ONU | Lula critica divisão sobre Conselho de Segurança

O Presidente do Brasil, Luiz Inácio ‘Lula’ da Silva, criticou sábado a divisão dos países em “dois blocos antagónicos” a propósito da reforma do Conselho de Segurança da ONU.
Para Lula, a solução para as actuais ameaças sistémicas “não passa pela formação de blocos antagónicos ou por respostas que contemplem um pequeno número de países”.
O chefe de Estado brasileiro fez estas declarações durante o seu primeiro discurso em Hiroxima, onde decorre a cimeira dos países do G7, num evento sobre cooperação internacional para enfrentar crises globais, segundo a imprensa brasileira.
O líder brasileiro referiu-se a um retrocesso na Organização Mundial do Comércio (OMC), embora sem citar expressamente os Estados Unidos. “Não faz sentido chamar os (países) emergentes para resolver as crises mundiais sem responder às suas preocupações” e “sem estarem adequadamente representados nos principais órgãos de governação global”, frisou Lula da Silva.
O Presidente do Brasil defendeu, assim, uma reforma profunda de organismos como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Conselho de Segurança da ONU.
Para isso, deu como exemplo a Argentina. “A dívida externa que afectou o Brasil no passado está agora a destruir a Argentina e a causar desigualdade. O FMI deve considerar as consequências sociais de suas políticas de ajuste”, apontou.

Cumprir promessas
A segunda intervenção de Lula foi numa sessão de trabalho sobre sustentabilidade, na qual atacou os países desenvolvidos pelas suas promessas não cumpridas.
Para o chefe de Estados brasileiro, o Protocolo de Quioto contra as alterações climáticas “é uma referência à falta de acção colectiva”.
“Os países ricos têm de cumprir a promessa de atribuir 100 mil milhões por ano à acção climática”, exigiu, referindo-se ao compromisso assumido na cimeira de Copenhaga, na Dinamarca.
O Presidente da Comissão Europeia apresentou o Brasil como um líder em questões ambientais. “As credenciais do Brasil são sólidas”, frisou, lembrando que a matriz energética brasileira está “entre as mais limpas do planeta”. “Queremos liderar o processo que nos permitirá salvar o planeta”, afirmou.

22 Mai 2023

Portugal | Lula diz que protesto do Chega foi “cena de ridículo” e “papelão”

O Presidente brasileiro, Lula da Silva, desvalorizou ontem o protesto do Chega durante o seu discurso no parlamento, considerando que as “pessoas quando não têm uma coisa boa para aparecer” fazem “essa cena de ridículo”, um “papelão”.

“Quem faz política está habituado a isso. Eu acho que essas pessoas quando voltarem para casa e deitarem a cabeça no travesseiro vão falar: que papelão nós fizemos”, disse Lula da Silva aos jornalistas, à saída da sala das sessões da Assembleia da República.

O chefe de Estado brasileiro disse que não viu um incidente, mas apenas “10 pessoas ou meia dúzia de pessoas protestarem, o que é a coisa mais natural na democracia”.

“Eu às vezes lamento porque as pessoas quando não têm uma coisa boa para fazer, para aparecer, as pessoas fazem essa cena de ridículo. Eu sinceramente não sei como é que estas pessoas vão chegar em casa, olhar nos seus filhos, nos seus pais e falar que estiveram na assembleia a participar num evento praticamente de homenagem à revolução dos cravos, porque foi para isso que eu vim aqui a convite do Presidente Rebelo”, afirmou.

Depois da sessão de cumprimentos, Lula da Silva considerou que a forma como a delegação brasileira foi recebida em Portugal “é uma coisa extraordinária”. “Eu só tenho que agradecer ao presidente da Assembleia [da República], ao Presidente Marcelo e ao primeiro-ministro António Costa pelo carinho e tratamento”, afirmou.

Insultos e vergonha

O presidente da Assembleia da República avisou ontem que “chega de insultos e de porem vergonha no nome de Portugal”, depois dos deputados do partido liderado por André Ventura terem levantado cartazes durante o discurso do chefe de Estado brasileiro.

Mal Lula da Silva iniciou a sua intervenção na sessão solene de boas vindas, os deputados do Chega levantaram-se e empunharam três tipos de cartazes, onde se liam “Chega de corrupção”, “Lugar de ladrão é na prisão” e outros com as cores das bandeiras ucranianas.

O Presidente do Brasil continuou o seu discurso durante mais alguns minutos, mas mal houve uma pausa, as bancadas à esquerda e do PSD aplaudiram entusiasticamente, enquanto os deputados do Chega batiam na mesa, em jeito de pateada, o que levou Augusto Santos Silva a intervir.

“Os deputados que querem permanecer na sala têm de se comportar com urbanidade, cortesia e a educação exigida a qualquer representante do povo português. Chega de insultos, chega de degradarem as instituições, chega de porem vergonha no nome de Portugal”, afirmou Santos Silva, visivelmente irritado.

26 Abr 2023

Lula da Silva ganha as eleições e diz que país “está de volta”

É um país dividido, mas o fim da era Bolsonaro significa o regresso da normalidade e da democracia. O presidente eleito tem pela frente a tarefa gigantesca de unir o país, acabar com a fome, fomentar a educação e parar com a destruição da Amazónia. O mundo está do seu lado.

 

O vencedor das eleições presidenciais brasileiras, Lula da Silva, afirmou que “o Brasil está de volta” e avisou que “não existem dois ‘Brasis. Somos um único país, um único povo, uma grande nação”, defendendo que o país precisa “de paz e união”. “O mundo sente saudade do Brasil, saudade daquele Brasil soberano, que falava de igual para igual com os países mais ricos e poderosos, e que ao mesmo tempo contribuía para o desenvolvimento dos países mais pobres. (…) Hoje, estamos a dizer ao mundo que o Brasil está de volta, que o Brasil é grande de mais para ser relegado a esse triste papel de pária no Mundo”, declarou, no seu primeiro discurso após a confirmação da sua vitória.

 

Presidente de todos

A partir de 1 de janeiro de 2023, data em que tomará posse como chefe de Estado do Brasil, Lula da Silva afirmou que vai governar “215 milhões de brasileiros e brasileiras e não apenas aqueles” que votaram na sua candidatura. O candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) defendeu que “não interessa a ninguém viver numa família onde reina a discórdia”. “É hora de reunir de novo as famílias, refazer os laços de amizade rompidos pela propagação criminosa do ódio. A ninguém interessa viver num país dividido e em permanente estado de guerra. Este país precisa de paz e união, este povo não quer mais brigar (…), é hora de baixar as armas que jamais deveriam ter sido empunhadas”, disse.

Lula da Silva reconheceu que “o desafio é imenso”. “É preciso reconstruir este país com todas as suas dimensões: na política, na economia, na gestão pública, na harmonia institucional, nas relações internacionais, e sobretudo no cuidado com os mais necessitados. É preciso reconstruir a alma deste país”, afirmou. O Presidente eleito acrescentou: “Trazer de volta a alegria de sermos brasileiros e o orgulho que sempre tivermos no verde de amarelo e a bandeira do nosso país. Esse verde e amarelo e essa bandeira não pertencem a ninguém, a não ser ao povo brasileiro”, sublinhou, recebendo fortes aplausos.

 

Fome e Amazónia

Lula apontou o combate à fome como “o compromisso número um” do seu futuro Governo e prometeu lutar pelo “desmatamento zero” da Amazónia. “O nosso compromisso mais urgente é acabar com a fome outra vez”, disse Lula. “Não podemos aceitar como normal que milhões de homens, mulheres e crianças neste país não tenham o que comer ou que consumam menos calorias e proteínas do que o necessário”, considerou.

Lula da Silva recordou que o Brasil é o terceiro maior produtor mundial de alimentos e o primeiro de proteína animal. “Se somos capazes de exportar para o mundo inteiro, temos o dever de garantir que todo o brasileiro possa tomar café da manhã, almoçar e jantar todos os dias. Este será o compromisso número do meu Governo”, prometeu.

No seu discurso, comprometeu-se também a retomar o combate às alterações climáticas e a defender a floresta amazónica. “O Brasil está pronto para retomar o seu protagonismo na luta contra a crise climática, protegendo todos os nossos biomas, sobretudo a floresta amazónica. No nosso governo, fomos capazes de reduzir em 80% o desmatamento. Agora, vamos lutar pelo desmatamento zero da Amazónia”, afirmou.

Lula da Silva sublinhou que o Brasil e o planeta “precisam de uma Amazónia viva”. “Uma árvore em pé vale mais do que uma tonelada de madeiras extraídas ilegalmente. (…) Um rio de águas límpidas vale muito mais que todo o ouro extraído (…). Quando uma criança indígena morre, uma parte da humanidade morre junto com ela”, lamentou.

Lula da Silva deixou um apelo: “Convido a cada brasileiro e cada brasileira, mais do que nunca, vamos juntos pelo Brasil, olhando mais para aquilo que nos une do que as nossas diferenças”. “Sei a magnitude da missão que a História me reservou e sei que não poderei cumpri-la sozinho. Vou precisar de todos, partidos políticos, trabalhadores, empresários, parlamentares, governadores, prefeitos, gente de todas as religiões, brasileiros e brasileiras que sonham com um Brasil mais desenvolvido, mais justo e mais fraterno”, acrescentou.

A terminar o seu discurso, de cerca de 30 minutos, Lula da Silva transmitiu uma mensagem de esperança: “O Brasil tem jeito, todos juntos seremos capazes de consertar esse país e construir um Brasil do tamanho dos nossos sonhos”.

 

2 Nov 2022

Clima | Níveis de gases com efeito de estufa com novos recordes

Os níveis dos principais gases com efeito de estufa na atmosfera registaram novos recordes em 2021, indica um relatório publicado ontem pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), que alerta especialmente para um aumento sem precedentes da concentração de metano.
Os níveis de metano na atmosfera registaram o seu maior aumento anual desde que a sua presença começou a ser medida sistematicamente há quase 40 anos e, de acordo com a OMM, que diz não ser ainda claro o motivo, pode dever-se a uma combinação de causas naturais e à actividade humana.
Diz a organização que o aumento dos níveis de metano acontece principalmente em zonas tropicais e, sobretudo, em zonas pantanosas, onde o aquecimento global poderá estar a acelerar a decomposição da matéria orgânica, aumentando assim as emissões de metano.
Outras fontes importantes de metano são culturas de arroz e as explorações pecuárias, disse o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, em conferência de imprensa citada pela agência Efe.
Os níveis de dióxido de carbono – o principal gás com efeito de estufa responsável por 80 por cento do aquecimento global – aumentaram entre 2020 e 2021 acima da média da última década, e as medições feitas nos últimos meses sugerem que este aumento continuou em 2022.
De acordo com Petteri Taalas, os cortes de emissões observados em muitos países – tanto permanentes como devido aos confinamentos provocados pela pandemia de covid-19 – não se reflectiram até agora na atmosfera.
Os níveis de óxido nitroso, o terceiro gás mais importante em matéria de alterações climáticas, também continuaram a aumentar.

