António de Castro Caeiro PolíticaAngst “Lembro-me de ter acordado de madrugada numa manhã. Sentia uma tal atmosfera de possibilidade. Tu sabes, aquele sentimento. E eu… Lembro-me de ter pensado lá comigo: então isto é o princípio da felicidade. É aqui que ela começa. E, com certeza, haverá sempre mais. Nunca me ocorreu que não era o princípio. Era a felicidade. Tinha sido exactamente o seu momento.” Michael Cunningham, The Hours [dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] estranho como a vida muda. Nem sempre para melhor. Quase sempre para pior. Percebemos que a vida mudou sem necessariamente termos percebido o exacto momento quando mudou. Mas o modo como a vida nos acontece é percebido melhor, por contraste. A maior parte do tempo, não somos surpreendidos por diferenças. É o que é, como tem sido. Nascemos e crescemos com estas estruturas de sentido. Aos domingos, sempre houve almoços de famílias, alegrias e tristezas, mas também a vida de todos os dias, domesticada como pôde ser pelo quotidiano das avós que nos criaram e da ausência diária de quem trabalhava, para regressar ao fim do dia. O que regimenta o quotidiano é tão complexo quanto as pessoas que existem e o convívio que têm ou não têm com outros. A liberdade onírica da infância talvez nunca mais regresse. Tinha criaturas inventadas pela nossa imaginação, jogos e brincadeiras que desfaziam a plástica habitual das divisões das casas e dos seus conceitos rígidos. Deixavam de ser salas de jantar para ser campos de batalha e os quartos da infância estavam cheios de possibilidades de que já não nos apercebemos. E nas diversas transições biográficas que existem, ida para a primeira escola e a habitação dos edifícios de educação e formação vão abrindo mundos, porque o número dos outros que conhecemos aumenta, amplia, cria mundos diferentes, habitados pelas vidas diferentes que temos à nossa frente e às que todos temos latentes, escondidas, mas que fazem de nós quem somos. E há a mudança da idade. Não muda apenas a altura, o tamanho, a pele, a voz, cresce e envelhece. Como se o tempo nos trabalhasse a partir do seu interior que nos esculpisse por dentro e por fora o corpo todo. O corpo é o órgão do tempo. Talvez, se não houvesse tempo não teríamos corpo, como não teríamos olhos se não pudéssemos ver. As primeiras épocas da vida, as várias infâncias e as várias juventudes tinham mais de onírico do que de realidade, pesadelos e amores de sonhos, não importa. O princípio tem em si o possibilitante a projectar-se, a adiantar-se para além do que está dado a ver com os nossos próprios olhos à nossa frente. Há personagens que encarnamos, porque dão um revestimento diferente às vidas, o desportista, o estudante, o político, exemplos radicais com queremos eventualmente dar sentido às vidas indefinidas, então, mas definíveis no futuro. E no princípio que permite adivinhar o que está por vir, há o encantamento, o emaravilhamento, com alguns dos outros, como se fosse um catalisador inebriante com a sua específica alteração não só de estados de consciência, mas da vida toda. O seu resultado era centrífugo, propulsor, tenso. Os dias de praia da infância eram criações tão perfeitas que nunca mais regressam, mas também as vésperas de sexta-feira à noite, quando se adivinha apenas com espanto e maravilha o que a noite pode oferecer, mas nunca oferece, nem que levemos para casa o que queríamos. Nunca nada é realmente o que foi quando era uma mera possibilidade. A realidade recorta toscamente a possibilidade. E tudo era véspera de tudo, sem nunca se estafar, o último dia de aulas antecipava as férias e o último dia de férias antecipava o primeiro dia de aulas. E tudo era a possibilidade romântica sem o recorte da realidade. A cara de alguém incendiava vidas e nunca seria a cara do dia seguinte. E os corações eram só selvagens e tudo era apenas sob tensão do por ser futuro, do advento quase religioso não da segunda ou terceira vindas, mas do que era então a única vinda, a única presença por toda a nossa vida. Mas não é só a decepção de uma ilusão. Há dias bons e não os três meses em que estávamos de férias do mundo. Há dias bons e não os semestres que vivemos com o entusiasmo de principiantes. O primeiro olhar não é só promessa é já a despedida. E, contudo, não é só isso. De quando em vez chega até nós réplicas leves dos abalos sísmicos do passado, de verdadeiros terramotos que alteraram as morfologias das nossas vidas. Não conseguimos invocar já o poder daquelas emoções, dos sentimentos fortíssimos com que vimos alguém pela primeira vez. É já não percebermos como chegamos onde estamos e temos vivido há décadas assim, como se nos aguentássemos como podemos, mas sem plano e definitivamente sem itinerário. É este caminho para nenhures? É?!
Anabela Canas Iluminação Artificial MancheteMundo a mais que dispõe [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stranha disposição que me acolhe nesta página que fito de soslaio há uma enormidade de tempo. Aqui sentada na minha frente, impávida. Branca a página, cinzenta, soturna e desconfortável a disposição. Será da página branca e em branco, talvez. Gosta-se de dizer isso. Mas vejo sempre uma roda viva violenta de palavras desordenadas em esboços de sentir e sentido, em correrias desordenadas ou passando como no passeio público de séculos passados, lentas a olhar sem direcção nem curiosidade. Miríades de possibilidades de construção de um mundo. Uma poética existência a cumprir. Depois. De descoberta, a edificada. Ou talvez esse excesso de tantas escritas por aí, nos seus limites de sempre, no limite do seu conforto de sempre, espalhadas em diários caóticos e desesperados de o ser. Talvez seja esse por demais. E o pouco que de existencial, subitamente, daí se sente não vir. Da página em branco pouco vejo de tanto os passeantes me distraem do olhar. Não é dela então, a razão desta disposição estranha, que então me colhe talvez de súbito, e talvez de uma esquina não pensada com atenção. E que esperava à espreita para cobrir de uma ténue camada de cinzento, transparente e fino, mas que vem a adensar como um peso que repentinamente surge na matéria onde não é esperado nem natural. Estranha esta disposição. Que, quando vem, vem vestida para matar. Qualquer outra. Falar de quê, se tudo, extenuado por debaixo dessa firme, se bem que delicada cortina, se assemelha então a uma enorme sensação de aborrecimento. Falar do tempo ou falar do tédio. Do primeiro, na transcendente subjectividade que nos consome de formas variáveis, da imanência, que atormenta e reduz ao âmbito privado e secreto a sua verdadeira e nunca alcançada dimensão. Ou do segundo, como uma medida de desalento instalada de surpresa. Como uma iluminação particular que se debruça sobre todas as matérias e palavras, a tudo colorindo de momento por igual, e que por momentos pode quase assemelhar-se a um tempo a mais que se estende, lânguido, pesado e reprovador. Tempo demais. O aborrecimento suave de tudo. Das pessoas mesmo. Quase todas. Ou então, sendo que a rigor nem haja excepções, todas, todos e tudo. Todas as pessoas e todas as excepções. Na esquina errada do espaço-tempo. O triste, arrogante: l’ennui. Um arredondamento por defeito de onde nenhum brilho mais intenso e travesso consegue estender os braços. Sim. Como um nevoeiro fino e cerrado. Uma indiferença nítida, feita cor e fumo. Não se gosta de o sentir. Contudo vem do coração como outros afectos. Outras cores de sentir. Que se elaboram na mesma zona simbólica do intelecto a gerir pulsações mais fortes, como acalmias na motivação. Mas é da ordem do afecto, na economia desta mistura de sensações, relações entre dados, percepções e memórias. Com uma base que de repente se estende a tudo e tudo engole para uma difusa emergência em cores pastel. Penso depois que esta entidade que passa a superintender a tudo, talvez seja uma memória remota de alerta. Um sinal. Uma pontuação interrogativa que sempre se instala depois do tédio. Ao colo do tédio. A olhá-lo nos olhos sem amizade, mas com um ligeiro receio. De que se tenha vindo instalar para sempre. E posso pensar que tem o rosto neutro de uma ferramenta existencial, mas na verdade começa por produzir, perversa, uma avaria. No sentir. Depois há que conhecer a criatura criada sei eu lá de que substâncias ou matérias que me compõem. Um tédio mais melancólico. Um mais arrogante. O do nada vale a pena e o de o que se passa com os meus órgãos de sentir, comigo com as cores que abandonam as coisas. Com esta cegueira à luminosidade preciosa. Para onde foi tudo o que era antes. De onde veio. Isto. E então reparo num detalhe nunca antes lembrado. O olfato, parece ser o meu sentido menos entediado. Lembro o aroma de um cozinhado associado àquele burburinho da fervura, o perfume de uma flor. O perfume de um perfume. E penso que há algo desta poalha que recobre tudo e que é ineficaz face ao poder evocativo da memória de um perfume. Ou de um beijo. Então, é o tempo. O demais e o de menos. Que me cercam de todos os lados. Vendo bem, uma vida repleta. Sem vazios. Apenas ausências. Mas tão diferentes estas daqueles. Espacialmente falando. Uns produzem espaço, a outras ocupam-no, devidamente ou não. Tantos autores, entre filósofos e escritores se debruçaram sobre tão existencial assunto. Pessoa, Heidegger, Baudelaire, Mann, Kierkegaard, Kundera. Mas emerge sempre a necessidade de estabelecer categorias, formas, géneros de tédio, o de enquanto tarda, o do que sobra, o do que se repete e esgota. Outros. Dependendo de autor e experiência existencial. Este cansaço da existência, mesmo se pontual, que se associa ao tédio, e mesmo sem relação com idade ou quantidade de vivido. E que o coloca no cadinho dos estados afectivos. Detestados, mas afectivos. Com sinal negativo. Agrada-me particularmente uma abordagem fenomenológica, como sempre e também pela forma particular de nos retratar como seres no tempo, numa determinada visão do tempo que Heidegger preferiu. A tonalidade do tédio como expressão afectiva e temporal. Uma ontologia da experiência do tempo, quando a modernidade, há muito, é marcada pela técnica e pelo nihilismo. A produzir versões modernas de mal-estar existencial. Ou psíquico, mesmo. Estados de alerta. Ao contrário de Husserl que nos obriga à contingência de uma consciência filtro, em que se circunscreve a realidade do ser. Um eterno presente, talvez. Mas sinto algum alívio quando penso que o mundo e eu, não nos limitamos àquilo que são os dados da minha consciência de ambos. É um pensamento redutor e angustiante, circunscrever a realidade à consciência. Como se retirando a solidez de um chão e de um mundo que se habita, mesmo sem o entender na totalidade. Aos métodos filosóficos, prefiro claramente o método fenomenológico. A redução, em H. do ente à profundidade essencial do ser, a construção de um olhar a percorrer passo a passo as estruturas existenciais, e a destruição, palavra que deveria aparecer sempre entre aspas enormes, porque se refere à abordagem transversal e crítica, a todas as possíveis dissimulações que escondem os fenómenos genuínos do ser. Desocultar a realidade atemorizada e recoberta de máscaras. É o que isto quer dizer. Porque haveria de se determinar a desocultação como destruição e não como um acto de liberdade? E é talvez essa a função útil do tédio. Que cada um entenda o seu. E, de tudo isto, não ter medo. Do taedium vitae, mesmo. E falando do medo, outros caminhos negros se insinuam. Mas. Não ter medo, do medo, do medo. Porquê ter medo do medo…e para quê… há um medo maior que é de quando não houver mais medo para ter medo. De nada, mesmo. E aqui me socorre a ideia de deus que não tenho. A lembrar que pelo menos isto. Desci a casa as escadas a rua e sentei-me na beira do rio que é o tempo que passa, ali em baixo. Munida da única pedra que tinha, restos de uma praia ensolarada a sul de há anos. Inclinei-me bem a aferir o ângulo e o golpe certeiro para que, sendo única, fosse com efeito. E foi. E fiquei. Depois, a pensar na vida, assim como sem pensar em nada. A maré não estava boa para o odor daquele bicho gigante. E o vento. Que o devolvia à cidade. Mas é a vida. E não é má.
