Fórum Macau | Antigo assessor de Rocha Vieira realça complementaridade

O papel do Fórum Macau deve ser encarado de forma complementar a outros meios de cooperação já existentes. A ideia foi defendida por Tiago Vasconcelos, assessor de Rocha Vieira, num simpósio promovido pela Universidade Cidade de Macau. O major-general concorda também com a extensão do âmbito do fórum aos países de língua espanhola

 

Decorreu na terça-feira na Universidade Cidade de Macau (UCM) um simpósio centrado na cooperação em áreas da investigação científica e ensino superior entre Macau, China e os países de língua portuguesa, e que serviu para a apresentação de diversos projectos académicos que estão a ser desenvolvidos na RAEM.

O evento contou com a presença do major-general Tiago Vasconcelos, que foi assessor do general Rocha Vieira nos últimos anos da administração portuguesa do território, e que defendeu um olhar mais abrangente em relação ao papel que o Fórum Macau pode assumir.

Na sua apresentação, a que o HM teve acesso, lê-se que “a importância da criação do Fórum Macau não pode ser subestimada, tanto do ponto de vista simbólico como prático”, mas que “é preciso ser realista quanto ao que se pode esperar de uma organização deste tipo”.

Assim, para Tiago Vasconcelos, “o Fórum Macau deve encontrar o seu lugar entre outras formas de diplomacia”, como “relações bilaterais, em alguns casos ‘parcerias estratégicas’ bilaterais, como é o caso do Brasil e de Portugal”, ou ainda “pertencer a outros fóruns” ou mesmo “organizações multilaterais como o G20 ou o BRICS, dos quais tanto a China como o Brasil são membros, ou o Fórum Regional da ASEAN, do qual tanto Timor-Leste como a China são participantes”.

Trata-se para o responsável, de uma “geometria variável”, onde “a pertença de países a vários fóruns em simultâneo podem oferecer oportunidades para que a ‘plataforma de Macau’ alargue o seu âmbito”.

E aqui o antigo assessor do último Governador português de Macau destaca a importância da extensão da plataforma da RAEM aos países de língua espanhola, algo que também já foi defendido pelo Executivo local.

Assim, a RAEM pode, com a multiplicidade de papéis e parcerias do Fórum Macau, “chegar a outros países de língua latina, especialmente os de língua espanhola, dadas as semelhanças entre as línguas portuguesa e espanhola, e plataformas de diálogo existentes, como a Conferência Ibero-Americana, que liga Portugal, Espanha e a maioria dos países da América Latina”.

Em termos gerais, o responsável entende que se deve “compreender o papel adequado desempenhado pelo Fórum Macau entre os vários formatos de cooperação bilateral e multilateral personalizados, bem como as lições aprendidas com os mais de 20 anos de história do Fórum”. Tal “é de suma importância para garantir o nível adequado de ambição e a eficácia de quaisquer novas formas de cooperação em que Macau possa actuar como uma plataforma útil”, considerou.

Uma terra promissora

Em jeito de conclusão, Tiago Vasconcelos referiu que desde a chegada dos primeiros portugueses ao território, em meados do século XVI, que “Macau tem desempenhado um papel tradicional como plataforma entre a China continental e o mundo exterior”, fazendo “parte do ‘mundo português’ durante quase 450 anos, integrando, naturalmente, a sua rede”.

Assim, os laços com países de língua portuguesa são “um legado da sua história”, e que “ajuda Macau a preservar algumas das suas características distintivas, mas também a desempenhar um papel útil no apoio à diplomacia chinesa, facilitando ainda mais as relações da China com os países de língua portuguesa”.

Para Tiago Vasconcelos, “são bastante promissoras as perspectivas de Macau continuar a desempenhar o seu papel tradicional e muito distintivo como plataforma de ligação entre a China e os países de língua portuguesa”, tendo em conta em que se inicia a metade do período de 50 anos de transição presente na Declaração Conjunta Sino-Portuguesa de 1987.

Ainda na área do ensino superior, o major-general destacou que “apesar da sua dimensão, Macau está a tornar-se, se é que já não é, um centro de excelência para o ensino superior na China”. “Mesmo a nível mundial, o mesmo pode ser dito em relação a alguns sectores específicos, tornando Macau um destino altamente atractivo para estudantes muito talentosos”, acrescentou. O responsável realçou o papel dos quatro Laboratórios-Chave do Estado já existentes, nomeadamente o VLSI (Circuitos Integrados de Grande Escala) Analógicos e de Sinal Misto, na Universidade de Macau (UM); o laboratório de Investigação de Qualidade em Medicina Chinesa, entre a UM e a Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau; o laboratório da Internet das Coisas para Cidades Inteligentes, na UM; e ainda o laboratório para as Ciências Lunares e Planetárias, da MUST.

O seminário onde participou Tiago Vasconcelos, intitulado “Cooperação científica e tecnológica entre a China e os países de língua portuguesa”, contou ainda com a presença de representantes do Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM e ainda do próprio Fórum Macau, entre outras personalidades do meio académico e empresarial.

Segundo uma nota de imprensa sobre o evento enviado ao HM, José Paulo Esperança, vice-reitor da Faculdade de Economia da UCM, falou da importância do financiamento de investigações académicas por parte da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) em Portugal, destacando “os esforços da FCT na promoção da cooperação internacional e na resolução de desafios comuns”.

Ip Kuai Peng, vice-reitor da UCM e director do Instituto de Estudos dos Países de Língua Portuguesa da mesma instituição de ensino, defendeu que Macau “deve basear-se na cooperação com os países de língua portuguesa”, bem como “expandir de forma activa o intercâmbio em várias áreas com os países de língua espanhola, construir um ecossistema de cooperação abrangente, profundo e sustentável, continuar a expandir o círculo de amigos internacionais e traçar um novo plano para a modernização” no formato seguido pela China.

Além disso, o responsável acredita que a RAEM “continua a ser uma importante janela de abertura ao exterior de alto nível para o país”, devendo-se continuar a criar “um modelo de cooperação internacional em áreas como a alta tecnologia, economia digital e padronização da medicina tradicional chinesa, contribuindo para a construção de uma potência tecnológica do país e, ao mesmo tempo, alcançando um desenvolvimento económico diversificado e moderado”.

Think-tank à espanhola

O vice-reitor da UCM acredita que pode ser criado em Macau “um think tank inter-regional com as melhores universidades dos países de língua portuguesa e espanhola, com foco em áreas como energia verde, biomedicina e tecnologia digital, promovendo a circulação transfronteiriça com meios tecnológicos e ajudando os países em desenvolvimento a superar o fosso digital”.

Entre os investigadores participantes no seminário, destaque para Marta Filipa Simões, da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau, que apresentou o projecto de cooperação sino-português em pesquisa sobre fungos e astrobiologia. A académico sugeriu “a realização de vários projectos de pesquisa através da cooperação entre Macau e instituições de investigação científica de Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique e Portugal, a fim de promover a inovação científica inter-regional”.

Já André Antunes, da Universidade de São José, destacou que, actualmente, “Macau desempenha um papel importante como ponto de contacto na rede de países de língua portuguesa”, com uma cooperação ainda muito centrada “na área económica”, embora, defendeu, “a área científica irá tornar-se num novo ponto forte”.

24 Jul 2025

Febre da dengue | Autoridades alertam para risco de casos importados

Macau está a enfrentar um período de “alto risco” de casos importados de febre da dengue e de Chikungunya. O aviso foi reiterado ontem numa conferência conjunta dos Serviços de Saúde e do Instituto para os Assuntos Municipais. Os números de casos de febre de dengue do ano passado foram os mais elevados das duas últimas décadas

 

Os Serviços de Saúde (SS) e o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) juntaram-se ontem para alertar a população para o risco crescente de casos importados de febre da dengue e febre de Chikungunya, tendo em conta que o período de Verão é sinónimo de mais viagens e deslocações.

Em conferência de imprensa, Leong Iek Hou, médica e chefe do Centro de Prevenção e Controlo de Doenças dos SS, adiantou que “existiu um aumento dos casos de febre da dengue e febre de Chikungunya nas regiões vizinhas, o que constitui um alto risco para Macau”. Além disso, acrescentou, “sabemos que estamos na época de Verão, há um aumento do número de residentes de Macau que viaja para o exterior, ou de turistas que viajam para Macau, factores que podem aumentar o risco de doença”. Assim, “o risco de ocorrência de casos [de febre] em Macau é elevado”, frisou a responsável.

Leong Iek Hou avançou alguns números, tendo dito que até passado domingo registaram-se na cidade de Foshan 2.285 casos confirmados de febre, sendo que 2.100 ocorreram apenas no distrito de Shunde.

No caso de Macau, entre 2013 e 2019 houve “dois a três casos importados de febre de Chikungunya, todos provenientes do Sudeste Asiático”, mas nos últimos anos o registou aumentou, apesar de não haver casos graves.

Leong Iek Hou destacou ainda o facto de, na última sexta-feira, Macau ter registado o primeiro caso importado de febre de Chikungunya deste ano. Segundo uma nota divulgada pelos SS nesse mesmo dia, o doente é um homem de 61 anos de idade, residente e morador no Edifício Cheng I, na Avenida do Conselheiro Borja.

Entre os dias 8 e 17 de Julho, o doente deslocou-se ao distrito de Shunde, em Foshan, com o objectivo de visitar familiares. Porém, descrevem os SS, logo na manhã do dia 17 “começou a apresentar sintomas como febre, dores de cabeça, dores musculares e articulares, entre outros”, tendo regressado a Macau e procurado tratamento médico no Centro Hospitalar Conde de São Januário.

No dia 18, o Laboratório de Saúde Pública confirmou a presença do vírus de Chikungunya, com um resultado positivo. Até à data, o doente tem-se mantido estável.

Desde o início do ano e até ao dia 19 de Julho, a cidade de Foshan registou um total de 1.873 casos confirmados de febre Chikungunya, dos quais 1.790 são do distrito Shunde, concentrando-se principalmente nas vilas de Lecong, Beijiao, Chencun. 49 casos ocorreram no distrito de Chancheng, concentrando-se principalmente nos subdistritos de Shiwanzhen, Zumiao e Zhangcha; enquanto 34 casos foram detectados no distrito de Nanhai, concentrando-se principalmente no subdistrito de Guicheng.

Uma dengue do pior

Quanto aos casos de febre da dengue, Leong Iek Hou destacou que em 2024 a ocorrência desta doença “foi relativamente mais grave quando comparada com os últimos 20 anos, pois registaram-se 38 casos de dengue, sendo nove locais”.

“Este ano foram registados oito casos importados de febre de dengue, sendo um local”, disse ainda a responsável dos SS. Foi ainda referido que é possível travar e combater estas infecções através, por exemplo, da limpeza de água estagnada, que atrai a proliferação de mosquitos.

“Este ano realizamos mais trabalhos para eliminar os mosquitos junto ao Jardim Camões”, adiantou Fong Vai Seng, chefe do departamento de higiene ambiental e licenciamento do IAM.

“Podemos afirmar que conseguimos eliminar mosquitos que podem ser portadores do vírus [causador das febres], evitando a sua transmissão. De qualquer das formas estamos no pico de casos, sendo que residentes e turistas podem ser portadores do vírus, pelo que temos de estar alerta. Realizámos uma série de trabalhos de limpeza para evitar a fonte de proliferação de mosquitos, e até Junho [desde o início do ano] fiscalizámos cerca 7.400 espaços”, foi referido.

As acções de fiscalização decorreram em 140 locais que são considerados “pontos negros” no que diz respeito à proliferação de mosquitos, sendo que, entre Janeiro e Junho deste ano, foram feitas 1.220 acções de eliminação química destes insectos que podem causar doenças.

Ambas as entidades prometem trabalhar lado a lado na limpeza de terrenos. “O IAM e os SS dispõem de um mecanismo de acompanhamento e tratamento dos problemas de higiene em espaços privados ou em terrenos desocupados. Sempre que os SS verificarem que existe perigo para a saúde pública, ou em caso de uma situação de emergência, e sempre que não seja possível contactar os proprietários do terreno, o IAM irá colaborar na remoção de recipientes ou zonas com águas estagnadas que podem servir de proliferação de mosquitos”, foi dito na conferência de imprensa.

Leong Iek Hou explicou também que não há ainda muitos locais em Macau onde se possam fazer testes que despistem a infecção. “Não são muitas as instituições médicas que têm este tipo de teste disponível. Quando clínicas ou hospitais privados quiserem fazer o teste para a despistagem das doenças transmissíveis, essas instituições enviam-nos as amostras de sangue e fazemos os testes no nosso laboratório de saúde pública de forma gratuita para os vários tipos de febre, tendo em conta que os sintomas são semelhantes.”

Hong Kong em alerta

O alerta de risco de mais casos importados destes dois tipos de febre também chegou a Hong Kong. Segundo o jornal South China Morning Post de quinta-feira, vários especialistas alertam para o elevado risco de infecções tendo em conta o surto registado na cidade de Foshan, pertencente à província de Guangdong.

Wong Hoi-kei, médico e responsável sénior do Center for Health Protection de Guangdong, disse que “embora os surtos não ocorram em cidades populares entre os habitantes de Hong Kong, as viagens frequentes entre Guangdong e Hong Kong significam que é maior o risco de ocorrência de casos importados”.

Também citado pelo mesmo jornal, o médico Joseph Tsang Kay-yan, especialista em doenças infecciosas, disse ser possível que Hong Kong venha a ter casos importados que possam levar a infecções esporádicas, e explicou que os dois tipos de febres têm sintomas semelhantes, mas com uma grande diferença: com a febre de Chikungunya os doentes sentem dores nas articulações.

Wong Hoi-kei adiantou que estão a ser desenvolvidas diversas acções de limpeza para evitar a proliferação de mosquitos e para informar a população para os sintomas. “Temos a capacidade de reduzir ao mínimo possível o risco de um surto desencadeado por casos importados”, disse Wong.

Só este ano, e segundo dados divulgados pelo SCMP, foram registados mais de 220 mil casos de febre Chikungunya em todo o mundo em 14 locais, incluindo as regiões de Taiwan e Singapura. Os últimos casos deste tipo de febre em Hong Kong tinham ocorrido em 2019, com apenas 11 doentes.

Segundo os SS, os meios de transmissão e medidas de prevenção e controlo da febre Chikungunya e da febre de dengue são idênticos, ambas transmitidas por picadas de mosquitos da espécie “Aedes Albopictus”, que habitualmente se reproduzem em pequenas quantidades de água estagnada, limpa e parada. Tendo em conta a recente passagem por Macau do tufão Wipha, as autoridades lembraram ontem a importância de limpeza destes espaços.

A febre Chikungunya é uma doença viral e tem um período de incubação de três a oito dias, que pode variar entre dois e 12 dias, tendo como sintomas febre e depois dores nas articulações, em zonas do corpo como pulsos, joelhos, tornozelos e articulações dos dedos. Dois a três dias depois surgem erupções cutâneas. “Todo o curso da doença dura geralmente cinco a sete dias, sendo o estado de saúde da maioria dos doentes considerado ligeiro”, explicam os SS.

22 Jul 2025

Guerra | Historiadores defendem monumento sobre vitória contra invasão japonesa

Em ano de celebração dos 80 anos da vitória da China na guerra contra a agressão japonesa, as escolas de Macau foram incentivadas pelo Governo a transmitir estes episódios históricos aos alunos. No fervor da efeméride, um académico defendeu a construção de um monumento para assinalar a data. O HM ouviu historiadores que realçam as ideias que devem ser transmitidas pelo monumento

 

2025 é o ano em que se celebram os 80 anos do aniversário da vitória da China na chamada Guerra de Resistência do Povo Chinês contra a Agressão Japonesa e da Guerra Mundial Antifascista, ou seja, quando a China e Hong Kong conseguiram escapar à ocupação japonesa. Macau, por ter administração portuguesa, e por Portugal se ter mantido neutro durante a Segunda Guerra Mundial, não foi ocupado pelos japoneses, embora o estatuto de neutralidade tenha sido bastante volátil, conforme demonstrou a historiadora Helena Lopes na obra “Neutrality and Collaboration in South China: Macau during the Second World War”.

Neste contexto, as autoridades têm incentivado as escolas do território a recordar o episódio histórico através de várias actividades com um cunho patriótico, enquanto Lin Guangzhi, director do Instituto para a Investigação Social e Cultural da Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau (MUST na sigla em inglês), defendeu que deveria ser criado em Macau um monumento em memória dos mártires da guerra com o Japão.

O HM convidou dois historiadores, especialistas neste período histórico, a comentar o que de facto aconteceu nestes anos e quais as principais mensagens que deveriam ser transmitidas caso a construção do monumento avance efectivamente.

Alfredo Gomes Dias, docente do Instituto Politécnico de Lisboa e autor da tese de doutoramento sobre a diáspora macaense nos anos da Segunda Guerra Mundial e fundação da República Popular da China, intitulada “A Diáspora Macaense. Macau, Hong Kong, Xangai (1850-1952)”, defende que a celebração deste período histórico é comum a vários países. “No caso da China, o fim da invasão japonesa, tendo em conta a violência de que se revestiu, pode e deve ser celebrado genericamente em todo o território chinês”, defendeu.

Mas tendo em conta que Hong Kong teve uma ocupação efectiva, enquanto Macau lidou com crises de refugiados e jogos de poder entre portugueses, chineses, ingleses e japoneses, fará sentido ter um monumento na RAEM? Alfredo Gomes Dias entende que sim.

“No caso de Macau, o monumento ganha relevo se ele perpetuar a memória de que chineses, portugueses e macaenses lutaram contra a invasão, principalmente na ilha de Hong Kong, muitos deles falecendo no campo de batalha. Além disso, Macau manteve a tradição de ser um território de refúgio que albergou chineses e macaenses de Hong Kong.”

Essencialmente, o investigador entende que “em qualquer uma das cidades ele pode ser erguido”, mas, no caso particular de Macau, importa que o monumento “tenha a intenção de ter em conta a especificidade da história de Macau e a diversidade de origem dos seus residentes”. Além disso, que defende que deve “preservar a memória de todos os que se juntaram, lado a lado, para se oporem ao imperialismo japonês nessa época”.

“Neutralidade ambígua”

Para Helena Lopes, historiadora com interesse particular no panorama de Macau nos anos da Segunda Guerra Mundial, e autora da obra sobre a neutralidade de Macau neste período, disse não ver “nenhum problema na construção de um monumento comemorativo da Segunda Guerra em Macau”.

Nos anos 30 e 40 do século XX, recorda, “a maioria da população era, como hoje, chinesa”, embora “um número significativo da população fosse refugiada, tendo procurado em Macau (como noutros lugares não ocupados na China) abrigo da violência do conflito”.

Desta forma, Helena Lopes, professora de história da Ásia contemporânea na Universidade de Cardiff, em Gales, diz ser “normal que a China celebre a vitória na Segunda Guerra, como outros países dos Aliados o fazem”.

Relativamente à neutralidade de Macau, a historiadora diz que esta foi “ambígua”, tendo em conta que “muitos lados opostos se cruzaram no território durante a guerra”.

Nestes anos, “o território esteve profundamente ligado a redes de resistência e ajuda humanitária durante a guerra: não estava isolado do conflito, mas estava profundamente ligado a várias das suas dinâmicas de forma idêntica a outros territórios na China sob domínio estrangeiro (como as concessões estrangeiras de Xangai ou Hong Kong até esses territórios serem ocupados completamente)”.

Neste contexto, acrescenta Helena Lopes, “parece natural que se celebre a resistência contra o Japão durante a guerra, onde participaram – abertamente ou na clandestinidade – várias pessoas em/de Macau (chinesas e de outras nacionalidades)”, apontou.

O papel da educação histórica

As escolas do território têm sido “encorajadas” pela Direcção de Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ) a organizar sessões para os alunos e professores assistirem em directo às cerimónias do “80.º aniversário da vitória do povo chinês na guerra contra o Japão e da vitória mundial contra o fascismo”. Segundo uma conferência de imprensa organizada para anunciar estas iniciativas, as comemorações dos 80 anos da vitória contra os japoneses arrancam a 3 de Setembro em Pequim, sendo que a DSEDJ pretende organizar vários eventos em Macau.

Questionada sobre a inclusão das celebrações históricas, com um cunho patriótico, nas escolas locais, Helena Lopes diz “não ter elementos para comentar a situação educativa em Macau na actualidade”, recordando que, nos anos da Segunda Guerra Mundial, “as escolas em Macau foram, elas próprias, espaços de refúgio e resistência à ocupação japonesa da China”.

Por sua vez, Alfredo Gomes Dias frisa que “a educação histórica é sempre um prolongamento da narrativa da história nacional”, “uma realidade comum a todos os países” e não exclusiva a Macau.

