Amélia Vieira h | Artes, Letras e IdeiasSolipsismo [dropcap]N[/dropcap]o tempo presente graduamos áreas vastas de condições que já foram amplamente debatidas quando este ser que hoje somos não existia em grande quantidade a um ritmo comum. Somos muitos, somos mais, somos tantos que nem sabemos para que serve tanta vida em vagas deambulatórias para todos os lados, e que numa visão mais aturada se parece a muitas outras nas circunstâncias em que estamos a ser. Mas, e pensando melhor, o que somos entre tantos, entretanto, entre muitos e nós – que nós – somos um, e cada um é tão uno como nós, entre todos somos talvez uma violenta abstração. – Sim, como bem viu Almada Negreiros, todas as soluções para mudar o mundo ao tempo em que nascemos já estavam tomadas, e cada um tem a sua esfera de razão inabalável para o desmentir, e o que acontece é que vivemos essa experiência como única – egoísmo pragmático – assim atirando o nosso eu para o palco das ideias redentoras, ficando quase sempre um vazio imenso ao redor que não é mais que a maravilha da projecção de pensadores, assim fornecido, para testar a pertinência das conclusões. Sem focar a matéria filosófica inerente ao tema, há no entanto literariamente um princípio assaz solipsista na vertente poesia, sempre que mencionamos eu lírico versus eu poético, o autor. Ou seja, o poeta que escreve não é o que escreve a “coisa” de si, o recurso que o possibilita fazer não é a natureza do autor, e essa transformação em coisa outra torna um fazedor num bem-fazente de tais coisas amadas que ele apenas para os outros tem autoria mas nenhuma autoridade acerca da sua construção. Quem faz se está fazendo pelo processo lírico inventado, e pode ser que nasça nele um ser novo, renascido, fruto da complementaridade desse exercício que sempre requer coragem pois que nada sabemos do que vem por aí talhado no grau da imaginação, e se se vai fazer dela a realidade única do centro de uma vida. Se para trás deixarmos o eu poético, é porque éramos poetas antes mesmo de começar. A vida espreita a sua oportunidade para se tornar centro robusto, e quando aí chegados a nossa posição assenta na demonstração que mais nada de superior ou inferior importa. Porém ( e aqui se esbate de novo o tema) criar não é o mesmo que imaginar que o que não queremos não é ou não existe, pois que passando a ser a inventividade plataforma para outras realidades, o fazedor tem uma maior responsabilidade face ao elemento com que se debate. «Se penso, logo existo» posso mesmo assim não ser responsável por nada saber daquilo que os outros são: posso dizer: – sou um eremita – mas o mundo está cheio deles que pensam a solidão como reforma antecipada ao acto perigoso de viver e, no fundo, estamos todos reduzidos à circunstância individual de existir sem que tenhamos em muitas das vezes criado o tal movimento que vai para locais que não podemos ponderar. Há verbas, isso nos faz solipsistas tamanhos que não conseguimos mais sair da continuada esfera de as contar, estar reduzido à contagem, sós nos labirintos das contas, mas também há verbos, que os verbos saem do solipsismo ambiental quando não arrancam para mais uma manifesta aragem de um eu encurralado. – Fazer, fazer, fazer… não importa o quê, onde, e a que preço, fazer o quê? – Contar a nossa história ímpar, tão única! Um reflexo gratuito se abate por todos os lados como um plasma irreflectido e a Criatura esqueceu-se do Criador, e sem que suspeite ficou louca e só no meio do martírio da sua galvanizadora manobra. Quando por momentos nos olhamos, queremos ver-nos nos outros como se fossem feitos para nos saciar do que somos, em grande parte já temos um plano para sermos, e uma predefinição daquilo que os outros são que nos atira para graus de solidão tamanha que julgamos que fizeram ou disseram aquilo que pensámos ter querido apenas escutar; no fundo, nem nunca olhámos para ninguém, ao acontecer, é cada vez mais por um ângulo esmagador que há-de fazer do outro um não existente. O que não queremos não existe. Mas o que queremos também muitas vezes não existe, de modo que o nada nos assola como um refúgio jamais imaginado. Em muitos aspectos estamos perto da vertente dos tiranos e também da esquizofrenia que leva a generalizar os factos extra nós como violentas celebrações de vontades alheias, e, o tempo, essa medida estranha aos laboriosos de uma condição demarcada, parece fugir mais que qualquer outra coisa que tenham, mas não se lhes assiste propriamente um destino que implique uma fonte constante de suave satisfação. Falta isto, esta delicadeza que tem o infinito e a crença na vida como uma terna presença em que não se pode tocar. Bloqueio sem firmeza gera espectros. E se temos de lidar com a nossa verdade como centro indiscutível, sejamos mais céleres no combate à memória daquilo que não queremos lembrar. Que mesmo assim, nos havemos de lembrar por fim. Que seja então para agradecer o mal que nos fizeram que soube produzir algum sincero bem. Para os que possuem o ónus da prova da sua existência, não adulterar os factos «que para ser grande, sê inteiro» e que ainda muitos não cabem dentro de si.
Hoje Macau China / ÁsiaXi Jinping na Rússia para acertar estratégias com Putin Na visita de três dias a Moscovo o Presidente chinês deverá abordar com o seu homólogo russo temas como a crise venezuelana, a Coreia do Norte ou a guerra comercial com os Estados Unidos. Em cima da mesa estarão também a assinatura de acordos no âmbito das áreas da agricultura, finanças e ciência e tecnologia [dropcap]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, realiza esta semana uma visita à Rússia, onde participará no 23º Fórum Económico Internacional e acertará estratégias com o seu grande parceiro internacional Vladimir Putin, face às crescentes tensões com os EUA. Xi e Putin “vão actualizar e fortalecer as relações”, num momento em que a situação internacional apresenta “mudanças sem precedentes no espaço de um século” e sofre “grande impacto do unilateralismo”, disse ontem o vice-ministro chinês dos Negócios Estrangeiros Zhang Hanhui, citado pela agência noticiosa oficial Xinhua. Sem referir a guerra comercial entre a China e os EUA, Zhang sublinhou que as relações entre Pequim e Moscovo são cada vez mais “maduras, estáveis e fortes” e serão reforçadas nesta visita de três dias para a qual Xi Jinping parte na quarta-feira. “Esta visita consolidará a base política das relações sino-russas, reafirmará o seu apoio mútuo em questões que envolvem as respectivas preocupações fundamentais e assegurará que as relações não serão afectadas por qualquer mudança na situação internacional”, acrescentou. Especialistas prevêem que Pequim e Moscovo continuarão a traçar estratégias comuns, sobre a Venezuela ou Coreia do Norte, enquanto a guerra comercial com Washington se agrava. No entanto, Putin poderá também tentar explorar as disputas comerciais entre Pequim e Washington para melhorar a capacidade de manobra da Rússia nas relações com os dois países. Da agenda A Xinhua avançou que os dois chefes de Estado deverão assinar documentos de cooperação em áreas como agricultura, finanças, ciência e tecnologia e comércio electrónico. Os dois Presidentes devem ainda discutir projectos de infraestrutura, como a ponte que ligará Heihe, cidade fronteiriça da província chinesa de Heilongjiang, com a cidade russa vizinha de Blagoveshchensk, permitindo triplicar o volume actual de carga naquela área. Xi participará ainda num evento para celebrar o 70º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas e no 23º Fórum Económico Internacional, em São Petersburgo, onde apresentará ideias para o “desenvolvimento sustentável, a defesa do multilateralismo e a melhoria da governação global para o desenvolvimento e a prosperidade”, segundo a Xinhua. A cooperação militar entre os dois países tem também aumentado, com intercâmbios de alto nível entre as forças armadas, para marcar o 70º aniversário das relações, e que incluirão “formação em combate real e outras competências militares”, segundo o porta-voz do ministério chinês da Defesa Wu Qian. As marinhas dos dois países conduziram um exercício naval conjunto, no início de Maio, em Qingdao, na província de Shandong, leste da China, destinada a preparar para “combate real” e reforçar a “capacidade de comando conjunto e resposta a ameaças à segurança marítima”.
Raquel Moz EventosRAEM, 20 anos | ‘Um Olhar Sobre Macau” apresenta obras de 27 fotógrafos [dropcap]A[/dropcap] exposição de fotografia “RAEM, 20 Anos – Um Olhar Sobre Macau” é hoje inaugurada, às 18h30, na Chancelaria do Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong. A mostra reúne o trabalho de 27 fotógrafos profissionais e amadores – entre portugueses e macaenses, mas contando também com uma brasileira –, sobre o território após a transferência de soberania. “A primeira abordagem começou por ser um projecto pensado para 20 fotógrafos, 20 imagens, 20 anos, mas depois, obviamente, mais fotógrafos demonstraram interesse em participar, tanto amadores como profissionais”, comentou o coordenador da exposição, Gonçalo Lobo Pinheiro, que achou por bem integrar na iniciativa todos os participantes interessados. O resultado final “ficou em 27 fotógrafos e 27 imagens, e é isso que nós vamos ver amanhã [hoje]. São fotografias que têm um espaço temporal de 20 anos, quase literalmente, porque temos fotos do dia 20 de Dezembro de 1999, só não temos fotos do dia 3 de Junho de 2019…”, acrescentou. Portanto, “é um leque vasto de fotografias, imagens com bastante qualidade, trabalhos muito interessantes, que acho que as pessoas vão gostar de ver”, referiu ainda. Atrás da objectiva Participam nesta mostra, além de Gonçalo Lobo Pinheiro, coordenador e fotógrafo, também André Branco, António Leong, António Mil-Homens, António Monteiro, Carlos Dias, Carlos Gonçalves, Carmo Correia, Catarina Domingues, Edite Ribeiro, Eduardo Leal, Eduardo Martins, Fátima Cameira, Francisco Ricarte, Hugo Pinto, João Miguel Barros, João Monteiro, Maria José Freitas, Miguel Valle de Figueiredo, Nuno Assis, Paulo Cabral Taipa, Pedro Reis, Renato Marques, Rogério Luz, Rui Palma, Sara Augusto e Sofia Mota. A organização do evento, que vai estar patente ao público durante um mês, entre os dias 4 de Junho e 5 de Julho, de segunda a sexta das 9h às 17h, é da responsabilidade da Casa de Portugal, no âmbito das comemorações de “Junho, Mês de Portugal” e também das iniciativas integradas no “Arte Macau” da RAEM. A exposição deverá seguir mais tarde para Portugal, onde irá participar durante o Verão num festival de fotografia, na cidade do Porto.
