Hoje Macau EventosArquitectos de língua portuguesa lançam segunda edição de concurso de fotografia O Conselho Internacional dos Arquitectos de Língua Portuguesa (CIALP) lançou, após três anos de interregno, a segunda edição de um concurso de fotografia, para arquitetos e estudantes, dedicada ao tema “Ser Sustentável no Espaço Lusófono”, foi anunciado. Em comunicado, o CIALP sublinha que o concurso é este ano um “duplo desafio de reflexão sobre os conceitos de sustentabilidade e de lusofonia”. A sustentabilidade, “de tão obviamente necessária à vida, à nossa e à das coisas, parece muitas vezes ser quase esquecida”, lamentou o conselho. A arquitectura “tem um papel fundamental” na procura das soluções “para os muitos problemas com que a humanidade está confrontada”, disse o CIALP. As inscrições estão abertas até 17 de março, sendo que os premiados serão anunciados durante o mês de abril. O júri inclui arquitetos de Angola, Brasil, Macau, Moçambique e Portugal. Os autores da melhor fotografia nas duas categorias – arquiteto e estudante – receberão um prémio no valor de 400 euros. A imagem vencedora da categoria estudantes será ainda exposta na próxima Bienal de Jovens Criadores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), cuja 10.ª edição deveria ter acontecido em julho de 2021, na cidade da Praia, capital de Cabo Verde. A primeira edição do concurso de fotografia do CIALP, organizado em 2019, recebeu 97 candidaturas. O vencedor entre os arquitetos foi o português Nuno Simão Gonçalves, com uma fotografia da Fortaleza São Sebastião, na Ilha de Moçambique. Entre os estudantes o premiado foi o brasileiro Gabriel Guerra Konrath, com uma imagem da Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre. O CIALP tem como membros as ordens ou organismos profissionais de arquitetos de Angola, Brasil, Cabo Verde, Goa, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. A organização não-governamental representa “mais de 230 mil arquitectos”, o que corresponde “a 18% dos arquitectos mundiais”, disse à Lusa em julho o presidente do CIALP, Rui Leão, arquiteto radicado em Macau. O CIALP, fundado em 1991, é uma associação de direito privado sem fins lucrativos, com sede em Lisboa, é parceiro institucional da União Internacional dos Arquitectos (UIA) e observador consultivo da CPLP.
Andreia Sofia Silva EventosAna Saldanha, académica: “Debate sobre libertação das mulheres foi importante no PCC” Ana Saldanha fala hoje, na Fundação Rui Cunha, às 18h30, sobre a evolução do papel da mulher na sociedade chinesa ao longo do século XX. A palestra, integrante da Semana da Cultura Chinesa, aborda vários períodos históricos, desde a queda do Império à chegada do comunismo. A académica frisa que os avanços significativos nos direitos das mulheres, por intermédio do PCC, remontam aos anos 30 Como evoluiu a posição da mulher chinesa entre a queda do Império e o período da República? A China Imperial regia-se pelos princípios patrilinear e da hierarquia social, sendo que ambos constituíam uma herança do pensamento confucionista. A mulher encontrava-se subordinada ao homem e dever-se-ia submeter à sua autoridade, sendo a linhagem da família assegurada pelos membros masculinos. Tendo em conta que as funções da mulher se circunscreviam ao círculo familiar, as virtudes femininas (socialmente consideradas) remetiam para a obediência, a docilidade ou a castidade. Não é, assim, por acaso que, no final do século XIX, quando assistimos, ainda no final da Dinastia Qing, ao nascimento de um movimento feminista chinês, a herança confucionista será um dos alvos de contestação. Que papel teve este movimento? Ainda que brotando das entranhas das classes mais abastadas e tenha nascido sob o impulso de mulheres que tiveram a possibilidade de estudar no exterior, o movimento feminista chinês vai lançar o debate, no seio da tradicional sociedade chinesa, sobre a condição e a posição social das mulheres. Quais as principais reivindicações à época? O direito a uma educação para as mulheres, direitos iguais, perante a lei, e a abolição dos pés enfaixados (um acto que remontava à dinastia Song e que pretendia demonstrar, no seio de uma determinada comunidade, a riqueza de uma família). Todas estas reivindicações têm a particularidade de unir o feminismo com o patriotismo, já que se considerava que o facto de as mulheres terem acesso à educação permitiria que os seus filhos pudessem ter uma melhor formação, o que, afirmavam as feministas chinesas, conduziria a uma melhoria qualitativa do nível de conhecimento e de formação do povo chinês. Ainda que, do ponto de vista legal, a educação feminina tenha o seu início formal em 1907, será necessário aguardar pela instauração da República, em 1912, para que se verifique, de facto, uma evolução qualitativa na condição da mulher no seio da sociedade chinesa. Houve mudanças a nível jurídico, por exemplo? O debate iniciado no final do século XIX acaba por surtir um efeito legislativo na China republicana, pelo que, a partir de então, o enfaixamento dos pés é proibido e as escolas passam a poder ser mistas. Não obstante, a Constituição elaborada pela Assembleia Legislativa de Nanjing, e tornada pública a 11 de Março de 1912, não prevê, por exemplo, o sufrágio feminino ou a elegibilidade das mulheres, o que constituiu um motivo de desapontamento para as sufragistas chinesas. Apesar disso, a mulher, no plano social e jurídico, vai assumindo um novo papel, pelo que podemos falar de uma evolução, a qual, no contexto chinês, passa por uma libertação da mulher das amarras patriarcais, herdadas, em parte, do confucionismo. Em 1915, a emancipação das mulheres vai encontrar-se no centro de vários debates, discutindo-se temas como a denúncia da moral confucionista, o casamento, o concubinato ou o encorajamento do suicídio feminino, em nome da virtude e da lealdade. A discussão aprofunda-se aquando do movimento 4 de Maio de 1919, momento este que podemos considerar como o ponto alto na história do feminismo na China. Em que sentido? Aprofunda-se uma reflexão sobre o papel das mulheres na sociedade, a necessidade da sua libertação, a castidade e virgindade (duas virtudes consideradas fundamentais na China tradicional) ou a desigualdade sexual. O debate sobre a condição feminina vai, depois, a partir de 1921, ser levado para o interior do Partido Comunista Chinês (PCC). Aliás, muitos dos autores que colaboram na imprensa vanguardista pós-movimento 4 de Maio e que defendem a libertação da mulher na sociedade chinesa serão activos militantes comunistas. Com efeito, estes futuros membros do PCC (como Chen Duxiu, Chen Wangdao ou Qu Qiubai) concluem que é necessário operar-se uma mudança sócio-políticapara que a mulher, na China, possa alcançar uma nova posição social. Na China de Mao os direitos das mulheres eram abordados ou simplesmente ignorados pelo poder? Como referi, o debate sobre a libertação das mulheres passa a constituir um elemento importante no seio do Partido Comunista Chinês, e isto logo após a sua fundação, em 1921. Quando, no final da década de 1930, o PCC domina algumas zonas rurais, os comunistas vão, desde logo, integrar as mulheres nas actividades políticas e económicas. O PCC enceta, assim, um movimento socio-político vanguardista, libertando a mulher da esfera patriarcal e familiar e trazendo-a para a esfera pública. Depois da revolução chinesa, em 1949, a RPC aprova matéria legislativa que pretende colmatar as diferenças, perante a lei, de homens e mulheres. Esta legislação herdou, aliás, muito daquilo que havia sido estipulado nos regulamentos aprovados durante a década de 1930. A lei do voto garante o direito de voto das mulheres e estipula-se, por exemplo, que as mulheres recebam o mesmo salário que os homens, pelo mesmo trabalho, assim como direitos de propriedade e de acesso ao trabalho iguais. Sendo consideradas, tal como os homens, como parte da força de trabalho, as mulheres são chamadas a participar na construção da nova sociedade socialista, buscando-se atingir uma igualdade, de facto, por meio da transformação da sociedade. Os direitos das mulheres não apenas não foram ignorados, como após 1949 se iniciou um processo social, político e jurídico com o objectivo de terminar com as desigualdades existentes entre homens e mulheres, nas diferentes esferas da sociedade. A abertura do país ao mundo, desde Deng Xiaoping, trouxe um maior alerta sobre os direitos das mulheres no geral, mas sobretudo em matéria de direitos laborais? As transformações mais marcantes, no plano legislativo, datam da década de 1980, sobretudo depois da aprovação da Constituição de 1982, durante o mandato de Deng Xiaoping. A Lei Fundamental da RPC vai enquadrar medidas em defesa dos direitos das mulheres, consagrando a igualdade entre mulheres e homens, em todas as esferas da vida, os mesmos direitos no acesso a um trabalho, a promoção do acesso das mulheres a cargos de responsabilidade, assim como disposições sobre a proteção das mulheres no trabalho. No quadro legislativo, são, ainda, de destacar, no plano jurídico, os Regulamentos de Saúde Pública (1986), os Regulamentos de Protecção do Trabalho (1988) e a Lei para a protecção e defesa dos direitos e interesses das mulheres (1992). Desta forma, podemos dizer que a pretensão de alcançar, no plano jurídico, uma igualdade plena, foi, finalmente, alcançada, com a aprovação da Constituição que, em 1992, veio substituir a Constituição de 1978, e pelos diplomas legais aprovados depois desta data. Houve uma evolução da representação da mulher em áreas como a arte e literatura? Na China as primeiras escolas femininas remontam ao final do século XIX, sendo que o governo imperial apenas legaliza a educação feminina em 1907. Neste sentido, durante séculos, o acesso à leitura e escrita era apanágio, sobretudo, de homens. Destes, apenas aqueles que pertenciam às classes mais abastadas àquelas tinham acesso. Por outro lado, até ao século XX e ao surgimento das primeiras escolas, as mulheres letradas pertenciam, também elas, às classes mais favorecidas da sociedade. Estávamos, assim, perante uma situação em que a grande maioria da população era iletrada e em que o acesso à cultura – e, portanto, às manifestações artísticas -, apenas era permitido a uma minoria. No quadro desta minoria, os homens tinham um acesso privilegiado. Ora, sendo a literatura e outras manifestações artísticas parte da vida de uma determinada comunidade humana, aquelas constituem manifestações não apenas estéticas, mas também sociais, pelo que a representação que, nas diferentes artes, podemos encontrar da mulher e do homem, refletem não apenas o gosto e valores estéticos que se manifestam num determinado período sócio-histórico, como, também, a organização sócio-económica na qual aqueles valores se impõem. Naturalmente que, neste sentido, a representação que é feita da mulher evolui concomitantemente com a evolução da organização política e económica de uma determinada sociedade. Hoje, fruto da evolução sócio-política e jurídica da mulher, temos uma proliferação de autores mulheres, na China, como em todos os restantes cantos do mundo.
