Irão-EUA | As lágrimas no funeral de Qassem Soleimani e a urgente reunião da NATO

Ali Khamenei, o líder supremo do Irão, chorou e rezou ontem no funeral do general Qassem Soleimani, em Teerão. A morte causada pelas tropas norte-americanas está a provocar uma verdadeira tensão a nível mundial, que obrigou a NATO a reunir ontem de emergência. A China pede “calma e razão” no que diz respeito ao acordo nuclear, que os EUA já abandonaram

Com agências 

 

[dropcap]A[/dropcap] situação política no Médio Oriente está num limbo difícil de decifrar depois da morte do general Qassem Soleimani por parte de tropas norte-americanas. O líder supremo do Irão, ‘ayatollah’ Ali Khamenei, orou e chorou ontem próximo dos caixões do general Qassem Soleimani e de outros mortos no ataque norte-americano em Bagdad na sexta-feira, durante as cerimónias fúnebres em Teerão.

O sucessor de Soleimani na força de elite iraniana Al-Quds, Esmail Ghaani, ficou ao lado de Ali Khamenei, assim como o Presidente iraniano, Hassan Rouhani, e outros líderes da República Islâmica durante as cerimónias fúnebres. Centenas de milhares de pessoas presentes no acto fúnebre também choraram a morte do general iraniano. A filha de Qassem Soleimani, Zeinab, ameaçou directamente um ataque às forças armadas dos EUA no Médio Oriente enquanto falava diante de multidão em Teerão.

“As famílias dos soldados norte-americanos no oeste da Ásia (…) passam o dia esperando a morte de seus filhos”, disse Zeinab. A TV estatal iraniana falou numa multidão de “milhões” de pessoas, embora esse número não possa ser verificado.

O líder do grupo militante palestino Hamas, Ismail Haniyeh, está em Teerão e assistiu também às cerimónias fúnebres de Soleimani. Ismail Haniyeh, num discurso aos iranianos, descreveu o general Qassem Soleimani, como “o mártir de Jerusalém”.

O responsável do Hamas prometeu que grupos militantes palestinianos – incluindo o seu grupo, que controla a Faixa de Gaza -, seguirão o caminho de Soleimani “para confrontar o projeto sionista e a influência norte-americana”.

A reunião da NATO

A escalada da tensão na região teve início quando o general Qassem Soleimani, comandante da força de elite iraniana Al-Quds, morreu na sexta-feira num ataque aéreo contra o carro em que seguia, junto ao aeroporto internacional de Bagdade, ordenado pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

No mesmo ataque morreu também o ‘número dois’ da coligação de grupos paramilitares pró-iranianos no Iraque, Abu Mehdi al-Muhandis, conhecida como Mobilização Popular [Hachd al-Chaabi], além de outras oito pessoas.

O ataque ocorreu três dias depois de um assalto inédito à embaixada norte-americana que durou dois dias e só terminou quando Donald Trump anunciou o envio de mais 750 soldados para o Médio Oriente.

O incidente obrigou os embaixadores dos 29 países da NATO a reunir ontem de forma extraordinária para discutir a crise entre o Irão e os Estados Unidos, disse um porta-voz da organização à agência de notícias AFP. “O secretário-geral [Jens Stoltenberg] decidiu organizar esta reunião de embaixadores da NATO depois de ter discutido com os aliados.”

No sábado, a NATO anunciou que suspenderia as operações de treino no Iraque após a morte do general iraniano Qassem Soleimani durante um ataque norte-americano a Bagdad, no Iraque, na sexta-feira. A missão da NATO no Iraque, que tem algumas centenas de militares, treina as forças do país desde outubro de 2018, a pedido do Governo iraquiano, para impedir o retorno do Estado Islâmico (EI).

A posição da China

Entretanto as autoridades chinesas consideraram ontem que a “pressão máxima” exercida pelos Estados Unidos está na raiz das renovadas tensões com o Irão. O porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros Geng Shuang respondeu assim, em conferência de imprensa, a uma questão sobre a decisão de Teerão de abdicar das limitações impostas ao seu programa nuclear pelo acordo de 2015.

Pequim apelou aos outros participantes do acordo – Rússia, França, Reino Unido e Alemanha – que “mantenham a calma e a razão”. Para a China, o acordo só poderá sobreviver através de uma solução “política e diplomática”, o fim de interferências externas e evitando “qualquer medida que possa complicar ainda mais a situação”. A Europa tentou tomar medidas para salvaguardar o acordo, mas o canal de pagamentos especiais, que visava contornar as sanções, ainda não foi lançado.

Wang Jianwei, professor de ciência política da Universidade de Macau, declarou ao HM que “a China deverá manter uma posição forte durante um eventual conflito entre os EUA e o Irão”. “Em termos gerais, a China procura sempre evitar o uso de força. Um conflito na região entre os EUA e o Irão não interessa aos assuntos da China. Por isso acho que a posição da China será no sentido de apelar aos dois lados que tenham calma (…) para a tensão não escalar na região”, acrescentou o académico.

Japão e companhia

Outros países asiáticos também já manifestaram os seus receios sobre a escalada de violência, nomeadamente Shinzo Abe, primeiro-ministro do Japão. “Quero pedir às partes implicadas que se esforcem para evitar uma escalada destas tensões”, afirmou Shinzo Abe, na primeira conferência de imprensa do ano, durante uma visita à prefeitura de Mie, a sudoeste de Tóquio.

O chefe do Governo japonês manifestou “profunda preocupação” com a actual situação e lembrou que o Japão importa a quase totalidade do petróleo que consome do Irão e de outros países do Médio Oriente.
“Vamos desenvolver esforços diplomáticos para aliviar as tensões e para estabilizar a situação”, sublinhou Abe. O Japão e o Irão mantêm uma relação estreita, reiterada pelos dois Governos nos últimos meses.

Por sua vez o Presidente filipino, Rodrigo Duterte, ordenou que os militares preparassem as suas aeronaves e os seus navios para retirar, “a qualquer momento”, milhares de trabalhadores filipinos do Iraque e do Irão.
Duterte realizou uma reunião de emergência com o seu secretário de Defesa e altos oficiais militares e policiais no domingo para discutir os planos de retirada dos seus nacionais naquela região.

“O Presidente Duterte ordenou que as Forças Armadas das Filipinas estivessem preparadas para deslocar activos militares para repatriar filipinos no exterior, principalmente do Irão e do Iraque, a qualquer momento”, disse o senador Christopher Lawrence Go, um aliado próximo do Duterte que esteve na reunião.

O chefe de gabinete militar de Duterte, tenente-general Felimon Santos Jr., disse que as forças filipinas identificaram possíveis rotas para a retirada dos seus nacionais não apenas do Iraque e do Irão, mas de outros pontos críticos, como Israel. “Existem estas probabilidades e estamos a melhorar os nossos planos para cobrir tudo, caso algo aconteça”, disse Santos aos jornalistas em Manila.

Existem mais de 7.000 trabalhadores filipinos e dependentes no Iraque e no Irão, incluindo muitos que trabalham para os EUA e em outras instalações estrangeiras e estabelecimentos comerciais em Bagdad, disse o Departamento de Defesa Nacional.

Outras nações asiáticas com grandes populações de mão-de-obra expatriada podem enfrentar decisões semelhantes perante a escalada da tensão entre os Estados Unidos e o Irão. O Governo sul-coreano já está a discutir o fortalecimento da protecção para os quase 1.900 sul-coreanos no Iraque e no Irão.

O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros indiano, Raveesh Kumar, disse que a Índia “ainda” não planeia retirar cidadãos daquela região. Os asiáticos representam 40 por cento dos migrantes do mundo e os países do Médio Oriente são um destino comum.

Os migrantes africanos também são mão-de-obra comum no Médio Oriente, embora a possibilidade de seus países de origem organizarem uma retirada seja incerta.

Os países árabes do Golfo abrigam mais de sete milhões de expatriados indianos que ajudam a impulsionar a economia da região e a manter as suas cidades repletas de médicos, engenheiros, professores, motoristas, trabalhadores da construção civil. Nos Emirados Árabes Unidos, os indianos superam os nacionais em três para um.

As ameaças de Trump

No Iraque, o parlamento aprovou uma resolução em que pede ao Governo para rasgar o acordo com os EUA, estabelecido em 2016, no qual Washington se compromete a ajudar na luta contra o grupo terrorista Estado Islâmico e que justifica a presença de cerca de 5.200 militares norte-americanos no território iraquiano.
Entretanto, Donald Trump prometeu ontem “enormes represálias” caso ocorram ataques iranianos contra instalações norte-americanas no Médio Oriente.

“Se eles fizerem alguma coisa, haverá enormes represálias”, declarou ontem Donald Trump a bordo do avião presidencial Air Force One, no regresso a Washington após duas semanas de férias na Florida.
Trump deixou também a ameaça de atacar locais culturais iranianos. “Eles têm o direito de matar os nossos cidadãos (…) e não temos o direito de atingir os seus locais culturais? Isso não funciona assim”, declarou.
Trump reagia assim à aprovação pelo parlamento iraquiano de uma resolução que pede o fim da presença das tropas norte-americanas no país, pondo fim ao acordo com os Estados Unidos, estabelecido em 2016.

7 Jan 2020

Irão-EUA | As lágrimas no funeral de Qassem Soleimani e a urgente reunião da NATO

Ali Khamenei, o líder supremo do Irão, chorou e rezou ontem no funeral do general Qassem Soleimani, em Teerão. A morte causada pelas tropas norte-americanas está a provocar uma verdadeira tensão a nível mundial, que obrigou a NATO a reunir ontem de emergência. A China pede “calma e razão” no que diz respeito ao acordo nuclear, que os EUA já abandonaram

Com agências 
 
[dropcap]A[/dropcap] situação política no Médio Oriente está num limbo difícil de decifrar depois da morte do general Qassem Soleimani por parte de tropas norte-americanas. O líder supremo do Irão, ‘ayatollah’ Ali Khamenei, orou e chorou ontem próximo dos caixões do general Qassem Soleimani e de outros mortos no ataque norte-americano em Bagdad na sexta-feira, durante as cerimónias fúnebres em Teerão.
O sucessor de Soleimani na força de elite iraniana Al-Quds, Esmail Ghaani, ficou ao lado de Ali Khamenei, assim como o Presidente iraniano, Hassan Rouhani, e outros líderes da República Islâmica durante as cerimónias fúnebres. Centenas de milhares de pessoas presentes no acto fúnebre também choraram a morte do general iraniano. A filha de Qassem Soleimani, Zeinab, ameaçou directamente um ataque às forças armadas dos EUA no Médio Oriente enquanto falava diante de multidão em Teerão.
“As famílias dos soldados norte-americanos no oeste da Ásia (…) passam o dia esperando a morte de seus filhos”, disse Zeinab. A TV estatal iraniana falou numa multidão de “milhões” de pessoas, embora esse número não possa ser verificado.
O líder do grupo militante palestino Hamas, Ismail Haniyeh, está em Teerão e assistiu também às cerimónias fúnebres de Soleimani. Ismail Haniyeh, num discurso aos iranianos, descreveu o general Qassem Soleimani, como “o mártir de Jerusalém”.
O responsável do Hamas prometeu que grupos militantes palestinianos – incluindo o seu grupo, que controla a Faixa de Gaza -, seguirão o caminho de Soleimani “para confrontar o projeto sionista e a influência norte-americana”.

A reunião da NATO

A escalada da tensão na região teve início quando o general Qassem Soleimani, comandante da força de elite iraniana Al-Quds, morreu na sexta-feira num ataque aéreo contra o carro em que seguia, junto ao aeroporto internacional de Bagdade, ordenado pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
No mesmo ataque morreu também o ‘número dois’ da coligação de grupos paramilitares pró-iranianos no Iraque, Abu Mehdi al-Muhandis, conhecida como Mobilização Popular [Hachd al-Chaabi], além de outras oito pessoas.
O ataque ocorreu três dias depois de um assalto inédito à embaixada norte-americana que durou dois dias e só terminou quando Donald Trump anunciou o envio de mais 750 soldados para o Médio Oriente.
O incidente obrigou os embaixadores dos 29 países da NATO a reunir ontem de forma extraordinária para discutir a crise entre o Irão e os Estados Unidos, disse um porta-voz da organização à agência de notícias AFP. “O secretário-geral [Jens Stoltenberg] decidiu organizar esta reunião de embaixadores da NATO depois de ter discutido com os aliados.”
No sábado, a NATO anunciou que suspenderia as operações de treino no Iraque após a morte do general iraniano Qassem Soleimani durante um ataque norte-americano a Bagdad, no Iraque, na sexta-feira. A missão da NATO no Iraque, que tem algumas centenas de militares, treina as forças do país desde outubro de 2018, a pedido do Governo iraquiano, para impedir o retorno do Estado Islâmico (EI).

A posição da China

Entretanto as autoridades chinesas consideraram ontem que a “pressão máxima” exercida pelos Estados Unidos está na raiz das renovadas tensões com o Irão. O porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros Geng Shuang respondeu assim, em conferência de imprensa, a uma questão sobre a decisão de Teerão de abdicar das limitações impostas ao seu programa nuclear pelo acordo de 2015.
Pequim apelou aos outros participantes do acordo – Rússia, França, Reino Unido e Alemanha – que “mantenham a calma e a razão”. Para a China, o acordo só poderá sobreviver através de uma solução “política e diplomática”, o fim de interferências externas e evitando “qualquer medida que possa complicar ainda mais a situação”. A Europa tentou tomar medidas para salvaguardar o acordo, mas o canal de pagamentos especiais, que visava contornar as sanções, ainda não foi lançado.
Wang Jianwei, professor de ciência política da Universidade de Macau, declarou ao HM que “a China deverá manter uma posição forte durante um eventual conflito entre os EUA e o Irão”. “Em termos gerais, a China procura sempre evitar o uso de força. Um conflito na região entre os EUA e o Irão não interessa aos assuntos da China. Por isso acho que a posição da China será no sentido de apelar aos dois lados que tenham calma (…) para a tensão não escalar na região”, acrescentou o académico.

Japão e companhia

Outros países asiáticos também já manifestaram os seus receios sobre a escalada de violência, nomeadamente Shinzo Abe, primeiro-ministro do Japão. “Quero pedir às partes implicadas que se esforcem para evitar uma escalada destas tensões”, afirmou Shinzo Abe, na primeira conferência de imprensa do ano, durante uma visita à prefeitura de Mie, a sudoeste de Tóquio.
O chefe do Governo japonês manifestou “profunda preocupação” com a actual situação e lembrou que o Japão importa a quase totalidade do petróleo que consome do Irão e de outros países do Médio Oriente.
“Vamos desenvolver esforços diplomáticos para aliviar as tensões e para estabilizar a situação”, sublinhou Abe. O Japão e o Irão mantêm uma relação estreita, reiterada pelos dois Governos nos últimos meses.
Por sua vez o Presidente filipino, Rodrigo Duterte, ordenou que os militares preparassem as suas aeronaves e os seus navios para retirar, “a qualquer momento”, milhares de trabalhadores filipinos do Iraque e do Irão.
Duterte realizou uma reunião de emergência com o seu secretário de Defesa e altos oficiais militares e policiais no domingo para discutir os planos de retirada dos seus nacionais naquela região.
“O Presidente Duterte ordenou que as Forças Armadas das Filipinas estivessem preparadas para deslocar activos militares para repatriar filipinos no exterior, principalmente do Irão e do Iraque, a qualquer momento”, disse o senador Christopher Lawrence Go, um aliado próximo do Duterte que esteve na reunião.
O chefe de gabinete militar de Duterte, tenente-general Felimon Santos Jr., disse que as forças filipinas identificaram possíveis rotas para a retirada dos seus nacionais não apenas do Iraque e do Irão, mas de outros pontos críticos, como Israel. “Existem estas probabilidades e estamos a melhorar os nossos planos para cobrir tudo, caso algo aconteça”, disse Santos aos jornalistas em Manila.
Existem mais de 7.000 trabalhadores filipinos e dependentes no Iraque e no Irão, incluindo muitos que trabalham para os EUA e em outras instalações estrangeiras e estabelecimentos comerciais em Bagdad, disse o Departamento de Defesa Nacional.
Outras nações asiáticas com grandes populações de mão-de-obra expatriada podem enfrentar decisões semelhantes perante a escalada da tensão entre os Estados Unidos e o Irão. O Governo sul-coreano já está a discutir o fortalecimento da protecção para os quase 1.900 sul-coreanos no Iraque e no Irão.
O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros indiano, Raveesh Kumar, disse que a Índia “ainda” não planeia retirar cidadãos daquela região. Os asiáticos representam 40 por cento dos migrantes do mundo e os países do Médio Oriente são um destino comum.
Os migrantes africanos também são mão-de-obra comum no Médio Oriente, embora a possibilidade de seus países de origem organizarem uma retirada seja incerta.
Os países árabes do Golfo abrigam mais de sete milhões de expatriados indianos que ajudam a impulsionar a economia da região e a manter as suas cidades repletas de médicos, engenheiros, professores, motoristas, trabalhadores da construção civil. Nos Emirados Árabes Unidos, os indianos superam os nacionais em três para um.

As ameaças de Trump

No Iraque, o parlamento aprovou uma resolução em que pede ao Governo para rasgar o acordo com os EUA, estabelecido em 2016, no qual Washington se compromete a ajudar na luta contra o grupo terrorista Estado Islâmico e que justifica a presença de cerca de 5.200 militares norte-americanos no território iraquiano.
Entretanto, Donald Trump prometeu ontem “enormes represálias” caso ocorram ataques iranianos contra instalações norte-americanas no Médio Oriente.
“Se eles fizerem alguma coisa, haverá enormes represálias”, declarou ontem Donald Trump a bordo do avião presidencial Air Force One, no regresso a Washington após duas semanas de férias na Florida.
Trump deixou também a ameaça de atacar locais culturais iranianos. “Eles têm o direito de matar os nossos cidadãos (…) e não temos o direito de atingir os seus locais culturais? Isso não funciona assim”, declarou.
Trump reagia assim à aprovação pelo parlamento iraquiano de uma resolução que pede o fim da presença das tropas norte-americanas no país, pondo fim ao acordo com os Estados Unidos, estabelecido em 2016.

7 Jan 2020

Austrália | Graves incêndios provocam mais uma morte e profundo impacto ambiental

Os incêndios florestais no sudeste da Austrália provocaram no sábado mais um morto, obrigaram à evacuação de milhares de pessoas e causaram “danos consideráveis”, anunciaram ontem as autoridades locais. Agências apontam para a morte de cerca de 500 milhões de animais. Scott Morrison, primeiro-ministro, tem sido duramente criticado pela resposta tardia à crise

 

Com agências 

[dropcap]C[/dropcap]entenas de propriedades na Austrália têm sido destruídas devido aos fortes incêndios que se têm propagado no país desde Setembro. Um total de 24 pessoas morreram desde essa data na sequência de incêndios florestais, sendo que última morte foi registada este sábado, com o falecimento de um homem por insuficiência cardíaca na zona de Nova Gales do Sul, anunciou a chefe do Governo da região, Gladys Berejiklian.

“Estamos em território desconhecido”, afirmou Berejiklian, após um dia marcado por fortes ventos e temperaturas acima dos 40 graus Celcius em três estados. “Nunca vivemos isto antes”, vincou Berejiklian, advertindo: “Muitas aldeias que nunca tinham sido ameaçadas por incêndios florestais estão em perigo de ser completamente destruídas”.

Em menos de uma semana, cerca de 500 casas foram destruídas pelas chamas no sudeste do país, na sua maioria em Nova Gales do Sul, elevando para mais de 1.500 o número total de casas destruídas desde Setembro, com prejuízos avaliados em 268 milhões de euros.

A oeste de Sydney, no subúrbio de Penrith, os termómetros chegaram aos 48,9 graus Celcius no sábado. A cidade mais populosa da Austrália, com de cinco milhões de habitantes, está a sofrer cortes de energia após duas subestações terem sido destruídas pelo fogo, enquanto as autoridades já pediram aos residentes que restrinjam o consumo de eletricidade.

Na capital, Camberra, a temperatura atingiu 44 graus, um valor sem precedentes, segundo um porta-voz do serviço meteorológico australiano. A dimensão dos fogos é tal que o céu da vizinha Nova Zelândia transformou-se num imenso laranja devido ao fumo.

Este sábado foi anunciada a evacuação de partes de estados de Victoria e Nova Gales do Sul, na costa sudeste da Austrália. Michael Grainger, da polícia de Victoria, disse mesmo às populações que “se valorizam a segurança têm de partir”. “Nestas circunstâncias, os bens pessoais têm muito, muito pouco valor. São circunstâncias terríveis, que não haja dúvidas”, frisou.

As críticas a Morrison

O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, cuja postura perante os incêndios tem sido criticada, convocou no sábado três mil militares na reserva para reforçar o combate aos incêndios. De acordo com o The Guardian, o primeiro-ministro australiano também garantiu a criação de kits de apoio para as áreas mais afectadas, além de que vai ponderar o pagamento de uma comissão real “tendo em conta os Estados e os territórios” virada para os agricultores, pequenos comerciantes e “outros que participaram no esforço de reconstrução” após os incêndios.

