China | Centro de apoio a mulheres fechado por receber donativos estrangeiros

Um centro de apoio jurídico para mulheres em Pequim, apoiado pela possível candidata à presidência dos Estados Unidos Hillary Clinton, foi “provavelmente” encerrado por ter recebido donativos provenientes do estrangeiro, avançou ontem um jornal estatal.
“O requerimento terá sido feito na sequência dos fundos atribuídos por organizações estrangeiras”, afirma o Global Times, jornal de língua inglesa do grupo Diário do Povo, órgão central do Partido Comunista Chinês (PCC).
O jornal detalha que o centro recebeu donativos da Fundação Ford, uma entidade sediada em Nova Iorque.
O anúncio do encerramento do Centro de Serviços e Aconselhamento Jurídico para Mulheres Zhongze, destinado a chinesas com baixos rendimentos, foi confirmado na segunda-feira através de um comunicado.
Na nota, a organização agradece aos seus apoiantes, sem avançar com uma explicação.

Parcerias obrigatórias

A decisão surge numa altura em que o Governo chinês pretende aprovar um projecto de lei que, entre outras medidas, estipula que as Organizações Não Governamentais (ONG) estrangeiras estabeleçam uma parceria com pelo menos um órgão governamental e submetam os seus planos de acção à polícia, para aprovação.
Os voluntários de ONG estrangeiras a operar na China são frequentemente acusados na imprensa local de pretenderem sabotar a segurança nacional ou “conspirar” contra o PCC, que governa num sistema unipartidário.
No mês passado, a China deteve e deportou o sueco Peter Dahlin, co-fundador da ONG China Action, que cooperou com advogados chineses, por alegadamente representar uma ameaça à segurança nacional.
O centro Zhongze foi fundado pelo advogado Guo Jianmei, depois de uma conferência de alto nível organizada em 1995 pelas Nações Unidas, em Pequim, em torno da questão dos direitos das mulheres.

A voz da América

Hillary Clinton, que marcou presença na referida conferência, reagiu, entretanto, através da sua conta oficial no Twitter: “O que em 1995 era verdade em Pequim; é verdade hoje: os direitos das mulheres são direitos humanos. O centro devia manter-se – o meu apoio para Guo”.
Só no ano passado, mais de 130 advogados dos Direitos Humanos e funcionários relacionados foram detidos na China.
Em editorial, o Global Times refere que “casos sensíveis” e “fundos oriundos do estrangeiro” recebidos pelo centro “ajudam a explicar o caso”.
“Os donativos tinham um cunho político e selectividade passível de perturbar sociedade chinesa”, acusa o jornal.
O centro mediatizou-se por defender Deng Yujiao, que ao reagir com uma faca a uma tentativa de violação por um funcionário do Governo, em 2009, acabou por o matar.

3 Fev 2016

DSAT quer aumento de multas para estacionamento abusivo

Em resposta à interpelação oral da deputada Wong Kit Cheng, sobre os lugares de estacionamento nas vias públicas, Raimundo do Rosário, Secretário para os Transportes e Obras Públicas indicou que “sejam os lugares nos auto-silos ou nas vias públicas”, o Governo vai “reduzir a ocupação”. “O que vamos fazer a curto prazo é que em colaboração com a DSAT [Direcção para os Serviços dos Assuntos de Trânsito] e a PSP [Polícia de Segurança Pública] vamos dar conhecimento que há muitos lugares para motociclos”, apontou. O director da DSAT, Lam Hin San, indicou que o Governo pretende “elevar as multas no caso de reboque de veículos para reduzir os abusos”. “Quanto ao estacionamento por um longo período de tempo também falámos com a PSP. No ano passado, como disse o Secretário, tínhamos 350 lugares nas vias públicas. Há auto-silos que não são muito ocupados e vamos continuar a trabalhar. Se for necessário os veículos do Governo poderão começar a ficar nesses parques menos ocupados”, apontou.

2 Fev 2016

AL | Raimundo do Rosário disse não saber como implementar sistema de reciclagem

O Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, admitiu, em sessão plenária da Assembleia Legislativa (AL), que o plano de reciclagem para o território falhou e que não sabe como melhorar as campanhas de sensibilização.
“Tem havido um fracasso em Macau, é um plano fracassado. Em frente da minha casa tenho um recipiente de aço para recolha de plástico, papel e metais. Nunca me cruzei com alguém a fazer o mesmo, já fui lá várias vezes”, disse Raimundo do Rosário, durante um debate dedicado a responder às perguntas dos deputados.
“Temos feito acções de sensibilização, destinadas a crianças e adultos. Entendo que se trata de uma obrigação do cidadão. Ensinar que se deve deitar o papel [no papelão], não sei como deve ser feito isto. Tenho andando atrás da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental [em relação a este assunto], mas como é que podemos incutir essa ideia às pessoas?”, indagou.
Raimundo do Rosário admitiu também não saber “o que acontece” aos resíduos após a sua colocação nos pontos de recolha. “Quando coloco um resíduo num local não sei o que lhe acontece. Será que todos os resíduos vão ser misturados? Isso não sei. Vou informar-me”, afirmou.
O Secretário respondeu assim à questão da deputada Chan Hong, que indicou que a “taxa de reciclagem é desproporcionada em comparação com o avolumar do lixo e o desenvolvimento económico” e “está aquém do objectivo definido”.
Chan Hong perguntou ao Secretário pelos resultados de um estudo que o Governo encomendou sobre o sector de recolha de resíduos, mas Raimundo do Rosário indicou apenas que “os resultados estão a ser analisados”.
Quanto à criação de uma lei sobre a recolha e separação do lixo, uma questão levantada pela mesma deputada, o Secretário considerou não ser necessária. “Ou a pessoa tem intenção de fazer isto ou não tem. Acho que mais vale reforçar a sensibilização. Agora, produzir uma lei para obrigar as pessoas a separar o lixo? Não temos intenção, temos mais leis para produzir”, concluiu.

2 Fev 2016

Alexis Tam | Salários dos médicos são “muito baixos”

Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, disse ontem à margem de um evento público que os salários dos médicos deveriam ser mais elevados. Segundo a Rádio Macau, Alexis Tam disse que os salários são “muito baixos” e que não conseguem atrair profissionais de saúde de fora. “Com este vencimento actual da Administração Pública de Macau, acho que já não conseguimos atrair os bons profissionais, incluindo médicos, enfermeiros e de outras áreas. Com estas condições, eles não vêm. Mesmo da China. Hoje em dia, os médicos da China estão a ganhar muito bem e não querem vir para Macau. O vencimento é muito baixo”, referiu Alexis Tam, à margem de uma visita ao Lar da Nossa Senhora da Misericórdia e à Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC). Apesar da necessidade, não há uma data para actualizar os salários. “Ainda vamos estudar”, explicou o Secretário, antes de acrescentar que o processo “não vai ser fácil” porque exige “consenso de toda a sociedade”.

2 Fev 2016

Fotógrafo António Mil-Homens abre e reabre estúdio

A proposta é de um espaço de cultura com a fotografia ao centro. Um local para conviver e ser fotografado por quem faz disso a sua profissão há mais de 40 anos. A propósito da ocasião falámos sobre o espaço e respectivos projectos, claro, mas também sobre as indústrias criativas de Macau

Existe há três anos mas só agora António Mil-Homens sentiu que tinha as condições reunidas para abrir ao público. A grande inauguração foi na passada sexta-feira mas este sábado pelas três da tarde vai haver uma reinauguração. Demonstrar que em Macau existe capacidade, qualidade e condições para trabalho profissional de fotografia sem que tenha sempre de se requisitar os serviços de Hong Kong é o principal objectivo de António Mil-Homens. Mas, para além da fotografia, está apostado em transformar o espaço num clube de amigos, um local que se preste a encontros, a troca de experiências, espaço para poesia, música, tertúlias mas tendo, naturalmente, em vista a angariação de mais clientes. “Dou um exemplo: às vezes a malta não sabe o que fazer, porque não reunir os amigos e vir até ao estúdio beber uns copos, ouvir música, passar um bom bocado e fazer uma sessão fotográfica? Para além das fotografias profissionais que normalmente são solicitadas para websites, ou outros fins mais sérios, porque não fazer uma sessão fotográfica na brincadeira?”, sugere António. Não está, todavia, nos planos do fotógrafo ter uma programação regular até porque isso poderia complicar as marcações das sessões de fotografia que são a sua actividade profissional. “Isto não é uma sala de espectáculos, nem sequer um bar ou uma discoteca”, garante, “é, isso sim, um espaço de convívio, um local de cultura onde aproveitámos o facto de estarmos num edifício industrial, logo não temos problemas de ruído”, acrescenta.

O drama do “vão de escada”

A democratização da fotografia que o digital introduziu facilitando imagens de alta resolução a qualquer pessoa trouxe ao mercado de fotografia pessoas que, garante António Mil-Homens, “nunca viriam a ser fotógrafos e digo isto completamente convicto. Compram uma máquina e uma ou duas objectivas e vão para o mercado. A maioria são jovens, não têm encargos e, por isso, rebentam com os preços”. Esta situação tem vindo a colocar muitos profissionais fora do mercado e é também por isso que surge a necessidade de abrir espaços como este que agora se inaugura vendo nesta iniciativa uma forma de diversificação e sofisticação da sua oferta. “O que estes miúdos não percebem”, explica Mil-Homens, “é que, se realmente pretendem fazer uma carreira na fotografia, com este tipo de actuação estão não só a dinamitar o mercado actual como também a comprometer o seu próprio futuro.” E dá o exemplo de Portugal, um mercado que conhece bem, onde hoje apenas meia dúzia (mesmo) de fotógrafos consegue viver bem da profissão.
“O mercado”, considera, “é exíguo mas eu acredito que ainda pode ser mais explorado”. Todavia, António Mil-Homens não tem dúvidas que tudo passa por exportar e dá o exemplo de Hong Kong há 60 ou 70 anos atrás, quando o conceito desenvolvido na região vizinha ultrapassava fronteiras e fazia com que grandes clientes mundiais fossem de propósito a Hong Kong para fotografar os seus produtos. “Desde que me comecei a interessar por fotografia”, diz-nos, “Hong Kong era uma referência para mim. Os fotógrafos de Hong Kong tinham sempre um cunho de inovação e qualidade que era único no mundo na época.”, revela António. Mais feiras de arte, mais festivais, mais intercâmbios até que um dia seja possível desenvolver um conceito criativo original em Macau é a receita do fotógrafo, “mas não falo apenas de fotografia. Falo de dança, de escultura, de cinema, música.” A este propósito cita o exemplo da Unitygate, uma plataforma de intercâmbio cultural entre Macau e Portugal e na qual também já participou como exemplo a seguir e a repetir.

