Cinema | Macau Art Garden exibe filmes de Ho Cheuk-Tin

Os amantes do cinema realizado em Hong Kong terão a oportunidade, no próximo sábado, de ver três curtas-metragens do realizador Ho Cheuk-Tin, nomeadamente “Righteousness”, “Yau Kee Cart” e “Foul”, no Macau Art Garden. Seguir-se-á uma conversa com o conhecido cineasta

 

O trabalho cinematográfico do realizador Ho Cheuk-Tin, de Hong Kong, estará em destaque na próxima sessão de cinema no Macau Art Garden, agendada para este sábado a partir das 22h30, a que se seguirá uma conversa entre o público e o realizador.

A organização do evento escolheu três curtas-metragens do realizador para exibição, nomeadamente “Righteousness”, de 2010, com a duração de 14 minutos, que conta a história da prisão de Cheung, por roubo, há 20 anos, em que o dinheiro roubado acaba por desaparecer.

Segue-se “Yau Kee Carter”, de 2014, um trabalho com apenas 12 minutos, que se centra em torno da história do casal Li e de uma loja antiga no distrito de Sham Shui Pou, marcado por diversas mudanças urbanísticas. “Foul”, uma produção de 2012 com 27 minutos, será também exibida, tendo vencido o prémio de “Best Student Film” [Melhor Filme Estudantil] na 11.ª edição do “International Student Film and Video Festival” [Festival Internacional de Cinema e Vídeo Estudantil] da Academia de Cinema de Pequim, em 2012. Além disso, “Foul” foi ainda um dos filmes de abertura escolhidos para a oitava edição do “InDPanda International Short Film Festival”, um festival de curtas-metragens.

Grandes sucessos

Nascido em 1987, Ho Cheuk-Tin formou-se na Escola de Televisão e Cinema da Academia de Artes Cénicas de Hong Kong, com especialização em realização. É também conhecido do grande público pelas películas “The Sparring Partner”, de 2022, e “Over My Dead Body”, realizada este ano.

Tendo marcado a sua estreia na realização de longas-metragens, “The Sparring Partner” tem como pano de fundo a história de um duplo homicídio ocorrido em 2013 e que chocou Hong Kong. Trata-se de um drama judicial sobre um jovem que se junta ao amigo para assassinar e desmembrar o corpo dos próprios pais. O jovem declara-se inocente, mas os advogados de defesa rivalizam entre si. Os nove jurados do processo tentam, até ao fim, descobrir a verdade.

“Sparring Partner” foi o filme de categoria três com maior bilheteira em Hong Kong e o quarto filme de Hong Kong do ano passado com uma receita de bilheteira superior a 40 milhões de dólares de Hong Kong.

“Over My Dead Body” é uma “comédia de humor negro satírica” sobre um grupo de cidadãos comuns de Hong Kong que teve de lidar com o aparecimento inexplicável de um homem morto nu num prédio de luxo. Os moradores fazem tudo para se livrar do corpo para não manchar a reputação do prédio.

Após terminar a sua formação académica, o realizador participou em diversas produções, desde o cinema a publicidade, incluindo videoclipes de música. Foi nesse período que se foi dedicando a projectos cinematográficos pessoais, como “Yau Kee Cart”, bem como à realização de um episódio da série televisiva “Below The Lion Rock”, produzida pela estação pública RTHK – Rádio e Televisão de Hong Kong.

Segundo um comunicado da organização do evento, o realizador de Hong Kong está hoje apostado na formação dos mais jovens, a fim de dar uma retribuição à sociedade. “Espero poder dar algo aos jovens, dando a conhecer o cinema aos estudantes do ensino secundário”.

5 Dez 2023

CESL-Ásia | 35 anos celebrados de olhos postos no futuro

A CESL-Ásia celebra este ano 35 anos de existência, assumindo-se como uma “empresa de pessoas” e com os olhos postos no futuro, dando cartas nas áreas da gestão energética e de infra-estruturas, sem esquecer uma maior sustentabilidade alimentar. Empresa acaba de assinar novo acordo com o grupo EREN, da Turquia

 

A CESL-Ásia assinou ontem um novo acordo com o grupo turco EREN com vista à aposta, através de uma joint-venture, em soluções tecnológicas para o mercado da Grande Baía. Em declarações à TDM Rádio Macau, António Trindade, CEO da empresa que celebra 35 anos de existência, disse que a empresa “continua a tentar desenvolver soluções na aplicação da inteligência artificial e ‘Big Data'”. “Já o fazemos diariamente, e essas soluções não funcionam sozinhas, precisando sempre do factor humano e práticas”, declarou ainda o empresário, que assegurou que o novo acordo vai permitir à empresa ser “muito mais eficiente” em termos de gestão energética.

Nascida e criada em Macau há três décadas e meia, a CESL-Ásia assume-se como uma empresa que aprende com o conhecimento que tem e que o aplica na vida diária. Em declarações ao HM, António Trindade defendeu que a entidade está em “constantemente em mudança”, sendo “uma empresa de know-how que aposta na sua aplicação no dia-a-dia para criar valor à economia e à vida das pessoas”. “As mudanças na economia fazem parte do nosso ADN. Temos um constante cuidado em estarmos sempre actualizados, lidando com o conhecimento e a experiência”, declarou ainda.

A celebração do aniversário da CESL-Ásia decorreu ontem com a realização de uma palestra intitulada “O Futuro Hoje: Cultivando Estilos de Vida, Energia e Alimentação Sustentáveis” [The Future Today: Cultivating Sustainable Energy, Food and Lifestyles] que reuniu nomes da génese da empresa, nomeadamente Teresa Moreira, ligada ao projecto do Monte do Pasto, de produção de carne biológica em Portugal, ou ainda Bruno de Pellegars, vice-presidente do grupo EREN.

Do Cotai ao futuro

António Trindade destacou, destes 35 anos de actividade, “o desenvolvimento do Cotai, onde tivemos um papel de muita relevância”, e, neste local, as “operações em resorts integrados, que são edifícios únicos no mundo, em que praticamente estivemos na sua origem e desenvolvimento, e que mantemos a funcionar”.

O projecto do Monte do Pasto, herdade em Portugal onde a CESL-Ásia investiu a partir de 2019 merece também destaque. Trata-se de uma actividade “mais visível [da empresa], pois tem a ver com o consumidor e que tem tido um grande impacto e visibilidade”.

“A forma de celebrarmos os 35 anos é perspectivarmos os próximos 15”, contou ainda o CEO da empresa, que fala ainda que “lidar com a complexidade social e económica de Macau permite-nos retirar ensinamentos”.

“Consideramos que somos uma empresa de pessoas, que são essas que conseguem lidar com a adversidade. Mas pretendemos usar ferramentas como a inteligência artificial ou o ‘Big Data’ [Dados] para criarmos mais valor”, rematou.

5 Dez 2023

Creches | IAS diz que funcionários têm formação adequada

O Instituto de Acção Social (IAS) assegura que as creches do território têm sido alvo de avaliação e que os seus funcionários têm sido sujeitos a acções de formação.

Respondendo a uma interpelação escrita do deputado Zheng Anting, que aborda a situação das creches após o caso da morte de uma bebé, Hon Wai, presidente do IAS, assegura que tem sido implementado o Programa de Avaliação dos Serviços de Creches, sendo que 18 creches subsidiadas já foram avaliadas “pelo exterior”. Desde 2019, que 2052 pessoas participaram em cursos de formação, além de que, desde o ano passado o IAS, em parceria com a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais, começou a trabalhar na realização do curso de certificação de cuidadores infantis de nível elementar e avançado.

Na mesma resposta, Hon Wai adiantou que 113 pessoas possuem a certificação de nível elementar, enquanto 21 conseguiram obter o certificado de cuidador infantil de nível avançado.

O presidente do IAS destacou também que actualmente a proporção média entre o pessoal das creches e as crianças de tenra idade entregue aos cuidados das creches é de cerca de um funcionário por 6,2 crianças, enquanto nas turmas de bebés a proporção é de um funcionário por uma média de 3,4 crianças. “Se calcularmos com base nas cerca de 70 por cento das pessoas que diariamente utilizam o serviço das creches subsidiadas, a proporção média entre o pessoal das creches e as crianças de tenra idade entregue aos cuidados das creches, é de um funcionário por 4,3 crianças, e nas turmas de bebés a mesma proporção baixou até um funcionário por 2,4 crianças”, é descrito na resposta.

