Hoje Macau SociedadePonte HKZM | Transportadora diz que regras vagas impedem maior fluxo de mercadorias [dropcap]O[/dropcap] responsável de uma transportadora asiática afirmou que o fluxo de mercadorias na nova ponte que liga Hong Kong, Macau e Zhuhai, na China, continua a ser reduzido devido às regras “pouco claras” estabelecidas por Pequim. Em entrevista ao jornal de Hong Kong South China Morning Post (SCMP), George Yeo adiantou que a sua empresa vai esperar por regras mais claras antes de decidir se vai utilizar a ponte, um marco do projecto de integração regional da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. Actualmente, a circulação na ponte está sujeita a quotas, pelo que os veículos não podem circular livremente. “Os detalhes são muito importantes. Neste momento, temos apenas uma ideia geral [do plano da Grande Baía]. Agora temos de ir aos pormenores”, disse o director executivo da Kerry Logistics, com sede em Hong Kong. “Ainda há muito pouca carga a atravessar [a ponte] porque as regras não estão claramente estabelecidas com as autoridades aduaneiras”, frisou o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Singapura. Desde que a ponte com uma extensão total de 55 quilómetros abriu, em Outubro passado, o número reduzido de carros privados e de camiões a fazerem a travessia tem sido um tema central de discussão. A infra-estrutura, considerada a maior travessia marítima do mundo, levantou a esperança de que o movimento de mercadorias entre as cidades do Delta do Rio das Pérolas aumentasse exponencialmente. No entanto, em Fevereiro último, não chegaram a 3.500 os veículos de transporte de mercadorias na ponte, de acordo com dados oficiais da autoridade que gere a ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau. Um mês depois da abertura, a mesma autoridade admitiu que o trânsito ficou “aquém das expectativas” e que existe “grande espaço” para aumentar o fluxo de veículos. O documento das “Linhas Gerais do Planeamento para o Desenvolvimento da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau” foi divulgado no mês passado pelo Governo central chinês. Até 2022, a Grande Baía deverá converter-se num ‘cluster’ de classe mundial e, até 2035, numa área de excelência a nível internacional.
Hoje Macau China / ÁsiaPyongyang descreve como “ataque terrorista” assalto a embaixada em Madrid, em Fevereiro [dropcap]P[/dropcap]yongyang descreveu hoje como um “ataque terrorista” o assalto à sua embaixada em Madrid, em Fevereiro, reivindicado por um grupo de opositores do regime, segundo um comunicado divulgado pela agência oficial KCNA. “Um grave ataque terrorista ocorreu em 22 de Fevereiro, durante o qual um grupo armado atacou a embaixada da RPDC”, disse um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, citando as iniciais do nome oficial do país, Republica Popular Democrática da Coreia. A representação diplomática norte-coreana foi alvo de um assalto em 22 de Fevereiro, alguns dias antes da segunda cimeira, em Hanói, entre o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder norte-coreano, Kim Jong-un. Na terça-feira, um juiz de instrução espanhol tornou públicos pormenores sobre o assalto e sobre o alegado grupo responsável. Mais tarde, o grupo de Defesa Civil Cheollima (DCC) reivindicou o ataque. Na primeira reacção oficial, a Coreia do Norte referiu-se hoje a um possível envolvimento dos EUA no ataque e exortou as autoridades espanholas a levar à justiça “terroristas e aqueles que puxam os cordelinhos”. “Esperamos que as autoridades competentes em Espanha (…) investiguem este incidente de forma completa e responsável”, frisou o porta-voz do regime, em comunicado. Os tribunais espanhóis indicaram que o suposto líder do grupo é Adrian Hong Chang, um cidadão mexicano residente nos Estados Unidos.
Hoje Macau Manchete ReportagemProstituição | Abertura económica soltou “demónio social” antigo na China Por João Pimenta, da agência Lusa [dropcap]S[/dropcap] ituado no centro de Pequim, o Bali SPA recebe os clientes com chá e tangerinas. Nos corredores, música étnica do sudoeste chinês alterna com solos de piano. Mapas de acupuntura e reflexologia enfeitam as paredes. Um cheiro doce a incenso enche o ar. Os quartos, recentemente renovados, ostentam soalhos em madeira, luz ambiente e quadros decorativos. Mas, por detrás da fachada de SPA de luxo, mulheres de 20 e poucos anos, oriundas do interior pobre da China, oferecem serviços sexuais. No país mais populoso do mundo, com cerca de 1.400 milhões de habitantes, estima-se que haja dez milhões de prostitutas. Em hotéis, casas de massagens ou bares de karaoke, serviços “extra” são sugeridos aos clientes. Altos quadros do Partido Comunista Chinês (PCC) caídos em desgraça são acusados de manter várias amantes, através de avenças e prendas de luxo, numa versão moderna do concubinato. A vasta indústria, no entanto, raramente é referida na imprensa estatal ou em documentos oficiais. “Para o PCC, a prostituição está associada às sociedades capitalistas, e, portanto, não existe na China”, ironiza à agência Lusa Lijia Zhang, autora de um livro sobre o tema. Inspirada pela descoberta de que a sua avó foi vendida a um bordel na adolescência, Lijia narra em “Lotus” o percurso de uma trabalhadora migrante que cai na prostituição em Shenzhen, uma das mais prósperas cidades chinesas, usada como laboratório à abertura do país à economia de mercado, nos anos 1980. Considerada um “demónio social”, a prostituição foi imediatamente combatida pelo PCC após assumir o poder, em 1949, através do encerramento de bordéis e proibição do concubinato. A perspectiva feudal sobre o papel da mulher foi igualmente contrariada sob a máxima maoista “as mulheres seguram metade do céu”. As reformas económicas pós-maoismo, porém, levaram à migração de centenas de milhões de trabalhadores rurais para as cidades do litoral, alimentando o ‘boom’ na construção e indústria que permitiu à China converter-se na segunda maior economia do mundo, a um ritmo sem paralelo na História moderna mas que rompeu com o tecido social do país. O restrito sistema de residência das cidades, conhecido como ‘hukou’, priva ainda estes trabalhadores de serviços básicos, como o acesso à educação ou saúde pública. “As pessoas nos estratos inferiores da sociedade vivem numa luta constante pela sobrevivência: não existe qualquer tipo de assistência social ou apoio”, descreve Lijia. “São sobretudo mulheres oriundas dos meios rurais, sem educação ou capacidades que as preparem para a vida na cidade”, conta. A prostituição na China é punida com pena administrativa, sem passar pelos tribunais: em caso de evidência, as mulheres são enviadas para centros de “abrigo e educação”, por um período máximo de dois anos. Críticos dizem que os centros têm pouco a ver com educação e denunciam maus-tratos, trabalho forçado e a obrigação de pagar por subsistência e exames médicos a preços proibitivos. “A conversa sobre reabilitação ou formação ideológica é treta, serve apenas para extorquir dinheiro em nome do Estado e da polícia”, refere uma das ex-detidas, citada num relatório da Asia Catalyst, organização que defende grupos marginalizados na região. Lijia nota, porém, que apesar das dificuldades, a profissão surge como alternativa a empregos mal pagos e monótonos em linhas de montagem ou restaurantes. “Não é uma vida totalmente miserável”, diz. “Elas passam a desfrutar do dinheiro e tempo livre, de um estilo de vida urbano: compram roupas, produtos de beleza ou experimentam cozinhas diferentes”, conta. Xiaowu, de 25 anos e natural da província de Henan, centro da China, começou a trabalhar no Bali SPA há dois meses. Apesar de não gostar da ocupação, admite desfrutar da vida em Pequim. “Quando era mais nova, na minha aldeia natal, pela amanhã, havia apenas ‘mantou’ [pão cozido a vapor]; à noite, jantávamos sempre ‘tofu’ [alimento produzido a partir da soja]”, recorda. “Hoje, detesto comer tofu”, diz.
