Ministério Público | Queixa contra Fong Soi Kun por homicídio por negligência

[dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]ong Weng Kuan, candidato que encabeça a lista 19 da Associação dos Cidadãos Unidos para a Construção de Macau, apresentou ontem queixa-crime no Ministério Público contra Fong Soi Kun por homicídio por negligência. A razão da queixa prende-se com a actuação dos serviços meteorológicos e a falta de alertas atempados aquando da passagem do tufão Hato

Os Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) de Macau têm sido severamente criticados por vários quadrantes da sociedade. Porém, ontem a situação foi um pouco mais longe quando o Hong Weng Kuan, candidato da lista da Associação dos Cidadãos Unidos para a Construção de Macau, se deslocou às instalações do Ministério Público (MP) para apresentar queixa contra o antigo director dos serviços meteorológicos.

O líder da lista 19 acusa o ex-director dos SMG de homicídio por negligência, depois deste ter apresentado a demissão e passado à reforma, na sequência da polémica actuação dos serviços no dia em que o tufão Hato varreu o território.

“Toda a gente sabe que os SMG não fizeram o suficiente na previsão meteorológica, neste contexto, como a calamidade resultou em vítimas mortais, é um crime de homicídio por negligência”, diz o líder da lista, que frisou que o objectivo de denúncia é proteger o espírito do direito.

A passagem do Hato provocou uma dezena de mortos e deixou grande parte do território sem abastecimento de água e electricidade, consequências que Hong Weng Kuan considera resultar da falta de alerta dos serviços meteorológicos.

Carta anónima

Aquando da entrega de documentos da apresentação da queixa-crime, o candidato da lista 19 referiu a existência de uma carta anónima onde se terá revelado uma esgrima por poder dentro dos próprios SMG.

Nesse aspecto, Hong Weng Kuan considera que “apesar de a luta pelo poder não pertencer à competência de investigação do MP, se tiver sido o motivo causador do atraso na emissão de alerta, provocando perda de vidas, isto é abuso de poderes e não valoriza as vidas dos residentes”, lê-se no comunicado apresentado.

Apesar de ter sido a única baixa que apresentou a demissão, Fong Soi Kun, pode não ser o único a ser chamado à pedra segundo a opinião de Hong Weng Kuan, também advogado, que não afasta a possibilidade de acusação de mais pessoal pertencente aos SMG.

O candidato a deputado da Assembleia Legislativa acrescentou ainda que os procedimentos disciplinares não chegam para punir uma situação tão grave e com consequências tão trágicas. Hong Weng Kuan acrescenta que estas responsabilidades devem ser apuradas em sede de investigação criminal do MP.

Importa salientar que o Comissariado Contra a Corrupção iniciou um inquérito sobre os procedimentos de previsão de tufões e a forma como os serviços meteorológicos geriram todo o processo aquando da passagem do tufão Hato por Macau. Apuradas as responsabilidades, nomeadamente de Fong Soi Kun, os resultados serão entregues ao Chefe do Executivo.

5 Set 2017

Camilo Pessanha, 150 anos | António Cabrita: “Sou um filho da dificuldade”

Escolheu o tempo ao dinheiro. Foi para Moçambique após mais de uma década como jornalista no Expresso e desde aí a sua vida é escrever. António Cabrita está hoje no Edifício do Antigo Tribunal para uma conferência integrada na comemoração dos 150 anos do Camilo Pessanha

Publicou o seu primeiro livro de poesia aos 17 anos.

Sim, mas é um horror. Tenho quatro livros que não cabem na minha tábua bibliográfica. Foram absolutamente retirados. Ali só coloco os livros que publiquei a partir dos 38 anos. São poemas de uma imaturidade absoluta e não tenho nenhum prazer nem em revê-los. Até me custa falar disso.

Ainda muito novo também conheceu o Al Berto. 

Sim. Conheci o Al Berto devia ter uns 18 ou 19 anos. Ele tinha mais dez anos do que eu. Conheci-o pouco depois de ele ter chegado da Bélgica onde esteve numa espécie de exílio. O Al Berto tinha sido enviado para fora para estudar, para não ir à tropa. Também tinha outra condição que nessa altura era complicada de ser declarada, a homossexualidade. A família mandou-o para fora. Começou como pintor e depois rompeu com toda a pintura e figuração e dedicou-se à escrita. Teve também uma pequena editora. Andei com ele na altura a distribuir alguns dos livros pelas livrarias o que causava um certo escândalo. Tinha alguns livros ousados. Eram livros de afirmação da sexualidade o que causava escândalo diante dos livreiros que, nessa altura, não estavam habituados ainda a tais liberdades cívicas. Ele publicou um livrinho, o meu segundo livro. Era um poema de 17 ou 18 páginas que eu há uns anos reduzi a sete. Era uma longa verborreia lírica. Enxuguei as águas e ficou um vão mais potável, mas ainda assim com pouco sol. Só aos 38 anos é que achei uma voz. Na altura, e curiosamente, publiquei um livro. Queria-me candidatar a um prémio que ganhei. Precisava de pagar dívidas. Foi assim que realmente apareceu o primeiro livro.

Como é que se deu a passagem da poesia para a ficção?

Essa mudança acaba por ocorrer por uma circunstância simples. Fiz o curso de cinema e fui logo identificado como um tipo que tinha um jeito especial para fazer diálogos e nas aulas era recrutado para os fazer. Mais tarde, tinha formação técnica e sabia como realizar um filme. Acabei por fazer guiões mas ficava sempre chocado com o que via. Achava que eles eram uns grandes nabos. Não consigo escrever um guião sem imaginar como é feito. Nunca tive esses despojamento. Escrevo um guião imaginando-me um realizador. Depois de escrever uns sete ou oito filmes e ficar sempre com um sabor amargo face ao resultado percebi que, para a reconstituição do meu ego em clivagem, precisava de começar a comandar alguns dos processos. Tinha de estar diante de uma narrativa que tivesse controlado do princípio ao fim. E foi assim que comecei a escrever ficção. Comecei por um livro de contos que correu muito bem. A ficção começa também como um desafio. Eu escrevo porque não sabia escrever. A dificuldade é que me fez continuar. Na adolescência, fazia parte de um grupo de amigos, alguns deles famosos e que são pessoas consideradas, e que fizeram uma carreira. Todos eles escreviam poesia ou ficção e acabávamos a discutir esses assuntos. Era uma coisa engraçada em que eu era inevitavelmente o mais desajeitado. Eles desistiram todos, porque tinham facilidade. Eu como tinha dificuldade tinha de trabalhar para contornar os problemas e as deficiências e isso acabou por me melhorar. Mas, de facto, sou um filho da dificuldade. Venho de um meio pobre e tive de recobrir séculos de ignorância genética. Ainda hoje tenho lacunas graves.

Está em Moçambique. Depois do jornalismo e de muitos anos no Expresso, resolveu abandonar tudo e ir. O que é que aconteceu?

Estive no JL, depois estive na Elle e depois no Expresso. Fui para Moçambique ganhar um terço do que ganhava. Sou um caso do mundo emigrante que sai para ganhar menos. Depois tive de remontar a vida. Quis ganhar tempo. Perdi dois terços de tudo o que é pecuniário mas ganhei dois terços de tempo e isso mudou tudo. Desde que estou em Moçambique já publiquei treze livros.

Mudou também a sua maneira de escrever?

Sim. Mudou, entre outras razões, por causa do anonimato que encontrei em Moçambique. Estive cinco anos absolutamente anónimo e isso foi absolutamente extraordinário. Permitiu que rescrevesse tudo, que escrevesse de outras formas, experimentar outros modos sem ter nenhuma cabecinha atrás do ombro a dizer-me que estava a trair o meu estilo. Isso deu-me uma liberdade imensa. Quando reapareci, toda a gente ficou surpreendida. Quando fui para África as pessoas consideraram a minha opção muito estranha. Chego a África e desato a  trabalhar como um doido e, de repente, apareci renovado e com uma densidade que ninguém estava à espera. Tive de fazer o percurso. Os primeiros livros que editei depois de ter ido para Moçambique foram uma novela juvenil, um livro de poesia e um livro de contos grande. Na altura saíram quatro coisas muitíssimo boas nos jornais acerca deste livro, que não no Expresso, coisa que me magoou muito. Depois fiz o meu primeiro romance e mandei-o para a Porto Editora que me pediu uma versão light. O livro é a “A Maldição de Ondina”. Enviei-o para o Brasil que me mandou um contrato. O livro foi editado lá e depois acabou por ser finalista de um prémio. Recuperei uma ressonância mediática em Portugal. Mas teve de vir de fora, dar a volta ao Brasil, para ser reconhecido.

Porque é que acha que esse tipo de situação acontece?

Por inveja. Uma das coisas que distingue a editora Abysmo é que todos os escritores que ali editam são amigos uns dos outros, não se invejam. Ficamos contentes com os êxitos uns dos outros, lemos os livros uns dos outros e discutimos. Isso foi uma espécie de revolução coperniciana durante algum tempo na adição portuguesa.

Falando em escritores portugueses. Como é que vê a produção literária em Portugal neste momento?

Estou fora e há coisas que não acompanho. Mas, do que me é dado a conhecer, mais na ficção, neste momento acho que há uma coisa espantosa. Há uma geração de mulheres escritoras, tal como nos anos 70. Estou-me a lembrar, por exemplo, da Maria Velho da Costa, da Teresa Horta. Surgiram uma série de mulheres ao mesmo tempo naquela altura, o que era uma espécie de banco de coral muito enriquecido. Acho que do melhor que se está a fazer na literatura portuguesa tem que ver com a pressão feminina. Além disto parece que há uma série de gente nova muito boa. Não vou estar aqui a falar dos meus amigos (risos). Há sempre um discurso sobre a crise em que estamos em crise em tudo. Sou muito mais positivo. Acho que estamos num período difícil porque estamos numa encruzilhada entre regimes de cultura e existe uma grande confusão em relação a isto. Normalmente não damos conta no nosso quotidiano, mas enfrentamos signos de diferentes regimes de cultura. De cultura popular, de cultura erudita ou humanística, de massas, digital e por aí fora. Isto são regimes diferentes que implicam, não só imaginários diferentes, como valorizações e pautas valorativas diferentes. Confundimos a cultura pop com a cultura. É a mesma coisa que confundir a cosmética com a beleza natural. Há uma grande confusão sobre o que é cultura. Isto é um problema. Vivemos de frivolidade, de pouco esclarecimento e de pouco discernimento precisamente porque estamos neste caldo dos vários regimes culturais que coexistem ao mesmo tempo. Se formos para a globalização temos confusões ainda maiores.

Temos aqui um guionista, um escritor, um poeta, um ensaísta e um jornalista. Como é que estas pessoas convivem entre si? 

Ainda devo cerca de 10 mil dólares ao ensaísta (risos). Às vezes reencontramo-nos todos e jogamos a dinheiro. Mas, falando mais a sério, o ensaísta acontece por duas razões. Tenho um percurso solitário. Não tenho um percurso integrado numa geração. Cada geração cria os seus escritores e os seus críticos. Cada geração também tem os seus santinhos que são as chaves da decifração para o estilo de cada geração. Eu surjo como um ovni. Comecei por ficar surpreendido com as coisas que escreviam acerca dos meus livros. Achava que eram, na maior parte das vezes, um disparate. Às vezes intuía que era um disparate sem saber de forma racional e articulada explicar que o era. Com o ensaio, surgiu em mim, uma necessidade de me explicar. Mas nem gosto muito de escrever sobre livros, gosto de escrever sobre temas.

Gosta do vento e pensa ter um livro acerca do assunto.

Tenho este fascínio pelo vento. Penso que será o meu fim, que um dia serei levado por ele, para qualquer lado. Cada um tem a pancada que pode, eu tenho esta. Tenho já reunidos um cinquenta poemas de poetas que escreveram sobre o vento para uma antologia. Um dia gostava também de ter uma conversa com o vento. Não sei porquê mas desde miúdo que tenho este fascínio pelos elementos. De um ponto de vista académico dir-se-ia que é uma espécie de entronização com o sublime. O sublime é uma espécie de angariação com as forças que são maiores do que nós. Provavelmente é isso.

É a primeira vez que está em Macau e integra as comemorações dos 150 anos do Camilo Pessanha. Como está a ser a experiência?

Estou aqui há pouco tempo mas estou agradado. Até posso dizer que já tenho um projecto doido que tem que ver com Macau. Vou escrever uma peça de teatro acerca das relações difíceis entre o Camilo Pessanha e o seu arqui-inimigo, Silva Mendes. O Camilo pode representar um tipo humano periférico e difícil como a relação do poeta na cidade. O Silva Mendes representa aquilo que tenho encontrado muito. É o português que vive de irreais e que chega aos territórios sempre para tentar fazer réplicas da sua aldeia. Penso que pode dar uma boa comédia e vou tentar ter dois meses para vir cá fazer esta peça.

5 Set 2017

16 anos do jornal Hoje Macau

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]os tempos actuais, a palavra “jornal” começa a ter um sabor arcaico. Face às novas tecnologias, este objecto de papel parece ter perdido grande parte da sua importância e, dizem, cada vez menos pessoas se dão ao trabalho (ou ao prazer) de desfolhar estas páginas impressas.

No “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, ninguém tinha acesso a jornais, muito menos a livros. Apenas o líder tinha acesso a uma biblioteca e é comovente (e perigoso) o efeito num cidadão das obras completas de Shakespeare.

Mais ou menos o mesmo se passa agora: a informação netificada, instantânea, de origem obscura, ultra-efémera, de importância menor, por um lado; e por outro os jornais sobreviventes, enquanto espaço de jornalismo, análise e crítica. Claramente, o Hoje Macau, no dia em que faz 16 anos, assume-se como pertencendo à segunda categoria.

Queremos ser um jornal e não uma fonte anódina de informação em segunda mão.

Queremos reflectir sobre os factos, analisá-los, de modo a abrir ao leitor a possibilidade de pensar neles ou mesmo de os recusar.

Queremos exercer um pensamento crítico no fluxo incessante de notícias e estender essa crítica, sem rodriguinhos, aos que entendem colocar os seus interesses pessoais acima dos interesses colectivos.

Queremos servir Macau e as suas gentes do modo que entendemos mais eficaz, no limite das nossas possibilidades: fazendo um produto digno, capaz de não envergonhar a comunidade que por aqui se exprime em português, seja como primeira ou segunda língua.

É inegável que a língua portuguesa faz parte integrante e fundamental da identidade de Macau, mas cabe-nos a nós garantir a sua importância, a sua permanência e futuro.

E queremos, sobretudo, que o Hoje Macau seja uma referência cultural activa (no sentido lato), na medida em que se assume como bastião da língua portuguesa e das culturas lusófonas.

De algum tempo para cá, este jornal tem dedicado parte significativa das suas páginas a assuntos literários, artísticos e culturais, no sentido de desafiar os nossos leitores a arriscarem os seus passos por caminhos belos e profundos.

Há mais de dez anos que publicamos semanalmente traduções de clássicos chineses, de poesia, de ensaios fundamentais para a compreensão do País do Meio. É um trabalho inovador, arriscado e, como quase sempre, talvez mal compreendido. Mas é esta a via pela qual pretendemos prosseguir.

São 16 anos desiguais que se confundem com a existência da RAEM, também ela perturbada por inúmeros acontecimentos paradoxais e bastas contradições. Mas hoje sentimos estar mais certos do que nunca das nossas capacidades de existir por aqui como um produto singular, único, irrepetível, incopiável, e de mostrar uma outra cidade ao mundo — esta amálgama de culturas, tradições e modernidade que Macau encarna sem pudor nem consciência.

É este, finalmente, o seu encanto e esperamos trazer alguma dessa magia para estas páginas. Sob pena de espelharmos um mundo baço, onde a escolha vacilaria entre a estupidez e o tédio.