5 Dez 2023

Lei eleitoral | Revisão aprovada na generalidade

A Assembleia Legislativa (AL) aprovou ontem na generalidade a proposta de lei “Alteração à Lei Eleitoral para a Assembleia Legislativa da RAEM”. O secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, destacou no plenário que esta revisão visa “dar mais um passo na implementação do princípio ‘Macau governada por patriotas'”.

Um dos novos pontos é a definição legal dos critérios para a verificação da capacidade dos candidatos às eleições, ficando expresso na lei que cabe à Comissão de Defesa da Segurança do Estado da RAEM “verificar se os candidatos a deputados (…) defendem a Lei Básica e são fiéis à RAEM”. Esta comissão irá depois emitir um parecer vinculativo para a Comissão dos Assuntos Eleitorais da AL.

Além disso, o diploma aperfeiçoa ainda outros mecanismos relativos ao processo eleitoral, sendo reforçada a “repressão de actos irregulares”.

O debate de ontem serviu ainda para a votação, também na generalidade, da alteração à leis da “Governação Electrónica e Diploma Conexo”, “Electronização dos Registos Predial, Comercial e do Notariado”, “Imposto de Selo sobre a aquisição do segundo e posteriores bens imóveis destinados a habitação” e ainda “Lei da Actividade de Mediação de Seguros”. A AL votou também o relatório de execução do orçamento do ano passado.

5 Dez 2023

CCP | Cerca de 1000 pessoas não puderam votar

Rita Santos, recém reeleita para o Conselho das Comunidades Portuguesas, lamenta que cerca de 1000 pessoas não tenham conseguido votar no passado dia 26 de Novembro por terem saído dos cadernos de recenseamento. Entre 2020 e 2023, foram retirados cerca de 20 mil eleitores dos cadernos eleitorais. A conselheira exige um canal próprio no consulado só para tratar esta questão

 

Cerca de 1000 pessoas não conseguiram votar nas eleições do passado dia 26 de Novembro para o Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), que voltaram a eleger a lista liderada por Rita Santos. Além disso, dados oficiais da Comissão Nacional de Eleições em Portugal, contabilizados pela conselheira, revelam que entre 2020 e este ano desapareceram dos cadernos eleitorais 20 mil eleitores.

Ao HM, a responsável lamentou estes números, exigindo que o Consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong crie um canal próprio para que os cidadãos portugueses se voltem a recensear, ao invés de terem de realizar um agendamento.

“Cerca de 1000 pessoas no dia das eleições [para o CCP] não conseguiram votar. Tivemos casos de um casal em que um dos membros estava recenseado e outro não. Sei que [o Consulado] tem falta de pessoal, mas deveria ser criado um canal próprio para o recenseamento, pois muitas vezes as pessoas não conseguem ir na data agendada.”

De frisar que a legislação em vigor determina que, aquando da renovação do cartão de cidadão, seja manifestada a intenção de manter o recenseamento, que é automático mediante a atribuição deste documento de identificação para cidadãos portugueses. Caso não manifestem directamente esse interesse, a pessoa pode deixar de estar recenseada.

“Não sabemos porque é que estas pessoas não estão recenseadas, mas é altura de remediar a situação e ver o que pode ser feito para haver uma maior participação nas próximas eleições, pois trata-se de um direito do cidadão português”, acrescentou.

De olho nas legislativas

Recorde-se que no dia das eleições para o CCP a recém-eleita conselheira alertou para a existência de cidadãos portugueses não recenseados devido à expiração da data de validade do cartão de cidadão, algo que afectou cerca de 200 portugueses.

Feito o contacto posterior com o cônsul Alexandre Leitão, foi explicado a Rita Santos que a única via para resolver o problema é mesmo o agendamento, usado para tratar de outras formalidades e documentos e que tem tido uma enorme afluência, sem que seja dada uma resposta em tempo útil a muitos dos pedidos.

Rita Santos considera essencial que esta questão seja tratada com um canal de atendimento próprio até porque se aproximam as eleições legislativas para a Assembleia da República em Portugal, agendadas para 10 de Março do próximo ano, “pelo que é fundamental estarem recenseados no local da residência ou actualizarem as moradoras até ao dia 10 de Janeiro para garantir o direito de voto”.

5 Dez 2023

IAM | Organismo não satisfaz “necessidades colectivas da população”

João Faria, académico, defende que o Instituto para os Assuntos Municipais não satisfaz “as necessidades colectivas da população”, pois é “um órgão meramente consultivo e sem poder de representação eleitoral”. Na sua tese de mestrado, traça um olhar sobre a história de uma “câmara municipal atípica” determinante para os meios político, administrativo, económico e social de Macau

 

João Faria, académico com um mestrado em Administração Pública pelo Instituto Politécnico de Leiria, defende que o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) não representa plenamente a população por se tratar de um órgão meramente consultivo. Na sua tese de mestrado, intitulada “Das dinâmicas do Leal Senado aos órgãos municipais sem poder político em Macau”, o autor afirma que “não tendemos a crer que a criação do IAM possa corresponder e satisfazer as necessidades colectivas da população, uma vez que é um órgão meramente consultivo e sem poder de representação eleitoral por sufrágio directo ou indirecto”.

Além disso, conclui-se que “é comprometedor o facto de a nomeação dos membros do IAM ser realizada pelo Chefe do Executivo, para mais sabendo que dois dos membros do órgão municipal sem poder político pertencem à comissão que elege o Chefe do Executivo de Macau”.

Ao HM, João Faria considera que “efectivamente houve um retrocesso” quando, no período da transição, em 1999, Macau deixou de ter órgãos municipais sem poder político. “Deixou-se de ter um município para termos um instituto público”, apontando ainda que poucas ou nenhumas mudanças houve entre o antigo Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) e o actual IAM, mudança que ocorreu em 2018.

“Em grosso modo as competências são as mesmas. Continua a existir um instituto público como órgão municipal sem poder político. Continuam a existir membros dos órgãos municipais nomeados pelo Chefe do Executivo, no conselho de administração e no conselho consultivo. Antes tínhamos também, no IACM, órgãos nomeados. A própria designação também é semelhante, só muda a palavra. A grande diferença entre o IACM e o IAM é a possibilidade de ter dois representantes escolhidos pelos conselhos consultivo e de administração para a nomeação do Chefe do Executivo”, declarou.

No trabalho de João Faria lê-se ainda que “o facto de [existir] um órgão municipal sem poder político não impede a eleição dos seus membros por sufrágio directo ou indirecto”.

Poder além do Governador

Em termos históricos, o Leal Senado era “uma câmara municipal atípica, com imenso poder político”, sendo que, após 1999, Macau passou a ter “um órgão municipal atípico, mas apolítico”. O Leal Senado foi “uma câmara sui generis”, aponta o autor, fundamental para o panorama social, económico, político e administrativo do território e que sempre teve voz própria face às vontades da então metrópole e até do próprio Governador.

A tese conclui que o Leal Senado foi “determinante para transformar Macau num interposto de relações luso-chinesas do ponto vista jurídico, político, administrativo, económico e social”.

Já no século XVI, e enquanto Macau esteve sob alçada administrativa de Goa, na Índia, o território “enfrentava um pluralismo jurídico”, ao ser um território chinês com administração portuguesa e uma comunidade portuguesa muito ligada às áreas comercial, política e jurídica.

Entre os anos de 1583 e 1585, o Leal Senado foi, segundo o académico, “o sustentáculo do poder político em Macau”, sendo que todos os assuntos políticos, jurídicos e administrativos “rodeavam sobretudo o Leal Senado a partir dos senadores, nomeados pelos senhores da terra”. Essencialmente, esta entidade “regulava a vida pública de Macau”, dispondo da figura do Procurador, que não existia em mais nenhuma câmara municipal em Portugal.

Este teve um papel na questão das chapas sínicas e mantinha “contactos regulares com as autoridades de Cantão”, além de coordenar o pagamento do imposto intitulado “foro do chão”, “mais uma característica atípica” deste órgão.

Mesmo a partir do momento em que Macau passa a dispor da figura do Governador, a partir de 1623, cabia ao Leal Senado comunicar com Goa. “O Leal Senado foi sempre a entidade que se interpôs [nesta ligação com Goa], contrariamente às restantes câmaras municipais, que não tinham o mesmo poder. É o Leal Senado que, nesta altura, quer uma independência para Macau [face a Goa]”, frisou João Faria.

