Trump avisa China que “outra Tiananmen” em Hong Kong prejudicaria acordo comercial

[dropcap]O[/dropcap] Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deixou ontem um aviso à China ao afirmar que uma repressão dos protestos em Hong Kong semelhante ao massacre de Tiananmen prejudicaria as negociações sobre um acordo comercial.

“Acho que seria muito difícil chegar a um acordo se houver violência, (…) se for outra Praça Tiananmen”, disse Trump aos jornalistas, em Nova Jersey.

“Acho que seria muito difícil se houvesse violência”, reforçou o presidente norte-americano.
As manifestações em Hong Kong duram há mais de dois meses e a China elevou o tom recentemente, gerando receios de uma repressão sangrenta como a de 1989, na Praça de Tiananmen, em Pequim.

Donald Trump fez esta declaração no mesmo dia em que o seu principal conselheiro económico, Larry Kudlow, disse que Washington e Pequim estão a tentar activamente retomar as negociações para acabar com a guerra comercial entre os dois países.

Manifestantes protestaram este domingo à frente da sede do parlamento de Hong Kong, após uma marcha que estava proibida pelas autoridades, gritando palavras de ordem e apontando ‘lasers’ à polícia anti-motim posicionada no terraço do edifício.

De acordo com o movimento pró democracia que tem liderado os grandes protestos contra a lei da extradição, desde o início de Junho, mais de 1,7 milhões de pessoas participaram no protesto.

Em 16 de Agosto, um jornal oficial do Partido Comunista Chinês afirmou que se o exército intervier em Hong Kong não se irá repetir o massacre de Tiananmen, há 30 anos.

Em editorial, o Global Times, jornal em inglês do grupo do Diário do Povo, o órgão central do Partido Comunista, advertiu que “Pequim não decidiu ainda intervir pela força para reprimir os protestos em Hong Kong, mas esta opção está claramente em cima da mesa”.

19 Ago 2019

Protesto de ontem juntou mais de 1,7 milhões de manifestantes em Hong Kong

João Carreira, enviado da agência Lusa

 

[dropcap]M[/dropcap]ais de 1,7 milhões de pessoas manifestaram-se ontem, em Hong Kong, informou o movimento pró-democracia que tem liderado os grandes protestos contra a lei da extradição, desde o início de Junho.

Em conferência de imprensa, a Frente Cívica de Direitos Humanos (FCDH) sublinhou, contudo, que devido às restrições impostas da polícia, muitos acabaram por não conseguir chegar ao local da manifestação, que foi autorizada, apesar da marcha agendada ter sido proibida.

Este foi o segundo maior protesto desde que as manifestações começaram em Junho. A 9 de Junho, a organização contabilizou um milhão de pessoas, em 12 de Junho meio milhão e em 16 de Junho dois milhões, praticamente um terço da população de Hong Kong.

A grande adesão lançou o caos no centro de Hong Kong, com estradas cortadas e os transportes na cidade seriamente afectados, em especial o metro e os autocarros.

Com o cair da noite alguns milhares de manifestantes ‘acamparam’ à porta do parlamento, muito perto do quartel general da polícia que tinha autorizado a manifestação, mas não a marcha.

Os jovens, a esmagadora maioria dos manifestantes, protestam à frente da sede do parlamento de Hong Kong, gritando palavras de ordem e apontando ‘lasers’ às forças de segurança.

Vários elementos das forças de segurança posicionarem-se em zonas-chave no centro da cidade, como foi o caso do Gabinete de Ligação de Pequim em Hong Kong e do parlamento: o primeiro foi um dos alvos dos manifestantes, o segundo chegou mesmo a ser invadido e parcialmente vandalizado.

A porta-voz do movimento que tem liderado os protestos pró-democracia em Hong Kong disse hoje à Lusa que o derradeiro objetivo dos manifestantes é garantir o sufrágio universal no território.

A também vice-coordenadora da FFCDH, Bonnie Leung, explicou que os protestos que duram há nove semanas focaram-se inicialmente na rejeição das emendas propostas pelo Governo à lei da extradição, que permitiria a extradição de suspeitos para a China.

Contudo, ontem as reivindicações dos manifestantes contemplaram a exigência do sufrágio universal, tanto para a eleição do chefe do Governo, como para o Conselho Legislativo. A lista de reivindicações tem sido alvo de ajustes. Primeiro somaram-se exigências, mas hoje o habitual pedido de demissão da chefe do Governo foi aparentemente substituído pela reivindicação pelo sufrágio universal.

Os manifestantes exigem a retirada definitiva da lei da extradição, a libertação dos manifestantes detidos, que as acções dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial e sufrágio universal nas eleições para chefe do Executivo e para o Conselho Legislativo, o parlamento de Hong Kong.

Depois das manifestações de Junho que juntaram milhões nas ruas, após uma greve geral que paralisou a cidade, de contestações marcadas por violentos confrontos e de dias de caos vividos no aeroporto, a FCDH volta a promover um protesto pacífico para aumentar a pressão sobre o Governo de Hong Kong, num momento em que Pequim mobilizou milhares de tropas na cidade vizinha de Shenzen, fazendo crescer os receios de uma intervenção chinesa.

Há mais de dois meses que Hong Kong é palco de protestos, marcados por violentos confrontos entre manifestantes e a polícia, que tem usado balas de borracha, gás pimenta e gás lacrimogéneo.

19 Ago 2019

Pelo menos 4 mil pessoas detidas em Caxemira em duas semanas

[dropcap]P[/dropcap]elo menos 4.000 pessoas foram detidas em Caxemira sob controle indiano desde a revogação da autonomia do território por Nova Deli, há duas semanas, para evitar manifestações, disseram fontes do governo citadas pela AFP.

Estas pessoas foram detidas de acordo com a lei de segurança pública, explicou um magistrado citado pela agência de notícias francesa AFP, acrescentando que esta lei permite que as autoridades prendam uma pessoa até dois anos sem acusação ou julgamento.

A imprensa indiana contabilizava na quarta-feira 500 pessoas detidas na semana passada em Jammu-Caxemira, o lado indiano do território.

Na sexta-feira, as autoridades paquistanesas afirmaram que pelo menos seis paquistaneses foram mortos em menos de 24 horas por disparos de tropas indianas feitos a partir da Linha de Controlo na região da Caxemira.

Neste território, reivindicado pela Índia e pelo Paquistão, as tensões têm estado a crescer desde 5 de Agosto, quando o Governo indiano anunciou a revogação da autonomia constitucional do estado de Jammu-Caxemira, medida explosiva que visa colocar a região sob uma tutela mais direta de Nova Deli e que o Paquistão considerou “ilegal”.

As duas potências nucleares do sul da Ásia já travaram duas guerras pelo controlo de Caxemira.
Desde 1948, uma resolução da ONU prevê a organização de um referendo de autodeterminação em Caxemira, que se mantêm letra morta face à oposição de Nova Deli.

Diferentes grupos separatistas combatem, há décadas, a presença de cerca de 500 mil soldados indianos na região de Jammu-Caxemira, para exigir a independência do território ou a integração no Paquistão. Dezenas de milhares de pessoas, na grande maioria civis, já morreram no conflito.

À mesa das nações
Desde que a revogação do estatuto foi anunciada, a Caxemira indiana vive num “colete de forças”, com a proibição de concentrações, o corte de comunicações e o reforço das forças de segurança indianas.
Na quarta-feira, o Governo do Paquistão pediu uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU sobre a decisão da Índia de revogar o estatuto de autonomia de Caxemira.
O tema, que há décadas não era debatido no Conselho de Segurança das Nações Unidas, foi debatido na sexta-feira pelo órgão, à porta fechada.
Em declarações à imprensa no final dos trabalhos, a embaixadora do Paquistão na ONU, Maleeha Lodhi, disse que a sessão permitiu demonstrar que naquela região, alvo de disputa entre Islamabad e Nova Deli, as pessoas “podem estar enclausuradas, mas as suas vozes foram ouvidas nas Nações Unidas”.
Maleeha Lodhi acrescentou que as consultas no Conselho de Segurança da ONU, centradas na recente decisão indiana de condicionar a autonomia administrativa de Caxemira, “são o primeiro e não o último passo”, e terminará somente “quando for feita justiça ao povo de Jammu e Caxemira”.
O Conselho de Segurança não aprovou qualquer declaração no final da sessão à porta fechada, que foi pedida pela China e pelo Paquistão.

19 Ago 2019

Lei do mais forte

[dropcap]N[/dropcap]a semana passada o Corpo da Polícia de Segurança Pública de Macau usou, de forma preguiçosa e pouco precisa, a lei para justificar uma decisão política. Dias negros se anunciam quando forças policiais tomam decisões políticas.

Não vou discutir aqui os méritos, ou deméritos, da vigília que estava marcada para esta segunda-feira. A coluna de hoje serve só para perguntar para que serve a Lei Básica e a ilusão de que vivemos num Estado de Direito.

A existência de um sistema judicial isento de arbitrariedade é condição essencial à fixação de empresas, à prosperidade económica e a uma relação saudável entre cidadão, sociedade e o poder. É o que separa uma sociedade civilizada da barbárie. A decisão da polícia assentou numa interpretação da intenção do protesto, de que a vigília era uma espécie de elogio à ilegalidade (qual? Não interessa).

Além disso, apesar da vigília anunciada ser silenciosa e pacífica, diz-se que pode perturbar a paz social. Quão frágil é a mui apregoada harmonia de Macau se fica gravemente abalada por pessoas sentadas em silêncio? E sejamos francos. Teme-se a violência de uma manifestação pacífica e silenciosa, ou a reacção que esta pode provocar? Se a segunda hipótese for a mais provável, a harmonia de Macau está presa por pinças e explode ao mínimo sinal de opinião oposta ao status quo político.

Esta é a mensagem que o poder está a passar. Finalmente, podemos concordar que o ordenamento jurídico de Macau deixa de ter aplicabilidade quando o assunto assume um cariz ligeiramente político? Resta-nos continuar a ouvir elogios à Lei Básica e ao princípio “Um País, Dois Sistemas” por aqueles que os deitam abaixo constantemente.

