Andreia Sofia Silva EventosExposição | Arte feminina em destaque nas Casas-Museu da Taipa A Associação para o Desenvolvimento da Nova Mulher de Macau promove, na zona das Casas-Museu da Taipa, uma mostra de arte exclusivamente feita no feminino. A exposição, intitulada “Exposição de Arte da Nova Mulher Contemporânea” está patente até ao dia 16 deste mês e revela obras de mulheres naturais de Macau ou que viveram no território, com uma grande aposta na diversidade [dropcap]O[/dropcap] Instituto Cultural (IC), a Fundação Macau e a Associação para o Desenvolvimento da Nova Mulher de Macau promovem, até ao dia 16 de Novembro, a “Exposição de Arte da Nova Mulher Contemporânea”, que revela o trabalho de seis mulheres artistas com ligações ao território. De acordo com uma nota de imprensa, a ideia é mostrar o trabalho de artistas que viveram ou vivem em Macau, como Yang Sio Maan, Angel Chan, Luna Cheong, MJ Lee, Ana Jacinto Nunes e Tchusca Songo. Estas “criam peças de arte com diferentes perspectivas da mulher”, sendo que “as obras foram criadas de diversas formas e são apresentadas no sentido contemporâneo de liberdade, singularidade e inovação”. Citada pelo mesmo comunicado, Kathine Cheong, curadora e directora artística da exposição, disse esperar que “o público possa prestar mais atenção às similaridades dos géneros dos seres humanos através do tema da exposição deste ano”. Neste sentido, a temática da mostra é “WM”, “Woman” (Mulher em inglês), mas também representa Macau, adiantou Kathine Cheong. Para a responsável, o território é “uma terra abençoada que combina as culturas chinesa e ocidental e que também cultiva artistas locais e multiculturais”. “Esperamos poder expressar o lado único dos sentimentos humanos e contar a história e cultura de Macau através de cada obra artística nesta exposição”, acrescentou. “WM” significa ainda “WE (WO MEN)” em mandarim. “Dentro dos constrangimentos do sistema social e das influências culturais, a maior parte exalta determinadas características de um género humano em particular, ignorando a existência de uma homogeneidade entre homens e mulheres”, aponta a mesma nota. Assim, esta exposição explora o termo “WE” (Nós), no sentido de promover oportunidades iguais para pessoas de diferentes géneros. Além disso, o termo “MUN” (“WO MUN”) significa “DOOR” (Porta) representando Macau (cujo nome em cantones é Ou Mun), levando a que as artistas participantes possam fazer um intercâmbio de ideias e partilhar as suas inspirações. Cor branca A mostra patente nas Casas-Museu da Taipa é dominada pela cor branca, o que mostra ao público presente “um forte sentido de espaço, o que vai de encontro aos trabalhos das artistas e ao tema da exposição”. O local da mostra conta com design de Sueie Zhe, também natural de Macau. Até ao dia 16 de Novembro os organizadores irão promover uma série de actividades interactivas com o público, como visitas guiadas e workshops, entre outras. Estas iniciativas visam levar o público “a compreender de forma profunda a filosofia e as ideias dos artistas”. A Associação para o Desenvolvimento da Nova Mulher de Macau foi criada em 2017 e reúne mulheres de várias idades e de diferentes campos profissionais. Através da promoção de eventos ligados à cultura e arte, este grupo pretende “promover o desenvolvimento das mulheres a nível psicológico e físico”.
Andreia Sofia Silva EventosExposição | Arte feminina em destaque nas Casas-Museu da Taipa A Associação para o Desenvolvimento da Nova Mulher de Macau promove, na zona das Casas-Museu da Taipa, uma mostra de arte exclusivamente feita no feminino. A exposição, intitulada “Exposição de Arte da Nova Mulher Contemporânea” está patente até ao dia 16 deste mês e revela obras de mulheres naturais de Macau ou que viveram no território, com uma grande aposta na diversidade [dropcap]O[/dropcap] Instituto Cultural (IC), a Fundação Macau e a Associação para o Desenvolvimento da Nova Mulher de Macau promovem, até ao dia 16 de Novembro, a “Exposição de Arte da Nova Mulher Contemporânea”, que revela o trabalho de seis mulheres artistas com ligações ao território. De acordo com uma nota de imprensa, a ideia é mostrar o trabalho de artistas que viveram ou vivem em Macau, como Yang Sio Maan, Angel Chan, Luna Cheong, MJ Lee, Ana Jacinto Nunes e Tchusca Songo. Estas “criam peças de arte com diferentes perspectivas da mulher”, sendo que “as obras foram criadas de diversas formas e são apresentadas no sentido contemporâneo de liberdade, singularidade e inovação”. Citada pelo mesmo comunicado, Kathine Cheong, curadora e directora artística da exposição, disse esperar que “o público possa prestar mais atenção às similaridades dos géneros dos seres humanos através do tema da exposição deste ano”. Neste sentido, a temática da mostra é “WM”, “Woman” (Mulher em inglês), mas também representa Macau, adiantou Kathine Cheong. Para a responsável, o território é “uma terra abençoada que combina as culturas chinesa e ocidental e que também cultiva artistas locais e multiculturais”. “Esperamos poder expressar o lado único dos sentimentos humanos e contar a história e cultura de Macau através de cada obra artística nesta exposição”, acrescentou. “WM” significa ainda “WE (WO MEN)” em mandarim. “Dentro dos constrangimentos do sistema social e das influências culturais, a maior parte exalta determinadas características de um género humano em particular, ignorando a existência de uma homogeneidade entre homens e mulheres”, aponta a mesma nota. Assim, esta exposição explora o termo “WE” (Nós), no sentido de promover oportunidades iguais para pessoas de diferentes géneros. Além disso, o termo “MUN” (“WO MUN”) significa “DOOR” (Porta) representando Macau (cujo nome em cantones é Ou Mun), levando a que as artistas participantes possam fazer um intercâmbio de ideias e partilhar as suas inspirações. Cor branca A mostra patente nas Casas-Museu da Taipa é dominada pela cor branca, o que mostra ao público presente “um forte sentido de espaço, o que vai de encontro aos trabalhos das artistas e ao tema da exposição”. O local da mostra conta com design de Sueie Zhe, também natural de Macau. Até ao dia 16 de Novembro os organizadores irão promover uma série de actividades interactivas com o público, como visitas guiadas e workshops, entre outras. Estas iniciativas visam levar o público “a compreender de forma profunda a filosofia e as ideias dos artistas”. A Associação para o Desenvolvimento da Nova Mulher de Macau foi criada em 2017 e reúne mulheres de várias idades e de diferentes campos profissionais. Através da promoção de eventos ligados à cultura e arte, este grupo pretende “promover o desenvolvimento das mulheres a nível psicológico e físico”.
Andreia Sofia Silva SociedadeStartups | Macau com representação inédita na WebSummit A Direcção dos Serviços de Economia de Macau levou à WebSummit um total de 11 projectos desenvolvidos por startups locais, duas associações e quatro professores universitários. É a primeira vez que a RAEM tem um lugar próprio na maior cimeira de tecnologia do mundo [dropcap]C[/dropcap]hega hoje ao fim mais uma edição da WebSummit, que decorre em Lisboa, mas este ano a maior cimeira de tecnologia do mundo conta com uma novidade, uma vez que as startups de Macau fazem-se representar, pela primeira vez, num espaço próprio. A Direcção dos Serviços de Economia (DSE), em parceria com a Fábrica de Startups, em Portugal, levou um total de 11 projectos ao Centro de Incubadoras de Macau presente no Parque das Nações, onde decorre o evento. Edgar Cheong, responsável pelo Centro, disse ao HM que a ideia é expandir cada vez mais a presença das empresas de Macau no evento de tecnologia que reúne as startups mais inovadoras do momento. “Queremos, em primeiro lugar, que os membros do nosso Centro mostrem os seus projectos na WebSummit e também dizer às pessoas que Macau funciona como uma plataforma”, adiantou. A lista de interessados para participar na WebSummit era grande, frisou Edgar Cheong. “Por limitações de espaço trouxemos apenas 11 projectos”, mas há a possibilidade de cada vez mais startups de Macau poderem viajar para Lisboa nos próximos anos. “Este é um passo muito importante e penso que no próximo ano será diferente”, acrescentou. Estreias e não só Marco Rizzolio, fundador da startup Follow Me Macau, é um dos rostos que este ano integra o Centro de Incubadoras de Macau. Há dois anos fundou a empresa que mostra tudo o que se pode fazer no território fora dos casinos, e, desde a sua fundação, já foram vendidas 2300 experiências. A Follow Me Macau trabalha sobretudo com empresas do ramo de exposições e convenções que, aquando da sua passagem pelo território, procuram proporcionar aos seus funcionários um dia de entretenimento, organizado pela startup. O responsável adiantou ao HM que esta presença na WebSummit é muito importante para Macau e para o seu sector empresarial. “Está a ser dado um passo firme. Este Centro de Incubadoras foi lançado há dois anos e o Governo tem esta área como uma das prioridades. Não é de um ano para o outro mas acredito que esta (presença de Macau) se vai intensificar ao longo dos anos.” Para Jonathan Lok, fundador da DianDian Macau, a presença na WebSummit é uma estreia. “Está a ser uma experiência muito interessante e espero que possamos ligar-nos a outras pessoas e empresas para vivenciar mais este ecossistema de negócios e levar estas experiências para Macau. Também queremos ver se temos oportunidades em Portugal como porta de entrada para a Europa”, adiantou. A DianDian Macau dedica-se à criação de um software ligado ao sistema de gestão de clientes para Pequenas e Médias Empresas, para que, através da aplicação, tudo seja feito de forma digital, com menor recurso ao papel.
Andreia Sofia Silva SociedadeStartups | Macau com representação inédita na WebSummit A Direcção dos Serviços de Economia de Macau levou à WebSummit um total de 11 projectos desenvolvidos por startups locais, duas associações e quatro professores universitários. É a primeira vez que a RAEM tem um lugar próprio na maior cimeira de tecnologia do mundo [dropcap]C[/dropcap]hega hoje ao fim mais uma edição da WebSummit, que decorre em Lisboa, mas este ano a maior cimeira de tecnologia do mundo conta com uma novidade, uma vez que as startups de Macau fazem-se representar, pela primeira vez, num espaço próprio. A Direcção dos Serviços de Economia (DSE), em parceria com a Fábrica de Startups, em Portugal, levou um total de 11 projectos ao Centro de Incubadoras de Macau presente no Parque das Nações, onde decorre o evento. Edgar Cheong, responsável pelo Centro, disse ao HM que a ideia é expandir cada vez mais a presença das empresas de Macau no evento de tecnologia que reúne as startups mais inovadoras do momento. “Queremos, em primeiro lugar, que os membros do nosso Centro mostrem os seus projectos na WebSummit e também dizer às pessoas que Macau funciona como uma plataforma”, adiantou. A lista de interessados para participar na WebSummit era grande, frisou Edgar Cheong. “Por limitações de espaço trouxemos apenas 11 projectos”, mas há a possibilidade de cada vez mais startups de Macau poderem viajar para Lisboa nos próximos anos. “Este é um passo muito importante e penso que no próximo ano será diferente”, acrescentou. Estreias e não só Marco Rizzolio, fundador da startup Follow Me Macau, é um dos rostos que este ano integra o Centro de Incubadoras de Macau. Há dois anos fundou a empresa que mostra tudo o que se pode fazer no território fora dos casinos, e, desde a sua fundação, já foram vendidas 2300 experiências. A Follow Me Macau trabalha sobretudo com empresas do ramo de exposições e convenções que, aquando da sua passagem pelo território, procuram proporcionar aos seus funcionários um dia de entretenimento, organizado pela startup. O responsável adiantou ao HM que esta presença na WebSummit é muito importante para Macau e para o seu sector empresarial. “Está a ser dado um passo firme. Este Centro de Incubadoras foi lançado há dois anos e o Governo tem esta área como uma das prioridades. Não é de um ano para o outro mas acredito que esta (presença de Macau) se vai intensificar ao longo dos anos.” Para Jonathan Lok, fundador da DianDian Macau, a presença na WebSummit é uma estreia. “Está a ser uma experiência muito interessante e espero que possamos ligar-nos a outras pessoas e empresas para vivenciar mais este ecossistema de negócios e levar estas experiências para Macau. Também queremos ver se temos oportunidades em Portugal como porta de entrada para a Europa”, adiantou. A DianDian Macau dedica-se à criação de um software ligado ao sistema de gestão de clientes para Pequenas e Médias Empresas, para que, através da aplicação, tudo seja feito de forma digital, com menor recurso ao papel.
