Inquérito | Diáspora macaense e luso-asiática mantém-se “robusta”

A diáspora de macaenses e luso-asiáticos espalhados pelo mundo continua “robusta e interligada”. Dados provisórios de um inquérito feito por Roy Eric Xavier, macaense e académico, revela que grande parte continua a residir nos Estados Unidos da América. O investigador levanta também algumas pistas sobre origens e percursos familiares a Oriente

 

Há muito que o académico Roy Eric Xavier, ligado à Universidade de Berkeley, na Califórnia, se dedica ao estudo a diáspora macaense e luso-asiática. No blogue “FarEastCurrents” são muitos os conteúdos divulgados, incluindo um inquérito à comunidade que tem agora novos resultados, ainda que o trabalho de recolha de dados termine no final deste ano.

Os números provisórios foram publicados no domingo no website, tendo Roy Eric Xavier concluído que “parece existir uma diáspora global robusta e interligada de comunidades luso-asiáticas e macaenses, actualmente em dez países e 200 cidades, que perdura há quase 500 anos”.

No que diz respeito à identificação cultural, 57,82 por cento dos inquiridos assumiu-se como macaenses, seguindo-se 21,21 por cento a identificarem-se como portugueses. Em terceiro lugar, com 12,05 por cento, as respostas apontam para a identidade euroasiática. Há ainda 7,8 por cento de pessoas a assumirem-se como chinesas, 5,67 por cento europeias e ainda 5,09 por cento luso-asiáticas.

Em termos gerais, “as pessoas que responderam são descendentes de eurasiáticos portugueses (luso-asiáticos), com raízes culturais em Macau, Hong Kong, Cantão, Xangai, Japão, Malásia, Tailândia, Indonésia, Timor ou outras [antigas] colónias portuguesas na Ásia”.

Ao “The 2024 Luso-Asian/Macanese Survey” [Inquérito Luso-Asiático / Macaense de 2024] responderam, para já, 40 por cento dos homens e 60 por cento de mulheres, sendo que 45 por cento tem entre os 18 e 64 anos e trabalham, enquanto 55 por cento tem 65 ou mais anos e já está na reforma.

Os Estados Unidos da América (EUA) são o país de residência mais recorrente destas comunidades, com 56 por cento das respostas, seguindo-se a Austrália, com 11,27 por cento, 8 por cento vivem no Canadá e Portugal 7,64 por cento. Em vários países europeus residem 5,24 por cento de macaenses ou luso-asiáticos, seguindo-se Macau com 5,09 por cento. Em Hong Kong há 3,27 por cento de pessoas que se identificam como macaenses e luso-asiáticos, seguindo-se 2,91 por cento no Brasil e 3,5 por cento no Japão.

As conclusões de Roy Eric Xavier sobre estes dados, ainda provisórios, apontam para o facto de cerca de metade dos inquiridos, 51 por cento, serem membros de “famílias numerosas com, pelo menos, 30 membros vivos, sendo que várias famílias, 18,4 por cento, são compostas por 97 a mais de 150 membros vivos”.

Legados que permanecem

Outra questão abrangida pelo inquérito prende-se com o facto de estas pessoas continuarem muito ligadas à sua própria história familiar, conhecendo os percursos que os seus pais e avós fizeram até ao lugar onde hoje vivem. São ligações, muitas delas, nascidas do comércio e viagens que os portugueses fizeram para Oriente desde meados do século XVI.

Dos inquiridos, 52 por cento disse ter ligações a Portugal, seguindo-se Goa, com 12,73 por cento das respostas, Macau, com 73,09 por cento das respostas, e ainda Hong Kong, em quarto lugar, com 52,36 por cento de inquiridos. Os macaenses e luso-asiáticos que participaram no estudo têm ainda raízes familiares em Xangai, 21,45 por cento, e Cantão, com 10,18 por cento.

Roy Eric Xavier conclui, portanto, que há “um número significativo, 84,12 por cento, que se identifica culturalmente como ‘macaense, português ou colectivamente como ‘luso-asiático’”.

O inquérito inclui também questões sobre o estado de saúde dos inquiridos. Assim, e uma vez que mais de metade dos que responderam têm 65 ou mais anos, “cerca de um terço, 31 por cento, refere vários dias de doença por mês, enquanto mais de um quarto, 27,6 por cento, refere stress e depressão contínuos”.

“Estas estatísticas são geralmente mais baixas do que a média para este grupo etário na maioria dos países e podem ser atribuídas a laços familiares mais estreitos entre as famílias macaenses”, destaca o académico e promotor do inquérito.

A quarta fase

Até à data, e desde 30 de Junho, participaram cerca de dez mil pessoas no inquérito que tem sido dinamizado por 13 Casas de Macau espalhadas pelo mundo. Este é o quarto questionário promovido pelo académico, sendo que o primeiro decorreu em 2012.

Roy Eric Xavier diz esperar que o “inquérito chegue a cerca de 150.000 pessoas, podendo aumentar substancialmente depois de ser publicado em boletins informativos e em vários sites de redes sociais”.

Pretende-se, com este trabalho, “determinar como os descendentes de todo o mundo mantêm as suas ligações familiares e identidades culturais”, sendo que a “informação sobre a dimensão das famílias poderá também conduzir a estimativas da população luso-asiática a nível mundial”.

As perguntas foram elaboradas ao longo de vários anos e revistas por investigadores do Instituto para o Estudo de Questões da Sociedade da Universidade da Califórnia, Berkeley, e da Escola de Saúde Pública da Universidade do Estado da Geórgia.

Recorde-se que, em 2021, estavam contabilizados 1,6 milhões de macaenses e luso-asiáticos em todo o mundo, segundo disse à Lusa, na altura, o autor, que dirige o Projecto de Estudos Portugueses e Macaenses na Universidade de Berkeley.

“Fiz estudos e pesquisas populacionais e colaborei com vários genealogistas e demógrafos e determinámos que há pelo menos 1,6 milhões de macaenses e luso-asiáticos espalhados pelo mundo, que olham para Macau como a pátria cultural”, afirmou.

Segundo o investigador, que pertence à comunidade oriunda de Macau em Hong Kong e depois se mudou para os EUA, tem ocorrido um desligamento das novas gerações. “Não acho que seja permanente, mas penso que há uma ruptura entre a velha guarda e a nova guarda que está a surgir”, apontou. “Entre a velha guarda, há uma suspeita de que as gerações mais novas não têm a afiliação nem o sentido de história que deviam ter”.

Em 2019, falava-se do surgimento de mais jovens que se identificaram como macaenses ou luso-asiáticos. Nesse ano, no portal “Far East Currents” descrevia-se “o ressurgimento dos jovens na comunidade portuguesa oriunda da Ásia”, uma vez que “mais de 66 por cento das respostas chegaram dos adultos empregados (idades entre 19 e 64 anos)”. Por comparação, em 2012 e 2013 “70 por cento dos inquiridos estavam reformados, tendo mais de 65 anos”, o que demonstrava que “gerações mais jovens poderiam estar mais conscientes da sua cultura e estão agora em maioria”.

Outra novidade no inquérito de 2019 era a ligação a bairros portugueses espalhados a Oriente. “Confirmámos que muitas famílias têm histórias de emigração ligadas a bairros portugueses de Goa, Cantão, Japão, Malásia, Singapura e Timor, sendo que a grande maioria tem laços com Macau, Hong Kong e Xangai, uma vez que a maior parte dessas zonas foram formadas antes e depois da Guerra do Ópio”, explicou o académico ao HM nessa altura.

Roy Eric Xavier descreveu que “as histórias de emigração das famílias apenas tinham sido teorizadas em 2013, mas agora temos provas de que os luso-asiáticos emigraram durante o período de 500 anos em que houve presença portuguesa na Ásia e Índia”.

21 Ago 2024

Tailândia | Analista acha projecto de lei do jogo “equilibrado”

Está em consulta pública o projecto de lei de regulação do jogo na Tailândia, que define licenças de 30 anos e entradas pagas para tailandeses. O analista Daniel Cheng entende que o diploma é “equilibrado” e com “profundidade mais que suficiente para um primeiro projecto”

 

Os tailandeses estão a ser convidados pelo Governo a opinar sobre o projecto de lei do jogo que promete revolucionar o mercado dos casinos e trazer uma nova oferta competitiva ao sudeste asiático em meados de 2028. Desde o início do mês que decorre a consulta pública sobre o diploma que, na visão do analista Daniel Cheng, é um “projecto equilibrado, sem obrigações ou constrangimentos controversos”, e que tem “profundidade mais que suficiente para um primeiro projecto”.

Segundo o jornal Bangkok Post, um dos pontos principais do diploma é o poder conferido ao primeiro-ministro, que irá presidir à “Entertainment Complex Policy Board” [Comissão de Política de Exploração dos Locais de Entretenimento Integrados], responsável por estabelecer regras e regulamentos sobre o funcionamento dos empreendimentos de jogo. Além disso, será criada uma agência separada para fazer cumprir as regras relacionadas com os casinos ou empreendimentos de jogo.

O projecto de lei visa menorizar o impacto social que o jogo pode causar na sociedade, proibindo a entrada em espaços de jogo a pessoas com menos de 20 anos de idade, enquanto os cidadãos tailandeses acima da idade mínima terão de pagar uma taxa no valor de 5,000 baht (mais de 1.100 patacas) para poder entrar. Pelo contrário, os casinos e demais empreendimentos estão abertos a todos os estrangeiros sem pagamento de taxa.

Em termos de licenciamento, uma empresa de jogo terá de adquirir uma licença válida por 30 anos, pagando, para isso, cinco mil milhões de baht (140 milhões de dólares americanos) para o registo, mais um pagamento anual de mil milhões de baht (28 milhões de dólares) ao Governo.

Para obter aprovação, o casino ou complexo de jogo terá de construir, pelo menos, quatro infra-estruturas das seguintes: um hotel, bar, restaurante, clube nocturno, espaço com lojas, infra-estruturas desportivas, clube náutico ou de vela, piscina ou parque aquático, parque de diversões, uma área dedicada a revelar a cultura tailandesa e produtos locais.

Para Daniel Cheng, o projecto legislativo deixa “margem de manobra suficiente ao primeiro-ministro para decidir sobre o montante do imposto a cobrar aos casinos e a quantidade de licenças” atribuídas. Na visão deste analista, “uma taxa de licença única de 140 milhões de dólares é razoável para o potencial de mercado da Tailândia”, enquanto a “taxa de licença anual é compatível com a de Singapura”, no valor de 22 milhões de dólares americanos.

Outro ponto destacado por Daniel Cheng ao HM é a cobrança de cinco mil baht aos tailandeses, medida que também existe no mercado de jogo de Singapura. Esta “pode ser demasiado proibitiva, dado o baixo rendimento disponível per capita da Tailândia”. Porém, “o projecto legislativo indica que o montante não é definitivo e serve de limite máximo”. Quanto ao processo de registo, “faltam-lhe pormenores”, pelo que o analista espera que “não seja demasiado oneroso ou contraproducente para empresas como as do Vietname”.

As boas restrições

Daniel Cheng destaca ainda outra “medida positiva”, como a proibição de apostas online, além de se apresentar “um quadro geral de restrições à promoção e ao marketing, que será provavelmente aperfeiçoado para abranger junkets”. A medida surge no contexto “dos problemas que a Tailândia enfrenta com gangs chineses e o jogo ilegal na Internet”.

O analista referiu ao HM também que “a questão dos terrenos está fora do âmbito da lei, pelo que não é claro se o Governo irá designar terrenos estatais, como em Singapura, ou se os investidores terão de adquirir terrenos privados, como no Japão e nas Filipinas”. Além disso, em matéria de emprego, Daniel Cheng destaca o facto de ser exigida na proposta elaborada pelo Governo “uma percentagem mínima de trabalhadores tailandeses, o que é de esperar, uma vez que o emprego local é uma das principais justificações para a adopção da lei”.

A ideia é, segundo o Bangkok Post, promover o conceito de turismo sustentável no país. O jornal cita um excerto do projecto de lei que determina que “a promoção e a regulamentação de complexos de entretenimento integrados que cumpram os requisitos normalizados é uma medida importante para incentivar o investimento nacional, o que, por sua vez, beneficiará o país e ajudará a apoiar o turismo sustentável”.

Espera-se, tendo em conta o relatório da comissão parlamentar, que, com a nova legislação, os casinos possam gerar cerca de 12 mil milhões de baht logo no primeiro ano de actividade. Espera-se que o jogo se desenvolva em algumas zonas do país, com dois pontos na capital, Banguecoque, e depois em Chiang Mai e Phuket, zonas bastante turísticas.

Travar ilegalidades

Segundo o portal Asia Gaming Brief, o projecto de lei do jogo tailandês visa, sobretudo, resolver os problemas relacionados com o jogo ilegal, além de potenciar receitas fiscais e a economia em termos globais.

A Comissão liderada pelo primeiro-ministro será responsável, mais concretamente, por definir políticas, aprovar licenças de exploração e determinar as áreas a serem exploradas pelas empresas de entretenimento. Será também estabelecida uma Comissão de Gestão Global de Entretenimento, composta por funcionários públicos, que será responsável pela parte da supervisão, gestão de queixas, planos operacionais e fundos em matéria de jogo responsável.

Para as licenças de jogo só podem candidatar-se entidades tailandesas registadas com o capital social mínimo de dez mil milhões de baht. A licença é atribuída por um período inicial de 20 anos, com a possibilidade de ser renovada por períodos de cinco anos. Haverá, numa primeira fase, um tipo de licença que implica um investimento mínimo de 100 mil milhões de baht. No futuro, poderão ser atribuídas licenças mais pequenas.

Em matéria de impostos, prevê-se a colecta, por parte do Executivo tailandês, de 17 por cento sobre as receitas brutas do jogo, propondo-se ainda um imposto de 20 a 30 por cento sobre o rendimento líquido das sociedades.

Na área do jogo responsável, as autoridades tailandesas foram além da taxa a pagar para aceder a espaços de jogo, podendo vir a ser identificadas pessoas proibidas de entrar em casinos, nomeadamente quem estiver sob ordem judicial ou a pedido das próprias famílias. Será ainda criado um fundo específico para apoiar programas de reabilitação e de educação sobre o jogo.

Recorde-se que as operadoras de jogo em actividade na RAEM estão atentas a uma oportunidade de investimento no país, nomeadamente a MGM. “Estamos à procura de novos mercados. No próximo mês, vou com a Pansy Ho à Tailândia para analisar novas oportunidades”, revelou Bill Hornbuckle, presidente do grupo MGM Resorts International. “É uma expansão em que estamos muito interessados, e se avançarmos com o investimento, será feito através da MGM China Holdings”, admitiu no início do mês, aquando da apresentação dos resultados da MGM China do primeiro semestre deste ano.

20 Ago 2024

Crédito malparado | Analistas alertam para perigo económico

O crédito malparado tem registado números preocupantes, sobretudo o das PME que quase quadruplicou no primeiro semestre deste ano. Dois economistas ouvidos pelo HM alertam para os perigos que o fenómeno pode acarretar para a banca e a economia, destacando a desigualdade da recuperação económica

 

A banca empresta, mas os empréstimos demoram a ser pagos. Tem sido assim em Macau, onde se tem verificado uma subida vertiginosa do crédito malparado, sobretudo nas pequenas e médias empresas (PME) fora da economia ligada ao jogo.

Dois economistas contactados pelo HM alertam para o crescimento exponencial do crédito malparado nos últimos meses, revelador de desigualdades económicas e da recuperação económica desequilibrada desde a pandemia.

“Números recentemente divulgados pela Autoridade Monetária de Macau (AMCM) mostram que o crédito malparado, no sector bancário local, atingiu quase 50 mil milhões de patacas, constituindo um novo mau recorde na RAEM nos últimos 20 anos”, descreveu José Félix Pontes, economista que durante muitos anos esteve ligado à AMCM.

O responsável diz que o valor de 50 mil milhões de patacas “excede em 12,4 vezes o montante respeitante a Janeiro de 2022, ou seja, na pandemia, quando se ficava por apenas 3,7 mil milhões de patacas”. Além disso, o crédito malparado atingiu, em Junho deste ano, “a 16ª subida consecutiva e, no mesmo período, o rácio ‘crédito malparado / total dose empréstimos’ saltou de 0,3 para 4,6 por cento”.

“Estamos, sem dúvida, perante uma situação que pode afectar, de forma adversa, o desenvolvimento da economia de Macau, sendo previsível que os bancos afectados passem a conceder menos empréstimos, com implicações negativas no investimento privado e no consumo dos particulares”, disse Félix Pontes, destacando que se pode mesmo verificar “uma contracção económica”.

O economista considera que este cenário “deveria constituir motivo de preocupação para os nossos governantes” e frisou que “traduz a fragilidade dos sectores não relacionados com a indústria do jogo”.

O alerta é mais notório nas PME, segmento onde o crédito malparado subiu 295 por cento em termos anuais no primeiro semestre deste ano, quase quadruplicando.

PIB real que está aquém

Já o economista Albano Martins assume uma postura menos pessimista, dizendo que “o crescimento do rácio [do crédito malparado] não é um problema de maior para o sistema económico, que é pequeno”.

Assim, Albano Martins deposita as atenções no facto de os valores reais do Produto Interno Bruto (PIB) não estarem a registar uma evolução positiva desde a pandemia, estimando um valor do PIB, para este ano, semelhante a dados registados anteriormente.

“Não estaria muito preocupado com o crédito, mas sim com o crescimento saudável da economia. Se virmos os valores do PIB deste ano estará muito próximo dos valores reais do PIB de há três ou quatro anos, ou seja, antes da pandemia. Estamos com valores muito pequenos comparado com o que seria normal. O PIB, em 2019, era de 445 mil milhões de patacas, e em 2023 era de apenas 356 mil milhões. No final deste ano estará próximo desse valor”, declarou. Assim sendo, entende que “a economia deveria ter um mecanismo saudável de crescimento e não um motor que hoje dispara e amanhã desacelera”.

Ter um “mecanismo saudável” significa “ser razoavelmente racional”, sendo que a lenta recuperação dos valores do PIB real, se deve à pandemia. “No que respeita aos valores reais do PIB, e não em termos monetários, não chegaram ainda a uma recuperação do que se registou antes de 2020. Macau tem uma economia fortemente dependente de factores externos e que é altamente vulnerável”, explicou. Assim, segundo Albano Martins, “sempre que há um abalo do exterior este prolonga-se por vários anos”.

Notórias desigualdades

Apesar dos dados do crédito malparado, Félix Pontes entende que há boas notícias no meio deste cenário, pois “o problema não está generalizado na banca, na medida em que apenas alguns bancos a operarem em Macau registam um crédito malparado anormal”.

Assim, “essas instituições devem melhorar, e de forma substancial, a sua política de concessão de empréstimos, conferindo um maior rigor à análise financeira dos clientes que pretendam empréstimos e uma atenção acrescida à monitorização destes e à gestão das garantias dadas”.

O economista sugere uma “intervenção proactiva quando surgem os primeiros sinais de alerta” perante o incumprimento no pagamento de empréstimos, além de que os bancos devem “aperfeiçoar as práticas na gestão de riscos”. No tocante à AMCM, deve “impor testes de resistência aos bancos e efectuar uma supervisão mais efectiva”.

Há, de facto, uma recuperação da economia, explica Félix Pontes, “devido à retoma da entrada de milhões de turistas da China, pelo que a indústria do jogo e sectores relacionados têm melhorado”. “Como a economia de Macau está a recuperar, parece estranho, e até injustificável, que a banca local se defronte com o crescimento desmesurado do crédito malparado, na medida em que este influencia o desenvolvimento do sector bancário”, acrescentou.

A explicação para este cenário reside na desigualdade de desenvolvimento dos diversos sectores de actividade económica. Há, assim, “a outra face da moeda, que é a evolução não uniforme” dos sectores fora da área do jogo.

É aí que se pode ver a verdadeira crise além dos turistas e das fichas de jogo a rolar, verificando-se “o encerramento de centenas de PME e o incumprimento, cada vez maior, no pagamento dos empréstimos que tem afectado negativamente os resultados dos bancos”.

Félix Pontes recorda que, no primeiro trimestre deste ano, por exemplo, das 30 instituições bancárias com contas publicadas, “nove bancos, 30 por cento do total, registaram prejuízos, enquanto 21 bancos, 70 por cento do total, tiveram redução nos lucros, quando comparado com o mesmo período de 2023”. Além disso, metade dos bancos, 15, “viram os activos diminuir no espaço de um ano, ou seja, entre Março de 2023 e Março de 2024”.

Impacto do imobiliário

Estes dados demonstram “que a rentabilidade dos bancos se deteriorou bastante, podendo esta tendência manter-se a curto prazo devido à frágil situação do mercado imobiliário na China”.

O país, que nos últimos tempos tem enfrentado graves problemas no sector imobiliário, nomeadamente com o grupo Evergrande, recebeu muitos dos empréstimos concedidos por bancos de Macau, pois “mais de 67 por cento do crédito malparado é de não residentes de Macau”.

Assim, Félix Pontes destaca que os restantes sectores de actividade locais, como o retalho, por exemplo, têm tido “um ritmo muito diferenciado de desenvolvimento” em relação ao jogo, por exemplo, registando “grande influência no consumo interno, agravado pela competição de Zhuhai, pois milhares de residentes de Macau adquirem lá os seus produtos, muito mais baratos e onde existe maior variedade”.

Tal cenário tem trazido grandes problemas ao comércio na zona norte da península, com comerciantes a queixarem-se da fraca procura desde que passou a ser mais fácil levar o carro até ao outro lado da fronteira.

16 Ago 2024

China/Brasil | 50 anos de relações diplomáticas celebrados amanhã

Faz amanhã meio século que o Brasil e a China retomaram as relações diplomáticas, depois de um interregno que durou desde a fundação da República Popular da China. Desde então, os países partilharam afinidades ideológicas e dinamismo económico, e são hoje em dia parceiros estratégicos

 

O Brasil e China celebram amanhã 50 anos do restabelecimento das relações diplomáticas. Os dois países que lideram em conjunto o chamado Sul Global partilham uma afinidade ideológica alicerçada num “dinamismo económico evidente”.

“As nossas relações não se dão apenas por afinidades ideológicas, mas por esse dinamismo económico evidente”, disse à Lusa o director do Instituto Latino-Americano de Economia, Sociedade e Política (ILAESP) da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), Fábio Borges.

O Brasil rompeu em 1949 as relações com Pequim, na sequência da fundação da República Popular da China (RPC), retomando-as só depois em 1974, já com um entendimento de que a relação “não se podia limitar apenas a temas de segurança e a ‘ou você está com os Estados Unidos, ou você está com a União Soviética’”, num período histórico marcado pela Guerra Fria, recordou o especialista em relações sino-brasileiras.

Antes mesmo da ligação ideológica, mais visível nos governos de Lula da Silva, e de a China se tornar no maior aliado económico brasileiro, já existiam pontos e ligações em comum, detalhou Fábio Borges, como a noção da “autodeterminação dos povos, o princípio da não-ingerência em assuntos externos de outros países, o princípio da coexistência pacifica”.

