Hoje Macau China / ÁsiaEconomia | Vice-primeiro-ministro em Washington na próxima semana [dropcap style=’circle’] O [/dropcap] vice-primeiro-ministro chinês Liu He desloca-se “na próxima semana” a Washington, para retomar as negociações com as autoridades norte-americanas, visando evitar uma guerra comercial entre as duas maiores economias do planeta, informou a Casa Branca. Liu He, principal encarregado da política económica do país asiático, liderou na semana passada uma primeira ronda de negociações com uma delegação norte-americana chefiada pelo secretário do Tesouro, Steven Mnuchin. As conversações não terminaram, no entanto, com um acordo que permita pôr fim às crescentes disputas comerciais. “O responsável pelas questões económicas do executivo chinês, o vice-primeiro-ministro, virá a Washington na próxima semana para continuar as discussões” com a administração de Donald Trump, anunciou a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders. Liu He, antigo aluno da universidade norte-americana de Harvard, é conhecido pelo seu domínio da língua inglesa. O Presidente dos EUA quer reduzir o deficit na balança comercial com a China e exige que Pequim garanta às empresas norte-americanas uma melhor protecção dos direitos de propriedade intelectual. Segundo um documento divulgado pela agência Bloomberg, e apresentado como ponto de partida para as negociações em Pequim, Trump exige uma redução do deficit comercial dos EUA com a China de “pelo menos” 200.000 milhões de dólares, até 2020. Trump exige ainda que as taxas alfandegárias chinesas sejam reduzidas para os valores praticados pelos EUA e o fim de subsídios estatais para certos sectores industriais estratégicos. Em recuperação As exportações chinesas recuperaram no mês passado, depois de caírem em Fevereiro, segundo dados ontem divulgados, que revelaram ainda um aumento no superavit com os Estados Unidos, fonte de uma intensa disputa comercial com Washington. As alfândegas chinesas anunciaram uma subida das exportações de 21,5 por cento, face a Abril de 2017, depois de terem recuado 2,7 por cento, em Março. As importações medidas em dólares aumentaram 12,9 por cento, fixando o superavit chinês em 28,8 mil milhões de dólares. No mês passado, a balança comercial chinesa registou um raro deficit de 5 mil milhões de dólares. No mesmo mês, o superavit da China nas trocas comerciais com os EUA fixou-se em 22,2 mil milhões de dólares, depois de em Março se ter fixado nos 15,4 mil milhões. Os dados ontem anunciados surgem numa altura de crescente tensão entre Washington e Pequim, em torno do crónico deficit norte-americano nos negócios com a China. Entre Janeiro e Abril, a China registou um superavit de 80,4 mil milhões de dólares nas trocas comerciais com os EUA. Pelas contas do Governo chinês, no ano passado, a China registou um superavit de 275,8 mil milhões de dólares no comércio com os EUA. As contas de Washington fixam o superavit chinês ainda mais acima, em 375,2 mil milhões de dólares.
Sofia Margarida Mota EventosCarlos Farinha, artista plástico e representante de Portugal na Art Beijing: “Olhar como se estivesse de lado” Foi um dos dois artistas portugueses que estiveram presentes, no final de Abril, na Art Beijing. Carlos Farinha encerra nos seus quadros o mundo que vê e faz questão de misturar e as influências que vai recolhendo. Macau e o Oriente não são excepção O que representa para si ter sido um dos dois artistas portugueses seleccionados para a Art Beijing? Foi uma honra e uma enorme responsabilidade representar Portugal. Queria aproveitar a ocasião para agradecer à Galeria Arte Periférica e à Embaixada de Portugal por me ter proporcionado esta oportunidade. Estar nesta feira representa uma presença da arte portuguesa num mercado difícil mas de uma extraordinária dimensão e visibilidade. A título pessoal foi uma experiência curiosa e enriquecedora perceber a forma como o público chinês se relaciona com as minhas obras. Quando vemos os seus trabalhos há uma espécie de tragicomédia presente. Concorda? É curioso que me faça essa pergunta. Realmente tenho uma propensão para uma certa dramatização dos assuntos que pinto, [as pinturas] são muitas vezes criadas pela ironia, e uma certa abordagem despreocupada de um contador de histórias. As várias leituras que se pode fazer sobre as minhas pinturas são um sinal dos vários níveis de compreensão que pretendo criar, sem no entanto ser moralista ou generalista. Por exemplo, quando uso a caricatura, ela retira uma carga simbólica às histórias que conto levando-me para um campo onde posso desenvolver uma ironia que, se não fosse desse modo, poderia ganhar contornos melindrosos e ineficazes. Qual o ponto de partida quando começa um trabalho? Depende se é apenas um exercício ou o desenvolvimento de um conceito para uma exposição mas, muitas vezes, o dia-a-dia é o meu grande referente (político e social). Quais são as suas referências? São várias. Ultrapassam a própria pintura do Millet ou da Paula Rego, mas também passam pela actualidade e pelas redes sociais. Passou por Macau. O que lhe ficou do território a nível pessoal? E a nível artístico? Muito: Sentir um pouco de Portugal no Oriente e a sensação de que Macau tem uma identidade própria. Ficaram-me amigos, memórias e um desejo de conhecer melhor o Oriente. Conheci artistas, o trabalho da AFA e gosto particularmente do trabalho do Erick Fok. Conseguimos identificar elementos de várias experiências culturais por onde vai passando. Como é que os interliga? Em que cultura se localiza para o fazer? Se é que isso acontece. Bem, o meu processo criativo parte muito do facto de ter crescido fora de Portugal e de ter uma visão muito própria do meu presente. Olhar como se estivesse de lado para criar um espaço de crítica criativa. Considera o seu trabalho como tendo, de alguma forma, uma componente interventiva? Sim. Aliás, tive diversas experiências que me levaram a compreender melhor o mundo em que vivemos. Já tive vários quadros virais, partilhados centenas de vezes nas redes sociais. Sem essa necessidade de perceber o mundo em que vivemos, nunca seria um artista. Intervir é uma necessidade visceral no meu mundo. Qual é a sua opinião da arte que se faz na China? Bem, é uma potência em estado bruto, muito diversificada mas com características muito próprias. Daquilo que tive oportunidade de ver existe um encontro com a arte que é apresentada nos grandes centros culturais do mundo mas, ao mesmo tempo, procuram uma identidade própria. Das suas obras, pode-nos contar a história de duas que tenham que ver com o Oriente? “A tradutora” é um quadro que retrata as relações entre Portugal e a China através da representação simbólica de uma caravela portuguesa e de um junco chinês. A mulher que transporta os barcos serve para equilibrar e criar laços entre as duas culturas tão diferentes através do seu papaguear e do domínio das duas línguas. A tradutora é a garante da comunicação. “Lucky Man” é um quadro que retrata uma mesa de jogo num casino em Macau. Este quadro tem numa das figuras um boneco de boa sorte ao ombro, [porque] todos os jogadores procuram a sorte no jogo. Neste momento, encontra-se a trabalhar em algum projecto? Por acaso, estou a preparar uma cartografia plástica do mundo português, focada sobretudo no Oriente. É um projecto que ambiciono desde a minha primeira presença em Macau.
Sofia Margarida Mota Manchete PolíticaSegurança de estado | Unidade policial pode comprometer direitos dos residentes O secretário para a Segurança nega que seja uma polícia política, mas admite que a política e lei estão muito próximas. Para Camões Tam, a criação de um departamento de polícia para segurança de estado pode ser um regresso aos tempos da PIDE e um atentado aos direitos humanos. Eric Sautedé considera que não está explicada a necessidade desta unidade e teme que seja mais uma forma de repressão política [dropcap style≠’circle’]“A[/dropcap]ntes de 1974, antes da revolução em Portugal, havia a polícia secreta aqui em Macau. Nessa altura, existia uma unidade de segurança nacional, mas depois de 74 este departamento foi extinto”, começa por dizer o analista político Camões Tam ao HM. A comparação surgiu como comentário à criação da unidade de polícia de defesa de estado dentro da Policia Judiciária. O secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, nega que seja efectivamente uma polícia política. “Em Macau, só temos a Polícia de Segurança Pública e a Polícia Judiciaria e não temos policia política”, disse ontem o governante em conferência de imprensa de apresentação da proposta do regime relativo à imigração e autorização e residência. De acordo com o secretário, a nova unidade vai ser criada para a execução de medidas conforme a lei e não conforme a política. No entanto, Wong Sio Chak referiu: “Sabemos que existe uma relação muito íntima entre a política e a lei”. Ora, para Tam, trata-se não só um retrocesso no tempo, como uma medida que apesar de ser legítima legalmente, não o é do ponto de vista da necessidade. “O Governo de Macau tem o direito de estabelecer uma unidade de segurança de estado dentro de um departamento policial, ou noutro lado qualquer. Mas se analisarmos a situação do ponto de vista da necessidade digo, peremptoriamente, que não há esta necessidade”, apontou. Direitos menos humanos Para o analista, mais do que desnecessária esta pode ser uma acção que põe em risco os direitos humanos no território. “Pode ser ainda um atentado aos próprios direitos humanos, até porque sabemos que este tipo de unidades no continente e mesmo outros países avançam em determinados casos, mesmo sabendo que estão erradas, ou que não existe qualquer atentado à segurança de estado”, referiu Camões Tam. Por outro lado, há a considerar a ignorância generalizada da população local quanto a este tipo de autoridade no continente e que pode pôr em perigo os direitos fundamentais dos residentes. De acordo com Camões Tam, “quem vive em Macau está longe da realidade que se vive no continente, no que respeita a polícia política e ao que pode fazer às atitudes das pessoas que não sabem conhecem as regras de segurança de estado”, apontou. As pessoas de Macau não têm qualquer noção do que é uma afronta à segurança nacional na China, até porque a maioria dos residentes não nasceu, nem cresceu, lá e nunca conseguiram distinguir, ou saber, o que é que é segurança nacional e o que não é”, disse. Para rematar, o analista não deixou de alertar para o perigo que esta unidade pode representar. “Se se volta a ter uma unidade de segurança nacional criada pelo Governo de Macau, dentro de um departamento de uma das polícias, ou noutro departamento qualquer é algo muito perigoso”, sublinhou. Sempre para duvidar A dúvida começa, para o académico Eric Sautedé, na indefinição da unidade policial a ser criada e por quem vai ser supervisionada. “Duvido e suspeito que um novo corpo policial seja criado quando a natureza e o escopo da sua prerrogativa não estão bem definidos, quando há muita incerteza sobre quem, ou qual instituição, será encarregue de supervisionar as suas acções – além do secretário de Segurança”, referiu ao HM. Para o académico, o mero conceito de “colocar em risco a segurança do Estado” é usado na República Popular da China como “um guarda-chuva para a repressão política”. A questão que se coloca em Macau tem que ver com a falta de justificação para a criação de tal órgão, para “além de agradar às autoridades centrais”, apontou. Outro aspecto a ter em conta com alguma preocupação são as consequências no que respeita às recusas de entrada no território, referiu Sautedé. “As autoridades de Macau já recusam a entrada de muitas pessoas no território com justificações falaciosas a que chamam de “razões de segurança doméstica”, mas estas recusas visam principalmente activistas, jornalistas e académicos”, disse. Sem explicações acerca destas recusas, sem justificações e definições acerca do novo órgão policial, Macau pode estar perante um cenário preocupante”, remata. Segurança | Lei de controlo da migração prevê recolha de dados biométricos A proposta de lei para o regime jurídico do controlo de migração e das autorizações de permanência e residência prevê a recolha de dados biométricos para quem entre no território. De acordo com o comandante da Polícia de Segurança Pública, Leong Man Cheong, a medida pretende combater “situações de imigração ilegal e de prevenção da criminalidade, nomeadamente a mais perigosa”, disse o comandante referindo-se ao terrorismo e ao crime organizado. Para o responsável, com a recolha de dados biométricos será ainda mais fácil o combate dos casos de fraude de identidade protegida pela falsificação de documentos. Relativamente à possibilidade da instalação de câmaras de reconhecimento facial no território, o secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, referiu que não será para já mas que será feito o que tiver que ser feito no futuro. De acordo com a mesma proposta de lei, os hotéis vão ter de disponibilizar o registo dos clientes às autoridades e as companhias aéreas terão de dar conhecimento dos passageiros que transportam.