Paul Chan Wai Chi Um Grito no DesertoO Chefe do Executivo e o deputado [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Chefe do Executivo Chui Sai On apresentou na Assembleia Legislativa, durante uma hora, o “Relatório das Linhas de Acção Governativa para o ano financeiro de 2018”, no passado dia 14 de Novembro. Segundo o relatório, tudo irá permanecer em consonância com o status quo, registando-se um aumento no orçamento da segurança social. A temática do Relatório versa, como de costume, a redução de impostos, a distribuição de dinheiro e os aumentos salariais, sem surpresas nem inovações. O Chefe do Executivo deve pretender chegar ao fim do seu mandato, que termina dentro de apenas dois anos, de forma estável e pacífica. O que o futuro nos reservar virá a ser da responsabilidade da próxima Administração. Comparado com a segurança derivada do Relatório das Linhas de Acção Governativa, o deputado Sou Ka Hou enfrenta uma guerra aberta. Os leitores terão provavelmente conhecimento de que, na véspera da apresentação do Relatório, a Assembleia Legislativa, o Ministério Público e as Forças de Segurança de Macau emitiram os seus próprios comunicados de imprensa sobre o envolvimento de Sou Ka Hou no caso das “reuniões ilegais” e sobre a acusação que lhe foi feita de “prática do crime de desobediência qualificada”. O julgamento do deputado está marcado para breve. No seu comunicado de imprensa, a Assembleia Legislativa afirmava que, de acordo com o Estatuto dos Deputados à Assembleia Legislativa, o caso tinha sido enviado para discussão à Comissão de Regimento de Mandatos e que se aguarda o seu parecer. O Ministério Público forneceu apenas um apanhado geral dos pormenores do caso no seu comunicado. Estes dois órgãos públicos prestaram esclarecimentos sobre a situação. Mas, as Forças de Segurança de Macau emitiram uma nota explicativa contendo 27 pontos críticos, semelhante à reconstituição detalhada de um crime, de uma forma que cria nos leitores a sensação de estarem a presenciar um julgamento. Em Macau, uma sociedade regida pela lei, antes de um suspeito ser julgado, deverá ser tratado ao abrigo do princípio da “presunção de inocência”. Este direito legal, que assiste a todos os réus, é reconhecido pela Convenção Internacional das Nações Unidas e é uma salvaguarda fundamental dos direitos humanos. Neste aspecto, Macau não é excepção. No entanto, as autoridades do Governo da RAEM parecem ter abraçado e trazido para a praça pública a causa da acusação, o que não deixa de ser estranho. O caso aconteceu há um ano atrás. A condenação de Sou por “reuniões ilegais”, só poderá ser decidida no Tribunal Judicial de Base. Mesmo depois da deliberação deste Tribunal, qualquer uma das partes pode apresentar recurso. É um assunto de competência jurídica. Já quanto à permanência de Sou Ka como deputado, a decisão caberá, após parecer da Comissão de Regimento de Mandatos, à Assembleia Legislativa, que reunirá em sessão plenária para o efeito. Esta decisão será tomada, com a presença de todos os deputados, por escrutínio secreto, mas Sou não será o único a enfrentar as consequências, os outros 33 deputados também serão afectados. Após ter apresentado o “Relatório das Linhas de Acção Governativa para o ano financeiro de 2018”, o Chefe do Executivo deu uma série de entrevistas. Um dos jornalistas lembrou-o que, desde que assumiu o cargo, tem vindo a alertar a população para o potencial risco que existe na compra de propriedades imobiliárias, que registam aumentos constantes de preço. O Chefe do Executivo comentou que o mercado imobiliário se rege pela lei da oferta e da procura e que a maioria dos compradores são residentes, sendo que alguns deles adquirem uma segunda habitação. O problema de raiz está no facto de o rápido crescimento da economia de Macau apenas beneficiar um pequeno grupo, sendo a maioria afectada de forma negativa. Hoje em dia, quem detém poderosos interesses na sociedade controla a distribuição dos recursos e, de forma alguma, abre mão do seu domínio. Confrontado com uma série de problemas sociais, o Governo da RAEM recorre basicamente ao Plano de Comparticipação Pecuniária e às pensões para minorar a insatisfação e distribui subsídios para garantir o apoio de associações e organizações. Macau é conhecido por ser “uma sociedade com muitas associações e organizações”. Muitas delas, subsidiadas pelo Governo, garantem apoio às suas políticas. Nos tempos que correm, com a entrada em alta das taxas do jogo, esta aliança com as organizações e associações, prontas a patentear o seu “patriotismo e amor a Macau” tem, até certo ponto, criado uma falsa sensação de super-estabilidade. Em resultado desta situação, a discrepância entre os ricos e os pobres, e a complementar crise escondida, têm vindo a tornar-se cada vez mais graves. Pessoas mais jovens, como é o caso de Sou Ka Hou, sem qualquer apoio das associações tradicionais, são muitas vezes apanhadas na teia quando tentam agir de forma genuína contra uma situação de injustiça. Sou Ka Hou defendeu activamente posições de oposição de forma bastante destemida, acabando diversas vezes por ser estigmatizado e rotulado de defensor da “Independência de Macau”. A forma como a Assembleia Legislativa lidar com este caso, dará uma oportunidade à população e aos eleitores de Macau de ficarem a conhecer o seu funcionamento e a verdadeira natureza dos seus deputados. Nos próximos dois anos, tempo que falta até ao termo do seu mandato, o Chefe do Executivo Chui Sai On não deve ser sujeito a mais pressões. Mas para Sou Ka Hou, este biénio será certamente um período de teste.
João Luz PerfilRicardo Lopes, advogado e praticante de artes marciais, “No Kung Fu encontrei as respostas que sempre procurei” [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Oriente sempre esteve presente na vida de Ricardo Lopes, tanto em casa, como na busca de uma espiritualidade longe dos padrões ocidentais. Movido pela necessidades de controlar a sua energia, o lisboeta procurou um escape que lhe desse equilíbrio. Encontrou no Kung Fu To’A, uma vertente iraniana da arte marcial, a harmonia e as respostas que há muito procurava. “Não tinha qualquer afinidade com o Kung Fu, ou qualquer outra arte marcial”, conta o advogado de 42 anos, apesar de ter visto os filmes do Bruce Lee durante a infância. Depois de assistir a uma sessão do Mestre Guilherme Luz, a vida de Ricardo Lopes mudou. Encontrou uma forma de encarar a arte marcial mais holística, virada para o interior, para o centro da pessoa, uma fonte de equilíbrio que ficava muito além da manifestação física, da parte da defesa pessoal. “Encontrei as respostas que sempre tive desde muito novo, respostas que não encontrei na família, na sociedade, na religião, em lado nenhum”. Apesar da vertente do Kung Fu que pratica ser oriunda do Médio Oriente, as suas origens estão na China. Além disso, o advogado também teve família a viver em Macau. “Cresci a ouvir histórias de cá, em minha casa sempre se fez Minchi, sempre vivi com estes sabores e fragrâncias orientais”, conta. O fascínio por Macau foi algo presente na vida de Ricardo Lopes, inclusive quando tirou o curso de Direito, chegou a sugerir à sua mulher, na altura namorada, que viessem viver para Macau, algo que não se materializou. Apesar da distância, o jurista “devorava as notícias” do território de uma forma instintiva, mas a distância mantinha-se. Situação que a crise económica viria alterar, apesar de não ser imediatamente. Em 2012/2013 veio ao território para algumas entrevistas de emprego e acabou por ficar por cá. Nunca tinha cá estado, mas assim que chegou sentiu-se verdadeiramente em casa. Identificação total “Nunca cá tinha estado, não tinha cá família nem conhecia ninguém”, revela. Depois do primeiro impacto de descoberta de algo completamente novo, Ricardo Lopes sentiu “uma enorme conexão com Macau, uma ligação forte a isto tudo, às ruas, aos nomes das coisas, às pessoas e à forma como convivem”. Perdia-se pelas ruelas de Macau, tropeçava em jogos de Mahjong à porta de lojas e nada lhe parecia estranho, tudo lhe soava familiar e de acordo com as histórias que ouvia desde criança. Chegou ao território com a ideia romântica do Oriente, apesar da realidade não ser bem assim, mas ainda conseguiu encontrar o velho romantismo que fez com que se identificasse totalmente com a cidade. Encontrou por cá vestígios da arte marcial que o completava quando deixou Lisboa para trás, em especial nos movimentos harmoniosos das pessoas que praticam Tai Chi na rua. “Olhava e interpretava a parte espiritual dos gestos daquelas pessoas, a verdadeira conexão interna dos movimentos, a ligação entre o físico e o emocional”, conta. Um contraste completo com o reboliço do dia-a-dia que impele as pessoas a correrem de um lado para o outro. No entanto, deixou em Portugal a ligação ao Kung Fu Ta’O, algo que não encontrou em Macau. O mais aproximado que conseguiu foi um instrutor de Wushu de Hong Kong, que visita Macau semanalmente. Hoje em dia, Ricardo Lopes treina no Yoga Loft. Apesar de deixar bem vincado que não é um mestre, quem estiver interessado a treinar a variante de Kung Fu pode fazê-lo às quartas-feiras, pelas 19h30. “É um treino partilhado daquilo que aprendi”, conta. Através da arte marcial, Ricardo Lopes desenvolve a parte física para moldar o interior, uma prática que o ajuda a manter-se centrado. “O Kung Fu ajuda-me a estar mais presente, a não ter receios ou ansiedades, a estar mais atento e tranquilo”, um equilíbrio que o ajuda na vida pessoal e profissional e que tem todo o gosto em partilhar.