“Diferente dos Estados Unidos, a China pauta-se muito por esses princípios de relações mais horizontais”, frisou o professor universitário, notando ainda que aos dias de hoje “a cooperação chinesa baseia-se mais em elementos económicos, tecnológicos do que imposições militares”, mais utilizada pelos norte-americanos.

O século de ouro

É precisamente no capítulo económico onde as relações entre os dois países mais se fazem notar, especialmente no século XXI. Em 2003, de acordo com dados oficiais, o comércio entre os dois países cifrava-se em seis mil milhões de euros. Em 2009, a China torna-se no primeiro parceiro económico do Brasil e, em 2023, chegam aos 160 mil milhões de euros. A China é responsável por mais de metade do superavit brasileiro, alicerçada em produtos como a soja, minério de ferro e petróleo bruto.

A importância da China para o Brasil foi evidente numa das primeiras viagens oficiais de Lula da Silva ao assumir o seu terceiro mandato em 1 de Janeiro de 2023, como recordou Fábio Borges, numa visita de Estado também para reafirmar a importância do parceiro estratégico, após quatro anos de turbulências diplomáticas causadas pela administração de Jair Bolsonaro, mais alinhada à política externa norte-americana da administração de Donald Trump.

Na ocasião, Lula da Silva levou consigo cerca de 40 políticos, entre ministros do Governo brasileiro e parlamentares e ainda cerca de 300 empresários brasileiros, principalmente do agronegócio, para o país que absorve cerca de 30 por cento das vendas do sector ao exterior, segundo dados do Ministério da Agricultura do país sul-americano.

Este ano, para dar o tiro de partido dos 50 anos de relações diplomáticas, foi a vez do vice-presidente brasileiro, Geraldo Alckmin, deslocar-se à China com 200 empresários e assinar quase uma dezena de acordos de reforço comercial nas áreas da agricultura, indústria, finanças, transição energética e mercados capitais.

“A China é um grande parceiro estratégico porque é o país mais dinâmico da economia mundial, no século XXI. Ninguém tenha dúvidas disso”, frisou Fábio Borges, acrescentando que o Brasil poderá ser incluído na iniciativa “Faixa e Rota”, anunciada pelo Presidente chinês, Xi Jinping, em 2013.

Segundo informações divulgadas pelo Governo brasileiro, Xi Jinping poderá viajar ao Brasil este ano para uma visita de Estado. A data da viagem ainda não foi oficialmente confirmada, mas será provavelmente nas vésperas da Cimeira do G20, que vai acontecer no Rio de Janeiro, nos dias 18 e 19 de Novembro.

O papel dos BRICS

No campo diplomático, o Brasil e China integram o grupo de países de economias emergentes BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul), um fórum onde a China “diante de uma escalada dos conflitos económicos com os Estados Unidos por conta do proteccionismo” e as “tensões políticas por conta de Taiwan, vê os BRICS como um elemento de fortaleza da sua estratégia mais geral”, considerou o professor.

A conjuntura tem também a aproximado os dois países, até porque Pequim “percebe que o Brasil pode ser um parceiro estratégico extremamente interessante na América Latina e nos fóruns internacionais” pela “simbologia de ser um país democrático” e que “compartilha a Amazónia” considerou.

Sobre as proximidades ideológicas, Fábio Borges admite existir uma “afinidade natural” entre os dois, apesar de a China exercer “uma influência, ainda que indirecta, na maioria dos países do mundo” porque “é um grande parceiro comercial de todos os países”.

“Em geral os países são muito cuidadosos de não confrontar a China nesses temas espinhosos do sistema internacional, em relação a Israel, em relação à Ucrânia, em relação à eleição na Venezuela também”, sublinhou.

Hoje o Congresso do Brasil fará, a partir das 14h, uma sessão solene para celebrar o Dia Nacional da Imigração Chinesa e o cinquentenário das relações diplomáticas entre Brasil e China.

O “pára-arranca”

A Lusa ouviu outro analista brasileiro que defendeu que a relação entre a China e o Brasil está actualmente numa situação de “pára-arranca”, ao ser travada por forças políticas que beneficiam do comércio bilateral, mas mantêm uma posição ideológica antagónica face a Pequim.

“A relação bilateral é sobretudo dominada por segmentos da direita brasileira, por conta do agronegócio, que internamente apoia Bolsonaro, mas mantém uma contradição: de manhã ganham dinheiro com a China e, de noite, criticam os ‘comunistas chineses’”, descreveu Evandro Carvalho, coordenador do Núcleo de Estudos Brasil – China, da Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getúlio Vargas.

O Governo de Lula da Silva coincidiu com um Congresso brasileiro dominado por forças da direita conservadora, apoiada pelos grupos agrícolas e pecuários, que mantêm uma posição ideológica assumidamente anti-China, apesar de serem os principais beneficiários do comércio entre os dois países.

“É esse sector que predomina e domina a agenda bilateral, porque a esquerda brasileira não tem uma relação desenvolvida com a China. Isso cria naturalmente obstáculos para o desenvolvimento de outras agendas”, frisou Evandro Carvalho.

O investigador admitiu que houve “alguns avanços” na relação desde o regresso ao poder de Luiz Inácio Lula da Silva, após um período “muito mau” com Bolsonaro, que assumiu o poder com a promessa de reformular a política externa brasileira, reaproximando-se dos Estados Unidos e pondo em causa décadas de aliança com o mundo emergente. “Mas acho que a relação continua aquém do seu potencial”, ressalvou.

O responsável destacou também a “distância” que Brasília mantém face a importantes programas da política externa chinesa, incluindo a iniciativa “Faixa e Rota”, que conta já com 150 países aderentes. Quase todas as nações da América Latina fazem parte da iniciativa, à excepção do Brasil, Colômbia e Paraguai.

O Brasil tem enviado apenas diplomatas de baixo escalão para participar nos fóruns em Pequim, contrastando com vários dos seus países vizinhos, que se fizeram representar por chefes de Estado ou de Governo.

Outro exemplo é o Fórum Macau, o mecanismo multilateral promovido pela China para reforçar as trocas económicas e comerciais com os países de língua portuguesa, e onde Brasília se mantém “relativamente pouco activa”, disse o académico. “O Brasil mantém um certo distanciamento desses projectos que percebe como tendo muito a marca da China”, observou.

Evandro Carvalho defendeu que o Brasil deve desenvolver o potencial da relação de forma a beneficiar-se para além do comércio de matérias-primas, através da transferência de tecnologia em áreas em que a China lidera, incluindo nos sectores das renováveis, carros eléctricos ou economia digital. “A China poderia ser um parceiro formidável para o Brasil desenvolver capacidades”, vincou.

14 Ago 2024

JO | China destaca feitos de atletas que conquistaram 40 medalhas de ouro

Os Jogos Olímpicos de Paris terminaram no domingo e a China ficou em segundo lugar no ranking dos países com mais medalhas, com 91 medalhas, sendo que 40 foram de ouro. O Governo Central deu os parabéns aos atletas, destacando a nova geração de desportistas nascidos depois do ano 2000

 

No domingo terminou mais uma edição dos Jogos Olímpicos (JO) que voltaram a consagrar dois países como os mais medalhados: os Estados Unidos da América (EUA) em primeiro lugar, e a China em segundo que arrecadou 91 medalhas, incluindo 40 de ouro, 27 de prata e 24 de bronze. Os EUA lideraram com um total de 126 medalhas. Em terceiro lugar ficou o Japão, com 45 medalhas, 20 delas de ouro, seguindo-se, em quarto lugar, a Austrália com 53 medalhas. A França, país de acolhimento desta edição dos JO, ficou em quinto lugar no que às medalhas diz respeito, conseguindo 64. Holanda e Grã-Bretanha ficaram nos lugares seguintes.

Uma reportagem da Xinhua dá conta que nesta edição dos JO a participação chinesa ficou marcada pelo talento da geração de atletas bastante jovens, nascidos já depois do ano 2000, que tiveram “desempenhos notáveis” e demonstraram “um espírito vibrante”. Tratou-se de um “feito notável” da delegação chinesa, descreve a mesma reportagem.

Do lado do poder político chegaram também os parabéns. “Vocês conquistaram a glória para o nosso país e povo. Estendemos calorosas felicitações e sinceros cumprimentos a vocês”, descrevia a mensagem conjunta enviada pelo Comité Central do Partido Comunista da China (PCC) e pelo Conselho de Estado, citada pela agência nacional.

Para as autoridades chinesas, os atletas “promoveram, de forma vigorosa, o espírito desportivo chinês e o espírito olímpico, esforçando-se por ganhar medalhas não só pelo desempenho atlético, mas também pela integridade moral, espírito desportivo e competição justa”, lê-se na mensagem.

Na mesma mensagem é ainda referido que os atletas, ao competirem e ganharem medalhas, “melhoraram capacidades, aprofundaram a amizade e demonstraram a força, o espírito e a imagem da China ao mundo, divulgando a voz e os valores da China”.

O lado patriótico do desporto olímpico não ficou esquecido. “As vossas realizações e desempenhos excepcionais fomentaram ainda mais o patriotismo do povo chinês, tanto no país como no estrangeiro, elevaram o espírito nacional e uniram o povo para o progresso”, sublinharam as autoridades.

Da natação ao ténis

Nos JO deste ano esperava-se o regresso de algumas estrelas, nomeadamente da ginasta norte-americana Simone Biles, depois da desistência nos JO de Tóquio por questões de saúde mental.

Porém, do lado da China revelaram-se novos talentos, como Pan Zhanle, que brilhou na natação na categoria de 100 metros livres masculinos. Segundo a Xinhua, “Pan bateu o seu próprio recorde mundial”, tendo obtido uma medalha de ouro após cumprir um tempo de 46,40 segundos. Além disso, o atleta “liderou a China na vitória da final dos 4×100 metros estilos masculino, ao lado de Xu Jiayu, Qin Haiyang e Sun Jiajun”. A agência nacional indicou que a vitória “pôs fim a uma série de dez medalhas de ouro ganhas consecutivamente pelos EUA nesta prova, algo que remonta aos JO de Los Angeles de 1984”.

Citado pela mesma agência, Pan Zhanle referiu que a vitória foi “mágica” para si, ainda para mais por ter sido obtida no mesmo dia em que fez 20 anos. “Cumpri a promessa que fiz há um ano de celebrar o meu aniversário com uma medalha de ouro por equipas”.

Ainda nas modalidades ligadas à água, destaque para as oito medalhas de ouro ganhas nos saltos para a água pelo grupo de atletas Chen Yuxi e Quan Hongchan.

Na modalidade de ténis destacou-se a vitória de Zheng Qinwen, com apenas 21 anos, que obteve a medalha de ouro na prova individual feminina contra a alemã Angelique Kerber, antiga número 1 a nível mundial. A atleta chinesa bateu também a polaca Iga Swiatek, actual número 1 do mundo.

“Depois da terceira ronda, estava com dores e a jogar com ligaduras. Não foi fácil ultrapassar estes desafios. Esta é a primeira vez que disputo cinco combates durante cinco dias seguidos e sinto que cheguei ao meu limite”, disse Zheng.

A atleta não esqueceu os fãs que assistiram a todas as provas pela televisão ou presencialmente. “Sejam corajosos e sonhem em grande. Para alcançar os sonhos é preciso estabelecer objectivos, mas a viagem terá dificuldades, dúvidas e sacrifícios. Desfrutem do processo porque cada fracasso é um passo para o sucesso. Estando onde estou hoje, posso dizer que todo o esforço valeu a pena.”

Novas modalidades

Outra novidade desta edição dos JO de Paris foi a inclusão de novas modalidades, como foi o caso do Breakdance, Skate ou BMX. Também na prova de BMX a China marcou pontos, nomeadamente com a jovem Deng Yawen, com apenas 18 anos de idade, que ganhou o ouro na categoria freestyle feminino.

A atleta lembrou que a BMX é ainda uma modalidade bastante recente a nível nacional. “O BMX é um desporto de nicho na China. Ganhar esta medalha de ouro significa que este desporto se tornará cada vez mais forte no meu país. A competição de hoje acabou, e a honra de ganhar uma medalha de ouro não me vai acompanhar em todas as competições. Vou concentrar-me apenas nos meus treinos e mostrar ao mundo uma melhor versão de mim.”

No Skate a China também marcou presença graças à atleta Zheng Haohao. Esta acabou por falhar a final, ficando em 18º lugar nas fases preliminares de apuramento. Zheng tem apenas 12 anos de idade, celebrados no dia 11 de Agosto, precisamente o último dia dos JO.

“Diverti-me imenso. Estou muito feliz e orgulhosa por representar o meu país. Não havia muita pressão sobre mim. Os JO não são muito diferentes dos meus treinos regulares e de outras competições, apenas com mais espectadores”, declarou.

Destaque também para a modalidade de tiro com arco, que levou os atiradores Huang Yuting e Sheng Lihao a conquistar a primeira medalha de ouro na modalidade para o país. Com o peculiar nome nas redes sociais “Just by Eating”, Sheng tornou-se viral, com os fãs a apelidaram-no de “Gan Fan Ge”, ou “Foodie Bro”, elogiando-o por “ganhar o ouro apenas comendo”.

Limpeza no ténis de mesa

Os chineses são amplamente conhecidos pelo talento na modalidade de ténis de mesa e estas Olimpíadas não foram excepção. Na semifinal individual feminina, a chinesa Sun Yingsha, número 1 do mundo, que venceu duas medalhas de ouro e uma de prata, derrotou a japonesa Hina Hayata. Porém, o desportivismo imperou, pois Sun confortou a adversária que sofria do impacto de lesões no pulso e no antebraço.

“Reparei que o movimento do braço dela não estava muito bom. Somos adversárias no campo, mas na verdade somos amigas. Para nós, a saúde é muito mais importante do que ganhar ou perder. Ninguém quer ver lesões. Espero que ela recupere o mais depressa possível.”

Outra modalidade em que a China se destacou foi na ginástica rítmica, pois a equipa chinesa composta pelas atletas Guo Qiqi, Hao Ting, Huang Zhangjiayang, Wang Lanjing e Ding Xinyi ganhou a primeira medalha de ouro para o país em todas as categorias da modalidade.

“Esperámos muito tempo por este momento para ganhar o ouro olímpico. A nossa última medalha de grupo foi a prata nos JO de Pequim, em 2008. Estou muito feliz por, após tantos anos de trabalho árduo, termos finalmente conseguido um bom resultado”, disse o treinador Sun Dan após a final.

Esta foi a primeira vez que uma equipa de fora da Europa conquistou o ouro olímpico na ginástica rítmica por equipas desde que o evento foi introduzido nos JO de Atlanta em 1996.

Hong Kong participou nestes JO, tendo ficado em 37º lugar, com apenas quatro medalhas obtidas, duas delas de ouro, na esgrima, com a vitória do esgrimista Cheung Ka Long na categoria florete – individual masculino. Na categoria de esgrima espada – individual feminino ganhou a atleta Vivian Kong.

Seguem-se agora os Jogos Paralímpicos, entre os dias 28 de Agosto e 8 de Setembro, destinados a atletas portadores de deficiência. A cidade norte-americana de Los Angeles volta a acolher a próxima edição dos JO, daqui a quatro anos. Com agências

14 Ago 2024

USJ | Estudo destaca imparcialidade dos jornais ingleses

O jornal diário em língua inglesa Macau Daily Times é mais popular que o Macau Post Daily, mas ambos conseguem ser imparciais em relação ao Governo em termos de conteúdo noticioso. Um estudo da Universidade de São José indica existir espaço para que a imprensa inglesa seja mais influente e com impacto internacional

 

“Avaliação comparativa dos jornais de língua inglesa em Macau”, da autoria dos académicos José Manuel Simões e Cheila Alexis Pagan, da Universidade de São José (USJ), é o título do estudo que analisa o conteúdo noticioso e posicionamento de mercado dos jornais Macau Daily Times (MDT) e Macau Post Daily (MPD), os únicos periódicos diários em língua inglesa do território.

O artigo, publicado este mês no número “Comunicação, Arte e Cultura” da revista académica “Cultura Digital – Revista interdisciplinar de Arte & Ciência” conclui que o MDT “é o mais popular de entre os dois jornais de língua inglesa que cobrem a actualidade da região”. Os autores citam dados da Câmara de Comércio França-Macau que revelam que este jornal tem uma tiragem diária acima dos 17.500 exemplares, além de ter uma média diária de 300 mil visitas no website. Além disso, o MDT “apresentou uma maior percentagem de cobertura” noticiosa em relação ao MPD.

Para este trabalho os investigadores analisaram notícias dos dois periódicos durante cinco meses, entre Agosto e Dezembro de 2019, contando-se 200 jornais como amostra, resultando em 386 artigos de notícias divididos posteriormente em tabelas conforme critérios de análise, ou “medidas de desempenho”, como “Argumentos positivos”, “Neutralidade”, “Apoio Governamental”, “Contra o Governo”, “Imperialismo”, “Pluralismo”, “Cidadania” e “Auto-Cidadania”.

O estudo conclui que o MDT “regista mais dados que o MPD na maioria das medidas de desempenho”, sendo que “entre os dois jornais as medidas relativas a argumentos e relatórios contrários ao Governo”, bem como aos critérios do “imperialismo e pluralismo registaram dados mais elevados”.

Em contrapartida, é referido no estudo, “as medidas relativas à neutralidade e à auto-cidadania registaram a menor quantidade de dados”, tendo-se verificado “um equilíbrio na comunicação entre as medidas de desempenho, embora com uma frequência variada em ambos os jornais”.

Em cinco meses foram recolhidos 101 jornais do MDT com 238 artigos noticiosos. Em comparação com o MPD, o MDT “produziu mais dados em todas as medidas de desempenho, excepto na cidadania”. Por sua vez, “as medidas sobre argumentos contrários, com 31 por cento, ‘Imperialismo’, com 27 por cento, e ‘Pluralismo’, com 24 por cento, apresentaram a maior quantidade de dados entre os artigos publicados no MDT”. Ainda no que se refere ao MDT, as reportagens favoráveis ao Governo representaram 14 por cento, enquanto as desfavoráveis representaram 16 por cento do total das notícias publicadas.

Revelada imparcialidade

Os resultados revelam também que existe, nos dois jornais, “um relato equilibrado de argumentos positivos e negativos, uma vez que ambas as medidas são frequentemente encontradas em conjunto”, sendo que o MDT “apresentou uma frequência mais elevada de relatos equilibrados, uma vez que os artigos da amostra incluíam relatos positivos, negativos e neutros”. Já o MPD “apresenta um registo mais elevado de reportagens equilibradas em termos de inclusão de argumentos positivos e negativos nos artigos da amostra”.

Em termos gerais, os investigadores destacam que ambos os jornais “têm uma tendência para o relato adverso”, ou seja, crítico, sendo que “a elevada taxa de medição do argumento oposto indica que a imprensa inglesa é livre de investigar todo o tipo de actividades”. O estudo destaca também que “a inclinação para as notícias negativas mostra que a imprensa inglesa desempenha um papel crítico”.

“Os resultados na divulgação de informações de apoio e contra o governo são moderados em ambos os jornais, mas observáveis neste estudo quantitativo. Entre as duas medidas, a informação desfavorável ao Governo regista uma taxa percentual mais elevada em ambos os jornais, o que indica que os jornais não mostram parcialidade em relação ao Governo de Macau”, pode ainda ler-se.

No que diz respeito à imparcialidade noticiosa, os autores referem é importante ir além dos meros dados numéricos, sendo necessário “um estudo para determinar a força das tendências nas notícias”. Ainda assim, “os dados sobre a medição dos argumentos positivos e negativos indicam que os repórteres cobrem ambos os pontos de vista numa opinião, e os jornais não se envolveram apenas num lado do argumento”

Maior pendor económico

Os autores do estudo citam ainda dados de um inquérito de 2016 em que 75 por cento dos inquiridos revelou ter mais interesse por notícias das áreas económica e financeira, sobretudo notícias sobre a indústria do jogo, e que os leitores “eram essencialmente profissionais e empresários”.

Assim, pode estar em causa “a ênfase dos jornais [ingleses] nas actividades económicas, que são mais do interesse dos seus consumidores, do que em assuntos políticos”.

“Uma vez que os jornais de língua inglesa foram criados devido à necessidade provocada pela indústria do jogo, que trouxe mais leitores estrangeiros, é natural que haja menos notícias sobre assuntos governamentais e mais sobre actividades económicas na imprensa inglesa da região”, e que, neste contexto, “os consumidores de media da região desempenham um papel na produção das notícias”.

O estudo defende ainda que “em cada jornal deve haver mais diversidade de informação”, sendo importante que “o sistema mediático, em geral, apresente um leque de produção [noticiosa] que reflicta a diversidade da sociedade, especialmente nas dimensões críticas da região, política, religião, etnia, cultura”.

No caso concreto de Macau, “embora os jornais de língua inglesa demonstrem diversidade no seu conteúdo e reflictam a diversidade da sociedade, a divulgação de outras categorias de informação é negligenciada, uma vez que os jornais são concebidos para um mercado específico”.

O impacto entre a imprensa inglesa é, assim, diferente face aos jornais em línguas chinesa e portuguesa, os idiomas oficiais de Macau. O estudo conclui que “de um modo geral o impacto dos meios de comunicação social ingleses difere entre as comunidades locais e não locais”, pois enfrentam “barreiras linguísticas que colocam mais desafios, como o acesso às fontes, ainda que o inglês “seja amplamente utilizado e aceite na região”.

Assim, “os media ingleses não podem cobrir exaustivamente os assuntos políticos devido ao acesso limitado às fontes e à informação”, e que a imprensa inglesa, não sendo subsidiada pelo Governo como são os jornais chineses e portugueses, “sobrevive graças às receitas comerciais, tendo um desempenho satisfatório nesta situação”, lê-se no estudo. Porém, ressalva-se que “a investigação de várias actividades pode ser restringida devido à falta de financiamento”.

Actualmente, “e em comparação com os meios de comunicação chineses, os meios de comunicação ingleses têm menos impacto na sociedade de Macau”, mas são “valiosos para a comunidade anglófona dentro e fora de Macau”.

Ainda assim, os autores destacam o facto de “a imprensa inglesa de Macau estabelecer uma função de monitorização, educação e facilitação entre os consumidores”, com potencial para “serem influentes, uma vez que se posicionam como uma ‘lente internacional’ da sociedade de Macau”.

Segundos os académicos, os jornais ingleses de Macau podem, assim, constituir outro meio para compreender o Oriente além dos tradicionais periódicos e demais publicações na região.

12 Ago 2024

Análise | Ho Iat Seng “está a preparar” a recandidatura a Chefe do Executivo

Analistas portugueses que acompanham a vida política em Macau afirmaram à Lusa que Ho Iat Seng “está a preparar-se” para se recandidatar, não obstante as críticas à sua governação marcada por três anos de pandemia

 

“Parece que ele está a preparar-se para se candidatar. Também apareceu um empresário [Jorge Chiang], que queria [candidatar-se], mas talvez só tenha aparecido para ele [Ho Iat Seng] reforçar a sua candidatura”, disse Cátia Miriam Costa, investigadora do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL (CEI/ISCTE-IUL), especialista em assuntos de política externa da China e Macau.