Controlar a especulação imobiliária

Conforme aconteceu em Nova Iorque, aqui ao lado em Hong Kong, em Pequim e em muitas outras cidades, a deslocalização de unidades fabris permitiu a muitos artistas “invadirem” os espaços das ex-fábricas para aí montarem os seus ateliers e espaços de cultura. Em Macau isso está a acontecer agora mas grande parte dos artistas foram ultrapassados pelos especuladores e o valor de aluguer de espaços como estes, de há dois ou três anos, praticamente duplicou. “A grande maioria dos artistas trabalha para sobreviver, produzem arte para darem vazão à sua criatividade e não propriamente para enriquecerem”, diz António Mil-Homens, e continua, “entendo perfeitamente que quem adquiriu os espaços pretenda fazer dinheiro mas têm de perceber que se os preços sobem demasiado toda esta explosão criativa pode vir a ser aniquilada.” Como solução, fazendo fé na visão que o Secretário Alexis Tam tem demonstrado, António julga que “talvez o governo pudesse comprar alguns desses espaços e depois cedê-los a preços mais controlados porque os que existem, como o Macau Design Centre, não chegam para a procura”.

Formação e diversificação da oferta turística

“Adoro trabalhar em estúdio. Criar a minha própria luz, este intimismo… A não interferência de factores externos”, confessa António vendo no estúdio uma oportunidade de dar continuidade às acções de formação que tem desenvolvido com a Casa de Portugal, podendo agora adicionar a experiência de fotografia em estúdio. E vai mais além sugerindo a possibilidade de adicionar um workshop de fotografia ao menu dos turistas que nos visitam: “unir a visita ao território com a aprendizagem de fotografia parece-me uma boa ideia. No fundo, formação, para mim, é uma forma de transmissão dos meus conhecimentos e de eu próprio aprender”. O intercâmbio é mesmo uma preocupação fundamental do fotógrafo que vê no estúdio uma base para a troca de experiências: “porque existe a técnica mas depois a abordagem em termos estéticos varia de pessoa para pessoa, por isso o diálogo é fundamental para a evolução mútua”, ajuíza.
A abertura deste estúdio vem na sequência da inauguração, há cerca de dois meses, do “Core Studio” de Nuno Veloso, também ele um conhecido fotógrafo profissional residente no território e com quem António Mil-Homens mantém “uma relação de estreita colaboração e não de concorrência”, como o próprio nos garante.

2 Fev 2016

Detidos 21 suspeitos do gigantesco esquema Ponzi

As autoridades chinesas detiveram 21 pessoas suspeitas de um esquema Ponzi gigante que ludibriou cerca de 900.000 pessoas em mais de 50 mil milhões de yuans, informou a imprensa estatal.
Lançado em 2014, o Ezubao era a quarta maior plataforma online’ na China a disponibilizar empréstimos entre pessoas (P2P, ‘na sigla em ingês), segundo um relatório da revista chinesa Caixin.
O retorno anual oferecido aos investidores fixava-se entre nove e 14,6 por cento, em vários projectos, indicou a agência oficial Xinhua – um valor muito acima do rendimento garantido pelos produtos financeiros disponíveis nos bancos chineses.
Até Dezembro de 2015, o Ezubao reuniu 50 mil milhões de yuans num esquema que resultou em perdas para 900.000 investidores.

Toma lá, dá cá

A empresa colocava projectos no seu portal e pagava aos credores mais antigos com o dinheiro de novos investidores, revela a Xinhua.
“O Ezubao é um típico esquema Ponzi”, admitiu Zhang Min, o presidente do grupo Yucheng, que geria a plataforma, e um dos detidos, citado pela agência.
Um outro responsável, Ding Ning, disse à Xinhua que a empresa gastou mais de 800 milhões de yuan na compra de informação corporativa, visando criar projectos fraudulentos.
Ambos terão esbanjado o dinheiro dos investidores num estilo de vida opulento, incluindo uma moradia de 130 milhões de yuan em Singapura e gastos avaliados em 500 milhões de yuan.
A imprensa estatal chinesa difunde regularmente confissões de detidos, numa prática vista por grupos estrangeiros como uma violação ao direito a um julgamento justo.
A polícia revelou que, entre as 207 empresas às quais o Ezubao diz ter emprestado dinheiro, apenas uma terá beneficiado de crédito.
“Tanto quanto sei, 95% dos projectos do Ezubao são falsos”, admitiu Yong Lei, um avaliador de risco empregado numa subsidiária do grupo Yucheng.
A redução consecutiva das taxas de juro e a recente volatilidade no mercado bolsista chinês, aliados à incerteza no mercado imobiliário, terão atraído cada vez mais investidores chineses para esquemas de angariação ilegal de fundos.

2 Fev 2016

Uma travessia do Delta Literário de Macau

Não deixando de referir e correlacionar textos tributários de códigos de género híbridos – memórias, diário, epistolografia, narrativa biográfica e autobiografia, relatos de viagens e testemunhos históricos, reconto etnográfico e, em especial, crónica –, nesta nossa cartografia de O Delta Literário de Macau, primeiro volante de um políptico a completar, consideramos a “literatura” no sentido específico de criação imaginativa em arte verbal.
Tomamos, assim, por “literatura de Macau em língua portuguesa” a criação estético-literária de autores que em Macau se descobrem ou afirmam escritores, que em Macau são editados e/ou criticados, reconhecidos e avaliados como escritores – acrescendo que, não em todos os casos mas em grande parte deles, não figuram no cânone da literatura portuguesa de acordo com os meios de reconhecimento, legitimação e valorização do seu funcionamento institucional (editores e críticos, professores e conferencistas, júris e associações, manuais e programas escolares, etc.).
Nesta literatura de Macau em língua portuguesa podemos ver confirmado e ilustrado que toda a escrita é, de algum modo, registo de certo momento de uma identidade em processo, num devir de estabilização ou de crise. Como ao longo dos séculos e em todas as latitudes, a escrita literária que agora estudamos revela-se em Macau um  modo especial de dizer esse momento; e revela-se também um fazer ou refazer da sua contingência em processo de comunicação (e de autocomunicação).
Quer nos géneros da “escrita do eu” (diário e memórias íntimas, epistolografia e narrativa autobiográfica, etc), quer no endosso ficcional a personagens romanescas ou dramáticas, a literatura desde sempre figurou e reconfigurou trajectos de formação de identidades – individuais e comunitárias, grupais e nacionais -, fazendo sentir que isso envolve muito de história das relações da subjectividade ou da entidade colectiva com o seu mundo próprio e com o universo espacial e temporal dos outros seres e das outras comunidades.
Todas as individualidades e todas as comunidades vivem aí a passagem da ordem da natureza para a ordem da cultura; todas vão modelando o real de acordo com suas línguas e demais sistemas de signos, com a historicidade das mundividências, dos horizontes de saber e de crença, dos sistemas de valores e de comportamento; e todas prosseguem  a redefinição das fronteiras do corpo ou território próprio e das interdependências existenciais, com um sentimento de continuidade temporal.
Este sentimento radica na memória singular e colectiva de um património de experiências e ideais, exige empenhamento nas tarefas do presente, gera expectativas e pede projectos para o futuro.
Embora o cuidado de definir conceitos de identidade e o interesse em explorá-los no jogo de forças dos indivíduos e das comunidades seja típica da modernidade, a vivência dessas identidades e o confronto com outras identidades atravessa toda a história do humano, sofrendo metamorfoses no processo de permanências e mudanças que lhe é inerente.
Talvez também se deva pensar o mesmo em relação a outro aspecto que, no entanto, se foi tornando mais forte e mais consciencializado na era contemporânea: deu-se a erosão dos modelos identitários tradicionais e do seu discurso monológico com suposta base numa essência, e, em contrapartida, vem prevalecendo a convicção da relatividade histórica e contextual das identidades, da sua natureza pluridimensional e da sua interdependência de outras identidades.
Assim, sendo inegável que continua a fazer-se sentir a necessidade de “reconhecimento” em que se joga uma função identitária, confirma-se hoje o que talvez já pudéssemos ter lido nas representações e figurações literárias do passado, isto é, que o humano individual e colectivo, interpessoal e inter-nacional, deriva sempre numa dialéctica de identidade e alteridade, de inclusão e exclusão, de estranhamento e acolhimento.
Mas a literatura, e em particular a literatura de autores ocidentais portugueses cujos caminhos e descaminhos da vida passaram pelo Oriente, mostra-nos mais: é nesse processo do confronto com o outro e com a sua diferença étnico-cultural e é no debate sobre a exclusão ou o acolhimento dessa alteridade que o sujeito da identidade em causa se pode conhecer melhor. Reconhece-se então com outros contornos e profundezas, sente o apelo de outra autenticidade, transforma enfim a sua identidade em função do confronto ou encontro com o outro.
Além disso, lendo sob nova luz essa literatura, daí ressalta que muitas vezes se trata da descoberta do “outro de si mesmo”: o abalo ou perturbação, que a aparente hiperidentidade do eu ou da comunidade sofre no encontro ou no confronto com o outro, gera condições propícias para aquela revelação do “outro de si mesmo”.  Convém lembrar agora que, pensando que a subjectividade se funda na distância da consciência de si, Levinas dizia: «o sujeito é hóspede e hospedeiro»; o sujeito há-de acolher o outro, porque desde logo tem de se acolher a si mesmo com um outro. Por isso, certa linha actual de renovação da leitura literária centra-se nessa relação de hospitalidade que abre a perspectiva da diferença e da sua compreensão vivencial.
Partindo dos próprios géneros tradicionais da “escrita do eu”, essa interpretação da escrita como hospitalidade e como auto-hospitalidade estende-se depois a todas as realizações da lírica, da narrativa e da dramática. Não tem dificuldade em se ilustrar na análise de diários e memórias íntimas, de obras de epistolografia e de autobiografia, etc; mas, ao mesmo tempo que vai evidenciando como todas essas modalidades de escrita do eu se tecem numa tensão entre o sonho impossível de plena fusão em si mesmo e de consciência das reservas de alteridade que em si se escondem,  também não tem dificuldade em descobrir a urgência de introspecção e auto-retrato em autores de memórias histórico-sociais (caso de Raul Brandão e tantos outros), de ensaios (afinal, desde a matriz em Montaigne…), de escritos aforísticos (caso de escrita hospitaleira dos pensamentos singulares), de biografias (a tal ponto era pressionante a emergência de traços idiossincráticos e existenciais do autor por detrás da história do biografado, que hoje entrou em voga o romance do biógrafo…), etc. 
Esta orientação de leitura traz assim nova valorização do alcance antropológico da literatura como auto-interpretação e imaginação simbólica do humano.
Essa valência da antropologia literária reforça-se ainda porque muitos textos comprovam que os gestos e movimentos de reconhecimento e de hospitalidade buscam e motivam gestos e movimentos de reciprocidade. E comprovam que, mesmo quando falta essa reciprocidade, os ganhos de autoconhecimento e auto-acolhimento podem proporcionar e acalentar processos de resiliência das identidades fragilizadas, feridas, prostradas. Podem motivar recuperações de autoconfiança e superar situações adversas à realização das potencialidades de cada homem ou de cada povo.
A refracção poliédrica que o humano encontrou na literatura de todos os tempos, e com especial acuidade na literatura moderna, traz-nos sem dúvida a contraface dessa hospitalidade na escrita e dessa resiliência pela escrita, isto é, não deixa de patentear tendências de repúdio da hospitalidade (e até da auto-hospitalidade, como se vê, por exemplo, em Rimbaud) e de exclusão violenta, com regressões do humano à cruel bestialidade (como se vê em Conrad, por exemplo).
Mas essa contraface não exclui a outra face da natureza humana nas contingências da historicidade – facto de que temos a contraprova irónica na retórica da alteridade que durante muito tempo estruturou, de forma mais ostensiva ou mais subtil, o discurso da novidade trazida pela viagem (como no caso português muito bem exemplifica a escrita da famosa Carta do Achamento do Brasil, por Pêro Vaz de Caminha).  
Ora, um tipo de literatura onde o entrechoque de tais tendências melhor se manifesta é precisamente o que incide na viagem – quer pensemos no sentido genológico  do que habitualmente se designa por “literatura de viagens” (e já aí deparamos com enorme variedade de motivações, de características temáticas e formais, de efeitos pragmáticos), quer alarguemos a nossa visão para todas as modalidades de figuração da vida e da morte como viagem (outra valência antropológica da literatura, na medida em que representa ou imagina a condição do ser como Homo viator, em religiosa peregrinação para a Transcendência celeste ou por deslocação agnóstica na imanência terrena), quer tentemos actualizar o tópico da obra ou da escrita como viagem –  viagem que é significado e metonímia, viagem que é significante e metáfora.
Depois, a modernidade literária trouxe uma melancólica auto-reflexão – uma melancolia que, no fundo, está relacionada com a incerteza que o sujeito passa a sentir acerca de si mesmo, tanto quanto passa a pensar-se não como um dado determinado e estabelecido a priori, mas sim como uma possibilidade que tem de ser constituída no texto… e que nunca lhe garantirá uma identidade definida e definitiva.
E tudo isto tem muito a ver com a obra de tantos escritores portugueses  que aportaram ao Oriente, alguns a Macau, e praticaram a arte literária “das lonjuras” (como diria Jean-Marc Moura) nem sempre hipotecada à construção do “orientalismo” como modo de discurso colaço da estratégia imperialista do Ocidente – desde Camões e Fernão Mendes Pinto até Ruy Cinatti e Maria Ondina Braga, passando por Bocage e Tomás Ribeiro, por Camilo Pessanha e Wenceslau de Moraes, por Alberto Osório de Castro e António Patrício.
Quanto até aqui ponderámos sobre a experiência literária da problemática de identidade e alteridade e sobre as condições de uma escrita da hospitalidade, mormente num contexto de “viagem” a Oriente, ganha particular acuidade e, ao mesmo tempo, feição diversa na leitura dos autores da literatura de Macau em língua portuguesa – bom exemplo de valência da literatura como espaço de aprendizagem da alteridade.
Assim é desde logo pela condição alocêntrica que lhe reconhecemos, em relação quer à China quer ao Ocidente português, e pelo substrato genotextual que por isso pressupomos perante as suas criações estético-literárias, mas também pela condição peculiar do contexto macaense.
Com efeito, Macau distingue-se como espaço histórico de multiculturalismo, primeiro na coabitação desigual das comunidades portuguesa e chinesa e no alheamento ou desdém preconceituoso perante as respectivas culturas, mais tarde em progressiva diluição das fronteiras entre “cidade cristã” e “cidade china” e com avanços e recuos na atenção mútua aos traços peculiares das ancestrais tradições socioculturais, aliás refractárias a movimentos de hibridização.
Com raras quebras dessa ausência de interacção de culturas ao longo dos séculos, é recente o pendor de práticas verdadeiramente interculturais, peculiares da contemporaneidade – sem rasurar as incompreensões, patentes ou veladas, que são afinal inerentes aos fenómenos de contacto entre culturas e povos (como oportunamente alegoriza Ana Maria Amaro na última narrativa, «Aves de arribação», das Aguarelas de Macau).
Gradativamente caldeada no crisol da “estética do diverso” (na acepção poetológica do poliglotismo cultural, trabalhada pelo com conhecimento de causa pelo escritor e pensador antilhano Édouard Glissant), a literatura de Macau foi despertando primeiro para o pitoresco de usos e costumes chineses ou a “cor local” do espaço macaense de multiculturalismo, sobretudo através do etnografismo lírico e romanesco. Só hodiernamente vem reflectindo (e desse modo reforçando) a interculturalidade, com o jogo de relações intertextuais, de traduções e recriações, de citações e empréstimos linguísticos, de apropriação de símbolos e mitos, etc.
Se Macau se distingue por esse processo faseado de estádios de multiculturalismo e diferentes estádios de interculturalidade, a literatura de Macau em língua portuguesa também se distingue pela comparticipação faseada nesse processo, ao mesmo tempo reflectindo e promovendo a componente intercultural da identidade plural e aberta de Macau.