Hoje Macau InternacionalEstado Islâmico | Atentado faz pelo menos15 mortos em Cabul [dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]elo menos 15 pessoas, incluindo oito polícias e o atacante, morreram ontem e 18 ficaram feridas num atentado suicida à entrada de um hotel no noroeste de Cabul, reivindicado pelo grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico (EI). “O atacante quis entrar mas, após ser identificado pela polícia que vigiava a entrada, detonou os seus explosivos na rua principal frente ao hotel”, assegurou o porta-voz da polícia de Cabul, Basir Mujahid, citado pela agência noticiosa Efe. Pelo menos oito polícias destacados no hotel foram mortos, para além de seis civis e o atacante, enquanto 11 civis e sete polícias ficaram feridos, precisou. Um primeiro balanço apontava para nove vítimas mortais. Segundo Mujahid, o ataque ocorreu frente ao hotel Kabul-e-Naween pouco após as 13:00 locais. O chefe do Governo afegão, Abdulah Abdulah, condenou em comunicado o “cobarde atentado terrorista” e destacou que “os inimigos do Afeganistão não podem, com este tipo de actos terroristas, evitar que o povo tenha liberdade social e outros valores democráticos”. O grupo Estado Islâmico (EI) reivindicou a autoria do ataque através de um comunicado difundido pela agência Amaq, com ligações aos ‘jihadistas’. No momento do ataque decorria no interior do hotel onde o atacante tentou entrar um acto político em apoio a Atta Muhammad Noor, governador da província de Balkh (norte) e ex-senhor da guerra. No entanto, em declarações à agência noticiosa France-Presse (AFP), um dos seus assistentes referiu que o governador não estava presente na reunião. “Nós estávamos a deixar a sala, depois do almoço, quando ocorreu uma enorme explosão, partindo vidros e criando o caos e o pânico”, declarou um dos participantes, Harin Mutaref
João Santos Filipe DesportoFutebol de Sete | Benfica e Sporting lutam por passagem às ‘meias’ [dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]ogo entre rivais vai ter lugar hoje, no Canídromo, às 19h30 e é fundamental para decidir as equipas do grupo B que passam às meias-finais do Torneio de Futebol de Sete. Ambos os clubes apontam à vitória. Benfica de Macau e Sporting de Macau defrontam-se esta tarde, às 19h30, no Canídromo num encontro que vai decidir a passagem às meias-finais, do Torneio de Futebol de Sete. Neste momento, e dependendo do resultado deste encontro, podem apurar-se no Grupo B para a próxima fase da competição as equipas que sobem hoje ao relvado e o Ka I. No entanto, o técnico leonino, Nuno Capela, recusou ontem considerar que este é um encontro de “tudo ou nada”, em declarações ao HM. “Para o Sporting não é um jogo de tudo ou não. É um jogo difícil contra uma grande equipa. Vamos procurar disputar o jogo e a passagem às meias finais”, disse Nuno Capela. Ao longo do torneio, os leões tem mostrado dificuldades no momento da finalização, porém o treinador espera que esses problemas sejam finalmente ultrapassados. “Temos de encontrar o equilíbrio entre marcar e não sofrer golos. Vou manter a mesma identidade da equipa, vamos procurar jogar o jogo pelo jogo, jogar bem e apostando num futebol de ataque”, sublinhou o técnico. “Não vamos mudar a nossa forma de jogar porque precisamos de pontos. A matriz do clube é esta, futebol de ataque e rápido. Vamos manter essa mesma filosofia”, acrescentou. Internacionais não preocupam Ao contrário dos verde-e-brancos, o Benfica forneceu alguns dos seus jogadores à Selecção de Macau, que perdeu na terça-feira diante do Quirguistão. Contudo, o director técnico, Daniel Melo, declarou, ao HM, que não está preocupado com a questão do cansaço acumulado. “Não vai ser um problema, por vezes até sentimos é que eles [os jogadores] tem falta de jogos deste tipo, de maior ritmo competitivo. Pode considerar-se uma sobrecarga física, mas faz sempre bem em termos anímicos”, afirmou Daniel Melo. “Dentro das expectativas que existia, Macau até conseguiu dar uma boa réplica pelo que pode haver cansaço, mas também para evoluir os jogadores precisam de defrontar equipas com níveis mais elevados. Não vejo como é que isto possa influenciar o plantel de forma negativa”, explicou. Por outro lado, este é um encontro em que o Benfica vai entrar desde início com a vitória em mente, apesar de poder dar-se o caso de ser apurado com uma derrota. “A nossa abordagem é sempre a mesma. Com muito respeito pela outra parte, não temos outro pensamento que não seja entrar para competir e lutar pela vitória”, garantiu o director técnico do clube. As duas equipas que se apurarem do Grupo B do Torneio de Futebol de Sete vão ter pela frente o Cheng Fung ou o Kei Lun, que já se apuraram para as meias-finais, através do Grupo A.
Sérgio Fonseca Desporto Grande Prémio de MacauTaça da Corrida Chinesa: Assunção deixa boas indicações [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] “outra” corrida de suporte do programa este ano é a Taça da Corrida Chinesa e foi a primeira entre as provas dos automóveis a sair para a pista. O que um dia foi uma corrida confinada ao troféu monomarca que dá nome à corrida em Macau, em que as quatro associações automóveis da “Grande China” se confrontavam saudavelmente no asfalto, apresenta-se este fim-de-semana sem essa originalidade, com uma grelha de partida que mistura os carros do troféu monomarca – os novos BAIC D50 – e alguns participantes do campeonato TCR China, uma competição cujas viaturas são de todo idênticas àquelas que vimos na Corrida da Guia em 2016. O treino-livre de ontem teve os primeiros acidentes do dia, e não foram tão poucos quanto isso, obrigando os comissários de pista a transpirar logo pela manhã. Nesta sessão, os cinco mais velozes ficaram separados por apenas seis décimas de segundo, com o experiente chinês Zhang Zhi Qiang (BAIC) a efectuar a melhor volta. Os dois pilotos da RAEM não desiludiram, terminando ambos dentro dos cinco primeiros. Hélder Assunção fez o terceiro melhor tempo com o BAIC da equipa Tianjin Leo Racing. Aproveitando o seu superior conhecimento do traçado, na sua estreia ao volante do carro de construção chinesa, o piloto macaense ficou a escassos 0.496 segundos do melhor tempo da sessão, num claro sinal prometedor para o fim-de-semana. Numa sessão de treinos em que houve lugar à mostragem de uma bandeira vermelha e foi realmente difícil efectuar voltas limpas, Liu Lic Ka, em SEAT Leon TCR, obteve o quinto melhor tempo. A qualificação desta corrida decorre amanhã, com a corrida a ser disputada no sábado. Favoritos nem sequer a Macau chegaram Os mais atentos com certeza se aperceberam que nem todos os carros da lista de inscritos desta corrida participaram no treino-livre. Isto aconteceu porque os contentores das equipas participantes no campeonato TCR China, provenientes de Ningbo, “não chegaram ao destino” e com isto os principais favoritos ficaram prematuramente de fora, reduzindo em oito concorrentes a grelha de partida.
Sérgio Fonseca Desporto Grande Prémio de MacauTaça GT Macau – SJM | Um plantel de luxo [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] 10ª edição da Taça GT Macau será celebrada este ano com a continuidade, pelo terceiro consecutivo, da Taça do Mundo de GT da FIA. Depois do fiasco do ano passado, em que o vencedor terminou com as quatro rodas apontadas para o ar, todos os intervenientes esperam um desfecho diferente, em que o espectáculo esteja a altura da imponência destes carros e do potencial dos pilotos intervenientes. Para este ano a FIA decidiu contra a participação de pilotos amadores e conseguiu persuadir os grandes construtores a regressarem. Assim, serão apenas vinte os pilotos presentes, representando alguns dos mais prestigiados construtores automóveis mundiais: Audi, BMW, Ferrari, Honda, Lamborghini, Mercedes-Benz e Porsche. A grelha de partida está recheada de nomes bem conhecidos de Macau. Laurens Vanthoor retorna à Guia para defender o título, mas desta vez ao volante de um Porsche. A marca alemã contará ainda com um segundo carro para Darryl O’Young, o piloto de Hong Kong que venceu a primeira edição desta corrida em 2008. Maro Engel, que venceu esta corrida por duas ocasiões, em 2014 e 2015 (a primeira da Taça do Mundo em Macau), volta a ser um dos ponta-de-lança da Mercedes-Benz. A casa de Estugarda conta com outro nome conhecido nas suas fileiras este ano. O “Sr. Macau”, Edoardo Mortara, o piloto com mais triunfos nesta corrida, então pela Audi, vai tentar vencer esta corrida pela quarta vez. Os nomes sonantes não se ficam por aqui. A Mercedes-Benz, que traz quatro carros de fábrica, ainda contará com o espanhol Daniel Juncadella que venceu o Grande Prémio de Macau de F3. Outro ex-vencedor de F3 que está de regresso à RAEM é Lucas Di Grassi. O brasileiro campeão da Fórmula E, para carros eléctricos, tripulará um Audi e tentará emular o sucesso conseguido em 2005 nos monolugares. Por fim, Felix Rosenqvist, o sueco que venceu a corrida de F3 por duas ocasiões, estreia-se na corrida dos “supercarros” com um Ferrari 488 GT3 de uma equipa norte-americana. A BMW abdicou de António Félix da Costa, para tristeza dos adeptos portugueses, mas convocou Augusto Farfus que também por cá já venceu, nos tempos em que a marca da Baviera corria no WTCC, com a particularidade do brasileiro ir conduzir o 18º “BMW Art Car” desenhado pela artista chinesa Cao Fei. Quem segue de perto as corridas de GT sabe que a lista de favoritos não se fica por aqui, pois há um ex-vencedor das 24 Horas de Le Mans, Romain Dumas, o campeão da Blancpain GT Sprint Cup, Mirko Bortolotti, um ex-campeão do DTM, Marco Wittman, ou o vencedor da Bathurst 1000, Chaz Mostert. Depois da Corrida de Qualificação no sábado, onde ninguém quererá cometer exageros, que no “nosso” circuito se pagam caro, espera-se uma super corrida de 18 voltas no domingo à hora de almoço. A não perder… Reputação intacta A corrida do ano passado, que teve apenas duas voltas competitivas, irritou as marcas e mereceu, com justiça, apupos por parte do público. Afinal de contas, a corrida acabou prematuramente e os espectadores pagaram por um espectáculo que não assistiram. Contudo, apesar do sururu causado, a reputação da corrida não saiu beliscada. “Macau é Macau e alguma controvérsia faz parte do espectáculo”, explicou ao HM Benjamin Franassovici, o responsável para esta prova da reputada empresa francesa SRO Organization, que entre outros campeonatos, organiza as Blancpain GT Series na Europa e Ásia, e que, pelo terceiro ano consecutivo, está a colaborar com a FIA e a Associação Geral Automóvel de Macau-China (AAMC) em Macau. “O que aconteceu o ano passado foi algo único, penso que não veremos algo igual outra vez, mas foi também um acontecimento que gerou um vasto interesse num mundo mais amplo graças às redes sociais”, explica o responsável, que acrescenta: “Não penso que tenha sido má publicidade, e até pode ser considerado o contrário. Mas não acredito que um episódio assim irá acontecer de novo.” Este ano, das setes marcas que aceitaram o desafio da federação internacional, seis estão representadas a nível oficial (ndr: apenas a Ferrari não é oficial), o que é um recorde para a prova. Por outro lado, a Honda escolheu esta prova estrear pela primeira vez no continente asiático o novo NSX GT3. Pilotos de Fábrica Audi Lucas Di Grassi Nico Muller Robin Frijns BMW Augusto Farfus Marco Wittman Tom Blomqvist Ferrari Felix Rosenqvist Honda Renger Van der Zande Lamborghini Mirko Bortolotti Mercedes-Benz Maro Engel Edoardo Mortara Raffaele Marciello Dani Juncadella Porsche Laurens Vanthoor Romain Dumas Darryl O’Young
Sérgio Fonseca Desporto Grande Prémio de Macau51º Grande Prémio de Motos de Macau: Irwin esmaga favoritos Rutter e Hickman [dropcap style≠’circle’]G[/dropcap]lenn Irwin não esteve com contemplações e na sessão de qualificação de ontem esmagou os favoritos do Grande Prémio de Motos de Macau. O piloto da Ducati vermelha impôs-se a Michael Rutter em 1,462 segundos e deixou Peter Hickman, o vencedor da edição de 2016, a 1,952 segundos. O piloto da Irlanda do Norte já tinha mostrado ao que vinha nos treinos-livres, mas foi na qualificação, que encerrou o programa do primeiro dia do Grande Prémio, que verdadeiramente impressionou. Contudo, resta saber quanto Rutter, que parou dez minutos antes da sessão acabar, e Hickman esconderam no dia de ontem e o que ainda realmente dispõem as suas BMW para contra-atacar a ofensiva inicial da mota italiana. Irwin rodou em 2:24.310, ficando a apenas sete décimas do recorde da pista. “A pista ainda está um pouco suja, mas vai melhorar. Ainda há algumas coisas que podemos fazer na mota. Por exemplo, estamos a ter muita aderência na zona central do pneu. Ter aderência é bom, mas assim estou a perder tempo. Amanhã talvez use um pneu diferente, mais duro”, disse o piloto da reputada equipa Paul Bird Motorsport. Conor Cummins e Martin Jessopp, dois outros veteranos do Circuito da Guia, foram quarto e quinto respectivamente, com Derek Sheils a surpreender ao ser sexto. O português André Pires marcou o 26º tempo, a 13,281 segundos da marca registada pelo herói do dia. Os pilotos das duas rodas abrem hoje pelas 7h30 as hostilidades do segundo dia do Grande Prémio ao disputarem a sessão de qualificação final que determinará a grelha de partida para a corrida de sábado à tarde.