Jorge Tavares da Silva, professor na Universidade da Beira Interior, especialista em assuntos de política externa chinesa, Macau e da Nova Rota da Seda, chamou a atenção para o “desaparecimento” por “umas semanas” de Ho Iat Seng. “O Chefe do Executivo desapareceu agora umas semanas, prolongou as férias, o que nos leva a supor que se encontrará em negociações”, disse. “Dá a ideia de que está a preparar nos bastidores todas as dinâmicas informais – o que denota que pode não ser assim tão consensual [a sua candidatura] – para depois, no acto solene, estar já tudo decidido”, acrescentou.

“Há ali um grande debate”, sublinhou igualmente Cátia Costa. “Quando [Ho Iat Seng] se apresentar, vai ter as continhas feitas e saber se consegue ganhar, ou seja, que percentagem daqueles 400 eleitores [membros da Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo (CECE) de Macau] vai votar nele. Sem isso, não avança”, acrescentou a investigadora.

Mais de 6.200 eleitores mandatados por 576 pessoas colectivas elegeram ontem os seus representantes na CECE, que integra 400 membros de quatro sectores da sociedade, e irá eleger a partir de 11 de Outubro o futuro líder do Governo de Macau para os próximos cinco anos, que terá de ser nomeado formalmente pelo Governo Central, de acordo com a Lei Básica e a respectiva lei eleitoral.

Avaliação complicada

À semelhança do que acontece no Partido Comunista Chinês, “antes da votação, há uma grande disputa. Costumo dizer aos meus alunos: ‘quando vocês veem os cartõezinhos todos levantados numa votação plenária na China contemporânea, antes caíram muitos pelo caminho’”, ilustrou a investigadora do CEI/ISCTE-IUL.

Os dois antecessores de Ho Iat Seng – Edmundo Ho e Fernando Chui Sai on – cumpriram ambos dois mandatos, mas os investigadores portugueses admitem que Ho Iat Seng chega ao final do seu primeiro mandato em condições políticas diferentes.

“Ho Iat Seng enfrentou um período de alguma contestação, exactamente porque as pessoas achavam que não estava a dar o máximo do que era possível fazer. Agora, também temos de ver o contexto de governação que ele teve”, relativizou Cátia Costa.

“A avaliação da governação de Ho Iat Seng é muito difícil”, “estamos a analisar um período particularmente difícil, em que a China esteve fechada 3 anos” devido à covid-19, e esse balanço diz respeito a “um território que está muito dependente de fluxos externos, está muito exposto”, disse. “É evidente que não estamos a avaliar uma acção governativa em condições normais”, sublinhou a investigadora.

Por outro lado, exige-se ao líder do Executivo do território uma “competência” especial, que passa por conseguir “harmonizar as expectativas de Pequim com as expectativas locais, que são fundamentais, depois, na expressão do voto que esta grande comissão [CECE] vai fazer”, disse ainda Cátia Costa.

Esta circunstância torna-se mais relevante, segundo a professora do ISEG, se se atender ao facto de o período de governação de Ho Iat Seng ter coincidido com uma “situação de muita insatisfação” em Hong Kong, e “a verdade é que Macau absorveu muitas ondas de choque provenientes” do território vizinho. “Foi um contexto particularmente adverso e difícil. Provavelmente, as pessoas que vão elegê-lo tiveram oportunidade de confirmar se existe alguma alteração, algum maior empenho [com que Ho Iat Seng se tenha comprometido] em relação a alguma destas grandes questões, ou até alguma predisposição para alterar o curso que tem sido dado à governação do território”, previu Cátia Miriam Costa.

Electricidade estática

Os analistas consideram que as alterações à lei eleitoral da região administrativa especial, no ano passado, “condicionam” a escolha do próximo Chefe do Executivo.

“Esta nova lei [eleitoral, em vigor desde o final de 2023, que obriga candidatos ao Executivo a um juramente de fidelidade ao território e dá poderes a uma Comissão de Defesa da Segurança do Estado para verificar a “existência de violação do dever de defesa ou de fidelidade” por parte dos mesmos] pode ter implicações, e terá tido com certeza, sobretudo no sentido de as pessoas [candidatos] estarem mais atentas às directivas de Pequim”, afirmou Cátia Miriam Costa.

“Há uma tendência a um maior autocontrolo, apesar de ser admitido o criticismo à forma como as coisas são conduzidas, dentro de padrões mais técnicos, menos políticos”, acrescentou. O que “não é permitido”, sublinhou a investigadora, “é pôr em causa a existência e a soberania do partido [Comunista Chinês] e do Estado chinês sobre estes territórios” – Macau e Hong Kong.

Não obstante estas considerações, Cátia Costa manifestou dúvidas sobre “até que ponto” as alterações legislativas terão “mudado assim tanto o processo eleitoral, porque ele já estava muito montado neste sentido”, disse.

“Na prática, a nova lei talvez não tenha trazido tantas alterações a este processo. Veio reafirmar aqueles princípios de idoneidade, de amor à pátria, sucedâneos do que se passava em Hong Kong, onde o processo eleitoral para Chefe do Executivo estava a ser contestado” desde 2020, afirmou a investigadora.

Jorge Tavares da Silva considerou que Pequim foi “reforçando o seu controlo sobre o território e desafiando a própria Lei Básica, nomeadamente com estas medidas mais recentes da lei eleitoral, que quase obrigam a uma subserviência ao Partido Comunista Chinês”.

Os candidatos têm que “declarar um respeito, quer dizer, uma subjugação àquilo que o partido diz”, reforçou. “Claro que [a lei se autojustifica] por razões ‘patrióticas’ [segundo o princípio ‘Macau governado por patriotas’], mas na essência é isso, portanto, nunca desafiando o poder central”, afirmou Tavares da Silva.

O investigador, à semelhança de Cátia Costa, também sublinhou a importância dos tumultos em Hong Kong em 2019 e 2020, e a forte repercussão dos mesmos em Macau, mas entendeu que o “habitat político” da segunda região administrativa não justificava as alterações legislativas.

“Pequim teve o receio de haver um contágio de Hong Kong a Macau, mas a grande diferença de Macau para Hong Kong é que Macau não tem partidos políticos. Podemos dizer que as associações são um bocadinho como os partidos políticos, mas não é a mesma coisa. Há um ‘habitat político’ – ou havia – em Hong Kong de mais liberdade, de discussão política, mais efervescente”, disse.

“Macau absorveu muita onda de choque proveniente de Hong Kong, acabando [por ser afectado] por tabela, por o seu vizinho estar com uma série de problemas, que começaram com a eleição directa do Chefe do Governo, ou da contestação ao método eleitoral em Hong Kong, mas depois também se foi espraiando a outros níveis, como, por exemplo, à Lei de Segurança Nacional”, que Macau já tinha, e Hong Kong acabou entretanto por criar, levando em paralelo Macau a rever essa lei – que “protegia [o território] da ingerência a partir de Pequim”, sublinhou a investidora do CEI/ISCTE-IUL.

12 Ago 2024

EPM | Docentes e psicóloga dispensados com contrato por mais um ano

Além de indicar a “falta de critérios objectivos, imparciais e transparentes” nos despedimentos e novas contratações na Escola Portuguesa de Macau, o relatório da Inspecção-Geral da Educação e Ciência concluiu que algumas decisões do Conselho de Administração da Fundação da EPM foram tomadas a título “meramente individual” pelo presidente

 

Os contratos dos quatro professores e da psicóloga que iam ser dispensados dos quadros da Escola Portuguesa de Macau (EPM) foram renovados por mais um ano. A informação sobre a renovação consta de um despacho do ministro da Educação, Ciência e Inovação de Portugal, Fernando Alexandre, com base no inquérito realizado pela Inspecção-Geral da Educação e Ciência (IGEC), entre 12 e 25 de Julho.

“Renovo, por mais um ano, as licenças especiais dos docentes […] e da psicóloga […], para que se possam manter na EPM com serviço docente/tarefas distribuídas no próximo ano lectivo”, lê-se no despacho de quarta-feira.

A decisão de Fernando Alexandre obriga também a direcção da EPM a assegurar que os docentes e a psicóloga têm tarefas para desempenhar ao longo do ano, no que aparenta ser uma forma a evitar que os profissionais sejam “colocados na prateleira”.

No despacho a que o HM teve acesso, o ministro português também aprova as novas contratações dos docentes como pretendido pela direcção da EPM. “Determino a imediata conclusão dos processos de contratação dos novos professores para que, sendo indispensáveis ao regular funcionamento da EPM, seja assegurada a sua entrada em funções a tempo do início do próximo ano lectivo”, escreveu o ministro português.

Em relação ao futuro, o governante de Portugal pede aos representantes do Estado Português no Conselho de Administração (CA) da Fundação da EPM que solicitem ao órgão uma proposta com a “definição de critérios a adoptar na contratação de pessoal docente e não docente pela EPM”. A proposta terá de ser analisada pelo Conselho de Curadores, através da elaboração de um parecer, e vai resultar de uma reunião extraordinária.

Esta é uma resposta directa ao inquérito da Inspecção-Geral da Educação e Ciência (IGEC), cujo relatório foi apresentado a 2 de Agosto. Nas conclusões do inquérito consta que houve “falta de critérios objectivos, imparciais e transparentes na cessação ou não renovação dos contratos com professores e nos recrutamentos de professores”.

A inspecção à EPM concluiu também que o director não terá respeitado o “princípio da hierarquia e da transparência”, dado que não foi solicitada “previamente, ao órgão colegial de administração da entidade titular a emissão de critérios definidores ou de orientações” para os despedimentos ou novas contratações.

PLNM sem alterações

O despacho de quarta-feira suspende também as reformas pretendidas para o novo ano lectivo ao nível do ensino da disciplina Português Língua Não Materna (PLNM).

Segundo a decisão do ministro, a PLNM vai ser leccionada nos moldes do ano lectivo anterior, mas, os representantes de Portugal no CA da FEPM vão solicitar ao Conselho de Administração da escola que apresente “uma proposta devidamente fundamentada e quantificada sobre o modo como o ensino da língua portuguesa não materna deve ser ministrado na EPM nos anos lectivos 2025/2026, 2026/2027, 2027/2028”. A data limite para apresentar a proposta é o final do corrente ano civil, ou seja, 31 de Dezembro de 2024.

Num comunicado emitido pela Associação dos Pais e Encarregados de Educação da EPM, em Julho deste ano, a direcção da escola era citada a justificar que no novo ano ia introduzir alterações ao ensino da disciplina da PLNM para acabar com a tolerância face à “subversão das regras” com o pretexto de “pretensos bons resultados”.

Contudo, a inspecção à EPM considerou que “a forma como o director lidou com a questão da propalada redução ou da eliminação da actividade lectiva do PLMN” deu “azo” a um “clima de incerteza” na comunidade escolar e nas comunidades locais servidas pela EPM.

A proposta sobre o futuro da PLNM será apresentada ao Conselho de Curadores da Fundação da Escola Portuguesa de Macau, que até 31 de Março de 2025, terá de se manifestar “por escrito e fundamentadamente” sobre o assunto.

Em relação à educação inclusiva, o ministro pede aos membros do Estado Português no CA da FEPM que assegurem o cumprimento “com todas as determinações impostas pela DSEDJ de Macau”. Neste sentido, é pedido ao Conselho de Administração da EPM que “apresente uma proposta, fundamentada e devidamente articulada com a DSEDJ, de definição de critérios tendentes a qualificar os alunos como sendo detentores de necessidades educativas especiais”. A proposta tem de ficar concluída até 31 de Dezembro de 2024.

Correcção ao CA da FEPM

A inspecção realizada pela IGEC levou ainda o ministro a deixar algumas correcções ao funcionamento do Conselho de Administração da Fundação da Escola Portuguesa de Macau.

Actualmente, o CA da FEPM é constituído por cinco membros: três escolhidos pelo Estado português, nomeadamente Jorge Neto Valente, como presidente, Patrícia Ribeiro e Raul Capaz, um membro escolhido pela Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM), Miguel de Senna Fernandes, vice-presidente, e um outro membro que resulta do consenso do CA, que actualmente é José Basto da Silva.

Segundo a inspecção, nas tomadas das decisões com impacto para a comunidade escolar, como a dispensa dos docentes e funcionários, o CA não funcionou como órgão “colegial e solidário”. Também não houve “envolvimento do CA da FEPM nos processos de tomada de decisão”, mas antes a “adopção de posições do Presidente do CA da FEPM [Jorge Neto Valente], a título meramente individual sem vincular o órgão colegial de administração”.

O ministro indica que no que diz respeito às decisões sobre as dispensas dos docentes, houve mesmo divisão no CA da FEPM, com Miguel de Senna Fernandes a opor-se à conduta do director, considerada “intempestiva e carecida de justificação ou fundamento”. O ministro revela no despacho que os despedimentos avançaram, apenas com o apoio minoritário no CA, só com os votos a favor de dois dos cinco membros do CA, Neto Valente e um outro membro em representação do Estado Português, que não surge identificado.

Face a este cenário, o ministro pede aos membros representantes do Estado Português no CA que solicitem ao próprio CA da FEPM para informar o director da escola que as tomadas de posição do CA da FEPM passam a ser feitas por escrito, inclusive com os resultados das votações dos membros.

Além disso, é também pedido ao CA da FEPM que transmita “ao Director da EPM que, em todas as matérias relativas ao funcionamento da EPM que não estejam sujeitas à apreciação e deliberação do CA de FEPM, adopte critérios objectivos, imparciais e transparentes e promova um diálogo permanente e construtivo com a comunidade educativa”.

Incapacidade dos responsáveis

No despacho, Fernando Alexandre considera igualmente que os “actuais responsáveis” da fundação e da escola têm demonstrado incapacidade para resolver os problemas.

“Este novo ciclo iniciado com a nomeação dos administradores da entidade titular e com o novo diretor da EPM deveria coincidir com uma fase de consolidação da missão da Escola e de desenvolvimento ou mesmo de expansão da sua área de intervenção, porém, logo que iniciado, os problemas surgiram e com grande impacto na comunidade escolar e expressão, inclusivamente, nos serviços de Educação locais”, escreveu o ministro. Fernando Alexandre aponta depois que o desenrolar mais recente de acontecimentos mostrou “uma incapacidade dos actuais responsáveis para os resolver e debelar, tranquilizando pais, educadores, professores, pessoal não docente e a comunidade escolar no seu conjunto”.

Os mandatos dos membros escolhidos pelo Estado de Português no Conselho de Administração da Fundação da Escola Portuguesa de Macau prolongam-se até Setembro de 2026, podendo ser renovados automaticamente por mais um ano.

9 Ago 2024

UNESCO | Eixo Central de Pequim reconhecido como Património Mundial

Criado no século XIII, o Eixo Central de Pequim atravessa o centro da capital chinesa e define a sua ordem ideal. O conjunto foi classificado como Património Mundial da UNESCO, tal como o “Deserto de Badain Jaran – Torres de areia e lagos”, no noroeste do país. Xi Jinping destacou a importância da protecção do património e da história cultural do país

 

A lista do Património Mundial da UNESCO foi alargada recentemente com a inclusão de três marcos patrimoniais chineses, entre entradas de outros países, que não só contam parcialmente a história do país como da própria capital chinesa, Pequim. Uma das entradas na lista de património de interesse mundial foi o Eixo Central que atravessa todo o centro da cidade, estabelecido pela primeira vez em 1271, contendo um conjunto de palácios, jardins imperiais e edifícios cerimoniais e públicos.

A decisão foi tomada no âmbito da 46ª sessão do Comité do Património Mundial da UNESCO, realizada em Nova Deli, Índia.

Este conjunto patrimonial e arquitectónico apresenta a ordem ideal para a capital do país, pelo menos segundo a visão das autoridades à época. Segundo o website da UNESCO, o Eixo Central de Pequim “atravessa o centro histórico de Pequim de Norte a Sul”, testemunhando “a evolução da cidade e constituindo uma prova do sistema dinástico imperial e das tradições de planeamento urbano da China”.

Lê-se ainda que a localização deste eixo, o traçado, padrão urbano, ruas e desenho mostram a capital ideal “tal como prescrita pelo Kaogongji, um texto antigo conhecido como o ‘Livro dos Vários Ofícios'”. Ainda segundo a UNESCO, a área do eixo está situada entre dois rios paralelos que tem sido povoada há cerca de três mil anos, mas estima-se que o Eixo Central propriamente dito teve origem durante a dinastia Yuan, entre os anos de 1271 e 1368. Foi aí que se estabeleceu a capital da dinastia, Dadu, na parte norte de Pequim.

O Eixo Central “possui também estruturas históricas posteriores, construídas durante a dinastia Ming”, que governou o país entre os anos de 1368 e 1644, e que foram melhoradas posteriormente durante a dinastia Qing, que governou durante 1636 e 1912.

Citado pela agência Xinhua, o Presidente Xi Jinping destacou a importância desta nova classificação, que faz com que o país tenha actualmente 59 locais históricos inscritos na UNESCO.

A inscrição do Eixo

Xi Jinping exigiu “mais esforços para a preservação dos tesouros culturais e naturais do país”, a fim de “renovar o seu glamour na nova era” da China. O Presidente acrescentou que “a inclusão destes bens patrimoniais tem um significado positivo para a construção da modernização chinesa, que se caracteriza pelo avanço material e ético-cultural e pela harmonia entre a humanidade e a natureza”.

O líder máximo chinês apelou ainda ao aproveitamento das novas classificações da UNESCO “como uma oportunidade para reforçar ainda mais a protecção abrangente e sistemática do património cultural e natural”, fazendo “bom uso deles para melhor satisfazer as necessidades do povo”.

Xi Jinping considerou também ser importante “o reforço do intercâmbio e da cooperação internacional neste domínio, bem como aos esforços para dar um maior contributo para a prática da ‘Iniciativa para a Civilização Global’ e para a construção de uma comunidade com um futuro partilhado para a humanidade”.

Deserto, dunas e aves

Da reunião da UNESCO em Nova Deli saiu uma outra inscrição do património chinês. Trata-se do “Deserto de Badain Jaran – Torres de areia e lagos”, situado no planalto de Alashan, na região desértica do noroeste da China.

Segundo a UNESCO, o local é “um ponto de encontro de três regiões arenosas da China”, sendo o Deserto de Badain Jaran “o terceiro maior do país e o segundo maior deserto de areias movediças”, distinguindo-se dos demais pela “sua elevada densidade de megadunas e lagos interdunares”.

É ainda descrito que o sítio “possui espectaculares características geológicas e geomórficas permanentes, paisagens desérticas e características geográficas que podem ser inigualáveis”. Destaca-se uma megaduna de areia, estabilizada, tida como a mais alta do mundo, com um relevo relativo de 460 metros, a “maior concentração de lagos interdunares” e ainda a “maior extensão das chamadas ‘areias cantantes'”, que, segundo o portal da UNESCO, “descrevem a ressonância causada, por exemplo, pelo movimento do vento em areias secas e soltas”. Esta zona desértica tem também “formas de relevo erodidas pelo vento”, traduzindo-se numa “variedade da paisagem que traduz uma grande diversidade de habitats e, por conseguinte, de biodiversidade”.

Destaque ainda para a extensão da inscrição de um outro local bastante ligado à natureza. Trata-se dos santuários de aves migratórias na costa chinesa do Mar Amarelo e do Golfo de Bohai, que foi inscrito na lista da UNESCO, pela primeira vez, em 2019.

O local fica situado na “eco-região do Mar Amarelo, fazendo parte do maior sistema de zonas húmidas intertidais do mundo”, suportando habitats importantes para as aves migratórias “que utilizam a rota de migração da Ásia Oriental para a Australásia, estendendo-se por cerca de 25 países, desde o Ártico até ao Sudeste Asiático e à Australásia”.

Estas zonas húmidas “desempenham um papel ecológico único como locais de paragem essenciais para milhões de aves aquáticas e representam um exemplo significativo do património natural partilhado pelas aves migratórias”, é referido pela UNESCO.

Recorde-se que a 46ª reunião que inscreveu novos patrimónios mundiais na lista da UNESCO decorreu entre os dias 21 e 31 de Julho e contou com representantes do Governo de Macau.

Estas reuniões do Comité do Património Mundial da UNESCO, de cariz anual, visam, segundo uma nota oficial da secretaria dos Assuntos Sociais e Cultura, “apreciar a situação de protecção dos diversos locais listados como Património Mundial, a salvaguarda dos patrimónios em perigo e as candidaturas a Património Mundial”, abordando-se ainda “as formas de salvaguarda e gestão dos patrimónios mundiais”.

Sobre o Eixo Central de Pequim, que foi finalizado no século XVI, refere-se, na mesma nota do Governo de Macau, que forma “um complexo urbano bem ordenado e magnífico que testemunhou a reforma e transição histórica da sociedade chinesa de um regime dinástico para um país moderno”.

Outras inscrições

Da 46ª reunião do Comité da UNESCO destaca-se outras inclusões do património, como foi o “Conjunto Residencial de Schwerin”, na Alemanha, construído essencialmente na primeira metade do século XIX e que serviu de capital do Grão-ducado de Mecklemburgo-Schwerin na zona noroeste da Alemanha. O complexo é composto por uma propriedade com 38 edifícios, nomeadamente o Palácio Residencial do Grã-duque e casas senhoriais, edifícios culturais e sagrados.

A Arábia Saudita inscreveu na lista do património classificado pela UNESCO a paisagem cultural da zona arqueológica de Al-Faw, situada “num ponto estratégico das antigas rotas comerciais da península arábica e que foi abandonado abruptamente por volta do século V a.c.”. Hoje restam cerca de 12 mil achados arqueológicos que comprovam a passagem, por aquele lugar, “de três povoações diferentes e a sua constante adaptação à evolução das condições ambientais”.

Já a Tailândia foi destacada por “Phu Phrabat”, considerado pela UNESCO como um local “testemunho da tradição da pedra Sema do período Dvaravati”, que vigorou entre os séculos VII e XI d.c. Esta área montanhosa “preserva a maior colecção do mundo de pedras Sema ‘in situ’ do período Dvaravati, um testemunho da tradição que outrora prevaleceu na região”. A UNESCO destaca também que “as pinturas rupestres existentes na superfície de 47 abrigos rochosos fornecem provas físicas de que os seres humanos ocuparam a área durante mais de dois milénios”.

8 Ago 2024

Casas-museu | Maria José de Freitas lamenta intervenção do IAM

Maria José de Freitas, que coordenou o projecto de musealização das Casas-museu da Taipa, ficou “admirada e um bocado indignada” perante as obras de renovação do chão de pedra. Em causa pode estar a destruição de pavimento que remontará aos tempos da Expansão Portuguesa

 

A arquitecta Maria José de Freitas teme a descaracterização dos elementos históricos que fazem parte do pavimento em pedra junto às Casas-museu da Taipa, após o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) ter começado trabalhos de requalificação. Em causa está a substituição do pavimento em pedra dessa zona histórica por pedras em granito.

Ao HM, a arquitecta, que no final dos anos 90 foi responsável pelo projecto de musealização da zona e das Casas-museu, diz ter ficado “admirada e um bocado indignada porque não se teve em conta o respeito pela autenticidade do sítio”.