Josh Frydenberg, tesoureiro e membro da Câmara de Deputados australiana, disse que o Governo “está comprometido com tudo o que é necessário e com o mais que seja pedido”.
De acordo com a agência Reuters, Morrison tem sido duramente criticado por ter estado de férias no Havai numa altura em que a situação dos fogos piorou, ainda que tenha reduzido o tempo de estadia.

O primeiro-ministro falou da ocorrência de uma “quebra nas comunicações” depois de uma queixa apresentada por Shane Fitzsimmons, chefe dos bombeiros de New South Wales, que declarou ter sabido pelos jornais da intenção de Morrison de criar uma nova agência nacional de recuperação de incêndios florestais, o que trouxe confusão na hora de dar resposta à crise.

“Senti-me desapontando e frustrado no meio de um dos nossos piores incêndios de que há registo, com deslocações massivas de pessoas e com a necessidade de lidar com condições climatéricas muito más”, disse Fitzsimmons ontem.

Por norma, na Austrália, os incêndios são combatidos e geridos a nível local, mas a gravidade da situação levou o primeiro-ministro a equacionar uma resposta nacional com o estabelecimento de uma nova agência. Morrison deixou claro que a criação desta nova entidade não era sinónimo de um mau trabalho desenvolvido até então, uma vez que as agências de combate aos fogos estatais fizeram “um trabalho extraordinário”.

Sobre as suas férias no Havai no pico da crise, Morrison pediu desculpa. Ainda assim, muitos locais recusaram cumprimentar o primeiro-ministro esta sexta-feira, quando ele realizou uma visita às cidades mais afectadas pelos fogos. O descontentamento das pessoas afectadas pelos fogos é tão grande que chegou mesmo a ser criada a hashtag #ScottyFromMarketing, que tem sido bastante utilizada nas principais contas de Twitter australianas.

Scott Morrison preparava-se para viajar na próxima semana para a Índia em viagem oficial, mas já cancelou a viagem. O primeiro-ministro continua crente na sua continuação no cargo e diz que, por agora, está focado na resolução da crise causada pelos incêndios.

“Têm existido muitos comentários, muito criticismo. Tirei o benefício de muitas análises sobre muitos assuntos, mas não me posso distrair com isso”, apontou.

Animais em perigo

Os fogos têm causado também um enorme impacto na fauna do país, tendo devastado nos últimos meses várias comunidades do mundo animal. Depois de ter sido noticiado que cerca de um terço da população de coalas pode já ter morrido nestes incêndios, os cangurus estão agora também sob ameaça. Agências apontam para a morte de cerca de 500 milhões de animais.

Este sábado, um vídeo, divulgado nas redes sociais, pela Warriors for Wildlife, mostra centenas de cangurus a fugirem das chamas na ilha Kangaroo, a 112 quilómetros de Adelaide, no estado da Austrália do Sul – uma das zonas do país que está a ser mais afectada pelos fogos.

As condições meteorológicas continuam a não ser favoráveis à resolução da crise, uma vez que no fim-de-semana se registou uma subida das temperaturas e ventos fortes.
Na ilha Kangaroo já arderam 100 mil hectares, a maioria no Flinders Chase National Park, onde vivem cerca de 60.000 cangurus e 50.000 coalas.

Uma questão ambiental?

Os enormes incêndios na Austrália têm também gerado um debate em torno das verdadeiras origens da tragédia. Muitos falam em consequências das alterações climáticas, mas fala-se também da existência de uma “conspiração” por parte de ambientalistas para “fechar” os parques nacionais e evitar acções de prevenção aos incêndios tal como a realização de queimadas e limpezas de florestas.

No sábado, citado pelo The Guardian, Scott Morrison disse que “a questão que mais me foi colocada tem sido a gestão das reservas de combustível nos parques nacionais”. “As pessoas que dizem esperar acções ao nível das alterações climáticas” poderiam ser as mesmas pessoas que “não partilham da mesma urgência em lidar com a redução de riscos”.

Contido, David Bowman, director de um centro de investigação sobre incêndios da Universidade de Tasmânia, disse que a utilização deste argumento por parte do primeiro-ministro é “ridículo”. “Enquadrar isto como uma questão de redução de riscos de incêndio nos parques nacionais é retórica política preguiçosa”, afirmou.

6 Jan 2020

Austrália | Graves incêndios provocam mais uma morte e profundo impacto ambiental

Os incêndios florestais no sudeste da Austrália provocaram no sábado mais um morto, obrigaram à evacuação de milhares de pessoas e causaram “danos consideráveis”, anunciaram ontem as autoridades locais. Agências apontam para a morte de cerca de 500 milhões de animais. Scott Morrison, primeiro-ministro, tem sido duramente criticado pela resposta tardia à crise

 
Com agências 
[dropcap]C[/dropcap]entenas de propriedades na Austrália têm sido destruídas devido aos fortes incêndios que se têm propagado no país desde Setembro. Um total de 24 pessoas morreram desde essa data na sequência de incêndios florestais, sendo que última morte foi registada este sábado, com o falecimento de um homem por insuficiência cardíaca na zona de Nova Gales do Sul, anunciou a chefe do Governo da região, Gladys Berejiklian.
“Estamos em território desconhecido”, afirmou Berejiklian, após um dia marcado por fortes ventos e temperaturas acima dos 40 graus Celcius em três estados. “Nunca vivemos isto antes”, vincou Berejiklian, advertindo: “Muitas aldeias que nunca tinham sido ameaçadas por incêndios florestais estão em perigo de ser completamente destruídas”.
Em menos de uma semana, cerca de 500 casas foram destruídas pelas chamas no sudeste do país, na sua maioria em Nova Gales do Sul, elevando para mais de 1.500 o número total de casas destruídas desde Setembro, com prejuízos avaliados em 268 milhões de euros.
A oeste de Sydney, no subúrbio de Penrith, os termómetros chegaram aos 48,9 graus Celcius no sábado. A cidade mais populosa da Austrália, com de cinco milhões de habitantes, está a sofrer cortes de energia após duas subestações terem sido destruídas pelo fogo, enquanto as autoridades já pediram aos residentes que restrinjam o consumo de eletricidade.
Na capital, Camberra, a temperatura atingiu 44 graus, um valor sem precedentes, segundo um porta-voz do serviço meteorológico australiano. A dimensão dos fogos é tal que o céu da vizinha Nova Zelândia transformou-se num imenso laranja devido ao fumo.
Este sábado foi anunciada a evacuação de partes de estados de Victoria e Nova Gales do Sul, na costa sudeste da Austrália. Michael Grainger, da polícia de Victoria, disse mesmo às populações que “se valorizam a segurança têm de partir”. “Nestas circunstâncias, os bens pessoais têm muito, muito pouco valor. São circunstâncias terríveis, que não haja dúvidas”, frisou.

As críticas a Morrison

O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, cuja postura perante os incêndios tem sido criticada, convocou no sábado três mil militares na reserva para reforçar o combate aos incêndios. De acordo com o The Guardian, o primeiro-ministro australiano também garantiu a criação de kits de apoio para as áreas mais afectadas, além de que vai ponderar o pagamento de uma comissão real “tendo em conta os Estados e os territórios” virada para os agricultores, pequenos comerciantes e “outros que participaram no esforço de reconstrução” após os incêndios.
Josh Frydenberg, tesoureiro e membro da Câmara de Deputados australiana, disse que o Governo “está comprometido com tudo o que é necessário e com o mais que seja pedido”.
De acordo com a agência Reuters, Morrison tem sido duramente criticado por ter estado de férias no Havai numa altura em que a situação dos fogos piorou, ainda que tenha reduzido o tempo de estadia.
O primeiro-ministro falou da ocorrência de uma “quebra nas comunicações” depois de uma queixa apresentada por Shane Fitzsimmons, chefe dos bombeiros de New South Wales, que declarou ter sabido pelos jornais da intenção de Morrison de criar uma nova agência nacional de recuperação de incêndios florestais, o que trouxe confusão na hora de dar resposta à crise.
“Senti-me desapontando e frustrado no meio de um dos nossos piores incêndios de que há registo, com deslocações massivas de pessoas e com a necessidade de lidar com condições climatéricas muito más”, disse Fitzsimmons ontem.
Por norma, na Austrália, os incêndios são combatidos e geridos a nível local, mas a gravidade da situação levou o primeiro-ministro a equacionar uma resposta nacional com o estabelecimento de uma nova agência. Morrison deixou claro que a criação desta nova entidade não era sinónimo de um mau trabalho desenvolvido até então, uma vez que as agências de combate aos fogos estatais fizeram “um trabalho extraordinário”.
Sobre as suas férias no Havai no pico da crise, Morrison pediu desculpa. Ainda assim, muitos locais recusaram cumprimentar o primeiro-ministro esta sexta-feira, quando ele realizou uma visita às cidades mais afectadas pelos fogos. O descontentamento das pessoas afectadas pelos fogos é tão grande que chegou mesmo a ser criada a hashtag #ScottyFromMarketing, que tem sido bastante utilizada nas principais contas de Twitter australianas.
Scott Morrison preparava-se para viajar na próxima semana para a Índia em viagem oficial, mas já cancelou a viagem. O primeiro-ministro continua crente na sua continuação no cargo e diz que, por agora, está focado na resolução da crise causada pelos incêndios.
“Têm existido muitos comentários, muito criticismo. Tirei o benefício de muitas análises sobre muitos assuntos, mas não me posso distrair com isso”, apontou.

Animais em perigo

Os fogos têm causado também um enorme impacto na fauna do país, tendo devastado nos últimos meses várias comunidades do mundo animal. Depois de ter sido noticiado que cerca de um terço da população de coalas pode já ter morrido nestes incêndios, os cangurus estão agora também sob ameaça. Agências apontam para a morte de cerca de 500 milhões de animais.
Este sábado, um vídeo, divulgado nas redes sociais, pela Warriors for Wildlife, mostra centenas de cangurus a fugirem das chamas na ilha Kangaroo, a 112 quilómetros de Adelaide, no estado da Austrália do Sul – uma das zonas do país que está a ser mais afectada pelos fogos.
As condições meteorológicas continuam a não ser favoráveis à resolução da crise, uma vez que no fim-de-semana se registou uma subida das temperaturas e ventos fortes.
Na ilha Kangaroo já arderam 100 mil hectares, a maioria no Flinders Chase National Park, onde vivem cerca de 60.000 cangurus e 50.000 coalas.

Uma questão ambiental?

Os enormes incêndios na Austrália têm também gerado um debate em torno das verdadeiras origens da tragédia. Muitos falam em consequências das alterações climáticas, mas fala-se também da existência de uma “conspiração” por parte de ambientalistas para “fechar” os parques nacionais e evitar acções de prevenção aos incêndios tal como a realização de queimadas e limpezas de florestas.
No sábado, citado pelo The Guardian, Scott Morrison disse que “a questão que mais me foi colocada tem sido a gestão das reservas de combustível nos parques nacionais”. “As pessoas que dizem esperar acções ao nível das alterações climáticas” poderiam ser as mesmas pessoas que “não partilham da mesma urgência em lidar com a redução de riscos”.
Contido, David Bowman, director de um centro de investigação sobre incêndios da Universidade de Tasmânia, disse que a utilização deste argumento por parte do primeiro-ministro é “ridículo”. “Enquadrar isto como uma questão de redução de riscos de incêndio nos parques nacionais é retórica política preguiçosa”, afirmou.

6 Jan 2020

UNICEF | Organização alerta para aumento de ataques contra crianças

Os diversos conflitos bélicos que se fazem sentir no mundo não são perigosos apenas para os adultos. A UNICEF alertou ontem para o facto de os ataques contra crianças terem triplicado face a 2010. Esta foi, sem dúvida, uma “década mortífera”. Uma sequência de raids aéreos na véspera de Natal no nordeste da Síria foi um dos tristes exemplos recentes que mereceram a crítica da UNICEF

 

[dropcap]A[/dropcap] década que agora termina foi “mortífera” para as crianças que vivem nas várias zonas de conflito no mundo, denunciou ontem a UNICEF, revelando que, desde 2010, foram registadas mais de 170.000 violações graves contra menores.

Em plena contagem decrescente para o fim de 2019, o Fundo das Nações Unidas para a Infância alerta que as crianças continuam a pagar um “preço mortal” à medida que os conflitos armados avançam em todo o mundo e que o ano que está prestes a acabar conclui uma “década mortífera” que testemunhou “uma média de 45 violações graves por dia contra crianças”.

Segundo os dados da UNICEF, os ataques contra crianças aumentaram quase três vezes desde 2010.
A agência da ONU identifica como violações graves seis situações específicas: assassínio e mutilação de crianças; recrutamento e utilização de crianças por forças e grupos armados; violência sexual contra crianças; ataques contra escolas ou hospitais; rapto de crianças; e negação do acesso humanitário às crianças.

Num comunicado divulgado a partir de Nova Iorque, a organização frisa que, desde a adopção da Convenção sobre os Direitos da Criança (em 1989), nunca houve tantos países em conflito, com dezenas de focos armados violentos que matam, mutilam e forçam as crianças a abandonarem as respectivas casas.

“Em todo o mundo, os conflitos estão a durar mais tempo, causando mais derramamento de sangue e ceifando mais vidas de crianças”, afirma a diretora executiva da UNICEF, Henrietta Forre.

“Os ataques contra crianças continuam sem abrandar, enquanto as partes em conflito desrespeitam uma das mais básicas regras em cenário de guerra: a protecção das crianças. Por cada ato de violência contra crianças que chegam aos jornais e geram ondas de indignação, há muitos mais que não são reportados”, frisa a representante.

Triste exemplo

Pelo menos oito civis, entre os quais cinco crianças, foram mortas na véspera do dia de Natal na sequência de raides aéreos russos numa aldeia no noroeste da Síria, abrigo de deslocados, indicou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

A UNICEF foi uma das primeiras organizações a reagir à ofensiva que vitimou crianças, manifestando-se alarmada com o “peso da intensificação” da violência.

De acordo com a organização não-governamental, os ataques visaram a aldeia de Joubass, no sul da província de Idleb, matanto civis deslocados, que se tinham abrigado numa escola e junto a esse edifício.

As forças do regime síria, com o apoio da aviação russa, têm intensificado os bombardeamentos na região, ao mesmo tempo que decorrem violentos combates no terreno contra grupos jihadistas e rebeldes. Cerca de 80 civis foram já mortos em consequência desta nova escalada dos combates.

A Turquia indicou que se encontra em conversações com a Rússia para obter um novo cessar-fogo em Idleb, sublinhando que estes combates violam uma trégua em vigor desde agosto. “Estes bombardeamentos devem cessar imediatamente”, sublinhou o porta-voz da Presidência turca, Ibrahim Kalim, numa conferência de imprensa acompanhada pela agência France Press.

As forças do regime sírio retomaram o controlo de quatro dezenas de vilas e aldeias numa área de 320 quilómetros quadrados, de acordo com um comunicado divulgado pelo exército sírio, que garante a determinação de continuar a avançar até que a totalidade da província de Idleb esteja “limpa de terroristas e dos seus apoiantes”.

Situação não é nova

O exemplo dado acima não tem sido caso raro no passado recente. Já em 2018, a UNICEF tinha denunciado a situação de fragilidade em que viviam milhões de menores afectados por conflitos em todo o mundo, tendo criticado na altura os líderes mundiais por não serem capazes de evitar os actos de violência cometidos contra essas crianças e de falharem na responsabilização dos autores de tais agressões.

De acordo com a UNICEF, em 2018, foram registadas mais de 24 mil violações graves contra crianças, o que já representava então “um número duas vezes e meio superior ao registado em 2010”.

Ainda em relação a 2018, os dados recolhidos apontam para mais de 12 mil crianças mortas ou mutiladas. “O uso continuado e generalizado de ataques aéreos e de armas explosivas (como minas terrestres, morteiros, dispositivos explosivos improvisados, ataques com mísseis, armas de fragmentação e artilharia) é a principal causa de vítimas infantis em conflitos armados”, indica a organização.

Segundo afirmou a UNICEF, este cenário não se alterou em 2019, denunciando que, só durante os primeiros seis meses do ano, foram contabilizadas mais de 10 mil violações contra crianças.

A agência da ONU admite, no entanto, que os números reais devem ser “provavelmente muito maiores”.
Da Síria ao Iémen, passando também pelo Iraque, Afeganistão, Burkina Faso ou pelo leste da Ucrânia, a UNICEF relata várias situações que ao longo dos 12 meses de 2019 afectaram violentamente as crianças e que fizeram vítimas entre os mais jovens.

Criada em 1946, a UNICEF está presente em 190 países e territórios, prestando no terreno serviços de saúde, nutrição, educação e proteção às crianças mais vulneráveis.

31 Dez 2019

UNICEF | Organização alerta para aumento de ataques contra crianças

Os diversos conflitos bélicos que se fazem sentir no mundo não são perigosos apenas para os adultos. A UNICEF alertou ontem para o facto de os ataques contra crianças terem triplicado face a 2010. Esta foi, sem dúvida, uma “década mortífera”. Uma sequência de raids aéreos na véspera de Natal no nordeste da Síria foi um dos tristes exemplos recentes que mereceram a crítica da UNICEF

 
[dropcap]A[/dropcap] década que agora termina foi “mortífera” para as crianças que vivem nas várias zonas de conflito no mundo, denunciou ontem a UNICEF, revelando que, desde 2010, foram registadas mais de 170.000 violações graves contra menores.
Em plena contagem decrescente para o fim de 2019, o Fundo das Nações Unidas para a Infância alerta que as crianças continuam a pagar um “preço mortal” à medida que os conflitos armados avançam em todo o mundo e que o ano que está prestes a acabar conclui uma “década mortífera” que testemunhou “uma média de 45 violações graves por dia contra crianças”.
Segundo os dados da UNICEF, os ataques contra crianças aumentaram quase três vezes desde 2010.
A agência da ONU identifica como violações graves seis situações específicas: assassínio e mutilação de crianças; recrutamento e utilização de crianças por forças e grupos armados; violência sexual contra crianças; ataques contra escolas ou hospitais; rapto de crianças; e negação do acesso humanitário às crianças.
Num comunicado divulgado a partir de Nova Iorque, a organização frisa que, desde a adopção da Convenção sobre os Direitos da Criança (em 1989), nunca houve tantos países em conflito, com dezenas de focos armados violentos que matam, mutilam e forçam as crianças a abandonarem as respectivas casas.
“Em todo o mundo, os conflitos estão a durar mais tempo, causando mais derramamento de sangue e ceifando mais vidas de crianças”, afirma a diretora executiva da UNICEF, Henrietta Forre.
“Os ataques contra crianças continuam sem abrandar, enquanto as partes em conflito desrespeitam uma das mais básicas regras em cenário de guerra: a protecção das crianças. Por cada ato de violência contra crianças que chegam aos jornais e geram ondas de indignação, há muitos mais que não são reportados”, frisa a representante.

Triste exemplo

Pelo menos oito civis, entre os quais cinco crianças, foram mortas na véspera do dia de Natal na sequência de raides aéreos russos numa aldeia no noroeste da Síria, abrigo de deslocados, indicou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
A UNICEF foi uma das primeiras organizações a reagir à ofensiva que vitimou crianças, manifestando-se alarmada com o “peso da intensificação” da violência.
De acordo com a organização não-governamental, os ataques visaram a aldeia de Joubass, no sul da província de Idleb, matanto civis deslocados, que se tinham abrigado numa escola e junto a esse edifício.
As forças do regime síria, com o apoio da aviação russa, têm intensificado os bombardeamentos na região, ao mesmo tempo que decorrem violentos combates no terreno contra grupos jihadistas e rebeldes. Cerca de 80 civis foram já mortos em consequência desta nova escalada dos combates.
A Turquia indicou que se encontra em conversações com a Rússia para obter um novo cessar-fogo em Idleb, sublinhando que estes combates violam uma trégua em vigor desde agosto. “Estes bombardeamentos devem cessar imediatamente”, sublinhou o porta-voz da Presidência turca, Ibrahim Kalim, numa conferência de imprensa acompanhada pela agência France Press.
As forças do regime sírio retomaram o controlo de quatro dezenas de vilas e aldeias numa área de 320 quilómetros quadrados, de acordo com um comunicado divulgado pelo exército sírio, que garante a determinação de continuar a avançar até que a totalidade da província de Idleb esteja “limpa de terroristas e dos seus apoiantes”.

