Hoje Macau SociedadeComunidades portuguesas | Jorge Rangel destaca “especificidade” macaense A inclusão dos macaenses no possível mapeamento mundial das comunidades portuguesas foi tema de análise no colóquio “O que é ser lusodescendente?”, em Lisboa. O académico Carlos Piteira e Jorge Rangel, presidente do Instituto Internacional de Macau, falaram das especificidades da comunidade macaense Decorreu, na passada quinta-feira, no Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), o colóquio “O que é ser lusodescendente?”, onde foi debatido o projecto de mapeamento das comunidades portuguesas e a inclusão da comunidade macaense. A organização coube à Associação Internacional dos Lusodescendentes (AILD) e Observatório da Emigração. Paulo Pisco, deputado do Partido Socialista (PS) disse que os macaenses têm “um sentimento relativamente à sua origem e a sua ligação a Portugal, através da cultura, que não variará muito em relação ao que um descendente de portugueses possa ter nos Estados Unidos”, por exemplo, indicou. “Acho que há algo de sentimento comum de partilha das origens e das raízes”, frisou o parlamentar socialista, no primeiro painel do colóquio, sobre o “mapeamento das comunidades” portuguesas. No encontro também participaram Jorge Rangel, presidente do Instituto Internacional de Macau, e Carlos Piteira, antropólogo, ligado ao Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, que levantaram várias dúvidas em relação à comunidade macaense e à abrangência do conceito de diáspora e de comunidades portuguesas. Para Carlos Piteira, “o mapeamento tem potencialidades e limitações”, porque o que interessa para definir comunidades portuguesas “é a referência identitária”. Jorge Rangel realçou que a comunidade lusodescendente do Oriente existe há cinco séculos, e “com Macau sempre como ponto de partida e de chegada”. “Quando falamos de comunidades temos de ter sempre presente esta diáspora específica, com gente que nunca esteve em Portugal, mas sentiu-se sempre português”, sublinhou. Ser macaense na definição deste responsável é “muito mais do que a natureza étnica”, “é um estado de alma”. Jorge Rangel lembrou também que Macau foi muito útil à China, por ser diferente e para continuar a ser tão útil tem de ser diferente. Defendendo, por último, que o “mapeamento [das comunidades portuguesas] só vale a pena fazer contando com as suas associações e as suas diásporas”, concluiu que “é um projecto que tem de ser feito” e, para isso, precisa do apoio do Estado português à sociedade civil. Um “estado de alma” No encontro, Paulo Pisco defendeu ainda que o mapeamento das comunidades portuguesas tem flexibilidade para abranger cidadãos que, não sendo portugueses de nacionalidade ou lusodescendentes diretos ou próximos, por “estado de alma” se sentem portugueses. “Acho que a grande vantagem do mapeamento enquanto método de conhecimento de uma determinada realidade é a sua extraordinária flexibilidade”, afirmou Paulo Pisco. Assim, “se o objecto definido for o dos lusodescendentes de uma determinada origem é esse o objecto que se vai trabalhar”, detalhou. Segundo o deputado, o mapeamento das comunidades portuguesas “é de tal maneira flexível que permite que nada nem ninguém seja deixado de lado”. “E pode ser feito em função dos objectivos que tivermos, pode ser feito por governos, pode ser feito num nível maior de proximidade, como por exemplo pelas embaixadas e pelos consulados (…) e depois qualquer organização ou instituição pode fazer o mapeamento”, acrescentou. “A aplicação de método de conhecimento para as comunidades não tem nenhum limite”, garantiu. Portanto, aqueles que têm “estados de alma” de serem portugueses, para Paulo Pisco, também se incluem no mapeamento. “É claro que sim, porque os estados de alma revelam um determinado sentimento relativamente à sua origem, neste caso à origem portuguesa, e pode haver comunidades muito diferentes por estarem localizadas geograficamente em pontos opostos”, apontou.
Hoje Macau Grande Plano MancheteCasinos | Contratos assinados com investimentos de 100 mil milhões em elementos não-jogo As seis operadoras de jogo presentes em Macau renovaram o contrato de concessão para os próximos dez anos, comprometendo-se a aplicar “mais de 100 mil milhões de patacas” em elementos não relacionados com o jogo. Apostas culturais, em exposições e convenções e na busca de turistas estrangeiros dão pistas sobre o que a próxima década reserva “Neste concurso público, as seis empresas adjudicatárias comprometeram-se a fazer um investimento nos elementos não-jogo de mais de 100 mil milhões de patacas e quanto ao jogo cerca de 10 mil milhões de patacas”, disse, durante uma conferência de imprensa, o presidente da comissão do concurso público para a atribuição de concessões para a exploração de jogos de fortuna ou azar, André Cheong. A aposta em elementos não-jogo e visitantes estrangeiros são duas das exigências estabelecidas no concurso público pelas autoridades que esperam assim diversificar a economia do território, fortemente dependente das receitas dos casinos. “Depois de 20 anos de desenvolvimento, o jogo, tanto nas suas instalações básicas, como nos seus equipamentos, já tem uma certa dimensão, por isso o Governo não espera uma expansão ilimitada do jogo, tem de ser um desenvolvimento estável e, ao mesmo tempo, é preciso dar mais espaço de desenvolvimento dos elementos não-jogo”, acrescentou. Sobre a expansão desta vertente, André Cheong sublinhou ainda que as operadoras vão estabelecer planos anuais, sendo que já existem projectos para 2023, “como espectáculos e convenções”, apresentados no sábado numa conferência de imprensa que juntou membros do Governo e as seis empresas. Já o secretário para a Economia, também presente na sessão de sexta-feira, assegurou que será dada “primazia ao emprego local” e que a promoção de sectores não ligados ao jogo pode vir a “criar mais postos de trabalho para residentes”. “Estes poderão aproveitar esta oportunidade para se desenvolverem profissionalmente. No sector do jogo há muitos trabalhadores que vão mudar de carreira”, assumiu Lei Wai Nong. Virar de página A MGM Grand Paradise, que ficou em primeiro lugar no concurso público para a atribuição das licenças de jogo, referiu-se à assinatura do contrato como “um marco histórico”, salientando que vai “alinhar-se proactivamente com as orientações da nação para promover o desenvolvimento do turismo de alta qualidade”. “A nova concessão também abre uma nova oportunidade de desenvolvimento para mim. Com entusiasmo e espírito inabalável, vou dedicar-me a assumir as responsabilidades nos próximos 10 anos e cumprir os compromissos da empresa em Macau”, escreveu a directora executiva da operadora, Pansy Ho, num comunicado enviado à comunicação social. Já o director executivo da Sands China, Robert G. Goldstein, afirmou que a empresa se sente “honrada e ansiosa para continuar a investir no desenvolvimento de Macau, na sua diversificação e sucesso”. “Hoje olhamos para a frente com a mesma confiança e entusiasmo no futuro de Macau do nosso fundador Sheldon G. Adelson há duas décadas, quando se comprometeu com a visão do Cotai Strip”, disse, referindo-se ao fundador da operadora de jogo e ‘resorts’ integrados Las Vegas Sands, falecido em Janeiro do ano passado. Em representação da Melco Resorts, que ficou em quarto lugar, o presidente Lawrence Ho começou por agradecer ao Governo de Macau por ter “conduzido um processo tranquilo e transparente”, assumindo o compromisso de apoiar “o desenvolvimento saudável e sustentável da indústria do turismo e do lazer”. Também a Wynn Resorts garantiu “continuar a apoiar Macau como um centro mundial de turismo e lazer”. Num comunicado, a operadora mostrou-se “confiante com as oportunidades futuras significativas que o mercado reserva”. Por sua vez, a SJM (Sociedade de Jogos de Macau) Resorts, fundada pelo falecido magnata do jogo Stanley Ho, expressou “gratidão ao Governo da Região Administrativa Especial de Macau pela oportunidade de desenvolver o seu negócio existente” no território. Num comunicado, Daisy Ho, filha de Stanley Ho e directora executiva da SJM, sublinhou que com base no “rico património de 60 anos” da empresa em Macau, esta vai apoiar uma cidade “estável e próspera”. A Galaxy Casino, segunda classificada do concurso público, não publicou até ao momento uma reacção à renovação da licença de jogo. Vêm charters Um dos compromissos assumidos, e previstos nos contratos, passa pela atracção de turistas estrangeiros. A MGM Grand Paradise planeia aumentar a rede de vendas no exterior e organizar eventos nas filiais da Ásia e do Médio Oriente, para “atrair clientes de países estrangeiros directamente para Macau”, nomeadamente “através de voos charter”, disse a administradora delegada da empresa, Pansy Ho, na conferência de imprensa de apresentação do plano de acção para os próximos dez anos. A responsável, filha do falecido magnata do jogo Stanley Ho, salientou que dos 16,7 mil milhões de patacas de investimento para a próxima década, “15 mil milhões de patacas, aproximadamente 90 por cento, serão destinados ao desenvolvimento de mercados de visitantes internacionais e projectos não relacionados com o jogo”. No mesmo sentido, o irmão Lawrence Ho, administrador delegado de outra concessionária, a Melco Resorts, frisou que serão utilizados “dois aviões privados” da empresa para “atrair clientes com grande poder de consumo”. Ho, que espera apostar também em turistas europeus e do Médio Oriente, referiu que a operadora prevê gastar 11,8 mil milhões de patacas numa década, sendo que à volta de 10 mil milhões de patacas serão orientados para o segmento além-casino e, desses, 1,9 mil milhões para trazer visitantes de fora. A Galaxy, por sua vez, também quer “apostar em clientela com capacidade de consumo”, de acordo com o administrador delegado Francis Lui Yiu Tung, “porque esses clientes são quem pode fortalecer a economia”. Com uma previsão de aplicar 28,4 mil milhões de patacas na estratégia para os próximos dez anos, a empresa vai canalizar 96 por cento desse valor em projectos fora do âmbito do jogo. Tentáculos na fora Já a Wynn Resorts quer empregar 17,7 mil milhões de patacas na próxima década, dos quais 16,5 mil milhões de patacas em elementos não-jogo. Nos planos, está o alargamento dos escritórios de venda e agências no exterior, em vários países asiáticos e ainda no Canadá e nos Estados Unidos. “Vamos desenvolver parcerias regionais e internacionais com companhias aéreas que sirvam Macau e Hong Kong, e explorar voos charter e serviços de voos privados para os clientes”, notou o director financeiro e administrativo, Craig Jeffrey Fullalove. A