Sérgio Fonseca Desporto Grande Prémio de MacauTaça do mundo de F3 da FIA | Poucos mas bons [dropcap style≠’circle’]V[/dropcap]inte e um jovens lobos, e um veterano, dão corpo à edição deste ano do “Grande Prémio de Macau de Fórmula 3 Suncity Grupo – Taça do Mundo de F3 da FIA”, naquela que é a mais pequena grelha de partida da prova desde 1983, quando a categoria de Fórmula 3 foi introduzida no Circuito da Guia. Apesar do número inferior a edições anteriores, que nunca esteve abaixo dos 28 concorrentes, a prova rainha do cartaz do evento volta a reunir esta semana os melhores pilotos da especialidade, sequiosos de suceder ao português António Félix da Costa como vencedor de tão prestigiada corrida. Entre os participantes, destacam-se Lando Norris, o campeão europeu e a partir do próximo ano terceiro piloto da McLaren F1, e Joel Eriksson, o vice-campeão europeu e protegido da BMW. Num ano em que os motores Volkswagen se impuseram aos Mercedes-Benz, este duo, que utilizará os propulsores do construtor de Wolfsburg, assume algum favoritismo. Por seu lado, a marca de “estrelinha” volta a depositar uma enorme fé nos monolugares da SJM Theodore Racing by Prema. Callum Ilott e Maximilian Gunther irão capitanear a armada de quatro carros preparados pela equipa italiana Prema PowerTeam e patrocinados por Teddy Yip Jr, filho de Teddy Yip, um dos grandes impulsionadores do Grande Prémio de Macau. Ao contrário das edições anteriores, quando houve uma avalanche de “veteranos” da Fórmula 3 com vitórias no Circuito da Guia no seu currículo, este ano haverá só a participação de três pilotos de “outra geração”, neste caso, Sérgio Sette Câmara, Kenta Yamashita e Yuhi Sekiguchi. Apesar de não serem nomes tão sonantes, o piloto brasileiro, que detém o recorde da volta mais rápida ao Circuito da Guia, e Yamashita, foram precisamente o terceiro e quarto classificados, respectivamente, na edição do ano passado, apenas atrás dos incontornáveis Félix da Costa e Felix Rosenqvist, o que lhes dá entrada no restrito grupo de candidatos ao triunfo. A lista de participantes conta com dois apelidos bastante familiares, mesmo para aqueles que não seguem de perto o automobilismo: Piquet e Schumacher. Pedro Piquet é filho do tricampeão do mundo de F1, enquanto Mick Schumacher é filho do heptacampeão mundial. Ambos competiram este ano no europeu da especialidade, mas ficaram fora do “Top-10”. Destaque ainda para a participação de Ryuji Kumita, que corre com o pseudónimo de “Dragon” e que aos cinquenta anos de idade fará a sua estreia na prova. O piloto japonês, que há vários anos disputa o campeonato de Fórmula 3 nipónico, irá tornar-se o piloto mais velho na corrida desde que Barry Bland, que nos deixou este ano, convenceu Rogério Santos, na altura o presidente do Leal Senado, que a Fórmula 3 era o caminho a seguir. Este ano, após um ano de interrupção, os Fórmula 3, todos construídos pela fábrica italiana Dallara, voltam a ser “calçados” pela Yokohama. O que eles dizem Felix Rosenqvist (Ferrari): “A pista de Macau muda todos os anos. Num carro de GT sentem-se mais os ressaltos, logo é uma sensação diferente. Considero-me um potencial vencedor.” Laurens Vanthoor (Porsche): “Será um desafio num carro diferente, com uma nova equipa. O ano passado eu estava na Audi a lutar contra os Porsche, este ano é ao contrário. Será interessante.” Maro Engel (Mercedes): “A oposição é de grande nível e todos estão motivados. Contudo, nós também temos uma equipa forte e um carro que tem tudo o que é preciso para vencer.” Edoardo Mortara (Mercedes): “Sinto-me muito confortável em Macau e sempre tive muito sucesso aqui no passado. Agora o meu maior objectivo é conseguir vencer para a Mercedes-AMG.” Marco Wittman (BMW): “Adoro Macau, mas a minha experiência em carros de GT até agora foi no BMW Z4 GT3. Estou curioso para ver como se comporta o BMW M6 GT3 nestas ruas apertadas.”
Sofia Margarida Mota Desporto Grande Prémio de MacauGP de Macau pode ter demonstração de carros autónomos já para o ano [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Grande Prémio de Macau do próximo ano pode vir a receber uma demonstração de carros de competição autónomos. A ideia foi deixada ontem ao HM pelo CEO da Roborace, e também piloto da modalidade GT pela Audi, Lucas Di Grassi. Para o piloto “os carros autónomos são o futuro do transporte comercial e faz sentido termos uma área dos desportos motorizados dedicada a este sector”. Neste momento já estão em andamento as negociações para trazer uma demonstração de competição de carros autónomos a ter lugar no Grande Prémio do próximo ano. “Uma das acções dos desportos motorizados na área dos carros autónomos é trazer uma demonstração já no próximo ano ao circuito do Grande Pémio de Macau”, afirmou o piloto. No entanto a popularidade dos carros que não precisam de pilotos para andar não entra em confronto com os actuais desportos motorizados, considera Lucas di Grassi. “Não é porque existem carros que não há as corridas de cavalo. Mas os carros autónomos vão ser uma realidade e que precisa de ser demonstrada em condições extremas e só a área dos desportos motorizados pode proporcionar isso”, explica. O piloto brasileiro falou ao HM depois da primeira sessão de treinos livres em que se estreia ao volante de um Audi R8 LMS GT3 e em que ficou no 16º lugar. O resultado modesto pode estar associado à mudança de carro. “Não foi bom mas faz parte. Aqui em Macau temos de arriscar, mas acho que vou melhorar e ainda temos mais duas sessões de preparação para o fazer.” Depois de ter corrido de Ferrari no Circuito da Guia, o piloto oficial da Audi está confiante que irá melhorar durante o fim-de-semana. “Estou contente com o progresso e acho que vamos estar bem nas próximas sessões”, referiu ao HM. O regresso a Macau representa sempre o voltar a uma das pistas mais desafiantes do mundo. Para o piloto brasileiro, o território “tem uma pista muito longa e que combina tudo desde as altas velocidades com o circuito de rua, à montanha que é muito difícil. É também uma das pistas mais difíceis do mundo e por isso todos os pilotos gostam de passar por aqui”. Também campeão de Fórmula E, o vencedor do GP Macau 2005 em F3 acha ainda que há lugar para introduzir a modalidade que integra carros eléctricos. “Poderia fazer-se aqui o circuito de fórmula E duas semanas antes de Hong Kong e poderiam existir as duas provas. A pista já existe e seria só avançar com a prova”, sugere.
João Santos Filipe Desporto Grande Prémio de MacauRui Valente: “Fazer tudo para ficar nos dez primeiros” Após o 15.º lugar conquistado na Taça de Carros de Turismo de Macau, no ano passado, Rui Valente regressa com o Mini Cooper e tem como objectivo terminar entre os dez primeiros na classe para motores até 1600cc turbo. [dropcap]Q[/dropcap]uais os objectivos para esta edição? Vamos fazer tudo para ficar nos dez primeiros. É o nosso objectivo e acredito que temos um carro para isso. Com vai abordar a qualificação? Só se apuram os 18 primeiros de cada categoria para a corrida. A qualificação tem de ser encarada como o início da corrida. Não se pode perder tempo. Como preparou a edição deste ano? Houve alterações ao nível dos regulamentos com o fim da imposição do restrictor [placa que limita potência do motor] e todos os carros estão mais rápidos. Também fizemos algum investimento antes da prova. Quem são os favoritos à vitória na classe? Em princípio vão ser os Peugeot RCZ patrocinados pela Suncity. Naquela equipa não há problemas financeiros e é tudo do bom e do melhor. Porque não faz um investimento maior para Macau? Não considero que se justifique investir mais do que faço. Por isso, vamos participar e dar o nosso melhor com o que temos à nossa disposição. Como vê a medida de juntar a as classes para 1600cc e mais de 1950cc? Há muita insatisfação entre os pilotos locais. E os que não conseguiram participar na corrida vão ficar frustrados.
