Sofia Margarida Mota PolíticaFunção Pública | Turnos de seis horas incluem 30 minutos de descanso Os trabalhadores que trabalham no regime por turnos da função pública podem fazer uma pausa de trinta minutos. O período de descanso será incluído nos turnos com duração de seis horas. Apesar de haver deputados que exigem o nivelamento de direitos entre algumas carreiras do regime de especial, nomeadamente no que respeita a condições de dispensa de trabalho por turnos, o Governo não considera ainda oportuno avançar nesse sentido [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s turnos de seis horas de trabalho vão incluir um período de descanso não superior a meia hora. A garantia foi dada pelo Governo ontem em sede de comissão onde está a ser discutida na especialidade a alteração aos estatutos dos trabalhadores da função pública. Os deputados que constituem a 3ª comissão permanente mostraram-se preocupados por considerarem que os turnos de seis horas não estavam em consonância com as disposições previstas na Lei Laboral que “prevê que o trabalho consecutivo não seja superior a cinco horas”. Em resposta, o Governo afirmou que cada turno terá a duração de seis horas, uma frequência de seis turnos por semana, sendo que em cada dia de trabalho por turnos, os trabalhadores têm 18 horas de descanso. Acresce ainda o facto da própria lei salvaguardar que os turnos de seis horas implicam uma interrupção de 30 minutos que conta como horário de trabalho. “As interrupções para repouso ou refeições por parte dos trabalhadores da função pública dentro do regime de turnos, desde que não superem os trinta minutos, consideram-se incluídas no período de trabalho”, referiu o presidente da comissão, Vong Hin Fai. “Isto quer dizer que, dentro do turno de seis horas, há um período máximo de 30 minutos que é cedido ao trabalhador para repouso ou para refeições, e que está incluído no tempo do trabalho”, reiterou. Regimes especiais de fora Ainda dentro do trabalho por turnos a comissão questionou o Governo se seria possível aplicar na proposta em análise as condições que são dadas aos regimes especiais relativos às carreiras de auxiliar de saúde e de enfermagem. O regime que regula estas profissões prevê que as trabalhadoras grávidas a partir do quarto mês, os trabalhadores com idades acima dos 50 anos ou que tenham filhos com idade inferior a um ano, possam requerer a dispensa do exercício de trabalho por turnos. No entanto, “os representantes do Governo consideram que, nesta fase, não é adequado incluir os casos que se inserem dentro dos regimes de carreira especiais no regime geral dos trabalhadores da função pública”, apontou Vong Hin Fai. De acordo com o Executivo, explicou o presidente da 3ª comissão permanente, “as carreiras de auxiliar de saúde e de enfermagem têm nas suas remunerações incluída a vertente de trabalho por turnos e as suas condições”, referiu. No regime geral, apesar de não ficar escrito no diploma “se o funcionário por algum motivo não puder fazer os turnos, pode pedir ao seu superior que seja dispensado deste regime ao seu superior”, disse Vong. Os deputados da comissão permanente que analisa o diploma pediram ainda ao Governo que ficasse esclarecido no diploma que “o trabalho por turnos exige um esforço acrescido no desempenho das funções”, sendo que o Executivo afirmou ponderar a inclusão desta premissa na proposta final.
Sofia Margarida Mota SociedadeJustiça | TUI nega recurso à defesa dos irmãos Pereira Coutinho Benjamim e Alexandre Pereira Coutinho foram condenados no Tribunal Judicial de Base a 8 anos e seis meses de prisão efectiva por tráfico de drogas. O recurso avançou para a Segunda Instância onde o provimento foi negado. Ontem foi dada a conhecer a decisão do recurso enviado para o Tribunal de Última Instância que também negou provimento ao recurso. Os filhos do deputado José Pereira Coutinho vão ter de cumprir a pena que lhes foi aplicada [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Tribunal de Última Instância (TUI) negou provimento ao recurso pedido pelos irmãos Pereira Coutinho. Condenados a 17 de Outubro, pelo Tribunal Judicial de Base, pela prática em co-autoria de um crime de tráfico ilícito de estupefacientes a uma pena de oito anos e seis messes de prisão efectiva, Alexandre e Benjamim Coutinho viram ser-lhe negado o último recurso de que dispunham. De acordo com o acórdão emitido ontem pelo TUI, o tribunal entendeu que a actividade criminosa, ou seja a expedição de uma encomenda de canábis do Canadá para Hong Kong, com Macau como destino último, começou a partir deste acto em que o produto entrou em circulação. O argumento dos arguidos de falta de correspondência temporal na remessa dos estupefacientes não foi considerado válido. A defesa alegou que no dia em que a encomenda contendo droga foi expedida, Benjamim Coutinho já não se encontrava no Canadá. Por outro lado, os registos das conversas telefónicas, nomeadamente através do WeChat e do Whatsapp, feitas entre os dois recorrentes sobre a mesma encomenda, “revelam, sem dúvida”, que o pacote foi mandado por Benjamim Coutinho a Alexandre Coutinho, com a colaboração de um terceiro elemento, Wong, que foi condenado a sete anos e três meses de prisão efectiva. Medida justa Quanto ao argumento relativo ao excesso de medida de pena, o TUI considera que “o crime pelo qual foram condenados os dois recorrentes é punível com uma pena de 3 a 15 anos de prisão, e dos autos não resultam quaisquer circunstâncias que militem a favor dos recorrentes, com excepção de o recorrente Alexandre Coutinho ser delinquente primário”, lê-se no acórdão. Ainda de acordo com o TUI, “o crime de tráfico de drogas é sempre frequente em Macau e põe em risco a saúde pública e a paz social”, pelo que são prementes as exigências de prevenção geral. A agravar a situação está o carácter transfronteiriço deste crime. “Pelo exposto, o TUI não entendeu excessiva a pena de 8 anos e 6 meses de prisão aplicada aos recorrentes”, remata o TUI.
Sofia Margarida Mota PolíticaDados Pessoais | Leong Sun Iok quer limites no acesso por parte das operadoras [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Governo deve assegurar a privacidade dos dados pessoais para quem está à procura de emprego no sector do jogo. A ideia é deixada pelo deputado Leong Sun Iok em interpelação escrita onde apela à defesa dos trabalhadores deste sector. “As concessionárias exigem a assinatura das referidas procurações para apreciação de perfil”, denuncia o tribuno. O pedido feito por parte dos empregadores não deixa outra hipótese aos interessados do que a obediência, até porque “são parte frágil e, como estão à procura de emprego, mesmo que insatisfeitos com o teor da procuração, não se atrevem a manifestar-se contra”. Leong Sun Iok afirma categoricamente que “os trabalhadores são como que forçados a assinalá-la”, lê-se na missiva dirigida ao Executivo. A posição do deputado baseia-se em abusos levados a cabo pelas operadoras. “Devido à falta de fiscalização, a apreciação do perfil por parte das empresas facilmente dá lugar a abusos e quebra de sigilo, privando os trabalhadores do seu direito ao emprego”, refere Leong. Por outro lado, a medida pode ainda proporcionar “a difusão intencional de informações não verídicas ou comentários mal intencionados”. Listas cinzentas Ao acesso, quase forçado, aos dados pessoais dos que procuram emprego no sector do jogo, acresce a problema da suposta existência de uma lista negra para este segmento da população activa de Macau. “O Governo defende que não há indícios da existência de tal lista, mas as queixas não param”, aponta o deputado. De acordo com Leong Sun Ion, constam desta lista os dados sobre os trabalhadores despedidos, ou que deixaram os seus empregos devido a más relações com as concessionárias. Para o deputado, a troca de dados facilitada através da existência da lista negra de trabalhadores de jogo, é uma forma acordada entre as concessionárias “para assegurarem a filtragem automática dos indivíduos dessa lista impedindo-os de voltar a trabalhar no sector”. Tanto a assinatura de uma procuração que permita o acesso aos dados pessoais dos que andam à procura de emprego, como a lista negra “violam manifestamente o princípio da boa-fé na lei laboral, retirando aos residentes o gozo do direito de igualdade”. O deputado acrescenta ainda que estas realidades deixam ainda a suspeita de violações da lei de protecção de dados pessoais Nesse sentido, o deputado entende que é necessário que o Governo tome medidas para assegurar os direitos dos trabalhadores do sector, bem como a protecção dos seus dados pessoais.
Sofia Margarida Mota Entrevista MancheteKevin Ho, empresário: “Em Macau não há especulação imobiliária” Kevin Ho, sobrinho de Edmund Ho e responsável pela KNJ Investment, falou ao HM de negócios e de Macau. No entender do investidor, o mercado imobiliário local é acessível. Por outro lado, o presidente da Associação de Estudo de Economia Política, que está encarregue do estudo sobre as condições para discussão da lei sindical, considera que os direitos dos trabalhadores locais já estão protegidos [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap]assaram-se quase seis meses desde a aquisição de 30 por cento da Global Media. Que balanço faz? Assinámos, realmente, há quase seis meses, mas assumimos funções em Dezembro, ou seja, cerca de quatro meses. Para já, temos tido essencialmente reuniões de administração acerca do planeamento geral da companhia. Estamos a desenvolver novos produtos ao mesmo tempo que mantemos os que já existem. Durante este período ainda não mudou muita coisa. Quando o contrato foi fechado disse que um dos objectivos no negócio seria a aposta na internacionalização da Global Media. Tem algum plano concreto neste sentido? Sim, a internacionalização inclui vários aspectos. Claro que implica a cooperação e o investimento de dois países diferentes ou ter operações num lugar em particular fora de Portugal. Esta não é a nossa acção imediata. Já registámos o escritório de representação da Global Media em Macau em Fevereiro. No futuro, o gabinete de Macau vai contratar pessoal e vamos complementar o trabalho que se faz em Portugal. Ou seja, quando em Portugal se está a descansar, Macau assume as suas funções. A ideia é ter a estrutura a funcionar 24h por dia em tempo real. Actualmente, as notícias estão relacionadas com velocidade e quanto mais rápido conseguirmos colocar as notícias online, mais pessoas têm acesso. Este serviço não se vai materializar num jornal impresso, vai ser estritamente digital. Já temos uma aplicação e várias plataformas online e vamos tentar fazer com que esta seja uma plataforma importante neste negócio. Além de Macau, vamos ter mais novidades dentro de meses. Já assinámos um bom número de acordos e memorandos. A título de exemplo, avançámos com a TDM, com uma empresa em São Paulo, com umas quatro ou cinco empresas de media em Angola e estamos a tentar fazer o mesmo com Moçambique. Além disto, já temos a LUSA. Isto quer dizer que, em termos de internacionalização, não estamos nada mal. Estes memorandos de entendimento permitem às partes envolvidas a partilha de informação, livremente. Estamos a trabalhar com calma mas estamos a conseguir andar no sentido que queremos. Estou também muito feliz com a minha equipa. Temos uma equipa muito forte em Portugal. Estou contente com a abertura que têm, até porque vamos ter muitas mudanças que se vão expressar especialmente com a criação de novos produtos que vão fazer parte da marca Global Media. Não posso ainda revelar especificamente quais são, mas já estão em teste e penso que no Verão já se vão saber mais coisas. Está a pensar investir mais no Porto, nomeadamente na criação de incubadoras de startups nos antigos armazéns de Gaia. Porquê este investimento em Portugal? Em primeiro lugar, acho que esta é uma excelente oportunidade para investir no Porto. Há excelentes armazéns com óptima localização e que estão vazios. Já tive reuniões com alguns dos responsáveis do Porto e de Gaia e revelaram-me que não há planos para estes espaços que são marcos na cidade. Por isso, temos de encontrar um bom uso para eles. Além de se adequarem à instalação de incubadoras para startups, são edifícios que podem estar ao serviço do turismo. Muitos deles eram armazéns de vinho do porto e podemos usar este marketing para fazer um local de apresentação para os vinhos portugueses. Portugal tem vinhos de grande qualidade mas não são exportados e não têm um marketing a funcionar. São vinhos muito bons e pouco conhecidos. Podemos também usar estes armazéns como local de exposição para estes produtos ou como centro logístico, de distribuição e vendas. O Porto é uma cidade diferente. Há coisas a desenvolver no Porto que já o foram em Lisboa. Como por exemplo? O turismo. Penso que o Porto é uma cidade da moda, especialmente para os europeus, mas ainda não chegou a esta parte do mundo. Pequim já tem três voos directos para Lisboa por semana. No início do ano foi assinado um acordo para aumentar o número de voos que ligam a China a Portugal, directamente, para 21 por semana, o que representa três voos por dia. Uma nova linha aérea vai ainda entrar neste acordo. Penso que o Porto pode estar neste mapa de voos e, se isso acontecer, a cidade vai ser um lugar completamente novo. Isto vai trazer muitas mudanças não só a nível do turismo como da própria dinâmica e ambiente de negócios. FOTO: Sofia Mota Uma outra área que pretende investir em Portugal é no mercado imobiliário. Talvez. Não há propriamente uma área especifica em que saiba ao certo que vou investir. Sou um investidor e onde houver oportunidade de negócio eu estou lá. E qual é a sua opinião acerca da especulação imobiliária em Macau? Acho que em Macau não há especulação imobiliária. Também tenho investimentos na industria imobiliária no território e tenho uma posição diferente da maioria das pessoas. Não penso que Macau tenha preços demasiados altos e não é só por eu estar neste sector que o afirmo. Em Macau, quer os preços sejam altos ou baixos, as pessoas têm sempre uma casa para poderem viver. Já em Hong Kong, penso que o mercado imobiliário está um bocadinho inflaccionado. Em Hong Kong há muita especulação, mas é uma cidade com uma economia muito livre, em que o dinheiro circula também livremente. Por outro lado, a economia de Hong Kong e as suas fundações, são muito boas apesar de ser uma cidade pequena quando comparada com as grandes cidades do mundo. Por isso, a situação do imobiliário em Hong Kong é justificável. Toda a gente diz que Macau é caro. Não vejo Macau como sendo muito caro. As pessoas podem não conseguir comprar as casas, mas isso não quer dizer que seja caro. Vamos comparar diferentes estatísticas. Olhemos para Hong Kong, Macau, Pequim e Shenzhen. Entre estas cidades qual é a que tem o maior rendimento per capita? Macau. Em qual delas o salário médio é mais alto? Macau. Qual é que tem maiores perspectivas de crescimento? Talvez seja Shenzhen, mas Macau não está em último. Se se comparar o custo por metro quadrado em Macau, entre o passado e agora, as pessoas podem dizer que pagar 11 mil patacas por metro quadrado é muito caro comparado com as 1000 que custava há uns anos. Há uns anos, era realmente muito barato o que não quer dizer que agora seja caro. Se olharmos para um apartamento em segunda mão de 1000 metros quadrados em que se encontram preços de 5000 patacas por metro quadrado, temos uma casa que pode ir dos cinco aos seis milhões de patacas. Quem é que não tem poder de compra para uma casa destas? Um casal que seja comprador pela primeira vez, na casa dos trinta anos, com um trabalho decente em que cada um ganha provavelmente entre 30 e 40 mil patacas por mês, faz com que em conjunto recebam mensalmente cerca de 80 mil pataca. Se tiverem nas suas poupanças cerca de um milhão, não precisam de se preocupar com a compra de casa. Por isso não penso que seja assim tão cara a habitação em Macau. Quanto à sua carreira na política, quais são os seus planos? Não tenho planos. Nem enquanto membro da Associação Popular Nacional (APN)? Candidatei-me e perdi no ano passado. Fiquei como primeiro substituto e se existir alguma desistência passarei a exercer funções. Se não, posso concorrer de novo daqui a quatro anos. E vai fazê-lo? No dia de hoje respondo-lhe que sim, porque acho que é um óptimo canal para que possa representar Macau no nosso país. E como representaria o território? O que acha que é necessário fazer? Temos de saber representar o sector que representamos. Felizmente, ou infelizmente, sou mais próximo da área dos negócios. Não sou um médico ou advogado, por isso não vou representar esses sectores profissionais com certeza. Mas no que respeita ao sector dos negócios, do desporto e da cultura, em que estou mais envolvido nos últimos anos, gostaria de levar a Pequim um maior entendimento do que se passa nestas indústrias em Macau. As pessoas tendem a pensar que ser representante na APN é uma posição muito elevada e que se está no cimo de muita coisa. Quando me candidatei no ano passado, sempre disse aos votantes que era apenas um representante de alguns sectores. Nós representamos o povo de Macau. Qual é a sua opinião acerca da lei sindical? Penso que Macau tem uma história enquanto sociedade harmoniosa. Por isso, em vez de se lançar um grande debate seria melhor que a lei tivesse o acordo das partes envolvidas. A lei sindical é um assunto muito sensível, especialmente para mim. Venho do sector dos negócios e estarei ao lado deste sector. Não acho que actualmente, com ou sem lei sindical, os nossos trabalhadores sejam mal tratados. Não quero dizer que todos os trabalhadores são bem tratados, mas temos de admitir que a sociedade de Macau dos últimos 15 anos, e que podemos projectar para os próximo 20 ou 30 anos, é uma sociedade de emprego. Por isso, mesmo sem a lei, se um trabalhador sofre porque é mal tratado pelo seu empregador, pode arranjar outro emprego facilmente noutro lado. Não é o mesmo que acontecia quando estávamos nos anos 70 ou 80. Naquela altura, precisaríamos de uma boa lei para proteger os trabalhadores. Vocês jornalistas, normalmente, veem-me como sobrinho de Edmund Ho, mas também sou o neto de Ho Yin. O meu avô era um homem de negócios, mas sempre defendeu os direitos dos trabalhadores. Fala-se muito da diversificação da economia. Que negócio abriria para contribuir para essa diversificação? O que vou abrir a seguir. É um projecto novo, e é um negócio de manufacturação. Não posso ainda dizer o que é em concreto porque ainda está em fase de estudo e planeamento. Mas para investir em qualquer coisa, especialmente em Macau, temos de olhar para o mercado do jogo, isto porque mesmo uma lavandaria aqui tem de estar relacionada com esse sector. Se tivermos um negócio de confecção de uniformes também temos de pensar no mercado do jogo. Kevin Ho é um homem de negócios. Além disso, o que gosta de fazer? Gosto de viajar, por exemplo. Gosto também de fumar charutos e de beber uísque. Não é muito saudável, mas gosto muito.