António de Castro Caeiro h | Artes, Letras e IdeiasObras no andar de cima [dropcap]H[/dropcap]á quase quatro semanas que tenho obras no andar de cima. Normalmente, começam por volta das oito da manhã. Mas há dias em que acho que não haverá barulho. Outros há em que acredito que terminarão em breve e nada faço. Nada faço quer dizer não saio de casa, não vou para a Faculdade ou para um café. Como trabalho em casa e estou habituado ao meu habitat, fico desnorteado. Insisto. Já me aconteceu estar horas à espera de que qualquer coisa suceda, que o barulho ensurdecedor pare, que eu consiga finalmente concentrar-me e abafar o barulho. Mas é óbvio nunca nada disso acontece. Num destes sábados, o trabalhador disse-me que ia fazer barulho. Respondi que já estava habituado. Não sei bem se me percebeu, até mesmo porque os trabalhadores das obras devem achar que as pessoas estão fora durante o dia. Pelo menos que podem ausentar-se. Ainda assim, tive o primeiro impacto com ele. Eram para aí umas seis e meia da tarde, quando começa o som do que posso descrever apenas como um matraquear violento. Parecia que era no interior da minha cabeça, não era na divisão acima apenas. Por mais que procurasse abrigo em qualquer uma das divisões da casa, ficava sempre exposto ao barulho ensurdecedor. O som é cacofónico, não tem ritmo ou varia conforme o volume do excessivo para ainda mais excessivo. O som tem um impacto táctil. Sinto mal estar por todo o corpo. Não consigo ouvir os meus pensamentos, nem escutar música nem ler nem ver televisão. Lá fui ao andar de cima e bati com força na porta, porque a campainha estava desligada. O senhor apareceu-me atarantado. Eu disse-lhe que era sábado e era já muito tarde para estar a fazer aquele barulho. Incomoda-me sempre falar com alguém que está a trabalhar. O trabalho é o seu ganha pão. O inconveniente e incómodo são meus. Ele pediu desculpa e terminou o serviço, pelo menos o mais pesado, porque achou que poderia executar outras tarefas não tão ruidosas. Eu não tinha percebido que aquele sábado era apenas o início de um inferno sem tréguas. A qualquer hora do dia, sobretudo de manhã, começava aquele ruído, barulho, manifestação acústica do inferno. É a minha representação acústica do inferno. Obras para sempre no andar de cima, sem que eu possa sair de casa. Não sei bem por quê não poder sair de casa, por que razão havia uma impossibilidade de alterar as hipóteses para sobreviver ao dia-a-dia. O que me faria insistir em estar em casa. Claro que é a casa e é aqui que trabalho, não tenho um local de trabalho, por assim dizer. Mas por outro lado, há tanta gente que vai para um café ou praia ou biblioteca. Por quê ter insistido? Talvez algo de resistente ainda sobreviva. Não quer ser expulso de casa e querer ficar onde é casa, onde me sinto acolhido, onde é familiar trabalhar. E é aqui que as coisas começam a fazer sentido. O meu trabalho como qualquer trabalho de natureza intelectual ou que requeira a concentração absoluta do espírito manifesta-se musicalmente. A música é a agenda, o programa, o calendário e o horário. Noto que não ouço música se não no carro. Mas nunca para trabalhar. Não foi sempre assim. Costumava ouvir em modo repeat canções que me permitiram tal como mantras entrar em transe. Estudava a ouvir música. Depois, porém, deixei de o fazer. Tal como anos antes tinha deixado de tocar música porque se tornou objetivamente incompatível ler e tocar. Mais tarde tornou-se incompatível ler e escutar música. É que a agenda do estudo era musical. O objectivo era o transe, o fluído, a corrente disposicional que se cria quando estudamos, quando vamos nas horas num voo de sobrevoo, alto, sobre as picos da paisagem do espírito. Quando estudo, ouço música. Como disse Sócrates não aquela versão popular, acústica, com instrumentos. É uma música idêntica à que se sente vibrar em nós quando vemos um filme ou um espectáculo, quando lemos ou ouvimos ler poesia. O mesmo se passa quando dou aulas. É uma passagem por uma dimensão musical. Era isto mesmo que eu achava que estava a acontecer. A passagem das horas requer a música que é criada ou recriada pelo estudo, pela insistência, pela tentativa de compreender e interpretar passos do pensamento ou formas de traduzir esses mesmos pensamentos. Ler é um acontecimento musical, transporta-nos para outras dimensões com velocidades musicais, ritmos, volumes sonoros, paisagens emocionais, sentimentos, vibrações que nos fazem bem ao corpo. É uma experiência Zen. Era esse feitiço que tinha sido quebrado. O ruído da vida, o barulho, perturba justamente esta dimensão musical que se cria pelo espírito, através do espírito e para o espírito. Hoje, tem sido um dia bom. Comecei com as pancadas violentas que perturbam o sono às oito horas da manhã de uma noite mal dormida. Pensei que não iria sobreviver. Mas afinal, o barulho violento das batidas incompreensíveis tem sido mais ou menos pacífico. Consegui alinhar estas frases de transe e no transe, quando é bom ouvir lá ao fundo os carros a passar imperturbáveis na ponte 25 de Abril, quando os homens das obras não gritam uns com os outros e eu consigo, sossegado, entrar na dimensão musical da minha agenda.
Diana do Mar SociedadeJogo | Macau Legend regressou aos lucros em 2018 [dropcap]O[/dropcap] grupo Macau Legend fechou 2018 com lucros líquidos de 1,96 mil milhões de dólares de Hong Kong, depois de em 2017 ter registado prejuízos de 507,3 milhões de dólares de Hong Kong. Em comunicado, enviado na sexta-feira à Bolsa de Hong Kong, o grupo, liderado pelo empresário David Chow indica que o regresso aos lucros ficou a dever-se sobretudo à alienação dos The Landmark Macau (em Abril) e a melhorias no desempenho da componente de jogo. As receitas alcançaram 1,86 mil milhões de patacas no ano passado, traduzindo uma subida na ordem de 2 por cento. Só as receitas de jogo da Macau Legend cresceram 12 por cento para 1,35 mil milhões de dólares de Hong Kong, a esmagadora maioria dos quais gerados em Macau, onde opera sob a bandeira da Sociedade de Jogos de Macau (SJM). O segmento de jogo de massas foi o que mais cresceu – 20 por cento em termos anuais para 958 milhões de dólares de Hong Kong –, enquanto o VIP expandiu-se 3 por cento, atingindo 162 milhões. A título de exemplo, as receitas de jogo do casino Legend Palace – um dos três que a Macau Legend opera – mais do que duplicaram, alcançando 683 milhões de dólares de Hong Kong. Já a componente extrajogo da Macau Legend diminuiu para 507 milhões de dólares de Hong Kong devido à queda das receitas na sequência da alineação do The Landmark Macau. Além de Macau, a Macau Legend gera e opera um casino no Laos, o Savan Legend, que gerou receitas de 231 milhões de dólares de Hong Kong, segundo o mesmo comunicado. Além disso, o grupo firmou acordos para o desenvolvimento de outras instalações de turismo e entretenimento, nomeadamente em Cabo Verde, onde está a erguer um empreendimento, que inclui casino, avaliado em mais de 200 milhões de euros.
Hoje Macau China / ÁsiaNegociações comerciais entre China e EUA terminam sem acordo [dropcap]A[/dropcap] China e os Estados Unidos concluíram ontem sem um acordo mais uma ronda de negociações que visam pôr fim à guerra comercial que começou no verão passado e ameaça abalar a economia mundial. “Concluímos em Pequim discussões construtivas. Aguardo com expectativa receber o vice-primeiro-ministro chinês Liu He, na próxima semana, em Washington, para prosseguir com discussões”, escreveu na rede social Twitter o secretário do Tesouro norte-americano, Steven Mnuchin, sem avançar mais detalhes. A delegação norte-americana, que incluiu Mnuchin e o Representante para o Comércio, Robert Lighthizer, foi recebida esta manhã pelo vice-primeiro-ministro chinês Liu He, na residência diplomática de Diaoyutai, em Pequim. Os negociadores de ambos os países apertaram as mãos para os fotógrafos, num ambiente aparentemente descontraído, com sorrisos e trocas de palavras amigáveis, apesar de as negociações se terem já prolongado para além do período de tréguas inicial. As duas delegações tiveram na quinta-feira um jantar de trabalho, mas as reuniões só arrancaram oficialmente ontem. A ascensão ao poder de Donald Trump nos EUA ditou o início de disputas comerciais, com os dois países a aumentarem as taxas alfandegárias sobre centenas de milhões de dólares de produtos de cada um. Trump e Xi concordaram, entretanto, com uma trégua de 90 dias, que terminou em 2 de Março, mas que foi prolongada indefinidamente, visando encontrar uma solução para as disputas comerciais. Os EUA querem mudanças “estruturais” no modelo económico chinês, dominado por grupos estatais sob tutela do Partido Comunista Chinês. Trump exige ainda que a China ponha fim a subsídios estatais para certas indústrias estratégicas, à medida que a liderança chinesa tenta transformar as firmas do país em importantes actores em actividades de alto valor agregado, como inteligência artificial ou robótica, ameaçando o domínio norte-americano naquelas áreas. Washington quer também mais acesso ao mercado, melhor protecção da propriedade intelectual e o fim da ciberespionagem sobre segredos comerciais de firmas norte-americanas.
Hoje Macau China / Ásia MancheteAssembleia da República portuguesa preocupada com liberdades no Tibete [dropcap]O[/dropcap] parlamento português aprovou ontem um voto em que manifesta a sua preocupação pelo respeito das liberdades no Tibete e pede empenho à China na protecção dos direitos humanos. Partido Socialista (PS), Partido Social Democrata (PSD), Bloco de Esquerda (BE) e CDS-PP votaram a favor do texto, que recebeu os votos contrários do Partido Comunista Português e do PAN – Partido Animais Natureza, registando-se a abstenção do Partido Ecologista os Verdes e de três deputados centristas (Telmo Correia, Ana Rita Bessa e João Almeida). No voto, apresentado pela bancada do PS, manifesta-se “preocupação pela subsistência de situações em que não são asseguradas as liberdades fundamentais no território do Tibete”. Por outro lado, apela-se “às autoridades da República Popular da China que assegurem, em diálogo com a sociedade civil e na linha dos padrões internacionais de protecção dos direitos humanos de que é signatária, no quadro da Organização das Nações Unidas, a sua plena efectivação”. No voto, reconhece-se que, “apesar de várias iniciativas de diálogo e concertação”, continuam a existir “motivos para preocupação sobre a situação no território do Tibete”. “Em particular, no que concerne à necessidade de garantir plenamente a identidade cultural dos tibetanos, a liberdade de expressão e religião, o exercício da liberdade religiosa e o acesso de viajantes estrangeiros ao território”, afirma-se no texto.
Hoje Macau China / Ásia MancheteJack Ma quer premiar melhores empreendedores de África com um milhão de dólares [dropcap]O[/dropcap] prazo de candidaturas para o Africa Netpreneur Prize Iniciative (ANPI), concurso lançado pelo bilionário chinês do sector tecnológico Jack Ma, arrancou esta semana, visando encontrar empreendedores do continente com impacto positivo nas suas comunidades. Segundo o portal oficial do prémio (https://www.netpreneur.africa/), o concurso destina-se a empreendedores de todos os países africanos, género e grupos etários, e inclui um prémio monetário de um milhão de dólares. O prazo de candidaturas encerra a 30 de Junho. Depois de um processo de revisão, dividido em duas etapas, dez finalistas vão apresentar, em Novembro, as suas ideias a Jack Ma, e entres estes será escolhido o vencedor. A política e activista dos Direitos Humanos moçambicana Graça Machel e Ban Ki-moon, ex-secretário-geral da ONU, fazem parte do conselho consultivo da ANPI. Graça Machel elogiou a abordagem inclusiva do programa. “Eu especialmente encorajo as mulheres a candidatarem-se. Cabe a vocês serem os heróis que conduzirão o continente ao próximo estágio de desenvolvimento, crescimento e prosperidade”, disse. Ma é o segundo homem mais rico da China e o fundador do grupo Alibaba, que revolucionou o consumo na China, através dos ‘sites’ de comércio electrónico Taobao e Tmall. Licenciado em língua inglesa, o empresário fundou o Alibaba em 1999, num apartamento em Hangzhou, na costa leste da China, para ligar exportadores chineses a retalhistas além-fronteiras. Hoje, o grupo é a maior empresa de comércio electrónico do mundo. Além de operar as plataformas Taobao e Tmall, que dominam grande parte das vendas ‘online’ na China, passou a investir, nos últimos anos, em plataformas ‘online’ para financiamento (P2P, na sigla em inglês), computação em nuvem e outros serviços. A competição vai-se realizar anualmente, ao longo dos próximos dez anos.Todos os dez finalistas vão ainda receber financiamento da Fundação e serão integrados na comunidade Netpreneur, para impulsionar e partilhar as respectivas experiências. “Até 2030, esperamos identificar e distinguir 100 empreendedores africanos que vão inspirar o continente”, disse Beth Yu, secretário executivo geral da Fundação Jack Ma. Sam Gichuru, fundador do Nailab, uma das maiores incubadoras de ‘startups’ do Quénia e parceiro da ANPI, considerou que “a iniciativa vai ajudar a consolidar ainda mais os laços sino-africanos”. Citado pela agência noticiosa oficial Xinhua, Gichuru disse que o prémio visa recompensar os empreendedores de todos os sectores da economia que têm um impacto positivo nas suas comunidades. Além do Nailab, a Fundação Jack Ma conta com a 22 em Sloane, o maior campo de ‘startups’ da África do Sul, a NINE, a maior rede de incubadoras da Nigéria, e a RiseUp, plataforma que liga ‘startups’ e financiadores, para promover a iniciativa nas respectivas regiões.