A conferência de imprensa da DSEDJ para a apresentação dos eventos comemorativos contou com a presença da secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, O Lam, que tem o pelouro da educação. A governante disse, em Junho último, que o objectivo do Governo é “promover o grande espírito da Guerra de Resistência” e “inspirar o fervor patriótico”. Todas as actividades vão estar subordinadas ao tema: “Recordar a História, Acarinhar a Memória dos Mártires, Acarinhar a Paz e Criar o Futuro”.

Um dos pontos altos das comemorações será a memória das vítimas do massacre de Nanjing, celebração agendada para o dia 13 de Dezembro. O massacre de Nanjing aconteceu em 1937, tendo decorrido durante algumas semanas após a conquista pelos tropas japonesas daquela que era a capital da República da China. Após a conquista, as tropas japonesas massacraram a população, incluindo crianças, mulheres e não combatentes.

A invasão da China pelo Japão começou em 1931 com a ocupação da Manchúria, num primeiro momento. Em 1937, o Japão expandiu o escopo da guerra, procurando a ocupação total da China. O que começou como um conflito localizado na Ásia acabaria por integrar-se na Segunda Guerra Mundial, a partir de Dezembro de 1941, com os ataques de Pearl Harbour. Ao longo de vários anos, as estimativas apontam para que no lado chinês entre 3,8 milhões e 10,6 milhões de pessoas tenham morrido. A paz foi alcançada a 2 de Dezembro, depois de os Estados Unidos terem atacado o Japão com a segunda bomba atómica, em Nagasaki.

O HM enviou questões a Lin Guangzhi, autor da ideia da construção de um monumento, mas até ao fecho desta edição não foi obtida resposta.

22 Jul 2025

Wipha | Macau chegou ao sinal máximo 10 e só baixou para 3 à noite

A passagem do tufão Wipha por Macau obrigou as autoridades a içar o sinal 10, tendo sido registadas, até às 19h de ontem, um total de 163 ocorrências, com destaque para cinco pessoas que ficaram feridas e tiveram de receber tratamento médico. Sinal 3 de tempestade só foi içado na noite de ontem

 

O tufão Wipha passou ontem por Macau sem deixar estragos de maior, embora tenha obrigado as autoridades dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) a manter içado o sinal 10 de tempestade, o máximo neste tipo de ocorrências, por muitas horas, entre as 12h30 e as 17h, altura em que se passou para o sinal 8. À hora do fecho desta edição, era elevada a probabilidade de ser içado o sinal 3 de tempestade tropical entre as 21h e as 23h, sinónimo da permissão para a retoma das actividades da vida diária. O sinal 3 foi mesmo içado às 22h30 deste domingo.

Às 20h estava ainda içado o sinal azul de “Storm Surge”, com expectativas de inundações nas zonas baixas da cidade entre as 4h e as 8h desta segunda-feira.

Segundo dados oficiais, até às 19h deste domingo o Centro de Operações de Protecção Civil registou 163 ocorrências tanto na península de Macau como nas ilhas, com destaque para o registo de cinco feridos causados pelo tufão, que receberam tratamento hospitalar tanto nas instalações públicas de saúde como no Hospital Kiang Wu. Apenas uma pessoa terá ficado retida no elevador durante a passagem da tempestade tropical.

De referir ainda o registo de 54 casos em que as autoridades tiveram de remover candeeiros quebrados, árvores em risco de queda ou derrubadas ou ainda infra-estruturas de construção com potencial risco. Registaram-se ainda 98 casos de remoção de reboco, painéis de publicidade, janelas ou toldos, e ainda sete casos em que foi necessário remover andaimes ou outras instalações em estaleiros de obras com risco de queda, ou que foram mesmo derrubados. Verificou-se ainda o registo de um incêndio.

Destaca-se, dos dados da protecção civil, o acolhimento de 24 pessoas no Centro de Acolhimento de Emergência do Instituto de Acção Social, por volta das 19h, sendo que desde a abertura destes centros foram acolhidas 139 pessoas que não se encontravam seguras.

Postos abriram às 17h

No que diz respeito às infra-estruturas de transportes, o tabuleiro inferior da Ponte Sai Van foi encerrado logo às 11h, tendo voltado a estar aberto para a circulação de automóveis ligeiros e viaturas a partir das 17h, mas mediante permissão especial. Manteve-se encerrada a passagem superior da mesma ponte durante um longo período.

Também a partir das 17h, foi “obtido consenso entre as autoridades de Macau e Zhuhai” para a reabertura dos postos de migração das Portas do Cerco, de Qingmao e do Parque Industrial Transfronteiriço Zhuhai-Macau.

Outra infra-estrutura de transportes encerrada devido à passagem do tufão Wipha, foi a Ponte HK-Zhuhai-Macau, tendo sido interditada logo às 3h30 da madrugada de domingo.

Ponte Macau fechada

Outro ponto a destacar da passagem do tufão Wipha pelo território, prende-se com o encerramento da nova Ponte Macau, a quarta travessia entre a península de Macau e a Taipa. Tratou-se da primeira vez que esta travessia fechou portas a propósito da passagem de um tufão, mas o que é certo é que as autoridades nunca esclarecerem previamente se esta ponte seria, ou não, encerrada aquando da ocorrência de tempestades tropicais.

Em 2023, quando a ponte ainda estava a ser construída, o deputado Lei Chan U colocou questões ao Executivo sobre esta matéria. “Na quarta ponte Macau-Taipa, que está actualmente em construção, vão ser instaladas barreiras de protecção contra o vento na área da linha principal, para a velocidade do vento no tabuleiro da ponte não ser superior à velocidade do vento em terra e a mesma ser inferior à velocidade do vento prevista no caso de sinal n.º 8 de tufão, possibilitando a condução em uniformização com as condições nas áreas terrestres”, questionou.

Porém, o deputado salientou a existência de “dúvidas sobre a possibilidade de a quarta ponte poder vir a ser aberta à circulação de veículos quando for içado o sinal n.º 8 de tufão”.

“Na resposta a uma interpelação escrita minha, o Governo afirmou que, antes da entrada em funcionamento da ponte, deveria ser observado o respectivo regulamento, que vai ser definido pela Administração. No entanto, segundo notícias recentes, a quarta ponte também poderá ser encerrada ao trânsito em dias de tufão, por razões de segurança, e a ser verdade, prevê-se que, no futuro, a pressão do trânsito entre a Península de Macau e a Taipa seja ainda mais grave nesses dias”, lembrou Lei Chan U.

O deputado inquiriu directamente se a ponte estaria “aberta à circulação quando for içado o sinal n.º 8 ou superior de tufão”, e, em caso negativo, se “a Administração iria ponderar avançar, o quanto antes, com a construção da quinta ligação, por forma a satisfazer as necessidades decorrentes do constante aumento do trânsito entre Macau e a Taipa em dias de tufão”.

A resposta de Lam Hin San, director dos Serviços para os Assuntos de Tráfego, concedida a 8 de Agosto de 2023, foi algo abrangente face às questões do deputado: “quando estiver içado o sinal de tempestade tropical n.º 8 ou de grau superior, o Governo adoptará, nos termos da lei, medidas restritivas cautelares, devendo os residentes e turistas permanecer em casa ou em locais seguros”.

CPSP | Turistas interceptados na ponte

Dois turistas foram interceptados por agentes do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) quando caminhavam na Ponte Nobre de Carvalho em pleno sinal 10 de tufão. Os agentes sugeriram aos turistas uma deslocação para um sítio mais seguro. Segundo um comunicado do Gabinete de Comunicação Social, o CPSP recebeu a denúncia às 11h30, tendo enviado os agentes para acompanhar a ocorrência com os turistas. Os turistas foram punidos com uma multa de 50 a 250 patacas por violação do trânsito proibido a peões, uma sanção prevista no regulamento do Trânsito Rodoviário.

Tin Hau | Templo sobreviveu à queda de árvores

Ontem à tarde, durante a passagem do tufão Wipha, deu-se a queda de árvores e o desabamento de uma plataforma perto do Templo de Tin Hau, na Rua dos Pescadores, e que também fica perto da sede da Macao Water. Segundo uma nota do Instituto Cultural (IC), a queda de árvores não danificou a estrutura principal do templo, tendo sido feitos contactos com o administrador do templo, confirmando-se que não houve vítimas. O IC declarou que “enviará, assim que as condições de segurança o permitirem, funcionários para inspeccionar e avaliar minuciosamente o estado do Templo de Tin Hau e manterá a comunicação com o administrador, com vista a coordenar os trabalhos de reparação”.

Saúde | Todos os serviços regressam hoje à normalidade

Os Serviços de Saúde (SS) emitiram ontem uma nota onde esclarecem que todos os serviços de consultas e exames regressam hoje à normalidade, tendo em conta a descida do sinal 8 de tempestade para o sinal 3 depois da hora de jantar de domingo.

Hoje, serão retomados os serviços de consultas externas de especialidade no Centro Hospitalar Conde de São Januário, nomeadamente nas especialidades de Radiologia e Imagiologia, Patologia Clínica, Hospital de Dia de Hemato-Oncologia, Farmácia Hospitalar de Consultas Externas Diferenciadas, Centro de Endoscopia e Sala de Diagnóstico e Tratamento Diurno de Urologia, entre outros.

Também a partir de hoje, os centros ou postos de saúde, incluindo os serviços de vacinação contra a covid-19, prestam serviços regularmente, enquanto que o Centro de Transfusões de Sangue mantém o seu normal funcionamento de doação de sangue.

Para os utentes que viram as marcações de consulta externa ou colheita de sangue nos centros e postos de saúde serem canceladas devido ao tufão, podem apresentar-se, de acordo com a hora marcada, no próximo sábado, dia 26 de Julho, no centro ou posto de saúde da sua residência. Além disso, os residentes afectados cujas marcações no Posto de Saúde do Novo Bairro de Macau em Hengqin e no Centro de Exame Médico para Funcionários Públicos serão informados da nova data de marcação, esclarecem os SS.

21 Jul 2025

São Tomé e Príncipe | Relação com China é discreta, mas estratégica

Celebraram-se no sábado 50 anos da independência de São Tomé e Príncipe. O futuro avança ao ritmo das relações diplomáticas com os outros países falantes de português. Para a académica Cátia Miriam Costa, o país africano e a China são parceiros estratégicos, apesar da descrição pautar as relações entre ambos

 

A investigadora Cátia Miriam Costa considera que a relação entre São Tomé e Príncipe e a China mantém-se discreta, apesar de estar quase a celebrar uma década, com crescente interesse estratégico de Pequim na posição do arquipélago no Atlântico Sul.

“Como nem um país nem outro fala muito sobre o assunto, acabamos por não perceber bem a profundidade da relação. Mas creio que não é ainda uma relação muito profunda”, observou à agência Lusa a investigadora do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa.

A posição geoestratégica do arquipélago, situado no Golfo da Guiné, alimenta, no entanto, o interesse de Pequim, nomeadamente no contexto da aposta chinesa na expansão de corredores logísticos e marítimos no Atlântico Sul.

“São Tomé, se não é um porto muito importante em termos logísticos, é um porto relevante para controlo, por exemplo, de pirataria, de ameaças. Portanto, essa posição também de certeza que foi reflectida por Pequim”, explicou.

O restabelecimento de laços formais em 2016, após duas décadas de reconhecimento de Taiwan por parte de São Tomé, foi uma decisão “pragmática” do país africano, e um trunfo para a diplomacia de Pequim, que manteve sempre “canais abertos”, mesmo durante o período de afastamento, explicou Cátia Miriam Costa.

“A relação com a China é mais frutífera porque traz outras contrapartidas”, explicou a investigadora. “Também foi por essas contrapartidas, que [em 1997] São Tomé trocou a República Popular da China por Taiwan, porque nessa altura a República Popular da China era um país em desenvolvimento. Portanto, não tinha para oferecer aquilo que Taiwan tinha, que estava perfeitamente integrado no mercado internacional”, contou.

Um volte-face

Em Dezembro de 2016, São Tomé anunciou oficialmente o estabelecimento de relações com a República Popular da China, pondo fim ao reconhecimento de Taiwan.

A decisão provocou o cancelamento imediato das bolsas de estudo oferecidas por Taiwan a estudantes são-tomenses, muitos dos quais acabaram por ser integrados nas restantes universidades chinesas. A China tornou-se rapidamente um dos principais parceiros de cooperação de São Tomé, com promessas de investimento e apoio em áreas como a educação, formação técnica, agricultura e infra-estruturas.

A investigadora recordou que, mesmo antes de haver relações formais, Pequim nunca rompeu completamente com São Tomé, mantendo o país envolvido nas actividades do Fórum de Macau, ainda que apenas como observador, estratégia que considera “típica da diplomacia chinesa”. “A China não fecha totalmente as portas. Pode suspender relações, mas se for algo do interesse nacional, normalmente volta a ser renegociado”, afirmou.

“Resultados limitados”

Apesar disso, Cátia Miriam Costa reconheceu que os resultados concretos da cooperação ainda são limitados. “Há mais projectos no papel do que propriamente obras em curso”, apontou, atribuindo parte da responsabilidade à fraca capacidade institucional de São Tomé, que só recentemente começou a criar estruturas para atrair e negociar investimento externo.

Entre os sectores com potencial para o aprofundamento da cooperação, a investigadora destacou as pescas, os recursos marinhos e, eventualmente, o cacau. Já a exploração petrolífera levanta “riscos elevados”, tanto pela complexidade técnica como pelas limitações ambientais.

“A China tem interesse na região, mas não é por São Tomé ser um mercado atractivo – porque não é -, é, sim, pela sua localização, estabilidade e capacidade de integração num projecto regional mais amplo”, afirmou.

A investigadora salientou ainda o investimento chinês no ensino da língua chinesa em São Tomé, que visa também “criar uma rede de pessoas com domínio da língua, familiarizadas com a cultura e potencialmente úteis para o futuro das relações bilaterais”. “A China mantém um interesse estratégico na relação, mesmo que não o expresse com grande visibilidade. E para um país como São Tomé, qualquer pequena ajuda pode ter um impacto significativo”, concluiu.

Relatos de quatro são-tomenses que seguiram cursos na China

Denise, Lucineidy, Reginaldo e Aithysa cresceram sob o signo de uma aliança com Taiwan, até que a vida e o trajecto académico acabaram redefinidos pela ruptura dos laços diplomáticos entre São Tomé e Taipé, em 2016.

Denise Aragão Fortes ainda se lembra de apertar a mão a Tsai Ing-wen. Era Novembro de 2016, celebrava-se, com meses de atraso, o dia de África em Taiwan, e a responsável marcava presença na ocasião.

É muito provável que nos bastidores se esboçasse já o fim da diplomacia entre Taiwan e São Tomé e Príncipe, mas para esta estudante de Relações Internacionais da Universidade de Ming Chuan, em Taoyuan, norte taiwanês, a notícia, que chegou um mês depois dessas celebrações, em 21 de Dezembro, foi uma surpresa.

“Não havia rumores, nada”, recorda à agência Lusa Denise, hoje com 29 anos, a trabalhar em marketing e a viver em Almada, Portugal.

Quando terminou o secundário, também os laços entre a ilha e a nação africana, acordados em 1997, tinham alcançado há pouco a maioridade. Havia “muita proximidade” entre as partes, com amizades taiwanesas no seio familiar.

Normalidade abalada nesse Dezembro de 2016. A estudarem com uma bolsa concedida por Taipé, a Denise e a outros alunos são-tomenses em Taiwan foi dada a opção de aí prosseguirem os estudos, sem assistência financeira, ou serem transferidos para a China como bolseiros. Por se encontrar no final do percurso académico, Denise permaneceu em Taoyuan. A maioria, porém, mudou de geografia, de universidade e de vida.

País “cheio de oportunidades”

Lucineidy Almeida, hoje com 28, viu a chegada a Tianjin, norte da China, como “um novo recomeço” num “país cheio de oportunidades”. A frequentar o segundo ano de Biotecnologia em Taichung, esta natural de Santo António sentia alguma dificuldade em acompanhar a licenciatura em mandarim. Uma limitação que eventualmente ultrapassaria, avalia hoje, mas, na China, teve a possibilidade de estudar em inglês Ciências Farmacêuticas.

Diz que soube da ruptura diplomática através das redes sociais e, à semelhança de todos os estudantes que falaram à Lusa, deixou críticas à condução do processo, com “muitas incertezas”, informações dadas “em cima da hora”, “um sentimento de desrespeito”, e, pelo meio, a suspensão das bolsas.

Dois meses após o anúncio, aterrou em Hong Kong, onde tratou do visto, embora ainda sem saber qual o destino final. Só à chegada a Pequim foi-lhe dito que ia para Tianjin, recorda Lucineidy, a viver hoje também em Portugal, no Cacém, e a trabalhar como intérprete de inglês e português na área médica.

Sobre a interrupção diplomática, nota que “pelo que se percebeu na altura”, tratou-se de “uma questão monetária”: “No sentido em que a China ofereceu mais [a São Tomé] do que Taiwan na altura poderia proporcionar”.

O primeiro-ministro são-tomense de então, Patrice Trovoada, considerou a ruptura unilateral das relações como “a mais acertada”, tendo em conta a visão das autoridades para o desenvolvimento do país. “Decidimos o princípio de aderir a uma só China e ao aderir implica o corte das relações com Taiwan. O cenário internacional, há 20 anos, não é o mesmo de hoje”, acrescentou.

Mas a nova ordem política não demoveu os estudantes de avançarem na carreira académica. Aithysa Ramos, 32 anos, ainda hoje está em Pequim, onde, após deixar Taiwan, concluiu o mestrado em Gestão de Empresas.

Se naquela manhã de 2016, a história não tivesse tomado este rumo, provavelmente teria ficado em Taiwan, onde já vivia há sete anos. Na altura, lembra agora a professora de inglês do ensino infantil, ficou “devastada e revoltada”: “Era como se fosse a minha segunda casa, passei aí [parte da] minha adolescência, fases de crescimento”.

Reginaldo encontrava-se no segundo ano de Gestão de Empresas, na Universidade de Yuan Ze, em Taoyuan, quando ficou ao corrente das notícias. Percebeu que “não tinha poder” para alterar o curso da história.

O choque inicial, assume hoje, foi mesmo o frio. Apesar de admitir ter “sido um processo sempre de dúvidas”, a China, para onde se mudou dois meses após o corte de relações, “foi uma surpresa para melhor”. “Pelo facto de ainda estar aqui, de não ter voltado, posso dizer que sim, foi a melhor coisa que aconteceu”, diz.

14 Jul 2025

Coloane | Governo cancelou projecto do museu das palafitas há 9 anos

Muito antes de as autoridades integrarem na jurisdição da RAEM os 85 quilómetros quadrados de áreas marítimas, havia a ideia de erguer um museu das palafitas a fim de consagrar no tempo este tipo de habitações existentes em Coloane. Porém, anos depois, a Direcção dos Serviços de Turismo diz que o projecto não vai mesmo avançar, tendo sido suspenso logo em 2016

 

Entre 2016 e 2017, o Governo planeou erguer um museu sobre as palafitas de Coloane, para contar a história destas casas tão peculiares de Macau. Porém, depois de terem sido publicadas notícias na imprensa a veicular a inauguração do projecto em 2017, a Direcção dos Serviços de Turismo (DST) confirmou ao HM que não vai nascer nenhum museu. Mais: não só não vai ser construído, como o plano foi abortado há nove anos.

“Devido à inclusão da área onde se localizam as casas de palafitas no plano de ordenamento urbano do Governo para a zona ribeirinha de Coloane, os estaleiros de Lai Chi Vun e a Rua dos Navegantes, a DST encerrou o plano de desenvolvimento do ‘Projecto Museu da Casa Palafita’ em 2016, e, subsequentemente, concluiu o procedimento de devolução do imóvel. Por conseguinte, o ‘Projecto Museu da Casa Palafita’ foi cancelado”, foi referido na resposta.

O cancelamento logo em 2016 não deixa de surpreender, tendo em conta que a 14 de Junho do mesmo ano o Jornal Tribuna de Macau (JTM) noticiava que a inauguração do museu iria acontecer em 2017. Nesse artigo foram citadas declarações da directora da DST, Helena de Senna Fernandes, feitas ao jornal Ou Mun, explicando que o “projecto estava na fase de [concepção] do design”. Já teriam sido realizadas, inclusivamente, “várias consultas para recolher opiniões dos moradores daquela zona, na expectativa de aperfeiçoar a proposta de construção”.

Segundo citou o JTM, o projecto deveria “estar concluído até ao final do ano” de 2016, para que a obra fosse “iniciada logo no princípio de 2017”, sendo que a DST esperava “que a construção estivesse concluída no mesmo ano”.

Depois da promessa, em 2018 faltavam ainda “fundamentos legais” para erguer o museu em Coloane, conforme noticiou também o JTM. A justificação dada pela DST era de que Macau não dispunha ainda dos 85 quilómetros quadrados de áreas marítimas sob sua jurisdição, algo que está legislado, precisamente, desde 2018.

