Homo Roussus Televisionis

[dropcap]C[/dropcap]omo se chamava ele? Todos o tratavam por Jonas, mas não sei se era o seu verdadeiro nome. Não é importante. Aconteceu tudo demasiado rápido, não deve ter chegado a um ano. Jonas, viemos a saber depois, tinha 27 anos, ainda estava ali para todas as curvas da vida. Mas o que se pode fazer, acontecimentos sem explicação existem por todo o lado. O dele foi o mais surpreendente, não me lembro de ouvir ou de ler alguma coisa assim, nem num livro de ficção científica. É tão rebuscado que ninguém se iria lembrar disto. Há histórias de lobisomens e indivíduos comuns que são picados por um bicho qualquer e se transformam num ser abominável, com poderes extraordinários e mais tarde em super-heróis, se a tramóia for para vender bilhetes. Há também a história de Kafka, em que um homem acorda certa manhã metamorfoseado na figura de um monstruoso insecto, depois de uma noite agitada de pesadelos. O desgraçado do Gregor Samsa. Se calhar, o nosso amigo também se chamava Gregor, dada a firmeza com que a vida foi regurgitada por todos os poros da sua existência.

Com ele foi diferente, apesar da trajectória ter sido veloz, a acoplagem não aconteceu de repente e os sintomas não se notaram de imediato. Talvez tenha sido um tique, um movimento mais brusco do braço, em que a mão se põe a coçar a cabeça de modo irreflectido, talvez à procura de um pensamento com a ponta dos dedos, por entre a floresta do couro cabeludo. De dia para dia, eram mais nítidos esses gestos, só depois vieram as transformações físicas. Mas também aqui podia ser uma perturbação qualquer, nada fazia supor aquele desenlace. As orelhas a ficarem mais planas, o nariz mais achatado, os olhos maiores, como o lobo da avozinha. Mas foi o andar que deu o alerta, perna mais aberta, a coluna laça que o tornava mais atarracado. Teria levado uma martelada na cabeça? As palavras a irem-se, como se tivesse sob o efeito do jogo da Roleta Ruça, que na altura estava na moda. Que se passa Jonas? E ele não dizia, faltava-lhe o vocabulário, não conseguia argumentar e ia-se embora, fascinado pela natureza lá fora. Não era Alzheimer nem um AVC, isso tínhamos a certeza, mas não se sabia o que era, seria contagioso?

Nunca tinha ouvido falar na Roleta Ruça, não acreditei que fosse possível. Pus-me a pensar se seria perigoso, pelo menos não tanto como a outra em que se enfia uma bala no tambor de um revólver e se roda o cilindro. E é azar se o projéctil sai à velocidade do som e nos estoira os miolos, porque há mais probabilidades de o disparo sair em seco. Aqui não, aqui ninguém morre, mas o resultado é de igual requinte. O feitiço é sempre o mesmo, joga-se pelo fascinante desafio. Aposta-se a fala. A cada nível, mantemos ou perdemos vocábulos, até ao extremo de ficarmos sem o conhecimento de todas as palavras. É um jogo, o mais certo é sairmos derrotados, e quanto mais fundo caímos mais sentimos o direito de recuperar esse bem precioso que é o acto de falar. Verbo após verbo, tudo cai na corda do esquecimento. O tambor tange o som do oblívio. Poder-se-á dizer que é uma experiência científica? Talvez seja apenas isso. No início, ligamos o cérebro a um capacete cheio de propulsores eléctricos, cada um com a sua função estimulando zonas distintas da nossa mente. Como um motor de busca, o aparelho pesquisa as palavras armazenadas em cada uma das gavetas da memória e retira-as, eliminando o seu registo. Perdemos a noção do termo, do seu significado e da sua existência. De palavra em palavra vamos ficando vazios, sem nada para dizer. Não conseguimos articular uma fala, a partir deste ponto tudo se apaga, é o fim da vida em sociedade. E não é um sonho agitado, o resultado é idêntico ao de premir o gatilho com a bala a entrar por uma têmpora e a sair pela outra, deixando um rasto de destruição. O rastilho de um homem perdido.

Mas o sistema não é infalível e ao fim de alguns dias a memória é assaltada pela configuração anterior e em pouco tempo a nossa linguagem é restabelecida. E quando damos por isso desatamos às gargalhadas como quando aspiramos um balão de hélio e falamos. É incompreensível. Mas com o Jonas não foi possível mudar os fusíveis, o seu mal foi progressivo e sem retorno.

A sua família assustou-se e tentou encontrar especialistas, do ramo da neurologia ao esoterismo. Fizeram-lhe exames, passou por todas as ressonâncias e aparelhos de rádio. Deitou-se com todo o tipo de marquesas. Consultaram osteopatas, médiuns que captam a energia das estrelas de olhos fechados e as canalizam para o corpo do paciente. Foram à maior sumidade de acupunctura da cidade, guinchou quando lhe espetaram agulhas na nuca. Um homem no Alentejo pôs-lhe as mãos em cima para lhe sentir os males, não encontrou nada. Afagou-o no final e deu-lhe uns pozinhos para tomar em casa. Por fim, uma análise ao DNA revelou drásticas mutações genéticas. Jonas estava a transformar-se num homem das cavernas. Os genes participavam numa orgia. Ninguém acreditou, claro.

Chegado à fase de Neandertal, começou a acalmar e a sentar-se com os pés em cima do sofá para ver os programas da manhã na TV. Babava-se. Olhos arregalados, as narinas cada vez mais largas, onde podia inserir o controlo remoto para retirar algum monco.

No entanto, a comunidade científica começou a interessar-se pelo caso e não o deixou expirar. Estudiosos de todos os quadrantes ventilavam teorias absurdas, uma após outra. Comentadores de fim-de-semana dissertavam as suas sentenças sobre os braços mais compridos desta criatura, agora quase a arrastar no chão, numa desorientação curvilínea. Os pelos que lhe cobriam o corpo, a pele mais escura. Teria sido alguma coisa que comeu? A oposição usou-o como arma de arremesso para criticar o governo, que simbolizava o estado do país. Não foi preciso rodar o revólver. O assunto estava na ordem do dia e os esclarecimentos plausíveis eram nulos. Ainda se pensava que podia contagiar e aparecer novos casos. Para despistar características hereditárias foi feito um rastreio à sua família, mas Jonas permaneceu em casa.

Chegado à fase de Neandertal, começou a acalmar e a sentar-se com os pés em cima do sofá para ver os programas da manhã na TV. Babava-se. Olhos arregalados, as narinas cada vez mais largas, onde podia inserir o controlo remoto para retirar algum monco. Isto chegou aos ouvidos de uma das estrelas que liderava as audiências, a Cristina Pinheiro, por quem Jonas suspirava o maior pasmo, que o quis levar ao seu programa. Tinha uma equipa de médicos e cientistas que iam explicar o caso em directo, nesta altura já mundialmente conhecido. O país parou para assistir a este triste espectáculo. Contra a sugestão da equipa de produção, a anfitriã deixou o seu interlocutor à solta, porque não era natural, mas sobretudo porque queria reverter o andamento da enfermidade, encenando uma voz doce e segurando a mão de Jonas. “Me, Jane. You, Tarzan!”

Num grande plano, enquanto a apresentadora tentava ordenhar uma lágrima, pudemos observar a transmutação para australopiteco e depois para mais longe ainda, num retrocesso de milhões de anos. Já ninguém sabia definir exactamente o termo certo para a espécie, aquele nível era demasiado alto. Os cientistas boquiabertos, sem conseguirem articular uma palavra. Os homo camera com os tambores a ruçarem-lhes as têmporas. A bala a perder-se no motor de busca. No oblívio. Miolos espalhados nas lentes.

Mas o que aconteceu é que perante a figura maior da sua devoção, o nosso ânthropos não se conteve e devorou a dondoca que tinha à sua frente. Não me perguntem como a devorou, porque não vou dizer. De seguida, como quem abandona uma conversa que não lhe agrada, escapuliu-se por entre os seguranças e desapareceu. Saiu a guinchar e já em completa postura primata. Supostamente, deverá ter zarpado para a selva. Patrulhas policiais seguiram-no a todo o gás, com helicópteros e um dispositivo militar numeroso em seu alcance. Iam à procura de um chimpanzé, mas a velocidade do projéctil era tal que o mais certo foi ter-se transformado de imediato num girino, ou num fóssil de dinossauro. Quem sabe, na costela de algum Adão.

25 Abr 2019

Ressonâncias

[dropcap]H[/dropcap]á obras que nos tocam pela densidade humana que nelas perpassa e não por outras qualidades específicas, técnicas e formais – a obra até pode ser lisa, mediana, coxa.

No cinema isso é muito claro. Lembro-me do delicioso Saint Jack, de Peter Bogdanovich, um filme “menor” dos anos oitenta com uma personagem maior do que a vida, e onde Ben Gazzara interpreta um americano “exilado” e que actua ou como um proxeneta muito especial ou um facilitador de negócios, iluminando com a sua sageza as noites de Singapura.

A dado momento Jack é colocado diante da tentação de se tornar um delator, em troca de uma quantia que lhe permitiria regressar à terra. Mas a sua “pureza” é a liberdade com que agencia vidas sem com elas interferir, e escolhe permanecer na sua “pobreza essencial” – afinal, o seu modo taoista de “seguir a linha da água” e de estar em ressonância com o mundo, numa conectividade concreta. Revi-o agora no YouTube.

Mais recentemente recordo-me de outro filme (também está no YouTube), O Visitante, de Thomas McCarthy, interpretado por Richard Jenkins, de 2008, que a política de Trump em relação à emigração actualizou.