Sérgio Fonseca Desporto Grande Prémio de MacauTaça CTM de Carros de Turismo de Macau: Um pouco de tudo [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Taça CTM de Carros de Turismo de Macau, aquela que é a corrida que mais pilotos de Macau reúne, trinta e cinco no total, apresenta-se com um formato diferente este ano, aglomerando numa só corrida os concorrentes da “antiga” Taça CTM e aqueles que participavam na extinta Corrida Macau Road Sport Challenge. A corrida que já foi um marco das corridas de carros de Turismo no continente asiático será dividida em duas classes, uma para viaturas 1600cc Turbo e outra para viaturas 1950cc ou Acima, uma decisão que não foi do agrado da maioria dos pilotos. Vinte e cinco pilotos de cada uma das classes foram apurados para esta prova nas corridas de qualificação realizadas no Verão no Circuito de Zhuhai, mas destes, apenas dezoito melhores de cada classe irão participar na corrida da manhã de domingo. Cada categoria terá as suas sessões de treinos-livres e qualificação exclusivas, reunindo-se todo o pelotão de 36 viaturas na corrida de 12 voltas. Na classe 1600cc Turbo, onde participam cinco conhecidos nomes portugueses, Paul Poon (Peugeot RCZ), seis vezes vencedor desta corrida, confirmou o favoritismo, efectuando a melhor marca. Numa sessão que acabou com bandeiras vermelhas, devido ao aparatoso acidente de Ryan Wong (Chevrolet Cruze) na Curva “R”, Liu Man Kit (Mini Cooper S) e Célio Alves Dias (Mini Cooper S), ambos de Macau, foram os segundo e terceiro mais rápido, respectivamente. Filipe Clemente Souza (Chevrolet Cruze) foi apenas o quinto na tabela de tempos, mas antes da sessão ser interrompida vinha claramente a melhorar o seu melhor “crono”. Eurico de Jesus (Ford Fiesta) fez o 11º tempo, ao passo que Rui Valente (Mini Cooper S), com problemas técnicos, e Jerónimo Badaraco (Chevrolet Cruze) que deu um ligeiro toque no gancho da Melco, tiveram um dia menos feliz. Disputada sob um sol radioso, a sessão dos concorrentes da classe 1950cc ou Acima, os carros mais rápidos das duas classes, foi bastante tranquila, sem incidentes de maior, com o grande favorito à vitória no domingo e piloto local Leong Ian Veng (Mitsubishi Evo9) a realizar o melhor tempo, superando por oito décimas de segundo o colombiano residente em Zhuhai, Julio Acosta (Lotus Evora). Mesmo com o carro a verter óleo, Wong Wan Long (Mitsubishi Evo9), outro piloto do contingente da casa, foi o terceiro. Apesar de ter perdido algum tempo da sessão parado nas boxes, Luciano Castilho Lameiras (Mitsubishi Evo9) fez o nono tempo, ao passo que o estreante Delfim Mendonça Choi (Mitsubishi Evo9) foi o 17º na sessão.
João Santos Filipe Desporto Grande Prémio de MacauFilipe de Souza: “Só penso em ganhar” Levar o Chevrolet Cruz à vitória na classe 1600cc. É este o objectivo de Filipe de Souza que só pensa em “vingar” o segundo lugar do ano passado na Taça de Carros de Turismo de Macau. Filipe Souza [dropcap]Q[/dropcap]uais são os seus objectivos para a corrida? Só penso em ganhar e vamos correr para isso. O ano passado fiquei no pódio, mas para ser sincero não fiquei contente. Queria o primeiro lugar, portanto é só nisso que penso este ano. Teve uma preparação diferente face ao ano passado? A nível do carro quase podemos dizer que não há regulamento porque eles só nos limitam a cilindrada do motor. Por isso, fiz muitas actualizações para o carro ficar mais potente. E a nível do calendário? Chego a Macau com um bom ritmo competitivo porque participei em corridas quase todos os meses. Por isso, chego motivado e com um bom ritmo. Se o carro estiver competitivo, vamos ganhar. Quais serão os outros pilotos que vão andar na frente na classe até 1600cc turbo? Os Peugeot são sempre candidatos fortes à vitória e também os meus colegas de equipas [Jerónimo Badaraco e Sou Ieng Hong]. Estes pilotos vão estar a lutar pela vitória. Os pilotos da Peugeot foram seus colegas de equipa em algumas provas. Como se sente em correr aqui contra eles? É normal. Nós quando tiramos o capacete somos todos amigos, depois quando estamos no carro somos adversários. Como este ano é o meu 15.º ano a correr em Macau estou acostumado a este tipo de situações.
Sérgio Fonseca Desporto Grande Prémio de Macau51ª edição do Grande Prémio de Motos – Reedição de 2016 [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] 51ª edição do Grande Prémio de Motos de Macau vai ser uma reedição do confronto do ano transacto. Os três primeiros da corrida de 2016 – Peter Hickman, Michael Rutter e Martin Jessopp – assumem o papel de principais intervenientes na prova desta semana. Este trio, que promete proporcionar um duelo memorável, está munido de BMW S1000RR, a mota de eleição na actualidade nas corridas de estrada. Hickman e Rutter farão equipa na SMT / Bathams, enquanto Jessopp montará pela Riders Motorcycle. Cada um deles tem um objectivo firme. Hickman quer chegar à terceira vitória em Macau, Rutter quer atingir o nono triunfo e Jessopp alcançar o seu primeiro, depois de ter subido ao pódio por cinco ocasiões. Como acontece todos os anos, são vários os veteranos de Macau à partida, como Gary Johnson, Connor Cummins ou Horst Saiger. Contudo, segundo a imprensa especializada, há dois “novatos”, a ter em conta. Gleen Irwin, em Ducati 1199RS, já o ano passado deu nas vistas com a mota italiana, ao passo que Dean Harrison, em Kawasaki ZX10RR, que este ano vem a fazer uma fortíssima segunda metade de temporada, com triunfos no GP Uslter e na Classic TT. Será nesta corrida que iremos encontrar o único piloto que representará Portugal no evento. André Pires já prepara o regresso a Macau onde vai tripular a Kawasaki ZX10R, preparada por uma equipa portuguesa, com que competiu ao longo da temporada. Apesar de uma preparação com limitações, o piloto transmontano ambiciona ficar classificado acima do 13º lugar, o seu melhor registo no território. Para os que seguem com mais atenção esta corrida Grande Prémio certamente irão sentir a falta de nomes familiares como John McGuinness, que correu em Macau por 18 anos consecutivos, ou Ian Hutchinson, ambos ainda a recuperar de mazelas físicas, resultado de acidentes. Já Stuart Easton, outro ex-vencedor no Circuito da Guia, retirou-se das pistas no final do ano passado. Segurança é prioridade Quem ao vivo assiste pela primeira vez à única corrida de “duas rodas” do programa, fica deveras impressionado com as velocidades que os pilotos atingem entre os muros do Circuito da Guia. As corridas de motociclismo em circuitos de estrada são das mais perigosas entre as várias especialidades do desporto motorizado, e, como tal, em Macau, a segurança é levada à risca, apesar das particularidades do próprio circuito. “Este é talvez o único evento nos tempos que correm que conjuga automóveis e motociclos no mesmo programa, sendo este basicamente um circuito montado para automóveis”, explicou ao HM Carlos Barreto, o Director de Corrida do Grande Prémio de Motos. “As medidas de segurança implementadas nos últimos anos, digamos a fase moderna do evento, foram na sua maioria para os automóveis e tendo em conta esses pressupostos, resta-nos trabalhar sobre o que existe, no sentido de assegurar as melhores condições possíveis para os pilotos dos motociclos.” Há uma série de medidas suplementares que anualmente se implementam, procurando sempre manter uma articulação com a rotina diária da cidade, designadamente, “optimizar o pavimento nas zonas que carecem de reparação para não existirem diferenças no granulado e nas junções, “queimar” a sinalização horizontal rodoviária nas zonas mais críticas, como zonas de travagem, curvas rápidas, por exemplo, onde todos os anos há uma ou outra situação nova fruto do desenvolvimento da cidade”, refere o engenheiro de profissão, reforçando que existe “um diálogo permanente com os pilotos, informando-os das condições do circuito, que podem alterar-se num mesmo dia.” Tornar isto tudo possível não é tarefa fácil, visto que a prova da RAEM, ao contrário das principais corridas de “Road Racing”, como a Ilha de Man TT ou a NW200, tem que existir um entendimento com as entidades responsáveis pelas corridas de automóveis. “É necessário muito diálogo interno para se procurar conciliar as propostas da FIA e, por vezes, esse compromisso pode demorar um nadinha mais”, acentua Carlos Barreto, que dá como exemplo “a passadeira para peões ao início da Estrada de São Francisco que foi recolocada uns metros adiante e essa alteração, efectuada a título permanente em 2016, o que contribuiu para melhorar em termos de segurança esta zona do circuito para os pilotos de motociclos.” Ao longo destes anos a prova do território manteve a sua elevada estima internacional e continua todos os anos a atrair os melhores pilotos da actualidade, no que respeita ao motociclismo de velocidade de estrada. E isto não acontece por acaso. “Em primeiro lugar, a simpatia da equipa que organiza o evento, o espírito e o apelo da cidade, a atmosfera e a excitação sentida e vivida nesses dias, que podem ser longos, o programa social que lhes é preparado e que serve para promover os pilotos e as equipas nesta parte do globo, a crescente cobertura pelos “media” especializados de todo o mundo”, a que se alia “a glória de conquistar este circuito, um circuito exigente e que pelas suas características constitui um grande desafio à capacidade e adrenalina desses pilotos.” Apesar de todas medidas segurança que têm vindo a ser implementadas ao longo dos anos, o risco inerente à natureza desta corrida dá inevitavelmente outro valor ao título de vencedor do Grande Prémio de Macau de Motos, continuando este a ser altamente cobiçado e respeitado no “mundo” das corridas de motociclismo.
Hoje Macau China / ÁsiaNissan perde certificado de qualidade internacional nas fábricas japonesas [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] fabricante japonês Nissan perdeu o certificado de qualidade internacional nas suas fábricas de produção local, no Japão, devido a irregularidades nos controlos de automóveis, informou ontem a agência nipónica Kyodo. A multinacional empregou trabalhadores sem qualificações necessárias para realizarem a revisão final dos seus automóveis, tendo estas irregularidades sido detectadas em Setembro passado. A Organização Internacional de Normalização, encarregada de assegurar o controlo de qualidade, retirou a 31 de Outubro a certificação 9001 em seis fábricas de montagem de veículos da marca. “Consideramos que a revogação é lamentável”, disse à agência Efe um porta-voz da empresa, adiantando que agora que retomaram a produção para o mercado interno vão trabalhar para obter a certificação o “mais depressa possível”. A norma 9001, uma das mais conhecidas da organização com sede na Suíça, assegura que os produtos e serviços cumprem os requisitos do cliente e que melhoram a sua qualidade de forma constante. Estes controlos dos automóveis irregulares foram revelados em Setembro, depois de ter sido feita uma inspecção pelo Ministério do Trabalho japonês às unidades do grupo. A Nissan, que assegurou de forma pública que os seus veículos são seguros, deverá responder perante o Ministério dos Transportes nas próximas semanas para garantir que estas situações não se repetem.