Hoje Macau EventosComeça a II Semana de Cultura Chinesa do Hoje Macau O lançamento de um livro sobre o poeta Li Bai, com inúmeras traduções dos seus poemas, preenche o primeiro de cinco dias Começa hoje a II Semana de Cultura Chinesa do Hoje Macau, pelas 18:30, na Fundação Rui Cunha. A sessão de abertura contará com actuação do Macau String Trio, que interpretará um extracto de “Butterfly Lovers”, de He Zhanhao e Chen Gang, e “Serenade”, de Wolfgang Amadeus Mozart. Seguidamente, será o lançamento do livro “Li Bai – A Via do Imortal”, de António Izidro, com apresentação de Frederico Rato. Trata-se de um volume editado pela Livros do Meio, profusamente ilustrado, com capa dura, marcada a prata, no qual o autor nos transporta pelos poemas e pelos sítios frequentados pelo poeta Li Bai, considerado um dos maiores de toda a literatura chinesa. Além da tradução para língua portuguesa de numerosos poemas, talvez os mais importantes da obra do poeta, o livro contém uma espécie de biografia de Li Bai e, sobretudo, a contextualização dos poemas e notas que deslindam as referências históricas e mitológicas que perpassam pelos versos do poeta, facilitando assim a compreensão do sentido de cada poema. Além disto, o volume abre com uma introdução, intitulada “Li Bai – Apontamentos Nómadas”, de Carlos Morais José, onde é feita uma análise de alguns aspectos da poesia de Li Bai (do qual aqui apresentamos uma parte); e fecha com uma extensa cronologia da História dinástica da China, que servirá no futuro como referência, a quem se interessa por estas questões. António Izidro, que foi até 2002 Chefe do Departamento de Informação do Gabinete de Comunicação Social, trabalhou durante muitos anos como tradutor oficial do Governo de Macau. Por isso, é completamente fluente em língua chinesa, falada e escrita. Assim, é a primeira vez que os poemas de Li Bai são traduzidos directamente do Chinês para Português. Por outro lado Li Bai fora também já traduzido para português por António Graça de Abreu que, além de um volume datado de 1990, uma edição do Instituto Cultural de Macau, publicou recentemente em Portugal “Cem Poemas de Li Bai”. Carlos Morais José, editor da obra, revela, no entanto, que se apresenta agora uma tradução diferente. “Esta tradução começa por ser entrelaçada com textos que contextualizam os poemas. Estes não surgem sozinhos, aparecem com um contexto, para haver uma melhor compreensão de como os poemas foram escritos e o que querem dizer. Por outro lado, cada poema tem bastantes notas para se conseguir perceber as expressões antigas. A tradução, em si, é também muito diferente daquela que foi feita pelo António Graça de Abreu, o que só enriquece o próprio conhecimento que se vai tendo do Li Bai no Ocidente, sobretudo na língua portuguesa.” Afirmando que o trabalho de Graça Abreu é “altamente meritório”, Carlos Morais José acrescenta que “Li Bai – A Via do Imortal” traz “versões dos mesmos poemas que dão uma outra visão do Li Bai”, numa vertente de complementaridade e não de substituição. No arranque da segunda edição deste evento, organizado pelo Hoje Macau e pela editora Livros do Meio, Carlos Morais José entende ser “muito importante que a comunidade lusófona em Macau faça parte da ponte que liga a China aos países lusófonos”, com a aposta na vertente cultural e não apenas nas áreas comercial e económica. “Só assim os povos se podem compreender, criando laços duradouros e evitando uma série de mal entendidos, cuja origem radica, precisamente, no desconhecimento”, rematou. Li Bai- Apontamentos Nómadas (extracto) Existe um espaço nómada, exterior às cidades ainda que no interior dos impérios. Não se trata de um território mas de um itinerário. De uma deslocação constante entre diversos pontos, pré-estabelecidos ou não. Tem as suas leis e procedimentos próprios. Não se deve considerar um espaço habitado mas frequentado. Cada itinerário tem os seus frequentadores, partilham as experiências, quer seja no deserto, na planície ou na montanha. Por vezes temem-se e defrontam-se como inimigos irredutíveis. Os itinerários cruzam-se, entrelaçam-se, formam uma rede que existe por si, capaz de garantir uma certa exterioridade relativamente aos impérios. Podemos mesmo considerar a existência de pontos de encontro: os lugares mais frequentados. Para já, um primeiro contacto com as personagens do mundo nómada de Li Bai. Os mestres Impossível ignorar a vertente e a vivência taoista do pensamento de Li Bai. A vagabundagem faz parte intrínseca dessa experiência e, nessa viagem, é obrigatória a paragem junto aos grandes mestres que vivem solitários nas montanhas, em contacto pleno com a natureza. São monges, budistas ou taoistas, eremitas, homens retirados do mundo dos outros homens, em processo de aprendizado constante. Segundo Claude Larre4, existem três vias para tentar compreender o taoísmo: a dos xamanes, a dos principais textos e a da prática pessoal. Neste contexto, interessa-nos, particularmente, a primeira. O xamanismo encontra-se difundido em todo o mundo e há quem defenda tratar-se da primeira forma coerente de estabelecer uma relação com as potências sagradas que regem o mundo e favorecem ou atormentam a humanidade. Os xamanes, em contexto amazónico, siberiano, australiano ou africano, possuem sempre características invulgares que os distinguem do resto da tribo. Existe uma certa propensão para o xamanismo da parte de alguns indivíduos, variável consoante os contextos: pode ser um defeito físico radical, a marca do diabo, como se costumava dizer na Idade Média5, um comportamento marginal como a homossexualidade em certas tribos da Amazónia6 e da América do Norte7, a loucura entre os Tunguses da Sibéria8, ou simplesmente uma vocação natural pelo conhecimento e pela medicina. Todos eles habitam fora do espaço da aldeia, fora de onde vigoram as regras da cultura, em grutas ou tendas, mas nunca ninguém sabe precisamente onde eles estão: preferem o contacto com os animais, os deuses e os mortos. Dedicam-se a experiências extáticas, procuram o êxtase, o transe, o que lhes permita uma maior e mais profunda relação com o invisível. De acordo com as definições clássicas, xamane é o mago ou feiticeiro, que viaja, que percorre o mundo dos espíritos com a ajuda do transe provocado pela música e pela dança, pelas drogas, jejuns, meditação ou mesmo pelo adorcismo. O monge taoista, isolado na montanha, apresenta algumas destas características. Marcel Granet refere que “o pensamento dos primeiros autores taoistas não pode ser explicado sem ter em conta a prática do êxtase”9. Este autor estabelece uma relação directa entre taoismo e xamanismo: “o êxtase descrito pelos pensadores taoistas (…) em nada difere do transe e dos procedimentos mágicos graças aos quais os feiticeiros chineses, herdeiros de um antigo xamanismo, acresciam a sua santidade, aumentavam o seu poder e afinavam a sua substância”10. Os mestres do taoismo dissertam longamente sobre a arte da longa vida. Trata-se de uma ideia, ainda hoje presente entre os chineses, que mergulha nas brumas do tempo e encontra a sua origem nos primórdios da religião na China. Significativamente, os ritos da longa vida surgem enquadrados pelas festas da longa noite. O taoismo, antes de ser uma especulação filosófica sobre o mundo, enquadra as suas práticas mais antigas em costumes religiosos que nunca foram sistematicamente organizados, mas que existem um pouco por toda a parte e são considerados como uma das primeiras formas de comunicação com o sagrado. Estes monges, voluntariamente desterrados nos ermos e nas montanhas, são um dos pontos de paragem dos percursos de Li Bai. O poeta refere-se à tristeza de procurar um velho mestre e não o encontrar: “Ninguém sabe dizer por onde andará o monge: apoio-me nuns pinheiros, absorto, desapontado.”11 Sob a melancolia, surge também o pressentimento de uma tristeza irreparável, relacionada com a distância entre o ego e o mundo, apesar da eterna demanda que, desta forma, adquire um carácter eminentemente trágico. Em certos poemas de Li Bai a figura do monge adquire as feições de um deus silencioso e teimosamente invisível. A sua ausência agrava a solidão do discípulo, é um acréscimo de individualidade, fornece-nos a poderosa imagem de um homem que, dolorosamente só, encara a natureza e os mistérios.
Andreia Sofia Silva Eventos MancheteComeça hoje a II Semana da Cultura Chinesa do Hoje Macau Começa hoje a II Semana de Cultura Chinesa do Hoje Macau, pelas 18:30, na Fundação Rui Cunha. A sessão de abertura contará com actuação do Macau String Trio, que interpretará um extracto de “Butterfly Lovers”, de He Zhanhao and Chen Gang, e “Serenade”, de Wolfgang Amadeus Mozart. Seguidamente, será o lançamento do livro “Li Bai – A Via do Imortal”, de António Izidro, com apresentação de Frederico Rato. Trata-se de um volume editado pela Livros do Meio, profusamente ilustrado, com capa dura, marcada a prata, no qual o autor nos transporta pelos poemas e pelos sítios frequentados pelo poeta Li Bai, considerado um dos maiores de toda a literatura chinesa. Além da tradução para língua portuguesa de numerosos poemas, talvez os mais importantes da obra do poeta, o livro contém uma espécie de biografia de Li Bai e, sobretudo, a contextualização dos poemas e notas que deslindam as referências históricas e mitológicas que perpassam pelos versos do poeta, facilitando assim a compreensão do sentido de cada poema. Além disto, o volume abre com uma introdução, intitulada “Li Bai – Apontamentos Nómadas”, de Carlos Morais José, onde é feita uma análise de alguns aspectos da poesia de Li Bai (do qual aqui apresentamos uma parte); e fecha com uma extensa cronologia da História dinástica da China, que servirá no futuro como referência, a quem se interessa por estas questões. António Izidro, que foi até 2002 Chefe do Departamento de Informação do Gabinete de Comunicação Social, trabalhou durante muitos anos como tradutor oficial do Governo de Macau. Por isso, é completamente fluente em língua chinesa, falada e escrita. Assim, é a primeira vez que os poemas de Li Bai são traduzidos directamente do Chinês para Português. Li Bai fora também já traduzido para português por António Graça de Abreu que, além de um volume datado de 1990, uma edição do Instituto Cultural de Macau, publicou recentemente em Portugal “Cem Poemas de Li Bai”. Carlos Morais José, editor da obra, revela, no entanto, que se apresenta agora uma tradução diferente. “Esta tradução começa por ser entrelaçada com textos que contextualizam os poemas. Estes não surgem sozinhos, aparecem com um contexto, para haver uma melhor compreensão de como os poemas foram escritos e o que querem dizer. Por outro lado, cada poema tem bastantes notas para se conseguir perceber as expressões antigas. A tradução, em si, é também muito diferente daquela que foi feita pelo António Graça de Abreu, o que só enriquece o próprio conhecimento que se vai tendo do Li Bai no Ocidente, sobretudo na língua portuguesa.” Afirmando que o trabalho de Graça Abreu é “altamente meritório”, Carlos Morais José acrescenta que “Li Bai – A Via do Imortal” traz “versões dos mesmos poemas que dão uma outra visão do Li Bai”, numa vertente de complementaridade e não de substituição. No arranque da segunda edição deste evento, organizado pelo Hoje Macau e pela editora Livros do Meio, Carlos Morais José entende ser “muito importante que a comunidade lusófona em Macau faça parte da ponte que liga a China aos países lusófonos”, com a aposta na vertente cultural e não apenas nas áreas comercial e económica. “Só assim os povos se podem compreender, criando laços duradouros e evitando uma série de mal entendidos, cuja origem radica, precisamente, no desconhecimento”, rematou.