Andreia Sofia Silva SociedadeComunidade portuguesa em Macau | Novo livro apresentado hoje em Portugal É hoje lançado, no auditório Carvalho Guerra da Universidade Católica Portuguesa do Porto, um novo livro sobre a comunidade portuguesa de Macau, que traça um quadro histórico das idas e vindas dos portugueses a Oriente e das suas motivações. “Portugueses em Macau” é uma obra da autoria de Susana Costa e Silva e Victor Teixeira e conta com o apoio do Instituto de Estudos Europeus de Macau [dropcap]E[/dropcap]migrámos para Macau, fizemos negócios, desistimos, regressámos, voltámos novamente. As gerações mais velhas ficaram para sempre, as mais novas buscam novas experiências profissionais e crescimento pessoal. A comunidade portuguesa em Macau tem sido constituída por diferentes cenários e motivações ao longo dos séculos, que são agora vistos à lupa num novo livro. O projecto académico “Portugueses em Macau”, da autoria de Susana Costa e Silva e Victor Teixeira, ex-residentes do território e professores da Universidade Católica Portuguesa (UCP), é hoje lançado no auditório Carvalho Guerra, na UCP do Porto. A apresentação insere-se numa palestra intitulada “Macau, 20 anos depois do handover”. Apesar dos muitos estudos feitos sobre a comunidade portuguesa em Macau, os autores ressalvam o facto de esta obra procurar ser transversal às várias fases de emigração dos portugueses. “Apesar de já se ter escrito muita coisa sobre Macau, não existe aquilo que é uma articulação da história da presença e da população portuguesa, com uma caracterização sociológica daquilo que são os portugueses, os macaenses e outras identidades portuguesas. Não havia um estudo que se articulasse com a história da presença portuguesa depois do handover”, começou por dizer Victor Teixeira. O livro traça, assim, um retrato de antigas gerações de emigrantes e dos jovens que decidem mudar-se, nos dias de hoje, de armas e bagagens para Macau. “Este trabalho resulta de um interesse manifestado pelo Instituto de Estudos Europeus de Macau (IEEM), que deu o suporte à ideia quando estávamos em Macau. Há um enquadramento histórico dos portugueses que chegaram a Macau até à idade contemporânea, enquanto que eu procurei compreender os portugueses que chegaram há muito tempo em Macau e aqueles que, tendo a oportunidade de regressar a Portugal aquando do handover, resolveram ficar”, adiantou Susana Costa e Silva. O crescimento profissional Tendo como base inúmeras entrevistas realizadas a portugueses que residem em Macau, Susana Costa e Silva identificou factores “ligados ao crescimento pessoal, mais ao nível micro, factores ligados ao crescimento profissional e um nível mais macro factores que se relacionam com interesse ou não pelo território. A facilidade dos portugueses de se ligarem ao Oriente, de aprenderem culturas diferentes”. A ida para Macau no contexto de crise económica que se viveu em Portugal foi uma das fases de emigração identificada pelos autores, protagonizada por profissionais qualificados que partiram em busca de novas oportunidades. Estes “procuraram num território longínquo do ponto de vista geográfico, mas que do ponto de vista cultural não é tão longínquo assim”. “Concluímos que há sempre um elo de ligação ao território, um familiar ou até algum conhecido, há uma rede que faz com que os factores de atracção de Macau sejam mais significativos do que em relação a outras localizações”, frisou a autora. “São as motivações profissionais e não de ligação afectiva que atraíram esta nova leva de jovens para Macau”, disse ainda Susana Costa e Silva. Além disso, a ida para Macau representa uma oportunidade posterior de emigração para outros países. “O facto de terem estado em Macau faz com que haja outras oportunidades a Oriente que se afigurem atractivas, tal como a própria China ou Xangai. Isso acontece sobretudo nas gerações mais novas. Entrevistámos várias pessoas que disseram que já não saem de Macau, e os que ficam em Macau para sempre tem mais de 55 anos. Os mais jovens não têm essa ligação a Macau tão enraizada e vão mais à aventura em busca de oportunidades profissionais”, disse Susana Costa e Silva. Difícil avaliação Victor Teixeira fala de diversos comportamentos dentro de uma só comunidade. “Temos uma comunidade quase difícil de avaliar. Conhecemos algumas figuras dos restaurantes, jornalistas, advogados, mas existe uma massa grande de população que se casou e que vive na grande zona chinesa da cidade, que submergiu e que é muito difícil de apanhar. Existem muitos que não gostam de aparecer e há muitos que vão ficando na sua vida.” Actualmente “a comunidade é composta por portugueses temporários, não é uma comunidade que vive a sua vida toda em Macau e o crescimento da comunidade depende de muitos factores económicos ou de novas fases”, adiantou o professor universitário, frisando que “nos últimos dois anos temos assistido ao regresso de muitos portugueses desta vaga após 2008 e de muitos dos que estavam em Macau antes de 1999”. Desta forma, “é muito vasto e instável do ponto de vista estatístico e numérico desenharmos uma tendência (de evolução da comunidade), porque é uma população oscilante, sobretudo do pós século XXI”. Contudo, nem sempre foi assim. Tempos houve em que os portugueses emigraram para Macau por questões de negócio do Império ou para cumprirem serviço público ou militar. O próprio posicionamento de Macau no Império português foi mudando. “Há vários exemplos, várias fases. Numa primeira fase é uma extensão daquilo que são os negócios da Índia, Malaca e uma abertura do Japão até 1639. Existia o tráfego com o Japão e com o sudeste asiático, e Macau era uma terra de oportunidades, de aventureiros e mercadores, a parte informal do império formal. A população tinha o atractivo essencialmente de negócios”, disse Victor Teixeira. Em 1884, com a chegada do Governador Ferreira do Amaral, o panorama altera-se. Aí criam-se os interesses próprios de Macau, que passa a ser uma ponte entre a China e o Império Ultramarino. “Os portugueses em Macau vão-se fixando, uns morrem lá, outros regressam, sentem a população do ponto de vista do negócio, de outras actividades relacionadas com a Índia e com o sudeste asiático”, aponta o académico. Ferreira do Amaral é assassinado já no século XIX e, uma vez que os ingleses já se encontram em Hong Kong desde 1842, Macau “muda também e passa a ser uma cidade que acorda de uma letargia desse comércio com Goa”. “Vai conhecer uma nova reorganização do ponto de vista de inserção no Império, vai ter uma regularização em termos institucionais embora não seja factor de atracção como Hong Kong ou Pequim”, acrescentou Victor Teixeira. Em 1966 dá-se o movimento “1,2,3” que marca “o começo do abandono do estatuto perpétuo da administração portuguesa em Macau”, seguindo-se, gradualmente, “o abandono de algumas franjas portuguesas e de macaenses até 1999”. E o futuro? Victor Teixeira não tem dúvidas de que, até 2049, haverá comunidade portuguesa em Macau, protegida legalmente e respeitada. “Pelo menos até 2049 está tudo enquadrado na Lei Básica. E é óbvio que é observado e cumprido pela China, de acordo com as palavras dos dirigentes e da comunidade portuguesa, da existência de uma simpatia e um desejo que os portugueses permaneçam em Macau. Não podemos escamotear isso, existe teórica e juridicamente esse respeito e vontade. Mas se me perguntar, na prática, penso que existe uma vontade da comunidade portuguesa e macaense de se manterem além de 2049”, concluiu Victor Teixeira. Desafios na Grande Baía O advogado Óscar Madureira, ex-residente de Macau e professor na UCP, é outro dos oradores da palestra de hoje, que visa mostrar ao público português mais sobre a RAEM. “Achamos que ainda existe pouca visibilidade”, disse o causídico ao HM, que vai falar sobre o sistema jurídico local. Sobre este tema, Óscar Madureira defendeu que existem alguns desafios no contexto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, mas não só. “Há alguns desafios que estão na calha, um deles é o da modernização do Direito que é transversal à maioria das jurisdições. Quanto a Macau no contexto da Grande Baía, temos de ver como é que, em termos jurídicos e políticos, o sistema jurídico de Macau se vai integrar. Há outros dois sistemas jurídicos que são muito díspares”, concluiu. A palestra de hoje conta também com a presença de Isabel Castro, ex-editora do HM e ex-directora do Ponto Final, Jorge Pereira, Sara Medina e Manuel Fontaine.
Andreia Sofia Silva SociedadeComunidade portuguesa em Macau | Novo livro apresentado hoje em Portugal É hoje lançado, no auditório Carvalho Guerra da Universidade Católica Portuguesa do Porto, um novo livro sobre a comunidade portuguesa de Macau, que traça um quadro histórico das idas e vindas dos portugueses a Oriente e das suas motivações. “Portugueses em Macau” é uma obra da autoria de Susana Costa e Silva e Victor Teixeira e conta com o apoio do Instituto de Estudos Europeus de Macau [dropcap]E[/dropcap]migrámos para Macau, fizemos negócios, desistimos, regressámos, voltámos novamente. As gerações mais velhas ficaram para sempre, as mais novas buscam novas experiências profissionais e crescimento pessoal. A comunidade portuguesa em Macau tem sido constituída por diferentes cenários e motivações ao longo dos séculos, que são agora vistos à lupa num novo livro. O projecto académico “Portugueses em Macau”, da autoria de Susana Costa e Silva e Victor Teixeira, ex-residentes do território e professores da Universidade Católica Portuguesa (UCP), é hoje lançado no auditório Carvalho Guerra, na UCP do Porto. A apresentação insere-se numa palestra intitulada “Macau, 20 anos depois do handover”. Apesar dos muitos estudos feitos sobre a comunidade portuguesa em Macau, os autores ressalvam o facto de esta obra procurar ser transversal às várias fases de emigração dos portugueses. “Apesar de já se ter escrito muita coisa sobre Macau, não existe aquilo que é uma articulação da história da presença e da população portuguesa, com uma caracterização sociológica daquilo que são os portugueses, os macaenses e outras identidades portuguesas. Não havia um estudo que se articulasse com a história da presença portuguesa depois do handover”, começou por dizer Victor Teixeira. O livro traça, assim, um retrato de antigas gerações de emigrantes e dos jovens que decidem mudar-se, nos dias de hoje, de armas e bagagens para Macau. “Este trabalho resulta de um interesse manifestado pelo Instituto de Estudos Europeus de Macau (IEEM), que deu o suporte à ideia quando estávamos em Macau. Há um enquadramento histórico dos portugueses que chegaram a Macau até à idade contemporânea, enquanto que eu procurei compreender os portugueses que chegaram há muito tempo em Macau e aqueles que, tendo a oportunidade de regressar a Portugal aquando do handover, resolveram ficar”, adiantou Susana Costa e Silva. O crescimento profissional Tendo como base inúmeras entrevistas realizadas a portugueses que residem em Macau, Susana Costa e Silva identificou factores “ligados ao crescimento pessoal, mais ao nível micro, factores ligados ao crescimento profissional e um nível mais macro factores que se relacionam com interesse ou não pelo território. A facilidade dos portugueses de se ligarem ao Oriente, de aprenderem culturas diferentes”. A ida para Macau no contexto de crise económica que se viveu em Portugal foi uma das fases de emigração identificada pelos autores, protagonizada por profissionais qualificados que partiram em busca de novas oportunidades. Estes “procuraram num território longínquo do ponto de vista geográfico, mas que do ponto de vista cultural não é tão longínquo assim”. “Concluímos que há sempre um elo de ligação ao território, um familiar ou até algum conhecido, há uma rede que faz com que os factores de atracção de Macau sejam mais significativos do que em relação a outras localizações”, frisou a autora. “São as motivações profissionais e não de ligação afectiva que atraíram esta nova leva de jovens para Macau”, disse ainda Susana Costa e Silva. Além disso, a ida para Macau representa uma oportunidade posterior de emigração para outros países. “O facto de terem estado em Macau faz com que haja outras oportunidades a Oriente que se afigurem atractivas, tal como a própria China ou Xangai. Isso acontece sobretudo nas gerações mais novas. Entrevistámos várias pessoas que disseram que já não saem de Macau, e os que ficam em Macau para sempre tem mais de 55 anos. Os mais jovens não têm essa ligação a Macau tão enraizada e vão mais à aventura em busca de oportunidades profissionais”, disse Susana Costa e Silva. Difícil avaliação Victor Teixeira fala de diversos comportamentos dentro de uma só comunidade. “Temos uma comunidade quase difícil de avaliar. Conhecemos algumas figuras dos restaurantes, jornalistas, advogados, mas existe uma massa grande de população que se casou e que vive na grande zona chinesa da cidade, que submergiu e que é muito difícil de apanhar. Existem muitos que não gostam de aparecer e há muitos que vão ficando na sua vida.” Actualmente “a comunidade é composta por portugueses temporários, não é uma comunidade que vive a sua vida toda em Macau e o crescimento da comunidade depende de muitos factores económicos ou de novas fases”, adiantou o professor universitário, frisando que “nos últimos dois anos temos assistido ao regresso de muitos portugueses desta vaga após 2008 e de muitos dos que estavam em Macau antes de 1999”. Desta forma, “é muito vasto e instável do ponto de vista estatístico e numérico desenharmos uma tendência (de evolução da comunidade), porque é uma população oscilante, sobretudo do pós século XXI”. Contudo, nem sempre foi assim. Tempos houve em que os portugueses emigraram para Macau por questões de negócio do Império ou para cumprirem serviço público ou militar. O próprio posicionamento de Macau no Império português foi mudando. “Há vários exemplos, várias fases. Numa primeira fase é uma extensão daquilo que são os negócios da Índia, Malaca e uma abertura do Japão até 1639. Existia o tráfego com o Japão e com o sudeste asiático, e Macau era uma terra de oportunidades, de aventureiros e mercadores, a parte informal do império formal. A população tinha o atractivo essencialmente de negócios”, disse Victor Teixeira. Em 1884, com a chegada do Governador Ferreira do Amaral, o panorama altera-se. Aí criam-se os interesses próprios de Macau, que passa a ser uma ponte entre a China e o Império Ultramarino. “Os portugueses em Macau vão-se fixando, uns morrem lá, outros regressam, sentem a população do ponto de vista do negócio, de outras actividades relacionadas com a Índia e com o sudeste asiático”, aponta o académico. Ferreira do Amaral é assassinado já no século XIX e, uma vez que os ingleses já se encontram em Hong Kong desde 1842, Macau “muda também e passa a ser uma cidade que acorda de uma letargia desse comércio com Goa”. “Vai conhecer uma nova reorganização do ponto de vista de inserção no Império, vai ter uma regularização em termos institucionais embora não seja factor de atracção como Hong Kong ou Pequim”, acrescentou Victor Teixeira. Em 1966 dá-se o movimento “1,2,3” que marca “o começo do abandono do estatuto perpétuo da administração portuguesa em Macau”, seguindo-se, gradualmente, “o abandono de algumas franjas portuguesas e de macaenses até 1999”. E o futuro? Victor Teixeira não tem dúvidas de que, até 2049, haverá comunidade portuguesa em Macau, protegida legalmente e respeitada. “Pelo menos até 2049 está tudo enquadrado na Lei Básica. E é óbvio que é observado e cumprido pela China, de acordo com as palavras dos dirigentes e da comunidade portuguesa, da existência de uma simpatia e um desejo que os portugueses permaneçam em Macau. Não podemos escamotear isso, existe teórica e juridicamente esse respeito e vontade. Mas se me perguntar, na prática, penso que existe uma vontade da comunidade portuguesa e macaense de se manterem além de 2049”, concluiu Victor Teixeira. Desafios na Grande Baía O advogado Óscar Madureira, ex-residente de Macau e professor na UCP, é outro dos oradores da palestra de hoje, que visa mostrar ao público português mais sobre a RAEM. “Achamos que ainda existe pouca visibilidade”, disse o causídico ao HM, que vai falar sobre o sistema jurídico local. Sobre este tema, Óscar Madureira defendeu que existem alguns desafios no contexto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, mas não só. “Há alguns desafios que estão na calha, um deles é o da modernização do Direito que é transversal à maioria das jurisdições. Quanto a Macau no contexto da Grande Baía, temos de ver como é que, em termos jurídicos e políticos, o sistema jurídico de Macau se vai integrar. Há outros dois sistemas jurídicos que são muito díspares”, concluiu. A palestra de hoje conta também com a presença de Isabel Castro, ex-editora do HM e ex-directora do Ponto Final, Jorge Pereira, Sara Medina e Manuel Fontaine.
Andreia Sofia Silva VozesO fim da individualidade [dropcap]D[/dropcap]e um lado Edward Snowden a falar dos perigos do mundo digital e de como os Governos da era moderna estão a usar os nossos dados pessoais para nos controlar, qual “Big Brother is Watching You” do século XXI. Do outro, o presidente da Huawei, Guo Ping, a falar das maravilhas da rede 5G, bastante questionada pelo mundo ocidental pela forma como os nossos dados vão ou não ser protegidos, uma vez que na China não existe um regulamento geral sobre dados pessoais. Contradições à parte, foi assim a tarde de ontem na maior cimeira de tecnologia do mundo, a WebSummit. Milhares de pessoas acorreram à zona do Parque das Nações, em Lisboa, para ouvir dizer que estamos a ser manipulados e controlados e nem sabemos muito bem como. Vivemos agarrados aos ecrãs, apps atrás de apps, e nem temos consciência do perigo que estas plataformas constituem. Talvez seja o fim da nossa individualidade preconizada por Edward Snowden. O bom samaritano do mundo tecnológico deixou de trabalhar para o inimigo para nos proteger desse mesmo inimigo. Hoje, vive exilado. Enquanto isto, casos como o da Cambridge Analytica acontecem e nada muda verdadeiramente na forma de operar de gigantes digitais como o Facebook ou a Google. Somos cada vez mais globais e digitais, mas não de uma forma positiva.
