João Paulo Cotrim h | Artes, Letras e IdeiasAdornar CCB, Lisboa, 1 Dezembro [dropcap]O[/dropcap]utra folha no calendário, se as tivesse, amarfanhando a miserável anterior, com a tristeza pingando para a deste mês. As linhas são pequenas ondas de maré, quem nota perceberá a chuva miudinha? É que me espera, finda esta conversa, tarefa lutuosa. À mesa beira-Tejo do Obra Aberta sentaram-se engenheiro e ilustrador, ambos senhores de outros ofícios. O mano Tiago [Ferreira], da Conserveira de Lisboa e da Academia versão robótica, inclusão de última hora a substituir poeta adoentado, trouxe mão-cheia de questões prementes e desafiantes: a sustentabilidade do comércio tradicional, a inteligência artificial e o absurdo delirante do quotidiano. André [Letria], muito a pretexto do seu – na ilustração, e do pai, José Jorge Letria, no texto –, «Guerra» (ed. Pato Lógico), pintou nuvens ainda mais negras do que as que pontuavam a paisagem e encharcavam camones ao de leve. Bastou trazer as leituras de «O Mundo de Ontem, de Stefan Zweig (ed. Assírio & Alvim), e de «Sobre as Falésias de Mármore», de Ernst Jünger (ed. Vega). O testemunho de uma Europa a cair para dentro, a cavar precipícios no seu coração, ressoa nos nossos dias como nunca. E a brutal alegoria de um Jünger esquecido parece querer ganhar corpo de verdade um pouco por todo o lado. Como bem sabe qualquer objector de consciência, a guerra jamais nos abandonou, apesar dos momentos de ilusão pacificadora. Pior: insecto insidioso, mancha os mapas em inúmeros lugares, faz-se subtil que nem bota da tropa e morde-nos os calcanhares. Mymosa, Lisboa, 3 Dezembro Valha-nos Santa Coincidência! Meio a despropósito, partilhava com velho amigo a minha admiração pelo trabalho sobre a memória, em prosa estilhaçada e vibrante, que o João Paulo Borges Coelho entreteceu em «Ponta Gea» (ed. Caminho). Eis senão quando o escritor atravessa as mesas ao meu encontro. Demorei uns nanosegundos a fazer-me crer no que os meus olhos viam. Um nada, mas que me iluminou o dia. Adiámos prolongamento da conversa e não estou seguro que tenha levado a sério aparvalhada estória. A maré dos pensamentos levou-me depois a uma das personagens maiores do romance, publicado muito antes da Beira, em Moçambique, se liquefazer. «É a primeira e mais persistente lembrança: a água como substância da cidade. Uma água quieta, no mangal como nos capinzais, nos tandos de arroz e nos baldios urbanos cuja noite o monótono som dos grilos trespassava; insidiosa também, na onda paciente que escavava a areia grossa e se espraiava até lamber a raiz torturada das casuarinas, enchendo os corvos de maus presságios e de indignação; e avassaladora, nas chuvadas súbitas e no ar carregado que toldava o horizonte e nos pesava, derrotados, sobre os ombros. Uma água cálida onde nadam todos, aqueles de cujo rasto ainda a espaços me vou apercebendo, e os outros, os que vogam em círculos como peixes aprisionados no aquário do esquecimento.» Barraca, Lisboa, 4 Dezembro A ditadura das circunstâncias foi empurrando a apresentação dos «Poemas», de Georg Trakl, em Lisboa. Para mais queríamos incluir um pequeno concerto dos «No Precipício Era o Verbo», abrindo apetites para novo projecto que se avizinha, todo ele em torno deste poeta do soturno. E foi um dos momentos da noite, o caminho dedilhado do Carlos [Barretto] em direcção a paisagens sonoras graves e pujantes, a corpo a fundir-se com instrumento e a prolongar os versos, deixando-os a ecoar algures no mais íntimo. «Tu regressas sempre, melancolia,/ Oh, doçura da alma solitária./ Um dia dourado abrasa até ao fim.// Humildemente, o paciente curva-se perante a dor/ Ressoando harmonia e uma leve loucura.» Quem, como Trakl o farmacêutico, canta a contumaz melancolia? Esperava que o mano António [de Castro Caeiro], dissertasse um pouco esse obscuro objecto de desejo, mas conteve-se ao mínimo. O Fernando [Pinto do Amaral] encenou belo e cabal enquadramento para o poeta e a época, a vida e os temas, enfim, as paisagens, no fora da geografia como no dentro dos versos. Vão rareando, mas ainda se encontram bons leitores. Nacional, Lisboa, 5 Dezembro Palco soprado bola de cristal dá nisto. «O Futuro Próximo» não apazigua ninguém, antes perturba e desinquieta. Depois dos vibrantes, e bastante mais espelhados, «Presente» e «Futuro Distante», sempre baralhando os tempos, encontro-me prisoneiro de asilo de velhos. Em apneia, estendo as mãos e só toco línguas. Avancemos por entre o patético e o angustiante, com passagem pelo ignominioso. À terceira, o Gonçalo [Waddington] fez entrar «O Nosso Desporto Preferido» definitivamente no campo do negro, ou este cinza-escuro da nuvem que a Ângela Rocha estacionou sobre o lar-palco, sistema vital que ora configura volutas de intestino ora circunvoluções do cérebro. (Ver foto de cena de Filipe Ferreira algures na página). Cérebro-intestino, eis o reflexo maior de uma civilização sem necessidades. Tudo se torna chão, os prazeres e os dissabores. Mas chão enlameado de tanto sentido espezinhado, de tanta ideia perdida, de egos purulentos, de gargalhadas hiperbólicas, de lágrimas tóxicas. De novo: a gargalhada e a lágrima podem bem ser excrescências espremidas na lamela do dia, sem direito a serem vistas ao microscópio. O humano está reduzido a uma erecção, inextinguível priapismo. Até a poesia foi reduzida a automatismo, aqui laudatório, além sentimentalista, sempre nauseabundo. As máscaras, queridos caretos da Antropologia, surgem como sinal gritante da decadência, sem nisso tolherem a expressividade das Carlas [Bolito e Maciel], da Teresa Sobral, do Tónan Quito ou do Gonçalo-Michel, apesar deste, uma vez morto, ter ganho direito ao seu rosto. No envelhecer perdemos individualidade, todos os velhos de manhã serão iguais? Escrito isto, estou ansioso pelo desenlace, que este final soa-me a falso. Um peido. Salitre, Lisboa, 7 Dezembro Em preparação de projecto próximo, o Álvaro [Rosendo] põe-me no complexo sistema mãos-olhos um enormeno catálogo. Pequeno no formato, fechado em mais de cinco dezenas de dobras, mas enorme nos metros desdobrados. E nos instantes que dá a ver. «Tempografias», oriundo de exposição no século passado em galeria sobrevivente e por isso Monumental, capturou o movimento de modelos e estruturas. Não estão nas fotografias a fazer nada, estão a acontecer, mesmo quando um túnel subterrâneo brinca com a luz ou um armário de chaves dança e envelhece a olhos vistos. Mais uma máquina de contar tempo, o mesmo é dizer, gente. Bem que gostaria de ter visto o alvarolhar sobre opíparo jantar de trufas brancas, servido pelo querido Tanka Sapkota, no Come Prima. Desprezamos o peso do perfume. Na mão, no olhar. Tejo, Lisboa, 8 Dezembro Dois pés de cada lado, nunca um no cais, outro na embarcação. O mestre grita, mas soa a sussurro. Nenhum dos três periga, nem marujo ou cais, menos o casco que me recebe com gemido de madeira. Aceitei o elogio e tentei retribuir com vigorosa ternura quando lhe pus a mão, com indirecto respeito, no leme. Fixo o olhar no bugio e o balanço atravessa-me a floresta estúpida de burocracias, temendo que sejam infestantes, inúteis até para chá; e a mortandade inquieta a pedir horizonte de quietude, ou melhor, a gestão dos quedos a trazê-lo à babugem dos dias; mai-lo ego de próximos sorridentes espraiado lago fétido, balde pequeno de vírgulas e embirrações, sinais parados, mortiços, logo antes da mordedura. Atento às profundidades, diz o mestre, foge das margens. Um dos marinheiros de água doce passou repete vezes sem conta, sem ponta de narcisismo: Que belo espelho! E está. Espreito para me ver nas urgências esquecendo o importante. Portanto, adorno.
Hoje Macau China / ÁsiaHong Kong | Carrie Lam promete investigar professores detidos [dropcap]A[/dropcap] líder de Hong Kong disse ontem que o Executivo vai “acompanhar seriamente” o caso dos professores detidos durante os protestos, por temer que a violência se tenha tornado norma nas escolas da região semi-autónoma chinesa. Em conferência de imprensa, que antecedeu a reunião semanal do Conselho Executivo, Carrie Lam observou que 40 por cento das seis mil pessoas detidas nos últimos seis meses de protestos são estudantes, de acordo com a emissora pública RTHK. A líder do Executivo afirmou estar muito preocupada ao ver que as detenções incluem crianças de cerca de 300 escolas secundárias do território, indicou a rádio. A violência “entrou no ‘campus’ das escolas” e isso afecta a segurança dos alunos, disse Lam, que acrescentou ter já encarregado o responsável pela pasta da educação de investigar os professores detidos nos protestos. Professores e vários alunos foram detidos na segunda-feira por suspeita de tentar bloquear estradas em Sheung Shui. No mesmo dia, a polícia disse ter descoberto duas bombas de fabrico caseiro perto da escola secundária Wah Yan. “Ambos os dispositivos têm apenas uma função: matar e mutilar pessoas”, disse o responsável do Departamento de Desactivação de Explosivos da Polícia de Hong Kong, Alick McWhirter. “Dada a quantidade de explosivos e fragmentação, se esses dispositivos tivessem sido colocados e se tivessem funcionado, eles teriam matado e ferido um grande número de pessoas”, acrescentou. Os responsáveis da escola afirmaram já publicamente não terem encontrado “qualquer prova de professores ou alunos terem sido responsáveis por colocar ou fabricar” engenhos explosivos. “O local onde as bombas foram descobertas pertencia à escola, mas é uma área aberta fora dos portões e por isso acessível ao público”, disse a escola, em comunicado. Tudo na mesma De acordo com o jornal South China Morning Post, Carrie Lam voltou a reiterar, ainda na conferência de imprensa, que não pretende fazer mudanças na equipa governativa, depois de vários órgãos de comunicação social locais terem noticiado que a secretária da Justiça, Teresa Cheng Yeuk-wah, pediu a demissão no mês passado. “De tempos em tempos, nos últimos meses, sempre houve alguns rumores e especulações sobre uma mudança de equipa, incluindo os principais funcionários e os conselheiros executivos”, disse Lam. “A minha primeira prioridade agora é restaurar a lei e a ordem em Hong Kong”, afirmou. Cerca de 800.000 manifestantes pró-democracia, segundo a organização Frente Cívica dos Direitos Humanos, marcharam no domingo pelas ruas de Hong Kong, um dia antes de se assinalarem seis meses de protestos antigovernamentais.
admin China / ÁsiaHong Kong | Carrie Lam promete investigar professores detidos [dropcap]A[/dropcap] líder de Hong Kong disse ontem que o Executivo vai “acompanhar seriamente” o caso dos professores detidos durante os protestos, por temer que a violência se tenha tornado norma nas escolas da região semi-autónoma chinesa. Em conferência de imprensa, que antecedeu a reunião semanal do Conselho Executivo, Carrie Lam observou que 40 por cento das seis mil pessoas detidas nos últimos seis meses de protestos são estudantes, de acordo com a emissora pública RTHK. A líder do Executivo afirmou estar muito preocupada ao ver que as detenções incluem crianças de cerca de 300 escolas secundárias do território, indicou a rádio. A violência “entrou no ‘campus’ das escolas” e isso afecta a segurança dos alunos, disse Lam, que acrescentou ter já encarregado o responsável pela pasta da educação de investigar os professores detidos nos protestos. Professores e vários alunos foram detidos na segunda-feira por suspeita de tentar bloquear estradas em Sheung Shui. No mesmo dia, a polícia disse ter descoberto duas bombas de fabrico caseiro perto da escola secundária Wah Yan. “Ambos os dispositivos têm apenas uma função: matar e mutilar pessoas”, disse o responsável do Departamento de Desactivação de Explosivos da Polícia de Hong Kong, Alick McWhirter. “Dada a quantidade de explosivos e fragmentação, se esses dispositivos tivessem sido colocados e se tivessem funcionado, eles teriam matado e ferido um grande número de pessoas”, acrescentou. Os responsáveis da escola afirmaram já publicamente não terem encontrado “qualquer prova de professores ou alunos terem sido responsáveis por colocar ou fabricar” engenhos explosivos. “O local onde as bombas foram descobertas pertencia à escola, mas é uma área aberta fora dos portões e por isso acessível ao público”, disse a escola, em comunicado. Tudo na mesma De acordo com o jornal South China Morning Post, Carrie Lam voltou a reiterar, ainda na conferência de imprensa, que não pretende fazer mudanças na equipa governativa, depois de vários órgãos de comunicação social locais terem noticiado que a secretária da Justiça, Teresa Cheng Yeuk-wah, pediu a demissão no mês passado. “De tempos em tempos, nos últimos meses, sempre houve alguns rumores e especulações sobre uma mudança de equipa, incluindo os principais funcionários e os conselheiros executivos”, disse Lam. “A minha primeira prioridade agora é restaurar a lei e a ordem em Hong Kong”, afirmou. Cerca de 800.000 manifestantes pró-democracia, segundo a organização Frente Cívica dos Direitos Humanos, marcharam no domingo pelas ruas de Hong Kong, um dia antes de se assinalarem seis meses de protestos antigovernamentais.