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Não escasseiam oportunidades e razões para evidenciarmos como no delta literário de Macau é recorrente a exploração ficcional e lírica da geografia física e humana do território, não já como mera manifestação epigonal de intuitos naturalistas ou realistas, mas sim segundo uma geopoética que – como sabemos melhor desde Bachelard até à Escola de Limoges – modeliza relações criativas entre as figurações formais e semânticas dos espaços macaenses, mas subentendendo que esses espaços geofísicos são indissociáveis dos processos históricos e das dinâmicas sociais e culturais que neles ocorrem e do imaginário que neles se projecta e se sedimenta. Eis aí mais uma vertente do delta literário de Macau, às vezes polarizada pelo apelo mitográfico em torno do que Luís Sá Cunha chamou o topos sagrado de Macau, e cuja exploração deixamos in progress, no âmbito aliás de implicações mais problemáticas de outra questão que a literatura como conhecimento nos chama a dilucidar – a dos traços identitários da literatura de Macau.
Não se justifica que nos continuemos a enredar excessivamente na reconsideração do problema do exotismo e do orientalismo. Todavia, não merecem ser descurados os elementos exóticos de uma literatura situada a Oriente, mas criada em óptica variável por escritores de origem ou de formação ocidental, deslocados e radicados em Macau ou filhos da terra com padrões axiológicos e culturais da portugalidade em diáspora (imperial ou pós-imperial).
A literatura estudada n’O Delta Literário de Macau confirma que os intelectuais macaenses se mantiveram apegados (com orgulho patente, ou com vinculação velada, ou até à contre coeur) às marcas históricas e culturais de identidade lusíada, como meio aliás de preservação da sua identidade comunitária (sino-lusa, não chinesa), sobretudo enquanto a própria aspiração de autonomia podia ser paradoxalmente sentida como interdependente da associação política com Portugal. Mas, mesmo enquanto tal, a mais genuína literatura de Macau em língua portuguesa deve também ser encarada como processo de legitimação da auto-imagem de uma “periferia” lusíada, mais do que como profissão do olhar imperial de um “centro” remoto (como diria a Mary Louise Pratt de Imperial Eyes. Travel Writing and Transculturation).
Importa, porém, chamar a atenção para a emergência de um orientalismo literário mais profundo do que os estereótipos que é costume patentear. Em nosso entender, Camilo Pessanha e Wenceslau de Moraes, Maria Anna Accaioli Tamagnini e Fernando Sales Lopes, mais alguns outros aparentados, vieram descobrir e assediar no Oriente, via Macau, um magistério esotérico, sempre com indefinido horizonte de sentido e com alcance prometido mas diferido, que vinha ao encontro de uma das mais subtis e sortílegas tendências da literatura ocidental: aquele sentido divinatório da vida analógica dos seres e das coisas, movida pela energia empática remanescente da unidade e da harmonia primigénias, e em que o poeta anseia iniciar-se para superar a cisão monádica dos entes e a dor da impossibilidade de comunicação plena e de plena comunhão no conhecimento e no amor.

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O trajecto que conduzimos através d’O Delta Literário de Macau permite uma percepção mais forte e mais esclarecida do devir dos centros de interesse e das motivações que de época para época foram movendo os seus escritores, das características temático-formais que subsequentemente adquiriram os seus textos, dos padrões por que se regeram, da cultura estética que a tudo isso foi subjazendo.
A esse propósito, achamos pertinente evocar certo passo, de reacção satírica e de auto-ironização local, em conto de Senna Fernandes («Ódio velho não dorme», texto notável de ilustração memorial ou ficcional do lema contido no título). Aí – já após a charneira do século XX, mas em paralelo com o que ocorrera em períodos precedentes – torna-se ficcionadamente notória a desactualização da cultura literária em Macau e a relação tardia ou frouxa com os estilos epocais euro-americanos e sua presença sincrónica na literatura portuguesa.
Tal como surge apresentado, em ambíguo radical de comunicação, só o protocolo de leitura que se estabelecer com o texto poderá determinar o seu estatuto discursivo. De qualquer modo, esse texto explora abundantes dados sobre vida em Macau durante décadas e abundantes coincidências com trajectória biográfica do autor (infância e juventude nas escolas de Macau, ida para a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, exercício da advocacia em Macau, idas a férias a Portugal, etc.); e depõe sobre a cartografia das correntes contemporâneas da literatura portuguesa, entre sátira (ao que de bluff e moda ideológico-cultural representa neste lance o pretensiosismo de Heitor, antigo amigo do liceu macaense agora lisboetamente distanciado) e auto-ironia (ao que de efectivamente retardatário, pouco informado ou pouco actualizado, terá tido a cultura literária do autor ou dos meios intelectuais de Macau): «Entre duas cervejas e debicando tremoços, estalando de superioridade intelectual, os dedos a aparar o bigodinho irritante, perguntou-me de chofre, sempre com o odioso “você” para trás e para diante, que opinião tinha eu do movimento neo-realista português. Volvi modestamente que não sabia de nada, só lera uma ligeiríssima referência num jornal de Macau. Teve claramente pena de mim e teimou no assunto. // E, na poesia, que opinião fazia de José Régio, Mário de Sá-Carneiro, Torga e Fernando Pessoa? Redargui esmagado que eram apenas nomes e não os estudara. E o movimento da Presença, o Orfeu? Nada, foi a triste resposta. Abanou a cabeça com dureza de quem está a perder tempo com um analfabeto.»
O nosso trabalho sobre o delta literário de Macau permite dar conta dos fluxos de curto, médio ou longo curso, em que se traduz esse fenómeno de cultura literária e os efeitos de arrastamentos temático e formal a que ele dá origem ou cobertura de boa consciência estética. Mas permite também descobrir, nuns casos, e corroborar, noutros casos, que o estado de coisas na república das letras macaenses se alterou sensivelmente nas décadas mais recentes; e que aquele retardamento e seus nefastos efeitos foram em grande parte fecundamente erradicados pela nova literatura de Macau em língua portuguesa.
A literatura de Macau, em especial no domínio da poesia, soube ir ultrapassando os estádios de simples concepção vivencial e de dicção elementar, caracterizado por uma ausência de construção e de densidade irónica, um derrame de cândido expressivismo com escassa “capacidade de inibição”, uma previsibilidade de temas e um gosto de estilemas estereotipados, sem rasgos de estranhamento perceptivo e expressivo – enfim, um versejar e um rimar que parecia alheado ou discordante das transformações trazidas pelo(s) Modernismo(s) de Orfeu e de Presença e pelos contrapontos do Neo-Realismo e do Neo-Modernismo nos meados do século XX, mais se mostrando temeroso dos riscos de inovação temática e de experimentação estilística. De época para época foram-se afirmando sinais iniludíveis de inconformismo com os padrões saturados e novos intuitos de expressão estética em equação com tendências literárias da Modernidade tardia.

