Andreia Sofia Silva SociedadeProposto aumento de multas e taxas para resíduos de obras [dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]riar taxas para o depósito de resíduos de construção, aumentar as multas e obrigar os empreiteiros a criar um plano de recolha antes do arranque da obra. Eis as conclusões da consulta pública para a elaboração do “Regime da Gestão de Resíduos de Materiais de Construção de Macau” As conclusões da consulta pública sobre a futura criação do “Regime da Gestão de Resíduos de Materiais de Construção de Macau” visam maiores responsabilidades para os empreiteiros nesta matéria. O relatório, ontem divulgado pela Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), sugere que “o depósito de resíduos de materiais de construção [resultantes de estaleiros, domésticos, dos estabelecimentos comerciais, dos escritórios] no Aterro deixe de ser gratuito e que se passe a cobrar taxas para o efeito”. Quanto aos valores a cobrar neste caso, é proposta a criação de duas categorias, pois a taxa para os resíduos já separados a partir da fonte “deverá ser mais baixa”. Assim sendo, deve-se cobrar uma taxa “não inferior a 130 patacas” por cada tonelada de materiais já misturados com outros resíduos, os quais são “resultantes da demolição e construção e de materiais não inertes resultantes da demolição e construção”. No caso de materiais já seleccionados, o valor baixa bastante, para menos de 30 patacas por tonelada. O relatório da consulta pública revela ainda uma sugestão relativa ao aumento das multas “pelo abandono e depósito inapropriados de resíduos de materiais de construção civil”. Um plano à maneira O processo de consulta pública ficou concluído em Dezembro de 2015, sendo que a DSPA demorou mais de um ano para elaborar este relatório. O documento traz ainda uma novidade, a de encarregar os empreiteiros da gestão dos resíduos resultantes das suas obras. “Propõe-se a elaboração, pelos empreiteiros, de um plano de resíduos de materiais de construção adequado antes de se iniciarem obras em grande escala”, aponta o comunicado da DSPA. Para além disso, “estes devem também tomar as respectivas medidas para reduzir o volume de resíduos de materiais de construção, de diferentes categorias, produzidos na construção civil”. Quanto à elaboração do regime, a DSPA não apresenta nenhuma data concreta. O organismo promete “proceder ao respectivo processo legislativo com base nas respectivas opiniões e sugestões, tendo em consideração a realidade de Macau”. Fica ainda prometido que a DSPA “aperfeiçoará o respectivo regime de fiscalização, no sentido de se construir uma sociedade economizadora de recursos”.
João Luz Manchete SociedadeTabaco | Casinos apresentam novos estudos sobre qualidade do ar As seis operadoras de jogo de Macau encomendaram dois estudos sobre a satisfação dos empregados com as salas de fumo, assim como a qualidade do ar dentro dos casinos. É que a competição assusta… [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stá tudo bem. Estas três palavras resumem os resultados dos estudos apresentados pelas concessionários de jogo, tanto quanto à satisfação dos funcionários com a implementação das salas de fumo, como na medição da qualidade do ar nas zonas livres de tabaco. Durante a apresentação foi repetida várias vezes a expressão “estudo independente”. A Universidade de Macau estudou o grau de agrado dos funcionários dos casinos desde a lei do tabaco, implementada em 2014. O estudo, conduzido em Outubro do ano passado, consistiu de um questionário respondido por 14.301 trabalhadores em todos os casinos de Macau. Deste universo, 73 por cento trabalham directamente no jogo, 56 por cento deles mulheres, com médias de idade entre os 31 e 40 anos. O questionário revelou que 87 por cento dos trabalhadores reconhecem que a qualidade no ar no local de trabalho melhorou significativamente desde a implementação das salas de fumo. Acerca da proibição de fumar, 40 por cento dos funcionários apoia a proposta defendida por Alexis Tam de tolerância zero para o tabaco nos casinos. O estudo revelou que entre quem trabalha na zona de jogo 45 por cento prefere banir totalmente o fumo no casino. “A maior dos funcionários é contra a política de tolerância zero, não podemos agradar a toda a gente, mas ao menos os resultados revelam que a maioria das pessoas apoia as salas de fumo”, comentou Ambrose So, director do Sociedade de Jogos de Macau. Ambrose So, em representação das seis concessionárias, adiantou ainda que o mais democrático será “respeitar a maioria, uma posição que deveria ser tomada pelo Executivo”. Entre os trabalhadores que discordam do banimento total, 47 por cento considera que o fumo deve ser permitido apenas nas salas de fumo. Os restantes acham que as salas VIP deveriam ser zonas onde se pode fumar. Poluição interior O outro estudo, apresentado por Lee Shun Cheng da Universidade Politécnica de Hong Kong, refere-se à medição de partículas e compostos químicos nas zonas onde é proibido fumar. Foi realizado em duas fases: a dois e cinco metro de portas de salas de fumo. Foram medidos os níveis de monóxido e dióxido de carbono, a concentração de partículas de 10 e 2.5 micras, assim como benzopireno (composto que indica a presença de fumo de tabaco). Neste capítulo, “os resultados dos casinos das seis concessionárias ficaram dentro dos níveis de padrão de qualidade de ar de interiores em Macau”, revelou o académico. A equipa de Lee Shun Cheng propôs também medidas para melhorar a eficácia de extracção da zonas onde se pode fumar. Uma das medidas prende-se com a segurança de quem limpa as salas de fumo. A limpeza será feita durante os períodos do dia em que há menos apostadores, o que dará tempo para que o fumo seja extraído. Também será aumentada a pressão negativa dos extractores e montado um alarme que indica quando há pouca pressão na extracção, ou quando a porta estiver demasiado tempo aberta. Outra das medidas para melhorar a qualidade do ar no interior dos casinos passa pela instalação de um sistema de ventilação só para as salas de fumo. Estas propostas para melhoria do ar que se respira nos casinos de Macau foram apresentadas ao Executivo no final do ano passado, tendo sido sugerido 12 a 18 meses para serem implementados. Por agora, as concessionárias aguardam a resposta governamental. Ambrose So explica que, além de se tentar proteger a saúde dos trabalhadores dos casinos a ideia “será dar uma opção aos fumadores e não perturbar aqueles que não fumam”. O homem da SJM nem equaciona a possibilidade da proibição total, “o que teria um impacto negativo para a economia de Macau, especialmente numa altura de crise global e de aumento de competição na região”. Governo | Prudência rumo à tolerância zero Em resposta à conferência de imprensa das concessionárias dos casinos, onde foram apresentados estudos sobre a existência de salas de fumo, os Serviços de Saúde reafirmaram o objectivo de erradicar o tabaco de locais públicos. O Governo explica, em comunicado, que as políticas projectadas para controlo do tabagismo são para cumprir. A finalidade é tornar Macau numa cidade saudável, sem fumo, seguindo as recomendações da Organização Mundial de Saúde. Porém, o Executivo considera as propostas dos casinos para as salas de fumo “prudentes”, e um passo no controlo progressivo do tabagismo. A medida foi votada na Assembleia Legislativa, mas como foi chumbada, as medidas de controlo do tabagismo mantém-se em vigor. Ou seja, é totalmente proibido fumar nas áreas comuns de jogo. O comunicado dos Serviços de Saúde alerta que, no entanto, podem ser criadas salas de fumo e podem ser mantidas áreas para fumadores nas salas VIP.
Carlos Morais José EventosAntónio Conceição Júnior: “Sou religioso no sentido mais livre do termo” Faz este ano quatro décadas de um percurso criativo que vai da moda à pintura, passando pela fotografia. António Conceição Júnior reflecte sobre o caminho andado e o que está para vir [dropcap]4[/dropcap]0 anos de carreira, grande parte deles passados em Macau, embora tenha conhecido algumas “aventuras” no estrangeiro. Que diferenças fundamentais encontrou e de que modo podem elas ter um determinado papel na produção artística? Não chamaria de carreira ao meu percurso, mas antes de vivências. Macau foi fundamental para a minha consolidação como criativo. Olhando para trás concluo que fui sobretudo criativo, quer no Museu, quer nas várias áreas de design em que me envolvi. Macau proporcionou-me momentos excelentes, enquanto as minhas experiências estrangeiras em Portugal, quase empre associadas a Macau – na grande exposição “Macau 400 Anos de Oriente” inserida na Quinzena de Macau na Fundação Gulbenkian em 1980, na Coordenação das acções de Lançamento da Missão de Macau em Lisboa em 1990, entre as quais realizei a minha primeira apresentação na área da Moda, e depois na Europália em 1991 foram muito enriquecedoras, porque sempre que me foi dada carta branca, liderando projectos ou acções, estes correram muito bem. Retribuí sempre com o máximo esforço e dedicação à confiança em mim depositada. Estas vivências vieram reforçar uma sensação de confiança no modo como liderei esses projectos. Comecei muito cedo, aos 27 anos a propôr ideias e liderar projectos e quando não sou eu, confesso que sinto alguma dificuldade em me integrar porque sempre tive ideias próprias. Nos anos 80, refundou o Museu Luís de Camões e lançou o projecto do Complexo Cultural, que não chegou a avançar. Quer explicar a ideia central desse projecto? E será que hoje faria sentido criar uma instituição desse tipo? Um esclarecimento: O Museu Luís de Camões foi criado em 1960. Sucedi ao seu primeiro director, Luís Gonzaga Gomes, em 1978, mas fui o primeiro a tempo inteiro. Tendo regressado a Macau em 1977, o então Governador Garcia Leandro contactou-me a pedir que analisasse o panorama cultural de Macau e procurasse uma forma de divulgar culturalmente o território. Lembro que, nesses tempos, Macau não dispunha sequer de uma galeria de exposições. A resposta, após a ponderação necessária, foi que eram precisos instrumentos e que um Centro Cultural era indispensável para uma abordagem abrangente, integradora, supra-linguística, da questão cultural. O projecto ficou latente e a minha energia canalizou-se para a reformulação do próprio Museu, enquanto suporte e espaço para os artistas plásticos de Macau. Foi nessa altura que foram assinados os primeiros acordos de cooperação com o Hong Kong Arts Centre e com a Fundação Calouste Gulbenkian. Mais tarde, o Governador Carlos Melancia nomeou-me seu assessor para a cultura e convidou-me para dar forma a um Centro Cultural. Estávamos em 1988 e, nessa altura, mudei o conceito para Complexo Cultural, tendo como base aquilo que hoje se chama de “sustentabilidade”. Incluía um hotel, um centro de convenções e uma Escola de Artes, aberta não apenas a Macau mas, após estudo feito, também ao Sudeste Asiático, o que permitiria não apenas uma interactividade entre os diversos componentes do Complexo Cultural como um intercâmbio entre os alunos de diferentes origens. Por volta de 2008, fui encontrar em Xangai um Centro Cultural com um projecto idêntico, o que mais consolidou a minha convicção de que estava certo. Hoje faria sentido um Complexo Cultural se não existisse o actual Centro Cultural. Tal como tive ocasião de dizer ao último Governador de Macau, que achou então o meu projecto demasiado ambicioso, não se faz um Centro Cultural para menos de 50 anos… Ao longo destes anos ressalta, nos numerosos artigos que escreveu, o conceito de cidadania, a que parece atribuir uma importância singular. O que é para si a cidadania e de que modo a vivência de Macau serviu para apurar esse conceito? Tive consciência de que Macau tinha a dimensão de uma cidade-piloto onde se poderiam realizar coisas fantásticas, quando regressei e dei início ao meu trabalho no Museu. Estávamos sob administração portuguesa, sendo a maioria da população chinesa, com muita gente de passagem, oriunda quer de Portugal quer da China. A consciência de pertença à cidade era algo que importava reforçar, fixar. São de então os primeiros projectos de classificação do património, a que o arquitecto Francisco Figueira tanto se dedicou e com quem tive o prazer de colaborar, são dessa altura as primeiras campanhas de limpeza da cidade (por acaso é meu o logo e o slogan “cidade nossa, cidade limpa”que ainda hoje usamos), são de então os primeiros encontros de artistas, o aparecimento dos primeiros jornais com artigos de reflexão sobre a cidade, etc, etc. Com o tempo, e sobretudo na década de 1990, o conceito de cidadania impunha-se com mais urgência e importância, no sentido de assumpção de todos os direitos e deveres de e para com a cidade. Era fundamental reflectir sobre a consciência cívica e o papel que cada um tinha a desempenhar neste processo. Eu, ligado ao então Leal Senado e responsável pela política cultural da Câmara, estava intrinsecamente ligado à vida da urbe, encontrando na