Gasolina | Abastecimento garantido durante a visita de Xi Jinping

As perturbações de trânsito associadas à vinda do Presidente chinês a Macau levaram gasolineiras e distribuidoras a alertar para dificuldades de abastecimento durante as celebrações do 20.º aniversário da RAEM. A Associação dos Industriais de Combustíveis garante que haverá combustível, mas a afluência às bombas registou aumentos nas últimas horas, como o HM verificou

 
[dropcap]A[/dropcap]pesar das garantias, as gasolineiras estão a apostar na prevenção para os próximos dias. A Associação dos Industriais de Combustíveis garante que haverá normalidade do abastecimento de combustível durante as celebrações do 20.º aniversário da RAEM. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, a associação aponta que Macau tem reservas de combustível suficientes e que, por isso, não vão existir falhas de abastecimento, apesar “dos boatos que estão a circular na internet”.
Segundo um anúncio divulgado pela distribuidora de combustíveis Luen Ying Hong Co. Ltd, podem vir a ser sentidas dificuldades no abastecimento de gás durante a visita de Xi Jinping, “causadas pelas alterações no trânsito”. No mesmo anúncio, a distribuidora alerta os consumidores para as dificuldades no abastecimento de gás nos próximos dias 18, 19 e 20 de Dezembro, devendo as encomendas de gás engarrafado ser feitas “antes de 15, 16 e 17 de Dezembro”.

Garantias e precauções

Num posto de abastecimento da Shell, em Macau, podia também ler-se, num aviso dirigido aos clientes, que “entre 18 e 20 de Dezembro, os tanques de gasolina poderão não estar cheios porque as modificações de trânsito a implementar no período referido poderão afectar o serviço de transporte de combustíveis. Por isso, é melhor reabastecer carro antes de 16 e 17 de Dezembro”.
O HM foi ao posto de gasolina da Esso na Avenida da Amizade para verificar a situação e comprovou que, apesar de não serem esperadas falhas, a afluência tem aumentado nas últimas horas e deverão existir menos abastecimentos durante a vinda do Presidente Xi a Macau.
“Vamos ter gasolina durante a visita do presidente Xi. No entanto, prevemos que o serviço de transporte de combustíveis seja afectado porque a circulação destes tipos de veículos vai ser proibida em certos períodos do dia. Há normalmente três abastecimentos, mas é muito provável que venham a existir apenas dois por dia, durante a vinda do Presidente Xi”, disse ao HM a responsável do posto de abastecimento.
Questionada sobre se era normal o número de carros que faziam fila para abastecer, a responsável pelo posto começou por dizer que durante o dia de ontem, ”elementos da Direcção dos Serviços de Economia já tinham feito a mesma pergunta”. “Estamos bem, temos gasolina suficiente e a afluência tem sido normal aqui, mas sei que outros postos estão um pouco mais cheios do que é normal”, referiu a responsável pelo posto de abastecimento.

17 Dez 2019

O Filme do filme

[dropcap]A[/dropcap]o longo da quarta edição do Festival Internacional de Cinema e Entrega de Prémios de Macau (IFFAM) foram muitas as referências ao calvário que é o longo e rigoroso processo de censura a que são sujeitas as obras cinematográficas produzidas na China.

“A City Called Macau”, filme realizado pela chinesa Li Shaolong, galardoada internacionalmente por diversas ocasiões (inclusivamente com um Urso de Ouro em Berlim), é um desses exemplos de filme, que nunca chegou a ser o que era suposto à partida. Por causa “do juízo rigoroso em não mostrar nenhum aspecto que pudesse promover a indústria do jogo”, “A City Called Macau”, um filme que aborda precisamente a indústria do jogo em Macau, chegou às salas de cinema desmembrado, com cenas cortadas e num momento que não permitiu a sua participação nos grandes festivais de cinema do ano passado.

Mas também Juliette Binoche falou do assunto e deu talvez uma opinião importante sobre o tema. Quando questionada se estaria disposta a enfrentar a censura chinesa caso venha a trabalhar no país, a actriz fancesa que esteve de passagem por Macau, disse que “há muitas formas de ser livre” e que, estando “solidária com os artistas que não se podem exprimir livremente”, é preciso encontrar, apesar dos limites, um caminho (interior, pelo menos) que permita a cada um levar “a arte o mais longe possível”. Talvez o ideal não exista, mas talvez o ideal seja uma boa pista para querer fazer mais e não permitir quaisquer constrangimentos de partida. Allez!

13 Dez 2019

Relações laborais | Futuros pais vão poder gozar de dispensa antecipada

Os cinco dias de licença de paternidade previstos na proposta de alteração da lei das relações de trabalho vão poder ser gozados antecipadamente, a partir de um período superior a três meses de gravidez e anterior ao nascimento da criança. A lei actual dá apenas direito a dois dias de faltas justificadas

 

[dropcap]A[/dropcap] segunda versão do texto de trabalho da alteração à lei das relações de trabalho entregue pelo Governo, esteve ontem em discussão pela 3ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL). Em análise estiveram as condições e propostas de melhoria da aplicação da licença de paternidade, que pode, segundo o novo diploma, ser gozada antecipadamente, a partir dos três meses de gravidez, devendo os pedidos dirigidos à entidade patronal ser feitos com cinco dias de antecedência.

“Caso pretenda gozar a licença de paternidade a partir de um período superior a três meses de gravidez e anterior ao nascimento da criança, o trabalhador deve comunicar ao empregador essa intenção com uma antecedência mínima de cinco dias”, explicou Vong Hin Fai, presidente da 3ª Comissão Permanente da AL. Já para os casos em que não é possível prever, mais cedo, a vontade de gozar esse direito, “o trabalhador deve comunicar ao empregador com a maior brevidade possível”, concluiu.

A proposta de lei discutida pela 3ª Comissão Permanente prevê ainda que a licença de paternidade possa ser gozada “de forma consecutiva ou intercalada”, desde que o pedido seja feito a partir dos três meses de gravidez ou até 30 dias após o nascimento da criança. Sobre o tema, Vong Hin Fai partilhou também que para gozar do direito, “o trabalhador tem que apresentar certidão de nascimento da criança, emitida pelo Governo da RAEM ou pelas autoridades competentes do país ou região fora da RAEM, bem como um atestado médico”.

Contudo, os deputados tiveram dúvidas nos casos em que existe dificuldade na entrega dos documentos ou quando a documentação alternativa apresentada pelos pais não é aceite pelo empregador. Nestas situações, explicou o Governo, “o caso é resolvido pela Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais [DSAL]”.

Segundo Vong Hin Fai, o tema da licença de paternidade não foi discutido “para o caso dos trabalhadores não-residentes”. Já no caso da licença de maternidade mantém-se o aumento proposto de 56 para 70 dias pagos na totalidade.

À terceira é de vez?

A compensação da prestação de trabalho em dia de descanso foi outros dos temas abordados na reunião que a 3ª Comissão teve com o Governo. No novo diploma, em vez de fixada pelo empregador, a compensação pelo trabalho em dia de descanso deve agora basear-se num acordo entre trabalhador e empregador. Caso o trabalhador não queira receber a compensação poderá assim optar “por um dia de descanso compensatório”, que na versão inicial da lei era definido pela entidade empregadora.

Os deputados da 3ª Comissão Permanente aguardam agora a terceira versão da nova lei laboral, sendo que a redacção do novo texto deverá fazer com que a votação e a apreciação na especialidade seja adiada para 2020.

13 Dez 2019

Relações laborais | Futuros pais vão poder gozar de dispensa antecipada

Os cinco dias de licença de paternidade previstos na proposta de alteração da lei das relações de trabalho vão poder ser gozados antecipadamente, a partir de um período superior a três meses de gravidez e anterior ao nascimento da criança. A lei actual dá apenas direito a dois dias de faltas justificadas

 
[dropcap]A[/dropcap] segunda versão do texto de trabalho da alteração à lei das relações de trabalho entregue pelo Governo, esteve ontem em discussão pela 3ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL). Em análise estiveram as condições e propostas de melhoria da aplicação da licença de paternidade, que pode, segundo o novo diploma, ser gozada antecipadamente, a partir dos três meses de gravidez, devendo os pedidos dirigidos à entidade patronal ser feitos com cinco dias de antecedência.
“Caso pretenda gozar a licença de paternidade a partir de um período superior a três meses de gravidez e anterior ao nascimento da criança, o trabalhador deve comunicar ao empregador essa intenção com uma antecedência mínima de cinco dias”, explicou Vong Hin Fai, presidente da 3ª Comissão Permanente da AL. Já para os casos em que não é possível prever, mais cedo, a vontade de gozar esse direito, “o trabalhador deve comunicar ao empregador com a maior brevidade possível”, concluiu.
A proposta de lei discutida pela 3ª Comissão Permanente prevê ainda que a licença de paternidade possa ser gozada “de forma consecutiva ou intercalada”, desde que o pedido seja feito a partir dos três meses de gravidez ou até 30 dias após o nascimento da criança. Sobre o tema, Vong Hin Fai partilhou também que para gozar do direito, “o trabalhador tem que apresentar certidão de nascimento da criança, emitida pelo Governo da RAEM ou pelas autoridades competentes do país ou região fora da RAEM, bem como um atestado médico”.
Contudo, os deputados tiveram dúvidas nos casos em que existe dificuldade na entrega dos documentos ou quando a documentação alternativa apresentada pelos pais não é aceite pelo empregador. Nestas situações, explicou o Governo, “o caso é resolvido pela Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais [DSAL]”.
Segundo Vong Hin Fai, o tema da licença de paternidade não foi discutido “para o caso dos trabalhadores não-residentes”. Já no caso da licença de maternidade mantém-se o aumento proposto de 56 para 70 dias pagos na totalidade.

À terceira é de vez?

A compensação da prestação de trabalho em dia de descanso foi outros dos temas abordados na reunião que a 3ª Comissão teve com o Governo. No novo diploma, em vez de fixada pelo empregador, a compensação pelo trabalho em dia de descanso deve agora basear-se num acordo entre trabalhador e empregador. Caso o trabalhador não queira receber a compensação poderá assim optar “por um dia de descanso compensatório”, que na versão inicial da lei era definido pela entidade empregadora.
Os deputados da 3ª Comissão Permanente aguardam agora a terceira versão da nova lei laboral, sendo que a redacção do novo texto deverá fazer com que a votação e a apreciação na especialidade seja adiada para 2020.

13 Dez 2019

Fringe | Macau acolhe 30 eventos de 10 a 19 de Janeiro

A 19ª edição do Festival Fringe inclui 17 espectáculos e 13 actividades extra, espalhadas pelas ruas e bairos de Macau. Além da edição especial “Créme de la Fringe” onde estão previstos espectáculos de teatro, dança e música, haverá também lugar a workshops, palestras e sessões de partilha. Em português haverá o espectáculo de música e marionetas “Era uma vez em Macau”

 

[dropcap]D[/dropcap]isperso e variado, para chegar a todos e um pouco por todo o lado. É desta forma que a 19ª edição do Festival Fringe se irá apresentar em Macau entre os dias 10 e 19 de Janeiro de 2020. Com um orçamento total de 3,2 milhões de patacas e organizado pelo Instituto Cultural (IC), o Fringe pretende levar o público a desfrutar da sua programação em 27 localizações diferentes, espalhadas por Macau. Por ocasião da conferência de imprensa de apresentação do festival, a Presidente do IC, Mok Ian Ian, fez questão de sublinhar no seu discurso, os pontos em que o Fringe é peculiar.

“O Festival Fringe pretende estabelecer-se como um evento excepcional pleno de ideias inovadoras e dedicado à criação de um palco para um variado leque de actuações. O Festival é diferente de qualquer outro evento jamais organizado, permitindo que o palco seja montado em qualquer lugar e levando os artistas a mergulhar nos vários bairros comunitários, a fim de envolver o público nos seus espectáculos”, explicou Mok Ian Ian.

Crème de la crème

Uma das novidades da edição deste ano é série especial “Crème de la Fringe” com duas secções, o “On Site” e o “Festival de Teatro de Marionetas e Objectos em Coloane”. O programa “On Site” do “Crème de la Fringe” apresenta três espectáculos de dança, o “ImprovFlashMob”, “Viajante do Corpo” e “Um Passo para o Teatro: Chama Apagada”, e ainda três workshops de dança e uma sessão de partilha.

“Realizamos um programa que recolheu elementos de dança de vários lugares diferentes e, queremos estender este tipo de actividades (…) à participação de várias pessoas. No início deste ano escolhemos quatro zonas históricas diferentes de Macau para que os artistas locais actuarem”, referiu a directora do programa “On site”, Su Cheng Ke.

Já o programa “Festival de Teatro de Marionetas e Objectos em Coloane” vai contar com três espectáculos: “Fragile”, “Mercado de Estórias” e “Caminhada Nocturna: Porquê?”, onde artistas de Macau, Taiwan e Canadá vão trazer a Coloane as formas diferentes de encarar o teatro e workshops de marionetas contemporâneas.

“O público pode aproveitar para passear em Coloane enquanto participa nas actividades. Uma das nossas actuações, inclusivamente, é uma caminhada nocturna, que combina os elementos de luz e música, e é apropriado para toda a família, disse Chiu Tsat , da organização do programa “Festival de Teatro de Marionetas e Objectos de Coloane”.

Outros destaques da programação incluem o espectáculo interactivo “Encontro para Jantar Binaural” (Reino Unido), a exposição ao vivo “Break & Break” (Taiwan), o espectáculo de dança “Caleidoscópio em Movimento”(Macau) e a peça de teatro “A Dupla Cinematográfica” (Macau e Taiwan).