José Carlos Seabra Pereira

2 Fev 2016

Lote do Pearl Horizon caducado

A concessão do Lote P do Pearl Horizon terminou o seu prazo de aproveitamento e foi declarada a sua caducidade, segundo publicação em Boletim Oficial, assinada pelo Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário. O prazo de arrendamento do lote em causa, destinado à “construção de um edifício, em regime de propriedade horizontal, constituído por um pódio com cinco pisos, sobre o qual assentam 18 torres com 47 pisos cada uma, as quais compreendem um piso de refúgio, afectado às finalidades de habitação, comércio, estacionamento e área livre”, expirou a 25 de Dezembro de 2015. Sendo uma concessão provisória não poderá ser renovada, segundo a Lei de terras. Têm sido vários os protestos relativamente ao caso Pearl Horizon tendo levado centenas de pessoas – proprietários das fracções – à rua em protesto e à entrega de cartas na Sede do Governo, apelando a uma resolução do problema.

 

1 Fev 2016

FIJ diz que liberdade de imprensa em Macau está mais deteriorada. AIPIM discorda

Um novo relatório da Federação Internacional de Jornalistas diz que a liberdade de imprensa em Macau piorou em 2015, mas a Associação da Imprensa em Português e inglês rejeita as afirmações e lamenta não ter sido ouvida

A liberdade de imprensa em Hong Kong, Macau e interior da China deteriorou-se em 2015, concluiu um novo relatório da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ). “A Liberdade de imprensa na China, Hong Kong e Macau deteriorou-se ainda mais em 2015, com o Partido Comunista Chinês (PCC) a usar de todos os meios à sua disposição para controlar a imprensa”, refere o relatório da FIJ.
Sobre Macau, o relatório refere um caso ocorrido a 15 de Março, em que um jornalista foi afastado por seguranças durante uma cerimónia de inauguração de uma exposição no casino MGM, quando tentava entrevistar responsáveis do Governo.
Outro incidente, reportado pelo All About Macau, remonta a 23 de Abril, quando profissionais da televisão MSTV foram bloqueados por pessoas não identificadas ao tentarem fazer a cobertura de um incêndio num dormitório da Universidade de Macau. A apreensão, a 21 de Maio, pelas autoridades do interior da China, de cerca de mil cópias de um livro lançado pelo activista Sulu Sou, antigo presidente da Associação Novo Macau, é também referida no relatório.

Credibilidade em causa

Contactado pela Rádio Macau, o presidente da Associação de Imprensa em Português e Inglês, João Francisco Pinto, rejeitou as conclusões do relatório. “Temos de lamentar que, uma vez mais, a FIJ produza um relatório sobre liberdade de imprensa em Macau sem ouvir todas as associações representativas do sector e dos jornalistas que trabalham em Macau. Já o ano passado esta crítica foi feita da nossa parte. A FIJ produz um relatório sem ouvir todas as pessoas envolvidas. Portanto, penso que isto coloca em causa a qualidade do relatório e a credibilidade do que é apresentado neste estudo”, apontou.
O também director de informação da Teledifusão de Macau referiu que “não se devem confundir opções editoriais e orientações editoriais de órgãos de comunicação social com diminuição da liberdade de expressão ou da liberdade de imprensa. A liberdade de imprensa é um valor que tem sido integralmente respeitado quer pelo poder político, quer pelo poder económico em Macau”, reiterou.

Aqui ao lado

Em relação a Hong Kong, o documento também prevê maiores pressões na cidade, que irá ter eleições legislativas este ano e escolher o próximo chefe do Executivo em 2017. “Atendendo a que Hong Kong vai a eleições no próximo ano, o partido está também a usar a sua considerável riqueza para consolidar a sua influência na região”, acrescenta.
Entre outras situações referentes a 2015, o relatório refere o caso do incêndio na casa do magnata da comunicação social de Hong Kong Jimmy Lai, e na sede da sua empresa Next Media, que publica o jornal Apple Daily.
Outro caso diz respeito ao jogo de qualificação para o Mundial 2018 disputado entre a China e Hong Kong, em que, segundo o Apple Daily, jornalistas foram detidos pela polícia durante três horas e acusados de “jornalismo ilegal”.
“A polícia também pediu para eles escreverem uma carta de arrependimento. Outros jornalistas queixaram-se que tinham sido identificados e levados pela polícia assim que chegaram ao estádio da cidade chinesa de Shenzhen”, acrescenta o documento.
O relatório do ano passado alertava para “as jogadas de bastidores”, numa altura em que as tensões permaneciam elevadas em Hong Kong, após mais de dois meses de ocupação das ruas no final de 2014, em protesto em prol do sufrágio universal.
Ken Tsang, um activista pró-democracia que foi alegadamente espancando pela polícia durante estes protestos, numa agressão captada pelas câmaras de televisão, disse na quinta-feira, após uma audição em tribunal, que a situação relativamente às ameaças às liberdades em Hong Kong era “terrível”.
O relatório da FIJ, apresentado no Clube de Correspondentes Estrangeiros de Hong Kong, indica que as perspectivas para 2016 para o interior da China são “piores”. As autoridades chinesas detiveram e pressionaram jornalistas, recorreram a confissões forçadas difundidas na televisão e a outros métodos, limitando e influenciando o jornalismo, refere o relatório.

1 Fev 2016

AMCM | Ajuste de economia menor do que 2015, aponta boletim

A economia de Macau vai continuar a “ajustar-se” em 2016, mas menos face ao ano passado, devido sobretudo a perspectivas menos sombrias relativamente ao desempenho do sector do Jogo, prevê a Autoridade Monetária de Macau (AMCM).
“A economia de Macau vai continuar em ajustamento, mas o ajustamento vai ser obviamente menor do que em 2015. A previsão de um ajustamento muito mais pequeno do Produto Interno Bruto (PIB), em termos reais, baseia-se principalmente nas expectativas menos sombrias para o sector do Jogo”, refere o Boletim de Estudos Monetários da AMCM, divulgado na quinta-feira.
Porém, a procura interna “vai enfraquecer” em 2016 em face de uma postura mais “cautelosa” nos gastos devido aos contínuos ajustamentos no ambiente macroeconómico, nos preços dos bens, e à esperada diminuição de projectos de grandes resorts-integrados”.
Além disso, a incerteza em torno de factores externos, como o ritmo de normalização da política monetária dos Estados Unidos, o ritmo da valorização da pataca contra outras divisas (que não o dólar norte-americano, ao qual a moeda de Macau se encontra indirectamente indexada por via do dólar de Hong Kong), e o desempenho económico dos parceiros comerciais de Macau vão “desempenhar um papel relevante” no sentido de influenciar as perspectivas de crescimento da economia de Macau.
A AMCM não avança, no entanto, previsões em termos do PIB, que nos primeiros três trimestres de 2015 se contraiu 25% em termos reais, devido à diminuição das receitas do jogo, principal motor da economia de Macau, que estão em queda desde Junho de 2014.

Pela positiva

O regulador prevê também uma inflação menor este ano, depois de, em 2015, Macau ter registado a mais baixa taxa desde 2010 (4,65%), atribuindo a expectativa de um abrandamento a factores internos e externos favoráveis, elencando “a queda dos preços do imobiliário e das rendas, a valorização da pataca e uma procura agregada mais fraca”.
O mercado de trabalho também deverá continuar “robusto” em 2016, de acordo com a AMCM, em face da expectativa de um aumento limitado na taxa de desemprego (foi de 1,8% em 2015) e da ocorrência de mudanças no universo laboral passíveis de gerir.
Em paralelo, em 2016 manter-se-ão os saldos positivos da Administração e a posição financeira de Macau continuar-se-á a reforçar, com o aumento da Reserva fruto da transferência do excedente orçamental, com o órgão regulador a destacar a perspectiva estável da RAEM, sustentada pelo ‘rating’ atribuído pelas agências de notação financeira Fitch e Moody’s (duplo A).
A estabilidade monetária e financeira de Macau “tem estado sob uma base firme” desde a publicação do anterior relatório, em Julho de 2015, não obstante o peso de “alguns factores de risco”, em particular, “ajustamentos na sua economia real e no mercado imobiliário, expectativa de aumento das taxas de juro e apreciação da pataca contra outras divisas que não o dólar norte-americano”, lê-se no documento divulgado pela AMCM.
Macau “tem mantido as suas forças estruturais num ambiente desafiante”, refere o órgão regulador, notando que “a economia aberta de Macau é resistente a choques externos pese embora a sua elevada sensibilidade” aos mesmos, conclui a AMCM.