Hoje Macau SociedadeEspecialistas defendem que Macau financie indústrias sustentáveis nos países lusófonos [dropcap]V[/dropcap] ários especialistas defenderam que Macau deve transformar-se num centro do financiamento chinês às indústrias sustentáveis nos países lusófonos, definindo-o como um mercado de risco, mas rico em recursos naturais. “Os países de língua portuguesa são a ‘casa’ de 267 milhões de habitantes, têm vastas reservas de petróleo, gás”, possuem potencial turístico e recursos marinhos e, no seu todo, assumem-se como “o quarto maior produtor de petróleo do mundo”, sublinhou o professor da Faculdade de Gestão de Empresas da Universidade de Macau, Jacky So, no segundo dia do Fórum e Exposição Internacional de Cooperação Ambiental de Macau (MIECF, na sigla inglesa). “É um mercado com os seus riscos, mas de grande potencial” e “a China precisa de garantir recursos energéticos”, explicou o especialista. “Portugal e Brasil poderiam especializar-se no desenvolvimento de ‘software’ e tecnologia para combater o aquecimento global” e os outros países lusófonos [Angola, Moçambique, Timor-Leste, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe] “exportariam os seus materiais e recursos para financiarem os investimentos ‘verdes’”, defendeu. Ou seja, os países de língua portuguesa poderiam suportar os seus investimentos na indústria virada para o desenvolvimento sustentável “com a receita do comércio com a China” e com a nova metrópole mundial denominada de Grande Baía que envolve Macau, Hong Kong e nove cidades chinesas da província de Guangdong, através de Macau, resumiu Jacky So. O papel de Macau como um centro de financiamento de indústrias ‘verdes’ dos países lusófonos foi também defendida na mesma sessão pelo director-adjunto do Instituto de Pesquisa Financeira do Banco Popular da China (o banco central chinês), Mo Wangui, bem como pelo fundador e vice-presidente da Fundação de Desenvolvimento Urbano da China, Zheng Xiaoping, o presidente do conselho de administração da Autoridade Monetária de Macau, Chan Sal San, e o chefe de divisão de Políticas e Regulamentação, Administração e Supervisão Financeira Local da província de Guangdong, Yang Yiming. No discurso de abertura, o presidente do conselho de administração da Autoridade Monetária de Macau lançou desde logo o debate: “Macau envidará os seus maiores esforços para aperfeiçoar as infraestruturas financeiras, conceber políticas e medidas de estímulo (…) e maximizar o aproveitamento das vantagens de Macau como plataforma entre a China e os países de língua portuguesa, bem como promover a comunicação e troca de informação entre os mercados financeiros verdes da Grande Baía e do exterior”. Mais tarde, aos jornalistas, o orador principal convidado pelo Governo de Macau, Michael Liebreich, alertou para alguns desafios que se colocam a partir deste cenário. “A questão é saber se os países em desenvolvimento [em África] vão querer seguir um caminho ‘verde’, uma vez que vão querer industrializar-se e fazer crescer rapidamente as economias, seguindo velhos modelos”, como aquele seguido pela China até há pouco tempo, advertiu o consultor em financiamento climático e desenvolvimento sustentável. O MIECF acolhe mais de 500 expositores, provenientes de cerca de 20 países e regiões. As sessões integram oradores de cerca de 70 pioneiros ambientais, líderes de empresas multinacionais e criadores de políticas, provenientes de sete países e regiões, nomeadamente, da China, Holanda, Portugal, Timor-Leste, Reino Unido, Hong Kong e Macau. O MIECF 2019 ocupa uma área total de exposição de mais de 16.900 metros quadrados
Hoje Macau SociedadeMacau pode ser líder ecológico e influenciar China e resto do mundo, diz consultor [dropcap]O[/dropcap] consultor, ex-director dos Transportes de Londres e antigo presidente do conselho consultivo da Bloomberg New Energy Finance disse que Macau tem condições para ser um líder ecológico e influenciar a China e o resto do mundo. “A questão para Macau é esta: por que não liderar, por que não ser o primeiro, mas também produzir conhecimento e capacidade para criar negócios e influenciar a China continental e o resto do mundo?”, até porque “não falta capital”, salientou Michael Liebreich no segundo dia do Fórum e Exposição Internacional de Cooperação Ambiental de Macau (MIECF, na sigla inglesa). A falta de espaço em Macau não é um problema para a criação de infraestruturas associadas ao desenvolvimento sustentável, como o carregamento de viaturas eléctricas, mas o verdadeiro obstáculo pode estar em gerar energia renovável, admitiu o consultor em áreas que vão desde a energia limpa e transporte, infraestrutura inteligente, tecnologia, até ao financiamento climático e desenvolvimento sustentável. Por isso, sugeriu, “seria importante trabalhar com a China continental e importar electricidade ‘limpa’”. Em 2030, Macau só deveria comprar electricidade gerada a partir de emissões zero de carbono, exemplificou. “Macau é um caso de estudo interessante. Não vejo porque razão todo o transporte terrestre não é todo eléctrico (…) e até os ferries serão todos eléctricos. É uma questão de tempo (…) até todos os transportes de curta distância (…) serem todos eléctricos”, defendeu, sublinhando a pequena dimensão do território, que tem cerca de 30 quilómetros quadrados. “É um desafio e oportunidade tornar Macau uma ‘jóia verde’ da Grande Baía [um projecto regional de criação de uma metrópole mundial] e torná-la exemplar”, sustentou, salientando o potencial do “impacto da marca” e, consequentemente, de influenciar através da liderança. Para Michael Liebreich, o desafio passa por começar a “reduzir a pegada ecológica, com hotéis, transportes, aviação” para, dessa forma, “ganhar competitividade” regional. O MIECF acolhe mais de 500 expositores, provenientes de cerca de 20 países e regiões. As sessões integram oradores de cerca de 70 pioneiros ambientais, líderes de empresas multinacionais e criadores de políticas, provenientes de sete países e regiões, nomeadamente, da China interior, Holanda, Portugal, Timor-Leste, Reino Unido, Hong Kong e Macau. O MIECF 2019 ocupa uma área total de exposição de mais de 16.900 metros quadrados.
Hoje Macau China / ÁsiaChina | Cantão oferece dinheiro por denúncias sobre grupos religiosos [dropcap]A[/dropcap] cidade chinesa de Cantão está a oferecer recompensas monetárias por informações sobre “grupos religiosos ilegais”, numa altura em que o Partido Comunista Chinês (PCC) aperta o cerco sobre comunidades religiosas. Uma mensagem publicada no portal oficial do Departamento de Assuntos Étnicos e Religiosos de Cantão oferece 10.000 yuan por informações fidedignas sobre grupos religiosos “estrangeiros ilegais” e ajuda para identificar os seus membros mais importantes e líderes. A mesma nota diz que recompensas menores serão oferecidas por denúncias sobre locais religiosos abertos sem permissão e comportamentos que encorajam o “extremismo religioso”. Cantão é a capital da província de Guangdong, que faz fronteira com Macau e Hong Kong. O PCC, cuja base teórica marxista promove o ateísmo, tem procurado, nos últimos anos, eliminar toda a expressão religiosa fora do seu controlo directo. Após ascender ao poder, o Presidente chinês, Xi Jinping, lançou uma campanha com o objectivo de “achinesar” as principais religiões no país, tendo resultado numa maior repressão de grupos sob suspeita de manterem laços com o exterior. Na China, os assuntos religiosos do budismo, taoismo, islamismo ou cristianismo estão atribuídos a congregações sob tutela do PCC. Os crentes que praticam a sua fé de forma clandestina estão sujeitos à perseguição e prisão. Organizações não-governamentais estimam ainda que a China mantém detidos cerca de um milhão de membros da minoria étnica chinesa de origem muçulmana uigure, em campos de doutrinação política, na região de Xinjiang, extremo noroeste do país. Antigos detidos relataram maus tratos e violência e afirmam terem sido forçados a criticar o Islão e a sua própria cultura, e a jurar lealdade ao Partido Comunista. Depois de, inicialmente, negar a existência dos campos, Pequim diz agora que se trata de centros de “formação vocacional”, destinados a treinar uigures, como parte de um plano para trazer a minoria étnica para o mundo “moderno e civilizado”, e eliminar a pobreza no Xinjiang.