Um renomado professor de economia, Valter, epítome de uma classe média de sucesso, atravessa uma crise por causa da viuvez que lhe revelou a irrelevância dos seus valores. Sente-se agora um “homem sem qualidades”, que vive agarrado às memórias da sua mulher, uma pianista de carreira, ao ponto de sem qualquer sucesso querer aprender a tocar piano.

A contragosto, vai a Nova York dar uma palestra, onde mantém um apartamento. Chegando lá, descobre um casal de imigrantes ilegais a viver no apartamento, ele árabe, ela negra. Mas, sendo um homem sem reservas mentais percebe que eles foram enganados e deixa-os ficar.

Tarek, um jovem sírio-libanês, é percussionista e a música acaba por tecer entre os dois uma verdadeira cumplicidade. Valter percebe que afinal não é um caso perdido para a música, apenas estava enganado no instrumento.

Por acidente, Tarek é preso e deportado, a sua namorada tenta desaparecer no anonimato, e Valter, que luta contra a desumanidade com que as autoridades tratam Tarek, acaba por se envolver com a mãe deste, uma mulher decente e educada, chegada do lado dos derrotados da História, para se inteirar da situação do filho.

No fim ficam todos sozinhos porque a vida não se compadece, mas Valter está mudado e o filme acaba com o académico e reputado palestrante a tocar tambor no metro.

Valter toca tambor no metro para se identificar com Tarek, essa figura anónima do bem que as absurdas e cínicas leis humanas penalizam, e para tentar recuperar o que aprendeu com ele: a Ressonância, essa sílaba de uma frase que só no transporte de um ritmo (fantasmaticamente colectivo) se deixa formular como um lugar (mental, atópico) onde o mundo deixa de ser um estranhamento.

Ao resumi-lo, reduzimos à caricatura este filme sóbrio e aparentemente simples, com quatro personagens e um drama atualíssimo, mas o que nele vale é a densidade das personagens e o seu subtexto: creio que a ressonância neste filme é a metáfora para falar da escuta, o seu primeiro tema, ou antes, da escuta deficiente com que nos condenamos ao isolamento social. Vivemos em sociedades doentes porque já não nos escutamos nem aos outros nem a nós mesmos, e a pele do tambor é aqui o tímpano que nos falta.

Nas sociedades actuais, como diria Sloterdijk, somos sempre convidados a ouvir o que ajuda a não ouvir o mundo e a alteridade. Valter enganara-se anos a fio de instrumento musical porque, preso às imagens da sua mulher e à sua música sedativa e funcional, deixara de se ouvir.

O outro grande tema do filme é, concomitantemente, o da hospitalidade.

A hospitalidade não é apenas o acolhimento do outro, mas o modo como através da presença do outro no meu espaço vital eu deixo de mentir a mim mesmo. Como nos ensinou a psicanálise, a mentira a si mesmo é primeiro que tudo uma proteção narcísica, defendemo-nos contra a imagem desfavorável que podemos dar de nós mesmos; neste sentido, a mentira secunda a intenção de quem tem vontade se perseverar a si mesmo. Lidar com um outro, o que acarreta tensão, obriga-nos a resolver este estado de reféns da consciência intencional e a transitar mais rapidamente para o plano da verdade.

A hospitalidade não abriga então apenas as dimensões da fraternidade e da responsabilidade, é igualmente um passo essencial para o amadurecimento e o auto-conhecimento. É outra forma de ressonância.

E isto serve tanto para os planos individuais como colectivos.

Também no Youtube, à procura de estudar a estrutura de várias óperas, por súbita necessidade profissional descubro uma versão inteira (e legendada) da Carmen, de Bizet, com a romena Angela Gheorghiu no lugar da protagonista, que me fascina. Como até agora andava distante da ópera não tinha dado conta do trabalho desta intérprete, não só no canto como no magnetismo que transmite às personagens. E há um pormenor da encenação que amplifica a força e sensualidade da personagem: quando a Carmen está em cena há uma máquina de vento ligada que lhe electriza o cabelo e o corpo. O fito é dar-lhe uma aparência indomável, e o instrumento é, de novo, a ressonância. Três obras magnificas para rever muitas vezes.

25 Abr 2019

O que a Notre Dame fez chorar!

[dropcap]C[/dropcap]om o incêndio da Notre Dame que pôs meio mundo a chorar (e a rememorar fotografias), lá se foi a tragédia de Moçambique. Depois veio a greve dos motoristas de matérias perigosas, o pessoal andou à pancada (até numa pacata bomba de gasolina de Campo de Ourique) e lá se dissipou o imenso pranto pela Île de la Cité. Parece que os media dão conta do que passa e não do que fica. Mas haverá algum tipo de registo que dê conta apenas do que fica? E o que é que fica, para além das lágrimas ao vento e das imagens parisienses (vento muito forte que seca todas as gárgulas que afloram no enfiamento das grandes comoções)?

Perseguir uma realidade perene e não efémera sempre foi desígnio (e desejo) dos humanos, é verdade. Aristóteles imaginou um mundo sobrelunar que resistiria à corruptibilidade, enquanto a “metempsicose” que Platão apresentou no Fedon traduz a ideia da imortalidade da alma e da reencarnação. As religiões do livro e as orientais (que se baseiam também na reencarnação) secundam a tradição. Os mitos, da antiguidade aos nossos dias, estão cheios de personagens que resistem à lei da morte. Até nas possíveis respostas ao famoso livro de Calvino “Porquê ler os clássicos?” ou no conceito de “cânone”, defendido por Harold Bloom, se pressente a mesma necessidade de resistir aos dons do efémero.

O mundo moderno, ciente de que os paraísos ‘só’ poderiam existir neste planeta, soube harmonizar habilmente a lei da vida (“A morte é a curva da estrada”, já dizia Pessoa) com um ímpeto de totalidade. Por outras palavras: os humanos acreditaram que haviam de domar o mundo e dar conta de tudo à sua volta. Para domesticar o tempo, nada melhor do que inventar uma ciência que radiografasse o passado e uma outra que ‘ideologizasse’ o futuro. Ficava tudo resolvido. É por isso que, a partir de meados do séc. XVIII, foram aparecendo narrativas que desenhavam, país a país, a sua própria história. Vico terá sido o anjo da anunciação (com Ciência Nova, 1725) e, logo a seguir, em todos os cantos da Europa, pôs-se em marcha um ininterrupto culto da memória, fosse através da criação de museus, fosse através da criação de novos saberes (arqueologia, antropologia, etnologia, etc.), fosse através da redacção de ‘Histórias’ nacionais e universais (com letra grande para sugerir a ilusão moderna de objectividade). De E. Gibbon (1737-1794) a A. Herculano (1810-1877) e de Marquês de Condorcet (1743-1794) a J.Michelet (1798-1874), os ‘grandes factos’ são desocultados e colocados em perspectiva, de modo a dar sentido ao presente e às comunidades que os enunciam, como se cada uma fosse o centro do mundo.

Este frisson de obsessivamente recriar o passado (cada qual a seu gosto) fez-se através de cuidadas montagens e selecções (as Tordesilhas da história portuguesa não seriam nunca as Tordesilhas da história castelhana, por exemplo), razão pela qual a objectividade – que ainda hoje permite que se creia na existência duma ciência histórica – é tão irrealista como o é o personagem que Borges criou em Funes o Memorioso*. Funes projectou uma nova língua que dispusesse de vocábulos para cada folha das árvores ou para cada pedra das montanhas, pois a sua memória era prodigiosa e abrangia todos os detalhes com que em vida se debatera. Como a tarefa era árdua, decidiu resumir o projecto a ‘apenas’ setenta mil lembranças. No final, desistiu por achar que o trabalho era infindável e inútil. Os historiadores foram mais inteligentes do que Funes, na medida em que recorreram a montagens subtis, antecipando-se à lógica das gramáticas com que Griffith e Eisenstein haveriam de glorificar o cinema.

Se as ideologias no seu design oitocentista são hoje matéria de manuscrito (com o é a Ilíada, por exemplo), este culto moderno e sistemático do passado foi-se perdendo no meio da amnésia colectiva que a era tecnológica arrastou consigo. Razão por que, hoje em dia, a representação do passado se faz mais através de práticas em fluxo centradas no que se passou a designar por “património” do que através da interiorização de uma determinada narrativa orgânica e saturada de coerências (como aconteceu na minha escola primária e nas aulas de história do liceu). Os objectos falantes – monumentos, sítios reconhecidos pela unesco, paisagens protegidas, etc. – são hoje o porta-voz dos nossos legados, daí terem-se convertido num turismo global de massas que mete a um canto as antigas peregrinações a Jerusalém.

É por esta razão que o incêndio da Notre Dame pôs o povo a chorar com glamour patrimonial. Juntemos a esse pesar os ingredientes fotográficos com que cada sofredor expôs ao cosmos a sua própria ópera interior. Quando no fim da Comuna de Paris, os derrotados pegaram fogo a meia Paris, ainda não existiam os sacos lacrimais da contemporaneidade. E ninguém, na altura, os teria entendido. Para os communards, a primeira internacional, as barbas cerradas de Marx e de Engels e o invasor prussiano eram as referências pesadas. O passado bem podia esperar nos mais-do-que-sagrados livros de ideologia e de “História” e ainda naqueles que levaram Adolphe Thiers a mandar executar mais de vinte mil almas (facto que a então jovem fotografia documentou sem quaisquer filtros e reservas, num contraste absoluto com a vacuidade narcísica e idiota das actuais selfies).

O empenho moderno pela “totalidade”, baseado em receitas racionais que dariam respostas a todas as ‘grandes’ perguntas, sucessor, aliás, do apego clássico pelas realidades perenes (com a imortalidade na fila da frente), é hoje um produto datado. Um genérico fora do prazo de qualquer prazo validade.

