que o Governo tenha querido tratar de forma igual situações tão díspares, como os casos de inércia do concessionário por oposição ao casos em que o não aproveitamento não era imputável ao concessionário, o certo é que a redacção da nova lei não faz explicitamente a necessária distinção. Pelo que impõe-se a necessidade de fazer um ajuste para colocá-la em conformidade com a Lei Básica e consistente com os direitos e expectativas legítimas dos particulares.” A questão prende-se sobretudo com o que os advogados dizem ser uma decisão do Executivo que está a prejudicar o desenvolvimento. Se, em determinada altura, o Governo atribuiu diversas concessões de terrenos para “promover” o desenvolvimento, mais tarde “suspende a emissão de autorizações e impede a continuação das obras que estavam a decorrer”, apesar dos projectos estarem já aprovados. O escritório de Manuela António indica que as suspensões surgem “com base numa vontade unilateral de rever o plano urbanístico ou por exigências a nível do projecto de obra que se impunham alegadamente atendendo à evolução da região”. Em alguns casos, e segundo o Governo, essa suspensão dá-se devido às regras de protecção ao património, que não permitem que se tape a vista dos edifícios classificados. Fora da lei Manuela António continua, relembrando que o Executivo listou 65 concessões (entre 113) onde o desenvolvimento não aconteceu devido a situações não imputáveis aos concessionários. Contudo, indica o escritório de advogados, a aprovação da lei vem mudar este cenário. “A nova Lei de Terras determina a não renovação das concessões, findo o prazo, se os respectivos terrenos concedidos não tivessem sido aproveitados. A consequente reversão é legalmente designada por ‘declaração de caducidade’, sendo que se deveria, na verdade, qualificar, nos casos em que o concessionário não tem culpa pelo não aproveitamento, como um ‘confisco’ ou mesmo um ‘furto sofisticado’”, pode ler-se no comunicado. Para José Chui Sai Peng, deputado, não é adequado falar agora da proposta de Gabriel Tong, uma vez que a AL está a analisá-la, mas seria melhor rever por “estar em vigor há muito tempo”. Está bem assim Já para a deputada Ella Lei, alterar a lei só com consenso do público, até porque a lei passou assim no hemiciclo. A representante da Federação da Associação dos Operários de Macau (FAOM) defende que nenhuma das leis, antiga ou nova, permitia o prolongamento de concessão. Por isso mesmo, diz não perceber qual a necessidade de se rever o diploma, sendo que “convém até que seja o tribunal a decidir” caso a caso, de forma a que o público “tenha mais confiança na decisão”. Há quem tema que a proposta de clarificação do diploma por Gabriel Tong à AL – e que pretende ajudar a interpretar a lei de forma a que o Chefe do Executivo possa decidir sobre as concessões – dê um demasiado poder ao líder do Governo. “Decisões subjectivas são impróprias”, considera Ella Lei, que refere que uma eventual alteração vai ter um impacto global e aconselha o Governo a agir “com cuidado”. Lei diz que, em tribunal, a análise exaustiva de documentos poderá ajudar a culminar eventuais dúvidas sobre concessões. O mesmo diz Ng Kuok Cheong, que considera que se a decisão for feita pelo Chefe do Executivo pode originar a situações “por debaixo da mesa”. Os advogados de Manuela António discordam. “É um equívoco pensar que a resposta passa pelos tribunais, cuja função é aplicar as leis, boas ou más, em vigor. As soluções existem, só tem faltado vontade de as implementar por quem tem a competência e o dever de o fazer.” Ng Kuok Cheong e Chan Meng Kam não têm dúvidas: uma revisão ao diploma seria algo absurdo e Chan Meng Kam diz mesmo que “Gabriel Tong só podia estar a brincar” quando entregou a proposta que, segundo ele, pretende apenas clarificar a lei que já existe. “A lei em vigor foi discutida e aprovada pela AL e obteve um consenso público, tendo sido entregue ao Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional. Envolve o interesse público e o futuro do território e uma proposta [destas] é uma brincadeira”, referiu Chan ao jornal All About Macau. Ng Kuok Cheong diz que “não há roubo de terrenos”, como frisou Patrick Wong, um dos concessionários dos terrenos nos Nam Van. O deputado diz que o Governo ceder novamente os terrenos recuperados sem o consenso público é algo proibido pela lei nova e, caso aconteça, o Comissariado contra a Corrupção (CCAC) deve investigar. “O Governo tem a responsabilidade de administrar o território com base na lei e os construtores têm o direito de pedir compensação. Mas a lei foi aprovada.” Para a firma de advogados Manuela António é uma ilusão se os deputados e o Governo pensarem que a os problemas decorrentes da nova lei vão apenas afectar os construtores. Eles vão, asseguram, prejudicar o desenvolvimento de Macau. O assunto começou novamente a dar polémica mais recentemente, depois da Sociedade Nam Van ter feito uma conferência de imprensa a criticar o Governo por ter declarado a concessão de terrenos nas zonas C e D de Nam Van, alegadamente porque a culpa não terá sido da empresa. O Governo diz apenas que tudo está feito de acordo com a lei e que apenas um dos lotes tem uma concessão que se estende até 2026.
