Hoje Macau VozesA Internet das Coisas (IoT) nas nossas vidas Davide Ricardo CTO na Load Interactive [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stamos em 2017 e cada vez mais ligados a tudo aquilo que se relaciona com o mundo, e isso deve-se substancialmente à inovação. A inovação faz parte da nossa história e desde a electricidade, o telefone, o carro, o avião, que demoraram anos desde a sua invenção até estarem no nosso dia-a-dia, a população está em constante evolução, melhorando dia após dia a sua qualidade de vida. A Internet das Coisas (IoT) também faz parte dessa mesma inovação/ evolução. O termo IoT (conotado por Kevin Ashton em 1999) é usado para descrever a conectividade entre as nossas “coisas” e a tecnologia, facilitando o chamado M2M (de Máquina para Máquina), fazendo com que os dois tópicos estejam intrinsecamente ligados. Podemos afirmar que vivemos, nos dias de hoje, num mundo mais da Internet das Pessoas do que da Internet das Coisas. Comparativamente com a Internet das Pessoas, que liga as pessoas através da internet, a Internet das Coisas liga coisas à internet. As coisas partilham as suas experiências com outras coisas, escolhendo coisas, adicionando a capacidade do sentido e da comunicação com pouca ou nenhuma necessidade de intervenção humana. Desta forma pode-se definir que a IoT centra-se em duas componentes: Sentido e Rede/ Comunicação. O primeiro, pela capacidade do computador compreender o mundo por ele mesmo e o segundo, porque sensores podem ser distribuídos por todo o lado, para que possam obter diferente tipo de informações em diferentes localizações, partilhando a sua informação para o computador que compreenderá o mundo. Podemos então imaginar qual o impacto da IoT e o quão grande se pode tornar? Esta noção nasce (em 2008) no momento em que se identificou que haviam mais coisas na internet do que pessoas. Alguns indicadores provenientes de várias fontes dizem-nos que: – Actualmente existem mais de 10 milhões de dispositivos, equivalente a 1.5 por pessoa; – Estima-se que em 2020 hajam mais de 50 milhões de dispositivos, equivalente a 8 por pessoa; – $41 triliões vão ser gastos nos próximos 20 anos na actualização das infraestruturas (por Intel); – Por causa da IoT será gerado 22x mais tráfego de dados em 2020 (por Freescale); – 40% de todos os dados gerados em 2020 serão gerados por sensores ligados (por Fros & Sullivan); – 96% dos líderes empresariais planeiam usar IoT nos próximos 3 anos (por Wired); – 38% das empresas acreditam que a IoT vai atingir o seu maior impacto nos próximos 3 anos (por The Economist); – 94% das empresas puderam já verificar o retorno dos seus investimentos em IoT (por CMO.com); – A IoT terá o maior impacto no atendimento ao cliente; – A IoT poderia adicionar $10-15 triliões ao PIB global; – A IoT conduzirá a uma redução de 25% de manutenção de activos e 35% de redução do tempo de inactividade (por Departamento de Energia U.S); – Vão ser economizados 970 dólares por cada veículo de frota por ano (por Cisco); Por todos estes indicadores, quase que conseguimos ter uma noção do impacto da IoT no nosso futuro. Quase, porque este é perfeitamente previsível mas ao mesmo tempo inacreditável a forma como irá interagir/ conviver com o nosso dia-a-dia. Por vezes é-nos mais fácil entender o real impacto da IoT através de exemplos, por isso analisemos um bastante simples mas ao mesmo tempo muito útil: Uma pulseira inteligente que faz o rastreio dos sinais vitais (eg: temperatura do corpo, pulsação, respiração, pressão arterial, …), detectou que durante o sono estes estão abaixo do pretendido e tenta-nos acordar com vibração, luz ou outro, enviando dados desses sinais para o nosso serviço médico. No hospital, os médicos recebem e analisam os dados, em tempo real, e tomam acções de forma rápida e eficiente, podendo até mesmo accionar o envio de uma ambulância para a nossa casa, que nos leva para o hospital para sermos observados. Essa informação, acerca da ambulância, é-nos enviada para o nosso smartphone, indicando que esta deve chegar em X minutos. E no dia seguinte, o médico dá-nos a boa noticia dizendo que vamos ficar bem e que, apesar de termos sofrido um ataque cardíaco, evitamos grandes danos porque num curto espaço de tempo conseguimos dar conta da situação. Isto tudo foi somente possível porque “coisas” comunicaram com outras “coisas”. Na Load, temos a experiência em projectos e desafios, que nos permitem ajudar os nossos clientes a melhorarem as suas estratégias de negócio, ou mesmo a auxiliar os seus colaboradores na tomada de decisões no seu dia-a-dia, com base nas soluções em IoT. Desde soluções de monitorização e de análise estatística, até soluções em que existe interacção humana com as “coisas”, de forma a agilizar e a melhorar na decisão de processos. A Internet das Coisas traz-nos muitas vantagens e é o futuro (a próxima revolução industrial) já bem presente, no entanto há questões de elevada importância que não devem ser descoradas, como é o caso da segurança, da privacidade e da protecção dos dados. Certamente que este é um excelente tópico para ser abordado no próximo artigo.