O pavimento em causa, segundo testemunhos de locais ouvidos pela própria Maria José de Freitas, remontará aos tempos da Expansão Portuguesa, quando as naus vinham de Portugal e traziam o lastro com pedras de granito para trocar por especiarias de outras regiões do Sudeste Asiático, como Malaca, ficando depositadas em Macau.

“Aquele é o pavimento original da Avenida da Praia desde 1921, que é a data das casas. Trata-se de uma falta de cuidado na intervenção, em não se perceber a história do sítio, que é classificado. Não se trata apenas das moradias, mas de toda a zona envolvente”, descreveu.

As Casas-museu da Taipa funcionaram, no período da Administração portuguesa, como moradias de funcionários públicos, numa altura em que a ilha funcionava como local para passar férias e quando não existia ponte para estabelecer uma ligação à península.

“Quando participei no concurso de 1998 para a musealização da zona, aquelas eram casas dos antigos funcionários públicos e, em redor, o pavimento era de terra batida, mas naquela avenida já havia pedras em granito. Então pensámos que seria interessante englobar, no projecto, toda a envolvente, procurando preservar o conjunto.”

Assim, a renovação incluiu a zona do Largo do Carmo, mais acima das moradias, as árvores em redor, o pequeno anfiteatro onde habitualmente decorrem espectáculos e o actual lago, que “antes estava ligado ao estuário do rio”, recorda.

Maria José de Freitas teme, assim, a descaracterização completa da componente histórica do pavimento e que seja deitado por terra todo o trabalho feito. “Lamento que tudo isto seja feito sem estudo e contextualização, e sem se perceber a autenticidade do sítio. Não conheço o projecto, e ver que agora vão tirar o pavimento todo e meter não sei o quê, acho lamentável. Apelaria a que se voltasse atrás e se pudesse conceber outra proposta que seja mais consonante com a autenticidade do sítio.”

A arquitecta destaca que “todos gostam de visitar o sítio, que respira uma autenticidade que pode ser perturbada pelo novo desenho do pavimento”.

O que diz o IAM

Numa nota emitida na semana passada, o IAM explica que será feito “o alargamento da via de granito e manutenção de outros pavimentos de seixos” a fim de “optimizar o conforto e a segurança do ambiente pedonal da Avenida da Praia”.

A intervenção pretende articular-se com o plano de revitalização “das seis grandes zonas”, conforme é descrito no comunicado, e que contou com a colaboração do Instituto Cultural. Será, assim, feita “a optimização de uma parte da zona pedonal da Avenida da Praia, com vista a alargar os pavimentos de granito existentes, sem alterar os outros pavimentos de seixos encontrados nessa zona”.

Fica a promessa de fazer apenas “a substituição dos seixos danificados a fim de manter a fisionomia característica da zona”. Serão ampliados “os actuais pavimentos de granito planos e altamente antiderrapantes, transformando-se o pavimento de granito da via estreita junto às terras húmidas [lago] com revestimento de seixos idênticos aos existentes no local”. O IAM deixa claro, na mesma nota, que “os outros pavimentos já revestidos em seixos encontrados nessa zona pedonal não serão alterados, sendo apenas substituídos os seixos danificados”. As obras de renovação terão a duração de 60 dias.

Pedaços da história oral

Aquando da participação no concurso público para transformar as moradias em pequenos museus, Maria José de Freitas ouviu de alguns residentes chineses estórias que indicam que o pavimento de pedra poderia estar naquela zona da Taipa desde o tempo em que as naus portuguesas partiram para o Oriente para fazer comércio.

“Há uma narrativa que ouvi de alguns locais, quando fazíamos trabalho de investigação na zona. Um senhor de idade, que ainda falava português, disse-me que aquelas lajes [de pedra] tinham vindo nos navios do tempo da Expansão Portuguesa que vinham de Portugal e faziam o percurso todo pela Índia e Malaca até chegar ao Japão.”

Depois, segundo a arquitecta, o lastro com as pedras era trocado por especiarias e bens e depositado em diversos locais. “O lastro ficaria amontoado numa zona da ilha da Taipa, e percebe-se porque há estaleiros ali perto. Tudo isto tem a ver com a actividade portuária de Macau da época. É uma estória que dá um apelo poético à zona e uma contextualização histórica”, aponta.

Ainda assim, Maria José de Freitas salienta que estes episódios da história oral exigem “uma averiguação histórica mais profunda”. Maria José de Freitas recorda ainda que ela própria ensinou a empresa de construção a colocar no chão aquele pavimento, que conta com um padrão em leque.

Inaugurada a meses da transição da administração portuguesa de Macau para a China, a musealização das moradias e todo o projecto de renovação mereceu a atenção de inúmeros repórteres que, à época, visitavam Macau para testemunhar o nascimento da RAEM.

“Viviam-se tempos com muita efervescência em Macau nessa altura e jornalistas do Japão ficaram fascinados com a história de que aquelas pedras poderiam ter pertencido à mítica Nau do Trato”, recordou.

O projecto de musealização destas moradias ficou oficialmente concluído em Dezembro de 1999 e contou com a colaboração dos arquitectos Luís Miguel Barros, Paula Figueiredo e o trabalho de arquitectura paisagística de Martha Landazabal. O projecto ganhou o primeiro prémio na categoria “menção honrosa” nos prémios ARCASA.

O mesmo diapasão

Não é apenas Maria José de Freitas que se mostra indignada com a intervenção. O deputado Ron Lam exigiu uma investigação interna ao trabalho do IAM numa interpelação escrita submetida ao Executivo.

O deputado destacou que a informação de que as obras iriam avançar surgiu no website do IAM apenas depois de terem sido divulgadas as primeiras notícias sobre a intervenção, a 29 de Junho.

“O contrato de concepção das ‘obras de optimização do pavimento’ foi atribuído a 14 de Junho por um preço de 638.930 patacas. Mas, o que é estranho é que quando tentei aceder à informação sobre a fase de realização das obras, na manhã do dia 31 de Julho, a informação ainda estava categorizada como ‘trabalhos a serem realizados’”, descreve-se na interpelação. “Estranhamente, só à tarde, o projecto surge na categoria de ‘trabalho em curso’ e é relevado que afinal havia contrato para a fase das obras, com um preço de 1,8 milhões de patacas”, acrescentou.

Como tal, o deputado exige maior transparência neste tipo de situações. “Os departamentos relevantes devem fazer uma investigação interna e abrangente e explicar claramente esta questão à população”, vincou o deputado, alertando para a necessidade de informações mais claras no que diz respeito à conservação do património. Apesar deste pavimento junto às Casas-museu da Taipa não ser calçada portuguesa, a verdade é que, segundo recordou Ron Lam, têm sido frequentes as obras de substituição do pavimento edificado em Macau com características portuguesas.

7 Ago 2024

Turismo | OCDE destaca a recuperação tardia da Ásia-Pacífico

A pandemia foi um ponto de viragem e muitos meses depois da reabertura de fronteiras, o turismo parece ter voltado à normalidade, mas ainda de forma desigual. O relatório da OCDE, intitulado “Tourism Trends and Policies 2024” destaca a recuperação tardia na Ásia-Pacífico devido, em parte, à manutenção prolongada das medidas anti-covid

 

A recuperação do sector do turismo apresenta sinais animadores, mas também algumas desigualdades entre regiões. Esta é uma das conclusões gerais do relatório “Tourism Trends and Policies 2024” da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico], agência ligada à Organização das Nações Unidas (ONU).

O maior atraso na recuperação parece ser na área da Ásia-Pacífico, uma vez que, em alguns países e regiões, como China, Macau e Hong Kong, as medidas de combate à covid-19 prolongaram-se no tempo em relação a outros países.

“Prevê-se uma recuperação global total [do turismo] até ao final de 2024, impulsionada pelo sentimento positivo dos viajantes e das empresas e pela retoma das viagens na Ásia-Pacífico, incluindo China, prevendo-se que o crescimento regresse às tendências pré-pandémicas à medida que os desequilíbrios da procura e da oferta continuem a desaparecer”, destaca o relatório.

Porém, o documento salienta que “a recuperação é desigual e subsistem desafios”, pois “embora a procura turística se tenha revelado resistente, as empresas lutam para atrair e manter os trabalhadores”. Mesmo com uma queda da inflação, “as pressões sobre os preços continuam a ter impacto nos custos dos transportes, do alojamento e da hotelaria”, pode ler-se.

O relatório aponta que “o caminho para a recuperação é mais longo para outros países”, dando-se o exemplo da região da Ásia-Pacífico. O atraso reflecte “em parte a abertura tardia das fronteiras, bem como a dependência pré-pandémica de visitantes de mercados de origem frequentemente distantes e o regresso mais lento do que o previsto do importante mercado externo da República Popular da China”.

A OCDE destaca que, nesta região, “as chegadas de turistas internacionais em 2023 permaneceram abaixo dos níveis pré-pandémicos, por exemplo, na Austrália (24,1 por cento), no Japão (21,4 por cento) e na Nova Zelândia (24 por cento)”. Por sua vez, “o ritmo de recuperação na região acelerou mais recentemente, à medida que as viagens de saída da China se intensificaram e a capacidade aérea e a conectividade se expandiram para satisfazer a procura”, lê-se ainda.

Relativamente ao Japão, o relatório da OCDE destaca a desvalorização do iene, que tem “estimulado os fluxos turísticos” para o país, assim como a “retoma contínua do turismo internacional na Tailândia, por exemplo, que está a sustentar uma recuperação económica estável no país, apoiada pela supressão da obrigação de visto para os viajantes chineses”.

Assim, na região da Ásia-Pacífico a recuperação do sector turístico é descrita como “diferente”, pois “embora as viagens de saída da China tenham aumentado e o turismo interno esteja em expansão, o turismo de entrada continua significativamente abaixo dos níveis pré-pandémicos e está a condicionar uma recuperação económica mais ampla na China”.

É referido que o país alargou a isenção de vistos a 11 países europeus e também à Austrália, Nova Zelândia e Malásia até final de 2025, medida que pretendeu “impulsionar o turismo e os laços internacionais”. Porém, “a disponibilidade da capacidade aérea e as actuais restrições de voos relacionadas com a guerra da Ucrânia” podem causar limitações.

Assim, “as viagens de ida e volta a partir da Índia estão a emergir como um futuro motor de crescimento do turismo mundial, com a rápida expansão da classe média e o aumento da conectividade aérea em todo o país”.

A expectativa é de que “as viagens intra-europeias se mantenham fortes, enquanto as viagens de saída para a Ásia-Pacífico aumentem à medida que os viajantes europeus se aventuram mais longe, devido, em parte, à melhoria da conectividade, à isenção de vistos para os europeus que entram na China e à taxa de câmbio favorável entre Euro e Iene”.

Segundo a OCDE, “esta situação segue-se a um forte crescimento das viagens aéreas de passageiros na Ásia-Pacífico este ano e a um regresso à rentabilidade no sector das companhias aéreas em todas as regiões, liderado pela América do Norte”.

Recuperação e resiliência

Em termos gerais, a OCDE aponta que “o turismo recuperou fortemente após declínios acentuados desencadeados pela pandemia da covid-19, que levaram os fluxos turísticos a cair em 2020-21, após seis décadas de crescimento consistente”.

Em termos de contribuição directa do sector para o Produto Interno Bruto (PIB) registou-se, nos países da OCDE, uma recuperação de 3,9 por cento em 2022, mas ainda meio ponto percentual abaixo dos níveis de 2019. Porém, “os dados sugerem que a recuperação continuou desde então”, com “o regresso da procura turística internacional após o levantamento das restrições de viagem a ser um motor significativo desta recuperação”.

Os dados citados no relatório apontam para um crescimento de 14,8 por cento, em 2022, no peso do sector do turismo nas exportações de serviços nos países da OCDE. Esta entidade ressalva, porém, que este valor estava ainda “5,6 pontos percentuais abaixo das quotas pré-pandémicas”, ainda que o cenário para os próximos meses seja optimista, “com as chegadas dos turistas internacionais continuarem a fortalecer-se”, tendo “excedido os níveis pré-pandémicos em alguns países da OCDE em 2023”.

A OCDE refere que a desigualdade em termos de recuperação faz com que “subsistam desafios”, ainda que a “procura turística se tenha revelado resiliente”.

Lê-se ainda que “os fluxos do turismo internacional recuperaram fortemente, prevendo-se que recuperem totalmente até ao final de 2024”. Em 2020 houve uma queda de 68,3 por cento do sector turístico, mas “no final de 2022 as chegadas dos turistas internacionais aos países da OCDE tinham recuperado para 77,3 por cento dos níveis de 2019, acima dos 66,6 por cento a nível mundial”.

Além disso, “os países da OCDE representaram 65 por cento das chegadas de turistas internacionais em 2022, contra 56 por cento em 2019, destacando-se um melhor desempenho em comparação com os países não pertencentes à OCDE desde a pandemia”.

A organização internacional dá ainda conta que, em termos globais, “estima-se que 1,3 mil milhões de turistas internacionais tenham sido registados em destinos em todo o mundo em 2023, uma recuperação para 89 por cento dos níveis pré-pandémicos”, prevendo-se ainda “que este valor atinja 1,5 mil milhões até ao final de 2024”.

Nesta recuperação lideram os países da Europa, nomeadamente Portugal, que “acolheu um recorde de 19,4 milhões de turistas internacionais”, um crescimento de 12,1 por cento em relação a 2019.

Apoios e modernização

Perante um cenário difícil como o da covid-19, a OCDE coloca o ónus da recuperação nas medidas a adoptar pelo Governo. Aponta-se a necessidade de diversificação de produtos e serviços e medidas rápidas que possam dar resposta aos impactos do turismo nas sociedades.

O relatório afirma que “muitos países actualizaram ou desenvolveram estratégias de turismo para reflectir o contexto e prioridades” no pós-pandemia, buscando “uma transição para modelos de turismo mais sustentáveis”, e adaptação “a um ambiente cada vez mais dinâmico”.

Estas novas políticas foram ainda pautadas pela “diversificação da oferta turística, atracção de novos mercados e segmentos de origem para destinos emergentes”. A OCDE defende que “são necessários investimentos significativos para reduzir o impacto ambiental das actividades turísticas”, com a necessidade de adaptação aos “impactos das alterações climáticas”.

É também indicado que “destinos e empresas de turismo precisam de apoio para acompanhar a rápida evolução tecnológica”, além de serem necessários “recursos para desenvolver as infra-estruturas de transporte necessárias para gerir melhor o desenvolvimento do turismo”.

Em matéria de recursos humanos, destaca-se a “promoção da capacidade do sector para atrair, reter e desenvolver uma mão de obra forte e sustentável”, sendo esta “outra área de atenção permanente” das autoridades.

Olhar os recursos humanos

É também realçada a importância de políticas que permitam uma melhor relação entre os turistas e as sociedades que os acolhem, sem esquecer a questão dos recursos humanos, que neste documento é bastante destacada.

Sugere-se, numa lista de pontos-chave, “integrar melhor o turismo em estratégias mais amplas de desenvolvimento económico e comunitário, a fim de responder às necessidades específicas dos trabalhadores do turismo e tornar o trabalho turístico uma opção mais atraente e viável”.

Deve-se ainda “potenciar as iniciativas do sector privado para eliminar os obstáculos ao recrutamento e retenção de trabalhadores”, além de se aplicarem “novas formações e modelos de trabalho para melhorar as condições de trabalho no sector”.

É explicado que “se estão a atenuar os desequilíbrios entre a oferta e a procura nos mercados de trabalho, com o desemprego a manter-se em níveis mínimos históricos ou próximos destes”. Assim, “este facto deverá atenuar a escassez de mão-de-obra enfrentada pelas empresas do sector do turismo, continuando a existir desafios para atrair e criar uma mão de obra forte e sustentável”.

As autoridades dos países da OCDE devem também olhar para modelos digitais e para políticas mais sustentáveis neste sector, explorando, por exemplo, “novas oportunidades para colmatar as lacunas de dados sobre o turismo”, além de “monitorizar e medir as acções que visam as prioridades ambientais e sociais, acelerando a transição para modelos de turismo mais sustentáveis”.

5 Ago 2024

Música | Orquestra Chinesa de Macau passa a ter Zhang Lie como maestro

É época de mudanças e recomeços na Orquestra Chinesa de Macau. O maestro chinês Zheng Lie, tido como um dos mais conhecidos e reputados da China e do mundo, passa a comandar a Orquestra, que já tem também nova programação para a temporada de concertos 2024/2025

 

“Maestro de primeira classe a nível nacional”. É desta forma que o Instituto Cultural (IC) descreve o novo maestro que vai comandar os destinos da Orquestra Chinesa de Macau (OCM). Zhang Lie passa a assumir o cargo de maestro e director musical numa altura em que acaba de ser anunciada, na última quinta-feira, uma nova programação para a temporada de concertos 2024/2025.

Segundo o comunicado do IC, Zhang Lie agradeceu “ao Governo da RAEM a confiança depositada”, tendo ainda manifestado “a determinação em dirigir a OCM para marcar uma nova etapa”. Actualmente Zhang Lie é director e maestro principal da Orquestra Chinesa de Nanjing e da Orquestra Chinesa de Henan.

Além disso, passou por várias orquestras de cidades do Interior da China, tendo “sido contratado por diversas instituições de ensino e grupos musicais, além de ter levado diversas orquestras a actuar no estrangeiro, com resultados notáveis”, aponta o IC.

Nas novas funções em Macau, espera-se que Zhang Lie possa levar a OCM “a iniciar um novo capítulo” e a apresentar “uma vasta gama de repertório, desde clássicos a novas obras interdisciplinares, proporcionando aos entusiastas de música uma variedade de estilos e géneros musicais tradicionais”.

Zhang Lie entrou para a lista dos “Dez Maestros Excepcionais da Música de Orquestra Chinesa”, tendo sido também conselheiro artístico e maestro convidado por inúmeras organizações musicais de várias instituições académicas, como foi o caso do Conservatório Central de Música, o Conservatório de Música da China, a Universidade de Pequim, a Universidade de Zhejiang, a Universidade de Henan e a Academia de Artes Performativas de Hong Kong.

O primeiro contacto de Zhang Lie com a música clássica deu-se nos anos 80, quando se licenciou, em 1984, no Conservatório de Música de Xi’an. Já no final dos anos 90, Zhang Lie prosseguiu os estudos no Conservatório Central de Música de Pequim.

Como compositor, Zhang Lie criou cerca de uma centena de obras para vários espectáculos e performances, desde a tradicional música de orquestra, até composições destinadas a espectáculos de dança, cinema e televisão.

Música nas Ruínas

Os bilhetes para a nova temporada de concertos da OCM começam a ser vendidos amanhã, sendo que a primeira apresentação decorre no dia 1 de Setembro com a apresentação “Esplendor de Cordas”, no grande auditório do Centro Cultural de Macau (CCM).

Apresenta-se, assim, um espectáculo composto por “belas melodias das cordas” e o “esplendor da música”, combinando instrumentos musicais chineses com ocidentais.

Zhang Lie “fez uma selecção cuidada para que o concerto não contenha apenas a filosofia e emoções associadas ao Oriente, mas também o poder e a elegância do Ocidente”, descreve-se na programação. Este espectáculo de abertura da nova temporada de concertos inclui no alinhamento o concerto de percussão, tocado em dueto, “Novo Século do Ano do Dragão – Sol”, seguindo-se a actuação da violinista Lao Li. Esta irá tocar o “Concerto de Violino nº 1” de Zhao Jiping. Jia Lei, tocador do instrumento chinês “Sheng”, apresenta a peça “Yun Shao”.

O alinhamento termina com “Sinfonia em Sizhu”, de Liu Changyuan, que promete trazer à audiência “uma atmosfera poética e graciosa de arte”.

Destaque ainda para o espectáculo ao ar livre agendado para o dia 17 de Setembro junto às Ruínas de São Paulo. “Uma Noite de Lua Cheia nas Ruínas de S. Paulo” é o nome do concerto do festival do meio-outono marcado para as 20h na escadaria do popular monumento e ponto turístico.
A OCM apresenta ao público “o popular concerto da festa do bolo lunar, interpretando uma série de músicas tradicionais”, lê-se na programação. Mais detalhes dos músicos participantes serão anunciados posteriormente.

Celebrar a RAEM

Com espectáculos marcados até Julho do próximo ano, a temporada de concertos da OCM inclui ainda o ciclo “Clássicos Intemporais”, que decorre em Maio de 2025. Assim, foi convidado o presidente do Teatro de Ópera Cantonense de Guangdong, Zeng Xiaomin, tido como a “figura principal da nova geração da ópera cantonense”.

Zeng Xiaomin irá apresentar o espectáculo “Descortinar Vozes Harmoniosas”, em colaboração com outros artistas ligados ao Teatro de Ópera Cantonense, nomeadamente Wen Ruqing, considerado actor de primeira classe a nível nacional.

No cartaz, apresenta-se também, a 11 de Janeiro, o concerto de Guqin, tido como o “instrumento músical mais sagrado na cultura clássica chinesa”, tendo, em 2003, sido classificado como Património Cultural Imaterial do Mundo pela UNESCO. O espectáculo intitulado “Elegância de Qin” será protagonizado pelo músico Chen Leiji, “destacado artista de Guqin contemporâneo”. Além disso, haverá apresentações das quatro secções principais de instrumentos de “sopro, cordas, dedilhados e percussão”, com os músicos Wu Wei, Deng Jiandong, Zhang Gaoxiang e Wang Yidong.

Destaque também para o espectáculo que celebra os 25 anos de transferência da administração portuguesa de Macau para a China, intitulado “Luzes Cintilantes, Flores Resplandecentes”, apresentando-se “quatro grandes obras clássicas da literatura chinesa”.

Segundo a programação, a intérprete de Erhu e educadora, Yu Hongmei, irá estrear a nova obra “As Paisagens de Yimeng”. Destaque para a presença da guitarrista portuguesa de fado, Marta Pereira da Costa, que irá unir forças com a Chefe de Naipe de Liuqin da Orquestra, Wei Qing, para apresentar o “Concerto Duplo de Liuqin e Guitarra Portuguesa ‘Rapsódia de Macau'”, de Kuan Nai Chung, “exibindo-se plenamente a fusão de música chinesa e ocidental”.

O cartaz da OCM não esquece o já tradicional teatro músical pensado para pais e filhos, intitulado “Varinha Mágica Musical”. Espera-se, neste contexto, uma “actuação acolhedora para crianças e adultos”.

Finalmente, a temporada encerra-se, a 26 de Julho do próximo ano, com o espectáculo “Chegada Auspiciosa”, que combina a música tradicional com o Jinghu, sendo interpretado pela solista Wang Caiyun. Esta será acompanhada por actuações de Yangqin e soprano, “criando um magnífico quadro da música tradicional”, descreve o IC.

O alinhamento será composto pelo “poema sinfónico nacional” intitulado “Adeus, Minha Concubina”, baseado em temas históricos e elementos da Ópera de Pequim. Segue-se um conjunto de músicas “A Arte da Guerra”, que convidará o público a “viajar na história e a apreciar o espírito heróico”. A professora associada de yangqin, Liu Yinxuan, apresentará o concerto “Rapsódia”, com o instrumento Yangqin. Já Wang Caiyun, tocadora de jinghu, interpretará “melodias emocionantes” de Pequim, enquanto os músicos da OCM irão apresentar “Impressões de Macau”. Este espectáculo acontece no grande auditório do CCM.