Situação não é nova

O exemplo dado acima não tem sido caso raro no passado recente. Já em 2018, a UNICEF tinha denunciado a situação de fragilidade em que viviam milhões de menores afectados por conflitos em todo o mundo, tendo criticado na altura os líderes mundiais por não serem capazes de evitar os actos de violência cometidos contra essas crianças e de falharem na responsabilização dos autores de tais agressões.
De acordo com a UNICEF, em 2018, foram registadas mais de 24 mil violações graves contra crianças, o que já representava então “um número duas vezes e meio superior ao registado em 2010”.
Ainda em relação a 2018, os dados recolhidos apontam para mais de 12 mil crianças mortas ou mutiladas. “O uso continuado e generalizado de ataques aéreos e de armas explosivas (como minas terrestres, morteiros, dispositivos explosivos improvisados, ataques com mísseis, armas de fragmentação e artilharia) é a principal causa de vítimas infantis em conflitos armados”, indica a organização.
Segundo afirmou a UNICEF, este cenário não se alterou em 2019, denunciando que, só durante os primeiros seis meses do ano, foram contabilizadas mais de 10 mil violações contra crianças.
A agência da ONU admite, no entanto, que os números reais devem ser “provavelmente muito maiores”.
Da Síria ao Iémen, passando também pelo Iraque, Afeganistão, Burkina Faso ou pelo leste da Ucrânia, a UNICEF relata várias situações que ao longo dos 12 meses de 2019 afectaram violentamente as crianças e que fizeram vítimas entre os mais jovens.
Criada em 1946, a UNICEF está presente em 190 países e territórios, prestando no terreno serviços de saúde, nutrição, educação e proteção às crianças mais vulneráveis.

31 Dez 2019

Ambiente | Greta Thunberg grata por recepção em Lisboa 

[dropcap]A[/dropcap] activista sueca Greta Thunberg manifestou ontem gratidão pela forma como foi recebida em Lisboa, após 21 dias a viajar no mar, e apelou a todos para manterem pressão sobre os políticos com vista ao combate à crise climática.

“Sinto-me tão grata por ter feito esta viagem, por ter tido esta experiência, e tão honrada por ter chegado aqui a Lisboa”, afirmou a adolescente sueca, que desembarcou ao fim da manhã na capital portuguesa, antes de viajar nos próximos dias para Madrid, onde decorre a cimeira das Nações Unidas sobre o clima (COP25).

Em conferência de imprensa, deixou a garantia de que não vai parar a luta para que os protestos dos jovens sejam ouvidos:

“Não iremos parar, iremos continuar e fazer tudo o que estiver ao nosso alcance: a viajar, a pressionar as pessoas que têm o poder para que coloquem as prioridades no devido lugar”, afirmou a activista de 16 anos, deixando um apelo às dezenas de activistas que a receberam: “Continuem a ajudar-nos para tornar tudo isto possível”.

Instada a comentar a forma como alguns adultos a vêem como uma criança zangada, respondeu que “as pessoas subestimam a força das crianças zangadas”, acrescentando: “Estamos zangados, frustrados, por uma boa razão. Se querem que deixemos de estar zangados, parem de nos tornar zangados.

Depois de participar numa cimeira em Nova Iorque, a jovem activista deveria ter viajado para o Chile, para a COP25, mas à última hora o Governo chileno renunciou à organização do encontro devido à instabilidade social no país, tendo Madrid assumido a sua organização.

Por esse motivo a jovem sueca embarcou em 13 de Novembro, de regresso à Europa, no catamarã “La Vagabonde”, como forma de evitar os aviões e a sua forte carga poluente.

No entanto, ontem na conferência de imprensa, admitiu que é impossível que o seu exemplo seja seguido por todos. “Não estou a viajar assim para que todos o façam. Estou a viajar assim como símbolo”, declarou.

Antes da conferência de imprensa, Greta Thunberg foi recebida pelo presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, e pelo presidente da Comissão Parlamentar de Ambiente, José Maria Cardoso, além de activistas portuguesas da greve climática estudantil.

4 Dez 2019

Ambiente | Greta Thunberg grata por recepção em Lisboa 

[dropcap]A[/dropcap] activista sueca Greta Thunberg manifestou ontem gratidão pela forma como foi recebida em Lisboa, após 21 dias a viajar no mar, e apelou a todos para manterem pressão sobre os políticos com vista ao combate à crise climática.
“Sinto-me tão grata por ter feito esta viagem, por ter tido esta experiência, e tão honrada por ter chegado aqui a Lisboa”, afirmou a adolescente sueca, que desembarcou ao fim da manhã na capital portuguesa, antes de viajar nos próximos dias para Madrid, onde decorre a cimeira das Nações Unidas sobre o clima (COP25).
Em conferência de imprensa, deixou a garantia de que não vai parar a luta para que os protestos dos jovens sejam ouvidos:
“Não iremos parar, iremos continuar e fazer tudo o que estiver ao nosso alcance: a viajar, a pressionar as pessoas que têm o poder para que coloquem as prioridades no devido lugar”, afirmou a activista de 16 anos, deixando um apelo às dezenas de activistas que a receberam: “Continuem a ajudar-nos para tornar tudo isto possível”.
Instada a comentar a forma como alguns adultos a vêem como uma criança zangada, respondeu que “as pessoas subestimam a força das crianças zangadas”, acrescentando: “Estamos zangados, frustrados, por uma boa razão. Se querem que deixemos de estar zangados, parem de nos tornar zangados.
Depois de participar numa cimeira em Nova Iorque, a jovem activista deveria ter viajado para o Chile, para a COP25, mas à última hora o Governo chileno renunciou à organização do encontro devido à instabilidade social no país, tendo Madrid assumido a sua organização.
Por esse motivo a jovem sueca embarcou em 13 de Novembro, de regresso à Europa, no catamarã “La Vagabonde”, como forma de evitar os aviões e a sua forte carga poluente.
No entanto, ontem na conferência de imprensa, admitiu que é impossível que o seu exemplo seja seguido por todos. “Não estou a viajar assim para que todos o façam. Estou a viajar assim como símbolo”, declarou.
Antes da conferência de imprensa, Greta Thunberg foi recebida pelo presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, e pelo presidente da Comissão Parlamentar de Ambiente, José Maria Cardoso, além de activistas portuguesas da greve climática estudantil.

4 Dez 2019

Brasil | Mais de 30 crianças e adolescentes mortos por dia em 2017

Em 2017 registou-se em média o homicídio diário de 32 crianças e adolescentes, dos 10 aos 19 anos, no Brasil, segundo um relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) divulgado esta terça-feira. Além da exposição a violência fatal, a infância e adolescência do jovens brasileiros é marcada pelo abandono escolar e elevadas taxas de reprovação

 

[dropcap]N[/dropcap]a celebração do 30º aniversário da Convenção sobre os Direitos da Criança (CDC), a Unicef lançou um relatório com os principais avanços e desafios enfrentados por crianças e jovens brasileiros, frisando que, apesar do país sul-americano ter alcançado “conquistas importantes”, ainda enfrenta vários problemas.

“É na área de protecção à criança que o país enfrenta os seus maiores desafios. Em 30 anos, o Brasil viu crescer a violência armada em diversas cidades, e hoje está diante de um quadro alarmante de homicídios. A cada dia, 32 meninas e meninos de 10 a 19 anos são assassinados no país. Em 2017, foram 11,8 mil mortes”, apontou o Fundo das Nações Unidas.

As vítimas são, na sua maioria, do sexo masculino, negros, pobres, que vivem nas periferias e em áreas metropolitanas das grandes cidades, em bairros desprovidos de serviços básicos de saúde, assistência social, educação, cultura e lazer.

Segundo uma análise de dados feita pela Unicef em 10 capitais de estado, 2,6 milhões de crianças vivem em áreas directamente afectadas pela violência com recurso a armas. “Morar num território vulnerável faz com que crianças e adolescentes estejam mais expostos à violência armada”, destaca-se no relatório.

Nos últimos 10 anos, o número de homicídios entre adolescentes brancos tem diminuído, enquanto o assassínio de negros apresenta um crescimento.

Camadas vulneráveis

Em 2017, 82,9 por cento dos 11,8 mil casos de assassínio de crianças e adolescentes com idades entre os 10 e 19 anos no Brasil foram entre “não brancos”.

“Reverter esse quadro é urgente. É preciso investir nos territórios mais vulneráveis, com políticas públicas de qualidade, voltadas a cada criança e a cada adolescente, em especial os mais excluídos. Temos que lhes oferecer um ambiente seguro em que possam desenvolver plenamente o seu potencial”, declarou Florence Bauer, representante do Unicef no Brasil.

Além da violência, o Brasil enfrenta ainda outros desafios relacionados às desigualdades. Existem ainda cerca de dois milhões crianças fora da escola, sendo que a grande maioria vem de famílias com baixos rendimentos.

No ano passado, 3,5 milhões de estudantes de escolas estaduais e municipais foram reprovados ou abandonaram as instituições de ensino.

Quanto aos dados da mortalidade infantil, apesar da redução histórica, o Brasil registou em 2015, pela primeira vez em 20 anos, um aumento, o que causou algum alerta dentro do Fundo das Nações Unidas. A cobertura de vacinas também caiu no país, trazendo de volta doenças como o sarampo, que estava erradicado.

“Uma das histórias de sucesso mais impressionantes é a redução da mortalidade infantil (até 1 ano). Somente entre os anos 1996 e 2017, o país evitou a morte de 827 mil bebés. Não obstante, no mesmo período, aumentaram em grande escala a violência armada e os homicídios, que tiraram a vida de 191 mil meninas e meninos de 10 a 19 anos”, indicou a organização.

Houve uma queda de 71 por cento da mortalidade infantil em crianças brasileiras desde a década de 90, índice bem acima da meta estipulada pela Unicef, que era de 33 por cento.

Violência na net

No que à saúde mental diz respeito, nos últimos 10 anos, o suicídio de crianças e adolescentes tem crescido no país sul-americano, passando dos 714 casos em 2007, para 1.047, em 2017. “Problemas como ‘bullying’ e ‘cyberbullying’ precisam de ser olhados com atenção”, destaca-se no relatório da Unicef.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância refere que há “uma tendência de redução do orçamento voltado aos temas da infância e adolescência no Brasil que precisa ser revertida”.
“Investir nessas etapas da vida traz resultados para toda a sociedade. Cada dólar investido na primeira infância, por exemplo, traz um retorno de sete até 10 dólares”, salientou a Unicef.

O Programa Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes (Pnevsca), que reúne iniciativas como o Disque 100, e o Plano de Acções Integradas e Referenciais de Enfrentamento à Violência Sexual, Infanto-Juvenil no Território Brasileiro (Pair) foram considerados como acções positivas no enfrentamento à violência contra crianças e jovens, de acordo com o estudo. Mas o cenário ainda é considerado crítico.

Segundo dados do Disque 100, negligência (72,7 por cento) e violência psicológica (48,8 por cento), física (40,6 por cento) e sexual (22,4 por cento) foram os tipos de violação contra crianças e adolescentes mais frequentes.

Sem aulas

A UNICEF e o Instituto Claro apresentaram no fim de Outubro, uma análise actualizada e inédita de dados nacionais sobre abandono, reprovação e atraso escolar, baseados no Censo Escolar. O documento revela que 3,5 milhões de estudantes brasileiros de escolas públicas municipais e estaduais reprovaram ou abandonaram os estabelecimentos de ensino em 2018.

Para ajudar as escolas a dar a volta ao fracasso, as duas organizações lançaram o curso online Trajectórias de Sucesso Escolar, uma estratégia que tem por objectivo inspirar e orientar redes de ensino e escolas a desenvolver projectos e políticas curriculares, alinhadas à Base Nacional Comum, que garantam o direito de aprender a crianças que ficaram para trás na progressão escolar.

A cultura do fracasso escolar ainda é realidade no Brasil, gerando altas taxas de reprovação, distorção idade-série e abandono escolar. Apenas em 2018, escolas estaduais e municipais reprovaram mais de 2,6 milhões de estudantes.

Os dados apontam que estudantes do sexo masculino têm uma probabilidade 64 por cento maior de repetir de ano do que meninas, e a taxa de reprovação entre os meninos é 71 por cento maior que das meninas. A taxa também chega quase a dobrar nos anos finais do ensino fundamental (do 6º ao 9º ano), mas é o ensino médio que mais reprova no país.

No total, mais de 912 mil estudantes deixaram as escolas em 2018. O ensino médio é a etapa que mais perde estudantes, tendo 461.763 abandonado a escola em 2018, a maioria ainda no primeiro ano. No geral, as regiões Norte e Nordeste são as mais afectadas pelo atraso e o abandono.

Os mais fracos

Olhando para grupos específicos, observa-se que as populações negras e mestiças apresentam taxas de abandono que chegam a ser mais que o dobro da população caucasiana. Mais de 453 mil negros e mestiços que abandonaram escolas estaduais e municipais em 2018, enquanto esse número foi de pouco mais de 181 mil estudantes brancos. O número de reprovações entre negros e mestiços também é duas vezes maior que o de brancos, somando, em 2018, mais de 1,2 milhão de estudantes reprovados.

Crianças e adolescentes indígenas são os mais afectados pela distorção idade-série e abandono escolar. Enquanto a taxa de abandono para as escolas públicas municipais e estaduais é de 3 por cento, entre os estudantes indígenas a taxa é de mais de 6 por cento. Já a distorção idade-série atinge mais de 41 por cento dos indígenas matriculados. No último ano, mais de 15 mil abandonaram a escola.

O atraso escolar também afecta mais de 383 mil crianças e adolescentes com deficiência, o que corresponde a mais de 48,9 por cento das matrículas. Quase 30 mil deixaram as escolas estaduais e municipais em 2018. A taxa de reprovação dos estudantes com deficiência é de 13,8 por cento, enquanto, para o grupo sem deficiência, a taxa é de 8,7 por cento.

“Os estudantes brasileiros ainda enfrentam uma cultura de fracasso escolar, que naturaliza a reprovação, levando a quadros de distorção idade-série e ao abandono escolar. A nossa proposta, com a divulgação dos dados e o lançamento do curso online da estratégia Trajectórias de Sucesso Escolar, é contribuir para que estados e municípios desenvolvam um diagnóstico claro do problema e divulgar recomendações para auxiliá-los na busca por soluções”, afirma Ítalo Dutra, chefe de Educação do UNICEF no Brasil.

14 Nov 2019

Websummit | Edward Snowden alerta para controlo de pessoas e não de dados pessoais 

Edward Snowden, antigo analista informático da Agência de Segurança Nacional dos EUA, esteve esta segunda-feira na abertura de mais uma edição da WebSummit, em Lisboa, e alertou a enorme plateia para a manipulação dos utilizadores da Internet e não apenas dos seus dados pessoais. Snowden, que em 2013 voou para Hong Kong onde denunciou o sistema de vigilância mundial que ajudou a criar, alertou para a enorme proximidade entre empresas e Governos

[dropcap]A[/dropcap] casa estava cheia para ouvir Edward Snowden, ainda que por videoconferência. O antigo analista informático da Agência de Segurança Nacional (ASN) dos EUA que, em 2013, voou do Hawai para Hong Kong onde cedeu documentos confidenciais aos media sobre a existência de um sistema de vigilância mundial de comunicações e de Internet, esteve esta segunda-feira na WebSummit, em Lisboa, naquela que é considerada a maior cimeira de tecnologia do mundo. Edward Snowden encontra-se actualmente em regime de asilo político na Rússia, o que o impediu de estar em Lisboa.

A entrevista, ao vivo, trouxe conclusões perturbadoras para todos aqueles que estão nas redes sociais e no mundo digital. “Os dados não são inofensivos nem abstractos quando se trata de pessoas. E quase todos os dados recolhidos hoje em dia são sobre pessoas. Não são os dados que estão a ser explorados, são as pessoas que estão a ser manipuladas”.

Questionado sobre os esforços para a protecção de dados dos utilizadores na Europa, Snowden indicou que não considera a introdução do Regulamento Geral sobre a Protecção de Dados (RGPD) uma resposta eficaz, uma vez que “o problema não é a protecção de dados, mas sim a recolha de dados”.

O ex-analista informático salientou que “não há problema em recolher [dados] desde que não haja uma fuga”, no entanto, o que percebemos em 2013, é que “há sempre uma fuga”.

Desde que revelou um segredo muito bem guardado pelas autoridades norte-americanas que Edward Snowden tem vindo a ser acusado pelos Estados Unidos de espionagem e apropriação de segredos do Estado.

Ao longo do seu discurso, Snowden referiu ainda que o modelo de negócios de empresas como o Google e o Facebook “é abusivo”, mas consideram-no “legal”. “Esse é que é o verdadeiro problema, nós legalizámos o abuso [relativamente aos dados pessoais recolhidos], criámos um sistema que torna a população vulnerável para benefício dos privilegiados”, afirmou.

Empresas vs Governo

Numa entrevista com os responsáveis da Websummit, gravada antes do evento e cedida aos media, Edward Snowden confessou que nunca a ligação entre empresas da área digital e o Governo foi tão forte, pondo em causa a segurança dos utilizadores.

“Quando os Governos percebem que há um mecanismo de acesso à informação, e quando os tribunais estabelecem este tipo de compromissos concedidos no passado há uma base para requerer novas cooperações. Em primeiro lugar há uma concordância, e em segundo lugar, e em último, acreditam que podem fazer esse tipo de pedidos para sempre. Então penso que há sempre uma falha ao nível da imaginação sobre aquilo que estes sistemas realmente mostram. As empresas em todo o mundo devem compreender para quem trabalham em último lugar e qual o sentido da sua existência. Trabalham em prol do público, ou existem em benefício do Governo?”, questionou.

Apesar de destacar a existência da encriptação de mensagens, algo que existe em plataformas de comunicação como o Whatsapp ou Telegram, Edward Snowden assegura que não é suficiente para a protecção de dados pessoais. “Temos visto enormes avanços na forma como as comunicações entre pessoas são protegidas desde a adopção do sistema de encriptação. A encriptação refere-se a uma nuvem que passa pelo percurso hostil da Internet, e aí já não estamos despidos e podemos fazer o que queremos. Temos cada vez mais comunicações encriptadas, mas não são todas. Mesmo quando estão encriptadas elas continuam a ser observadas. É possível ver a sua origem e destino”, salientou.

Para Edward Snowden, “o problema disso é que vemos os Governos alarmados pela ideia de que podem perder este acesso perverso a todas as nossas comunicações e às nossas vidas, e a vigilância de massas pode ficar menos rentável ou acessível.”

Para Edward Snowden, estas empresas necessitam cada vez mais de olhar para si mesmas e perceber para quem trabalham: se para as entidades institucionais, se para os cidadãos comuns.

“Os utilizadores não são os clientes, e isso dá lugar a abusos. Quando usas o Facebook não és um cliente, és um produto. As pessoas não estão conscientes do que acontece com a Amazon, e infelizmente pensam que é apenas um sítio onde compras sapatos. É isso de um ponto de vista, mas num fragmento muito pequeno”, exemplificou.

“Sim, estas pessoas estão envolvidas em abusos, nomeadamente quando falamos de Amazon, Facebook ou Google, mas o seu modelo de negócio é o abuso e alegam que é legal. Quer estejamos a falar do Google ou da NSA, esse é o verdadeiro problema. Legalizámos o abuso contra as pessoas. Criámos um sistema que torna a população vulnerável para benefício dos privilegiados”, acusa o antigo analista da CIA.

Snowden lembrou que “hoje, em qualquer idioma e qualquer jurisdição, reconhecemos que estas empresas têm cometido abusos através das suas plataformas, dado o seu posicionamento nas sociedades globais”. “A questão é o que vamos fazer sobre isso, para garantir que os seus serviços são úteis para a sociedade, mas a forma como exploram a sua posição deve ser analisada”, acrescentou.

Lugar da Internet

Ainda sobre o papel das empresas ao nível da segurança dos dados pessoais, Edward Snowden defendeu que devem ser criados limites legais em relação ao período temporal em que esses dados pessoais são guardados por empresas de telecomunicações, a Google ou o Facebook, entre outras.

“As empresas não deveriam ter a capacidade de manter registos das vidas pessoais das pessoas por muito tempo, embora isso seja absolutamente essencial para atingir objectivos de negócio. Mas as empresas não necessitam desses dados cinco ou dez anos depois. E não necessitam, definitivamente, dos dados desde 1987, que é data de registo das empresas de telecomunicações.”

Snowden defendeu “formas mais eficazes de regular os comportamentos” dessas empresas na sua relação com os utilizadores e descreveu a Internet como um lugar absolutamente comercial.

“Não estamos onde precisamos de estar. A Internet tornou-se num espaço de cooperação, e a comercialização da Internet foi uma espécie de valor aditado ao seu verdadeiro objectivo. Hoje em dia a Internet tornou-se num espaço cooperativo que se tornou colonizado e explorado, ultimamente transformado num espaço comercial competitivo em detrimento dos utilizadores.”

Tal característica trouxe, para Edward Snowden, consequências sociais, por ser, “em larga medida, responsável por uma fracturação da sociedade que vemos hoje em dia”. No futuro, “deve ser restaurado o equilíbrio entre aquilo que a Internet é e a melhor forma de utilização, limitando as formas como somos explorados”.

“A próxima geração de serviços está programada de uma forma em que não confiamos no serviço, pois eles são intermediários da tua comunicação, mas confiamos nas pessoas que são o fim da comunicação, os amigos ou a comunidade, as pessoas com quem queres comunicar. Esse é o futuro”, rematou.

