Sérgio Fonseca DesportoAutomobilismo | Dallara deixa um recado ao Grande Prémio de Macau [dropcap]E[/dropcap]nquanto a Federação Internacional do Automóvel (FIA) e a Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau discutem qual o rumo a dar à prova de Fórmula 3 do Circuito da Guia, o construtor italiano Dallara, que venceu todas as edições da prova desde 1993, alerta para o facto da prova ter um estatuto a manter e, por isso, deverá ter cuidado na escolha que vai fazer para a sua prova de monolugares. É do conhecimento público que há duas opções em cima da mesa, ambas produzidas pela Dallara, para a continuidade da prova de Fórmula 3 no Circuito da Guia. A primeira é dar as boas-vindas aos novos carros de Fórmula 3 que darão corpo exclusivamente ao novo Campeonato Internacional FIA de F3 e a segunda é manter os monolugares já vistos a competir nas pretéritas edições e que têm homologação até ao final do ano. A primeira opção seria aparentemente uma escolha fácil, se esta não acarretasse obras no circuito, principalmente a nível de segurança, pois os novos Fórmula 3 são mais potentes e rápidos que os da geração anterior. Se a decisão recair em manter em 2019 os carros vistos em 2018, então novas dúvidas poderão surgir já em 2020, podendo a prova ter de recorrer, em último caso, aos monolugares dos regionais de Fórmula 3, menos potentes e espectaculares. Perante este cenário, o construtor de Varano de’ Melegari está a pensar construir um carro, que deverá ser um Fórmula 3 com uma nomenclatura diferente, capaz suprir esta lacuna, tanto em Macau, como noutros palcos internacionais. “Não quero prever nada, mas o nosso proposto novo fórmula está em termos de posição ligeiramente abaixo do que será o carro da F3 Internacional e acima dos carros dos regionais”, disse Jos Claes, o líder do projecto de Fórmula 3 da Dallara, à revista inglesa Racecar Engineering. “Cabe ao Grande Prémio de Macau decidir o que quer. Se quiserem manter as pessoas na sala de imprensa, e isso é o resultado de vários anos da presença de pilotos muito importantes com o carro da F3 Internacional, irão manter a qualidade. Mas se trazem o campeonato regional asiático ou qualquer coisa parecida, então a atenção será muito diferente.” O belga, que há muitos anos é o cérebro por detrás da operação de sucesso da Dallara na categoria, aproveitou também para lembrar que a prova do território tem um estatuto a manter. “Como Grande Prémio, ter o direito de usar o título Grande Prémio sem carros de Fórmula 1, tens que ter cuidado para não desceres muito.” O Grande Prémio de Macau e o Grande Prémio da Nova Zelândia são os únicos dois eventos com o estatuto FIA de “Grande Prémio” para além das provas do mundial de Fórmula 1. Questão de peso A decisão sobre o futuro da prova de Fórmula 3 no território é esperada para breve, sendo que a FIA nunca escondeu que gostaria de manter a Taça do Mundo FIA de Fórmula 3 na RAEM e para isso a prova terá que certamente abraçar os novos carros. Por isso mesmo, o novo Campeonato Internacional FIA de F3 termina em finais de Setembro para dar às dez equipas tempo para preparar a viagem a Oriente, tendo estas no seu calendário provisório uma visita a Macau em Novembro. O Circuito da Guia tem a homologação Grau 3 da FIA, o que lhe permite albergar qualquer tipo de competição automóvel com uma relação peso/potência de dois a três quilos por cada cavalo de potência. O novo Fórmula 3 tem 350 cavalos de potência, mas o seu peso é por enquanto uma incógnita. Contudo, um peso mínimo de 700 kg seria necessário para atender aos requisitos actuais do Circuito da Guia, o que é pouco provável já que estes deverão ter um peso mínimo igual ou inferior aos Fórmula 1 (660 kg). Visto que tornar os carros mais pesados só para estes competirem em Macau parece fora de questão, melhorar a segurança da pista, para que esta possa receber a homologação de Grau 2, é a alternativa mais viável. Receios sobre a velocidade de ponta acima dos 300 km/h que estes carros podem atingir, após o aparatoso acidente de Sophia Floersch, podem ser minimizados pelas palavras Didier Perrin, o director técnico da FIA para a F3, que em declarações à revista AUTO referiu: “vamos limitar o downforce dos carros nas corridas. Para os treinos-livres e qualificação, os pilotos podem usar o potencial máximo do downforce, mas para a corrida iremos limitar o ângulo da asa traseira para termos a certeza que a distância de travagem será um pouco mais longa.”
José Simões Morais h | Artes, Letras e IdeiasFim da emigração por contrato em Macau [dropcap]O[/dropcap] Regulamento de 1872 sobre a emigração fora elaborado por uma comissão composta por Jerónimo Pereira Leite, Júlio Ferreira Pinto Basto, Lúcio A. da Silva, P. G. Mesnier, Hermenegildo Augusto Pereira Rodrigues e J. E. Scarnichia, sendo esse uma compilação de disposições dispersas em portarias e regulamentos, harmonizadas e acrescentadas conforme se julgou mais próprio para combinar a liberdade do emigrante com as garantias que deve dar o contratador. “Macau ficou com o monopólio do fornecimento de trabalhadores chineses para algumas repúblicas americanas; triste e precário resultado, para nós, depois de três séculos de trabalhos e lutas. Uma população numerosa, activa e inteligente, esteriliza-se em especulações sem futuro, vivendo com pouca dignidade à sombra de capitais estrangeiros (espanhóis e peruanos). A instrução pública vai-se anulando porque tais empregos, os únicos que se oferecem, não demandam cultura intelectual, e a população portuguesa de Macau achar-se-á reduzida à mais triste incompetência no dia em que a América disser: Não precisamos de mais cules>. Nesse dia, que todos julgam mui distantes, há-de forçosamente chegar e é tempo que principiemos a tomar precauções. É necessário que a emigração chinesa se torne pouco a pouco a mais insignificante fonte de receita para os habitantes de Macau, desenvolvendo-se quanto for possível os recursos comerciais desta colónia que melhor lhe podem assegurar um futuro estável”, segundo a Gazeta de Macau e Timor. Ainda neste semanário aparece transcrito do jornal The Weekly Herard de New York de 5 de Outubro: Havana, 27 de Setembro de 1872. Quinhentos cules, com $70.000 de suas economias voltaram para os seus lares na China. “Naturalmente estes chineses já terão chegado, ou estão a chegar às suas terras, tendo vindo pelos paquetes da companhia de mala do Pacífico, como já têm vindo muitos outros. Quando ardeu recentemente em Yokohama, o vapor America, se conheceu que muitos passageiros chineses traziam consigo grandes somas de dinheiro, tendo alguns até mais de 3000 patacas. Regressavam eles naturalmente de Havana ou de Peru, tanto assim que um deles era casado com uma peruana. À vista destes factos, se atreverão ainda a dizer que os chineses que vão para Havana e Peru, não voltam mais à sua Pátria?” “Em 1873 fez-se uma emenda a favor dos trabalhadores contratados, reduzindo o prazo do seu contrato de oito para seis anos [e findo este, a condição de terem a passagem de regresso]. Além disso, os cônsules portugueses em Cuba e no Peru comunicavam ao governo de Macau as condições dos emigrantes à chegada e, tanto quanto possível, velavam pelo seu bem-estar lá”, Montalto de Jesus (MJ). “Os governos europeus de Hong Kong e de Macau aperceberam-se claramente da necessidade de acabar com a rede de intermediários e com a satisfação de interesses internacionais assentes na emigração contratada. Os tempos e os modos de reacção foram diferentes, como diferente tinha sido o começo da actividade. Hong Kong proíbe primeiro a emigração por contrato, para fora do Império Britânico, em 1866, confirmando a lei em 1868, 1870 e 1873. Macau mantém por mais uns tempos a situação, disciplinando-a com múltiplas advertências do Executivo”, Beatriz Basto da Silva. Em 1873, o governo de Hong Kong promulgou três portarias, Ordinances “para cortar a ligação de Hong Kong com o tráfico de cules em Macau e para proteger os emigrantes chineses, dos dois sexos, que partiam de Hong Kong”, segundo Liu Cong e Leonor Diaz de Seabra, que referem, “a 24 de Agosto interditou que se abastecessem e equipassem os navios de cules no porto de Hong Kong e ordenou a sua expulsão, levando estes a mudarem-se para Huangpu.” (…) “Até Setembro de 1873, Macau ficou bloqueado pelos navios de guerra chineses e por ordem do vice-rei, todos os navios que entravam e saiam deste porto eram inspeccionados pelos oficiais chineses. Se fossem descobertos cules a bordo, os navios seriam levados para Huangpu.” O Vice-rei de Cantão então proibiu todos os barcos com cules dos países com ou sem tratado de fundearem nesse porto e em Setembro ordenou ao inspector interino da alfândega de Cantão, H. O. Brown, a expulsão de Huangpu de sete navios peruanos e em Outubro, de um belga e outro italiano. Pousadas em vez de barracões A 20 de Dezembro de 1873 o ministro da Marinha e Ultramar, João Andrade Corvo comunicava a proibição da emigração contratada por Macau e a 27, o Governador publicou a portaria fixando para daí a três meses [27 de Março de 1874] o seu termo definitivo. No Boletim de Província de 31/1/1874 foi