João Santos Filipe Manchete PolíticaMetro | Governo vai pagar 360 milhões para rescindir contrato por carruagens O Executivo fez as contas e prefere pagar para não receber todas as carruagens que estavam encomendas. A opção passa por, no futuro, comprar carruagens mais modernas, até porque o número encomendado foi considerado excessivo, devido aos atrasos na Linha de Macau [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] facto da Linha da Macau do Metro Ligeiro estar atrasada, face às primeiras previsões, esteve na origem da decisão do Executivo de cancelar a entrega de 48 carruagens. A explicação foi avançada pelo secretário Raimundo do Rosário, à saída da reunião de ontem da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Terras e Concessões Públicas. “No início, o projecto do metro incluía uma linha em Macau e na Taipa e foi feito um contrato em que era assumido o compromisso de comprar um certo número de carruagens. Mas agora, as carruagens do contrato são em maior número do que é necessário para a Linha da Taipa e de Seac Pai Van. Achámos que o melhor era rescindir a segunda parte do contrato”, disse o secretário para os Transportes e Obras Públicas. “Daqui a uns anos, quando a linha do metro for estendida para outros sítios, certamente haverá carruagens mais modernas e com outras potencialidades”, acrescentou. Desta forma, a Mitsubishi Heavy Industries vai limitar-se a entregar 110 carruagens das 158 inicialmente encomendadas, ou seja, menos 48 do que na primeira encomenda. Neste momento, já chegaram a Macau 30 carruagens e para alterar o contrato, o Executivo vai compensar a companhia em 360 milhões de patacas. Raimundo do Rosário garantiu ainda que o facto do contrato ter sido cancelado, não implica que não vai haver linha de metro na Península: “Não tem nada a ver com a decisão de não fazer metro em Macau. No futuro haverá oportunidade de escolher carruagens mais modernas e não teremos a obrigação de ficar sempre com estas que já foram encomendas há vários anos. Faz sentido e é assim em todo o lado”, explicou. Qualidade em causa Já no seio da comissão foi discutida a qualidade das obras públicas, nomeadamente no que diz respeito à queda de reboco e infiltrações nos edifício Jardim do Lago e On Son, em Seac Pai Van. De acordo com a presidente da comissão, Ella Lei, o Executivo comprometeu-se mesmo a reforçar a fiscalização das obras, com o recurso à fiscalização através de empresas de consultadoria. “Em relação à queda de reboco das obras públicas, o Governo reconheceu que houve obras com problemas de concepção, o que obrigou a um reforço do orçamento. Também prometeu reforçar as medidas de fiscalização, o que actualmente já faz com o recurso a consultoras em obras de grande dimensão”, afirmou Ella Lei. “Vão também ponderar utilizar consultoras nas obras com dimensão mais pequena”, frisou. Ainda em relação às obras públicas, Ella Lei revelou que o problema dos derrapes orçamentais e atrasos poderá ser ultrapassado através dos concursos públicos que valorizam menos o preço do trabalho. Também sobre os atrasos, o Governo criou um mecanismo para compensar as construtoras por atrasos causados pelas chuvas. Assim, quando chover durante 30 dias, haverá uma compensação automática na proporção, desde que os dias sejam comprovados pelos Serviços Meteorológicos e Geofísicos. Portas do Cerco | Terminal abre no Ano Novo Chinês As obras de reabilitação do Terminal Rodoviário das Portas do Cerco vão ficar concluídas até ao Natal e a abertura do espaço está planeada para o Ano Novo Chinês. O prazo de reaberturas do terminal vai ser antecipado, uma vez que estava calculado que as obras só ficassem prontas no segundo trimestre de 2019. “Estava previsto que as obras nas Portas do Cerco ficassem completas no segundo trimestre de 2019, mas como as obras ficam prontas por volta do Natal, a operação de reabertura do Terminal das Portas do Cerco vai acontecer a tempo do próximo Ano Novo Chinês”, disse a deputada Ella Lei, após reunião da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Terras e Concessões Públicas. Também os habitantes da Ilha Verde, desalojados pela passagem do Tufão Hato, vão poder regressar às casas no próximo mês.
João Santos Filipe PolíticaGoverno e construtora chegam a acordo em relação à nova prisão [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Executivo chegou a acordo com a empresa Zhen Hwa Harbour Construction Company, que tem como accionista a SJM, sobre o diferendo da primeira fase de construção da nova prisão. O anúncio foi feito, ontem, por Raimundo do Rosário. “Só falta a conta a final. É uma formalidade que fazemos em todas as obras públicas para encerrar a empreitada. Se ele [Li Canfeng] diz que só faltam as contas finais, isto significa que todas as contas anteriores já estão tratadas”, afirmou o secretário para os Transportes e Obras Públicas, com base nas informações recolhidas junto do director dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT). A obra tinha sido adjudicada em 2010, e estava previsto que fosse concluída em 2012. No entanto, houve atrasos significativos. Em Abril de 2016, após uma reunião da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Finanças Públicas, o presidente da comissão, Mak Soi Kun, afirmou que o montante pago pela primeira fase tinha atingido os 150 milhões de patacas. Nessa altura, já tinham arrancado os trabalhos de segunda fase a cargo da empresa do próprio Mak Soi Kun. Raimundo do Rosário também não revelou o montante gasto: “Quando cheguei [em 2014] a primeira fase foi concluída. Passados três anos, estamos a fazer a conta final, houve um grande atraso. Mas não sei em detalhe os pormenores. O que faço é a pressão sobre os serviços para que as coisas apareçam feitas”, explicou sobre a incapacidade de revelar de memória o preço pago à empresa. Fase de Mak Soi Kun Os problemas com a primeira fase da prisão começaram devido ao facto da obra ficar numa colina, em Ká Hó, e exigir mais escavações do que as previstas. A situação foi igualmente comentada ontem, na Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Terras e Concessões Públicas. “A obra fica numa colina e não houve prospecção suficiente do local, o que fez com que as obras se atrasassem. Já sabemos que houve conflitos [entre Governo, construtora e subempreiteiras] e que houve um problema com a qualidade dos materiais adquiridos”, comentou a presidente da comissão, Ella Lei. “Mas a segunda e terceira fases não foram afectadas e o Governo espera que prossigam dentro do planeado”, acrescentou. A segunda fase da obra está a cargo da empresa de Mak Soi Kun, através da Sociedade de Engenharia Soi Kun, e tem um preço de 1,06 mil milhões de patacas. A obra começou em Março de 2016 e era suposto estar terminada em Dezembro de 2018, mas neste momento a DSSOPT já só espera que os trabalho estejam concluídos em Janeiro de 2019.