5 Set 2017

Candidatos apresentam programas políticos

Novo Macau | Processos legislativos abertos

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Associação do Novo Progresso de Macau (ANPM) quer que os processos legislativos sejam mais rápidos, mas, acima de tudo, mais claros. A ideia foi deixada ontem pelo número um da lista candidata pró-democrata, Solu Sou. “Queremos que todas as reuniões de comissão sejam abertas e que o público tenha acesso”, disse, na conferência de imprensa de apresentação do programa eleitoral.

Paralelamente, o objectivo é permitir aos residentes participar no processo, situação que só pode acontecer com o devido conhecimento. “Queremos garantir um maior compromisso da população na própria concepção das leis”, explicou.

Solu Sou considera que este é um aspecto que já existe em vários países e mesmo em Hong Kong, pelo que também em Macau devem existir reuniões públicas para auscultar as opiniões da população de modo a permitir que sejam incluídas no processo legislativo”, reiterou o candidato.

Por outro lado, a ANPM quer que o Governo seja mais questionado. O meio, apontou Solu Sou, pode ser através de mais debates na Assembleia Legislativa, sendo que, considera, esta é uma forma de colocar em causa o próprio Governo. “Queremos iniciar activamente debates e levantar algumas questões ao Governo. Não é uma coisa muito comum, apesar de já se começarem a ver alguns debates na última legislatura, mas achamos que devem existir mais”, referiu.

Estas duas prioridades têm que ver com uma insatisfação da ANPM com o “conformismo” generalizado dos deputados da Assembleia. “O que temos assistido a nível legislativo em Macau tem sido sempre tudo muito igual. Os legisladores e deputados são pró-governo e sentimos que há relutância em usar mecanismos diferentes para contestar o que está mal”.

Programa com todos

Ao olhar para a proposta de programa da ANPM, não é difícil constatar que tenta abarcar todos os sectores locais. Da habitação, à educação e à saúde, não faltam ideias para o território. A defesa dos animais e a igualdade de género estão ainda contemplados na luta da lista pró-democrata.

De acordo com Solu Sou, o programa foi feito tendo por base três fontes de informação fundamentais.

“A primeira fonte pode ser considerada uma extensão do trabalho que vem do passado da ANPM e tem mantido a consistência ao longo dos anos”, explicou.

Paralelamente, a ANPM tem feito, nos últimos meses, várias reuniões com profissionais representativos de várias indústrias e sectores locais. Dos encontros, surgiram aspectos e necessidades que foram integrados no programa.

Por último, a lista candidata pró-democrata, foi à rua recolher opiniões dos eleitores e usou também os dados que foi recebendo na campanha eleitoral das últimas eleições.

Se no dia do início de campanha, no sábado à meia-noite, Solu Sou mencionou a importância da geração mais nova, ontem na apresentação do programa eleitoral o número um da ANPM reitera que apesar do apelo ao voto dos jovens locais, são uma associação para todos.

“O nosso foco não se concentra só nos jovens, esta é uma faixa da população à qual chegamos mais facilmente através da nossa divulgação online. Mas, na rua, estamos atentos a toda a população e recebemos apoio de várias faixas etárias. O nosso alvo são todos os eleitores”, remata.

Ontem a comitiva de campanha andou pela Horta e Costa e pela Taipa.

Agnes Lam espera obter um assento na Assembleia Legislativa

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]a sessão de apresentação do programa político, ocorrida ontem, Agnes Lam, líder da lista Observatório Cívico, disse ter esperança de obter um assento na Assembleia Legislativa (AL) pela via do sufrágio directo.

No programa político da lista Observatório Cívico não há diferenças notórias em relação aos restantes programas políticos, mas Agnes Lam considera que, no caso da sua equipa, todas as ideias e objectivos baseiam-se em estudos e provas. A candidata disse mesmo que, se houvesse ideias impossíveis de serem alcançadas, não as iria incluir no seu programa político.

Jovens e habitação

A habitação destinada aos jovens é um dos principais pontos do programa político da lista Observatório Cívico. Agnes Lam apontou ontem que, para que seja mais fácil a aquisição de imóveis por parte dos jovens, o Governo poderia recorrer às contribuições feitas para o regime de previdência central não obrigatório. Tudo para que os jovens tivessem dinheiro para pagarem as primeiras prestações dos empréstimos.

A candidata defende ainda o aumento do imposto para quem detém uma segunda habitação sem grande utilização. Agnes Lam prefere rejeitar a ideia “Terras de Macau dedicadas às gentes de Macau”, que tem sido adoptada pelo Governo, preferindo a mensagem “Prédios de Macau dedicados às gentes de Macau”.

A ideia seria levar os promotores imobiliários a disponibilizar partes dos edifícios para a construção de habitação pública.

Ainda na área do imobiliário, Agnes Lam defende a criação de um departamento público que trate e fiscalize as instalações eléctricas dos edifícios, à semelhança do Electrical and Mechanical Services Departament de Hong Kong.

Saúde e património

Apostando na necessidade da reabertura do turismo marítimo, em zonas como a Doca dos Pescadores, Taipa e Lai Chi Vun, Agnes Lam foca ainda a sua atenção na melhoria da qualidade dos serviços de saúde. A candidata acredita que os médicos que trabalham no sector privado não têm motivações para aumentar as suas habilitações.

A lista Observatório Cívico defende também uma melhoria da preservação do património cultural, a preservação das zonas verdes e ainda a criação de planos de apoio a trabalhadoras grávidas.

Na lista constam nomes como o de Cheong Chi Hong, número dois de Agnes Lam e médico. Ng Hio Cheng é o número três e é também médico, tendo defendido ontem que o Executivo não tem políticas suficientes na área da protecção ambiental. Keong Wai Cheng e Choi Chi Wai são o número quatro e cinco, respectivamente.

ACUM de Si Ka Lon quer habitação como prioridade

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] apresentação do programa político da lista encabeçada por Si Ka Lon, A Associação dos Cidadãos Unidos de Macau (ACUM), começou com uma exposição dos problemas actuais vividos pela sociedade local. O número um da lista candidata salientou ontem em particular, os elevados preços da habitação, os problemas relativos ao trânsito e a debilidade de algumas das indústrias locais. O candidato lamenta estas situações e a falta de medidas eficazes por parte do Governo para as resolver.

É com este contexto que Si Ka Lon propõe a criação de um mecanismo que possa “devolver a riqueza aos cidadãos” e em que seja dada resposta às solicitações dos residentes ligadas à habitação, aos serviços de saúde e às garantias de reforma. “Os cidadãos não deveriam de estar preocupados com a primeira prestação na aquisição do imobiliário, com as consultas médicas nem com a vida quando forem idosos”, referiu o candidato.

Função pública mais eficaz

Além dos assuntos sociais, é de salientar que Si Ka Lon considera importante que se aumente a qualidade do funcionamento dos serviços do Governo. Como solução, o número um da ACUM sugere uma melhoria do trabalho da função pública, com a criação de um sistema justo de ascensão na carreira, de responsabilização e de atribuição de benefícios. O objectivo, disse, é “excluir os trabalhadores da função pública que não reúnam os requisitos do Governo e promover a qualidade dos serviços públicos”.

No que respeita aos assuntos ligados à habitação, Si Ka Lon considera que o Governo deve incluir esta matéria nas prioridades. Para o candidato, a solução passa pela construção de habitação pública nos terrenos recuperados pelo Executivo e pela criação de um regime de previdência para habitação não obrigatório. A razão apontou, é apoiar aqueles que pretendem comprar casa pela primeira vez.

O número dois da lista, Kyan Su Lone, apresentou as acções do programa político referentes à saúde. Kyan Su Lone sugere a criação de um seguro para doenças graves para todos os residentes. Na área da educação, o número dois da ACUM quer ver aumentado o número de vagas nas creches do território.

A apresentação do programa feita ontem contou com a presença de Chan Meng Kam. Apesar de estar de saída da Assembleia Legislativa, o ainda deputado fez questão de mostrar o seu apoio à ACUM.

Lei Siu Kun | Melhor acesso à habitação e combate à corrupção

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] lista Ou Mun Kong I, que se apresenta no número 17 do boletim de voto, apresentou ontem o seu programa político. Segundo informação veiculada pelo canal chinês da Rádio Macau, a lista encabeçada por Lei Siu Kun tem na totalidade sete membros. Do programa eleitoral, o cabeça de lista destacou a necessidade de resolver a dificuldade na aquisição de propriedade e o combate à corrupção. Lei Siu Kun quer ainda que seja feito um melhor aproveitamento dos fundos públicos, que seja garantido o direito ao emprego através da aprovação de legislação e que seja feito um controlo de preços no consumidor. O líder da lista Ou Mun Kong I disse ainda que o preço do metro quadrado de um prédio construído em Macau deve rondar as duas mil patacas. Como tal, espera que o Governo possa conceder cerca de 60 terrenos afectos à construção de fracções residenciais vendidas a baixo preço para beneficiar os mais jovens.

NUDM | Em defesa do sector do jogo e habitação

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Nova União para o Desenvolvimento de Macau (NUDM) liderada por Angela Leong aposta, no seu programa político, na defesa do jogo e dos seus funcionários bem como nos jovens e na resolução dos problemas ligados à aquisição de habitação.

A candidata, ligada ao sector do jogo, destaca a importância da implementação de políticas de diversificação económica e de diversificação do próprio jogo, de modo a atrair um turismo global. Para o efeito, o programa da NUDM prevê ainda a luta pela construção de uma marina no território, bem como a aposta numa “cidade verde e inteligente”, sendo que não esquece a intenção de transformar Macau num espaço de qualidade de vida a nível internacional.

Os funcionários do sector representado pela NUDM, têm ainda os seus direitos defendidos, nomeadamente no que respeita à saúde. Angela Leong pretende continuar a lutar pelo melhoramento do sistema de saúde para os trabalhadores do jogo, sem esquecer que o mesmo tem de ser feito em relação ao resto da população.

Habitação jovem

O “Youth Hostel Scheme” é um dos pontos de relevo e que pretende promover a habitação mais acessível aos jovens locais. A ideia é, além de facilitar aos mais novos a aquisição de casa, “promover ainda a criação de espaços e actividades recreativas que mostrem que o território pode ser uma cidade energética”.

Património e patriotismo são também duas das linhas orientadoras da NUDM. O objectivo é “preservar a herança cultural intangível, promover a cultura do jogo e encorajar a integração cultural”, lê-se na apresentação enviada à comunicação social.

Outra das prioridades são o desenvolvimento de políticas dirigidas não só ao ensino para os mais jovens como ao programa de aprendizagem contínua. A transparência política é ainda parte do programa eleitoral da NUDM bem como o apoio a todas as acções que tenham em conta as políticas de “Uma Faixa, Uma Rota” e a “Grande Baía”, de modo a materializar a plataforma entre a China e outros países.

Ho Ion Sang | A tempestade e o serviço social

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ão oito candidatos e Ho Ion Sang surge como número um. Assim é a lista União Promotora para o Progresso, que dá prioridade aos assuntos sociais, sem esquecer as necessidades relacionadas com a habitação, trânsito, terrenos ou serviços de saúdes.

Ho Ion Sang disse ontem que vai exigir ao Governo mais medidas para atenuar as pressões sentidas pelos cidadãos que pertencem à classe média.

Na área empresarial, o líder da União Promotora para o Progresso referiu que deve ser feita uma aposta no desenvolvimento diversificado da economia local como estratégia a longo prazo. Ho Ion Sang entende que o sector do jogo se deve desenvolver em conjunto com as restantes indústrias, para que haja lugar ao fomento das Pequenas e Médias Empresas e negócios mais tradicionais.

Acerca da passagem do tufão Hato, Ho Ion Sang adiantou que faz falta a existência de um mecanismo eficaz na resposta às catástrofes por parte do Executivo. O candidato acrescentou ainda que, caso seja reeleito para um assento na Assembleia Legislativa, irá levar a cabo um papel de fiscalização e chamar a atenção para a responsabilização dos funcionários públicos.

Na área do planeamento urbanístico, Ho Ion Sang lembrou que devem ser reforçados os trabalhos de renovação urbana, tendo prometido continuar a apresentar sugestões sobre o controlo das inundações na zona do Porto Interior.

O programa político da União Promotora para o Progresso foca-se também no aproveitamento adequado dos cofres públicos, na necessidade de melhorar o serviço público e privado de saúde, sem esquecer a criação de um mecanismo de longo prazo para a formação de talentos no território, entre outros pontos.

As queixas da Aliança Pr’a Mudança

[dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]orge Valente, número dois de Melinda Chan na lista Aliança Pr’a Mudança, alertou para a existência de vários entraves impostos pela Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) na realização da campanha eleitoral.

“Sentimos que existem bastantes entraves porque, desta vez, especialmente em termos de publicidade e campanha, há muitas coisas que não estavam bem explicadas e isso apanhou-nos de surpresa”, disse Jorge Valente ao HM.

O candidato referiu ainda que continuam a existir muitas zonas cinzentas na aplicação prática da legislação. “Com tantas sessões de esclarecimento continuam a existir muitas perguntas à CAEAL e eles continuam a precisar de tempo para nos responder porque parece que também não têm uma resposta pronta.”

O número dois de Melinda Chan assegurou que o início da campanha eleitoral “foi bom”. “Temos ido à rua distribuir panfletos e falar nas zonas que nos permitem fazer publicidade. Tem sido boa a resposta. Ontem fomos aos três candeeiros, choveu e não apareceu muita gente. Ainda assim, apareceram responsáveis pelas Pequenas e Médias Empresas que ajudamos durante o tufão Hato”, explicou.

A Aliança Pr’a Mudança apresenta nos próximos dias o seu programa político para as eleições legislativas.

Poderes do Pensamento Político | Mais apoios aos funcionários públicos

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]ntónio Lopes é o número dois da lista Poderes do Pensamento Político e defende, segundo a Rádio Macau, mais medidas e melhores condições para os funcionários públicos. “Mais e melhores condições de habitação para os funcionários públicos vão permitir que façam um melhor trabalho e prestem melhor serviço à população. Salvaguardar as regalias destas pessoas é outro dos nossos objectivos”, disse António Lopes à Rádio Macau no dia em que foi apresentado o programa político da lista que, pela primeira vez, participa nas eleições de 17 de Setembro. O candidato disse ainda que “são necessárias mais vozes na Assembleia Legislativa a favor dos funcionários dos serviços públicos” além dos nomes de José Pereira Coutinho e Leong Veng Chai.

4 Set 2017

CAEAL | José Pedruco Achiam diz não ter feito nada de ilegal

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] campanha começou e já se pode falar. José Pedruco Achiam diz não ter cometido qualquer acção fora da lei ao ter dado a entrevista ao jornal Plataforma que veio a ser retirada da edição online. Paulo Rego, director do semanário, criticou a decisão da CAEAL considerando que se trata de censura

O candidato às eleições legislativas de Macau, José Pedruco Achiam, que viu a sua entrevista ao semanário Plataforma ser apagada por ordem da comissão eleitoral, garantiu que a sua lista não fez “nada de ilegal”.

“Não sei porque é que aconteceu (…) Muitos leitores podem também ter a mesma [dúvida]. Não fizemos nada ilegal por isso tenho a certeza de que o nosso advogado vai lidar bem com o caso”, disse, à margem de uma conferência de imprensa para apresentar a plataforma política da já deputada Angela Leong, no dia em que começa o período de campanha.

José Pedruco Achiam ocupa o lugar número 12 (o último) na lista Nova União para o Desenvolvimento de Macau, liderada pela quarta mulher do magnata do jogo Stanley Ho.

O candidato não quis tecer comentários sobre o caso, frisando apenas que não prevê consequências negativas para a lista: “A nossa equipa está sempre confiante de que tudo o que fazemos é legal e esperamos conseguir os melhores resultados que merecemos”.

Questionado sobre se já foi contactado pela polícia, José Pedruco Achiam disse ter sido “por isso” que o advogado “tomou conta do caso”.

No passado dia 18, o macaense deu uma entrevista ao semanário bilingue (português-chinês) Plataforma Macau, em que falou sobre quais considerava serem as possibilidades de ser eleito – “mínimas” –, as preocupações em relação à cidade e os temas fortes da futura campanha, prometendo “centrar-se nos jovens e nos macaenses, para que tenham uma voz mais forte na Assembleia Legislativa e na sociedade”.