Andreia Sofia Silva InternacionalWebsummit | Edward Snowden alerta para controlo de pessoas e não de dados pessoais Edward Snowden, antigo analista informático da Agência de Segurança Nacional dos EUA, esteve esta segunda-feira na abertura de mais uma edição da WebSummit, em Lisboa, e alertou a enorme plateia para a manipulação dos utilizadores da Internet e não apenas dos seus dados pessoais. Snowden, que em 2013 voou para Hong Kong onde denunciou o sistema de vigilância mundial que ajudou a criar, alertou para a enorme proximidade entre empresas e Governos [dropcap]A[/dropcap] casa estava cheia para ouvir Edward Snowden, ainda que por videoconferência. O antigo analista informático da Agência de Segurança Nacional (ASN) dos EUA que, em 2013, voou do Hawai para Hong Kong onde cedeu documentos confidenciais aos media sobre a existência de um sistema de vigilância mundial de comunicações e de Internet, esteve esta segunda-feira na WebSummit, em Lisboa, naquela que é considerada a maior cimeira de tecnologia do mundo. Edward Snowden encontra-se actualmente em regime de asilo político na Rússia, o que o impediu de estar em Lisboa. A entrevista, ao vivo, trouxe conclusões perturbadoras para todos aqueles que estão nas redes sociais e no mundo digital. “Os dados não são inofensivos nem abstractos quando se trata de pessoas. E quase todos os dados recolhidos hoje em dia são sobre pessoas. Não são os dados que estão a ser explorados, são as pessoas que estão a ser manipuladas”. Questionado sobre os esforços para a protecção de dados dos utilizadores na Europa, Snowden indicou que não considera a introdução do Regulamento Geral sobre a Protecção de Dados (RGPD) uma resposta eficaz, uma vez que “o problema não é a protecção de dados, mas sim a recolha de dados”. O ex-analista informático salientou que “não há problema em recolher [dados] desde que não haja uma fuga”, no entanto, o que percebemos em 2013, é que “há sempre uma fuga”. Desde que revelou um segredo muito bem guardado pelas autoridades norte-americanas que Edward Snowden tem vindo a ser acusado pelos Estados Unidos de espionagem e apropriação de segredos do Estado. Ao longo do seu discurso, Snowden referiu ainda que o modelo de negócios de empresas como o Google e o Facebook “é abusivo”, mas consideram-no “legal”. “Esse é que é o verdadeiro problema, nós legalizámos o abuso [relativamente aos dados pessoais recolhidos], criámos um sistema que torna a população vulnerável para benefício dos privilegiados”, afirmou. Empresas vs Governo Numa entrevista com os responsáveis da Websummit, gravada antes do evento e cedida aos media, Edward Snowden confessou que nunca a ligação entre empresas da área digital e o Governo foi tão forte, pondo em causa a segurança dos utilizadores. “Quando os Governos percebem que há um mecanismo de acesso à informação, e quando os tribunais estabelecem este tipo de compromissos concedidos no passado há uma base para requerer novas cooperações. Em primeiro lugar há uma concordância, e em segundo lugar, e em último, acreditam que podem fazer esse tipo de pedidos para sempre. Então penso que há sempre uma falha ao nível da imaginação sobre aquilo que estes sistemas realmente mostram. As empresas em todo o mundo devem compreender para quem trabalham em último lugar e qual o sentido da sua existência. Trabalham em prol do público, ou existem em benefício do Governo?”, questionou. Apesar de destacar a existência da encriptação de mensagens, algo que existe em plataformas de comunicação como o Whatsapp ou Telegram, Edward Snowden assegura que não é suficiente para a protecção de dados pessoais. “Temos visto enormes avanços na forma como as comunicações entre pessoas são protegidas desde a adopção do sistema de encriptação. A encriptação refere-se a uma nuvem que passa pelo percurso hostil da Internet, e aí já não estamos despidos e podemos fazer o que queremos. Temos cada vez mais comunicações encriptadas, mas não são todas. Mesmo quando estão encriptadas elas continuam a ser observadas. É possível ver a sua origem e destino”, salientou. Para Edward Snowden, “o problema disso é que vemos os Governos alarmados pela ideia de que podem perder este acesso perverso a todas as nossas comunicações e às nossas vidas, e a vigilância de massas pode ficar menos rentável ou acessível.” Para Edward Snowden, estas empresas necessitam cada vez mais de olhar para si mesmas e perceber para quem trabalham: se para as entidades institucionais, se para os cidadãos comuns. “Os utilizadores não são os clientes, e isso dá lugar a abusos. Quando usas o Facebook não és um cliente, és um produto. As pessoas não estão conscientes do que acontece com a Amazon, e infelizmente pensam que é apenas um sítio onde compras sapatos. É isso de um ponto de vista, mas num fragmento muito pequeno”, exemplificou. “Sim, estas pessoas estão envolvidas em abusos, nomeadamente quando falamos de Amazon, Facebook ou Google, mas o seu modelo de negócio é o abuso e alegam que é legal. Quer estejamos a falar do Google ou da NSA, esse é o verdadeiro problema. Legalizámos o abuso contra as pessoas. Criámos um sistema que torna a população vulnerável para benefício dos privilegiados”, acusa o antigo analista da CIA. Snowden lembrou que “hoje, em qualquer idioma e qualquer jurisdição, reconhecemos que estas empresas têm cometido abusos através das suas plataformas, dado o seu posicionamento nas sociedades globais”. “A questão é o que vamos fazer sobre isso, para garantir que os seus serviços são úteis para a sociedade, mas a forma como exploram a sua posição deve ser analisada”, acrescentou. Lugar da Internet Ainda sobre o papel das empresas ao nível da segurança dos dados pessoais, Edward Snowden defendeu que devem ser criados limites legais em relação ao período temporal em que esses dados pessoais são guardados por empresas de telecomunicações, a Google ou o Facebook, entre outras. “As empresas não deveriam ter a capacidade de manter registos das vidas pessoais das pessoas por muito tempo, embora isso seja absolutamente essencial para atingir objectivos de negócio. Mas as empresas não necessitam desses dados cinco ou dez anos depois. E não necessitam, definitivamente, dos dados desde 1987, que é data de registo das empresas de telecomunicações.” Snowden defendeu “formas mais eficazes de regular os comportamentos” dessas empresas na sua relação com os utilizadores e descreveu a Internet como um lugar absolutamente comercial. “Não estamos onde precisamos de estar. A Internet tornou-se num espaço de cooperação, e a comercialização da Internet foi uma espécie de valor aditado ao seu verdadeiro objectivo. Hoje em dia a Internet tornou-se num espaço cooperativo que se tornou colonizado e explorado, ultimamente transformado num espaço comercial competitivo em detrimento dos utilizadores.” Tal característica trouxe, para Edward Snowden, consequências sociais, por ser, “em larga medida, responsável por uma fracturação da sociedade que vemos hoje em dia”. No futuro, “deve ser restaurado o equilíbrio entre aquilo que a Internet é e a melhor forma de utilização, limitando as formas como somos explorados”. “A próxima geração de serviços está programada de uma forma em que não confiamos no serviço, pois eles são intermediários da tua comunicação, mas confiamos nas pessoas que são o fim da comunicação, os amigos ou a comunidade, as pessoas com quem queres comunicar. Esse é o futuro”, rematou. A quarta edição da Web Summit em Portugal decorre até quinta-feira e conta com a participação de 1.206 oradores que vão intervir nos 22 palcos distribuídos pelo recinto do evento. Fundada em 2010 por Paddy Cosgrave, Daire Hickey e David Kelly, a Web Summit é considerada um dos maiores eventos de tecnologia, inovação e empreendedorismo do mundo e evoluiu em menos de seis anos de uma equipa de apenas três pessoas para uma empresa com mais de 150 colaboradores. A cimeira tecnológica, que nasceu em 2010 na Irlanda, passou a realizar-se em Lisboa desde 2016, vai manter-se na capital até 2028, depois de, em Novembro do ano passado, ter ficado decidida a permanência da conferência em Portugal por mais 10 anos, após uma candidatura com sucesso. COM LUSA https://www.youtube.com/watch?v=X4_7A-SGLo8
Andreia Sofia Silva InternacionalWebsummit | Edward Snowden alerta para controlo de pessoas e não de dados pessoais Edward Snowden, antigo analista informático da Agência de Segurança Nacional dos EUA, esteve esta segunda-feira na abertura de mais uma edição da WebSummit, em Lisboa, e alertou a enorme plateia para a manipulação dos utilizadores da Internet e não apenas dos seus dados pessoais. Snowden, que em 2013 voou para Hong Kong onde denunciou o sistema de vigilância mundial que ajudou a criar, alertou para a enorme proximidade entre empresas e Governos [dropcap]A[/dropcap] casa estava cheia para ouvir Edward Snowden, ainda que por videoconferência. O antigo analista informático da Agência de Segurança Nacional (ASN) dos EUA que, em 2013, voou do Hawai para Hong Kong onde cedeu documentos confidenciais aos media sobre a existência de um sistema de vigilância mundial de comunicações e de Internet, esteve esta segunda-feira na WebSummit, em Lisboa, naquela que é considerada a maior cimeira de tecnologia do mundo. Edward Snowden encontra-se actualmente em regime de asilo político na Rússia, o que o impediu de estar em Lisboa. A entrevista, ao vivo, trouxe conclusões perturbadoras para todos aqueles que estão nas redes sociais e no mundo digital. “Os dados não são inofensivos nem abstractos quando se trata de pessoas. E quase todos os dados recolhidos hoje em dia são sobre pessoas. Não são os dados que estão a ser explorados, são as pessoas que estão a ser manipuladas”. Questionado sobre os esforços para a protecção de dados dos utilizadores na Europa, Snowden indicou que não considera a introdução do Regulamento Geral sobre a Protecção de Dados (RGPD) uma resposta eficaz, uma vez que “o problema não é a protecção de dados, mas sim a recolha de dados”. O ex-analista informático salientou que “não há problema em recolher [dados] desde que não haja uma fuga”, no entanto, o que percebemos em 2013, é que “há sempre uma fuga”. Desde que revelou um segredo muito bem guardado pelas autoridades norte-americanas que Edward Snowden tem vindo a ser acusado pelos Estados Unidos de espionagem e apropriação de segredos do Estado. Ao longo do seu discurso, Snowden referiu ainda que o modelo de negócios de empresas como o Google e o Facebook “é abusivo”, mas consideram-no “legal”. “Esse é que é o verdadeiro problema, nós legalizámos o abuso [relativamente aos dados pessoais recolhidos], criámos um sistema que torna a população vulnerável para benefício dos privilegiados”, afirmou. Empresas vs Governo Numa entrevista com os responsáveis da Websummit, gravada antes do evento e cedida aos media, Edward Snowden confessou que nunca a ligação entre empresas da área digital e o Governo foi tão forte, pondo em causa a segurança dos utilizadores. “Quando os Governos percebem que há um mecanismo de acesso à informação, e quando os tribunais estabelecem este tipo de compromissos concedidos no passado há uma base para requerer novas cooperações. Em primeiro lugar há uma concordância, e em segundo lugar, e em último, acreditam que podem fazer esse tipo de pedidos para sempre. Então penso que há sempre uma falha ao nível da imaginação sobre aquilo que estes sistemas realmente mostram. As empresas em todo o mundo devem compreender para quem trabalham em último lugar e qual o sentido da sua existência. Trabalham em prol do público, ou existem em benefício do Governo?”, questionou. Apesar de destacar a existência da encriptação de mensagens, algo que existe em plataformas de comunicação como o Whatsapp ou Telegram, Edward Snowden assegura que não é suficiente para a protecção de dados pessoais. “Temos visto enormes avanços na forma como as comunicações entre pessoas são protegidas desde a adopção do sistema de encriptação. A encriptação refere-se a uma nuvem que passa pelo percurso hostil da Internet, e aí já não estamos despidos e podemos fazer o que queremos. Temos cada vez mais comunicações encriptadas, mas não são todas. Mesmo quando estão encriptadas elas continuam a ser observadas. É possível ver a sua origem e destino”, salientou. Para Edward Snowden, “o problema disso é que vemos os Governos alarmados pela ideia de que podem perder este acesso perverso a todas as nossas comunicações e às nossas vidas, e a vigilância de massas pode ficar menos rentável ou acessível.” Para Edward Snowden, estas empresas necessitam cada vez mais de olhar para si mesmas e perceber para quem trabalham: se para as entidades institucionais, se para os cidadãos comuns. “Os utilizadores não são os clientes, e isso dá lugar a abusos. Quando usas o Facebook não és um cliente, és um produto. As pessoas não estão conscientes do que acontece com a Amazon, e infelizmente pensam que é apenas um sítio onde compras sapatos. É isso de um ponto de vista, mas num fragmento muito pequeno”, exemplificou. “Sim, estas pessoas estão envolvidas em abusos, nomeadamente quando falamos de Amazon, Facebook ou Google, mas o seu modelo de negócio é o abuso e alegam que é legal. Quer estejamos a falar do Google ou da NSA, esse é o verdadeiro problema. Legalizámos o abuso contra as pessoas. Criámos um sistema que torna a população vulnerável para benefício dos privilegiados”, acusa o antigo analista da CIA. Snowden lembrou que “hoje, em qualquer idioma e qualquer jurisdição, reconhecemos que estas empresas têm cometido abusos através das suas plataformas, dado o seu posicionamento nas sociedades globais”. “A questão é o que vamos fazer sobre isso, para garantir que os seus serviços são úteis para a sociedade, mas a forma como exploram a sua posição deve ser analisada”, acrescentou. Lugar da Internet Ainda sobre o papel das empresas ao nível da segurança dos dados pessoais, Edward Snowden defendeu que devem ser criados limites legais em relação ao período temporal em que esses dados pessoais são guardados por empresas de telecomunicações, a Google ou o Facebook, entre outras. “As empresas não deveriam ter a capacidade de manter registos das vidas pessoais das pessoas por muito tempo, embora isso seja absolutamente essencial para atingir objectivos de negócio. Mas as empresas não necessitam desses dados cinco ou dez anos depois. E não necessitam, definitivamente, dos dados desde 1987, que é data de registo das empresas de telecomunicações.” Snowden defendeu “formas mais eficazes de regular os comportamentos” dessas empresas na sua relação com os utilizadores e descreveu a Internet como um lugar absolutamente comercial. “Não estamos onde precisamos de estar. A Internet tornou-se num espaço de cooperação, e a comercialização da Internet foi uma espécie de valor aditado ao seu verdadeiro objectivo. Hoje em dia a Internet tornou-se num espaço cooperativo que se tornou colonizado e explorado, ultimamente transformado num espaço comercial competitivo em detrimento dos utilizadores.” Tal característica trouxe, para Edward Snowden, consequências sociais, por ser, “em larga medida, responsável por uma fracturação da sociedade que vemos hoje em dia”. No futuro, “deve ser restaurado o equilíbrio entre aquilo que a Internet é e a melhor forma de utilização, limitando as formas como somos explorados”. “A próxima geração de serviços está programada de uma forma em que não confiamos no serviço, pois eles são intermediários da tua comunicação, mas confiamos nas pessoas que são o fim da comunicação, os amigos ou a comunidade, as pessoas com quem queres comunicar. Esse é o futuro”, rematou. A quarta edição da Web Summit em Portugal decorre até quinta-feira e conta com a participação de 1.206 oradores que vão intervir nos 22 palcos distribuídos pelo recinto do evento. Fundada em 2010 por Paddy Cosgrave, Daire Hickey e David Kelly, a Web Summit é considerada um dos maiores eventos de tecnologia, inovação e empreendedorismo do mundo e evoluiu em menos de seis anos de uma equipa de apenas três pessoas para uma empresa com mais de 150 colaboradores. A cimeira tecnológica, que nasceu em 2010 na Irlanda, passou a realizar-se em Lisboa desde 2016, vai manter-se na capital até 2028, depois de, em Novembro do ano passado, ter ficado decidida a permanência da conferência em Portugal por mais 10 anos, após uma candidatura com sucesso. COM LUSA https://www.youtube.com/watch?v=X4_7A-SGLo8
Andreia Sofia Silva EventosMaria João Ferreira lança livro “Macau: Turismo e Identidade” [dropcap]C[/dropcap]hama-se “Macau: Turismo e Identidade” e é o novo livro de Maria João Ferreira, macaense, doutorada na área do turismo. A obra foi recentemente apresentada em Lisboa e é fruto da tese de doutoramento defendida em 2016, com o título “A gastronomia macaense no turismo cultural de Macau”, no Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa (UL). “O livro nasce quatro anos depois porque ainda não tinha surgido a oportunidade nem a urgência”, disse a autora ao HM. “O meu objectivo sempre foi pesquisar a gastronomia macaense até porque sou nascida e criada em Macau”, adiantou a autora, que trabalhou como bibliotecária durante 40 anos até decidir continuar os estudos académicos. Na sua tese de doutoramento, Maria João Ferreira realizou um estudo cujas conclusões se prendem com a falta de uma estratégia de marketing efectiva para a culinária macaense. “Existe um longo caminho a percorrer até que a gastronomia macaense possa efectivamente contribuir para o turismo cultural de Macau, apesar de estar fortemente implantada no seio das famílias macaenses”, aponta Maria João Ferreira. “Os restaurantes visitados durante a observação directa não demonstraram muito empenho na sua confecção e divulgação. A dificuldade e a incerteza do retorno do investimento a fazer inibe-os de se aplicarem. Os entrevistados demonstraram alguma esperança na capacidade da gastronomia macaense se firmar, enquanto reconhecem haver pouco apoio governamental e pouco estímulo à restauração”, pode ler-se ainda na tese. “Motivo de orgulho” Questionada sobre o rumo que a gastronomia macaense deve tomar, e tendo em conta as conclusões da sua tese de doutoramento, Maria João Ferreira optou por deixar a resposta para as autoridades de Macau. “Há conclusões e recomendações de um estudo encomendado à PATA – Pacific Asia Travel Association sobre essa matéria. É dar tempo ou tempo”, disse apenas. Depois da publicação do trabalho académico, Macau foi nomeada, em 2017, como Cidade Criativa da UNESCO na área da gastronomia, distinção que dá um “duplo orgulho” à autora. Maria João Ferreira também pouco adiantou sobre o caminho que a cultura macaense deverá percorrer no contexto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. “O papel assumido pelo turismo na Grande Baía é uma questão que terá de colocar a quem de direito. A cultura macaense irá manter-se enquanto houver macaenses, e enquanto houver macaenses haverá Macau”, rematou.