Pedro Arede Eventos Festival Internacional de Cinema - EspecialGitanjali Rao, realizadora de Bombay Rose: “É possível contar inúmeras verdades dolorosas através da arte” Gintali Rao decidiu contar uma história sobre Bombaím e as suas pessoas através de quadros animados. Bombay Rose é o único filme de animação seleccionado para a Competição Internacional do Festival de Cinema de Macau e, segundo a actriz e realizadora indiana, fala de trabalho infantil, homossexualidade e dos “heróis” que não têm histórias de sucesso para contar Bombay Rose é uma história sobre restrições, amor e busca por novas paisagens e condições de vida. Que mensagem pretende passar com este filme? [dropcap]E[/dropcap]ssencialmente queria contar esta história há muito tempo, que fala de duas personagens, que imigraram para Bombaím. Vivo rodeada de pessoas como eles diariamente em Bombaím e descobri que as suas histórias nunca são contadas porque não são histórias de sucesso, não são as histórias convencionais. Mas é muito interessante de conhecer, do ponto de vista humano, as dificuldades pelas quais passaram, as pequenas aldeias de onde vieram e perceber, chegados a Bombaím, que nem todos os seus sonhos se tornaram realidade. Por isso queria contar uma história sobre como enfrentar as dificuldades e o que tiveram de fazer para sobreviver. Aqui não se trata de uma sobrevivência normal, são jovens que também se apaixonam, assistem a filmes de Bollywood e que também têm as suas fantasias, escapes e sentem falta do sítio de onde vieram. Por isso, este filme fala destas questões complexas e da forma como a cidade lida com elas, mantendo estas pessoas longe dos privilégios dos mais ricos, pois eles constroem, limpam e mantêm a cidade, mas são quase obrigados a viver na rua. Bombay Rose aborda vários temas sociais, novos e intemporais, que são críticos na sociedade, como a religião ou a homossexualidade. Como é que estas questões são abordadas no filme? Para mim, quando penso em personagens elas vêm com os seus problemas, porque é assim que acontece na realidade. É impossível separar alguém da língua e cultura do sítio de onde veio. Quando estas pessoas chegam a um novo sítio têm de sobreviver e estão constantemente a ser confrontadas com questões éticas acerca daquilo que devem ou não fazer e a maneira como lidam com essas situações. Queria que tudo isso viesse com as personagens, não queria que fossem só bonitas e simples para as pessoas as perceberem melhor. As personagens têm de trazer consigo os seus problemas e, a partir daí, faz sentido contar as suas histórias e de que forma conseguiram ultrapassar os problemas. Porque há três ou quatro personagens, e cada uma vem de um sítio diferente e tem um contexto diferente, retratando também um problema diferente, quer seja trabalho infantil ou a homossexualidade. Aqui, podemos fazer de duas formas. Ou não mostramos os problemas e só damos a ver as partes boas, ou mostramos os dois lados. Para mim é bom mostrar as duas partes e acreditar que é possível lutar e sobreviver. Para mim esses é que são os heróis. Não se trata de ter muito sucesso, mas de pequenos sucessos perante as dificuldades. Porquê animação e como enveredou pelo mundo do cinema? Depois de estudar comecei a trabalhar num estúdio onde aprendi animação. Ser actriz foi algo que surgiu em paralelo com o meu trabalho diário e com os estudos, porque eu era actriz de teatro e não tinha dinheiro para sobreviver se só fizesse teatro. Por isso, para mim, a animação foi algo que aprendi fazendo e foi uma forma de trazer as minhas qualidades artísticas enquanto pintora, para a realização. Mas também o que aprendi como actriz foi muito útil na animação para fazer com que as personagens do filme se comportem de forma realista, pois não possuem nenhum tipo de exagero nos seus gestos, são quase como pessoas reais. Nem mesmo actores são tão realistas. Para mim trata-se sempre de pintar, frame a frame, sem fazer qualquer tipo de animação 3D. Adoro fazê-lo sozinha e, para além disso, da forma como eu vejo a história, é possível contar inúmeras verdades dolorosas através da arte, porque se torna mais poético, torna-se lírico e estético. Acho que não conseguiria contar assuntos tão brutais num filme com actores. Como vê actualmente o cinema asiático? Para o ocidente é uma revelação mas para nós, a verdade é que temos feito isto desde sempre. Acho que o que tem acontecido ultimamente é que o espectro mudou. Quando era mais nova e procurava filmes nos anos 90 não via assim tantos filmes asiáticos, via sim muitos filmes europeus a toda a hora, em festivais. Era essa a influência. E os filmes americanos que apareciam nas salas de cinema. Até num país como a Índia, onde existem mais de 20 regiões diferentes, com línguas diferentes e que fazem o seu próprio cinema. Acho que a exposição daquilo que temos estado a fazer há muitos anos na Ásia está a tornar-se cada vez mais interessante para o resto da Europa. Na minha opinião, isto também acontece porque estes países são jovens em termos de desenvolvimento e têm muito mais coisas novas para dizer e isso está a tornar-se cada vez mais interessante para a audiência global. Na Ásia existe uma geração mais nova que está agora a fazer filmes em oposição ao ocidente onde as gerações mais antigas estão a fazer filmes. Por isso agora acho que o interesse está naquilo que é fresco, o que é novo e é bom, porque fazia falta há muito tempo. Sente que o IFFAM pode ser um veículo importante para esse crescimento? Sem dúvida. Acho que tudo isto está a acontecer na Ásia porque os países daqui estão a levar o cinema muito mais a sério e não apenas como um negócio. Porque nos países asiáticos é comum ver menos aposta na arte e mais no negócio. Com os festivais, é dada maior importância à parte artística, por isso eventos como este estão a fazer a diferença na forma como o público vê filmes. Quando era mais nova existia apenas um festival na Índia, agora devemos ter cerca de 100, em apenas 20/25 anos. Por isso está definitivamente a fazer a diferença.
João Luz Manchete SociedadeMetro Ligeiro abre com bilhetes grátis até ao fim do ano O Metro Ligeiro abriu ontem a Linha da Taipa. Três horas e meia depois da cerimónia de inauguração, as primeiras carruagens começaram a circular. Os preços dos bilhetes, para quem paga em dinheiro, variam entre as 6 e as 10 patacas, consoante a distância percorrida. Quem pagar com o cartão do transporte terá um desconto de 50 por cento, seguindo o princípio das tarifas aplicadas aos autocarros [dropcap]O[/dropcap]ntem foi um dos dias mais aguardados pelo secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário. Depois de mais de uma década, pelas 11h, realizou-se a cerimónia de entrada em funcionamento da Linha da Taipa do Metro Ligeiro de Macau, com as primeiras carruagens a circular a partir das 15h33 (3h33, hora escolhida tendo em conta o carácter auspicioso do número 3 na cultura chinesa). “Penso que tem a ver com Feng Shui, presumo que o 3 é muito próximo da palavra Vida em chinês, portanto, é para correr bem, para que tenha uma nova e saudável vida”, explicou o secretário da tutela a escassas horas da partida da primeira composição. Depois do discurso de Ho Cheong Kei, presidente da Sociedade do Metro Ligeiro de Macau, Raimundo do Rosário mostrou um misto de emoções. No mesmo dia em que abriu ao público, ficou esclarecido o mistério quanto às tarifas do transporte, que será por zonas, mas tendo o preço dos autocarros como padrão. Assim sendo, e segundo despacho assinado pelo Chefe do Executivo e publicado ontem em Boletim Oficial, as tarifas para quem pagar em dinheiro será de 6 patacas para um percurso que passe por até três estações, 8 patacas para uma viagem até 6 estações e 10 patacas para a linha completa. Quem tiver o cartão do Metro Ligeiro, à semelhança do que acontece nos autocarros públicos, paga metade destes valores, ou seja, 3, 4 e 5 patacas consoante a distância percorrida. Estão isentos do pagamento de tarifa as crianças com altura inferior a um metro, bem como os titulares de cartão electrónico para idosos ou para pessoas portadoras de deficiência. Os estudantes beneficiam de redução da tarifa na ordem dos 75 por cento. A partir do momento em que o título de transporte é validado, o passageiro tem 60 minutos para permanecer na zona de acesso pago. “Tivemos grande preocupação com o preço dos bilhetes, para que seguissem o mesmo sistema dos autocarros, com uma diferença. Porque o sistema do metro é muito caro, achámos que não era razoável fazer como nos autocarros. Entendemos que não deveria haver um preço fixo, e criámos o sistema de zonas”, explicou o secretário. Para já, o Governo não pondera introduzir passes, também à semelhança dos autocarros. Regresso ao futuro Depois de estimar que a obra completa custaria 11 mil milhões de patacas, Raimundo do Rosário revelou ontem que o preço final para meter a circular o Metro Ligeiro na Linha da Taipa, se fixou em 10,2 mil milhões de patacas. Porém, a despesa que a obra implicou não deve referência para o futuro alargamento da rede, de acordo com o secretário para os Transportes e Obras Públicas. Isto porque uma parcela significativa da obra pagou a construção do Parque de Materiais e Oficina, custo irrepetível. Outra despesa foi para o “coração” operacional do transporte, invisível à vista dos passageiros, que é a sala de controlo das carruagens (que circulam sem condutor, com tracção eléctrica e sobre carris de betão). Finalmente, os trabalhos de construção civil necessários para a operação foram, naturalmente, uma parte significativa da despesa. Quanto à extensão da rede que trará o transporte para a Península de Macau, mais precisamente para a Estação da Barra, o secretário sublinhou que irá custar 4,5 mil milhões de patacas e estará pronta até 2023. Além das despesas de manutenção e segurança, há um número que demonstra a enormidade do projecto em termos financeiros. “Estimamos que o custo anual de electricidade para a Linha da Taipa e do Parque de Materiais e Oficina será na ordem dos 40 milhões de patacas por ano”, revelou Raimundo do Rosário. Segundo o governante, o preço da factura a pagar à CEM, além de demonstrar que o funcionamento do Metro Ligeiro não será barato, coloca em perspectiva os preços das tarifas, uma receita “que não servirá de muito”. O percurso entre a primeira e última estação, com as devidas paragens, deverá rondar 25 minutos para percorrer os 9,3 quilómetros da Linha da Taipa. O Governo adquiriu 110 carruagens, com uma capacidade máxima de 100 pessoas por carruagem, e cada composição terá entre duas e quatro carruagens, num total de 400 pessoas. Balanço de cinco anos Apesar de não se querer comprometer com um número, Raimundo do Rosário referiu que existe uma estimativa de cerca de 20 mil passageiros por dia, “um valor altamente falível, porque tem vindo sucessivamente a ser ajustado”. Ainda assim o governante não arrisca prever o futuro. “Como se trata de um meio de transporte novo, temos muita dificuldade em acertar. Porque não faço ideia do grau de receptividade que o Metro Ligeiro vai ter”, referiu Raimundo do Rosário. Uma das formas de cativar passageiros são as viagens grátis até ao fim do ano. “Fizemos isso para dar tempo às pessoas, para ver se as atraímos. Recomendo vivamente que andem, pelo menos, de um ponto de vista de lazer. Acho que vale a pena um lugar à janela porque dá outra perspectiva e permite ver outra Taipa. Recomendo que todos vejam a Taipa de um plano mais elevado”. No dia em que foi inaugurado o primeiro transporte sobre carris de Macau, Raimundo do Rosário puxou