MAM | “Alegoria dos Sonhos”, do colectivo YiiMa, chega a Macau

Depois do périplo feito pela Europa, nomeadamente em Lisboa e na Bienal de Arte de Veneza, a exposição dos artistas Guilherme Ung Vai Meng e Chan Hin Io, que integram o colectivo “YiiMa”, chega a Macau pela primeira vez, sendo inaugurada esta sexta-feira. Ung Vai Meng diz-se feliz pelo facto de as obras de “Alegoria dos Sonhos”, com curadoria de João Miguel Barros, serem expostas no território que lhes deu vida

 

A mostra “Alegoria dos Sonhos”, do colectivo “YiiMa”, composto pelos artistas Guilherme Ung Vai Meng, antigo presidente do Instituto Cultural (IC), e Chan Hin Io, chega esta sexta-feira à sua terra de origem, depois de ter sido exibida no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, com o nome “(Des) Construção”, e de ter representado Macau na 59.ª Bienal de Arte de Veneza, já com o nome de “Alegoria dos Sonhos”.

A exposição de fotografia, escultura, instalação e até arte performativa, estará patente na Galeria do Tap Seac até ao dia 21 de Maio, proporcionando ao público local a oportunidade de ver, pela primeira vez, uma mostra reconhecida internacionalmente.

Ao HM, Ung Vai Meng falou da “felicidade” sentida pelo colectivo “pela devolução das obras à nossa cidade natal, para as podermos exibir aos cidadãos e amigos locais”. Afinal de contas, “essas obras foram todas criadas neste pequeno território”, adiantou.

Fazendo o balanço das duas exposições, Ung Vai Meng frisou que “o público respondeu muito bem, tendo estado particularmente interessado nas cenas da vida em Macau, já que as obras mostram as culturas chinesa e ocidental”.

Além disso, o antigo dirigente cultural, que actualmente se dedica à arte a tempo inteiro, referiu uma análise feita por uma crítica norte-americana, que se referiu a “A Alegoria dos Sonhos” como “uma das dez obras que valia a pena ver na Bienal de Veneza”.

Parque a caminho

Convidado a comentar as políticas culturais após o regresso à normalidade, no contexto da pandemia, Ung Vai Meng diz acreditar que “o Governo poderá pensar em novas estratégias do ponto de vista cultural, exigindo às concessionárias de jogo que seja dado um maior apoio e feito um maior investimento em empreendimentos culturais.”

Ung Vai Meng acredita também que será possível uma maior cooperação com artistas e entidades culturais estrangeiras para que Macau venha a acolher mais eventos de cariz internacional.

Quanto ao colectivo YiiMa, poderão surgir novos projectos. “A fim de aumentar o interesse dos residentes de Macau pela arte pública, o nosso colectivo está a estudar a viabilidade do projecto ‘Parque Temporário de Esculturas de Macau’, mas estamos ainda na fase de concepção.”

Palavra de curador

Ao HM, João Miguel Barros, curador, recorda um processo de adaptação entre a mostra de Lisboa e aquela que foi exibida em Veneza. “Quando discuti com os artistas a nossa candidatura à Bienal de Veneza, havia uma ideia estruturada para a ‘Alegoria dos Sonhos’ e que incluía várias componentes, desde a fotografia, a instalação e a vídeo arte. Mas sabíamos que se ganhássemos a representação de Macau teríamos de ajustar muito essa ideia devido às limitações do espaço disponível em Veneza. A mostra da galeria do Tap Seac acaba por ser a que permite uma aproximação mais fiel à ideia original.”

O curador acrescenta que, graças à “generosidade dos meios que o IC colocou à disposição dos artistas”, foi permitido “delimitar os espaços dos diversos ‘sonhos’ dando a conhecer o conteúdo que o YiiMa produziu para ser mostrado em Veneza, com o sucesso que lhe foi reconhecido. Nessa perspectiva os visitantes de Macau são uns privilegiados ao visitarem esta exposição do YiiMa”, rematou.

Na mostra patente em Lisboa, no então Museu Colecção Berardo, já encerrado, mostraram-se imagens com os próprios artistas transformados em anjos e a representação de lugares icónicos de Macau que foram mudando ao longo do tempo, como casas de matriz chinesa, estruturas de bambu, templos budistas no meio da cidade. Em todas as obras se faz um exercício de reflexão sobre a Macau do passado e do presente e as constantes mudanças urbanísticas que têm ocorrido ao longo do tempo.

15 Mar 2023

Rosa Coutinho Cabral, cineasta: “Prémios dão um novo alento”

Filmado em Macau em 2018, “Pe San Ié”, longa-metragem documental sobre a vida de Camilo Pessanha, recebeu, em Fevereiro, quatro distinções no festival New York Movie Awards. Mas a realizadora Rosa Coutinho Cabral não tem parado. Depois do lançamento no ano passado de “A Casa da Rosa”, está na forja um projecto de filme e peça de teatro sobre Natália Correia, que poderá ser apresentada em Macau

 

A longa-metragem documental de 2018 “Pe San Ié” continua a ganhar prémios. Como encara esta longevidade da obra?

Fico muitíssimo satisfeita, sobretudo porque foi um trabalho que eu gostei muito de fazer na companhia do Carlos Morais José e apoio da produtora Inner Harbour. Contou ainda com a colaboração de muitas pessoas, tal como Susana Gomes e Pedro Cardeira na fotografia e José Carlos Pontes na música. Estes quatro prémios [Melhor Longa-metragem Documental, prémio Prata para Melhor Música Original, Melhor Edição e Melhor Cinematografia] dão um novo alento ao filme. No fundo, um filme vive do seu reconhecimento e da sua projecção, e se não for visto é, de alguma maneira, um arquivo morto. O facto de estar a ser desarquivado, digamos assim, e procurado [é bom], porque são muitos destes festivais que nos procuram, convidando-nos a enviar o filme para concurso. Não há dinheiro envolvido, mas estes prémios trazem o reconhecimento. Saber que fizemos um objecto artístico e cultural com interesse que vai além do momento em que a produção termina, o facto de continuar a ser solicitado depois destes anos traz uma revitalização muito grande. Dá uma grande importância ao tema, passado em Macau, algo que também está muito presente no imaginário das pessoas, bem como a figura de Camilo Pessanha.

Passaram alguns anos desde que fez o filme. Como olha hoje para o projecto?

Tive a oportunidade de rever o filme muito recentemente. É muito raro ver filmes meus já terminados e, muitas vezes, nem os vejo quando passam nos festivais. No entanto, vi-o num outro dia e considero que continua muito actual no propósito que tinha. Não mudaria nada. Acho que a escolha do Carlos Morais José para personagem aglutinadora faz com que o documentário seja ficcional, um misto de detective com Pessanha, da nossa própria condição de português no Oriente, é muito importante. Isso faz com que o filme ganhe um trajecto temporal entre aquilo a que se refere, que é o tempo de Pessanha, e o tempo que vivemos hoje em dia, que é o tempo em Macau. Esta actualidade que se prende com o tempo anterior está muito bem resolvida no filme e não mudaria nada. Ainda hoje recebi um convite de outro festival [para apresentar o filme a concurso]. Há ainda outro aspecto que queria sublinhar: sempre considerei que isto era um ensaio cinematográfico que colocava o olhar de um morto num sítio vivo. Acho que isto foi conseguido e, passados estes anos, ainda acho que é isso que está no filme: um contrato com a pessoa que morreu e com o seu olhar sobre um espaço que ele escolheu viver e morrer e onde escreveu grande parte da sua obra. Confesso que esta ideia de ter um espaço que vacilava entre o campo, que é o olhar dele, e o contracampo, que é o presente, ainda lá está no filme e fico contente com isso. Ainda consigo achar o que tinha proposto e não fiquei zangada comigo. Quando acabo os filmes fico sempre um pouco zangada, com a sensação que não era aquilo que queria.

Venceu também outros prémios neste festival, nomeadamente com o recente documentário “A Casa da Rosa”. Fale-me desse projecto.

É um projecto sobre a perda, o outro e tem a ver comigo, com aquilo que perdi ao longo da vida, que foi bastante trágico, e que acaba por culminar com a perda de uma casa. Quis filmar todo o processo de saída, de ser obrigada a sair de uma casa que era o meu lugar, um sítio onde tinhas as minhas memórias e onde tinha tudo aquilo de que não me queria afastar, mas que fui obrigada. Na verdade, não tinha dinheiro para pagar a renda e fui despejada. Fiquei um pouco espantada com o facto de o filme ter tido todo este reconhecimento, o que é interessante para um filme muito íntimo, muito sincero, muito honesto sobre o que senti. Foi totalmente feito por mim: gravei, fiz o som, filmei-me continuamente, tive de me encenar a mim, colocar a câmara, criar um espaço. Foi uma espécie de auto-encenação, uma coisa muito intensa e feita sem dinheiro nenhum, com o meu dinheiro e de pessoas amigas. A música foi oferecida pelo José Carlos Pontes. Acho que, cinematograficamente, é um filme de grande honestidade sobre a perda. A minha pergunta é como se filma a perda, o luto, algumas situações muito trágicas. Consegui fazer o filme porque me deixei arrastar pelo meu sentimento e honestidade, de nada esconder. É uma pessoa que se despe e mostra o que é. Não sei se voltarei a fazer isso, mas dessa vez, fi-lo.

Foi uma maneira para lidar com várias situações difíceis, portanto.

Sim, pode-se dizer que sim. Este lado trágico e que culmina com o processo da catarse… possivelmente, sim. Fui muito obsessiva na filmagem, gostei bastante de a fazer, mas usei o método que quase me levou a enlouquecer com essa obsessão. Já estava farta da casa e de filmar. Andava sozinha pela casa e pelo telhado de um edifício de Lisboa sozinha, à noite, porque queria sentir tudo o que tinha a ver com aquela casa. Houve uma altura em que quase raiou a loucura, uma certa desrazão. Mas foi um processo do qual não me arrependo. Ainda bem que o fiz.

Como é ver revelado algo tão pessoal em festivais de cinema?

Não foi difícil. A primeira exibição foi no DocLisboa, foi bem recebido, segundo consta esteve muito perto de receber o prémio [principal], mas houve outro filme de que gostaram mais. As coisas são assim. Depois tive um contacto com uma curadora italiana que quis levar o filme para o festival “8 1/2”, baseado no [Federico] Fellini, e aí o filme começou a circular e recebemos convites para outros festivais. Nunca recebemos dinheiro, o que me teria dado muito jeito (risos). Houve pessoas que acreditaram no filme e ajudaram na montagem.