Luta contínua

O Leal Senado ficou praticamente imune às reformas do Marquês de Pombal, já no século XVIII, pois “as providências régias de 1783 tiveram impacto para a redução dos poderes do Senado, apesar de nunca lograrem ser plenamente aplicadas”.

Por sua vez, no período reformista do Governador Ferreira do Amaral, entre os anos de 1846 e 1849, data do assassinato do governante, o Leal Senado chegou a ter vereadores que contestavam muitas das medidas do Executivo. Neste período, as recomendações de Lisboa apontavam para a necessidade de instauração “de uma nova forma de soberania em Macau introduzindo-se profundas reformas político-administrativas”. Em 1849, Ferreira do Amaral dissolveu o Leal Senado e nomeou uma comissão municipal, que esteve sob alçada do Governador durante dois anos.

No trabalho, lê-se que “na década 1850 o Leal Senado passou a ser composto por membros que contestaram a política do governador Ferreira do Amaral”, o que é sinónimo de que, após a sua morte, o organismo continuou “a não pretender remeter-se a meras funções municipais”.

Na transição para o Liberalismo, o Leal Senado conseguiu “permanecer enquanto verdadeira âncora política e salvaguarda da autonomia da liberdade de Macau”, pois dois decretos-leis implementados em Portugal após a contra-revolta de 1823 não terão “produzido efeitos práticos significativos no sentido de tentar equiparar o Leal Senado a uma câmara municipal de matriz tipicamente portuguesa”.

Na tese, refere-se que houve “esforços da elite local”, representada no organismo, para manter a génese mais autónoma do Leal Senado. Esta elite “sempre soube opor-se contra as alterações que colidissem com os seus próprios interesses, quer nos seus negócios quer na relação com as autoridades chinesas”.

Acima de tudo, ao longo da sua história, o Leal Senado foi também palco de diversas batalhas políticas, fruto de múltiplos interesses. “Durante séculos existiu uma grande interferência entre o Governador e o Leal Senado. Na história de Macau há sempre duas batalhas políticas entre o Leal Senado e governadores. Durante grande parte da vivência do Leal Senado há batalhas políticas”, concluiu, ao HM, o autor.

4 Dez 2023

Patrícia Ribeiro, directora do IPOR: “Queremos muito trabalhar na China”

Patrícia Ribeiro traça um balanço positivo dos quase cinco meses desde que assumiu a direcção do Instituto Português do Oriente, após um período difícil com perda de formandos e limitações. Para o futuro, a nova directora aponta à expansão das actividades do IPOR além do ensino do português dentro da sala de aula

 

Que balanço faz da actividade do Instituto Português do Oriente (IPOR), desde que tomou posso como directora no passado mês de Julho?

Estes primeiros meses têm sido muito trabalhosos porque estamos a tentar organizar o ano de 2024. Fizemos alguns pontos de situação dos últimos três anos, porque houve condicionantes bastante variadas em Macau para o nosso trabalho. Tentámos ver em que medida tudo o que fizemos poderá condicionar a evolução do IPOR para este mandato a partir de agora. Queremos também delinear uma acção para os três anos de mandato que vamos ter.

Quais são os grandes projectos que o IPOR quer desenvolver no próximo ano?

Apostamos sempre na formação. Vamos tentar fazer a divulgação dos cursos para recuperar um pouco os números dos anos da pandemia, porque foram três anos em que houve muitas dificuldades e tivemos sempre de reagir momentaneamente às mudanças, com o encerramento de instalações, cancelamento de cursos ou suspensão de aulas. Queremos recuperar esses números da oferta formativa. Para contrabalançar a diminuição do número de formandos, procurámos, em articulação com várias entidades, entrar noutras instituições e promover a língua portuguesa noutros âmbitos, através da assinatura de protocolos. Há ainda a possibilidade de os nossos professores poderem trabalhar noutras instituições e, assim, abranger mais a acção do IPOR em Macau. Queremos muito trabalhar na China, nomeadamente através do posto que criámos em Pequim, com a promoção de cursos junto da nossa embaixada, tanto online como presenciais, mas também na área da formação de professores. Temos ainda recebido vários pedidos de universidades e professores da China, e de outros países da região.

Pedidos em que sentido?

Estamos a planear fazer um programa de formação anual que se estenderá ao longo de três anos para responder a estes pedidos. Estamos a tentar, com estas instituições que nos têm contactado, assinar outros protocolos, não só na área do ensino, mas em termos de colaboração de actividades culturais e fazer alguns programas de intercâmbio.

A Universidade Politécnica de Macau (UPM) tem um centro de formação de professores, por exemplo. São projectos que vão trabalhar paralelamente?

As formações de que falo irão decorrer com universidades da China que nos têm procurado directamente. Não temos parcerias com outras instituições [de Macau], mas não é algo que esteja fora do nosso trabalho, porque o IPOR quer reforçar as colaborações com outras instituições do ensino superior, não só em Macau, mas noutros países.

A resposta que Macau dá ao nível do português deve ser mais unificada e global?

Penso que sim. Por isso o IPOR tem um protocolo com a Universidade de Macau e assinou um protocolo com a Universidade de São José. Também antemos bons contactos com a UPM.

Os cursos de português do IPOR deixaram de integrar o Programa de Aperfeiçoamento e Desenvolvimento Contínuo do Governo. Isso afectou o número de inscrições?

O novo regulamento do programa tem parâmetros que se diferenciam bastante da oferta formativa que o IPOR tem ao nível do curso geral de português como língua estrangeira. Os cursos intensivos, porque são de curta duração, ou cursos para áreas específicas, continuam a estar integrados no programa. Só o curso geral deixou de estar englobado, que é o maior que temos e que recebe, geralmente, o maior número de inscrições. O facto de não estar abrangido no programa e o facto de as pessoas não poderem usar o subsídio poderá ter influenciado o número de inscritos.

Como explica a retirada deste curso do programa?

A Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ) mudou o regulamento que tem outros critérios, nomeadamente a duração dos cursos. O nosso curso geral tem 150 horas e dura 10 meses, e neste momento já não é possível inscrever cursos desta natureza no programa. Já não era possível, mas nós conseguimos fazê-lo dividindo o curso em duas fases. Penso que não é uma alteração propositada para impedir a inscrição deste curso no programa. Foi uma diferente forma de organização.

Como encara esta posição? Não significa menor aposta do Governo na língua portuguesa?

A RAEM continua a apostar no ensino do português, continuamos a colaborar de muito perto com a DSEDJ, de onde nos chegam consultas escritas para a formação em português. As próprias escolas luso-chinesas procuram-nos para o desenvolvimento de actividades culturais e pedagógicas com crianças. Muito recentemente, o Chefe do Executivo alargou para mais quatro escolas o ensino do português. Por outro lado, o IPOR trabalha muito com os Serviços de Administração e Função Pública, organizando anualmente um programa de formação para funcionários públicos, destinado a áreas específicas e português como língua estrangeira de forma geral. Não vejo que exista um menor interesse por parte do Governo para que se mantenha o português.

Em relação à questão da não aceitação de novos pedidos de residência de portugueses fundamentados com o “exercício de funções técnicas especializadas”. Até que ponto afecta a contratação de novos docentes pelo IPOR?

Esta questão está a ser tratada ao mais alto nível e vamos ver em que medida o futuro nos poderá trazer outras alternativas. Para já, é esta, é este o mecanismo que está a ser utilizado para a contratação de professores [o bluecard].

O IPOR tem falta de docentes? Quais os desafios a esse nível?

Contratámos três professores de Portugal que iniciaram recentemente funções. Com o corpo docente que temos conseguimos responder a todos os pedidos e necessidades internas. Estamos a planear 2024 e em princípio não haverá mais dificuldades. Em Janeiro vamos contratar mais um docente. Tem acontecido uma rotatividade de docentes, e há duas épocas em que isso é significativo, sobretudo no Verão quando termina o ano lectivo, e depois no início de um novo ano lectivo. Mas, para já, estamos a responder.

O IPOR chegou a sofrer com a falta de salas de aulas. O problema está resolvido?

Está resolvido, as nossas instalações dão resposta. Negociámos a partilha de instalações com o Consulado-geral e a AICEP [Agência de Investimento e Comércio Externo de Portugal] e conseguimos mais duas salas para fazer face a essa necessidade. Tínhamos 9 e passámos a ter 12 salas.

Relativamente à Livraria Portuguesa, há muito que vinha sendo adiada uma nova concessão. Que balanço fazem do posicionamento da entidade e da estrutura de negócio?