Venetian Macau (Sands) é quem apresenta o investimento mais alto das seis operadoras, com a promessa de gastar 30,2 mil milhões de patacas, incluindo 27,8 mil milhões em programas não-jogo. Para atrair o mundo lá fora, o director executivo Wilfred Wong Ying Wai quer também “concentrar as despesas de marketing em mercados estrangeiros, incluindo na imprensa estrangeira e em plataformas de distribuição”. Por fim, a mais antiga concessionária a operar em Macau, a Sociedade de Jogos de Macau (SJM), representada pela administradora delegada Daisy Ho, também filha de Stanley Ho, apresentou planos para expandir a base de clientes além-fronteiras – numa primeira fase nos mercados do norte da Ásia e do Sudeste Asiático. “A SJM também aproveitará em pleno os seus próprios recursos e a extensa rede de transporte aéreo, terrestre e marítimo das empresas do mesmo grupo para proporcionar um serviço de transporte em conectividade sem descontinuidade aos visitantes internacionais”, assegurou a responsável. Cartaz da década Museus, parques temáticos, uma policlínica e um espectáculo do cineasta chinês Zhang Yimou fazem parte da estratégia futura das operadoras de jogo de Macau, anunciada, para transformar o território num “centro de turismo e lazer mundial”. Nos planos da Melco Resorts, que “apoia fortemente os objectivos de desenvolvimento do Governo”, está a construção da “primeira e maior policlínica privada de imagiologia e ‘check-up’ médico da região administrativa de Macau”, disse o administrador delegado da empresa, Lawrence Ho, em conferência de imprensa. “Vamos abrir já no próximo ano para consultas médicas”, referiu o responsável. Além disso, frisou, a Melco planeia ainda inaugurar em 2023 “o único parque aquático em Macau com instalações interiores abertas durante todo o ano”, em 2024, um parque de skate para “promover este desporto em Macau” e, no ano seguinte, o Museu Esplendores da China, um espaço “icónico e altamente interactivo”, com mil metros quadrados, para apresentar “a cultura milenar da China”. A empresa tem também nos planos o regresso do House of Dancing Water, no final de 2024. Pelas mãos da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), e da irmã de Lawrence Ho, administradora delegada da empresa, Daisy Ho, vão nascer outros três museus no território: um sobre a história do Hotel Lisboa, propriedade da empresa, outro sobre a história do jogo em Macau e ainda um espaço que versa sobre a cultura do jogo local – este último no antigo casino flutuante Palácio de Macau, que será restaurado e transformado num projecto que une restauração, compras, jogos e exposições culturais. A SJM prevê ainda a remodelação completa do Hotel Lisboa e parcial do Hotel Grand Lisboa, “num investimento total de 2,5 mil milhões de patacas”, adiantou Daisy Ho aos jornalistas. “O Grand Lisboa vai começar já e esperamos que esteja concluído em 2024 e entre em funcionamento em 2025. O Hotel Lisboa, dado que a dimensão é maior, precisa de mais tempo”, referiu. Daisy Ho revelou que existem também planos para a revitalização de zonas urbanas como a Avenida de Almeida Ribeiro, e Ponte-cais 16 e Ponte-cais 14, que vão ser transformadas numa “rua de restauração ribeirinha” Oásis de bem-estar O programa da MGM Grand Paradise, operadora que ficou em primeiro lugar no concurso público, prevê uma parceria com a “equipa do realizador chinês” Zhang Yimou e a uma empresa especializada em realidade virtual “para criar novos conteúdos e desenvolver tecnologia de espectáculos”. É esperado que o ‘show’ residente MGM2049 avance já em 2024. No domínio da saúde e do bem-estar, afirmou a administradora delegada da MGM Grand Paradise, Pansy Ho, vai nascer “um oásis urbano”, que é “o novo marco do turismo de saúde e bem-estar de Macau”. Francis Lui Yiu Tung, da Galaxy, ao falar sobre o futuro da operadora, começou por dizer que “perante a epidemia” há que ter “um pensamento inovador para enfrentar desafios”. “Acreditamos que, com liderança e Macau com as suas vantagens e os nossos projectos de entretenimento, lazer e cultura empresarial, podemos criar em conjunto um centro de turismo e lazer mundial”, considerou. Um parque temático, com uma área de construção de 61 mil metros quadrados, “orientado para visitantes em família” e um museu de arte com sete mil metros quadrados, com “aplicações de tecnologia criativa e imersiva”, destacam-se no plano de acção da operadora. Já a Venetian Macau (Sands), decidiu reaproveitar o actual Jardim Tropical, a sul do hotel The Londoner, “para criar um destino com aproximadamente 50 mil metros quadrados”, que inclui “um jardim de inverno icónico, juntamente com espaços verdes temáticos” e que se deverá “tornar num marco de Macau de renome internacional”. A modernização da Arena do Cotai e um novo centro de exposições e convenções, com 18 mil metros quadrados, são outras das propostas da operadora. Por último, a Wynn tem alinhavada a construção de um novo teatro, “para ser casa de um espectáculo único” e a criação de um espaço de restauração de gastronomia internacional que “será uma atração turística imperdível”, disse Craig Jeffrey Fullalove, diretor financeiro da empresa.
Hoje Macau EventosCCCM | Patuá e teatro em destaque no evento “Macau em Lisboa” O Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) promove este domingo um evento especial intitulado “Macau em Lisboa”, onde o patuá e o teatro feito em patuá estarão em destaque. A ideia é promover “uma tarde macaense onde a graça, o chiste próprio do patuá, bem-humorado e satírico, a música e a declamação poética” serão os protagonistas. Desta forma, pretende-se, com “Macau em Lisboa”, dar “a conhecer aspectos específicos da cultura macaense expressos através dos documentários “Natal e Ano Novo”, realizado pela Casa de Portugal em Macau e projectos dos Doci Papiaçam di Macau, nomeadamente a curta-metragem “Macau Sã Assi”, “Lorcha Di Amor”, peça de teatro e “Macau Champurrado”. Entre as 14h30 e as 19h haverá a apresentação do espectáculo com músicas de Natal protagonizado por Carlos Piteira e Jaime Mota e ainda uma conversa com as académicas Maria Antónia Espadinha e Ana Cristina Alves. Haverá ainda récitas em patuá.
Hoje Macau EventosTap Seac | Feira de Natal arranca este sábado Começa já este sábado a Feira de Natal promovida pelo Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), a qual irá decorrer nos 16 dias seguintes. O tema desta edição do evento é “Floresta Mágica” e a ideia é criar “um ambiente festivo, com um presépio de Natal, decorações luminosas e uma casa de Natal de madeira”. Haverá ainda tendas com a venda de presentes de Natal e petiscos, jogos e espectáculos itinerantes. A feira será dividida em zona de venda e zona de jogos. Na zona de venda, haverá 20 tendas de venda de presentes de Natal e oito tendas de petiscos. Serão convidadas empresas culturais e criativas locais e instituições de solidariedade social para participarem na exploração das tendas de venda de presentes de Natal, enquanto as tendas de petiscos serão exploradas por empresas de restauração com características, que irão vender vários tipos de alimentos típicos. A zona de jogos irá contar com actividades de diversão, tais como o comboio de Natal e o carrossel. Durante o evento, haverá ainda espectáculos itinerantes, tais como torção de balões do Pai Natal, palhaços malabaristas e magia, para que toda a família possa desfrutar de momentos de alegria em conjunto. Na feira, também serão colocadas quatro caixas de angariação referentes à actividade “Oferta de Alegria e Amor às Crianças no Natal”, uma actividade anual organizada pelo IAM, que permitirá aos visitantes da feira oferecer amor e carinho às crianças necessitadas. O último dia da feira será a 1 de Janeiro, estando aberta entre os dias 24, 25 e 31 de Dezembro entre as 14h e 24h. Nos restantes dias a feira acontece entre as 14h e as 23h, enquanto as instalações de diversão funcionam das 15h às 22h.
Hoje Macau EventosMuseu de Arte de Macau inaugura hoje nova exposição Chama-se “Começo Auspicioso: Tradições do Festival da Primavera na Cidade Proibida” e é a nova exposição patente no Museu de Arte de Macau (MAM) até ao dia 5 de Março do ano que vem. Haverá visitas para grupos na próxima terça-feira, 20, e no último dia da exposição. Nas palavras de Un Sio San, directora do MAM, esta é uma mostra “cheia de alegrias primaveris”, sendo uma “exposição temática de relíquias culturais do Museu do Palácio que está mais estreitamente associada ao quotidiano da vida das pessoas ao longo dos anos”. “Através de uma apresentação abrangente das cerimónias de Ano Novo da dinastia Qing, a exposição oferece aos visitantes uma festa cultural chinesa auspiciosa, festiva e colorida”, adiantou. A mostra inclui um total de 120 peças ou conjuntos de “preciosas relíquias culturais, incluindo caligrafia e pinturas, livros antigos, selos reais, mantos, ornamentos, objectos de ritos, instrumentos musicais e artesanato, apresentando na íntegra a paisagem cultural das celebrações do Ano Novo Lunar na corte Qing”. Desta forma, os visitantes podem ver as indispensáveis decorações do Festival da Primavera, tais como o trabalho caligráfico imperial Doufang com personagem carácter “bênção” (fu) do Imperador Qianlong, monósticos (chuntiao), deuses da porta, bem como a moeda de ouro como amuleto, bolsa e frasco de rapé oferecidos pelo imperador como prendas de Ano Novo. Além disso, podem também ser apreciados os requintados artigos de mesa usados para comer jiaozi (uma espécie de ravióli) e beber Chá das Três Purezas (Sanqing Cha) durante o Festival da Primavera no palácio imperial. Rituais e antepassados Esta exposição pretende também mostrar os rituais de veneração aos antepassados na corte Qing, uma vez que este acto e a realização de um banquete familiar no período do Ano Novo Chinês “reflecte o respeito e o cumprimento dos actos de piedade filial e amor fraternal por parte da realeza”. Encontramos aqui “diferentes rituais”, onde se inclui a escrita da primeira caligrafia de “bênção” (Fu), do Ano Novo ou “acolher banquetes de chá para honrar cortesãos talentosos”, personificando “a visão do imperador governante da sua família e do país”. A directora do MAM destaca que “a celebração do Ano Novo é mais bem representada pela realeza”, com os “ritos rigorosos, grande pompa, trajes deslumbrantes, presentes generosos”. “Tudo isto serve para fortalecer os laços familiares, manter a harmonia nas relações imperador-cortesãos, consolidar o Estado e melhorar as relações diplomáticas com outros países. Há significados auspiciosos, intenções políticas, acumulação histórica e conotação cultural em tudo”, concluiu numa nota sobre a exposição.