Está a trabalhar num documentário sobre Natália Correia. Quando termina esse projecto?

Em Setembro. Na próxima semana vou estrear uma peça de teatro, também sobre a Natália Correia, intitulada “Colheres de Prata”, que, se tudo correr bem, poderá ir até Macau.

Porquê Natália Correia?

Por várias razões: eu sou açoriana, ela é açoriana. Viemos para Lisboa praticamente com a mesma idade, não porque quiséssemos vir, mas porque a família veio. Tivemos de sair de uma ilha de que ambas gostávamos bastante para um lugar ainda desconhecido. Natália foi sempre uma mulher do lado da liberdade e da defesa dos direitos humanos. Foi uma anti-fascista. Toda a vida foi dedicada a defender estes propósitos, quer na literatura, quer na política, quer nas campanhas que apoiou, nomeadamente a de Humberto Delgado. Foi uma mulher bastante intransigente e muitos livros dela foram apreendidos pela censura. Sempre defendeu a figura da mulher, sem o feminismo um pouco bacoco da época. Ela fazia, para mim, a defesa de um feminismo mais actualizado e interessante. Ainda hoje concordo com ela. Nunca teve a ideia disparatada de as mulheres terem de substituir os homens ou de homogeneizar formas de poder. Achava que o mundo tinha de ser habitado por homens e mulheres em igualdade de circunstâncias sociais, políticas e económicas e já falava na igualdade de género. Depois do 25 de Abril de 1974, foi uma voz importante e fez um movimento crítico em relação ao seguimento da Revolução. O que também acho interessante. Nunca perdeu as características da sua voz e isso fez dela uma mulher que muita gente quis reduzir a anedota, numa mulher de direita, desbragada. Nunca foi contra as instituições democráticas e as críticas que fez foram proféticas, com coisas que hoje vemos que são verdade. Sou uma pessoa de esquerda e sempre me identifiquei com ela, por ser uma voz discordante numa época em que era difícil sê-lo, pois ser discordante era ser de direita. Mas ela nunca se inibiu, e acho isso notável. Foi ainda uma mulher extraordinária na literatura, e luto, nestes projectos que estou a fazer, contra a redução dela a uma anedota e a uma ideia política que não corresponde à verdade. Foi sempre anti-fascista, antes e depois do 25 de Abril.

14 Mar 2023

DSEC | Comércio por grosso e retalho com mais trabalhadores

A Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) revelou que no quarto trimestre de 2022 o número de trabalhadores na área do comercio por grosso e retalho aumentou 4,5 por cento, face ao mesmo período de 2021. Só no sector do retalho o número de trabalhadores totalizou 41.017 trabalhadores, mais 4,1 por cento face ao período homólogo de 2021.

Pelo contrário, os salários destes trabalhadores foram, em média, 13.740 patacas, uma quebra de 1,7 por cento em termos anuais. Na área da segurança registaram-se 12.974 trabalhadores, que representa uma quebra de 0,4 por cento, com a remuneração média a ser de 12.880 patacas, menos 5,2 por cento. Nesta área, o número de vagas disponíveis foi de 1.111, menos 59 em termos anuais.

Em contraste, o número de vagas na área do comércio por grosso e retalho foi 2.632, ou seja, mais 796 em termos anuais. Para 86,9 por cento das vagas para seguranças foi exigido o equivalente ao ensino secundário geral ou inferior, bem como para 65,3 por cento das vagas na área do comércio por grosso.

14 Mar 2023

Maria do Rosário Pedreira, autora e editora: “Ou escrevia, ou ia ao psiquiatra”

Acaba de ganhar o prémio do festival literário “Correntes D’Escritas” com o novo livro de poesia “O meu corpo humano”, editado no ano passado. Na obra, Maria do Rosário Pedreira faz um exercício de reflexão sobre o mundo, mas também sobre si própria, depois do sofrimento gerado pela pandemia. A autora encara a publicação espaçada de poesia como um momento catártico

 

Regressou agora do festival “Correntes D’Escritas” onde o seu último livro, “O meu corpo humano”, foi premiado. Imagino que a distinção tenha produzido uma óptima sensação.

Claro (risos). Primeiro porque tenho um especial carinho pelo festival, que existe há mais de 20 anos e que não tem ainda nenhum equivalente em Portugal. Foi importantíssimo ganhar este prémio por ser um festival de que gosto especialmente e por ser de um livro que é especialmente duro, que tem a ver…

Consigo, mas não só…

Sim. É talvez o meu primeiro livro que fala do outro quase de uma maneira suplicante, porque, na verdade, fala do corpo no sentido de ser frágil, vulnerável ao tempo, à doença, à idade e ao envelhecimento, e humano no sentido humanista, ou seja, é um corpo que sofre e ao qual é preciso prestar atenção e ter compaixão, é preciso ter empatia pelo corpo do outro. Ainda há dias aconteceu um terrível naufrágio ao largo da costa italiana em que morreram uma data de pessoas, muitos deles crianças. Temos pena nesse dia em que passa a reportagem e depois nunca mais se fala disso. Quis, no fundo, com estes poemas, chamar a atenção para a indiferença perante as grandes questões. Por exemplo, esta história de retirarem palavras como “feio” e “gordo” de livros de um autor clássico juvenil [Roald Dahl] é ridícula ao pé de problemas como tentar resolver a questão da fome ou das migrações que não estão minimamente resolvidos.

Vivemos na era do politicamente correcto que está a deturpar conceitos e ideias com os quais fomos crescendo?

Estão-se a radicalizar questões que, de facto, são muito importantes, como o racismo, a xenofobia. A nossa relação em relação às lésbicas, gays e transsexuais têm de mudar, de facto. Não pode continuar como no tempo dos meus pais, em que era tudo um escândalo e andava tudo escondido. Acho é que são questões que não estão a ser tratadas da maneira certa, porque se confunde muito “língua” e “linguagem”, ou seja, acham que por se dizer “presidenta” já estão a respeitar a mulher que detém o cargo. Não tem a ver com isso. Não estou a ofender uma mulher se a chamar de “presidente”. Muitas vezes torneiam-se as questões sérias com um tratamento que é radical e quezilento e que só vai criar anticorpos. Em relação à retirada de nomes como “feio” e “gordo” há, de facto, coisas menos boas e não devemos poupar os miúdos ao que existe. Não os podemos esconder do mundo real. Estudos demonstram que uma das razões pelas quais o QI está a baixar na Europa desde o ano 2000 é, justamente, pela falta de linguagem, pela falta de capacidade de construir argumentos. Estamos a ver em toda a Europa os partidos de extrema-direita a crescer, porque falam preto no branco. O problema reside em que, se quem ouve, só percebe o básico. O problema da esquerda hoje em dia é, em vez de tentar resolver os grandes problemas dos países, [focar-se noutros]. Temos de ir à base e resolver os problemas maiores.

Publicou livros infantis numa época diferente [colecções “O Clube das Chaves” e “Detective Maravilhas”], quando não havia internet. Já aí tinha a preocupação de transmitir o mundo real?

Sim. Aliás, os textos sobre as colecções que fiz dizem sempre que os livros tentam transmitir valores humanos que estão em declínio e, ao mesmo tempo, transmitir informação que não é dada nas escolas. Isso já era uma preocupação minha, nem era tanto fazer um objecto literário. Queria ganhar leitores e trazer miúdos para a leitura, atraindo-os com temas como as injustiças que se passam no mundo, na escola, as coisas que não sabem como resolver ou o conflito entre gerações. Penso que o máximo problema hoje em dia é, justamente, a dependência juvenil da tecnologia e o afastamento da leitura, porque esta sempre ajudou as pessoas a serem mais empáticas, por haver uma identificação com as personagens. Além disso, a leitura desenvolve capacidades que o audiovisual não desenvolve, como o pensamento crítico ou a imaginação. Esta é uma geração dependente do audiovisual.

Voltando ao seu livro, o júri do “Correntes D’Escritas” destacou “a ousadia como a obra aborda a experiência do corpo humano nas dimensões do desejo, morte, memória e na relação com o outro”. Não é só um livro de poemas sobre si, como mulher, na relação com o seu corpo, é também um exercício de reflexão sobre o mundo onde habita?

Claro. Acho que nos meus livros anteriores era sempre o sofrimento pessoal do sujeito poético que estava à mostra. Eram sempre os poemas do “Eu”. Perdi algumas pessoas na pandemia e o sofrimento alheio passa a ser um pouco o nosso. Já tenho uma vida equilibrada e, se calhar, não precisava de sofrer tanto pelas minhas questões pessoais, mas a verdade é que ficámos com mais tempo para olhar para nós, porque ficámos sozinhos, não podíamos sair nem estar com os outros. Percebemos também que o tempo que estava a passar, para pessoas mais novas, não tem eco no futuro, mas para uma pessoa na minha idade sim. Eu estava, na pandemia, quase com 60 anos, o que significa que os anos que vêm aí são preciosos, e que chatice não podemos vivê-los. Há também uma influência no corpo físico. Olhamos para trás e percebemos o que não podemos voltar a fazer. Já não nos vamos apaixonar como o fizemos em jovens, já não nos podemos voltar a vestir com coisas que, se calhar, gostaríamos. Percebemos que o nosso corpo é vulnerável e não volta a ser o que era. O que acontece a partir de certa idade é um arrependimento pelas coisas que não fizemos. O meu livro reflecte esse olhar para o espelho e a reflexão do que já se fez e não se vai a tempo de fazer e, por outro lado, perceber que com a vida minimamente equilibrada em termos sentimentais, olhamos para os outros e percebemos que estão piores que nós. Nós, com esta vulnerabilidade do tempo, temos a obrigação de fazer alguma coisa, muitas vezes pelos jovens. Na questão dos migrantes, vemos pessoas, que são jovens, mais sujeitas a que o seu corpo sofra. Portanto, este é um livro sobre até que ponto não devemos ser compassivos, empáticos e atentos aos que estão a sofrer.

Arrepende-se de alguma coisa que não tenha feito?

Quando era miúda fiz teatro e sempre pensei que gostava de fazer teatro, mas não é aos 63 anos que me vou pôr a fazer isso. Poderia fazê-lo, mas não seria a mesma coisa. Há pouco tempo, por exemplo, pensei em fazer um herbário, mas com esta idade já não se justifica andar a recolher plantas de ruas e jardins, talvez fosse melhor ter feito isso antes. Há montes de livros que não li que gostava de conseguir ler até morrer e se calhar já não vou conseguir, porque o nosso cérebro já não processa a informação da mesma maneira. Não tenho filhos, mas nunca senti muito o apelo maternal e casei com quarenta e tal anos. Mas escrevo num dos poemas do livro que gostava de ter tido netos.