promulgado o Regulamento dos Passageiros Asiáticos e seu Transporte pelo Porto de Macau, a entrar em vigor a 1 de Abril, por não se poder “negar a nenhum indivíduo em pleno gozo de liberdade, o direito de tomar passagem neste porto para outro qualquer a que se destine, devendo todavia velar pela sua conservação no estado livre e assegurar-se ao mesmo tempo das boas condições a todos os respeitos dos navios que tenham de transportar um crescido número de passageiros”. Em 18 de Março foi extinta a Superintendência da Emigração Chinesa, criada a 30 de Abril de 1860, assim como se acabam com “os depósitos e só serão permitidas para alojamento e pousada de transeuntes chineses, simples hospedarias devidamente licenciadas e registadas na procuratura dos negócios sínicos.” No B.O. dessa data, o Governador Visconde de Sam Januário declara que os denominados corretores, ou quaisquer outros indivíduos chineses que se empregavam na emigração, por acordo feito com o Vice-Rei de Cantão e por sua declaração oficial, “podem voltar livremente ao território chinês sem que sejam perseguidos pelas respectivas autoridades pela intervenção que tiverem tido nos negócios da mesma emigração, até à data do seu acabamento definitivo.” “Todo ou quase todo o pessoal estrangeiro envolvido na emigração desapareceu com a extinção desta”, segundo Almerindo Lessa, “Os 5534 indivíduos que o recenseamento de 1871 mostra terem afluído ao Bazar, em 1878 desaparecem daquele bairro, deixando-o na cifra que tinha em 1867.” MJ refere, “Em Macau, o resultado dessa medida altruísta foi simplesmente catastrófico: várias ramificações de comércio legal extinguiram-se, milhares de pessoas foram atiradas para o desemprego e, face ao êxodo que se seguiu, as propriedades foram seriamente desvalorizadas.” Assim, desde 27 de Março de 1874 estava proibida a emigração por contrato a partir do porto de Macau, mas fora aprovado ainda em 31 de Janeiro um novo regulamento para a emigração livre, julgando o Governador “pôr-se a coberto das graves acusações feitas quando deu o seu consentimento para a emigração para Costa Rica”, como refere José da Silva no Independente. Alguns agentes, escudados por esta nova ordem de coisas, prepararam-se para promover a saída de passageiros asiáticos e restaurar o tráfico de cules, apenas substituindo os depósitos em barracões por estalagens.
Sofia Margarida Mota EventosSvetlana Usacheva, curadora, diz que exposição de arte russa no MAM é “única” São cerca de 70 as obras de arte que vieram da Galeria Estatal Tretyakov para o Museu de Arte de Macau e que pretendem mostrar ao público as criações de três períodos históricos e artísticos. De acordo com a curadora Svetlana Usacheva trata-se de uma mostra única e que apresenta ao público pinturas que nunca antes tinham sido reveladas [dropcap]É[/dropcap] a primeira vez que Macau recebe um conjunto de obras primas de arte russa. Os 70 trabalhos, que estão em exposição no Museu de Arte de Macau até 22 de Abril, fazem parte do espólio da Galeria Estatal Tretyakov e representam algumas das obras mais emblemáticas daquele país. A exposição apresenta os principais estilos artísticos e tendências na arte russa de acordo com três períodos distintos e que vão do final do séc. XVIII a meados do séc. XX. O primeiro momento, dedicado ao classicismo e romantismo dos finais do séc. XVIII e primeira metade do séc. XIX, inclui as obras de relevo criadas após a fundação da Academia Russa de Arte, em 1757 em São Petersburgo. “A academia foi responsável pela promoção de diferentes géneros artísticos daquela época, incluindo naturezas mortas, cenas históricas e do quotidiano, ou seja, os trabalhos eram o espelho daquela altura da história russa”, apontou a curadora Svetlana Usacheva ao HM. Desta altura, Usacheva destaca a pintura da famosa Praça Vermelha em Moscovo do artista Pyodor Yakovlevich Alekseyev um dos primeiros grandes mestres russos da paisagem urbana. “O quadro datado de 1800 mostra a praça rodeada de edifícios de diferentes épocas e de diferentes estilos arquitectónicos, onde se destaca, além do Kremlin, a Catedral de Pokrovsy e a Catedral de São Basílio”, conta. Por outro lado, e dada a presença de várias cenas com pessoas, “o quadro espelha as impressões do artista não só da arquitectura de Moscovo mas também dos residentes da cidade, sendo que as numerosas cenas que se podem ver com moscovitas lhe confere um realismo que lhe confere propriedades documentais”, apontou. Já a primeira metade do séc. XIX, também considerada a “idade de ouro” da cultura russa está presente em obras como a escultura de Alexander Pushkin e o retrato de Nikolai Gogol . Mas, nas paredes do MAM surge em destaque a “Menina colocando uma vela de fronte de um ícone” de Grigory Mikhailov. “A cena tem lugar no interior de uma igreja e ao fundo está um relicário de Nossa Senhora de Kazan decorado com contas, pedras preciosas e fitas”, conta. Para a curadora, “a elegância cromática e o estilo de pintura reflectem as características da arte académica de salão da época”. Também de relevo é a cena do quotidiano do “Retrato de família” de Timofey Myagkov, de 1844. A pintura mostra uma família de Moscovo a tomar chá, “um dos passatempos favoritos dos moscovitas e tradição entre a nobreza e os mercadores da época”. À mesa estão três irmãs e o marido de uma delas e sobre a mesa, coberta por uma toalha de pano, está um samovar – utensílio para aquecer água – e um conjunto de porcelana que demonstra a importância do ritual do chá também para os russos das classes mais altas da época. Os vagabundos O segundo momento é dedicado ao movimento dos itinerantes e às escolas emergentes da segunda metade do séc. XIX e dos primeiros anos do séc. XX. São exemplo disso as obras que reflectem o impressionismo, o modernismo e mesmo movimento avant garde da época. Trata-se de um período de destaque para a pintura russa altura em que foi criada “A sociedade de pintores itinerantes” também conhecida por Vagabundos, em 1870. “Os seus fundadores acreditavam no poder social e moral da arte e na sua capacidade para criar uma sociedade melhor. Ao romper com a tradicional escola da academia, estes artistas privilegiavam o realismo e a descrição da vida popular e das paisagens naturais da sua terra natal”, explica Svetlana Usacheva. Também nesta fase histórica da arte russa se destacam obras como o retrato de Lev Tolstoy de Nikolai Nikolaevich Ge. Segundo a curadora, o pintor foi muitas fezes comparado ao escritor russo até porque “também ele apelava à rebeldia, ao acordar das almas e ao chegar aos sentimentos das pessoas”. Nas cenas rurais os destaques da curadora vão para a obra “Crianças fugindo de uma tempestade” de Konstantin Makovsky produzida em 1872. O artista aderiu á conhecida “revolta dos 14” também conhecidos como os itinerantes mas “as ideias dos jovens reformistas eram-lhe estranhas pelo que acabou por criar o seu próprio estilo”, contou. Já Vladimir Makovsky apresenta “Vagabundos”, uma obra icónica do autor que marcou a sua obra através dos retratos dramáticos. Nesta obra podem ver-se dois homens, marginais, à beira de um rio. No entanto, a obra desta secção mais relevante, para Svetlana Usacheva, é “Pinheiros ao Sol” de Ivas Shishkin. Trata-se de um pintura que se assemelha a “uma fotografia capaz de colocar o observador dentro da tela”. “Tem as fragrâncias da floresta, o ambiente de Verão e uma natureza vibrante”, acrescenta. Esta semelhança com o real tem ainda que ver com o espírito do tempo, em que “a própria ciência se redescobria”. Arte da revolução A exposição encerra com as obras da era soviética que marcaram o período pós-revolução de 1917. “As obras de arte da década de 1920 a 1960 reflectiam anseios de um pensamento artístico independente , de estilo austero em que os artistas queriam revelar a personalidade dos seus personagens e reflectir o espírito do tempo”, conta a curadora. O resultado foi uma pluralidade de estilos que mantinham em comum a “rigidez realista”. O retrato de Maxim Gorky pintado por pelo amigo Issak Brodsky aperece aqui em destaque. “A pintura apresenta um fundo dinâmico, o mar que bate contra as rochas, o céu de trovoada iluminado com as nuvens ao sol e um albatroz. O retrato segue a tradição do retratos de grandes dimensões do neoclassicismo russo e, ao mesmo tempo, define o cânone de grandes retratos de líderes e membros do Politburo”, acrescenta a curadora. Mais do que fazer um retrato, este quadro, tal como outros da mesma época pretendem transmitir ao observador o estado de espírito do retratado. É também nesta secção que o diálogo intercultural tem lugar com obras como “retrato de uma menina chinesa” de Andrei Mylnikov. Na mesma secção pode ver-se um quadro com um homem no espaço e que pela primeira vez é mostrado ao público. “Não é uma pintura realista, mas reflecte uma época”, refere Svetlana Usacheva. Fazem parte do espólio da Galeria Estatal Tretyakov de Moscovo mais de 180 mil obras, sendo a maior colecção de arte russa do mundo. Fundada em 1856 pelo coleccionador Pavel Mikhailovich Tretyakov, todo o espólio acabou por ser doado ao estado após a morte do coleccionador em 1892.