A pensar nos mais novos

Outro dos objectivos do Fringe, onde 63 por cento dos grupos são originários de Macau, passa também, segundo a presidente do IC, por tornar-se “no ponto de partida para aqueles que experimentam a arte pela primeira vez”. Exemplo disso é o espectáculo “Era Uma vez em Macau”, promovido pela Casa de Portugal em Macau, onde se procura representar cenários de fantasia associados à cidade, através da música e da comunhão entre o passado e o presente.

“Fantasia Melódica” é outro dos espectáculos que pretende cativar os mais novos. Inspirado nos contos clássicos dos Irmãos Grimm e levado à cena pelo Teatro Areia Preta x Clube dos Amigos do Riquexó, o evento pretende, através de marionetas e actores, segundo o Director Artístico, Antonio Martinez, “promover o bom uso das tecnologias”.

“Com esta peça tentamos levar às crianças uma consciencialização dos problemas e dos perigos que os dispositivos electrónicos, como os tablets e os telemóveis podem trazer, mas sempre com esta ideia de que o teatro é um meio para esta aprendizagem”, explicou Antonio Martinez.

Os bilhetes para o Festival Fringe da Cidade de Macau estarão à venda a partir do próximo domingo, 15 de Dezembro. Já as inscrições para os workshops podem ser feitas online ou por telefone, a partir do dia seguinte.

12 Dez 2019

Fringe | Macau acolhe 30 eventos de 10 a 19 de Janeiro

A 19ª edição do Festival Fringe inclui 17 espectáculos e 13 actividades extra, espalhadas pelas ruas e bairos de Macau. Além da edição especial “Créme de la Fringe” onde estão previstos espectáculos de teatro, dança e música, haverá também lugar a workshops, palestras e sessões de partilha. Em português haverá o espectáculo de música e marionetas “Era uma vez em Macau”

 
[dropcap]D[/dropcap]isperso e variado, para chegar a todos e um pouco por todo o lado. É desta forma que a 19ª edição do Festival Fringe se irá apresentar em Macau entre os dias 10 e 19 de Janeiro de 2020. Com um orçamento total de 3,2 milhões de patacas e organizado pelo Instituto Cultural (IC), o Fringe pretende levar o público a desfrutar da sua programação em 27 localizações diferentes, espalhadas por Macau. Por ocasião da conferência de imprensa de apresentação do festival, a Presidente do IC, Mok Ian Ian, fez questão de sublinhar no seu discurso, os pontos em que o Fringe é peculiar.
“O Festival Fringe pretende estabelecer-se como um evento excepcional pleno de ideias inovadoras e dedicado à criação de um palco para um variado leque de actuações. O Festival é diferente de qualquer outro evento jamais organizado, permitindo que o palco seja montado em qualquer lugar e levando os artistas a mergulhar nos vários bairros comunitários, a fim de envolver o público nos seus espectáculos”, explicou Mok Ian Ian.

Crème de la crème

Uma das novidades da edição deste ano é série especial “Crème de la Fringe” com duas secções, o “On Site” e o “Festival de Teatro de Marionetas e Objectos em Coloane”. O programa “On Site” do “Crème de la Fringe” apresenta três espectáculos de dança, o “ImprovFlashMob”, “Viajante do Corpo” e “Um Passo para o Teatro: Chama Apagada”, e ainda três workshops de dança e uma sessão de partilha.
“Realizamos um programa que recolheu elementos de dança de vários lugares diferentes e, queremos estender este tipo de actividades (…) à participação de várias pessoas. No início deste ano escolhemos quatro zonas históricas diferentes de Macau para que os artistas locais actuarem”, referiu a directora do programa “On site”, Su Cheng Ke.
Já o programa “Festival de Teatro de Marionetas e Objectos em Coloane” vai contar com três espectáculos: “Fragile”, “Mercado de Estórias” e “Caminhada Nocturna: Porquê?”, onde artistas de Macau, Taiwan e Canadá vão trazer a Coloane as formas diferentes de encarar o teatro e workshops de marionetas contemporâneas.
“O público pode aproveitar para passear em Coloane enquanto participa nas actividades. Uma das nossas actuações, inclusivamente, é uma caminhada nocturna, que combina os elementos de luz e música, e é apropriado para toda a família, disse Chiu Tsat , da organização do programa “Festival de Teatro de Marionetas e Objectos de Coloane”.
Outros destaques da programação incluem o espectáculo interactivo “Encontro para Jantar Binaural” (Reino Unido), a exposição ao vivo “Break & Break” (Taiwan), o espectáculo de dança “Caleidoscópio em Movimento”(Macau) e a peça de teatro “A Dupla Cinematográfica” (Macau e Taiwan).

A pensar nos mais novos

Outro dos objectivos do Fringe, onde 63 por cento dos grupos são originários de Macau, passa também, segundo a presidente do IC, por tornar-se “no ponto de partida para aqueles que experimentam a arte pela primeira vez”. Exemplo disso é o espectáculo “Era Uma vez em Macau”, promovido pela Casa de Portugal em Macau, onde se procura representar cenários de fantasia associados à cidade, através da música e da comunhão entre o passado e o presente.
“Fantasia Melódica” é outro dos espectáculos que pretende cativar os mais novos. Inspirado nos contos clássicos dos Irmãos Grimm e levado à cena pelo Teatro Areia Preta x Clube dos Amigos do Riquexó, o evento pretende, através de marionetas e actores, segundo o Director Artístico, Antonio Martinez, “promover o bom uso das tecnologias”.
“Com esta peça tentamos levar às crianças uma consciencialização dos problemas e dos perigos que os dispositivos electrónicos, como os tablets e os telemóveis podem trazer, mas sempre com esta ideia de que o teatro é um meio para esta aprendizagem”, explicou Antonio Martinez.
Os bilhetes para o Festival Fringe da Cidade de Macau estarão à venda a partir do próximo domingo, 15 de Dezembro. Já as inscrições para os workshops podem ser feitas online ou por telefone, a partir do dia seguinte.

12 Dez 2019

Impostos | Mais de 380 empresas abrangidas pelo aumento do montante do lucro tributável

No total, a proposta de lei sobre a alteração ao Regulamento do Imposto Complementar de Rendimentos prevê que 6,6 por cento das empresas da RAEM sejam abrangidas pelo aumento do montante do lucro tributável de 500 mil para 1 milhão de patacas, utilizando a média dos últimos três anos

 

[dropcap]A[/dropcap] proposta de lei sobre o imposto complementar que tem como objectivo cumprir as exigências da OCDE e a denominada “Acção 13 – Plano de Combate à Erosão da Base Tributável e à Transferência de Lucro”, foi assinada ontem pela 2ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL).

Sugerido que está na nova legislação que o lucro tributável das empresas nos últimos três anos (2016-2018) aumente para um milhão de patacas, quando anteriormente era de 500 mil patacas, o Governo avançou ontem à 2ª Comissão Permanente da AL que, ao todo, são 382 as empresas abrangidas pelo aumento do montante do lucro tributável, de um total de 5796, que vão cumprir os requisitos para ser incluídas no grupo B.

“Segundo o Governo, existem 382 contribuintes que satisfazem estes requisitos, representando 6,6 por cento do total dos contribuintes”, referiu Chan Chak Mo, presidente da 2ª Comissão Permanente

De acordo com a proposta de lei, em média, por ano “apenas cerca de 50 contribuintes do grupo A são autorizados a passar a ser incluídos no grupo B, representando apenas dois por cento dos contribuintes que satisfazem os requisitos para mudança do grupo, que são 2848”.

Das entidades-mãe

Outra das novidades do diploma é a obrigatoriedade de as empresas classificadas como entidades-mãe de multinacionais informarem as finanças quando os rendimentos forem superiores a 7 mil milhões de patacas.
“De acordo com o nº7 do artigo 4º do Regulamento do Imposto complementar de Rendimentos, alterado pelo 1º artigo desta proposta de lei, as empresas que cumpram ou deixem de cumprir os requisitos da entidade-mãe final devem comunicar esse facto, por escrito, às finanças [DSF].”

Segundo informações avançadas pelo Governo aos deputados por ocasião de outra reunião da 2ª Comissão Permanente, existem 12 empresas nesta situação.

12 Dez 2019

Impostos | Mais de 380 empresas abrangidas pelo aumento do montante do lucro tributável

No total, a proposta de lei sobre a alteração ao Regulamento do Imposto Complementar de Rendimentos prevê que 6,6 por cento das empresas da RAEM sejam abrangidas pelo aumento do montante do lucro tributável de 500 mil para 1 milhão de patacas, utilizando a média dos últimos três anos

 
[dropcap]A[/dropcap] proposta de lei sobre o imposto complementar que tem como objectivo cumprir as exigências da OCDE e a denominada “Acção 13 – Plano de Combate à Erosão da Base Tributável e à Transferência de Lucro”, foi assinada ontem pela 2ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL).
Sugerido que está na nova legislação que o lucro tributável das empresas nos últimos três anos (2016-2018) aumente para um milhão de patacas, quando anteriormente era de 500 mil patacas, o Governo avançou ontem à 2ª Comissão Permanente da AL que, ao todo, são 382 as empresas abrangidas pelo aumento do montante do lucro tributável, de um total de 5796, que vão cumprir os requisitos para ser incluídas no grupo B.
“Segundo o Governo, existem 382 contribuintes que satisfazem estes requisitos, representando 6,6 por cento do total dos contribuintes”, referiu Chan Chak Mo, presidente da 2ª Comissão Permanente
De acordo com a proposta de lei, em média, por ano “apenas cerca de 50 contribuintes do grupo A são autorizados a passar a ser incluídos no grupo B, representando apenas dois por cento dos contribuintes que satisfazem os requisitos para mudança do grupo, que são 2848”.

Das entidades-mãe

Outra das novidades do diploma é a obrigatoriedade de as empresas classificadas como entidades-mãe de multinacionais informarem as finanças quando os rendimentos forem superiores a 7 mil milhões de patacas.
“De acordo com o nº7 do artigo 4º do Regulamento do Imposto complementar de Rendimentos, alterado pelo 1º artigo desta proposta de lei, as empresas que cumpram ou deixem de cumprir os requisitos da entidade-mãe final devem comunicar esse facto, por escrito, às finanças [DSF].”
Segundo informações avançadas pelo Governo aos deputados por ocasião de outra reunião da 2ª Comissão Permanente, existem 12 empresas nesta situação.

12 Dez 2019

IFFAM | Give me Liberty arrecada prémio para melhor filme

Na Competição Internacional, o prémio de melhor filme foi para Give me Liberty, dos Estados Unidos da América. Lynn + Lucy, uma co-produção de Inglaterra e França arrecadou os galardões de melhor realizador e melhor actriz. Já na competição dedicada ao Novo Cinema Chinês o melhor filme foi Dwelling in the Fuchun Mountains, de Gu Xiaogang

 
[dropcap]E[/dropcap] no final, o amor do Milwaukee acabou mesmo por vencer. Give me Liberty, filme nascido das profundezas do cinema independente dos Estados Unidos da América e realizado pelo russo Kirill Mikhanovsky venceu o galardão de melhor filme da Competição Internacional do Festival Internacional de Cinema e Cerimónia de Entrega de Prémios de Macau (IFFAM). Cinco anos depois de um conturbado processo, quer a nível financeiro, quer a nível de produção, até pelo “simples” facto de o filme contar com actores não-profissionais (alguns com mais de 80 anos) e outros, portadores de deficiências, o realizador russo e a argumentista norte-americana Alice Austen mostraram-se radiantes após a distinção.
“É um sentimento incrível, sobretudo pelo trabalho de todas as pessoas que fizeram parte deste filme, que por pouco não existia. Cada momento que contribuíu para a produção deste filme é um milagre. Estamos aqui para celebrar a comédia da vida, pois essa é a única maneira de enfrentar a realidade”, disse Kirill Mikhanovsky. “Este filme é muito dramático mas conseguimos sempre encontrar sentido de humor nos momentos mais difíceis”, acrescentou Alice Austen.
Acerca do filme, passado num dia da vida de um jovem que conduz uma carrinha de transporte de pessoas que necessitam de cuidados de saúde na “segregada” e complexa cidade do Milwaukee, o realizador disse há dias, numa entrevista concedida ao HM, que o filme “não é sobre pessoas com deficiência, nem sobre racismo. É um filme sobre humanidade, com uma história muito simples, que se assume como um pretexto para um tema maior, uma ponderação filosófica quase, acerca do destino da América e também do mundo”.
Lynn + Lucy foi outro dos vencedores da noite, ao arrecadar dois prémios da Competição Internacional do IFFAM: Melhor Realizador, atribuído a Fyzal Boulifa, e Melhor Actriz, atribuído a Roxanna Scrimshaw. Lynn e Lucy fala da história de duas amigas desde os tempos da escola, que acabam por desenvolver uma relação tão intensa como qualquer romance.
“Depois do prémio de melhor actriz nunca pensei que pudessemos ganhar mais um. Fico muito contente por todos os que fizeram parte deste filme e em especial pela Roxanna Scrimshaw porque ela não tinha qualquer experiência prévia em cinema”, foi desta forma que reagiu Fyzal Boulifa após Lynn + Lucy ter sido distinguido com dois prémios.
Já o prémio de Melhor Actor foi a tribuído a Sarm Heng, pelo seu desempenho em Buoyancy, filme realizado pelo australiano Rodd Rathjen que conta a história de Chakra, um jovem do Cambodja com 14 anos, que acaba juntamente com o seu colega Kea, por ser escravizado por um capitão de um barco de pesca tailandês, após ter partido em busca oportunidade de ter um trabalho remunerado numa fábrica. Buoyancy foi ainda galardoado com o prémio do público.
Por fim, o prémio de Melhor Argumento foi para o neo-zelandês Hamish Bennet, realizador e argumentista de Bellbird, filme que a história de Ross, um agricultor parco em palavras, que parece perder o rumo da vida, a partir do momento em que a sua mulher Beth, morre inesperadamente.
O presidente do Júri da Competição Internacional, Peter Chan sublinhou o facto de os membros do júri terem “uma ideia comum” e de não ter havido discussões para encontrar os vencedores. “Decidimos rapidamente os prémios e isso, para mim, é um sucesso”, disse Peter Chan. O presidente do júri enalteceu ainda a juventude dos realizadores presentes no festival que estão a produzir as suas primeiras ou segundas obras.