A relação que tem hoje com o seu corpo é mais tranquila?

Não é nada tranquila! Esse é o problema, porque acho que o envelhecimento físico é uma coisa muito complicada. Oiço mal e lido muito mal com o facto de ir ver uma peça de teatro e não conseguir ouvir tudo. É limitativo, lido mal com isso. Acho que as pessoas têm de gostar de si e não é fácil o facto de um corpo envelhecer. Não tenho uma relação pacífica com isso. Como tenho uma vida muito activa, foi o período da pandemia que me fez parar e se calhar está associado a coisas que não gostei de ver. Não acho que seja pacífica a relação com o meu próprio corpo. Queria gostar mais de mim.

Disse numa entrevista que a poesia já a salvou de momentos de angústia, até de uma depressão? É como uma catarse constante?

Digamos que os meus livros são sempre terapêuticos, e por isso escrevo pouco. Se não publico até é bom sinal, porque não preciso de o fazer.

Não publicava poesia desde 2012, quando editou “Poesia Reunida”.

Sim. A minha poesia escreve-se pouco. Se calhar, se não tivesse sido um momento especialmente mau nesta pandemia, com a perda de pessoas amigas e o envelhecimento, muito provavelmente não teria voltado. Defino sempre um livro de poesia como: ou o escrevia, ou ia ao psiquiatra. Na verdade, prefiro escrever o livro, porque cada poema que sai faz-me sentir bem e o eco no leitor é muito gratificante. Isso acaba por curar, se calhar, o mal que estava antes do livro. É uma terapia.

Já foi ao psiquiatra, ou recorre sempre aos livros?

Já fui ao psiquiatra, sim, mas foi há muitos anos (risos).

É também editora, e no grupo Leya é responsável pela descoberta de novos autores. O que um romance tem de ter para lhe chamar a atenção?

É muito difícil de responder a isso porque nunca é a mesma coisa. É mais uma coisa de sentir do que de descrever. Hoje em dia publica-se toda a espécie de porcaria que existe. Discordo muito disso porque quem tem talento tem, quem não tem deve fazer outra coisa. Devíamos dar um espaço de destaque ao verdadeiro escritor. Quando comecei, com vinte e tal anos, a edição de livros era uma actividade muito menos industrial do que é hoje. Há livros editados que são maus formadores de leitura e levam a que as pessoas pensem que também podem publicar. Temos o mercado pejado de coisas verdadeiramente más. O material que usamos para escrever um livro é aquele que usamos nesta entrevista, para pedir um café ou insultar alguém. Combinar isso [bem, num livro] é cada vez mais raro, e é isso que me faz escolher um livro. Na nova geração, então, é raríssimo.

Recebe muitos livros?

Muitíssimos. É difícil encontrar um bom livro porque a geração educada pelo audiovisual não só escreve pior como escreve como se fosse um guião, em tempo real, no presente do indicativo, sem discrições.

E na poesia, há maus poemas?

Há péssimos. Mas sempre houve, e ninguém os edita. A diferença entre a poesia e a prosa é que, como a poesia se vende pouco, não há empresas interessadas em fazer os livros às pessoas. A má poesia não se vende, mas a má prosa sim, porque há empresas especializadas em afagar o ego das pessoas que não têm talento, e estas pagam para ter o seu livro publicado. Mas depois o livro nunca aparece em lado nenhum. Isso baralhou o mercado e hoje quando entramos numa livraria não conseguimos distinguir o bom do mau.

14 Mar 2023

Huizhou | Promoção de rua itinerante sobre Macau

Decorreu este fim-de-semana a actividade de rua de promoção do turismo de Macau na praça central do Huamao Place, em Huizhou, intitulada “Sentir Macau, Sem Limites”, promovida pela Direcção dos Serviços de Turismo (DST). A promoção de rua foi feita graças a uma caravana que serviu de palco para diversos espectáculos de música e danças chinesas e portuguesas e que promoveu uma interacção com o público.

Foi ainda instalada na caravana uma zona de realidade virtual para a população de Huizhou “apreciar os pontos turísticos do Património Mundial de Macau e sentir a atmosfera do evento”, descreve a DST, em comunicado.

A iniciativa teve ainda uma zona interactiva com um fundo temático para os participantes tirarem fotografias, como uma parede com graffiti, uma sala de exposições, uma tenda com jogos, a realização de workshops para pais e filhos e ainda um espectáculo de vídeo mapping, entre outros.

Destaque ainda para a instalação de stands promocionais da parte das seis operadoras de jogo e a presença da mascote “Mak Mak”, criada pela DST, que interagiu com os presentes.

O objectivo desta iniciativa foi a promoção da “diversidade do ‘Turismo+’ de Macau”, seguindo-se agora mais iniciativas do género em outras cidades integrantes da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, para que a RAEM venha a receber um leque mais diversificado de turistas, a fim de se “promover a recuperação do turismo e da economia”.

Irão, assim, ser organizadas actividades em cidades como Shenzhen, Dongguan, Foshan e Zhaoqing.
Cheng Wai Tong, subdirector da DST, adiantou, num discurso proferido no sábado, na cerimónia de inauguração da actividade, que a ideia deste tipo de iniciativas promocionais é “aproveitar a recuperação completa da circulação de pessoas entre o Interior da China, Hong Kong e Macau”.

13 Mar 2023

TUI | Dados falsos para concorrer a habitação social é crime

O Tribunal de Última Instância (TUI) entendeu que prestar falsas declarações nos boletins de candidatura a habitação social constitui um crime de falsificação de documentos.

A decisão consta num acórdão de jurisprudência tornado ontem público e que surge depois de diferentes leituras da lei entre o Tribunal de Segunda Instância (TSI) e o Ministério Público (MP), relativamente a um caso de 2021 em que um residente que prestou falsas declarações foi absolvido da prática de qualquer crime pelo Tribunal Judicial de Base (TJB).

Coube ao MP interpor recurso para o TUI da decisão do TSI, alegando que as decisões “estavam em oposição relativamente à mesma questão de direito e no domínio da mesma legislação”. O TSI havia considerado que o boletim de candidatura à habitação social não é “um documento no sentido jurídico penalmente relevante” no âmbito do Código Penal em vigor, pelo que “a falsidade dessa declaração não preenche aquele tipo legal de crime de falsificação de documento”. Assim, o TSI decidiu manter a decisão do TJB. Já o TUI, decidiu no sentido oposto e considerou a prestação de falsas declarações como crime.

13 Mar 2023

Exposição | “In-Between”, de José Drummond, na galeria ATTN até Junho

José Drummond, artista e ex-residente de Macau, expõe “In-Between” na galeria ATTN, sediada em Guangzhou, até 4 de Junho, numa mostra que introduz a representação do artista na China. A exposição faz uma espécie de retrospectiva do trabalho de Drummond realizado nos últimos anos através de oito séries de peças que divergem entre pintura, instalação ou vídeo. Destaque para a nova instalação “So the darkness shall be the light”

 

A nova exposição de José Drummond junta uma ponta de ironia a um pedaço de coincidência. “In-Between”, patente na galeria ATTN, em Guangzhou, até 4 de Junho, marca o início da representação do artista na região, logo agora que Drummond decidiu deixar temporariamente Xangai, onde vivia há alguns anos depois de um longo período a viver em Macau.

“Até tem alguma piada, porque a partir do momento em que decidi regressar a Portugal apareceram uma série de coisas, como que a quererem prender-me à China. Esta colaboração é muito recente e não sei muito bem o que vai sair daqui”, confessou ao HM.

“In-Between” faz uma espécie de retrospectiva do trabalho artístico multidisciplinar que José Drummond tem realizado nos últimos anos na área das artes plásticas. A curadoria é de Lijun Liu e Ryan Wang e foram eles que escolheram todas as peças. Assim, o público chinês poderá ver peças já expostas.

A única novidade é mesmo “So the darkness shall be the light”, uma instalação com espelhos baseada numa outra peça já apresentada em Macau entre 2017 e 2018 e inspirada no verso de um poema de T.S. Elliot. Há aqui um lado interactivo, pois o público será convidado a ir colando fita adesiva nos espelhos até não restar mais nenhum outro espaço livre.

“Em Macau tinha um corredor com espelhos dos dois lados que iam acendendo e apagando. Esta instalação é uma variação desse tema e tem a ver com essa necessidade ou sujeição a que estamos dispostos, como pessoas, às redes sociais, com a extrema visibilidade. Tem também a ver com a forma como os Governos cada vez mais nos controlam e a forma como tratamentos a nossa persona, daí a presença do espelho.”

A “escolha ecléctica” de trabalhos presente em Guangzhou é o início de uma parceria que traz “boas perspectivas” a José Drummond. “Esta é uma galeria bastante recente, revelaram interesse no meu trabalho e eu aceitei. É importante ter uma galeria que represente o meu trabalho na China. Há outras galerias e museus que durante este ano e início do próximo ano vão mostrar o meu trabalho.”

“Estamos ainda numa fase pós-pandemia e as coisas economicamente ainda estão a ser feitas com algum cuidado, porque especialmente o último ano já foi complicado para a economia chinesa. Assim, a exposição vai estar patente mais tempo do que é habitual. Gosto do projecto, das pessoas que estão por detrás dele, e tenho boas expectativas”, adiantou ainda sobre a parceria com a galeria ATTN.

Em Portugal o artista já tem projectos agendados, mas não quer, para já, revelar mais detalhes. “Não acredito que o meu trabalho seja especial ou se destaque de outros. Acho que trabalhamos todos mais ou menos com o mesmo tipo de linguagem, uma linguagem contemporânea. Mas uma coisa é certa: eu sou a soma das minhas experiências, aquilo que vivi tem sempre influência naquilo que faço e no modo como abordo as coisas. No meu trabalho isso até é bastante nítido, porque é a tal história do estado intermédio entre culturas. Tenho trabalhado bastante esse tema da influência de uma outra cultura na minha própria cultura, criando esta entidade mista.”

Ser e estar

O nome da exposição, “In-Between”, nasce precisamente de um estado intermédio em que o artista português tem vivido nos últimos anos desde que emigrou para Macau, uma terra da qual tem saudades, mas que nunca foi verdadeiramente sua, tal como não foi Xangai.