Uma questão de prioridades

O HM procurou saber o estado do projecto do museu das palafitas na sequência do lançamento recente de um livro sobre as palafitas de Coloane, da autoria de Filipe Afonso, coordenador da licenciatura em Arquitectura da Universidade de São José. Confrontado agora com o cancelamento oficial do projecto de museu, o responsável lamentou a decisão das autoridades.

“O cancelamento do Projeto Museu das Palafitas não é apenas uma notícia sobre um projecto que não avançou, mas sim um ponto de partida para equacionar as prioridades de desenvolvimento de Macau, a forma como o património é gerido e o que significa para a memória colectiva, neste caso de Coloane”, começou por dizer. Na opinião do autor de “The Coloane Grammar”, “o plano para a marginal da Rua dos Navegantes deveria incluir propostas de novas edificações que utilizem e reinterpretem a madeira como elemento principal e essencial de construção”, sendo que a conexão dessa rua com os estaleiros de Lai Chi Vun, “especialmente no que diz respeito à frente marítima, é uma oportunidade única para criar um corredor costeiro que celebre a história marítima e cultural de Coloane”.

Assim, e “dada a riqueza do contexto e o cancelamento do museu das palafitas, o foco deve ser em integrar a memória dessas estruturas no novo plano”, pelo que se deveria restaurar as estruturas existentes dos estaleiros, das palafitas, mantendo as suas características originais e materiais, mas adaptando-as para novos usos”.

Ainda sobre o valor patrimonial, Filipe Afonso descreveu, na entrevista ao HM, a proposta de “classificação das palafitas como património para lhes conferir protecção legal”.

“Ao catalogar as palafitas existentes, o livro contribui para preservar a memória deste tipo de arquitectura e para uma discussão mais vasta sobre a sua possível protecção”, defendeu, acrescentando que as habitações, muitas delas deixadas ao abandono, “poderiam ser reaproveitadas para turismo de experiência, ou centros de interpretação cultural, valorizando a história local”.

Poderiam ainda “ser transformadas em espaços criativos e artísticos ou na realidade propor novas construções em madeira ao longo da linha de água, com diversos usos e que possam gerar valor para a comunidade de Coloane, contribuindo para a diversificação cultural e económica de Macau”.

Esperanças à beira-mar

Filipe Afonso destaca o processo de revitalização e recuperação da zona dos estaleiros de Lai Chi Vun como uma “iniciativa com valor histórico e cultural imenso, e que remete para a rica tradição da construção naval da região”. Na verdade, a zona dos estaleiros de Lai Chi Vun é uma das “seis zonas” antigas a recuperar pelo Governo e operadoras de jogo, e que incluem também locais como os cais no Porto Interior ou Avenida Almeida Ribeiro, entre outros.

Na zona de Lai Chi Vun já existe uma zona de lazer onde se têm realizado iniciativas culturais, com uma área museológica que conta a história da indústria de construção de juncos no território.

Neste sentido, Filipe Afonso pede que “o Governo de Macau não limite o desenho destes projectos a um leque restrito de ‘short-listed companies'”, ou seja, um grupo restrito de empresas.

Até porque, na sua opinião, “Macau tem uma nova geração de arquitectos e criativos talentosos prontos para dar a sua contribuição”. “Acredito que através de mais concursos de ideias, abertos, estes profissionais poderiam oferecer perspectivas inovadoras para os desafios urbanos e culturais da cidade. Excluí-los de processos tão cruciais para o desenvolvimento urbano e cultural de Macau é um desperdício”, acrescentou.

O HM contactou outros arquitectos no sentido de obter reacções ao cancelamento do projecto do museu, mas não obteve respostas.

O que diz a lei

Entre a suspensão do projecto e os dias de hoje muita coisa mudou. Em 2018, Macau passou a dispor da Lei de Bases de Gestão das Áreas Marítimas, que inclui 85 quilómetros quadrados de área, e cujos princípios prevê a preservação ambiental de espaços como aqueles que as palafitas se inserem.

A legislação introduziu conceitos como “zoneamento marítimo funcional”, no sentido da delimitação de zonas “com funções marítimas fundamentais e específicas de acordo com a localização, recursos naturais, condições ambientais e necessidades de exploração e aproveitamento”.

Na lista de princípios a cumprir, a legislação fala de algo como a “protecção do ambiente das áreas marítimas”, no sentido de se dever “proteger os recursos naturais e o meio ambiente do mar, concretizando o planeamento de protecção e de fomento do ecossistema marinho, devendo as áreas marítimas ter em consideração a protecção do meio marinho”.

Deve-se ainda “conservar a sustentabilidade do aproveitamento e desenvolvimento” dessas áreas, além de que a sua utilização deve ser feita “de forma científica”, segundo o zoneamento marítimo funcional”.

Além da legislação concreta que empatava a concretização do museu das palafitas em 2016, faltava também um Plano Director à RAEM, algo que foi implementado em 2022 e que traz também novas directivas para a exploração das zonas marítimas.

Coloane tem agora a sua própria UOPG – Unidade Operativa de Planeamento e Gestão, onde se deve aplicar uma “organização racional das infra-estruturas públicas e dos equipamentos de utilização colectiva”, bem como “um aproveitamento apropriado dos solos”, a fim de criar uma “estrutura espacial coordenada”.

A UOPG de Coloane integra-se na “Zona de Conservação Ecológica”, que visa “a protecção das áreas com valor ecológico” e ainda “contribuir para a maior protecção dos recursos naturais com valor ecológico”. Aqui não será permitido “destinar solos para usos habitacional, comercial, industrial, turístico e de diversões”, lê-se no Plano Director da RAEM.

A UOPG de Coloane está também integrada na “Zona verde ou de espaços públicos abertos”, devendo aqui “manter-se o actual uso para espaços verdes e actividades ao ar livre, integrando-o [a UOPG de Coloane] na zona verde ou de espaços públicos abertos”.

Concretamente, a UOPG de Coloane deve “promover o desenvolvimento do ecoturismo e do turismo cultural, com a criação de uma zona de passeios pela natureza e da ‘Cintura Verde e Resiliente’, com base na conjugação dos recursos naturais, designadamente colinas, mar e linhas costeiras”. Deve também “conservar e optimizar as zonas industriais existentes, construir a ‘Cintura de Conhecimento – Indústria – Ciência’ e a ‘Cintura de Cooperação de Um Rio, Duas Margens’ e, simultaneamente, planear de forma racional as zonas habitacionais em localização adequada, de acordo com o princípio do equilíbrio entre as funções profissional e residencial”, sendo que estes pontos se interligam com a zona das palafitas, Rua dos Navegantes e estaleiros de Lai Chi Vun.

O Plano Director explica também que “o uso predominante dos solos na UOPG Coloane é zona de conservação ecológica”.

11 Jul 2025

AL | Novo regimento proíbe deputados de divulgar conteúdos das comissões

Com o novo Regimento do hemiciclo aprovado ontem, os deputados passam a estar proibidos de divulgar os assuntos discutidos nas reuniões das comissões permanentes, à excepção dos seus presidentes e secretários. O assunto gerou debate ontem na Assembleia quanto aos limites do que pode ou não ser dito. Pereira Coutinho votou contra este artigo

 

Os deputados da Assembleia Legislativa (AL) passam agora a estar proibidos de divulgar o que é discutido nas reuniões de comissão do hemiciclo, “seja por que meio for”, com a excepção do seu presidente e secretário. Estes divulgam habitualmente o conteúdo das reuniões em conferência de imprensa após a realização das mesmas, e isso irá manter-se.

Esta nova regulamentação surge depois da votação e discussão, na generalidade e especialidade, da alteração ao Regimento da AL. Foi um dos temas mais discutidos no debate de ontem, com os deputados a argumentarem sobre o que pode ou não ser dito, tendo José Pereira Coutinho votado contra este artigo em concreto.

A divulgação de informações das reuniões, que servem para analisar na especialidade propostas de lei e que decorrem sempre à porta fechada, era algo que não estava ainda regulamentado.

Coutinho começou por perguntar se podia divulgar as informações “durante a reunião plenária”, por exemplo, tendo dito que “nunca ouviu falar de algum deputado que tenha violado esse dever”. “Houve reuniões no passado em que os secretários avisaram quanto às informações que não deveriam ser divulgadas e nada foi dito. Somos apenas 33 deputados e devemos pensar na possibilidade de revelar aquilo que foi discutido, pois é difícil definir as fronteiras sobre o que pode ou não ser revelado e isso dará origem a muitas discussões depois”, adiantou.

O legislador destacou também que “pode ser difícil executar esta norma” e que deveria ser seguido “o princípio da transparência”.

Ho Ion Sang, que presidiu à comissão que analisou o novo Regimento da AL, explicou que “o conteúdo das reuniões está sujeito ao dever de sigilo e esta matéria foi clarificada”. “O conteúdo pode ser dito pelo presidente das comissões depois das reuniões, nas conferências de imprensa, e os jornalistas podem colocar questões. Na prática mantém-se como sempre aconteceu e que tem dado bons resultados”, adiantou.

Abrir as reuniões

Outro ponto abordado, prendeu-se com a realização, ou não, das comissões permanentes à porta fechada, tendo Pereira Coutinho defendido a abertura ao público à semelhança do que acontece em Hong Kong. O Regimento da AL não proíbe reuniões abertas, mas tal depende sempre de uma deliberação prévia.

Mas Iau Teng Pio, deputado, desaconselhou a abertura das reuniões. “O objectivo das reuniões à porta fechada é para que os membros do Governo, assessores e deputados possam discutir à vontade mesmo que não haja uma decisão final. Se calhar as reuniões à porta aberta não ajudam e não é benéfico para a proposta de lei.”

Kou Hoi In, presidente da AL, lembrou que “o espírito da norma não foi alterado” e que vai tudo manter-se na mesma, apenas fica registada a proibição daquilo que os deputados não podem referir fora das comissões.

“O carácter reservado das comissões permanentes é para que todos possam falar à vontade e se algum deputado disser isto ou aquilo isso pode espoletar sensações de injustiça na sociedade para com os deputados e isso não pode acontecer. Temos de proteger os deputados e assegurar a confidencialidade.”

No encontro de ontem, teve também lugar a discussão do dever do deputado de participar em todas as comissões permanentes, mesmo naquelas a que não pertence. Vários deputados falaram da necessidade de uma melhor coordenação das agendas das reuniões.

“No futuro poderá haver uma coordenação mais prática porque existem muitas reuniões e propostas de lei. Podemos programar as reuniões para que haja mais deputados”, disse.

De resto, o novo Regimento da AL passa a proibir, por parte dos deputados, “roupa ou placas, estandartes, letreiros ou demais objectos que tenham conteúdo ofensivo ou de provocação política, ou que ponham em causa a dignidade da AL”.

9 Jul 2025

Cerca de 97 por cento dos adolescentes espanhóis vítima de agressão sexual na Internet

Cerca de 97 por cento dos adolescentes em Espanha é vítima de algum tipo de violência sexual na Internet, alertou ontem a organização não-governamental (ONG) Save the Children.

A ONG divulgou ontem um relatório com o título “Redes que prendem. A exploração sexual da infância e a adolescência nos ambientes digitais”, que elaborou com a Associação Europeia para a Transição Digital e que inclui dados oficiais e um inquérito a mais de mil jovens espanhóis com idades entre os 18 e os 21 anos.

Segundo o estudo, 97 por cento destes jovens disseram ter sido vítimas de algum tipo de violência sexual na Internet durante a adolescência, o que inclui contactos por parte de adultos com fins sexuais, difusão não autorizada de imagens íntimas ou chantagens e ameaças para enviarem conteúdos íntimos e sexuais.

Outro tipo de violência realçado no relatório é o uso de ferramentas de Inteligência Artificial para criar conteúdos sexuais a partir de uma imagem real de adolescentes ou crianças (conteúdos conhecidos como ‘deepfake’ ou “ultra falsificações”).

Segundo o estudo, um em cada cinco jovens espanhóis foi vítima da criação e difusão destas ‘deepfake’ durante a adolescência, nomeadamente com a partilha por outra pessoa, a terceiros, e sem consentimento, de imagens de nudez dos próprios, elaboradas através de Inteligência Artificial.

“A Internet, as redes sociais e as tecnologias não só facilitam a captação e a exposição aos riscos relacionados com a exploração sexual, como também podem ser o meio pelo qual se cometem estas violências contra meninos e meninas e permitem a sua perpetuação”, sublinhou a Save The Children, num comunicado divulgado a propósito do estudo publicado ontem.

Motor de arranque

As redes sociais são a forma mais frequente de os agressores iniciarem contactos com as vítimas adolescentes, com o estudo a realçar também os jogos de vídeo ‘online’, no caso dos rapazes. Depois desse primeiro contacto, passam para aplicações e redes de mensagens, como WhatsApp, Telegram ou Discord.

As raparigas são as que mais denunciam serem pressionadas para enviar conteúdos íntimos (28,5 por cento face a 18,4 por cento dos rapazes), com o estudo a revelar que todas as vítimas tinham partilhado informação pessoal ou íntima na Internet durante a infância e adolescência.

Segundo o estudo, só 50 por cento dos jovens quando eram menores considerava o contacto com pessoas desconhecidas um dos principais riscos da Internet e apenas 32,9 por cento mencionou como perigoso o envio consentido de imagens íntimas a pessoas adultas.

Por outro lado, 70 por cento afirma que não via como um risco, na adolescência, a manipulação de fotografias e vídeos com Inteligência Artificial. Questionados sobre os motivos porque enviaram imagens íntimas ou sexuais deles mesmos, 48 por cento diz que não sabia que era algo potencialmente perigoso, 46 por cento pesava que era algo normal e 42 por cento procurava atenção, afecto ou algum tipo de validação.

Sozinhos em casa

Neste contexto, a Save the Children alerta, no estudo, para a falta de acompanhamento dos menores; a escassa formação digital, em cibersegurança, privacidade e reconhecimento de situações de perigo e a utilização intensiva das tecnologias por parte das crianças e adolescentes.

Segundo dados do Ministério da Administração Interna de Espanha, citados no relatório da ONG, em 2023 houve 4.896 denúncias por delitos na Internet contra crianças e adolescentes, 1.068 dos quais eram crimes sexuais.

“Estes números representam apenas a ponta do iceberg, já que a maioria dos casos não chega a conhecer-se, em parte, pela ausência de denúncia e, em parte, pelas dificuldades na deteção, que aumenta quando estes factos têm lugar num ambiente ‘online'”, disse a dirigente da Save The Children Catalina Perazzo, citada no comunicado da ONG.

9 Jul 2025

Obras | Revitalização dos Cais 23-25 e Pátio da Eterna Felicidade ainda este ano

Existem seis zonas históricas a revitalizar com o apoio e investimento das seis operadoras de jogo, mas os deputados questionam a ausência de novidades sobre o que está a ser feito e a lentidão dos projectos. O Governo garantiu que entre o final do terceiro trimestre e início do quarto serão divulgados mais dados e concluídas revitalizações de zonas antigas

 

A revitalização dos Cais 23-25, na zona do Porto Interior, e do Pátio da Eterna Felicidade deverá estar concluída ainda este ano, estando interligada com os projectos pensados e financiados entre o Executivo e as seis operadoras de jogo para seis zonas antigas de Macau.

A garantia foi dada ontem pelo secretário para a Economia e Finanças, Tai Kin Ip. “A revitalização das seis zonas é uma tarefa prioritária para o Governo, pois temos de contar com os investimentos das concessionárias. Realizámos estudos, fizemos um arranjo dos recursos e agora sabemos o que temos. Queremos, no final do terceiro trimestre, início do quatro trimestre, poder avançar com mais pormenores” sobre esta renovação.

Mais concretamente, coube a um representante do Instituto Cultural confirmar que a reabilitação do Pátio da Eterna Felicidade e Cais 23-25 fica concluída na mesma altura.

Tai Kin Ip garantiu que o Governo “não está parado” enquanto analisa e estuda. “Já demos instruções [às concessionárias] para os trabalhos que podem ser ajustados. Pedimos às concessionárias para fazerem a análise consoante as características das zonas. Vamos concluir as estruturas [este ano], com obras de remodelação e restauro, e estamos a trabalhar.”

O secretário frisou que está também a ser analisado o tipo de consumo a realizar-se nestas seis zonas, conforme o tipo de turistas, com “duas categorias de consumo, o tradicional e das novas gerações”.

“Peço que acelerem”

Apesar das promessas de mais detalhes, os deputados lamentaram a falta de informações mais detalhadas. “O essencial é divulgar os projectos, porque o Governo tem de conduzir determinados investimentos e orientar o mercado. O Governo pode ter tempo para fazer os estudos, mas será que as pequenas e médias empresas aguentam esse tempo dos estudos? As lojas que estão nas seis zonas vão continuar a explorar a actividade?”, questionou o deputado Ron Lam.

Segundo o deputado, as ideias para as seis zonas devem resultar num “projecto transparente e divulgado ao público”, pois “toda a sociedade [tem de ser ouvida] para que todos os projectos possam reflectir o panorama do mercado”.

Outra voz crítica, foi a de Ip Sio Kai, que pediu uma revitalização abrangente. “Todos esperam mudanças na economia comunitária. As concessionárias têm esse compromisso para com as seis zonas, mas já passaram dois anos e meio [desde o anúncio dos projectos]. Claro que houve trabalhos de transição, mas há novos planos de concepção e tudo deve ser feito ao mesmo tempo. Por exemplo, pode haver obstáculos na concepção dos planos, porque temos a Rua da Felicidade bem perto do Pátio da Eterna Felicidade, e pode ser difícil continuar os trabalhos. Como podem ser revitalizadas as áreas circundantes das seis zonas? Peço que se acelere os planos de revitalização e restauro dessas zonas”, frisou.

De frisar que as seis zonas em causa incluem a Rua da Felicidade, os Cais nº 23 e 25 do Porto Interior; a área envolvente da Avenida Almeida Ribeiro e da Rua de Cinco de Outubro; a zona da Barra perto da Doca D. Carlos I; os estaleiros de Lai Chi Vun, em Coloane, e ainda a zona da Fortaleza do Monte.

9 Jul 2025

BRICS | Sétima cimeira termina hoje com foco nas tarifas de Trump

Desde sábado que os líderes dos países que fazem parte do grupo dos BRICS estão reunidos no Rio de Janeiro para mais uma cimeira destinada a pensar a reforma das instituições e inclusão de mais economias emergentes, bem como o combate às tarifas decretadas por Trump. Destaque para as ausências de Xi Jinping e Vladimir Putin

 

O Rio de Janeiro acolhe, desde sábado, a cimeira de líderes do grupo BRICS, que termina hoje. O primeiro dia foi pautado pelo diálogo em torno da ambição das economias emergentes em reformar as instituições internacionais e a defesa do multilateralismo.

“Acho que a mensagem principal é essa: no momento de tantas crises internacionais, conflitos, a gente está vivendo uma sucessão de conflitos que só aumentam de ano para ano, ter um conjunto de países reafirmando o poder da diplomacia, da cooperação, da necessidade de actuar de forma conjunta, para resolver os problemas da população e não para gerar mais destruição, como os conflitos, é uma oportunidade que a gente sempre tem de aproveitar”, disse o embaixador Mauricio Lyrio, guia das discussões e acordos dos chefes de Estado na conferência, designado pela presidência brasileira dos BRICS.

Ao todo têm estado presentes cerca de 30 países e nove organizações internacionais, com o chefe de Estado brasileiro, Lula da Silva a liderar a reunião, que conta com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, do Presidente de Angola e da União Africana, João Lourenço, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, entre outros.

As principais ausências são as dos chefes de Estado russo e chinês, dois países fundadores dos BRICS. Vladimir Putin, alvo de um mandado de detenção emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), por suspeita de deportação ilegal de crianças ucranianas para a Rússia, participará apenas por videoconferência.

O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, e o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, serão os representantes dos dois países fundadores do grupo, que representa mais de 40 por cento da população global e mais de 35 por cento do produto interno bruto (PIB) mundial.

Da China com amor

Segundo a agência estatal chinesa Xinhua, o primeiro-ministro chinês prometeu “expandir a cooperação com o Brasil” nas áreas da “economia digital e aeroespacial”. Li Qiang falou no sábado, no âmbito de um encontro com Lula da Silva, referindo que o país pretende “trabalhar com o Brasil para aproveitar as vantagens complementares de cada um e expandir a cooperação em áreas como economia digital, economia verde, inovação científica e tecnológica e aeroespacial”.

A Xinhua cita palavras de Li Qiang, que referiu o facto de “a China estar pronta para trabalhar com o Brasil para continuar os esforços no sentido de enriquecer as dimensões das relações bilaterais e alcançar resultados mais concretos na cooperação, a fim de proporcionar mais benefícios aos dois povos”.