Este era o segundo concessionário [Praia Grande Edições], porque o primeiro concessionário entrou em 2003, quando a Livraria Portuguesa passou a ser explorada por terceiros. O segundo concessionário começou a operar em 2011, e no final dos cinco anos a concessão foi renovada. Com a pandemia fomos renovando a concessão anualmente, até que surgiram condições para abrir este concurso. O balanço em si é positivo, porque a livraria continua a responder com aquilo para o qual o contrato foi feito. Claro que teve contingências nos últimos anos, como todos nós, mas divulgou os escritores de língua portuguesa e respondeu ao fornecimento de livros para a Escola Portuguesa de Macau. Esse é um dos itens obrigatórios que temos no contrato.

Fala-se que a Livraria Portuguesa nem sempre é um projecto economicamente viável. É possível alterar este modelo de negócio?

É algo que o novo concessionário terá de analisar da melhor forma. Da nossa parte há sempre outras formas de fazer outro tipo de acordos ou contratos com as editoras em Portugal, ou ter outros mecanismos de colaboração. Como a livraria está aqui, um dos maiores problemas é não haver a consignação de livros, que acontece em qualquer outra livraria em Portugal. Penso que há outros mecanismos que se podem accionar e explorar para baixar o preço dos livros. O concessionário pode diversificar a comercialização de outro tipo de produtos e fazer outro tipo de iniciativas para dinamizar a livraria, tendo em conta que o turismo está a regressar aos números normais. Isso tem sido feito pelo concessionário nos últimos anos, que tem diversificado a oferta de produtos para a área do turismo.

Com a redução da comunidade portuguesa qual será o papel da livraria e que posicionamento deve ter?

É verdade que a comunidade sofreu uma redução, mas está novamente a retomar a normalidade. Tenho verificado que há pessoas a regressar. Não nos podemos cingir apenas aos portugueses, pois Macau continua a promover e a ter a língua portuguesa como oficial. Continua-se a dar formação a quadros da Função Pública, a ter escolas onde se ensina o idioma. Não nos podemos centrar apenas na comunidade. Estes actores vão procurar a literatura e outros produtos que a livraria poderá disponibilizar.

Esperam um grande aumento do número de alunos para os próximos meses?

Esperamos sempre que sim, sobretudo depois destes anos em que sofremos uma diminuição bastante significativa. Em 2021 tivemos cerca de 4.500 alunos e em 2022 tivemos 3.500, em termos globais. No curso geral os números diminuíram muito mais. O que procuramos fazer neste momento, e é algo que serve para contrabalançar os próximos anos, mesmo não sabendo se vamos conseguir recuperar os números no curso geral, é fazer outros acordos para continuar a promover a língua portuguesa noutros âmbitos.

Pode dar exemplos?

Vamos fazer uma campanha de divulgação do IPOR de outra forma, com outro dinamismo, percorrendo as redes sociais, mas também outros mecanismos de divulgação. Vamos fazer um trabalho de proximidade com outras instituições de ensino, colaborando mais com as escolas, para levar a língua às crianças de uma forma mais prática, sem ser sempre na sala de aula. Essa é uma forma de os incentivar a procurar os cursos no IPOR. Nos próximos anos queremos trabalhar em rede com os outros postos e centros culturais da Ásia, não apenas na China, mas Japão, Malásia ou Coreia do Sul. Estamos a trabalhar no desenvolvimento de manuais para Kuala Lumpur, pois há uma universidade que ensina o português. Eles conhecem os manuais que desenvolvemos para o contexto de Macau e estamos a fazer uma adaptação dos livros. Já estamos avançados nesse trabalho, mas o manual não está concluído. Queremos fazer itinerância de artistas, escritores e companhias de teatro para optimizar recursos.

1 Dez 2023

Óbito | Arnaldo Santos lembrado na AL

Arnaldo Santos, presidente do Instituto da Habitação recentemente falecido, foi lembrado na sessão de ontem na Assembleia Legislativa em que se debateu o relatório das Linhas de Acção Governativa. Coube ao secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, recordar o dirigente logo no discurso de abertura. “Agradeço a todos, mesmo aos que hoje não estão connosco, o empenho nas suas funções”, declarou.

Semelhante intervenção teve o deputado Kou Kam Fai. “Temos de agradecer à sua equipa, incluindo os que hoje já não estão connosco, pelo empenho e dedicação ao serviço público”, rematou. Arnaldo Santos faleceu no passado dia 16 de Novembro no Hospital Kiang Wu com 63 anos, vítima de doença prolongada.

30 Nov 2023

CTM | “A curto prazo vamos renovar”, disse secretário

Raimundo do Rosário, secretário para os Transportes e Obras Públicas, adiantou poucos detalhes sobre a renovação do contrato de concessão com a Companhia de Telecomunicações de Macau (CTM), admitindo apenas que será renovado a curto prazo.

“Por enquanto, não tenho condições para divulgar mais informações. Estamos ainda a negociar com a CTM, o contrato actual termina no final do próximo mês e a curto prazo vamos renovar”, adiantou. Recorde-se que em Maio deste ano a directora dos Serviços de Correios e Telecomunicações, Derby Lau, frisou que as negociações já decorriam entre o Executivo e a concessionária.

30 Nov 2023

Secretário “não vê necessidade” premente na habitação intermédia

A suspensão temporária do projecto de habitação intermédia para a classe média na avenida Wai Long mereceu ontem reparos de vários deputados.

No debate sobre as Linhas de Acção Governativa (LAG) para a área dos Transportes e Obras Públicas, o secretário Raimundo do Rosário confirmou o volte-face no projecto. “Este ano recebemos mais de 1000 candidaturas para a habitação económica, mas temos 5.400 fracções económicas [a concurso]. Se as opiniões entenderem de outra forma podemos retomar o projecto [de habitação intermédia]. Caso haja consenso posso avançar com o concurso [para as obras] a qualquer momento. Mas, para já, não vejo qualquer necessidade nesse sentido.”

Enquanto a deputada Wong Kit Cheng frisou que “os jovens não podem ficar prejudicados” com a suspensão do projecto, o deputado Leong Sun Iok deseja saber quais os critérios para a suspensão de um projecto destinado a quem não é elegível para concorrer a uma casa do Governo nem consegue comprar no sector privado.

Poder mudar

Para a deputada Ella Lei, “os jovens são ilegíveis para uma candidatura à habitação económica”, tendo apelado a que se avance com a habitação intermédia tal como planeado. “O Governo deve avançar com uma calendarização, e se não avançar com o projecto a curto prazo, devem ser revistos os critérios de acesso à habitação económica.”

A ideia da revisão será criar um mecanismo permanente de candidatura. “Segundo os nossos planos, no próximo ano haverá mais cinco ou seis mil fracções económicas. Com condições poderemos ponderar rever a lei de habitação económica para que haja candidaturas permanentes”, indicou o governante.

Recorde-se que no passado dia 14, aquando da apresentação do relatório das LAG, o Chefe do Executivo anunciou que a construção do complexo de habitação intermédia não avança para já.

“Temos de perceber as razões para se construir habitação intermédia. Tal foi feito porque havia uma grande lista de espera para a habitação económica e queremos promover a habitação para os jovens, e porque tinham uma pontuação menos vantajosa [neste concurso]. No concurso para as fracções de habitação económica o número de candidatos é ainda reduzido. Segundo a nossa avaliação não existe, para já, uma classe sanduíche a precisar da habitação intermédia, tendo em conta o número reduzido de candidaturas aquém do esperado.”

30 Nov 2023

Obras públicas | “Objectivos foram cumpridos”, afirma secretário

Raimundo do Rosário, secretário para os Transportes e Obras Públicas, assegurou ontem que “os grandes objectivos da tutela foram cumpridos”, isto porque, a meses de terminar o mandato do Chefe do Executivo e secretários, “a RAEM fica dotada de um Plano Director”, e “brevemente teremos concluído o primeiro plano pormenor relativo à Zona Este 2, na Zona A”.

No discurso que inaugurou o debate de ontem, o governante salientou também que estão recuperados para a hasta pública “510 mil metros quadrados de terrenos para as necessidades futuras do desenvolvimento da RAEM”, além de que “os atrasos e derrapagens [nas obras públicas] estão estruturalmente resolvidas”.

“Em 2024, Macau terá pilares para enfrentar as exigências dos novos tempos”, frisou.