Joana Freitas Manchete PolíticaIACM | Chefias acusadas de abuso de poder Dois titulares de chefia do IACM vão ser presentes ao MP por abuso de poder, por alegadamente permitirem a alguns funcionários que faltassem injustificadamente ao trabalho sem deixarem de receber [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]ois titulares de cargos de chefia do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) foram acusados de abuso de poder e poderão ser julgados em tribunal. O caso foi descoberto pelo Comissariado contra a Corrupção (CCAC), que encaminhou os responsáveis para o Ministério Público. De acordo com uma nota de imprensa do CCAC, um titular e um ex-titular de cargo de chefia “encobriram durante um longo período de tempo os atrasos e as saídas antecipadas de dois subordinados”. A prática resulta em crime de abuso de poder, segundo o previsto no Código Penal. “Conforme o que foi apurado na investigação, os dois trabalhadores do IACM, entre 2011 e 2014, chegaram atrasados e saíram antecipadamente do local de trabalho com alguma frequência, sendo que tais atrasos e saídas antecipadas são consideradas faltas injustificadas nos termos do Estatuto de Pessoal daquele Instituto e da respectiva ordem de serviço interna”, começa por explicar o organismo liderado por André Cheong. “Durante um período de quase quatro anos, os referidos titulares de cargo de chefia do IACM tiveram conhecimento, por vários meios, dos actos praticados pelos dois subordinados, mas não agiram propositadamente em conformidade com as competências e os deveres atribuídos por lei ao pessoal de chefia.” Olhos fechados O CCAC diz que os dois responsáveis não tomaram quaisquer medidas para impedir as infracções disciplinares dos funcionários, nem informaram o seu superior sobre o assunto, tendo até continuado a permitir que os dois subordinados chegassem atrasados e saíssem antecipadamente do local de trabalho. “No decorrer da investigação do CCAC, um dos titulares de cargo de chefia envolvidos, estando ciente de que os seus actos estavam em violação dos procedimentos legais, aceitou como justificadas as dezenas de faltas dos seus subordinados sem provas e sem justificação bastante, com a intenção de esconder o encobrimento ilícito dos actos praticados pelos seus subordinados”, revela ainda o organismo. Na Função Pública, as faltas injustificadas determinam a instauração de um processo disciplinar e a perda da remuneração correspondente aos dias de ausência. No entanto, apesar das mais de 600 faltas injustificadas dadas pelos dois trabalhadores do IACM, durante um período de quatro anos, o IACM continuou a pagar-lhes os dias de trabalho. O CCAC fala num prejuízo de 550 mil patacas para o Governo. Já o IACM, num comunicado enviado ao fim do dia, assegura que está a acompanhar com grande atenção o caso e vai “proceder com severidade ao seu tratamento e colaborar com a investigação”, além de instaurar um processo disciplinar. Fica ainda a promessa de que vai rever o mecanismo de gestão do pessoal.
Hoje Macau Manchete SociedadeTáxis | Associação pede aumento de tarifas A Associação de Mútuo Auxílio de Condutores de Táxi não vê com bons olhos a Uber e propõe um ajustamento de preços para o final do ano. Das alterações propostas contam taxas adicionais nas tarifas depois da meia-noite e durante o ano novo chinês [dropcap style≠’circle’]K[/dropcap]uok Leong Son, presidente da Associação de Mútuo Auxílio de Condutores de Táxis, disse ao HM que iria propor ao Governo um novo plano de preços para o serviço de táxis. O dirigente afirma a intenção de aumentar as tarifas do sector para trajectos efectuados depois da meia-noite bem como durante o período de férias. A referência para esta alteração vem de Zhuhai, onde os sistemas electrónicos de táxi adicionam automaticamente mais 50% ao custo total depois das 24h00. O responsável sugeriu ainda que o aumento fosse entre as oito e as 15 patacas, sendo que o período de férias do ano novo chinês também deveria ser alvo de alteração tarifária com a inclusão de taxas extra. Uber de fora Por outro lado, o presidente da Associação voltou a criticar o caso de uso ilegal da aplicação da Uber por telemóvel, referindo que “o mercado de Macau é pequeno e só conta com cerca de mil táxis”. Sublinha que está em curso um processo de negociação com empresas de transporte on-line de modo a optimizar os serviços relativos à funcionalidade das aplicações móveis, de forma a que os táxis possam servir melhor neste sentido. Questionado acerca da recentre entrega de uma lista de emails de defensores da legalização da Uber em Macau ao Secretário para os Transportes, Kuok Leong Son considera que o Governo não “deve gastar tempo para conversar com eles” porque é “completamente ilegal”. Kuok leong Son adianta que “todos os governos das quatro regiões da China não o permitem” e