Sofia Margarida Mota Manchete PolíticaImigração | Mais de 600 ilegais sem identificação permanecem no território São mais de 600 os estrangeiros detido por estarem no território ilegalmente e que por cá permanecem sem que se saiba quem são. A situação é legal e justifica a criação do regime jurídico do controlo de migração e das autorizações de permanência de residência. A proposta entrou ontem em consulta pública e vai extinguir o limite de tempo de detenção de 60 dias [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]e acordo com a lei actual, quando um imigrante ilegal é detido só pode ficar sob a alçada das autoridades durante 60 dias. Decorrido este prazo, caso não se confirme a sua identidade, ou não se tenha concluído o processo de repatriação, o detido sai em liberdade com um notificação. Esta situação vai terminar com a entrada em vigor da proposta de lei relativa ao controlo da emigração e autorização de permanência de residência que passou ontem para consulta pública. O objectivo é terminar com o limite de tempo detenção, de forma a que o processo seja concluído. Neste momento, Macau tem 619 emigrantes ilegais em liberdade, sem que as autoridades saibam quem são. A informação foi dada pelo secretário para a Segurança, Wong Sio Chak aquando da apresentação da proposta de diploma. Dois meses e porta fora A proposta visa reger a situação de pessoas apanhadas a ilegalmente no território e sobre as quais não se sabe ao certo a identificação. A actual lei prevê que as pessoas apanhadas nesta situação sejam detidas por um período máximo de 60 dias, de modo a averiguar a sua identidade. Findo este tempo, os detidos saem do Centro de Detenção Temporária da PSP com uma notificação nas mãos. Para evitar este tipo de situações, a proposta sugere que seja eliminado o limite de tempo e que o detido permaneça sob custódia das autoridades até que seja identificado e concluído o processo de repatriação. De acordo com o comandante da PSP, Leong Man Cheong, “durante o prazo de detenção é difícil confirmar a identificação das pessoas detidas”. Os procedimentos arrastam-se no tempo com a verificação da identificação, o tratamento de documentos de viagem e a aquisição de títulos de transporte para que seja efectuado o respectivo repatriamento. O responsável admite ainda que a permanência destas pessoas no território, sem que se saiba quem são, constitui uma ameaça à segurança pública. “Essas pessoas continuam determinadas em permanecer na RAEM, constituindo um perigo latente em matéria de segurança”, esclareceu o comandante. Responsabilização individual No entender do secretário para a Segurança, a ausência de limite do período de detenção é uma medida que interfere directamente com a liberdade das pessoas, até porque “é uma forma responsabilizar os detidos para que se sintam no dever de prestar os dados verdadeiros acerca da sua identificação”, disse. Por outro lado, o assessor do gabinete do secretário para a Segurança, António Pedro, adiantou que, “em princípio, as pessoas não querem ficar detidas. No entanto, a lei tem de prever que aquelas pessoas, que não se sabe exactamente quem são, não possam andar em liberdade. Com a aprovação desta proposta de lei, as pessoas vão ficar detidas até que as autoridades e o país de origem comprovem a sua identidade”, disse. Entre 2012 e Março deste ano, ocorreram 5253 casos de visitantes notificados. O ano em que existiram mais casos foi em 2015 quando foram detidas 1356 pessoas. Foram repatriados para o país de origem 4634 indivíduos, sendo que há neste momento 619 casos que estão em Macau com o regime de notificação. “Estas pessoas nunca se apresentam às autoridades”, apontou Wong Sio Chak. As instalações do Centro de Detenção Temporária da PSP estão equipadas com 188 camas. Neste momento, estão ocupadas 13 lugares por nove homens e quatro mulheres, devido a imigração ilegal. Findo o prazo de 60 dias, estas pessoas vão sair notificadas devido ao vazio legal que o Executivo pretende agora colmatar. Casamentos condenados As pessoas que recorrerem a casamentos falsos para obtenção de residência em Macau podem vir a ser condenadas a uma pena entre dois e oito anos de prisão. A medida está prevista na proposta do regime jurídico do controlo de migração e das autorizações de permanência e residência que entrou ontem em processo de consulta pública. Também sujeito ao regime do Código Penal, vai estar a execução de falsos contratos de trabalho. Acrescem aos crimes agora considerados, os actos de aliciamento e auxílio a entradas e saídas ilegais no território. Nascidos com prazo Os imigrantes que tenham bebé em Macau ficam obrigados a tratar dos documentos da criança num limite máximo de 90 dias. “Estas crianças não estão originariamente em situação de imigração ilegal, porque não entraram na RAEM”, lê-se na apresentação da proposta de regime jurídico relativo e controlo de migração que entrou ontem em consulta pública. Se os pais não tratarem das formalidades dos seus filhos, dentro do prazo dos 90 dias, podem ver revogada a sua autorização de permanência. Os progenitores podem mesmo “ser impedidos de pedir autorização de residência ou autorização especial de permanência pelo prazo de dois anos.”, revelou ontem o comandante da Polícia de Segurança Pública, Leong Man Cheong.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteEdgar Martins foi considerado um dos melhores fotógrafos do mundo. “Quis representar a ansiedade que senti” O trabalho “Silóquios e Solilóquios na Morte, Vida e Outros Interlúdios” e outro realizado no Instituto de Medicina Legal em Portugal valeram-lhe a distinção de um dos melhores fotógrafos do mundo pela Organização Mundial de Fotografia. Edgar Martins, português com raízes em Macau, promete uma exposição no território enquanto captura a ausência numa prisão de Birmingham, no Reino Unido [dropcap]F[/dropcap]Foi considerado o melhor fotógrafo do mundo. Estava à espera deste reconhecimento? Essa designação de melhor fotógrafo do mundo é sempre uma coisa muito subjectiva, porque o trabalho foi escolhido naquele momento, por aquele júri. Se calhar, se tivesse sido escolhido por outro júri, com um trabalho diferente, o resultado teria sido outro. Mas é claro que o reconhecimento é sempre fantástico, mais por abrir uma audiência bastante grande aos projectos. Se estava ou não à espera, não sei ao certo. Sempre estive confiante no peso conceptual do projecto, mas é uma questão de ver se é isso que o júri procura nas imagens ou não. O meu trabalho vai muito além do documental e do fotográfico e, por vezes, em prémios fotográficos fora do contexto das belas artes há a tendência para se escolherem prémios mais ortodoxos. O que me deixou bastante contente foi o facto de terem visto no trabalho qualquer coisa que merecia ser divulgada, e isso para mim é incrível, sobretudo para uma pessoa que trabalha um pouco fora da fotografia documental canónica. O tema da morte trouxe algum fascínio ou chamou a atenção pelas razões certas? Sim. O tema da morte é sempre uma coisa que suscita emoções muito fortes nas pessoas e muitas vezes emoções distintas, do estilo “não queremos sequer olhar para isso” ou “vamos lá ver o que é que isto nos tem a dizer”. A morte, para mim, foi um ponto de entrada para falar de linguagem fotográfica e a forma como nos relacionamos com fotografia. E em particular o facto de assuntos humanos, sociais e políticos complexos raramente serem conceptualizados fora do contexto da fotografia documental canónica. Quis produzir um projecto que reflectisse sobre as lacunas de informação, compreensão, representação e também as ansiedades sobre a ética e estética que inevitavelmente surgem com a fotografia documental. E foi assim que surgiu este projecto que produzi com o Instituto de Medicinal Legal e de Ciências Forenses em Portugal. FOTO: Nuno Fox Como foi a sua preparação? Como é que o pensou e estruturou? O que sentiu quando viu os materiais que ia fotografar? A minha ideia para o trabalho era muito distinta em relação ao que o trabalho acabou por representar. Não estava ciente do material que o instituto tinha mas também do tipo de acesso que eles me iam dar. Sobretudo, não tinha noção do espólio fotográfico fantástico que eles tinham. A partir do momento em que descobri esse espólio, ajudei a conservar, porque estava, não digo abandonado mas os objectivos de uma instituição de ciência forense são sempre outros. Durante três anos produzi mais de mil imagens e digitalizei mais de três mil negativos desse espólio. Trabalhei mais concretamente com as sedes de Lisboa e Coimbra, e fui também capaz de acompanhar investigações em curso, presenciar autópsias. Sabia, logo desde o início, que não estava interessado em representar este tipo de situações que pudessem ser vistas como visualmente sensacionalistas. Porquê? O que queria representar era a ansiedade que senti por estar neste tipo de local e por trabalhar com este tipo de material. É por isso que o meu trabalho se concentra numa linguagem de subtracção e não de documentação, é mais pela omissão e não tanto pela revelação. As imagens que foram premiadas para o projecto revelam isto muito bem. Representam provas forenses, objectos usados em crimes e em locais de crimes e também cartas de despedida de pessoas que cometeram suicídio. Não há dúvida de que as cartas de despedida têm um conteúdo potencialmente emotivo, mas a verdade é que é neste contexto, quando estou a lidar com este tipo de material, que me sinto o mais desconfortável possível. São coisas muito pessoais e uma pessoa fica com a sensação de que não deve olhar para elas, quanto mais representá-las. É precisamente esta ansiedade que eu tenho, em pensar que não devo olhar para o material que eu queria comunicar a um potencial público. É daí que surge um pouco a metodologia adoptada. Quem vê não percebe de imediato do que se trata. Quem olha para as imagens e não sabe que são cartas de despedida jamais chegará a essa conclusão, porque eu fiz todos os possíveis para não revelar o conteúdo e para exacerbar a relação entre revelação e omissão, entre o que se comunica e fica ausente. A partir do momento em que decidi que queria abordar o material desta forma foi simplesmente uma questão de ponderar sobre a metodologia adoptada. Este projecto foi bastante experimental neste sentido, porque incluiu imagens de arquivo, fotografia documental usando máquinas analógicas de grande formato, mas também usei abordagens que passaram por apropriar imagens do meu próprio arquivo fotográfico. No caso das cartas de despedida acabei por usar equipamento digital de alta resolução para as fotografar, porque fiz várias experiências. Mas a partir do momento em que percebi que poderia representar este material de uma forma subtil e enigmática com este equipamento, decidi utilizá-lo. Antes de chegar a este equipamento ainda tentei fazer fotogramas, um método muito artesanal. Há imagens no projecto que incluem fotogramas, mas nas imagens premiadas, nas cartas de despedida, foram todas fotografadas com equipamento altamente tecnológico. Disse numa entrevista que ficou com uma ligação à temática da morte depois do homicídio de um amigo seu. Como é que levou depois esse tema para o processo artístico? Há várias fases que me levaram a trabalhar sobre este tema. Comecei a querer trabalhar o tema da morte há 15 anos, mas senti que na altura não estava preparado. Quis trabalhar na altura com agências funerárias e rapidamente percebi que isso não ia levar a lado nenhum. Mas ainda não tinha amadurecido o suficiente para trabalhar um tema tão complexo. A minha prática artística nos últimos dez anos tem-se enraizado naquilo a que temos difícil acesso, então estou interessado nas técnicas de expressão artística nestes ambientes que promovem ou criam um diálogo. Como por exemplo? Trabalhei muitos anos com o tema da indústria e tecnologia, mas percebi que esse tipo de abordagem e tema tinha chegado a uma conclusão natural, e aí quis desafiar-me como pessoa e como artista. A morte surgiu-me como um tema interessante porque também é complexo, e o meu melhor amigo, na altura, um fotojornalista sul-americano que vivia aqui em Inglaterra, foi documentar a guerra na Líbia sem qualquer afiliação. Foi com três jornalistas independentes, achávamos que tinha sido raptado pelas milícias de Kadafi, chegamos a fazer uma campanha em prol da sua libertação e só soubemos que tinha sido assassinado quando os outros jornalistas foram libertados. Um dos jornalistas que fez essa viagem, americano, e que cheguei a conhecer, foi assassinado na Síria um ano depois do meu amigo. Então, essas duas mortes fizeram-me prestar uma atenção especial à forma como este tipo de matéria é tratada nos media e outros meios. Falou-me de intenções neste projecto, mas nunca quis chocar. O choque funciona uma vez, e esse é o grande problema da fotografia. Sempre tive a visão de que a fotografia choca e é intrusiva, mas é um mecanismo apotropaico. Aliás, esse é um dos grandes problemas do fotojornalismo, essa questão de polarizar os eventos. Apesar de chocar, tem esse papel de atenuar a nossa experiência de situações violentas. Nesse sentido, quis evitar esse tipo de abordagem e foi por isso que não fotografei autópsias, por exemplo, apesar de as ter presenciado. O projecto foca-se muito neste exercício conceptual do que se revela ou não. Tem um novo projecto, numa prisão de Inglaterra, intitulado “Sociologia da Ausência”. Porquê este tema? Este é o subtítulo do título principal, que é “o que é que a fotografia tem em comum com um jarro vazio”. Não haverá resposta no título, e é o vácuo no seu interior. É algo estrutural em torno da ausência. Estou a trabalhar com uma prisão em Birmingham, com um pequeno grupo de prisioneiros e as suas famílias. Tenho interesse em abordar a forma como lidamos com a ausência de um ente querido, sobretudo se formos forçados a viver separadamente, mas a fotografia representa algo que não se vê. E há aqui algo mais interessante, que é como é que a fotografia não se identifica com o seu sujeito fotográfico, mas com a ausência desse sujeito. Acho que o tipo de questões que levanta são profundas e muito interessantes. É pensar como podemos avançar o debate sobre a fotografia documental. Da série “Silóquios e Solilóquios sobre a Morte, a Vida e outros Interlúdios” © Edgar Martins De que forma é que Macau influenciou a sua carreira, ou tem vindo a influenciar? Macau é um sítio de contrastes. Sempre foi e continua a ser, apesar dos contrastes evoluírem e sofrerem mudanças. Isso acabou por despertar em mim um espírito crítico desde muito jovem, e nesse sentido Macau foi importante. Na adolescência o meu contacto com a fotografia foi sempre esporádico, nunca achei que poderia explorar de forma séria. Cheguei a fazer um curso de fotografia durante uns meses, mas nada além disso, e ninguém na minha família tinha paixão pela fotografia. O que me levou a decidir enveredar por este caminho foi o facto de, em 1996, ter publicado um livro de poesia e dissertações filosóficas – aliás, a escrita sempre foi a minha paixão – intitulado “Mãe, deixa-me fazer o pino”. Quando acabei o livro, e tive oportunidade de o reler, apercebi-me que era muito visual, baseado em visualizações específicas. Aí percebi que deveria estudar imagem visual. O que sempre me interessou na fotografia foram as suas insuficiências e carências. Toda a linguagem que criei ao longo dos anos tem sido estruturada em torno destas ideias. Albano Martins, seu pai, tem lutado pelo fecho do Canídromo, uma iniciativa que conseguiu ir além fronteiras. O prémio que agora ganhou trouxe-lhe mais visibilidade. Pretende chamar a atenção para esta questão com o seu trabalho? Do ponto de vista visual e fotográfico, a nível de projecto, não é que não seja interessante, mas penso que teria pouco a contribuir enquanto artista. Enquanto pessoa, tenho certamente um papel e já o tenho feito. Tenho um papel mais modesto em relação ao que o meu pai tem vindo a desenvolver na ANIMA e tenho apoiado a sua causa o máximo possível. Acho que é uma causa incrível e, aliás, a relação da nossa família com os animais foi moldada face às atitudes que existiam em Macau e na China. Todos somos apoiantes dos direitos dos animais. Para quando uma nova exposição em Macau? Neste momento, estou a discutir com duas entidades, mas não posso dar mais dados. Vou certamente apresentar um dos projectos que estou a fazer entre 2019 e 2020. É um projecto que será apresentado na sequência de uma apresentação que irei fazer em Pequim, no Three Shadows Art Center. Depois o trabalho passa por Macau, ainda que numa apresentação distinta. Dentro do próximo ano irei apresentar trabalho aí.