a fita atrás e fez um resumo dos trabalhos realizados para o Metro Ligeiro durante o mandato que está prestes a terminar. A primeira pedra no caminho foi o contrato para a construção do Parque de Materiais e Oficina. “Tomei posse em Dezembro de 2014 e levámos um ano a chegar a acordo com a empresa. Julgava, na altura, que demorava menos tempo, e que resolvia isto nuns meses, mas foi necessário um ano”, recordou Raimundo do Rosário. Outro processo moroso foi a contratação e formação de mais de seis centenas de profissionais. “Foram contratadas e formadas mais de 600 pessoas que vão assegurar o funcionamento desta linha a partir de esta tarde [ontem]. Cerca de 80 por cento destes trabalhadores são residentes de Macau”, explicou o secretário. Peso a mais Além da extinção do Gabinete para as Infra-Estruturas de Transportes, e da criação da sociedade que irá gerir o Metro Ligeiro, sob a alçada da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego, a produção legislativa foi outra das questões que implicou tempo. “Tudo na vida precisa de legislação”, vaticinou o secretário referindo-se à Lei do Metro Ligeiro, o regulamento administrativo e aos despachos necessários para a operação. Depois de completa a cerimónia, Raimundo do Rosário era um homem visivelmente emocionado. “Por um lado, estou muito contente, mas por outro estou um pouco apreensivo. À tarde, quando isto começar, faço votos para que tudo corra bem. Tenho consciência, que a primeira impressão é muito importante, fizemos tudo e mais alguma coisa para que tudo corra bem, não só no primeiro dia, mas nos restantes”, referiu. Porém, cerca de meia hora depois da entrada em funcionamento ao público, por volta das 16h, um alerta do sistema de monitorização de segurança das composições soou quando o metro chegou à Estação do Posto Fronteiriço da Flor de Lótus, em direcção à Estação do Terminal Marítimo da Taipa. Para garantir a segurança da viagem, todos os passageiros foram transferidos para outras composições, operação que não foi completada prontamente porque o metro seguinte estava sobrelotado o que levou alguns passageiros a permanecer na plataforma. Em comunicado, a Sociedade do Metro Ligeiro de Macau referiu que “vai proceder à revisão de todas as medidas implementadas no primeiro dia de operação”. Tal como apontou Raimundo do Rosário, a preocupação principal com a entrada em funcionamento do Metro Ligeiro é a segurança e o funcionamento regular e sem contratempos. “Mas cá estamos para gerir contratempos, que eu espero que não haja”, referiu o Governante. Opinião de arquitecto O arquitecto Rui Leão, que marcou presença na cerimónia, declarou que, “independentemente de todos os atrasos e contratempos”, o Metro Ligeiro é “muito importante como um projecto de futuro em Macau”. O arquitecto prometeu usar o transporte, sempre que possível, mas ressalvou que a eficácia depende “articulação com o sistema de autocarros”, a via para rentabilizar e tornar útil, a Linha da Taipa. “Para já é só uma linha, mas temos de perceber que este é um projecto a longo-prazo. Tem de se dar um primeiro passo, e este já tem uma extensão bastante grande. O mais importante agora é continuar o planeamento e construção da rede”, concluiu. Números a realçar Gasto anual com electricidade: 40 milhões de patacas Estimativa do número de passageiros por dia: 20 mil passageiros Custo total da Linha da Taipa: 10,2 mil milhões de patacas Extensão da Linha da Taipa: 9,3 quilómetros Duração do percurso completo: perto de 25 minutos Carruagens: 110, com capacidade máxima para 100 pessoas por carruagem
Hoje Macau SociedadeFronteira | Jornalista retido durante duas horas [dropcap]U[/dropcap]m jornalista do South China Morning Post, Phila Siu, esteve ontem retido durante cerca de duas horas no Terminal do Porto Exterior, depois de ter viajado para Macau de Ferry, mas acabou por conseguir entrar. A situação foi revelada pelo deputado José Pereira Coutinho, com quem o profissional do jornal de Hong Kong tinha uma entrevista agendada. “O jornalista chegou às 11 da manhã ao Terminal Marítimo de Macau e ficou retido pelos Serviços de Emigração. Ligou-me às 13h00, dizendo que estava dentro de uma pequena sala detido pelas autoridades policiais”, disse o deputado. Depois de receber a chamada, Coutinho foi ao terminal e o jornalista acabou por conseguir entrar: “Por felicidade após 45 minutos libertaram o jornalista que conduzi no meu carro particular. Ainda bem que ficou tudo resolvido”, revelou.
admin SociedadeFronteira | Jornalista retido durante duas horas [dropcap]U[/dropcap]m jornalista do South China Morning Post, Phila Siu, esteve ontem retido durante cerca de duas horas no Terminal do Porto Exterior, depois de ter viajado para Macau de Ferry, mas acabou por conseguir entrar. A situação foi revelada pelo deputado José Pereira Coutinho, com quem o profissional do jornal de Hong Kong tinha uma entrevista agendada. “O jornalista chegou às 11 da manhã ao Terminal Marítimo de Macau e ficou retido pelos Serviços de Emigração. Ligou-me às 13h00, dizendo que estava dentro de uma pequena sala detido pelas autoridades policiais”, disse o deputado. Depois de receber a chamada, Coutinho foi ao terminal e o jornalista acabou por conseguir entrar: “Por felicidade após 45 minutos libertaram o jornalista que conduzi no meu carro particular. Ainda bem que ficou tudo resolvido”, revelou.
João Santos Filipe Manchete SociedadeEleições | Wong Wai Man condenado por violação de liberdade de reunião e manifestação Em Setembro de 2017, o “soldado comunista” pegou no microfone e acusou o líder da Lista Novo Macau de ser um “falso democrata” e “homossexual”. Ontem foi condenado a pagar uma multa de 10.800 patacas, mas promete recorrer da decisão [dropcap]O[/dropcap] candidato às legislativas Wong Wai Man, conhecido pelas roupas do Partido Comunista e pelos gritos de guerra, foi condenado a pagar uma multa de 10.800 patacas pela prática do crime de violação da liberdade de reunião e manifestação. A sentença do caso que envolvia ainda os também cabeças de lista do acto eleitoral de 2017, Lei Kin Yun e Lee Sio Kuan, foi lida ontem, com estes dois arguidos a serem absolvidos. De acordo com a juíza, Wong foi punido porque no dia 13 de Setembro de 2017, ou seja, durante o período eleitoral, actuou com dolo, quando perturbou uma acção de campanha da lista apoiada pela Associação Novo Macau. Segundo a sentença, o tribunal deu como provado que o Wong Wai Man utilizou um carrinho-de-mão com um altifalante para gritar que Sulu Sou era “um falso democrata” e “homossexual”, numa tentativa de intimidar os membros da lista. O “soldado comunista” viu-lhe aplicada uma pena de 120 dias de multa, que correspondeu ao valor de 90 patacas por dia. Segundo a Lei Eleitoral da Assembleia Legislativa da RAEM, o crime de violação da liberdade de reunião e manifestação tem como pena máxima 360 dias de multa, ou pena de prisão de 3 anos. Após a leitura, a juíza teve o cuidado de perguntar a Wong Wai Man, assim como aos outros arguidos, se tinham percebido a sentença. Todos responderam que sim, mas o “soldado comunista” foi mais longe: “Vou recorrer da pena porque tenho liberdade de expressão!”, atirou. Momento caricato A sentença do caso foi lida ontem à tarde no Tribunal Judicial de Base (TJB) e apenas compareceram à sessão os três arguidos, que estiveram sempre juntos. Segundo o tribunal, os outros dois arguidos foram absolvidos porque “as provas circunstanciais não indicaram que tanto Lee Sio Kuan como Lei Kin Yun tivessem conhecimento que decorria uma acção de campanha”. No entanto, Lei Kin Yun mostrou-se insatisfeito e pediu para usar da palavra para “complementar alguns factos sobre o caso”. Porém, Wong interrompeu-o: “Cala-te! Não foste considerado culpado”, afirmou o único condenado, num tom de voz elevado. Lei Kin Yun ainda começou a defender que não havia uma acção de campanha naquela altura porque a lista de Sulu Sou estava fora dos locais autorizados para acções do género. Contudo, acabou mesmo por acatar o “conselho” de Wong Wai Man e calou-se. Os factos analisados no julgamento decorreram a 13 de Setembro de 2017, em plena campanha para as eleições legislativas, quando a lista Associação do Novo Progresso de Macau, agendou uma acção no cruzamento entre a Rua do Canal Novo e a Rua Nova da Areia Preta. Apesar de tudo estar a decorrer de forma pacífica, surgiu no local um grupo de pessoas, onde se incluíam Wong Wai Man, Lee Kin Yun, e Lee Sio Kuan, que se intrometeu na acção.
admin Manchete SociedadeEleições | Wong Wai Man condenado por violação de liberdade de reunião e manifestação Em Setembro de 2017, o “soldado comunista” pegou no microfone e acusou o líder da Lista Novo Macau de ser um “falso democrata” e “homossexual”. Ontem foi condenado a pagar uma multa de 10.800 patacas, mas promete recorrer da decisão [dropcap]O[/dropcap] candidato às legislativas Wong Wai Man, conhecido pelas roupas do Partido Comunista e pelos gritos de guerra, foi condenado a pagar uma multa de 10.800 patacas pela prática do crime de violação da liberdade de reunião e manifestação. A sentença do caso que envolvia ainda os também cabeças de lista do acto eleitoral de 2017, Lei Kin Yun e Lee Sio Kuan, foi lida ontem, com estes dois arguidos a serem absolvidos. De acordo com a juíza, Wong foi punido porque no dia 13 de Setembro de 2017, ou seja, durante o período eleitoral, actuou com dolo, quando perturbou uma acção de campanha da lista apoiada pela Associação Novo Macau. Segundo a sentença, o tribunal deu como provado que o Wong Wai Man utilizou um carrinho-de-mão com um altifalante para gritar que Sulu Sou era “um falso democrata” e “homossexual”, numa tentativa de intimidar os membros da lista. O “soldado comunista” viu-lhe aplicada uma pena de 120 dias de multa, que correspondeu ao valor de 90 patacas por dia. Segundo a Lei Eleitoral da Assembleia Legislativa da RAEM, o crime de violação da liberdade de reunião e manifestação tem como pena máxima 360 dias de multa, ou pena de prisão de 3 anos. Após a leitura, a juíza teve o cuidado de perguntar a Wong Wai Man, assim como aos outros arguidos, se tinham percebido a sentença. Todos responderam que sim, mas o “soldado comunista” foi mais longe: “Vou recorrer da pena porque tenho liberdade de expressão!”, atirou. Momento caricato A sentença do caso foi lida ontem à tarde no Tribunal Judicial de Base (TJB) e apenas compareceram à sessão os três arguidos, que estiveram sempre juntos. Segundo o tribunal, os outros dois arguidos foram absolvidos porque “as provas circunstanciais não indicaram que tanto Lee Sio Kuan como Lei Kin Yun tivessem conhecimento que decorria uma acção de campanha”. No entanto, Lei Kin Yun mostrou-se insatisfeito e pediu para usar da palavra para “complementar alguns factos sobre o caso”. Porém, Wong interrompeu-o: “Cala-te! Não foste considerado culpado”, afirmou o único condenado, num tom de voz elevado. Lei Kin Yun ainda começou a defender que não havia uma acção de campanha naquela altura porque a lista de Sulu Sou estava fora dos locais autorizados para acções do género. Contudo, acabou mesmo por acatar o “conselho” de Wong Wai Man e calou-se. Os factos analisados no julgamento decorreram a 13 de Setembro de 2017, em plena campanha para as eleições legislativas, quando a lista Associação do Novo Progresso de Macau, agendou uma acção no cruzamento entre a Rua do Canal Novo e a Rua Nova da Areia Preta. Apesar de tudo estar a decorrer de forma pacífica, surgiu no local um grupo de pessoas, onde se incluíam Wong Wai Man, Lee Kin Yun, e Lee Sio Kuan, que se intrometeu na acção.
