Cinema | Filmes de Hong Kong exibidos pela segunda vez em Lisboa

A ex-residente de Macau Vanessa Pimentel é a directora artística da segunda edição da Mostra de Cinema de Hong Kong, que vai decorrer entre 25 e 28 de Setembro no Cinema Ideal, em Lisboa. “Making Waves – Navigators of Hong Kong” irá apresentar películas como “Papa”, o documentário “Four Trails” e a cópia restaurada de “Ah Ying”, de 1983

 

São seis filmes, quatro de ficção e dois documentários, que prometem mostrar o que de melhor se vai fazendo no cinema de Hong Kong. É assim a segunda edição da Mostra de Cinema de Hong Kong, a decorrer em Lisboa, no Cinema Ideal, entre os dias 25 e 28 de Setembro, e que tem como directora artística Vanessa Pimentel, também ela realizadora, ex-residente de Macau ligada à produtora Blue Lotus Lisboa.

Além das exibições, o público português poderá ver de perto actores, realizadores e produtores de Hong Kong, numa prova de que é possível estabelecer laços entre Portugal e diferentes ambientes cinematográficos. O cartaz deste ano compõe-se de “Papa”, um filme de 2024 do realizador Philip Yung que será exibido logo no dia 25, uma quinta-feira. Segue-se “All Shall Be Well”, de Ray Yueng; “Never Too Late”, de Rikki Choy; “Montages of a Modern Motherhood”, de Chan Oliver Siu Kuen; “Four Trails”, um documentário de 2023 dirigido por Robin Lee. Para encerrar o festival em beleza, será projectada a cópia restaurada de “Ah Ying”, de Allen Fong, um filme de 1983.

Vanessa Pimentel explicou ao HM que a mostra tem “um programa que parte de Hong Kong”, onde já existe desde 2022. “Trata-se de um programa itinerante que visa divulgar o cinema de Hong Kong, sobretudo o cinema feito por realizadores mais jovens em termos de experiência, embora os programas contenham sempre obras de realizadores mais veteranos”, disse.

Este ano, além de Lisboa, a Mostra de Cinema de Hong Kong passará por cidades como Berlim, Paris, Montreal e Udine, na Itália. O evento pode estar ligado a festivais de cinema asiático ou não. E é intenção de Vanessa e da Blue Lotus criar um festival de cinema asiático em Lisboa, sendo que o cinema de Macau fará parte dele.

“No nosso caso, a mostra não está associada a nenhum festival porque ainda não existe, mas espero conseguir fazê-lo”, contou. “Nasci e cresci em Lisboa, mas venho de Macau, e a minha vida de Macau está muito ligada em tudo isto. Claro que um festival de cinema asiático em Lisboa tem de incluir Macau, nem poderia ser de outra forma.”

“Fazemos este programa com vista a irmos um pouco mais longe, e estamos de olhos postos na criação de um festival de cinema asiático”, disse ainda. “Ainda não conseguimos, temos de continuar a trabalhar, mas acho que estamos no bom caminho”.

Vanessa Pimentel diz que, apesar de já não viver no território, continua a estar bastante ligada ao cinema que se faz por cá. “Vou a Macau, pelo menos, duas vezes por ano, e tenho estado em permanente contacto com as pessoas de cinema. Todos eles estão a par do nosso programa [na Mostra de Cinema de Hong Kong] e há uma relação.”

Película a película

Pedimos à directora artística da mostra para falar daquilo que o público poderá ver na pequena sala do Cinema Ideal, que funciona de forma independente, sem ligação a grandes grupos de exibição de cinema, e que se localiza no coração do Bairro Alto.

“Papa”, que abre o festival, é descrito “como um filme bastante forte e bom, que fala sobre saúde mental e que tem uma abordagem incrível”. Vanessa Pimentel descreve que este filme foi premiado em Hong Kong com a distinção de melhor actor, apresentando-se em toda a trama “uma narrativa muito particular”.

“All Shall Be Well” volta a ser exibido em Lisboa, depois da apresentação no Festival Internacional de Cinema Queer, além de que já passou por Berlim. “É um filme muito bom, não teve mais nenhuma exibição depois de ter estado em Berlim, achei que seria interessante colocá-lo na programação.”

Vanessa Pimentel destaca ainda a apresentação da cópia restaurada de “Ah Ying”, que pertence “à Nova Vaga do Cinema de Hong Kong”, e que mostra uma história que vagueia de forma incessante entre “ficção e documentário”. Trata-se de um “filme interessantíssimo em que a história é inspirada na história da própria actriz [Hui So Ying] que o interpreta”.

A segunda Mostra do Cinema de Hong Kong contará com a presença de Hui So Ying. “É uma honra muito grande porque a actriz fará uma viagem gigante. Ela já tem alguma idade, mas disponibilizou-se logo a vir. Será muito interessante termos um filme inspirado na sua vida e contar com a sua presença para partilhar connosco esse momento”, descreveu Vanessa Pimentel.

Caminhos pouco conhecidos

Outro destaque da mostra de cinema é a exibição do documentário “Four Trails”, que tem sido “um fenómeno de bilheteira”. Trata-se de um filme sobre a corrida de 298 quilómetros pelos quatro trilhos mais conhecidos de Hong Kong.

A película retrata uma realidade quotidiana “das regiões de Hong Kong que quase ninguém conhece”. “É um filme sobre o desafio do desporto e das pessoas que, não sendo desportistas profissionais, inscrevem-se e fazem corrida, treinando o ano inteiro. É interessante ver o desafio a que se propõem e como vivem”, disse Vanessa Pimentel, que destaca também “Never Too Late”, “um filme sobre a nossa relação com o meio ambiente”. Aqui pode-se vislumbrar “um lado muito asiático e chinês dessa perspectiva do que é o meio ambiente e de como é a nossa relação com a natureza”.

Há depois o “Montage of a Modern Motherhood”, um filme que “tem rodado bastante os festivais”. “É um filme que tem um lado muito interessante, sobre a maternidade e uma perspectiva que, se calhar, pode não ser tão romântica, sobre a ideia de que a maternidade não é só um mar de rosas, tendo um reverso qualquer”, conta Vanessa Pimentel.

Aqui a directora artística da mostra alerta para o facto de a película “poder desafiar um bocadinho”, tocando “em coisas que dizem respeito a todos, como esta coisa da tradição da família e da partilha na maternidade e paternidade”.

Vanessa Pimentel assegura que a primeira edição da mostra foi um êxito, com “cerca de mil pessoas a ir ao cinema em quatro dias”. “Foi surpreendente ver muita gente nova, mais velhos e também muitas pessoas de origem chinesa, ou seja, filhos de imigrantes, eventualmente de uma segunda geração, que já nasceram em Lisboa, falam português e moram aqui com as famílias. Tivemos sessões com muitos chineses a fazer perguntas no fim das sessões e nunca tinha visto isso em Lisboa”, salientou.

A Mostra de Cinema de Hong Kong acaba também por entrar no roteiro dos espectadores que habitualmente vão a festivais. “Temos um público também muito interessante, constituído por pessoas que gostam de cinema e frequentam outros festivais. Não é frequente ver um programa que, em Lisboa, se concentre no cinema asiático. Temos o Doc Lisboa, ou o Indie, mas na sua programação a proporção desse cinema é muito menor. Não faço aqui uma crítica, acho isso perfeitamente normal”, disse Vanessa Pimentel.

Entre a Mostra de Cinema de Hong Kong e o futuro festival, a responsável diz haver “espaço de exibição” em Lisboa e Portugal, pelo facto de o cinema asiático ser “muito vasto e rico, tendo uma relação de quantidade e qualidade muito elevada”.

11 Set 2025

Ricardo Borges fala este sábado sobre os anos do conflito sino-japonês

“Laponicus ad Portas (do Cerco): a new perspective of Macau during the Second Sino-Japanese War” é o nome da palestra protagonizada por Ricardo Borges este sábado, entre as 14h30 e 16h30, no Instituto de Estudos Europeus de Macau (IEEM). Tal como o nome indica, trata-se de apresentar novas perspectivas históricas dos anos da II Guerra Mundial e do impacto que o conflito teve em Macau, mas a partir do ponto de vista da fronteira das Portas do Cerco.

Ricardo Borges é investigador sobre a história militar de Macau desde 2016 e tem “estado activamente envolvido na continuação desta pesquisa”, continuando a desenvolver entrevistas com antigos responsáveis militares e tratando a grande maioria da informação disponível em arquivos que continua por analisar, em fontes históricas que são consideradas essenciais para contar a história da presença militar no território.

Neste caso, Ricardo Borges irá basear-se em estudos e investigações já feitas para contar como foram os anos de 1939 a 1945 em Macau, pautados por uma grande vaga de refugiados oriundos de Hong Kong e da China continental, então ocupada por japoneses, o que gerou um período de grande tensão social. O orador vai procurar “enfatizar novos aspectos que moldaram a pequena Macau e a sua Guarnição Militar”, analisando-se também “as fases iniciais das operações das forças imperiais japonesas no Sul da China, especialmente nas áreas em torno de Macau”. Nessa fase, os japoneses forçaram o bloqueio junto ao Rio das Pérolas e “efectivamente retiraram o regime de Chiang Kai-Shek do comércio internacional naval e da potencial ajuda que vinha do estrangeiro”.

Pretende-se também analisar a questão da neutralidade de Macau neste período, tendo em conta que o território tinha administração portuguesa e Portugal assumiu desde o início da II Guerra a sua neutralidade, movendo-se entre as forças aliadas e de Hitler. Desta forma, Macau acabou por se tornar “num dos poucos territórios na Ásia que manteve a neutralidade enquanto estava completamente rodeado de batalhas”.

10 Set 2025

Teatro | Comuna de Pedra apresenta espectáculo “Narrativas na Margem”

A associação local Comuna de Pedra, dedicada às artes do espectáculo, traz este mês ao Centro Cultural de Macau uma nova peça de teatro, “Corpo/Desconstrução 2025 – Narrativas na Margem: Iluminar”, nos dias 20 e 21. Trata-se de um trabalho autobiográfico sobre as vidas difíceis, mas por vezes divertidas, de Nada e Rui: ela com um passado de pobreza, ele a ser portador de paralisia cerebral. Antigos colegas de escola, encontram-se finalmente em palco

 

Jenny Mok está habituada a pegar em pessoas que habitualmente não subiriam aos palcos e fazer deles actores e criadores. Essa ideia inicial de que nunca subiriam a um palco prende-se com o facto de serem portadores de uma deficiência, o que à partida os afastaria desta área.

Porém, a fundadora da associação Comuna de Pedra tem transformado ideias feitas em espectáculos e formas expressivas diferentes, e eis que apresenta, em Setembro um novo espectáculo no Centro Cultural de Macau (CCM), nos dias 20 e 21, em que um dos actores tem paralisia cerebral.

A peça “Corpo/Desconstrução 2025 – Narrativas na Margem: Iluminar”, apresenta a ideia de deixar, “na escuridão do teatro, recolher a luz que cada um deixou cair”, contando as histórias reais da vida dos actores Nada Chan e Rui.

Ao HM, Jenny Mok explicou como surgiu este espectáculo, que é um “trabalho autobiográfico, em que os materiais do espectáculo são gerados a partir das histórias reais dos actores.

“O Rui viveu toda a vida com paralisia cerebral, enquanto Nadia lidou, na infância, com o estatuto social e a pobreza. Nascemos em circunstâncias diferentes, mas todos lidamos com a vida, por mais difíceis que essas circunstâncias possam ser para alguns de nós. É isso que torna a história deles tão interessante.”

Em palco, o público pode conhecer melhor “as suas próprias histórias, em que algumas são difíceis, mas em que também há humor e momentos divertidos”. “A vida não é feita apenas de algodão-doce, mas também não é só feita de amargura e limões”, exemplificou Jenny Mok.

A fundadora da Comuna de Pedra confessa que sempre teve “interesse e a intenção de abordar a questão da deficiência e da inclusão através do teatro”, mas neste caso, trabalhar com a Nadia e Rui mostra como eles são “seres humanos cativantes ao serem simplesmente eles próprios”, sendo que “há muitas diferenças entre eles e, ao mesmo tempo, muito em comum”.

Na apresentação do espectáculo, lê-se que esta peça é “o encontro inesperado de duas linhas paralelas”, em que ele “tem o corpo preso pela paralisia cerebral”, sendo “um jovem caçador do vento a habitar-lhe o coração, sonhando poder correr livremente pela terra firme”. Já ela, “cresceu entre brechas e restrições, sendo filha sensata entre cinco irmãos, mas sempre preferiu viver como uma soberana da sua própria aventura nas profundezas do mar”.

Nada e Rui “foram colegas de escola, mas nunca se conheceram verdadeiramente”, pelo que foi o “destino, depois de tantas voltas, que os trouxe ao mesmo palco”. Quando as luzes se acenderem, “as suas histórias vão começar, finalmente, a entrelaçar-se”, num espectáculo que “não é uma lenda épica, nem mesmo uma narrativa de super-heróis”, mas sim uma história “de duas pessoas comuns que, à sua maneira, vivem uma vida que lhes pertence”. A questão é se, do lado do público, o espectador consegue ver nestes actores “um reflexo de si mesmo”.

Primeiros encontros

Jenny Mok cruzou-se com os dois actores em momentos diferentes do seu percurso artístico. “A Nada e o Rui são dois actores com quem já tinha trabalhado anteriormente, mas apenas em ocasiões separadas. Com a Nada Chan trabalho desde 2018 em diferentes projectos meus, e ela sempre foi uma actriz muito dedicada e atenciosa. Tive a oportunidade de conhecer o Rui em 2021, quando foi curador da primeira edição do Todos Fest!”, festival esse que também apresenta uma forma inclusiva de fazer arte.”