Hoje Macau China / ÁsiaChina | Mulher do ex-presidente da Interpol pede asilo a França [dropcap]A[/dropcap] mulher do ex-presidente da Interpol o chinês Meng Hongwei, detido na China por corrupção depois de desaparecer de forma misteriosa quando viajava para Pequim em Setembro, vai pedir asilo a França porque se sente ameaçada. “Preciso que o Governo francês me proteja, me ajude, a mim e aos meus filhos”, disse sexta-feira a esposa de Meng, em declarações à France Info. Explicou que está “com medo de ser sequestrada”, que recebeu “telefonemas estranhos” e que foi seguida por um casal de chineses até ao hotel onde está hospedada. Nas imagens de vídeo-vigilância do hotel, vê-se um homem e uma mulher a entrar e a pedirem o número do quarto da esposa de Meng Hongwei com a desculpa – falsa – de que tinham um compromisso. Pouco depois, o mesmo homem é visto a correr atrás do carro da mulher de Meng para fotografar a matrícula. Por isso, a mulher do antigo presidente da Interpol diz que vai formalizar o pedido de asilo junto do escritório francês para a protecção de refugiados apátridas. Em parte incerta Meng era vice-ministro de Segurança Pública da China quando foi eleito presidente da Interpol, em 2016, perdeu o contacto com a família depois de embarcar num avião para a China no passado dia 25 de Setembro. Depois de vários dias de silêncio sem que a família recebesse notícias de Meng e face à pressão internacional, a Comissão Nacional de Supervisão da China confirmou a detenção. De acordo com o Ministério de Segurança Pública da China, a investigação a Meng foi aberta depois de as autoridades chinesas terem dito que detectaram que ele aceitou um suborno e violou a lei estadual com um comportamento que causou “sérios danos” ao partido e à segurança nacional. Em 21 de Novembro, a Assembleia Geral da Interpol decidiu substituir Meng pelo sul-coreano Kim Jong Yang. A organização policial internacional tinha recebido no dia 7 de Outubro uma carta de renúncia e uma comunicação de Pequim informando que Meng não seria o delegado da China naquele organismo.
Hoje Macau China / ÁsiaUniversidade de Oxford suspende financiamentos da Huawei [dropcap]A[/dropcap] Universidade de Oxford anunciou sexta-feira a suspensão de bolsas de investigação e financiamentos provenientes da Huawei, perante as crescentes preocupações de segurança sobre o grupo chinês de telecomunicações. Em comunicado, a Universidade de Oxford, uma das mais importantes instituições de ensino do Reino Unido, indica que decidiu, em 8 de Janeiro, que “não vai procurar novas oportunidades de financiamento” com a Huawei ou com empresas relacionadas. A decisão, que se aplica tanto ao financiamento de contratos de investigação como a doações filantrópicas, foi tomada “à luz das preocupações do público levantadas nos últimos meses” em torno das parcerias do Reino Unido com a empresa. O comunicado da Universidade refere que dois projectos de investigação existentes no valor de 692.000 libras vão continuar. “Esperamos que estes assuntos possam ser resolvidos em breve e observamos a própria vontade da Huawei em tranquilizar os governos sobre o seu papel e as actividades”, salienta o comunicado. Por seu turno, o grupo chinês de telecomunicações Huawei disse que “não foi informado desta decisão” e aguarda a explicação completa da Universidade. Sob suspeita O secretário de defesa do Reino Unido e o seu responsável pelos serviços de informação expressaram preocupações no mês passado sobre o envolvimento da Huawei no lançamento de redes 5G no país. A Huawei esteve sob investigação pelo Congresso dos Estados Unidos, que num relatório de 2012 considerou que a empresa tem uma relação próxima com o Partido Comunista Chinês, e que facilita a espionagem chinesa. Fundada em 1987, por Ren Zhenfei, um ex-engenheiro das forças armadas chinesas, a Huawei é hoje o maior fabricante global de equipamentos de rede. As redes sem fios 5G destinam-se a conectar carros autónomos, fábricas automatizadas, equipamento médico e centrais eléctricas, pelo que vários governos passaram a olhar para as redes de telecomunicações como activos estratégicos para a segurança nacional. Na semana passada, a agência de contra espionagem da Polónia deteve o director de vendas da Huawei, por suspeitas de espionagem, depois de, no mês passado, a directora financeira da Huawei, Meng Wanzhou, ter sido detida em Vancouver, a pedido das autoridades dos Estados Unidos.
Hoje Macau China / ÁsiaVisita de membros do partido de Bolsonaro à China gera polémica [dropcap]M[/dropcap]embros do Partido Social Liberal (PSL), do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, viajaram para a China para tomarem conhecimento sobre tecnologias de reconhecimento facial, o que está a provocar polémica nas redes sociais. A controvérsia prende-se com as relações do Estado brasileiro com a China, o primeiro parceiro comercial do país sul-americano, acusado durante a campanha eleitoral de Jair Bolsonaro de querer “comprar o Brasil”. A polémica surgiu no seio da extrema-direita brasileira. Daniel Silveira, membro do PSL, publicou na noite de quinta-feira um vídeo no qual diz ter sido convidado pelo Governo chinês, a par de outros membros parlamentares, para se familiarizar com técnicas de reconhecimento facial, com o objectivo de as “aplicar no Brasil”. Olavo de Carvalho, um escritor brasileiro que vive exilado nos Estados Unidos da América, apresentado como o guru de Jair Bolsonaro, e que é responsável pela indicação de dois ministros do actual Governo, foi o primeiro a tecer críticas à viagem à China. Segundo a agência France-Presse, o escritor descreveu os membros parlamentares em causa como “camponeses”, “palhaços”, “semianalfabetos” e “idiotas”. “Vocês estão a cometer uma loucura, vocês estão a entregar o Brasil para a China (…). O Executivo vai deixar essas pessoas entregarem o Brasil para o sistema chinês dessa maneira?” questionou Olavo de Carvalho. Também os apoiantes do Presidente brasileiro usaram a internet para criticar a viagem dos deputados ao país.
Hoje Macau SociedadeBanca | Pedro Cardoso vai ser responsável por área internacional do Bison Bank [dropcap]P[/dropcap]edro Cardoso, anterior presidente do Banco Nacional Ultramarino (BNU), vai ser o responsável pela área internacional do Bison Bank, antigo Banif – Banco de Investimento, adquirido à Oitante pela Bison Capital Financial Holdings em Novembro de 2018. Segundo o Jornal Económico, Pedro Cardoso foi inicialmente proposto para ser presidente executivo do Bison Bank, mas o banco acabou por optar pelo chinês Bian Fang, face ao risco de chumbo das avaliações de idoneidade do gestor português no Banco de Portugal. De acordo com o jornal, o risco de chumbo está relacionado com a auditoria forense à Caixa Geral de Depósitos no período entre 2000 e 2015, altura em que Pedro Cardoso foi administrador.