19 Ago 2019

Luta entre grilos

[dropcap]O[/dropcap] som intenso produzido pela série de pêlos colocados nas bordas das asas ao roçarem uma na outra dá para perceber estar o macho à procura de atrair uma fêmea. O grilo, insecto omnívoro da ordem Orthoptera da Família Gryllidae conta com cerca de 900 espécies. Em Outubro a fêmea põe c.500 ovos que eclodem em Abril, Maio, e nos primeiros 20 a 25 dias muda a pele por seis vezes, levando cada uma de 3 a 4 dias. Vivem 150 dias, sendo o seu cantar um sinal de boa sorte.

O combate entre grilos foi para os chineses um dos seus divertimentos milenares e se a facilidade de os encontrar no campo permitia ao povo poder usufruir sem custos tal diversão, houve aficcionados entre oficiais governamentais e mesmo na corte imperial que não enjeitavam assistir a esses confrontos e alguns até adquiriram um animal vencedor. Inveterados jogadores, os chineses investiram nesses combates, que num entusiasmo crescente evoluiu para um negócio, fazendo-se apostas a atingir avultadas somas. Assim era preciso arranjar possantes grilos machos e daí aparecerem pessoas especializadas em os capturar nas tocas. Estes não se deixavam facilmente apanhar e só ao fim da tarde e à noite davam com o canto sinal da sua existência. Segundo Leonel Barros, “O grilo campestre é um dos insectos mais vulgares e abundantes na China. O preço de cada animal varia pelo seu tamanho e pela constituição física, podendo portanto, um bom grilo com três centímetros de comprimento, com fortes patas traseiras, vir a custar cerca de setecentas a novecentas patacas. Os menores, isto é, os que não ultrapassam os dois centímetros custam apenas umas cem a cento e vinte patacas, o que já se pode considerar bastante caro, pois o verdadeiro preço para animais desse tamanho, fora da época das apostas é apenas de umas cinco ou seis patacas.” Texto de meados do século XX que, em conjunto com o de Luís Gonzaga Gomes, refere os nomes das variedades dos grilos lutadores: cabeça branca; cabeça amarela; cabeça preta; mandíbulas de caranguejo; fios de seda; antenas prateadas; e mancha de flor de ameixoeira conhecido por Mui-fá-tim.

“Os grilos apanhados nas tocas de escolopendras ou serpentes, também em hibernação, são os mais combativos e difíceis de apanhar, razão por que os insectos apanhados nestas circunstâncias são vendidos por elevados preços, que chegam a ser cinco vezes superiores ao valor dos grilos capturados nos campos de cultura”, segundo Leonel Barros, que adita, “Nas ilhas da Taipa e Coloane encontram-se alguns grilos que servem para os combates. No entanto, os mais apreciados são aqueles que vêm da China e, para os trazer existem pessoas especializadas.” Para os grilos entrarem em Macau era necessário pagar uma taxa de importação e por isso eram eles transportados ilegalmente dentro de “tubos de bambu em cujo interior existem algumas folhas verdes e bagos de alpista”, escondidos nas bagagens. “Só que as mais das vezes, tal intenção não é aceite pelo transportado: segundo consta, os grilos vêm muito caladinhos nos tubos de bambu e, como se possuíssem um sexto sentido começam a fazer barulho junto à alfândega… Daí que muitos sejam transportados de barco, para evitar aborrecimentos.”

O valor de um grilo campeão, um Mui-fá-tim era de uma fortuna, pois rendia muito dinheiro ao seu proprietário “sendo o mais estimado e mais valioso, o bicho cujo chiar for mais ruidoso e estrídulo” e em Macau, os melhores exemplares “eram disputados principalmente entre os membros das riquíssimas famílias Siu, Lei e Kuan desta cidade.”
Tratados como ídolos, os grilos “viviam em verdadeiros hotéis de luxo (luxuosos potes de barro vidrado), com todas as mordomias. Alimentavam-nos de duas espécies de peixe, gorgulhos especiais, castanha ou arroz cozido e mel para os avigorentar. Quando se encontram atacados de indigestão, uma dose regular de larvas vermelhas, os hong-tch’ong, põe-nos outra vez lestos. Se estão constipados, pequena porção de mosquitos, curam-nos logo; se andam febris, são restabelecidos com rebentos da ervilheira selvagem, e se a respiração se lhes torna difícil, administram-se-lhes borboletas de bambu. Além desses cuidados materiais, o macho necessita de ser visitado por uma companheira todas as noites, não lhe sendo, porém, permitido prolongar essa visita por mais de duas horas”, segundo LGG

Os combates

Sendo Macau no início do século XX célebre pela luta de grilos, em Agosto as inúmeras hospedarias e hotéis enchiam-se de vendedores desses insectos e de entusiastas que chegavam como apostadores.

Em dias previamente fixados, aberto ao público realizavam-se os combates em locais como o Hotel Central e o Hotel Ung Chao (situado primeiro na Rua do Bocage e depois na Rua das Lorchas), bem como em algumas residências particulares de chineses como na Rua dos Cules, na Travessa dos Anjos e na Calçada do Gamboa.

Uma multidão enchia o espaço para assistir aos combates, iniciados pela escolha dos grilos que se vão gladiar através do peso, da sua força e do tamanho. A partir daí fazem-se as apostas, que nunca eram com dinheiro a pronto, havendo apenas duas espécies de paradas, as de porco assado (kâm-tchü ou Siu Chi 金猪), que podiam ser de $300, $150 ou de $100, conforme prévio ajuste e a do péang (饼, bolo chinês), de menor valor. As apostas eram feitas por contratos sob palavra ou lavravam-se promissórias e “Feita a jogada, nenhuma das partes podia voltar com a palavra atrás e as paradas elevavam-se frequentemente a mais de dez porcos assados ou seja, a uns poucos de milhares de patacas.”

Colocados os grilos num vaso circular a servir de arena, os donos com um pincel de pêlo de bigode de rato esfregavam as costas do seu insecto acicatando-os, levando ao início de um combate cujo desenlace era decidido, ou pelo desmembramento de um dos animais, ou pela recusa e fuga de um dos grilos.

Segundo Luís Gonzaga Gomes, “O proprietário do local ou do exclusivista recebia 20% e os donos dos grilos vencedores numa cerimónia solene com um galhardete encarnado, tendo inscritos caracteres laudatórios ao grilo campeão. Forma-se, em seguida, um cortejo para fazer regressar o grilo à casa do proprietário, indo à frente um criado empunhando com donaire o galhardete e durante o trajecto lançam-se petardos, com o fim de atrair a multidão dos curiosos.”

“Quando morriam, os grilos vitoriosos eram metidos em pequenos recipientes, do tamanho de uma caixa de fósforos, e enterrados com grande pompa”, segundo Leonel Barros que termina dizendo haver em Macau “cerca de vinte equipas que participam todos os anos nos combates de grilos, organizando mesmo competições internacionais com equipas de Hong Kong, onde se disputam e distribuem medalhas de ouro aos vencedores.”

Estas lutas ocorreram entre a segunda metade do século XIX e a primeira do seguinte. Desde então decaíram e agora deixaram de se fazer.

19 Ago 2019

Filme de Pedro Costa conquista Locarno

[dropcap]O[/dropcap] filme “Vitalina Varela”, do realizador português Pedro Costa, conquistou no sábado, o Leopardo de Ouro, prémio máximo do Festival Internacional de Cinema de Locarno, na Suíça, anunciou a organização.

Depois de ter sido distinguido em Locarno, em 2014, com o prémio de melhor realização por “Cavalo Dinheiro”, Pedro Costa regressou este ano ao festival estreando o filme sobre uma mulher cabo-verdiana que chega a Portugal três dias após a morte do marido, depois de ter estado 25 anos à espera de um bilhete de avião.

Pedro Costa conheceu Vitalina Varela quando rodava “Cavalo Dinheiro”, acabando por incluir parte da sua história na narrativa, mas o novo filme é totalmente dedicado a esta cabo-verdiana de 55 anos.

A actriz cabo-verdiana também foi distinguida na sexta-feira com o Prémio Boccalino d’Oro para melhor actriz, disse à agência Lusa a produtora Optec Filmes.

O Boccalino d’Oro é um prémio paralelo ao Festival Internacional de Cinema de Locarno, entregue por um júri independente, tendo sido criado por um grupo de programadores e cineastas no ano 2000.

Só um realizador português conquistou antes o Leopardo de Ouro do Festival de Locarno: José Álvaro Morais, em 1987, pelo filme “O Bobo”.

Realizador independente

Nascido em Lisboa, em 1959, Pedro Costa é um cineasta independente, herdeiro das experiências feitas em 16mm no documentário pelos seus pares do chamado Novo Cinema, tendo-se formado na Escola Superior de Teatro e Cinema do Instituto Politécnico de Lisboa.

Iniciou a actividade nos anos 1990, tendo sido assistente de realização de Jorge Silva Melo e de João Botelho, criando, até hoje, 15 longas e curtas-metragens como “Ne Change Rien” (2009), “Juventude em Marcha” (2006), “Ossos” (1997), “Casa de Lava” (1994) e “O Sangue” (1989).

O filme “No Quarto da Vanda” deu-lhe o Prémio France Culture para o Cineasta Estrangeiro do Ano, no Festival de Cannes de 2002.

O novo filme de Pedro Costa estará ainda em competição, em Setembro, no Festival de Cinema de Toronto, no Canadá, e no 57.º Festival de Cinema de Nova Iorque, nos Estados Unidos, onde tem garantida distribuição em 2020.

No Festival de Cinema de Locarno foram também exibidos filmes dos realizadores portugueses Basil da Cunha e João Nicolau, na competição internacional.

Felicitações presidenciais

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, felicitou o cineasta português Pedro Costa por ter conquistado o Leopardo de Ouro, prémio máximo do Festival Internacional de Cinema de Locarno, na Suíça. “Felicito o cineasta Pedro Costa pelo Leopardo de Ouro que o Festival de Locarno atribuiu a ‘Vitalina Varela’”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa numa mensagem publicada na página oficial da Presidência da República. O Presidente português considera ainda que, “se o reconhecimento internacional de um cineasta luso é sempre motivo de regozijo, é-o ainda mais quando demonstra que o cinema pode ser empatia intransigente e rigor fulgurante”.