Hoje Macau Manchete SociedadeMacau desliga luzes este sábado pela “Hora do Planeta”, incluindo casinos [dropcap]M[/dropcap] acau vai desligar este sábado, durante 60 minutos, todas as “luzes desnecessárias”, juntando-se mais uma vez à Hora do Planeta, iniciativa global que se estende aos casinos do território. Entre as 20:30 e as 21:30, Macau vai cumprir o “apagão mundial” de uma hora promovido pelo Fundo Mundial para a Vida Selvagem e Natureza (WWF), apoiando a “conservação de energia e a redução de emissões”, indicou o Gabinete para o Desenvolvimento do Sector Energético, em comunicado. Este ano, juntam-se à iniciativa as três pontes que ligam a península de Macau à ilha da Taipa, as seis operadoras de casinos, os edifícios dos serviços governamentais e alguns dos “edifícios mais emblemáticos da cidade”. O Governo, que se junta pela 11.ª vez ao movimento global, apelou ainda à participação de todos os cidadãos e das empresas dos sectores industrial e comercial. A Hora do Planeta começou há 12 anos em Sydney, onde se estima que mais de dois milhões de pessoas colaboraram com o apagão para uma poupança de 2% a 10% da energia consumida na cidade. No entanto, a Hora do Planeta converteu-se “num movimento que vai muito mais além” do que apagar a luz, explicou à agência de notícias Efe Miguel Ángel Valadares, da WWF, entidade que espera voltar a envolver milhares de cidadãos em todo o mundo. A novidade este ano inclui três apelos adicionais para todo o dia: não comer carne, não consumir plásticos e não emitir CO2, como contributos particulares para ajudar a reduzir a perda de biodiversidade. Este sábado, estima-se que milhares de autarquias e empresas de quase 190 países juntar-se-ão a este apagão mundial de uma hora que se realiza desde 2007.
João Santos Filipe Manchete SociedadeTurista de Macau morre no Grand Canyon Um turista de 50 anos escorregou e caiu de uma altura de mais de 300 metros quando tirava uma selfie. A família foi informada e a agência de turismo está a tratar das formalidades para enviar o corpo para Macau [dropcap]U[/dropcap]m homem de 50 anos morreu, na quinta-feira, numa viagem turística ao Grand Canyon, nos Estados Unidos. O turista, residente em Macau, caiu de uma altura superior a 305 metros no miradouro Eagle Point. Enquanto tirava uma selfie, desequilibrou-se e acabou por cair da plataforma para o desfiladeiro. O turista local foi aos Estados Unidos numa excursão com mais 11 pessoas. O grupo tinha partido de Hong Kong numa viagem organizada pela agência Hong Thai Travel Services. As férias começaram no dia 26 de Março, na passada terça-feira, e incluía igualmente passagens por São Francisco, Las Vegas e Los Angeles. Horas depois do ocorrido, o Governo de Macau foi informado do acidente, através do Gabinete de Gestão de Crises do Turismo, pela agência de viagens, que pretendia informar os familiares do ocorrido. “Esta manhã fomos contactados pela agência de viagens a informar-nos do acidente com o turista de Macau. Pediram-nos ajuda para entrar em contacto com a família do falecido”, contou fonte do Gabinete de Gestão de Crises do Turismo (GGCT), ao HM. “Por enquanto, a agência de viagem não pediu outro tipo de auxílio por parte do Governo. Só nos pediram auxílio para entrarem em contacto com a família”, foi acrescentado. Após o acidente, a directora da Travel Industry Council of Hong Kong, Alice Chan Cheung Lok-yee, explicou que o turista acidentado estava coberto por seguro e que a situação aconteceu quando tentava tirar uma selfie. A responsável assegurou também que o guia turístico tinha dado indicações, em cantonês, às 12 pessoas do grupo para que tivesse cuidado e respeitassem as normas de segurança. Tribo Hualapai O acidente aconteceu numa área que faz parte da reserva Hualapai, uma tribo de nativos norte-americanos, que foi estabelecida em 1883. Este segmento, integrado no Parque Natural do Grand Canyon, é uma das sete maravilhas naturais do mundo e recebe em média de um milhão de visitantes por ano. Já o Grand Canyon em toda a sua extensão recebe cerca de 6,4 milhões de turistas por ano. Após ter acontecido o acidente, o porta-voz do Parque Natural do Grand Canyon, David Leibowitz, anunciou o encerramento daquela zona de visitas e afirmou que a tribo Hualapai ia rezar pelo residente de Macau, assim como pela sua família. Ainda nos Estados Unidos, o óbito foi igualmente confirmado pelo Consulado-Geral da China em Los Angeles. Esta foi a segunda morte no Grand Canyon no espaço da mesma semana. Já na terça-feira as autoridades norte-americanas haviam encontrado um corpo, que se acredita ser de um cidadão dos EUA a residir no estrangeiro.
Hoje Macau SociedadeAPOMAC | Funcionário do Gabinete de Ligação eleito sócio honorário [dropcap]A[/dropcap] APOMAC aprovou, em assembleia-geral de ontem, a proclamação do empresário Ng Fok como presidente honorário e do director-geral adjunto do departamento de coordenação do Gabinete de Ligação, Bian Tao, como sócio honorário. Tal sucedeu no dia da eleição dos novos corpos sociais para o triénio 2019/2022, à qual se apresentou uma única lista liderada por Francisco Manhão (presidente da direcção), Jorge Fão (presidente da assembleia-geral) e Manuel Maria Gomes (presidente do conselho fiscal), que obteve 130 votos válidos. A nova direcção tem, no entanto, dois novos elementos: Alice Gomes (vogal) e José Lourenço Fão (tesoureiro), informou a APOMAC em comunicado enviado às redacções.
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesA economia e psicologia da reciclagem “What a piece of work is a man! how noble in reason! how infinite in faculty! in form and moving how express and admirable! in action how like an angel! in apprehension how like a god! The beauty of the world, the paragon of animals”. Act II, scene 2, of Hamlet [dropcap]T[/dropcap]odos nós sabemos que devemos reciclar, mas mesmo os recicladores comprometidos podem ser erráticos, limpar e separar garrafas em um dia e colocar no lixo no dia seguinte. Porquê? Acontece que uma série de factores influencia as nossas decisões sobre o que colocar ou não na lixeira verde. É de considerar que dois desses factores surgiram em pesquisas recentemente realizadas sobre os hábitos de descarte. Foi descoberto primeiro, que as pessoas têm mais probabilidade de reciclar itens que não foram distorcidos, como latas de refrigerante e papel que não foi rasgado em pedaços e que se denomina por ” factor de distorção”. Os resultados de vários estudos demonstram que a decisão do consumidor de reciclar um produto ou colocá-lo no lixo pode ser determinada pela medida em que o produto foi distorcido durante o processo de consumo. Especificamente, se o processo de consumo distorce um produto suficientemente da sua forma original ou seja, mudanças no tamanho ou na forma, os consumidores percebem como menos útil e, por sua vez, são mais propensos a colocá-los no lixo, ao invés de os reciclar. Tais descobertas apontam para resultados importantes do processo de consumo que foram amplamente ignorados, e fornecem percepções iniciais sobre os processos psicológicos que influenciam o comportamento da reciclagem. A segunda descoberta refere-se ao facto de que são mais propensos a reciclar itens ligados a um elemento da sua identidade, como por exemplo, um copo da McDonald’s ou da Starbucks, que contém o nome da marca e que é denominado por “factor de identidade”. É sabido que as identidades dos consumidores influenciam as decisões de compra e as pessoas criam fortes conexões de identidade, ou ligações com produtos e marcas. Os estudos sobre a matéria, ainda necessitam de determinar se os produtos ligados à identidade são tratados de forma diferencial à disposição em comparação com os produtos que não estão ligados à identidade. Os actuais estudos realizados, mostram que quando um produto consumido diariamente como por exemplo, papel, copos e latas de alumínio estão ligados à identidade do consumidor, é menos provável que seja descartado e tenha maior probabilidade de ser reciclado. Além disso, a tendência de reciclar um produto vinculado à identidade aumenta com a força e a positividade da conexão entre o consumidor e o produto ou marca. O comportamento de descarte pode ser explicado pela motivação dos consumidores para evitar a destruição de um produto que esteja ligado a si, porque é visto como uma ameaça à identidade Os consumidores estarão mais propensos a reciclar, em vez de colocar no lixo um produto se estiver vinculado à identidade de um consumidor, e ocorre porque colocar um produto vinculado à sua identidade no lixo é simbolicamente semelhante a destruir uma parte do “eu”, uma situação que os consumidores estão motivados a evitar. O terceiro factor afecta não o que reciclamos, mas o quanto fazemos. As pessoas que sabem que vão reciclar depois de concluir uma tarefa que gera resíduos usam mais muito mais recursos do que teriam de outra forma. Alguns ambientalistas propõem um modelo utilitarista em que a reciclagem pode reduzir as emoções negativas dos consumidores de desperdiçar recursos ou seja, retirar mais recursos do que está a ser consumido e aumentar as emoções positivas dos consumidores, a partir da disposição dos recursos consumidos, fornecendo evidências para cada componente da função utilidade, usando uma série de problemas de escolha e formulando hipóteses baseadas em um modelo utilitário parcimonioso. As experiências com comportamento real de descarte apoiam as hipóteses do modelo. Os estudos sugerem que as emoções positivas associadas à reciclagem podem dominar as emoções negativas associadas ao desperdício e como resultado, os consumidores poderiam usar uma quantidade maior de recursos quando a reciclagem é uma opção e, de modo mais impressionante, esse montante poderia ir além do ponto em que a sua utilidade de consumo marginal se torna zero. Os proponentes ampliam o modelo teórico e introduzem a utilidade de aquisição e o efeito moderador do custo de reciclagem (financeiro, físico e mental) e de uma perspectiva política, esta proposta defende uma melhor compreensão do comportamento de disposição dos consumidores para aumentar a eficácia das políticas e campanhas ambientais. É de notar que o “factor de distorção” é importante quando se examina por exemplo, o conteúdo da colecta selectiva no ecoponto nos