Diana do Mar SociedadeCapitais | Transacções suspeitas de branqueamento aumentaram 20,45% em 2018 [dropcap]A[/dropcap]s autoridades de Macau registaram, ao longo do ano passado, 3.716 participações de transacções suspeitas de branqueamento de capitais e/ou de financiamento do terrorismo, mais 20,45 por cento do que em 2017. Trata-se do número mais elevado registado pelo Gabinete de Informação Financeira (GIF). De acordo com dados publicados pelo GIF, “a variação deveu-se principalmente ao aumento significativo do número de transacções suspeitas reportadas por instituições financeiras e companhias de seguros e outras entidades”. O jogo continuou a figurar como a actividade que deu origem a mais denúncias – 2.087 contra 2.074 em 2017–, mas a sua proporção no total sofreu uma diminuição de 11 pontos percentuais – de 67,23 para 56,16 por cento. Em sentido inverso, aumentaram as transacções suspeitas reportadas por instituições financeiras e companhias de seguros – que cresceram de 746 para 1.122, passando a ocupar um peso de 30,19 por cento, contra 24,18 por cento em 2017. Outras instituições representaram, por seu turno, 13,65 por cento das denúncias (507) em comparação com a ‘fatia’ de 8,59 por cento (265) registada em 2017. Os sectores referenciados, como os casinos, são obrigados a comunicar às autoridades qualquer transacção igual ou superior a 500 mil patacas. O número de participações tem vindo a subir ao longo dos últimos anos, salvo pontuais descidas: aumentou de 725 em 2007 para 838 em 2008 e para 1156 em 2009. Em 2010 foram reportadas 1220, no ano seguinte 1.563 e em 2012 um total de 1840. Em 2013, o número diminuiu para 1595 denúncias, mas aumentou para 1.812 em 2014. Em 2015, caiu ligeiramente para 1807, voltando a subir para 2321 em 2016 e para 3.085 em 2017.
Diana do Mar SociedadeMultas por transacções de espécies em vias de extinção atingiram valor recorde em 2018 As multas aplicadas por violações à Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies de Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção ascenderam a pelo menos 370 mil patacas no ano passado, um valor recorde. A maioria dos casos envolveu o comércio de orquídeas [dropcap]A[/dropcap]pesar da descida do número de violações à Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies de Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção (CITES, na sigla em inglês) sinalizadas ao longo do ano passado, as multas aplicadas atingiram um valor recorde. Dados facultados pela Direcção dos Serviços de Economia (DSE) ao HM indicam que, até 11 de Novembro, foram detectadas 31 violações que resultaram em multas de 371.498 patacas. Isto quando, em 2017, as multas aplicadas pelos 103 casos de violações à CITES totalizaram 16.984 patacas. O “drástico aumento da multa deve-se a uma multa mais elevada imposta pela Lei 2/2017”, justificou a DSE, em resposta ao HM, fazendo referência à lei de execução da CITES (assinada em Washington em 1973), cuja aplicação em Macau era assegurada por um decreto-lei que remonta à década de 1980. A nova lei, em vigor desde 1 de Setembro de 2017, veio agravar as multas, versando particularmente sobre as espécies cujo comércio é absolutamente proibido e que pode atingir montantes até às 500 mil patacas. Segundo a DSE, a maioria dos casos envolveu orquídeas, que caem no apêndice II relativo a “espécies que, apesar de não estarem ameaçadas de extinção, poderão vir a estar se o comércio dos espécimes dessas espécies não estiver sujeito a regulamentação estrita que evite uma exploração incompatível com a sua sobrevivência”. Animais como crocodilos e pangolins e plantas, sobretudo da família dos cactos, integradas no apêndice I, representaram “uma pequena proporção” dos casos de violações à CITES, detalhou a DSE. O apêndice I elenca espécies ameaçadas de extinção que são, ou poderão ser afectadas, pelo comércio. Uma delas é precisamente o pangolim, o mamífero mais traficado do mundo. Ao elevado montante das multas aplicadas por violação à CITES não será alheio o confisco, em Setembro último, pelos Serviços de Alfândega, de aproximadamente 100 quilogramas de escamas de pangolim, um ingrediente muito procurado pela medicina tradicional chinesa. 200 violações em 5 anos Nos últimos cinco anos, a DSE registou um total de 206 casos de violação da CITES, dos quais 85 por cento associados a plantas vivas, principalmente às orquídeas. A maior parte dos restantes teve a ver com animais vivos, sobretudo serpentes e tartarugas, havendo alguns também relacionados com produtos secos do reino animal, como crocodilos, cavalos-marinhos e pangolins, indicou a DSE, dando conta de que em 181 foram já aplicadas multas no valor global de 464.844 patacas. Todos os casos foram descobertos nos postos fronteiriços, com os bens a serem transportados, de forma escondida, em bagagens, mercadorias e em veículos.
Hoje Macau SociedadeAviação | Estudo custou quase 800 mil patacas [dropcap]F[/dropcap]oi à empresa Flight Ascend Consultancy, que integra a Flight Global, que o Governo de Macau encomendou o estudo sobre o futuro da aviação em Macau. O projecto foi adjudicado em Maio de 2017 por 774.805 patacas, segundo dados publicados no portal da Autoridade de Aviação Civil (AACM). O estudo, cujas principais conclusões não são públicas, serviu de fundamento à opção pela abertura do mercado da aviação civil local e, por conseguinte, à não renovação do contrato exclusivo com a Air Macau, que expira em Novembro de 2020. A companhia aérea de bandeira da RAEM vai, no entanto, continuar a operar voos após essa data como operador aéreo registado em Macau.
Hoje Macau SociedadeBurla | Investidores perdem 400 milhões de yuan em projecto em Zhuhai [dropcap]A[/dropcap]proximadamente 300 investidores, de Hong Kong, Macau e da China, perderam um total de 400 milhões de yuan depois de os planos de desenvolvimento de um centro comercial perto de Zhuhai terem desabado. A notícia foi avançada ontem pelo South China Morning Post (SCMP) que indica que os investidores adquiriram espaços comerciais à empresa Zhaohong Shengshi Industrial que começou a construir um ‘shopping’, de 690 mil pés quadrados, no distrito de Xiangzhou. Contudo, o promotor utilizou outra empresa para dissuadir os investidores a avançarem com o dinheiro, indicou a Federação de Sindicatos de Hong Kong (FTU, na sigla inglesa), que tem estado a ajudar aproximadamente três dezenas de vítimas. A subsidiária alegadamente conseguiu então que assinassem um contrato de arrendamento prometendo um retorno lucrativo, mas muitos reclamam ter recebido muito pouco. A FTU deu conta de que as vítimas de Hong Kong foram enganadas em cerca de 20 milhões de yuan. “Desde a abertura da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, os agentes imobiliários e outras empresas têm tentado activamente convencer os empresários de Hong Kong a investir em propriedades comerciais, prometendo elevado lucro. Mas, infelizmente, muitos acabam por cair numa armadilha”, afirmou Poon Chi-fai, director do braço do centro de serviços da FTU em Zhongshan, em declarações ao SCMP. Segundo o mesmo responsável, os investidores não têm hipótese de reaver o dinheiro porque o projecto não se concretizou e dado que a subsidiária com a qual assinaram o contrato é uma empresa fantasma. Ou seja, trata-se de uma firma sem activos significativos usada como fachada para a obtenção de financiamento ou evasão fiscal.