Um dos pontos saídos deste encontro foi a realização, em 2026, do Ano da Cultura China-Brasil, que prevê uma intensificação na cooperação em áreas como “a educação, juventude e saúde”, a fim de se facilitar “ainda mais os intercâmbios entre os povos e fortalecerem o apoio público à amizade e cooperação China-Brasil”.

“A China está disposta a trabalhar com o Brasil para consolidar e aprofundar ainda mais a cooperação bilateral em comércio, finanças e desenvolvimento de infra-estruturas no âmbito da cooperação de alta qualidade da Belt and Road [faixa e rota]”, terá dito o primeiro-ministro chinês, que não esqueceu a grande bandeira desta cimeira dos BRICS: o multilateralismo.

Desta forma, Li Qiang considerou “os dois países como defensores ferrenhos do multilateralismo e do livre comércio”, dizendo que “a China está disposta a melhorar a comunicação e a coordenação com o Brasil em estruturas multilaterais como as Nações Unidas, o BRICS e o G20, trabalhar em união com os países em desenvolvimento para promover um mundo multipolar igualitário e ordenado e uma globalização económica universalmente benéfica e inclusiva, e proporcionar mais certeza e estabilidade ao mundo”.

Do outro lado, Lula da Silva referiu que “o Brasil está disposto a aprofundar a comunicação e a coordenação multilateral com a China, a opor-se conjuntamente ao unilateralismo e defender o multilateralismo e o comércio livre, a fim de promover a paz e o desenvolvimento mundial”. Foram assinados, depois da reunião entre os dois líderes, “documentos de cooperação em áreas como assuntos fiscais e financeiros, inteligência artificial, alinhamento de estratégias de desenvolvimento e aeroespacial”.

A estreia de Cuba

O presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, também participa na 17ª cimeira dos BRICS, sendo a primeira vez que Cuba se associa a este grupo geopolítico e de cooperação económica.

Sob o lema “Reforçar a cooperação no Sul Global para uma governação mais inclusiva e sustentável”, a agenda da Cimeira dos BRICS compreende dois eixos centrais: a consolidação da cooperação entre os países do Sul Global e a promoção de reformas nos mecanismos de governação internacional.

Criado em 2009 pelo Brasil, Rússia, Índia e China, o BRICS admitiu a África do Sul dois anos depois e, desde o ano passado, integra seis novos membros efectivos: Egipto, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irão, Indonésia e Arábia Saudita. O Brasil convidou para esta cimeira os líderes de vários países da América Latina, incluindo o México, Colômbia, Uruguai e o Chile.

O estatuto de associado, que leva Cuba ao Rio de Janeiro, foi aprovado em Outubro de 2024 durante a cimeira do grupo realizada na cidade russa de Kazan, facto que foi oficializado em 2025, recordou o Ministério dos Negócios Estrangeiros do país caribenho.

Para além das questões geopolíticas, os BRICS têm procurado, no Rio de Janeiro, afirmar o peso económico da organização, designadamente no domínio financeiro, no qual há anos buscam uma alternativa ao dólar para as trocas comerciais no seio do grupo.

O Presidente anfitrião, Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente do Brasil, sublinhou na passada sexta-feira a importância de um mecanismo com estas características, reconhecendo, no entanto, que o actual contexto político internacional é “complicado”.

O que está na agenda

No primeiro dia, os chefes de Estado e de Governo dos BRICS participaram em duas sessões plenárias, nomeadamente sobre “Paz e Segurança e Reforma da Governança Global” e a segunda relativa ao Fortalecimento do Multilateralismo, Assuntos Económico-Financeiros e Inteligência Artificial”.

Nesta última, foi discutida a revisão das participações accionárias no Banco Mundial, o realinhamento de quotas do FMI [Fundo Monetário Internacional] e o aumento da representação dos países em desenvolvimento em posições de liderança nas instituições financeiras internacionais e a importância de uma reforma no Conselho de Segurança da ONU.

Para além disso, e tal como tem vindo a acontecer durante as reuniões ministeriais dos BRICS ao longo dos últimos meses, deverá ser feita uma denúncia ao aumento de medidas protecionistas unilaterais injustificadas, numa referência às medidas anunciadas pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump; assim como um apelo ao reforço da utilização de moedas locais no comércio entre os países do bloco. Hoje a sessão plenária será sobre “Meio Ambiente, COP30 e Saúde Global”.

O termo BRIC foi criado por um analista da Goldman Sachs para se referir às economias emergentes que começaram a destacar-se a nível mundial além dos EUA, tendo os BRICS reunido pela primeira vez, ao nível de chefes de Estado, em 2009. Esta é a primeira reunião que congrega a nova configuração do grupo com 11 países membros.

O Brasil mobilizou cerca de 20 mil militares, além de caças com mísseis, sistemas anti-drone e atiradores de elite para garantir a segurança do evento. A operação de segurança, denominada Comando Operacional Conjunto Redentor, prevê ainda a utilização de 300 viaturas, 38 veículos blindados, 18 barcos e oito helicópteros.

7 Jul 2025

Cabo Verde | Família Évora, entre Macau e o resto do mundo

Amanhã celebram-se 50 anos da independência de Cabo Verde, o país de onde saiu a primeira levada da família Évora na década de 40, rumo a Macau, onde ganhou raízes. Hoje em dia, apenas um membro da família permanece no território, o médico cardiologista Mário Évora

 

Houve em tempos uma dezena de Évoras em Macau, onde chegaram na década de 40, mas apenas Mário Évora resiste, com a família a repetir as migrações que marcam tanto Cabo Verde como os macaenses.

“Chegámos a ser entre oito e dez Évoras em Macau”, disse à Lusa o especialista em medicina desportiva Humberto Évora, a partir de Lisboa, onde vive desde que se reformou. Os avós maternos de Humberto (o último da família a nascer em Cabo Verde) e Mário (o primeiro a nascer em Macau) chegaram ao território no Oriente no fim da década de 40, com cinco dos seis filhos do casal.

Um ano depois, a filha que tinha ficado com o marido em Cabo Verde veio para Macau, já com o bebé Humberto. O plano inicial era para dois anos, mas o casal acabou por ficar três décadas e ter mais três filhos: Mário, Rui e Maria Helena.

Em 1971, foi a vez de Humberto e Mário partirem para estudar Medicina em Lisboa, mas não sem um grande susto ligado à guerra colonial que já durava há uma década.

“Como fomos para a universidade podíamos adiar a inspecção militar, mas os papéis não vieram de Macau e corríamos o risco de ser considerados refractários”, recordou Humberto. A situação resolveu-se, mas Mário admitiu à Lusa o receio da mobilização. “Tínhamos essa perseguição, tínhamos de ir passando de ano para não ir dar com os costados na guerra”, explicou.

“O choque” em Lisboa

À chegada a Lisboa, “fomos logo acolhidos e integrados na comunidade de estudantes cabo-verdianos”, disse Humberto, numa altura de agitação estudantil e política. “Houve períodos em que era quase diário, manifestações de estudantes contra o regime, a polícia de choque entrar pela cantina dentro e dar umas cacetadas”, sublinhou Mário.

Humberto admitiu que “foi um choque, para quem vinha de Macau, onde havia pouca cultura política e a guerra colonial era vista como uma luta contra terroristas”. Num Verão, o jovem, que chegou a estar integrado num grupo cabo-verdiano de música de intervenção, partiu com um amigo “à boleia pela Europa fora de guitarra às costas”.

“Lembro-me sempre da primeira vez, em França, que vi na televisão a guerra colonial descrita ao contrário, a luta pela libertação de um poder colonial de ocupação”, disse Humberto.

A independência

Quando os dois irmãos terminaram o curso de Medicina, a independência de Cabo Verde, em 5 de Julho de 1975, levou-os a equacionar um regresso às raízes. “Havia um movimento de muitos dos nossos colegas de irem contribuir para um país novo, que começava a dar os primeiros passos”, referiu Mário, já então cardiologista formado.

Até porque, recordou Humberto, alguns dos amigos de Lisboa se tinham, entretanto, tornado membros do Governo de Cabo Verde. “Houve essa possibilidade, mas o regresso a Macau, a um sítio onde tinha passado tanto tempo, foi natural”, explicou. “Nasci em Cabo Verde, passei parte da minha vida em Portugal, cresci em Macau, também sou macaense. Sou um cidadão do mundo”, defendeu Humberto.

Os macaenses são uma comunidade euro-asiática, a maioria dos quais lusodescendentes, com raízes em Macau, embora muitos tenham emigrado, devido à situação económica ou ao receio criado pela transição da administração de Portugal para a China, em 1999.

Dos irmãos Évora, Rui, engenheiro, partiu antes da transição para Cabo Verde, onde chegou a trabalhar no projecto do hotel-casino que o empresário de Macau David Chow construiu na Praia, mas que ficou por inaugurar.

A irmã mais nova, Maria Helena, especialista em ciências documentais que chegou a trabalhar no Arquivo Histórico de Macau, está actualmente na Câmara Municipal de Oeiras. Os filhos “estão todos fora”, entre o Reino Unido, Cabo Verde e Portugal, disse Mário. “Agora o mundo é mais pequeno e é ir onde há oportunidades”, defendeu.

Também Humberto encara as migrações “como um processo natural, não só para os cabo-verdianos, mas até para os macaenses”.

Nada que tenha impedido os dois irmãos de manter os laços com o arquipélago. Humberto divide o tempo entre Portugal e Cabo Verde, sendo há décadas o médico oficial das delegações desportivas cabo-verdianas às principais competições internacionais.

Mário foi um dos fundadores – e presidente durante dez anos – da Associação Amizade Macau-Cabo Verde. “Tivemos cá o Ildo Lobo, o Tito Paris, e a minha prima”, disse o cardiologista, antes de fazer uma pausa e acrescentar, com um sorriso: “a Cesária Évora”.

3 Jul 2025

OMS | Estudo revela que uma em cada seis pessoas no mundo sente-se só

Um relatório da Organização Mundial de Saúde refere que a solidão é um problema crescente. Baseado num estudo realizado entre 2014 e 2023, o documento concluiu que uma em cada seis pessoas no mundo se sente só, com destaque para jovens dos 13 aos 29 anos. A região do Sudeste Asiático apresenta, contudo, valores menos problemáticos

 

Cada vez se fala mais do impacto devastador da solidão como causa potencializadora de doenças. Desta vez, um relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), divulgado na segunda-feira e realizado pela Comissão para a Conexão Social, traz dados sobre o problema, concluindo que uma em cada seis pessoas diz sentir-se só, um estado que não sinónimo de estar sozinho.

Além disso, o problema é maior nos mais jovens, pois um em cada cinco diz sentir-se só, o que mostra que um quinto da população mundial entre os 13 e 29 anos diz sentir solidão.

O estudo, intitulado “Da solidão à conexão social – traçando um caminho para sociedades mais saudáveis: relatório da Comissão da OMS sobre Conexão Social”, incide sobre os anos de 2013 e 2024, abrangendo, portanto, a pandemia, um período em que grande parte das populações mundiais enfrentaram períodos de confinamento, algumas delas sozinhas nas suas habitações. O estudo foi enviado a jornalistas de 194 países membros da OMS, e os dados foram tratados em consonância com outros trabalhos já realizados sobre o tema e com apoio de especialistas de todo o mundo, incluindo da China. Bin Yu, do Medical College Tianjin University, foi um dos participantes do projecto.

O relatório aponta que entre 2014 e 2023 “estima-se que 16 por cento das pessoas em todo o mundo – uma em cada seis – sentiram a solidão”, algo que “afecta todas as idades e regiões”. Porém, é um sentimento “mais comum entre adolescentes e adultos jovens”, com uma taxa de 20,9 por cento de jovens entre os 13 e 17 anos, enquanto que a taxa reduz um pouco, para os 17,4 por cento, no caso dos jovens adultos dos 18 aos 29 anos.

O sentimento de solidão “diminui com a idade”, sendo também “mais comum em países de baixos rendimentos, onde quase uma em cada quatro pessoas (24 por cento) afirmou sentir-se solitária”.

O estudo da OMS destaca ainda que “as taxas mais elevadas se encontram na região africana da OMS”, com 24 por cento; seguindo-se as regiões do Mediterrâneo Oriental (21 por cento), sendo que no Sudeste Asiático esse sentimento é menos sentido pelos inquiridos, registando-se apenas 18 por cento.

“A região europeia tem a taxa mais baixa, com cerca de dez por cento”, diz a OMS, que distingue solidão de isolamento social. Neste campo, “os dados são mais limitados”, mas destaca-se o isolamento dos idosos. “As estimativas sugerem que 25-34 por cento dos idosos estão socialmente isolados”, tratando-se de dados relativos aos anos entre 1990 e 2022.

Quando se chega à idade adulta, dos 30 aos 59 anos, a percentagem de pessoas que se sente só baixa para 15,1 por cento, sendo que nas pessoas com 60 anos ou mais é ainda menor, com 11,8 por cento.

Relativamente ao género, “as taxas estimadas de solidão em mulheres e homens são semelhantes (16,1 e 15,4 por cento, respectivamente), com as maiores diferenças estimadas entre adolescentes (24,3 por cento entre mulheres e 17,2 por cento entre homens) e idosos (13 por cento entre mulheres e 9,9 por cento entre homens)”.

Quem mais sente

O relatório refere que hoje em dia “a desconexão social é generalizada em todas as regiões e em todas as faixas etárias”, com consequências que são “graves e subestimadas, afectando a mortalidade, a saúde física e mental, o bem-estar, a educação, a economia e a sociedade em geral”. “A sua ocorrência generalizada e as suas graves consequências tornam-na uma questão séria de saúde pública global “, é referido.

E quem se sente mais sozinho? A OMS dá destaque a “grupos marginalizados”, nomeadamente “pessoas com deficiência, lésbicas, gays, bissexuais, transgéneros, intersexuais, queer (ou, por vezes, em questionamento) e outros indivíduos (LGBTIQ+) e migrantes”. Estas pessoas “são mais propensas a sentir solidão e isolamento do que outros grupos”, deixando-se a ressalva que “os dados anteriores são demasiado limitados para determinar se as taxas de isolamento social e solidão aumentaram ou diminuíram”.

No caso dos portadores de deficiência, persistem cenários como não conseguir “aceder a instalações sociais e aproveitar oportunidades devido a barreiras físicas nos edifícios, acesso limitado a transportes e falta de informação e comunicação acessíveis, enquanto outras enfrentam estigma estrutural que limita as suas oportunidades de emprego ou outras barreiras socioculturais que levam a um nível de educação mais baixo, relações menos estáveis e condições de habitação mais precárias”.

São identificados “muitos factores” que levam as pessoas a sentir-se sozinhas, nomeadamente a “modernização, industrialização e as mudanças tecnológicas”, podendo ser “responsabilizados pelo que, muitas vezes, se presume ser um aumento do isolamento social e da solidão, mas a maioria permanece sem comprovação”.

“Sabemos que certos fatores aumentam o risco de os indivíduos sofrerem de desconexão social. Estes incluem má saúde física ou mental (especialmente depressão), traços de personalidade como neuroticismo, não ter um parceiro ou ser solteiro, viver sozinho e características do ambiente construído, como mau acesso a transportes públicos. O impacto da tecnologia digital ainda não é claro, mas os especialistas recomendam cautela, especialmente para proteger a saúde mental e o bem-estar dos jovens”, é ainda referido no estudo.

A OMS destaca, ao longo de todo o texto, como é difícil quantificar sentimentos de solidão, sendo relativamente recentes este tipo de definições e, sobretudo, diferenciação entre o sentimento de sentir-se só e o estar efectivamente só. O relatório inclui testemunhos de pessoas de vários países e culturas que descrevem que, mesmo estando com um companheiro ou amigos, sentem-se sós, num cenário causado por muitos factores.

No caso dos jovens, “a constatação de elevadas taxas de solidão entre adolescentes é consistente com os resultados de pesquisas anteriores, embora o resultado possa estar sujeito a considerações tanto de desenvolvimento como metodológicas”.

“Como a solidão resulta de uma discrepância percebida entre as conexões sociais reais e as desejadas ou esperadas, a taxa mais elevada na adolescência pode ser devida a expectativas mais elevadas de conexões sociais durante a fase de desenvolvimento, que é marcada por mudanças emocionais e psicológicas significativas. Os idosos relatam uma satisfação comparativamente maior com as suas relações sociais. De acordo com estas estimativas, os idosos apresentam as taxas mais baixas de solidão, o que contradiz estudos anteriores que realçavam os idosos como a faixa etário com algumas das mais elevadas taxas. Isto pode ser devido à disponibilidade e qualidade limitadas dos dados anteriores sobre idosos”, é explicado.

O estudo destaca, porém, ser “possível que a prevalência da solidão seja maior entre os adultos com 80 anos ou mais”, tratando-se de uma “conclusão consistente com estudos anteriores, nos quais se verificou uma distribuição em forma de ‘U’ de solidão entre os adultos mais velhos”.

Mais de 800 mil mortes

Estamos numa era em que a chamada saúde social está em risco, sendo considerada pela OMS como “um pilar vital, mas muitas vezes negligenciado, de saúde, tão essencial quanto a saúde física e mental”.

“As relações sociais podem reduzir o risco de doenças, aumentar a esperança de vida e fortalecer o tecido das comunidades e da sociedade. As relações sociais melhoram a vida, dando-nos significado e um sentimento de pertença”, lê-se ainda, sendo referido que hoje a solidão afecta uma em cada seis pessoas em todo o mundo e causa “cerca de 871.000 mortes anualmente (2014-2019)”.

“Novas estimativas sugerem que a solidão, por si só, pode ser responsável por cerca de 871.000 mortes por ano. O custo económico destes impactos abrangentes na sociedade está apenas a começar a ser compreendido. As estimativas sugerem custos substanciais para os empregadores, os sistemas de saúde e cuidados e os indivíduos. Ligações sociais mais fortes proporcionam uma protecção importante nos domínios da saúde, social e económico”, lê-se.

O relatório destaca que muitas destas questões só agora começam a ser percepcionadas e analisadas. “Provavelmente isso já acontece há anos, mas a pandemia da doença coronavírus 2019 (covid-19) e a crescente preocupação com a tecnologia digital trouxeram mais atenção para a questão, inclusive por parte dos governos”, é explicado.

A OMS aponta ainda uma correlação entre a pobreza ou baixos rendimentos e o sentimento de solidão.
“Em geral, quanto mais baixo é o grupo de rendimento de um país, maior é a taxa de solidão. Estima-se que os países de baixo rendimento tenham a prevalência mais elevada (24,3 por cento), seguidos pelos países de rendimento médio-baixo (19,3 por cento), países de rendimento médio-alto (12,1 por cento) e países de alto rendimento (10,6 por cento)”, pode ler-se.

Apesar de alguns cenários preocupantes, a OMS deixa algumas sugestões e diz mesmo que “há esperança” para contornar o problema. “Existem estratégias eficazes para promover a conexão social e estas devem ser ampliadas”, passando, por exemplo, pelo “monitoramento regular da prevalência da conexão social, do isolamento social e da solidão em nível global, regional e nacional”. Esse monitoramento deve ser encarado como “uma alta prioridade”, permitindo “acompanhar o progresso e medir o impacto das estratégias para lidar com a questão”.

Sugere-se ainda o “desenvolvimento e a adopção, a nível internacional, de instrumentos de medição fiáveis, válidos interculturalmente para a conexão social, o isolamento social e a solidão”, devendo ser encarada “como prioridade” a criação “de um instrumento para medir a conexão social, tal como concebida neste relatório: nas três dimensões de estrutura, função e qualidade”.

O estudo teve como base documentos de referência sobre estimativas globais e regionais da prevalência da solidão e da mortalidade devido à solidão, “as primeiras desse tipo”; uma revisão global de documentos políticos; mapeamento e análise de redes, a inclusão de 64 experiências vividas por pessoas em relação à conexão social, isolamento social e solidão, bem como “evidências de alta qualidade, priorizando revisões sistemáticas, meta-análises e estudos multinacionais em grande escala”, sem esquecer a experiência do próprio Grupo Consultivo Técnico da OMS sobre Conexão Social, “composto por 20 especialistas globais de renome”.

1 Jul 2025

China-Portugal | Pavilhão em Chengdu mostra produtos portugueses

No empreendimento Euro-Asia National Commodity Pavillion, em Chengdu, estão instalados pavilhões destinados a países e empresários estrangeiros que querem estabelecer negócios na China. Portugal também lá está, representado pelo Pavilhão de Portugal, mas segundo o gestor Ângelo Sousa, faltam apoios do Governo português e força para combater a concorrência

 

“Para nós não há barreiras entre Portugal e a China. Estamos 365 dias cá e lá.” É desta forma que são apresentados os objectivos da equipa que está por detrás do Pavilhão de Portugal presente no Euro-Asia National Commodity Pavillion, em Chengdu, e que é gerido por dois sócios: Yinhui Tui e Ângelo Freitas de Sousa.