Hoje Macau InternacionalTemer admite desistir da reeleição para apoiar candidato do centro [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente do Brasil, Michel Temer, admitiu ontem que pode desistir de participar nas próximas eleições presidenciais do país, que se realizam em Outubro, para apoiar um candidato que possa agregar apoio de vários partidos. “Se necessário abro mão [da candidatura] com paz de espírito. Não haveria dificuldade”, disse o Presidente brasileiro, numa entrevista ao programa Power Focus, exibido na rede de televisão SBT. Michel Temer, cuja popularidade está abaixo de 6 por cento, disse que para ele desistir da reeleição será necessário que as forças políticas do Brasil se unam em torno de apenas um candidato “de centro”. “Se queremos que o centro [vença] não podemos ter sete ou oito candidatos. A classe política precisa mobilizar-se para escolher um nome”, afirmou o chefe de Estado. O Presidente brasileiro citou os pré-candidatos Geraldo Alckmin, Flávio Rocha, Afif Domingos e Paulo Rabelho de Castro como possíveis para representarem os partidos do centro. O nome do actual presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, que lançou sua pré-candidatura à Presidência no início de Março, também foi incluído por Michel Temer nesta lista. O Presidente abordou ainda a possibilidade de o ex-juiz do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa ser candidato e consiga eleger-se Presidente do Brasil. Joaquim Barbosa, negro, de origem humilde e que teve uma forte popularidade quando foi relator de um julgamento sobre um escândalo de suborno que ocorreu no Governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apareceu nas últimas sondagens como um dos candidatos que tem hipóteses de vencer as eleições. Para Michel Temer, porém, estas caraterísticas não devem ser decisivas. O Presidente brasileiro disse que não acredita que o antigo magistrado terá sucesso na corrida presidencial apenas “por ser negro ou porque ele era pobre”. “Se me permite, eu discordo do facto de que ele poderá ser o Presidente porque é negro ou porque era pobre. Pobre, eu também fui. Lula era pobre. Esta não será a razão que fará alguém ser ou não Presidente “, disse Michel Temer. Michel Temer voltou a defender o seu Governo e a continuidade do seu trabalho, frisando a importância de projectos como as mudanças no sistema de pagamento de pensões de reforma e a privatização da Eletrobras. O chefe de Estado brasileiro mostrou-se visivelmente incomodado com as perguntas de jornalistas sobre as acusações de que ele supostamente teria usado o dinheiro ilícito para pagar obras em casa da sua filha. A polícia está a investigar se as obras na casa de Maristela Temer foram pagas ilegalmente, depois de fornecedores de material daquela obra terem admitido que receberam dinheiro em espécie das mãos da mulher do coronel João Batista Lima Filho, amigo íntimo do Presidente brasileiro, como pagamento dos seus serviços.
David Chan Macau Visto de Hong Kong VozesAeroporto ou hotel? [dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]á pouco tempo atrás, o jornal de Hong Kong “Oriental Daily” publicou um artigo que alertava para o facto de o aeroporto da cidade estar a ser usado por turistas e pessoas sem abrigo para pernoitar. A notícia centrava-se inicialmente em dois turistas. O primeiro, vindo da Holanda, era um homem de negócios. Este homem afirmava que o aeroporto é um local seguro e com diversas vantagens. É possível ter acesso rápido à internet e passa-se a noite sossegado. Além disso é uma forma grátis de ficar alojado. É o local ideal para ficar. O holandês disse ao jornalista que, desta vez, planeava ficar em Hong Kong por um mês. Já tem vindo várias vezes e, na maior parte delas, fica alojado no aeroporto. Como agora vem em negócios, só conta ficar no aeroporto por três dias. O nosso amigo já criou aqui uma rotina. De manhã, ao pequeno-almoço, come pão com marmelada e, à tarde, delicia-se com uma cervejinha. Já é intímo do pessoal do aeroporto e as senhoras da limpeza cumprimentam-no sempre. O outro turista, que se chama John, é um inglês com mais de 80 anos. Quando foi entrevistado empurrava um carrinho com sete malas, enaquanto deambuleava pelas instalações. Afirmou ter sido professor de química durante vinte cinco anos. Há cinco anos atrás reformou-se e também se divorciou. Adora viajar pelo mundo fora. Contou que já tinha vindo a Hong mais de vinte vezes. Costuma ficar no aeroporto quase sempre. Desta vez já lá está “acampado” há vários meses. Espera regressar a Inglaterra em Agosto. John revelou que, noutras ocasiões, já ficou instalado no Aeroporto de Heathrow, Londres, e também no Aeroporto de Sydney. No entanto, neste ultimo todas as noites a polícia fazia a verificação dos bilhetes. Não era permitido passar a noite nas instalações. O Aeroporto de Hong Kong permite muita liberdade. Não existem restrições. Chega a encontrar-se aqui com os amigos. De vez em quando, empurrava o carrinho com as malas até às cabines telefónicas par ver se alguém se esqueceu de uma moeda na ranhura, embora afirme que tem dinheiro que chegue. Para além dos turistas, existem cerca de vinte sem-abrigo a dormir no aeroporto. Têm todos um entendimento tácito. Cada um deles ocupa um banco, que lhe servirá de cama. Alguns deles estão aqui como em casa. Trazem chinelos, escova de dentes e toalhas. Os sem-abrigo concentram-se no Terminal 2 do aeroporto. Todas as noites uma fila de bancos vira camarata. Às 6.00h da manhã, levantam-se e vão para a casa de banho tratar da higiene. Os sem-abrigo são cada vez mais jovens. Um homem de cerca de 30 transporta os chinelos, o pijama, a louça, uma couve e noodles instantâneos num carrinho de bagagens. De dia, vai até ao 7-11 cozinhar os noodles e carregar o telemóvel. Deita-se às 10.00 da noite. O aeroporto tornou-se um paraíso para quem não tem casa. Os seguranças já estão habituados à situação. De manhã, as patrulhas diurnas cumprimentam-nos um a um, de forma amigável. Entretanto, o jornalista dirige-se a um homem de meia idade. Depois de acordar, este homem vai até à casa de banho lavar os dentes e a cara. A seguir, após mudar de roupa, dirige-se ao restaurante. Depois do pequeno-almoço, sai apressadamente e vai trabalhar. Alguns sem-abrigo trabalham. Dormem no aeroporto por ser seguro, limpo e climatizado. É muito melhor do que quartos pequenos, sufocantes e caros. Não é difícil compreender os motivos desta escolha. Devido aos elevados preços das casas e à falta de segurança das áreas urbanas, esta parece ser uma boa opção. Eles não se importam de pagar transportes caros para ir e vir do aeroporto, é melhor do que arrendarem uma câmara mortuária. No entanto, com o afluxo cada vez maior de pessoas sem tecto ao aeroporto, vão necessariamente surgir problemas de ordem pública e de higiene. Podem criar-se conflitos potenciais entre eles o pessoal do aeroporto e alguns viajantes mais impressionáveis. Os sem-abrigo também vão afectar a imagem do aeroporto internacional de Hong Kong. O Governo deveria pensar numa estratégia para solucionar este problema. O porta-voz do aeroporto declarou que os seguranças e a polícia patrulham frequentemente os terminais. Quando se deparam com estas situações são normalmente compreensivos. Costumam notificar a segurança social para que seja feito o acompanhamentos destes casos, ou, se necessário, é pedida a intervenção dos agentes. Antigamente, a Autoridade do Aeroporto recebia queixas sobre a estadia nas instalações de pessoas nestas condições. Também costumava ter reuniões com a polícia para discutir e seguir estes casos. De acordo com a secção 17 (1) do Decreto-Lei para a Autoridade do Aeroporto, Cap. 483A, “ninguém poderá ter comportamentos que perturbem de alguma forma as outras pessoas, na área sob esta legislação”. Processar os sem-abrigo não terá qualquer efeito prático e não vai resolver o problema. Em última análise, este pessoas escolhem o aeroporto para pernoitar porque as rendas são demasiado caras. Se este problema não se resolver, cada vez mais gente sem casa vai escolher o aeroporto para se abrigar.