A quarta edição da Web Summit em Portugal decorre até quinta-feira e conta com a participação de 1.206 oradores que vão intervir nos 22 palcos distribuídos pelo recinto do evento. Fundada em 2010 por Paddy Cosgrave, Daire Hickey e David Kelly, a Web Summit é considerada um dos maiores eventos de tecnologia, inovação e empreendedorismo do mundo e evoluiu em menos de seis anos de uma equipa de apenas três pessoas para uma empresa com mais de 150 colaboradores.

A cimeira tecnológica, que nasceu em 2010 na Irlanda, passou a realizar-se em Lisboa desde 2016, vai manter-se na capital até 2028, depois de, em Novembro do ano passado, ter ficado decidida a permanência da conferência em Portugal por mais 10 anos, após uma candidatura com sucesso.

COM LUSA

6 Nov 2019

Websummit | Edward Snowden alerta para controlo de pessoas e não de dados pessoais 

Edward Snowden, antigo analista informático da Agência de Segurança Nacional dos EUA, esteve esta segunda-feira na abertura de mais uma edição da WebSummit, em Lisboa, e alertou a enorme plateia para a manipulação dos utilizadores da Internet e não apenas dos seus dados pessoais. Snowden, que em 2013 voou para Hong Kong onde denunciou o sistema de vigilância mundial que ajudou a criar, alertou para a enorme proximidade entre empresas e Governos

[dropcap]A[/dropcap] casa estava cheia para ouvir Edward Snowden, ainda que por videoconferência. O antigo analista informático da Agência de Segurança Nacional (ASN) dos EUA que, em 2013, voou do Hawai para Hong Kong onde cedeu documentos confidenciais aos media sobre a existência de um sistema de vigilância mundial de comunicações e de Internet, esteve esta segunda-feira na WebSummit, em Lisboa, naquela que é considerada a maior cimeira de tecnologia do mundo. Edward Snowden encontra-se actualmente em regime de asilo político na Rússia, o que o impediu de estar em Lisboa.
A entrevista, ao vivo, trouxe conclusões perturbadoras para todos aqueles que estão nas redes sociais e no mundo digital. “Os dados não são inofensivos nem abstractos quando se trata de pessoas. E quase todos os dados recolhidos hoje em dia são sobre pessoas. Não são os dados que estão a ser explorados, são as pessoas que estão a ser manipuladas”.
Questionado sobre os esforços para a protecção de dados dos utilizadores na Europa, Snowden indicou que não considera a introdução do Regulamento Geral sobre a Protecção de Dados (RGPD) uma resposta eficaz, uma vez que “o problema não é a protecção de dados, mas sim a recolha de dados”.
O ex-analista informático salientou que “não há problema em recolher [dados] desde que não haja uma fuga”, no entanto, o que percebemos em 2013, é que “há sempre uma fuga”.
Desde que revelou um segredo muito bem guardado pelas autoridades norte-americanas que Edward Snowden tem vindo a ser acusado pelos Estados Unidos de espionagem e apropriação de segredos do Estado.
Ao longo do seu discurso, Snowden referiu ainda que o modelo de negócios de empresas como o Google e o Facebook “é abusivo”, mas consideram-no “legal”. “Esse é que é o verdadeiro problema, nós legalizámos o abuso [relativamente aos dados pessoais recolhidos], criámos um sistema que torna a população vulnerável para benefício dos privilegiados”, afirmou.

Empresas vs Governo

Numa entrevista com os responsáveis da Websummit, gravada antes do evento e cedida aos media, Edward Snowden confessou que nunca a ligação entre empresas da área digital e o Governo foi tão forte, pondo em causa a segurança dos utilizadores.
“Quando os Governos percebem que há um mecanismo de acesso à informação, e quando os tribunais estabelecem este tipo de compromissos concedidos no passado há uma base para requerer novas cooperações. Em primeiro lugar há uma concordância, e em segundo lugar, e em último, acreditam que podem fazer esse tipo de pedidos para sempre. Então penso que há sempre uma falha ao nível da imaginação sobre aquilo que estes sistemas realmente mostram. As empresas em todo o mundo devem compreender para quem trabalham em último lugar e qual o sentido da sua existência. Trabalham em prol do público, ou existem em benefício do Governo?”, questionou.
Apesar de destacar a existência da encriptação de mensagens, algo que existe em plataformas de comunicação como o Whatsapp ou Telegram, Edward Snowden assegura que não é suficiente para a protecção de dados pessoais. “Temos visto enormes avanços na forma como as comunicações entre pessoas são protegidas desde a adopção do sistema de encriptação. A encriptação refere-se a uma nuvem que passa pelo percurso hostil da Internet, e aí já não estamos despidos e podemos fazer o que queremos. Temos cada vez mais comunicações encriptadas, mas não são todas. Mesmo quando estão encriptadas elas continuam a ser observadas. É possível ver a sua origem e destino”, salientou.
Para Edward Snowden, “o problema disso é que vemos os Governos alarmados pela ideia de que podem perder este acesso perverso a todas as nossas comunicações e às nossas vidas, e a vigilância de massas pode ficar menos rentável ou acessível.”
Para Edward Snowden, estas empresas necessitam cada vez mais de olhar para si mesmas e perceber para quem trabalham: se para as entidades institucionais, se para os cidadãos comuns.
“Os utilizadores não são os clientes, e isso dá lugar a abusos. Quando usas o Facebook não és um cliente, és um produto. As pessoas não estão conscientes do que acontece com a Amazon, e infelizmente pensam que é apenas um sítio onde compras sapatos. É isso de um ponto de vista, mas num fragmento muito pequeno”, exemplificou.
“Sim, estas pessoas estão envolvidas em abusos, nomeadamente quando falamos de Amazon, Facebook ou Google, mas o seu modelo de negócio é o abuso e alegam que é legal. Quer estejamos a falar do Google ou da NSA, esse é o verdadeiro problema. Legalizámos o abuso contra as pessoas. Criámos um sistema que torna a população vulnerável para benefício dos privilegiados”, acusa o antigo analista da CIA.
Snowden lembrou que “hoje, em qualquer idioma e qualquer jurisdição, reconhecemos que estas empresas têm cometido abusos através das suas plataformas, dado o seu posicionamento nas sociedades globais”. “A questão é o que vamos fazer sobre isso, para garantir que os seus serviços são úteis para a sociedade, mas a forma como exploram a sua posição deve ser analisada”, acrescentou.

Lugar da Internet

Ainda sobre o papel das empresas ao nível da segurança dos dados pessoais, Edward Snowden defendeu que devem ser criados limites legais em relação ao período temporal em que esses dados pessoais são guardados por empresas de telecomunicações, a Google ou o Facebook, entre outras.
“As empresas não deveriam ter a capacidade de manter registos das vidas pessoais das pessoas por muito tempo, embora isso seja absolutamente essencial para atingir objectivos de negócio. Mas as empresas não necessitam desses dados cinco ou dez anos depois. E não necessitam, definitivamente, dos dados desde 1987, que é data de registo das empresas de telecomunicações.”
Snowden defendeu “formas mais eficazes de regular os comportamentos” dessas empresas na sua relação com os utilizadores e descreveu a Internet como um lugar absolutamente comercial.
“Não estamos onde precisamos de estar. A Internet tornou-se num espaço de cooperação, e a comercialização da Internet foi uma espécie de valor aditado ao seu verdadeiro objectivo. Hoje em dia a Internet tornou-se num espaço cooperativo que se tornou colonizado e explorado, ultimamente transformado num espaço comercial competitivo em detrimento dos utilizadores.”
Tal característica trouxe, para Edward Snowden, consequências sociais, por ser, “em larga medida, responsável por uma fracturação da sociedade que vemos hoje em dia”. No futuro, “deve ser restaurado o equilíbrio entre aquilo que a Internet é e a melhor forma de utilização, limitando as formas como somos explorados”.
“A próxima geração de serviços está programada de uma forma em que não confiamos no serviço, pois eles são intermediários da tua comunicação, mas confiamos nas pessoas que são o fim da comunicação, os amigos ou a comunidade, as pessoas com quem queres comunicar. Esse é o futuro”, rematou.
A quarta edição da Web Summit em Portugal decorre até quinta-feira e conta com a participação de 1.206 oradores que vão intervir nos 22 palcos distribuídos pelo recinto do evento. Fundada em 2010 por Paddy Cosgrave, Daire Hickey e David Kelly, a Web Summit é considerada um dos maiores eventos de tecnologia, inovação e empreendedorismo do mundo e evoluiu em menos de seis anos de uma equipa de apenas três pessoas para uma empresa com mais de 150 colaboradores.
A cimeira tecnológica, que nasceu em 2010 na Irlanda, passou a realizar-se em Lisboa desde 2016, vai manter-se na capital até 2028, depois de, em Novembro do ano passado, ter ficado decidida a permanência da conferência em Portugal por mais 10 anos, após uma candidatura com sucesso.

COM LUSA

6 Nov 2019

Ciência | 300 milhões ameaçados por subida dos oceanos até 2050

A vida de 300 milhões de habitantes das zonas costeiras pode estar ameaçada pela subida do nível do mar até 2050, estima um estudo da Climate Central ontem divulgado, que aponta a Ásia como a região mais vulnerável. De acordo com o documento, publicado na revista científica Nature Communications, mais de 200 milhões de pessoas em risco vivem na China, no Bangladesh, na Índia, no Vietname, na Indonésia e na Tailândia

 

[dropcap]A[/dropcap] subida do nível das águas do mar pode atingir níveis muito piores do que se poderia pensar, com consequências que vão exigir muito mais dinheiro, é apontado num novo estudo científico. A teoria avançada não se baseia numa reavaliação dos níveis das águas do mar, mas na revisão da estimativa do número de pessoas que vivem em zonas baixas.

Um dos destaques do relatório aponta para um número a rondar as 110 milhões de pessoas que vivem abaixo do nível das águas do mar, incluindo algumas populações que residem em áreas protegidas por diques, paredões e outras infra-estruturas, como, por exemplo, acontece em Nova Orleães.

Mesmo num cenário relativamente modesto de alterações climáticas, o número pode subir para entre 150 milhões de pessoas em 2050 e 190 milhões no ano 2100. Se as alterações climáticas e a subida das águas do mar seguirem as piores expectativas, cerca de 340 milhões de pessoas que vivem abaixo do nível da maré alta podem estar em perigo. Esta estimativa não tem em conta quantas pessoas podem ser afectadas por cheias e catástrofes naturais.

As estimativas apresentadas são, pelo menos, três vezes piores em relação a estimativas anteriores.
“Temos tido um enorme ângulo cego em relação ao grau de perigosidade, e é nesse aspecto que estamos a tentar melhorar”, refere Benjamin Strauss da Climate Central, autor do estudo publicado na Nature Communications em parceria com Scott Kulp.

A razão para esta alteração significativa é que relatórios anteriores foram baseados em dados sobre elevação costeira apurados por medições de radar feitos em 2000 pela missão espacial da Endeavor. Porém, este conjunto de dados apresenta alguns problemas. O instrumento que detectou a altura das zonas costeiras não distinguiu apenas as elevações da orla, mas também casas e árvores. Como tal, foram introduzidos erros nas estimativas globais de elevação do terreno até quase a 20 metros, refere o estudo.

“Todo o investimento que fizemos em recursos no sentido de melhorar as nossas projecções de nível do mar não foi suficiente para determinar a altura do chão que está debaixo dos nossos pés”, refere Strauss.

Outras medições

Alguns países com maior capacidade financeira, como os Estados Unidos, têm usado medições da orla costeira com base em tecnologia laser de forma a conseguir maior precisão, mas a maioria dos países não tem acesso a tecnologias tão dispendiosas.

O documento publicado ontem usa medidas mais precisas, tendo como base os métodos de medição norte-americanos, que aplicam um algoritmo para fazer um ajustamento aos dados globais obtidos a partir do espaço pela Endeavor.

É aqui que o cenário fica complicado para a Ásia, com números estimados de população exposta muito mais elevados do que em medições anteriores.

“Em termos de estimativas globais, penso que a análise demonstra, de forma convincente, que a situação é provavelmente pior do que foi sugerido em estudos anteriores”, defende Stéphane Hallegatte, economista do Banco Mundial que estuda alterações climáticas e exposição a catástrofes naturais. “Estamos a falar de centenas de milhões de pessoas que vão ser directamente expostas”, acrescenta.

As mudanças ocorrem numa escala de dimensões alarmantes. O estudo estima que 110 milhões de pessoas vivem abaixo do nível actual das marés mais altas, em comparação com 28 milhões de estimativas anteriores. Cerca de 250 milhões de pessoas podem ficar expostas abaixo do nível das piores cheias do ano, de acordo com o estudo, em comparação com 65 milhões de estimativas anteriores.

Sapo na panela

As projecções ilustram como as populações vão ser afectadas à medida que os níveis das águas do mar continuam a aumentar.

Os resultados da pesquisa têm em conta um cenário que conduz a um aumento de temperatura de 2 graus Celsius de aquecimento global até 2100, a temperatura que os líderes mundiais estabeleceram como o limite absoluto. Com base nesse panorama, o estudo projecta que 150 milhões de pessoas vão viver abaixo do nível da maré alta até 2050 e 200 milhões até ao ano 2100.

Em termos do número de pessoas expostas à pior cheia do ano, estima-se que possa atingir os 360 milhões.

No entanto, a maioria dos estudos sobre o aquecimento global aponta para uma subida de temperatura consideravelmente acima dos 2 graus Celsius, o que pode levar a consequências ainda piores.

Um dos aspectos chave para o agravamento das estimativas prende-se com o grau de instabilidade na Antártida, que pode levar à exposição em 2100 de cerca de 480 milhões de pessoas a um fenómeno descrito como a pior cheia do ano.

Os resultados do estudo traçam um cenário particularmente negro para a Ásia, com destaque para a China, Bangladesh e Índia. Na pior das hipóteses, nestes países 87 milhões, 50 milhões e 38 milhões de pessoas, respectivamente, podem ficar abaixo do nível da maré alta em 2100.

A situação pode ser ainda mais grave do que é sugerido no documento, de acordo com Stéphane Hallegatte, economista do Banco Mundial. Isto porque a juntar à maré alta e eventos de maior cheia, esta parte do globo está sujeita a catástrofes naturais. O impacto dos desastres naturais, como tufões, será mais grave, afectando uma camada ainda maior da população à medida que o nível do mar continua a subir.

“A maioria dos diques e sistemas de protecção foram construídos para os níveis de mar estimados há 50 anos, ou mais. Ou seja, não vão conseguir proteger as populações contra cheias. Este fenómeno pode levar à rápida perda de costa face às cheias, se não se fizerem actualizações estruturais significativas”, refere o economista. “Este investimento vai sair muito caro, mas vai ser também indispensável para evitar inaceitáveis perdas económicas em algumas cidades de grande proporção”, acrescentou Hallegatte.

Passo em frente

O estudo publicado na Nature Communications foi considerado por muitos cientistas da área como um avanço apesar das críticas de que foi alvo. “Este estudo é um importante passo em frente em direcção a estimativas mais precisas das populações em risco face à subida global do nível das águas do mar”, considerou Pinki Mondal, um cientista da Universidade de Delaware que usa dados recolhidos por satélite e outros instrumentos com sensores remotos para estudar os riscos e efeitos das alterações climáticas.

“Com o avanço da tecnologia, recursos de computação e aprendizagem automática, está a tornar-se possível conseguir níveis de precisão maiores de estimativas como, por exemplo, de elevação como este estudo demonstra”, completou o investigador em declarações ao Washington Post.

O especialista em nível das águas do mar Athanasios Vafeidis, da Universidade de Kiel na Alemanha, concorda com os resultados apresentados no estudo em apreço. “A informação sobre a elevação costeira é nova e melhorada. Porém, as estimativas não consideram importantes factores como o desenvolvimento socioeconómico e a adaptação. Os processos físicos estão apresentados de uma forma algo simplista”, critica o especialista.

Vafeidis acrescenta que não é bem claro como o algoritmo usado para medir a orla costeira dos Estados Unidos se adequa a outros países. Além disso, a forma como as populações normalmente crescem e se adaptam à subida das águas do mar é mais complexo do que o estudo prevê. Também os efeitos das cheias não dependem apenas da elevação da costa.

Strauss, um dos autores do estudo, reconhece que não foram ditas “explícitas considerações” a medidas de adaptação, tais como barreiras, na estimativa da exposição da subida das águas, mas que o estudo assentou meramente na medida da elevação dos solos e na densidade populacional.

Para Strauss, essa é a boa notícia. As pessoas adaptam-se de forma a contornar as adversidades. Ainda assim, independentemente da corrente científica seguida, uma coisa parece certa: as populações que já vivem abaixo do nível da maré alta vão passar por dificuldades crescentes nos anos que se avizinham.

Com agências 

31 Out 2019

Ciência | 300 milhões ameaçados por subida dos oceanos até 2050

A vida de 300 milhões de habitantes das zonas costeiras pode estar ameaçada pela subida do nível do mar até 2050, estima um estudo da Climate Central ontem divulgado, que aponta a Ásia como a região mais vulnerável. De acordo com o documento, publicado na revista científica Nature Communications, mais de 200 milhões de pessoas em risco vivem na China, no Bangladesh, na Índia, no Vietname, na Indonésia e na Tailândia

 
[dropcap]A[/dropcap] subida do nível das águas do mar pode atingir níveis muito piores do que se poderia pensar, com consequências que vão exigir muito mais dinheiro, é apontado num novo estudo científico. A teoria avançada não se baseia numa reavaliação dos níveis das águas do mar, mas na revisão da estimativa do número de pessoas que vivem em zonas baixas.
Um dos destaques do relatório aponta para um número a rondar as 110 milhões de pessoas que vivem abaixo do nível das águas do mar, incluindo algumas populações que residem em áreas protegidas por diques, paredões e outras infra-estruturas, como, por exemplo, acontece em Nova Orleães.
Mesmo num cenário relativamente modesto de alterações climáticas, o número pode subir para entre 150 milhões de pessoas em 2050 e 190 milhões no ano 2100. Se as alterações climáticas e a subida das águas do mar seguirem as piores expectativas, cerca de 340 milhões de pessoas que vivem abaixo do nível da maré alta podem estar em perigo. Esta estimativa não tem em conta quantas pessoas podem ser afectadas por cheias e catástrofes naturais.
As estimativas apresentadas são, pelo menos, três vezes piores em relação a estimativas anteriores.
“Temos tido um enorme ângulo cego em relação ao grau de perigosidade, e é nesse aspecto que estamos a tentar melhorar”, refere Benjamin Strauss da Climate Central, autor do estudo publicado na Nature Communications em parceria com Scott Kulp.
A razão para esta alteração significativa é que relatórios anteriores foram baseados em dados sobre elevação costeira apurados por medições de radar feitos em 2000 pela missão espacial da Endeavor. Porém, este conjunto de dados apresenta alguns problemas. O instrumento que detectou a altura das zonas costeiras não distinguiu apenas as elevações da orla, mas também casas e árvores. Como tal, foram introduzidos erros nas estimativas globais de elevação do terreno até quase a 20 metros, refere o estudo.
“Todo o investimento que fizemos em recursos no sentido de melhorar as nossas projecções de nível do mar não foi suficiente para determinar a altura do chão que está debaixo dos nossos pés”, refere Strauss.

Outras medições

Alguns países com maior capacidade financeira, como os Estados Unidos, têm usado medições da orla costeira com base em tecnologia laser de forma a conseguir maior precisão, mas a maioria dos países não tem acesso a tecnologias tão dispendiosas.
O documento publicado ontem usa medidas mais precisas, tendo como base os métodos de medição norte-americanos, que aplicam um algoritmo para fazer um ajustamento aos dados globais obtidos a partir do espaço pela Endeavor.
É aqui que o cenário fica complicado para a Ásia, com números estimados de população exposta muito mais elevados do que em medições anteriores.
“Em termos de estimativas globais, penso que a análise demonstra, de forma convincente, que a situação é provavelmente pior do que foi sugerido em estudos anteriores”, defende Stéphane Hallegatte, economista do Banco Mundial que estuda alterações climáticas e exposição a catástrofes naturais. “Estamos a falar de centenas de milhões de pessoas que vão ser directamente expostas”, acrescenta.
As mudanças ocorrem numa escala de dimensões alarmantes. O estudo estima que 110 milhões de pessoas vivem abaixo do nível actual das marés mais altas, em comparação com 28 milhões de estimativas anteriores. Cerca de 250 milhões de pessoas podem ficar expostas abaixo do nível das piores cheias do ano, de acordo com o estudo, em comparação com 65 milhões de estimativas anteriores.