Hoje Macau EventosGastronomia | Macau volta a receber cerimónia dos “50 melhores restaurantes da Ásia” O território vai receber, pela terceira vez, os prémios “50 melhores restaurantes da Ásia”, numa cerimónia online realizada dia 29 onde serão anunciados os nomes dos vencedores da edição deste ano. Além da cerimónia dos prémios, vários eventos vão decorrer em simultâneo e presencialmente em Banguecoque e em Tóquio. No fórum de gastronomia, as “50 melhores conversas”, sob o título “Espaço para pensar”, vão levar vários chefes de cozinha e profissionais do ramo a debater as características únicas da cozinha asiática e novas ideias para o desenvolvimento sustentável da indústria culinária, indicou, em comunicado, a Wynn Resorts que, tal como em 2018 e 2019, acolhe os prémios. No ano passado, numa lista liderada pelo “The Chairman”, de Hong Kong, apenas um restaurante de Macau, o “Wing Lei Palace”, situado no casino Wynn Palace, obteve o 50.º lugar, depois de ter figurado em 22.º na classificação de 2020, a qual incluía também o “Sichuan Moon” (23.º), também naquele casino da operadora Wynn. Macau entrou para a Rede de Cidades Criativas da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) na área da Gastronomia em 31 de Outubro de 2017, juntando-se às cidades chinesas de Chengdu e Shunde. A lista dos 50 melhores restaurantes asiáticos é votada por um comité de 300 membros, incluindo especialistas de restauração, escritores especializados em gastronomia, ‘chefs’ e donos de restaurantes de toda a região asiática. Lançada em 2013, esta é uma adaptação regional da lista dos “50 melhores restaurantes do mundo”, publicada pela Restaurant Magazine, da empresa William Reed Business Media, desde 2002.
Andreia Sofia Silva EventosMacau Art Garden | Exposição de Vicent Cheang patente até quarta-feira Chama-se “Universo Paralelo” e é a nova exposição de Vicent Cheang, que está na galeria Macau Art Garden até à próxima quarta-feira, dia 9. O público pode ver trabalhos que revelam uma outra Macau imaginada, numa mistura entre o passado e o futuro Está patente até à próxima quarta-feira, dia 9, a exposição da autoria de Vicent Cheang, artista, músico e gestor do Live Music Association (LMA). Em “Universo Paralelo”, patente na galeria Macau Art Garden, da associação Art for All Society (AFA), Vicent Cheang explorou outras realidades, numa mistura de imaginação e realismo. Confinado em casa no período mais grave da pandemia, o autor decidiu recorrer a ferramentas digitais para fazer quadros que misturam uma Macau do passado com o futuro. “Nunca tinha feito desenhos sobre Macau, e como estávamos fechados e não podíamos ir a lado nenhum, comecei a desenhar paisagens de Macau. Mas ao mesmo tempo fiquei muito ligado à ficção científica, via muitos filmes deste género, e pensei então no tema ‘universo paralelo’. Na minha imaginação pensei em como seria Macau numa outra realidade.” Vicent Cheang fez um trabalho de investigação, recorrendo a fotografias antigas do território, mesclando-as depois com um futuro imaginado. A aposta nas ferramentas digitais para a criação desta exposição surgiu naturalmente. “Antes criava trabalhos com ferramentas tradicionais, mas agora a tecnologia ocupa um grande espaço na minha vida. Se usar os media tradicionais para fazer o meu trabalho, preciso de estar em estúdio. Mas também faço música, e sempre viajei por muitas cidades. Com o Ipad percebi que podia fazer o meu trabalho em qualquer altura e lugar, num café ou num aeroporto. Esta ferramenta faz com que os artistas possam criar mais facilmente as suas obras”, concluiu. Desafios do LMA Além da veia artística, Vicent Cheang assume também a faceta de gestor do LMA, uma sala de espectáculos que lhe coloca muitos desafios. Este sábado, o LMA abre portas para um novo concerto, desta vez com os Twisted Tables, um grupo de jazz que actua a partir das 20h. Mas o espaço que trazia ao território bastantes projectos musicais de países estrangeiros está agora dependente das bandas e músicos locais. Para manter um cartaz diversificado no LMA, Vicent Cheang, afirma ao HM que deseja uma maior conexão com quem faz música no território. “Agora não podemos ter bandas e músicos de fora, então o nosso foco é nos projectos locais. Espero que novos músicos se possam aproximar de nós, para que conheçamos o seu trabalho.” Vicent Cheang diz ser difícil lidar com um orçamento apertado. “O LMA é um projecto muito desafiante. Já fazemos isto há alguns anos e o maior desafio é ter dinheiro para fazer reparação de instrumentos e de equipamentos, para que o espaço possa funcionar normalmente. O orçamento é o primeiro desafio e precisamos de mais projectos.” Entretanto, Vicent Cheang prepara um novo trabalho discográfico com a sua banda, os L.A.V.Y., mas optou por não divulgar ainda detalhes sobre este disco. “Temos canções suficientes para gravar um segundo álbum, mas os membros da banda estão todos ocupados e precisamos de tempo para gravar este trabalho. Algumas músicas já estão gravadas, mas é uma pena porque o meu produtor está em Taiwan há algum tempo. Este é um problema, comunicar estando em diferentes lugares.” O novo disco poderá sair apenas no próximo ano, confessou.
João Luz EventosSemana de Cultura Chinesa | Macau String Trio traz melodia às letras A Semana de Cultura Chinesa, que arranca na segunda-feira na Fundação Rui Cunha, será aberta pela música do Macau String Trio. Antes da poesia de Li Bai, o ambiente será definido por uma das mais famosas melodias de orquestra chinesa e por uma peça de Mozart que irá convidar as letras e a noite a uma dança íntima A segunda edição da Semana de Cultura Chinesa começa na próxima segunda-feira, a partir das 18h30, na Fundação Rui Cunha, numa sessão dedicada ao lançamento do livro “Li Bai – A Via do Imortal”, de António Izidro, com apresentação de Frederico Rato. Mas antes que as palavras tomem conta da noite, o evento será inaugurado com a música do Macau String Trio, um conjunto formado por músicos experientes com uma origem formativa comum, separados pela vida e que a música haveria de reunir em Macau. O HM falou com a violinista Li Na, que será acompanhada também no violino por Cai Lei e pelo violoncelista Lv Jia. O evento irá começar com um clássico da música orquestral chinesa, “Butterfly Lovers”, composto por He Zhanhao e Chen Gang no final da década de 1950. O concerto prossegue uma peça das “Serenades”, de Mozart, para trio de cordas. “Como vai ser discutida a obra de Li Bai, escolhemos uma peça de música chinesa, chamada “Butterfly Lovers”, que é uma melodia que todos os chineses reconhecem, creio que irá agradar ao público. Vamos tocar também uma peça lindíssima de Mozart, ‘Serenade’, uma música que dá as boas-vindas à noite e é conducente com a reflexão, o pensamento e a poesia de Li Bai. Acho que dará uma boa atmosfera ao serão”, adiantou a violinista. Noite de abertura Apesar de o Macau String Trio ser um grupo relativamente recente, fundado em 2018, é composto por músicos experientes. No currículo acumulam trabalho em orquestras sinfónicas internacionalmente famosas, como a Orquestra Filarmónica da China, Orquestra Filarmónica da Rádio Alemã, Orquestra Filarmónica Nacional do Luxemburgo, a Orquestra Filarmónica Estadual de Jena, Alemanha, Orquestra Sinfónica da Ópera de Aachen, entre outras. Apesar de terem todos estudado no Conservatório Central de Música, em Pequim, as carreiras ditaram que tanto Li Na como o violoncelista Lv Jia passassem 15 anos na Europa, antes de ingressarem na Orquestra de Macau. A afinidade comum pela música clássica de câmara viria a unir o trio. “Tínhamos esse interesse pela música de câmara e decidimos tocar em trio, para ver como seria. Gostámos muito da experiência, da forma como tocámos em conjunto e como nos compreendemos uns aos outros através da música”, recorda a violinista sobre as origens do trio. Outra particularidade do grupo, é ser um trio num universo musical onde os quartetos predominam. Todos estes elementos combinados levaram à criação da Associação para o Desenvolvimento do Intercâmbio de Música de Câmara de Macau. Depois de 15 anos a viver na Alemanha, a violinista chinesa considera que Macau foi a cidade perfeita para regressar à Ásia, “uma transição suave” devido ao encontro entre a cultura chinesa e ocidental. “Sinto-me muito feliz por se realizarem este tipo de eventos em Macau. É uma demonstração de respeito e entendimento cultural do lado português para com a cultura chinesa. Este intercâmbio é exactamente aquilo que precisamos, em especial nesta altura em que a guerra voltou a fazer parte do quotidiano de tanta gente”.