Na altura, tinham já sido afixadas as listas definitivas, mas não iniciado o período de campanha, e por isso a comissão considerou que o conteúdo constituía propaganda eleitoral, não autorizada até duas semanas antes das eleições legislativas, marcadas para 17 de Setembro.

A entrevista saiu em papel, mas após a ordem da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) foi retirada da Internet.

Na quarta-feira, o presidente da CAEAL, o juiz Tong Hio Fong, explicou que a publicação da entrevista em causa não tem consequências para a lista, mas sim para José Pedruco Achiam: “Relativamente a esse candidato, mandámos para a PSP para tratamento subsequente. É um acto pessoal, é responsabilidade da pessoa. Pode sofrer uma pena de multa de duas mil a 10 mil patacas”.

Perversa confusão

Na sexta-feira, o director do Plataforma Macau, Paulo Rego, escreveu um editorial em que acusa o presidente da CAEAL de uma “perversa confusão entre jornalismo e propaganda”

“Tong Hio Fong acha que, em vésperas de eleições, os políticos não devem falar aos jornais; se o fizerem que falem de futebol e do tempo”, criticou, considerando que “assim se atropela alegremente a Lei Básica, a Lei de Imprensa e o Segundo Sistema”.

“Na China chama-se censura. Assumidamente, sem medo nem pruridos, por ser esse o regime que lá vigora. Aqui mascara-se a coisa com uma falsa higiene pública e de uma moral política que não cabe no espaço, no tempo e no regime que vivemos”, afirmou o director do Plataforma, que apagou a entrevista da sua página na Internet “para sinalizar o respeito pela lei, pelas instituições e por Macau”, mas prometeu lutar “contra uma decisão que não tem suporte legal.

A ordem de retirada da entrevista levou a Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM) a emitir, na segunda-feira, um comunicado no qual repudiou a decisão, que classificou como “incompreensível”.

“A AIPIM repudia esta situação, considerando incompreensível que um conteúdo jornalístico, neste caso uma entrevista, seja equiparado a propaganda. (…) A AIPIM considera que é fundamental que em todas as ocasiões e períodos, inclusive antes do início da campanha eleitoral, o exercício da liberdade de imprensa e o direito à informação sejam integralmente respeitados, incluindo a realização de entrevistas e cobertura noticiosa de acções envolvendo candidatos”, afirmou o comunicado.

4 Set 2017

Hato | Quase 30 por cento do território inundado

O director das Obras Públicas disse que 29 por cento do território ficou inundado com a passagem do tufão Hato. Governo tem em cima da mesa três planos para travar as águas, mas avisa que, com tempestades mais fortes, a população poderá ter de ser evacuada

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s medidas de protecção contra cheias de Macau “não resultaram” e durante o tufão Hato, o mais forte em 53 anos, 29 por cento da área da cidade ficou inundada, disse o director dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), Li Canfeng.

Apesar de Macau ter avançado com algumas obras em 2014 para evitar inundações na zona baixa do Porto Interior, e terem sido colocadas placas ou portas de protecção, “o resultado foi muito fraco e, de acordo com o nível da maré no tufão Hato, 29 por cento da área de Macau foi inundada”, explicou o responsável.

Os dados ainda não são finais, já que algumas estações de medição avariaram, mas estima-se que as águas tenham subido até aos 5,5 metros no Porto Interior.

“As obras que fizemos não resultaram nada. Temos de acelerar as obras para travar a maré”, afirmou Li.

Até porque, comentou, durante o Hato, que atingiu a cidade no dia 23, “não houve grande precipitação (…) Se houver, como é que é?”, questionou durante uma conferência de imprensa.

Macau tem actualmente uma barreira com cerca de quatro metros ao longo do Porto Interior, mas também este “dique não foi suficiente”, disse o responsável.

A directora dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água (DSAMA), Susana Wong, veio reforçar a ideia: “Com o Hato, o ‘storm surge’ [subida no nível das águas] atingiu 5,5 metros, não era possível evitar inundações na zona”.

Soluções na mesa

Para combater esta situação o Governo equaciona três soluções, uma a curto prazo, duas a longo.

O primeiro plano, que já estava em estudo antes da passagem do tufão, prende-se com a instalação de uma bomba de escoamento de águas pluviais, pensada para o local da ‘Ponte 23’, um dos vários cais do Porto Interior, estruturas que remontam ao tempo da administração portuguesa.

Devido ao valor histórico do imóvel, o Instituto Cultural (IC) emitiu um parecer que, apesar de não se opor à construção da bomba, insta à preservação do cais, nomeadamente através da deslocação para outro local.

No entanto, o porta-voz do Governo, Victor Chan, disse que está em causa “uma questão de equilíbrio entre a demolição de património e o interesse público”.

O IC, informou, irá “repensar a posição sobre a demolição da ‘Ponte Cais 23’ e emitir um novo parecer, tendo em conta o interesse público”.

Evacuação é hipótese

Segundo o vice-presidente do conselho de administração do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), Lo Chi Kin, esta bomba de drenagem iria permitir escoar 14.550 litros de água por segundo, enquanto que sem ela só é possível escoar cerca de oito mil litros. No entanto, o mecanismo não funciona quando o nível das águas subir acima dos diques.

Lo explicou ainda que o ‘Cais 23’ é o local mais indicado por não ter movimento, ao contrário dos outros portos, com frequente passagem de barcos. “A bomba para escoamento de água pode causar instabilidade e perigo para as embarcações”, disse.

Em termos de planos de grande envergadura, o Governo estuda a construção de uma barragem e o aumento do dique em torno do porto.

A primeira obra “evitaria a entrada da maré e inundações”, mas implica cooperação com regiões vizinhas, já que a comporta ficaria entre Macau e a cidade vizinha de Zhuhai.

O projecto está ainda em estudo, mas o Governo espera poder começar a obra em 2019.

Quanto ao dique, tem a vantagem de ser uma questão “interna”, mas pode “afectar o canal de navegação, transporte de mercadorias, actividades comerciais da zona, a cultura histórica e a paisagem naquela zona”, alertou Li.

A ideia é aumentar o muro já existente, de cerca de quatro metros, de modo a ter entre seis e sete metros, o que poderia, por exemplo, bloquear a vista de rio.

Apesar de todos estes planos, o porta-voz do Governo admite que Macau pode não vir a ter estruturas suficientes para uma tempestade particularmente forte. Nesse caso, terá um último recurso: a evacuação.

“Devido às alterações climáticas, este tipo de tempestade radical pode acontecer mais vezes. Caso tudo esteja fora do controlo e não possamos responder, retiramos a população”, disse.

Chui Sai On em Guangdong

O Chefe do Executivo, Chui Sai On, deverá deslocar-se “muito brevemente” à província de Guangdong “para se encontrar com altos quadros para debater pormenores sobre questões ligadas aos problemas das inundações no Porto Interior”. Segundo um comunicado oficial, o Executivo, já em 2013, numa visita a Pequim, “teve encontros com responsáveis de diferentes departamentos a nível ministerial do Governo Central, fazendo uma abordagem exaustiva sobre a matéria, com o objectivo de alcançar uma solução viável” para a zona do Porto Interior.

4 Set 2017

Entrevista | António de Castro Caeiro, “Tudo quanto exista implica tempo”

António de Castro Caeiro fez parte da histórica banda punk, Mata-Ratos, até mergulhar a fundo na filosofia. Actualmente divide-se entre a crónica, a tradução de clássicos gregos e a divulgação filosófica. Está em Macau e dá hoje uma conferência no Antigo Tribunal, pelas 19h30, no âmbito da celebração dos 150 anos de Camilo Pessanha

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]ez parte de uma das bandas que mais marcou o panorama do punk nacional, os Mata-Ratos. Como se faz a passagem para a filosofia?
Na verdade, formalmente, não é uma transição difícil porque o “label” dos Sex Pistols era “no future”. Portanto, a expressão do punk mais barulhento dava conta disso na primeira juventude. Eu vou para filosofia aos 17 anos. Essa era outra forma de expressão erudita, mais complexa e não tão barulhenta, mas que também tem no sentido final essa ideia do ser no encaminhamento da morte. No fundo, toda a arte, poesia, filosofia, pintura, arquitectura tem, em certa medida, a ver com a nossa vivência na Terra, com a complexa compreensão de que ficamos para morrer, que não estamos aqui para sempre.

Tem escrito bastante sobre o tempo. É um tema que o tem perturbado, para o qual tem procurado resolução?
Comecei por abordar a filosofia de um ponto de vista analítico. Isto porque eu estive para estudar engenharia, portanto, a forma lógica esteve sempre nos meus horizontes. A partir de determinada altura, digamos assim, a lógica é sem tempo, é repetível em qualquer circunstância, em qualquer sítio do mundo. Isso contrasta e relativiza com a situação concreta de cada indivíduo na família, na nação, num estado de alma, num determinado contexto ou ambiente. Cedo comecei a estudar grego e latim e, a partir daí, li os filósofos alemães. Inclusivamente vivi alguns anos na Alemanha e li o grande livro de Heidegger “Ser e Tempo” e o “Tempo e Ser”. Tudo aquilo quanto existe implica tempo. É por isso, por exemplo, que pomos a mesa e que depois de comermos recolhemos a mesa, lavamos a louça, enxugamo-la e arrumamo-la para o dia seguinte. Tudo quanto nós usamos implica essa ideia de uma utilização, num determinado momento, de uma forma eficaz, com a expectativa que temos. Tenho 50 anos, uma idade em que acompanhamos o envelhecimento da mãe, do pai, ou dos avós e em que perdemos pessoas, nós próprios envelhecemos e percebemos que as circunstâncias não mudam apenas adjectivamente, mas substantivamente com o tempo. Portanto, ser, viver, estar na realidade não é uma coisa para sempre mas é uma coisa que está continuamente a deixar de ser. Esse é o objecto de estudo, o grande operador ontológico da filosofia.

Apesar da intensidade de trabalho que a vida académica implica e dos projectos em que está envolvido, ainda tem tempo para escrever. Está algum livro na forja?

Sempre, vários livros. Traduzi os fragmentos perdidos dos livros de Aristóteles há sete anos e agora vão ser publicados pela Abismo do João Paulo Cotrim as constituições perdidas de Aristóteles. Depois segue-se a publicação de textos sobre estética e, finalmente, textos científicos. À parte disso, estou a escrever semanalmente para o Hoje Macau. Vou alargar a minha colaboração com o jornal, tenho estado a traduzir o poeta austríaco Georg Trakl e estou a planear sair um poema por semana, bilingue, em alemão e português. Por outro lado, vamos ter uma coluna a quatro mãos com o João Paulo Cotrim que abordará temas ad hoc. Cada um escolherá o seu texto que passará pelas mãos do grande editor, grande poeta e ensaísta, João Paulo Cotrim e por mim, que sou um novato nestas coisas. Isto é algo que vou gostar muito de fazer. Dito isto, para além das cerca de dez conferências por ano que dou sobre temas academicamente complexos, sobre a linguística grega e o pensamento antigo, o meu objectivo é sempre explorar a filosofia a partir dos exemplos que tenho das aulas. Quem quer que seja que se interesse por um problema filosófico sem ter a sua certidão de nascimento na filosofia, num autor ou num texto, tem de conseguir perceber do que é que se trata. O que se trata é a relação connosco, a relação com os outros, com o mundo, a relação com o tempo. Como é que, em Lisboa, uma manhã de Primavera é completamente diferente de uma tarde de Verão em Agosto. Como, por exemplo, a Clepsidra que é uma descrição do tempo a escoar enquanto nós estamos lá no meio daquela bola que se vai indo. Isso para mim é o objectivo, não é uma questão de tornar simples, mas que as pessoas possam aproximar-se dos problemas da filosofia sem a carga e o peso da técnica académica. Essa é uma pretensão minha e, eventualmente, uma arrogância.

Como é a concretização semanal de escrever um artigo para um jornal?

Esta é a minha segunda experiência a escrever num jornal. Durante nove meses, como a gestação de um bebé, tive no Expresso online um blog que era “O modo e o tempo”. Quando o Carlos Morais José me convidou disse-lhe que queria fazer uma coisa sobre moods, tonalidades, que tivesse a ver com qualquer coisa que nos aconteceu durante a semana. Estou tão cioso destes meus textos que saem no Hoje Macau que, às vezes, por qualquer motivo, elas só saem à segunda-feira. Então, o Carlos leva com os meus emails, cheguei mesmo a dizer-lhe que esta era a única coisa boa que me está a acontecer e, portanto, fico contente por ver o artigo online e por o poder partilhar no Facebook. Muitas pessoas lêem e partilham e eu fico muito feliz por isso, por estar no sudoeste de Portugal a pensar no sudoeste asiático.

Como surgiu a possibilidade de trazer a filosofia para um programa de televisão na RTP2?
Fui entrevistado duas ou três vezes na televisão. Este projecto resulta de uma conversa com o Nuno Artur Silva [administrador da RTP da área dos conteúdos de ficção]. Disse-lhe que queria ter um programa de filosofia justamente para fazer uma aproximação, que já se fez na ficção e na poesia, mas que nunca se fez na filosofia em Portugal. Há programas na Alemanha como o “Quarteto Filosófico”, na BBC há grandes entrevistas com grandes filósofos e o Nuno Artur Silva não me disse logo que não. Meses mais tarde disse-me: “Olha, o Público está a editar quinze livros de catorze autores, entre os quais Confúcio, porque é não começas por aqui? Em seguida abrir-se-ão portas”. Assim foi. Vamos ter treze programas de 30 minutos com o João Paulo Cotrim, o Luís Gouveia Monteiro, eu e alguns convidados. Depois a Teresa Paixão disse-me que tinha de apresentar em dois ou três minutos uma nota biográfica e uma nota bibliográfica.

A filosofia compagina-se com uma mensagem tão sucinta?
Sim. O Wittgenstein dizia que o que pode ser dito tem de ser dito claramente. Há pessoas que escrevem milhares de páginas e que falam muito, outras que não dizem nada nessas milhares de páginas. O Heidegger dizia que uma frase de Heráclito valia mais do que a inteira Biblioteca de Alexandria. Foi um exercício de compilação e, ao mesmo tempo, não de contracção mas de expansão. Foi interessante também por esse lado. Eu dou aulas de duas horas, os mestrados são de três horas, mas já dei aulas de quatro horas. É completamente diferente quando temos de pensar que não há reformulação possível. Diz-se uma nota bibliográfica e uma nota biográfica e espera-se que a pessoa não tenha tempo para fazer zapping e fazer-me desaparecer do ecrã.

4 Set 2017

Celebração dos 150 anos de Camilo Pessanha aviva uma memória adormecida

Depois de um século e meio do nascimento de Camilo Pessanha, Macau recebe uma série de eventos para assinalar a data do maior poeta em língua portuguesa do território. Após um longo período de relativo esquecimento, o autor volta a ser comemorado com uma série de eventos entre 1 e 7 de Setembro no Antigo Tribunal

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]omeça hoje uma semana dedicada ao mais alto vulto da literatura em Macau com poesia, conferências, livros e exposições no Antigo Tribunal.

“O Pessanha faz parte da identidade de Macau, não é apenas um vulto na literatura portuguesa, mas é um autor que tem muito a ver com Macau”. Quem o diz é Miguel de Senna Fernandes. O advogado, assim como muitos dos leitores do poeta, reconhece a universalidade de Camilo Pessanha mas destaca as influências que a cidade teve na obra do autor.

O escritor é um vulto omnipresente no imaginário literário de Macau, assim como a cidade onde escolheu viver é uma referência incontornável na sua obra.

“Tirando o facto de ser um grande poeta português, que escolheu Macau como sítio para viver, a sua obra reflecte as influências do tempo que aqui esteve”, refere Amélia António. A presidente da Casa de Portugal acrescenta que o poeta “é património de Macau, da língua portuguesa e conjuga-se na sua pessoa todas estas facetas que espelham a presença cultural portuguesa em Macau”.