Olavo Rasquinho VozesUm dia o lobo virá… (Texto a propósito do tufão Hato, do Dr. Fong Soi Kun e da sanção sobre ele decidida) [vc_row][vc_column][vc_column_text] [dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]omo subdirector e director dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos de Macau (SMG), no período 1996-1998, ainda com Macau sob administração portuguesa, tive a oportunidade de conhecer o Dr. Fong Soi Kun, que nessa altura desempenhava as funções de diretor adjunto dos SMG. Mais tarde, de Fevereiro de 2007 a Abril de 2015, durante as minhas funções como Secretário do ESCAP/WMO Typhoon Committee, Fong foi designado o elo de ligação entre o Secretariado do Comité e o governo da RAEM. Tive então a oportunidade de testemunhar a contribuição que Fong teve para o prestígio de Macau na área da Meteorologia junto dos países membros do Comité, tendo sido durante 2007 presidente desta organização intergovernamental. Devido a este prestígio, Macau foi local de importantes eventos internacionais nas áreas da Meteorologia, Hidrologia e Redução de Riscos de Desastres, as três componentes do Comité. Também se deveu a Fong Soi Kun, coadjuvado pelo então subdirector, António Viseu, a transferência do Secretariado do Comité de Manila para Macau, na sequência de decisão tomada por escrutínio secreto entre os membros desta organização intergovernamental, tendo Macau sido seleccionado pelas condições vantajosas oferecidas pelo Governo da RAEM, com o apoio da China. No que se refere às acusações de que Fong é alvo devido às consequências do tufão Hato, é de frisar que as previsões meteorológicas, embora baseadas nas ciências Física e Matemática, estão sempre imbuídas de um certo grau de incerteza, o que motiva decisões que posteriormente poderão ser consideradas erradas. A incerteza é tanto maior quanto mais um determinado fenómeno se comporta de maneira anormal. O não levantamento mais cedo dos sinais 8, 9 e 10, no caso do tufão Hato, poderá ser justificados por essa incerteza. Entre as várias acções em que Fong Soi Kun colaborou como Diretor dos SMG, destaco um evento promovido em 8 de Junho de 2010 pelo Dr. Jorge Morbey, professor da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau, que consistiu num painel sobre “Riscos e Proteção contra Catástrofes Naturais em Macau: o tufão de 22/23 de Setembro de 1874”, que decorreu em Macau no Clube C & C, nos escritórios do Dr. Rui Cunha. Os organizadores convidaram todas as entidades de Macau relacionadas com questões respeitantes a desastres naturais: Capitania dos Portos; Comité de Tufões; Corpo de Bombeiros; Direcção dos Serviços de Cartografia e Cadastro; Direcção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos; Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes; Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental, Gabinete para o Desenvolvimento de Infraestruturas; Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais; Laboratório de Engenharia Civil de Macau; Protecção Civil. Destas entidades, apenas três estiveram disponíveis para participar na discussão: os SMG (representados por Fong e a meteorologista Chrystal Chang), o Comité dos Tufões (representado por mim) e o Laboratório de Engenharia Civil de Macau (representado pelo saudoso Eng. Henrique Novais Ferreira e Eng. Tiago Pereira). Uma palestra muito bem concebida sobre o tufão de Setembro de 1874, que recriava a sua formação, aproximação e consequências, foi apresentada pelos SMG. Durante a discussão foram lançadas dúvidas se a RAEM estaria preparada para enfrentar as consequências de um tufão semelhante. A resposta foi dada em 2017 com a passagem do tufão Hato, de menor intensidade. Alguns dirigentes que foram convidados e não compareceram a esse evento ocupam, actualmente, altos cargos na administração da RAEM. Apesar de não ser raro, os responsáveis dos Serviços Meteorológicos serem chamados pelos respectivos governos ou assembleias legislativas a aprestarem esclarecimentos sobre previsões relacionadas com eventos meteorológicos gravosos, numa tentativa de dar resposta às pressões pública e mediática, foi com grande surpresa que tomei conhecimento da pesada sanção decidida pelo governo de Macau em relação ao ex-diretor dos SMG, baseada em relatórios elaborados a quente por elementos alheios à meteorologia. É estranho não ter sido tomado em consideração o relatório de uma equipa de especialistas que incluía meteorologistas, nomeada por entidades governamentais da China (Comissão para a Redução de Desastres, Ministério para os Assuntos Civis e o Gabinete para Assuntos de Hong Kong e Macau), no qual está expresso que o tufão Hato constituiu um fenómeno com evolução difícil de prever, tendo sido caracterizado por extrema anormalidade. A expressão “extrema anormalidade”, usada nesse relatório, reflecte bem a dificuldade da sua previsão. Não se pode prever eficientemente algo de anormal. Do conhecimento que tenho do Dr. Fong, trata-se de uma pessoa muito discreta mas muito racional, que desempenhou as suas funções com competência e representou condignamente a RAEM em diversos eventos de Meteorologia e de Geofísica, contribuindo para o prestígio de Macau nestas áreas. Teve um grande azar: no fim da sua carreira foi alvo de graves acusações devido a um fenómeno que se comportou de maneira anormal, na medida em que, contrariamente ao que é estatisticamente comprovado, o Hato intensificou ao aproximar-se de terra. Também o mínimo da pressão atmosférica coincidiu com a maré alta, o que implicou a subida do nível do mar junto à costa. A pesada sanção, que mais parece um assassinato de carácter, constitui uma atitude muito grave de quem decidiu, na medida em cria um clima de medo sobre os que futuramente vão decidir sobre içar ou não um determinado sinal de tufão ou de storm surge. No futuro, em situações de dúvida, é altamente provável que sejam emitidos avisos com maior frequência, o que vai implicar situações de “aí vem o lobo…” tantas vezes repetidas que criarão no público o descrédito na informação meteorológica. O pior é que, um dia, o lobo certamente virá…[/vc_column_text][vc_cta h2=”Post Scriptum” h2_font_container=”font_size:28px|color:%23e83535″ h2_google_fonts=”font_family:Oswald%3A300%2Cregular%2C700|font_style:300%20light%20regular%3A300%3Anormal” shape=”square” style=”flat” use_custom_fonts_h2=”true”] Depois de ter escrito o texto acima, tomei conhecimento de um artigo científico de especialistas do Tokyo Institute of Technology (Hiroshi Takagi, Yi Xiong e Fumitaka Furukawa) intitulado “Track analysis and storm surge investigation of 2017 Typhoon Hato: were the warning signals issued in Macau and Hong Kong timed appropriately?” em que se menciona “A nossa análise do padrão da tempestade sugere que as decisões das duas regiões relativas à emissão de sinais podem ser consideradas razoáveis ou, pelo menos, não podem ser simplesmente responsabilizadas, dada o rápido movimento e intensificação do Hato e os riscos económicos associados em jogo.” (Our analysis of the storm’s pattern suggests that both regions’ decisions regarding signal issuance could be considered reasonable or at least cannot be simply blamed, given the rapid motion and intensification of Hato and the associated economic risks at stake). [/vc_cta][/vc_column][/vc_row]
Amélia Vieira h | Artes, Letras e IdeiasJudith Teixeira [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s mulheres sempre tiveram percursos ilegítimos no contexto social quando arrojaram sair dos seus silêncios. Elas sem dúvida manifestam uma força estranha e um requinte extremo, que desafiou a grande farsa das correntes mantidas pelo prestígio dos homens que, em matéria de voluptuosidade, pareceram sempre aquém, e é sempre com espanto que as lemos na sua modernidade, na sua ousadia, no seu vanguardismo, na cor por onde o ser se mantém vivo diante dos caminhos imperiosos da inteligência estéril. Vejamos que um poeta da sua dimensão dispensa o género mas, se não fosse mulher, o genérico da sua mensagem seria muito menos representativo. Nasceu em 1880, curiosamente no mesmo dia de Virgínia Woolf, 25 de Janeiro, em Viseu. A sua obra é um imenso desfolhar de beleza, erotismo e de uma magistral forma de conceber a língua na construção dessa coisa outra que é a atmosfera onde brilha uma alma. Porém, no seu tempo, tudo lhe fora adverso. Em 1923, quando da rusga do Governador Civil de Lisboa que instaurou uma insurreição pela vontade dos Estudantes Católicos, diga-se, contra a chamada Literatura Dissolvente, cujo propósito era literalmente lançar para a fogueira este registo de coisas que punham em causa os costumes da Nação, com ela iam então António Botto com Sodoma Divinizada, Raúl Leal, e Decadência da própria Judith de Sousa, e tudo seria feito, caso Fernando Pessoa não os defendesse, ou seja, defendesse a legitimidade histórica dessas obras. Chamavam-lhe então «desavergonhada» para não mencionarem o seu nome os bons pensadores da época, que pouco ou nada ligaram também ao interdito de Pessoa. Em 1927, a poeta sai do País e o seu modernismo, a sua criatividade, a sua intervenção cívica – dirige a revista «Europa» no tempo em que os alvores da Ditadura davam então os primeiros passos. Curioso é que mesmo aqueles que eram seus pares a resolvem esquecer. E ficamos assim, ainda hoje, quase que despojados de uma singular e excelente voz em que a luxúria pareceu ter sido uma afronta, o desejo, um preço a pagar, e o talento, uma qualquer ousadia imperdoável. Se Sá Carneiro se enleia e volteia de brocados carmesins numa voluptuosidade sem par, é maravilhoso sim, mas Judith tem lá dentro o outro, que não raro sofisma ser do mesmo género em alguns dos seus poemas, o que dá azo ainda a mais controvérsia. Mas lembro que alguns poemas de Pessoa insinuam ser de mulher na primeira pessoa, e muito desapercebidamente ninguém pareceu notar tal subtileza: as pessoas vêem sempre condicionadas por aquilo que acham que estão lendo, e não reconhecem a verdadeira leitura poética que é sempre mais vasta nos interstícios. «Nua», o seu livro choque. A «Capital» faz uma crítica excelente, mas a propaganda está activa, a “Revolução Nacional” varre tudo que lhe pareça vergonhoso. Dizia mesmo o artigo: “«Nua» tem de tudo: espírito, carne – e sonho. Eles revelam, com brilho e com beleza, os estados de alma dum superior espírito de mulher”. A sociedade, essa, omite-lhe o nome, e cruelmente lhe chama «A bailarina cor de sangue», pensando eles que seria opróbrio e, nessa desforra impudica de imundície moralista, dão-lhe paradoxalmente uma bela designação. Mesmo, ou até mesmo, sobretudo Marcelo Caetano, fundador e redactor da Ordem Nova, diz isto: «Arte sem moral nenhuma». Efectivamente, Portugal nunca foi moderno. Levantou-se, sim, a acção republicana naqueles anos dourados em que muitos viram desgraça, para logo se calar, ficando-se pelas suas lendas de bons samaritanos genuinamente morais que é o mesmo que dizer, a grande boutada que hoje escutamos – a ética. Mas ninguém reabilitou com a justiça devida a grande poeta. «Satânia», outro título inquietante, o nome dela bem como os títulos dos livros talvez anunciem um secreto preconceito muito peculiar no eterno mundo rural português. Seria ela o que todos desconfiavam e não diziam? E se o disse, todos tentaram não ouvir. As feministas do país, agora todo revolto uma outra vez, dão-lhe um espaço breve nas suas enciclopédias. Estas mulheres, não são de facto uma Judith Teixeira, são outras coisas tiradas das bainhas das calças dos homens, que desfilam sem mérito numa suposta e impactante erudição sem brio. Creio que é a Hora! A hora de fazer lembrar. Passaram-se quarenta e quatro anos e parece que chegámos sem saber aos mesmos patamares de selecto obscurantismo. Andamos ocupados, o que é compreensível, não se dissimula um estado destes apenas com Revoluções, dado que essas, vão e vêm, mas a incapacidade atávica, essa sim, é imóvel, igual, e nem uma aragem faz correr. Hoje é de novo vinte e cinco de Abril de um ano qualquer e não achei melhor tema do que este. Melhor oferenda de Liberdade! Ela, por tudo o que sei, não está, nem foi consolidada. A Liberdade continua a ser um vínculo, sempre, e para sempre, radicalmente poético. Já não há mais censura mas é como se existisse, essa censura censurável da omissão. Continuaremos pederastas e patriarcais? Muito, e bem para além disso. O MEU CHINÊS Nos olhos de seda Traçados em viés; Tem um ar sensual O meu chinês… Às vezes numa ânsia inquietante que eu não mitigo, e que me domina, num sonho de poeta ou de heroína, fujo levando o meu Chinês comigo! E lá vamos! Nem eu sei Para que alcovas orientais. Realizar as horas sensuais…. Eu e o meu Chinês Temos fugido tanta, tanta vez! Inverno-Noite- Hora Inquieta- 1922.