Hoje Macau EventosSemana cultural em Macau quer aproximar a China de quem fala português A segunda edição da Semana de Cultura Chinesa, que se realiza entre os dias 7 e 12 de Março, com o lançamento de livros, traduções, concertos e debates, pretende aproximar o mundo de língua portuguesa da cultura chinesa. “Penso que é importante que a língua portuguesa se vá aproximando da cultura chinesa, no sentido de permitir uma melhor compreensão daquilo que tem sido incompreensível”, disse um dos organizadores do evento Carlos Morais José, também director do Hoje Macau. “Infelizmente, apesar de estarmos aqui há 500 anos, temos muito pouca sinologia, pouca coisa feita. [O evento] não pretende tapar esse buraco, porque o buraco é demasiado grande, mas pretende contribuir”, acrescentou. Depois de um ano de interrupção, devido à pandemia da covid-19, a Semana de Cultura Chinesa, organizada pelo jornal Hoje Macau com a colaboração da editora Livros do Meio, volta a levar às instalações da Fundação Rui Cunha a tradução direta de clássicos da literatura chinesa para português. “Tento estimular as traduções”, notou Morais José, exemplificando com o lançamento de “Quadras Chinesas”, poemas da dinastia Tang passados para português por Zerbo Freire, “o primeiro cabo-verdiano a traduzir poesia diretamente do chinês para língua portuguesa”. Ainda da dinastia Tang, considerada a era dourada da poesia chinesa, vai ser lançado o livro “Li Bai – a Via do Imortal”, sobre o poeta Li Bai, de autoria do antigo tradutor do Gabinete de Comunicação Social de Macau António Izidro. Duas outras obras nascem na Semana de Cultura Chinesa, “Nove Pontos na Bruma – textos sobre a China”, uma compilação de trabalhos que Carlos Morais José foi “escrevendo ao longo do tempo” e que “guardam coisas desde o Pensamento à Literatura e à História”, e ainda “Inquirições Sínicas”, de Paulo Maia e Carmo. No Dia Internacional da Mulher, 08 de março, Ana Saldanha, professora da Universidade Politécnica de Macau, vai falar sobre a “evolução sócio-política e jurídica da mulher chinesa, desde o tempo do Império aos nossos dias”, salientou o organizador, sublinhando ainda o papel da música ao longo da semana, com a peça chinesa “Butterfly Lovers” a ser tocada na abertura e no encerramento, por “instrumentos musicais ocidentais e chineses”, respetivamente. “Pode ser interessante ver as diferenças de abordagem da mesma peça musical com dois tipos de instrumentos diferentes”, disse Morais José. Todas as sessões podem ser acompanhadas à distância, na página da rede social Facebook da Fundação Rui Cunha, com início às 18:30 (10:30 em Lisboa), excepto no dia 12 que começa às 17:00 (09:00 em Lisboa).
Hoje Macau EventosFRC | Inaugurada hoje exposição de pintura a óleo A exposição de pintura a óleo “33 Macao Leisurely Oil Painting Exhibition” poderá ser visitada a partir de hoje, às 18h30, na Fundação Rui Cunha (FRC). Esta mostra irá revelar 33 obras de seis artistas finalistas do Curso de Pintura a Óleo da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Huaqiao, na província de Fujian, na China. A exposição tem como conceito “Lazer de Macau” e descreve “as gentes e a agradável paisagem” do território. As 33 obras são assinadas pelos artistas Ho Si Man, Wong Tan Tong, Tam Kok Chun, Onion, Ng Kuan Hou, Maggie, Ho Cheng Wa e Lei Weng Kuong, Christopher. Segundo um comunicado, “apesar de residirem em Macau há muito tempo, os pintores continuam fascinados por esta cidade, enriquecida pela co-existência da história e das culturas nacionais da China e de Portugal, e com grande variedade de ambientes únicos e coloridos”. Desta forma, nesta exposição, os “pintores procuraram observar de múltiplos ângulos as pessoas, objectos, cenários e acontecimentos encontrados na vida de Macau, com vista a apresentar a sua percepção de tais elementos”, revela o manifesto da exposição, que pode ser vista até dia 12 deste mês.
Andreia Sofia Silva EventosLivros | “Sílaba” quer promover a leitura junto dos mais novos Com o objectivo de promover a leitura e o gosto pelos livros em língua portuguesa, Susana Diniz decidiu criar a Sílaba – Associação Educativa e Literária. Além dos clubes de leitura para os mais novos, estão a ser pensados passeios focados na história de Macau, entre outras actividades Proprietária de uma empresa ligada à formação, ensino e tradução, Susana Diniz percebeu que não havia em Macau nenhum clube de leitura em português para os mais pequenos. De sessões em que se lê uma história, com a ajuda do personagem Diniz, para a criação de uma associação foi um passo. Nasceu, assim, em Dezembro, a Sílaba – Associação Educativa e Literária. “Pretendemos ir um pouco mais além deste clube de leitura e estamos a pensar fazer um clube de cinema em português, chinês ou inglês, ainda não decidimos”, adiantou Susana Diniz ao HM. “Vamos também fazer workshops de escrita criativa e lançar um website, que ainda não está completo, e que irá ter um blogue onde os miúdos podem deixar os seus textos e imagens. Também já comunicámos com uma escola em Portugal para criarmos uma rede de pen friends, seja por carta ou por email”, acrescentou. Apesar de esta ser uma associação que pretende ir “de encontro aos miúdos” e levar-lhe os livros, a “Sílaba” poderá ser também uma entidade de promoção de passeios que revelem pedaços da história de Macau. “Temos algum contacto com miúdos que estão no ensino em português e que, por isso, aprendem história de Portugal. Mas há partes da história portuguesa em Macau que não conhecem, e vamos começar por aí. Vamos criar alguns passeios e temos dois peddy-papers desenhados para eles poderem participar.” Trabalho informal A criação de um clube de leitura surgiu depois de Susana Diniz ter percebido que as crianças com quem trabalha têm “muita dificuldade na interpretação de textos”, apesar do domínio do português ir melhorando. “Está provado que, quanto mais lermos, melhor nos exprimimos. Achei que não havia nenhum clube de leitura em português em Macau e que poderia ser engraçado [fazer esta actividade]. No nosso caso, a personagem do clube, o Diniz, convida uma pessoa para contar a história e depois criamos uma série de actividades a partir dela. O objectivo é promover o debate de ideias, para que consigam resolver questões rapidamente.” Susana Diniz não aponta o dedo às escolas no seu papel de dinamização da leitura. Mas assume que o facto de as crianças lerem livros com a ajuda da Sílaba pode ajudá-los, uma vez que “não há a pressão das notas”. “Não somos os professores destas crianças e não há a pressão de dar a resposta certa ou tentar entender a história toda logo à primeira. E quando essa pressão desaparece, acontecem coisas engraçadas. As crianças partilham mais coisas connosco, porque sabem que não estão a ser avaliadas”, frisou. Outro dos objectivos, é promover o contacto com o português fora da sala de aula, sobretudo para as crianças que não têm o idioma como língua materna. “[Nas escolas] há algumas actividades em português, mas penso que direccionadas aos livros e ao contar de uma história não é muito comum. Pretendemos fazer um clube de leitura mensal, mas se fosse possível faríamos todas as semanas. Falta isso às crianças, sobretudo os que não são portugueses, é difícil o contacto com a língua portuguesa fora da escola”, apontou a fundadora da Sílaba.
Hoje Macau EventosCinemateca Paixão | Os filmes que inauguram a programação de Março Março arranca com três filmes independentes na Cinemateca Paixão. Realizado e escrito pelos irmãos Ramon e Silvan Zürcher, “The Girl and the Spider” é o melodrama existencial do trio de filmes em exibição esta semana. A onírica película vietnamita “Taste” e a alucinação cyber-punk “Titane” completam a oferta cinematográfica do início do mês na Travessa da Paixão Um trio de filmes que fez as rondas dos festivais de cinema de Berlim a Cannes, passando por Taiwan, marca o início da programação da Cinemateca Paixão para o mês de Março. A primeira película a ser exibida no ecrã da Travessa da Paixão é “Titane”, uma produção francesa realizada e escrita por Julia Ducournau que estreou mundialmente no Festival de Cannes do ano passado. O filme viria a consagrar a cineasta francesa como a segunda mulher a ganhar a Palme d’Or. “Titane” passou a ocupar um lugar de destaque na estranha categoria cinematográfica de “body horror”, um género em que se notabilizaram realizadores como David Cronenberg, Katsuhiro Otomo e David Lynch. Este movimento artístico coloca no epicentro da acção o corpo humano usado como um veículo para transmitir cenários e histórias aberrantes e psicologicamente tortuosas. “Crash”, de Cronenberg, é um dos clássicos deste tipo de filmes. Depois da película inicial, “Raw”, Julia Ducournau apresenta uma obra centrada na vida problemática de uma mulher, interpretada pela estreante Agathe Rousselle, que desde criança tem uma placa de titânio implantada na cabeça, depois de sofrer um horripilante acidente de viação. O momento traumático é o catalisador para um mergulho surrealista pontuado por homicídios e sexo entre a protagonista e um automóvel. O segundo filme da cineasta francesa, segue um imaginário de pesadelo, com inspirações óbvias em territórios de Lynch e Cronenberg e nas monstruosidades romanceadas por autores como Mary Shelley e Edgar Allan Poe. Aliás, numa entrevista à revista Vulture, Ducournau referiu que o protagonista de “O Homem Elefante”, de David Lynch, representa “a essência da humanidade” e é uma das influências incontornáveis da sua filmografia. As várias sessões de exibição de “Titane” estão agendadas para quarta-feira, às 19h e 21h. Na quinta-feira, a sessão está marcada para as 21h30, na sexta-feira às 19h, no sábado às 21h e no dia 8 de Março às 19h e 21h. Lesões e sonhos O próximo filme na ementa da Cinemateca Paixão não é tão perturbante quanto “Titane”, porém não é exemplo de uma narrativa linear e tradicional. Realizado pelo jovem vietnamita Lê Bảo, “Taste” foi uma das películas premiadas em 2021 no Festival Internacional de Cinema de Berlim e no Festival de Cinema de Taipei. Com uma rotação reduzida, “Taste” tem o ritmo de uma valsa lenta, uma vagarosa alucinação onde habitam fantasmas e imagens de saudosismo. O filme parte da situação invulgar em que vive Bassley, um futebolista nigeriano a viver no Vietname. Tendo esta circunstância como ponto de partida, o realizador vietnamita guia o filme para um ponto onde a história se torna irrelevante. A partir do momento em que Bassley parte a perna e fica impossibilitado de ganhar a vida através do desporto, “Taste” passa a ganhar contornos de um mosaico onírico composto por imagens e texturas, coladas por um anseio a meio-gás e um saudosismo que busca algo indefinido. Depois de ser despedido da equipa de futebol, o protagonista vagueia pelos bairros pobres de Saigão em busca de tecto e biscates que lhe encham a barriga. Nesta divagação, Bassley acaba por seguir quatro mulheres vietnamitas e conseguir um trabalho. As companheiras de labor acompanham-no na construção de um mundo especial, uma utopia com o fim sempre à vista, onde todos sonham com uma vida melhor. “Taste” será exibido na quinta-feira às 19h30. Caixotes no abismo O sentimento de uma vida transitória e efémera é um dos elementos principais de “The Girl and the Spider”, a terceira proposta da Cinemateca Paixão para o arranque do mês, com sessão marcada para a próxima sexta-feira, às 21h. O filme premiado no Festival Internacional de Cinema de Berlim é realizado pelos irmãos Ramon e Silvan Zürcher, uma dupla de cineastas suíços que regressam às longas-metragens depois do filme de estreia “The Strange Little Cat” que cativou a crítica internacional. A simplicidade do argumento contrasta com as complexas emoções que evoca. O ponto de partida de “The Girl and the Spider” é a saída de uma jovem arquitecta de uma casa que partilha com outras pessoas para viver sozinha. Sem revelar o tumulto dramático que a mudança implica na vida da protagonista e, em particular, numa amiga com quem se presume haver mais do que amizade, as tensões psicológicas crescem tacitamente, sem serem directamente endereçadas. O facto de uma parte significativa do filme ser rodado num pequeno apartamento confere uma atmosfera de claustrofobia e intimidade que preenche os vazios narrativos deixados em aberto pelo guião. “The Girl and the Spider” deixa muitas perguntas por responder e não revela a verdadeira dimensão das relações entre personagens. Característica que poderia matar o filme, mas que graças à mestria da dupla de cineastas conduz a narrativa por um caminho de mistério, curiosidade e ambiguidade interpretativa.