que não faria sentido Macau ser excepção visto afectar “substancialmente a indústria e causar impactos nas receitas”. Sector prejudicado Kuok Leong Son falou também do salário médio dos taxistas que é agora cerca de 12 mil a 13 mil patacas por mês, “comparando com os motoristas profissionais, como os motoristas do autocarro, que ganham 21 mil, e os motoristas dos carros turísticos que ganham cerca de 20 mil, existe uma distância, já não se calculando que a jornada laboral dos motoristas de autocarro é 26 dias e a nossa 30 dias”. Estas declarações ao HM coincidem com as recentes afirmações que Kuok Leong Son fez no discurso da celebração do 30º aniversário da Associação e citadas pelo Jornal Ou Mun, em que o presidente afirma a intenção em cooperar com as aplicações móveis de chamada de táxis de Hong Kong e do interior da China. Angela Ka
Joana Freitas Manchete SociedadeAnimais | Menos de 1% dos abandonos foi considerado infracção A dificuldade em perceber quem é dono de um determinado animal levou a que, em seis anos, o IACM só conseguisse identificar dez infractores por abandono em espaços públicos. Os abates continuam em grande escala e as adopções não passaram as 1300 desde 2010 [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]penas 0,52%. Não chega a 1% o número de infracções por abandono de animais registadas desde 2010. Os dados são do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), que indica ainda terem sido abatidos mais de quatro mil cães e gatos durante o mesmo período. A ausência de uma lei que punisse os donos que abandonam animais era, até aqui, motivo de polémica. Agora, a nova Lei de Protecção dos Animais, aprovada esta semana pelo hemiciclo, deverá alterar o cenário, ainda que haja excepções para o que pode ser considerado abandono. De acordo com informações prestadas pelo IACM ao HM, e de acordo com dados disponibilizados no site do Departamento de Veterinária do organismo, de 2010 até Junho deste ano foram abandonados pelos donos 1730 animais. Divididos entre cães e gatos, os primeiros são a maioria (1437), os segundos ficam-se pelos 193 casos. Só este ano, em seis meses, já foram abandonados 96. E estes números não contam com os animais que o IACM indica terem sido “resgatados” das ruas. Essas situações ascendem a 1044 em seis anos, 66 só em 2016. Adopções assim assim Apesar dos mais de 2700 animais abandonados ou resgatados, e tendo em conta os 1730 abandonos, houve apenas 0,52% de infracções por violação ao Regulamento dos Espaços Públicos. Dez pessoas – em seis anos – foram multadas. Três este ano. A dificuldade em perceber a quem deve ser assacada a responsabilidade é uma das explicações dadas, tendo levado a que deputados apelassem a que o registo de todos os animais fosse obrigatório, além de cães e cavalos. Ainda assim, o novo diploma não contempla esta situação. Apesar do IACM ter no inventário 4141 animais abatidos desde 2010 até agora – só este ano foram 89 -, entre cães e gatos, o número de adopções também aumentou. A lista do organismo dita 109 cães e 35 gatos adoptados só este ano, quase o mesmo número que os cães que tiveram um novo dono o ano passado (203) e mais do que todos os 23 gatos que receberam uma casa nova. Ainda assim, houve apenas 1282 adopções em seis anos, o que ascende a menos de 47% do total de abandonos e resgates e em ainda menos ao número de abates. A nova Lei de Protecção dos Animais vai punir quem abandonar os seus animais de forma mais severa, mas também vai permitir que quem já não queira ser dono possa entregar o seu cão ou gato no IACM, algo que não agradou a alguns deputados. Mil ataques Os ataques de animais foram ponto fulcral na discussão do hemiciclo aquando da aprovação da lei, com muitos deputados a debruçarem-se mais na questão da protecção aos humanos. A utilização de elevadores por cães foi uma das questões, que levou até deputados a supor ataques quando as mulheres “carregam carne fresca do mercado” ou, segundo Mak Soi Kun, quando “estão menstruadas”. Os deputados e a própria Secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, admitem que o novo diploma teve de ter em conta o equilíbrio de direitos, porque as pessoas “têm medo” de animais. Associações como a APAAM já vieram a público dizer que os ataques são raros. Os dados do IACM mostram que houve, de facto, ataques – ainda que não só de cães. Cerca de 1230 desde 2010 até este ano, ainda que não seja permitido perceber qual o tipo de animal e qual a gravidade dos casos. A porta-voz do Instituto, contudo, explica ao HM que todos os casos considerados “ataques” têm de ser provados com documentos médicos. “Sempre que há um ataque a pessoa tem de se dirigir ao centro de saúde ou hospital, que entrega um relatório ao [IACM], para perceber se o animal tem vacinas, se tem dono ou se anda na rua, todos esses pontos”, explica ao HM.