Cultura a resposta para a Cidadania. O que acha do actual momento cultural da cidade? Somos mesmo uma Cidade de Cultura ou não passa de um slogan? Todas as cidades são portadoras de cultura. O slogan dos anos 1990 é uma redundância. A cidade de hoje é culturalmente mais dinâmica, está dotada de mais infra-estruturas. Há cerca de 25 museus, o Centro Cultural tem uma actividade bastante intensa no que toca a espectáculos e há mais exposições. Abriu uma Cinemateca. Abriram bibliotecas em diversos pontos da cidade facilitando o acesso à leitura. Há lançamentos de livros, há debates, há Fundações que têm uma programação intensiva, há jornais e revistas como nunca houve. A sociedade civil tem feito alguns eventos de muito interesse como a “Rota das Letras”, “This is My City”, o Albergue tem feito também inúmeras exposições. Questiono, porém, qual a fatia da população que a tudo isto acede e que identifica como seu, como necessário, como imprescindível. Está a ser feito um esforço para a elevação do nível cultural da população, mas penso estarmos ainda longe do desejável… E na comunidade macaense, além do minchi e do chupa-ovo, o que se pode passar? Sinceramente, não sei dizer qual será o seu futuro. Penso que, mesmo sendo pequena, deve ser considerada indispensável. A comunidade tem mostrado capacidade de se organizar em diferentes Associações, o que para mim revela a sua vitalidade, seja para a “comisaina” ou para outros fins que a agrega enquanto grupo identitário. A autenticidade deste sentir, pensar e estar na cidade enriquece o tecido social. Não nos esqueçamos de que, a meu ver, a comunidade macaense, de que orgulhosamente faço parte, é uma nação de indivíduos com histórias genéticas todas diferentes, mas unidas pela ligação umbilical a Macau. Tem espraiado a sua criatividade por áreas diversas, da banda desenhada à fotografia, da pintura à moda, passando pelo design de espadas, entre outros. Existe alguma área em que se sinta mais à vontade ou a cada momento experimenta uma inclinação específica? Costumo dizer que tenho as minhas “gavetas” abertas. Cada uma delas corresponde a uma área. Atrevo-me a pensar que me sinto à vontade em todas essas áreas. Nos anos 90, muitos pensaram que, devido à sua óbvia qualidade e originalidade, a sua marca de moda acabaria por se impor a nível mundial, mas isso não chegou a acontecer. Por quê? Abri a “gaveta da moda” no início dos anos 90, a convite do Governador Melancia, representando em Lisboa uma das potencialidades que Macau poderia oferecer. Participei na Europália, na Bélgica, tendo sido convidado para ficar pela Europa a desenvolver um projecto. Razões pessoais e familiares levaram-me a ficar por aqui, mas após este arranque demorou apenas 4 anos até ser convidado por Pequim para me apresentar com um stand e uma passagem de modelos. Levei comigo uma importante empresa portuguesa que fabricou a colecção que dei o nome “Mãe China”. Seguiu-se a minha nomeação honorífica para Consultor Honorário de Moda de Pequim e conversações nas quais reconheciam A.CEJUNIOR como um nome para a China e, com o tempo, para o mundo, oferecendo e solicitando condições que considerei estupendas para ambas as partes. Para grande espanto meu, a empresa portuguesa minha parceira recusou… Isto insere-se bem nas (des)”aventuras” que já referi. Por que razão se deixou enredar pela arte do trajo? Comecei a interessar-me pelo vestuário por uma razão muito prática e particular. Quando me tornei director do Museu precisava de andar engravatado e não havia pronto-a-vestir em Macau, só alfaiates. Então, passei a desenhar as proporções dos meus fatos para um alfaiate vizinho mos confeccionar. Uma das minhas características, quando me interesso por uma coisa, é ir até ao fundo do assunto. Desmanchei casacos comprados em Portugal para ver e perceber como eram feitos. E foi uma coisa que se foi prolongando e o desenho de moda passou a surgir na ponta do lápis, aliado a leituras, referências e memórias. De algum modo, as suas criações refaziam ou situavam-se em pontos da antiga Rota da Seda, uma ideia que o actual governo da RPC deseja reactivar. Já pensou apresentar uma proposta no sentido de dar o seu contributo para esse objectivo? Sim, tive uma colecção chamada “Rota do Oriente”, outra chamada “Samarkanda”, e ainda outra chamada “Mandhala no Topo do Mundo”. Recordo-me que no tempo do Governador Carlos Melancia, após o êxito da minha apresentação em Portugal, em 1990, o eng. Melancia defendia a ideia de que o Governo deveria apoiar-me para lançar o nome de Macau. Na altura eu era o único. Agora isso não acontece, mas a minha Rota da Seda mantém-se, agora mais amadurecida. Curioso é que, como já contei, a apresentação em Pequim foi coroada de êxito e a própria R.P. da China me quis aproveitar. Ou seja, admite regressar à moda ou isso são águas passadas? Hoje em dia há muitos jovens, muitos mesmo. Todos têm sonhos. É evidente que sonhar não é um exclusivo dos jovens, mas no contexto actual não sei. A minha preocupação é sobretudo que os jovens que se querem lançar por estes caminhos se municiem com suficiente bagagem cultural que é o verdadeiro alimento para a criatividade. Passemos à fotografia. No seu trabalho, em geral, existe uma coerência que se liga à questão do detalhe, do pormenor, como se destacasse algo do seu contexto, exibindo esse algo desconectado, em si mesmo, ou nos dissesse que há mundos dentro de mundos. Por quê este fascínio, ou se quiser, obsessão? Não é obsessão. Fascínio admito que sim. Não encontro uma explicação lógica senão o facto de ter desenvolvido uma forma peculiar de olhar a realidade, talvez em busca de uma transcendência indecifrável. Algo que me toque plásticamente mas não só. Algo que não seja vulgar nem dramático mas que assuma uma força telúrica ou espiritual sob a forma de uma beleza plástica que não requeira explicações da minha parte. Nas suas fotografias, parece existir uma busca de beleza primeva, pré-humana, quase divina ou simulatória da presença de Deus. Considera-se religioso? Identifica-se com algum credo actual? Essa busca não é voluntária. Aliás ao termo busca eu preferia “encontros”. Diria que aquele que mais importância teve para mim foi “Primum Lumen”, um encontro com a luz a manifestar-se de maneiras extremamente belas e cujos registos fotográficos mostram essa beleza. Sou religioso no sentido mais livre do termo. Identifico-me com esta frase verdadeiramente primeva: “como não lhe conheço o nome, chamo-lhe Tao. Sem um nome deve ser a Mãe de todas as coisas, com um nome é o antepassado dos deuses”. Como lê os recentes desenvolvimentos da política internacional, nos EUA e na Europa? E qual o papel da China? Trump representa uma América desconhecida para mim e, também, um lado mais conhecido, que é o do espectáculo. A Europa por ser lado, debate-se com um dilema que há 20 anos discutia com o prof. Roberto Carneiro: qual seria o futuro de uma Europa com a migração que já se fazia sentir então, sendo a indagação feita sobre o que seriam os produtos de casamentos entre cristãos e muçulmanos. Hoje as coisas agudizaram-se profundamente. Há 20 anos não havia o DAESH. Por seu lado, tenho para mim que a China tem agido de uma forma sábia, aproveitando os vácuos criados pela nova administração americana e manifestando-se também como uma potência confiável no jogo de forças onde Putin também parece ter-se intrometido, nesta grande confusão que é o mundo actual. 40 anos depois, valeu a pena ou a vida é, fundamentalmente, uma grande chatice? Diria que valeu e vale a pena. Tenho-me como um homem novo.
Hoje Macau China / ÁsiaChina | História de um designer português ao serviço da IKEA [dropcap style≠’circle’]R[/dropcap]adicado na China desde 2012, o português Filipe Martins trabalha para a multinacional sueca Ikea em Tianjin, cidade portuária do nordeste chinês, onde aprendeu a viver com uma “raiz humana completamente diferente da nossa”. “Tem sido muito interessante: ver a cultura corporativa sueca aplicada a um contexto do norte da China, que é bastante particular”, conta à agência Lusa o designer de 33 anos. “Sinto que a minha cultura está um pouco entre estas duas culturas”, diz. Natural de Lisboa, Martins desembarcou em Tianjin há quatro anos para estudar chinês. “Cheguei a uma altura em que queria mudar de vida”, recorda. A primeira visita ao país asiático ocorreu em 2009, numa viagem organizada pelo Instituto Confúcio, organismo patrocinado por Pequim para assegurar o ensino da língua chinesa. “Foi um admirável mundo novo”, recorda. “Viver na China é capaz de ser das experiências mais semelhantes a viver noutro planeta”. “Com pessoas que são iguais a nós e que têm os mesmos prazeres na vida, mas que fazem isso de uma forma muito diferente da nossa e que agem por princípios completamente distintos”, diz. No ano passado, foi contratado pelo grupo de mobiliário Ikea como designer da loja em Tianjin: “Sou responsável por tudo o que estimula a visão”, explica. A partir da sua experiência no país, Filipe Martins contraria a ideia de que os chineses são pouco criativos. “A criatividade existe. Simplesmente, não têm muito à-vontade”, afirma. “Os chineses temem muito o erro, devido à responsabilidade que não querem assumir”. Nas lojas do Ikea na China é frequente ver pessoas que recorrem aos móveis expostos para descansar, em lazer ou até para dormir. Em Outubro passado, a direcção do grupo em Xangai proibiu mesmo os clientes de permanecerem muito tempo no restaurante da loja sem consumirem, depois do espaço se ter tornado local de convívio entre idosos. “Os chineses estão muito à vontade para na loja do Ikea se sentarem, deitarem ou adormecerem”, conta Filipe Martins. “Não têm as mesmas inibições sociais que nós temos”, explica. Influências limitadas A conversa com a agência Lusa decorreu na zona antiga de Tianjin, cidade outrora sob domínio estrangeiro e hoje uma das quatro cidades com estatuto de município – as outras três são Pequim, Xangai e Chongqing. Em Tianjin, a China foi forçada, no final do século XIX, a conceder uma área com oito quilómetros quadrados às principais potências estrangeiras, criando uma malha urbana de raiz europeia que ainda hoje se mantém. Os edifícios, de traço arquitectónico alemão, francês ou italiano, servem agora como restaurantes, cafés ou galerias, onde ocorre a emergente classe média local. No entanto, Filipe garante que a influência estrangeira na cidade se ficou pela arquitectura. “O ‘software’ é ainda muito tradicional”, diz. Quanto ao que sente mais falta em Tianjin, o designer responde sem hesitar: “O mar”. “Tianjin tem um mar, mas é um mar interno. Não tem ondas. Sinto muitas saudades das ondas da costa da Caparica, da espuma, da ferocidade do mar no inverno”, afirma. “Quando descrevo aos chineses o mar de onde venho, o oceano, eles ficam assustados e maravilhados ao mesmo tempo”.
Hoje Macau China / ÁsiaEnsaio nuclear norte-coreano condenado pela China [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo chinês condenou ontem o lançamento de um míssil de médio alcance realizado pela Coreia do Norte no domingo e apelou a todos os países envolvidos para que assumam as suas responsabilidades. Em conferência de imprensa, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês Geng Shuang condenou a acção de Pyongyang e apelou aos Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão para que se abstenham de realizar acções que possam provocar o aumento das tensões. Guang desvalorizou ainda o apelo de outros países para que a China pressione a Coreia do Norte e apelou para que os países implicados no conflito “assumam a sua responsabilidade” e trabalhem em prol de uma solução “apropriada e pacífica”. “A China está a fazer esforços para resolver o problema. Os nossos esforços são evidentes”, afirmou Geng, pouco depois de o Governo japonês ter pedido a Pequim que pressione a Coreia do Norte a abandonar os seus programas nuclear e de mísseis. Todos juntos Japão, Coreia do Sul e EUA pediram ao Conselho de Segurança da ONU para que se reúna urgentemente, após o novo ensaio de Pyongyang, e Geng disse que a China vai participar na reunião de “forma construtiva”. O porta-voz recusou, no entanto, precisar se Pequim vai apoiar um reforço das sanções impostas à Coreia do Norte. “Todas as partes envolvidas deveriam manter a calma e actuar com moderação”, disse Gang, afirmando que Pequim sempre promoveu o diálogo, face às “diferenças” entre a Coreia do Norte e os EUA. O Conselho de Segurança da ONU aprovou no ano passado dois pacotes de sanções contra a Coreia do Norte, depois de o país ter feito dois testes atómicos no espaço de oito meses e ter lançado 20 projécteis balísticos. O último, realizado em 7 de Fevereiro de 2016, é considerado pela comunidade internacional como um ensaio encoberto de um míssil balístico de alcance intercontinental. A China é o principal aliado internacional de Pyongyang e EUA e Japão consideram que o país poderá fazer mais para travar os avanços do regime de Kim Jong-un.
