Ilha Verde | Mulher retida no Convento sem acesso a água ou comida

Uma mulher que vive no Convento da Ilha Verde queixa-se de estar retida há seis dias no interior do edifício, sem acesso a água, electricidade ou comida, e acusa a empresa Wui San de ter bloqueado uma via pública

Uma mulher que vive há vários anos no Convento da Ilha Verde está a atravessar uma situação desespero, e acusa a empresa Wui San de lhe ter cortado o acesso à água, electricidade e até a comida. A queixa chegou ao HM, através do primo da afectada, Pedro Cheong, que tentou abastecer a família, mas foi impedido pelo segurança privada contratado pela empresa.

Em causa, está o diferendo entre a empresa que afirma ser proprietária do terreno onde está situado o antigo Convento da Ilha Verde e uma ocupante de longa data do espaço em causa, Cheong Lai Veng, a mulher retida dentro do edifício.

Segundo a versão de Cheong Lai Veng, partilhada pelo primo Pedro, nesta altura ainda não houve uma ordem jurídica de despejo, pelo que os ocupantes podem permanecer temporariamente dentro do Convento.

No entanto, como a empresa defende que o diferendo está terminado, tomou medidas para bloquear o acesso ao espaço, com o envio de seguranças privados para a Travessa de Magnólia, que alegadamente impedem a passagem de todas as pessoas.

Nesta situação, a mulher não só não tem acesso à água nem à electricidade, como ficou sem abastecimento de comida. “Ela está há uma semana sem comida. Já só comia sopas de fitas, mas cortaram-lhe a água. Como é que ela agora pode comer, se não tem água e nós não podemos entregar-lhe comida?”, questiona Pedro Cheong, que partilhou a situação da prima, com o HM. “Querem que ela vá embora do edifício. Se ela ficar, não tem água porque o contador está cortado. Se sair, para ir buscar comida ou ter acesso a bens essenciais, então os seguranças privados não a deixam entrar de volta, que é o que eles querem”, revelou. “Fizeram isto de propósito. O contador está fora do edifício, e eles cortaram a água, o que faz com que ela não tenha condições para sobreviver”, acrescentou.

História antiga

Com a mulher a recusar sair, os familiares tentaram levar-lhe comida, esforços feitos pelo menos por uma irmã e pelo primo. Contudo, quando tentaram circular na Travessa da Magnólia foram impedidos por seguranças privados.

Para Pedro Cheong a situação aparenta ser ilegal, uma vez que seguranças privados não têm competências para fechar vias públicas. “É difícil acreditar que actualmente em Macau acontece uma coisa tão ilegal… E ninguém liga. Ela está quase a morrer de fome e não nos deixam entrar para lhe entregar comida”, desabafou.

Os familiares entraram mesmo em contacto com o Corpo de Polícia de Segurança Pública e com a Polícia Judiciária para apresentar queixa contra o bloqueio da via pública. Contudo, segundo Pedro Cheong as autoridades limitaram-se a responder não terem competências para agir nesta situação. “A polícia não ligou aos nossos pedidos de ajuda, porque dizem que não é da competência deles”, relatou.

O HM contactou o CPSP sobre a ocorrência perto do fim do horário de expediente, mas até ao fecho da edição não recebeu qualquer resposta sobre o assunto. Por sua vez, a Polícia Judiciária remeteu explicações para a sentença proferida pelos tribunais sobre o caso e a propriedade do terreno.

Deputado preocupado

Além de contactar o HM, Pedro Cheong procurou apoio junto do gabinete do deputado José Pereira Coutinho, ligado à Associação de Trabalhadores da Função Pública Macau (ATFPM).

“Esta senhora não tem água, electricidade nem alimentos. Está a passar fome. Cortaram uma via pública e colocaram lá um segurança privado, para ninguém passar. Como é que um privado pode fechar uma rua pública?”, questionou José Pereira Coutinho, em declarações ao HM.

“Ela tem autorização para viver lá dentro. O tribunal disse que ela pode viver ali até ser despejada. Enquanto não houver uma ordem de despejo, ela tem o direito de lá permanecer”, considerou. “É inaceitável que a senhora fique sem comida, água e electricidade. Está muito frio, e ela não tem roupa suficiente para estar sem electricidade”, frisou.

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