1 Fev 2016

Liga Elite de Macau – Sporting, 8 – C.Portugal, 0

O Sporting de Macau venceu sem dificuldades a casa de Portugal, numa jornada de muitas goleadas. A liderança da Liga continua repartida pelo mesmo trio da semana passada. Num jogo de sentido único em que a Casa de Portugal não fez um único remate à baliza, o Sporting despachou facilmente o assunto com um resultado volumoso que apenas pecou por escasso dada a taxa de desperdício da equipa leonina

[dropcapstyle=’circle’]E[/dropcap]sperava-se que o Sporting dominasse este jogo já que a Casa de Portugal, além de ser uma equipa totalmente amadora, vinha desfalcada de uma série de titulares o que obrigou o treinador da equipa a montar uma equipa praticamente só com defesas pois pouco mais havia no plantel. Conscientes que era um jogo para atacar, o Sporting surgiu num 4-2-4 contra o “todos-lá-atrás-menos-um” da Casa de Portugal (CDP) e logo aos 30 segundos de jogo já surgia o primeiro remate à baliza de Tai Chou Tek. O jogo seguia com o Sporting a insistir e a CDP a resistir e aos 9 minutos, depois de um remate de Pio Júnior que obrigou o guarda redes da CDP a ceder canto, o mesmo Pio atirava a contar – canto da direita apontado por Walter uma primeira cabeça na área de um jogador do Sporting, bola a sobrar para Pio Júnior de cabeça a fazer o primeiro para os verdes. Um minuto depois Walter obrigava Tai Chou Tek a uma defesa apertada para canto e, na sequência, Pio ao primeiro poste, cabeceava por cima da barra marcando o tom para uma série de falhanços da equipa listada que se viriam a repetir partida fora. Aos 13 minutos, uma entrada na área pelo lado esquerdo de Wilson Lay, um dos mais irrequietos em campo, e um desarme na área da CDP que deixou dúvidas pois pareceu uma grande penalidade. O canto que se seguiu não fez história. Um minuto depois, centro com conta peso e medida do lado direito por Lei Seng Wen e bola colocada no miolo da área mas Vitor Emanuel, em posição central para a baliza e com espaço, conseguiu falhar o que parecia o segundo cabeceando por cima. E o jogo continuava com o Sporting a teimar, a falhar ou a ser repelido pela floresta vermelha da CDP que não conseguia, sequer, cruzar a linha de meio campo. Aos 20 minutos, Walter por pouco que não conseguia um canto directo colocando Tai Chou Tek em apuros mas conseguindo dar uma tapinha na bola por cima da barra. O canto que se seguiu foi fatal para as suas cores: Walter marca da direita e Pio, bem posicionado junto ao segundo poste, não falhou e atirou a contar. Aos 25 minutos numa jogada insistência, Pio entrou na área pelo lado direito centrou ao segundo poste para Wilson Lay, apesar da sua baixa estatura, cabecear ao ângulo da baliza da CDP. Estava feito o terceiro. Ainda antes do intervalo o Sporting conseguiu mais um golo com uma entrada de Wilson pelo lado esquerdo que rematou cruzado e rasteiro, o guarda-redes da CDP falhou incrivelmente a intersecção e André Moreira apenas teve de encostar ao segundo poste. A CDP ainda tentou umas tímidas reacções mas sempre que o fez utilizava apenas dois jogadores que eram sempre presa fácil da defesa do Sporting.

Vira o disco e toca o mesmo

Para a segunda parte a CDP tentou adiantar mais alguns jogadores e mudar um pouco as coisas com duas substituições logo aos 52 minutos, entrando José Carneiro e António Pinheiro para os lugares de Scott Tennant e Pedro Lemos mas era o Sporting que continuava a controlar as operações e, aos 56 minutos, Pio recebe um passe para a entrada da área acabando por rematar às malhas lateiras da baliza da CDP que pouco depois esgotava as substituições com a troca de Lee Jung Bum por Mak Gene Yu. Do outro lado, o Sporting tirava Lei Ka Man e fazia entrar Francisco César. Ao minuto 67 uma falta feia sobre Pio Júnior à entrada da área do lado esquerdo. O livre, superiormente marcado por Walter, leva a bola lá para lado direito à entrada da pequena área onde surgiu Vítor Emanuel a marcar o golo da tarde num remate cruzado à meia volta sem hipóteses para Tai Chou Tek. Pouco depois, o Sporting esgotava as substituições com as entradas de Taylor e Lee Keng Pan para os lugares de Manuel Moreira e Jorge Tavares e, aos 76 minutos fazia a meia dúzia de penálti. Um bom passe do turbulento Wilson para a entrada de Walter que viria a ser travado em falta. O mesmo Walter encarregar-se-ia do castigo: guarda redes para um lado, bola para o outro e estava feito o sexto. Já com o jogo quase a terminar, corria o minuto 82 e o recém entrado Taylor Gomes tirou um defesa da frente e rematou forte e colocado para o sétimo do Sporting. Três minutos depois Walter fechava a contagem depois de uma grande confusão na área da CDP e um falhanço incrível do guarda-redes que não conseguiu interceptar o cruzamento praticamente oferecendo o oitavo ao Sporting que Walter agradeceu. Depois deste autêntico passeio, o Sporting enfrenta no próximo dia 3 a equipa do Monte Carlo num jogo que, esse sim, será um verdadeiro teste aos comandados de João Pegado.

João Pegado – treinador do Sporting
“Temos de trabalhar a finalização”

“Já sabíamos quer éramos favoritos e que temos uma equipa superior pois somos profissionais e eles não. Mas o objectivo era ganhar e não sofrer golos e conseguimos ambos. E depois aproveitámos para treinar algumas rotinas de jogo”. Em relação aos falhanços, João Pegado concorda e diz que, “De facto falhámos muito e temos de rectificar para os próximos jogos pois contra as equipas grandes não podemos falhar tantos golos. Vamos ter de trabalhar a finalização para não comprometer os nossos objectivos.
Relativamente a perspectivas para o resto do campeonato, Pegado mantém uma postura prudente: “ Para já entrámos bem com três jogos e três vitórias mas eram equipas fáceis. O próximo jogo (n.d.r. Monte Carlo), esse sim, já é contra uma equipa do nosso campeonato e espero que estejamos à altura. Também temos jogadores a regressarem de lesão e que hoje fizeram alguns minutos, o que é bom para nós.

Pio Júnior – jogador do Sporting
“Objectivos cumpridos”

“Foi um bom jogo e cumprimos o objectivo que era vencer os jogos antes do Monte Carlo. Teoricamente eram jogos fácies mas não podíamos facilitar e foi o que fizemos. Relativamente às oportunidades perdidas neste jogo, Pio considera que “temos de melhorar na finalização porque nos próximos jogos não vamos ter tantas facilidades. Quarta feira temos um jogo difícil, talvez o mesmo o nosso primeiro teste, mas acho que temos tempo para o preparar bem e apresentarmo-nos em condições.”

Pelé – treinador da Casa de Portugal
“É difícil fazer um 11 só com médios e defesas”
Era um Pelé resignado mas ainda assim frustrado que encontrámos no final do jogo: “Já sabíamos que não dava mas também não contava que déssemos tantas facilidades como demos. Sofremos 5 golos de bola parada e eu já os tinha avisado porque o Sporting tem muitos bons jogadores em bolas altas. Também tínhamos de evitar faltas perigosas e cantos, mas não foi assim. Mas pronto, os meus jogadores também não são profissionais e depois a cabeça vai abaixo.” Em relação à postura ultra-defensiva apesar do resultado desde muito cedo desfavorável, Pelé explica assim: “O problema é que temos muitos defesas; uns não estão cá e outros só chegam a partir do Ano Novo Chinês e é difícil fazer um 11 só com médios e defesas. Temos 18 jogadores mas a maioria é pessoal defensivo. Em relação ao futuro, Pelé aguarda que “com a chegada dos outros daqui a um mês a equipa melhore um pouco mas as outras equipas também estão a reforçar-se e têm verbas que nós não temos porque, se tivéssemos, ia buscar dois ou três jogadores para dar uma força à malta. Mas pronto são amadores, têm empregos e só treinam à noite, temos de compreender.”

1 Fev 2016

Pedro Proença em Macau com muita parra mas pouca uva

[dropcap=’circle’]D[/dropcap]epois do seu périplo pela China de sete dias à China, que incluiu a negociação para o eventual patrocínio da II Liga pela empresa chinesa Ledman que fará com que a competição se passe a designar por Ledman LigPro, o Presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) passou por Macau onde falou com a imprensa na residência consular. Uma conferência de evasivas e perfumada de desejos onde as principais revelações terão sido que os clubes não vão ser obrigados a incluir os jogadores chineses como inicialmente foi adiantado pela imprensa portuguesa e o seu desejo em trazer a final da Taça da Liga para Macau. Relativamente à ida de jogadores técnicos chineses para Portugal, Pedro Proença disse que “qualquer posicionamento que se possa ter relativamente a estes novos actores é um posicionamento formativo. São os clubes que têm a última palavra relativamente a este sistema”.
Quanto a verbas Pedro Proença disse que o acordo “não representa uma receita directa para os clubes mas sim “a possibilidade de criar condições para que a II Liga possa ter uma sustentabilidade e ter sustentabilidade significa pagar todo um custo de estrutura, que tem de ser pago pela Liga. Aquilo que se pretende é ter uma II Liga que seja atractiva, e ela já é competitiva, e que os clubes possam desenvolver a sua actividade”, salientou.
Em resumo, para Proença o balanço da visita à China positivo: “Com esta viagem, o que conseguimos, e tivemos a percepção clara, é a de que o futebol português tem realmente condições únicas para, se reposicionado, poder alcançar feitos nunca antes alcançados, e enquanto presidente [da LPFP] estou extremamente satisfeito”. Questionado sobre um eventual maior controlo sobre as críticas feitas aos árbitros portugueses, à semelhança do que acontece noutros campeonatos europeus, Pedro Proença defendeu a revisão dos actuais regulamentos.
“Há uma convicção clara de que não poderemos dizer mal do produto que queremos vender. Da minha parte, serei o primeiro a defender esta tese e tudo farei para que os nossos regulamentos penalizem quem não trata bem aquilo que é hoje uma actividade e uma indústria que temos de defender”, afirmou.

Final em Macau? ID tem dúvidas

Em relação à final da Taça da Liga a realizar-se em Macau Pedro Proença manifestou essa intenção no âmbito da estratégia de internacionalização e de sustentabilidade da actual direcção. Todavia, confrontado com esta possibilidade, José Tavares, presidente do Instituto do Desporto (ID) tem dúvidas sobre o potencial de sucesso do projecto adiantando exemplos: “dos jogos internacionais realizados em Macau apenas o China-Portugal teve sucesso mas era a primeira vez que a China ia ao mundial, era a selecção portuguesa, foi uma campanha massiva e gratuita da TVB… já o Manchester se não fosse o Venetian a comprar os bilhetes tinha sido um fracasso e o Chelsea e o Barcelona também não funcionaram”, garante José Tavares.
A grande preocupação deste responsável governativo é, portanto, como se vão preencher os 15.000 lugares do estádio e até que ponto a Liga Portuguesa de futebol tem, ou não, a capacidade de fazer a promoção e garantir os apoios necessários. Da parte do ID existe disponibilidade para apoiar, nomeadamente com a cedência de instalações, mas apenas “se a Associação de Futebol der o aval pois são eles que gerem o futebol em Macau”, salientou José Tavares.

