Hoje Macau China / ÁsiaCondenação de líderes dos ‘guarda-chuvas’ ameaça democracia em Hong Kong, diz Human Rights Watch [dropcap]A[/dropcap] condenação dos principais líderes do movimento dos ‘guarda-chuvas’ a penas de até 16 meses de prisão efectiva é considerada pela organização Human Rights Watch como um “aviso assustador” para quem defende a democracia em Hong Kong. “As longas penas [atribuídas] representam um aviso assustador de que haverá sérias consequências para quem defenda a democracia”, afirmou hoje um responsável da Human Rights Watch na China, Maya Wang. A posição foi tomada pouco depois de um tribunal de Hong Kong ter considerado culpados de vários crimes oito dos nove líderes do maior movimento de desobediência da história do território, que mobilizou milhares de pessoas em 2014 para exigir avanços democráticos em Hong Kong. “Os nove [líderes do] movimento dos ‘guarda-chuvas’ não fizeram nada se não pressionar pacificamente o Governo de Hong Kong para ser genuinamente democrático e nunca deveriam ter sido processados”, sublinhou o responsável da organização não governamental de defesa dos direitos humanos. Com estas sentenças, “em conjunto com a proposta de lei do Hino Nacional [proposta de lei de Hong Kong para obrigar os residentes em Hong Kong a respeitar o hino nacional da China] e emendas às leis de extradição [feitas] este ano, as autoridades de Pequim e de Hong Kong parecem querer eliminar a última bolsa de liberdade da China”, referiu Maia Wang. A divulgação das sentenças do tribunal reuniu hoje uma multidão de manifestantes, tendo a pena mais pesada sido de 16 meses de prisão efectiva. Esta condenação foi aplicada a dois dos fundadores do movimento “Occupy Central”, em 2013: Chan Kin-man, de 59 anos, professor de sociologia, e Benny Tai, professor de direito. O terceiro mentor do “Occupy Central”, Chu Yiu-ming, de 74 anos, ministro da igreja baptista de Chai Wan em Hong Kong, foi também condenado a 16 meses de prisão, mas com pena suspensa. Os três tinham sido considerados culpados de conspirarem para perturbar a ordem pública e de incitarem ao motim através da obstrução ilegal de lugares públicos, bem como de incitar e mobilizar manifestantes “para alterar a ordem pública”. O juiz do tribunal West Kowloon aplicou também pena de prisão efectiva a Shiu Ka-chun e Raphael Wong Ho-ming, que terão de cumprir oito meses, enquanto a ex-líder estudantil Eason Chung Yua-wa e o ex-deputado democrata Lee Wing-tat foram sentenciados a oito meses de pena suspensa. A justiça ordenou ainda 200 horas de serviço comunitário para Tommy Cheung e adiou a sentença de Tanya Chan, até 10 de Junho, devido à necessidade de se submeter a uma cirurgia. Os nove líderes, que enfrentavam penas que podiam ir até sete anos por cada acusação, são os últimos activistas condenados pelos protestos que se prolongaram por 79 dias em 2014, em Hong Kong. Vários activistas foram já julgados pelo Ministério da Justiça, estando a cumprir penas de prisão. Alguns foram proibidos de concorrer às eleições e outros foram desqualificados do Conselho Legislativo da região administrativa especial chinesa. Entre 28 de Setembro e 15 de Dezembro de 2014, centenas de milhares de pessoas paralisaram quarteirões inteiros da antiga colónia britânica para exigir o sufrágio universal na escolha do chefe do executivo de Hong Kong, nomeado por uma comissão pró-Pequim. Mas as autoridades chinesas não recuaram. Em 28 de Setembro, o movimento “Occupy Central” decretou o início da sua campanha de desobediência civil, juntando-se a outros protestos em curso há dois dias junto à sede do Governo de Hong Kong. A acção da polícia desencadeou manifestações mais importantes, levando ao movimento pró-democracia, também conhecido como a “revolta dos guarda-chuvas”, usados pela multidão para se protegerem das granadas de gás lacrimogéneo. Chan, Tai e Chu renderam-se à polícia em Dezembro de 2014, pondo fim ao movimento “Occupy Central”. Recentemente, o cancelamento de eventos literários e artísticos e a recusa em permitir a entrada de um jornalista em Hong Kong reacenderam a preocupação com a liberdade de expressão naquele território administrado pela China. Em 1997, na transferência de soberania de Hong Kong do Reino Unido para a China, foi prometida uma autonomia durante 50 anos, que permitiria manter os direitos de reunião e liberdade de expressão no território.
Hoje Macau EventosPolitécnico de Macau acolheu concurso de declamação de poesia em português [dropcap]O[/dropcap] Instituto Politécnico de Macau (IPM) acolheu, na semana passada, mais um concurso de declamação de poesia em português, que reúne anualmente alunos de universidades macaenses e do interior da China, anunciou hoje organização. Em 2019, a iniciativa que se realiza há 14 anos contou com a participação de 25 jovens provenientes de dez instituições. Além de quatro universidades de Macau, estiveram representadas seis faculdades do interior da China. A organização distinguiu este ano três alunos de Macau: o primeiro prémio foi atribuído a um aluno da Universidade de São José, Carlos Angelo de Guzmán, o segundo foi conquistado por Lu Yuhan, do IPM, e o terceiro por Xie Hanuy, da Universidade de Ciência e Tecnologia. “A competição é hoje um evento muito importante na promoção das culturas e literaturas de língua portuguesa, constituindo um estímulo e um incentivo à leitura”, além de ser uma oportunidade “para apresentar o talento dos alunos que escolheram estudar português”, destacou o IPM, em comunicado. A iniciativa é co-organizada pelo IPM e pela Direcção dos Serviços de Ensino Superior de Macau, com apoio da Fundação Rui Cunha e da Fundação Oriente. Desde 2005, o IPM já convidou a participar no concurso mais de 30 instituições, sediadas em Macau e em vários pontos da China. No ano lectivo 2018/2019, o número de estudantes de português no IPM ronda os 500, de acordo com dados disponibilizados à Lusa no final do ano passado. O IPM recebe ainda, todos os anos, 25 alunos do curso de licenciatura em tradução e interpretação chinês-português do Instituto Politécnico de Leiria.
Hoje Macau DesportoLiga dos Campeões Asiáticos | Vítor Pereira volta a perder pontos [dropcap]O[/dropcap] Shanghai SIPG, do treinador português Vítor Pereira, voltou ontem a empatar com o Sydney FC, a dois golos, na quarta jornada do Grupo H da Liga dos Campeões asiáticos de futebol. Frente aos adversários teoricamente mais acessíveis do grupo, a equipa chinesa esteve a perder por 1-0, com um golo de Brandon O’Neill aos 33 minutos, mas Elkeson, aos 47, e Wang Shenchao, aos 59, provocaram a ‘cambalhota’ no marcador. Os australianos não demoraram a reagir e, poucos minutos depois, aos 62, foi o avançado inglês Adam Le Fondre a fazer o 2-2, repetindo o empate entre as duas equipas na terceira jornada, mas então a 3-3. A equipa de Vítor Pereira, que é segunda classificada, com cinco pontos, de uma vitória e dois empates, ainda terá de defrontar nas duas últimas rondas o Kawasaki Frontale (3.º), fora, e o Ulsan Hyundai (1.º), em casa. O campeão chinês está a três pontos do primeiro lugar e tem apenas mais um do que o terceiro, numa competição em que se apuram para os oitavos de final os dois primeiros classificados de cada um dos oito grupos. Na competição estão ainda os treinadores portugueses José Morais, dos sul-coreanos do Jeonbuk (1.º no Grupo G), Rui Vitória, nos sauditas do Al Nassr (4.º no A), Jesualdo Ferreira, no Al-Sadd (1.º no D), e Rui Faria, do Al-Duhail (2.º no C), estas últimas duas do Qatar.
