“Vasto Império do Coração” é o título do livro que Sara Augusto apresenta na próxima quarta-feira. A obra, acompanhada por uma exposição focada na presença de Camões em Macau, faz parte do cartaz de celebrações do 10 de Junho – Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas
Macau continua a celebrar a portugalidade e o poeta maior da língua portuguesa, Luís de Camões, com vários eventos e protagonistas. Desta vez o foco é, novamente o poeta, mas a iniciativa nasce de Sara Augusto, académica, docente de português na Universidade Cidade de Macau e também fotógrafa.
“Vasto Império do Coração” é o verso de António Couto de Viana que dá nome ao livro e exposição será apresentada na próxima quarta-feira, 18 no Auditório Stanley Ho, no Consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong. A mostra composta por 12 imagens de Sara Augusto, fica também patente no mesmo local.
Ao HM, Sara Augusto explica que a escolha do nome para a obra e exposição “tem a ver com a sonoridade do verso”. “O poema a que pertence é um poema atormentado, que faz contrastar a imensidade da obra de Camões como um país que não corresponde às expectativas do sujeito poético. Mas não foi o sentido do poema que me interessou, foi este verso em particular que me parece relacionar-se com a vocação para as viagens marítimas e sobretudo com a expansão da língua portuguesa. Camões, como um dos poetas mais celebrados na nossa língua, representa esse vasto poder de uma língua, capaz de expressar latitudes e culturas diferentes como mostra a riqueza da literatura lusófona”, explicou.
“Vasto Império do Coração” resulta do trabalho desenvolvido por Sara Augusto para um congresso. “Esse trabalho foi depois mais desenvolvido e apresentado num colóquio em Pequim, organizado também pelo Instituto Português do Oriente, no âmbito da celebração dos 500 anos do nascimento do poeta. Desta apresentação veio a ideia de publicar um volume com uma antologia de textos, um estudo e registo fotográfico, ambos da minha autoria.”
Testemunhos poéticos
A obra em causa é uma antologia que “recolhe registos poéticos de visitantes, de escritores portugueses que residiram em Macau algum tempo e de escritores nascidos em Macau, revelando laços que celebram, se identificam e que inscreveram Camões na memória colectiva”.
Sara Augusto adianta que “o conjunto de textos abrange pouco mais de dois séculos” e o ponto de partida é o poema “Camões”, de Almeida Garrett, “que se tornou o modelo da imagem romântica do poeta solitário, escrevendo os seus versos no cenário da gruta”.
“Este modelo foi levado à letra no século XIX e em grande parte do século XX. O livro ‘A Gruta de Camões’ de Monsenhor Manuel Teixeira foi uma fonte importante, tal como a consulta dos cinco volumes da antologia ‘De Longe à China’, além de uma pesquisa demorada na Biblioteca Pública de Macau. A antologia contém poemas de Miguel Torga, Sophia, José Augusto Seabra, José Jorge Letria, por exemplo. Outros poetas portugueses visitaram e viveram algum tempo em Macau, como António Manuel Couto Viana, José Valle de Figueiredo, ou ainda Alice Vieira e Eugénio de Andrade”, explicou Sara Augusto.
O lugar de Adé
A autora destaca que “foi muito importante a poesia de inspiração camoniana de José dos Santos Ferreira, Adé, que chegou a traduzir poemas de Camões para patuá, ou ainda a poesia de José Joaquim Monteiro, Leonel Alves, Maria do Rosário Almeida, António Correia, Fernanda Dias, Josué da Silva, António Bondoso, José Maria Bártolo”.
Depois, já no século XXI, “o tema camoniano continuou, tomando formas distintas e mais elaboradas, como acontece com Fernando Sales Lopes, Jorge Arrimar, António Mil-Homens e ainda Carlos Morais José”, este último um nome que Sara Augusto considera “incontornável”, tendo em conta o romance “O Arquivo das Confissões”.
As imagens na exposição são a preto e branco e focam-se “no jardim e na gruta de Camões”, pretendendo “acompanhar o registo poético”. Com os dois projectos, a responsável quis “participar da celebração dos 500 anos do nascimento de Camões e apresentar um acervo de forma organizada, acompanhado de um estudo”.
Além disso, “pretendeu-se reunir a poesia que fala de Camões, mas também a imagem subjectiva de um registo fotográfico”, disse.