Hoje Macau China / ÁsiaChina | Governo envia alto quadro a Pyongyang [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China anunciou ontem que vai enviar a Pyongyang um alto quadro da sua diplomacia, na sequência da visita do Presidente norte-americano, Donald Trump, a Pequim, e após um prolongado afastamento entre os dois países vizinhos. Song Tao, chefe do Departamento de Colaboração Internacional do Partido Comunista Chinês (PCC), vai viajar para a capital norte-coreana esta sexta-feira, informou a agência noticiosa oficial Xinhua. Apesar do distanciamento dos últimos anos, devido à insistência de Pyongyang em avançar com um programa nuclear e de mísseis balísticos, Pequim continua a ser o principal aliado diplomático e maior parceiro comercial do regime de Kim Jong-un. A Xinhua não menciona a visita de Trump a Pequim ou o programa nuclear norte-coreano, mas o líder da Casa Branca apelou repetidamente à China para que use mais a sua influência visando pressionar Pyongyang a mudar de comportamento. Song será o primeiro funcionário com nível ministerial a visitar a Coreia do Norte, desde Outubro de 2015, quando Liu Yunshan, então membro do Comité Permanente do Politburo do PCC, se reuniu com Kim Jong-un. Liu entregou uma carta a Kim, endereçada pelo Presidente chinês, Xi Jinping, a expressar esperança por boas relações. Mudanças de rumo Nos anos 1950, os dois países lutaram juntos contra os EUA. O PCC e o Partido dos Trabalhadores, formação política única na Coreia do Norte, têm ligações de longa data. No entanto, desde que, em 2013, ascendeu ao poder, Xi Jinping nunca se encontrou com Kim Jong-un, tendo-se mesmo tornado no primeiro líder chinês a visitar a Coreia do Sul antes de ir à Coreia do Norte. A China votou a favor das várias sanções aprovadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas contra Pyongyang, mas continua a apelar a um diálogo entre os vários países envolvidos na crise nuclear da península coreana. O Governo chinês opõe-se a um embargo que ameace a estabilidade do regime, o que acarretaria uma reunificação da península coreana sob a égide da Coreia do Sul, país aliado dos EUA, e uma possível crise de refugiados nas suas fronteiras. Na semana passada, Trump voltou a apelar a Xi Jinping que pressione a Coreia do Norte a abdicar do seu programa nuclear. A China pode resolver o problema “fácil e rapidamente”, afirmou Trump, durante uma visita de Estado a Pequim, urgindo o homólogo chinês a empenhar-se seriamente. “Se ele fizer esse esforço, irá acontecer. Não tenho dúvidas sobre isso”, afirmou. Em 3 de Setembro último, Pyongyang realizou o sexto e mais poderoso teste nuclear até à data, no que revelou ter sido a detonação de uma arma termonuclear para ser colocada num míssil balístico intercontinental. No entanto, desde então, o país não voltou a testar engenhos nucleares ou mísseis balísticos intercontinentais, alimentando a esperança de que Pyongyang está a responder à pressão internacional, face ao impacto das sanções na sua economia.
Leocardo VozesCom “o meu dinheiro”, não [dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]acau continua a ser um oásis, caros leitores. O Chefe do Executivo foi anunciar as Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2018, e nela está incluída a sempre tão aguardada “participação pecuniária”, vulgo “os cheques” distribuídos a meio do ano pela população, que aquando do início da sua distribuição, há dez anos, foram tidos como uma medida para fazer face à elevada inflação. A inflação vai e vem, e os cheques foram ficando. Isto em termos leigos quer dizer mais ou menos que o Governo “dá” dinheiro à população, mas também cobra impostos – claro, nem poderia ser de outra forma. Aqui não se discute muito, ou de todo, no que são aplicados os impostos, talvez porque não tenhamos assim muitas razões de queixa, ou não hajam motivos de indignação nesse particular. Já em Portugal o caso muda de figura. Portugal é a capital mundial da indignação, e aquilo que o(s) Governo(s) faz(em) como o “o nosso dinheiro”, que é como quem diz, o dinheiro “dos nossos” impostos, não é excepção. Tenho visto bastante disto, quer em comentários em artigos de opinião na imprensa, quer nas redes sociais (especialmente aí), e é claro que o factor da simpatia partidária não é despeciendo para explicar desta nova tendência para cada português se tornar especialista em fiscalidade – há uma tendência para cada um puxar a brasa à sua sardinha, portanto. Olhemos para o exemplo de requalificação da zona da Mouraria, em Lisboa, que inclui a construção de uma nova mesquita, num total de três milhões de euros – dos “nossos impostos”, lá está, e que equivale a menos de um euro por contribuinte. Aqui pesa a notória antipatia pela confissão maometana (leia-se islamofobia), que leva a que certos grupelhos apelem ao argumento da “ida ao bolso” dos portugueses para criar a ideia (errada) de que sem mesquita, o dinheiro seria aplicado noutra coisa qualquer, ou revertia directamente para a carteira de cada contribuinte. Curiosamente ninguém se importou muito com outras obras que, isso sim, podem ser considerados elefantes brancos. O Estádio de Aveiro, por exemplo, construído para a organização do Euro 2004, custou 60 milhões de euros na altura, e foi utilizado cinco vezes desde então. E não, não pode ser utilizado para se fazerem ali piqueniques, por muito que “o vosso dinheiro” o tenha pago. E não é apenas nas obras públicas que se reclama pelo dinheiro “dos nossos” impostos. O canal público de televisão também tem sofrido com esta nova escola de pensamento, que atribui a cada português o super-poder de achar o que deve ser feito ou não com “o seu dinheiro”. Se a RTP (a agradeço desde já ao canal público pela RTPi, que aqui a milhares de quilómetros de distância nos aproxima mais das origens) passa um programa que não é do agrado de alguns, toca a sacar do argumento dos impostos, refilar, barafustar e bater com o pé, quando o mais fácil seria simplesmente mudar de canal. Os fiscalistas de trazer por casa preferem dar a entender que por cada programa que um português não gosta, foi “do próprio bolso” que o pagou. Claro que aqui o contraditório não existe; ninguém vai gostar de um programa e dizer “sim senhor, isto é o que eu chamo de uma aplicação bem feita do dinheiro dos meus impostos!”, pois não? Esta ideia mesquinha e errada de que um português está a pagar do seu bolso por coisas de que não gosta ou que não lhe interessam pode servir para tudo e mais alguma coisa. Por esta lógica, uma estrada que liga o interior ao litoral do país pode dar muito jeito a quem vive nas povoações mais remotas, mas lá está, porque é que EU tenho que pagá-la, se não me serve para nada? E se o tio Zé dos Nabos, de Carrazeda de Ansiães, apanhar uma bebedeira de caixão à cova, ao ponto de precisar de ficar internado no INEM durante dois dias, com o MEU dinheiro? Eu não sou obrigado a pagar pelas bebedeiras do tio Zé dos Nabos, pois não? Ou será que sou, tal como ele é obrigado a pagar pelas minhas? Mais contenção amigos. O tal dinheiro é de todos, é verdade, e obviamente que desejamos uma aplicação sensata do mesmo. Mas alto lá, e para concluir, “olhem que não é bem assim”. Não caiam no conto dos vigários que pensam que sabem o que deve ser feito com o tal “dinheiro de todos”.
António Cabrita Diários de Próspero h | Artes, Letras e IdeiasArqueologia das marés [dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]andelstam (1891-1938) e Vladimir Holan (1905-1980) são um exemplo manifesto de como um dia – dizia a Zambrano – todos os vencidos são plagiados. Seres de excepção, expelidos pelos caprichos da História e por sistemas sociais mesquinhos, cínicos e redutores, ei-los hoje inevitavelmente celebrados como figuras nucleares. Ocorre-me agora um terceiro caso, este africano, o do sul-africano Breyten Breytenbach (1939). Narremos rapidamente os percursos de vida dos três. Mandelstam, educou-se fora da Rússia – em Heidelberg e na Sorbonne – e voltou à Rússia depois de uma viagem por Itália e por outros países europeus, para se ligar ao movimento poético acmeísta e publicar em 1913 a plaquete A pedra, que o catapultou imediatamente na notoriedade. No imediato da Revolução, foi dos primeiros poetas a enveredar por temáticas sociais. Mas só publicaria o seu segundo livro, Tristia (coisas tristes), em 1922, simultaneamente em Berlim e em St. Petersburg. Ainda viveria cinco anos de relativa discrição antes dos inquisidores começarem a procurar nos seus versos o pêlo no ovo. E em 1927 declara-se frontalmente contra o regime soviético. A escrita de um poema onde zurzia em Estaline, «cujos dedos gordos parecem engordurados vermes», em 34, valeu-lhe ser desterrado para Vorónezh, e morreria 4 anos depois num campo de trabalho. É um dos grandes poetas do século XX mas se lhe conhecemos a obra completa foi porque a mulher, Nadezha Maldelstam, apesar da indigência a que foi exposta, lhe copiou os poemas e escondeu-os, ou decorou-os, até que os pôde publicar em Nova Iorque. Quando ela se lamentava da perseguição de que eram objecto, ele replicava com humor: «De que te queixas, este é o único país que respeita a poesia: mata por ela. Em nenhum outro lugar ocorre isso!». Hoje apodrecem no negrume os seus detractores ou são notas quase ilegíveis no rodapé das biografias de Mandelstam. Em Vladimir Holan, o grande poeta checo do século XX – que só tem rival no posterior Miroslav Holub – o encontrão que lhe deu a História conhece tonalidades grotescas. Holan começou como um poeta mallarmeniano, precioso, obscuro e de rimas rebuscadas. Teve depois uma conversão à poesia social, tornando-se na voz nacional de resistência à invasão dos nazis. Correu riscos físicos e militou no Partido Comunista e escreveu inclusive um livro alinhado, Soldados do Exército Vermelho. Paradoxalmente, em 48, o novo poder saído da guerra acusa-o de escrever de forma «obscura e decadente» e condena-o ao ostracismo. No mesmo ano, também o destino escarnece dele e nasce-lhe uma filha portadora do Síndroma de Down. É uma espécie de escalpe cósmico. Refugia-se na ilha fluvial de Kampa, no centro de Praga, e raramente saía de casa. Só noite dentro se entregava a longas passeatas, à hora em que na cidade só se ouviria o barulho dos seus passos. Chega a Primavera de Praga e querem recuperá-lo como poeta nacional, mas esmagada a reforma do regime fica mais isolado, até à sua morte em 1980. Hoje é o poeta nacional. E a sua poesia despojada, bruta, prosaica, dissonante, de palavras esculpidas, é inimitável, enquanto a dos seus rudes inimigos foi diluída pela espuma do tempo. Breytten Breyttenbach (1938) é um poeta sul-africano de um quilate inigualável. Foi preso durante o regime do apartheid por ter casado com uma indiana. Oito anos. Tornou-se amigo de Mandela. Mas uns anos depois da liberdade, não tolerando a direcção que o país tomava, mudou-se para Paris. Por ocasião dos 80 anos de Mandela dirigiu-se-lhe em carta no Le Monde, uma interpelação que interrogava os rumos do país e onde, no essencial, tocava nos pontos que com Zuma se potenciaram, arrastando o país para uma degradação triste e indesejável. Está condenado a ser postumamente o grande poeta de um país que hoje faz tudo para esquecê-lo. Três homens que não pactuaram com a mentira e tornaram mais exacta a proposição de Walter Benjamin, segundo a qual há uma arqueologia psíquica por detrás dos fluxos humanos que corrige a história, fazendo-a retomar com o máximo esplendor aquilo que primeiramente foi recalcado pela grosseira falácia do presente. Como aventava o Freud para os sonhos, o que importa afinal é o que está latente e não o que aparece manifesto. Pois «é ao ritmo dos sonhos, dos sintomas ou dos fantasmas, é ao ritmo dos recalcamentos e dos retornos do recalcado, das latências e das crises, que o trabalho da memória, antes de mais nada, se afina» (Didi-Huberman). No fundo, a dinâmica do presente é uma propulsão para inverter os sentidos da história e semear no seu manto os sinais da reversão. O Ying devém Yang, contra todas as aparências e a marcha linear do progresso. Neste sentido, não fiquei surpreendido que Putin tenha aproveitado a efeméride da Revolução de Outubro para insinuar que talvez a leitura oficial da sua História esteja equivocada e haja pouco a festejar. Uma meia verdade, pois há os factos e há os símbolos e estes mantém o seu capital de promessas. O que me chocou foi ter sido ele a dizê-lo. Porém os poetas, mesmo que momentaneamente reprimidos, reduzidos à indigência tinham a consciência desperta. Como Mandelstam: «a poesia é um arado que reinventa o tempo de tal modo que as camadas mais profundas, o seu húmus, afloram à superfície». Um poema breve de Holan: ENCONTRO: «Chuva no descampado… O feno húmido …/ Abertura do gás… Nuvem frita na frigideira da lua…/ Piscadelas… Carícias intermitentes… Desaparição das formas…/ Espantoso que não tenham tropeçado no carrinho de mão do cemitério…/ “Agrado-te?” – Sim, sim…/ – “Amas-me?” – Não.»