1 Fev 2016

Hong Kong | Polícia considera desaparecimento de livreiro caso sensível     

[dropstyle=’circle’]O[/dropstyle] comissário da polícia de Hong Kong, Stephen Lo, disse no sábado que o desaparecimento do livreiro Lee Bo é um caso sensível e que não quer tirar conclusões precipitadas.
Lee Bo desapareceu em Chai Wan (Hon Kong) a 30 de Dezembro, e foi o último de cinco homens relacionados com uma editora da cidade a desaparecer desde Outubro do ano passado. A forma como Lee atravessou a fronteira sem qualquer documento continua por esclarecer.
Ao falar num programa da Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK), o comissário da polícia disse que ainda estava a aguardar respostas das autoridades do interior da China, já que actualmente não há um prazo para o mecanismo de notificação entre Hong Kong e a polícia chinesa.
Os misteriosos desaparecimentos despertaram em Hong Kong o receio de que as autoridades chinesas tenham recorrido a agentes clandestinos para proceder à detenção dos cinco livreiros, o que, a ser verdade, constituiria uma flagrante violação do princípio “Um País, dois sistemas” da Região Administrativa Especial chinesa que lhe confere autonomia relativamente a Pequim.
Stephen Lo disse, porém, que até à data não havia casos provados de actuação da polícia chinesa em Hong Kong, e que a investigação iria continuar até ao reaparecimento de Lee Bo.
Numa medida sem precedentes, a polícia de Guangdong (interior da China) respondeu publicamente nos últimos dias, ao enviar uma carta sobre o livreiro Lee Bo à imprensa de Hong Kong.
Na carta, as autoridades chinesas disseram que notaram a onda de preocupação em Hong Kong, mas que não tinham mais nada a acrescentar além do que já tinham dito às autoridades da antiga colónia britânica.
No entanto, o deputado do Partido Democrata James To, que integra o painel para a segurança no Conselho Legislativo, não ficou satisfeito com a resposta.
James To disse que era um “absurdo” que a polícia de Guangdong apenas pudesse repetir o que já tinha sido publicado nos jornais, e pediu ao comissário da polícia para investigar o assunto.

Em parte incerta

A livraria Causeway Books, entretanto de portas fechadas, vende obras muito críticas do regime comunista, proibidos no interior da China.
Dois dos desaparecidos são cidadãos europeus (Gui Minhai tem passaporte sueco e Lee Bo é britânico).
Lee Bo, de 65 anos, foi visto pela última vez na quarta-feira, dia 30 de Dezembro, no armazém da Mighty Current, a casa editora proprietária da livraria, num caso que tem lugar semanas depois de quatro dos seus associados terem desaparecido em circunstâncias idênticas.
Gui Minhai, dono da casa editora, desapareceu enquanto estava de férias na Tailândia em meados de Outubro. O mesmo aconteceu a três outros associados à livraria ou à editora (Lam Wing-kei, Lui Bo e Cheung Jiping) depois de terem visitado, separadamente, o interior da China.

1 Fev 2016

Quatro mineiros resgatados após 36 dias no subsolo

O acidente que levou a que 29 mineiros ficassem presos no subsolo ocorreu durante o dia de Natal. Dos trabalhadores soterrados, 11 foram resgatados no dia seguinte, um faleceu, e 13 continuam desaparecidos

[dropstyle=’circle’]Q[/dropstyle]uatro mineiros que ficaram presos no subsolo durante 36 dias, na sequência do colapso de uma mina de gesso em Pingyi, na província de Shandong, no leste da China, foram resgatados, indicaram sexta-feira meios de comunicação estatais.
A operação para salvar os homens presos a mais de 200 metros de profundidade levou duas horas, tendo cada um sido transportado individualmente para a superfície numa cápsula estreita, segundo a emissora estatal CCTV.
Os homens, que não sofreram ferimentos graves, foram envoltos em cobertores, tiveram os olhos vendados, por causa da luz, e seguiram em ambulâncias.
Os quatro mineiros resgatados faziam parte de um grupo de 29 que ficaram presos no subsolo quando, a 25 de Dezembro, a mina em que trabalhavam desabou, tendo 11 sido resgatados no dia seguinte e um morrido, enquanto 13 continuam desaparecidos.
Identificados pela CCTV como sendo Hao Zhicheng, de 50 anos, Li Qiusheng, de 39 anos, Guan Qingji, de 58 anos, e Hua Mingxi, de 36 anos, os homens foram contactados no passado dia 8 pelas equipas de resgate, que lhes enviaram alimentos, roupas e lâmpadas por um túnel, mas as condições geológicas complicadas – com instabilidade estrutural e queda de pedras – tornaram o resgate difícil.
O proprietário da mina cometeu suicídio por afogamento no local logo após o colapso, que constitui o mais recente acidente mortal num país onde as regras de segurança são frequentemente desrespeitadas para cortar custos, com gestos de corrupção a permitirem que os patrões persigam o lucro à custa da segurança dos trabalhadores.
Quatro funcionários do partido que ocupavam cargos de responsabilidade em Pingyi, onde a mina está localizada, foram afastados dos seus postos na sequência do acidente.
As autoridades locais tinham ordenado à mina em causa que parasse a laboração em Outubro, por motivos de segurança, mas ela continuou a operar secretamente, segundo o jornal Beijing Times.
Os acidentes resultantes da negligência com a segurança industrial, que causaram largas centenas de mortes na China em 2015, incluem deslizamentos de terras, explosões químicas e derrocadas em minas de carvão.
De acordo com o Governo chinês, os acidentes fatais estão em declínio, mas alguns grupos de direitos humanos argumentam que os números reais são significativamente mais elevados do que os oficiais, pois muitas situações não são relatadas às autoridades.

1 Fev 2016

Taiwan | Mulher proibida de entrar em Macau

Uma mulher de Taiwan foi impedida de entrar em Macau na segunda-feira por ter decorado o seu passaporte com autocolantes “Republic of Taiwan” que defendem a independência do território, informou a imprensa de Hong Kong

[dropstyle =’circle’]A[/dropstyle] mulher que na semana passada foi proibida de entrar no território ainda ligou para o Ministério de Negócios Estrangeiros da República da China (Taiwan) para pedir ajuda, mas acabou por ser deportada para Taiwan pelas autoridades da alfândega de Macau, informou o jornal Apple Daily, citado pela Hong Kong Free Press. Em Agosto, apoiantes da independência de Taiwan iniciaram uma campanha para a colocação de autocolantes nas capas dos passaportes taiwaneses.
Os defensores da independência advogam o uso de autocolantes “Republic of Taiwan” para tapar as palavras “República da China” e de autocolantes que retratam os monumentos emblemáticos de Taiwan para cobrir o emblema nacional.
O governo de Taiwan anunciou posteriormente que iria rever o regulamento que proíbe alterações ao passaporte. As alterações entraram em vigor no início de Janeiro. O director da Divisão de Administração de Passaportes, Chen Shang-yu, disse ao Apple Daily que entre 1 e 28 de Janeiro, a Agência Nacional de Imigração foi notificada de um total de 180 casos de viajantes com autocolantes nos respectivos passaportes.

Ouvidos moucos

O Ministério dos Negócios Estrangeiros tem advertido os passageiros para respeitarem a lei. Chen disse que o ministério respeita as opiniões políticas individuais, mas que o passaporte é um documento oficial que serve para propósitos de identificação no estrangeiro e que não deve ser usado como ferramenta política.
Também disse que, de acordo com os actuais regulamentos, os passageiros com autocolantes nos respectivos passaportes podem enfrentar um maior período de espera aquando da revalidação do documento, ou mesmo ver cancelados os seus passaportes. Em Dezembro, três taiwaneses com autocolantes nos passaportes também viram ser-lhes negada entrada em Singapura.
As autoridades disseram que os autocolantes dificultavam a verificação da autenticidade dos documentos. Apesar de esses passageiros se terem disponibilizado para os remover, foram na mesma impedidos de entrar em Singapura. O Instituto Americano em Taiwan pediu aos cidadãos taiwaneses para se dirigirem ao gabinete consular para remover os autocolantes, enquanto o departamento de Imigração das Filipinas advertiu que iria rejeitar os passaportes nessas condições.

1 Fev 2016

Chui Sai On | O ano das “oportunidades” e “sérios desafios”

[dropcap=’circle’]O[/dropcap] Chefe do Executivo, Chui Sai On, garantiu que o ano de 2016 será marcado por “significativas oportunidades para o desenvolvimento”, mas também por “sérios desafios decorrentes da coexistência de novos e velhos problemas e do aumento de riscos e de perigos”.
No seu discurso proferido no almoço de primavera com o Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau, Chui Sai On adiantou ainda que este ano será de “continuidade”, mas também de “novas realizações”. Sobre a nova gestão das águas marítimas, Chui Sai On disse que o Governo vai “apreender na sua plenitude o significado estratégico da definição das áreas marítimas e das delimitações terrestres sob jurisdição da RAEM, assumindo a responsabilidade de bem planear, gerir, aproveitar e desenvolver, integrando-as no plano de desenvolvimento para os próximos cinco anos, com vista a coordenar o desenvolvimento a longo prazo de forma mais ampla e assente numa macro perspectiva”.
O Chefe do Executivo frisou ainda que o Governo vai continuar a “promover a produção legislativa assente em bases científicas, a aplicação rigorosa das leis e a empenhar os maiores esforços na construção de um Governo e de uma sociedade assente na lei”.

29 Jan 2016

Reserva financeira perto dos 350 mil milhões

[dropcap=’circle’]S[/dropcap]egundo as estatísticas preliminares, no final de 2015 o valor total dos activos da Reserva Financeira da RAEM eram de 345,05 mil milhões de patacas, dos quais 131,88 mil milhões estavam na reserva básica e 213,17 mil milhões na reserva extraordinária. Dados da Autoridade Monetária de Macau mostram que, no capítulo do resultado de investimentos, os rendimentos líquidos cifraram-se em 2,41 mil milhões de patacas, correspondendo a uma rentabilidade anual de cerca de 0,7%. Quer isto dizer que dimensão total da Reserva Financeira traduziu-se num aumento de 40%, em comparação com o período homólogo do ano de 2014.
Já a Reserva Cambial registou, em finais de 2015, um crescimento “estável” contabilizando lucros líquidos no valor de 270 milhões de patacas, mostram os dados do Governo. O valor demonstra “uma rentabilidade anual de cerca de 0,3%”.
Segundo as estatísticas preliminares, os activos totalizaram 150,8 mil milhões de patacas, o que mostra um aumento na ordem dos 14% quando comparado com o período homólogo de 2014.
A Reserva Cambial da RAEM consiste na distribuição dos activos em produtos dos mercados monetários, “caracterizados pela elevada liquidez, segurança e capital protegido e em títulos internacionais de notação elevada”, assegura o Executivo.

29 Jan 2016

Taxa de desemprego abaixo dos 2% em 2015

[dropcap=’circle’]A[/dropcap] taxa de desemprego manteve-se abaixo dos 2% em 2015, ano em que foi registada uma quebra da economia, indicam dados ontem divulgados. “Em 2015 a taxa de desemprego foi de 1,8% e a taxa de desemprego dos residentes cifrou-se em 2,5%, subiram 0,1 e 0,2 pontos percentuais, respectivamente, face ao ano de 2014”, indica um comunicado divulgado pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC). Já no último trimestre de 2015 a taxa de desemprego foi de 1,9%. “Em termos de ramos de actividade económica, o número de empregados das lotarias, outros jogos de aposta e actividade de promoção de jogos foi de 81.300, menos 2900 indivíduos, relativamente ao terceiro trimestre e o de empregados da construção atingiu 51.100, menos 1800 pessoas. Em contrapartida, o número de empregados dos hotéis, restaurantes e similares foi de 57.300, mais 2500 indivíduos”, acrescenta o comunicado.

