Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteTurismo | Análise diz que Macau é cada vez mais um destino de lazer Os académicos Pedro Steenhagen e Sofia Xiaoying Hou analisaram a indústria do turismo de Macau, concluindo que, cada vez mais, o território é encarado como um destino de lazer e não tanto como uma terra de jogo. Os autores alertam para o “longo caminho a percorrer no que respeita à promoção do turismo sustentável” O sector do turismo em Macau tem mudado nos últimos anos e as visões dos próprios turistas também, encarando cada vez mais o território como um local onde se pode passear e desfrutar de zonas de lazer, e não tanto como uma terra de jogo. Esta é uma das conclusões da análise “Tourism as a Driver of China’s Cultural Soft Power: The Role of Macau and the Convergences Between the New Silk Road and the Greater Bay Area” [O Turismo como Motor do Soft Power Cultural da China: O Papel de Macau e as Convergências entre a Nova Rota da Seda e a Área da Grande Baía], da autoria de Pedro Steenhagen, da Universidade de Fudan, e Sofia Xiaoying Hou, ligada à Universidade de Estudos Internacionais de Xi’an. A análise à indústria do turismo na RAEM é um dos capítulos do livro “The Palgrave Handbook on China-Europe-Africa Relations”, recentemente editado. Desta forma, conclui-se que “a percepção da imagem de Macau por parte dos turistas tem vindo a mudar nos últimos 10 anos, sendo a RAEM cada vez mais vista como um local de lazer e férias em geral, e não especificamente ou puramente como um centro de jogo”. Acrescenta-se ainda que “a imagem da RAEM como destino turístico está em transição, e as pessoas que visitam Macau têm valorizado muito as suas atracções culturais únicas, incluindo a sua arquitectura e gastronomia, resultado da mistura das culturas e heranças chinesa e portuguesa”. Porém, os autores consideram que “Macau tem ainda um longo caminho a percorrer no que respeita à promoção de um turismo sustentável efectivo”. Entende-se que o turismo sustentável “deve ter plenamente em conta os seus impactos económicos, sociais e ambientais, abordando as necessidades dos visitantes, do sector, do ambiente e das comunidades relacionadas”. Neste campo, os autores destacam, citando outro autor, que “Macau tem feito esforços para alcançar boas notas nestas e noutras matérias, pois a indústria do turismo da RAEM tem vindo a passar por uma ‘revolução silenciosa’ desde o início da pandemia”. Destaca-se também que, a nível mundial, a Organização Internacional do Turismo criou algumas directrizes sobre sustentabilidade, criando “um importante quadro de turismo sustentável”. Para tal foram propostos “cinco pilares fundamentais para avaliar a sustentabilidade do sector turístico de um Estado”, tais como “política e governação do turismo; comércio, investimento, dados e competitividade; emprego, trabalho digno e capacitação; redução da pobreza e inclusão social; e sustentabilidade dos ambientes naturais e culturais”. A Rota da Seda Os académicos analisam também o papel do sector turístico de Macau na estratégia de “Uma Faixa, Uma Rota”, destacando que o território “tem vindo a ganhar um papel de destaque nas políticas locais, regionais e externas, sendo um actor capaz de melhorar a Rota da Seda do Turismo e dinamizar o turismo na região da Grande Baía”. Entende-se que Macau traz novos contributos à forma como a China apresenta a sua cultura, pois “devido ao património e produtos turísticos existentes, apresenta a cultura chinesa aos visitantes estrangeiros através de uma nova lente, mais diversificada, que vai além da tradicional”. Desta forma, permite-se que os turistas, “em especial do mundo lusófono, [criem] uma melhor ligação e compreensão do país através de laços históricos e culturais comuns”. No que diz respeito ao projecto da Grande Baía, considera-se também que tanto essa região como o próprio território de Macau têm “integrado activamente as estratégias de desenvolvimento turístico no quadro da BRI”, ou seja, a “Belt and Road Initiative”, designação inglesa para “Uma Faixa, Uma Rota”. Macau possui “um leque diversificado e distinto de recursos turísticos, tais como as artes, a história, as construções e tradições religiosas, a gastronomia, o desporto, os museus, entre outros”, e as autoridades locais têm procurado, segundo os autores, “marcar a sua indústria turística, promovendo o ‘Turismo+’ com a cooperação transfronteiriça no âmbito da BRI”. A ideia é “criar uma imagem de Macau como uma cidade com culturas diversificadas, integrando os sectores do turismo, entretenimento, cultura, desporto, negócios, convenções e exposições, cuidados de saúde, recreação, tecnologia e grandes eventos”. Melhorias em curso Pedro Steenhagen e Sofia Xiaoying Hou entendem que o Governo de Macau “tem tentado melhorar o soft power cultural e aumentar a atractividade turística através do desenvolvimento de produtos, da melhoria das instalações e de propaganda”, além de que têm sido realizados “projectos para melhorar as instalações, como hotéis, restaurantes, transportes e passeios digitais”. Dá-se o exemplo de dois percursos em formato digital criados pelo Instituto Cultural, nomeadamente, em 2021, “A Casa da Família de Zheng Guanying” e também “Fortaleza da Guia”. De resto, as autoridades têm criado diversas plataformas interactivas com recurso à realidade virtual aumentada. Apesar de todos os esforços apontados às autoridades locais, entende-se que “a RAEM tem ainda um potencial inexplorado para reforçar os laços culturais entre a China e os países de língua portuguesa, podendo esta década apresentar grandes oportunidades nesse sentido”. A aposta turística Neste capítulo, os autores olham também para o posicionamento do turismo na iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” por parte de Pequim, tendo em conta que “a China tem vindo a prestar cada vez mais atenção à necessidade de expandir o seu soft power cultural, tanto a nível regional como global”. Desta forma, o país “tem formulado vários planos de desenvolvimento cultural associados a “Uma Faixa, Uma Rota” e à área da Grande Baía, e o turismo tem aparecido constantemente como um elemento essencial da sua estratégia global”. No próprio país “o turismo ganhou relevância, quer como meio de melhorar a imagem internacional, quer como fonte de receitas”. Só em 2018 “cerca de 159 milhões de visitantes viajaram para o país, que investiu 155 mil milhões de dólares em infra-estruturas turísticas – um valor que só fica atrás do dos Estados Unidos, mas que deverá tornar-se o primeiro até 2028 -, uma vez que viu o sector representar 11 por cento do seu produto interno bruto total”. Os autores defendem que “ao ligar e aumentar a dinâmica entre a BRI [Belt and Road Initiative] e a área da Grande Baía, com um esforço interessante na diversificação da economia de Macau e no fortalecimento do seu sector turístico, bem como entre os objectivos nacionais e regionais, a China parece estar a encontrar uma forma de impulsionar o turismo e colher os frutos em termos de soft power cultural”. Assim, e a longo prazo, considera-se que o país “poderá não só fazer crescer o poder das suas narrativas e da sua cultura, mas também melhorar o poder normativo e o posicionamento institucional na cena mundial, sobretudo no que diz respeito às questões de governação”. De referir que o livro “The Palgrave Handbook on China-Europe-Africa Relations” é editado por Yichao Li, Jorge Tavares da Silva, Carlos Rodrigues e Francisco José Leandro, da Universidade de Macau. A edição está a cargo da Palgrave Macmillan.
Andreia Sofia Silva Grande Plano ManchetePortuguês | Estudo aponta falta de foco do Brasil em Macau e na China “Brazilian foreign policy and the quest to promote portuguese: building bridges through Macau”, estudo da autoria de João Simões, da Universidade Cidade de Macau, e de Daniel Veras, chama a atenção para a necessidade de o Brasil apostar mais nas vantagens de Macau na promoção do português, assim como na China Um estudo publicado recentemente na revista Janus, da Universidade Autónoma de Lisboa, chama a atenção para o facto de o Brasil não estar a aproveitar devidamente as vantagens que Macau pode oferecer na promoção da língua portuguesa, integrada na política externa do país. “Brazilian foreign policy and the quest to promote portuguese: building bridges through Macau” [A política externa brasileira e a questão da promoção do português: construir pontes através de Macau] tem autoria de João Simões, professor assistente da Universidade Cidade de Macau (UCM) e Daniel Veras, docente na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, no Brasil. “É tempo de o Brasil ter uma presença mais significativa em Macau, não só através dos canais diplomáticos, mas também estimulando o envolvimento de vários actores não estatais, como câmaras de comércio e investimento, associações profissionais, centros culturais brasileiros, órgãos de comunicação social, fundações artísticas e culturais, entre outros”, lê-se no artigo. Desta forma, os autores consideram que este conjunto de parceiros poderia ajudar o Brasil “a alavancar o papel de Macau como gerador de oportunidades, algo que o Brasil ainda não aproveitou plenamente”, uma vez que essa “presença reforçada em Macau permitiria a consolidação das parcerias existentes entre universidades brasileiras e da China continental”. Além disso, ao nível dos alunos, uma presença mais robusta do Brasil na RAEM poderia “aproximar os estudantes chineses que aprendem português das empresas brasileiras, reforçando a ligação entre a educação e o ecossistema empresarial da Grande Baía”, bem como potenciar a produção de “materiais didácticos adaptados localmente ao contexto chinês e, em última análise, aproximando o Brasil e a China através do ambiente único que Macau oferece”. Baseando-se em documentos oficiais e demais estudos sobre esta temática, os autores consideram que, em termos gerais, existe “a necessidade de o Brasil aproveitar efectivamente a posição estratégica de Macau para capitalizar estas oportunidades”. Destaca-se entre os pontos principais desta posição o facto de, em Macau, vigorar a política de “Um País, Dois Sistemas”, ser “um porto franco internacional, uma zona aduaneira autónoma” e possuir “um regime fiscal simples e reduzido”, sem esquecer o papel de plataforma comercial. Os académicos referem também o “Plano de Desenvolvimento para a Diversificação Económica Adequada da RAEM (2024-2028)” que “também oferece oportunidades, com destaque para a promoção do desenvolvimento de indústrias-chave como a medicina tradicional chinesa, a indústria financeira moderna, a tecnologia de ponta e os sectores MICE (reuniões, incentivos, conferências e exposições) e da cultura e desporto”. Uma fraca aposta Em relação à China, o Brasil também não está a explorar todas as oportunidades, destacam João Simões e Daniel Veras. “A política externa do Brasil tem promovido activamente a língua portuguesa em determinadas geografias, mas não tem dado prioridade à China, apesar da importância da relação bilateral entre os dois países”. É referido que “a língua portuguesa está a expandir-se na China, mas a participação do Brasil não está à altura da sua magnitude enquanto maior país de língua portuguesa do mundo”. Defende-se que essa “discrepância é ainda mais surpreendente se considerarmos que a China é o maior parceiro comercial do Brasil desde 2009”. O estudo destaca a posição de Victoria Almeida sobre a origem dos professores de português na China, que “historicamente o ensino de português na China teve como referência professores de Portugal”. Assim, “só recentemente os professores do Brasil se tornaram mais predominantes”, e uma das explicações apontadas para esse facto é a criação do Programa de Leitorado, que envia docentes para ensinar português em todo o mundo. É referida a situação desse programa em 2010, quando “foram selecionados 13 leitores, dois dos quais colocados na China: um no BISU e outro na Guangdong University of Foreign Studies”. Ainda assim, “os materiais didácticos do Brasil são escassos e, embora haja estudantes chineses que queiram ir para o Brasil, essas oportunidades são limitadas e os custos são elevados”. Entende-se que o Brasil “poderia tirar partido do que está a acontecer com o ensino do português na China continental”, pois “após anos de rápido crescimento do número de aprendizes de português, estamos agora numa fase de investimento nos chamados estudos de área ou regionais”. Assim, “as instituições de ensino superior e de investigação brasileiras podem contribuir para o reforço dos estudos de área da China sobre os países lusófonos e a América Latina, através da investigação e análise das dinâmicas sociais, económicas, políticas e culturais das regiões-alvo”, sobretudo tendo em conta a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, é salientado pelos autores. Portugal faz melhor O estudo denota que, apesar dos diversos intercâmbios entre o ensino superior brasileiro e chinês, a verdade é que “muito mais estudantes chineses retornam de intercâmbios em Portugal, cujas melhores universidades oferecem intercâmbios com estudantes chineses”, considerando-se que “demorará muito até que o Brasil construa uma cultura de ensino na China”. Desta forma, “em comparação com o Brasil, Portugal tem um maior enquadramento no ensino do português no estrangeiro”, disponibilizando “programas de ensino e bolsas de estudo para estudantes chineses”, de nível de mestrado e doutoramento, sem esquecer “a parceria com o Instituto Camões”. “Portugal também facilita a aquisição de títulos, além de promover a tradução de romances portugueses na China. Em contrapartida, o Brasil não faz um esforço tão estruturado. Como resultado, actualmente, a maioria dos estudantes chineses de língua portuguesa tende a usar o português europeu como base ou, pelo menos, como referência”, destaca-se. Assim, João Simões e Daniel Veras consideram que “o Brasil pode capitalizar o contexto actual, que engloba vários factores favoráveis, para adoptar uma abordagem mais colaborativa na promoção da língua portuguesa na China”. O estudo refere que, actualmente, o português é falado por mais de 264 milhões de pessoas nos cinco continentes, prevendo-se que este número suba para quase 400 milhões de pessoas em 2050, com “o continente africano responsável pelo maior aumento”, reforçando a preponderância do português como uma das línguas mais faladas no hemisfério sul. Além disso, o português é uma língua oficial ou de trabalho em 32 organizações internacionais. Com a chegada de Lula da Silva à Presidência do Brasil pela segunda vez, os autores consideram que este “tem tentado uma aproximação à China”, nomeadamente no compromisso de adesão à iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” e na nomeação “de um representante permanente no Fórum Macau”. Os académicos citam a ideia de outro autor quanto à existência de “desconfiança e reserva que o Brasil tem demonstrado ao longo dos anos em relação ao Fórum Macau”. Um maior envolvimento “pode ajudar a garantir à China o acesso a recursos e mercados vitais no Brasil e em África, contribuindo potencialmente para a segurança alimentar e energética interna da China”, bem como potenciar Macau enquanto “canal cultural entre a China e o mundo lusófono”. Porém, “embora exista vontade política e um ambiente favorável em Macau, serão necessários esforços mais concertados por parte do Brasil para materializar estas oportunidades”, é referido.
Hoje Macau Grande PlanoAno Novo Chinês | Turismo e viagens impulsionaram consumo Chegado ao fim o período de feriados do Ano Novo Chinês, os números oficiais não mentem: a China atravessou um intenso período de consumo, sobretudo relacionado com viagens e turismo. Entre os dias 28 de Janeiro e esta terça-feira, alguns destinos no país quebraram recordes de visitantes É no início de cada ano que a economia espera por aquele que é um dos momentos altos para o turismo e consumo na China. O Ano Novo Chinês representa não apenas um momento de convívio familiar, mas também a oportunidade para muitos chineses viajarem. Este ano, para celebrar o Ano da Serpente, milhões de pessoas viajaram internamente e também para fora do país entre 28 de Janeiro e terça-feira, e segundo a Xinhua os números são impressionantes no que diz respeito a compras ou número de visitantes em alguns destinos. A prefeitura de Altay, na região autónoma de Xinjiang, é referida como um dos grandes destinos de esqui no país, tendo recebido entre 28 e 31 de Janeiro 191.900 visitantes, fluxo turístico que gerou 225 milhões de yuan em receitas. A agência destaca que “esquiar se tornou definitivamente a actividade mais popular em Altay durante as férias”, levando a “um número recorde de praticantes, mais de 10.000, a visitarem a estância de esqui de Jiangjunshan no dia 2 de Fevereiro”. Tal representou “um aumento de 23 por cento em relação ao ano anterior”. A zona de Altay é famosa por registar entre 170 e 180 dias de neve por ano, sendo que nas zonas montanhosas a profundidade média da neve chega a atingir entre um e dois metros. Outra região da China que atingiu números consideráveis nos feriados do Ano Novo Chinês foi o condado de Yangshuo, na região autónoma de Guangxi Zhuang, graças “às paisagens naturais únicas e ricas actividades culturais”. Entre 28 e 30 de Janeiro, esta zona recebeu cerca de 410.600 turistas, gerando receitas turísticas de 589 milhões de yuan. Por sua vez, Lhasa (no Tibete) também registou um aumento do número de visitantes. Entre 28 de Janeiro e segunda-feira, a cidade recebeu 1,95 milhões de turistas, representando um aumento de 20,6 por cento em relação ao ano anterior, e apurou em receitas turísticas quase 1,76 mil milhões de yuan. Trata-se de um aumento de 14,75 por cento em relação ao ano anterior, de acordo com o gabinete municipal de cultura e turismo de Lhasa. Dados positivos das agências Ainda segundo a Xinhua, os números do Ano Novo Chinês também se revelaram nas plataformas de reservas de viagens. No caso da Fliggy, uma das principais agências online, foi registado “um aumento de reservas, especialmente para cidades como Xangai, Pequim e Guangzhou”. Por outro lado, “as encomendas de viagens internacionais aumentaram de forma significativa, com as reservas de cruzeiros internacionais a aumentarem mais de seis vezes em comparação com o ano anterior”. Relativamente ao tráfego aéreo, o Shanghai Airport Group informou que o tráfego de passageiros no domingo atingiu um novo recorde histórico de 404.000 pessoas, com o aeroporto de Pudong, em Xangai, a registar 259.000 passageiros e o aeroporto de Hongqiao 145.000 passageiros. Houve ainda uma “coordenação reforçada dos serviços de metro, autocarros e táxis para garantir o transporte sem problemas” com a chegada do fim dos feriados, disse o grupo. Na segunda-feira, o China State Railway Group Co., Ltd. registou “um marco histórico”, pois foram transportadas em todas as linhas de caminhos-de-ferro um total de 16,45 milhões de pessoas. Trata-se do “maior tráfego de passageiros num único dia na história da corrida às viagens da Festa da primavera”. Só esta terça-feira, último dia dos feriados, terão viajado de comboio 16,9 milhões de passageiros, número que realça “ainda mais o pico de viagens, uma vez que centenas de milhões de pessoas regressaram aos seus destinos após as reuniões familiares”. Comes e bebes No que ao turismo diz respeito, verificou-se “um número crescente de pessoas que procuraram conhecer o património da China, motivados pela inscrição do Festival da Primavera na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO, em Dezembro de 2024”, indica a agência estatal. Dados do Ministério do Comércio mostram que as vendas nas principais empresas de retalho e restauração em toda a China, durante os primeiros quatro dias dos feriados, aumentaram 5,4 por cento em comparação com o mesmo período do ano passado. Verificou-se um aumento de consumo de alimentos e bebidas importadas, como lagostas, cerveja e vinho. “Devido ao aumento da procura durante o Festival da Primavera, as importações da nossa empresa aumentaram quase 50 por cento no último mês”, disse Yang Xinyu, que representa uma empresa da cadeia de abastecimento internacional sediada em Guangzhou. Desde Janeiro que as autoridades aduaneiras do Aeroporto Internacional de Guangzhou Baiyun registaram um aumento na importação de produtos alimentares como lagostas e caranguejos, de 31,8 por cento em relação a 2024, traduzindo-se no valor total de 14,3 milhões de yuan. Muitas compras online E se o Ano Novo Chinês é sinónimo de reunião familiar, os feriados foram mais uma vez uma época para fazer compras online. A Meituan, uma das principais plataformas de comércio electrónico de serviços do país, registou um “aumento impressionante” de 300 por cento em relação ao ano anterior nas reservas online para os jantares da véspera do Ano Novo Lunar. De destacar que “as encomendas de grupos para pacotes com o tema ‘património cultural intangível’ aumentaram mais de 12 vezes desde Janeiro, ano após ano, reflectindo o crescente interesse dos consumidores em experiências culturais”. Sun Jiashan, investigador associado da Academia Central da Administração da Cultura e do Turismo, referiu, segundo a Xinhua, uma mudança no comportamento dos consumidores, sobretudo por parte dos mais jovens e famílias. “As famílias jovens estão a tornar-se cada vez mais a força motriz do consumo, com uma tendência para experiências diversificadas, de alta qualidade e culturalmente ricas”, afirmou. Os dados da Meituan Travel corroboram a observação do analista de que os jovens optam cada vez mais por celebrar o Festival da Primavera em cidades mais pequenas, mergulhando no património cultural intangível e nos marcos históricos. O aumento do turismo e do consumo cultural, desde experiências patrimoniais a filmes de grande sucesso, indicam uma procura crescente por actividades culturais tradicionais e contemporâneas. “Esta tendência também levou ao aumento da procura de produtos e serviços culturais e turísticos, originando a introdução de novos modelos e formatos de negócio que se adaptam melhor aos padrões contemporâneos de consumo cultural”, afirmou Sun, salientando o potencial do mercado de consumo chinês e as forças motrizes internas da economia. Mas nem só de compras se fez este Ano Novo Chinês, pois “a indústria cinematográfica do país provou ser um dos maiores vencedores durante a onda de consumo do Festival da primavera”. Entre os dias 29 de Janeiro e 3 de Fevereiro as receitas diárias de bilheteira ultrapassaram mil milhões de yuans durante seis dias consecutivos, elevando as receitas de bilheteira do Festival da Primavera deste ano para 8,02 mil milhões de yuans, De acordo com os dados da Administração Cinematográfica da China, a bilheteira total da China nos feriados deste ano, incluindo as pré-vendas em tempo real, ultrapassaram dez mil milhões de yuan.