“Sempre trabalhei este estado intermédio, o ‘In-Between’, com muita consciência, pelo menos nos últimos dois anos. É um estado que geograficamente diz respeito a alguém que passa muito tempo fora da sua terra natal e depois acaba sempre por viver nesse espaço intermédio, de não fazer parte do sítio para onde se vai e deixar de fazer parte do sítio de onde se veio. Daí as minhas referências ao Camilo Pessanha, por exemplo.”

De frisar que o poeta português, considerado o expoente máximo do Simbolismo na poesia portuguesa, viveu entre Lisboa e Macau por longos períodos, mas foi a Oriente que morreu, em 1926, depois de anos dedicado às letras e ao Direito, estando sepultado em Macau.

“Este tema foi-se acentuando no meu trabalho, mas não se esgota nesse sentido existencial. Tem também a ver com a minha prática artística, que também é, em si, uma prática ‘in between’, que se move de um lado para o outro, entre pintura, vídeo ou instalação. É uma prática que vive no meio destas disciplinas”, acrescentou José Drummond.

Assumindo que está “numa fase de maturação ao nível de temas” para trabalhar artisticamente, e que já não fogem muito “do trabalho em torno deste lado existencial e de espaço intermédio, com a ligação à poesia e filosofia”. “Penso que as coisas vão seguir por esse caminho”, concluiu.

13 Mar 2023

Cinemateca Paixão | Festival do Cinema Holandês arranca amanhã

É já amanhã que tem início um novo festival de cinema na Cinemateca Paixão, desta vez dedicado ao cinema holandês, feito inteiramente por realizadores do país ou em co-produção. Até dia 25, o público poderá ver curtas e longas-metragens, das produções mais recentes às antigas

 

“Fazer o caminho holandês” é o nome do novo festival de cinema da Cinemateca Paixão inteiramente dedicado às produções cinematográficas holandesas. Entre amanhã e o dia 25 deste mês, será possível ver curtas e longas-metragens de diversos realizadores. O filme mais antigo data de 2001. Incluem-se ainda co-produções produzidas por realizadores holandeses e de outros países.

Numa nota divulgada no seu website, a direcção da Cinemateca Paixão aponta que os filmes europeus são conhecidos por “revelarem culturas ricas e por apelarem à consciência do público para com diversas questões”, sendo que os filmes da Holanda, ou Países Baixos, “são conhecidos por apresentarem um ponto de vista único e diversificado”, bem como “críticas às questões sociais”.

Alguns os filmes que se apresentam nesta iniciativa foram parte integrante do Festival de Cinema de Roterdão, considerado um dos maiores festivais de cinema do mundo. Com este festival, será possível “vaguear por esta nação livre com uma rica atmosfera artística”, conhecida pela sua “progressividade, igualdade, pragmatismo, abertura, diversidade cultural e inovação”.

Viagens e histórias pessoais

O primeiro filme a ser exibido, já esta sexta-feira, é o mais antigo de todos, datando de 2001, e é uma produção totalmente holandesa, do realizador Nanouk Leopold. Exibido também no dia 22, “Îles Flottantes”, uma comédia, conta a história de três mulheres na casa dos 30 anos que querem mudar de vida, mas acabam por fazê-lo de forma errada.

Nas vidas de Sasha, Kaat e Isa contam-se separações dolorosas, casos de violência doméstica e paixões que se transformam em densos labirintos, onde a amizade é ponto fulcral nesta história.

No sábado, e também no dia 21, será exibido “Zurich”, de Sacha Polak, uma co-produção entre a Holanda, Alemanha e Bélgica. Este filme de 2015 revela a história de Nina que inicia uma viagem de carro sem destino certo para deixar o passado para trás. Pelo meio, encontra-se com um camionista alemão, Matthias, com quem decide prosseguir viagem.

No entanto, opta por esconder a sua identidade e a sua vida, mas esta será uma viagem que lhe dará muitas das respostas que ela procura para si mesma.

No domingo, e também no dia 18, será dia de exibir “Splendid Isolation”, de Urszula Antoniak, uma produção do ano passado feita totalmente na Holanda. Esta é a história de Anna e Hannah e de uma catástrofe pouco conhecida à qual escaparam. É numa ilha algo isolada, e vivendo numa casa abandonada, que Anna toma conta de Hannah, que se encontra numa condição muito frágil. Têm uma relação, mas aquele período fá-las pensar na forma como a vivência entre as duas evoluiu. Quando Hannah vê alguém na praia, que representa a Morte, tudo muda.

A co-produção com a Bósnia e Herzegovina, “Take Me Somewhere Nice”, de Ena Sendijarevic, integra também o cartaz do festival. A película poderá ser vista nos dias 15 e 19 de Março. Destaque ainda para os títulos “Layla M.”, de Mijke de Jong, exibido nos dias 17 e 23 de Março, e ainda “Three Minutes: A Lengthening”, de Bianca Steiger, um trabalho mais recente, de 2021. Este filme será exibido nos dias 14 e 25 de Março.

A Cinemateca Paixão optou ainda por exibir uma selecção de quatro curtas-metragens, nos dias 19 e 24 de Março. São elas “Noor”, de Louka Hoogendijk, “Spotless”, de Emma Branderhorst, “The Walking Fish”, de Thessa Meijer, e “Harbour”, de Stefanie Kolk.

10 Mar 2023

EPM | Diálogo com o Ministério da Educação intensifica-se

Desde que foi noticiado que o Ministério da Educação em Portugal estava a bloquear o projecto de ampliação da Escola Portuguesa de Macau que o diálogo com Lisboa se intensificou. O Ministério confirmou ao HM que o projecto está a ser analisado. José Sales Marques, administrador, confirma um certo desbloqueio

 

Há muito que se fala que a Escola Portuguesa de Macau (EPM) quer fazer obras de ampliação nas actuais instalações para poder receber mais alunos e expandir o projecto educativo, mas tudo continua na mesma. Depois de a TDM Rádio Macau noticiar, no passado dia 2, que o impasse estava do lado do Ministério de Educação, em Portugal, o diálogo intensificou-se.

Disso deu conta o próprio Ministério numa resposta enviada ao HM. “O Ministério da Educação está a analisar estas questões em diálogo e articulação com a Escola Portuguesa de Macau e com as autoridades macaenses. Este processo ainda está a decorrer”, foi referido.

Do lado de Macau, José Sales Marques, um dos administradores da Fundação da EPM, entidade que gere a escola, confirma a intensificação do diálogo nos últimos dias. “Não vou entrar em pormenores, até porque ainda nada existe de concreto. Mas, digamos, o diálogo intensificou-se nestes últimos dias e as autoridades da RAEM estão a procurar ajudar a resolver tanto a falta de espaço a curto prazo, como a questão da ampliação futura da escola. Estamos no bom caminho”, adiantou ao HM.

Muitos alunos, poucas salas

Na notícia da TDM Rádio Macau, que cita fontes anónimas ligadas ao processo, é referido que a procura da parte das famílias daria para abrir mais três turmas no próximo ano lectivo, mas que a falta de espaço faz com que tal não seja possível.

Uma das fontes disse que a Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ) e o próprio Chefe do Executivo “têm manifestado sempre apoio ao eventual desenvolvimento da Escola Portuguesa, mas sem o sim de Lisboa não se pode avançar. As autoridades locais não percebem tanta indefinição e quando perguntam já não sabemos o que dizer”.

O Ministério da Educação, em Portugal, é o sócio maioritário da EPM, que recebe financiamento da Fundação Macau desde que a Fundação Oriente deixou de financiar o projecto. A EPM conta ainda com apoio financeiro regular da parte da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude. Outra fonte ouvida pela TDM Rádio Macau, frisou que “Macau não vai pagar tudo e Lisboa tem de assumir o que lhe compete”.

9 Mar 2023

Dia da Mulher | Os desafios em prol de uma maior igualdade

Agnes Lam, ex-deputada, e Christiana Ieong, dirigente do Zonta Clube de Macau, traçam os desafios actualmente sentidos pelas mulheres de Macau, apontando que há ainda espaço para uma maior igualdade em diversos sectores e por melhorias na lei laboral. Governo diz que tem vindo a atingir parte dos objectivos propostos até 2025

 

A fim de assinalar o Dia Internacional da Mulher, que ontem se celebrou, o HM perguntou a duas mulheres de etnia chinesa, dirigentes associativas e com posições de topo, quais os desafios actualmente sentidos pela população feminina do território.

Agnes Lam, ex-deputada e académica da Universidade de Macau, entende que já muito foi feito, nomeadamente com a implementação da nova lei da violência doméstica, que tornou esse acto um crime público, mas entende que há ainda muito a fazer em prol de uma maior igualdade. “Penso que a maioria das leis garantem direitos iguais para as mulheres, como igualdade salarial e de acesso à educação. No entanto, temos questões de desigualdade ligadas à ideologia de género, o que mostra que há ainda espaço para melhoria nessa área”, disse.

Agnes Lam destaca as poucas mulheres em cargos de topo ou a permanência de “estereótipos de género”. “As mulheres de Macau não estão devidamente representadas nos sectores público e privado. Assim, os papéis tradicionais de género e os estereótipos continuam a moldar as expectativas sociais e a limitar oportunidades”, acrescentou.

São ainda necessárias, para a ex-deputada, mais “políticas que assegurem o equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal”, com horários mais flexíveis e mais apoio para famílias com filhos. Já Christiana Ieong, dirigente do Zonta Clube de Macau, defende que as “os desafios são diferentes para as mulheres de diferentes classes sociais”, apontando que o Governo precisa de melhorar as políticas laborais a fim de favorecer as mães trabalhadoras, para que seja mais fácil contratar empregadas domésticas.

“Sinto muito pelas mulheres trabalhadoras de classe média, e a maior parte das mães que têm os filhos na creche SMART estão nesta posição. As mulheres trabalhadoras sentiram muita pressão no período da pandemia e mesmo depois, com o trabalho adicional que é necessário fazer em casa. É difícil imaginar como se pode desenvolver assim uma carreira.”

Desta forma, com leis mais ajustáveis à condição da mulher, será possível, na opinião de Christiana Ieong, que esta desenvolva uma carreira no mercado de trabalho local, “o que vai permitir acelerar o desenvolvimento económico de Macau na era pós-covid”.

Objectivos cumpridos

O Instituto de Acção Social (IAS) emitiu ontem uma nota onde se afirma que, no âmbito do plano de sete anos intitulado “Objectivos do Desenvolvimento das Mulheres de Macau” (2019-2025) já foram cumpridas 36 medidas de curto prazo de um total de 79. Há 24 medidas de médio prazo, a cumprir até este ano, “das quais 16 foram iniciadas e as restantes oito serão iniciadas sucessivamente” este ano. Há ainda 19 medidas, a implementar entre este ano e 2025, com quatro a serem “concretizadas de modo ordenado”.