Amélia Vieira h | Artes, Letras e IdeiasA candelária [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]xistem no calendário católico aspectos extraordinários com elementos de impregnada redundância simbólica e nesta medição do tempo estamos assentes no Calendário Juliano e mergulhados no Gregoriano, calendários solares que entretanto colidem com esferas de festividades. Só que tem havido muitos ajustes dado que os mais remotos eram lunares e adaptar toda estas fórmulas foi um trabalho de centenas de anos, mesmo de milénios. Fevereiro dá-nos um momento muito rico em como na adaptação dos sinais e das fontes originais os efeitos se transmutam e, sendo outros, são os mesmos. Quase subliminares à prática dos povos, eles, no entanto, têm uma vida imensa que a memória não permite esquecer. Dia dois de Fevereiro festeja-se o dia da Candelária entre os católicos, claro está, candelária como o próprio nome indica vem de candeia, candeia e luz, mas ela é sobretudo a «Festa da Purificação da Virgem», estranha designação para a qualidade da sua condição mas, se aferirmos os dons da cronologia também lunar no efeito destas derivas, acontece que esta era uma festa ou um acontecimento praticado pelas mulheres hebreias quando eram passados quarenta dias do nascimento de um menino: iam ao Templo, apresentavam o menino e banhavam-se. A mãe estava assim purificada do período do pós-parto, o que na mesma linha vai dar ao Natal, daí ela ser em Fevereiro. Pratica-se de olhos fechados uma condição da mulher hebraica e, claro, não falta a eterna quarentena, que porá fim ao seu menstruo de parturiente. Creio bem que a leitura de tais factos possa ser irrelevante pela sua dimensão extemporânea, mas carregamos sinónimos que pensamos ser antónimos e grandes verdades que não passam de meras formas de adaptação de um grande sincretismo. Nós, os obreiros de tantas certezas, não seríamos tão ricos sem a junção de todos para preparar a nossa causa. Daí os tempos estarem neste momento tão ameaçadores, temos visto que a rigidez é como o não conhecimento, assente todo ele na sua defesa sem saber que a defesa de todos é ainda a melhor forma de estarmos individualmente defendidos. Purificar é também libertar o ser para uma nova etapa da sua vida. Neste caso do vínculo incubatório, o estado hibernante, que vem da escuridão dos dias de Inverno, é libertar o agente do pousio para a sua nova etapa agora que os dias parecem tender para uma nova esperança, crescendo e tornando a mobilidade uma presença. Mas foram as leis patriarcais que promulgaram isto? Não creio! Apenas registaram na sua «Tábua das Leis» uma evidência natural e há sem dúvida muitos abusos nesta matéria entre a observância e a imposição, aqui, apenas se legisla, o que – e estamos ainda em terreno litúrgico – aquilo que Deus concebeu como acto de sobrevivência. Estamos, não muito recentemente, é certo, a ponto de forjar uma natureza outra que não teve o mesmo cuidado pela estrutura feminina enquanto propagação de vínculos e que pensamos estar certa pela força da convicção, que libertando-a do seu superior anátema pudessemos neutralizar todas estas fundas temáticas. O patriarcado de que aqui se fala era um agente legislador mas, de forma subtil, sabemos que não era ele quem dava as “ordens”: era um ordenamento, menos que um desejo de ordenar, e toda a estrutura passa a severa com a ideia de uma Virgem geradora, começando a primeira grande distorção que põe a mulher como serva, o que dá como resultado o sacrifício do Filho. Talvez que o Carnaval, a festa da carne, se junte a todo este imenso roteiro de situações do fantástico e que a imundície já seja tanta que os puros precisem também eles de se purificarem, sem que se tenha muito bem presente o grau de conspurcação para ataviar tal condição, redundantemente a vamos vestir do seu desnecessário manto. É possível que a loucura more nos rebordos do paradoxo e, entre santos e loucos, estejamos no terreiro de um conflito programado com incidência para interpretações várias. Há mesmo uma fonte meteorológica, à boa maneira dos Almanaques, que diz isto: «quando a Candelária rir o Inverno está para vir», se chover acabou-se o Inverno! Rir, esse desassossego, neste caso feito de sacrifícios e desdobramentos vários que foi um esgar patético a que se reservaram nos confins de uma loucura imposta… Agora chove e, bem pelo fio das crenças, eu creio e espero, acabados os tormentos. Mas eles virão, tal como os anjos anunciadores de gestações improváveis, agora que os grandes tempos mudaram, quem sabe se para pior, a meteorologia é mais um adorno do final que nos espreita e assim, não muito convictos, cada um à sua maneira transforma em festa a “coisa” inteira: que será o vasto mundo calendoscopado em tantas ramificações de género, dado que se for menina o poisio antigo do Templo decretava cinquenta e dois dias, em algébrica lunar de setes. Isto, claro, são histórias do tempo crepuscular, em que o Homem era feito à imagem e semelhança de Deus, pois que vindo aí o Filho do Homem, essa máquina competente que fará melhor e maior a nossa escala, nos arrebatará já impróprios para a travessia dos tempos vindouros. Mas nós somos românticos, embora recalquemos com botas bem cardadas a condição quase ilegítima. Nós queremos continuar, puros, impuros, poucos, muitos, fechados, abertos, sentimos que todas as direcções se justificam para nos dar a ênfase de sabermos mais uns tempos prosseguir. Reaprendemos velhos adágios, interligamos as colunas, fingimos que não estamos mal, sorrimos para as caveiras enluaradas uns dos outros e quase nos sentimos imortais. Há meninos que nascem para isto, para nos lembrar que todos os meninos algures fizeram o mesmo percurso nos braços de suas mães, no tempo em que os homens não tendo licença de parto, partiam para a sua simples natureza. Por pior que nos pareça, não conseguimos melhor.
Paulo José Miranda h | Artes, Letras e IdeiasA cara do que não dura [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]ão é porque Deus não existe, que o humano deixa de pensar. E entenda-se pensar em sentido kantiano, em sentido de um para além do conhecimento, um para além do que nos é possível conhecer. Assim, o verso “que vida tem afinal a morte” (p. 29), é um verso fincado num assombro para além do conhecimento, fincado nas inóspitas terras da metafísica. Esta breve introdução serve de pretexto para falarmos de um livro do poeta Miguel Manso, Supremo 16/70, Artefacto/Sr. Teste, 2013. À imagem de um livro acerca do qual já aqui foi lido, Fera Oculta, de Vasco Gato, também este é um livro escrito (embora este seja anterior ao de Vasco Gato) sob a égide de uma pessoa. No caso do poeta de Fera Oculta era o filho do poeta, que estava para nascer; neste caso de Supremo 16/70 é o avô do poeta, que acabara de morrer, “agora que ardeste / e nos choveu o cinzento do que foste” (p. 12). Parafraseando José Régio, só a morte nos guia e mais ninguém. E este é um livro que nasce desta consciência, e do confronto entre a acção e a memória, entre a alegria do amparo e a tristeza da perda. Acerca da alegria, em forma de memória, leia-se: XIII julgava ser isso a alegria: ver-te debaixo da parreira varrendo a farinha dos sapatos deixavas o ouro do teu ofício sobre a mesa abeirávamo-nos do almoço E leia-se um poema onde a perda se faz sentir, como uma lâmina: X herdei de ti a máquina de barbear (eu que não faço a barba) para enfrentar o terror de limpar os teus pelinhos póstumos escanhoei o rosto e durante semanas aleijei-o com o teu cheiro Toda a escrita, na sua essência, são cartas escritas a nenhures para nós mesmos, e este livro fá-lo exemplarmente. Mas fá-lo, não centrado (ou somente centrado) em si, na dor da perda, mas também na dor daquele que estava à beira de ser perda; centrado também na dor do avô. Muitos são os versos que captam ou tentam captar a dor do fim, a dor de estar a acabar-se tudo. Há uma dupla dor neste livro: a do narrador e a do narrado. O primeiro sente a vida através da perda, e mostra isso em inúmeros versos, o segundo sente (deixa-se sentir na pena do neto) a vida “tremendo de velhice” (p. 20) Neste livro precioso, Miguel Manso traça a vida do avô desde o seu abandono à velhice, “contemplas pretéritos a essa luz” (p. 20), passando pelo corpo sem vida, a aguardar o que se faça dele, “estás tão despido como no começo” (p. 33), ao momento em que se torna cinza “e nos choveu o cinzento que foste” (p. 12), até que finalmente se torna verso, “e o que nesse canto me ofereceste devolvo / pior no recanto tardio de uns versos” (p. 16). Tal como o poeta escreve no poema XII, “(…) como habitar este corpo / suspenso entre limites” (p. 26), trata-se também de um livro, como já havíamos visto na introdução desta leitura, que coloca as perguntas metafísicas da existência, para além de todos os detalhes e mentiras ou factos biográficos. Miguel Manso faz do avô, assim como mais tarde Vasco Gato irá fazer com o filho por nascer, um ser para sempre. Quando se lê um verso, que está entre aspas, sugerindo uma fala daquele que está a ser narrado ‘“já cá não estou a fazer nada’” (p. 13), sentimo-lo como sendo uma fala universal. Na verdade, é uma fala universal e impessoal, de todos e de ninguém, embora no poema seja a única fala pessoal, e que em algum momento feriu mais do que agora ao ler nos fere. Num poema os versos não são apenas palavras. O poema usa as palavras como a acupunctura usa as agulhas, como instrumentos para atacar os nervos. Entre os nervos e a intenção há uma agulha, um verso. O verso entrepõe-se entre o conhecimento e o pensar, entre aquilo que se pode saber, através da experiência, e aquilo que não se pode evitar pensar, ou porque nos angustia ou simplesmente porque nos rouba o ponto de vista usual do dia a dia. É o caso da morte de alguém próximo, é o caso de uma descoberta para nada, como entender que se quer dizer e não haver palavras com que dizer. Escreve o poeta, no seu último poema, o único poema vestido de prosa: “(…) Não entender, estender-se, no vazio. Ainda / tratamos por aqui de coisas imaginadas, imagináveis. / Dentro delas ou fora, dentro-fora, há inimaginações / insuportáveis, alargando em complexidade e alheias / (como assim?) à linguagem. (…)” (p. 39) O escândalo entre haver o que sente e não haver como dizê-lo, o escândalo de um verso iluminar este imaginado inimaginável, o escândalo da proximidade entre a morte (essa desconhecida) e a linguagem (essa estranha). E “Como assim?”, pergunta que revela o escândalo de não se saber o que se está a passar, fica ainda mais acesa entre parêntesis, como que indicando que o que é importante em nossas vidas é sempre entre parêntesis. É entre parêntesis que a vida se passa. É no parêntesis do quotidiano que as perguntas fundamentais são feitas. Leia-se o poema III, à página 15: paraste numa rua decaída como o Sol o abatimento da bengala tornando devagar a caminho de casa única cedência da alegria o perfume das laranjas o complô acriançado dos pássaros o branco fabuloso desses muros – se afastasses da ideia o aperto que arquitectam – alguém te chamou, olhaste saudou-te com um entusiasmo forçado e no fim trocou o teu nome pelo nome do teu pai (eu só te conheci a mãe) não corrigiste esse nem nenhum outro desacerto (o mais premente e perturbador de todos visto assim não tem cura) e seguiste à sombra do teu morto ainda mais calado O poema III mostra-nos aquilo que dissemos anteriormente, mas de um modo magistral, de um modo que só a grande poesia consegue, nesse seu modo particular de viver entre o dizer e o saber que é impossível fazê-lo, nesse modo que não é apenas o de um avô, mas o de todo aquele que está condenado a viver o seu melhor entre parêntesis, o modo de seguir à sombra do nosso morto, ainda mais calado. De que adianta corrigir o que quer que seja, se é a vida ela mesma que fará todas as correcções necessárias, principalmente as que não têm cura? Um dos versos que o poeta escreveu, logo no primeiro poema do livro – “e tem a cara do que não dura” (p. 12) – responde a esta e a todas as questões do humano, porque a finitude dói mais do que a ausência de Deus. Terminemos esta leitura com esta cara, a cara do que não dura, que não é só um humano na sua vida, mas também um humano na sua vida a ver e a sofre com outro, com um outro poema de Miguel Manso, à página 32, onde o poeta faz da dor do outro a nossa dor, mostrando claramente que esta não é menos que universal. XVIII o instante em que desligas a tv é tarde e todo o desgosto mal contigo tomba turvado nos teus braços e secaram-te as lágrimas.