Hoje Macau SociedadeMacau recebeu 3,4 milhões de visitantes só em Março Por Raquel Moz [dropcap]O[/dropcap] mês de Março registou um volume de 3.388.931 visitantes, um acréscimo de 24 por cento face ao ano anterior, mas ainda assim um decréscimo de 4, 4 pontos percentuais em relação a Fevereiro, o mês em que se realizaram as festividades do Ano Novo Chinês. O período médio de permanência dos cidadãos que passaram por Macau foi de 1,2 dias, idêntico ao registado em Março de 2018, revelou ontem a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC). O total de visitantes enquadra as designações de turistas – aqueles que passam por Macau e pernoitam – e de excursionistas – os que se deslocam por um dia sem pernoitar –, que em Março contabilizaram 1.583.480 e 1.805.451, respectivamente, representando aumentos de 9,1 e 40,8 pontos percentuais face ao terceiro mês de 2018. A proveniência dos visitantes, durante o mês em análise, foi predominantemente do interior da China (2.384.653), ou seja, um crescimento de 31,3 por cento em relação ao ano anterior, sendo as províncias de Guangdong e de Hunan as mais representadas. De Hong Kong, Taiwan e República da Coreia vieram os visitantes que compõem a fila seguinte, com 601.344, 92.414 e 76.409 pessoas, pela mesma ordem, a cruzar o território. As vias de entrada mais utilizadas no território continuam a ser as fronteiras terrestres, por onde passaram 2.504.850 visitantes em Março, um aumento de 62,4 por cento em termos anuais. É de referir que pelas Portas do Cerco chegaram 1.790.726 (mais 33,4 por cento), e pela nova Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau vieram 504.370 visitantes, uma alternativa que começa a impor-se em termos de números. Por via aérea aterraram 312.701 visitantes (mais 15,2 por cento que no ano anterior) e só por via marítima é que diminuíram as chegadas, menos 37,9 por cento de que em 2018, ou seja 571.380 pessoas. Acima dos 10 milhões Um total de 10,4 milhões de turistas passou pelas fronteiras do território desde o início de 2019, número que continua a crescer e que só no mês de Março chegou quase aos 3,4 milhões de habitantes, segundo os dados revelados pela DSEC. Houve mais 21,2 por cento de pessoas em Macau nos primeiros três meses de 2019, do que no trimestre homólogo de 2018, mas a taxa de permanência média de 1,1 dias foi menor (menos 0,1 dias) do que no ano passado. Os visitantes – 4.735.026 turistas e 5.624.723 excursionistas – foram neste primeiro trimestre, respectivamente, mais 9,3 por cento e mais 33,4 por cento do que em 2018. A maioria veio do interior da China (7.448.291) e de Hong Kong (1.793.114), valores que também aumentaram em relação ao ano passado, em concreto, 23,5 e 21,3 pontos percentuais. As restantes proveniências dos visitantes neste trimestre foi, por ordem de relevância, a República da Coreia (262.051) e Taiwan (261.853), com crescimentos homólogos de 9,2 e de 3,3 por cento. Do resto do mundo vieram turistas dos Estados Unidos da América (50.206), da Austrália (23.965), do Canadá (20.830) e do Reino Unido (13.860), todos registando valores ascendentes, relativamente a 2018. Páscoa nas fronteiras A contagem oficial do número de visitantes durante o fim-de-semana de Páscoa foi, entretanto, também revelada pela DSEC. Entre os dias 19 e 22 de Abril houve um total de 2.461.748 movimentos nas fronteiras de Macau, que correspondeu a 1.240.382 entradas e 1.221.366 saídas. As Portas do Cerco foram o acesso mais procurado, seguido já pela Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau. As restantes fronteiras, por ordem de utilização, foram o Terminal Marítimo do Porto Exterior, o posto fronteiriço da Ponte Flor de Lótus, o Aeroporto Internacional de Macau, o Terminal Marítimo de Passageiros entre a Taipa e Hong Kong e, por fim, o Parque Industrial Transfronteiriço.
Tânia dos Santos Sexanálise VozesCheira a Sexo [dropcap]A[/dropcap]s feromonas contribuem para a atracção e o bom sexo. Dizem os especialistas – ou a cultura popular? Há alturas em que já não sabemos ao certo. O odor cheio de hormonas importa, diz-nos a etologia com o estudo do comportamento dos mamíferos não humanos. Nesses casos a atracção e a cópula dependem de uma compatibilidade olfativa. Nós, como bons mamíferos que somos, também seguimos o exemplo – ainda que tenhamos uma capacidade olfativa muitíssimo pobre. Mesmo assim o cheiro consegue associar-se a memórias e a respostas emocionais – e pode muito bem afectar o nosso ser sexual com pouco esforço cognitivo, i.e., não precisamos de pensar, simplesmente o sentimos e respondemos. Mas estes automatismos puramente fisiológicos não me convencem. Claro que o cheiro interessa na atracção e na cama. Não é por acaso que os desodorizantes masculinos – especialmente esses – são anunciados como ímanes de mulheres. A investigação bem mostra que são as mulheres as mais sensíveis aos odores. Como é que o olfacto afecta a excitação é que não tem sido sistematicamente estudado. Curiosamente há um estudo publicado no ano passado no Archives of Sexual Behaviour que sugere que o cheiro afecta, mas negativamente. Neste estudo as mulheres viram um filme pornográfico e metade farejaram um algodão com odor corporal e as outras farejaram um algodão sem qualquer odor. Parece que aquelas que cheiraram o algodão sem cheiro ficaram mais sexualmente excitadas ao ver o vídeo. Isto sugere algo de verdadeiramente fascinante: o que é natural não é tão natural assim. Esta reacção anómala à naturalidade das feromonas no sexo aponta para a nossa tendência de artificializar o sexo. Como um jogo de repressões e liberdades, no sexo já nada do que é natural é amplamente aceite ou confortável. Basta pensar nos pêlos púbicos, por exemplo. Ou até podemos continuar nos cheiros – como é que se aceita o cheiro de uma vagina? A indústria dos produtos de higiene feminina é prolífica por alguma razão. Mesmo que queiramos insistir que existam instintos inatos no modo como a sexualidade é sentida e praticada, a forma como temos construído a sexualidade é pautada pela incapacidade de abraçarmos a naturalidade. Cheiros incluídos. Tenho cá para mim que o estudo não correu bem porque os tais algodões tinham suor do sovaco de um membro do sexo oposto completamente aleatório. Por mais que se queira activar os processos automáticos associados ao processamento do cheiro e das feromonas, a cognição provavelmente se enojou do cheiro a rato morto que aquele algodão emanava. Mas isto sou eu a conjecturar explicações para um resultado que pareceu surpreendente ao que se pensava saber sobre o sexo. Os homens não apresentaram grandes flutuações ao cheiro – talvez porque confirme a hipótese que o homem é muito mais visual do que as mulheres. Ainda não se sabe ao certo. Não quero eu dizer que as feromonas não tenham um papel importante na nossa sexualidade. O cheiro interessa quando está dentro de um pacote de seduções e atracções. Mas esta é só a minha teoria. A atracção, por mais inata que seja, é construída de expectativas. Quando essas expectativas por quem queremos copular se alinham com um cheiro e feromonas irresistíveis, que mostram uma adequação genética incrível (seja lá o que isso for), aí é que está o tesão.