Hoje Macau SociedadeAmbiente | Identificar fontes de emissão de poluentes é prioritário [dropcap]O[/dropcap] investigador Yongjie Li, da Universidade de Macau, defende que a identificação das principais fontes de emissão de poluentes tem de ser uma prioridade, na medida em que só assim será possível elaborar políticas eficazes “A maior prioridade da nossa cidade deve ser a aposta na identificação das fontes de emissão e captar um quadro geral da situação”, afirmou à Lusa Yongjie Li. Para o especialista em poluição atmosférica, “sem tais evidências científicas não será possível uma política eficaz sobre como controlar as emissões”, pelo que as autoridades têm de ser mais pró-activas. Dados oficiais indicam que, em 2017, registaram-se em quase todas as estações que medem o índice de qualidade do ar (AQI, na sigla inglesa) mais de 20 dias insalubres. “Este é um grande desafio e o Governo de devia colocar [a qualidade do ar] numa prioridade maior do que a que está a fazer”, defende o professor. Na mesma linha do especialista ambiental, que apontou falhas na identificação e captação das fontes de emissão de poluentes, têm surgido na última semana críticas por parte da sociedade civil e de activistas ambientais, que apontam falhas nos dados sobre a qualidade do ar recolhidos pelo Governo. “Infelizmente, o que o Governo está a fazer em Macau não é suficiente em termos de política sustentável, que ainda está muito atrasada em relação ao resto do mundo”, afirmou à Lusa Annie Lao, um dos principais rostos de uma petição que reuniu milhares de assinaturas contra o plástico descartável. O Relatório do Estado do Ambiente de Macau de 2017 indica que as emissões de dióxido de carbono (CO2) subiram 6,2 por cento entre 2007 e 2016. “A percentagem das emissões estimadas de gases com efeito de estufa em 2016 aumentou 5,9 por cento comparando com 2015. Tal deve-se, principalmente, ao aumento da emissão estimada de CO2 resultante da incineração de resíduos, dos transportes marítimos e da produção local de energia eléctrica”, lê-se no relatório. Metas para 2019 Nas Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2019, o Governo estabeleceu, entre outras metas, controlar o crescimento do número de veículos para que a taxa de crescimento anual se fixe em 3,5 por cento em 2020, prometeu o aumento de lugares de carregamento de veículos eléctricos para 210 até 2019 e que 40 por cento da iluminação pública seja feita através de luzes LED. Macau tem aproximadamente 230 mil veículos motorizados, não tem metro, e os transportes movidos a energias sustentáveis são reduzidos. Até Setembro, havia 43.928 pessoas com dois ou mais veículos, numa população de sensivelmente 660 mil habitantes. Existem ainda 1.498 táxis, dos quais apenas 30 eléctricos, segundo dados fornecidos à Lusa pela Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT). Outra das preocupações de Annie Lao prende-se com os casinos por serem os maiores utilizadores de recursos como “água, energia e plástico”. “Banir palhinhas de plástico por parte dos casinos é apenas um pequeno passo, mas não é de todo suficiente porque os hotéis usam e grande número de plásticos descartáveis e que muitos deles não podem ser reciclados”, apontou a activista.
João Santos Filipe Manchete SociedadeHong Kong | SF Express recusa enviar material religioso para Macau A filial de Hong Kong da empresa SF Express recusou o envio de uma encomenda com cruzes para a RAEM por se tratar de “material religioso”. O gestor da empresa acabou demitido e companhia admitiu que situação foi um erro [dropcap]A[/dropcap] filial de Hong Kong da SF Express, empresa de entregas por correio de Shenzhen, recusou enviar uma encomenda para Macau, por haver “material religioso” entre os itens, nomeadamente cruzes feitas à mão. A notícia foi confirmada pela própria empresa, depois de uma investigação interna e do caso ter vindo parar os jornais do território vizinho. O caso terá sucedido na quarta-feira passada, quando um voluntário católico foi à loja da SF Express de To Kwa Wan, em Kowloon, para enviar uma encomenda com presentes, cartões e cruzes feitas à mão para um evento católico que ia decorrer em Macau. Contudo, um funcionário da loja informou o voluntário que a encomenda não poderia ser entregue na RAEM, uma vez que tinha “material religioso”. Na sequência da sua natureza ou finalidade, os objectos acabaram por não ser aceites pela SF Express. Após a divulgação do caso, a empresa iniciou uma investigação e na sexta-feira fez um pedido de desculpas. “De acordo com os requisitos legais, os padrões para o recebimento e a entrega de encomendas têm de estar de acordo com as leis aplicáveis nas alfândegas dos territórios envolvidos. Contudo, o gestor da SF Express Hong Kong falhou em perceber os requisitos legais e em treinar de forma adequada os trabalhadores, fazendo com que os empregados tivessem padrões mais exigentes do que aquilo que seria necessário”, explicou a companhia, num comunicado citado pelo portal Hong Kong Free Press. Estado de choque A SF Express afirmou ainda estar “chocada” com o ocorrido e prometeu tomar medidas para que estes casos não se repitam. “O nosso grupo decidiu que o administrador geral da SF Express Hong Kong vai assumir a responsabilidade e demitir-se. O nosso grupo pede as mais sinceras desculpas às pessoas afectadas e agradece a atenção dos órgãos de comunicação social para este caso”, é acrescentado no comunicado. Em relação ao envio de materiais de e para Macau não são conhecidos casos semelhantes. No entanto, no Domingo, 13 de Janeiro, o autor Leung Man-Tao, de Hong Kong, tinha-se queixado que a empresa tinha recusado enviar três livros de Taiwan para Hong Kong. Na altura, terá sido dito a Leung que havia “restrições ao nível do conteúdo de livros aplicadas pelo Governo Chinês”. Também neste caso a empresa veio a público admitir que tinha havido um erro e negou qualquer restrição no envio de livros de Taiwan para Hong Kong.
Hoje Macau PolíticaETAPM | Função pública consultada sobre segunda fase de revisão [dropcap]O[/dropcap]s Serviços de Administração e Função Pública (SAFP) realizaram uma consulta junto dos serviços públicos e das associações dos trabalhadores no âmbito dos trabalhos da revisão do Estatuto dos Trabalhadores da Administração Pública de Macau (ETAPM). A segunda fase de revisão do ETAPM, após a primeira ter entrado em vigor a 1 de Janeiro, centrar-se-á no regime de subsídios e abonos com vista a que “o ETAPM possa adaptar-se às necessidades de funcionamento e gestão administrativa dos serviços públicos actuais e salvaguardar os direitos dos trabalhadores”, indicaram os SAFP em comunicado. Além do envio do documento de consulta aos serviços públicos, os SAFP também realizaram quatro sessões de esclarecimento que reuniram mais de 500 participantes. A consulta da segunda fase de revisão do ETAPM termina no próximo dia 31.
Hoje Macau PolíticaAssistentes Sociais | Governo exige 45 horas de formação a cada três anos [dropcap]O[/dropcap]s assistentes sociais vão ter de acumular 45 horas de formação contínua a cada três anos. Esta é uma exigência feita pelo Governo na nova versão da lei que vai regular a profissão. Segundo Chan Chak Mo, presidente da comissão da Assembleia Legislativa que está a discutir o diploma, na primeira versão da lei apenas era exigido que fosse realizada formação contínua sem haver requisitos ao nível do tempo exigido. A nova versão apresentada pelo Governo veio resolver o problema. Um outro aspecto que a comissão também queria ver resolvido e que não tem, para já, solução é a distinção entre assistentes sociais do sector público e privado. Os deputados pretendiam um regime universal para ambos os tipos de trabalhadores. Contudo, o Governo explicou que a função pública não tem uma carreira específica para assistentes sociais e que vai ter de continuar a haver uma distinção. Por este motivo, os funcionários que trabalhem para o Governo na área social ficam dispensados de fazer o registo na profissão. Já os trabalhadores do sector privado vão ter de cumprir essa obrigação para poderem aceder ao título profissional.