5 Ago 2024

Centro histórico | Estudo sugere zona A como alternativa de habitação

Um estudo que analisa as políticas residenciais para o centro histórico de Macau defende que a Zona A pode ser uma alternativa de habitação para “aliviar a pressão” numa área dominada por locais de interesse patrimonial. Os edifícios antigos podem dar lugar a “equipamentos públicos”, refere o estudo da Universidade Cidade de Macau

 

Como solucionar os problemas de habitação no centro histórico de Macau, perto de locais como as Ruínas de São Paulo ou Largo do Senado? Como lidar com os edifícios habitacionais que, com o tempo, se vão degradando? O académico Su Yang, no artigo intitulado “A Study on the Typological Evolution and Renewal of Residential Buildings in the Historic Center of Macao” [Um Estudo sobre a Evolução Tipológica e Renovação dos Edifícios Residenciais do Centro Histórico de Macau], defende uma mudança progressiva da população residente nesta zona da península para a Zona A dos novos aterros, uma nova cidade em construção bem perto da península de Macau e das ilhas de Taipa e Coloane.

Su Yang, da Faculdade de Inovação e Design da Universidade Cidade de Macau, acaba de publicar este estudo na revista académica “E3S Web of Conferences”.

Neste trabalho pode ler-se que “no caso dos edifícios perigosos em risco de ruína, o Governo pode adoptar o método de substituição das habitações do centro histórico pelas casas da Zona A dos novos aterros, a fim de reduzir o número de pessoas no centro histórico e aliviar a pressão sobre a capacidade de habitação na zona”.

Os prédios residenciais mais antigos que deixem de albergar pessoas podem “ser reconstruídos como equipamentos públicos para aumentar a vitalidade da zona”, sugere Su Yang. Além disso, o estudo aponta para a importância de os moradores do centro histórico “solicitarem, de forma atempada, ao Instituto Cultural a renovação dos seus edifícios habitacionais, renovando-os de acordo com as recomendações vinculativas do Instituto”.

O académico defende também que “a renovação dos edifícios de habitação no centro histórico deve ser conduzida pelos próprios residentes, com subsídios do Governo e mediante recomendações vinculativas”, é referido ainda.

Renovar aos poucos

No contexto da Lei de Salvaguarda do Património Cultural de Macau, o artigo defende a melhoria contínua da legislação relativa à defesa dos edifícios de interesse histórico “para colmatar lacunas”, devendo ser propostos “programas de planeamento urbano” para a renovação dos prédios residenciais.

Porém, o estudo fala da necessidade de uma remodelação faseada. “É necessário determinar qual a verdadeira procura de habitação por parte dos residentes do centro histórico, garantindo-se a protecção do ambiente histórico e cultural dentro da satisfação das necessidades de habitação dos residentes.”

O estudo destaca a “importância da participação dos residentes no processo de renovação”, devendo-se apostar em “programas de renovação progressiva e em pequena escala”, ao invés de “adoptar um programa de renovação em grande escala”.

O centro histórico de Macau, para Su Yang, “nunca deveria ser objecto de grandes demolições e construções”, necessitando de ser “renovado para a melhoria contínua da capacidade de acolhimento e satisfazer o nível de vida cada vez mais elevado da população”.

O estudo chama ainda a atenção para a importância do trabalho desenvolvido pelo Instituto para os Assuntos Municipais, no “embelezamento do ambiente das zonas residenciais, resolvendo o problema dos becos sujos entre edifícios”. É também referida a necessidade de “remover as habitações ilegais e eliminar a construção desordenada de edifícios”.

Sucesso da Almeida Ribeiro

A histórica avenida Almeida Ribeiro, zona comercial por excelência ao longo de séculos, é o caso de estudo apresentado por Su Yang, que destaca o facto de as fachadas terem sido preservadas, na sua grande maioria, mantendo-se o espírito antigo de zona de comércio. O estudo realça o exemplo da preservação da tradicional Casa de Penhores Tak Seng On.

“Mantiveram-se as fachadas arquitectónicas originais dos edifícios da Avenida Almeida Ribeiro, o que permitiu manter as características originais e uma atmosfera comercial forte. As fachadas dos edifícios, com padrões feitos de tijolo português e alguns sinais de arquitectura chinesa, tornaram-se nas principais características de Macau.”

Desta forma, mantiveram-se “as fachadas originais das zonas residenciais que foram transformadas em espaços de cultura, reforçando a vitalidade da avenida e satisfazendo as necessidades emotivas dos habitantes”. Porém, “não se registaram alterações no interior dos edifícios de habitação”, denota Su Yang.

Sendo o coração da península de Macau desde o início do século XIX, a Avenida Almeida Ribeiro sofreu várias remodelações ao longo do século XX, como destaca Su Yang, sendo que os edifícios em ruas adjacentes sofreram “diferentes dinâmicas”. “A maior parte dos edifícios situados entre o Largo do Senado e o Porto Interior foram construídos entre os anos de 1920 e 1930, enquanto outros foram-nos entre os anos de 1950 e 1960”, é acrescentado.

Nas primeiras três décadas do século XX, “a maioria dos edifícios construídos [nesta zona] tinham três andares, com fachadas num estilo clássico e eclético e decoração ocidental”, sendo construídos com materiais como tijolo e madeira”, em que a estrutura era feita com vigas de madeira, “um método comum nas casas chinesas de Macau”. Trata-se de edifícios “com estilo chinês e fachadas ao estilo ocidental”. Su Yang frisa ainda que anos mais tarde, já nos anos 80, “o antigo e o novo entrelaçaram-se de forma única na Avenida de Almeida Ribeiro”, sendo que já havia “estilos diferentes de edifícios”, nomeadamente os tradicionais chineses, bem como os “neoclássicos e modernistas”.

O estudo de Su Yang faz ainda uma retrospectiva sobre o modelo de construção das habitações desde que os portugueses pisaram, pela primeira vez, em Macau, no século XVI. Nessa altura, a península já tinha alguns aglomerados populacionais, como pequenas aldeias, existindo sobretudo “cabanas de colmo”, com bambu.

Seguiu-se um processo de urbanização fomentado pelos portugueses, já com um espírito europeu e medieval, surgindo “uma cidade bem fortificada”.

Em termos gerais, o estudo revela optimismo quanto à preservação de edifícios residenciais em consonância com o património envolvente. “No futuro, Macau vai continuar a melhorar leis e regulamentos relevantes, melhorando a parte do planeamento urbano dos edifícios residenciais do centro histórico.”

O estudo conclui também que “através da renovação contínua, o centro histórico de Macau tornar-se-á ainda melhor”, sendo “importante preservar o património e monumentos” nesta zona classificada pela UNESCO, bem como “equilibrar a renovação dos edifícios residenciais”.

1 Ago 2024

Itália-China | Visita de Meloni pode marcar nova relação com Pequim

Georgia Meloni termina hoje a visita oficial a Pequim. Apesar do acordo de cooperação assinado, não se vislumbra o regresso imediato da Itália à iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”. Analistas ouvidos pelo HM referem que a aproximação italiana é “surpreendente”, pautada por interesses económicos, sobretudo do sector automóvel, marcando a entrada numa “nova fase”

 

A primeira-ministra italiana, Georgia Meloni, está em Pequim desde domingo para uma visita oficial que termina hoje, e que não só é a primeira visita na qualidade de governante como é a primeira desde que Itália deixou a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”.

Analistas contactados pelo HM consideram que nesta ida à China está em causa a tentativa de um novo posicionamento estratégico de Itália, numa atitude “pragmática” e influenciada pelos interesses de alguns sectores económicos chave, como a indústria automóvel italiana.

Na segunda-feira decorreu um encontro com o Presidente Xi Jinping, depois de ter sido assinado um acordo de cooperação por um período de três anos. Porém, à margem deste encontro, Georgia Meloni frisou que a ida a Pequim não significa que Itália volte a aderir a “Uma Faixa, Uma Rota”.

A governante disse, segundo a agência Lusa, que o afastamento da iniciativa não afecta os laços com Pequim. Meloni adiantou que a participação do seu país na iniciativa de Pequim “evidentemente não funcionou”, tendo em conta o défice comercial de Itália com a China e o facto de outros países com laços comerciais mais intensos com o país não fazerem parte da iniciativa.

“A minha decisão foi uma escolha coerente, mas sempre disse que esta não era a única forma de ter relações ou de fomentar as relações com a China”, acrescentou.

No domingo, juntamente com o homólogo chinês, Li Qiang, Meloni assinou um plano de três anos para dar um novo impulso às relações bilaterais. Ontem, Meloni apresentou o pacto como uma “alternativa” à iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, para “reconstruir laços mais estreitos” e “abrir uma nova fase”.

“Acredito que as relações devem também crescer no respeito e na lealdade dos nossos laços económicos e comerciais”, disse a política italiana, que apontou especificamente acordos para a protecção das denominações de origem ou da propriedade intelectual.

Meloni assinou vários pactos com a China em matérias como a segurança alimentar, questões ambientais, educação e veículos eléctricos, este último um “acordo-quadro” cuja implementação dependerá de negociações técnicas.

Segundo a chefe do governo, a Itália pretende “reforçar a cooperação com a China, mas fazê-lo com o objectivo de reequilibrar a balança comercial”, face a um défice de longa data, e também no âmbito do investimento: “Actualmente, os investimentos italianos são três vezes superiores aos investimentos chineses em Itália”, sublinhou.

“Queremos trabalhar para eliminar os obstáculos ao acesso dos nossos produtos ao mercado chinês e garantir a igualdade de tratamento das nossas empresas [na China]”, acrescentou.

Questão de pragmatismo

Ao HM, Luís Bernardino, especialista em relações internacionais e académico da Universidade Autónoma de Lisboa, entende estar em causa uma “nova dimensão estratégica” no relacionamento entre as duas nações. Para o académico, a saída de Itália da iniciativa chinesa foi algo “precipitada”.

“Esta política macroeconómica assinada pelo Presidente Xi Jinping coloca Itália, pela sua relevância geoestratégica e geopolítica, no caminho da cooperação estratégica da China com o mundo ocidental, especialmente na dimensão económica e comercial, não só pelo papel da Itália na Europa e da política comercial da União Europeia (UE), que já merecia especial destaque, mas na relação comercial com o Ocidente em áreas estratégicas como a energia e a produção automóvel.”

Luís Bernardino aponta que a Itália “continua interessada em desenvolver um relacionamento económico forte com a China e tornar-se, no contexto do G7 e da UE, um actor relevante numa ‘nova’ dimensão estratégica que releva no acordo agora assinado”. O académico destaca o foco na “poderosa indústria automóvel italiana e na venda de veículos eléctricos que se tornaram símbolo de crescentes tensões comerciais entre a China e a UE”.

Luís Bernardino recordou que, antes da ida de Meloni a Pequim, já a primeira-ministra se tinha reunido com o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, em Nova Deli, em Setembro do ano passado, por ocasião da cimeira do G20. “Tudo aponta para que Itália queira ter, no contexto da política externa e da política económica global, um papel mais relevante na aproximação ao Oriente. Teremos muito em breve novos sinais desta cooperação estratégica entre a China e a Itália.”

Já Jorge Tavares da Silva, professor assistente na Universidade da Beira Interior entende ser “surpreendente” a aproximação da Itália à China nesta fase, mesmo estando de fora da iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” e após “as relações bilaterais se terem deteriorado”.

“Trata-se de uma acção de ‘realpolitik’, pragmatismo, em que estão em causa os interesses da Itália em primeiro lugar, mais do que os interesses da Europa. Presumo que haverá aqui alguma pressão dos lóbis económicos para que haja alguma abertura económica, cujo corte de relações prejudica seriamente certas áreas de negócio. O sector automóvel italiano pode estar por detrás deste processo.”

Jorge Tavares da Silva dá o exemplo do grupo automóvel “Stellantis”, que engloba a Fiat, que “recentemente anunciou uma ‘joint-venture’ com a Leapmotor, uma startup chinesa de carros eléctricos, para vender este tipo de viaturas na Europa. É a força do dinheiro a pressionar as vontades políticas. Em boa verdade, é isto que muitos países europeus fizeram, nomeadamente a França de Mácron ou a Espanha de Sanches, para não falar da Hungria de Orbán”, declarou Jorge Tavares da Silva.

Para o docente, as preocupações de Itália “são muito idênticas às da UE, com uma dependência comercial enorme com este gigante asiático e em que as relações são assimétricas”. “Pequim certamente que aproveitará este contexto, para ganhar mais alguns pontos para a sua política externa. Resta saber se estas acções não abrem fissuram na unidade da UE ou se abrem uma frente de desunião”, acrescentou.

Tiago André Lopes, professor na Universidade Lusíada do Porto, destaca que o acordo assinado por Meloni e Xi Jinping “visa um aprofundamento multinível e multisectorial das relações entre os dois países”, estando “em rota de colisão com os intentos da Comissão Europeia, que tem falado sobre a necessidade de se fazer uma desacoplagem económica entre os 27 [Estados-membros da UE] e a China”.

Tiago André Lopes entende que Meloni “está a copiar a fórmula de Viktor Órban, que garante a participação da Hungria nos fóruns do chamado Norte Global (UE, OTAN, OCDE, OSCE), sem abdicar de ter relações permanentes, institucionais e estáveis com Pequim – Moscovo e Teerão de modo a ter sempre várias possibilidades”.

O acordo assinado é também “um braço de ferro silencioso com Bruxelas, particularmente a Alta Representante da UE, assinalando que as escolhas italianas serão o reflexo daquilo que o Parlamento e o Governo de Itália quiserem”. Em termos económicos, o acordo “tenta relançar a indústria italiana, permitindo, ao mesmo tempo, à China firmar uma nova parceria que se pode revelar útil no Conselho Europeu onde todos os Estados têm direito ao veto”.

Aposta nos automóveis

Meloni viajou ontem para Xangai, onde procurou atrair mais investimentos chineses para, por exemplo, o sector automóvel.

Segundo a agência Xinhua, Xi Jinping declarou na segunda-feira que “a China e Itália se encontram nas duas extremidades da antiga Rota da Seda”, acrescentando que os dois países “devem defender e promover o espírito da Rota da Seda, encarar e desenvolver as relações bilaterais a partir de uma dimensão histórica, altura estratégica e perspectiva de longo prazo, e fazer com que as suas relações avancem com firmeza e longevidade”.

Xi Jinping disse ainda que “a China está disposta a trabalhar com a Itália para optimizar e actualizar a cooperação tradicional em comércio e investimento, industrialização, inovação tecnológica e outros campos”, bem como “explorar áreas emergentes, como veículos eléctricos e inteligência artificial”.

O Presidente chinês sublinhou que “as empresas italianas são bem-vindas para investir na China” e que o país está disposto “a importar mais produtos de qualidade da Itália”. Xi Jinping frisou esperar que Itália “também proporcione um ambiente empresarial justo, transparente, seguro e não discriminatório para as empresas chinesas se desenvolverem” no país, rematou.

Por outro lado, o Global Times, jornal oficial do Partido Comunista Chinês, descreveu a chegada de Meloni à China como uma oportunidade para “esclarecer mal-entendidos”. Especialistas chineses citados pela imprensa estatal sugeriram que a decisão de Roma se deveu “à influência dos Estados Unidos da América e de outras potências ocidentais” e não à recusa da Itália em cooperar com o país asiático ou à ideologia da chefe do Governo italiano. Com agências

31 Jul 2024

Gripe | Uso de máscara recomendado apesar de diminuição de imunidade

Apesar de reconhecer que o uso prolongado de máscaras diminuiu a imunidade colectiva da população, e com a gripe a aumentar 500 por cento em Junho, as recomendações do ano passado que aconselham o uso são para manter. Nova variante FLuQE de covid-19 detectada em Macau, sem aumento de casos graves

 

Em Junho, os casos de gripe voltaram a ter um aumento exponencial de 500 por cento em relação ao mesmo mês do ano passado e, ainda assim, com uma descida de 62,2 por cento em relação a Maio deste ano. Já em Abril, as autoridades davam conta da sobrelotação das urgências do Hospital São Januário com casos severos de gripe e covid-19, entre eles 5.570 crianças. Na altura, a médica Leong Iek Hou, que dirige a Divisão de Prevenção e Controlo de Doenças Transmissíveis, atribuiu esta situação ao enfraquecimento da imunidade de grupo da população devido ao uso prolongado de máscaras.

Face a este cenário, o HM perguntou aos Serviços de Saúde (SS) se havia planos para lançar uma campanha de promoção para um uso mais pontual e reduzido de máscaras, em especial para crianças.

O organismo dirigido por Alvis Lo começou por enumerar várias razões para a redução das defesas imunológicas. “A diminuição da imunidade colectiva contra doenças transmissíveis do trato respiratório superior pode ser causada por vários factores, como o uso prolongado de máscaras, a melhoria da qualidade da higiene pessoal dos residentes, a manutenção de uma distância social adequada, o reforço da consciência sobre a prevenção de infecções, a mutação das estirpes prevalentes do SARS-CoV-2 (Covid-19), entre outras situações”, indicaram os SS.

Perante a multiplicidade de factores, as autoridades concluem que “tudo isto reduz a possibilidade de os residentes serem expostos a vírus respiratórios infecciosos e, consequentemente, a imunidade gerada pela infecção natural”.

Porém, em relação aos grupos de alto risco, “nomeadamente crianças, idosos e portadores de doenças crónicas, as medidas mais eficazes são a vacinação anual contra a gripe sazonal e a vacinação atempada da vacina contra a covid-19”, é indicado.

Equipa que não muda

Mesmo com os números da gripe a aumentar exponencialmente, os SS vão continuar a apostar nas orientações emitidas no final de Abril do ano passado, realçando que mesmo face às “orientações sobre o uso de máscara para a prevenção de doenças transmissíveis do tracto respiratório”, “os residentes podem decidir o uso de máscara de acordo com a situação real”.

Entre as situações em que as autoridades indicam não ser necessário usar máscara, o guia de orientações refere actividades ao ar livre ou quando a máscara causar dificuldades respiratórias. Além disso, é apontado que crianças com 3 anos de idade, ou inferior estão dispensadas do uso de máscara.

Ainda assim, permanecem as recomendações do uso de máscara nos transportes públicos, para cidadãos que não tenham recebido a vacina contra a covid-19 e gripe, idosos, grávidas, pessoas com doenças crónicas enquanto estiverem em locais com grande aglomeração de pessoas, especialmente durante os picos de transmissão de covid-19 e gripe.

A outra barreira

Os SS sublinham que a forma mais eficaz de combater os efeitos dos vários tipos de gripe passa por focar a atenção nas pessoas mais vulneráveis e na vacinação. “No que diz respeito à gripe, os Serviços de Saúde dão prioridade aos grupos de alto risco para a administração da vacina antigripal antes do período de pico da gripe, enviando, por iniciativa própria, pessoal médico e de enfermagem a todas as escolas, creches e lares de Macau para vacinação colectiva”.

O organismo indica que tem incentivado, através dos profissionais de saúde da linha da frente, “os grupos de alto risco a vacinarem-se durante as consultas médicas, bem como aumentado a taxa de vacinação da população através de vários meios de divulgação”.

O organismo liderado por Alvis Lo afirmou ao HM que “no âmbito do programa de vacinação contra a gripe desta temporada, foram administradas cerca de 175 mil doses, o que representa um aumento de cerca de 20 por cento em comparação com o período homólogo do ano passado”. Em relação aos grupos de alto risco, a taxa de vacinação também aumentou. Nos lares de idosos, foi superior a 90 por cento, “nos jardins-de-infância e escolas primárias aproximou-se dos 80 por cento, nas crianças com menos de três anos e nos idosos com mais de 65 anos ultrapassou os 50 por cento”, segundos os dados revelados ao HM pelos SS.

Sob vigilância

Em meados deste mês, o director-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, alertou para o perigo da redução da taxa de vacinação contra a covid-19, indicando que as diversas variantes do coronavírus continuam a matar cerca de 1.700 pessoas por semana a nível global. Desde o início da pandemia, a OMS reportou mais de 7 milhões de mortes por infecção de covid-19, apesar de realçar que a verdadeiro impacto deve ser bem superior. Apesar da taxa de mortalidade não ser elevada actualmente, Tedros Adhanom Ghebreyesus afirmou que “os dados mostram que a cobertura da vacina tem caído entre profissionais de saúde e pessoas com mais de 60 anos de idade, os dois grupos que correm mais riscos”.

A nova variante FLuQE (ou KP.3) da covid-19, que se tornou prevalente na Austrália e que a OMS classificou em Maio como uma “variante sob vigilância”, foi também detectada em Macau.

“De acordo com os dados do Laboratório de Saúde Pública, entre as amostras positivas à SARS-CoV-2 no período de 12 e 25 de Junho em Macau, 100 por cento das variantes pertenceram à sub-linhagem da Ómicron JN.1, das quais, a variante Ómicron KP.3 representou 8,4 por cento”, segundo dados facultados ao HM pelos SS.

As autoridades de saúde salientam que “a variante JN.1 tornou-se a mais contagiosa, em relação às outras variantes, mas não subiu a proporção de casos graves, a maioria das pessoas infectadas tiveram sintomas ligeiros ou foram consideradas assintomáticas”.

Na passada quarta-feira, o regulador britânico para a saúde aprovou a vacina da Pfizer/BioNTech para a subvariante JN.1 da covid-19, uma tendência mundial de adaptação à constante mutação do coronavírus. Para já, os SS afirmam que “têm prestado a maior atenção ao estudo e desenvolvimento mais recente da vacina contra a covid-19, de forma a efectuar atempadamente os devidos ajustamentos”, não confirmando que vão adquirir lotes da nova vacina. No entanto, o organismo garantiu ao HM que “a vacina contra a variante XBB da COVID-19, fornecida pelos Serviços de Saúde, ainda tem efeito de protecção contra a variante JN.1, por isso, os Serviços de Saúde apelam às pessoas que ainda não foram vacinadas para se submeterem o mais rápido possível à vacina”.

Viver bem

Além da vacinação, os SS fazem algumas recomendações para diminuir as infecções de doenças do trato respiratório superior, nomeadamente, gripe e covid-19. As recomendações passam por “assegurar que todos os membros do agregado familiar têm um sono adequado, alimentação equilibrada e prática frequente de desporto”, e que se mantenha “boa ventilação de ar e higiene ambiental”.

É também indicada a importância de manter o hábito de “boa higiene pessoal e lavar frequentemente as mãos”, assim como cobrir a boca e o nariz quando espirrar ou tossir, bem como manusear cautelosamente as secreções orais e nasais expelidas com um lenço de papel e deitá-lo num caixote de lixo com tampa e depois limpar imediatamente as mãos”.

Entre as recomendações, mantém-se o alerta para evitar lugares densamente povoados, sugestão difícil de cumprir especialmente para quem reside em áreas de grande fluxo de turistas.

30 Jul 2024

Rodrigo Brum, ex-secretário-geral-adjunto do Fórum Macau: “Grande Baía é da máxima importância”

Depois da experiência no Fórum Macau, Rodrigo Brum está à frente da nova Câmara de Comércio e Indústria dos Países de Língua Portuguesa na Grande Baía. Sobre o projecto, defende mais divulgação e que os países lusófonos invistam em bloco para materializar a verdadeira expressão do seu peso económico

 

O projecto da Grande Baía foi anunciado em 2017. Tem havido a evolução certa ou há ainda muito a fazer, no relacionamento com Macau?