Sofia Margarida Mota EventosWong Weng Io apresenta “I upload, therefore i exist” na Casa Garden: “Como é que se sabe que se é humano?” A exposição “I upload therefore I exist”, da artista local Wong Weng Io, vai ser inaugurada no próximo dia 8 de Maio na Casa Garden. A mostra organizada pela associação Babel, e com curadoria de Margarida Saraiva, pretende explorar a relação e impacto entre a existência humana, a tecnologia, a informação, os media, a identidade e a inteligência artificial. Para a artista este trabalho reflecte o mundo em que se move e a forma como o apreende O que vamos ver nesta exposição? Vamos ter quatro espaços, cada um com uma instalação. No primeiro estará um trabalho que se chama a “A omnipresença do texto”. A instalação é inspirada em “Éter”, um romance de ficção científica que se passa nos Estados Unidos, escrito por Zhang Ran e é uma abordagem a uma sociedade em que as pessoas livres não encontram outro espaço que não seja a linguagem gestual e silenciosa para se expressar, num mundo completamente vigiado. Peguei em excertos deste texto, imprimi e tapei algumas palavras. No segundo espaço, temos “A omnipresença das imagens”. É uma instalação com 1200 postais feitos de imagens distribuidas em três categorias: o mundo, os humanos e o lixo. A terceira sala apresenta “A omnipresença do complexo”, uma obra composta por caixas de luz, com citações seleccionadas a partir de frases de robots que questionam humanos: “Como é que se sabe que se é humano?” Também há respostas às perguntas sobre o que está para vir: O futuro será “uma nova estrutura social”, “novos modelos económicos”, “novos modelos de negócios” e “uma nova cidadania”. As citações tratam da inteligência artificial e da robótica por detrás de questões existênciais. O último espaço aborda a questão do tempo, memória, do dados pessoais e da mudança. Tem o nome de “Passado” e mostra os meus últimos 2000 mil dias de vida. Estamos perante uma reflexão contemporânea que questiona a sociedade e a sua relação com a tecnologia? Já Martin Heidegger questionava o papel da tecnologia e qual a sua essência. Para este autor, a tecnologia iria preencher o mundo. No entanto, na sua essência, a tecnologia não é nada mais do que a construção e uma moldura que depois não tem conteúdo. Por outro lado, o facto de ter denominado grande parte dos espaços desta exposição de “omnipresença” tem que ver com o excesso de informação e de imagens que estão actualmente em todo o lado. A informação é demasiada e no fim, acaba por ser nada. Por isso mesmo, por ser demais. O que quero apresentar é esse nada através da apresentação de tudo através de imagens, lixo e pessoas. É como apresentar a própria realidade e a forma como a informação nos é exposta actualmente. É muita coisa e parece que está tudo partido em pequenos pedaços que fazem com que seja muito difícil compreender o que vemos e o que nos chega. Esta exposição é isso e é um reflexo do meu estado. Não chego a nenhuma conclusão porque recebo demasiada informação. Se calhar cada imagem que apresento na sala dos postais, se estiver isolada, não representa nada. Mas tendo aqueles imagens todas juntas, consigo reflectir a forma como a informação nos é exposta. Aborda a inteligência artificial. Tem-se falado que muitas das funções humanas vão ser substituídas pelas máquinas inteligentes. Acha que isso vai acontecer também com a arte? No que respeita à inteligência artificial, penso que pode vir a ser uma ferramenta de ajuda no futuro. Penso que realmente podem vir a substituir os humanos em muita coisa e podem mesmo estabelecer a sua forma de comunicação activa com as pessoas. Podem falar e também podem criar, mas nunca vão criar como criam os humanos. Terminou o curso de Belas Artes na Austrália com distinção. O que a levou a regressar a Macau? Voltei porque tinha saudades da minha família. Por outro lado, não podia lá permanecer por não ter visto. Acha que Macau tem espaço e condições para crescer enquanto artista? Penso que qualquer lugar que tenha sítios disponíveis para expor os trabalhos dos artistas são ajudas para o desenvolvimento de uma carreira. Quanto a Macau, penso que é uma região que apoia os artistas. O território tem a sua própria história na arte. Não tem a tradição do Reino Unido ou dos Estados Unidos, mas o Governo tem subsídios destinados às artes que são muito valiosos para a promoção da arte que se faz por cá. O programa da associação Babel que promove os jovens artistas locais é um bom exemplo disso. Esta exposição faz parte dele. O Governo apoia oficialmente eventos de grande envergadura, como é o caso do Festival das Artes, e não deixa de apoiar associações que se dedicam à divulgação de artistas mais independentes. A AFA, o Armazém do Boi a Babel são outros bons exemplos de associações que têm os apoios oficiais e que promovem os artistas locais. Babel, uma torre segura A associação sem fins lucrativos Babel tem no seu programa anual a divulgação de artistas locais. Este ano a convidada foi Wong Weng Io. De acordo com a responsável pela Babel, Margarida Saraiva, o contacto com o trabalho de Wong Weng Io foi feito depois de uma visita a uma exposição no Armazém do Boi em que ficou impressionada com uma instalação da artista. “Tratava-se de uma impressão de 27 metros, com dez dedos de uma pessoa. Os dez dedos tinham sido passados por um scanner e criavam um padrão regular acerca da identidade”, referiu ao HM. Depois de ver um outro trabalho de Wong Weng Io, Margarida Saraiva não tive duvidas. “Decidi convidar Wong Weng Io para abordar estes tópicos relacionados com os media sociais, o mundo virtual e a inteligência artificial numa exposição”, apontou. Quanto aos planos futuros da associação, a Babel está a trabalhar para a realização de uma residência artística. A ideia é ter artistas portugueses em Macau, e para o efeito Margarida Saraiva convidou o fotógrafo português Nuno Cera que tem vindo a recolher imagens de cidades em diferentes partes do mundo. O projecto chama-se “Futureland” e vai estar em Macau nos meses de Setembro e de Outubro. Nuno Cera vai ainda registar o desenvolvimento da cidade e “este projecto estará em diálogo com as outras 12 cidades que já registou”, esclareceu a responsável da Babel.
Sofia Margarida Mota Manchete PolíticaDiplomacia | José Augusto Duarte encara a China como a grande prioridade Está em na capital chinesa desde Janeiro e terminou ontem a sua primeira visita a Macau. Para o Embaixador de Portugal em Pequim, José Augusto Duarte, o projecto de Porto de Sines deve avançar a bem da integração da política “Uma faixa, uma rota”. No que toca às liberdades, o diplomata entende que estes são assuntos que apenas dizem respeito à China [dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]osé Augusto Duarte, Embaixador de Portugal em Pequim, fez a sua primeira visita a Macau. O objectivo foi tomar conhecimento da situação local e definir objectivos estratégicos de forma a melhorar as interações entre a RAEM, o continente e Portugal. Apesar de bem impressionado, o diplomata que assumiu funções em Janeiro, admite que há ainda muito a fazer. “Temos uma relação constitucional saudável e equilibrada e não há propriamente problemas de fundo, ou tensões a resolver”, começou por dizer no encontro de ontem com os jornalistas. De acordo com o embaixador, há espaço para aumentar as trocas comerciais, o investimento, e as relações culturais, científicas e tecnológicas. Quanto a Macau, as condições estão criadas, porém, é preciso passar à acção e ao envolvimento da sociedade civil. “Temos de ter acordos que permitam os investimentos. A partir do momento em que já os temos, como é o caso em Macau, temos de ter também a própria dinâmica da sociedade civil para aproveitarmos estes mecanismos existentes”, apontou. Continente à espera No que respeita ao continente a situação mantém-se, mas é preciso ainda trabalhar em alguns processos legislativos. José Augusto Duarte avança que está em curso, há vários anos, a possibilidade de exportar para o mercado chinês carne congelada portuguesa. De acordo com o diplomata, esta é uma matéria com “enorme interesse para as associações de suinicultores portugueses e para o Ministério da Agricultura, mas as negociações ainda decorrem”. Para já, as empresas portuguesas com registos de sucesso estão a ter lucros que não teriam em qualquer outro mercado internacional, referiu. “Exemplo disso é a Superbock, que está a ter um sucesso imenso nas suas exportações em grande parte devido às exportações para o mercado chinês. É, neste momento, a cerveja mais importada para a China”, apontou. Sines estratégico Em relação Porto Marítimo de Sines, o diplomata olha o futuro com optimismo. “O debate está a ser feito. Portugal tem um interesse inequívoco em ficar conectado com esta iniciativa de um ponto de vista económico”, esclareceu o embaixador José Augusto Duarte. “Não é apenas um interesse político abstracto, é concreto. Se Sines estiver ligado ao projecto “Uma faixa, uma rota”, a nossa economia pode sair muito beneficiada porque temos uma posição estratégica única na Europa de facilitação de ligação aos continentes americano e africano, por mar e terra, a toda a massa continental euro-asiática”, explicou. A embaixada está “em contacto com as autoridades chinesas para defender isso mesmo e provar que seria uma parceria win-win”, que estaria aberta a outras estruturas portuárias e não apenas a Sines, disse o diplomata. Entretanto, a China está no topo das prioridades de Portugal. “A China impõe-se por si. Para onde quer que nos viremos a China marca presença e é um prioridade da política externa portuguesa”, sublinhou. Liberdades à parte Questionado acerca da sua posição relativamente ao crescente poder do presidente chinês Xi Jinping, José Augusto Duarte considera que se trata de um assunto que apenas à China, e aos seus cidadãos, diz respeito. “Acho que compete aos cidadãos chineses e à China fazer os debates que consideram oportunos, as reformas que consideram adequadas, e ter o seu próprio modelo de desenvolvimento e de evolução naquilo que são os direitos cívicos, ou o que são as ordens constitucionais estabelecidas relativamente ao número de mandatos”, referiu. Por outro lado, salientou que “uma coisa é certa, a China com o seu próprio modelo estabelecido, sobretudo após as reformas iniciadas por Deng Xiaoping. Atingiu patamares de desenvolvimento económico e social que dão que pensar ao mundo inteiro e que fazem a criação de um ordem geo-económica internacional nova. O embaixador mantem uma posição de prudência também em relação ao impedimento de entradas no território de autores que iriam participar no Festival Rota das Letras. “Aqui, não vejo questões internas como um problema, acho que devemos estar atentos, devemos ir observando”. Por outro lado, este tipo de situações, considera, em nada afectam a política de “Um país dois sistemas”. “Acho que seria muito forçado considerar que estaria em causa a solidez dessa política”, disse, até porque, “qual é o país do mundo que nos seus processos de integração ou de independência tem algo parecido com o que existe entre a RAEM e a China?”, questionou retoricamente. “Neste momento, não temos motivos que nos levem a ter uma preocupação ou a pôr em causa o que quer que seja na negociação que foi feita relativamente à transição”, rematou. Mudar o dia de Portugal Se até agora o dia de Portugal, 10 de Junho, era comemorado na embaixada de Pequim com a realização de um cocktail. O embaixador José Augusto Duarte quer alterar a celebração de forma a mostrar o melhor de Portugal a Pequim. “Quero mudar a forma como se comemora o dia de Portugal”, revelou. A razão deve-se ao facto de ser um momento privilegiado em que “temos uma boa parte da administração do Estado que nos recebe, temos convidados estrangeiros que competem connosco, temos amigos vários e temos a imprensa. Já que tenho estas condições aproveito e projecto o meu país de uma forma mais elevada”, justifica. Este ano, a opção foi um concerto de música barroca. O evento vai contar com a presença da Orquestra de música barroca da Casa da Música do Porto e com um filme que apresenta a cidade invicta. A escolha não foi ingénua. “No fim do séc. XVII houve um imperador chinês, Kanxi, que teve uma relação espacialíssima com Portugal. Apreciava o país e teve um conselheiro diplomático português que foi de Macau. O conselheiro era Tomás Pereira, do Porto e era também musicólogo. Por isso, “ao invocar Kanxi, Tomás Pereira e o Porto estamos a invocar uma época áurea entre o nosso entendimento”, abrilhantado com o melhor da música erudita. Entretanto, cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, Vítor Sereno, termina o mandato este ano e pode ter já o sucessor escolhido. “O substituto já está à partida escolhido, mas são processos longos e burocráticos e não está ainda garantido”, referiu o embaixador. Quanto à data para a substituição, ainda é um incógnita, sendo que “não andará longe dos seis meses”. Consulado em aquecimento A abertura do consulado em Cantão, a terceira maior cidade da China, “é literalmente uma questão de dias”, afirmou ontem o embaixador de Portugal em Pequim, José Augusto Duarte. “Temos todas as autorizações e já estão pessoas a trabalhar lá dentro”, anunciou o embaixador, durante uma conversa com os jornalistas, na residência oficial do cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong. Trata-se do terceiro consulado de Portugal na China, depois de Macau, Pequim e Xangai, e terá como área de jurisdição as províncias de Guangdong, Hainan, Hunan, Fujian e a região autónoma de Guangxi. Questionado sobre a possibilidade de abrirem mais consulados na China, o embaixador declarou não haver “para já” essa hipótese. Mas “mais importante do que abrir mais consulados, é dotar as embaixadas que já temos com todos os meios necessários”, ou seja, “mais recursos humanos e materiais”, sublinhou.
