HOMERO, educador ocidental

* Por Paulo José Miranda

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]texto mais antigo da cultura Grega, que racionaliza os mitos, é a Ilíada de Homero. Homero nasce em 928 a.C. em Esmirna (Esmir, na actual Turquia), cidade da chamada Ásia Menor. Além de uma racionalização e antropomorfização dos deuses, Homero ensina um dos conceitos mais fundamentais para os Gregos Antigos: aretê. Aretê quer dizer excelência, isto é, agir em concordância com aquilo que deve ser feito e de modo superior, de modo bem feito. Assim, poderíamos ser levados a pensar que também há excelência em quem faz uns bons sapatos ou uma boa arma, assim como quem é superior nas artes da guerra. E certamente os gregos deste tempo também usariam a palavra nesse sentido, sem dúvida, mas aretê, neste período homérico, não é apenas alcançar a excelência nas suas competências, mas alcançar a excelência virilmente. Mais tarde, com Sócrates e Platão, a aretê será uma categoria da alma humana, em concordância com a justiça e a temperança, mas até ao século IV a.C. a excelência está fundamentalmente ligada à acção, a um fazer, a uma technê, um saber fazer, uma perícia aplicada ao combate, que tanto pode ser dos humanos quanto dos deuses. Por conseguinte, a aretê em Homero está ligada fundamentalmente à força, à destreza, à coragem, à capacidade de dominar o adversário ou o inimigo, ou à capacidade de aumentar um território. Temos de ter em conta que se tratava de um tempo em que estes atributos eram necessários à sobrevivência. Não há, por conseguinte, uma ligação entre aretê e virtude moral ou bondade. Excelente é aquele que se impõe aos outros no combate, no confronto, quer seja pela força, como é o caso de Ajax, quer seja pela astúcia, como é o caso de Ulisses. Há, no entanto, e apesar destas qualidades guerreiras, um código ético de conduta nos combates, necessário a que um guerreiro possa ser alvo de admiração. Assim, não basta vencer, há que vencer limpo, há que vencer dentro das regras e não a qualquer preço. Há que ter respeito pelo inimigo, adversário no campo de batalha, e há que reconhecer-lhe o valor, se o tiver. Isto é o que encontramos amiúde ao longo das páginas da Ilíada, e que acaba por se tornar um passo fundamental da passagem da aretê para um plano ético. Este código de combate, de respeito, vê-lo-emos mais tarde, com muito mais ênfase, nos cavaleiros medievais, que foram sem dúvida influenciados por esta tradição homérica. A nobreza da luta e da vitória será, mais tarde, levado quase à exaustão, nos poemas de Píndaro. MTE4MDAzNDEwNTU4NjgyNjM4
A aretê está não só ligada ao confronto físico, mas também aos melhores, aristeai, aos nobres, àqueles que têm uma linhagem de nobreza, de homens bons para o grito de guerra, e muitas vezes também dos deuses, como é o caso do guerreiro Aquiles. Na Ilíada, quando Glauco enfrenta Diomedes no campo de batalha, e se quer mostrar digno do seu adversário, enumera, à moda homérica, os seus antepassados ilustres: “Hipóloco me gerou, a ele devo a minha origem. Quando me enviou a Tróia, advertiu-me insistentemente que lutasse sem cessar por alcançar o poder da excelência humana e fosse sempre, entre todos, o primeiro.”
Mas a grande importância desta obra de Homero deve-se tanto à compreensão e canto da excelência guerreira, quanto à propagação de uma nova aretê: a palavra. E é quase no fim da Ilíada que ele põe na voz de Fénix, educador de Aquiles, quando este continuava afastado do campo de batalha por discordar de Agamémnon, aquilo para o qual o jovem tinha sido educado: “Para ambas as coisas: proferir palavras e realizar acções.” E o velho educador opõe esta frase aos guerreiros Ulisses, mestre da palavra, e Ájax, mestre da acção, fazendo ver que Aquiles lhes é superior por unir essas duas grandezas em si mesmo, e não apenas uma delas. Esta é a grande inovação no pensamento de Homero. Tal como quase sempre os poetas fazem, provavelmente pôs em palavras aquilo que já outros sentiam, sem que o enunciassem. Facto que contribui para que se tornasse o grande educador da Hélade, o grande educador dos Gregos Antigos. É fundamentalmente pela sua modelação da aretê que a sua obra ganha reconhecimento e grandeza. A aretê conquista um novo território. E é nesta consciência, que Homero traça o destino de grande parte da humanidade, pois é no pensamento que os seus versos são ímpares.
Deixemos também claro que A Ilíada e a Odisseia reflectem momentos históricos diferentes da Grécia arcaica. A Ilíada é muito mais antiga e não pertence sequer ao mesmo século da Odisseia. É hoje aceite, pelos investigadores, que se trata de autores diferentes. Mas independentemente das diferenças entre Ilíada e Odisseia, a verdade é que há algo que as une: a não separação da estética e da ética, que é característica do pensamento grego arcaico.

19 Jul 2016

Mar do Sul | Pequim vai realizar exercícios militares

[dropcap style=’circle’]P[/dropcap]equim vai fechar o acesso a parte do Mar do Sul da China para exercícios militares, disseram ontem responsáveis políticos, depois de um tribunal internacional ter decidido contra as suas reivindicações naquelas águas.
Uma área ao largo da costa leste da ilha província chinesa de Hainan vai sediar os exercícios militares, a realizar entre terça e quinta-feira, informou a Administração Marítima da China no seu portal, acrescentando que a entrada “foi proibida”.
A área de mar está a alguma distância das ilhas Paracel e ainda mais das ilhas Spratly, sendo ambos os arquipélagos reivindicados por Pequim e outros estados vizinhos.
Na semana passada o Tribunal Permanente de Arbitragem, com sede em Haia, deu razão às Filipinas, que, em Janeiro de 2013, denunciaram Pequim por ter começado a ocupar áreas do Mar do Sul da China que as Filipinas consideram parte da sua zona económica exclusiva.
A decisão, que surge então três anos depois de um processo judicial que Pequim boicotou ao recusar participar, também beneficia outros países da região, como o Vietname, dado que também disputam parte das estratégicas águas do Mar do Sul da China.
Pequim reivindica a soberania sobre quase todo o Mar do Sul da China, com base numa linha que surge nos mapas chineses desde 1940 e tem investido em grandes operações nesta zona, transformando recifes de corais em portos, pistas de aterragem e em outras infra-estruturas.
 

19 Jul 2016

Embaixadores do Património de Macau em Lisboa

Dez membros da Associação dos Embaixadores do Património de Macau estiveram em Portugal de 11 a 16 deste mês, para participarem, com painel próprio, numa conferência internacional sobre o património e o desenvolvimento sustentável. O grupo de Macau chefiado por Derrick Tam integra quadros da Função Pública e da actividade privada, bem como alguns estudantes universitários. Do roteiro constou ainda a visita a organismos culturais, entre os quais a Sociedade Histórica da Independência de Portugal, no Palácio da Independência, onde funciona também a delegação do Instituto Internacional de Macau em Lisboa. A organização esteve a cabo do Green Lines Institute, organismo internacional especializado nesta temática.

19 Jul 2016

Preservativos à venda “respeitam qualidade”

Um relatório do Conselho dos Consumidores dedicado à qualidade dos preservativos conclui que todos os tipos de preservativos à venda em Macau analisados respeitam os parâmetros definidos pelos critérios nacionais chineses relativos à higiene. De modo a garantir a segurança e saúde no uso deste método contraceptivo e preventivo de doenças, o relatório alerta ainda para a necessidade dos consumidores prestarem atenção às datas de validade, bem como para não comprarem produtos de marca branca ou de fonte desconhecida. A análise incluiu 18 tipos de produtos.