Os dois perceberam que a zona de Xangai tinha atingido um ponto de saturação no comércio de produtos e que era necessário ir mais para o interior do país tentar vender coisas tão portuguesas como o vinho, bacalhau ou azeite.

O HM conversou com Yinhui Tui sobre este projecto à margem de um almoço promovido, em Lisboa, pela Associação dos Amigos da Nova Rota da Seda, presidida por Fernanda Ilhéu. O evento serviu, precisamente, para Yinhui Tui apresentar os objectivos do Pavilhão de Portugal e tentar captar interesses empresariais.

“Trata-se de um mercado muito importante para os produtos portugueses. Na China separamos o país [em termos comerciais] em quatro mercados. Temos a região de Pequim e Xangai, que chamamos de ‘Yangtze River Economic Zone’, e a ‘Pearl River Economic Zone’. A quarta zona é composta pelas cidades de Chengdu e Chongqing e que se trata de uma nova área económica estabelecida em 2020. Os produtos portugueses têm bastante potencial nestes mercados”, referiu.

O empresário lembra que o marketing dos produtos portugueses está ainda aquém daquele que é feito por empresários franceses, espanhóis ou de outros países, mas que quando o comprador chinês descobre o vinho ou o azeite, fica surpreendido.

“Em Xangai, por exemplo, alguns clientes já têm a sua opinião formada sobre os produtos franceses ou australianos. Mas muitos acham que os produtos portugueses têm mais qualidade”, disse Yinhui Tui, referindo que na zona em que o Pavilhão de Portugal opera, na província de Sichuan, “as pessoas são um pouco mais conservadoras e preferem experimentar, provar e sentir antes de comprar”.

“O nosso pavilhão está junto ao pavilhão francês e muitas vezes vemos clientes a optar pelo vinho francês. Mas quando passam pelo nosso pavilhão, veem as nossas marcas e perguntam o que é que nós temos. Quando percebem que temos vinho mais barato em relação ao francês, ficam surpreendidos e dizem que é melhor, e aí compram.”

Este responsável explica que a população na quarta zona económica é de 130 milhões de pessoas, bem mais do que o número de pessoas a viver na Península Ibérica. “Daí achar que é um mercado com muito potencial”, frisou.

O papel da Lusosino

Yinhui Tui e Ângelo Freitas de Sousa criaram a Lusosino que funciona como a entidade gestora do pavilhão, que nasceu “com a intenção de promover os produtos portugueses no grande mercado da China”. Assim, existe um “showroom” de produtos bem portugueses, representando-se algumas marcas conhecidas como é o caso das bolachas Vieira, vinho Esporão, o sal Marnoto, as compotas Prisca ou a Vista Alegre, entre outras. É neste pavilhão que “os expositores exibem os melhores produtos, os compradores descobrem tendências e onde ambos encontram as condições para concretizar negócios”. De resto, a Lusosino, através deste pavilhão, ajuda empresários portugueses nas campanhas de marketing e na melhor forma de contactar potenciais clientes chineses.

Concretamente, a Lusosino promete realizar “registos de produtor e marcas, representação comercial, análise do mercado, apoio e preparação de viagens ao mercado, entre outros serviços”, lê-se no website.

Porém, e segundo contou Ângelo Freitas de Sousa ao HM, há muitos obstáculos para colocar produtos portugueses na China. “[A zona de Chengdu e Chongqing] tem a vantagem de ser um mercado em crescimento e que não está sobrecarregado de exportadores e não tem vícios como acontece na zona de Xangai. É um mercado com uma área muito grande e em que existem muitos produtores.” Por vícios, o empresário refere a “concorrência” de outros países e hábitos de compra dos clientes chineses, que mais depressa procuram produtos de outras nacionalidades do que de Portugal. “Há hábitos de certas marcas que estão implementadas e as pessoas já nem olham para outras, nem as experimentam.”

O projecto do Pavilhão de Portugal começou por uma ideia de Ângelo Ferreira de Sousa, que tem uma esposa chinesa que o ajuda no negócio. “Conheci o Yinhui Tui, ele gostava de produtos portugueses, ficámos amigos e depois acabámos por juntar energias”, referiu, explicando que o interior do país está ainda a conhecer os produtos estrangeiros, e não apenas portugueses.

“A zona de Xangai já não tem por onde crescer mais e esta é uma zona económica em crescimento. Há muitas fábricas que se estão a deslocar para Chengdu, pelo que haverá mais desenvolvimento”, adiantou.

Ausência de marketing

O empresário português lamenta que as autoridades portuguesas tenham dado pouco apoio ao projecto, à excepção de algum acompanhamento por parte da AICEP – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal.

“Todo o investimento foi feito por nós e não temos tido muito apoio. Tivemos alguma ajuda da AICEP, mas nada de especial. Nós é que fazemos feiras, os ‘showrooms’, para dar a provar e a conhecer os nossos produtos nas principais cidades”, disse Ângelo Ferreira de Sousa.

O empresário lamenta também que, apesar da relação de centenas de anos entre Portugal e a China, haja ainda falhas na estratégia comercial para a exportação de produtos portugueses no país. “Os espanhóis estão muito mais à frente do que nós”, exemplificou.

Relativamente ao papel de Macau como plataforma, o empresário diz que é igualmente difícil trazer produtos de Portugal para a China ou de Macau para a China, devido à falta de acordos aduaneiros e pouca flexibilidade.

“Não é por termos a ligação a Macau que eu consigo, por exemplo, colocar enchidos, bacalhau ou as conservas na China, ou ainda outros produtos portugueses. Para passar de Portugal para Macau é fácil, mas já não é tão fácil levar depois produtos portugueses de Macau para a China. Não temos conseguido fazer muita coisa através de Macau, mas também não temos procurado muito”, disse.

Na apresentação em Lisboa, Yinhui Tui adiantou alguns números que estão por detrás da construção do Euro-Asia National Commodity Pavillion, e que ajudam a compreender a sua dimensão: cerca de 70 mil milhões de euros de investimento e um espaço de 300 mil metros cúbicos. O Pavilhão de Portugal não faz apenas sessões de contactos ou feiras: se um empresário quiser lá deixar armazenadas toneladas de produtos, pode fazê-lo. Depois, o Pavilhão fica encarregue da distribuição por várias zonas da China. “No mercado do Sul, mais perto de Macau, já existe muita competição em algumas zonas, pelo que se deve apostar no Interior da China”, frisou Yinhui Tui, referindo-se ao potencial e ao factor novidade que existe em algumas zonas do país no tocante ao comércio.

26 Jun 2025

Coloane | Filipe Afonso lança obra que destaca importância de casas de palafitas

O mais recente livro de Filipe Afonso, coordenador do curso de arquitectura da Universidade de São José, olha para um modelo habitacional em risco de desaparecer, mas que pode ser visto em Coloane, ou em antigas zonas piscatórias de Hong Kong. “Coloane Grammar” apresenta soluções alternativas para o reaproveitamento destas casas e a sua classificação como património

 

Pegando na ideia de gramática que dá nome ao livro, quais os principais termos ou conceitos em torno de Coloane, da sua tradição e preservação, que pode enumerar?

A “gramática” do livro introduz o conceito de arquitectura vernacular, que reflecte o conhecimento da construção informal, local, e a identidade marítima desta comunidade de Coloane. Aborda o património em risco, ao propor um método de catalogação das casas existentes, método esse digital, que estabelece um diálogo entre tradição e modernidade para preservar esta paisagem cultural.

Que propostas concretas são sugeridas no livro para a protecção e preservação das palafitas de Coloane?

O livro propõe (indirectamente) a classificação das palafitas como património para lhes conferir protecção legal. Ao catalogar as palafitas existentes, o livro contribui para preservar a memória deste tipo de arquitectura e para uma discussão mais vasta sobre a sua possível protecção.

Como se poderiam reaproveitar as palafitas tendo em conta esses modos de vida específicos e a diversificação económica que o Governo quer atingir?

As palafitas poderiam ser reaproveitadas para turismo de experiência, ou centros de interpretação cultural, valorizando a história local. Podem ser transformadas em espaços criativos e artísticos ou na realidade propor novas construções em madeira ao longo da linha de água, com diversos usos e que possam gerar valor para a comunidade de Coloane, contribuindo para a diversificação cultural e económica de Macau.

Porquê abordar Coloane e as palafitas? Como surgiu este projecto?

Coloane e as palafitas foram abordadas pela sua singularidade arquitectónica e cultural, representando uma memória e identidade ameaçada de Macau. Este património em risco tem um potencial de valorização significativo. O projecto surgiu também da lacuna de conhecimento científico sobre estas estruturas e da necessidade urgente de as documentar, consolidando-se como uma investigação académico-científica.

No contexto asiático ou do Sudeste Asiático, as palafitas de Coloane são ou não caso único em termos arquitectónicos?

As construções sobre a água são comuns em vários países Asiáticos, as palafitas de Coloane não são um caso único em termos de existência. Veja-se o exemplo, em Hong Kong, da conhecida aldeia de Tai O, mas são singulares no seu contexto específico. A sua arquitectura é o reflexo de influências regionais e materiais locais, adaptada à história da evolução da comunidade piscatória de Coloane e ao desenvolvimento de Macau. O seu valor reside na sua linguagem arquitectónica particular e na sua persistência num ambiente urbano em rápida transformação.

Qual a história por detrás do surgimento das palafitas? Está associada aos relatos de pirataria em Coloane, por exemplo, que remetem até ao início do século XX?

As palafitas surgiram como uma solução prática e funcional para o modo de vida relacionado com o mar, permitindo acesso ao mar, protecção contra as marés e uso eficiente do espaço em áreas costeiras. Os relatos de pirataria em Coloane não foram a causa directa do seu surgimento. As palafitas são, essencialmente, a resposta de uma arquitectura informal das comunidades locais em se adaptar ao ambiente marítimo.

Ideia de museu sobre as palafitas de Coloane parada desde 2017

A necessidade de preservação das palafitas de Coloane não é uma ideia recente. Entre 2017 e 2018, a Direcção dos Serviços de Turismo propôs a criação de um museu inteiramente dedicado a contar a histórias destas habitações dispostas na Rua dos Navegantes, mas o projecto foi sendo adiado por questões legais.

Em 2018, o Jornal Tribuna de Macau (JTM) publicou um artigo onde se referia, precisamente, a ausência de “fundamentos legais” para a construção de novas infra-estruturas na área marítima de Macau, algo que mudou, entretanto, tendo em conta que a RAEM passou, a partir de 2018, a incluir na sua jurisdição a gestão de 85 quilómetros quadrados de zonas marítimas.

Só no ano passado terminou o processo de consulta pública relativo aos planos do Executivo para a criação de um “Zoneamento Marítimo Funcional”, “Plano das Áreas Marítimas” e demais leis conexas, não existindo ainda uma decisão concreta sobre aquilo que será feito sobre as palafitas. Tanto o zoneamento como o plano serão definidos para um período temporal até 2040.

Um dos objectivos do Executivo é a preservação ambiental e ecológica, bem como de certas vivências da população. Um dos pontos do relatório da consulta pública fala em “optimizar as modalidades de exploração oceânica de acordo com as necessidades de desenvolvimento de Macau; coordenar o uso do mar no âmbito de produção, vida quotidiana da população e ecologia” e realizar “usos do mar intensivos e economizadores para concretizar a alocação racional dos recursos das áreas marítimas”.

Em 2018, segundo o JTM, a DST garantiu que seria necessário “aguardar pela divulgação da Lei de Bases da Área Marítima e do Regulamento Administrativo sobre a Administração da Utilização das Zonas Marítimas” e só depois se poderia pensar na planificação do museu. O HM questionou a DST sobre esta matéria, não tendo, até ao fecho desta edição, obtido novos esclarecimentos.

Um desenvolvimento gradual

Numa dissertação de mestrado em Arquitectura, defendida em 2023 na Universidade de Coimbra, Ana Rita Rodrigues fez o estudo da “Evolução do Território de Macau – Aterros e Desenho Urbano nas Ilhas de Taipa e Coloane”, tendo concluído que “a ocupação portuguesa nas ilhas de Taipa e Coloane trouxe melhorias na infra-estrutura, segurança e organização das vilas”. No final do século XIX, “já existiam, nas ilhas, escolas, hospitais e infra-estruturas básicas, promovendo o crescimento económico da região”.

Referindo a existência das palafitas “usadas para a construção de barcos de pesca e habitação para os pescadores, naturalmente viradas para o rio”, numa zona de Coloane composta “por habitações precárias de um ou dois andares, ao contrário do tipo de habitação comum encontrada em Taipa ou Macau, que era mais voltada para o desenvolvimento em altura”.

A autora destaca ainda que o “desenvolvimento foi mais lento” em Coloane, bem como a ausência, em ambas as ilhas, de “um plano geral unificado e a necessidade de melhor planeamento urbano para garantir um ambiente coeso e sustentável”.

24 Jun 2025

Ensino | IA entrou nas escolas locais, mas recursos são escassos

O Governo tem apostado na introdução da inteligência artificial nas escolas do território, mas com poucas horas no currículo. Além disso, as escolas queixam-se de poucos recursos para cumprir as metas governamentais

 

As escolas de Macau integraram ferramentas de inteligência artificial (IA) nas salas de aula, como quadros inteligentes e modelos linguísticos, mas alguns professores alertam que a maioria não está preparada para cumprir política delineada para o sector.

Depois das aulas, alunos da escola secundária Pui Va permanecem na sala de aula, distraídos a explorar um quadro inteligente. Estes quadros – explica Ruan Zhan Teng, professor de informática da escola – funcionam como projectores interactivos e são utilizados logo desde o primeiro ano, para escrever, ver vídeos ou participar em aulas com ‘media’ digitais.

“No terceiro ano, os alunos começam a aprender a identificar a inteligência artificial na vida quotidiana, programação básica e fotos e vídeos gerados por IA”, acrescentou à Lusa o professor de informática.

A mudança ocorreu em 2024 e está estipulada na lei: a IA deve ser incluída no ensino primário (com uma carga horária de 17 horas e 20 minutos por ano letivo), do 7.º ao 9.º ano (19 horas e 20 minutos) e do 10.º ao 12.º (18 horas e 40 minutos).

Apesar da exigência, Andy Chun Wai Fan, professor e director do Centro de Tecnologia de Informação e Comunicação na Educação, da Universidade de Macau, nota que as escolas enfrentam dois entraves: falta de recursos e formação do corpo docente.

“Algumas escolas têm apenas um professor de Tecnologia de Informação”, sublinhou Fan, referindo ainda que, em geral, as instituições têm aulas de informática apenas uma vez por semana.

Não actualizar

Pedro Lobo, professor nesta área, com 30 anos de experiência no território, incluindo na Escola Portuguesa de Macau, está preocupado com a falta de formação. “A maior parte dos professores já tem uma certa idade, não cresceram com esta nova tecnologia (…) por isso, a mentalidade ainda está aquém de toda esta evolução, e a mudança está a ser tão rápida que dificilmente se consegue acompanhar”, explicou o português.

As autoridades de Educação exigem aos professores 30 horas de formação anual em IA, no entanto, Pedro Lobo considera não ser suficiente. Apesar de este ano já ter estudado quase 40 horas, o professor diz-se “pouco preparado”.

Sobre esta política governamental, Andy Chun Wai Fan lembra ainda que é exigido às escolas que abordem ética, inovação e colaboração no domínio da IA, embora caiba às instituições a criação dos próprios manuais. “Não temos um manual sobre o que ensinar (…), cada escola tem ideias próprias sobre o que fazer com os seus alunos”, reagiu Lobo, explicando que ensina a “transferir a IA para o trabalho escolar”, seja através da geração de imagens, desenvolvimento de pequenos jogos, abordagem da ética da IA e questões de direitos de autor.

Desde 2021 na Pui Va

Num registo diferente, a escola secundária de Pui Va, que introduziu a IA em 2021, assume estar “bem preparada” para “a mudança”. A instituição gasta cerca de dois milhões de patacas por ano em ferramentas de IA, emprega sete professores de Tecnologias de Informação (TI) e contratou um professor universitário de Pequim para dar apoio. “Queremos que os alunos sejam capazes de utilizar a inteligência artificial para identificar problemas e resolver problemas da vida real”, notou o director do gabinete de TI do estabelecimento de ensino chinês, Chong Wai Yin.

Aqui, os alunos trabalham, por exemplo, com linguagens de programação (Python, Tencent, iFlytek), e modelos de IA como o DeepSeek e o ChatGPT, envolvendo-se em projectos de cidades inteligentes, no primeiro ciclo, e na criação de aplicações, num estágio posterior, disse Zhao Qichao, antigo professor da Universidade de Aeronáutica e Astronáutica de Pequim, que lecciona na Pui Va.

“No primeiro ciclo, desenvolvemos cidades inteligentes, casas automatizadas e sistemas de estacionamento alimentados por IA (…). No segundo ciclo, os alunos criam aplicações móveis e projectos tecnológicos sustentáveis”, explicou.

Em Abril, a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, O Lam, anunciou que as reformas educativas de Macau para 2025 vão centrar-se na IA e incluem planos para uma sala de aula inteligente em todas as escolas.

O Governo de Macau atribuiu à rede de escolas sob a alçada da Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ) 15 milhões de patacas para software de IA para este ano lectivo.

Num email enviado à Lusa, a DSEDJ afirmou que o Governo “atribui grande importância” ao ensino de Tecnologias de Informação. “O Plano de Médio e Longo Prazo para o Ensino Não Superior (2021-2030) identificou o ‘reforço da criatividade e da educação tecnológica’ como uma das principais direções de desenvolvimento”, explica-se na nota.

No entanto, Pedro Lobo questiona a pressão sobre os jovens estudantes: “Estamos a ver crianças com 8, 9, 10 anos a desenvolver aplicações? Talvez 1 por cento seja capaz. O resto faz o melhor que pode. Têm aulas e trabalhos de casa que nunca mais acabam”.

Deputados preocupados

No último debate da Assembleia Legislativa, na passada quinta-feira, dois deputados, Iau Teng Pio e Kou Kam Fai, ligados ao ensino, defenderam a necessidade de “desenvolvimento de alta qualidade da educação em Macau”, nomeadamente com a aposta na IA.

Uma das sugestões, referidas no período de intervenções antes da ordem do dia, foi o reforço do “mecanismo de desenvolvimento coordenado entre a educação, a inovação científica e tecnológica e os talentos”, com o aumento de “recursos em STEM [Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática] e inteligência artificial ao nível do ensino básico, enraizando a base da literacia científica”.

No debate do dia 11 deste mês, coube ao deputado Ma Io Fong apelar à regulamentação sobre a IA para evitar burlas, mas também para aumentar a consciencialização da sociedade em relação a esta nova realidade.

“Com o rápido desenvolvimento da tecnologia nos dias de hoje, a utilização das funções da IA está a tornar-se gradualmente uma ajuda importante para a sociedade e os residentes na vida quotidiana e no trabalho. Porém, a IA pode dar origem a actos ilícitos, em especial, o agravamento de ataques cibernéticos e a difusão de informações falsas.”

Também no período de intervenções antes da ordem do dia, o deputado pediu ao Executivo para “reforçar a sensibilização e educação sobre a prevenção de fraude na IA, sensibilizar os idosos e os jovens, enfatizando que a divulgação de vídeos falsos gerados por IA pode constituir uma infracção legal com consequências graves”.

Nesse contexto, foi pedida a integração sistemática “dos conhecimentos de segurança da IA nos currículos escolares e a realização de diferentes actividades de sensibilização e educação com as associações comunitárias, para aumentar os conhecimentos do público sobre a tecnologia da IA e o risco derivado pelo seu abuso”.

“Deve-se ainda, através da cooperação entre o Governo, a sociedade, as escolas e a família, reforçar a capacidade de resposta à informação e ao discurso na Internet, permitindo reagir, esclarecer e dar seguimento aos trabalhos em tempo útil, quando o público enfrenta informações que podem causar influências negativas ou ser enganosas”, apontou Ma Io Fong no debate do dia 11.

23 Jun 2025

História | A fuga dos Ma-Chan para o Portugal colonial e para Macau

A família Ma-Chan é de Moçambique com raízes chinesas, procurou o seu novo caminho no então Portugal colonial e desde 1976 que fixou raízes em Macau. José Manuel Machon, residente no território desde os 13 anos, contou à Lusa a trajectória muito peculiar da sua família, que reflecte muitos dos rumos familiares tomados nos anos de guerra e do fim do império colonial português

 

Os Ma-Chan, família moçambicana com raízes na China, fugiram duas vezes ao comunismo e duas vezes recomeçaram no Portugal colonial. Em 1976, desembarcaram em Macau, onde se apagara a memória de Moçambique com a partida dos landins, tropas africanas que estacionaram no território por décadas desde 1912.