Os melhores da China

Dwelling in the Fuchun Mountains, de Gu Xiaogang venceu o prémio de melhor filme na competição dedicada ao Novo Cinema Chinês. Inspirado no título de uma famosa pintura chinesa de Huang Gongwang, Dwelling in the Fuchun Mountains conta o drama familiar de quatro irmãos que assistem ao declínio de saúde da mãe, ao longo das quatro estações do ano. Já com o troféu nas mãos, o realizador agradeceu o apoio de todos os que ajudaram a obra a tornar-se realidade e falou da homenagem à cultura chinesa que o filme pretende também ser.
“Este filme conta a história de uma família contemporânea (…) que tem de cuidar da sua mãe, assumindo-se como um reflexo actual da sociedade chinesa. O processo de gravação foi muito difícil pois o filme passa-se em quatro estações, o que implicou fazer gravações durante dois anos”, referiu.
Já o prémio de Melhor Realizador foi atribuído a Anthony Chen, pelo seu trabalho em Wet Season, filme que tem como pano de fundo Singapura. “É um honra ganhar este prémio e agradeço ao Festival de Cinema de Macau. Acho que este filme é muito especial até porque, no início, não estava à espera de voltar a utilizar os mesmos actores”, apontou Anthony Chen.
Zhou Dong Yu foi a vencedora do prémio de Melhor Actriz pela sua prestação em Better Days, filme realizado por Derek Kwok-cheung Tsang. Adaptado do romance “In His Youth”, Better Days conta a história de uma jovem estudante vítima de bullying, no contexto da preparação dos exigentes exames de admissão à Universidade na China, intitulados de gaokao.
Para a actriz receber este prémio foi “um momento muito emocionante. Penso que este tema do bullying das escolas é uma questão social que conseguimos chamar à atenção do público”, explicou Zhou Dong Yu.
Já o prémio de Melhor Actor foi atribuído a Wu Xiao Liang pela sua prestação em Wisdom Tooth. O melhor actor da competição do Novo Cinema Chinês admitiu que o prémio “foi uma surpresa” e sublinhou que este foi um filme “muito difícil de fazer e que tem muita paixão”, até pelas condições climatéricas adversas que encontraram no norte da China. “Havia momentos em que estava tanto frio que era impossível abrir a boca para dizer as deixas”, partilhou.
Por fim, o prémio de Melhor Argumento distinguiu Johnny Ma pelo seu trabalho em To Live to Sing, que o próprio também realizou. Para Ma, apesar de o processo ter sido “muito difícil” é depois compensador quando “oferecemos uma história ao público”. “Quero, por isso, agradecer à minha equipa, pois comparado com outros lugares, a China é o lugar mais difícil para se fazer um filme”, desabafou Johnny Ma.

Distinções Honrosas

Além dos principais prémios, outras menções foram também anunciadas por ocasião da Cerimónia de Entrega de Prémios.
2019 Asian Blockbuster Film 2019: Parasite (Coreia do Sul)
NETPAC Award: “To Live to Sing”, de Johnny Ma
“Spirit of Cinema” Achievement Award: Li Shao Hong (A City Called Macau)
Cinephilia Critic’s Award: “Wet Season”, de Anthony Chen
Cinephilia Critic’s Award for Best Macau Film: “Years of Macao, de Tou Kim Hong, Penny Lam, Albert Chu, Emily Chan, Peeko Wong, Chao Koi Wang, Maxim Bessmertny, Ao Leong Weng Fong e António Caetano de Faria

11 Dez 2019

IFFAM | Give me Liberty arrecada prémio para melhor filme

Na Competição Internacional, o prémio de melhor filme foi para Give me Liberty, dos Estados Unidos da América. Lynn + Lucy, uma co-produção de Inglaterra e França arrecadou os galardões de melhor realizador e melhor actriz. Já na competição dedicada ao Novo Cinema Chinês o melhor filme foi Dwelling in the Fuchun Mountains, de Gu Xiaogang

 

[dropcap]E[/dropcap] no final, o amor do Milwaukee acabou mesmo por vencer. Give me Liberty, filme nascido das profundezas do cinema independente dos Estados Unidos da América e realizado pelo russo Kirill Mikhanovsky venceu o galardão de melhor filme da Competição Internacional do Festival Internacional de Cinema e Cerimónia de Entrega de Prémios de Macau (IFFAM). Cinco anos depois de um conturbado processo, quer a nível financeiro, quer a nível de produção, até pelo “simples” facto de o filme contar com actores não-profissionais (alguns com mais de 80 anos) e outros, portadores de deficiências, o realizador russo e a argumentista norte-americana Alice Austen mostraram-se radiantes após a distinção.

“É um sentimento incrível, sobretudo pelo trabalho de todas as pessoas que fizeram parte deste filme, que por pouco não existia. Cada momento que contribuíu para a produção deste filme é um milagre. Estamos aqui para celebrar a comédia da vida, pois essa é a única maneira de enfrentar a realidade”, disse Kirill Mikhanovsky. “Este filme é muito dramático mas conseguimos sempre encontrar sentido de humor nos momentos mais difíceis”, acrescentou Alice Austen.

Acerca do filme, passado num dia da vida de um jovem que conduz uma carrinha de transporte de pessoas que necessitam de cuidados de saúde na “segregada” e complexa cidade do Milwaukee, o realizador disse há dias, numa entrevista concedida ao HM, que o filme “não é sobre pessoas com deficiência, nem sobre racismo. É um filme sobre humanidade, com uma história muito simples, que se assume como um pretexto para um tema maior, uma ponderação filosófica quase, acerca do destino da América e também do mundo”.

Lynn + Lucy foi outro dos vencedores da noite, ao arrecadar dois prémios da Competição Internacional do IFFAM: Melhor Realizador, atribuído a Fyzal Boulifa, e Melhor Actriz, atribuído a Roxanna Scrimshaw. Lynn e Lucy fala da história de duas amigas desde os tempos da escola, que acabam por desenvolver uma relação tão intensa como qualquer romance.

“Depois do prémio de melhor actriz nunca pensei que pudessemos ganhar mais um. Fico muito contente por todos os que fizeram parte deste filme e em especial pela Roxanna Scrimshaw porque ela não tinha qualquer experiência prévia em cinema”, foi desta forma que reagiu Fyzal Boulifa após Lynn + Lucy ter sido distinguido com dois prémios.

Já o prémio de Melhor Actor foi a tribuído a Sarm Heng, pelo seu desempenho em Buoyancy, filme realizado pelo australiano Rodd Rathjen que conta a história de Chakra, um jovem do Cambodja com 14 anos, que acaba juntamente com o seu colega Kea, por ser escravizado por um capitão de um barco de pesca tailandês, após ter partido em busca oportunidade de ter um trabalho remunerado numa fábrica. Buoyancy foi ainda galardoado com o prémio do público.

Por fim, o prémio de Melhor Argumento foi para o neo-zelandês Hamish Bennet, realizador e argumentista de Bellbird, filme que a história de Ross, um agricultor parco em palavras, que parece perder o rumo da vida, a partir do momento em que a sua mulher Beth, morre inesperadamente.

O presidente do Júri da Competição Internacional, Peter Chan sublinhou o facto de os membros do júri terem “uma ideia comum” e de não ter havido discussões para encontrar os vencedores. “Decidimos rapidamente os prémios e isso, para mim, é um sucesso”, disse Peter Chan. O presidente do júri enalteceu ainda a juventude dos realizadores presentes no festival que estão a produzir as suas primeiras ou segundas obras.

Os melhores da China

Dwelling in the Fuchun Mountains, de Gu Xiaogang venceu o prémio de melhor filme na competição dedicada ao Novo Cinema Chinês. Inspirado no título de uma famosa pintura chinesa de Huang Gongwang, Dwelling in the Fuchun Mountains conta o drama familiar de quatro irmãos que assistem ao declínio de saúde da mãe, ao longo das quatro estações do ano. Já com o troféu nas mãos, o realizador agradeceu o apoio de todos os que ajudaram a obra a tornar-se realidade e falou da homenagem à cultura chinesa que o filme pretende também ser.

“Este filme conta a história de uma família contemporânea (…) que tem de cuidar da sua mãe, assumindo-se como um reflexo actual da sociedade chinesa. O processo de gravação foi muito difícil pois o filme passa-se em quatro estações, o que implicou fazer gravações durante dois anos”, referiu.

Já o prémio de Melhor Realizador foi atribuído a Anthony Chen, pelo seu trabalho em Wet Season, filme que tem como pano de fundo Singapura. “É um honra ganhar este prémio e agradeço ao Festival de Cinema de Macau. Acho que este filme é muito especial até porque, no início, não estava à espera de voltar a utilizar os mesmos actores”, apontou Anthony Chen.

Zhou Dong Yu foi a vencedora do prémio de Melhor Actriz pela sua prestação em Better Days, filme realizado por Derek Kwok-cheung Tsang. Adaptado do romance “In His Youth”, Better Days conta a história de uma jovem estudante vítima de bullying, no contexto da preparação dos exigentes exames de admissão à Universidade na China, intitulados de gaokao.
Para a actriz receber este prémio foi “um momento muito emocionante. Penso que este tema do bullying das escolas é uma questão social que conseguimos chamar à atenção do público”, explicou Zhou Dong Yu.

Já o prémio de Melhor Actor foi atribuído a Wu Xiao Liang pela sua prestação em Wisdom Tooth. O melhor actor da competição do Novo Cinema Chinês admitiu que o prémio “foi uma surpresa” e sublinhou que este foi um filme “muito difícil de fazer e que tem muita paixão”, até pelas condições climatéricas adversas que encontraram no norte da China. “Havia momentos em que estava tanto frio que era impossível abrir a boca para dizer as deixas”, partilhou.

Por fim, o prémio de Melhor Argumento distinguiu Johnny Ma pelo seu trabalho em To Live to Sing, que o próprio também realizou. Para Ma, apesar de o processo ter sido “muito difícil” é depois compensador quando “oferecemos uma história ao público”. “Quero, por isso, agradecer à minha equipa, pois comparado com outros lugares, a China é o lugar mais difícil para se fazer um filme”, desabafou Johnny Ma.

Distinções Honrosas

Além dos principais prémios, outras menções foram também anunciadas por ocasião da Cerimónia de Entrega de Prémios.

2019 Asian Blockbuster Film 2019: Parasite (Coreia do Sul)
NETPAC Award: “To Live to Sing”, de Johnny Ma
“Spirit of Cinema” Achievement Award: Li Shao Hong (A City Called Macau)
Cinephilia Critic’s Award: “Wet Season”, de Anthony Chen
Cinephilia Critic’s Award for Best Macau Film: “Years of Macao, de Tou Kim Hong, Penny Lam, Albert Chu, Emily Chan, Peeko Wong, Chao Koi Wang, Maxim Bessmertny, Ao Leong Weng Fong e António Caetano de Faria

11 Dez 2019

Maria Helena de Senna Fernandes, presidente da comissão organizadora do IFFAM : “A média de lotação tem sido de 80%”

[dropcap]E[/dropcap]m entrevista, a Directora dos Serviços de Turismo e Presidente da comissão organizadora do Festival Internacional e Cerimónia de Entrega de Prémios de Macau (IFFAM), Maria Helena de Senna Fernandes fez um balanço dos últimos quatro anos de festival e apontou, apesar das muitas dificuldades, que a edição deste ano foi pautada por um sentimento de consolidação e de maior adesão por parte do público e da indústria.

“O Mike [Goodridge] disse-me que este ano foi mais fácil atrair novos projectos que nos anos anteriores (…). Temos que dar confiança às pessoas, aos filmes e sobretudo às distribuídoras, que nos oferecem os seus filmes. Este ano foi já muito mais fácil do que nos anos anteriores e isso é bom sinal”, referiu Maria Helena de Senna Fernandes.

A presidente da comissão organizadora do IFFAM recordou as dificuldades que marcaram as primeiras edições, onde foi “preciso aprender quase tudo acerca da realização de um festival” e as mudanças que foram feitas a partir da segunda edição, que classificou com um ano de “reorganização”, marcado por uma nova direcção artística chefiada por Mike Goodridge. Depois de uma terceira edição apostada em atrair “bons projectos e bons filmes”, Maria Helena de Sena Fernandes sentiu grandes melhorias, consistência ao nível dos conteúdos e, sobretudo, menor preocupação com a organização, porque “a equipa está cada vez mais madura e sabe o que é necessário”.

“De facto, de todos os quatro anos, este ano foi aquele em que fizemos menos reuniões internas, porque quase toda a gente já sabe o que é necessário e conhecem melhor (…) os pontos em que temos de ter mais atenção. Por causa disso eu não tenho que chamar as pessoas a atenção este ano e isso é bom sinal”, explicou a Directora dos Serviços de Turismo.

Quanto à adesão, apesar de admitir “continuar a ser uma batalha”, Maria Helena de Sena Fernandes afirmou que a quarta edição do IFFAM assistiu a uma procura superior, até porque a “equipa de programação está agora mais sensível ao gosto do público”. Sublinhando que “nem todos os filmes estiveram lotados porque (…) há muita oferta” e existe a vontade de criar “o hábito de comprar bilhetes”, a lotação média em sala tinha sido positiva, tendo chegado aos 80 por cento.