Hoje Macau PolíticaTransição | Paulo Cunha Alves elogia gestão de Macau [dropcap]O[/dropcap] Cônsul-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, Paulo Cunha Alves, elogiou os feitos alcançados pelo território após a transferência de soberania. Numa entrevista à Xinhua, o diplomata sublinhou igualmente o papel de Macau como uma plataforma. “Macau sempre funcionou como um elo de ligação entre Portugal e a China e como uma porta de chegada ao Oriente. Neste sentido, Macau assume um papel de catalisador nas relações bilaterais nos mais diversos domínios, desde o político ao comercial, do cultural ao da educação”, disse Paulo Cunha Alves, à agência estatal noticiosa. “As principais vantagens de Macau têm a ver com a concentração de esforços e meios numa plataforma única que é o Fórum Macau”, sublinhou. O Cônsul-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong destacou também que desde a transição, há 20 anos, que o país europeu tem prestado atenção à aplicação do princípio um país, dois sistemas, que está a ser bem concretizado e ao desenvolvimento do território, que segundo a Xinhua, foi elogiado na vertente política, económica e social. A cooperação entre Macau e Portugal no turismo foi outra das áreas mencionadas, e Paulo Cunha Alves afirmou que “não só é essencial treinar os profissionais do sector, como também promover uma maior fluxo de turistas entre Portugal e Macau”.
admin PolíticaTransição | Paulo Cunha Alves elogia gestão de Macau [dropcap]O[/dropcap] Cônsul-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, Paulo Cunha Alves, elogiou os feitos alcançados pelo território após a transferência de soberania. Numa entrevista à Xinhua, o diplomata sublinhou igualmente o papel de Macau como uma plataforma. “Macau sempre funcionou como um elo de ligação entre Portugal e a China e como uma porta de chegada ao Oriente. Neste sentido, Macau assume um papel de catalisador nas relações bilaterais nos mais diversos domínios, desde o político ao comercial, do cultural ao da educação”, disse Paulo Cunha Alves, à agência estatal noticiosa. “As principais vantagens de Macau têm a ver com a concentração de esforços e meios numa plataforma única que é o Fórum Macau”, sublinhou. O Cônsul-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong destacou também que desde a transição, há 20 anos, que o país europeu tem prestado atenção à aplicação do princípio um país, dois sistemas, que está a ser bem concretizado e ao desenvolvimento do território, que segundo a Xinhua, foi elogiado na vertente política, económica e social. A cooperação entre Macau e Portugal no turismo foi outra das áreas mencionadas, e Paulo Cunha Alves afirmou que “não só é essencial treinar os profissionais do sector, como também promover uma maior fluxo de turistas entre Portugal e Macau”.
Hoje Macau PolíticaLee Chong Cheng regressa à política e entra no Conselho Executivo ao lado de Iau Teng Pio e Frederico Ma [dropcap]O[/dropcap] deputado Iau Teng Pio, nomeado pelo Chefe do Executivo, e o antigo deputado Lee Chong Cheng, ligado à Federação das Associações dos Operários de Macau, são os dois novos rostos que fazem parte do Conselho Executivo, que alberga 11 membros. A notícia foi avançada ontem pela TDM Rádio Macau, que destaca ainda a escolha de Frederico Ma, actual presidente do Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia, para substituir Alexandre Ma, membro do Conselho Executivo desde 1999. Chan Meng Kam, empresário e ex-deputado à Assembleia Legislativa deixa este organismo que aconselha o Chefe do Executivo na tomada de decisões. A TDM Rádio Macau assegura, no entanto, que a comunidade de Fujian vai continuar a estar representada. Por sua vez, a comunidade macaense mantém-se representada por Leonel Alves, onde desempenha funções desde 2004. Chan Chak Mo e Peter Lam mantêm-se nos cargos. André Cheong, o novo secretário para a Administração e Justiça, também deverá estrear-se neste organismo. Alexis Tam em Lisboa O ainda secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, deixa o Governo, mas vai continuar ligado à Administração, uma vez que irá chefiar a delegação económica e comercial de Macau em Lisboa, noticiou também a TDM Rádio Macau. Alexis Tam tomou posse como secretário em 2014. Sónia Chan, que ainda detém o cargo de secretária para a Administração e Justiça, vai assumir a liderança da futura comissão de fiscalização das empresas públicas, que se espera seja criada a curto prazo. Já Lionel Leong, secretário para a Economia e Finanças, decidiu fazer uma pausa na vida pública e política e deverá ingressar na vida académica, para fazer um doutoramento. Ainda de acordo com a TDM Rádio Macau, Alex Vong, responsável pelos Serviços de Alfândega, deverá regressar a uma casa que conhece bem, o Instituto do Desporto, organismo que já presidiu. O Lam, chefe de gabinete do Chefe do Executivo nos dois mandatos de Chui Sai On, vai assumir a vice-presidência do Instituto para os Assuntos Municipais. Ma Io Kun, responsável pelos Serviços de Polícia Unitários, deverá afastar-se da vida política e aposentar-se.
João Santos Filipe PolíticaOrçamento | Despesas com saúde, IAM e IC aumentam mais de mil milhões Os Serviços de Saúde querem contratar no próximo ano 555 trabalhadores, entre os quais médicos e enfermeiros, e as despesas com o pessoal vão aumentar. Já no IAM os custos prendem-se com a gestão de mais espaços que estavam na alçada do ID e IC [dropcap]O[/dropcap]s deputados estiveram a analisar em sede de comissão o orçamento para o próximo ano e o aumento de 1,18 mil milhões de patacas nas despesas dos Serviços de Saúde (SSM), Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) e Instituto Cultural (IC) levantaram várias questões. A situação foi apontada pelo presidente da 2.ª Comissão da Assembleia Legislativa, Chan Chak Mo, mas as perguntas foram respondidas pelo Executivo e justificaram-se com a contratação do pessoal ou aumento de competências ou obras. No que diz respeito ao Serviços de Saúde, entre este ano e o próximo, o orçamento dispara 674 milhões de patacas, o que representa oito por cento. Segundo as explicações dadas aos deputados, e que constam do parecer elaborado pela comissão, a principal despesa prende-se com o “aumento de pessoal previsto para 2020” e que contabiliza 370 milhões de patacas. Durante o próximo ano, os SSM vão perder 37 trabalhadores, mas esperam contratar 555, entre os quais 90 médicos, 75 profissionais em regime de internatos, 270 enfermeiros, 23 farmacêuticos, 63 técnicos superiores de saúde e 89 técnicos superiores. Por sua vez, o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) vai ter um aumento de aproximadamente 400 milhões de patacas no orçamento, no que representa um agravar da despesa de 13,8 por cento. Os gastos são explicados com a gestão de espaços que estavam sob a alçada do Instituto do Desporto (ID) ou do IC, obras na Galeria Comemorativa da Lei Básica de Macau e com a promoção da Lei Básica, mas também com os trabalhos de renovação de mercados ou modernização da rede de depósitos de lixo. Horas extra no IC Em 2017, o IC teve de resolver a situação de cerca de 94 trabalhadores com contratos ilegais e o aumento de 106 milhões de patacas previsto para o próximo ano é explicado, em parte, com a necessidade de pagar horas extra. Segundo o parecer, com base nas explicações do Executivo, o aumento do orçamento “decorre de obras de renovação que devem ocorrer no Centro Cultural, de despesas relacionadas com a prestação de trabalho extraordinário, que se espera que seja necessário na organização de vários eventos culturais e festivos de larga escala”. Além disso, o instituto liderado por Mok Ian Ian vai passar a assumir igualmente as despesas com a Orquestra de Macau e a Orquestra Chinesa de Macau, que anteriormente estavam a ser financiadas pelo Fundo de Cultura. A Lei do Orçamento de 2020 vai agora ser votada até ao final do mês no plenário. As previsões apontam para receitas no valor de 122 mil milhões de patacas e despesas de 100 mil milhões, no que deverá gerar um superavit de cerca de 20,7 mil milhões. Porém, as contas poderão sofrer alterações em Abril, quando o futuro Governo apresentar as Linhas de Acção Governativa.
admin PolíticaOrçamento | Despesas com saúde, IAM e IC aumentam mais de mil milhões Os Serviços de Saúde querem contratar no próximo ano 555 trabalhadores, entre os quais médicos e enfermeiros, e as despesas com o pessoal vão aumentar. Já no IAM os custos prendem-se com a gestão de mais espaços que estavam na alçada do ID e IC [dropcap]O[/dropcap]s deputados estiveram a analisar em sede de comissão o orçamento para o próximo ano e o aumento de 1,18 mil milhões de patacas nas despesas dos Serviços de Saúde (SSM), Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) e Instituto Cultural (IC) levantaram várias questões. A situação foi apontada pelo presidente da 2.ª Comissão da Assembleia Legislativa, Chan Chak Mo, mas as perguntas foram respondidas pelo Executivo e justificaram-se com a contratação do pessoal ou aumento de competências ou obras. No que diz respeito ao Serviços de Saúde, entre este ano e o próximo, o orçamento dispara 674 milhões de patacas, o que representa oito por cento. Segundo as explicações dadas aos deputados, e que constam do parecer elaborado pela comissão, a principal despesa prende-se com o “aumento de pessoal previsto para 2020” e que contabiliza 370 milhões de patacas. Durante o próximo ano, os SSM vão perder 37 trabalhadores, mas esperam contratar 555, entre os quais 90 médicos, 75 profissionais em regime de internatos, 270 enfermeiros, 23 farmacêuticos, 63 técnicos superiores de saúde e 89 técnicos superiores. Por sua vez, o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) vai ter um aumento de aproximadamente 400 milhões de patacas no orçamento, no que representa um agravar da despesa de 13,8 por cento. Os gastos são explicados com a gestão de espaços que estavam sob a alçada do Instituto do Desporto (ID) ou do IC, obras na Galeria Comemorativa da Lei Básica de Macau e com a promoção da Lei Básica, mas também com os trabalhos de renovação de mercados ou modernização da rede de depósitos de lixo. Horas extra no IC Em 2017, o IC teve de resolver a situação de cerca de 94 trabalhadores com contratos ilegais e o aumento de 106 milhões de patacas previsto para o próximo ano é explicado, em parte, com a necessidade de pagar horas extra. Segundo o parecer, com base nas explicações do Executivo, o aumento do orçamento “decorre de obras de renovação que devem ocorrer no Centro Cultural, de despesas relacionadas com a prestação de trabalho extraordinário, que se espera que seja necessário na organização de vários eventos culturais e festivos de larga escala”. Além disso, o instituto liderado por Mok Ian Ian vai passar a assumir igualmente as despesas com a Orquestra de Macau e a Orquestra Chinesa de Macau, que anteriormente estavam a ser financiadas pelo Fundo de Cultura. A Lei do Orçamento de 2020 vai agora ser votada até ao final do mês no plenário. As previsões apontam para receitas no valor de 122 mil milhões de patacas e despesas de 100 mil milhões, no que deverá gerar um superavit de cerca de 20,7 mil milhões. Porém, as contas poderão sofrer alterações em Abril, quando o futuro Governo apresentar as Linhas de Acção Governativa.
Hoje Macau PolíticaConselho de Estado | Publicadas nomeações sobre novo Governo [dropcap]F[/dropcap]oram ontem publicadas em Boletim Oficial (BO) as notificações do Conselho de Estado da China relativamente à nomeação dos titulares dos principais cargos do novo Governo e do Procurador da RAEM, que irão compor o V Governo, liderado por Ho Iat Seng. Confirmam-se, assim, os nomes de André Cheong para o cargo de secretário para a Administração e Justiça, Lei Wai Nong, como secretário para a Economia e Finanças, Wong Sio Chak, como secretário para a Segurança, Ao Ieong U, como secretária para os Assuntos Sociais e Cultura e Raimundo Arrais do Rosário, como secretário para os Transportes e Obras Públicas. Seguem-se os nomes de Chan Tsz King, como Comissário contra a Corrupção, Ho Veng On, como Comissário da Auditoria, Leong Man Cheong, como Comandante-geral dos Serviços de Polícia Unitários, Vong Man Chong, como Director-geral dos Serviços de Alfândega e Ip Son Sang, como Procurador do Ministério Público. Foi também publicada a notificação do Conselho de Estado relativa a Ho Iat Seng, Chefe do Executivo eleito a 25 de Agosto, que toma posse no próximo dia 20 de Dezembro.
admin PolíticaConselho de Estado | Publicadas nomeações sobre novo Governo [dropcap]F[/dropcap]oram ontem publicadas em Boletim Oficial (BO) as notificações do Conselho de Estado da China relativamente à nomeação dos titulares dos principais cargos do novo Governo e do Procurador da RAEM, que irão compor o V Governo, liderado por Ho Iat Seng. Confirmam-se, assim, os nomes de André Cheong para o cargo de secretário para a Administração e Justiça, Lei Wai Nong, como secretário para a Economia e Finanças, Wong Sio Chak, como secretário para a Segurança, Ao Ieong U, como secretária para os Assuntos Sociais e Cultura e Raimundo Arrais do Rosário, como secretário para os Transportes e Obras Públicas. Seguem-se os nomes de Chan Tsz King, como Comissário contra a Corrupção, Ho Veng On, como Comissário da Auditoria, Leong Man Cheong, como Comandante-geral dos Serviços de Polícia Unitários, Vong Man Chong, como Director-geral dos Serviços de Alfândega e Ip Son Sang, como Procurador do Ministério Público. Foi também publicada a notificação do Conselho de Estado relativa a Ho Iat Seng, Chefe do Executivo eleito a 25 de Agosto, que toma posse no próximo dia 20 de Dezembro.
