Literatura | Prémio Nobel para o tanzaniano Abdulrazak Gurnah

A Academia Sueca distinguiu com o Nobel da Literatura o escritor tanzaniano Abdulrazak Gurnah “pela sua penetração compassiva e intransigente dos efeitos do colonialismo e do destino dos refugiados no fosso entre culturas e continentes”. Hoje é conhecido o Nobel da Paz, depois de já terem sido revelados os prémios da Química, Física e Medicina

[dropcap]O[/dropcap] Comité do Nobel da Literatura anunciou ontem que o prémio deste ano foi para o escritor tanzaniano Abdulrazak Gurnah, autor de “Paradise” e “Desertion” e de obras que reflectem as consequências do colonialismo e a condição dos refugiados.

Nascido em 1948 na ilha de Zanzibar, na Tanzânia, Abdulrazak Gurnah mudou-se para o Reino Unido nos anos 60 com o estatuto de refugiado. Apesar do Swahili ser a sua primeira língua, Gurnah cedo começou a escrever em inglês, fazendo desta a sua ferramenta literária.

Esta foi a primeira vez desde 2012 que o Nobel é atribuído a um escritor não europeu ou americano: nesse ano foi Mo Yan, escritor chinês, a receber o prémio.

O autor, nascido na Tanzânia, foi assim distinguido este ano com o prémio literário, depois de este ter sido atribuído em 2020 à poetisa Louise Glück, em 2019 ao romancista, poeta e dramaturgo Peter Handke e em 2018 à romancista e contista Olga Tokarczuk.

De acordo com a Academia Sueca, o grosso da obra de Gurnah — consistente em 10 romances e vários contos — debruça-se sobre a condição do refugiado, da dificuldade entre manter a identidade que se carrega e a que é preciso criar numa nova terra.

Abdulrazak Gurnah não tem actual obra traduzida disponível em Portugal. O seu único título trazido para o mercado nacional é “Junto ao Mar”, editado pela defunta Difel, em 2003.

Tal como ocorreu em 2020, o Comité do Nobel da Literatura anunciou que os vencedores das diferentes categorias do Nobel não tomarão parte no tradicional jantar que ocorre em Dezembro em Estocolmo devido à situação pandémica. Por isso mesmo, a cerimónia de entrega e os discursos dos vencedores são transmitidos.

Ciências da natureza

Na quarta-feira foi a vez do prémio Nobel da Química, entregue ao alemão Benjamin List e ao escocês David MacMillan “pelo desenvolvimento de organocatálises assimétricas”. Os dois cientistas, apesar de manterem investigações em separado, chegaram a uma maneira de desenvolver moléculas de forma mais rápida e que possibilita maiores avanços no ramo farmacêutico.

Segundo a Academia Sueca, os dois laureados desenvolveram “uma nova e engenhosa ferramenta para o fabrico de moléculas” através de “organocatálise”, o que permite a “investigação de novos fármacos e já permitiu começar a tornar o ramo da química mais verde”.

A descoberta consiste no facto de que, à data, se acreditar que apenas metais e enzimas fossem capazes de catalisar a formação de moléculas. No entanto, o seu processo de “organocatálise assimétrica” permite que se criem “pequenas moléculas orgânicas”, o que facilita avanços em múltiplas indústrias.

A criação molecular é uma parte fundamental da química, o que, por sua vez, alimenta muitos dos avanços científicos já realizados e ainda por realizar. Até agora, a formação de moléculas estava a cargo de enzimas, isoladas pelos cientistas e sujeitas a experiências para provocar reações químicas.

Agora, porém, houve avanços. Se List conseguiu catalisar a criação de moléculas não através de uma enzima, mas de um aminoácido chamado prolina, já MacMillan chegou à conclusão que os catalisadores metálicos se destruíam através da mistura e que talvez fosse necessário criar um tipo de catalisador mais duradouro.

O estudo do caos

O Nobel da Física deste ano foi atribuído a Syukuro Manabe, Klaus Hasselmann e Giorgio Parisi “pelas suas contribuições para a nossa compreensão de sistemas físicos complexos”.

A Real Academia Sueca de Ciências explica que os três laureados foram distinguidos “pelos seus estudos de fenómenos caóticos e aparentemente aleatórios. Syukuro Manabe e Klaus Hasselmann estabeleceram a base de nosso conhecimento sobre o clima da Terra e como a humanidade o influencia. Giorgio Parisi é distinguido pelo seu contributo revolucionário para a teoria de materiais desordenados e processos aleatórios”.

O primeiro prémio do ano a ser conhecido foi o Nobel da Medicina, atribuído conjuntamente a David Julius e Ardem Patapoutian pelas “descobertas de receptores de temperatura e tacto”. As suas descobertas explicam como o calor, o frio e o tacto enviam sinais ao sistema nervoso.

“A nossa capacidade de sentir calor, frio e o tacto são essenciais para a sobrevivência e para a interação com o mundo à nossa volta. No nosso dia-a-dia tomamos essas sensações como garantidas, mas como é que os impulsos nervosos são iniciados, para que a temperatura e a pressão sejam percepcionados? Esta foi a resposta que os laureados pelo Nobel [da Medicina de 2021] encontraram”, explica o comité Nobel.

David Julius utilizou a capsaicina, um composto químico e o componente activo das pimentas que induz uma sensação de ardor para identificar um sensor nas terminações nervosas da pele que respondem ao calor. Já Ardem Patapoutian utilizou células sensíveis à pressão para descobrir um novo tipo de sensores que respondem ao estímulo mecânico na pele e nos órgãos internos.

Como resultado destas descobertas, passou a ser possível compreender melhor como o calor, o frio e o toque são processados pelo sistema nervoso, sendo que os canais iónicos identificados são importantes para muitos processos fisiológicos e situações de doença.

O conhecimento adquirido está já a ser utilizado no desenvolvimento de tratamentos para uma série de patologias, incluindo dor crónica. “Os laureados identificaram os elos essenciais que faltavam à nossa compreensão sobre a complexa interacção entre os nossos sentidos e o meio ambiente”, conclui o comité Nobel.

Até às descobertas alcançadas por David Julius e Ardem Patapoutian, a compreensão do funcionamento do sistema nervoso e a interpretação do ambiente à sua volta desconhecia ainda como é que a temperatura e os estímulos mecânicos eram convertidos em impulsos eléctricos no sistema nervoso.

David Julius nasceu em Nova Iorque, em 1955, e é atualmente professor na Universidade da Califórnia. Ardem Patapoutian nasceu em Beirute, no Líbano, em 1967, mas mudou-se durante a juventude para os Estados Unidos e é agora cientista no instituto Scripps Research, em La Jolla, na Califórnia.

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