A advogada enaltece a série de eventos que se iniciam hoje, “um tipo de trabalho que tem faltado em Macau”, apesar das esporádicas traduções que se vão fazendo da obra do poeta.

Amélia António destaca que não foi feito um trabalho sistemático de divulgação e estudo, ao longo dos anos, de forma a manter a memória e a obra de Camilo Pessanha presente em Macau. No entanto, destaca que esta falta de preservação não é exclusiva da RAEM, é uma negligência que vem de trás e que, além disso é recíproca. “A maioria dos portugueses também ignora a literatura e a poesia chinesa, nomeadamente a que é produzida em Macau. As traduções não abundam e também muita da literatura em chinês já não se foca em Macau”, explica a presidente da Casa de Portugal. Amélia António entende que a literatura é uma forma de ligar comunidades, um instrumento que permite aprofundar conhecimentos e apreciações mútuas.

Esquecimento centenário

Durante os últimos tempos a comunidade macaense tem-se afastado da cultura e língua portuguesa, com muitos jovens a preferirem aprender mandarim. “A comunidade macaense anda muito dispersa e um pouco desligada na sua relação com a cultura de Portugal, anda um pouco desfasada”, revela Miguel de Senna Fernandes.

É algo que escapa ao entendimento do presidente da Associação dos Macaenses e que lamenta uma vez que entende que “Camilo Pessanha é um dos nossos poetas, faz parte do património cultural de Macau”.

Amélia António alarga este esquecimento a um espectro mais global no território. “Acho que a memória de Camilo Pessanha não é nem bem, nem mal, tratada por cá. Simplesmente não tem sido tratada, não tem sido devidamente valorizada”, comenta. A presidente da Casa de Portugal entende que, como grande poeta local que foi, “Macau devia honrá-lo e devia ser feito tudo para tornar a sua obra mais conhecida”.

Outra das lacunas em termos de valorização e difusão encontra-se entre a comunidade chinesa, que tem pouco contacto com a obra do poeta.

“No fundo, Macau tem não tem dado atenção aos aspectos culturais. Não é uma doença nova, sem ela, certamente, hoje existiria um número diferente de pessoas com conhecimento de literatura, a apreciar, a dar valor e a defender esse património”, considera Amélia António.

Antes de recriminar quem quer que seja, temos de nos recriminar a nós próprios por aquilo que não se fez ao longo destes séculos.

Miguel de Senna Fernandes recorda o momento em que se debateu a possível trasladação dos restos mortais de Camilo Pessanha para Portugal e a forma como o Instituto Cultural se opôs. Mas acrescenta que se poderia fazer muito mais. Neste aspecto, é de salientar que a própria campa do poeta não tem qualquer destaque no cemitério onde está sepultado.

Até hoje, a memória e obra de Camilo Pessanha tem ficado encerrada num pequeno ciclo intelectual. “Só o interesse de um estudioso, ou de um apaixonado, pela literatura, origina uma tradução, ou algo do género. É preciso contornar esta circunstância e dar conhecimento da sua obra ao maior número de pessoas possível”, projecta Amélia António.

 

“Uma cidade de cultura”

Fazemos frequentemente apelo à importância e ao conhecimento da História como discurso que, ao representar a realidade de determinados tempos e espaços, nos apoia na construção de uma memória como Povo e como Comunidade em relação permanente com outras comunidades. Num outro registo, não é menos significativo ou importante o conhecimento da Literatura, igualmente como discurso produzido no tempo e no espaço, que nos interpela, nos projecta e nos convoca para a reflexão e para a fruição. De ambos os discursos se faz a cultura de um povo.

A grande relevância das comemorações dos 150 anos sobre o nascimento de Camilo Pessanha que, em boa hora, sob o impulso de Carlos Morais José, um conjunto de pessoas e instituições – entre as quais este Consulado-Geral – tornou realidade aqui em Macau, associa-se a estes dois aspectos.

Não se trata apenas de trazer para os dias de hoje a obra de um poeta português que constitui uma referência na sua geração e no seu tempo e de eventualmente reflectir sobre como, sendo intemporal, se poderá fomentar a sua divulgação e o seu maior conhecimento. Trata-se, também, de evocar um tempo na história de Macau e de a afirmar também como uma cidade de cultura, no passado como no presente.

Expresso, por isso, a minha satisfação por estas comemorações e faço votos para que estes dois propósitos possam delas sair reforçados.

Vítor Sereno, cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong
1 Set 2017

Tufão Hato | No Myfair Garden ninguém sabe quando vai ter água

O Myfair Garden, na Barra, é um dos cinco edifícios que continua a não ter acesso a água canalizada, por culpa dos estragos nas tubagens. A associação de condóminos reuniu ontem para tentar chegar a uma solução, mas a água só deverá chegar daqui a duas semanas

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o número 31 da rua Francisco António continua a não existir água quando se abrem as torneiras. Não fosse o regresso da electricidade, depois de um apagão que afectou toda a gente, seria ainda mais difícil transportar baldes de água pelas escadas, num prédio com 15 andares.

O Myfair Garden, localizado na zona da Barra, ainda não tem água canalizada, mas a culpa não é da Macau Water.

À semelhança de outros quatro edifícios no território, este prédio residencial ficou com as tubagens avariadas graças à passagem do tufão Hato e não há uma data concreta para o regresso da água potável. O HM falou com moradores no local e todos dizem que nas próximas duas semanas o problema será resolvido, mas ainda nada é certo.

Para irem buscar este bem essencial, todos os dias os moradores vêem-se obrigados a subir e a descer constantemente. Não há filas, mas junto aos pequenos tanques que fornecem água de forma provisória está sempre alguém de balde na mão.

Ieong é um deles. Os pais são membros da União dos Proprietários do Edifício Mayfair Court e, segundo ele, as concessionárias já deram todo o apoio na reparação das infra-estruturas. O abastecimento de água já deveria, portanto, ter voltado, mas as tubagens dos andares mais altos ficaram danificadas.

A união de proprietários já se reuniu para resolver a situação, estando neste momento à espera do apoio financeiro do Governo. As discussões entre condomínios prosseguem e não há ainda uma data para que a água regresse.

“A ideia é que todos os moradores dêem uma parte do dinheiro necessário, porque todos nós queremos ter água em casa o mais depressa possível”, adiantou.

Ontem à noite houve nova reunião, mas o consenso ainda não terá chegado.

A contar o tempo

Mário, italiano e idoso, é outro dos moradores do Myfair Garden que foi afectado pela passagem do tufão Hato.

“Ouvi dizer que a falta de água vai continuar nas próximas duas semanas, mas espero que demore menos tempo”, defendeu ao HM.

Leong, outra moradora, desloca-se para ir buscar água e conta que, apesar da inconveniência que a falta de água trouxe ao seu dia-a-dia, agradece a solidariedade de todos os condóminos e administradores do prédio.

Jojo também ouviu dizer que daqui a duas semanas poderá ter água para necessidades tão básicas como tomar banho ou lavar a roupa, esperando uma solução para breve.

O Myfair Garden está localizado numa das zonas mais afectadas pelo tufão. Contudo, a falta de água é o único problema que persiste depois de dias em que a luz faltou em todo o lado e o lixo se acumulou em vários locais.

Há dias, em conferência de imprensa, Susana Wong, directora dos Serviços dos Assuntos Marítimos e da Água (DSAMA), alertou para a existência de cinco prédios sem água, tendo sido prometida a cedência de apoio técnico. No caso dos prédios que utilizam a água de tanques já existentes no prédio, foi aconselhado a que esta seja fervida antes de ser consumida, pelo facto de não estar ligada à rede pública de abastecimento.

1 Set 2017

Camilo Pessanha, 150 anos | Antønio Falcão apresenta “Kleptokronos” e “Morri”, um livro de crónicas

“Se existir um deus, é o tempo”

Antønio Falcão é Ring Joid, mas podia ser outro qualquer. De regresso a Macau é também Pessanha e os muitos que vão habitando dentro de si. Está no território com a exposição “Kleptokronos”, que é inaugurada hoje e para apresentar o livro “Morri”, amanhã. É um dos artistas que integra as comemorações dos 150 anos de Camilo Pessanha do Edifício do Antigo Tribunal e vem mostrar a sua concepção de tempo

[dropcap]O[/dropcap] que é que vamos ter em “Kleptokronos”?
Quando recebi o convite comecei a pensar no que fazer. Não queria ir buscar imagens que já tinha nem recorrer a paisagens de Macau. Acabei por ter esta ideia, de jogar com o tempo da própria fotografia e tentar, trazer com a técnica, o tempo do Camilo Pessanha. “Kleptokronos” que dizer ladrão do tempo. Uso a técnica da fotografia em que a luz constrói a imagem durante o tempo necessário até ter uma imagem possível. A maioria das fotografias aqui presentes são feitas com várias exposições, e muitas delas, longas.

O próprio processo incorporou o conceito de tempo?
Sim. A exposição longa traz o tempo para trás e, tecnicamente, é um método em que o tempo se demora pela fotografia adentro.

Como é que isto se materializa na exposição?
A minha ideia era pegar neste tempo que se comemora do Camilo Pessanha e juntá-lo ao que também se passa agora, à contemporaneidade. Por exemplo, com a questão dos refugiados. Também se lançam ao mar e muitos acabam por naufragar.

Faz um paralelo com as situações da actualidade?
Sim, tenho uma imagem referente aos fogos que têm passado por Portugal e que se pode relacionar com o poema “Vida” do Pessanha. Fala disso, do lumaréu, de tudo a arder e das flores que deixam de existir. O arder, mais uma vez, também é referente à luz fotográfica que queima. Não foi pegar no poema e fazer uma imagem que se parecesse. Foi outra coisa.

Tem alguns auto-retratos.
Os auto-retratos têm que ver com outro processo. É um reencarnar-me como uma espécie de Camilo Pessanha de agora no sentido do delírio, da fuga, da própria erosão da pessoa que está fora, num sítio que não é dela mas que acaba por lhe pertencer. Isto passa também pela minha experiência por Macau. O que vivi e não vivi aqui. A ideia é tentar ser uma personagem, mais do que alguém que escreve ou que fotografa. É criar este embrulho para que tudo o que estou aqui a apresentar faça um certo sentido para que saia da realidade e traga outros elementos.

Vamos ter uma mistura de Camilo com Ring Joid, uma outra personagem sua?
Um pouco por aí. Mas sem rigor nenhum. O Ring Joid – e não interessa o nome porque foi quase aleatório – é o ideal de mim que não consigo representar na vida real. E por isso mantenho-o vivo artificialmente como complemento de uma vida com limites. Ele sou eu à solta.

Vai também lançar o livro “Morri”. Porquê o título?
Tem tudo que ver com a questão do tempo. Se existir um deus, é o tempo. É a única omnipresença que existe no mundo e da qual todos fazemos parte. “Morri” foi o título que me apareceu. Comecei a escrever, para o Hoje Macau, em 2004, numa altura da minha vida em que quase tinha uma necessidade da escrita para que pudesse continuar a viver ou a ficar perto do chão. Escrevia com outro nome, o de Ring Joid. Acabei por inventar essa personagem. Há sempre duas coisas a viver dentro de mim. É como se andasse com uma companhia. Um puxa para o desvio, para ir por outros caminhos mais longos e mais difíceis. Depois há as histórias ao longo do livro que têm esse carácter da morte. Aliás, o livro acaba com um pequeno texto em que sou eu dentro de um avião a cair, e relato os últimos momentos antes da sua queda. A morte. O livro têm alguns textos actuais também em que, mais uma vez, está presente o tempo. A introdução, em que relato uma situação de quando tinha três anos, representa tudo o que se passa agora. É uma situação biográfica em que tudo o que nós vivemos já vimos acontecer. É como se vivêssemos numa dimensão em que tudo está mais ou menos programado e que já vimos isso mas que não conseguimos perceber e agora, como o tempo se estendeu, tudo se descodificou. “Morri” fala também da história contemporânea de Macau. Os portugueses, as despedidas, as passagens, mas muitas vezes uma história idealizada. Por exemplo, os governadores que eram seres de uma dinastia superior, que passavam por um processo de estudo do oriente, da língua, da filosofia e quando chegavam integravam-se na vida do “outro” e eram admirados por toda a população. Eram textos escritos para um jornal na pressão semanal do fecho. Experiências de temas e de métodos de escrita. Coisas que via, cinema, música, noites. Sempre com o meu outro ser a testar as minhas capacidades, se conseguia realmente escrever alguma coisa. Uma escrita que parte de um trauma que se vai cosendo ao longo dos tempos. Vivemos num mundo isolado dentro deste território e era preciso soltar-me. E na escrita tudo é possível. Tudo existe. Não há freio.

E a fotografia? Qual a sua relação com ela agora?
A fotografia só funciona se de algum modo participar nela. Não pode ser apenas uma composição visual de elementos exteriores. Isso é uma espécie de malabarismo, tem de estar tudo no lugar para que as bolas não te caiam na cabeça. Eu fico à espera que elas caiam. E depois logo se vê.

O que acha das comemorações dos 150 anos do Pessanha e da sua representatividade para Macau?
O Camilo Pessanha é um dos poetas mais válidos da literatura portuguesa e também dos mais esquecidos. Já Fernando Pessoa o admirava mas depois houve este tempo todo em que parece que esteve adormecido. Em Macau, penso que nunca foi devidamente reconhecido e por isso é importante tanto a obra como a sua figura e a sua passagem pelo território. É preciso que resista para que as pessoas possam, algumas continuar a relembrar o homem e outras o puderem conhecer.

Viveu aqui 17 anos e está de regresso. Como está a viver a visita?
Não tenho bem a noção do tempo, quando olho para trás, passaram 17 anos em Macau, passaram seis desde que fui para Portugal. Está tudo compresso na cortina do engenho que capta imagens para dentro do nosso cérebro. Fui embora em 2011 e sempre que volto sinto como se me tivesse ido embora na semana passada. É sempre um sentir-me em casa. É bom e mau mas como estou sempre de partida, e não venho de armas e bagagens para ficar, também não desespero. É a sensação de estar num sítio inóspito.

Macau é inóspito?
Sim. O mundo é inóspito.

1 Set 2017

Angola | João Lourenço quer reformas ao estilo Deng Xiaoping

Os resultados ainda não são oficiais mas os números apontam para a uma maioria do MPLA. João Lourenço já se prepara para suceder a José Eduardo dos Santos e adianta que vai seguir uma política de reformas semelhantes às de Deng Xiaoping

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] general João Lourenço, que segundo os resultados provisórios da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) será o próximo Presidente de Angola, sucedendo a 38 anos de liderança de José Eduardo dos Santos, promete ser reformador, ao estilo Deng Xiaoping.

Numa entrevista concedida em Madrid, para onde viajou logo após as eleições gerais angolanas de 23 de agosto, João Lourenço rejeitou a classificação que lhe tem sido colocada, de “Gorbachev angolano”, por suceder à prolongada liderança de José Eduardo dos Santos.

“Reformador? Vamos trabalhar para isso, mas certamente não Gorbachev, Deng Xiaoping, sim”, afirmou João Lourenço, militar formado na União Soviética e que agora se prepara para ascender ao poder em Angola, questionado na capital espanhola pela agência EFE.

Deng Xiaoping foi secretário-geral do Partido Comunista Chinês e líder político da República Popular da China entre 1978 e 1992, tendo criado o designado socialismo de mercado, regime vigente na China moderna e que posteriormente foi adaptado pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) para aquele país.

Mudança de cara

No partido, João Lourenço mantém-se como vice-presidente, cabendo a liderança a José Eduardo dos Santos, que pode continuar a ditar a política no país.

“Está claro que o MPLA vai influenciar as políticas do Governo porque é o partido mais votado, tem 61% dos votos, não é justo pensar que o MPLA não vai conduzir as políticas do novo Governo. Então quem seria? O partido menos votado? Sem dúvida que o novo Governo vai seguir o ideal do MPLA porque é o partido em que o povo confiou”, afirmou Lourenço.