Jenny Mok confessa ter ficado “fascinada com a forma como ele [Rui] dançava e movia o corpo”. “Para mim, a sua história de vida está inscrita no corpo e ele move-se com um conteúdo imenso dentro da sua fisicalidade. Desde então começámos a trabalhar juntos e sempre pensei em criar um solo com ele. Ele tem tanto para partilhar e é tão interessante de ver em palco. No ano passado, durante a quarta edição do Todos Fest!, a Nada veio assistir ao espetáculo e contou-me que tinha sido colega de turma do Rui. Que coincidência! A partir daí surgiu a ideia de juntá-los num dueto em palco.

A responsável considera ser “óptimo trabalhar com a Nada e o Rui”, pois “a comunicação é sempre uma tarefa interminável, não apenas entre diferentes capacidades, mas simplesmente entre seres humanos”. Há dificuldades no processo, e “nem sempre é fácil compreendermo-nos, mas o tempo e a paciência ajudam”, assume.

Existências políticas

Para Jenny Mok, “em palco há certas existências que serão sempre políticas”, no sentido em que “pessoas que ocupam lugares marginais na sociedade têm corpos que já carregam conteúdo só por estarem presentes em cena”.

Assim, a presença de Rui em palco “será sempre política”, defende a fundadora da Comuna de Pedra, uma vez que “o seu corpo contém significados que podem ser lidos e interpretados de várias formas, e o mesmo acontece com a Nada”.

“Acredito que o corpo, apresentado como conteúdo em palco, pode ser uma forma de re-imaginar a relação entre o indivíduo e a sociedade, assim como a nossa identidade”, defendeu.

Com “Corpo/Desconstrução 2025 – Narrativas na Margem: Iluminar”, a Comuna de Pedra pretende transmitir a ideia de que “somos todos diferentes, mas não ouvimos o suficiente uns dos outros”, isto porque “simplesmente não há tempo e espaço para isso”. “O bonito do teatro é precisamente o facto de ser um lugar onde podemos criar tempo e espaço para nos conhecermos e escutarmos as histórias uns dos outros”, revelou Jenny Mok.

10 Set 2025

EPM | Neto Valente acusa DSEDJ de interferir na autonomia pedagógica

Jorge Neto Valente, presidente da Fundação da Escola Portuguesa de Macau, acusou a DSEDJ de “interferir na autonomia pedagógica” da instituição de ensino no que diz respeito ao processo de verificação das competências de professores oriundos de Portugal

 

O presidente da Fundação da Escola Portuguesa de Macau (FEPM) acusa a Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ) de interferir na autonomia pedagógica da instituição de ensino no que diz respeito à qualificação das competências dos professores oriundos de Portugal que vão dar aulas na EPM, que tem um currículo português.

“Não achamos bem que os Serviços de Educação [DSEDJ] interfiram na nossa autonomia pedagógica e achem que um professor que é qualificado, e que tem dezenas de anos de experiência em Portugal, possa não ser qualificado para dar aulas na escola”, disse ontem Neto Valente à margem da visita do primeiro-ministro português, Luís Montenegro, à EPM.

Há, portanto, “divergências na maneira de apreciar as capacidades e competências dos professores”, porque “a escola não recruta professores para outras escolas internacionais ou da RAEM, recruta apenas para a escola portuguesa”.

Neto Valente diz que não existem entidades com “mais qualificações para apreciar a qualidade dos professores” do que “a EPM ou entidades responsáveis de Portugal, como o Ministério da Educação, Ciência e Inovação”.

“Não são, com certeza, os Serviços de Educação que têm parâmetros locais para aferir a competência de professores chineses que ensinam currículos chineses. Basta pensar o que aconteceria se professores de currículo chinês fossem para Portugal integrar quadros do Ministério da Educação. Não era possível”, exemplificou.

Desta forma, o presidente da FEPM pede que “cada um [fique] no seu sítio”. “É o que queremos que aconteça, e temos tido alguma dificuldade em fazer reconhecer” as competências dos docentes, acrescentou.

BIR, mas pouco

Outra queixa que Neto Valente fez aos jornalistas à margem da visita do primeiro-ministro português foi a demora na resposta dos pedidos de Bilhete de Identidade de Residente (BIR) para professores da EPM junto da Comissão de Desenvolvimento dos Quadros Qualificados.

“É um problema, infelizmente, porque essa instituição dos talentos é muito demorada a tomar decisões. Há mais de um ano que fizemos diligências e ainda não temos respostas. Para nós é um problema”, admitiu.

O presidente da FEPM garantiu também a neutralidade na escolha e contratação de professores, numa referência à antiga polémica com a saída de alguns docentes da EPM. “Não sei se têm prestado atenção, tem havido concursos para a selecção de professores, não são amigos deste ou daquele, isso não se passa agora. Esses quadros são seleccionados de entre as melhores pessoas que são validadas com décadas de experiência.”

Neto Valente negou ainda que já haja discussões em torno da personalidade que o irá substituir à frente da FEPM. “Não abordámos isso [numa reunião recente], nem tenciono que se discuta. O que é que há para discutir? Que eu saiba, não estou para sair já.”

“EPM é um activo importantíssimo”

Luís Montenegro considerou a Escola Portuguesa de Macau um activo importantíssimo, durante a visita de ontem, que durou cerca de uma hora. “A Escola Portuguesa de Macau é um activo importantíssimo ao qual nós atribuímos uma relevância estratégica grande na promoção do ensino do português, mas também na possibilidade de dar condições de formação e qualificação a muitas centenas de jovens todos os anos”, afirmou Montenegro.

“O interesse do Governo [de Portugal] será sempre o de apoiar a preservação da nossa identidade, da nossa cultura, da nossa projecção no mundo, da nossa presença aqui em Macau”, indicou. O Primeiro-Ministro descerrou uma placa, como tradicionalmente acontece na visita de governantes portugueses à instituição, e considerou a EPM “sinónimo” do que afirmou ser a “vocação universal” e da “perspectiva de olhar para o mundo” de Portugal.

10 Set 2025

Luís Montenegro visita EPM e Consulado

Em Macau, a agenda de Luís Montenegro resume-se à manhã de hoje e inclui uma visita à Escola Portuguesa de Macau (EPM), a partir das 10h10, e depois uma recepção no Consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong.

De frisar que esta visita acontece depois de Sam Hou Fai, Chefe do Executivo, ter cancelado, sem nova data, a sua primeira visita oficial a Portugal e a Espanha, a decorrer entre os dias 16 e 23 de Setembro.

Tiago André Lopes não apresenta uma possível justificação para esta cancelamento, mas faz críticas ao posicionamento que Portugal tem tido em relação a Macau. “Portugal quer ter presença na região sem investimento, sem estratégia clara e sem um princípio orientador claro, e deveria ter ‘aprendido’ as lições de Hong Kong para perceber que o seu vínculo a Macau não se manterá apenas por uma suposta cristalização de processos históricos; quem não aparece (e o mesmo para quem não investe) esquece e abre espaços a outros”, disse.

Desta forma, a curta passagem de Luís Montenegro por Macau “deveria servir para relançar, de modo eficaz e efectivo, a relação de Portugal com Macau até por via de iniciativas políticas, necessariamente coordenadas com Pequim”, até no sentido de se criar “um estatuto especial para que Macau pudesse ascender simbolicamente à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa”.

Porém, o académico considera que, para isso, “era preciso existir estratégia política e planeamento diplomático, e tal não parece ir na mala de viagem do primeiro-ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal”, lamenta.

9 Set 2025

UPM | Aberto concurso para novo reitor

A Universidade Politécnica de Macau (UPM) tem a decorrer um concurso internacional para a escolha de um novo reitor, que deverá iniciar funções no próximo ano. Segundo um comunicado divulgado no website da UPM, espera-se alguém “com uma perspectiva internacional avançada”, já que deverá liderar a universidade, funcionários, todas as faculdades e estudantes no processo de cumprimento “dos objectivos traçados nos planos de desenvolvimento, buscar colaborações externas e trazer [para a instituição de ensino] grandes projectos de investigação”.

Espera-se ainda do novo reitor, ou reitora, que busque “influência internacional” para a UPM e que faça a instituição melhorar nos rankings académicos.

Espera-se que o candidato possua doutoramento e “honras profissionais e académicas”, devendo ter, pelo menos, “oito anos de experiência em ensino e investigação, ao nível de Professor ou equivalente, com um historial de inovação e objectivos académicos significativos, e com contributos importantes ao nível do ensino e investigação”.

O candidato deve ter “uma compreensão geral do desenvolvimento do ensino superior e das instituições da China continental e Macau”, e dominar o chinês e inglês. As candidaturas decorrem até ao dia 17 de Outubro. Desde 2018 que o reitor da UPM é Marcus Im Sio Kei.

8 Set 2025

Finanças | Portugal retira Hong Kong da lista de paraísos fiscais

A partir de 1 de Janeiro de 2026, Hong Kong deixará de fazer parte da lista de paraísos fiscais de Portugal, tal como o Liechtenstein e o Uruguai. Há muito que as autoridades da região vizinha pediam a retirada, inclusivamente em visitas oficiais a Portugal. A Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Hong Kong salienta a decisão coerente com posição da União Europeia

 

O Governo de Hong Kong viu finalmente cumprido o desejo, expressado diversas vezes, de sair da lista de paraísos fiscais em Portugal. A mudança será uma realidade a partir de 1 de Janeiro de 2026, tendo em conta a portaria publicada na sexta-feira pelo Ministério das Finanças no Diário da República.

Segundo este documento, Hong Kong deixa de estar incluído na lista de “regimes fiscais claramente mais favoráveis”, nome oficial da lista vulgarmente conhecida como “lista de paraísos fiscais”.

Lê-se na portaria, assinada pela Secretária de Estado dos Assuntos Fiscais, Cláudia Reis Duarte, que “os Governos da Região Administrativa Especial de Hong Kong, do Principado do Liechtenstein e da República Oriental do Uruguai dirigiram pedidos formais” para a “revisão do seu enquadramento na lista, os quais foram objecto de pareceres positivos elaborados pela Autoridade Tributária e Aduaneira”. A retirada destes três países e territórios oficializa-se a 1 de Janeiro do próximo ano.

Assim, o Governo português considera que estão “verificadas as condições para, nos termos legalmente estabelecidos, excluir aquelas jurisdições da lista dos países, territórios ou regiões com regimes fiscais claramente mais favoráveis”.

Destaca-se também que “a Região Administrativa Especial de Hong Kong, o Principado do Liechtenstein e a República Oriental do Uruguai não constam da lista da União Europeia de jurisdições não cooperantes para efeitos fiscais, adoptada pelo Conselho da União Europeia, cuja última actualização ocorreu em 18 de Fevereiro de 2025”.

Recorde-se que uma das últimas vezes que Hong Kong fez um pedido formal para saída da lista de paraísos fiscais foi durante a visita a Lisboa do secretário para os Serviços Financeiros e Tesouro, Christopher Hui Ching-yu, em Junho do ano passado, no âmbito de um encontro com a Secretária de Estado Cláudia Reis Duarte.

Aí, e segundo noticiou a Lusa, o governante da região vizinha “manifestou preocupação” por Hong Kong ser considerado um paraíso fiscal desde que a lista foi criada pelas autoridades portuguesas, em 2004.

A inclusão na lista “sujeitaria as empresas de Hong Kong a um aumento de impostos e a medidas especiais” em Portugal, descreveu o governante, que recordou que as duas partes assinaram um acordo para evitar a dupla tributação, que entrou em vigor em 2012.

Nesse mesmo encontro, Christopher Hui lembrou à Secretária de Estado portuguesa que a União Europeia (UE) retirou, em Fevereiro de 2024, a RAEHK da lista de jurisdições não cooperantes para efeitos fiscais, uma decisão que, no entender do secretário, “demonstrou o reconhecimento da UE dos esforços de Hong Kong” para introduzir medidas que combatam “a evasão [fiscal] transfronteiriça resultante da dupla não tributação”. Christopher Hui acrescentou que Hong Kong já cumpria todos os padrões europeus nesta matéria.

De referir que, à data, o ministro português da Economia era Pedro Reis, que num evento a propósito da visita de Christopher Hui a Lisboa, declarou ser importante “manter o crescimento económico sustentável e aproveitar as oportunidades de investimento mútuo” entre Portugal e Hong Kong.

Câmara de Comércio rejubila

Entretanto, a Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Hong Kong (PHKCCI, na sigla inglesa) emitiu uma nota no Linkedin a destacar favoralmente a saída de Hong Kong desta lista. “Este marco representa a culminação de um processo de longa duração e transversal em Portugal, que envolveu um diálogo contínuo e coordenação entre sucessivos governos, partidos parlamentares e parceiros internacionais. Embora o consenso sobre o objectivo fosse sólido, o processo desenrolou-se de forma gradual ao longo de mais de uma década”, lê-se.

Para a PHKCCI, a decisão do Estado português “restabelece a coerência com as normas da União Europeia e reflecte o compromisso de Portugal com uma abordagem justa e actual na sua governação fiscal”, salientando-se também a “importância de respeitar critérios objectivos, manter um diálogo permanente e assegurar rigor jurídico e diplomático na gestão da política fiscal”.

“Enquanto Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Hong Kong, saudamos este desfecho como um passo em frente no alinhamento do nosso ambiente bilateral de comércio e investimento com previsibilidade, transparência e boa governação. Mantemo-nos empenhados em facilitar um envolvimento construtivo entre os nossos mercados, apoiando a clareza nos quadros fiscais e fomentando a confiança mútua”, é referido na mesma nota.

Segundo o jornal online Eco, a inclusão de um país ou território na lista de paraísos fiscais acontece se não houver um imposto semelhante ao IRC [Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Colectivas], cobrado em Portugal, ou a existência de regimes de benefícios fiscais que sejam mais favoráveis do que no país europeu.