Michel Reis h | Artes, Letras e IdeiasA Sonata que abriu as portas do futuro [dropcap]L[/dropcap]udwig van Beethoven, nascido em Bona no dia 16 de Dezembro de 1770, foi um compositor alemão do período de transição entre o Classicismo (século XVIII) e o Romantismo (século XIX). É considerado um dos pilares da música ocidental, pelo incontestável desenvolvimento, tanto da linguagem como do conteúdo musical demonstrado nas suas obras, permanecendo como um dos compositores mais respeitados e mais influentes de todos os tempos. “O resumo de sua obra é a liberdade”, observou o crítico musical alemão Paul Bekker (1882-1937), um dos mais influentes do séc. XX, “a liberdade política, a liberdade artística do indivíduo, a sua liberdade de escolha, de credo e a liberdade individual em todos os aspectos da vida”. Durante os seus primeiros anos de vida em Bona, esteve exposto a uma exigente formação musical por parte de um pai obcecado em convertê-lo num “novo Mozart”. Tal ambição questionável, unida a um não menos perigoso carácter ligado ao alcoolismo, teve repercussões directas na vida pessoal, académica e social do jovem Beethoven, não apenas fazendo dele um rapaz introvertido e medroso, mas também um mau estudante demasiado cansado para ir à escola depois de passar as noites a praticar piano. Em todo o caso, sem justificar os meios que aperfeiçoaram o seu talento, a realidade é que com apenas sete anos, Beethoven já era capaz de dar recitais de piano que deixavam o público boquiaberto; entre eles, ao mesmo compositor e maestro Christian Gottlob Neefe, que ficou tão impressionado com a habilidade do pequeno Beethoven, que se interessou em guiar, enriquecer e aperfeiçoar a sua formação musical. Neefe era o melhor mestre de cravo da cidade de Colónia na época. Assim, aos 10 anos abandonou a escola para dedicar-se inteiramente à música. Os seus progressos foram de tal forma notáveis que, em 1784, já era organista-assistente da Capela do Palácio Eleitoral em Bona, e pouco tempo depois, violoncelista na orquestra da corte e professor, assumindo a chefia da família, devido à doença do pai. O Conde Waldstein, um nobre de Bona, financiou-lhe uma viagem a Viena, em 1787, aos 17 anos de idade, para aprender com os melhores, de entre os quais com Mozart, que lhe previu um grande futuro e, mais tarde, com Haydn. O Arquiduque da Áustria, Maximiliano, subsidiou então os seus estudos. No entanto, pouco depois de chegar à “capital da música”, a sua mãe caiu gravemente doente e Beethoven teve que regressar a Bona. Após a morte da sua mãe, o seu pai caiu numa profunda depressão que obrigou Beethoven a tomar a cargo os seus irmãos mais novos, tocando viola e dando aulas de piano. Por sorte, não teve que fazê-lo por muito tempo, pois o seu extraordinário talento era cada vez mais conhecido e eram várias as pessoas interessadas em financiar a sua completa dedicação à música. Em 1791, com apenas 21 anos, já desfrutava de prestígio junto da nobreza dessa cidade, que não dispensava a presença do músico nas suas festas. Em 1792, Beethoven regressa a Viena, em definitivo, onde, fora algumas viagens, permaneceu o resto da vida. As cartas de apresentação que levava consigo abriram-lhe as portas da nobreza local. O Príncipe Karl Lichnowsky instalou-o no seu palácio e pagava-lhe uma pensão. Os recitais constituíam o divertimento predilecto da nobreza e as apresentações musicais limitavam-se quase a concertos nos palácios. Foi aí que teve o seu primeiro contacto com os ideais da Revolução Francesa, com o Iluminismo e com o movimento literário romântico alemão “Sturm und Drang”, do qual um dos seus melhores amigos, Friedrich Schiller, foi, juntamente com Johann Wolfgang von Goethe, dos líderes mais proeminentes, e que teria enorme influência em todos os sectores culturais na Alemanha. Beethoven fez a sua primeira apresentação pública, delirantemente aplaudida, em 1795. Em 1796, apresentou-se em Praga e em Berlim, onde cumpriu um extenso programa para a corte imperial, do qual constavam as suas Duas Sonatas para Violoncelo, Opus 5, escritas especialmente para a ocasião. Em 1797, estava com 27 anos e um prestígio crescente que atraía alunos e convites para recitais, e que lhe proporcionava desafogo financeiro. Estudou também piano com Salieri, Foerster e Albrechtsberger, tornando-se um pianista virtuoso, cultivando admiradores, muitos dos quais da aristocracia. Afirmando uma sólida reputação como pianista, compôs as suas primeiras obras-primas, as três sonatas para piano Op. 2 (1794-1795), que mostravam já a sua forte personalidade. Foi em Viena que lhe surgiram os primeiros sintomas da sua grande tragédia. Foi-lhe diagnosticada, por volta de 1796, aos 26 anos de idade, a congestão dos centros auditivos internos (que mais tarde o deixou surdo), o que lhe transtornou bastante o espírito, levando-o a isolar-se e a grandes depressões. Consultou vários médicos, inclusive o médico da corte de Viena. Fez curativos, usou cornetas acústicas, realizou balneoterapia, mudou de ares, mas os seus ouvidos permaneciam tapados. Desesperado, entrou em profunda crise depressiva, pensando mesmo em suicidar-se. Embora tenha feito muitas tentativas para se tratar, durante os anos seguintes a doença continuou a progredir e, aos 46 anos de idade (1816), estava praticamente surdo. Porém, ao contrário do que muitos pensam, Ludwig jamais perdeu a audição por completo, muito embora nos seus últimos anos de vida a tivesse perdido, condições que não o impediram de acompanhar uma apresentação musical ou de perceber nuances timbrísticas. No entanto, o seu verdadeiro génio só foi realmente reconhecido com a publicação das suas Op. 7, Op. 10, e Op. 13, entre 1796 e 1799: a Quarta e Quinta sonatas para piano, em Mi Maior e Dó menor, respectivamente, Sexta e Sétima em Fá Maior e Ré Maior, respectivamente, e Oitava em Dó menor, op. 13, a famosa sonata “Pathétique”. A Sonata para Piano Nº 8 em Dó menor, Op. 13 “Pathétique”, de Ludwig van Beethoven, foi publicada em 1799, embora tenha sido escrita no ano anterior, quando o compositor tinha 27 anos de idade. Beethoven dedicou esta obra ao seu amigo, o Príncipe Karl Lichnowsky. A obra foi designada “Grande sonate pathétique” pelo editor, impressionado com as sonoridades trágicas da obra. Esta foi a primeira das sonatas para piano de Beethoven a alcançar o estatuto de cavalo de batalha. Beethoven abre esta composição em três andamentos, na tonalidade dramática de Dó menor (que mais tarde escolheria para a sua famosa Sinfonia Nº 5), com uma introdução lenta e meditativa – Grave – Allegro di molto e com brio, usando esse recurso pela primeira vez numa sonata. Aparentemente colocando uma questão, ou lutando para superar um dilema, a música busca resolução e alívio, que aparece na exposição propriamente dita, quando o andamento, impulsionado por oitavas tremulantes na mão esquerda, acelera, e o tema se transforma em enunciação profundamente ansiosa, introduzindo, mais uma vez, um humor questionador e incerto, sem excluir enunciados enérgicos, possivelmente indicando um desejo de transcender o sentimento de incerteza. Durante a breve secção de desenvolvimento, uma sensação de tensão dramática predomina, mas o tom geral muda na recapitulação, levando a uma coda, que fecha o andamento. O segundo andamento, Adagio cantabile, começa com uma melancolia calmante, lânguida e melancólica, de uma beleza outonal. Dominando todo o andamento, esse tema inicial eclipsa tanto o segundo tema moderado quanto o momento de tensão dramática na secção intermédia do andamento. O finale, Rondo (Allegro), é realmente o segundo Rondo na sonata, já que o andamento do meio possui as características estruturais dessa forma. Este andamento abre com um tema graciosamente eloquente acompanhado de figuras arpejadas tocadas pela mão esquerda. Embora o clima pareça brilhante, a música é tingida de melancolia, apesar do segundo tema lúdico. Seguindo a repetição e o desenvolvimento temático, o primeiro tema surge como simultaneamente mais ágil e mais delicado. Uma longa e brilhante coda completa o andamento. Com esta sonata, principalmente com o seu primeiro andamento, Beethoven abriu as portas para o futuro – ninguém depois de ouvir essa obra – poderia fechar os olhos às possibilidades de expressão aqui apresentadas. Sugestão de audição da obra: Beethoven Piano Sonatas – Vol. 3 Sequeira Costa, piano – Claudio Records, 1991/ No de catálogo: CB55732