19 Jul 2016

Polícia indiana procura homens acusados de segunda violação de estudante

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]ma estudante indiana foi hospitalizada depois de ter sido violada por um grupo de homens, incluindo alguns que já a tinham violado há três anos, disse ontem um responsável policial.
A polícia do estado de Haryana (norte) procura cinco homens, acusados de terem raptado a jovem de 21 anos no exterior da universidade que frequentava. A vítima foi drogada e violada num veículo, acrescentou Pushpa Khatri, responsável da polícia de Haryana.
A estudante, que pertence à casta dos ‘dalit’ (anteriormente conhecida como intocáveis), foi encontrada na quarta-feira inconsciente, num arvoredo que ladeia uma auto-estrada neste estado limítrofe de Nova Deli.
A vítima identificou os cinco agressores, dois dos quais se encontravam em liberdade condicional a aguardar julgamento pela violação desta mesma mulher em 2013, disse Pushpa Khatri.
“Ela identificou os cinco acusados e dois estão implicados na violação desta estudante, no distrito de Bhiwandi, em 2013”, indicou.
“Criámos várias equipas para deter os acusados”, acrescentou.
A família da vítima acusou os cinco homens de ter sido ameaçada dias antes da agressão, declarando que os atacantes tinham exigido que a queixa pela violação de 2013 fosse retirada.
“Os acusados ameaçaram-nos permanentemente para encontrar um compromisso. Chegaram a oferecer dinheiro. Mas nós recusámos”, disse o irmão da vítima ao diário Hindustan Times.
A família afirmou também ter sido obrigada a mudar-se para outro distrito, Rohtak, depois da violação de 2013 devido ao assédio de que era alvo.
No domingo, membros da casta dos ‘dalit’ organizaram pequenas manifestações de protesto em Rohtak para exigir justiça.
A violação de uma estudante por um grupo de homens num autocarro de Nova Deli, em 2012, tornou pública a violência a que estão sujeitas as mulheres na Índia.
O caso de 2012, que resultou na morte da jovem, levou ao agravamento das punições pelo crime de violação.
Oficialmente, em 2014 foram registadas 36.735 violações, mas o número real continua a ser muito superior, de acordo com os especialistas, uma vez que a condenação das vítimas trava a apresentação de queixas contra os agressores.

19 Jul 2016

Macau e Hong Kong com acordo de livre comércio

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s governos de Macau e Hong Kong anunciaram a semana passada a intenção de assinar um acordo bilateral de livre comércio, semelhante ao que já existe entre Macau e Guangdong. Segundo um comunicado do Governo, “é desejo comum de Hong Kong e de Macau” que o Acordo de Estreitamento das Relações Económicas e Comerciais entre os dois territórios (Acordo CEPA Hong Kong-Macau) seja formalmente celebrado até ao final do ano.
“O Acordo CEPA Hong Kong-Macau, um acordo de comércio livre altamente estandardizado e estabelecido em conformidade com os princípios e regras estipulados pela Organização Mundial do Comércio (OMC), tem como finalidade alargar a integração económica e o desenvolvimento comercial dos dois lados, fomentar o fluxo de mercadorias, serviços e capitais entre as duas regiões, com vista a incrementar a competitividade global dos dois territórios”, lê-se no comunicado.
Os Secretários da Economia dos governos das duas regiões “rubricaram o documento principal” deste acordo na sexta-feira, no âmbito da 9.ª reunião de alto nível de cooperação entre Hong Kong e Macau.
Esse documento define as regras que serão aplicadas, no âmbito do acordo, às áreas do comércio de mercadorias e serviços, do investimento, propriedade intelectual, entre outras. “Tendo em conta o facto de os dois territórios serem portos francos (…), as duas partes prometeram conceder a isenção de direitos aduaneiros às mercadorias importadas da outra parte”, assim como “reduzir as barreiras não tarifárias” e “avançar as medidas de facilitação de formalidades alfandegárias”, segundo o mesmo comunicado.
O texto explica que, a nível dos serviços, vão ainda ser debatidos os sectores que serão liberalizados, mas garante que as duas regiões pretendem atingir um “nível alto” neste segmento, indo além dos compromissos feitos no âmbito da OMC.
Na reunião, as duas regiões decidiram ainda avançar com a criação do primeiro grupo de trabalho para a promoção da cooperação económica bilateral.

18 Jul 2016

Nice | Cidadãos atropelados por camião nas comemorações do Dia da Bastilha

Comemorava-se o Dia da Bastilha e era anunciado o final do estado de emergência quando Nice viu as comemorações transformadas em pânico e cadáveres. Um camião irrompia pela multidão dentro somando mais um ataque à liberdade e uma labareda ao medo

[dropcap style=’circle’]P[/dropcap]elo menos 84 pessoas morreram e existem 18 pessoas em estado crítico depois do atentado da passada quinta-feira, em Nice, França. O incidente ocorreu perto do Hotel Negresco, no Passeio dos Ingleses, onde uma multidão passeava nas ruas para festejar o feriado nacional do 14 de Julho, Dia da Bastilha, quando um camião irrompeu por entre a multidão. Somam-se ainda 50 vítimas com ferimentos ligeiros e mais de uma centena “implicados”.
Segundo o jornal “Le Figaro” a documentação encontrada no camião que avançou contra a multidão indica que o autor do atentado era franco-tunisino e tinha 31 anos. O mesmo jornal escreve que o homem estava sozinho no camião.
Miguel Cunha, natural de Paredes de Coura e a viver em Nice há quatro anos contou ao jornal Público o cenário que testemunhou: “quando nos estávamos a encontrar, olho para o outro lado e só vejo pessoas a voar”, conta o português, ainda em choque. “Pareciam moscas a voar. Foi horrível. A rua estava cheia de pessoas, de famílias. Toda gente tinha saído, havia concertos”, continua, explicando ter visto o camião parar “uns 30 metros à frente”, antes de ainda se terem ouvido tiros. “Não foram os tiros que o pararam, ele parou antes. Deve ter tido algum problema. Ainda vi uma pessoa a tentar subir ao camião e a puxar o homem para fora.”
O camião, conta o emigrante, já vinha a atropelar pessoas desde trás. “Dizem que vinha em ziguezague para chegar a mais pessoas mas nos últimos 30 metros, o que eu vi, ele já vinha em linha recta e a abrandar. Não devia vir a mais de 50 km/h.”

Mais três meses de estado de emergência

O ataque acontece quando François Hollande tinha acabado de anunciar que o estado de emergência, que vigora desde os atentados de Paris, em Novembro do ano passado, ia ser levantado a partir de 26 de Julho. O Presidente francês já anunciou que irá prolongar o estado de emergência por mais três meses.
François Hollande dirigiu-se ao país ainda durante a madrugada, depois de reunir com o gabinete de crise em Paris e sublinhou que “não se pode negar o carácter terrorista deste ataque”. Hollande classificou o atentando como uma “monstruosidade” de uma “violência absoluta”, destacando o número de crianças mortas. 