Esgotadas as crenças no ilimitado, o que nos sobrará? Pela frente, leia-se, como cenário de futuro, resta-nos o frémito dos gigabytes; para trás, leia-se, como cenário do passado, resta-nos a síndrome do património e os seus mil trivagos com direito a sorrisos e a selfies, tendo como cenário a acqua alta de S. Marcos, as cores avermelhadas da Petra jordana ou o pináculo da Notre Dame a cair no meio do fogo. De facto, tanto faz. E uma lagriminha no olho para coroar a emoção não ficará mal a ninguém, pois, logo a seguir a Paris, virá a greve dos motoristas e depois, e depois, e depois. Haverá sempre um depois para suster o que fica e para levar para o panteão, lado a lado, com Amália, tudo aquilo que passa, como se fosse, e é afinal, uma “estranha forma de vida”.


*Borges, Jorge Luis; Funes, el Memorioso em Ficciones – Prosa Completa, Volumen I, Narradores de Hoy – Bruguera, Barcelona (1944) 1980, pp. 383-390.

25 Abr 2019

25 de Abril | Portugueses assinalam 45 anos de liberdade à mesa

A celebração de mais um aniversário do 25 de Abril volta a estar na agenda de hoje. Um jantar independente que se realiza há mais de 30 anos para celebrar a liberdade vai ter lugar no restaurante Galo e conta com a organização de Fernando Sales Lopes. O habitual convívio organizado pela Casa de Portugal tem assento reservado na Torre de Macau

 

[dropcap]A[/dropcap]contece há mais de 30 anos. É um jantar convívio que reúne amigos e desconhecidos à mesa. O objectivo é comemorar o 25 de Abril e a liberdade. Organizado por Fernando Sales Lopes, o assinalar dos 45 anos da data do fim da ditadura em Portugal tem lugar no restaurante O Galo, no NAPE. A partir das 20h, é tempo de comer, beber, conversar e recordar poemas e canções da revolução, numa actividade que, sem ser programada, também se pretende livre, como a data que se assinala. “Acontecem umas cantorias mais ou menos bem cantadas conforme os artistas presentes, mas o mais importante é que seja um evento livre, uma coisa de liberdade como o 25 de Abril é”, apontou Sales Lopes ao HM.

O organizador recordou ainda outros tempos deste convívio, tempos de “mais esplendor” em que havia meios e pessoas para participar em peças de teatro e outros apontamentos musicais. “Agora já não é assim”, mas o importante é que o 25 de Abril não seja esquecido, sublinhou. “Trata-se de uma data que não pode entrar no esquecimento” até porque a celebração do 25 de Abril é um acto que “faz sempre sentido”. “Temos que comemorar o fim da ditadura, temos que comemorar a liberdade e tudo aquilo que nos trouxe, é uma obrigação, pelo menos das pessoas que são pela democracia”, apontou.

Interesse de todos

A necessidade de manter vivo o momento que marca a liberdade em Portugal é válida para todos, independentemente da geração a que pertencem e inclui especialmente os mais novos que muitas vezes desconhecem este dia por culpa do próprio ensino que “se esquece de falar destas coisas”.

“Nota-se que nestas últimas gerações há pessoas que felizmente nem sabem o que foi o 25 de Abril, como se isso não tivesse importância nenhuma. Quando no fim de contas, tudo aquilo que vivemos hoje em Portugal tem tudo que ver com este acontecimento”, advertiu.

Além das falhas do ensino que têm este capítulo da história já no final dos currículos escolares e por isso, não é devidamente apresentado, Sales Lopes alerta ainda para pouca atractividade dos programas de divulgação da revolução para serem capazes de chegar a um público mais jovem.

“A televisão dá frequentemente entrevistas das pessoas que viveram o acontecimento na altura, ou seja, a ignorância dos jovens não acontece por falta de informação mas porque a informação dada é mal conduzida ou, dito de outra forma, é um prato fabricado de maneira que não oferece grande vontade de comer”, disse.

O organizador recordou ainda a origem deste convívio. “Nasceu há mais de 30 anos porque na altura eram raras as comemorações que existiam em Macau do 25 de Abril e achámos que isso fazia falta”. Por outro lado, no território esta data assume características particulares. “Aqui em Macau é ainda mais interessante”, disse. Sales Lopes que assistiu à transferência de administração considera que “a forma correcta como foi feita, sem interrupções sem aleijar ninguém e com respeito mútuo”, não seria possível sem o 25 de Abril . “Se não houvesse o 25 de Abril não teríamos relações com a China, como é que se conseguiria negociar uma coisa com um país sem se ter relações diplomáticas com ele?”, apontou.

Liberdade na Torre

“A necessidade de celebrar o 25 de Abril é cada vez maior”, referiu ao HM a presidente da Casa de Portugal em Macau, Amélia António, que organiza o jantar desta noite na Torre de Macau.

“Com tudo o que vemos a acontecer pelo mundo e na Europa, é importante recordar que aquilo que as pessoas hoje têm não é um dado adquirido, foi uma coisa pela qual se lutou muito, e portanto não é uma coisa que não seja reversível com tudo o que vemos acontecer”, justificou.

Daí, “a necessidade de que as pessoas estejam conscientes, mais ainda quando vemos o aparecimento de movimentos muito estranhos”, acrescentou.

Para combater o perigo futuro é preciso não esquecer, “manter a memória do que vivemos e do que não queremos ver regressar”. “As pessoas têm que estar atentas e ter a noção do que era o nosso país, de tudo o que o 25 de Abril trouxe: a liberdade das pessoas estudarem e abrir horizontes”.

“O habitual jantar de confraternização “vai ter lugar na Torre de Macau, a partir das 19h30. A animar as celebrações vai estar o agrupamento musical “Os Vocalistas”. Este ano a banda aparece numa versão diferente da que apresentou no ano passado na mesma data, e vai ser responsável por diferentes momentos musicais. Além do tradicional tributo ao 25 de Abril, com a interpretação de temas emblemáticos  que marcaram a luta contra a ditadura, “Os Vocalistas” vão ainda apresentar temas do seu último trabalho discográfico. A organização espera a participação de cerca de 200 pessoas, o “habitual”.

Os interessados ainda se podem inscrever ao longo do dia de hoje, através da Casa de Portugal. O valor de inscrição varia entre as 350 patacas para os sócios e as 450 para os não sócios e conta com a oferta de vinho.

25 Abr 2019

FRC faz balanço positivo dos primeiros sete anos de actividade

[dropcap]A[/dropcap] Fundação Rui Cunha fez ontem um balanço positivo dos primeiros setes anos de actividade da instituição, um “trabalho abrangente” em “prol da cultura ou do direito” de Macau, cuja documentação é “um património” do território.

Fundada em 2012 pelo advogado português Rui Cunha, radicado há quase 40 anos em Macau, a fundação assinala esta semana o sétimo aniversário, com um conjunto de eventos que arrancou esta segunda-feira e se estende até dia 29.

A missão a que se propôs desde o início – promover a “identidade singular” de Macau – tem sido cumprida através de uma “panóplia diversificada de eventos todos os anos”, salientou o vice-presidente, Tubal Gonçalves. Ao todo, já são quase mil, entre “conferências, concertos e lançamentos de livros”.

Praticamente todos estes trabalhos têm sido alvo de documentação. “Nós gravamos tudo o que fazemos”, afirmou à Lusa, realçando que estes trabalhos “servem de apoio à história” e são, já por si, “um património”. “Se por um lado gravamos tudo, por outro lado também registamos nos nossos relatórios [anuais] tudo aquilo que fazemos ao longo do ano: uma parte relacionada com o direito, e outra às “gentes de Macau”, como nós lhe chamamos”, explicou.

A fundação foi criada para abranger todas as comunidades, algo que está patente naqueles relatórios, explicou. “Tudo aquilo que se fez aqui não foi direccionado a portugueses ou chineses, foi direccionado para a comunidade que é Macau. Temos eventos que têm um público maioritariamente chinês, outros com um público maioritariamente português”, disse.

Reconhecimento geral

Sustentada praticamente com “fundos próprios”, a fundação cresceu e foi reconhecida, no ano passado, como “pessoa colectiva do sector cultural pelo Instituto Cultural (IC)” de Macau, o que lhe permitiu pedir apoios àquela instituição governamental.

“Este ano, já começámos a receber alguns apoios para eventos”, disse. A instituição já tinha sido reconhecida pelo Governo, em 2015, como entidade de “utilidade pública administrativa”.

Para o futuro, o objectivo é simples: continuar a “servir Macau” e “as suas gentes”, de forma “não diferenciada”. “O nosso objectivo não é distribuir dinheiro. Fazemos eventos em prol da cultura ou do direito de Macau e fazemos isso com os professores, os artistas, os escritores. Estamos aqui para ser uma plataforma que sirva a sociedade toda, o que significa servir todas as comunidades. Não as diferenciamos”, disse.

No entanto, com mais apoios, será possível concretizar o objectivo de sair do pequeno espaço que alberga a fundação e alargar o trabalho a novos espaços. “O nosso plano é sair da fundação e ir cada vez mais para junto dos bairros de Macau, levar a cultura a esses bairros. Porque se estivermos confinados aqui, parece que não estamos a cumprir o nosso papel, que é promover a cultura e o direito”, reiterou.

“É um mundo de projectos que estão ainda por realizar. Fizemos muita coisa, mas os nossos projectos não acabaram. Pelo contrário, às vezes sentimos que estamos no início, com tanto que falta por fazer”, sublinhou.

