Património | Mais de 100 voluntários aderiram à iniciativa “Open House Macau”

[dropcap]A[/dropcap] iniciativa mundial “Open House”, que acontece pela primeira vez em Macau, recebeu inscrições de mais de 100 voluntários nos últimos dois meses, anunciou a organização. Esta revelou estar “satisfeita” com o resultado, estando a trabalhar com um “grupo talentoso e diversificado de voluntários com diferentes experiências e nacionalidades”, sendo que 40 por cento deles são alunos. “Todos eles estão dispostos a levar os visitantes a descobrir a história da arquitectura de Macau que está por descobrir”, lê-se num comunicado.

O “Open House Macau” é uma iniciativa organizada em parceria com o CURB – Centro para a Arquitectura e Urbanismo, fundado pelo arquitecto e professor universitário Nuno Soares. Este afirmou que “o número de inscrições para o voluntariado na Open House Macau definitivamente excedeu as nossas expectativas e também estamos surpreendidos pela diversidade de experiências dos inscritos. Isto mostra o compromisso e interesse da comunidade em termos da arquitectura e património”.

O evento acontece entre os dias 10 e 11 de Novembro, estando programadas visitas a 50 edifícios, tal como a Escola Portuguesa de Macau, da autoria do arquitecto Chorão Ramalho, entre outros. A.S.S.

17 Out 2018

Aeroporto chinês automatiza ‘check-in’ através de reconhecimento facial

O registo dos passageiros num dos aeroportos de Xangai, capital económica da China, pode a partir de hoje ser feito através de reconhecimento facial, ilustrando a ambição de Pequim em alargar aquela tecnologia a todos os sectores.

Segundo um comunicado da Administração da Aviação Civil da China, o Aeroporto Internacional de Hongqiao instalou terminais de reconhecimento facial para ‘check-in’ dos passageiros e bagagens de porão, controlo de segurança e embarque.

O mesmo sistema deve ser implementado em breve nos aeroportos de Pequim e na cidade de Nanyang, província de Henan, centro do país, detalhou o mesmo comunicado.

Vários aeroportos na China usam já sistemas de reconhecimento facial para acelerar as verificações de segurança, mas o sistema implementado em Xangai é “completamente automatizado”, lê-se naquela nota. A tecnologia está disponível apenas para titulares do passaporte chinês.

Em toda a China, o reconhecimento facial está a ser implementado na vida quotidiana, incluindo para dar entrada em hotéis, fazer pagamentos em restaurantes ou detetar a reação dos estudantes nas salas de aula.

A polícia chinesa usou já aquele sistema para identificar pessoas em locais públicos e apanhar criminosos em flagrante, e está a desenvolver um sistema nacional integrado de monitorização através dos dados recolhidos através daquela tecnologia.

Mas a crescente comodidade poderá ter custos, à medida que o Estado chinês usa os meios digitais para aprimorar o seu caráter policial.

“As autoridades estão a usar dados biométricos e a inteligência artificial para registarem e rastrearem pessoas por motivos de controlo social”, afirmou Maya Wang, investigadora para a China da organização de defesa dos Direitos Humanos Human Rights Watch.

“Estamos preocupados com a crescente integração e uso de tecnologias de reconhecimento facial em todo o país, porque fornece cada vez mais dados, que servem para as autoridades monitorizarem os cidadãos”.

17 Out 2018

MIF 2018 | Desfile de moda com criadores locais acontece este sábado

[dropcap]C[/dropcap]hama-se “Moda. Momento de Encontro – Desfile dos Trabalhos de Moda” e é o evento que vai mostrar os trabalhos dos designers de Macau e que acontece no próximo sábado, dia 20, pelas 14h30, inserido na edição deste ano da Feira Internacional de Macau (MIF).

O desfile irá mostrar as peças produzidas com o apoio dos subsídios atribuídos pelo Instituto Cultural, onde um total de 64 conjuntos de vestuário serão exibidos, incluindo “roupas masculinas elegantes, roupas femininas casuais, vestidos de alta-costura para mulheres e roupas para toda a família”.

Os designers que vão mostrar as suas colecções são Leng Carmen, Cheang Man Cheng e Mac Chi Lon (equipa), Tam Chi Kit, Wai Chin Seong, Siu David, Cheang Chi Tat, Lo Ka Heng e Choi Wai Leng (equipa), Wong Ha e Cheong Kuan Peng (equipa).

De acordo com um comunicado, o IC “espera, através deste desfile, possibilitar aos designers de moda locais acumular experiência com exposições, exibir e promover ao público local e estrangeiro os últimos trabalhos dos designers de moda do território”.

17 Out 2018

MIF 2018 | Marcas de design portugueses presentes na Feira Internacional de Macau

[dropcap]A[/dropcap] plataforma Munhub, um projecto dos designers de Macau Manuel Correia da Silva e Clara Brito, fundadores da marca Lines Lab, vai estar presente na edição deste ano da Feira Internacional de Macau, no espaço PLPEX 2018 – Exposição de Produtos e Serviços os Países de Língua Portuguesa. A exposição estará patente até ao próximo sábado.

No Venetian vão estar expostos produtos de dez marcas portuguesas ligadas ao sector da moda e produção têxtil, como é o caso da Burel Mountain Originals, a Pecegueiro & F.os, a Manifesto Moda, a aforestdesign e a Näz, entre outras. No caso da Burel Mountain Originals, trata-se de uma marca criada no coração da Serra da Estrela que aproveitou o Burel, uma lã produzida na região e há muito esquecida no que diz respeito à sua utilidade. Hoje a marca produz não apenas peças de vestuário e calçado como também artigos de decoração e mobiliário.

Na sua página oficial no Facebook, os fundadores da plataforma Munhub afirmam que “a PLPEX é uma plataforma de oportunidades de negócios entre a China e os Países de Língua Portuguesa, focada no Delta do Rio das Pérolas”. A.S.S.

17 Out 2018

Assembleia Legislativa | Proposta de lei do metro ligeiro aprovada na generalidade

[dropcap]A[/dropcap] proposta de lei do sistema de transporte do Metro Ligeiro foi aprovada na generalidade na sessão plenária que marcou o regresso dos trabalhos da Assembleia Legislativa. O debate ficou marcado por questões relativas à fiscalização da empresa responsável pela operação do meio de transporte, pelo preço das tarifas e possibilidade de expropriações.

O funcionamento do Metro Ligeiro vai estar a cargo da MTR Corporation Limited nos próximos cinco anos, sendo que o processo foi feito através de concessão. Quanto à fiscalização do seu trabalho, será um assunto para discutir na especialidade, afirmou o secretário.

Raimundo do Rosário admitiu ainda que o Metro Ligeiro não vai dar lucros e que a questão das expropriações previstas na proposta é uma formalidade que tem de ser cumprida, o que não significa que venha a acontecer. A aprovação do diploma teve o voto contra do deputado Ng Kuok Cheong.

Obras Públicas | Leong Sun Iok quer colaboração com o continente

O deputado Leong Sun Iok sugere que se aproveitem as actuais políticas de integração regional para melhorar a qualidades das obras públicas locais.

Para o legislador, as infra-estruturas de Macau não têm acompanhado o desenvolvimento social do território “e as obras públicas têm sempre atrasos, derrapagens orçamentais, problemas de qualidade, etc.”, referiu terça-feira durante o período de intervenções antes da ordem do dia na reunião plenária que abriu mais uma sessão legislativa.

Aliás, a eficácia desta cooperação já se pode registar com a construção do Posto Fronteiriço de Macau da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau: “com uma área de construção superior a 600 mil metros quadrados, teve início em Dezembro de 2016 e atingiu o objectivo básico de conclusão após cerca de um ano de execução, com a inauguração da iluminação em 18 de Dezembro de 2017”, disse, justificando a necessidade em continuar com este tipo de colaboração.