Leocardo VozesVamos a butes? [dropcap style≠’circle’]G[/dropcap]osto de andar a pé, sempre gostei. Não vou aborrecer os leitores com o meu registo de épicas caminhadas, que é extenso, mas desde que cheguei a Macau fiz questão de morar o mais perto possível do local de trabalho, de forma a dispensar o automóvel ou os transportes colectivos. Este é um privilégio de que pouca gente que vive nas grandes cidades pode usufruir, o de poder ir para o emprego e voltar a casa a pé, e deixa-me sinceramente deprimido que hajam pessoas que em 30 ou 40 anos de trabalho despendam dois anos ou mais apenas nos transportes de que dependem para ganhar a vida. Hoje vivo a um quarto de hora a pé do emprego, ou melhor, vivia – agora são vinte, ou às vezes mais, depende do trânsito…pedonal. Sim, é cada vez mais complicado andar a pé em Macau, especialmente quando não se está a passear. São as multidões, pois sim, os turistas e etcetera, e sei que todos temos razões de queixa da malta de fora, especialmente do continente, e que ainda os mais rezingões como eu vão tratando como um mal necessário. OK, tudo bem, bem-vindos a Macau e tal, mas importam-se de sair do caminho para que eu possa ir à minha vida, fáxavor? Ainda esta segunda-feira vinha a voltar de casa depois de almoço, já com a certeza de que chegaria em cima da hora, na melhor das hipóteses, e ao fim da Rua Central antes da Av. Almeida Ribeiro deparo com uma das tais excursões, que ocupa a totalidade do passeio e ainda parte da estrada. Fiz o possível para passar pelo meio dos nossos simpáticos convidados, mas não consegui disfarçar uma cara de poucos amigos, que os levou a olhar para a minha figura com um ar de espanto. Só lhes faltou perguntar: “Calma, então? Não está de férias, também”? Não, não estou! Tenho pressa, e ao contrário do que possam pensar, as pessoas em Macau trabalham, têm uma vida própria, e não lhes basta ir ao casino buscar dinheiro sempre que precisam. Desconfio que é essa imagem que se passa do território ali do outro lado da fronteira: somos todos uns “sortudos”. Falemos da hora de ponta – o que é, exactamente? Trata-se do período entre as 8 e as 9 da manhã, quando a maior parte das pessoas se deslocam de casa para o serviço, entre as 6 e as 7 da tarde, quando regressam a casa, e mais aquele bocadinho entre as duas e as duas e meia, depois de almoço. Muito simples. Para quem pretende dar uma voltinha, fazer o seu passeio higiénico, a sós ou com o cachorro, existe o resto do dia, que não é assim tão pouco tempo quanto isso. Já perdi a conta das vezes em que sou obrigado a pedir licença a casais, ou por vezes famílias inteiras, que decidem usar essas tais horas de pontas para reforçar os laços familiares, passeando de mão dada todos juntinhos, ocupando a totalidade da via pública, que como se sabe, é estreita. E que mania é aquela de andar com o guarda-chuva aberto por tudo e por nada, ora quando caem um pinguinhos que demorariam uma hora para encher um penico, e até mesmo quando faz sol? O sol é nosso amigo, pessoal! Já ouviram falar da síntese da vitamina D através da incidência dos raios UVB do astro-rei sobre a pele? Agora os velhinhos. Para evitar mal-entendidos, queria deixar claro que me parte o coração que em Macau não se providenciem mais espaços e se organizem mais actividades para a terceira idade, e o meu respeito pelos nossos idosos é a toda a prova. Dito isto, será que não podem esperar que a cidade se componha antes saírem de casa, e andem por aí às 8 e tal da manhã em marcha lenta enquanto a população activa vai à sua vida? As pessoas não lhes fazem uma cara feia e os carros não lhes buzinam por eles serem velhos, mas antes porque escolheram uma péssima hora para dar o seu passeio. Acreditem que não é por gosto que vos peço encarecidamente que me deixem passar, pois enquanto o trajecto do metro-ligeiro que me leva da porta de casa até ao emprego não entrar em funcionamento, não me é dada outra opção senão fazer-me à estrada. Ou ao passeio, neste caso. A população de Macau aumentou nos últimos anos, mas não foi assim tanto que tenha deixado de caber toda a gente, nada disso. O problema é que os residentes de Macau vão tendo dificuldade em adaptar-se ao espaço que têm, que hoje é menos do que antes. Em suma, não se adaptam a uma vida mais cosmopolita. Quanto às pessoas que apesar de tudo isto ainda se vão entretendo a olhar para o telemóvel enquanto andam na rua, mesmo durante as tais horas de ponta, o melhor é nem falar. Mas para que fique bem assente este ponto, caso esbarrem comigo porque não estavam a olhar por onde iam, o aparelho cair no chão e ficar danificado, e me pedirem uma compensação pelo arranjo do mesmo, ou por um novo, tudo o que levam da minha parte é um dedo do meio. E podem ficar com o troco.
Hoje Macau China / Ásia MancheteMacau, o “exílio dourado” para onde Kim Jong-nam regressava quando foi morto [dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]acau foi para Kim Jong-nam, irmão do líder da Coreia do Norte, assassinado na segunda-feira, uma “exílio dourado”, onde passou parte do seu tempo e onde os dois filhos frequentaram a escola e até os escuteiros lusófonos. “Dizer que estava à espera disto seria claramente um exagero, mas ele era de facto uma pessoa que estava numa situação de grande risco”, disse à Lusa Ricardo Pinto, jornalista em Macau e que, ao longo dos anos, escreveu e acompanhou a passagem do filho mais velho do ‘Querido Líder’ Kim Jong-il. O meio-irmão do actual líder Kim Jong-un morreu no aeroporto de Kuala Lumpur, na Malásia, envenenado por duas mulheres. O destino do voo que nunca chegou a apanhar era Macau, uma cidade onde pelo menos desde 2001 viveu e passou temporadas e onde os seus filhos e mulher moraram. Kim Jong-nam chegou a ser apontado como o sucessor do pai, mas tudo mudou depois de ser apanhado a entrar no Japão, em 2001, com um passaporte falso da República Dominicana. “Ao que parece, essa tentativa de entrada no Japão não foi dada a conhecer a Kim Jong-il, o que o terá feito cair em desgraça. Para grande parte dos observadores, a sua presença em Macau passou a ser uma espécie de exílio dourado”, descreve o dono do jornal Ponto Final. Poucas certezas Como quase tudo o que se sabe sobre a Coreia do Norte, nada é definitivo e os verbos são conjugados no condicional: terá sido desde 2001 que Kim Jong-nam passou a viver em Macau de forma permanente, situação que terá mudado após ter sido alvo, anos depois, de uma tentativa de homicídio na cidade, o que terá feito com que passasse a dividir o seu tempo em Pequim; a mulher e os filhos terão, no entanto, permanecido em Macau até irem para a universidade. “Grande parte da informação que chegava era veiculada pelos serviços de inteligência [e transmitida pelos media sul-coreanos]. Ao longo de todos estes anos, sempre que noticiávamos sobre a presença do Kim Jong-nam aqui em Macau isso não nos ajudava muito a ter absoluta certeza das informações que