João Luz EventosPintura | Sands inaugura galeria com obras de Wang Dongling e Xu Lei No sexto andar do Hotel Four Seasons, no Cotai, nasceu o Sands Gallery, um novo espaço de exposições. A mostra inaugural, que reúne mais de 30 obras de dois conceituados artistas chineses, intitula-se “The Innovation of Ink: Transformation and Reinvention of Oriental Aesthetics – Featured Exhibition of Wang Dongling & Xu Lei” Macau ganhou mais um espaço de exposições, nas Grand Suites alojadas no sexto andar do Hotel Four Seasons no Cotai. Depois de dois elevadores, o Sands Gallery abre sumptuosamente as portas aos amantes das artes plásticas. Inaugurado na quarta-feira com pompa e circunstância, o espaço estreou-se com a mostra “The Innovation of Ink: Transformation and Reinvention of Oriental Aesthetics – Featured Exhibition of Wang Dongling & Xu Lei”, que reúne mais de 30 obras de dois mestres da tinta com visões conceptuais diametralmente opostas. A mostra vai estar patente ao público das 11h às 19h até a 20 de Março. A abertura da galeria concretiza o desejo do grupo Sands China de ajudar a cultivar um ambiente que alimente a criatividade e a apreciação da arte em Macau, indicou o grupo em comunicado. A Sands Gallery tem também o objectivo de contribuir para o desenvolvimento da arte e cultura da RAEM, trazer maior diversidade de experiências à cidade, ao mesmo tempo encorajando artistas profissionais em Macau e em toda a região. O presidente da Sands China Ltd, Wilfred Wong, revelou que o grupo planeia investir mais recursos e convidar reputados artistas locais e internacionais, de diversas formas de expressão artística, para expor no novo espaço. “O nosso derradeiro objectivo é ajudar Macau a estabelecer-se como uma base de intercâmbio e cooperação multicultural com ênfase na cultura chinesa. Estamos convencidos de que um espaço de exposição permanente e de classe elevada, equipado com recursos avançados, destinado a audiências internacionais, irá desempenhar um papel activo no enriquecimento das actividades artísticas e culturais da cidade e na cooperação entre grupos artísticos de Macau, da China e de outros países”, afirmou o Wilfred Wong na cerimónia de inauguração do espaço. Estrelas da abertura Wang Dongling e Xu Lei foram os artistas escolhidos para a primeira mostra da Sands Gallery. Contribuíram com mais de três dezenas de obras para a exposição que contou com a curadoria de Julia F. Andrews. A curadora e académica da Ohio State University destacou o grande significado da escolha dos dois artistas chineses. “O tema desta exposição pode ser retratado em dois aspectos: ‘Tinta’ enfatiza a importância da pintura chinesa, e ‘Inovação’ que transporta a caligrafia chinesa das suas raízes tradicionais para uma forma de arte moderna. A caligrafia chinesa sofreu os processos de deliberação, revolução e inovação ao longo do século passado”, indicou Julia F. Andrews. A também historiadora, indicou que as carreiras de Wang e Xu têm sido pautadas pela investigação e expansão da linguagem expressada através de tinta. À semelhança do carácter híbrido de Macau, que funde há séculos as culturas chinesa e ocidental, a exposição inaugural da Sands Gallery mistura em harmonia dois estilos e linguagens antagónicas. Em relação ao conceito artístico de Wang, a curadora descreve-o como “selvagem e cinético”, afirmando que as obras de caligrafia de grandes dimensões têm um cunho muito pessoal e um estilo inconfundível, “que pode ser caracterizado como ‘caligrafia emaranhada’, à semelhança de um manuscrito cursivo rapidamente pincelado. “Os textos são ilegíveis para a maioria das pessoas, mas a sua energia é óbvia para todos”, afirmou a curadora. Na primeira pessoa Numa mensagem gravada em vídeo, Wang Dongling expressou gratidão à Sands China pelo convite para expor em conjunto com Xu Lei e revelou ter esperança que a caligrafia evolua das suas raízes tradicionais para se enquadrar no mundo actual. No outro eixo criativo, Xu Lei é descrito pela curadoria como um artista preciso e imóvel. “Em vez de meticulosas interpretações de pássaros ou flores, Xu usa a sua técnica refinada para criar espaços surrealistas onde surgem objectos misteriosos, muitos deles pertencentes ao imaginário artístico chinês”. Durante a inauguração, o pintor revelou as primeiras impressões quando viu os seus trabalhos na Sands Gallery ao lado das obras de Wang Dongling. “É um prazer ser parceiro do mestre Wang e mostrar as nossas obras numa cidade que combina as culturas chinesa e ocidental com uma atmosfera de arte rica. Fiquei impressionado quando vi as minhas obras expostas num espaço artístico com detalhes sofisticados e subtis. Espero que esta exposição permita ao público embarcar numa viagem emocional”, afirmou.
Hoje Macau EventosA origem da cozinha Macaense em Macau (Última parte) Por Ritchie Lek Chi, Chan *Artigo publicado no Macau Daily News em 1de Agosto de 2021 O Padre Manuel Teixeira, conhecido historiador de Portugal e Macau, escreveu a “Lenda da Origem dos Macaenses em Macau” no 20.º número da edição chinesa da Revista de Cultura. Este artigo prova que os macaenses não tinham ascendência chinesa originalmente. “Na nossa opinião, as primeiras pessoas que seguiram os portugueses para a China foram indianas e malaias, podendo haver também uma ou duas portuguesas (europeias).” Com a mudança dos tempos, portugueses residentes em Macau começaram a casar com chinesas. Em meados do século XVII, a migração de residentes de Lingnan (a área que cobre a província de Guangdong e Guangxi) e das zonas costeiras da província de Fujian para Macau continuou a aumentar. Esta situação propicia condições favoráveis para que portugueses ou outras etnias da colónia portuguesa se casem com chinesas, momento em que surge uma nova geração de mestiços. E apresenta outra razão. “Embora houvesse poucos casamentos entre Portugal e a China antes da abertura do porto, um grande número de escravas chinesas entrou nas suas famílias quando os empresários portugueses comercializaram e se estabeleceram ao longo da costa da China. Há muitos portugueses do sexo masculino a viver com estas escravas ou como concubinas, tendência desenvolvida por estes empresários e soldados portugueses em Goa, Malaca, Índia e outros locais. ” Em 1565, Ye Quan, um escritor da província de Anhui, veio para Macau. Testemunhou e escreveu sobre a relação entre as mulheres chinesas e os portugueses. “Eu estava na casa de um ocidental e vi uma criança de seis ou sete anos a chorar. Perguntei ao tradutor se essa criança era filha de um ocidental. O tradutor disse: “Não. Este ano as pessoas sequestraram pessoas de Dongguan para vender, deve estar a pensar nos seus pais e a chorar.” A maioria dos ocidentais criaram cinco ou seis pessoas, e há mais de dez mulheres, e todas se enquadravam nessa categoria. As roupas masculinas são como estão. As roupas femininas eram embrulhadas num pano branco e embrulhadas numa camisa de estilo ocidental com um pano horizontal por baixo. Elas não usavam roupa interior e andavam descalças. Fazia muito frio em Dezembro, e suas roupas eram apenas aquelas. As mulheres eram concubinas bárbaras, e havia milhares delas. Sabendo que se trata de filhos de boas famílias na China, este incidente é odioso. “Isto mostra que nos primeiros dias da abertura de Macau como porto, havia um grande número de mulheres chinesas a servirem como criadas ou concubinas dos portugueses. Esta afirmação foi também confirmada por estudiosos. O casamento misto entre portugueses e chineses começou no início da abertura de Macau. Diz o Padre Rev. Benjamin Videira Pires: “O casamento misto de portugueses e mulheres locais (chinesas) começou quando os portugueses chegaram a Macau. ” (Nota 1) A Professora Doutora Ana Maria Amaro do Departamento de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Instituto de Políticas Sociais no seu artigo “Filho da Terra – Um Estudo dos Macaenses em Macau” descreve claramente a situação destas mulheres chinesas. “Segundo dados históricos, os primeiros portugueses coabitaram com mulheres malaias e indianas. Aparentemente, as chinesas eram sobretudo mulheres vendidas pelos pais ou que seguiam os piratas com quem os portugueses serviam, algumas mulheres tornaram-se esposas. Portanto, parecia natural que as mulheres chinesas fossem concubinas naquela época, mas pensávamos que até recentemente as avós distantes do grande povo de Macau eram eurasiáticas e não chinesas. “(Nota 2) Com base nos argumentos apresentados por vários estudiosos acima mencionados, pode-se constatar que as mulheres chinesas pertenciam como membros dessas famílias portuguesas, e que os macaenses começavam a entrar na segunda fase. Idioma e hábitos de vida, incluindo a cultura alimentar, começaram a infiltrar-se na cultura e nos costumes chineses. Um dos exemplos óbvios é o “Tacho”. Só nesta altura se pode dizer que “os chineses deram um contributo para os pratos dos macaenses”. Até hoje, o autor acredita que alguns pratos Macaenses são difíceis de rastrear até à verdadeira origem. Pastéis de Bacalhau é um exemplo. A maioria das pessoas pensa que vem de Portugal, mas este tipo de alimento é extremamente comum na Indonésia e o método de fabricação é semelhante. Portanto, é difícil concluir se esta comida indonésia é afectada por Portugal. A maioria dos websites da Indonésia tem outra maneira de dizer que as “bolinhas de batata” da Indonésia, têm origem na Holanda, porque os holandeses gostam de fazer este tipo de comida. Este tipo de “bolinho de batata” é originário de Portugal, da Holanda ou da Indonésia? É difícil chegar a uma conclusão, é preciso mais investigação. Mas os Pasteis de Bacalhau de Macau são, sem dúvida, de origem portuguesa. O ingrediente básico desta comida é puré de batata, que os macaenses misturam com o bacalhau salgado marinado e outros ingredientes, como a cebola, e depois fritam numa panela até dourar. Os indonésios misturam o puré de batata com frango picado ou carne picada ou carneiro, misturados com chalotas e alguns temperos, misturados com farelo na superfície e fritos na frigideira