Deputados pedem rapidez no alargamento das licenças de maternidade

Lei Chan U e Wong Kit Cheng apelaram ao Governo que se apresse na revisão legislativa sobre o aumento das licenças de maternidade e de paternidade no território. Ambos dão como exemplo o território vizinho que já anunciou a intenção de dar melhores condições à população nesta matéria. Recorde-se que a Chefe do Executivo da região vizinha, Carrie Lam já anunciou que é intenção do Governo aumentar o período de licença de 10 para 14 semanas, sendo que o Governo assume o pagamento das quatro semanas adicionais às empresas.

Para Lei Chan U, “a revisão da lei das relações laborais de Macau parece ter por objectivo corresponder ao definido no diploma similar de Hong Kong, mas em Hong Kong já se deu um passo firme na defesa dos direitos e interesses dos trabalhadores, o que não só faz com que Macau fique para trás nesta matéria como aumenta, mais uma vez, a diferença entre os dois lados em termos destes direitos e interesses”, disse.

Já Wong Kit Cheng recordou que o Governo está a recolher opiniões junto da população e dos diversos sectores sociais sobre o Relatório das LAG para 2019, e dá igualmente o exemplo da região vizinha, sendo que “ao saber desta medida a população local tem se questionado: Em Macau, quando é que vai haver o aumento da licença de maternidade remunerada e a licença de paternidade remunerada?”, perguntou.

17 Out 2018

Festival da Lusofonia | Chefe Kátia Barbosa em Macau para mostrar o bolinho de feijoada

[dropcap]A[/dropcap] Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa trouxe a Macau a conceituada chef brasileira Kátia Barbosa, famosa em todo o mundo por ter criado o bolinho de feijoada. A iguaria pode ser provada no restaurante Rio Grill, na Doca dos Pescadores, durante esta semana.

Ao HM, Kátia Barbosa recordou o processo de descoberta de uma receita que já a levou a países como Portugal, Dinamarca e França. “Essa receita, na verdade, partiu de uma memória afectiva. Lá no Brasil, sobretudo no nordeste, temos o hábito de fazer um bolinho apertado com a mão, de arroz, feijão e farinha, que chamamos de capitão. A minha mãe me dava a comer isso quando era pequena.”

Depois de ter passado por um festival de botequins em Minas Gerais e ter provado um pastel de feijão que não era aquele que imaginava, Kátia Barbosa decidiu pôr mãos à obra.

“Comecei a testar o bolinho e só me senti bem em mostrar o bolinho às pessoas meses depois, foi um processo longo, de muito trabalho, pesquisa, de tentar. Quando dei para um amigo meu provar, ele disse ‘nossa, isso tem gosto de feijoada’. E eu disse que ele tinha acabado de me dar uma ideia louca. Decidi colocar couve, torresmo, as carnes e a farinha, que já estavam na massa. E cheguei a esse bolinho de feijoada.”

Kátia Barbosa trouxe também o caldo de mandioca, mas quem passar esta semana na Doca dos Pescadores pode também experimentar o típico churrasco brasileiro, como disse Lúcio Leal, chefe residente do Rio Grill, natural de Porto Alegre.

“A nossa maior assinatura é o churrasco brasileiro, a feijoada e o buffet de saladas. Acho que são as estrelas do momento neste restaurante e damos ênfase à feijoada brasileira, porque o churrasco toma conta do espaço e acaba fazendo com que o Brasil seja só churrasco, e nós não somos só churrasco. Somos Kátia Barbosa, temos a culinária feita no tasco e no botequim.”

Para Lúcio, “é muito importante” poder participar nesta semana cultural, além de ser importante contar com a presença de Kátia Barbosa. “Ela é mundialmente conhecida pela criação do bolinho de feijoada. Ela fez um caldo de mandioca, uma receita caseira da mãe dela. Se eu pudesse definir Kátia Barbosa, diria simplicidade”, rematou.

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17 Out 2018

Escritor António Lobo Antunes diz-se “um cidadão comum” e “grato” pelas distinções que recebe

[dropcap]O[/dropcap] escritor António Lobo Antunes, em vésperas de receber o Prémio Bottari Lattes Grinzane e de inaugurar uma cátedra com o seu nome na Universidade de Milão, disse que se considera um “cidadão comum sem qualquer importância”, “grato” por estas distinções. Lobo Antunes, de 76 anos, que publicou recentemente um novo romance, “A última porta antes da noite”, recebe, no sábado, o Prémio Bottari Lattes Grinzane, em Monchiero, no norte de Itália, e vai inaugurar, na segunda-feira, uma cátedra com o seu nome, na Universidade de Milão.

Em entrevista à agência Lusa, o autor referiu-se ao Prémio Grinzane, cujo júri é constituído por intelectuais, professores universitários, jornalistas culturais e escritores, como “uma generosidade” e “uma prova de consideração pela nossa língua”.

A “jornada italiana” começa na sexta-feira ao meio da manhã, em Monchiero, nos arredores de Turim, na região italiana do Piemonte, com uma conferência de imprensa, apresentando o escritor, à tarde, no Teatro Social de Alba, a sua “Lectio Magistralis” (“Lição Magistral”, em tradução livre). No sábado à tarde, no castelo Grinzane Cavour, que faz parte da lista do Património Mundial da UNESCO, António Lobo Antunes recebe o galardão.

Relativamente aos prémios, Lobo Antunes afirmou que “as pessoas têm sido muito generosas” consigo, em diferentes países.

“É evidente que tenho de estar grato, mas tomo isto mais como uma prova de consideração pela nossa língua e pelo nosso país, e isso é que interessa”, sentenciou.

A cerimónia de entrega do galardão e a inauguração da cátedra António Lobo Antunes, no Departamento de Línguas e Literaturas Estrangeiras da Università degli Studi di Milano, faz parte do seu ofício de escritor, disse o autor de “Auto dos Danados”.

“Vou ter que falar e ver pessoas, não é uma coisa que me agrade especialmente, mas faz parte do ofício e é bom que o nome de Portugal seja falado”.

Quanto à literatura, “é só trabalho, não há segredo nenhum, não há mistério, é só trabalho”, afiançou.

“Escrever é trabalho. Podia ter outra profissão qualquer, tenho esta, portanto tenho que fazer um bom trabalho, da mesma maneira de que, quando era médico, tinha de tratar bem os meus doentes, era o meu trabalho”, disse, para acrescentar relativamente aos seus livros: “As pessoas não têm o direito de receber um mau produto”, e daí trabalhar neles até os considerar bons, contou.

“Escrever não é uma brincadeira”, asseverou, garantindo que faz o melhor que pode.

Quanto ao convite para participar como “convidado de honra” na Feira de Guadalajara, que decorre de 24 de novembro a 02 de dezembro, naquela cidade mexicana, Lobo Antunes considerou o convite “muito generoso”.

“Vamos ver como corre a feira. É a segunda maior do mundo”, disse o escritor que já por duas vezes esteve em Guadalajara, e justificou a honraria, por ter ganhado, há dez anos, o Prémio Juan Rulfo, pelo romance “Até Que as Pedras Se Tornem Mais Leves Que a Água”.

Lobo Antunes insistiu que é “um cidadão normal”, que não tem mais importância do que isso, mas acha “simpático” a atenção que lhe é dada.

“Nunca pensei nisso, mas acho simpático que se preocupem comigo, talvez um dia me arranjem uma estátua equestre”, disse.

Questionado se gostaria de se ver representado numa estátua equestre, respondeu: “Não tenho nada contra, se fosse a cavalo de um político que não gosto, não me importava”, e prosseguiu: “Depende de quem a gente monta, o meu prazer de estar em cima, depende de quem eu estiver a montar”, e recomendou que, “antes [de se montar], deve-se olhar para o animal”.

O autor insistiu que vive “no mundo de toda a gente” e acrescentou: “Às vezes parece-me que quem está num mundo só deles são os políticos, não sou eu”.

Referindo-se a políticos, o escritor adirmou gostar do atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a convite do qual participou, em fevereiro último, na iniciativa “Escritores no Palácio de Belém”.