O Governo diz que tem vindo a promover medidas tendo em conta o conceito da “transversalização de género” através da organização de palestras com associações. Além disso, o IAS afirma que tem promovido o “Plano educativo da vida familiar”, com o objectivo de “aprofundar o trabalho educativo antes e depois do casamento” e “reforçar a consciência da população sobre a educação da vida familiar e o estabelecimento de uma boa relação matrimonial”. Incluem-se, assim, actividades que fazem a “promoção do conceito de casamento” ou promovem o “reforço de educação matrimonial”.

Quanto à lei da violência doméstica, já há muitas vozes que defendem a revisão do diploma implementado desde 2016, mas o IAS apenas adianta que tem sido reforçado “o mecanismo de cooperação intersectorial e com as instituições de serviço social”, além de terem sido “optimizadas as orientações relativas ao processo de tratamento de casos de violência doméstica, sendo dada continuidade à promoção dos trabalhos de promoção e formação”.

9 Mar 2023

João Paulo Cotrim, editor e autor, homenageado em Portugal

É já no próximo sábado, dia 11, que decorre na Livraria Municipal Verney, em Oeiras, Portugal, um evento de homenagem ao autor e editor João Paulo Cotrim, antigo colaborador do HM já falecido, vítima de doença prolongada.

O evento conta com um debate mais alargado sobre o livro, recentemente publicado, “Foi Quase um Prazer”, que recorda a carreira de Cotrim não apenas na edição de livros, com a editora Abysmo, mas também na área da banda desenhada, já que foi um dos programadores da Bedeteca de Lisboa, entre 1996 e 2002.

O evento começa às 16h com a oficina para crianças e famílias “Agora é que são elas!”, monitorizada pelos ilustradores Nuno Saraiva e Catarina Sobral a partir de jogos e brincadeiras escritas por João Paulo Cotrim para a revista “UP Kids”, o suplemento da já extinta revista “UP Magazine”, editada pela TAP.

Às 18h, decorre o debate sobre o livro, com as presenças do autor, Jorge Silva, o ilustrador André Carrilho, Catarina Sobral, Cristina Sampaio, João Fazenda, Nuno Saraiva, Miguel Rocha, Pedro Burgos e Tiago Manuel. Segue-se, a partir das 21h, um DJ set com “música que é ‘Quase um Prazer'” com Valério Romão, escritor, e Cláudia Marques Santos.

Escrita profícua

Os textos do livro são da autoria do próprio Cotrim, publicados em catálogos, jornais, revistas e redes sociais, e com ilustrações de André Carrilho. Tratam-se de ensaios, comentários e recensões críticas que João Paulo Cotrim escreveu em mais de 30 anos, relacionados com a sua carreira de editor e programador cultural.

O livro começa nos anos 80, com as suas primeiras revistas, “Lua Cheia” e “Lx Comics”, referindo a sua passagem pelo jornal “Combate” e os seis anos em que esteve à frente da programação da Bedeteca de Lisboa. O livro fecha com uma desconhecida faceta de João Paulo Cotrim: as dezenas de colagens que realizou, provavelmente entre 2005 e 2010, confirmam-no também como um talentoso ilustrador.

Nascido em 1965, João Paulo Cotrim foi o autor da crónica semanal “Diário de um Editor” que durante vários meses foi editada na antiga secção “H” do HM. Foi guionista de filmes de animação, autor de novelas gráficas, ensaios e ainda poesia. Faleceu em 2021.

8 Mar 2023

Portugal | Estudantes de Macau sofrem com aumento das rendas

Well Lai, presidente da Associação dos Estudantes Luso-Macaenses, sediada em Lisboa, adianta que os estudantes da RAEM em Portugal também sofrem com o aumento das rendas, sobretudo em Lisboa. A estudante de Direito acredita que o Governo de Macau poderá aumentar o subsídio de alojamento actualmente atribuído

 

A enorme procura que se tem feito sentir no mercado do imobiliário em Portugal, mas sobretudo nas grandes cidades como Lisboa e Porto, tem gerado um grande aumento das rendas, com consequentes dificuldades de habitação para a maioria dos portugueses. Apesar de receberem um subsídio de alojamento mensal de cerca de 3.300 patacas, os estudantes da RAEM em Portugal também têm sofrido com estes aumentos.

Quem o diz é Well Lai, estudante de Direito na Universidade Católica Portuguesa e presidente da Associação dos Estudantes Luso-Macaenses (AELM).

“Recebemos um subsídio mensal de alojamento, mas este não cobre o valor total da renda. Cobre cerca de 75 por cento, sendo de quase 300 euros [3.300 patacas]. Sei que as rendas subiram bastante nos últimos tempos e há estudantes que vivem nas residências universitárias e as rendas também são muito caras. Antes recebíamos menos do subsídio, mas os membros do Governo perguntaram-nos se tínhamos dificuldades e alguns estudantes relataram o aumento das rendas, e houve um aumento mensal de 300 patacas. Se as rendas continuarem a subir é possível que venham a aumentar o subsídio”, disse ao HM.

Neste momento alugar um T2 no centro de Lisboa, por exemplo, pode chegar aos 1.500 euros [cerca de 13 mil patacas], e um estúdio não custa menos de 800 ou 900 euros [entre sete a oito mil patacas].

Criada em 2013 para estabelecer um elo de ligação entre os estudantes de Macau e os portugueses, a AELM dedica-se hoje a realizar diversas actividades de intercâmbio que visam unir mais os residentes a Portugal. Pelo meio, o contacto com entidades como a Delegação Económica e Comercial de Macau ou a Casa de Macau em Lisboa tem sido frequente.

Hoje, são cerca de 70 os membros da AELM, com 15 vogais no activo, conta Well Lai. Os maiores desafios de sair de Macau para estudar em Portugal, relata a presidente, continuam a ser a saída “da zona de conforto” e o contacto diário com a língua.

“Mesmo com alguns cursos de português em Macau, nem todos os estudantes os frequentam e há licenciaturas com uma linguagem mais técnica. A maior parte dos estudantes que estão em Portugal recebem bolsa do Governo de Macau e temos um curso de preparação, o chamado ano zero. Mas muitas vezes um ano não é suficiente, nos casos dos cursos de Direito ou Tradução.”

Mercado algo saturado

Well Lai pretende exercer advocacia quando voltar a Macau e confessa que, nessa área, há ainda vagas de trabalho, mas teme que seja mais difícil encontrar trabalho em relação aos anos pré-pandemia.

“Depois da pandemia as oportunidades de encontrar trabalho em Macau já não são tão boas como antes. Mas acho que na área do Direito ainda existem muitas pessoas interessadas em voltar para Macau. Em áreas como as línguas, os estudantes têm de tirar mais um curso de mestrado para serem mais competitivos face aos outros alunos, porque penso que é um mercado que já está um pouco saturado.”

A Grande Baía poderá dar “mais possibilidades de emprego”, mas é ainda grande o desconhecimento dos estudantes em relação ao projecto. “Penso que vai ser algo bom para tentarmos encontrar emprego. Mas no meu caso ainda considero que Macau é a minha casa. Posso trabalhar na Grande Baía, mas não pretendo viver lá”, adiantou a jovem estudante, que já está no quarto ano de Direito.

Durante a pandemia a associação foi fundamental nos contactos com as autoridades de Macau para que os estudantes regressassem temporariamente a casa. No caso de Well Lai, a estadia em Macau fez-se por um ano e meio, tendo continuado a ter aulas online. Relativamente a eventos para este ano, a AELM pretende organizar algumas conferências e mesas redondas. Na última sexta-feira, decorreu mais uma edição do evento “Bem-vind@ à Ásia”, que incluiu a “Feira de Macau” e uma conferência sobre “o exercício da profissão jurídica em Macau”.

8 Mar 2023

Habitação intermédia | Au Kam San critica ocultação de preços

O ex-deputado Au Kam San escreveu na rede social Facebook que a proposta de lei de habitação intermédia, actualmente a ser analisada na Assembleia Legislativa (AL), peca por não revelar os preços das casas, apresentando apenas os elementos de candidatura. Au Kam San afirma, assim, que o projecto da habitação intermédia está a ser feito da mesma forma que o da habitação económica, ou seja, sem a divulgação prévia dos valores das casas.

O ex-deputado lembrou que, depois de duas rondas de candidatura a casas económicas, em 2019 e 2021, a população continua a não saber o método de cálculo dos preços das habitações por parte do Governo, sendo essa a principal razão pela qual se registou uma redução do número de candidatos.

Au Kam San recordou ainda o período da Administração portuguesa, quando havia a ideia de uma habitação pública com preços acessíveis, enquanto na era RAEM a percepção que existe é de que se trata de casas que valem milhões, sobretudo desde a entrada em vigor da nova lei de habitação económica, com o custo por pé quadrado a atingir as cinco mil patacas.

8 Mar 2023

Jogo | Ano encerra com menos trabalhadores

Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) revelam que houve uma quebra de trabalhadores do jogo no quarto trimestre do ano passado. Havia, no total, 52.174 mil, menos 2.665 funcionários em termos anuais. Relativamente aos croupiers eram 23.721, menos 685, enquanto o pessoal dos serviços e vendedores era 3.967, uma quebra homóloga de 932.

Por outro lado, os dados da DSEC revelam uma subida nos salários: em Dezembro de 2022 a remuneração média, sem contar com prémios ou participações nos lucros, dos trabalhadores do jogo era de 23.680 patacas, um aumento de 1,8 por cento face a Junho do ano passado. No entanto, em termos anuais, os salários baixaram ligeiramente, 0,1 por cento. A remuneração média dos croupiers foi de 19.800 patacas, menos 1,1 por cento em termos anuais.

Durante o quarto trimestre de 2022, 99 trabalhadores foram recrutados e 803 deixaram o emprego. A taxa de recrutamento de trabalhadores, de 0,2 por cento, foi idêntica à do quarto trimestre de 2021, enquanto a taxa de rotatividade, de 1,5 por cento, aumentou 0,6 pontos percentuais, em termos anuais. Já a taxa de vagas desceu para um nível próximo de zero.

A DSEC aponta que “estes indicadores reflectem que a procura de mão-de-obra no sector das lotarias e outros jogos de aposta continuou relativamente baixa”.

7 Mar 2023

AL | Admitido diploma que regula salários de dirigentes educativos

Foi admitida na Assembleia Legislativa (AL) a proposta de lei relativa às “Disposições fundamentais das funções específicas nas áreas do ensino oficial não superior e da juventude” que, na prática, vem actualizar os salários de directores e subdirectores das escolas oficiais do ensino superior, bem como dos directores de serviços educativos.