Hoje Macau h | Artes, Letras e IdeiasElementos do bem e do mal Jales Coutinho [dropcap style≠’circle’]L[/dropcap]ogo depois da libertação (Janeiro de 1945), um médico e um químico, colegas de cativeiro no campo para judeus de Monowitz, redigem um relatório, provavelmente a pedido dos soviéticos, sobre a organização higiénico-sanitária naquele Lager. Leonardo De Benedetti e Primo Levi continuaram pela vida fora a dar testemunho dos onze meses ali vividos. Monowitz era um dos cem campos dependentes do centro administrativo de Auschwitz. Era um bom campo, dirá Levi noutra ocasião, por ser um Arbeitslager, um campo de trabalho forçado, e não um de extermínio. A média de vida ali era de três meses. Quando as forças se esvaíam, uma inspeção rápida despachava os homens para as câmaras de gás num campo próximo. O relatório é publicado numa revista médica em 1946. Mais ou menos por essa altura Primo Levi decide dedicar-se à literatura. Também a escrita testemunhará o que viveram, ele e todos aqueles com que se cruzou. Não mais deixará de investigar os detalhes dessas vidas, para as resgatar do olvido. Igualmente a formação em Química intervirá nessa demanda. No relatório iniciático e em relatos subsequentes explica o funcionamento das câmaras de gás (os chuveiros) e dos fornos crematórios do campo de Birkenau. Pelas válvulas das câmaras, descreve, era libertado o Zyklon B, um pó inicialmente usado para desratizar os porões dos navios. * Sam Kean é um exímio contador de histórias da história da ciência. Seja o código atómico, o código genético, o cérebro, o ar que respiramos, tudo lhe vem servindo para coleccionar casos e histórias de exemplo e proveito. Fritz Haber é uma das suas personagens paradigmáticas, por encarnar a dualidade fundamental da ciência, o bem e o mal. Um daqueles casos (frequentes) em que uma descoberta ou invenção brilhante é reconvertida em agente de destruição. Consta que Arquimedes usou espelhos para atear o fogo aos navios dos romanos; dizia-se que a dinamite de Alfred Nobel era apenas para abrir estradas e túneis… Haber tornou-se mundialmente famoso ao produzir amoníaco com o nitrogénio (elemento 7). Daí vieram os fertilizantes, que salvaram (e salvam) milhões de seres humanos da fome. A história aparece já no primeiro livro de Sam Kean (2010), dedicado à tabela periódica dos elementos químicos, livro de que saiu agora aliás uma edição para leitores jovens (abril de 2018). No seu mais recente livro (2017), dedicado à atmosfera terrestre, o caso de Haber regressa e merece ainda mais atenção. O ar que respiramos é composto em 78 por cento por moléculas de nitrogénio (uma molécula do gás de nitrogénio tem dois átomos de nitrogénio). Nem sempre foi assim. A primeira atmosfera da Terra era essencialmente hidrogénio e hélio, sobras ainda do (pequeno) big-bang que originou o nosso sistema solar, há 4,6 mil milhões de anos. Depois, com os planetas rochosos ainda meio pastosos, a (segunda) atmosfera da Terra formou-se principalmente dos gases vindos do seu interior: vapor de água e dióxido de carbono, gases sulfúricos, vapores metálicos. Talvez os constantes choques de asteroides e cometas tenham reconfigurado muitas vezes a atmosfera e o planeta, incluindo os lagos e os oceanos que se formavam; talvez asteroides e cometas tenham acrescentado outros gases à atmosfera… A terceira atmosfera da Terra formou-se há 2,5 mil milhões de anos. Os choques de asteroides e cometas tornaram-se raros, a crosta do planeta arrefeceu, solidificou em rocha dura. O magma no interior continuou a libertar gases, que se acumulam em alguns pontos e acabam por explodir. Formam-se os vulcões, pelos quais os gases continuam a ser expelidos para a atmosfera, incluindo alguns gases ricos em nitrogénio. O nitrogénio acumula-se na atmosfera porque os seus dois átomos, fortemente unidos, não se misturam com outros átomos. Apesar de vivermos num oceano de nitrogénio, e de ele ser indispensável em todas as nossas células, o nosso organismo não o consegue assimilar diretamente do ar; como faz com o oxigénio, por exemplo, através dos pulmões. O desenvolvimento de algumas bactérias capazes de cindir os dois átomos (ligando-os aos átomos de hidrogénio, criando naturalmente amoníaco) estabiliza um ambiente favorável à vida de plantas e animais. Essas bactérias vivem nas raízes de algumas plantas e em alguns tipos de solo, trocando o nitrogénio por outros nutrientes. Os animais metabolizam o nitrogénio alimentando-se das plantas. Na linguagem colorida de Kean, só no início do século XX uma espécie de não-bactérias foi capaz de fazer o mesmo: produzir amoníaco. A tentativa de se criar um estrume químico já vinha de meados do século XIX, e foi isso mesmo que uma empresa pediu a Haber em 1905: uma nova maneira de se obter amoníaco, para se produzirem fertilizantes. Comprimindo moléculas de nitrogénio e hidrogénio com pressões centenas de vezes superiores à pressão atmosférica, experimentando metal atrás de metal como catalisador, acertando o nível das altas temperaturas, Haber conseguiu finalmente obter as primeiras gotas de amoníaco. A industrialização do processo foi entregue a Carl Bosh, um engenheiro químico. A produção de fertilizantes a partir do amoníaco não parou de crescer, até hoje. Como se dizia na altura, Haber conseguira o milagre de transformar o ar em pão. Ah!, suspira Kean, se esta história pudesse terminar aqui… Com o início da guerra, Haber entrega-se às tarefas militares. Dirige a produção em larga escala de amoníaco para o fabrico de explosivos de nitrogénio (capturado no amoníaco). Mas tem outros projetos em mãos, um deles o de desenvolver uma arma química superior às dos ingleses e franceses, que desse a vitória à Alemanha. Haber vira-se então para o cloro (17), com o qual produziu e fez testar no campo de batalha vários gases altamente tóxicos, e sobretudo aterradores, como o gás mostarda. Kean diz que o ser humano guarda um medo primitivo à falta de ar, à asfixia por um ar venenoso. No meio de protestos, e de denúncias pelos seus pares de vários países, com o labéu de criminoso de guerra, Haber recebeu o Nobel em 1919 (de Química, relativo a 2018). Nunca foi formalmente acusado, ao contrário de Bosh, que continuou a boicotar o acesso dos Aliados à tecnologia do amoníaco mesmo depois do Tratado de Versalhes. Haber dissimulou a sua indústria de guerra, garantindo que estudava maneiras de destruir os gases em reserva ou de os reconverter em pesticidas. Assim se inventou o Zyklon A. Com a chegada de Hitler ao poder, o destino de Haber estava traçado. Não aceitou ter de despedir os cientistas judeus, ele próprio com raízes judaicas. O seu laboratório foi encerrado e a sua fortuna confiscada. Morreu em 1934, em fuga, tentando que algum país o acolhesse. Daí a uns anos, os nazis tinham desenvolvido a segunda geração do pesticida, o Zyklon B. * «Tinha numa gaveta um pergaminho miniatura com caracteres aprimorados que dizia que se conferia a Primo Levi, de raça hebraica, a licenciatura em Química com 110 e louvor. Portanto, era um documento dúbio, semiglória e semizombaria, semiabsolvição e semicondenação. Estava naquela gaveta desde julho de 1941 e novembro já terminara. O mundo caminhava para a catástrofe e à minha volta nada acontecia. Os alemães espalharam-se pela Polónia, pela Noruega, pela Holanda, pela França, pela Jugoslávia, e penetravam nas planícies russas como faca na manteiga. Os Estados Unidos não se mexiam para ajudar os ingleses, que continuavam sozinhos. Eu não encontrava trabalho e estoirava-me à procura de uma ocupação qualquer desde que fosse paga; no quarto ao lado do meu, prostrado por causa de um tumor, o meu pai vivia os seus últimos meses.» Sexto capítulo. Como todos os 21 capítulos do livro, tem por título o nome de um elemento: “Níquel”. É a tabela periódica de Primo Levi: O sistema periódico, 1975 (Dom Quixote 2017). Lembranças sobretudo do antes e do depois; as do cativeiro estão já essencialmente no seu primeiro livro: Se isto é um homem, 1947 (Livros RTP 2018). Levi vai arranjar logo a seguir um emprego, o seu primeiro emprego depois da licenciatura, meio secreto, ligado aos militares, numa mina de extração de amianto, que já derrubara uma montanha. Tarefa, analisar os restos das rochas deixados pela extração, para ver se havia algum níquel. Entusiasma-se, pelo menos estava a viver na montanha, faz todas as experiências possíveis. Um leve pensamento que por vezes o assalta, o de estar provavelmente ao serviço da produção de armas para o governo italiano, não o inquieta. Mas o níquel é residual, nada a fazer, senão procurar outro emprego. Lembra as suas primeiras tentativas literárias, dois contos meio fantásticos (“Chumbo”, “Mercúrio”), cola-os a seguir, ficam aqui «entre estas histórias de química militante». Também «sonhava escrever a saga de um átomo de carbono». Escrevê-la-á muitos anos depois, é o último capítulo (“Carbono”). Desde 1942 em Milão, os sete amigos de Turim enfrentam agora a realidade. Itália ocupada, juntam-se aos partigiani, três são presos. Em novembro de 1944, Levi está no Lager; o único conto (“Cério”) em que regressa ao cativeiro, ao laboratório da fábrica de borracha sintética, a Buna-Monowitz, local de trabalho para que fora selecionado. Já todos estão à espera dos «russos libertadores», há só que vencer a fome. «Roubava tudo, exceto o pão dos meus companheiros.» Encontra uns pedaços de ferrocério num armário. Descobre que podem servir como pedra de isqueiro; rouba-os, um pedaço de cada vez; molda-os; troca-os por comida. Anos depois da guerra, já anos 1960, na correspondência comercial da fábrica de vernizes que dirige (penúltimo capítulo, “Vanádio”), aparece-lhe um nome… «Müller. Numa minha anterior encarnação havia um Müller.» Acaba por escrever-lhe, e confirmar, o seu «colega produtor de vernizes» fora o responsável pelo laboratório de Buna-Monowitz. Müller tinha uma boa «(louca!)» opinião sobre a fábrica de Buna (que não chegou a entrar em funcionamento), a fábrica destinava-se a «proteger os judeus». Gostara do livro (o de 1947, edição alemã) que Levi lhe enviara, também tinha umas notas daquele período, queria conversar sobre o passado, encontrar-se com ele…
Hoje Macau China / ÁsiaEmpresa de telecomunicações ZTE, da China, apela aos EUA que suspendam sanção na compra de componentes [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] gigante de telecomunicações chinesa ZTE entrou com um recurso nos Estados Unidos que visa suspender a sanção que proíbe a empresa de comprar componentes norte-americanos, numa altura de crescentes disputas comerciais entre Pequim e Washington. A ZTE, responsável pelo desenvolvimento da infraestrutura 5G na China, anunciou no domingo que solicitou ao Departamento de Comércio dos EUA a suspensão da sanção. Pequim criticou também a decisão junto das autoridades norte-americanas, durante as negociações da semana passada, em Pequim, em torno das disputas comerciais, com uma delegação dos EUA chefiada pelo secretário do Tesouro norte-americano, Steven Mnuchin. Segundo um comunicado do ministério do Comércio da China, a delegação prometeu repassar os protestos da China ao Presidente norte-americano, Donald Trump. No mês passado, Washington decidiu pôr fim às exportações de componentes destinadas ao grupo chinês ZTE, devido a declarações fraudulentas num inquérito sobre a investigação ao embargo imposto ao Irão e à Coreia do Norte. Os Estados Unidos já tinham aplicado, em Março de 2017, uma multa de 1,2 mil milhões de dólares ao grupo chinês das telecomunicações ZTE por ter violado o embargo aos dois países. Em 2016, o grupo chinês assumiu a responsabilidade por ter adquirido equipamento aos Estados Unidos e os ter reexportado para o Irão e a Coreia do Norte, apesar das sanções impostas aos dois países devido aos seus programas militares e a violações dos direitos humanos. A decisão de Washington ameaça a sobrevivência da gigante das telecomunicações, que depende de tecnologia norte-americana, como chips e o sistema operacional Android, para fabricar dispositivos móveis. A sanção surge num período de crescentes disputas comerciais entre Pequim e Washington. Na raiz desta disputa está o plano de Pequim, designado “Made in China 2025”, para transformar o país numa potência tecnológica, com capacidades nos sectores de alto valor agregado, incluindo inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros eléctricos. Segundo o banco de investimento CICC, a ZTE tem em stock componentes para um ou dois meses, antes que a sanção comece a afectar os seus negócios. A negociação de títulos da ZTE nas Bolsas de Valores de Hong Kong e Shenzhen foram, entretanto, suspensas desde a decisão dos EUA.