“Tenho uma boa relação com o Presidente [da República], gosto dele, penso que ele gosta de mim, ainda há pessoas que me são simpáticas”, disse.

Lobo Antunes reconhece, porém, que se isola, principalmente quando está a trabalhar, a escrever os seus livros, não lhe sobrando tempo para mais nada.

“Quando estou a trabalhar tenho muito pouco tempo, começo a trabalhar às sete da manhã até à uma [da tarde], depois das duas até às oito da noite, por isso não tenho muito tempo para saber. Mas também a sensação que eu tenho é que a vida em Portugal é tão previsível, que não vale a pena… Não compro jornais, não leio jornais, raramente vejo noticiários na televisão. Não tenho tempo, tenho que fazer as coisas, vou sabendo assim… Sei que houve uma remodelação governamental”.

Sobre o novo livro, “A última porta antes da noite”, é dedicado ao seu amigo George Steiner, crítico literário e professor nas universidades de Cambridge e Genebra, o autor de “Errata”, “Antígonas” e “As artes do sentido”, que lhe falou nesta frase, que é da personagem “Judite”, da ópera “O castelo do Barba Azul”, de Béla Bartók, (que também dá título a um livro do pensador – “No castelo do Barba Azul – Algumas notas para a redefinição da cultura”).

No final da ópera, a personagem “pede que lhe abram ‘a última porta antes da noite’”, explicou Lobo Antunes.

“Uma frase que não foi criada para este livro, já existe há muito tempo, e foi uma frase que sempre me tocou, e em certo sentido é uma homenagem a um amigo [George Steiner]”, de quem gosta, que respeita e admira.

A amizade é “uma coisa sagrada”, disse Lobo Antunes à Lusa. E recordou o seu avô, que lhe dizia que “um homem pode não ter dinheiro, não ter mulheres, não ter trabalho, mas se tiver amigos nunca fica sozinho”.

Autor de mais de 30 romances, além de cinco livros de crónicas e de um volume de cartas, António Lobo Antunes afirmou: “Não estou à procura de nada. A gente não procura, encontra. Uma das coisas que me agrada na vida é a imprevisibilidade do futuro. Claro que é aborrecido se o futuro for desagradável. Mas enquanto houver futuro, a nossa vida tem um sentido, e uma razão”, disse o escritor, referindo em seguida: “Já tive alturas em que não tive futuro, com doenças, com guerras, com isto e aquilo. E não é agradável”.

17 Out 2018

Trump quer negociar acordos comerciais com Japão, Reino Unido e União Europeia

[dropcap]O[/dropcap] Governo do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou hoje ao Congresso a sua intenção de negociar acordos comerciais com a União Europeia (UE), o Reino Unido e o Japão, informou o Departamento de Comércio.

“Sob a liderança do Presidente Trump, continuaremos a expandir o comércio e o investimento dos Estados Unidos da América através da negociação de acordos comerciais com o Japão, a União Europeia e o Reino Unido”, disse o diretor de Comércio Exterior norte-americano, Robert Lighthizer, citado num comunicado.

Desde que assumiu o cargo, Donald Trump tem insistido na sua intenção de negociar acordos bilaterais em vez de integrar importantes tratados multilaterais.

Esta decisão do Presidente dos Estados Unidos levou Washington a abandonar o Acordo de Associação Transpacífico (TPP) em 2017, que foi negociado pela administração de Barack Obama e era considerado estratégico para aprofundar as relações com a região do sudeste asiático.

O TPP, cuja negociação durou mais de seis anos, foi assinado no início de 2016 pela Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Estados Unidos, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru, Singapura e Vietname.

17 Out 2018

Fadista Katia Guerreiro apresenta sexta-feira o seu novo álbum “Sempre”

[dropcap]A[/dropcap] fadista Katia Guerreiro apresenta sexta-feira o seu mais recente álbum, “Sempre”, cujo ponto de partida foram as melodias tradicionais de fado, como afirmou à agência Lusa.

Katia Guerreiro, em declarações à Lusa, afirmou que “o vastíssimo repertório tradicional [de melodias de fado] foi o ponto de partida para a construção deste disco”, que é produzido por José Mário Branco, que tem trabalhado quase em exclusivo com o fadista Camané, desde o álbum “Uma Noite de fados” (1995).

Referindo-se ao produtor José Mário Branco – com quem Katia Guerreiro só tinha trabalhado anteriormente no filme “Alfama em Si”, de Diogo Varela, que aguarda data de estreia -, a fadista qualificou a experiência como “excepcional” e acrescentou: “Além da experiência profissional foi a pessoal, porque nada fazia prever que o José Mário [Branco], a Manuela de Freitas, eu e os músicos, conseguíssemos ter uma empatia tão grande a nível pessoal, creio que estamos ligados para a vida com este trabalho”.

O processo de construção do álbum começou pela permuta poética entre a fadista, José Mário Branco e a poetisa e atriz Manuela de Freitas, “uma prova cega, sem conhecer os autores”, somando-se a esta equipa o guitarrista Pedro de Castro, “que tem um acervo na memória de repertório tradicional extraordinário”.

De “30 e tal poemas escolhidos” chegou-se ao alinhamento final de 15 temas, sendo o que abre o CD, em maneira de “prólogo”, “A Minha Vida É”, da autoria de Katia Guerreiro, que volta a ser interpretado no fecho, como “epílogo”.

“Um CD longo, que não se faz atualmente”, reconheceu a fadista, tendo sido acompanhada pelos músicos Pedro de Castro e Luís Guerreiro, na guitarra portuguesa, José Mário Veiga e André Ramos, na viola, e Francisco Gaspar, na viola baixo. Os mesmos músicos que a acompanham no palco do Auditório Ruy de Carvalho, em Carnaxide, no concelho de Oeiras, a partir das 22:00 da próxima sexta-feira.

Entre os temas escolhidos Katia Guerreiro gravou “Tristeza Velha”, de Maria Luísa Baptista (1947-2017), uma poetisa que acompanha desde o primeiro álbum, e que à Lusa Katia Guerreiro afirmou que continuará a cantar poemas seus. “Tristeza Velha” é interpretada na melodia tradicional do Fado Menor.

A fadista gravou outras melodias tradicionais, designadamente o Fado Mouraria, para um poema de António Calém, “Deixar-te um Dia”, o Fado Freira, de Miguel Ramos, na interpretação de um poema de Manuela de Freitas, “Na Volta”, o Fado Carriche, de Raul Ferrão, para um poema de Natália dos Anjos, “Rezando Pedi por Ti”, uma criação da sua autora.

Para a fadista, distinguida com o Prémio Amália Melhor Intérprete, em 2010, trabalhar com José Mário Branco “foi muito tranquilizante”, e enalteceu os méritos de músico e produtor, que tem “uma visão global e abrangente da música”, homem experimentado em vários domínios musicais da canção de protesto às marchas, rock, peças clássicas e fado.

“Não estive preocupada com o efeito que as coisas tinham, ou seja, a única coisa que eu tinha de fazer era cantar, sem me preocupar em demonstrar as minhas qualidades vocais, foi muito isso que o José Mário [Branco] procurou em mim, que eu ganhasse essa maturidade em saber que não era preciso qualquer tipo de histrionismo ou exibicionismo vocal para que as pessoas entendam aquilo que somos capazes de fazer, e foi exatamente isso que tentámos alcançar neste disco: a serenidade”, afirmou.

José Mário Branco “cedeu”, por insistência de Manuela de Freitas, e partilha a interpretação de “Quem Diria”, assinado por José Rebola, dos Anaquim. “Um tema que ilustra um pouco o que nos aconteceu”, disse a fadista acrescentando que tinha vontade de convidar o músico “há muito tempo”, já na altura do anterior CD, “Até ao Fim”, saído há quatro anos.

“Achava que ele era a pessoa certa, mas achei que não ia aceitar, e visto de fora até parecíamos personalidades antagónicas”, rematou.