Ao volante

A organização terrorista Estado Islâmico (EI) reivindicou o atentado de Nice. O assassino que transformou um camião de 19 toneladas numa arma, matando pelo menos 84 pessoas, é “um soldado do Estado Islâmico, que agiu em resposta aos apelos para tomar como alvo os cidadãos dos países da coligação que combate o EI”, afirmou a agência noticiosa desta organização que controla território na Síria e no Iraque.
Continuam no entanto a pairar dúvidas – Mohamed Lahouaiej Bouhlel, o francês de origem tunisina que conduzia o camião, nunca deu sinais de se ter radicalizado, nem deixou qualquer indício de lealdade para com o Estado Islâmico. “Até aqui, o EI nunca reivindicou de forma oportunista a autoria de atentado, embora o tivesse podido fazer muitas vezes”, analisa, em declarações ao Le Monde, o jornalista David Thomson, especialista em jihadismo.
Para o Governo de Paris, não há dúvida que se trata de terrorismo. O ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, declarou no sábado, após uma reunião do gabinete de crise governamental, que o autor do atentado “parece ter-se radicalizado muito rapidamente”. “Pelo menos é o que se entende, através dos primeiros elementos da investigação”, afirmou, citado pela AFP.

Doente mas culpado

Um psiquiatra de Sousse, na Tunísia que atendeu Mohamed Lahouaiej Bouhlel em 2005, quando este teve um episódio de depressão, disse à revista L’Express que recorda um jovem de 19 anos, que foi à consulta com o pai, porque tinha problemas escolares e de adaptação familiar. “Sofria de uma alteração da realidade, do discernimento e de problemas do comportamento: tinha um princípio de psicose”, recordou o psiquiatra Chemceddine Hamouda.
“Nada no seu comportamento permitia antever este massacre. Estes problemas, se não forem tratados durante anos, podem levar a uma esquizofrenia. Mas recuso categoricamente a ideia de que não possa ser responsabilizado pelo acto. Uma tal violência precisa necessariamente de endoutrinação, um delírio de radicalização em paralelo com os seus problemas psicológicos. Não é o acto de um louco, é um acto premeditado”, afirma categoricamente o psiquiatra à L’Express.

Solidariedade Internacional

O Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, enviou uma mensagem de condolências ao seu homólogo francês. Na mensagem, citada pela Lusa, o Presidente afirma que “foi com grande consternação” que recebeu a notícia “do hediondo atentado ocorrido esta noite em Nice, que teve lugar, para mais, num dia tão especial para França” – o feriado nacional em que se evoca a Tomada da Bastilha, que marcou o início da Revolução Francesa, em 1789. “Os meus pensamentos estão com as dezenas de vítimas e com os seus familiares, com todos os franceses, em solidariedade fraterna neste momento de dor e de angústia. Em meu nome e no de todos os portugueses, envio as mais sentidas condolências ao Presidente François Hollande e a todo o povo francês”, acrescenta Marcelo Rebelo de Sousa.
O primeiro-ministro um comunicado a repudiar o ataque e a informar que os consulados e a embaixada estão a trabalhar para procurar portugueses. “O Governo português repudia e condena veementemente este atentado, que, mais uma vez, ataca a França e todos os europeus”, diz num curto comunicado. Na mesma mensagem, António Costa lamenta as vítimas e manifesta “total solidariedade para com França e os franceses”.
Obama foi citado pela AFP numa declaração em que condena “aquilo que parece ser um horrível ataque terrorista”. “Estamos solidários com a França, o nosso aliado mais antigo, neste momento em que enfrenta um ataque”, disse o Presidente norte-americano, citado pela AFP, oferecendo ajuda do seu país para apurar responsabilidades neste caso.
A nova primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, segue também os “terríveis acontecimentos” de Nice, segundo um porta-voz do executivo com sede em Downing Street, que acrescentou que o novo Governo, empossado há um dia, se sente “chocado e inquieto”. “Estamos prontos a ajudar todos os cidadãos britânicos e a apoiar os nossos parceiros franceses”, acrescentou a mesma fonte, citada pela AFP.

18 Jul 2016

Pequim, 15 de Outubro de 1977 ( continuação)

* por António Graça Abreu

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Grande Muralha correspondeu à execução de um projecto grandioso regado com o suor e o sangue de muitas centenas de milhar de chineses. O trabalho era forçado e as pessoas morriam de fadiga e exaustão, sendo enterradas nos alicerces da Muralha.
Decorreram muitos séculos e as fronteiras da China ultrapassaram a Grande Muralha que, no entanto, manteve até ao século XVIII a sua importância estratégica. Funcionou também como meio de comunicação entre regiões montanhosas, pois com os seus seis metros de largura pavimentados com grandes lajes permitia a passagem e o movimento de carroças e cavalos. Nalgumas regiões, em que tem uma altura média de sete metros e meio, a Muralha constitui uma barreira permanente que quebra os ventos frios vindos das estepes da Sibéria, o que possibilita melhores condições para o cultivo das terras.
A Grande Muralha da China é, pois, obra magnificente. Calcula-se que para a sua construção foram necessários 180 milhões de metros cúbicos de terra e 60 milhões de metros cúbicos de pedra e tijolo. Estas materiais são suficientes para circundar o globo terrestre com um muro de dois metros e meio de altura e um metro de largura.
Com o passar dos séculos, a Muralha foi-se naturalmente delapidando. Nestes últimos anos, foi objecto de obras de restauro na busca do esplendor monumental de outrora.
O autocarro onde viajo chega a um grande parque de estacionamento já apinhado de automóveis. Estamos em Badaling, uma das muitas passagens estratégicas no sopé da montanha. Os torreões com ameias quadradas, as portas duplas com grossíssimos portões de madeira lembram-me as praças fortes e os nossos castelos em Portugal. Mas aqui tudo é maior, mais pesado, os muros mais espessos e aparentemente intransponíveis. A Grande Muralha trepa em curvas para ambos os lados, o troço para a esquerda parece-me mais difícil de subir com uma inclinação muito acentuada, por vezes quase a pique. Decido subir por aí.
Há centenas e centenas de chineses espalhados por toda a parte. A maioria trepa como eu, alguns já vêm na caminhada de regresso. A visita à Muralha faz parte das excursões domingueiras de habitantes de Pequim e sobretudo de gentes vindas de outras regiões da China. Há famílias inteiras que trouxeram o farnel e vão merendar daqui a pouco. De resto, a escalada é óptima para abrir o apetite.
Subo, subo e o horizonte é cada vez mais vasto, a Muralha estende-se no seu serpentear abrupto, com curvas e ângulos inesperados. Este lugar faz a delícias dos fotógrafos e eu sigo o exemplo dos chineses que não param de se fotografar e escolho os melhores enquadramentos para disparar a minha máquina.
A ascensão é cada vez mais difícil, preciso de me agarrar ao corrimão lateral de ferro porque é real o perigo de escorregar e deslizar uns bons metros nas lajes de pedra. Imagino como não devia ser nada fácil o movimento de soldados e mercadorias neste troço. O torreão mais alto que domina todo o sector encontra-se agora mais próximo. Em mim, uma enorme caloraça, e quantos rostos afogueados à minha volta!
Estou a mais de mil metros de altitude, para baixo, na distância, tudo começa a desvanecer-se, vejo os autocarros e automóveis muito pequeninos no fundo da nervura do vale, em Badaling. Alcanço o topo do torreão e sinto a alegria que creio experimentarem os alpinistas após a escalada de um pico difícil. Adivinho um ar cansado mas satisfeito nesta gente toda que não pára de subir e descer, acredito que o meu sentir é compartilhado por muitas mais pessoas.
Permaneço longo tempo sentado nas ameias, no alto da montanha, enchendo os pulmões de ar puro, retratando com os olhos os homens e a paisagem. Fantástica, a China!
Descer a Grande Muralha será bem mais fácil do que subi-la, de resto “a descer todos os santos ajudam”. Como na China parece não existirem santos iguais aos nossos, não sei quem me levou a dar um valente trambolhão que me deixou o fundo das costas bastante maltratado. A culpa terá sido dos meus sapatos de sola lisa que deslizaram como patins nas pedras polidas.
Cá em baixo havia um excelente almoço à minha espera e depois foi o regresso a Pequim, com o trânsito praticamente paralisado. Um grande engarrafamento manteve-nos parados durante quase duas horas, carros para cima, mais carros e camionetas para baixo, tudo enviesado na estrada, atravancado e parado. À frente do nosso autocarro estava uma camioneta carregada de batatas, impedida tal como nós de avançar ou recuar. Porque a resolução do engarrafamento estava demorada, as pessoas passeavam-se fora dos carros. Fui até à grande carripana das batatas que não estavam metidas em sacos mas empilhadas a monte na caixa do veículo. Em cima das batatas sentavam-se três camponeses de meia idade.
Com a curiosidade e o gosto muito português de ver as coisas não só com os olhos mas também com as mãos, alcei a mão sobre o taipal da camioneta e peguei numa enorme batata. Mirei e apalpei. Era muito redonda, branca, de boa qualidade. Quando quis voltar a pôr a batata na camioneta, os camponeses, que não tinham tirado os olhos de mim e sorriam, não autorizaram. Já que tinha demonstrado tanto interesse pelos tubérculos, eles ofereciam-me não só aquela batata mas umas quantas mais. Foi difícil explicar-lhes na meia dúzia de palavras chinesas que conheço que, muito obrigado, mas eu só queria ver como eram as batatas. Eles insistiam na oferta e eu, delicadamente, agradeci e voltei ao autocarro. No regresso a Pequim, pensei mais maduramente no assunto. Será que os simpáticos camponeses ficaram ofendidos por eu ter recusado as batatas? Não teria sido mais correcto aceitar os tubérculos e, de volta a casa, fazer um jantarinho com batatas acabadas de chegar da Grande Muralha da China?