Também serve de critério para a inclusão na lista práticas administrativas dos países ou regiões não permitem a troca efectiva de informações fiscais. Todas questões que Hong Kong considera ter ultrapassado e que asseguram que há pleno respeito pelo combate à evasão fiscal.

Mais concretamente, e aquando da sua visita a Portugal no ano passado, o secretário Christopher Hui falou dos “esforços de Hong Kong na introdução de um regime de isenção de rendimento de fonte estrangeira (FSIE) para determinados rendimentos passivos, a fim de melhor combater a evasão transfronteiriça decorrente da dupla não tributação”. Na sua visão, “tais esforços alinharam plenamente o regime de FSIE de Hong Kong com as Orientações sobre Regimes de FSIE actualizadas pela UE em Dezembro de 2022”.

Mexidas na FSIE

Segundo uma nota explicativa da consultora PriceWaterHouseCoopers (PwC), Hong Kong foi adicionada à lista de observação da UE a nível fiscal em Outubro de 2021. Nessa data, a UE “estava preocupada de que, ao abrigo do então regime de isenção de rendimento de fonte estrangeira (FSIE), poderiam existir situações em que empresas sem actividade económica substancial em Hong Kong não estariam sujeitas a imposto relativamente a certos rendimentos passivos de fonte estrangeira (como juros e royalties), resultando assim em situações de ‘dupla não tributação'”, pode ler-se.

No ano seguinte, a RAEHK “promulgou alterações legislativas”, nomeadamente em Dezembro de 2022, para “aperfeiçoar e reforçar o regime de FSIE contra a evasão fiscal transfronteiriça”.

Com as alterações em vigor desde 1 de Janeiro de 2023, “os quatro tipos de rendimentos de fonte estrangeira”, como dividendos, juros, rendimentos de propriedade intelectual e ganhos de alienação provenientes da venda de participações societárias, passam a “ser considerados como tendo origem em Hong Kong e sujeitos ao imposto sobre lucros se recebidos em Hong Kong por uma entidade de um grupo multinacional que exerça comércio, profissão ou negócio no território”, explica a PwC, “salvo se essa entidade satisfizer os requisitos da excepção aplicável”.

Depois da sugestão da UE, “o Governo da RAEHK aperfeiçoou ainda mais o regime de FSIE para alargar o âmbito dos rendimentos abrangidos, incluindo ganhos de alienação de outros tipos de activos (para além das participações societárias), a fim de se alinhar com a mais recente orientação da UE, com efeitos a partir de 1 de Janeiro de 2024”.

Foi então que a 20 de Fevereiro do ano passado o Conselho da UE publicou as conclusões da revisão semestral da UE quanto às “jurisdições não cooperantes para fins fiscais”, a chamada “lista negra” dos paraísos fiscais, e também a “lista de observação” quanto ao “estado de cooperação com a UE relativamente aos compromissos assumidos por jurisdições cooperantes para implementar princípios de boa governação fiscal”.

Nessa altura Hong Kong foi retirado da lista, considerando a UE que o território tinha “cumprido o compromisso ao alterar o regime de FSIE”, destacando a PwC, na mesma nota, que a RAEHK está agora “entre as jurisdições que cooperam com a UE e não possuem compromissos pendentes”.

Ainda segundo a PwC, “o Governo da RAEHK saudou o reconhecimento da UE dos esforços para alinhar o seu regime de FSIE com os requisitos relevantes, como reflectido na sua remoção da lista de observação da UE”, tendo também afirmado que “continuará a cumprir as normas fiscais internacionais, ao mesmo tempo que manterá a competitividade fiscal de Hong Kong”.

8 Set 2025

Música | NOYB apresenta “Improvised Live Sessions” na Taipa

É já amanhã, 6 de Setembro, que acontece o evento “None of Your Business (NOYB) Improvised Live Sessions”, que traz a Macau uma série de artistas e djs em que a música tocada de improviso e de forma experimental promete ser a palavra de ordem. A festa acontece entre as 17h e as 23h e traz à Fábrica Van Nam, na Avenida Olímpica, na Taipa, “um mundo vanguardista de actuações musicais improvisadas, instalações de vídeo e um inovador workshop de sintetizador modular”, descreve a NOYB nas redes sociais.

Juntam-se assim, na Taipa, “artistas visionários de Macau, Portugal, Espanha, Japão e outros lugares, criando-se uma tapeçaria única de sons e arte visual”, sendo que não faltarão espaços de gastronomia e a “companhia de outros entusiastas da arte” de fazer música e desfrutar dela.

O cartaz faz-se com LAGOSS, que actua no dia anterior em Beishan, Zhuhai; Dj Sniff, Larsq, Ezara Thustra e os Djs Tongrim e Fon.

Manobras experimentais

Relativamente ao percurso artístico dos participantes nesta festa de experimentações, Fon nasceu em Cantão, Guangzhou, mas foi criado em Macau. Porém, também viveu em Nova Iorque e Los Angels, onde trabalhou como músico e artista conceptual. “A sua formação diversificada inspira a exploração do som, das artes visuais, da performance e da improvisação”, destaca a NOYB. O gosto musical de Fon é ainda “fortemente influenciado pelos clubes vanguardistas de Nova Iorque, como o h0l0 e o Bossa Nova Civic Club, bem como pela cena ‘underground’ de festas em Macau e pela música trap cantonense”.

Destaque ainda para o projecto sonoro “Larsq”, de Rui Rasquinho, designer e ilustrador de Lisboa que há muito faz de Macau a sua casa. Com “Larsq” o público pode desfrutar de “pedais de efeitos, sintetizadores de ruído e uma guitarra sob a influência da improvisação, situados algures entre o abstracto e o narrativo”.

No caso do Dj Sniff, trata-se de um músico, curador e educador cujo trabalho “se faz com práticas distintas que combinam o ‘Djing, o design de instrumentos e a improvisação livre”. Dj Sniff já trabalhou em Amesterdão e foi professor assistente visitante na Universidade Cidade de Hong Kong entre 2012 e 2017. Já colaborou com nomes como Evan Parker, Otomo Yoshihide, Paul Hubweber, Tarek Atoui, Senyawa e Ken Ueno.

De Espanha, mais concretamente Tenerife, surge o projecto LAGOSS, e a sua apresentação faz-se logo com um aviso: ouvir estes sons pode “causar vagueações involuntárias por ilhas que não existem”.

LAGOSS é, portanto, um “projecto audiovisual cujo som ultrapassa o espectro daquilo a que os nossos ouvidos estão habituados”, inspirando-se em “mitologias exóticas e sonoridades espirituais”. Criam-se, desta forma, “paisagens sonoras imersivas que desafiam qualquer categorização simples”, com uma música que é “uma fusão singular de explorações cósmicas de sintetizador, ritmos instáveis de dub e gravações de campo de ilhas imaginadas, tudo sustentado por uma saudável dose de psicadelismo, improvisação e ‘live looping’ de instrumentos electrónicos e acústicos”.

Desta forma, o público poderá ver, ouvir e sentir amanhã “um universo sonoro e orgânico particular, que a própria banda descreve como folclore insular do futuro ou ciber-tropicalismo”.

5 Set 2025

Orquestra Chinesa | Peng Xiuwen e Liu Tianyi homenageados em nova temporada

A Orquestra Chinesa de Macau traz ao público uma nova temporada de concertos que pretende destacar o território como uma “Cidade de Cultura do Leste Asiático”. Os espectáculos agendados para 2025/2026 homenageiam ainda figuras da música chinesa como Liu Tianyi e Peng Xiuwen, além de celebrar datas como a transição de Macau ou o aniversário da RPC

 

Espera-se que Macau se transforme numa “Cidade da Cultura do Leste Asiático” e, por isso, a nova programação de concertos da Orquestra Chinesa de Macau (OCM) 2025/2026 está aí com muitos espectáculos de homenagem a mestres da música clássica chinesa e para celebrar datas especiais para Macau e a China.

Depois do concerto de abertura da temporada que decorreu a 30 de Agosto, o dia 29 de Novembro acolhe o espectáculo de homenagem a Liu Tianyi, tido como um grande mestre de música tradicional chinesa, sobretudo cantonense, e com foco no instrumento tradicional Gaohu.

“Em Comemoração ao 115.º Aniversário de Nascimento de Liu Tianyi – Cantonês Harmónico” é o nome do espectáculo que mostra “a brilhante carreira musical do maestro e a notável contribuição para este género musical”. Apresenta-se, assim, “um repertório cuidadosamente seleccionado”, lê-se no programa da OCM, num concerto que tem direcção artística de um discípulo de Liu Tianyi, Yu Qiwei. Em palco, estará ainda o grupo “Ensemble de Música Chinesa Windpipe”, um grupo de música de câmara de Hong Kong.

Em Março do próximo ano, dia 21, é a vez se de homenagear, no grande auditório do Centro Cultural de Macau (CCM), Peng Xiuwen e os 95 anos do aniversário do seu nascimento. “Homenagem ao 95.º Aniversário de Nascimento de Peng Xiuwen – O Titã” é o nome do concerto que destaca a mestria deste conhecido nome da música chinesa.

“A dedicação dada ao longo da sua vida à inovação e desenvolvimento da música, além da adaptação e composição de mais de 400 obras clássicas, lançaram as bases para o estabelecimento da orquestra chinesa moderna”, além de abrirem “caminho à ‘sinfonia nacional'”, descreve a OCM.

Peng Xiuwen é chamado de “Pai da Sinfonia Nacional Moderna da China”, e no CCM serão apresentadas “algumas das obras mais emblemáticas, como a adaptação da sinfonia ‘Quadros Numa Exposição’, de Mussorgsky, e a magnífica fantasia ‘Guerreiros de Terracota de Qin’”. Em palco estará o maestro Pang Ka Pang.

Zhang Lie, director musical e maestro principal da OCM, destaca que a programação para a temporada 2025/2026 visa “cultivar a cultura local, contando a história de Macau através de obras musicais originais”. Fica ainda a promessa de um envolvimento “activo com a comunidade, promovendo a educação musical” e a adopção de “uma atitude aberta de ‘Introduzir de Fora e Sair para o Mundo'” no que às escolhas musicais diz respeito.

O responsável assume que a OCM tem feito um “grandioso percurso de preservação dos tesouros artísticos da China e de desenvolvimento da música tradicional chinesa”

Assim, Zhang Lie destaca que esta nova temporada constitui “uma oportunidade para a Orquestra Chinesa apoiar Macau na sua transformação em prol de uma ‘Cidade da Cultura do Leste Asiático'”. Sobre o concerto de Novembro, Zhang Lie destaca o foco que fará não apenas à carreira de Liu Tianyi mas também da música cantonesa como “joia da região de Lingnan”.

Depois, com o concerto “O Titã”, dedicado a Peng Xiuwen, faz-se a ligação “entre o painel poético da adaptação de ‘Quadros numa Exposição’ com os ecos históricos da fantasia ‘Guerreiros de Terracota de Qin’, numa resplandecência artística eterna”.

As celebrações prometidas

De resto, a OCM estará presente em palco para celebrar datas importantes para a RAEM, como é o caso do concerto intitulado “Lírios da Estrela da Manhã para Sempre”, de celebração dos 26 anos de instituição da RAEM, a 20 de Dezembro de 1999, e da transferência da administração portuguesa de Macau para a China, a 19 de Dezembro do mesmo ano.

Este espectáculo acontece com a colaboração da Orquestra Chinesa da Radiodifusão de Shaanxi e Orquestra Nacional de Shaanxi, incluindo outros grupos musicais.

Ainda antes desta data especial, celebra-se mais um aniversário da implantação da República Popular da China e também o Festival da Lua, pelo que a 6 de Outubro é a vez das Ruínas de São Paulo acolherem “Uma Noite de Lua Cheia nas Ruínas de S. Paulo 2025”. Aqui fica a promessa, segundo Zhang Lie, de uma evocação de “melodias emocionantes em um cenário de reencontro”. A OCM apresenta ainda o espectáculo de teatro musical, pensado para toda a família, “Varinha Mágica Musical– Família de Sopro”.

Para Zhang Lie, esta temporada “será, sem dúvida, um sucesso retumbante”, esperando-se um “festim musical vibrante a todos, transformando cada nota numa força calorosa e comovente”.

5 Set 2025

Eleições | Programas políticos com foco na economia e apoios sociais

São seis as listas de candidatos a deputados pela via directa, e outras seis pela via indirecta. Há caras novas, muitas de saída e ainda deputados que decidiram deambular entre sufrágios. Os principais focos dos programas políticos continuam a ser o emprego, o fomento da economia e o aumento dos apoios sociais

 

No dia 14 de Setembro serão escolhidos os deputados da Assembleia Legislativa (AL), quer pelo voto do povo, na via directa, quer pela via indirecta através das associações que representam os diversos sectores profissionais. A campanha está nas ruas e as 12 listas disponibilizaram os programas eleitorais cujo conteúdo não difere muito das interpelações apresentadas ao Governo nos últimos anos, tendo em conta que a maioria dos cabeça de lista já está na AL há algum tempo.

Assim, questões como a crise no emprego jovem, o incentivo ao consumo local, a necessidade de mais apoios sociais e ainda a integração regional de Macau em Hengqin e na Grande Baía dominam as medidas apresentadas.

No caso da lista 1, a “Associação dos Cidadãos Unidos de Macau” tem raízes em Fujian e é liderada pela deputada Song Pek Kei, que começou bem jovem a acompanhar o empresário Chan Meng Kam nas lides parlamentares. Agora faz-se acompanhar pelo jovem deputado Nick Lei, seguindo-se em terceiro lugar, e numa lista de dez pessoas, Chan Lai Kei.

Na área laboral, a lista defende a criação de uma quota para residentes em todas as áreas profissionais, o “apoio ao emprego e empresas locais”, e a garantia de que “85 por cento, ou mais, dos funcionários sejam residentes locais”.