Hoje Macau China / ÁsiaDiplomacia | Singapura acolherá em Junho cimeira Kim-Trump [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] histórica cimeira entre o Presidente norte-americano, Donald Trump, e o líder norte-coreano, Kim Jong-un, realiza-se em meados de Junho em Singapura, noticiou ontem o diário sul-coreano Chosun Ilbo. Trump disse na sexta-feira que a data e o local do encontro tinham sido definidos e seriam em breve anunciados. A cimeira decorrerá “em meados de Junho”, afirma o Chosun Ilbo, citando fontes diplomáticas que obtiveram a informação do conselheiro norte-americano para a Segurança Nacional, John Bolton. A agência de notícias sul-coreana Yonhap também tinha indicado, no fim de semana, que o local favorito para o encontro Trump-Kim era Singapura. Trump tinha anteriormente dado a entender que a Zona Desmilitarizada (DMZ), onde se realizou no final de Abril a terceira cimeira entre as duas Coreias, poderia ser apropriada para o seu encontro com Kim Jong-un. A Mongólia e a Suíça foram igualmente apontadas como locais possíveis.
Hoje Macau China / ÁsiaPCC | Membros provam lealdade em teste de realidade virtual [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s membros do Partido Comunista da China (PCC) da cidade de Binzhou, na província oriental de Shandong, serão os primeiros do sistema político chinês a demonstrar a sua lealdade ao partido por meio de testes de realidade virtual. Nos testes, avaliam-se, entre outras coisas, a vontade de contribuir para o bem do povo e do próprio partido e se são ou não um modelo ético para a sociedade, segundo o diário Global Times, próximo do Governo de Pequim. Para fazerem o teste de quase 30 perguntas, que tanto inclui temas de teoria política como questões da vida pessoal, os examinados devem colocar óculos de realidade virtual e entrar numa divisão levando um comando de controlo remoto. As instalações onde decorrem os exames situam-se num centro local do PCC de Binzhou, custaram 92.000 euros e começaram a funcionar em Abril. Entre as perguntas do teste, há algumas formuladas de forma complexa, como “Estás de acordo que, se não fores corrupto, serás marginalizado?”, à qual os avaliados deverão responder escolhendo a opção “não”, das cinco respostas possíveis. O objectivo destes testes é determinar os pontos frágeis dos membros do PCC, segundo o Global Times, para que depois possam ser assessorados por especialistas do partido de forma presencial ou remota para os melhorarem. Contudo, como advertiu Cai Zhiqiang, professor da Escola do Partido, centro de formação dos altos responsáveis do regime, estes exames precisam de ter uma base mais científica para reforçar a fiabilidade dos resultados, que deverão ser utilizados para fomentar a qualidade dos membros do PCC.
Hoje Macau China / ÁsiaTaiwan | Pequim desvaloriza críticas dos EUA Pequim desvalorizou ontem as críticas de Washington, que classificou como “absurdo orwelliano” as exigências chinesas de que as companhias aéreas estrangeiras não se refiram a Taiwan como um país, por respeito à soberania da China [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] ministério dos Negócios Estrangeiros chinês afirmou que “independentemente do que os Estados Unidos dizem, isso nunca mudará o facto objectivo de que existe apenas uma só China, e que as regiões de Hong Kong, Macau e Taiwan são parte inalienável do território chinês”. “As empresas estrangeiras a operar na China devem respeitar a soberania e integridade territorial da China, cumprir a lei chinesa e respeitar os sentimentos do povo chinês”, afirmou em comunicado Geng Shuang, porta-voz do ministério. Companhias aéreas norte-americanas e a empresa têxtil espanhola Zara foram forçadas a pedir desculpa à China por se referirem a Taiwan como um país nos seus portais electrónicos ou em publicidade. Este fim-de-semana, a Casa Branca condenou os esforços chineses em controlar a forma como as companhias aéreas norte-americanas se referem a Taiwan, Hong Kong e Macau. O Governo norte-americano classificou a postura chinesa como “absurdo orwelliano”. Sarah Huckabee Sanders, porta-voz da Casa Branca, afirmou em comunicado que o Presidente norte-americano, Donald Trump, vai “apoiar os americanos que resistem aos esforços do Partido Comunista Chinês em impor as suas noções de politicamente correcto às empresas e cidadãos norte-americanos”. No ar Segundo a Casa Branca, a Administração de Aviação Civil da China pediu uma alteração, nas referências a Taiwan, a 36 companhias aéreas estrangeiras. “Trata-se de um absurdo orwelliano e parte de uma tendência crescente do Partido Comunista Chinês de impor as suas visões políticas aos cidadãos e às empresas americanos”, afirmou Sanders. A porta-voz disse que a Administração de Donald Trump apelou à China para que “pare de ameaçar e coagir as companhias aéreas e cidadãos norte-americanos”. O comunicado da Casa Branca surge depois de uma delegação norte-americana, liderada pelo secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, ter regressado de Pequim, onde na semana passada reuniu com as autoridades chinesas para encontrar uma solução para as crescentes disputas comerciais entre as duas potências. Também o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, falou este fim-de-semana por telefone com Yang Jiechi, membro do Politburo do PCC, que “afirmou a importância de uma relação bilateral construtiva e orientada para resultados”.
Hoje Macau China / ÁsiaEconomia | Grupo que quer comprar seguros do Montepio enfrenta grave crise [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] grupo chinês CEFC Energy, que quer comprar o ramo segurador do Montepio, atravessa uma grave crise, suscitada pelo desaparecimento do seu presidente e o fracasso do negócio para comprar 14,16 por cento da petrolífera russa Rosneft As agências de rating chinesas reduziram a classificação do crédito da empresa para nível “lixo”, tornando mais difícil o seu financiamento, numa altura em que os credores processam a firma, visando assegurar activos. O jornal chinês China Business News escreve que dezenas de instituições que adquiriram obrigações do grupo reuniram-se, este fim-de-semana, num hotel em Xangai, a “capital” financeira da China, para exigir informações sobre a situação financeira do grupo e garantias de reembolso da dívida. Mais duas reuniões de investidores foram agendadas para ontem e dia 15 de Maio, com um total de 263 milhões de euros em obrigações do grupo a expirar em 21 de Maio. Com sede em Xangai, o CEFC está no processo de compra das seguradoras do Montepio, enquanto a Fundação Calouste Gulbenkian decidiu pôr termo à negociação que decorria com o grupo para a venda da petrolífera Partex, devido à “incapacidade desta empresa em esclarecer cabalmente” uma investigação ao seu presidente. O presidente da Associação Mutualista, Tomás Correia, afirmou também já que duvida que a venda do ramo segurador do Montepio ao CEFC se concretize, mesmo que obtenha luz-verde do regulador. Ye Jianming, fundador e presidente da empresa, está desaparecido desde Março passado, quando a imprensa chinesa avançou que se encontrava “sob investigação” das autoridades na China. Na altura, a empresa negou que o seu presidente estivesse a ser investigado e afirmou que aquelas notícias “não têm fundamento”. Salada russa O jornal de Hong Kong South China Morning Post avança também que o governo do município de Xangai tentou assumir o controlo do grupo, através da estatal Shanghai Guosheng, mas a empresa acabou por retroceder, após avaliar a situação financeira do CEFC. A firma tornou-se mundialmente famosa no ano passado, quando acordou pagar 7,4 mil milhões de euros por 14,16 por cento da petrolífera russa Rosneft. O consórcio que detinha aquela participação, composta pelo fundo soberano do Qatar e a gigante da mineração Glencore, no entanto, anunciaram na sexta-feira que suspenderam o negócio. Já no ano passado, uma proposta de 92 milhões de euros do CEFC pela empresa financeira norte-americana Cowen Group foi travada pelo governo dos Estados Unidos por motivos de segurança nacional. Também nos EUA, uma investigação anticorrupção chamou a atenção para o grupo, após Chi Ping Patrick Ho, que geria uma organização não-governamental em Hong Kong financiada pelo CEFC, ter sido acusado por um tribunal de Nova Iorque por corrupção e lavagem de dinheiro. O Departamento de Justiça norte-americano acusa Ho de ter subornado funcionários do Chade e do Uganda em troca de contratos para uma empresa de energia chinesa. Registos públicos indicam que Ho representava a CEFC China’s China Energy Fund, em 2011.