Também os deputados, inclusivamente os mais críticos, deram os parabéns a Raimundo do Rosário por ter “arrumado a casa” numa tutela que sempre gerou polémica pelos constantes atrasos e gastos orçamentais. “Tenho de reconhecer dois trabalhos: a recuperação de terrenos e a construção de habitação pública”, disse Ella Lei.

Já Wong Kit Cheng declarou “reconhecer o trabalho desenvolvido”. “Na comissão de acompanhamento [na Assembleia Legislativa] analisámos a situação do PIDDA [Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração], e em geral a taxa de execução é cumprida”, acrescentou.

30 Nov 2023

LAG | Falta de táxis e autocarros cheios preocupam deputados

Os 500 novos táxis podem não ser suficientes para responder à procura, admitiu ontem o secretário Raimundo do Rosário. No debate sobre as Linhas de Acção Governativa, deputados alertaram para a falta de táxis e o problema dos autocarros sempre cheios. Governo continua a negar legalizar aplicações como a Uber

 

Vários deputados revelaram ontem preocupações sobre a falta de táxis e o facto de os autocarros públicos estarem sempre cheios. No debate sobre o relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para a área dos Transportes e Obras Públicas, o secretário da tutela, Raimundo do Rosário, admitiu que os 500 novos táxis, que vão operar ao abrigo das novas licenças, podem não ser suficientes para colmatar as necessidades de turistas e residentes.

“Actualemente, temos 1.800 táxis e terminado o concurso público teremos mais 500. Talvez, mesmo com mais 700 táxis não fosse possível ter uma frota suficiente para a procura, mas com mais 500 estamos melhor. Vamos fazer isto passo a passo. Se calhar só depois de um ano poderemos ter uma conclusão para saber se o número de táxis é ou não suficiente”, clarificou.

O deputado Leong Sun Iok sugeriu a criação de um novo sistema para chamar táxis à semelhança do que existe no Interior da China, em que é possível “reservar táxis online”. “Além de aumentar o número de táxis, como vai o Governo melhorar o serviço? Vai criar uma nova aplicação online para residentes e turistas?”, questionou.

Também a deputada Wong Kit Cheng fez um pedido semelhante. “Temos de encontrar uma solução para legalizar as aplicações de táxis ao invés de aumentar apenas veículos.”

Raimundo do Rosário voltou a afastar a hipótese de legalizar aplicações como a Uber ou Bolt, em que viaturas privadas podem transportar passageiros. “O Chefe do Executivo já deu resposta e nada tenho a acrescentar. A lei actual não permite isso. Podemos pensar nisso, mas não há um plano”, frisou.

Acima de tudo, o governante lembrou que alterar o panorama dos táxis exige um planeamento ponderado. “Na pandemia havia muitos táxis sem negócio, mas agora a população pede um aumento. Temos de pensar muito bem sobre isto.”

Rebento sem lugar

Quanto aos autocarros, que estão permanentemente em excesso de lotação, o secretário afirmou ser necessário “encontrar outras soluções”, porque, na sua óptica, “aumentar o número de autocarros não chega para resolver o problema”.

A deputada Wong Kit Cheng salientou que o seu próprio filho lhe pediu para intervir no debate sobre o mau panorama dos autocarros. “O meu filho diz que quando apanha a carreira 6A nunca tem lugar para se sentar. Na avenida Almeida Ribeiro há sempre muitos passageiros. Como podem ser ajustadas as carreiras para melhorar a pressão no trânsito nas horas de ponta”, questionou.

Já Ella Lei defendeu que “é difícil apanhar táxis ou autocarros, porque estão sempre lotados”. “Mesmo com a inauguração da estação da Barra do Metro Ligeiro será que conseguimos dispersar os passageiros? É duvidoso. Além do aumento do número de táxis é preciso garantir o seu devido aproveitamento, pois muitas vezes na Rua do Cunha [na Taipa] a fila de passageiros é longa, sem táxis, e depois zonas em que há táxis e não há passageiros”, acrescentou.

Sobre os autocarros, Leong Sun Iok defendeu mesmo a criação de um passe especial para distinguir entre turistas e residentes. “Muitos cidadãos não conseguem entrar ou apanhar um autocarro porque os turistas são muitos. Não sei se pode dispor de medidas para separar os passageiros de Macau e os turistas. Haverá possibilidade de criar um cartão único para residentes, a fim de identificar quais são os passageiros de Macau e os visitantes, para que os turistas apanhem mais táxis?”, inquiriu o deputado.

30 Nov 2023

Literatura | Deolinda da Conceição e Maria Ondina Braga recordadas em Lisboa

Uma levou Macau para a sua escrita, outra levou a condição da mulher para as suas obras, descrevendo os diversos papéis femininos desempenhados numa sociedade conservadora marcada pela crueza da guerra. Deolinda da Conceição e Maria Ondina Braga foram lembradas segunda-feira numa palestra na Sociedade de Geografia de Lisboa

 

A Sociedade de Geografia de Lisboa acolheu na segunda-feira uma sessão de homenagem às escritoras Maria Ondina Braga e Deolinda da Conceição, nomes marcantes da literatura feminina de Macau e dos diversos lugares que o território assumiu nas letras escritas em português.

Coube ao advogado e autor José António Barreiros falar da obra de Maria Ondina Braga, cujo centenário do nascimento se celebrou no ano passado. Barreiros lembrou a paixão longa pelos escritos da autora. “Comecei a interessar-me por ela quando as suas obras já raramente se encontravam nos alfarrabistas. Hoje tudo mudou e as suas obras começaram a ser reeditadas”, disse.

José António Barreiros descreveu ainda o percurso literário da autora como uma “espécie de transladação divina do Oriente para o Ocidente”, considerando a escritora alguém que “viveu como se fora do outro mundo, fora do tempo”.

Nascida em Braga, onde viria a falecer em 2003, Maria Ondina Braga publica o seu primeiro livro de poesia em 1949, “Meu Sentir”, uma edição de autor, tendo escrito também diversos romances e contos.

A sua ligação a Macau começou em 1961, quando foi trabalhar como professora em Goa, indo depois para Macau na sequência da invasão de Goa, Damão e Diu pelas tropas indianas. Em Macau deu aulas de português e inglês no Colégio de Santa Rosa de Lima.

Maria Ondina Braga também visitou a China, nomeadamente Pequim, e é do seu punho que sai, nos anos 60, o livro de contos “A China fica ao Lado”. Apesar da paixão pela escrita, a autora dedicou-se também a traduzir autores como Graham Greene, Pearl Buck, Anaïs Nin, John le Carré, Mishima e Herman Wouk.

José António Barreiros lembrou, na palestra, que “ser tradutora dar-lhe-ia a possibilidade de se dedicar à escrita” em termos monetários. Foi também recordada uma certa melancolia com que viveu toda a vida, muitas vezes em solidão. No final, Maria Ondina Braga “morreu de um modo como sempre viveu, em silêncio”, destacou José António Barreiros.

“Em termos de relações humanas, Macau é o universo de Maria Ondina Braga”, enquanto Goa “foi um elemento de passagem que não é muito claro na sua escrita”. Quando escreve sobre o universo Macau, Maria Ondina Braga descreveu “as relações femininas derivadas do ensino e das instituições religiosas”, surgindo “um ténue tule de delicadeza em que se percebe uma avaliação dos sentimentos e carácter de pessoas”, apontou ainda José António Barreiros.

Depois da experiência laboral em Macau, Maria Ondina Braga voltaria ao Oriente, em 1982, como professora convidada de Instituto de Línguas Estrangeiras de Pequim. Nesse ano, já regressada definitivamente a Portugal, edita “O Homem da Ilha e outros contos”, e no ano seguinte é publicada a novela “A Casa Suspensa”, pela chancela da Relógio d’Água. Em 1984 foi lançada mais uma obra sobre o universo oriental, nomeadamente o livro de contos “Angústia em Pequim”.

As mulheres de Deolinda

Coube depois a Ana Cristina Alves, investigadora e coordenadora do serviço educativo do Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), falar sobre a obra de Deolinda da Conceição, nascida em Macau em 1914 e que editou apenas um livro de contos “Cheong Sam – A Cabaia”, que marcou a literatura de Macau pelo retrato que faz das mulheres que viviam, à época, no território, nomeadamente da comunidade chinesa. A obra foi editada pela primeira vez em Lisboa em 1956 pela Livraria Francisco Franco.

“Como escritora ela pode-nos dar um sentimento muito profundo de como as mulheres se sentiram”, começou por destacar Ana Cristina Alves. “Ela nunca falou dela própria e foi uma escritora voltada para o exterior e para a sociedade, sofrendo intensamente o tempo em que viveu, que foi dramático.”