Sapo na panela

As projecções ilustram como as populações vão ser afectadas à medida que os níveis das águas do mar continuam a aumentar.
Os resultados da pesquisa têm em conta um cenário que conduz a um aumento de temperatura de 2 graus Celsius de aquecimento global até 2100, a temperatura que os líderes mundiais estabeleceram como o limite absoluto. Com base nesse panorama, o estudo projecta que 150 milhões de pessoas vão viver abaixo do nível da maré alta até 2050 e 200 milhões até ao ano 2100.
Em termos do número de pessoas expostas à pior cheia do ano, estima-se que possa atingir os 360 milhões.
No entanto, a maioria dos estudos sobre o aquecimento global aponta para uma subida de temperatura consideravelmente acima dos 2 graus Celsius, o que pode levar a consequências ainda piores.
Um dos aspectos chave para o agravamento das estimativas prende-se com o grau de instabilidade na Antártida, que pode levar à exposição em 2100 de cerca de 480 milhões de pessoas a um fenómeno descrito como a pior cheia do ano.
Os resultados do estudo traçam um cenário particularmente negro para a Ásia, com destaque para a China, Bangladesh e Índia. Na pior das hipóteses, nestes países 87 milhões, 50 milhões e 38 milhões de pessoas, respectivamente, podem ficar abaixo do nível da maré alta em 2100.
A situação pode ser ainda mais grave do que é sugerido no documento, de acordo com Stéphane Hallegatte, economista do Banco Mundial. Isto porque a juntar à maré alta e eventos de maior cheia, esta parte do globo está sujeita a catástrofes naturais. O impacto dos desastres naturais, como tufões, será mais grave, afectando uma camada ainda maior da população à medida que o nível do mar continua a subir.
“A maioria dos diques e sistemas de protecção foram construídos para os níveis de mar estimados há 50 anos, ou mais. Ou seja, não vão conseguir proteger as populações contra cheias. Este fenómeno pode levar à rápida perda de costa face às cheias, se não se fizerem actualizações estruturais significativas”, refere o economista. “Este investimento vai sair muito caro, mas vai ser também indispensável para evitar inaceitáveis perdas económicas em algumas cidades de grande proporção”, acrescentou Hallegatte.

Passo em frente

O estudo publicado na Nature Communications foi considerado por muitos cientistas da área como um avanço apesar das críticas de que foi alvo. “Este estudo é um importante passo em frente em direcção a estimativas mais precisas das populações em risco face à subida global do nível das águas do mar”, considerou Pinki Mondal, um cientista da Universidade de Delaware que usa dados recolhidos por satélite e outros instrumentos com sensores remotos para estudar os riscos e efeitos das alterações climáticas.
“Com o avanço da tecnologia, recursos de computação e aprendizagem automática, está a tornar-se possível conseguir níveis de precisão maiores de estimativas como, por exemplo, de elevação como este estudo demonstra”, completou o investigador em declarações ao Washington Post.
O especialista em nível das águas do mar Athanasios Vafeidis, da Universidade de Kiel na Alemanha, concorda com os resultados apresentados no estudo em apreço. “A informação sobre a elevação costeira é nova e melhorada. Porém, as estimativas não consideram importantes factores como o desenvolvimento socioeconómico e a adaptação. Os processos físicos estão apresentados de uma forma algo simplista”, critica o especialista.
Vafeidis acrescenta que não é bem claro como o algoritmo usado para medir a orla costeira dos Estados Unidos se adequa a outros países. Além disso, a forma como as populações normalmente crescem e se adaptam à subida das águas do mar é mais complexo do que o estudo prevê. Também os efeitos das cheias não dependem apenas da elevação da costa.
Strauss, um dos autores do estudo, reconhece que não foram ditas “explícitas considerações” a medidas de adaptação, tais como barreiras, na estimativa da exposição da subida das águas, mas que o estudo assentou meramente na medida da elevação dos solos e na densidade populacional.
Para Strauss, essa é a boa notícia. As pessoas adaptam-se de forma a contornar as adversidades. Ainda assim, independentemente da corrente científica seguida, uma coisa parece certa: as populações que já vivem abaixo do nível da maré alta vão passar por dificuldades crescentes nos anos que se avizinham.
Com agências 

31 Out 2019

Terrorismo | Morte do líder do ISIS possível graças a reunião familiar

O líder do autoproclamado Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi, faleceu num ataque norte-americano. Donald Trump anunciou que al-Baghdadi “morreu como um cão”, descrevendo em detalhe os últimos momentos de um dos homens mais procurados do mundo. A campanha militar norte-americana foi o culminar de uma operação que começou com o segredo do homem que ajudou a reunificar a família de al-Baghdadi no noroeste da Síria

 

[dropcap]A[/dropcap]bu Bakr al-Baghdadi já não tinha para onde fugir. Encurralado à porta de um túnel sem saída, com um robot das forças militares inimigas a aproximar-se na escuridão. Perto do fim, ouviu cães a ladrar e um soldado norte-americano chamar o seu nome. Acabava assim a vida de um dos homens mais procurados do mundo, de uma forma que, provavelmente, inúmeras vezes antecipara. Foi assim, segundo informação das forças norte-americanas, que o líder do autoproclamado Estado Islâmico morreu, depois de detonar um colete de explosivos, em Idlib, um dos territórios do noroeste da Síria ainda por controlar pelo regime de Bashar al-Assad.

No domingo, Donald Trump anunciou “que as forças especiais norte-americanas executaram, em grande estilo, uma perigosa e arriscada missão nocturna no noroeste da Síria que foi um sucesso”. “Baghdadi correu por um túnel sem saída, a chorar e gritar pelo caminho. Morreu como um cão, como um cobarde. O mundo é agora um sítio mais seguro”, descreveu o Presidente dos Estados Unidos.

Com uma recompensa pela sua cabeça no valor de 25 milhões de dólares, o líder do Estado Islâmico conseguiu durante anos a fio escapar à apertada teia tecnológica dos muitos serviços secretos que o procuraram. No entanto, a forma para chegar a al-Baghdadi acabou por ser à antiga: um segredo guardado por alguém.

Ponto de encontro

A meio de Setembro deste ano, as autoridades iraquianas identificaram um homem de nacionalidade síria que havia servido de guia às esposas de dois irmãos de al-Baghdadi, Ahmad e Jumah, entre a Turquia e a província síria de Idlib. O mesmo homem já havia ajudado os filhos do líder do ISIS a fugirem do Iraque. De acordo com informação dos Serviços Nacionais de Inteligência do Iraque, citados pelo The Guardian, os oficiais iraquianos conseguiram levar uma esposa e um sobrinho de al-Baghdadi a dar informações sobre a rota que seguiriam e onde queriam chegar. A informação viria a ser a mais valiosa na tentativa de apanhar um dos homens mais procurados do planeta e acabou por ir parar às mãos da CIA.

Passado um mês entrava em acção um plano para apanhar ou matar al-Baghdadi. O nome da operação: “Kayla Mueller”, segundo revelado ontem por Robert O’Brien, conselheiro para a segurança nacional da Casa Branca. O nome da operação foi uma homenagem a uma voluntária de campanha humanitária capturada pelo ISIS e que viria a ser morta em Raqqa, depois de sofrer crueldades indizíveis às mãos de al-Baghdadi.

À medida que as forças iraquianas iam alimentando Washington com informação em tempo real, tornou-se cada vez mais claro que Idlib seria a região onde o líder do ISIS seria apanhado.

Apesar da paranóia e dos vários ferimentos de guerra e diabetes que o atrasavam, al-Baghdadi mudava constantemente de localização entre o leste da Síria e a parte ocidental do Iraque, habituado a viver em fuga, até se fixar em Idlib.

Mundo em reacção

O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, disse ontem que a morte do líder do grupo extremista Estado Islâmico, anunciada por Donald Trump, foi um “passo importante” na luta contra o “terrorismo internacional”.

“O anúncio norte-americano da operação contra Abu Bakr al-Baghdadi é um passo importante nos nossos esforços contra o terrorismo internacional. A NATO continua empenhada na luta contra o inimigo comum do EI”, afirmou Stoltenberg através da rede social Twitter.

Vários dirigentes mundiais saudaram ontem a morte do líder do EI, sublinhando que a luta contra o terrorismo não está ganha. O Presidente de França, Emmanuel Macron, considerou a morte de al-Baghdadi “um duro golpe” para o Estado Islâmico, mas sublinhou que “é apenas uma etapa”.

Numa publicação no Twitter, Macron afirmou que “o combate continua” para que “a organização terrorista seja definitivamente derrotada”. “É a nossa prioridade no Levante”, afirmou.

A ministra francesa da Defesa, Florence Parly, felicitou os Estados Unidos pela operação, apelando à prossecução do combate ao Estado Islâmico “sem tréguas”. Em dois ‘tweets’ publicados pouco depois do anúncio feito pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, Parly escreveu: “Reforma antecipada para um terrorista, mas não para a sua organização”.

No Reino Unido, o primeiro-ministro, Boris Johnson, considerou a morte de al-Baghdadi “um momento importante na luta contra o terrorismo”, mas advertiu que o combate ao Estado Islâmico “não acabou”. “A morte de Baghdadi é um momento importante na luta contra o terrorismo, mas a batalha contra o flagelo do Daesh [acrónimo árabe do Estado Islâmico] ainda não terminou”, escreveu Boris Johnson também na rede social Twitter.

“Vamos trabalhar com os nossos parceiros da coligação para acabar com as actividades assassinas e bárbaras do Daesh de uma vez por todas”, escreveu ainda.

Também no Twitter, o ministro britânico da Defesa, Ben Wallace, saudou “a acção lançada”, afirmando que “o mundo não vai ter saudades de Al-Baghdadi”. “O ISIS é uma das organizações terroristas mais sanguinárias da nossa geração. Os seus dirigentes distorceram o Islão para atrair milhares de pessoas a juntarem-se à sua causa malévola”, escreveu Wallace, acrescentando que o Reino Unido tem tido “um papel de liderança” na coligação internacional contra os ‘jihadistas’ “e vai continuar a tê-lo”.

De Ancara a Moscovo

O Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, também saudou a morte do líder do grupo extremista, que considerou um “ponto de viragem” na luta contra o terrorismo. “A morte do líder do Daesh marca um ponto de viragem na nossa luta conjunta contra o terrorismo”, escreveu Erdogan no Twitter. “A Turquia continuará a apoiar os esforços contra o terrorismo, como fez no passado”, acrescentou.

Em Israel, o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, considerou também que a morte de Al-Baghdadi é “uma etapa importante”, mas “a batalha” contra o terrorismo continua. “Quero felicitar o presidente Trump por esta realização extraordinária que levou à morte do líder do Estado Islâmico. Esta vitória é uma etapa importante, mas a batalha continua”, disse Netanyahu à imprensa à margem de uma visita a uma base militar israelita.

A única voz dissonante nas primeiras reacções ao anúncio veio de Moscovo, onde o porta-voz do Ministério da Defesa russa, o general Igor Konashenkov, afirmou não dispor de “informações fiáveis” sobre “a enésima morte” de al-Baghdadi, mas apenas “pormenores contraditórios” que suscitam “dúvidas […] sobre o êxito da operação”. “O Ministério da Defesa russo não dispõe de informações fiáveis sobre as acções das Forças Armadas norte-americanas na zona de distensão de Idlib […] relativas a uma enésima ‘morte’” de Al-Baghdadi, afirmou num comunicado o porta-voz da Defesa russa, o general Igor Konashenkov.

Um dia depois da morte de al-Baghdadi, aquele que era considerado o seu natural sucessor foi morto num raid aéreo que se presume norte-americano, mas que até à hora do fecho da edição não havia sido confirmado.

Abu Hassan al-Muhajir estava a ser transportado pelo norte da Síria num camião cisterna quando foi alvo do ataque.

29 Out 2019

Terrorismo | Morte do líder do ISIS possível graças a reunião familiar

O líder do autoproclamado Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi, faleceu num ataque norte-americano. Donald Trump anunciou que al-Baghdadi “morreu como um cão”, descrevendo em detalhe os últimos momentos de um dos homens mais procurados do mundo. A campanha militar norte-americana foi o culminar de uma operação que começou com o segredo do homem que ajudou a reunificar a família de al-Baghdadi no noroeste da Síria

 
[dropcap]A[/dropcap]bu Bakr al-Baghdadi já não tinha para onde fugir. Encurralado à porta de um túnel sem saída, com um robot das forças militares inimigas a aproximar-se na escuridão. Perto do fim, ouviu cães a ladrar e um soldado norte-americano chamar o seu nome. Acabava assim a vida de um dos homens mais procurados do mundo, de uma forma que, provavelmente, inúmeras vezes antecipara. Foi assim, segundo informação das forças norte-americanas, que o líder do autoproclamado Estado Islâmico morreu, depois de detonar um colete de explosivos, em Idlib, um dos territórios do noroeste da Síria ainda por controlar pelo regime de Bashar al-Assad.
No domingo, Donald Trump anunciou “que as forças especiais norte-americanas executaram, em grande estilo, uma perigosa e arriscada missão nocturna no noroeste da Síria que foi um sucesso”. “Baghdadi correu por um túnel sem saída, a chorar e gritar pelo caminho. Morreu como um cão, como um cobarde. O mundo é agora um sítio mais seguro”, descreveu o Presidente dos Estados Unidos.
Com uma recompensa pela sua cabeça no valor de 25 milhões de dólares, o líder do Estado Islâmico conseguiu durante anos a fio escapar à apertada teia tecnológica dos muitos serviços secretos que o procuraram. No entanto, a forma para chegar a al-Baghdadi acabou por ser à antiga: um segredo guardado por alguém.

Ponto de encontro

A meio de Setembro deste ano, as autoridades iraquianas identificaram um homem de nacionalidade síria que havia servido de guia às esposas de dois irmãos de al-Baghdadi, Ahmad e Jumah, entre a Turquia e a província síria de Idlib. O mesmo homem já havia ajudado os filhos do líder do ISIS a fugirem do Iraque. De acordo com informação dos Serviços Nacionais de Inteligência do Iraque, citados pelo The Guardian, os oficiais iraquianos conseguiram levar uma esposa e um sobrinho de al-Baghdadi a dar informações sobre a rota que seguiriam e onde queriam chegar. A informação viria a ser a mais valiosa na tentativa de apanhar um dos homens mais procurados do planeta e acabou por ir parar às mãos da CIA.
Passado um mês entrava em acção um plano para apanhar ou matar al-Baghdadi. O nome da operação: “Kayla Mueller”, segundo revelado ontem por Robert O’Brien, conselheiro para a segurança nacional da Casa Branca. O nome da operação foi uma homenagem a uma voluntária de campanha humanitária capturada pelo ISIS e que viria a ser morta em Raqqa, depois de sofrer crueldades indizíveis às mãos de al-Baghdadi.
À medida que as forças iraquianas iam alimentando Washington com informação em tempo real, tornou-se cada vez mais claro que Idlib seria a região onde o líder do ISIS seria apanhado.
Apesar da paranóia e dos vários ferimentos de guerra e diabetes que o atrasavam, al-Baghdadi mudava constantemente de localização entre o leste da Síria e a parte ocidental do Iraque, habituado a viver em fuga, até se fixar em Idlib.

Mundo em reacção

O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, disse ontem que a morte do líder do grupo extremista Estado Islâmico, anunciada por Donald Trump, foi um “passo importante” na luta contra o “terrorismo internacional”.
“O anúncio norte-americano da operação contra Abu Bakr al-Baghdadi é um passo importante nos nossos esforços contra o terrorismo internacional. A NATO continua empenhada na luta contra o inimigo comum do EI”, afirmou Stoltenberg através da rede social Twitter.
Vários dirigentes mundiais saudaram ontem a morte do líder do EI, sublinhando que a luta contra o terrorismo não está ganha. O Presidente de França, Emmanuel Macron, considerou a morte de al-Baghdadi “um duro golpe” para o Estado Islâmico, mas sublinhou que “é apenas uma etapa”.
Numa publicação no Twitter, Macron afirmou que “o combate continua” para que “a organização terrorista seja definitivamente derrotada”. “É a nossa prioridade no Levante”, afirmou.
A ministra francesa da Defesa, Florence Parly, felicitou os Estados Unidos pela operação, apelando à prossecução do combate ao Estado Islâmico “sem tréguas”. Em dois ‘tweets’ publicados pouco depois do anúncio feito pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, Parly escreveu: “Reforma antecipada para um terrorista, mas não para a sua organização”.
No Reino Unido, o primeiro-ministro, Boris Johnson, considerou a morte de al-Baghdadi “um momento importante na luta contra o terrorismo”, mas advertiu que o combate ao Estado Islâmico “não acabou”. “A morte de Baghdadi é um momento importante na luta contra o terrorismo, mas a batalha contra o flagelo do Daesh [acrónimo árabe do Estado Islâmico] ainda não terminou”, escreveu Boris Johnson também na rede social Twitter.
“Vamos trabalhar com os nossos parceiros da coligação para acabar com as actividades assassinas e bárbaras do Daesh de uma vez por todas”, escreveu ainda.
Também no Twitter, o ministro britânico da Defesa, Ben Wallace, saudou “a acção lançada”, afirmando que “o mundo não vai ter saudades de Al-Baghdadi”. “O ISIS é uma das organizações terroristas mais sanguinárias da nossa geração. Os seus dirigentes distorceram o Islão para atrair milhares de pessoas a juntarem-se à sua causa malévola”, escreveu Wallace, acrescentando que o Reino Unido tem tido “um papel de liderança” na coligação internacional contra os ‘jihadistas’ “e vai continuar a tê-lo”.

De Ancara a Moscovo

O Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, também saudou a morte do líder do grupo extremista, que considerou um “ponto de viragem” na luta contra o terrorismo. “A morte do líder do Daesh marca um ponto de viragem na nossa luta conjunta contra o terrorismo”, escreveu Erdogan no Twitter. “A Turquia continuará a apoiar os esforços contra o terrorismo, como fez no passado”, acrescentou.
Em Israel, o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, considerou também que a morte de Al-Baghdadi é “uma etapa importante”, mas “a batalha” contra o terrorismo continua. “Quero felicitar o presidente Trump por esta realização extraordinária que levou à morte do líder do Estado Islâmico. Esta vitória é uma etapa importante, mas a batalha continua”, disse Netanyahu à imprensa à margem de uma visita a uma base militar israelita.
A única voz dissonante nas primeiras reacções ao anúncio veio de Moscovo, onde o porta-voz do Ministério da Defesa russa, o general Igor Konashenkov, afirmou não dispor de “informações fiáveis” sobre “a enésima morte” de al-Baghdadi, mas apenas “pormenores contraditórios” que suscitam “dúvidas […] sobre o êxito da operação”. “O Ministério da Defesa russo não dispõe de informações fiáveis sobre as acções das Forças Armadas norte-americanas na zona de distensão de Idlib […] relativas a uma enésima ‘morte’” de Al-Baghdadi, afirmou num comunicado o porta-voz da Defesa russa, o general Igor Konashenkov.
Um dia depois da morte de al-Baghdadi, aquele que era considerado o seu natural sucessor foi morto num raid aéreo que se presume norte-americano, mas que até à hora do fecho da edição não havia sido confirmado.
Abu Hassan al-Muhajir estava a ser transportado pelo norte da Síria num camião cisterna quando foi alvo do ataque.

29 Out 2019

Reino Unido | 39 mortos encontrados em camião eram de nacionalidade chinesa

Depois da detenção do camionista que conduziu o veículo onde foram encontrados 39 corpos, as autoridades investigam uma possível ligação a redes de crime organizado. Os imigrantes, que teriam nacionalidade chinesa, foram vítimas de um horripilante episódio revelador dos riscos que os imigrantes estão dispostos a correr para procurar uma vida melhor

 

[dropcap]C[/dropcap]omeçam a surgir detalhes que traçam mais definidamente a história de horror iniciada com a descoberta de um camião que continha no interior 39 pessoas mortas, em Dover, na Inglaterra.

Ontem, a BBC noticiou que as vítimas são de nacionalidade chinesa. Informação que foi confirmada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, de acordo com o jornal oficial Global Times. O Diário do Povo referiu que não serão adiantadas mais informações, mas que a Embaixada da China no Reino Unido irá publicar um comunicado depois de investigar o caso.

Esta foi a mais mortífera ocorrência do género no Reino Unido desde a bizarra descoberta de 58 mortos, também chineses, encontrados num contentor no porto de Dover, no condado de Kent, em 2000.

Uma das pistas que a polícia britânica está a seguir é o caminho que o camião fez. A polícia britânica informou que o camião entrou no Reino Unido na noite de terça-feira para quarta-feira pelo porto de Purfleet, no rio Tamisa, procedente de Zeebruges, na Bélgica.

“Pensamos agora que o camião viajou de Zeebruges para Purfleet”, onde chegou por volta das 00h30 hora local (07h30 em Macau), indicou um comunicado da polícia de Essex, que anteriormente tinha avançado que o veículo teria entrado no país pelo porto de Holyhead (País de Gales), na costa oeste, que serve a cidade de Dublin (Irlanda).

O camião, que transportava um contentor onde estavam os 39 cadáveres, foi encontrado na madrugada de quarta-feira na zona do Parque Industrial de Waterglade em Grays (condado de Essex), a leste de Londres.