Mau caminho
Em 2021, as concentrações de dióxido de carbono eram de 415,7 partes por milhão (ppm), as concentrações de metano eram de 1.908 partes por mil milhões (ppmm) e as concentrações de óxido nitroso eram de 334,5 ppmm, que são respectivamente 149 por cento, 262 por cento e 124 por cento dos níveis pré-industriais.
O documento apresentado ontem servirá de base para as discussões na próxima cimeira do clima, que se realiza em Novembro na cidade egípcia de Sharm El Sheikh.
A OMM advertiu que o aumento dos níveis de gases com efeito de estufa mostra que o mundo continua na direcção errada e indica mais uma vez que é necessária mais ambição para conter as alterações climáticas.

28 Out 2022

Israel | Jihad Islâmica lança 600 ‘rockets’. Jerusalém ataca 140 alvos

A Jihad Islâmica Palestiniana lançou quase 600 ‘rockets’ contra Israel desde sexta-feira, segundo dados divulgados ontem pelo exército israelita, que, por sua vez, atacou cerca de 140 alvos do grupo na Faixa de Gaza.

O exército israelita informou ontem que pelo menos 585 ‘rockets’ foram lançados de Gaza pelo grupo Jihad Islâmica desde que teve início o actual pico de tensão, tendo provocado, até ontem, 29 mortos – todos palestinianos – e mais de 250 feridos.

Do total de projécteis lançados de Gaza, 470 atravessaram Israel e 115 caíram dentro da própria Faixa antes de cruzarem a cerca que separa os territórios.

Até agora, Israel sofreu poucos ataques em áreas povoadas, até porque, de acordo com o exército, o sistema de defesa antiaérea ‘Iron Dome’ tem uma taxa de sucesso de 97 por cento, interceptando 185 dos foguetes lançados. Os restantes caíram em áreas despovoadas do país.

Embora a maioria dos projécteis disparados tenham sido dirigidos às comunidades israelitas da fronteira com Gaza, foram também disparados tiros em direcção a Telavive no sábado e a Jerusalém no domingo, apesar de terem sido todos interceptados antes de chegarem ao seu destino.

O exército informou também ter bombardeado 139 alvos da Jihad Islâmica em Gaza, incluindo instalações onde o grupo palestiniano disse que as armas eram fabricadas e armazenadas, locais de onde os ‘rockets’ foram lançados e uma rede de túneis supostamente usada pelo grupo.

Esses ataques causaram a morte de pelo menos nove membros da milícia da Jihad, incluindo Khaled Mansur e Taysir al-Jabari, os principais comandantes do seu braço armado.

Por sua vez, o Ministério da Saúde palestiniano especificou que entre os mortos contam-se seis crianças e quatro mulheres.

Cinco dos menores morreram no sábado à noite após o impacto de um projéctil no norte de Gaza, num incidente que, segundo Israel, foi um lançamento de foguete fracassado pela Jihad Islâmica, que, por seu lado, culpou o exército israelita pelo ataque.

Das origens

O actual pico de tensão começou após a detenção, na segunda-feira passada, do alto dirigente da organização Jihad Islâmica na Cisjordânia, Bassem Saadi.

Face a rumores sobre a possibilidade de acções armadas de retaliação a partir do enclave palestiniano, Israel lançou um ataque preventivo contra alvos da Jihad em Gaza.

O movimento palestiniano Hamas mantém-se, por enquanto, à margem do conflito, o que conseguiu conter a sua intensidade, mas já condenou Israel, considerando que está “novamente a cometer crimes”.

Israel e grupos armados em Gaza têm travado vários conflitos, o último dos quais aconteceu em Maio de 2021 e durou 11 dias, causando a morte de 260 palestinianos e 13 israelitas.

8 Ago 2022

Espaço | Restos de foguetão chinês desintegraram-se sobre o Índico

Um segmento do foguetão chinês que reentrou sábado sem controlo na atmosfera terrestre desintegrou-se sobre o oceano Índico, indicaram militares norte-americanos, sem especificar se os destroços causaram danos.
“O comando da Força Espacial confirma que o foguete Long March-5B da República Popular da China reentrou na atmosfera sobre o oceano Índico a 30 de Julho”, às 16:45 GMT, escreveu o Exército dos Estados Unidos da América (EUA) na rede social Twitter.
Os detalhes sobre a dispersão dos destroços e o local exacto do impacto foram enviados às autoridades chinesas, que lançaram o foguetão no espaço a 24 de Julho, o segundo de três módulos da estação espacial Tiangong, que deverá estar plenamente operacional no final do ano.
Com um peso estimado entre 17 e 22 toneladas e a viajar no espaço sem controlo a uma velocidade de 28 mil quilómetros por hora, o foguetão não foi concebido para controlar a sua descida, o que suscitou críticas.
A China “não deu informações precisas sobre a trajectória do seu foguetão”, apontou o administrador da NASA, Bill Nelson, numa mensagem no Twitter.
“Todos os países que desenvolvem actividades espaciais deveriam respeitar as práticas exemplares”, porque a queda de objectos desta dimensão “representa riscos importantes de provocar perdas humanas ou materiais”, acrescentou.
A entrada na atmosfera provoca um calor e fricção imensos, e os segmentos podem queimar-se ou desintegrar-se, mas os de maiores dimensões, como este foguetão, podem não ser totalmente destruídos.
A trajectória do Long March-5B estava a ser monitorizada, uma vez que podia interferir com o espaço aéreo, de acordo com um alerta feito na quinta-feira pela Agência Europeia para a Segurança da Aviação.
Numa informação dirigida aos Estados-membros, às companhias aéreas e às autoridades de aviação, a agência listava Portugal, Bulgária, França, Grécia, Itália, Malta e Espanha como os países cujo espaço aéreo poderia eventualmente ser afectado.

Do mesmo

Em 2020, os destroços de outro foguetão Long March caíram em aldeias da Costa do Marfim, provocando danos, mas sem provocar feridos.
Em Maio de 2021, um outro foguetão, também Long March, desintegrou-se quase totalmente na atmosfera terrestre e os detritos caíram no oceano Índico sem causar danos.
O foguetão Long March-5B foi lançado no passado domingo da ilha de Hainan para transportar um módulo da nova estação espacial chinesa.
A China enviou o seu primeiro astronauta para o espaço em 2003, e em 2021 fez aterrar um pequeno robot em Marte.

1 Ago 2022

Ucrânia | China considera que Rússia tem “preocupações razoáveis”

A China disse ontem compreender as “preocupações razoáveis” de Moscovo em relação à Ucrânia, que os Estados Unidos receiam que seja alvo de um eventual ataque russo em meados de Fevereiro.

O Ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, falou ontem por telefone com o seu homólogo norte-americano, Antony Blinken, sobre a Ucrânia.

O país asiático absteve-se, até à data, de tomar explicitamente partido na crise entre a Rússia e o Ocidente, que acusa Moscovo de ter reunido 100.000 soldados junto à fronteira com a Ucrânia.

“As preocupações razoáveis de segurança da Rússia devem ser levadas a sério e abordadas”, disse Wang a Blinken, segundo um comunicado divulgado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.

A posição de Wang surge um dia após a rejeição formal por parte dos Estados Unidos e da NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte) do principal pedido de Moscovo: recusar a adesão da Ucrânia à Aliança Atlântica.

O chefe da diplomacia chinesa argumentou que a “segurança regional não pode ser garantida pelo fortalecimento ou expansão de blocos militares”.

“Pedimos calma a todas as partes, que se abstenham de aumentar as tensões e de escalar a crise”, afirmou Wang, ecoando a posição de Moscovo, que acusou o Ocidente de “histeria” em relação à Ucrânia e negou quaisquer planos para invadir o país.

Travão olímpico

 De acordo com o comunicado do Departamento de Estado norte-americano, Blinken sublinhou ao homólogo chinês os “riscos globais de segurança e económicos apresentados por uma nova agressão russa contra a Ucrânia”.

Washington continua convencido do risco de um ataque russo contra Kiev.

“Tudo indica” que Putin “vai usar a força militar em qualquer altura, talvez entre agora e meados de Fevereiro”, disse a vice-secretária de Estado dos EUA, Wendy Sherman, na quarta-feira.

Destacou que a abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, em 4 de Fevereiro, pode influenciar o “calendário” russo, para evitar ofender o Presidente chinês, Xi Jinping, durante este evento importante para a China.

Na segunda-feira, Pequim descartou informações da imprensa norte-americana que afirmaram que Xi pediu a Putin para não invadir a Ucrânia durante os Jogos Olímpicos.

Durante a sua reunião com Blinken, Wang Yi também pediu a Washington que pare de “perturbar” os Jogos de Inverno.

Os países ocidentais acusam a Rússia de pretender invadir novamente o país vizinho, depois de ter anexado a península ucraniana da Crimeia, em 2014, e de patrocinar, desde então, um conflito em Donbass, no leste da Ucrânia.

A Rússia nega quaisquer planos para uma invasão, mas associa uma diminuição da tensão a tratados que garantam que a NATO não se expandirá para países do antigo bloco soviético.

28 Jan 2022

UE | Mobilizados 700 mil euros em ajuda humanitária para fronteira bielorrussa-polaca

A Comissão Europeia anunciou ontem a mobilização de 700 mil euros da União Europeia (UE) em ajuda humanitária para “aliviar o sofrimento” dos migrantes em situação vulnerável na fronteira bielorrussa-polaca, numa altura de forte pressão migratória.

“Respondendo imediatamente a um apelo, a Comissão Europeia atribuiu 200 mil euros de financiamento humanitário ao Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho”, anuncia o executivo comunitário em comunicado, especificando que esta verba será gerida pela Cruz Vermelha bielorrussa para “fornecer a tão necessária assistência de socorro, incluindo alimentos, ‘kits’ de higiene, cobertores e ‘kits’ de primeiros socorros” aos milhares de migrantes concentrados na fronteira.

Além disso, “a UE mobilizou mais 500 mil euros em financiamento humanitário e está actualmente em contacto com as organizações humanitárias parceiras para a implementação dos fundos”, acrescenta a Comissão Europeia.

Citado pela nota de imprensa, o comissário europeu responsável pela Gestão de Crises, Janez Lenarčič, observa que “a UE está a apoiar os seus parceiros humanitários para ajudar a aliviar o sofrimento das pessoas presas na fronteira e em outras partes da Bielorrússia”.

“Apelo ao acesso contínuo das organizações humanitárias de ambos os lados para que cheguem a este grande grupo de refugiados e migrantes para lhes prestar assistência urgente”, exorta o responsável.

A Comissão Europeia adianta na informação ontem divulgada estar “pronta a fornecer financiamento humanitário adicional em resposta a necessidades humanitárias claramente definidas caso o acesso das organizações parceiras humanitárias na Bielorrússia melhore”.

“Toda a ajuda humanitária da UE é baseada em princípios humanitários internacionais. A UE fornece assistência humanitária baseada nas necessidades às pessoas atingidas por catástrofes naturais e provocadas pelo homem, com particular atenção às vítimas mais vulneráveis [sendo que] a ajuda é canalizada de forma imparcial às populações afectadas, independentemente da sua raça, grupo étnico, religião, sexo, idade, nacionalidade ou filiação política”, adianta a instituição.

Resposta europeia

O anúncio surge depois de, na segunda-feira, o Conselho da UE ter alterado o seu regime de sanções à Bielorrússia, alargando os critérios de listagem a cooperantes do regime, para responder à instrumentalização de migrantes e aos ataques híbridos de Minsk.