Defende-se ainda a liberação de “vagas nas áreas financeira e de gestão para residentes qualificados”, bem como a concessão de um subsídio de cinco mil patacas para “cada residente elegível no apoio ao emprego, a desempregados ou trabalhadores temporários”.

A lista Nova Esperança, liderada por José Pereira Coutinho, quer “emprego para todos” e promete lutar pela “prioridade de emprego aos residentes permanentes de Macau nas concessionárias de jogos” e ainda o estabelecimento de um “sistema obrigatório (Fundo de Previdência), que proteja a 100 por cento a população”.

O programa eleitoral dá ainda ênfase à área dos promotores de jogo, cujo número de licenças tem caído a pique nos últimos anos. A lista pede o “reforço da sua viabilidade através do aumento da comissão legal de 1,25 para 1,30 por cento” e a “facilitação de abertura de contas bancárias para titulares de licenças” junket atribuídas pelo Executivo.

No caso da lista 3, a União Promotora Para o Progresso, que representa a União Geral das Associações dos Moradores de Macau, liderada pelo deputado Leong Hong Sai, pede a “melhoria do emprego dos residentes”, a revitalização do turismo ou o apoio a “pequenas e médias empresas”.

Já a lista 5, a União Para o Desenvolvimento, é liderada por um rosto bem conhecido da AL. Ella Lei e o parceiro de bancada dos Operários Leong Sun Iok voltam a colocar o emprego como prioridade política.

Pede-se a “garantia de oportunidades de emprego a locais”, bem como o “aperfeiçoamento do sistema de entradas e saídas de trabalhadores estrangeiros”.

A lista dos Operários promete lutar pelo desenvolvimento de “formação remunerada a fim de aumentar as qualificações dos trabalhadores locais”, bem como o “aperfeiçoamento do sistema de apoio ao emprego, aumentando, de forma adequada, a alocação de serviços”.

Também na área laboral este grupo de candidatos pede que seja “aprimorado o sistema de protecção dos trabalhadores para aumentar o seu nível de vida”, sugerindo-se o “fortalecimento da estrutura salarial” e do “sistema de previdência social para aumentar o nível de protecção dos trabalhadores”.

Consumir é preciso

Desde que Macau recuperou da crise causada pela pandemia da covid-19, com o encerramento de negócios, que outro problema se colocou: o facto de ser mais fácil viajar para a China fez com que os residentes consumam menos no território, afectando o comércio de zonas menos turísticas.

Esse tem sido tema recorrente nas intervenções dos deputados na AL e também o é nos programas eleitorais. Voltando à lista ligada à comunidade de Fujian, pedem-se “incentivos ao consumo interno” para “reduzir a pressão na vida dos residentes” e “revitalizar a economia local”. Para isso devem ser seguidas “as experiências dos programas de apoio ao consumo entre 2020 e 2022, criando-se novos cartões de consumo para estimular o comércio”.

No caso da lista de Pereira Coutinho, defende-se a instituição “de um cartão electrónico de apoio anual ao consumo de 10.000 patacas”, sendo que o candidato pede mesmo a criação de um Plano de Comparticipação Pecuniária Permanente com o valor a partir de 15.000.

Também os Operários pedem “o estímulo ao consumo, a fim de ajudar os residentes a gastar e a impulsionar a economia”.

No caso da lista 4, da União de Macau-Guangdong, em representação dos naturais de Jiangmen, e liderada pelo académico Joey Lao Chi Ngai, pede-se a “promoção do funcionamento de um ‘Grupo de Trabalho de Coordenação para a Promoção do Emprego, a fim de impulsionar a mobilidade social dos residentes”. É ainda sugerida a revisão dos “diversos regimes de segurança social, devendo aumentar-se o investimento em recursos para apoio de idosos, crianças, pessoas com deficiência e grupos vulneráveis”.

Rómulo Santos

Joey Lao

Consumo não é esquecido

No que diz respeito aos subsídios atribuídos pelo Executivo às chamadas camadas mais vulneráveis da população, crianças, jovens, idosos, doentes crónicos ou portadores de deficiência, todas as listas pedem mais.

No caso do grupo liderado por Song Pek Kei é sugerida a realização de um estudo “sobre a criação de um sistema universal de seguros de saúde, a fim de garantir serviços médicos gratuitos básicos para todos os residentes”. Pede-se ainda um “melhor uso dos recursos para ampliar a cobertura dos serviços médicos e reduzir os encargos das famílias” nesta área. De frisar que o Executivo, além de comparticipar taxas moderadoras para residentes, atribui ainda vales de saúde no valor de seis mil patacas também para residentes.

A lista de Song Pek Kei pega numa das últimas medidas do Executivo de Sam Hou Fai, a criação de um subsídio para a infância, para pedir a sua extensão de três para seis anos da criança beneficiária. Defende-se ainda a criação de “subsídios diferenciados para o segundo e terceiro filhos”, bem como uma licença de maternidade de 90 dias, para aumentar a taxa de natalidade.

Olhando para a lista Nova Esperança, a novidade é o pedido de conversão “dos actuais benefícios [de saúde] em vales de consumo multifuncionais com o valor de 10.000 patacas”, bem como o alargamento da licença de maternidade para 90 dias. No caso do subsídio para a infância, a Nova Esperança defende a sua extensão até aos 12 anos da criança e um pagamento mensal de 2.000 patacas.

Destaque ainda para a defesa do aumento do subsídio a cuidadores informais e famílias monoparentais de 5.000 para 8.000 patacas mensais. Tendo em conta que Coutinho está ligado à Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau, trata-se de uma área a que é dada atenção neste programa político: aumento, entre 30 a 50 por cento, “da remuneração base, em substituição dos 100 pontos da tabela indiciária, aos agentes das Forças de Segurança”, defendendo-se também a “aposentação voluntária após 20 anos de serviço”.

No caso da lista 6, Aliança do Bom Lar, liderada por Wong Kit Cheng, faz-se o apelo a mais e melhores medidas para os pais: “aumentar o número de licenças parentais e de acompanhamento a exames pré-natais”, lê-se, fazendo-se também a defesa de “horários de trabalho mais flexíveis e deduções fiscais pelo número de filhos a cargo”.

Numa visão geral dos programas, importa referir que em seis listas do sufrágio directo, apenas a lista Nova Esperança usa as duas línguas oficiais, o português e chinês. No sufrágio indirecto há mais grupos a fazer esta aposta, como a União dos Interesses Empresariais de Macau e União dos Interesses de Profissionais de Macau. Não existem programas em inglês. Estas eleições pautam-se pela saída de deputados como Ron Lam U Tou, Chan Chak Mo, Chan Hong e Lei Chan U.

O que os indirectos querem

No sufrágio indirecto há uma novidade: a entrada do empresário Kevin Ho, sobrinho de Edmund Ho, para a lista liderada por José Chui Sai Peng, a “União dos Interesses Empresariais de Macau”, que representa os sectores industrial, comercial e financeiro. Destaque, neste grupo, para a entrada de Si Ka Lon, que sempre concorreu pela via directa. Este grupo defende “o apoio à transformação digital e de alta tecnologia para modernizar indústrias tradicionais e desenvolver sectores emergentes”, prometendo ainda “escutar atentamente as dificuldades e reivindicações das indústrias comercial e financeira, especialmente as pequenas e médias empresas”.

Kevin Ho

A União dos Interesses de Profissionais de Macau, liderada por Iau Teng Pio, subdirector da Faculdade de Direito da Universidade de Macau, defende a luta pela “capacitação da diversificação da economia em conformidade com a força profissional” e “a articulação das normas de Macau e Hengqin”. Para tal, sugere a criação de uma “zona experimental da aplicação” dessas mesmas normas, explorando-se “um mecanismo de execução directa e transfronteiriça de arbitragem”. Segue-se o desejo de “fortalecer a competitividade internacional do Direito”, incentivando-se “talentos excepcionais a estudar no Interior da China”.

Um rosto pela Educação

Ho Ion Sang, um rosto que nos habituámos a ver no sufrágio directo, concorre novamente pelo sufrágio indirecto, sozinho, em representação do sector da educação, com a Associação de Promoção do Serviço Social e Educação.

O candidato pede a “implementação de medidas de apoio à saúde mental” bem como a “melhoria da qualidade geral dos serviços médicos de Macau e eficácia no atendimento”. Ho Ion Sang promete lutar por medidas que olhem “o impacto da baixa natalidade no sistema educativo” e por mais “apoio à educação inclusiva e escolas do ensino especial”.

A empresária Angela Leong junta-se pela primeira vez a Ma Chi Seng para juntos concorrerem pela União Cultural e Desportiva do Sol Nascente, em defesa da cultura e desporto. Uma das ideias passa por “solicitar que o Governo oriente a utilização dos elementos não relacionados com o jogo [das concessionárias] para apoiar actividades culturais e desportivas locais”.

Na lista “Comissão Conjunta da Candidatura das Associações de Empregados”, liderada pelo deputado Lam Lon Wai, defende-se a melhoria de infra-estruturas, a “redução dos custos de negócios e a facilitação do comércio e investimento”. Pede-se a promoção da “partilha dos benefícios do desenvolvimento económico com os empregados”, estabilizando-se um “mecanismo de crescimento salarial”.

Na União das Associações de Trabalhadores, liderada por Leong Pou U e Choi Kam Fu, é sugerida “a melhoria da protecção dos direitos laborais e dos trabalhadores”, bem como “a protecção dos direitos básicos das trabalhadoras, melhorando-se as infra-estruturas de apoio infantil”. Defende-se ainda o “ajustamento dinâmico do salário mínimo para garantir as necessidades básicas de vida”.

5 Set 2025

60 mil pessoas assistiram em Macau à parada militar de Pequim

Um total de 60 mil pessoas assistiu ontem à transmissão em directo da “Cerimónia Comemorativa do 80.º Aniversário da Vitória da Guerra de Resistência do Povo Chinês contra a Agressão Japonesa e da Guerra Mundial Antifascista”, que decorreu no Pavilhão Polidesportivo da Universidade Politécnica de Macau e no Complexo Desportivo da Universidade de Macau, bem como outros locais.

Segundo um comunicado oficial, as 60 mil pessoas englobam estudantes e funcionários públicos. Várias ” instituições de ensino superior e não superior organizaram sessões para os estudantes assistirem à transmissão em directo nas instituições de ensino”. Além disso, “vários departamentos do Governo organizaram também sessões para os funcionários públicos assistirem à referida actividade”.

A cerimónia em questão incluiu a parada militar que decorreu em Pequim, na Praça Tiananmen, e que juntou vários chefes de Estado. Desta forma, entende-se que os 60 mil participantes de Macau “uniram-se à pátria e ao povo para recordar a história, prestar homenagem aos mártires, valorizar a paz e criar um grande futuro”.

Lembrar as lutas

André Cheong, secretário para a Administração e Justiça, recordou que “há 80 anos o povo chinês alcançou vitórias significativas na guerra contra a agressão japonesa após a persistência e resiliência de 14 anos de lutas sangrentas”, sendo que as “vitórias foram um ponto de viragem histórico, em que a nação chinesa passou da humilhação para o renascimento”.

Segundo o canal chinês da Rádio Macau, Kong Chi Meng, director da Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ), a transmissão em directo da parada militar em Pequim constituiu uma espécie de “primeira aula do novo ano lectivo e uma prática viva de educação patriótica”.

Por sua vez, também as concessionárias de jogo se uniram a este evento. Foi o caso da MGM China, que nos empreendimentos MGM Macau e MGM Cotai organizou a transmissão em directo da parada “nas salas de refeições dos membros da equipa e zonas de bastidores” de funcionários, dando às equipas “a oportunidade de testemunhar este momento memorável juntos e partilhar o orgulho pela prosperidade e força da nação”, refere a operadora em comunicado. Foi ainda acrescentada uma zona de visualização da parada no MGM Cotai Grande Salon.

II Guerra | Sam Hou Fai destaca “compatriotas de Macau”

O Chefe do Executivo, Sam Hou Fai, destacou ontem, a propósito da cerimónia de comemoração do 80.º Aniversário da Vitória da Guerra de Resistência do Povo Chinês contra a Agressão Japonesa e da Guerra Mundial Antifascista, que “todos os compatriotas de Macau irão recordar a história, prestar homenagem aos mártires e valorizar a estabilidade que não foi nada fácil de alcançar”.

O evento, que se realizou na Praça Tiananmen e contou com a organização de uma parada militar que reuniu chefes de Estado de todo o mundo, teve tambem a presença do Chefe do Executivo da RAEM. Este lembrou ainda, citado por um comunicado oficial, que “durante os 14 anos de resistência contra a agressão japonesa, o Partido Comunista da China defendeu e persistiu sempre numa frente unida nacional contra a agressão japonesa, desempenhando um papel fundamental”.

3 Set 2025

Jorge Figueira, arquitecto e académico da Universidade de Coimbra: “As relações heróicas” de Macau

Há muito que escreve e pensa a arquitectura, e desde vez Jorge Figueira, arquitecto, académico da Universidade de Coimbra, fá-lo em Macau. Depois de uma sessão esta semana em que destacou o antigo complexo de habitação pública do Fai Chi Kei, de Manuel Vicente, Jorge Figueira aborda hoje na Fundação Rui Cunha o legado de Nuno Portas

 

Participa hoje na conferência “Nuno Portas: da Arquitectura ao Urbanismo, do Homem à Cidade”. Que legado deixou este arquitecto português?