Depois de buscas na noite de quarta-feira, as autoridades detiveram o camionista, Mo Robinson, residente de Portadown, que é agora suspeito de homicídio. Ao mesmo tempo que o suspeito de 25 anos é interrogado, a polícia está a investigar a possível ligação do macabro achado a redes de crime organizado. Ontem, até ao fecho da edição, a polícia tinha investigado três propriedades privadas na busca de indícios de associação criminosa.

Importa realçar que se têm multiplicado os casos de pessoas que tentam trazer imigrantes ilegalmente para o Reino Unido.

Findas as análises iniciais, o camião foi conduzido do local onde foi encontrado, passando por um cordão de pessoal das forças de segurança e bombeiros, que tiraram o chapéu e fizeram uma vénia à passagem do veículo.

O camião tinha uma unidade de refrigeração Carrier. Segundo alguns órgãos de comunicação social locais, a refrigeração poderia estar ligada, atingindo temperaturas de -25 graus, apontando para a possibilidade de os imigrantes terem morrido de frio.

Porém, ainda não existem informações forenses precisas sobre a causa e hora da morte dos imigrantes. De acordo com o Ministério Público belga, na passada terça-feira, às 14h29 locais, chegou um contentor a Zeebrugee que saiu do porto na mesma tarde. Até ao momento, não é claro se as vítimas já vinham no contentor, ou se entraram posteriormente já em solo belga.
Lucy Moreton, da União de Serviços de Imigração, disse à BBC que face ao número de contentores que entra diariamente no Reino Unido é impossível verificar o interior de todos. “Não temos infra-estruturas para fiscalizar a vasta maioria dos contentores que entram no Reino Unido. Mas uma coisa é certa, os contentores de mercadorias móveis e cisternas, que podem ser transportados separadamente, têm menos probabilidades de ser vistos. A não ser que haja informação que levante suspeitas”, referiu a responsável britânica.

Ondas de choque

A Agência Nacional de Crime tem alertado para o aumento de sofisticação e da crueldade dos métodos das associações criminosas que se dedicam ao tráfico humano.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, juntou-se ao tributo às vítimas revelando-se “chocado com a tragédia”. Citado pelo The Guardian, o capitão Andrew Mariner, da polícia de Essex referiu que as investigações estão em curso para apurar o que aconteceu. “Estamos a proceder à identificação das vítimas, algo que prevejo ser um processo moroso”, projectou.

O antigo director das autoridades de imigração, David Wood, revelou à BBC que a rota que o camião fez é pouco usual. “Fez um trajecto estranho, porque Zeebrugee é um porto de carga e contentores, portanto, não é um porto onde se dê prioridade a fiscalização de imigração. À primeira vista, diria que é uma rota apetecível para este tipo de organizações criminosas”, aponta David Wood.

À medida que as formas de entrar no Reino Unido legalmente diminuem, os métodos de transporte que colocam em perigo a vida dos imigrantes aumentam. Tais métodos incluem “empilhar” pessoas em pequenos compartimentos na parte refrigerada no fundo do camião, ou fazer travessias arriscadas por mares revoltos em pequenas embarcações.

Cúmulo do desespero

De acordo com dados oficiais, este ano até Junho, o Reino Unido concedeu asilo, protecção humanitária e outras formas de autorização de permanência a 18.519 pessoas. Porém, de acordo com o The Guardian, é difícil conseguir asilo no Reino Unido, que acolhe apenas 1 por cento de todos os refugiados do mundo.

Além disso, as políticas de imigração estão a seguir caminhos cada vez mais hostis para os que chegam às fronteiras britânicas, como a detenção sem tempo máximo, algo que pode afastar quem procura asilo das autoridades, por receio de serem detidos.

Sem papas na língua, o Conselho para o Bem-estar dos Imigrantes emitiu um comunicado a criticar as políticas públicas, ligando-as ao episódio macabro do camião. “Que ninguém duvide que a derradeira responsabilidade por estas mortes é das políticas do Governo, que deliberadamente decidiu fechar as rotas para se entrar legalmente e em segurança no Reino Unido. Precisamos de muito mais que do que expressões vazias de choque e pesar de Priti Patel e Boris Johnson. Precisamos de um compromisso para a abertura de vias legais e seguras de acesso, assim como de decisões rápidas para quem procura uma vida melhor no Reino Unido. As pessoas movem-se, sempre o fizeram, sempre o vão fazer e ninguém deveria ter de arriscar a vida por isso”.

No ano passado, mais de 35 mil tentativas de atravessar o Canal da Mancha ilegalmente foram travadas pelas autoridades. Durante o mesmo período de tempo, mais de 8 mil pessoas foram detectadas, já em solo britânico em portos de entrada, por terem passado a fronteira de automóvel sem cumprirem os requisitos legais para o fazer.

Em 2018, as 10 nacionalidades que mais frequentemente foram apanhadas em postos de controlo eram nacionais da Eritreia, Iraque, Afeganistão, Irão, Albânia, Sudão, Vietname, Paquistão, Síria e Etiópia.

25 Out 2019

Reino Unido | 39 mortos encontrados em camião eram de nacionalidade chinesa

Depois da detenção do camionista que conduziu o veículo onde foram encontrados 39 corpos, as autoridades investigam uma possível ligação a redes de crime organizado. Os imigrantes, que teriam nacionalidade chinesa, foram vítimas de um horripilante episódio revelador dos riscos que os imigrantes estão dispostos a correr para procurar uma vida melhor

 
[dropcap]C[/dropcap]omeçam a surgir detalhes que traçam mais definidamente a história de horror iniciada com a descoberta de um camião que continha no interior 39 pessoas mortas, em Dover, na Inglaterra.
Ontem, a BBC noticiou que as vítimas são de nacionalidade chinesa. Informação que foi confirmada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, de acordo com o jornal oficial Global Times. O Diário do Povo referiu que não serão adiantadas mais informações, mas que a Embaixada da China no Reino Unido irá publicar um comunicado depois de investigar o caso.
Esta foi a mais mortífera ocorrência do género no Reino Unido desde a bizarra descoberta de 58 mortos, também chineses, encontrados num contentor no porto de Dover, no condado de Kent, em 2000.
Uma das pistas que a polícia britânica está a seguir é o caminho que o camião fez. A polícia britânica informou que o camião entrou no Reino Unido na noite de terça-feira para quarta-feira pelo porto de Purfleet, no rio Tamisa, procedente de Zeebruges, na Bélgica.
“Pensamos agora que o camião viajou de Zeebruges para Purfleet”, onde chegou por volta das 00h30 hora local (07h30 em Macau), indicou um comunicado da polícia de Essex, que anteriormente tinha avançado que o veículo teria entrado no país pelo porto de Holyhead (País de Gales), na costa oeste, que serve a cidade de Dublin (Irlanda).
O camião, que transportava um contentor onde estavam os 39 cadáveres, foi encontrado na madrugada de quarta-feira na zona do Parque Industrial de Waterglade em Grays (condado de Essex), a leste de Londres.
Depois de buscas na noite de quarta-feira, as autoridades detiveram o camionista, Mo Robinson, residente de Portadown, que é agora suspeito de homicídio. Ao mesmo tempo que o suspeito de 25 anos é interrogado, a polícia está a investigar a possível ligação do macabro achado a redes de crime organizado. Ontem, até ao fecho da edição, a polícia tinha investigado três propriedades privadas na busca de indícios de associação criminosa.
Importa realçar que se têm multiplicado os casos de pessoas que tentam trazer imigrantes ilegalmente para o Reino Unido.
Findas as análises iniciais, o camião foi conduzido do local onde foi encontrado, passando por um cordão de pessoal das forças de segurança e bombeiros, que tiraram o chapéu e fizeram uma vénia à passagem do veículo.
O camião tinha uma unidade de refrigeração Carrier. Segundo alguns órgãos de comunicação social locais, a refrigeração poderia estar ligada, atingindo temperaturas de -25 graus, apontando para a possibilidade de os imigrantes terem morrido de frio.
Porém, ainda não existem informações forenses precisas sobre a causa e hora da morte dos imigrantes. De acordo com o Ministério Público belga, na passada terça-feira, às 14h29 locais, chegou um contentor a Zeebrugee que saiu do porto na mesma tarde. Até ao momento, não é claro se as vítimas já vinham no contentor, ou se entraram posteriormente já em solo belga.
Lucy Moreton, da União de Serviços de Imigração, disse à BBC que face ao número de contentores que entra diariamente no Reino Unido é impossível verificar o interior de todos. “Não temos infra-estruturas para fiscalizar a vasta maioria dos contentores que entram no Reino Unido. Mas uma coisa é certa, os contentores de mercadorias móveis e cisternas, que podem ser transportados separadamente, têm menos probabilidades de ser vistos. A não ser que haja informação que levante suspeitas”, referiu a responsável britânica.

Ondas de choque

A Agência Nacional de Crime tem alertado para o aumento de sofisticação e da crueldade dos métodos das associações criminosas que se dedicam ao tráfico humano.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, juntou-se ao tributo às vítimas revelando-se “chocado com a tragédia”. Citado pelo The Guardian, o capitão Andrew Mariner, da polícia de Essex referiu que as investigações estão em curso para apurar o que aconteceu. “Estamos a proceder à identificação das vítimas, algo que prevejo ser um processo moroso”, projectou.
O antigo director das autoridades de imigração, David Wood, revelou à BBC que a rota que o camião fez é pouco usual. “Fez um trajecto estranho, porque Zeebrugee é um porto de carga e contentores, portanto, não é um porto onde se dê prioridade a fiscalização de imigração. À primeira vista, diria que é uma rota apetecível para este tipo de organizações criminosas”, aponta David Wood.
À medida que as formas de entrar no Reino Unido legalmente diminuem, os métodos de transporte que colocam em perigo a vida dos imigrantes aumentam. Tais métodos incluem “empilhar” pessoas em pequenos compartimentos na parte refrigerada no fundo do camião, ou fazer travessias arriscadas por mares revoltos em pequenas embarcações.

Cúmulo do desespero

De acordo com dados oficiais, este ano até Junho, o Reino Unido concedeu asilo, protecção humanitária e outras formas de autorização de permanência a 18.519 pessoas. Porém, de acordo com o The Guardian, é difícil conseguir asilo no Reino Unido, que acolhe apenas 1 por cento de todos os refugiados do mundo.
Além disso, as políticas de imigração estão a seguir caminhos cada vez mais hostis para os que chegam às fronteiras britânicas, como a detenção sem tempo máximo, algo que pode afastar quem procura asilo das autoridades, por receio de serem detidos.
Sem papas na língua, o Conselho para o Bem-estar dos Imigrantes emitiu um comunicado a criticar as políticas públicas, ligando-as ao episódio macabro do camião. “Que ninguém duvide que a derradeira responsabilidade por estas mortes é das políticas do Governo, que deliberadamente decidiu fechar as rotas para se entrar legalmente e em segurança no Reino Unido. Precisamos de muito mais que do que expressões vazias de choque e pesar de Priti Patel e Boris Johnson. Precisamos de um compromisso para a abertura de vias legais e seguras de acesso, assim como de decisões rápidas para quem procura uma vida melhor no Reino Unido. As pessoas movem-se, sempre o fizeram, sempre o vão fazer e ninguém deveria ter de arriscar a vida por isso”.
No ano passado, mais de 35 mil tentativas de atravessar o Canal da Mancha ilegalmente foram travadas pelas autoridades. Durante o mesmo período de tempo, mais de 8 mil pessoas foram detectadas, já em solo britânico em portos de entrada, por terem passado a fronteira de automóvel sem cumprirem os requisitos legais para o fazer.
Em 2018, as 10 nacionalidades que mais frequentemente foram apanhadas em postos de controlo eram nacionais da Eritreia, Iraque, Afeganistão, Irão, Albânia, Sudão, Vietname, Paquistão, Síria e Etiópia.

25 Out 2019

ONU | Estudo revela que quem cruza o Mediterrâneo voltaria a fazê-lo

Quase todos os imigrantes que cruzam o Mediterrâneo para entrar de forma irregular na Europa indicaram que voltariam a fazê-lo, apesar dos perigos, segundo um estudo apresentado ontem pelas Nações Unidas (ONU). Entretanto, o número mortes na travessia do Mediterrâneo desceu para mais de metade este ano

 
[dropcap]A[/dropcap]penas 2 por cento das quase 2.000 pessoas entrevistadas disse que teria permanecido no seu país de origem ao conhecer os riscos que enfrentava.
Isto, apesar de 93 por cento dos entrevistados reconhecer estar em perigo durante a sua viagem, de acordo com os dados recolhidos pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Com o objectivo de entender melhor as motivações dos africanos que decidem emigrar para a Europa de forma irregular, a agência da Nações Unidas (ONU) recolheu depoimentos de 1.970 pessoas de 39 países africanos que actualmente residem em 13 países europeus e que não procuram asilo ou protecção, mas que migraram por outros motivos.
A idade média dos participantes no estudo era de 24 anos quando chegou à Europa, e 94 por cento tinha menos de 35 anos. Os emigrantes que ainda não tinham 18 anos completos quando fizeram a travessia totalizam 18 por cento.
“A juventude dos emigrantes indica restrições no acesso a oportunidades em África por parte dos mais novos. As gerações mais novas esbarraram nas escassas hipóteses de perseguir os seus sonhos e aspirações, nem de conseguir corresponder a realidade às suas perspectivas de vida e das suas famílias no contexto dos seus países de origem”, lê-se no relatório que acompanha o estudo.
Para o administrador do PNUD, Achim Steiner, o estudo mostra que a migração é uma consequência do ritmo de desenvolvimento na África, que, apesar dos progressos, permanece desigual e não é suficientemente rápido para responder às aspirações de muitas pessoas. Assim, o relatório conclui que a maior parte das pessoas que emigra da África para a Europa não é pobre no contexto africano e possui níveis de educação acima da média, com a maioria a trabalhar ou a estudar no momento da sua partida.
Quase dois terços dos entrevistados indicaram que se sentia tratado de forma injusta pelo seu Governo e muitos assinalaram a etnia ou ideias políticas como o motivo. Uma grande maioria, 77 por cento, disse achar que a sua voz não seria ouvida no seu país ou que o sistema político não permitia influenciar de forma alguma no Governo. Assim, 41 por cento dos inquiridos mencionaram que “nada” teria mudado a sua decisão de emigrar.
Um dos inquiridos para o estudo, aponta razões bem práticas para controlar o fluxo de emigrantes que arriscam tudo e se fazem à perigosa viagem marítima rumo à Europa. “A ideia de tentar reduzir o peso da emigração passa por olhar para as suas causas. São as políticas governamentais que conduzem as pessoas à pobreza, nada se desenvolve. As escolas não existem, a saúde pública é uma miséria, e reina a corrupção e a repressão”, diz Serge.

Ajudar quem ficou

“Dentro de cinco anos vejo-me de regresso ao meu país. Há cinco anos que a minha família não se vê. Portanto, um dia destes teremos de nos reunir outra vez. Quando regressar ao meu país será para ficar”, perspectiva Mahamadou, um dos inquiridos para o estudo que tem uma visão partilhada por muitos emigrantes africanos. Aliás, o estudo revela que para a maioria, o objectivo não é estabelecer-se no país de destino, mas regressar posteriormente a casa.
A vergonha de não poder enviar fundos para os seus familiares é um factor chave para quem decide não retornar, uma vez que 53 por cento dos entrevistados realçaram que receberam algum tipo de apoio financeiro para pagar a sua viagem. Quando estão na Europa, 78 por cento envia dinheiro para as suas famílias, em média um terço do que ganha mensalmente, o que representa 85 por cento do que recebia no seu país de origem.
“Quem tem uma família tem de assegurar que têm comida, abrigo, medicamentos e educação. Eu tenho uma filha muito nova e há quem pergunte que tipo de pai sou para deixar a minha filha e mulher para trás. Mas que tipo de pai seria se tivesse ficado e não lhes pudesse dar uma vida decente?”, questiona Yerima, um dos participantes no estudo, cujo nome a ONU não divulgou para proteger a sua identidade.
As mulheres, de acordo com o estudo do PNUD, ganham, em média, mais que os homens e enviam mais dinheiro para as suas casas, uma situação que contrasta com a que têm na África, onde o seu rendimento é significativamente menor que o dos homens. Uma vez na Europa, as mulheres tendem a ganhar 11 por cento mais que os homens, uma inversão em relação ao que se passava nos países de origem, onde os homens ganhavam, em média, mais 26 por cento. “O objectivo foi fazer dinheiro. Pensei na minha mãe, pai, nas minhas irmãs. Quis ajudá-las, foi por isso que vim para a Europa”, revela outra participante no estudo, identificada como Drissa.
Outro indicador revelado pelo estudo refere-se à exposição à criminalidade. Neste parâmetro, as emigrantes do sexo feminino revelaram maior probabilidade de serem vítimas de crimes, nos seis meses anteriores ao inquérito, do que os homens. Probabilidade que aumenta significativamente quando estão em causa crimes de natureza sexual.

Sem futuro

O relatório alerta que a migração está a deixar o continente africano sem muitas pessoas com mais aspirações, precisamente aquelas que beneficiaram dos progressos de desenvolvimento das últimas décadas.
Nesse sentido, o estudo adverte que, embora a imigração tenha sido reduzida recentemente, é provável que, à medida que a África continue a avançar, haja cada vez mais pessoas que queiram emigrar.
Os especialistas do PNUD fazem uma série de recomendações, incluindo a expansão de oportunidades na África, dando mais poder aos jovens para decidirem o caminho dos países ou criarem economias mais inclusivas. Além disso, aconselham o aumento dos canais legais de migração, facilitando uma migração “circular” que permite que os africanos trabalhem do outro lado do Mediterrâneo, ganhem dinheiro e depois retornem aos seus países de origem e também regularizem as pessoas que já estão na Europa.
Várias organizações dentro das Nações Unidas têm destacado a necessidade de investir fortemente em soluções que resolvam o problema do desemprego e da falta de oportunidades dos jovens. A probabilidade de desemprego aumenta para o dobro se quem procura trabalho em África for jovem, com variações significativas de país para país, de acordo com um estudo do Banco Africano de Desenvolvimento.
O continente africano tem cerca de 420 milhões de jovens com idades compreendidas entre os 15 e os 35 anos. Deste universo, um terço está no desemprego numa situação desencorajadora, outro terço está numa situação de precariedade laboral, ou sente a estabilidade do seu trabalho em risco. Entre os inquiridos, apenas um em cada seis é remunerado.

Mar cemitério

Na semana passada, as autoridades italianas apuraram que, pelo menos, 12 pessoas se afogaram num naufrágio ocorrido nas águas perigosas ao largo da Ilha de Lampedusa. A mórbida descoberta surgiu uma semana depois das autoridades italianas terem resgatado 22 sobreviventes de um barco que originalmente transportava meia centena. À altura, foram recuperados os corpos de 13 emigrantes do sexo feminino, onde se incluía o corpo de uma criança de 12 anos. Depois de ouvidos os testemunhos dos sobreviventes, ficou claro que várias dezenas de pessoas, incluindo 8 crianças, permaneciam desaparecidas.
Este tipo de situação tornou-se normal nos últimos anos no mar de mediterrâneo, apesar de 2019 ter sido um ano de redução tanto nas chegadas como nas fatalidades.
De acordo com a Organização Internacional para as Migrações, entidade que pertence à ONU, até 13 de Agosto de 2019 entraram na Europa 43.584 emigrantes e refugiados, uma descida de quase 31 por cento em relação ao mesmo período do ano passado, quando chegaram ao continente europeu 63.142 pessoas.
Também as mortes baixaram. Segundo os dados da Organização Internacional para as Migrações, até 13 de Agosto deste ano, perderam a vida na travessia do Mediterrâneo 844 pessoas, o que corresponde a um decréscimo de quase 55 cento face ao mesmo período de 2018, quando o número de casualidades se fixou em 1.541.

23 Out 2019

ONU | Estudo revela que quem cruza o Mediterrâneo voltaria a fazê-lo

Quase todos os imigrantes que cruzam o Mediterrâneo para entrar de forma irregular na Europa indicaram que voltariam a fazê-lo, apesar dos perigos, segundo um estudo apresentado ontem pelas Nações Unidas (ONU). Entretanto, o número mortes na travessia do Mediterrâneo desceu para mais de metade este ano

 

[dropcap]A[/dropcap]penas 2 por cento das quase 2.000 pessoas entrevistadas disse que teria permanecido no seu país de origem ao conhecer os riscos que enfrentava.

Isto, apesar de 93 por cento dos entrevistados reconhecer estar em perigo durante a sua viagem, de acordo com os dados recolhidos pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Com o objectivo de entender melhor as motivações dos africanos que decidem emigrar para a Europa de forma irregular, a agência da Nações Unidas (ONU) recolheu depoimentos de 1.970 pessoas de 39 países africanos que actualmente residem em 13 países europeus e que não procuram asilo ou protecção, mas que migraram por outros motivos.