Na nota justificativa da proposta, lê-se que muitos dos diplomas legais que regulam estas entidades estão em vigor há 30 anos, sendo necessário “rever as remunerações do pessoal e assegurar, de forma eficaz, o normal funcionamento das escolas oficiais ou centros”, bem como “a resolução dos assuntos emergentes em termos públicos”.

A título de exemplo, no ensino secundário, propõe-se que os salários dos directores e subdirectores sejam equiparados às categorias de chefe de divisão e chefe de sector na Função Pública, passando estas profissões a estar associadas aos índices 770 e 735. No caso do ensino primário com jardim de infância integrado, faz-se a correspondência aos índices 740 e 715 da Administração.

Nos centros educativos, é proposta a manutenção da remuneração acessória, com os directores a ganharem o equivalente ao índice 100 da tabela indiciária e os directores dos centros de actividades juvenis a ganharem o correspondente a 80 por cento do índice 100 da mesma tabela.

6 Mar 2023

Dados pessoais | Pedida maior protecção por ligação a Hengqin

A deputada Ella Lei pede uma revisão à lei da protecção de dados pessoais, em vigor desde 2005, tendo em conta a maior troca de informações e de negócios que ocorrem com Hengqin e Zhuhai, a fim de garantir maior segurança e evitar burlas

 

Desde 2005 que a lei de protecção dos dados pessoais está em vigor sem que tenha sido feita uma revisão. Assim, e tendo em conta o aumento do comércio transfronteiriço e um maior fluxo de informação e projectos com o outro lado da fronteira, nomeadamente com a Zona de Cooperação Aprofundada de Hengqin, a deputada Ella Lei pede, numa interpelação escrita, uma modernização da legislação.

A deputada, ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), defende um equilíbrio entre a necessidade de proteger os dados pessoais e o fluxo habitual de informações e negócios, para que a legislação em vigor possa dar resposta aos desenvolvimentos de ordem tecnológica e social que têm ocorrido na cooperação transfronteiriça.

Ella Lei lembrou que há cada vez mais residentes de Macau que vivem e trabalham no interior da China, tendo em conta não apenas o projecto da Zona de Cooperação como também da Grande Baía. Além disso, têm sido lançadas várias políticas de incentivo à fixação de pessoas para uma maior integração regional, disse.

“A sociedade presta atenção à forma como o desenvolvimento do ordenamento jurídico de Macau e da Zona de Cooperação Aprofundada pode dar resposta aos objectivos traçados, assegurando a protecção dos direitos e a segurança no que aos dados pessoais diz respeito, mas garantindo também uma maior conveniência com uma troca legal e segura dos dados”, lê-se.

Atenção às burlas

Um dos pontos referidos por Ella Lei na interpelação, diz respeito às queixas por excesso de chamadas de telemarketing do lado de lá da fronteira para residentes de Macau, sem esquecer os muitos casos de burla informática e telefónica que têm ocorrido nos últimos anos. Neste sentido, a deputada pede mais medidas para aumentar o conhecimento sobre a partilha de dados pessoais e questiona como pode a lei ser reforçada para evitar mais abusos no uso das informações privadas.

Ella Lei pergunta também como é que o Governo tem vindo a concretizar as políticas lançadas pelas autoridades chinesas para que os residentes de Macau fixem morada do lado de lá da fronteira, garantindo uma interconexão segura de informações e pagamentos online.

6 Mar 2023

Grande Prémio | Museu de Macau recebe oito estátuas do Madame Tussaud de Hong Kong

John Macdonald, Ron Haslam, Ayrton Senna da Silva e Sebastian Vettel serão quatro das oito grandes figuras do desporto automóvel representadas em estátuas de cera e que poderão ser vistas no final deste mês no Museu do Grande Prémio. Esta iniciativa nasce de uma parceria com o museu Madame Tussaud de Hong Kong

 

A fim de celebrar os 70 anos da organização do Grande Prémio de Macau (GPM), o museu do GPM recebe, no final deste mês, oito estátuas de cera de pilotos famosos, oriundas do conhecido museu Madame Tussaud de Hong Kong. A Direcção dos Serviços de Turismo (DST) não revela para já, no comunicado já divulgado sobre a iniciativa, os nomes de todos os pilotos, mas já são conhecidos quatro: John Macdonald, Ron Haslam, Ayrton de Senna e Sebastian Vettel.

Os nomes são divulgados no contexto do concurso “Estátuas de Cera dos Pilotos: Adivinha Quem?” que a DST organizou e que terminou no passado dia 28 de Fevereiro. As identidades dos restantes quatro pilotos retratados em figuras de cera, bem como as datas de inauguração da exposição, serão tornados públicos brevemente.

Esta será a oportunidade para o público apreciar “oito estátuas de cera tão verosímeis que parecem verdadeiras, bem como ter a oportunidade de ver outros objectos expostos e experienciar as diversões interactivas multimédia”.
Ayrton Senna da Silva foi um piloto brasileiro nascido na cidade de São Paulo a 21 de Março de 1960. Começou a sua carreira no automobilismo em 1973, em corridas de karts, passando, em 1981, para os carros. Em 1983 foi campeão do Campeonato Britânico de Fórmula 3, tendo-se estreado na Fórmula 1 no Grande Prémio do Brasil de 1984. A sua morte, com apenas 34 anos, em plena competição no Grande Prémio de San Marino, deixou o mundo consternado e fez dele uma lenda mundial do desporto automóvel.

Outra das figuras retratadas no museu é Ron Haslam, britânico que foi, durante mais de 30 anos, piloto de motos, tendo ganho dois títulos mundiais, quatro campeonatos britânicos e competido em quase 110 competições de Grande Prémio em todo o mundo.

De uma geração mais recente de pilotos surge Sebastian Vettel, alemão nascido em 1987 que já foi campeão do mundo de Fórmula 1 quatro vezes consecutivas, além de ter sido vice-campeão por três vezes. Em 2010, tornou-se o mais jovem campeão da história da Fórmula 1.

Primeiro passo

Esta mostra de estátuas de cera de pilotos constitui a primeira cooperação entre a DST e o Madame Tussauds de Hong Kong. A DST sempre procurou “inovar e enriquecer o acervo do Museu do GPM”, além de “realizar projectos e actividades multimédia, promovendo a divulgação e a transmissão da cultura do GPM”.

Em 2021 o museu foi alvo de obras de ampliação, tendo reaberto com uma nova estrutura que disponibiliza mais itens de exposições interactivas multimédia, equipamentos de exposição de cenários, corridas e peças relacionadas com o Grande Prémio, instalações sem barreiras, entre outros. A ideia é proporcionar aos residentes e turistas uma experiência de “educação e diversão”, mostrando a diversidade por detrás do conceito de “turismo +”, a fim de aumentar o número de atracções turísticas existentes no território.

6 Mar 2023

Escola Internacional | Rosa Bizarro deixa cargo de directora académica

A Gerações – Escola Internacional já está a aceitar matrículas para o próximo ano lectivo mas acaba de perder a sua directora académica. Rosa Bizarro confirma a saída, oficializada a 27 de Fevereiro, mas não quer fazer mais comentários sobre o assunto

 

Anunciada em Janeiro como o novo projecto educativo trilingue em Macau, a Gerações – Escola Internacional acaba de perder a sua directora académica. Rosa Bizarro deixou oficialmente o cargo que detinha na Associação do Colégio Sino-Luso Internacional de Macau (ACSLIM), entidade gestora da escola, a 27 de Fevereiro, mas, contactada pelo HM, preferiu não prestar declarações sobre as razões para a sua saída repentina de uma escola que visa disponibilizar um ensino inclusivo e diferente. De frisar que a ACSLIM é uma associação de matriz macaense que conta com nomes como o advogado e ex-deputado Leonel Alves e o arquitecto Nuno Jorge, sem esquecer Edith Jorge, presidente do conselho de administração da ACSLIM.

Numa entrevista concedida ao HM a 17 de Janeiro, Rosa Bizarro dava conta de que o convite para estar na Gerações lhe permitia “implementar um projecto ambicioso, mas de grande qualidade”.

A ex-professora da Universidade Politécnica de Macau entre 2014 e 2021, à época Instituto Politécnico de Macau, referiu ainda que a Gerações “tem muito de inovador e pretende-se que tenha frutos no presente imediato e no futuro”. “Estou muito ligada ao ensino das línguas e questões interculturais e achei que seria, de facto, uma oportunidade para pôr em prática aquilo que ao longo dos anos tenho defendido”, acrescentou.

Espaço de todos

Foi em Dezembro que a Gerações – Escola Internacional ganhou o aval da Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ). Com abertura prevista já para Setembro, no ano lectivo de 2023-2024, a Gerações pretende ser “diferente porque assume as três línguas como a base de todo o trabalho desenvolvido”. A ideia é que a escola possa servir de espaço de inclusão de alunos de diversas culturas, com a criação de currículos “que procuram dar respostas locais e universais”, adiantou, na mesma entrevista, Rosa Bizarro.

Contas feitas pelo jornal Ponto Final, mostram que a Gerações, situada no Aterro da Concórdia, em Coloane, será a instituição de ensino não superior mais cara de Macau, com uma propina anual a rondar as 126 mil patacas.

6 Mar 2023

Paul French, escritor: “Macau era uma ‘Casablanca da Ásia'”

Assume-se como “um escritor diferente da China”. O fascínio pelo Oriente nasceu da aprendizagem do mandarim. Autor de obras como “Midnight in Peking” ou “City of Devils: The Two Men Ruled the Underworld of Old Shanghai”, bestsellers do New York Times, Paul French estará hoje na Livraria Portuguesa, a partir das 18h30, para falar da sua obra e das “estranhas histórias da velha Macau” que contribuem para que o território mantenha ainda uma aura de mistério

 

Há muito que escreve sobre a China e vai hoje à Livraria Portuguesa falar do seu trabalho. O que podemos esperar desta conversa?

Vou contar algumas histórias sobre Macau e os portugueses em Macau. Quando escrevi o livro sobre os gangsters estrangeiros em Xangai nos anos 30 [City of Devils: The Two Men Ruled the Underworld of Old Shanghai], com histórias reais, eu próprio, mesmo conhecendo muito sobre a história de Xangai, fiquei surpreendido com o facto de haver tantos portugueses envolvidos no mundo do crime da cidade. Geriam clubes nocturnos, investiam dinheiro no jogo. Outra coisa curiosa, é que eles aprenderam técnicas de jogo em Macau, levaram slot-machines para Xangai a partir de Macau. Essa é uma ligação interessante que existe entre Macau e Xangai que não é conhecida. Sempre que falamos de Macau falamos de missionários, diplomatas, mas houve muitas outras pessoas que viajaram para Macau. Era como um lugar de escape para quem tivesse problemas em Portugal, era um sítio onde se falava a mesma língua [português] e em que se podia escapar à polícia.