Hoje Macau DesportoLiga de Elite | Análise da terceira jornada João Maria Pegado [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] jogo de maior cartaz da 3 jornada realizou-se no sábado com o KA I 0 Vs 3 CPK. A equipa liderada este ano por Lao Pak Kin apresentou-se em campo com 4-1-4-1 , enquanto a equipa de Inácio Hui dispôs em campo um clássico 4-3-3 . Durante a primeira parte a equipa do KA I, com as linhas recuadas no seu meio campo defensivo, tapou muito bem o corredor central limitando a acção dos dois jogadores criativos do CPK , Bruno Figueiredo e Diego Patriota, deixando a iniciativa da organização ofensiva do seu jogo para o homem mais recuado nesse vértice do meio campo, Pedro Clementes. Ofensivamente O KA I tentava fazer transições defesa ataque através da velocidade de William Carlos Gomes, que aproveitava a profundidade dada pelo o CPK. Neste aspecto é de salientar o excelente trabalho do central do CPK Kam Chi Hou que ia anulando essas investidas por parte do avançado do KA I. O CPK ofensivamente , visto que foi negada a entrada no bloco central da organização defensiva do KA I , tentou através dos laterais chegar à baliza contrária , colocando os extremos por dentro a libertar os corredores laterais , onde Ronald foi o mais eficaz. O intervalo chegava com as oportunidades repartidas com mais posse para o CPK. Frutos das mudanças Ao intervalo o KA I alterou a sua forma de jogar tentando colocar Nwaorou a impedir as subidas do lateral esquerdo do CPK e colocando o numero 14 Janio Alves mais perto do ponta lança . Com esta alteração o CPK começou a ter mais espaço no meio campo e num passe para as costas da defesa do KA I o guarda redes não é determinante na saída entre os postes e Ronald Cabrera chega primeiro à bola e é derrubado, penálti bem convertido por Diego Patriota. Estava desbloqueada a partida , o KA I sentiu e muito este golo e a sua organização defensiva começou a desmoronar-se. As ocasiões para o CPK sucediam-se e foram concretizadas , também de bola parada, por Bruno Figueiredo e Vítor Almeida. Em suma o CPK resolveu um jogo que se estava a tornar complicado através das bolas paradas , ficando à vista que precisa de um homem golo. Quanto ao KA I surpreendeu relativamente ao últimos dois jogos apresentando bastantes melhorias na estrutura do seu onze estando neste momento mais competitivo. Golos para todos os gostos A surpresa da jornada vai para o Policia 1 Vs 0 Cheng Fung , depois da surpresa na jornada anterior com empate com o campeão em titulo a equipa de João Rosa foi derrotada pela Polícia que ainda não tinha qualquer ponto no campeonato. Na sexta feira, o Monte Carlo 4 Vs 1 Sporting de Macau, seguindo invicto na prova. A maior goleada para já do campeonato vai para o Benfica 8 vs 0 Laichi, onde os encarnados responderam da melhor maneira ao empate na ronda anterior. Por último, outro jogo com 8 golos: Development 3 Vs 5 Kei Lun confirmando que os jogos da equipa de Josi Cler têm sempre muitos golos para ver. Jogador da jornada – #17 Kong Cheng Hou ( KA I ) – Enquanto teve disponibilidade física , foi mantendo o KA I na disputa do jogo , fazendo bem a cobertura defensiva dos seus homens do meio campo .
David Chan Macau Visto de Hong Kong VozesFogo de origem criminosa no metro de Hong Kong [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]ste último Sábado a Polícia de Hong Kong emitiu um comunicado de imprensa onde se podia ler, “A Polícia (de Hong Kong) está a investigar um incidente de fogo posto na estação de Metropolitano de Tsim Sha Tsui ocorrido na noite de ontem (10 de Fevereiro) e que provocou ferimentos a 18 pessoas.” Ontem, (sexta-feira), às 19h14m, a Polícia foi informada que tinha deflagrado um incêndio numa das carruagens do Metro que se dirigia à estação de Tsim Sha Tsui vindo de Admiralty. O incêndio foi controlado pelo pessoal do Metro e pelos passageiros. No incidente ficaram feridas 18 pessoas, 11 mulheres e sete homens, com idades compreendidas entre os 15 e os 60 anos. Os feridos foram assistidos nos Hospitais Queen Elizabeth, Kwong Wah, Prince of Wales, Princess Margaret e no Queen Mary. A Polícia deteve um homem de 60 anos por fogo posto estando o motivo do acto criminoso sob investigação. Foram encontrados no local agentes aceleradores de incêndio em forma líquida. Uma investigação preliminar apurou que o homem terá ateado o fogo por razões pessoais. O homem cometeu o acto de forma isolada não existindo indícios de ter sido obra de uma organização criminosa. A Polícia está também a investigar o estado de saúde mental do detido.” O jornal de Hong Kong “Oriental Daily” adiantava no seu website que o suspeito, Cheung Kam Fai, sofria de “Síndrome Delirante” e tinha “tendências violentas”. Sobre esta matéria a “Wikipedia” informa, “Síndrome Delirante é uma doença mental em que o paciente produz interpretações falsas da realidade, não é acompanhado por alucinações, mas sim por alterações de humor e por um embotamento afectivo. O delírio é um sintoma específico da psicose. Quanto ao conteúdo, os delírios podem ser “bizarros” ou “não-bizarros”; os delírios não bizarros fixam-se em crenças falsas que envolvem situações que, potencialmente, podem ocorrer na vida real, como ser perseguido ou envenenado. Apesar da doença, as pessoas que sofrem de delírios podem manter uma vida social e funcionar de forma relativamente normal sem apresentarem comportamentos estranhos. Contudo, a preocupação provocada pelas ideias delirantes pode vir a destruturar as suas vidas.” Mas voltando ao caso em análise, o suspeito tem dois filhos e está à beira do seu segundo divórcio. O Oriental Daily adiantava ainda que o suspeito recebe tratamento médico para o seu problema mental de quatro em quatro semanas. O último tratamento foi-lhe administrado em Dezembro. Não se apresentou para receber o tratamento de Janeiro embora o pessoal hospitalar o tivesse contactado nesse sentido. Do incidente resultaram três feridos graves de um total 18. O suspeito também ficou seriamente ferido e encontra-se a receber tratamento hospitalar. Depois da ocorrência de fogo posto, o Governo da RAEHK toma medidas. Em primeiro lugar, os sinistrados recebem tratamento hospitalar. Até ao momento, não se registaram vítimas mortais neste caso. O suspeito está também a receber cuidados médicos. A partir da consulta do website, ficámos a saber que na altura em que o incêndio deflagrou, algumas pessoas despiram as roupas que se começavam a incendiar para apagar o fogo. Em segundo lugar, o Governo desencadeia de imediato uma investigação policial. A zona é isolada e as testemunhas são convidadas a contactar a Polícia para prestar depoimento. O suspeito declarou que a sua família tinha sido vítima de um ataque. Os agentes deslocaram-se à residência, mas não encontraram qualquer prova nesse sentido. Os familiares estavam todos de boa saúde. O terceiro passo, foi a visita de membros do Governo às vítimas hospitalizadas. O Secretário para a Segurança, T K Lai, afirmou que este foi um caso isolado e que não existem quaisquer indícios de um ataque terrorista. Antes de mais quero desejar uma rápida recuperação a todas as vítimas deste incidente. Espero que sintam que os amigos e familiares se preocupam com elas. Devem prosseguir as suas vidas com coragem. Por isso, de momento, a recuperação é o mais importante. No entanto, será difícil que estas pessoas venham a ser indemnizadas pelo suspeito, devido à sua alegada doença mental. Se for considerado que não tinha perfeita consciência do que estava a fazer quando ateou o fogo, não pode ser processado. Se as vítimas tiverem seguro, podem pedir uma indemnização às Seguradoras. Se não for o caso, é muito improvável que venham a receber qualquer compensação monetária. O estatuto de doente mental do atacante não só afecta uma acção cível para fins de indemnização por parte das vítimas, como afecta a responsabilidade criminal do suspeito. Embora o suspeito tenha confessado à Polícia que ateou o fogo na carruagem do Metro, esta confissão pode não ser válida em Tribunal porque o magistrado pode considerar que o suspeito não estava em condições de entender o significado das declarações prestadas. Se uma junta médica comprovar que na altura em que ateou o incêndio o suspeito sofria de doença mental, e que como tal, não sabia o que estava a fazer, não poderá ser considerado culpado de fogo posto. Contudo, também não poderá ser considerado inocente, terá de ser enviado para um hospital psiquiátrico para receber tratamento até total recuperação. Ficámos também a saber pelas notícias divulgadas que o comboio em questão era antigo e não tinha câmaras de segurança. Não nos esqueçamos de que, na altura em que o incêndio deflagrou, o Metro se dirigia da estação de Admiralty para a de Tsim Sha Tsui, atravessando o Túnel de Cross Harbour. Mesmo que existissem câmaras na cabine do condutor, como tudo se desencadeou numa questão de segundos, este não teria tido tempo de parar a composição e de pedir ajuda. Depois de tudo isto, a possibilidade do suspeito repetir esta acção é muito reduzida. Para prevenir acontecimentos futuros, é urgente que o Governo da RAEHK prepare um plano de acção para lidar com situações similares. Este artigo vai ser publicado no Dia de São Valentim. Desejo a todos os namorados felicidades e um dia muito agradável. David Chan Professor Associado do Instituto Politécnico de Macau Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau
Hoje Macau VozesCarta aberta para a Secretária para a Administração e Justiça Dra. Sónia Chan [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Lei 15/2009 não cumpriu os princípios de igualdade e de não discriminação para com os aposentados da RAEM que se aposentaram antes do dia 1 de Julho de 2007 , porquanto esta Lei 15/2009 entrou em vigor em dezembro de 2009 e os aumentos dos índices só tiveram retroatividade para os aposentados da RAEM , com categoria de direção e chefia, que se aposentaram depois de 1 de Julho de 2007! Afinal o Governo da RAEM vai ou não rever esta lei 15/2009 este ano dando também retroatividade a todos os aposentados com categoria de direção e chefia que se aposentaram na RAEM antes de 1 de Julho de 2007? Os aposentados da RAEM com categoria de direção e chefia que se aposentaram antes de 1 de Julho de 2007 têm direito também à retroatividade de acordo com os princípios de igualdade e de não discriminação previstos no artigo 25 da Lei Básica! A Sra. Secretária para a Administração e Justiça Dra. Sónia Chan tem o dever de vir dizer ao público se é verdade que os dirigentes da ATFPM apresentaram este assunto para o Sr Chefe de Executivo na reunião de Dezembro de 2016, estando V.Exa presente e tal assunto foi endereçado pelo Sr Chefe do Executivo a V. Exa para analisar? Afinal , V. Exa. como Secretária para a Administração e Justiça concorda ou não que o artigo 25 da Lei Básica da RAEM deve ser cumprido? A Lei Básica é para se cumprir! Para finalizar esclareço, como Advogada do Director dos Serviços de Saúde aposentado com 36 anos de serviço na RAEM e antes de 2007, que este apresentou já uma petição ao Sr. Presidente da Assembleia Legislativa Ho Iat Seng no ano passado, e no prazo legal , o Presidente da Assembleia Legislativa respondeu ao mesmo director de serviços, informando que esta matéria é da competência do Governo, informando igualmente que esta mesma petição foi na mesma data enviada ao Governo. Passado vários meses , o mesmo director dos serviços aposentado não recebeu nenhuma resposta do Gabinete da SAJ , é assim que V. Exa trata os funcionários aposentados que foram os funcionários que mais contribuíram para a Administração, mais do que alguns membros do governo! Aguardo uma resposta da Sra. SAJ sobre este assunto. <h6>Paulina Santos</h6>
Tânia dos Santos Sexanálise VozesPagar por sexo [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] prostituição não é a profissão mais antiga do mundo, como alguns gostariam de acreditar. Parece que foi Rudyard Kipling que popularizou esta ideia depois de a ter escrito num dos seus contos sobre uma prostituta indiana. Não é a profissão mais antiga, mas é uma profissão muito antiga. Ainda assim, ser um profissional do sexo ou um acompanhante de luxo, ganha o prémio da profissão mais polémica do mundo. Parece que há algo de intrinsecamente problemático no facto de se poder pagar por sexo nos dias que correm. Assumem-se, compõem-se, verificam-se problemas de todos os tipos que as mentes mais liberais respondem sendo a favor da legalização da prostituição e as mentes mais conservadoras respondem com apelo à criminalização. Há opiniões para todos os gostos apesar destas não serem capazes de satisfazer a complexidade que a prostituição e as ideias que lhe estão associadas transportam. A temática merece a complexidade que lhe atribuo para que não se caia na tentação de classificar clara e inequivocamente certas ideias em favor de outras. Ora, vamos por partes, será que há algo de errado em pagar por sexo? Eu diria que não – é um serviço prestado, bem haja a quem o presta. Toda a gente, em alguma altura das suas vidas vai ter necessidade de se envolver numa relação sexual, de corpo a corpo, com o género que preferir. E quando digo toda a gente, quero mesmo dizer toda a gente, eu, tu, pessoas cisgénero, pessoas transgénero, pessoas com deficiências físicas ou mentais. Não me choca especialmente a ideia de que podemos contar com pessoas profissionalizadas na arte do sexo para uma noite de prazer, tendo, ou não, a possibilidade de sexo gratuito. Contudo, o sexo pago podia ser um serviço mais simpático e não é. Apesar da prostituição ser legal em muitos países, a organização de uma ‘empresa’ de natureza sexual tem consequências legais. As pessoas no ramo têm que se organizar às escondidas, com o risco de serem apanhadas pela polícia e sofrer as consequências. Olhem a China, por exemplo, com uma indústria sexual a proliferar por todos os lados, mas com consequências graves caso os trabalhadores do sexo forem apanhados. Ao ponto da polícia usar os preservativos que as pessoas levam nas suas carteiras como prova irrefutável de que as pessoas estariam envolvidas na venda de sexo. Resultado: estes trabalhadores não andam com preservativos para evitarem tais situações, o que os faz mais vulneráveis a doenças como o HIV. Percebem esta confusão? Estas são pessoas que estão vulneráveis aos olhares críticos da lei e da sociedade e com pouca capacidade para se defenderem da discriminação, das DST’s ou da violência a que podem ser sujeitas. A ironia das ironias é que é um trabalho que tem muitíssima demanda e muito lucro – e o estado/a sociedade pouco faz para garantir que haja condições para as pessoas envolverem-se no trabalho de forma segura. Li algures que uma prostituta numa esquadra de polícia foi mais criticada por ter sido apanhada a trabalhar, do que uma outra mulher que deixou o seu cão morrer à fome. A solução mais fácil para resolver estas questões é através o reconhecimento desta prática profissional, para haver então a possibilidade de criar melhores condições institucionais às pessoas que decidem envergar por esta área profissional. Até aqui, tudo bem. Mas a prostituição não é um mundo assim tão glamoroso – há questões há volta de tráfico humano, questões à volta da coerção sexual que precisam de ser entendidas. Não podemos pôr a prostituição, e as pessoas que trabalham nela, no mesmo saco. Há sacos diferentes e experiências muito diferentes sobre a forma como (especialmente) as mulheres na prostituição se vêem a elas próprias dentro de sistemas sociais que perpetuam o culto do corpo, da objectificação feminina e da violência. Há pessoas que se sentem vítimas de circunstâncias lixadas, mas há pessoas que se sentem empoderadas – e em controlo das suas vidas e da sua sexualidade. Há vendedoras de sexo que percorreram um caminho complicado para chegar onde chegaram, mas há outras que gostam do que fazem e que têm altos níveis de satisfação laboral. Há quem precise de ser salva e há quem não precise de salvação. Há gente para tudo – e há necessidade em compreender estas múltiplas visões se queremos fazer alguma coisa pela prostituição no mundo.