Hoje Macau Grande PlanoDinamarca | PM recusa vender Gronelândia A primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, mostrou-se ontem disponível para dialogar com os Estados Unidos sobre a Gronelândia, frisando que o território autónomo “não está à venda”. “Temos sido muito claros: todos temos de respeitar a soberania de todos os Estados no mundo – e a Gronelândia é hoje uma parte do reino da Dinamarca – não está à venda”, referiu. A líder dinamarquesa, falava à entrada do primeiro retiro de líderes da UE, iniciativa criada pelo presidente do Conselho Europeu, António Costa, para debates mais informais. Concordo totalmente com os americanos que a região do Extremo Norte, a região do Ártico, é cada vez mais importante quando falamos de defesa e segurança e de dissuasão, e é possível encontrar uma forma de assegurar uma pegada mais forte [dos Estados Unidos] na Gronelândia, onde já estão”, referiu ainda Mette Frederiksen. A chefe do governo de Copenhaga lembrou ainda que as tropas dinamarquesas combateram ao lado dos EUA durante muitas décadas. O Presidente dos EUA, Donald Trump, tem reivindicado um maior acesso ao Ártico e manifestou o interesse de adquirir a Gronelândia, um território autónomo gerido pela Dinamarca.
Hoje Macau Grande PlanoEUA | Trump vai impor taxas sobre produtos europeus “muito em breve” O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que os produtos europeus vão ser sujeitos a taxas aduaneiras “muito em breve”, na sequência da imposição de tarifas à importação de produtos do Canadá, México e China. “Estão realmente a aproveitar-se de nós, temos um défice de 300 mil milhões de dólares. Não levam os nossos automóveis nem os nossos produtos agrícolas, praticamente nada, e todos nós compramos, milhões de automóveis, níveis enormes de produtos agrícolas”, disse no domingo à imprensa. A União Europeia lamentou no mesmo dia o aumento das taxas aduaneiras pelos Estados Unidos da América sobre produtos do Canadá, do México e da China, e disse que vai retaliar fortemente se for alvo de tarifas injustas. “A UE acredita firmemente que direitos aduaneiros baixos promovem o crescimento e a estabilidade económica”, disse a Comissão Europeia em comunicado, através do qual considerou a imposição de mais tarifas pelos EUA como “nocivas para todas as partes”. Já, se o bloco europeu for também alvo dessas medidas, o executivo comunitário vai “retaliar fortemente”. Donald Trump assinou no sábado a ordem executiva para a aplicação de taxas aduaneiras aos produtos provenientes do Canadá, do México e da China. A assinatura, que oficializa a decisão que já tinha sido anunciada, determina a imposição de tarifas de 10 por cento à China, de 25 por cento ao México e de 25 por cento ao Canadá, excepto no petróleo canadiano, que terá tarifa de 10 por cento. Trump tinha vindo a ameaçar a imposição de tarifas para garantir uma maior cooperação dos países para impedir a imigração ilegal e o contrabando de produtos químicos, como o fentanil, um opioide que está a provocar vagas de adição importantes nos Estados Unidos. Os três países prometem tomar medidas. Sacrifício (des)necessário Já no caso da União Europeia, ainda não foi tomada uma decisão, mas a preocupação é geral e a França defendeu no domingo uma “resposta mordaz” da Europa face às ameaças de novas tarifas aduaneiras pelo Presidente norte-americano. Trump admitiu que as novas tarifas podem causar sofrimento ao povo norte-americano, mas garantiu que “tudo valerá a pena” porque vai “tornar a América grande de novo”. “Haverá sofrimento? Sim, talvez (e talvez não). Mas vamos tornar a América grande de novo, e tudo valerá a pena”, escreveu Donald Trump, em letras maiúsculas, no perfil da rede social que fundou, a Truth Social, citado pela agência de notícias France-Presse.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteEstudo | Maior satisfação de vida associada a relações e dinheiro Um estudo que avalia a satisfação de vida em 65 países e regiões, incluindo China, Taiwan e Hong Kong, conclui que em todos os países a segurança financeira e ter uma relação amorosa são factores chave para a felicidade. Porém, durante a pandemia houve uma “grande variabilidade na satisfação global” O que é necessário para ter uma vida plena e com felicidade? A questão, que pode ter várias conotações e tendências espiritais, procurou ser respondida e quantificada pelos autores do estudo “Life satisfaction around the world: Measurement invariance of the Satisfaction With Life Scale (SWLS) across 65 nations, 40 languages, gender identities, and age groups” [Satisfação com a vida em todo o mundo: Invariância de medição da Escala de Satisfação com a Vida (SWLS) em 65 países, 40 línguas, identidades de género e grupos etários]. O estudo, editado recentemente pela revista académica “PLOS One”, partiu de análises feitas por dezenas de académicos e contribuidores em 65 países e regiões, incluindo a China, Taiwan e Hong Kong, o que perfaz 57 mil pessoas analisadas. Em termos gerais, os autores concluem que “em todos os países uma maior satisfação com a vida foi significativamente associada à segurança financeira e à existência de uma relação de compromisso ou casamento”. Desta forma, os resultados apontam que “uma maior satisfação com a vida está significativamente associada a uma maior segurança financeira e a qualificações educacionais mais elevadas (o que pode ser um indicador do estatuto socioeconómico, embora a dimensão do efeito desta relação específica fosse insignificante)”. Em termos gerais, “estes resultados são consistentes com as provas que indicam que a satisfação das necessidades humanas básicas e o bem-estar material é um forte – possivelmente o mais forte – preditor do bem-estar psicológico em geral e da satisfação com a vida especificamente”. É certo que os autores chamam a atenção para o facto de a ideia de bem-estar poder variar de país para país consoante a cultura das populações, mas os resultados “sugerem que, quando considerada ao nível do indivíduo, a associação entre a satisfação com a vida e os indicadores de bem-estar material parece ser relativamente robusta entre nações”. No tocante aos relacionamentos, as respostas penderam mais para a importância de não se estar só. “Verificámos que o estado civil estava significativamente associado à satisfação com a vida. Mais especificamente, verificámos que os inquiridos em relações de compromisso tinham maior probabilidade de relatar mais satisfação com a vida do que os não casados. Este resultado é consistente com a literatura mais alargada que mostra que o estado civil é um correlato robusto do bem-estar psicológico.” Porém, uma vida satisfatória não está directamente ligada exclusivamente a relações amorosas, podendo também ocorrer quando a pessoa tem uma vida social activa. “Tem sido sugerido que a formação e manutenção de relações sociais é fundamental para a promoção da satisfação com a vida, particularmente em culturas ou comunidades que enfatizam os valores familiares, porque satisfazem uma necessidade humana básica de pertença e são uma fonte de afirmação positiva”. Além disso, “reforçam comportamentos saudáveis e protegem contra o impacto de acontecimentos negativos”. Assim, o estudo considera ser “provável que as pessoas que vivem em relações de compromisso possam reportar um maior apoio emocional e integração social, o que, por sua vez, contribui de forma independente para a satisfação com a vida”. Os tempos covid-19 Se a socialização é tida como muito importante para uma vida satisfatória, como terá sido em tempos de covid-19, que obrigou a longos períodos de confinamento e isolamento? O estudo recorreu a critérios específicos e estatísticas para avaliar a questão, concluindo que houve “uma grande variabilidade na satisfação global com a vida no contexto da pandemia de covid-19. Os inquiridos no Canadá (francófono) e de Israel apresentaram as médias SWLS mais elevadas e os inquiridos no Japão e na Ucrânia a apresentarem as médias mais baixas”. Tendo em conta a grande dimensão da amostra, os resultados permitem concluir “que a satisfação com a vida variou substancialmente entre os grupos nacionais na altura da pandemia da covid-19″, embora, destacam os autores, “seja necessário ter cuidado ao interpretar as médias latentes” referidas no trabalho para não se avançarem com conclusões definitivas. Ainda assim, os académicos entendem que estes dados podem ser importantes para quando “profissionais e os decisores políticos tentarem compreender as diferenças na satisfação com a vida entre as nações”, além de ser uma “forma de apoiar melhor o bem-estar subjectivo na era pós-pandémica”. Destaque ainda para a menor satisfação de vida por parte dos grupos populacionais minoritários. “Verificámos que a identificação como parte de uma minoria racializada estava associada à menor satisfação com a vida. Embora este facto seja consistente com alguns trabalhos anteriores e reflicta provavelmente o efeito deletério das experiências de racismo na satisfação com a vida, é de notar que a dimensão do efeito desta relação foi insignificante.” Além disso, os autores destacam que “a urbanidade estava associada à satisfação com a vida de forma pouco significativa”, tendo sido avaliada se viver numa cidade ou outro contexto urbano mudava o nível de satisfação com a vida. Meios e fins Para se atingirem os dados da escala SWLS acima descritos, foi feito o “Inquérito sobre a Imagem Corporal na Natureza” (BINS, na sigla inglesa) por parte de 253 cientistas ou académicos dos 65 países envolvidos, que recolheram dados entre Novembro de 2020 e Fevereiro de 2022. No total, foram entrevistadas 56.968 pessoas, 58,9 por cento eram mulheres, 40,5 por cento homens e 0,6 por cento eram de outra identidade de género. Em termos de raça e etnia, a maioria, 74,2 por cento, “identificou-se como fazendo parte de uma maioria racializada”, enquanto 11,3 por cento “se identificou como fazendo parte de um grupo racializado ou étnico minoritário”. Em relação ao sítio onde vivem os participantes, 27 por cento disse viver numa capital, 13,7 por cento no subúrbio de uma capital, 25,1 por cento numa cidade de província, ou seja, com mais de 100 mil habitantes; enquanto 18,7 por cento disse residir numa cidade de província com mais de 10 mil habitantes. Apenas 15,5 por cento dos inquiridos vivia numa zona rural. Quanto às habilitações literárias, 33,5 por cento terminou o ensino superior, sendo que 42 por cento estavam solteiros e 19,5 por cento estavam numa “relação de compromisso, mas não eram casados”. Por sua vez, 33,5 por cento eram casados. Relativamente à segurança financeira, 24,9 por cento dos participantes referiram sentir-se menos seguros do que outros da sua idade no seu país de residência, enquanto 49,6 por cento disseram sentir-se “igualmente seguros” e 25,5 por cento consideraram estar “mais seguros”. Os dados do inquérito permitiram aos autores do estudo “examinar as associações entre a satisfação com a vida e as principais variáveis sociodemográficas ao nível do indivíduo”. Foram avaliados factores como “satisfação com a vida”, “segurança financeira” e “urbanidade”, em que os participantes preencheram a SWLS utilizando uma escala de resposta de 7 pontos, em que 1 ponto representava a opinião “discordo totalmente” e 7 pontos “concordo totalmente”. Foram também avaliados dados demográficos como a idade, educação, estado civil ou a raça. No que respeita à China, o país é dividido entre “China – Cantonês”, “China – Inglês” e “China – Mandarim”. No caso da “China – Cantonês”, respeitante a Hong Kong, responderam 409 pessoas, com 58 por cento de mulheres e apenas dois por cento dos inquiridos pertencentes a uma minoria racial. A totalidade dos participantes vive em contexto urbano, enquanto 96 por cento terminou o ensino secundário ou superior. Dos inquiridos, apenas dois por cento diz estar num relacionamento, seja ou não casamento. No caso da “China – Mandarim” participaram 1,231 pessoas, 69 por cento das quais mulheres, em que 95 por cento reside em zonas urbanas. 86 por cento dos inquiridos tem um compromisso ou relacionamento.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteEstudo | Académicos destacam lado “egocêntrico” do Natal em oposição ao Ano Lunar Um estudo de três académicos chineses afirma que enquanto o Ano Novo Chinês tem um menor cariz menor e “é claramente representativo da sociedade chinesa contemporânea”, o “Natal no Ocidente é egocêntrico, exalta a individualidade e mostra mais interactividade”. Porém, o trabalho, publicado numa revista da Universidade do Estado da Bahia, aponta para a maior convergência de características culturais Natal e Ano Novo Chinês: como são, o que representam para o Ocidente e Oriente, e quais os pontos de convergência? É a estas perguntas que o estudo “Comparações das culturas entre o Ano Novo Chinês e o Natal Ocidental”, da autoria de Zhen Zhao, Yin Xuelu e Qiao Jianzhen pretende responder. O trabalho académico foi publicado recentemente na revista “Pontos de Interrogação – Revista de Crítica Cultural”, da Universidade do Estado da Bahia, no Brasil. Os autores destacam, em termos gerais, que “o Natal no Ocidente é egocêntrico, exalta a individualidade e mostra maior interactividade”, nomeadamente com a “participação da multidão” e demonstração de “emoções carnavalescas apaixonadas das pessoas”. Por outro lado, o Ano Novo Chinês “é um festival nacional, claramente representativo da sociedade chinesa contemporânea”. Em termos gerais, este tipo de celebrações surge descrito como tendo “um significado sociocultural especial que se intercala com as rotinas diárias”, sendo “uma exibição concentrada da vida colorida das pessoas” bem como “um resumo e extensão da política, economia, cultura e religião de várias regiões, grupos étnicos e países”. Descrevem ainda os autores que o Ano Novo Chinês, que também pode ser denominado de Ano Novo Lunar ou Festival da Primavera, tem raízes “numa pequena economia camponesa e baseia-se frequentemente no confucionismo, com uma mistura de cultura budista e taoista”, estando ligado a “rituais religiosos feudais”. Por sua vez, o Natal é apresentado como tendo uma maior componente religiosa, estando “enraizado na cultura cristã ocidental e encarna os valores da liberdade e igualdade, do pecado original e do individualismo em toda a parte”. Interligações inevitáveis Porém, o estudo descreve como inevitável o futuro intercâmbio de demonstrações culturais nestas épocas do ano: no caso do Natal, no mês de Dezembro; no caso do Ano Novo Chinês, durante os meses de Janeiro e Fevereiro de cada ano, consoante o calendário. “O futuro intercâmbio das culturas chinesa e ocidental, incluindo a cultura do festival, é uma parte inevitável do desenvolvimento social e histórico”, é descrito, bem como “um processo evolutivo de complementaridade entre as culturas chinesa e ocidental”. Desta forma, afirmam os autores, deve descobrir-se pontos de contacto de ambas as culturas “a partir das diferenças entre o Ano Novo Chinês e o Natal, para que possam ser promovidos” e para que haja uma maior preservação “das respectivas culturas nacionais”. Os autores dizem notar “a aceleração do intercâmbio cultural entre o Oriente e Ocidente” neste campo, uma vez que os “chineses celebram os festivais ocidentais e os estrangeiros celebram os festivais chineses”. “Na era da globalização, e devido ao desenvolvimento e aprofundamento da economia e da cultura, as festas tradicionais chinesas e ocidentais têm sido gradualmente aceites por ambos os povos numa tolerância mútua”, pode ler-se. Pontos diferenciadores Os três autores do estudo recordam que, na China, os festivais mais tradicionais têm uma ligação à agricultura, com costumes tradicionais baseados na comida e na bebida. “A principal razão disso é a busca do povo chinês na ida ser orientada para uma vida longa e saudável”. Enquanto isso, “as festas tradicionais ocidentais têm principalmente origem na religião e eventos relacionados”, tendo, por isso, “fortes conotações religiosas”. Acrescenta-se que, no Ocidente, “os costumes tradicionais no período de férias baseiam-se principalmente no tema da diversão”, sendo a principal razão o facto de “a busca dos ocidentais na vida ter como objectivo a saúde e felicidade”. Em termos comparativos, “tanto o Ano Novo Chinês como o Natal são uma época de reunião familiar e uma época maravilhosa para as pessoas olharem para trás e também para o futuro”, embora “com conotações diferentes nas culturas chinesa e ocidental”. Uma das diferenças apontadas no estudo é a forma como se celebram os dias anteriores a estas datas. “A passagem do ano [no Ano Novo Chinês] é o momento em que as pessoas tentam ir para casa dos seus entes queridos, não importa onde estejam. O jantar de Ano Novo é o ponto alto, também conhecido como o jantar de reencontro, sendo a refeição mais importante do ano.” Um dos rituais passa por, a partir do pôr-do-sol, “as famílias começarem a acender os foguetes”, começando-se a preparar as refeições com esse ambiente. “Embora os pratos de jantar do Ano Novo variem de lugar para lugar, cada prato tem um certo significado simbólico. Os chineses gostam de usar os harmónicos para atrair boa sorte, e, por exemplo, os harmónicos de frango ‘Ji’ significam ‘auspicioso'”, enquanto “os harmónicos de peixe ‘Yu’ significam ‘ano após ano'”. “A véspera do Ano Novo é um costume do povo chinês Han. Depois de comer a refeição do Ano Novo, as pessoas reúnem-se em família a fim de esperar pela chegada do Ano Novo à meia noite”, apontam os autores, descrevendo também que “em muitas partes da China, na noite de Ano Novo, as pessoas preparam sumptuosas oferendas, acendem incenso e velas, despejam vinho e queimam dinheiro de papel, prestando homenagem aos antepassados em família para expressar a nostalgia por eles”, além de esperarem bençãos “para os filhos e netos do céu, inspirando os descendentes a trabalharem mais e a viverem à altura dos desejos dos seus antepassados”. No caso do Natal, celebrado a 25 de Dezembro, a véspera é marcada por um jantar em família que também conta com pratos e doces tradicionais, como o bolo-rei, o bacalhau ou o peru assado. “Ao contrário da vigília chinesa de Ano Novo, os ocidentais celebram o Natal como uma festa única de fantasia na véspera de Natal que se prolonga ao longo da noite. Na festa não há um código de vestuário rigoroso, bastando ser natural e informal, subir para dizer ‘olá’ e enviar desejos sinceros [de boas festas]”, é referido. Outro ponto diferenciador apontado é as ofertas. Se no Ano Novo Chinês é habitual a oferta de dinheiro nos envelopes “lai si”, no Natal Ocidental distribuem-se presentes entre família e amigos. A distribuição de dinheiro no Ano Novo Chinês tem diversas conotações, existindo um tipo de dinheiro para os mais velhos, servindo “para lhes desejar uma longa vida”; enquanto que há depois o dinheiro dado dos mais velhos aos mais novos, representando uma transmissão de cuidado da parte dos mais séniores. Por sua vez, “as primeiras lendas sobre presentes de Natal referem-se ao nascimento de Jesus”, com as oferendas dos reis magos. “Actualmente tornou-se costume dar presentes entre familiares e amigos no Natal”, é referido, existindo também a ideia de que é o Pai Natal a distribuir os presentes. “Por vezes as pessoas fingem ser o Pai Natal para dar presentes às crianças, a fim de acrescentar o espírito festivo”, refere-se. Outra grande diferença apontada pelo estudo é o facto de, no Ocidente, o Natal não ter a mesma conotação dos antepassados. “No Ocidente as pessoas não adoram os seus antepassados, sendo que as pessoas vão à igreja para celebrar o nascimento de Jesus. As pessoas não se limitam a estar nas reuniões familiares, mas convidam [outros] de forma calorosa para as suas casas, e não é considerado rude festejar juntos. Durante as férias muitas pessoas participam em actividades comunitárias para ajudar os pobres e dar presentes, reflectindo a ideia de busca de igualdade.” Pontos de semelhança Segundo o estudo, as duas celebrações têm como ponto em comum servir para “manter a estabilidade social”. “Na China antiga a produção agrícola era fortemente influenciada pelo clima. Os trabalhadores pobres que pertenciam às classes mais baixas tinham muitas vezes de trabalhar todo o ano, o que inevitavelmente levava à insatisfação com a realidade da situação”. Neste sentido, a chegada do Ano Novo Chinês é “um bom momento para libertar emoções”, decorando-se a casa e acendendo-se foguetes na criação “da esperança de que o próximo ano seja bom, com boas colheitas e melhores dias”. No tocante ao Natal, é descrito que as pessoas “vão à igreja adorar [os santos], cantar canções de Natal e rezar a Deus, esperando que este as ajude a sair das dificuldades quando estão em apuros ou quando estão doentes e enfrentam a morte. Esperam que Deus as perdoe pelos pecados para que possam ascender ao céu depois da morte”, existindo aqui um paralelismo com a “libertação de emoções” acima descrita. Além disso, ambas as celebrações constituem formas de transmissão de cultura, segundo os autores do estudo. “A cultura do Ano Novo é uma acumulação da cultura tradicional chinesa, sendo a cristalização do trabalho e da sabedoria do povo chinês, expressando as aspirações do povo trabalhador que anseia por coisas boas.” Além disso, estas celebrações “transportam e transmitem a cultura tradicional de forma subtil”, nomeadamente com pinturas e demais decorações das casas, ou ainda eventos como as danças do dragão e do leão ou ainda sessões de caligrafia. “Através destas actividades transmite-se o património cultural extremamente valioso às gerações mais jovens”, é referido. Por sua vez, no Natal existem as decorações próprias da época, com a árvore, as luzes ou o presépio, em cores verde, vermelho e demais tons brilhantes. “As pessoas que estiveram ocupadas todo o ano a trabalhar regressam para reviver o calor da família. As pessoas vão à igreja celebrar o nascimento de Jesus, sendo este um acontecimento regular e uma herança da cultura religiosa. Tornou-se costume enviar um cartão de Natal a amigos e familiares, e todos estes costumes carregam profundas conotações culturais que são transmitidas.”