Hoje Macau EventosEscritor Mário Vargas Llosa participa pela 1.ª vez no Hay Festival [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] escritor Mario Vargas Llosa, de 82 anos, distinguido com o Prémio Nobel da Literatura em 2010, participa pela primeira vez no Hay Festival, que se realiza em Novembro, em Arequipa, sua cidade natal, anunciou a organização. Nas três edições enteriores, participaram no Hay Festival cerca de 25.000 pessoas, noticiou a Efe, segundo a qual além do autor de “Elogio da Madrasta”, no certame participam também o indo-britânico Salman Rushdie, que recentemente publicou “A Casa Golden”, e a escritora e jornalista argentina Leila Guerriero, que em 2010 venceu o Prémio de Jornalismo Gabriel García Márquez. Leila Guerriero participa pela segunda vez no festival, que teve a sua primeira edição, em Arequipa, em 2015. O IV Hay Festival de Artes y Literatura realiza-se de 8 a 11 de Novembro, no centro histórico da denominada “Cidade Branca”, pelos seus edifícios construídos em cantaria vulcânica de cor branca, e onde Vargas Llosa, nobilitado como marquês pelo rei João Carlos de Espanha, tem a sua casa museu. O Hay Festival, que junta escritores, filósofos, cientistas e jornalistas, é originário do País de Gales, e além do Peru, tem edições na Colômbia, México, Dinamarca, e Espanha, designadamente em Segóvia. O escritor Mario Vargas Llosa esteve em Lisboa, em Outubro de 2016, para apresentar o seu mais recente romance, “Cinco esquinas”, na sala Almada Negreiros, no Centro Cultural de Belém. Referência literária Mario Vargas Llosa nasceu em 1936, em Arequipa, no Peru e actualmente tem dupla nacionalidade, peruana e espanhola, tendo recebido vários prémios literários internacionais, entre eles, o Prémio P.E.N./Nabokov, o Cervantes, o Príncipe das Astúrias e o Grinzane Cavour. Em 2010, foi distinguido com o Prémio Nobel de Literatura pela “sua cartografia das estruturas de poder e pelas imagens pungentes da resistência, revolta e derrota dos indivíduos”, segundo fonte editorial. Dos seus títulos refira-se “A cidade e os cães”, que lhe valeu o Prémio Biblioteca Breve, em 1962 e o da Crítica Espanhola, em 1963). Autor de mais de uma dezena de romances, Vargas Llosa é também autor de peças de teatro, nomeadamente “A menina de Tacna”, e de obras de ensaio, como “A Civilização do espetáculo”, editada em 2012. Entre outras condecorações estrangeiras, o Governo francês distinguiu o escritor com a Medalha de Honra, em 1985, e, em Fevereiro de 2011, o rei de Espanha nobilitou-o com o título hereditário de Marquês de Vargas Llosa. Vargas Llosa obteve a nacionalidade espanhola em Março de 1993, sem nunca renunciar à peruana.
Hoje Macau EventosUSJ | Gregory B. Lee traz a Macau a China imaginada [dropcap style≠’circle’]“C[/dropcap]hina Imagined: From Western Fantasy to Spectacular Power” é a palestra a cargo de Gregory B. Lee que vai decorrer na Universidade e São José (USJ) no próximo dia 29 de Maio pelas 18h30. De acordo com a organização, a China tem sido um país estudado e explorado por sinólogos e escritores, mas sempre dentro do âmbito de um país imaginado. “Entenda-se por imaginário, o conjunto de frases, imagens e crenças que compõem a compreensão partilhada de um grupo ou de comunidade (seja uma etnia ou uma nação, a nossa ou de outra pessoa)”, refere a apresentação do evento. Mas, os tempos estão a mudar e o imaginário ocidental da China começa a ficar situado num ponto sem descrição com a sua posição reconhecida enquanto potência mundial. A palestra pretende responder à questão “De onde vem a China?” Gregory B. Lee é um académico e autor, professor de Estudos Chineses e Transculturais na Universidade Jean Moulin. De entre as suas publicações, a organização destaca “Dai Wangshu: A vida e a poesia de um modernista chinês (1989)” e a “Década perdida da China (2009, 2012)”.
Sofia Margarida Mota EventosExposição | Arlinda Frota mostra azulejos e pintura no Albergue É inaugurada amanhã a exposição “Do passado à modernidade” de Arlinda Frota no Albergue SCM. Composta por azulejos, pinturas e uma peça isolada, a mostra apresenta a diversidade de técnicas e abordagens da artista portuguesa [dropcap style≠’circle’]“D[/dropcap]o passado à modernidade” é uma exposição em três momentos. Azulejos, pintura em acrílico e uma peça em porcelana compõem o conjunto de trabalhos que Arlinda Frota apresenta a partir de amanhã no Albergue SCM. Para a primeira parte da exposição, a artista plástica reproduziu um conjunto de 17 azulejos em homenagem à cerâmica portuguesa, uma expressão artística que já vai com mais de 500 anos de história. De acordo com a apresentação do evento, a escolha do azulejo foi uma forma de adoptar um material representativo da história de Portugal. “Os azulejos transcenderam a sua função decorativa utilitária em Portugal, tornando-se uma das formas artísticas mais expressivas da cultura portuguesa”, lê-se. O azulejo, apesar de ser uma peça que não tem origem em Portugal, ganhou em terras lusas uma outra vida. “A sua utilização ininterrupta por mais de cinco séculos, para cobrir grandes superfícies, tanto no interior como no exterior de edifícios, tornou-se representativa da evolução da arte portuguesa nos últimos 500 anos”, sublinha o comunicado de apresentação de “Do passado à modernidade”. “Os azulejos mostram influências de inúmeras culturas, desde os primeiros desenhos de estilo mourisco, aos temas relacionados com a natureza e animais, do Gótico e do Renascimento, e foram ainda inspiração para tecidos do oriente”, revela a apresentação. Pintar o abstracto A segunda parte da exposição é composta por 32 pinturas abstractas em acrílico em que a artista Arlinda Frota “incorpora a sua diversificada experiência artística”. A artista “aproveitou para mergulhar no universo das cores, descobrindo uma combinação espontânea de tonalidades em que cria novos mundos gerando novas ideias e interpretações”, lê-se. Por último, a mostra conta com a exposição de uma peça única em porcelana, “A beleza do casamento”.
João Santos Filipe Manchete SociedadeJustiça | Empresa Hio Keng Van perde terreno ao lado do Hotel Emperor A Sociedade de Investimento Imobiliário Hio Keng Van perdeu no Tribunal de Segunda Instância (TSI) o recurso interposto com o intuito de cancelar a recuperação de um terreno por parte do Executivo [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] terreno em questão tem 4169 metros quadrados e fica situado na Avenida Comercial de Macau, numa parcela ao lado do hotel e casino Emperor. O Tribunal de Segunda Instância (TSI) negou à Sociedade de Investimento Imobiliário Hio Keng Van o recurso que pretendia cancelar a recuperação do imóvel. Segundo o portal Macau Concealers, este foi o terreno que Shanghai Boy havia mencionado num vídeo em que acusou Edmund Ho de ter sido chantageado para ceder um terreno a Ma Ching Kwan, proprietário do jornal Oriental Daily. No recurso interposto para o tribunal superior, entre os argumentos utilizados pela Hio Keng Van, constava o facto da empresa considerar que com a reversão da concessão havia uma violação do direito de propriedade e mencionava o artigo 6.º da Lei Básica. O tribunal afirmou que o argumento é “inócuo” para o caso. A empresa Hio Keng Van argumentava igualmente com o artigo 103.º da Lei Básica, que define que a RAEM “protege, em conformidade com a lei, o direito das pessoas singulares e colectivas à aquisição, uso e disposição e sucessão por herança da propriedade e o direito à compensação em caso de expropriação legal”. O tribunal limitou-se a considerar que a reversão não é uma expropriação e que o argumento não se aplica ao caso em apreço. Concessão de 1992 Em relação ao argumento da violação da propriedade privada, a defesa recusou a utilização do artigo 120.º, que protege os contratos de concessão de terras. “O contrato celebrado [entre o Governo e a concessionária] em nada impedia a prática do acto administrativo [recuperação do terreno] que aqui está em apreciação, por em nada ter afrontado o clausulado inicial do contrato e das suas revisões”, é justificado. O terreno em causa tinha sido cedido à Sociedade de Empreendimentos Nam Van, em 1992, na altura tendo como finalidade um edifício com espaços comerciais, escritórios e estacionamento. O tempo para a construção era de 66 meses, prazo que não foi cumprido. Contudo, em 1998, o contrato foi alterado, tendo passado para o nome da Sociedade de Investimento Imobiliário Hio Keng Van e finalidade foi alterada para construção. No final desse prazo, voltou a haver um prolongamento por mais 10 anos, até que Raimundo do Rosário ordenou a recuperação do terreno, por falta de aproveitamento, a 5 de Setembro de 2016.
Hoje Macau SociedadeCrime | Autoridades detiveram mais de 100 pessoas no Cotai desde quinta-feira [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma operação liderada pelos Serviços de Polícia Unitários, levada a cabo em conjunto com a Polícia Judiciária e Polícia de Segurança Pública em vários casinos no Cotai, resultou na detenção para interrogatório de 119 pessoas desde quinta-feira, segundo dados facultados pela PJ ao HM. Na sequência da acção, com vista ao combate do câmbio ilegal de dinheiro, um homem foi preso. De acordo com a PJ, trata-se de um imigrante ilegal que é suspeito da prática de três crimes relacionados com jogo.
Hoje Macau SociedadeEconomia | Cartões de crédito denominados em renminbi em alta [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] número de cartões de crédito emitidos pelos bancos em Macau ascendeu a 1,21 milhões no final do primeiro trimestre, traduzindo um aumento de 12,1 por cento em termos anuais homólogos. De acordo com dados da Autoridade Monetária de Macau (AMCM), a maior subida foi registada no número de cartões de crédito denominados em renminbi, que cresceu 15 por cento para 266.755. Já os cartões de crédito denominados em patacas aumentaram 12 por cento, em termos anuais, para 860.764, enquanto os em dólares de Hong Kong cresceram 4,6 por cento atingindo 89.029 no final de Março. Em relação ao período homólogo, o crédito usado e o montante do reembolso registaram crescimentos de dois dígitos no primeiro trimestre do ano, segundo a AMCM.
Hoje Macau SociedadeJogo | Morpheus sem zona VIP operado por ‘junkets’ [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] hotel Morpheus, que integra o complexo do City of Dreams, não vai ter zonas VIP (de grandes apostas) operadas por ‘junkets’, revelou o presidente da Melco Resorts, Lawrence Ho, à agência Reuters. “É muito melhor desenvolvermos a nossa própria base de dados, do que depender dos ‘junkets’”, afirmou. Lawrence Ho tinha já adiantado que o espaço dedicado ao jogo no Morpheus destinar-se-á ao segmento de massas ‘premium’, em que as apostas são na ordem dos milhares de dólares de Hong Kong. O presidente da Melco, que opera quatro casinos em Macau, afirmou ainda que há poucos detalhes relativamente ao que vai suceder após o termo dos contratos das seis concessões e subconcessões, que expiram entre 2020 e 2022. “Estamos muito interessados em [saber] como vai ser o processo de renovação e o novo concurso”, sublinhou, apontando que tanto Macau como Pequim têm mantido silêncio a esse respeito. O Morpheus, desenhado pela arquitecta iraquiana-britânica Zaha Hadid, que morreu em 2016, resulta de um investimento de mil milhões de dólares norte-americanos. Com abertura prevista para a primeira metade do ano, o novo hotel, de 160 metros de altura, vai oferecer mais de 700 quartos.