A idade média dos participantes no estudo era de 24 anos quando chegou à Europa, e 94 por cento tinha menos de 35 anos. Os emigrantes que ainda não tinham 18 anos completos quando fizeram a travessia totalizam 18 por cento.

“A juventude dos emigrantes indica restrições no acesso a oportunidades em África por parte dos mais novos. As gerações mais novas esbarraram nas escassas hipóteses de perseguir os seus sonhos e aspirações, nem de conseguir corresponder a realidade às suas perspectivas de vida e das suas famílias no contexto dos seus países de origem”, lê-se no relatório que acompanha o estudo.

Para o administrador do PNUD, Achim Steiner, o estudo mostra que a migração é uma consequência do ritmo de desenvolvimento na África, que, apesar dos progressos, permanece desigual e não é suficientemente rápido para responder às aspirações de muitas pessoas. Assim, o relatório conclui que a maior parte das pessoas que emigra da África para a Europa não é pobre no contexto africano e possui níveis de educação acima da média, com a maioria a trabalhar ou a estudar no momento da sua partida.

Quase dois terços dos entrevistados indicaram que se sentia tratado de forma injusta pelo seu Governo e muitos assinalaram a etnia ou ideias políticas como o motivo. Uma grande maioria, 77 por cento, disse achar que a sua voz não seria ouvida no seu país ou que o sistema político não permitia influenciar de forma alguma no Governo. Assim, 41 por cento dos inquiridos mencionaram que “nada” teria mudado a sua decisão de emigrar.

Um dos inquiridos para o estudo, aponta razões bem práticas para controlar o fluxo de emigrantes que arriscam tudo e se fazem à perigosa viagem marítima rumo à Europa. “A ideia de tentar reduzir o peso da emigração passa por olhar para as suas causas. São as políticas governamentais que conduzem as pessoas à pobreza, nada se desenvolve. As escolas não existem, a saúde pública é uma miséria, e reina a corrupção e a repressão”, diz Serge.

Ajudar quem ficou

“Dentro de cinco anos vejo-me de regresso ao meu país. Há cinco anos que a minha família não se vê. Portanto, um dia destes teremos de nos reunir outra vez. Quando regressar ao meu país será para ficar”, perspectiva Mahamadou, um dos inquiridos para o estudo que tem uma visão partilhada por muitos emigrantes africanos. Aliás, o estudo revela que para a maioria, o objectivo não é estabelecer-se no país de destino, mas regressar posteriormente a casa.

A vergonha de não poder enviar fundos para os seus familiares é um factor chave para quem decide não retornar, uma vez que 53 por cento dos entrevistados realçaram que receberam algum tipo de apoio financeiro para pagar a sua viagem. Quando estão na Europa, 78 por cento envia dinheiro para as suas famílias, em média um terço do que ganha mensalmente, o que representa 85 por cento do que recebia no seu país de origem.

“Quem tem uma família tem de assegurar que têm comida, abrigo, medicamentos e educação. Eu tenho uma filha muito nova e há quem pergunte que tipo de pai sou para deixar a minha filha e mulher para trás. Mas que tipo de pai seria se tivesse ficado e não lhes pudesse dar uma vida decente?”, questiona Yerima, um dos participantes no estudo, cujo nome a ONU não divulgou para proteger a sua identidade.

As mulheres, de acordo com o estudo do PNUD, ganham, em média, mais que os homens e enviam mais dinheiro para as suas casas, uma situação que contrasta com a que têm na África, onde o seu rendimento é significativamente menor que o dos homens. Uma vez na Europa, as mulheres tendem a ganhar 11 por cento mais que os homens, uma inversão em relação ao que se passava nos países de origem, onde os homens ganhavam, em média, mais 26 por cento. “O objectivo foi fazer dinheiro. Pensei na minha mãe, pai, nas minhas irmãs. Quis ajudá-las, foi por isso que vim para a Europa”, revela outra participante no estudo, identificada como Drissa.

Outro indicador revelado pelo estudo refere-se à exposição à criminalidade. Neste parâmetro, as emigrantes do sexo feminino revelaram maior probabilidade de serem vítimas de crimes, nos seis meses anteriores ao inquérito, do que os homens. Probabilidade que aumenta significativamente quando estão em causa crimes de natureza sexual.

Sem futuro

O relatório alerta que a migração está a deixar o continente africano sem muitas pessoas com mais aspirações, precisamente aquelas que beneficiaram dos progressos de desenvolvimento das últimas décadas.

Nesse sentido, o estudo adverte que, embora a imigração tenha sido reduzida recentemente, é provável que, à medida que a África continue a avançar, haja cada vez mais pessoas que queiram emigrar.

Os especialistas do PNUD fazem uma série de recomendações, incluindo a expansão de oportunidades na África, dando mais poder aos jovens para decidirem o caminho dos países ou criarem economias mais inclusivas. Além disso, aconselham o aumento dos canais legais de migração, facilitando uma migração “circular” que permite que os africanos trabalhem do outro lado do Mediterrâneo, ganhem dinheiro e depois retornem aos seus países de origem e também regularizem as pessoas que já estão na Europa.

Várias organizações dentro das Nações Unidas têm destacado a necessidade de investir fortemente em soluções que resolvam o problema do desemprego e da falta de oportunidades dos jovens. A probabilidade de desemprego aumenta para o dobro se quem procura trabalho em África for jovem, com variações significativas de país para país, de acordo com um estudo do Banco Africano de Desenvolvimento.

O continente africano tem cerca de 420 milhões de jovens com idades compreendidas entre os 15 e os 35 anos. Deste universo, um terço está no desemprego numa situação desencorajadora, outro terço está numa situação de precariedade laboral, ou sente a estabilidade do seu trabalho em risco. Entre os inquiridos, apenas um em cada seis é remunerado.

Mar cemitério

Na semana passada, as autoridades italianas apuraram que, pelo menos, 12 pessoas se afogaram num naufrágio ocorrido nas águas perigosas ao largo da Ilha de Lampedusa. A mórbida descoberta surgiu uma semana depois das autoridades italianas terem resgatado 22 sobreviventes de um barco que originalmente transportava meia centena. À altura, foram recuperados os corpos de 13 emigrantes do sexo feminino, onde se incluía o corpo de uma criança de 12 anos. Depois de ouvidos os testemunhos dos sobreviventes, ficou claro que várias dezenas de pessoas, incluindo 8 crianças, permaneciam desaparecidas.

Este tipo de situação tornou-se normal nos últimos anos no mar de mediterrâneo, apesar de 2019 ter sido um ano de redução tanto nas chegadas como nas fatalidades.

De acordo com a Organização Internacional para as Migrações, entidade que pertence à ONU, até 13 de Agosto de 2019 entraram na Europa 43.584 emigrantes e refugiados, uma descida de quase 31 por cento em relação ao mesmo período do ano passado, quando chegaram ao continente europeu 63.142 pessoas.

Também as mortes baixaram. Segundo os dados da Organização Internacional para as Migrações, até 13 de Agosto deste ano, perderam a vida na travessia do Mediterrâneo 844 pessoas, o que corresponde a um decréscimo de quase 55 cento face ao mesmo período de 2018, quando o número de casualidades se fixou em 1.541.

23 Out 2019

Chile | Protestos violentos resultaram em, pelo menos, oito mortos

A violência e o caos tomaram conta das ruas chilenas depois do Governo ter anunciado planos de aumento das tarifas do metro. Protestos, pilhagens e incêndios levaram à declaração do estado de emergência e, até agora, à morte de oito pessoas. Apesar do Governo ter voltado atrás na medida, os protestos continuam contra a deterioração das condições de vida e os pobres serviços sociais

 
[dropcap]F[/dropcap]ogos, mortos, pilhagens, destruição e exército nas ruas são os elementos que num fim-de-semana transformaram o Chile num autêntico barril de pólvora. Protestos de grande dimensão espalharam-se pelo país sul-americano depois do anúncio de mais um aumento de um serviço público, resultando numa espiral de violência que resultou em, pelo menos, oito mortos.
As manifestações decorrem desde sexta-feira em protesto contra um aumento (entre 800 e 830 pesos, cerca de 1,04 euros) do preço dos bilhetes de metro em Santiago, que possui a rede mais longa (140 quilómetros) e mais moderna da América do Sul, e que transporta diariamente cerca de três milhões de passageiros.
No sábado, o Presidente Sebastián Piñera recuou e suspendeu o aumento do preço das viagens de metro. Mas as manifestações e os confrontos prosseguiram, devido à degradação das condições sociais e às desigualdades neste país, onde a saúde e educação estão quase totalmente controlados pelo sector privado.
Dezenas de supermercados, veículos e estações de serviço foram saqueados ou incendiados. Os autocarros e as estações de metro registaram danos significativos. Segundo o Governo, 78 estações de metro registam estragos, e algumas foram totalmente destruídas.
Os prejuízos no metro foram avaliados em mais de 268 milhões de euros e o regresso à normalidade em certos percursos deverá prolongar-se “por meses”, considerou Louis de Grange, presidente da Companhia nacional de transportes públicos.
No aeroporto de Santiago foram cancelados ou reprogramados numerosos voos, também devido às dificuldades dos trabalhadores em garantir meios de transporte. De acordo com a Associated Press, pelo menos duas companhias aéreas cancelaram, ou adiaram voos para a capital, Santiago, afectando mais de 1400 passageiros durante o fim-de-semana, e mais de 5000 pessoas viram-se forçadas a dormir no aeroporto na noite de domingo.
Com os transportes públicos parados, Cynthia Cordero disse ao The Guardian que teve de andar 20 quarteirões até chegar à farmácia para comprar fraldas. Quando lá chegou deparou-se com um prédio consumido pelas chamas. “Não podem fazer isto”, disse, esclarecendo de seguida que a população “têm todo o direito de protestar contra os abusos, os aumentos dos preços, as condições más do ensino e as pensões indignas, mas não destruir tudo”.

Gritos de revolta

Apesar dos focos de contestação virem de vários sectores, a população mais jovem tem sido dos segmentos demográficos mais insatisfeitos. Assim sendo, estudantes apelaram a novas manifestações, através de palavras de ordem como “Fim aos abusos” ou “O Chile levantou-se”, difundidas nas redes sociais.
As principais cidades do país tornaram-se em cenário de batalha campal. Manifestantes e a polícia envolveram-se no domingo em confrontos em Santiago do Chile, no terceiro dia dos piores tumultos no país desde há décadas. Os contestatários, de cara coberta com capuzes, envolveram-se em violentos confrontos com polícias na praça Itália, centro da capital, referiu a agência noticiosa AFP. As forças da ordem responderam com gás lacrimogéneo e jactos de água.
“El pueblo unido jamás será vencido” (O povo unido jamais será vencido), gritaram os manifestantes, uma palavra de ordem utilizada no decurso do governo de Unidade Popular de Salvador Allende, e retomada após o golpe militar e a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
Após três dias de violências, os centros da capital chilena e de outras grandes cidades, como Valparaíso e Concepción, registavam um cenário de desolação, incluindo autocarros incendiados, lojas destruídas e milhares de pedras pelas ruas.
Segundo um balanço das autoridades, foram detidas, pelo menos, 1500 pessoas em todo o país. O ministro do Interior, Andrés Chadwick, anunciou que, até domingo, 62 agentes policiais e 11 civis sofreram ferimentos.
O cessar-fogo permanece em vigor em cinco regiões, incluindo a capital Santiago, e foram mobilizados mais de 10.500 polícias e militares, precisou o general Javier Iturriaga del Campo.

Cheiro a guerra civil

“Estamos em guerra contra um inimigo poderoso e implacável que não respeita nada ou ninguém e que está disposto a usar a violência sem limites, mesmo quando isso significa a perda de vidas humanas, com o único objectivo de causar o máximo de dano possível”, afirmou este domingo Sebastián Piñera.
O Presidente disse entender que os cidadãos se manifestem sobre aquilo que os preocupa, mas classificou de “verdadeiros criminosos” os responsáveis pelos incêndios, barricadas e pilhagens, que demonstram “um grau de organização e logística típico de uma organização criminosa”.
“Amanhã vamos ter um dia difícil”, disse no domingo Sebastián Piñera, referindo-se a suspensão parcial de muitos serviços públicos, como hospitais, escolas, creches e a rede de transportes públicos de Santiago. Os comentários do Presidente foram proferidos horas depois de se ter reunido com líderes parlamentares e do sistema judicial e prometido “reduzir as excessivas desigualdades, injustiças e abusos que persistem no nosso país”. Importa referir que até ao fecho da edição, ainda era manhã cedo em Santiago.
O grau de violência dos distúrbios que estão a abalar o Chile são os piores das últimas décadas. Tanques nas ruas é uma visão aterradora para os chilenos, principalmente para os mais velhos que ainda têm na memória lembranças frescas do trauma de 17 anos de ditadura militar liderada por Pinochet.

Caídos nas ruas

Um incêndio num supermercado no sul de Santiago do Chile na noite de sábado provocou a morte a três pessoas. “A polícia e os bombeiros encontraram dois corpos queimados e outra pessoa em péssimo estado, tendo sido transferidos para um hospital e infelizmente morreram”, disse a presidente da câmara da Região Metropolitana de Santiago do Chile, Karla Rubilar.
As autoridades acrescentaram que os corpos foram encontrados quando o fogo foi extinto no supermercado da comuna de San Bernardo, causado durante a noite deste sábado no meio dos tumultos, incêndios e saques que ocorreram em Santiago do Chile e outras cidades do país.
Karla Rubilar esclareceu que não há “informações claras sobre em que circunstâncias” os eventos ocorreram, nem se os mortos faziam parte da multidão que assaltou o estabelecimento ou se eram trabalhadores do supermercado. “Precisamos de mais informações, entendemos que o Ministério Público tem que comandar essa investigação, mas infelizmente temos que informar as pessoas de que temos três mortos”, disse Rubilar.
No domingo morreram cinco pessoas no incêndio de uma fábrica de confecção de vestuário alvo de pilhagens no norte de Santiago, elevando para oito o número de mortos.

22 Out 2019

Chile | Protestos violentos resultaram em, pelo menos, oito mortos

A violência e o caos tomaram conta das ruas chilenas depois do Governo ter anunciado planos de aumento das tarifas do metro. Protestos, pilhagens e incêndios levaram à declaração do estado de emergência e, até agora, à morte de oito pessoas. Apesar do Governo ter voltado atrás na medida, os protestos continuam contra a deterioração das condições de vida e os pobres serviços sociais

 

[dropcap]F[/dropcap]ogos, mortos, pilhagens, destruição e exército nas ruas são os elementos que num fim-de-semana transformaram o Chile num autêntico barril de pólvora. Protestos de grande dimensão espalharam-se pelo país sul-americano depois do anúncio de mais um aumento de um serviço público, resultando numa espiral de violência que resultou em, pelo menos, oito mortos.

As manifestações decorrem desde sexta-feira em protesto contra um aumento (entre 800 e 830 pesos, cerca de 1,04 euros) do preço dos bilhetes de metro em Santiago, que possui a rede mais longa (140 quilómetros) e mais moderna da América do Sul, e que transporta diariamente cerca de três milhões de passageiros.

No sábado, o Presidente Sebastián Piñera recuou e suspendeu o aumento do preço das viagens de metro. Mas as manifestações e os confrontos prosseguiram, devido à degradação das condições sociais e às desigualdades neste país, onde a saúde e educação estão quase totalmente controlados pelo sector privado.

Dezenas de supermercados, veículos e estações de serviço foram saqueados ou incendiados. Os autocarros e as estações de metro registaram danos significativos. Segundo o Governo, 78 estações de metro registam estragos, e algumas foram totalmente destruídas.

Os prejuízos no metro foram avaliados em mais de 268 milhões de euros e o regresso à normalidade em certos percursos deverá prolongar-se “por meses”, considerou Louis de Grange, presidente da Companhia nacional de transportes públicos.

No aeroporto de Santiago foram cancelados ou reprogramados numerosos voos, também devido às dificuldades dos trabalhadores em garantir meios de transporte. De acordo com a Associated Press, pelo menos duas companhias aéreas cancelaram, ou adiaram voos para a capital, Santiago, afectando mais de 1400 passageiros durante o fim-de-semana, e mais de 5000 pessoas viram-se forçadas a dormir no aeroporto na noite de domingo.

Com os transportes públicos parados, Cynthia Cordero disse ao The Guardian que teve de andar 20 quarteirões até chegar à farmácia para comprar fraldas. Quando lá chegou deparou-se com um prédio consumido pelas chamas. “Não podem fazer isto”, disse, esclarecendo de seguida que a população “têm todo o direito de protestar contra os abusos, os aumentos dos preços, as condições más do ensino e as pensões indignas, mas não destruir tudo”.

Gritos de revolta

Apesar dos focos de contestação virem de vários sectores, a população mais jovem tem sido dos segmentos demográficos mais insatisfeitos. Assim sendo, estudantes apelaram a novas manifestações, através de palavras de ordem como “Fim aos abusos” ou “O Chile levantou-se”, difundidas nas redes sociais.

As principais cidades do país tornaram-se em cenário de batalha campal. Manifestantes e a polícia envolveram-se no domingo em confrontos em Santiago do Chile, no terceiro dia dos piores tumultos no país desde há décadas. Os contestatários, de cara coberta com capuzes, envolveram-se em violentos confrontos com polícias na praça Itália, centro da capital, referiu a agência noticiosa AFP. As forças da ordem responderam com gás lacrimogéneo e jactos de água.
“El pueblo unido jamás será vencido” (O povo unido jamais será vencido), gritaram os manifestantes, uma palavra de ordem utilizada no decurso do governo de Unidade Popular de Salvador Allende, e retomada após o golpe militar e a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

Após três dias de violências, os centros da capital chilena e de outras grandes cidades, como Valparaíso e Concepción, registavam um cenário de desolação, incluindo autocarros incendiados, lojas destruídas e milhares de pedras pelas ruas.

Segundo um balanço das autoridades, foram detidas, pelo menos, 1500 pessoas em todo o país. O ministro do Interior, Andrés Chadwick, anunciou que, até domingo, 62 agentes policiais e 11 civis sofreram ferimentos.

O cessar-fogo permanece em vigor em cinco regiões, incluindo a capital Santiago, e foram mobilizados mais de 10.500 polícias e militares, precisou o general Javier Iturriaga del Campo.

Cheiro a guerra civil

“Estamos em guerra contra um inimigo poderoso e implacável que não respeita nada ou ninguém e que está disposto a usar a violência sem limites, mesmo quando isso significa a perda de vidas humanas, com o único objectivo de causar o máximo de dano possível”, afirmou este domingo Sebastián Piñera.

O Presidente disse entender que os cidadãos se manifestem sobre aquilo que os preocupa, mas classificou de “verdadeiros criminosos” os responsáveis pelos incêndios, barricadas e pilhagens, que demonstram “um grau de organização e logística típico de uma organização criminosa”.

“Amanhã vamos ter um dia difícil”, disse no domingo Sebastián Piñera, referindo-se a suspensão parcial de muitos serviços públicos, como hospitais, escolas, creches e a rede de transportes públicos de Santiago. Os comentários do Presidente foram proferidos horas depois de se ter reunido com líderes parlamentares e do sistema judicial e prometido “reduzir as excessivas desigualdades, injustiças e abusos que persistem no nosso país”. Importa referir que até ao fecho da edição, ainda era manhã cedo em Santiago.

O grau de violência dos distúrbios que estão a abalar o Chile são os piores das últimas décadas. Tanques nas ruas é uma visão aterradora para os chilenos, principalmente para os mais velhos que ainda têm na memória lembranças frescas do trauma de 17 anos de ditadura militar liderada por Pinochet.

Caídos nas ruas

Um incêndio num supermercado no sul de Santiago do Chile na noite de sábado provocou a morte a três pessoas. “A polícia e os bombeiros encontraram dois corpos queimados e outra pessoa em péssimo estado, tendo sido transferidos para um hospital e infelizmente morreram”, disse a presidente da câmara da Região Metropolitana de Santiago do Chile, Karla Rubilar.

As autoridades acrescentaram que os corpos foram encontrados quando o fogo foi extinto no supermercado da comuna de San Bernardo, causado durante a noite deste sábado no meio dos tumultos, incêndios e saques que ocorreram em Santiago do Chile e outras cidades do país.
Karla Rubilar esclareceu que não há “informações claras sobre em que circunstâncias” os eventos ocorreram, nem se os mortos faziam parte da multidão que assaltou o estabelecimento ou se eram trabalhadores do supermercado. “Precisamos de mais informações, entendemos que o Ministério Público tem que comandar essa investigação, mas infelizmente temos que informar as pessoas de que temos três mortos”, disse Rubilar.

No domingo morreram cinco pessoas no incêndio de uma fábrica de confecção de vestuário alvo de pilhagens no norte de Santiago, elevando para oito o número de mortos.