Para continuar

Não querendo comprometer-se com a realização da próxima edição do IFFAM em 2020 por não ter ainda tido oportunidade de debater o assunto com a nova secretária para os Assuntos Sociais e Cultura do novo Executivo, Ao Ieong U, Maria Helena de Sena Fernandes afirmou contudo que, seja de que forma for, a aposta do Governo nas indústrias criativas, e em particular no cinema é para continuar. “Esta é uma aposta do Governo, que sempre deu oportunidades às indústrias criativas, até porque em Macau há muita gente que quer fazer filmes e entrar no circuito de produção. Por isso, temos de dar oportunidades e haverá sempre maneira de apoiar”, explicou.

11 Dez 2019

Juliette Binoche, actriz: “Estou solidária com os artistas que não se podem exprimir livremente aqui”

A “embaixadora-estrela” da quarta edição do Festival Internacional de Cinema de Macau (IFFAM), defende que “há muitas formas de ser livre”, mesmo quando existe censura

 

[dropcap]J[/dropcap]uliette Binoche, aclamada actriz francesa que se tornou na primeira a ser galardoada com o prémio de Melhor Actriz nos três principais festivais de cinema europeus, mostrou-se ontem solidária com os artistas que têm de ver as suas obras escrutinadas pela censura chinesa. No entanto, para Binoche que só sabe “viver de forma independente”, há sempre maneira de continuar a desenvolver qualquer forma de arte.

“Eu quero ser livre e vou ser livre, mas há muitas formas de o ser. Como actores também temos limites: temos de saber as nossas deixas, as nossas marcações e, às vezes, só temos a oportunidade de fazer um take. Mas no interior, temos de encontrar o nosso caminho (…). Por isso há sempre formas de nos expressar e estou solidária com os artistas que não se podem exprimir livremente aqui”. “Há sempre limites, mas para mim a arte deve ser levada o mais longe possível”, partilhou Juliette Binoche quando questionada pelos jornalistas sobre a forma como iria lidar com a censura na China, caso aceitasse o convite lançado no dia anterior por Diao Yinan, realizador chinês que em 2014 venceu o Urso de Ouro em Berlim pelo filme “Black Coal, Thin Ice”, para participar num filme por ele realizado.

Acreditando que a essência do seu trabalho como actriz, e no limite, de uma boa cena, está numa “certa incerteza” e “na energia que existe em saltar para o desconhecido”, Juliette Binoche falou da importância que a descoberta e a vontade de aprender têm para si.

“A curiosidade é a base da humanidade. É possível aprender interagindo, viajando (…) é essa paixão que me leva a ir, a paixão de aprender o contacto com grandes artistas”, referiu.

Realizar? Talvez um dia

Questionada sobre a possibilidade de vir a realizar os seus próprios filmes, a actriz francesa admite que até “pode acontecer”, mas que, neste momento, se sente sortuda por trabalhar com realizadores e equipas fantásticas. “Se não tivesse essa oportunidade provavelmente escreveria e realizava eu”, explicou Juliette Binoche, vencedora do Óscar de Melhor Actriz Secundária pela sua prestação em “O Paciente Inglês” (1997), uma das obras destacadas no evento “Em conversa com Juliette Binoche” do IFFAM.

“O momento da pós-produção é quando o realizador tem verdadeiramente o poder. É aqui que o filme está mesmo a ser feito e o realizador pode mostrar a sua inteligência, sabedoria e também o artista que é, ao nível do ritmo, por respeitar ou não aquilo que foi gravado, por adicionar música ou confiar pura e simplesmente na forma como estava planeado”, referiu Juliette Binoche.

“Lembro-me de uma cena que o Anthony Minghella, realizador do Paciente Inglês, gravou entre o Kip e a minha personagem no sótão da casa, e ele, que acabou por cortar essa parte, resolveu usar uma reacção minha gravada nessa cena, noutro contexto completamente diferente, onde o Willem Dafoe revela ser o paciente inglês. E nesse momento a minha personagem passa a ouvir o que se está a passar e a estar envolvida no segredo. Fiquei impressionada por ele ter sido capaz de fazer isso”, exemplificou a actriz francesa.

11 Dez 2019

Gitanjali Rao, realizadora de Bombay Rose: “É possível contar inúmeras verdades dolorosas através da arte”

Gintali Rao decidiu contar uma história sobre Bombaím e as suas pessoas através de quadros animados. Bombay Rose é o único filme de animação seleccionado para a Competição Internacional do Festival de Cinema de Macau e, segundo a actriz e realizadora indiana, fala de trabalho infantil, homossexualidade e dos “heróis” que não têm histórias de sucesso para contar

 

Bombay Rose é uma história sobre restrições, amor e busca por novas paisagens e condições de vida. Que mensagem pretende passar com este filme?

[dropcap]E[/dropcap]ssencialmente queria contar esta história há muito tempo, que fala de duas personagens, que imigraram para Bombaím. Vivo rodeada de pessoas como eles diariamente em Bombaím e descobri que as suas histórias nunca são contadas porque não são histórias de sucesso, não são as histórias convencionais. Mas é muito interessante de conhecer, do ponto de vista humano, as dificuldades pelas quais passaram, as pequenas aldeias de onde vieram e perceber, chegados a Bombaím, que nem todos os seus sonhos se tornaram realidade. Por isso queria contar uma história sobre como enfrentar as dificuldades e o que tiveram de fazer para sobreviver. Aqui não se trata de uma sobrevivência normal, são jovens que também se apaixonam, assistem a filmes de Bollywood e que também têm as suas fantasias, escapes e sentem falta do sítio de onde vieram. Por isso, este filme fala destas questões complexas e da forma como a cidade lida com elas, mantendo estas pessoas longe dos privilégios dos mais ricos, pois eles constroem, limpam e mantêm a cidade, mas são quase obrigados a viver na rua.

Bombay Rose aborda vários temas sociais, novos e intemporais, que são críticos na sociedade, como a religião ou a homossexualidade. Como é que estas questões são abordadas no filme?

Para mim, quando penso em personagens elas vêm com os seus problemas, porque é assim que acontece na realidade. É impossível separar alguém da língua e cultura do sítio de onde veio. Quando estas pessoas chegam a um novo sítio têm de sobreviver e estão constantemente a ser confrontadas com questões éticas acerca daquilo que devem ou não fazer e a maneira como lidam com essas situações. Queria que tudo isso viesse com as personagens, não queria que fossem só bonitas e simples para as pessoas as perceberem melhor. As personagens têm de trazer consigo os seus problemas e, a partir daí, faz sentido contar as suas histórias e de que forma conseguiram ultrapassar os problemas. Porque há três ou quatro personagens, e cada uma vem de um sítio diferente e tem um contexto diferente, retratando também um problema diferente, quer seja trabalho infantil ou a homossexualidade. Aqui, podemos fazer de duas formas. Ou não mostramos os problemas e só damos a ver as partes boas, ou mostramos os dois lados. Para mim é bom mostrar as duas partes e acreditar que é possível lutar e sobreviver. Para mim esses é que são os heróis. Não se trata de ter muito sucesso, mas de pequenos sucessos perante as dificuldades.

Porquê animação e como enveredou pelo mundo do cinema?

Depois de estudar comecei a trabalhar num estúdio onde aprendi animação. Ser actriz foi algo que surgiu em paralelo com o meu trabalho diário e com os estudos, porque eu era actriz de teatro e não tinha dinheiro para sobreviver se só fizesse teatro. Por isso, para mim, a animação foi algo que aprendi fazendo e foi uma forma de trazer as minhas qualidades artísticas enquanto pintora, para a realização. Mas também o que aprendi como actriz foi muito útil na animação para fazer com que as personagens do filme se comportem de forma realista, pois não possuem nenhum tipo de exagero nos seus gestos, são quase como pessoas reais. Nem mesmo actores são tão realistas. Para mim trata-se sempre de pintar, frame a frame, sem fazer qualquer tipo de animação 3D. Adoro fazê-lo sozinha e, para além disso, da forma como eu vejo a história, é possível contar inúmeras verdades dolorosas através da arte, porque se torna mais poético, torna-se lírico e estético. Acho que não conseguiria contar assuntos tão brutais num filme com actores.

Como vê actualmente o cinema asiático?

Para o ocidente é uma revelação mas para nós, a verdade é que temos feito isto desde sempre. Acho que o que tem acontecido ultimamente é que o espectro mudou. Quando era mais nova e procurava filmes nos anos 90 não via assim tantos filmes asiáticos, via sim muitos filmes europeus a toda a hora, em festivais. Era essa a influência. E os filmes americanos que apareciam nas salas de cinema. Até num país como a Índia, onde existem mais de 20 regiões diferentes, com línguas diferentes e que fazem o seu próprio cinema. Acho que a exposição daquilo que temos estado a fazer há muitos anos na Ásia está a tornar-se cada vez mais interessante para o resto da Europa. Na minha opinião, isto também acontece porque estes países são jovens em termos de desenvolvimento e têm muito mais coisas novas para dizer e isso está a tornar-se cada vez mais interessante para a audiência global. Na Ásia existe uma geração mais nova que está agora a fazer filmes em oposição ao ocidente onde as gerações mais antigas estão a fazer filmes. Por isso agora acho que o interesse está naquilo que é fresco, o que é novo e é bom, porque fazia falta há muito tempo.

Sente que o IFFAM pode ser um veículo importante para esse crescimento?

Sem dúvida. Acho que tudo isto está a acontecer na Ásia porque os países daqui estão a levar o cinema muito mais a sério e não apenas como um negócio. Porque nos países asiáticos é comum ver menos aposta na arte e mais no negócio. Com os festivais, é dada maior importância à parte artística, por isso eventos como este estão a fazer a diferença na forma como o público vê filmes. Quando era mais nova existia apenas um festival na Índia, agora devemos ter cerca de 100, em apenas 20/25 anos. Por isso está definitivamente a fazer a diferença.

11 Dez 2019

Project Market | Uk Kei de Leonor Teles vence na categoria Macau Spirit Award

[dropcap]O[/dropcap] projecto Uk Kei de Leonor Teles e Filipa Reis venceu na categoria “Macau Spirit Award” do IFFAM Project Market (IPM), garantindo um prémio monetário de 5 mil dólares americanos. Para Leonor Teles, a mais jovem realizadora a vencer um Urso de Ouro na competição de curtas-metragens de Berlim (2016), apesar de existir alguma estranheza pelo facto de estar “a receber prémios por coisas que ainda não estão feitas”, o reconhecimento é muito positivo.

“Na verdade eu nem sei bem o que quer dizer Macau Spirit Award mas é sempre bom quando reconhecem aquilo que estamos a tentar fazer. É sempre um incentivo, e passando-se o filme em Macau este reconhecimento é bom.” Quanto à obra em si, Leonor Teles apenas adiantou “que se passa entre Lisboa e Macau”, não havendo ainda nenhum calendário definido para o projecto.

Já o “Best Project Award” do IPM, foi atribuído ao filipino Eduardo Dodo Dayao, pelo projecto Dear Wormwood. Após saber que ia levar para casa 15 mil dólares americanos, o realizador mostrou-se satisfeito com a conquista e prevê começar a rodar o filme no final do próximo ano.

O prémio “Creative Excellence Award”, no valor de 10 mil dólares americanos, foi atribuído ao projecto The Day and Night of Brahma, da sul-africana Sheetal Magan, cuja curta Paraya foi apresentada em Cannes.
Por fim, Drum Wave, da realizadora australiana Natalie Erika Jameson venceu na categoria “Best Co-production Award”, garantindo também 10 mil dólares americanos.

10 Dez 2019

Project Market | Uk Kei de Leonor Teles vence na categoria Macau Spirit Award

[dropcap]O[/dropcap] projecto Uk Kei de Leonor Teles e Filipa Reis venceu na categoria “Macau Spirit Award” do IFFAM Project Market (IPM), garantindo um prémio monetário de 5 mil dólares americanos. Para Leonor Teles, a mais jovem realizadora a vencer um Urso de Ouro na competição de curtas-metragens de Berlim (2016), apesar de existir alguma estranheza pelo facto de estar “a receber prémios por coisas que ainda não estão feitas”, o reconhecimento é muito positivo.
“Na verdade eu nem sei bem o que quer dizer Macau Spirit Award mas é sempre bom quando reconhecem aquilo que estamos a tentar fazer. É sempre um incentivo, e passando-se o filme em Macau este reconhecimento é bom.” Quanto à obra em si, Leonor Teles apenas adiantou “que se passa entre Lisboa e Macau”, não havendo ainda nenhum calendário definido para o projecto.
Já o “Best Project Award” do IPM, foi atribuído ao filipino Eduardo Dodo Dayao, pelo projecto Dear Wormwood. Após saber que ia levar para casa 15 mil dólares americanos, o realizador mostrou-se satisfeito com a conquista e prevê começar a rodar o filme no final do próximo ano.
O prémio “Creative Excellence Award”, no valor de 10 mil dólares americanos, foi atribuído ao projecto The Day and Night of Brahma, da sul-africana Sheetal Magan, cuja curta Paraya foi apresentada em Cannes.
Por fim, Drum Wave, da realizadora australiana Natalie Erika Jameson venceu na categoria “Best Co-production Award”, garantindo também 10 mil dólares americanos.