Segundo uma reportagem de Luís Andrade de Sá publicada na Revista Macau em 1992, e citada pelo blogue “Crónicas Macaenses”, os landins ficaram em Macau “durante cerca de cinco décadas”, sendo que “os chineses nunca se habituaram ao seu convívio, desconfiados que se mantiveram dos enormes negros que tocavam uma horrível batucada enquanto volteavam as zagaias com uma ostensiva ferocidade”. O termo landim passou a ser referência “para identificar todos os batalhões indígenas que passaram por Macau”, é descrito na mesma reportagem.

Massá Ma-Chan dirigiu-se em 1963 à conservatória de Nampula, norte de Moçambique, para registar o quinto filho, mas, mais uma vez, negaram a este chinês, com raízes em Guangzhou, a transmissão do apelido à descendência. A José Manuel coube a mesma sorte dos irmãos: o apelido Machon, corruptela de Ma-Chan.

A identidade de José Manuel Machon, embrionariamente marcada por esse detalhe burocrático imposto pela então Moçambique portuguesa, é não apenas reflexo do passado colonial de Portugal, mas dos primórdios das relações sino-moçambicanas.

“Não tenho grandes confusões, tentei adaptar-me à vida”, diz à Lusa em Macau, onde vive desde os 13 anos. O avô – também Ma-Chan – foi quem definiu que esta história começava em África, ao deixar a China à procura de melhor vida, no arranque do século XX, e instalar-se em Nampula, ao lado de Xarifa, uma mulher macua, grupo étnico moçambicano.

Massá, o filho – e pai de José Manuel -, foi enviado para Guangzhou aos 14 anos, para aí receber educação formal. Quando regressa a Moçambique, é um homem casado, com uma marca de bala junto ao ombro esquerdo.

Na China, enfrentou os japoneses na segunda Grande Guerra e casou-se com uma chinesa, que conheceu no dia do matrimónio, até que, no limiar da guerra civil, que viria a dar vitória aos comunistas de Mao Zedong, fugiu. Dedicou-se, em Nampula, ao negócio do pepino-do-mar – o ‘magajojo’ – e da barbatana de tubarão, que exportava para Hong Kong.

O grande regresso

Entretanto, sem conseguir adaptar-se, a mulher regressou a Macau com os quatro filhos, onde acabou por morrer. Massá voltou a casar, desta vez com uma moçambicana – José Manuel veio primeiro, Carla depois.

Quando a bandeira da Frelimo se ergueu no mastro em Moçambique, em 25 de Junho de 1975, os Ma-Chan rumaram a Macau, com breve passagem por Portugal, onde habitaram uma pensão paga pelo então Instituto de Apoio ao Retorno de Nacionais, o IARN.

“Não somos nada retornados, porque a gente não retornou a lado nenhum, somos refugiados”, afirma Carla Machon, a residir em Portugal.

“Quando o meu pai ouviu falar novamente de comunismo, fugiu”, conta em Macau o irmão, José Manuel. Enquanto fala, bolas de bowling embatem no chão e percorrem a pista até novo estrondo. O barulho no Centro de Bowling Future Bright parece não incomodar este homem grande, de 61 anos, fluente em cantonês e português e presidente do Clube Bowling de Macau. “Isto é o que me mantém estável. Em vez de ir para os copos, venho para aqui”, nota.

Para José, a independência “foi um abrir de olhos, uma abertura para o mundo”. Nem fala em razões políticas, mas como foi importante cruzar meio mundo até chegar a Macau.

Uma nova vida

Nesse virar de página, a família Ma-Chan/Machon veio encontrar, em 1976, uma cidade com pouca presença civil do exterior. José e Carla não se lembram de outros moçambicanos, que começaram a chegar após a independência, muitos vindos de Portugal.

A fortaleza de Mong-Há é velha testemunha da presença de Moçambique em Macau. Aí estiveram aquartelados os landins, soldados moçambicanos ao serviço do exército colonial, recorda à Lusa o jornalista João Guedes, estudioso da história de Macau. É essa circunstância histórica que baptizou a colina de Mong-Há de “montanha dos fantasmas negros” (‘hak gwai san’).

Estes tropas, com o “maior instinto guerreiro”, na expressão do imperador Gungunhana, permaneceram em Macau meio século, até por volta dos anos 1960. Eram responsáveis, por exemplo, pela guarda das Portas do Cerco, fronteira do território com a China e local de incidentes recorrentes.

“Passaram por aqui e desvaneceram como se nunca tivessem estado”, retoma Guedes, indicando não haver qualquer património material que ateste essa presença militar. Não muito longe de Mong-Há, porém, no restaurante Riquexó, as tropas ainda lá estão, eternizadas em fotos penduradas nas paredes.

Aí serve-se galinha africana, prato macaense, cuja origem é ainda hoje alvo de debate. Duas teorias: foi criado pelo chefe português Américo Ângelo, inspirado por uma viagem a Moçambique. Outra versão dá conta que, vendo os soldados africanos com saudade de frango assado, Américo confeccionou o prato.

E a memória das relações Macau-Moçambique não se completa sem evocar o tráfico de cules. Se, por um lado, se sabe que os portugueses levaram escravos das colónias africanas ao se estabelecerem às portas da China, no sentido inverso, foram enviados também, via Macau, chineses para trabalhar em Moçambique, muitas vezes em condições de escravatura.

Os cules fizeram parte de um movimento migratório a partir de finais do século XIX, “para desenvolver a colónia moçambicana”, explica a professora da Universidade Joaquim Chissano, em Maputo, Fátima Papelo, que investiga a cooperação sino-moçambicana. O primeiro grupo, diz, foi enviado em 1858 e “era composto por 30 homens”.

Mais de um século depois, na luta pela independência moçambicana, Pequim apoiou a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) e é um dos primeiros países a reconhecer o novo Estado soberano. Em Macau, continua Papelo, o reforço dos laços deu-se mais tarde, com a transição do território de Portugal para a China, em 1999.

Mas para José Manuel, Moçambique conservou-se sempre presente. Da última vez que lá foi, conta, visitou e limpou a campa da família, “lá na machamba”. “É um costume chinês”, explicou.

23 Jun 2025

Eleições | “Soldado de Mao” afirma-se inocente e diz que esteve seis dias sem conseguir tomar banho

Acusado de corrupção eleitoral e de possuir um negócio ilegal de Mahjong, Wong Wai Man voltou ontem à carga para clamar a sua inocência. O presidente da Associação dos Armadores de Ferro e Aço diz ter sido “provocado” para subir até ao telhado onde esteve algumas horas, além de ter estado seis dias sem poder tomar banho ou trocar de roupa

 

O panorama das eleições legislativas para o hemiciclo já ferve. Além de estas serem as eleições com o menor número de listas candidatas desde a criação da RAEM, a polémica está instalada com o quase candidato Wong Wai Man, que tentou submeter a sua candidatura, sem sucesso.

Conhecido também como o “Soldado de Mao” e “Capitão de Macau”, e depois de ter sido acusado de corrupção eleitoral e de possuir um negócio ilegal de Mahjong, eis que Wong Wai Man voltou ontem à carga para dar explicações: recusa as acusações de que é alvo, diz ter sido perseguido pelas autoridades e refere como “tortura” a forma como foi tratado aquando da sua detenção.

O presidente da Associação dos Armadores de Ferro e Aço esteve, na segunda-feira, várias horas em cima de um telhado de uma casa feita com chapa metálica na Taipa, tendo sido socorrido pelo Corpo de Bombeiros. Uma solução que diz ter sido “provocada” depois de ter sido detido pela Polícia Judiciária (PJ), reencaminhado ao Ministério Público e receber a convocação do Comissariado contra a Corrupção (CCAC), que o acusa de possuir o negócio ilegal.

Wong Wai Man explicou que, pouco tempo depois de ter saído do gabinete do CCAC, na zona do NAPE, foi interceptado por um funcionário deste organismo que alegou a falta de assinatura em alguns documentos. Porém, não satisfeito com a situação, Wong Wai Man apanhou um táxi em direcção à Taipa, acabando por se refugiar no telhado. “Não tive outra opção, o CCAC queria perseguir-me até à morte. Por isso fiquei no telhado”, explicou.

Relativamente às acusações da prática de corrupção eleitoral, o homem diz que é pobre e que não tem condições financeiras para cometer esse tipo de ilegalidades. Sobre o alegado negócio ilegal de Mahjong, Wong Wai Man destacou que a sede da associação a que preside tem, de facto, mesas de Mahjong, mas apenas para usufruto dos sócios.

Sobre o uso de dinheiro nestes jogos, Wong Wai Man disse que sempre existiu um cartaz a dizer que era proibido haver apostas em dinheiro e que havia, na sede da associação, uma caixa para donativos, mas que tal se destinava a apoios voluntários dos sócios para ajudar ao funcionamento da associação.

Isto porque, segundo este, além de ser presidente é também o único a suportar todas as despesas da Associação dos Armadores de Ferro e Aço, nomeadamente as relacionadas com a renda, água e luz, tendo em conta que desde 2014 que a entidade não recebe subsídios.

Uma coisa é certa: a sede da associação irá fechar portas amanhã devido ao fim do contrato de arrendamento. Wong Wai Man diz que, por enquanto, não vai procurar uma nova morada para a associação pois, para já, tem em mãos um assunto mais premente: a procura de um lugar para viver. Wong Wai Man fazia da sede da associação a sua casa.

Lição para a vida

Apesar de ter perdido a oportunidade de submeter uma lista e ser candidato às eleições para a Assembleia Legislativa pela via directa, Wong Wai Man argumentou que o mais importante foi participar em todo o processo e aprender coisas novas. O “Capitão de Macau” referiu ainda que se dedica à sociedade de coração e não por egoísmo. O seu ideal é fazer coisas com justiça em prol da sociedade, uma vez que defende que as associações tradicionais não defendem o povo.

Wong Wai Man contou ainda aos jornalistas um episódio pessoal para justificar a sua participação nas causas sociais e públicas. “Em 2007 a minha esposa estava grávida e os hospitais convenceram-na a pôr término à gravidez porque a taxa de sobrevivência do bebé seria de 50 por cento, devido ao facto de ter sido detectada uma anomalia fetal depois dos exames. Insisti e o Governo acabou por pagar a operação no valor de 70 mil patacas. Por isso, quero dar a minha contribuição para retribuir um favor ‘ao céu'”, disse.

Seis dias sem banho

Segundo o jornal All About Macau, Wong Wai Man referiu ainda ter estado seis dias sem tomar banho e dormir, tendo permanecido uma semana desaparecido até se apresentar junto do CCAC esta segunda-feira. Antes de o fazer, este referiu ter estado um total de seis dias detido, o que para si foi “uma tortura”, e que no total esteve todo esse tempo sem tomar banho, dormir ou trocar de roupa. No domingo, terá conseguido voltar a casa.

“Ontem à noite [terça-feira] consegui finalmente dormir bem e tomar banho. Fiquei seis dias sem poder tomar banho ou trocar de roupa”, explicou. A subida ao telhado da casa na Taipa foi também uma forma de protesto pela forma como terá sido tratado, assegurou.

A detenção teve lugar na madrugada de quarta-feira passada, dia 11, entre as 3h e as 4h da manhã, com o argumento de que Wong Wai Man manteria um negócio ilegal de Mahjong. Foi então que ficou detido durante 48 horas numa esquadra na Taipa, tendo depois sido transferido para as instalações do Ministério Público (MP) para continuar a prestar declarações.

Depois desse processo, foi notificado para se apresentar junto do CCAC, tendo assinado os documentos pedidos. De seguida, foi novamente detido por mais 48 horas e transferido novamente para o MP. Quando, já na rua, foi novamente informado de que teria de voltar ao CCAC para assinar mais documentos, decidiu fugir e refugiar-se no telhado.

18 Jun 2025

Cancro da mama | Investigação da UM faz “descoberta revolucionária”

Um estudo desenvolvido por uma equipa liderada por dois docentes da Universidade de Macau procura respostas para o combate ao cancro da mama. Os académicos concluíram que as células cancerígenas se disseminam principalmente através do sistema linfático, e não pela corrente sanguínea

 

“O sistema linfático é a via principal para a disseminação e metástase do cancro da mama, revelado pelo rastreamento da linhagem de células únicas” é um artigo científico que procura aumentar o conhecimento que permita encontrar soluções para a doença. O trabalho foi desenvolvido por uma equipa de investigação liderada pela professora catedrática Chuxia Deng e pelo professor assistente Miao Kai da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Macau (UM) e, segundo uma nota da UM, trata-se de uma “descoberta revolucionária no estudo das metástases do cancro”.

Assim, e pela primeira vez, foi feita “uma análise qualitativa e quantitativa das vias das metástases do cancro da mama”, tendo sido aplicado pelos cientistas “um sistema de código de barras baseado numa abordagem de rastreamento de linhagem de células únicas”, chamado CellTag.

Com este método, foram obtidos resultados que revelam que “as células cancerígenas se disseminam principalmente através do sistema linfático, e não pela corrente sanguínea”. Além disso, aponta a nota da UM, “a investigação também descobriu que a interacção entre as células tumorais e o microambiente tumoral (TME) determina o potencial metastático das células cancerígenas”, ou seja, se estas poderão, ou não, reproduzir-se com facilidade.

Neste sentido, “o estudo demonstra de forma sistemática as vias das metástases tumorais e abre novos caminhos para o desenvolvimento de estratégias de tratamento do cancro”, é descrito.

O artigo foi publicado na revista “Molecular Cancer” e é o resultado de uma investigação realizada por uma vasta equipa, constituída por Kai Miao, Aiping Zhang, Xiaodan Yang, Yipeng Zhang, Anqi Lin, Lijian Wang, Xin Zhang, Heng Sun, Jun Xu, Yuzhao Feng, Fangyuan Shao, Sen Guo, Zhihui Weng, Peng Luo, Xiaoling Xu e Chu-Xia Deng.

Destaque para a colaboração de cientistas de outras instituições do ensino superior da região, como Aiping Zhang, da Universidade Hospitalar Hong Kong-Shenzhen, e Jingyao Zhang e Shuai Gao, ligados à China Agricultural University em Pequim. Por sua vez, Dong Wang e Xiao-Yang Zhao estão ligados à School of Basic Medical Sciences, da Southern Medical University, em Guangzhou.

Microambiente é factor importante

A UM explica, no mesmo comunicado, que o estudo em questão “fornece evidências empíricas para a preferência de rota na metástase do cancro”, demonstrando que as células tumorais estão “pré-programadas” com “informações intrínsecas que determinam o seu potencial metastático”, além de que estas células “adaptam de forma dinâmica a sua expressão genética com base no microambiente dos órgãos-alvo”.

Desta forma, “estas descobertas estabelecem as bases para o desenvolvimento de terapias direccionadas à metástase linfática, como a inibição da sinalização de citocinas ou a interrupção da comunicação entre o tumor e o estroma para suprimir a metástase”.

Na investigação foi utilizada a “tecnologia de sequenciamento de RNA de célula única”, o que permitiu à equipa “descobrir que células tumorais geneticamente idênticas exibem perfis de expressão genética específicos do órgão”, pelo que o microambiente se revela “fundamental na formação do comportamento das células tumorais”.

“Por exemplo, as células metastáticas pulmonares regulam positivamente os genes relacionados com o stress oxidativo, enquanto as células metastáticas hepáticas activam vias reguladoras metabólicas”, é referido.

O perigo das metástases

A UM destaca que, nas doenças oncológicas, as metástases são a principal causa de morte. Porém, até à data, “os mecanismos que governam a selecção da rota” dessas mesmas metástases permaneciam “obscuros”.

“Usando a tecnologia CellTag, a equipa de pesquisa fez o rastreio da disseminação de células de cancro da mama em modelos de camundongos”, tendo descoberto que “menos de 3 por cento das células cancerosas se espalham pela corrente sanguínea, enquanto mais de 80 por cento metastatizam através do sistema linfático para órgãos distantes, como os pulmões e o fígado”.

Assim, “uma análise mais aprofundada mostrou que as células disseminadas pela linfa têm padrões de expressão genética distintos e comunicam estreitamente com as células estromais, tais como fibroblastos e células endoteliais, no microambiente, formando um mecanismo adaptativo ‘semente-solo'”.

Olhando para o estudo, os autores explicam que a metástase do cancro “é um processo no qual as células tumorais do tumor primário invadem a membrana basal dos vasos sanguíneos ou linfáticos (intravasação), viajam pelo sistema sanguíneo ou linfático e colonizam órgãos e ou tecidos distantes para continuar o seu desenvolvimento”. Vários estudos apontam para o facto de as metástases serem responsáveis por 70 a 90 por cento da mortalidade relacionada com o cancro, sendo que “a disseminação de células tumorais na vasculatura e nos vasos linfáticos ocorre simultaneamente na grande maioria dos cancros”.

Estradas de sangue

Na discussão dos resultados, os autores do estudo dizem que, em termos gerais, “as células tumorais metastatizam principalmente através da circulação sanguínea e do sistema linfático”, sendo que até à publicação deste trabalho tinham sido realizados “inúmeros estudos para distinguir o papel de ambos os sistemas nas várias fases da metástase do cancro”, sem se saber “qual a via ‘preferida’ para a metástase à distância”.

É referido no artigo, citando outros estudos, que as “células cancerígenas entram na corrente sanguínea através da intravasação para se tornarem CTCs [Circulating Tumor Cells – Células Tumorais em Circulação], tendo-se revelado altamente correlacionadas com os resultados de sobrevivência de pacientes com cancro da mama”.

Os autores explicam também que “o sistema linfático é considerado crítico para a metástase”, pois “as células de melanoma com experiência no sistema linfático eram mais resistentes à ferroptose e formavam mais metástases”, sendo que nos casos de “ressecção de tumor primário, as células cancerosas podem se disseminar ainda mais dos gânglios linfáticos para os vasos sanguíneos e formar tumores metastáticos nos pulmões”.

Até à data, “embora a disseminação metastática fosse viável por ambas as vias, a importância relativa de cada processo para um determinado tipo de cancro e o órgão-alvo era desconhecida devido à falta de ferramentas quantitativas adequadas”, algo a que este estudo, com recurso ao sistema CellTag, pretendeu dar resposta.

Assim, “demonstramos que a maioria das células metastáticas do pulmão e do fígado pode ser detectada no sistema linfático, em vez de CTCs [Células Tumorais em Circulação] derivadas do sangue, indicando que os vasos linfáticos podem ser a via preferida para a metástase das células tumorais, pelo menos no cancro da mama”.

Os autores prometem não parar por aqui na descoberta do percurso feito pela metástase das células cancerígenas, tendo já realizado “testes preliminares” com algumas células a fim de descobrir a possibilidade de redução “drástica” das células tumorais disseminadas por via linfática. “Continuaremos a trabalhar nisso para aprofundar o mecanismo de disseminação linfática e explorar as interrupções terapêuticas em nossos esforços futuros”, é referido.

18 Jun 2025

Comércio | Gestor do Cuppa Coffee pede apoio a empresas portuguesas

A história do Cuppa Coffee remonta a 2008 quando era difícil encontrar um espaço em Macau para beber um bom café. A localização na Taipa Velha trouxe fama ao projecto, mas o espaço acabou por fechar portas e mudar-se para o Studio City. João Encarnação, que gere o café, fala das novidades e da importância de apoiar projectos de matriz lusófona

 

Tudo começou na mente da portuguesa Cristiana Figueiredo, numa altura em que para um português ou apaixonado por café a viver em Macau era difícil encontrar um espaço para desfrutar desta bebida acompanhada por produtos de padaria ou pastelaria, à boa maneira lusa.

Cristiana Figueiredo disse, numa numa entrevista ao Instituto de Promoção do Comércio e Investimento de Macau (IPIM), o que a levou a investir neste tipo de negócio. “Na Europa, as pessoas têm por hábito frequentar cafés tanto para descansar como para trabalhar. Quando vim para Macau, há mais de 20 anos, apercebi-me de que a cultura do café português não é popular em Macau, daí ter nascido a ideia de abrir um café em Macau, esperando promover a comida e a cultura do café português”.

Desde 2008 que o Cuppa Coffee, associado ao projecto inicial da empresária, Nata Bakery, fundado em 2007 e focado nos produtos de padaria e pastelaria, se tornou num dos espaços preferidos da comunidade portuguesa, estrangeira e até residente do território. Porém, o rumo do ambiente económico, com maiores dificuldades no pagamento de rendas, tem ditado algumas transformações ao projecto, que agora encerra portas à entrada da Taipa Velha e também junto aos lagos Nam Van, para estar apenas no empreendimento Studio City, no Cotai. O encerramento nos lagos Nam Van deu-se em Janeiro.

Ao HM, João Encarnação, director e accionista da empresa que gere o Cuppa Coffee, explica que, na verdade, a mudança para o Cotai já estava decidida há muito tempo. “Costumo dizer que não houve uma mudança para o Studio City, porque esse era um plano que já existia e que surgiu independentemente do fecho da loja da Taipa. Iríamos sempre abrir este espaço independentemente de continuarmos, ou não, com a loja na Taipa, cujo fecho se deveu a uma negociação falhada relativamente à renda do espaço.”