contentores de metal e de papel e do espaço dedicado ao lixo para não reciclagem. Os pedaços de papel intactos, em geral, foram reciclados e os fragmentos de papel foram destruídos e quanto às latas de alumínio, as intactas foram recicladas e as amassadas ou esmagadas foram descartadas. O que explica este factor? Quando um item é suficientemente distorcido ou alterado em tamanho ou forma, as pessoas percepcionam como inútil e como algo sem futuro e colocam no lixo. Tal facto explica parcialmente porque tanto material reciclável termina no aterro. Ainda que, as pessoas estejam sensibilizadas para reciclar muitos itens comuns, apenas 65 por cento do papel e 55 por cento do alumínio são reciclados. Ao conscientizar as pessoas desse factor poder-se-ia potencialmente mudar o comportamento do descarte. As empresas direccionadas para a sustentabilidade poderiam melhorar as taxas de reciclagem por meio de inovações em embalagens que, por exemplo, aumentam a facilidade de abertura e diminuem a distorção, o que poderia melhorar a probabilidade de as embalagens serem recicladas e até mesmo reutilizadas. A exploração ao factor de identidade, foi revelado em um recente estudo da Universidade de Yale, em que foi efectuada uma visita a um café onde o empregado escreveu incorrectamente o nome do cliente na chávena descartável, e escrever os nomes dos clientes nas chávenas tornou-se um padrão em muitos cafés, ligando o produto a alguma parte da identidade do cliente. Foi pedido a um grupo de voluntários para provar e avaliar o café. Os participantes foram questionados sobre os seus nomes, e os que foram soletrados correctamente ou intencionalmente grafados erroneamente nas suas chávenas. Aqueles cujos nomes foram escritos correctamente eram significativamente mais propensos a reciclar a sua chávena do que aqueles cujos nomes foram escritos incorrectamente. Foram realizados diversos outros estudos com diferentes produtos e formas de vincular o produto às identidades dos consumidores, como usar bandeiras americanas ou logótipos de universidades, que ligam as pessoas a importantes identidades de grupo. Foi descoberto consistentemente que as pessoas são mais propensas a reciclar do que a descartar produtos ligados à identidade, e que a destruição desses produtos pode reduzir a auto-estima e como seria de esperar, é uma pena jogar um pedaço de si no lixo, para que as pessoas o evitem fazer. Ao criar uma ligação de identidade ou tornar uma conexão existente mais forte, pode-se transformar os consumidores menos propensos a colocar itens no lixo reciclável. Muitas empresas já vinculam produtos às nossas identidades, mas podem não estar cientes das consequências do descarte. A Coca-Cola, por exemplo na sua campanha “Compartilhe uma Coca-Cola” teve um estrondoso sucesso, pois os consumidores encontram os seus nomes nas garrafas, tendo aumentado as taxas de reciclagem para aqueles que bebem uma garrafa com o seu nome. A campanha da Coca-Cola retornou aos Estados Unidos em Maio de 2014 e os fãs americanos sedentos têm clamado por encontrar os seus nomes em garrafas de Coca-Cola, Diet Coke ou Coca-Cola Zero. A Coca-Cola passou a personalizar as garrafas com o primeiro e último nome e mais de mil nomes e sobrenomes estão disponíveis, com quase duzentos sobrenomes incluídos. Às vezes, a opção de reciclar pode influenciar a quantidade de um item que é usado. Por exemplo, no estudo foram examinados o quanto as pessoas consomem quando têm a opção de reciclar versus colocar no lixo. Os sujeitos da pesquisa foram instruídos a usar a quantidade do produto que queriam. Em um estudo, umas pessoas embrulharam presentes; em outro, usavam papel para resolver problemas matemáticos. Em cada experiência, metade dos participantes poderia reciclar o que usavam; a outra metade só podia descartá-lo. Foi constatado que as pessoas usavam muito mais recursos como papel de embrulho, papel, copos e embalagens plásticos quando sabiam que iriam reciclar. Como é possível explicar tais situações? As descobertas sugerem que as emoções positivas associadas à reciclagem podem dominar as emoções negativas, como a culpa, associada ao desperdício e como resultado, os consumidores sentem-se à vontade para usar uma quantidade maior de recursos quando a reciclagem é uma opção. A conservação de recursos em um domínio pode levar a desperdiçar recursos em outro, que tem a ver com o bom comportamento anterior e cujo fenómeno é conhecido nas ciências sociais como licenciamento moral. A grande questão é reciclar ou colocar no lixo? O sucesso da reciclagem depende da resposta que milhares de milhões de pessoas dão a essa pergunta diariamente. É de realçar que aprendemos com os economistas comportamentais nos últimos anos, que muitas das nossas decisões são, nas palavras de Dan Ariely no seu livro “Predictably Irrational: The Hidden Forces That Shape Our Decisions“ previsivelmente irracionais. Assim, é com essa decisão. Mas ao trazer os nossos factores à disposição, podemos alterar o comportamento individual, estimular a criação de embalagens que incentivem a reciclagem e aumentar a eficácia das políticas e campanhas ambientais. A previsível irracionalidade de que fala Dan Ariely é de que a nossa irracionalidade acontece da mesma forma e sempre. Na economia convencional, a suposição que todos somos racionais implica que, na vida quotidiana, computemos o valor de todas as opções que enfrentamos e depois seguimos o melhor caminho possível de acção, e se cometermos um erro e fizermos algo irracional? Aqui também a economia moderna tem uma resposta pois as forças do mercado vão cair sobre nós e rapidamente colocar-nos de volta ao caminho da justiça e racionalidade. É com base nessas suposições, de facto, que gerações de economistas desde Adam Smith foram capazes de pensar conclusões sobre tudo, desde a tributação e políticas de saúde até aos preços de bens e serviços. Mas, somos muito menos racionais do que a teoria económica padrão assume. Os nossos comportamentos irracionais não são aleatórios nem sem sentido, são sistemáticos, e desde que os repetimos sempre, de forma previsível, então não faria sentido modificar a economia padrão, para afastá-la da “ingénua” psicologia que muitas vezes falha os testes da razão e da introspecção, e que talvez seja mais importante o escrutínio empírico.
Paul Chan Wai Chi Um Grito no Deserto VozesSobre as eleições [dropcap]H[/dropcap]an Kuo-yu, Presidente da Câmara da cidade de Kaohsiung, esteve de visita a Hong Kong e Macau, com o propósito de discutir trocas comerciais. Encontrou-se com os Chefes dos Executivos das duas RAEs e com os directores dos Gabinetes de Ligação do Governo Central, em Hong Kong e em Macau. A visita de Han provocou algum tumulto em Taiwan, em parte devido à eleição para os cargos de Presidente e Vice-Presidente do terrritório, agendada para 2020. Sempre que há eleições existe controvérsia, a questão é saber se a controvérsia se desenrola entre cavalheiros ou entre vilões. Desde que passou a haver eleições directas em Macau para a Assembleia Legislativa, tem havido muitos distúrbios, inclusivamente, no período anterior à transferência da soberania, com a descoberta de armas nos porta-bagagens de carros privados, estacionados perto dos locais de voto. Alguns candidatos já foram agredidos ao tentarem entrar num restaurante onde decorria uma tentativa de compra ilegal de votos. Também foram detectados e levados a tribunal muitos casos de suborno. Nas últimas eleições para a Assembleia Legislativa, as autoridades assinalaram e tomaram medidas contra muitas irregularidades. Para que uma eleição possa ser justa, transparente e sem corrupção, as autoridades têm de supervisionar o processo de forma imparcial. Se assim não for, as pessoas irão interrogar-se porque é que alguns são incriminados e outros não. Macau necessita de melhorar o seu sistema eleitoral em larga escala, um processo que deverá implicar o esforço da sociedade enquanto um todo. A comunicação social tem um importante papel de supervisão, mas esse papel deveria ser levado mais além. A comunicação social deveria ser o “cão de guarda” do processo eleitoral. Para as eleições de 2021, penso que também se deveriam candidatar nas directas, além dos actuais deputados, algumas pessoas que comentam habitualmente na televisão, e noutras plataformas online, assuntos de ordem política e social. As campanhas bem planeadas e bem organizadas através dos média, que utilizam recursos facultados pelos seus apoiantes, não violam a lei vigente e proporcionam uma competição justa. Mas quando esta competição se transforma em ataque, o processo perde dignidade. Quando estive envolvido na eleição de 2017 para a Assembleia Legislativa, fui estigmatizado e atacado pelos meus oponentes em plataformas online. Mas, como felizmente não cometi nenhum dos actos de que me acusavam, quando os encontrei cara a cara, não conseguiram olhar-me nos olhos e eu ainda posso entrar e sair livremente de Macau. O seu procedimento não elevou o nível do processo eleitoral. Pelo contrário, inferiorizou-o, e a fraca qualidade de um acto eleitoral prejudica toda a sociedade, e isso é uma das coisas que mais abomino. Quando uma eleição envolve violência, os agentes das autoridades devem tomar medidas imediatas para punir os responsáveis. No caso da troca de acusações entre candidatos durante um debate eleitoral, os machados de guerra devem ser enterrados quando os protagonistas saem de cena. Mas ultimamente, tenho visto artigos publicados em semanários, escritos por um potencial candidato, apenas com o propósito de atacar um adversário e causar confusão no espírito dos leitores. Este procedimento é obviamente muito pouco ético. Pessoalmente, não me manifesto em relação a Ho Iat Seng nem a Leong Vai Tac, os dois potenciais candidatos ao cargo de Chefe do Executivo de Macau. Mas acuso os média que deliberadamente revelam as vidas privadas destes candidatos, já que os utilizam em seu próprio proveito. As campanhas não se podem focar na difamação e na vilipendização”. Edmund Ho, Ex-Chefe do Executivo de Macau, lembrou a frente patriótica que pretende candidatar-se à eleição para Chefe do Executivo, mas fê-lo de forma a não perturbar a unidade nem a estabilidade. As suas declarações revelam sensibilidade e merecem uma séria reflexão.