25 Abr 2019

IAS | Protocolo da Grande Baía facilita intercâmbio de voluntários 

Os voluntários na área do apoio social vão poder prestar serviços nas regiões que envolvem a Grande Baía. A ideia foi deixada ontem pela representante do Instituto de Acção Social, Tang Kit Fong, e está prevista no “Acordo-Quadro para o Fomento da Cooperação entre as cidades que integram a Grande Baía Guangdong, Hong Kong, Macau em matéria dos assuntos municipais”, assinado no mês passado

 

[dropcap]A[/dropcap] mobilidade de voluntários entre as regiões que integram o projecto e cooperação regional, na área do serviço social é um dos objectivos do “Acordo-Quadro para o Fomento da Cooperação entre as cidades que integram a Grande Baía Guangdong Hong Kong Macau em matéria dos assuntos municipais”, apontou ontem a representante do departamento de planeamento e estudo do Instituto de Acção Social (IAS), Tang Kit Fong, em conferência de imprensa.

O acordo foi assinado a 29 de Março e esteve ontem na agenda da reunião plenária do Conselho de Acção Social (CAS). “No âmbito do plano de acção prevemos desenvolver o intercâmbio do trabalho de voluntários. Vamos tentar introduzir a experiência de Macau nestas cidades [da Grande Baía] e principalmente na área da formação e  partilha de informação”, revelou Tang Kit Fong. O objectivo é “ver como obter benefícios sociais para os residentes de Macau nas cidades da Grande Baía”.

Pode ser voluntário qualquer residente da RAEM independentemente da sua nacionalidade, acrescentou a responsável, “desde que tenha essa vontade de fazer bem a outras pessoas”.

“Qualquer residente de Macau, seja chinês seja português pode participar individualmente ou integrado numa organização para fazer este trabalho de voluntariado”, sublinhou.

No entanto, a responsável recomenda que os voluntários interessados estejam associados a uma organização para “não fazerem as coisas à toa”. “Tem que haver uma organização e um planeamento sistemático”, disse.

Idosos móveis

A cooperação com as instituições de apoio a idosos e mesmo a expansão de lares locais nas regiões da Grande Baía são também objectivos deste acordo desde que autorizados pelas entidades locais. “É preciso ver o ambiente concreto das cidades, e se há procura desse serviço. O IAS vai fazer uma análise para ver se é possível para as organizações desenvolverem os seus serviços em qualquer cidade da Grande Baía”, apontou Tang.

Para já, a ideia é avançar com auxilio técnico e “mostrar como os serviços sociais são feitos em Macau”. De acordo com a responsável há “muitos idosos de Macau que querem viver na Grande Baía”, mas “estão habituados ao modo de funcionamento dos lares de Macau”, pelo que é necessário um período de adaptação e de formação institucional.

25 Abr 2019

Tecnologia | App acusada de pagar tarde a restaurantes

[dropcap]O[/dropcap] proprietário da aplicação móvel Ou Mi, que tem como logótipo um esquilo, que permitem fazer encomendas de comida nos restaurantes, está a ser acusado de demorar mais de dois meses a fazer os pagamentos aos estabelecimentos.

O caso foi relatado ontem pelo jornal Exmoo e, de acordo com os proprietários ouvidos, a situação faz com que os restaurantes se atrasem nos pagamentos a fornecedores e mesmo aos trabalhadores. Em alguns casos, as encomendas feitas através da aplicação podem chegar a mais de 60 por cento das receitas destes estabelecimentos.

Por sua vez, o proprietário da aplicação confirmou a situação, mas explicou que estes atrasos se devem a formalidades relacionadas com aplicação. Ao mesmo tempo, prometeu também que no futuro os pagamentos aos restaurantes na modalidade semanal, bissemanal e mensal.

25 Abr 2019

Televisão | TV Cabo com contrato por mais cinco anos

[dropcap]O[/dropcap] Governo renovou a Concessão do Serviço Terrestre de Televisão por subscrição com a TV Cabo por cinco anos.

A informação foi publicada ontem em Boletim Oficial e tem efeito desde o passado dia 22. O novo contrato contempla a possibilidade de vir a existir uma concorrente dentro do prazo de concessão.

Nesse caso, serão atribuídas à TV Cabo, “oficiosamente”, as licenças necessárias, para que a empresa “continue a explorar as actividades”, embora sujeita ao regime de exploração que vigorar nessa altura.

25 Abr 2019

PJ | Agente embriagado provoca acidente e é alvo de processo disciplinar

Um investigador da PJ está a ser alvo de processo disciplinar após ter provocado um acidente enquanto conduzia uma viatura de serviço embriagado. O caso aconteceu a 19 de Abril e a revelação foi feita ontem

 

[dropcap]O[/dropcap] alarme voltou a soar. Há uma secção no portal do secretário para a Segurança dedicada à divulgação de infracções por parte dos agentes de autoridade, que tem como nome “o soar do alarme”. A Polícia Judiciária divulgou ontem que um dos seus investigadores se envolveu num acidente de viação na passada sexta-feira, dia 19 de Abril.

De acordo com a informação das autoridades, o agente conduzia uma viatura de serviço, quando chocou contra um motociclo. O acidente aconteceu no cruzamento da Rua de Londres com a Alameda Dr. Carlos d’Assumpção e causou ferimentos ligeiros no condutor do motociclo.

No entanto, os problemas sugiram quando o inspector da Polícia Judiciária teve de fazer o teste do álcool, também conhecido como teste do balão. Apesar de estar em horário de trabalho, o homem acusou uma taxa de alcoolemia de 0,73 gramas por litro, um valor que ultrapassa o máximo permitido, que é de 0,49 gramas por litro. A infracção é punível, de acordo com a Lei do Trânsito, com uma multa que vai das 2.000 às 10.000 patacas.

“A PJ reitera que exige sempre aos seus trabalhadores que conheçam as leis, que as cumpram e que sejam rigorosos. Nenhuma infracção será tolerada”, pode ler-se no comunicado de ontem.

“Por isso, no dia 24 de Abril, a PJ iniciou um inquérito disciplinar ao agente para apurar eventuais leis ou obrigações que tenham sido desrespeitadas”, é acrescentado.

Ao HM, a PJ recusou avançar mais pormenores sobre o agente envolvido, como a idade, limitando-se a dizer que os resultados do inquérito serão posteriormente anunciados.

Mais um caso

Com o episódio relatado ontem, sobem para dois os casos públicos de agentes sob a tutela de Wong Sio Chak que foram detectados a conduzir com excesso de álcool no sangue e que se envolveram em acidentes de viação.

Em Março deste ano, um técnico administrativo dos bombeiros também teve um acidente, por volta das 03h30, quando estava fora de serviço. Segundo o portal da secretaria liderada por Wong Sio Chak, este homem acabou condenado pela prática do crime de “condução em estado de embriaguez”, com pena de três meses de prisão, substituída pela multa de 27 mil patacas.

Ficou ainda inibido de conduzir durante um ano e seis meses. Também neste caso, o processo disciplinar instaurado encontra-se à aguardar desfecho.

25 Abr 2019

Kiang Wu | SS não recebem queixa de mulher que alegou negligência

[dropcap]D[/dropcap]urante o dia de ontem foi publicado, durante uma hora, um comentário online de uma mulher, que não se identificava, mas que mostrava documentos médicos, que se queixava de ter sido negligenciada no Hospital Kiang Wu. Alegadamente, a mulher, que estava grávida, teria entrado nas urgências do hospital a sangrar da vagina, mas ter-lhe-á sido recusada a realização de exames médicos.

Como tal, alegou ter ido a outra clínica, onde lhe foi confirmado que tinha tido um aborto espontâneo.

Apesar do comentário, até ontem às 17h45, os Serviços de Saúde de Macau não tinham recebido qualquer queixa, apesar de também terem sido alertados para o caso. “Mesmo após ter acesso ao conteúdo da queixa transmitida online, e em conformidade com as disposições dos artigos 9.º e 10.º da referida lei, nesta fase, os Serviços de Saúde não estão em condições para uma intervenção activa”, afirmaram os SSM ao HM.

“Se a parte interessada suspeitar da existência de negligência médica por parte do prestador de cuidados de saúde, resultante de danos físicos ou mentais, pode requerer, nos termos da lei, à Comissão de Perícia do Erro Médico, o procedimento da perícia, no sentido de verificar se existiu ou não erro médico”, foi acrescentado.

25 Abr 2019

Novo Macau recusa aumento de idade mínima no acesso à habitação económica

[dropcap]A[/dropcap] Associação Novo Macau insiste que todos os residentes permanentes com 18 anos deveriam ter direito de participar nos concursos de atribuição de habitação económica. Numa conferência de imprensa realizada ontem, Rocky Chan, membro da associação, sublinhou a oposição à proposta do Governo que define que apenas os residentes com 25 anos podem concorrer.

“Somos contra o aumento de 18 anos para 25 anos da idade mínima para que as pessoas se possam inscrever para a atribuição de habitação económica”, afirmou Rocky Chan. “No nosso entender, não faz nenhum sentido este aumento porque uma pessoa com 18 anos é considerada adulta e por isso tem as mesmas obrigações que uma pessoa com 25 anos”, acrescentou.

A nova lei da habitação económica está a ser discutida na especialidade na Assembleia Legislativa. No entanto, quando foi aprovada na generalidade, este aspecto já tinha sido criticado por alguns deputados, como Sulu Sou, o deputado apoiado pela Novo Macau.

Segundo a interpretação da associação, o estabelecimento do limite de 25 anos é tido como “discriminação” e vai fazer com que haja um “clima de antagonismo” entre o Governo e os mais jovens.

A Novo Macau quer ainda que o sistema de lista de espera seja recuperado. A associação defende que quando houver o próximo concurso para atribuição de fracções que a ordem dos candidatos que não foram bem-sucedidos seja guardada para ser utilizada nas futuras atribuições de habitações económicas.