até dourar. O nome do alimento é Kroket ou Perkedel. Governo de Macau promove vigorosamente a cozinha macaense A “cozinha macaense” baseia-se nos métodos de cozinha portuguesa, misturando métodos de cozinhar e materiais culinários de outras proveniências, e após centenas de anos de herança e adaptação, desenvolveu-se uma cultura culinária única. Com o intuito de apresentar ao público esta cultura alimentar única, destacando que Macau é uma sociedade harmoniosa e um local onde se integram diferentes culturas, há muitos anos que o Governo da Região Administrativa Especial de Macau se esforça para promover e preservar o trabalho de propaganda deste tipo de cozinha. Os Serviços de Turismo publicaram livros relacionados com a gastronomia macaense nas suas páginas Web, tendo o Instituto Cultural também publicado vários tipos de livros nesta área (Nota 3). De facto, na década de 1980, os círculos macaenses ou residentes ou grupos locais em Macau publicaram sucessivamente livros e periódicos sobre a cozinha macaense. Em 2016, o Macau Daily News publicou um artigo intitulado “Cozinha Macaense de Macau que vale a pena ver”, O editor dissertou sobre a origem histórica deste tipo de cozinha, incluindo no artigo os livros de cozinha macaense publicados em Macau e os nomes dos seus autores. De 1983 a 2014, foram publicados cerca de 13 livros e periódicos sobre a culinária Macaense, entre eles uma versão luso-chinesa e uma versão chinesa e portuguesa (Nota 4). Por outro lado, em termos de demonstrações físicas, a sala expositiva do segundo andar do Museu de Macau dispõe de uma área relacionada com a gastronomia e os dotes culinários macaenses, para divulgar a gastronomia e as características alimentares dos macaenses. No entanto, de acordo com os macaenses, muitos dos pratos macaenses já se perderam. A razão é que as aptidões culinárias dos macaenses só foram transmitidas de geração em geração. A maioria das famílias não transmite as suas receitas a estranhos. São apenas transmitidas dentro da família e raramente divulgadas ao público. Os pratos confeccionados por famílias diferentes são distintos, cada um tem o seu estilo e não existe um padrão e normas unificadas, sendo que algumas receitas se tornaram o símbolo da família. Uma vez que cozinhar pratos macaenses leva muito tempo e exige mais preparação, a nova geração Macaense não tem interesse em cozinhar. Essa também é uma das razões pelas quais os pratos originais se foram perdendo. Felizmente existe um grupo de macaenses entusiastas, com o intuito de preservar, herdar e promover os dotes culinários deixados pelos seus antepassados. No início de 2007, foi fundada a “Confraria da Gastronomia Macaense”, comprometida em coleccionar receitas e publicar os livros de culinária Macaense, através da organização de competições de culinária macaense e da organização de cursos de formação e outras actividades. Divulgar junto dos cidadãos de Macau e dos jovens chefs, para que os dotes culinários dos macaenses fiquem bem organizados e preservados. Em 2012, a “Cozinha macaense e competências culinárias” foi finalmente incluída na Lista do Património Cultural Imaterial de Macau. As qualidades da culinária macaense passavam originalmente pelo método de cozinhar das famílias comuns, mas agora esta gastronomia está amplamente divulgada na população e tornou-se numa das cozinhas favoritas dos residentes locais e dos turistas. Quem visita uma cidade pode saborear a gastronomia local, que ajuda a criar uma boa memória de viagem, mas Macau pode transformar-se numa típica cidade turística de lazer pelas suas iguarias. Nota 1: Website do Instituto de História Qing da Universidade Renmin da China, “Casamento de portugueses em Macau durante as dinastias Ming e Qing”, o segundo ponto, o padrão de casamento dos portugueses em Macau, (1) Casamento misto com estrangeiros, parágrafo 9. “Ethnic Studies” Issue 3, 2017 Autores: Tang Kaijian; Yan Xuelian. Nota 2: Ana Maria Amaro, “Filho da Terra – Um Estudo dos Macaenses em Macau”, Revista de Cultura, Edição Chinesa N.º 20, terceiro trimestre de 1994, página 13, parágrafo 2, publicada pelo Instituto Cultural de Macau. Nota 3: “A Cozinha de Macau da Casa do Meu Avô”,Graça Pacheco Jorge. A versão em português foi publicada em 1992 e a versão em chinês foi publicada em 2015. Nota 4: “Pratos Macaenses de Macau Dignos de Uma Escavação Vigorosa”, Macau Daily News, 11 de Julho de 2016, Edição E08: Visão, Autor: Lu Shanyuan. *Artigo publicado no Macau Daily News em 1de Agosto de 2021
Andreia Sofia Silva EventosLivros | Wang Suoying diz ter aprendido com tradução de relatos de missionários Wang Suoying traduziu, há 23 anos, os primeiros relatos de missionários portugueses na China sobre a dinastia Ming. A obra “Antologia dos Viajantes Portugueses” volta agora a ser reeditada, com correcções, e a reputada académica confessa que aprendeu coisas sobre o período da dinastia Ming que desconhecia Uma das grandes responsáveis pela dinamização do ensino do chinês em Portugal, incluindo a elaboração de manuais, foi convidada pelo Instituto Cultural (IC) para rever, 23 anos depois, a sua tradução dos primeiros relatos feitos por missionários portugueses dos hábitos e costumes da China no período da dinastia Ming. Ao HM, Wang Suoying considera que esta reedição “é importante para a compreensão mútua entre os povos chinês e português, que se relacionam há cinco séculos com Macau a servir como ponto de partida e motivo de contacto permanente”. A “Antologia dos Viajantes Portugueses na China” inclui textos de autores bem conhecidos como São Francisco Xavier, Melchior Carneiro Leitão ou Gaspar da Cruz, incluindo excertos da “Peregrinação”, de Fernão Mendes Pinto. Para Wang Suoying, este foi o texto mais desafiante em termos de tradução. “Os textos incluídos no livro descrevem o que os viajantes portugueses viram, sentiram e experimentaram na China. A versão chinesa é importante pois ajuda os leitores chineses a perceber qual era a imagem da dinastia Ming aos olhos dos portugueses e qual era a imagem da dinastia Ming na altura, uma vez que a descrição pormenorizada dos viajantes portugueses revela muitas novidades sobre a sociedade e os hábitos [da sociedade à época] que os chineses contemporâneos desconhecem”, contou a tradutora. Nesta antologia há também relatos da imagem da sociedade portuguesa na altura em comparação com a sociedade chinesa. De frisar que foi durante a dinastia Ming, que governou a China de 1368 a 1644, que Portugal obteve o reconhecimento formal, em 1557, da base comercial portuguesa estabelecida em Macau. Nova edição Wang Suoying relata que “aos olhos dos viajantes portugueses esta dinastia era o mundo ideal”. “Os autores falam muito bem dela, de como eram ajudados os pobres, como as pessoas trabalhavam, como funcionava o sistema de justiça, sem corrupção. E também descreveram alguns pormenores que eu própria não conhecia”, acrescentou. A académica descreve um deles, sobre quando as pessoas avisavam na rua que iam mudar de casa, batendo numa espécie de bacia e avisando os outros para pagarem as suas dívidas antes da mudança. “Achei isso muito engraçado, não conhecia. Mas há hábitos descritos que são iguais aos de hoje, como celebrar os aniversários, convidar as pessoas, comer em conjunto. Acho que o livro é muito interessante.” A tradutora confessa ter “aprendido muito” com este trabalho. “Há 23 anos a minha competência como tradutora era diferente, e alguns termos foram corrigidos. Foram dois meses de um trabalho muito intenso, de comparação entre o português e o chinês. A tradução, quando tem erros, só podem ser corrigidos aquando de uma nova edição. Se tiver tempo gostaria de fazer uma nova edição, mais pormenorizada”, frisou. Wang Suoying foi ontem jubilada numa cerimónia da Universidade de Aveiro. Apesar de reformada oficialmente desde o dia 28 de Dezembro, a académica diz-se disponível para continuar a trabalhar.
Andreia Sofia Silva EventosIFT promove semana da gastronomia macaense até sexta-feira Decorre esta semana, até sexta-feira, uma semana dedicada à gastronomia macaense no restaurante Pousada, do Instituto de Formação Turística (IFT), em parceria com a Associação dos Macaenses (ADM). Os pratos podem ser degustados nos horários 12h30-14h30 e 19h-22h. Marina de Senna Fernandes, membro da direcção da ADM e chefe de cozinha, deu formação aos cozinheiros do IFT em Dezembro e destas acções nasceu a vontade de mostrar a comida macaense ao público. “No total ensinei 20 pratos. É algo desafiante para todos porque a maior parte dos pratos já são feitos por poucas famílias. Há receitas que não são feitas há mais de 50 anos e há muitas pessoas que nem sequer ouviram falar delas”, disse Marina de Senna Fernandes ao HM. Miguel de Senna Fernandes, presidente da ADM, congratula esta iniciativa do IFT que, pela primeira vez, explora pratos macaenses menos conhecidos do grande público. “O IFT é a entidade que salvaguarda a gastronomia macaense e por isso mesmo quis fazer uma abordagem mais densa à nossa cozinha. Desta vez não são apenas aqueles pratos mais recorrentes, como o minchi. A Marina [de Senna Fernandes] tem feito uma pesquisa extensa sobre as receitas antigas e isso envolve muita interpretação e o uso de muitas técnicas”, explicou. “Uma novidade” Ao longo desta semana poderão, assim, ser experimentadas receitas do tempo das avós macaenses, escritas à mão ou guardadas a sete chaves, cheias de segredos. “Temos receitas muito antigas com métodos de medição também antigos. É preciso interpretar o sabor que se pretende. Fui várias vezes uma cobaia na casa da Marina, por exemplo”, contou Miguel de Senna Fernandes, que espera que o IFT continue a promover esta gastronomia. “É muito importante que o IFT esteja aberto a todas as possibilidades gastronómicas. A comida macaense continua a implicar muita investigação e todas as receitas estão sujeitas a uma constante interpretação. Mas se [esta iniciativa] vai ou não corresponder ao sabor que se tinha em mente quando se registou a receita há décadas atrás, essa é outra história”, rematou o presidente da ADM.