18 Jul 2016

Mar do Sul | Cerca de mil em manifestação patriótica

Entre 500 a mil pessoas participaram numa manifestação patriótica contra a decisão de Haia sobre o Mar do Sul da China. A Associação Desportiva dos Naturais de Fujian de Macau foi a organizadora

[dropcap style=’circle’]M[/dropcap]il pessoas, segundo os organizadores, e 500 na versão da polícia, protagonizaram na sexta-feira uma rara demonstração patriótica em Macau, dias depois de um tribunal internacional ter considerado sem fundamento as pretensões de Pequim no Mar do Sul da China. Munidos com cartazes, vestidos com camisolas amarelas e empunhando a bandeira da China, centenas de manifestantes, na sua maioria jovens, concentraram-se no Largo do Senado para uma demonstração de apoio a Pequim que chamou a atenção.
A manifestação demorou quase duas horas e decorreu de forma pacífica, segundo confirmou à agência Lusa uma agente da PSP no local. Segundo a mesma fonte, as autoridades contabilizaram aproximadamente meio milhar de pessoas e estavam destacados no local menos de 30 agentes.
Gina Lei, vice-presidente da Associação Desportiva dos Naturais de Fujian de Macau, que organizou a iniciativa, explicou à Lusa a intenção: “É para mostrar o apoio ao nosso país.”
“Lutar pelo nosso território”, “Amamos a China” ou “Vocês não nos intimidam” eram algumas das mensagens inscritas em pequenos letreiros e cartazes.
Pedro, natural de Macau, de 30 anos, era um dos participantes da iniciativa. As calças negras e as camisas brancas do grupo que integrava confirmavam que acabara de sair do trabalho num casino para se juntar à manifestação de apoio à China.
“É injusto”, afirmou, explicando a razão pela qual decidiu aderir à iniciativa que aconteceu no Largo do Senado sob um intenso calor.
Pequim prometeu, na quinta-feira, dar “uma resposta determinada” a todos os “actos de provocação” no Mar do Sul da China, depois do Tribunal Permanente de Arbitragem (TPA), com sede em Haia, ter considerado ilegítimas as reivindicações chinesas. O tribunal deu razão a Manila que, em Janeiro de 2013, denunciou Pequim por ter começado a ocupar áreas do Mar do Sul da China que as Filipinas consideram parte da sua zona económica exclusiva.
A decisão foi anunciada três anos depois de um processo judicial que Pequim boicotou, recusando-se a participar, qualificando-a como “naturalmente nula e não vinculativa”, pelo que “não a aceita nem a reconhece”.
Raramente ocorrem demonstrações de cariz patriótico nas ruas de Macau e a mais recente remonta a 2012, altura em que a Associação Desportiva dos Naturais de Fujian de Macau, que conta com 10 mil membros segundo a sua vice-presidente também organizou uma manifestação no Senado igualmente por causa de uma disputa territorial.
Em causa estiveram então os protestos contra o Japão, por causa das ilhas Diaoyu, que se espalharam por mais de uma centena de cidades na China e também alastraram a Macau e Hong Kong. A própria Direcção dos Serviços de Turismo de Macau cancelou o espectáculo pirotécnico de uma empresa japonesa participante no Concurso Internacional de Fogo-de-artifício, que decorre anualmente, precisamente devido ao então “estado de espírito da comunidade”.

18 Jul 2016

Um morto e quatro feridos em ataque em hospital

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]ma pessoa morreu e outras quatro ficaram feridas depois de um homem armado com uma faca ter atacado, este sábado, um hospital no sul da China, informou ontem a imprensa oficial.
O homem, de 26 anos, entrou, no sábado, num hospital da cidade de Huizhou e matou uma enfermeira e feriu um segurança e outros três funcionários.
A polícia deteve, mais tarde, o homem, estando a investigar os motivos do ataque.
O incidente ocorreu dias depois de o governo chinês ter ordenado o destacamento de polícias armados para hospitais para travar surtos de violência de pacientes ou familiares contra o pessoal de saúde, numa altura de reforma do sistema de saúde.
A Comissão Nacional de Saúde e Planeamento Familiar avisou, esta semana, que as pessoas que introduzam ilegalmente facas ou outras armas em unidades médicas serão detidas e que, em virtude de uma emenda à lei aprovada em Novembro, aqueles que afectarem gravemente o ritmo de trabalho daquelas instituições serão condenados a penas entre três e sete anos de prisão.
Os elevados custos da saúde para muitos cidadãos e os baixos salários dos médicos (que, em consequência, aceitam subornos de farmacêuticas para vender os seus medicamentos, o que resulta no seu encarecimento) tem criado um círculo vicioso de insatisfação para ambas as partes.
A situação tem desencadeado um mal-estar tal que os ataques violentos de pacientes ou familiares a profissionais de saúde, por vezes fatais, chegaram a uma média de 27,3 por hospital em 2012, segundo a Associação de Hospitais da China.
Apesar de as autoridades chinesas assegurarem que o número de incidentes tem vindo a diminuir desde 2013, os ataques continuam a ocorrer por todo o país.