João Luz Manchete SociedadeAmbiente | Macau em plena época de poluição atmosférica Apesar dos ténues avanços para a melhoria da qualidade do ar em Macau, estes esbarram nos costumes e na falta de sensibilidade ambiental. Assim sendo, há alturas do ano em que o ar que respiramos é perigoso. Algumas zonas da cidade são irrespiráveis o ano inteiro [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]ão há bela sem senão. Transversalmente, quando o Homem migra dos campos para as cidades, e a sociedade se torna mais industrializada, mais próspera, o ambiente e as pessoas sofrem. Há seis décadas, a Europa via-se a braços com gravíssimos problemas de poluição atmosférica. A queima desenfreada de carvão, assim como a emissão de poluentes resultantes do boom industrial originaram chuvas ácidas. O mesmo se passou na América do Norte, na Rússia e, nas últimas décadas, na China. O processo de industrialização chinês provocou um êxodo massivo de pessoas dos campos para as cidades, aumentando a necessidade de urbanização sustentada na indústria do aço e do cimento. Este é o contexto socioeconómico que degrada a qualidade do ar. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), todos os anos morrem três milhões de pessoas como consequência da poluição atmosférica, sendo que cerca de 92 por cento da população mundial respira ar poluído. Apesar das metas ambiciosas de Pequim para reduzir a poluição atmosférica, a produção energética chinesa ainda assenta muito no carvão. Por cá, faz-se um esforço para tirar de circulação os motociclos com motores de dois tempos, responsáveis pela emissão de gases poluentes, com consequências directas para a saúde. Os meses entre Outubro e Março são os mais perigosos. Durante a época seca, os ventos do norte chegam a Macau minados de poluentes, facto que, aliado à poluição gerada internamente, eleva a perigosidade para índices preocupantes. “Localmente devíamos fazer alguma coisa. Apesar de surgirem medidas que proíbem a circulação de determinados tipos de automóveis, ainda assim nota-se o fumo super poluente dos automóveis e camiões, que não têm qualquer tipo de filtragem”, explica Ágata Dias, investigadora do Instituto de Ciências e Ambiente da Universidade de São José. Micro assassinos O diabo está nos detalhes invisíveis, nos gases poluentes emitidos pelos escapes, nas emissões da central eléctrica, da refinadora de combustíveis e dos aterros incineradores. O resultado é a libertação de ozono, dióxido de enxofre, dióxido de azoto, monóxido de carbono mas, principalmente, de micropartículas. Neste caso, as mais prejudiciais são as 2.5 micras, demasiado pequenas para serem filtradas por máscaras comuns. Segundo dados da Direcção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (DSMG), na última sexta-feira a concentração destas partículas foi quatro vezes superior ao limite recomendado pela OMS. Os níveis de ozono mantiveram-se em valores bons. Os índices de partículas de 10 micras atingiram níveis altos em Coloane, provavelmente, devido à actividade da cimenteira. Apesar de serem invisíveis, os efeitos destas partículas são bem reais. “As de 10 micras penetram nos pulmões, mas as piores são as partículas de 2.5 micras que conseguem entrar na circulação sanguínea, alojando-se nos órgãos”, explica o pneumologista Alvis Lo. O médico acrescenta ainda que a exposição, de longo prazo, a estas partículas mais pequenas “provoca doenças crónicas pulmonares e cardiovasculares, assim como cancro do pulmão”. No entanto, Alvis Lo alerta também para o fumo do tabaco como um perigo mais agudo. Na generalidade, os meses de mau ar situam-se entre Outubro e Março. Porém, há zonas da cidade que têm sempre elevados índices de poluição devido ao excesso de tráfego rodoviário. Neste sentido, importa recordar que em Macau, no ano passado, o número de veículos matriculados ultrapassou o quarto de milhão. Para juntar insulto à injúria, existem zonas do território onde o planeamento urbanístico não permite a circulação de ar, mantendo gases e partículas acumuladas. “Por exemplo, o Parque Central da Taipa vai ficar completamente estrangulado do ponto de vista da circulação do ar”, comenta Ágata Dias. A investigadora aponta ainda a Avenida Almeida Ribeiro, “uma artéria onde havia circulação de ar até ao rio mas, com a construção da Ponte 16, o ar fica ali estagnado”, cheio de gases nocivos. Outra zona a evitar é a Rua do Campo, também com pobre arejamento. Nestas áreas, a qualidade do ar é sempre má, independentemente da altura do ano. Pior a emenda O problema dos escapes dos veículos parece ser incontornável. No entanto, a juntar aos veículos antigos, muito menos eficientes em termos energéticos, existe um problema cultural, na óptica de Ágata Dias. A própria população parece preferir automóveis de grande cilindrada, revelando não estar “sensibilizada para estes problemas ambientais”. A investigadora acrescenta ainda que devem existir “lobbies bem instalados em Macau que não querem que as coisas andem para a frente”. A solução parece apontar na direcção dos veículos eléctricos, o que levanta outra questão preocupante. Onde se vai buscar essa energia? A resposta parece matar a pergunta à nascença, uma vez que Macau produz pouca energia, tendo de a importar do Interior da China. Ou seja, voltaríamos a ter o problema da necessidade de queimar carvão para alimentar os veículos eléctricos, e essa poluição regressaria ao território com os ventos que chegam do norte. Uma espécie de karma atmosférico. A solução parece estar numa acção conjunta com a China Continental na implementação de centrais de produção energética com fontes limpas, como a energia solar, ou eólica. Esta é a única forma de atingir sustentabilidade ecologicamente responsável. Outro problema é a quantidade de energia que se desperdiça em Macau. A falta de sensibilidade ambiental vê-se nos edifícios que mantém as luzes acesas ligadas a noite inteira, sem um sistema racional de poupança. Os ares condicionados também são outro grande foco de consumo de electricidade, sendo normal permanecerem ligados independentemente da altura do ano. Mais electricidade gasta, mais combustíveis fósseis queimados para alimentar a profusão de luzes que iluminam Macau. O reflexo na saúde Quem chega a Macau, em especial durante o Inverno, pode experimentar uma sensação de ardor nos olhos e na garganta. A explicação para tal fenómeno é assustadora. Um turista que atravesse San Ma Lo e depois suba a Rua do Campo pode sentir esta irritação. Ora, isso resulta da presença de elevadas concentrações de dióxido de azoto e enxofre que, em conjugação com o ambiente húmido dos olhos e garganta produz… ácido nítrico e ácido sulfúrico. O mesmo acontece com as primeiras chuvas. “Em contacto com estes óxidos produzem-se chuvas, que normalmente, são bastantes ácidas”, explica Ágata Dias. Os efeitos da chuva ácida também se fazem sentir no património, nomeadamente nas rochas carbonatadas, que reagem directamente a estes ácidos. Mas o cenário de Macau, tirando os pontos críticos, não é assim tão mau entre Março e Outubro, com valores de concentração de poluentes, normalmente, bons. “As pessoas têm a ideia de que o ar está sempre mau porque há alturas húmidas e está um constante nevoeiro que, neste caso, não é smog”, relativiza Ágata Dias. Esta é uma sensação relativamente comum entre a comunidade portuguesa, que acha que em Portugal tudo é um mar de rosas em termos atmosféricos, e que o ar é puro em todo o lado. Lisboa, por exemplo, tem valores de poluição semelhantes a Macau em alguns bairros. Quem viva na Avenida da Liberdade, na Avenida 5 de Outubro e na zona de Entre Campos também convive com uma elevada concentração de gases perigosos. Outra parte de Lisboa preocupante são os bairros nas imediações do aeroporto, uma vez que “os aviões são responsáveis por uma produção enormíssima de poluentes”, alerta a investigadora. O cenário não é, contudo, catastrófico. Mas as soluções são complexas, difíceis de serem colocadas em prática, uma vez que requerem uma alteração de mentalidades, tanto por parte dos cidadãos, como dos governantes. Além disso, decisões isoladas estão votadas ao fracasso, é necessário compromisso regional e global, se queremos entregar um planeta respirável às próximas gerações.
Andreia Sofia Silva PolíticaLicenças especiais | Ng Kuok Cheong quer revisão da lei este semestre O deputado Ng Kuok Cheong exige que o Governo avance para a revisão do diploma que regula a emissão de licenças especiais de condução já este semestre, referindo que houve um desperdício de recursos em fiscalizações infrutíferas [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] atribuição de licenças especiais e os alegados abusos cometidos por condutores oriundos do continente continua a gerar controvérsia junto do poder político. O deputado Ng Kuok Cheong não ficou satisfeito com as respostas dadas pelo Governo na última sessão plenária e entregou mais uma interpelação oral ao Governo, onde pede que a lei de atribuição de licenças especiais para condutores seja revista já no primeiro semestre deste ano. “O Governo deve concretizar a revisão da lei, que está em estudo há vários anos, e tentar que a alteração do regime de licença especial esteja concluída no primeiro semestre deste ano. Vai fazê-lo?”, questiona. Ng Kuok Cheong fala ainda de gastos supérfluos efectuados por parte das autoridades policiais em fiscalizações que não tiveram quaisquer resultados. “As referidas mais de 40 mil acções de fiscalização [número apresentado pelo Executivo na última sessão plenária, relativo às acções realizadas desde 2009] não passam de um mero desperdício de recursos policiais. Os governantes também confessaram que existem lacunas na lei, mas não se comprometeram a melhorar os métodos de fiscalização, e nem sequer existe uma calendarização para a revisão do diploma.” O deputado apontou ainda que “os dirigentes do Governo destacaram agentes policiais para a realização de mais de dez mil acções de fiscalização simples e ineficazes aos veículos com licença especial, com vista a demonstrar a não existência de ilegalidades. Não será isto um desperdício excessivo de recursos policiais?”. Mudanças na inspecção Para o membro da Assembleia Legislativa (AL), eleito pela via directa, há que mudar também a forma como este tipo de fiscalizações são realizadas por parte das autoridades. “O Governo deve divulgar, a breve prazo, o processo de aperfeiçoamento da inspecção dos veículos com licença especial. E durante a inspecção, para além da verificação dos registos de entrada e saída dos veículos, devem também ser registados os dados pessoais básicos dos passageiros e as informações constantes dos documentos de viagem com os quais entraram em Macau, com vista a verificar se os veículos cumprem o princípio da ligação ponto a ponto com a China e a facilitar o respectivo acompanhamento e tratamento”, sugeriu. Para Ng Kuok Cheong, há falhas que devem ser corrigidas. “Durante a fiscalização não se registam ilegalidades porque a polícia limita-se a verificar o registo de entrada e saída dos veículos, sem verificar se os passageiros atravessaram a fronteira.” “Algumas operadoras de Jogo passaram a recorrer às empresas que contratam motoristas da China continental com licença especial destinada à condução dos autocarros de turismo para assegurarem os serviços de shuttle bus, o que não passa, de forma evidente, de um meio para os motoristas da China poderem desempenhar essas funções em Macau sem precisar de requerer o estatuto de trabalhadores não residentes (TNR)”, rematou. Ainda não foi marcada uma data para que esta interpelação obtenha resposta do Governo na Assembleia Legislativa.