19 Ago 2019

Teatro | “Rua de Macau – Sabores”, de Cheong Kin I, no CCM dia 24

A encenadora Cheong Kin I volta a Macau para mostrar o seu novo espectáculo, onde conta experiências de uma geração anterior e a história especial de como o seu pai fugiu da China e aqui se fixou nos idos 1980. É já no próximo sábado, às 16h e às 20h

 

[dropcap]O[/dropcap] espectáculo “Rua de Macau – Sabores” traz de regresso ao território Cheong Kin I, encenadora local radicada em Taiwan, para apresentar o seu mais recente trabalho no contexto dos concertos teatrais “Rapsódia de Música do Cavalo Fantasma”, um evento organizado anualmente desde 2013 e integrado nos “Espectáculos para os Cidadãos” da Fundação Macau.

O argumento da peça resulta da colaboração entre Cheong Kin I e o dramaturgo local Perry Fok. São várias histórias baseadas na experiência da geração precedente à sua e mergulha os espectadores numa certa nostalgia da cidade de Macau. Em cena irão decorrer vários actos, um dos quais directamente inspirado num romance inédito escrito pelo pai da encenadora. Este é sobre a história verídica de como o autor fugiu da China e chegou ao território a nado, conseguindo escapar à atenção dos guardas da fronteira chinesa, numa época em que Macau ainda se encontrava sob administração portuguesa.

Segundo revelou Cheong Kin I, no texto de imprensa, “a essência da peça é feita das experiências das gentes de Macau. Entre as vagas de imigração dos anos 70 e 80, muitos chineses do continente chegaram clandestinamente a Macau e Hong Kong. Nestas vagas de imigração esteve o meu pai, que atravessou ilegalmente o mar a nado para alcançar Macau”.

Esta narrativa autobiográfica é um testemunho “das gentes da geração passada que arriscaram a sua vida, que se lançaram resolutamente à água, sem temer o que lhes poderia acontecer, a fim de atingir a margem que pretendiam alcançar: Macau”, lê-se no excerto. É também uma homenagem ao “espírito trabalhador” de quem “não tinha medo de colocar a sua vida em jogo, nem de trabalhar duramente para sobreviver e alimentar as suas famílias”. As novas oportunidades no território “eram tudo aquilo para que lutavam naquela época, e os esforços individuais foram, no final, compensados”, nas palavras de Cheong Kin I.

O espectáculo integra diferentes estilos musicais, desde as composições clássicas ao pop moderno, com os actos teatrais. No elenco estão nomes de artistas locais como Raymond Chan, presidente da Associação de Piano de Macau e também maestro da peça, Sean Pang e Alex Ao Ieong, cantores de pop cantonês, Ho Pak Wang, compositor e presidente da assembleia geral da Associação dos Instrumentistas de Macau, Perry Fok, co-argumentista da peça, e ainda Joe Lei, letrista do pop cantonês de Macau, que continua profissionalmente activo em Hong Kong desde 1999.

A peça sobe ao palco do pequeno auditório do Centro Cultural de Macau (CCM) já no próximo dia 24, sábado, para duas exibições, às 16h e às 20h.

Ilusão eterna

Cheong Kin I é uma presença recorrente na cena teatral local e tem trazido vários projectos seus ao território. O ultimo trabalho que cá apresentou foi a peça “A Reunificação das Duas Coreias”, em Fevereiro de 2018, a partir da sua interpretação do texto do dramaturgo francês Joël Pommerat.

À época, em entrevista ao Hoje Macau, Cheong Kin I revelou quais eram os seus maiores desafios enquanto encenadora e artista. “Aspiro criar a minha própria realidade, mas vai ser sempre só um processo de procura, porque, como digo, a realidade não existe. É uma ilusão eterna. É uma grande ironia que sempre procuramos ao falar de tudo o que vimos a acumular, como percepções e experiências de vida”.

Nessa altura já se encontrava a desenvolver a ideia que agora vem colocar em cena. “Vou continuar a trabalhar nos temas identitários, directamente ou indirectamente. Não acho que possa mudar nada, mas pelo menos penso que sou capaz de me mudar a mim própria”, falando das histórias que a tocam pessoalmente e da cidade onde nasceu.

Cheong Kin I é natural de Macau, onde teve o primeiro contacto com o teatro. A sua admiração pela dramaturgia levou-a até Taiwan, para estudar na Escola de Teatro da Universidade Nacional de Artes de Taipé. Aí decidiu permanecer e apostar na carreira, após a conclusão dos estudos, voltando ao território sempre que tem novos trabalhos em mãos.

19 Ago 2019

Saúde | Casos de gripe com aumento enorme em Julho

[dropcap]D[/dropcap]ados estatísticos dos Serviços de Saúde de Macau (SSM) revelam que, no mês passado, foram registados 939 casos de influenza, o que representa um enorme aumento face a igual período de 2018, quando houve apenas 63 casos. De acordo com um comunicado, o aumento foi na ordem dos 1.390,5 por cento e, pelo contrário, de uma diminuição de 63 por cento relativo ao mês anterior, uma vez que foram registados 2535 casos em Junho.

Foram também registados, em Julho, 39 casos de tuberculose pulmonar, o que representa uma subida de mais três casos face a igual período homólogo do ano passado. Além disso, o mesmo comunicado aponta que foram registados sete casos de febre de dengue e diagnosticados oito de VIH sem manifestação dos sintomas da doença, e apenas um caso de SIDA.

O mesmo comunicado dá conta do registo de 662 casos de infecção por enterovírus, número que representa um aumento de casos quando comparados com o período homólogo do ano anterior, uma vez que em 2018 houve 500 casos, ou seja, 32,4 por cento, e uma diminuição quando comparados com o mês passado, 1.160 casos, ou seja, menos 42,9 por cento. Os SSM dão ainda conta de menos casos de varicela e de escarlatina.

19 Ago 2019

JP Morgan | Protestos em Hong Kong não afectam receitas de jogo

Os protestos de Hong Kong não vão trazer grandes consequências para as receitas do jogo, de acordo com a JP Morgan. Além dos apostadores terem alternativas para chegar a Macau sem passarem pela região vizinha, analistas explicam que os visitantes que chegam através de Hong Kong têm pouca expressão no volume de apostas

 

[dropcap]O[/dropcap] impacto real na procura de jogo deve ser reduzido”, lê-se numa nota divulgada pelo gabinete para a Ásia/Pacífico da JP Morgan em relação à repercussão dos protestos em Hong Kong nas receitas do sector do jogo.

De acordo com a multinacional, os visitantes que chegam a Macau podem optar por vir pela Ponte HKZM, ou evitar Hong Kong através dos aeroportos de Shenzhen ou Zhuhai. Quanto aos que chegam por ferry vindos de Hong Kong, a JP Morgan refere que são visitantes que compram pacotes turísticos, que englobam as duas regiões administrativas, com pouca expressão em termos de receitas dos casinos.

“Estimamos que os protestos em Hong Kong afectem as receitas do jogo cerca de 0,5 por cento, impacto que se deve desvanecer gradualmente à medida que as pessoas encontram alternativas para visitar Macau”, escreveram Jeremy An e Christine Wang, analistas da DS Kim.

As projecções chegaram depois de uma semana em que os protestos na região vizinha afectaram o transporte aéreo com o cancelamento de voos no aeroporto de Hong Kong. Recorde-se que a larga maioria dos apostadores de Macau são de fora e que um número considerável chega via aeroporto de Hong Kong.

Outro dos factores que dificulta a correlação entre os protestos e receitas do jogo prende-se com a dificuldade em relacionar o número de visitantes e quanto é gasto nos casinos. Aliás, pequenos grupos de apostadores de grandes quantias, que representam uma percentagem ínfima do volume de visitantes, são importantes componentes no sector.

Caça ao mito

Um dos propósitos da nota da JP Morgan, emitida na passada sexta-feira, era “desmistificar medos” suscitados pela instabilidade em Hong Kong, “fonte de muitas questões levantadas por investidores recentemente”.

“Cerca de 60 por cento do número total de visitantes chega a Macau através de Zhuhai, enquanto os serviços de ferries transportam de Hong Kong e Shenzhen 17 por cento. Pela Ponte HKZM chegam 15 por cento dos visitantes e no aeroporto de Macau aterram 9 por cento. No que diz respeito a turistas oriundos da China, 75 por cento chega através das fronteiras com Zhuhai”, enquadra a consultora do banco de investimento.

Ainda assim, a JP Morgan procedeu a uma avaliação em Macau, sem conseguir discernir abrandamento na afluência dos casinos, facto que pode ter sido distorcido com a forte sazonalidade das férias de Verão.

19 Ago 2019

IPIM | Indústria financeira lidera pedidos de residência

[dropcap]A[/dropcap] maioria dos pedidos aprovados de fixação de residência temporária em Macau, durante o primeiro semestre de 2019, foram para trabalhadores da indústria financeira e da educação, com 50 e 33 por cento de casos respectivamente, segundo divulgou o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM) na sexta-feira.

Neste mesmo período, foi registado apenas 1 novo pedido de residência por “investimentos relevantes” e 61 novos pedidos por “quadros dirigentes e técnicos especializados”. Entre os casos tratados pelo IPIM, que incluem também os apresentados anteriormente, nenhum pedido relativo a “investimentos relevantes” chegou a ser aprovado, havendo 3 nessa categoria que foram indeferidos ou cancelados. Quanto aos “quadros dirigentes e técnicos especializados”, 6 pedidos de residência temporária foram aprovados e 1 acabou por ser indeferido.

19 Ago 2019

Ensino superior | UM e MUST abaixo das 500 melhores do mundo 

A Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau e a Universidade de Macau estão abaixo da lista das 500 melhores instituições de ensino superior do mundo. Os dados relevados pela edição de 2019 do Ranking de Xangai colocam as duas universidades nos mesmos lugares que ocupavam em 2018

 

[dropcap]A[/dropcap] edição 2019 do Ranking de Xangai, que avalia universidades de todo o mundo e que foi o percursor de rankings no ensino superior, coloca a Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau (MUST, na sigla inglesa) abaixo da lista das 500 universidades do mundo. A Universidade de Macau (UM) ocupa ainda uma posição mais inferior, entre os lugares 601-700.

Estes valores são semelhantes a 2018, sendo que mais nenhuma instituição do ensino superior de Macau foi avaliada.