18 Jul 2016

Turismo | Visitantes gostam menos de jogo e mais de compras. Património não encanta

Vieram cá por causa das compras, da comida e do património, deixando de lado o jogo. Os turistas têm os três primeiros itens como foco para uma visita ao território, ainda que o património esteja a desiludir

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]ompras, gastronomia e património foram os principais motivos pelos quais os visitantes escolheram Macau no primeiro trimestre do ano, com o jogo a figurar em quarto lugar, indica um estudo do Instituto de Formação Turística (IFT). Segundo o Índice de Satisfação dos Turistas de Macau, as três principais motivações que levaram à escolha de Macau como destino foram as compras (25,9%), a gastronomia (25,3%) e os locais classificados como Património Mundial (18,4%), ainda que este tenha também desiludido.
Fora do pódio das principais atracções para os visitantes ficou o jogo, com apenas 10% – contra 13,7% nos primeiros três meses do ano passado.
Globalmente, a satisfação dos turistas de Macau desceu ligeiramente em termos anuais homólogos, fixando-se em 69,6 pontos (contra 69,7 nos primeiros três meses de 2015), mas aumentou face ao quarto e último trimestre de 2015 (quando foi de 67,8). turismo património
Olhando para o desempenho de cada uma das dez áreas relacionadas com o turismo, que compõem o índice global, verifica-se que foram os eventos que granjearam o nível mais elevado de satisfação (78,9 numa escala em que o máximo corresponde a 100), seguindo-se os transportes (74,2) e os casinos (72,9).
A pontuação dada aos três sectores subiu entre Janeiro e Março relativamente ao período homólogo do ano passado, sendo que os casinos registaram o seu nível de satisfação mais elevado desde 2010 (73,1).
Melhor classificação foi dada também aos hotéis (70,3) e às atracções não ligadas ao património (71).
Em contrapartida, o nível de satisfação dos visitantes diminuiu nas restantes cinco componentes: imigração (68,8), lojas (66,8), guias e operadores turísticos (65,3), restaurantes (64,3) e património (63,6). Dos dez sectores analisados o património foi o que teve a pior pontuação.
A maioria dos inquiridos deslocou-se a Macau principalmente para férias e lazer (94,3%), para visitar amigos e familiares (3,1%) e em negócios (2,1%). Seis em cada dez entrevistados (63,1%) já tinham estado em Macau.
No ano passado, o território foi o destino escolhido por 30,71 milhões de visitantes, menos 2,57% face a 2014, registando a primeira queda anual desde 2009.

18 Jul 2016

Economia cresceu 6,7% no primeiro semestre

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Produto Interno Bruto (PIB) da China cresceu 6,7% no primeiro semestre do ano, anunciou sexta-feira o Gabinete de Estatísticas do país.
No segundo trimestre, a segunda economia mundial cresceu igualmente 6,7% – face ao período homólogo de 2015 – sem mudanças relativamente ao desempenho alcançado em termos anuais nos primeiros três meses do ano.
Este valor representa a taxa de crescimento mais baixa da China registada num trimestre desde 2009.
“A economia nacional atingiu um desenvolvimento moderado, mas firme”, refere o comunicado.
O porta-voz do Gabinete de Estatísticas da China, Shen Laiyun, atribuiu os dados às “complicadas condições internas e externas” e às pressões cada vez maiores que o país enfrenta, mas sublinhou que a economia dá sinais de “estabilidade”, terminando a primeira metade do ano com uma “base sólida” para alcançar a meta de crescimento anual traçada pelo Governo.
O mesmo responsável advertiu, em todo o caso, para as “sérias” dificuldades com que o país se depara, tanto interna como externamente, apontando a necessidade de se prosseguir com as reformas estruturais anunciadas por Pequim, enquanto se potencia “adequadamente” a procura.
O PIB da China, que ascendeu a 30 de Junho a 34,06 biliões de yuan, cresceu em termos trimestrais, 1,8%, segundo os dados oficiais.
Após três décadas a crescer a uma média de quase 10% ao ano, Pequim situa a meta de crescimento anual para os próximos cinco anos entre 6,5% e 7%.
A economia da China cresceu 6,9% em 2015, ou seja, ao seu ritmo mais lento dos últimos 25 anos.

18 Jul 2016

Mar do Sul | Tusk admite dificuldade em alcançar acordos

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, admitiu sábado a dificuldade em alcançar acordos com Pequim sobre as disputas que mantém no Mar do Sul da China e garantiu que o bloco comunitário “continuará a defender a lei internacional”.
“Não é fácil alcançar acordos com os nossos colegas chineses quando se trata deste assunto. As nossas conversas têm sido difíceis, duras, mas também promissoras”, sublinhou, em conferência de imprensa, no final da Cimeira do Encontro Ásia-Europa (ASEM), que terminou este fim-de-semana em Ulan Bator, capital da Mongólia.
O governo chinês manifestou a sua firme oposição a que o Mar do Sul da China fosse um dos temas discutidos na cimeira, realizada três dias depois de o Tribunal Permanente de Arbitragem de Haia ter considerado sem fundamento as pretensões de Pequim no Mar do Sul da China, decidindo a favor das Filipinas.
Assim, a declaração final emitida pela presidência do país anfitrião não menciona explicitamente o Mar do Sul da China, mas cita, entre outros temas, o compromisso dos líderes que participaram em promover a segurança marítima, e o seu apoio à resolução das disputas com base na lei e códigos internacionais. donald tusk
Apesar disso, a China, que enviou à cimeira o seu primeiro-ministro, Li Keqiang, classificou de “ilegal e nulo” o veredicto do tribunal.
Tusk reiterou que a União Europeia “reconhece” a decisão que, afirmou, o que ficou “claro no comunicado divulgado ontem [na sexta-feira] pela Alta Representante da UE para a Política Externa, Federica Mogherini”, que também assistiu à cimeira, na qual Portugal se fez representar pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.
Tusk disse ainda que a UE “não se posiciona” sobre aspectos de soberania, neste caso, e expressou a necessidade de as partes “resolverem a disputa por meios pacíficos” e também “de acordo com a lei internacional”.
Pequim reivindica a soberania sobre quase todo o Mar do Sul da China, com base numa linha que surge nos mapas chineses desde 1940 e tem investido em grandes operações nesta zona, transformando recifes de corais em portos, pistas de aterragem e em outras infra-estruturas.
Vietname, Filipinas, Malásia e Taiwan também reivindicam uma parte desta zona, o que tem alimentado diferendos territoriais com a China.
 

18 Jul 2016

Jovens dependentes da internet

Un Lai Mui, coordenadora dos serviços sociais de Sheng Kung Hui Macau, declarou ao jornal Ou Mun que a instituição recebeu 85 casos de jovens dependentes da internet. Do número total, cerca de dois terços usavam a internet mais de 35 horas por semana, o que, segundo a coordenadora, representa um estado de dependência. Un Lai Mui alerta ainda para os efeitos do uso excessivo e que este casos reflectem problemas sociais na sua origem. A coordenadora diz ainda que há um plano de apoio da instituição, que é essencialmente dirigido a residentes com idades entre os 18 e os 23 anos.

18 Jul 2016

Slow J – “Cristalina”

“Cristalina”