Ainda jovem, Deolinda da Conceição passou pela I Guerra Mundial, que decorreu entre 1914 e 1918, e depois pela II Guerra Mundial (1936-1945), assim como a Guerra Sino-Japonesa, que tantos refugiados levou para o pequeno enclave português às portas da China.

“Ela esteve sempre em guerra, mas preocupava-se imensamente com a sociedade, estando sempre atenta às consequências dos conflitos, à fome”, apontou Ana Cristina Alves, que descreveu os cinco tipos de mulheres que podemos encontrar nos 27 contos que fazem parte de “Chong Sam – A Cabaia” e demais tipos de pessoas, nomeadamente a figura do homem bondoso.

“Ao ler os 27 contos senti a profunda dor da escritora, em que a única salvação para as mulheres do Oriente, fossem chinesas ou macaenses, era a educação, transformarem-se em pessoas independentes e educadas, pois caso contrário seriam cinco categorias de mulheres”, ou seja, tradicionais, acomodadas, mártires, órfãs de guerra, dependentes.

Ana Cristina Alves disse também “identificar-se absolutamente” com a escrita de Deolinda da Conceição. “A maior parte dos contos acaba muito mal, pois em tempo de guerra as coisas são difíceis. Qualquer exemplo [de texto] em que a protagonista é a mulher tradicional tem um mau final, porque esta mulher tradicional é inculta numa sociedade absolutamente conservadora.”

Os contos de Deolinda da Conceição abordam muito a “figura maternal”, ou seja, as mulheres que ficam viúvas em tempo de guerra e são obrigadas a ficar à mercê das esmolas que a sociedade dá. No que diz respeito à figura da mulher mártir, a escritora macaense abordou a situação concreta “das jovens meninas, as concubinas, que normalmente se suicidavam pela pressão das esposas legítimas” ou então “as mulheres que tentam seguir o amor numa sociedade conservadora”.

Palavras de filho

A sessão de homenagem de segunda-feira contou com a presença do designer e criativo António Conceição Júnior, filho de Deolinda da Conceição, que faleceu quando este tinha apenas cinco anos.

António Conceição Júnior destacou “o espírito inquieto” que a mãe demonstrou “desde cedo”, uma mulher “que jamais foi dona de casa ou doméstica”, e para quem “não havia desigualdade de género”. Deolinda da Conceição “foi, talvez, a primeira mulher emancipada de Macau, que por amor à verdade sempre escreveu o que pensava”, adiantou.

No final da sessão, Ana Cristina Alves descreveu ainda a autora macaense, que também foi jornalista e cronista, como “uma lutadora, que usou a escrita como arma”. “Ela usou a escrita para chamar a atenção para uma sociedade que poderia ser melhor e não era. Todos os que não eram educados eram penalizados por isso. A educação é um bem essencial e isso tem a ver com a alma chinesa. Nos tempos antigos essa educação estava limitada aos homens e não se destinava às mulheres, mas era um factor distintivo essencial”, descreveu.

Carlos Piteira, antropólogo e presidente da comissão asiática da Sociedade de Geografia de Lisboa, moderou a sessão, falando também do papel de perpetuação da memória que as obras de Deolinda da Conceição e Maria Ondina Braga desempenham. “Todos nós acabámos por ganhar imenso com estes testemunhos e ficámos a conhecer melhor as pessoas de Macau”, rematou.

29 Nov 2023

LAG 2024 | Nova escola portuguesa para preparar alunos

O Governo pretende criar uma nova escola portuguesa de preparação para os estudantes do ensino secundário que queiram seguir os estudos em Portugal e necessitem de acompanhamento na aprendizagem do idioma.

“Além de estabelecermos um inquérito sobre o prosseguimento de estudos e o emprego, para que os estudantes possam planear bem as suas carreiras profissionais, será promovida a criação de uma escola portuguesa com sistema ‘one-stop'”.

A secretária Elsie Ao Ieong U, no debate de ontem sobre as Linhas de Acção Governativa de 2024 na área dos Assuntos Sociais e Cultura, frisou ainda que será dada continuidade aos “apoios financeiros aos alunos para prosseguirem os seus estudos em cursos do ensino superior em Portugal, a fim de formar quadros qualificados em língua portuguesa com conhecimentos multidisciplinares”.

28 Nov 2023

Associações | Subsídios para salários aumentam 3%

As Linhas de Acção Governativa (LAG) para o próximo ano prevêem o aumento de 3 por cento do apoio financeiro às despesas com pessoal das associações financiadas pelo Governo. A medida recebeu ontem elogios por parte de alguns deputados, embora Ella Lei lamente que esta não seja uma actualização regular.

“O aumento de 3 por cento para os trabalhadores dos equipamentos sociais acontece depois de cinco a seis anos. Estes recursos não foram aumentados de forma regular. Estas associações estão a fazer os possíveis [para funcionar bem], porque durante a pandemia foram submetidas a uma gestão de circuito fechado e espero que possam ser reconhecidas pelo Governo. Não basta aumentar os salários na Função Pública, pois pode haver perda de recursos sem aumentos no privado”, alertou.

Ho Ion Sang lembrou que é necessária uma maior ligação à tecnologia para o fornecimento de serviços sociais. “Será feito um aumento de três por cento no subsídio, a fim de suavizar a pressão das instituições sociais, que têm sentido muitas dificuldades em termos financeiros e de recursos humanos. O Governo pode liderar um projecto de cooperação com associações para alargar a disponibilização de serviços sociais de forma digital e aumentar a valorização dos serviços”, concluiu.

28 Nov 2023

Saúde mental | Secretária apela a cooperação com privados

O deputado Ron Lam levou para o debate a questão dos suicídios registados nos últimos meses, questionando as medidas que o sector da saúde dispõe para dar resposta. “No tempo da pandemia houve um aumento dos suicídios e há cada vez mais jovens a cometer suicídio. Sabemos que é preciso muito apoio na área da saúde mental”, frisou.

A secretária declarou, por sua vez, que a resposta passa também pela cooperação com o sector privado. “Gostaríamos de dar resposta aos casos de saúde mental através dos centros de saúde e clínicas privadas.”

O deputado falou também da necessidade de licenciamento profissional para os agentes de aconselhamento psicológico nas escolas. “Sem a acreditação profissional como podemos promover a profissionalização destes trabalhadores? Todos têm de ter um desenvolvimento profissional na sua carreira profissional”, frisou Ron Lam.

A secretária defendeu, no entanto, que a acreditação destes trabalhadores pode afastá-los da profissão, por não terem formação específica em psicologia. “[Quanto ao] regime de licenciamento dos aconselhadores psicológicos, temos assistentes nas escolas com cursos de psicologia, mas há outros que não têm esse curso. Entendemos que não deve ser criado um regime de licenciamento, pois muitos que nos ajudam nessa tarefa serão afastados.”

28 Nov 2023

Três a seis semanas de espera por consulta de especialidade, diz Governo

A secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, garantiu ontem que as autoridades dão as respostas necessárias para que os utentes tenham um acesso rápido a consultas de especialidade e esperem menos tempo no serviço de urgência do Centro Hospitalar Conde de São Januário.

“Temos como referência um período de espera de três a seis semanas para o acesso a uma consulta de especialidade, mas na verdade os utentes têm acesso [a essa consulta] em pouco mais de uma semana. Esse é o tempo de espera que podemos proporcionar”, frisou no debate de ontem.

A governante garantiu ainda que foi encurtado o tempo de espera no caso de doenças crónicas, oncológicas ou em fase terminal, além de ter sido criado um “canal verde” para quem sofre de doença mental. No caso das urgências, existe um sistema de dados que permite que o director do hospital consiga monitorizar, via telemóvel, o funcionamento do serviço de urgência.

“Utilizamos a análise de megadados para monitorizar as informações sobre o tempo de espera dos utentes e para avaliar as necessidades em termos de camas nos hospitais, sobretudo nas salas de observação na urgência. Quando há uma maior procura podemos mobilizar os trabalhadores de medicina interna, a fim de suavizar a pressão nas urgências”, disse Elsie Ao Ieong U.

Oftamologia com mais esperas

O deputado Ron Lam U Tou quis saber quais as especialidades médicas que obrigam a mais tempo de espera, alertando para a redução do orçamento destinado à área da saúde, que será de 160 mil milhões de patacas. Contudo, lembrou que a redução se poderá dever “à normalização” da situação de saúde pública no território após a covid-19.