29 Jan 2016

Mais mortes devido ao frio

[dropcap=’circle’]U[/dropcap]m homem de 75 anos e uma mulher de 105 anos morreram nos últimos dias, vítimas de hipotermia, elevando para quatro os casos registados desde segunda-feira. Segundo os Serviços de Saúde, o doente “deu entrada no hospital público em ligeiro estado de hipotermia, mas devido a antecedentes de hipertensão e doença cardíaca acabou por falecer apesar dos esforços de reanimação”. No total já foram assistidas nos hospitais de Macau 16 pessoas por hipotermia, das quais há a registar quatro óbitos. Macau registou nos últimos dias uma vaga de frio rara, com as temperaturas a caírem para mínimos de há 60 anos durante o fim de semana passado. A temperatura baixou no domingo até aos 1,6 graus centígrados na Taipa Grande, situando-se entre os 2,4 e os 3,1 graus nos restantes pontos do território ao início da tarde, um valor que constituiu o mais baixo em 67 anos. Desde o início da corrente de ar frio, os serviços de urgência do hospital público e privado da região “não tiveram um evidente aumento do número de utentes”, frisam os SS.

29 Jan 2016

Comediante francês detido à chegada a Hong Kong

[dropcap=’circle’]O[/dropcap] controverso comediante francês Dieudonné M’bala M’bala, que tem sido condenado em França por comentários anti-semitas, foi ontem detido à chegada ao aeroporto de Hong Kong, cidade onde tinha espectáculos agendados.
O seu advogado, Sanjay Mirabeau, disse que Dieudonné ficou sete horas no aeroporto, depois de ter sido interceptado por agentes da imigração. A sua produtora, a Plume Productions, disse que ele poderia ser deportado.
Até à tarde de ontem não eram conhecidos os motivos pelos quais Dieudonné foi detido ou as razões pelas quais poderia vir a ser deportado.
O jornal South China Morning Post informou que o comediante foi detido na sequência de queixas apresentadas pelos consulados francês e israelita em antecipação aos seus espectáculos.
Os serviços de imigração de Hong Kong disseram que não faziam comentários sobre casos individuais.
No entanto, num comunicado em resposta a questões sobre o caso, o mesmo departamento disse que estava “comprometido em manter um controlo efectivo da imigração, negando a entrada de indesejáveis”.
Sanjay Mirabeau disse que não havia razões para o comediante ser detido.
“O seu novo espectáculo, ‘In Peace’, não tem nada contra a lei. Ele fala de plantas, de ecologia”, afirmou o advogado.
A sua produtora afirmou que Dieudonné M’bala M’bala disse que ele estava detido com os filhos no aeroporto.
“Ele deverá ser deportado nas próximas horas”, indicou a Plume Productions, em comunicado.

Em nome da ordem

O consulado francês confirmou que Dieudonné, de 49 anos, tinha sido detido por agentes da imigração à chegada ao aeroporto de Hong Kong.
“É uma questão de implementar as leis de imigração relevantes para as autoridades de Hong Kong”, disse um porta-voz do consulado à AFP.
O consulado acrescentou que não tinha pedido ao Governo de Hong Kong para evitar a entrada de Dieudonné na cidade.
Mas de acordo com fontes da polícia citadas pelo South China Morning Post, o consulado escreveu uma carta a manifestar preocupação sobre a visita do comediante, alertando que a mesma poderia desencadear “perturbações na ordem pública”.
A cidade de Hong Kong tem uma numerosa comunidade francesa, com mais de 120.000 franceses residentes registados no consulado.
Dieudonné é conhecido pela sua ‘quenelle’, o gesto que é visto como uma saudação nazi invertida, mas que ele insiste que é meramente anti-sistema.
O humorista tem tido alguns problemas com a justiça na Europa.
Um tribunal belga condenou-o a dois meses de prisão em Novembro por incitamento ao ódio por causa de alegados comentários racistas e anti-semitas que ele terá feito durante um espectáculo na Bélgica.

Mau currículo

No início do mês, o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem proferiu uma sentença conta Dieudonné relativamente a outro caso, ao decidir que a liberdade de expressão não protege “actuações racistas e anti-semitas”.
Dieudonné estava a protestar contra uma multa aplicada por um tribunal francês em 2009 por convidar para o palco um indivíduo que nega a existência do Holocausto. Foi condenado a pagar 10.000 euros pelo que foi considerado pelo tribunal como “insultos racistas”.
Em Março, um tribunal francês também sentenciou Dieudonné a dois meses de pena suspensa e multou-o por apologia ao terrorismo, por alegadamente ter manifestado simpatia em relação aos ataques contra o jornal satírico Charlie Hebdo e um supermercado judaico em Paris.
O comediante devia dar dois espectáculos ontem e hoje no Hong Kong’s Cyberport.

29 Jan 2016

Barnabas Koo, historiador, apresenta biografia sobre Gary Ngai

[dropcap=’circle’]B[/dropcap]arnabas H.M. Koo apresenta este sábado em Macau “A Witness to History: an Overseas Chinese in Mainland China and Macau”, uma biografia de Gary Ngai. O historiador conta curiosidades sobre o passado, o presente e o futuro da RAEM e fala sobre um livro que promete aprofundar a vida de uma das personagens fundamentais do território nos últimos 50 anos. Quem se deslocar à sessão receberá uma cópia gratuita do livro

O que o levou a escrever uma biografia sobre Gary Ngai?
Porque o senhor Ngai ainda está vivo e pode responder às questões sobre as suas experiências e motivações durante vários momentos históricos importantes. Pode não ser a mesma de outros, mas é autêntica – e como tal deve ser conhecida. Também é uma história única. Não conheço ninguém, morto ou vivo, que tenha voltado à China ainda jovem, tivesse estudado e servido como um dos tradutores de Mao, sobrevivesse à Revolução Cultural, se tornasse conselheiro do governador Português, assistisse às suaves negociações Sino-Portuguesas e, depois da passagem de Macau, tivesse continuado a enfatizar a identidade separada que é a RAEM e a sustentar a sua relevância neste século. front cover

O que podemos aprender com a vida de Gary Ngai?
Naturalmente, diferentes pessoas tirarão diferentes coisas do livro. Mas talvez a possibilidade de compreender quão precárias eram as circunstâncias para os chineses nos estrangeiro durante o século XX. A ascensão comunista na China, complementada com os processos de descolonização no Sudoeste Asiático, colocaram dilemas sérios para eles devido à concorrência de lealdades e identidades complexas que eram parte integrante do seu código genético. Espero que as pessoas na China reconheçam o sacrifício que muitos chineses emigrados fizeram, ou foram forçados a fazer, na jornada para que a China se tornasse numa superpotência mundial.  

De onde surge o seu interesse, como autor, sobre Macau, a presença portuguesa na região e a China?
Ao viajar pela China no princípio da década de 70, tive o privilégio de ficar alojado em alguns dos grandes hotéis estilo ocidental e mansões convertidas nos antigos ‘estabelecimentos estrangeiros’. Como é normal, fiquei extremamente consciente da presença ocidental na China e muito interessado na interacção com o Ocidente, como começou, como evoluiu e o seu impacto nas relações da China com o mundo. Inevitavelmente, esta história de convulsões trouxe-me a Macau – onde tudo começou.

É o responsável pelo “Desfile por Macau, Cidade Latina”. Macau e o Mundo Latino: o que é que isso realmente significa para as pessoas de ambos os lados?
É difícil de dizer, mas acredito que depende muito do tipo de contacto e se ele é prazenteiro ou traumático. Um ponto chave enfatizado por Gary Ngai no livro é que a educação e o contacto pessoa a pessoa são muito importantes. Quanto mais melhor, quanto mais feliz melhor. O Festival Latino de Macau e a promoção turística da cidade no estrangeiro são experiências positivas, especialmente se envolverem comida, entretenimento e desporto. Muitas pessoas concordarão com a dimensão do impacto que o cinema indiano e chinês têm na percepção que as pessoas têm dos povos, culturas e nações. Um jogo amigável de futebol entre um país da América Latina contra uma equipa de Macau, seja a que nível, pode ser um promotor efectivo da boa vontade e da compreensão. Este tipo de coisas deixam uma impressão muito mais profunda nas pessoas comuns do que quaisquer trocas de visitas entre funcionários governamentais. Barnadas Koo

Se fosse possível uma testemunha sobreviver em Macau durante 500 anos, quais seriam os destaques do seu relatório?
Que acabou tudo em bem e, acima de tudo, que subsistiu sempre a amizade durante o processo. Também os benefícios para ambas as partes, as contribuições foram adequadamente documentadas por outros. Mas acredito que um destaque saliente seria um povo – os macaenses. Eles são um povo de fusão, um cadinho de culturas, uma miríade de influências que convergiram na China durante esses 500 anos. Isto é algo que deve ser estimado, nutrido e celebrado. 

Recentemente tem-se falado muito sobre a identidade cultural de Macau. Na sua perspectiva, que identidade é essa?
A identidade de Macau – como a beleza – está nos olhos do observador. Nós vemos o que quisermos ver e isso depende muito do nosso círculo de amigos e das influências a que estamos expostos. No que me diz respeito, como historiador, a identidade de Macau é o seu património histórico – uma fusão de muita gente que fez de Macau a sua casa. Essencialmente chineses, portugueses e macaenses. Mas é uma realidade em permanente mutação. À medida que surge em Macau mais influência de filipinos e de americanos, eles também darão a sua contribuição para uma maior diversidade em Macau. Ao abraçarmos o passado podemos começar a olhar para o futuro com mais confiança.

Acha que a cultura de Macau tem tendência a desaparecer ou nem por isso?
Nem por isso. A cultura é dinâmica e responde aos esforços do Governo e grupos comunitários para a manter vibrante, útil e relevante. Tal como os imóveis na lista do património mundial, de que Macau tem muitos, a cultura requer um programa regular de manutenção e uma mentalidade inovadora para se adaptar às necessidades e às mudanças.   

Como vê Macau em 2049?
Vejo Macau firmemente integrado na Região do Delta do Rio das Pérolas económica e logisticamente. Na realidade, esta já é uma tendência actual. Administrativamente, apesar de estar programada a integração na R.P. China, não acho que Macau venha a ser automaticamente absorvida na província de Cantão. Independentemente daquilo para que o Governo Central possa evoluir, existem suficientes desafios estruturais e invejas domésticas para evitar que as ricas RAE’s sejam entregues de mão beijada a Cantão, o que só iria acentuar desequilíbrios. Neste cenário, acredito que será mais fácil para as ex-RAEs serem mantidas como entidades administrativas isoladas, directamente dependentes de Pequim. A natureza e extensão da representação democrática vai depender em muito da velocidade e da natureza das transformações políticas na China.