Tal como na campanha eleitoral, João Lourenço relativiza a convivência com José Eduardo dos Santos como presidente do MPLA: “O Presidente Dos Santos é uma personalidade muito respeitada, tanto dentro do partido como por um conjunto da sociedade e não é anormal que o presidente do partido no poder não seja ele próprio o Presidente da República. Apenas para citar um caso, Donald Trump é o Presidente dos Estados Unidos mas não do Partido Republicano”, afirmou.

Diversificações

“Diversificar a economia é fundamental e indispensável para sobreviver, é imprescindível abrir a nossa economia e esquecermos um pouco o petróleo. O nosso país, Angola, pode sobreviver, tem mais recursos além do petróleo”, afirmou João Lourenço.

Desde logo, garante que serão criados incentivos à agro-indústria em Angola, para potenciar as vastas terras aráveis e água disponíveis, afirmando que o país pode vir a ser “uma grande potência agrícola, do tipo do Brasil”.

A privatização de empresas públicas que não sejam lucrativas e representem um “peso morto para o Estado” mantém-se como prioridade de João Lourenço: “Quais? Não posso dizer, isso é o que vamos estudar, caso a caso, e será feito pelo novo executivo”.

Na mesma entrevista, João Lourenço assume o objectivo de “preservar e usar” as “conquistas” dos antecessores, Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos, ambos do MPLA.

“Vou usar as nossas conquistas, a independência, a soberania, a paz, a reconciliação, e concentrar-me no desenvolvimento da economia. Angola tem recursos enormes e as condições necessárias para criar um ambiente de negócios que incentiva os investidores a virem para o nosso país”, concluiu.

Resultados satisfatórios

O candidato do MPLA às eleições gerais angolanas, que segundo os resultados provisórios da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) será o novo Presidente de Angola, considera que os resultados eleitorais “foram bons”, apesar da quebra da votação.

Os dados provisórios divulgados pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE) angolana apontam o MPLA como vencedor das eleições gerais, com 61% dos votos, e a eleição de João Lourenço como novo Presidente da República, sucedendo a 38 anos de liderança de José Eduardo dos Santos.

O MPLA perdeu 25 deputados na Assembleia Nacional angolana nas eleições gerais de quarta-feira, de acordo com os dados provisórios anunciados pela CNE – que são contestados pela oposição, com ameaça de impugnação -, quando estão escrutinados 9.221.963 votos (98,98% do total).

O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) lidera a contagem nacional, com 4.115.302 votos (61,05%), o que corresponde a 150 deputados (maioria qualificada) e à eleição de João Lourenço para Presidente da República.

Nas eleições gerais de 2012, a última às quais concorreu como cabeça-de-lista do MPLA José Eduardo dos Santos, Presidente da República desde 1979, que decorreram nos mesmos moldes, o MPLA arrecadou 4.135.503 votos, equivalente a 71,80% da votação e 175 deputados, o que na altura já representou menos 16 mandatos.

No plano oposto, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), liderada por Isaías Samakuva, sobe para 1.800.860 votos e 26,72% do total, com 51 deputados, quando nas eleições gerais de 2012 conquistou 1.074.565 votos (18,7% do total) e 32 deputados à Assembleia Nacional.

Os resultados oficiais só serão divulgados depois de 6 de Setembro.

 

Partidos da oposição não aceitam resultados

Com a vitória anunciada de João Lourenço nas eleições gerais de Angola, os dois principais partidos da oposião não se conformam.

A UNITA afirmou que apenas três comissões provinciais eleitorais (CPE) respeitaram até ao momento a lei, sobre o apuramento dos resultados das eleições gerais angolanas de 23 de Agosto, garantindo que vai recorrer para o Tribunal Constitucional.

Segundo um comunicado do secretariado executivo da comissão política da UNITA enviado à Lusa, aquele partido refere que apenas as CPE de Cabinda, Uíge e Zaire “respeitaram a lei”, no que toca ao recurso à “totalidade das actas das operações emitidas em todas as mesas de voto”, de cada província, para o respectivo apuramento provincial, que antecede o escrutínio nacional, conforme prevê a lei eleitoral.

Além destas três províncias, o partido do “galo negro” refere que o mesmo procedimento está agora em curso também nas províncias do Bié, Huíla e Cuanza Sul, enquanto as CPE do Cunene, Namibe, Cuando Cubango, Huambo, Lunda Sul, Lunda Norte, Moxico e Luanda “continuam a trilhar os caminhos da violação da lei, em obediência a ordens obscuras”.

A UNITA afirma ainda que “findo o prazo legal e a persistir a vontade de violar a lei”, vai avançar junto do Tribunal Constitucional com “a competente acção judicial”, de forma a “obrigar as CPE incumpridoras a pautarem a sua acção ao que a lei prescreve”.

O partido já avançou anteriormente com uma reclamação junto da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) por terem sido “produzidos e anunciados resultados provisórios fora do previsto na Lei Orgânica sobre as Eleições Gerais”, os quais colocam o MPLA como vencedor da votação, com 61% dos votos, e elegendo João Lourenço como novo Presidente da República.

Coligação insatisfeita

A coligação angolana CASA-CE condenou também a ameaça da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) de abrir processos disciplinares aos comissários representantes de partidos da oposição que se demarcaram dos resultados provisórios das eleições divulgados por aquele órgão eleitoral.

Em comunicado, o Conselho Presidencial da Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE), a terceira força política do país, refere que tem estado a acompanhar “com minúcia” todo o processo de escrutínio e apuramento provincial dos resultados eleitorais.

Nos últimos dias, vários comissários da CNE e dos seus órgãos provinciais têm assumido uma posição de distanciamento dos resultados provisórios divulgados pelos órgãos centrais, por alegarem violar a lei, com supostas ilegalidades ao processo de escrutínio.

A porta-voz da CNE, Júlia Ferreira, disse no final do plenário de quarta-feira que o órgão eleitoral angolano vai instaurar um inquérito para analisar o comportamento de alguns comissários nacionais e provinciais, que têm assumido “uma conduta desviante” dos princípios reitores do órgão eleitoral.

No seu comunicado, enviado à Lusa, a CASA-CE manifesta solidariedade com todos os mandatários e comissários afectos ao processo eleitoral, condenando e repudiando “com veemência” a ameaça da CNE, de promover processos disciplinares contra os membros do órgão eleitoral.

A CASA-CE classifica a conduta daqueles comissários como sendo “patriótica e exemplar” na salvaguarda dos preceitos democráticos, denunciando “irregularidades verificadas na divulgação dos falsos resultados eleitorais provisórios”.

Esta coligação de seis partidos diz ter sido feito o escrutínio e concluído o apuramento provincial nas províncias de Cabinda e Uíge, cujos resultados foram aceites pela CASA-CE.

O Conselho Presidencial da CASA-CE apelou à CNE a conduzir com rigor e imparcialidade o processo eleitoral e para instarem os seus órgãos provinciais a realizarem o escrutínio e apuramento provincial de acordo com a lei.

O apelo vai igualmente para os angolanos no sentido de se “manterem firmes, vigilantes e serenos e que não se deixem intimidar pelos comunicados intimidatórios e atentatórios à estabilidade e harmonia sociais, divulgados pelos órgãos de comunicação social públicos e alguns privados”.

31 Ago 2017

Tufão Hato | Governo reúne com FAOM e assume insuficiências

Num encontro com a Federação das Associações dos Operários de Macau, o Governo admitiu a existência de insuficiências na resposta a catástrofes naturais. Pessoal da protecção civil pediu mais meios e melhor coordenação

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma semana depois do tufão que fez disparar o alarme sobre a segurança e a capacidade de resposta do território a desastres naturais, o Governo reuniu com a Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) para discutir “a revisão e a melhoria do mecanismo de resposta às grandes calamidades”, sem esquecer “a capacidade de gestão do Governo”.

No encontro estiveram presentes os secretários Sónia Chan, da Administração e Justiça, e Lionel Leong, da Economia e Finanças. Segundo um comunicado, Sónia Chan admitiu que “existem imperfeições no mecanismo de resposta a graves desastres”, incluindo “insuficiências na gestão de riscos no Governo”.

Lionel Leong foi confrontado com várias questões relacionadas com os trabalhadores do sector do jogo, tal como a sua segurança e a gestão das empresas. O secretário “afirmou que todas estas matérias têm vindo a ser alvo de um acompanhamento estrito por parte da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais”.

Além disso, as “empresas são exortadas a tratar dos casos de forma humana e com uma programação adequada”.

Lionel Leong garantiu, contudo, que o Governo “irá rever o mecanismo supracitado e o regime da sua coordenação, assim como melhorar a alocação do pessoal e a distribuição de bens materiais para evitar o esbanjamento dos recursos”.

Já os representantes da FAOM deixaram alertas sobre “problemas relacionados com a construção urbana”, sobretudo ao nível das infra-estruturas, “o sistema de impermeabilização”, o funcionamento do serviço de protecção civil ou o pagamento de indemnizações aos trabalhadores em épocas de tufão.

Pedidos mais meios

Na terça-feira o Chefe do Executivo, Chui Sai On, esteve reunido, juntamente com o secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, com o pessoal do centro de operações de protecção civil e bombeiros.

No discurso que proferiu, o Chefe do Executivo salientou “o altruísmo de todas as corporações” e que este tufão “veio mostrar as dificuldades nos trabalhos de rescaldo devido à destruição de infra-estruturas”.

A matéria em causa levou o Governo a “estudar a forma como poderá melhorar e aperfeiçoar toda a situação”. Chui Sai On disse ainda que o Executivo “vai continuar a optimizar o mecanismo de previsão meteorológica, de alerta e o mecanismo de divulgação de informações relacionadas com calamidades”, sendo também necessário “rever e aperfeiçoar o mecanismo da estrutura da protecção civil”.

No encontro, os agentes dos Serviços de Polícia Unitários apontaram que o Governo “tem de melhorar as suas infra-estruturas e optimizar o mecanismo de divulgação de informações de tufão”.

O pessoal dos Serviços de Alfândega disse ser “indispensável melhorar o equipamento actual dos mergulhadores”. Também os agentes da PSP defenderam “a necessidade de reforçar e optimizar os equipamentos, nomeadamente do pessoal em turnos durante o período de tufão”.

Os bombeiros apontaram que a recolha de informações e os recursos “devem ser uniformizados”. Deve ainda ser “efectuada uma boa distribuição de recursos humanos e materiais pelo trabalho, tendo por base as necessidades e prioridades para elevar a eficácia”.

Foi ainda lembrada a necessidade de rever o regime do pessoal militarizado.

31 Ago 2017

CAEAL | Novo tufão no dia das eleições pode adiar o sufrágio

O presidente da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa considera que as eleições podem ser adiadas caso haja outro tufão com consequências graves no dia do sufrágio. Além disso, Tong Hio Fong reiterou que a entrevista que mandou retirar do jornal Plataforma Macau era propaganda política e não jornalismo

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o rescaldo do tufão Hato, Angela Leong sugeriu o adiamento das eleições por duas semanas, para que o acto eleitoral se procedesse com serenidade. O presidente da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL), Tong Hio Fong, diz que “o andamento dos trabalhos da comissão não foi afectado e que a data das eleições é 17 de Setembro”.

Porém, admite que “se na data das eleições acontecer alguma catástrofe, o Chefe do Executivo vai decidir uma outra data para a realização das eleições dentro de 30 dias” de forma a garantir a segurança dos residentes.

Para já, a data mantem-se, uma vez que a maioria dos locais onde se encontram as mesas de voto, maioritariamente em escolas, estão em condições para receber os eleitores na data prevista. As instalações que precisam de ser recuperadas, de acordo com o presidente da CAEAL têm tempo para fazer as obras de restauro necessário. Estão a ser recuperados 13 locais onde irá decorrer o sufrágio.

Tong Hio Fong, apesar de dizer que compreende que a ordem social é importante durante o sufrágio, adiar o acto eleitoral teria um efeito de bola de neve em todo o calendário subsequente para a constituição da VI legislatura da Assembleia Legislativa. “Além do apuramento dos resultados, podem haver recursos contenciosos, as listas definitivas têm de ser publicadas no Boletim Oficial, o Chefe do Executivo precisa de tempo para nomear os deputados eleitos e há ainda a cerimónia de posse”, enumera. O presidente da CAEAL acrescenta ainda que adiar as eleições desencadearia uma reacção em cadeia que acrescentaria dificuldades ao início da nova legislatura a tempo.

Jornalismo ou propaganda

Em resposta à pergunta se teme que haja muitos votos em branco, como forma de protesto pela forma como o Governo se comportou durante o tufão Hato, Tong Hio Fong responde que “é uma escolha dos eleitos e um direito que podem exercer, uma vez que o voto está nas suas mãos”.

Quanto à retirada da entrevista ao Plataforma Macau a José Luís Pedruco Achiam, o número 12 da lista liderada por Angela Leong, o presidente da CAEAL entende que a mesma constitui propaganda política.

“Se lerem a entrevista vão distinguir o que é notícia e o que é propaganda”, justifica. Tong Hio Fong considera que o entrevistado direccionou de, de forma muito explícita, a atenção do público para o programa político, tentando ganhar o apoio do cidadãos”.

De acordo com o entendimento da CAEAL, a entrevista foi mandada retirar do jornal tendo o caso sido encaminhado para a Polícia de Segurança Pública. Na sequência da entrevista que a CAEAL entendeu ser contrária à lei eleitoral, o acto do candidato em questão poderá ser considerado contravenção e sujeitar-se a uma multa que vai das duas às dez mil patacas.

Até ao momento, a comissão eleitoral recebeu 54 casos de alegadas violações, 11 dos quais foram reencaminhados para as autoridades policiais a fim de serem investigados.

Tong Hio Fong acrescentou ainda que se um meio de comunicação social não retira uma entrevista, ou artigo, que a CAEAL considere contrária à lei eleitoral, pode incorrer em desobediência agravada.

Até agora, o caso do Plataforma Macau é caso único onde a comissão eleitoral interveio desta forma.

O presidente da CAEAL reiterou ainda o respeito que a instituição a que preside tem pela liberdade de expressão e pela liberdade de imprensa, depois de justificar a retirada de uma peça jornalística de um jornal e de considerar que uma entrevista é propaganda política.

31 Ago 2017

Porto Interior | Obras para travar águas no Porto Interior só em 2019

[dropcap style≠’circle’]G[/dropcap]onçalo Cheong, subdirector dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), disse ontem no programa do canal chinês da Rádio Macau que só no final do próximo ano é que deverão estar concluídos os trabalhos relativos à construção de uma barreira de protecção no canal na zona do Porto Interior, que fica entre Macau e Zhuhai.

“Já iniciámos os trabalhos da terceira fase, incluindo a sondagem do canal, os estudos especializados, por exemplo, e o estudo de impacto ambiental”, sendo que a previsão, nesta altura, aponta para que a conclusão ocorra “no fim do ano que vem”, disse à rádio.

Gonçalo Cheong não conseguiu estimar o orçamento para este projecto, mas adiantou que as obras possam arrancar em 2019.

Os estudos foram iniciados em 2015 e, segundo Gonçalo Cheong, “a primeira fase do estudo de viabilidade foi concluída em Julho de 2016” e a segunda, que abrange “a zona toda, incluindo Macau, Zhuhai e Zhongshan”, foi terminada em Março deste ano.

O relatório da segunda fase “já foi submetido a Pequim para recolha de opiniões”, conforme já tinha sido avançado pelo porta-voz do Governo, Victor Chan, em conferência de imprensa.

O responsável da DSSOPT explicou ainda que, em 2011, foram feitas obras para aumentar a altura dos muros ao longo do Porto Interior, algo que ficou concluído em 2015. Contudo, não foi suficiente, dada a dimensão do tufão Hato.

À margem do programa de rádio, Gonçalo Cheong garantiu que está a ser ponderada a instalação de infra-estruturas junto à entrada dos parques de estacionamento, para travar a entrada da água.