João Santos Filipe PolíticaHino | Deputados aceitam justificação do Governo e levam lei ao Plenário Sónia Chan tinha dito que não haveria mais discussão sobre a hipótese do Executivo solicitar a cooperação dos média na divulgação do hino e os deputados concordaram. O diploma retorna à AL apesar da Associação de Jornalistas pedir a revisão deste ponto [dropcap]A[/dropcap]s opiniões sobre a alteração à lei do hino por parte da Associação de Jornalistas de Macau (AJM) são “bem-vindas”, mas o parecer já foi assinado e vai ser levado à votação no Plenário. Foi desta forma que os deputados da 1.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa recusaram eliminar o artigo da futura lei que permite ao Governo “solicitar” aos órgãos de comunicação social que ajudem na promoção do hino nacional. Segundo o presidente da comissão, Ho Ion Sang, a carta com a sugestão da associação foi distribuída aos deputados antes da reunião de sexta-feira. Mas o facto de os órgãos de comunicação social “não precisarem de assumir responsabilidades”, caso optem por não cooperar com o Governo, fez com que os legisladores concordassem com Sónia Chan. Na quinta-feira, a secretária para a Administração e Justiça tinha justificado que não ia haver mais discussão [sobre a lei], uma vez que o artigo criticado pela Associação de Jornalistas de Macau não tinha qualquer punição para quem não cumprir com as solicitações. Ainda de acordo com a governante, esta parte da lei serve essencialmente para responsabilizar o Governo por tomar a iniciativa de procurar a cooperação dos órgãos de comunicação social. Na quinta-feira, a AJM tinha divulgado uma carta a defender que o artigo em causa restringe a liberdade dos órgãos de comunicação social e a recusar que os média sejam utilizados como ferramentas de propaganda da ideologia do Governo. Contudo, o documento vai agora ser votado na especialidade e, caso seja aprovado pelos deputados, vai entrar em vigor no dia a seguir à publicação no Boletim Oficial da RAEM. Carimbos como no Interior De acordo com o parecer da comissão, uma das dúvidas levantadas pelos deputados durante a discussão do diploma foi o facto dos emblemas nacionais não constarem nos carimbos da RAEM, uma vez que são utilizados os emblemas regionais. A dúvida foi suscitada pelos deputados, após compararem a lei do hino do Interior da China com a lei que agora vai ser aplicada em Macau e que surge na sequência da actualização da lei no Interior. Segundo a explicação do Executivo, tal deve-se ao facto da RAEM não ser um órgão nacional, antes um órgão regional, o que faria com que não fosse adequado o uso de carimbos com o desenho do emblema nacional. Ao mesmo tempo, o Governo considera que o formato actual, com a utilização da flor do Lótus é suficiente para identificar a RAEM: “além do desenho do emblema regional, existe ainda o texto e a designação dos respectivos serviços públicos, conseguindo-se assim, em princípio, o efeito de identificação”, consta no parecer, sobre a resposta do Governo.
Hoje Macau PolíticaMedicina chinesa | Deputados visitam hoje a Ilha da Montanha [dropcap]O[/dropcap]s deputados deslocam-se hoje ao Parque Científico e Industrial de Medicina Tradicional Chinesa para a Cooperação entre Guangdong e Macau. Inaugurado oficialmente em 2011, o Parque Científico e Industrial de Medicina Tradicional Chinesa, com uma área de 0,5 quilómetros quadrados, localiza-se na zona de desenvolvimento tecnológico da Ilha da Montanha. Foi o primeiro projecto de construção implementado oficialmente no âmbito da cooperação entre Guangdong e Macau, desde a assinatura do Acordo-Quadro de Cooperação, no mesmo ano.
Hoje Macau SociedadeEnsino Superior | Apoio para material escolar sobe para 3.300 patacas [dropcap]O[/dropcap] Governo vai aumentar o “subsídio para a aquisição de material escolar a estudantes do ensino superior” para 3.300 patacas. O valor em questão é referente ao ano lectivo de 2018/2019. Esta é a primeira vez desde o ano 2012/2013 que o montante, que antes era de 3.000 patacas, é actualizado. O apoio é disponibilizado aos alunos do ensino superior com Bilhete de Identidade de Residente que estejam matriculados neste ano lectivo. Os interessados devem registar-se para receber o apoio público entre 29 de Janeiro e 15 de Março. De acordo com o Governo, a medida vai abranger cerca de 34 mil pessoas e irá custar 112,2 mil patacas aos cofres da RAEM. Este subsídio foi criado no ano lectivo de 2011/2012. À altura, o valor era de 2.000 patacas.
João Santos Filipe PolíticaFinanças | Governo quer contabilistas e auditores numa só classe O Governo continua a tomar medidas de reorganização do sector financeiro e desta vez vai fundir as classes dos contabilistas e dos auditores. O objectivo é seguir a tendência mundial e evitar confusões para os investidores [dropcap]O[/dropcap] Governo apresentou uma proposta de lei que vai fazer com que as profissões de contabilistas e auditores de contas se transformem numa única classe. A proposta foi apresentada pelo Conselho Executivo, na sexta-feira. Segundo o porta-voz deste organismo, Leong Heng Teng, a medida vai permitir que a profissão no território “se coadune ainda mais com as práticas internacionais”. “O objectivo é estabelecer um regime de registo e exercício da profissão de contabilistas aplicável às pessoas singulares que pretendam obter qualificações profissionais e a qualificação de contabilistas, e às pessoas que se queiram registar como sociedades de auditores”, afirmou o porta-voz. A proposta de lei em apreço vai substituir o actual Estatuto dos Auditores de Contas e o Estatuto dos Contabilistas Registados. Os dois diplomas encontram-se em vigor desde 1999. Segundo as explicações do Director do Serviços de Finanças, Iong Kong Leong, também presente na conferência de imprensa, o facto de actualmente haver contabilistas e auditores de contas em Macau provoca confusão. Com o novo estatuto vai ser também criada uma Comissão de Registo dos Contabilistas, um órgão colegial que vai implementar o regime de acreditação, registo e emissão de licenças para o exercício da profissão. Além disso, a entidade vai supervisionar as normas de conduta dos profissionais do sector. Neste sentido, a principal diferença é que a comissão que anteriormente estava sob a alçada da Direcção dos Serviços de Economia passa a ser independente. A escolha dos membros só vai ser definida em regulamento administrativo mais tarde, mas terá representantes provenientes da Administração Pública, profissionais e académicos da área da contabilidade. Multas até meio milhão De acordo com as alterações propostas pelo Governo, os contabilistas e as sociedades de auditores que cometerem infracções disciplinares podem ser multados com uma quantia entre 5 mil e 5 milhões de patacas. Nos casos mais leves a punição poderá passar por uma advertência e nos casos mais graves, em que se prova a existência de dolo, a sanção passa pelo cancelamento do registo ou licença para exercer a profissão. Sobre os valores das multas, Iong Kong Leong explicou que houve uma actualização face a 1999 de acordo com o índice de preços no consumidor. Ainda no que diz respeito às pessoas que pretendam aceder à profissão, quem se encontra a desempenhar as funções vai ser registado automaticamente. No entanto, os novos candidatos têm de provar que têm dois anos de experiência relevante no sector e têm de obter aprovação nas provas contabilistas reconhecidas pela Comissão de Registo dos Contabilistas. Por último, as sociedades de auditores ficam obrigadas a ter, pelo menos, dois accionistas. Actualmente, estão registados 119 auditores e 188 contabilistas no território. Há ainda 14 sociedades de auditoria e 3 empresas de contabilidade.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeMUST | Nova licenciatura em medicina recebeu 80 candidaturas no primeiro dia No dia de abertura de inscrições para o novo curso de medicina, a Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau recebeu 80 candidaturas. Manson Fok, director da Faculdade de Ciências da Saúde da MUST, disse que a Universidade do Porto vai ser uma das instituições do ensino superior parceiras, além da Universidade de Lisboa, e rejeitou a possibilidade de virem a ser formados médicos em excesso para as necessidades do território [dropcap]O[/dropcap] evento atraiu a atenção de tanta gente que foi necessário marcar outra sala para acolher alunos e professores interessados em saber todos os detalhes da nova licenciatura em medicina e cirurgia que arranca já no próximo ano lectivo 2019/2020 na Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau (MUST, na sigla inglesa). Sob o slogan “formar os médicos do amanhã” realizou-se no sábado uma sessão de esclarecimento sobre o novo curso. Sophia Liu, natural de Jiangsu, já é estudante do curso de hotelaria e gestão na MUST, mas gostaria de um dia ser médica. “Estou interessada, e acho que os meus pais iam gostar que entrasse no curso”, contou ao HM. “Com este curso poderia ajudá-los caso tenham algum problema de saúde. Além disso, o curso vai ter bons professores que nos podem