No caso de Hong Kong, não só há mais universidades avaliadas como estão abaixo das 100 melhores do mundo. A Universidade Chinesa de Hong Kong é a primeira, ocupando lugares entre 101 e 150, posição partilhada com a centenária Universidade de Hong Kong. Abaixo das 200 melhores está a Universidade Cidade de Hong Kong, entre os lugares 201-300, tal como a Universidade Politécnica de Hong Kong e a Universidade de Ciências e Tecnologia de Hong Kong.

A lista é editada pela Shangai Ranking Consultancy, que este ano avaliou um total de mil universidades. Como critérios, os editores do ranking adoptam o número de artigos que são publicados nas revistas científicas Nature e Science, bem como o número de artigos de investigação desenvolvidos por universidade e o desempenho per capita de cada universidade em vários parâmetros. São também tidas em conta as medalhas Fields, atribuídas aos investigadores matemáticos ou os Prémios Nobel.

China fora do top 10

Numa lista liderada pela Universidade de Harvard, seguindo-se a Universidade de Standford e Cambridge, a China acaba por ficar abaixo do top 10. A primeira a surgir na lista, na 43.ª posição, é a Universidade Tsinghua, seguindo-se a Peking na 53.ª posição. A Universidade de Zhejiang surge em 70.º lugar, bem perto da Universidade de Tecnologia de Nanyang, que está em 73.º lugar. Mais abaixo está a Universidade Shangai Jiao Tong, em 82.º lugar, sem esquecer a Universidade de Fudan, que está abaixo das 100 melhores, tal como outras universidades chinesas avaliadas.

Em termos gerais, a Ásia e Oceânia tem, em conjunto, apenas 17 universidades no top 100, com a China a contribuir com a maior parte das suas universidades, 74, nos lugares 501 a 1000.

No que diz respeito ao continente asiático, a Universidade de Tóquio é a primeira a constar na lista, ao ocupar a 25.ª posição. Segue-se a Universidade de Quioto, no 32 lugar. A Universidade Nacional de Singapura surge em 67 lugar.

19 Ago 2019

Poluição | DSAMA não sabe de onde vem o lixo das praias

[dropcap]A[/dropcap]gnes Lam quis saber de onde provém o excesso de lixo a flutuar nas águas costeiras, e quais os mecanismos de cooperação com as regiões vizinhas para garantir a protecção ambiental das zonas balneares.

A DSAMA, respondeu à interpelação da deputada esclarecendo que o lixo das praias é composto por “plantas, galhos secos, tábuas de madeira, plásticos” que, pela grande variedade, “é difícil identificar a sua origem”, acabando no areal de Hác-Sá ou de Cheoc Van, consoante os ventos sejam de leste ou de sul.

Sempre que se verifica uma acumulação em excesso de resíduos, como acontece em caso de passagem de tufões ou tempestades, as acções de limpeza são reforçadas, com mais recursos humanos e dispositivos técnicos, garante a DSAMA, que tem divulgado a informação e comunicado avisos à população através da sua página electrónica.

Os responsáveis acrescentaram ainda que tem havido cooperação estreita com os serviços competentes vizinhos sobre protecção ambiental, nomeadamente nos casos recentes do “aparecimento de cadáveres de golfinhos-corcunda-indopacíficos”, cuja investigação está a ser acompanhada pela província de Guangdong e as autoridades de Zhuhai.

19 Ago 2019

Novo Macau | Portal de referendo alvo de ataque cibernético

O website do referendo promovido pela Associação Novo Macau, relativo à eleição do Chefe do Executivo, foi alvo de um ataque cibernético na quinta-feira. Contudo, a associação assegura que não foram violados quaisquer dados pessoais e que não houve interferência nos votos efectuados

 

[dropcap]A[/dropcap] poucos dias de se realizar mais uma eleição para o cargo do Chefe do Executivo, onde Ho Iat Seng é o único candidato, o website da Associação Novo Macau (ANM) relativo ao referendo civil foi alvo de um ataque cibernético na passada quinta-feira. A informação foi avançada pela própria associação na sua página de Facebook.

“O website relativo ao referendo sobre o sufrágio universal, organizado pela ANM, foi alvo de um ataque cibernético ontem (15 de Agosto). Apesar da existência de ataques contra o website, a ANM gostaria de frisar que não houve quaisquer impactos na segurança dos servidores da ANM, pelo que a integridade e segurança dos dados associados aos votos não foram afectados”, lê-se no comunicado.

De acordo com a ANM, o ataque em causa “tinha como objectivo interferir com o serviço que envia mensagens de verificação para os participantes na votação”, mas em cerca de duas horas os técnicos da associação conseguiram resolver o problema. “O ataque foi bloqueado e o seu efeito foi restringido”, apontam ainda.

Ainda assim, os responsáveis da ANM alertam para o facto de poderem ocorrer problemas de ordem técnica. “A maioria dos participantes não teve qualquer problema em votar ontem (quinta-feira), mas para aqueles que não receberam uma mensagem de notificação nos últimos dias, devem votar novamente.”

GPDP sem resposta

Sulu Sou, deputado à Assembleia Legislativa e membro da direcção da ANM, garantiu ao HM que, até às 16h deste domingo tinham sido recebidos 4.756 votos. No que diz respeito ao Gabinete de Protecção de Dados Pessoais (GPDP), sobre uma eventual ilegalidade do referendo, Sulu Sou mostra-se tranquilo.

“De acordo com a lei de protecção de dados pessoais, apenas temos de notificar o Gabinete sobre a actividade que estamos a organizar e sobre a forma como vamos organizar os dados pessoais. Até ao momento ainda não recebemos quaisquer restrições por parte do GPDP”, apontou.

Em 2014, aquando da reeleição de Chui Sai On para um segundo mandato como Chefe do Executivo, o referendo civil promovido pela ANM gerou cinco detenções. Questionado sobre a possibilidade de virem a ocorrer mais detenções este ano, Sulu Sou apenas disse que a ANM tem vindo a ser alvo de “abusos e ameaças” relacionadas com este tipo de actividades eleitorais.

“Recentemente temos vindo a registar alguns ataques cibernéticos e algumas pessoas tem cometido abusos ou feito ameaças. Apesar de não estar ao mesmo nível da situação de 2014, a situação é semelhante”, frisou o deputado do campo pró-democrata.

Ameaças de rua

Sulu Sou revelou que desde quarta-feira foi alvo de ameaças ao promover o referendo organizado pela Associação Novo Macau. Aliás, o deputado acrescenta que alguns locais de recolha de assinaturas foram cercados por pessoas que lançaram insultos aos pró-democratas. O deputado espera que a acção da Novo Macau seja respeitada de forma pacífica. “Caso estas acções continuem, vou primeiro avaliar a situação. Se se intensificarem, vou pedir auxílio jurídico”, sublinhou.

19 Ago 2019

Eleições | Ho Iat Seng recusa inclusão de empregadas domésticas no salário mínimo

A inclusão dos trabalhadores domésticos no âmbito do salário mínimo universal está fora de questão para Ho Iat Seng. Para o único candidato a Chefe do Executivo, o Governo em Macau é diferente do modelo ocidental, e a mudança de governante não serve para mudar políticas, mas sim para dar continuidade às já implementadas, justificou em conferência de imprensa

 

[dropcap]O[/dropcap] Chefe do Executivo muda, mas o Governo é o mesmo e como tal deve dar continuidade às políticas implementadas. A ideia foi defendida no passado sábado pelo único candidato ao mais alto cargo do Governo, Ho Iat Seng, em conferência de imprensa para justificar que vai manter fora da lei do salário mínimo as empregadas domésticas.

“Em Macau o Governo é único e portanto o novo Executivo vai continuar com as políticas definidas pelo Governo actual. Isto é diferente do que o que acontece no ocidente que quando se troca de governos as políticas também são diferentes”, apontou, acrescentando que “se for eleito, o Governo vai manter as políticas respectivas nesta questão e, de acordo com as medidas já tomadas, as empregadas domésticas vão continuar a ser excluídas do salário mínimo”.

Ho admite, contudo, que o diploma possa ser sujeito a revisões segundo as premissas legislativas. “Mas nós não dizemos que as políticas não sejam revistas. Na Assembleia Legislativa já se fez revisão de políticas de dois em dois anos”, referiu o candidato.

Ho mantém-se assim firme no seu propósito, e apesar das recentes críticas da Organização Internacional do Trabalho à proposta de lei sobre o salário mínimo universal, as empregadas domésticas vão continuar de fora, visto ser este “o consenso social”, justificou na semana passada subdirectora dos Serviços para os Assuntos Laborais, Ng Wai Han.

Acerca do crescente fosso económico e social entre as classes pobres e ricas de Macau, Ho considerou que o actual Executivo tem feito um bom trabalho a este respeito. “Em relação a esta questão acho que qualquer sociedade e qualquer país tem o problema do fosso entre pobres e ricos”, apontou Ho, na sessão de sábado. “O actual Governo tem feito muitos trabalhos e estabelecido vários sistemas para construir mais habitação social e económica e para garantir os rendimentos às famílias mais carenciadas. Tem ainda realizado trabalhos para garantir a qualidade de vida dos idosos, por exemplo, com o sistema de pensões”, elaborou o futuro Chefe do Executivo, para mostrar a sua concordância com as actuais iniciativas.

Ho recordou ainda que dispõe de um orçamento de 3,8 mil milhões de patacas para ajudar a garantir os rendimentos das famílias mais carenciadas. Por outro lado, a questão habitacional está controlada, sendo que o período de espera perspectivado para quatro anos e meio é “razoável” uma vez que ainda há obras para fazer.

No que respeita à necessidade de contratação de trabalhadores não residentes, especialmente por parte das PME, Ho Iat Seng afasta, para já, uma maior abertura nesta matéria. Para o candidato, o mais importante é equilibrar os sectores. Ho considera que “o ratio da mão de obra não residente e da residente é muito razoável”.

Equilíbrio escolar

Já ontem, num encontro público para responder às questões da sociedade, Ho Iat Seng defendeu que as empregadas domésticas devem ter direito à segurança social. “Trata-se de um grande grupo de pessoas, é preciso colocar este grupo na segurança social. Não devem ser tratados de forma diferente”, disse, na Associação Comercial de Macau.