Raquel Moz EventosExposição | “Sunless Asteroid AO22” de Sun Xiaoyu amanhã no Armazém do Boi Fazer uma viagem futurista a um asteróide imaginário, que um dia teve o nome de Macau, é a proposta da artista multimédia chinesa que se apresenta amanhã no Armazém do Boi [dropcap]A[/dropcap] viagem começa com uma simbólica cerimónia de desmagnetização da identidade, antes da partida marcada para um mundo alternativo, onde a reflexão sobre o futuro é uma metáfora cosmológica da visão da terra. A exposição “Sunless Asteroid AO22”, da jovem artista de multimédia chinesa Sun Xiaoyu, ocupa a partir de amanhã, 5 de Junho, o espaço do Armazém do Boi, que pretende ser o portal de passagem para esse outro lugar. Equipada com nove ecrãs, que serão janelas para olhar o universo, a galeria vai projectar o mais recente trabalho videográfico de Sun Xiaoyu, intitulado “No Destinations”, resultante da residência artística de um mês que a trouxe ao território, em Maio passado. As imagens então recolhidas, e agora expostas, gravitam à volta do título “Asteróide sem Sol”, nome de código AO22, uma espécie de planetóide imaginário outrora chamado Macau (AoMen, 1998). “Após o colapso do sistema solar, o asteróide perdeu a sua estrela e tem andado à deriva pelo universo. Em AO22 não existe dia nem noite, a areia preta semi-fluida contém solo e água. Não se dorme e as nuvens baixas, compostas de mercúrio, estão carregadas com altos níveis de oxigénio. Na linha do horizonte, amarelo-brilhante, podem ver-se camadas de miragens paradisíacas, construídas por colonos humanos neste asteróide morto. Depois de muita fusão de histórias de colonos e imigrantes, foi imposta uma ‘lei de isolamento’: apenas é permitida a existência a pessoas sem identidade”, é o repto da exposição. Eis o ponto de partida para a viagem, onde os espectadores são convidados a forjar uma não-identidade, para entrarem de uma forma clandestina no AO22. “Durante gerações, lendas misteriosas sobre o AO22 espalharam-se por todos os quadrantes, relatando como incontáveis criaturas tentaram viajar até lá e nunca regressaram”, afirma o manifesto da artista. Novo mundo Sun Xiaoyu é uma artista de vídeo que se graduou em 2017, na Escola de Artes Intermediáticas da Academia de Artes Chinesa, com um mestrado em Narrativa da Imagem Espacial. Actualmente vive entre as cidades de Hangzhou e Xangai, e trabalha em fotografia artística para instalação de painéis de vídeo, criando narrativas de linguagem visual que reflectem o pensamento actual, através do ritmo entre a imagem e o espaço expositivo. “O seu trabalho é construir um novíssimo mundo da imagem, recorrendo a metáforas surreais e rompendo com a linguagem intrínseca à própria construção. Explora também a percepção e a lógica interna da narrativa, através da imagem, sobre a realidade presente e o espaço futuro”, pode ler-se no comunicado de imprensa. Apesar da curta carreira, Sun Xiaoyu participou já em diversas mostras nacionais – no Western Art Museum de Xi’an, no New Media Art Festival em Chongqing, no CAA Art Museum em Hangzhou, no Times Art Museum de Pequim, e recentemente no Wuhan Art Museum – e internacionais – no San Francisco Art Institute, EUA, no Brüder Grimm-Museum em Kessel, Alemanha, e na Saatchi Gallery de Londres, Reino Unido. O projecto de “Sunless Asteroid AO22”, organizado pelo Armazém do Boi (Ox Wharehouse), foi desenvolvido pela curadora Lin Canwen, mestre de Arte Contemporânea no Instituto de Investigação de Ideologia Social da Academia de Artes Chinesa. A mostra estará patente na Rua do Volong, entre 5 de Junho e 4 de Agosto, todos os dias das 12h às 19h, encerrando à segunda-feira. A entrada é gratuita.
Hoje Macau SociedadePolícia rejeita aumento da criminalidade [dropcap]O[/dropcap] director da Polícia Judiciária (PJ), Sit Chong Meng, afirmou no domingo que, “no recente caso do furto de fichas, a identidade dos suspeitos acabou por ser descoberta, indicando que a polícia tem capacidade para lidar com situações inesperadas”, noticiou ontem a Rádio Macau chinesa. O comandante-geral dos Serviços de Polícia Unitários (SPU), Ma Io Kun, disse que o departamento da secretária para a Segurança atribui grande importância à situação de vigilância dos casinos, afirmando que não é possível considerar que existe um agravamento do risco de segurança em Macau com base apenas nestes casos. O responsável acrescentou também que as forças policiais continuarão a avaliar se as medidas de segurança ao redor dos casinos são ou não suficientes, e a rever se o crime terá um maior impacto negativo na comunidade. O presidente da Associação de Jogos com Responsabilidade de Macau, Song Wai Kit, afirmou que o caso reflecte a eficácia do mecanismo de cooperação policial entre Macau e o continente, e que é necessário reconsiderar a idade e capacidade física dos agentes dos casinos para enfrentar situações imprevistas.
Sofia Margarida Mota SociedadeInstituto Cultural recebe 13 propriedades do Kiang Wu São 13 os imóveis que vão ficar sob a alçada do Instituto Cultural depois da doação por parte da Associação de Beneficência do Hospital Kiang Wu. Localizados no Centro histórico, os imóveis vão agora ser submetidos a trabalhos de preservação e só depois é que o Governo irá pensar em planos para estas estruturas [dropcap]F[/dropcap]oi ontem celebrada a cerimónia de doação por parte da Associação de Beneficência do Hospital Kiang Wu de 13 propriedades ao Governo que vão ficar sob a alçada do Instituto Cultural (IC). Para já não há planos para os referidos imóveis sendo que a acção prioritária é a sua conservação. “O primeiro passo é a conservação dos edifícios. “O essencial agora é efectuar os trabalhos de preservação e de segurança dos edifícios”, apontou a presidente do IC, Mok Ian Ian, à margem da cerimónia. Quanto a planos para a sua utilização, só mais tarde. “Temos concretamente que ver o plano em geral e depois é que podemos decidir”, acrescentou a responsável referindo-se aos imóveis localizados no Pátio da Eterna Felicidade e na Rua da Tercena. Os edifícios integram a zona de protecção do centro histórico de Macau e ocupam uma área total de construção de 2.184 metros quadrados. Segundo a presidente do IC estão em “bom estado de conservação”. Interesse especial A localização dos imóveis e o facto de estarem rodeados de outros elementos turísticos, faz com estes edifícios tenham especial interesse, segundo a presidente do IC. “À volta há as Ruínas de São Paulo, também estão situados numa zona de protecção no centro da cidade e iremos interligar os pontos turísticos e arredores com o pátio [da eterna felicidade]”, referiu. O objectivo é dar continuidade à história e cultura daquela zona. “Este pátio é para ser preservado e também projectado e esperamos ter espaço para mostrar a história dessas propriedades e dar continuidade à cultura””, acrescentou. A responsável sublinhou ainda a importância da preservação arquitectónica dos edifícios “de estilo chinês”, característico da região de Lingnam que abrange as províncias de Guangdong e Guangxi, no sul do país. De acordo com a lei Já em relação às acusações feitas pelo Grupo para a Salvaguarda do Farol da Guia num relatório divulgado em comunicado e que vai ser submetido à UNESCO , Mok Ian Ian apontou que a construção dos edifícios nas imediações daquela zona estão a ser feitas de acordo com a leis que regulam a construção. “Neste aspecto, em 2008 o Chefe do Executivo emitiu um despacho em que regula a limitação da altura dos edifícios [em 52,5 metros]”, disse. Relativamente ao projecto com 80 metros de altura, situado na Calçada do Gaio e que se encontra ao abandono deste 2008, a responsável referiu que, quando foi construído, não existiu oposição por parte das autoridades. “O projecto na altura já tinha sido construído numa determinada altura e depois dos serviços terem consultado o IC, o IC não negou que se mantivesse”, disse. De acordo com Mok Ian Ian, esta posição foi comunicada ao continente e à própria UNESCO, que, na mesma altura, “não negaram o projecto e deixaram que continuasse”. Recorde-se que o grupo de activistas, acusa, no documento que vai apresentar à UNESCO, o Governo de não respeitar as suas promessas. Em causa está o despacho do Chefe do Executivo que estipula a altura máxima dos edifícios nas imediações do Farol da Guia em 52,5 metros. Mas, há um edifício com 80 metros de altura na Calçada do Gaio, que tem as obras suspensas desde 2008. “O Governo prometeu à UNESCO que ia reduzir a altura do prédio para 52,5 metros, no entanto, passaram 11 anos e o prédio está abandonado, o que prejudica gravemente a paisagem do Património, o ambiente e a segurança dos moradores daquela zona”, aponta o documento que vai seguir para a UNESCO.
João Luz SociedadeActivista de Hong Kong impedido de entrar em Macau [dropcap]U[/dropcap]m antigo membro da associação de estudantes da Hong Kong Polytechnic University foi impedido de entrar em Macau no passado domingo, de acordo com notícia avançada ontem pelo Hong Kong Free Press. O impedimento foi revelado pelo actual presidente da associação estudantil, Derek Liu, no passado domingo à margem de um fórum sobre o Massacre de Tiananmen. Apesar de não ter revelado a identidade da pessoa barrada, Liu referiu tratar-se de alguém que exerceu funções directivas na associação e que ele próprio também foi impedido de entrar em Macau em Outubro de 2016, quando desempenhava funções de secretariado. “As autoridades de Macau negaram entrada a um antigo membro da direcção próximo do aniversário do 4 de Junho. Não é difícil adivinhar a razão”, comentou a associação estudantil num comunicado. Derek Liu mencionou ainda que as autoridades locais justificaram o impedimento de entrada com razões de segurança da RAEM. O HM questionou o Corpo de Polícia de Segurança Pública sobre o tipo de risco que o membro da associação estudantil representa para a segurança de Macau, porém a resposta das autoridades não endereçou a razão. “O CPSP cumpre a inspecção e o controlo da entradas e saídas da RAEM, de estrita conformidade com a lei e rigorosamente de acordo com os procedimentos estabelecidos para examinar as condições de entrada de todas as pessoas, e assim decidir autorizar ou recusar a entrada de visitantes”, lê-se na resposta da força de segurança. A associação de estudantes da Hong Kong Polytechnic University acrescentou ainda que a pessoa impedida de entrar em Macau entrou no território no mês passado, sem qualquer tipo de problemas, e que não tem registo criminal. “Condenamos as autoridades de Macau por usarem uma desculpa para limitar a liberdade pessoal de um ex-dirigente”, refere a associação estudantil.