Sofia Margarida Mota EventosCinema | “Plastic China” vai ser exibido em Hong Kong Fez parte da selecção oficial do Sundance Film Festival no ano passado e foi premiado em alguns dos mais importantes festivais de cinema documental. O documentário “Plastic China” de Wang Jiuliang vai ser agora exibido em Hong Kong, a 17 de Maio [dropcap style≠‘circle’]G[/dropcap]alardoado no estrangeiro, o documentário do realizador chinês Wang Jiuliang, que traz à tela o problema do plástico e da sua reciclagem na China, tem exibição marcada para o próximo dia 17 de Maio na Garage Academy em Hong Kong. Depois de ter sido apresentado pela primeira vez no Sundance Film Festival, o filme tornou-se viral na internet e levou as autoridades chinesas a bani-lo. “Plastic China” traz uma realidade por muitos desconhecida: o negócio, nem sempre limpo ou respeitador dos direitos humanos, que é a reciclagem deste material no continente. A China é o maior importador mundial de resíduos plásticos e recebe dez milhões de toneladas por ano da maioria dos países desenvolvidos. Esta condição tem trazido ao país um preço a pagar: um elevado impacto ambiental com consequências para a saúde de quem trabalha no sector. O filme retrata as pessoas que transformam o lixo oriundo do primeiro mundo e que o preparam para voltar a ser exportados. Uma oficina entre muitas A personagem principal da “Plastic China”, Yi-Jie, é uma menina de 11 anos que vive com a família numa típica oficina de reciclagem de resíduos de plástico. Sem poder ir à escola por falta de dinheiro, Yi-Jie apreende o mundo exterior a partir do lugar onde vive e trabalha. São os restos de pacotes de café que lhe dizem que ele existe, são os cartões de identificação das escolas inglesas que lhe ensinam as primeiras palavras naquela língua, e as bonecas partidas que usa, servem para brincar. O pai prometeu mandá-la para a escola há cinco anos, mas ainda não o fez e gasta o pouco que ganha em álcool. Kun, o dono da oficina de reciclagem doméstica, representa o dinheiro, o poder e a classe instruída e ao mesmo tempo que despreza a família de Yi-Jie, que mantém numa posição de dependência. O sonho de Kun é um dia ter um automóvel sedan e ascender socialmente. O filme retrata a pobreza, a doença, a poluição e morte através da vida quotidiana destas personagens. China frágil Por outro lado, e de acordo com a apresentação oficial da película, “Plastic China”, alerta para a superficialidade do que se chama hoje de prosperidade chinesa, um conceito que o autor do documentário entende ser uma “cirurgia plástica – falsa e frágil, com consequências incertas”. Enquanto isso, no outro lado do mundo – longe das oficinas de reciclagem de plásticos da China, a tendência é ignorar as consequências do uso excessivo dos plásticos. Entretanto, a China proibiu a importação de lixo plástico no início do ano.
Sofia Margarida Mota China / Ásia MancheteDiplomacia | Encontro entre líderes coreanos traz esperança de paz à península O que parecia impensável aconteceu mesmo. Kim Jong-un atravessou a fronteira do Paralelo 38 para um memorável aperto de mão. Um momento histórico que marcou a cimeira da passada sexta-feira entre os líderes dos países da península coreana. O encontro resultou na assinatura de uma declaração conjunta para a desnuclearização da Coreia do Norte e ficaram ainda promessas de mais visitas e de uma paz permanente. Trump e Abe estão confiantes no compromisso firmado Com agências [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stá assinado e prometido. Os líderes das Coreias assinaram um acordo para a “completa desnuclearização da península”. Além disso, está no horizonte o fim de um conflito que manteve a região em clima de guerra permanente. É o que se lê no comunicado conjunto divulgado no final da cimeira histórica entre os dois líderes, 65 anos após o conflito armado ter terminado. “O Sul e o Norte confirmaram a sua meta comum de conseguir uma península livre de armas nucleares através da completa desnuclearização”, refere a declaração conjunta, assinada por ambos os líderes no final da cimeira histórica. Naquele que foi o primeiro encontro entre os dois líderes em mais de uma década, os dois responsáveis comprometeram-se com um acordo para estabelecer uma paz “permanente” e “sólida”, um objectivo que pretenderá ser alcançado em parceria com os Estados Unidos e talvez também com a China, refere o texto. Para já ficou estabelecido, com o encontro entre Kim Jong-un e Moon Jae-in, o compromisso de elaborar medidas para a “completa desnuclearização” . Kim Jong-un prometeu fazer com que o acordo com Moon Jae-in seja implementado, ao contrário do que aconteceu com compromissos anteriores. O líder norte-coreano admitiu que possam existir “dificuldades e frustrações no caminho”, mas adiantou que as duas Coreias se concertarão estreitamente para evitar “repetir o passado”. Maduro Maio O líder norte-coreano “disse na cimeira (…) que procederá ao encerramento do local de testes nucleares em Maio”, referiu o porta-voz sul-coreano, citado pela France Press. Segundo a mesma agência, Pyongyang vai convidar peritos dos Estados Unidos e da Coreia do Sul para verificar o encerramento do centro de testes, de modo a “revelar o processo à comunidade internacional de forma transparente”. A Associated Press refere, por seu lado, que Kim Jong-un afirmou que Trump irá perceber que ele “não é pessoa” para apontar mísseis contra os Estados Unidos e que a Coreia do Norte planeia ainda reajustar os seus relógios com os da Coreia do Sul, que se encontram, desde 2005, com uma diferença horária de 30 minutos. Visitas entre a vizinhança Foi agendado para Outubro um novo encontro, desta feita com a ida do presidente sul-coreano a Pyongyang. Paralelamente, ficou ainda acordado que os dois líderes se encontrarão regularmente e falarão ao telefone através de uma linha criada para o efeito. Norte e Sul concordaram ainda com a abertura de um escritório de comunicação permanente na cidade norte-coreana de Kaesong. Foi acordado também o recomeço das reuniões temporárias entre famílias separadas pela guerra da Coreia (1950-1953). “A Coreia do Sul e a Coreia do Norte decidiram continuar o programa de reunião das famílias separadas por ocasião do Dia da Libertação Nacional a 15 de Agosto”, indicaram, referindo-se ao dia que assinala a rendição japonesa no final da Segunda Grande Guerra. Na final da histórica cimeira na cidade fronteiriça sul-coreana de Panmunjom, Kim e Moon comprometeram-se ainda a aumentar os intercâmbios e a realizarem conjuntamente iniciativas desportivas e culturais. A cimeira foi a primeira entre líderes coreanos em 11 anos e Kim Jong-un foi o primeiro dirigente norte-coreano a pisar solo da Coreia do Sul desde o fim da Guerra da Coreia. As duas cimeiras anteriores inter-coreanas, em 2000 e 2007, decorreram em Pyongyang. Entretanto, Donald Trump reagiu ao encontro entre os líderes coreanos com optimismo. No sábado, o presidente norte-americano, disse a Moon, num telefonema, que estava satisfeito com a completa desnuclearização, de acordo com as autoridades de Seul. “Trump disse que foi uma boa notícia, não só para as duas Coreias, mas para o mundo inteiro, afirmar o objectivo de conseguir uma península coreana livre de armas nucleares através de uma completa desnuclearização”, disse Kim Eui-kyeom, porta-voz da Casa Azul. País aberto a inspecções De acordo com a agencia Reuters, Kim disse a Moon que vai convidar especialistas e jornalistas para “mostrarem à comunidade internacional” o desmantelamento das instalações, informou a Casa Azul. “Os Estados Unidos, apesar de serem um país hostil à Coreia do Norte, vão saber, de uma vez por todas, que não sou o tipo de pessoa que usa armas nucleares contra o sul ou contra os Estados Unidos do outro lado do Pacífico”, disse o secretário de imprensa de Moon, Yoon Young-chan, citando o líder norte coreano. “Não há nenhuma razão para que tenhamos armas nucleares se a confiança mútua com os Estados Unidos for construída através de reuniões frequentes a partir de agora, e o fim da guerra e da não-agressão forem prometidos”. A promessa de Kim mostra sua disposição de “preventiva e activamente” responder aos esforços de inspecção a serem feitos como parte do processo de desnuclearização, disse Yoon. Para facilitar a futura cooperação transfronteiriça, Kim prometeu também eliminar o fuso horário exclusivo criado por Pyongyang em 2015. O presidente norte coreano referiu que adiantaria os ponteiros do relógio 30 minutos para estar em sincronia com o sul. Ventos nipónicos O primeiro-ministro japonês Shinzo Abe também já se pronunciou acerca da cimeira da passada sexta-feira, referindo que espera que daí resultem “acções concretas”, de acordo com a Reuters. “Quero saudar este passo positivo em direcção a uma resolução conjunta de várias questões relacionadas com a Coreia do Norte”, declarou Abe à comunicação social, classificando as conversações como “discussões sinceras sobre a desnuclearização da Coreia do Norte”. O Japão, que foi recentemente sobrevoado por dois mísseis norte-coreanos, mantém há muito tempo uma posição dura face às negociações com Pyongyang, pedindo que não se “discuta por discutir”. Antes da histórica cimeira intercoreana e de um encontro entre Kim Jong-un e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Abe surgiu com declarações mais positivas. “Quero manter uma estreita coordenação entre o Japão, os Estados Unidos e a Coreia do Sul em direcção a uma solução abrangente sobre os problemas dos raptos (japoneses), e dos misseis”, disse Abe. A questão dos japoneses raptados pelo regime norte-coreano nos anos 1970 e 1980 continua a ter uma forte carga emocional no Japão, salientou. A Coreia do Norte admitiu em 2002 ter raptado 13 japoneses nas décadas de 1970 e 1980 para treino de espiões. Cinco deles regressaram ao Japão, mas Tóquio suspeita que existam centenas ainda por voltar ao país. Notícias atrasadas Os meios de comunicação social norte-coreanos classificaram como um “novo marco”, o resultado da cimeira entre as duas Coreias ocorrido na sexta-feira na zona desmilitarizada que separa os dois países. Depois de um silêncio de praticamente 24 horas em torno do assunto, a comunicação social estatal norte-coreana mencionou o compromisso incluído na declaração conjunta de alcançar a “completa desnuclearização” da península. Na sua notícia, a agência assegura que os dois países partilham a ideia de que “as medidas adoptadas pelo Norte e pelo Sul são significativas para a desnuclearização da península da Coreia”, pelo que ambos “acordaram cumprir com as respectivas responsabilidades no futuro”. Os meios de comunicação de Pyongyang sempre louvaram o programa nuclear do país, considerando-o motivo de orgulho para os cidadãos e uma garantia de sobrevivência do regime. Noutra notícia, a agência KCNA classifica como “um novo marco” os esforços conjuntos para a prosperidade e a reunificação das Coreias. Direitos ainda pouco humanos A questão dos direitos humanos continuou a ser um assunto tabu na cimeira entre os líderes das duas coreias, apesar dos apelos da ONU. O relator especial da ONU para a situação dos direitos humanos na Coreia do Norte, Tomás Ojea Quintana, disse na passada quarta-feira (25) aos Estados envolvidos nas negociações para a desnuclearizada do país que evitar o tema dos direitos humanos pode comprometer futuros acordos sustentáveis. “A Coreia do Norte tem provado ser um negociador difícil, e se os direitos humanos não forem sequer mencionados neste primeiro estágio de negociações, seria um passo em falso e uma oportunidade perdida”, declarou. De acordo com o responsável, “qualquer acordo de desnuclearização que marginalize os direitos e as necessidades da população norte-coreana será frágil. A paz e a segurança não podem ser alcançadas somente sob a forma de acordos intergovernamentais, mas também, e sobretudo, sob a forma de políticas domésticas que garantam os direitos humanos, sem discriminação”, disse o especialista em comunicado. “Em linha com o que o secretário-geral da ONU, António Guterres, tem defendido, peço que todos os governos interessados defendam os direitos humanos como um mecanismo para a prevenção de conflitos e um dispositivo para a construção da paz”, disse. Intenções desconhecidas A promessa de desnuclearização anunciada pelo presidente norte coreano Kim Jong-Un pode ser uma estratégia para ganhar tempo e reduzir as sanções que o país vive. A ideia é lançada por vários analistas, refere o New York Times. “Analistas da região estão profundamente divididos sobre os motivos de Kim”, lê-se na publicação americana. “Alguns argumentam que Kim só quer usar as negociações para ganhar tempo e aliviar as sanções internacionais, nunca pretendendo abandonar suas armas nucleares”, refere a mesma fonte. Por outro lado, há quem acredite que Kim acabaria por desistir de seu arsenal nuclear se tivesse os incentivos certos, como garantias de segurança, um tratado de paz, laços normalizados com Washington, e ajuda financeira que necessita para reconstruir a economia.
Sofia Margarida Mota EventosTurismo | “Shrimp Junk Boat” volta amanhã aos passeios de fim de tarde A partir de amanhã, ver o pôr-do-sol a bordo de um junco tradicional volta a ser a ser possível. O “Shrimp Junk Boat”, barco único no território e que um dia serviu para a pesca do camarão, está de volta às águas de Macau, oferece a oportunidade de, a bordo de um “museu”, apreciar a vida local e disfrutar do fim de dia no delta do Rio das Pérolas [dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oi construído nos estaleiros de Coloane para a faina da pesca do camarão. O “Shrimp Junk Boat” é agora o único da sua geração em Macau. Um junco histórico que se estrou em 2016 em passeios turísticos, e que a partir de sábado está de volta para levar quem quiser um passeio ao pôr-do-sol. “O formato dos passeios mantem-se idêntico ao que existia há dois anos, só que na rota inversa”, refere ao HM Henrique Silva, mais conhecido por Bibito, sócio da Macau Sailing, empresa que partilha com o proprietário da embarcação David Kwok. Desta feita, o passeio tem início na Marina de Lam Mau. “Fazemos o canal do Porto Interior, depois o canal de Macau em frente ao Nape e vamos até à zona do Centro de Ciência”, explica o responsável. O acesso à viagem é, como não poderia deixar de ser, descontraído. Basta chegar à marina, comprar o bilhete, que custa 350 patacas, e subir a bordo. A partida tem hora marcada às 17h e “são cerca de duas a três horas de um relaxante passeio pelo rio para ver o final do dia, em que se pode beber uma bebida fresca e ouvir música”, aponta. Viver a história Mais que um mero passeio, estas tardes de sábado podem ainda ser uma oportunidade para conhecer mais de perto a vida local, nomeadamente a zona do Porto Interior com os seus pescadores e rotinas. “Esta zona ao longo dos anos foi perdendo um bocadinho a vida que tinha e era importante devolver este local, as suas gentes e actividades, às pessoas que visitam e habitam o território”, refere Bibito. Por outro lado, sublinha ainda, é “uma oportunidade para se ver este Macau antigo que ainda vive naquela zona”. O próprio barco também é um convite para regressar ao passado. Um junco, fabricado nos antigos estaleiros de Coloane. Hoje em existem apenas dois deste género no mundo, sendo que o outro se encontra num museu em Inglaterra. “É um barco histórico, muito bonito e tradicional de Macau. É um museu e um exemplo vivo do que foi a história náutica local”, sublinha Bibito. Além disso, o “Shrimp Junk Boat” é uma alternativa para os mais novos explorarem a herança histórica do território. De acordo com o responsável pelos mini-cruzeiros, “os nosso jovens estão outra vez a voltar às tascas de Macau e se formos a Coloane, na zona dos estaleiros, há lá um tasquinha antiga que está sempre cheia de gente nova”. Para Bibito, é evidente que os mais novos estão interessados em preservar a cultura local. Além destes passeios, Bibito refere que o barco também está disponível para outros fins, com a possibilidade de reserva para grupos e que podem, por exemplo, marcar passeios às “ilhas que rodeiam o trajecto de Macau a Hong Kong”, em que os “navegantes” têm a liberdade de dar uns mergulhos, nadar e mesmo de almoçar a bordo. Uma luta difícil Apesar do regresso do “Shrimp Junk Boat”, é ainda cedo para afirmar que o barco vai estar disponível ao longo de toda a época de Verão sem apoios. “Estamos com o barco na Marina do Lam Mau, mas aquilo é um pontão que nos foi emprestado e não podemos ficar lá em permanência. Podemos lá estar, para já porque é o lugar de um barco de uma pessoa que não o está a usar, vai voltar e vamos voltar a ficar sem espaço”. Foi também por não ter espaço, que no ano passado não houve passeios a bordo do junco. “Em 2016, o barco estava já a tornar-se uma presença habitual na vida das pessoas, tanto nos passeios de fim de tarde que fazíamos aos sábados, como nos passeios para eventos e para operadores de turismo no território”, recorda Bibito. A dificuldade é arranjar um sitio para atracar o junco. A solução passaria pela vontade do Governo em ajudar nesse processo, refere. Bibito reconhece que em Macau não há suficientes marinas disponíveis, “mas há algumas pontes cais que não estão a ser utilizadas e que poderiam ser uma solução, havendo vontade”, diz. O “Shrimp Junk Boat” não é uma despesa apenas quando sai para o mar. “Mesmo com o barco parado temos continuado a fazer um esforço para o manter, até porque para preservar este barco único é necessário muito investimento e muito trabalho”, aponta. Mas, mais importante é mesmo não desistir. “Continuamos a insistir, teimosamente, para que um dia seja considerado e tratado como um barco de Macau”, remata.