Hoje Macau PolíticaEconomia | Lionel Leong aponta para crescimento ligeiro [dropcap style≠’circle’]L[/dropcap]ionel Leong acredita que a economia de Macau deverá manter-se estável este ano, com a possibilidade de registar um ligeiro crescimento. A convicção do governante baseia-se no facto de, em 2016, a redução da taxa de crescimento ter sido menor do que diziam as previsões. Para que 2017 corra bem, basta que “não haja mudanças drásticas no ambiente económico”. As declarações do secretário para a Economia e Finanças foram feitas à margem da recepção de Primavera da Associação de Bancos de Macau. Lionel Leong fez um balanço da situação económica do ano passado, recordando que, durante o primeiro semestre, a taxa de crescimento registou uma redução. No entanto, na segunda metade de 2017, entrou-se num período de estabilidade. Por isso, o secretário entende que a economia local poderá crescer, ainda que ligeiramente. Ainda assim, ressalvou que a economia de Macau “continua a ser influenciada por vários factores complexos e pela instabilidade económica externa, nomeadamente a pressão cambial nas exportações”. Questionado sobre a diminuição do número de trabalhadores no sector do jogo, Lionel Leong lembrou que, na primeira metade do ano passado, a indústria principal do território apresentou uma diminuição das receitas. No entanto, garantiu, o Governo está empenhado em manter a taxa de desemprego num nível baixo, incentivando, através de formação, os funcionários dos casinos “à mobilidade horizontal e ao emprego em áreas diferentes, factores que justificam a diferença no número de trabalhadores do jogo”. Além disso, referiu, “com o surgimento de muitos projectos de turismo integrado e de entretenimento com elementos além jogo é normal uma mudança na estrutura de recursos humanos”, tendo em consideração as características do mercado de trabalho. O secretário rematou dizendo que o Governo vai continuar em comunicação com o sector.
Hoje Macau SociedadeProibição de entrada | FAOM alerta para receios dos trabalhadores dos casinos [dropcap style≠’circle’]L[/dropcap]eong Sun Iok, subdirector da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), voltou a alertar para a existência de dúvidas no seio dos trabalhadores do Jogo quanto à possível proibição de entrada destes funcionários nos casinos, numa altura em que o Executivo continua a analisar o assunto. Segundo o Jornal do Cidadão, Leong Sun Iok disse concordar com a proibição de entrada, por considerar que os funcionários dos casinos têm uma maior pobabilidade de ficar viciados no jogo ao invés dos restantes jogadores. Para o responsável, há trabalhadores que estão preocupados com a nova proposta de lei, por considerarem que a futura política irá limitar a sua liberdade e limitar os locais aos quais se podem dirigir nas horas em que não trabalham como croupiers. O subdirector da FAOM disse ainda que existem diferentes opiniões na sociedade sobre esta matéria, sendo que alguns concordam com a proibição por terem visto colegas a ficar facilmente viciados. Por esta razão, Leong Sun Iok espera que o Governo possa comunicar bem com os trabalhadores do Jogo, por forma a eliminar as suas preocupações. Leong Sun Iok sublinhou que, para melhorar a problemática do jogo patológico, é importante apostar na educação, para que os residentes conheçam os malefícios dos casinos. Outros alertas A administradora da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), Angela Leong, disse na mesma ocasião pública que há cada vez mais jovens a tornarem-se jogadores patológicos. A também deputada defende que o Governo, para além de consultar as opiniões dos profissionais, deve ouvir aquilo que os trabalhadores pensam sobre o assunto, considerando que se está perante um universo de 60 mil pessoas. Song Wai Kit, presidente da Associação dos Jogos com Responsabilidade de Macau, disse que a proposta de proibição parece, à partida, injusta para os trabalhadores, mas é de facto uma protecção necessária para os croupiers.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaProtesto | Motoristas acampam no Leal Senado A Associação de Motoristas Locais iniciou no sábado um protesto no Leal Senado contra o aumento das taxas de veículos e os alegados abusos cometidos pelos portadores de licenças especiais. Alguns manifestantes estão em greve de fome Com Vítor Ng [dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]uando o HM falou ontem com Wong Tim Iao, este não comia há mais de 24 horas. A opção deste membro da Associação dos Motoristas Locais foi de iniciar uma greve de fome num protesto que se tem feito notar no Largo do Senado. Nem todos os seus companheiros optaram por esta via, mas manifestam-se pelos mesmos motivos: o aumento súbito das taxas de veículos e o facto de muitos portadores de licenças especiais conduzirem em Macau, sem serem portadores do blue card. Na sua óptica, roubam-lhes os empregos. O protesto deverá acabar hoje. Wong Tim Iao referiu ao HM que o Governo decidiu aumentar as taxas dos veículos sem ter, sequer, apresentado uma proposta na Assembleia Legislativa para discussão. No caso dos veículos pesados, as taxas para a remoção chegam às seis mil patacas, mas este condutor diz que nunca há lugares de estacionamento suficientes. “Se recebermos uma multa todos os dias, o valor vai ser igual ao nosso salário”, disse. Thomas Chen, outro condutor presente, também referiu que bastam duas multas num mês para que se atinja um ordenado mensal, algo que não compensa pegar no volante. Wong Tim Iao queixa-se ainda de que o Governo não aborda da forma correcta a questão dos veículos com duas matrículas, vindos do lado de lá das Portas do Cerco. “Esses veículos com duas matrículas passam a fronteira e circulam pelos hotéis. Estão a ameaçar a nossa sobrevivência”, apontou. “Tentamos manifestar-nos antes mas não encontrámos outra maneira para expressarmos as nossas queixas. Agora só podemos mesmo fazer greve de fome”, disse. Parcas respostas A Associação dos Motoristas Locais já se havia manifestado pelos mesmos motivos no passado dia 22 de Janeiro. Mas Wong Tim Iao revelou que a resposta apresentada pelo Governo não os convenceu. “O Governo não reagiu de forma nenhuma, pelo contrário, ainda disse que iria aumentar mais as taxas. Acho que este Governo não ouve as vozes dos cidadãos”, frisou. Os protestos prometem, assim, continuar. “Para que o Governo nos possa dar mais atenção, já estamos a planear a próxima etapa, e talvez façamos uma actividade mais radical. Mas teremos que discutir primeiro com os nossos colegas”, afirmou. O grupo está ligado à Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), do deputado José Pereira Coutinho, que até ao fecho desta edição não esteve contactável. Ontem à tarde o deputado Au Kam San, da Associação Iniciativa para o Desenvolvimento Comunitário, explicou os incidentes ocorridos com a polícia na noite de sábado, que quis dispersar os manifestantes. Mas não prestou mais declarações aos jornalistas. Segundo o comunicado divulgado pela associação de motoristas, as autoridades interromperam o protesto por volta da meia-noite, numa altura em que todos os manifestantes estavam em silêncio. “Nessa altura havia alguns estrangeiros a beber connosco mas a polícia mandou-nos sair. O comportamento da polícia constitui uma violação aos direitos dos cidadãos. Estávamos a comportar-nos normalmente e já não a agir como manifestantes”, lê-se. Graças à ajuda de Au Kam San, o problema acabaria por ficar resolvido e todos puderam continuar no Leal Senado.
Hoje Macau SociedadeDeitadas fora 672 toneladas de mobílias antes do novo ano [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma média diária de 48 toneladas de mobílias e equipamentos domésticos foi recolhida em Macau nas duas semanas que antecederam o Ano Novo Chinês, num total de 672 toneladas, que entretanto foram incineradas, disseram as autoridades locais à agência Lusa. Os dados fornecidos pelo Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) reportam-se ao período entre 14 e 27 de Janeiro, e comparam com as duas semanas imediatamente antes do início do Ano do Macaco, assinalado em Fevereiro de 2016. Dias antes do começo do Ano Novo Chinês, as famílias fazem limpezas profundas à casa e desfazem-se de objectos de que já não precisam ou que consideram velhos. Este ano a Companhia de Sistemas de Resíduos de Macau (CSRM) recolheu mais uma tonelada diária do chamado lixo de grande dimensão – em comparação com as 47 toneladas registadas em 2016 –, nos postos de recolha espalhados pela cidade, que por sua vez aumentaram de 118 para 125. Os equipamentos domésticos recolhidos – mobílias, utensílios e artigos para o lar – são normalmente incinerados, uma opção que o IACM justifica com a falta de interessados. “Todo o lixo de grande dimensão foi incinerado porque não houve nenhuma organização a pedir a cedência do material recolhido, e alguma mobília, como colchões, não podia ser reutilizada”, disse fonte do IACM. Para quem precisa A incineração dos equipamentos e mobílias recolhidos tem sido, nos últimos anos, criticada pelo responsável da Cáritas, Paul Pun, que disse já ter proposto ao Governo que fosse instituído um armazém para as entregas e a partir daí preparar a distribuição às famílias desfavorecidas, com o apoio de associações locais. “Este ano fizemos diferente. Não pedimos directamente ao Governo. Apelámos à população para nos entregar objectos em segunda mão que já não precisavam e devemos ter recebido pelo menos umas duas toneladas. Mas apenas 20% do que nos entregaram pode ser reutilizado”, lamentou Paul Pun. “Aprendemos a lição e no próximo ano vamos pedir às pessoas que nos dêem só o que ainda está em bom estado”, disse. Pela positiva, Paul Pun destacou o diálogo recente entre a Cáritas e a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), que permitiu a colaboração daquela instituição, entre outras associações e serviços públicos, no programa que decorre até Março de recolha de ‘lai si’ – envelopes vermelhos em que se colocam quantias de dinheiro simbólicas e que os chineses distribuem entre si como forma de partilhar a prosperidade. “O resultado da reunião foi muito bom. Tivemos a oportunidade de abordar a cooperação com a DSPA no futuro, incluindo em assuntos como a gestão do desperdício alimentar”, disse Paul Pun. Entretanto o IACM tem a decorrer até terça-feira um programa de recolha das flores, plantas e tangerineiras tradicionalmente usadas para decorar as casas no período do Ano Novo Chinês, as quais “vão ser trituradas e transformadas em fertilizantes”, disse fonte daquele instituto.
Isabel Castro SociedadeLai Chi Vun | Zona dos estaleiros não vai ser comercial, garante IC O Instituto Cultural ainda não tem um plano definitivo para as estruturas de Lai Chi Vun que vai recuperar, mas promete, desde já, que a zona não vai ser transformada numa “rua de lembranças”. Ung Vai Meng garante que os sectores interessados vão ser ouvidos [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] último parecer pedido pelas Obras Públicas ao Instituto Cultural (IC) acerca dos estaleiros de Lai Chi Vun já tem quatro anos. Mas, se for necessário mais conselhos e apoio técnico sobre o local, a entidade ainda presidida por Guilherme Ung Vai está disponível para dar a ajuda necessária. A ideia foi deixada pelo presidente do IC num encontro com a imprensa, em que a área de estaleiros em Coloane foi o assunto principal. Há alguns dias, o HM deu conta do descontentamento da população do local em relação à demolição projectada de 11 estaleiros, num total de 18 estruturas. Os moradores não se opõem à destruição dos dois imóveis em piores condições, mas gostariam de ver os restantes edifícios preservados. Alguns deputados subscrevem esta posição. A Administração já reiterou, entretanto, a ideia de que os estaleiros são mesmo para ir abaixo. Guilherme Ung Vai Meng não se pronunciou directamente sobre os edifícios que deverão desaparecer em breve, tendo apenas garantido que, nos últimos tempos, o IC não foi chamado a pronunciar-se sobre a matéria. O presidente do Instituto Cultural – que deixa o cargo na próxima sexta-feira – fez, no entanto, um ponto da situação em relação aos imóveis que vão ser preservados pelo Governo. “Têm um certo valor histórico e patrimonial. Estamos basicamente de acordo com as Obras Públicas, não queremos transformar aquela zona numa rua de lembranças”, sublinhou. Neste momento, o IC está “à espera de mais perguntas das Obras Públicas”. “Vamos fazer o nosso trabalho muito bem”, prometeu, adiantando que, por enquanto, ainda não foi possível visitar os estaleiros porque as chaves ainda não foram entregues. A Administração vai recuperar um estaleiro e duas casas da povoação de Lai Chi Vun. Já existe um plano geral para os trabalhos, que começa com o reforço das estruturas, em estado de degradação. Quando os edifícios reunirem condições de segurança, o IC pretende chamar ao local os sectores envolvidos no assunto, para ouvir opiniões sobre o aproveitamento futuro dos espaços. Mas Guilherme Ung Vai Meng adianta que o objectivo é fazer uma reconstrução que aproxime os estaleiros do seu aspecto original. Biblioteca quanto antes No último encontro com os jornalistas antes de deixar o cargo, o presidente do IC deixou ainda uma mensagem: a equipa do instituto “está pronta” para avançar com a nova biblioteca central. Quando Guilherme Ung Vai Meng assumiu a liderança da entidade, em 2010, o projecto da biblioteca estava em águas de bacalhau, depois de terem sido anulados os resultados de um atribulado concurso de ideias para a reconversão do edifício do antigo Tribunal Judicial de Base. Com a chegada de Ung Vai Meng ao IC, abriram-se as portas do tribunal a exposições de arte e outros eventos de índole cultural, tendo o actual secretário para os Assuntos Sociais e Cultura recuperado a intenção da criação de uma nova biblioteca. A localização tem sido, no entanto, contestada. Na próxima quarta-feira há um debate na Assembleia Legislativa sobre a matéria, impulsionado pela deputada Song Pek Kei. O presidente do IC explicou que, no ano passado, foram recebidas muitas sugestões sobre a biblioteca central. “São opiniões basicamente positivas. Esperamos que as obras sejam iniciadas o mais brevemente possível”, concluiu.