Da sua pesquisa sobre a presença portuguesa nesta zona do mundo, quais são os factos mais espantosos, ou interessantes, que descobriu?
Que apesar do declínio do império transoceânico de Portugal, Macau se tivesse aguentado durante tanto tempo sob o seu controlo. Claro que o debate sobre isto está aberto – se isso foi devido à ameaça da diplomacia de barcos de guerra, à utilidade de Macau para a China, ou a sua relativa insignificância para Pequim, ou outras razões.

Quase 500 anos após a chegada dos portugueses a esta região, como vê a evolução da relação entre Portugal, China e Macau e que retrato faz da situação actual?
É como se toda a gente estivesse a dançar com parceiros diferentes e músicas diferentes na mesma pista de dança. Portugal está sintonizado com a União Europeia, a China está focada em reclamar o seu ‘legítimo lugar’ no palco mundial, ao passo que Macau está focada no seu futuro económico. Espero que se ajudem e encorajem mutuamente para que representem bem o seu papel e fiquem todos bem vistos nessa pista de dança.    

Nota
O livro “A Witness to History: an Overseas Chinese in Mainland China and Macau” vai ser apresentado sábado pelas 15h00 na Associação de Ciências Sociais de Macau, Academia Jao Tsung-I, na Avenida do Conselheiro Ferreira de Almeida, nº 95 C-D.

29 Jan 2016

Vergílio Ferreira nasceu há cem anos

Apaixonado por questões existenciais, Vergílio Ferreira foi quem um dia disse que “o amor afirma, o ódio nega”. “Mas por cada afirmação há milhentas de negação. Assim o amor é pequeno em face do que se odeia. Vê se consegues que isso seja mentira. E terás chegado à verdade”

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]omemora-se hoje o centenário do nascimento do autor de “Manhã Submersa” ou “Esplanada sobre o Mar”, no seio de uma obra extensa onde a reflexão sobre a condição humana, as grandes interrogações do homem ou a procura de sentido para a vida foram uma tónica dominante. Para assinalar a efeméride dos cem anos de nascimento de Vergílio Ferreira, a Câmara Municipal de Gouveia inicia hoje um ciclo de um ano de comemorações para assinalar a vida e obra de uma das figuras incontornáveis das letras portuguesas.
O programa arranca com três dias consecutivos de actividades onde se incluem o lançamento da reedição das obras de Vergílio Ferreira (pela editora Quetzal), a reposição de um busto na praça de São Pedro (no centro da cidade de Gouveia), a inauguração de uma exposição e a realização de um colóquio.
Nascido em Melo, aldeia do concelho de Gouveia, no ano de 1916, o escritor viu os pais emigrarem para o Canadá quando tinha apenas nove anos ficando ele em Portugal com os irmãos mais novos. Uma experiência dolorosa que exorciza em “Nítido Nulo”. Aos 12 anos, após uma peregrinação a Lourdes, entra no seminário do Fundão e por lá fica seis anos. Uma experiência que mais tarde viria a dar origem a “Manhã Submersa”, um livro que retrata a vida de um conjunto de seminaristas oriundos de famílias pobres que se encontram num beco sem saída, entre uma suposta perspectiva de vida boa mas cheia de limitações em contraste com uma suposta liberdade em más condições de vida. Em 1980, Lauro António viria a trazer a história para o cinema e Vergílio Ferreira desempenha mesmo um dos principais papéis, ironicamente o de Reitor do Seminário. vergílio ferreira
Até se formar em Filologia Clássica em 1940, Vergílio – que apenas deixou o seminário quatro anos antes – dedica-se à poesia, nunca publicada, salvo alguns versos lembrados em Conta-Corrente e, em 1939, escreve o seu primeiro romance, “O Caminho Fica Longe”. Depois foi professor estagiário no Liceu D.João III em Coimbra e aí arranca a sua carreira docente que o levou a leccionar em Faro e no liceu de Gouveia (período em que escreveu “Manhã Submersa), acabando por se fixar no Liceu Camões até ao final da sua carreira.
Em 1992, recebe pelo conjunto da sua obra o “Prémio Camões” entre muitos outros galardões ao longo da sua vida. Faleceu no dia 1 de Março de 1996 em Lisboa e foi sepultado no cemitério de Melo, sua terra-natal, com o caixão virado para a Serra da Estrela, conforme era seu desejo.

“Não se pode esquecer Vergílio”

Em declarações à Lusa, a escritora Lídia Jorge, diz que Vergílio Ferreira precisa de ser lembrado e queixa-se do quase esquecimento a que o autor tem sido sujeito, dizendo que como o “mundo está organizado, neste momento, é muito difícil recuperar figuras como [a de] Vergílio Ferreira”, que considera “estarem um pouco afastadas, injustamente”. A escritora acrescenta ainda que “a escola e a universidade estão a descurar muito a obra de Vergílio, inclusive o romance ‘Aparição’ que é fundamental para os rapazes, entre os 16 e os 17 anos, que encontravam nessa obra uma grande projecção interior e aprendiam muito com esse livro, que desapareceu, e praticamente já não se lê”.


“Está a ser uma perda muito grande. Do ponto de vista estilístico, [Vergílio Ferreira] é irrepreensível, tem humor na escrita, tem caricatura, por alguma coisa era um admirador do Eça de Queiroz. Não é um sarcástico, mas um irónico, ele ensina”, rematou.
Antes de morrer, Vergílio Ferreira contou a Lídia Jorge o enredo do romance que contava ainda escrever. “É essa alegria de narrar que devia ser sublinhada” nestas celebrações, defendeu a autora.

“Fixei muito bem a história e pensei: é um livro semelhante aos outros, a história é a mesma, e, com o impacto da morte [dele], que aconteceu dois ou três dias depois, não fui capaz de a contar. A história era a mesma: a impossibilidade de amar a mulher, uma adoração pela mulher que desaparece, era a mesma fixação literária, que dá a impressão que nunca leu Freud”.

Obra Completa

Ficção
1943 O Caminho Fica Longe
1944 Onde Tudo Foi Morrendo
1946 Vagão “J”
1949 Mudança
1953 A Face Sangrenta
1954 Manhã Submersa
1959 Aparição
1960 Cântico Final
1962 Estrela Polar
1963 Apelo da Noite
1965 Alegria Breve
1971 Nítido Nulo
1972 Apenas Homens
1974 Rápida, a Sombra
1976 Contos
1979 Signo Sinal
1983 Para Sempre
1986 Uma Esplanada Sobre o Mar
1987 Até ao Fim
1990 Em Nome da Terra
1993 Na Tua Face
1995 Do Impossível Repouso
1996 Cartas a Sandra

Ensaios
1943 Sobre o Humorismo de Eça de Queirós
1957 Do Mundo Original
1958 Carta ao Futuro
1963 Da Fenomenologia a Sartre
1963 Interrogação ao Destino, Malraux
1965 Espaço do Invisível I
1969 Invocação ao Meu Corpo
1976 Espaço do Invisível II
1977 Espaço do Invisível III
1981 Um Escritor Apresenta-se
1987 Espaço do Invisível IV
1988 Arte Tempo
1998 Espaço do Invisível V (póstumo)

Diários
1980 Conta-Corrente I
1981 Conta-Corrente II
1983 Conta-Corrente III
1986 Conta-Corrente IV
1987 Conta-Corrente V
1992 Pensar
1993 Conta-Corrente-nova série I
1993 Conta-Corrente-nova série II
1994 Conta-Corrente-nova série III
1994 Conta-Corrente-nova série IV
2001 Escrever (póstumo)

28 Jan 2016

Fadas, luzes e muito amor nas vésperas do Ano Novo Chinês

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s Serviços de Turismo organizam, em conjunto com o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), realizam de 7 a 29 de Fevereiro, nas Casas Museu da Taipa e noutros pontos de Macau, um espectáculo de luzes com o objectivo de atrair visitantes para umas férias prolongadas e proporcionar um programa de lazer aos residentes. Assim, vão surgir instalações luminosas em mais de dez locais, mas o evento prevê ainda espectáculos de vídeo mapping 3D e um jogo interactivo para crianças.
Os contos de fadas e as histórias de amor são o tema deste evento que pretende interligar, a 14 de Fevereiro, a véspera de Ano Novo Lunar, o Dia de São Valentim, o sétimo dia do Ano Novo Lunar (Dia de Aniversário para todos) e o Dia dos Namorados Chinês (Festival de Lanternas). As instalações luminosas prometem 9999 rosas que estarão dispostas nas Casas Museu e na Freguesia de Nossa Senhora do Carmo – na Escadaria da Rua do Cunha, na Calçada do Quartel, na Av. Carlos da Maia, na Rua da Restauração, na Calçada do Carmo, no Jardim do Carmo e na Escadaria do Largo do Carmo.
O sapato de cristal da Cinderela serve de tema para a exibição de vídeo mapping em 3D numa história de reencontro de uma rapariga com um príncipe que viaja no tempo, em Macau, na noite do dia dos namorados. O jogo interactivo acontece após cada exibição de vídeo mapping e será ligado por via de uma bicicleta.

Concerto de São Valentim antecipado

O Concerto do Dia de S. Valentim, pela Orquestra Chinesa de Macau, que estava originalmente programado para o dia 14 de Fevereiro, foi antecipado para o dia 13, sábado, pelas 14h00 horas, continuando a acontecer na Igreja de Santo António. Com o intuito de promover a cultura chinesa, a Orquestra irá apresentar uma série de obras conhecidas, como a “Virgem Maria”, “Louvar a Deus”, “Amazing Grace”, “O Teu Doce Sorriso”, “Por Causa do Amor” e “Os Ratos Adoram o Arroz”, entre outras, de modo a promover a música chinesa. A entrada é gratuita e os bilhetes começam a ser distribuídos no local uma hora antes da actuação.

28 Jan 2016

Pacha procura Djs para tocar em festa de Madonna

Para assinalar a vinda de Madonna a Macau, o Pacha está a seleccionar DJs para a festa pós-concerto. Se se sente à altura, basta enviar para o Pacha uma breve descrição onde explica porque deve ser o novo “Rebel Heart DJ” junto com uma demo com as suas melhores misturas (via Soundcloud, ou algo parecido). Um painel de juízes irá seleccionar os melhores, sendo que serão escolhidos dois finalistas. O vencedor entrará no cartaz da “Rebel Heart Tour After Party” a acontecer no Pacha, sábado dia 20 de Fevereiro. O texto de apresentação e a demo devem ser enviados para charlesherbert@sc-macau.com ou pacha@sc-macau.com até às 23h59 do dia 6 de Fevereiro.



27 Jan 2016