José Navarro de Andrade h | Artes, Letras e IdeiasA constante de Galileu [dropcap]P[/dropcap]ara dar um exemplo: Galileu seria hoje tão ou mais maltratado do que foi o seu tempo. A insolência de Galileu foi irrestrita e profunda. Em primeiro lugar afrontou todo a saber dado como adquirido, seguro e insofismável. Convém não diminuir este desafio com a prosaica caricatura do cientista humilhado por autoridades presunçosas e prepotentes. É certo que a sabedoria vigente à época se cristalizara em dogmas e defendiam-na instituições estabelecidas como dominantes. Mas tal posicionamento fora ganho e consolidado ao longo de séculos de controvérsia, exposições e arguições, aperfeiçoamento conceptual, refinando os princípios e os corolários de um modelo sofisticado e satisfatório de conhecimento da realidade. Os adversários de Galileu não eram portanto uns tolos, mesmo que este nos seus diálogos – platónicos –, por puro desplante, tenha posto na boca de um Simplício as teses por eles esgrimidas. Em segundo lugar a desfaçatez de Galileu foi ao ponto de pretender desbancar evidências empíricas. Mas que parvoíce é esta de desmentir o que se “vê claramente visto,” o que é verificável e mensurável – o Sol a descrever diariamente um arco no céu em torno da esfera terráquea? Como pode alguém contradizer uma observação partilhada universalmente? Que falta de bom-senso… O terceiro aspecto da insubordinação de Galileu é o mais abstruso e por conseguinte o mais ousado. Não faz sentido virar ao contrário a ordem do mundo, pretender impugnar a inteligência acumulada, a prática homologada, a cultura convencionada e o próprio senso-comum tão só com um argumento operacional. Meu caro leitor, aqui chegados manda a prudência que te avise: doravante correrás o risco de te sentires insultado. Vamos lá a ver: em nome de quê afirmas também tu que a Terra gira à volta do Sol? Desfechar esta pergunta a meio de uma discussão garanto-te que é infalível em causar estupefacção no teu arguente, o qual é possível que replique: “está provado cientificamente.” Hás-de reparar que tal resposta, assim sem mais, coloca-o inapelavelmente ao lado dos antagonistas de Galileu, dos conformistas que aceitam com passividade caprina a informação corrente e comumente validada. Não passa de um acto de fé. Por isso incorre no equívoco maior de enterrar o debate no funesto lodaçal da crença. As conversas entre “acreditar” e “não acreditar” em matéria gnosiológica depressa desandam em teorias da conspiração – na medicina, na dietética, na agricultura, na economia, por exemplo, o obscurantismo tem ganho espantosa tracção – tão ridículas quanto indigentes, mas irredutíveis como é inerente às convicções. Retorquir “está provado cientificamente”, sem demonstração e como se a certeza valesse por si, revela também falta de curiosidade, que é o germe do conhecimento. Não te incomoda aceitar como verdadeira uma explicação contrária aquilo que constatas? Se com tanta frequência recorres à experiência sensível para sustentar as tuas opiniões – “então não se está mesmo a ver que…?”, costumas dizer – porque diabo neste caso não confias no que os sentidos testemunham? Porque admites sem estranheza que deves desconfiar deles? Recordo-te então que Galileu esteve em vias de lhe purificarem o espírito segundo o testado método da assadura das carnes porque afirmou o heliocentrismo como exacto pelo facto pueril e subsidiário de dar mais jeito às contas… Com Sol no centro calculava-se o movimento das estrelas com maior rigor, elegância, simplicidade e previsibilidade. E para aumentar o escândalo outra prova não apresentava senão a matemática. Com tão económico e transparente raciocínio, desanuviado de digressões especulativas, sem arrimo nos textos canónicos e despojado de tradição, não admira que se tivesse visto em palpos de aranha perante as doutorais e eclesiásticas autoridades. Mas cabe também recordar que quotidianamente assumimos mais certezas infundadas do que julgamos, agarramo-nos demasiado a elas sem lhes perceber esse defeito, fiamo-nos sobremaneira no que é intuitivo, repugnamos o incómodo das ideias contra-intuitivas. Sobretudo temo-nos em demasia como esclarecidos no mesmo passo em que absorvemos os lugares-comuns proliferantes e daninhos que nos são incutidos pelo império da opinião. Sim, ao cabo destes séculos os critérios de Galileu continuam a ser rotineiramente desprezados.
Michel Reis h | Artes, Letras e IdeiasUma obra-prima extraordinária [dropcap]F[/dropcap]ez no dia 3 de Fevereiro 210 anos que nasceu o compositor, pianista e maestro alemão Felix Mendelssohn Bartholdy. Membro de uma família judia notável, mais tarde convertida ao cristianismo, Mendelssohn nasceu Jakob Ludwig Felix Mendelssohn Bartholdy em 1809 em Hamburgo, filho do banqueiro Abraham Mendelssohn e de Lea Salomon, e neto do filósofo judaico-alemão Moses Mendelssohn, crescendo num ambiente de intensa efervescência intelectual. As maiores mentes da Alemanha da época foram visitas frequentes da casa da sua família em Berlim, incluindo o filósofo, linguista e diplomata prussiano Wilhelm von Humboldt, fundador da Universidade Humboldt de Berlim, e o famoso geógrafo e explorador Alexander von Humboldt. A sua irmã Rebecca casou com o grande matemático belga Lejeune Dirichlet. O seu pai renunciou à religião judaica e a família mudou-se para Berlim em 1811, tentando dar a Felix, ao seu irmão Paul, e às suas irmãs Fanny e Rebeca, a melhor educação possível. Fanny tornou-se uma pianista e compositora conhecida. Felix era considerado uma criança prodígio. Começou a ter lições de piano com a sua mãe aos seis anos, sendo depois orientado por Marie Bigot, em Paris. Mais tarde, em Berlim, todos as quatro crianças estudaram piano com Ludwig Berger, que tinha sido aluno do pianista e compositor Muzio Clementi. A partir de 1817, estudou composição com Carl Friedrich Zelter em Berlim e começou a compor aos nove anos. Escreveu e publicou o seu primeiro trabalho, um quarteto com piano, aos treze anos. Mais tarde teve lições de piano com o compositor e virtuoso Ignaz Moscheles, confessando no seu diário que este tinha muito a ensinar-lhe. Moscheles foi um grande colega e amigo seu ao longo da vida. Embora não se tivesse tornado o próximo Mozart, Mendelssohn possuía um comando da sintaxe musical apenas rivalizado pelo seu eminente predecessor e, na verdade, algumas das obras da sua juventude ultrapassam as do prodígio austríaco numa idade comparável. Infelizmente, naqueles primeiros anos, Mendelssohn sofreu o escárnio de críticos e académicos pedantes que confundiram a sua graça sem esforço com mera extravagância e recusaram levar a sério as suas obras. Mesmo no séc. XX, pensava-se seriamente que faltava substância à música de Mendelssohn porque este tinha sido uma criança privilegiada. No entanto, da sua juventude emergiram duas obras-primas extraordinárias: o Concerto para Violino, Piano e Orquestra de Cordas em Ré menor, MWV 04 e o Concerto para Dois Pianos e Orquestra em Mi Maior, MWV 05, ambos produtos do génio de um adolescente de apenas 14 anos, e atingindo ambos níveis de genialidade a que a maior parte dos compositores não chegam em toda a sua vida. Além destas obras, aos 14 anos, tinha também já composto o Largo e Allegro em Ré menor para Piano e Cordas, MWV O1, o Concerto para Piano em Lá menor, MWV O2, e o Concerto para Violino em Ré menor, MWV O3. O Concerto para Dois Pianos e Orquestra em Mi Maior, MWV 05 exibe um equilíbrio inquietante entre os instrumentos de forma a que estes parecem combinar-se na perfeição mas não sem ser imediatamente óbvio que um instrumento apenas não poderia executar a obra sozinho. Elaborada como uma prenda de aniversário para a sua igualmente musicalmente precoce irmã, Fanny, a peça foi estreada pelos dois no seu aniversário, no dia 14 de Novembro de 1824. Dada a sua envergadura e dificuldade, é evidente que ambos eram executantes virtuosos para além das suas vocações criativas. Convencionalmente arranjado em três andamentos, o concerto abre com uma veia clássica e pura expressa numa introdução alargada, que Mozart podia ter escrito. Os pianos entram, um de cada vez, e segue-se um diálogo espirituoso. Mas depressa se torna evidente que Mendelssohn atravessa a linha para o Romantismo. Temas arrebatadores e surpresas cromáticas surgem e cadências surpresa e mudanças de atmosfera abundam. Em todo o andamento, os dois pianos são parceiros iguais – prova do respeito de Felix pela capacidade da sua irmã. O andamento termina com uma robusta coda que poderia ser o finale de uma obra menor. O segundo andamento é um adagio insuperavelmente elegante e Mendelssohn mais uma vez dá à orquestra o privilégio de abrir com um prelúdio extenso antes dos pianos entrarem, mais uma vez, um de cada vez, apresentando um tema hesitante, mas encantador. O andamento termina com uma longa passagem de maravilhosas tercinas de ambos os pianos de encontro a uma melodia suave e simples nas cordas. É um contraponto perfeito mas de longe demasiado inspirado para ser um mero exercício. No finale, os pianos anunciam-se eles próprios com um diálogo palpitante e o andamento rebenta num grande furacão sinfónico com ambos os pianos a serpentearem sem esforço através dele. Mendelssohn cria tensão e drama com êxito através de um motivo ascendente em ambos os solistas e na orquestra e a obra finalmente guina para uma espantosa coda plena de arrepiante pirotecnia pianística e uma conclusão abrupta. O concerto é maduro, grandioso, e convincente e em todos as acepções um verdadeiro concerto para piano Romântico. O facto de se tratar da obra de um adolescente torna-o assombroso. O Concerto, obviamente inspirado no Duplo Concerto, K. 365 de Mozart, e provavelmente inspirado pelo novo amigo de Mendelssohn, Ignaz Moscheles, mostra também como Mendessohn tinha absorvido Weber, Hummel e Field. Considerada imatura pelo próprio Mendelssohn, a obra foi posta de lado e não foi publicada, permanecendo na forma de manuscrito até 1961, quando a Leipziger Ausgabe der Werke Felix Mendelssohn Bartholdy publicou uma versão substancialmente revista por Mendelssohn e editada por Karl-Heinz Köhler. Nesta partitura, Mendelssohn lida com questões como o papel do virtuosismo, o design harmónico e as relações temáticas entre os instrumentos tutti e os solistas. A edição presente oferece um olhar sobre um ponto crucial na evolução do género concerto por um dos compositores mais importantes que escreveu para o género no início do séc. XIX. *Sugestão de audição da obra: Katia e Marielle Labèque, piano Philharmonia Orchestra, Semyon Bychkov – Philips, 1990</strong<