Evolução, para mim, é sempre algo positivo. Obviamente, que estes anos incluíram dois ou três de covid-19, e há que ter isso em conta. Considero que o sucesso de Macau está ligado ao sucesso da Grande Baía.

Estão interligados.

Sim. Em certa medida, até o sucesso da própria China. Há três grandes projectos de iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, da qual todos ouvem falar porque tem sido lançado nos últimos dez anos. Além disso, tem um carácter mais internacional porque atravessa vários países e continentes, e envolve infra-estruturas e financiamentos em inúmeros países. Em Macau todos falam da Grande Baía, mas em Portugal quase não se ouve falar do projecto. Mas os dois estão muito interligados, porque a China vê a Grande Baía como o fornecedor de produção para a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”. Portanto, o comércio que vai surgir com a “Faixa e Rota”, tem como base muito do sucesso e produção que resultar da Grande Baía.

Considera que o sul da China continua a ser um vector de dinâmica económica.

É efectivamente. Mas há ainda uma terceira iniciativa chinesa que é o Fórum Macau. Essa é a ponte de ligação das outras duas iniciativas aos países de língua portuguesa. Mesmo em Macau, há um pouco o desconhecimento destas várias realidades e da interligação entre eles. Em relação à própria Grande Baía, já nos anos 90, no período de administração portuguesa, e eu fiz parte desse processo, falávamos muito no delta do rio das pérolas como aquele triângulo entre Cantão, Hong Kong e Macau, a fim de valorizar a posição de Macau com estas duas regiões. Vale notar que em 1 por cento de área da China, ocupada pela Grande Baía, temos cerca de 5 por cento da população, aproximadamente 86 milhões de habitantes, mas temos 11 ou 12 por cento do PIB (Produto Interno Bruto) chinês. Estamos a caminhar para 15 por cento, e esse é, de facto, o motor da China.

Que explicação encontra para estas estatísticas?

Por ser a área mais dinâmica do país, que tem maior crescimento de PIB da China. Quando, em 2019, arrancámos com este projecto, numa das primeiras vezes que falei deste assunto referi dez por cento de PIB, o que já era significativo. Esse dinamismo traduz-se no facto de o PIB naquela área, que tem uma dimensão significativa, terá uma expressão cada vez maior. Isto demonstra que a área da Grande Baía é de máxima importância na China, empresas e países que querem fazer negócio com o país. Este projecto não tem ainda a divulgação equiparada ao peso e importância que realmente tem. Relativamente aos países de língua portuguesa, a Grande Baía é também uma área importante, como é para todos os países. Estes países têm um interesse ainda maior tendo em conta que a China determinou que Macau é o elo de ligação com os países de língua portuguesa. Não é o único ponto e nem é obrigatório que se use Macau [como plataforma comercial), mas há uma decisão política no sentido de privilegiar o território nesse sentido. Então, há essa vantagem.

São países desiguais em termos económicos, e também o serão em matéria de investimento. Como se podem reduzir esses desequilíbrios?

Não queria fazer propaganda das minhas funções (risos), mas tenho de falar da nova Câmara de Comércio e Indústria dos Países de Língua Portuguesa (PLP) na Grande Baía. Essa foi a razão de ser dessa Câmara, dado existir uma desigualdade muito significativa entre as diferentes velocidades e dimensões dos diversos países. Desde logo, o Brasil que representa 75 a 80 por cento do comércio do bloco dos países portugueses com a China, percentagem essa que tem vindo a aumentar. O segundo país é Angola, com cerca de 15 por cento do comércio, mas desequilibrado, pois as exportações incidem no petróleo; e depois os restantes sete países que andam ali entre cinco a seis por cento. O conceito de PLP não está, aliás, devidamente clarificado nem é facilmente reconhecido pelas pessoas, sendo confundido muitas vezes com o termo PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa). É importante perceber que há um núcleo de países que representam a quarta ou a quinta língua mais falada na Internet e o idioma mais falado do hemisfério sul, pelo que seria importante que o conceito de PLP fosse tão facilmente identificado como é o de PALOP ainda hoje [anos depois da sua criação].

Mas voltando às desigualdades. Como se podem combater?

Uma das formas é o funcionamento em conjunto. Criando organizações de âmbito comercial e económico que articulem estes nove países de forma englobada, porque para os PLP, se estiverem cada um a negociar com a China, é absolutamente insignificante para o país. Mas até para a Grande Baía é insignificante, para um importador em Xangai por exemplo. Mas se for feito em conjunto gera-se uma força maior para negociar com a China. Os PLP devem apoiar-se uns aos outros e funcionar de forma articulada. Isso também é vantajoso para a China, que não tem que passar pelas dificuldades de relacionamento com as pequenas economias e produções. Deve-se dialogar de forma quase bilateral entre o bloco dos PLP e a China. Há documentos chineses que falam nesta relação bilateral e não multilateral.

Ainda não se pensa em bloco?

Pensa-se ainda muito pouco, e é preciso que organizações como esta nova câmara de comércio venham a conseguir com que os PLP se articulem. Isso não invalida que haja situações em que países com especificidades não tenham de articular com os outros, como é o caso do Brasil que exporta soja em grandes quantidades para a China e tem um mercado e comércio externo com o país muitíssimo desenvolvido, e com um peso significativo para a própria China. Na questão do petróleo temos Angola. Mas na maioria das situações há vantagens em trabalhar em conjunto. São Tomé e Príncipe já foi um dos seis maiores produtos mundiais de cacau, mas Angola ou a Guiné Equatorial, por exemplo, também produzem e podem exportar. Se houver um desenvolvimento destas indústrias, a sua posição face a mercados como o chinês seria vantajosa.

Macau consegue responder aos desígnios da China na prestação de serviços para a plataforma comercial? Há, por exemplo, muitos entraves para a contratação de pessoas de fora.

Macau tem ainda muito trabalho a fazer para poder cumprir cabalmente os desígnios que lhe são estabelecidos no âmbito da Grande Baía, e que são orientações de Pequim. Estou certo que os responsáveis sabem ainda o longo caminho que têm de percorrer, e é importante que o façam rapidamente e com dinamismo. Em Novembro do ano passado, nas comemorações do Fórum Macau, fiz algumas sugestões, tendo falado na possibilidade de contratações de técnicos ou talentos, como se diz em Macau, dos PLP, sem receios de que haja uma avalanche de gente a ir para Macau. Falamos de não haver qualquer receio em aceitar dezenas de especialistas, alguns com formação feita até em universidades de Macau, mas que sendo dos PLP podem mais facilmente fazer a ponte e acelerar a dinâmica de relacionamento entre a China e os PLP. Falamos de nove países, se forem dezenas de cada país, são umas meras centenas de pessoas. Que bom seria para Macau se tivéssemos umas 200 ou 300 pessoas qualificadas no território. Isso não causava qualquer perturbação ao mercado laboral local.

Os próprios delegados do Fórum Macau perderam a residência, por exemplo.

Isso é posterior ao meu tempo no Fórum, li notícias sobre o caso, e foi encontrada uma solução. Não foi sei exactamente o que aconteceu. No meu caso, entro sem problema porque sou residente permanente.

Esteve em Macau nos anos 90, nomeadamente no Parque Industrial da Concórdia, além de ter trabalhado com o secretário adjunto para a Economia e Finanças. O futuro passava já pela integração regional.

O projecto da Sociedade do Parque Industrial da Concórdia, que já sofreu alterações, era muito anterior à minha presidência da entidade. Quando assumi a presidência do parque não estavam sequer as infra-estruturas completas, não passava de um aterro em Coloane, com uma componente industrial e imobiliária, sendo esta maior. Eram 13 hectares que ainda lá estão. O parque correspondia a um terço da dimensão desse aterro destinado à zona industrial. Quando saí tinha contratualizado todos os lotes do parque industrial e respectivas infra-estruturas. Essas indústrias ainda lá estão, não sei se estão operacionais.

Mas o sector industrial poderia ter mantido alguma expressão na economia?

Não é fácil. Já no tempo da Administração portuguesa a diversificação era palavra de ordem. É evidente que a dimensão que o jogo tomou, especialmente após 2006, absolutamente espectacular, tornou esta concentração mais agradável do que no tempo da Administração portuguesa. O jogo nesse tempo tinha sempre cerca de 50 por cento de peso no que diz respeito aos impostos recolhidos aos casinos. Se já havia a pressão com a diversificação, maior é agora, contando que Macau venha a ter também uma economia virada para o turismo de conferências e realização de eventos. Continuará a ser necessário apostar na diversificação e até em termos de serviços, articulado com o projecto da Grande Baía.

Que comentário faz a propósito da VI Conferência Ministerial do Fórum Macau?

É importante que tenha sido relançada a actividade que o fórum vinha desenvolvendo nos últimos anos de forma crescente. Houve naturalmente uma repercussão dos anos de paragem devido à pandemia, acrescido do facto de que houve um adiamento na realização da conferência e definição de novas medidas. Mas estas são muito importantes especialmente se tivermos em conta que essas medidas são sempre para cumprir. Com maior ou menor impacto, até à realização da próxima Conferência Ministerial, essas medidas estarão implementadas e é importante que empresas e países analisem e aproveitem as oportunidades que são transmitidas através dessas medidas.

29 Jul 2024

CPLP | Destacado progresso da Guiné Equatorial no português

Decorreu na sexta-feira passada a 29ª reunião ordinária do conselho de ministros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, da qual Macau é observador consultivo. Das decisões destaca-se os progressos da Guiné Equatorial no ensino e dinamização do português e a necessidade de intercâmbio entre escolas na área da língua portuguesa

 

Foi desde o início uma questão polémica. A Guiné Equatorial, país na África Central liderado há décadas por Teodoro Obiang, passou a fazer parte da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em 2014, sem que a população falasse português, ou que o idioma fosse língua oficial. Na grande maioria, as línguas mais comuns são o fangue e o pidgin inglês, enquanto o espanhol e francês são línguas oficiais.

Porém, ligações históricas a Portugal, que remontam ao século XV, foram determinantes para a decisão.

Segundo as conclusões da última reunião do conselho de ministros da CPLP, decorrida em São Tomé e Príncipe no passado dia 19, os membros “congratularam-se com todos os esforços na expansão da língua portuguesa na Guiné Equatorial, que contou com o apoio inestimável do Camões, I.P. [Camões – Instituto da Cooperação e da Língua], e do Brasil”.

Estes esforços passaram, segundo o comunicado oficial das conclusões publicado no portal da CPLP, pela “revisão dos currículos de ensino, a criação de uma licenciatura em Língua Portuguesa na Universidade Nacional, a introdução da disciplina de Português no ano lectivo de 2024/2025”. O país apostou também na “formação de funcionários e membros do Governo em leitura e compreensão do Português, bem como o intercâmbio de funcionários do Governo com São Tomé e Príncipe (30), Cabo Verde (40) e Angola (40)”.

Além disso, foi realizada “uma campanha de recolha de livros e manuais em língua portuguesa, que contou com a solidariedade do Governo português e o apoio de todos os Estados-Membros, para a dotação de obras neste idioma nas escolas e bibliotecas da Guiné Equatorial”. O país africano desenvolveu ainda “acções concretas adoptadas para fortalecer o pilar económico da CPLP”, e que terão contribuído para “a integração económica entre os Estados-Membros e para o desenvolvimento sustentável do país”.

Os membros “congratularam-se” também pela passagem do décimo aniversário de adesão do país como membro de pleno direito da CPLP, algo que aconteceu na X Conferência de Chefes de Estado e de Governo, realizada, em Díli, Timor-Leste, a 23 de Julho de 2014.

Na reunião da passada semana participaram os ministros dos Negócios Estrangeiros e Relações Exteriores de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e ainda o Secretário Executivo da CPLP. Macau, não sendo país, mas tendo o português como língua oficial, é apenas membro consultivo da CPLP através de “comissões temáticas”, neste caso duas, levadas a cabo pela Universidade de São José e do Instituto Internacional de Macau.

A fim de melhor integrar a Guiné Equatorial na entidade de matriz política, fez-se um programa de apoio. Nesse contexto, os membros destacaram ainda, na reunião do dia 19, “o esforço [da Guiné Equatorial] do planeamento da nova etapa de cooperação e pelo alargamento da designação dos ‘Pontos Focais’ para todos os sectores de cooperação”.

Além disso, o país africano solicitou a realização do “Seminário de Capacitação dos Pontos Focais Nacionais”, que decorreu nos dias 9 e 10 de Julho deste ano em Malabo, capital da Guine Equatorial, com o apoio do Brasil. Este evento visou “reforçar o conhecimento e a capacidade técnica dos pontos focais sectoriais nacionais no acompanhamento e aprofundamento da cooperação nas respectivas áreas de competência”.

Tratou-se de uma iniciativa que contribuiu “para a efectiva participação da Guiné Equatorial nas diversas reuniões estatutárias e para a concretização da nova etapa do processo de plena integração”. O país nomeou ainda o primeiro secretário permanente para a CPLP, Pedro Ela Nguema Bea, indicado pelo Senado do país. Recorde-se que muito recentemente a Guiné Equatorial passou a estar representada no Fórum Macau no contexto da adesão à CPLP.

A língua é um país

Uma vez que a CPLP aborda várias áreas, que passam pela segurança alimentar, ensino, ambiente e defesa, entre outras, o conselho de ministros abordou pontos relacionados com o ensino e dinamização do português.

Uma das iniciativas abordadas foi o projecto-piloto intitulado “Rede de Escolas Amigas da CPLP”, tendo sido reconhecidos “os notáveis progressos na implementação”.

Numa resolução própria, foi ainda encorajado “o secretariado executivo, em colaboração com os Estados-Membros, o IILP [Instituto Internacional da Língua Portuguesa] e demais parceiros, a prosseguirem com determinação os esforços para a boa conclusão do projeto piloto da Rede de Escolas Amigas da CPLP, visando a sua posterior generalização”.

A ideia integrar mais “estabelecimentos de ensino de todos os níveis, de todos os Estados-Membros da CPLP, bem como de países terceiros, particularmente aqueles com estatuto de observadores associados da CPLP”.

Foi ainda pedido um olhar mais atento às “potencialidades do Fundo Especial para o apoio na realização de projectos e iniciativas” no âmbito desta Rede, tal como “concursos de escrita criativa (no âmbito do) Dia Mundial da Língua Portuguesa, programas de conversa com escritores e as Olimpíadas de Matemática da CPLP”.

O projecto “Rede de Escolas Amigas da CPLP” foi lançado no ano passado e visa, entre vários objectivos, promover a língua portuguesa, acolhendo escolas do ensino primário ao secundário e em regime técnico-profissional, públicas ou privadas. Actualmente, apenas 22 escolas fazem parte desta rede.

Ainda na vertente de ensino, da reunião do conselho de ministros da CPLP saíram ideias sobre a necessidade de “concertação, entre os Estados-Membros, para promover a certificação cruzada entre cursos de ensino superior e o lançamento do programa de intercâmbio de estudantes universitários CPLP ‘Frátria’.

Mobilidade a rodos

Foi ainda destacada a implementação do Acordo sobre Mobilidade entre os Estados-Membros da CPLP, caracterizado como “um passo firme para constituir uma verdadeira comunidade de povos, abrindo caminho à circulação de pessoas, cultura, valores, princípios e conhecimento”.

Países membros da CPLP, como foi o caso de Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique e Portugal, alteraram leis para a execução do referido acordo, enquanto no caso de São Tomé e Príncipe, a legislação já previa a livre circulação dos cidadãos da CPLP. Foi ainda encorajado “todos os Estados-Membros a continuar a promover a sua implementação, dentro do princípio da flexibilidade variável nele consagrado”.

Desta reunião saiu também a aprovação de oito novas entidades que passam, desta forma, a ter estatuto de observador consultivo. São elas a Associação Galega da Língua, Associação Portuguesa de Recursos Hídricos, Associação CFA Portugal (Associação de Consultores Financeiros Certificados Portugal), Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, Federação Portuguesa de Ginástica, Fundação Biblioteca Nacional, Instituto Brasileiro de Direito da Família, Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Económicas.

25 Jul 2024

China-UE | Investimento chinês na Europa visa “transferência de conhecimento”

Os investimentos chineses nos sectores da alimentação e agricultura têm como objectivo principal a transferência de conhecimento da Europa para o país, numa estratégia que ultrapassa o domínio comercial. Esta é a conclusão de um estudo publicado na revista “Asian Perspective”

 

Quais os grandes objectivos da China quando investe nas áreas da alimentação e agricultura na Europa? Foi a esta pergunta que três investigadores procuraram responder no artigo académico “Chinese investment in European Agricultural Infrastructure” [Investimento Chinês nas Infra-estruturas Agrícolas Europeias], publicado na revista “Asian Perspective” da Imprensa da Universidade John Hopkins. Os autores do estudo são a portuguesa Anabela Santiago, ligada à Universidade de Aveiro, Niall Duggan, do University College Cork, e Bas Hooijmaaijers, da East China Normal University, na China, e do Leuven International and European Studies Institute, na Bélgica.

No artigo, ao qual o HM teve acesso, é revelado que o investimento chinês busca, sobretudo, transferência de conhecimentos para o país, e não tanto a comercialização mais tradicional de produtos ou investimentos na produção agrícola europeia.

Assim, “o investimento chinês das empresas públicas visa a transferência de conhecimentos da Europa para a China e não o fornecimento directo de alimentos ou de factores de produção agrícola da Europa para a China”, é referido.

Os autores referem que os investimentos chineses na Europa, nestes domínios, são mais complexos do que uma mera relação comercial entre países ou de investidor num tipo de produto. Acima de tudo, a China pretende reforçar o seu posicionamento na área da segurança alimentar.

“Em vez de bloquear o acesso a alimentos no estrangeiro, a China está a tentar transferir conhecimentos que irão modernizar o seu sector agrícola e sistema alimentar de forma mais ampla, permitindo-lhe alcançar soberania alimentar”, pode ler-se.

Os autores destacam ainda que a sua investigação não permite concluir, preto no branco, que “a segurança alimentar é a força motriz por detrás de todo o investimento chinês nas infra-estruturas agrícolas e no sistema alimentar da Europa”. Isto porque “as empresas privadas chinesas e, em certa medida, os fundos de investimento chineses, são movidos por forças do mercado e não por objectivos políticos”. “No entanto, o investimento das empresas públicas chinesas em empresas agrícolas, científicas e tecnológicas está em conformidade com o objectivo político da China de aumentar a sua capacidade de melhorar a segurança alimentar através da produção interna”, acrescenta-se.

Comprar terras, mas não só

Na sua grande maioria, o investimento chinês em sectores agrícolas estrangeiros faz-se através de “grandes aquisições de terras ou de compras directas em grande escala de produtos agrícolas”. Porém, há mais factores de análise por detrás desse cenário, pois, conforme defendem os autores, “no caso do investimento chinês nas infra-estruturas agrícolas e no sistema alimentar europeus, a aquisição de terras e a compra directa tendem a representar apenas uma pequena parte de uma relação muito mais complexa”.

“Os investidores chineses são tanto actores privados impulsionados pelas forças do mercado, que tendem a concentrar-se em marcas e retalhistas de topo de gama, como empresas públicas, que tendem a concentrar-se em indústrias estrategicamente importantes, em especial nas áreas da ciência e tecnologia agrícolas e, nomeadamente, em empresas agro-tecnológicas e agro-químicas”, é descrito.

No caso do sector privado, os investimentos acabam por ser feitos em marcas bem conhecidas do sector alimentar, embora essas aquisições “não tenham um efeito profundo na segurança alimentar da China ou da Europa”. Porém, no caso dos investimentos feitos por empresas públicas, há uma ligação próxima com os objectivos políticos do país definidos, nomeadamente, no Livro Branco de 2019, intitulado “A China e o Mundo na Nova Era”, bem como na estratégia definida por Pequim para a área da segurança alimentar.

Segundo os académicos, os investimentos feitos por empresas estatais chinesas “são efectuados em áreas como a indústria das sementes e produção de pesticidas altamente eficientes”. Ao investirem nestas áreas, as empresas ajudam o país “a afastar-se de abordagens [agrícolas] menos eficientes, tradicionais e que implicam a utilização intensiva de factores de produção”, aproximando-se “de um sistema moderno e com um elevado rendimento”.

Porém, a Europa continua com algumas reservas em relação ao investimento estatal chinês nas áreas alimentar e agrícola. “As respostas institucionais europeias – sejam elas a nível estatal ou regional – ao envolvimento das empresas públicas chinesas neste sector sugerem que o investimento em ciência e tecnologia agrícolas é visto como uma ameaça às infra-estruturas agrícolas e ao sistema alimentar da Europa”, pode ler-se.

Pouca atenção

Para este estudo os investigadores muniram-se de declarações oficiais e documentos políticos de diversos Estados europeus e também organismos da União Europeia, bem como documentação oficial do Governo chinês. Foram ainda analisados dados do China Global Investment Tracker e do American Enterprise Institute, além de terem sido feitas seis entrevistas a representantes de organismos europeus de aconselhamento na área da agricultura. Os autores apontam que esta “abordagem permitiu uma compreensão global do investimento chinês nas infra-estruturas agrícolas e no sistema alimentar da Europa”.

Dois exemplos de investimento chinês em marcas europeias, incluídos no artigo, são a PizzaExpress, no Reino Unido, ou a Miquel Alimentació, em Espanha. Porém, conforme denotam os investigadores, “é pouco provável que [estes investimentos] contribuam para aumentar a segurança alimentar chinesa”. Isto apesar de a China ser “frequentemente apresentada como uma força ameaçadora que está a bloquear o acesso aos recursos alimentares e fundiários para alcançar a segurança alimentar”, é referido.

Os autores denotam que, até à data, era escasso o interesse de investigadores em compreender as verdadeiras intenções dos investidores chineses nas áreas da agricultura e segurança alimentar.

“Os relatórios sobre o investimento na Europa por parte de empresas públicas, fundos soberanos e empresas privadas da República Popular da China tendem a centrar-se em grandes projectos de transportes e energia ou na aquisição de empresas. O investimento chinês nas infra-estruturas agrícolas e no sistema alimentar europeu é objecto de pouca atenção”, e que “poucos estudiosos tentaram compreender o que motiva o investimento chinês neste sector na Europa”.

Necessidades imperativas

A China tem procurado a sustentabilidade em termos agrícolas e de fornecimento de alimentos tendo em conta as crescentes necessidades da população e os desafios sentidos no sector produtivo. Refere o artigo que estão em causa factores como “a grande população da China e a disponibilidade relativamente baixa de terras aráveis e de reservas de água”.

Dados do Banco Mundial relativos a 2022, citados no estudo, mostram que a China tinha 21 por cento da população mundial, mas apenas 8,5 por cento do “total de terras aráveis do mundo e 6,5 por cento das reservas de água do mundo”.