cá chegavam, porque vinham muito pouco associadas a fontes”, explica. Segundo Ricardo Pinto, entendia-se que Kim veio para Macau como “uma espécie de representante do regime numa zona exterior, responsável por alguns negócios que o regime teria a fazer aqui”. No entanto, “pelo que sempre foi noticiado, o seu estilo de vida dava conta que, mais do que um homem de negócios, era um ‘bon vivant’, uma pessoa que estava mais preocupada em viver bem a vida, fazendo aqui uma vida de constante permanência em bons hotéis, bons restaurantes, de jogo”. Apesar de Kim ter frisado o seu desinteresse pela política do seu país, seria visto “por algumas fontes ligadas a estas questões”, incluindo o Governo chinês, como um potencial líder de “mentalidade mais aberta” e reformista. Isso fez com que, segundo Ricardo Pinto, se mantivesse sempre como “um alvo” e o seu homicídio parece confirmar que o Governo norte-coreano quis “eliminar de uma vez por todas a possibilidade de ser utilizado como futuro dirigente do país”. O jornalista nunca conheceu pessoalmente Kim Jong-nam, mas, num artigo em 2009, descreveu, com o pormenor possível e recorrendo sempre a fontes que pediram anonimato, as rotinas dos dois filhos adolescentes, que frequentavam inclusive os escuteiros lusófonos. Ricardo Pinto aponta para uma situação “surreal”, em que os “netos de Kim Jong-il frequentavam os escuteiros lusófonos, cantavam cânticos alentejanos”. “Só não estiveram nunca no jardim do consulado português no 10 de Junho a cantar o hino nacional e a olhar para a bandeira a erguer-se no mastro pela simples circunstância de não ser feriado em Macau e a escola internacional que frequentavam ter aulas. Participavam em todas as cerimónias dos escuteiros lusófonos, desde os passeios, idas à missa. Não eram sequer católicos, mas havia essa preocupação de os pôr em contacto com outros miúdos da mesma idade”, resume. “Por favor, poupa-me e à minha família” Kim Jong-Nam tinha pedido ao líder norte-coreano para lhe poupar a vida Kim Jong-Nam, implorou ao líder norte-coreano para lhe poupar a sua vida e a da sua família após uma tentativa de assassínio em 2012, afirmaram ontem deputados sul-coreanos aos jornalistas, após uma reunião à porta fechada com o chefe do Serviço Nacional de Inteligência (NIS, na sigla em inglês), Lee Byung-Ho. Agentes da Coreia do Norte tentaram assassinar Kim Jong-Nam em 2012, incidente que levou depois o meio-irmão de Kim Jong-Un a implorar ao líder norte-coreano que poupasse a sua vida e a da sua família. “Segundo [Lee Byung-Ho], ele foi vítima de uma tentativa de assassínio em 2012 e Kim Jong-Nam enviou em Abril desse ano uma carta a Kim Jong-Un dizendo: ‘Por favor, poupa-me e à minha família’”, relatou Kim Byung-Kee, membro de comissão parlamentar sobre os serviços de informação, aos jornalistas. A família de Kim Jong-Nam – a sua actual e anterior mulher e os seus três filhos – vive actualmente em Pequim e em Macau, segundo Lee Cheol-Woo, um outro membro da mesma comissão parlamentar sul-coreana. “Eles estão sob a protecção das autoridades chinesas”, afirmou, confirmando que Kim Jong-Nam entrou na Malásia no dia 6, ou seja uma semana antes de ser morto. Entretanto, o corpo de Kim Jong-Nam foi transferido numa ambulância, escoltada por diversos veículos da polícia, até ao Hospital Geral de Kuala Lumpur, para a realização da autópsia, de modo a determinar-se a causa da morte e a confirmar a identidade, segundo o jornal The Star. Pelo menos três carros com matrícula diplomática e pertencentes à representação da Coreia do norte no país encontram-se estacionados no recinto hospitalar. Alertas do Sul Ontem o primeiro-ministro e actualmente Presidente em funções da Coreia do Sul, Hwang Kyo-Ahn, declarou que o assassínio de Kim Jong-Nam por agentes ao serviço da Coreia do Norte, se confirmado, ilustra “a brutalidade do regime” de Pyongyang. “A confirmar-se que o assassínio foi levado a cabo por parte do regime norte-coreano tratar-se-ia de um flagrante exemplo da sua natureza brutal e desumana”, afirmou Hwang Kyo-Ahn, durante a referida reunião, convocada ontem de urgência pelo Executivo para analisar a situação, segundo a agência noticiosa Yonhap. Hwang Kyo-Ahn sublinhou a “grande importância” de se esclarecer o caso, assinalando que Seul se encontra a “analisar de perto os movimentos da Coreia do Norte” para determinar o seu eventual impacto na segurança da Coreia do Sul.
Isabel Castro China / Ásia MancheteÓbito | Kim Jong-nam, irmão do líder norte-coreano, assassinado na Malásia Era esperado ontem em Macau para um jantar com amigos. Kim Jong-nam, o filho mais velho do Querido Líder, morreu a caminho do hospital, depois de ter sido encontrado inconsciente no Aeroporto de Kuala Lumpur. Por cá, quem o conhecia ficou em choque [dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]hegou a viver em Coloane, com os dois filhos e a mulher, numa altura em que dividia o tempo entre Pequim e Macau. Nos últimos anos, já não passava temporadas tão longas no território como nos primeiros anos, mas por cá tinha ainda familiares e mantinha uma casa. Também tinha amigos, pelo que vinha, de quando em vez, até à cidade que o acolheu depois de ter deixado a Coreia do Norte. Era esperado para jantar por alguns amigos de Macau, que receberam a notícia da morte “em estado de choque”, segundo apurou o HM. Kim Jong-nam, meio-irmão do líder norte-coreano Kim Jong-un, morreu na Malásia na passada segunda-feira. A notícia só foi tornada pública ontem ao princípio da noite, através da Yonhap, a agência de notícias oficial da Coreia do Sul, que citava fonte do Governo de Seul. A TV Chosun, uma televisão por cabo sul-coreana, avançou o motivo da morte do filho primogénito de Kim Jong-il: Kim Jong-nam foi envenenado no aeroporto de Kuala Lumpur por duas mulheres que, acredita-se, são operacionais da Coreia do Norte. As suspeitas encontram-se em paradeiro desconhecido, depois de terem apanhado um táxi. A televisão citava também fontes governamentais da Coreia do Sul. Na Malásia, o comandante da polícia responsável pelo Aeroporto Internacional de Kuala Lumpur, Abdul Aziz Ali, explicou à Agência France-Presse que um homem coreano na casa dos 40 foi encontrado doente no aeroporto, na segunda-feira. Foi transportado para o hospital, tendo morrido no caminho. “Não temos quaisquer outros detalhes acerca deste homem coreano. Não sabemos a sua identidade”, disse Abdul Aziz Ali, não obstante o facto de o indivíduo em causa se encontrar num aeroporto, o que pressupõe estar na posse de documentos de viagem. Ao Channel NewsAsia, a polícia avançou que foi pedida uma autópsia. Uma fonte das autoridades policiais acrescentou ao canal que o incidente aconteceu no HKIA2, o novo aeroporto da capital malaia. Uma fonte do Governo de Kuala Lumpur garantiu que a polícia está a levar a cabo investigações para “encontrar impressões digitais”. “Amigo do seu amigo” Kim Jong-nam, o filho mais velho do Querido