“Na consulta pública sobre esta lei, mais de 80 por cento das pessoas ouvidas mostraram-se a favor da manutenção da lista de espera. Para nós, é o melhor sistema, porque uma pessoa, mesmo que fique muito atrás, tem uma referência sobre quando vai receber uma habitação económica”, justificou Rocky Chan.

Uma vez que a lei partiu da iniciativa do Governo, o deputado Sulu Sou enviou um pedido, em Janeiro, a Chui Sai On a pedir que proceda às alterações. No entanto, até ontem ainda não tinha havido uma resposta.

Para permanentes

Outra das propostas da Associação Novo Macau passa pela defesa de que metade do agregado familiar deve ter o estatuto de residente permanente para poder concorrer a uma habitação económica.

Actualmente, apenas é necessário que o candidato seja residente permanente. Porém, segundo Rocky Chan, durante as reuniões da comissão que analisa este diploma, o Executivo mostrou-se aberto à possibilidade de fazer esta alteração. O membro da associação defendeu a mudança com a “prioridade para pessoas que vivem há mais tempo em Macau”.

Um assunto que também poderá sofrer alterações é a necessidade de os candidatos passarem 183 dias em Macau nos últimos 12 meses anteriores à candidatura. A proposta aceita algumas excepções, quando, por exemplo, membros do agregado estudem no exterior, recebam tratamento médico ou tenham sido internados fora de Macau.

Finalmente, a Novo Macau defendeu que os critérios para o concurso de atribuição de habitações económicas devem constar na lei e não num regulamento administrativo. A última opção faz com que apenas o Chefe do Executivo tenha o poder de decisão. A Novo Macau considera que os critérios devem ser decididos em conjunto com os deputados.

25 Abr 2019

Lei Sindical | Coutinho pondera nova proposta para Outubro

[dropcap]O[/dropcap] deputado José Pereira Coutinho está a equacionar a apresentação de uma nova proposta de Lei Sindical em Outubro, quando a Assembleia Legislativa começar a nova sessão legislativa, após as férias de Verão.

“Vamos continuar a insistir nesse projecto. Estamos a ponderar apresentar novo projecto ainda em Outubro deste ano, se as condições forem propícias para que o projecto veja a luz do dia. Isto está também condicionado pela apresentação do relatório dos estudos encomendados pelos Serviços para os Assuntos Laborais à empresa do sobrinho [Kevin Ho] do ex-Chefe do Executivo”, afirmou o legislador em declarações à TDM.

Na terça-feira, a maioria dos deputados da AL chumbou o sétimo projecto de Coutinho com 16 votos contra e 13 a favor.

25 Abr 2019

Aeroporto atribui contrato de cinco anos a empresa do deputado Chan Chak Mo

[dropcap]A[/dropcap] empresa Bright Noble, propriedade do deputado Chan Chak Mo, vai gerir a nova zona de restauração do Aeroporto Internacional de Macau. Segundo um comunicado do aeroporto, a empresa foi a vencedora do concurso público para o espaço que fica na zona de partidas.

Os detalhes do contrato não foram avançados, apenas foi revelado que o acordo tem uma duração de cinco anos e que envolve a instalação de três restaurantes dos franchising “Pepper Lunch”, “Bari-Uma” e “Azores Express”.

“Estamos felizes por anunciar que a CAM – Sociedade do Aeroporto Internacional de Macau assinou um contrato de subconcessão de cinco anos com a empresa Bright Noble Company Limited. O contrato visa a operação do serviço de restauração Foodlane, que fica situado no andar Mezzanine, na área de embarcação do Edifício do Terminal de Passageiros”, pode ler-se no comunicado.

O Pepper Lunch é um franchise japonês que se caracteriza pela oferta de bifes fast-food. Em Macau e Hong Kong a exploração está a carga da empresa de Chan Chak Mo, Future Bright, que detém 100 por cento da Bright Noble, empresa sediada em Macau que tem um capital social de 25 mil patacas.

Já o restaurante Bari-Uma é igualmente uma cadeia japonesa, mas que aposta principalmente em pratos de ramen. Finalmente, o restaurante Azores Express foi desenvolvimento pela Future Bright e aposta em pratos portugueses, chineses e macaenses. Além de estar disponível no Aeroporto, há igualmente um restaurante no hotel Parisian.

Expansão de lojas

Esta nova concessão faz parte de um esforço do aeroporto para aumentar a oferta de serviços ao nível da restauração. Já em Fevereiro deste ano, um acordo semelhante tinha sido assinado com a empresa Gourmax Catering Company Limited também por um prazo de cinco anos. Esta empresa é responsável pela gestão pela loja de café Starbucks e ainda os espaços para comida MX e Food2, que estão abertos desde 17 de Fevereiro.

Posteriormente, em Março, foi também revelado um acordo semelhante, desta feita com a empresa San Mou I, que disponibiliza também perto das zonas de embarque um restaurante com comida chinesa.

25 Abr 2019

Diplomacia | Bloco de Esquerda e PAN de fora da visita de Estado à China

O Bloco de Esquerda e André Silva, deputado do PAN, não vão participar na visita de Estado de Marcelo Rebelo de Sousa à China e a Macau. Bloquistas e PAN justificam a posição com as restrições à liberdade e a violação dos direitos humanos na China

 

Com agência Lusa 

[dropcap]A[/dropcap] comitiva que vai acompanhar o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na visita de Estado à China e Macau não vai contar com elementos do Bloco de Esquerda (BE), nem com André Silva, o deputado do Partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN).

Em declarações ao HM, fonte oficial do Bloco de Esquerda referiu que “o Bloco não integrará a visita de Estado à China, em coerência com a posição que tem assumido sobre as restrições à liberdade e violação dos direitos humanos”.

Já à altura em que Xi Jinping visitou Portugal, no início de Dezembro do ano passado, o BE recusou participar nas iniciativas para que foi convidado, tais como o jantar oficial e o encontro com o Presidente chinês na Assembleia da República. “As posições do Bloco de Esquerda mantêm-se, nada mudou desde 2010, continua o desrespeito pelos direitos humanos e a repressão e, por isso, o Bloco não estará presente”, disse na altura à Lusa fonte oficial do partido.
O BE já tinha adoptado a mesma posição em 2010, quando o anterior Presidente da China, Hu Jintao, visitou Portugal.

O então líder bloquista, Francisco Louçã, justificou à Lusa a posição do partido considerando que “seria muito hipócrita” aplaudir ou a participar em banquetes com “o representante de um regime político que despreza o direito de greve, o direito de opinião e de liberdade de imprensa”. “Somos muito críticos em relação ao regime chinês”, afirmou Louçã.

A posição do PAN

André Silva, deputado do PAN, também não participou na cerimónia de recepção de Xi Jinping na Assembleia da República.

Em declarações ao HM, fonte oficial do PAN referiu que “André Silva não integra a comitiva da visita de Estado do Presidente da República em coerência com as posições críticas que o PAN tem assumido em relação ao regime autoritário chinês, de partido único, onde são constantes as restrições à liberdade e a violação dos direitos humanos, num país onde não existe liberdade de imprensa”.

A mesma fonte relembrou ainda “a invasão e a violenta ocupação do Tibete pela China, marcada pela repressão, prisão, desaparecimentos, tortura e assassinatos infligidos ao povo tibetano”.

Na sua visita à República Popular da China, Marcelo Rebelo de Sousa estará acompanhado por uma delegação parlamentar composta pelos deputados Adão Silva, do PSD, Filipe Neto Brandão, do PS, Telmo Correia, do CDS-PP, pelo líder parlamentar do PCP, João Oliveira, e por Heloísa Apolónia, do Partido Ecologista “Os Verdes”.

Pela parte do Governo, integram a comitiva oficial do chefe de Estado os ministros dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e do Ambiente e da Transição Energética, João Pedro Matos Fernandes, e o secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias.

25 Abr 2019

Mais perto da verdade

[dropcap]H[/dropcap]á 45 anos o meu país mudou. Perdeu poeira, perdeu teias de aranha, perdeu algemas e mordaças. E ouviu-se um grito imenso pelas ruas. Num momento, parecia haver um só povo, uma só garganta, uma única língua: a que pedia liberdade.

A liberdade veio mas não veio sozinha. Trouxe a Educação e a Saúde para todos, o direito ao trabalho e as férias. Trouxe dignidade a cada cidadão e a certeza de poder olhar outros quaisquer de frente apenas por ser humano e português. Trouxe a lei estribada no pressuposto de que era igual para todos.

Ao mesmo tempo, o povo português descobria-se. Ele havia tantos que nunca tinham visto o mar. Tantos que não sabiam ler. Tantos que não faziam ideia do que existia além do horizonte das aldeias, das vilas, das suas vidas encerradas na tradição e no medo.

Sim, havia medo. Medo do cura, medo dos lobos, medo dos doutores. Medo da guarda, medo da geada e medo do médico. Era um país aterrado, no sossego e no respeitinho. E havia a guerra, que nos diziam ser contra os “turras”, algo vago e africano. Havia um canal de televisão, a preto e branco.

Depois, há 45 anos, foi uma explosão de cores, de esperanças, de motivos e ideais. Esqueceu-se Fátima, o fado e o futebol; emergiu a política, os partidos e o divórcio. Até o povo perceber que falava muito, gastava muito tempo em reuniões, encontros e assembleias, mas pouco era ouvido, e que talvez fosse melhor ser cidadão de quatro em quatro anos, na mesa de voto, a não ser que quisesse carreira num partido. Chegaram as telenovelas, regressou o futebol, nasceu uma nova geração de fadistas e o Papa devolveu protagonismo à Cova da Iria.