10 Dez 2019

Competição Internacional | Realizador de Give me Liberty quer fazer próximo filme em Macau

A perseverança de Kirill Mikhanovsky e Alice Austen foi levada ao limite para que Give me Liberty fosse uma realidade. O filme, que levou cerca de cinco anos a produzir, contou quase com tantos contratempos como uma conturbada viagem de carrinha pelo Milwaukee. O realizador russo e a argumentista norte-americana contaram ao HM todos os percalços de um filme que centra a sua autenticidade num elenco de actores não profissionais

 

[dropcap]A[/dropcap] dada altura, ao fim de três anos, quando estávamos prestes a começar a gravar, perdemos todo o financiamento, até que um bilionário disse que financiava o filme na totalidade, se o fizéssemos em Detroit. E nós recusámos. Claro que pensámos se não estaríamos a ser estúpidos pois não encontrámos financiamento em mais lado nenhum no Milwaukee”, disse Kirill Mikhanovsky, realizador de Give me Liberty, filme a concurso na Competição Internacional do IFFAM. “Tivemos de ser muito fortes para continuar”, explicou.

A vida pode ser uma viagem no interior de uma carrinha de transporte de pessoas que necessitam de cuidados de saúde. Pelo menos é este o entender de Kirill Mikhanovsky e da argumentista Alice Austen, acerca de Give me Liberty, o qual fizeram questão que fosse passado no Milwaukee, EUA, e que contasse a história de uma personagem local. Além disso, o filme teria também de contar com actores não-profissionais, alguns com mais de 80 anos e outros, portadores de deficiências.

“O Milwaukee é uma das cidades mais segregadas dos EUA e usámos a carrinha literalmente como um veículo que poderia ligar pessoas diferentes, de várias partes da cidade e representar a forma como a América é actualmente, mas isto é a parte filosófica. Essencialmente queríamos contar a história deste jovem que está perdido na vida e de todas as pessoas que o rodeiam e que querem estar onde precisam de estar, num dia particularmente difícil”, explicou o realizador.

No entanto, contar a história desse dia levou cinco anos, pois além de não haver ninguém interessado no financiamento, o facto de o elenco ser composto maioritariamente por actores não profissionais tornou ainda mais difícil a tarefa de angariar financiamento.

“Basicamente nos EUA não há financiamento público, é tudo privado. A maior parte do financiamento privado é ditado pelo elenco e, se não há um nome sonante o projecto está praticamente destinado a falhar”, explicou Mikhanovsky.

Mas a decisão estava a tomada e o projecto foi-se tornando “muito pessoal para ambos” pela quantidade de energia emprestada.

“A utilização de actores não profissionais é uma abordagem neo-realista que decidimos abraçar e que determinou todo o trabalho a partir daí e também a utilização de pessoas com deficiências para fazer todas as personagens que têm deficiências”, referiu Alice Austen. Este desafio, explicou a argumentista, colocou também uma “enorme pressão na escolha da actriz para o papel da Tracy”, que acabou a ser desempenhado por “Lolo” Spencer. “Pareceu-nos errado ter uma actriz a fazer o papel de uma personagem com uma deficiência, no meio de um elenco com pessoas deficientes”, disse Alice Austen.

Divina comédia

Questionado sobre a razão da utilização de um registo cómico na abordagem de temas tão sensíveis quanto variados, presentes em Give me Liberty e o desconforto que isso pode criar ao espectador, Kirill Mikhanovsky diz que “não foi propriamente uma escolha, mas sim o reflexo de uma forma de ver o mundo”, que nasceu a partir do respeito.

“Falámos muito acerca deste assunto quando estávamos a desenvolver o guião”, acrescentou Alice Austen sobre o tema. “A partir dos pontos mais trágicos encontramos muitas vezes este tipo de comédia. Para nós foi muito importante não olhar para as personagens de um ponto de vista que nos faça ter pena delas, mas de uma maneira que nos ligue a elas”, explicou.

Um dos actores do centro de apoio a pessoas com deficiência, o Eisenhower Center, onde foram gravadas várias cenas de Give me Liberty, queria inclusivamente, conta Alice Austen, cantar de forma irónica, a música “If I only had a brain” do Feiticeiro de Oz. “Estamos a lidar com pessoas que têm a capacidade de se rir de si próprias.

“Na minha opinião, a única forma de lidar com a realidade e com os eventos trágicos das nossas vidas é através da comédia”, acrescentou Kirill Mikhanovsky. “É a única maneira de enfrentar o drama, de o confrontar e sobreviver. Isto pode soar estranho, mas vem do amor. Se amarmos e respeitarmos estas pessoas, o humor vai nascer a partir do amor e do respeito”.

Ficção-científica na RAEM?

Durante o processo de criação de Give me Liberty, Kirill Mikhanovsky e Alice Austen chegaram a concluir o argumento para um thriller de ficção-científica que acabaram por colocar de parte.

Agora, passados cinco anos, tanto o realizador como a argumentista querem retomar o projecto e equacionam mesmo gravar algumas partes em Macau.

“Eu e a Alice escrevemos um thriller de ficção científica que queremos retomar agora e, tantos anos depois, achamos que é um trabalho sofisticado, onde Macau se enquadra perfeitamente”, afirmou Kirill Mikhanovsky.

“Estivemos a ver Macau e achámos que partes deste novo projecto podem ser gravadas aqui. Talvez o festival queira de alguma forma fazer parte disso”, acrescentou Alice Austen. “Seria muito entusiasmante usar o tempo que estamos aqui para nos sentarmos e falarmos sobre esta possibilidade de colaboração. Por isso, quem sabe?”, acrescentou.

10 Dez 2019

Competição Internacional | Realizador de Give me Liberty quer fazer próximo filme em Macau

A perseverança de Kirill Mikhanovsky e Alice Austen foi levada ao limite para que Give me Liberty fosse uma realidade. O filme, que levou cerca de cinco anos a produzir, contou quase com tantos contratempos como uma conturbada viagem de carrinha pelo Milwaukee. O realizador russo e a argumentista norte-americana contaram ao HM todos os percalços de um filme que centra a sua autenticidade num elenco de actores não profissionais

 
[dropcap]A[/dropcap] dada altura, ao fim de três anos, quando estávamos prestes a começar a gravar, perdemos todo o financiamento, até que um bilionário disse que financiava o filme na totalidade, se o fizéssemos em Detroit. E nós recusámos. Claro que pensámos se não estaríamos a ser estúpidos pois não encontrámos financiamento em mais lado nenhum no Milwaukee”, disse Kirill Mikhanovsky, realizador de Give me Liberty, filme a concurso na Competição Internacional do IFFAM. “Tivemos de ser muito fortes para continuar”, explicou.
A vida pode ser uma viagem no interior de uma carrinha de transporte de pessoas que necessitam de cuidados de saúde. Pelo menos é este o entender de Kirill Mikhanovsky e da argumentista Alice Austen, acerca de Give me Liberty, o qual fizeram questão que fosse passado no Milwaukee, EUA, e que contasse a história de uma personagem local. Além disso, o filme teria também de contar com actores não-profissionais, alguns com mais de 80 anos e outros, portadores de deficiências.
“O Milwaukee é uma das cidades mais segregadas dos EUA e usámos a carrinha literalmente como um veículo que poderia ligar pessoas diferentes, de várias partes da cidade e representar a forma como a América é actualmente, mas isto é a parte filosófica. Essencialmente queríamos contar a história deste jovem que está perdido na vida e de todas as pessoas que o rodeiam e que querem estar onde precisam de estar, num dia particularmente difícil”, explicou o realizador.
No entanto, contar a história desse dia levou cinco anos, pois além de não haver ninguém interessado no financiamento, o facto de o elenco ser composto maioritariamente por actores não profissionais tornou ainda mais difícil a tarefa de angariar financiamento.
“Basicamente nos EUA não há financiamento público, é tudo privado. A maior parte do financiamento privado é ditado pelo elenco e, se não há um nome sonante o projecto está praticamente destinado a falhar”, explicou Mikhanovsky.
Mas a decisão estava a tomada e o projecto foi-se tornando “muito pessoal para ambos” pela quantidade de energia emprestada.
“A utilização de actores não profissionais é uma abordagem neo-realista que decidimos abraçar e que determinou todo o trabalho a partir daí e também a utilização de pessoas com deficiências para fazer todas as personagens que têm deficiências”, referiu Alice Austen. Este desafio, explicou a argumentista, colocou também uma “enorme pressão na escolha da actriz para o papel da Tracy”, que acabou a ser desempenhado por “Lolo” Spencer. “Pareceu-nos errado ter uma actriz a fazer o papel de uma personagem com uma deficiência, no meio de um elenco com pessoas deficientes”, disse Alice Austen.

Divina comédia

Questionado sobre a razão da utilização de um registo cómico na abordagem de temas tão sensíveis quanto variados, presentes em Give me Liberty e o desconforto que isso pode criar ao espectador, Kirill Mikhanovsky diz que “não foi propriamente uma escolha, mas sim o reflexo de uma forma de ver o mundo”, que nasceu a partir do respeito.
“Falámos muito acerca deste assunto quando estávamos a desenvolver o guião”, acrescentou Alice Austen sobre o tema. “A partir dos pontos mais trágicos encontramos muitas vezes este tipo de comédia. Para nós foi muito importante não olhar para as personagens de um ponto de vista que nos faça ter pena delas, mas de uma maneira que nos ligue a elas”, explicou.
Um dos actores do centro de apoio a pessoas com deficiência, o Eisenhower Center, onde foram gravadas várias cenas de Give me Liberty, queria inclusivamente, conta Alice Austen, cantar de forma irónica, a música “If I only had a brain” do Feiticeiro de Oz. “Estamos a lidar com pessoas que têm a capacidade de se rir de si próprias.
“Na minha opinião, a única forma de lidar com a realidade e com os eventos trágicos das nossas vidas é através da comédia”, acrescentou Kirill Mikhanovsky. “É a única maneira de enfrentar o drama, de o confrontar e sobreviver. Isto pode soar estranho, mas vem do amor. Se amarmos e respeitarmos estas pessoas, o humor vai nascer a partir do amor e do respeito”.

Ficção-científica na RAEM?

Durante o processo de criação de Give me Liberty, Kirill Mikhanovsky e Alice Austen chegaram a concluir o argumento para um thriller de ficção-científica que acabaram por colocar de parte.
Agora, passados cinco anos, tanto o realizador como a argumentista querem retomar o projecto e equacionam mesmo gravar algumas partes em Macau.
“Eu e a Alice escrevemos um thriller de ficção científica que queremos retomar agora e, tantos anos depois, achamos que é um trabalho sofisticado, onde Macau se enquadra perfeitamente”, afirmou Kirill Mikhanovsky.
“Estivemos a ver Macau e achámos que partes deste novo projecto podem ser gravadas aqui. Talvez o festival queira de alguma forma fazer parte disso”, acrescentou Alice Austen. “Seria muito entusiasmante usar o tempo que estamos aqui para nos sentarmos e falarmos sobre esta possibilidade de colaboração. Por isso, quem sabe?”, acrescentou.

10 Dez 2019

Paulo Branco, produtor de cinema: “Este festival foi uma ideia minha”

Há 10 anos atrás sentiu que era importante criar em Macau uma janela cultural forte através de um festival de cinema e chegou mesmo, segundo o próprio, a dar o mote para o projecto. Não querendo “assumir a paternidade” do IFFAM, Paulo Branco, produtor do filme português “A Herdade”, falou ao HM acerca do contributo que a Ásia tem dado à arte cinematográfica, das novas plataformas digitais, mas também de uma carreira marcada pela presença incontornável do realizador Manoel de Oliveira

[dropcap]E[/dropcap]Estudou engenharia no Técnico, até 1971, três anos antes do 25 de Abril. O que aconteceu na sua vida para enveredar pelo cinema?
Isso é quase um filme. Foi uma sucessão de acasos mas, sobretudo, o facto de ter descoberto, como cinéfilo, a sétima arte. A certa altura, comecei a ter um prazer enorme em ver filmes, em descobrir e foi isso que me levou à produção. Nunca na minha vida pensei ser produtor e aqui estou, ao fim de 40 anos. Encontrei um espaço onde, de certa maneira, e eu sou uma pessoa extremamente anárquica, tento transformar os sonhos dos realizadores em realidade. Por isso tenho que ter um lado concreto e isso é uma batalha diária comigo próprio, ou seja, fazer com que os filmes existam e depois ocupar-me deles, de maneira a dar-lhes uma visibilidade para que possam existir.

Lembra-se que obras o fizeram apaixonar-se pelo cinema?
Talvez a primeira tenha sido o “Rio Bravo” de Howard Hawks. Lembro-me também de ter visto, quando era muito jovem, “As aventuras de Robin dos Bosques” com o Errol Flynn e ter ficado traumatizado porque a projecção parou a meio e só muitos anos depois consegui rever o filme. Mas isto são só pequenas recordações. Tive depois a sorte de encontrar pessoas do meio e de me começar a fascinar sobre como é que um filme se torna realidade e, mais tarde, houve alguém que me desafiou para ser produtor e eu, mesmo sem saber nada do que era a produção, lancei-me. E ainda não sei, estou a aprender todos os dias.