Com o alargamento dos critérios, as sanções da UE podem agora “visar indivíduos e entidades que organizam ou contribuem para actividades do regime de (Presidente bielorrusso, Alexander) Lukashenko, que facilitam a passagem ilegal das fronteiras externas” do bloco.

Com esta alteração, a UE poderá incluir as pessoas e empresas, como companhia aéreas, que colaboram com a Bielorrússia na condução de migrantes para as fronteiras com o bloco europeu, nomeadamente a da Polónia.

A decisão segue-se às conclusões do Conselho Europeu de 21 e 22 de Outubro, nas quais os líderes da UE declararam que não aceitariam qualquer tentativa de países terceiros de instrumentalizar os migrantes para fins políticos, condenaram todos os ataques híbridos nas fronteiras da UE e afirmaram que responderiam em conformidade.

As sanções à Bielorrússia têm sido ampliadas progressivamente, desde Outubro de 2020, acompanhando a situação no país, depois de terem sido adoptadas em resposta às eleições presidenciais de Agosto do ano passado, que a UE considera terem sido fraudulentas e manipuladas, não reconhecendo a reeleição de Lukashenko.

 

18 Nov 2021

Militares usam gás lacrimogéneo para repelir migrantes na fronteira da Polónia

As forças de segurança polacas usaram ontem gás lacrimogéneo e granadas atordoantes contra um grupo de migrantes concentrados na fronteira entre a Bielorrússia e a Polónia, segundo imagens divulgadas pela televisão bielorrussa e pela agência estatal Belta.

De acordo com as mesmas fontes, os migrantes romperam as cercas na zona de passagem da fronteira de Bruzgui-Kuznica para tentar entrar na Polónia, ou seja, no espaço da União Europeia (UE), e atiraram pedras contra os militares polacos.

A situação também foi divulgada pelo Ministério da Defesa polaco, que, numa declaração divulgada através da rede social Twitter, descreveu os acontecimentos em Kuznica.

“Kuznica: Os migrantes estão a atacar os nossos soldados e oficiais com pedras e a tentar destruir a cerca para entrar na Polónia”, escreveu o ministério, acrescentando que “as forças [polacas] usaram gás lacrimogéneo e granadas atordoantes para repelir o ataque dos migrantes”.

Depois do confronto, a situação acabou por acalmar e os migrantes regressaram ao seu acampamento improvisado, em território bielorrusso.

A generalização dos confrontos com os seus vizinhos europeus foi precisamente o que o Presidente bielorrusso afirmou ontem que quer evitar.

Alexander Lukashenko garantiu que quer evitar a escalada da crise migratória na fronteira com a Polónia, da qual é acusado de ser responsável, e adiantou ter conversado com a chanceler alemã sobre uma possível solução.

Segundo o regime de Minsk, o Presidente bielorrusso propôs, durante uma conversa telefónica realizada na segunda-feira com a chanceler alemã, Angela Merkel, uma forma de resolver a crise migratória na fronteira, mas escusou-se a referir pormenores.

“Decidimos com Merkel que, para já, não vamos falar especificamente sobre isso. Ela pediu tempo, uma pausa, para discutir essa proposta com os membros da UE”, justificou.

Lukashenko adiantou que aguarda um novo telefonema de Merkel para continuar a discutir uma possível solução e sublinhou que o maior problema é a situação dos mais de 2.100 migrantes que se reuniram perto da passagem da fronteira em Bruzgui-Kuznica, no lado bielorrusso da fronteira com a Polónia.

“O problema, como disse Merkel, é que se não salvarmos estas pessoas, todos perderemos: a Bielorrússia, mas também e ainda mais a UE, que não permitiu a entrada destes refugiados. É por isso que a situação dos refugiados deve ser resolvida imediatamente”, referiu.

 

Troca de acusações

Varsóvia tem acusado a Bielorrússia de usar migrantes, maioritariamente oriundos do Médio Oriente, para desestabilizar a UE, atraindo-os com vistos e facilitando-lhes a chegada à fronteira com países do bloco comunitário.

Na semana passada, Merkel conversou telefonicamente com o Presidente russo, Vladimir Putin, tendo afirmado considerar “inaceitável e desumana a instrumentalização de migrantes” na fronteira entre a Polónia e a Bielorrússia, onde milhares de pessoas estão concentradas em acampamentos precários, sem alimentos e expostas a baixas temperaturas, à espera de uma oportunidade para entrar no espaço da UE.

Na segunda-feira, Bruxelas e Washington anunciaram querer ampliar, nos próximos dias, as sanções ao regime de Minsk, já sancionado devido à repressão contra a oposição desde as eleições de 2020.

“O principal hoje é defender o nosso país, o nosso povo e evitar confrontos”, disse Lukashenko, citado esta terça-feira pela agência Belta.

“Este problema não deve transformar-se num confronto feroz”, concluiu.

17 Nov 2021

Tribunal russo rejeita recurso de norte-americano condenado por espionagem

Um tribunal de apelação russo rejeitou ontem o recurso do preso norte-americano Paul Whelan contra a decisão de recusa do seu pedido de transferência para o cumprimento da pena de 16 anos nos Estados Unidos. Paul Whelan foi condenado por espionagem.

O serviço de imprensa da quarta câmara do tribunal de apelação de Nizhny Novgorod declarou à agência de notícias EFE que o juiz Nikolai Volkov confirmou a decisão do supremo tribunal da República da Mordóvia, onde Whelan está a cumprir a pena de 16 anos de prisão, que em Setembro não aceitou o pedido da defesa do norte-americano.

Os advogados do norte-americano, um ex-fuzileiro naval, disseram que vão apelar da sentença junto de um tribunal de cassação e não descartaram recorrer ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH).

Whelan foi preso em 28 de Dezembro de 2018 por agentes do Serviço Federal de Segurança (FSB, ex-KBG) num hotel de Moscovo por supostas “actividades de espionagem” em favor dos Estados Unidos.

As autoridades russas acusaram-no de ter recebido de um conhecido uma ‘pen’ de memória, que alegadamente “continha a lista completa dos trabalhadores de um serviço secreto”.

Whelan negou todas as acusações e descreveu o caso como “sequestro político”, enquanto a sua família garantiu que o norte-americano viajou a Moscovo como convidado de um casamento.

O procurador-geral indicou na audiência de ontem que o norte-americano, que também tem nacionalidade britânica, irlandesa e canadiana, pertencia ao “pessoal do serviço de informações do Departamento de Defesa e tentou obter dados sobre alunos da academia do Serviço Federal de Segurança”.

Para ficar

O advogado de Whelan, Vladimir Zherebenkov, disse à imprensa que o ex-fuzileiro naval recebeu informações falsas sobre alunos da academia do FSB, pois havia dados na ‘pen’ de memória de pessoas “que não existem”, sugerindo que se tratava de uma armadilha.

Actualmente, dezassete cidadãos norte-americanos, muitos deles com dupla cidadania, estão detidos em prisões russas, de acordo com uma lista do Serviço Prisional Federal da Rússia.

O advogado de Whelan disse ontem que não há negociações entre a Rússia e os Estados Unidos sobre este assunto.

9 Nov 2021

Literatura | Prémio Nobel para o tanzaniano Abdulrazak Gurnah

A Academia Sueca distinguiu com o Nobel da Literatura o escritor tanzaniano Abdulrazak Gurnah “pela sua penetração compassiva e intransigente dos efeitos do colonialismo e do destino dos refugiados no fosso entre culturas e continentes”. Hoje é conhecido o Nobel da Paz, depois de já terem sido revelados os prémios da Química, Física e Medicina

[dropcap]O[/dropcap] Comité do Nobel da Literatura anunciou ontem que o prémio deste ano foi para o escritor tanzaniano Abdulrazak Gurnah, autor de “Paradise” e “Desertion” e de obras que reflectem as consequências do colonialismo e a condição dos refugiados.

Nascido em 1948 na ilha de Zanzibar, na Tanzânia, Abdulrazak Gurnah mudou-se para o Reino Unido nos anos 60 com o estatuto de refugiado. Apesar do Swahili ser a sua primeira língua, Gurnah cedo começou a escrever em inglês, fazendo desta a sua ferramenta literária.

Esta foi a primeira vez desde 2012 que o Nobel é atribuído a um escritor não europeu ou americano: nesse ano foi Mo Yan, escritor chinês, a receber o prémio.

O autor, nascido na Tanzânia, foi assim distinguido este ano com o prémio literário, depois de este ter sido atribuído em 2020 à poetisa Louise Glück, em 2019 ao romancista, poeta e dramaturgo Peter Handke e em 2018 à romancista e contista Olga Tokarczuk.

De acordo com a Academia Sueca, o grosso da obra de Gurnah — consistente em 10 romances e vários contos — debruça-se sobre a condição do refugiado, da dificuldade entre manter a identidade que se carrega e a que é preciso criar numa nova terra.

Abdulrazak Gurnah não tem actual obra traduzida disponível em Portugal. O seu único título trazido para o mercado nacional é “Junto ao Mar”, editado pela defunta Difel, em 2003.

Tal como ocorreu em 2020, o Comité do Nobel da Literatura anunciou que os vencedores das diferentes categorias do Nobel não tomarão parte no tradicional jantar que ocorre em Dezembro em Estocolmo devido à situação pandémica. Por isso mesmo, a cerimónia de entrega e os discursos dos vencedores são transmitidos.

Ciências da natureza

Na quarta-feira foi a vez do prémio Nobel da Química, entregue ao alemão Benjamin List e ao escocês David MacMillan “pelo desenvolvimento de organocatálises assimétricas”. Os dois cientistas, apesar de manterem investigações em separado, chegaram a uma maneira de desenvolver moléculas de forma mais rápida e que possibilita maiores avanços no ramo farmacêutico.

Segundo a Academia Sueca, os dois laureados desenvolveram “uma nova e engenhosa ferramenta para o fabrico de moléculas” através de “organocatálise”, o que permite a “investigação de novos fármacos e já permitiu começar a tornar o ramo da química mais verde”.

A descoberta consiste no facto de que, à data, se acreditar que apenas metais e enzimas fossem capazes de catalisar a formação de moléculas. No entanto, o seu processo de “organocatálise assimétrica” permite que se criem “pequenas moléculas orgânicas”, o que facilita avanços em múltiplas indústrias.

A criação molecular é uma parte fundamental da química, o que, por sua vez, alimenta muitos dos avanços científicos já realizados e ainda por realizar. Até agora, a formação de moléculas estava a cargo de enzimas, isoladas pelos cientistas e sujeitas a experiências para provocar reações químicas.

Agora, porém, houve avanços. Se List conseguiu catalisar a criação de moléculas não através de uma enzima, mas de um aminoácido chamado prolina, já MacMillan chegou à conclusão que os catalisadores metálicos se destruíam através da mistura e que talvez fosse necessário criar um tipo de catalisador mais duradouro.

O estudo do caos

O Nobel da Física deste ano foi atribuído a Syukuro Manabe, Klaus Hasselmann e Giorgio Parisi “pelas suas contribuições para a nossa compreensão de sistemas físicos complexos”.