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteTrabalho | Ásia Oriental com baixa satisfação laboral e desmotivação O relatório mundial sobre o panorama laboral, da Associação Internacional Gallup, concluiu que em países e regiões da Ásia Oriental, como a China, Taiwan ou Hong Kong, a maioria dos trabalhadores procura um novo emprego. Em Hong Kong, apenas seis por cento dos inquiridos estão empenhados com os seus empregos Perceber como se sentem os trabalhadores de todo o mundo no local de trabalho, e em relação ao emprego que têm, é o objectivo do relatório da Associação Internacional Gallup, intitulado “State of the Global Workplace 2024”. Se no panorama mundial e regional a Ásia Oriental se sai bem em alguns indicadores, o cenário não é nada favorável no que diz respeito ao compromisso ou empenho que os trabalhadores têm pela empresa a que estão vinculados ou pelas funções que desempenham. Dentro da Ásia Oriental incluem-se países e regiões como a China, Hong Kong, Japão, Mongólia, Coreia do Sul e Taiwan. Esta zona do globo tem “a mais baixa percentagem, a nível regional, de empregados que sentem tristeza diária”, mas tem “a terceira percentagem mais elevada, a nível regional, de empregados que dizem estar à procura, e de forma activa, de um novo trabalho”. Além disso, a Ásia Oriental tem “a terceira percentagem mais baixa a nível regional de empregados comprometidos” com o trabalho que têm (18 por cento, o que ainda assim representa uma subida de 1 por cento face ao período correspondente entre 2022 e 2023). Bem pelo contrário, 67 por cento dos inquiridos não estão, de todo, comprometidos ou empenhados com o trabalho, mais cinco por cento face a igual período. Além disso, 14 por cento diz estar totalmente descomprometida com a empresa para onde trabalham, menos seis por cento. Quanto a emoções negativas vividas diariamente, e com maior frequência, o factor “stress” lidera, com 46 por cento de respostas, menos seis por cento face ao período entre 2022 a 2023. Destaque para a entrada do sentimento “raiva”, com 17 por cento de respostas, e que não gerou quaisquer respostas no último inquérito. “Tristeza” foi um sentimento revelado por 12 por cento dos inquiridos, mais 1 por cento face ao inquérito anterior, e “solidão”, que tem também entrada directa para esta lista de sentimentos menos bons vividos no trabalho, com 18 por cento. Se a insatisfação com o trabalho se demonstra nos números anteriores, as certezas sobem de tom na categoria “ambiente de trabalho – boa altura para encontrar um trabalho”, com 51 por cento a responder afirmativamente, mais 11 por cento de respostas face ao inquérito anterior. Além disso, a categoria “Intenção de deixar – Olhando ou procurando de forma activa por um novo trabalho” foi escolhida por 54 por cento dos inquiridos, menos dois por cento face aos anos de 2022 a 2023. Na categoria “Avaliação de Vida”, os que dizem ter uma vida próspera são 32 por cento, menos sete por cento, em contraste com os 62 por cento de inquiridos que diz estar a sofrer algum tipo de dificuldades, mais sete por cento em relação ao último inquérito. A categoria “sofrimento” relacionado com o posto de trabalho foi escolhida por seis por cento dos participantes no inquérito, uma entrada directa neste estudo. Tristeza em baixo Para o estudo da Gallup, foram entrevistadas 40.428 pessoas em 41 países, sendo que a amostra por país contém cerca de 1.000 homens e mulheres. A margem de erro da sondagem “está entre +3-5 por cento com um nível de confiança de 95 por cento”, é referido. O estudo compara ainda os dados registados pelos trabalhadores da Ásia Oriental com os restantes países. E mais uma vez se denota a falta de compromisso e da sensação de “vestir a camisola” que persiste em muitas empresas. Em termos mundiais, 62 por cento das respostas apontam para a ausência de compromisso, quando na Ásia Oriental essa percentagem sobre para os 67 por cento. No tocante à “Avaliação de Vida”, se a nível mundial 58 por cento dos inquiridos diz estar a passar dificuldades, a percentagem da Ásia Oriental é de 62 por cento. Porém, o sofrimento sentido está apenas em seis por cento das respostas, enquanto a nível mundial a fasquia fica nos oito por cento. Em relação a este factor destaca-se ainda a baixa percentagem do sentimento de “tristeza diária”, com 12 por cento de respostas, quando a nível mundial a fasquia sobe para os 22 por cento. A sensação de “stress” é também superior, com 46 por cento de respostas, quando a nível global é de 41 por cento. China: raiva e dificuldades Olhando para os critérios em cada país, 19 por cento dos trabalhadores da China disseram estar comprometidos com o trabalho, mais dois por cento em termos anuais, enquanto em Hong Kong apenas seis por cento de pessoas estão comprometidas e que gostam do que fazem, o que constitui uma quebra de um por cento. Na “Avaliação de Vida”, 36 por cento dos trabalhadores da China dizem estar a enfrentar dificuldades, mais 1 por cento, enquanto em Taiwan 41 por cento diz enfrentar momentos menos bons, representando uma entrada directa na classificação, sem pontuação anterior para comparar. Já no caso de Hong Kong, 17 por cento de inquiridos assumem atravessar dificuldades, mais 1 por cento face ao inquérito anterior. Quanto ao sentimento de “stress diário”, a China sobe ao primeiro lugar do ranking com 53 por cento de respostas, ainda assim menos 2 por cento em termos anuais, com Hong Kong a seguir-lhe as pisadas, com 49 por cento de respostas. O Japão está em terceiro lugar com 41 por cento de pessoas a sentirem stress diariamente. Em resposta à pergunta se sentiu raiva no dia anterior, a China lidera novamente com 18 por cento de respostas, apesar da quebra anual de 2 por cento; seguindo-se a Coreia do Sul, com 17 por cento de respostas afirmativas, e depois Hong Kong com 16 por cento. Na China apenas 12 por cento dos trabalhadores disseram sentir tristeza, colocando, assim, o país em terceiro lugar. Já em relação a Hong Kong houve 11 por cento de respostas afirmativas neste domínio. Jon Clinfton, CEO da Gallup, deixa um alerta sobre o aumento dos problemas de saúde mental em todo o mundo, sobretudo relacionados com o meio laboral e a forma de relacionamento no meio empresarial. Cerca de 20 por cento dos trabalhadores de todo o mundo “experienciam solidão diária”, sendo que este sentimento “é maior entre trabalhadores em teletrabalho total”. “No relatório deste ano, 41 por cento dos trabalhadores afirmam sentir ‘muito stress’. No entanto, o stress varia significativamente em função da forma como as organizações são geridas. Quem trabalha em empresas com más práticas de gestão (activamente desmotivadas) têm quase 60 por cento mais probabilidades de estar stressadas do que as pessoas que trabalham em ambientes com boas práticas de gestão (empenhadas). De facto, a experiência de ‘muito stress’ é referida cerca de 30 por cento mais frequentemente pelos empregados que trabalham sob má gestão do que pelos desempregados”, disse o CEO da Gallup. Para o responsável, “os líderes sabem que o stress no local de trabalho é um problema – viram os dados, ouviram colegas e sentiram-no eles próprios”. “Um quarto dos líderes sente-se esgotado frequentemente ou sempre, e dois terços sentem-no, pelo menos, algumas vezes. Muitos estão a tentar resolver o problema, mas muitas vezes de forma ineficaz”, conclui-se.
Andreia Sofia Silva Grande PlanoÓbito | Morreu Rocha Vieira aos 85 anos Vasco Rocha Vieira, o último Governador português de Macau, morreu ontem aos 85 anos. O general encontrava-se doente há bastante tempo. Marcelo Rebelo de Sousa recordou-o como “um dos mais ilustres oficiais” do Exército, mas, para Macau, Rocha Vieira fica para a história como o grande obreiro das medidas decididas na Declaração Conjunta de 1987 Há muito que se encontrava doente, falhando mesmo alguns eventos recentes em Lisboa sobre Macau e a transição. Vasco Rocha Vieira, general, antigo Chefe do Estado-Maior do Exército, e último Governador português de Macau, morreu na madrugada de ontem com 85 anos de idade. Nascido a 16 de Agosto de 1939, exerceu o cargo de Governador de Macau entre 1991 e 1999, quando se processou a transferência do território para a China. Porém, Rocha Vieira já tinha uma ligação a Macau, pois esteve no território após o 25 de Abril. Além disso, foi ainda ministro da República dos Açores entre os anos de 1986 e 1991. Uma das primeiras personalidades a reagir à sua morte, em Portugal, foi o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que manifestou, numa nota oficial, o “profundo pesar” pela morte de Vasco Rocha Vieira, recordando-o como “um dos mais ilustres oficiais” do Exército e enaltecendo o seu “marcado patriotismo”. Numa nota publicada no sítio oficial da Presidência da República na Internet, o chefe de Estado recorda Rocha Vieira como “um dos mais ilustres oficiais do Exército Português na transição para a Democracia e nas primeiras décadas da sua afirmação”. “Desde sempre muito ligado aos Comandos, exerceu ainda funções políticas como as de Ministro da República para a Região Autónoma dos Açores”, é recordado na nota. Marcelo Rebelo de Sousa destaca ainda que Rocha Vieira foi “muito próximo do Presidente António Ramalho Eanes”, tendo sido por ele “designado Chanceler das Antigas Ordens Militares”. “O simbolismo do momento da transferência da administração portuguesa para a chinesa permanecerá na memória de muitos portugueses como um exemplo de sentido de Estado, sentido de serviço da causa pública e de marcado patriotismo”, lê-se na nota de pesar. O Presidente da República, que afirma ter acompanhado “de perto os últimos meses” da vida de Rocha Vieira, “apresenta à sua família, e, muito em especial, à sua viúva e filhos, o testemunho de gratidão de Portugal, com muito saudosa amizade”. Na sua biografia, intitulada “A todos os portos a que cheguei”, descreve-se o momento em que Mário Soares, então Presidente da República, disse a Rocha Vieira: “Preciso de si. Vá para Macau e veja se põe aquilo na ordem”, numa referência ao caso do fax de Macau, relacionado com a construção do Aeroporto Internacional de Macau, que tantas dores de cabeça deu ao seu antecessor, Carlos Melancia, também já falecido. O general terá então respondido que nada exigiu para ir para Macau. “Não lhe perguntei nada, nem lhe pus condições. Fui para Macau com o mesmo espírito com que fui para os Açores. Não era um cargo político inerente a uma carreira. Era, de facto, uma missão”, descreve-se. Coube então a Rocha Vieira e à sua equipa a concretização de todos os objectivos e ideais para o futuro de Macau presentes na Declaração Conjunta que tinha sido assinada entre Portugal e a China em 1987. O Governo liderado por Rocha Vieira viu nasceu o aeroporto, construiu todo o quadro legislativo bilingue que ainda hoje está em vigor e ergueu o Centro Cultural de Macau, inaugurado já por Jorge Sampaio a 19 de Março de 1999, entre tantas outras iniciativas, inclusivamente na área do urbanismo. Um “grande amigo” Rocha Vieira chegou, aliás, a pôr o lugar à disposição à frente do Executivo de Macau quando Jorge Sampaio foi eleito Presidente da República, na viragem de 1995 para 1996. “Quando fui para Macau não sabia como as coisas iam correr e quanto tempo ia lá ficar”, recordou na sua biografia. Porém, e apesar de uma inicial hesitação de Sampaio numa mudança, a verdade é que Rocha Vieira acabou por ficar, pois “a sua substituição iria afectar a regular sequência do processo” de transição, numa altura em que “já estava à vista a passagem da administração do território para a China”, descreve-se em “A todos os Portos a que cheguei”. Em declarações à RTP, Chito Rodrigues, general que foi governador de Macau em exercício, deixou palavras de pesar pelo falecimento daquele que foi um amigo. “Recordo-o como grande amigo e sócio honorário da Liga dos Combatentes. Sempre se relacionou connosco e é uma referência nossa. Sabíamos que estava mal e não fomos, de certo modo, surpreendidos [com a notícia da morte], mas é sempre uma surpresa desagradável.” Chito Rodrigues recorda-o no exercício de funções em Macau como alguém que contribuiu “para que Macau fosse um lugar tranquilo para que a descolonização fosse feita de forma ‘exemplar'”. “Estive com ele na abertura do aeroporto e tive relações próximas com ele na qualidade de Governador. Foi alguém que substituiu os seus antecessores com êxito e humildade, repondo a tradição de Governadores militares em Macau”, acrescentou. No livro “Macau entre dois mundos”, de Fernando Lima e Eduardo Cintra Torres, o antigo Governador de Hong Kong, Chris Patten, recordou Rocha Vieira como “um homem corajoso e judicioso, com enorme integridade e um excelente servidor do seu país”. “Acho que Portugal teve muita sorte em ter um homem tão bom como último Governador, um lugar tão difícil”, apontou. As polémicas O nome de Rocha Vieira esteve, no entanto, envolto em algumas polémicas, nomeadamente com a criação da Fundação Jorge Álvares e Fundação Oriente, sobretudo no tocante aos fundos alocados para estas duas entidades. “O grosso da opinião pública do território e as autoridades de Pequim contestavam a legitimidade de um contrato nos termos do qual uma entidade com sede em Lisboa era alimentada com recursos gerados em Macau”, lê-se na biografia de Rocha Vieira. Este apenas pretendia que a fundação “desempenhasse um papel útil para Macau”, tendo a polémica sido diluída com o tempo. Nas redes sociais, o jornalista e antigo director do Macau Hoje, João Severino disse “lamentar muito” o desaparecimento de Rocha Vieira. “O General Vasco Rocha Vieira deixou-nos, após várias semanas internado no hospital. O último Governador de Macau foi um homem bom para muita gente e discriminatório para muitos. De todo o modo a sua carreira militar foi exemplar e deixou marcas na administração de Macau. Mantive com o ilustre Governador alguns momentos controversos, sempre dentro da maior cordialidade e consideração pelo representante máximo do meu país em Macau. Apresento à sua esposa dra. Leonor e aos seus filhos as minhas condolências e que descanse em paz”, escreveu. Uma entidade que reagiu ao desaparecimento de Rocha Vieira foi a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa (CCILC), que nas redes sociais divulgou uma nota de pesar sobre a morte daquele que foi o 138.º Governador português de Macau e que presidia ao conselho estratégico da CCILC. “O General Rocha Vieira desempenhou um papel marcante e exemplar ao longo de toda a sua vida, destacando-se pelo compromisso com o serviço à nação, pela dedicação às relações entre Portugal e a China, e pelo papel histórico no encerramento do ciclo da administração portuguesa em Macau.” A mesma nota refere ainda que “na liderança do conselho estratégico da CCILC, a sua visão estratégica, sabedoria e valores humanos foram sempre fonte de inspiração para toda a Direção e equipa executiva”. Também a Câmara Municipal de Lisboa reagiu oficialmente ao seu desaparecimento. “Rocha Vieira dedicou a sua vida à defesa do interesse nacional, servindo notavelmente Portugal como Chefe do Estado-Maior do Exército e como último Governador de Macau. Estadista de visão, assegurou uma transferência pacífica da soberania de Macau para China. Homem de coragem, contribuiu para a consolidação do processo democrático, sendo peça fundamental do 25 de Novembro de 1975. Foi uma honra contar com o seu depoimento na primeira cerimónia de evocação do 25 de novembro nos Paços do Concelho, em 2023.” O adeus a Macau São célebres as imagens de Rocha Vieira a segurar a bandeira portuguesa ao peito no dia 19 de Dezembro de 1999, com o rosto visivelmente emocionado, como quem diz adeus à “missão” que aceitou desempenhar em Macau. Terminada a sua função de Governador, Rocha Vieira foi mantendo laços estreitos com o território, sendo que a última vez que esteve em Macau foi em 2023, para receber a distinção de doutoramento honoris causa da Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau. Aí, destacou que as “boas relações históricas” com a China são “um trunfo para Portugal” e que hoje o país é “uma superpotência em afirmação”. O general disse que “um outro grande trunfo” para Portugal é o interesse na China pela língua portuguesa, sublinhando o número crescente de universidades chinesas que ensinam português. No final de 2020, o Coordenador do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa da Universidade Politécnica de Macau, Gaspar Zhang Yunfeng, disse que havia cerca de 50 instituições de ensino superior com cursos de português na China continental. “A China está interessada em que o português se desenvolva (…) também para poder ter, através de Portugal, uma relação mais estreita com os países de língua portuguesa”, salientou Rocha Vieira. Numa última entrevista concedida à agência Lusa, em 2019, Rocha Vieira recordou os tempos em Macau e as suas vicissitudes, sobretudo no tocante ao processo de transição. “Tive mais problemas com a parte portuguesa do que com a parte chinesa (…) muitas vezes, por falta de percepção. Normalmente, as pessoas estão longe, em Lisboa – isso é uma coisa histórica, que não é só de agora – e acham que sabem melhor as soluções do que aqueles que estão em Macau”, afirmou. Rocha Vieira assegurou que, quando foi necessário definir “o rumo, os objectivos fundamentais das políticas para Macau, foram discutidos pelo Governo de Macau, em Lisboa, com quem deviam ser discutidos, com o Presidente da República e com o primeiro-ministro”, havendo “sempre” sobre isso “uma grande compreensão por parte dos órgãos de soberania portugueses e uma grande prova de confiança em relação a quem estava no território”.
Hoje Macau Grande PlanoEUA | Trump diz que tarifas são “a única forma” do país ser “tratado como deve” Os países europeus vão ser sujeitos a tarifas aduaneiras, “a única forma” de os Estados Unidos “serem tratados como devem ser”, afirmou esta terça-feira o Presidente norte-americano, Donald Trump. “A União Europeia (UE) é muito má para nós. Tratam-nos muito mal. Não aceitam os nossos automóveis nem os nossos produtos agrícolas. De facto, não aceitam muita coisa”, disse o Presidente dos Estados Unidos, acrescentando que, por isso, serão alvos de tarifas. Questionado pela imprensa na Casa Branca, Trump garantiu ainda que a sua administração está a discutir “tarifas de 10 por cento sobre os produtos chineses, porque eles enviam [o opióide] fentanil para o México e Canadá”, que acaba por ser consumido nos Estados Unidos. “É provavelmente para 1 de Fevereiro”, acrescentou Donald Trump, dia que corresponde à data anunciada na véspera para a aplicação de tarifas de 25 por cento sobre os produtos mexicanos e canadianos. A China reagiu ontem, afirmando estar “firmemente determinada” a “defender os seus interesses nacionais”. “Sempre acreditámos que não há vencedores numa guerra comercial ou numa guerra tarifária”, declarou Mao Ning, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, numa conferência de imprensa. A Presidente da Comissão Europeia (CE), Ursula von der Leyen, que participou no Fórum Económico de Davos, na Suíça, na terça-feira, garantiu que a Europa está pronta para falar com o governo dos Estados Unidos, lembrando que Washington é um importante parceiro comercial. A nossa primeira prioridade é iniciar rapidamente as conversações sobre os nossos interesses comuns e estarmos prontos para negociar”, afirmou: “Seremos pragmáticos, mas manter-nos-emos firmes nos nossos princípios: defender os nossos interesses e respeitar os nossos valores”, afirmou a líder europeia. “A Europa continuará a defender a cooperação, não só com os nossos amigos de longa data (…) mas também com todos os países com os quais temos interesses comuns”, acrescentou von der Leyen. “A nossa mensagem para o resto do mundo é simples: estamos prontos para dialogar convosco, se isso puder conduzir a benefícios mútuos”, acrescentou, assegurando que pretende “aprofundar” as relações entre Bruxelas e Pequim. Nada de novo Durante a sua campanha presidencial, Trump já tinha denunciado o défice comercial dos Estados Unidos em relação à UE, comparando o bloco a “uma pequena China” e acusando-o de se aproveitar da primeira potência económica mundial. “Temos um défice comercial com a UE de 350 mil milhões de dólares”, insistiu na terça-feira, referindo que “a China é agressiva, mas não é só a China, outros países também são grandes agressores”. O défice comercial dos EUA com a UE ascenderá a 131 mil milhões de dólares em 2023, de acordo com dados do Representante Comercial da Casa Branca (USTR), e está concentrado principalmente em quatro países: Alemanha, França, Irlanda e Itália. Antes de ser reeleito, Donald Trump já tinha ameaçado a UE com a imposição de direitos aduaneiros sobre os produtos europeus, a menos que o bloco aumentasse as suas compras de petróleo e gás americanos. O Comissário Europeu para a Economia, Valdis Dombrovskis, garantiu na segunda-feira, após a tomada de posse de Trump, que a UE está “pronta a defender os seus interesses económicos”, como já fez “durante a primeira administração Trump, quando introduziu tarifas sobre o aço e o alumínio”.