Nuno Portas é alguém que já no final dos anos 50 tem uma actividade crítica que é totalmente inovadora e pioneira no contexto português. Depois, já nos anos 60, teve uma actividade mais internacional, tendo sido o primeiro a divulgar a obra de Siza Vieira. Foi aí que teve os primeiros contactos com arquitectos espanhóis e italianos, fundamentalmente. Também nesses anos escreveu dois livros que também eram invulgares, como “Arquitectura para Hoje”, em 1964, e “Cidade como Arquitectura”, de 1969. Foram também uma forma extraordinária de tentar apanhar o que se passava em termos de correntes internacionais na arquitectura. Mas depois teve também uma [importante] actividade como arquitecto ao lado de Nuno Teotónio Pereira, nomeadamente na obra da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Lisboa, e numa casa em Vila Viçosa. Depois, com o 25 de Abril de 1974, foi nomeado secretário de Estado da Habitação e Urbanismo e lança o SAAL – Serviços de Ambulatório ao Apoio Local, um programa de habitação social completamente revolucionário, de acordo com o espírito da época. Depois Nuno Portas dedicou-se mais às questões do urbanismo e não tanto da arquitectura. Esteve ligado ao início da Expo 98. Acaba por ser alguém que nos últimos 20 anos do seu trabalho passa a ter preocupações mais científicas e sociológicas, e menos artísticas. É algo que teve desde o início, mas depois passa a ser o cento da sua actividade.

Nuno Portas teve alguma relação com Macau?

Penso que as relações não seriam tão intensas em comparação com outros arquitectos e contextos, mas sabemos que Nuno Portas esteve em Macau a convite do Governo para uma conferência, entre 2001 e 2002. É interessante porque dessa passagem temos ecos daquilo que aconteceu, como a surpresa dele ao descobrir o orfanato Ellen Liang de Manuel Vicente, que não conhecia. Foi a primeira obra de Manuel Vicente em Macau, dos anos 60, e sabemos que Nuno Portas ficou emocionado ao visitar essa obra, sobretudo a pequena capela que existe no orfanato. É interessante porque não havia uma relação directa entre Manuel Vicente e Nuno Portas, são figuras em pólos muito diferentes, e até opostos. Há também uma referência interessante e positiva ao plano do Siza [Vieira, Plano de Expansão da Cidade de Macau (Areia Preta e Porto Exterior, de 1982], e que quando Nuno Portas visita Macau está a ser construído. É interessante que tenha comentado esse plano porque nos anos 60 e 70 a relação entre Nuno Portas e Siza Vieira já não era a mesma, e o facto de ter feito referências elogiosas a Siza é muito interessante.

Foi aluno de Nuno Portas. Que outros aspectos da sua carreira ou personalidade pode destacar?

Também trabalhei com ele. Ele era um homem culto, muito inteligente e com uma memória avassaladora. Era alguém que gostava de provocar, mas no bom sentido, de discutir, de contrariar. Tive a sorte de manter um diálogo com ele de décadas, e será esse meu conhecimento pessoal que irei transmitir. Também reparo que era um homem muito próximo do poder de Lisboa, dos partidos, mas sempre muito independente. Era amigo pessoal de Jorge Sampaio, foi secretário de Estado, mas nunca teve grande protagonismo político. Por um lado, isso deve-se à sua independência, mas por outro ele era uma figura tão controversa e inteligentemente inquieto, que penso que o poder também se assustava com ele.

Esta semana falou também na conferência “Lisbon, Porto, Macau, Maputo: Heroic Collective Housing from the 60s & 70s”. Como descreve os projectos de habitação pública de Macau nesses anos?

Há muitos arquitectos sobre os quais poderia falar, mas concentrei-me na obra de Manuel Vicente em Macau, nomeadamente o complexo de habitação pública no Fai Chi Kei, que foi demolida e depois deu origem ao projecto de Rui Leão e Carlota Bruni. Não falei concretamente de arquitectos portugueses ou macaenses, também temos nomes como, por exemplo, José Maneiras. Até porque os arquitectos portugueses sempre foram poucos em Portugal, e a partir dos anos 50 existiam cerca de 150, aumentando depois muito em número. Mas fiz [na conferência], uma homenagem aos arquitectos portugueses que construíram nesse período, porque num território complexo e com as suas vicissitudes, diferentes das que existiam em Portugal, souberam fazer experiências arquitectónicas no campo da habitação pública extraordinárias. Tentei demonstrar o que estava a acontecer em Lisboa, Porto, Macau e Lourenço Marques, actual Maputo, de formas diferentes. Em Macau estabeleceram-se relações, que chamo de heróicas, no sentido em que foram relações de arquitectura experimental, em que as pessoas tiveram de se adaptar, ter um espírito próprio. Tratam-se de arquitecturas já com um pouco de história, pois passaram 50 ou 60 anos, mas continuam a ser marcantes os exemplos que encontramos nestas cidades.

Que projectos destaca destes anos?

Falei do empreendimento habitacional “Pantera Cor-de-Rosa”, de Gonçalo Byrne, em Chelas, Lisboa. Mostrei os “Cinco Dedos”, de Vítor Figueiredo, também de Lisboa, e o “Bairro da Bouça”, de Siza Vieira, no Porto. Mostrei o complexo do Fai Chi Kei, de Manuel Vicente, e um projecto de Pancho Guedes em Moçambique. Apesar de já serem longínquas no tempo, trata-se de arquitecturas que permanecem referências fundamentais dos pontos de vista cultural e arquitectónico. Há uma espécie de sorte narrativa de poder falar de sítios tão diferentes, e com arquitectos tão diferentes, e mostrar como tiveram esse lado heróico, experimental, comovente, até radical, que tinha a arquitectura desse período em particular.

Macau teve uma evolução positiva no que diz respeito à oferta de habitação pública?

Cheguei em Agosto e tenho visitado o território nos últimos anos, pelo que venho acompanhando um pouco esse processo. Macau é, obviamente, um território extraordinário e desde logo pela coexistência de culturas muito diferentes no que se refere à habitação, que aqui tem uma escala e expressão completamente distintas da portuguesa. Em Portugal há uma aversão às torres de habitação pública, sempre foi algo invulgar e os resultados que se conhecem não foram bem-sucedidos por razões diversas. Mas em Macau é exactamente isso que vemos, habitação pública em torres e com uma expressão muito forte. Isso tem a ver com as características do território e também com uma certa cultura da China e de Hong Kong. Isso não quer dizer que tudo o que está a ser construído em Macau seja bom, há torres e edifícios com soluções menos interessantes ou que decorrem de uma certa repetição. Mas não há nenhuma cidade que só tenha boa arquitectura ou boa habitação pública. O desafio está em resolver o problema da habitação em larga escala, algo que deve ser estudado e pensado. É bonito e avassalador ver que Macau é um território que cresce dia após dia e é excitante observar isso também do ponto de vista da arquitectura. É isso que estou a fazer, a trabalhar em projectos futuros.

Projectos de análise, ou académicos?

Sim, sou professor e investigador na Universidade de Coimbra e colunista do jornal Público, então o meu trabalho é muito analisar e investigar. Já publiquei muito sobre Macau e quero retomar algumas pontas que deixei para resolver, digamos assim. Estou muito estimulado com tudo o que tenho visto e as pessoas com que tenho falado, e se calhar vou aumentar o meu trabalho sobre o território do ponto de vista académico e no plano da investigação.

Numa altura em que Portugal tem um problema crónico de habitação, com falta de habitação pública, Macau poderia ser um exemplo?

De forma directa não, por causa da questão tipológica da torre habitacional. Poderia não ser um modelo bem-vindo no contexto português. Mas sem dúvida que Portugal precisa de aprender com outras experiências e outros territórios e precisa de encontrar soluções. Seguramente que o que se passa em Hong Kong e Macau são experiências que interessa muito conhecer, não para replicar, mas sim para perceber que se trata de um problema global [a falta de habitação].

Lembrar Nuno Portas

A Fundação Rui Cunha (FRC) recebe hoje, a partir das 18h30, a conferência “Nuno Portas: da arquitetura ao urbanismo, do homem à cidade”, com Jorge Figueira. Será tempo de falar de um percurso que o recém-falecido arquitecto iniciou em 1959, com um texto sobre a nova geração do Movimento Moderno em Portugal. Seguiram-se textos nos anos 60 e 70 com “abordagens científicas”, com Nuno Portas a deambular por entre a arquitectura e o urbanismo, sempre de forma reflexiva. Nuno Portas foi uma “figura multifacetada, mais conhecida por ter lançado o programa de habitação social SAAL, que ainda hoje é alvo de investigação e um exemplo”, descreve Jorge Figueira numa nota. O orador está ligado ao Centro Estudos Sociais e Departamento de Arquitectura da Universidade de Coimbra.

3 Set 2025

AL | Coutinho diz que eleições “são das mais difíceis de sempre”

Pouco dinheiro para gastar e a esperança no “voto do coração” para eleger. Foi desta forma que a lista Nova Esperança, liderada por José Pereira Coutinho e candidata às eleições para a Assembleia Legislativa, apresentou ontem o seu programa político com foco no emprego e habitação. O grupo espera eleger, pelo menos, um deputado

 

Assumem que estão numa posição desfavorável face a listas ligadas a associações tradicionais de Macau, como a Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), entre outras, por uma questão orçamental e de recursos. Por isso, a lista Nova Esperança, liderada pelo deputado José Pereira Coutinho, assume ter esperança no “voto do coração” para conseguir eleger para o hemiciclo, havendo confiança “na obtenção de um lugar”.

As eleições do dia 14 de Setembro para a escolha dos deputados à Assembleia Legislativa (AL) serão, por isso, “uma das mais difíceis que temos”, referiu o número dois da lista, Chan Hao Weng. Ainda assim, os membros da Nova Esperança estão “confiantes em obter um lugar”, disse José Pereira Coutinho na conferência de imprensa de ontem para a apresentação do programa.

“Nós falamos as verdades que os outros calam”, foi uma das mensagens deixadas por Coutinho ontem, que prometeu não esquecer o facto de muitos portugueses estarem a trabalhar em Macau com blue card.

“Temos conhecimento pessoal de muitos portugueses que estão em áreas técnicas, nas concessionárias, em engenharia, arquitectura ou gestão, e não se importam de ter, por enquanto, esse documento, mas o essencial está no salário que ganham. Eles ganham bem e estão satisfeitos, mas esse assunto não vai ser deixado de parte por nós, porque vamos continuar a lutar para que seja reposta a situação do passado e possamos atrair mais portugueses a trabalhar em Macau”, referiu Coutinho.

O deputado começou a conferência por responder aqueles que acusam a lista Nova Esperança de ser “uma lista de velhotes”. “Ora bem, o segundo candidato [Chan Hao Weng é um funcionário público activo. Chamam-lhe velho, mas ele tem cinquenta e tal anos, não tem idade para se aposentar. Vejamos o quarto candidato jovem, Chester Chen. Tem cara de velho?”, questionou.

Relativamente à falta de emprego dos jovens, foi referido o exemplo de licenciados locais a fazer trabalho parcial em feiras, como foi o caso da “ZAPE com Sabores”. “Na actividade realizada na Rua de Pequim vimos jovens formados em medicina a dar bilhetes de descontos. É uma falta de respeito, e porque não se dá oportunidade a estes jovens para estagiarem no hospital? No nosso programa temos a secção ‘Emprego para Todos’ em que propomos formar jovens para depois terem estágios na Função Pública e poderem integrar rapidamente” a Administração, referiu Rita Santos.

Casas para procriar

Outro ponto referido no programa eleitoral da Nova Esperança, passa pela construção de habitação pública “com dimensões e dignidade para que [os candidatos] construam uma família”, tendo em conta a necessidade do aumento da taxa de natalidade.

“Construir casas só com um quarto é o mesmo que dizerem aos jovens que têm essas casas para nunca procriar e que não vão constituir família ou casar. Por isso propomos casas para todos com dimensões que tragam dignidade, e isto não é nenhuma invenção nossa, trata-se de um sistema que tem sido utilizado pela Direcção dos Serviços de Finanças nos últimos 40 anos na atribuição de casas”, explicou Coutinho.

A Nova Esperança olha também para a “capacidade financeira das famílias”, pelo que “elevar a comparticipação pecuniária é fundamental para elevar a qualidade de vida”, disse o deputado. “As pessoas vivem na China porque é tudo muito mais barato, e mesmo agora, com a queda brutal das rendas de casa, as pessoas não têm vontade de voltar a Macau, porque tudo o resto é mais caro. Por isso propomos um plano de comparticipação pecuniária permanente com o valor mínimo de 15 mil patacas e dar um cartão de consumo de 10 mil patacas para aumentar o consumo interno”, rematou.

2 Set 2025

Ilha Verde | Incertezas em torno da recuperação do convento jesuíta

Escondido no meio da colina, o convento da Ilha Verde continua à espera de recuperação plena. O local foi recentemente palco de um festival de cinema experimental, demonstrando potencialidades para acrescentar um novo espaço cultural à cidade. Porém, o proprietário queixa-se de custos elevados e dificuldades financeiras

 

Falar das paredes meio abandonadas e vazias do convento da Ilha Verde, situado na pequena colina na zona norte da península, implica recuarmos aos primórdios da presença portuguesa em Macau e dos jesuítas, nomeadamente a meados do século XVII. Nessa altura, Macau já era um território de trocas comerciais entre portugueses, estrangeiros e chineses, entrando na rota asiática do comércio de especiarias e outras matérias-primas.

Só assim se pode compreender a importância deste edifício classificado que está num terreno com propriedade privada. O Instituto Cultural (IC) quer ver o edifício renovado em parceria com o dono, depois de anos e anos de um processo arrastado nos tribunais entre duas empresas para provar a verdadeira propriedade do terreno.

Apesar do quase abandono, o convento da Ilha Verde acolheu este Verão um festival de cinema ao ar livre, mostrando as potencialidades do local enquanto novo espaço cultural. O evento em questão foi o Festival de Cinema Experimental de Macau, organizado pela Associação Audiovisual CUT.