17 Out 2018

Prémio Man Booker atribuído a “Milkman” da escritora Anna Burns

[dropcap]O[/dropcap] livro “Milkman”, da escritora irlandesa Anna Burns, venceu o Prémio Man Booker, anunciou a organização numa cerimónia em Londres.

Os seis livros finalistas do galardão eram “Washington Black”, de Esi Edugyan, “The Overstory”, de Richard Powers, “Milkman”, de Anna Burns, “The Long Take”, de Robin Robertson, “Everything Under”, de Daisy Johnson, e “The Mars Room”, de Rachel Kushner.

“Milkman”, publicado pela Faber & Faber, é a terceira novela desta autora de 55 anos, nascida em Belfast, na Irlanda do Norte, e tem recebido críticas entusiásticas por parte da maioria das publicações literárias na Grã-Bretanha. Narra a história dos encontros entre uma adolescente e um homem casado que tem a reputação de seduzir jovens, e que é membro de uma organização paramilitar.

O prémio Man Booker, no valor de 50 mil libras (mais de 56 mil euros), distingue anualmente um livro de ficção escrito em inglês e publicado no Reino Unido no ano do galardão, independentemente da nacionalidade do autor. Anna Burns é a 17.ª mulher a vencer este prémio e o primeiro autor da Irlanda do Norte a conquistá-lo.

Durante a cerimónia da entrega, a autora, num discurso breve e muito emocionado, agradeceu ao júri, aos editores dos seus livros, por terem acreditado no seu trabalho, e aos amigos e família que a apoiaram.

O presidente do júri, Kwame Anthony Appiah, disse: “Nenhum de nós leu algo assim antes. A voz altamente distintiva de Anna Burns desafia o pensamento e a forma convencionais, numa prosa surpreendente e imersiva”.

“É uma história de brutalidade, invasão sexual e resistência, envolvida em humor mordaz. Decorre numa sociedade dividida em si própria, explorando as formas insidiosas de opressão que podem surgir na vida quotidiana”, acrescentou.

Em 2017, o Prémio Man Booker foi atribuído ao norte-americano George Saunders, com o romance “Lincoln no Bardo” (“Lincoln in the Bardo”), publicado em Portugal pela Relógio d’Água.

De acordo com a organização, as vendas das obras premiadas sobem significativamente logo nas semanas após o anúncio do galardão, como aconteceu com a obra de Saunders, cujas vendas aumentaram 1.227%.

O presidente do júri responsável pela escolha das obras tinha considerado, quando foram anunciados os seus finalistas, que cada um daqueles títulos de ficção eram “um milagre da invenção estilística, em que a linguagem ocupa o centro do palco”.

A lista, que apresentava quatro mulheres e dois homens, abrangia uma ampla gama de assuntos, desde um escravo de 11 anos que escapou de uma plantação de açúcar em Barbados, até a um veterano do Dia D que vive com transtorno de stress pós-traumático, passando por uma mulher condenada a prisão perpétua, que é obrigada a deixar um filho pequeno.

Este é o quinto ano em que o Prémio Man Booker está aberto a escritores de qualquer nacionalidade que escrevam em inglês e publiquem no Reino Unido e na Irlanda.

A lista curta deste ano distinguia como finalistas três escritores do Reino Unido, dois dos Estados Unidos da América e um do Canadá.

Além de Rachel Kushner, que tem ainda publicados em Portugal, também na Relógio d’Água, “Os lança-chamas” e “Telex de Cuba”, outros dois autores nomeados têm obras traduzidas para português.

A canadiana Esi Edugyan está publicada em Portugal pela D. Quixote, através do seu livro finalista do Prémio Man Booker 2011, “Um blues mestiço”, e o norte-americano Richard Powers, com “O eco da memória”, vencedor do National Book Award e finalista do Prémio Pulitzer, em 2006.

17 Out 2018

Taiwan iniciou ontem exercícios militares que simulam ataque da China

[dropcap]T[/dropcap]aiwan iniciou ontem manobras militares, sob o nome “JE 107-2”, que simulam um ataque do Exército Popular de Libertação da China contra bases localizadas a leste da ilha, informou o Ministério da Defesa.

Estes exercícios militares seguem outras operações navais realizadas na segunda-feira que envolveram fragatas e contratorpedeiros de Chengkung, Kidd e Lafayette, e respondem “à crescente ameaça militar da China”, refere-se num comunicado do Departamento de Defesa de Taiwan.

Nas manobras de ontem, que vão terminar hoje, participam as três forças militares da ilha, incluindo os aviões de combate norte-americano F-16 da base aérea de Chiashan, localizada no distrito de Hualien, no leste do território. O principal objetivo é verificar a capacidade defensiva de Taiwan no caso de um ataque aéreo e guerra eletrónica naquela área da ilha, explicaram peritos militares em Taiwan.

Na segunda-feira, as manobras navais também incluíram a participação de F-16, que realizaram missões para intercetar aviões inimigos e simularam a defesa contra um ataque aéreo e naval chinês.

As operações procuraram testar a capacidade de defesa aérea e antiaérea de Taiwan no leste da ilha, perante a passagem frequente de navios e aviões militares chineses.

Os exercícios de segunda-feira incluíram aviões Lockheed Martin F-16 e Dassault Mirage 2000, dispositivos de ataque eletrónico ALQ-184 e tanques.

A Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, acusou a 10 de outubro a China de promover conflitos na região e garantiu que não vai renunciar à soberania ou a um estilo de vida “livre e democrático”.

Taiwan vai “evitar o confronto e manter a paz e a estabilidade”, mas não vai ceder à “pressão chinesa”, acrescentou então a líder.

A ilha, onde se refugiou o antigo governo chinês depois do Partido Comunista tomar o poder no continente, em 1949, e que continua a ostentar o nome de “República da China” (sem o adjetivo “Popular”) – é vista por Pequim como uma província da China e não como uma entidade política soberana.

17 Out 2018

Timor-Leste e Austrália analisam fronteiras e cooperação na segurança

[dropcap]A[/dropcap]ltos funcionários dos governos de Timor-Leste e da Austrália reuniram-se terça-feira em Díli para analisar a relação entre os dois países, com destaque para as fronteiras e cooperação na segurança, segundo um comunicado conjunto.

“As autoridades discutiram a amplitude e profundidade do relacionamento cooperativo de longa data entre Timor-Leste e a Austrália, os interesses partilhados na região e como ambos os países podem colaborar mais estreitamente para promover o seu compromisso comum com a ordem internacional baseada em regras”, pode ler-se no comunicado divulgado.

O encontro, a primeira Reunião de Altos Funcionários sobre Relações Bilaterais, foi organizado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação (MNEC) timorense e reflete, segundo o comunicado, “a dinâmica do relacionamento desde a assinatura do Tratado de Fronteiras Marítimas em março deste ano”.

No caso das fronteiras, os dois governos comprometeram-se a avançar na implementação do Tratado das Fronteiras Marítimas “assim que os seus processos internos estivessem concluídos e o novo regime regulador tivesse sido acordado com as empresas cujos interesses se moveriam para território exclusivo de Timor-Leste assim que o tratado entrar em vigor”.

Sete meses depois da assinatura do documento, o tratado continua por ser ratificado, tendo o processo sido iniciado na Austrália, não em Timor-Leste, onde o parlamento tem estado envolvido em questões relacionadas com as contas públicas. Na agenda da reunião estiveram assuntos como a “expansão da cooperação bilateral em segurança na região e as direções futuras para a parceria para o desenvolvimento”.

A Austrália reiterou ainda “o seu apoio aos esforços de Timor-Leste para se juntar à Associação das Nações do Sudeste Asiático, à Organização Mundial do Comércio e à Commonwealth das Nações, da qual a Austrália é um membro fundador”.