Hoje Macau China / ÁsiaWeibo | Indignação face a morte de interno de medicina A morte repentina de um jovem interno de medicina na China provocou ontem a indignação na internet, onde também há o temor de que a morte do estudante esteja ligada a uma possível rotura do sistema de saúde diante do fluxo de casos de covid-19. A epidemia está a espalhar-se muito rapidamente na China após o levantamento da maioria das restrições de saúde na semana passada e as autoridades admitirem que agora é “impossível” contabilizar todos os casos. A nova onda da doença representa o maior desafio para o sistema de saúde chinês – que sofre de subfinanciamento crónico – desde o início de 2020, quando muitos hospitais ficaram sobrecarregados e muitos profissionais de saúde adoeceram. O estudante de 23 anos teria morrido com uma crise cardíaca na quarta-feira, anunciou ontem a Faculdade de Medicina de Chengdu, no sudoeste do país. O jovem disse que se sentia mal depois de um dia de trabalho no hospital. A faculdade de medicina não vinculou sua morte à covid-19 ou a qualquer condição de saúde pré-existente. Entretanto, na rede social Weibo, equivalente ao Twitter na China, o caso já alcançou mais de 390 milhões de visualizações e as pessoas estão a exigir saber a causa da morte do jovem estudante de medicina.
Hoje Macau China / ÁsiaCovid-19 | Intensificada protecção a grupos mais vulneráveis A nova abordagem na luta contra o coronavírus aponta agora para o reforço das medidas de protecção dos mais vulneráveis e da vacinação dos idosos A China continua a optimizar as medidas de prevenção e controlo da epidemia da Covid-19, à medida que muda o foco da sua estratégia de resposta de conter novas infecções para prevenir e tratar casos graves. indica o Diário do Povo. Por enquanto, o país está a trabalhar para proteger os mais susceptíveis das infecções e atender às necessidades médicas das pessoas, informa o Diário do Povo. Na terça-feira, durante uma visita de investigação em Pequim, a vice-primeira-ministra chinesa Sun Chunlan pediu uma melhor protecção dos idosos, crianças, pacientes com doenças subjacentes, mulheres grávidas, pacientes em hemodiálise e outros grupos vulneráveis. A vice-primeira-ministra afirmou também que a tarefa urgente no momento é garantir o acesso dos cidadãos a serviços médicos e medicamentos, acrescentando que as instituições médicas devem tratar pacientes, sejam eles pacientes com covid-19 ou não. Estas directrizes estão em consonância com um novo conjunto de medidas anunciadas a 7 de Dezembro. As medidas de 10 pontos incluem propor quarentena domiciliar para casos leves e assintomáticos e reduzir os requisitos de testes de ácido nucleico para facilitar as pessoas a viajar e entrar em locais públicos. Importante vacinar Actualmente, as novas infecções em Pequim estão a crescer rapidamente, embora a grande maioria dos casos sejam assintomáticos e de baixo risco. Existem 50 casos graves e críticos em hospitais, a maioria dos quais tem condições de saúde subjacentes, de acordo com fontes oficiais. É mais provável o vírus causar doenças graves quando infecta idosos, disse Li Yanming, especialista em respiração do Hospital de Pequim, acrescentando que ser totalmente vacinado e receber doses de reforço pode reduzir significativamente a incidência de condições graves. Enquanto isso, os idosos são encorajados à vacinação. Wang Huaqing, um imunologista chinês líder, apontou que poucas pessoas com 60 anos ou mais tiveram reacções adversas à vacinação contra a Covid-19. Até terça-feira, 91 por cento das pessoas com 60 anos ou mais foram vacinadas, e 86,6 por cento foram totalmente vacinadas, e a taxa actual de inoculação completa entre as pessoas com 80 anos ou acima é de 66,4 por cento. Na quarta-feira, o governo anunciou que oferecerá uma segunda dose de reforço da vacina Covid-19 a grupos vulneráveis que receberam a sua primeira dose de reforço há mais de seis meses. Apenas semanas antes, o país lançou um plano de trabalho para melhorar a taxa de vacinação entre os idosos. Para idosos incapazes ou não dispostos a tomar uma injecção de uma seringa, vacinas inaláveis contra Covid-19 estão a ser lançadas em cidades, incluindo Pequim e Xangai, proporcionando-lhes uma opção livre de agulhas para se defender do vírus, indica o diário estatal. A China foca-se neste momento também em fornecer serviços médicos e de saúde para mulheres grávidas e crianças, destacando a importância da medicina tradicional chinesa no tratamento e prevenção.
Hoje Macau PolíticaZhuhai-Macau | Zona de Cooperação em Hengqin sob análise Decorreu esta quarta-feira a Reunião de Cooperação Zhuhai-Macau onde as autoridades das duas regiões discutiram os planos para a construção da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin. Foi também discutida a “promoção do desenvolvimento de alta qualidade da cooperação entre Zhuhai e Macau”, com o objectivo de serem “traçados em conjunto planos para impulsionar a cooperação bilateral, em diversas vertentes, rumo a um novo patamar de alto nível”. Huang Zhihao, secretário-adjunto do Comité Municipal de Zhuhai do Partido Comunista Chinês e Governador Municipal de Zhuhai, defendeu que, ao longo dos anos, Macau “tem prestado forte apoio ao desenvolvimento socioeconómico de Zhuhai”, tendo falado na importância de “uma cooperação contínua entre as duas partes, de forma mais abrangente, mais aprofundada e com elevado nível”. Por sua vez, o secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, disse que “nos últimos anos a cooperação entre Zhuhai e Macau em diversas áreas tem vindo a intensificar-se, tendo sido obtidos resultados significativos no controlo e prevenção da epidemia e alcançados novos progressos na construção da Zona de Cooperação Aprofundada”. Pretende-se expandir a cooperação em matéria de inovação tecnológica, a fim de acelerar a construção do Centro de Intercâmbio e Cooperação de Ciência e Tecnologia entre a China e os Países de Língua Portuguesa.
Hoje Macau SociedadePandemia | Teste para sair de Macau deixa de ser obrigatório Desde quarta-feira que quem sai de Macau deve cumprir apenas as regras do local para onde vai viajar, não sendo mais necessário realizar um teste PCR para sair do território. Segundo uma nota de imprensa do Centro de Coordenação de Contingência do novo tipo de coronavírus, “caso o local de destino não exija requisitos relevantes, não é necessário proceder à sua apresentação”. Além disso, “todas as pessoas que entrem ou saiam de Macau através dos postos fronteiriços de Zhuhai-Macau devem apresentar um certificado de teste de ácido nucleico com resultado negativo, realizado nas últimas 24 horas”. Esta medida dura até à meia-noite da próxima quarta-feira. IAS | Linha de apoio com mais de dois mil pedidos de ajuda A linha de apoio aos infectados do Instituto de Acção Social (IAS) recebeu, no primeiro dia, um total de 2.222 pedidos de ajuda. Segundo dados fornecidos por Choi Sio Un, chefe do departamento de solidariedade social do IAS, no programa Fórum Macau do canal chinês da Rádio Macau, tendo este dito que é mais complexo dar apoio aos idosos que vivem sozinhos ou pessoas com necessidades especiais. Desta forma, fez um apelo para que seja feito um pedido próprio para a linha 28700600. Há cerca de sete mil idosos, ou casais de idosos, que vivem sozinhos, segundo a base de dados do IAS.
Hoje Macau Manchete SociedadeAMCM | Macau volta a subir taxa de juros A Autoridade Monetária de Macau (AMCM) anunciou ontem uma subida em 0,50 pontos percentuais da principal taxa de juro de referência, seguindo o aumento anunciado na quarta-feira pela Reserva Federal (Fed) norte-americana. A AMCM fixou em 4,75 por cento a taxa de redesconto, valor que o regulador financeiro da região administrativa especial chinesa cobra aos bancos por injecções de capital de curta duração, de acordo com um comunicado. Por a moeda de Macau estar indexada ao dólar de Hong Kong, obriga à “uniformização, em princípio, da evolução da política das duas regiões no âmbito da taxa de juros”, disse. A decisão da AMCM surgiu depois de a Autoridade Monetária de Hong Kong ter anunciado a subida da taxa de juro de referência, devido ao aumento imposto pelo banco central dos EUA. O dólar de Hong Kong está indexado ao dólar norte-americano. Na quarta-feira, a Fed abrandou o ritmo da subida da taxa de juro e anunciou um aumento de 50 pontos base, para um intervalo entre 4,25 e 4,50 por cento. O Comité Federal de Mercado Aberto (FOMC) “procura alcançar o pleno emprego e uma inflação próxima de 2 por cento no longo prazo. Para apoiar esses objectivos, o Comité decidiu subir a taxa dos fundos federais para um intervalo entre 4,25 e 4,50 por cento”, anunciou o banco central norte-americano, em comunicado. Depois de quatro reuniões consecutivas em que anunciou uma subida dos juros de 75 pontos base, a Fed decidiu naquele que é o sétimo aumento desde Março uma subida de 50 pontos base, conforme esperado pelos mercados.
Hoje Macau SociedadeImobiliário | Visitas a casas caem 50 % após alívio de medidas As visitas a casas por potenciais compradores caíram cerca de 50 por cento desde que o Governo anunciou o alívio das medidas de combate à covid-19. Segundo o jornal Ou Mun, os dados são da agência imobiliária Haoliwoo, que fala de quebras entre 40 a 50 por cento face ao mês de Novembro. O director-executivo da agência, Chris Wong, diz que os actuais moradores, sobretudo os que têm idosos e crianças no apartamento, não querem abrir a porta, evitando também as saídas não necessárias. O responsável frisou que enquanto os casos na comunidade continuarem a subir, os proprietários e compradores vão continuar a adoptar uma atitude prudente. A recuperação das visitas aos imóveis à venda só deverá regressar aos níveis anteriores na primeira metade do próximo ano, uma vez que, em Hong Kong, a recuperação das visitas no sector imobiliário só se fez três meses depois de ter sido registado o pico da pandemia. Chris Wong adiantou que a subida das taxas de juro para os empréstimos à habitação é outra das razões para um menor volume de transacções de casas.