Ou seja, durante 45 anos, o país tentou moldar-se à democracia, liberal para uns e empobrecida para outros. Nisto foi um sucesso. O ideal de igualdade foi-se aos poucos dissipando, ao ponto de hoje parecer “injusto” a alguns jovens turcos. Portugal segue, desajustado como sempre, a cartilha da Europa, e talvez nalguns aspectos deste desajuste resida algum do nosso encanto. Noutros a nossa desgraça. Fadisticamente falando.

45 anos depois continuamos a celebrar o evento que catapultou a nossa vida colectiva para um outro patamar de realidade, retirando-nos de uma existência reprimida, vegetativa e rural, espécie de hamish europeus.

Querer voltar atrás seria como perguntar a quem contemplou a luz se prefere regressar à contemplação das sombras. O que o 25 de Abril nos deu, entre muitas outras coisas, foi a possibilidade de uma vida mais perto da verdade.

25 Abr 2019

Ramalho Eanes: MFA quis evitar que a perturbação chegasse a Macau

[dropcap]A[/dropcap]ntónio Ramalho Eanes, primeiro Presidente da República portuguesa democraticamente eleito, recorda ao HM que o ponto mais importante da acção do MFA no território era garantir a estabilidade política que daria início ao estabelecimento das relações diplomáticas com a China.

“Tanto quanto sei, pois nessa altura não tinha funções de direcção, o MFA estava preocupado em manter a estabilidade e em fazer com que a perturbação que se verificava em Portugal não se transmitisse em Macau, para que o nosso relacionamento com a China mantivesse a estabilidade e para que pudesse criar condições para um futuro relacionamento, como depois se veio a verificar.”

Eanes destaca ainda o facto de, à época, não ter sido possível fazer mais pela dinamização da língua portuguesa em Macau. “Apesar de tudo, é evidente que gostaria que tivéssemos iniciado de imediato um processo de desenvolvimento e modernização de afirmação do português em Macau, o que não aconteceu de imediato porque não havia condições, mas veio a acontecer depois”, rematou.

25 Abr 2019

25 de Abril | Militares radicais contra Nobre de Carvalho enquanto Macau se distancia das outras colónias

[dropcap]U[/dropcap]m mês antes da chegada de Garcia Leandro e Rebelo Gonçalves a Macau, o comandante Catarino Salgado marcou presença, em Maio de 1974, numa sessão de homenagem do Centro Democrático de Macau (CDM) ao Movimento das Forças Armadas.

À época, o jornal Gazeta Macaense, propriedade de Leonel Borralho, deu grande destaque ao acontecimento e reproduzia, na íntegra, e na primeira página, o discurso de Salgado. “Sei que as pessoas em Macau são conhecidas pela qualidade de ordem e de trabalho. O MFA permitiu também serem livres. No CDM existem diversas tendências políticas, todas elas marcadas pelo desejo de espalhar as sementes da verdadeira democracia, que significa, a meu ver, respeitar as opiniões políticas dos outros”, disse durante o discurso.

“Regresso à província e vejo os meus conterrâneos unificando-se com os da metrópole, formando o CDM numa patriótica manifestação de lealdade para com a Junta de Salvação Nacional”, adiantou também Salgado, numa demonstração do apoio que esta associação de cariz político teve desde o início por parte dos que fizeram a Revolução em Lisboa.

Em 1974, Fernando Lima, ex-assessor da presidência da República portuguesa, estava em Macau destacado como militar, apesar de cumprir funções civis. Sobre a forma como se viveu a revolução em Macau, Fernando Lima recorda ao HM o período conturbado que as forças militares atravessaram. “Entre os militares não havia uma situação fácil e criou-se depois ali uma ruptura quando uma ala mais radical achou que o Governador, e a sua equipa, eram muito moderados em relação à revolução que estava a acontecer em Lisboa. Macau não acompanhava esse ritmo. Apareciam cartazes com a cara do Governador a dizer ‘Nobre de Carvalho Colonialista’.”

Lima assegura que Nobre de Carvalho nunca foi visto como alguém ligado à extrema-direita, mas sim como moderado. “Era um militar que procurava ser pragmático nas análises que fazia”, comenta.

Ainda sobre o Governador Nobre de Carvalho, Fernando Lima recorda um erro caricato de um noticiário televisivo da região vizinha. “Achei piada porque, um dia, a televisão de Hong Kong, ao invés de por a foto do Otelo Saraiva de Carvalho, pôs a foto do Nobre de Carvalho, porque o apelido era o mesmo.”

Caos depois de Leandro

Fernando Lima recorda também a presença do MFA no território no livro que escreveu intitulado “Macau entre as duas transições”. Apesar do apoio dado ao CDM, a sessão de esclarecimento do MFA não foi suficiente para apaziguar os ânimos políticos. “Esse aparente desanuviamento duraria pouco tempo. Como recordaria depois Garcia Leandro, a defesa cerrada que os delegados fizeram de Nobre de Carvalho não foi suficiente para serenar os ânimos em Macau”, pode ler-se no livro.

“Enquanto Leandro regressava a Lisboa, Rebelo Gonçalves ficaria no território para assumir o cargo de comandante militar interino em substituição do coronel Mesquita Borges que cessara funções. Durante a estada de 60 dias, Rebelo Gonçalves procurou polarizar o espírito de mudança política em Portugal, fê-lo com algum exibicionismo, que contrastaria com a mentalidade dominante, e rapidamente a sua posição se fragilizou perante a opinião pública. Seria rendido no dia 31 de Julho pelo coronel Maia Gonçalves”, escreveu ainda Fernando Lima.

Maria Inácia Rezola, investigadora do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, recorda este período como aquele que viu nascer os dois movimentos que marcariam a política de Macau nos anos seguintes. “Como Garcia Leandro revela no seu livro ‘Macau nos anos da revolução portuguesa 1974-1979’, trata-se de uma situação muito específica e a via deveria ser a da autonomia progressiva, pactuada com a China. É neste contexto que deveremos integrar a emergência de associações cívicas, como o CDM e a Associação para a Defesa dos Interesses de Macau (ADIM), mas também o corte de relações diplomáticas com Taiwan e o reconhecimento oficial da República Popular da China pelo Governo português em inícios de 1975.”

“Um processo atípico”

Para Maria Inácia Rezola, Macau constituiu, ao nível da descolonização, “um caso bem diferente do das colónias africanas, a ponto de podermos afirmar que se trata de um processo atípico, como atípico havia sido o seu estatuto colonial”.

“Na verdade, Macau nunca fora uma verdadeira colónia, mas sim um território cedido pela China, sob administração portuguesa. A soberania portuguesa em Macau apenas se exercia efectivamente sobre a comunidade portuguesa, incluindo os macaenses”, adiantou a historiadora, o que fez com que tenha sido alvo de uma estratégia diferente por parte do MFA.

“Por tudo isto, é fácil concluir que a situação de Macau não constituía uma ‘prioridade’, isto é, na verdade Macau é considerado pelo MFA como um caso particular que não deveria ser gerido nos mesmos moldes das colónias africanas. Na verdade, nos debates que se travaram, em Lisboa, no âmbito da Comissão da descolonização Macau, não sendo uma colónia, não se incluía no âmbito das suas competências.”

O tema da descolonização de Macau nunca foi sequer abordado junto das Nações Unidas. “A China não reconhecia a Portugal o direito de posse sobre o território. Macau não era uma colónia, defendia na Comissão de Descolonização da ONU – o que significava que não deveria ser debatida naquele âmbito.”

Além disso, “queria evitar a todo o custo um foco de instabilidade ou mesmo a emergência de movimentos que reivindicassem a instauração de uma democracia parlamentar. Não é por acaso que ao regressar de uma viagem pelo oriente, em finais de Outubro de 1974, Almeida Santos afirma que Macau quer continuar a ser administrado pelos portugueses”, concluiu Maria Inácia Rezola.

25 Abr 2019

25 de Abril | O dia em que o MFA reuniu com a população no Colégio Santa Rosa de Lima

Uma gravação áudio inédita, à qual o HM teve acesso, recorda a sessão de esclarecimento que o Movimento das Forças Armadas realizou no Colégio Santa Rosa de Lima em Junho de 1974, meses depois da Revolução dos Cravos. O papel político da associação Centro Democrático de Macau, a continuação da figura do Governador e o estabelecimento das relações diplomáticas com a China eram as questões que mais preocupavam após a queda do Estado Novo

 

[dropcap]E[/dropcap]m Junho de 1974, dois oficiais do Movimento das Forças Armadas (MFA), o já falecido major Rebelo Gonçalves e o general Garcia Leandro, que mais tarde viria a ser nomeado Governador de Macau, deslocaram-se ao território com o objectivo de explicar à população os propósitos do 25 de Abril e qual futuro reservado a Macau depois da queda do Estado Novo.

O encontro teve lugar no Colégio Santa Rosa de Lima e dele ficou apenas um registo áudio, gravado ainda em cassete, ao qual o HM teve acesso. Confrontado com a gravação inédita, descoberta num espaço público em Lisboa de troca de livros, o general Garcia Leandro mostrou-se surpreendido. “Fiquei satisfeito por isso existir e por passados estes anos todos poder ser mostrado”, confessou ao HM. Da reunião não restou nenhum documento oficial, apenas “dois relatórios curtos sobre a situação em Macau e Timor” lavrados por Garcia Leandro. Estes documentos viriam, mais tarde, a ser entregues em Lisboa.

Graças ao apoio de Garcia Leandro conseguimos desvendar as vozes encarregues de explicar a queda do regime do Estado Novo.