Hoje Macau Manchete SociedadeHo Chio Meng | Dispensa de concursos continua a ser prática do MP Uma assessora do Gabinete do Procurador foi ao tribunal onde está a ser julgado Ho Chio Meng explicar que o actual líder do Ministério Público não alterou as práticas em relação às obras e aquisições de serviços. Na era Ip Song Sang houve apenas um concurso público [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Ministério Público (MP) manteve a prática de Ho Chio Meng de atribuir contratos sem concurso público para gastos correntes do serviço. De acordo com o relato da Rádio Macau, que tem estado a acompanhar o julgamento de Ho Chio Meng, a afirmação foi feita no Tribunal de Última Instância por uma assessora do Gabinete do Procurador, que confirmou a tese da defesa sobre a legalidade de algumas adjudicações. Desde 20 de Dezembro de 2014, altura em que Ip Son Sang substituiu no cargo Ho Chio Meng, o MP realizou apenas um concurso público. À excepção da empreitada para as futuras instalações do MP, todas as obras e aquisições de bens e serviços têm sido atribuídas por ajuste directo ou concurso por convite, de acordo com Man Hio U. A emissora destaca que o sistema de contratação do MP é um ponto importante no processo contra Ho Chio Meng. O ex-procurador é acusado de ter manipulado milhares de contratos para desviar dinheiro e beneficiar um grupo de dez empresas, controladas por familiares e pessoas próximas. Ouvida pela defesa, Man Hio U, que também assina como Pancho, confirmou que o MP continua a optar pela contratação com dispensa de concurso público, até mesmo quando os valores envolvidos ultrapassam os limites previstos por lei. A testemunha defendeu-se com o regime de excepção e apresentou a mesma argumentação que Ho Chio Meng. Pancho deu um exemplo: os serviços de segurança e limpeza, que implicam gastos superiores a um milhão de patacas, continuam a ser atribuídos sem haver concurso público. Neste caso, Man Hio U alegou motivos de segurança para o não cumprimento da regra geral que prevê que, acima de 750 mil patacas, as adjudicações de bens e serviços sejam feitas através de concurso. A defesa tem apresentado a mesma teoria. A acusação usa como argumento o facto de, durante o consulado de Ho Chio Meng, algumas contratações serem feitas de forma parcelar para contornar a obrigatoriedade de concurso público. A assessora de Ip Song San afirmou que, dentro do MP, é aceite que um recibo seja dividido por dois contratos. Ainda assim, a testemunha detectou e alertou para várias irregularidades nos contratos atribuídos durante o mandato de Ho Chio Meng: diz que fez contrapropostas, que nunca foram acolhidas, e testemunhou “discussões” entre António Lai, chefe de Gabinete de Ho Chio Meng, e a adjunta, Elsa Cheang, que chegou a pedir escusa deste tipo de trabalho por discordar da forma de actuação do MP. Uma das alegadas irregularidades tem que ver com a omissão de nomes e locais de destino nas facturas dadas para liquidação de gastos com viagens que, de acordo com a acusação, foram feitas em benefício próprio de Ho Chio Meng, de funcionários próximos e de familiares do ex-procurador. Irmãos, trabalhos à parte Também na última sessão, o TUI ouviu Lam I Na, ex-funcionária do Ministério Público e irmã de um dos co-arguidos no processo. A testemunha prescindiu do direito ao silêncio, facto que foi destacado pela acusação que, de resto, sugeriu várias vezes que o depoimento vinha preparado. O testemunho de Lam I Na, entretanto despedida do MP, foi mais favorável à defesa: deu conta de reuniões de trabalho na chamada “sala de descanso para docentes”, onde foi encontrada uma cama de casal e uma sauna, e confirmou a existência de convidados na vivenda de hospedagem do MP em Coloane. O irmão de Lam I Na consta do processo por ser funcionário das empresas que ficaram com os contratos atribuídos durante o mandato de Ho Chio Meng e funcionariam num piso arrendado pelo MP. Lam I Na disse que só teve conhecimento do trabalho do irmão quando o encontrou no escritório. Afirmou também que foi também só nesse momento que o irmão soube que era funcionária do MP. De acordo com a acusação, Ho Chio Meng contratou pessoas próximas das empresas para facilitar a entrega de contratos.
Hoje Macau EventosHong Kong recebe em Março festival para jovens leitores [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]esde 2012 que a região vizinha tem um Festival Internacional de Jovens Leitores (HKIYRF, na sigla inglesa). O cartaz de 2017 já foi tornado público e os bilhetes também já estão à venda. Durante dez dias, a partir de 6 de Março, escritores de renome e autores em princípio de carreira juntam-se no evento da antiga colónia britânica. Em comum têm o facto de escreverem para leitores que vão dos quatro aos 17 anos. O festival tem como grande objectivo “encorajar as crianças e os adolescentes a descobrirem o prazer da leitura e a diversidade de livros, ao facilitar a interacção entre autores e jovens leitores, através de workshops e de sessões com os escritores”, explica a organização. O cartaz é vasto e são muitos os convidados. Os promotores do HKIYRF destacam Sarah Brennan, de Hong Kong, autora das colecções best-seller “Chinese Calendar Tales” e “Dirty Story”. Também a norte-americana Roshani Chokshi merece uma referência especial: “The Star Maiden”, uma das suas obras, ganhou o British Fantasy Science Award. Matthew Cooper, de Hong Kong, escreveu três livros para crianças que têm a região como espaço de acção. Sarah Davis, da Nova Zelândia, ilustrou mais de 37 livros. A sua primeira obra (também) enquanto escritora foi publicada este ano. Além de vários autores de Hong Kong, Nova Zelândia e Estados Unidos, vão estar presentes escritores e ilustradores de Singapura, Austrália, Reino Unido e Coreia do Sul. Acções motivadoras O festival tem um programa especial para as escolas. “Todos os anos, levamos autores aos estabelecimentos de ensino para ajudarmos a promover os níveis de literacia em Hong Kong. Acreditamos que a literatura é – e deveria ser – uma componente essencial no ensino de línguas. Queremos contribuir para motivar os alunos dos mais diversos contextos e de diferentes níveis de leitura a desenvolverem o interesse pelos livros e pelas artes que lhes estão associadas”, nota a organização. Do cartaz fazem também parte eventos abertos ao público em geral: estão agendados vários workshops e palestras para os dias 11 e 12 de Março. Vão decorrer na Comix Home Base, em Wanchai. O HKIYRF é organizado pela organização sem fins lucrativos responsável pela organização anual do Festival Literário Internacional de Hong Kong.
Hoje Macau EventosArte | Vhils inaugura primeira exposição individual em Macau Depois do mural no Consulado Geral de Portugal, Alexandre Farto regressa a Macau para uma exposição individual no território. O convite foi feito pelo Instituto Cultural [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] artista português Alexandre Farto, conhecido como Vhils, vai inaugurar a sua primeira exposição individual em Macau no final de Maio, revelou à Agência Lusa fonte do Instituto Cultural (IC), responsável pela organização da mostra. “Destroços” vai ser inaugurada a 31 de Maio nas Oficinas Navais N.º1, ficando patente ao público de 1 de Junho a 5 de Novembro. “A ideia é fazer uma reflexão sobre o meio urbano de Macau e as suas particularidades”, explicou Vhils à Lusa, em Banguecoque, indicando que, “de alguma maneira”, a ideia passa por “confrontá-la com a realidade de outras cidades”. “Vai haver varias técnicas, não só paredes como os ‘posters’ de rua, as madeiras, o metal, ou seja, vai haver os vários ‘media’ com que trabalho e especialmente paredes no espaço público”, disse o artista. Esta será a primeira exposição individual de Vhils na RAEM, mas a sua marca pode ser encontrada no território desde 9 de Dezembro, dia em que inaugurou um mural com uma imagem de Camilo Pessanha nos jardins do Consulado de Portugal em Macau, cidade onde o poeta viveu e morreu. Além de ser a primeira obra do artista em Macau, esse mural constituiu também a primeira numa representação diplomática portuguesa, mas deixou de ser a única. Desde sexta-feira passada os rostos de Banguecoque, em especial os olhos, passaram a estar gravados na embaixada de Portugal na Tailândia, através de um mural de Vhils em homenagem à relação de longa data entre os dois países, uma obra que marcou também a estreia do artista urbano no ‘país dos sorrisos’. Pequim depois O nome da primeira mostra individual de Vhils em Macau é idêntico ao da sua primeira na vizinha Hong Kong, inaugurada em Março do ano passado. “Debris”, exposta no topo do Pier 4 (Cais 4), reuniu aproximadamente 50 peças, em diferentes materiais, fruto de um trabalho de quase dois anos de preparação no âmbito de uma residência artística que Vhils realizou na antiga colónia britânica. Terá “várias intervenções” à semelhança e na continuidade da que foi feita em Hong Kong, confirmou Vhils, adiantando que, este ano, tem prevista também uma exposição em Pequim. A mostra em Macau vai ter lugar nas Oficinas Navais N.º1, mas a ideia é que depois também haja obras espalhadas pelo espaço público. As Oficinas Navais N.º 1 foram antigamente um estaleiro, onde se produziam e se fazia a manutenção dos barcos, revestindo-se, portanto, de um significado especial na história de Macau, com um passado muito ligado ao mar. Localizado na zona da Barra, o espaço foi recentemente revitalizado e convertido num local dedicado à cultura e às artes. A primeira exposição a ter as Oficinas Navais N.º 1 como palco foi inaugurada em Dezembro último.
Hoje Macau China / ÁsiaMar do Sul | Aviões da China e dos EUA em aproximação “perigosa” [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]ois aviões de vigilância da China e dos Estados Unidos protagonizaram, esta semana, uma rara e “perigosa”, mas “inadvertida” aproximação em pleno voo, perto de uma zona disputada no Mar do Sul da China, informou o Pentágono. As duas aeronaves ficaram a 300 metros de distância uma da outra na sequência do incidente de quarta-feira ocorrido perto do atol de Scarborough, cuja soberania é disputada pela China e pelas Filipinas, explicou Jeff Davis, porta-voz do Pentágono, na sexta-feira. O mesmo responsável afirmou que o incidente ocorreu “uma única vez” e que não existe qualquer sinal que aponte que a manobra foi intencional. “Evidentemente, temos os nossos desencontros com a China sobre a militarização do Mar do Sul da China, relativamente às suas reivindicações de soberania das ilhas e a alguns dos seus objectivos estratégicos mais amplos, mas quando se trata de interacções estas devem ser profissionais e seguras”, acrescentou. Pequim reduziu, esta semana, as perspectivas de um conflito com os Estados Unidos por causa do Mar do Sul da China, no seguimento de uma retórica agressiva da Administração norte-americano, dizendo que ambos os lados sairiam perdedores. O ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, disse, durante uma visita à Austrália, que a guerra não iria aproveitar a ninguém. “Qualquer político em seu juízo perfeito reconhece que não pode haver um conflito entre a China e os EUA”, disse em Camberra, citado pela emissora ABC. Foco de embate Pequim reivindica a soberania sobre quase todo o Mar do Sul da China, com base numa linha que surge nos mapas chineses desde 1940 e tem investido em grandes operações nesta zona, transformando recifes de corais em portos, pistas de aterragem e em outras infra-estruturas. Vietname, Filipinas, Malásia e Taiwan também reivindicam uma parte desta zona, rica em recursos e hidrocarbonetos, o que tem alimentado intensos diferendos territoriais com a China. As ilhas artificiais são consideradas um potencial foco de conflito e comentários recentes do porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, e do secretário de Estado, Rex Tillerson, elevaram a temperatura. Em Janeiro, Spicer afirmou que os Estados Unidos “iriam certificar-se de que os seus interesses eram protegidos” no Mar do Sul da China, enquanto Tillerson afirmou que o acesso da China às ilhas poderia ser bloqueado, elevando as possibilidades de um confronto militar. O chefe da diplomacia chinesa destacou, por seu lado, as declarações recentes do secretário da Defesa, James Mattis, que salientou a importância de dar prioridade aos esforços diplomáticos.