Hoje Macau Manchete SociedadeTNR | Mães durante pandemia forçadas a enviar filhos para terra natal Um grupo de trabalhadoras não-residentes que deram à luz em Macau durante a pandemia estão numa situação desesperante. Apenas com um visto especial temporário que não lhes permite ficar em Macau, os filhos têm ordens de expatriamento. Voos caros, quarentenas a pagar e baixos salários agigantam a desumanidade a que estão sujeitas as recém-mães Um dos segmentos da população que mais sofreu durante a pandemia foram os trabalhadores não-residentes (TNR). Hoje em dia, com a progressiva abertura de Macau, as dificuldades continuam a fazer-se sentir, em particular para as TNR que foram mães em Macau durante a pandemia, impedidas de sair do território por não terem voos, nem formas claras para regressar a Macau. O Macau Daily Times noticiou ontem que um grupo de mulheres TNR que deram à luz em Macau enquanto vigoraram forças restrições fronteiriças, que as impediram de viajar para os países de origem, está numa situação de desespero com o limbo legal em que se encontram os seus filhos, com um visto especial e ordem das autoridades para saírem da RAEM. A débil situação económica e laboral destas trabalhadoras, aliada à exigência de quarentenas pagas e às imposições das autoridades de saúde no regresso a Macau, afasta qualquer hipótese de visitar a família. A redução das restrições de viagem para TNR apenas foram postas em prática no passado mês de Novembro. Antes, apenas quem tinha permissão expressa dos Serviços de Saúde podia regressar a Macau. Face a estas condicionantes, muitas migrantes viram-se impelidas a dar à luz em Macau apesar das despesas e dos receios de perderem os empregos. Apelo ao coração O Macau Daily Times cita o exemplo de Windy Inez, uma mãe de 32 anos, que como muitas outras mães, está numa luta com os serviços de migração para que prolonguem o visto da filha, pelo menos, até Janeiro, para além da época do Natal, quando as viagens forem mais baratas. “Recebi um aviso no dia 5 de Dezembro a dizer que o meu bebé tinha de ser enviado para casa. Deram-me 14 dias e fui informada de que este era o último visto que a minha filha iria ter”, revelou Windy Inez ao Macau Daily Times, acrescentando que só pede mais tempo para conseguir dinheiro para pagar as viagens. Depois de receber a notificação das autoridades, a TNR, que trabalha como empregada doméstica, pediu ao empregador que lhe reservasse um bilhete de avião para regressar a casa. O pedido não foi acedido devido ao elevado preço das passagens aéreas. “Os meus amigos informaram-me de que quando pediram extensão dos vistos, o departamento de imigração pediu-lhes para apresentarem bilhetes de avião com a partida marcada para, pelo menos, cinco dias antes do fim da validade do visto”, indicou. Sem consolo Windy Inez está, ainda assim, numa situação privilegiada em relação aos seus compatriotas filipinos que trabalham para empresas e que precisam cumprir os requisitos exigidos pelo Consulado das Filipinas, antes de embarcarem de regresso ao país. Para voltar a Macau vindo das Filipinas, um trabalhador migrante precisa de estar inscrito na Oficina do Trabalho Estrangeiro das Filipinas e na Administração do Bem-Estar dos Trabalhadores Estrangeiros (OWWA na sigla em inglês), apresentar um certificado de emprego no estrangeiro emitido pelo Philippine Overseas Labor Office e ter seguro de saúde. Para ter acesso a estes documentos, é necessário apresentar um contrato e documentos assinados pelo empregador. “Tem sido stressante para nós, especialmente para quem trabalha em empresas e que tem pouquíssimos dias de folga. É também muito stressante porque se os nossos bebés não conseguirem visto, até as nossas autorizações de trabalho são canceladas”, afirmou Windy Inez. Outro entrave é o preço elevado do regresso para não-residentes, com quarentenas que custam, pelo menos, 3.000 patacas, além das 1.250 patacas pagas pelos cinco testes de ácido nucleico feitos durante o isolamento. Despesas elevadas para os trabalhadores que auferem os salários mais baixos do território.
Hoje Macau SociedadeCabo Verde | Macau Legend apresenta plano de retoma para resort Anunciado há muito pelo empresário local David Chow, o hotel-casino previsto para Cabo Verde tarda a sair do papel. Surgem agora notícias de que a Macau Legend vai apresentar um plano de retoma para o projecto, numa altura em que o grupo enfrenta dificuldades em Macau O presidente da Cabo Verde TradeInvest (CVI) disse ontem que a construção do hotel-casino do grupo Macau Legend, na Praia, teve “algumas dificuldades” devido às crises, mas informou que os promotores vão apresentar brevemente um plano de retoma. “Esse projecto tem conhecido algumas dificuldades de retoma, nem todas as empresas conseguem recuperar da crise, é preciso não esquecer que nós continuamos em crise, o mundo inteiro, não é só Cabo Verde, há a pandemia que teve os seus efeitos, há a guerra na Ucrânia, e há projetos que estão a recuperar mais depressa do que outros”, começou por explicar José Almada Dias, em declarações à Lusa, na cidade da Praia. O dirigente disse que a agência responsável pela tramitação dos projectos de investimentos no país tem estado em contacto com os promotores, que mostram essas dificuldades, mas afirmou que “alguma decisão terá que ser tomada”. “Eles ficaram de apresentar um plano de retoma brevemente”, adiantou José Almada Dias, avançando que se mantém o interesse dos promotores em avançar com o projecto, em que alguns trabalhos já foram feitos, nomeadamente uma ponte para o ilhéu de Santa Maria. “Mas, naturalmente, estamos a seguir muito atentamente o assunto, em estreito contacto com os promotores e também o próprio Governo está em cima do acontecimento e brevemente teremos que ter alguma decisão se o projecto avança rapidamente ou se terá que haver outras medidas”, insistiu. Questionado se o projecto poderá ser alterado, Almada Dias respondeu que não há indicações nesse sentido, insistindo que foi apresentado um plano de retoma das obras. “O projecto terá de avançar, com estes ou com outros promotores”, desafiou, sublinhando que, mesmo não sendo o caso, já aconteceu em outras latitudes em que um promotor tem dificuldade em avançar com um projecto e este pode mudar de mãos. “Não sei se será o caso, pelo contrário, os promotores estão a mostrar vontade de apresentar um plano de retoma e estamos esperançados que assim seja, por ser muito mais fácil”, vincou o presidente da CVI. Um longo projecto O grupo Macau Legend, do empresário local David Chow, anunciou em Março de 2020 que previa inaugurar no final de 2021 o hotel-casino na cidade da Praia, depois de em 2019 ter previsto a conclusão da obra para final do ano seguinte. Em Agosto de 2020, o ministro do Turismo cabo-verdiano, Carlos Santos, admitiu que a pandemia de covid-19 deverá atrasar a conclusão das obras, mas disse acreditar que o investimento não estava em causa. Em 2015, David Chow assinou com o Governo cabo-verdiano um acordo para a construção do empreendimento, tendo sido lançada a primeira pedra do projecto em Fevereiro de 2016. Trata-se do maior empreendimento turístico de Cabo Verde, com um investimento global previsto de 250 milhões de euros – cerca de 15 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) cabo-verdiano – para a construção de uma estância turística no ilhéu de Santa Maria, que cobrirá uma área de 152.700 metros quadrados, inaugurando a indústria de jogo no arquipélago. David Chow recebeu uma licença de 25 anos do Governo de Cabo Verde, 15 dos quais em regime de exclusividade na ilha de Santiago. Esta concessão de jogo custou à CV Entertaiment Co., subsidiária da Macau Legend, o equivalente a cerca de 1,2 milhões de euros. A promotora recebeu também uma licença especial para explorar, em exclusividade, jogo ‘online’ em todo o país e o mercado de apostas desportivas durante dez anos.
Hoje Macau EventosCinema | Realizador japonês Hayao Miyazaki terá novo filme em 2023 O realizador japonês Hayao Miyazaki vai estrear em 2023 uma nova longa-metragem de animação, ao fim de uma década, anunciaram esta terça-feira os estúdios Ghibli e a distribuidora Toho. O filme intitula-se “Kimitachi wa do ikiru ka” (“Como é que vives”, em tradução livre) e chegará aos cinemas japoneses a 14 de Julho de 2023. A longa-metragem inspira-se numa obra com o mesmo título, publicada em 1937 pelo autor de literatura para a infância Genzaburo Yoshino. Segundo a revista Variety, a narrativa é sobre um adolescente de 15 anos, numa viagem de amadurecimento espiritual, de descoberta da pobreza e do sentido da vida, com a ajuda do diário de um tio. Sem revelar mais detalhes sobre a produção, os estúdios Ghibli publicaram um detalhe de uma ilustração do que aparenta ser um pássaro, assinada por Miyazaki. Este será o primeiro filme de Hayao Miyazaki em dez anos, depois de ter estreado “As asas do vento” (2013). Na altura, o cineasta anunciou que iria reformar-se, mas acabou por se dedicar a mais uma longa-metragem de animação. Considerado um dos mais importantes criadores do cinema de animação, dentro e fora do Japão, Hayao Miyazaki está a poucos dias de celebrar 82 anos. Entre os seus filmes, distintivos pelo cruzamento entre fantasia e realidade, fortemente marcados pela espiritualidade, pela natureza e pela infância, estão “O meu vizinho Totoro” (1988), “A princesa Mononoke” (1997), “A viagem de Chihiro” (2001) – que lhe valeu um Óscar e um Urso de Ouro em Berlim -, “O Castelo Andante” (2004) e “Ponyo à beira-mar” (2008). É ainda autor de séries de televisão – como “Conan, o rapaz do futuro” – e manga (banda desenhada japonesa), como a série “Nausicaa”. Hayao Miyazaki foi ainda um dos fundadores, juntamente com Isao Takahata, dos estúdios Ghibli, de onde saíram todas aquelas produções.
Hoje Macau EventosPrémio A-Má | Seleccionados vencedores da segunda edição “Enigma da Primeira Lua”, de Edvirges Aparecida Salgado, é o trabalho vencedor da segunda edição dos prémios A-Má, promovidos pela Fundação Casa de Macau em Lisboa. Em segundo lugar ficaram dois trabalhos, “Macau Sempre”, de João Oliveira Botas, e “Tomásia”, de Shee Va. O júri decidiu ainda atribuir menções honrosas a cinco trabalhos apresentados a concurso, que serão anunciados posteriormente. A cerimónia de entrega dos prémios acontece amanhã, às 17h, na sede da fundação, na zona do Príncipe Real.