Depois dos aplausos iniciais, coube ao major Rebelo Gonçalves contar aos presentes o que tinha acontecido em Lisboa na madrugada de 24 para 25 de Abril de 1974. Na altura, os jornais eram poucos e as notícias chegavam a conta-gotas. “Dedico estas palmas aos meus camaradas que, na madrugada do 25 de Abril, conseguiram derrubar o Governo. De forma nenhuma posso considerar que sejam para nós”, começou por dizer, argumentando que “as Forças Armadas têm de ser uma arma imparcial”. Logo à partida Rebelo Gonçalves deixou bem claro que se mantinha a figura do Governador (até então era Nobre de Carvalho que ocupava o cargo, e que viria a ser substituído por Garcia Leandro em Setembro de 1974).

“O senhor Governador de Macau tem o aval das Forças Armadas, do Governo provisório e da Junta de Salvação Nacional. Não admito qualquer discussão sobre este aspecto, e enquanto este aval se mantiver, o Governador de Macau é-o de cabeça erguida.” Sobre este ponto, Garcia Leandro afirma, 45 anos depois, que “não há ali posições das quais nos possamos arrepender”.

“É natural que as pessoas tivessem dúvidas sobre o futuro. Uma coisa era a Revolução, outra era o futuro, mas o futuro foi resolvido por mim, quando criámos tudo para Macau na altura em que fui nomeado Governador”, recorda.

À época, era fundamental colocar um ponto final na Lei Orgânica do Ultramar e criar para Macau um novo diploma de ordem constitucional. “Tudo aquilo acabou e foi então que se fez o Estatuto Orgânico de Macau.” Este iria vigorar no território até 20 de Dezembro de 1999, data em que o território passou oficialmente para a China e se implementou a Lei Básica da RAEM.

Durante a reunião de Junho de 1974, Garcia Leandro recordou as dificuldades com que se deparou Nobre de Carvalho no território, nomeadamente durante o período quente da crise do “1-2-3”. “Todos sabemos o que tem sido a vida do Governador desde que aqui desembarcou, em Novembro de 1966, e como tem sido difícil administrar esta província. Conhecemos a sua competência profissional e moral, o seu espírito de sacrifício e pergunto muito comovido quem está aqui em Macau que possa criticar a figura do senhor governador? Há alguém que possa criticar? Julgo que não”, adiantou.

“Os oportunistas” e o CDM

Depois de assegurar a continuidade da figura do Governador como autoridade máxima do poder político no território, Rebelo Gonçalves alertou os presentes para o facto de “ser preciso estarmos todos acautelados para os oportunistas”.

“É muito fácil ser-se democrata no dia 26 de Abril, era extraordinariamente difícil sê-lo antes do dia 25, ou no dia 24. A pessoa que era de uma determinada cor respeito-a se ela se mantiver da mesma cor. Se um indivíduo que é de extrema-direita se mantiver da extrema-direita, respeito-o muito mais do que aquele indivíduo que é da extrema-direita e no outro dia é da extrema-esquerda”, frisou.

Depressa a sessão de esclarecimento se focou no estabelecimento de uma associação de cariz político, que surgiu a 30 de Abril de 1974, chamada Centro Democrático de Macau (CDM), e que era conotada com a esquerda comunista. No mesmo ano foi também fundada a Associação da Defesa dos Interesses dos Macaenses (ADIM), conotada mais com a ala conservadora, que defendia a continuidade do Governador.

“O CDM faz uma aflição enorme a toda a gente”, começou por dizer. “O CDM tem, neste momento, a aceitação de todos os delegados da Junta de Salvação Nacional, como tem do senhor Governador. Nós temos é de distinguir, dentro do CDM, as pessoas que, na realidade, são democratas sob todos os aspectos, as válidas e aquelas que não interessam. Compete ao CDM separar o trigo do joio e não se deixar ligar a determinadas pessoas que não oferecem as garantias necessárias.”

Rebelo Gonçalves alertava também para o facto de o “problema de Macau não ser necessariamente igual ao de Angola, Guiné, Moçambique ou Timor”. “Justifica-se uma associação do centro democrático que, passo a passo, vai procurando arranjar elementos que os ajudem, ajudando também outros elementos a se consciencializar e educando outras massas que estão por educar politicamente.”

Administração “fraca e corrupta”

Garcia Leandro explicou aos presentes que o Governador Nobre de Carvalho aceitava a existência do CDM, apesar de recair sobre alguns membros a acusação de terem mudado de facção política após a Revolução. “Não se aceitam indivíduos corruptos que, depois do 25 de Abril, aparecem extraordinariamente curvos e democratas. A posição do senhor Governador em relação ao CDM é absolutamente definida: aceita-os. É preciso que não se confundam essas críticas com as críticas que possam vir do CDM, pois as suas intenções e declaração de ideias estão definidas.”

Aliás, o próprio Nobre Carvalho disse ao seu futuro sucessor que “estava à disposição do CDM” para diálogos conjuntos. “Com certeza que o CDM irá fazer críticas, é óbvio. A nossa Administração é fraca, é corrupta, está cheia de falhas, porque temos tanto medo de críticas? Não devemos atacar pessoas que no meio de tantas dificuldades agiram do modo que melhor puderam”, explicou Garcia Leandro ao público.

Relações com a China

Garcia Leandro acabaria por introduzir o tópico do estabelecimento das relações diplomáticas entre Portugal e a China comunista, algo que aconteceria em 1979. “O Governo português, dentro de uma base de abertura a todos os países, irá travar um conjunto de conversações com a China para levar ao estabelecimento das relações diplomáticas”, disse o ainda oficial do MFA, referindo a importância que tal teria para o futuro de Macau. “Não tenho dúvidas de que, depois dessas relações diplomáticas encontrarem efectividade, o futuro de Macau será muito mais aberto, com horizontes mais largos.”

Garcia Leandro recordou também perante a plateia que “a China popular definiu a sua posição face a Macau, e não temos dúvidas de que, se estamos em Macau, é porque a China nos aceita.

Não custa nada reconhecer publicamente isto. Não temos dúvidas de que somos minoritários e que estamos aqui porque interessa a ambos. A partir do momento em que um Governo que não aceitava as orientações comunistas é substituído por outro que está aberto a todas as orientações, não tenho dúvidas de que o futuro de Macau será muito mais risonho depois destas relações diplomáticas.”

A implantação de um regime comunista em Portugal foi também outra das questões levantadas na sessão de esclarecimento. “É do conhecimento geral que o MFA pretende que seja implantado e cumprido aquilo a que nós chamamos de democracia. Dentro desses princípios, será dada liberdade a todos os partidos, incluindo a extrema-esquerda e o comunismo? Quanto ao Partido Comunista Português tem havido apreensão por parte de muitas pessoas”, opinou um membro não identificado do público.

Neste aspecto, o major Rebelo Gonçalves fez questão de sublinhar que durante as eleições legislativas de 1976 todas as facções políticas seriam tidas em conta. “Discordo das suas ideias, porque o senhor fez a definição total do que não é uma democracia. O perigo que existe para todos os partidos. Se o país quiser o PCP democraticamente eleito teremos de o admitir, não há outra hipótese”, esclareceu o militar.

Chineses queriam “estabilidade”

A passagem do MFA por Macau incluiu não apenas sessões de esclarecimento com a população, mas também reuniões com membros do próprio CDM e associações representativas da comunidade chinesa, tal como a Associação Comercial de Macau, a Associação Industrial de Macau e entidades ligadas a empresas de exportação, construtores civis. Foram também ouvidos os membros das Forças Armadas em serviço no território, professores de liceu e funcionários públicos.

Garcia Leandro recorda que a comunidade chinesa estava, sobretudo, interessada na estabilidade e que os propósitos da Revolução dos Cravos eram tidos como algo secundário. “Os chineses estavam um bocadinho à parte, mas preocupados com o futuro. O que eles queriam era estabilidade, saber quem mandava para manterem os seus negócios com tranquilidade.”

25 Abr 2019

Líder da Coreia do Norte já está na Rússia para cimeira com Putin

[dropcap]O[/dropcap] líder norte-coreano, Kim Jong-un, chegou hoje à cidade russa de Vladivostok, onde foi recebido com honras militares, na véspera da primeira cimeira com o Presidente russo, Vladimir Putin.

Segundo a agência de notícias Efe, Kim Jong-un chegou à estação de comboios de Vladivostok às 18h00 locais onde foi recebido pelo vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Igor Morgulov, pelo embaixador russo na Coreia do Norte, Alexandr Matségora e pelo governador de Krai de Primorie, Kozhemiako.

Vladimir Putin e Kim Jong-un, reúnem-se na quinta-feira, pela primeira vez, para debater o programa nuclear na Coreia do Norte. A reunião surge num momento em que a Coreia do Norte procura novos apoios internacionais para o seu braço de ferro com os Estados Unidos (EUA).

Este será o primeiro encontro entre os dois chefes de Estado e o conselheiro russo considera ser um “evento chave para as relações bilaterais” entre os dois países.

A última vez que um líder da Coreia do Norte se reuniu com um homólogo russo foi há oito anos, quando Kim Jong-Il (pai do actual dirigente norte-coreano) se encontrou com Dmitri Medvedev, o actual primeiro-ministro russo.

O encontro entre os dois dirigentes surge dois meses após a segunda cimeira entre Kim Jong-un e Donald Trump, em Fevereiro, no Vietname, que ficou marcada pelas exigências da Coreia do Norte de um maior alívio de sanções do que aquele que os EUA estavam dispostos a dar pelo desarmamento nuclear.