Sofia Margarida Mota Manchete SociedadeSaúde | Vales electrónicos disponíveis a partir de dia 1 de Maio Os vales de saúde electrónicos passam a estar disponíveis a partir do próximo dia 1 de Maio. A medida exige apenas a apresentação do BIR aos médicos e vai permitir um maior controlo no que respeita a irregularidades. Para este ano está previsto um investimento de cerca de 25,3 milhões de patacas para implementar o sistema de comparticipação [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]ntra em funcionamento já no próximo dia 1 de Maio o programa de vales de saúde electrónicos. A informação foi reiterada ontem pelos Serviços de Saúde em conferência de imprensa. De acordo com entidade, a iniciativa vai facilitar o uso da ajuda do Governo e combater as irregularidades que se têm vindo a registar nos últimos anos com os vales de saúde. “Através dos vales electrónicos podemos identificar in loco e também em tempo real os dados dos clientes”, começa por dizer a responsável da Unidade Técnica de Licenciamento das Actividades e Profissões Privadas de Prestação de Cuidados de Saúde, Leong Pui San. Por outro lado, esta verificação imediata irá ser eficaz “para evitar as situações de falsificações de vales”, disse. Não obstante, os SS vão ainda melhorar os serviços de fiscalização de modo a combater as situações irregulares de uso e falsificação dos vales de saúde. Para utilizar esta inovação, o residente permanente só tem de apresentar o seu BIR. Cada vale tem o valor de uma pataca e o montante total do apoio pode chegar a um máximo de 600 patacas. Tal como no sistema de vales em papel, podem ser feitas transferência de valores entre beneficiários, desde que se tratem de pais, filhos e cônjuges, referiu Leong Pui San. Se até agora a utilização desta ajuda do Governo tinha de ser realizada no prazo de um ano, a partir da próxima semana e com a nova modalidade, os utentes têm dois anos para usufruir do apoio. Mensalidade para privados No que respeita às entidades médicas privadas que queiram adoptar o sistema de desconto electrónico, depois de pedirem a respectiva autorização para o uso dos equipamentos, têm ainda de pagar 550 patacas mensais. O pagamento corresponde ao aluguer dos equipamentos necessários para a leitura e desconto do valor do vale. De acordo com os SS, até à data, já há 629 candidaturas profissionais, enquanto que o número de equipamentos instalados é de 420. O orçamento para pôr em actividades o novo plano de comparticipação do Executivo nos cuidados médicos é de 25,396 milhões de patacas. Apesar de ser superior aos cerca de 17 milhões de patacas gastos em 2017 ainda dentro do sistema de vales em papel, os SS preveem que em 2019 o orçamento baixe para os 14.2 milhões de patacas. O aumento que se regista este ano explica-se com a necessidade de “investimento em equipamentos electrónicos, software e gastos administrativos”, referiu Leong Pui San. No que respeita a valores implicados na ajuda, estima-se que possam chegar quase aos 410 milhões de patacas. Desde que o sistema de apoio entrou em vigor, em 2009, mais de 90 por cento dos residentes permanentes utilizaram os vales de saúde. Os excluídos Ficam impossibilitadas de participar no programa de vales de saúde electrónicos as 39 clínicas privadas suspeitas de terem cometido irregularidades no passado. “Estas clínicas já não podem aderir mais a este programa” apontou ontem a responsável da Unidade Técnica de Licenciamento das Actividades e Profissões Privadas de Prestação de Cuidados. De modo a combater as infracções nas clínica privadas, com a entrada em vigor do novo sistema electrónico as clinicas e policlínicas não se podem também candidatar ao sistema, ficando a candidatura entregue aos profissionais de saúde.
Sofia Margarida Mota Entrevista MancheteRui Cunha: “Estamos a pagar o que aconteceu no ‘Occupy Central’” Rui Cunha é um homem do direito. Há seis anos criou uma fundação com o seu nome onde quer ver reflectida a diversidade da população. Assume-se contra a alteração da lei de bases à organização judiciária que limita o julgamento de casos relativos à segurança nacional a juízes chineses e apela a um maior número de juízes no Tribunal de Última Instância para que seja possível o recurso [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] Fundação Rui Cunha entra agora no sexto ano de actividade . Que balanço faz desde a sua entrada em funcionamento? A Fundação foi constituída em 2012 e já lá vão mais de 700 eventos. O balanço é positivo, apesar de não poder dizer que o seja totalmente. Nós na vida, desejamos sempre o melhor e haveria muitos mais objectivos que gostaríamos de atingir. Mas, de qualquer forma, julgo que podemos considerar o nosso trabalho bastante positivo, na medida em que ao fim de seis anos somos já uma referência no ambiente cultural e social de Macau. Que objectivos estão por cumprir? Um dos objectivos que temos em mente desde o princípio da fundação e que não conseguimos ainda atingir é conseguir penetrar mais na comunidade chinesa. Macau tem cerca de 90 por cento da população chinesa e se fiz a fundação para benefício de Macau, pode-se concluir que esta população está incluída. Isto não foi totalmente conseguido ou, pelo menos, não tanto quanto eu desejaria por várias razões, uma delas é a dificuldade de comunicação com esta comunidade. Sendo eu português e ligado à comunidade portuguesa, esta reagiu muito facilmente às nossas iniciativas. O mesmo não aconteceu com a comunidade chinesa. Mas aos poucos lá vamos entrando e conseguindo. Já temos alguns eventos em que a grande maioria do público é chinês, exemplo disso são as nossas noites de piano às sextas-feiras. Para a fundação não há distinção entre portugueses, chineses ou qualquer outra nacionalidade. Todos são bem vindos. Uma das actividades que faz parte das comemorações deste aniversário é a conferência de hoje sobre os 25 anos da Lei Básica. Que balanço faz deste quarto de século de vida do diploma? Acho que 25 anos depois, tendo em conta os quase 20 anos que levamos depois da transferência de administração, demos passos muito grande no sentido de proporcionar qualidade de vida à grande maioria da população. Não digo à totalidade, porque é utópico pensar numa sociedade que seja totalmente feliz. Mas a realidade é que, de um Macau relativamente pequeno e que existia dentro de si em 1999, passámos para um Macau aberto, que ombreia com qualquer outra cidade do mundo e que já adoptou um padrão de vida em que a grande maioria do cidadão vive muito melhor do que vivia em 99. Há uma visão de confiança para o futuro. Não temos os espectro do desemprego, não temos os espectro de catástrofes aqui à esquina, não temos ameaças constantes de guerras ou de atentados. Podem acontecer coisas, como o tufão do ano passado, ou um louco que atire o carro para cima das pessoas mas, em princípio, temos de considerar que as pessoas vivem em Macau em tranquilidade a qualquer hora. Isto revela uma evolução no padrão de vida o que é muito positivo. Eu serei um pouco parcial a fazer um juízo, talvez porque a sorte e a fortuna estiveram comigo, mas é fácil ver que as pessoas vivem hoje melhor. A Lei Básica tinha de existir e ainda bem. Depois da Declaração Conjunta tinha-se de fazer uma espécie de espinha dorsal de uma sociedade que se pretendia aqui para Macau. Diria que a Lei Básica foi importante, foi útil e vai sê-lo, pelo menos, até 2049. A Lei Básica pode mesmo vir a ser o suporte do que se vai fazer e do que se vai encontrar depois de 2049. Creio que a existência da Lei Básica e da forma como foi aplicada, permitiu a estabilidade e a prosperidade que Macau tem agora. Há quem considere que a Lei Básica tem estado em risco com a existência de casos polémicos, como o de Sulu Sou, por exemplo. Qual é a sua opinião? Sempre tive um conceito de que as leis são feitas para determinado momento, para determinada sociedade e não são nem imutáveis, nem devem ser tão sacralizadas que se tornem intocáveis. Com isto quero dizer que sou totalmente avesso a, precipitadamente, se estarem a fazer mudanças conforme mudam os ventos. Sou a favor de uma estabilidade, sim, mas não imutabilidade. Há necessidade de, quando em vez, dar algum toque que acompanhe as necessidades. Quanto à Lei Básica, penso que não precisa de ser mudada. Ela tem e contem tudo o que Macau necessita para poder continuar, progredir e completar alguns dos princípios das leis existentes da forma que se considere mais adequado, mas não penso que precise de ser mudada. Não creio mesmo que haja um risco eminente de isso acontecer. Estamos, no entanto, a ser um bocado vítimas de uma conjuntura que nem será tanto a nossa. O facto de Macau ser uma região administrativa especial e Hong Kong também, as duas leis básicas foram, quase contemporâneas e os modelos aplicados também. Com os problemas que possam existir em Hong Kong, podemos ter como reflexo determinadas alterações. Acha que faz sentido que Macau e Hong Kong sejam vistos pela mesma lente? Neste momento, Macau será um pouco um banco de ensaio para aquilo que é preciso fazer ou o que querem fazer em Hong Kong e, às vezes, experimenta-se ou faz se aqui primeiro e depois diz-se lá que aqui já se fez, e que por isso tem de ser feito na outra RAE. Desde que não venha a afectar seriamente a vivência desta sociedade e o seu bem estar, acho que pode não ser grave. E se atingir a liberdade das pessoas? A liberdade é um conceito um pouco relativo. Com os tempos, cada sociedade foi criando o seu conceito de liberdade, o seu conceito de democracia e de participação. Por isso, se às vezes há necessidade de por algum travão à liberdade individual por necessidade de um bem-estar colectivo eu não seria contra isso. Acho que o bem público está acima do interesse de A, B ou C de querer usar a sua liberdade. A liberdade de um tem como limite a liberdade dos outros. É preciso criar as baias necessárias no sentido de que exercício da liberdade não ultrapasse o que é razoável para o bem-estar comum. A liberdade de expressão é um valor que também prezo mas isso não me autoriza a berrar e a usar palavrões no meio da Almeida Ribeiro cheia de gente. Por outro lado, às vezes, endeusam-se certas pessoas ou certos pseudo-ídolos e invoca-se logo a liberdade de expressão para dizer que essas pessoas estão a ser vítimas de repressão e de injustiças. Trata-se de uma área muita cinzenta e em que qualquer juízo tem de ser feito com muita cautela e, acima de tudo, com uma certa objectividade e sem a obsessão pela vontade de criar vítimas. Está a falar de Sulu Sou? Pode ser um deles. Nesse aspecto, nem sempre tenho visto a comunicação social a ter um juízo muito objectivo. Não sou eu a autoridade para julgar a comunicação social, mas essa vontade de criar vítimas buscando valores que existem, pode levar à queda na área cinzenta e à tendência de se dizer que é a área branca ou preta, sem se ter atenção a este lugar indefinido. A uma acção há uma reacção e às vezes o equilíbrio entre a acção e a reacção não existe. Se uma acção desencadear uma reacção que não seja muito violenta, tendemos a aceitar melhor tanto uma como outra. Quando há desequilíbrio, às reacções desajustadas vêm outras acções também exageradas, e por aí fora. Quanto ao ponto que questionou em concreto, diria que poderia haver, e estou a falar enquanto cidadão, um valorizar mais as pessoas por aquilo que fazem e não por aquilo que dizem. Sem personalizar, diria que às vezes há certos mitos criados de tanto serem falados. Mas se formos ver com mais cuidado o que essas pessoas fizeram em beneficio ou em favor da sociedade onde estão, chegamos quase à conclusão de que nada fizeram a não ser usar a liberdade de expressão para mostrar que são uns seres superiores e que as suas ideias são a verdade. Ainda relativamente ao caso Sulu Sou. Acha que se trata de uma decisão de que carácter? Não conheço os pormenores, mas admito que esta última decisão que saiu do Tribunal de Segunda Instância definiu com argumentos válidos que a decisão relativamente a Sulu Sou não é meramente administrativa mas sim uma decisão com carácter político e, por isso, é irrecorrível para tribunais. Não cabe aos tribunais julgar e apreciar actos de natureza política. Mas podemos ver esta questão de outra forma: se todos os requisitos que a própria lei prevê para que aquele acto se consumasse não foram cumpridos, então acho que deveria haver um meio de corrigir. Sem tomar partido em dizer se é um acto administrativo ou político, acabaria por perfilhar a orientação definida pelo tribunal e que merece uma certa credibilidade. Agora, se esse acto político obedeceu totalmente a todos os requisitos ou a todas as formalidades que deveria ter seguido não sei, e se não seguiu, quer seja político ou administrativo, é um acto doente. Acho também que não é com barulho que as coisas se vão resolver, mas com bom-senso pode haver forma de corrigir o que esteve mal. Está em discussão a alteração à lei de bases da organização judicial. Um dos pontos que tem causado alguma polémica é a limitação dos julgamentos relativos a segurança nacional, a juízes chineses. O que acha desta restrição? Não me parece que seja uma boa opção. Os tribunais são criados para serem respeitados e para merecerem na sociedade onde existem a confiança de que tudo é tratado com isenção, com elevação, e com a seriedade. Já estive sentado em todos os lados dos tribunais e acho que tenho uma visão do que considero que é um tribunal. O tribunal é um órgão que deve merecer toda a confiança e que está acima de tudo. Os juízes não se devem colocar num poleiro e têm de viver no meio das pessoas a quem têm de aplicar a justiça. Sempre considerei que os tribunais especiais são uma anormalidade nos sistema judiciário. Fiz parte de um tribunal militar, mas na prática sempre fiz e quis que funcionasse da mesma forma e com a mesma credibilidade de qualquer outro tribunal. Sou avesso a tribunais especializados e, por coerência, sinto que a distinção de juízes capazes de julgar determinadas causas e incapazes de julgar outras, não me parece um opção muito apropriada. Acho mal. Era preferível uma opção mais discreta e sem ferir tanto a opinião pública que ficará sempre com uma certa desconfiança relativamente a este assunto. E relativamente à impossibilidade de recurso para os funcionários de altos cargos julgados pelo Tribunal de Última Instância (TUI)? Já tive oportunidade de dizer que, quer como juiz que fui, quer como advogado, se houve alguma coisa que considerei como um pilar muito importante na administração da justiça é o recurso. Sou sempre apologista de que deve haver a possibilidade de recurso. Aprendi que o recurso é um instrumento de correcção necessário na aplicação da justiça. Daí, sinto que o nosso sistema aqui enferma de uma falha: em determinadas circunstâncias, que normalmente são muito especiais e de impacto na opinião pública, não têm direito a uma reapreciação. Nunca percebi e a solução é muito simples. Estamos num território com um superavit que dava para pagar 50 juízes do TUI, mas bastavam mais dois juízes no TUI para podermos criar um degrau a mais para do julgamento colectivo de três e para um pleno de cinco. Já nem pensamos em mais. E até se poderia ir a seis o que permitia a criação de dois colectivos que iam acelerar o andamento dos processos e, ao mesmo tempo, teríamos um pleno. Penso que isto protegeria a ideia de isenção e de credibilidade necessária para o sistema judiciário. É um passo que espero que seja dado o mais depressa possível por várias razões: assim nunca ficaria a ideia de que teria sido o peso de um factor exterior a afectar dois dos juízes para que uma decisão não seja a mais apropriada. Com cinco juízes dava lugar a que se repensasse e a mais certezas na decisão. Enquanto juiz, quando via que uma decisão que tomava pudesse vir a ser reapreciada, tinha mais cuidado na explicação das razões da minha opção. O secretário para a segurança, Wong Sio Chak, quer adicionar diplomas complementares à lei da segurança nacional. O que acha da medida? Não conheço em pormenor quais são os diplomas complementares que ficaram por fazer depois da aprovação da legislação sobre o artigo 23 da Lei Básica. Mas, posso fazer um juízo, que pode ser um pouco precipitado, mas que é fruto dos 20 anos que vivemos com a RAEM. Estamos numa sociedade de paz, de tranquilidade e a forma como esta sociedade se está a comportar, não necessita de ser mais travada. Qualquer que seja o travão, será um pouco inútil e não há necessidade de estarmos a apertar a tarraxa quando já está suficientemente provado que Macau tem um sistema em que as pessoas vivem em paz e harmonia sem criar grandes problemas. Mas fico à espera que se saiba mais acerca desses diplomas complementares para ter uma opinião mais concreta. O que tem a dizer relativamente ao que aconteceu no Festival Literário “Rota das Letras” com o cancelamento da vinda de alguns autores por serem considerados “inoportunos”? Não sei os pormenores desse processo. Se sou partidário de um mínimo de restrições ao direito de expressão, em particular no caso do festival literário, acho que poderíamos entender a situação se houvessem outras razões ou algum perigo. Quando falo de perigo quero referir-me a alguém que quisesse aproveitar a vinda desses autores para criar alguma comoção social. Acho que não se justificava. Estamos a falar de um evento e de uma apresentação dirigidos a relativamente poucas pessoas e, ainda assim, partiria do princípio que quem fosse assistir seriam pessoas maduras com capacidade de saber ouvir, saber interpretar e, se tivessem de assumir qualquer posição, seriam pessoas com responsabilidade para o fazer. Tenho pena que o “Rota das Letras” possa não ter continuidade e que este episódio tenha sido uma facada muito forte. Mais uma vez acho que estamos a pagar em Macau o que aconteceu em Hong Kong com o “Occupy Central. Estamos a pagar o preço daquela irreverência. Nem sabemos quem está por detrás do que aconteceu. Lembro-me naquela altura, em conversa, me dizerem até que a menina envolvida tinha sido uma activista do partido comunista. Resta saber quem são estes meninos e por conta de quem o estiveram a fazer. A semana passada foi mais uma vez noticiada a recepção por parte de um advogado português de uma sentença em chinês. Como estamos em termos de aplicação do bilinguismo na justiça? Esse é um problema que está ligado à falta de tradutores. Aqui no escritório somos vítimas dessa situação. As duas línguas são oficiais, mas nada diz que se devem usar sempre em simultâneo. Fico satisfeito com o esquema bilingue que os serviços públicos usam, por exemplo. Mas à carência e descuido no que respeita ao mercado de tradutores. O Governo disse que precisava de 200 e ficou com todos, por outro lado paga o dobro a estes funcionários o que impede um mercado a que possamos recorrer com facilidade. Há muitos anos se deveria ter fomentado o mercado da tradução e hoje teríamos uma classe de tradutores a fazerem o seu trabalho. Não podemos exigir que os tribunais façam as coisas em função dos destinatários. Temos é de ter um mercado de tradutores.