Andreia Sofia Silva PolíticaSegurança | Secretário nega enorme aumento de polícias nos últimos anos Wong Sio Chak, secretário para a Segurança, nega que tenha existido nos últimos anos um enorme aumento de pessoal nas Forças de Segurança, assumindo que o aumento real, entre 2015 e Setembro deste ano, é inferior a oito por cento. No que diz respeito à lei de combate à criminalidade informática, Wong Sio Chak volta a frisar o cumprimento de acordos internacionais [dropcap]O[/dropcap] secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, negou na sexta-feira que tenha existido, nos últimos anos, um enorme aumento de contratações na área das Forças de Segurança, conforme foi referido numa reportagem publicada pelo jornal Ou Mun. De acordo com um comunicado oficial, Wong Sio Chak assegura que, entre 2015 e Setembro deste ano, o aumento do número de pessoal, em termos reais, não foi além dos oito por cento. “No início de 2015 o número total do pessoal da área de Segurança fixava-se nos 10.407, e, em Setembro de 2019, contavam-se 11.277, num aumento de 870 trabalhadores. Nestes, incluem-se 113 funcionários da antiga Comissão de Segurança dos Combustíveis, do Instituto de Menores da Direcção dos Serviços de Assuntos de Justiça e do Gabinete de Informação Financeira, integrado, durante o presente Governo, na área de Segurança, portanto, o aumento real dos recursos humanos acaba por ser inferior a oito por cento.” Além disso, Wong Sio Chak esclareceu que, com base no Plano decenal de prevenção e redução de desastres em Macau (2019-2028), “a proporção do número dos bombeiros e dos polícias de segurança pública face à população residente, nesse período, é de 2.5 por cada mil habitantes (2.5 por cento) e 10 por cada mil habitantes (10 por cento), respectivamente e, não 2.5 por 100 habitantes e 10 por 100 habitantes como referiu o jornal. Wong Sio Chak disse que como está em causa uma diferença de dez vezes no número, era importante esclarecer este ponto”, lê-se no comunicado. Apesar de negar um excessivo aumento do número de trabalhadores, Wong Sio Chak explicou que a existência de mais 870 funcionários nas Forças de Segurança “vem dar resposta aos planos que estão a ser implementados, desde 2014, pelo terceiro governo e que houve, nos últimos cinco anos, um crescimento do número de turistas e de postos fronteiriços, que deverão aumentar ainda mais no futuro”. Além de uma maior resposta na área da protecção civil, Wong Sio Chak destacou também o “aumento ligeiro no número de trabalhadores do Corpo de Polícia de Segurança Pública, que passou a contar com mais 361 agentes nos últimos cinco anos”. Tudo nos conformes Na sexta-feira, à margem de um evento público, Wong Sio Chak falou também da proposta de lei de combate à criminalidade informática, em análise na especialidade na Assembleia Legislativa. O secretário voltou a afirmar que as disposições do diploma “são ajustados e estão em estrito acordo com as necessidades da aplicação da legislação, bem como com os padrões e práticas internacionais na área, o que significa que correspondem inteiramente às convenções internacionais”. No que diz respeito ao receio de que a polícia venha a realizar mandatos de busca sem a autorização de um juiz de instrução criminal, Wong Sio Chak afastou essa possibilidade. “(A lei de combate à criminalidade informática aprovada em 2009) prevê que os órgãos de polícia criminal podem adoptar as medidas especiais definidas na lei, ‘mesmo sem prévia autorização da autoridade judiciária competente, quando tiverem fundadas razões para crer que os dados informáticos relacionados com o crime são susceptíveis de servirem a prova e que, de outra forma, poderiam perder-se ou quando a demora possa representar grave perigo para bens jurídicos de valor relevante’”, recordou o secretário. No entanto, “a realização da diligência é, sob pena de nulidade, imediatamente comunicada à autoridade judiciária competente e por esta apreciada em ordem à sua validação, a efectuar no prazo máximo de 72 horas”. No mesmo comunicado, Wong Sio Chak esclareceu que “a proposta de alteração à lei não abrange o referido artigo, uma vez que o seu conteúdo corresponde completamente às normas e aos princípios gerais do Código de Processo Penal”.
Andreia Sofia Silva PolíticaSegurança | Secretário nega enorme aumento de polícias nos últimos anos Wong Sio Chak, secretário para a Segurança, nega que tenha existido nos últimos anos um enorme aumento de pessoal nas Forças de Segurança, assumindo que o aumento real, entre 2015 e Setembro deste ano, é inferior a oito por cento. No que diz respeito à lei de combate à criminalidade informática, Wong Sio Chak volta a frisar o cumprimento de acordos internacionais [dropcap]O[/dropcap] secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, negou na sexta-feira que tenha existido, nos últimos anos, um enorme aumento de contratações na área das Forças de Segurança, conforme foi referido numa reportagem publicada pelo jornal Ou Mun. De acordo com um comunicado oficial, Wong Sio Chak assegura que, entre 2015 e Setembro deste ano, o aumento do número de pessoal, em termos reais, não foi além dos oito por cento. “No início de 2015 o número total do pessoal da área de Segurança fixava-se nos 10.407, e, em Setembro de 2019, contavam-se 11.277, num aumento de 870 trabalhadores. Nestes, incluem-se 113 funcionários da antiga Comissão de Segurança dos Combustíveis, do Instituto de Menores da Direcção dos Serviços de Assuntos de Justiça e do Gabinete de Informação Financeira, integrado, durante o presente Governo, na área de Segurança, portanto, o aumento real dos recursos humanos acaba por ser inferior a oito por cento.” Além disso, Wong Sio Chak esclareceu que, com base no Plano decenal de prevenção e redução de desastres em Macau (2019-2028), “a proporção do número dos bombeiros e dos polícias de segurança pública face à população residente, nesse período, é de 2.5 por cada mil habitantes (2.5 por cento) e 10 por cada mil habitantes (10 por cento), respectivamente e, não 2.5 por 100 habitantes e 10 por 100 habitantes como referiu o jornal. Wong Sio Chak disse que como está em causa uma diferença de dez vezes no número, era importante esclarecer este ponto”, lê-se no comunicado. Apesar de negar um excessivo aumento do número de trabalhadores, Wong Sio Chak explicou que a existência de mais 870 funcionários nas Forças de Segurança “vem dar resposta aos planos que estão a ser implementados, desde 2014, pelo terceiro governo e que houve, nos últimos cinco anos, um crescimento do número de turistas e de postos fronteiriços, que deverão aumentar ainda mais no futuro”. Além de uma maior resposta na área da protecção civil, Wong Sio Chak destacou também o “aumento ligeiro no número de trabalhadores do Corpo de Polícia de Segurança Pública, que passou a contar com mais 361 agentes nos últimos cinco anos”. Tudo nos conformes Na sexta-feira, à margem de um evento público, Wong Sio Chak falou também da proposta de lei de combate à criminalidade informática, em análise na especialidade na Assembleia Legislativa. O secretário voltou a afirmar que as disposições do diploma “são ajustados e estão em estrito acordo com as necessidades da aplicação da legislação, bem como com os padrões e práticas internacionais na área, o que significa que correspondem inteiramente às convenções internacionais”. No que diz respeito ao receio de que a polícia venha a realizar mandatos de busca sem a autorização de um juiz de instrução criminal, Wong Sio Chak afastou essa possibilidade. “(A lei de combate à criminalidade informática aprovada em 2009) prevê que os órgãos de polícia criminal podem adoptar as medidas especiais definidas na lei, ‘mesmo sem prévia autorização da autoridade judiciária competente, quando tiverem fundadas razões para crer que os dados informáticos relacionados com o crime são susceptíveis de servirem a prova e que, de outra forma, poderiam perder-se ou quando a demora possa representar grave perigo para bens jurídicos de valor relevante’”, recordou o secretário. No entanto, “a realização da diligência é, sob pena de nulidade, imediatamente comunicada à autoridade judiciária competente e por esta apreciada em ordem à sua validação, a efectuar no prazo máximo de 72 horas”. No mesmo comunicado, Wong Sio Chak esclareceu que “a proposta de alteração à lei não abrange o referido artigo, uma vez que o seu conteúdo corresponde completamente às normas e aos princípios gerais do Código de Processo Penal”.
Andreia Sofia Silva EntrevistaAntónio Graça de Abreu, docente, poeta e tradutor: “Portugal não investe em Macau” Professor na Universidade de Aveiro, poeta e tradutor, António Graça de Abreu já visitou todas as províncias da China, país para onde foi viver em 1976. À margem de uma palestra recente proferida na Universidade Nova de Lisboa, intitulada “História Chinesa: As relações China-Portugal”, o académico falou da ida de Ramalho Eanes à China em 1984 como o ponto alto da ligação bilateral. Sobre Macau, recorda os limites de poder da Administração portuguesa do período pré-1999 e um encontro com a Companhia Nam Kwong, que denotou o poder chinês no território à época [dropcap]Q[/dropcap]ual é para si o momento mais marcante desta relação entre Portugal e a China? Talvez em 1984, quando Ramalho Eanes foi à China e tem um encontro com Deng Xiaoping, e se começa a antever e a prever o fim de Macau sob bandeira portuguesa. Já estava tudo mais ou menos alinhado em relação a Hong Kong, e é a altura em que Portugal começa a ter consciência de que inevitavelmente um dia a bandeira portuguesa seria arreada. A partir da Declaração Conjunta é o fim de mais de 450 anos de presença portuguesa em Macau efectiva, com algum controlo sobre o território. Embora esse controlo e essa soberania portuguesa tinham sido sempre muito divididas e muitas vezes pouco eficiente, porque como sabe os chineses sempre tiveram uma mão forte sobre o território de Macau. Os portugueses, até há poucos anos, tinham a ideia que mandavam bastante em Macau, mas isso é tudo muito relativo. É uma terra muito especial. Sempre foi uma Administração controlada. Mandávamos no que directamente nos dizia respeito, mas a outra parte do icebergue foi bem escondida pelos chineses ao longo dos séculos. É um dado que marca aquele território. É um poder não bem oculto, mas relativo. Era o poder das elites? Cheguei à China em 1977, através do PCP-ML (Partido Comunista de Portugal Marxista-Leninista), que era o único partido português que tinha relações institucionais com o Partido Comunista Chinês (PCC), antes e depois do 25 de Abril. Apercebi-me logo que esse relacionamento entre Portugal e a China era muito estranho, diria eu, porque uma coisa é o relacionamento de Macau e as zonas adjacentes, e tem sido assim ao longo dos séculos. Outra coisa são as relações de país para país, entre Lisboa e Pequim. O relacionamento entre o PCP-ML e o PCC era entre Lisboa e Pequim, não passava por Macau. No entanto, fui a Macau pela primeira vez em 1979 e recebi ordens, se se pode falar assim, para apresentar cumprimentos à companhia Nam Kwong. De facto, esses senhores eram os representantes efectivos do PCC em Macau, mas com uma capa de companhia comercial que ainda hoje existe. Nessa altura eram preponderantes. Fui recebido por Ho Cheng Peng e este senhor tinha ligações estreitíssimas com o PCC, e só depois é que comecei a perceber onde estava. Durante a Revolução Cultural, naqueles anos complicados, em que não se sabia exactamente o que estava a acontecer na China e os próprios chineses, líderes do partido, estavam com problemas porque aquilo esteve quase a descambar numa desorganização completa do partido e mais alguma coisa, Ho Cheng Peng tinha tudo preparado em Macau para receber quem quer que fosse, através dos canais do partido, para os fazer chegar a Macau e os colocar em qualquer parte do mundo. A importância que os chineses com ligação à China tinham em Macau nos anos 80, 60, com Ho Yin, escapava quase sempre ao controlo das autoridades portuguesas. Não entravam dentro desse mundo nem tinham de entrar, e sempre foi assim. Há a amizade entre os povos… Mas há sempre uma barreira? Há a barreira linguística e das mentalidades, e dos afectos, e aqui falo dos afectos. Por exemplo, o senhor Ho Cheng Peng afecto pelo PCC, havia também os interesses e as motivações de cada um. Até pelo sentimento patriótico que é muito forte na China, ainda nos dias de hoje. Isso não é igual a nós (portugueses) e complica o nosso entendimento. Fui então recebido por Ho Cheng Peng, mas deram-nos uma importância silenciosa e na altura não falei. Não convinha falar sobre isso. Fui recebido por esses senhores e depois enviaram-me livros para Pequim. DR Mas havia depois o grupo que estabelecia a ligação entre chineses e portugueses, composto por pessoas como Roque Choi ou Ho Yin, que referiu há pouco. Mas não havia uma ligação efectiva? Mas esses sabiam de tudo e faziam até jogo duplo, diria eu. Sabiam quem eram os poderes chineses em Macau e havia alguns portugueses que eventualmente já tinham boas ligações. Já nessa altura o Jorge Neto Valente tinha boas ligações com a companhia Nam Kwong, por exemplo. Foi ele que me encaminhou, de algum modo, porque eu não sabia bem mexer-me em Macau, era um homem de Pequim, nunca tinha passado nem por Macau nem por Hong Kong. Outra coisa que não gostei de Macau nesses anos era que os portugueses estavam muito zangados uns com os outros. Refere-se ao período do pós-25 de Abril? Sim, anos 70, 80. Havia uma série de guerrilhas permanentes, uns portugueses eram importantes, mas estavam em Macau há dois ou três anos e falavam da China com uma autoridade enorme. Nunca tinham passado das Portas do Cerco e diziam já saber tudo. Eram bem pagos e mesmo assim queixavam-se. Mas falo no geral. Outra questão: porque é que Macau não dá sinólogos? Porque se calhar as pessoas chegam a Macau e pensam que sabem tudo sobre a China. Aprendem português no início e depois fartam-se. O português não é metódico nem organizado, essencial para aprender chinês. Ana Maria Amaro, que viveu em Macau 15 anos, chegou a fundar o Instituto Português de Sinologia. E o que é feito desse instituto? Ela só criou, mas nunca funcionou. Tem pessoas que não fazem rigorosamente nada, não tem publicações. Deveriam existir mais centros de estudos chineses em Portugal e não existem, e Macau aí também não ajuda. Mas Hong Kong também não é um bom sítio para criar sinólogos, também não há muitos. Há a vida dos expatriados, e fazem a vida entre eles. Não se ligam ao mundo chinês nem estão interessados. Meter a cabeça dentro da China dói. Quando foi para a China não tinha esse grupo de apoio. Não havia expatriados. Havia a embaixada a 19 quilómetros do lugar onde vivia. Fui escrevendo e também sobre o meu dia-a-dia. Fui aprendendo chinês e tentando mexer-me naquele mundo. Viajei muito pela China, visitei todas as províncias. Fui trabalhar para as Edições de Pequim e foi a imersão no mundo chinês e na própria propaganda do PCC. Publicávamos uma revista de propaganda sobre a China, sobre a qual não concordava, mas sempre pensei: “quem sou eu para concordar ou não? Para corrigir um universo, na altura de 900 milhões de pessoas?”