transmitir muitos conhecimentos”, apontou. Durante a apresentação da licenciatura, Manson Fok, director da Faculdade de Ciências da Saúde da MUST e filho do magnata Henry Fok, quis deixar claro que o objectivo primordial é a qualidade dos docentes, mas, sobretudo, dos alunos. “Queremos que os alunos pensem, que não se limitem a estudar e decorar informações. O nosso primeiro objectivo é ter 50 estudantes no primeiro ano. Não basta termos bons professores e um programa curricular, também precisamos de bons alunos.” Além disso, Manson Fok também deixou alguns recados aos futuros estudantes. “Têm de estar preparados para estudar, porque o curso de medicina é muito exigente. O ensino será sempre feito em grupo e não individualmente”, apontou. O acesso ao curso será também aberto a pessoas com mais de 23 anos, mas é exigida determinada nota nas disciplinas de química e biologia, sem esquecer a matemática e as línguas, tais como o chinês e inglês. Os alunos que realizaram os exames finais do ensino secundário em Hong Kong e Malásia também se podem candidatar, apesar da primazia dada aos que nasceram em Macau. Além das notas, os candidatos serão depois submetidos a uma entrevista onde lhes são exigidos conhecimentos não apenas do sistema médico do território como de todas as regiões que integram o projecto de cooperação da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. Durante a apresentação foi ainda reiterado que os licenciados serão reconhecidos pelos Serviços de Saúde de Macau (SSM) e que, durante o curso, poderão escolher realizar o estágio do sexto ano em países como Austrália, Reino Unido, Portugal ou Estados Unidos. Estes estágios são fruto de parcerias anteriormente estabelecidas, garantiu Manson Fok. “Várias universidades com quem mantemos protocolos questionaram-nos porque que Macau não tinha um curso de medicina”, referiu na sua apresentação. Corrida ao curso Apesar de querer apenas meia centena de estudantes, Manson Fok adiantou à margem do evento que a MUST recebeu 80 candidaturas no dia em que abriram as inscrições. Isto apesar do valor da propina do curso ser de 55 mil patacas anuais, para uma licenciatura de seis anos. Neste aspecto, o director da Faculdade de Ciências da Saúde comprometeu-se a apoiar financeiramente os estudantes que necessitem. “As propinas são elevadas e a nossa universidade vai-se responsabilizar pelos custos. Qualquer apoio do Governo será sempre no formato bolsas de estudo e espero que a população de Macau também veja a faculdade de medicina como parte do seu serviço para a comunidade e dê o seu apoio. Os professores não vão servir apenas para formar os alunos, mas também os médicos especialistas que já exercem”, justificou. Manson Fok não teme que os alunos de Macau optem por estudar medicina em Portugal pelo facto de serem portadores do passaporte português. Nas universidades portuguesas as propinas são mais baixas do que os valores cobrados pela MUST, mas existem outros factores a equacionar. “Em Portugal, se não estou em erro, nem todos os estudantes que querem seguir medicina conseguem entrar, porque os critérios de acesso são muito rígidos. Aqui queremos seleccionar os melhores alunos e queremos concentrar os nossos recursos para formar bons alunos, para que se transformem em bons médicos habilitados também a trabalhar no estrangeiro.” Apesar da MUST ser uma das universidades privadas que mais fundos públicos recebe, sobretudo da Fundação Macau, Manson Fok não negou que o apoio do Governo é fundamental para garantir a qualidade formativa. “O nosso dever não é apenas disponibilizar um bom currículo, mas também ter os melhores recursos. Com mais recursos podemos enviar os melhores alunos para as principais instituições em todo o mundo. Mas isso vai estar limitado pelos recursos disponíveis. Os custos principais serão suportados pela universidade, esse é o nosso compromisso.” Durante cinco anos, os alunos vão ter uma componente teórica e prática feita em hospitais e clínicas estrangeiras. “O currículo que será ensinado é aquele que já é ensinado nas universidades da região”, disse Manson Fok. “A diferença é que, num período que corresponde entre três semanas a seis meses, os alunos serão enviados para vários sítios no exterior para terem contacto com outras patologias”. Na Austrália, Europa e Estados Unidos, os estudantes terão acesso “a diferentes tipos de ensino e aprendizagem”, acrescentou Manson Fok, que deu o exemplo do cancro de pele como uma doença rara em Macau que implica formação no exterior. Aos jornalistas, o director da Faculdade de Ciências Médicas deixou claro que os hospitais e clínicas do território não têm capacidade para acolher estagiários ávidos por adquirir conhecimentos sobre patologias diversas. Além da aposta na internacionalização, a MUST assume querer investir também na localização. “Os médicos formados na China regressam, mas aqui existem regulamentos diferentes. Por exemplo, na China eles podem receitar medicamentos ocidentais e medicamentos da medicina tradicional chinesa, mas em Macau não. Na nossa formação não haverá esse problema, pois só adoptamos padrões internacionais”, admitiu. Aliás, no capítulo da internacionalização importa salientar que as faculdades de medicina das universidades de Lisboa e do Porto vão ser instituições parceiras da MUST. “Números são números” Apesar do Governo ter dado luz verde ao novo curso recentemente, a verdade é que a MUST começou a preparar a licenciatura há cerca de três anos. As parcerias estão estabelecidas, o corpo docente formado e tudo parece estar a postos para receber os primeiros alunos já em Setembro. Manson Fok optou por não responder directamente se acreditava que, à partida, o Executivo iria aprovar o pedido de um novo curso. “Se perguntar à comunidade, não há dúvidas de que as pessoas querem médicos melhor formados. Macau tem vindo a ter progressos e vai tornar-se numa cidade internacional, e os nossos médicos também precisam ter uma perspectiva internacional. É isso que queremos trazer para a comunidade.” Para o futuro, a MUST deverá cooperar com a Academia Médica, um projecto do Governo a ser operacionalizado pelos Serviços de Saúde. “Claro que vamos trabalhar com toda a comunidade médica de Macau. Esperamos que a nossa faculdade seja apoiada, porque não queremos que seja apenas uma faculdade da MUST. Temos hospitais e clínicas, e queremos partilhar todos os recursos para formar médicos. Os médicos que vamos formar vão servir toda a Macau e não apenas o hospital da MUST.” Confrontado com as críticas de que em poucos anos o curso irá formar médicos a mais, tendo em conta a pequena dimensão do território, Manson Fok referiu que “números são números”. “Se olharmos para a proporção (de médicos em relação à população), continuamos com níveis muito baixos face ao resto do mundo. Cerca de 20 por cento dos médicos estão a aproximar-se da idade da reforma e vamos ter um novo hospital daqui a uns anos, que vai exigir uma grande quantidade de médicos”, concluiu o director da nova faculdade.
Hoje Macau China / ÁsiaCamboja condena medidas sobre o arroz impostas pela UE [dropcap]O[/dropcap] Governo do Camboja acusou a União Europeia (UE) de violar as regras do comércio internacional, depois de Bruxelas ter anunciado que vai re-introduzir direitos de importação sobre o arroz proveniente daquele país e do Myanmar. A decisão tomada na quarta-feira pela Comissão Europeia tem como pano de fundo a protecção dos produtores europeus, uma medida solicitada por vários Estados-membros, entre os quais Portugal, e entra em vigor já esta semana. Contudo, o Ministério do Comércio do Camboja defende que a medida não está em conformidade com as regras do comércio internacional, nem reflecte uma boa cooperação entre o Camboja e a UE, tratando-se de “uma arma que matará” os produtores cambojanos endividados. “A decisão de introduzir medidas proteccionistas (…) vai privar os agricultores dos seus rendimentos e vai forçá-los à morte”, condenou o ministério, em comunicado. Neste sentido, o país asiático pediu às autoridades europeias para reverem a decisão que descreveu como “injustificável” e assegurou que está a estudar a legalidade da mesma. O Camboja e Myanmar (antiga Birmânia) são beneficiários do regime de comércio “Tudo Menos Armas” da UE, que concede unilateralmente acesso ao seu mercado, com isenção de direitos aduaneiros e sem limites quantitativos, aos países menos avançados do mundo (excepto para armas e munições). O pedido inicial de instituição de medidas de salvaguarda sobre as importações de arroz foi apresentado por Itália há quase um ano, em Fevereiro de 2018, com o apoio de todos os outros Estados-membros produtores de arroz: Portugal, Espanha, França, Grécia, Hungria, Roménia e Bulgária.