Ao HM, o curador do festival, Keng U Lao, explicou que o “espaço está actualmente a ser alvo de obras de renovação”, e que para o festival foi usada a zona do jardim e “algumas salas do edifício”.

Para o responsável, o convento da Ilha Verde “é um local fantástico para eventos culturais, e tanto os proprietários como a equipa foram incrivelmente acolhedores e prestáveis”. Foto: Associação CUT

O curador do festival de cinema entende que o convento é “uma joia que poucos locais visitaram”, tendo estado “encerrado por mais de uma década”. “Talvez essa seja a razão pela qual o nosso público esteve tão entusiasmado para assistir ao evento de encerramento e explorar o espaço, pois tivemos lotação esgotada”, descreveu.

Segundo Keng U Lao, e tendo em conta a natureza experimental do festival, procurou-se “utilizar de forma criativa os espaços disponíveis para as projecções, performances e instalações audiovisuais, permitindo o cruzamento com a arquitectura única do local”.

Para o curador, o convento da Ilha Verde poderá ser “um excelente local para eventos culturais, incluindo exposições de artes visuais, espectáculos, eventos musicais e sessões de cinema”.

Conflito com mandarins

Em 1618 teve início um conflito entre a Companhia de Jesus, que já então estava sediada na Ilha Verde neste convento, e as autoridades chinesas locais, devido à utilização do espaço pelos jesuítas portugueses. É um conflito que, segundo a obra “Macau: Poder e Saber – Séculos XVI e XVII”, só termina a 3 de Fevereiro de 1621 quando o Senado intervém, sanando-se por completo a 14 de Agosto do mesmo ano, continuando os jesuítas a viver na Ilha Verde sem, porém, se afirmarem como proprietários de alguma coisa.

Descreve o historiador que os jesuítas ali puderam permanecer “com autorização dos mandarins e sem reclamarem a posse”, sendo que antes de Julho de 1621 ocorreu “a demolição de edifícios por ordem das autoridades distritais chinesas”.

Mais do que um punhado de paredes antigas, no convento da Ilha Verde prova-se parte da actividade e presença dos jesuítas em Macau, bem como questões políticas que sempre marcaram o território, nomeadamente quem exercia a soberania de facto sobre Macau.

“O episódio da Ilha Verde é exemplar a vários títulos, mas acima de tudo serve para mostrar até que ponto está sinizada a oligarquia de Macau e até que ponto o Senado consegue intermediar conflitos entre poderes oficiais chineses distritais e regionais (…)”, lê-se no livro de Luís Filipe Barreto.

Ao longo dos anos, o convento e o terreno adjacente foram passando de mão em mão até virem parar às de Jack Fu, que conseguiu ver provada em tribunal, em 2022, a propriedade do convento por parte da sua Companhia de Desenvolvimento Wui San.

Aquando da vitória judicial, Jack Fu lamentou que “o processo tenha decorrido de forma tão lenta”, tratando-se de uma “disputa que decorreu durante mais de dez anos”. Perante os jornalistas, Jack Fu prometeu encontrar “equilíbrio entre o desenvolvimento e a preservação do espaço”.

Dificuldades financeiras

O HM procurou saber o que tem sido feito desde então. Percebe-se que permanecem incertezas sobre o futuro do espaço, com muitas questões orçamentais à mistura. Já foram feitas algumas obras inteiramente suportadas pela Companhia de Desenvolvimento Wui San, mas falta uma estratégia de longo prazo.

“O IC exige o restauro do convento no seu estado original”, disse Jack Fu. “Temos feito o nosso melhor e nestes anos [desde 2022] a empresa tem feito muitas coisas. Se o convento tiver de ser todo restaurado no seu estado original não consigo avaliar quanto dinheiro isso vai custar porque a capacidade [financeira] da nossa empresa é limitada. Penso que poderá custar entre dezenas e até 100 milhões [de patacas]”, apontou.

Assim, as tarefas que a Companhia de Desenvolvimento Wui San tem feito desde 2022 passam pela remoção do lixo, recuperação de algumas infra-estruturas e destruição de construções ilegais ou que estavam em risco de queda. De frisar que o antigo convento, numa altura em que a sua propriedade estava por definir, chegou a servir de casa a trabalhadores da construção civil que ali alugavam quartos, vivendo em condições precárias.

“Fomos fazendo a manutenção de vários espaços conforme a nossa capacidade, mas não conseguimos restaurar o convento por completo ao seu estado original”, declarou.

Jack Fu diz ter gasto até à data “entre 10 a 20 milhões [de patacas]” na recuperação de algumas zonas do convento, não conseguindo avançar com uma data para o restauro completo. “Tudo depende da situação financeira e se houver capital suficiente. Pode ser dentro de dois ou três anos, mas se o Governo estiver dependente da reparação apenas pelos privados para que se assuma este grande valor é impossível”, avisou.

O dono do terreno disse que o IC sugeriu à empresa concorrer ao Plano de Apoio Financeiro para a Beneficiação de Edifícios Históricos para a obtenção de “um subsídio de dois milhões de patacas, no máximo, em dois anos”.

“Mas esse valor não vai aliviar o problema”, disse Jack Fu, que teme que o processo de renovação se arraste por anos.

“Por isso propusemos um intercâmbio para que haja um plano ou uma resolução específica”, referindo que “o progresso da restauração é lento e as autoridades apenas pedem a recuperação, não se preocupando com os custos que vamos ter”, acrescenta.

Jack Fu alerta ainda para o facto de a legislação e o Plano Director de Macau contribuírem para atrasar ainda mais a renovação. “O Governo está a trabalhar na Unidade Operativa de Planeamento e Gestão Norte – 1 e não sabemos mais informações. Como tudo tem de estar conforme esse plano apenas podemos apresentar opiniões. Temos proposto várias opiniões às autoridades que as podem aceitar ou ter em conta no futuro.”

Obras terminadas em 2024

Da parte do IC foi referido, numa resposta enviada ao HM, que a colina da Ilha Verde onde está o convento “é um sítio classificado, sendo o terreno de propriedade privada”. “Ao longo dos anos, e nos termos da Lei de Salvaguarda do Património Cultural, o IC tem diligentemente fiscalizado, coordenado e promovido o cumprimento das responsabilidades inerentes aos proprietários no que toca à preservação e gestão, bem como à execução de reparações e manutenções necessárias”, é referido.

Lembrando as “ocupações ilegais que a colina sofreu durante vários, que dificultaram o desenvolvimento das acções de protecção previstas”, o IC pediu “aos proprietários a realização de obras de reparação e reordenamento urgentes”, tendo estas sido “concluídas no início de 2024”.

As obras de que fala Jack Fu foram feitas “segundo as exigências do IC” e passam pelo “restauro e renovação das paredes, janelas, cobertura e colunas da Casa de Retiros”.

Quanto à futura utilização do espaço, como está no foro privado, caberá apenas ao IC solicitar pareceres, sendo que “o organismo pronunciar-se-á no âmbito da protecção do património cultural”.

Para Jack Fu, o convento da Ilha Verde poderá ser “uma base de intercâmbio cultural sino-ocidental, conforme os requisitos do país para Macau e a actual situação” do território. “O que dissemos ao Governo é que Macau é um centro mundial de turismo e lazer, mas falta aqui [Ilha Verde] um complexo de turismo cultural onde os turistas possam passear e permanecer um ou dois dias, então este espaço pode ter esse papel, já que tem a vantagem de estar perto de três postos fronteiriços”, destacou.

Para já, e aparte os elevados custos para reconstruir tudo isto, Jack Fu mostra-se confiante. “O desenvolvimento da zona [Ilha Verde] ainda não começou e só agora o depósito provisório de combustíveis vai mudar de localização. Se for incluindo o nosso terreno, há condições para um grande complexo de turismo cultural.”

2 Set 2025

Concerto | Rapper Travis Scott chega em finais de Outubro

O rapper norte-americano Travis Scott traz a Macau a sua digressão “Circus Maximus World Tour 2025”, esperando-se um concerto agendado para o dia 29 de Outubro na zona de concertos do Cotai criada pelo Governo, “Local de Espectáculos ao Ar Livre de Macau”. Scott marcará também presença noutras cidades asiáticas

 

Há mais de um ano que o rapper norte-americano Travis Scott anda pela estrada em digressão com a “Circus Maximus World Tour 2025” e, desta vez, a paragem marcada na agenda do letrista e músico é Macau. Há dois anos, o rapper levou aos palcos a tour “UTOPIA – Circus Maximus”, apenas na América do Norte, mas agora decidiu prosseguir com os espectáculos pelo mundo, incluindo na Europa e Ásia.

O espectáculo do artista está agendado para o dia 29 de Outubro na zona do Cotai, no “Local de Espectáculos ao Ar Livre de Macau”, com os bilhetes postos à venda a partir do dia 5 de Setembro.

O sucesso tem marcado a carreira de Travis, sendo que esta digressão promete agora trazer aos fãs do género musical rap e ao público em geral uma grande experiência audiovisual.

A digressão arranca no Brasil, mais concretamente em São Paulo, a 6 de Setembro, fazendo depois um périplo pela África do Sul, Índia e Coreia do Sul, seguindo-se, depois da actuação em Macau, espectáculos em Sanya, China, Japão e Abu Dabi.

Esta digressão nasce do lançamento, em 2023, do álbum “UTOPIA”, considerado o disco de hip-hop mais vendido desse ano, tendo estado no primeiro lugar da Billboard Top 200 durante quatro semanas consecutivas. Além disso, no que diz respeito às plataformas de streaming usadas para ouvir música, “UTOPIA” registou mais de 50 mil milhões de streams em todo o mundo, sendo que a plataforma Spotify considerou o álbum de Scott o mais ouvido na primeira semana de 2023. Também a Apple Music confirmou que este álbum bateu records como álbum mais ouvido no dia de lançamento em 2023.

Sucesso desde 2013

“UTOPIA” conta com faixas como “Thank God”, “Hyaena”, “Modern Jam”, “My Eyes” ou “God’s Country”, tendo Travis Scott recebido uma nomeação para um Grammy, considerados os prémios mais importantes da indústria musical.

Dentro do universo do hip-hop Travis Scott é um nome a reter. Nascido na zona de Houston com o nome de Jacques Berman Webster II, o rapper adoptou esse nome artístico e começou a explorar as mudanças do estilo trap com uma abordagem bem mais melódica e experimental. Desta forma, o artista, que também é produtor musical, conseguiu fundir diversas sonoridades como o rap, hip-hop ou R&B.

Travis Scott é considerado um dos artistas mais influentes da nova geração do rap americano tendo em conta o uso do chamado auto-tone e uso de batudas densas, explorando também o lado de linguagem visual que a sua música pode apresentar.

A nomeação para um Grammy com “UTOPIA”, o seu quarto álbum de estúdio, não foi, porém, a única. O artista já tinha sido nomeado oito vezes ao longo de uma carreira que começou a formar-se seriamente a partir do primeiro grande lançamento, em 2013.

Primeiro, surgiu no mercado o projecto discográfico “Owl Pharaoh”, seguindo-se, em 2014, o “Days Before Rodeo”. Estes dois projectos dariam origem ao álbum de estreia produzido em estúdio, simplesmente intitulado “Rodeo”, lançado precisamente há dez anos. Aí, Travis Scott começou a conhecer algum sucesso em termos de vendas e reconhecimento da crítica.

Mas o lançamento de “Birds in the Trap Sing McKight”, em 2016, começou a consagrá-lo como artista, que pela primeira vez teve um álbum seu a entrar para a lista Billboard 200.

Além do seu trabalho na música, Travis Scott criou também a Cactus Jack Foundation. Trata-se de uma organização sem fins lucrativos que tem por missão apoiar os jovens da zona onde nasceu, Houston, com campanhas de recolha de brinquedos, programas de bolsas de estudo para estudantes universitários e apoio no pagamento de despesas relacionadas com educação e projectos criativos.

29 Ago 2025

Sands China | Atingida fasquia de 1,1 mil milhões de visitantes

A operadora de jogo Sands China atingiu a fasquia de 1,1 mil milhões de visitantes desde a entrada no mercado de jogo em Macau, em 2004. Segundo um comunicado, este número constitui “um marco importante nos mais de vinte anos de desenvolvimento da empresa” no território.

A cerimónia de celebração da chegada do visitante número 1,1 mil milhões decorreu ontem no Venetian Macao, que celebra 18 anos de existência no Cotai. “Ultrapassar 1,1 mil milhões de chegadas não é apenas um marco significativo para a empresa, mas também um testemunho da popularidade da oferta turística de Macau e da vitalidade e sustentabilidade do seu desenvolvimento económico”, disse Wilfred Wong, vice-presidente executivo da Sands China.

Nestes anos, a Sands China diz ter feito em Macau um investimento acumulado acima das 134,5 mil milhões de patacas, tendo hoje uma oferta superior a 10 mil quartos de hotel, entre outras valências turísticas.

29 Ago 2025

Ruínas de São Paulo | IC diz que pára-raios podem ser retirados

Leong Wai Man, presidente do Instituto Cultural, referiu ontem que os pára-raios instalados nas Ruínas de São Paulo são reversíveis e não prejudicam a estrutura do monumento. As declarações foram proferidas à margem de uma reunião do Conselho do Património Cultural

 

Afinal os pára-raios instalados junto às Ruínas de São Paulo poderão ser retirados caso haja outras alternativas, não prejudicando a estrutura de um dos monumentos mais icónicos de Macau. Esta confirmação surgiu da presidente do Instituto Cultural (IC), Leong Wai Man, que à margem de uma reunião do Conselho do Património Cultural explicou aos jornalistas que os pára-raios são reversíveis.

Segundo o canal chinês da Rádio Macau, a responsável explicou que a sua instalação teve lugar numa solução de compromisso após o IC ter pedido um parecer à Academia Chinesa de Património Cultural, entidade subordinada da Administração Nacional do Património Cultural.