Sérgio Fonseca DesportoAutomobilismo | Piloto brasileiro à conquista da Ásia [dropcap]O[/dropcap] Brasil goza de uma enorme tradição no desporto motorizado. Apelidos como Senna, Piquet ou Fittipaldi vão muito para além da esfera do próprio desporto. Não é estranho ver a bandeira brasileira nos autódromos por este mundo fora, mas curiosamente, essa presença neste ponto do globo é praticamente escassa e só não é nula porque um jovem, que um dia ficou conhecido na sua terra Natal por vender porta a porta cupões do seu patrocinador para ajudar a financiar a sua temporada desportiva, decidiu regressar aonde já foi feliz. Bruno Carneiro, de 19 anos, decidiu apostar no continente asiático para prosseguir a sua carreira no automobilismo. Residente em Utah, nos EUA, Bruno Carneiro até nem é um novato nestas paragens. Em 2016 tornou-se o primeiro e único piloto brasileiro a vencer um campeonato de automobilismo na China. A aventura asiática começou em 2015. “Os novos donos da pista Utah viram o meu sucesso, ao ter sido o campeão regional de monolugares em Utah, e convidaram-me para fazer a última etapa do Campeonato FIA da China de Fórmula 4 em Zhuhai. Depois de um pódio no meu primeiro fim-de-semana, viram que tinha potencial para vencer o campeonato e voltei para a temporada de 2016. Acabamos vencendo o campeonato”, explica o jovem natural de São Paulo. Depois de ter passado pelo Campeonato Japonês de Fórmula 3, onde terminou em 11º lugar em 2017, Bruno Carneiro fez apenas o primeiro evento de 2018 do mesmo campeonato, não tendo conseguido reunir os apoios necessários para continuar a competir no país do sol nascente. Contudo, as relações que soube fomentar no sudeste asiático abriram-lhe novamente as portas para o continente. “Graças às amizades e conexões que fui criando surgiu a oportunidade de trabalhar junto com a equipa Asia Racing Team (ART) no Campeonato de Asiático de Fórmula Renault e aqui estou novamente”, afirma o piloto que na prova de abertura de temporada, realizada no passado fim-de-semana no Circuito Internacional de Zhuhai, subiu ao pódio, após ter sido segundo classificado na primeira corrida. Nova oportunidade Sem grandes alternativas para prosseguir a sua carreira nos EUA ou de regressar ao Japão por agora, o jovem brasileiro encontrou na equipa fundada em Macau em 2003 uma nova oportunidade para relançar a sua carreira. “Acho que correr no asiático de Fórmula Renault pode trazer-me muitas e novas oportunidades, ainda para mais junto com uma equipa que nem a ART, que tem muito sucesso relacionado”, realça Carneiro que pode ser o terceiro piloto lusófono a ter motivos para celebrar com a equipa por onde passaram os ex-pilotos de F1 Kamui Kobayashi ou Rio Haryanto. O piloto português Rodolfo Ávila, agora ‘Team Manager’ da ART, foi vice-campeão asiático de Fórmula Renault em 2004 e o angolano, também ele residente em Macau, Luís Sá Silva, foi vice-campeão em 2009 defendendo as mesmas cores. Por outro lado, “com um carro tão bom que nem o Fórmula Renault 2.0/13 é fácil mostrar o nosso valor e isso pode abrir portas no futuro, além de fortes resultados serem bons para colocar no currículo”. Sonhar com Macau Como qualquer piloto da sua idade, Bruno Carneiro também sonha um dia correr no Grande Prémio de Macau de Fórmula 3. “Que sonho que é…”, reconhece. “Eu fui visitar a prova em 2016 e assistir à corrida de F3! É incrível e um sonho, sem dúvida.” O objectivo este ano é mesmo tentar vencer o ceptro do asiático de Fórmula Renault, o que lhe poderá servir de rampa de lançamento para voos mais altos, mas, por agora, “vamos ver o que o futuro traz e se realmente aparece a oportunidade de poder correr num lugar tão histórico e incrível como o Circuito da Guia.” E como diria o poeta, o “sonho comanda a vida”…
Hoje Macau EventosArt Basel | Brasil é o único país lusófono representado na feira de arte em Hong Kong Decorre este fim-de-semana a maior feira de arte contemporânea da Ásia. A edição da Art Basel de Hong Kong vai mostrar as obras de quatro galerias do Brasil, sem esquecer “Wave” de Ai Weiwei e de uma instalação ‘lunar’ assinada por Laurie Anderson e Hsin-Chien Huang [dropcap]M[/dropcap]ilhares de artistas e centenas de galerias internacionais, incluindo do Brasil, voltam a reunir-se este fim de semana em Hong Kong para mais uma edição da Art Basel, a maior feira de arte contemporânea na Ásia. O certame assume-se como o ‘centro’ do panorama artístico do continente e uma “plataforma de luxo” para artistas e galerias de renome. Entre 29 e 31 de Março, a sétima edição da Art Basel Hong Kong (ABHK) apresenta ao público trabalhos expostos por 242 galerias, entre as quais 21 estreantes, provenientes de 36 países e territórios. Do espaço lusófono, o Brasil é o único país representado, através de quatro galerias com presença em São Paulo e no Rio de Janeiro. Em Hong Kong pela terceira vez, a galeria Bergamin & Gomide tem “expectativas bastante positivas em relação a esta edição da feira”, disse à Lusa Bárbara Tavares, da equipa de Exposições e Projectos Especiais. “Acreditamos que a Art Basel Hong Kong é uma óptima oportunidade para apresentarmos o programa da Bergamin & Gomide ao mercado asiático”, sublinhou. A galeria paulista traz a este lado do mundo “uma selecção dos mais importantes artistas brasileiros do período pós-Guerra”, criando “um rico diálogo entre as obras exibidas”. “Nesta edição apresentamos uma cuidadosa selecção de trabalhos do período pós-Guerra, de um total de 12 artistas, dentre eles Mira Schendel, Cildo Meireles, Rivane Neuenschwander, Jac Leirner e Amadeo Luciano Lorenzato”, disse Tavares. A Bergamin & Gomide já é uma presença assídua em Miami, desde 2014, e Basileia, desde 2016. Além da galeria paulista, viajam para Hong Kong as galerias Mendes Wood DM, Fortes D’Aloia & Gabriel (com escritório em Lisboa) e a Nara Roesler. Outro dos destaques da edição deste ano da Art Basel de Hong Kong é a presença da obra “Wave”, de Ai Weiwei, datada de 2015, trazida para a região vizinha por uma das mais importantes galerias de arte do mundo, a Lisson Gallery. A escultura, que mostra uma onda feita de porcelana, foi feita em parceria com artesãos de Jingdezhen, o mais importante centro de produção de porcelana da China. A imagem da onda é inspirada na pintura em madeira “Under de Wave off Kanagawa (The Great Wave)”, de Katsushika Hokusai, artista japonês que viveu entre os anos de 1769 e 1849. A presença de Laurie Em 2013, a Art Basel alargou a oferta ao mercado asiático, na sequência dos eventos anuais em Basileia (Suíça) e Miami (EUA), o que colocou Hong Kong no circuito e levou a uma expansão da faceta de centro internacional de arte da antiga colónia britânica. Apesar de chamar “várias galerias ocidentais”, com destaque para as de Nova Iorque, Paris e Berlim, a Art Basel de Hong Kong reforçou nesta edição “o compromisso contínuo de mostrar a arte excepcional da Ásia e da Ásia-Pacífico”, de acordo com a página oficial do evento. Como tal, mais de metade das galerias participantes têm espaços de exposição nesta região. “Mais uma vez, Hong Kong estará representado na feira com 25 galerias. Ao mesmo tempo, galerias da Austrália, da Índia, da Japão, da Coreia do Sul, da China continental e de Taiwan continuam a ter forte presença”, indicou a organização. Pintura, escultura, desenhos, instalações, fotografia, vídeo e obras digitais são algumas das expressões artísticas patentes nesta edição, a maior desde 2013. “To the Moon”, uma colaboração entre a artista norte-americana Laurie Anderson e o artista de Taiwan Hsin-Chien Huang, é um dos destaques desta edição, que se apresenta como uma “instalação imersiva” e permite aos visitantes “voarem pela superfície da Lua e perderem-se no seu terreno montanhoso”, segundo um comunicado da VIVE Arts. O trabalho de 15 minutos comemora o 50.º aniversário da missão Apollo 11, que levou os primeiros homens a pisar solo lunar, e é produzido pelo HTC VIVE Arts, parceiro oficial da Art Basel na área da realidade virtual. No ano passado, 80 mil pessoas visitaram a feira, de acordo com dados oficiais.
Hoje Macau China / ÁsiaChina | Redução até Junho de sectores interditos ao investimento estrangeiro [dropcap]O[/dropcap] primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, disse ontem que, até ao final de Junho, a China reduzirá o número de sectores interditos ao investimento estrangeiro, conhecido como “lista negativa”, avançou a agência noticiosa oficial Xinhua. Na cerimónia de abertura do fórum Boao, conhecido como “Davos asiático”, Li garantiu ainda que não serão acrescentadas indústrias àquela lista. O primeiro-ministro prometeu maior abertura nos sectores de serviços, telecomunicações, saúde e educação, ou financeiro, incluindo bancos, seguradoras e instituições. Em relação à recém-adoptada nova lei para o investimento estrangeiro, que entra em vigor no início de 2020, o primeiro-ministro chinês afirmou que as autoridades já estão a rever todas as regulamentações que contrariem as novas directrizes. “A China trata as empresas nacionais e estrangeiras de forma justa e protege os direitos e interesses de todos os tipos de empresas”, disse Li Keqiang, lembrando que as transferências forçadas de tecnologia “não são permitidas”, de acordo com a nova legislação. O texto final da lei foi aprovado este mês, durante a sessão anual da Assembleia Popular Nacional, com o apoio de 99,5 por cento dos cerca de 3.000 delegados. As autoridades só poderão restringir o acesso ao mercado doméstico, de firmas estrangeiras, “em circunstâncias especiais” ou que envolvam o “interesse público”, indicou na altura a agência noticiosa oficial chinesa Xinhua. Futuro incerto Os governos locais vão deixar também de poder confiscar propriedade estrangeira, sem que o processo passe pelas instâncias judiciais. Quanto à desaceleração da economia chinesa, que cresceu 6,6 por cento no ano passado, Li ressaltou que o Governo já adoptou “medidas importantes”, que trouxeram resultados “positivos” para a estabilização do crescimento. No entanto, o primeiro-ministro admitiu que a instabilidade económica e incerteza estão a “crescer consideravelmente”, com riscos exteriores “em expansão”, o que poderá acarretar um certo nível de “volatilidade” para o crescimento mensal e trimestral do país asiático. Segundo o Gabinete Nacional de Estatísticas chinês, a taxa de desemprego do país subiu para 5,3% por cento, entre Janeiro e Fevereiro, depois de ter encerrado o ano passado nos 4,9 por cento. Os lucros da indústria na China registaram uma queda homóloga de 14 por cento, em Janeiro e Fevereiro, acompanhando a tendência registada noutros indicadores económicos do país. O discurso de Li coincide com o início de uma nova ronda de negociações, em Pequim, entre a China e os Estados Unidos, visando pôr fim às disputas comerciais que ameaçam a economia mundial.