Ho alertou ainda para as dificuldades de Macau em promover a criatividade nos jovens. “Para os estudantes terem um percurso de vida mais agradável, é necessário que exista uma negociação entre as escolas e os pais de modo a que não sejam sobrecarregados com tarefas”, disse. “Muitas vezes as escolas não dão tarefas aos alunos mas os pais dão muitas actividades extra-curriculares às crianças”, sublinhou.

No que respeita à formação dos estudantes para “Amar a Pátria, Amar Macau”, o candidato considera que os programas locais contemplam aulas suficientes, acrescentando que cabe aos professores prestar os devidos esclarecimentos acerca do que se passa na sociedade.

 

Proximidade com Portugal

Ho Iat Seng, garantiu no sábado que vai continuar a manter relações “muito estreitas” com Portugal, mantendo as políticas definidas pela China. “A China tem mantido relações bastante estreitas com Portugal e, portanto, nós também”, afirmou o antigo presidente da Assembleia Legislativa (AL), num encontro com jornalistas. Ao nível do investimento português no território, Ho quer promover o sector da medicina. “Já temos o investimento português na área da medicina ocidental, a empresa chama-se Hovione e produz principalmente matérias primas para a produção de medicamentos. Também gostaríamos que empresas portuguesas de medicina ocidental pudessem fazer investimentos em Macau e a partir daqui entrarem na China”, disse. Para Ho Iat Seng, Macau já desenvolve “vários trabalhos no ensino da língua portuguesa”, e também pode “fazer mais”, no âmbito da iniciativa chinesa de construção de infraestruturas ‘Uma Faixa, Uma Rota’, na qual “Portugal já participa”.

Envelope de sugestões

No sábado, Ho Iat Seng visitou o Centro de Idosos da Casa Mateus Ricci, dinamizada pela Cáritas e levou consigo um conjunto de sugestões na área social. O secretário-geral da Caritas Macau, Paul Pun, solicitou ao próximo Chefe do Executivo mais “cuidados para os idosos que vivem em habitações sociais”, caso estes não queiram ir para um lar. “Também propusemos um serviço de prevenção de suicídio, assim como de cuidados para as empregadas domésticas no caso de ficarem gravemente doentes”, esclareceu Pun.

Sem comentários

Acerca da recusa por parte do Corpo de Polícia de Segurança Publica do pedido de vigília de um residente contra a violência policial que tem marcado os protestos de Hong Kong, Ho Iat Seng prefere não manifestar a sua opinião. De acordo com o Jornal do Cidadão, o candidato a Chefe do Executivo referiu ter ouvido “vozes na população que eram contra a vigília” e com receio de que a iniciativa promovesse o tumulto social no território. No entanto, para Ho, a questão tem que ser tratada pelas entidades competentes como o CPSP.

19 Ago 2019

Desemprego urbano dispara na China, enquanto se avolumam sinais de colapso global

O pessimismo resultante dos números negativos da economia chinesa alastrou-se ao mercado de trabalho nas grandes cidades. O desemprego urbano voltou a subir em Julho, acrescentando mais uma preocupação ao rol de problemas económicos que Pequim tem para resolver. Alargando o espectro, os mercados financeiros mundiais dão sinais de colapso à escala global

 

[dropcap]O[/dropcap]s mercados bolsistas um pouco por todo o mundo têm dado sinais assustadores, causando apreensão a investidores e governantes. As principais economias mundiais tremem, mostrando sintomas de debilidade a fazer lembrar a última grande derrocada financeira global.

Na semana passada, a diferença entre a yield dos títulos de dívida dos Estados Unidos, a 2 e a 10 anos, entrou em terreno negativo pela primeira vez desde a crise financeira de 2007. O mesmo aconteceu na dívida do Reino Unido. Na Alemanha, o Produto Interno Bruto contraiu no segundo trimestre do ano, uma tendência partilhada pela inteira União Europeia visível nos dados divulgados pelo Eurostat que apontam para a desaceleração económica no segundo trimestre.

Enquanto os mercados financeiros mostram preocupantes sinais de debilidade, as duas maiores economias mundiais prosseguem na escalada de tensões comerciais. Um dos efeitos recentes do conflito económico espelha-se no em indicadores como o da produção industrial chinesa do mês de Julho que cresceu ao nível mais fraco desde Fevereiro de 2002.

Porém, Pequim tem outro indicador económico com que se preocupar. A taxa de desemprego nas cidades chinesas atingiu no mês passado o valor mais elevado desde que se recolhe este tipo de dados, à medida que os empregadores se mostram desconfiados quanto ao que o futuro lhes reserva. Além do desemprego e da produção industrial, também o consumo e investimento imobiliário registaram resultados abaixo do esperado.

Apesar das exportações terem conseguido bons resultados em Julho, analistas económicos dizem que a fadiga provocada por mais de um ano de guerra comercial começa a corroer a confiança, levando à revisão em baixa da produção e investimento por parte da indústria manufactureira e ao apertar da bolsa dos consumidores.

Arrefecimento global

Em entrevista ao The Wall Street Journal, o economista Zhaopeng Xing referiu que “o arrefecimento da actividade económica do último mês foi ainda pior do que o verificado em 2008, quando a produção industrial sofreu com os efeitos da crise financeira global”. O especialista entende que para cumprir a meta fixada pelo Governo de Xi Jinping de crescimento económico de 2019 entre 6 e 6,5 por cento, são necessárias políticas de estímulo.

A produção industrial cresceu ao ritmo mais lento desde o início de 2009, fixando-se em 4,8 por cento em Julho face aos 6,3 por cento registados em Junho. As vendas a retalho subiram 7,6 por cento no mesmo período, face ao crescimento de 9,8 por cento de Junho, enquanto os vendedores de automóveis terminam inventários antes de entrarem em vigor os novos limites de emissões de poluentes.

“Os dados actuais demonstram que a economia chinesa enfrenta pressões negativas que não foram aliviadas pelas medidas anteriores de estímulo económico”, comentou Shuang Ding, economista da Standard Chartered ao The Wall Street Journal. Como tal, o analista da Standard Chartered espera que as medidas que pretendem estimular a economia incluam a intervenção do banco central chinês no sentido de providenciar fundos aos bancos, baixando as taxas de juro para empréstimo de médio prazo.

Para já, a prioridade de Pequim é responder com eficácia ao problema do desemprego urbano, enquanto muitas vozes questionam a veracidade dos números oficiais apresentados.

No último ano, o sector industrial perdeu perto de cinco milhões de empregos, de acordo com um relatório da China International Capital Corp., deste universo quase dois milhões foram provocados pela guerra comercial.

Neste sentido, importa referir que na passada terça-feira a Casa Branca anunciou o adiamento para 15 de Dezembro dos planos para impor novas tarifas sobre bens chineses no valor de 156 mil milhões de dólares. Esta decisão dá algum tempo para os exportadores chineses respirarem, de forma a anteciparem a exportação de bens durante os meses que antecipam o Natal. Como tal, se a guerra comercial não escalar nos próximos meses, as exportações chinesas devem manter-se em terreno positivo.

Urbano-depressivo

A nova realidade económica trouxe um fenómeno que não se conhecia ultimamente.
Quando há dez anos concluiu os estudos, a chinesa Grace Zhang encontrou logo emprego, mas agora está desempregada há meio ano, ilustrando a crescente debilidade da economia da China e um novo dilema para Pequim. “Antes, era fácil encontrar emprego: enviava o CV [‘curriculum vitae’] e recebia logo uma chamada. No espaço de uma semana trocava de empresa”, descreve à agência Lusa a chinesa, natural de Shandong, província do nordeste da China.

Aos 32 anos e confiante de que podia encontrar trabalho quando lhe apetecesse, Grace demitiu-se e tirou umas “férias prolongadas” para viajar pela Europa, mas no regresso à China logo compreendeu que “agora já não é bem assim”. “Ando há meses a enviar CV e não obtenho resposta. Estou a começar a sentir pânico”, descreve.

Vários chineses na casa dos 30 anos ouvidos pela Lusa contam histórias semelhantes: após anos de ‘boom’ económico e mobilidade social ascendente, que geraram expectativas renovadas, a economia chinesa passou a crescer ao ritmo mais lento em quase três décadas.

Após a crise financeira mundial de 2008, enquanto as economias desenvolvidas estagnaram, a China construiu a maior rede ferroviária de alta velocidade do mundo, mais de oitenta aeroportos ou dezenas de cidades de raiz, alargando a classe média chinesa em centenas de milhões de pessoas. Entretanto, Pequim envolveu-se numa inédita guerra comercial com o Presidente norte-americano, Donald Trump, enquanto tem que gerir o excesso de endividamento gerado por um modelo económico assente no investimento público.

Segundo o Gabinete Nacional de Estatísticas chinês, a taxa de desemprego urbano aumentou este mês duas décimas, face a Julho, para 5,3 por cento. Neste contexto, Grace terá ainda de contar com nova concorrência: as universidades chinesas produziram, este ano, um recorde de 8,3 milhões de licenciados, quase o equivalente à população de Portugal, e mais 5,7 milhões do que há dez anos, quando ela entrou para o mercado de trabalho.

Para o Partido Comunista Chinês o novo paradigma ameaça uma das suas principais fontes de legitimidade. O contrato social selado com o povo chinês é claro: o partido mantém uma autoridade indisputada e os privilégios da elite dominante e, em troca, assegura uma melhoria dos padrões de vida e estabilidade social.

Em Julho passado, cinco agências do Conselho de Estado chinês alertaram os governos locais de que a criação de emprego “se tornou mais urgente”, associando o “emprego para recém-licenciados” com a manutenção da “estabilidade social”. O aviso não é novo, mas, este ano, o Ministério da Segurança Pública anexou pela primeira vez o seu nome.
Grace diz que há “muita gente na mesma situação” e revela estupefação com o paradigma inédito, após décadas de constante progresso económico.

No seu caso, as poupanças que fez na última década estão a evaporar-se, consumidas pelas rendas exorbitantes e crescente custo de vida na capital chinesa, mas conta que há casos piores: “Muita gente endividou-se em excesso e está a ter dificuldades em cumprir”.

No total, a dívida corporativa, das famílias e do Governo excede já 300 por cento do Produto Interno Bruto chinês, representando cerca de 15 por cento da dívida mundial, segundo um relatório publicado pelo Institute of International Finance, num número corroborado por vários analistas.