31 Ago 2017

DSAL | Trabalhadores da Galaxy queixam-se de irregularidades

Representantes de 300 trabalhadores estiveram ontem reunidos com a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais onde apresentaram várias reivindicações contra a Galaxy. Em causa está a falta de pagamentos e más práticas durante o tufão Hato

[dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]uem fez o turno da noite não pôde sair e foi obrigado a ficar. Quem entrou de manhã teve de se deslocar para o trabalho, mesmo com o sinal 8 de tempestade içado. Estas reivindicações, num total de 21, foram ontem apresentadas numa reunião que juntou representantes de 300 trabalhadores da operadora de jogo Galaxy e a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL).

O deputado José Pereira Coutinho, que esteve presente na reunião e acompanhou o caso, disse ao HM que muitas das reivindicações referem-se a situações que já têm “barbas brancas”. A passagem do tufão Hato terá reforçado o descontentamento.

“A lista de reivindicações é longa e não posso deixar de referir o facto da empresa, durante anos e propositadamente, fazer coincidir o descanso semanal com os feriados obrigatórios”, começou por dizer o deputado e presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM).

Além disso, “os trabalhadores acham que a empresa faltou à palavra ao não conceder os bónus dos últimos anos até à presente data.”

Três representantes da Galaxy estiveram na reunião, tendo sido feita uma contra-proposta, que foi recusada pelos trabalhadores. Segundo Pereira Coutinho, ainda não há uma data para a resolução do problema.

Um Hato por resolver

Na passada quarta-feira os trabalhadores terão sido obrigados a ficar no local de trabalho sem terem direito a um dia de descanso.

“Quando o sinal 8 foi içado os trabalhadores foram forçados a voltar para o trabalho. Os que estavam dentro da empresa foram obrigados a fazer horas extraordinárias contra a sua vontade. Muitos pediram para ir para casa e isso foi rejeitado”, explicou o deputado.

As horas extraordinárias foram pagas pela empresa, mas, segundo Coutinho, “o que os trabalhadores queriam era ter direito a um dia para irem para as suas casas reparar os estragos”.

Segundo um artigo do South China Morning Post, o sinal 8 de tufão só terá sido içado às 9h00 de quarta-feira para que os casinos não pagassem horas extraordinárias aos seus trabalhadores. Até ao fecho desta edição, não foi possível obter uma reacção por parte da Galaxy.

Fichas ao ar

Outra das queixas que foi apresentada na reunião de ontem prende-se com o funcionamento das mesas de jogo, problema que, segundo Pereira Coutinho, deveria ter sido apresentado à Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ).

“Não existindo clientes a jogar nas mesas de jogo, os croupiers são obrigados a distribuir cartas durante horas, sem que haja um único cliente a jogar. Isto tem criado doenças profissionais face ao prolongado tempo de trabalho.”

Foram ainda feitos relatos sobre o comportamento da operadora de jogo face às alegadas agressões que os croupiers são sujeitos.

“Os queixosos manifestaram um grande desagrado face ao comportamento da empresa no tocante às agressões feitas aos croupiers. A empresa, em vez de os defender, persegue-os e aplica sanções, quando deveriam ser apresentadas queixas-crime junto das autoridades policiais.”

Nos últimos dias a Galaxy tem sido alvo de comentários negativos nas redes sociais sobre o facto de, alegadamente, ter pedido ajuda a voluntários para a limpeza das piscinas do empreendimento hoteleiro. Contudo, Pereira Coutinho adiantou que este assunto não foi abordado no encontro de ontem.

31 Ago 2017

Hato | Associações sem apoios para recuperar estragos

As associações locais estão a mãos com os estragos causados pelos tufões que passaram por Macau nos últimos dias. No entanto, apoios não se avistam, pelo menos, para já. A situação pode por em risco o funcionamento de alguns destes organismos no território

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]ara já a Fundação Macau não está a disponibilizar apoios para ajudar nos estragos sofridos pelas associações locais. A informação foi dada pelo presidente da Associação dos Macaenses (ADM), Miguel de Senna Fernandes, que lamenta a atitude.

“Até agora os apoios em relação às pessoas que sofreram os danos só existem a nível de residências particulares e mais nada”, disse. O responsável questiona ainda : “No que respeita a associações, como a Associação dos Macaenses e as Escola Portuguesa, entre outras, como é que vai ser? Que tipo de apoio vão ter?”

As associações estão para já sem saber como suportar os gastos a ter com os estragos de que foram vítimas e não têm solução. A Fundação Macau foi contactada pela ADM para saber com o que poderia contar e a resposta foi simples. “A Fundação Macau disse que não há, neste momento, qualquer tipo de apoio dirigido às associações”, refere Miguel de Senna Fernandes.

Estragos aos milhares

No caso da APIM, o presidente da associação avança que “por alto” o valor pode ser estimado em cerca de 90 mil patacas. “Neste orçamento estão incluídos os danos causados nas janelas e as despesas com o reforço daquelas que ficaram de pé, porque entretanto o vento ao arrancar umas fragilizou as outras”, explica. Na prática a ADM tem de proceder à substituição de grande parte das janelas das suas instalações.

Por outro lado, a associação não integra no seu orçamento a possibilidade da ocorrência deste tipo de despesas. “Como é óbvio, ninguém está à espera de uma coisa destas”, aponta.  “Existe uma regra de que o dinheiro que não é utilizado tem de ser reembolsado pelo que não temos como suportar este tipo de gastos”.

A preocupação agora é fazer chegar às entidades competentes a preocupação que se vive entre as associações e saber se, num futuro, podem vir a ser considerados alguns apoios para reparações decorrentes dos tufões que passaram pelo território.

“É fundamental que se diga que não existem associações que vivam por si em Macau. Todas dependem dos subsídios do Governo e se o Governo resolve não apoiar neste tipo de circunstâncias, está a ditar uma sentença a estas instituições”, afirma o responsável pela ADM.

Miguel de Senna Fernandes salienta ainda que entende que as prioridades neste momento são outras, mas há que ter respeito pelas instituições que têm tido a seu cargo um importante papel social e que precisam, “legitimamente” de ajuda.

O balanço e a discussão dos danos causados pelos tufões Hato e Pakhar foram o tema central de uma reunião que se realizou ontem e que reuniu o cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, Vitor Sereno com as associações de matriz portuguesa no território.

31 Ago 2017

Coloane | Uma semana depois estragos ainda são visíveis

Nas primeiras horas após a passagem do tufão Hato, os membros da protecção civil demoraram a chegar a Coloane por falta de meios. Primeiros grupos de voluntariado começaram a aparecer na tarde de quinta-feira e tiveram de esperar pela recolha do lixo. Quase uma semana depois, ainda há muitos sinais da tempestade que passou

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] lugar das praias, da vila pitoresca onde se comem os célebres pastéis de nata e onde persistem as palafitas ficou tão ou mais destruído com a passagem do tufão Hato face a outras zonas do território, mas a falta de meios levou a que a ajuda tenha faltado logo nas primeiras horas após a calamidade.

Durante a tarde de quarta-feira, à medida que iam baixando todos os sinais de tempestade, os agentes da protecção civil começavam a encher as ruas da península. O mesmo não aconteceu em Coloane que, por falta de meios, só começou a receber ajuda das autoridades a partir de sexta-feira.

“Fomos na quinta-feira ao final da tarde e depois fomos de novo na sexta-feira de manhã. Não havia lá ninguém, as pessoas estavam a arrumar e a limpar as coisas sozinhas, não vi agentes nenhuns da protecção civil, nem bombeiros”, recordou Cíntia Leite Martins, fundadora do projecto Manavida que organizou os grupos de voluntariado.

A ideia deste grupo era “ajudar os pequenos comerciantes, os mais velhotes, e também ajudar a limpar as ruas”. “As pessoas que apoiamos eram os empregados das lojas, não vimos mais ninguém”, lembrou.

António Barrias ajudou a organizar outro grupo de voluntariado que juntou cerca de 300 pessoas e que, nas primeiras horas após a calamidade, começou a fazer limpezas a partir da Taipa, também junto ao Galaxy.

“Fizemos uma tentativa de ir a Coloane na sexta-feira, mas as vias estavam impedidas. Tivemos que deixar a protecção civil fazer o seu trabalho”, contou.

“No sábado fomos lá e pareceu que tudo aquilo estava um bocado esquecido por toda a gente. Havia casas completamente destruídas, parecia um cenário de guerra. Era muito semelhante ao que se encontrava no Fai Chi Kei, mas claramente não se via o mesmo número de pessoas a ajudar. Havia muita policia, mas reparei que se estavam a esquecer das casas pequenas.”

António Barrias chegou a ser interpelado por uma idosa que não conseguia sequer chegar a casa.

“Estacionei o carro porque levei muito equipamento comigo. Fui parado por uma senhora idosa que estava na rua porque a única forma que ela tinha de entrar em casa era através de uma rua na floresta. Estivemos a ajudá-la a limpar e só nessa rua demoramos quase uma hora a tirar tudo. Era mesmo ao lado do estabelecimento prisional e ninguém a ajudava”, frisou António Barrias.

Falhas na recolha de lixo

Cintia Leite Martins recorda-se de ajudar a recolher lixo e de ser obrigada a parar porque faltavam camiões de recolha adequados.

“O problema foi a acumulação do lixo e houve horas em que não havia muito para fazer, porque não tínhamos locais onde o pôr. Começou a ficar escuro, porque não havia electricidade em muitos sítios, e as pessoas disseram para voltarmos no outro dia, porque haveria luz do dia.”

“Só na sexta-feira é que chegaram mais agentes. Mas havia muita falta de camiões de recolha e os que vinham eram muito altos. Era impossível colocar lá o lixo, porque estamos a falar de máquinas e mobílias”, adiantou Cíntia Leite Martins, que afirma ter-se sentido frustrada, tal como os seus colegas voluntários, por não conseguirem fazer mais e de maneira mais rápida.

Também ela foi abordada por uma senhora idosa que vive sozinha e que “não tinha ajuda de ninguém”. “Fomos nós que conseguimos tirar as coisas de dentro da casa e do jardim.”

Ainda há sinais

Ao HM, responsáveis de grupos de voluntariado que se deslocaram à zona relatam que, quase uma semana depois da passagem do tufão Hato pelo território, ainda há muito a fazer na ilha de Coloane e em alguns locais do Cotai.

“Coloane ainda está muito mal, tenho passado de carro e ainda se vêem alguns estragos. Desde o One Oásis até ao Galaxy as ruas estão cheias de lixo e há árvores caídas. Esta parte foi esquecida e é isso que queremos fazer esta semana”, adiantou Cíntia Leite Martins, uma das mentoras do projecto ManaVida, que alia a prática desportiva ao apoio social.

Cintia Leite Martins criou um evento nas redes sociais para que, nos próximos dias, mais voluntários se disponibilizem para limpar ruas perto do empreendimento Galaxy, no Cotai, e também no edifício One Oásis. Há também relatos que falam da destruição que persiste no parque de animais de Seac Pai Van.

“É triste estar a limpar muitas zonas e chegar a casa e ver tudo ainda num caos”, aponta a fundadora do ManaVida, que reside no One Oasis.

Em Coloane os estragos ainda se fazem sentir e há muito por arrumar. Na sua página do Facebook, a pastelaria e padaria Lord Stow’s, famosa pelos pastéis de nata e local habitualmente cheio de turistas, afirma que estará fechada ao público nos próximos dias para reparar os estragos.

Sem criticas

A destruição trazida por um tufão que foi um dos maiores dos últimos 50 anos obrigou a definir prioridades e urgências e não houve tempo para tudo.

“O cenário que se via na vila de coloane era de destruição completa. Havia casas que estavam bem mas outras que ficaram completamente destruídas, em que tivemos de deitar quase tudo fora. O chão estava todo cheio de lama e cimento quebrado, não era agradável de se ver.”

Barrias adiantou que, se algumas estruturas ficaram de pé, o mesmo não aconteceu com o recheio das casas. “O nível de perda dos bens pessoais de todos foi enorme. Limpamos casas em que não se salvou absolutamente nada e as pessoas estavam no desespero completo.”

Ainda assim, António Barrias acredita que Coloane vai ficar recuperada nos próximos dias, por ser um sítio que atrai muitos turistas.

Barrias também não culpa os agentes da protecção civil e os bombeiros pelo atraso porque, no fim de contas, fizeram o que podiam e como podiam.

“Sem a ajuda deles havia muita coisa que não conseguíamos fazer”, frisou. “Quando chegamos já lá estavam agentes da policia, do IACM e bombeiros. Eram muitos estragos para o pessoal que Macau tem.”

Os voluntários de António Barrias dividiram-se em dois grupos, um de limpeza e outro destinado à entrega de mantimentos em locais como o orfanato localizado em Ka-Hó ou o hospital Kiang Wu, localizado na zona da Taipa Velha.


Lai Chi Vun | “Todas as casas estão vazias”

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s estaleiros onde outrora residiu uma industria naval já eram frágeis, e a passagem do tufão Hato só veio acentuar ainda mais os estragos. Na pequena povoação à entrada da vila de Coloane há casas que ficaram vazias, sem telhados.

David Marques, porta-voz dos moradores de Lai Chi Vun, recorda que, nos dias a seguir à tragédia, “a maior parte do trabalho foi feito pelos locais e moradores”. “Os agentes da protecção civil estavam lá mas eram apenas uma ou duas pessoas”, disse, defendendo que Coloane “foi uma zona com menor prioridade” junto dos decisores.

Na antiga vila de construção naval, ainda há casas bastante destruídas e o apoio financeiro decidido pelo Executivo não se adapta a estas situações extremas, apontou David Marques.

“Há muitas casas que ficaram sem telhados. O Governo disse que ia ajudar as pessoas com apoios financeiros, mas o que foi criado foi para empresas e não para este tipo de casas. Perdemos tudo e vamos precisar muito desse dinheiro. Todas as casas estão vazias, sem electrodomésticos. O subsídio foi feito para compensar os estragos em portas e janelas e não para este tipo de problemas”, rematou.

30 Ago 2017

Au Kam San | Deputado não concorda com intervenção do Exército

Para ajudar na limpeza do território após a passagem do tufão Hato, Macau contou com a ajuda do Exército de Libertação Popular. Au Kam San não concorda com a medida e acha que as forças militares só deveriam ser chamadas em situação de catástrofe

[dropcap style≠’circle’]”E[/dropcap]u, enquanto testemunha do movimento democrático de 1989, na verdade, não me sinto bem em relação ao Exército de Libertação Popular, e não confio nesta situação”. A afirmação é do deputado Au Kam San na sua página de facebook.

Para Au Kam San, os trabalhos de limpeza não devem ser desempenhados pela Guarnição de Macau que, afirma, “só deve ser usada em situações de catástrofe”.

O texto publicado no dia 25 de Agosto não deixou de atrair vários comentários por parte a população, sendo na sua maioria, uma crítica severa à declaração do deputado num momento de caos no território causado pela passagem do tufão Hato.

De entre as reacções houve quem esclarecesse o deputado acerca do que era realmente uma situação de catástrofe. “É normal vermos na televisão os cenários onde o Exército Popular de Libertação salva a população nas catástrofes, quer sejam relativas a inundações ou a terramotos”, lê-se, sendo que “os soldados correm risco de vida para salvar os residentes e isso é o que chamamos de salvamento nas catástrofes”. No caso de Macau, a ajuda vem no que se mostra urgente e a situação de recolha de lixo era evidente no território.

Já para Au Kam San, nem todos os militares concordariam com o facto de andar a limpar ruas e só o estariam a fazer porque era a sua obrigação e assim tinham recebido ordens. Por outro lado, o deputado entende que após a passagem do tufão, várias entidades locais já tinham começado a tratar das consequências. Como a situação era grave, Au Kam San considera que era normal a demora na sua resolução e sublinha ainda o trabalho feito pela própria comunidade que, afirma, “mostra a solidariedade dos residentes de Macau”.

Alguém  o viu?