A delegação timorense no encontro foi liderada pelo embaixador Isílio Coelho, diretor-geral de Assuntos Bilaterais do MNEC, pelo lado de Timor-Leste, enquanto a delegação australiana foi encabeçada por Julie Heckscher, primeira secretária adjunta da Divisão do Sudeste Asiático do Departamento de Relações Exteriores e Comércio.

Camberra acolherá a próxima reunião de altos funcionários em 2019, antes das primeiras conversações anuais entre os chefes da diplomacia dos dois países.

17 Out 2018

Laboratório chinês multado em mais de nove mil milhões de yuan por vacinas ilegais

[dropcap]A[/dropcap] empresa farmacêutica chinesa envolvida no escândalo de vacinas com defeito ocorrido no verão terá de pagar uma multa equivalente a mais de mil milhões de euros, anunciaram hoje as autoridades.

Os serviços de Saúde chineses detetaram em Julho um processo de produção ilegal de vacinas contra a raiva num laboratório da província de Jilin, no nordeste da China, e o caso provocou controvérsia junto da opinião pública do país.

A empresa autora do crime, Changchun Changsheng, falsificou registos de produção e modificou parâmetros de fabrico. Quinze pessoas foram detidas.

“O montante total do dinheiro apreendido e das multas infligidas atingirá os 9,1 mil milhões de yuans”, indicaram em comunicado conjunto a Administração Estatal dos Medicamentos e o Departamento de Controlo dos Produtos Alimentares e Farmacêuticos da província de Jilin, onde se situa a sede do laboratório.

Este montante inclui nomeadamente a apreensão de 1,89 mil milhões de yuans de receitas geradas pela venda das vacinas com defeito.

No comunicado, o laboratório é acusado de ter modificado centrifugadoras, de ter misturado mal as soluções-base durante a produção e ainda de ter “destruído discos duros e provas para esconder os seus atos ilegais”.

Um total de 14 dirigentes, entre os quais a presidente do conselho de administração, Gao Junfang, não poderão mais trabalhar na indústria farmacêutica.

A multa anormalmente pesada imposta à Changchun Changsheng surge num contexto de extrema sensibilidade sobre as questões da saúde infantil da opinião pública na China. Devido à política de redução dos nascimentos, a maior parte dos casais só tem um filho.

Logo no início do escândalo, o Presidente chinês, Xi Jinping, juntou-se aos protestos, condenando as práticas “desprezíveis e chocantes” da empresa farmacêutica.

Em Agosto, muitos responsáveis políticos e de organismos de controlo dos medicamentos foram demitidos das respetivas funções, e iniciou-se uma inspecção nacional aos laboratórios de fabrico de vacinas, mas muitos pais dizem que deixaram de ter confiança nas doses produzidas na China.

As autoridades chinesas impõem com alguma frequência multas a empresas culpadas de irregularidades, mas os montantes raramente alcançam o valor agora registado. Em Março, o organismo que fiscaliza os mercados bolsistas infligiu uma sanção de 5,5 mil milhões de yuans a uma firma acusada de manipulação de preços.

Este caso de vacinas ilegais fez muitas mães procurarem serviços de vacinação em Macau e Hong Kong em clínicas privadas, uma vez que, no caso da RAEM, os Serviços de Saúde apenas disponibilizam vacinação gratuita a residentes permanentes.

Em 2008, um enorme escândalo relacionado com leite em pó para bebés contaminado (seis crianças morreram, mais de 300.000 foram contaminadas) causou grande indignação. A empresa Sanlu, então uma das jóias da indústria nacional de laticínios, foi condenada a pagar uma multa de 50 milhões de yuans.

17 Out 2018

Faleceu o embaixador João de Deus Ramos, antigo membro do Governo de Carlos Melancia

[dropcap]O[/dropcap] embaixador João de Deus Ramos, antigo secretário-adjunto para os Assuntos de Transição no executivo de Macau, faleceu esta segunda-feira e as cerimónias fúnebres realizam-se na quinta-feira, confirmou à Lusa fonte oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros português.

O antigo secretário-adjunto para os Assuntos de Transição do executivo de Macau, quando este foi liderado por Carlos Melancia, faleceu em Lisboa, tendo a notícia sido avançada pela Rádio Macau.

Segundo a mesma fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros, as cerimónias fúnebres realizam-se na Basílica da Estrela, em Lisboa, na próxima quinta-feira. O velório começa às 10h00 e a missa de corpo presente realiza-se às 14h00 na mesma igreja.

João de Deus Ramos foi também membro da delegação que negociou com a China a Declaração Conjunta e fez parte do Grupo de Ligação Conjunta.

O diplomata foi ainda responsável pela abertura da embaixada portuguesa em Pequim, em fevereiro de 1979, quando Portugal retomou as suas relações com a China. Com licenciatura em Direito pela Universidade Clássica de Lisboa, João de Deus Ramos foi também embaixador no Paquistão e administrador da Fundação Oriente.

Uma figura incontornável

Ao HM, Arnaldo Gonçalves, académico e assessor do Governo de Macau entre 1988 e 1997, referiu que João de Deus Ramos foi um dos nomes mais importantes para a diplomacia portuguesa. “Convivi com ele em Macau e depois quando regressei a Portugal, em 1997, em actividades em que participei. É dos embaixadores mais relevantes da nossa diplomacia pelo contributo que deu na negociação da Declaração Conjunta e para o acompanhamento do dossier Macau. Teve uma relevância bastante grande na questão de Macau e na vida pública portuguesa, lidou com vários presidentes da República e tem várias obras escritas, incluindo sobre Macau. Acho que é uma personalidade incontornável do nosso período histórico e da relação estreita entre Portugal e a China. É com muita pena que o vejo desaparecer mas a vida é mesmo assim.”

Já o historiador Jorge Morbey acredita que a função mais difícil que João de Deus Ramos desempenhou foi quando desempenhou o cargo de secretário-adjunto do Governo de Carlos Melancia. “Ele esteve à altura da missão que lhe foi confiada nas diversas funções que desempenhou. As funções de secretário-adjunto para a transição foram as mais difíceis que ele desempenhou, durante o Governo do engenheiro [Carlos] Melancia. Era uma função absolutamente difícil porque os assuntos da transição eram transversais a todo o Governo e a todo o território e sua população. Ele fez o que foi possível fazer nesse contexto.”

17 Out 2018

Polícia federal pede o indiciamento do Presidente do Brasil em caso de corrupção

[dropcap]A[/dropcap] polícia federal pediu na terça-feira o indiciamento do Presidente do Brasil, Michel Temer, e de outras dez pessoas investigadas num inquérito sobre supostos esquemas de corrupção no sector portuário do país.

Temer e os outros investigados foram acusados de praticar os crimes de corrupção, branqueamento de capitais e organização criminosa. O pedido de indiciamento foi revelado por um despacho do juiz Roberto Barroso, que é relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF).

No documento, o juiz informa a Procuradoria Geral da República (PGR) que, “de acordo com o relatório [da polícia federal], foram produzidas, no âmbito do inquérito, provas de naturezas diversas que incluíram colaborações premiadas [colaboração com à Justiça em troca de redução da pena], depoimentos, informações bancárias, fiscais, telemáticas e extratos de telefone, laudos periciais, informações e pronunciamentos do Tribunal de Contas da União”.

Barroso acrescentou que foram apurados factos que envolvem subornos em espécie, subornos dissimulados em doações eleitorais, pagamentos de despesas pessoais por interpostas pessoas – físicas e jurídicas -, atuação de empresas de fachada e contratos fictícios de prestação de serviços.

Além de encaminhar os documentos produzidos pelas autoridades policiais, o juiz do STF pediu um parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre o caso, que terá 15 dias para se pronunciar sobre uma possível denúncia contra os acusados.

O caso dos portos que envolve o Presidente brasileiro começou a ser investigado em 2017, quando gravações entregues às autoridades judiciais por executivos da empresa JBS revelaram o suposto pagamento de um suborno da companhia Rodrimar a um ex-deputado e antigo assessor de Temer, Rodrigo Santos da Rocha Loures, em troca da alteração de um decreto para beneficiar empresas que atuam no porto de Santos, o maior do país. Na época, Temer negou que tenha recebido qualquer suborno.