Sofia Margarida Mota SociedadeAlunos da EPM simulam amanhã audiência e julgamento na Fundação Rui Cunha O Centro de Reflexão, Estudo, e Difusão do Direito de Macau (CRED-DM) da Fundação Rui Cunha organiza amanhã mais um programa “Fazer Justiça”. Desta feita, alunos do ensino secundário da Escola Portuguesa de Macau (EPM) vão simular uma audiência e julgamento sobre a violência no namoro. [dropcap style =’circle’]A[/dropcap] iniciativa, que se realiza desde 2013, tem como objectivo dar a conhecer aos jovens estudantes os fundamentos essenciais da lei e da justiça, bem como ajudá-los a compreender o sistema jurídico de Macau. “Todos os anos escolhemos um tema e os miúdos são preparados desde Janeiro, por mim e pelo juiz Carlos Carvalho, para simular uma sessão de audiência e julgamento”, contextualizou a coordenadora do CRED-DM, ao HM, sublinhando que os tópicos são escolhidos em função das preocupações típicas da idade dos estudantes. “Tentamos sempre ir buscar um tema que seja importante para a adolescência. Já fizemos sobre tráfico e consumo de droga e sobre bullying, por exemplo. Serve como uma chamada de atenção e alerta para mudarem determinados tipos de comportamento e como forma de os prevenir”, sustentou Filipa Guadalupe. Desde o juiz ao arguido, passando pelas testemunhas, todos os intervenientes são estudantes. Este ano, pela primeira vez, um aluno de nacionalidade chinesa vai assumir o papel de juiz presidente numa sessão que, à semelhança da realidade, conta com tradução, explicou a mesma responsável, indicando que a iniciativa é feita em conjunto com o Clube de Filosofia da EPM. “Os miúdos gostam muito, temos sempre imensos candidatos, mas este ano porque foram os 20 anos da EPM e eles estiveram envolvidos em muitas actividades extracurriculares, pensei que não ia conseguir fazer”, contou. Lei Básica para os mais pequenos Já o programa “O CRED-DM vai à Escola” elegeu os 25 anos da Lei Básica como tema da sexta edição. As actividades, destinadas a alunos do 4.º ano da EPM, Escola Oficial Zheng Guanying, Escola Hou Kong e Escola Luso Chinesa da Flora, reuniram “por volta de 180 crianças” na segunda e na terça-feira, indicou Filipa Guadalupe. Hoje realiza-se uma sessão com 27 crianças, entre os oito e os 13 anos, da Escola Concórdia para Ensino Especial, o que sucede pela primeira vez, enfatizou a coordenadora do CRED-DM. “Estamos muito contentes [com o programa]. Temos cada vez mais escolas a quererem participar. O ‘feeeback’ é positivo, sobretudo das escolas chinesas, porque as actividades que fazemos aqui fogem completamente ao que estão habituados”, sublinhou. Apesar de o resultado ser positivo, o objectivo é ir mais longe: “A ideia era conseguirmos apoios para o programa funcionar durante o ano inteiro, com o CRED-DM a levar o Direito a diferentes instituições de ensino”. No entanto, tal exige financiamento, porque “são necessários recursos humanos e materiais”. “Era engraçado conseguirmos esse apoio e, na minha opinião, este ano, demos um passo de gigante porque o tema da Lei Básica foi muito feliz e as entidades governamentais vieram ver ‘in loco’ como funciona e gostaram. Vamos ver se é desta que conseguimos arrancar”, afirmou Filipa Guadalupe. Os 25 anos da Lei Básica também vão estar em foco amanhã, pelas 18h30, numa sessão na Fundação Rui Cunha, desta feita destinada a adultos. A iniciativa tem como oradores Jorge Rangel, presidente do Instituto Internacional de Macau e membro da Comissão de Redacção da Lei Básica, e Leonel Alves, advogado e vice-presidente da Associação para a Divulgação da Lei Básica.
Sofia Margarida Mota Eventos25 de Abril | A comemoração da Revolução dos Cravos no território Há 44 anos terminava o Estado Novo em Portugal. O 25 de Abril, dia da liberdade à portuguesa, continua a ser uma data a festejar em Macau. A Casa de Portugal faz o tradicional convívio que conta hoje com a participação de um grupo de cantares alentejanos, enquanto um grupo de residentes organiza o também tradicional jantar alternativo onde se juntam amigos à mesa para partilhar canções, poemas e, acima de tudo, alegria [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]ste ano a Casa de Portugal vai promover uma iniciativa diferente das dos últimos anos para assinalar mais um 25 de Abril. “Desta vez resolvemos fazer uma coisa diferente e organizar um jantar concerto”, referiu a coordenadora da entidade, Diana Soeiro, ao HM. Para o efeito, foi convidada uma banda de cantares alentejanos, os Vocalistas, para servir música como um dos pratos principais do tradicional jantar de 25 de Abril. A escolha da banda foi óbvia face à popularidade que tem no território. De acordo com a responsável, “o facto da banda ter actuado no programa “À Capela” fez com que chegasse ao conhecimento de muitas pessoas por cá”, referiu. Como não poderia deixar de ser o tema “Grândola Vila Morena vai hoje ser muito bem interpretado”, refere Diana Soeiro. O jantar está marcado para a Torre de Macau, no terceiro andar, e tem o valor de 350 patacas com oferta de vinho. A Casa de Portugal está à espera de uma casa cheia com a participação de 200 a 250 pessoas. Quanto ao menu, “não poderia deixar de ser de inspiração portuguesa”, apontou. Para Diana Soeiro o dia da liberdade ainda é um momento que une muitos portugueses que vivem no território. “Quem vai, participa com muita alegria e, realmente, com muita vontade. Não têm duvidas acerca da sua presença e do convívio com um grupo que todos os anos festeja a efeméride que já é uma tradição”. Vão estar ainda presentes o ex-Governador de Macau Rocha Vieira e ex-Presidente da Câmara de Lisboa João Soares. Liberdade alternativa À semelhança de anos anteriores há um grupo de residentes que organiza um encontro para brindar à liberdade num evento com um cariz mais informal. “É, mais uma vez, um jantar do 25 de Abril que surge a partir de um grupo de pessoas que, tradicionalmente, organizam este encontro para assinalar a data de uma forma mais alternativa”, começa por dizer um dos organizadores, João Pedro Góis, ao HM. A ideia não é ser um acontecimento para competir com as comemorações organizadas pela Casa de Portugal, mas “apenas mais um jantar para muitas sensibilidades e para todas as tendências”, referiu. Trata-se de um encontro à mesa muito informal, quase familiar, e, acima de tudo, descontraído, apontou, “até porque é a forma que define as pessoas envolvidas na organização desta comemoração, bem como os que a ela aderem”. Se até ao ano passado o jantar deste grupo de amigos era tradicionalmente feito no NAPE, este ano a localização mudou para “O Santos” na Taipa. “Não foi por nenhum motivo especial, mas apenas para ser diferente”, referiu João Pedro Góis. A ideia era ter cerca de 25 pessoas, número que tem sido mais ou menos constante nos últimos anos, mas desta vez o número de interessados aumentou. “Entretanto, já tivemos de falar com o restaurante a dizer para contar com mais, porque já temos cerca de 40 pessoas inscritas”. Para João Pedro Góis, o 25 de Abril em Macau é comemorado com muita consciência. “Acho que aqui as pessoa têm ainda muito presente o que foi o 25 de Abril e a sua importância”. Mas, em Macau pode existir uma “pequena” diferença nesta celebração da liberdade quando comparada com Portugal. “A nossa condição de emigrantes, uma vez que moramos fora do nosso país de origem, e tratando-se de uma data tão importante na história portuguesa, faz com que tenhamos um gosto especial em celebrar um momento com o qual nos identificamos particularmente”, considerou. Improviso à mesa O serão vai ser preenchido, como nos anos anteriores, sem definição precisa, mas todos são convidados a contribuir, “com uma canção, um poema ou um discurso, o que quiserem”, afirmou. O mais importante é estar presente, “mais um ou mais cinco, desde que seja com um espírito aberto e livre porque a missão é estar ali felizes, radiantes, profundamente satisfeitos e gratos às pessoas que fizeram o 25 de Abril”, apontou. De acordo com o organizador, a data é um momento quase solene, “até porque a liberdade tem de ser sempre celebrada e respeitada”, disse. Os participantes do jantar não precisam preocupar-se com a forma como podem arranjar cravos, uma vez que a organização tem a flor que marca o fim da ditadura à espera de cada um dos participantes.