Segundo João Encarnação, que hoje gere a empresa com Nicole Massa Helm, ambos consideraram que “na situação económica actual não havia condições para continuar naquele espaço, que é relativamente grande e tinha os seus custos”.

“Precisávamos de fazer alguma contenção se queríamos que o negócio continuasse a funcionar, porque a alternativa é sempre fechar completamente. Não desistimos da ideia de abrir qualquer coisa na Taipa e de estarmos um pouco mais próximos dos nossos clientes regulares e mais fiéis, pelo que continuamos com esse propósito de abrir outro estabelecimento na Taipa que possa servir os clientes que lá vivem. Portanto, não há propriamente uma deslocação para o Studio City”, adiantou João Encarnação.

O director e accionista entende que esta mudança acarreta sempre alguma nostalgia. “Temos pena de o ter fechado. Custou-nos, temos realmente muita pena”, confessou. “Era uma decisão que podia ter sido tomada há mais tempo, pelo menos um ano, mas ainda tentámos manter ali o estabelecimento, mas não nos foi possível. Veremos o que o futuro nos reserva.”

Apesar destas mudanças, o Cuppa Coffee pode ser considerado um caso de sucesso. “Funcionou ali durante muitos anos e funcionou bem. Este é um negócio que tem de ter determinadas condições para funcionar porque, como sabemos, tem muito movimento, mas com pouco rendimento relativamente a cada cliente. Trata-se de um negócio que precisa de muitos clientes para se sustentar, e durante muitos anos, ao nível dos valores das rendas e de tudo o resto, fornecedores por exemplo, era bastante mais barato e as coisas funcionavam melhor”, recorda.

A localização na Taipa Velha deu ao Cuppa Coffee “um reconhecimento e uma clientela muito grande”, apesar das crescentes dificuldades. “À medida que os preços foram aumentando, também precisámos de aumentar os nossos preços, mas nunca na proporção do aumento das despesas. Houve uma altura em que não podíamos continuar”, assumiu.

O que o futuro reserva

João Encarnação assegura que aquilo que os clientes sempre procuraram neste espaço vai continuar no Studio City: bons produtos de café e pastelaria, com a presença de Portugal. “Tentamos sempre introduzir produtos novos. Criámos uma bebida nova, à base de café e coco, que é excelente. Introduzimos também o ‘Nata Bomb’, um conceito de batido ‘milkshake’ com sabor a nata, uma verdadeira bomba”, descreveu.

Há também “produtos tradicionais portugueses que não existiam antes, como o pão de louro”, bem como os donuts com sabores diferentes, “para completar a oferta que temos”. “A nossa oferta já é tão variada que, mesmo sem introduzirmos mais produtos, é suficiente para satisfazer os valores dos clientes portugueses e de outros também.”

João Encarnação disse ainda que a mudança do estabelecimento para o Studio City nasceu de um convite. “Não sabemos ainda como vai correr, é uma aposta que estamos a fazer neste momento”, sendo que o objectivo é sempre voltar ao café de rua. “O conceito de ter uma loja de bairro ou na rua é algo que nos interessa muito e já estamos a ver outras possibilidades”, acrescentou.

“Não tenho dados suficientes para, neste momento, lhe dizer que a mudança para o Studio City é ou não uma aposta vencedora. É diferente, tal como o conceito, e vamos ter outro tipo de clientes além dos habituais.”

Um projecto “do coração”

Olhando para trás, João Encarnação conta que, por exemplo, nunca se registaram grandes problemas em matéria de recursos humanos. “Até hoje não sentimos o grande problema da falta de mão-de-obra, nunca foi algo que nos tenha afectado grandemente. Hoje em dia não é tão fácil como antigamente ter quotas [para trabalhadores não-residentes], pois há bastantes locais que precisam de colocação. É capaz de nos ser mais fácil, neste momento, arranjarmos mais trabalhadores locais do que antigamente”, disse, confirmando que as rendas continuam a ser o grande problema para negócios deste tipo.

“O Cuppa Coffee é um projecto do coração e durante a pandemia apercebi-me que ia fechar. Percebi também que estavam a ocorrer uma série de encerramentos, quase em simultâneo, de outros estabelecimentos portugueses. Falei com a minha sócia, que tem muita experiência nesta área, e disse-lhe que gostava de tentar manter o Cuppa Coffee aberto. Ela cedeu ao meu repto e comprámos [à Cristiana Figueiredo], fizemos todos os possíveis para que continuasse exactamente com o mesmo conceito e a mesma qualidade que vinha tendo com a Cristiana, que fez um excelente trabalho na criação e crescimento do Cuppa Coffee.”

Ultrapassados os anos da pandemia, e numa altura em que Macau enfrenta uma quebra no consumo local, João Encarnação diz que “cumpre um bocadinho à comunidade portuguesa fazer os possíveis para apoiar o esforço que fazemos para que tudo continue aberto”.

“Não falo apenas do Cuppa Coffee, mas também da Trigo D’Ouro, da Manteigaria, dos restaurantes portugueses e do Lord Stow, que não sendo um negócio tipicamente português baseia-se na cultura portuguesa. Todos estes negócios têm de ser alimentados e suportados. Da nossa parte, cumpre-nos manter a qualidade, mas a comunidade portuguesa tem de aproveitar o que existe e apoiar os negócios portugueses”, apelou.

Apesar da quebra do consumo por parte dos locais, João Encarnação diz que se garante um equilíbrio com o consumo dos turistas. “Sentimos um pouco isso [quebra de consumo], mas conseguimos contrabalançar com as ofertas que fazemos e que satisfazem o gosto dos chineses locais e dos visitantes. Mas claro que isso [quebra de consumo] tem, naturalmente, impacto nos negócios, não apenas nos portugueses, e isso vê-se na cidade. Mas penso que ainda há alguma massa crítica para manter os negócios portugueses abertos”, rematou.

17 Jun 2025

Empreendedorismo | Evento para empresas locais quer captar “investidores anjo”

Macau acolhe hoje um evento destinado a captar os chamados “investidores anjo” para projectos locais de empreendedorismo. O “Macau Angel Investor Network” decorre no “The Macao Young Entrepreneur Incubation Centre” e pretende dar apoio a projectos empresariais emergentes ou simplesmente startups que estão a dar os primeiros passos

 

Chama-se “Macau Angel Investor Network”, qualquer coisa como “Rede de Investidores Anjo em Macau” e pretende aproximar residentes que desejam ser empresários de sucesso e criar os seus próprios negócios numa economia que se quer diversificada. O evento está marcado para hoje no Da Hengqin Development Center, no número 517 da Avenida da Praia Grande, Edifício Comercial Nam Tung, entre as 11h e as 12h30, e conta com diversas personalidades ligadas à economia local, mas não só. São eles Raphael Chan, vice-director da Direcção dos Serviços de Economia e Desenvolvimento Tecnológico (DSEDT), Paulo Andrez, presidente emérito da “European Business Angel Network” e ainda figuras como Emanuel Soares, consultor jurídico, U Man Fai, investidor-anjo para a zona da Grande Baía e partner/fundador do “Esencia Fund” e ainda Ung Choi Kun, ex-deputado à Assembleia Legislativa e presidente da Kun Cheong Holding ltd e também ele um “investidor-anjo”. O evento é desenvolvido pela Associação para o Empreendedorismo e Inovação para Macau, China e Países de Língua Portuguesa, a que está ligado Marco Duarte Rizzolio, sendo co-organizado pela Associação Plataforma Sino-Lusófona de Macau para o Desenvolvimento Sustentável.

Ao HM, este explicou os principais objectivos que estão por detrás desta iniciativa. “Queremos conectar investidores anjo a startups e pequenas e médias empresas (PME) locais, fomentando o ecossistema empreendedor e promovendo a diversificação económica de Macau”. Por sua vez, Alvin Fong, também ligado à organização deste evento e presidente da Direch International, defendeu que se pretende “criar uma plataforma que reúna o conhecimento sobre investimentos-anjo, ajudando na diversificação da economia de Macau”.

Segundo Rizzolio, “os investidores anjo, que investem capital próprio em empresas emergentes, são fundamentais para apoiar startups em estágios iniciais onde as possibilidades de financiamento são mais escassas no sector financeiro tradicional”.

“Além disso”, frisou, a rede de contactos que hoje decorre na Avenida da Praia Grande “procura aproximar investidores dos países de língua portuguesa e da China, criando um acesso mútuo aos melhores projectos desenvolvidos nessas regiões e reforçando Macau como um elo estratégico entre o Oriente e o Ocidente”.

Para Alvin Fong, este é o “momento oportuno” para a realização de um evento desta natureza, tendo em conta que “o mundo está a passar por muitas mudanças e novas oportunidades estão a surgir”.

Segundo Marco Duarte Rizzolio, até já ocorreram, em Macau, eventos anteriores na tentativa de captar investimentos anjo, “mas esta é a primeira vez que se pretende criar uma rede de ‘Business Angels’ em Macau com investidores chineses e de países de língua portuguesa”.

“As condições para realizar este evento agora surgem de vários factores, como o crescimento acelerado da inovação e tecnologia, a maior digitalização e o uso de software nos negócios, a necessidade de diversificar a economia local, o foco crescente na Grande Baía como um polo de inovação”, disse.

Em causa, estão também factores como “o esforço conjunto de entidades públicas e privadas em criar um ambiente favorável ao empreendedorismo”, algo que foi muito potenciado pelos anos de pandemia, defendeu, por ter trazido a Macau e às autoridades “uma nova compreensão sobre a importância de apoiar negócios locais e regionais, tornando este momento particularmente estratégico”.

Quem é quem

Para a sessão de hoje foram convidados “empresários e empreendedores de sucesso, alguns dos quais são líderes nas suas áreas”, sendo que a sua “experiência e inteligência acrescentam muito a este evento”, destacou Alvin Fong.

Já Marco Duarte Rizzolio, frisou que estarão presentes “pessoas interessadas em tecnologia e inovação, incluindo alguns investidores anjo, representantes de fundos de capital de risco, empresários de renome e especialistas em inovação e desenvolvimento empresarial”.

A sessão de hoje trata-se de uma “oportunidade para obter conhecimentos valiosos e ampliar a rede de contactos”, sendo que Marco Duarte Rizzolio destaca personalidades como Paulo Andrez, “reconhecido especialista internacional em empreendedorismo, inovação e investimento anjo”, ou ainda Ung Choi Kun, “figura proeminente em Macau nos sectores do imobiliário e da educação, sendo também investidor anjo em várias empresas”.

Questionado sobre as principais áreas em que se foca esta iniciativa, Rizzolio acrescenta que o acontecimento está voltado para “startups e PME que actuam em sectores como a tecnologia, o turismo inteligente, a economia verde, saúde, educação digital, logística ou finanças”, por se tratarem de “sectores com alto potencial de crescimento e que estão alinhados tanto nas necessidades locais”, nomeadamente na estratégia de diversificação económica “1+4” ou ainda “as tendências globais”.

“Queremos identificar empresas inovadoras que possam prosperar não apenas em Macau, mas também na Grande Baía e em mercados internacionais”, acrescentou este responsável que está também ligado à organização do concurso de startups e empreendedorismo, o “929 Challenge”.

Momento certo

Para Alvin Fong, Macau apresenta actualmente potencialidades para a conexão de projectos empresariais às cidades da Grande Baía, todas elas situadas na província de Guangdong.

“Macau tem muita liberdade e flexibilidade para experimentar novas ideias. Além disso, recebemos muitos turistas de todo o mundo. Sendo uma das onze cidades da GBA, Macau é, de facto, uma excelente plataforma”, frisou. Por sua vez, Marco Duarte Rizzolio fala em “características únicas” do território, “como a sua posição como ponte entre a China e os países de língua portuguesa, um ambiente regulatório estável e incentivos fiscais e financeiros que podem atrair investidores e startups”.

Existe ainda “o aumento do foco na diversificação da economia além do sector do jogo”, verificando-se “um terreno fértil para inovação e novos negócios”.

“Num cenário global de taxas de juro baixas, mercados de capitais com alguma fricção geopolítica, o investimento em tecnologia tem apresentado múltiplos incomparáveis face a outros activos. Nesse contexto, a criação de mais incentivos financeiros e o fortalecimento de programas de apoio a startups são passos cruciais”, destacou o co-criador do evento.

Grande concorrência

Apesar das potencialidades, persistem os desafios, tendo em conta que “Macau não tem muitas vantagens além do sector do jogo”, existindo “uma concorrência intensa na Grande Baía”, alertou Alvin Fong.

Para Marco Duarte Rizzolio “os desafios são significativos”, pois “a transição de uma economia tão dependente do sector do jogo para um modelo mais diversificado leva tempo e exige esforços coordenados”.

Há ainda que ter em conta as oportunidades que surgem com a integração da RAEM na ilha de Hengqin, adiantou Rizzolio, que recorda, porém, “os desafios relacionados à competitividade e a adaptação regulatória”.

“Além disso, a remodelação habitacional e comercial exige equilíbrio entre o crescimento económico e a preservação do tecido social local. É essencial criar políticas que incentivem o empreendedorismo e o investimento, minimizando os impactos negativos dessas transformações”, lembrou.

Questionados sobre se as autoridades têm feito o suficiente na captação de investidores-anjo, ambos defendem que há mais trabalho a fazer. “Este é um bom começo, mas mais pode ser feito no futuro”, disse Alvin Fong.

Já Marco Duarte Rizzolio, referiu que “o Governo da RAEM tem feito esforços importantes”, além de mencionar “várias vezes a necessidade de criar uma rede de ‘Business Angels'”.

“Macau tem apoiado muitas iniciativas que visam estimular o investimento. É verdade que a criação de mais incentivos financeiros e o fortalecimento de programas de apoio a startups são passos cruciais. Também é necessário promover Macau de forma mais activa como um destino atractivo para investidores, destacando as suas vantagens competitivas no cenário internacional. Este evento é um exemplo de boa colaboração entre o sector público e privado para estimular o ecossistema”, defendeu Rizzolio.

Destaque ainda para o facto de o evento de hoje se realizar em estreita conexão com a 369, uma entidade que pretende transformar-se “num hub internacional de ciência e tecnologia em Macau, dando às novas gerações um palco maior de exploração” de oportunidades, disse Alvin Fong, presidente desta entidade. Marco Duarte Rizzolio salientou que estamos perante “uma incubadora do ecossistema de Macau que tem organizado vários eventos”.

16 Jun 2025

10 de Junho | Alexandre Leitão destaca fim das listas de espera no Consulado

Realizou-se ontem, na residência consular na Bela Vista, a habitual cerimónia de celebração do 10 de Junho – Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas. Alexandre Leitão, cônsul, destacou o fim das listas de espera no Consulado e a modernização de alguns serviços, referindo que Portugal está pronto para promover laços económicos mais fortes com a RAEM

 

Depois de anos em que renovar o cartão de cidadão ou o passaporte poderia constituir um pequeno grande problema para cidadãos portugueses a residir na RAEM, eis que esse assunto parece estar resolvido. Alexandre Leitão, Cônsul-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, mostrou ontem ser um homem satisfeito ao falar dos últimos feitos conseguidos no funcionamento do Consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, isto a propósito das comemorações do 10 de Junho – Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas.

“Depois de dois anos de intensa concentração na normalização dos serviços consulares, eliminámos listas de espera no domínio da emissão de cartões de cidadão e passaportes”, referiu.

Segundo Alexandre Leitão, “os utentes voltaram a ter acesso a 90 por cento dos serviços sem obrigatoriedade de marcação prévia, introduzimos meios de pagamento electrónico, reduzimos drasticamente os tempos de resposta e de encaminhamento após a admissão dos processos, e reorganizamos os recursos humanos e procedimentos”.

O cônsul não esqueceu a equipa do Consulado, “que é constituída, quase na íntegra, por macaenses que têm reagido positivamente aos sucessivos desafios que lhes têm sido apresentados”, destacando também que “em 15 meses foram emitidos ou renovados 55 mil cartões de cidadão e passaportes, o que também demonstra a dimensão da comunidade portuguesa de Macau e de Hong Kong”.

Portugal com valor

Assim, o responsável disse poder “com segurança afirmar que o essencial, do ponto de vista estritamente consular, está feito”, mas que pretende apostar no “aprofundamento das relações diplomáticas, económicas e culturais de Portugal com as regiões administrativas especiais” de Macau e Hong Kong.

Dirigindo-se ao Chefe do Executivo em exercício, Sam Hou Fai, Alexandre Leitão lembrou que o governante “tem defendido a aceleração da abertura e da diversificação da economia” local e que, desse ponto de vista, Portugal tem um papel privilegiado a cumprir.

“Portugal tem o mesmo desígnio, o que nos torna, mais uma vez, irmanados num propósito comum: crescer e diversificar as nossas economias, internacionalizando-as para benefício dos nossos povos. As empresas portuguesas estão preparadas para aproveitar a ‘postura mais aberta e inclusiva para intensificar laços internacionais e aumentar a projecção e atractividade globais e o renome de Macau como metrópole internacional'”, citou, destacando que “todos, na RAEM, estão conscientes do contributo das empresas e dos trabalhadores portugueses para o crescimento e qualidade dos serviços da economia de Macau”.

O cônsul foi claro ainda ao dizer a Sam Hou Fai que “pode contar com a comunidade portuguesa para participar activamente no ambicioso desígnio de diversificação económica da RAEM”.

Alexandre Leitão não esqueceu o último grande investimento chinês em Portugal, nomeadamente em Sines, por parte da CALB – China Aviation Lithium Battery, sendo “o maior da década”, o que “demonstra a confiança das grandes empresas chinesas e do mundo na qualidade e capacidade de Portugal como destino preferencial de investimento”.

Camões, o grande

Tendo em conta que prosseguem inúmeras comemorações dos 500 anos do nascimento de Luís Vaz de Camões, Sam Hou Fai trouxe o poeta português para o seu discurso na cerimónia de ontem na Bela Vista. “Os fortes e profundos laços históricos entre Portugal e Macau já são conhecidos por todos, e encontram-se reflectidos neste dia, pois hoje celebra-se também o maior poeta português que viveu uns anos em Macau e fez parte dos primeiros momentos deste encontro histórico de dois povos.”

“Nunca é demais recordar que é por conta deste encontro centenário de culturas, nesta ‘janela para o exterior’ da China, que surge a ‘singularidade’ de Macau enquanto ‘único local do mundo que tem como línguas oficiais o português e o chinês’, como foi expressamente sublinhado pelo Presidente Xi Jinping”, destacou ainda o Chefe do Executivo.

Sam Hou Fai não esqueceu ainda o “empenho e compromisso do Governo da RAEM na concentração de esforços para a construção de uma plataforma de abertura ao exterior de nível mais elevado”, bem como o “reforço da abertura bilateral com a lusofonia e na promoção de uma cooperação abrangente de benefícios mútuos, que enriqueça e alargue ainda mais o papel e as funções de Macau enquanto plataforma sino-lusófona”.

As palavras do Chefe do Executivo referiram ainda a defesa “das características multiculturais de Macau” e na promoção do “desenvolvimento em todas as vertentes, procurando assegurar e melhorar continuamente o bem-estar de todos os residentes de Macau, incluindo as comunidades portuguesas em Macau”.

11 Jun 2025

Casinos-satélite | Governo diz que impacto de encerramento será controlado

É oficial: os 11 casinos-satélite vão mesmo encerrar portas até 31 de Dezembro deste ano, sendo que a Melco e a Sociedade de Jogos de Macau anunciaram já os planos de reestruturação. No tocante aos trabalhadores afectados, o Governo apresenta números inferiores aos já referidos por deputados e associações: 5.600. Espera-se ainda algum impacto nas PME, mas sem grande consequência para bancos

 

Depois de muita especulação, eis que finalmente as autoridades e as operadoras de jogo anunciaram o que de facto vai acontecer com os 11 casinos-satélite operados no território. Vão todos fechar, sendo que a Sociedade de Jogos de Macau (SJM) Resorts e a Melco já definiram os planos para o que se segue, que inclui aquisições do L’Arc e da Ponte 16, bem como a transferência de trabalhadores e máquinas de jogo.

O Executivo apresentou ontem, em conferência de imprensa, números de trabalhadores afectados com o fecho dos casinos-satélite abaixo dos já referidos por associações do sector. Serão, afinal, 5.600 e não mais de dez mil como disseram alguns deputados ligados a estas entidades, sendo que, deste bolo, 4.800 trabalhadores foram directamente contratados pelas operadoras de jogo, pelo que, se o casino-satélite fechar, poderão ser integrados nos seus quadros. Os restantes, 800, foram contratados directamente pelos próprios casinos-satélite. Existem ainda 400 trabalhadores não residentes (TNR) envolvidos neste processo. No que diz respeito aos Clubes Mocha, contam-se 300 trabalhadores locais e 50 TNR.