Porém, “apesar deste aparente desequilíbrio, a China consegue produzir um quarto dos cereais do mundo”. Segundo as estatísticas de produção de cereais do Conselho de Estado de 2018, a produção no país foi de quase 660 milhões de toneladas, “um aumento de mais de 30 por cento em relação aos 500 milhões de toneladas produzidos em 1996”. Em relação aos dados de 1978, quando a produção foi de 300 milhões de toneladas, o aumento foi de 120 por cento.

“Além dos cereais, a China ocupa o primeiro lugar, de acordo com a FAO [Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura], em termos de produção de cereais, algodão, frutas, legumes, carne, aves de capoeira, ovos e produtos da pesca.”

Embora o país tenha conseguido contornar as limitações, a verdade é que as alterações climáticas vieram “intensificar as preocupações quanto à capacidade da China para alimentar os seus cidadãos a um preço acessível”. Em 2019, do Conselho de Estado chinês saiu a ideia que “a segurança alimentar voltou a ser uma ‘prioridade máxima'”. Mesmo com a crescente modernização na agricultura desde os tempos da Reforma e Abertura do país, com o “aumento da produção alimentar” e da “segurança alimentar em termos de criação de alimentos suficientes para comer”, a verdade é que “a acessibilidade e a segurança dos alimentos produzidos não foram aspectos centrais da modernização”, é explicado.

24 Jul 2024

Jogo | Fim de licenças offshore nas Filipinas credibiliza o sector, diz analista

O Presidente das Filipinas anunciou na segunda-feira o fim das licenças offshore para jogo online, o que, na visão do advogado e analista de jogo Óscar Madureira, constitui um passo importante para aumentar a credibilização do sector de jogo no país. O causídico considera improvável que Macau venha a ter licenças de jogo online

 

É sem dúvida uma reviravolta num dos mercados de jogo mais proeminentes da região do Sudeste Asiático. Esta segunda-feira o Presidente das Filipinas, Ferdinand Marcos Jr, anunciou o fim das licenças para jogo online em regime offshore, muitas vezes associadas a actividades criminosas, dada a sua pouca transparência em termos regulatórios.

Coloca-se, assim, um ponto final nos chamados “POGOS”, ou seja, “Philippines Offshore Gaming Operators” [Operadores de Jogo Offshore das Filipinas], que dariam emprego a pouco mais de 25 mil cidadãos filipinos, segundo dados oficiais relativos a 2023.

Ao anunciar o fim das POGOS no Senado, o Presidente filipino foi aplaudido de pé aquando do seu discurso sobre o Estado da Nação. Aí, Ferdinand Marcos Jr disse que “tinham de acabar” os “graves abusos e desrespeito pelo sistema jurídico”.

“Disfarçando-se de entidades legítimas, as suas operações aventuraram-se por áreas ilícitas muito distantes do jogo, como a burla financeira, o branqueamento de capitais, a prostituição, o tráfico de seres humanos, o rapto, a tortura brutal e até o homicídio”, disse ainda.

Destaque para o facto de, em Junho, a embaixada chinesa em Manila ter feito um apelo às autoridades do país para proibir o jogo online, a fim de se coadunarem com as medidas adoptadas pela China de combate ao jogo transfronteiriço. De frisar que Pequim rejeitou alegações que sugeriam que o Governo chinês estava ligado aos POGOs, que, muitas vezes, visavam clientes da China continental, onde o jogo não é permitido.

Contactado pelo HM, o advogado Óscar Madureira diz não ver qualquer impacto significativo desta decisão das autoridades Filipinas no mercado de jogo em Macau, frisando que é um “passo positivo que o regulador filipino dá na tentativa de credibilizar o mercado”.

“Este tipo de licenças não seguem as melhores práticas internacionais pelas suas características offshore, e por se aplicarem a uma realidade muito circunscrita. Para a credibilização do mercado [a proibição] é algo altamente positivo.”

Concorrência desleal

Óscar Madureira destaca ainda o impacto económico que o fim destas licenças poderá provocar no país, sendo que, ao nível dos impostos para o Estado, são baixas as receitas.

“Do ponto de vista da arrecadação do imposto estas entidades contribuem pouco para os cofres do Estado filipino, e aí, à partida, não deverá haver grande impacto [económico]. Haverá depois uma série de websites de apostas desportivas e de jogo online que vão deixar de ter estas licenças e que emigram para o mercado ilegal, o que obrigará as autoridades filipinas a uma maior fiscalização.”

Essa monitorização deve “ser mais eficiente, a fim de impedir que os cidadãos filipinos joguem em portais não autorizados”.

Acabar com as licenças de jogo offshore constitui, assim, “um ponto positivo para as Filipinas enquanto praça de jogo”, além de “acompanhar as melhores práticas internacionais. “Temos países onde o jogo é permitido, com apostas online e de base territorial, e outros em que não é. As licenças de jogo online são sempre locais, funcionando dentro da própria jurisdição, que não permite jogadores de fora. Mas no caso das licenças offshore, com o domínio “.com”, não se limitam a um território e podem ser acedidos a partir de jurisdições onde o jogo online não é permitido, descredibilizando essa própria jurisdição. Muitos jogadores nem podem jogar no seu próprio país e há aí uma concorrência quase desleal.”

Um pequeno território

Questionado sobre a possibilidade de Macau vir, um dia, a ter licenças de jogo online, Óscar Madureira afasta essa ideia, pois será difícil manter uma licença restrita à jurisdição local, enquanto que apostar no universo offshore não faria jus ao quadro regulatório de jogo que o território já tem. “As operadoras de Macau são todas territoriais e operam numa fórmula altamente conservadora, pois é um mercado fechado e limitado às apostas de base territorial em casinos. Face ao objectivo do Governo Central de manter a China fora desta indústria, acho muito improvável que Macau venha a legislar o jogo online.”

Ter licenças de jogo online em Macau implicava que os websites tivessem o domínio “.mo”, além de estarem circunscritos a jogadores locais. “Só quem estaria em Macau poderia aceder ao website e face ao tamanho exíguo que o território tem não faria sentido criar uma licença online exclusiva dadas as grandes limitações existentes em termos populacionais.”

Além disso, “caso fosse criado um regime de licenças online offshore como existe nas Filipinas, e como há em outras jurisdições, como Malta” não se iria coadunar com o posicionamento de Macau como “região altamente idónea e regulada, que está nos patamares cimeiros” de regulação do sector do jogo. “Macau não optará por essa via”, rematou o advogado que viveu vários anos em Macau.

A decisão de Ferdinand Marcos Jr tem efeito imediato, noticiou o portal Inside Asian Gaming, sendo que as operadoras offshore têm até final do ano para encerrar as suas actividades.

O discurso do Estado da Nação que anunciou o fim das POGOs surge depois da pressão sentida pelas Filipinas para investigar a verdadeira natureza destas operações. As autoridades policiais chegaram mesmo a realizar uma série de rusgas em complexos ilegais com licenças offshore nas zonas de Pampanga e Tarlac, devido a alegações de que estariam envolvidos em tráfico de seres humanos e actividades fraudulentas.

Apesar do apoio dos membros do Senado e de alguns ministérios, a verdade é que Alejandro Tengco, presidente da entidade reguladora de jogo, a PAGCOR, disse que uma melhor regulamentação poderia ser uma solução, ao invés de proibir por completo as POGOs.

Neste contexto, no ano passado esta entidade reguladora exigiu que todas as entidades licenças fossem submetidas a um novo processo de atribuição de licenças com maior escrutínio, o que levou a uma redução de 298 licenças para 43.

Além desta acção, a Polícia Nacional das Filipinas criou, recentemente, um grupo de trabalho especialmente focado na identificação e desmantelamento das operações ilegais associadas às POGOs.

24 Jul 2024

Microsoft | China ficou praticamente ilesa. Macau com oito casos

Uma falha informática provocada por uma actualização afectou os sistemas informáticos Windows de todo o mundo na sexta-feira, mas a China saiu praticamente ilesa. Em Macau, a Polícia Judiciária reportou ocorrências em oito infra-estruturas críticas, incluindo três operadoras de jogo e duas entidades públicas

 

Na sexta-feira, aeroportos, bancos, hospitais, serviços financeiros, meios de comunicação social, empresas e particulares sofreram o maior “apagão” informático de que há memória durante algumas horas e que foi provocado por uma falha no sistema operativo da Microsoft, o Windows 10, graças à actualização de segurança da empresa CrowdStrike. Tratou-se de um “bug”, ou erro informático, no processo de actualização desse sistema, tendo sido afastada a possibilidade de ocorrência de um ataque informático.

Em Macau, o impacto foi ligeiro, mas afectou oito entidades, consideradas infra-estruturas críticas, segundo uma nota divulgada pela Polícia Judiciária (PJ). “O impacto deste incidente global de segurança cibernética em Macau é relativamente limitado e controlável”, foi descrito, tendo o impacto sido verificado em sistemas informáticos internos de três operadoras de jogo, duas entidades públicas e duas empresas de seguros. Porém, “os serviços públicos externos não foram interrompidos e as suas operações permaneceram normais”, refere a mesma nota.

A PJ promete “continuar a acompanhar a evolução deste incidente global e a reforçar a comunicação e coordenação com os serviços e organizações competentes, a fim de garantir que os eventuais riscos cibernéticos sejam tratados de forma atempada e eficaz”.

Além disso, a PJ deixou ainda um recado dirigido às empresas e residentes de Macau, para que “aumentem a sua sensibilização em prol da cibersegurança e trabalhem em conjunto para salvaguardar a sustentabilidade e segurança do ambiente cibernético de Macau”.

Na sexta-feira, a Microsoft anunciou que a falha informática afectou 8,5 milhões de computadores, o que representa “menos de um por cento de todas as máquinas Windows”, segundo um balanço divulgado no sábado pela empresa e citado pela Lusa.

No caso da China, o impacto foi praticamente nulo. A interrupção do Microsoft Windows que afectou empresas estrangeiras e hotéis de luxo no país, mas deixou de fora as principais infra-estruturas, nomeadamente companhias aéreas e bancos, que saíram praticamente ilesos do “apagão”, segundo fontes chinesas e publicações nas redes sociais.

Num país que tem apostado na “autossuficiência” tecnológica, os serviços públicos da China não foram afectados. O portal da Microsoft na China e os canais das redes sociais também não emitiram qualquer aviso de emergência.

Os aeroportos internacionais de Pequim e Xangai estavam a funcionar normalmente, de acordo com os respectivos ‘sites’ oficiais, enquanto na sexta-feira muitos aeroportos da região Ásia – Pacífico, de Hong Kong à Austrália, foram afectados por perturbações. No caso do Aeroporto Internacional de Macau, não foi divulgada qualquer comunicado sobre eventuais falhas nos sistemas operativos.

Estrangeiros afectados

A falha do Windows resultou num ecrã azul nos computadores que durou algumas horas. No Xiaohongshu, a rede social chinesa semelhante ao Instagram, vários utilizadores queixaram-se da dificuldade em fazer ‘check-in’ em hotéis de marcas internacionais como Sheraton, Marriott e Hyatt em diferentes cidades do país.

Na rede social Weibo, alguns internautas chineses chegaram a agradecer à Microsoft por lhes ter “dado meio dia de folga”. Outros afirmaram que como as suas empresas mudaram para o sistema HarmonyOS, do grupo chinês Huawei, não tiveram a mesma sorte.

O impacto mínimo da interrupção da Microsoft na China provou que o país fez progressos no seu objectivo de ter sistemas informáticos “seguros e controláveis”, com reduzida dependência de fornecedores de serviços estrangeiros, como a Microsoft e a empresa de antivírus “CrowdStrike”, afirmou uma fonte do Governo chinês, citada pelo jornal de Hong Kong South China Morning Post.

A China avançou nos últimos anos com uma campanha nos seus departamentos governamentais e nos principais operadores de infra-estruturas para substituir equipamento e sistemas estrangeiros por soluções internas.

Efeitos em Hong Kong

Na região vizinha de Hong Kong, no entanto, a Autoridade Aeroportuária informou que, face à falha global dos serviços de computação em nuvem da Microsoft, o mecanismo de resposta de emergência do aeroporto foi activado para garantir a continuidade dos serviços aos viajantes.

Segundo explicaram as autoridades, devido a esta falha, os ‘sites’ de várias companhias aéreas que operam no aeroporto local não estavam a funcionar correctamente, obrigando as companhias aéreas a recorrer à verificação manual para continuar a servir os passageiros.

Os operadores aeroportuários aconselharam os passageiros a “reservar tempo suficiente para se deslocarem ao aeroporto para os procedimentos e a manterem-se atentos às actualizações”.

Os ‘sites’ de várias companhias aéreas que operam de Hong Kong deixaram de funcionar na sexta-feira, incluindo o da HK Express, que ficou inacessível. A companhia aérea pediu aos seus clientes que chegassem ao aeroporto pelo menos três horas antes da partida para dar tempo suficiente para concluir o processo de ‘check-in’ e para consultar o seu portal e os canais das redes sociais para obter as informações mais recentes sobre os voos.

Pedidos de desculpa

Na origem da falha informática esteve uma actualização defeituosa do software da CrowdStrike para o sistema operativo Windows, da Microsoft. Na sexta-feira, o presidente-executivo da Crowdstrike, George Kurtz, pediu publicamente desculpas “a todas as organizações, grupos e indivíduos que foram afectados”.

Do lado da Microsoft, o vice-presidente do grupo empresarial, David Weston, disse que o incidente “estava fora do controlo da Microsoft” e que foram mobilizados centenas de engenheiros e especialistas para ajudar as organizações afectadas.

Em França, os aeroportos Charles de Gaulle e Orly, os dois principais pontos de entrada das delegações estrangeiras para os Jogos Olímpicos de Paris, que se iniciam na próxima sexta-feira, estiveram sob particular atenção. “A situação voltou ao normal em todos os aeroportos de França”, garantiu no sábado o ministro dos Transportes francês, Patrice Vergriete, nas redes sociais.

Vários especialistas em tecnologia afirmaram que este foi, provavelmente, o maior problema informático de sempre, que colocou em segundo plano todos os ataques anteriores e apagões do passado.

Um dos incidentes mais próximos do que aconteceu na sexta-feira terá sido o ciberataque “WannaCry”, ocorrido em 2017, que terá afectado cerca de 300 mil computadores em 150 países. Em 2021, em plena pandemia, houve ainda uma interrupção de seis horas no sistema “Meta”, que gere as redes sociais Instagram, o Facebook e WhatsApp. Porém, este impacto foi bastante limitado, tendo sido sentido sobretudo pelos utilizadores destas redes sociais e alguns parceiros, sem efeitos em bancos, aeroportos ou outras entidades públicas e privadas. Com Lusa

22 Jul 2024

Estética | Antropóloga estuda evolução de procura de cuidados por chinesas

Isabel Pires, doutoranda em antropologia, está a investigar a relação entre chinesas residentes em Lisboa e os cuidados de beleza e estética, concluindo que já não existe a influência exclusiva da cultura tradicional chinesa na procura de tratamentos como o branqueamento da pele. A investigadora encontrou um “balanço e negociação constantes entre o que se espera delas e o que podem, ou não, fazer”

 

Que tipo de cuidados de beleza são escolhidos pelas mulheres chinesas a residir em Lisboa e porque o fazem? Isabel Pires tem procurado responder a este tipo de questões nos últimos meses. A antropóloga na área da saúde está a terminar a tese de doutoramento “Being mei mei is being rich»: A procura da beleza e da modernidade entre mulheres chinesas em Lisboa”, através da Universidade de Lisboa.

Ao HM, Isabel Pires disse notar uma maior fluidez nos padrões de beleza das mulheres chinesas emigradas, tendo em conta que se deparam com o embate com outra cultura: a ocidental, de mulheres que gostam de se bronzear e apanhar sol e que encaram a pele morena de outra forma. Na China, ter pele extremamente branca é ainda sinónimo de um certo estatuto, de uma mulher que “não precisa de trabalhar para ganhar o seu sustento”, denota a investigadora.

Isabel Pires explica que, em Lisboa, onde realizou trabalho de campo em diversos espaços de estética e clínicas de beleza, as mulheres chinesas fazem tratamentos não só para responder aos critérios definidos pela sua cultura, mas por tantos outros factores, como ir de encontro a expectativas das famílias e da própria sociedade no que à beleza feminina diz respeito.

“Quis saber mais sobre esta comunidade através das práticas de beleza e fui descobrindo outras coisas que se sobrepõem aos cuidados estéticos. Um dos viés que vejo em muitos estudos de críticos de beleza é a ideia constante de se fazer uma comparação, que acaba por ser sempre muito ocidentalizada. Há a ideia de que as mulheres ‘fazem isto porque querem’, por exemplo, e eu tento desmistificar um pouco isso.”

Essa perspectiva ocidental tem a ver com o facto de se considerar que as mulheres chinesas fazem, em Portugal, determinados tratamentos estéticos para serem iguais às ocidentais, e Isabel Pires procura desconstruir isso. “Tenho respostas desse tipo da parte de médicos com quem trabalhei. São muito taxativos nas respostas que dão. Não concordo com essa visão. As mulheres não fazem [determinados tratamentos] ‘porque querem ser’, pois cada vez mais os padrões de beleza são fluídos e globais, e isso acontece de forma muito rápida e transformadora da sociedade. No caso das jovens chinesas em Portugal, pelo menos as interlocutoras com quem trabalhei, fazem um balanço e negociação constantes entre o que se espera delas e o que podem ou não fazer. E isso de forma consciente, ou não.”

Pelas zonas do Martim Moniz, Olivais, Alvalade, Estoril e Parque das Nações, locais onde a investigadora falou com clientes e donas de espaços comerciais, proliferam negócios de pequenas intervenções estéticas, branqueamento de pele ou cuidados de sobrancelhas, entre outros. E o branqueamento de pele já não é regra absoluta para as chinesas que vivem em Portugal, muito menos uma pressão social, embora muitas das entrevistadas para esta investigação continuem a proteger-se do sol.

“A questão do estatuto na China estava ancestralmente ligada a uma pele branca. Tradicionalmente ainda é isso que se assiste. O meu trabalho de campo na China revelou um pouco isso. No caso de Portugal, um país com sol, muitas das minhas interlocutoras vão percepcionando as próprias noções de beleza. A estética de uma pele bronzeada adquire uma outra configuração. Nos moldes tradicionais chineses uma pele bronzeada era a de uma mulher que tinha de trabalhar para ter um sustento, isso representava um determinado estatuto social. Actualmente, em Portugal, já não se verifica isso.”

Há, assim, a manutenção de ideias de beleza mais tradicionais, mas já influenciados pelas práticas de beleza do ocidente. “Mais do que uma influência, há uma actualização, no sentido de haver uma constante renovação. Estamos a falar de mulheres jovens, com um máximo de 35 anos, mas todas elas bastante dinâmicas. Isso significa que um padrão de beleza que existe hoje pode ser diferente daqui a um ano. Pode ser uma mudança muito rápida e isso pode também ser um desafio à minha investigação. Além de estar circunscrita ao tempo em que fiz a pesquisa, há cerca de dois anos, também acabo por expandir para outras áreas, como a manutenção do género, da tradição, da maneira como ainda há muita racionalização do corpo não ocidental na medicina.”

Isabel Pires procurou combater uma visão “muito imperialista” de que as mulheres chinesas tentam imitar outros padrões de beleza. “Procuro desmistificar um pouco a ideia de exotismo colocada pela própria sociedade a estas mulheres, sem as conhecer. Grande parte da história das mulheres chineses é ainda muito pouco conhecida. Esse desconhecimento é ainda maior em mulheres chinesas em contexto migratório.”
“Sempre que o Ocidente fala da China, fala como sendo os grandes imitadores, e não é verdade. Gostava que se percebesse que não há uma imitação, mas sim uma adaptação, uma actualização, como há em todo o lado, e a beleza é apenas mais uma área. Envolve processos migratórios, família e muita tradição, de uma base cultural ainda muito substancial, mas não é uma coisa fechada e irredutível”, acrescentou a investigadora.

Processos com custos

Isabel Pires, formada em enfermagem, denota que branquear a pele acarreta custos financeiros e de saúde para as mulheres. “Quando falamos de processos de branqueamento de pele falamos de processos que também são implicativos para a vida da mulher. Evitar a exposição ao sol [tem custos], sem esquecer toda a parafernália de produtos e o investimento que é feito para um objectivo, que é atingir um determinado estatuto através de um conceito de beleza.”

Isabel Pires diz acreditar que, apesar das mudanças já verificadas nesta área, há ainda “muitas chinesas em Portugal que evitam totalmente o sol”. “Tudo isso é uma questão fluída, e é isso que gosto de frisar neste trabalho. É algo que se vai moldando, e é válido para as mulheres chinesas como para qualquer mulher. Há uma modelagem naquilo que a sociedade espera de nós. Talvez na China seja mais visível, porque há muita política envolvida nisto.”

A política de que a investigadora fala prende-se com o desenvolvimento de um mercado de consumo em que as mulheres são consumidoras e também produtoras, com a abertura de espaços de beleza e clínicas. São as mulheres que compram maquilhagem ou serviços, mas são também elas que fazem os tratamentos a outras.

Homens chineses de fora

Questionada sobre se os homens chineses em Portugal também fazem tratamentos de beleza, Isabel Pires denota que não encontrou clientes do sexo masculino nos locais onde realizou a pesquisa. “Pelo contrário, até tive muitas interlocutoras a queixarem-se de que os maridos não cuidam de si. Uma delas até me disse algo que achei interessante, que é a ideia de que os homens chineses podem ser tudo, feios, maus, gordos, mas as mulheres não, têm de se tratar mais. No entanto, na China, vi mais homens a cuidarem-se. É uma tendência crescente que ainda não se verifica em Portugal, mas se calhar daqui a dez anos poderá verificar-se e ocorrer um boom.”

Em Portugal, a comunidade chinesa não é pautada apenas pelas grandes famílias que foram abrir lojas e restaurantes, ou pelos grandes empresários que, mais tarde, levam mulher e filhos. Já existe uma maior “heterogeneidade”.

“A comunidade está a abrir-se ao país e a outras culturas e falamos de pessoas que estão aqui há dezenas de anos, têm filhos nas universidades que vão casando fora das comunidades. Há também uma comunidade internacional [chinesa] que vem para Portugal. Uma das minhas interlocutoras mais recentes era uma jovem que nasceu em Itália de pais chineses, o pai voltou para a China quando a mãe faleceu, ela não quis voltar porque já não se identificava e foi para o Reino Unido. Casou com um inglês e hoje vive em Lisboa como qualquer expatriada que acha Portugal incrível e cheio de sol. Já não é aquela emigração chinesa típica”, exemplifica.

A tese de doutoramento baseou-se numa população “muito heterogénea em termos de origem”. “Trabalhei com jovens mulheres que nasceram em Portugal e outras que efectuaram um processo migratório em diferentes etapas, ou em crianças no acompanhamento dos pais ou então já mulheres adultas. Algo interessante nesta nova migração chinesa é uma quantidade muito considerável de jovens mulheres independentes, que estudam e trabalham, deslocando-se globalmente. Temos hoje um grande fluxo de jovens mulheres de 20 a 30 anos. Todas vão trazendo e adaptando uma nova estética”, frisou.