A figura de Manoel de Oliveira foi determinante na sua vida e carreira. Como começou esta relação e que lições guarda do grande mestre Oliveira?
Conheci-o através de outros realizadores da altura, o António Pedro Vasconcelos e o Paulo Rocha e cheguei a encontrar-me uma ou duas vezes com ele por acaso, quando ainda era um miúdo. Penso que, nessa altura, nem sequer reparou em mim. Depois, a dada altura, estava eu em Paris, quando o Manoel de Oliveira foi extremamente atacado em Portugal com a Obra “Amor de Perdição”, que tinha passado na televisão. Nessa altura resolvi estrear o filme em Paris porque gostei imenso e, foi um sucesso tal ao nível da crítica, que acabou por ter uma enorme influência, fazendo com que o Manoel de Oliveira voltasse a ser considerado como alguém que ainda poderia dar muito ao cinema. Foi aí que ele veio ter comigo a perguntar se eu queria produzir a próxima obra dele, porque nessa altura o Instituto Português do Cinema começou a exigir produtores para os filmes. Daí nasceu o “Francisca” e também uma relação que foi absolutamente essencial, pois estava a trabalhar com um dos grandes senhores do cinema mundial e, por outro lado, o Manoel era uma lição de vida permanente, porque era alguém que, mesmo com a idade que tinha, acabava por arriscar mais do que qualquer outra pessoa. Isso foi para mim extremamente importante, ou seja, ter um dia a dia, durante vinte e tal anos, com alguém que nunca estava contente e queria sempre fazer mais e continuar, mesmo até ao fim da sua vida.

Todos os cinéfilos têm filmes recorrentes aos quais retornam como quem regressa a casa com saudades das personagens, dos cenários… quais são os seus filmes recorrentes e porquê?
Há muitos filmes da história do cinema, dos grandes, que eu gosto de rever e depois há outros que já vi 30 ou 40 vezes. Um filme que eu conheço de cor e salteado é o “The Searchers”, do John Ford. Outro menos conhecido mas que aborda um tema que a mim sempre me fascinou, é o “Lilith”, de Robert Rossen, que pouca gente conhece mas que é um grande filme. Ainda há pouco tempo revi um filme extraordinário do Douglas Sirk, “The Tarnished Angels”, que é uma adaptação de um romance do William Faulkner. Depois há outros. Estou a falar mais nos filmes americanos porque do cinema europeu logicamente que revejo eternamente os filmes do Rossellini e os filmes do Renoir. Portanto, há sempre uma relação com toda essa cinematografia que, ao rever agora um filme como o “Roma, Cidade Aberta” ou o “Alemanha, Ano Zero”, percebe-se que todo cinema moderno nasceu do Rosselini. Ou ao rever um clássico como “Le Carrosse d’Or” do Renoir, percebe-se que a grande relação que existe entre o teatro e a vida, foi ele que nos ensinou. O cinema sempre foi uma fonte para mim, não só de prazer, mas também de descoberta, que me permitiu não ter medo de arriscar e de estar sempre à procura de novos territórios, até mesmo para a minha própria vivência pessoal. Tento aproveitar este dom magnífico ao máximo, de ainda estar aqui apesar de ter 69 anos.

O que nos pode dizer sobre o processo de produção de “A Herdade”?
Foi muito particular porque é um projecto que já queria fazer há muitos anos, de uma grande ficção, a partir da herdade de uma grande família que atravessa um período pouco retratado no cinema português que é o lado dos grandes latifundiários, das grandes famílias e da forma como tudo isso passou do feudalismo aos tempos modernos, trazendo todas as feridas abertas e destruições que existiram, infelizmente, com essa evolução natural da sociedade. O filme retrata um personagem que é um sedutor nato, bigger than life, patriarca no sentido antigo do próprio conceito e que, ao mesmo tempo, tem um poder de destruição enorme porque a atenção que tem para determinadas situações da sua herdade, não tem, em termos pessoais, com a sua família. São todas essas contradições que fazem com que o filme tenha uma emoção e uma capacidade de prender os espectadores e de fazer um retrato extremamente forte de todos os personagens que existem nesta história.

Desde o próprio João Fernandes, que é realmente o patriarca, mas também a personagem da mulher, os filhos, as pessoas que trabalham na herdade, há ali um lado, uma tensão e uma evolução dos personagens que penso que traz algo de novo ao cinema português e é isso que penso que transformou este filme num grande êxito em Portugal e lhe conferiu também uma dimensão internacional. Apesar de ser um filme que só fala de algo que se passou connosco no nosso país, há esse lado universal e melodramático e essa tensão.

Que ideia tem do Festival de Cinema de Macau e que margem de progressão em termos de projeção mundial acha que pode vir a ter?
Sabe, este festival foi uma ideia minha, que eu trouxe aqui há 10 anos ao Alexi Tan. Foi a partir de mim que eles depois convidaram o Marco Müller para a primeira edição, portanto há 10 anos atrás senti que havia aqui talvez uma possibilidade. Como me estava a divertir com o meu festival lá em Portugal pensei: “porque é que não vou propor isto a Macau?”. Eu vim, só que depois, o Marco Müller era para ter estruturado a ideia e vá… faltou-me a paciência, como se costuma dizer. Depois vim cá ver que isto agora é uma realidade, mas os princípios que eu na altura achava importantes, como a atenção ao cinema asiático, a possibilidade de haver uma competição de primeiras e segundas obras, tudo isso já estava um pouco no projecto inicial. Logicamente que transformaram isso depois. Mas acho que na altura sentia-se que era importante que houvesse aqui uma janela cultural forte e que um festival de cinema podia trazer isso. Não quero de maneira nenhuma assumir a paternidade do festival, simplesmente dizer que estou extremamente satisfeito que Macau tenha, neste momento, um festival. Agora, não me cabe a mim dizer qual é a dimensão que ele está a ter ou não. Estou aqui porque para mim era extremamente importante que os portugueses de Macau pudessem ver “A Herdade” numa sala de cinema.

Acabou a resposta anterior a falar em sala de cinema. Como vê a transição da sala de cinema para o pequeno ecrã liderada por plataformas como a Netflix? Podemos chamar a isto cinema?
Para já não vejo, porque nem sequer computador tenho. É uma questão muito prática. Por outro lado, qualquer realização de ficção, quer seja para cinema ou televisão, pode ser considerada cinema. Mas, no grande ecrã a atenção e o respeito são diferentes. Podemos dizer que há um gesto do próprio espectador, há o ir ao cinema que é, penso, essencial. É a mesma coisa, por exemplo, que ver as obras de arte todas que quiser na internet, mas outra coisa é ir mesmo vê-las. Agora não quero dizer se é cinema, isso são coisas que deixo depois para historiadores e filósofos. Mas é um prazer que é diferente e que ainda por cima, não nos permite estar distraídos pelas 50 mil coisas que acontecem ao mesmo tempo que se está a ver um filme na televisão ou num computador. Na sala de cinema as pessoas estão atentas a tudo, até mesmo aos ventos, aos silêncios e tudo que, ao ver na televisão, passa muito mais despercebido. A maior parte do que é construído para televisão tem, e não falo já nas plataformas, mas nas ficções televisivas, um ritmo especial para as pessoas não fazerem zapping e portanto, isso já formatiza de certa maneira um pouco o modelo. Por isso é que eu não sou adepto das séries, já sabemos exactamente qual é o ritmo, e o lado inventivo que o cinema sempre trouxe perde-se, talvez não nos conteúdos mas, em termos formais. Há excepções como o Twin Peaks, do David Lynch, mas isso é uma pessoa que já demonstrou que qualquer terreno para onde vá, é absolutamente extraordinário.

Como vê o cinema feito na China, sobretudo pelas novas gerações?
Houve um grande boom, não só do cinema chinês, mas no cinema asiático nos anos 80, que trouxe um olhar diferente em termos estéticos e de conteúdo daquilo que era feito. É preciso não esquecer que a grande cinematografia sempre esteve na China com o Mizoguchi, Kurosawa, Ozu, mas depois houve uma nova geração que começou a aparecer em Hong Kong, China, Coreia e que se começou a impor ao mundo. Neste momento, há um espaço para o cinema asiático fantástico porque já existe uma diversidade extraordinária de cineastas que são fortíssimos e que têm uma obra extremamente pessoal e que escapa a uma tentativa de controlo industrial. Essa luta existe sempre, seja em que continente for, mas a Ásia consegue realmente impor-se como região que tem dado ao cinema obras incríveis e que, neste momento, fazem avançar a arte cinematográfica.

Até que ponto é necessária alguma loucura para levar avante uma carreira enquanto produtor de cinema independente? Recorda-se do filme que o levou mais perto da loucura e porquê?
Isso acontece-me todos os dias ainda agora e não sei como é que o dia seguinte se vai passar. Adaptei-me a isso e sobretudo a estar pronto a todas as surpresas que possam acontecer e é também a minha maneira de acompanhar o risco artístico que têm os realizadores com quem trabalho. Era fácil demais eu estar numa situação confortável e eles, pelo que são e pelo que querem transmitir, estarem numa situação desconfortável. Fazer uma obra cinematográfica exige da parte deles um risco permanente para que possa resultar nalguma coisa de interessante. Nas situações difíceis eu vou sempre para a frente, não há tempo suficiente para ir ali para uma ponte saber se me deito para o rio ou não.

Tem ideia do número de filmes que produziu em quase 40 anos de carreira? No IMDB, enfim, vale o que vale, a conta dos filmes em que aparece como produtor nos créditos é 278. Como é que isto é possível?
É um bocadinho mais do que isso, mas não faço a mínima ideia. Isso não me cabe a mim responder. Que eles existem, existem. Que eu conheço todos, conheço. Que tenho uma relação pessoal com os filmes todos, também tenho. Posso contar histórias com cada um deles que ainda não me esqueci de nenhum, mesmo aqueles que infelizmente não esqueci. Mas pronto, isso vai-se construindo. É a mesma coisa quando se tem filhos, e eu tenho quatro, e, de repente, dizer, “olha, gostaria de ter mais”. E com os filmes é um pouco a mesma coisa.

10 Dez 2019

Metro Ligeiro | Transporte de todas as polémicas entra hoje em funcionamento 

Ainda Edmund Ho estava no poder quando o projecto do Metro Ligeiro de Macau começou a ser pensado e estudado. A prisão do ex-secretário para os Transportes e Obras Públicas, Ao Man Long, e a sua substituição por Lau Si Io trouxe um compasso de espera a todos os que esperavam um rápido progresso nas obras. Pelo meio, o Comissariado de Auditoria e o Comissariado contra a Corrupção deixaram os seus alertas. Eis os momentos mais marcantes do novo meio de transporte público que começa hoje a funcionar

 

[dropcap]E[/dropcap]ntra hoje em funcionamento o segmento da Taipa do Metro Ligeiro, depois de mais de dez anos de estudos e obras, com a garantia de viagens gratuitas até ao final do mês. Ao longo dos anos este tem sido um dos temas mais debatidos pela sociedade e pelos deputados à Assembleia Legislativa (AL), dado os enormes atrasos e derrapagens orçamentais registados.

No início, pretendia-se construir um sistema de Metro Ligeiro com 23 estações e um traçado que passava pelo centro da cidade, na zona do NAPE, o que gerou contestação. Os planos mudaram e, anos depois, é apenas inaugurada uma linha 9,3 quilómetros com um orçamento de 18 mil milhões de patacas.

Os percalços foram tantos que a deputada Song Pek Kei chegou a afirmar, em Outubro do ano passado, que o projecto do Metro Ligeiro “foi um erro”. “Está a fazer um melhor trabalho do que o seu antecessor porque antes as obras estavam paradas. Não será um erro da nossa parte construir o metro ligeiro, uma vez que Macau é um lugar muito pequeno? Se no futuro houver uma redução dos impostos do jogo quem vai suportar essas despesas? Creio que foi um erro construirmos o Metro Ligeiro, porque serão as próximas gerações a pagar”, frisou a deputada.

Raimundo do Rosário, secretário para os Transportes e Obras Públicas, chegou em 2014 para organizar dossiers pendentes deixados pelos seus antecessores, Ao Man Long (condenado por corrupção) e Lau Si Io e, com ele, o Metro Ligeiro viu finalmente a luz do dia. André Ritchie, arquitecto que foi coordenador-adjunto do Gabinete para as Infra-estruturas de Transportes (GIT), hoje Sociedade do Metro Ligeiro de Macau, disse ao semanário Plataforma que a entrada em funcionamento do Metro Ligeiro constitui “um marco histórico para Macau”.

“É muito positivo para Macau. Toda a equipa está de parabéns. É um projecto muito difícil em qualquer parte do mundo. Apenas quem trabalhou de facto neste projecto tem ideia da grande complexidade que envolve – não só na vertente técnica, mas também na parte relacionada com o modelo de operação comercial”, observa. André Ritchie destaca ainda “todos os diplomas legais que tiveram de ser criados” para o sistema de Metro Ligeiro avançar.

Ao HM, o deputado José Pereira Coutinho frisa que “finalmente este elefante branco entra em funções”. “Como estamos na época das ‘vacas gordas’ quase ninguém liga aos seus custos extremamente elevados. Só espero que o transporte seja grátis para os idosos”, adiantou.

Para a deputada Agnes Lam, a inauguração do Metro Ligeiro é como “uma entrada que vem sendo preparada há muito tempo, mas como demorou muito só resta uma pequena porção e as pessoas não acham suficiente”, metaforizou.

Nesse sentido, a deputada espera que o Governo “faça desta inauguração um marco histórico para recuperar a confiança das pessoas e que garanta um funcionamento suave do sistema”. Agnes Lam espera também que o segmento da Taipa seja um teste “à ligação entre o sistema do Metro Ligeiro, os táxis e os percursos pedestres”.

“Penso que o Governo ainda pode aprender muito com esta ‘entrada’, mas espero que avaliem a relação entre o custo e a efectividade de um projecto desta dimensão e que possam comunicar com o público os resultados. Temos de ter uma solução efectiva para o futuro transporte de massas”, frisou Agnes Lam.