. Aceitava. Temos de aceitar que do outro lado há um bloco sobre o qual temos a nossa opinião, mas não me compete a mim corrigir eventuais erros do PCC, até porque os erros de hoje podem ser coisas boas de amanhã. De todos os governantes portugueses quais foram aqueles que melhor lidaram com o processo de Macau, os que melhor souberam dialogar com a China? Diria que nenhum, mas não sei. A verdade é que essas visitas são sempre protocolares. Em 1995 fui com Mário Soares à China, tive a sorte de ser convidado. Estava a dar aulas de cultura chinesa na Missão de Macau em Lisboa. E aí apercebi-me que as pessoas nessa comitiva grande de empresários e jornalistas, planavam sobre a China. Chegávamos a Pequim e aquelas pessoas não entraram bem na China. O ministro dos Negócios Estrangeiros era Durão Barroso, cheio de problemas, porque era do PSD e o Mário Soares era do PS. As negociações não davam quase nada, não tinham consequência. Mesmo os empresários que os presidentes da República ou os primeiro-ministros costumam levar fazem mal o trabalho de casa. Ainda hoje? Ainda hoje. Estou a lembrar-me dessa viagem de 1995. Contaram-me depois que os 70 ou 80 empresários contactaram as comitivas chinesas e achavam que rapidamente iam fazer grandes negócios. Mas esqueceram-se de fazer o trabalho de casa. Chegamos lá, desenrascamo-nos e depois logo se vê. Muitas vezes até Macau, e o Fórum Macau não aproveitamos. Com o chinês tem de ser tudo muito bem trabalhado. Há coisas que têm sido bem feitas, há empresas que trabalham bem e que agora tem os seus escritórios em Xangai. Lembro-me da Corticeira Amorim que há 20 ou 30 anos colocava cortiça em toda a Ásia. E como vê as relações hoje em dia entre a China e Portugal? Começam a surgir algumas críticas ou receios pela forma como a China está a investir no país. Não conheço bem a parte económica, sou mais ligado à cultura. Mas pergunto-lhe a nível diplomático, com todas estas visitas que têm sido feitas. As relações são boas e tem-se procurado que não haja atritos nem conflitos. Mas é evidente que com a própria comunidade europeia tenha havido alguns problemas com a política “Uma Faixa, Uma Rota”, porque Portugal embarcou rapidamente nela. Parecia um bom negócio para Portugal, mas a Europa ficou um bocadinho de pé atrás, porque a comunidade europeia disse que isso só servia a China. Portugal tem estado calado, é um país pequeno. Mesmo assim as importações e exportações para a China já começam a ter algum peso. Portugal tem tentado a nível das exportações, sobretudo da carne de porco, que os chineses precisam. Há uma série de negócios que têm de se fazer, mas que têm de ser bem preparados. As contrapartidas é que são sempre discutíveis. Os chineses têm quase liberdade plena para abrirem empresas na Europa, mas o contrário não acontece. Mas a China também está a atenuar as limitações que tem tido face ao investimento estrangeiro. O chinês gosta muito de jogar, nos negócios e na política. Portugal não é muito duro e determinado. Agora começamos a ter alguns especialistas nesta área, mas não tínhamos. Quais foram os grandes erros de Portugal em relação a Macau ao longo destes anos? Antes da transição Portugal lembrava-se muito de Macau, era uma boa fonte de rendimentos, inclusive para algumas forças políticas. Mas era assim que funcionavam as coisas. Macau foi plataforma de bons negócios e bons empregos. Mas depois começou a ficar um pouco esquecido pelo mundo da política e dos negócios. Mas, repare: há o Fórum Macau que é subsidiado pelos chineses, Portugal não investe em Macau. Mas os resultados do Fórum Macau são relativos. Quando se fala dos negócios da China, as pessoas dizem que Macau é o trampolim. Isso repete-se há 100 anos, não é de agora. Em Macau estamos na China, mas estamos a 2800 quilómetros de Pequim. Negociar com a China a partir de Macau é diferente, e os países que estão no Fórum Macau também têm as suas embaixadas e adidos comerciais, como é o caso do Brasil, que tem uma embaixada pujante, que não precisa de passar por Macau para coisa nenhuma. Há países de língua portuguesa que até desprestigiam Macau porque têm interesse em fazer os seus negócios directamente nas suas embaixadas em Pequim ou Xangai. É mais fácil porque estão mais próximos das empresas. Os negócios do petróleo entre a China e Angola não passam pelo Fórum Macau, por exemplo. Agrada-lhe o rumo que Macau está a tomar? Macau foi incorporada na grande China em 1999, e a partir daí o jogo tem sido um bocadinho diferente. Os casinos cresceram exponencialmente. Macau não é igual a nenhum outro lugar do mundo. É uma terra complexa. Em Portugal quase todos somos portugueses, mas o chinês de Macau vê a sua terra de determinada maneira, e os chineses que vivem em Macau oriundos da China já olham para a realidade da terra de maneira diferente. Temos depois os portugueses e os macaenses. Os portugueses conseguem sobreviver porque tem a arte de saber viver em Macau. Penso que aqueles que amam mais Macau são os macaenses e os chineses nascidos em Macau. Em Hong Kong, chineses lá nascidos são mais de quatro milhões, e a população é de sete milhões. E Macau é pequena. Hong Kong podia ser independente, porque além de ser uma grande praça financeira, tem o maior porto de contentores do mundo. Tem um grande poder económico e uma pujança que lhe iria permitir não depender da China, a não ser para os negócios. Aí tem de saber negociar. As pessoas de Hong Kong que se manifestam nas ruas têm a percepção de que o território tem de ser uma coisa muito diferente da China, em termos de direitos e liberdades. Eu compreendo-os, mas Hong Kong está inserido no grande mundo chinês, onde essas grandes liberdades e direitos, que fazem parte do nosso mundo ocidental, ainda não prevalecem. Deng Xiaoping dizia que o primeiro direito humano é podermos comer todos os dias. Muitas pessoas na China não se preocupam com a ditadura. Podemos estar a falhar ao avaliar a China de acordo com os nossos conceitos ocidentais, o que não quer dizer que não haja valores universais. Penso que os chineses querem mais liberdades, mas toda a gente quer mais liberdade, é da natureza humana. Por exemplo na Internet. Xi Jinping quer reforçar o poder do partido, porque os chineses têm muito medo do caos. Se as manifestações de Hong Kong entrassem pela China adentro, imagine o que acontecia ao país. Caía o poder? Podia dar uma guerra civil. E um dia isso vai acontecer, talvez no seu tempo, não no meu. Daqui a 30, 40 ou 50 anos a China vai passar por grandes convulsões. É inevitável e os chineses sabem isso há muitos anos. O partido vai-se desagregar. Isso será mau para a China e para o mundo inteiro. E os negócios?
Andreia Sofia Silva EventosResidência artística | Zhuhai e Hong Kong na lista de desejos de Valério Romão [dropcap]V[/dropcap]alério Romão viaja hoje para Macau onde vai residir durante um mês no âmbito de uma residência artística organizada pela agência literária Capítulo Oriental e com o apoio da Fundação Oriente e Casa de Portugal em Macau. Em entrevista ao HM, o autor revelou a vontade de explorar não apenas a singularidade do território, mas também das cidades vizinhas, como é o caso de Hong Kong e Zhuhai. “Queria ir também a Hong Kong, por todos os motivos, sobretudo pelo que se está a viver lá. Talvez vá também a Zhuhai. Ainda não fiz muitos planos, acho que vou deixar a coisa fluir”, confessou. Questionado sobre a possibilidade de vir a usar os protestos de Hong Kong como pano de fundo para um novo romance, o escritor português, que também colabora com o HM, não negou essa hipótese. “Escrever sobre os protestos é sempre uma possibilidade, a dúvida é que eu tenha tempo suficiente em Hong Kong para perceber o que se está a passar com a profundidade necessária”, disse o escritor. A viagem a Oriente marca uma nova etapa em termos de produção literária. Depois de ter escrito uma trilogia de romances sobre as temáticas da família e do autismo, intitulada “paternidades falhadas” e composta pelos livros “Autismo”, “O da Joana” e “Cair para Dentro”, recentemente lançado, o autor anseia por escrever sobre outras coisas. “A minha vontade não é voltar ao tema da família, é ir para outro sítio e explorar outras perspectivas. Quero escrever sobre coisas completamente diferentes do que tenho escrito até aqui.” No princípio era Pessanha A primeira vez que Valério Romão pisou o Oriente foi em 2017, aquando da iniciativa “Camilo Pessanha – 150 Anos”, organizada pelo HM. Foi aí que surgiu a vontade de viver por um período no território para escrever algo de novo. Daí aos contactos com Hélder Beja, director da Capítulo Oriental, foi um passo. Esta viagem fica marcada por presenças do escritor na Escola Portuguesa de Macau, Instituto Politécnico de Macau e departamento de português da Universidade de Macau (UM), sem esquecer a participação, como moderador e orador, na conferência internacional Asia Pacific Writers & Translators (APWT), a decorrer na UM entre 5 e 7 de Novembro. Valério Romão, que já tem ideias para um novo romance, não sabe ainda sobre o que vai escrever, mas tem a certeza que pretende explorar a diversidade de culturas existente num só território. “Quero sobretudo aproveitar o tempo para absorver o que Macau tem para dar. Eventualmente alguma coisa surgirá, dentro do âmbito do romance que estou a pensar escrever ou noutro âmbito que tenha mais a ver com Macau e com todas as culturas lá existentes”, rematou.
Andreia Sofia Silva EventosResidência artística | Zhuhai e Hong Kong na lista de desejos de Valério Romão [dropcap]V[/dropcap]alério Romão viaja hoje para Macau onde vai residir durante um mês no âmbito de uma residência artística organizada pela agência literária Capítulo Oriental e com o apoio da Fundação Oriente e Casa de Portugal em Macau. Em entrevista ao HM, o autor revelou a vontade de explorar não apenas a singularidade do território, mas também das cidades vizinhas, como é o caso de Hong Kong e Zhuhai. “Queria ir também a Hong Kong, por todos os motivos, sobretudo pelo que se está a viver lá. Talvez vá também a Zhuhai. Ainda não fiz muitos planos, acho que vou deixar a coisa fluir”, confessou. Questionado sobre a possibilidade de vir a usar os protestos de Hong Kong como pano de fundo para um novo romance, o escritor português, que também colabora com o HM, não negou essa hipótese. “Escrever sobre os protestos é sempre uma possibilidade, a dúvida é que eu tenha tempo suficiente em Hong Kong para perceber o que se está a passar com a profundidade necessária”, disse o escritor. A viagem a Oriente marca uma nova etapa em termos de produção literária. Depois de ter escrito uma trilogia de romances sobre as temáticas da família e do autismo, intitulada “paternidades falhadas” e composta pelos livros “Autismo”, “O da Joana” e “Cair para Dentro”, recentemente lançado, o autor anseia por escrever sobre outras coisas. “A minha vontade não é voltar ao tema da família, é ir para outro sítio e explorar outras perspectivas. Quero escrever sobre coisas completamente diferentes do que tenho escrito até aqui.” No princípio era Pessanha A primeira vez que Valério Romão pisou o Oriente foi em 2017, aquando da iniciativa “Camilo Pessanha – 150 Anos”, organizada pelo HM. Foi aí que surgiu a vontade de viver por um período no território para escrever algo de novo. Daí aos contactos com Hélder Beja, director da Capítulo Oriental, foi um passo. Esta viagem fica marcada por presenças do escritor na Escola Portuguesa de Macau, Instituto Politécnico de Macau e departamento de português da Universidade de Macau (UM), sem esquecer a participação, como moderador e orador, na conferência internacional Asia Pacific Writers & Translators (APWT), a decorrer na UM entre 5 e 7 de Novembro. Valério Romão, que já tem ideias para um novo romance, não sabe ainda sobre o que vai escrever, mas tem a certeza que pretende explorar a diversidade de culturas existente num só território. “Quero sobretudo aproveitar o tempo para absorver o que Macau tem para dar. Eventualmente alguma coisa surgirá, dentro do âmbito do romance que estou a pensar escrever ou noutro âmbito que tenha mais a ver com Macau e com todas as culturas lá existentes”, rematou.
Andreia Sofia Silva China / Ásia MancheteHong Kong | Analistas traçam futuro depois da saída de Carrie Lam A possibilidade de Carrie Lam deixar o cargo de Chefe do Executivo de Hong Kong é um cenário que deixa no ar várias questões. Poderão os protestos na região vizinha abrandar ou alterar a forma de governar? Analistas ouvidos pelo HM acreditam que pouco ou nada irá mudar no território com um novo rosto à frente do Governo. Em Macau, Ho Iat Seng terá de criar mais medidas sociais para evitar descontentamentos, diz Bruce Kwong [dropcap]C[/dropcap]arrie Lam, a má gestora de crises políticas, a governante que ficou do lado da polícia, a Chefe do Executivo que não reagiu no devido tempo aos anseios da população. A pessoa que lhe suceder no cargo de Chefe do Executivo de Hong Kong, terá de assumir a postura exactamente contrária para que o futuro do território se faça pelo caminho da estabilidade social. É esta a conclusão dos analistas políticos contactados pelo HM no que diz respeito ao futuro de Hong Kong caso Carrie Lam deixe o cargo de Chefe do Executivo, conforme foi avançado pelo Financial Times. Ainda assim, são esperadas poucas mudanças de fundo num território com um ambiente político altamente fragilizado. “Não há expectativas, uma vez que o novo Chefe do Executivo vai continuar a ser uma marioneta política”, defendeu Kenneth Chan, professor associado do departamento de governação e estudos internacionais da Universidade Baptista de Hong Kong. “Hong Kong vai continuar na sua luta, com cinco reivindicações, incluindo o sufrágio universal e o fim das brutalidades cometidas pela polícia. A questão é se Pequim e o próximo Chefe do Executivo estão ou não preparados para enfrentar esses pedidos. Não há sinais para me sentir confiante o suficiente e dizer que estão preparados”, apontou. Para Kenneth Chan, uma mudança de rosto é apenas uma repetição de medidas do passado. “Há apenas uma janela de oportunidade, mas tivemos situações semelhantes no passado, quando Donald Tsang foi substituído por CY Leung e depois quando Carrie Lam assumiu o poder. Penso que o problema de Hong Kong é sistémico, e está relacionado com problemas profundos de governação. Mudar o Chefe do Executivo e remover alguns governantes não é suficiente.” Opinião semelhante tem Jorge Tavares da Silva, especialista em relações entre China e Taiwan e professor nas universidades de Aveiro e Coimbra. “Com essa substituição pode acontecer talvez uma compreensão para ver se as coisas podem acalmar, mas é um caso perdido. Porque esta semente dificilmente volta atrás. Hong Kong teve sempre uma componente de reivindicação, foi sempre um espaço de alguma liberdade e Pequim não gosta disso.” Recuperar a confiança Bruce Kwong, professor da Universidade de Macau, defende que, acima de tudo, o próximo Chefe do Executivo de Hong Kong terá de recuperar a confiança perdida junto da população do território vizinho. “Há muitas coisas que o novo Chefe do Executivo terá de fazer, tal como restaurar a confiança do público em relação ao Governo e particularmente em relação às forças policiais. A China gostaria de ver um novo Chefe do Executivo que possa levar a cabo as políticas do Governo Central e fazer o planeamento de Hong Kong sem qualquer tipo de turbulência. Mas depois dos acontecimentos dos últimos meses, as pessoas de Hong Kong gostariam de ter um líder que dê prioridade os seus desejos”, salientou. Sonny Lo, analista político de Hong Kong, defende que o próximo Chefe do Executivo de Hong Kong deve ter “experiência em gestão de crises, uma vez que Carrie Lam falhou ao lidar com a situação actual. Além disso, deverá ser um governante “leal a Pequim, mas que garanta o equilíbrio entre os interesses da população de Hong Kong e Pequim”. “Deve ter em consideração a opinião pública ao invés de ficar do lado de questões burocráticas desde muito cedo, tal como Carrie Lam fez ao lidar com a polícia nos meses de Junho, Julho e Agosto. Deve ser alguém sem problemas de ética e que aceite diferentes opiniões”, acrescentou Sonny Lo, que destaca o facto de a população de Hong Kong esperar, sobretudo, “que o novo Chefe do Executivo democratize o território”. Acima de tudo, Bruce Kwong assegura que “a saída de Carrie Lam não resolve todos os problemas”, pois “a cultura política de Hong Kong tem-se alterado de forma dramática, entrando de forma significativa em conflito com a ideologia chinesa”. Para Macau, quase nada A mudança do principal rosto político de Hong Kong poderá eventualmente trazer algumas mudanças no ambiente sociopolítico de Macau, dada a sua proximidade, mas os analistas alertam para poucas mudanças. Sonny Lo diz mesmo que não haverá quaisquer consequências para Macau “pois os territórios são bastante diferentes”. Para Bruce Kwong, o Chefe do Executivo de Macau eleito, Ho Iat Seng, terá obrigatoriamente de “implementar mais medidas na área social e oferecer mais coisas interessantes às pessoas, eliminando qualquer oportunidade de disputas controversas”. “Isto apesar de acreditar que os protestos que ocorreram em Hong Kong não se vão repetir em Macau num futuro próximo”, acrescentou. Neste sentido, Jorge Rangel, presidente do Instituto Internacional de Macau (IIM) ex-secretário adjunto de Rocha Vieira, disse recentemente em Lisboa que era premente o Governo da RAEM resolver o problema da habitação, sob pena dos protestos surgirem em força nos próximos anos. “Macau tem de ter habitação para a classe média, pois corremos o risco de, daqui a uns anos, termos milhares de pessoas a marchar nas ruas. Estamos a ser ameaçados por um problema que não está resolvido”, adiantou num colóquio organizado pela Universidade Católica Portuguesa. Kenneth Chan alerta para o facto de conhecer pouco a realidade de Macau, mas assegura que as consequências de uma mudança de líder em Hong Kong serão mínimas “Do ponto de vista de Pequim, Macau é um modelo a seguir no que diz respeito ao cumprimento do princípio ‘Um País, Dois Sistemas’. Mas isso é algo que a população de Hong Kong considera inaceitável”, considera. De frisar que, desde que os protestos começaram em Hong Kong, dezenas de pessoas do território foram proibidas de entrar em Macau. O deputado Sulu Sou já deixou o alerta de que as autoridades estarão a interrogar na fronteira pessoas de Hong Kong que possuem BIR de Macau. “Recebi casos de pessoas que têm, ao mesmo tempo, bilhetes de identidade de Hong Kong e Macau. Depois, utilizam o bilhete de identidade de Macau para entrar em Macau, vindas de Hong Kong, mas são retidas e questionadas durante meia hora ou mesmo uma hora no terminal do ferry.” Taiwan, “um caso perdido” por causa de Hong Kong Jorge Tavares da Silva, professor nas universidades de Aveiro e de Coimbra, e especialista nas relações Taiwan-China, não tem dúvidas de que, graças aos protestos de Hong Kong, a integração de Taiwan tornou-se algo praticamente impossível de acontecer. “Está completamente fora de questão. Taiwan, para mim, é quase um caso perdido do ponto de vista político. Não haverá solução. Por todas estas dinâmicas sociais que vão surgindo, os taiwaneses nunca aceitariam (a integração). Eu sei que a maior parte da população prefere manter o status quo, que a situação se mantenha como está, mas uma integração seria completamente impossível, porque teria sempre resistências como o que está a acontecer agora em Hong Kong.” Para o docente, tanto Hong Kong como Taiwan “são sempre territórios que já tem uma certa identidade política e será muito difícil a China chegar ali com o seu modelo político e alterar”. Pelo contrário, os protestos de Hong Kong jamais terão reflexo no continente. “Não há problema de contágio, a China está sólida”, frisou Jorge Tavares da Silva. Paulo Duarte defende que Tsai Ing-wen vai tirar proveito político do panorama de Hong Kong aquando das presidenciais, em 2020. “O que está a acontecer em Hong Kong e Macau também é a introdução de um capitalismo pelo Partido Comunista Chinês e que está a ter repercussões noutros pontos sensíveis, como é o caso de Taiwan. A presidente de Taiwan vai aproveitar este descontentamento para mobilizar o seu eleitorado e as pessoas que estão reticentes nas presidenciais de 2020”, concluiu.