A Real Academia Sueca de Ciências explica que os três laureados foram distinguidos “pelos seus estudos de fenómenos caóticos e aparentemente aleatórios. Syukuro Manabe e Klaus Hasselmann estabeleceram a base de nosso conhecimento sobre o clima da Terra e como a humanidade o influencia. Giorgio Parisi é distinguido pelo seu contributo revolucionário para a teoria de materiais desordenados e processos aleatórios”.

O primeiro prémio do ano a ser conhecido foi o Nobel da Medicina, atribuído conjuntamente a David Julius e Ardem Patapoutian pelas “descobertas de receptores de temperatura e tacto”. As suas descobertas explicam como o calor, o frio e o tacto enviam sinais ao sistema nervoso.

“A nossa capacidade de sentir calor, frio e o tacto são essenciais para a sobrevivência e para a interação com o mundo à nossa volta. No nosso dia-a-dia tomamos essas sensações como garantidas, mas como é que os impulsos nervosos são iniciados, para que a temperatura e a pressão sejam percepcionados? Esta foi a resposta que os laureados pelo Nobel [da Medicina de 2021] encontraram”, explica o comité Nobel.

David Julius utilizou a capsaicina, um composto químico e o componente activo das pimentas que induz uma sensação de ardor para identificar um sensor nas terminações nervosas da pele que respondem ao calor. Já Ardem Patapoutian utilizou células sensíveis à pressão para descobrir um novo tipo de sensores que respondem ao estímulo mecânico na pele e nos órgãos internos.

Como resultado destas descobertas, passou a ser possível compreender melhor como o calor, o frio e o toque são processados pelo sistema nervoso, sendo que os canais iónicos identificados são importantes para muitos processos fisiológicos e situações de doença.

O conhecimento adquirido está já a ser utilizado no desenvolvimento de tratamentos para uma série de patologias, incluindo dor crónica. “Os laureados identificaram os elos essenciais que faltavam à nossa compreensão sobre a complexa interacção entre os nossos sentidos e o meio ambiente”, conclui o comité Nobel.

Até às descobertas alcançadas por David Julius e Ardem Patapoutian, a compreensão do funcionamento do sistema nervoso e a interpretação do ambiente à sua volta desconhecia ainda como é que a temperatura e os estímulos mecânicos eram convertidos em impulsos eléctricos no sistema nervoso.

David Julius nasceu em Nova Iorque, em 1955, e é atualmente professor na Universidade da Califórnia. Ardem Patapoutian nasceu em Beirute, no Líbano, em 1967, mas mudou-se durante a juventude para os Estados Unidos e é agora cientista no instituto Scripps Research, em La Jolla, na Califórnia.

10 Out 2021

Pedofilia | Papa Francisco manifesta vergonha pela “longa incapacidade da igreja”

[dropcap]O[/dropcap] Papa Francisco expressou ontem a sua “vergonha” pela “longa incapacidade da Igreja” para lidar com casos de padres pedófilos, após a publicação do relatório sobre os 330.000 casos de abuso ou violência sexual por parte do clero francês.

“É um momento de vergonha”, disse o Papa Francisco durante a audiência geral ao saudar os fiéis franceses, expressando às vítimas a sua “tristeza e dor pelos traumas que sofreram”.

De acordo com o relatório publicado na terça-feira por uma comissão independente, desde 1950 houve pelo menos 330.000 casos de abuso ou violência sexual contra menores ou pessoas vulneráveis e foram identificados entre 2.900 e 3.200 pedófilos religiosos.

De acordo com o relatório, cerca de 216 mil crianças ou adolescentes foram abusados ou agredidos sexualmente por clérigos católicos ou religiosos. O número de vítimas sobe para 330 mil quando considerados “agressores leigos que trabalham em instituições da Igreja Católica”, nomeadamente nas capelanias, professores nas escolas católicas ou em movimentos juvenis.

“Infelizmente são números enormes”, disse o Papa, referindo-se ao relatório em que emergia um panorama desolador para a Igreja Católica, “muito acima do esperado”, como reconheceu o presidente da Conferência Episcopal Francesa, Éric de Moulins-Beaufort .

“Desejo exprimir às suas vítimas a minha tristeza e a minha dor e pelos traumas que sofreram, a minha vergonha, a nossa vergonha, pela longa incapacidade da Igreja em colocá-los no centro das suas preocupações”, sublinhou o Papa.

E acrescentou: “Rezemos, Senhor, a Ti a glória e a nós a vergonha”.

Feridas e coragem

Francisco também encorajou “os bispos, fiéis, superiores e religiosos a continuarem todos os esforços para que dramas semelhantes não se repitam” e expressou apoio aos religiosos franceses para superar “esta provação”.

O Papa Francisco convidou também os católicos franceses a assumirem “suas responsabilidades para que a Igreja seja um lar seguro para todos”.

Após a publicação do relatório, a assessoria de imprensa do Vaticano publicou uma nota na qual o Papa expressava sua “dor” e se dizia que os seus pensamentos se dirigiam “em primeiro lugar às vítimas, com grande dor, pelas suas feridas”, agradecendo pela coragem de denunciar os factos.

Francisco foi informado da publicação do relatório pelos bispos franceses, que recebeu nos últimos dias durante as visitas ‘ad limina’ (que se realizam a cada cinco anos).

“O seu pensamento dirige-se em primeiro lugar às vítimas, com grande dor, pelas suas feridas, e gratidão, pela sua coragem na denúncia, e à Igreja da França, porque, na consciência desta terrível realidade, (…) é possível embarcar num caminho de redenção “, referia o comunicado.

O relatório surge depois do escândalo que envolveu o agora ex-padre Bernard Preynat, condenado, no ano passado, por abuso sexual a uma pena de prisão de cinco anos, por ter abusado de mais de 75 rapazes durante décadas.

7 Out 2021

Filipinas | Filho de Ferdinand Marcos candidato à presidência

Ferdinand “Bongbong” Marcos, filho do ditador filipino Ferdinand Marcos, anunciou ontem que se candidatará à presidência em 2022, 35 anos após o seu pai ter sido deposto por uma revolução popular pacífica.

“Anuncio hoje a minha intenção de concorrer à presidência das Filipinas nas eleições de Maio de 2022. Trarei essa forma de liderança unificadora ao nosso país”, anunciou Marcos num vídeo gravado na sua página do Facebook.

Marcos, que foi senador e perdeu a vice-presidência em 2016 por alguns milhares de votos, especulava há meses sobre a candidatura ao tão esperado regresso ao poder da sua família, que teve de se exilar no Havai após a deposição do seu pai em 1986.

Num discurso de três minutos em inglês e tagalo, que se centrou na devastação da pandemia da covida-19, Marcos salientou a necessidade de unidade nacional e “uma visão partilhada” para que o país saia da crise.

“Junta-te a mim na mais nobre das causas e teremos sucesso”, disse Marcos “Bongbong” diante de um grupo de apoiantes no final do vídeo, gravado em Manila.

A candidatura surge após meses de rumores na imprensa e nas redes sociais, sobre a possível escolha de Sara Duterte, a filha do actual presidente, que também está a considerar concorrer à presidência, como sua companheira de candidatura à vice-presidência.

Desafio maior

Aos 64 anos, o filho do ditador que governou as Filipinas durante mais de duas décadas enfrenta o seu maior desafio político numa eleição em que defrontará, entre outros, o doze vezes campeão mundial de boxe, Manny Pacquiao, e o actual presidente da câmara de Manila, Isko Moreno.

Segundo as últimas sondagens, os seus índices de popularidade permitem-lhe sonhar em imitar o seu pai, cuja figura permanece controversa e atrai um número crescente de nostálgicos.

Marcos fez a sua estreia política em 1980 quando, aos 23 anos de idade, se tornou vice-governador da província de Ilocos Norte, o feudo dos Marcos, onde também serviu como governador antes de se tornar senador de 2010 a 2016.

A recuperação do poder, que consideram usurpado após a revolução pacífica do povo apoiada pela Igreja Católica e algumas elites em 1986, tem sido desde então uma obsessão da dinastia, cuja matriarca, Imelda Marcos, também concorreu à presidência em 1992.

Agora, com 92 anos e reformada da política, depois de ter ocupado o seu lugar no Congresso até 2019, a chamada “Borboleta de Ferro” tem sido a defensora mais tenaz do legado do seu marido, que morreu no exílio no Havai em 1989.

O revisionismo sobre o ditador Ferdinand Marcos, que impôs uma Lei Marcial com mão de ferro em 1972 e suprimiu qualquer indício de dissidência, foi impulsionado nos últimos anos pelo actual presidente, Rodrigo Duterte, que autorizou a transferência dos seus restos mortais para o Cemitério dos Heróis em Manila, em 2016, e chamou a Bongbong um “sucessor adequado”.

Bongbong e a sua irmã Imee também sugeriram que se retirassem dos livros de história as referências aos abusos dos direitos humanos durante o governo do seu pai, um período de estabilidade e prosperidade de acordo com eles, e encorajaram os seus detratores a “virar a página”.

6 Out 2021

Morreu Otelo Saraiva de Carvalho, militar e estratego do 25 de Abril

Otelo Saraiva de Carvalho, militar e estratego do 25 de Abril de 1974, morreu ontem de madrugada aos 84 anos, no hospital militar. O Presidente da República destacou “a importância capital” de Otelo Saraiva de Carvalho na revolução dos cravos, evocando-o como o capitão “protagonista cimeiro num momento decisivo da história contemporânea portuguesa”.

“O Presidente da República, consciente das profundas clivagens que a sua personalidade suscitou e suscita na sociedade portuguesa, evoca-o, neste momento como o Capitão que foi protagonista cimeiro num momento decisivo da história contemporânea portuguesa”, refere Marcelo Rebelo de Sousa, numa nota publicada na página da Presidência da República.

O chefe de Estado considera que “ainda é cedo para a história o apreciar com a devida distância”, no entanto salienta que “parece inquestionável a importância capital que teve no 25 de Abril, o símbolo que constituiu de uma linha político-militar durante a revolução, que fica na memória de muitos portugueses associado a lances controversos no início” da democracia, “e que suscitou paixões, tal como rejeições”.

Marcelo Rebelo de Sousa relembra o que disse no último 25 de Abril “acerca da aceitação que os portugueses devem procurar construir, todos os dias, relativamente a sua história pátria”.

Na nota, o Presidente da República apresenta à família de Otelo Saraiva de Carvalho e à Associação 25 de Abril os seus sentimentos, realçando o “papel central de comando no 25 de Abril”. “Um dos mais activos capitães de Abril, exerceu funções muito relevantes durante a revolução e candidatou-se à Presidência da República em 1976. Afastado do poder na sequência do 25 de Novembro de 1975, viria a ser considerado, pela Justiça, envolvido nas FP25, condenado e amnistiado”, escreve ainda Marcelo Rebelo de Sousa.

Vida de militar

Nascido em 31 de Agosto de 1936 em Lourenço Marques, Moçambique, Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho teve uma carreira militar desde os anos 1960, fez uma comissão durante a guerra colonial na Guiné-Bissau, onde se cruzou com o general António de Spínola, até ao pós-25 de Abril de 1974.

No Movimento das Forças das Forças Armadas (MFA), que derrubou a ditadura de Salazar e Caetano, foi ele o encarregado de elaborar o plano de operações militares e, daí, ser conhecido como estratego do 25 de Abril.