Hoje Macau PolíticaAmCham | Activista e deputados criticam recusas de entradas Agnes Lam e Sulu Sou criticaram ontem a decisão de impedir a entrada de responsáveis da Câmara Americana de Comércio, considerando que pode prejudicar a imagem da região e o futuro dos casinos detidos por empresas norte-americanas [dropcap]D[/dropcap]a direcção da Associação Sinergia de Macau, movimento cívico e político, Johnson Ian disse à Lusa acreditar que a decisão está ligada à proibição de navios e aeronaves militares norte-americanas de estacionar em Hong Kong, anunciada pela China a 2 de Dezembro. Na mesma altura, Pequim decidiu ainda punir cinco organizações não-governamentais com sede nos Estados Unidos, incluindo a Human Rights Watch. “Mas a China não barrou a entrada de empresários norte-americanos por isso é difícil vislumbrar que razões terá Macau para o fazer”, disse à Lusa o antigo candidato à Assembleia Legislativa de Macau. Já a deputada de Macau Agnes Lam considerou a decisão “um erro”, enquanto o mais jovem deputado pró-democracia da cidade, Sulu Sou, afirmou que o incidente pode dar a entender que o Governo do território está envolvido na guerra comercial entre a China e os Estados Unidos. No sábado, os líderes da Câmara Americana de Comércio de Hong Kong (AmCham), Tara Joseph e Robert Grieves, foram impedidos de entrar em Macau, onde iriam participar no baile anual promovido pela AmCham Macau. A Lusa tentou contactar o presidente da AmCham Macau, mas a organização indicou que Paul Tse não se encontrava na cidade. Também o consulado-geral dos Estados Unidos em Hong Kong e Macau preferiu não fazer qualquer comentário, ao ser contactado pela Lusa, e indicou que a AmCham de Hong Kong tinha já emitido uma nota sobre o incidente. Divulgado no sábado à noite, o comunicado sublinhou que não foram dadas razões para impedir a entrada em Macau dos dois responsáveis da AmCham. No passado, Tara Joseph e Robert Grieves tornaram pública a oposição à proposta de alteração da lei de extradição, que desencadeou os protestos que há precisamente seis meses afectam Hong Kong. A AmCham de Hong Kong assinalou esperar que o incidente se trate de “apenas uma reacção exagerada aos eventos actuais e que os negócios internacionais possam avançar construtivamente”. Cidade internacional Johnson Ian sublinhou que “a comunidade internacional poderá pensar que Macau é uma cidade fechada, pouco amigável e mais difícil até que a China continental”. Embora a cidade não tenha um papel económico tão importante como a vizinha Hong Kong, “não importa quanto mude o contexto internacional, Macau sempre foi uma janela da China para o mundo e essa janela deve permanecer aberta o mais possível”, acrescentou. Johnson Ian afirmou ainda temer que o caso possa “criar dúvidas” sobre o futuro dos casinos geridos por empresas norte-americanas em Macau. Para Agnes Lam, este incidente mostra que as autoridades já estão em alerta máximo, numa altura em que Macau prepara as comemorações do 20.º aniversário da transferência para a China do território anteriormente administrado por Portugal, em 20 de Dezembro próximo, coincidindo com a posse do novo chefe do Governo, Ho Iat Seng. “Acredito que tenha sido um erro porque havia muita gente norte-americana vinda de Hong Kong, incluindo o cônsul-geral dos Estados Unidos” em Hong Kong, Hanscom Smith, disse à Lusa a professora universitária, que esteve no baile anual promovido pela AmCham em Macau. Por seu lado, Sulu Sou antecipou a presença do Presidente chinês, Xi Jinping, nas comemorações dos 20 anos da transferência de Macau, mas considerou um “exagero inexplicável” começar já a proibir a entrada de pessoas em Macau. Sulu Sou lamentou ainda que seja difícil saber quantas pessoas foram impedidas, nos últimos anos, de entrar em Macau. A falta de informação “torna impossível à Assembleia Legislativa verificar se tem ou não havido abusos”, afirmou o deputado pró-democracia à Lusa. No domingo, o secretário para a Segurança de Macau recusou comentar a decisão das autoridades de fronteira de impedirem a entrada, no sábado, no território, dos dois responsáveis da AmCham. Em comunicado, Wong Sio Chak reiterou que, na aplicação da Lei de Bases da Segurança Interna da Região Administrativa Especial de Macau, “a identidade do indivíduo e a profissão não são objectos de ponderação, os riscos e ameaças à segurança são a única consideração e a aplicação deste regulamento sempre foi analisada caso a caso”.
admin PolíticaAmCham | Activista e deputados criticam recusas de entradas Agnes Lam e Sulu Sou criticaram ontem a decisão de impedir a entrada de responsáveis da Câmara Americana de Comércio, considerando que pode prejudicar a imagem da região e o futuro dos casinos detidos por empresas norte-americanas [dropcap]D[/dropcap]a direcção da Associação Sinergia de Macau, movimento cívico e político, Johnson Ian disse à Lusa acreditar que a decisão está ligada à proibição de navios e aeronaves militares norte-americanas de estacionar em Hong Kong, anunciada pela China a 2 de Dezembro. Na mesma altura, Pequim decidiu ainda punir cinco organizações não-governamentais com sede nos Estados Unidos, incluindo a Human Rights Watch. “Mas a China não barrou a entrada de empresários norte-americanos por isso é difícil vislumbrar que razões terá Macau para o fazer”, disse à Lusa o antigo candidato à Assembleia Legislativa de Macau. Já a deputada de Macau Agnes Lam considerou a decisão “um erro”, enquanto o mais jovem deputado pró-democracia da cidade, Sulu Sou, afirmou que o incidente pode dar a entender que o Governo do território está envolvido na guerra comercial entre a China e os Estados Unidos. No sábado, os líderes da Câmara Americana de Comércio de Hong Kong (AmCham), Tara Joseph e Robert Grieves, foram impedidos de entrar em Macau, onde iriam participar no baile anual promovido pela AmCham Macau. A Lusa tentou contactar o presidente da AmCham Macau, mas a organização indicou que Paul Tse não se encontrava na cidade. Também o consulado-geral dos Estados Unidos em Hong Kong e Macau preferiu não fazer qualquer comentário, ao ser contactado pela Lusa, e indicou que a AmCham de Hong Kong tinha já emitido uma nota sobre o incidente. Divulgado no sábado à noite, o comunicado sublinhou que não foram dadas razões para impedir a entrada em Macau dos dois responsáveis da AmCham. No passado, Tara Joseph e Robert Grieves tornaram pública a oposição à proposta de alteração da lei de extradição, que desencadeou os protestos que há precisamente seis meses afectam Hong Kong. A AmCham de Hong Kong assinalou esperar que o incidente se trate de “apenas uma reacção exagerada aos eventos actuais e que os negócios internacionais possam avançar construtivamente”. Cidade internacional Johnson Ian sublinhou que “a comunidade internacional poderá pensar que Macau é uma cidade fechada, pouco amigável e mais difícil até que a China continental”. Embora a cidade não tenha um papel económico tão importante como a vizinha Hong Kong, “não importa quanto mude o contexto internacional, Macau sempre foi uma janela da China para o mundo e essa janela deve permanecer aberta o mais possível”, acrescentou. Johnson Ian afirmou ainda temer que o caso possa “criar dúvidas” sobre o futuro dos casinos geridos por empresas norte-americanas em Macau. Para Agnes Lam, este incidente mostra que as autoridades já estão em alerta máximo, numa altura em que Macau prepara as comemorações do 20.º aniversário da transferência para a China do território anteriormente administrado por Portugal, em 20 de Dezembro próximo, coincidindo com a posse do novo chefe do Governo, Ho Iat Seng. “Acredito que tenha sido um erro porque havia muita gente norte-americana vinda de Hong Kong, incluindo o cônsul-geral dos Estados Unidos” em Hong Kong, Hanscom Smith, disse à Lusa a professora universitária, que esteve no baile anual promovido pela AmCham em Macau. Por seu lado, Sulu Sou antecipou a presença do Presidente chinês, Xi Jinping, nas comemorações dos 20 anos da transferência de Macau, mas considerou um “exagero inexplicável” começar já a proibir a entrada de pessoas em Macau. Sulu Sou lamentou ainda que seja difícil saber quantas pessoas foram impedidas, nos últimos anos, de entrar em Macau. A falta de informação “torna impossível à Assembleia Legislativa verificar se tem ou não havido abusos”, afirmou o deputado pró-democracia à Lusa. No domingo, o secretário para a Segurança de Macau recusou comentar a decisão das autoridades de fronteira de impedirem a entrada, no sábado, no território, dos dois responsáveis da AmCham. Em comunicado, Wong Sio Chak reiterou que, na aplicação da Lei de Bases da Segurança Interna da Região Administrativa Especial de Macau, “a identidade do indivíduo e a profissão não são objectos de ponderação, os riscos e ameaças à segurança são a única consideração e a aplicação deste regulamento sempre foi analisada caso a caso”.