Hoje Macau EventosHistória | Wang Suoying traduziu primeiros relatos portugueses sobre a China Acaba de ser publicada uma compilação dos primeiros relatos portugueses sobre a China feitos por missionários católicos. A tradução está a cargo da docente e tradutora Wang Suoying, que se jubila na próxima segunda-feira O Instituto Cultural (IC) publicou uma colectânea dos primeiros relatos escritos no século XVI por portugueses que visitaram a China, traduzidos para chinês por Wang Suoying, pioneira da introdução do ensino da língua chinesa como unidade curricular nas universidades portuguesas, na década de 1990. A “Antologia dos Viajantes Portugueses na China” inclui textos dos missionários católicos São Francisco Xavier, Melchior Carneiro Leitão e Gaspar da Cruz, do feitor João de Barros e do soldado Galeote Pereira, assim como excertos da ‘Peregrinação’, de Fernão Mendes Pinto. Num comunicado, o IC sublinhou que o objectivo é permitir aos leitores chineses “compreender melhor” tanto a história da chegada dos portugueses à China como a imagem da dinastia Ming aos olhos dos ocidentais. Foi durante a dinastia Ming, que governou a China de 1368 a 1644, que Portugal obteve o reconhecimento formal, em 1557, da base comercial portuguesa estabelecida em Macau. Jubilação dia 21 Wang Suoying é docente na Universidade Nova de Lisboa e na Universidade de Aveiro. Natural de Xangai, vive há mais de 20 anos em Portugal, estando também ligada ao ensino do chinês no Centro Cultural e Científico de Macau. Juntamente com o marido, Lu Yanbin, Wang Suoying é autora de autores de diversos manuais escolares, entre os quais um Dicionário Conciso de Chinês-Português. Em 2014, o casal integrou a lista das dez figuras homenageadas na gala “a Luz da China”, uma iniciativa do ministério da Cultura chinês, na primeira distinção do género atribuída a personalidades ligadas a Portugal. Wang Suoying foi também a primeira presidente da Associação Portuguesa dos Amigos da Cultura Chinesa, formada em 2018 para “promover a compreensão e a amizade” entre Portugal e China. Na próxima segunda-feira, dia 21, a docente e tradutora será jubilada pela Universidade de Aveiro, que descreve, em comunicado, que esta “teve um papel muito importante na leccionação da língua chinesa ao longo de todos estes anos”, além de ter sido “um elemento fundamental no estabelecimento de protocolos de cooperação com diversas universidades chinesas que têm enviado para a Universidade de Aveiro muitos estudantes”. A instituição de ensino superior destacou também o papel de Wang Suoying na criação do Instituto Confúcio.
Hoje Macau EventosCasa Garden | Exposição de raquetes decorativas japonesas abre este sábado A Casa Garden acolhe, a partir deste sábado, a exposição intitulada “Os encantos mágicos de Hagoita”, onde serão mostrados vários exemplos de raquetes decorativas japonesas. Esta mostra, que será inaugurada a partir das 17h30, é realizada pela delegação de Macau da Fundação Oriente em parceria com o Printmaking Centre of Macau. As raquetes Hagoita são usadas para jogar Hanetsuki, um jogo tradicional do Ano Novo que é jogado como uma prece para salvaguardar a saúde das pessoas. Este é um jogo semelhante ao badminton e é jogado principalmente por meninas e mulheres. A partir do século XVII iniciou-se a tradição de oferecer raquetes Hagoita às meninas por ocasião do seu nascimento ou no Ano Novo, quando o jogo era geralmente jogado. Aparentemente, também eram colocadas em templos para afastar os maus espíritos e trazer felicidade. As raquetes Hagoita são feitas de uma madeira leve. A pena (hane-ume) para o jogo é feita da baga da árvore-sabão (mukuroji) e é coberta de penas de pássaros pintadas com cores vivas para parecerem flores. O jogo, tal como no badminton, consiste em manter a pena no ar. Quem deixar cair perde e é marcado no rosto com um um risco a tinta da China. Quando o rosto de alguém estiver totalmente coberto de tinta, o jogo acaba e esse jogador é o vencido. O jogo não é considerado um desporto, mas sim um simples entretenimento para as mulheres. Durante o período Edo (1603-1867), foi desenvolvida a técnica Oshi-e (colagem acolchoada) para fazer desenhos tridimensionais com decorações usando tecido acolchoado de algodão. A reprodução de cenas de peças de Kabuki nas decorações das raquetes Hagoita tornou-se popular entre a população em geral e a beleza da decoração das peças tornou-se cada vez maior.
Hoje Macau EventosPatrimónio | IC recorre à realidade virtual para “reconstruir” Ruínas de São Paulo É já este ano que o Governo deverá terminar o projecto de “reconstrução” das Ruínas de São Paulo com recurso à realidade virtual. Posteriormente o público poderá realizar visitas com recurso a óculos e equipamentos especiais, estando a ser organizada uma exposição com o apoio da Diocese Católica em Macau O Instituto Cultural (IC) de Macau quer terminar, ainda este ano, uma “reconstrução tridimensional” das Ruínas de São Paulo, através de realidade virtual. O IC disse numa resposta enviada à Lusa que o objectivo é lançar visitas “imersivas” ao edifício da antiga Igreja da Madre de Deus através de utilização de óculos de realidade virtual e outro equipamento disponibilizado no local. As visitas guiadas, em português, inglês, cantonense e mandarim, serão lançadas para residentes e turistas, “após um período de testes e ajustes”. O IC está actualmente pesquisar e a recolher dados históricos para a exposição em realidade virtual, com o apoio da diocese da Igreja Católica em Macau. Assim que a recolha estiver concluída, a produção da realidade virtual será entregue a uma empresa especializada. As futuras visitas em realidade virtual poderão “mostrar a história e cultura única da fusão das culturas chinesa e ocidental em Macau ao longo de centenas de anos” e melhorar a imagem da cidade como um destino para o turismo cultural, defendeu o IC. Renascido das cinzas A Igreja da Madre de Deus foi construída pela Companhia de Jesus na segunda metade do século XVI, tendo sido destruída por um incêndio em 1835. As Ruínas de São Paulo incluem a fachada e escadaria de granito da igreja e os vestígios arqueológicos do vizinho Colégio de São Paulo, a primeira universidade ocidental no leste asiático. A 4 de Fevereiro, na cerimónia de posse, a nova presidente do IC, Leong Wai Man, prometeu empenhar-se na salvaguarda e gestão do Centro Histórico de Macau, que inclui vários edifícios e monumentos de raiz portuguesa, incluindo as Ruínas de São Paulo. O Centro Histórico de Macau foi inscrito na lista do Património da Humanidade da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) a 15 de Julho de 2005, tendo sido designado como o 31.º local do Património Mundial da China. A classificação integra vários edifícios históricos construídos pelos portugueses, incluindo o edifício e largo do Leal Senado, a Santa Casa da Misericórdia, as igrejas da Sé, de São Lourenço, de Santo António, de Santo Agostinho, de São Domingos ou a fortaleza da Guia.
Hoje Macau EventosEscola Luso-chinesa da Flora vence concurso lusófono infanto-juvenil A escola Luso-chinesa da Flora sagrou-se vencedora da primeira edição do concurso infanto-juvenil “Era Uma Vez…O Meu Mar”, promovido pela associação Somos! – Associação de Comunicação em Língua Portuguesa (Somos – ACLP). O texto apresentado intitula-se “Long e Hoo e os piratas afortunados” e valeu um prémio pecuniário de 7.500 patacas. Na categoria de melhor ilustração o vencedor foi o Instituto Pandavas Núcleo de Educação, Cultura, Ações Socioambientais, no Brasil, ao apresentar um desenho sobre o conto de Portugal, ganhando cinco mil patacas. Foram ainda atribuídas duas menções honrosas a Cabo Verde com o conto “O Mar de Cabo Verde” e a Timor-Leste com o “O Rei Maquiavel”. O escritor angolano Ondjaki, que fez parte do júri do concurso, disse, citado por um comunicado, que foi “bonito que várias partes do mundo, várias vozes, vários dedos e corações de crianças, se tenham reunido em torno do mar simplesmente para escrever.” O também padrinho da iniciativa reiterou a importância do acto de escrever, encarado pelo escritor como uma forma de “olhar e pensar”. “Escrever é também multiplicar cuidados e dedicar tempo. E o mar, todos os mares, todas as águas do nosso planeta, requerem, cada vez mais, cuidado, amor e dedicação. Ao olhar para e pelo mar, cuidamos do presente; mas estamos também a preparar o futuro”, frisou. Livro na calha Até ao final de Março do corrente ano, a Somos – ACLP irá publicar os contos em livro com as ilustrações, os textos foram traduzidos e adaptados para a língua chinesa. A capa do livro vai ser assinada pelo cartoonista português, António Antunes, com a selecção dos vários desenhos das escolas participantes. Este concurso contou com a participação de uma escola por cada país ou região, num total de nove, e destinou-se a alunos do 5.º e 6.º anos de escolaridade, com idades compreendidas entre os dez e os 12 anos das instituições de ensino participantes, onde o português é utilizado como língua veicular. Cada escola concorreu com um conto original produzido individualmente ou em grupo. Numa fase posterior, os contos foram distribuídos aleatoriamente por todas as escolas participantes para a respectiva ilustração.
Andreia Sofia Silva EventosPoesia | uTUDOpias, primeiro livro de psicólogo Nuno Gomes, apresentado hoje Chama-se “uTUDOpias” e é o primeiro livro de poesia do psicólogo Nuno Gomes. A obra, editada pela COD, é hoje apresentada na Livraria Portuguesa às 19h e contém poemas escritos entre 2019 e o ano passado, divididos em cinco capítulos. O autor, para quem escrever funciona como uma catarse, aponta que esta obra “toca em vários pontos que caracterizam a vida humana” São estrofes pessoais ou sobre a vida de todos nós. “uTUDOpias”, primeiro livro de poesia do psicólogo e músico Nuno Gomes, é um exercício constante de palavras sobre os dias de todos nós. E não falta inclusivamente alguns apontamentos autobiográficos: “O que somos? / Perco um braço / Continuo eu / Dou mais um passo, / Só um braço se perdeu”, estrofes do poema que abre o livro, são disso exemplo. A apresentação de “uTUDOpias”, na Livraria Portuguesa, a partir das 19h, terá música a acompanhar uma sessão de declamação de poesia, com Kelsey Wilhem e Pedro Lagartinho. Este é, sobretudo, “um livro que procura tocar em vários pontos que caracterizam a vida humana”, contou ao HM Nuno Gomes, que reside no território desde 2010. O autor confessa que escreve desde criança, mas que nunca ponderou, até agora, publicar os seus escritos. Um reencontro ocasional com uma amiga de longa data, Cláudia Tomé e Silva, que assina o prefácio desta obra, e a partilha de poemas que ambos iam escrevendo foi o mote para esta publicação. “Encontrámo-nos no Facebook e nunca mais parámos de falar sobre poesia. Partilhamos poemas acerca do mundo e sobre diversas situações, ajudámo-nos mutuamente. Ela lançou o livro ‘Emoções Bárbaras’ no ano passado e eu reparei que tinha uma boa colectânea de poemas e resolvi organizá-los por capítulos.” Desta forma, as estrofes de “uTUDOpias” organizam-se no capítulo intitulado “No Café”, onde se espelham poemas “com conversas mais banais, onde existe sempre o sentimento”. Segue-se “Justiça”, onde se incluem “poemas sobre situações onde vejo que há alguma injustiça no mundo e na sociedade”. O terceiro capítulo, “ENTREmitente”, contém escritos sobre “emoções de vários tipos”, enquanto que em “Utopias” se incluem temáticas como o tempo, espaço e viagens. Em “Resoluções”, quinto e último capítulo, Nuno Gomes decidiu depositar “o seu lado de psicólogo”, com “poemas de auto-ajuda e palavras mais bonitas, ou decisões humanas”. Catarse interior Nuno Gomes, que já traduziu poesia de Fernando Pessoa para inglês, mostrou ter dificuldade em escolher um único poema desta obra. Mas “Sonhos Bisontes” acabou por surgir no discurso, por ser um poema “com ritmo e que funciona bem com a música” que será apresentada no evento. A exercer psicologia clínica, mas com diversas actividades, Nuno Gomes encontra na poesia uma espécie de “catarse” para as suas emoções e vivências do dia-a-dia. “Acredito vivamente que a arte é uma ferramenta que os humanos podem usar para ultrapassar diversas situações. O mundo está complicado e todos nós temos os nossos problemas. O simples facto de conseguir expressar algo cá para fora dá-nos alguma liberdade. Eu uso esta ferramenta na música e na escrita”, concluiu.