Depois do 25 de Abril, foi comandante do COPCON, o Comando Operacional do Continente, durante o Processo Revolucionário em Curso (PREC), surgindo associado à chamada esquerda militar, mais radical, e foi candidato presidencial em 1976.

Na década de 1980, o seu nome surge associado às Forças Populares 25 de Abril (FP-25 de Abril), organização armada responsável por vários atentados e mortes, tendo sido condenado, em 1986, a 15 anos de prisão por associação terrorista. Em 1991, recebeu um indulto, tendo sido amnistiado anos depois.

26 Jul 2021

Covid-19 | Vacina da Moderna eficaz contra novas variantes

A empresa biotecnológica norte-americana Moderna anunciou esta segunda-feira que a sua vacina contra a covid-19 mantém a eficácia contra as variantes britânica e sul-africana do novo coronavírus, consideradas mais contagiosas.

Em comunicado, que cita resultados preliminares, a Moderna sustenta que a sua vacina “mantém atividade neutralizadora” para as variantes do SARS-CoV-2 com origem no Reino Unido e na África do Sul, e já detetadas em Portugal.

Segundo a empresa de biotecnologia, “é esperado que o regime de duas doses” da vacina “proteja contra as estirpes emergentes detetadas até à data”.

O comunicado refere que, em relação à variante britânica, não foi verificado “nenhum impacto significativo nos títulos [níveis de anticorpos] neutralizadores”.

Quanto à variante sul-africana, “foi observada uma redução de seis vezes nos títulos neutralizadores”, mas tais níveis “permanecem acima” dos que “se espera que configurem uma proteção”.

A Moderna adianta, porém, que, “por precaução”, está a desenvolver uma “variante de reforço” da sua vacina contra a estirpe sul-africana e que irá testar “uma dose adicional de reforço” da vacina para avaliar “a capacidade de aumentar ainda mais os títulos neutralizadores contra estirpes emergentes”.

Os resultados hoje divulgados, que carecem ainda de revisão pelos pares para efeitos de publicação científica, foram obtidos a partir de um estudo ‘in vitro’ que analisou, a partir de soro sanguíneo humano e de macacos, a capacidade da vacina de induzir a formação de anticorpos neutralizadores potentes contra as duas variantes.

Tanto as pessoas, oito ao todo, com idades entre os 18 e os 55 anos, como os macacos foram inoculados com duas doses (as recomendadas) da vacina da Moderna contra a covid-19.

O trabalho foi feito pela empresa de biotecnologia em colaboração com o Centro de Investigação de Vacinas do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, nos Estados Unidos.

“Estamos entusiasmados com estes novos dados, que reforçam a nossa confiança de que a vacina da Moderna contra a covid-19 deve trazer proteção contra estas novas variantes detetadas”, disse, citado no comunicado, o patrão da Moderna, Stéphane Bancel.

A vacina contra a covid-19 da Moderna foi aprovada, para uso condicionado, na União Europeia no início de janeiro. Portugal recebeu as primeiras 8.400 doses desta vacina em meados do mesmo mês.

26 Jan 2021

Joe Biden já é Presidente dos EUA. Discurso virado para unidade nacional e confiança na democracia

Joe Biden pediu esta quarta-feira aos norte-americanos espírito de unidade e confiança na democracia, perante os difíceis desafios que o país enfrenta, no discurso inaugural do seu mandato como 46.º Presidente dos EUA.

“A vontade do povo foi ouvida, e a vontade do povo foi atendida. Aprendemos novamente que a democracia é preciosa e a democracia é frágil. Nesta hora, a democracia prevaleceu”, disse Biden, acrescentando que o dia da sua tomada de posse, “é o dia da América, o dia da democracia, um dia na história e na esperança, de renovação e determinação”

Biden disse que “poucos encontraram um tempo tão difícil como aquele que atravessamos”, referindo-se explicitamente à pandemia de covid-19, à violência nas ruas das cidades norte-americanas, às divisões políticas e à crise económica. “Poucas pessoas na história de nossa nação desafiaram tanto, ou acharam uma época mais desafiadora ou difícil do que a que estamos agora”, admitiu Biden.

“Temos muito que fazer neste inverno de perigo e possibilidades significativas: muito para reparar, muito para restaurar, muito para curar, muito para construir e muito para ganhar”, acrescentou o novo Presidente norte-americano.

Perante a ausência de Donald Trump – o Presidente republicano que terminou ontem, dia 20, o seu mandato e preferiu não estar presente para assistir à cerimónia de transição de poder – mas perante a presença dos antigos presidentes Bill Clinton, George W. Bush e Bill Clinton, Biden agradeceu aos antecessores pela forma como preservaram a democracia e a relevância do cargo que agora ocupa.

Uma parte relevante do seu discurso inaugural dirigiu-se aos adversários políticos, apelando ao diálogo e à compreensão, dizendo que devem procurar soluções em conjunto. “Não nos devemos olhar como adversários, mas como vizinhos”, disse Biden.

“Sei que as forças que nos dividem são profundas e reais. Mas também sei que não são novas. A nossa história tem sido uma luta constante entre o ideal americano, de que todos somos criados iguais, e a dura e horrível realidade do racismo, medo e demonização que há muito nos separam”, explicou Biden.

“Este é o nosso momento histórico de crise e desafio. A unidade é o caminho a seguir e devemos enfrentar esse momento como Estados Unidos da América”, acrescentou o Presidente, pedindo para que esse momento de unidade prevaleça, mesmo depois de episódios traumáticos, como o ataque ao Capitólio por apoiantes de Trump, no dia 06 de janeiro.

“Aqui estamos nós, poucos dias depois que uma multidão turbulenta pensar que poderia usar a violência para silenciar a vontade do povo”, disse Biden, afirmando que ninguém pode “parar o trabalho da democracia”.

“Isso não aconteceu. Nunca vai acontecer. Nem hoje, nem amanhã. Nunca. Nunca”, garantiu o Presidente, referindo-se aos poderes negativos e violentos que prometeu derrotar no seu mandato.

Biden insistiu em que a “discórdia não pode ser pretexto para guerra total”, estendendo a mão aos adversários, prometendo que será o “Presidente de todos os americanos” e dizendo que se empenhará a defender os seus apoiantes como os seus adversários.

O novo Presidente disse que este é o momento “para baixar a temperatura”, para acalmar ânimos políticos desavindos, perante graves desafios. “Vamos derrotar a pandemia. Mas vamos fazê-lo juntos. Temos de o fazer juntos”, prometeu Biden, recordando que a crise sanitária que se vive já matou tantos norte-americanos como a Segunda Guerra Mundial.

Biden pediu mesmo uns segundos de silêncio para orar pelas vítimas mortais da pandemia, colocando o problema como prioridade da sua agenda política. Mas Biden também teve uma mensagem para o exterior dos Estados Unidos, dirigindo-se aos inimigos e aliados.

“Seremos aliados de confiança. Seguros e fortes”, disse Biden, prometendo reatar alianças que possam ter sido enfraquecidas pelo seu antecessor, embora o novo Presidente não se tenha referido a nenhum caso em particular, nem tenha feito nenhuma crítica directa a Trump.

Ainda assim, Biden disse acreditar que os Estados Unidos podem “voltar a ser um aliado em que se pode confiar”. Biden prometeu ainda combater as “mentiras”, dizendo que os actores políticos não as podem usar para seu benefício, prometendo “lisura” e transparência na forma como ocupará o seu lugar na Casa Branca.

“Os melhores anjos sempre prevaleceram”, concluiu Biden, dizendo que a proteção da Constituição será sempre uma preocupação e prometendo que “a democracia e a esperança” não morrerão no seu mandato que ontem teve início.

21 Jan 2021

ONU | António Guterres candidata-se a segundo mandato como secretário-geral da ONU

A disponibilidade de António Guterres para cumprir um segundo mandato de cinco anos como secretário-geral da ONU foi ontem confirmada e em 75 anos de vida das Nações Unidas apenas o egípcio Boutros Boutros-Ghali não foi reconduzido no cargo.

Guterres, ex-primeiro-ministro português e ex-Alto Comissário da ONU para os Refugiados, foi aclamado pelos 193 Estados-membros da Assembleia-Geral para o cargo de secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) a 13 de outubro de 2016, após uma importante e determinante recomendação do Conselho de Segurança adoptada a 06 de outubro.

Em janeiro de 2017, Guterres, o primeiro português a alcançar um cargo desta dimensão mundial, tornava-se no nono secretário-geral da ONU para um mandato de cinco anos, até 31 de dezembro de 2021.

Ontem, o seu porta-voz, Stéphane Dujarric, confirmou que o representante está disponível para cumprir um novo mandato para o período de 2022-2026, tendo já informado os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (o órgão máximo das Nações Unidas por ter a capacidade de fazer aprovar resoluções com caráter vinculativo) – Estados Unidos, Rússia, França, Reino Unido e China –, e o presidente da Assembleia-Geral, o diplomata turco Volkan Bozkir, sobre a sua vontade.

A intenção também foi formalizada junto do presidente do Conselho de Segurança, cuja presidência rotativa é assegurada este mês pela Tunísia.

O secretário-geral é nomeado pela Assembleia-Geral, sob recomendação do Conselho de Segurança. A selecção (ou neste caso recondução) do secretário-geral está, portanto, sujeita ao veto de qualquer um dos cinco Estados-membros permanentes do Conselho de Segurança (os únicos que têm esse direito).

O secretário-geral “é um símbolo dos ideais das Nações Unidas” e “um porta-voz dos interesses dos povos do mundo, em particular dos pobres e vulneráveis”, segundo a definição publicada pela própria organização na sua página na Internet.

A par do ex-primeiro-ministro português, apenas outros oito nomes (todos homens) ocuparam este cargo ao longo das mais de sete décadas de existência das Nações Unidas.

Embora tecnicamente não exista um limite para o número de mandatos de cinco anos que um secretário-geral pode cumprir, nenhum dos responsáveis ocupou o cargo, até à data, por mais de dois mandatos e apenas um não foi reconduzido, de acordo com a informação disponibilizada pela organização.

Os antecessores de António Guterres foram:

– Ban Ki-moon (Coreia do Sul), foi secretário-geral da ONU entre janeiro de 2007 e dezembro de 2016.

– Kofi A. Annan (Gana), ocupou o cargo de janeiro de 1997 a dezembro de 2006.

– Boutros Boutros-Ghali (Egito), foi secretário-geral da ONU entre janeiro de 1992 e dezembro de 1996.

– Javier Pérez de Cuéllar (Peru), ocupou o cargo de janeiro de 1982 a dezembro de 1991.

– Kurt Waldheim (Áustria), assumiu o cargo entre janeiro de 1972 e dezembro de 1981.

– U Thant (antiga Birmânia, atualmente Myanmar), ocupou o cargo em novembro de 1961, quando foi nomeado secretário-geral interino (foi formalmente nomeado secretário-geral em novembro de 1962), até dezembro de 1971.

– Dag Hammarskjöld (Suécia), ocupou o cargo entre abril de 1953 e setembro de 1961, mês em que morreu num acidente aéreo em África.

– Trygve Lie (Noruega), esteve no cargo de secretário-geral da ONU entre fevereiro de 1946 até à sua renúncia em novembro de 1952.