Andreia Sofia Silva EventosLivro | “Pássaros de Ferro”, de Maria Helena do Carmo, apresentado em Lisboa Maria Helena do Carmo apresentou recentemente, na Fundação Casa de Macau, em Lisboa, o seu novo livro, intitulado “Pássaros de Ferro”, que aborda o período da Guerra Sino-Japonesa e do Pacífico. Em entrevista, a autora revela que a obra será também apresentada em Macau em Outubro e explica a sua ligação ao romance histórico [dropcap]”P[/dropcap]ássaros de Ferro” é o mais recente livro de Maria Helena do Carmo, escritora que foi docente em Macau. Lançado em Março em Lisboa, com o apoio da Fundação Casa de Macau, a autora tenciona trazer o novo romance para Macau, em Outubro. Em 2017 a autora publicou “Estórias de Amor em Macau”, uma edição do Instituto Internacional de Macau (IIM), que acabaria por ser fundamental para “Pássaros de Ferro”. Isto porque a obra de 2017 é composta por “doze contos sobre mulheres de diferentes etnias, que se destacaram das suas contemporâneas durante a ocupação portuguesa, do século XVI ao século XX, e foi aí que encontrei o tema para o este novo livro”. “Como já havia escrito sobre o séc. XVII – “Nhónha Catarina de Noronha” -, do séc. XVIII o romance “Mercadores do Ópio” e “Bambu Quebrado”, referente ao séc. XIX, decidi investigar o período das Guerras Sino-Japonesa e do Pacífico”, adiantou ainda ao HM. “Pássaros de Ferro” mantém, assim, o mesmo estilo dos livros anteriores, onde a História assume o protagonismo. “Este livro tem ainda mais investigação, por haver muita matéria publicada desse período em arquivos e uma vasta bibliografia.” Macau surge neste livro retratada, de acordo com a autora, “com a maior fidelidade possível, de acordo com testemunhos da época, escritos e orais”. É também um livro “cronologicamente correcto, com relatos de factos verídicos, então ocorridos, dando às personagens os seus nomes verdadeiros”. “A ficção intromete-se apenas para dar corpo ao conteúdo do romance”, frisou. Por contar Formada em História e depois de ter dado aulas em Macau durante vários anos, Maria Helena do Carmo assegura que nunca abandonou as duas carreiras que abraçou. “Ainda não saí da investigação e do ensino. Não se pode escrever de uma época sem a investigar, e ainda lecciono História na Academia Cultural Sénior de Lagoa. Portanto, acho que sim, que os processos se complementam.” A autora assegura que ainda não teve vontade de se aposentar. “A atracção pela escrita é antiga, só que nunca arranjei tempo para tal antes de me aposentar. A ideia do romance histórico surgiu quando investigava para a minha dissertação, ao encontrar inúmeros casos dignos de relevo, e de verificar que muitos documentos se contradiziam, ou pecavam por falta de fidelidade. Talvez de propósito, por uma política de sigilo do Governo, ou por desconhecimento da realidade, comecei a duvidar que fossem fidedignos, o que prejudicaria qualquer trabalho histórico. Porém, um trabalho de ficção dá toda a liberdade ao autor.” A autora defende também que o território continua a ser fértil em temas para a escrita de novos romances. “Não faz ideia de quantas sugestões me são feitas por amigos, para explorar este ou aquele tema. Assim tivesse eu tempo para me deslocar a Lisboa e me entregar aos arquivos.” Neste sentido, e numa altura em que se celebram os 20 anos da transferência de soberania de Macau para a China, Maria Helena do Carmo não tem dúvidas de que há ainda “muitas histórias” por escrever. “Umas que vivi nos anos em que residi na cidade, outras de amigos que lá moraram, ou ainda por lá estão, histórias que os textos deixam nas entrelinhas, figuras do passado que merecem destaque, enfim… Não penso parar, porque parar é morrer. Enquanto Deus me der vida, saúde, vista e esta vontade de trabalhar, continuarei a escrever no meu canto, onde me sinto tranquila”, concluiu.
Hoje Macau SociedadeReceitas da Sands China subiram 8% no primeiro trimestre [dropcap]A[/dropcap] operadora Sands China anunciou lucros de 557 milhões de dólares no primeiro trimestre, um resultado igual ao registado em relação a período homólogo do ano passado. De acordo com um comunicado, a Sands China, subsidiária do grupo Las Vegas Sands, apresentou receitas de 2,33 mil milhões de dólares, o que representa uma subida de 8 por cento em relação aos três primeiros meses do ano anterior, quando a receita angariada se situou nos 2,16 mil milhões de dólares. Em Macau, o EBITDA (resultados antes de impostos, juros, depreciações e amortizações) ajustado foi de 858 milhões de dólares. Ao todo, a Las Vegas Sands registou receitas de 3,65 mil milhões de dólares e lucros de 744 milhões de dólares no primeiro trimestre do ano. O principal empreendimento do grupo, o Venetian, voltou a ser aquele que registou as receitas de jogo mais significativas: 740 milhões de dólares, com mais de 8,3 milhões de dólares a serem gastos por dia, em média, nos primeiros três meses do ano.
João Luz SociedadeIncêndio | Apesar das 120 casas afectadas ninguém recorreu a abrigo provisório Durante a noite de segunda-feira, um incêndio deflagrou num edifício habitacional na Rua Nova da Areia Preta. O IAS abriu um Centro de Habitação Temporária para acolher os moradores dos mais de cem apartamentos afectados, mas até ontem à tarde ninguém acorreu ao centro [dropcap]A[/dropcap]s chamas voltaram ao norte da Península de Macau na noite de segunda-feira, na sequência de um incêndio no edifício Kam Hoi San, sito na Rua Nova da Areia Preta, que terá afectado 120 habitações, de acordo com informação veiculada pela Rádio Macau. Para acorrer à possibilidade de alguns moradores ficarem sem tecto até ao fim das obras de reparação no prédio, o Instituto de Acção Social (IAS) abriu um Centro de Habitação Temporária. Porém, ninguém recorreu ao mecanismo de resposta a emergência. “Até às 17h de hoje [ontem], ninguém usou os serviços do Centro de Habitação Temporária e o telefone 24 horas não recebeu ninguém chamada”, esclareceu fonte do IAS em declarações ao HM. De acordo com declarações do Corpo de Bombeiros (CB) ao HM, a chamada telefónica que deu o alerta para o incêndio foi recebida às 19h07. Três minutos depois a equipa dos bombeiros chegava ao local. “O nosso departamento destacou 23 bombeiros e sete carros para responder ao incêndio”, revela fonte do CB. Apenas quatro minutos depois, o fogo provocado por um curto-circuito foi declarado extinto. Luz e sombra Na sequência do incêndio, 48 pessoas precisaram de assistência médica, apesar de não se terem registado hospitalizações, segundo informação veiculada pela Ou Mun Tin Toi. O fogo que marcou o início da noite de segunda-feira na Rua Nova da Areia Preta faz parte de uma estatística que demonstra tendência decrescente de ocorrências. No primeiro trimestre de 2019 foram registados menos 48 casos de incêndio em Macau, em relação ao período homólogo de 2018, passando de 259 para 211 ocorrências, ou seja, uma redução de 18,53 por cento. No entanto, quase metade dos fogos reportados continua a ter origem em fogões esquecidos e desatenção de chamas acesas, que representaram 40,74 por cento do total de pedidos de auxílio, ligeiramente mais do que em igual período do último ano.
Hoje Macau SociedadeGrupo que burlava agiotas detido após zaragata [dropcap]A[/dropcap] Polícia Judiciária (PJ) anunciou ontem a detenção de 12 pessoas por ligações a crimes de agiotagem, depois de uma autêntica batalha campal travada num casino no Cotai. Segundo a informação do canal chinês da Rádio Macau, primeiro foi detido um grupo de sete indivíduos, que se suspeita fazer parte de uma rede que recrutava pessoas para burlarem agiotas. Entre o grupo contam-se seis homens e uma mulher, todos provenientes do Interior da China. A PJ foi alertada para a situação quando na madrugada de ontem as pessoas se envolveram em altercações num casino no Cotai. Segundo as autoridades, quando os agentes da polícia chegaram ao local depararam-se com um cenário de “caos”. Suspeita-se que o grupo do Interior da China recrutava pessoas das províncias de Guangxi, Heilongjiang e Henan para pedirem empréstimos a agiotas e jogarem nos casinos. Antes de se deslocarem ao território, os recrutas tinham um treino específico para saberem lideram com as situações decorrentes desta actividade. No entanto, quando recusavam pagar gerava-se um cenário de confusão, que era utilizado por outros membros do grupo para fugirem com parte do dinheiro emprestado. Só ontem suspeita-se que tenham desaparecido 240 mil dólares de Hong Kong em fichas de jogo, no meio da confusão. Além dos burlões, a PJ procedeu igualmente à detenção de cinco agiotas e está a investigar o caso
Sofia Margarida Mota PolíticaCoutinho e Chan Chak Mo trocam galhardetes sobre conflito de interesses [dropcap]O[/dropcap] deputado Pereira Coutinho considera que Chan Chak Mo não deveria presidir à comissão que tem a cargo a análise na especialidade da proposta de lei que vai regular o funcionamento dos estabelecimentos hoteleiros. O diploma está a ser analisado na 2ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), presidida por Chan Chak Mo, empresário no ramo da hotelaria. Coutinho denuncia a situação como exemplo de um conflito de interesses. No entanto, Chan Chak Mo afirma peremptoriamente que não é o caso, apesar de não dar justificações. “Não sei como é que isto é um conflito de interesses”, apontou ontem após a reunião da comissão da AL como resposta à alegação feita por Pereira Coutinho. “Se uma proposta de lei envolver os funcionários públicos ele [Pereira Coutinho] não fala?”, questionou o deputado referindo-se ao facto de Coutinho presidir à Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM). A este respeito Coutinho esclarece: “Não trabalho num serviço público, nem estou sob a tutela de qualquer secretário, nem mesmo do Chefe do Executivo. Não sou funcionário público dentro da máquina administrativa do Governo da RAEM”. Desta forma, não existe qualquer conflito entre a sua situação de legislador e o seu cargo na associação. Pereira Coutinho considera ainda que “o deputado Chan Chak Mo não tem a informação suficiente sobre aquilo que se considera conflito de interesses”. Regulamentação necessária Pereira Coutinho quer “regulamentação minuciosa” sobre conflito de interesses que interfira nas actividades de produção legislativa e sugere que os deputados sejam obrigados a prestar uma declaração a enunciar as actividades económicas a que estão ligados. O objectivo é evitar que existam deputados a analisar leis que interfiram com as suas participações económicas. “É preciso regulamentar e definir minuciosamente o que pode ser considerado conflito de interesses”, disse ao HM Pereira Coutinho. “É necessário regulamentar e obrigar os deputados a fazerem uma declaração de interesses perante a AL e a apresentar todos os anos uma declaração de interesses”, acrescentou. Para que exista uma maior transparência, estes dados devem estar acessíveis publicamente na página electrónica da AL, referiu. Depois, cabe aos próprios deputados “recusarem-se de participar nas reuniões de análise legislativa que digam respeito a essas actividades”.