Líder, nasceu em Maio de 1972, fruto da relação que Kim Jong-il manteve com a actriz Sung Hae-rim, natural da Coreia do Sul. O homem que comandou os destinos da Coreia do Norte entre 1994 e 2011 nunca chegou a casar com a mãe do seu primogénito, que acabaria por morrer em Moscovo. Em tempos considerado o herdeiro de Kim Jong-il, caiu em desgraça aos olhos do pai em 2001, depois de ter tentado entrar no Japão com um passaporte falso. Pretendia visitar a Disneylândia. Desde então, viveu no exílio, sendo que as agências de notícias internacionais indicam que passou grande parte do tempo em Macau. Após a morte de Kim Jong-il, em Dezembro de 2001, foi o filho mais novo – Kim Jong-un – que assumiu o poder em Pyongyang. O irmão mais velho, conhecido por não concordar com o modo como era gerido o regime mais isolado do mundo, não escondia, nas entrevistas que foi dando, que se opunha à transmissão dinástica do poder. A confirmar-se o homicídio, Kim Jong-nam terá sido a figura de maior relevo da Coreia do Norte a ser assassinada a mando do actual líder, depois de o jovem Kim Jong-un ter ordenado a execução do tio, o outrora influente Jang Song Thaek, em Dezembro de 2013. Kim Jong-nam e Jang Song Thaek, que era dado como mentor do actual líder, mantiveram, em tempos, uma relação de proximidade. Houve alturas em que Kim Jong-nam era avistado em Macau. Apesar de procurar ter uma presença discreta, tinha alguma vida social. Ao HM, foi descrito como sendo “um bom vivant, amigo do seu amigo, que deixa saudades”. Era apreciador de vinho português e francês. Os filhos, Kim Han-sol e Kim Sol-hei, chegaram a fazer parte dos escuteiros lusófonos de Macau. A família deixou de ser vista em público depois de vários artigos publicados, sobretudo pela imprensa japonesa, numa altura em que o caso Delta Asia dava muito que falar, por causa das sanções aplicadas ao banco pelos Estados Unidos devido a fundos norte-coreanos. Supõe-se que Kim Jong-nam terá tentado preservar a privacidade dos filhos e da mulher. Quem o conheceu dizia que o filho mais velho de Kim Jong-il só queria viver em paz. As outras vezes A notícia da morte deixou em choque os amigos de Macau, mas não é totalmente surpreendente, atendendo às características obscuras do país de onde vem e a outras tentativas que terão sido feitas no passado. Em Outubro de 2012, o Ministério Público sul-coreano revelou ter detido um norte-coreano acusado de espionagem, que admitiu estar envolvido num esquema que tinha como objectivo a morte de Kim Jong-nam. O homicídio estava a ser planeado na China – o alvo seria apanhado num acidente rodoviário. Já em 2009, a estação de televisão sul-coreana KBS avançava que as autoridades do Continente tinham abortado um plano para abater o primogénito de Kim Jong-il, na altura ainda no poder, mas já bastante doente. A estratégia estaria a ser elaborada por aliados de Kim Jong-un. A estação de televisão dizia que o plano consistia em assassinar pessoas próximas de Kim Jong-nam, sendo que o principal alvo seria morto em Macau. A partir do momento em que deixou a Coreia do Norte, o paradeiro do filho mais velho do Querido Líder foi sempre objecto de especulação por parte da imprensa asiática. Em 2014, foi dado como estando em Jacarta. Terá sido então visto num restaurante italiano acompanhado por um empresário japonês. Dizia-se então que dividia o tempo entre a Indonésia, a Malásia e França. Em 2012, um jornal de Moscovo contava que Kim Jong-nam estava a enfrentar problemas financeiros depois de ter deixado de receber verbas da Rússia, em retaliação às críticas que fez sobre a política de sucessão da Coreia do Norte. No ano passado, a Coreia do Sul lançou um aviso sobre possíveis tentativas de homicídio no país levadas a cabo por agentes norte-coreanos. O alerta tinha Kom Jong-nam como principal destinatário. O defensor da reforma Deu poucas entrevistas na vida, mas as que concedeu serviram para ilustrar como via a política do país onde nasceu. Em 2009, numa conversa com o jornal japonês Shimbun, Kim Jong-nam garantia não estar interessado em suceder a Kim Jong-il. O pai viria a morrer dois anos depois, mas discutia-se a questão da sucessão, sendo que já era apontado Kim Jong-un, o que acabou por acontecer. Na altura, o primogénito do Querido Líder defendia que tinha chegado a hora da “abertura e reforma” na Coreia do Norte. E afirmava que a passagem da chefia do Estado norte-coreano através de uma lógica de sucessão hereditária não era o desejo do pai. A decisão de passar o poder para o irmão mais novo tinha sido tomada apenas “para garantir a estabilidade nacional”. “Acredito que a decisão tenha sido tomada para estabilizar a nação. A instabilidade na Coreia do Norte significaria instabilidade para toda a região envolvente”, afirmou. Na mesma entrevista, Kim Jong-nam deixava um apelo ao meio-irmão, para que melhorasse a vida da população norte-coreana, pedido que terá caído em saco roto, tanto quanto é possível perceber pelas notícias que chegam de Pyongyang. Uns anos mais tarde, em 2012, num texto publicado pelo Guardian, o homem que agora morreu na Malásia dizia acreditar que o regime de Pyongyang tinha os dias contados – com ou sem reformas. O diário tinha como ponto de partida um livro escrito por um jornalista do Shimbun, a partir de conversas do autor com Kim Jong-nam. Na obra, o filho mais velho de Kim Jong-il descrevia a sucessão dinástica como “uma piada para o mundo cá fora” e reiterava a ideia de que esse não era o desejo do seu pai.
Andreia Sofia Silva PolíticaAssembleia | Vong Hin Fai não comenta continuidade [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado Vong Hin Fai não quis revelar se pretende manter ou deixar o cargo na Assembleia Legislativa (AL), preferindo continuar a cumprir as actuais responsabilidades enquanto deputado nomeado pelo Chefe do Executivo. À margem do almoço de Primavera da AL, Vong Hin Fai, que recentemente ajudou a fundar a Associação dos Agentes Jurídicos de Macau, confirmou que a entidade não visa entrar em conflito com a já existente Associação dos Advogados de Macau (AAM). “A AAM é uma associação colectiva de direito público que, legalmente, tem as suas funções, para testar a qualidade dos advogados e a inscrição dos advogados. A nossa associação é uma entidade privada e temos objectivos diferentes, não há conflito. A nossa associação tem todo o gosto de fazer colaborações com outras instituições, não apenas instituições do ensino superior na área do direito, como associações da área jurídica, tal como a AAM.” Para este ano é objectivo da nova associação a organização de palestras na área do direito. “Vamos fazer a nossa colaboração com associações locais e entidades fora de Macau, do interior da China, Hong Kong ou Taiwan. A nossa associação vai fazer visitas este ano nesse sentido. Como queremos chegar à unificação dos associados, vamos organizar este ano algumas conferências sobre direito de Macau.”