A polícia federal pediu também o indiciamento da filha do Presidente brasileiro, Maristela de Toledo Temer Lulia, de Rodrigo Santos da Rocha Loures, do coronel João Baptista Lima Filho e da sua mulher, Maria Rita Fratezi, que são amigos de longa data de Temer, bem como de ex-funcionários das empresas Rodrimar e Argeplan.

Desde que assumiu o cargo, em 2016, Temer foi alvo de várias suspeitas de corrupção que, em duas ocasiões, acabaram mesmo por resultar em denúncias formais apresentadas pela PGR.

No entanto, em ambos os casos, a Câmara dos Deputados (câmara baixa parlamentar) impediu que o caso seguisse para tribunal.

As investigações continuaram, mas as denúncias de corrupção contra Temer só poderão chegar aos tribunais do país a partir de janeiro, quando este terminar o seu mandato e entregar o poder ao vencedor da segunda volta das eleições presidenciais do Brasil, agendada para 28 de outubro.

17 Out 2018

Sophia de Mello Breyner Andresen – “Meditação do Duque de Gândia”

Meditação do Duque de Gândia

[dropcap]N[/dropcap]unca mais
A tua face será pura limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.

Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre,
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser,
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência,
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.

Nunca mais te darei o tempo puro
Que em dias demorados eu teci
Pois o tempo já não regressa a ti
E assim eu não regresso e não procuro
O deus que sem esperança te pedi.

Sophia de Mello Breyner Andresen

17 Out 2018

Feira Internacional de Macau abre quinta-feira e reforça aposta no mercado lusófono

[dropcap]A[/dropcap] Feira Internacional de Macau (MIF), o maior evento para a promoção do comércio e investimento do território, regressa na quinta-feira com um espaço alargado dedicado aos produtos e serviços dos países lusófonos, anunciou a organização.

Moçambique, que tem reforçado o intercâmbio cultural com Macau, e a província chinesa de Fujian, no norte de Guangdong, serão, respetivamente, o país e a região parceiros da 23.ª edição, que volta a receber a participação de mais de 50 países e regiões.

De acordo com o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), a edição deste ano vai centrar-se nas vantagens de Macau como plataforma de negócios e serviços comerciais entre a China e os países de língua portuguesa.

“Promover intercâmbios e cooperação económicos e comerciais regionais” é o principal objetivo das dezenas de fóruns, conferências e workshops integrados na MIF, que pretende também “ajudar as empresas participantes a explorarem oportunidades no âmbito das iniciativas chinesas ‘Uma Faixa, Uma Rota’ e ‘Grande Baía’, indicou o IPIM.

Ao mesmo tempo, vai decorrer a Exposição de Produtos e Serviços dos Países de Língua Portuguesa (PLPEX), com o objetivo de reforçar o papel de Macau enquanto plataforma de cooperação entre a China e o espaço lusófono.

Inaugurada em 2015 sob a forma de “exposição dentro de uma exposição”, no mesmo recinto da MIF, a PLPEX cresceu em 2017, ano em que decorreu de forma independente pela primeira vez e atraiu mais de 210 instituições e empresas dos países lusófonos.

Este ano, o IPIM duplicou a área dedicada à exposição – agora com 6.000 metros quadrados – e conta receber mais de 300 stands.

De acordo com o IPIM, foram assinados na MIF do ano passado 67 protocolos, incluindo projetos de cooperação entre governos e associações comerciais, nas áreas da agricultura, turismo, desporto, educação, tecnologia e comércio de produtos alimentares.

Em 2017, a MIF contou com a participação de empresas de mais de 50 países e regiões, ao longo de mais de 1.500 stands. Realizaram-se, ainda, 389 sessões de bolsas de contacto entre os compradores presentes, de acordo com dados do IPIM.

“A realização dos dois eventos [MIF E PLPEX] no mesmo período produziu um efeito ainda melhor, tendo apresentado resultados satisfatórios e recebido comentários muito positivos tanto por parte de empresários como por parte de cidadãos”, sublinhou o instituto em comunicado.

16 Out 2018

Macau adere a processo Kimberley de certificação de diamantes

[dropcap]M[/dropcap]acau assinou ontem, em Pequim, um acordo para a aplicação do processo Kimberley, que controla as exportações de diamantes e a sua comercialização legal, anunciaram as autoridades.

O acordo promove “o desenvolvimento da indústria transformadora de Macau ao rumo de alto segmento e de elevado valor acrescentado”, mas também “impulsiona a diversificação adequada das indústrias”, afirmou o secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, em comunicado.

A aplicação do processo Kimberley no território contribui, também, para a construção da plataforma de serviços para a cooperação comercial entre a China e os países lusófonos, já que “facilita a interconexão entre a regulamentação do comércio de diamantes de Macau e a de nível internacional”, refere a mesma nota.

Criado em 2003, o processo Kimberley tem como objetivo determinar a origem de diamantes e evitar a transação de pedras preciosas procedentes de áreas de conflitos, conhecidos como “diamantes de sangue”.

O acordo foi assinado na capital chinesa entre a Secretaria para a Economia e Finanças de Macau e a Administração Geral das Alfândegas da China, que vai explorar, com o território, “novas medidas de cooperação, como a facilitação das formalidades alfandegárias, a fim de acompanhar a construção da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau”.

Em junho, Macau assinou um acordo com a Bolsa de Diamantes de Xangai, para ser um centro de comércio de diamantes, aproveitando o papel de plataforma entre a China e os países lusófonos, que têm a matéria-prima, como pedras preciosas.

O acordo de cooperação foi assinado entre o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM) e a Bolsa de Diamantes de Xangai para desenvolver a indústria de diamantes e jóias no território.

16 Out 2018

Governo | GIF a partir de hoje sob a tutela da Segurança

[dropcap]É[/dropcap]a partir de hoje que o Gabinete de Informação Financeira (GIF) vai ficar a funcionar na dependência e sob orientação do Secretário para a Segurança, deixando de estar sob alçada da secretaria para a Economia e Finanças. Segundo um despacho do Chefe do Executivo, publicado ontem em Boletim Oficial, o GIF tem que elaborar um relatório anual, a apresentar ao Secretário para a Segurança, sobre a actividade desenvolvida pelo GIF respeitante a cada ano civil.

A mudança, que mantém inalteradas as suas competências, foi anunciada na sexta-feira, em comunicado, pelo Conselho Executivo que justificou a mudança com a necessidade de reforço da coordenação com os órgãos de execução da lei, nomeadamente no âmbito da troca de informações.

O GIF é a unidade responsável pela recolha, análise e disseminação da informação relacionada com a comunicação de transacções suspeitas de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo. Com efeito, desde que foi instituído, em 2006, o GIF manteve sempre a natureza de equipa de projecto.

16 Out 2018

Portuguesa IGHS vai assumir gestão de clínica em Macau no início do próximo ano

[dropcap]A[/dropcap]empresa portuguesa IGHS vai assumir a gestão de uma clínica em Macau no primeiro trimestre do próximo ano, confirmou ao HM o presidente do conselho de administração, José Alexandre Cunha. “Chegámos finalmente a um entendimento, as partes estão em plena comunhão de vontades e interesses e, neste momento, vamos avançar exclusivamente para a parte jurídica”, indicou, apontando que apenas poderá revelar o nome da clínica em causa uma vez finda essa etapa.

“Vai ser uma clínica multidisciplinar, onde as pessoas vão ter a possibilidade de fazer basicamente tudo do ponto de vista da área de diagnóstico numa unidade de medicina muito personalizada que depois tem subjacente a oferta em todas as áreas de especialidade, incluindo ginecologia/obstetrícia, cardiologia, ortopedia, pediatria ou medicina dentária, entre outros”, explicou. Em paralelo, “terá ainda uma unidade de medicina estética – que actualmente não existe –, onde se integra a parte da medicina regenerativa, com a área plástica e da estética”, adiantou.