Andreia Sofia Silva EntrevistaCarlos Gaspar, autor do livro “O Regresso da Anarquia”: “China teve uma relativa contenção em Hong Kong” Outrora única potência mundial indiscutível, os EUA deixaram de lado a manutenção de uma ordem internacional liberal e priorizam hoje a competição entre potências, olhando sobretudo para a relação entre a China e a Rússia. Deste triângulo estratégico há um risco de surgirem conflitos armados em zonas como Taiwan e a Ucrânia. É o que defende Carlos Gaspar, presidente do Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa, que lançou esta segunda-feira o livro “O Regresso da Anarquia – os Estados Unidos, a Rússia e a China e a ordem internacional”. Sobre Hong Kong, o autor diz que houve uma “relativa contenção” por parte da China e que a opinião do povo, revelada nas eleições distritais, é soberana Apresenta neste livro a ideia de um triângulo estratégico composto pela China, EUA e Rússia. E este regresso à anarquia. [dropcap]S[/dropcap]ão duas coisas diferentes. Quando fazemos a análise da história internacional desde o fim da II Guerra Mundial constatamos que o triângulo estratégico das relações entre a China, EUA e Rússia são centrais na política internacional, antes e depois da Guerra Fria. Não são sempre centrais com a mesma intensidade, mas há um padrão de continuidade na importância dessas relações das principais potências internacionais desde 1945. O regresso da anarquia é uma questão diferente, é conjuntural, tem a ver com o triângulo, na medida em que os EUA, a China e a Rússia continuam a ser os actores principais da política internacional. Mas no período a seguir ao fim da Guerra Fria, desde 1990 ou 1991, os EUA tinham uma posição muito mais forte do que a Rússia e a China. Eram até mais fortes do que esses países em conjunto, que não eram capazes sequer de contrabalançar o poder excessivo que os EUA tiveram naqueles anos. Isso permitiu aos EUA impor o seu modelo de ordem internacional, uma ordem liberal, de globalização, quer a China ou a Rússia quisessem ou não. E conseguiram mesmo, a partir de certa altura, integrar a China e a Rússia, as duas economias, na Organização Mundial de Comércio (OMC) e de certa maneira fazê-los estar dentro desta ordem liberal internacional. Quer a China quer a Rússia beneficiaram com o facto de terem entrado na OMC. Mas a partir de uma certa altura os EUA mudaram de política, por um lado, e por outro lado o equilíbrio entre os EUA, a China e a Rússia já não é o que era há 30 anos. O que mudou? Hoje a China e a Rússia voltaram a ser grandes potências em competição com os EUA e é por causa dessa competição que a questão principal para a política internacional dos EUA não é manter a ordem liberal, mas conter a ascensão da China e evitar uma aliança entre a China e a Rússia. É nesse sentido que os EUA voltaram a ter como prioridade a competição entre as grandes potências e não o ordenamento internacional. Pode-se falar com propriedade de um regresso à anarquia no sentido de competição entre as principais potências, algo que passou a ser o centro da política internacional e não a construção de uma ordem liberal. No livro fala de erros que os EUA cometeram nesse processo. Estes erros agravaram-se com a presidência de Donald Trump, que defende cada vez mais políticas proteccionistas e nacionalistas? Como é que estes erros nos trouxeram ao que vivemos hoje? O erro mais grave dos EUA foi, a seguir ao 11 de Setembro, ter uma estratégia de expansão e de democratização do Médio Oriente e também a sua decisão unilateral de invadir o Iraque que não tinha nada a ver com o 11 de Setembro, pois também não tinha as armas de destruição maciça que era urgente neutralizar. Esse erro principal marca o abuso do poder internacional dos EUA e também dividiu a Aliança Atlântica, e a relação entre os EUA e os seus aliados. Fez com que os EUA tenham perdido legitimidade internacional como o garante da estabilidade da ordem liberal e dividiu internamente a comunidade política norte-americana. Nem os EUA nem a Aliança Atlântica recuperaram ainda dessa divisão. Desde 2008 que há uma divisão profunda e uma polarização crescente na comunidade política norte-americana que tem como consequência um retraimento dos EUA e uma menor disponibilidade para intervir internacionalmente. Isso já era verdade no caso do Presidente Barack Obama, que perante a Primavera Árabe achou que os EUA não tinham de fazer nada de especial, deixou que a guerra civil da Síria degenerasse como degenerou, num conflito grave e perturbador para a estabilidade regional, e a seguir o Presidente Donald Trump agravou esse recuo estratégico dos EUA demarcando-se das suas responsabilidades como garante da ordem liberal. Essa é uma viragem nacionalista e proteccionista que acelera o regresso da anarquia. Mas tão importante como os erros dos EUA é a força da ascensão da China e a convergência estratégica entre a Rússia e a China. Ainda relativamente aos EUA, o livro fala de uma “guerra inevitável” com a China. Há uma tese sobre isso, o autor não sou eu. O que eu digo é que é mais provável que existam confrontos militares delimitados e localizados entre os EUA e a China, designadamente nos mares costeiros da China, face ao que aconteceu no passado. Durante toda a Guerra Fria as forças militares dos EUA e da URSS nunca tiveram nenhum choque directo. Essa é uma mudança perigosa, porque no cenário menos mau esses conflitos militares são localizados e delimitados, mas há sempre um risco de escalada. Esses conflitos podem ocorrer em torno da questão de Taiwan, também? Certamente, ou a questão da Ucrânia. Foram identificadas desde 1991 como os cenários de conflito mais perigosos da política internacional. No caso da Ucrânia, por causa da grande minoria russa, que poderia pôr em confronto a Rússia, a Ucrânia e eventualmente a aliança ocidental, como em parte aconteceu depois de 2014 com a anexação da Crimeia e a guerra híbrida na Ucrânia Oriental. Outro ponto, mais importante ainda, é a questão de Taiwan. É crucial para a China. O país mantém a sua estratégia de unificação e o Presidente Xi Jinping impôs uma data: até 2049 a questão tem de estar resolvida. Xi Jinping falou inclusivamente da adopção do modelo “Um País, Dois Sistemas” para Taiwan. Esse modelo foi desenhado, em primeiro lugar, para Taiwan, como está no livro. E faz parte das estratégias de reformas e de liberalização de Deng Xiaoping. Esse princípio surge depois de ter sido anunciada a nova política para Taiwan, em 1980. Precede a questão de Hong Kong e de Macau e é um princípio desenhado para abrir caminho à unificação pacífica de Taiwan com a China, mantendo a sua autonomia e as suas instituições, e mesmo uma parte das forças militares. Há ali um compromisso que mais tarde ou mais cedo entra em choque com os compromissos dos EUA em garantir a capacidade de Taiwan resistir a uma ameaça de invasão. Mas Taiwan é um território cada vez mais isolado internacionalmente. Sim e não. É uma questão que já se começou a discutir nos EUA: vale a pena? Mas se os EUA não cumprirem as suas obrigações como aliado em relação a Taiwan, o que acontece no dia seguinte com a sua aliança com o Japão? Há uma perda de credibilidade, não é apenas a questão em si de Taiwan que pode ser desvalorizada. Embora seja mais difícil desvalorizar a questão de Taiwan a partir do momento em que Taiwan é uma democracia pluralista e um Estado de Direito e, portanto, é verdade que cada vez menos micro Estados mantêm relações diplomáticas oficiais com Taiwan, mas também é verdade que a democratização de Taiwan compensa largamente esses sinais de isolamento, não só em relação aos EUA, mas também em relação ao Japão, que assumiu responsabilidades para a defesa de Taiwan no quadro dos acordos com os EUA assinados em 1996. De que forma é que o dossier de Taiwan tem uma ligação ao que está a acontecer em Hong Kong? Nas sondagens há uma força crescente das forças em Taiwan que se opõem à unificação com a China, mas esse é um efeito conjuntural. Provavelmente explica a relativa contenção das autoridades chinesas perante estes seis meses de protestos. Uma relativa contenção. Houve sinais de presença militar chinesa em Shenzen. Pior do que isso, há a mobilização das tríades e, portanto, uma estratégia subterrânea de violência além das prisões e da identificação de numerosos manifestantes. Mas isso é tudo uma relativa contenção. Depois das eleições distritais e da larga vitória do campo pró-democrata, qual será o caminho? Depende em grande parte da resposta das autoridades de Pequim, que têm uma certa margem de manobra para responder aos protestos e já mostraram que possuem uma certa flexibilidade perante a conjuntura, desde logo para corrigir o erro que foi a introdução da proposta de lei da extradição. Houve um recuo importante aí, e se calhar amanhã vai haver um recuo também em relação ao Chefe do Executivo. No essencial, os Chefes do Executivo existem para serem substituídos, isso não é nada de extraordinário. Mas os resultados das eleições municipais mostram de que lado é que está a grande maioria dos cidadãos de Hong Kong. Voltando à China. O livro diz que a sua grande prioridade é a hegemonia do país na Ásia Oriental, mantendo uma parceria estratégica com a Rússia. De que forma Macau e Hong Kong podem ajudar a esta hegemonia? Não sei se são instrumentos decisivos. De qualquer maneira, a própria integração pacífica e diplomática de Hong Kong e Macau na China é uma demonstração de força, um reconhecimento internacional da China como uma grande potência. Qualquer que seja a evolução em Hong Kong e em Macau as duas regiões são parte integrante do Estado chinês como regiões administrativas especiais. Neste triângulo fala dos laços que unem a Rússia e a China em várias matérias, incluindo o não cumprimento em matéria de direitos humanos. Como é que a comunidade internacional deve responder, incluindo a própria União Europeia? As questões de direitos humanos voltaram a ser relevantes nos dois casos por erros ou excessos cometidos pelos regimes autoritários na Rússia e na China. No caso da Rússia, por exemplo, o mau hábito de mandar assassinar os seus dissidentes em países europeus, é um pouco excessivo. Isso teve um impacto forte nas relações entre a Rússia e a Grã-Bretanha, mas também na opinião pública, e mostra o lado brutal do regime de Vladimir Putin. No caso da China, as coisas são bastante mais sérias, porque a repressão das minorias muçulmanas em Xinjiang tem uma escala absolutamente impressionante, é a maior perseguição religiosa do século XXI. Pouco a pouco esse tema começou a ter relevância na opinião pública americana e europeia e isso força os Estados e a UE a tomar uma posição, mesmo que esse não seja o primeiro reflexo. Afirma no livro que a China quer rever o traçado das suas fronteiras terrestres, aéreas e marítimas. A China, de uma maneira muito unilateral, quer fazer o país maior, e está a rever as fronteiras da sua soberania chinesa no caso das ilhas do mar do sul da China e também na zona de demarcação com a Índia. Há uma vontade da China em projectar a sua soberania em territórios onde ela não é reconhecida e não o será facilmente. A Rússia também, com a Crimeia e a Nova Rússia. Há sinais de que há um revisionismo do espaço soberano destas duas grandes potências continentais. Essa é uma relativa novidade na política internacional. No caso da Crimeia foi a primeira anexação pela força desde 1945 e no caso do mar do sul da China há uma expansão efectiva com a construção dos aterros. Antecipa uma relativa estabilidade internacional, mas podemos falar de uma paz podre, com a existência deste triângulo de países? Não sabemos o que vai acontecer, mas pode haver uma tendência para estas grandes potências definirem as suas próprias esferas de influência e delimitarem os seus conflitos às periferias dessas esferas. Todas elas são potências nucleares, e duas delas são grandes potências nucleares, os EUA e a Rússia, e isso obriga as elites políticas e militares a um regime de responsabilidade correspondente à capacidade destrutiva das suas armas. Nesse sentido podemos imaginar que os conflitos, além da sua dimensão económica ou política, se possam reduzir aos espaços que fazem a separação dos espaços dominados pela China, EUA e Rússia. Mas isso tem um pressuposto que é a fragmentação da ordem internacional em três ordens competitivas entre si. Mas olhando para a história e ascensão da China, é muito claro que a China tem uma concepção política e ética da ordem mundial que é radicalmente diferente da concepção política ou ética que tem os EUA. A Rússia é um caso à parte no sentido em que é mais clássica, tem uma concepção do que é o ordenamento internacional mais próxima do registo da balança do poder, no sentido em que a Rússia deixou de ser uma potência revolucionária, não quer reconstruir a ordem internacional. Mas na minha opinião isso não é verdade em relação à China, que quer reconstruir a ordem internacional na Ásia, uma nova ordem congruente com os seus valores, história e princípios e os EUA também. Onde fica a Coreia do Norte nessa tentativa de hegemonia? Todos os casos são depois problemas interessantes. Os norte-coreanos começaram a desenvolver as suas capacidades nucleares no fim da Guerra Fria, quando sentiram que estavam cercados por três potencias nucleares. Os EUA retiram as suas armas no fim da Guerra Fria, mas resta a Rússia e a China. Os norte-coreanos não têm medo dos americanos, sabem que não vão atacar, mas têm medo dos chineses e dos russos.