Hoje Macau Grande Plano MancheteÓbito / Rocha Vieira: Macau recorda último Governador português O último governador de Macau, Vasco Rocha Vieira, que morreu aos 85 anos, lançou as bases do sucesso da região chinesa e defendeu os direitos dos funcionários públicos, embora com “alguns desencontros”, disseram à Lusa dirigentes locais. Vasco Rocha Vieira, antigo Chefe do Estado-Maior do Exército entre 1976 e 1978, morreu na madrugada desta segunda-feira aos 85 anos, confirmou à Lusa fonte oficial daquele ramo militar. “É uma figura ilustre, fundamental na história da transição de Macau, mas também, em certa medida, do presente e do futuro”, disse José Sales Marques, presidente do Leal Senado, antiga câmara municipal, entre 1993 e 1999. “Há muita coisa que foi feita durante esse período e que hoje em dia continua. As bases da Região Administrativa Especial de Macau têm muito a ver também com a obra do tenente-general Rocha Vieira”, defendeu Sales Marques. Rocha Vieira exerceu o cargo de governador de Macau entre 1991 e 1999, quando se processou a transferência do território para a China. Foi no seu mandato que foi concluída a construção do aeroporto da cidade. A Macau que Rocha Vieira encontrou e a que deixou “não se compara. Aquilo que se fez naqueles anos todos é qualquer coisa que a história já tem registado”, defendeu Sales Marques. também membro do então Conselho Consultivo de Rocha Vieira. O antigo deputado António Ng Kuok Cheong disse à Lusa que, apesar da desconfiança dos chineses, a administração “tentou fazer alguma coisa para incentivar o crescimento económico da cidade, que era muito pobre nessa altura, antes de devolver Macau”. António Ng, eleito para a Assembleia Legislativa cinco meses depois da nomeação de Rocha Vieira, sublinhou que o principal obstáculo foi a resistência da China à liberalização do setor do jogo, que acabaria por só ser lançada em 2002. Algo que obrigou a administração portuguesa a vender terrenos para financiar os projetos de infraestruturas, inadvertidamente plantando as raízes do problema de habitação que Macau enfrenta atualmente, referiu. “Eles tentaram vender a terra de forma aberta, mas o Governo chinês impediu-os. Assim, a maior parte das terras foi vendida a pessoas poderosas da China por um preço muito baixo, porque a economia de Macau estava muito fraca”, recordou Ng. Estava criada uma classe de senhorios que, após Macau se tornar a capital mundial dos casinos, enriqueceu ao controlar a oferta e manter os preços da habitação elevados, lamentou o antigo deputado. O trabalho nos funcionários públicos Jorge Fão, um dos fundadores da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFMP), em 1987, notou que Rocha Vieira “cumpriu a missão como governador” e “dignificou o seu país”. O ex-presidente da ATFPM, à frente da associação “por mais de dez anos”, lembrou à Lusa que foi “sindicalista antes de ser político” e “teve alguns desencontros” com o tenente-general. Fão explicou que foi “um dos protagonistas” que trabalhou para que, após a transição de Macau para a China, “os funcionários públicos [da administração portuguesa] tivessem direito a uma pensão” paga por Portugal. “Nenhum funcionário das outras colónias teve direito (…) Quando se começou a falar de discutir a entrega de Macau para a China, ficámos muito preocupados. Encetámos as nossas lutas sindicais e tivemos vários encontros com a governança de Portugal e de Macau (…). Nós tivemos uns encontros e também nesses encontros tivemos desencontros”, lembrou. No final, resumiu o atual presidente da Assembleia Geral da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau, “o desfecho não foi mau”. “Todo o mundo deve estar satisfeito, também eu que tomei parte nessa luta e vivo dessa pensão já há mais de 30 anos”, defendeu. Na passagem da administração, contavam-se cerca de 3.600 aposentados com pensões transferidas para Portugal, concluiu. Em 2022, Jorge Fão disse à Lusa acreditar que viviam na região chinesa cerca de dois mil reformados da antiga administração portuguesa de Macau. PS enaltece vida “inteiramente dedicada ao serviço de Portugal” O PS manifestou pesar pela morte do último governador português de Macau, enaltecendo uma vida “inteiramente dedicada ao serviço de Portugal” de um “militar prestigiado” e de um dos “melhores intérpretes da importância de Macau”. Através de um comunicado, o partido liderado por Pedro Nuno Santos lamenta a morte de Vasco Rocha Vieira, “militar prestigiado e último Governador de Macau sob a administração portuguesa”. “A sua vida foi inteiramente dedicada ao serviço de Portugal, quer na sua carreira militar, quer na participação política a seguir ao 25 de abril, como membro do Conselho da Revolução (por inerência de funções enquanto Chefe de Estado Maior do Exército), Ministro da República nos Açores, Secretário Adjunto do Governo de Macau e Governador de Macau”, refere a mesma nota. Referindo que “a sua vida ficou para sempre ligada a Macau”, para o PS este “foi um dos melhores intérpretes da importância” daquele território “para a relação entre Portugal e a República Popular da China”, bem como da singularidade da agora região administrativa especial. “Os últimos anos da administração portuguesa do Território de Macau, sob a liderança do general Rocha Vieira, são marcados pela concretização de várias obras públicas infraestruturais importantes de suporte ao desenvolvimento subsequente de Macau, bem como de reformas na administração para a sua preparação para o período subsequente”, enaltece. Os socialistas referem ainda a cerimónia de transferência de soberania do Território de Macau para a República Popular da China, na qual foi inegável a forma como Rocha Vieira “personificou e simbolizou a dignidade e o tributo à presença portuguesa ao longo de séculos em Macau”. “E marcou a amizade e o respeito que os portugueses mantêm com Macau e com a República Popular da China, e que permite, ao fim de 25 anos de transição, preservar a singularidade de Macau que continua a ser ponto de encontro entre culturas”, acrescentou. O PS dá assim “nota pública do seu profundo respeito pelos serviços ao país” e “endereça à sua família e aos seus amigos as suas mais sentidas condolências”. Palavras de Eanes Já o antigo Presidente da República Ramalho Eanes classificou Rocha Vieira como “um homem de exceção” e “um dos melhores” entre as maiores figuras de Portugal. “O general Rocha Vieira era um homem de exceção pela sua ação de excelência e pela sua responsabilidade social assumida, merecendo ser, justamente, considerado ‘um dos melhores dos nossos maiores’”, escreveu António Ramalho Eanes numa nota enviada à agência Lusa. O primeiro chefe de Estado eleito da democracia portuguesa lembra Vasco Rocha Vieira como “um homem extraordinário”, sobretudo “a três níveis: pela sua personalidade distintiva, pelo seu desempenho militar relevante e pelos serviços prestados ao País a nível político”. A nível pessoal, Eanes considera que Rocha Vieira, que morreu hoje com 85 anos, “possuía qualidades de espírito superiores”, tinha “uma inteligência excecional”, “um bom temperamento” e “dispunha de uma personalidade forte”. Ao nível militar, “foi um dos militares mais distintos da sua geração, prestando, ao Exército, serviços relevantes, em tempos difíceis, nomeadamente, no estertor do regime político anterior ao 25 de Abril, no decurso do 25 de Abril e, mesmo, no 25 de Novembro, tendo, ainda, desempenhado um importante papel enquanto representante das Forças Armadas portuguesas junto da NATO”. Quanto ao nível político, Eanes conclui que Rocha Vieira teve uma atividade de “grande qualidade e grande importância para o país, quer como ministro da República para os Açores, quer ainda, como governador de Macau, colocando todo o seu empenho no desenho e execução, com sucesso, de uma política de transformação bem-sucedida de Macau, participando, igualmente, com o sucesso que é conhecido, na transferência da administração do território de Macau para a República Popular da China”. Recordações dos Açores O presidente do parlamento açoriano, Luís Garcia, manifestou também pesar pela morte de Vasco Rocha Vieira, recordando a “exemplar dedicação à causa pública” e o “contributo inestimável” para o país e para os Açores. “Ao longo da sua notável carreira militar e política, Rocha Vieira revelou um inabalável sentido de Estado, exemplar dedicação à causa pública e um profundo patriotismo, que marcaram de forma indelével o serviço prestado a Portugal”, afirma Luís Garcia numa nota de pesar. O presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores (ALRAA) refere que tomou conhecimento da morte do tenente-general, uma “figura ímpar e um dos mais ilustres oficiais do Exército português”, com “profunda consternação”. Segundo a nota, Luís Garcia “expressa as mais sentidas condolências à família enlutada, deixando um profundo testemunho de gratidão pelo seu contributo inestimável para o país e para os Açores”. “Enquanto ministro da República para a Região Autónoma dos Açores, entre 1986 e 1991, Vasco Rocha Vieira desempenhou as suas funções com elevado compromisso, contribuindo significativamente para o fortalecimento das relações institucionais e para a valorização da autonomia regional”, refere. O líder da ALRAA também salienta que o período em que Rocha Vieira esteve ao serviço dos Açores “é recordado como um tempo de dedicação ao diálogo e à construção de pontes entre os órgãos de soberania nacional e os órgãos de governo próprio da Região”. “Será também recordado pelo simbolismo da sua ação como último Governador de Macau, cargo que exerceu entre 1991 e 1999, momento em que liderou a transferência da administração portuguesa para a chinesa, num exemplo de sentido de responsabilidade e lealdade ao serviço público que ficará gravado na memória coletiva de Portugal”, concluiu. PM português manifesta-se O primeiro-ministro, Luís Montenegro, recordou hoje Rocha Vieira como “um dos mais brilhantes militares a dar corpo ao sentido patriótico de ser português”, destacando a sua ligação “histórica e marcante e Macau”. O tenente-general Vasco Rocha Vieira, último governador português de Macau e antigo Chefe do Estado-Maior do Exército, morreu hoje de madrugada aos 85 anos, confirmou à Lusa fonte oficial daquele ramo militar. “O general Vasco Rocha Vieira foi um dos mais brilhantes militares a dar corpo ao sentido patriótico de ser português, com especiais serviços na consolidação da nossa democracia e na ligação histórica e marcante a Macau, onde foi o último governador”, escreveu Luís Montenegro, numa publicação na rede social X. O primeiro-ministro apresentou ainda condolências à família e amigos e disse guardar de Rocha Vieira “gestos de amabilidade e palavras de responsabilidade cívica e política”.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteToponímia | Estudo relaciona ruas com nomes lusos com colonialismo Na dissertação de mestrado “Cultura Sino-portuguesa em Macau – História nas Ruas”, Zhao Zhen defende que a Administração portuguesa diluiu “a identidade nacional” da população chinesa, ao colocar nomes com referência a Portugal nas ruas, nomeadamente de escritores, navegadores, governadores e funcionários públicos Zhao Zhen, autor da dissertação de mestrado “Cultura Sino-portuguesa em Macau – História nas Ruas (História e Cultura Sino-portuguesa sob perspectiva dos nomes das ruas de Macau)”, defende que a escolha de nomes de ruas com referência a Portugal durante os anos da Administração portuguesa foi uma forma eficaz de colonização e de criação do sentimento de pertença à nação colonizadora, sobretudo no que diz respeito à comunidade chinesa. Na dissertação, defendida na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), conclui-se que “antes do regresso de Macau à China o Governo português levou a cabo uma prática política e cultural através da atribuição de nomes de ruas à maneira portuguesa”. Assim, os nomes das ruas de Macau serviram “como meio de transmissão de uma memória colectiva, começando com a construção da imagem do Governo português em Macau e a orientação dos seus principais valores”, com recurso a “figuras e acontecimentos históricos icónicos para reforçar a identificação dos colonizados com a sua identidade colonizadora”. Zhao Zhen acrescentou ainda que “durante os 400 anos da colonização de Macau pelo Estado português foram aplicados símbolos linguísticos aos habitantes de Macau através da nomeação das ruas, diluindo a identidade nacional tradicional dos chineses e implantando a dos colonizadores, alcançando assim o objectivo de remodelar a identidade nacional dos habitantes locais”. Para o autor do estudo, a questão da toponímia muito particular do território trouxe consequências no que diz respeito à identidade nacional. “Os nomes das ruas de Macau são diferentes dos de outras cidades chinesas, e isto teve impacto na identidade cultural da população local, que cresceu com a história e cultura chinesa e portuguesa e que não tem um forte sentido de identidade cultural. Dilui, assim, a sua missão de transmitir a sua cultura nacional.” Uma forma de domínio É certo que o trabalho académico de Zhao Zhen, na área das Ciências da Cultura, chama a atenção para o facto de a toponímia de Macau ser reflexo de uma mistura de culturas. Porém, o autor vai mais longe, analisando quantas ruas existem em português e chinês com nomes de personalidades importantes, destacando-se o facto de a cultura portuguesa ser dominante. O facto de existirem em Macau ruas com nomes de militares, de antigos governadores ou de políticos portugueses, como Mário Soares, Sidónio Pais ou Ramalho Eanes, é apontado como sinónimo de que os portugueses apostaram “num processo eficaz” de transmitir “uma visão materializada do mundo que influencia e transmite as relações sociais entre pessoas e diferentes classes sociais”. Assim, o que ocorreu foi “um acto que não utiliza a violência como forma de controlo forçado das mentes e da consciência da população”, em que não foi aplicado “um meio de coerção”. Zhao Zhen refere que “no total existem 26 ruas com o nome de funcionários governamentais portugueses em Macau que se distinguiram pelo contributo que deram à cidade, não havendo qualquer rua com o nome de um funcionário chinês em Macau”. Tal mostra “a distinção feita pelos colonizadores portugueses enquanto classe dominante e os chineses como classe dominada”, é indicado. Porém, o autor ressalva que “a colonização portuguesa de Macau não foi uma agressão ou domínio absolutos”, pois “os colonizadores tentaram alcançar a liderança a partir de uma variedade de perspectivas, incluindo ideológicas”, em que “o processo de alcançar esta liderança foi intercalado com uma existência cinzenta racial e cultural mais complexa”. Segundo o autor, “a primeira delimitação sistemática de ruas e o estabelecimento de nomes pelo Governo português de Macau foi em 1869”, sendo que foram usados bastantes nomes com ligação aos Descobrimentos e ao antigo Império português. Zhao Zhen dá o exemplo da Rua de João de Almeida, que “tem o nome de um general que se destacou nas campanhas de afirmação do poder colonial em Angola, África, no princípio do século XX”. No total, há 26 ruas com referências aos Descobrimentos e antigos navegadores portugueses, mostrando-se que “a Administração colonial [portuguesa] utilizou forças políticas externas para doutrinar os habitantes de Macau com a intenção de alcançar a liderança, guiando a sociedade através da manipulação espiritual, moral e cultural”. Além disso, o autor considera que foi utilizado “um vocabulário colonial para criar um sentido de identidade e subordinação entre os habitantes, a fim de alcançar uma colonização permanente”. Destaque para a existência de nove ruas em Macau com o nome de macaenses, como é o caso da Rua Francisco H. Fernandes, que nasceu no território a 13 de Fevereiro de 1863, filho de pais portugueses, e que foi amigo próximo de Sun Yat-sen, pai da Revolução Republicana na China, em 1911. O lugar dos chineses Na mesma dissertação lê-se que, em contraste com a primazia das referências à cultura e história portuguesas, existem apenas 12 ruas em Macau “com o nome de chineses”, sendo que a maioria “eram mercadores da península e todos tinham ligações com o Governo português da região”. Por sua vez, “a Avenida Dr. Sun Yat-sen é a única rua com o nome de uma figura política chinesa”. Citando outro académico, de apelido Kuan, Zhao Zhen refere que “no caso das denominações com nomes de celebridades chinesas, além de serem inferiores em número, foram figuras não políticas”. “O Governo português de Macau, quando baptizava as vias públicas, teve intencionalmente em conta factores políticos, querendo transmitir a mensagem de que Macau se encontrava sob domínio português e que, politicamente falando, era uma colónia portuguesa”, referiu este mesmo académico. Destaque para duas ruas nomeadas após o regresso de Macau à China, nomeadamente a Avenida Doutor Henry Fok e Avenida Doutor Ma Man Kei. “Estas personalidades distinguiram-se pelas contribuições notáveis para a reunificação de Hong Kong e Macau e para o desenvolvimento da China, pelo que a atribuição do nome da rua a estas personalidades reflecte a influência de factores políticos após o fim da longa história colonial de Macau e a reunificação suave com a China. A adição da palavra ‘doutor’ aos seus nomes mostra ainda mais respeito por eles”, pode ler-se. Destaque ainda para a existência de 140 ruas em Macau cujos nomes são traduzidos foneticamente do chinês, destacando-se a Avenida de Ip Heng, Avenida de Lok Koi, Pátio de Iong Loc, Pátio Fu Van ou Rua de San Lei. “Todas estas palavras chinesas expressam o desejo do povo numa vida melhor e a procura de qualidade de vida. Outras nomeações estão relacionadas com a religião chinesa, como o Largo de Pao Cong Mio, Rua de Kun Iam Tong”, é referido, sem esquecer as 69 ruas com nomes parafraseados em chinês com ligação a crenças chinesas. “A fim de viver uma vida melhor e de a encaminhar na direcção que se espera, a nomeação das ruas reflecte elementos geográficos, bem como as esperanças das pessoas para as suas vidas futuras. Os nomes das ruas são mencionados e usados com tanta frequência que as pessoas tendem a dar-lhes bons significados para satisfazerem as suas próprias intenções de uma vida melhor. Influenciados por conceitos culturais tradicionais chineses, muitos dos nomes das ruas em Macau têm significados auspiciosos e de sorte, com as palavras ‘Harmonia, Tranquilidade, Amizade, Benevolência, Concórdia'”. Há ainda ruas cujos nomes “mostram o desejo dos comerciantes de ter um negócio próspero e de conseguirem todos os lucros que advém da realização dos negócios”. Em termos gerais, Zhao Zhen conclui que “a experiência de Macau prova a possibilidade de coexistência harmoniosa de diversas comunidades e culturas”, sendo que a toponímia “reflecte a coexistência e mistura do Oriente e do Ocidente, a harmonia e diferença entre eles, que hoje é espelho da cultura e dos valores fundamentais da sociedade”.
Hoje Macau Grande Plano MancheteEUA | Trump toma posse e lança farpas à China sobre Canal do Panamá O novo Presidente norte-americano, Donald Trump, prometeu esta segunda-feira assumir o controlo do Canal do Panamá, rebatizar o Golfo do México e reforçar a tributação dos países estrangeiros, confirmando intenções já expressadas para o segundo mandato na Casa Branca. No seu discurso na cerimónia de tomada de posse como 47.º Presidente dos Estados Unidos Donald Trump sublinhou que o objectivo do acordo e o espírito do tratado em relação ao Canal do Panamá “foram totalmente violados”, prometendo assumir controlo desta infraestrutura marítima vital para o comércio global. “E o mais importante, a China opera o Canal do Panamá, e nós não o demos à China, demos ao Panamá. E vamos tomá-lo de volta”, justificou no seu discurso realizado no Capitólio (sede do Congresso norte-americano), em Washington. Noutra intenção já anteriormente expressada, Trump confirmou também que, em breve, vai mudar o nome do Golfo do México para “Golfo da América”. Mais impostos No seu regresso à Casa Branca (presidência norte-americana), depois de um primeiro mandato entre 2017 e 2021, o político republicano afirmou ainda que pretende reforçar a tributação dos países estrangeiros em favor dos cidadãos norte-americanos. “Começarei imediatamente a reformar o nosso sistema comercial para proteger as famílias e os trabalhadores americanos. Em vez de taxar os nossos cidadãos para enriquecer outros países, vamos impor tarifas e impostos aos países estrangeiros para enriquecer os nossos cidadãos”, declarou. Expulsar ilegais Donald Trump garantiu ainda que irá expulsar “milhões e milhões” de imigrantes ilegais, um dos principais focos da sua campanha eleitoral. “Primeiro, declararei o estado de emergência na nossa fronteira sul” com o México, disse o Presidente, acrescentando que vai enviar o Exército para patrulhar essa região. “Todas as entradas ilegais serão imediatamente bloqueadas e iniciaremos o processo de devolução de milhões e milhões de estrangeiros criminosos para onde vieram”, acrescentou o Presidente republicano. O juramento do novo líder norte-americano foi realizado logo após a posse do seu futuro vice-presidente, JD Vance, com o qual liderou a nomeação do Partido Republicano, que, em 05 de novembro de 2024, venceu as eleições presidenciais contra a candidatura democrata encabeçada por Kamala Harris. A cerimónia em Washington decorreu às 17h, hora de Lisboa (madrugada em Macau) e foi marcada pela presença de políticos internacionais populistas e de extrema-direita, mas com escassos responsáveis governamentais e sem líderes da União Europeia (UE), à excepção da primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni.