Leong Wai Man referiu que foram ponderadas questões como o melhor método de instalação dos pára-raios a fim de não prejudicar a paisagem proporcionada pelas Ruínas. Apesar de considerar que a sua instalação pode vir a prejudicar o lado visual do monumento, Leong Wai Man destacou que há necessidade de o proteger contra raios. Assim, o facto de os pára-raios serem reversíveis faz com que caso haja uma melhor solução em termos de protecção e segurança para que no futuro possam ser retirados, diminuindo-se o impacto visual na paisagem das Ruínas.

Questiona Si Ka Lon

Recorde-se que a ideia de colocar pára-raios junto às Ruínas de São Paulo surgiu no ano passado quando um raio atingiu o monumento, o que resultou na queda de uma pedra da fachada, sem que isso tenha resultado em feridos.

Entretanto, o deputado Si Ka Lon interpelou o Governo, em Julho deste ano, sobre se essa seria, de facto, a melhor solução. “Tendo em conta a ocorrência frequente de trovoadas e a fragilidade dos edifícios históricos de Macau, o Governo vai proceder a uma avaliação global das instalações de pára-raios dos edifícios históricos que integram o património mundial de Macau, procedendo a um planeamento uniformizado, inspecção e manutenção do sistema, e à actualização dos respectivos equipamentos, para reduzir os riscos advindos de trovoadas e garantir a segurança das construções e dos residentes?”, questionou.

Si Ka Lon destacou ainda o facto de o actual Regulamento técnico de segurança contra incêndios em edifícios e recintos, responsável pela regulação da instalação dos equipamentos pára-raios, ter algumas imperfeições, pedindo ao Executivo para “tomar como referência as práticas do Interior da China a fim de definir critérios mais rigorosos para a actualização e manutenção das instalações de protecção contra raios”.

Em resposta ao deputado, a Direcção dos Serviços de Solos e Construção Urbana garantiu que estavam a ser instalados pára-raios “tendo em conta a altura, design exterior, materiais de construção, condições ambientais envolventes e a altura das estruturas adjacentes ao Património Mundial”.

No caso concreto das Ruínas, e tendo em conta “tratar-se de um monumento histórico, foi necessário considerar as especificidades do aspecto e estrutura, bem como a localização e o ambiente circundante”, tendo sido recolhidas “informações sobre diferentes tecnologias de pára-raios”, a fim de se instalar um sistema adequado.

No âmbito da reunião de ontem do Conselho do Património Cultural a presidente do IC disse ainda que foram recebidos 19 pedidos de associações, empresas de produção e comerciantes, das áreas dos costumes religiosos, técnicas culinárias e artesanato, para candidaturas ao título de Entidade de Salvaguarda do Património Cultural Intangível. Os nomes escolhidos serão depois divulgados através do Boletim Oficial.

29 Ago 2025

Desemprego | Coutinho alerta para problema premente

Na sessão de balanço da última legislatura da Assembleia Legislativa, os deputados José Pereira Coutinho e Che Sai Wang alertaram para o crescente problema do desemprego em oposição à falta de habitação. Coutinho falou dos cursos superiores que não dão emprego e alertou para a situação de muitos trabalhadores dos casinos-satélite que desconhecem ainda o seu futuro

 

O deputado José Pereira Coutinho considera que o grande problema social e político de Macau é o desemprego, sobretudo dos mais jovens, e que a falta de habitação já passou para segundo plano. “Já não há o problema da habitação, agora é o emprego”, disse na conferência de imprensa que serviu de balanço aos trabalhos do deputado e do seu parceiro, Che Sai Wang, na última legislatura da Assembleia Legislativa (AL).

Sobre o encerramento dos casinos-satélite, Coutinho alertou para o facto de muitos trabalhadores a serem colocados nos casinos das operadoras de jogo não saberem ainda ao que vão.

“Muitos trabalhadores não sabem ainda onde vão ser colocados nas concessionárias. E mesmo sendo alocados, pode ocorrer a situação de não poderem exercer as funções nas quais vinham trabalhando há anos, tendo de desempenhar outras. Isso significa que a médio e longo prazo podem surgir situações de pressão e, devido à idade, os trabalhadores serem obrigados a pedir a demissão, por não terem condições ou por não poderem trabalhar conforme os parâmetros exigidos pela nova empregadora”, explicou.

“Continuo preocupado porque a médio e longo prazo vão surgir as consequências” do encerramento, pois “ou os trabalhadores são transferidos e conseguem dar conta do recado, ou caso contrário serão simplesmente obrigados a pedir a demissão dos cargos”, apontou.

Coutinho destacou também o facto de algumas posições terem salários mais baixos nos casinos-satélite face aos novos cargos a ocupar nas concessionárias. “Este é um problema que temos de ver, não é? Quando os trabalhadores forem transferidos para exercer as mesmas funções nas mesas de jogo, será que vão receber em pé de igualdade como os colegas que já lá estão? Teremos de ver.”

Cursos sem utilidade

No que diz respeito ao desemprego, Coutinho alertou também para o facto de muitos jovens licenciados não conseguirem encontrar trabalho, ou ainda cursos superiores que não garantem acesso ao emprego. “Temos recebido muitos currículos de jovens que não conseguem o primeiro emprego. Isto é grave porque as empresas alegam a falta de experiência dos candidatos”, disse Coutinho.

“Quem é que Macau vai contratar um licenciado em Administração Pública? Duvido, nem o Governo quer. Se forem cursos do privado, ainda pior. Há cursos, mas muitas vezes não são esses os cursos que queremos. E há um problema mais grave, que se passa por exemplo com os licenciados da Universidade de Turismo que também não conseguem emprego”, disse, tendo em conta a capacidade de absorção das operadoras de jogo e “o desaparecimento dos casinos-satélite em Macau no final do ano, que vai trazer uma nova onda de desemprego”.

O deputado deu o exemplo de trabalhadores na última edição da feira “ZAPE com Sabores”. “Há dias estive na feira, na Rua de Pequim, e havia lá dezenas de jovens a trabalhar. Um vai fazer o internato em Medicina, e mais uns quatro licenciados em Turismo e Gestão de Empresas. Estavam ali a fazer biscates, porque não têm trabalho”, exemplificou.

Porém, Coutinho voltou a salientar que uma das razões para o desemprego dos residentes é o facto de “os cargos serem ocupados por trabalhadores não residentes (TNR)”. O deputado congratulou o Governo pelo facto de o “número de autorizações [de TNR] ter diminuído drasticamente”, o que significa que o Executivo “está a prestar atenção” ao tema.

Mil temas num ano

Na legislatura agora terminada, a dupla de deputados apresentou 401 interpelações ao Governo, 371 delas escritas, bem como um total de 107 interpelações antes da ordem do dia, nas sessões parlamentares.

Coutinho afirmou que “o encaminhamento dos doentes do Hospital Conde de São Januário para o Hospital das Ilhas é importante”, esperando que cresça “de forma gradual, para que as pessoas possam ser curadas em tempo útil”.

O deputado falou também da intervenção em casos relacionados com bullying ou as dificuldades sentidas pelas empresas no pagamento dos empréstimos concedidos, pois “os negócios não estão bem devido ao facto de a estrutura do consumo dos habitantes de Macau estar a modificar-se”.

No âmbito da Função Pública, Pereira Coutinho declarou que permanece “a questão da estagnação das carreiras e o problema da nomeação dos cargos de direcção e chefia”, sem esquecer os problemas com as fusões de carreiras, em que os nomes dos cargos e os salários são diferentes, mas as funções são semelhantes. O deputado pede também “a revisão das carreiras nos Serviços de Saúde”.

29 Ago 2025

FAOM | Revelada quebra de direitos em trabalhos administrativos

Um inquérito realizado pela Federação das Associações dos Operários de Macau revela que 30 por cento dos funcionários administrativos inquiridos dizem ter sofrido quebras de direitos laborais, como a falha de pagamento de compensações por trabalho extra realizado. Mais de 80 por cento, diz desconhecer a lei laboral

 

A Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) apresentou ontem os resultados de um inquérito que mostra a quebra de direitos laborais na área do trabalho administrativo e de escritório. Em conferência de imprensa, foi revelado que 30 por cento dos inquiridos dizem ter enfrentado uma quebra nos direitos laborais, nomeadamente por não terem recebido as devidas compensações por trabalho extra realizado.

A deputada Ella Lei, ligada à FAOM, referiu ainda que apenas 27 por cento dos entrevistados está optimista em relação às perspectivas de carreira, referindo que existe uma ligação com a substituição dos trabalhadores locais por trabalhadores não residentes (TNR). A deputada citou dados do Governo relativos a Junho deste ano, quando existiam 900 TNR a desempenhar trabalhos de escritório na área financeira, sendo que mais de metade dessas vagas não eram qualificadas.

Neste contexto, Ella Lei volta a pedir ao Governo que dê prioridade aos locais, devendo ser elaborados, na sua opinião, indicadores sobre a percentagem de residentes e TNR a preencherem o sector financeiro e também em posições administrativas e de escritório. Devem ainda ser disponibilizadas mais acções de formação e incentivos a empresas, aconselhou.

“O Governo tem regulado que as operadoras de jogo têm de ter mais de 85 por cento dos cargos de chefia de médio e alto nível ocupados por residentes. Pensamos que também os empregos de escritório de todos os sectores devem ter definida uma proporção de residentes recrutados, bem como um sistema de promoção laboral para os empregados locais”, defendeu.

Em consonância com a quebra de direitos, uma grande maioria dos entrevistados, 83 por cento, assume ter pouco ou nenhum conhecimento da lei laboral em vigor. Para Ella Lei, este resultado “mostra o quão é importante reforçar os direitos laborais e melhorar a consciencialização dos residentes quanto à legislação”.

A deputada sugeriu que o Governo continue a melhorar uma série de políticas laborais como a revisão da lei das relações de trabalho, o aumento do número de dias de licença de maternidade, o aumento das férias anuais e a melhoria do sistema para pedir o pagamento de salários em atraso.

Ella Lei sugeriu ainda o aperfeiçoamento de instruções para assegurar a segurança de empregados e a retomada de trabalho sob clima extremo.

Pouco apoio mental

Outro ponto abordado no inquérito, diz respeito à saúde mental. Segundo referiu o vice-presidente da FAOM, Leong Pou U, mais de 40 por cento dos entrevistados disseram sentir stress devido ao enorme volume de trabalho a realizar num calendário apertado, lamentando-se também da falta de oportunidades de progressão na carreira.

Além disso, apenas 18 por cento dos inquiridos diz ter recebido apoio psicológico disponibilizado pela empresa, o que demonstra, na opinião deste responsável, que é urgente melhorar o sistema de apoio à saúde mental proporcionado pelas empresas.

Ng Chi Peng, presidente da Associação Geral do Pessoal Administrativo de Macau, apontou que cabe ao Governo, empresas e associações resolverem, em conjunto, os problemas e desafios existentes nos empregos de escritório. O responsável apontou que cerca de um quarto dos entrevistados considerou que o salário não correspondente ao volume de trabalho desenvolvido, sendo que cerca de 19 por cento dos entrevistados disseram não estar satisfeitos com os benefícios recebidos.

O inquérito foi realizado entre Janeiro e Agosto deste ano pela FAOM em parceria com a Associação Geral do Pessoal Administrativo de Macau, tendo sido recebidos 1510 inquéritos válidos.

27 Ago 2025

CCAC | ID volta a contratar empresa que falhou na gestão de piscinas

O Instituto do Desporto (ID) voltou a adjudicar contratos na área da gestão de piscinas públicas à empresa que anteriormente tinha causado problemas, e isto depois de ter promovido um novo concurso público devido a estas ocorrências. O caso foi denunciado ontem pelo Comissariado contra a Corrupção (CCAC) e noticiado pelo canal chinês da Rádio Macau.

Segundo o CCAC, o ID “lançou novo concurso público devido à incapacidade da empresa adjudicatária em cumprir o contrato de gestão de piscinas e serviços de nadador-salvador”, sendo que “a mesma empresa conseguiu, em pouco tempo, voltar a obter contratos do mesmo tipo”. O CCAC entende que “esta prática é inaceitável e difícil de compreender, afectando a imparcialidade e a credibilidade da adjudicação”.

Em causa, estão dois contratos ganhos pela empresa em Março do ano passado, sendo que no período contratual esta não conseguiu contratar “um número suficiente de nadadores-salvadores, o que levou à anulação da adjudicação”. Porém, em Agosto desse mesmo ano, o ID fez alterações e lançou quatro novos concursos para os mesmos serviços, tendo considerado que “a empresa não estava impedida de participar, aplicando os mesmos critérios de avaliação”, pelo que esta entidade voltou a ganhar a adjudicação.

O ID diz ter “concordado com as recomendações”, afirmando que “irá melhorar os procedimentos de concursos públicos”, o que implica cortar qualificações das empresas na lista de critérios para a avaliação das propostas, analisando os históricos dos adjudicatários nos últimos 24 meses. As empresas podem, assim, ser penalizadas em caso de falhas, foi noticiado.

27 Ago 2025

Ponte Macau obriga a rever concessão de terreno no Pac On

O Governo reviu a concessão, por arrendamento, de um terreno concessionado desde os anos 90 à Companhia de Investimento Imobiliário San Fung Hong, Limitada, e que se situa junto ao aterro do Pac On, na Taipa. O terreno em questão tem um prédio construído, nos números 114 a 130 da Rua Wo Mok, e a alteração deveu-se à obra da quarta travessia entre a península de Macau e a Taipa, a Ponte Macau.

Inicialmente, esta concessão foi atribuída para ali se construir uma fábrica de tijolos, “a explorar directamente pela concessionária”, mas depois “a concessão foi revista devido à alteração da finalidade para instalação de uma fábrica de tabaco, a explorar directamente pela concessionária no edifício construído no terreno”, lê-se no despacho publicado ontem em Boletim Oficial.