24 Abr 2019

Bombistas suicidas no Sri Lanka eram qualificados e de classe média

[dropcap]M[/dropcap]uitos dos bombistas suicidas que participaram nos ataques no domingo de Páscoa, no Sri Lanka, eram muito qualificados e vinham de famílias de classe média e média alta, disse hoje o ministro Defesa cingalês.

Os atacantes eram membros dissidentes de grupos muçulmanos extremistas obscuros, segundo o ministro Ruwan Wijewardene. As autoridades já haviam responsabilizado um grupo extremista local pelos atentados, o National Thowfeek Jama’ath.

“O pensamento deles era que o Islão deveria ser a única religião neste país”, disse o ministro da Defesa, aos jornalistas. “Eles eram pessoas muito instruídas”, afirmou, acrescentando que pelo menos um deles era formado em direito e alguns podem ter estudado no Reino Unido e na Austrália.

A notícia surge quando os dirigentes prometeram reformar o aparato de segurança do país, após uma série de lapsos dos serviços de informação. A embaixadora dos Estados Unidos, Alaina Teplitz, afirmou aos jornalistas que “claramente houve alguma falha no sistema” de segurança, mas acrescentou que o seu país não tinha conhecimento prévio de uma ameaça antes dos atentados.

As autoridades do Sri Lanka reconheceram que algumas das unidades de segurança do país estavam cientes de possíveis ataques antes dos atentados da Páscoa, mas não compartilhou esses alertas amplamente. Teplitz classificou esse erro de comunicação como “incrivelmente trágico”.

O número de mortos nos atentados suicidas no domingo de Páscoa no Sri Lanka subiu para 359 e mais suspeitos foram detidos nas últimas horas, informou hoje a polícia cingalesa.

O porta-voz da polícia, Ruwan Gunasekara, disse que foram detidos mais 18 suspeitos de ligação aos atentados, elevando o total para 58. O anterior balanço apontava para 320 mortos.

O primeiro-ministro do Sri Lanka, Ranil Wickremesinghe, alertou na terça-feira que vários suspeitos armados com explosivos ainda se encontravam em fuga.

O Governo sustentou que os ataques foram realizados por fundamentalistas islâmicos em aparente retaliação ao massacre nas mesquitas da Nova Zelândia em Março, mas disse que os sete bombistas suicidas eram todos do Sri Lanka.

O grupo extremista Estado Islâmico reivindicou também na terça-feira a autoria dos atentados contra igrejas e hotéis de luxo.

24 Abr 2019

Presidente do Sri Lanka exige mudanças na Defesa depois de atentados

[dropcap]O[/dropcap] Presidente do Sri Lanka pediu hoje a renúncia do secretário de Defesa e do chefe da polícia nacional por as forças de segurança não terem agido perante alertas sobre os atentados suicidas no domingo de Páscoa.

O gabinete do Presidente, Maithripala Sirisena, anunciou que pediu hoje as renúncias aos dois responsáveis, mas não deixou imediatamente claro quem iria substituí-los.

Sirisena disse durante um discurso transmitido na televisão, na terça-feira, que planeava mudar o chefe das forças de defesa em 24 horas.

O número de mortos nos atentados suicidas no domingo de Páscoa no Sri Lanka subiu para 359 e mais suspeitos foram detidos nas últimas horas, informou hoje a polícia cingalesa.

O porta-voz da polícia, Ruwan Gunasekara, disse que foram detidos mais 18 suspeitos de ligação aos atentados, elevando o total para 58.

O primeiro-ministro do Sri Lanka, Ranil Wickremesinghe, alertou na terça-feira que vários suspeitos armados com explosivos ainda se encontravam em fuga.

O Governo sustentou que os ataques foram realizados por fundamentalistas islâmicos em aparente retaliação ao massacre nas mesquitas da Nova Zelândia em Março, mas disse que os sete bombistas suicidas eram todos do Sri Lanka.

O grupo extremista Estado Islâmico reivindicou também na terça-feira a autoria dos atentados contra igrejas e hotéis de luxo.

Um português está entre as vítimas mortais das oito explosões de domingo que causaram mais de 500 feridos.

A capital do país, Colombo, foi alvo de pelo menos cinco explosões: em quatro hotéis de luxo e uma igreja. Duas outras igrejas foram também alvo de explosões, uma em Negombo, a norte da capital e onde há uma forte presença católica, e outra no leste do país. A oitava e última explosão teve lugar num complexo de vivendas na zona de Dermatagoda.

As primeiras seis explosões ocorreram “quase em simultâneo”, pelas 08:45 de domingo.

24 Abr 2019

EUA e China voltam a tentar acordo comercial nas próximas semanas

[dropcap]O[/dropcap]s Estados Unidos e a China vão realizar nas próximas semanas novas rondas de negociações em Washington e Pequim, visando pôr fim à guerra comercial desencadeada no verão passado, anunciou hoje a Casa Branca.

A delegação norte-americana, liderada pelo representante para o Comércio Externo, Robert Lighthizer, e pelo secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, viajará para Pequim para uma ronda de negociações que arranca em 30 de Abril.

O vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, vai estar em Washington para novas reuniões, a partir de 8 de Maio.

“As negociações nas próximas semanas abrangerão questões comerciais, como propriedade intelectual, transferência forçada de tecnologia, barreiras não-tarifárias, agricultura, serviços, compras e mecanismos de monitoramento”, detalhou a Casa Branca.

As delegações reúnem-se assim pela terceira e quarta vez, desde que, em Fevereiro passado, o Presidente norte-americano, Donald Trump, garantiu que o acordo comercial estava “muito perto de acontecer”

Trump chegou a sugerir que ele e o homólogo chinês, Xi Jinping, fechariam pessoalmente o acordo, durante uma cimeira em Mar-a-Lago, o seu resort na Flórida, antes do final de Março.

As negociações decorrem desde que, em Dezembro passado, Washington e Pequim acordaram um período de tréguas, entretanto prolongado, visando chegar a um acordo que ponha fim às disputas comerciais iniciadas no verão passado.

Os governos das duas maiores economias do mundo impuseram taxas alfandegárias sobre centenas de milhares de milhões de dólares das exportações de cada um.

Em causa está a política de Pequim para o sector tecnológico, nomeadamente o plano “Made in China 2025”, que visa transformar as firmas estatais do país em importantes actores globais em sectores de alto valor agregado, como inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros eléctricos.

Os EUA consideram que aquele plano, impulsionado pelo Estado chinês, viola os compromissos da China em abrir o seu mercado, nomeadamente ao forçar empresas estrangeiras a transferirem tecnologia e ao atribuir subsídios às empresas domésticas, enquanto as protege da competição externa.

24 Abr 2019

China acusa formalmente ex-presidente da Interpol de aceitar subornos

[dropcap]A[/dropcap] China ordenou hoje formalmente a detenção do ex-presidente da Interpol Meng Hongwei, que desapareceu subitamente durante uma deslocação a Pequim, em Setembro passado, e foi posteriormente acusado de ter aceitado subornos. O Supremo Tribunal Popular chinês anunciou a acusação na quarta-feira.

Meng, de 64 anos, foi vice-ministro da Segurança Pública até Novembro de 2016, altura em que foi nomeado para dirigir a organização policial internacional, com sede em Lyon, França.

No mês passado, a Comissão Central de Inspecção e Disciplina do Partido Comunista Chinês (PCC) disse que uma investigação concluiu que Meng cometeu “graves violações da lei” e falhou em cumprir princípios e implementar decisões do partido. Meng foi então afastado de cargos públicos e do Partido Comunista.

A mais ampla e persistente campanha anti-corrupção na história da China comunista, lançada pelo Presidente chinês, Xi Jinping, após ascender ao poder, em 2013, puniu já mais de um milhão e meio de funcionários do PCC.

Além de combater a corrupção, a campanha tem tido como propósito reforçar o controlo ideológico e afastar rivais políticos, com as acusações a altos quadros do regime a incluírem frequentemente “excesso de ambição política” ou “conspiração”.

O comunicado do órgão anti-corrupção máximo do PCC detalhou que Meng abusou do seu poder para satisfazer o “estilo de vida extravagante” da sua família.

Meng “aceitou subornos e é suspeito de infringir a lei”, anunciou o ministério chinês de Segurança Pública, em Outubro passado. A escolha de Meng para chefiar a Interpol foi na altura celebrada por Pequim, que tem vindo a reforçar a sua presença em organizações internacionais.
Meng perdeu o contacto com a família depois de embarcar num avião para a China em 25 de Setembro passado.

Depois de vários dias de silêncio sem que a família recebesse notícias de Meng e face à pressão internacional, a China confirmou a detenção. Em 21 de Novembro, a Assembleia Geral da Interpol decidiu substituir Meng pelo sul-coreano Kim Jong Yang.

A organização recebeu no dia 7 de Outubro uma carta de renúncia e uma comunicação de Pequim informando que Meng não seria o delegado da China naquele organismo.

24 Abr 2019

Jeonbuk Motors, de José Morais, volta a vencer na ‘Champions’ asiática

[dropcap]O[/dropcap] Jeonbuk Motors, comandado pelo treinador português José Morais, venceu hoje em casa o Urawa Reds, por 2-1, e reforçou a liderança do Grupo C da Liga dos Campeões asiáticos de futebol.

Em Jeonju, o brasileiro Ricardo Lopes colocou os sul-coreanos em vantagem, aos 12 minutos, e assistiu Kim Shin-Wook, aos 48, no segundo tento da formação da casa. Koroki, aos 58, fez o golo dos japoneses e reduziu a diferença.

Com este resultado, o Jeonbuk Motors manteve liderança do Grupo C, agora com nove pontos, mais cinco do que Urawa Reds e Beijing Guoan e mais seis do que o Buriram, embora estes dois últimos clubes tenham menos um jogo.

24 Abr 2019