Sofia Margarida Mota PolíticaRestauração | Deputados querem esclarecer emissão de licenças [dropcap]A[/dropcap] Direcção dos Serviços de Turismo (DST) quer que o licenciamento dos restaurantes e bares fora dos estabelecimentos hoteleiros seja assumido pelo Instituto para os Assuntos Municipais (IAM). A ideia foi deixada ontem pelo presidente da 2ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa, Chan Chak Mo, onde está a ser discutida na especialidade a proposta de lei que vai regulamentar o funcionamento dos estabelecimentos hoteleiros. “Há estabelecimentos fora dos hotéis neste momento licenciados pela DST e a DST quer que esta atribuição seja do IAM especialmente para bares e salas de dança”, apontou. A comissão quer ver este assunto esclarecido. “Os restaurantes dos hotéis são da competência da DST e os de fora de quem são? O objectivo é ao longo da discussão ter uma decisão tomada pelos serviços”, referiu Chan. Recorde-se que a partir da entrada em vigor do novo diploma, os restaurantes situados dentro de hotéis, independentemente da sua dimensão e características, passam a ser apenas licenciados pela Direcção dos Serviços de Turismo (DST). No exterior, as licenças continuam a ser emitidas pelos dois organismos. No entanto, como o diploma tem como objectivo simplificar procedimentos, é necessário que se esclareça esta questão, consideram os deputados da 2ª Comissão Permanente. O preço a pagar para a mudança de finalidade de estabelecimentos que queiram integrar a nova categoria de alojamento de baixo custo foi também colocada ao Governo na reunião de ontem. “Não existe, neste momento, alojamento de baixo custo e há que definir um prémio para este tipo de alojamento”, apontou Chan Chak Mo.
Sofia Margarida Mota PolíticaChefe do Executivo | APN aceita pedido de demissão de Ho Iat Seng Ho Iat Seng tem agora luz verde para avançar com a candidatura oficial a Chefe do Executivo. A Assembleia Popular Nacional aceitou ontem o pedido de demissão do ainda presidente da AL, eliminando o impedimento legal para concorrer à liderança do Governo [dropcap]O[/dropcap] pedido de demissão de Ho Iat Seng como representante do 13.º da Assembleia Popular Nacional (APN) foi ontem aceite, de acordo com o canal de rádio da TDM. A votação que aprovou o pedido do actual presidente da Assembleia Legislativa (AL), durante a 10ª reunião do Comité Central, abre portas à candidatura de Ho ao cargo de Chefe do Executivo. Recorde-se que fazendo parte do grupo de 400 pessoas que forma o colégio eleitoral que escolhe o Chefe do Executivo, e para o qual um membro da APN tem inclusão automática, Ho Iat Seng não se poderia candidatar. A votação que ditou o afastamento do Presidente da AL como membro da APN ocorreu ontem no Grande Palácio do Povo, em Pequim, às 15h. Para o seu lugar, deve entrar o empresário Kevin Ho, sobrinho do ex-Chefe do Executivo Edmund Ho e o primeiro candidato de entre os que ficaram de fora nas últimas eleições. Já a formalização da candidatura para a substituição de Ho Iat Seng no colégio eleitoral pode ser realizada até 13 de Junho. “Este membro por inerência no colégio tem de entregar esta lista até três dias antes do dia de eleição [dos membros do colégio eleitoral]. Portanto, dentro deste prazo, desde que corresponda ao prazo definido pela lei, não há problema”, esclareceu ontem a presidente da Comissão de Assuntos Eleitorais do Chefe do Executivo (CAECE), Song Man Lei, após mais uma reunião do organismo. No entanto, caso a substituição de Ho na APN não seja efectuada dentro deste prazo, o colégio pode ter menos que os 400 membros previstos, acrescentou. Assembleia afastada A saída da APN representa mais um passo para a formalização da candidatura oficial do actual presidente da Assembleia Legislativa ao cargo máximo do Governo de Macau. Deverá seguir-se a suspensão do mandato do cargo de presidente do hemiciclo. A suspensão acontece automaticamente a partir do momento em que Ho Iat Seng for admitido formalmente como candidato a Chefe do Executivo. Para já, Ho não terá de renunciar à posição enquanto presidente da AL, um passo procedimental obrigatório caso venha a ser eleito. A saída definitiva de Ho da AL implica a realização de eleições suplementares indirectas no sector em que foi eleito, o empresarial, adiantou Song Man Lei. “Estes são assuntos da AL que não são da competência da nossa comissão, mas de acordo com a lei eleitoral para a eleição do Chefe do Executivo, quando ele for aceite como candidato e até ao final dos procedimentos para eleição para o Chefe do Executivo há um efeito de suspensão do seu cargo enquanto deputado da AL. De acordo com a respectiva lei, se o candidato for eleito, caso haja vaga no assento da AL, no prazo de 180 dias, a AL tem de fazer uma eleição suplementar para esta vaga”, apontou a presidente da CAECE. Até às 16h de ontem, foram apresentadas cerca de 80 por cento das proposituras para integrar o colégio eleitoral, num total de 633. O prazo de entrega de proposituras terminou ontem às 18h.
João Santos Filipe PolíticaProstituição | Wong Kit Cheng insiste em criminalização [dropcap]A[/dropcap] deputada Wong Kit Cheng insistiu ontem na criminalização da prostituição e justificou a exigência com o facto da prática acontecer perto das escolas, em prédios antigos, principalmente no Bairro do Iao Hon. Segundo a deputada, ligada a Associação Geral das Mulheres, “o efeito dissuasor das sanções administrativas é insuficiente” e “as actividades de prostituição ‘renascem’ facilmente após as operações de combate” das autoridades, pelo que se exige a criminalização. Na intervenção de ontem na AL, Wong relatou as queixas de encarregados de educação que dizem que mesmo durante as aulas as crianças estão em contacto com este fenómeno. “Esta situação, a manter-se, vai afectar a vida normal e a tranquilidade dos moradores, constitui uma ameaça grave para a segurança, e vai destruir os bons costumes, afectando gravemente o crescimento das crianças”, apontou.
João Santos Filipe PolíticaChefe do Executivo | Coutinho quer encontro com candidatos [dropcap]J[/dropcap]osé Pereira Coutinho quer que todos os 400 membros do Colégio Eleitoral, que vão escolher o próximo Chefe do Executivo, tenham oportunidade de se encontrarem com os candidatos para pedirem os esclarecimentos necessários sobre eventuais programas políticos. Segundo o legislador, que faz parte da colégio dos 400 votantes, esta é uma responsabilidade da comissão encarregue pelas eleições e deverá ser garantida mesmo que só haja um candidato. Por outro lado, o legislador ligado à Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) sublinhou a necessidade de todos os membros do colégio explicarem os critérios adoptados quando exercerem o voto.