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaAL | Ho Iat Seng disponível para continuar no hemiciclo O presidente da Assembleia Legislativa garante ter disponibilidade para continuar a ser deputado. Ho Iat Seng fala ainda na ocorrência de “alguns conflitos mais radicalizados” na sociedade [dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]o Iat Seng é presidente da Assembleia Legislativa (AL) desde 2013 e tudo indica que continuará a fazer parte do hemiciclo, seja como presidente ou apenas na condição de deputado. Em ano de eleições legislativas, assume estar disponível para continuar, caso seja nomeado pelos seus pares e eleito pela via indirecta. “Só posso dizer que estou disponível para continuar. Se for nomeado pelo sector industrial tenho interesse em continuar [mais um mandato]”, disse ontem aos jornalistas, à margem do almoço de Ano Novo Chinês do órgão legislativo. No seu discurso, Ho Iat Seng falou dos últimos protestos ocorridos no território, de uma “modificação do clima social em Macau e do surgimento de novos diferendos”. Para o presidente da AL, factores como “os problemas oriundos do legado da história”, “a escolaridade da população” e o “rápido crescimento económico” nos últimos anos levaram ao surgimento de “alguns conflitos mais radicalizados”. Ho Iat Seng acredita, por isso, que esses indicadores “tornaram mais complexas as formas de expressão de que se revestem as situações, as opiniões e as preocupações da população”. “Face à diversidade das exigências sociais, à complexidade dos interesses envolvidos e à disputa contínua entre diferentes posturas da opinião pública, têm vindo a aumentar as querelas na sociedade, o que complica ainda mais o trabalho legislativo.” É uma situação que, para o presidente do hemiciclo, “torna mais pesada a pressão sobre a AL”. Para Ho Iat Seng, “existe ainda espaço para a melhoria do trabalho” do órgão legislativo. “A AL tem estado sempre atenta à diversidade das exigências da sociedade nas suas considerações, procurando estabelecer o equilíbrio dos vários interesses, no quadro da legalidade.” Nesse sentido, “cabe-nos [à AL] a responsabilidade indeclinável de preservar a estabilidade e a prosperidade deste território, e de modelar activamente um ambiente de maior justiça e equidade”. Tempo contado Com um total de 14 propostas de lei a serem ainda alvo de apreciação na especialidade, as três comissões permanentes da AL não têm qualquer possibilidade de recepção de mais diplomas da parte do Executivo. Até ao dia 15 de Agosto, todos os diplomas terão de ser votados, a tempo da realização das eleições, que ainda não têm data marcada. “Temos de ver que não podem chegar mais iniciativas legislativas da parte do Governo para que tenhamos tempo para concluir todas as propostas que nós temos [em mãos]. Temos de assegurar o trabalho das duas partes”, apontou. Apesar da corrida contra o tempo, Ho Iat Seng assegura que o diálogo com o Executivo tem sido garantido. “Se as propostas não forem aprovadas a tempo, têm de esperar pela próxima legislatura e esse não é o nosso desejo. Sabemos que há muitas outras propostas que estão a aguardar para serem apresentadas à AL. Neste momento, já apresentamos as nossas sugestões ao Governo e estamos a aguardar pela resposta.” Ainda assim, o presidente do hemiciclo garante que há espaço para a continuação do trabalho de fiscalização por parte dos deputados, com a marcação de plenários para a resposta a interpelações orais por parte do Governo. “Recebemos muitas interpelações orais para a próxima sessão e isso não vai ser afectado pelo trabalho de apreciação das leis. Há tempo para trabalhar enquanto se espera pelas propostas do Governo”, conclui. Lei do fumo pronta até Agosto Um dia depois das seis operadoras de jogo terem publicado mais um relatório sobre o consumo de tabaco nos casinos, Ho Iat Seng afirmou que a proposta de lei que revê o diploma de 2012, e que visa a total eliminação do fumo, terá de estar concluída até 15 de Agosto. “O nosso objectivo é fazer com que essa intenção legislativa possa chegar ao plenário ainda antes do fim da sessão legislativa. Temos de ter um prazo limite e espero que, até finais de Maio, todo o processo fique concluído, se não vai ser retirado.”
Hoje Macau PolíticaPatrimónio | Lau Veng Seng defende protecção de Lai Chi Vun Coloane é, em todos os aspectos, um local apetecível para o sector do turismo. Numa altura em que se discute a demolição dos estaleiros de Lai Chi Vun, o lugar vago é uma mina imobiliária. Porém, Tommy Lau garante que o local será preservado Vítor Ng [dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]êm corrido rumores que a zona onde estão os antigos estaleiros de Lai Chi Vun servirão para a construção de hotéis. A lógica daria validade a este tipo de comentários, uma vez que são terrenos que aguçam o olhar de qualquer investidor do sector da hotelaria. No entanto, durante o almoço de Primavera, o deputado nomeado Tommy Lau, com conhecidos interesses no sector imobiliário, adiantou que não ouviu falar nisso, acrescentando que “o Governo faz as coisas de forma transparente”. O tribuno acrescentou ainda que, “se a informação fosse verdade, o público saberia, por isso, a população não precisa se preocupar com isso”. Em termos de salvaguarda de património, Lai Chi Vun tem dominado a actualidade. O director do Instituto Cultural, Guilherme Ung Vai Meng, deixou claro que para a zona não está previsto qualquer empreendimento comercial. A ideia será devolver à população algo com um valor histórico acrescentado. É nessa linha que Tommy Lau segue. “Como todos sabem, os estaleiros antigamente serviram para indústria naval de Macau”, um sector que, na sua queda, arrastou a preservação das construções em Lai Chi Vun. O deputado acrescentou ainda que as instalações carecem de recuperação imediata e emergente, de forma a garantir a segurança de quem por lá passa. Tem sido esse o discurso do Governo. Se a precaução é importante, a defesa de um património que conta a história de Macau não é de menor relevo. Nessa perspectiva, o deputado considera que se deve auscultar a população e fazer algo pelos moradores e visitantes que queiram espreitar um pouco o passado da indústria náutica que se fixou em Coloane. Tommy Lau afirmou ainda que, na sua opinião, “é necessário um planeamento completo para a zona dos estaleiros”. No entanto, salvaguardou que “não vale a pena restaurar aqueles que estão irreparavelmente degradados e, por razões de segurança, devem ser demolidos”. Turismo histórico Apesar de afastar a hipótese de construção de hotéis em Lai Chi Vun, o deputado considera que “os restantes estaleiros podem contribuir para o turismo de Macau”. Lau Veng Seng adiantou que “os estaleiros podem tornar-se cafés ou salões de exibição, para os visitantes poderem ficar com conhecimento sobre a sua história”. No que toca a preservar um local com história de finalidades comerciais, o deputado adianta que “a Lei da Salvaguarda do Património Cultural já entrou em vigor, portanto, há uma política excelente para proteger os patrimónios”. O tribuno reiterou a sua convicção de que todos os agentes sociais irão obedecer à lei. Neste capítulo, Ung Vai Meng adiantou que a zona não será convertida “numa rua de lembranças”. Que futuro? Avançam já em Março as demolições de dois dos 16 estaleiros que têm estado ao abandono. Esta decisão do Governo foi fonte de consternação para a população local, que teme pela manutenção da própria vila uma vez que desapareçam as estruturas que deram origem ao povoado. A pequena vila de Lai Chi Vun mantém o traço arquitectónico do passado, como sempre foi, e para David Marques, porta-voz dos moradores de Lai Chi Vun, ligado à Associação de Moradores de Coloane, a demolição não irá afectar as moradias. “Até agora, não há ninguém que corra o risco de perder a sua casa, mas falei com um vizinho que defende que, se retiram todos os estaleiros, então também podem retirar a aldeia, porque deixa de existir uma razão para que a povoação continue a existir. Isto pensando a longo prazo.” Nesse sentido, o representante dos moradores, assim como a população no geral, defende que sejam pensadas actividades culturais que dêem vida ao lugar, que devolvam dinâmica a um local votado ao abandono. Macau terá uma boa oportunidade para mostrar com quantas linhas se cose a defesa do património cultural do território. Se avança um projecto com pouco impacto em Coloane, que respeite um passado fabril da altura em que a cidade estava mais virada para o mar, ou se ganham as forças da massificação turística, com mais um projecto megalómano.