22 Out 2019

UNICEF | Um em cada três menores de 5 anos é desnutrido ou tem excesso de peso

Pelo menos uma em cada três crianças menores de 5 anos no mundo sofre de desnutrição ou excesso de peso, de acordo com um novo relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância. A falta de opções leva a dietas pouco saudáveis com consequências para a saúde potencialmente crónicas

 
[dropcap]N[/dropcap]o relatório tornado público ontem, a UNICEF alerta que milhões de crianças estão a comer pouca comida de que necessitam e demasiada daquela de que não precisam. O resultado, de acordo com a UNICEF, é que muitas crianças correm risco de desenvolvimento cerebral fraco, problemas de aprendizagem, imunização e sofrem mais infecções e doenças.
A directora executiva da agência da ONU, Henrietta Fore, explica que “milhões de crianças sobrevivem com dietas não saudáveis porque não têm melhor opção”. A responsável considera que “apesar de todos os avanços tecnológicos, culturais e sociais das últimas décadas, perdemos de vista o facto mais básico: se as crianças comeram mal, vão também viver mal”.
De acordo com a UNICEF, é necessário mudar a forma como as pessoas pensam e respondem à desnutrição: “não é apenas se as crianças comem o suficiente, mas sim dar-lhes a comida certa. Esse é o nosso desafio diário”.
O relatório divide os problemas de desnutrição em três tipos: crianças desnutridas, fome invisível causada pela falta de nutrientes essenciais e excesso de peso.
De acordo com dados da UNICEF, 149 milhões de crianças menores de 5 anos no mundo são muito baixas para a idade, resultado de má alimentação, enquanto 50 milhões são muito magras.
As crianças magras demais, um problema que em situações mais graves pode ser letal, concentram-se na Ásia e não em países com situações de emergência como as encontradas em vários países africanos. Além disso, 340 milhões – uma em cada duas crianças nessa faixa etária – sofrem de deficiências de vitaminas e nutrientes essenciais, como vitamina A ou ferro.
Ainda antes de nascerem, uma fatia considerável de fetos sofre de pobre nutrição, um problema que conduz a atrasos de crescimento. Estas crianças podem nunca atingir o peso que deveriam ter nem o desenvolvimento cerebral que permita o completo potencial cognitivo. Ou seja, começam a vida com um atraso que pode levar dificuldades de aprendizagem na escola, um problema que resultar em notas piores, com todas as consequências em termos de oportunidade económica já em idade adulta.

Fórmula desastrosa

Ainda 40 milhões sofrem de sobrepeso ou obesidade, um problema que explodiu nos últimos anos.
Os problemas, conforme descritos no relatório, começam nos primeiros meses de vida, pois apenas dois em cada cinco bebés com menos de seis meses alimentam-se exclusivamente de leite materno, conforme recomendado por especialistas.
O uso de fórmula de leite em pó para amamentação aumentou significativamente nos últimos anos, com um crescimento de 41 por cento em todo o mundo entre 2008 e 2013 e disparando 72 por cento em países como Brasil, China ou Turquia. Na próxima etapa, de 6 meses a dois anos, 44 por cento das crianças não comem frutas ou vegetais e 59 por cento não incluem na sua dieta ovos, laticínios, peixe ou carne, relata a UNICEF.
No caso de crianças em idade escolar, o relatório alerta para o abuso de alimentos ultraprocessados, refrigerantes e ‘fast food’.
Como exemplo, a UNICEF aponta que 42 por cento dos adolescentes que frequentam a escola em países em desenvolvimento e subdesenvolvimento consomem bebidas carbonatadas cheias de açúcar pelo menos uma vez por dia e 46 por cento consumem fast food pelo menos uma vez por semana.
Estas percentagens sobem para 62 e 49 por cento, respectivamente, em adolescentes que vivem em países desenvolvidos.

Dieta económica

Famílias com menos recursos tendem a alimentar os seus filhos com alimentos de menor qualidade, cujo custo é cada vez menor, em contraste com o aumento dos preços de produtos saudáveis. Por exemplo, num país altamente desenvolvido, como o Reino Unido, a taxa de sobrepeso dobra nas localidades mais pobres em comparação às mais ricas.
“Estamos a perder espaço na luta por dietas saudáveis”, alertou Henrietta Forre, apelando a que os governos, o sector privado e a sociedade civil se unam para alcançar melhores resultados.
Um dos destaques do relatório aponta para o facto de que com o avançar da idade, a criança fica exposta a comida pouco saudável a nível alarmantes, conduzida em grande parte por grandes campanhas de marketing e publicidade. Outro factor que agiganta o problema é aquilo a que se convencionou chamar de “deserto nutritivo”, ou seja, existe tanto em áreas urbanas como rurais uma abundância de comidas ultra-processadas e acesso facilitado a “fast food” e a refrigerantes carregados de açúcar.
A combinação de todos estes factores resultou na tempestade perfeita, com o aumento de casos de excesso de peso e obesidade em crianças e adolescentes de todo o mundo.
Entre 2000 e 2016, a proporção de crianças e adolescentes, entre os 5 e os 19 anos, com peso a mais duplicou de uma em cada dez para uma em cada cinco. Se alargarmos o espectro temporal, em comparação com 1975, dez vezes mais raparigas têm excesso de peso, número que sobe para 12 vezes mais em rapazes.

Matar a fome

O relatório da UNICEF também aponta desastres naturais relacionados com o clima como causa para severas crises alimentares. Por exemplo, a seca é um fenómeno responsável por cerca de 80 por cento dos estragos e perdas na agricultura. Períodos de seca extrema conduzem a alterações drásticas no tipo de comida disponível para as famílias, assim como para a qualidade e preço dos alimentos.
Face a este cenário de agravamento global, a UNICEF lançou um conjunto de medidas para combater a crise da má nutrição, apelando a governos, ao sector privado, pais, famílias e negócios.
Assim sendo, um dos caminhos apontados passa encorajar as famílias e os jovens a exigirem comida saudável, educação sobre nutrição e implementação de políticas, já com provas dadas, como o imposto que incida sobre produtos com elevadas doses de açúcar, de forma a reduzir a procura de alimentos pouco saudáveis.
Outra sugestão passa por pressionar os fornecedores a agirem decentemente com os consumidores mais novos no sentido de dar prioridade a alimentação saudável a preços mais acessíveis.
Criar um ambiente que proporcione o acesso a comida saudável para crianças e adolescentes, através de abordagens com resultados comprovados, como rotulagem precisa e fácil de entender nas embalagens, assim como controlo mais apertado nas campanhas de marketing que promovam o consumo de alimentos pouco saudáveis.
A UNICEF sugere também o reforço da mobilização de sistemas de apoio sociais em matérias como saúde, acesso a água, saneamento básico, educação e protecção social. Na óptica da entidade, o fortalecimento destes factores pode ter uma influência positiva na nutrição das crianças.
Finalmente, para ganhar a batalha nutritiva, a UNICEF recomenda que o poder político e económico tome decisões informadas, recolhendo, analisando e usando informação e dados que conduzam a melhores resultados.

16 Out 2019

UNICEF | Um em cada três menores de 5 anos é desnutrido ou tem excesso de peso

Pelo menos uma em cada três crianças menores de 5 anos no mundo sofre de desnutrição ou excesso de peso, de acordo com um novo relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância. A falta de opções leva a dietas pouco saudáveis com consequências para a saúde potencialmente crónicas

 

[dropcap]N[/dropcap]o relatório tornado público ontem, a UNICEF alerta que milhões de crianças estão a comer pouca comida de que necessitam e demasiada daquela de que não precisam. O resultado, de acordo com a UNICEF, é que muitas crianças correm risco de desenvolvimento cerebral fraco, problemas de aprendizagem, imunização e sofrem mais infecções e doenças.

A directora executiva da agência da ONU, Henrietta Fore, explica que “milhões de crianças sobrevivem com dietas não saudáveis porque não têm melhor opção”. A responsável considera que “apesar de todos os avanços tecnológicos, culturais e sociais das últimas décadas, perdemos de vista o facto mais básico: se as crianças comeram mal, vão também viver mal”.

De acordo com a UNICEF, é necessário mudar a forma como as pessoas pensam e respondem à desnutrição: “não é apenas se as crianças comem o suficiente, mas sim dar-lhes a comida certa. Esse é o nosso desafio diário”.

O relatório divide os problemas de desnutrição em três tipos: crianças desnutridas, fome invisível causada pela falta de nutrientes essenciais e excesso de peso.

De acordo com dados da UNICEF, 149 milhões de crianças menores de 5 anos no mundo são muito baixas para a idade, resultado de má alimentação, enquanto 50 milhões são muito magras.

As crianças magras demais, um problema que em situações mais graves pode ser letal, concentram-se na Ásia e não em países com situações de emergência como as encontradas em vários países africanos. Além disso, 340 milhões – uma em cada duas crianças nessa faixa etária – sofrem de deficiências de vitaminas e nutrientes essenciais, como vitamina A ou ferro.

Ainda antes de nascerem, uma fatia considerável de fetos sofre de pobre nutrição, um problema que conduz a atrasos de crescimento. Estas crianças podem nunca atingir o peso que deveriam ter nem o desenvolvimento cerebral que permita o completo potencial cognitivo. Ou seja, começam a vida com um atraso que pode levar dificuldades de aprendizagem na escola, um problema que resultar em notas piores, com todas as consequências em termos de oportunidade económica já em idade adulta.

Fórmula desastrosa

Ainda 40 milhões sofrem de sobrepeso ou obesidade, um problema que explodiu nos últimos anos.

Os problemas, conforme descritos no relatório, começam nos primeiros meses de vida, pois apenas dois em cada cinco bebés com menos de seis meses alimentam-se exclusivamente de leite materno, conforme recomendado por especialistas.

O uso de fórmula de leite em pó para amamentação aumentou significativamente nos últimos anos, com um crescimento de 41 por cento em todo o mundo entre 2008 e 2013 e disparando 72 por cento em países como Brasil, China ou Turquia. Na próxima etapa, de 6 meses a dois anos, 44 por cento das crianças não comem frutas ou vegetais e 59 por cento não incluem na sua dieta ovos, laticínios, peixe ou carne, relata a UNICEF.

No caso de crianças em idade escolar, o relatório alerta para o abuso de alimentos ultraprocessados, refrigerantes e ‘fast food’.

Como exemplo, a UNICEF aponta que 42 por cento dos adolescentes que frequentam a escola em países em desenvolvimento e subdesenvolvimento consomem bebidas carbonatadas cheias de açúcar pelo menos uma vez por dia e 46 por cento consumem fast food pelo menos uma vez por semana.

Estas percentagens sobem para 62 e 49 por cento, respectivamente, em adolescentes que vivem em países desenvolvidos.

Dieta económica

Famílias com menos recursos tendem a alimentar os seus filhos com alimentos de menor qualidade, cujo custo é cada vez menor, em contraste com o aumento dos preços de produtos saudáveis. Por exemplo, num país altamente desenvolvido, como o Reino Unido, a taxa de sobrepeso dobra nas localidades mais pobres em comparação às mais ricas.

“Estamos a perder espaço na luta por dietas saudáveis”, alertou Henrietta Forre, apelando a que os governos, o sector privado e a sociedade civil se unam para alcançar melhores resultados.

Um dos destaques do relatório aponta para o facto de que com o avançar da idade, a criança fica exposta a comida pouco saudável a nível alarmantes, conduzida em grande parte por grandes campanhas de marketing e publicidade. Outro factor que agiganta o problema é aquilo a que se convencionou chamar de “deserto nutritivo”, ou seja, existe tanto em áreas urbanas como rurais uma abundância de comidas ultra-processadas e acesso facilitado a “fast food” e a refrigerantes carregados de açúcar.

A combinação de todos estes factores resultou na tempestade perfeita, com o aumento de casos de excesso de peso e obesidade em crianças e adolescentes de todo o mundo.

Entre 2000 e 2016, a proporção de crianças e adolescentes, entre os 5 e os 19 anos, com peso a mais duplicou de uma em cada dez para uma em cada cinco. Se alargarmos o espectro temporal, em comparação com 1975, dez vezes mais raparigas têm excesso de peso, número que sobe para 12 vezes mais em rapazes.

Matar a fome

O relatório da UNICEF também aponta desastres naturais relacionados com o clima como causa para severas crises alimentares. Por exemplo, a seca é um fenómeno responsável por cerca de 80 por cento dos estragos e perdas na agricultura. Períodos de seca extrema conduzem a alterações drásticas no tipo de comida disponível para as famílias, assim como para a qualidade e preço dos alimentos.

Face a este cenário de agravamento global, a UNICEF lançou um conjunto de medidas para combater a crise da má nutrição, apelando a governos, ao sector privado, pais, famílias e negócios.

Assim sendo, um dos caminhos apontados passa encorajar as famílias e os jovens a exigirem comida saudável, educação sobre nutrição e implementação de políticas, já com provas dadas, como o imposto que incida sobre produtos com elevadas doses de açúcar, de forma a reduzir a procura de alimentos pouco saudáveis.

Outra sugestão passa por pressionar os fornecedores a agirem decentemente com os consumidores mais novos no sentido de dar prioridade a alimentação saudável a preços mais acessíveis.

Criar um ambiente que proporcione o acesso a comida saudável para crianças e adolescentes, através de abordagens com resultados comprovados, como rotulagem precisa e fácil de entender nas embalagens, assim como controlo mais apertado nas campanhas de marketing que promovam o consumo de alimentos pouco saudáveis.

A UNICEF sugere também o reforço da mobilização de sistemas de apoio sociais em matérias como saúde, acesso a água, saneamento básico, educação e protecção social. Na óptica da entidade, o fortalecimento destes factores pode ter uma influência positiva na nutrição das crianças.

Finalmente, para ganhar a batalha nutritiva, a UNICEF recomenda que o poder político e económico tome decisões informadas, recolhendo, analisando e usando informação e dados que conduzam a melhores resultados.

16 Out 2019

Catalunha | Políticos independentistas condenados a penas exemplares

O Tribunal Supremo espanhol condenou ontem em Madrid os principais dirigentes políticos envolvidos na tentativa de independência da Catalunha a penas que vão até um máximo de 13 anos de prisão, no caso do ex-vice-presidente do governo catalão. No total, o grupo de dirigentes foram condenados a mais de um século de prisão

 

[dropcap]O[/dropcap] veredicto foi conhecido ontem e as penas são exemplares. O Tribunal Supremo espanhol condenou os principais políticos que lideraram a campanha independentista da Catalunha a penas de prisão que se situaram entre 9 e 13 anos de prisão. Os independentistas são na sua maioria condenados por crime de sedição e desvio de fundos públicos, uma decisão esperada que afasta o crime de rebelião defendido pelo Ministério Público, que tinha penas de prisão maiores.

A decisão era esperada com grande expectativa, principalmente na Catalunha para onde o Governo espanhol enviou nos últimos dias centenas de agentes para garantir a segurança da região, temendo-se as consequências para a ordem pública da esperada condenação dos líderes políticos independentistas.

O Tribunal Supremo condenou o ex-vice-presidente do Executivo catalão Oriol Junqueras, que aguarda a sentença em prisão, a 13 anos de prisão e o mesmo número de anos de “inabilitação absoluta”.

Três outros membros do Governo regional no poder aquando da tentativa de autodeterminação, Raul Romeva, Jordi Turull e Dolors Bassa, foram condenados a 12 anos de prisão e de inabilitação.

As quatro maiores penas são dadas por delito de sedição de grau médio e o delito de desvio de fundos públicos agravado em razão da quantia elevada dos mesmos.

Por outro lado, o tribunal condenou a ex-presidente do parlamento regional Carme Forcadell pelo delito de sedição à pena de 11,5 anos de prisão e de inabilitação, os conselheiros regionais Joaquim Forn e Josep Rull a 10,5 anos de prisão e de inabilitação, e os líderes de associações independentistas Jordi Sánchez e Jordi Cuixart a nove anos de prisão e de inabilitação.

Os três últimos, os únicos que aguardavam a leitura da sentença em liberdade, Santiago Vila, Meritxell Borràs e Carles Mundó, são condenados, cada um deles, como autores de um delito de desobediência a penas de 10 meses de multa, com o pagamento diário de 200 euros, e um ano e oito meses de “inabilitação especial”.

A sentença absolve os acusados Joaquim Forn, Josep Rull, Santiago Vila, Meritxell Borràs e Carles Mundó do delito de peculato.

A monte

Os magistrados acataram assim o que foi pedido pelo Advogado do Estado, sustentando que o ocorrido na Catalunha em 2017 não teve a violência suficiente para ser considerado rebelião, o que era defendido pelo Ministério Público. Enquanto esta instituição defendeu na audiência pública que decorreu no primeiro semestre do ano que o processo independentista devia ser equiparado a um “golpe de Estado” que procurou alterar a Constituição espanhola com “violência suficiente”, o advogado do Estado admitiu ter havido alguma violência, mas contrapôs que esse não foi o “elemento estrutural” do ocorrido.

Os actuais dirigentes regionais, também independentistas, fizeram apelos à “desobediência” caso o Tribunal Supremo condenasse os líderes do processo de independência falhado, embora não tenham especificado quais as acções ponderadas.

Ao todo são 12 os independentistas que aguardavam a leitura da sentença pelo seu envolvimento nos acontecimentos que levaram ao referendo ilegal sobre a autodeterminação da Catalunha realizado em 1 de Outubro de 2017 e à declaração de independência feita no final do mesmo mês.

Nove deles estão presos, mas o ex-presidente do executivo regional Carles Puigdemont faz parte de um grupo de separatistas que continuam no estrangeiro e que não foram julgados, porque o país não julga pessoas à revelia.

Aberratio Juris

Os líderes independentistas catalães classificaram como aberração e vingança as condenações anunciadas, prometendo reagir e continuar a lutar.

Numa carta aberta, Oriol Junqueras reafirmou ontem as suas “convicções democráticas e republicanas” e acusou o Estado de “actuar por vingança”.

Numa carta dirigida aos militantes do seu partido, a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), Oriol Junqueras afirmou que “hoje a independência é mais do que nunca uma necessidade para poder viver numa sociedade mais livre, mais justa e democrática”. “Hoje, quiseram acabar connosco, com toda uma geração de catalães que lutam pela liberdade”, declarou Junqueras, que deixa ainda uma promessa: “Nós voltaremos e voltaremos ainda mais fortes. Não tenham qualquer dúvida, nós voltaremos e ganharemos”.

O ex-presidente do Governo catalão Carles Puigdemont denunciou a “aberração” que foi a condenação dos independentistas catalães, dizendo que é “hora de reagir”. “Cem anos de prisão no total, uma aberração. Agora, mais do que nunca, ao vosso lado e das vossas famílias, é hora de reagir como nunca antes, pelo futuro dos nossos filhos e filhas. Pela Europa: pela Catalunha”, publicou na rede social Twitter o independentista, que vive na Bélgica após a tentativa fracassada de independência da Catalunha em 2017.

A ex-presidente do Parlamento catalão Carme Forcadell, depois de ouvir as sentenças que a condenam a 11 anos e meio de prisão, declarou que “a injustiça foi consumada” e lamentou que a democracia viva “um dia sombrio”. “A injustiça foi consumada. O debate parlamentar livre não é um crime, é um direito de exercê-lo e um dever de defendê-lo. Não nos cansaremos de dizê-lo o quanto necessário”, escreveu Forcadell na rede social Twitter.

A ex-presidente do Parlamento catalão alertou que “hoje a democracia vive um dia sombrio”, mas em momentos como esse pediu para não se deixarem abater pelo “derrotismo”. “Vamos avançar!”, disse ainda Carme Forcadell.

Por seu lado, o ex-conselheiro da Acção Externa Raül Romeva, condenado a 12 anos, denunciou que querem sentenciar “todo um movimento”, mas alertou que “estão errados”. Romeva ressaltou a esse respeito que “nenhuma sentença mudará as aspirações políticas de milhões de cidadãos”, enquanto pede para permanecerem “de pé, combativos e dignos”.

Acção e reacção

A resposta não se fez esperar. Centenas de independentistas catalães cortaram algumas avenidas de Barcelona e concentram-se em diversas zonas da cidade em protesto contra as condenações de ex-membros da administração autónoma por crimes de sedição e má gestão de fundos públicos.

Após serem conhecidas as sentenças, os grupos independentistas cortaram as artérias Ronda del Dat, Diagonal e Via Laietena, em Barcelona, e concentram-se neste momento frente à sede do organismo Òmnium Cultural e à sede do gabinete do conselheiro para as questões territoriais do Governo regional. Também a circulação ferroviária foi cortada cerca das 10h30 (16:30 em Macau) nas linhas R11 e RG1 por cerca de uma centena de pessoas que acedeu às linhas na estação de Celrà, em Girona.

O aumento da tensão na Catalunha poderá ter um efeito desestabilizador em Espanha, numa altura em que o país está politicamente bloqueado, depois de as eleições legislativas realizadas em 28 de Abril último e do fracasso em formar um novo Governo. O país está em plena pré-campanha eleitoral para as novas eleições legislativas antecipadas que se vão realizar a 10 de Novembro próximo.

Em Espanha a Advocacia do Estado está separada do Ministério Público, ao contrário do que acontece em países como Portugal.

15 Out 2019