Apesar de o deputado reconhecer que a ajuda dos soldados acelerou o processo de normalização das condições de Macau, não é por isso que concorda com a mesma. De entre as respostas dadas aos comentários que foi recebendo consegue ler-se: “Mas será adequado que se a use faca que serve para matar vacas, para matar galos?”. Au Kam San questiona a capacidade do Exército de Libertação Popular no que respeita à eficácia e profissionalismo que pudesse ter na tarefa de limpar ruas. “Não é uma certeza que tenham profissionalismo para limpar o lixo e para cortar as árvores”, diz. Com estes argumentos, Au Kam San acha que o Governo não deve solicitar ajuda ao Exército de Libertação Popular para limpar resíduos, a fim de garantir o lema de “a terra de Macau é administrada pelos residentes de Macau”.

A polémica declaração do deputado deu origem a mais de 1700 comentários havendo mesmo quem questionasse onde estava o deputado quando foi precisa a ajuda.  “O senhor Au, quando os inválidos, os idosos, as crianças, até as grávidas estavam a limpar a cidade, onde é que estava?”

Houve também quem solicitasse a Au Kam San um pedido de desculpas ao Exército de Libertação Popular e aos residentes.

Ao HM, Au Kam San disse que o texto polémico não tem uma relação directa com a democracia em Macau e que a participação do Exército de Libertação Popular na sequência do tufão não vai prejudicar o desenvolvimento do sistema democrático no território. Em resposta às críticas na rede social contra o deputado, Au Kam San explica que a ideia principal do texto é defender os soldados, que não deveriam desempenhar funções nesta situação. “A questão é, será que isto é catástrofe? Será que chegou já ao nível de catástrofe para haver a necessidade de chamar a ajuda do Exército de Libertação Popular? Este assunto pode provocar várias opiniões. Mas na altura tive a sensação de que não deveriam ser os soldados a limpar o lixo”, adiantou o deputado.

30 Ago 2017

PSD Macau | Vice-presidente profere declarações que geram controvérsia

Depois de publicar declarações onde alegou haver portugueses entre as vítimas mortais do tufão Hato, Vitório Cardoso, vice-presidente do PSD Macau foi bastante criticado. Hoje será discutido o assunto numa reunião entre o cônsul-geral e as associações de matriz portuguesa

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]epois de argumentar que o Partido Socialista poderia estar a esconder o número de vítimas portuguesas na sequência do tufão Hato, “tal e qual como em Pedrogão”, Vitório Cardoso, vice-presidente do PSD de Macau, recebeu algumas crítica duras.

Além de ter sugerido que poderia haver mortos de nacionalidade portuguesa, comentário que mereceu um desmentido por parte do Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, o social-democrata teceu considerações utilizando a calamidade para fazer distinções entre PSD e PS.

“O senhor colocou as coisas de uma maneira que parecia que ele era a única pessoa da comunidade portuguesa empenhada naquilo que se estava a passar em Macau”, comenta Amélia António, presidente da Casa de Portugal.

A dirigente da instituição categoriza os comentários de Vitório Cardoso como “absolutamente execráveis” e que mexem com a sua maneira de estar na vida.

O vice-presidente da secção de Macau do PSD depois de lamentar as mortes, desaparecidos e feridos na sequência do tufão Hato, disse que o partido de que é dirigente limpou o território e irá limpar Portugal.

Miguel Bailote, presidente da secção do PSD em Macau, distanciou-se das declarações do seu camarada de partido, argumentando que “são comentários do Vitório”. O dirigente acrescentou que “é a opinião de um militante, há quem tenha posições mais extremadas, há outros com outras opiniões. Cada militante tem a sua opinião e pode expressá-la”.

Reacções de fora

“Enquanto presidente da secção, as informações que tenho é que não há vítimas portuguesas, apenas alguns feridos ligeiros”, comenta Miguel Bailote acrescentando ainda que a secção partidária a que preside “não limita a liberdade de expressão dos seus membros”.

Amélia António entende que cada pessoa tem o direito de expressar as suas opiniões, porém, repudia as afirmações de Vitório Cardoso. A presidente da Casa de Portugal entende que “não é momento para se andar a fazer folclore e a tirar proveitos políticos”.

As afirmações em questão chegaram a estar no Facebook do PSD de Macau, facto ao qual Miguel Bailote reagiu. “Como presidente da secção, vou retirar os posts da página”, sublinhando que “não deve haver aproveitamento político das catástrofes”. O dirigente social-democrata, no entanto, argumenta que este tipo de aproveitamento é feito em Portugal de parte do PSD, como do PS.

Amélia António não ficou surpreendida com este tipo de actuação de Vitório Cardoso. “Durante muitos anos, li coisas que esse senhor escreveu que só nos colocam mal a nós, portugueses. Depois passou por uma fase de querer limpar a face e apagou essas opiniões”, comenta a advogada que acrescentou ainda que depois de pensar “que a pessoa ganhou um mínimo de equilíbrio, verifico que o desequilíbrio voltou ao de cima”.

Amélia António classifica os comentários de Vitório Cardoso como uma vergonha para a comunidade portuguesa, ainda para mais numa altura em que devia haver união em torno do que é preciso fazer no rescaldo do tufão.

A advogada contou ao HM que se realiza hoje uma reunião das associações de Macau de matriz portuguesa com o cônsul-geral, algo que é feito com regularidade.

Numa altura em que se fará um ponto da situação na sequência dos estragos provocados pelos tufões que assolaram a região, Amélia António entende que o comportamento de Vitório Cardoso “deve ser um assunto que não pode deixar de ser abordado”. A presidente da Casa de Portugal acrescenta ainda que “deve ser tomada uma posição colectiva relativamente a uma pessoa que está a denegrir todas as associações, a comunidade e as pessoas que estão de boa fé em Macau a trabalhar e a dar o seu melhor”.

Até ao fecho da edição, o PSD não fez qualquer comentário à polémica originada pelos comentários do vice-presidente da secção de Macau.

De acordo com o presidente do PSD local, a secção irá a votos em breve.

Voz nacional

A reacção do PSD nacional chegou ao Hoje Macau pela voz de António Valle, assessor de comunicação do líder do partido, Pedro Passos Coelho. “O PSD não faz comentários sobre boatos nem tão pouco alimenta especulações.  O PSD pronuncia-se oficialmente através do nosso deputado eleito pelo circulo da emigração, José Cesário. Aliás, sobre a catástrofe que infelizmente assolou Macau, o deputado tem-se pronunciado, oficial e publicamente, demonstrando a profunda solidariedade com os portugueses que foram afectados pelos dois tufões e garantindo que jamais nos esqueceremos do que Macau e os portugueses que ali residem significam para Portugal.”

30 Ago 2017

Rolling Puppet: “O teatro serve para nos conhecermos”

Foi criado em 2014 por Kevin Chio e Ten Ten La depois de fazerem um curso em Praga. É a primeira companhia de teatro de marionetas do território em língua chinesa e já conta com espectáculos esgotados em Macau e no exterior. A Rolling Puppet vai apresentar “Notícias sobre Xiao An” nos próximos dias 16 e 17 de Setembro no Edifício do Antigo Tribunal

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] que é que vamos ter em “Notícias sobre Xiao An”?

K.C. –  É uma adaptação de um texto clássico de literatura chinesa. Usamos  a projecção com marionetas em miniatura em que temos alguns efeitos de imagem. O texto é de um autor conceituado, Yan Lianke, que ganhou  o prémio Franz Kafka em 2014. Conhecemos Yan Lianke em Praga na altura em que lá estávamos a estudar. Falámos acerca deste espectáculo. É um autor com um estilo de escrita que usa a metáfora, o que para nós é sempre material importante para um espectáculo. Já produzimos esta peça no ano passado e estes ano voltamos a ter o “Xiao An” am palco, com algumas alterações.

Que mudanças fizeram?

K.C. –  As modificações que fizemos foram essencialmente respeitantes à relação entre o público e o próprio espectáculo. Quisemos agora, além de manipular os bonecos, ter outro tipo de manipulação: a das pessoas que vão assistir ao condicionar-lhes o sentido dos movimentos.

Porquê esta história em particular? 

T.T.L. – É sobre uma a criança que devido a um acidente perdeu toda a gente, incluindo o seu avô, o único elemento que ainda era vivo. Ficou completamente sozinho, resolveu encontrar uma solução e gastou todo o seu dinheiro para comprar uma televisão. Era também a primeira vez que via televisão e descobriu que na sua aldeia todas as pessoas tinham um momento para aparecer naquela caixa mágica, fosse qual fosse o pretexto. Xiao An também queria aparecer. No fundo é uma metáfora a vários aspectos sociais. Através de uma criança percebe-se a importância dos media na formação das pessoas. Por outro lado é abordada, de alguma forma, a própria censura. Alerta também para o facto de que quando vemos as coisas de perto às vezes não nos apercebemos das falhas e que é necessário distanciarmo-nos para perceber as fragilidades que apresentam. Sinto que toda a história é uma espécie de humor negro mas que simboliza muitas situações reais que são brutais e tentamos mostrar isso através das marionetas de forma simbólica. Desta vez quisemos também retratar a situação actual de Macau. Nesta adaptação, o público começa a ver a história a partir do momento em que Xiao An também morre. Colocamos a audiência num cenário que, simbolicamente, é um museu cheio de produtos e a própria personagem é um deles. As pessoas entram numa espécie de museu e vão a caminho do palco onde é recriada toda a história.

É uma peça para todas as idades?

K.C. –  Sim e é o primeiro espectáculo que abrimos a todos a partir dos seis anos. Normalmente fazemos espectáculos para adultos. É interessante perceber como as diferentes faixas etárias percebem as situações de humor de forma diversa.

Como é que começaram a interessar-se pelo mundo das marionetas? 

T.T.L. – Eu era designer durante o dia e à noite actriz amadora e trabalhava com alguns grupos em Macau. Comecei a pensar que estaria na altura de escolher ou um ou outro trabalho. Conheci uma pessoa de Singapura que me motivou para apostar numa carreira de realização e encenação. Quando comecei à procura de uma formação descobri os cursos de marionetas em Praga. Em Macau não havia nada. Até ir para lá nunca tinha visto uma marioneta. Achei que a manipulação de objectos poderia ser interessante. Encontrei uma escola em Praga e fui.

Descobri um novo mundo, não só sobre o teatro mas acerca de toda a minha vida. No teatro foi surpreendente. Em Macau temos sempre muito material cénico nos espectáculos e ali descobri como fazer as coisas sem nada. Apendemos a usar menos materiais mas também a tornar as peças mais móveis para que se possam deslocar e ser apresentadas em vários sítios. Em Macau tínhamos um grupo de marionetas portuguesas mas não havia nenhum grupo de artistas chineses. Era preciso fazer alguma coisa nesta área e focámo-nos nisto. Por outro lado a República Checa é um país muito político e com intervenção, coisa a que não estávamos acostumados. Tudo é sobre política, e nas artes isso é muito evidente. Com as marionetas podemos também expressar coisas sem palavras e só com os bonecos. Mudou muito a forma como olho a arte em si. Quando regressei quis também deixar de usar peças de autores ocidentais e peguei na literatura chinesa. Transformamos os conteúdos que pertencem ao passado e adaptamos para situações actuais. Quando vejo, por exemplo Lu Xun, tentamos adaptar os textos a uma Macau actual. As coisas não mudaram muito desde Lu Xun até agora. As questões do controlo daquela altura são agora feitas, de outra forma. Tentamos encontrar sempre um conteúdo contemporâneo nos escritores clássicos. Já em 2014 fizemos uma peça baseada num texto de Lu Xun.  Tratava-se de uma foto acerca de um soldado japonês que executa um soldado chinês. Adaptámos a situação, numa altura em que se vivia o Occupy Central, em Hong Kong.  É uma reflexão acerca do espaço e de como as pessoas usam as suas motivações para fazer coisas. Vamos voltar a fazer esta peça para o ano em Hong Kong. Em 2015 fizemos um espectáculo em Praga chamado “Made in Macau” em que usámos objectos e vídeo para falar do território.

E o que mostraram? 

K.C – A ideia surgiu porque sempre que fazíamos novos amigos em Praga as pessoas perguntavam de onde vínhamos. Respondíamos de Macau, a notámos que não tinham ideia nenhuma do que era o território. Quando muito respondiam com a palavra “casino”. Resolvemos juntar objectos e alguma narrativa numa espécie de teatro documental. Por exemplo,  a Ten Ten nasceu praticamente dentro de uma fábrica na década de 1980. Aproveitámos para falar um pouco dessa altura e das vidas das pessoas, e das famílias. Foi um espectáculo também um pouco pessoal para falar da história e da realidade de Macau.

T.T.L. – A minha mãe trabalhava numa das fábricas de têxteis que existiam antes dos casinos. Enquanto crescia, as indústrias do território foram colapsando dando lugar aos casinos. Com a minha história pessoal, aproveitámos para falar dos problemas humanitários. Falámos da mudança de políticas e de como a abertura da China afectou o território, a chegada dos casinos e como isso afectou os mais novos e as suas possibilidades de emprego em vários ângulos, e mais tarde, como é que se vive hoje e como podemos tentar fazer das nossas vidas o que queremos. É uma peça simples, sem grande sofisticação. Por outro lado, o teatro também nos permite escrever a nossa história pessoal, a nossa narrativa, e aproxima as pessoas. Muitas vezes conhecemos outros locais pelas notícias e nada tem a ver com a realidade da vida das pessoas. O teatro serve para nos conhecermos.

Como sentem a adesão do público local ao vosso trabalho?

T.T.L. – Tem sido muito positivo. No início não podíamos abusar em alguns aspectos, para tentar com que este tipo de teatro entrasse suavemente na vida das pessoas. Fizemos sempre teatro para adultos para tentar mostrar que esta também é uma área que, apesar de usar bonecos, não é feita para miúdos. Também juntamos literatura chinesa e temos tido várias encomendas de espectáculos com esta vertentes. Os espetáculos têm esgotados em horas. As pessoas querem ver coisas novas e que reflictam a nossa sociedade e a actualidade. Tentamos usar o mínimo de linguagem oral possível para que as nossas peças não fiquem limitadas à linguagem verbal e que possam ser entendidas por toda a gente.

30 Ago 2017

As soluções para as cheias do Porto Interior que teimam em não sair do papel

A zona da Barra, Porto Interior e Praia do Manduco estão habituadas às cheias, mas não teria de ser assim. Falta de vontade política, de soluções integradas a longo prazo e o choque com interesses privados têm impossibilitado uma solução para as inundações crónicas. Além disso, existe uma evidente insuficiência da rede de esgotos assim como a falta espaço no estuário do Rio das Pérolas para a subida da maré

[dropcap style≠’circle’]“F[/dropcap]oi tudo empurrado para dentro, tinha em casa água do mar, lodo, lama, esgoto de sanita e os diabos da cidade”, conta António Conceição. O empresário que vive no bairro da Almeida Ribeiro, junto aos tintins, ficou com a casa inundada a partir de dentro. “Aconteceu pela parte de escoamento da canalização, retrete, pia e ralos”.

Dejectos que deviam ter uma viagem só de ida, fizeram o retorno pelas canalizações acima das casas da zona do Porto Interior, trazendo, por arrasto, todo o tipo de detritos e águas. “Há uma deficiência muito grande para controlar a subida do nível da água em Macau, mas a inundação da minha casa deveu-se, sobretudo, à insuficiência estrutural da rede de canalização”, explica António Conceição.

Este é um problema crónico de certas zonas da cidade, em particular das zonas da Barra, Porto Interior e Patane, que estão sujeitas a estas situações quando se dá a conjugação de factores normais como a subida da maré, chuvadas intensas, ou ocorrência de tufões.

Têm-se procurado soluções para resolver do problema da zona ribeirinha, como a criação de uma bacia de retenção temporária e a construção de uma central de bombagem para assegurar a drenagem das águas da chuva, mas os projectos nunca saíram da gaveta. Foram também apresentadas propostas para remendar os problemas, quase simbolicamente, como a construção de muros mais altos junto à margem.

Estas são consequências. As causas não se ficam pela normal acção da natureza. Mário Duque, arquitecto, encontra nas várias transformações ao longo do estuário a causa para as constantes subidas dos níveis das águas.

Com as contínuas construções de aterros e urbanizações o espaço para a entrada da maré no estuário foi diminuindo. “É um problema conjunto causado por toda a região de Guangdong, relacionado com a necessidade de captar água para consumo em pontos acima do estuário”, explica o arquitecto.