Hoje Macau SociedadeDebate sobre tabaco nos casinos aquece [dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]rossegue o pingue-pongue entre as entidades e vozes de peso de Macau em torno da proibição do fumo nas salas de jogo. Todos opinam sobre este braço de ferro sem precedentes entre o Governo e as concessionárias dos casinos. Com as eleições à porta, continua a discórdia entre os objectivos do Executivo para uma sociedade sem tabaco e os interesses dos casinos que olham para proibição total do fumo como um perigo para as receitas. A questão tem motivado reacções de diversos sectores da sociedade. Em declarações ao jornal Ou Mun, Leong Sun Iok, subdirector da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) e director da Associação Casa dos Trabalhadores da Indústria de Jogo de Macau, deixou claro que é preciso “garantir padrões elevados para as salas de fumo”. Apesar de achar que a medida pode prevenir os efeitos do fumo passivo, o subdirector da FAOM vê na instalação de salas de fumo um recuo do Governo em relação à intenção original de proibição total. Para Leong Sun Iok, se o Governo voltar atrás, precisa justificar-se aos cidadãos. Além disso, Leong Sun Iok não acredita que as salas de fumo, apesar de toda a tecnologia, evitem totalmente os prejuízos para a saúde dos funcionários. Como tal, reiterou ao Ou Mun que espera que o Governo cumpra o que prometeu. Fumo negro Também Angela Leong, directora executiva da Sociedade de Jogos de Macau (SJM) e deputada, comentou o caso, referindo não existir “nenhuma pressão junto do Governo” para decidir de qualquer forma específica. A deputada diz ter ouvido que vão ser criadas salas de fumo, que “têm de estar de acordo com os critérios internacionais e os exigidos pelos Serviços de Saúde”. Apesar de se declarar uma apoiante da proibição do fumo, a deputada e directora executiva da SJM admite que esta proibição total “afecta as receitas dos casinos”. Angela Leong uniu as receitas dos casinos aos cofres estatais, referindo que espera que “a economia continue a melhorar, para que o Governo obtenha mais receitas de forma a dar melhores condições à população”. Ainda sobre esta matéria, realiza-se hoje uma conferência de imprensa dos Serviços de Saúde de Macau.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadePousada de São Tiago fechada até obras do metro terminarem Angela Leong, directora executiva da Sociedade de Jogos de Macau, que gere a Pousada de São Tiago, confirmou o encerramento do estabelecimento hoteleiro. As portas estão fechadas até ao fim das obras do metro ligeiro no local [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Pousada de São Tiago em Macau, inaugurada em 1982 e instalada numa fortaleza do século XVII, vai encerrar temporariamente devido às obras do metro que decorrem na zona, afirmou ontem a directora executiva da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), à margem do almoço de Primavera da Assembleia Legislativa. Segundo Angela Leong, também deputada, o intenso barulho das obras na zona da Barra – local onde está a ser erguido um centro modal para o futuro metro ligeiro – está a afastar os hóspedes e vai obrigar a fechar as portas já no próximo mês de Março. “Quando começaram as obras, não havia nem um hóspede e, mesmo quando há, é só ao sábado, a partir de segunda-feira não há hóspedes. Os turistas vêm para Macau, para um lugar tão bom como São Tiago, [mas] após uma noite temos de os ajudar a sair porque as obras começam às 7h. Há turistas que fazem festas de casamento mas, depois, temos de os transferir para outros locais”, explicou Angela Leong. “Actualmente não é possível continuar com o hotel porque não há hóspedes. Por isso vamos suspender até que as obras das ruas acabem”, afirmou. A directora executiva da SJM garantiu que os 20 a 30 trabalhadores não serão despedidos, mas sim transferidos para outros hotéis da operadora na cidade, mantendo os salários e regalias. “Os trabalhadores serão colocados noutros hotéis. Não vão existir despedimentos, mas os trabalhadores têm de aceitar ir trabalhar para outro local. Se não concordarem com a transferência, então teremos de cessar o contrato com os trabalhadores”, explicou. Projecto parado Angela Leong garantiu que não é objectivo da SJM fechar a pousada para sempre. “Vamos manter o hotel de São Tiago porque é um monumento, as pessoas gostam de coisas antigas. Lá dentro é muito bonito e não vamos fazer renovações”, rematou. Em 2014, Angela Leong falou da possibilidade de alargar o actual espaço destinado à pousada, mas não houve qualquer avanço. “Era para ter um projecto, estávamos a trabalhar para isso. Mas, de momento, não tenho mais informações”, disse ontem a deputada. A Fortaleza da Barra, construída pelos portugueses para defender Macau, foi erguida em 1629 e, após cair em ruínas, foi recuperada de modo a acolher a pousada, onde está integrada uma capela do século XVIII. O metro ligeiro de Macau já está em construção, mas não há ainda um calendário para o fim das obras na península, enquanto na Taipa se espera que esteja terminado em 2019.