Helena de Senna Fernandes, directora dos Serviços de Turismo, defendeu ontem que a entrada em funcionamento do Metro Ligeiro pode ajudar à melhoria da circulação de turistas na Taipa, mas não tanto em Macau. “Para quem chegar ao terminal da Taipa ou aeroporto vai ter mais facilidade em chegar aos hotéis do Cotai. Aí vai ser mais fácil, mas chegar ao centro histórico de Macau não vai ser tão fácil assim. Espero que no futuro possamos ter uma maior facilidade em termos de transporte, não apenas com o Metro Ligeiro, mas com outros meios de transporte.”

Jiang Xuchun, directora da Delegação das Ilhas da União Geral das Associações dos Moradores de Macau (UGAMM), disse ao jornal Ou Mun esperar que as estações do metro possam ter informações turísticas dada a proximidade ao aeroporto e terminal marítimo. A responsável defende também que no período de viagens gratuitas as autoridades possam divulgar mais informações sobre a deslocação entre autocarros e o traçado do Metro Ligeiro.

Primeira data e contratos (2011)

Estudado a partir do ano de 2003, o Metro Ligeiro propunha-se revolucionar o sistema de transportes públicos de Macau que tem funcionado apenas com autocarros e serviço de táxis. A primeira data avançada para a inauguração do Metro Ligeiro foi 2011, mas foi nesse ano que começaram a ser assinados os primeiros contratos de adjudicação, como foi o caso do contrato assinado com a Mitsubishi para o fornecimento de 110 carruagens, no valor de 4.688 mil milhões de patacas.

No entanto, este plano inicial cairia por terra quando o Governo percebeu que tinha encomendado mais 48 carruagens além das necessárias. Em Maio do ano passado, ficou a saber-se que a Mitsubishi seria compensada em 360 milhões de patacas pela rescisão do contrato. “Essas carruagens são demais para aquilo que precisamos para as linhas da Taipa, Seac Pai Van e até a Barra. Achámos que era melhor rescindir a segunda parte [da encomenda à Mitsubishi] – até porque, daqui a uns anos, quando a rede do metro for estendida para outros sítios, certamente, haverá carruagens mais modernas e com outras potencialidades”, justificou Raimundo do Rosário.

Intervenções do CCAC e CA (2012 – 2018)

O projecto do Governo para o segmento do Metro Ligeiro na península de Macau gerou críticas desde o início, tendo levado os representantes da Associação para o Desenvolvimento da Comunidade de Macau a apresentar, a 29 de Maio de 2011, uma queixa junto do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) sobre alegados “vários problemas relacionados com a construção do sistema do Metro Ligeiro na península de Macau e na Taipa, suspeitando da existência de ilegalidades e irregularidades em algumas fases do processo”, lia-se no relatório.

Os moradores do NAPE questionavam as razões para a alteração do traçado inicial do percurso para outro que “passou a contemplar a passagem pelas ruas de Londres e da Cidade do Porto, na zona do NAPE, sem que tenha sido apresentada justificação técnica para tanto”. Além disso, os moradores “alegaram que a construção do Metro Ligeiro ao nível térreo, nesta zona, não preencheria os requisitos de segurança contra incêndios”.

A nível orçamental, o sistema do Metro Ligeiro foi analisado quatro vezes pelo Comissariado de Auditoria (CA), a última das quais o ano passado. Disse o organismo liderado por Ho Veng On que o GIT “nunca foi capaz de calcular o custo global do investimento” no projecto e que, “à medida que a obra vai sendo executada, há tendência para alterar a estimativa dos custos, criando a ilusão de que nunca houve derrapagens no orçamento”.

O CA estimou, na altura, um orçamento superior a 51 mil milhões de patacas para todas as fases do sistema de transporte. No total, o CA divulgou quatro relatórios sobre o Metro Ligeiro. Apesar dos vários avisos, Raimundo do Rosário disse, em Janeiro deste ano, que as derrapagens e os atrasos são “problemas do passado”, uma vez que, “se houver atrasos serão dentro dos limites razoáveis”.

Raimundo e os processos em tribunal (2014-2019)

Lau Si Io fez muitas tentativas e promessas, mas só Raimundo do Rosário soube assumir o controlo de um projecto difícil quando tomou posse como secretário, em 2014. O atraso já era mais do que evidente, uma vez que, em 2008, Lau Si Io prometia avançar com as obras no segundo semestre de 2009. Afirmaria, em 2013, que “o Governo não aceitava mais atrasos” no projecto.

Um dos diferendos que Raimundo do Rosário teve de resolver foi com a adjudicação da obra do parque de materiais e oficinas, essencial para assegurar a operacionalização do Metro Ligeiro.

Em 2016, foi assinado um contrato de 1,07 mil milhões de patacas com a empresa Companhia de Engenharia e Construção da China (Macau), depois da ocorrência de um diferendo entre o Governo e o consórcio constituído pelas empresas Top Builders e Mei Cheong, que venceu o primeiro concurso público para a obra. Este consórcio teve de pagar uma multa ao Governo devido aos vários problemas registados com a construção, mas recebeu dos cofres públicos 85 milhões como compensação pelo término do mesmo contrato.

Posteriormente a empresa China Road and Bridge Corporation fez entrar no Tribunal Administrativo uma acção para ser compensada pelo que considerou um erro na ajudicação desse concurso público. Apesar de o Tribunal de Última Instância lhe ter dado razão, o Governo não realizou novo concurso pelo facto do parque de materiais e oficinas estar, à data, praticamente construído. As autoridades entenderam que um novo concurso iria “ter um grande impacto nos prazos da empreitada e na instalação do Sistema de Metro Ligeiro na Taipa”, algo que representaria “um grave prejuízo para o interesse público”. Até ao momento, o Governo não avançou o valor de indemnização pago à China Road and Bridge Corporation para resolver este diferendo.

O futuro

Inaugurado o segmento da Taipa, o ónus da questão coloca-se agora na forma como o Metro Ligeiro vai chegar à península. Em 2018, Raimundo do Rosário garantiu que a linha do Metro Ligeiro entre os Jardins do Oceano e a Barra vai estar completa até 2024 e com um custo de 4,5 mil milhões de patacas. “Vai estar a funcionar em 2024 e com um bocado de sorte, pode entrar em funcionamento em 2023”, disse o secretário, que continuará a desempenhar as mesmas funções por mais quatro anos, já com Ho Iat Seng como Chefe do Executivo.

Este ano foi confirmado que essa ligação será feita através da ponte Sai Van, apesar dos receios relacionados com a segurança da infra-estrutura. No que diz respeito ao funcionamento do Metro Ligeiro na zona da Barra, os deputados Kou Hoi In (actual presidente da AL), Cheang Chi Keong (que já saiu da AL) e Chui Sai Cheong defenderam, em 2017, a construção de um monocarril. “Os vagões podem percorrer, continuamente, a ferrovia em torno da cidade, permitindo aos cidadãos chegarem da circular exterior a várias zonas da península de Macau”. Com ou sem monocarril, as autoridades mostram confiança na chegada deste sistema de transporte à península. Garantida fica também a passagem do Metro Ligeiro nos Novos Aterros Urbanos e na zona de Seac Pai Van.

10 Dez 2019

Metro Ligeiro | Transporte de todas as polémicas entra hoje em funcionamento 

Ainda Edmund Ho estava no poder quando o projecto do Metro Ligeiro de Macau começou a ser pensado e estudado. A prisão do ex-secretário para os Transportes e Obras Públicas, Ao Man Long, e a sua substituição por Lau Si Io trouxe um compasso de espera a todos os que esperavam um rápido progresso nas obras. Pelo meio, o Comissariado de Auditoria e o Comissariado contra a Corrupção deixaram os seus alertas. Eis os momentos mais marcantes do novo meio de transporte público que começa hoje a funcionar

 
[dropcap]E[/dropcap]ntra hoje em funcionamento o segmento da Taipa do Metro Ligeiro, depois de mais de dez anos de estudos e obras, com a garantia de viagens gratuitas até ao final do mês. Ao longo dos anos este tem sido um dos temas mais debatidos pela sociedade e pelos deputados à Assembleia Legislativa (AL), dado os enormes atrasos e derrapagens orçamentais registados.
No início, pretendia-se construir um sistema de Metro Ligeiro com 23 estações e um traçado que passava pelo centro da cidade, na zona do NAPE, o que gerou contestação. Os planos mudaram e, anos depois, é apenas inaugurada uma linha 9,3 quilómetros com um orçamento de 18 mil milhões de patacas.
Os percalços foram tantos que a deputada Song Pek Kei chegou a afirmar, em Outubro do ano passado, que o projecto do Metro Ligeiro “foi um erro”. “Está a fazer um melhor trabalho do que o seu antecessor porque antes as obras estavam paradas. Não será um erro da nossa parte construir o metro ligeiro, uma vez que Macau é um lugar muito pequeno? Se no futuro houver uma redução dos impostos do jogo quem vai suportar essas despesas? Creio que foi um erro construirmos o Metro Ligeiro, porque serão as próximas gerações a pagar”, frisou a deputada.
Raimundo do Rosário, secretário para os Transportes e Obras Públicas, chegou em 2014 para organizar dossiers pendentes deixados pelos seus antecessores, Ao Man Long (condenado por corrupção) e Lau Si Io e, com ele, o Metro Ligeiro viu finalmente a luz do dia. André Ritchie, arquitecto que foi coordenador-adjunto do Gabinete para as Infra-estruturas de Transportes (GIT), hoje Sociedade do Metro Ligeiro de Macau, disse ao semanário Plataforma que a entrada em funcionamento do Metro Ligeiro constitui “um marco histórico para Macau”.
“É muito positivo para Macau. Toda a equipa está de parabéns. É um projecto muito difícil em qualquer parte do mundo. Apenas quem trabalhou de facto neste projecto tem ideia da grande complexidade que envolve – não só na vertente técnica, mas também na parte relacionada com o modelo de operação comercial”, observa. André Ritchie destaca ainda “todos os diplomas legais que tiveram de ser criados” para o sistema de Metro Ligeiro avançar.
Ao HM, o deputado José Pereira Coutinho frisa que “finalmente este elefante branco entra em funções”. “Como estamos na época das ‘vacas gordas’ quase ninguém liga aos seus custos extremamente elevados. Só espero que o transporte seja grátis para os idosos”, adiantou.
Para a deputada Agnes Lam, a inauguração do Metro Ligeiro é como “uma entrada que vem sendo preparada há muito tempo, mas como demorou muito só resta uma pequena porção e as pessoas não acham suficiente”, metaforizou.
Nesse sentido, a deputada espera que o Governo “faça desta inauguração um marco histórico para recuperar a confiança das pessoas e que garanta um funcionamento suave do sistema”. Agnes Lam espera também que o segmento da Taipa seja um teste “à ligação entre o sistema do Metro Ligeiro, os táxis e os percursos pedestres”.
“Penso que o Governo ainda pode aprender muito com esta ‘entrada’, mas espero que avaliem a relação entre o custo e a efectividade de um projecto desta dimensão e que possam comunicar com o público os resultados. Temos de ter uma solução efectiva para o futuro transporte de massas”, frisou Agnes Lam.
Helena de Senna Fernandes, directora dos Serviços de Turismo, defendeu ontem que a entrada em funcionamento do Metro Ligeiro pode ajudar à melhoria da circulação de turistas na Taipa, mas não tanto em Macau. “Para quem chegar ao terminal da Taipa ou aeroporto vai ter mais facilidade em chegar aos hotéis do Cotai. Aí vai ser mais fácil, mas chegar ao centro histórico de Macau não vai ser tão fácil assim. Espero que no futuro possamos ter uma maior facilidade em termos de transporte, não apenas com o Metro Ligeiro, mas com outros meios de transporte.”
Jiang Xuchun, directora da Delegação das Ilhas da União Geral das Associações dos Moradores de Macau (UGAMM), disse ao jornal Ou Mun esperar que as estações do metro possam ter informações turísticas dada a proximidade ao aeroporto e terminal marítimo. A responsável defende também que no período de viagens gratuitas as autoridades possam divulgar mais informações sobre a deslocação entre autocarros e o traçado do Metro Ligeiro.

Primeira data e contratos (2011)

Estudado a partir do ano de 2003, o Metro Ligeiro propunha-se revolucionar o sistema de transportes públicos de Macau que tem funcionado apenas com autocarros e serviço de táxis. A primeira data avançada para a inauguração do Metro Ligeiro foi 2011, mas foi nesse ano que começaram a ser assinados os primeiros contratos de adjudicação, como foi o caso do contrato assinado com a Mitsubishi para o fornecimento de 110 carruagens, no valor de 4.688 mil milhões de patacas.
No entanto, este plano inicial cairia por terra quando o Governo percebeu que tinha encomendado mais 48 carruagens além das necessárias. Em Maio do ano passado, ficou a saber-se que a Mitsubishi seria compensada em 360 milhões de patacas pela rescisão do contrato. “Essas carruagens são demais para aquilo que precisamos para as linhas da Taipa, Seac Pai Van e até a Barra. Achámos que era melhor rescindir a segunda parte [da encomenda à Mitsubishi] – até porque, daqui a uns anos, quando a rede do metro for estendida para outros sítios, certamente, haverá carruagens mais modernas e com outras potencialidades”, justificou Raimundo do Rosário.