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesA agonia da Europa “Europe’s Economic and Monetary Union (EMU) today is like a house that was built over decades but only partially finished. When the storm hit, its walls and roof had to be stabilised quickly. It is now high time to reinforce its foundations and turn it into what EMU was meant to be: a place of prosperity based on balanced economic growth and price stability, a competitive social market economy, aiming at full employment and social progress. To achieve this, we will need to take further steps to complete EMU.” “Why Europe Will Run the 21st Century” – Mark Leonard [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] actual crise da União Europeia (UE) torna dolorosamente evidente que a sua história deve ser repensada, reformulada e reescrita. Está em jogo mais do que simplesmente fixar o registo do que foi realizado. Ao mesmo tempo, vasta e paroquialmente, a pesquisa existente sobre a UE não apenas define os parâmetros intelectuais actuais do seu objecto, mas fornece também a linguagem que dá forma à discussão, estabelecendo os contextos de formulação de políticas, orientação da acção política e abertura de novas fontes de legitimidade. Trata-se de um acontecimento que envolve duas causas especiais. A maior parte da literatura académica escrita sobre o assunto foi directa ou indirectamente financiada pela UE, pois durante a maior parte da sua vida, e mesmo até ao presente, foi também beneficiária da ideologia do europeísmo, ou seja, uma fé secular que é um agente ordenado do progresso humano. Os muitos estudiosos, comentaristas, variados especialistas, jornalistas e afins que passaram a maior parte das suas carreiras a fazer pesquisas na UE, são quase todos devotos do culto da Europa unida e para terem a certeza, podem muitas vezes ser críticos, e à luz dos acontecimentos actuais são mais do que anteriormente, mas apenas para melhor servir a causa. Os que ainda duvidam são indesejáveis. Tais hereges ainda têm de fazer sérias incursões no legado da erudição da UE. Os fabricantes e agitadores em Bruxelas têm estado, e ainda estão, por detrás da empreitada maciça do estabelecimento intelectual e de forma simbiótica a tirar proveito. O mesmo não pode ser dito para os restantes dos cidadãos europeus. O laço entre os pensadores e os praticantes deve ser quebrado se quiserem fazer um progresso real na reforma da UE e no tratamento do seu legado. É de recordar as três teorias influentes que têm sustentado a crença na UE como algo historicamente transcendental. Enquanto todas diferem fundamentalmente na interpretação do processo de integração, cada uma delas coloca um resultado teleológico semelhante, que é uma Europa Federal. Nenhuma delas tem muita aceitação. No entanto, um paradigma alternativo ainda não as substituiu. A mais antiga e proeminente entre tais abordagens conceptuais, é o funcionalismo, que sustenta que a integração europeia, uma vez posta em marcha, teria “efeitos secundários” que transportam de um sector económico ou político para outro, eventualmente permeando o corpo político. Poder-se-ia esperar que esse processo se movimentasse previsivelmente ao longo do tempo, mas nunca foi o caso. O progresso foi, na melhor das hipóteses, esporádico e, na pior ausente por prolongados períodos. O autor da teoria funcionalista, elaborada na década de 1950, é o cientista político Ernst Haas, que mais tarde a repudiou. As recentes tentativas de reavivamento, apesar de desesperadas não tiveram praticamente qualquer resultado positivo. A segunda teoria, o intergovernamentalismo liberal, foi desenvolvida por outro cientista político, Andrew Moravcsik, no final da década de 1990, explicando o processo de integração como o resultado de acordos ideais entre actores estatais, e pouco tem a dizer sobre como as instituições operam, e nada menciona sobre os seus possíveis fracassos. É contada uma história de sucesso, sendo difícil, à luz da actual situação da UE, levar a ideia a sério. A terceira abordagem reinante é um pouco diferente nas suas características. Tendo sido formulada no início da década de 1990 pelo historiador Alan Milward, sustenta que o processo de integração é entendido como um fortalecimento necessário e benéfico do Estado de bem-estar e tendo sido posteriormente elaborada, postula ainda, como as outras teorias que a UE não se vai transformar de uma ideia elitista em um projecto de massa. A ligação entre as duas teses de Milward e os contornos da história real da UE e as suas predecessoras é apenas incidental. A fé profunda, permanente, difundida e ferozmente defendida de que o processo de integração se concretizará numa Europa social-democrática unida é o que sustenta tais ideias. As convicções são difíceis de morrer. As três desgastadas teorias, em percepções erradas, que imploram correcção e qualquer inquisição sobre a história da UE não farão nenhuma presunção triunfalista. Ao invés, reavaliará o passado da UE num esforço para descobrir o que houve de errado, como poderá ser corrigido e o que poderá vir a seguir. É preciso, desde o início, ver o sujeito de fora para dentro, em vez de, como antes, de dentro para fora. O epifenómeno de forças históricas mais fortes, o crescimento e desenvolvimento da EU, ocorreu de forma exógena, por meio de motores internacionais de mudança, e intermitentemente por alterações nas relações de superpotência, e continuamente pela expansão aparentemente inexorável do comércio mundial, mediado por novos contextos económicos, políticos e organizacionais. Tal força, e não a UE, é a principal impulsionadora do processo de integração. A erosão gradual do poder inerente às instituições políticas nacionais e regionais, bem como a sua superação por mercados cada vez maiores e mais profundos, está intimamente relacionada com o fluxo crescente de importações e exportações. O crescimento do comércio internacional reflecte o desenvolvimento de uma interdependência cada vez mais densa e complicada entre os Estados e as instituições corporativas, dentro delas e entre os mercados e as instituições. A tendência constituiu e continua a representar uma ameaça crescente para os construtores burocráticos do sistema da UE que, colocados à defensiva, levantaram interesses políticos num esforço inútil para impedir a torrente. A Europa sofre com o resultado. Quanto aos argumentos, o original foi o cenário da Europa do pós-guerra, cujas características mais significativas foram o grande desenho americano, que trouxe o renascimento da Alemanha, bem como a Europa e a Guerra Fria. As razões seguintes resultaram da chamada mudança de regime monetário, ou seja, a desagregação na década de 1970 do sistema financeiro mundial de Bretton Woods, que havia sido criado nos últimos meses da Segunda Guerra Mundial e estava ancorada no padrão dólar-ouro. O colapso deste sistema deu início a uma era neoliberalista, bem como, regionalmente, à espada de dois gumes conhecida como o Acto Único Europeu de 1986. As suas sequelas tiveram como epílogo o mal concebido Tratado de Maastricht de 1992, que alegremente se comemora, o lançamento de um projecto constitucional imperfeito e a decisão fatal de adoptar o euro como moeda única. A revolução cibernética fornece o contexto para a actual crise na Europa, que conjuntamente com o renascimento da China e da Índia e o seu retorno ao desempenho de um papel cimeiro na história mundial, apresenta imensos desafios técnicos e geopolíticos a uma UE debilitada por uma perda de autoridade, métodos de operação arcaicos e mau julgamento. A adaptação da UE às mudanças, por vezes, impõe respeito, mas muitas das vezes o oposto, sendo por um lado, um poderoso motor de potente melhoria, mas por outro lado profundamente falhado, produto tanto da tomada da decisão humana errada e desenho institucional e operacional. A história da UE não seguiu um curso prescrito nem foi moldada por um modelo único, ou mesmo vários deles. Sem uma constituição ou outro documento único de formação, mas sendo consequência de vários tratados e muitos entendimentos informais, não apresenta uma sólida estrutura. A complicar ainda mais a situação, a UE opera também de forma oportunista fora desses quadros, num terreno legal e institucional imaginário. O seu desenvolvimento pode ser caracterizado como tendo sido mutável, polimorfo e refractário. A UE, como organização, alterou-se com o passar do tempo, assumiu formas diferentes e adquiriu novas funções, mas continua a ser obstinada e resistente à mudança. Essa mesma falta de forma pode, paradoxalmente, ser uma fonte de força a longo prazo. A UE já se reconstruiu anteriormente e poderá voltar a fazê-lo. Os mecanismos operacionais da UE estão envoltos numa confusão semântica pelo que são desnecessárias complexidades e ineficiências. A explicação do funcionamento do mecanismo de Bruxelas deve, sempre que possível, evitar uma linguagem incompreensível, ser cauteloso com as relações públicas e considerar inaceitável a desculpa oficial de que o abuso de significado é a consequência inevitável do carácter “sui generis” do projecto da integração. A última hipótese é insustentável. A UE é uma organização internacional que, como outras foi criada num espírito utópico, estando sujeita às limitações da história e, portanto, falível. Ao avaliar os seus pontos fortes e fracos, não se deve apenas examinar a UE enquanto instituição, mas também os caminhos alternativos de desenvolvimento e o peso dos impactos. O seu lamentável estado actual não estava predeterminado, mas deve-se a uma história de pensamento mal-intencionado, atitudes nefastas, má formulação de políticas e inércia. A UE é produto de mentes e acções individuais, mas também de instituições dependentes, disfuncionais e ossificadas. Esse legado deve ser superado de alguma forma. A UE pode ainda não estar morta, mas padece de doença a caminhar para a fase terminal. A sua sobrevivência, como no passado, exige, no entanto, uma adaptação rigorosa e até mesmo dolorosa às poderosas forças globais de longo prazo que fazem progredir o mundo. A reforma futura pode implicar uma mudança de atribuição, reestruturação e redução acentuada do poder e da influência da UE enquanto instituição. A história da UE não pode ser sobre metas atingidas, ou mesmo, como nas revisões recentes, metas adiadas, mas de declínio. A UE tem um longo historial de intervenções políticas ao longo das grandes questões humanitárias e sociais, falhando cada vez mais na tentativa de as implementar, infligindo consequentemente maior dano. É um peso morto que deve ser levantado para que as culturas nacionais floresçam e a Europa recupere a confiança necessária para enfrentar os desafios do futuro. Os cidadãos europeus na sua maioria têm vindo a troçar das pretensões da UE, condenam as políticas já vacilantes ao fracasso e lançam uma avaliação pública da sua necessidade. O escândalo da fraude da Volkswagen sobre padrões de emissões de diesel, expôs o vazio da reivindicação da Comissão Europeia, para servir como consciência do mundo sobre a política climática, e minou a sua credibilidade como regulador, e sobrecarregada por essa humilhação, a escalada da crise dos refugiados trouxe a agonia evidente da impotência da EU, num campo em que afirmou a jurisdição exclusiva, como seja a segurança interna europeia. Os terríveis atentados suicidas de 13 de Novembro de 2015, em Paris, chocaram os cidadãos dos Estados-Membros, trazendo-os para uma consciência dolorosa de que a política de Schengen de fronteiras abertas compromete a segurança pública. Os atentados tiveram também implicações políticas de longo alcance, pois inverteram a política de informação científico tecnológica anti-americana da Comissão que era a ponta de lança do seu programa económico, em prol de uma melhor vigilância cibernética, porque necessitavam de novos e improdutivos investimentos maciços em vigilância e bem-estar, resultando numa delegação de facto do poder da UE aos Estados-Membros, revirou a opinião pública bruscamente para a direita, e desencadeou uma procura de alternativas para a Europa. O destino da UE pode muito bem ser determinado pelo Brexit e consequente saída do Reino Unido. O que parecia improvável quando o primeiro-ministro Cameron prometeu um referendo sobre continuidade da Grã-Bretanha no bloco europeu, e não conseguiu das instituições europeia as concessões de longo alcance necessárias para aplacar um eleitorado cauteloso, foi a votação inesperada pelo abandono da UE. A saída do Reino Unido dividiu ainda mais a UE e pode descentralizá-la A saída britânica pode em tempo desencadear uma reconfiguração da União Económica e Monetária e deslegitimar o corpo de leis e regulamentos europeus conhecido como acervo comunitário. Vivemos um momento decisivo na história da Europa do após Segunda Guerra Mundial.
Hoje Macau SociedadeIndústria | Governo revela conclusões de inquérito [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo reuniu com a Associação Industrial de Macau e juntos debateram as conclusões de um inquérito sobre a revitalização do sector. Manter os negócios tradicionais e apostar em produtos alimentares e de saúde foram algumas das ideias avançadas Já são conhecidas as principais conclusões do “Questionário de consultar de opinião sobre o estudo do reposicionamento da indústria de Macau”, o qual foi promovido pela Direcção dos Serviços de Economia (DSE) junto de “todas as empresas titulares de licença industrial”. Segundo um comunicado oficial, o sector industrial de Macau deve apostar no fabrico de produtos de alta qualidade relacionados com a área alimentar, farmacêutica e electrónica, sem esquecer o sector da joalharia. Deve, assim, promover-se “a reconversão e valorização industrial em geral com base na indústria dos produtos alimentícios e de saúde, bem como a indústria do vestuário de alta qualidade”. Deve-se “fomentar indústrias de alto valor acrescentado, incluindo a indústria farmacêutica, de joalharia e ourivesaria e a indústria de fabricação de aparelhos de jogos e dispositivos de entretenimento electrónico”. Para que isto seja uma realidade, Governo e empresários “concordaram que poderia ser reforçada a divulgação da marca ‘Made in Macau’, combinando o sector cultural e criativo com a fabricação, por forma a consolidar ainda mais as indústrias principais”. Os resultados mostram ainda que os empresários estão a favor de um alargamento “do espaço do desenvolvimento industrial através do impulsionamento da renovação industrial e promoção da cooperação regional”. Cinco pontos O mesmo comunicado aponta que o Governo está preparado para efectuar uma “reconversão e valorização industrial a partir dos cinco aspectos”, tais como a consolidação de indústrias principais, a renovação das indústrias tradicionais, o cultivo de indústrias emergentes, a promoção da renovação industrial e ainda o impulsionamento da cooperação regional. O sector parece estar de acordo com as conclusões e com a linha de posicionamento do Executivo sobre esta matéria. “Os outros participantes concordaram com a direcção do reposicionamento industrial e as respectivas sugestões, e mostraram-se satisfeitos por terem o mesmo objectivo e a mesma direcção em matéria do reposicionamento industrial entre o sector e o Governo”, pode ler-se. As conclusões do questionário ao sector foram debatidas num encontro entre Tai Kin Ip, director dos serviços de economia, e António Chui Yuk Lum, presidente da Associação Industrial de Macau, ocorrido na sexta-feira. O deputado Chan Chak Mo, também empresário, foi um dos presentes. A reunião contou ainda com a presença do Presidente do Conselho Fiscal da AIM, Wong Chi Seng, vice-presidentes da AIM, Ho Teng Iat e Chan Chak Mo, entre outros.