Como teve o primeiro contacto com estas histórias?

Lendo jornais antigos. Claro que a maior parte destas histórias foram publicadas pelos jornais de Hong Kong ou de Xangai nas edições internacionais. Muitas destas histórias simplesmente caíram no esquecimento. Encontrei uma delas numa edição do South China Morning Post de 1936, que dizia que o Japão ofereceu dinheiro a Lisboa para comprar Macau. Não é uma história muito conhecida, mas é um pouco estranha. O Japão pensou que Lisboa poderia dizer sim [à venda do território]. Nos anos 30 Macau rendia muito dinheiro a Lisboa e Portugal não estava ao mesmo nível do Reino Unido. O Reino Unido jamais venderia Hong Kong. Para o Japão seria uma forma mais fácil de conquistar território na Ásia [caso comprasse Macau].

Há ainda muito a descobrir sobre a história e as pessoas de Macau? Persiste um certo mistério?

Há muitas coisas por descobrir em Macau, é um território com essa reputação. Se olharmos para o caos da China nos anos 20 e 30, e para Hong Kong, pouco policiado pelos britânicos na qualidade de colónia, Macau era um sítio muito fácil nesse sentido, era permitido fazerem-se muitas coisas. Muitos ficavam satisfeitos com isso, os chineses e as pessoas de Hong Kong, por causa dos negócios. Na II Guerra Mundial Macau passa a ser importante por causa da sua neutralidade e torna-se numa espécie de “Casablanca da Ásia” em termos da presença de espiões, por exemplo. Macau era o lugar onde os nazis, os japoneses e os chineses se misturaram durante o conflito. Fiz também muito trabalho sobre os judeus refugiados em Macau. Durante a II Guerra Mundial, Macau era um lugar fascinante e teve um papel muito importante.

Porque ficou tão fascinado por este mundo?

Penso que é fascinante para muitas pessoas, mas no meu caso foi devido à língua chinesa. Estudei chinês no Reino Unido e em Xangai. Comecei a investigar mais sobre a história dos estrangeiros em Xangai, mas também em Macau e Pequim, e claro Hong Kong despertou sempre um interesse em mim por ser uma colónia britânica na Ásia, e também pela transição. Mas as histórias de Macau sempre me apareceram sem eu estar à procura delas. Sempre procurei mais por registos de Hong Kong, e de repente deparei-me com a história de um grupo de portugueses que viveu em Macau nos anos 20 e que tentou começar uma revolução em prol da independência, para criar uma espécie de “República de Macau”, separada de Lisboa. Era uma operação relacionada com acções de chantagem. Chegaram ao Governo e disseram: “Vamos começar uma revolução. Dêem-nos dinheiro”. E até foram bem-sucedidos, puseram notícias nos jornais e tiveram apoio de algumas pessoas. Havia um sentimento de rebelião no ar, sobretudo no seio dos militares e da marinha devido às condições de trabalho e de estadia, por isso surgiu a ideia de independência, mas toda a operação não passou de uma acção de chantagem. Esta história apareceu-me assim, do nada…. Há também a história de um refugiado polaco que tentou nadar até Macau e as autoridades portuguesas tentaram empurrá-lo para o lado da China, enquanto ele lutava por chegar ao território português. Acabou depois por ser enviado para o Brasil.

A história de Macau está cheia destes episódios. É um território que terá sempre esta ideia de ser “fora da lei”?

Está certa. Sempre houve um certo mistério e exotismo. Macau não é como as outras antigas colónias, nomeadamente as britânicas, como Hong Kong ou Singapura, por exemplo. Lisboa não tinha muito interesse em Macau, tal como não tinha com Goa ou Timor. Não fazia uma série de coisas, não enviava muitos soldados. Deixava o território andar ao seu ritmo. Acabei de reeditar o livro sobre os escritos de Harry Harvey [Where Strange Gods Calls, editado nos anos 20], e o estilo com que descreve a Macau da altura é sempre com ligação aos casinos, diferente de tudo o resto, com a presença do catolicismo. Isso aparece também em muitos outros escritores, como Ian Fleming nos livros de James Bond, nos anos 60. Ele descreve Macau quase no mesmo estilo. O que podemos retirar daqui é que Macau era, de facto, um lugar onde podíamos, de certa forma, escapar às autoridades. Havia jogo, prostituição, e Lisboa não estava, de facto, a prestar muita atenção.

Mas a China esteve sempre a prestar atenção e por vezes tirava vantagens disso.

Houve sempre boas relações e Macau manteve-se com administração portuguesa porque havia o interesse no comércio da parte da China. Temos o exemplo do comércio do ópio, no qual Portugal não estava envolvido. Era um negócio essencialmente americano. Todos comercializavam matérias-primas como prata e ouro. Macau era, para muitos, uma base para entrar em Guangdong.

Acaba de lançar três novos livros incluídos na colecção “China Revisited”, que contêm histórias de viajantes comuns que vieram para Macau, Hong Kong e sul da China entre os séculos XIX e XX.

Com a pandemia, e sem poder viajar, passei muito tempo na biblioteca de Londres que tem uma boa colecção dos escritos de antigos viajantes em todo o mundo, incluindo a China, na época vitoriana. Decidi prestar mais atenção a esses escritos, e cerca de 90 por cento são de viagens entre Xangai e Pequim e para a zona mais ocidental da China. Pensei que seria bom fazer algo com isto, sobretudo relacionado com Macau e a zona de Guangdong. Os relatos de missionários são, muitas vezes, aborrecidos, então o meu foco era ir além disso. Tenho o exemplo de Benjamim Harry, um missionário americano que viaja para Hong Kong e que é muito interessante, porque vai a Guangzhou e dá-nos grandes descrições da cidade, que claro que mudou muito, sobretudo nos anos 30. Foi também o primeiro ocidental a visitar e a escrever sobre a ilha de Hainão, que nessa altura era uma zona ligada à agricultura com plantações de cocos. Estava muito longe de ser o “Hawai da China” como hoje é conhecida a região.

O seu trabalho já foi reconhecido pelo jornal New York Times. Alguma vez pensou ter uma carreira internacional?

Penso que sou um escritor da China diferente. A maior parte das pessoas que escrevem sobre a China são académicos ou jornalistas que vivem algum tempo no país e querem contar o que viram com mais detalhe do que aquilo que publicam nos jornais. Eu tento fazer algo diferente. Quero escrever livros que muitas pessoas possam comprar no aeroporto para ler no avião ou na praia quando vão de férias, por exemplo. Têm acesso à história da China, mas também a boas histórias.

Está também a trabalhar num livro sobre Wallis Simpson, a mulher divorciada por quem Eduardo VIII abdicou do trono britânico, nomeadamente sobre o período em que viveu na China, de 1924 a 1925. Fale-nos mais deste projecto.

Claro que não é possível crescer no Reino Unido sem conhecer a história de Wallis Simpson. É uma boa história para mim porque me dá a oportunidade de escrever mais sobre os anos 20 na China e claro que será uma história interessante para as pessoas. Todos conhecem a história da abdicação do trono, ela sempre foi considerada a mulher mais detestada de sempre, dependendo da perspectiva. Mas ela é interessante porque há uma série de rumores e notícias falsas sobre o que lhe aconteceu na China. Wallis foi para lá com o marido da altura, um oficial da marinha americana, e passaram por Hong Kong e Xangai. Ele era uma pessoa horrível e batia-lhe. De Xangai ela vai para Pequim onde passa cerca de sete a oito meses num alojamento muito agradável. Depois Wallis Simpson regressa aos EUA, mas nesse ano em que esteve na China aprendeu muito sobre ela própria, percebendo que não tinha de estar casada com aquele homem, a ser agredida, e que podia ser independente e misturar-se com uma certa elite internacional e cosmopolita. Tornou-se então naquela mulher para a qual todos olham quando entram na sala, que se move nos círculos da realeza, e foi aí que Eduardo VIII olhou para ela. Mas o livro vai também contar um pouco sobre a história da China.

3 Mar 2023

EPM | Lisboa acusada de atrasar ampliação da escola

O Ministério da Educação de Portugal será um dos grandes responsáveis pelo atraso das obras de expansão da Escola Portuguesa de Macau (EPM). A notícia foi avançada ontem pela TDM Rádio Macau, que acrescenta que a EPM não tem condições para abrir mais três turmas, vendo-se obrigada a recusar novas matrículas.

A TDM Rádio Macau baseia-se em fontes próximas do processo para noticiar que há vários anos que o Ministério não dá uma resposta sobre as obras o que estará a “provocar mal-estar em Macau”.

A EPM conta actualmente com 705 alunos e pretendia abrir, em Setembro, mais três turmas, cada uma delas com cerca de 60 a 70 alunos. Uma fonte disse mesmo que o Ministério “não tem respondido aos pedidos enviados de Macau”, sendo que Lisboa tem de garantir apoio financeiro para as obras. Outra fonte disse ainda: “Os Serviços de Educação e o Chefe do Executivo têm manifestado sempre apoio ao eventual desenvolvimento da Escola Portuguesa, mas sem o sim de Lisboa não se pode avançar. As autoridades locais não percebem tanta indefinição e quando perguntam já não sabemos o que dizer”.

De frisar que a EPM conta com o Ministério da Educação como sócio maioritário de um projecto educativo que tem recebido apoio da Fundação Macau desde a saída da Fundação Oriente, bem como financiamento regular da parte da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude.

“Macau não vai pagar tudo e Lisboa tem de assumir o que lhe compete”, referiu ainda outra fonte ouvida pela TDM Rádio Macau. Outra questão relacionada com a EPM, que permanece sem avanços, é a duração dos mandatos do Conselho de Administração da Fundação Escola Portuguesa e do Conselho de Curadores. Os membros têm visto os seus mandatos serem renovados automaticamente, mas há muito que não há rostos novos ou mudanças de fundo nestas duas estruturas. Na última reunião, online, Roberto Carneiro, presidente do conselho de administração da Fundação da EPM, não compareceu.