Hoje Macau PolíticaAdministração | Corrupção e indisciplina em debate [dropcap]A[/dropcap] Assembleia Legislativa aprovou ontem três propostas de debate sobre a indisciplina, corrupção e a criação de um Conselho Especializado para os Assuntos Disciplinares dos Trabalhadores da Função Pública. As propostas partiram dos deputados José Pereira Coutinho, Agnes Lam e Leong Sun Iok, na sequência do relatório do Comissariado Contra a Corrupção relativo ao ano passado. Apesar de terem sido aprovadas, as propostas de debate não contaram com o apoio dos deputados nomeados pelo Chefe do Executivo que se abstiveram ou votaram contra.
João Santos Filipe PolíticaGoverno | Mak Soi Kun deixa recados para o futuro [dropcap]M[/dropcap]ak Soi Kun defendeu ontem na AL que o futuro Governo tem de fazer um corte radical com o presente, para que seja mais activo e mais aberto às queixas dos cidadãos. O deputado ligado à comunidade de Jiangmen acusou mesmo os trabalhadores do Executivo de terem medo de errar e por isso adoptarem atitudes passivas. “Quando os deputados contactam os membros do Governo para transmitirem as solicitações dos cidadãos, deparam-se com situações em que os dirigentes assumem atitudes como as seguintes: ‘não trabalho, porque assim não há possibilidade de cometer erros’ e “faço menos, porque cometo menos erros’”, relatou o legislador. Segundo Mak na origem destas atitudes está o facto da contratação dos funcionários públicos ser frequentemente feita através das relações sociais, também conhecidas vulgarmente como “cunhas”. Por esta razão, Mak Soi Kun apelou ao futuro Governo a criação de “mecanismos justos, imparciais e transparentes no recrutamento para os serviços públicos”, mesmo que admita que seja “inevitável que haja relações de família entre os dirigentes”. Ao mesmo tempo, foi deixado um pedido para que o futuro Governo seja mais aberto às queixas da população e que dê respostas eficazes.
João Santos Filipe PolíticaPlástico | Chui Sai Peng alerta para extremismos [dropcap]O[/dropcap] deputado Chui Sai Peng, primo do Chefe do Executivo, alerta que no combate ao plástico se deve evitar cair em extremismos para que as medidas não sejam contraproducentes. Numa intervenção antes da ordem do dia na Assembleia Legislativa, Chui não negou a existência do problema, mas sublinhou que as alternativas podem igualmente resultar em poluição pelo que considerou que é necessário estudar muito bem o assunto e escolher os materiais alternativos. “Segundo um estudo estrangeiro do ano passado, se os refrigerantes forem vendidos em garrafas de vidro, o seu transporte gastará mais 40 por cento de energia e o custo será 5 vezes maior”, justificou. Por outro lado, defendeu que a utilização do plástico permite aumentar a higiene dos alimentos e prolongar a vida dos mesmos. “Os produtos agrícolas nos supermercados são embalados com plástico, o que pode aumentar a sua higiene e prolongar o prazo de conservação. Segundo um estudo, isto pode reduzir 75 por cento do desperdício alimentar. O ‘corte radical’ não se aplica à proibição e limitação do plástico. Outros produtos de substituição também podem gerar desperdício de energia, portanto, o Governo deve identificar os objectivos, elaborando um plano geral para o desenvolvimento ambiental”, apontou. Ao mesmo tempo, o deputado apelou também para que se continue a apostar na consciencialização para o problema no âmbito da educação e que se ensinem hábitos de reutilização, dando o exemplo dos sacos de plástico. O legislador eleito pela via indirecta defendeu também a aposta na ciência para que se desenvolvam materiais biodegradáveis, que possam substituir o plástico.
João Santos Filipe PolíticaDeputados recusam ter poderes para alterar lei eleitoral do Chefe do Executivo [dropcap]A[/dropcap] maioria dos deputados recusou que o legislador Sulu Sou tivesse direito a apresentar um projecto que alterasse a Lei Eleitoral para o Chefe do Executivo, passando a exigir sempre a participação de pelo menos dois candidatos. Ontem, além do deputado, apenas José Pereira Coutinho, Au Kam San e Ng Kuok Cheong, todos eleitos pelo sufrágio directo, votaram a favor do recurso. Já 26 deputados votaram contra, confirmando a decisão anteriormente tomada por Ho Iat Seng, presidente do hemiciclo, assim como pela mesa da AL, órgão constituído pelo presidente, vice-presidente, Chui Sai Cheong, e os secretários da AL, Kou Hoi In Chan Hong. Além das apresentações dos argumentos a favor do recurso, por parte de Sulu Sou, e contra, a cargo de Kou Hoi In, como representante da mesa, não houve debate. Só no final é que foram tomadas posições, durante as declarações de voto, e o deputado Ng Kuok Cheong vincou que a decisão mostra que os deputados têm agora menos poder do que no tempo da Administração Portuguesa. “Votámos a favor do recurso porque achamos que devemos ter um avanço no nosso desenvolvimento político. Depois de 1999, em termos dos poderes para apresentar projectos de lei houve um retrocesso. Esta é a nossa posição”, afirmou, numa declaração também em nome de Au Kam San. “Antes da transição era deputado e apresentava projectos que eram frequentemente acolhidos, mesmo para alterar o Estatuto Orgânico de Macau, que na altura foi aprovado. Após a transição é muito mais difícil apresentar projectos”, apontou. Na intervenção Ng Kuok Cheong acusou ainda o Governo de não legislar certas matérias, mas não o assumir directamente. Segundo Ng, são sempre “iniciados procedimentos” pelos departamentos, como consultas públicas, que depois não arrancam efectivamente. Projecto contra Lei Básica Entre os deputados que votaram contra o recurso, Song Pek Kei, Ella Lei, Leong Sun Iok e Iao Teng Pio justificaram a escolha com o facto de considerarem que a Lei Básica não permite aos legisladores terem iniciativa para alterar a lei eleitoral para o Chefe do Executivo por “alterar a estrutura política”. Song Pek Kei realçou o facto de haver vozes na sociedade que se queixa da falta de concorrência nas eleições, mas sublinhou que não é o actual regime que limita a competência. Também Vong Hin Fai votou contra o recurso, mas explicou o seu voto com o facto da proposta de Sulu Sou ir fazer com que uma pessoa nunca pudesse ser eleita se concorrer sem oposição. “Esta alteração à lei ia criar uma restrição e por isso votei contra”, apontou. A decisão coloca fim a um diferente entre Sulu Sou e o presidente da AL em relação a esta matéria.