Se eu disser só
Tudo o que eu pensei
Transformado em voz

Se eu tiver dó e
Vir tudo o que eu neguei
Transformado em nós

Mano, eu nem sei
Eu só tentei
Chegar mais longe sem sensei

Eu supliquei
Por uma gota desse
Soro que te dei

E veio o choro
Socorro
Salvei mentira e morro

Sufoco
De um louco
Ser Cristalina é pouco ou…

Se ele quebrar
Não resistir
Se eu só calar, para te ver sorrir

Para sobreviver
Matar e morrer
é fundamental

Slow J

18 Jul 2016

Palácio imperial do Japão nega que imperador tinha intenção de abdicar

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]imperador do Japão não tem intenção de abdicar, afirmou ontem o Palácio Imperial após notícias de que Akihito exprimira o desejo de encurtar o reinado, algo raríssimo na longa história do Trono do Crisântemo.
“Não é de todo verdade”, afirmou na noite de quarta-feira, aos jornalistas, Shinichiro Yamamoto, um alto responsável da casa imperial japonesa.
A cadeia de televisão pública NHK, citando fontes do palácio, informou na tarde de quarta-feira que o imperador, de 82 anos, pretendia abdicar, intenção que teria comunicado à mulher, a imperatriz Michiko, e ao filho e príncipe herdeiro do Japão, Naruhito, e adiantou que o octogenário iniciara já os preparativos para garantir uma sucessão estável.
A agência noticiosa Kyodo também revelou informações semelhantes.
A actual lei sobre a casa imperial, que rege o estatuto jurídico do imperador, não prevê um mecanismo legal de abdicação, pelo que seria necessária uma revisão do diploma para satisfazer essa eventual vontade.
Se Akihito abdicasse seria a primeira vez que tal ocorreria na linha de sucessão imperial nipónica desde a do imperador Kokaku, em 1817.
O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, recusou ontem tecer comentários, invocando o carácter sensível do assunto, assim como o porta-voz do Executivo, Yoshihide Suga.
Yomiuri Shimbun, um jornal de grande tiragem, noticia ontem que o Governo abordou, em segredo, essa possibilidade.
Akihito chegou ao trono aos 55 anos, a 7 de Janeiro de 1989, após a morte do pai, o imperador Hirohito.
Foi o primeiro a chegar ao trono desde a entrada em vigor da nova Constituição nipónica, aprovada em 1947, após o fim da ocupação norte-americana na sequência do final da Segunda Guerra Mundial.
Os cinco anteriores imperadores do Trono do Crisântemo morrerem em funções: Hirohito (1926/1989), Taisho (1912/1926), Meiji (1867/1912), Komei (1846/1867) e Ninko (1817-1846).
 

15 Jul 2016

Mar do Sul | Pequim promete agir perante provocações

[dropcap style=’circle’]P[/dropcap]equim prometeu ontem dar “uma resposta determinada” a todos os “actos de provocação” no Mar do Sul da China, dias depois de o tribunal internacional ter considerado ilegítimas as reivindicações chinesas sobre a disputa territorial com as Filipinas.
“Se alguém tomar algum acto de provocação contra os interesses de segurança da China, com base na sentença, a China dará uma resposta determinada”, anunciou o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Lu Kang, durante uma conferência de imprensa.
A China reagiu furiosamente à decisão do Tribunal Permanente de Arbitragem (TPA), com sede em Haia, considerando-a ilegal e referiu que a sentença “não terá nenhum efeito sobre a política da China”, noticiou a agência AFP.
Pequim reivindica a soberania sobre 2,6 milhões de quilómetros quadrados do Mar do Sul da China, de um total de quase três milhões, contra outros países que fazem fronteira como as Filipinas, Vietname, Malásia e Brunei, tendo como argumento uma linha que surge nos mapas chineses desde 1940.
Os chineses alegam ter sido os primeiros a descobrir, nomear e a explorar aquela região estratégica, quer a nível militar, quer a nível económico.
O TPA decidiu na terça-feira a favor das Filipinas no caso das disputas territoriais no Mar do Sul da China, apesar de Pequim insistir que não aceita a mediação de terceiros.
A China tem investido em grandes operações na zona, transformando recifes de corais em portos, pistas de aterragem e em outras infra-estruturas, com pretensões militares, referiu a AFP.
Pequim iniciou exercícios militares no norte do Mar da China Meridional na semana passada, ao mesmo tempo que a marinha norte-americana, com base no Pacífico, anunciou o destacamento de porta-aviões para reforçar a segurança.
Washington já referiu não querer tomar posição nestas disputas, mas a marinha norte-americana tem reforçado a presença de navios de guerra e aviões militares na zona contestada.
 

15 Jul 2016

Chinês condenado a quase quatro anos de prisão por espionagem

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m cidadão chinês foi condenado a perto de quatro anos de prisão nos Estados Unidos da América por espionagem que envolveu informação militar norte-americana, revelaram as autoridades dos EUA na quarta-feira.
De acordo com a sentença divulgada pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos da América, Su Bin, de 51 anos, roubou “informação militar sensível” e colocou-a ao serviço da China.
O homem foi condenado a 46 meses de prisão.
“A condenação de Su Bin é um castigo pela sua participação confessa numa trama de ‘hackers’ orquestrada pela Força Aérea do Exército Popular de Libertação [forças armadas chinesas] para roubar informação militar norte-americana sensível”, disse John Carlin, assistente do procurador-geral dos EUA.
“Su ajudou os ‘hackers’ militares chineses a aceder e a roubar informação sobre planos de aeronaves militares que são essenciais para a nossa segurança nacional”, acrescentou.
Su Bin foi detido em 2014 no Canadá e, em Março passado, no âmbito de um acordo com as autoridades norte-americanas, confessou ter conspirado com dois militares chineses com o objectivo de obter de aviões de combate dos EUA e de aeronaves de transporte militar.
A imprensa estatal chinesa referiu-se recentemente a Su Bin como um herói.
“Mostramos a nossa gratidão e o nosso respeito pelo serviço que prestou ao nosso país”, escreveu em Março, num editorial, o Global Times, jornal do grupo Diário do Povo, órgão central do PCC.
 

15 Jul 2016

Os sons nunca ouvidos

*por Fa Seong

[dropcap style=’circle’]M[/dropcap]acau, esta pequena cidade próspera e internacional, aparentemente tem tudo: grandes receitas, grandes casinos, grandes edifícios de luxo, segurança social, qualidade de vida (para alguns), pessoas de diferentes países… Mas o facto é que um espaço não pode ser meramente os seus aspectos especiais, os não vulgares, ou que apenas não trilham o caminho comum.
É triste, bem triste, quando ouço que determinadas lojas vão fechar a porta em Macau. Não estou a falar de lojas de marca, nem restaurantes que ofereçam set lunch para aumentar o volume de negócios, mas sim lojas que vendem artigos antigos, produtos criativos e artísticos, ou desta vez, uma loja onde se vendiam discos de música independente. E é este o foco desta minha crónica.
Chama-se Pin-to Música e é (ou era) uma loja escondida no Leal Senado. A entrada e o corredor do edifício onde fica é sempre utilizada por uma sapataria do primeiro andar para colocar cartazes e promover a sua mercadoria “tão barata” (99 patacas). Paisagens que nada combinam com a livraria Pin-to, mesmo no outro lado da sapataria, nem com a loja de música do andar de cima.
Não sei se algum dos caros leitores já teve a oportunidade de ir a essa loja de música, que tem precisamente dez anos de história. A livraria até é conhecida pelas pessoas de Macau – pelos menos todas as vezes que fui lá não fui a única cliente, havia vários outros a escolher livros, a ler livros no sofá ou a brincar com os dois gatos que lá habitam).
Regressei à Pin-to Música há mais de meio ano. O espaço pequeno e super calmo, é um sítio onde se pode ouvir música bem especial: electrónica, Jazz, clássicos experimental… Mesmo que sejam tipos de música que não costumo ouvir nem conheço bem, no momento em que entrei na loja senti-me confortável e especial. Acho que se deve ouvir música sem limites e, com a minha curiosidade de sempre, gosto de conhecer diversos tipos de música.
Mas a página do Facebook da loja trouxe notícias tristes na semana passada. A Pin-to Música vai fechar a porta no fim deste mês, porque o senhorio não renovou o contrato de arrendamento.
“(A abertura da) Pin-to Música foi uma decisão pessoal, caprichosa e inoportuna. Felizmente, nestes anos, a música funciona de acordo com os seus passos. Mas finalmente vamos sair deste pequeno espaço que conseguimos com esforço há dez anos”, escreveu o dono no facebook.
Sem hesitar muito, essa novidade motivou-me a dar mais uma volta à loja. Como de costume, na Pin-to Livros havia vários clientes, mas ao entrar na Pin-to Música, apenas estava a funcionária, sozinha, com a música.
Era para conversar com o dono mas ele não estava, pelo que acabei por falar com a funcionária. Pedi para que me recomendasse uns CDs, preferencialmente de música bem ligeira, e ela apresentou-me uma cantora de Inglaterra e um CD de mistura de piano, guitarra e outros instrumentos.
Durante a escolha, aproveitei para conversar com a jovem funcionária. Para ela, ali não há diferença entre os dias úteis e os fins-de-semana, porque todos os dias são iguais – com poucos clientes. Ela compreende, porque considera que em todo o mundo o mercado de livraria é sempre maior do que o da venda de CDs.
Quis saber qual é o plano depois do fecho da loja, mas a funcionária não quis falar mais sobre isso. Só através do Facebook consegui saber mais. Para o dono, a abertura da loja foi um “acto experimental”. Queria saber como é que neste mercado de música tão pequeno em Macau, as músicas que ele escolhe trazem repercussões ou ressonâncias. Confia que “cada pessoa, desde que aberta a isso, pode sentir a beleza de música” e é possível encontrar amigos do peito mesmo que se goste de música tão pouco popular. E isso tornou-se até o lema que ensinou aos seus funcionários: “apresentar músicas pouco populares com uma atitude amigável”, partilhou no Facebook.
Aprecio muito o espírito do dono: tem recursos limitados e enfrenta este mercado de “lei da selva” (em chinês弱肉強食), mas conseguiu fazer o que gosta, contrariando a regra de criar negócios iguais aos outros e dando, ao mesmo tempo, oportunidade para que sons pouco conhecidos pudessem “estrear” neste território.
“Há quem considere que aquelas músicas são tão insignificantes que não têm nenhuma força de influência, mas para nós deixar aquelas músicas expressarem-se é o significado da abertura da loja”, disse.
Como não sei se posso ainda passear numa loja de música deste estilo comprei ambos os CDs que a funcionária recomendou e tentei mudar um pouco o hábito de, quando quero ouvir música, abrir o YouTube ou uma aplicação no telemóvel. Regressei a um momento que me faz feliz: pôr o CD na aparelhagem durante uma tarde preguiçosa.