12 Jan 2021

Covid-19 | Organização Mundial de Saúde admite que não será possível imunidade global em 2021

A Organização Mundial de Saúde (OMS) admitiu ontem que não será possível uma imunização de grupo global contra a covid-19 ainda este ano, tendo em conta o tempo necessário para a produção das várias vacinas.

“Mesmo com a protecção dos mais vulneráveis com as vacinas, não atingiremos um nível de imunidade de grupo em 2021. Mesmo que isso aconteça será apenas em alguns países, não em todo o mundo”, afirmou Soumya Swaninatha, cientista chefe da OMS.

Em conferência de imprensa virtual a partir de Genebra, a responsável científica da OMS lembrou que “leva tempo para fabricar” as doses necessárias para permitir uma imunidade de grupo global, apelando à “paciência” e à manutenção das medidas de saúde pública que já demonstraram ser eficazes.

“É importante lembrar os governos e as populações das suas responsabilidades e das medidas que precisamos de continuar a implementar, pelo menos até ao fim deste ano”, afirmou Soumya Swaninatha.

Na mesma conferência de imprensa, Bruce Aylward, médico epidemiologista canadiano, adiantou que mais de 40 países já começaram a vacinar contra a covid-19 usando cinco vacinas diferentes, estando a OMS a “tentar acelerar a distribuição das vacinas” para os países elegíveis para o mecanismo COVAX (criado pela OMS e outras entidades para promover uma distribuição equilibrada desses fármacos no mundo).

“Esperamos estar a vacinar nestes países em fevereiro. Estamos a fazer todo o possível para atingir o máximo de países possível, mas precisamos de cooperação dos fabricantes das vacinas, que nos entreguem os dados para que possam ser analisados em relação à eficácia, segurança e qualidade” das vacinas, afirmou o consultor do diretor-geral da OMS.

“A boa vontade não protege as pessoas. Precisamos das doses de vacinas e precisamos rapidamente”, alertou Bruce Aylward.

Já o director-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, reiterou que a OMS pretende ver as “vacinas a serem distribuídas de forma justa nas próximas semanas” e incentivou os “países a participarem no COVAX”, no sentido de se “criar a maior mobilização em massa da história para uma vacinação justa”.

Tedros Ghebreyesus adiantou ainda que, durante o fim de semana, a OMS foi notificada pelo Japão sobre uma nova variante do vírus e alertou que a maior disseminação do vírus pode resultar em novas alterações.

“Neste momento, as variantes não parecem apresentar uma maior severidade da doença, mas precisamos de manter as medidas básicas de saúde pública mais do que nunca”, sublinhou o responsável da OMS.

O director-geral da OMS congratulou-se ainda com o facto de a equipa internacional de cientistas de dez países estar a “iniciar a sua viagem” para a China para trabalhar com os seus pares chineses sobre a origem do vírus que provoca a covid-19.

“Os estudos começarão em Wuhan para identificar a possível de fonte de infeção dos primeiros casos. Estas evidências científicas criarão hipóteses que serão usadas para estudos de longo prazo, que são importantes, não apenas para a covid-19, mas também para o futuro da segurança sanitária em relação a doenças com potencial de pandemia”, referiu Tedros Ghebreyesus na conferência de imprensa.

12 Jan 2021

EUA | Joe Biden diz-se “chocado e triste” com invasão do Capitólio por apoiantes de Trump

O Presidente norte-americano eleito, Joe Biden, condenou a invasão do Capitólio perpetrada por Donald Trump, Presidente em funções até ao dia 20 deste mês. Biden disse estar “chocado e triste” com o ocorrido, que levou o Mayor de Washington a decretar o recolher obrigatório na cidade.

“A nossa democracia está sob um assalto sem precedentes, nunca vimos nada como isto em tempos modernos”, reagiu o presidente-eleito numa sessão com jornalistas que não teve direito a perguntas. “É um assalto contra a cidadela da liberdade, o Capitólio em si. É um assalto contra os representantes do povo, contra a polícia do Capitólio que jurou protegê-los, contra os funcionários públicos que trabalham no coração da nossa república. É um assalto contra o Estado de direito como vimos poucas vezes”, adiantou.

O vencedor das últimas presidenciais frisou também que “as cenas de caos no Capitólio não reflectem a verdadeira América, não representam o que nós somos. O que nós vemos é um pequeno grupo de extremistas, dedicados à falta de lei. Isto não é dissidência. Isto é desordem, é o caos”.
Joe Biden dirigiu-se directamente a Donald Trump. “As palavras de um Presidente importam, independentemente do quão bom ou mau esse Presidente seja. No melhor dos casos, as palavras de um Presidente podem inspirar. No pior dos casos, podem incitar”, continuou.

“Como tal, exijo que o Presidente Donald Trump vá já à televisão nacional para cumprir o seu juramento, defender a Constituição e exigir um fim a este assalto”, acrescentou Biden.

Disparos dentro do Capitólio

Agentes policiais tiveram de usar armas de fogo para proteger congressistas, depois de manifestantes pró-Trump terem invadido o Capitólio dos EUA, enquanto eram contados votos do Colégio Eleitoral.

Os agentes de segurança usaram ainda gás lacrimogéneo para dispersar dezenas de manifestantes que acabaram por entrar no edifício, invadindo a Câmara de Representantes e o Senado, que tiveram de interromper os trabalhos de contagem dos votos do Colégio Eleitoral, para validar a eleição do democrata Joe Biden.

Agentes das forças de segurança interna e membros da polícia de choque foram destacados para o Capitólio, para auxiliar a polícia destacada para a segurança do Congresso, que se mostrava impotente para travar os milhares de manifestantes que se juntaram quando os congressistas estavam reunidos.

Alguns dos manifestantes colocaram nas redes sociais imagens da sua presença nas câmaras do Congresso, sentados nas cadeiras de representantes e de senadores, obrigando as forças policiais a usar armas de fogo para garantirem a segurança dos congressistas.

Alguns congressistas foram aconselhados a ficar debaixo das secretárias e a usar máscaras de gás, para se protegerem, e alguns agentes tiveram mesmo de disparar as suas armas, para refrear as ameaças mais severas.

O presidente da Câmara de Washington ordenou o recolher obrigatório a partir das 18:00 (hora local), para ajudar no esforço das forças de segurança para conter os milhares de manifestantes que se concentraram no Capitólio.

Vitória não aceite

Milhares de manifestantes tinham-se reuniram-se ontem em Washington, protestando e contestando a vitória do democrata Joe Biden. Num comício em frente à Casa Branca, Trump pediu aos manifestantes para se dirigirem para o Capitólio e fazer ouvir a sua voz, em protesto do que considera ser uma “fraude eleitoral”, tendo mesmo dito que “nunca” aceitaria a sua derrota nas eleições de 03 de novembro.

Os manifestantes obedeceram ao comando do Presidente cessante e dirigiram-se para o Capitólio, tendo mesmo forçado a oposição da polícia, que tentou impedir a sua entrada no edifício.

Vários legisladores, incluindo republicanos, usam as suas contas na rede social Twitter para criticar a ação dos manifestantes, dizendo que não se vão deixar intimidar pela sua presença ou pelos seus apelos para que a contagem de votos do Colégio Eleitoral seja rejeitada.

Na sua conta pessoal da rede social Twitter, Donald Trump limitou-se a pedir aos manifestantes para serem “pacíficos” e respeitarem as forças de segurança.

7 Jan 2021

EUA | Apoiantes de Donald Trump invadem Congresso. Mayor de Washington decreta recolher obrigatório

O presidente da Câmara de Washington D.C. ordenou recolher obrigatório e o Capitólio fechou as portas, depois de manifestantes pró-Trump terem invadido o Congresso dos EUA.

A polícia do Capitólio pediu ajuda a outras forças policiais, para lidar com os milhares de manifestantes pró-Trump que se juntaram em frente ao Capitólio, forçando a entrada no Congresso e obrigando à interrupção dos trabalhos de contagem de votos do Colégio Eleitoral, para validar a eleição do democrata Joe Biden.

O presidente da Câmara de Washington ordenou o recolher obrigatório a partir das 18:00 (hora local), para ajudar no esforço das forças de segurança para conter os milhares de manifestantes que se concentraram no Capitólio.

As forças de segurança deram máscaras anti-gás aos legisladores que estavam em trabalho e começaram a evacuar a Câmara de Representantes e o Senado, tentando também retirar das instalações o vice-Presidente, Mike Pence, que liderava a sessão de contagem de votos. Um embrulho suspeito foi também retirado da área do capitólio, segundo as autoridades.

Os confrontos entre manifestantes e a polícia do Capitólio obrigou à chamada de várias forças de segurança, incluindo o serviço secreto, por causa da presença de Mike Pence.

Milhares de manifestantes tinham-se reunido ontem em Washington, protestando e contestando a vitória do democrata Joe Biden.

Num comício em frente à Casa Branca, Trump pediu aos manifestantes para se dirigirem para o Capitólio e fazer ouvir a sua voz, em protesto do que considera ser uma “fraude eleitoral”, tendo mesmo dito que “nunca” aceitaria a sua derrota nas eleições de 3 de Novembro.

Os manifestantes obedeceram ao comando do Presidente cessante e dirigiram-se para o Capitólio, tendo mesmo forçado a oposição da polícia, que tentou impedir a sua entrada no edifício.

Os trabalhos de discussão da contagem de votos eleitorais ficaram assim, para já suspensos, enquanto canais televisivos transmitem imagens de distúrbios nas escadas do Capitólio.

Vários legisladores, incluindo republicanos, usam as suas contas na rede social Twitter para criticar a ação dos manifestantes, dizendo que não se vão deixar intimidar pela sua presença ou pelos seus apelos para que a contagem de votos do Colégio Eleitoral seja rejeitada.

7 Jan 2021

Mundo sombrio

O número de refugiados e pessoas deslocadas no mundo ultrapassou a marca dos 80 milhões em meados de 2020, um recorde em plena pandemia de covid-19, indicou ontem a ONU. Em comunicado, o Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi, lamentou que o mundo tenha chegado a este “ponto de viragem sombrio” e advertiu que a situação se agravará caso “os líderes mundiais não puserem fim às guerras”. “A comunidade internacional não está a conseguir preservar a paz”, disse, sublinhando que a deslocação forçada duplicou na última década.

10 Dez 2020

EUA | Biden anuncia membros do Governo depois de Trump permitir transição

Joe Biden anunciou as primeiras escolhas do futuro Governo norte-americano, incluindo o nome de Antony Blinken como secretário de Estado e John Kerry para a pasta do combate às mudanças climáticas. A antiga dirigente da Reserva Federal (Fed) Janet Yellen será a primeira mulher à frente da pasta do Tesouro. Alejandro Mayorkas será o novo secretário de Segurança Interna, numa Administração que vai retomar o papel fundamental da NATO

 

[dropcap]A[/dropcap]s escolhas do Presidente eleito norte-americano para posições-chave no novo Governo revelam uma preocupação de mudança fundamental em relação às políticas de Donald Trump, de encontrar figuras muito próximas do ex-Presidente Barack Obama e de aposta na diversidade.