Hoje Macau China / ÁsiaPCC | Pedido avanço inabalável da reunificação nacional Um alto funcionário do Partido Comunista da China (PCC) pediu o avanço inabalável da causa da reunificação nacional. Wang Huning, membro do Comité Permanente do Bureau Político do Comitee Central do PCC, proferiu estas observações no 11.º Congresso Nacional de compatriotas de Taiwan, iniciado em Pequim na terça-feira, indica o diário do Povo. Wang disse que durante a última década – a primeira década da nova era – o PCC apresentou uma estrutura política geral para resolver a questão de Taiwan na nova era, promoveu o intercâmbio e a cooperação através do Estreito de Taiwan, e se opôs resolutamente às actividades separatistas destinadas à “independência de Taiwan” e à interferência estrangeira, mantendo assim a iniciativa e a capacidade de conduzir as relações através do Estreito. Wang acrescentou que nos últimos cinco anos as federações de compatriotas de Taiwan em vários níveis têm desempenhado um papel importante no avanço do desenvolvimento pacífico das relações através do Estreito e no aprofundamento do desenvolvimento integrado de vários sectores em todo o Estreito de Taiwan
Hoje Macau China / ÁsiaEsquadras | China admite existência de postos no estrangeiro, mas “sem actividade policial” A China reconheceu ontem que mantém “esquadras de polícia de serviço” no estrangeiro, mas negou que tenha exercido “actividade policial”, como denunciaram organizações de defesa dos Direitos Humanos incluindo em Portugal, acusando Pequim de perseguir dissidentes além-fronteiras. Um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês admitiu que Pequim “mantém uma rede de esquadras de polícia de serviço” no estrangeiro, mas sublinhou que não existem “esquadras de polícia clandestinas”, como denunciaram também países terceiros, como a Alemanha. Estas esquadras foram criadas “por grupos de chineses apaixonados no exterior” e são dirigidas por “voluntários comprometidos com a diáspora chinesa e não por agentes da polícia chineses”, segundo o porta-voz. Informações obtidas pela agência alemã DPA indicam que pelo menos “cinco altos funcionários” que trabalham nestas esquadras prestam assessoria jurídica a cidadãos chineses e alemães para solicitarem documentos ou realizarem processos burocráticos. As forças de segurança alemãs alertaram para a existência de duas esquadras chinesas clandestinas no país e indicaram que estas são alegadamente utilizadas para influenciar a diáspora chinesa no país, concluiu uma comissão parlamentar. Organizações de defesa dos Direitos Humanos estimam que existam cem esquadras deste tipo em pelo menos 50 países, incluindo em Portugal. Sem interferência O ministério dos Negócios Estrangeiros de Pequim insiste, no entanto, que o objectivo é “ajudar os cidadãos chineses que não puderam deslocar-se ao país durante a pandemia do novo coronavírus para que possam fazer exames médicos e renovar as cartas de condução”. As autoridades também afirmaram que esses centros “não violam a lei porque não realizam actividades policiais” e destacaram que a China “não interfere nos assuntos internos de outros países ou na sua soberania”.
Hoje Macau China / ÁsiaCovid-19 | País deixa de publicar dados sobre casos assintomáticos As autoridades de saúde dão continuidade ao fim da política de zero casos e anunciam o fim da publicação dos números de assintomáticos, alegando ser impossível precisar o número real de pessoas infectadas sem sintomas A Comissão de Saúde da China informou ontem que vai deixar de publicar dados sobre casos assintomáticos de covid-19, face à redução acentuada da frequência de testes PCR, que deixaram de ser obrigatórios. A agência governamental disse que parou de publicar o número diário de casos em que nenhum sintoma é detectado por ser “impossível compreender com precisão o número real de pessoas infectadas assintomáticas”, geralmente a grande maioria dos casos, de acordo com um comunicado. Os únicos números relatados são casos diagnosticados em instalações de teste públicas. Isto representa um desafio para a China, à medida que põe fim a quase três anos da estratégia ‘zero covid’. Como os testes de PCR em massa deixaram de ser obrigatórios e os pacientes com sintomas leves podem recuperar em casa, em vez de serem isolados em instalações designadas, tornou-se mais difícil avaliar o número real de casos. As ruas de Pequim permanecem silenciosas, com filas a formarem-se junto a clínicas de febre – cujo número aumentou de 94 para 303 – e às farmácias, onde clientes tentam obter anti-piréticos ou anti-inflamatórios. Apesar dos esforços para aumentar a vacinação entre os idosos, dois centros montados em Pequim para administrar vacinas permaneciam vazios na terça-feira. As chamadas para as linhas directas de saúde aumentaram seis vezes, de acordo com a imprensa estatal. Sem contar os casos assintomáticos, a China registou apenas 2.249 infecções “confirmadas”, entre segunda e terça-feira, elevando o total de casos no país para 369.918. O país registou 5.235 mortes pela doença, desde o início da pandemia, de acordo com dados oficiais. Procura-se funcionários Apesar do relaxamento das restrições, os restaurantes permanecem quase todos fechados ou vazios na capital chinesa. Muitas empresas estão a ter dificuldades em encontrar funcionários suficientes que não estejam doentes. Sanlitun, um dos distritos comerciais mais populares de Pequim, estava ontem deserto. Os hospitais também estão a ter dificuldades em manter o pessoal, enquanto os pacotes de entregas se acumulam nos pontos de distribuição, devido à escassez de funcionários. Algumas universidades chinesas anunciaram que vão permitir que os alunos terminem o semestre em casa, na esperança de reduzir o potencial de um surto maior do novo coronavírus, durante o Ano Novo Lunar, que se celebra no final de Janeiro. A China também parou de rastrear algumas viagens, reduzindo a probabilidade de as pessoas serem forçadas a cumprir quarentena por terem estado em zonas de médio e alto risco. Apesar disso, as fronteiras do país permanecem praticamente fechadas e não há informações sobre quando as restrições vão ser relaxadas para viajantes que chegam do exterior.
Hoje Macau EventosCasa Garden | Nova exposição de Eric Fok inaugurada esta sexta-feira Chama-se “Hotel Oriental” e é a nova exposição do artista de Macau Eric Fok que abre portas esta sexta-feira na Casa Garden, delegação da Fundação Oriente no território. Esta é uma mostra que visa mostrar o trabalho do artista vencedor do Prémio para as Artes Plásticas da Fundação Abre portas esta sexta-feira, às 18h30, na Casa Garden, a nova exposição individual de Eric Fok, um dos mais conceituados artistas de Macau da nova geração. “Hotel Oriental” visa dar a conhecer o trabalho de Eric que venceu uma das edições do Prémio para as Artes Plásticas da Fundação Oriente e que revela “a visão do artista sobre a história, a cidade, o ambiente, as pessoas e o mundo em geral”. Vencedor da segunda edição do prémio, Eric Fok está neste momento a fazer um doutoramento em Taiwan. Nas suas obras, Eric usa uma caneta técnica para desenhar no papel finos detalhes. As suas obras assemelham-se a mapas de estilo antigo que incorporam elementos contemporâneos. Partem da história dos Descobrimentos e incorporam as mudanças nas cidades causadas pelo desenvolvimento urbano bem como elementos dos fenómenos pós-coloniais. De acordo com o artista, “a exposição pretende apresentar obras que constituem mapas representativos de diferentes épocas e que focam aspectos como a exploração humana, a divisão de terras, os registos do avanço da civilização e da fome de poder e, ainda, o projecto para a construção de um mundo ideal.” Viagens e imaginário Eric Fok faz ainda referência, nesta mostra, à literatura de viagens e a mapas de viajantes do Ocidente, aventureiros e missionários. O Oriente histórico é re-imaginado com base nas suas experiências, reinterpretando a origem das colónias na época dos Descobrimentos, examinando questões urbanas como o desenvolvimento e a migração populacional. Os trabalhos do artista de Macau foram seleccionados para a “Exposição de Ilustração – Feira do Livro Infantil de Bolonha” (2013), tendo Eric recebido também o Prémio Soberano de Arte Asiática (2019). Foi ainda seleccionado para a “Bienal Internacional de Arte de Macau (2021). Eric Fok realizou exposições individuais e feiras de arte nos EUA, Itália, Reino Unido, Portugal, Espanha, Japão, Coreia, Singapura, China continental, Hong Kong, Macau e Taiwan. As suas obras fazem parte da colecção da Fundação Oriente, da Universidade de Hong Kong, do Museu de Arte de Macau, do Macau Galaxy, do MGM Macau Cotai e de coleccionadores de Itália, Las Vegas (EUA), Reino Unido, China, Taiwan, Singapura, Hong Kong e Macau.
Hoje Macau EventosObras de António Júlio Duarte reunidas em livro Um livro que reúne uma retrospectiva do trabalho fotográfico de António Júlio Duarte, nas suas deambulações pelos espaços urbanos, com imagens inéditas, vai ser lançado na sexta-feira, em Lisboa, pela Imprensa Nacional. “Ph.10 António Júlio Duarte” dá título ao novo livro da Série Ph. dedicada à fotografia portuguesa contemporânea, que já contemplou artistas visuais como Helena Almeida, Jorge Molder, Paulo Nozolino, Fernando Lemos, José M. Rodrigues, Ernesto de Sousa, Jorge Guerra, Daniel Blaufuks e Alfredo Cunha. A obra, que reúne imagens inéditas e tem texto de Sofia Silva, é uma edição da Imprensa Nacional. De Hong Kong aos Estados Unidos da América, de Portugal ao Japão, da Guiné-Bissau à Rússia, de Cabo Verde a Itália, são alguns exemplos dos percursos urbanos do fotógrafo nascido em Lisboa, em 1965. O livro tem uma estrutura marcadamente cronológica, onde o fotógrafo revisita alguns conceitos e formas identitárias do seu trabalho, descrito por Sofia Silva, num ensaio publicado na obra intitulada “O Teatro desperto da imaginação”, como, não um jogo de geometrias entre o quadrado e o circular, mas “uma fotografia de contacto, um combate, que se traduz em composições cruas e rigorosas”. Passagem por Macau António Júlio Duarte estudou fotografia no AR.CO, em Lisboa, e também no Royal College of Art, em Londres, e foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian e da Fundação Oriente. Expõe com regularidade desde a década de 1990, tem publicado ao longo dos anos diversos livros de fotografia, e o seu trabalho está representado em coleções de referência nacionais e internacionais. Macau fez também parte do seu trabalho, onde esteve nos anos 90 para fotografar um território cuja administração estava à beira da transição de Portugal para a China, e depois para retratar a campanha eleitoral de Chui Sai On para o cargo de Chefe do Executivo, em 2009. Iniciada em 2017, a Série Ph. é uma coleção de monografias bilingues – em português e inglês – dedicada à fotografia portuguesa contemporânea, que tem por objectivo dar a conhecer a obra de diversos autores, com textos de especialistas.