15 Jul 2016

Que estamos nós aqui a fazer, tão longe de casa? | 20. O Estripador

*por José Drummond

[dropcap style=’circle’]”[/dropcap]Meu Amor. Escrevo-te cheia de medo. Aquele medo que dizem ser o grande motivador. Medo de falhar. Medo de não conseguirmos provar a nós próprios do que somos capazes. Medo de não conseguir ser aquilo que sempre sonhámos. Mas, na verdade, comigo, não é assim. O medo inibe-me. E tenho medo de nunca mais te voltar a ver. E isso não me motiva. Pelo contrário. Destrói-me. Para mim o grande motivador é o amor. O que o medo faz é enublar as nossas percepções e, desse modo, perdermos o sentido do que a realidade pode realmente ser. Toda esta sociedade em que vivemos foi construída sobre o medo. Usa-se o medo para tudo. Os patrões com os empregados. Os países mais poderosos com os mais fracos. Todas estas guerras. Todas estas injustiças. Tudo feito com o uso dessa grande arma opressiva que é o medo. O medo cala-nos. O medo deve ser confrontado. É um grande desafio. Confrontar o medo pela ilusão que realmente é. E só sei uma forma. Há que confrontar o medo com o amor. E o amor que tenho por ti é tão grande. Mas hoje estou cheia de medo. Medo de não conseguir escapar. Quando estava preparada para lhe dizer tudo, como que pressentindo algo, este verme fechou-me no quarto. E quando abriu a porta foi para me dizer que tinha o meu passaporte e que sabia muito bem o que se passava. Assustei-me. Assustei-me tanto. Eu já devia ter lido os sinais. As suas mudanças de humor repentinas. E é por isso que estou cheia de medo. Ainda não sei como vou conseguir fazer-te chegar esta carta. Mas irei conseguir. Irei conseguir porque é o amor que me motiva. O medo inibi-me. E tu tens que saber o que está realmente a acontecer. Estou com tanto medo de amanhã. 14716P12T1

Meu querido Chaoxiong. Não sei como explicar como me sinto quando penso em ti. Hoje à noite sonhei que era uma estilista de sucesso e que preparava as minhas modelos para uma passagem de moda em Xangai. E que o hotel onde estava tinha um restaurante chinês e um ocidental. E que decidi de repente fazer a festa com as modelos no ocidental. Porque sempre quis conhecer o meu pai. Nunca te falei no meu pai. Um francês que trabalhava na bolsa de Hong Kong que desapareceu por altura da transferência. Ele e a minha mãe tinham-se casado um ano antes e a minha mãe estava grávida de 6 meses quando ele desapareceu. Descobriu-se posteriormente que ele poderia estar ligado a um esquema de subornos de um membro influente da sociedade de construção e que ao recusar continuar possa ter sido envolvido nalgum caso de débito com as tríades. Nada está provado. Eu continuo a acreditar que ele está vivo em algum lugar. No meu sonho eu dirijo-me a esse restaurante e entro na sala de banquetes para ser recebida com forte aplauso. Mas sinto-me tão cansada apesar de tão feliz pelo meu sucesso. Tu levas-me até ao meu lugar e em segredo dizes-me que agora eu posso descansar e que de seguida iremos fazer a nossa sonhada viagem à volta ao mundo. E falas-me de sítios exóticos. Com praias paradisíacas. E eu oiço a tua voz em sussurro. Com nomes de sítios que ecoam felicidade. Bahamas. Seychelles. Maldivas. Eu nuca soube para onde viajar. Estas tuas sugestões no meu sonho são lugares-comuns. Mas toda esta minha vida é um lugar-comum. Toda esta minha canseira e infelicidade por não estar contigo é um lugar-comum. Até o medo é um lugar-comum. E eu não quero deixar que o medo me leve ao desespero. O desespero é uma doença mortal. Uma doença do espírito. Um abismo. Um abismo de desespero.

Chaoxiong deixa-me dizer-te, neste ano de 2029, que eu, uma mulher com 37 anos, ainda acredito na felicidade porque tu existes. Deixa-me dedicar-te um poema de uma poetisa americana que muito admiro. Sylvia Plath. Conheces? Chama-se “Mad Girl’s Love Song” e é como eu me sinto hoje. Uma “mad girl”.

“I shut my eyes and all the world drops dead;
I lift my lids and all is born again.
(I think I made you up inside my head.)

The stars go waltzing out in blue and red,
And arbitrary blackness gallops in:
I shut my eyes and all the world drops dead.

I dreamed that you bewitched me into bed
And sung me moon-struck, kissed me quite insane.
(I think I made you up inside my head.)

God topples from the sky, hell’s fires fade:
Exit seraphim and Satan’s men:
I shut my eyes and all the world drops dead.

I fancied you’d return the way you said,
But I grow old and I forget your name.
(I think I made you up inside my head.)

I should have loved a thunderbird instead;
At least when spring comes they roar back again.
I shut my eyes and all the world drops dead.
(I think I made you up inside my head.)”

Não fiques triste meu querido. E não tenhas medo. O medo inibe e é mau para todos. Não deixes que esta minha carta não te faça acreditar. Acredita meu doce.
Para sempre tua.
Daphne.”

14 Jul 2016

DICJ quer expandir mercado de máquinas de jogos

Paulo Martins Chan, director dos Serviços de Coordenação e Inspecção de Jogos (DICJ), pretende expandir o mercado das máquinas de jogos nos casinos, por forma a responder à quebra registada no sector VIP. Segundo um comunicado oficial, Paulo Chan terá dito que “o futuro desenvolvimento do sector assenta no reforço no crescimento das salas comuns, nomeadamente através do fornecimento de diferentes modalidades de jogos de máquinas de jogo, com vista a aumentar as receitas deste domínio ao nível do das salas VIP”. Essa aposta visa responder “ao ajustamento estrutural do sector do Jogo para implementar a diversificação e o desenvolvimento sustentável da economia”, disse ainda o director da DICJ.
Estas declarações foram proferidas após uma reunião do organismo com duas empresas de certificação de máquinas de jogo. As duas empresas terão mostrado “pleno apoio a essa medida”, sendo que “crêem que as máquinas de jogo possam servir de estímulo neste aspecto, na medida em que as mesmas oferecem uma experiência de entretimento e lazer aos visitantes”.