João Santos Filipe Manchete PolíticaLei Sindical | Mak Soi Kun, Zheng Anting e Angela Leong decisivos no chumbo [dropcap]A[/dropcap] sétima tentativa de José Pereira Coutinho de tornar a Lei Sindical uma realidade foi ontem recusada pela Assembleia Legislativa com 16 votos contra e 13 a favor, num total de 29 votantes. Mak Soi Kun, vencedor das eleições legislativas de 2017, estava no hemiciclo, mas optou por não votar, apesar de estar sentado no lugar. Esta foi a vez em que o deputado esteve mais perto de conseguir concretizar o artigo 27.ª da Lei Básica. A ‘mini-constituição’ define que os sindicatos são teoricamente legais, mas como não existe uma lei, as acções deste género podem ser sancionadas pelos patrões. Ontem, o resultado da votação poderia ter sido muito diferente, caso os deputados eleitos pela via directa tivessem alinhado. Contudo, a aprovação não foi possível porque a lista da comunidade de Jiangmen, liderada por Mak Soi Kun e ainda representada por Zheng Anting, recusou apoiar o projecto, à semelhança de Angela Leong, deputada eleita pela via directa que é igualmente directora-executiva da concessionária Sociedade de Jogos de Macau. Já Mak é o proprietário de uma construtora e Zheng tem ligações à gestão de salas de junkets em Macau. Se entre os líderes da comunidade ligada a Jiangmen não houve qualquer declaração sobre o sentido do voto ou a ausência de voto, mesmo depois de chumbado, já Angela Leong justificou a sua posição com o estudo sobre os sindicatos que o Governo encomendou. Os resultados são aguardados para o segundo trimestre deste ano e a deputada explicou que prefere esperar pelos próximos passos do Executivo, que vai deixar funções em Dezembro. Críticas e apelos Apesar do chumbo, os deputados da Federação das Associações do Operários de Macau (FAOM) aproveitaram a oportunidade para criticar a postura do Governo de Chui Sai On nos últimos 10 anos. “Temos de cumprir o que está estipulado na Lei Básica. Creio que não preciso de recordar aos deputados o que está escrito na Lei Básica porque todos sabem. Estamos no 20.º ano após a transição, mas porque é que até agora não discutimos a lei?”, perguntou Ella Lei. “É uma discussão que o Governo não quer ter. Será que o Governo acha que não tem esta responsabilidade? Não pode agir desta forma eternamente”, afirmou a deputada. “O facto de não termos uma lei sindical motiva várias críticas na Organização Internacional do Trabalho. É um factor que prejudica a imagem internacional de Macau”, apontou Lam Lon Wai, numa declaração de voto também em nome de Lei Chan U e Leong Sun Iok, todos eles membros da FAOM. “Apelamos ao Governo que cumpra a Lei Básica”, frisou. Votos Contra 16: Zheng Anting (D) Angela Leong (D) Kou Hoi In (I) Vitor Cheung Lup Kwan (I) Chak Chak Mo (I) Vong Hin Fai (I) Chui Sai Peng (I) Chak Iek Lap (I) Ip Sio Kai (I) Ma Chi Seng (N) Iau Teng Pio (N) Wu Chou Kit (N) Davis Fong (N) Pang Chuan (N) Lao Chi Ngai (N) Chan Wa Keong (N) A favor 13: José Pereira Coutinho (D) Ng Kuok Cheong (D) Au Kam San (D) Ho Ion Sang (D) Si Ka Lon (D) Ella Lei (D) Wong Kit Cheng (D) Song Pek Kei (D) Agnes Lam (D) Leong Sun Iok (D) Sulu Sou (D) Lei Chan U (I) Lam Lon Wai (I) Presentes mas sem votos Mak Soi Kun (D) Chui Sai Peng (I) – Presidiu aos trabalhos
Hoje Macau China / Ásia ManchetePR/China | Visita “curta” de Marcelo traduz prioridade diplomática com Pequim Analistas ouvidos pela Lusa defenderam que a duração da visita do Presidente português a Macau, uma etapa de 24 horas num programa de seis dias na China, traduz a prioridade que a diplomacia nacional dá a Pequim [dropcap]A[/dropcap] China é demasiado grande e rica para se insistir em Macau como porta de entrada na China, procuraram resumir dois analistas em declarações à agência Lusa. “Há uma grande expectativa, (…) mas a estadia é tão curta…”, concluiu a presidente do Conselho Regional do Conselho das Comunidades Portuguesas da Ásia e Oceânia, Rita Santos. “Nos dez anos após a transição houve uma aposta dos vários governos, dos vários ministros dos Negócios Estrangeiros na relação com Macau. Agora percebeu-se, finalmente, que as relações têm que ser Estado a Estado, que Pequim é a capital da China, que é por lá que passam as principais decisões, que é por lá que tem que haver um maior ‘interface’ dos países que querem ter uma relação próxima com a China”, sustentou o presidente do Fórum Luso-Asiático, Arnaldo Gonçalves, em declarações à agência Lusa. “Macau é simbólico, tem esse papel de portal, de intermediação, entre Portugal e a China, mas é um país demasiado grande e demasiado importante para continuarmos a insistir que Macau é a única porta aberta para a China”, acrescentou Arnaldo Gonçalves, doutorado em Ciência Política. “Considera-se que as relações de Portugal com a China são uma prioridade, são mais vastas, têm outra perspectiva, outro envolvimento das empresas e empresários portugueses no país que não tem existido em Macau”, pelo que “o Presidente [Marcelo Rebelo de Sousa] faz uma aposta correta” na divisão do tempo da visita que começa a 26 de Abril e termina a 1 de Maio, opinou o antigo assessor dos ex-governadores de Macau Carlos Melancia e Rocha Vieira. Questões consulares Já o presidente do Instituto de Estudos Europeus de Macau valorizou o papel de Macau, mas também expressou a sua convicção de que cada vez mais as relações diplomáticas entre Lisboa e Pequim exigem um outro foco. “Claro que Macau é um elemento importante, historicamente relevante nessas relações, mas hoje em dia, é bom sublinhar isso, as relações de Portugal com a China não se limitam a Macau, são muito mais ricas e complexas”, explicou José Sales Marques. Daí que “a visita de Estado seja feita, obviamente, tendo em conta as relações bilaterais entre Lisboa e Pequim” e que, “devido a limitações de tempo, à duração da própria visita, se compreenda que a passagem [pelo território] seja relativamente curta”, justificou aquele que é também professor de Ciência Política e Relações Internacionais do Instituto Politécnico de Macau. A presidente do Conselho Regional do Conselho das Comunidades Portuguesas da Ásia e Oceania lamentou que a duração da visita de Marcelo Rebelo de Sousa em Macau seja “tão curta”. “Infelizmente a visita é de apenas um dia que talvez nem tenha oportunidade para se encontrar com as associações de matriz portuguesa, ouvir as suas opiniões e problemas”, afirmou Rita Santos à Lusa. A conselheira, responsável pelo Círculo China, Macau e Hong Kong, sustentou que Macau é essencial no desenvolvimento das relações entre China e Portugal. “A China está a incentivar a importação de géneros alimentícios do exterior e Portugal possui vastos produtos que ainda não entraram no mercado chinês”, exemplificou, destacando entraves como a taxação sobre o vinho e as inspecções fitossanitárias que têm impacto na exportação de produtos como o presunto e a fruta. Para Rita Santos, o período de passagem por Macau é reduzido para abordar temas como a necessidade “urgente de aumentar o número de pessoal do Consulado-Geral de Portugal [em Macau e Hong Kong]”, bem como os seus salários, e de alterar a sua situação fiscal. A conselheira criticou ainda os atrasos na renovação de documentos como o passaporte e o cartão de cidadão, sublinhando que “todos os portugueses devem ser tratados com os mesmos direitos e igualdade, independentemente do seu país de acolhimento”. Na Muralha A visita do Presidente da República portuguesa começa simbolicamente na Grande Muralha, durante a qual será recebido por Xi Jinping. Segundo uma nota divulgada pela Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa será recebido em Pequim pelo primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, e pelo Presidente da República Popular da China, Xi Jinping. Da capital chinesa, seguirá para Xangai e para a Região Administrativa Especial de Macau, onde se reunirá com as máximas autoridades locais. “Terá ainda a oportunidade de contactar com os responsáveis pelo actual dinamismo do relacionamento bilateral, nomeadamente agentes culturais, desportistas, empresários e investidores, bem como de visitar vários dos locais que ilustram a riqueza da cultura chinesa e a longa relação com Portugal”, refere a Presidência da República, na mesma nota. A Grande Muralha da China, ao norte de Pequim, visitada por inúmeros líderes mundiais, será o primeiro lugar a que Marcelo Rebelo de Sousa se deslocará, no dia da chegada, sexta-feira, antes de participar no fórum “Faixa e Rota”, e a sua visita de Estado terá início no domingo, adiantou à Lusa fonte de Belém. Da parte do Governo, deverá ser acompanhado pelos ministros dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, e pelo secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias. Aquando da visita de Xi Jinping a Portugal, o Presidente português considerou que a sua deslocação à China, “correspondendo a convite acabado de formular” por Xi Jinping, e “a assinatura de um memorando de entendimento” sobre a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” simbolizam a parceria entre os dois Estados. “Simbolizam bem a parceria que desejamos continuar a construir, com diálogo político regular e contínuo, a pensar no muito que nos une”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, em declarações conjuntas com o Presidente chinês aos jornalistas, sem direito a perguntas. Sobre a cooperação económica e financeira entre a China e Portugal, o chefe de Estado português descreveu-a como “forte”, acrescentando: “E queremos que seja sustentável e duradoura no futuro”. Seguir a faixa Portugal é, até à data, um dos poucos países da União Europeia a apoiar formalmente o projecto “Uma Faixa, Uma Rota”. As autoridades portuguesas querem incluir uma rota atlântica no projecto, o que permitiria ao porto de Sines ligar as rotas do Extremo Oriente ao Oceano Atlântico, beneficiando do alargamento do canal do Panamá. Num comunicado enviado à agência Lusa esta semana, o Governo chinês reconhece a posição “muito relevante” de Portugal no extremo oeste da Eurásia, e agradece a adesão de Lisboa. “Portugal é um dos primeiros países da Europa ocidental a assinarem um documento de cooperação neste âmbito”, realça. Contudo, a nova vocação internacionalista de Pequim suscitou já divergências com as potências ocidentais, que veem uma nova ordem mundial ser moldada por um rival estratégico, com um sistema político e de valores profundamente diferente. No mês passado, Bruxelas produziu um documento que classifica Pequim como um “adversário sistémico”, que “promove modelos alternativos de governação”, e apelou a acções conjuntas para lidar com os desafios tecnológicos e económicos colocados pela China. Washington alerta que os planos chineses subverterão a actual ordem internacional e alargarão a esfera de influência de Pequim – os países aderentes tornar-se-ão Estados vassalos, reféns do crédito chinês, permitindo à China exportar o seu excesso de capacidade industrial ou poluição. Mas, no espaço de uma década, enquanto as economias desenvolvidas estagnaram, o país asiático construiu a maior rede ferroviária de alta velocidade do mundo, mais de oitenta aeroportos e dezenas de cidades de raiz, alargando a classe média chinesa em centenas de milhões de pessoas. Para o embaixador português em Pequim, José Augusto Duarte, é “natural” que, a acompanhar este desenvolvimento, Pequim assuma o desejo de estar no centro da governação dos assuntos globais e competir nos sectores de alto valor agregado. “É normal”, diz. “Anormal seria que a segunda maior economia do mundo não reclamasse um maior papel na cena internacional”, afirma. Rota presidencial O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, chega a Macau a 30 de Abril, depois de fazer também uma passagem por Xangai. Em Macau, a 1 de Maio, Marcelo Rebelo de Sousa irá encontrar-se com o Chefe do Executivo, Chui Sai On, informaram no sábado as autoridades do território. Antes, entre 26 e 27 de Abril, em Pequim, o Presidente da República irá participar no segundo Fórum “Uma Faixa, Uma Rota”. O fórum irá contar com a participação de 37 chefes de Estado ou de Governo, incluindo Chui Sai On, anunciou na sexta-feira o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi. Mais tarde, entre 11 e 19 de Maio, será Chui Sai On a realizar uma visita oficial a Portugal, que prevê reuniões com o Presidente da República e o primeiro-ministro, António Costa.