Entre as escolhas que deverão ser anunciadas esperam-se nomes como Michele Flournoy, uma veterana do Pentágono, que deverá ser indicada para o cargo de secretária de Defesa, sendo a primeira mulher neste cargo, Jake Sullivan, um conselheiro de longa data de Biden e Hillary Clinton, para conselheiro de segurança nacional da Casa Branca e Avril Haines, que deverá ser indicada para directora dos serviços de inteligência nacional.

O Presidente eleito deverá ainda anunciar a veterana diplomata Linda Thomas-Greenfield como futura embaixadora dos EUA nas Nações Unidas.

“Preciso de uma equipa pronta desde o primeiro dia”, escreveu Joe Biden num comunicado divulgado na segunda-feira, explicando que as suas escolhas recaíram sobre “pessoas tão experientes e testadas como inovadoras e criativas”.

Além disso, Biden prometeu construir o Governo mais diversificado da história moderna de forma muito célere.

Apesar das birras

O Colégio Eleitoral de Michigan, um dos estados decisivos nas eleições presidenciais norte-americanas de 3 de Novembro, certificou ontem a vitória do democrata Joe Biden naquele Estado, apesar das pressões de Donald Trump para atrasar o processo.

Após a análise do relatório executado por uma comissão, que demonstrou a vitória de Joe Biden naquele Estado por 154 mil votos, o Colégio Eleitoral, composto por dois democratas e dois republicanos, confirmou a vitória de Biden com três votos a favor e uma abstenção.

Na sexta-feira, Donald Trump tinha recebido juízes estaduais e líderes do Senado e da Câmara dos Representantes do Michigan na Casa Branca, pressionando-os para que não certificassem a vitória de Joe Biden naquele Estado, segundo a agência AFP.

A decisão constituiu mais um revés nos esforços de Trump para utilizar meios não convencionais para mudar o rumo das eleições presidenciais.

Segundo a lei de Michigan, Biden reivindica todos os 16 votos eleitorais, após vencer por 2,8 pontos percentuais, uma margem maior do que em outros Estados onde Donald Trump também contesta os resultados, como Geórgia, Arizona, Wisconsin e Pensilvânia, noticia a agência AP.

Os esforços do republicano para evitar o reconhecimento da derrota eleitoral têm encontrado cada vez mais resistência nos tribunais e de outros republicanos, a apenas três semanas do Colégio Eleitoral se reunir para certificar a vitória de Biden.

Além da boa notícia para os democratas vinda do Michigan, a Administração dos Serviços Gerais, uma agência federal dos EUA, comunicou oficialmente ao Presidente eleito Joe Biden que a Administração do Presidente em funções, Donald Trump, está preparada para fazer a transição formal de poder. O Presidente ainda em funções confirmou esta informação através do Twitter.

Segundo um documento obtido pela CNN, a Administração dos Serviços Gerais informou a equipa de Joe Biden de que é o “vencedor aparente” das eleições presidenciais, notícia que também é avançada pela agência Associated Press (AP).

Desastre judicial

A decisão terá sido tomada depois dos “mais recentes desenvolvimentos envolvendo disputas legais e certificações de resultados eleitorais” disse a administradora Emily Murphy, citada pela AP, apesar de Donald Trump ainda estar a tentar reverter os resultados das eleições nos estados considerados de ‘maior peso’ no colégio eleitoral.

Apesar de não serem mencionados, esses desenvolvimentos estarão relacionados com a certificação da vitória de Biden no Michigan, assim como a rejeição de um processo judicial no Pensilvânia por parte da campanha de Donald Trump para impedir a ratificação dos resultados.

Esta decisão ‘abre o caminho’ para o democrata Joe Biden aceder às agências e fundos federais, de modo a começar a constituir formalmente a Administração que vai governar o país durante os próximos quatro anos e cuja tomada de posse está agendada para 20 de Janeiro.

A AP também explicita que Donald Trump deu instruções à sua equipa para cooperar na transição de administrações, mas o ainda Presidente dos Estados Unidos da América (EUA) promete continuar a lutar para reverter os resultados, que considera fraudulentos desde que foram conhecidas as primeiras projecções que apontavam para a vitória de Biden.

Trump, entretanto, utilizou a rede social Twitter para confirmar esta informação. “No melhor interesse do nosso país, recomendei a Emily [Murphy, responsável da Administração dos Serviços Gerais dos EUA] e à sua equipa para fazerem o que tem de ser feito em relação aos protocolos iniciais [de transição de administrações], e disse à minha equipa para fazer o mesmo”, escreveu.

Ainda assim, o ainda Presidente dos EUA fez questão de realçar que vai manter a luta judicial para invalidar os resultados das eleições e que vai ser bem-sucedido. Trump diz também que Murphy foi “assediada, ameaçada e abusada” e que não quer ver tal coisa a acontecer “a ela, à sua família ou aos funcionários da Administração dos Serviços Gerais”.

Contudo, o ainda chefe de Estado norte-americano não admitiu a derrota nas presidenciais e considerou, no mesmo ‘tweet’ que ainda há hipóteses de reverter os resultados eleitorais. “O nosso caso continua fortemente, vamos manter a boa luta e acredito que vamos prevalecer”, explicitou Donald Trump.

A senhora do Tesouro

A antiga dirigente da Reserva Federal (Fed) Janet Yellen foi a escolhida por Joe Biden para Secretária do Tesouro, e vai ser a primeira mulher a desempenhar este cargo.

A notícia é avançada pela Associated Press (AP), que confirmou a informação junto de uma fonte, que pediu o anonimato, familiarizada com o processo de escolha dos elementos da equipa de Biden para os próximos quatro anos.

Enquanto Secretária do Tesouro, Yellen vai iniciar o primeiro de quatro anos de mandato da Administração Biden com a economia norte-americana fragilizada, por causa da pandemia.

O desemprego que subiu em ‘flecha’, a reposição de medidas de confinamento obrigatório em várias cidades dos EUA para mitigar a propagação do SARS-CoV-2 e a incerteza que está a dominar os mercados são obstáculos com os quais Yellen se vai deparar a partir do final de Janeiro.

Janet Yellen, de 74 anos e que foi também a primeira mulher a chefiar a Fed (2014-2018), era uma das conselheiras presidenciais da candidatura de Biden.

Entre as funções da futura Secretária do Tesouro vai estar a negociação da política económica com o senador Mitch McConnel, republicano eleito pelo Kentucky, que vai continuar como líder da maioria republicana no Senado.

Outra pasta a anunciar será ocupada por Alejandro Mayorkas enquanto próximo Secretário da Segurança Interna. Importa recordar que Mayorkas já desempenhou a função de subsecretário nesta pasta entre 2013 e 2016, no Governo de Barack Obama.

Saída da toca

O secretário-geral da NATO e o Presidente eleito dos Estados Unidos mantiveram ontem uma conversa telefónica sobre a importância da Aliança Atlântica como “pedra angular” da segurança colectiva na Europa e na América do Norte.

Num comunicado da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) é referido que o secretário-geral Jens Stoltenberg manifestou o desejo de “trabalhar muito de perto” com Joe Biden para fortalecer “ainda mais” a ligação entre a América do Norte e a Europa e, ao mesmo tempo, preparar a reunião da liderança da Aliança Atlântica me 2021.

Stoltenberg, lê-se no comunicado, também felicitou Biden pela vitória nas eleições presidenciais norte-americanas de dia 3 deste mês e agradeceu ao dirigente democrata por sempre ter defendido a NATO e a relação transatlântica.

Entretanto, também a Europa apelou ao futuro ocupante da Casa Branca para um encontro de trabalho. O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, convidou Joe Biden, para uma reunião em Bruxelas com os líderes europeus em 2021, para relançar a parceria transatlântica, anunciou o seu gabinete.

Em comunicado, o porta-voz do presidente do Conselho indica que este conversou ao telefone com Biden “e felicitou-o pela sua eleição como 46.º Presidente dos Estados Unidos e Kamala Harris como futura vice-presidente”.

“Durante a chamada, o presidente Michel propôs a reconstrução de uma forte aliança transatlântica, baseada nos interesses comuns e valores partilhados”, aponta o porta-voz, acrescentando que Charles Michel “saudou o forte compromisso do Presidente eleito Biden para com os aliados da América e o seu apoio à cooperação europeia”.

Sublinhando que “a UE está pronta a enfrentar juntamente com os Estados Unidos os grandes desafios de hoje”, tais como “a pandemia da covid-19, a recuperação económica, as alterações climáticas, a segurança e o multilateralismo”, o comunicado dá conta então de que Charles Michel “convidou o Presidente eleito para uma reunião especial com os membros do Conselho Europeu, em Bruxelas, em 2021, para uma discussão sobre as prioridades partilhadas”.

Caso Biden aceite o convite, a sua primeira deslocação à Europa como Presidente dos Estados Unidos poderá assim ocorrer durante a presidência portuguesa da UE, no primeiro semestre do próximo ano.

De acordo com o porta-voz, o presidente do Conselho Europeu agradeceu ainda a Biden “o seu claro apoio relativamente à implementação do Acordo de Saída que a UE concluiu com o Reino Unido no ano passado”, acordo esse que “preserva a paz e a estabilidade na Irlanda e respeita integralmente o acordo da Sexta-feira Santa.

Biden recebeu outro telefonema de Bruxelas, da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou a própria na sua conta oficial na rede social Twitter.

“Fantástico ter falado com o Presidente eleito Joe Biden. Felicitei-o pela sua vitória. É um novo começo da parceria global UE-EUA”, escreveu Von de Leyen, concluindo que, “trabalhando em conjunto, uma União Europeia forte e uma América forte podem moldar a agenda global com base na cooperação, multilateralismo, solidariedade e valores partilhados”.

24 Nov 2020

G20| Líderes defendem acesso universal a vacinas e ajuda à OMS

Vários líderes mundiais reiteraram neste fim-de-semana a defesa de um sistema que garanta o acesso universal às vacinas contra a covid-19, durante a cimeira do G20. Além disso, foi pedido a atribuição, pelas principais 20 economias mundiais, de uma ajuda de 4,5 mil milhões de dólares à Organização Mundial de Saúde, de forma a reforçar a resposta à pandemia

 

[dropcap]R[/dropcap]ealizou-se este fim-de-semana a cimeira anual de 2020 do G20, que reuniu líderes de 19 países que representam cerca de 90 por cento do PIB mundial, a União Europeia e governadores de bancos centrais. A Arábia Saudita foi a anfitriã da cimeira deste ano, que decorreu por videoconferência, formato que se tornou norma desde a explosão global da pandemia da covid-19, que foi, como seria de esperar, o principal foco das conversações.

Um dos assuntos que dominou as conversações no sábado foi o acesso global à, muito aguardada, vacina para o novo tipo de coronavírus.

“Temos de garantir o acesso à escala planetária e evitar a todo o custo o cenário de um mundo a duas velocidades”, afirmou o Presidente francês, Emmanuel Macron, numa intervenção pré-gravada num evento paralelo da primeira reunião dos chefes de Estado e de Governo do G20.

Apesar de enaltecer o COVAX, o instrumento internacional lançado para assegurar o acesso justo e equitativo às vacinas em desenvolvimento para a covid-19, Macron vincou que “são necessárias mais contribuições” e propôs a criação de um mecanismo para doações destes fármacos dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento.