Como resposta, a secretária confirmou que, de facto, este ano houve um excedente orçamental na saúde. “Foi [atribuído] um orçamento um pouco alto, mas não vamos desperdiçar o erário público”, frisou. Quanto às especialidades médicas que obrigam mais tempo de espera, nomeadamente de dez semanas, Elsie Ao Ieong U falou na oftamologia, sobretudo a consulta às cataratas, devido ao elevado número de utentes. A ortopedia também obriga a esperas de cerca de dez semanas, existindo ainda tempos de espera de quatro a oito semanas, e especialidades em que apenas se esperam duas semanas. “Espero que o tempo de espera [para as consultas] não vá além das dez semanas”, disse a secretária.

28 Nov 2023

Ensino | Deputados exigem mais salários e subsídios

Vários deputados apelaram ontem para a necessidade de actualizações salariais dos docentes e dos subsídios atribuídos às escolas. O deputado Ron Lam U Tou destacou mesmo o facto de o Governo “persistir em não aumentar, durante cinco anos, o subsídio por turma”.

Já Kou Kam Fai acrescentou que a actualização do subsídio poderia ajudar os professores, porque “incide sobre os benefícios e regalias de milhares de docentes”. “Estou convicto que a maior parte das escolas, sobretudo do ensino básico, tem uma situação financeira estável. Pode ser feito um apelo para que as escolas com maior capacidade aumentem os salários dos professores? Eu, como director, vou dar este passo”, disse o director da escola secundária Pui Ching.

A secretária disse não concordar com os dados avançados por Ron Lam. “Temos feito uma avaliação, e o investimento nas escolas e para cada estudante tem aumentado. Os subsídios para as escolas aumentaram mais de dez por cento desde 2021 e temos investido muito nas instalações escolares. O [valor] Fundo de Desenvolvimento Educativo não aumentou muito, mas também não diminuiu”, concluiu a secretária.

28 Nov 2023

Apoios sociais | Defendida actualização da referência para calcular risco social

Vários deputados alertam para a necessidade de actualizar o valor de risco social de referência para os apoios atribuídos a pessoas e instituições sociais, mas o Governo pretende continuar a estudar a matéria. O Executivo considera que os idosos têm apoios suficientes

O debate de ontem das Linhas de Acção Governativa (LAG) do próximo ano para a área dos Assuntos Sociais e Cultura ficou marcado pelos vários pedidos de actualizações de apoios destinados às camadas mais vulneráveis da população, tendo em conta a inflação.

Um dos pedidos mais prementes foi a actualização do valor de risco social, que serve de referência aos montantes dos subsídios atribuídos aos mais carenciados. “O ajustamento do valor de risco social serve de referência para a ajuda às camadas mais vulneráveis da população, para que tenham um apoio adequado. Quando vai começar a revisão deste mecanismo? Será que [o actual valor] dá resposta às famílias vulneráveis?”, questionou Lei Chan U.

Hon Wai, presidente do Instituto de Acção Social (IAS) afastou, para já, um aumento, garantindo que há uma avaliação contínua aos parâmetros. “Desde 2011 que o IAS faz duas análises por ano, tendo em conta a situação da mudança dos preços e outros factores que influenciam o cálculo do risco social. Em 2024, faremos uma nova avaliação.”

Contudo, “o Governo tem lançado várias medidas em prol das camadas mais vulneráveis e muitos têm acesso gratuito a cuidados de saúde”, frisou o responsável, que lembrou que os idosos têm acesso a uma pensão de reforma de 14 meses. “Se contarmos com outras regalias, os idosos têm cerca de 5.900 patacas por mês”, calculou.

A secretária disse também que a reforma “é um apoio para que os idosos tenham uma mensalidade para gastar”, destacando que em Macau todos os idosos com 65 ou mais anos têm acesso a cuidados de saúde gratuitos. “Este mecanismo já foi elogiado pela Organização Mundial de Saúde. Assim, temos grandes cuidados para com os idosos e posso garantir que fazemos um bom trabalho”, frisou.

De frisar que, no próximo ano, o Governo promete que os lares de idosos terão mais 200 camas, bem como 300 novas vagas para serviços de reabilitação.

O medo das contas

Sobre o projecto de habitação para idosos, o Governo recebeu, até ao passado dia 6 de Novembro, 1200 candidaturas para 759 apartamentos disponíveis. Contudo, vários deputados alertaram para os receios que os mais velhos têm de conseguir suportar as despesas caso se mudem para estas casas.

“Muitos preocupam-se com o programa de residência para idosos, nomeadamente com o valor da renda e despesas mensais, temendo não conseguir suportar as despesas a longo prazo”, lembrou Ella Lei.

A secretária deixou claro que a avaliação será feita caso a caso. “Talvez tenhamos de ponderar vários níveis, ver quantos idosos não têm casa e quais os motivos para tal. Serão motivos financeiros e económicos? Para esses casos temos as habitações sociais.” A habitação para idosos, por sua vez, serve para aqueles que não conseguem, devido à idade, “comprar ou arrendar uma casa, mas precisam de uma habitação com maior qualidade”, rematou Elsie Ao Ieong U.

28 Nov 2023

Saúde | Ambulâncias de Macau vão entrar em HK e China

O secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, adiantou na sexta-feira, no debate sectorial das Linhas de Acção Governativa (LAG) para a sua tutela, que as ambulâncias de Macau vão passar, em breve, a poder circular no Interior da China e Hong Kong. “As nossas ambulâncias vão ter uma matrícula para entrar no Interior da China.

Já tínhamos esse mecanismo, mas nunca foi concretizado. Também chegámos ao consenso com Hong Kong e as nossas ambulâncias também vão poder entrar [no território], mas os pormenores estão ainda por acertar. Falei com o responsável pela área da Segurança de Hong Kong no início do ano, realizámos alguns trabalhos de coordenação e depois obtivemos consenso, mas os pormenores vão ser agora acertados entre os Serviços de Polícia Unitários e os Serviços de Saúde. É uma medida que vai entrar em vigor em breve”, apontou. O deputado Pereira Coutinho questionou “até onde estas ambulâncias podem ir, e se as ambulâncias do Interior da China podem entrar em Macau”.

27 Nov 2023

Polícia travou burlas bancárias no valor de 110 milhões

O secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, revelou na sexta-feira que entre Janeiro e Outubro deste ano as autoridades conseguiram travar burlas bancárias no valor de 110 milhões de patacas graças “às sugestões feitas [aos titulares das contas] em prol de uma maior segurança nas transferências e também graças à ajuda do sistema bancário”. “Os esquemas são antigos, mas as pessoas não acham que estejam a ser burladas”, disse o governante no debate sobre o relatório das Linhas de Acção Governativa para a área da Segurança.

Por sua vez, entre Janeiro e Setembro deste ano, houve 1640 casos de burla, o que representou um aumento de 69 por cento face ao mesmo período do ano passado, sendo que estes crimes totalizaram um prejuízo de 215 milhões de patacas para as vítimas. Do total de 1640 casos, as burlas telefónicas representam 16,5 por cento, ou seja, 273 casos no total, disse o secretário. Por sua vez, burlas online constituem 36,5 por cento dos casos no total, acrescentou.

Estudantes são vítimas

Wong Sio Chak disse que a grande parte das vítimas de burlas bancárias são estudantes, tendo alertado para a falta de experiência de vida que contribui para que sejam burlados, em grande parte dos casos.

“Alguns estudantes não têm experiência e em mais de 20 por cento dos casos de burla as vítimas são alunos. A Polícia Judiciária tem, por isso, realizado muitos trabalhos com instituições do ensino superior. Temos cooperado com o Interior da China, fornecendo algumas informações para combater as burlas. Os conhecimentos [sobre as formas de actuação dos criminosos] são poucos e muitas pessoas são enganadas. Como há muitas situações que envolvem pessoas com boas habilitações, as burlas envolvem milhares de milhões de patacas. Todos pensam que não são enganados”, referiu.

O deputado Leong Sun Iok perguntou se é possível reforçar a intervenção das concessionárias de telecomunicações para travar estes crimes. “Já não é suficiente reforçar a educação, pois muitas pessoas de alto nível também são vítimas de burla. Não sei se é possível, através dos operadores de telecomunicações, combater este tipo de crime”, rematou.