Para o efeito, a actual unidade vai ser alvo de uma reestruturação: “Vamos refazer quer a imagem, quer a espacialidade, porque vamos requalificar o tipo de oferta, que será muito mais abrangente e transversal”. Já em termos de recursos humanos, a IGHS vai, em suma, assumir o quadro actual. “Ficamos com todos os funcionários administrativos, técnicos, auxiliares e enfermeiros e acrescentamos alguns novos elementos. Vamos necessariamente também contar muito com a própria comunidade médica portuguesa de Macau que inclusivamente já conhece o projecto e que, de alguma forma, demonstrou interesse e disponibilidade em colaborar”, afirmou José Alexandre Cunha. “Ter uma presença física em Macau é o culminar de um processo que perseguíamos há imenso tempo”, realçou.

Acordo com UMAC

Antes de fechar o processo negocial, a IGHS assinou, no início do ano, um protocolo de colaboração com a Universidade de Macau que visa “desenvolver parcerias ou trabalhos que possam ser interessantes e estabelecer a ponte com instituições do mercado internacional”. “A Universidade de Macau tem uma área muito interessante, em que está a fazer vários estudos nomeadamente com células estaminais, vários ensaios clínicos no desenvolvimento de novas ferramentas terapêuticas para a abordagem a novas doenças e está a fazê-lo inclusivamente com sucesso e com reconhecimento fora de Macau”, afirmou José Alexandre Cunha.

Tal surge em linha com o que sucede em Portugal, onde há “uma relação muito estreita com o meio académico”, explicou o presidente do conselho de administração da IGHS, manifestando vontade de alargar acordos de parceria nomeadamente à Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Macau.

A IGHS, que assume a internacionalização do conceito de Unidades de Saúde iniciado com a Idealmed, grupo de saúde de Coimbra, conta actualmente com projectos no Médio Oriente, nomeadamente em Omã e no Qatar.

16 Out 2018

Um crime quase perfeito (II)

[dropcap]A[/dropcap]semana passada, começámos a analisar o caso da morte da mulher e da filha de Xu Jinshan. A polícia encontrou as duas vítimas dentro do carro, um Mini Cooper. As mortes foram causadas por envenenamento com monóxido de carbono, mas a viatura estava em perfeitas condições. Em 2014 foi enviado um email para a empresa que fornece o gás a indagar o preço. O endereço de email, que continha a palavra “khaw”, pertencia provavelmente a Xu Jinshan. O monóxido de carbono foi encontrado no laboratório e Xu Jinshan utilizou-o em algumas experiências.

Xu Jinshan admitiu que tinha usado duas bolas insufláveis para guardar o gás e que as tinha levado para casa. Não existem indícios que provem que ele tenha colocado uma das bolas na parte de trás do Mini Cooper, e que tenha arranjado forma de libertar o monóxido de carbono com intenção de matar a mulher e a filha.

Durante o julgamento, o juiz dirigiu-se ao júri para salientar que, segundo as declarações do réu, só ele e a filha mais nova sabiam que a bola insuflável continha o gás letal. Xu Jinshan e a mulher eram os únicos a possuir as chaves do Mini Cooper. Perante este facto o júri poderia ser levado a pensar que Xu Jinshan seria a única pessoa que poderia ter posto a bola na mala do carro.

A direcção que o juiz deu ao julgamento parece ter sido razoável. Como ninguém viu Xu Jinshan pôr a bola insuflável na mala do Mini Cooper, esta poderia ter sido colocada por outra pessoa. No entanto, como só ele e a mulher tinham as chaves do carro, o júri inferiu que foi ele que o fez, por não ter sido estabelecida nenhuma dúvida razoável.

Após sete horas de deliberação, o júri considerou Xu Jinshan culpado dos dois homicídios. Foi condenado a prisão perpétua.

Algumas pessoas perguntam-se se Xu Jinshan pode herdar os bens da mulher? Segundo a Lei Comum, os criminosos não podem lucrar com os seus crimes.

Para além dos princípios da Lei Comum, os estatutos têm a mesma disposição. A secção 25 da Lei da Emenda e Reforma da Ordenança (Consolidação) estipula que se o assassino for o herdeiro da vítima, seja por: ser beneficiáro por testamento, por ter legalmente requerido a herança, por ser administrador dos bens do falecido, ou por doação, o Tribunal tem o poder de impedir que a receba. O propósito da secção 25 é, óbviamente, impedir que os homícidas possam beneficiar dos seus crimes.

A secção 33 da Ordenança da Administração e Inventário de Propriedades estipula que se o Tribunal considerar que a administração dos bens não está a ser adequada, pode emitir uma ordem para corrigir a situação.

Os homícidas também não podem beneficiar dos seguros feitos em seu nome pelas vítimas.

Em Macau existem disposições legais semelhantes. O artigo 1874 do Código Civil estabelece precisamente o mesmo. Os assassinos não podem herdar das suas vítimas.

Votando ao caso de Xu Jinshan, é sabido que o casal poderia facilmente ter-se divorciado. Só não o fizeram por terem considerado preferível continuar a viver juntos, para educarem os filhos. Segundo declarações do réu, a família sabia que ele tinha uma amante, por isso não se percebe porque é que recorreu ao homicídio. Seja como for, acabou por ser uma tragédia familiar.

Era muito pouco provável que uma bola insuflável esvaziada tivesse chamado a atenção da polícia. Era difícil imaginar que tivesse sido o recipiente do monóxido de carbono. Temos de agradecer à polícia pelo seu empenho em procurar a solução deste mistério. Mas, acima de tudo, como reza o ditado chinês, “A abóboda celeste foi refeita, já não verte.”

16 Out 2018

Poemas de Li Bai

VISITA AO MONGE TAOISTA SEM ENCONTRÁ-LO

[dropcap]U[/dropcap]m cão ladra para calar o som da água.
As flores do pessegueiro engordaram com a chuva.
Por vezes, muito para lá das árvores aparece um cervo.
O fluxo do riacho não deixa escutar nem os sinos do meio-dia.
O verde dos bambus selvagens corta as nuvens do céu.
A cascata voa do topo da escarpa.
Nada nem ninguém sabe para onde o monge terá ido.
Triste, abandono-me ao tronco de um pinheiro.

DESPEDIDA NA LOJA DE VINHOS EM NANJING

O vento traz as flores de salgueiro que adocicam a loja.
A jovem rapariga dá vinho a provar aos clientes,
Aos amigos que ali foram para se despedirem de mim.
Vazamos copos sem fim, até que interrompo a eternidade e lhes digo:
Ide perguntar àquele rio que desce para leste,
Se consegue percorrer maiores distâncias que a amizade.

16 Out 2018

Gérard de Nerval

[dropcap]Q[/dropcap]uando em Baudelaire vamos encontrar o radical efeito de um sedutor das trevas rapidamente notamos que não está sozinho. No seu repositório belo e bravio acenam muitas imagens e aspectos de composição do imaginário poético, o esqueleto transparente de Nerval, nascido doze anos antes, no esotérico e escatológico universo do Romantismo. Que eles, poetas, vêm para salvar o mundo com suas imponderáveis intervenções, e nesta corrente é ainda a imolação que preside ao destino imposto. A loucura ronda sempre por perto como uma escavadora, no entanto «La dernière folie que me restera probablement, ce sera de me croire poéte» (Nerval).

Século dezanove é quando o belo poema de Baudelaire irrompe. «Spleen et idéal» onde cremos ainda estar a ler – continuar lendo – o poema sempre inacabado «Le Christ aux Oliviers» e tão próximo é a mesma atmosfera e estrutura do poema que sabemos que todos os poetas são Unos, escrevendo, reescrevendo o mesmo legado do mistério de uma ferida. Sem ela não havia existência possível para estes seres no mundo, nem a sua já tão débil existência teria tido entre todos algum sentido. Escrevemos estas coisas que agora aqui são ditas à distância de dois séculos e parece-nos que todos estes “erros meus, má fortuna, amor ardente” foram resgatados ao fluxo de não nos consentirmos na indagação que culmina em vãos alheios pelo espírito da época, quando o temor lhes fecha as portas. Mas eles são tão poderosos que não há antídotos para tal esquecimento.