O acesso a cuidados de saúde

Isabel Pires tem dedicado parte dos seus estudos à comunidade chinesa na área da saúde, procurando saber, na fase do mestrado, como era o acesso destas pessoas aos hospitais e clínicas em Portugal.

“O que concluí vai na direcção de outros estudos já feitos noutros países. O acesso [a cuidados de saúde por parte de chineses a residir em Portugal] é feito maioritariamente através do serviço público para casos de emergência e sistema privado para casos de seguimento. As pessoas mais velhas procuram cuidados que lhes são mais familiares. Numa situação em que precisem de cuidados recorrentes, procuram tratar-se na China.”

A língua constitui uma barreira acrescida, tendo em conta que o Serviço Nacional de Saúde (SNS), com as condicionantes de falta de médicos, pode constituir um problema de acesso até para portugueses.
“Uma das coisas que identifiquei foi uma grande barreira institucional aos cuidados de saúde, ou seja, uma pessoa chinesa que está no país e que não tenha um tradutor ou alguém que fale português, imediatamente há uma barreira no acesso que, já por si, é difícil. Os cuidados de saúde em Portugal não são ‘friendly’. [acessíveis], nem sequer para os portugueses. Estou em Lisboa há 15 anos e continuo sem médico de família. Não é difícil ficar perdido durante anos no sistema de saúde.”

16 Jul 2024

Ensino | Reforço do patriotismo nas novas competências exigidas a alunos

O Governo alterou as competências académicas básicas exigidas aos alunos dos ensinos primário e secundário. Em concreto, as alterações abrangem as áreas da Educação Moral e Cívica, História, Tecnologias de Informação, Artes, Sociedade, Ciências Naturais e Humanidades. Amor a Macau e à pátria e relacionamentos interpessoais são alguns dos principais focos

 

Que conteúdos deve um aluno dos ensinos primário e secundário dominar nas mais diversas disciplinas, desde História à Educação Moral e Cívica, e como se deve relacionar com o outro, com a sociedade e o ambiente que o rodeia? Que domínios deve ter ao nível da tecnologia, Macau e China, bem como o relacionamento entre as diversas etnias e comunidades que compõem as sociedades?

São a estas perguntas que respondem as novas exigências em matéria de competências básicas que os estudantes dos ensinos primário, secundário geral e secundário complementar devem ter. O despacho, assinado pela secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, foi ontem publicado no Boletim Oficial (BO), redefine competências definidas noutros despachos e dá primazia à defesa do patriotismo em prol do território e do país.

As novas exigências passam a aplicar-se no próximo ano lectivo, de 2024/2025. No caso dos três primeiros anos de escolaridade do ensino primário, as exigências devem aplicar-se “a partir do primeiro dia do ano escolar de 2024/2025”, sendo que nos restantes anos de escolaridade do mesmo grau de ensino se aplicam “a partir do primeiro dia do ano escolar de 2025/2026”.

No caso de todos os anos do ensino secundário geral, as novas recomendações de conteúdos programáticos seguem-se “a partir do primeiro dia do ano escolar de 2025/2026”, enquanto no ensino secundário complementar as novas exigências vigoram “a partir do primeiro dia do ano escolar de 2026/2027”.

Contudo, caso se reúnam “condições para a sua implementação”, as novas exigências podem ser aplicadas do quarto ao sexto ano de escolaridade do ensino primário, bem como a “todos os anos de escolaridade do ensino secundário geral e do ensino secundário complementar”.

Em matéria de patriotismo, e no caso dos alunos do ensino primário, estes devem “desenvolver o sentimento do amor à pátria e a Macau, permitindo-lhes valorizar e apreciar a excelente cultura tradicional chinesa, reconhecer a sua identidade nacional e respeitar as tradições culturais e costumes de vida de diferentes países e etnias, formando uma preliminar consciência internacional”.

São ainda definidos alguns códigos com letras e números que remetem para princípios que devem ser respeitados em cada nível de ensino, tal como “conhecer os principais monumentos de Macau e saber que o ‘Centro Histórico de Macau’ está listado na ‘Lista do Património Mundial’. Outro código diz respeito à obrigatoriedade de “conhecer, estimar e proteger a bandeira e emblema regionais da RAEM, bem como conhecer o seu significado”.

Outras competências básicas devem passar pelo conceito de “amar Macau” e o fomento da “preocupação com as mudanças e o desenvolvimento de Macau”, bem como “compreender minimamente a ‘Lei Básica da RAEM da República Popular da China (RPC) e os respectivos diplomas legais relacionados com os jovens de Macau, obedecendo de forma consciente à lei e ordem pública”.

Os alunos devem ainda “conhecer a estrutura e orgânica básicas do Governo da RAEM, bem como as suas principais funções”, sem esquecer “os direitos e deveres fundamentais dos residentes de Macau”.

O país acima de tudo

Os códigos criados estão inseridos em secções, descritas como “âmbitos de aprendizagem”, conforme a área de relacionamento interpessoal do estudante. Ficam, assim, definidas as áreas “sobre si mesmo”, “família”, “eu e escola”, “eu e sociedade”, “eu e o país”, “eu e o mundo” e ainda “eu e o ambiente”.

Em relação à China, os alunos até ao sexto ano de escolaridade devem “conhecer, estimar e proteger a bandeira e emblema nacionais”, bem como “compreender o seu significado”. Os estudantes devem também “saber cantar o hino nacional e conhecer o cerimonial relativo à execução instrumental e vocal do hino”.

É fundamental “conhecer o mapa da RPC e saber que o território da pátria é sagrado e inviolável”, bem como “conhecer os resultados representativos da excelente cultura tradicional chinesa”.

Os alunos terão de “conhecer minimamente a Constituição da RPC” e “saber que o nosso país tem uma longa história e cultura”. No rol de exigências inclui-se ainda “conhecer as principais características da cultura chinesa e sentir-se orgulhoso pelos resultados civilizacionais alcançados pela nação chinesa”.

Em relação à China, os alunos devem “conhecer a sua identidade nacional e sentir-se orgulhosos em ser chineses”, ou ainda “preocupar-se com a segurança e interesses do país”.

As novas exigências fazem também referência ao posicionamento de Macau e do seu lugar na história, pois os estudantes devem “saber que Macau é território da China desde os tempos remotos”

Relativamente à presença portuguesa no território, ficou definido pelo Governo que os estudantes devem conseguir “abordar o processo de povoamento até à ocupação pelos portugueses em Macau e as respectivas influências através da leitura de diversos dados históricos”. Deve ainda ser compreendida “a evolução histórica do estabelecimento dos órgãos administrativos da China e de Portugal em Macau depois de os portugueses terem adquirido o direito de habitação em Macau”.

Na área das “actividades de descoberta” a ser seguidas pelos alunos do ensino primário é referido “o estabelecimento da relação entre os alunos e o ambiente social, com relevância para ajudar os alunos a conhecer as tradições e a situação actual da sociedade local, bem como os actuais temas sociais da China e do mundo, no sentido de desenvolver nos alunos o sentimento de amor pela pátria e por Macau e o espírito de preocupação humana”.

Não é esquecido o tema da defesa da segurança nacional. “Através da compreensão dos conhecimentos gerais da segurança nacional, os alunos serão inspirados a desenvolver, por sua iniciativa, um sentido de responsabilidade sobre a defesa da segurança nacional e, através do conhecimento da história e cultura chinesas e estrangeiras, a desenvolver nos alunos uma consciência de respeito e de transmissão da história e da excelente cultura tradicional e um espírito de missão e de sentimento de pertença à Pátria”.

No que diz respeito às competências musicais, destaca-se a necessidade de “conseguir cantar na língua original das canções locais, do nosso País e de outros países e etnias, mostrando interesse pelo conhecimento das diferentes culturas e, em particular, saber cantar o Hino Nacional da República Popular da China”.

Ao nível do ensino secundário geral, a escola deve contribuir para “aumentar o sentimento de pertença dos alunos à família e à escola”, bem como “reforçar o seu reconhecimento do país e do povo e compreender o princípio ‘um país, dois sistemas’, desenvolvendo o seu amor pela pátria e por Macau, criando um conceito nacional”.

Os alunos devem desenvolver conceitos como “democracia, estado de direito, de direitos humanos e de justiça, bem como ter pensamento crítico, juízo racional e capacidade de participação social activa na vida pública”.

Diz-me com quem andas

No rol de exigências a cumprir pelos estudantes não faltam ideias sobre como se devem comportar perante os outros e as instituições sociais. A diversidade cultural de Macau não é ignorada, pois afirma-se que o aluno deve “preocupar-se e aceitar as crianças novas imigrantes em Macau” e ainda “conhecer as consequências nefastas da discriminação, maus tratos e actos violentos bem como conhecer os meios para pedir ajuda”.

É ainda referido que os estudantes devem ter a capacidade de “saber minimamente distinguir e escolher amigos”.

Os jovens adolescentes devem também “saber escolher actividades saudáveis para a saúde física e mental”, bem como “conhecer os efeitos nocivos da droga, alcoolismo, tabaco e pornografia, e saber recusá-los”.

16 Jul 2024

Amílcar Falcão, reitor da Universidade de Coimbra: “Há uma vontade de partilharmos conhecimentos”

O reitor da Universidade de Coimbra (UC) Amílcar Falcão esteve recentemente em Macau para estreitar relações com o ensino superior local. O responsável, com formação em farmácia, destaca a colaboração de Macau no projecto europeu na área do envelhecimento saudável e o potencial da prática clínica da medicina tradicional chinesa, embora admita faltar ainda alguma evidência científica

 

 

Esteve em Macau onde recebeu um doutoramento honoris causa pela Universidade Politécnica de Macau (UPM), além de ter feito outros contactos oficiais. Que balanço faz da visita?

Foi a primeira vez que estive em Macau. A UC tem ligações fortes com Macau já há algum tempo. Temos um laboratório conjunto com a Universidade de Macau (UM), na área da engenharia informática, a funcionar. Queria muito ir a Macau na sequência dos contactos feitos pelo vice-reitor para as relações externas e receber o doutoramento honoris causa que generosamente a UPM me concedeu. Fomos recebidos ao mais alto nível e isso era importante para perceber como podemos cooperar no futuro. No geral, a visita correu bastante bem e confirmou as minhas expectativas, pois tenho uma impressão muito boa da China. Fui vice-reitor da UC durante oito anos e estive na génese da criação do Instituto Confúcio, além de ter estado ligado ao desenvolvimento da área da medicina tradicional chinesa (MTC) [na UC]. Este foi um dos temas abordados na viagem, nomeadamente ao nível de um projecto de investigação que temos na área do envelhecimento, um problema da China, Portugal e dos países mais desenvolvidos. Penso que existe uma confiança mútua com as autoridades chinesas e isso é importante para os projectos que iremos desenvolver e que já estão em andamento.

Relativamente a Hengqin. Que papel pode ter esta região nas cooperações com a UC?

Uma das razões componentes distintivas do Instituto Confúcio em Coimbra é ter o foco na MTC. Temos, aqui em Coimbra, formação nessa área. Sou farmacêutico de formação e há componentes da MTC que entendo, mas não parece que tenham fundamento científico evoluído. Mas, por outro lado, há áreas dessa mesma medicina que, pela evidência clínica, merecem mais estudos e conhecimentos.

Quais? A MTC tem, sobretudo, um papel mais preventivo?

Sim. Na questão da longevidade e qualidade de vida das pessoas pode ter impacto. Esse é o tema do projecto que temos em carteira e que no qual estamos a trabalhar de forma mais aprofundada. Aí a MTC tem muito a acrescentar ao que é a medicina ocidental, ao nível da compreensão do corpo e dos seus pontos, permitindo mitigar dores e situações de ansiedade. Temos muitos séculos de MTC que podem e devem ser aproveitados para aprendermos, aprofundando cientificamente alguns aspectos. No parque de MTC em Hengqin há duas áreas, relacionadas com a produção de medicamentos e com o controlo de qualidade, e há uma vontade de partilharmos conhecimentos e trabalharmos em conjunto. Vamos tentar perceber o que a UC pode contribuir para essa matéria, nomeadamente na identificação de componentes activos na MTC.

Como esses componentes podem depois ser aplicados na prática?

Podem depois de ser transpostos para medicamentos que usamos na Europa ou EUA, que não sejam propriamente plantas nem produtos medicinais, como chás ou infusões. O potencial desse trabalho é enorme. A China, juntamente com Macau e o nosso laboratório conjunto, está muito entusiasmada em usar a inteligência artificial (IA) para procurar moléculas e desenvolver novos medicamentos a partir da MTC. Creio que aí temos um papel importante como parceiros, porque podemos ajudar, quer pela experiência que temos no desenvolvimento de novos medicamentos, quer porque claramente faz falta a componente experimental e pré-clínica, com animais, à MTC. É algo que estamos habituados a fazer em Coimbra.

Como explica esta ausência de fundamento científico em algumas áreas da MTC?

Há questões dessa natureza que tenho dificuldades em responder porque não sou político. Diria que talvez uma mistura entre o facto de a China ter estado fechada ao mundo muitos anos e alguma resistência por parte da comunidade científica ocidental a esse tipo de medicina. Falamos aqui de Macau e da China, mas se formos para o Brasil ou África encontramos um cenário semelhante com as medicinas mais tradicionais, e até em Portugal. Temos as ervanárias que vendem chás diversos. O chá de valeriana tem uma componente ansiolítica importante para controlar a ansiedade, por exemplo. Há um potencial de prática médica chinesa de séculos que não está cientificamente provada, no sentido de dizermos que há ensaios clínicos feitos em pessoas e um dossier para colocar o medicamento no mercado, mas há uma evidência clínica muito forte que é de aproveitar e tentar procurar estimular. É natural que ao longo de séculos regiões que são mais longínquas que as nossas tenham desenvolvido as suas metodologias e se tenham baseado na evidência do poder curativo e preventivo. Os seus conhecimentos são, muitas vezes, empíricos, mas é um empirismo que mostra resultados. Cabe à ciência reproduzir esses resultados e tentar encontrar soluções.

Macau pode ajudar a internacionalizar a MTC, ao nível da medicação e dos próprios profissionais?

Penso que sim. Macau pode mesmo funcionar como uma porta para a entrada e saída de serviços e produtos trabalhados em conjunto com a República Popular da China.

Fale-me mais desse projecto de investigação na área do envelhecimento que a UC está a desenvolver e onde as instituições de Macau irão colaborar.

Temos um projecto em Coimbra muito relevante, em que somos referência, relativamente à vida activa e envelhecimento. É um dos maiores projectos financiados que existem na Europa e que pretende ter várias componentes e dimensões, podendo beneficiar muito com a colaboração de Macau e da China. Uma das componentes dessa iniciativa tem a ver com a criação de empresas na área da saúde e do envelhecimento. Temos a intenção de criar conhecimento sobre o envelhecimento e os factores que o causam, e que podem estar relacionados com a genética. Falamos de uma população caucasiana, em Portugal, e de uma população asiática em Macau e China. Temos com os brasileiros um projecto semelhante. O aumento da população envelhecida e da esperança média de vida é comum a Portugal e a China, embora sejamos países muito diferentes. Queremos estudar essas diferenças e como se pode contribuir para que haja um melhor envelhecimento, com mais qualidade de vida. Há um grupo de pessoas que está a ser trabalhado em Macau e outro em Portugal. Queremos a internacionalização do nosso próprio projecto através de Macau, atingindo assim objectivos que, de outra forma, não iríamos conseguir, pois limitados a Portugal não íamos conseguir fazer esse tipo de estudos com caracterização genética. É um projecto de investigação de sete anos que será concluído em 2027.

Do encontro com o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, saíram novas ideias sobre a cooperação, algo de concreto?

Sim. O Chefe do Executivo foi muito amável e aberto às ideias que levávamos, tendo demonstrado muito interesse, quer ao nível da ciência e do que é a componente empresarial, com a criação de empresas da área. Mostrou vontade de apoiar, até financeiramente, projectos. A possibilidade de termos um laboratório conjunto nesta área [MTC], associado ao que já temos na área da informática, é importante para movimentar investigadores. Uma das coisas que fizemos em Macau foi também ao nível do programa de doutoramento na área do envelhecimento que temos na UC. Iremos introduzir uma componente de IA nesse programa de doutoramento cuja gestão foi atribuída a Macau. Iremos começar já a fazer esse doutoramento conjunto.

12 Jul 2024

LGBT | Estudo recomenda políticas de saúde específicas para minorias

Um estudo realizado por uma licenciada da Escola de Enfermagem do Hospital Kiang Wu aponta para a necessidade de criar políticas de saúde destinadas às minorias LGBTQ+. Os entrevistados para o estudo reportaram incompreensão e falta de adaptação do sistema de saúde às necessidades específicas dos utentes homossexuais ou transgénero

 

Naquele que é o primeiro estudo sobre o acesso a cuidados de saúde por parte da comunidade LGBTQ+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgénero e Queer), Xin Lei Yang, licenciada em Enfermagem pela Escola Superior de Enfermagem do Hospital Kiang Wu, conclui que existem diferenças entre as necessidades destes utentes e os tratamentos e acompanhamentos disponibilizados pela comunidade médica e de saúde.

A académica sugere a criação de políticas de saúde específicas para estas minorias, bem como cursos de formação para médicos, enfermeiros e pessoal da área sobre as necessidades concretas destes doentes.

Refere-se a importância de “mais apoio em termos de referências médicas para os residentes sobre a comunidade LGBTQ+”, ou a implementação, nos hospitais públicos, de um guia de tratamento específico para homossexuais, bissexuais ou transgénero. É também sugerida a realização de mais formações específicas para médicos e enfermeiros.

Além disso, Xin Lei Yang destaca que podem também ser adicionados mais conteúdos sobre cuidados médicos a aplicar a pessoas LGBT nos currículos de licenciatura em enfermagem.

O estudo intitula-se “An exploration of LGBTQ+ People’s Experiences and Needs of Health Care in Macau using Interpretative Phenomenological Analysis (IPA)” [Exploração das Experiências e Necessidades das Pessoas LGBTQ+ no Sistema de Saúde de Macau usando a Análise Fenomenológica Interpretativa (IPA)] e foi apresentado no domingo. Referiu-se, assim, à “existência de diferenças entre os cuidados de saúde locais e as reais necessidades desta população”, nomeadamente casos de “conflitos”.

Estas situações prendem-se com “falta de tolerância e incapacidade pessoal dos médicos em prestar cuidados de saúde” adequados para estas pessoas que, muitas vezes, podem não se identificar com o género sexual com que nasceram ou estar em processo de mudança de sexo, por exemplo.

Como tal, o estudo sugere a “necessidade de implementar um sistema de cuidados de saúde mais próximo da diversidade de géneros”. A autora recomenda que seja criado “um completo mecanismo de referência” e potenciada “mais educação para o pessoal médico [sobre a área LGBTQ+], sendo fundamental “um ambiente de mais tolerância e sensibilidade cultural” quanto a estas matérias.

A responsável aponta ainda para a importância de um “sistema de saúde próximo da comunidade LGBTQ+ que possa servir uma população divergente, com diversidade de géneros e diferentes orientações sexuais, que possa focar-se no respeito”.

Em entrevista ao HM, Xin Lei Yang destaca que este tipo de situações, que categoriza como “micro-agressões”, não são mais conhecidos e discutidos porque estas pessoas optam por viver na sombra. No entanto, “existem actualmente em Macau alguns fenómenos de micro-agressões”, destacou.

“Procurei perceber as necessidades e os sentimentos de grupo da comunidade LGBTQ+ na hora de consultarem um médico. O meu estudo conclui que uma parte dos inquiridos sentiu que o pessoal médico tinha alguma sensibilidade em relação as estas minorias, por isso foi possível criar relações de confiança. Assim, o meu estudo demonstra que existem boas e más experiências, e que, na busca por um médico, nem sempre houve casos de discriminação”, frisou.

Desconforto em consulta

A autora decidiu realizar a investigação quando foi abordada por um amigo LGBT que confessou estar angustiado por ter de procurar um médico, questionando-a sobre qual a especialidade que devia escolher. Xin Lei Yang recorda não ter conseguido responder às dúvidas apresentadas conforme os seus conhecimentos, pelo que tentou perceber como seria o mesmo cenário num consultório médico.

“Os meus entrevistados descrevem alguns casos de micro-agressões de que foram vítimas, tal como os médicos não entenderem que eles têm uma sexualidade diferente, tratando-os como se fossem heterossexuais e cisgénero [identificação com o género sexual de nascimento]. Houve também certo tipo de olhares e toques que deixaram os entrevistados desconfortáveis” durante a consulta, apontou a autora do estudo ao HM.

No estudo, apontam-se cenários de “paternalismo” por parte dos médicos em contexto da consulta quanto à autonomia do doente, a pouca formação específica para situações vividas pela população LGBT, a “falta de compreensão pelas necessidades de saúde da população LGBT” ou situações de “homofobia”.

Além disso, foi reportado à académica a “falta de tratamentos” específicos para a população transgénero, nomeadamente na “área hormonal, cirurgias ou aconselhamento”. No trabalho não é mencionado se estas consultas decorreram no serviço público ou privado de saúde.

Para este trabalho, a autora entrevistou apenas seis pessoas que assumiram pertencer à comunidade LGBTQ+, além de terem mais de 18 anos e residir em Macau. Outro critério para participar no estudo foi ter tido, no passado, uma experiência desagradável ou inesquecível, pelas más razões, no processo de acesso a cuidados de saúde no território. Os entrevistados dominam apenas a língua chinesa.

Questionada sobre o uso desta metodologia, a IPA, e um baixo número de entrevistados, a autora lembrou a dificuldade primária em encontrar pessoas que se assumam como LGBT.

“O estudo foca-se nas experiências vividas pelo grupo LGBT e as opiniões com base nas consultas médicas, e não na nossa verificação ou interferência. Segundo um estudo da Associação Arco-Íris de Macau, de 2019, 82,8 por cento das pessoas LGBT escondem a sua orientação sexual ou identidade de género, pelo que foi difícil encontrar entrevistados. O modelo IPA exige um número baixo de entrevistados, de quatro a seis, o que correspondia às características do nosso estudo.”

Do grupo de entrevistados, cujas idades vão dos 18 aos 28 anos, existem três pessoas transgénero, dois homossexuais, dois bissexuais, uma pessoa que se identifica como pansexual [atracção pelas pessoas independentemente do género] e ainda uma pessoa não-binária [que não se identifica com nenhum género em particular, homem ou mulher]. As entrevistas tiveram uma média de 46 minutos, sendo que os entrevistados “prosseguiram as conversas sem interrupções ou bloqueios do foro emocional”.

Que políticas criar?

Tendo em conta que o estudo alerta para a necessidade de avaliar melhor a resposta a necessidades médicas por parte da comunidade LGBTQ+, para que haja uma melhor percepção dos casos de HIV no território, a mestre em enfermagem lança ainda ideias para futuras investigações.

Ao nível das associações locais, é descrito que os Serviços de Saúde podem “providenciar recursos e serviços psicológicos para a comunidade LGBTQ+ e especificamente sobre as infecções por HIV”, a fim de “garantir um apoio sustentado” a estas minorias. Em termos académicos, é referido que são necessários mais estudos sobre estes grupos e também sobre a postura da comunidade médica em relação aos doentes com estas necessidades.

9 Jul 2024