Miguel Martins h | Artes, Letras e IdeiasDivagar [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] vagar é o meu maior sonho, o mais difícil. Quanto a estes últimos, tal gosto deve-se também à variedade das formas, entretanto tão uniformizadas. Alguns dos meus preferidos: o Citroën Boca-de-Sapo e a carrinha Citroën HY, que, em Lisboa, deu peixarias e bibliotecas, a carrinha Volkswagen Pão-de-Forma, o Morris Mini e o Fiat 600 originais, o BMW Isetta, com uma só porta, na dianteira, onde se situava o volante, o “espacial” AMC Pacer X, o Simca 1100 (que era o do meu pai, na minha infância) e tantos, tantos outros, mais antigos, que, em Portugal, podem ser vistos, por exemplo, no Museu do Automóvel Antigo, em Caxias, ou no Museu do Caramulo. Esse vagar, que me é tão invulgar e tão necessário, é parte da razão porque gosto tanto de museus, de bibliotecas, de algumas livrarias. Aí, encontro-me com a lentidão e o silêncio (o silêncio!, o adorado silêncio). Algumas livrarias (poderia citar muitas outras): a Strand, em Nova Iorque, mastodôntica e completíssima; a Anticyclone des Açores, em Bruxelas, dedicada às viagens; a Librairie Ancienne, do simpático Patrick Laurencier, na bonita cidade de Bordéus; e acima de todas, exclusivamente dedicada aos versos, a saudosa Poesia Incompleta, livraria que de Lisboa se transferiu para o Rio de Janeiro e aí morreu, às mãos de duas sociedades que, claramente, preferem telenovelas. Ocorre-me agora um outro estabelecimento, de que fui visitante habitual na adolescência e que permanece activo, no qual esses predicados do sossego e do silêncio se aliam a uma grande beleza, por via das peças expostas. Refiro-me à loja filatélica A. Molder, fundada por um emigrante húngaro, em 1940, e situada num 3º andar da Baixa lisboeta. Mesmo para quem não colecciona selos, é bem merecedora de uma demorada visita. Estas contam-se entre as poucas lojas que não me incomodam – não gosto de fazer compras, em geral, e detesto comprar roupas e sapatos, em particular, tanto mais que o meu tamanho faz com que os esforços de prova resultem, o mais das vezes, infrutíferos. Assim, ao longo dos anos, venho, sempre que possível, deixando tais encargos em mãos alheias, felizmente sem que com isso me ache contrariado com o que visto. Outra excepção a essa aversão às compras é, porém, a comida, pelo muito que gosto de cozinhar e, sobretudo, de comer. Gosto de bons supermercados, desde que não estejam muito cheios de lojas gourmet, desde que não sejam pretensiosas e sobreavaliadas, e, sobretudo, de mercados, com destaque para aqueles em que o peixe fresco, em diversidade e qualidade, prevalece, a par de frutas, legumes, flores, etc. Já referi aqui o excelso Mercado dos Lavradores, no Funchal. Soberbos são, claro está, o Mercat de La Boqueria, nas Ramblas, em Barcelona, e o Mercado de San Miguel, em Madrid, onde também se compra e come. Mas a minha preferência talvez vá para mercados mais pequenos, como o de Ayamonte ou o de Olhão, terras piscatórias em que se sabe do valor de tantos peixes desconhecidos ou desprezados nas grandes cidades, e que se vão mantendo mais ou menos incólumes à avidez predadora de hotéis e restaurantes. Aí se compra uma série de peixes saborosos (folhas ou cartas, agulha, ruivo, aranha, polvos pequenos, etc) a preços entre 1 e 2€/quilo. Ou seja, é possível até a um pedinte fazer as refeições que mais me agradam. De todos os peixes, os que mais me seduzem são, no entanto, os de rio: fataça, truta, sável, a dispendiosa e trabalhosa lampreia, enguias (ou irós ou eirós). Nas margens do Tejo, em várias localidades, é imperioso comê-los: em Vila Franca de Xira, na Lançada, em Tancos (bem perto do belo Castelo de Almourol, fortificação medieva implantada numa ilhota no meio do rio) ou em Vila Nova da Barquinha, por exemplo. Mas não se pense que sou completamente imune aos encantos da carne (aliás diria que, felizmente, não sou completamente coisa alguma). Acontece, apenas, que as peças de carne mais correntes – bifes, febras, costeletas, etc – me são mais ou menos indiferentes. O mesmo não se poderá, porém, dizer de fígados, pernis, cabidelas, ossobucos (ou jarretes), mãos de vaca e outras coisas que tais. A propósito: Até há meia dúzia de anos, achava a mão de vaca repugnante, meramente por questões visuais, sem que – cretino! – a tivesse, sequer, provado. Acontece que, estava eu em Cabo Verde, fui convidado para jantar em casa de D., o porteiro do prédio em que vivia. D., muito pobre, habitava num cubículo, tendo por únicos “equipamentos” um colchão, o tapete sobre o qual, sendo muçulmano, fazia as suas orações e um “campingaz”. Sobre este, cozinhara, com dedicação e habilidade, uma tachada de mão de vaca com grão, que, pelos vistos, é prato que também se come na África ocidental, de onde provinha (do Gana?, da Gâmbia?, não me recordo). Pensei com os meus botões: “Tens de te sacrificar, não te podes negar a comer o que, talvez com sacrifício, te preparou”. E assim fiz. Só que a repulsa limitou-se à primeira garfada. Imediatamente me apercebi de que o prato era delicioso e amaldiçoei-me por nunca antes o ter provado. Desde então, e até porque Lisboa é pródiga em tascas e restaurantes que o confeccionam eximiamente e existem, também, muito aceitáveis versões enlatadas, não se passa um mês em que não coma este prato. Mas como gosto mesmo de comer é em formato de tapas, com grande variedade de sabores, em pequenas quantidades, sobre a mesa. Hoje, eu, que outrora comia como um leão, só desse modo consigo ultrapassar uma medida mais ou menos frugal. Para isto, a cidade mais propícia que conheço é Bilbau, onde terei chegado a provar 15 iguarias numa só refeição.
Hoje Macau China / ÁsiaHomossexuais | ONG apela a fim de terapia de conversão na China [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma organização não-governamental de defesa dos direitos humanos apelou ao Governo chinês para que hospitais e outras instalações médicas deixem de sujeitar homossexuais a terapias de conversão, que incluem electrochoques, isolamento involuntário e medicação forçada. O relatório da Human Rights Watch, que tem por base entrevistas com 17 pessoas submetidas àquela terapia desde 2009, surge numa altura em que tem aumentado na China a sensibilização para os direitos dos homossexuais, bissexuais e transexuais. Em 2001, a homossexualidade foi retirada da lista de perturbações mentais identificadas pela Sociedade Chinesa de Psiquiatria, mas os casos de pais que submetem os filhos a tratamentos que visam mudar a sua orientação sexual continuam a ser comuns. O relatório revela que muitas das vítimas da terapia de conversão são trazidas à força, por familiares, para os hospitais, uma acção que resultou este ano num processo judicial inédito. A China carece de leis contra a descriminação de homossexuais, o que detém as vítimas da terapia de conversão de procurar justiça, temendo que a sua orientação sexual seja exposta. Segundo directrizes emitidas pelo Comité Nacional de Saúde, o Governo deve investigar actividades que possam violar a Lei de Saúde Mental, que proíbe o isolamento forçado de pessoas, a menos que constituam um perigo para os outros. Mas não existem regulamentos que proíbam expressamente a terapia de conversão. Caso inédito Em Julho passado, um homossexual ganhou um processo contra um hospital psiquiátrico, após ser forçado à terapia de conversão, no que activistas celebraram como a primeira vitória para a comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, transsexuais) na China. Um tribunal da província de Henan ordenou a unidade hospitalar a pedir desculpas publicamente num jornal local e indemnizar a vítima, um homem de 38 anos, em 5.000 yuan. O homem foi levado à força para o hospital, em 2015, pela mulher e familiares, diagnosticado com um “distúrbio na preferência sexual” e obrigado a tomar medicamentos e receber injecções, até ser libertado 19 dias depois. No entanto, a Human Rights Watch considera que um só processo não chega para deter a terapia de conversão. A prática persiste porque “muitos médicos são ignorantes sobre a homossexualidade, e seguem a opinião dominante, de que ser-se homossexual é uma anormalidade, uma doença que deve ser tratada”.