Sofia Margarida Mota Manchete SociedadeCinema | 25 de Abril, um dos epicentros de inspiração para Ivo Ferreira O 25 de Abril é daqueles marcos históricos que pode ser visto sob várias perspectivas. O realizador local, Ivo Ferreira, tem abordado, espontaneamente, o período antes, durante e após a revolução. De momento, o cineasta está a começar a trabalhar em “Projecto Global” que vai tratar do período quente do PREC, mais precisamente os episódios que tiveram as FP-25 como protagonistas [dropcap style =’circle’]”S[/dropcap]im, sou fascinado por estes desastres melancólicos” começa por dizer o realizador Ivo Ferreira ao HM, quando se fala da sua abordagem aos períodos pré, durante e pós 25 de Abril. No filme premiado “Cartas de Guerra”, Ivo Ferreira trouxe para o ecrã os tempos coloniais do Estado Novo, enquanto que em “Águas Mil” deu a sua visão da revolução dos cravos. O realizador local está agora a trabalhar num projecto que pretende ver nas salas de cinema em 2020. É o filme “Projecto Global” que trata o período pós revolução dos cravos e depois a ressaca violenta do PREC, tendo como protagonistas as Forças Populares 25 de Abril (FP-25). De acordo com Ivo Ferreira o filme, que ainda está em esboço, pode ser a concretização do seu primeiro projecto cinematográfico. “Quando era miúdo assisti a algumas prisões de pessoas que conhecia, assisti a pessoas a saírem das cadeias e foi daqui que surgiu a ideia. A primeira vez que pensei em cinema, ainda muito miúdo, a ideia era lidar com este assunto”, contou ao HM. A película não pretende tratar de uma posição política ou ideológica passada para a tela. “O filme não tem nada que ver com nenhum tipo de apologia de alguma coisa”, esclarece. A obra pretende abordar a luta armada que se seguiu ao 25 de Abril, um tema que sempre disse bastante ao realizador local. “Sempre quis saber porque é que as pessoas, de repente, mudam completamente a sua vida dando uma ideia de reacção”, diz ao HM. Com a película, o realizador pretende chamar para a discussão o aparecimento destas forças armadas clandestinas. “As FP-25 aparecem numa altura, após o 25 de Novembro, em que à partida estavam todos convencidos que poderia existir um golpe de direita capaz de repor o regime fascista anterior”, contextualiza. Pensando desta forma, considera que até é fácil perceber o aparecimento do grupo terrorista, sendo que o filme “é uma forma de pensar a sociedade portuguesa pós 25 de Abril”, refere. Loucos 80’s Por outro lado, Ivo Ferreira afirma que “Portugal era um país cansado de uma ditadura de quase 50 anos e de uma revolução à qual se seguiu um PREC. Chegámos a uma altura em que as pessoas queriam era um micro-ondas e ter a possibilidade de fazer uma viagem ao Brasil” aponta em tom de metáfora para descanso. Portugal estava nos anos 80 e a “contra-ritmo, numa altura em que já não havia sonhos dado o cansaço do fascismo, do PREC, de tudo”. Mais do que uma desilusão com a revolução, para Ivo Ferreira estava em causa, “sobretudo, o cansaço”. “As pessoas queriam era descanso e uma casa no Algarve”, aponta. A década dos anos 80 também é muito cara ao realizador. “É uma época de hedonismo, que também aparece em reacção, em que as pessoas só queriam estar bem. É o fim de um processo revolucionário e o aparecimento de uma Lisboa a sair para a rua”, diz. Com a abordagem das FP-25 Ivo Ferreira quer, acima de tudo, lançar a discussão “sobre o que são as construções de um futuro, o que são as ideologias, até onde vão e que sentido fazem”, aponta. “Projecto Global” gira em torno de um triângulo amoroso, em que há um grupo de pessoas que não estava contente com a situação e queria mudá-la, apesar de querem fazer já fora do tempo. “É um filme que se centra numa das células da organização armada e que aborda a existência de quem optou por existir na clandestinidade envolta de não verdades de identidades, nos nomes, nas vidas”, revela. Antes de Abril Se o pós revolução ainda está para vir, o pré revolução de Ivo Ferreira foi um sucesso. “Cartas de guerra” inspirou-se no livro “D’este viver aqui neste papel descripto – Cartas de guerra”, que inclui as cartas que o escritor António Lobo Antunes escreveu à primeira mulher, de 1971 a 1973, durante o tempo em que esteve em Angola, a servir o exército, na guerra colonial. “É, sobretudo, uma história de amor e isolamento e de como um Estado pode privar mais de um décimo da população das suas vidas, contaminando um país inteiro. É uma declaração de amor e uma questão de sobrevivência”, explicou o realizador à agência Lusa quando o filme esteve em Berlim. O cineasta referiu ainda que, apesar de se focar num tema importante da História de Portugal, como é o caso da Guerra do Ultramar, o filme não deve ser entendido como uma lição de história. “Não é um filme didáctico, mas o facto de tratar os assuntos e tirá-los das prateleiras é positivo para gerar conversas à sua volta, que ainda é tabu. Depois do 25 de Abril, foi atirado para o caixote das histórias más. Em 1971, no período em que o filme se passa, já toda a gente tinha consciência política de que aquilo era um disparate e uma agonia”, declarou o cineasta em Berlim. Os dias de 1974 Em contraciclo cronológico, antes de “Cartas de Guerra”, o cineasta focou-se na revolução. “Águas mil” é a segunda longa-metragem de Ivo Ferreira e foi exibido em estreia nacional a 25 de Abril de 2009 no Festival IndieLisboa. No filme, Ivo Ferreira conta a história de Pedro, que revolve o passado à procura do pai, desaparecido quando ele era criança. Ao volante de uma velha caravana, Pedro faz o mesmo percurso que o pai fez até Espanha, encontrando dois camaradas de Eduardo dos tempos em que faziam parte de uma organização armada, nos anos seguintes ao 25 de Abril. Em entrevista à Lusa, Ivo Ferreira referiu que à medida que acompanha a história de Pedro, o filme procura desvendar alguns “silêncios e segredos” do período pós-revolução em Portugal. “Essa fatia da história foi eclipsada. A Revolução dos Cravos foi uma grande festa que deu uma grande ressaca, e eu queria saber o que se construiu depois disso”, explicou o realizador. O filme é um olhar, com “alguma mágoa, mas também com grande ternura”, para a geração que fez a revolução de Abril. Nos filmes de Ivo Ferreira, e nestes três em particular, ressoam as histórias que não se aprendem na escola. “Sou fascinado pelos episódios que estão obscuros na nossa história”, refere ao HM. “Na escola aprendemos a segunda guerra mundial, depois passamos de uns senhores nuns tanques com cravos na boca para uma página com doze estrelas amarelas. Não estou dizer que trato de territórios novos mas interesso-me por esses assuntos que não são talvez tão explorados”. E é com este mote que se serve da sétima arte. “O cinema é uma forma de pensar e propor assuntos na mesa para que estejam disponíveis para discussão”, remata.
Sofia Margarida Mota SociedadeEnsino Superior | Criada associação de antigos alunos da Universidade Católica [dropcap style =’circle’] A [/dropcap] Associação dos Antigos Alunos da Universidade Católica Portuguesa é um dos movimentos associativos mais recentes do território. O objectivo passa por promover as relações entre os alunos e ajudar também na formação de quadros locais. Desde sábado que a Universidade Católica Portuguesa conta com uma associação de antigos alunos no território. A ideia para a criação da Associação dos Antigos Alunos da Universidade Católica Portuguesa surgiu depois de uma visita a Macau da reitoria da instituição de ensino portuguesa. “A ideia para a criação da associação surgiu após uma visita da reitora da Universidade Católica Portuguesa. Nessa altura, houve um encontro entre antigos alunos e foi sugerida a criação de uma associação que os pudesse representar”, afirmou Bruno Nunes, membro do movimento recém-criado. “Depois de tomada a decisão, partiu-se para a concretização da ideia e os elementos presentes começaram a preparar a documentação e a recolher os dados sobre o número de ex-alunos da Universidade Católica que estão em Macau”, explicou. Segundo a informação disponibilizada por Bruno Nunes, nesta altura, o levantamento feito aponta para 120 ex-alunos. No entanto, a lista de potenciais candidatos ainda não está concluída e a associação está aberta a contactos de ex-alunos da instituição. Quanto aos objectivos da nova associação, Rui Nunes explicou que o essencial passa por agregar todos os ex-alunos da universidade e fazer a ligação com as entidades do Governo da RAEM. “Neste momento, há muitos alunos de Macau que frequentam cursos da Universidade Católica. Com esta associação também queremos promover a imagem da universidade junto da comunidade educativa. Queremos que saibam na altura de escolher o local onde vão prosseguir os estudos que existe esta alternativa”, clarificou. Formação de locais Em relação a perspectivas futuras, Bruno Nunes admite que gostava de ver a Universidade Católica assumir um papel importante na formação dos quadros locais, nomeadamente através do envio de estudantes para Portugal: “seria interessante a vinda de professores de Portugal para Macau para leccionarem em sistema de intercâmbio. Para mim, as actividades da associação deveriam focar sempre a formação”, apontou. Para o membro da associação, uma das vertentes que poderia beneficiar Macau ao nível de cooperação com a Universidade Católica era na área da gestão: “é considerada uma das melhores do mundo neste sector”, justificou. Para este sábado está agendada uma Assembleia Geral, às 15h no Auditório da Universidade de São José, na qual vão ser eleitos os órgãos sociais da associação. Segundo a informação da associação, vai estar presente a Reitora da Universidade Católica Portuguesa, Isabel Maria de Oliveira Capeloa Gil, que é igualmente Presidente Honorária da Assembleia Geral.
Sofia Margarida Mota MancheteEntrevista | António Sampaio da Nóvoa, Embaixador de Portugal na UNESCO [dropcap style =’circle’] A [/dropcap] ntónio Sampaio da Nóvoa, ex-reitor da Universidade de Lisboa e candidato à Presidência da República Portuguesa em 2016, acredita na liberdade, alerta para o bom uso da informação na era digital e antevê um novo conceito de democracia para o séc. XXI. O embaixador de Portugal na UNESCO recebeu ontem o título de professor honorário do Instituto Politécnico de Macau Amanhã comemora-se mais um aniversário do 25 de Abril. Esteve envolvido nas lutas políticas da altura. Como é que vê Abril 44 anos depois? Todos nós, que nos dizemos pessoas de Abril, e eu sou uma dessas pessoas até porque sinto que nasci para a vida no 25 de Abril, somos uma geração que tinha uma dimensão utópica muito grande. Ao ter esta dimensão, estamos sempre a achar que não se cumpriu Abril. Mas, tirando essa dimensão, se objectivamente olharmos para o que foram estes 44 anos, acho que só podemos estar contentes. Foram 44 anos com muitos problemas, com muitas dificuldades, com muitos avanços e recuos. Os últimos cinco anos, sobretudo com a crise, foram anos horríveis, mas Portugal é um país com uma democracia estabilizada, é um país do qual todos nos podemos orgulhar. Vejo Abril com um balanço extraordinário. Acho que Portugal nunca teve na sua história 44 anos seguidos de democracia estabilizada, com regras e onde há liberdade. Mas há ainda coisas que não gostamos no país. Há duas que me deixam sempre muito desgostoso. Uma é as desigualdades. Portugal continua a ser o país da Europa com maiores desigualdades sociais, o que quer dizer que ainda temos uma parte da população com níveis de pobreza muito grandes. 44 anos depois de Abril, custa que não sejamos um país mais igual, que não estivéssemos como já estamos na área da educação ou na ciência, na metade de cima da Europa. A segunda coisa que me deixa ainda com um sabor muito amargo são os níveis de corrupção que ainda existem na sociedade portuguesa. Percebe-se que estão ainda instalados jogos de interesses, de influencias entre zonas do poder político, do poder económico, etc. Não é aceitável num país com os níveis de educação e de cultura como os que nós já temos, se continue a assistir a estas coisa com banqueiros e políticos. São estas as duas coisas que me custam mais ver que não existem depois de Abril. Gostava que tivéssemos feito muito mais, que a nossa economia fosse mais produtiva, que as nossas instituições tivessem menos burocracias que a nossa educação fosse melhor, mas sinto-me, apesar de tudo, satisfeito. Valeram muito a pena estes 44 anos. A questão da desigualdade foi um dos aspectos que focou em especial na sua candidatura à presidência da república. O que pode ser feito? Acho que há duas respostas para isso. Não há forma de desenvolver um país se não houver capacidade de produção de riqueza. Portugal precisa de ter, do ponto de vista económico, uma capacidade e desenvolvimento e de produção que não tem tido. Falamos hoje muito da revolução digital, da economia 4.0 e Portugal tem estado, felizmente, a captar alguma capacidade nessa área mas isso não resolve o problema de não ter uma capacidade instalada de produção do tecido económico. Com a adesão à União Europeia, nós caímos numa ilusão. A ilusão de que podíamos abdicar das pescas, da agricultura e de muita indústria porque estaríamos debaixo de uma espécie de protector. O que percebemos com a crise, é que não há protecção nenhuma. Nós, e citando um poeta português “ou nos salvamos a nós, ou ninguém nos salva”. A única maneira de combater tem que ver com o facto de que o problema dos pobres não é a pobreza, é o poder, é não terem autonomia, não terem poder para sair da pobreza. Isto quer dizer que nós não resolvemos o problema das desigualdades se não reforçarmos a capacidade das pessoas que são mais frágeis, pela educação, pela cultura, pela capacidade de criarem empregos. É preciso trabalhar nas duas áreas, é preciso trabalhar no desenvolvimento e produção de riqueza, mas ao mesmo tempo, é preciso trabalhar nesta capacidade de dar autonomia e poder às pessoas. Quais são os maiores desafios da educação neste momento? Vou dar o exemplo de Portugal, mas pode ser aplicado a outros países. Julgo que temos dois problemas neste momento. Metaforicamente, diria que temos de acabar o Séc. XX e de entrar no Séc. XXI. Na educação do séc. XXI, a escola vai mudar de forma e de molde. As nossa crianças agora aprendem a trabalhar uns com os outros, a fazer projectos, cooperando com os outros colegas, etc. A revolução digital também traz com ela uma série de informação, nem todo ela boa. Em primeiro lugar, e tendo em conta a educação, uma das nossas grandes surpresas no sentido negativo é que achávamos todos que a internet e o mundo digital iam ser uma espécie de uma janela para o mundo inteiro. O problema é que nesta janela acabou por estar muita coisa, coisas de mais até. Acabamos por utilizar a internet para nos relacionarmos com aqueles que pensam como nós, ou seja em vez de ser um lugar onde nos relacionamos com todos é um lugar onde se reforçam, para efeitos de segurança, as nossa crenças, os nossos preconceitos, as coisas em que já acreditamos ou em queremos acreditar, como as teorias da conspiração e outras coisas absurdas que não têm nenhuma relação com a realidade, nem com a ciência. Isto está a trazer uma fragmentação nas sociedades contemporâneas brutal. Por isso tenho vindo a insistir muito na área da educação em que a escola tem de ser um lugar em que aprendemos a viver em comum, uns com os outros, o comum no sentido da diferença. Temos de aprender a dialogar e a perceber o ponto de vista do outro em vez de reforçamos crenças. Este é um problema que tem de ser debatido. Por outro lado, outro aspecto que o António Guterres expos notavelmente no seu discurso quando recebeu o doutoramento honoris causa na Universidade de Lisboa foi que é muito possível que a terceira guerra mundial não vá começar por nenhum ataque nuclear. Vai começar por ataques informáticos e pela sua produção sistematizada de notícias e acontecimentos falsos e nós não estamos preparados para isso. Não estamos preparados para esta explosão digital e para o poder dos chamados GAFAM – Google, Aple, Facebook, Amazona e Microsoft, que hoje em dia são o grande poder no mundo. Falou, após a cerimónia em que foi condecorado com o titulo de professor honorário do IPM, que a UNESCO deveria ter um papel relevante na democratização da ciência. Como? No caso da ciência há duas orientações que hoje são absolutamente centrais. Uma é saber como é que a ciência se pode transformar em cultura científica democratizada e acessível a todos. Outro dos grandes debates que está pela nossa frente é o conceito de ciência aberta. Isto quer dizer que temos hoje um fenómeno extraordinário: os países investem milhões na ciência e quem dá este dinheiro somos nós, os cidadãos, mas depois o produto da investigação é fechado. Vai para revistas que não estão em acesso livre. O mesmo se diga das patentes: o público pagou fortunas para se conseguirem desenvolver vacinas, para se conseguir desenvolver um medicamento mas isso depois vai para os grande laboratórios privados. Porque é que o dinheiro que foi objecto de um investimento publico é depois de capturado por interesses diversos? A União Europeia já deu um sinal muito forte neste aspecto e disse que, a partir de 2020, a não ser que haja razões muito concretas para que não esteja em acesso livre, todas as investigações obtidas com fundos europeus têm de estar em plataformas de acesso livre, o que é um passo imenso. A UNESCO pode ter um papel impressionante, porque é uma organização internacional que não tem associados interesses na sua matriz universalistas e humanista. Como é que vê o crescente interesse da China na língua portuguesa? O interesse da China pela língua portuguesa é uma coisa muito clara. Lembro-me em particular um encontro muito importante, quando era reitor da Universidade de Lisboa, em 2007, com o vice ministro da educação da China e ele disse-me que gostava que num período de dez anos houvesse pelo menos 40 universidades chinesas a ensinar português. Na altura, essa possibilidade parecia difícil de realizar porque havia muito poucas. Hoje, o presidente do IPM já me disse que há 40 universidades a faze-lo. Nessa altura, já o presidente do IPM e outras pessoas de Macau eram os elementos de ligação. Eu não teria chegado a Pequim se não tivesse passado por aqui. Esta foi a porta de entrada e facilitou imenso todo o trabalho que se fez a partir daí. Penso que neste sentido, no ensino da língua portuguesa, Macau também está a cumprir esta vocação de porta de entrada, da plataforma giratória com a China. E relativamente a Portugal? Portugal não tem tido uma política muito consistente de promoção da língua portuguesa. Temos uns discursos retóricos de vez em quando e umas saídas literárias que ficam sempre bem. Acho que estamos numa situação em que podemos ainda fazer muito pela língua portuguesa. Durante a minha campanha dizia que há duas coisas que são os nossos grandes baluartes e que nos distinguem de todos os outros: a língua e o mar. Na língua e no mar está tudo o que é a nossa história, a nossa posição geográfica mas também tudo o que são as nossas potencialidades no futuro. Vai-se voltar a candidatar à presidência? Não sei. Nunca tinha estado nos meus planos candidatar-me e aconteceu. Porquê independente? Porque sempre fui. Nunca estive ligado a nenhum partido. Sempre tive e mostrei um respeito enorme pelos partidos. Não há democracia sem eles, mas a democracia do séc. XXI não se faz só com os partidos. O que é que é preciso para essa democracia? É preciso participação no espaço público no ponto de vista da deliberação. Provavelmente, grande parte da democracia do séc. XXI vai ter lugar nas cidades e já não vai ter lugar nos países. Provavelmente, vai ser uma democracia mais complexa também e em que é preciso uma consciência individual muito grande que vai nascer no momento em que passarmos da ideia da participação como consulta, para a participação como deliberação. Aí, as pessoas vão se envolver. O que acha do crescente número de grupos extremistas? Estamos num momento em que parece que andamos todos perdidos com internet, ou com o mundo financeiro, em que não sabemos quem é que manda nisto. Há uma espécie de dificuldade em ler e compreender o mundo que leva a que as pessoas se retraiam em grupos que lhes dão segurança, seja ela mais fundamentalista religiosa, ou política, e isso leva a fenómenos muito perigosos. Se calhar, neste momento, estamos num momento de perigo nas sociedades como há muito não vivíamos. Mas, acima de tudo, precisamos de acreditar na liberdade e só o podemos fazer quando há muita confiança. A confiança precisa de um pensamento racional, da ciência, de um pensamento sensível que olha para os outros. Quero um mundo económico a funcionar com liberdade mas também quero ter a liberdade das pessoas, dos cidadãos, dos costumes. No futuro precisamos de desenvolver todos os mecanismos da liberdade e não é através de práticas de controlo autoritárias que conseguiremos construir esta paz com a Terra. O Edgar Morin falava muito do conceito de Terra Pátria, um conceito muito bonito porque é esta a nossa pátria e para a preservar temos de preservar uma cultura de paz com os outros.