Tai Kin Ip, secretário para a Economia e Finanças, disse que “os dados foram recolhidos por diferentes meios”, mas que os cálculos do Governo “são oficiais”. “Como os outros meios chegaram a estes dados, não sei”, acrescentou.

Questionado sobre o apoio a estes 800 trabalhadores, o secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, explicou que “os proprietários dos casinos-satélite têm a responsabilidade de garantir a relação de trabalho destas pessoas”.

“No caso dos 4.800 contratados pelas concessionárias, como é o caso dos croupiers ou funcionários de tesouraria, podem voltar a trabalhar nos casinos destas concessionárias. Em relação aos 800, as concessionárias garantiram ao Governo que se estes tiverem problemas de emprego podem absorvê-los e fornecer postos de emprego adequados nas propriedades das concessionárias”, frisou.

A deputada Song Pek Kei chegou a falar da possibilidade de existirem cerca de 15 mil desempregados, enquanto Nick Lei, numa intervenção plenária, afirmou que, entre os casinos-satélite e lojas associadas, existiam “13.500 trabalhadores”, representando “4,6 por cento do total da força laboral de Macau”.

Possibilidade de reconversão

Em relação às pequenas e médias empresas (PME) situadas nos bairros que vão deixar de contar com estes casinos-satélite, nomeadamente em zonas como o Porto Interior, ZAPE, NAPE ou Doca dos Pescadores, o Governo prevê algum impacto, mas controlado. São, no total, 320 lojas que funcionam nas imediações com 800 trabalhadores, sendo que “cerca de 400 trabalhadores terão outra situação de emprego segundo a reconversão das lojas”, disse o secretário Tai Kin Ip.

Essencialmente, e após realização de vistorias por parte do Governo, metade das 320 lojas “serão afectadas directamente pelo fecho dos casinos-satélite, como as casas de penhores, lojas de venda de telemóveis, restaurantes e joalharias”. Porém, Tai Kin Ip destacou que haverá outras que não sofrerão grande impacto por dependerem de vendas a residentes.

Acima de tudo, o governante destacou que este cenário até pode constituir uma oportunidade. “Vai ser um desafio e uma oportunidade para a reconversão das lojas. As lojas tradicionais que têm uma relação próxima com os clientes dos casinos satélite têm de se reconverter. Vamos preparar apoios para as lojas que têm interesse em operar de outra forma, como os restaurantes ou lojas a retalho”, explicou.

Destaque para o facto de a consultora de hotelaria Savills ter referido, em Março, que o fecho dos casinos-satélite iria desvalorizar os hotéis em 60 por cento e provocar maior incumprimento aos bancos por parte das PME, com obrigações de crédito à banca avaliadas entre 25 e 39 mil milhões de patacas.

Tai Kin Ip desvalorizou esse cenário. “Do conhecimento que temos, os empréstimos concedidos a casinos-satélite envolvem menos de 1 por cento de toda a actividade de empréstimos bancários, e verificamos que os riscos são muito limitados para o funcionamento dos bancos. Em termos de indicadores de supervisão de riscos na indústria financeira, como fluxo de capitais e outros, o comportamento dos bancos será seguro e estável.”

Quanto às PME, Tai Kin Ip disse que a Autoridade Monetária e Cambial de Macau está a “acompanhar de perto a situação junto dos bancos para atenuar a recuperação dos clientes”, tendo o secretário adiantado que, em Abril, foram injectadas “dez mil milhões de patacas para empréstimos às PME, atenuando as suas pressões”.

Questionado sobre o “timing” de apresentação destas medidas, André Cheong disse que é a altura certa. “Tudo depende das decisões das concessionárias e recebemos agora oficialmente a decisão. Este é um problema que tem a ver com vários casinos e um número considerável de trabalhadores, e não queríamos que apenas no final do ano estes soubessem da sua situação. Faltando seis meses para terminar o período de transição entendemos que esta é a fase indicada para anunciar”, rematou.

Sem impacto nas receitas

Tendo em conta a revisão orçamental para este ano com menos 12 mil milhões de patacas na previsão das receitas de jogo, André Cheong garantiu que o fecho dos casinos-satélite não terá grande impacto no panorama geral das receitas.

“Fizemos a revisão orçamental com menos 12 mil milhões de patacas devido à falta de consumo. Acreditamos que o encerramento dos casinos satélite não traz grande impacto às receitas do jogo”, disse.

O secretário frisou ainda que, quanto à intenção da SJM Resorts de adquirir os empreendimentos Ponte 16 e L’Arc, a concessionária “tem de concluir esse procedimento de aquisição até 31 de Dezembro, e se não conseguir comprar até lá esses casinos-satélite [que operam nos empreendimentos] têm de encerrar”.

9 Jun 2025

Cheques pecuniários | Ex-beneficiários defendem melhores critérios de atribuição

Tendo em conta as mudanças ao plano de comparticipação pecuniária, o HM ouviu três residentes permanentes que vão deixar de receber o cheque por não residirem permanentemente em Macau, incluindo uma macaense que nasceu no território. Arnaldo Gonçalves, académico e ex-beneficiário, defende uma melhor distribuição do apoio consoante os rendimentos das famílias

 

As regras para a atribuição dos cheques pecuniários vão mudar e agora é mesmo necessário estar 183 dias por ano no território. As excepções são algumas e prendem-se com estudantes de Macau que estejam a frequentar cursos no estrangeiro ou residentes a trabalhar remotamente para Macau e que estejam inscritos no Fundo de Segurança Social, entre outras situações.

Porém, muitas pessoas vão ficar de fora, ainda que tenham residido durante várias décadas no território ou mesmo macaenses nascidos no em Macau, ou seja, muitos dos membros da diáspora macaense.

No caso de Arnaldo Gonçalves, residente permanente a residir em Lisboa, viveu várias décadas em Macau, tendo trabalhado para o Governo e sido professor universitário na área da ciência política. Há seis anos voltou a Portugal, estando reformado, e contou ao HM que já estava à espera do dia em que ia deixar de receber as dez mil patacas anuais.

“Essa medida visa, no fundo, dar uma contrapartida às pessoas, dadas as dificuldades existentes no consumo e as características de vida. Já não vivo em Macau, e acho que do ponto de vista da equidade, o Governo nunca conseguiu fazer um regime mais justo do ponto de vista distributivo, pois não há um sistema de atribuição pelos rendimentos, e no fundo há multimilionários que ganham o subsídio, tal como os pensionistas, é tudo igual”, lamentou. É isso que Arnaldo Gonçalves diz “lamentar”. “Dá trabalho fazer uma avaliação das posses económicas das pessoas, e assim todos recebem por igual e assim é mais prático em termos administrativos”, frisou.

Maria João Ferreira, macaense de gema, filha do famoso poeta Adé, também vai deixar de receber o cheque pecuniário. Diz compreender, mas também critica as posições do Executivo. “Já estava à espera e aceito com toda a tranquilidade. É justo, uma vez que não moro lá nem tenho hipótese de estar os 183 dias. Agradeço o tempo de cheques que me foi dispensado. Morei em Macau até aos meus 16 anos, mas nasci lá, estudei lá e ainda tenho lá família. Até à pandemia ia lá todos os anos de férias. Penso que sempre devia ter havido uma distinção entre os nascidos em Macau e os que apenas trabalharam lá algum tempo”, referiu.

Maria João Ferreira, actualmente na direcção da Casa de Macau em Lisboa, diz ter ficado “chocada” com um caso muito concreto. “Há uns anos, quando estava a fazer o doutoramento, soube de um funcionário público que fez duas comissões de serviço em Macau e viu-se contemplado com o dinheiro do BIR e até contou, não apenas a mim, que achava engraçado como é que ele, tendo estado lá tão pouco tempo, tinha direito a uma benesse dessas”, frisou.

“Isso é que eu acho mal. Uma coisa é alguém ir fazer uma comissão de serviço na Administração Pública, ou duas ou três, mas nunca foi, de facto, residente. É, por assim dizer, um imigrante, pois vai apenas trabalhar. É assim que vejo as coisas”, acrescentou.

Patacas amealhadas

Para Arnaldo Gonçalves, as dez mil patacas anuais serviam como “fundo de maneio” para viagens ao território, onde ainda tem família e para onde viaja com frequência. “Nunca usei esse dinheiro para fins pessoais, sabe? Mas penso que estas mudanças se tratam de uma boa medida, justificável, e até acho egoísta da minha parte, que estou há tantos anos fora, dizer que tinha direito a esse apoio. Há outras pessoas que precisam”, salientou.

No caso de Maria João Ferreira, o dinheiro do cheque pecuniário era usado também para as despesas em Macau e com as viagens para o território. “Tenho conta em Macau, e quando ia lá, se fosse preciso comprar o bilhete de avião, a minha irmã adiantava-me o dinheiro cá, ou então esse dinheiro servia para custear a minha estadia em Macau”, explicou.

Sofia Mota, residente permanente e ex-moradora em Macau, lamenta a ausência de explicações para estas mudanças. “Depende para que serve o cheque pecuniário, se é uma forma de distribuir a riqueza ou os lucros dos casinos pelas pessoas que fazem parte do território, ou que já fizeram; ou se é uma condição para fazer parte do território. Não percebo a premissa na qual a medida do cheque pecuniário está assente, e consoante a premissa estas alterações podem ser mais ou menos aceitáveis.”

A professora considera que “não faz sentido que quem contribui para a segurança social por iniciativa própria, como é o meu caso, não esteja abrangido”. “Parece que há um sistema de segurança social de primeira e um de segunda. Pessoas que venham a Portugal para prestar cuidados familiares parecem não estar abrangidas e, no entanto, estão fora do território por motivos de força maior. O que se entende por prestar subsistência a familiares, é prestar cuidados? Não se percebe qual a função do cheque e a coerência das excepções”, adiantou.

Sofia Mota confessa que também usava o dinheiro para “um fundo de maneio para ir a Macau, ou para investir em formação”.

As primeiras reacções

As alterações ao programa de comparticipação pecuniário foram apresentadas no final de Maio e referem que três grupos vão ficar isentos da obrigatoriedade de ficar 183 dias por ano em Macau e, assim, receber o cheque. São eles os residentes com menos de 22 anos em 2024 e em que um dos pais cumpre os requisitos para receber o cheque; os beneficiários da pensão de invalidez e os beneficiários do subsídio de invalidez.

Há outras oito situações em que os residentes podem ter acesso ao cheque. É o que acontece quando os residentes frequentam o ensino superior fora do território; quando estão internados num hospital fora da RAEM, quem têm mais de 65 anos e vive no Interior da China ou, mesmo tendo menos de 65 anos, apresentam razões de saúde que justifiquem a permanência no Interior da China. Estão ainda abrangidos pelas excepções os residentes que trabalham fora de Macau para um empregador registado no Fundo de Segurança Social da RAEM e os residentes fora da RAEM que sejam responsáveis pela subsistência do agregado familiar.

A estas juntam-se ainda o exercício de funções oficiais fora de Macau; o registo do domicílio, trabalho ou estudo na Zona de Cooperação Aprofundada; e ainda o trabalho prestado nas cidades de Grande Baía, à excepção de Hong Kong que é deixada de fora.

O deputado Pereira Coutinho manifestou-se contra as alterações ao cheque pecuniário referindo que violam a Lei Básica de Macau, nomeadamente no artigo 25, que garante a igualdade dos residentes de Macau perante a lei e proíbe discriminações. O artigo determina que “os residentes de Macau são iguais perante a lei, sem discriminação em razão de nacionalidade, ascendência, raça, sexo, língua, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução e situação económica ou condição social”.

Mais recentemente, a Associação Sinergia de Macau declarou publicamente que as alterações ao Plano de Comparticipação Pecuniária no Desenvolvimento Económico não estão de acordo com os anseios da população. Ron Lam ainda criticou o Executivo por ter aplicado as mudanças “à pressa” o que só veio causar mais polémica: “O Governo estava com pressa e aplicou uma medida brusca, sem fazer qualquer consulta pública, havendo apenas movimentações de bastidores o que leva a população a questionar a governação”, atirou. “As consultas com as associações locais foram simuladas, o que apenas gerou mais críticas e provocou mais polémicas desnecessárias”, acrescentou.

9 Jun 2025

Ambiente | Macau regista novo máximo de temperaturas em 2024

A Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental lançou ontem novos dados relativos ao panorama do meio ambiente no território, no Relatório do Estado do Ambiente de Macau 2024. Os dados não são animadores: registou-se no ano passado um novo recorde máximo de temperaturas, mais chuva e tufões. Gastou-se mais electricidade e água, produziu-se mais lixo e foi recolhido menos resíduos recicláveis

 

Com Lusa

O Governo de Macau, através da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) anunciou ontem que o ano de 2024 voltou a atingir um recorde máximo de temperatura no território, além de que também se registou um aumento de tufões e precipitação.

Segundo o Relatório do Estado do Ambiente de Macau 2024, a temperatura média no ano passado foi de 23,6°C, precisamente o valor que tinha sido atingido em 2019, o mais elevado desde que começaram os registos, em 1952. A temperatura média de 2024 foi 0,8°C mais elevada do que a média climatérica (média de 30 anos, entre 1991 e 2020), de acordo com o documento elaborado pela DSPA.

Além disso, Macau registou 42 dias considerados como quentes no ano passado, mais 10,7 dias do que a média climatérica, 29 noites quentes, mais 17,5 do que a média, e 29 dias frios, menos 10,1 dias do que a média.

Os Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) classificam como quentes os dias em que a temperatura máxima é igual ou superior a 33ºC e as noites em que a temperatura mínima é de, pelo menos, 28ºC. Quanto aos dias considerados frios, são aqueles em que a temperatura mínima não excede os 12ºC.

“Com o aquecimento global, a ocorrência de fenómenos meteorológicos extremos é cada vez mais frequente”, sublinhou a DSPA, no relatório.

Em 2024, Macau foi afectado por sete ciclones tropicais, conhecidos como tufões, e, pela primeira vez, três ciclones tropicais afectaram Macau em Novembro, o último mês da época dos tufões, que começa em Maio.

De acordo com o relatório, a região recebeu no ano passado uma precipitação total de 2.029,2 milímetros, “ligeiramente superior à média climatérica”. A DSPA adiantou também que, desde 1970, o nível do mar em Macau tem subido a uma taxa média de cerca de 3,5 milímetros por ano.

Também a nível mundial, 2024 foi o ano mais quente de que há registos e ultrapassou pela primeira vez os 1,5°C acima do nível pré-industrial, avançou em Janeiro o serviço europeu Copernicus. Na semana passada, a Organização Meteorológica Mundial previu que as temperaturas devem continuar a atingir valores recorde até ao final da década.

Mais pessoas, mais gastos

O relatório da DSPA dá ainda conta de que com a chegada de mais turistas a Macau, houve também mais resíduos e gastos ao nível do consumo de água, por exemplo. “Com a melhoria da economia, o número de visitantes, em 2024, aumentou 23,8 por cento em termos anuais, para quase 35 milhões, tendo recuperado cerca de 90 por cento do nível pré-pandemia. A intensidade turística também registou um certo aumento, tendo o PIB [Produto Interno Bruto] local subido 8,8 por cento. Além disso, houve um ligeiro aumento da população no final do ano.”

Desta forma, acrescenta-se, “em relação aos indicadores ambientais, o crescimento económico e da população conduziu à subida das emissões locais estimadas de gases com efeito de estufa, do volume de água facturada, do consumo de electricidade e da quantidade de resíduos sólidos urbanos, comparativamente com 2023”. “Durante a pandemia, houve uma diminuição nos diversos indicadores económicos e ambientais. No entanto, com a melhoria constante da economia, a maioria desses indicadores voltou a subir”, é explicado.

No que diz respeito ao volume de água facturada, em milhares de metros cúbicos, em 2023 o registo foi de 89.164 e, no ano passado, 94.123, o que constitui um aumento de 5,6 por cento. No tocante ao consumo de electricidade, em milhões de kW/h, em 2023 foi de 5.740, enquanto que em 2024 o consumo passou para 6.030, mais 5,1 por cento. O relatório destaca também as toneladas de resíduos sólidos urbanos produzidos, que em 2023 foi de 501.512, subindo 5,1 por cento no ano passado, para 526.979 toneladas.

Outro dado preocupante ao nível dos resíduos foi a queda, pelo terceiro ano consecutivo, do volume de resíduos recicláveis recolhidos, que passou de uma taxa de 24,5 por cento em 2021 para 21,7 por cento no ano passado. Trocado por miúdos, de todos os resíduos recicláveis gerados em Macau, apenas cerca de um quinto são recolhidos para reciclagem.

No relatório, Ip Kuong Lam, director da DSPA, indica que no ano passado, “com a recuperação económica em curso, observou-se uma maior pressão sobre vários indicadores ambientais, ao mesmo tempo que as alterações climáticas se tornaram mais severas”. Apesar dos resultados, o responsável afirmou que os objectivos passam por “incentivar uma maior participação da população nas iniciativas ambientais e concretizando, em conjunto, a visão de construir uma Macau com baixas emissões de carbono”.

Uma questão de gases

O relatório divulgado ontem pela DSPA dá ainda conta do panorama da emissão dos gases com efeitos de estufa (GEE), tendo-se verificado, no ano passado, um aumento global de “cerca de dez por cento, entre os quais o dióxido de carbono (C02), que representaram 90 por cento”.

Destaca ainda a DSPA que “as emissões estimadas de GEE provenientes das diversas fontes registaram subidas face ao período homólogo (2023), exceptuando os resíduos depositados em aterros, tendo os aumentos mais significativos sido verificados nas emissões estimadas provenientes da produção local de electricidade e dos transportes aéreos”.

Além disso, é referido que, em 2024, a principal fonte de emissão de GEE e CO2 foram os transportes terrestres, seguindo-se a produção local de electricidade, a incineração de resíduos, o comércio, consumo doméstico e os serviços. “As principais fontes de emissão de CH4 [metano] foram os resíduos depositados em aterros e o tratamento de águas residuais, enquanto este último também foi a principal fonte de emissão de N2O [óxido nitroso]”, destaca-se ainda no documento.

A DSPA esclarece, relativamente à tendência da emissão de GEE, que “depois de terem atingido o pico em 2017, as emissões locais de GEE mostraram uma tendência decrescente, ano após ano, tendo alcançado o seu valor mais baixo durante a pandemia”. Porém, com a retoma das actividades económicas e do grande movimento de pessoas, sobretudo “nos últimos dois anos, o volume das emissões estimadas desses gases tem voltado a subir gradualmente”.

O ar que respiramos

Também no que diz respeito à qualidade do ar os dados não são animadores, pois em 2024 “o número de dias com a qualidade média do ar classificada de ‘bom’ ou ‘moderado’ registado nas seis estações de monitorização da qualidade do ar de Macau chegou a 88 por cento, valor ligeiramente inferior ao de 2023”.

Houve, no total do ano, 15 a 34 dias com classificação de “insalubre”, sendo que apenas dois dias obtiveram a classificação de “muito insalubre”.

Segundo a DSPA, “os poluentes detectados nas estações de monitorização do ar foram principalmente ozono (O3) e partículas finas em suspensão (PM2,5)”, enquanto “na Estação da Berma da Estrada (Ká-Hó), foi registado o índice mais alto detectado no ano inteiro, classificado de ‘muito insalubre’, sendo o O3 o poluente principal”.

No ano passado, Julho foi o mês com melhor qualidade do ar, enquanto os meses de Outubro a Dezembro obtiveram a pior qualificação segundo dados das estações de monitorização do ar de Macau.

O relatório revela também que “em termos do cumprimento dos padrões das concentrações de poluentes atmosféricos, em 2024, as concentrações médias anuais de PM10 e PM2,5 registadas nas várias estações de monitorização foram inferiores aos valores padrão”, enquanto “as concentrações médias anuais de dióxido de azoto (NO2) detectadas também se situaram abaixo dos valores padrão, com excepção daquelas medidas na Estação da Berma da Estrada (Macau) e na Estação das Áreas de Alta Densidade Habitacional (Macau)”.

Dados mais optimistas revelam-se ainda “quanto às médias diárias de concentrações de dióxido de enxofre (SO2) e às médias máximas diárias de oito horas de concentrações de monóxido de carbono (CO) verificadas nas várias estações ao longo do ano”, pois “ambas ficaram abaixo dos valores padrão”.

“Em todas as estações houve registo de as médias máximas diárias de oito horas de concentrações de O3 terem excedido os valores padrão em alguns dias. Em relação às concentrações de poluentes atmosféricos registadas nas estações de monitorização, de um modo geral, as concentrações médias anuais de PM2.5 e de NO2 subiram, enquanto as concentrações de PM10 e de CO desceram”, sendo que “como na Estação da Berma da Estrada (Macau) só em 2024 é que começaram a ser monitorizados o SO2 e o O3, não foram feitas comparações”.

6 Jun 2025