Pias e fontes

A necessidade de fazer aterros cada vez mais altos também tem consequências ao nível da transferência da vulnerabilidade para os aterros mais antigos e baixos, isto numa cidade com um solo predominantemente impermeável, com um tempo rápido de concentração de água da chuva e sem bacias de retenção. Tudo ingredientes que fomentam as calamidades crónicas que se reflectem na destruição que arruína a vida de quem vive nas zonas baixas.

Além da ausência de mecanismos estruturais para lidar com as transformações do estuário do Rio das Pérolas, há outro elemento de “chicoespertice” que origina calamidades domésticas como a que sofreu António Conceição.

“Em Macau proliferam ligações de esgoto doméstico ilegal, ou seja, instalações sanitárias improvisadas e ligadas directamente ao esgoto pluvial mais próximo”, elucida Mário Duque. O arquitecto esclarece que esta é uma “situação tipificada como crime contra a saúde pública e ambiente”, mas uma realidade que só é revelada por um cenário de inundação.

António Conceição sentiu isso, uma cheia que veio de dentro dos canos e que transformou a sua casa numa piscina com mais de um metro de profundidade. Na altura, o empresário não estava em casa, mas estava um amigo que “pegou nas coisas mais valiosas e conseguiu guarda-las no mezzanine”. Ficou um espólio submerso constituído por centenas de livros, muita informação digital e uma colecção de desenhos feitos ao longo de uma década de trabalho.   

Além de bens de valor intangível, António Conceição fez um “cálculo redondo das despesas que devem rondar cerca de 85 mil patacas, com muito equipamento à mistura”. Também a casa ficou, naturalmente, inabitável, num estado bastante degradado. O empresário destaca os pobres acabamentos da construção de Macau que potenciou o “impacto brutal na casa”.

Ainda assim, António Conceição entende que está longe de ser um caso grave, uma vez que “houve pessoas que passaram perigo de vida e perderam tudo”.

Gaveta de projectos

O tufão Hato deixou a nu todos estes problemas estruturais que deixam a zona ribeirinha vulnerável à fúria dos elementos.

Vítor Chan, porta-voz do Governo, revelou que foram feitos dois estudos para resolver o problema. O primeiro é a criação de uma barreira. O segundo é uma avaliação conjunta com as cidades de Zhuhai e Zhongshan para a criação de um plano integral “que resolva o problema na fonte”, explicou o representante do Executivo. Ambos os estudos foram submetidos ao Conselho de Estado, estando o Governo da RAEM a aguardar resposta. Os trabalhos de avaliação de impacto ambiental e orçamento foram acelerados e vão decorrer ao longo do segundo semestre deste ano, sendo que é expectável que no próximo ano esteja concluída uma versão final do estudo.

Esta é uma conversa que se vem repetindo há mais de trinta anos.

Miguel Campina, arquitecto que acompanha estudos que intervenham neste domínio desde os anos 1980 não entende “o que se anda a estudar há tanto tempo”. O arquitecto equipara a resolução deste problema à falta de acção para a concretização do plano director.

“A única coisa que fizeram, pensando que iam resolver alguma coisa, foi um murozinho para evitar situações mais comuns da maré alta entrar para a zona mais baixa do Porto Interior”, recorda Miguel Campina.

O arquitecto considera que esta não chega a ser uma solução. “Não funciona, é como tratar uma doença grave com aspirina, não tem qualquer efeito prático a médio longo prazo”, acrescenta. Miguel Campina vai mais longe e afirma que “aquilo que se tem feito é fingir que se faz alguma coisa, mas na prática é só adiar”.

Na década de 1980 houve um projecto para solucionar os problemas de inundações do Porto Interior relacionado com a drenagem da bacia do Rio das Pérolas.

“Era preciso criar um sistema de retenção subterrâneo e uma central de bombagem para assegurar que a drenagem da água da chuva pudesse continuar a ocorrer mesmo nas situações de maré alta”, explica o arquitecto. Soluções que tentam resolver o problema resultante da diferença entre os pontos de descarga e o nível da água que fica mais alto. Devido à sobrecarga dos colectores, a água não só fica impedida de sair como, pelo contrário, sai pelos pontos de drenagem das vias circundantes. Tudo trabalhos de grande envergadura do ponto de vista da engenharia, “mas nada que fosse particularmente difícil”. Porém, os projectos esbarraram na falta de vontade política e nos diversos lobbies que controlam a decisão política, de acordo com Miguel Campina

“O Governo teria de exercer aquilo que é a sua prerrogativa, mas isso não aconteceu porque nunca há vontade de mexer nos interesses instalados, é preferível manter tudo na mesma”, comenta Miguel Campina.

O arquitecto apenas vê uma solução para o problema se esta for lucrativa. “Ficamos à espera que um dia apareça uma situação milagrosa, que se traduz na prática na oportunidade de um negócio”, projecta.

Em conferência de imprensa, o porta-voz do Governo pediu compreensão e paciência para a resolução do problema da zona ribeirinha. Vítor Chan enumerou a necessidade de conjugação de trabalhos por parte de vários departamentos e da interligação com os serviços das cidades vizinhas como um factor de complexidade que atrasa os trabalhos.

No entanto, a população que vive no Porto Interior espera uma solução para um problema crónico que não tem de resultar nas consequências catastróficas que se verificaram na semana passada e que, por certo, se vão repetir.

O arquitecto Miguel Campina, fez parte de uma equipa que elaborou o projecto para tratar desta situação ainda antes da transferência, corria a década de 1980, há mais de trinta anos. Um plano que nunca foi posto em prática, mas que poderia ainda ser aproveitado nos dias de hoje.

“Nada é impossível, o contexto alterou-se mas a validade das propostas formuladas mantém-se. Pode-se salvaguardar o essencial da filosofia de intervenção é possível fazer-se qualquer coisa”, considera Miguel Campina. No entanto, o arquitecto alerta que “quanto mais tempo passar, menos coerência final haverá do ponto de vista daquilo que poderia ser alcançado”.

Entretanto, a população das zonas ribeirinhas de Macau continuam à espera de uma solução, muitas das vezes com água pela cintura.

29 Ago 2017

Chui Sai On | Criada comissão de revisão para resposta a catástrofes

O mecanismo já existe desde 2012, mas não foi eficiente. Ontem foi criada uma versão para a sua revisão e melhoria. Trata-se da Comissão para a Revisão do Mecanismo de Resposta a Grandes Catástrofes e o seu Acompanhamento e Aperfeiçoamento. As alterações parecem ser poucas e, de acordo com António Trindade, da CESL Asia, Macau precisa de medidas executivas, mais do que políticas

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] 25 de Outubro de 2012 foi criado o Conselho de Tratamento de Incidentes Imprevistos que, lê-se no despacho publicado em Boletim Oficial (BO) na mesma data, “tem por objectivo a coordenação, orientação e fiscalização global das entidades públicas na adopção de medidas de urgência com vista a responder à ocorrência repentina de incidentes relativos a catástrofes naturais, acidentes e calamidades, saúde pública e segurança pública que produzam ou sejam susceptíveis de produzir danos graves no tecido social”.

No entanto, e com a passagem do tufão Hato pelo território, o mecanismo mostrou-se ineficaz em várias frentes, desde a prevenção à normalização, nada funcionou.

Com os resultados à vista, Chui Sai ON publicou ontem, em BO, a criação de uma nova entidade. A recém concebida Comissão para a Revisão do Mecanismo de Resposta a Grandes Catástrofes e o seu Acompanhamento e Aperfeiçoamento tem como objectivo “rever o actual mecanismo de gestão de crises, designadamente a previsão meteorológica, a coordenação dos trabalhos de protecção civil, a coordenação da divulgação de informações, bem como o estado das respectivas infra-estruturas”.

Sem grandes diferenças a assinalar, relativamente ao Conselho, a nova Comissão parece colocar a tónica na acção dos mecanismos de antecipação de divulgação de informação aquando da ocorrência de catástrofes naturais.

Faz ainda parte dos objectivos da Comissão, “apresentar um plano geral sobre a gestão de crises no futuro, visando potenciar os efeitos sinergéticos da gestão de crises, designadamente no que respeita à uniformização do planeamento, da acção e da divulgação de informações, como forma de elevar a capacidade de resposta a crise”. Tudo para “proteger efectivamente a segurança da vida e dos bens dos residentes e assegurar a harmonia e a estabilidade da sociedade”.

Descubra as diferenças

Conselho e Comissão aparecem com conteúdos muito idênticos, sendo que o segundo pretende ser uma versão melhorada do primeiro.

Algumas diferenças podem ser encontradas e a mais evidente diz respeito à composição: os directores de serviços foram substituídos pelos secretários, estando os cinco governantes presentes. Acresce ainda na composição, o director-geral dos Serviços de Alfândega.

Outra novidade prevista na Comissão é que “pode convidar especialistas, académicos e individualidades sociais para participar nas reuniões, sempre que julgue necessário e criar vários grupos de trabalho especializados para participar nos trabalhos”. Resta saber da sua eficácia.

Medidas executivas

O Conselho criado ontem parece ser mais uma medida política do que executiva, numa altura em que o território recupera dos danos causados pela passagem do tufão Hato, o que, para o CEO da CESL Asia, António Trindade, poderá não ser a prioridade do momento. “Macau ainda cheira mal e precisa não de medidas políticas mas sim de medida concretas executivas para limpar, acabar com os maus cheiros, evitar epidemias e consertar o que está estragado”, disse o responsável ao HM. “Mais que políticas Macau precisa de medidas executivas”, reiterou António Trindade, até porque “o que lá estava antes não funcionou”. A questão, para António Trindade, tem ainda que ver com a própria composição da nova Comissão. “Será que agora com os secretários vai funcionar? Ou porque podem convidar académicos como consultores será que vai funcionar? Vai ser formada um entidade específica para lidar com estes assuntos?” questiona.

No entanto, admite o responsável pela CESL Asia, “é preciso ver se se reconhece que houve muita coisa que não funcionou e se se está a tomar medidas para corrigir as falhas”, refere.

A passagem do Hato pelo território veio acentuar as deficiências de Macau. “Há claramente uma necessidade de ter mecanismos de recuperação e é necessário criar estruturas profissionais para o fazer. Não se vai projectar um prédio por exemplo com delegados políticos. Não é assim”, exemplifica. Para que a situação mude é necessário ter profissionais e assegurar que as infra-estruturas públicas estão correctamente dimensionadas, não exclusivamente para o funcionamento diário, mas para o funcionamento em caso de emergência ou de desastre”, sublinha.

29 Ago 2017

Tufões | Recolhidas cerca de duas mil toneladas de lixo

A passagem do tufão Hato obrigou à recolha de cerca de duas mil toneladas de lixo nos últimos dias, e ainda não há uma data certa para que as ruas voltem à normalidade. Existem ainda 25 edifícios sem água potável

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o dia em que o exército chinês regressou ao quartel, depois de três dias intensos de limpeza dos destroços causados pela passagem do tufão Hato, o Governo chamou os jornalistas para fazer o balanço daquela que foi a maior tempestade dos últimos 50 anos e que levou à ocorrência de dez mortes.

Fong Vai Seng, do serviço de licenciamento e ambiente do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), referiu que, no último fim-de-semana, 1787 toneladas de lixo foram recolhidas das ruas, sendo que só na madrugada de domingo para segunda-feira foram recolhidas 150 toneladas.

O trabalho tem vindo a ser feito em parceria com grupos de voluntários e a empresa responsável pela recolha do lixo, sendo que não há, até ao momento, uma data para que as ruas do território voltem a estar limpas como antes.

“Temos vindo a melhorar a situação mas ainda há zonas com lixo de grande porte, cremos que ainda vai levar algum tempo até regularizar a situação.”

Sobre o fornecimento de água, Susana Wong, directora dos Serviços Marítimos e da Água (DSAMA), garantiu que cinco estações de fornecimento da Ilha Verde estão agora a operar normalmente. A água produzida “é suficiente para abastecer todo o território”, apontou, apesar de ainda existirem “25 edifícios que não têm água abastecida de forma normal”.

Susana Wong assegurou ainda que não há qualquer perigo em consumir a água que sai das torneiras. Quanto aos edifícios que possuem tanques de reserva de água, os moradores devem fervê-la um pouco antes do seu consumo, uma vez que esse bem essencial vem indirectamente da rede pública e está armazenado em tanques que podem ter sido danificados.

Sem doenças

Ung San Hong, do IACM, referiu que já foram detectadas situações em que lojas e supermercados procuram colocar nas prateleiras produtos que estiveram em contacto com água suja, algo que tem vindo a ser controlado.

“Temos feito inspecções junto de restaurantes e supermercados. Os alimentos não estão em condições de revenda pelo facto de terem estado em contacto com água suja.”

Lam Cheong, representante dos Serviços de Saúde, adiantou ainda que, até ao momento, não foram registados casos de febre da dengue ou outras doenças transmissíveis devido ao lixo acumulado na rua e à falta de água potável.

“A Barra e a Ilha Verde são zonas muito afectadas e temos feito o trabalho de erradicação dos mosquitos. Temos enviado um total de 150 trabalhadores e todos os dias temos feito este trabalho”, frisou. Registaram-se apenas alguns casos de gastroenterites no hospital público e no Kiang Wu.

Vítor Chan, porta-voz do Governo, adiantou que não há dados sobre os estragos ocorridos nas concessionárias de jogo. O mesmo responsável defendeu que o Governo não deve intervir no dinheiro que, até ao momento, foi doado pelas operadoras, por se tratarem de “iniciativas da sociedade civil”.

29 Ago 2017

Tufão Hato | CCAC abre inquérito sobre procedimentos dos SMG

O Comissariado Contra a Corrupção de Macau (CCAC) anunciou ontem a abertura de um inquérito aos procedimentos dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG), após a passagem do tufão Hato, que fez dez mortos.

[dropcap style≠’circle’]“O[/dropcap] CCAC determinou, por despacho, que tivesse lugar um inquérito sobre os procedimentos de previsão de tufões e sobre a gestão interna dos SMG”, nomeadamente “procurando determinar responsabilidades a assumir, no âmbito dos procedimentos de previsão de tufões e da gestão interna por parte do ex-director do SMG Fong Soi Kun”, referiu o CCAC em comunicado.

O resultado do inquérito, a realizar pela Direcção dos Serviços de Provedoria de Justiça, vai ser entregue ao Chefe do Executivo.

O curto intervalo de tempo entre o içar de sinais de tempestade tropical após a passagem do Hato, em particular atendendo à velocidade a que se movia o tufão, fez gerar dúvidas sobre a capacidade de previsão dos SMG.

Macau içou o sinal 3 de tempestade tropical às 03:00 de quarta-feira, elevando-o a 8 seis horas depois. Passada uma hora e meia foi hasteado o sinal 9 e, volvidos somente 45 minutos, içado o sinal máximo (10), o que não sucedia desde 1999.

Queixas antigas

Fong Soi Kun – que apresentou a demissão um dia depois do tufão Hato – tinha estado debaixo de fogo devido ao hastear dos sinais de tempestade tropical há um ano, por ocasião da passagem do tufão Nida, altura em que os SMG içaram apenas o 3, tendo sido criticados por não terem elevado o alerta para 8.

No comunicado, o CCAC lembrou ter realizado no passado uma investigação aos SMG, após ter recebido “muitas queixas apresentadas pelos cidadãos, pondo em causa a decisão de não içar o sinal 8 de tufão” aquando da passagem do Nida, em Agosto de 2016.

“Após investigação, apesar de não ter sido detectada uma violação grosseira das disposições legais, o CCAC verificou a existência de alguns problemas nos procedimentos relativos à previsão de tufões e nos respectivos critérios adoptados pelos SMG, bem como relativamente à gestão interna do mesmo serviço”, indicou o CCAC, numa referência ao que sucedeu no ano passado.

Esses problemas “já foram comunicados à direcção dos SMG”, à qual foram também submetidas “as respectivas sugestões de melhoramento”, acrescentou.

29 Ago 2017