Nerval nasce, ainda tal como Baudelaire, numa organização social onde as suas sensibilidades só podem continuar com as heranças de família e onde o conceito artificial do trabalho não se lhes impõe como forma de “ganhar” a vida, um pouco corroborando a bíblica frase: «quem quiser ganhar a sua própria vida, perdê-la-á» e esse aspecto que não é nunca uma questão de somenos importância carrega um pesado anátema face ao tempo que vivemos. O “trabalho” é a arma de quem não pode ou não sabe fazer mais nada, e do nada produzido transportar o tempo ávido com uma condição de viciado. Nem sequer pode ascender aos «Paraísos Artificiais», o artefacto não sobe na direcção de «Quimeras» bem construídas, pois que os sonhos não gostam de quem deles se afasta e delegam para a robustez dos sobreviventes a lava da sua mortificação. Perfilha-se Nerval ainda jovem nos apoios românticos de Victor Hugo e frequenta o «Petit Cénacle», antes surge com as suas poesias e sátiras políticas, traduz o «Fausto» de Goethe, adaptado por Berlioz em 1829.

O poeta das buscas pelas fontes secretas não se retém apenas na sua «Alquimia» ocidental, simbólica e tem o ensejo de partir para mais longe rumo a Oriente. Médio Oriente onde resultam as notas conhecidas de uma viagem que desejou como uma quarentena no deserto (as areias são mais divinas a seus olhos que as ondas do mar). Publica mais tarde «Cenas da vida Oriental», mas o seu estado de saúde oscila entre crises psicóticas onde a intermitência dos internamentos começa a destruir toda a energia que encaminhava para uma obra cujo tamanho nos deixa confundidos. É, no entanto, nesta altura que um conjunto vasto da sua poesia fica registada na memória do tempo, o que faz Proust mais tarde debruçar-se na sua busca como um triunfo de um imaginário que resiste. Alastra-se o seu encanto até ao surrealismo, Nerval que fora um homem ocupado de transcendências, profecias e leis cármicas, escreve nesta altura Antéros, o deus da classe dos Erotes, sublinha a importância de um socialismo futuro, e sem que a corrente se parta jamais vamos dar ao nosso próprio Antero. E tão fina ela se move que a resolução encontram-na no suicídio, a longa viagem destes Atlantes que desemboca num cais, «sózinhos num cais deserto», Ode Marítima aos desertores da vida, onde todos começam, e outros desaguam nas mesmas águas levando sempre traços inquebrantáveis de uma mesma lucidez.

Com alguma tristeza deparo-me com um compêndio de História da Literatura Francesa de liceu, que o não engloba, e estas coisas podem não ser tão negligentes quanto imaginamos. Surripiamos as lendas, mas o tempo é ainda mais agreste para quem lhes veste as fardas sem acreditar na quimera daqueles que as escreveram, vivendo-as. Não queremos descer ao abismo esperado, e nunca se desfez tanto em tão curto espaço de tempo e se projectou a vontade da insignificância dos méritos de cada um. Para o mês ainda nos deixou «As noites de Outubro» e afirmou de si mesmo na imponente frase que nos ergue e mete em guarda: «je suis le ténebreux, – le veuf, – l´inconsolé». Uma panóplia de vozes nem sempre nos leva à heteronímia, mas elas coexistem dentro dos melhores condutores de partículas que ao acelerarem, serão sempre as primeiras a encontrar a de Deus.

Nenhum acelerador é feito destas malhas, nem a velocidade a que se deslocam se precipita na cauda de uma competição, isso, que a nossa Humanidade esqueceu, terá que ser recordado ou paramos todos neste transbordo dos que se agitam num mundo sem futuro, num retábulo de movimento a cada instante mais ilusório. «A mão encantada» fica para obra póstuma pois que a sua própria interrompe a vida em 1855. As suas primeiras obras completas saem em 1867 em seis volumes na editora de Michel Lévy. Até hoje há essa mão encantada que vamos buscar a tão raro talento magoado.

«Judas! lui cria-t-il, tu sais ce qu´on m´estime
Hâte-toi de me vendre, et finis ce marché:
Je suis souffrant, ami! sur la terre couché…
Viens! ô toi qui du moins, as la force du crime!»

16 Out 2018

Pressão da Red Bull beneficia Grande Prémio de Macau

[dropcap]A[/dropcap]Federação Internacional do Automóvel (FIA) deliberou, no Conselho Mundial realizado na pretérita semana em Paris, que o vencedor da Taça do Mundo FIA de Fórmula 3 do 65º Grande Prémio de Macau irá receber cinco pontos para a Super Licença.

O facto da prova do território, a mais importante a nível mundial da categoria e um dos dois eventos automobilísticos fora do calendário da Fórmula 1 que tem o título de Grande Prémio, não atribuir pontos para a Super Licença veio a lume este ano, quando a Red Bull estava interessada em promover à Fórmula 1 o vencedor da edição passada da prova, Dan Ticktum.

O jovem britânico esteve em liça para um lugar na Toro Rosso este ano e era um dos favoritos a uma vaga nas equipas da Red Bull para a próxima temporada, mas o facto de não ter pontos suficientes para a Super Licença retiraram Ticktum do leque de possibilidades para um volante numa das duas equipas da marca de bebidas energéticas. Dr Helmut Marko, o influente conselheiro desportivo da Red Bull, mostrou publicamente o seu desagrado pela FIA não atribuir qualquer ponto ao vencedor da prova de monolugares do Circuito da Guia.

A Super Licença é necessária a todos aqueles que queiram participar no Campeonato do Mundo FIA de Fórmula 1. A FIA autoriza que pilotos com seis provas de Fórmula 2 e 25 pontos acumulados nos últimos três anos participem nas sessões de treinos-livres da Fórmula 1 com uma super licença provisória, no entanto, a federação internacional exige 40 pontos, acumulados nos últimos três anos, a todos os pilotos que queiram participar numa corrida da categoria rainha do desporto automóvel.

O sistema de pontos da Super Licença deverá sofrer alterações em 2019, devido às alterações na Fórmula 3 a nível mundial. O equivalente a vencer à Taça do Mundo de Fórmula 3 corresponderá este ano ao sexto lugar na temporada da GP3 Series, ou ao quinto lugar nos campeonatos regionais de F3 asiático e norte-americano e Indy Lights, ao quarto lugar em qualquer campeonato FIA de Fórmula 4 e ao terceiro lugar nos vários campeonatos de Fórmula Renault 2.0.

Estes cinco pontos a oferecer à Taça do Mundo de Fórmula 3 servem como incentivo a todos pilotos que apesar de terem encerrado em Outubro as suas temporadas na disciplina, tenham uma motivação suplementar para se deslocarem no final do ano ao Extremo Oriente.

Schumacher campeão

Mick Schumacher, filho do heptacampeão mundial de Fórmula 1 Michael Schumacher, conquistou no passado fim-de-semana o título do Campeonato Europeu FIA de Fórmula 3. O piloto de 19 anos da Prema Theodore Racing teve uma segunda metade de temporada fortíssima, obtendo sete pole positions, oito vitórias e catorze posições de pódio. O futuro de Schumacher ainda está por definir, mas deverá passar por rumar ao Campeonato FIA de Fórmula 2 na próxima temporada. Todavia, o jovem germânico deverá apenas colocar um ponto final na sua carreira na Fórmula 3 no mês de Novembro, quando regressar ao Circuito da Guia para tentar igualar o feito do seu pai, que venceu o Grande Prémio de Macau de Fórmula 3 em 1990.

16 Out 2018