Andreia Sofia Silva Grande PlanoOxfam | Relatório diz que fortunas dos mais ricos aumentaram em 2024 Um relatório divulgado ontem pela Oxfam indica que as fortunas dos mais ricos do mundo aumentaram dois biliões de dólares no ano passado, o equivalente a 5,7 mil milhões de dólares por dia. A organização não governamental sugere medidas que favoreçam a igualdade e alerta para os riscos da concentração de riqueza e poder Chama-se “Takers not Makers – The unjust poverty and unearned wealth of colonialism” [Os que recebem e não criam – A injusta pobreza e a riqueza não merecida do colonialismo] e é o mais recente relatório da Oxfam, organização não governamental (ONG) que reúne 19 países. O documento chama atenção para a pobreza no mundo e para as desigualdades na distribuição da riqueza. O relatório divulgado ontem conclui que a desigualdade não dá sinais de abrandar. Isto porque, no ano passado, a riqueza combinada de multimilionários, a nível global, aumentou dois biliões de dólares, o equivalente a 5,7 mil milhões de dólares por dia, segundo a Oxfam. Tal significa que cresceu a um ritmo três vezes superior ao do ano anterior, de acordo com a ONG. Esta foi a principal conclusão do relatório divulgado ontem por ocasião do início do Fórum Económico Mundial de Davos, que todos os anos reúne os principais líderes políticos e económicos do mundo na cidade alpina. Só no último ano, refere o relatório, surgiram em média quase quatro novos multimilionários por semana, dado que a Oxfam põe em contraste com os dados da pobreza do Banco Mundial, que estima que o número de pessoas que vivem com menos de 6,85 dólares por dia quase não se alterou desde 1990. Em 2024, havia em todo o mundo 2.769 multimilionários, em vez de 2.565 no ano anterior, e a sua riqueza combinada aumentou de 13 para 15 biliões de dólares em apenas 12 meses. É o segundo maior aumento da riqueza combinada dos multimilionários num único ano desde que há registo. Mais 100 milhões A riqueza conjunta dos dez homens mais ricos do mundo aumentou, em média, quase 100 milhões de dólares por dia, indica o estudo. Mesmo que perdessem 99 por cento da sua riqueza de um dia para o outro, “continuariam a ser multimilionários”. A ONG prevê que, em menos de uma década, surja o primeiro “bilionário” do planeta e não exclui a possibilidade de haver pelo menos cinco. A nível mundial, o relatório revela que 36 por cento da riqueza dos mais ricos é herdada e 61 por cento é também marcada pelo clientelismo e/ou ligada ao poder monopolista. A Oxfam baseia-se nos dados do ‘ranking’ de riqueza da revista Forbes, que mostram que todos os multimilionários com menos de 30 anos herdaram a sua riqueza e, segundo dados do banco suíço UBS, nos próximos 20 a 30 anos, mil dos multimilionários actuais deixarão aos seus herdeiros mais de 5,2 biliões de dólares. Dinheiro do Sul Para a Oxfam, o sistema “faz com que se movam grandes fluxos de dinheiro do Sul global para o Norte, beneficiando a população mais rica”, numa espécie de “colonialismo moderno”. Só em 2023, através do sistema financeiro, terão sido retirados 30 milhões de dólares por hora dos países do Sul global para o 1 por cento mais rico dos países do Norte global, como o Reino Unido, os Estados Unidos e França. Deste modo, os “super-ricos” dos países do Norte global controlam 69 por cento da riqueza mundial, concentram 77 por cento da riqueza conjunta de todos os multimilionários e representam cerca de 68 por cento do total, embora constituam apenas 21 por cento da população mundial.Para contextualizar esta desigualdade, a Oxfam refere o problema da habitação em Espanha e estima que “os cinco futuros bilionários do planeta terão tanto dinheiro que poderão comprar todas as casas do país”. Em contraste, é chamada a atenção para o facto de a “classe trabalhadora lutar para sobreviver.” “Quem vive em pobreza em todo o mundo continua a enfrentar múltiplas crises, pois as cicatrizes da pandemia ainda estão connosco sob forma de dívidas impagáveis, salários mais baixos e preços de géneros alimentícios muito mais elevados”. Além disso, “os conflitos também estão a aumentar, o que contribui para a pobreza, fome e desigualdade”, sem esquecer “o enorme impacto humano da degradação climática que aumenta todos os anos, com mortes causadas por calor excessivo, condições climáticas extremas e fome”. A Oxfam diz mesmo que a reeleição de Donald Trump como Presidente dos Estados Unidos, em Novembro último, “deu um enorme impulso às fortunas dos bilionários, enquanto as suas políticas estão preparadas para atiçar ainda mais as chamas da desigualdade”. A ONG destaca também dados do Banco Mundial no seu mais recente relatório sobre pobreza, onde é referido que “se as actuais taxas de crescimento se mantiverem e a desigualdade não diminuir, será necessário mais de um século para acabar com a pobreza”. O documento mostra que “se reduzirmos a desigualdade, a pobreza poderia ser eliminada três vezes mais depressa”. Um dos destaques vai para a contribuição das mulheres para a riqueza de poucos. “As mulheres racializadas que vivem na pobreza, especialmente as que estão no ‘Sul Global’, continuam a subsidiar a economia global. Estima-se que todos os dias as mulheres contribuem com 12,5 biliões de horas de trabalho não remunerado, acrescentando pelo menos 10,8 triliões de dólares em valor à economia global”. Nesse contexto, “a contribuição económica do seu trabalho de prestação de cuidados é três vezes superior ao valor financeiro da indústria tecnológica mundial”. Um novo colonialismo É certo que a descolonização de regiões colonizadas por potências europeias começou a ocorrer com mais força a partir da Conferência de Bandung, em 1955, mas persistem sinais de desequilíbrio de poder entre povos e países que explicam, em parte, a desigualdade de riqueza que ocorre hoje. A ideia de um novo colonialismo, no sentido em que regiões como a Europa ou América do Norte continuam a explorar os países do Sul, sobretudo os menos desenvolvidos, está bem patente no relatório da Oxfam. “A ascensão de uma nova oligarquia em que a herança, o clientelismo e o poder de monopólio geram riqueza extrema. Sem controlo, estamos prestes a ver a maior transferência da maior riqueza geracional da história da humanidade, dificilmente ganha, dificilmente tributada”. O que se passa hoje é um panorama de “colonialismo bilionário”, descreve a Oxfam, com a “transferência de riqueza não apenas para os ultra-ricos, mas desproporcionadamente para os ultra-ricos do Norte Global”. Há um “acerto de contas com o colonialismo não só como uma história de extração brutal de riqueza, mas também como uma força poderosa que conduz a níveis extremos de desigualdade hoje”. A Oxfam chama também atenção para uma nova onda de colonialismo patente nas acções das grandes instituições económicas e financeiras que decidem o rumo da economia global, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Organização das Nações Unidas (ONU) e o Banco Mundial. “As instituições globais, os mercados financeiros e as empresas multinacionais, todas elas moldadas pelo colonialismo e domínio dos países ricos, continuam a facilitar a transferência sul-norte de triliões de dólares todos os anos.” Para a Oxfam, a ONU, FMI e Banco Mundial “foram criados há 80 anos, perto do fim do período colonial histórico, e a sua governação desigual pouco se alterou desde então”. “Os países do G7 continuam a deter 41 por cento dos votos no FMI e Banco Mundial, apesar de terem menos de dez por cento da população mundial. Os líderes do Banco Mundial e do FMI continuam a ser decididos pelos Estados Unidos e Europa, respectivamente. De igual modo, os países europeus e outras nações do Norte Global detêm 47 por cento do total de assentos no Conselho de Segurança da ONU, apesar de representarem apenas 17 por cento da população mundial”. De referir que “o FMI e o Banco Mundial continuam a ter uma enorme influência no sistema económico global e, em particular, nas políticas económicas dos países de baixo e médio-baixo rendimento”. Estas entidades, segundo a Oxfam, “insistem sistematicamente na implementação de cortes em despesas críticas”. Um dos exemplos apresentados é do FMI, que “exige que os países devedores priorizem o pagamento das dívidas a credores acima de tudo e que implementem políticas que incluam a privatização, liberalização do comércio e redução dos défices públicos para obter novos empréstimos”. “Estas políticas prejudicam o acesso a uma educação de qualidade e a preços acessíveis e cuidados de saúde, com um impacto negativo na saúde pública”, acrescenta-se. O que fazer? A Oxfam propõe uma série de medidas para mitigar a crescente desigualdade entre os mais ricos e o resto do planeta, sugerindo, entre outras, que os Governos se comprometam a garantir que o rendimento dos dez por cento mais ricos da população não excederá o dos 40 por cento mais pobres, tanto a nível nacional como mundial. O relatório insta também a um aumento dos impostos sobre as grandes fortunas, através de um sistema fiscal internacional concebido pela ONU, e a eliminação dos paraísos fiscais. Com Lusa
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteAviação | HK Express considerada a companhia low-cost mais segura A nova edição do ranking de companhias áreas mais seguras, da Airline Ratings, destaca a low-cost Hong Kong Express como líder do top 10. Na lista surgem outras companhias com voos para Macau, nomeadamente a AirAsia, em sexto lugar, e a JetStar, de Singapura, em segundo lugar Foi divulgado na semana passada a nova edição do ranking de companhias áreas mais seguras do mundo pela Airline Ratings. E o destaque, no ramo das empresas de baixo custo, vai para a Hong Kong Express, com os organizadores da lista a explicarem que “em comparação com a lista do ano passado não houve mudanças significativas”. A HK Express “não teve nenhum incidente sério e mantém um registo de segurança relativamente impecável “, é ainda referido. Citando a OAG, uma plataforma global que fornece dados de viagens, a Airline Ratings destaca, numa outra nota de 7 de Janeiro, que a HK Express, uma subsidiária da Cathay Pacific, “expandiu as suas operações de forma significativa no ano passado”, aumentando o número de voos em 46 por cento, “passando de 23.940 voos em 2023 para 35.015 em 2024”, graças “a uma rede alargada e à capacidade adicional da frota”. O crescimento da HK Express parece estar em consonância, também segundo a OAG, com a “recuperação abrangente do Cathay Pacific Group, que restaurou totalmente as suas operações para níveis anteriores à pandemia”, tendo actualmente voos para 30 destinos em toda a Ásia, incluindo China, Taiwan, Japão, Coreia do Sul, Malásia, Vietname, Tailândia e Filipinas. Ainda no top 10 das mais seguras do mundo, e a preços mais baixos, estão a JetStar, de Singapura, e a AirAsia em sexto lugar, esta última com uma grande oferta de voos de e para o Aeroporto Internacional de Macau, nomeadamente para as cidades e regiões de Kuala Lumpur, Penang e Kota Kinabalu, na Malásia; Banguecoque e Chiang Mai, na Tailândia; Manila, capital das Filipinas, e ainda Jacarta e Bali, na Indonésia. Em oitavo lugar encontramos a VietJet Air, e a Cebu Pacific em 22º lugar, só para dar alguns exemplos. No caso das companhias aéreas europeias, a Ryanair encontra-se em terceiro lugar em matéria de segurança, seguindo-se a EasyJet em quarto lugar. Os organizadores destacam ainda novas entradas para o ranking das companhias aéreas de baixo custo mais seguras do mundo, tal como a Zipair, Jet2 e a Air Baltic. Pelo contrário, verifica-se “uma notável omissão, este ano, com a Spirit Airlines”, que abriu falência, em Novembro de 2024, “para restruturação das suas finanças e redução da dívida”. Air New Zealand em 1º No que diz respeito às companhias áreas que operam no mercado regular, a mais segura é a Air New Zealand, seguindo-se a Qantas. Hong Kong volta a marcar pontos por ocupar a terceira posição com a Cathay Pacific, lugar partilhado com a Emirates, do Dubai; e a Qatar Airways. Da Ásia constam ainda companhias como a EVA Air, de Taiwan, em quarto lugar; e a Korean Air, em quinto. A portuguesa TAP Portugal surge em oitavo lugar. Sharon Peterson, CEO da Arline Ratings, frisou que “a Air New Zealand e a Qantas voltaram a disputar o primeiro lugar com apenas 1,50 pontos de diferença”. “Embora ambas as companhias aéreas mantenham os mais elevados padrões de segurança e formação de pilotos, a Air New Zealand continua a ter uma frota mais jovem do que a Qantas, o que separa as duas”, acrescentou. A edição deste ano do rating destaca a posição solidificada da Vietnam Airlines, que foi considerada a 22ª mais segura para viajar do mundo e que se destacou em prémios recentes da Airline Ratings. “A Vietnam Airlines não teve nenhum acidente fatal em 27 anos, nem nenhum incidente grave. A companhia aérea opera uma frota de 100 aeronaves modernas, com uma idade média inferior a 10 anos, e a empresa tem passado sem falhas a sua certificação IOSA desde 2006. Além disso, o Vietname também fez grandes progressos na segurança da aviação com melhores aeroportos, actualizações do sistema de navegação e protocolos muito mais rigorosos. Tudo isto, em conjunto, garante-lhes um lugar no nosso top 25”, disse Sharon Peterson. A United Airlines surge em 23º lugar da lista das companhias áreas regulares mais seguras, quase nos últimos lugares. No caso do segmento low-cost, a Air Baltic ocupa a última posição, sendo uma estreia da empresa no ranking. Singapore Airlines de saída Ainda sobre os lugares cimeiros, Sharon Peterson destacou que “o empate a três para o terceiro lugar deveu-se ao facto de simplesmente não conseguirmos separar estas companhias aéreas”, isto porque “desde a idade da frota até às competências dos pilotos, práticas de segurança, dimensão da frota e número de incidentes, as pontuações foram idênticas”, referiu. A CEO estabeleceu ainda uma comparação com a lista de 2024, sendo que “algumas das alterações mais significativas incluem a inclusão da Iberia e da Vietnam Airlines (que fizeram a sua estreia na lista), bem como a subida da Korean Air para o top 10”. No tocante a ausências, refere-se a saída da Singapore Airlines e KLM. “Embora estas companhias aéreas continuem a ser excepcionalmente seguras e mantenham a sua classificação de segurança de sete estrelas, perderam por pouco um lugar este ano devido a incidentes ocorridos”, referiu na mesma nota. Os critérios utilizados pela Airline Ratings prendem-se com a ocorrência de “incidentes sérios nos últimos dois anos”, a idade e tamanho da frota, o rácio de acidentes, o número de mortos, a formação e competências dos pilotos e demais certificações internacionais possuídas pela empresa. Um dos factores a ter em conta na hora de avaliar as empresas é também a forma como os acidentes são geridos. Um estudo recente sobre segurança na área da aviação destaca que entre 2018 e 2022 o risco de mortes por voo foi de um por 13.7 milhões, sendo que, em comparação, “a Organização Mundial de Saúde estimou 1.19 milhões de mortes por acidentes nas estradas em 2023, o que representa mais de duas mortes por minuto”. Trauma recente Um dos acidentes aéreos mais recentes ocorreu na Coreia do Sul, praticamente no final do último ano. Um voo da Jeju Air teve um grave acidente de aterragem no aeroporto de Muan, levando à morte de 179 das 181 pessoas que seguiam a bordo. Os dois sobreviventes eram tripulantes do voo. O Airline Ratings foi criado em 2012, analisando mais de 230 companhias áreas de todo o mundo que abrangem 99 por cento do mercado mundial de passageiros. De fora do top 25 estão companhias aéreas chinesas, incluindo a Air Macau.
Andreia Sofia Silva Grande Plano ManchetePolítica | Macau retrocede em termos de representação feminina As deputadas lutam mais por temas relacionados com mulheres do que os seus colegas. A representação feminina na política local, nomeadamente no hemiciclo, continua “abaixo das médias globais e asiáticas”. Esta é uma das conclusões da dissertação de mestrado de Chan Wong Kuan “Participação política das mulheres em Macau: Do ponto de vista de género e de políticas públicas” Macau está ainda aquém em termos de igualdade de géneros na política. Esta é a principal conclusão da dissertação de mestrado de Chan Wong Kuan defendida em Novembro de 2023 na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, no ramo da Sociologia, e intitulada “Participação política das mulheres em Macau: Do ponto de vista de género e de políticas públicas”. Da análise da académica retira-se a ideia de que em Macau prevalece “uma representação feminina abaixo das médias globais e asiáticas” e, para esta conclusão, foram analisadas 95 interpelações escritas dos deputados na Assembleia Legislativa (AL) “relacionadas com os interesses das mulheres” entre os anos de 1999 e 2022, entre a primeira à sétima legislatura. Assim, “os resultados revelam que o número de deputadas permanece consistentemente num patamar relativamente baixo, mantendo-se em cinco desde 1999 até ao presente”. Segundo a autora do estudo, “embora se tenham registado flutuações ao longo desse período, com um máximo de sete e um mínimo de quatro deputadas, em termos gerais a evolução no número de deputadas tem sido muito limitada”. Salienta-se também que, com o aumento do número de assentos de deputados na AL (33), “a proporção de deputadas em relação ao total tem diminuído”, pelo que “em Macau, as mulheres que constituem metade da população não alcançam um ‘reflexo exacto’ no órgão legislativo”. Constata-se ainda que tem existido uma diminuição, nos últimos anos, da presença feminina no hemiciclo, ao contrário do que se verifica a nível regional e até mundial. “Constatámos que o número de mulheres em órgãos legislativos em muitas regiões está a aumentar, enquanto Macau está a experienciar uma tendência oposta. No caso da AL, o número de lugares ocupados por deputadas não é optimista. Em 1999, com 23 lugares, apenas 5 eram ocupados por mulheres, e quando o número de lugares aumentou para 33 lugares, em 2023, as mulheres continuaram a ocupar apenas 5 lugares.” “Este número pessimista lembra-nos a baixa percentagem de representação descritiva das mulheres no órgão legislativo de Macau, com os homens a ocupar consistentemente o papel predominante neste espaço político”, pode ler-se. Saúde e violência No que diz respeito às interpelações analisadas, abordam “temas como violência doméstica, crimes sexuais, saúde das mulheres e promoção da igualdade de género”, sendo que, “em termos quantitativos, as deputadas adoptam uma posição mais activa em relação a estas questões quando comparadas com os seus colegas do sexo masculino”. Das 95 interpelações, 61 foram apresentadas por deputadas e as restantes por deputados, o que mostram que são elas que “tomam mais acção para as mulheres”. É referido também na dissertação que “nas discussões de políticas, as deputadas abordam estas questões com uma perspectiva de género, destacando as situações específicas enfrentadas pelas mulheres em vários contextos”. É, assim, “mais provável que demonstrem a vida, as perspectivas e as necessidades das mulheres de uma forma específica e multidimensional”. Desta forma, a autora do trabalho académico entende que “são as deputadas que melhor representam os interesses das mulheres”. Em termos do volume de interpelações escritas com questões colocadas ao Governo, a autora conclui que “os deputados masculinos e as deputadas femininas empreendem acções para promover os interesses das mulheres”, mas persistem “nuances relevantes que apoiam a conclusão de que são as deputadas quem melhor representa os interesses das mulheres”. A maioria dos temas das interpelações sobre “questões femininas” incidem sobre “maternidade, violência doméstica, crimes sexuais, saúde das mulheres e promoção da igualdade de género”. Destes, “os três primeiros temas representam aproximadamente quatro quintos de todas as interpelações”. Para a autora, “esse foco reflete a preocupação dos deputados em garantir a protecção dos direitos das gestantes e das mães, bem como a prevenção e o combate à violência e aos crimes sexuais”. O facto de os deputados colocarem estas questões “reflecte uma relativa negligência em relação às questões de saúde das mulheres e promoção da igualdade de género”. Desta forma, verifica-se um “desequilíbrio na atenção dada a diferentes aspectos das questões das mulheres”, algo que se pode relacionar “com estereótipos de género comuns na sociedade”. Falta de perspectiva O estudo analisa também a forma como os temas relacionados com a vida das mulheres são tratados consoante o género dos deputados. Assim, refere-se que “o único campo que não apresenta diferenças significativas é o da violência doméstica”, pois “os deputados e deputadas concentram as suas interpelações em medidas práticas para mitigar os danos causados às vítimas de violência doméstica e contribuem para a formulação de leis para combater e prevenir a violência doméstica”. Porém, “no que diz respeito aos demais temas, as interpelações das deputadas revelam maior diversidade, abordando questões a partir de diversas perspectivas e enfatizando as necessidades e desafios das mulheres em contextos pertinentes”. Um dos exemplos apontados diz respeito às interpelações sobre crimes sexuais, onde “as deputadas salientam a situação das mulheres enquanto vítimas, destacam a existência oculta do assédio sexual e do assédio verbal no local de trabalho, assim como com a ausência de respeito pelas mulheres no discurso das redes sociais em resposta a casos de assédio sexual em espaços públicos”. As diferentes visões dos deputados consoante o género verificam-se no tema da relação da mulher com a maternidade e o mercado de trabalho. Neste caso, “os deputados sublinham a relação entre as mulheres e a reprodução, com foco na maternidade das mulheres”, enquanto “as deputadas destacam as pressões enfrentadas por grávidas no equilíbrio do trabalho e parentalidade, juntamente com as possíveis injustiças no ambiente de trabalho que podem surgir durante esse processo”. As deputadas são ainda “as únicas a demonstrar preocupação com os serviços médicos e a saúde das grávidas”. Mulheres como vítimas Outro tema que a autora procurou analisar foi a forma como as mulheres de Macau são representadas tendo em conta as questões colocadas pelos deputados nas interpelações escritas. Assim, “devido ao destaque conferido aos temas mais discutidos, como maternidade, violência doméstica e crimes sexuais, torna-se evidente que nas discussões de políticas na AL as mulheres são predominantemente associadas à identidade de mães e ao papel de grupos vulneráveis, tais como vítimas de violência doméstica e de crimes sexuais”. Neste contexto, “as mulheres são frequentemente retratadas como vítimas, que precisam de auxílio, geradoras da reprodução humana e mães trabalhadoras que necessitam de equilibrar a vida familiar e profissional”. Chan Wong Kuan diz ter encontrado apenas um exemplo de uma interpelação que encara as mulheres de outra perspectiva, “como tomadoras de decisões, desvinculadas de papéis maternos e laços familiares, representando-as como promotoras do desenvolvimento harmonioso e estável da sociedade”. A interpelação assinada por Iong Weng Ian, a 30 de Dezembro de 2005. Desta forma, a académica entende que “as mulheres são predominantemente retratadas como figuras associadas à maternidade e vulnerabilidade, com poucas representações de outras possibilidades”. “A diversidade das mulheres está negligenciada, uma vez que as declarações dos deputados enfatizam a vulnerabilidade e as necessidades das mulheres em contextos específicos, ao mesmo tempo que negligenciam a multiplicidade de papéis que as mulheres podem desempenhar. As mulheres não se limitam a ser apenas vítimas ou mães; elas também podem actuar como profissionais, líderes, participantes da comunidade, entre outros”, é referido. Assim, a dissertação diz mesmo que os deputados, ao “ignorar essa diversidade” podem contribuir para a “simplificação e perpetuação de estereótipos em relação ao papel das mulheres, o que pode afectar a atenção aos seus direitos integrais”. Destaque ainda para o facto de, em 95 interpelações, a autora ter encontrado apenas uma apresentada por um deputado cuja temática versava sobre a promoção da igualdade de género. Já a deputada Wong Kit Cheng é referida como o exemplo a seguir, pois não só foi “a deputada mais activa” como apresentou interpelações sobre todos os temas acima descritos relacionados com as mulheres. Assim, é destacado “o papel crucial desempenhado pela deputada Wong Kit Cheng como uma protagonista fundamental na promoção dos interesses das mulheres”.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteGastronomia | “Receita di Casa”, de Antonieta Manhão, lançado amanhã Antonieta Manhão, figura incontornável da gastronomia macaense, lança amanhã um livro de receitas, estreando-se nas lides editoriais. “Receita di Casa – Homemade Macanese Cuisine” é uma obra trilingue feita para as bancadas da cozinha e para tornar mais prática uma gastronomia única Chama-se “Receita di Casa – Homemade Macanese Cuisine” e, tal como o nome indica, é o livro que quer ensinar qualquer pessoa, com pouca ou muita experiência na cozinha, a fazer pratos macaenses. A obra, lançada amanhã com o apoio do Instituto Internacional de Macau (IIM), é a primeira incursão da chef Antonieta Manhão, a “Chef Neta”, nas lides editoriais na área da gastronomia. A obra contém 19 receitas da casa da “Chef Neta”, nomeadamente o tradicional “Minchi”, talvez o mais conhecido de todos os pratos macaenses, o “Tacho”, a “Capela”, petiscos variados, como o pão recheado ou chamuças, e ainda o “Balichão Tamarindo”. Ao HM, Antonieta Manhão explicou que a escolha destas receitas recaiu no facto de serem as “mais conhecidas dentro e fora de Macau”, além de estarem bastante presentes nos cursos que ministra na Universidade de Turismo de Macau (UTM) aos alunos de cozinha e hotelaria. Para a chef, “era necessário lançar mais um livro de comida macaense”, sendo que este lançamento foi adiado devido à pandemia. “Trata-se de uma obra para ser utilizada e para não ter apenas na estante, é mesmo um livro para ficar sujo e para que se veja como se faz a comida macaense, não é como outros livros de culinária que se colocam na estante e não são usados. Contém as informações que dou nas aulas e serve para as pessoas apreciarem verdadeiramente as receitas. Não são receitas fáceis, mas a preparação é razoável em termos de grau de dificuldade”, explicou. A obra está à venda a partir de sábado. “Espero que as pessoas comprem o livro e possam aprender a comida macaense aos poucos. É uma obra para qualquer pessoa, coloco as horas de preparação e todas as instruções para se fazer a receita.” No meio de tantos pratos, cheiros e paladares variados, uma receita sobressai como a preferida de Antonieta Manhão, que lhe foi transmitida por um tio, que já faleceu. O prato, que denominou como “Bacalhau à Zeca”, é um autêntico legado à mesa. “É uma receita de bacalhau ligeiramente diferente. Sempre que há festas em casa, como no Natal, faço este bacalhau.” Apesar de estar há muito tempo ligada a tachos e panelas, e na promoção da comida macaense, a “Chef Neta” entrou tarde numa cozinha. “Na minha infância nunca entrei na cozinha, porque a minha avó não deixava, achava que era perigoso deixar entrar as crianças na cozinha. Quando cresci, após o falecimento de várias pessoas, sempre tive tias que queriam manter as receitas e recordar a preparação dessas comidas. Havia certos pratos que tinham de estar sempre na mesa, e no Natal sempre preparámos todos estes pratos.” A autora estreante referiu ainda que outro dos motivos para editar o “Receitas di Casa” é o facto de “em Macau os pratos que estão no livro estarem a desaparecer aos poucos”. “Quero que as pessoas consigam manter as memórias antigas que têm destes pratos”, acrescentou. Aulas para turistas Tendo em conta o risco que existe do desaparecimento, ou diluição noutras gastronomias, da comida macaense, Antonieta Manhão lamenta que “há cada vez menos restaurantes em Macau onde se consegue comer comida verdadeiramente macaense, porque não há chefes ou macaenses que consigam dar aulas ou apoio na cozinha”. “Temos pessoas com idade que não conseguem estar mais de 10 horas numa cozinha. Temos de ensinar os jovens para que aprendam mais sobre a gastronomia macaense, para que possam ser chefes deste tipo de cozinha”, disse. Para evitar o total desaparecimento deste tipo de gastronomia, a chef sugere a criação de aulas culinárias para turistas. “Tanto o Governo como nós, chefes, temos de promover mais a nossa gastronomia fora de Macau, para que as pessoas saibam o que se come cá. São necessárias mais aulas para os turistas, como se faz na Tailândia. As pessoas gostam de aprender dessa forma. Também podemos dar formações nas escolas secundárias e ensino superior, para que os alunos saibam que Macau teve administração portuguesa e que a comunidade macaense tem este tipo de gastronomia. Nas promoções lá fora, deve-se levar mais a comida macaense para que as pessoas provem.” No caso das aulas que dá na UTM, há cinco anos, Antonieta Manhão diz que “há muita procura” pela aprendizagem da comida macaense. “As minhas aulas de comida macaense estão sempre cheias, não tenho falta de alunos. Penso que os alunos querem muito aprender sobre a nossa comida macaense, por um único motivo. Antes os jovens comiam pratos uma ou duas vezes porque ainda tinham familiares que cozinhavam, e agora querem aprender por uma questão de memória, para se recordar desses momentos em família.” “Iron Chef” foi uma “aventura” Desde que participou no programa de culinária “Iron Chef”, na Tailândia, que a carreira de Antonieta Manhão deu um grande salto, dedicando-se não só a ensinar como se fazem pratos macaenses, mas também a promover este tipo de gastronomia no estrangeiro, muitas vezes com o apoio da Direcção dos Serviços de Turismo. Uma das últimas iniciativas decorreu em Novembro do ano passado numa escola de hotelaria e turismo em Guangzhou, onde ensinou alguns pratos de comida macaense a 43 alunos. Há cinco anos, a “Chef Neta” foi mesmo uma das convidadas do programa matinal da TVI, “Você na TV”, transmitido em Portugal, onde deu a conhecer ao público de Portugal as receitas de “Pão Recheado” e “Capela”, feitos com carne de porco. “Há pessoas que conhecem Macau com ligação ao jogo, mas quase ninguém conhece a comida macaense e foi por isso que fui ao ‘Iron Chef’. Foi uma aventura, porque a gastronomia macaense nunca tinha estado neste tipo de competições. Fiz um prato de bacalhau, e muitos outros, mesmo para as pessoas ficarem a conhecer”, contou. Antonieta Manhão, que está também ligada à Confraria da Gastronomia Macaense, participou no programa por convite, competindo com outro chef residente do concurso. Tendo em conta que cada chef tinha de introduzir um ingrediente secreto, a “Chef Neta” levou ostras, que juntou à receita de bacalhau. Porém, hoje em dia, a chef diz ser difícil criar novos pratos macaenses, por haver o risco de se desviar daquilo que é verdadeiramente tradicional neste tipo de cozinha de fusão, onde a comida portuguesa casa com a chinesa e, muitas vezes, com iguarias do Sudeste Asiático. Muitas vezes os molhos e temperos são semelhantes, mas combinados de forma diferente. A chef explica que há ingredientes como o louro ou açafrão usados na comida portuguesa e macaense, por exemplo. “É difícil modificar as receitas existentes e criar novas, pois assim deixa de ser a comida macaense. A única coisa que se pode fazer é adaptar e melhorar alguns pratos com novos ingredientes, usando carne de porco preto, por exemplo. Muitos desses ingredientes não se usavam antes porque não havia”, rematou.