João Santos Filipe SociedadeJorge Menezes diz que é contra acordo de extradição com Interior da China [dropcap]O[/dropcap] advogado Jorge Menezes diz que, enquanto cidadão, é contra um eventual acordo de extradição entre Macau e o Interior da China. A posição foi tomada, ontem, à saída do tribunal, quando comentava o facto de pelo menos um dos arguidos do caso em que foi agredido estar no Interior da China. “Não há acordo de extradição entre Macau e a China. Na minha perspectiva, ainda bem que não há. Prefiro que não haja um acordo mútuo e que estes dois arguidos não sejam entregues, ainda que eu gostasse que eles cumprissem pena”, admitiu Jorge Menezes. “Não sou a favor do acordo de extradição porque entendo que ainda não há condições de exercício da justiça na China que nos dêem garantias que pessoas não poderão ser julgadas por motivos políticos e que há uma separação de poderes”, completou.
João Santos Filipe Manchete SociedadeJorge Menezes considerou julgamento de atacantes “perda de tempo” Mais de seis anos depois da ocorrência dos factos, o ataque a Jorge Menezes começou ontem a ser julgado. Com os arguidos fora de Macau, o advogado pede que se investigue até se chegar aos mandantes do ataque [dropcap]U[/dropcap]ma perda de tempo. Foi desta forma que o advogado Jorge Menezes definiu o julgamento dos dois homens que o terão agredido com tijolos, em Maio de 2013, quando levava o filho à escola. Na primeira sessão do julgamento, que decorreu ontem, os arguidos Feng Weize e Yang Yongming, que enfrentam a acusação da prática do crime de ofensa grave à integridade física de forma tentada, não estiveram presentes. O primeiro está em parte incerta e o segundo, apesar de ter estado detido, pagou uma caução de 5 mil patacas e voltou ao Interior da China. “Foi uma investigação em que o maior elemento de prova que existia, o atacante, foi posto na fronteira de imediato e não apareceu hoje. Com todo o respeito pelo tribunal, que fez o seu papel, foi uma perda de tempo”, disse Jorge Menezes à saída da sala de audiência. “O Tribunal fez o seu papel, o Ministério Público fez o seu papel, mas não era isto que deveria ter sucedido. Não houve de facto uma vontade de investigar quem estava por trás [do ataque], quem ordenou e os motivos que levou a ordenar”, apontou. Segundo o agredido, faltou vontade à investigação do MP – por contraste com a acção da polícia – para apurar quem orquestrou o ataque. O advogado justifica esta tese com o facto de os arguidos nunca terem entrado em Macau anteriormente e, como tal, não estarem numa posição para saberem pormenores como a sua morada ou a hora a que costumava levar o filho à escola. “Não havia maneira de saberem os meus passos, de saberem onde vivia se não tivesse sido com colaboração. A polícia levantou sinais claros de que se tratava de um caso de criminalidade organizada. Quando há criminalidade organizada, há um mandante, há um autor moral e encontrando-o, ou não, devia ter sido tentado. Mas não foi sequer tentado”, afirmou. Jorge Menezes deixou ainda a esperança que se os dois arguidos forem considerados culpados que seja extraída uma certidão para que o MP continua a investigação e identifique os mandantes do ataque. Pena efectiva Ontem, no tribunal, Jorge Menezes, foi ouvido na condição de assistente. Foram igualmente ouvidos dois agentes da autoridade, como testemunhas, que estiveram envolvidos nos primeiros momentos da investigação. Menezes recordou o ataque e a “frieza” dos atacantes que “agiram como se fossem robots”. O assistente sublinhou igualmente que o incidente causou “grandes alterações” na sua vida, com a família a mudar-se para Portugal, a conselho das autoridades. Já o advogado de Jorge Menezes, Pedro Leal, começou a audiência a pedir que a acusação pela prática do crime de ofensa grave à integridade física fosse tida como consumada e não apenas na forma tentada. Pedro Leal disse também que a agressão foi um ataque à advocacia e questionou como foi possível os agressores saberem as rotinas do agredido, quando nunca tinham estado em Macau. O causídico apontou assim críticas à investigação do MP e frisou a necessidade, mesmo que tardiamente, de descobrir os mandantes do “ataque vil”. O advogado pediu também pena efectiva para os dois arguidos. A leitura da sentença ficou agendada para 28 de Junho. Caso sejam considerados culpados, os arguidos enfrentam uma pena que pode chegar aos 10 anos de prisão.
João Luz SociedadeEconomia | Retracção de 3,2% no primeiro trimestre do ano Segundo a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos, a razão para a desaceleração económica prende-se principalmente com a diminuição da procura interna e externa [dropcap]O[/dropcap]s primeiros três meses de 2019 foram de contracção económica, em termos reais, na ordem dos 3,2 por cento, de acordo com dados divulgados pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC). O resultado negativo pôs fim à trajectória de 10 meses de crescimento contínuo. O Governo comenta a contracção como consequência da desaceleração económica que se intensificou, “principalmente devido ao enfraquecimento da procura global, reflectindo-se na insuficiente dinâmica de crescimento”. Assim sendo, a procura externa abrandou significativamente, com as exportações de serviços a diminuir 0,3 por cento, as exportações de serviços de jogo a caírem 0,6 por cento, enquanto a exportação de bens diminuiu 1,8 por cento. Estes resultados são o reflexo do abrandamento das despesas dos visitantes, apesar do aumento acentuado de entradas em Macau. Também a procura interna recuou em termos anuais 9,4 por cento “arrastado essencialmente pela acentuada queda do investimento em activos fixos”. A despesa de consumo privado registou uma subida de 2,1 por cento. As despesas de consumo final das famílias, realizadas no mercado local e no exterior, subiram 1,3 e 7,9 por cento, respectivamente. A despesa de consumo final do Executivo manteve-se em ascensão, crescendo 4,1 por cento, acima dos 3,4 por cento do trimestre anterior. Salientam-se os acréscimos de 2,4 por cento na remuneração dos empregados e de 7,0 por cento nas compras líquidas de bens e serviços, algo que as autoridades entendem como compensação para parte do “declínio verificado na desaceleração económica”. As importações de bens aumentaram 2 por cento, porém, as importações de serviços baixaram 20,9 por cento. Com cuidado Apesar da situação favorável no mercado do emprego e do aumento do rendimento do emprego, a despesa de consumo privado tornou-se mais cautelosa, dada a incerteza da perspectiva económica. As obras de construção diminuíram, alargando-se o decréscimo do investimento em activos fixos. No primeiro trimestre de 2019, a formação bruta de capital fixo registou um recuo anual de 31,7 por cento, arrastado principalmente pela contracção anual de 37,5 por cento no investimento em construção. Quanto ao investimento público, finda a construção da Zona de Administração de Macau na Ilha Fronteiriça Artificial da Ponte HKZM, caiu substancialmente 82,3 por cento o investimento em obras públicas. Por seu turno, o investimento privado não apresentou sinais de melhoria, baixando anualmente 15 por cento, realçando-se a descida de 20,4 por cento no investimento em construção, quer devido à conclusão sucessiva das obras dos grandes empreendimentos, quer em consequência do reduzido número de projectos iniciados recentemente.
Hoje Macau SociedadeBNU | Banco doa 1,6 milhões de patacas à associação Tung Sin Tong [dropcap]O[/dropcap] Banco Nacional Ultramarino (BNU) de Macau doou 1,6 milhões de patacas à associação sem fins lucrativos Tung Sin Tong, foi ontem anunciado. Criada em 1892, a associação sem fins lucrativos Tung Sin Tong “tem estado na primeira linha das organizações de caridade em Macau”, providenciando cuidados de saúde e de educação gratuitos para os cidadãos mais carenciados, indicou o BNU, em comunicado. O valor doado anualmente pelo BNU é “calculado com base numa percentagem do valor gasto em compras” com um cartão de crédito do banco, lançado em conjunto com a associação em 1999, acrescentou. O BNU contribuiu, desde o início deste regime de doação, com 15,7 milhões de patacas para a Tung Sin Tong, presidida pelo actual vice-presidente da Assembleia Legislativa de Macau, Chui Sai Cheong, de acordo com a mesma nota.
Hoje Macau SociedadeEnsino Superior | Doutorados regressam cada vez menos a Macau [dropcap]A[/dropcap] Comissão de Desenvolvimento de Talentos afirmou que, segundo o “Inquérito de acompanhamento após a graduação dos estudantes do ensino superior de Macau”, feita pela Direcção dos Serviços do Ensino Superior entre 2015 e 2017, a taxa de emprego dos estudantes no exterior que voltaram para trabalhar em Macau é de cerca de 80 por cento. Aqueles que optaram por trabalhar em Hong Kong e Taiwan, ficaram em segundo e terceiro lugar, e os restantes permaneceram no local dos estudos universitários. A notícia foi avançada ontem pelo canal chinês da Rádio Macau. Durante o período de 2015 a 2016, a taxa de emprego dos estudantes que encontraram emprego nas áreas de comunicação e tecnologia informática, bem como aqueles que iniciaram o seu próprio negócio, foi ligeiramente superior no exterior. Ao mesmo tempo, de 2015 a 2017, o número de doutorados que voltaram a Macau para encontrar emprego, diminuiu de ano para ano, de 61,29 para 43,63 por cento, não sendo grande a diferença entre os estudantes de mestrado e de licenciatura.