Andreia Sofia Silva Eventos MancheteFestival de Gastronomia | Ausência da comida macaense e portuguesa Macau transformou-se na Cidade Criativa da UNESCO na área da gastronomia, mas a 17ª edição do Festival de Gastronomia continua a pecar pela falta de representatividade de restaurantes genuinamente portugueses e macaenses. Luís Machado, da Confraria da Gastronomia Macaense, diz que é “lamentável” [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o Festival de Gastronomia há minchi, mas num espaço reservado a um restaurante de matriz chinesa que diz servir, entre outras receitas, pratos portugueses. Tem, inclusivamente, o símbolo da bandeira portuguesa no toldo, apesar do minchi ser um prato exclusivamente macaense. Ao lado há lagosta viva e um sabor português aqui e ali, mas são poucos os restaurantes portugueses representados num dos eventos mais importantes de Macau. Quanto à gastronomia macaense, pura e simplesmente não existe. No festival, há espaço para que os sabores do sushi e outros pratos se mostrem ao público na “Vila Japonesa”. Há também lugar para a “Rua dos Restaurantes Chineses”, a “Rua da Gastronomia Asiática”, a “Rua da Gastronomia Europeia”, a “Rua dos Sabores Locais” e a “Rua dos Doces”. Há comida indiana, tailandesa, chinesa e coreana. Luís Machado, presidente da Confraria da Gastronomia Macaense, diz “lamentar” a ausência da cozinha tipicamente macaense no ano em que o território foi reconhecido como Cidade Criativa da UNESCO na área da gastronomia. “O ano passado a Fundação Macau (FM) deu dez milhões de patacas. Estamos a falar de uma feira de gastronomia e não há sequer uma aproximação à gastronomia macaense, que é a mais antiga e que tem sido o motor de todas estas campanhas. É à custa da gastronomia macaense que o turismo de Macau tem feito estas campanhas, mas depois quando aparece uma feira destas nem há acesso às pessoas que fazem a comida macaense. É de lamentar. É muito triste”, disse ao HM. Apesar do evento contar com o apoio da Direcção dos Serviços de Turismo e da FM, que o financia, a organização é privada, estando nas mãos da União das Associações dos Proprietários de Estabelecimentos de Restauração e Bebidas de Macau, presidida pelo deputado e empresário Chan Chak Mo. Há também a colaboração da Associação de Operários Iam Sek Ip Kong Vui de Macau, da Associação dos Trabalhadores da Comunicação Social de Macau, da Associação de Cozinha de Macau e da Associação de Empregados de Restaurantes e Padarias de Macau. Luís Machado lança críticas ao alegado favorecimento que é dado a Chan Chak Mo. “O senhor Chan Chak Mo é que é o dono disto tudo, e o resto é paisagem. É Macau”, frisou. Apesar de este ser o 17º ano em que o Festival de Gastronomia se realiza junto à Torre de Macau, a verdade é que a comida macaense nunca esteve devidamente representada, apesar de existirem alguns restaurantes tradicionais em Macau, como é o caso de O Litoral e A Lorcha. “Há todo o tipo de gastronomia da Ásia, e a gastronomia macaense, que é a mais importante de todas nesta zona, que tem 500 anos de história, não tem sequer uma barraca. É assim há anos, não é de hoje. Nunca houve uma preocupação, e isto porque é uma entidade privada que organiza”, acrescentou Luís Machado. Difícil entrada Garantir a presença no Festival de Gastronomia não é fácil. Há um sorteio e uma lista de espera porque o lugar é apetecível ao negócio, ajuda a fazer publicidade à casa. A organização concede dez mil patacas a cada restaurante que participe, dinheiro que vem do patrocínio. Cada empresa tem que pagar 3.500 patacas para participar. Luís Machado sabe de pessoas que “pediram para abrir um espaço e não conseguiram”. “[A organização] não deu sequer explicações”, adiantou. Também Félix Dias, um dos oito sócios do restaurante King’s Lobster, confirma a dificuldade em obter um espaço na praça Sai Van e a ausência de uma representatividade da comida portuguesa e macaense. “Este é o segundo ano em que participamos e acho que faltam muitos [restaurantes portugueses e macaenses]. Este ano tornámo-nos na cidade criativa da UNESCO na área da gastronomia, temos tanta cultura portuguesa e macaense, e não vejo muita presença no festival. Nós servimos comida ocidental e alguns pratos portugueses. Há o Pinochio, a Toca, e não há mais. Não sei se é porque os chineses gostam mais de comida portuguesa, não sei”, contou ao HM. No espaço do King’s Lobster, o grande atractivo são as lagostas, vivas mesmo à frente do cliente, que pode depois ver a sua confecção. Na opinião de Félix Dias, foi esse o ponto diferenciador que os fez entrar no festival. “Fizeram um sorteio. Somos o único restaurante que temos lagostas vivas e que as preparamos à frente do cliente. Já temos fama. Abrimos o restaurante em Janeiro deste ano, mas o ano passado já estávamos no festival. Funcionou como marketing.” Fernando Sousa Marques, um nome habitual no Festival de Gastronomia é, este ano, o único com um restaurante cem por cento português a marcar presença – A Toca. “Claro que há lá restaurantes com licença de comida portuguesa, mas não são portugueses cem por cento. Acho que poderia haver uma maior presença. Não é fácil. É muita gente a querer entrar, muitos restaurantes a querer participar e não chega para todos”, defendeu ao HM. O empresário do sector da restauração recorda uma participação da Casa de Portugal em Macau (CPM) numa das edições do Festival de Gastronomia que saiu gorada. “Todos os restaurantes que a CPM tivesse convidado teriam tido sucesso até hoje, mas não foi o caso. A única pessoa que se manteve estes anos todos fui eu. [A participação] corre bem em termos de publicidade para a casa, para o negócio e também para o nome de Portugal, que está presente.” Fernando Sousa Marques não consegue, contudo, apontar o dedo à organização. “O festival tem sempre uma organização boa, com regras. Este ano mandaram fazer um seguro para o stand, o que não era feito nos outros anos. Tem melhorado todos os anos”, concluiu. Mudar? É difícil Luc, proprietário do Pho Vietnam Paris, participa este ano porque venceu um concurso o ano passado, graças às tradicionais sopas vietnamitas e aos rolos com camarão, contou ao HM. Apesar de ter tido o privilégio de ter um espaço no Festival de Gastronomia, Luc disse lamentar que não estejam mais restaurantes portugueses e macaenses representados. O HM contactou Helena de Senna Fernandes, directora dos Serviços de Turismo, no sentido de perceber se é possível intervir na forma como são seleccionados os restaurantes participantes. Contudo, a responsável disse ser necessário analisar a questão. “Todos os anos há sempre muitos restaurantes de Macau e de fora que querem participar. Neste momento a forma como é feita a gestão é fruto de uma experiência anterior, é uma tentativa para haver mais justiça para todos aqueles que se candidatam. É difícil para o Governo estar a condicionar. Outros podem reclamar. Tem de ser muito bem estudada (essa hipótese).” Helena de Senna Fernandes referiu ainda desconhecer as razões concretas para a ausência da comida portuguesa e macaense. “A associação abre a oportunidade para que os restaurantes de Macau possam aderir de livre vontade. Não sei se é porque não houve muitas candidaturas por parte dos restaurantes portugueses ou se é por outra razão. Não domino e não posso responder com certeza. Mas é sempre bom ter diferentes tipos de comida para que os nossos residentes e turistas possam experimentar”, adiantou. O HM tentou falar com o deputado e empresário Chan Chak Mo, mas até ao fecho desta edição não foi possível estabelecer contacto.
Victor Ng SociedadeTemplos | Exigido reforço das instruções do Governo sobre incêndios Três representantes de associações consideram que o Governo deve rever as instruções de prevenção na área dos incêndios em templos, após a ocorrência de mais um incidente junto ao templo Tin Hau [dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]êm sido comuns as notícias sobre incêndios ocorridos em templos chineses, ainda que não se tenham registado vítimas ou feridos. O último caso aconteceu no templo Tin Hau, localizado na Rua dos Pescadores, bem perto de um dos locais onde decorre o Grande Prémio de Macau. Três representantes de associações contactados pelo HM consideram que o Governo deve rever e reforçar as instruções criadas para a prevenção deste tipo de casos. Chan Ka Leong, vice-presidente do Centro da Política da Sabedoria Colectiva, ligado à União Geral das Associações de Moradores de Macau (kaifong), disse que o último incêndio constitui “um caso sério”, por se tratar de um templo histórico e estar perto do percurso do Grande Prémio de Macau. Chan Ka Leong alertou que, caso o incêndio ocorresse durante a realização do evento, o “impacto poderia ter sido enorme”. Chan Ka Leong considera que o Governo precisa de rever o nível de instruções contra incêndios aplicadas aos gestores dos templos. “Apesar de [o Instituto Cultural] (IC) ter comunicado várias vezes sobre o assunto, os gestores ignoram as instruções”, disse. O responsável sugeriu também mais esforços das autoridades na divulgação de instruções contra os incêndios. Chan Ka Leong disse duvidar do nível do mecanismo de fiscalização do Governo nesta área. Além disso, afirmou ao HM que uma parte do templo que ficou danificada pelo fogo foi construída de forma ilegal, pedindo que as autoridades aproveitem este processo para eliminar as estruturas construídas ilegalmente. Os kaifong prometem acompanhar a situação e recolher opiniões dos moradores, além de aumentar o nível de protecção dos templos, apresentando posteriormente as sugestões ao Governo. Plano precisa-se Lam U Tou, presidente da Associação da Sinergia de Macau e ex-candidato às eleições, disse que, de acordo com a lei de salvaguarda do património cultural, o Governo deveria implementar um plano de gestão e protecção do centro histórico e restantes monumentos. Apesar de estar concluída a consulta pública sobre este plano, o Governo nunca o aplicou, o que tem levado a uma gestão insuficiente do património, defendeu Lam U Tou. O ex-candidato afirmou duvidar dos efeitos das instruções contra os incêndios, uma vez que se tratam apenas de intenções, pois os gestores dos templos não são obrigados a cumpri-las. Lam U Tou sugere novas medidas de gestão dos templos criadas pelo Governo, ainda que se tratem de espaços históricos de propriedade privada. Devem ainda, na sua visão, ser subsidiados pelo Executivo ao nível da reparação. “O IC diz sempre que presta muita atenção aos incidentes ocorridos, mas se não existirem medidas sistemáticas para resolver estes casos, este incêndio não será o único”, frisou Lam U Tou. Mais responsabilidade Para o presidente da Associação para a Reinvenção de Estudos do Património Cultural de Macau, Wong Ka Fai, os proprietários dos templos e os seus gestores precisam de assumir uma maior responsabilidade. O IC poderia, na visão deste responsável, envidar mais esforços para fiscalizar os templos e as suas condições e avançar com opiniões vinculativas. Tudo para que os responsáveis pela gestão dos espaços de culto pudessem realizar uma melhor gestão, numa coordenação mais efectiva com o Executivo.
Victor Ng PolíticaSong Pek Kei: Reconhecimento de licenças de condução deve ser estudado cientificamente [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] deputada Song Pek Kei quer uma avaliação científica da medida recentemente anunciada pelo Governo que prevê o reconhecimento mútuo das cartas de condução entre Macau e a China continental. Para a deputada, a medida pode mesmo vir a trazer benefícios para o território, no entanto, e a fim de garantir a segurança da população local é necessário que não existam reservas. A solução é, aponta, um estudo científico. Em causa está a pressão que a vinda de mais carros para Macau pode trazer ao tráfego, já problemático, do território. Song Pek Kei está preocupada com as condições limitadas de Macau dada a sua pouca área de terra e o grande número de residentes. Nestas circunstâncias, a deputada acha que se não houver “uma medida madura de articulação capaz de ter em conta os carros vindos do continente e as diferentes formas de conduzir entre as duas regiões, o risco de acidentes vai aumentar”, lê-se na interpelação escrita de Song Pek Kei. Tendo em conta esta situação, a deputada questiona o Governo se já realizou uma avaliação científica para estimar a capacidade de trânsito local. Por outro lado, pede ainda ao Executivo que pense e execute medidas de emergência para responder ao aumento de utilizadores das estradas locais. Song Pek Kei quer ainda saber o que está a ser feito no que respeita a situações como o seguro de veículos e de medidas sancionatórias capazes de serem aplicadas entre as duas regiões, face à ocorrência de acidentes rodoviários que impliquem motoristas de ambos os lados da fronteira. A deputada interpelou ainda o Governo sobre os critérios de inscrição para o reconhecimento mútuo de cartas de condução, estando interessada em compreender se haverá mecanismos para proibir os condutores com historial de infracções de conduzir em Macau. Das vantagens Mas nem tudo são problemas e Song Pek Kei, no mesmo documento, faz referência a alguns pontos positivos que a medida pode vir a trazer ao território. Macau e o Interior da China têm uma relação cada vez mais estreita em termos económicos e, em prol do desenvolvimento social, o reconhecimento das cartas de condução pode promover uma cooperação regional mais eficiente. Por outro lado, considera, com a iniciativa da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau e a entrada em funcionamento da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, a existência de um mecanismo que facilite o tráfego entre regiões pode “sem dúvida, ter funções importantes”.