Hoje Macau China / ÁsiaDireitos humanos | Detida advogada Wang Yu [dropcap]A[/dropcap] advogada chinesa de direitos humanos Wang Yu foi detida pela polícia em frente à embaixada dos Estados Unidos, em Pequim, depois de se recusar a mostrar documentos de identificação, informou ontem um jornal de Hong Kong. A detenção, na quarta-feira, foi confirmada ao South China Morning Post (SCMP) pelo marido da advogada, Bao Longjun, e pelo seu amigo Tang Zhishun, um activista pelos direitos de propriedade, que acompanhou Wang num seminário realizado na embaixada norte-americana. Segundo Tang, os dois foram abordados pela polícia chinesa, fora da embaixada, e Wang afirmou não trazer consigo o seu bilhete de identidade. “A polícia algemou-a e levou-a para a esquadra, arrastando-a para um carro”, disse Tang, citado pelo SCMP. Funcionários da embaixada tentaram convencer as autoridades chinesas a deixar Wang entrar no edifício, mas a polícia prosseguiu com a detenção, detalhou. Wang é uma de mais de 300 advogados e activistas que foram detidos, em 2015, parte de uma campanha repressiva lançada pelo Governo chinês contra defensores dos direitos humanos no país. A advogada foi libertada sob fiança um ano depois, e desde então permanece sob controlo policial. O marido de Wang foi notificado que a advogada desta vez foi detida por “obstruir a administração do Governo”, embora tanto ele como a sua mulher estejam convencidos de que a prisão ocorreu devido ao seu percurso como defensora de direitos humanos. Wang expressou recentemente preocupação com os processos judiciais de outros advogados e activistas chineses, incluindo Wang Quanzhang, que foi condenado a 4 anos e meio de prisão por “subversão contra o poder do Estado”. Época aberta No ano passado, Wang disse ao SCMP que concordou em fazer uma confissão forçada na televisão estatal CCTV – prática comum na justiça chinesa – depois de as autoridades ameaçarem proibi-la de ver o seu filho. Esta semana, a organização não-governamental, Chinese Human Rights Defenders (CHRD) denunciou um aumento das detenções nos dias seguintes ao encerramento da revisão periódica da situação dos direitos humanos realizada pela ONU, em meados de Março. “O momento das detenções indica que as autoridades esperaram até ao fim do escrutínio público nas Nações Unidas para iniciar uma severa repressão”, disse a organização, em comunicado.
Hoje Macau SociedadeGrande Baía | Macau e Hong Kong apostam na eficiência energética [dropcap]O[/dropcap]s responsáveis pelo ambiente e energia de Macau e de Hong Kong expressaram ontem a vontade de apostar na eficiência energética para contribuir para a nova metrópole mundial ‘eco-responsável’ que a China está a construir. Produção de ‘energia limpa’, com reduzida emissão de carbono, e a eficiência energética foram apresentadas como ‘receitas’ e contribuições para o projecto de criação da Grande Baía. “Queremos construir uma cidade inteligente (…) e estamos a investir em iluminação inteligente”, afirmou o coordenador do gabinete de Desenvolvimento do Sector Energético da RAEM. Hoi Chi Leong ilustrou a vontade do Governo no novo paradigma energético com a instalação de mais 200 postos de abastecimento para viaturas eléctricas no território. O secretário do Ambiente do Governo de Hong Kong também destacou, na mesma sessão, o esforço daquele território de reduzir as emissões de CO2, de apostar na ‘energia limpa’ e na eficiência energética. Wong Kam-Sing afirmou que “nos últimos seis anos registou-se uma redução em 30 por cento da poluição atmosférica” e que Hong Kong tem como objectivo diminuir até ao final do próximo ano de seis para 4,5 toneladas a produção de lixo ‘per capita’, para ilustrar a responsabilidade e potencial de contribuição ambiental do território no projecto da Grande Baía.
Hoje Macau SociedadeMIECF | Governo promete sete medidas ambientais para melhorar cidade Sónia Chan disse que o Governo irá reforçar “a educação ecológica, fomentando o uso da energia verde”, estabelecer “um mecanismo de tratamento integrado de fontes móveis de poluição” e implementar a medida do poluidor-pagador”. A Chefe do Executivo interina discursou perante o ministro da Ciência e Tecnologia da China [dropcap]A[/dropcap]rrancou ontem o Fórum e Exposição Internacional de Cooperação Ambiental de Macau (MIECF, na sigla inglesa). Na sessão de abertura, a secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan prometeu sete medidas ambientais para melhorar a qualidade de vida em Macau. A saber: educação ecológica e a promoção do uso de energias ‘verdes’, o tratamento integrado de fontes móveis de poluição, a implementação do princípio poluidor-pagador, redução do uso de plástico, construção de infra-estruturas ecológicas e criação de mais espaço verdes e de lazer. Numa toada diferente, António Trindade, presidente da CESL Asia, recordou que Macau lança ao rio cerca de metade do esgoto, sem tratamento, num volume equivalente a 31 piscinas olímpicas diariamente. Em declarações à Rádio Macau, António Trindade comentou a situação catastrófica ao nível da poluição marinha. “Não podemos dizer que nos próximos cinco a dez anos, da maneira como o Governo está a lidar com a situação, não vai haver melhorias. Existem estudos feitos, o Governo e as pessoas sabem, é catastrófico o que está a acontecer. O impacto ambiental na zona marinha, os lodos que estão depositados vão ter um impacto na qualidade das águas de Macau por muitas décadas”, comentou à Rádio Macau. Sónia Chan, a cumprir funções de Chefe do Executivo interina devido ao facto de Chui Sai On estar fora de Macau, garantiu ainda que “ao mesmo tempo, irá proceder-se também à recuperação do ambiente das colinas e à intensificação da cooperação ambiental regional, explorando mais oportunidades de desenvolvimento para a indústria de protecção ambiental, avançando na concretização da visão de ‘transformar Macau num centro de baixo carbono, criar em conjunto uma vida ecológica’, contribuindo para o desenvolvimento sustentável da cidade. Com estas acções, a intenção é “manter o equilíbrio entre preservação e desenvolvimento”, resumiu Sónia Chan. “A protecção ambiental não distingue entre grupos étnicos, enquanto a ecologia não tem fronteiras nacionais. Proteger o meio ambiente e beneficiar o futuro são as responsabilidades de cada um de nós”, sublinhou. Abertura de Pequim Sónia Chan discursou na abertura do MIECF perante o ministro da Ciência e Tecnologia da China e vários dirigentes chineses da Comissão para o Desenvolvimento e Reforma, do Ministério da Indústria e Tecnologias de Informação, do Ministério da Ecologia e Ambiente. Por sua vez, o ministro da Ciência e Tecnologia da China manifestou a “total abertura” de Pequim para partilhar com o mundo as descobertas chinesas na área da economia verde, “para contribuir para o bem comum da Humanidade”. A China “dá grande importância ao desenvolvimento da economia verde” e expressa a sua “total abertura para partilhar os resultados das suas experiências (…) e investigação nesta área”, afirmou Wang Zhigang. Zhigang sublinhou a agenda chinesa no combate às alterações climáticas, defendendo que a China é neste momento um “participante e um líder do desenvolvimento sustentável no mundo” e que é da responsabilidade da “comunidade global” investir na tecnologia e inovação (…) para gerar novas indústrias ligadas à economia verde”. Por outro lado, o ministro sustentou que “a inovação é o motor do desenvolvimento sustentável”, uma ideia reforçada em vários discursos de dirigentes chineses no MIECF, em Macau, que destacaram a aposta e os progressos obtidos pelo país, tanto no combate à poluição, como nas áreas de produção de energia limpa e de eficiência energética. Guerra verde Em Novembro do ano passado, a agência de notação financeira Stardard & Poor’s (S&P) afirmou num relatório que a China vai obter “benefícios consideráveis”, caso execute os seus planos para um desenvolvimento da economia verde. Na esfera internacional, a China poderá tornar-se um “líder na acção climática”, devido às políticas e à postura da actual Administração norte-americana, liderada por Donald Trump, considerou a agência, sugerindo “uma transformação global, que poderá alterar a situação geopolítica”, à medida que vários países “reorientam as economias para um desenvolvimento sustentável e com baixa emissão de carbono”. A China é o maior emissor mundial de gases com efeito de estufa, seguida pelos Estados Unidos, o principal consumidor de carvão e o segundo maior consumidor de petróleo. O MIECF acolhe até sábado mais de 500 expositores, provenientes de cerca de 20 países e regiões. As sessões integram oradores de cerca de 70 pioneiros ambientais, líderes de empresas multinacionais e criadores de políticas, provenientes de sete países e regiões, nomeadamente, da China interior, Holanda, Portugal, Timor-Leste, Reino Unido, Hong Kong e Macau. O MIECF 2019 ocupa uma área total de exposição de mais de 16.900 metros quadrados.