admin EntrevistaCarlos Gaspar, autor do livro “O Regresso da Anarquia”: "China teve uma relativa contenção em Hong Kong" Outrora única potência mundial indiscutível, os EUA deixaram de lado a manutenção de uma ordem internacional liberal e priorizam hoje a competição entre potências, olhando sobretudo para a relação entre a China e a Rússia. Deste triângulo estratégico há um risco de surgirem conflitos armados em zonas como Taiwan e a Ucrânia. É o que defende Carlos Gaspar, presidente do Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa, que lançou esta segunda-feira o livro “O Regresso da Anarquia – os Estados Unidos, a Rússia e a China e a ordem internacional”. Sobre Hong Kong, o autor diz que houve uma “relativa contenção” por parte da China e que a opinião do povo, revelada nas eleições distritais, é soberana Apresenta neste livro a ideia de um triângulo estratégico composto pela China, EUA e Rússia. E este regresso à anarquia. [dropcap]S[/dropcap]ão duas coisas diferentes. Quando fazemos a análise da história internacional desde o fim da II Guerra Mundial constatamos que o triângulo estratégico das relações entre a China, EUA e Rússia são centrais na política internacional, antes e depois da Guerra Fria. Não são sempre centrais com a mesma intensidade, mas há um padrão de continuidade na importância dessas relações das principais potências internacionais desde 1945. O regresso da anarquia é uma questão diferente, é conjuntural, tem a ver com o triângulo, na medida em que os EUA, a China e a Rússia continuam a ser os actores principais da política internacional. Mas no período a seguir ao fim da Guerra Fria, desde 1990 ou 1991, os EUA tinham uma posição muito mais forte do que a Rússia e a China. Eram até mais fortes do que esses países em conjunto, que não eram capazes sequer de contrabalançar o poder excessivo que os EUA tiveram naqueles anos. Isso permitiu aos EUA impor o seu modelo de ordem internacional, uma ordem liberal, de globalização, quer a China ou a Rússia quisessem ou não. E conseguiram mesmo, a partir de certa altura, integrar a China e a Rússia, as duas economias, na Organização Mundial de Comércio (OMC) e de certa maneira fazê-los estar dentro desta ordem liberal internacional. Quer a China quer a Rússia beneficiaram com o facto de terem entrado na OMC. Mas a partir de uma certa altura os EUA mudaram de política, por um lado, e por outro lado o equilíbrio entre os EUA, a China e a Rússia já não é o que era há 30 anos. O que mudou? Hoje a China e a Rússia voltaram a ser grandes potências em competição com os EUA e é por causa dessa competição que a questão principal para a política internacional dos EUA não é manter a ordem liberal, mas conter a ascensão da China e evitar uma aliança entre a China e a Rússia. É nesse sentido que os EUA voltaram a ter como prioridade a competição entre as grandes potências e não o ordenamento internacional. Pode-se falar com propriedade de um regresso à anarquia no sentido de competição entre as principais potências, algo que passou a ser o centro da política internacional e não a construção de uma ordem liberal. No livro fala de erros que os EUA cometeram nesse processo. Estes erros agravaram-se com a presidência de Donald Trump, que defende cada vez mais políticas proteccionistas e nacionalistas? Como é que estes erros nos trouxeram ao que vivemos hoje? O erro mais grave dos EUA foi, a seguir ao 11 de Setembro, ter uma estratégia de expansão e de democratização do Médio Oriente e também a sua decisão unilateral de invadir o Iraque que não tinha nada a ver com o 11 de Setembro, pois também não tinha as armas de destruição maciça que era urgente neutralizar. Esse erro principal marca o abuso do poder internacional dos EUA e também dividiu a Aliança Atlântica, e a relação entre os EUA e os seus aliados. Fez com que os EUA tenham perdido legitimidade internacional como o garante da estabilidade da ordem liberal e dividiu internamente a comunidade política norte-americana. Nem os EUA nem a Aliança Atlântica recuperaram ainda dessa divisão. Desde 2008 que há uma divisão profunda e uma polarização crescente na comunidade política norte-americana que tem como consequência um retraimento dos EUA e uma menor disponibilidade para intervir internacionalmente. Isso já era verdade no caso do Presidente Barack Obama, que perante a Primavera Árabe achou que os EUA não tinham de fazer nada de especial, deixou que a guerra civil da Síria degenerasse como degenerou, num conflito grave e perturbador para a estabilidade regional, e a seguir o Presidente Donald Trump agravou esse recuo estratégico dos EUA demarcando-se das suas responsabilidades como garante da ordem liberal. Essa é uma viragem nacionalista e proteccionista que acelera o regresso da anarquia. Mas tão importante como os erros dos EUA é a força da ascensão da China e a convergência estratégica entre a Rússia e a China. Ainda relativamente aos EUA, o livro fala de uma “guerra inevitável” com a China. Há uma tese sobre isso, o autor não sou eu. O que eu digo é que é mais provável que existam confrontos militares delimitados e localizados entre os EUA e a China, designadamente nos mares costeiros da China, face ao que aconteceu no passado. Durante toda a Guerra Fria as forças militares dos EUA e da URSS nunca tiveram nenhum choque directo. Essa é uma mudança perigosa, porque no cenário menos mau esses conflitos militares são localizados e delimitados, mas há sempre um risco de escalada. Esses conflitos podem ocorrer em torno da questão de Taiwan, também? Certamente, ou a questão da Ucrânia. Foram identificadas desde 1991 como os cenários de conflito mais perigosos da política internacional. No caso da Ucrânia, por causa da grande minoria russa, que poderia pôr em confronto a Rússia, a Ucrânia e eventualmente a aliança ocidental, como em parte aconteceu depois de 2014 com a anexação da Crimeia e a guerra híbrida na Ucrânia Oriental. Outro ponto, mais importante ainda, é a questão de Taiwan. É crucial para a China. O país mantém a sua estratégia de unificação e o Presidente Xi Jinping impôs uma data: até 2049 a questão tem de estar resolvida. Xi Jinping falou inclusivamente da adopção do modelo “Um País, Dois Sistemas” para Taiwan. Esse modelo foi desenhado, em primeiro lugar, para Taiwan, como está no livro. E faz parte das estratégias de reformas e de liberalização de Deng Xiaoping. Esse princípio surge depois de ter sido anunciada a nova política para Taiwan, em 1980. Precede a questão de Hong Kong e de Macau e é um princípio desenhado para abrir caminho à unificação pacífica de Taiwan com a China, mantendo a sua autonomia e as suas instituições, e mesmo uma parte das forças militares. Há ali um compromisso que mais tarde ou mais cedo entra em choque com os compromissos dos EUA em garantir a capacidade de Taiwan resistir a uma ameaça de invasão. Mas Taiwan é um território cada vez mais isolado internacionalmente. Sim e não. É uma questão que já se começou a discutir nos EUA: vale a pena? Mas se os EUA não cumprirem as suas obrigações como aliado em relação a Taiwan, o que acontece no dia seguinte com a sua aliança com o Japão? Há uma perda de credibilidade, não é apenas a questão em si de Taiwan que pode ser desvalorizada. Embora seja mais difícil desvalorizar a questão de Taiwan a partir do momento em que Taiwan é uma democracia pluralista e um Estado de Direito e, portanto, é verdade que cada vez menos micro Estados mantêm relações diplomáticas oficiais com Taiwan, mas também é verdade que a democratização de Taiwan compensa largamente esses sinais de isolamento, não só em relação aos EUA, mas também em relação ao Japão, que assumiu responsabilidades para a defesa de Taiwan no quadro dos acordos com os EUA assinados em 1996. De que forma é que o dossier de Taiwan tem uma ligação ao que está a acontecer em Hong Kong? Nas sondagens há uma força crescente das forças em Taiwan que se opõem à unificação com a China, mas esse é um efeito conjuntural. Provavelmente explica a relativa contenção das autoridades chinesas perante estes seis meses de protestos. Uma relativa contenção. Houve sinais de presença militar chinesa em Shenzen. Pior do que isso, há a mobilização das tríades e, portanto, uma estratégia subterrânea de violência além das prisões e da identificação de numerosos manifestantes. Mas isso é tudo uma relativa contenção. Depois das eleições distritais e da larga vitória do campo pró-democrata, qual será o caminho? Depende em grande parte da resposta das autoridades de Pequim, que têm uma certa margem de manobra para responder aos protestos e já mostraram que possuem uma certa flexibilidade perante a conjuntura, desde logo para corrigir o erro que foi a introdução da proposta de lei da extradição. Houve um recuo importante aí, e se calhar amanhã vai haver um recuo também em relação ao Chefe do Executivo. No essencial, os Chefes do Executivo existem para serem substituídos, isso não é nada de extraordinário. Mas os resultados das eleições municipais mostram de que lado é que está a grande maioria dos cidadãos de Hong Kong. Voltando à China. O livro diz que a sua grande prioridade é a hegemonia do país na Ásia Oriental, mantendo uma parceria estratégica com a Rússia. De que forma Macau e Hong Kong podem ajudar a esta hegemonia? Não sei se são instrumentos decisivos. De qualquer maneira, a própria integração pacífica e diplomática de Hong Kong e Macau na China é uma demonstração de força, um reconhecimento internacional da China como uma grande potência. Qualquer que seja a evolução em Hong Kong e em Macau as duas regiões são parte integrante do Estado chinês como regiões administrativas especiais. Neste triângulo fala dos laços que unem a Rússia e a China em várias matérias, incluindo o não cumprimento em matéria de direitos humanos. Como é que a comunidade internacional deve responder, incluindo a própria União Europeia? As questões de direitos humanos voltaram a ser relevantes nos dois casos por erros ou excessos cometidos pelos regimes autoritários na Rússia e na China. No caso da Rússia, por exemplo, o mau hábito de mandar assassinar os seus dissidentes em países europeus, é um pouco excessivo. Isso teve um impacto forte nas relações entre a Rússia e a Grã-Bretanha, mas também na opinião pública, e mostra o lado brutal do regime de Vladimir Putin. No caso da China, as coisas são bastante mais sérias, porque a repressão das minorias muçulmanas em Xinjiang tem uma escala absolutamente impressionante, é a maior perseguição religiosa do século XXI. Pouco a pouco esse tema começou a ter relevância na opinião pública americana e europeia e isso força os Estados e a UE a tomar uma posição, mesmo que esse não seja o primeiro reflexo. Afirma no livro que a China quer rever o traçado das suas fronteiras terrestres, aéreas e marítimas. A China, de uma maneira muito unilateral, quer fazer o país maior, e está a rever as fronteiras da sua soberania chinesa no caso das ilhas do mar do sul da China e também na zona de demarcação com a Índia. Há uma vontade da China em projectar a sua soberania em territórios onde ela não é reconhecida e não o será facilmente. A Rússia também, com a Crimeia e a Nova Rússia. Há sinais de que há um revisionismo do espaço soberano destas duas grandes potências continentais. Essa é uma relativa novidade na política internacional. No caso da Crimeia foi a primeira anexação pela força desde 1945 e no caso do mar do sul da China há uma expansão efectiva com a construção dos aterros. Antecipa uma relativa estabilidade internacional, mas podemos falar de uma paz podre, com a existência deste triângulo de países? Não sabemos o que vai acontecer, mas pode haver uma tendência para estas grandes potências definirem as suas próprias esferas de influência e delimitarem os seus conflitos às periferias dessas esferas. Todas elas são potências nucleares, e duas delas são grandes potências nucleares, os EUA e a Rússia, e isso obriga as elites políticas e militares a um regime de responsabilidade correspondente à capacidade destrutiva das suas armas. Nesse sentido podemos imaginar que os conflitos, além da sua dimensão económica ou política, se possam reduzir aos espaços que fazem a separação dos espaços dominados pela China, EUA e Rússia. Mas isso tem um pressuposto que é a fragmentação da ordem internacional em três ordens competitivas entre si. Mas olhando para a história e ascensão da China, é muito claro que a China tem uma concepção política e ética da ordem mundial que é radicalmente diferente da concepção política ou ética que tem os EUA. A Rússia é um caso à parte no sentido em que é mais clássica, tem uma concepção do que é o ordenamento internacional mais próxima do registo da balança do poder, no sentido em que a Rússia deixou de ser uma potência revolucionária, não quer reconstruir a ordem internacional. Mas na minha opinião isso não é verdade em relação à China, que quer reconstruir a ordem internacional na Ásia, uma nova ordem congruente com os seus valores, história e princípios e os EUA também. Onde fica a Coreia do Norte nessa tentativa de hegemonia? Todos os casos são depois problemas interessantes. Os norte-coreanos começaram a desenvolver as suas capacidades nucleares no fim da Guerra Fria, quando sentiram que estavam cercados por três potencias nucleares. Os EUA retiram as suas armas no fim da Guerra Fria, mas resta a Rússia e a China. Os norte-coreanos não têm medo dos americanos, sabem que não vão atacar, mas têm medo dos chineses e dos russos.
Pedro Arede Eventos Festival Internacional de Cinema - EspecialProject Market | Uk Kei de Leonor Teles vence na categoria Macau Spirit Award [dropcap]O[/dropcap] projecto Uk Kei de Leonor Teles e Filipa Reis venceu na categoria “Macau Spirit Award” do IFFAM Project Market (IPM), garantindo um prémio monetário de 5 mil dólares americanos. Para Leonor Teles, a mais jovem realizadora a vencer um Urso de Ouro na competição de curtas-metragens de Berlim (2016), apesar de existir alguma estranheza pelo facto de estar “a receber prémios por coisas que ainda não estão feitas”, o reconhecimento é muito positivo. “Na verdade eu nem sei bem o que quer dizer Macau Spirit Award mas é sempre bom quando reconhecem aquilo que estamos a tentar fazer. É sempre um incentivo, e passando-se o filme em Macau este reconhecimento é bom.” Quanto à obra em si, Leonor Teles apenas adiantou “que se passa entre Lisboa e Macau”, não havendo ainda nenhum calendário definido para o projecto. Já o “Best Project Award” do IPM, foi atribuído ao filipino Eduardo Dodo Dayao, pelo projecto Dear Wormwood. Após saber que ia levar para casa 15 mil dólares americanos, o realizador mostrou-se satisfeito com a conquista e prevê começar a rodar o filme no final do próximo ano. O prémio “Creative Excellence Award”, no valor de 10 mil dólares americanos, foi atribuído ao projecto The Day and Night of Brahma, da sul-africana Sheetal Magan, cuja curta Paraya foi apresentada em Cannes. Por fim, Drum Wave, da realizadora australiana Natalie Erika Jameson venceu na categoria “Best Co-production Award”, garantindo também 10 mil dólares americanos.
admin Eventos Festival Internacional de Cinema - EspecialProject Market | Uk Kei de Leonor Teles vence na categoria Macau Spirit Award [dropcap]O[/dropcap] projecto Uk Kei de Leonor Teles e Filipa Reis venceu na categoria “Macau Spirit Award” do IFFAM Project Market (IPM), garantindo um prémio monetário de 5 mil dólares americanos. Para Leonor Teles, a mais jovem realizadora a vencer um Urso de Ouro na competição de curtas-metragens de Berlim (2016), apesar de existir alguma estranheza pelo facto de estar “a receber prémios por coisas que ainda não estão feitas”, o reconhecimento é muito positivo. “Na verdade eu nem sei bem o que quer dizer Macau Spirit Award mas é sempre bom quando reconhecem aquilo que estamos a tentar fazer. É sempre um incentivo, e passando-se o filme em Macau este reconhecimento é bom.” Quanto à obra em si, Leonor Teles apenas adiantou “que se passa entre Lisboa e Macau”, não havendo ainda nenhum calendário definido para o projecto. Já o “Best Project Award” do IPM, foi atribuído ao filipino Eduardo Dodo Dayao, pelo projecto Dear Wormwood. Após saber que ia levar para casa 15 mil dólares americanos, o realizador mostrou-se satisfeito com a conquista e prevê começar a rodar o filme no final do próximo ano. O prémio “Creative Excellence Award”, no valor de 10 mil dólares americanos, foi atribuído ao projecto The Day and Night of Brahma, da sul-africana Sheetal Magan, cuja curta Paraya foi apresentada em Cannes. Por fim, Drum Wave, da realizadora australiana Natalie Erika Jameson venceu na categoria “Best Co-production Award”, garantindo também 10 mil dólares americanos.