Grace ressalva, no entanto, que, independentemente dos ciclos económicos, os chineses conseguem encontrar soluções. “Há quem abra lojas no Taobao, ou se torne motorista para o Didi (o Uber chinês)”, conta, “mas ninguém fica de braços cruzados”.

19 Ago 2019

Milhares no parque Vitória para novo protesto em Hong Kong

Por João Carreira, enviado da agência Lusa

 

[dropcap]M[/dropcap]ilhares de pessoas estão a juntar-se no parque Vitória, no centro de Hong Kong, para mais uma manifestação convocada pelo movimento pró-democracia que tem liderado os protestos maciços que abalam o território há nove semanas.

Depois das manifestações de Junho, que juntaram milhões nas ruas, depois de uma greve geral que paralisou a cidade, de contestações marcadas por violentos confrontos e de dias de caos vividos no aeroporto internacional do território, a Frente Cívica de Direitos Humanos (FCDH) volta a promover um protesto pacífico para aumentar a pressão sobre o Governo de Hong Kong.

O objectivo da manifestação e da marcha de hoje passa por exigir que o Governo responda a cinco reivindicações: retirada definitiva das emendas à lei da extradição, a libertação dos manifestantes detidos, que as acções dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial e a demissão da chefe do Executivo, Carrie Lam.

Num momento em que Pequim mobilizou milhares de tropas na cidade vizinha de Shenzen, fazendo crescer os receios de uma intervenção em Hong Kong, a porta voz e vice-coordenadora da FCDH, Bonnie Leung, disse à Lusa que é necessário voltar a focar a luta nas exigências iniciais e em promover protestos pacíficos maciços como aquele que, em 16 de Junho, juntou cerca de dois milhões de pessoas, um número que representa quase um terço da população da ex-colónia britânica, administrada desde 1997 pela China.

Sufrágio universal é objectivo

A porta-voz do movimento que lidera os protestos pró-democracia em Hong Kong disse hoje à Lusa que o derradeiro objectivo dos manifestantes é garantir o sufrágio universal em Hong Kong.

Bonnie Leung, também vice-coordenadora da Frente Cívica de Direitos Humanos (FCDH), explicou que os protestos que duram há nove semanas focaram-se inicialmente na rejeição das emendas propostas pelo governo local à lei da extradição, mas que as reivindicações dos manifestantes contemplam hoje a exigência do sufrágio universal, tanto para a eleição do chefe do Governo, como para o Conselho Legislativo.

Com o som de fundo de palavras de ordem como “Hong Kong livre” e “democracia agora” entoadas por manifestantes concentrados no parque Vitória, a activista sublinhou que os problemas em Hong Kong não se resolverão enquanto não existir sufrágio universal na antiga colónia britânica que regressou à soberania chinesa em 1997 com o estatuto de Região Administrativa Especial, que formalmente garante um elevado grau de autonomia.

Desde 9 de Junho que a lista de reivindicações tem sido alvo de ajustes. Primeiro somaram-se exigências, mas o habitual pedido de demissão da chefe do Governo, Carrie Lam, foi agora aparentemente substituído pela reivindicação do sufrágio universal.

Os manifestantes exigem a retirada definitiva das emendas à lei da extradição, a libertação dos manifestantes detidos, que as acções dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial e sufrágio universal nas eleições para chefe do Executivo e para o Conselho Legislativo, o parlamento de Hong Kong.

18 Ago 2019

Professores protestam em Hong Kong em solidariedade aos jovens manifestantes

[dropcap]M[/dropcap]ilhares de professores vestidos de preto, a assinatura do movimento pró-democracia, estão a participar hoje em Hong Kong numa marcha pacífica em solidariedade aos jovens manifestantes.

Organizada pelo Sindicato de Professores Profissionais de Hong Kong, os manifestantes deverão marchar até à residência da chefe do executivo, Carrie Lam.

Segundo a agência noticiosa AP e o jornal South China Morning Post, muitos dos professores transportam cartazes com uma mensagem em comum: “Protejam a próxima geração”.

De acordo com o sindicato, os professores que se manifestam hoje concordam com as cinco reivindicações dos manifestantes: retirada definitiva da lei da extradição, a libertação dos manifestantes detidos, que as ações dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial e a demissão da chefe do Executivo, Carrie Lam.

Para hoje está programada uma grande manifestação que a polícia autorizou, mas proibiu a marcha de protesto, disse na sexta-feira à agência Lusa a porta-voz de um dos movimentos que organiza a iniciativa.

Há mais de dois meses que Hong Kong é palco de protestos maciços, marcados por violentos confrontos entre manifestantes e a polícia, que tem usado balas de borracha, gás pimenta e gás lacrimogéneo. A 1 de Julho, alguns manifestantes invadiram mesmo o parlamento de Hong Kong.

Mais recentemente, o aeroporto de Hong Kong foi palco de manifestações, com as autoridades a serem obrigadas a cancelar centenas de voos na segunda e na terça-feira naquela que é uma das infraestruturas aeroportuária mais movimentada do mundo.

17 Ago 2019

Polícia de Hong Kong autoriza manifestação este domingo, mas proíbe marcha de protesto

[dropcap]A[/dropcap] Polícia de Hong Kong autorizou a grande manifestação marcada para domingo, mas proibiu a marcha de protesto, disse esta sexta-feira à agência Lusa a porta-voz de um dos movimentos que organiza a iniciativa.

A vice-coordenadora da Frente Civil de Direitos Humanos, Bonnie Leung, adiantou que a decisão vai ser alvo de um recurso ainda hoje por parte daquela organização que junta várias organizações não-governamentais e partidos políticos.

A proibição levanta sérias dúvidas sobre a forma pacífica como pode decorrer a concentração, explicou a activista, já que, ainda que se perca o recurso, “muitos manifestantes vão quer fazer a marcha e não se sabe como pode reagir a polícia”, sublinhou.

O objectivo da manifestação e da marcha passa por exigir que o Governo responda a cinco reivindicações: retirada definitiva da lei da extradição, a libertação dos manifestantes detidos, que as acções dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial e a demissão da chefe do Executivo, Carrie Lam.

Na quinta-feira, a PSP de Macau proibiu a realização de um protesto no território contra a violência policial em Hong Kong. Numa resposta enviada à Lusa, a PSP alegou que não podia autorizar uma iniciativa de apoio ao que considerou serem “actos ilegais” como os ocorridos em Hong Kong.

Autorizar a realização de uma manifestação desta natureza, sublinhou a PSP, “poderia enviar uma mensagem errada à sociedade de Macau”, com as pessoas a poderem vir a expressar as suas reivindicações em oposição à lei do território, com previsível impacto na segurança pública e no Estado de Direito.

A PSP referiu-se aos confrontos ocorridos em Hong Kong, entre manifestantes anti-governamentais e as forças de segurança, como “actos de alguns manifestantes radicais” que afectaram a ordem social e o Estado de direito na região administrativa especial chinesa. A manifestação estava agendada para segunda-feira a partir das 20:00.

16 Ago 2019

“Mafiosos e inacção policial” podem dar desculpas a Pequim para Exército entrar em Hong Kong, diz Bonnie Leung

[dropcap]A[/dropcap] porta-voz do movimento que tem liderado protestos maciços em Hong Kong disse hoje à agência Lusa recear que Pequim possa justificar a entrada do Exército chinês no território com a “ajuda de mafiosos e a inacção da polícia”.

A vice-coordenadora da Frente Cívica de Direitos Humanos (FCDH), Bonnie Leung, lembrou que “existem leis que determinam quando o Exército Popular de Libertação chinês deve ser mobilizado”, sob o princípio “Um País, Dois Sistemas”, mas que tal só pode acontecer a pedido do Governo de Hong Kong, se este alegar que não consegue controlar a situação.

A activista defendeu, por um lado, que “os manifestantes não deram desculpas para o Governo de Hong Kong ou de Pequim usarem esta medida”. “Contudo, receio que posam criar essas desculpas”, alertou, recordando os ataques a manifestantes ocorridos a 21 de Julho, supostamente cometidos por elementos das tríades, após os quais a polícia foi acusada de inacção.

“Tememos que, com a ajuda de mafiosos e a inacção da polícia, possam arranjar desculpas para mobilizar o Exército”, frisou. Contudo, a coordenadora da FCDH admitiu que é necessário voltar a focar a luta nas exigências iniciais e em promover protestos pacíficos maciços como aquele que a 16 de Junho juntou cerca de dois milhões de pessoas, um número que representa quase um terço da população de Hong Kong.

Por isso, este domingo a FCDH “decidiu organizar mais uma manifestação maciça para colocar o foco de novo nas nossas cinco reivindicações e com um largo número de participantes nas ruas”, declarou.

“Queremos mesmo deixar de ter o foco (…) nos confrontos, na violência” e “acreditamos que com as imagens de centenas de milhar de pessoas ou mesmo de milhões nas ruas pode criar-se uma outra onda de pressão sobre o Governo e mostrar de novo ao mundo que os manifestantes de Hong Kong podem ser pacíficos”, acrescentou.

“Este é um movimento sem liderança”, destacou, ressalvando que “alguns manifestantes podem ter outras abordagens mais radicais”.

Algo que o movimento não recomenda, até porque, explicou, teme pela segurança dos jovens e das consequências legais.

Contudo, sustentou, os comportamentos mais radicais de alguns manifestantes explicam-se pelo facto de o Governo ter ignorado todos os protestos pacíficos.

Por isso, defendeu, “o diálogo deve começar”, com o movimento, com os deputados pró-democracia e grupos de advogados, exemplificou, frisando que existe essa vontade para se sentarem à mesma mesa com a chefe do Governo de Hong Kong.

O objectivo da manifestação e da marcha de domingo passa por exigir que o Governo responda a cinco reivindicações: retirada definitiva da lei da extradição, a libertação dos manifestantes detidos, que as acções dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial e a demissão da chefe do Executivo, Carrie Lam.

Há mais de dois meses que Hong Kong é palco de protestos maciços, marcados por violentos confrontos entre manifestantes e a polícia, que tem usado balas de borracha, gás pimenta e gás lacrimogéneo.