Andreia Sofia Silva SociedadeHabitação Pública | Página no Facebook revela falhas em Seac Pai Van A Associação de Mútuo Auxílio dos Moradores de Seac Pai Van, em Coloane, decidiu revelar no Facebook todas as falhas de construção existentes no empreendimento de habitação pública. São lá que estão expostas todas as queixas de quem lá vive, com críticas à fiscalização da obra Com Vítor Ng [dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]anos com ferrugem, azulejos partidos, postes caídos. As imagens partilhadas na recente página da rede social Facebook, da responsabilidade da Associação de Mútuo Auxílio dos Moradores de Seac Pai Van, expõe as falhas de um complexo de habitação pública que tem gerado queixas desde que começou a receber moradores, há cerca de quatro anos. Wong Lai I, responsável pela associação, ligada à União Geral das Associações de Moradores de Macau (UGAMM, ou Kaifong), falou ao HM sobre os problemas que persistem no local. “Hoje em dia, o Facebook é muito utilizado e pode ajudar-nos a divulgar as situações que enfrentamos aqui. Além disso, também serve para promover as nossas actividades. Desta forma, cada vez mais pessoas, quer sejam moradores neste bairro ou noutros, podem participar nas actividades”, defendeu. Segundo Wong Lai I, muitos dos problemas só são resolvidos após a apresentação de queixas. “Uma vez recebemos queixas sobre a queda de tijolos nos edifícios. Um mês depois o Governo mandou cá profissionais para fazerem testes. O Executivo só trata deste tipo de problemas se nos queixarmos”, lamenta. Outro ponto em falta na zona é o número de instalações desportivas. “Já tentámos expressar as nossas ideias junto do Governo mas, até agora, não se fez qualquer avanço.” Pouca fiscalização Além da queda dos tijolos das paredes, a responsável pela associação afirmou que há sempre azulejos e outro tipo de revestimentos partidos nos passeios. Wong Lai I pede que seja feita uma recuperação total, com bons materiais, para que se possa resolver os problemas de uma só vez. Para Wong Lai I, todos os inconvenientes da zona se devem à falta de fiscalização no período de construção do empreendimento. Apesar da existência de problemas, Wong Lai I admite que as condições na zona melhoraram. “Quando vim morar para aqui não havia luz, todas as ruas eram escuras. Havia apenas duas famílias a morar no mesmo prédio. Não tínhamos nada nesta zona e demorávamos sempre uma hora para sair do trabalho e chegar a casa.” Cedo a necessidade de fundar uma associação para defender os interesses dos moradores se tornou imperativa. “Em 2014 começámos a organizar uma associação com os moradores dos outros edifícios. Esperávamos que as nossas condições melhorassem e a associação seria um bom meio para expressar as nossas opiniões”, disse Wong Lai I. “Somos muito activos, e quase todos os dias recebemos opiniões dos moradores. Isso ajuda-nos a emitir as nossas queixas junto do Governo”, rematou.
Hoje Macau SociedadeJustiça| Tribunal adita novos factos à acusação de Ho Chio Meng São factos que têm que ver o alegado extravio de madeira valiosa e que o Tribunal de Última Instância entendeu por bem aditar à acusação do antigo procurador. Entre os mais de 1500 delitos pelos quais responde, Ho Chio Meng é suspeito de um crime de destruição de objectos colocados sob o poder público [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Tribunal de Última Instância (TUI) adicionou ontem quatro factos à acusação contra o ex-procurador, Ho Chio Meng, que está a ser julgado desde 9 de Dezembro. Os novos dados estão relacionados com o alegado extravio de madeira valiosa, apreendida no âmbito de dois casos de contrabando, ocorridos em 2013 e 2014, relatou a Rádio Macau, que está a acompanhar o julgamento. De acordo com a emissora, os factos agora aditados pelo TUI resultam de depoimentos feitos na semana passada, prestados por magistrados e funcionários do Ministério Público (MP) que lidaram com os processos-crimes abertos na sequência dos dois casos de contrabando de madeira de agar, considerada valiosa. Ho Chio Meng é acusado de um crime de destruição de objectos colocados sob o poder público. A madeira foi apreendida pelos Serviços de Alfândega e remetida para o MP a pedido de Ho Chio Meng, uma decisão considerada invulgar por várias testemunhas. Antes da remessa, o antigo procurador instruiu um magistrado para que averiguasse se os casos de contrabando tinham natureza criminal. Já com os inquéritos-crime em curso, as peças de madeira apreendidas foram retiradas da sala de provas e de arquivo do MP para outros espaços arrendados pelo Gabinete do Procurador. A acusação diz que alguns troncos chegaram a sair do MP para uma vivenda oficial que, nessa altura, estaria já a ser usada pelo ex-procurador a título particular. Para justificar a deslocação das peças de madeira, aparentemente à revelia dos delegados titulares dos processos de contrabando, Ho Chio Meng defendeu-se com a realização de exames periciais. Em tribunal, o arguido disse que era necessário averiguar o valor da madeira apreendida e se havia material falso, tendo igualmente alegado que tinha competências para dar este tipo de instruções por estar à frente do MP. Ho Chio Meng declarou também que os peritos que avaliaram a madeira de agar deram duas opções: ou as peças, sendo verdadeiras, eram destruídas ou ficavam em exposição. A segunda escolha foi a explicação dada pelo ex-procurador para a madeira encontrada fora de sítio. Há testemunhas que indicaram que Ho Chio Meng pediu para ver as peças de madeira apreendida, acompanhado por um alegado perito – uma dessas vistorias ocorreu fora do horário de expediente, durante um fim-de-semana de Grande Prémio. Há também depoimentos que atestaram que o ex-procurador pediu as peças mais valiosas para observação. Nos novos factos aditados à acusação, refere-se que Ho Chio Meng nunca interferiu nos inquéritos-crime relacionados com a madeira de agar na qualidade de magistrado. É também descrito que não há qualquer prova documental que ateste que o ex-procurador participou como magistrado na realização de exames periciais. Silêncio para alguns A Rádio Macau explicava ainda que a sessão de ontem ficou também marcada por uma questão de direito: estava previsto ouvir como testemunha uma ex-secretária de Ho Chio Meng, Stela Lou, cunhada de um dos empresários envolvidos no caso. No entanto, o tribunal entendeu que a testemunha estava dispensada de responder por ser familiar de um dos arguidos no processo – trata-se de Mak Im Tai, acusado de associação criminosa e corrupção em co-autoria com o ex-procurador. Após ter sido esclarecida pelo tribunal, a testemunha, que começou por responder às perguntas da acusação, optou pelo direito ao silêncio. Recorde-se que Mak Im Tai foi obrigado a depor, à semelhança do sócio, Wong Kuok Wai. Apesar das objecções da defesa, que alegou que os dois empresários estavam impedidos de depor, o TUI entendeu que os empresários podiam ser ouvidos como testemunhas, alegando que os factos em causa não constavam da acusação contra os arguidos.