Sofia Margarida Mota Manchete PolíticaDireitos Laborais | Sulu Sou volta à carga pelo sindicalismo O projecto de lei apresentado ontem por Sulu Sou à Assembleia Legislativa não pede directamente a criação da lei sindical. O deputado pede alterações legislativas que abram portas aos direitos dos trabalhadores, que no futuro levem à criação de sindicatos e ao direito à greve [dropcap]O[/dropcap] projecto legislativo apresentado por Sulu Sou não tem o objectivo de criar uma lei sindical, mas o seu fim é idêntico. O deputado pró-democrata submeteu ontem à Assembleia Legislativa (AL) um projecto para a alteração da Lei da Política de Emprego e Direitos do Trabalho, de 1998, que abrange o direito à organização de sindicatos, à protecção dos trabalhadores através estas entidades, o direito às negociações colectivas e à realização de greve. Tendo em conta que estes direitos têm que ser regulamentados também por diplomas próprios, Sulu Sou antecipa ainda na sua proposta que uma vez alterada a referida legislação, esta determine a criação das normas futuras que vão regulamentar as novas áreas de protecção aos trabalhadores. Para sustentar esta opção, Sulu Sou refere o caso do salário mínimo já previsto na legislação de 1998. “A AL, então, não tinha consenso sobre a implementação do salário mínimo, mas os deputados concordaram em incluir essa direcção na lei primeiro como uma meta política de longo prazo. Este artigo conseguiu convencer o Governo a apresentar uma proposta de lei para implementar integralmente o salário mínimo este ano”, referiu ao HM. Por outro lado, também não se trata de mais um projecto de lei sindical, porque tal não seria admitido nesta sessão legislativa. De acordo com as normas do hemiciclo, uma proposta recusada não pode voltar a votação com o mesmo tema durante a mesma sessão legislativa. Entretanto, Sulu Sou não deixa de recordar as 10 vezes que a lei sindical foi recusada pelos deputados da AL, a última já nesta sessão, sob a alçada de José Pereira Coutinho. Aproveitar oportunidades No entanto, para o pró-democrata, há deputados que não são contra a existência de sindicatos no território e que têm chumbado os projectos apresentados argumentando que “apenas discordaram do conteúdo específico do projecto ou do momento em que foi apresentado”. Para obter os votos a favor dos tribunos em questão, Sou apresenta agora uma alternativa que pretende antes de mais alterar a própria lei para que depois se possa passar a objectivos específicos. “A RAEM tem o dever de legislar sobre o assunto e também de criar uma melhor condição social e uma melhor atmosfera para futuras legislações”, aponta. Por outro lado, Macau “ainda é o único lugar na China sem protecção para esses direitos”. Sulu Sou salienta que o Governo tem “o dever de propor legislação para proteger esses direitos e dar aos sindicatos sua posição legal apropriada”. Ao mesmo tempo, “os legisladores têm o direito e o dever de propor projectos de lei e não há necessidade de esperar indefinidamente pelo Governo”, aponta, evitando assim que monopólio das propostas do Executivo e melhorando as relações de trabalho tendo em conta os padrões internacionais.
Andreia Sofia Silva PolíticaFórum Macau | Coutinho exige substituição de TNR por tradutores locais [dropcap]J[/dropcap]osé Pereira Coutinho interpelou o Governo sobre o recente caso da contratação exterior de tradutores e intérpretes para o Fórum Macau, exigindo que este recrutamento seja apenas temporário. “Se, nos termos da lei, a contratação dos trabalhadores não residentes (TNR) deve ser limitada temporalmente, pergunta-se por quanto tempo os TNR são precisos na RAEM até serem substituídos por intérpretes locais”, lê-se na interpelação. Além disso, Coutinho questiona “se existe um plano a curto e médio prazo para contratar as dezenas de mestres anualmente formados pela Universidade de Macau (UM) e de licenciados do Instituto Politécnico de Macau (IPM), devido ao facto do Gabinete de Apoio ao Secretariado Permanente do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa vir brevemente a transformar-se numa direcção de serviços”. O deputado quer também saber se o Governo vai “rever, com urgência, o plano curricular do ensino do curso de intérpretes-tradutores do IPM e da UM para elevar os conhecimentos dos alunos sobre a realidade nacional chinesa, melhorar os conhecimentos linguísticos do mandarim para satisfazer as exigências do Fórum Macau”. Isto porque foram estes os argumentos utilizados para a contratação de tradutores-intérpretes fora do território. Coutinho diz também não compreender como é que, ao fim de vários anos, o centro de formação do Fórum Macau não deu resposta a estes problemas. O deputado defendeu ainda que este caso é muito semelhante ao que foi detectado no Centro de Produtividade e Transferência de Tecnologia de Macau, onde o Comissariado contra a Corrupção (CCAC) encontrou dezenas de contratos de trabalho feitos a familiares.
Hoje Macau PolíticaConstrução Civil | DSAL reitera compromisso com segurança no trabalho [dropcap]O[/dropcap] director dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), Wong Chi Hong, respondeu ontem à interpelação do deputado Lei Chan U, feita a 28 de Março, sobre eventuais alterações ao regime do cartão de segurança ocupacional na construção civil, em vigor desde 2014, dada a grande quantidade de acidentes laborais em obras de construção no território, divulgou ontem a Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) aos órgãos de imprensa. O responsável afirmou que a DSAL tem prestado muita atenção ao tema e, “com o objectivo de aumentar o nível de segurança e saúde ocupacional nos diversos sectores, tem feito inspecção e supervisão, educação e formação, publicidade e legislação, recolhendo opiniões e sugestões para tomar as medidas necessárias, na prevenção e redução dos acidentes de trabalho e doenças ocupacionais”. E exemplificou que “os novos empregados devem ganhar experiência através de formação e simulacros, reforçando assim a consciencialização sobre a importância das construções seguras”. Quanto a alterações à lei para reforçar a segurança na construção civil, Wong Chi Hong esclareceu que o processo de revisão é demorado e tem contado com o parecer de técnicos de diferentes competências. O Regulamento de Higiene e Segurança no Trabalho da Construção Civil de Macau “tem aproximadamente 200 artigos sobre procedimentos específicos e algum grau de complexidade, portanto leva mais tempo a ser analisado. A DSAL está a trabalhar activamente para acompanhar o trabalho de revisão e a proposta será enviada para a Assembleia Legislativa no devido tempo”, informou.
João Santos Filipe PolíticaGestores de empresa do Governo para renovação urbana sem salários [dropcap]O[/dropcap]s membros da direcção da empresa com capitais públicos Macau Renovação Urbana vão trabalhar sem receber salário. A garantia foi deixada ontem pelo presidente Peter Lam, durante uma conferência de imprensa para apresentar a companhia responsável pelos projecto de renovação urbana. “Nós não temos salários”, afirmou Peter Lam, quando questionado sobre a previsão anual para os custos com os ordenados dos sete membros da direcção. Além do empresário Peter Lam fazem ainda parte como vice-presidentes o ex-deputado Tommy Lau, Paulo Tse e Leong Keng Seng. O arquitecto Wong Chung Yuen, o engenheiro Rocky Poon e o advogado Tam Chi Wai são os restantes membros dos sete. “Os membros da direcção são profissionais com grande experiência na construção. Além disso, temos engenheiros, arquitectos e ainda especialistas em Direito”, afirmou Peter Lam. A medida vai afectar apenas a direcção da empresa que tem como accionistas o Governo da RAEM, o Fundo de Desenvolvimento Industrial e de Comercialização e o Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia. Ainda durante a apresentação, Lam traçou como objectivo a criação de um melhor “ambiente urbano” na cidade, assim como uma plataforma para ouvir as opiniões dos cidadãos. Candidaturas a 17 de Junho Um despacho do Chefe do Executivo anunciou ontem que os compradores de fracções no Pearl Horizon vão poder candidatar-se para receber uma outra habitação entre 17 de Junho e 16 de Agosto. Em relação a este processo, o presidente da Macau Renovação Urbana explicou que o projecto para os novos edifícios no terreno onde devia ter sido erigido o Pearl Horizon ainda tem de ser feito. Porém, garantiu que as fracções vão ser em número maior do que as candidaturas dos lesados da Polytex. Sobre as candidaturas, as fracções vão ser atribuídas de acordo com o preço pago pela compra da casa no Pearl Horizon e tendo em conta a dimensão do apartamento adquirido. “O preço vai ter flutuações porque as pessoas também pagaram valores diferentes, quando adquiriram as fracções. Mas só depois de termos as candidaturas e de terminarmos o projecto é que vamos saber quantas casas vão ser construídas”, explicou. Faz parte das funções desta empresa construir as casas de alojamento temporário, que vão acolher as pessoas quando os prédios ontem habitam estiverem a ser renovados. Porém, sobre o processo de renovação não houve pormenores.