14 Jul 2016

Detidos dois suspeitos de tráfico de droga

A Polícia Judiciária (PJ) deteve, na segunda-feira, uma mulher local e um homem do interior da China por tráfico de droga. A mulher de 42 anos, toxicodependente, é acusada de traficar estupefacientes do interior da China entre Janeiro e Março últimos. Esta já é a terceira detenção que sofre este ano e está neste momento a aguardar julgamento. Depois de inspecionar a casa da suspeita, a PJ apreendeu estupefacientes no valor de três mil yuan. A mulher admitiu ter comprado as drogas na China continental e a conhecidos num jardim na zona norte. O segundo detido no mesmo dia traficava num hotel da Taipa e admite que esta é a primeira vez que está envolvido nesta actividade, sendo que recebe mil patacas por cada transacção.

14 Jul 2016

Mar do Sul | Pequim diz ter “o direito” de instaurar zona de defesa aérea

[dropcap style=’circle’]P[/dropcap]equim afirmou ontem ter “o direito” de instaurar uma “zona de identificação de defesa aérea” (ADIZ, na sigla em inglês) no Mar do Sul da China, um dia depois de um tribunal internacional ter decidido contra as suas reivindicações em águas estratégicas.
“A eventual necessidade de estabelecer uma [ADIZ] no Mar do Sul da China depende do nível de ameaça que enfrentarmos”, declarou o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros Liu Zhenmin.
“Não transformem o Mar do Sul da China num berço de guerra”, afirmou, em declarações aos jornalistas, insistindo: “o objectivo da China é transformar o Mar do Sul da China num mar de paz, amizade e cooperação”.
A China reitera as suas reivindicações territoriais na região, que se estendem por quase toda a costa de países vizinhos, depois de o Tribunal Permanente de Arbitragem de Haia ter decidido a favor das Filipinas, considerando não haver base legal para a pretensão de Pequim.
Liu Zhenmin descreveu a decisão como um “pedaço de papel usado” durante uma conferência de imprensa, alegando que o tribunal tem sido “manipulado”.
Os cinco juízes que avaliaram o caso “fizeram dinheiro com as Filipinas”, disse ainda Liu, acrescentando que “talvez outras pessoas também tenham ganho dinheiro” com o processo.
Sublinhou também que quatro dos cinco juízes são de países da União Europeia e que o presidente, embora oriundo do Gana é um residente de longa data na Europa.
“São estes juízes representativos?”, questionou, de forma retórica. “Entendem a cultura asiática?”
Um antigo presidente japonês do Tribunal Internacional sobre Direito do Mar, Shunji Yanai, “manipulou todos os procedimentos” nos bastidores, alegou ainda o vice-ministro chinês.
Yanai, antigo embaixador do Japão na Coreia do Sul e nos Estados Unidos, deixou o cargo em 2014.

Razões da História
Liu falava na apresentação de um ‘white paper’ sobre a resolução das disputas com as Filipinas, o país que levou o caso ao Tribunal Permanente de Arbitragem, com sede em Haia.
A China foi “a primeira a descobrir, dar nome e a explorar e aproveitar” as ilhas do Mar do Sul da China e as suas águas, e “tem exercido contínua, pacífica e eficazmente” a sua soberania e jurisdição sobre elas”, refere Pequim no documento.
Pequim boicotou os procedimentos do Tribunal Permanente de Arbitragem, afirmando que esta instância não tem competência para se pronunciar, e lançou uma ofensiva diplomática e publicitária para tentar desacreditar o tribunal.
A China reivindica a soberania sobre quase todo o Mar do Sul da China, com base numa linha que surge nos mapas chineses desde 1940, e tem investido em grandes operações nesta zona, transformando recifes de corais em portos, pistas de aterragem e em outras infra-estruturas.
Vietname, Filipinas, Malásia e Taiwan também reivindicam uma parte desta zona, o que tem alimentado intensos diferendos territoriais com a China.
Em 2013, Manila levou o caso ao tribunal internacional, após 17 anos de negociações.

Seul pede soluções pacíficas

A Coreia do Sul defendeu ontem uma resolução “pacífica e criativa” para as disputas no Mar do Sul da China, após a decisão do Tribunal Permanente de Arbitragem de Haia sobre o conflito entre a China e as Filipinas. Em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Seul manifestou o seu apoio à decisão anunciada na véspera que dá razão às Filipinas na contenda territorial entre Manila e Pequim. A Coreia do Sul “tem em conta a decisão do tribunal de arbitragem” e “deseja uma resolução pacífica da disputa através de esforços diplomáticos pacíficos e criativos”, assinalou a diplomacia sul-coreana, reafirmando também a necessidade de se defender a “estabilidade e a liberdade de navegação e de voos numa área que constitui uma rota comercial-chave”.

Austrália pede respeito

A Austrália avisou ontem a China que ignorar a sentença do Tribunal Permanente de Arbitragem (TPA), com sede em Haia, sobre as disputas territoriais no Mar do Sul da China é uma “transgressão internacional séria”. “Ignorar [a sentença] seria uma transgressão internacional séria”, afirmou a ministra dos Negócios Estrangeiros da Austrália, Julie Bishop, em declarações à cadeia de televisão australiana ABC. Bishop acrescentou que a decisão do tribunal internacional é “final e vincula legalmente” a China e as Filipinas, o país que levou a questão ao TPA. Para a Austrália, a sentença conhecida na terça-feira representa uma “oportunidade para provar que se podem negociar as disputas de forma pacífica”.

Taiwan responde em força

Taiwan enviou ontem uma fragata para a ilha Taiping, no disputado arquipélago Spratly, para mostrar a sua rejeição à sentença do tribunal internacional que na terça-feira negou a Taipé direito a 200 milhas de zona económica exclusiva. A Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, sublinhou, numa declaração a partir da fragata transmitida pela televisão, a sua determinação na defesa da soberania de Taiwan sobre Taiping e outras ilhas do Mar do Sul da China. No entanto, defendeu que deve ser encontrada uma solução através da negociação entre os vários países que pretendem o controlo das Spartly.
“As disputas devem resolver-se pacificamente, através de negociações multilaterais”, disse Tsai, que assegurou que Taiwan está disponível para cooperar com todos os envolvidos “para promover a paz e a estabilidade no Mar do Sul da China”.
Na terça-feira, o gabinete da Presidente afirmou que Taiwan “rejeita totalmente” a sentença do Tribunal Permanente de Arbitragem (TPA), com sede em Haia, e que “fará tudo o que for possível para salvaguardar a soberania e o território do país e proteger os seus interesses”.

14 Jul 2016

Julgamento de Ng Lap Seng em Janeiro

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]i juíz Vernon Broderick definiu em Manhattan a data para o julgamento de Ng Lap Seng. É a 23 de Janeiro de 2017 que o empresário de Macau vai a tribunal, segundo informação da Reuters. Ng Lap Seng tem sobre si e o seu assistente, Yin, acusações de suborno de John Ashe, ex-presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) falecido no mês passado. O empresário é acusado de ter proporcionado benefícios a membros do Programa de Desenvolvimento da ONU (PDNU) para construir um centro de conferências em Macau.

13 Jul 2016