3 Mar 2023

Plano Director | Zona Este, Porto Exterior e Zona Norte são prioritárias

Lai Weng Leong, director da Direcção dos Serviços de Solos e Construção Urbana (DSCC) disse, em resposta a uma interpelação escrita da deputada Ella Lei, que a prioridade na área do urbanismo, quanto ao desenvolvimento dos planos de pormenor, passa pela Zona Este, Porto Exterior e Zona Norte, tendo já sido iniciada a sua elaboração.

Quanto às restantes zonas do território definidas no Plano Director “o Governo irá, com a maior brevidade possível, iniciar os trabalhos de elaboração dos planos de pormenor”. A DSSC pretende “aperfeiçoar a distribuição do espaço em geral, optimizar as instalações colectivas e aumentar a área dos espaços verdes e de lazer, a fim de criar um ambiente comunitário com boas condições de habitabilidade”.

Quanto à melhoria das infra-estruturas urbanísticas no Porto Interior, incluindo ao nível das inundações que ocorrem com frequência, o Governo diz que “é uma meta de longo prazo” que depende de “uma ponderação geral de factores relacionados com o trânsito, prevenção de desastres, protecção ambiental e espaços públicos, entre outros”.

Ella Lei colocou ainda questões sobre o desenvolvimento da zona da Praia do Manduco, mas estes planos “devem ser estudados e implementados tendo em conta a elaboração dos planos de pormenor e pareceres dos serviços competentes e diversos sectores da sociedade”, apontou a DSCC.

Sobre a higienização urbana entre o Porto Interior e a Praia do Manduco, Lai Weng Leong adiantou que o Instituto para os Assuntos Municipais já instalou 14 novos contentores de compressão do lixo, prometendo melhorar gradualmente, com a empresa concessionária, a gestão dos resíduos na zona.

3 Mar 2023

Visita | John Lee elogia infra-estruturas MICE de Macau

A delegação de Hong Kong que passou ontem por Macau, chefiada pelo Chefe do Executivo da região vizinha, John Lee, deixou elogios às infra-estruturas da área de convenções e exposições. Segundo uma nota oficial, foi referido que Macau tem hoje “mais infra-estruturas MICE e locais para espectáculos, o que personifica o compromisso de Macau em desenvolver os elementos não jogo” na indústria dos casinos. Além disso, a existência de infra-estruturas MICE de alta qualidade vai “promover melhores condições para a cooperação com cidades vizinhas como Hong Kong”, acrescenta o mesmo comunicado.

O Chefe do Executivo da antiga colónia britânica, lembrou ainda que deve ser aproveitada a ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau para reforçar a actividade logística entre as duas regiões. John Lee falou também da construção de habitações públicas na zona A dos novos aterros e manifestou a vontade de saber mais sobre as políticas locais de habitação.

Ho Iat Seng terá feito um balanço das medidas que têm sido implementadas nesta área, bem como ao nível da renovação urbana. O Chefe do Executivo da RAEM referiu também a estratégia “1+4” para a diversificação da economia local, esperando que Hong Kong possa ser parte activa no desenvolvimento de indústrias emergentes, como é o caso da saúde, convenções e exposições, alta tecnologia e sector financeiro. O progresso registado na Zona de Cooperação Aprofundada entre Macau e Hengqin foi ainda discutido neste encontro.

3 Mar 2023

CCPPC | Leonel Alves defende aposta no Direito e língua portuguesa

Leonel Alves, membro da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, diz que Macau deve apostar em duas áreas que lhe são características para vingar na Grande Baía, nomeadamente o Direito de matriz portuguesa e a língua de Camões. Empregadas domésticas e impostos serão outros temas abordados nas duas sessões

 

Advogado e ex-deputado, Leonel Alves mantém a actividade política como membro de Macau na Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC), cuja sessão anual decorre entre hoje e amanhã, bem como a da Assembleia Popular Nacional (APN).

Em declarações à TDM Rádio Macau, Leonel Alves disse, antes de partir para Pequim, que Macau deve apostar nas áreas do Direito local e língua portuguesa para participar activamente na Grande Baía e cooperar com as nove cidades que fazem parte deste projecto político.

“Macau faz parte da Grande Baía e tem o seu papel próprio e insubstituível, quer pela sua história, quer pelas suas características e quer pelas suas próprias potencialidades. Uma delas é, sem dúvida, o Direito, que é diferente do resto. Outra característica fundamental é a língua portuguesa, que pode ser mais difundida na Grande Baía”, defendeu.

Leonel Alves disse mesmo, “pela sua experiência pessoal”, que já contactou “várias entidades, inclusivamente universitárias” onde foi discutida a importância do “aprofundamento do conhecimento da cultura dos países lusófonos para o desenvolvimento económico da Grande Baía”. Apostar nestas áreas pode levar, assim, a um “incremento qualitativo muito importante do papel de Macau como plataforma, para um maior intercâmbio entre os talentos da Grande Baía e de Macau”.

Macau, território de pequena dimensão, o que acarreta dificuldades de expansão de negócios e que sofre com falta de mão-de-obra, pode beneficiar com a Grande Baía e com a cooperação nestas áreas, adiantou Leonel Alves.

“Isso pode ser muito benéfico pois Macau é uma cidade pequena, os números são sempre muito limitados, a Grande Baía é a grande projecção da China para as próximas décadas e as necessidades que temos, os profissionais que trabalham na Grande Baía creio que muitos deles têm interesse em desenvolver as suas actividades em Macau. Macau está a atravessar este momento histórico e tem de aproveitar este corredor de conhecimentos e de pessoas que têm interesses mútuos”, rematou.

Empregadas na Zona

Leonel Alves confirmou ainda à TDM Rádio Macau que vai subscrever um projecto, em co-autoria com os restantes membros de Macau à CCPPC, destinado a promover uma maior cooperação ao nível dos recursos humanos entre o território e as cidades da Grande Baía. Uma das propostas apresentadas pelos delegados de Macau é a facilitação das condições burocráticas para que empregadas domésticas estrangeiras possam trabalhar na Zona de Cooperação Aprofundada. “É preciso regular as condições em que as trabalhadoras domésticas podem trabalhar na Zona de Cooperação”, disse Ho Ion Sang, um dos membros de Macau à CCPPC, à TDM Rádio Macau.

Além disso, o deputado indirecto diz que “há muitos residentes com vontade de viver em Hengqin, mas desejam serviços médicos de maior qualidade na Zona de Cooperação”, pelo que “é necessário optimizar os serviços médicos nos dois lados”.

Por sua vez, Frederico Ma, outro membro da CCPPC, disse que vai fazer uma proposta para uma maior articulação dos sistemas tributários entre Macau, o Interior da China e a Zona de Cooperação.

3 Mar 2023

ARTM | Exposição de fotografia de Lúcia Lemos inaugurada este domingo

A galeria Hold On To Hope, da Associação de Reabilitação dos Toxicodependentes de Macau (ARTM), inaugura, este domingo, a exposição de fotografia “20 Artistas de Macau”, da autoria de Lúcia Lemos, directora da Creative Macau. Mais do que recordar um projecto exposto em 2001, este é também um exercício expositivo que celebra o Dia Internacional da Mulher

 

Em 2001, tinha a RAEM pouco tempo de vida, Lúcia Lemos expôs 20 retratos de mulheres artistas de e a viver em Macau, como é o caso de Anabela Gralhados, Elisa Vilaça, Fernanda Dias, Margarida Cheung Vieira e Wong Lai Chi, entre outras.

Entre a pintura, a performance ou as palavras, são várias as artes que dominam as mulheres destes retratos. Agora, 22 anos depois, é altura de estas imagens saíram da gaveta para onde voltaram e serem de novo expostas na galeria Hold On To Hope, em Ka-Hó, Coloane, espaço sócio-cultural gerido pela Associação de Reabilitação dos Toxicodependentes de Macau (ARTM). A inauguração acontece no domingo às 16h.

Além de recordar um projecto antigo, esta mostra visa também celebrar o Dia Internacional da Mulher que se comemora na próxima quarta-feira. Lúcia Lemos mostrou o material à ARTM que prontamente disponibilizou o espaço para a exposição. No entanto, as fotografias não estarão à venda, por se tratar de “retratos pessoais”, contou Lúcia Lemos ao HM.

“Na altura convidei várias mulheres, mas muitas não se quiseram expor porque é uma coisa muito pessoal. Uma das condições é que elas só veriam o seu retrato no dia da exposição, porque não queria nenhuma influência. Tive inteira liberdade e fiz por isso. Quis contribuir para a divulgação de muitas artistas que as pessoas, por vezes, não conhecem”, disse.

Alguns nomes já deixaram Macau, outros permanecem, como é o caso de Elisa Vilaça, que continua a desenvolver um trabalho ligado ao teatro de marionetas com a Casa de Portugal em Macau. Neste projecto, Lúcia Lemos fotografou sempre com recurso ao analógico e usando diversas máquinas fotográficas, nomeadamente a Rolleiflex, Canon, Nikon, Pentax. O trabalho de edição das imagens foi feito no laboratório do artista Wong Ho Sang.

Captar emoções

Lúcia Lemos não sabe precisar porque decidiu fotografar apenas mulheres artistas. “Já fiz trabalhos com homens também, e com várias pessoas, e talvez um dia os exponha. Simplesmente interessou-me fazer um trabalho sobre mulheres, talvez por eu ser mulher e ter contacto com esse meio artístico. Não tem nada de particular. Algumas artistas foram fotografadas no local onde fazem a sua arte, como o estúdio, enquanto outras foram fotografadas em minha casa. É um trabalho de filme, analógico.”

Na hora de fotografar foi dada total liberdade à pessoa fotografada para ser ela própria ou, por exemplo, criar um personagem para a câmara. “Elas sentavam-se, faziam o que lhes apetecia enquanto conversavam comigo, mas sempre quis captar um olhar que transmitisse o seu interior. Sempre quis captar as emoções”, rematou Lúcia Lemos.

Estas imagens mostram ainda mulheres para quem a arte “tem uma importância maior para a sua vida”. “Algumas delas faziam parte da arte e do ensino da arte a sua profissão. Todas elas se libertaram na criação artística”, acrescenta-se numa nota, que diz que Lúcia Lemos ainda hoje “se revê nessas fotografias pela intuição estética e espontaneidade que apresentam”, por “gostar de ler nos olhos e gestos das pessoas e adivinhar o que lhes vai lá dentro”.

Neste tipo de fotografia há sempre “uma tensão que define a obra e a torna especial”, pelo que Lúcia Lemos considera “o seu trabalho não convencional”. No final da mostra as fotografias poderão voltar ao seu lugar de origem ou ficar nas mãos da pessoa fotografada.

2 Mar 2023