Andreia Sofia Silva China / ÁsiaChina foi tópico de debate nas reuniões do Grupo Bilderberg Terminou este domingo mais um encontro anual do Grupo Bilderberg, que aconteceu em Montreaux, na Suíça. A China foi tópico de debate, mas não esteve representada. Dois jornalistas que escreveram sobre Bilderberg defendem mais transparência e falam no crescente interesse que a China desperta no grupo que junta figuras de topo da política e dos interesses económicos [dropcap]C[/dropcap]riado em 1954 no rescaldo da II Guerra Mundial, o Grupo Bilderberg mantém-se até aos dias de hoje como sempre foi: secreto, fechado e exclusivo a algumas personalidades das mais altas esferas económicas e políticas que recebem convites para ali debaterem os mais diversos assuntos da actualidade. Este ano, a 67.ª reunião abordou o assunto da China, a par de temas como “Uma Ordem Estável e Estratégica”, “Mudanças Climáticas e Sustentabilidade” e “O Futuro do Capitalismo”, num total de 11 temas. A China tem sido, aliás, objecto de discussão nos últimos anos, apesar da falta de representatividade no campo político e empresarial. Houve apenas uma excepção, em meados de 2011 e 2012, com o convite ao vice-ministro dos Negócios Estrangeiros e antigo embaixador no Reino Unido e Austrália, Fu Ying. Do lado português, estiveram presentes, este ano, personalidades como Durão Barroso, presidente da Goldman Sachs e ex-presidente da Comissão Europeia, Estela Barbot, membro do conselho de administração da REN, onde a China tem investimentos, e Fernando Medina, presidente da Câmara Municipal de Lisboa. No Grupo Bilderberg o secretismo é quase uma imagem de marca. Como tal, no comunicado de imprensa disponível no website oficial não existem quaisquer informações adicionais sobre a reunião, que decorreu entre quinta-feira e domingo. “Os Encontros de Bilderberg constituem um fórum para discussões informais sobre grandes temas. As reuniões acontecem de acordo com a Regra Chatham House, que determina que os Estados participantes são livres para usarem a informação que recebem, mas não podem revelar a identidade ou a afiliação dos participantes”, pode ler-se. O mesmo comunicado determina ainda que “devido à natureza privada dos encontros, os participantes participam de forma individual e não na sua posição oficial, e não estão sujeitos às convenções do seu cargo ou a posições pré-acordadas. Desta forma, eles podem ter tempo para ouvir, reflectir e reunir ideias”. Além disso, no Grupo Bilderberg “não há uma agenda detalhada, não há proposta de resoluções, não são feitas votações e não há declarações políticas emitidas”. O facto de Estela Barbot, da REN, ter sido convidada este ano, é algo que não deve ser ignorado, devido ao facto da energia ser um sector estratégico para os chineses, de acordo com os autores ouvidos pelo HM. “Naturalmente, que isso pode estar na cabeça deles (do grupo Bilderberg)”, referiu Rui Pedro Antunes, jornalista e autor do livro “Os Planos de Bilderberg para Portugal”. “A questão da energia é muito importante para Bilderberg e para a maior parte das empresas, pois estão a tentar combater a influência chinesa na Europa, e na REN os chineses ganharam posição de destaque. Também já foram convidados responsáveis da EDP”, exemplificou. Já Frederico Duarte Carvalho, também jornalista e autor do livro “O Governo Bilderberg” lembrou que a energia é um sector estratégico e importantíssimo para todos nós. “Não sei o suficiente, as minhas análises são mais políticas do que económicas, mas sei o suficiente para afirmar de que há aqui algo que não é transparente, e que isso preocupa”. Atenção sínica Rui Pedro Antunes dá conta do interesse crescente que a China tem gerado no seio do grupo nos últimos anos. “Das muitas temáticas que essas personalidades têm discutido, a China tem sido uma das preocupações principais, tal como a Rússia, embora a China tenha uma importância maior”, defendeu ao HM. Isso deve-se ao facto do país “ter ganho um poder que antes não tinha, sobretudo a nível económico, e passou a ser importante abordar a forma como lidar com a China, sobretudo a nível militar, pois o país tem uma dimensão que a Europa e os Estados Unidos não têm”, acrescentou. O facto de serem feitos convites a personalidades chinesas depende muito do estado das relações diplomáticas no momento, e nesta altura a China e os Estados Unidos enfrentam uma guerra comercial sem fim à vista. “Na altura (aquando da participação de Fu Ying), as relações estavam muito boas e foi feito o convite. Creio que as relações entre a China e a Europa não estão propriamente más, mas (no seio do grupo Bilderberg) acaba por haver muita influência norte-americana e da família Rockefeller”, alertou Rui Pedro Antunes. O jornalista denota que, “neste momento, a China será sempre um assunto principal de debate, tendo em conta as ligações com os EUA”. Para Frederico Duarte Carvalho está na altura de a China estar mais atenta ao que se discute no seio deste grupo. “Quando estão a falar da China, falam de algo que está ausente, e por isso não se pensa nos interesses da pessoa ausente. Isso não contribui para a paz no mundo, seja ela política ou económica. Só lamento que num mundo tão globalizado, como é o de hoje, se ache que continua a fazer sentido conversar só sobre dois polos, quando a China é um interlocutor cada vez mais presente a nível internacional. A melhor forma de combater a China é inclui-la nas conversações.” O jornalista, que escreveu vários livros de investigação, pensa que a China “tem de ter algum cuidado político e muita diplomacia para resolver estas questões”. “O primeiro passo é estar atento, questionar se faz sentido continuar a usar as mesmas tácticas do pós-II Guerra Mundial, com esses encontros de secretismo e reuniões de grandes CEOs sem considerar outras realidades. A China deve manter-se informada e diplomática para não ser usada como bode expiatório numa crise que venha a ser criada contra ela”, frisou. Esta crise pode acontecer, aos olhos de Frederico Duarte Carvalho, caso falhe a introdução da rede 5G na Europa. “Fala-se na questão das redes 5G e do perigo da espionagem chinesa. Temo que a China, de repente, possa vir a ser uma espécie de bode expiatório do falhanço da não inovação das outras potências, e que historicamente sabemos que são bélicas, mais do que a China. A China tem uma outra estratégica, ligada à celebre paciência do chinês.” Transparência, precisa-se Rui Pedro Antunes assume uma posição diferente de Frederico Duarte Carvalho pois, para ele, Bilderberg não governa o mundo. Ainda assim, ambos concordam que há falta de transparência no grupo. “A partir do momento em que há representantes políticos fechados numa sala com empresários e representantes de multinacionais é uma coisa opaca que não deveria existir”, disse Rui Pedro Antunes. “Cada vez mais luta-se para que os cidadãos tenham acesso ao que se passa numa reunião governamental ou parlamentar, cada vez se sabe mais sobre regimes que nem são democráticos, e continua a existir uma reunião de Bilderberg à porta fechada, sem saber muito bem o que por lá se discute. Isto não é bom para a democracia e para o mundo em geral, e deveria existir mais transparência”, defendeu. Para Rui Pedro Antunes, jornalista no jornal online Observador, “Bilderberg não governa o mundo, mas tem muitos lobbies de governação, políticos e financeiros, e se houvesse maior transparência as pessoas saberiam o que acontece”. Frederico Duarte Carvalho acredita que o facto de a China não estar representada “acaba por ser um bastião de liberdade”. Contudo, “quando aceitar estar lá dentro de acordo com as regras, estará o mundo inteiro a conspirar contra o resto do mundo e seremos todos escravos”. “Enquanto estiver fora será um polo para exigir os seus direitos de forma livre e transparente. Se a China quiser ser o país do povo, não pode estar no Bilderberg. Senão aceita as regras do mercado e torna-se um inimigo do povo”, rematou o jornalista.
Hoje Macau DesportoRodolfo Ávila vence em Xangai e sobe na classificação do CTCC [dropcap]R[/dropcap]odolfo Ávila venceu na visita do Campeonato da China de Carros de Turismo (CTCC) este fim-de-semana ao Circuito Internacional de Xangai. O triunfo do piloto português residente em Macau e da equipa SVW333 Racing surgiu na segunda corrida do programa, disputada na tarde de domingo. O bom resultado do fim-de-semana começou a desenhar-se logo nas sessões de treinos cronometrados. Na sessão de qualificação, que desta vez decidiu a formação da grelha de partida para a corrida de domingo, Ávila esteve ao seu melhor nível e realizou o segundo melhor tempo, a apenas 0.041 segundos do pole-position, o pluri-vencedor da Corrida da Guia do Grande Prémio de Macau, Rob Huff, pode ler-se no comunicado de imprensa do piloto. Na tarde de sábado disputou-se a primeira corrida do fim-de-semana, onde a regra da grelha invertida colocou o VW Lamando nº9 na oitava posição à partida. Um mau início de corrida, causado por uma opção técnica errada, quase que deitava a perder, mas Ávila fez uma corrida imaculada desde o 13º lugar na primeira volta até ao 7º posto final, ultrapassando seis adversários em sete voltas. “A equipa optou por um mapa de motor que não funcionou. Perdi posições no arranque e nas primeiras curvas. Mudámos o mapa do motor e com cuidado, sem exageros, comecei a subir posições, conseguindo terminar na sétima posição”, explicou o piloto que representa a equipa oficial do construtor automóvel SAIC Volkswagen. A subir Para a segunda corrida do fim-de-semana, Ávila alinhou do 2º lugar da grelha de partida, defendendo com sucesso a sua posição na primeira curva. Quando a corrida de 10 voltas ao circuito chinês ia a meio, Ávila ascendeu à primeira posição, posição essa que jamais iria largar até à bandeirada de xadrez. “Estou obviamente muito satisfeito com esta vitória, a minha primeira no campeonato, mas acima de tudo este é um triunfo de toda a equipa que tudo fez para vencer as duas corridas este fim-de-semana em Xangai e conseguiu um “1-2-3” na corrida de hoje. Este resultado dá uma motivação extra na luta pelo campeonato e esse será o objectivo em que nos iremos focar até ao final da temporada”, disse no final da corrida o piloto da equipa SVW333 Racing que colocou três carros nas três primeiras posições na corrida de domingo. Com estes resultados, Ávila subiu do 10º para o 5º lugar na classificação de pilotos quando estão disputadas duas das oito jornadas duplas do campeonato. A SAIC Volkswagen lidera a classificação de construtores, onde enfrenta a oposição da KIA, BAIC, Ford e Toyota. O campeonato de automobilismo mais popular da República Popular da China, que este ano celebra o seu décimo quinto aniversário, continuará por Xangai, desta vez para uma deslocação ao Circuito de Tianma no fim-de-semana de 22 e 23 de Junho.