Andreia Sofia Silva China / Ásia MancheteHong Kong | Analistas traçam futuro depois da saída de Carrie Lam A possibilidade de Carrie Lam deixar o cargo de Chefe do Executivo de Hong Kong é um cenário que deixa no ar várias questões. Poderão os protestos na região vizinha abrandar ou alterar a forma de governar? Analistas ouvidos pelo HM acreditam que pouco ou nada irá mudar no território com um novo rosto à frente do Governo. Em Macau, Ho Iat Seng terá de criar mais medidas sociais para evitar descontentamentos, diz Bruce Kwong [dropcap]C[/dropcap]arrie Lam, a má gestora de crises políticas, a governante que ficou do lado da polícia, a Chefe do Executivo que não reagiu no devido tempo aos anseios da população. A pessoa que lhe suceder no cargo de Chefe do Executivo de Hong Kong, terá de assumir a postura exactamente contrária para que o futuro do território se faça pelo caminho da estabilidade social. É esta a conclusão dos analistas políticos contactados pelo HM no que diz respeito ao futuro de Hong Kong caso Carrie Lam deixe o cargo de Chefe do Executivo, conforme foi avançado pelo Financial Times. Ainda assim, são esperadas poucas mudanças de fundo num território com um ambiente político altamente fragilizado. “Não há expectativas, uma vez que o novo Chefe do Executivo vai continuar a ser uma marioneta política”, defendeu Kenneth Chan, professor associado do departamento de governação e estudos internacionais da Universidade Baptista de Hong Kong. “Hong Kong vai continuar na sua luta, com cinco reivindicações, incluindo o sufrágio universal e o fim das brutalidades cometidas pela polícia. A questão é se Pequim e o próximo Chefe do Executivo estão ou não preparados para enfrentar esses pedidos. Não há sinais para me sentir confiante o suficiente e dizer que estão preparados”, apontou. Para Kenneth Chan, uma mudança de rosto é apenas uma repetição de medidas do passado. “Há apenas uma janela de oportunidade, mas tivemos situações semelhantes no passado, quando Donald Tsang foi substituído por CY Leung e depois quando Carrie Lam assumiu o poder. Penso que o problema de Hong Kong é sistémico, e está relacionado com problemas profundos de governação. Mudar o Chefe do Executivo e remover alguns governantes não é suficiente.” Opinião semelhante tem Jorge Tavares da Silva, especialista em relações entre China e Taiwan e professor nas universidades de Aveiro e Coimbra. “Com essa substituição pode acontecer talvez uma compreensão para ver se as coisas podem acalmar, mas é um caso perdido. Porque esta semente dificilmente volta atrás. Hong Kong teve sempre uma componente de reivindicação, foi sempre um espaço de alguma liberdade e Pequim não gosta disso.” Recuperar a confiança Bruce Kwong, professor da Universidade de Macau, defende que, acima de tudo, o próximo Chefe do Executivo de Hong Kong terá de recuperar a confiança perdida junto da população do território vizinho. “Há muitas coisas que o novo Chefe do Executivo terá de fazer, tal como restaurar a confiança do público em relação ao Governo e particularmente em relação às forças policiais. A China gostaria de ver um novo Chefe do Executivo que possa levar a cabo as políticas do Governo Central e fazer o planeamento de Hong Kong sem qualquer tipo de turbulência. Mas depois dos acontecimentos dos últimos meses, as pessoas de Hong Kong gostariam de ter um líder que dê prioridade os seus desejos”, salientou. Sonny Lo, analista político de Hong Kong, defende que o próximo Chefe do Executivo de Hong Kong deve ter “experiência em gestão de crises, uma vez que Carrie Lam falhou ao lidar com a situação actual. Além disso, deverá ser um governante “leal a Pequim, mas que garanta o equilíbrio entre os interesses da população de Hong Kong e Pequim”. “Deve ter em consideração a opinião pública ao invés de ficar do lado de questões burocráticas desde muito cedo, tal como Carrie Lam fez ao lidar com a polícia nos meses de Junho, Julho e Agosto. Deve ser alguém sem problemas de ética e que aceite diferentes opiniões”, acrescentou Sonny Lo, que destaca o facto de a população de Hong Kong esperar, sobretudo, “que o novo Chefe do Executivo democratize o território”. Acima de tudo, Bruce Kwong assegura que “a saída de Carrie Lam não resolve todos os problemas”, pois “a cultura política de Hong Kong tem-se alterado de forma dramática, entrando de forma significativa em conflito com a ideologia chinesa”. Para Macau, quase nada A mudança do principal rosto político de Hong Kong poderá eventualmente trazer algumas mudanças no ambiente sociopolítico de Macau, dada a sua proximidade, mas os analistas alertam para poucas mudanças. Sonny Lo diz mesmo que não haverá quaisquer consequências para Macau “pois os territórios são bastante diferentes”. Para Bruce Kwong, o Chefe do Executivo de Macau eleito, Ho Iat Seng, terá obrigatoriamente de “implementar mais medidas na área social e oferecer mais coisas interessantes às pessoas, eliminando qualquer oportunidade de disputas controversas”. “Isto apesar de acreditar que os protestos que ocorreram em Hong Kong não se vão repetir em Macau num futuro próximo”, acrescentou. Neste sentido, Jorge Rangel, presidente do Instituto Internacional de Macau (IIM) ex-secretário adjunto de Rocha Vieira, disse recentemente em Lisboa que era premente o Governo da RAEM resolver o problema da habitação, sob pena dos protestos surgirem em força nos próximos anos. “Macau tem de ter habitação para a classe média, pois corremos o risco de, daqui a uns anos, termos milhares de pessoas a marchar nas ruas. Estamos a ser ameaçados por um problema que não está resolvido”, adiantou num colóquio organizado pela Universidade Católica Portuguesa. Kenneth Chan alerta para o facto de conhecer pouco a realidade de Macau, mas assegura que as consequências de uma mudança de líder em Hong Kong serão mínimas “Do ponto de vista de Pequim, Macau é um modelo a seguir no que diz respeito ao cumprimento do princípio ‘Um País, Dois Sistemas’. Mas isso é algo que a população de Hong Kong considera inaceitável”, considera. De frisar que, desde que os protestos começaram em Hong Kong, dezenas de pessoas do território foram proibidas de entrar em Macau. O deputado Sulu Sou já deixou o alerta de que as autoridades estarão a interrogar na fronteira pessoas de Hong Kong que possuem BIR de Macau. “Recebi casos de pessoas que têm, ao mesmo tempo, bilhetes de identidade de Hong Kong e Macau. Depois, utilizam o bilhete de identidade de Macau para entrar em Macau, vindas de Hong Kong, mas são retidas e questionadas durante meia hora ou mesmo uma hora no terminal do ferry.” Taiwan, “um caso perdido” por causa de Hong Kong Jorge Tavares da Silva, professor nas universidades de Aveiro e de Coimbra, e especialista nas relações Taiwan-China, não tem dúvidas de que, graças aos protestos de Hong Kong, a integração de Taiwan tornou-se algo praticamente impossível de acontecer. “Está completamente fora de questão. Taiwan, para mim, é quase um caso perdido do ponto de vista político. Não haverá solução. Por todas estas dinâmicas sociais que vão surgindo, os taiwaneses nunca aceitariam (a integração). Eu sei que a maior parte da população prefere manter o status quo, que a situação se mantenha como está, mas uma integração seria completamente impossível, porque teria sempre resistências como o que está a acontecer agora em Hong Kong.” Para o docente, tanto Hong Kong como Taiwan “são sempre territórios que já tem uma certa identidade política e será muito difícil a China chegar ali com o seu modelo político e alterar”. Pelo contrário, os protestos de Hong Kong jamais terão reflexo no continente. “Não há problema de contágio, a China está sólida”, frisou Jorge Tavares da Silva. Paulo Duarte defende que Tsai Ing-wen vai tirar proveito político do panorama de Hong Kong aquando das presidenciais, em 2020. “O que está a acontecer em Hong Kong e Macau também é a introdução de um capitalismo pelo Partido Comunista Chinês e que está a ter repercussões noutros pontos sensíveis, como é o caso de Taiwan. A presidente de Taiwan vai aproveitar este descontentamento para mobilizar o seu eleitorado e as pessoas que estão reticentes nas presidenciais de 2020”, concluiu.
Andreia Sofia Silva EventosExposição | Mostra de fotografia de Antero Ricardo inaugurada em Lisboa “As Oito Cores da China” é o nome da nova mostra patente na Fundação Casa de Macau, em Lisboa, da autoria do fotógrafo amador Antero Ricardo. Este é o resultado da expedição do médico de medicina tradicional chinesa por todas as províncias da China, uma viagem que teve início no ano de 2000 [dropcap]H[/dropcap]á 20 anos Antero Ricardo viajava pela primeira vez para a China para realizar o seu estágio em medicina tradicional chinesa, na cidade de Nanjing. Desde então que o médico, também fotógrafo amador, se tem dedicado a captar com a sua lente os contrastes existentes no país. Algumas imagens dessas viagens podem agora ser vistas na Fundação Casa de Macau, em Lisboa, numa exposição que decorre até ao dia 29 de Novembro. Ao HM, Antero Ricardo contou como começou este projecto. No ano de 2000, “foi encantador chegar à China e perceber toda a grandeza e diversidade daquilo que é o país. A partir desse ano tive a oportunidade de viajar e desde a primeira hora que fiquei com um desejo muito grande de aprofundar e conhecer a China”. Antero Ricardo recorda as “pontes pequeninas” ou os “rios, com os arrozais”. Mas nesta mostra, além das imagens de paisagens, o público poderá também ver retratos ou outras imagens mais documentais. “Estas fotos representam uma diversidade. Não há um assunto dominante, tenho fotos de rosto, de paisagens, que é o que mais me encanta, fotos com toda a diversidade que a China tem. Vi com os meus próprios olhos coisas que nunca pensei que existissem”, recorda. As imagens expostas na Fundação Casa de Macau integram também uma outra mostra, que estará patente no primeiro Congresso Internacional de Medicina Tradicional Chinesa, a decorrer no Estoril. Dificuldades no Tibete Oito anos depois de ter iniciado a viagem pela China, Antero Ricardo percebeu que ainda lhe faltava pisar onze províncias. O itinerário terminou em 2014, quando o médico chegou ao Tibete, de longe a viagem mais difícil, por questões burocráticas. “O Tibete foi a última província a ser feita e isso representou também um marco muito importante, porque durante muitos anos tive a vontade de lá ir no comboio mais alto do mundo. Só consegui fazer a viagem em 2014. Na realidade houve uma série de peripécias porque é a única província em que precisamos de certificados para podermos viajar para Lhasa, e isso tem de ser feito através de uma agência chinesa. Houve muitos momentos de tensão”, recorda. Com esta exibição, Antero Ricardo pretende mostrar ao público as diferentes facetas de um país. “Entrar na China é uma aventura, ainda para mais há 20 anos. Fui sempre tirando fotos e percebi que a minha sensibilidade e dedicação do olhar se foram aprimorando ao longo do tempo, bem como o meu desejo de querer dar a conhecer a China às pessoas através das fotografias, do olhar de um ocidental.”
Andreia Sofia Silva EventosExposição | Mostra de fotografia de Antero Ricardo inaugurada em Lisboa “As Oito Cores da China” é o nome da nova mostra patente na Fundação Casa de Macau, em Lisboa, da autoria do fotógrafo amador Antero Ricardo. Este é o resultado da expedição do médico de medicina tradicional chinesa por todas as províncias da China, uma viagem que teve início no ano de 2000 [dropcap]H[/dropcap]á 20 anos Antero Ricardo viajava pela primeira vez para a China para realizar o seu estágio em medicina tradicional chinesa, na cidade de Nanjing. Desde então que o médico, também fotógrafo amador, se tem dedicado a captar com a sua lente os contrastes existentes no país. Algumas imagens dessas viagens podem agora ser vistas na Fundação Casa de Macau, em Lisboa, numa exposição que decorre até ao dia 29 de Novembro. Ao HM, Antero Ricardo contou como começou este projecto. No ano de 2000, “foi encantador chegar à China e perceber toda a grandeza e diversidade daquilo que é o país. A partir desse ano tive a oportunidade de viajar e desde a primeira hora que fiquei com um desejo muito grande de aprofundar e conhecer a China”. Antero Ricardo recorda as “pontes pequeninas” ou os “rios, com os arrozais”. Mas nesta mostra, além das imagens de paisagens, o público poderá também ver retratos ou outras imagens mais documentais. “Estas fotos representam uma diversidade. Não há um assunto dominante, tenho fotos de rosto, de paisagens, que é o que mais me encanta, fotos com toda a diversidade que a China tem. Vi com os meus próprios olhos coisas que nunca pensei que existissem”, recorda. As imagens expostas na Fundação Casa de Macau integram também uma outra mostra, que estará patente no primeiro Congresso Internacional de Medicina Tradicional Chinesa, a decorrer no Estoril. Dificuldades no Tibete Oito anos depois de ter iniciado a viagem pela China, Antero Ricardo percebeu que ainda lhe faltava pisar onze províncias. O itinerário terminou em 2014, quando o médico chegou ao Tibete, de longe a viagem mais difícil, por questões burocráticas. “O Tibete foi a última província a ser feita e isso representou também um marco muito importante, porque durante muitos anos tive a vontade de lá ir no comboio mais alto do mundo. Só consegui fazer a viagem em 2014. Na realidade houve uma série de peripécias porque é a única província em que precisamos de certificados para podermos viajar para Lhasa, e isso tem de ser feito através de uma agência chinesa. Houve muitos momentos de tensão”, recorda. Com esta exibição, Antero Ricardo pretende mostrar ao público as diferentes facetas de um país. “Entrar na China é uma aventura, ainda para mais há 20 anos. Fui sempre tirando fotos e percebi que a minha sensibilidade e dedicação do olhar se foram aprimorando ao longo do tempo, bem como o meu desejo de querer dar a conhecer a China às pessoas através das fotografias, do olhar de um ocidental.”