Por sua vez, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, considerou que, “para superar a pandemia, cada país tem de ter acesso à vacina”, alertando que os fundos angariados até agora no âmbito do sistema COVAX “não são suficientes para alcançar este objectivo” e apelando ao apoio dos restantes líderes dos países presentes na cimeira.

Também o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, defendeu que o acesso aos tratamentos e às vacinas deve ser um direito de todas as populações. “Para Itália, estes são bens públicos para todos e não o privilégio de uns poucos”, disse, sendo secundado pelo chefe de Governo do Reino Unido, Boris Johnson, que sublinhou o compromisso do país no acesso universal às vacinas e no apoio ao sistema COVAX.

Já o Presidente argentino, Alberto Fernández, afirmou que “a cooperação e a solidariedade são os dois elementos-chave na luta contra a pandemia” e que a distribuição equitativa das vacinas “é uma tarefa colectiva para a comunidade internacional que exige a assinatura de um grande pacto de solidariedade global”.

De Madrid, a convite

Na mesma linha, o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, enviou uma mensagem gravada para o evento, na qual referiu que “a cooperação no seio do G20 é fundamental para ultrapassar a pandemia e regressar ao caminho da recuperação social e económica”. Acto contínuo, fez questão de dizer que o tempo lhe deu razão, quando afirmou que era preciso “cuidar da saúde do povo e da economia ao mesmo tempo” face à emergência do novo coronavírus.

“Devemos oferecer as vacinas que estão a ser desenvolvidas como património comum da humanidade, em vez de aprofundar as injustiças existentes”, declarou o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, durante o seu discurso na reunião virtual de líderes, em que advogou a urgência de mecanismos de garantia de “equidade e preços adequados” para as vacinas.

Com estatuto de convidada permanente, Espanha fez-se representar pelo presidente do Governo, Pedro Sánchez, que lembrou aos outros chefes de Estado e de Governo que “não estaremos a salvo até que todos estejam a salvo”.

Por outro lado, não foi possível ouvir o Presidente cessante dos Estados Unidos, Donald Trump, uma vez que o discurso não foi aberto à comunicação social. Segundo a EFE, Trump fez uma breve aparição no início da cimeira virtual do G20 e depois foi jogar golfe, enquanto os seus homólogos de outros países discutiram medidas contra a pandemia.

Abrir cordões à bolsa

Foi igualmente debatida a hipótese de atribuir uma ajuda de 4,5 mil milhões de dólares à Organização Mundial de Saúde (OMS), de forma a reforçar a resposta à pandemia.

O apelo consta numa carta, a que a agência France-Presse (AFP) teve acesso, assinada pela primeira-ministra da Noruega, Erna Solberg, pelo Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, pelo director da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, e pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

A missiva foca em particular a lacuna de 4,5 mil milhões de dólares que existe actualmente nos fundos da OMS, nomeadamente para responder às necessidades associadas à distribuição das futuras vacinas contra a doença covid-19. “Um compromisso dos líderes do G20 de financiar de forma substancial o défice actual de 4,5 mil milhões de dólares do (mecanismo) ‘ACT-Accelerator’ salvará vidas instantaneamente”, referiu a missiva.

O “ACT Accelerator” é uma aliança global liderada pela OMS e parceiros para a produção de forma global e equitativa de diagnósticos, terapêuticas e vacinas. O objectivo passa por assegurar que os países mais desenvolvidos não monopolizem estas vertentes. A rede COVAX é o pilar destinado a garantir o acesso universal a uma vacina contra a covid-19.

Tal compromisso do G20 “permitirá uma estratégia para sair da crise”, acrescentaram os signatários da carta dirigida ao anfitrião da cimeira do G20, o rei saudita Salman bin Abdulaziz Al Saud.

Corrida contra-relógio

“Os recentes avanços nas vacinas contra a covid-19 oferecem esperança”, mas estas devem “chegar a todos”, “o que significa que as vacinas devem ser tratadas como um bem público”, “acessível a todos”, afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres, em declarações aos ‘media’ em Nova Iorque.

“Esta é a única maneira de travar a pandemia” e “a solidariedade é sobrevivência”, reforçou.
Durante sete meses, foram investidos 10 mil milhões de dólares no desenvolvimento de vacinas, diagnósticos e terapêuticas. “Mas há um défice de 28 mil milhões de dólares, dos quais 4,2 mil milhões de dólares serão necessário antes do final do ano”, enumerou Guterres.

“Estes fundos são fundamentais para a industrialização, o transporte e o fornecimento de vacinas contra a covid-19″ e os “países do G20 têm os meios” para os financiar, argumentou o secretário-geral da ONU.

Na terça-feira passada foi igualmente divulgada uma carta assinada por Guterres dirigida aos líderes do G20.
Na missiva, o secretário-geral da ONU apelava aos dirigentes do G20 para demonstrarem audácia e ambição nas medidas relacionadas com a pandemia. “O G20 sabe que será necessária uma nova redução da dívida. O grupo deve agora demonstrar uma maior ambição e propor medidas mais audaciosas para permitir aos países em desenvolvimento enfrentarem a crise de forma eficaz e evitar que a recessão mundial se transforme em depressão mundial”, sublinhou na missiva.

Noutro planeta

A participação de Donald Trump na cimeira do G20 limitou-se a um discurso gravado, antes de se retirar para mais um dia de golfe. Ao contrário de ter aproveitado a ocasião para se despedir dos seus congéneres, na sequência da derrota nas eleições presidenciais, Trump insistiu que vai manter a Casa Branca. De acordo com o Observer, que teve acesso ao áudio da intervenção, Donald Trump afirmou: “Tem sido uma grande honra trabalhar convosco, estou ansioso para continuar durante muito tempo”.

De seguida, o ainda Presidente norte-americano passou a gabar a economia e o poder militar dos Estados Unidos, repetindo a teoria falsa de que a sua Administração seria responsável pelas duas primeiras vacinas contra a covid-19, quando a vacina que está a ser desenvolvida pela Pfizer não foi subsidiada pelo Governo.

Num claro contraste com os discursos dos restantes líderes, focados na resposta global à pandemia, Donald Trump mostrou-se desinteressado da cimeira, aliás, não participou no evento “Pandemic Preparedness”, no dia em que os Estados Unidos baterem o recorde de infecções diárias, com 195.500 novos diagnósticos.

Aliás, depois de gravar o discurso, marcado pela tónica unilateral, o Presidente publicou no Twitter mensagens sobre as eleições presidenciais e abandonou a Casa Branca para ir jogar golfe.

22 Nov 2020

EUA | Biden diz que é tempo de sarar e tornar a América respeitada

O Presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, defendeu no sábado que é tempo de sarar e unir a América e de fazer com que o país volte a ser respeitado no mundo. Kamala Harris afirmou que apesar de ser a primeira mulher na vice-presidência não será a última

 

[dropcap]J[/dropcap]oe Biden subiu ao palco para o seu primeiro discurso ao som de “Glory Days” de Bruce Springsteen, e falou de uma fé renovada no amanhã, em dias melhores e em tornar a América respeitada no mundo novamente.

As primeiras palavras foram para a família, começando pela mulher: “sou o marido de Jill”, disse o presidente eleito, “e não estaria aqui sem o amor dela”. Depois, Biden falou da América que não quer ver: não quer ouvir falar, disse, de uma América “onde não é possível”.

Dirigindo-se aos eleitores que votaram no Presidente e candidato republicano, Biden disse: “compreendo a vossa desilusão esta noite. Eu também já perdi um par de vezes, mas agora vamos dar uma oportunidade uns aos outros”.

Afirmando que “todo o mundo está a olhar para a América”, o Presidente eleito dos Estados Unidos reafirmou a máxima de que o seu país “é um farol para o mundo”.

“Concorri a este cargo para restaurar a alma da América, para reconstruir a espinha dorsal desta nação, a classe média, para fazer a América respeitada no mundo outra vez, e para nos unir aqui em casa”, afirmou perante uma multidão em Wilmington, no estado de Delaware.

Sublinhando que a sua primeira tarefa será controlar a pandemia do novo coronavírus, Biden disse que essa é a única forma de voltar a uma vida normal e anunciou a criação de um grupo de cientistas de topo e especialistas para ajudarem a definir o plano de acção que entrará em vigor em 20 de Janeiro, quando tomar posse.

Católico assumido, Joe Biden recordou que “a Bíblia diz-nos que há um tempo para tudo, um tempo para colher, um tempo para semear e um tempo para curar. É tempo de curar na América”.

Joe Biden foi anunciado, no sábado, como vencedor das eleições presidenciais, de acordo com projecções dos ‘media’ norte-americanos. Segundo as projecções, Biden totaliza 290 delegados do Colégio Eleitoral, derrotando o candidato republicano e actual Presidente Donald Trump. A posse de Biden como 46.º Presidente dos Estados Unidos está marcada para 20 de Janeiro de 2021.

Voz de Kamala Harris

A vice-Presidente eleita dos Estados Unidos, Kamala Harris, afirmou no discurso da vitória que apesar de ser a primeira mulher a aceder ao cargo não será a última.

Harris agradeceu aos norte-americanos por terem votado pela “esperança, unidade, decência, ciência e verdade” para iniciar “um novo dia” no país.

“Embora possa ser a primeira mulher neste cargo, não serei a última. Porque cada menina que nos vê esta noite, vê que este é um país de possibilidades”, disse, em Wilmington, no estado do Delaware.

Vestida de branco como as sufragistas, no mesmo ano em que se comemorou o centenário do direito das mulheres a votar nos Estados Unidos, Harris garantiu que não teria chegado a este momento sem aquelas activistas e sem os milhões de norte-americanas que votaram nas presidenciais de 3 de Novembro.

A vice-Presidente eleita prestou também homenagem a “gerações de mulheres, negras, asiáticas, brancas, latinas e nativas norte-americanas que, ao longo de toda a história, abriram caminho para o momento desta noite”.

“Mulheres que lutaram e tanto sacrificaram pela igualdade, a liberdade e a justiça para todos, incluindo mulheres negras, com as quais frequentemente não se conta, mas que frequentemente demonstram ser a coluna vertebral da nossa democracia”, sublinhou.

Harris dirigiu-se também às crianças: “Sonhem com ambição, liderem com convicção e atrevam-se a olhar para vós próprios de uma forma como os outros nunca vos viram, simplesmente porque nunca o viram antes”.

A ainda senadora democrata pelo estado da Califórnia proferiu o discurso antes da intervenção do Presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, a quem agradeceu por ter “tido a audácia” de “escolher uma mulher como vice-Presidente”.

“Tentarei ser a vice-Presidente que Joe Biden foi para o Presidente [Barack] Obama: leal, honesta e preparada, e acordar todos os dias a pensar em vós e nas vossas famílias”, garantiu.

Harris comprometeu-se a trabalhar “para salvar vidas e derrotar a pandemia” de covid-19, para reconstruir a economia e combater a crise climática e para “eliminar a raiz do racismo sistémico no sistema de Justiça e na sociedade” norte-americana, razão dos protestos deste ano nos Estados Unidos.

No início da intervenção, Kamala Harris citou o líder do movimento dos direitos cívicos John Lewis, que morreu este ano: “A democracia não é um estado, é um acto”, usando esta citação para reflectir sobre “a luta e o sacrifício” que implicam proteger esta forma de Governo.

8 Nov 2020