Hoje Macau China / ÁsiaÍndia | China diz que situação na fronteira é “estável” após confrontos A China garantiu ontem que a situação na fronteira com a Índia é “estável”, depois de Nova Deli ter revelado a ocorrência de confrontos entre tropas dos dois países, que resultou em vários soldados feridos. “O nosso entendimento é que a situação na fronteira entre China e Índia é, geralmente, estável”, disse o porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros Wang Wenbin, em conferência de imprensa. “Ambos os lados tiveram conversas muito serenas sobre esta questão, através de canais diplomáticos e militares. Esperamos que a Índia possa comprometer-se, juntamente com a China, a implementar conscientemente o consenso alcançado anteriormente pelos líderes de ambos os países”, acrescentou. Segundo o porta-voz chinês, é a Índia que tem que “aderir ao espírito dos acordos assinados” pelas duas partes e “salvaguardar a relação bilateral”. O incidente, sobre o qual o porta-voz não se quis pronunciar directamente, ocorreu no dia 9 de Dezembro, quando, segundo fontes oficiais do Exército indiano, soldados chineses cruzaram a fronteira disputada que divide os dois países. Após confrontos, que resultaram apenas em ferimentos leves, ambas as partes “retiraram-se imediatamente da zona” e realizaram uma reunião para “discutir o ocorrido, de acordo com os mecanismos de restabelecimento da paz e tranquilidade”, acrescentou a fonte indiana. Os dois países mantêm uma disputa histórica por várias regiões dos Himalaias, com Pequim a reivindicar Arunachal Pradesh, controlada por Nova Deli, que por sua vez reivindica Aksai Chin, que é administrada pelo país vizinho.
Hoje Macau China / ÁsiaCovid-19 | Pequim expande clínicas para tratar pacientes face a aumento de casos A grande explosão de casos prevista após o alívio da política de zero casos preocupa autoridades e pessoal de saúde A China continua a preparar-se para uma ‘avalanche’ de casos de covid-19, que ainda não se reflecte nas estatísticas oficiais, através do alargamento dos espaços nos centros de saúde, para tratar doentes com febre, e do armazenamento de medicamentos. Os quase 350 centros comunitários de serviços de saúde de Pequim criaram já áreas para tratar pacientes com febre, numa altura em que a “explosão de casos está a pressionar muito os serviços médicos”, de acordo com as autoridades locais. A China pôs, na semana passada, fim a quase três anos da política de ‘zero casos’ de covid-19. “O rápido desenvolvimento da epidemia está a exercer grande pressão sobre os serviços médicos”, reconheceu o vice-director da Comissão Municipal de Saúde de Pequim, Li Ang, citado pela imprensa local. Li exortou os moradores da capital a irem aos centros apenas se não melhorarem após receberem tratamento em casa. O funcionário observou que as chamadas de emergência aumentaram, nos últimos dias, e atingiram o pico a 9 de Dezembro, quando foram atendidas 31 mil ligações, seis vezes mais do que o normal. Para lidar com o crescente número de pacientes, Li disse que a capital vai alargar o número de clínicas de febre, de 94 para 303, e expandir a equipa de coordenação para chamadas de emergência. Os residentes continuam a comprar testes de antígeno e medicamentos para se tratarem em casa, levando as autoridades a pedir ao público que compre “somente quando necessário”, visando evitar o açambarcamento. Inverno mortífero Nos últimos dias, muitas cidades fecharam várias cabines para a realização de testes PCR e reduziram a frequência com que testam a população. A imprensa oficial começou também a minimizar o risco da variante Ómicron através de artigos e entrevistas com especialistas, numa súbita mudança de narrativa que acompanha o relaxamento de algumas das medidas mais rígidas da política de ‘zero casos’ de covid-19, que vigorou no país ao longo de quase três anos. O país aboliu, na semana passada, testes em massa, quarentena em instalações designadas, para casos positivos e contactos directos, e a utilização de aplicações de rastreamento de contactos. Embora tenha sido recebido com alívio, o fim da estratégia ‘zero covid’ suscita também preocupações. Com 1.400 milhões de habitantes, a China é o país mais populoso do mundo. A estratégia de ‘zero casos’ significa que a esmagadora maioria da população chinesa carece de imunidade natural. Pequim recusou também importar vacinas de RNA mensageiro, consideradas mais eficazes do que as inoculações desenvolvidas pelas farmacêuticas locais Sinopharm e Sinovac. A remoção das restrições poderá desencadear uma ‘onda’ de casos sem paralelo este Inverno, sobrecarregando rapidamente o sistema de saúde do país, de acordo com as projecções elaboradas pela consultora Wigram Capital Advisors, que forneceu modelos de projecção a vários governos da região, durante a pandemia. Um milhão de chineses poderá morrer com covid-19 durante os próximos meses de Inverno, de acordo com a mesma projecção.
Hoje Macau China / ÁsiaHong Kong | Justiça volta a adiar julgamento de Jimmy Lai O julgamento do magnata da imprensa de Hong Kong Jimmy Lai, por violação da lei de segurança nacional, só terá início em Setembro de 2023, disse ontem um tribunal. O fundador de 75 anos do jornal Apple Daily devia ir a julgamento este mês por “conluio com forças estrangeiras”, uma violação da drástica lei de segurança nacional imposta por Pequim, na sequência dos protestos de 2019. Lai incorre numa sentença de prisão perpétua. O julgamento, que já tinha sido adiado no início deste mês, voltou a ser adiado devido a disputas legais sobre a defesa de Lai, que quer ser defendido pelo advogado britânico Tim Owen. Owen, um proeminente advogado britânico, já trabalhou anteriormente em Hong Kong em casos de grande visibilidade. O governo da região tinha argumentado em tribunal que deixar advogados estrangeiros litigar em casos de segurança nacional era arriscado por não existir forma de garantir a confidencialidade dos segredos de Estado. No entanto, os juízes concordaram com a escolha de Owen e decidiram repetidamente contra o governo. As autoridades de Hong Kong apelaram a Pequim para intervir e decidir, mas ainda não receberam uma resposta, disse o procurador de segurança nacional Anthony Chau ao Tribunal Superior da região. Enquanto se aguarda uma resposta de Pequim, os juízes decidiram adiar o início do julgamento para 25 de Setembro de 2023.
Hoje Macau Via do MeioSobre O imortal do Sul da China Por Giorgino Sinedino I. Um dia destes, tomei coragem para arrumar a biblioteca. Os livros tinham se acumulado sobre o chão, pilhas e pilhas e pilhas. Notei que havia umas brechas nas prateleiras mais próximas à janela e mais rentes ao teto. Repassando os títulos nas lombadas, percebi que os livros não eram coisas inanimadas, mas um tipo de amigo, portadores de expectativas, experiências e emoções que gostaria de ver compartilhadas. Além de acomodar os volumes mais recentes, ou seja, amigos mais próximos de quem sou hoje, aproveitei para reorganizar algumas divisões, já canonizadas pelo desuso. Isso me deu uma certa angústia, parecida com a de ter de ir a um lugar que deixara de ir e acabar revendo uma pessoa que não necessariamente queria rever. Cada prateleira acumula até três fileiras de livros, que estão lá como três camadas de memória(s). A minha intenção original era a de que, quanto mais no fundo, menos esquecíveis deveriam ser os textos. Mas o tempo é implacável. Retirando os volumes maiores, revia velhas amizades que desbotaram pelo estranhamento, até que se lhes agarrou uma brochurinha partida ao meio, as capas soltas, a lombada machucada pelo abandono (e pelo pouco uso que se perdeu pelas décadas). Era a Via de Chuang Tzu, uma retradução para o português da tradução em inglês do Padre Merton, um monge trapista e filósofo americano que se encantara com aquele (monge? Filósofo?) chinês do final do século IV antes de Cristo. Com as mãos grossas de pó e poeira e fuligem, aparo a capa que cai, revelando uma assinatura ideográfica e uma data cujo significado nada despertava em mim. II. Um menino buchudo de cabelos encaracolados, queimados pelo álcool do perfume que a mãe lhe derramava teimosamente sobre a cabeça, entra no “quarto de despejo”, recém-construído nos fundos da casinha do conjunto habitacional Mirassol, situada no número 649, parte baixa da ladeira da rua das Violetas em Natal, Rio Grande do Norte, nordeste do Brasil, um país grande, mas muito estranho, da América Latina. Ia ali porque no “quarto de despejo” o pai do menino havia despejado alguns livros que comprara no embalo de sua mais nova mania, a de atentar para “coisas do Oriente”. Praticava ioga, comia vegetariano e fazia outras coisas que o menino não entendia, mas tinha uma curiosidade não correspondida, exagero, mal correspondida. Havia livros sobre meditação, Sunzi, karatê, macrobiótica, Osho, samurais, medicina herbal e tudo o mais que você conseguir imaginar. Também havia um livrinho, cento e poucas páginas, a capa lustrosa em três cores, com um nome engraçado que aquele dentuço baixinho não sabia pronunciar. Abriu-o para procurar ilustrações, mas a frustração não o impediu de ir adiante e ler uma ou outra coisa. III. Um viajante chega de Brasília a China para participar de um minicurso, ao todo quase duas semanas pela frente. Tinha uma tarde livre. Como usá-la? Pensou quero ir ver um templo daoista. Tinha um ali, perto do alojamento. Uns poucos iuanes de táxi. Era um dia bonito em maio, nem frio, nem quente. O céu estava azul cobalto, o sol brilhava branco. Chegou ao “pai-iuin-quã’, “Templo da Nuvem Branca”. Famoso das histórias de alguém que peregrinou pelo mundo para ver o grande Khan. O tempo não parara. Havia alguns turistas, poucos, chineses, tirando fotos. O chão era mais antigo, os prédios pareciam ter sido renovados há algumas décadas; observava alguns cartazes explicativos, só entendendo, mal e mal, o que estava num arremedo de inglês. De repente ouve distante uma música de tubos, címbalos, uma percussão monótona, um canto que lhe parecia ladainha de alguém hipnotizado. Nuvens de incenso sopravam preguiçosas do Oeste para o Leste. O viajante caminha pelo labirinto de espaços menores, retangulares, em que o templo se dividia, passando por toda a sorte de capelas com estátuas ou espaços privados