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeCentro de Ciência recebe apoios de 96 milhões para obras, o que aumenta orçamento O Centro de Ciência de Macau recebeu 96 milhões de patacas da Fundação Macau para obras de reparação que se prolongam desde que o tufão Hato atingiu o território. O orçamento de 100 milhões anunciado este ano já foi ultrapassado [dropcap]F[/dropcap]oram ontem publicados em Boletim Oficial (BO) os apoios atribuídos pela Fundação Macau (FM) no terceiro trimestre deste ano. A lista revela que o Centro de Ciência de Macau foi a entidade que mais apoios recebeu para obras de reparação, e que totalizaram 96 milhões de patacas. O montante foi atribuído em duas tranches, sendo que uma delas se destinou ao financiamento da instalação de paredes aluminíferas. A concessão deste montante faz com que o orçamento de 100 milhões de patacas, anunciado em Janeiro deste ano, para a reparação do Centro de Ciência, seja ultrapassado, uma vez que a entidade já tinha recebido 97 milhões da FM nos dois primeiros trimestres deste ano. Os despachos publicados em BO dão conta que, no primeiro trimestre, o Centro de Ciência recebeu 68 milhões para aperfeiçoamento das paredes aluminíferas, tendo recebido mais 29 milhões de patacas no segundo trimestre para obras. O Centro de Ciência tem passado por trabalhos de reparação desde 2015, primeiro devido à ocorrência de um incêndio no topo do edifício, depois devido aos estragos causados pela passagem do tufão Hato pelo território. Milhões para associações A FM atribuiu também vários subsídios às habituais associações tradicionais, como a União Geral das Associações de Moradores de Macau, que recebeu 20 milhões de patacas de financiamento do seu plano anual, que contempla 26 filiais e sete centros de serviços. Destaque ainda para os apoios concedidos a entidades de matriz portuguesa ou macaense, como é o caso da Casa de Portugal em Macau, que recebeu mais de cinco milhões de patacas como financiamento para o seu plano anual, bem como o Clube Militar de Macau, que recebeu da FM cerca de um milhão de patacas. Destaque ainda para o subsídio de 1,2 milhões de patacas atribuídos à Associação Promotora da Instrução dos Macaenses, não só como financiamento do plano anual de actividades como também como apoio ao funcionamento do jardim de infância D.José da Costa Nunes. A FM atribuiu ainda, no terceiro trimestre, mais uma tranche de apoios à electricidade no âmbito da passagem do tufão Hato por Macau, no valor de cinco milhões de patacas. Este montante chegou a 215 mil casas que ficaram sem luz aquando da passagem da tempestade.
Andreia Sofia Silva EventosFestival Fringe | Grupo de Macau Artfusion actua em Shenzen O grupo Macau Artfusion actua no Festival Fringe de Shenzen entre os dias 16 e 24 de Novembro com um espectáculo de rua, que mistura dança e teatro físico. A iniciativa, que tem direcção artística e produção de Laura Nyögéri, apresenta um novo conceito criativo, intitulado “Less Talk, More Art”, que ganha novos contornos em Macau [dropcap]O[/dropcap] Festival Fringe de Shenzen recebe, entre os dias 16 e 24 de Novembro, pela quinta-vez, o grupo local Artfusion Macau, num espectáculo com os artistas Daê Teixeira , Filipa Lima, Madalena Lopes e Mafalda Ramos. A direcção artística e produção está a cargo de Laura Nyögéri, que, a título individual, participa no Festival Fringe de Shenzen desde o seu início, há 10 anos. O projecto inclui “personagens do Imaginarium, inspiradas em conceitos artísticos abstractos, surreais, expressionistas, urbanos e contemporâneos, que irão colorir as ruas do distrito de Nanshan, na cidade chinesa de Shenzhen”, adiantou a directora artística. O objectivo com esta iniciativa é “dar um sopro de vida ao espaço urbano por meio da arte”, através da criação de uma instalação produzida em tempo real, “não só através das personagens mas através do público, de quem está primeiro a ‘olhar’ e que de repente se vê a participar, a explorar e a criar”, frisou Laura Nyögéri ao HM. O espectáculo de rua, que mistura muita dança, caracterização e teatro físico, será apresentado em Shenzen tendo como base o conceito criativo “Less Talk, More Art”, desenvolvido sob a ideia de que “é preciso passar à acção (artística) e reunir recursos para que a arte chegue a todos, sem limites, preconceitos ou transposições”, adiantou a responsável. O conceito passa por mostrar a necessidade de reunir “equipas profissionais que possam ser base a uma arte que se pretende ser da e para a comunidade”, com “menos teorias, menos burocracias, menos perguntas de respostas certas, mais mãos sujas de tinta, mais recortes e colagens, mais imaginação desenhada em papel, mais corpo que dança, que fala e veste personagens que não têm que ser reais”. Nesse sentido, a directora artística do Macau Artfusion adianta que “este projecto aposta não só numa vertente visualmente forte e demarcada por influências de movimentos artísticos como o Pop Art, o Expressionismo, o Surrealismo e o Abstracionismo; seguindo nomes como Andy Warhol e Yayoi Kusama, entre outros”. Além disso, é também uma forma de mergulhar “em diferentes linguagens artísticas que, no fundo, transmitem uma liberdade de expressão e uma expressão de liberdade visual e conceptual”. Perto da comunidade Sendo a presença no Festival Fringe de Shenzen, Laura Nyögéri destaca, no evento, a existência de uma “equipa criativa e de produção fantásticas, que apostam muito na diversidade e criatividade dos espectáculos e workshops inerente ao programa, na comunicação e no próprio design do festival, atraindo assim públicos muito diversificados e oferecendo um programa multiartístico”. Para a responsável, a questão da proximidade com a comunidade e a “forma como se cria um programa tão alternativo e apelativo” é outro ponto forte do festival. “Temos a oportunidade de levar o nosso trabalho artístico a outros lugares e a outros públicos fora de Macau e conseguimos, ao mesmo tempo, usufruir do facto deste festival ter uma dimensão internacional, que permite a todos os artistas participantes um excelente intercâmbio artístico e multicultural”, rematou. Por cá O projecto que o grupo Macau Artfusion leva a Shenzen ganha ainda outra dimensão devido à parceria com a Associação IC2 (i can too), que tem vindo a ser desenvolvida desde Setembro. Esta entidade “aposta em criar oportunidades para que jovens e adultos com deficiência e diagnósticos de necessidades especiais possam ser cidadãos activos na sociedade”. Este trabalho conjunto pretende, no fundo, “invocar através da arte conceitos de inclusão, de entre-ajuda, de aceitação, colmatando falhas de acesso a recursos e oportunidades de participação e de concretização de projectos artísticos em universo inclusivo”. As duas equipas vão trabalhar juntas nos próximos seis meses com a realização de actividades de artes plásticas e performativas, destinadas a membros da associação IC2 e a alunos do Artfusion. O projecto, que ganha influências de diferentes correntes artísticas, “onde se explora o universo da música, teatro, dança, pintura, ilustração, moda e da fotografia”, dará origem a uma exposição, instalação e espectáculo performativo apresentados em Macau em Fevereiro do próximo ano.
Andreia Sofia Silva EventosFestival Fringe | Grupo de Macau Artfusion actua em Shenzen O grupo Macau Artfusion actua no Festival Fringe de Shenzen entre os dias 16 e 24 de Novembro com um espectáculo de rua, que mistura dança e teatro físico. A iniciativa, que tem direcção artística e produção de Laura Nyögéri, apresenta um novo conceito criativo, intitulado “Less Talk, More Art”, que ganha novos contornos em Macau [dropcap]O[/dropcap] Festival Fringe de Shenzen recebe, entre os dias 16 e 24 de Novembro, pela quinta-vez, o grupo local Artfusion Macau, num espectáculo com os artistas Daê Teixeira , Filipa Lima, Madalena Lopes e Mafalda Ramos. A direcção artística e produção está a cargo de Laura Nyögéri, que, a título individual, participa no Festival Fringe de Shenzen desde o seu início, há 10 anos. O projecto inclui “personagens do Imaginarium, inspiradas em conceitos artísticos abstractos, surreais, expressionistas, urbanos e contemporâneos, que irão colorir as ruas do distrito de Nanshan, na cidade chinesa de Shenzhen”, adiantou a directora artística. O objectivo com esta iniciativa é “dar um sopro de vida ao espaço urbano por meio da arte”, através da criação de uma instalação produzida em tempo real, “não só através das personagens mas através do público, de quem está primeiro a ‘olhar’ e que de repente se vê a participar, a explorar e a criar”, frisou Laura Nyögéri ao HM. O espectáculo de rua, que mistura muita dança, caracterização e teatro físico, será apresentado em Shenzen tendo como base o conceito criativo “Less Talk, More Art”, desenvolvido sob a ideia de que “é preciso passar à acção (artística) e reunir recursos para que a arte chegue a todos, sem limites, preconceitos ou transposições”, adiantou a responsável. O conceito passa por mostrar a necessidade de reunir “equipas profissionais que possam ser base a uma arte que se pretende ser da e para a comunidade”, com “menos teorias, menos burocracias, menos perguntas de respostas certas, mais mãos sujas de tinta, mais recortes e colagens, mais imaginação desenhada em papel, mais corpo que dança, que fala e veste personagens que não têm que ser reais”. Nesse sentido, a directora artística do Macau Artfusion adianta que “este projecto aposta não só numa vertente visualmente forte e demarcada por influências de movimentos artísticos como o Pop Art, o Expressionismo, o Surrealismo e o Abstracionismo; seguindo nomes como Andy Warhol e Yayoi Kusama, entre outros”. Além disso, é também uma forma de mergulhar “em diferentes linguagens artísticas que, no fundo, transmitem uma liberdade de expressão e uma expressão de liberdade visual e conceptual”. Perto da comunidade Sendo a presença no Festival Fringe de Shenzen, Laura Nyögéri destaca, no evento, a existência de uma “equipa criativa e de produção fantásticas, que apostam muito na diversidade e criatividade dos espectáculos e workshops inerente ao programa, na comunicação e no próprio design do festival, atraindo assim públicos muito diversificados e oferecendo um programa multiartístico”. Para a responsável, a questão da proximidade com a comunidade e a “forma como se cria um programa tão alternativo e apelativo” é outro ponto forte do festival. “Temos a oportunidade de levar o nosso trabalho artístico a outros lugares e a outros públicos fora de Macau e conseguimos, ao mesmo tempo, usufruir do facto deste festival ter uma dimensão internacional, que permite a todos os artistas participantes um excelente intercâmbio artístico e multicultural”, rematou. Por cá O projecto que o grupo Macau Artfusion leva a Shenzen ganha ainda outra dimensão devido à parceria com a Associação IC2 (i can too), que tem vindo a ser desenvolvida desde Setembro. Esta entidade “aposta em criar oportunidades para que jovens e adultos com deficiência e diagnósticos de necessidades especiais possam ser cidadãos activos na sociedade”. Este trabalho conjunto pretende, no fundo, “invocar através da arte conceitos de inclusão, de entre-ajuda, de aceitação, colmatando falhas de acesso a recursos e oportunidades de participação e de concretização de projectos artísticos em universo inclusivo”. As duas equipas vão trabalhar juntas nos próximos seis meses com a realização de actividades de artes plásticas e performativas, destinadas a membros da associação IC2 e a alunos do Artfusion. O projecto, que ganha influências de diferentes correntes artísticas, “onde se explora o universo da música, teatro, dança, pintura, ilustração, moda e da fotografia”, dará origem a uma exposição, instalação e espectáculo performativo apresentados em Macau em Fevereiro do próximo ano.