A partir de 3 de Março de 1998, e devido a “vicissitudes várias”, foi autorizada pelo Governo a “utilização temporária do terreno, a título excepcional, para instalação de um complexo de armazenagem de mercadorias e serviços correlativos pela sociedade Centro de Carga Sino-Macau Limitada”.

Uma vez que a referida empresa “pretende manter a actividade de armazenagem logística que tem vindo a ser desenvolvida no edifício construído no terreno, em 22 de Março de 2021 veio formalizar o pedido de alteração da finalidade do terreno e a consequente revisão do contrato de concessão”.

Menos metros

Porém, com o projecto de construção da Ponte Macau, a empresa desistiu da concessão de duas parcelas do terreno, tendo sido calculadas as devidas contrapartidas devido às alterações de dimensão do terreno. Assim, um terreno que inicialmente tinha 9.450 metros quadrados de área, passou a ter 8.157 metros quadrados concessionados. No passado dia 12 de Junho, a Comissão de Terras deu parecer favorável ao pedido de revisão de concessão. Johnson Choi Chun Sze é referido como o representante legal da Companhia de Investimento Imobiliário San Fung Hong, Limitada.

Na nova concessão mantém-se a finalidade industrial, destinando-se o terreno a “manter o edifício nele construído afecto à finalidade de armazém”.

27 Ago 2025

Exposição | Susana Gaudêncio e Carla Castiajo no Albergue SCM

“Aqueles que nos querem falar”, exposição patente no Albergue da Santa Casa da Misericórdia, junta trabalhos de duas artistas portuguesas que trabalham materiais distintos com mensagens muito próprias. Carla Castiajo tem formação em joalharia e faz peças com cabelo humano, enquanto Susana Gaudêncio opta por trabalhar questões políticas e da linguagem. Um casamento artístico bem-sucedido

 

Na cabeça de Mafalda Santos, curadora da exposição “Aqueles que nos querem falar”, patente no Albergue da Santa Casa da Misericórdia (SCM) até ao dia 30 de Setembro, fez sentido casar as peças de Susana Gaudêncio com as de Carla Castiajo e formar uma espécie de unidade criativa pousada sobre algumas diferenças.

O HM conversou com ambas as artistas no sentido de perceber diferenças e semelhanças entre Susana Gaudêncio, uma artista portuguesa contemporânea com formação feita em Lisboa e Nova Iorque, e Carla Castiajo, mais virada para a joalharia, e que um dia percebeu que podia fazer arte com fios de cabelo humano.

“O que se estabelece desde logo é a ideia de que ambas fazemos objectos em que há sempre uma relação implícita com o corpo”, começa por dizer Carla Castiajo, que levou a Macau trabalhos que remetem para a ideia de uma conexão com o corpo.

“Muitos dos objectos dá para colocar no corpo, e no fundo o cabelo é sempre algo retirado de um corpo, ou que sai do corpo, e a partir do momento em que é cortado pode-se transformar em material, que depois eu trabalho. Esse objecto que construo tem sempre o potencial de ser novamente colocado no corpo, criando-se novos diálogos”, explica a artista.

Carla Castiajo apela a que o público veja de perto as peças patentes no Albergue para poder criar uma relação próxima com aquilo que é exposto, e que vai muito além das redes sociais e das fotografias desses mesmos objectos. “É muito importante ver a exposição pessoalmente porque as imagens nunca conseguem captar o cabelo como material. Cada vez há mais pessoas que vêem os objectos através das redes sociais e muitas vezes não se deslocam para ver os trabalhos, mas no caso específico do meu trabalho é importante observar aquilo que provoca.”

E as reacções face a fios de cabelo que já tiveram vida podem ser muitas, desde surpresa até a medo. “É um trabalho com muitos contrastes e é um material que tanto é atractivo como repulsivo. É um material bastante íntimo, mas que está entre a vida e a morte, porque é considerado um material morto, mas também tem uma parte viva, porque está conectada com a cabeça, sendo o cabelo muito usado em rituais de purificação, por ser considerado um material sujo. Há pessoas que têm fobia do cabelo, que querem tocar, e outras que não o conseguem fazer. Mas nunca ficam indiferentes a algo que já não pertence ao corpo de origem”, explicou.

Histórias do cabelo

Carla Castiajo fez diversas formações em joalharia e seguiu a carreira académica, tendo um doutoramento feito na Estónia em que explora, precisamente, o uso do cabelo como material para fazer arte. A tese de doutoramento intitula-se “Purity or Promiscuity? Exploring Hair as a Raw Material in Jewellery and Art”.

Tudo começou quando Carla procurava um tecido muito fino, acabando por perceber que era possível moldar o cabelo construindo outras formas.

“Estava na minha mesa de trabalho, caiu-me um fio de cabelo e decidi experimentar. Percebi que o fio era bastante resistente e resultou bastante bem. Esse foi o primeiro impulso, o descobrir a potencialidade inerente ao material.”

Carla Castiajo descreve “o simbolismo e potencial” ligados ao cabelo humano, algo que “foi bastante utilizado em joalharia no século XIX e como fio para bordar”.

“Se virmos, o cabelo é um fio, mas está cheio de significados, e mesmo na ausência percebe-se que teve alguma existência. Há algo anterior que está implícito, é um cabelo que veio de alguém com a sua própria identidade e que tem memória”, acrescentou.

Aliás, “no século XIX o cabelo era muito usado como forma de preservar a memória de alguém querido ou da pessoa amada”, frisou a artista.

Simbologia do gesto

No caso de Susana Gaudêncio, que levou duas peças para esta mostra, “Duelo-Dilema” e “Abracadabra”, houve a preocupação de “identificar gestos e formas que falem de questões políticas”, em que se “invoca e revela um potencial encantatório da linguagem e da imagem, como instrumentos de persuasão”, contou a artista ao HM.

Em “Abracadabra”, um trabalho de animação, Susana Gaudêncio trabalhou com imagens de “vídeos de políticos a discursar”. “Olhei sobretudo para os gestos das suas mãos. Depois fiz um vídeo e imprimi cada frame, pelo que foi um processo evolutivo entre o analógico e o digital. Imprimi todos os frames, voltei a desenhar e a pintar, para descobrir mais, a partir do desenho e da pintura, movimentos que nem sempre estão tão óbvios. Esse filme fala sobre isso, sobre essa encenação política do gesto quando se fala”, explicou.

Por sua vez, “Duelo-Dilema” é uma instalação com 65 esculturas em gesso, “tantas quantas as letras do poema mágico Abracadabra”, com origem hebraica, pelo que aqui há uma interconexão entre as duas peças, trabalhando-se os gestos e fazendo-se “uma espécie de acto performativo da construção do poema através de pequenos objectos”, que são ainda “formas que evocam símbolos”.

Susana Gaudêncio, também com uma carreira académica ligada à Universidade do Minho, interessa-se pelas chamadas “máquinas de imaginar”, algo que descreve como sendo “uma espécie de sinónimo da utopia”, a possibilidade de imaginar novas coisas e não “tanto a coisa concretizada”.

Há, portanto, no trabalho de Susana Gaudêncio “o impulso de olhar para as coisas como se fosse a primeira vez, ou de tentar imaginar sempre a partir do real onde vivemos, e a partir daí podermos imaginar outras coisas, a partir do nosso presente”.

Licenciada em Pintura pela Faculdade de Belas-Artes de Lisboa, Susana Gaudêncio fez depois um mestrado em Belas-Artes onde teve a possibilidade de abrir os seus próprios horizontes. “O que Nova Iorque me deu foi ferramentas para olhar as coisas com uma perspectiva e pensamentos críticos. E quando falo em crítico falo da ideia de colocar as coisas em crise, o que questionar. Senti que em Portugal não conseguia obter todas as ferramentas necessárias para poder fazê-lo.”

27 Ago 2025

Emprego | Jovens sem competências para novas indústrias

Um inquérito realizado pela Aliança do Sustento e Economia de Macau revela as duas principais fraquezas dos jovens que procuram emprego: dizem não ter competências para os novos sectores de actividade emergentes e que não existem oportunidades de progressão na carreira e salários elevados correspondentes às suas expectativas

 

A Aliança do Sustento e Economia de Macau quis saber o que se passa com as dificuldades sentidas pelos mais jovens na busca de emprego. Segundo o Jornal do Cidadão, o inquérito realizado em Abril, e divulgado esta segunda-feira, mostra duas grandes dificuldades: a falta de competências específicas para os novos sectores de actividade que estão a surgir, tendo em conta a formação tradicional que têm no ensino superior, e a falta de oportunidades de carreira, com empregos que garantam alguma progressão, e salários elevados. Segundo o jornal, o cenário com que os jovens se deparam é o de pouca competitividade no emprego na obtenção de cargos em posições superiores, sendo que os trabalhos menos qualificados não são atractivos.

O inquérito contou com um total de 985 respostas válidas de residentes, sendo que o grupo de entrevistados com uma idade compreendida entre os 18 e os 24 anos representa 63 por cento do universo inquirido.

Os dados divulgados pela associação mostram que a grande maioria dos empregos disponíveis actualmente estão ligados às indústrias do jogo, serviços e restauração. Os entrevistados dizem não conseguir encontrar trabalhos que vão de encontro às suas preferências e que é difícil encontrar um emprego à medida, sentindo-se desapontados com as ofertas salariais e demais condições.

Além disso, mais de metade dos entrevistados disse não ter nenhuma competência profissional específica, além de terem realizado poucos cursos de formação profissional.

Olhar para fora

Para a equipa que realizou o inquérito, os jovens têm de começar a olhar para as oportunidades de emprego que existem na zona da Grande Baía, composta por nove cidades da província de Guangdong, Macau e Hong Kong.

Lei Io Kuan, vice-presidente da associação e um dos responsáveis pelo estudo, defendeu que cabe ao Governo publicitar mais as ofertas de emprego e demais oportunidades existentes na Grande Baía, criando um portal informativo que disponibilize as políticas de emprego existentes, dados de recrutamento e ofertas formativas para que os jovens tenham um maior conhecimento das oportunidades fora de Macau.

Lei Io Kuan também sugeriu a organização de mais excursões de intercâmbio na Grande Baía e programas de estágio, para que os jovens conheçam de perto o ambiente de emprego e espaço de desenvolvimento nas cidades da região. O responsável sugeriu ainda que o Governo, escolas e empresas cooperem para a criação de cursos de formação correspondentes às necessidades do mercado local, com a devida mudança de conteúdos nos ensinos secundário e superior, em prol de um melhor planeamento de carreira por parte dos jovens.

Por novos sectores de actividade, entenda-se o fomento do sector financeiro e tecnológico, por exemplo, bem como a indústria de “Big Health” ou medicina tradicional chinesa. Tratam-se de áreas a que o Governo quer recorrer em prol da diversificação económica além jogo.

27 Ago 2025

Investigação | Anunciada criação de dois fundos

Sam Hou Fai, Chefe do Executivo, anunciou ontem a criação de dois novos fundos financeiros para alavancar as áreas da investigação científica e do empreendedorismo. “O Governo da RAEM está a preparar a criação de um fundo governamental para as indústrias e um fundo de orientação para a transformação dos resultados científicos e tecnológicos para apoiar o desenvolvimento de indústrias emergentes, como a tecnologia de ponta”, declarou na cerimónia de inauguração dos novos Laboratórios de Referência do Estado em Macau.

Estes dois fundos visam “ajudar Macau a impulsionar o desenvolvimento da diversificação adequada da sua economia e aprofundar a complementaridade entre Macau e o Interior da China para o desenvolvimento comum nas áreas como a inovação científica e tecnológica”, disse ainda o governante.

Os quatro laboratórios inaugurados foram alvo de uma reestruturação, tendo sido aprovados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia da China entre 2010 e 2018. Sam Hou Fau declarou que estes novos laboratórios serão uma “força central do sistema local de inovação científica e tecnológica”, devendo ser “pioneiros e empreendedores, assumir responsabilidades de forma proactiva e identificar, gerir e procurar mudanças”.

Nesta fase, e a par da diversificação económica, Sam Hou Fai diz estar focado na realização de “quatro grandes projectos”, como a construção da Cidade (Universitária) de Educação Internacional de Macau e Hengqin, o Bairro Internacional Turístico e Cultural Integrado de Macau, o “Hub” (Porto) de Transporte Aéreo Internacional de Macau na Margem Oeste do Rio das Pérolas e ainda o Parque Industrial de Investigação e Desenvolvimento das Ciências e Tecnologias.

Laboratórios | Ministro chinês fala em alinhamento estratégico

Yin Hejun, ministro da Ciência e Tecnologia da China, defendeu ontem que os quatro Laboratórios de Referência do Estado inaugurados em Macau passam a ser “uma componente importante da estratégia científica e tecnologia do país”, tendo expressado algumas “expectativas” sobre aqueles espaços.

Segundo um comunicado oficial, estas passam pela capacidade que a comunidade científica e respectivos investigadores destes laboratórios terão de “aproveitar as oportunidades do momento e fortalecer o sentido de missão”, apostando-se na criação de “campeões únicos” em matéria de investigação e “estudantes especializados” em áreas consideradas chave. O ministro espera ainda a criação de “um ambiente favorável para atrair e reunir talentos”.

Aprovados por Pequim entre 2010 e 2018, estes laboratórios passaram este ano a Laboratórios Nacionais Principais, operando em áreas como a medicina tradicional chinesa, engenharia (Laboratório Nacional Principal de Circuitos Integrados Analógicos e de Sinais Mistos), sistemas digitais (Laboratório Nacional Principal de Internet das Coisas para Cidades Inteligentes) e ainda o Laboratório Nacional Principal de Ciências Lunares e Planetárias.

27 Ago 2025