Hoje Macau PolíticaAprovada demissão de Ho Iat Seng da Assembleia Popular Nacional O pedido de demissão de Ho Iat Seng como representante do 13.º da Assembleia Popular Nacional (APN) foi hoje aceite. Para o seu lugar, deve entrar o empresário Kevin Ho, sobrinho do ex-Chefe do Executivo Edmund Ho. A votação que deu luz verde ao pedido do actual presidente da Assembleia Legislativa, durante a 10ª reunião do Comité Central, abre portas à candidatura de Ho ao cargo de Chefe do Executivo. Termina assim o impedimento gerado pela inclusão automática no colégio eleitoral enquanto representante na APN. A votação ocorreu hoje no Grande Palácio do Povo, em Pequim, às 15h.
Sérgio Fonseca DesportoAutomobilismo | Leong Hon Chio ainda sem programa desportivo para 2019 [dropcap]A[/dropcap] jovem promessa do automobilismo de Macau, Charles Leong Hon Chio, ainda não sabe em que campeonato irá competir esta temporada, depois das portas no Campeonato FIA de Fórmula 3 se terem fechado há duas semanas. “É difícil nesta altura dizer o que vou fazer”, afirmou ao HM o jovem piloto que em 2018 participou no Campeonato Asiático de Fórmula 3 e competiu pela primeira vez no Grande Prémio de Macau no passado mês de Novembro. “Estava a tentar assegurar um lugar no Campeonato FIA de Fórmula 3 mas não foi possível.” O principal entrave à progressão do jovem piloto da RAEM terá estado nos orçamentos necessários para entrar no restrito mundo do Campeonato FIA de Fórmula 3. Com um carro novo e uma nova designação (ndr: este campeonato chamou-se até aqui GP3 Series), as dez equipas estavam a requerer para as trintas vagas para o campeonato que segue a Fórmula 1 na Europa cerca de oito milhões de patacas por lugar, números muito elevados para qualquer piloto de automobilismo do território. Recorde-se que o ex-campeão do asiático de Fórmula Renault 2.0 e do Campeonato da China de Fórmula 4, em 2017, recebeu dois milhões e meio de patacas de apoio do território no ano passado, valores escassos para quem quer escalar degraus na pirâmide do automobilismo mundial e não tem um forte suporte financeiro por trás. A pensar em Novembro Apesar de estar a estudar um “plano B”, Leong ainda não desistiu de conduzir o mais recente e mais rápido modelo de Fórmula 3 da Dallara este ano, até porque nunca escondeu que pretende regressar ao Circuito da Guia no final do ano. “Estamos a trabalhar para pelo menos realizar alguns testes durante o ano e depois tentar correr em Macau”, disse o piloto de 17 anos que, dadas as restrições impostas pela federação internacional, só poderá sonhar tomar parte de uma corrida neste carro antes do Grande Prémio se algum dos trinta pilotos confirmados para a temporada do Campeonato FIA de Fórmula 3 parar a meio do ano. Apesar de não ter nenhum programa desportivo definido, Leong já fez uma corrida em 2019, quando no início do ano aceitou um convite de última hora e alinhou na última prova da Asian Winter Series, a competição de Inverno que usa os monolugares da Fórmula 3 asiática. Após uma qualificação modesta, o jovem piloto de Macau fez um nono, um décimo segundo e um oitavo lugar, respectivamente, nas três corridas disputadas no Circuito Internacional de Sepang.
Hoje Macau China / ÁsiaOPA/EDP: CTG mantém condição de desblindagem de estatutos para oferta avançar [dropcap]O[/dropcap] grupo chinês China Three Gorges (Europe), o maior accionista da EDP, disse ontem que se mantêm em vigor todas as condições da OPA, incluindo a desblindagem de estatutos, pelo que sem isso a operação não avança. “Relativamente à proposta de Elliot International , L.P. e de Elliot Associates […], e a declaração divulgada pela CMVM a 12 de Abril de 2019, a CTG gostaria de declarar irrevogavelmente a todos os interessados e, em especial, aos accionistas da EDP que todas as condições a que o lançamento da Oferta se encontra sujeito permanecem em vigor e, especificamente, no caso de o resultado da votação não permitir a eliminação do actual limite à contagem de votos, que a CTG não renunciará a essa condição”, refere a CTG. Esta posição consta de uma carta enviada pelo presidente da CTG Europe, Wu Shengliang, ao vice-presidente da mesa da assembleia-geral de accionistas da EDP, Rui Medeiros, divulgada através da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). O grupo chinês diz ainda que “respeitará as decisões adoptadas pelas autoridades e pela assembleia-geral” e afirma que “permanecerá como investidora estratégica de longo prazo da EDP e continuará a contribuir parceira estratégica para o desenvolvimento sustentável da sociedade, independentemente do resultado final da Oferta”. A CTG pede que esta declaração seja lida na assembleia-geral de 24 de Abril. Em 12 de Abril a CMVM alertou que se os accionistas da EDP rejeitarem, na assembleia-geral, a proposta de alteração estatutária do fundo Elliot dá-se “a não verificação” de uma das condições para o registo da oferta da CTG sobre a EDP, pelo que a operação não avança. O regulador dos mercados financeiros disse que a excepção é “no caso de o oferente [a CTG] exercer a faculdade de renúncia à referida condição”, o que a declaração de hoje da CTG exclui. Em 1 de Abril, a EDP comunicou que, em 27 de Março de 2019, o fundo Elliot, detentor de 2,01% do capital social da EDP, requereu ao vice-presidente da mesa da assembleia-geral a introdução de um novo ponto na ordem do dia da assembleia geral anual da empresa, com vista à “Alteração dos Estatutos da Sociedade”. O fundo Elliott quer que os accionistas se pronunciem se a empresa deve eliminar o limite de 25% dos direitos de voto, que viabiliza a oferta pública de aquisição (OPA) da China Three Gorges Europe.