27 Nov 2023

Prisão | Quarta fase das obras concluída no próximo ano

A quarta fase das obras do novo Estabelecimento Prisional de Macau (EPM) deverá estar concluída no primeiro semestre do próximo ano, garantiu o secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, quando questionado sobre o atraso das obras, que duram há vários anos. Relativamente à quinta fase do projecto, os trabalhos preparatórios serão feitos este ano, adiantou o governante, que promete visitar em breve as novas instalações já construídas para se inteirar do andamento da obra.

Coube ao deputado Lei Chan U chamar a atenção para o facto de as obras do novo EPM “decorrerem há muitos anos”. “Quando vai ser concluída a nova prisão, e qual será a finalidade do edifício da antiga prisão?”, questionou. Sobre este ponto, o secretário não respondeu.

O deputado quis ainda saber mais detalhes sobre a situação do reingresso no mercado de trabalho dos antigos reclusos. “Temos colaborado com outros serviços a fim de desenvolver vários projectos para a inclusão social e regresso ao emprego. Organizámos acções com empregadores que tenham a intenção de recrutar antigos reclusos, para que consigam ter um emprego mesmo antes de sair da prisão. Em 2022, 28 reclusos participaram nestas acções e 13 conseguiram trabalho, o que é uma percentagem relativamente alta”, respondeu Wong Sio Chak.

27 Nov 2023

Forças de segurança | Negados aumentos de compensações de horas extra

Pereira Coutinho pediu o aumento da compensação de horas extraordinárias de 100 para 120 pontos na tabela indiciária dos trabalhadores das Forças de Segurança. Wong Sio Chak recusou a sugestão, mas assumiu a “pressão” sentida pelos profissionais de segurança

 

Os trabalhadores da área das Forças de Segurança não vão gozar de actualização do montante pago pelo cumprimento de horas extraordinárias. No debate de sexta-feira, a propósito do relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para a área da Segurança, o secretário Wong Sio Chak disse que não haverá aumento da compensação dos actuais 100 para os 120 pontos da tabela indiciária, tal como sugeriu o deputado José Pereira Coutinho.

“Ajustámos esse apoio recentemente e vamos fazer um balanço. Se houver essa necessidade [de aumento] vamos apresentar uma proposta. A situação actual é ainda aceitável. Em relação às horas extra cumpridas pelos funcionários, variam entre 48 e 50 horas, sendo que são atingidas as 50 horas [de trabalho semanal] em períodos de pico de trabalho. No caso do pessoal da Polícia Judiciária [as horas extra] variam entre 48 e 50 horas, porque é um serviço onde há menos trabalhadores”, referiu o governante.

Pereira Coutinho lembrou que “a compensação por horas extra é de apenas 100 pontos indiciários, mas é possível ir além desse índice, através de uma actualização e consequente aumento?”, questionou.

Coutinho citou um inquérito feito recentemente em que muitos trabalhadores das Forças de Segurança “queixaram-se do volume de trabalho”, algo que pode “afectar a sua vida normal”.

Wong Sio Chak deixou claro que “os colegas têm tido trabalho árduo antes e depois da pandemia, e nós, pessoal da direcção, também passamos pela mesma dificuldade”. “A pressão pode advir da família, do trabalho e muitas coisas mais. Criámos grupos para aliviar a pressão psicológica do nosso pessoal”, adiantou o secretário, que frisou que depois da pandemia o número de profissionais que necessitou de apoio registou uma quebra.

Wong Sio Chak salientou também estar satisfeito com o nível de recrutamento para a área das Forças de Segurança. “Em 2020, recrutámos 73 novos agentes e todas as vagas foram preenchidas. Em Julho, para 63 vagas, tivemos mais de duas mil candidaturas. Com a nova lei das carreiras temos uma situação muito satisfatória”, referiu.

Compensar em dias

A deputada Ella Lei também se pronunciou sobre esta matéria, referindo que “a pressão sentida pelos trabalhadores é muito grande”. “É necessário considerar as horas de descanso e de compensação. Claro que há um regime compensatório quando se ultrapassam as 44 horas semanais de trabalho e as férias. Mas, passada a pandemia, estamos com um elevado número de turistas e as entidades policiais têm de enfrentar uma pressão muito grande em termos de trabalho. Qual o mecanismo de compensação para os dias de descanso? É razoável dar uma compensação em dinheiro, mas é também importante compensar os trabalhadores com dias de descanso”, rematou.

Já Leong Sun Iok questionou “como pode ser assegurado o descanso dos trabalhadores”, pois muitas vezes “são destacados” para o cumprimento de mais horas. “Relativamente à sua promoção, há casos em que muitas vezes as promoções não são justas e, muitos destes trabalhadores pensam que é cada vez mais importante a formação académica, afirmando que, muitas vezes, as promoções não são justas.”

27 Nov 2023

Casa de vidro | “Pneuma”, de José Nyogeri, para ver até final do mês

A primeira exposição em nome individual de José Nyogeri intitula-se “Pneuma” e pode ser vista até quinta-feira, dia 30, na Casa de Vidro na praça do Tap Seac. Trata-se de uma mostra de esculturas digitais feitas a três dimensões inspiradas na ideia de pneuma, uma palavra em grego antigo que significa “respiração”, mas que, num contexto mais religioso ou meditativo, remete para significados como “espírito” ou “alma”

 

“Pneuma”, um “nome com que os filósofos estoicos designavam um princípio espiritual constitutivo do Universo”. É assim que uma palavra do grego antigo surge explicada no dicionário de língua portuguesa. É também o nome dado à exposição de escultura digital em três dimensões (3D) de José Nyogeri, que pode ser vista na Casa de Vidro, na praça do Tap Seac, até quinta-feira, dia 30.

Ao HM, o artista revelou como teve os primeiros contactos com este conceito e de como resolveu explorá-lo artisticamente. “Estou em Macau há cerca de 12 anos e comecei a trabalhar com edição de vídeo e ‘motion graphics’. Foi aí que comecei a usar o 3D para fazer arte, mas enquanto hobbie. Depois encontrei este nome, ‘pneuma’, que me deixou curioso. Pesquisei mais e percebi que tem vários significados, dependendo do contexto, mas é muito usado na escola filosófica do estoicismo.”

A partir dos significados relacionados com “ar”, “alma” ou o “respirar da vida” que esta palavra pode ter, José Nyogeri foi pesquisando até chegar a um conceito concreto da exposição que queria realizar e que tem como pilar a vertente do estoicismo.

“À medida que ia fazendo os trabalhos fui descobrindo mais sobre esta filosofia, que teve influência em matérias como a psicologia, a neurociência ou o budismo. Comecei a explorar diferentes áreas. É gratificante ter esta exposição e constitui um prazer enorme poder partilhar a arte que tenho vindo a fazer”, adiantou.

A abordagem à escultura digital em 3D tornou-se, assim, uma paixão muito presente na vida de José Nyogeri enquanto artista. “Ao longo dos anos, amigos e família têm perguntado por trabalhos meus e têm-me incentivado, e isso deu-me motivação para continuar.”

Paixões e imagens

Convidado a falar da obra mais importante da exposição, ou com mais significado para si, José Nyogeri destaca duas. Uma delas, intitulada “Neuma”, que pode significar “sopro” ou “vento”, retrata “a imagem de um homem com as mãos junto ao queixo, repousando-as no queixo com os dedos entrelaçados”. “As cores da obra remetem para o fogo e o ar, sendo a ‘neuma’ uma substância constituída pelo fogo e ar. O ar é o que nos dá o movimento e o fogo a energia e o calor”, explicou.

Por sua vez, “Amor-Fati” tem como mensagem principal o amor pelo destino, independentemente daquilo que nos venha a acontecer. “É a ideia de tirar o melhor proveito de qualquer situação. Uma das principais características do estoicismo é a divisão dos acontecimentos em duas partes, os que controlamos e os que não controlamos. Muitas vezes damos maior importância ao que não conseguimos controlar. No caso das emoções não podemos deixar de as sentir, mas podemos controlar o modo como reagimos e sentimos. Falamos de uma questão de auto-conhecimento e consciência, e aí entramos no campo da meditação”, explicou.

José Nyogeri diz que a vertente digital no seu trabalho surgiu graças “à paixão pela imagem”, tendo-se dedicado à escultura digital em 3D, que permite “obter formas orgânicas” mais facilmente. Trata-se “de uma técnica de modelagem em que começamos a esculpir o modelo como se fosse uma peça de barro autêntica, mas sempre a nível digital”, frisou.

24 Nov 2023