Intervenções do CCAC e CA (2012 – 2018)

O projecto do Governo para o segmento do Metro Ligeiro na península de Macau gerou críticas desde o início, tendo levado os representantes da Associação para o Desenvolvimento da Comunidade de Macau a apresentar, a 29 de Maio de 2011, uma queixa junto do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) sobre alegados “vários problemas relacionados com a construção do sistema do Metro Ligeiro na península de Macau e na Taipa, suspeitando da existência de ilegalidades e irregularidades em algumas fases do processo”, lia-se no relatório.
Os moradores do NAPE questionavam as razões para a alteração do traçado inicial do percurso para outro que “passou a contemplar a passagem pelas ruas de Londres e da Cidade do Porto, na zona do NAPE, sem que tenha sido apresentada justificação técnica para tanto”. Além disso, os moradores “alegaram que a construção do Metro Ligeiro ao nível térreo, nesta zona, não preencheria os requisitos de segurança contra incêndios”.
A nível orçamental, o sistema do Metro Ligeiro foi analisado quatro vezes pelo Comissariado de Auditoria (CA), a última das quais o ano passado. Disse o organismo liderado por Ho Veng On que o GIT “nunca foi capaz de calcular o custo global do investimento” no projecto e que, “à medida que a obra vai sendo executada, há tendência para alterar a estimativa dos custos, criando a ilusão de que nunca houve derrapagens no orçamento”.
O CA estimou, na altura, um orçamento superior a 51 mil milhões de patacas para todas as fases do sistema de transporte. No total, o CA divulgou quatro relatórios sobre o Metro Ligeiro. Apesar dos vários avisos, Raimundo do Rosário disse, em Janeiro deste ano, que as derrapagens e os atrasos são “problemas do passado”, uma vez que, “se houver atrasos serão dentro dos limites razoáveis”.

Raimundo e os processos em tribunal (2014-2019)

Lau Si Io fez muitas tentativas e promessas, mas só Raimundo do Rosário soube assumir o controlo de um projecto difícil quando tomou posse como secretário, em 2014. O atraso já era mais do que evidente, uma vez que, em 2008, Lau Si Io prometia avançar com as obras no segundo semestre de 2009. Afirmaria, em 2013, que “o Governo não aceitava mais atrasos” no projecto.
Um dos diferendos que Raimundo do Rosário teve de resolver foi com a adjudicação da obra do parque de materiais e oficinas, essencial para assegurar a operacionalização do Metro Ligeiro.
Em 2016, foi assinado um contrato de 1,07 mil milhões de patacas com a empresa Companhia de Engenharia e Construção da China (Macau), depois da ocorrência de um diferendo entre o Governo e o consórcio constituído pelas empresas Top Builders e Mei Cheong, que venceu o primeiro concurso público para a obra. Este consórcio teve de pagar uma multa ao Governo devido aos vários problemas registados com a construção, mas recebeu dos cofres públicos 85 milhões como compensação pelo término do mesmo contrato.
Posteriormente a empresa China Road and Bridge Corporation fez entrar no Tribunal Administrativo uma acção para ser compensada pelo que considerou um erro na ajudicação desse concurso público. Apesar de o Tribunal de Última Instância lhe ter dado razão, o Governo não realizou novo concurso pelo facto do parque de materiais e oficinas estar, à data, praticamente construído. As autoridades entenderam que um novo concurso iria “ter um grande impacto nos prazos da empreitada e na instalação do Sistema de Metro Ligeiro na Taipa”, algo que representaria “um grave prejuízo para o interesse público”. Até ao momento, o Governo não avançou o valor de indemnização pago à China Road and Bridge Corporation para resolver este diferendo.

O futuro

Inaugurado o segmento da Taipa, o ónus da questão coloca-se agora na forma como o Metro Ligeiro vai chegar à península. Em 2018, Raimundo do Rosário garantiu que a linha do Metro Ligeiro entre os Jardins do Oceano e a Barra vai estar completa até 2024 e com um custo de 4,5 mil milhões de patacas. “Vai estar a funcionar em 2024 e com um bocado de sorte, pode entrar em funcionamento em 2023”, disse o secretário, que continuará a desempenhar as mesmas funções por mais quatro anos, já com Ho Iat Seng como Chefe do Executivo.
Este ano foi confirmado que essa ligação será feita através da ponte Sai Van, apesar dos receios relacionados com a segurança da infra-estrutura. No que diz respeito ao funcionamento do Metro Ligeiro na zona da Barra, os deputados Kou Hoi In (actual presidente da AL), Cheang Chi Keong (que já saiu da AL) e Chui Sai Cheong defenderam, em 2017, a construção de um monocarril. “Os vagões podem percorrer, continuamente, a ferrovia em torno da cidade, permitindo aos cidadãos chegarem da circular exterior a várias zonas da península de Macau”. Com ou sem monocarril, as autoridades mostram confiança na chegada deste sistema de transporte à península. Garantida fica também a passagem do Metro Ligeiro nos Novos Aterros Urbanos e na zona de Seac Pai Van.

10 Dez 2019

Caras conhecidas

[dropcap]O[/dropcap] artigo publicado há dias no The Guardian a propósito do sistema de videovigilância implementado na cidade chinesa de Chongqing, pode dar pistas importantes acerca das reais preocupações em termos de privacidade, numa altura em que nos encontramos a menos de dois meses do início de um ensaio com câmaras de videovigilância equipadas com tecnologia de reconhecimento facial em Macau.

Com mais de 15 milhões de habitantes, Chongqing é actualmente, com cerca de 2600 e câmaras instaladas, a cidade mais vigiada em toda a China, onde existem 168 equipamentos por cada 10000 habitantes, deixando para trás cidades como Shenzhen (159 por cada 1000), Shangai (113 por cada 1000) ou Londres (68 por cada mil).

Segundo o mesmo artigo, permitindo que o sistema de videovigilância analise e compare em tempo real frames das imagens que estão a ser captadas, com as bases de dados da polícia, o sistema emite um alerta a partir do momento em que for detectada uma correspondência superior a 60 por cento, entre os rostos em análise.

No entanto, e tal como questionou esta semana a Associação Novo Macau, a base legal do sistema pode ser posto em causa por continuar a ser parco “em leis de regulamentação e mecanismos de supervisão” e por não estar sujeito às opiniões do Gabinete para a Protecção de Dados Pessoais. Isto faz essencialmente com que o sistema de recolha e utilização de dados biométricos possa ser alargado, com moldes desconhecidos, a toda e qualquer pessoa, mesmo que não tenha qualquer histórico criminal.

Isto faz com que o sistema a aplicar em Macau, tal como em Chongqing, não siga as normas internacionais em termos de privacidade e isso pode ser perigoso, não só para o sistema em si que está prestes a ser testado dentro de portas, mas também por poder abrir precedentes acerca de outras matérias igualmente sensíveis no futuro, ainda para mais, numa altura em que se fala tanto em “Cidades Inteligentes”. Vamos estar atentos a quem está atento a todos e a toda a hora.

9 Dez 2019

Novo Cinema Chinês | Um admirável mundo por descobrir

[dropcap]C[/dropcap]onsiderado por muitos como um dos melhores realizadores da actualidade, o romeno Cristian Mungiu, que em 2007 venceu a Palma de Ouro em Cannes, é o Presidente de júri da competição dedicada ao Novo Cinema Chinês. Para o realizador do leste europeu, o futuro está nos jovens e, pela amostra dos sete filmes em competição no IFFAM, a Oriente este deverá ser risonho

“Gostaria que mais filmes chineses participassem em festivais. Estou muito curioso para saber qual o futuro do cinema chinês”, referiu o Presidente de júri do Novo Cinema Chinês, Cristian Mungiu, que vê em eventos como o IFFAM, oportunidades únicas para ver o que aí vem. “Fui júri em muitos festivais na Ásia e acho o panorama chinês muito interessante porque os temas tratados abordam sempre algo que todos temos em comum e esta semana esse interesse vai aumentar ainda mais, pois vamos também receber alguns realizadores de Macau”.

Além disso, o realizador que venceu a Palma de Ouro em Cannes com o filme” 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias” diz encontrar no contacto com os mais jovens as pistas necessárias para ter um vislumbre mais claro daquilo que será o cinema. “A comunicação com os jovens é sempre muito boa. Para mim, pelo menos, a opinião deles é sempre muito refrescante. É preciso reinventar e contar histórias pelas quais continuamos atraídos e estou contente que a nova geração não queira trabalhar da mesma forma que nós trabalhámos”, apontou Cristian Mungiu.

Sobre se o facto de ter ganho a Palma de Ouro em Cannes contribuiu de alguma forma para o desenvolvimento do cinema no seu país natal, Cristian Mungiu apontou que “as pessoas ficaram muito contentes e orgulhosas, mas que, na realidade, nada mudou na forma como a distribuição passou a ser feita”, confessou.

Em expansão

Quanto à expansão que o cinema chinês tem vindo a desenvolver, o canadiano Noah Cowan destacou o tema comum, que surge muitas vezes nas obras cinematográficas do país: a família. Tema esse que tem vindo a ser contado de diferentes formas, a partir de regiões distintas da China.

“Nos últimos anos, além de Xangai, também Hong Kong e Taiwan começaram a realizar filmes e abordam sempre o tópico da família. Acho que este tema não é de um lugar em especifico”, apontou Noah Cowan.

Além de Cristian Mungiu e de Noah Cowan, fazem também parte do painel do júri, Yang Qiu, Kirsten Tan e Tricia Tuttle. A concorrer na competição do Novo Cinema Chinês na 4ª edição do IFFAM estão Better Days (Hong Kong e China), Over the Sea (China), Wisdom Tooth (China), Lucky Grandma (US), Dwelling in the Fuchun Mountains (China), To Live to Sing (China e França) e Wet Season (Singapura).

9 Dez 2019

Novo Cinema Chinês | Um admirável mundo por descobrir

[dropcap]C[/dropcap]onsiderado por muitos como um dos melhores realizadores da actualidade, o romeno Cristian Mungiu, que em 2007 venceu a Palma de Ouro em Cannes, é o Presidente de júri da competição dedicada ao Novo Cinema Chinês. Para o realizador do leste europeu, o futuro está nos jovens e, pela amostra dos sete filmes em competição no IFFAM, a Oriente este deverá ser risonho
“Gostaria que mais filmes chineses participassem em festivais. Estou muito curioso para saber qual o futuro do cinema chinês”, referiu o Presidente de júri do Novo Cinema Chinês, Cristian Mungiu, que vê em eventos como o IFFAM, oportunidades únicas para ver o que aí vem. “Fui júri em muitos festivais na Ásia e acho o panorama chinês muito interessante porque os temas tratados abordam sempre algo que todos temos em comum e esta semana esse interesse vai aumentar ainda mais, pois vamos também receber alguns realizadores de Macau”.
Além disso, o realizador que venceu a Palma de Ouro em Cannes com o filme” 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias” diz encontrar no contacto com os mais jovens as pistas necessárias para ter um vislumbre mais claro daquilo que será o cinema. “A comunicação com os jovens é sempre muito boa. Para mim, pelo menos, a opinião deles é sempre muito refrescante. É preciso reinventar e contar histórias pelas quais continuamos atraídos e estou contente que a nova geração não queira trabalhar da mesma forma que nós trabalhámos”, apontou Cristian Mungiu.
Sobre se o facto de ter ganho a Palma de Ouro em Cannes contribuiu de alguma forma para o desenvolvimento do cinema no seu país natal, Cristian Mungiu apontou que “as pessoas ficaram muito contentes e orgulhosas, mas que, na realidade, nada mudou na forma como a distribuição passou a ser feita”, confessou.

Em expansão

Quanto à expansão que o cinema chinês tem vindo a desenvolver, o canadiano Noah Cowan destacou o tema comum, que surge muitas vezes nas obras cinematográficas do país: a família. Tema esse que tem vindo a ser contado de diferentes formas, a partir de regiões distintas da China.
“Nos últimos anos, além de Xangai, também Hong Kong e Taiwan começaram a realizar filmes e abordam sempre o tópico da família. Acho que este tema não é de um lugar em especifico”, apontou Noah Cowan.
Além de Cristian Mungiu e de Noah Cowan, fazem também parte do painel do júri, Yang Qiu, Kirsten Tan e Tricia Tuttle. A concorrer na competição do Novo Cinema Chinês na 4ª edição do IFFAM estão Better Days (Hong Kong e China), Over the Sea (China), Wisdom Tooth (China), Lucky Grandma (US), Dwelling in the Fuchun Mountains (China), To Live to Sing (China e França) e Wet Season (Singapura).

9 Dez 2019

Maria Helena de Senna Fernandes, sobre festival de cinema: “Temos ganho popularidade”

[dropcap]A[/dropcap] Directora dos Serviços de Turismo e Presidente da comissão organizadora do IFFAM, Maria Helena de Senna Fernandes mostrou-se confiante na qualidade da programação apresentada e afirmou mesmo que o Festival Internacional de Cinema de Macau tem conseguido alcançar novos patamares.

“Acho que a cada edição o festival tem crescido e, para além disso, temos ganho popularidade, não só em Macau, mas também lá fora. Só por isso, podemos dizer que temos trabalhado para a construção de um bom projecto”, apontou, à margem da conferência de imprensa dedicada à apresentação do júri da competição internacional.

Maria Helena de Senna Fernandes revelou também confiança máxima na relação existente com os responsáveis artísticos do festival, pontificada na colaboração com o Director artístico do IFFAM, Mike Goodridge.

“Temos uma boa colaboração com direcção artística, que é muito forte na escolha que faz dos filmes e na ligação que consegue fazer entre Macau e os realizadores de todo o mundo. Espero agora que o público de Macau venha ver os filmes seleccionados”, referiu.

Embora satisfeita com o percurso feito até ao momento, Maria Helena de Senna Fernandes não confirmou, contudo, a continuidade do projecto IFFAM para os próximos anos. Segundo a responsável, é preciso ouvir o que os dirigentes do novo Executivo têm a dizer.

“Não sei, ainda não tive a oportunidade de falar com a minha nova chefe, por isso logo se vê. É preciso ver se a colaboração é para manter e, sobretudo, o que acha o novo Governo porque eu não tenho voto na matéria nessa parte”, explicou.

9 Dez 2019