dos monges, até que um longo varal abana pesado de mantos e calças, cobrindo o que restava do templo – um galpão de zinco e um pequeno santuário. Um casal prostrava-se sobre duas almofadas, enquanto um monge dançava desengonçado à frente deles, segurando tiras de papel. IV. Um pós-adolescente trintão sai do metrô, estação Nanlishilu, parte Oeste de Pequim. Nervoso. Anda em direção o “Templo da Nuvem Branca”, sem saber mais ou menos onde está. Enxerga uma placa sobre os trilhos de um bonde que parece não passar mais por ali. Está perdido. Pergunta a um eventual passante, que lhe indica o caminho. Entra por uma entrada mais ou menos dilapidada, vê o alto portal de madeira, secularmente de pé, que não saúda a ninguém, vangloriosamente. Aborda-lhe uma grande autoridade, o segurança, que é o dono das chaves. Temendo não ser compreendido, diz umas coisas enquanto inspeciona com mil olhos o hirsuto invasor bárbaro que ousara interromper a sua terceira (ou quarta) sesta naquele dia. Não o dissuade de entrar, contudo, despedindo-o com um abanar de cabeça e um riso sem-jeito. O visitante apressou-se: O que fora fazer ali? Esperava talvez que um dos mestres aparecesse do vazio, acariciando a barba, dizendo que tinha potencial para ver além do tempo e do espaço, para voar para onde quisesse e para viver para sempre – como num daqueles filmes de Hong Kong, vestido em roupas de rayon e uma peruca grosseira? Passa por pessoas que se parecem muito com aquele mestre de sua imaginação. Um deles tinha uma imensa barriga redonda, que tomava sol desavergonhada, sob as carícias de uma mão grosseira com unhas extraordinariamente longas e sujas. Chega às portas da cela assinalada. Bate duas vezes. Um rosto imberbe, de traços delicados, o recebe com um calor frio. V. Era um jovem loiro, um perfeito sósia de Rasputin, que viera de Bucareste para a China há muitos anos. Gostava de esoterismo, sabia interpretar o tarô e arruinara seus joelhos treinando kung-fu. Desgostava-lhe a vida em casa e tinha mergulhado nos mistérios do “Oriente”. Vivera no Tibete – na verdade, na província de Qinghai, parte do Reino Tibetano da Antiguidade – e tinha vivenciado muitos prodígios. Tornara-se bom amigo de Ioiô, um colega de mestrado que chegara do Brasil há vários anos. Ambos iam visitar um mestre daoista que havia abandonado a vida monástica. Passara a ganhar a vida fazendo cítaras Qin, apelidadas “Qin de Trovão”, pois eram moldadas de troncos derrubados por raios. Contam as lendas que esses Qin, sob as mãos certas, fazem chover e curam doenças. O mestre estava bem de vida, portanto algumas pessoas deveriam ter sido curadas de câncer e, quem sabe, um deserto deve ter virado mar. O encontro foi divertido, pois lá estava um outro mestre, que acabara de receber muita cobertura jornalística. Havia passado 50 dias sem comer, preso numa gaiola de vidro – um hamster do Dao. Miraculosamente, continuava roliço após tanto tempo de privação. Praticava, com sucesso evidente, a técnica conhecida como “Jejum dos Grãos”. Durante os cinquenta dias, além de ter sido bem fotografado e filmado, esculpiu peças abstratas, que tinham por característica, todas, terem um orifício no meio. Disse que eram produto do “Dao”, já que o orifício “a tudo permeia”, “é a unidade além da diversidade”, “é o vazio que dá sentido às coisas” – citações de Laozi aplicadas à criação artística. VI Um e-mail chegou identificado com o assunto: nota de falecimento do mestre (…). A equipe do templo em Barcelona publicara um obituário. O mestre morreu, melhor, “ganhou asas” repentinamente. Ainda falava em organizar tal ou qual evento, louvava o belo jardim que preparava para gozar a sua aposentadoria, além de coisas menos mundanas – com menos frequência. O e-mail explicava que numa questão de dias, começou a vomitar ininterruptamente, reclamando de um arder no corpo, como fogo. Às vezes parecia ter visões, ou alucinações. Em momentos de lucidez, tinha um semblante esperançoso. Dizia-se ir rever o mestre, e o mestre do mestre… no Pouso dos Imortais. O tempo. VII. ? ∫∫∫ No livro, “há ensinamentos, sem esforço didático; é preciso interpretar, mas as conclusões estão fora das histórias” As sete vinhetas acima pretendem descrever uma experiência pessoal do Daoismo, uma das mais importantes tradições intelectuais e espirituais da China, através de episódios aparentemente independentes e compartimentalizados. É notável que, em vez de utilizar um estilo narrativo a que estamos habituados em nossa tradição literária, imitei conscientemente o tipo de texto que encontramos no original chinês da obra 莊子, comumente referida como Livro do mestre Zhuang ou, singelamente, Zhuangzi. Com essa brincadeira meio séria, desejo dar uma primeira impressão do que é ler o Zhuangzi em chinês e problematizar o que fiz em minha tradução-comentário dessa obra para o português. Antes de mais nada, o leitor das vinhetas deve ter se dado conta, imediatamente, de que esse tipo de estilo literário e de estrutura narrativa cria inúmeras possibilidades de interpretação e conduzem a inúmeras possibilidades de se reagir ao que o(s) texto(s) parece(m) sugerir. Muitas dessas possibilidades são falsas, pois conduzem a um entendimento culturalmente errado do texto. “Culturalmente errado” significa tratar do texto de uma maneira diferente daquela que os destinatários autênticos (os leitores chineses, especialmente os do período imperial, que começou no século III a.C. e terminou em 1911) tratam ou podem tratar dele. Ou seja, em minha forma de ver, o sentido “universal” da obra deve ser buscado dessa experiência particular. É preciso, consequentemente, submeter a obra a um tipo de enquadramento. Logo, para enquadrar a nossa discussão, vamos tentar compreender a importância do título que escolhi para a tradução. O original chinês possui dois tipos de título, que refletem duas atitudes básicas sobre a obra. Como disse, é mais comum chamarmos Livro do mestre Zhuang ou Zhuangzi – o Chuang Tzu de Merton. Na verdade, esse não foi um título escolhido pelo “autor” da obra, mas uma mera atribuição de autoria, feita pela posteridade, segundo um padrão comum na história das ideias chinesas. Por exemplo, a obra de Mozi, patrono do Moísmo, é chamada de Mozi; a obra de Xunzi, um influente pensador confuciano, é chamada de Xunzi; a obra de Han Feizi, o maior representante do “legalismo”, é chamada de Han Feizi. Quem utiliza essa denominação assume que a obra é parte da chamada Literatura dos Mestres, o corpus de textos compilados sob a autoridade de pensadores de renome, líderes de comunidades que competiam entre si para obter prestígio e patrocínio político. Consequentemente, o título Zhuangzi classifica os textos de Zhuang Zhou (369-286 a.C.) – o mestre Zhuang, de seus discípulos e um conjunto de outros autores, fãs ou críticos de Zhuang Zhou, como parte desse movimento dos mestres. Isso é relevante porque Zhuangzi passa a ser enquadrado como um caminho entre vários no que se refere a questões de interesse comum para o pensamento chinês, por exemplo como se cultivar intelectualmente, de que maneira se comportar em sociedade, de que forma buscar a perfeição moral etc. Isso faz com que o Zhuangzi seja facilmente definido como (mais) uma obra de “filosofia”, pelas reconhecidas semelhanças de forma e conteúdo com essa porção de nossa experiência cultural. Por outro lado, também é possível chamar a este livro de 南華真經, o título que a tradição religiosa daoísta atribuiu ao Zhuangzi, por honrá-lo como uma escritura sagrada. Mais do que para apelar melhor aos olhos do leitor, foi esse enquadramento que me levou a adotar a tradução semiliteral de O imortal do Sul da China. O sinólogo alemão Richard Wilhelm já havia partido desse segundo título chinês, traduzindo-o como O Livro Verdadeiro das Terras Floridas do Sul (1920). As “Terras floridas do Sul” de Wilhelm são uma leitura poética de “Sul da China”, pois uma das palavras clássicas para China é 華, que significa “flor que acaba de desabrochar”. O “Verdadeiro”, a que Wilhelm se refere com seu título, qualifica o livro, sem dúvida, mas também remete a um tipo de ideal de existência, realizada pelo “autor” desse livro: “Homem Verdadeiro” é um jargão do daoísmo, cujo sentido é basicamente o mesmo que “Imortal”. Os “imortais” daoistas são todos os grandes mestres que dão substância ao pensamento e práticas relacionadas à essa doutrina, purificando seu corpo e prolongando sua existência, o que exige realizações também nos planos de sabedoria e de espiritualidade. Portanto, a minha escolha do título destaca esta visão específica e culturalmente referida da obra: é mais do que um texto clássico de “filosofia” chinesa, pois, em vez de ser tolhido por um esquema/sistema intelectual prévio, presume uma mentalidade e concepções de vida profundamente diferentes das nossas. Exige uma explicação holística, um esforço de tradução não apenas textual, mas também cultural. Agora que esboçamos um enquadramento, retornemos às sete vinhetas para falar das características literárias do Imortal. A quase totalidade dos textos recolhidos no original chinês possui uma extensão comparável (ou inferior) à das vinhetas. A grande maioria consiste em breves narrativas em que se destacam diálogos curtos. Uma quantidade considerável são “ensaios” ou “aforismas”: discursos feitos por Zhuang Zhou ou a ele atribuídos. Tal como nas sete vinhetas, há fatos, há conceitos, há ensinamentos, sem que nunca haja um esforço didático de apresentar algo; é preciso interpretar, mas as conclusões estão fora das histórias; há quem afirme haver um “sistema”, mas no texto só restam experiências em toda a sua singeleza, emoções nuas. Por esse motivo, quem folheia uma tradução literal do Imortal pela primeira vez descobre no máximo umas poucas estórias interessantes ou memoráveis. É mais provável, entretanto, que se desista de ler após se surpreender com a total falta de coerência entre estória e estória, entre capítulo e capítulo. O que causa estranheza ao leitor ocidental, porém, conforma-se aos hábitos intelectuais dos leitores chineses antigos. Eles não estavam interessados no que a obra “queria dizer” como um todo – o que é demasiado importante para nós – mas apenas em certos ensinamentos ou insights que pudessem ser postos em prática ou servir