Pedro Arede Eventos Festival Internacional de Cinema - EspecialCompetição Internacional | Realizador de Give me Liberty quer fazer próximo filme em Macau A perseverança de Kirill Mikhanovsky e Alice Austen foi levada ao limite para que Give me Liberty fosse uma realidade. O filme, que levou cerca de cinco anos a produzir, contou quase com tantos contratempos como uma conturbada viagem de carrinha pelo Milwaukee. O realizador russo e a argumentista norte-americana contaram ao HM todos os percalços de um filme que centra a sua autenticidade num elenco de actores não profissionais [dropcap]A[/dropcap] dada altura, ao fim de três anos, quando estávamos prestes a começar a gravar, perdemos todo o financiamento, até que um bilionário disse que financiava o filme na totalidade, se o fizéssemos em Detroit. E nós recusámos. Claro que pensámos se não estaríamos a ser estúpidos pois não encontrámos financiamento em mais lado nenhum no Milwaukee”, disse Kirill Mikhanovsky, realizador de Give me Liberty, filme a concurso na Competição Internacional do IFFAM. “Tivemos de ser muito fortes para continuar”, explicou. A vida pode ser uma viagem no interior de uma carrinha de transporte de pessoas que necessitam de cuidados de saúde. Pelo menos é este o entender de Kirill Mikhanovsky e da argumentista Alice Austen, acerca de Give me Liberty, o qual fizeram questão que fosse passado no Milwaukee, EUA, e que contasse a história de uma personagem local. Além disso, o filme teria também de contar com actores não-profissionais, alguns com mais de 80 anos e outros, portadores de deficiências. “O Milwaukee é uma das cidades mais segregadas dos EUA e usámos a carrinha literalmente como um veículo que poderia ligar pessoas diferentes, de várias partes da cidade e representar a forma como a América é actualmente, mas isto é a parte filosófica. Essencialmente queríamos contar a história deste jovem que está perdido na vida e de todas as pessoas que o rodeiam e que querem estar onde precisam de estar, num dia particularmente difícil”, explicou o realizador. No entanto, contar a história desse dia levou cinco anos, pois além de não haver ninguém interessado no financiamento, o facto de o elenco ser composto maioritariamente por actores não profissionais tornou ainda mais difícil a tarefa de angariar financiamento. “Basicamente nos EUA não há financiamento público, é tudo privado. A maior parte do financiamento privado é ditado pelo elenco e, se não há um nome sonante o projecto está praticamente destinado a falhar”, explicou Mikhanovsky. Mas a decisão estava a tomada e o projecto foi-se tornando “muito pessoal para ambos” pela quantidade de energia emprestada. “A utilização de actores não profissionais é uma abordagem neo-realista que decidimos abraçar e que determinou todo o trabalho a partir daí e também a utilização de pessoas com deficiências para fazer todas as personagens que têm deficiências”, referiu Alice Austen. Este desafio, explicou a argumentista, colocou também uma “enorme pressão na escolha da actriz para o papel da Tracy”, que acabou a ser desempenhado por “Lolo” Spencer. “Pareceu-nos errado ter uma actriz a fazer o papel de uma personagem com uma deficiência, no meio de um elenco com pessoas deficientes”, disse Alice Austen. Divina comédia Questionado sobre a razão da utilização de um registo cómico na abordagem de temas tão sensíveis quanto variados, presentes em Give me Liberty e o desconforto que isso pode criar ao espectador, Kirill Mikhanovsky diz que “não foi propriamente uma escolha, mas sim o reflexo de uma forma de ver o mundo”, que nasceu a partir do respeito. “Falámos muito acerca deste assunto quando estávamos a desenvolver o guião”, acrescentou Alice Austen sobre o tema. “A partir dos pontos mais trágicos encontramos muitas vezes este tipo de comédia. Para nós foi muito importante não olhar para as personagens de um ponto de vista que nos faça ter pena delas, mas de uma maneira que nos ligue a elas”, explicou. Um dos actores do centro de apoio a pessoas com deficiência, o Eisenhower Center, onde foram gravadas várias cenas de Give me Liberty, queria inclusivamente, conta Alice Austen, cantar de forma irónica, a música “If I only had a brain” do Feiticeiro de Oz. “Estamos a lidar com pessoas que têm a capacidade de se rir de si próprias. “Na minha opinião, a única forma de lidar com a realidade e com os eventos trágicos das nossas vidas é através da comédia”, acrescentou Kirill Mikhanovsky. “É a única maneira de enfrentar o drama, de o confrontar e sobreviver. Isto pode soar estranho, mas vem do amor. Se amarmos e respeitarmos estas pessoas, o humor vai nascer a partir do amor e do respeito”. Ficção-científica na RAEM? Durante o processo de criação de Give me Liberty, Kirill Mikhanovsky e Alice Austen chegaram a concluir o argumento para um thriller de ficção-científica que acabaram por colocar de parte. Agora, passados cinco anos, tanto o realizador como a argumentista querem retomar o projecto e equacionam mesmo gravar algumas partes em Macau. “Eu e a Alice escrevemos um thriller de ficção científica que queremos retomar agora e, tantos anos depois, achamos que é um trabalho sofisticado, onde Macau se enquadra perfeitamente”, afirmou Kirill Mikhanovsky. “Estivemos a ver Macau e achámos que partes deste novo projecto podem ser gravadas aqui. Talvez o festival queira de alguma forma fazer parte disso”, acrescentou Alice Austen. “Seria muito entusiasmante usar o tempo que estamos aqui para nos sentarmos e falarmos sobre esta possibilidade de colaboração. Por isso, quem sabe?”, acrescentou.
admin Eventos Festival Internacional de Cinema - EspecialCompetição Internacional | Realizador de Give me Liberty quer fazer próximo filme em Macau A perseverança de Kirill Mikhanovsky e Alice Austen foi levada ao limite para que Give me Liberty fosse uma realidade. O filme, que levou cerca de cinco anos a produzir, contou quase com tantos contratempos como uma conturbada viagem de carrinha pelo Milwaukee. O realizador russo e a argumentista norte-americana contaram ao HM todos os percalços de um filme que centra a sua autenticidade num elenco de actores não profissionais [dropcap]A[/dropcap] dada altura, ao fim de três anos, quando estávamos prestes a começar a gravar, perdemos todo o financiamento, até que um bilionário disse que financiava o filme na totalidade, se o fizéssemos em Detroit. E nós recusámos. Claro que pensámos se não estaríamos a ser estúpidos pois não encontrámos financiamento em mais lado nenhum no Milwaukee”, disse Kirill Mikhanovsky, realizador de Give me Liberty, filme a concurso na Competição Internacional do IFFAM. “Tivemos de ser muito fortes para continuar”, explicou. A vida pode ser uma viagem no interior de uma carrinha de transporte de pessoas que necessitam de cuidados de saúde. Pelo menos é este o entender de Kirill Mikhanovsky e da argumentista Alice Austen, acerca de Give me Liberty, o qual fizeram questão que fosse passado no Milwaukee, EUA, e que contasse a história de uma personagem local. Além disso, o filme teria também de contar com actores não-profissionais, alguns com mais de 80 anos e outros, portadores de deficiências. “O Milwaukee é uma das cidades mais segregadas dos EUA e usámos a carrinha literalmente como um veículo que poderia ligar pessoas diferentes, de várias partes da cidade e representar a forma como a América é actualmente, mas isto é a parte filosófica. Essencialmente queríamos contar a história deste jovem que está perdido na vida e de todas as pessoas que o rodeiam e que querem estar onde precisam de estar, num dia particularmente difícil”, explicou o realizador. No entanto, contar a história desse dia levou cinco anos, pois além de não haver ninguém interessado no financiamento, o facto de o elenco ser composto maioritariamente por actores não profissionais tornou ainda mais difícil a tarefa de angariar financiamento. “Basicamente nos EUA não há financiamento público, é tudo privado. A maior parte do financiamento privado é ditado pelo elenco e, se não há um nome sonante o projecto está praticamente destinado a falhar”, explicou Mikhanovsky. Mas a decisão estava a tomada e o projecto foi-se tornando “muito pessoal para ambos” pela quantidade de energia emprestada. “A utilização de actores não profissionais é uma abordagem neo-realista que decidimos abraçar e que determinou todo o trabalho a partir daí e também a utilização de pessoas com deficiências para fazer todas as personagens que têm deficiências”, referiu Alice Austen. Este desafio, explicou a argumentista, colocou também uma “enorme pressão na escolha da actriz para o papel da Tracy”, que acabou a ser desempenhado por “Lolo” Spencer. “Pareceu-nos errado ter uma actriz a fazer o papel de uma personagem com uma deficiência, no meio de um elenco com pessoas deficientes”, disse Alice Austen. Divina comédia Questionado sobre a razão da utilização de um registo cómico na abordagem de temas tão sensíveis quanto variados, presentes em Give me Liberty e o desconforto que isso pode criar ao espectador, Kirill Mikhanovsky diz que “não foi propriamente uma escolha, mas sim o reflexo de uma forma de ver o mundo”, que nasceu a partir do respeito. “Falámos muito acerca deste assunto quando estávamos a desenvolver o guião”, acrescentou Alice Austen sobre o tema. “A partir dos pontos mais trágicos encontramos muitas vezes este tipo de comédia. Para nós foi muito importante não olhar para as personagens de um ponto de vista que nos faça ter pena delas, mas de uma maneira que nos ligue a elas”, explicou. Um dos actores do centro de apoio a pessoas com deficiência, o Eisenhower Center, onde foram gravadas várias cenas de Give me Liberty, queria inclusivamente, conta Alice Austen, cantar de forma irónica, a música “If I only had a brain” do Feiticeiro de Oz. “Estamos a lidar com pessoas que têm a capacidade de se rir de si próprias. “Na minha opinião, a única forma de lidar com a realidade e com os eventos trágicos das nossas vidas é através da comédia”, acrescentou Kirill Mikhanovsky. “É a única maneira de enfrentar o drama, de o confrontar e sobreviver. Isto pode soar estranho, mas vem do amor. Se amarmos e respeitarmos estas pessoas, o humor vai nascer a partir do amor e do respeito”. Ficção-científica na RAEM? Durante o processo de criação de Give me Liberty, Kirill Mikhanovsky e Alice Austen chegaram a concluir o argumento para um thriller de ficção-científica que acabaram por colocar de parte. Agora, passados cinco anos, tanto o realizador como a argumentista querem retomar o projecto e equacionam mesmo gravar algumas partes em Macau. “Eu e a Alice escrevemos um thriller de ficção científica que queremos retomar agora e, tantos anos depois, achamos que é um trabalho sofisticado, onde Macau se enquadra perfeitamente”, afirmou Kirill Mikhanovsky. “Estivemos a ver Macau e achámos que partes deste novo projecto podem ser gravadas aqui. Talvez o festival queira de alguma forma fazer parte disso”, acrescentou Alice Austen. “Seria muito entusiasmante usar o tempo que estamos aqui para nos sentarmos e falarmos sobre esta possibilidade de colaboração. Por isso, quem sabe?”, acrescentou.