Sofia Margarida Mota PolíticaGoverno reduz taxas de internet com o intuito de melhorar serviços O Governo vai regulamentar uma diminuição das taxas radioeléctricas para que a população tenha mais facilidade de acesso aos serviços de internet no território. A medida prevê mesmo a isenção de taxas de exploração quando se trata do acesso em pontos públicos [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] partir do próximo dia 1 de Maio vão deixar de existir taxas de exploração nos pontos públicos de acesso à internet. “As taxas de exploração anual dos serviços radioeléctricos relativas aos pontos de acesso de rede pública de área local sem fios ficam dispensadas”, lê-se em comunicado oficial. A medida foi anunciada na sexta-feira pelo Conselho Executivo e integra o projecto do Governo de alteração à tabela geral de taxas e multas aplicáveis aos serviços radioeléctrivos. O objectivo é “permitir aos cidadãos o gozo de serviço gratuito de acesso a Wi-Fi com maior cobertura”, refere o mesmo documento. De acordo com a rádio Macau, a directora dos Serviços de Telecomunicações, Derby Lau, esclareceu que a dispensa desta taxa implica “uma redução de receita de apenas 60 mil patacas”. No entanto, vai permitir às operadoras “melhores condições para a população aceder ao Wi-Fi gratuito”. No ano passado, existiam 300 pontos de acesso gratuito à rede pública. De acordo com Derby Lau, a quantidade de pontos pode subir ainda este ano até 416, refere a Rádio Macau. Estão ainda previstos os ajustamentos de taxas sobre a comunicação de voz, vídeo mensagens e dados. Estes serviços, a partir do próximo mês, passam a deduzir “em 10 por cento das receitas de exploração resultantes da prestação de serviços”, aponta o Conselho Executivo em comunicado. A medida pretende permitir o acesso dos visitantes aos serviços itinerantes de telecomunicações móveis a melhores preços “criando condições favoráveis à fixação e tarifas itinerantes a preço mais favorável para os cidadãos de Macau no futuro”, lê-se. Perdas menores Em termos de perdas para os cofres públicos, esta medida implica menos 24 milhões de patacas. Acresce ainda a redução de receitas em 17 milhões de patacas com as alterações previstas nas taxas radioeléctricas para os amplificadores de células em que o montante passa de 720 para 360 patacas. De acordo com o Conselho Executivo, o objectivo é “incentivar as operadoras a ampliar a área de cobertura dos sinais e permitir aos cidadãos o gozo de serviços de telecomunicações móveis com uma cobertura mais abrangente”. O projecto de regulamento administrativo vai entrar em vigor a 1 de Maio e tem o objectivo de “acompanhar o posicionamento do desenvolvimento de Macau como Centro Mundial de Turismo e Lazer”. A ideia é ainda criar condições para incentivar o comércio electrónico contribuir para a construção de uma cidade inteligente.
Sofia Margarida Mota PolíticaBenefícios fiscais para reconstrução de edifícios em processo legislativo A proposta de lei relativa ao regime de benefícios fiscais para reconstrução de edifícios está pronta para votação na generalidade na Assembleia Legislativa. O Conselho Executivo já deu a conhecer as circunstâncias em que pode ser atribuída a isenção de imposto de selo para os proprietários de edifícios que têm de ser demolidos e que tencionam avançar para a sua reconstrução [dropcap style≠‘circle’]V[/dropcap]ai avançar para votação na generalidade a proposta de lei sobre o regime de benefícios fiscais para reconstrução de edifícios. O documento foi discutido pelo Conselho Executivo (CE) e prevê isenções no imposto de selo em caso de demolição e reconstrução de edifícios devolutos. De acordo com o comunicado oficial, a medida tem como objectivo “reduzir os custos associados à reconstrução, atenuar os encargos dos proprietários, bem como acelerar o ritmo do trabalho relativo à renovação urbana”. Os benefícios fiscais considerados consistem na isenção de imposto de selo e pode ser dada quando os edifícios que, após vistoria pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), sejam classificados como aptos a serem demolidos e reconstruídos, “por ameaçarem ruína ou oferecerem perigo para a saúde ou segurança públicas, ou que sejam demolidos após a aprovação do projecto pela DSSOPT”, lê-se no comunicado do CE. Estão também incluídas os prédios demolidos e reconstruídos por determinação do Chefe do Executivo para o desenvolvimento social e para a preservação do património cultural e os edifícios que sejam demolidos e reconstruídos, nos termos legais. Em todos os casos há que ter em conta que a reconstrução implica um plano para o mesmo local que obedeça ao projecto original, ou a um novo desde que aprovado pela DSSOPT. De acordo com o mesmo comunicado, é atribuída “isenção do imposto do selo sobre a aquisição do segundo e posteriores bens imóveis destinados a habitação pela aquisição ou promessa de aquisição do direito de propriedade sobre bens imóveis destinados a habitação a serem demolidos”. Nestes casos, o promotor do empreendimento está obrigado a concluir as obras de fundação do edifício a ser reconstruído, no prazo de três anos a contar da data da aquisição do edifício a ser demolido. Proprietários seguros A proposta salienta ainda que os interesses dos proprietários são assegurados. Desta forma, prevê que “seja aplicado ao promotor do empreendimento o regime de pagamento que precede a restituição”. Neste sentido, os promotores do empreendimento que tenham concluído as obras de reconstrução podem requerer a restituição do imposto mas apenas quando a licença de utilização tenha sido emitida, bem como quando o novo bem imóvel tenha sido transferido para os proprietários finais. A mesma proposta de lei, prevê ainda que seja atribuída a isenção de imposto do selo sobre a aquisição e transmissão de bens nos termos da Tabela Geral do Imposto do Selo, e dos emolumentos notariais e de registo. Vai também existir uma limitação relativa ao acréscimo na área bruta de 10 por cento de utilização dos respectivos bens imóveis e criadas outras limitações ao seu número, finalidade, e ao regime de propriedade do edifício em que estão inseridos. Por outro lado, aqueles que se tornem proprietários dos bens imóveis antes da determinação de demolição e reconstrução do edifício, ou da aprovação do projecto de demolição, e que, posteriormente, tenham efectuado o pagamento do imposto do selo especial sobre a transmissão de bens imóveis podem requerer a restituição do respectivo imposto num prazo de dois anos. No entanto, os benefícios fiscais caducam caso os proprietários transmitam o direito de propriedade ou o respectivo direito real dos bens imóveis, no prazo de três anos a contar da data da autorização da isenção do pagamento de impostos ou da emissão de licença de utilização ao edifício reconstruído, salvo as transmissões por sucessão.
Sofia Margarida Mota PessoasDiana Soeiro, coordenadora da Casa de Portugal [dropcap style≠‘circle’]D[/dropcap]iana Soeiro não nasceu em Macau mas isso não invalida que não se sinta de cá. “Vim aos seis anos, os meus pais vieram para cá trabalhar e trouxeram-me com eles e com os meus irmãos e, depois de estudar em Portugal, voltei para cá”, começa por contar ao HM. Corria o ano de 1999 quando foi estudar direito para Portugal, altura em que também muitos dos portugueses que viviam em Macau foram embora. Algo que não aconteceu com a coordenadora da Casa de Portugal, nem com a sua família. “É a minha terra”, afirma. E é uma terra que, de acordo com Diana Soeiro, tem um série de vantagens, aumentadas com a maternidade por se alargarem aos seus filhos. Uma das possibilidades que Macau lhe oferece é a abertura de horizontes. “A coexistência de várias culturas faz com que bebamos um bocadinho de cada uma delas, acho que isso faz com que sejamos talvez mais seguros”, refere. Por outro lado, é também no contacto com a diferença que se criam outros mecanismos de adaptação. “O conhecer mais e o contacto com outro tipo de pessoas, ajuda-nos a desenvolver uma outra capacidade para nos adaptarmos a diferentes ambientes e isso faz com que trabalhemos melhor a nossa auto-confiança. Mas também influencia a nossa visão do mundo”, acrescenta, sendo que é isso que pretende transmitir aos seus três filhos. “Quero que os meus filhos tenham acesso a isto e que sintam que é um privilégio viver em Macau”. Como se não bastasse, a RAEM é ainda ponto de acesso a outros mundos que lhe estão perto. “Aqui podemos viajar para qualquer lado”, diz. Mas também se pode ir para fora sem sair do território. “Se houver uma festa tailandesa no bairro, nós vamos; se houver a festa da ópera chinesa, nós vamos, e tentamos estar sempre a par de todas as especificidades das culturas que existem aqui em Macau”, sublinha com satisfação. No entanto, mantem sempre a âncora na portugalidade que quer conservar em si, e nos filhos. Criatividade escondida Diana Soeiro tem alguns segredos, entre eles um gosto especial pela escrita de poesia. “Escrevo alguns poemas que partilho com as pessoas mais próximas, não é uma coisa pública, mas leio também muita poesia e faço muitos projectos com os miúdos relacionados com esta forma de escrita”, diz. Por outro lado, é também a leitura que lhe permite um tempo que é só seu. “Leio todos os dias, é o meu escape a minha meditação”. Se na escrita já tem currículo pessoal, já outras áreas criativas vieram à tona com a maternidade. “Tinha sempre negativa nas área criativas da escola, era mesmo má aluna e quando as miúdas nasceram, como todos os pais, comecei a lutar para que não passassem muito tempo no computador. O resultado foi o desenvolvimento de ideias e projectos criativos”, aponta, coisa que pensava ser impossível de concretizar. “Não sei se alguma vez teria feito estas coisas se não tivesse sido mãe. Eu não era uma pessoa que tirava fotografias, não gostava. Não fazia trabalhos manuais. Se não fosse pelas crianças e por aquilo que lhes quero transmitir, acho que nunca tinha descoberto essas capacidades”, considera. A fotografia integra quase todos os projectos familiares, e Macau e as suas misturas não podem faltar. Entre a paisagem, a comida e a arte, o resultado é bom de se ver e reflecte a multiculturalidade que Diana Soeiro vai absorvendo. “Tentei fazer um pudim de manga macaense, aproveitei e conciliei com a abordagem fotográfica. Tenho andado a tentar desenvolver este tipo de projectos tendo por base o princípio da mistura que existe no território”, explica. “Tenciono ficar aqui muitos anos, mas pode acontecer que, por alguma razão, tenha de ir embora e quero ter um registo, meu e da minha família, do sítio onde vivemos”, refere. Macau infinito O território pode ser pequeno mas as suas possibilidades são infinitas. Para Diana Soeiro é uma terra que, independentemente do tempo que se cá viva, tem sempre algo de novo para descobrir. “Não temos aquela atitude de que está tudo visto no território”, aponta. “Estou aqui há trinta anos e ainda me surpreendo imenso com Macau. Aliás, fazemos todos os fins-de-semana passeios para descobrir o território e encontramos sempre um novo pormenor: uma porta, uma janela, ou qualquer outra coisa”, remata.
Sofia Margarida Mota EventosA refutação de Ai Weiwei patente até 30 de Abril em Hong Kong “Refutation” é o trabalho de Ai Weiwei que pode ser visto na galeria Tang Art, em Hong Kong, até 30 de Abril. A segunda mostra do artista chinês na região vizinha espelha o resultado do trabalho que Ai desenvolveu depois de sair da China em 2015, e de se ter juntado na Grécia na recepção dos refugiados sírios. O tema dos refugiados não é um assunto novo para o artista, que se considera também um refugiado desde que nasceu [dropcap style≠‘circle’]D[/dropcap]epois de estrear em Hong Kong pela primeira vez em 2015, o artista dissidente chinês Ai Weiwei está de volta com a exposição individual “Refutation”. A mostra pode ser vista na Tang Art até 30 de Abril. O conjunto de trabalhos que o artista apresenta são a sua interpretação da crise de refugiados sírios. De acordo com a Time Out, trata-se de “um lembrete poderoso e oportuno acerca da capacidade da arte em levantar questões sociopolíticas”. “A arte, ao levantar questões, desafia nosso senso de consciência e julgamento e iniciamos o envolvimento e a acção”, refere em entrevista à mesma fonte. O autor considera ainda que a preparação que teve para esta obra vem desde que nasceu. “Nasci, o meu pai foi exilado e eu cresci longe de qualquer lugar que se possa chamar de lar”, lê-se. À escala global É também nesta condição que estão mais de 65 milhões de pessoas por todo o mundo, depois de terem sido forçadas a deixar as suas casas. Um povo com quem o artista se identifica. É de salientar que Ai esteve detido sem passaporte no seu próprio país até 2015. Depois de poder voltar a viajar, foi para a Alemanha e não tem intenções de regressar, pelo menos tão cedo, permanecendo numa posição de exilado. Para o artista, apesar de ter tido um contacto maior com a situação de quem foge da Síria para a Europa, o problema dos refugidos é um problema global, “da Terra em geral”. “Este planeta tem criado uma enorme quantidade de discriminações brutais e de violações dos direitos humanos básicos”, aponta. As instalações de Ai Weiwei são conhecidas pela utilização de diversos materiais. Esta não é excepção. De acordo com o dissidente, há que ultrapassar os conceitos tradicionais de materiais, até porque “a arte tradicional está morta e usa uma linguagem velha”. Para o artista, depois da Revolução Industrial e com a Internet, “qualquer material pode ser considerado para a produção se obras”. E é isso que faz. Arte sem escala “Refutation” não é excepção. A mostra destaca um barco em polyester cheio de pessoas a ir contra uma parede. Tudo à escala humana para uma melhor imersão no universo de um dos mais considerados artistas internacionais. Para o artista, não há dimensão que limite o seu trabalho. Prestes a inaugurar em Sidney uma exposição que conta com uma escultura de 60 metros que representa um barco insuflável, Ai refere o seu maior gosto é “fazer trabalhos que não têm limites, onde nenhuma medida restringe as obras”. Quanto muito, é a escala humana que impõe alguma medida às dimensões da sua criatividade.