de guia para a “sabedoria”. O daoísmo, em consonância com a atitude geral chinesa, admite que cada leitor depreenda o significado de um texto “conforme a sua capacidade de intuir o que transcende às palavras”, ou seja, o significado da obra em última instância é algo imaterial, contingente a quem a lê. Este é o grande desafio de traduzir, não só o Imortal, mas qualquer obra do pensamento chinês para qualquer língua ocidental. Tomando o exemplo do Imortal, tento enfrentar esse desafio em dois planos: das unidades menores (os textos singulares) e das unidades maiores (capítulos e obra como um todo). Em primeiro lugar, esforço-me para providenciar material adicional, para que o leitor consiga adumbrar para si um contexto autêntico, gabaritando-se a ler a obra de uma forma mais próxima do leitor original. Ao longo da era imperial chinesa, alguns dos melhores leitores escreveram-lhe comentários, parte dos quais foram integradas ao texto do Imortal, servindo-nos, no mínimo, como guias de leitura, no máximo, como explicações/interpretações dotadas de autoridade. Uma tradução culturalmente fiel exige que esses conteúdos também apareçam de alguma forma, em alguma altura do volume. Isso serve de justificativa para que em meus trabalhos eu acrescente esses comentários verbatim, e/ou elabore notas, e/ou componha comentários, e/ou, (como fiz desta vez no Imortal,) enxerte material e trabalhe literariamente o próprio texto principal – flexibilizando o princípio fundamental de fidelidade ao original. Apesar dos riscos, quem compara a minha tradução-comentário do Imortal com qualquer outra feita segundo as concepções tradicionais percebe que consigo oferecer uma leitura mais redonda, pois agrego uma interpretação autêntica e fiel à(s) leitura(s)-padrão chinesa(s). Em segundo lugar, especialmente no caso do Imortal, preocupei-me também com o problema do todo, da interpretação geral do texto. À maneira das vinhetas que escrevi no início deste texto, eu entendo que as estórias e ensaios de Zhuang Zhou são apenas aparentemente desconectadas. Em minha leitura, admito a existência de um ligame invisível que dá coerência geral à obra. Esse ligame, em meu entender, já tinha sido destacado pelo processo de edição do texto, que coligiu as diferentes estórias em sete divisões que interpreto/traduzo como sete capítulos temáticos. Meu argumento é o que sugeri nas sete vinhetas que abrem este ensaio: é fácil percebermos que há uma trajetória existencial, motivada pela vivência no daoísmo. Idem para o Imortal, embora, obviamente, seja algo bem mais rico e consistente do que as vinhetas, pois não se trata de alguém que ainda está em busca, mas de alguém que certamente encontrou “alguma coisa”… dentre muitos fracassos e desilusões. Diferentemente das vinhetas, Zhuang Zhou inicia seu texto não com a reminiscência de uma descoberta, mas com a dramatização dum ideal que construiu. Ele não refere, passo a passo, como se integrou a um tipo de comunidade, mas expõe, passo a passo, como esse ideal pode ser buscado e, eventualmente, atingido – indiferente a qualquer comunidade. Tendo definido o enquadramento da obra, apontando o desafio de traduzir/comentar um texto com estilo estranho numa língua arcaica e explicado as duas linhas-mestras de minha tradução-comentário do Imortal do Sul da China, talvez valha a pena falar um pouco sobre a motivação para ter lido e estudado, e, finalmente, para traduzir e comentar esse texto para outras pessoas. A chave é esse “algo” que Zhuang Zhou encontrou em sua busca e que, à sua maneira, tenta nos comunicar e a que meu comentário, torço, empresta maior visibilidade e coerência. Lembro que o comentário é intentado como nada mais do que uma cerca ao longo do caminho, colocada lá não para impedir passagem, mas para balizar uma direção, dando segurança ao leitor em seu passeio da liberdade ao Dao. Não julgo necessária nenhuma leitura preparatória sobre daoísmo. Como qualquer pioneiro, Zhuang Zhou é daoísta antes de existir um daoísmo. Hoje em dia, o daoísmo é, basicamente, uma religião institucional e monástica. Zhou não sofre sob o peso dessa bagagem. Assim como nas vinhetas, o Imortal também se refere a tipos de práticas, a determinados espaços sagrados, a praticantes que já obtiveram algum progresso etc – mas nunca diz como algo deve ser, não discrimina regras rígidas sobre o que fazer. Até os objetivos de se livrar das expectativas alheias, de entrar em harmonia com a Natureza, de prolongar a vida, de superar necessidades fisiológicas, por mais encantadores que soem, são referidos de passagem. A lição, não mais do que insinuada, é a de que não são fins em si. Mais uma vez, referindo-nos às vinhetas, é imprescindível notarmos que o caráter independente e fragmentário das estórias do Imortal serve para afirmar que nenhuma experiência deve ser preordenada dogmaticamente – e tal é o grande frescor que sente o leitor que persiste na leitura do Imortal. A palheta emocional da obra é vasta, o que a distingue no pensamento chinês antigo. Apesar das barreiras culturais, os personagens do Imortal são fáceis de se aproximar, pois são francos para com os próprios sentimentos. O Imortal vai muito além das vinhetas em que, entre indignação e enlevo, ternura e sarcasmo, as suas anedotas, curtinhas que são, deixam pistas sobre o processo de maturação e maturidade de quem se submeteu a um tipo de disciplina existencial e quem, por meio desta, teve acesso, pelo menos no plano da fantasia, a uma dimensão além da vida mundana – o que, percebemos bem, não mudou tanto assim nos últimos 2500 anos. Por conseguinte, um dos insights mais valiosos de Zhuang Zhou é o de que não se deve restringir o potencial da existência humana com rótulos, a preço de não sermos tolhidos em nossa tentativa de encontrar, de realizar o “Dao”. Usando um exemplo mais próximo de nós, hoje em dia, quem gosta de filosofia ou se declara um filósofo raramente se dá conta de que, em sua dimensão cultural “original”, o filósofo era pouco mais do que um apelido para quem assumia um estilo de vida meditativa, de aperfeiçoamento moral, que fazia amizades em resposta as próprias inclinações intelectuais e espirituais – havia toda a liberdade para dar um conteúdo àquilo que fazia. Não havia uma instituição chamada de filosofia, com títulos acadêmicos e carreiras profissionais. O Sócrates, platônico ou xenofontino, que pretendia que a filosofia fosse uma busca pessoal cotidiana, lamentava-se de que as pessoas em geral tratassem dela como um passatempo para o outono da vida, mais uma distinção social para homens de estatuto ou, pior, como conhecimentos monetizáveis em qualquer fase da vida. No caso chinês, Zhuang Zhou reagia a uma situação ainda mais perigosa, porque a “virtude” – conhecimentos, refinamento, aptidão, compostura, moralidade etc., o termo chinês não possui um equivalente pronto em nossa cultura – era requisito formal para a única via socialmente aceita para o sucesso: uma carreira político-burocrática. A equação era simples: quanto mais alto o seu cargo, mais elevada deveria ser a sua “virtude”. Qualquer pessoa com vivência, chinês ou não, antecipa as contradições e problemas causados por esse ideal. Importa que, no contexto da China antiga, Zhou é singular, pois, de fato, deu as costas para essa única via. Sua busca existencial – seja por motivos estéticos, espirituais ou mera aversão à luta pelo “sucesso” – o projetava naturalmente para além da sociedade. Ele pregava a “desambição”: nem poder, nem riqueza, nem fama. Malgrado serem fins legítimos, como quaisquer outros, não são fins fiáveis. Colocam-nos nas mãos dos outros. A grandeza de Zhuang Zhou, humana, não ideal, está plenamente plasmada no início da obra, que traz uma alegoria enganosamente infantil sobre a realização humana. Uma fênix gigantesca e uma rolinha minúscula disputam a atenção do narrador. A fênix atravessa o mundo em silêncio num voo cosmológico; a rolinha vive num raio de poucos metros, consciente de ter o que lhe basta. A fênix não percebe a rolinha, enquanto esta parece ter algum desprezo pelos labores da fênix. Sem tomar partido, o texto nos pergunta qual das duas representa “grandeza”. A reação imediata é a de nos concentrarmos na palavra “qual”, comparando as duas, escolhendo entre elas. No entanto, novas estórias sucedem-se, enriquecendo o debate sobre grande e pequeno, dando falsas pistas, deixando falsos testemunhos, de modo que o leitor se sente andando em círculos, perplexo com negações que se sucedem umas às outras. Apega-se a uma visão exclusiva, de “a” em detrimento de “b”, ou vice-versa. Essa dificuldade de quebrar a casca sem esmagar o fruto me fez abandonar o plano original de fazer observações “objetivas” sobre dificuldades textuais, conceitos filosóficos, detalhes de história, geografia, folclore da China antiga etc, para me concentrar na interpretação “subjetiva” do que a obra quer dizer, tanto no plano das estórias individuais, quanto no plano do que a obra pode ensinar cumulativamente. No caso dessa alegoria fundamental, por exemplo, não há um, mas pelo menos dois “fios vermelhos” conduzindo a direções muitos diferentes – e não contraditórias entre si! Há grandeza na pequenez e há pequenez na grandeza. Para concluir, o princípio fundamental de minha leitura, e do comentário que preparei para o Imortal, é o de que Zhuang Zhou não se recusa a legar o seu testemunho pessoal – mas o esconde entre sombras e silêncios. Esse é o grande mistério por trás dessa obra que, no início deste texto, tentei representar por meio das vinhetas. É certo que, no Imortal, com exceção do caso dos ensaios, Zhou nunca fala em primeira pessoa, mascarando a sua onipresença através de personagens puramente fictícias ou de ficcionalizações de personalidades históricas, como Laozi e Confúcio. Sob estas reservas, o texto como um todo possui, tal como o entendo, um movimento coerente, a receita de desenvolvimento intelectual e espiritual de Zhuang Zhou. Nenhum resumo pode se substituir à leitura integral, com todas as suas repetições e divagações, interpolações e perplexidades. Espero que minha tradução e meus comentários encorajem o leitor a persistir na leitura, fazendo as perguntas corretas e retirando algo de positivo, pessoalmente relevante, dessa experiência. In Revista Ursula