Andreia Sofia Silva ReportagemCo-living | Macau começa a ter espaços de alojamento em comunidade Existem em Macau dois edifícios habitacionais renovados onde reina o conceito de co-living. Cada pessoa aluga um quarto a preços mais baixos com partilha de áreas comuns, onde acaba por se desenvolver um espírito de comunidade. Dois arquitectos alertam, contudo, que esta é uma consequência e não uma solução para o problema das rendas elevadas e da má qualidade das casas [dropcap]V[/dropcap]iver em comunidade em Macau pode não ser uma novidade, mas é um conceito que está cada vez mais a assumir uma nova forma. Isto porque surgiram no território dois espaços de co-living, onde cada pessoa aluga o seu quarto a baixo custo, com despesas incluídas e partilha de espaços comuns, como a cozinha, casa-de-banho e sala. Os apartamentos estão completamente renovados e oferecem todas as condições, sendo bem diferentes das condições de alojamento de muitos trabalhadores não residentes, que se vêem muitas vezes obrigados a partilhar quartos com beliches em casas velhas. Em Macau existem dois edifícios habitacionais onde funciona o conceito de co-living, um na zona da avenida Horta e Costa, outro na zona do Porto Interior. Quem lá vive são, sobretudo, estrangeiros que procuram um alojamento temporário, como é o caso de José Fonseca, estagiário português numa empresa local, que vive no Macau Co-Living, onde tem contrato até Dezembro, data em que deixará o território. Viver num espaço de co-living surgiu por necessidade, mas acabou por tornar-se um hábito, conforme contou ao HM. “Quando cheguei fiquei em casa de uma amiga, na Taipa, que tinha de ser entregue no final do mês de Setembro. Procurei algumas soluções, mas em Macau o interior das casas é muito velho. O Macau Co-Living é um espaço completamente renovado e equipado com Internet, e apesar dos quartos serem um bocado pequenos, o espaço comum que oferece e o terraço foram uma vantagem, daí ter decidido ir.” Apesar de notar que os quartos são pequenos, o que nem sempre garante a privacidade de cada um, José Fonseca assegura que já se habituou ao bom ambiente da casa, que partilha com pessoas que não conhecia. “As pessoas que estão aqui convivem bem e não se intrometem no espaço de cada um. Vou a pé para o trabalho. Estou a gostar imenso da experiência, acho que é uma opção a aconselhar para quem esteja em Macau a viver, nem que seja por um ano ou dois, e é uma opção interessante para jovens entre os 20 e 30 anos”, acrescentou. José Fonseca está a gostar tanto de viver num espaço de co-living que, caso ficasse a trabalhar no território, colocaria a hipótese de estender o contrato. No entanto, assegura que muitos optarão por viver neste regime por não terem alternativa. “Não sei até que ponto as pessoas optam pelo co-living pela experiência em si. O que me fez escolher viver assim foi o espaço que é oferecido, e penso que a maior parte das pessoas escolhem o co-living por ter o espaço renovado, o que em Macau não é comum. Não há nada a apontar em termos de limpeza”, frisou. Quem também vive no Macau Co-Living, mas no andar destinado a moradoras do sexo feminino, é Phoebe, natural de Taiwan. “Trabalho em Macau há dois anos. O meu quarto é muito pequeno, mas todo o ambiente e equipamentos são melhores do que em outros alojamentos, isto se quiseres uma renda de cerca de quatro mil patacas com um quarto só para ti”, contou ao HM. No mercado imobiliário de Macau, ao nível do arrendamento, Phoebe assegura que se deparou com situações bastante insatisfatórias para aquilo que procurava. “É sempre necessário partilhar quarto com outras pessoas e as contas não estão incluídas na renda, então penso que o regime de co-living é a melhor opção. A coisa mais importante é estar num espaço onde todos se preocupam com a higiene, para que haja um ambiente habitável”, frisou. Lenta progressão O Macau Co-Living nasce da vontade de investidores de Hong Kong de renovarem um antigo edifício no Porto Interior e transformá-lo num espaço de alojamento à semelhança dos que já existem na região vizinha. Robert Cai, mentor do projecto, conta como tudo começou. “Quisemos preencher uma lacuna em termos de alojamento para pessoas que querem arrendar um espaço por apenas três meses ou um ano. Há pessoas em Macau que trabalham apenas durante a semana e regressam para as suas cidades natais aos fins-de-semana, então procuram apenas um espaço confortável e privado. Desta forma podem poupar metade do dinheiro que gastariam a arrendar um estúdio”, adiantou. Robert Cai não tem dúvidas de que, no que às formas de alojamento diz respeito, partilhar um apartamento “é cada vez mais rentável e é uma oportunidade para as pessoas se conhecerem”. Ainda assim, Robert Cai nota que “há poucos locais a quererem viver no nosso espaço”. “Temos sobretudo estrangeiros que estudam fora e vêm para Macau trabalhar”, acrescentou. No Macau Co-Living, Tatiana Rocha é uma espécie de faz-tudo, que garante que todos os equipamentos funcionam nas devidas condições e promove ainda eventos, que acontecem no terraço ou na sala, para que os moradores possam conviver. Tatiana não tem dúvidas de que a sociedade de Macau está muito lentamente a aderir ao conceito de co-living, apesar de ser um território onde a habitação é muito cara. “É um processo lento em Macau, que não é uma cidade como Hong Kong, ou Londres, por exemplo. Este é um território muito específico. Acho que para as novas gerações este conceito é algo comum, mas aqui é sempre um processo mais lento.” O Macau Co-Living tem actualmente entre 19 e 20 residentes. “A maior parte são estrangeiros, sendo a maior parte portugueses e pessoas de Hong Kong”, assegura Tatiana Rocha. “Notamos que há muitas pessoas de Hong Kong a trabalhar em Macau durante a semana, e procuram apenas o mínimo de condições. Temos também chineses e pessoal de Macau, alguns, pessoas de Taiwan, Vietname, Tailândia.” Quem vive naquele edifício “procura uma renda acessível e uma casa em condições. Os apartamentos são novos e a decoração é atractiva. Oferecemos uma coisa boa, que é o facto de só pedirmos o pagamento do primeiro mês e uma caução, ao contrário dos quatro meses que pedem nas agências, que é algo que custa muito a pagar no início”, frisou a responsável pela gestão dos apartamentos. Até agora tudo tem corrido bem. “O feedback tem sido positivo. Há pessoas que começam, mas depois preferem algo mais privado, porque se calhar não estavam preparadas. Diria que essas pessoas são as mais novas, acabaram de sair de casa dos pais, e não sabem muito bem como é viver com outras pessoas. Os mais velhos, com mais de 25 anos, não se importam tanto de viver em comunidade”, disse Tatiana Rocha. Na Horta e Costa O segundo espaço de co-living existente em Macau fica situado na avenida Horta e Costa, e tem sido promovido nas redes sociais. Nina Sousa é responsável pela gestão do espaço que foi desenvolvido por uma empresa do ramo imobiliário, e serviu de tradutora a Lam Mong Tat, proprietário. Este assegura que o projecto de co-living surgiu por saber que “nem todos ganham o suficiente para pagar uma renda em Macau”. “Sendo agente imobiliário, por sorte encontrei um prédio que podia ser renovado, tendo sido ajustados os preços para satisfazer e ajudar certos clientes”, referiu, apontando que são os estrangeiros que mais procuram este estilo de vida. “Temos chineses (do continente), nepaleses, indianos e até portugueses que não são residentes de Macau. Não acho que o co-living seja uma tendência, até porque vejo cada vez mais pessoas a mudarem-se para a China, por ser perto de Macau e por ter melhor qualidade de vida”, disse Lam Mong Tat. O próximo projecto é apostar num espaço de co-working para empresas, a fim de “ajudar mais pessoas que querem começar um negócio em Macau, mas que não precisam de espaços muito grandes, nem querem pagar rendas muito altas”. Fruto dos tempos Dominic Choi, arquitecto ligado à associação Arquitectos Sem Fronteiras, defendeu ao HM que o co-living nunca será uma solução para os problemas habitacionais de Macau, mas sim uma consequência dos valores elevados que se praticam no território. “Este tipo de alojamento é muito comum no seio de estudantes universitários, por exemplo, ou em Hong Kong, onde as pessoas partilham espaços em que dormem em gaiolas ou beliches. Este tipo de alojamento não é nada de novo, mas é o resultado das mudanças na sociedade, devido às elevadas rendas e ao facto de as pessoas que não conseguirem comprar casas. Diria que não é uma solução para esta questão social, mas sim uma consequência.” O arquitecto alerta para o facto de poderem surgir conflitos sociais. “Há sempre questões relacionadas com a partilha do espaço. Nos casos de co-working as pessoas partilham um espaço com a sua empresa, mas num conceito de co-living há bastantes diferenças. Há muitas coisas que podem originar potenciais problemas de segurança, higiene e isso pode originar vários conflitos. É sempre necessário criar espaços totalmente independentes que não se podem partilhar para que haja segurança suficiente. Há sempre desafios”, adiantou. Dominic Choi assegura também que, em Macau, o Governo tem um maior controlo sobre os terrenos do território, além de existirem regras mais apertadas para a construção de edifícios, face a Hong Kong. A solução para os altos preços passa mesmo pela construção de mais casas públicas. “Não podemos ter casas públicas em todo o lado, mas deve haver um devido planeamento em termos de infra-estruturas para que seja viável para as pessoas.” Também o arquitecto Mário Duque defende que o co-living não é uma solução por servir, sobretudo, uma fatia da população que reside temporariamente no território. “Essa forma de habitar é uma experiência pessoal altamente gratificante, mas tem a ver com questões geracionais e financeiras. Acho que a sociedade não vai aderir a essa modalidade de alojamento, que é significativa porque tem em vista uma população flutuante, que em Macau é igualmente significativa. A economia de Macau baseia-se nesse tipo de população e para essas pessoas é um modo vantajoso de aderir à habitação com qualidade.” Para Mário Duque, o co-living “acaba por servir sempre pessoas que não são da cidade”. “Em Macau isso tem a ver com outras nuances, relacionadas com os custos da habitação, que cai num lado disfuncional que é o facto de as pessoas precisarem de mais dinheiro do que aquele que é o rácio razoável para pagar despesas de habitação. Como isso não é possível, têm de arranjar situações alternativas. Há outra razão que é o parque habitacional em Macau ser muito degradado, e as casas que estão disponíveis para essa habitação partilhada não serem do agrado das pessoas”, rematou o arquitecto.
Andreia Sofia Silva ReportagemCo-living | Macau começa a ter espaços de alojamento em comunidade Existem em Macau dois edifícios habitacionais renovados onde reina o conceito de co-living. Cada pessoa aluga um quarto a preços mais baixos com partilha de áreas comuns, onde acaba por se desenvolver um espírito de comunidade. Dois arquitectos alertam, contudo, que esta é uma consequência e não uma solução para o problema das rendas elevadas e da má qualidade das casas [dropcap]V[/dropcap]iver em comunidade em Macau pode não ser uma novidade, mas é um conceito que está cada vez mais a assumir uma nova forma. Isto porque surgiram no território dois espaços de co-living, onde cada pessoa aluga o seu quarto a baixo custo, com despesas incluídas e partilha de espaços comuns, como a cozinha, casa-de-banho e sala. Os apartamentos estão completamente renovados e oferecem todas as condições, sendo bem diferentes das condições de alojamento de muitos trabalhadores não residentes, que se vêem muitas vezes obrigados a partilhar quartos com beliches em casas velhas. Em Macau existem dois edifícios habitacionais onde funciona o conceito de co-living, um na zona da avenida Horta e Costa, outro na zona do Porto Interior. Quem lá vive são, sobretudo, estrangeiros que procuram um alojamento temporário, como é o caso de José Fonseca, estagiário português numa empresa local, que vive no Macau Co-Living, onde tem contrato até Dezembro, data em que deixará o território. Viver num espaço de co-living surgiu por necessidade, mas acabou por tornar-se um hábito, conforme contou ao HM. “Quando cheguei fiquei em casa de uma amiga, na Taipa, que tinha de ser entregue no final do mês de Setembro. Procurei algumas soluções, mas em Macau o interior das casas é muito velho. O Macau Co-Living é um espaço completamente renovado e equipado com Internet, e apesar dos quartos serem um bocado pequenos, o espaço comum que oferece e o terraço foram uma vantagem, daí ter decidido ir.” Apesar de notar que os quartos são pequenos, o que nem sempre garante a privacidade de cada um, José Fonseca assegura que já se habituou ao bom ambiente da casa, que partilha com pessoas que não conhecia. “As pessoas que estão aqui convivem bem e não se intrometem no espaço de cada um. Vou a pé para o trabalho. Estou a gostar imenso da experiência, acho que é uma opção a aconselhar para quem esteja em Macau a viver, nem que seja por um ano ou dois, e é uma opção interessante para jovens entre os 20 e 30 anos”, acrescentou. José Fonseca está a gostar tanto de viver num espaço de co-living que, caso ficasse a trabalhar no território, colocaria a hipótese de estender o contrato. No entanto, assegura que muitos optarão por viver neste regime por não terem alternativa. “Não sei até que ponto as pessoas optam pelo co-living pela experiência em si. O que me fez escolher viver assim foi o espaço que é oferecido, e penso que a maior parte das pessoas escolhem o co-living por ter o espaço renovado, o que em Macau não é comum. Não há nada a apontar em termos de limpeza”, frisou. Quem também vive no Macau Co-Living, mas no andar destinado a moradoras do sexo feminino, é Phoebe, natural de Taiwan. “Trabalho em Macau há dois anos. O meu quarto é muito pequeno, mas todo o ambiente e equipamentos são melhores do que em outros alojamentos, isto se quiseres uma renda de cerca de quatro mil patacas com um quarto só para ti”, contou ao HM. No mercado imobiliário de Macau, ao nível do arrendamento, Phoebe assegura que se deparou com situações bastante insatisfatórias para aquilo que procurava. “É sempre necessário partilhar quarto com outras pessoas e as contas não estão incluídas na renda, então penso que o regime de co-living é a melhor opção. A coisa mais importante é estar num espaço onde todos se preocupam com a higiene, para que haja um ambiente habitável”, frisou. Lenta progressão O Macau Co-Living nasce da vontade de investidores de Hong Kong de renovarem um antigo edifício no Porto Interior e transformá-lo num espaço de alojamento à semelhança dos que já existem na região vizinha. Robert Cai, mentor do projecto, conta como tudo começou. “Quisemos preencher uma lacuna em termos de alojamento para pessoas que querem arrendar um espaço por apenas três meses ou um ano. Há pessoas em Macau que trabalham apenas durante a semana e regressam para as suas cidades natais aos fins-de-semana, então procuram apenas um espaço confortável e privado. Desta forma podem poupar metade do dinheiro que gastariam a arrendar um estúdio”, adiantou. Robert Cai não tem dúvidas de que, no que às formas de alojamento diz respeito, partilhar um apartamento “é cada vez mais rentável e é uma oportunidade para as pessoas se conhecerem”. Ainda assim, Robert Cai nota que “há poucos locais a quererem viver no nosso espaço”. “Temos sobretudo estrangeiros que estudam fora e vêm para Macau trabalhar”, acrescentou. No Macau Co-Living, Tatiana Rocha é uma espécie de faz-tudo, que garante que todos os equipamentos funcionam nas devidas condições e promove ainda eventos, que acontecem no terraço ou na sala, para que os moradores possam conviver. Tatiana não tem dúvidas de que a sociedade de Macau está muito lentamente a aderir ao conceito de co-living, apesar de ser um território onde a habitação é muito cara. “É um processo lento em Macau, que não é uma cidade como Hong Kong, ou Londres, por exemplo. Este é um território muito específico. Acho que para as novas gerações este conceito é algo comum, mas aqui é sempre um processo mais lento.” O Macau Co-Living tem actualmente entre 19 e 20 residentes. “A maior parte são estrangeiros, sendo a maior parte portugueses e pessoas de Hong Kong”, assegura Tatiana Rocha. “Notamos que há muitas pessoas de Hong Kong a trabalhar em Macau durante a semana, e procuram apenas o mínimo de condições. Temos também chineses e pessoal de Macau, alguns, pessoas de Taiwan, Vietname, Tailândia.” Quem vive naquele edifício “procura uma renda acessível e uma casa em condições. Os apartamentos são novos e a decoração é atractiva. Oferecemos uma coisa boa, que é o facto de só pedirmos o pagamento do primeiro mês e uma caução, ao contrário dos quatro meses que pedem nas agências, que é algo que custa muito a pagar no início”, frisou a responsável pela gestão dos apartamentos. Até agora tudo tem corrido bem. “O feedback tem sido positivo. Há pessoas que começam, mas depois preferem algo mais privado, porque se calhar não estavam preparadas. Diria que essas pessoas são as mais novas, acabaram de sair de casa dos pais, e não sabem muito bem como é viver com outras pessoas. Os mais velhos, com mais de 25 anos, não se importam tanto de viver em comunidade”, disse Tatiana Rocha. Na Horta e Costa O segundo espaço de co-living existente em Macau fica situado na avenida Horta e Costa, e tem sido promovido nas redes sociais. Nina Sousa é responsável pela gestão do espaço que foi desenvolvido por uma empresa do ramo imobiliário, e serviu de tradutora a Lam Mong Tat, proprietário. Este assegura que o projecto de co-living surgiu por saber que “nem todos ganham o suficiente para pagar uma renda em Macau”. “Sendo agente imobiliário, por sorte encontrei um prédio que podia ser renovado, tendo sido ajustados os preços para satisfazer e ajudar certos clientes”, referiu, apontando que são os estrangeiros que mais procuram este estilo de vida. “Temos chineses (do continente), nepaleses, indianos e até portugueses que não são residentes de Macau. Não acho que o co-living seja uma tendência, até porque vejo cada vez mais pessoas a mudarem-se para a China, por ser perto de Macau e por ter melhor qualidade de vida”, disse Lam Mong Tat. O próximo projecto é apostar num espaço de co-working para empresas, a fim de “ajudar mais pessoas que querem começar um negócio em Macau, mas que não precisam de espaços muito grandes, nem querem pagar rendas muito altas”. Fruto dos tempos Dominic Choi, arquitecto ligado à associação Arquitectos Sem Fronteiras, defendeu ao HM que o co-living nunca será uma solução para os problemas habitacionais de Macau, mas sim uma consequência dos valores elevados que se praticam no território. “Este tipo de alojamento é muito comum no seio de estudantes universitários, por exemplo, ou em Hong Kong, onde as pessoas partilham espaços em que dormem em gaiolas ou beliches. Este tipo de alojamento não é nada de novo, mas é o resultado das mudanças na sociedade, devido às elevadas rendas e ao facto de as pessoas que não conseguirem comprar casas. Diria que não é uma solução para esta questão social, mas sim uma consequência.” O arquitecto alerta para o facto de poderem surgir conflitos sociais. “Há sempre questões relacionadas com a partilha do espaço. Nos casos de co-working as pessoas partilham um espaço com a sua empresa, mas num conceito de co-living há bastantes diferenças. Há muitas coisas que podem originar potenciais problemas de segurança, higiene e isso pode originar vários conflitos. É sempre necessário criar espaços totalmente independentes que não se podem partilhar para que haja segurança suficiente. Há sempre desafios”, adiantou. Dominic Choi assegura também que, em Macau, o Governo tem um maior controlo sobre os terrenos do território, além de existirem regras mais apertadas para a construção de edifícios, face a Hong Kong. A solução para os altos preços passa mesmo pela construção de mais casas públicas. “Não podemos ter casas públicas em todo o lado, mas deve haver um devido planeamento em termos de infra-estruturas para que seja viável para as pessoas.” Também o arquitecto Mário Duque defende que o co-living não é uma solução por servir, sobretudo, uma fatia da população que reside temporariamente no território. “Essa forma de habitar é uma experiência pessoal altamente gratificante, mas tem a ver com questões geracionais e financeiras. Acho que a sociedade não vai aderir a essa modalidade de alojamento, que é significativa porque tem em vista uma população flutuante, que em Macau é igualmente significativa. A economia de Macau baseia-se nesse tipo de população e para essas pessoas é um modo vantajoso de aderir à habitação com qualidade.” Para Mário Duque, o co-living “acaba por servir sempre pessoas que não são da cidade”. “Em Macau isso tem a ver com outras nuances, relacionadas com os custos da habitação, que cai num lado disfuncional que é o facto de as pessoas precisarem de mais dinheiro do que aquele que é o rácio razoável para pagar despesas de habitação. Como isso não é possível, têm de arranjar situações alternativas. Há outra razão que é o parque habitacional em Macau ser muito degradado, e as casas que estão disponíveis para essa habitação partilhada não serem do agrado das pessoas”, rematou o arquitecto.