Andreia Sofia Silva Grande PlanoHistória | Burlão passou-se por “príncipe de Macau” no século XVIII Rodolphe Barack Famard passou por Macau no século XVIII. A visita inspirou-o a apresentar-se às autoridades francesas como Príncipe de Macau quando foi preso, em 1749, assinando como “Rodolfo, Deo Gratias Princeps ad Macao”. O historiador Ivo Carneiro de Sousa conta a história do burlão na Revista de Cultura Macau, território administrado por Portugal desde meados do século XVI, teve um falso príncipe, negro, que se apresentou como sendo “Príncipe de Macau” aquando da sua prisão no porto de Morlaix, a 24 de Setembro de 1749. Porém, a tentativa de encarnar a falsa realeza acabou por ser desmascarada pelas autoridades francesas. A história é contada pelo historiador Ivo Carneiro de Sousa, docente da Universidade Politécnica de Macau (UPM), na última edição da Revista de Cultura, editada pelo Instituto Cultural. O historiador vasculhou o que resta da documentação sobre esta detenção em França, revelando detalhes de um episódio que roça o caricatural na história de Macau. O artigo, intitulado “Rodolfo, ‘Deo Gratias Princeps ad Macao’: A faked prince of Macao in 18th century France” conta como, em 1749, “um ‘negro soberbo’, bem vestido, falando e escrevendo francês com uma desenvoltura surpreendente, foi preso no porto de Morlaix, em Finisterra, habitualmente frequentado por corsários bretões”. Porém, o seu nome verdadeiro era Rodolphe Barack Famard, e não passava de um comum mortal, sem ligações à realeza, muito menos a uma família real de Macau que nunca existiu. A prisão aconteceu depois da ocorrência “de uma briga numa taberna da cidade”, sendo que “Rodolfo” já era “procurado em vários portos da Bretanha por ter deixado muitas contas por pagar e distribuído notas de débito e de câmbio falsas”. Durante o interrogatório conduzido pelas autoridades, o homem “identificou-se surpreendentemente como o ‘Príncipe de Macau’ e o filho mais velho do seu rei, o ‘Grande Senhor de Macau’. Para espanto dos agentes, assinou com elegância as suas declarações como ‘Rodolfo, Deo Gratias Princeps ad Macao'”, pode ler-se. Numa altura em que o comércio estrangeiro abundava em Macau, a história inventada por Rodolphe Barack Famard terá sido influenciada “pelas abundantes e provavelmente bizarras histórias orais que circulavam entre esses muitos marinheiros, comerciantes e aventureiros franceses que, partindo principalmente do porto de Lorient, chegaram ao fim de uma longa viagem para comerciar em Cantão, passando por Macau, sem nunca terem, afinal, posto os pés nas duas cidades”. Segundo a análise de Ivo Carneiro de Sousa, estaria em causa a transmissão de “relatos vibrantes dos capitães e oficiais dos navios sobre as suas visitas a Macau, uma vez que Cantão estava fechada a estrangeiros”. “Os relatos orais destas longas e singulares viagens foram certamente transformados em histórias fantásticas, aventurosas e divertidas na cultura marítima dos portos da Bretanha, onde era recrutada a maior parte destes marinheiros que navegavam para os mares asiáticos”, descreve ainda o historiador. O autor refere ainda que “a invenção fabulosa da falsa identidade de ‘Rodolfo’ como príncipe de Macau deve ser interpretada no âmbito destas práticas culturais populares”. Quem era o “príncipe”? O docente e investigador, que consultou os registos criminais referente à detenção, aponta que “Rodolfo” foi descrito pelos polícias como um “negro soberbo” e “bem vestido”, tendo revelado “surpresa e uma certa admiração” com o ocorrido aquando da sua prisão. Porém, no que diz respeito aos documentos do hospital de Bicêtre, por onde o homem passou, descrevem “uma personagem exótica, representada entre um ‘árabe’ e um ‘hindu’, venerada pelos seus companheiros de prisão, e por alguns guardas, sob a breve identificação oficial de ‘Barack’, o ‘príncipe de Macau’. Porém, segundo relata o artigo, é “difícil de afirmar a identidade social e cultural” deste falso príncipe de Macau, pois não existe uma “prova documental remota” da “identificação sugerida”, que aponta “Rodolfo” como sendo “filho de Jacques e Elisabeth Bart de Valenciennes”. Ainda assim, “o seu retrato físico e cultural pode, com algum esforço, indicar um grupo muito pouco estudado de marinheiros e pilotos com capacidades excepcionais de navegação no Oceano Índico, mobilizados pelo comércio europeu desde o final do século XV nos principais portos de Moçambique, Quénia, Tanzânia e, mais tarde, nas ilhas Mascarenhas, Madagáscar e Comores”. Apesar da dificuldade de percepcionar as suas origens, “Rodolfo” terá sido “um homem com conhecimentos e experiência suficientes em viagens marítimas para sair rapidamente do hospital-prisão de Bicêtre, provavelmente curado e recrutado à força para o comércio ultramarino da Companhia Francesa das Índias Orientais”. Por que mares navegou Ivo Carneiro de Sousa descreve que não conseguiu apurar “quantas viagens Rodolfo fez e se chegou perto de Macau em alguma delas, mas a sua última e fatal aventura marítima está bem documentada”. Aconteceu a 7 de Março de 1758, partindo de Lorient no veleiro “Rôle de la Baleine” com destino a Pondichéry, “então o mais importante enclave comercial francês na Índia”. Teria então 33 anos e seria “patrão de marinheiros”. Nessa viagem, “o navio navegou da Bretanha para o Rio de Janeiro; daqui, contornou o Cabo da Boa Esperança, depois fez escalas nas Mascarenhas e em Madagáscar, dirigindo-se para Pondichéry, onde os navios ingleses o aprisionaram no mar”. “Rodolfo” terá ficado “preso, possivelmente ferido ou doente”, após ter sido “enviado para o hospital da marinha de Fareham”, acabou por falecer com menos de 40 anos. Para Ivo Carneiro de Sousa, esta história prova que Macau deu azo a inúmeras histórias e fantasias ao longo dos anos. “A sua incrível história provou, através de uma falsificação entre a mitomania e a libertinagem, que Macau foi muito mais do que uma cidade referencial de comércio no século XVIII, para se tornar num locus de aventuras excitantes e exotismos imaginados que atingiram o mundo do comércio marítimo internacional.” Fácil de comprovar A história surge documentada numa carta régia de justiça constante num inventário de 1864 feito por Aristide Joly, e integrado na colecção “Memórias Lidas na Sorbonne”. Neste inventário, é descrito, “entre outros casos criminais menos vibrantes, o singular dossier de ‘um aventureiro negro detido em Morlaix’, que, em meados do século XVIII, se dizia ‘filho de um príncipe das Índias Orientais e grande senhor de Macau'”. A mesma história surgiu depois no Journal des Débats Politiques et Littéraires, de 16 de Agosto de 1923, no texto intitulado “Um príncipe negro e a polícia no século XVIII”, assinado por Étienne Dupont, magistrado e historiador. Ivo Carneiro de Sousa avança mais detalhes do diálogo que o falso príncipe teve com as autoridades. Além de se auto-denominar “Príncipe de Macau”, disse ter 25 anos e deixado o território “No Dia Real de 1746”, além de que “o seu pai e mãe estavam ainda vivos, mas não o queriam ver mais desde que ele se tinha tornado cristão”. Este disse ainda que “tinha partido no navio ‘Mettais Querquanny’ e desembarcado em Lisboa e que não tinha tido residência fixa nos últimos anos”. O polícia George François Moreau, que o interrogou, depressa percebeu que o relato que acabava de ouvir não passava de fantasia. “As pessoas de Macau não são negras! E desde quando, por favor, é que o príncipe herdeiro daquele país é chamado de Delfim? Sempre acreditei, até agora, que esse título estava apenas atribuído ao filho mais velho de Sua Majestade o Rei de França?”. Além disso, a documentação histórica da primeira metade do século XVIII, “incluindo os que usam a palavra colónia, impressos, manuscritos ou outros documentos, desde ficheiros oficiais a mapas e iconografias, nunca representaram Macau como um território ‘monárquico’ com reis, príncipes ou ‘grandes lordes’. Nesse contexto, as autoridades policiais e judiciais de um porto comercial e de corsários bastante movimentado como Morlaix não teriam dificuldades em ter um resumo de informações credíveis sobre Macau”, destaca Ivo Carneiro de Sousa.
Andreia Sofia Silva Grande Plano ManchetePME | Estudo diz que tecnologia foi essencial para sobreviver à pandemia Durante a pandemia, as pequenas e médias empresas de Macau foram obrigadas a procurar formas de sobrevivência e a aposta nas novas tecnologias e redes sociais ajudou a manter negócios. Uma dissertação de mestrado de Lai Ieng Chio, defendida no Instituto Superior de Economia e Gestão, apresenta quatro casos de resiliência e adaptação Chama-se “A adaptação das PME à covid-19 em Macau: O foco na Informação Tecnológica” e revela a forma como algumas pequenas e médias empresas de Macau se adaptaram às novas tecnologias, alterando modelos de negócio e inovando, para responder à crise económica que o território enfrentou durante os anos de combate à pandemia da covid-19. Este estudo constitui a dissertação de mestrado em Gestão de Sistemas de Informação defendida por Lai Ieng Chio no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), em Lisboa. Contendo entrevistas a quatro empresários locais, o estudo conclui que “as atitudes dos empresários e a adopção das tecnologias da informação foram essenciais para apoiar as pequenas e médias empresas (PME) de Macau a sobreviver à crise, melhorando a capacidade de resiliência e a eficiência das empresas”. Além disso, a aposta em formatos online ou nas vendas através das redes sociais, entre outras ferramentas digitais, trouxe a possibilidade de adaptação “às condições do negócio em constante mudança”. As quatro empresas versadas no estudo operam nas áreas da educação, propriedade intelectual; desporto e saúde, no caso concreto um estúdio de Yoga fundado em 2019; e uma empresa de marketing. A empresa mais antiga foi fundada em 2013 e, à data das entrevistas, empregava 20 pessoas a tempo inteiro, tendo 400 trabalhadores ocasionais e em regime freelancer. O responsável pela empresa de marketing lembrou que “antes de 2019, (as empresas locais em Macau) faziam principalmente marketing tradicional offline… A covid-19 obrigou-os a transformarem-se e a começarem a fazer marketing em linha… agora viram as vantagens disso e continuam a fazê-lo”. Desta forma, Lai Ieng Chio aponta que o empresário “enquanto profissional da indústria das tecnologias da informação, apresentou uma perspectiva mais ampla, salientando a mudança significativa nas estratégias de marketing no panorama empresarial local em Macau”. Neste contexto, a pandemia “funcionou como um catalisador, obrigando-as a fazer a transição para o marketing online”, sendo que “as empresas continuaram a fazer marketing online mesmo após a pandemia, reconhecendo as suas vantagens”. O empresário acrescentou que a pandemia trouxe lições e modos de trabalhar diferentes. “Foi uma grande oportunidade porque o nosso principal negócio era online. As restrições obrigaram as pessoas a mudar para o online pois viram que os resultados eram satisfatórios, existindo agora uma maior percepção quanto a isso. Cada vez há mais pessoas a pedirem-nos ajuda para a transformação [do seu negócio]”, apontou. No caso desta empresa, o estudo salienta que “o negócio beneficiou com a mudança” ocorrida com a passagem do marketing offline para online, tendo em conta que “mais empresas procuraram ajuda para a transformação digital”. Adaptações online No caso da empresa ligada à educação, em formato de franchising, foi fundada em 2020, tendo apenas dois funcionários a tempo inteiro. Aqui a transição para o online foi bastante desafiante, com o encerramento das escolas e demais instituições de ensino em diferentes fases e períodos. Porém, o entrevistado destacou que a empresa começou também a apostar no marketing online. “Utilizámos de forma oficial as redes sociais este ano [2023] e começámos a utilizar os sistemas de informação para encomendar e organizar materiais didácticos.” Desta forma, o estudo destaca que a maioria dos entrevistados adoptou “o marketing online e sistemas de informação” digitais, sendo que o caso da empresa ligada à educação demonstrou “uma abordagem proactiva à adopção de ferramentas digitais, tanto para marketing como para eficiência operacional”. O uso de ferramentas digitais foi também útil para manter o estúdio de Yoga operacional. “Fazemos algumas coisas online (…) utilizando o FaceBook, o Instagram, o Wechat (…) principalmente por ser conveniente para a promoção e o marketing (…) e começámos a utilizar sistemas de informação para o registo dos alunos”, foi dito na entrevista para o estudo. No que diz respeito à empresa da área da propriedade intelectual, houve também a necessidade de adaptação, sendo que os anos de pandemia até levaram o entrevistado a perceber onde estava a errar no negócio. “Graças à covid-19 consegui ver mais claramente os pontos fracos [da empresa], pelo que desenvolvemos uma nova forma de funcionamento e começámos a utilizar grandes volumes de dados e algoritmos para nos ajudar a navegar. Por exemplo, devido à pandemia, cada vez mais pessoas começaram a ter gatos como animais de estimação. Foi uma boa oportunidade para seguir esta tendência que os grandes dados me mostraram e lançar produtos relacionados”, foi referido. Digital foi a resposta Tendo em conta os quatro exemplos analisados, o estudo denota que “os empresários de Macau se depararam com uma miríade de dificuldades, que vão desde as dificuldades financeiras à exaustão emocional”. No caso do centro de explicações, a empresa do ramo da propriedade intelectual e do estúdio de Yoga houve “rendimentos nulos, despesas contínuas e um futuro incerto”, embora todos os empresários tenham demonstrado capacidade de “resiliência e adaptação”. Desta forma, o recurso às plataformas online e meios digitais “foram identificadas como estratégias-chave não só para sobreviver, mas também para prosperar no panorama empresarial transformado”, tendo-se verificado, nos anos de pandemia, “numa resposta dinâmica e adaptativa dos empresários de Macau na sequência das perturbações sem precedentes provocadas pela crise sanitária mundial”. O estudo denota ainda que “a capacidade de se adaptar e de adoptar novas tecnologias e abordagens revelou-se essencial para as PME de Macau sobreviverem e prosperarem num ambiente difícil”. Verificou-se ainda “a importância crescente das tecnologias da informação, particularmente do marketing online através de plataformas de redes sociais e da aplicação de sistemas de informação no panorama empresarial de Macau”. O estudo destaca também a continuidade do uso destas ferramentas por parte das PME locais. “Mesmo após a pandemia, as empresas continuaram a reconhecer as vantagens das tecnologias da informação para alcançar um público mais vasto, estabelecer contacto com potenciais clientes e melhorar a eficiência operacional. À medida que as PME continuam a navegar no ambiente empresarial em constante mudança, espera-se que a sua capacidade de adaptação e inovação continue a ser crucial para o sucesso a longo prazo.” Lai Ieng Chio denota que a actual situação empresarial “é dinâmica e que o impacto da covid-19 nas PME de Macau vai continuar a evoluir”, apelando à realização de estudos com maior abrangência e actualização de dados. Apesar destas conclusões, a verdade é que muitos deputados e analistas têm apontado as dificuldades que as PME continuam a enfrentar em Macau, não só porque estão ainda a recuperar dos anos da pandemia, como têm de se adaptar a novos formatos de consumo por parte dos residentes, que viajam mais para o Interior da China, e dos próprios turistas.