Sofia Margarida Mota SociedadeUniversidades discutem ensino do português no Interior O Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa realiza hoje um encontro com a participação de 31 universidades do Continente, com o objectivo de discutir problemas e ouvir sugestões para melhorar o ensino do português [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap]s alunos que forem aprovados em todos os cursos de formação contínua em língua portuguesa do Instituto Politécnico de Macau vão ter uma certificação da instituição e do Instituto Camões. Esta é uma proposta que está em cima da mesa e que vai ser discutida, ao longo do dia de hoje, numa reunião entre o Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa (CPCLP) do IPM e 31 universidades do Interior da China, onde se ensina a língua portuguesa. “Uma das ideias que vai ser discutida passa pelo facto dos cursos de formação contínua passarem, quando todos somados, a atribuir uma certificação do Instituto Politécnico e do Instituto Camões”, disse Carlos André, director do CPCLP, ao HM. “Esta proposta tem como grande vantagem para quem completa os cursos uma certificação pela entidade portuguesa que gere o ensino da língua no estrangeiro. Será a grande novidade da reunião”, explicou. Segundo os moldes actuais da formação contínua de português do IPM, há um conjunto de 12 módulos, dois quais 9 são de formação obrigatória. No entanto, caso optem, os alunos podem completar mais três módulos, opcionais. Será depois de completarem os diferentes módulos que terão acesso à certificação. No total, as formações englobam, 360 horas de aulas. O encontro que vai decorrer ao longo de todo o dia de hoje tem como objectivo discutir os problemas que as diferentes instituições que ensinam português no Interior da China atravessam. Segundo Carlos André, existem actualmente 38 instituições a ensinar português no Interior da China, das quais 31 vão estar presentes. Um número visto como muito satisfatório. “Este encontro pode ser muito proveitoso para fazermos um balanço do trabalho feito, sendo que ao mesmo tempo que permite um olhar retrospectivo, também esperamos que permita um olhar prospectivo. Temos de saber até que ponto o que fazemos corresponde às expectativas das instituições no Interior da China”, considerou o director do CPCLP. Participação positiva “Considerei que seria muito importante juntar todas as instituições. A primeira coisa que me surpreende nesta reunião é o número de participantes. Vêm cá 31 instituições, mas posso dizer que segundo os levantamentos que fiz até agora, são 38 as instituições que têm português no Interior da China”, reconheceu o director. “Das sete instituições que ficaram de fora, quase todas só começaram a ensinar português de uma forma incipiente. Estão a dar os primeiros passos. Por isso também não fazia muito sentido começarem a discutir problemas que ainda não enfrentam”, clarificou. Em relação ao dia de discussões, Carlos André deixou o desejo de que as conversações resultem em várias sugestões, que depois poderão ser adoptadas. O encontro é organizado pelo IPM, com o apoio do Gabinete de Apoio ao Ensino Superior.
Sofia Margarida Mota China / Ásia MancheteAnalistas vêm com optimismo possível acordo na península coreana Os preparativos já estão a ser feitos. No próximo dia 27 pode ter início um acordo histórico entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul que pode trazer a paz à península depois de mais de 60 anos de relações tensas. Mas, para que seja bem sucedido, há que ter em conta o papel da China e dos Estados Unidos. Analistas consideram que se trata do momento certo e que todos têm a ganhar com negociações de paz [dropcap style≠‘circle’]E[/dropcap]stá a ser preparado o trajecto na fronteira entre as Coreias que será percorrido pelo líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, no próximo dia 27. Se Kim o fizer, está dado o primeiro passo, desde a assinatura do Acordo de Armistício Coreano em 1953, para um entendimento na península. Desde então, nenhum líder norte-coreano atravessou a Linha de Demarcação Militar. O caminho tem como destino um encontro com o seu homólogo da Coreia do Sul, Moon Jae-in, para se dar início a negociações para o processo de desnuclearização da Coeria do Norte. Além disso, a reunião abre portas a uma nova relação entre aqueles dois países. Ao mesmo tempo, está já agendada uma reunião entre o líder norte coreano e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Mais um acontecimento sem precedentes na soberania dos “grandes líderes”. Este encontro continua sem data concreta, mas tudo indica que terá lugar entre Maio e Junho em local ainda por definir. Segundo o New York Times, não se pode falar de acordo entre as Coreias sem falar dos países a que estão ligadas. Neste caso, a China e os Estados Unidos, até porque assim está previsto no Armistício de 53. No entanto, o encontro da próxima semana é já um avanço para o entendimento, considera o especialista em relações internacionais, Arnaldo Gonçalves. “O interesse é das duas Coreias, e o interesse é que aprofundem os entendimentos ou o conhecimento das posições de cada uma”, começa por dizer ao HM. A reunião da semana que vem “é uma forma de quebrar o gelo e perceber o que se pode fazer”. Por outro lado, “as duas Coreias têm, objectivamente, do ponto de vista legal, um conflito de 60 anos. Tecnicamente tem de ser resolvido e não tem de ser com capitulação, pode haver uma alternativa”, aponta. Wang Jianwei, especialista em relações internacionais da Universidade de Macau também vê com bons olhos o início das negociações. “Neste momento, parece que as Coreias vão chegar a um acordo para haver reconciliação. Talvez haja mesmo um acordo de paz, que depois poderia ser apoiado pelos EUA e China”, disse ao HM. De acordo com o académico, tudo indica que o entendimento pode ir a bom porto, aliás, um dos indicadores optimistas é a relativa restrição das críticas por parte de Pyongyang a Washington, dos últimos tempos, depois de terem sido lançadas ameaças exterminadoras. Dos peões aos reis Falar das Coreias e do seu entendimento só pode ter efeito se se tiver em consideração os países que apoiam cada uma delas. Estados Unidos e China são centrais e com a reunião anunciada entre Trump e Kim, está aberto o caminho para que a península asiática possa efectivar um tratado. “Isto é uma plataforma, como se fosse um xadrez. O regime da Coreia do Sul é aliado dos Estados Unidos, têm um tratado de defesa e assistência mútua. Por isso não pode, do ponto de vista do tratado, avançar com qualquer posição sem consultar os americanos ou mantê-los informados”, aponta Gonçalves. Para já, parece que os indicadores são positivos, até porque se está a assistir a uma acção sem precedentes. “Trump surpreendeu todo o mundo, como costuma fazer, e decidiu anunciar que tem interesse em finalmente promover negociações entre os Estados Unidos e o regime da Coreia do Norte”, explica o especialista. No entanto, falar da Coreia do Norte e dos Estados Unidos não dá certezas de sucesso das negociações, por muito optimismo que a situação suscite. De acordo com Arnaldo Gonçalves, “não nos podemos esquecer que estamos perante actores internacionais que são imprevisíveis”, refere ao HM. Não se tratam de líderes em que pode antever comportamentos. “São impulsivos, egocêntricos, megalómanos, têm uma visão da política muito pessoal. Podem entrar na sala de reunião com uma disposição e mudarem rapidamente, ao ponto de abandonarem as negociações, porque alguém teve um comentário mais intempestivo”, explica. No entanto, se o encontro ocorrer é bom sinal, até porque é um primeiro contacto entre o Ocidente e o regime de Kim Jong-un. Ordens na sombra No que respeita ao papel da China, Wang Jianwei considera que tem tido uma influência aparentemente mais discreta, o que não invalida o seu papel decisor em todo o processo. Exemplo disso foi o encontro recente em Pequim entre o presidente chinês, Xi Jinping, e o norte coreano Kim Jong-un. “A China quer manter a iniciativa no destino da Coreia do Norte. Não é difícil de acreditar que estão a actuar por trás do palco, colocando pressão na Coreia do Norte. No passado, mesmo quando a ONU impunha sanções à Coreia do Norte, a China continuava a deixar a porta aberta para eles sobreviverem”, aponta. No entanto, há quem defenda que Pequim tem ficado marginalizada porque é um assunto, por um lado entre as Coreias, e por outro entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos. Mas, para o académico, “a China assumiu um papel fundamental para que a Coreia do Norte estivesse disposta a falar com os Estados Unidos através do apoio da China às sanções aprovadas no seio da ONU à Coreia do Norte, que os deixaram sem alternativas económicas”. Para Arnaldo Gonçalves, a China “será sempre um actor central nestas negociações”. Em causa está a dependência da Coreia do Norte da ajuda que tem tido do seu aliado. “Se a China não vir com boa vontade as negociações, não haverá avanços porque o regime na Coreia do Norte é absolutamente dependente do regime chinês, em termos de conselheiros militares, económicos, assistência alimentar, transportes e comunicação”, explica. Quid pro quo Apesar da “guerra comercial” entre a China e os Estados Unidos, os analistas consideram esse factor em nada interferirá nas negociações entre as Coreias. “Não creio que a guerra comercial entre a China e os Estados Unidos tenha um impacto adverso para os diálogos entre as Coreias, e entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos”, refere Wang. Porém, há ainda questões de reciprocidade a ter em conta. De acordo com Wang, “um bom resultado das reuniões também depende da sinceridade dos EUA e se têm incentivos suficientes para oferecer. Não acredito que a Coreia do Norte vai estar disposta para abdicar das armas nucleares e da segurança do regime, se não houver ofertas suficientes em cima da mesa”, refere. O académico considera que é possível que as pessoas tenham subestimado Kim Jong-un. A razão, aponta, tem que ver com o facto se ter achado que o responsável norte-coreano nunca ia abdicar das armas nucleares. “Ele até poderá ser mais inteligente e razoável do que se espera”, remata. As negociações diplomáticas não são gratuitas, aponta Arnaldo Gonçalves. “Se a China sentir que os Estados Unidos não estão a ser justos nas relações comerciais, pode sempre interferir e não apoiar as negociações”. Mas, destaca, “Pequim considera que a eliminação do armamento nuclear nas Coreias é do seu interesse nacional”. Apesar dos atritos comerciais entre Trump e Xi nas últimas semanas, para Gonçalves “felizmente, existem boas relações entre os presidentes da China e dos EUA”. O momento é agora De acordo com os analistas, o momento para avançar para o acordo entre as Coreias chegou. “Tanto a Coreia do Norte como os Estados Unidos chegaram à conclusão que estão esgotados os outros meios para ultrapassar as dificuldades nas relações bilaterais”, explica Wang Jianwei. No que respeita à Pyongyang, depois dos vários testes nucleares que o país levou a cabo, Kim terá concluído que o país está prevenido contra invasões e por isso não há necessidade de continuar nessa trajectória. Além disso, o líder norte-coreano também saberá que se o fizer se arrisca a motivar uma guerra com os norte-americanos, refere. Por seu lado, nos Estados Unidos, apesar das opiniões se dividirem entre a intervenção militar e as negociações, a solução diplomática para ser a mais viável. “Há pessoas em Washington que preferiam utilizar a força militar. Mas os riscos da operação são demasiado elevados, por isso ninguém quer ter o ónus dessa decisão. As consequências de uma guerra entre os Estado Unidos e a Coreia do Norte seriam imprevisíveis”, diz Wang. “Por isso, Washington aproveitou a oportunidade e estendeu o ramo de oliveira à Coreia do Norte”, aponta o académico. Entretanto, a China já se mostrou a favor das negociações. De acordo com o New York Times, o porta voz do Ministro dos negócios estrangeiros chinês, Hua Chunying, referiu que “a atitude da China é de abertura e apoio a qualquer solução pacífica para resolver os conflitos da península Coreana”.
Sofia Margarida Mota SociedadeFMI prevê crescimento de 7 por cento em Macau [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Fundo Monetário Internacional (FMI) antecipou que o crescimento da economia de Macau será de 7 por cento este ano e 6,1 por cento em 2019, numa redução do ritmo de crescimento relativamente aos 9,3 por cento em 2017. De acordo com o relatório Previsões Económicas Mundiais (‘World Economic Outlook’, em inglês), divulgado na sede da instituição, em Washington, a estimativa para o crescimento da economia de Macau em 2023 é de 4,3 por cento. O FMI previu ainda uma subida dos preços de 2,2 por cento em 2018 e 2,4 por cento no ano seguinte. Em 2017, o índice dos preços no consumidor teve uma variação de 1,2 por cento. Já a taxa de desemprego não deverá sofrer qualquer alteração em relação aos 2 por cento registados no ano passado. No relatório Previsões Económicas Mundiais, a instituição internacional antecipou que o crescimento do Produto Interno Bruto da região asiática será de 5,6 por cento este ano e no próximo, face aos 5,7 por cento em 2017. O FMI espera que a economia mundial cresça 3,9 por cento este ano, melhorando uma décima face ao crescimento de 2017, ano que registou o maior crescimento desde 2011. “O crescimento mundial fortaleceu-se em 2017 para 3,8 por cento, com uma recuperação notável do comércio mundial, e foi liderado pela recuperação do investimento nas economias avançadas, pela manutenção do crescimento forte na Ásia, uma notável aceleração na Europa emergente, e sinais de recuperação em vários exportadores de matérias-primas”, de acordo com as Previsões divulgadas na terça-feira.
Sofia Margarida Mota SociedadeEnsaio de sistema de resposta a tufões testado a 28 de Abril O secretário para a segurança, Wong Sio Chak já afirmou que Macau está preparado para um tufão da magnitude do Hato, mas só na próxima semana será feito o primeiro teste ao novo sistema de resposta a emergências. O mecanismo conta, pela primeira vez, com a colaboração de associações comunitárias [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] previsão da passagem de cinco a sete tufões por Macau este ano é o contexto meteorológico para o aparato que as autoridades têm preparado para responder à força da natureza. Como tal, vai ser testado no próximo dia 28 o novo plano de resposta de emergência a catástrofes da Protecção Civil. A informação foi avançada ontem pelo Comandante Geral dos Serviços de Polícia Unitários (SPU), Ma Io Kun, numa reunião da estrutura de protecção civil. O responsável salientou ainda o facto de se tratar de um plano inovador na medida em que contou, na sua concepção, com a ajuda da comunidade. “No dia 28 de Abril vamos testar o novo plano de resposta a emergências que pela primeira vez contou com a participação das associações civis na sua concepção”, apontou. Lau Kuok Pou, representante dos SPU, referiu na mesma reunião, que o ensaio marcado para a próxima semana tem ainda como objectivo “aumentar o conhecimento da população” acerca do que fazer em caso de catástrofe. Tempo extra Entretanto, e tendo em conta os dados dos últimos anos, a próxima época de tufões vai ter uma maior duração relativamente aos últimos anos. “Prevemos que o primeiro tufão acorra a meados de Junho e o último na primeira quinzena de Outubro”, referiu ontem o representante dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos, Wong Chan Seng. “Será um período mais longo do que o habitual”, acrescentou. Há semelhança de anos anteriores, são esperados entre cinco a sete tufões este ano, disse ainda Wong. O responsável alertou especialmente para as consequências que os ventos e as chuvas têm no que respeita às inundações e no papel que o acaso desempenha nas mesmas. De acordo com Wong Chan Seng “os tufões têm uma velocidade média de deslocação de cerca de 20 km por hora, se o Hato tivesse chegado mais cedo teria apanhado outra fase da maré e não seria tão grave”, disse. Por outro lado “se a sua rota tivesse desviado cerca de 40 quilómetros para Este, Macau também não tinha sofrido as consequências que sofreu”, referiu. O representante dos SMG recordou ainda os novos parâmetros de sinalização de tufões. Depois da passagem do Hato, a sinalização passou a ter três patamares: 1, 3, 8 e 10, sendo que para que seja içado o sinal 1, o tufão tem de se encontrar a mais de 200 quilómetros de distância. Já o sinal 3 aparece quando a velocidade dos ventos é de 41 a 62 quilómetros por hora, o sinal oito tem lugar com velocidades de 63 a 117 quilómetros por hora e o sinal 10 quando os ventos ultrapassam os 118 quilómetros horários. Além disso há ainda as classificações acrescidas de tufão severo e de super tufão. Entretanto, o Instituto de Acção Social vai abrir mais 16 centros de abrigo com capacidade para acolher 23.873 pessoas. Além disso, o Governo elaborou um plano de evacuação das zonas baixas da cidade, com quatro locais de evacuação de emergência.