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeChan Meng Kam emprestou 96 milhões e diz-se enganado [dropcap]O[/dropcap] antigo deputado à Assembleia Legislativa (AL) e empresário Chan Meng Kam afirma ter sido enganado num caso ligado a um empréstimo de 96 milhões de patacas concedido a uma imobiliária ligado ao bairro criativo localizado perto da Rua dos Ervanários, perto das Ruínas de São Paulo. De acordo com a TDM, a Polícia Judiciária (PJ) já se encontra a investigar o caso de burla avaliado em cerca de 200 milhões de patacas e que terá atingido cerca de 30 pessoas. “Algumas vítimas disseram que a mulher de nome Chiang usou a agência de imobiliário dela para levar a cabo o esquema. Ofereceu taxas de retorno entre um a seis por cento ao mês de forma a que as pessoas investissem ou lhe emprestassem dinheiro. Depois deixaram de conseguir contactar com ela e foi então que as queixas começaram a chegar à PJ”, explicaram as autoridades em conferência de imprensa, segundo declarações transmitidas pela TDM. O local tem sido palco do Festival da Travessa do Armazém Velho, organizado por uma associação liderada pelas mesmas pessoas que são proprietárias da agência imobiliária que recebeu os empréstimos, apurou o All About Macau. Chan Meng Kam emprestou dinheiro à imobiliária Fomento Predial Kou Fu, propriedade de Isabel Chiang, que é também a accionista principal da empresa Number 81, dona de 12 lojas que compõem o bairro criativo e que se situam entre o Pátio de Chon Sal e Rua de Nossa Senhora do Amparo. Em 2015, a Number 81 adquiriu essas lojas por 100 milhões de patacas. Isabel Chiang surge também na documentação consultada como gerente-geral do Grupo Ana Chiang. Cheang Ka Hang (tradução fonética), sobrinho de Isabel Chiang, é também presidente da direcção da Associação de Promoção ao Desenvolvimento de Distritos Históricos de Macau, que tem vindo a organizar o festival. Desde o ano passado que Isabel Chiang está desaparecida, sendo que o sobrinho adiantou à TDM que não se encontra em Macau. Uma fonte ligada ao sector comercial, ouvida pela publicação chinesa, garante que a imobiliária desenvolveu os seus negócios até que o mercado abrandou, o que levou a dificuldades no pagamento dos empréstimos pedidos a várias figuras e entidades. Chan Meng Kam admitiu ao jornal que emprestou dinheiro à imobiliária, tendo esta prometido ceder o direito de propriedade de dois imóveis. Chan Meng Kam veio mais tarde a perceber que essas fracções estavam hipotecadas no banco. Além disso, também tinham servido de garantia a outros empréstimos concedidos a Isabel Chiang. O ex-deputado considera-se vítima, uma vez que nunca mais conseguiu chegar à fala com o proprietário da imobiliária. Para continuar Choi Chi Seng, secretário-geral substituto da associação, não negou, em entrevista ao All About Macau, que existem problemas financeiras, tendo explicado que existe uma “ligação estreita” com o Grupo Ana Chiang. A relação com a imobiliária existe apenas porque esta é proprietária de muitas lojas na zona. Nesse sentido, Choi Chi Seng não espera grandes consequências da falta de pagamento dos empréstimos. “Falei com um advogado para pedir uma opinião sobre o caso e ele disse-me que a situação não vai ter grandes consequências”, disse. Choi Chi Seng garantiu que a associação não tem problemas financeiros, tendo pedido apoios ao Governo que, porém, ainda não foram recebidos. Para já, o responsável deixa a garantia de que outras actividades culturais, que não o festival, deverão continuar a acontecer.
Hoje Macau SociedadeSulu Sou | Proibição de entrada de activista com motivações políticas [dropcap]O[/dropcap] deputado Sulu Sou considera que teve motivações políticas a proibição de entrada em Macau, na quarta-feira, de Yvonne Leung, uma antiga líder estudantil do chamado movimento dos ‘guarda-chuvas amarelos’ de Hong Kong. “Não vejo nenhum motivo pelo qual Yvonne Leung põe em risco a segurança. Como em muitos casos no passado, isto tem motivações políticas”, afirmou o mais jovem deputado de Macau à agência Lusa. Em declarações à agência de notícias France-Presse (AFP), a ex-presidente da União dos Estudantes da Universidade de Hong Kong Yvonne Leung afirmou que as autoridades a informaram de que suspeitavam que quisesse entrar no território “para participar em certas actividades que poderiam comprometer a segurança pública ou a ordem pública”. Um argumento, de resto, utilizado anteriormente pelas autoridades de Macau. “A polícia muitas vezes abusa das razões de segurança e confidencialidade”, apontou Sulu Sou. Yvonne Leung, de 25 anos, participou no movimento dos ‘guarda-chuvas amarelos’, em 2014, que paralisou o território durante mais de dois meses, e foi a única mulher da delegação estudantil presente nas negociações com as autoridades de Hong Kong durante os protestos. Nos últimos anos, porém, Yvonne Leung retirou-se de qualquer actividade política ou activista.
João Romão VozesManga ocidental? [dropcap]R[/dropcap]egresso ao tema da manga japonesa, que tratei em crónica anterior para dar conta da minha decepção enquanto aficcionado ao constatar que no Japão há ainda uma profunda segregação de género relacionada com este tipo de literatura, que se traduz em recorrentes estereotipadas representações do corpo feminino de acordo com supostos padrões de beleza masculinos, na reprodução sistemática de tradicionais papéis sociais supostamente inerentes ao género sexual e até na existência de publicações diferentes para os públicos masculino e feminino. Há excepções, no entanto, e uma delas tornou-se recentemente um sucesso comercial nacional e internacional. Traduzido à letra, o título em português seria “Sou teu” ou “Sou tua” (“Kimi no na wa”), ainda que o título da edição internacional em inglês tenha sido adaptado para “O teu nome” (Your name). Começou por ser um filme de animação (anime) dirigido por Makoto Shinkai, tendo depois sido publicado como novela pelo mesmo autor e finalmente como banda desenhada (manga) em três preciosos volumes com a colaboração do ilustrador Ranmaru Kotone. O enredo contradiz ao máximo as ideias da representação tradicional dos papéis de género: um rapaz com uma vida cosmopolita numa grande cidade e uma rapariga de uma pequena vila em ambiente rural trocam sistematicamente de identidade e vivem temporariamente no papel do outro, sem saberem quando isso vai acontecer e em que momento vai acabar. Explorando as limitações das representações tradicionais de género, o enredo aborda também os limites entre o sonho e a realidade ou as contradições entre a vida quotidiana e as possibilidades de um futuro diferente. O sucesso da obra acabou por atrair uma produtora cinematográfica de Hollywood, disposta a produzir uma nova versão, com actores, actrizes e cenários “reais”, o que foi anunciado em finais de 2017. No entanto, mais de um ano passou sem que se conhecessem desenvolvimentos do projecto, tendo o previsível argumentista desta nova versão (Eric Heisserer) adiantado alguma explicação em entrevista recente: segunda afirma, os detentores (japoneses) dos direitos de utilização da obra exigem que o filme tenha um ponto de vista “ocidental”. A razão que adiantam é aparentemente simples (para ter uma perspectiva “oriental” podiam fazer o filme no Japão), mas acaba por remeter para uma questão maior e mais complexa: o que é uma perspectiva “ocidental” e em que se traduz essa dicotomia “oriental” vs “ocidental”, sobretudo quando se trata de uma história de dois adolescentes que tem características bastante universais (no sentido em que nada do que na história é essencial é particularmente específico do Japão)? Vivo com essa questão de forma recorrente desde que me instalei quase em permanência no Japão. É frequente usar-se essa dicotomia “oriental” vs “ocidental” em conversas informais, em notícias da imprensa ou em discussões científicas em ambientes académicos. Reconheço a minha dificuldade: não percebo o que é “ocidental”, nem o que é “oriental”, e muito menos onde está a fronteira entre esses dois supostos universos. Ficando pelo caso do cinema, que é o assunto da crónica e serve como exemplo suficiente: terá a mesma “perspectiva ocidental” um filme produzido em Portugal, em França, na Alemanha, no Brasil, na Argentina, no México ou nos Estados Unidos? Ou de outra forma, ficando pelo mesmo país: será a mesma “perspectiva ocidental” a que é transmitida num filme realizado por, digamos, Quentin Tarantino, Steven Spielberg, Martin Scorsese, David Fincher Fincher ou Spike Lee? Talvez sejam muito maiores as diferenças que as semelhanças entre as abordagens destes realizadores, ainda que todos sejam, não só “ocidentais”, como da mesma nacionalidade. O mesmo se passa, naturalmente, em relação à suposta “perspectiva oriental”. Serão assim tão semelhantes as abordagens cinematográficas no Japão, na China, no Vietname ou nas Filipinas? Haverá uma linguagem ou um fundamento comum que as distinga de uma qualquer “perspectiva ocidental”? Não há diferenças significativas de abordagens dentro de cada um destes países? Pela parte que me toca, confesso o meu limitado (ou nulo) entendimento do que me querem dizer quando no Japão me falam em “perspectiva ocidental”, o que acontece com frequência e em contextos muito diferentes. Espero, em todo o caso, que com estas singelas crónicas não esteja a representar toda uma perspectiva civilizacional “ocidental” e me responsabilize apenas a mim próprio.