João Luz Grande Plano MancheteRAEM 25 anos | Xi pediu abertura e maior ligação a países de língua portuguesa Xi Jinping salientou a singularidade de Macau por ser o único local no mundo em que o português e o chinês são as línguas oficiais e pediu uma cooperação abrangente com os países de língua portuguesa. O Presidente chinês desafiou o próximo Governo a melhorar o ambiente de negócios para atrair investidores estrangeiros Na tomada de posse do novo Governo liderado por Sam Hou Fai e dos titulares dos principais cargos da RAEM, o Presidente Xi Jinping, que presidiu à cerimónia, sublinhou quatro expectativas que tem para o novo Executivo: A diversificação adequada da economia, a elevação da eficácia governativa, a abertura ao exterior, que inclui o reforço das relações com os países de língua portuguesa, e a defesa da estabilidade da sociedade. As características únicas de Macau foram a tónica do discurso do Presidente da República Popular da China (RPC), que salientou que a RAEM deve “continuar a cooperar em todos os aspectos com os países de língua portuguesa”. Xi Jinping sublinhou que Macau é “o único local do mundo que tem como línguas oficiais o português e o chinês” e defendeu que a cidade tem de aproveitar “a sua singularidade” para desempenhar “o papel de plataforma entre a China” e os países lusófonos. Macau tem “desempenhado um papel muito importante ao longo da história” da China, como “uma janela para o exterior”, “aproveitando a sua vantagem única de ser a mistura de diferentes culturas”, disse o líder chinês. Neste aspecto, Xi sublinhou que Macau precisa assumir “uma atitude mais tolerante, mais aberta, de estabelecer mais laços de cooperação com o exterior”, para “projectar a imagem” da região a nível global e ter “o seu lugar no palco internacional”. Para conseguir elevar o relevo internacional, o Presidente da RPC defendeu a necessidade de “optimizar o ambiente de negócios” e “renovar as leis que têm a ver com o comércio” de forma a “atrair mais recursos e investidores internacionais”. Recorde-se que a Assembleia Legislativa está actualmente a discutir uma proposta de lei para encorajar a criação de fundos de investimento que possam atrair investidores do estrangeiro, incluindo dos países lusófonos. Redes sociais No discurso que marcou a cerimónia da tomada de posse do novo Governo da RAEM, Xi Jinping apelou ao próximo Executivo para “alargar a rede de amigos”, “continuar a ser aberto ao exterior”, “fomentar o intercâmbio entre os chineses e os estrangeiros”. O líder chinês deu como exemplo a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, o enorme programa estratégico de infra-estruturas internacionais lançado em 2013. De acordo com o Presidente chinês, Macau precisa de “fazer reformas” para diversificar a economia, altamente dependente do turismo e dos casinos. Nos primeiros nove meses do ano, os serviços turísticos representaram 79,7 por cento da economia da cidade. Xi Jinping lembrou que “o Governo Central decidiu desenvolver Hengqin com o objectivo de diversificar a economia de Macau, de facilitar a vida e o emprego dos cidadãos de Macau”. O líder chinês alertou que a aposta na Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau “é para persistir” e que “não podem desenvolver indústrias fora desta iniciativa”, defendendo também que a RAEM deve, “de uma forma proactiva, participar no desenvolvimento da Grande Baía” Guangdong–Hong Kong–Macau. Milagre Macau Os históricos progresso alcançados por Macau desde o retorno à pátria foram também mencionados ontem pelo Presidente chinês, que afirmou que a felicidade e sentimento de segurança da população aumentaram significativamente nos últimos 25 anos. Xi Jinping realçou o fortalecimento da economia e das condições de vida, nomeadamente no que diz respeito ao emprego, habitação, educação, cuidados de saúde e qualidade de vida no geral. O crescimento do produto interno bruto (PIB) da região, que foi multiplicado por sete desde a transição de administração, também foi referido pelo Presidente chinês, em particular o PIB per capita que está entre os mais elevados do mundo. A defesa da segurança nacional foi outro tópico sublinhado entre os objectivos que Macau deve salvaguardar de forma inabalável. Xi Jinping salientou também que o Governo Central respeita as diferenças entre os “Dois Sistemas”, garantindo o elevado grau de autonomia de Macau governado pelas suas gentes. Moradores | Ng Sio Lai destaca necessidades económicas A deputada por Macau da Assembleia Popular Nacional e presidente da Associação dos Moradores, Ng Sio Lai, considera que a prioridade da RAEM para os próximos anos tem de passar pela melhoria da situação económica do território e o aproveitamento das vantagens do princípio “Um País, Dois Sistemas”. As declarações foram prestadas ontem pela presidente da associação tradicional ao canal chinês da Rádio Macau, em relação aos discursos de Xi Jinping. Ng Sio Lai prometeu também que a associação vai assumir o papel de contribuir para o desenvolvimento de Macau, ao fazer a ligação entre as aspirações da população e o Governo. A associação conta actualmente com três deputados na Assembleia Legislativa, Ho Ion Sang, Leong Hon Sai e Ngan Iek Hang. Cooperação | Chui Sai Peng promete colaborar com Governo Chui Sai Peng, deputado de Macau na Assembleia Popular Nacional e na Assembleia Legislativa, prometeu fazer todos os esforços para ajudar o Governo a tornar Macau melhor. As declarações foram prestadas à Rádio Macau, em reacção ao discurso de quinta-feira à noite de Xi Jinping. Segundo Chui Sai Peng, o discurso do Presidente chinês ajudou-o a perceber melhor a grandeza de Macau, e a sentir-se mais feliz com os feitos alcançados nos últimos 25 anos. Além disso, o deputado afirmou que é necessário continuar a trabalhar para que os residentes de Macau tenham um maior sentimento de felicidade e segurança. Patriotismo | Chan Hong espera que população aprenda com Xi A deputada por Macau na Assembleia Popular Nacional Chan Hong quer que a população aprenda as esperanças e expectativas que o Presidente Xi Jinping apresentou nos seus discursos e que as ponha em prática, para contribuir para o “grande rejuvenescimento da nação chinesa”. Foi desta forma que a deputada e vice-directora da Escola Hou Kong reagiu ao discurso de Xi Jinping, indicando a necessidade do Governo e da sociedade, em conjunto, “consolidarem a base social do patriotismo e amor por Macau”, “construírem uma plataforma para os jovens” e “reforçarem as forças de Macau”, para aprofundar os contributos para o país. Economia | Wong Kit Cheng quer mais inovação A deputada Wong Kit Cheng acredita que no futuro a RAEM precisa de continuar a inovar para se desenvolver. Em reacção às palavras de Xi Jinping, de acordo com o canal chinês da Rádio Macau, a deputada ligada à Associação das Mulheres indicou que Macau tem de fazer “um bom trabalho como plataforma” e assumir o papel que lhe foi atribuído pelo Governo Central. Além disso, Wong Kit Cheng insistiu que é necessário continuar a trabalhar no âmbito da diversificação “moderada” da economia. Estudantes | Associação quer mais jovens em Hengqin A secretária-geral da Associação Geral de Estudantes Chong Wa de Macau, Si Nei Na, afirmou que face aos discursos de Xi Jinping, o Governo de Macau deve focar-se em promover o desenvolvimento dos jovens e incentivá-los a integrarem-se no desenvolvimento nacional, principalmente através da Zona de Cooperação Aprofundada em Hengqin. Em declarações ao canal chinês da Rádio Macau, Si Nei Na defendeu que Macau deve apostar em fazer um bom trabalho a nível das relações internas e externas, e no desenvolvimento do papel da RAEM como plataforma. Fórum Macau | Palestra vai estudar discursos de Xi Jinping O Governo vai organizar hoje, pelas 15h, uma sessão para estudar os discursos proferidos por Xi Jinping durante a visita a Macau. O evento com o nome “palestra sobre a aprendizagem, difusão e implementação do espírito dos discursos importantes do Presidente Xi Jinping no âmbito da visita a Macau destinada a todos os sectores da sociedade de Macau” vai decorrer no Complexo da Plataforma de Serviços para a Cooperação Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa e é fechado à população. Com Lusa
Hoje Macau Grande PlanoInterior da China e Macau exploram potencial de cooperação em novos sectores O Jogo contribui para o crescimento de Macau mas, por outro lado, também pode limitar o desenvolvimento de outros sectores da economia. Novas medidas do CEPA criam novas oportunidades para as empresas de Macau Ao abrir novos caminhos para as empresas de Macau, “o governo central está a dar à cidade a possibilidade de prosseguir uma via de desenvolvimento mais diversificada e sustentável, para além dos seus pontos fortes tradicionais no jogo”, afirmaram analistas ouvidos pelo China Daily. “A China continental tem utilizado uma série de medidas para abrir ainda mais os seus sectores de serviços a Macau, em conformidade com as necessidades de desenvolvimento em mutação da região administrativa especial, e para proporcionar às empresas de ambos os lados uma maior margem de cooperação e crescimento”, acrescentaram. O último passo foi dado quando o Ministério do Comércio assinou, em Outubro, alterações com Macau para reforçar a liberalização do comércio de serviços no âmbito do Acordo de Parceria Económica Reforçada (CEPA). O Interior da China e Macau assinaram o CEPA, um acordo semelhante a um acordo de comércio livre que é estabelecido entre dois territórios aduaneiros separados de um único Estado soberano, em 2003, com o objetivo de promover a prosperidade económica conjunta do Interior da China e de Macau. No centro da mais recente revisão está um vasto pacote de iniciativas de abertura destinadas a reduzir ou a eliminar o limiar de entrada no mercado para os prestadores de serviços sediados em Macau numa série de sectores, incluindo as finanças, as telecomunicações e a construção. Algumas das medidas serão testadas na Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau para facilitar a conectividade institucional regional antes de serem postas em prática em todo o país. Serviços em destaque “O sector dos serviços é responsável por uma componente significativa do desenvolvimento económico de Macau, que pode ser alcançado eficazmente dentro da limitada área terrestre da cidade”, disse Qi Pengfei, director do centro de investigação de Taiwan, Hong Kong e Macau da Universidade Renmin da China. “As novas medidas trarão enormes oportunidades às empresas de Macau, especialmente em áreas como as finanças, o entretenimento e os serviços culturais, para acederem ao vasto mercado do continente – um passo fundamental nos esforços sustentados de Macau para diversificar a sua economia”, disse Qi. “Apesar de a indústria do jogo de Macau ter impulsionado o rápido crescimento económico e a criação de emprego, a influência excessiva do sector pode excluir o desenvolvimento de outros sectores e limita a resiliência económica global de Macau e a sua capacidade de resistir a períodos de recessão”, acrescentou Qi. De acordo com o plano de diversificação económica de Macau para o período de 2024 a 2028, publicado em Novembro do ano passado, o objectivo é aumentar a percentagem do valor acrescentado das actividades não relacionadas com o jogo para cerca de 60 por cento até 2028. No passado, as empresas de Macau do sector dos serviços enfrentaram várias barreiras, como os elevados limiares de acesso ao mercado e as restrições à duração das operações comerciais, quando tentaram entrar no mercado do continente, disse Liang Haiming, presidente do China Silk Road iValley Research Institute, com sede em Hong Kong. “Ao entrar no vasto mercado do Interior da China, as empresas de serviços de Macau podem agora aproveitar os seus pontos fortes únicos para cultivar novas vantagens competitivas para além das indústrias tradicionais”, acrescentou Liang. Novas medidas, benefícios comuns Como parte das novas iniciativas, as alterações delinearam várias medidas para abrir o sector financeiro, um dos novos motores de crescimento de Macau. A indústria de serviços financeiros de Macau tem registado um aumento na sua contribuição para as receitas fiscais globais da cidade, com a sua quota a aumentar de cerca de 6,9 por cento em 2019 para cerca de 16 por cento em 2023 – tornando-se a segunda maior fonte de receitas fiscais depois do sector do jogo, de acordo com os Serviços de Estatística e Censos de Macau. Para catalisar o crescimento do sector financeiro de Macau, as alterações incluíram medidas para alargar o âmbito de actividade dos bancos sedeados em Macau que operam no Interior da China e para promover a interconectividade do mercado obrigacionista. Para a China continental, o maior acesso concedido às empresas de serviços de Macau também trará benefícios substanciais, disse Xu Hongcai, diretor-adjunto do comité de política económica da Associação Chinesa de Ciência Política. A entrada dos prestadores de serviços de Macau introduzirá conceitos de gestão avançados, produtos de serviços de alta qualidade e modelos de negócio inovadores, contribuindo para melhorar e desenvolver o sector dos serviços na China continental, acrescentou Xu. Wang Keju, China Daily
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteRAEM 25 anos | Xi satisfeito com resultados obtidos em Hengqin No segundo dia de visita a Macau, Xi Jinping deslocou-se a Hengqin para se inteirar do desenvolvimento dos últimos tempos, tanto ao nível do tecido empresarial como nas condições no Novo Bairro de Macau. O Presidente chinês desejou ainda que Macau ganhe mais visibilidade internacional, com maior abertura ao mundo Depois da chegada apoteótica a Macau e de uma reunião com o Chefe do Executivo ainda em funções, Xi Jinping prosseguiu ontem com a sua agenda marcada por uma visita à Zona de Cooperação Aprofundada de Guangdong e Macau em Hengqin. Segundo informações oficiais divulgadas pela Xinhua, a visita à Zona de Cooperação ficou marcada por um “intercâmbio caloroso com residentes de Macau” que vivem no Novo Bairro de Macau em Hengqin, ou ainda com comerciantes e empresários que operam na Zona de Cooperação. O Presidente chinês, que teve o objectivo de inspeccionar o andamento deste projecto de integração regional, reuniu ainda com responsáveis pelo planeamento, construção e gestão dos serviços desta zona. Segundo a Xinhua, Xi Jinping declarou em Hengqin que a cooperação com Macau está a tornar-se “numa nova demonstração do enriquecimento proporcionado pela prática de ‘Um País, Dois Sistemas'”, além de ser uma nova plataforma de promoção “da construção da Grande Baía Guangdon-Hong Kong-Macau e da concretização da abertura de alto nível do país ao exterior”. Nesse aspecto defendeu que Macau deve procurar ter um papel de maior relevância no mundo e ser mais aberto a pessoas vindas de fora. “Espero que Macau abrace diversidade e inclusividade”, disse Xi, num discurso proferido no território, em que mencionou também “maior abertura (…) e solidariedade”, assim como a importância de “atrair os melhores talentos”. O líder chinês disse que Macau teve “a projecção e visibilidade internacionais significativamente aumentadas” nos últimos cinco anos, nomeadamente através da cooperação com os países de língua portuguesa. Mas defendeu que a região “pode também buscar desempenhar um papel maior no palco internacional” e ter “uma visão mais ampla”. “Qualquer pessoa que apoie ‘Um País, Dois Sistemas’ e ame Macau como o seu lar, é um nativo que ‘tomou água do Lilau’ e uma força positiva que contribui para o desenvolvimento de Macau”, defendeu Xi. A referência diz respeito a um ditado, segundo o qual quem bebe da água da fonte no Lilau, um dos primeiros largos de estilo português da cidade, “cedo ou tarde volta a Macau”. Cumprir metas Para o Presidente chinês, a “intenção original do desenvolvimento de Hengqin é alcançar um desenvolvimento moderado e diversificado da economia de Macau”, com “o foco estratégico e persistência na obtenção de resultados a longo prazo”. Desta forma, o sucesso da Zona de Cooperação Aprofundada “depende da existência de medidas e resultados tangíveis”, declarou o Presidente, a fim de se prosseguir o objectivo de facilitar “a vida e emprego dos residentes de Macau”, bem como a diversificação da economia além do jogo. Xi Jinping referiu também que a província de Guangdong e as zonas de Zhuhai e Macau “contribuem e são beneficiárias da construção da Zona de Cooperação, devendo trabalhar em conjunto”. Durante a visita da Hengqin, Xi Jinping assistiu a uma apresentação sobre a construção de uma plataforma de apoio científico e tecnológico para o desenvolvimento da medicina tradicional chinesa. Xi Jinping, na conversa com jovens empreendedores em Hengqin, disse que “as suas histórias de inovação e de empreendedorismo mostram como Macau tem um grupo de jovens com ideias, responsabilidade e coragem para explorar e inovar”. Desta forma, Xi Jinping entende que a Zona de Cooperação em Hengqin “tornou-se um amplo espaço de oportunidades para que os jovens iniciem o seu próprio negócio”, tendo dito que espera que “mais jovens de Macau possam viver uma vida maravilhosa em Hengqin”. Seguir as exigências A visita à Zona de Cooperação Aprofundada foi também marcada por uma passagem pelo Pavilhão de Exposições “Tianmu Qintai”, onde o Presidente chinês visitou a exposição “Harmonia de Qin e Macau – Exposição Temática sobre a Construção da Zona de Cooperação Profunda Hengqin Guangdong-Macau”. Xi Jinping destacou os “progressos positivos” obtidos desde que foi estabelecida a Zona de Cooperação Profunda Hengqin Guangdong-Macau. “O nível de integração entre Macau e Hengqin melhorou gradualmente, sendo que o apoio ao desenvolvimento da diversificação da economia de Macau tornou-se cada vez mais evidente. Esta iniciativa provou que a decisão do Governo Central de desenvolver Hengqin, bem como de construir uma Zona de Cooperação, foi completamente correcta”, acrescentou. No âmbito desta visita, o Presidente chinês adiantou também que devem ser seguidas “as exigências do Governo Central” e que todos devem participar no processo de reforma e “trabalhar juntos para enfrentar as dificuldades”. O líder destacou a necessidade de apostar numa “forte ligação” em matéria de infra-estruturas, uma “ligação mais suave” em termos de regras e mecanismos entre regiões e ainda uma “ligação entre os corações” de Guangdong e Macau. Neste contexto, “deve-se acelerar o estabelecimento de um sistema institucional com uma elevada coordenação económica” entre as regiões, “melhorar os serviços públicos e o sistema de segurança social”, além de se proporcionar a residentes e demais moradores “um estilo de vida de alta qualidade, com a concessão de comodidades aos compatriotas de Macau para viverem” em Hengqin. Visita à MUST Outro ponto na agenda de Xi Jinping no segundo dia de visita a Macau foi a ida à Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau (MUST), a fim de conhecer o sistema de ensino superior de Macau. Segundo o jornal Ou Mun, Kong Chi Meng, director dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDT), referiu que Xi Jinping está satisfeito com o desenvolvimento do ensino superior, tendo deixado o desejo de que mais disciplinas sejam criadas a fim de corresponder ao desenvolvimento que Macau precisa. Kong Chi Meng destacou que Xi Jinping louvou o bom trabalho educativo em matéria de patriotismo, esperando que continue a ser reforçado pelas autoridades locais. O director da DSEDT disse ainda que em Macau há cerca de 60 mil estudantes do ensino superior, número que representa cerca de um décimo da população local, o que mostra a generalidade de acesso às universidades. Na visita à instituição de ensino superior privada, que durou cerca de duas horas, o director da DSEDJ apresentou as mudanças e o desenvolvimento do ensino superior nos últimos 25 anos, e enumerou as políticas que serão desenvolvidas em Macau para corresponder às necessidades do país e diversificar a economia. Ainda na área do ensino, destaque para as declarações de Peng Liyuan, primeira-dama do país, que defendeu que os estudantes devem aprender bem a história e a cultura de Macau, no âmbito de uma visita ao Museu de Macau. No contacto com alunos do ensino primário, que durou cerca de uma hora, Peng Liyuan defendeu que esse estudo vai permitir às novas gerações “melhor servir Macau no futuro”, noticiou o canal chinês da Rádio Macau. Estas declarações foram avançadas à rádio por Deland Leong Wai Man, presidente do Instituto Cultural que falou com a imprensa. Peng Liyuan terá mostrado interesse pela vida da população de Macau e pelo intercâmbio cultural entre o Oriente e Ocidente. A primeira-dama também terá ficado interessada na evolução registada em Macau ao longo dos séculos, de uma pequena terra de pescadores até aos dias de hoje. Encontro com John Lee e cinco “extraordinários anos” de Macau A agenda do Presidente chinês de ontem encerrou com um sarau cultural depois do jantar comemorativo dos 25 anos do estabelecimento da RAEM, que contou com a presença de Ho Iat Seng, que deixa hoje o cargo de Chefe do Executivo. Segundo a Xinhua, Xi Jinping falou dos ganhos obtidos nos últimos cinco “extraordinários anos” de Macau em matéria de desenvolvimento, tendo referido que os órgãos Executivo, Legislativo e Judicial da RAEM “têm implementado de forma abrangente, exacta e inabalável a política de ‘um país, dois sistemas'”. “Ao reunir-se com os funcionários dos três órgãos, Xi Jinping disse que estes têm desempenhado as suas funções de forma pragmática e eficaz, liderados pelo Chefe do Executivo da RAEM, Ho Iat Seng, nos últimos cinco anos”, lê-se na mesma nota. Destaque para o encontro entre Xi Jinping e os anteriores chefes do Executivo da RAEM, Edmund Ho e Chui Sai On. Num discurso proferido ao jantar, Ho Iat Seng referiu-se à visita do Presidente chinês a Macau como um “grande acontecimento e um evento marcante”. Foi destacado por Ho que “nos últimos cinco anos o V Governo da RAEM implementou plenamente o espírito consagrado nos importantes discursos do Presidente Xi e o princípio ‘Macau governado por patriotas’, criando um novo cenário para os trabalhos da defesa da segurança do Estado”. Ho Iat Seng declarou também que foram unidos esforços “para enfrentar maiores desafios, impulsionando a diversificação adequada da economia e promovendo o desenvolvimento para alcançar novos resultados”. Outra conquista política realçada por Ho foi “a reforma da Administração Pública para elevar constantemente a eficiência governativa”. De resto, sobraram palavras optimistas sobre o novo Executivo que toma hoje posse. “O Sexto Chefe do Executivo certamente liderará o novo Governo da RAEM e os sectores sociais para escreverem em conjunto um novo capítulo da aplicação bem-sucedida do princípio ‘Um País, Dois Sistemas’ com características de Macau.” Nova fase Xi Jinping reuniu ainda com o Chefe do Executivo de Hong Kong Joh Lee que está em Macau para as celebrações do 25º aniversário da RAEM. A Xinhua escreveu que o Presidente chinês apelou a que as duas regiões administrativas especiais “se esforcem por alcançar maiores realizações e um melhor desenvolvimento”, tendo em conta que a política de “Um País, Dois Sistemas” “entrou numa nova fase”. O Presidente destacou que as duas regiões “devem aprender uma com a outra, reforçar o intercâmbio e cooperação”, bem como “criar um futuro mais brilhante”, foi dito pela agência nacional sobre o encontro com John Lee.