Sérgio de Almeida Correia VozesE se fizessem o reset* do sistema? [dropcap]M[/dropcap]aio foi-nos trazido sob a influência de Urano, agente do despertar cósmico, das mudanças rápidas, por vezes violentas, propiciador de relâmpagos e tempestades, capaz de libertar sem aviso prévio ideias e frases de grande impacto. Ao que me dizem, a aproximação de Vénus a Saturno trar-nos-á alguma contenção e equilíbrio a partir do último dia do mês, assim se antecipando dias estivais mais calmos. Para quem já esqueceu, o mês que findou foi politicamente vibrante e isso reflectiu-se na visita do Presidente da República, nas romarias a Pequim e Lisboa dos responsáveis políticos, na exaltação das virtudes patrióticas e num sem número de declarações que deveriam merecer reflexão. E, quem sabe, diria mesmo um acto de contrição como aquele que agora aconteceu com o multimilionário Joseph Lau. Condenado pelos tribunais da RAEM por corrupção activa e branqueamento de capitais em pena a que até hoje escapou, depois de ter anunciado a sua oposição à proposta de lei que permitiria ao Governo de Hong Kong facilitar a entrega de infractores em fuga, como ele, às entidades do interior da China, de Macau e de Taiwan, veio de repente dizer que desistiu de se opor à nova lei. Diz que não vai contestá-la, que está muito triste com a desarmonia gerada e que apoia a governação de acordo com a lei por parte do Governo de Hong Kong. E antes? Desconheço se o sujeito entrou nalgum trade-off, nem com quem, mas tanto amor à lei, à Pátria e a Hong Kong, tanto empenho na harmonia deveria terminar com a sua entrega às autoridades da RAEM para cumprir a pena em que foi condenado. Então não seria bonito de um momento para o outro ver toda a bandidagem do colarinho branco (alguma já com os colarinhos encardidos de tanto esquema), de cá e de lá, a entregar-se às autoridades? Isso é que seria amor à Pátria e ao princípio “um país, dois sistemas”. A sério. Certamente que os seus advogados lhe dirão isto. Mas quanto às declarações locais, a primeira pérola veio de Ho Iat Seng, candidato a Chefe do Executivo. E que disse ele? Então não é que antecipando–se à piedosa confissão de Joseph Lau veio dizer que com ele os direitos da comunidade portuguesa irão ser respeitados, que valoriza o seu papel e que serão todos tratados da mesma forma? Quando o ouvi no canal radiofónico da TDM pensei que se tinham enganado a ler as notas. Depois, ao ler no jornal, fiquei com curiosidade de saber em que circunstâncias tais declarações foram produzidas. Se à saída de um karaoke ou se depois de uma noite de insónia. Pelo que se viu com a dispensa dos ex-assessores portugueses da AL, dando-lhes cabo das carreiras profissionais e das vidas familiares, atirando-os para o desemprego, já estaria a ensaiar o seu modelo de protecção à comunidade portuguesa. Sim, porque portugueses não quer dizer comunidade portuguesa. A comunidade é óptima, claro. Os portugueses individualmente é que não, salvo quando se comportam como uns caniches amestrados, adulando quem lhes paga e temperando os pareceres que dão para lhes renovarem os contratos. Mal refeito desta tirada do candidato a Chefe do Executivo, ouvi o Senhor Secretário para a Segurança exaltar as virtudes do jornalismo obediente, mansinho e ao serviço do poder político e das suas causas. Genial. Foi pena que, aproveitando-se a deslocação a Macau de Rocha Vieira, de Fernando Lima e de Martins da Cruz, não tivessem reunido esforços para darem um curso de jornalismo sadio, patriota, aos profissionais locais. Carecidos como eles estão, com o apoio da Fundação Macau e do Instituto Internacional do Dr. Rangel, teria sido um sucesso. Pode ser que o José Carlos Matias se lembre disso numa próxima ocasião, mas não vai ser fácil voltar a reunir na RAEM tantas sumidades versadas em matéria de escutas, rumores e controlo da comunicação social. Esse curso de jornalismo amestrado teria sido particularmente importante numa altura em que a situação da segurança começa a fazer lembrar os piores tempos da administração portuguesa. Esfaqueamentos, cenas de pugilato no Cotai, roubo de milhões de dentro de um casino, aumento da criminalidade violenta, sequestros, gatunagem em fuga e dependente do auxílio das autoridades do outro lado para ser apanhada…; enfim, tanta câmara, tanta polícia, tanta escuta e só há resultados na cobrança de multas de estacionamento e no excesso de velocidade? É claro, por falar em multas, que nada disso tem o peso das declarações do Secretário para os Transportes e Obras Públicas. Por vezes tenho a impressão de que ele perde a paciência com os deputados. Como o compreendo. E o caso não é para menos. Não bastavam as obras do metro ligeiro, as inundações, aos aluimentos de terras, o hospital, os autocarros, os táxis, a qualidade do ar, os plásticos, o terminal marítimo da Taipa, a água que jorra da ETAR de Macau, a China Road and Bridge Corporation zangada e em tribunal por causa de meia dúzia de patacas, os “talentos” espalhados pelos passeios e em risco de serem pisados a qualquer momento pelo deputado Mak Soi Kun, e ainda se vão queixar do estacionamento? Mas onde é que esta gente vive? Qualidade de vida? Andem a pé. Então não gostam de ir todos os anos na marcha do Jornal Ou Mun? Agora podem treinar durante todo o ano, emagrecer saudavelmente. A influência de Urano ainda se fez sentir nas declarações da Secretária para a Administração e Justiça. A Dra. Sónia Chan reconheceu candidamente acreditar que “depois de haver uma sentença que essa vai ser traduzida para a outra língua”. Pois é, se recebesse sentenças saberia que não devia acreditar na imaginação, porque na prática não é verdade. Ainda há dias uma simpática senhora juíza, depois de ter notificado verbalmente em chinês, com tradução simultânea em português ao ouvido do advogado, mais de uma dezena de páginas, dispensou a tradução ao arguido em língua portuguesa, entre outras razões, imagine-se, por falta de meios! Falta de meios? Em Macau? Com o PIB que temos? Ainda se fosse no Canadá ou na Suíça, que não têm casinos decentes, eu poderia entender. Ora, a Senhora Secretária devia começar por dar meios aos tribunais. Para o que bilinguismo melhore e as decisões judiciais possam ser notificadas aos interessados com cópia em papel na língua que os destinatários, advogados ou partes, dominam. Para que se cumpra a Declaração Conjunta Luso-Chinesa e a Lei Básica. Imagine o que seria se os despachos do Chefe do Executivo lhe fossem entregues em servo-croata? É mais ou menos o mesmo. Pareceu-me ver aí alguma condescendência e boa vontade quando afirmou “eu até posso dialogar com os tribunais e alterar a lei actual”. E de que está à espera? Parece-me um bom princípio e só lhe ficaria bem, tanto mais que é a própria que também diz que isso “não é difícil”. O problema está quando, logo a seguir, a Dra. Sónia Chan pergunta: “mas na verdade, e na prática, se fizermos a alteração, o que vai acontecer depois?” (HojeMacau, 28/05/2019, p.7). Ó Senhora Dra., então isso pergunta-se? E o deputado Pereira Coutinho iria responder-lhe? Eu não quero deixá-la na dúvida e posso garantir-lhe que se isso for feito vamos todos, cidadãos residentes e não-residentes, advogados, magistrados, entendermo-nos muito melhor. Vamos ser todos muito felizes. Ainda mais, quero dizer. E logo na Grande Baía, Senhora Dra.! Já viu o benefício que seria? Já nos imaginou a recebermos despachos judiciais, sentenças, acórdãos numa língua que entendemos? E se isso fosse alargado às notificações do Turismo e dos Assuntos Laborais, e a todos os serviços da Administração Pública? Já pensou nisso? A quantidade de ramos de rosas que a AAM e os meus colegas, até os avarentos e que andam sempre à procura de subsídios, não iriam enviar para o seu gabinete. E então se as sentenças viessem por correio electrónico traduzidas nem lhe conto. Alguns até iriam dançar para a Praia Grande, lançar foguetes, sei lá, dar vivas ao futuro querido líder. Hoje vou deixar descansar o Dr. Alexis Tam e o Dr. Lionel Leong. Um porque ainda está a gozar os louros do seu Honoris Causa e a recuperar do jet-lag. O outro porque ainda está a reflectir sobre as razões para não o deixarem ser candidato a Chefe do Executivo. Não convém perturbá-los, ainda têm muito para fazer. Em todo o caso, gostaria de deixar uma palavra de solidariedade e muita compreensão ao Senhor Procurador, Dr. Ip Son Sang. É certo que me parece ver ali um remar contra a maré quando se alerta para a necessidade de contratação de magistrados portugueses “qualificados e experientes” para trabalharem em Macau. Sei que contratar portugueses já será difícil, qualificados e experientes ainda mais. Concordo, aprecio o esforço e também o trabalho que tem desempenhado no sentido da melhoria dos recursos e em matéria de tradução. Espero que o escutem e que lhe dêem razões para sorrir. Porém, onde senti que era mais importante deixar uma palavra de apoio ao MP e à sua hierarquia foi na parte do relatório 2018 em que o estimado Dr. Ip se queixou das dificuldades criadas pelo seu senhorio à acção da instituição que dirige. Homessa? Então não é que o MP enfrentou “de novo” uma acção de despejo, em 2018, “mais uma vez a ‘desocupação forçada’ exigida pelo proprietário para recuperar a unidade”? E que “o caso acabou por ser resolvido com um acordo que previa o aumento do valor de renda”, o que motivou “a incerteza do decurso da negociação, sendo causa de “enorme distúrbio e preocupação ao funcionamento e gestão dos lugares de trabalho do MP” (HojeMacau, 29/05/2019, p.9)? Como é possível isso acontecer? E com um inquilino que tem um batalhão de magistrados e funcionários, conhece a lei, tem-na do seu lado e paga as rendas atempadamente? Senhorio glutão. Imaginem então como será com o desgraçado do inquilino do estúdio, sem força negocial, que está nas mãos dos tubarões das agências de mediação e dos senhorios de Hong Kong e do Interior. Espero que o deputado Chan Chak Mo, presidente da 2.ª Comissão da Assembleia Legislativa, tenha lido com atenção o relatório do MP, em especial nesta parte, esclarecendo depois a opinião pública se o MP também cai na categoria dos “arrendatários trapaceiros”. Não dava jeito nenhum. Sugiro, pois, que se comece a preparar o reset do sistema de governança. Com a época de tufões à porta, e a silly season a entrar com esta força, tantos foram os bugs de Maio que começa a ser difícil distinguir a intromissão dos piratas (hackers) no sistema da acção dos especialistas encartados. * reset: o mesmo que reconfigurar, redefinir, reiniciar