16 Ago 2019

Protestos em Hong Kong | Director-geral da Cathay Pacific demitiu-se

[dropcap]O[/dropcap] director-geral da Cathay Pacific, companhia aérea de bandeira de Hong Kong, Rupert Hogg, demitiu-se, anunciou hoje a empresa através de um comunicado, dois dias depois de ter confirmado o despedimento de pilotos que participaram nas manifestações.

“Foram semanas complicadas para a companhia e o mais correto é que Paul (Loo, chefe de vendas) e eu assumamos a responsabilidade como dirigentes da empresa”, diz Rupert Hogg no comunicado que foi divulgado através da página da Cathay Pacific, na internet.

O presidente da empresa, John Slosar, elogiou o trabalho de Hogg mas sublinhou que “os recentes acontecimentos puseram em causa o compromisso da Cathay Pacific em relação a questões de segurança” tendo posto à prova, disse, a reputação da companhia.

“Por isso, acreditamos que é tempo de colocar uma nova equipa de gestão que possa relançar a confiança e liderar a empresa no sentido de novas metas. A Cathay Pacific está totalmente comprometida com o princípio ‘um país, dois sistemas’”, acrescenta referindo-se à histórica frase do líder Deng Xiaoping sobre a postura da República Popular da China face ao capitalismo.

Anteriormente a companhia confirmou que dois pilotos foram despedidos especificando que um deles está a ser processado judicialmente e o outro “abusou da informação da empresa” num voo efectuado no passado dia 12 de Agosto.

Segundo a imprensa estatal da República Popular da China, uma mensagem anónima divulgada através das redes sociais urgia os manifestantes a continuar a ocupar o aeroporto de Hong Kong – onde centenas de voos foram cancelados. A mensagem tinha em anexo uma fotografia da cabine do avião pilotado por um dos dois profissionais despedidos.

O outro piloto que foi afastado da empresa está em regime de liberdade sob fiança e tem de comparecer em tribunal até Setembro devido à acusação de “delito de revolta”, incorrendo a uma pena de 10 anos de prisão em Hong Kong, por ter participado nas manifestações.

Os protestos na Região Administrativa Especial de Hong Kong duram há meses contra a decisão do governo local de promulgar uma lei da extradição, que segundo a oposição, poderia servir para levar a julgamento na China dissidentes políticos e críticos do regime comunista de Pequim.

As manifestações mobilizaram centenas de milhares de pessoas desde Junho e têm sido reprimidas pela polícia. Os manifestantes têm-se concentrado em edifícios governamentais, esquadras de polícia, estações de metropolitano e no aeroporto.
Apesar da polémica proposta de lei de extradição ter sido declarada “morta” pelas autoridades de Hong Kong no início de Julho, os manifestantes exigem novas medidas ao governo local no sentido de melhores mecanismos democráticos no território.

16 Ago 2019

Protestos em Hong Kong | DST atenta que o número de visitantes pode vir a decair

[dropcap]O[/dropcap]s incidentes de Hong Kong ainda não interferiram nos números do turismo em Macau, que continuam a registar crescimento, mas já existem sinais de algum nervosismo por parte dos agentes de pacotes em grupo, que por cautela começam a alterar os percursos dos viajantes nesta região do Delta do Rio das Pérolas.

O turismo em Macau registou até ao mês de Junho um aumento acumulado de 20 por centro, face ao primeiro semestre de 2018. Apesar da situação instável que se vive na vizinha ex-colónia britânica, o efeito ainda não se reflecte em Macau.

“Em termos de impacto, temos acompanhado os dados estatísticos e, até Junho, os números são muito positivos. E os dados preliminares do mês de Julho, a que tivemos acesso, ainda nos dão um aumento além dos 10 por cento, o que é bastante forte”, revelou ontem a directora dos Serviços de Turismo (DST), Helena de Senna Fernandes.

No entanto, “durante este mês de Agosto, já tenho ouvido muitas opiniões da indústria, através das agências e guias turísticos, de que os grupos de turistas oriundos da China, sobretudo, que normalmente fazem um trajecto por Hong Kong e Macau, já começaram a cancelar viagens”, acrescentou a responsável.

Os operadores turísticos começam também a dar sinais de alteração dos destinos em oferta, deixando cair Hong Kong, mas incluindo Macau e outras cidades da Grande Baía. Os que têm voos directos para o território estão a equacionar estas mudanças, segundo a monitorização “quase diária” da DST. Os efeitos ainda não se podem avaliar, disse, porque na organização de grandes eventos e conferências, feitas a médio e longo prazo, Macau pode vir a sofrer consequências que só se repercutirão mais tarde.

A informação foi avançada ontem pela directora da DST, à margem da conferência de imprensa do 30º CIFAM, que se realiza em Macau nos meses de Setembro e Outubro, e onde são esperados muitos turistas com as festividades do Bolo Lunar e a semana dourada do 1 de Outubro.

16 Ago 2019

A nova era da globalização e governança global (II)

“China’s participation in global governance reflects the mutually interactive processes of China’s own socialization into the global community and the simultaneous adaptation of global institutions and actors to China’s growing activism. Both China and the international system are internally complex. Hence, Chinese engagement varies across economic regimes, yielding different results in terms of Chinese compliance, its influence on regimes, and the extent of cooperation and conflict in addressing challenges in international society.”
Global Governance and China: The Dragon’s Learning Curve
Scott Kennedy

 

[dropcap]O[/dropcap]s líderes presentes, incluindo o falecido primeiro-ministro Zhou Enlai, propuseram um conjunto de políticas externas em nome dos países emergentes, visando a coexistência e o desenvolvimento pacífico com os países ocidentais. A China vê as suas relações com o mundo exterior, inclusive com outras grandes potências como os Estados Unidos, através do prisma das suas tradições e valores culturais. Muitas vezes, o ADN cultural reflecte os pensamentos dos fundadores sobre o desenvolvimento humano e com o passar do tempo, esses instintos psicológicos centrais tornam-se profundamente enraizados, formando as normas culturais de diferentes sociedades e orientando praticamente tudo o que acontece, inclusivamente as respostas de uma sociedade aos desafios externos.

Existem quatro conceitos fundamentais que formam o ADN cultural da China que são a integridade e conectividade; tolerância e inclusão; harmonia e paz; e uma abordagem holística para assuntos mundiais que estão entrelaçados uns com os outros. Esses princípios básicos do ADN cultural da China são visivelmente exibidos na estratégia de desenvolvimento e na diplomacia do país e moldarão o seu novo papel na governança global. A história da China moderna e o seu envolvimento mais profundo e o crescente papel de liderança na governança global, especialmente desde 2008, mostraram que a China é e continuará a ser um actor importante na governança global e na definição da ordem mundial emergente para o progresso da humanidade.

O futuro é brilhante e o caminho é longo, mas estamos confiantes de que a humanidade tem sabedoria suficiente para construir “uma comunidade de futuro compartilhado”, como o proposto pelo Presidente Xi Jinping. A China, na última década começou a desfrutar de maior atenção e influência global, em particular desde 2008, quando o Ocidente, representado pelo Grupo dos Sete (G7), ou o “clube dos ricos”, foi incapaz de lidar com a crise financeira e com o sistema de governança existente. O G20 tem uma representação melhor e mais equilibrada entre países avançados e em desenvolvimento e, assim, capturou a atenção do mundo na realização do levantamento do peso necessário para enfrentar um desafio global tão difundido e chocante, que somente uma “frente única” de todos os países sistemicamente importantes podiam ser capazes de gerir.

A China foi naturalmente chamada a desempenhar um papel essencial no contexto do G20 para fornecer liderança e orientação, juntamente com outras grandes economias, para gerir as terríveis consequências das crises financeiras e económicas globais, que são um desafio imediato e urgente para o mundo. É por tal motivo que o ano de 2008 é frequentemente citado como um ponto de viragem para a China no seu profundo envolvimento na governança global, sendo que da mesma forma, 2001 também é um ano chave, uma vez que a entrada da China na OMC é o momento crítico para a participação da China na governança global e na globalização. Não se tratava apenas da China, mas sim da partilha do poder económico global e da governança da economia mundial por todos os países, grandes ou pequenos, ricos ou pobres, como membros iguais da comunidade internacional.

O mecanismo do G20 foi criado em 1999, após a crise financeira asiática de 1997 e 1998, como um fórum para discussão de assuntos económicos globais entre ministros das finanças e governadores dos bancos centrais de dezanove países e a União Europeia (UE), mas não foi concebido como um órgão de tomada de decisões ou mesmo de coordenação. A suposição de decisões económicas do G20 em face da crise financeira foi tanto uma resposta improvisada, quanto uma solução de longo prazo para a deficiência da governança global de um mundo em desordem.

A China levou o G20 e o seu novo papel na governança global de maneira séria e positiva, não apenas porque era a única instituição disponível naquela época, que estava razoavelmente composta por uma mistura equilibrada de países desenvolvidos e em desenvolvimento, mas também porque reflectia o início de uma nova era na governança global, uma transição da “governança económica global liderada pelos Estados Unidos ou destes” para a “co-governança tanto do Ocidente quanto do Oriente”, uma transição que começou no final do século XX e continuou em ritmo acelerado nas primeiras quase duas décadas do século XXI.

É esse o processo pelo qual o papel da China na governança económica global foi fortalecido e um novo papel, mais pró-activo, está aguardando a China, pelo que certamente não é algo que foi perseguido voluntariamente e intencionalmente pelos países ocidentais liderados pelos Estados Unidos. Foi porque sabiam quando a crise financeira explodiu que sem a participação pró-activa da China, Índia, Brasil e outras economias emergentes e em desenvolvimento, não haveria possibilidade de reverter a crise financeira e o crescimento económico global simplesmente estagnaria, pelo que foi de facto um ponto de viragem para a China e um alerta para o Ocidente na governança global.

É de considerar que naquela época, os Estados Unidos defendiam a ideia de transformar o G20 na principal plataforma de governança económica global e apoiaram a China no papel mais importante. Os Estados Unidos, com uma avaliação estratégica realista da crise financeira e da devastação que causam, chegaram à conclusão de que era de interesse estratégico que a China desempenhasse um papel secundário dentro do sistema. Além disso, as relações económicas e financeiras entre os Estados Unidos e a China tinham-se tornado tão interligadas que era fundamental para a China estender uma mão para salvar o mercado financeiro americano de um colapso total.