Hoje Macau Grande PlanoMacau | Descodificar um milagre económico e social O sucesso da cidade está ligado à proximidade do continente e a uma forte integração económica Por WILLIAM XU, China Daily Foram necessários apenas 25 anos para Macau colocar o seu nome ao lado das cidades mais bem sucedidas do mundo. A Região Administrativa Especial de Macau, com uma área de 33,3 quilómetros quadrados, um pouco mais pequena do que o Aeroporto Internacional de Pequim, está orgulhosamente no topo do ranking mundial do produto interno bruto per capita, da esperança de vida dos seus residentes e da extensão do seu sistema de segurança social. Desde então, Macau tornou-se um destino turístico de classe mundial, com hotéis boutique, monumentos atractivos e uma grande variedade de gastronomia que apela a quase todos os gostos. Através da sua história e património, a cidade é o ponto de encontro entre o Oriente e o Ocidente, o que lançou as bases para o papel de Macau como plataforma de intercâmbio entre as culturas chinesa e ocidental. Num quarto de século, Macau transformou-se de um humilde porto num centro cultural e de lazer. Esta evolução é um testemunho do espírito diligente dos residentes de Macau e constitui um apoio convincente ao princípio “um país, dois sistemas”, que integra Macau no projeto de desenvolvimento da nação e garante um elevado grau de autonomia no seu território. Mais perto, mais forte A chave do sucesso de Macau começa com os seus laços estreitos com a China continental. Todos os dias, cerca de 320.000 passageiros entram ou saem da cidade através da Porta da Fronteira – uma passagem terrestre que liga Macau à cidade vizinha, Zhuhai, na província de Guangdong. Nos primeiros tempos do regresso de Macau, o posto de controlo era muito menos movimentado. Em 2003, o governo central introduziu o Programa de Visita Individual, que permitia aos residentes de determinadas cidades do continente visitarem Macau sem se juntarem a grupos turísticos. Esta política, associada à decisão da RAEM de abrir a sua indústria do jogo um ano antes, alterou o panorama económico da cidade. Entre 2003 e 2019, as chegadas anuais de turistas a Macau aumentaram de 11,9 milhões para 39,4 milhões. A percentagem de visitantes do continente em relação ao número total de turistas aumentou de 48,3 por cento para 70,9 por cento. O afluxo constante de turistas ajudou a criar uma indústria turística lucrativa, trazendo riqueza para restaurantes, lojas de retalho, farmácias, hotéis e casinos. Pressentindo uma oportunidade de negócio de ouro, Chan Kam-tat, na altura com 27 anos, e a sua mulher, abriram uma farmácia em 2011. Hoje, a Healthy Life transformou-se numa cadeia de seis pontos de venda a retalho e dois centros de distribuição. “Os primeiros tempos coincidiram com uma vaga de turistas do continente, pelo que o nosso negócio prosperou”, diz Chan. Ele também atribui à implementação da política de dois filhos em janeiro de 2016 o aumento das vendas de leite em pó nas suas farmácias. “O curso do crescimento do nosso negócio está intimamente ligado à pátria”, disse Chan. Para além do impulso dado pelo turismo, em outubro de 2003, a assinatura do Acordo de Parceria Económica Reforçada entre o Interior da China e Macau (CEPA) concedeu aos comerciantes de Macau um acesso preferencial ao vasto mercado do Interior da China e também facilitou o investimento transfronteiriço. Desde então, foram ratificados 10 suplementos e múltiplos acordos para reforçar o CEPA, aprofundando ainda mais a cooperação no domínio do comércio de bens e serviços e do investimento. Até setembro de 2023, o acordo tinha poupado mais de 90 milhões de patacas (11,3 milhões de dólares) em direitos aduaneiros para as empresas de Macau. O acordo facilita o acesso ao mercado, o investimento e o intercâmbio cultural entre Macau e o Interior da China e reforça a atração da cidade como centro internacional de negócios, disse Francisco Leandro, professor associado da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Macau. “A estratégia também sublinha a importância de Macau para as iniciativas económicas mais amplas do país”, acrescentou Francisco Leandro. Transformação A apenas 10 minutos de carro das Portas do Cerco, encontra-se a colorida baixa da cidade, onde as linhas entre o charme mediterrânico e a cultura Lingnan da região se confundem. Centrada em torno da Avenida de Almeida Ribeiro, de 620 metros, ou “avenida nova”, os mercados e templos chineses, bem como as igrejas e edifícios residenciais de estilo europeu do sul, pontilham as ruas e colinas. Esta zona foi durante séculos o coração comercial de Macau. Adornada com calçadas pretas e brancas de estilo português e com edifícios residenciais e religiosos de baixa altura de design latino e chinês, a baixa de Macau está na lista de desejos da maioria dos turistas. Durante o dia, os visitantes podem provar as iguarias das bancas de comida que servem os favoritos locais, como o pão com porco frito e a carne seca. A próspera zona cultural e comercial, com 22 edifícios emblemáticos, foi inscrita como Património Mundial da UNESCO em 2005 e é conhecida como o “Centro Histórico de Macau”. Wu Zhiliang, presidente do conselho de administração da Fundação Macau, disse que a inscrição era a afirmação pela comunidade internacional das contribuições da cidade para o diálogo entre as culturas oriental e ocidental. A fundação de Wu – um organismo semi-oficial destinado a promover vários sectores da cidade – associou-se ao governo da RAEM para levar a cabo projectos educativos e de investigação no centro histórico. No extremo sul da baixa da cidade, situa-se o Templo A-Ma, um local sagrado dedicado à deusa do mar Mazu. Segundo a tradição local, acredita-se que o templo é a raiz etimológica do nome da cidade – Macau. Em 2023, foi inaugurada uma estação de metro ligeiro perto do templo, oferecendo serviços de trânsito que ligam a Península de Macau à Ilha da Taipa. Numa viagem de comboio de 13 minutos a partir da estação adjacente ao Templo de A-Ma, os passageiros podem ver hotéis opulentos e réplicas da Torre Eiffel e do Big Ben. Este é o novo coração da indústria de lazer de Macau – Cotai. Há vinte e cinco anos, a extensão de 6,1 quilómetros quadrados de terra recuperada estava vazia e aguardava aprovação de planeamento. Com os benefícios resultantes do programa de visitas individuais e da flexibilização das regras de funcionamento dos casinos, o Cotai transformou-se num conjunto de hotéis internacionais, centros comerciais, casinos, salas de espectáculos e instalações desportivas, proporcionando aos turistas novas e excitantes experiências. O Cotai é o lar de outro pilar da economia de Macau, a indústria do jogo. Antes da pandemia da COVID-19, as receitas do jogo representavam mais de 60% do PIB de Macau no seu auge e os operadores de casinos pagavam mais de 100 mil milhões de patacas em impostos todos os anos. O florescimento das indústrias do turismo e do jogo trouxe uma riqueza inimaginável a Macau e aos seus 700 000 habitantes. Esta riqueza permitiu ao governo da RAEM construir um sistema de proteção social abrangente, invejado por muitas outras cidades. Macau oferece serviços médicos gratuitos a todos os residentes com 65 anos ou mais. A cidade inaugurou um programa de educação gratuita de 15 anos no ano lectivo de 2007-2008, que abrange desde o jardim de infância até ao fim do ensino secundário, e subsidia as pessoas que prosseguem os estudos. Em 2008, foi iniciado o programa de comparticipação na riqueza, que consiste na distribuição de dinheiro a todos os residentes titulares de bilhetes de identidade permanentes ou não permanentes da RAEM. Em 2024, cada residente permanente recebeu 10 000 patacas, enquanto os residentes não permanentes receberam 6 000 patacas. Durante mais de duas décadas, Macau manteve uma taxa de desemprego global inferior a 2% e o rendimento médio mensal passou de 4.920 patacas em 1999 para 17.500 patacas em 2023. Economia em evolução No entanto, a riqueza substancial não cegou Macau para as potenciais armadilhas da dependência da indústria do jogo. Nos últimos anos, a cidade adoptou diferentes abordagens para diversificar a sua economia de uma forma saudável e sustentável. Em 2023, o sector não relacionado com o jogo contribuiu com mais de 60% do PIB da cidade, ultrapassando as proporções de há 20 anos. Os principais motores deste aumento foram os sectores imobiliário e dos serviços às empresas, bem como o sector bancário e dos seguros. Os empresários são pioneiros em modelos de negócio inovadores para se adaptarem à evolução da paisagem económica. Chan, o proprietário da cadeia de farmácias, reconheceu a crescente utilização das compras digitais por parte dos clientes do continente. Isto levou-o a aprender comércio electrónico com os seus pares do continente e a renovar os serviços que oferece. Em 2023, o governo da RAEM publicou um plano para a diversificação económica, que traçava roteiros para impulsionar quatro sectores emergentes: a grande saúde, os serviços financeiros, a alta tecnologia, bem como as indústrias de convenções, exposições, comércio, cultura e desporto. Sam Hou-fai, o novo chefe do executivo da cidade, fez da exploração de reformas inovadoras na estrutura económica da cidade uma pedra angular da sua agenda. Outros objectivos incluem a melhoria dos meios de subsistência da população, a integração no desenvolvimento nacional e o reforço da colaboração com os países de língua portuguesa. Entretanto, Macau intensificou os seus laços económicos e sociais com outras cidades da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, o que foi marcado pela inauguração da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau em 2018. Hengqin, uma zona de desenvolvimento sob a jurisdição de Zhuhai, localizada a apenas 4 quilómetros do distrito de Cotai, é uma nova chave para as ambições de transformação de Macau. Em 2021, o governo central publicou um plano abrangente para promover o desenvolvimento da Zona de Cooperação em Profundidade Guangdong-Macau em Hengqin, considerando a área de 106 quilómetros quadrados – três vezes o tamanho do território de Macau – uma base indispensável para a segunda transformação da RAEM de um centro de lazer para uma economia moderadamente diversificada. Incentivar as indústrias A zona, administrada conjuntamente pelas autoridades de Zhuhai e de Macau, dispõe de recursos fundiários e de políticas favoráveis para fomentar as principais indústrias emergentes, essenciais para a estratégia de diversificação económica de Macau. Estes sectores incluem a indústria transformadora de alta qualidade, a medicina tradicional chinesa e os serviços financeiros modernos. Em junho, a zona contava com mais de 17.000 empresas activas em sectores emergentes, um aumento de 20,1 por cento em comparação com o final de 2021, tendo estas empresas contribuído com 47,1 por cento para o PIB da zona. O Novo Bairro de Macau, uma comunidade de 190.000 metros quadrados que integra edifícios residenciais, escolas, instituições de saúde e centros de cuidados a idosos, foi construído na zona de cooperação para proporcionar espaços e serviços de qualidade aos residentes de Macau. Ao incorporar instalações e serviços padrão de Macau, o projeto cria uma transição perfeita para os residentes de Macau que se mudam para Hengqin, disse Duarte Alves, presidente da assembleia geral da Associação da Juventude Macaense. “O projecto, juntamente com os incentivos fiscais únicos de Hengqin e os procedimentos simplificados para negócios transfronteiriços, atrairá talentos e investimentos, criando comunidades vibrantes que apoiam os esforços de diversificação de Macau”, disse Alves. O desenvolvimento da zona de cooperação também beneficia o sólido sector do turismo de Macau. Desde 6 de maio, os viajantes do continente que se juntam a grupos turísticos podem fazer várias entradas entre a zona de cooperação e Macau durante um período de sete dias. Morlin Teng Fong, presidente da Associação de Cultura e Turismo da Área da Grande Baía de Macau, disse que cerca de 1.000 guias turísticos de Macau obtiveram autorizações de trabalho em Hengqin nos últimos anos, o que lhes permite atender mais eficazmente os turistas do continente. Teng disse que o sector do turismo de Macau vai intensificar a formação para aprofundar o conhecimento de toda a indústria sobre as oportunidades de Hengqin no futuro. Com os avanços dos últimos 25 anos firmemente estabelecidos, Macau olha para o próximo quarto de século com optimismo. Estão já em curso planos ambiciosos para aperfeiçoar a sua estrutura económica e solidificar as suas atracções turísticas e culturais, de modo a garantir a prosperidade e a estabilidade das gerações vindouras.
Hoje Macau Grande Plano MancheteRAEM 25 anos | Xi Jinping diz que Macau é uma “pérola na mão da pátria” Xi Jinping chegou ontem a Macau para uma visita que termina amanhã com a tomada de posse do novo Governo. Num discurso proferido à chegada ao Aeroporto Internacional de Macau, o Presidente chinês destacou o “sucesso reconhecido internacionalmente” do princípio “Um País, Dois Sistemas” com características de Macau O Presidente da República Popular da China (RPC), Xi Jinping, disse ontem que durante os primeiros 25 anos após a transferência de administração de Macau, de Portugal para a China, o princípio “Um País, Dois Sistemas” com características de Macau é um “sucesso reconhecido internacionalmente” Xi falou à chegada ao território onde vai estar para uma visita de três dias, que incluem na agenda a tomada de posse do novo Executivo liderado por Sam Hou Fai e as cerimónias celebração dos 25 anos da implementação da RAEM. Rodeado por centenas de estudantes com ramos de flores e bandeiras da China e de Macau, Xi Jinping defendeu que o território tem “um forte impulso” para o desenvolvimento e disse acreditar que “Macau tem um futuro risonho”. Nas primeiras palavras proferidas à chegada, Xi estendeu, “em nome do Governo Central e do povo chinês de todos os grupos étnicos”, sinceras saudações e votos de felicidades a todos os residentes de Macau, acrescentando que o desenvolvimento de Macau e o bem-estar dos residentes sempre estiveram na sua mente. Um lugar feliz Perante uma audiência recheada por governantes locais e representantes das instituições políticas nacionais no território, Xi Jinping disse que cada vez que vem a Macau sente-se “contente” e apontou ao futuro da região. “Cada visita a este belo lugar tem sido muito agradável para mim”, afirmou. O governante manifestou a convicção de que Macau irá criar um futuro ainda mais brilhante, aproveitando plenamente as vantagens institucionais de “Um País, Dois Sistemas”, trabalhando arduamente e promovendo activamente a inovação. “Macau é uma pérola na palma da mão da pátria, presto sempre atenção ao seu desenvolvimento e ao bem-estar da população. Nestes dias vou passear, observar e comunicar bastante com os amigos de todos os sectores a fim de discutir o plano de desenvolvimento para Macau”, frisou. Segundo a Xinhua, Xi Jinping vai “inspeccionar a RAEM” nesta visita. Reunião a pronto Depois de chegar a Macau e de se ter dirigido à população ainda no aeroporto, Xi Jinping reuniu com Ho Iat Seng, cujo trabalho elogiou. Segundo a agência Xinhua, o presidente chinês afirmou que as autoridades centrais reconhecem plenamente o trabalho de Ho Iat Seng e do Executivo que liderou nos últimos cinco anos, acrescentando que o político local enfrentou os desafios de uma forma pragmática e produtiva durante o seu mandato como Chefe do Executivo. “Esta não é uma tarefa fácil, mas o senhor Ho alcançou grandes feitos”, afirmou. epa11783807 Chinese President Xi Jinping meets with Ho Iat Seng, the outgoing chief executive of the Macao Special Administrative Region (SAR), in Macao, south China 18 December 2024. Xi arrived in Macao on Wednesday afternoon to attend a gathering celebrating the 25th anniversary of Macao’s return to China and the inauguration ceremony of the sixth-term government of the Macao Special Administrative Region (SAR). EPA/XINHUA / Yan Yan CHINA OUT / UK AND IRELAND OUT / MANDATORY CREDIT EDITORIAL USE ONLY Xi Jinping afirmou que o Governo de Ho Iat Seng conseguiu unir todos os sectores da sociedade de Macau, implementar de forma abrangente, precisa e inabalável a política de “Um País, Dois Sistemas”, salvaguardar resolutamente a soberania e a segurança nacional. Além disso, o presidente chinês realçou o trabalho de Ho Iat Seng na superação do “grave impacto e dos desafios da epidemia de covid-19”, assim como os esforços para promover a diversificação moderada da economia e deixou um recado: “Espero que apoiem activamente o novo Chefe do Executivo e a sua equipa, em conformidade com a lei, e continuem a contribuir para a causa de ‘Um País, Dois Sistemas’ e para o desenvolvimento de Macau e do país”. Por sua vez, o Chefe do Executivo começou por dar as boas-vindas a Xi Jinping e à sua esposa, Peng Liyuan e expressou gratidão pelo apoio e confiança prestados pelo Governo Central. Ho Iat Seng enalteceu o apoio de Pequim na luta contra a pandemia e comprometeu-se no apoio ao novo Executivo, que irá tomar posse amanhã, e renovou o empenho para ajudar ao desenvolvimento de Macau e do país. Histórico de viagens Da última vez que esteve em Macau, em 2019, Xi Jinping presidiu às celebrações do 20º aniversário da RAEM e deu posse ao Executivo de Ho Iat Seng. Nessa visita, o Presidente declarou que o patriotismo do território constitui a razão mais importante para o sucesso de “Um País, Dois Sistemas”, e destacou a importância da adesão das autoridades e população locais ao princípio definido por Deng Xiaoping. Em 2014 o Presidente do país fez a sua visita inaugural à RAEM nessa qualidade, dando posse ao segundo Executivo liderado por Chui Sai On, quando se celebrou também o 15º aniversário da transição. Há dez anos Xi Jinping deixou vários recados a Macau, alertando já nessa altura para a necessidade de diversificação económica e promoção do patriotismo, ao mesmo tempo que chamou a atenção para o perigo que as “interferências de forças externas” representavam para a estabilidade e prosperidade da região. De modo a evitar os “conflitos profundos e riscos de desenvolvimento que se formaram ao longo dos anos”, Macau deve “promover activamente a diversificação adequada e o desenvolvimento sustentável da economia”, afirmou. Para isso, disse na altura, seria necessário “melhorar o regulamento da indústria de jogo” com “coragem e sabedoria”, recorrendo a “um plano racional” e a “uma visão abrangente e de longo alcance”. Desde então, o sector do jogo tem sido alvo de diversas revisões no que à jurisdição diz respeito. Em 2014, Xi Jinping defendeu ainda que o Governo de Macau deveria ser “diligente, honesto, eficiente e justo”, e actuar “segundo as leis, a fim de garantir que o desenvolvimento da Região Administrativa Especial de Macau permanece na trajectória jurídica”. Da ilha para a península O Presidente chinês viajou para Macau vindo da ilha de Hainão, onde, na terça-feira, se encontrou com dirigentes locais, de acordo com a agência de notícias oficial chinesa Xinhua. No âmbito desta visita, Xi Jinping exortou Hainão a fazer do Porto de Comércio Livre da região “uma importante porta de entrada para a abertura da China na Nova Era, esforçando-se por escrever o seu próprio capítulo na modernização chinesa”. As reacções à visita Banco da China | Presidente da sucursal destaca sector financeiro Por ocasião da chegada de Xi Jinping, a Macau, Jia Tianbing, presidente da sucursal do Banco da China em Macau, disse que o desenvolvimento do sector financeiro será um novo ponto de partida para a estabilidade e prosperidade de Macau, juntamente com outros sectores sociais. A visita do Presidente chinês representa, nas suas palavras, um apoio para que Macau explore a diversificação económica e possa liderar nos avanços do desenvolvimento de uma indústria financeira moderna. O também presidente da Associação de Bancos de Macau garante apoiar o modo de governar do novo Executivo e nunca esquecer das instruções de Xi Jinping. Jia Tianbing disse ainda querer contribuir para um maior impulso na integração de Macau no desenvolvimento nacional e consolidar o papel de Macau na conexão com o conceito de “Um País, Dois Sistemas”. Arnaldo Ho | Uma visita boa para os jovens Arnaldo Ho, filho de Angela Leong e do falecido magnata Stanley Ho, declarou que a visita de Xi Jinping contribui para o surgimento de uma nova dinâmica para que os jovens locais se integrem mais nas políticas nacionais. Arnaldo Ho, que presidente à Associação das Elites da Juventude (The Youth Elites Association), disse também esperar que o novo Governo liderado por Sam Hou Fai, que toma posse amanhã, continue a liderar o processo de maior integração de Macau no projecto da Grande Baía, consolidando o lugar dos jovens de elite de Macau e apoiando a formação de mais líderes que têm amor a Macau e à pátria. UM | Reitor diz que visita de Xi encoraja alunos O reitor da Universidade de Macau (UM), Song Yonghua, disse que a visita de Xi Jinping a Macau revela uma grande atenção do Governo Central em relação a Macau, além de encorajar alunos e docentes da UM. Song Yonghua disse que a UM vai sempre procurar inovar em prol da excelência do ensino, a fim de formar mais quadros qualificados e construir uma plataforma de inovação tecnológica para a Grande Baía. O reitor disse também que Macau pode dar contributos para que a China seja um país com um papel preponderante na área da educação e tecnologia. MUST | Pelo desenvolvimento do ensino superior Joseph Lee, reitor da Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau (MUST, na sigla inglesa), declarou que a visita de Xi Jinping traz mais confiança e coragem para o desenvolvimento de Macau no futuro. O responsável declarou que, com base nas instruções de Pequim, o ensino superior desenvolveu-se bastante nos últimos anos, sendo que o Governo melhorou o quadro legislativo nesta área. Desta forma, segundo Joseph Lee, houve avanços na formação de talentos, maior inovação tecnológica, transmissão cultural e serviços sociais. O reitor adiantou também que estas práticas beneficiam a integração de Macau no desenvolvimento nacional, tendo em conta o conceito de “Um País, Dois Sistemas”.