José Simões Morais h | Artes, Letras e IdeiasDiogo Coutinho Docem assassinado [dropcap]E[/dropcap]screver sobre a estadia em Macau do Governador Diogo Coutinho Docem é um exercício bastante difícil devido às confusões dos historiadores sobre a personagem aqui assassinada, assim como os intervenientes e as suas razões. D. Diogo viera para a Ásia com o seu pai Francisco Coutinho Docem, que fora nomeado Governador de Macau a 24 de Maio de 1634 com a promessa verbal do Rei Filipe III de ser Vice-rei da Índia se desempenhasse bem o cargo. Partiram a 13 de Abril de 1635 na armada que trazia para a Índia o Vice-Rei Pedro da Silva (1635-39) e chegaram a Goa a 8 de Dezembro. Aí, D. Francisco cedeu o cargo a Domingos da Câmara de Noronha, que a 29 de Abril 1636 rumou para Macau onde aportou em Agosto, ficando a governar até 1638, substituindo o irmão Manuel, Governador de Macau de 1631 a 1636. Já D. Francisco Coutinho Docem morreu a 2 de Junho de 1636 num combate naval nocturno contra os holandeses no porto de Malaca. D. Diogo, que o acompanhava nessa altura, ficou Capitão da Fortaleza de Malaca de 1636 a 1639, mas incompatibilizou-se com Luís de Sousa Chichorro, que à data exercia o cargo de comandante naval de Malaca e como tal lhe estava subordinado. O diferendo provocou a morte a 70 portugueses e deixou Malaca ainda mais vulnerável, que cairia nas mãos dos holandeses a 14 de Janeiro de 1641, sendo Chichorro na altura e desde 1640 Capitão da Fortaleza. Diogo Docem em 1640 vai transferido para Negapatão no Sri Lanca, donde socorreu Colombo com mantimentos, então também ameaçada pela armada holandesa. Após a queda de Malaca, Docem foi preso em Goa onde aguardou pelo veredicto do Rei sobre a sua culpabilidade nas desavenças, sendo em 1643 libertado por não haver provas concretas e nada se deve ter apurado pois em 1646 foi D. Diogo nomeado pelo Vice-Rei D. Filipe Mascarenhas para o cargo de governador de Macau, na altura com grandes e difíceis problemas para resolver e nada apetecível pois não dava grandes proveitos. Dos antecedentes Ainda antes da chegada da Dinastia Qing à China, já Macau se encontrava numa posição extremamente difícil. Deixara de poder contar com os lucros fabulosos auferidos do comércio com o Japão, pois os portugueses tinham daí sido expulsos definitivamente por um édito publicado em 1639. Os navios da Companhia Britânica das Índias Orientais apareciam no porto de Macau para adquirirem os produtos chineses, sendo a nau London a primeira a chegar em 1635 fretada pelo Vice-rei da Índia para carregar artilharia da fundação de Bocarro. Com a conquista de Malaca, o estreito com o nome da cidade passou a estar controlado pelos holandeses, impedindo aos barcos vindos de Goa a entrada no Oceano Pacífico, pois dominavam também desde 1602 o Estreito de Sunda. A Macau restava o comércio com Macassar e as ilhas de Timor, Solor e Flores. O Rei Filipe III banira em 1634 o comércio entre Macau e Manila, mas este continuou até 1642, quando de facto terminou devido à Restauração da Independência de Portugal em relação a Espanha iniciada a 1 de Dezembro de 1640. Macau apenas dela soube oficialmente a 31 de Maio de 1642 por António Fialho Ferreira, que viera de Lisboa à Cidade do Nome de Deus para o anunciar em nome do novo rei. Como durante todo o período filipino, a praça de Macau tivera sempre hasteada a bandeira portuguesa, foi em 1642 conferido à cidade o título de “Não Há Outra Mais Leal”. O então Governador de Macau D. Sebastião Lobo da Silveira (1638-1644), apesar de endividado pela falta de viagens ao Japão e a viver de empréstimos feitos pelos moradores, para a “aclamação de D. João IV fizera enormes despesas e para se compensar, lançou mão dos soldos do presídio, que montavam a 1200 patacas mensais. Os soldados, vendo-se sem dinheiro, abandonaram os seus postos, deixando indefesas as fortalezas e revoltaram-se”, segundo o padre Manuel Teixeira. Outros problemas ocorridos durante a governação de Sebastião Lobo da Silveira, nomeado pelo Rei Filipe IV de Espanha, foram resolvidos pelo seu sucessor Luís de Carvalho e Sousa, indicado em 1643 Governador de Macau da confiança de D. João IV (1640-56), mas só aqui tomou posse do cargo em Agosto de 1645. Governador assassinado Na frota que levava ao Japão o Embaixador Gonçalo de Siqueira de Sousa veio D. Diogo Coutinho Docem como Governador de Macau. Partiram de Goa a 30 de Abril de 1646 e em Malaca, por estar já em vigor uma trégua, pagaram aos holandeses direitos de 200 patacas por cada galeão, aportando em Macau a 24 de Junho. Desembarcou no dia seguinte D. Diogo, tomando então posse do Governo. A cidade vivia em verdadeiro estado de guerra civil. Em Outubro de 1646, “os soldados, com soldo em atraso, envolveram-se em desordem com os donos das lojas chinesas. O mandarim de Chinsam mandou fechar as Portas do Cerco, impedindo a vinda das provisões e veio a Macau exigir satisfações; . Pouco depois, veio uma chinesa a vender comestíveis a Macau e os soldados roubaram-lhos, usando de violência. Com estas desordens por falta de pagamentos e penúria da cidade, se pôs alguma artilharia em venda”, segundo o Padre Manuel Teixeira, que refere ter em Novembro D. Diogo Coutinho solicitado “a ajuda da frota chinesa, pois Macau via-se cercado de piratas que faziam encarecer os mantimentos; quando se queria proceder contra eles, logo tirava o entendimento aos moradores, para não concordarem nem efectuarem nada de bom em sua defesa. Só confiava no auxílio de Deus e do Rei; pedindo a D. Filipe Mascarenhas que enviasse uma frota com dinheiro para 500 homens, sendo necessário em Macau um presídio pelo menos de 300. De 480 portugueses casados que havia antes, faltava a terça parte; ficaram apenas 160 homens, tendo os homens saído para outras partes, levados pela fome; a terça parte dos que restavam eram velhos e incapazes para as armas. Sem armada não se podia defender Macau. A cidade via-se rodeada de inimigos; piratas no mar, holandeses sobre ela e os espanhóis de Manila. D. Diogo (…) queixava-se ainda dos jesuítas, conhecidos por suas traças, quando entendiam que eram .” Já C. R. Boxer refere, “Parece que a guarnição se amotinou contra ele e contra o Senado, por terem os soldos em atraso. Os soldados tomaram o Forte da Guia, afixaram proclamações sediciosas nas portas das igrejas e apontaram os canhões para o Leal Senado. Os cidadãos, por seu turno, tomaram armas, assaltaram o Palácio do Governo e fizeram em postas o malogrado capitão-geral, que encontraram escondido debaixo da escada.” Deu-se isto nos finais de 1647 e os amotinados, que reagiram violentamente contra a ordem de prisão, eram Jacinto Guterres, Lourenço Meneses Cordeiro, António da Costa Benúchio, João da Costa Benúchio e Diogo Vaz Bavaro. Foi este o único assassinato em toda a história de Macau perpetrado por portugueses na pessoa dum governador.
Rita Taborda Duarte h | Artes, Letras e IdeiasA Pegada de Sísifo A Foz em Delta, de Manuel Gusmão [dropcap]V[/dropcap]inde cá, meu tão certo secretário, que vos quero falar de atrito e gravidade. Porque se de mecânica vive a literatura, que dizer da poesia, essa tão desajeitada engenhoca da linguagem. Pois ouvide e aprendei sobre a física e os mecanismos da linguagem que se regem por medidas outras, mais labirínticas e intricadas que as leis naturais. Que dizeis? Lembrais, contrafeito, que o meu compromisso é confidenciar-te poemas e poetas e não prelecções avulsas de uma ciência mal sabida? Pois não digais tal, meu sempre certíssimo secretário. A poesia não é só da ordem das letras! É, sim, mecânica pura movendo a engrenagem do mundo e suas linguagens; e para bem compreendermos um poema, sua dinâmica, a sua velocidade e aceleração rumo à razão, às ideias, ao coração, à emoção, há que descobrir a fórmula que se sustenta o movimento. Falo-vos do livro de Manuel Gusmão, «A Foz em Delta», título, ele mesmo, metáfora de poesia: a torrente do rio que antes de alcançar o mar se propaga em percursos múltiplos, rasgando a terra em diferentes sulcos, inventado caminhos, descobrindo-lhes sinuosidades itinerantes. A foz em delta é bem o paradigma de uma particular resistência à passagem de água, que se embrenha na terra, antes ainda de mergulhar no oceano, criando pequenas ilhas, areais instáveis, resistindo, por porfia, ao deslize das águas. Ouvide, pois, secretário, aprendendo: «A corrente do rio arrasta consigo a terra que as raízes das árvores têm presa. O rio continua avançando e traz para o meio da foz pequenas ilhas terrestres. Ergue à altura de uma copa de pinheiro manso as imagens dessas ilhas incompletas.» A resistência do falar poético nasce desta simbiose improvável entre terra firme e a força das águas. Nem uma nem outra se vencem: mantém-se um vínculo inusitado, em que água e terra se penetram. Assim é a poesia a desaguar no mundo; mas tal como a terra se distingue dos dedos de rio «arrepanhando as águas», também o poema e a ideologia, a poesia e pensamento político, a poesia e mundo; interpenetrando-se, sempre, nunca se confundindo. Sim, meu tão certo e caro secretário, por isso vos falava do atrito, da resistência. Tantas forças no mundo, conjugando-se para encalhar no poema, abrandá-lo; mas o poema reage, firme e provoca atrito também ao mundo, e atrasa, sim, por pouco que seja o seu movimento. Tal como o atrito, a gravidade. Que dizeis, meu secretário? Que uma pedra caindo pouca influência de atracção tem sobre a terra. Pois sim, não mata, nem mossa causa. Mas alguma coisa há-de moer. E isto que vos digo, o diz magistralmente o poeta e ensaísta Manuel Gusmão, num gesto de um só verso, que vale toda uma poética : « O mundo supõe a poesia para se poder dizer». E, imediatamente, antes, já o poeta explicara essa espécie de atrito, força que poesia exerce face ao mundo. Vinde cá, e aprendei, meu secretário: «A poesia é uma palavra tão carregada de sentido que vibra/ dar outra vez o nome às coisas/ dar outro nome às coisas mostra-as/ a uma luz e segundo uma música diferente.». Onde ides? Continuai, pois, a ler. É com os mestres que se aprende. Reparai que «este dar nome às coisas/faz parte da nossa experiência sensível. «A terra é azul como uma laranja». [Paul Eluard]» A poesia será um modo de criar atrito no mundo, ao mesmo tempo que este exerce também uma força no poema; jogo de esforço e resistência que um e outro se oferecem; o rio a fuçar a terra, rasgando-a em delta, portanto, antes ainda de atingir o mar. O discurso poético, todo ele, desdobra-se como esse discurso de resistência, de per se, e isto independentemente da lógica e da verbalização directamente política, literalmente militante («o comunismo que vem connosco/e para além de nós recomeça») que este livro assume, a moer (rebentando-a tão só aparentemente) a distinção entre poesia e ideologia. Aliás, Foz em Delta acaba por ser (e isso implica uma fundamentação teórica que lhe está implícita, aduzindo-lhe, uma outra noção de atrito, que é a resistência à leitura, pelo confronto desta obra com os livros de poesia anteriores de Manuel Gusmão e o seu ensaísmo) um enraizamento na memória: a memória histórica, que não deixa de ser pessoal (com a convocação da luta de classes; os poemas dedicados a Álvaro Cunhal, um deles «Elogio da terceira coisa», mas também uma historicidade íntima , com o poemas dedicado ao pai e toda uma secção dedicada às filhas e netas. A poesia, vá por que caminhos for, desague na foz, por que ramificações, transforma-se, sobretudo (e também por isso resistência) em memória, assente na consciência histórica; e pouco importa o quão longe se vai no reconhecimento concreto, político, pessoal ou biográfico, quando a palavra instaurada no discurso poético é aquela «carregada do sentido que vibra» , que renomeia as coisas. O mundo, repitamo-lo em sincronia, meu secretário e não o esqueçamos mais, supõe «a poesia para se poder dizer». Por isso, Foz em Delta é poesia e ensaio, em simultâneo, reflexão e desfocamento poético, que coloca mais uma pedra na engrenagem da poesia, e reduzindo, sempre, com a sua força de resistência, atrito, a velocidade do mundo que avança selvagem, capitalista, acelerando. Numa das secções do livro intitulada «Definição de um Território» (o da poesia, meu tão certo secretário?), há um conjunto de parágrafos, subordinados, exactamente, ao título «poesia e resistência». Aí se lê: «A poesia pode ser uma forma de resistência. Pode sê-lo. Sempre, por definição, ou seja, em determinados contextos, sociais, políticos, culturais. Hoje em alguns dos lugares em que a história da modernidade de longa duração continua a vir e a inscrever-se nos tempos, alguma poesia continua a resistir. Ela resiste à quantidade de barbárie em que cada tempo insiste. (…) Dizer que a poesia resiste é afirmar que ela é uma específica resistência à sua completa apropriação pela mente ou pelo espírito. […] . Como forma de vida, a poesia é um fazer e um acontecimento de linguagem que a tem por palco, co-move os sentidos e o corpo & alma dos cidadãos, mobiliza, atravessa e convoca o conhecimento, a ética, e a estética.». Também por isto, os poemas, estes que se exibem como lastro ideológico, político, partidário e militante até, e expressamente, é resistência, sim, uma força de atrito, que influi na cinética do mundo, abrandando-o, mas não, nunca, ideologia, que, a poesia desfoca a linguagem com que aponta, no entanto ao mundo: «A fonte fria/na manhã clara/é de qualquer modo/o foco de luz/que te chega aos olhos.» Diz Silvina Rodrigues Lopes num artigo dedicado a «poesia e ideologia» do livro «Literatura, Defesa do Atrito» (pois é claro, meu tão certo secretário, bem vos dizia, ao início, que as leis da mecânica e da física são, pois, próprias da poesia) que «a nossa vontade de domínio segrega o desejo de plenitude e com ele a ideologia que retira às palavras o seu enigma: transforma a verdade e o desejo que a habita em vontade de verdade, força reactiva ao serviço de uma ordem, uma asfixia. Sem a poesia, que salvaguarda o enigma ao oferecer-se como um gesto ou acto necessário (…) as palavras estariam gastas. Não haveria como responder.» Pois, é verdade, meu tão certo secretário, a linguagem, bem o sabemos, nós dois, é, para o homem, a única unidade de medida do mundo; e poesia é o que impede a erosão das palavras, à possibilidade de renomear o mundo, pondo-o em movimento. Assim, faz-se em simultâneo atrito e caminho, resistência e impulso: é, ao mesmo tempo, a pedra às costas de Sísifo, a montanha que ele repetidamente percorre e, até, o próprio Sísifo, ele mesmo. Repetidamente, deixando a sua pegada no caminho. Manuel Gusmão, A Foz em Delta, Lisboa, Edições Avante, 2018
Andreia Sofia Silva EntrevistaSara F. Costa, vencedora do Prémio Glória de Sant’Anna, sobre Macau: “Um lugar inspirador” O seu livro, “A Transfiguração da Fome”, ganhou o prémio do melhor livro de poesia publicado em países de língua portuguesa. Sara F. Costa reside em Pequim e fala da “dimensão inesperada” que esse reconhecimento lhe trouxe como poetisa, além de destacar o lugar de Macau para a sua obra poética O que representa este prémio para si? É um grande orgulho receber este prémio literário internacional, uma vez que é um prémio atribuído ao melhor livro de poesia editado em países de língua portuguesa durante o ano de 2018. Esta designação é realmente imponente e esta atribuição bastante inesperada. Quando vi que a lista de livros finalistas incluía nomes como Ana Horta, António Cabrita ou João Luís Barreto Guimarães, nunca pensei que o prémio me fosse atribuído. Estes são autores que admiro há muito tempo e é para mim um enorme prazer poder divulgar a minha poesia, também, junto deles. O Prémio Glória de Sant’Anna é um prémio de grande prestígio e graças a esta atribuição pude constatar que prima por uma excelente organização. Trata-se de um grupo muito especial de pessoas que realmente se interessam pela divulgação de valores literários. Como foi o processo de escrita do livro vencedor deste prémio? O meu processo de escrita é simultaneamente visceral e disciplinado. Necessito de organizar o meu espaço mental para que a escrita seja regular, mas preciso de ter algo que me é vital para dizer. Entre a experiência e a escrita. Por vezes não sei se escrevo sobre a experiência ou se experiencio para escrever, mas o que é certo é que nunca dissocio a vivência da escrita. Para que a escrita seja plena é preciso viver plenamente. Até que ponto o livro “A Transfiguração da Fome” é influenciado pela cultura chinesa e pelo idioma? Essa influência é inegável uma vez que foi um livro escrito entre Lisboa e Pequim com passagens por Macau. É um livro influenciado pela cultura chinesa na medida em que muitos poemas neste livro possuem representações culturais da minha passagem por Macau e pela vivência em Pequim. O idioma e a leitura de poesia chinesa também me ajudaram a conceber a minha noção pessoal de poesia. Se pensarmos em Ezra Pound ou William Carlos Williams podemos ver como a poesia chinesa foi introduzida na língua inglesa nas primeiras décadas do século passado como uma reação à forma vitoriana que era, essencialmente, o soneto. Claro que isso aconteceu também porque a poesia chinesa foi introduzida através da tradução em verso livre. A minha concepção essencialmente imagética do poema tem origem nessas traduções da poesia chinesa e japonesa. É também curioso verificar como essa poesia da imagem se cruza tão bem com o simbolismo francês. É nesse cruzamento de influxos que situo a minha poesia. De que forma a vivência na China a marca como poetisa? A vivência em Pequim tem sido surpreendentemente enriquecedora no alargar dos meus horizontes poéticos. Estou envolvida num colectivo artístico internacional que se dedica à criação e manutenção de uma comunidade literária muito dinâmica e muito consolidada. Não só aprendo muito sobre poesia chinesa como também sobre poesia de outras geografias, uma vez que aqui se cruzam poetas de várias nacionalidades. Neste momento organizo um workshop de poesia bi-semanal, o primeiro da cidade, integrado no colectivo de que faço parte chamado Spittoon. Ao nível da poesia chinesa, quais são as suas influências? A noção que há pouco referia da poesia imagética ou poesia-pintura acaba por ser uma grande influência e posso dar como exemplo o poeta Wang Wei da dinastia Tang ou Su Shi da dinastia Song. Hoje em dia, aventuro-me a ler os poemas contemporâneos de autores como Haizi, Chang Yao, Zhangzao, entre outros. Tenho acesso a esta poesia porque tenho bons amigos e amigas que me guiam na descoberta de novos poetas chineses e tem sido uma descoberta muito enriquecedora. No nosso colectivo artístico publicamos novos poetas chineses para inglês como forma de dar uma voz internacional a novos valores literários. Esta experiência é fundamental para estar a par da criação poética na China. Depois de vencer este prémio, que portas se podem abrir? Este prémio acaba por ter, para mim, uma dimensão inesperada. Para além de um pouco mais de visibilidade, já fui abordada com propostas de publicação do livro no Brasil, por exemplo. Da última vez que o meu livro anterior “O Movimento Impróprio do Mundo” foi seleccionado para a lista final do prémio em 2017, recebi um convite para representar poesia contemporânea europeia no Festival Internacional de Poesia de Istambul. É sempre bom ver o nosso trabalho reconhecido e é sempre bom ver que há algum progresso na sempre tímida carreira literária. Todos os pequenos passos contam. Esteve em Macau no festival Rota das Letras. O território passa pelos seus planos literários, seja para escrever sobre ele ou para desenvolver projectos a esse nível? É inevitável que Macau me inspire. Eu tenho uma trajectória peculiar enquanto portuguesa na China. Vivi em Tianjin primeiro, depois visitei muitas partes da China continental e só depois tive contacto com Macau. Encontrar este recanto intercultural que comunica tanto com os portugueses, causa sempre um grande impacto. É sem dúvida um lugar inspirador. Recentemente tive poemas publicados pela revista literária de Hong Kong Cha: An Asial Literary Journal na edição “Writing Macau”. Irei também fazer parte de uma antologia de poetas portugueses com ligações a Macau organizada pelo António MR Martins. Acho que esta ligação entre Macau e a minha poesia ainda está para durar.
Hoje Macau SociedadeRubéola | Caso registado em mulher grávida [dropcap]F[/dropcap]oi diagnosticado um caso de rubéola numa grávida de 14 semanas que trabalha no Star World Hotel Casino. De acordo com uma nota dos Serviços de Saúde, esta mulher no dia 30 de Maio, à tarde, manifestou erupções cutâneas no peito e teve dores de garganta. Na manhã de 31 de Maio, a doente manifestou erupções cutâneas que se espalharam por todo o corpo e recorreu ao Serviço de Urgência do CHCSJ. No mesmo dia, os resultados dos testes laboratoriais revelaram positividade à Rubéola. A doente apesar de manifestar, ainda, erupções cutâneas apresenta um “estado de saúde estável”, apontam os SS. Os serviços alertam ainda para a urgência da vacinação, sendo que a rubéola nos casos de gravidez, em mulheres sem anticorpos, infectadas nas primeiras 16 semanas do parto, pode causar aborto, morte fetal ou danos sérios na saúde dos bebés que podem abranger a surdez, defeitos oculares, doença cardíaca congénita ou atraso mental.
Hoje Macau SociedadeJogo | Receitas cresceram 1,8 por cento em Maio [dropcap]O[/dropcap]s casinos de Macau fecharam o mês de Maio com receitas brutas de 25.952 milhões de patacas, mais 1,8 por cento em relação ao período homólogo de 2018. Contudo, as receitas brutas acumuladas nos primeiros cinco meses do ano continuam a registar um decréscimo de 1,69 por cento em relação a 2018, um resultado que se deve sobretudo às variações negativas registadas em Janeiro e Abril. Em relação ao mês anterior, as receitas brutas das salas de jogo registaram um aumento de 2.364 milhões de patacas.