A China possuía a maior quantidade de reservas estrangeiras investidas principalmente em títulos do tesouro americano, e os Estados Unidos precisavam da sua cooperação para evitar um colapso total do seu sistema financeiro. Assim, de facto, no final de 2008, o então presidente George Bush enviou o seu secretário do Tesouro para China para procurar garantias do governo chinês. A China entendeu claramente que estava tão intimamente ligada ao sistema financeiro liderado pelos Estados Unidos que, se o sistema falhasse, a China estaria entre as primeiras potências a sofrer as terríveis consequências.

Tal relação económica interdependente e cada vez mais importante, combinada com uma relação política e militar mais complicada, tornou-se uma marca da nova era que exige o estabelecimento de uma nova relação de poder entre os dois países. Os Estados Unidos também viram a rápida ascensão do euro como uma ameaça à posição de moeda dominante do dólar americano, pois em 2007 e 2008, o euro estava próximo de representar 20 por cento do total das reservas mundiais, o que era considerado um patamar crítico pelos Estados Unidos.

Assim, em discussões sobre a ordem mundial emergente, o termo “Modelo China” apareceu com muita frequência na última década, geralmente em associação com o seu sucesso impactando e influenciando o curso futuro da ordem emergente, à medida que a China ganha tanto “poder coercitivo” quanto “poder de convencimento” ou seja, há dois desenvolvimentos que deixaram uma grande pegada na governança global. Por um lado, é facto que a crise financeira de 2008 colocou um grande ponto de interrogação sobre a viabilidade do neoliberalismo americano como princípio económico orientador da governança económica global.

A credibilidade da política económica neoliberal tem estado sob fogo há alguns anos. Por outro lado, a China vem crescendo notavelmente, aproveitando a onda da globalização, provando ser nada menos que um milagre económico. Muitos países, em particular os em desenvolvimento, começaram a interrogar-se se o “modelo chinês” é uma alternativa ao neoliberalismo. Deveria haver um “Consenso de Pequim” em vez do “Consenso de Washington”? Tem sido essa a situação, embora os líderes chineses continuem a enfatizar que a China não tem intenção de exportar o “modelo chinês”, porque o seu sucesso na governança doméstica mostra que a trajectória de desenvolvimento da China com garantias do seu sistema político é a “receita” certa para a China e talvez para alguns países subdesenvolvidos.

A China, surpreendentemente é um modelo para o crescimento económico, mas também equilibra a eficiência do mercado e a justiça social, reduzindo a pobreza nas últimas décadas. Além disso, na última década, a China começou a desenvolver e a contribuir para o “património global” por meio de ideias e planos criativos e inovadores na governança global. A “Iniciativa Faixa e Rota (BRI na sigla inglesa)” é apenas um exemplo brilhante que transcende as diferenças ideológicas, económicas e culturais para fornecer uma nova plataforma para intercâmbios transculturais e cooperação económica que, quando implementados com sucesso, beneficiará os países e regiões participantes.

A contribuição da China para a governança global é aberta e inclusiva. Além do BRI, a China também está comprometida em construir parcerias globais e criar uma nova estrutura de segurança colectiva e em Janeiro de 2017, o Presidente Xi Jinping proferiu uma série de discursos de abertura na ONU e Davos e certamente não é exagero sugerir que o “modelo chinês”, se realmente existe tal modelo, servirá ao mundo e, sem dúvida, abrirá um novo capítulo na história da humanidade.

A ordem mundial emergente, então, será moldada por tais interacções positivas entre países com um destino compartilhado de viver em paz e prosperidade duradouras. Algumas potências ocidentais estão ansiosas há duas décadas pelo facto de a China estar a fortalecer-se ano após ano, e a apresentar propostas cada vez mais voltadas para uma melhor governança global e questionam se a China continuará a ser cooperativa dentro do sistema de governança global existente ou tentará derrubar o sistema e criar um novo. Na verdade, não há motivos de preocupação, pois a China tem sido uma grande beneficiária do sistema actual e da arquitectura de governança global e portanto, não tem desejo nem interesse em “virar a mesa” do sistema de governança global existente. Temos todos os motivos para acreditar que o envolvimento maior e mais profundo da China na governança global ajudará a melhorar o mundo.

16 Ago 2019

Lições do sol e do vento

[dropcap]Q[/dropcap]uando estava na escola primária, fiquei particularmente impressionado com uma história que o professor nos contou e que me deu uma lição de vida. Era sobre um homem que ia a passear no campo, com um casaco vestido. O Vento e o Sol repararam na presença do homem e apostaram quem seria capaz de lhe tirar primeiro o casaco. O Vento entrou logo em acção, soprou forte, lançou rajadas de ar, tentando arrancar o casaco do corpo do homem. Mas, quanto mais o vento soprava, mais o homem apertava o casaco em torno do corpo, para impedir que voasse. Então o Vento deu a vez ao Sol, que se pôs a brilhar o mais que podia para fazer o homem ficar cheio de calor. Incapaz de aguentar a temperatura, que não parava de subir, o homem, por sua iniciativa, despiu o casaco. A lição desta história é a seguinte: existem certas coisas que não podem ser alcançadas à força, temos de procurar uma forma eficaz para as fazer acontecer.

Desde então, sempre acreditei na moral desta história. O uso da razão é preferível ao uso da força. Mas, posteriormente, fiz uma nova interpretação do seu sentido.

Inicialmente, o homem não intencionava despir o casaco. Mas, depois, o Sol e o Vento usaram-no para provar qual deles era o mais forte. Ganhava, quem primeiro conseguisse tirar-lhe o casaco.

Nenhum deles tomou em consideração os desejos do homem, nem lhe pediram autorização para a experiência. De acordo com o código de ética, mesmo que a finalidade seja razoável, se os meios usados para a obter forem errados, não existem vencedores, apenas vítimas, que, no caso desta história, era o homem.

Mas, além disso, inventei um novo final para a história, a saber: quando o Vento se apercebe que o Sol ganhou a aposta, fica enfurecido e põe-se a soprar uma ventania gelada. O homem fica cheio de frio e veste rapidamente o casaco outra vez. O Vento desata a rir às gargalhadas e troça do Sol, que fica incapaz de voltar a gerar mais calor. O pobre homem vai para casa e desenvolve uma pneumonia aguda, depois de ter sido exposto a extremos climáticos, e morre.

Aposto que ninguém gosta deste fim trágico, no entanto, há quem tente “abrilhantar” alguns fins tristes, tal como o que se tem passado em Hong Kong nos últimos dois meses, acontecimentos que foram desencadeados pela luta contra a revisão da lei de extradição. Como Hong Kong não tem condições para declarar a independência, e não existe possibilidade de vir a haver uma revolução que derrube o Governo em funções, porque será que os dirigentes de Hong Kong continuam a recusar-se a dar uma resposta positiva aos cinco pontos da agenda dos manifestantes? Se o Governo declarasse oficialmente que a revisão da lei de extradição estava definitivamente afastada e garantisse que iria criar uma comissão independente para averiguar os incidentes que estão por esclarecer, acredito que grande parte da agitação acalmaria imediatamente e, enquanto sociedade, Hong Kong teria uma pausa para reflectir.

Em Macau, o Governo enviou uma carta à Assembleia Legislativa a requerer, de acordo com o Regimento da Assembleia Legislativa, a eliminação das duas ordens de trabalhos, originalmente previstas para a debate em reunião plenária, no dia 7 de Agosto, incluindo a apresentação, discussão e votação, na generalidade, da proposta de lei intitulada “Alteração do Orçamento de 2019” e da proposta de lei intitulada “Alteração à Lei n.º 11/2009 – Lei de combate à criminalidade informática”, para impedir que, através destas duas propostas de lei, e na ausência de mecanismos de consulta e comunicação, fossem desencadeados conflitos sociais desnecessários. Parece ser evidente que o Governo de Macau tomou em consideração o interesse da população e, numa certa medida, os pontos de vista das minorias.

Um dos principais problemas de Hong Kong, deriva do facto de as pessoas serem muito auto-centradas e focadas nos seus próprios objectivos. Acabam por recorrer a todos os meios para conseguirem atingir as suas metas. Deixa de haver espaço para a comunicação e para o compromisso, tal e qual como na fábula do Sol e do Vento. Uma pérola precisa de cuidados e manutenção apropriada para poder brilhar, o mesmo se passa com uma cidade. Se as pessoas que lutam contra a lei da extradição se servirem apenas da violência para defenderem as suas ideias e puserem de lado qualquer espécie de diálogo, nada irá sobreviver. No momento em que toda esta agitação chegar ao fim, a cidade vai estar morta e o sistema “Um País, Dois Sistemas” terá falhado rotundamente. Imagino como Deng Xiaoping iria lamentar esse dia tão negro para Hong Kong.

16 Ago 2019

A primeira vez

[dropcap]H[/dropcap]á sempre uma primeira vez para tudo. No caso do único candidato ao mais alto cargo do Governo, esta campanha eleitoral está-se a revelar uma fonte de descobertas no que respeita à dimensão dos comuns mortais que habitam o território.

Ho Iat Seng foi pela primeira vez a um mercado na semana passada. Acho muito bem que tenha ido, mas quando se pensa em alguém que aqui nasceu, nunca ter ido a um mercado, é caso para equacionar as dimensões paralelas que coexistem em Macau. Num dos lados da força está quem governa esta pequena e rica RAEM, enquanto o outro abarca quem tem todos os dias de se limitar ao comum da existência.

De modo a ter pelo menos um “cheirinho” do que é ser mortal por cá, porque não, pedir a quem aqui vai mandar, que viva uns dias nesta dimensão desconhecida? Uns dias, numa casa comum, a ter que ir para o emprego num autocarro mundano liderado por condutores que de volante pouco percebem – talentos – e comer nas tascas da esquina.

Uns dias a querer apanhar um táxi naquele momento em que desabou uma chuvada e em que nenhum motorista para. Sei lá, ter que alugar uma casinha para a família com o dinheiro mais contado nos bolsos ou precisar de cuidados de saúde e não ter outra hipótese se não sujeitar-se aos diagnósticos aleatórios dos hospitais locais. Seria uma série de “primeiras vezes” que, caso não tivessem frutos efectivos, pelo menos dariam uma pequena noção de realidade a quem vive noutras bolhas.

16 Ago 2019