Hoje Macau EventosCultura chinesa | Antropólogo de Macau dá cursos em Berlim Cheong Kin Man, antropólogo natural de Macau a residir em Berlim vai ministrar, até Maio, cursos que versam sobre a cultura chinesa, nomeadamente sobre o cinema e os caracteres sino-asiáticos, incluindo Macau. Segundo um comunicado, um dos cursos intitula-se “Cinema de Língua Chinesa – Perspectivas do Extremo-Oriente” e irá focar-se “nas várias problemáticas sobre a cultura como o humor em cantonês, as cores ou a lógica do storytelling no cinema em língua chinesa”. O cinema feito em Macau terá também um lugar de destaque. Com o curso “Caracteres Chineses – Um Workshop sobre os Signos e os Significado”, Cheong Kin Man vai procurar “relacionar as semelhanças entre os ideogramas primitivos chineses com os sinais e símbolos modernos do design no contexto europeu”. Estas acções formativas decorrem no âmbito da formação contínua promovida pela Universidade Popular de Reinickendorf. Além de doutorado em Antropologia pela Universidade Livre de Berlim, Cheong Kin Man é também artista e tradutor, escrevendo vários artigos sobre diversos temas culturais em várias línguas. Este é licenciado em Estudos Portugueses pela Universidade de Macau e mestre em Antropologia Visual. Com apoio financeiro do Governo, o autor produziu o filme experimental “Uma Ficção Inútil”, além de realizar um trabalho de investigação nas áreas da Etimologia, media audiovisuais, descolonização e pós-colonialismo.
Hoje Macau EventosCreative Macau | Exposição de aguarelas de Yui Ng Iok Lin inaugura dia 24 A galeria da Creative Macau recebe, a partir do dia 24, uma nova exposição, desta vez da artista local Yui Ng Iok Lin, intitulada “Fantasy Unending”. A artista, formada em Taiwan, explora sentimentos profundos através das aguarelas, em trabalhos onde a figura feminina ganha destaque Depois de apresentar uma mostra de fotografia, a Creative Macau exibe, a partir do dia 24, uma nova exposição de pintura, desta feita focada no trabalho da artista de Macau Yui Ng Iok Lin. “Fantasy Unending” [Fantasia sem fim] é o nome da mostra que apresenta trabalhos feitos com recurso à técnica de aguarela e que exploram a temática das emoções interiores e expressões humanas. Tratam-se de quadros “inspirados em contos de fadas ficcionais e temas espirituais”, nos quais a artista explora a “imaginação dos espíritos e sonhos”, sempre com o foco na figura feminina. Nas suas ilustrações observam-se olhares carregados de sentimentos profundos, com rostos delicados. As mulheres surgem sempre de cabelos compridos e com uma aura de fragilidade e delicadeza, sendo que os trabalhos de Yui Ng Iok Lin contêm também muitos rostos de crianças. Exposições por aí Nascida em Macau, Yui Ng Iok Lin formou-se em Taiwan, no departamento de Belas Artes da Universidade Nacional de Educação de Changhua. Além da aposta na aguarela, a artista tem trabalhado também como ilustradora freelance no território. Desde a sua formação, a artista já fez cinco exposições individuais em Macau e Taiwan, com nomes como “Mumbling to myself” e “Besides The Dining Table”. Além disso, o trabalho de Yui Ng Iok Lin já foi visto em três exposições colectivas desde 2014, tal como na mostra intitulada “Treasure Island”, que expôs os quadros da licenciatura no NCUE Art Center, em Taiwan. Em Macau, a artista participou ainda, em 2015, na mostra colectiva “Macau Annual Visual Arts”, organizada pelo então Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais.
Hoje Macau EventosMostra de Lai Sio Kit pode ser visitada até ao dia 27 no Fórum Macau Foi inaugurada, na última sexta-feira, a nova exposição individual do artista de Macau Lai Sio Kit, inserida no ciclo de exposições “Policromias Lusófonas”. A mostra pode ser vista no edifício do Fórum Macau até ao dia 27 deste mês. Na cerimónia de abertura, Casimiro Pinto, secretário-geral adjunto do Fórum Macau, disse que esta exposição leva o público a “explorar os interstícios mais profundos da universalidade de Macau”. Lai Sio Kit foi descrito como um “artista telúrico”, que explora “as cores monocromáticas de branco e preto, que são paradoxalmente luminosas em casamento a buliçosas cascatas em que se revisitam as águas primaveris”. No seu discurso, Casimiro Pinto lembrou também que, nestas obras, “regressa-se aos elementos mais primários e prístinos em que se decide a génese do Ser, do Pensar e do Fazer”. Por sua vez, o próprio artista pediu que “todos participantes possam escutar, ao apreciarem as obras, a voz circulante da água, que lhes traria a quietude e a serenidade da alma na vida urbana”. ADM organiza workshops Nesta mostra, Lai Sio Kit “regressa às paisagens naturais mais exordiais, quase selvagens, enquanto formas de revisitar a quietude do Ser através dos jogos de sombra e luz do Parecer, melhor, da representação cénica de uma pintura aparentemente inscrita na imobilidade, mas de pensamento circulante e recorrente”. Estes quadros são apenas monocromáticos e, por isso, sem recurso a cores. O artista optou por “dispensar o uso de pigmentos coloridos e privilegiou a diversidade monocromática”. Os interessados poderão ainda participar em três workshops ministrados pela Associação dos Macaenses, onde serão ensinadas técnicas de croché, arte de Batê Saia e de recortar papel. Lai Sio Kit é membro da Associação de Artistas da China, Vice-Presidente da Associação de Belas Artes de Macau, Diretor da Associação de Artistas de Macau e Presidente da Associação de Arte Juvenil de Macau. As suas obras já foram várias vezes expostas na China, incluindo Hong Kong, Macau e Taiwan, bem como no estrangeiro, nomeadamente Portugal, Estados Unidos, Coreia do Sul e Singapura. Já realizou 19 exposições individuais.
Andreia Sofia Silva EventosDança | Associação Ieng Chi celebra 25 anos e apresenta novas actividades Fundada em 1998 por Lilian Ieng Chi Kuok, a Associação de Dança Ieng Chi celebra no próximo ano 25 anos de existência, mas já este ano existe um programa cheio de actividades com início marcado para o mês de Março. Chloe Lau, membro da direcção, assegura que o movimento da dança em Macau é cada vez mais profissional e capta a atenção de miúdos e graúdos Antes da transferência de soberania de Macau para a China aprender dança era uma coisa algo rara e, sobretudo, quase exclusiva à dança chinesa. Mas anos depois, não só há cada vez mais coreógrafos e bailarinos a dedicarem-se totalmente a esta arte, como os jovens e as suas famílias fomentam a aprendizagem. Em 2023, a Associação de Dança Ieng Chi, situada na avenida da Praia Grande, celebra os seus 25 anos de existência. Com mais de 800 alunos e membros, esta entidade foi fundada por Lilian Ieng Chi Kuok, também directora artística da associação. Ao HM, Chloe Lau, antiga aluna de Lilian e hoje membro da direcção, conta que o movimento da dança tem evoluído de forma positiva. “Vemos claramente que o movimento da dança em Macau mudou muito nos últimos anos. Quando andava na escola primária a maior parte dos bailarinos começava com a dança chinesa, porque era a mais popular. As associações tinham menos oportunidade de apresentar outro tipo de espectáculos. Mas agora, sobretudo nos últimos cinco anos e antes da pandemia, surgiram muitos festivais e paradas com performances locais que revelaram esta energia para o público.” Para Chloe, este ambiente “apelou à participação de muitas pessoas e surgiram cada vez mais associações de dança”. Além disso, “os jovens desenvolvem hoje, desde muito cedo, o seu interesse pela dança e os pais também dão muito apoio”. “O ambiente da dança é hoje mais vivo”, assegura. Chloe Lau destaca também uma maior interacção com os ambientes da dança de cidades do exterior, sobretudo da China. “No caso da nossa associação, todos os anos convidamos estudantes de Pequim e de outras cidades para realizarem workshops. Há uma maior oportunidade de explorar novas coreografias.” Quatro direcções Para manter o espírito vivo dos seus 25 anos de existência, a Associação de Dança Ieng Chi pretende desenvolver metas de trabalho com base em quatro direcções, baseadas na vertente educacional e na criação experimental, pois “todos os anos temos as nossas produções com espectáculos no Centro Cultural de Macau ou actividades ao ar livre”, sendo esta “uma forma de a comunidade poder desfrutar destes eventos criados por nós”. Além disso, a associação pretende fomentar ainda mais os programas de intercâmbio que já possui com países como Coreia do Sul ou Malásia. “Queremos partilhar a nossa cultura e a vida de Macau com outras cidades, mas estamos ainda à procura de fomentar este plano mesmo com a pandemia”. Chloe Lau fala ainda de uma quarta direcção, focada no desenvolvimento de uma plataforma de criação com outros bailarinos e coreógrafos locais. “Existimos em Macau há 25 anos e não queremos apenas produzir espectáculos mas também criar uma plataforma de ligação com jovens coreógrafos, para que estes possam desenvolver as suas ideias e criações. Todos os anos temos um projecto para o qual convidamos quatro ou cinco bailarinos para apresentar as suas coreografias, para que estes tenham a possibilidade de contactar o público.” Agenda cheia Depois de dois eventos em Janeiro, a Associação de Dança Ieng Chi prepara-se para apresentar, entre 5 e 20 de Março, o festival “Zito Heritage Stroll”, que irá decorrer na Casa Garden e que terá a apresentação de performances de rua e exposições. Entre os dias 23 e 24 de Abril, irá acontecer um espectáculo de dança multimédia intitulado “Falling, Falling, Marine Snow”, onde a importância da protecção dos oceanos será o tema principal. Em Julho, como é habitual, a associação irá ainda co-organizar, em parceria com a Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude, uma competição entre as escolas de dança do território.