Hoje Macau SociedadeLínguas | Flora e Zheng Guanying vão ter turmas bilingues [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s Serviços de Educação e Juventude vão criar, no ano lectivo 2017/2018, pela primeira vez, turmas bilingues em duas escolas públicas, como meio de incentivar a formação de quadros que dominem o português e o chinês, foi ontem anunciado. Segundo um comunicado da Direcção de Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), “com o intuito de formar prioritariamente talentos bilingues excelentes para o Governo da Região Administrativa Especial de Macau”, está planeada a criação de “uma ou duas turmas em português e chinês”, no primeiro ano do ensino primário e do secundário na Escola Oficial Zheng Guanying, e no primeiro ano do ensino primário na Escola Primária Luso-Chinesa da Flora. A criação de novas turmas será estendida anualmente até ao terceiro ano do ensino secundário complementar, explica a DSEJ. Estas turmas, diz o comunicado, “poderão quebrar a metodologia de ensino tradicional, adoptando uma concepção curricular e pedagógica flexíveis, com línguas veiculares de mandarim e português”. Além disso, “as escolas disponibilizarão currículos e medidas complementares especiais para alunos principiantes de português e inscritos nas turmas bilingues do primeiro ano do ensino secundário geral, fundando neles as bases da língua portuguesa”. Desta forma, a DSEJ espera que os finalistas destas turmas tenham melhores condições para continuar os seus estudos no ensino superior “relacionados com as línguas chinesa e portuguesa”, apontando como exemplos os cursos de Direito, Tradução e Interpretação, Relações Externas e Administração Pública, “de modo a contribuírem em prol da construção de Macau”.
Andreia Sofia Silva EventosDesporto | Projecto Mana Vida associa exercício a solidariedade social Cíntia e Guilherme Leite Martins há muito que faziam desporto para se manterem em forma, mas decidiram começar um projecto diferente. Parte dos ganhos obtidos com as aulas de fitness será destinada a instituições de solidariedade, sendo que os participantes também podem fazer os seus contributos a troco de aulas. O lançamento oficial é este domingo [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] mais recente projecto de Cíntia e Guilherme Leite Martins visa a prática do exercício físico a pensar nas necessidades das organizações sem fins lucrativos. Com o Mana Vida, há corridas e caminhadas em grupo, ou aulas de fitness, em que parte dos fundos obtidos em cada sessão será destinada a instituições de solidariedade social. Os participantes também podem contribuir com alguma valência, a troco de aulas. As sessões têm decorrido nos trilhos de Coloane, no empreendimento One Oasis ou ainda no Parque Central da Taipa. “O lema condutor do Mana Vida é o de encorajar as pessoas a terem uma vida mais saudável e a promoverem um sentimento de solidariedade. As pessoas, ao participarem nas nossas actividades e ao contribuírem para a causa do projecto, estão igualmente a construir uma comunidade mais forte e benevolente”, explicaram os responsáveis do projecto ao HM. A primeira acção do Mana Vida será a oferta de ténis a crianças residentes da Associação do Berço da Boa Esperança, uma associação sem fins lucrativos que tem à sua responsabilidade dois lares residenciais para menores. “Traçámos como primeiro objectivo a compra de ténis de desporto para jovens e crianças constituintes de uma organização local, com os recursos obtidos através das actividades fornecidas pelo movimento. Deste modo, o Mana Vida funciona como se fosse uma plataforma que procura fazer a ligação entre aquele que pretende fazer exercício físico e simultaneamente ajudar outras pessoas.” O lançamento oficial do Mana Vida acontece este domingo, na Pousada de Coloane. O evento começa às 9h e prossegue até às 14h, com a realização de diversas actividades desportivas. Segue-se um pequeno-almoço, sem esquecer algumas “conversas descontraídas” sobre a temática da vida saudável. Treinar em grupo Cíntia e Guilherme Leite Martins pretendem atrair pessoas para treinar em conjunto. “Sabemos que não é fácil uma pessoa levantar-se e ir correr ou andar sozinha, portanto, criámos grupos e pontos de encontro para que a pessoa se sinta motivada e encontre alguém para fazer o mesmo. A parte engraçada disto é que nós procuramos sempre maneiras de incentivar um participante a formar um grupo que seja conveniente para ele e para os amigos. Existindo essa adesão, adicionamos a actividade no nosso calendário.” Uma das opções de treino disponíveis é “You&Me”, cujas aulas têm como princípio “desenvolver a proficiência, social e emocional, a confiança e auto-estima, entre pais e filhos”. Há ainda as opções de Body Sweat e Kickn TRX, que são “treinos funcionais realizados ao ar livre”. “São treinos que se baseiam em movimentos naturais do ser humano, como pular, correr, puxar, agachar, girar e empurrar. O praticante ganha força, equilíbrio, flexibilidade, condicionamento, resistência e agilidade”, explicam Guilherme e Cíntia. Já a modalidade “Stroller Mania” é uma forma de exercício que pode ser feita com adultos e os carrinhos de bebé. “É algo que já se faz pelo mundo e tem o objectivo de recuperar a actividade física das mães, sem terem que comprometer o seu tempo com os filhos. As mães são ainda apresentadas a uma comunidade com um estilo de vida semelhante.” Existe ainda a opção pelas modalidades gratuitas como corridas ou a chamada “power walk” [caminhada], em zonas como a marginal da Taipa e os diversos trilhos existentes. “Estas últimas actividades têm como objectivo incentivar o indivíduo a sair do sofá [ou da cama], conhecer lugares desconhecidos no território, aproveitar a natureza local e reforçar o espírito de comunidade.” À procura de apoios Com um plano semanal de aulas a decorrer, e com alguns participantes fixos, Cíntia e Guilherme Leite Martins confessam, no entanto, que tem sido difícil encontrar colaboradores. “O Mana Vida funciona maioritariamente à base da doação de tempo das pessoas e de pessoas que nos têm ajudado ao nível logístico. O processo de cativar colaborações tem-se revelado ligeiramente lento, pois leva tempo para alguém conseguir compreender como este mecanismo de solidariedade funciona.” Foi daí que surgiu a ideia de implementar a “troca de serviços”. “Alguém que queira colaborar connosco poderá trocar os seus serviços por uma das nossas aulas. Isto capacita a pessoa a dar-se conta de que o seu talento tem importância e que também está a contribuir para a vida dos outros.” Neste momento, o Mana Vida precisa de “treinadores qualificados, tradutores, agentes de social media, fotógrafos, produtores de som e imagem, patrocinadores e pessoas positivas interessadas em ajudar com novas ideias”. É certo que o Mana Vida visa estabelecer laços em Macau, mas a ideia é também ir mais além. “A longo prazo, estamos a traçar um plano para lançar este projecto para fora de Macau, pois consideramos que o modelo que estamos a criar é extensível a outros locais do mundo. O querer ajudar não pode ter limites, o importante é manter-se verdadeiro e focado ao propósito deste esforço”, rematam os criadores da iniciativa.
Hoje Macau China / ÁsiaJilin | Dezenas de missionários sul-coreanos expulsos [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China expulsou dezenas de missionários sul-coreanos que trabalhavam no nordeste do país, incluindo alguns que ajudavam refugiados da Coreia do Norte, informaram ontem activistas, numa altura de renovada tensão entre Pequim e Seul. Cerca de 170 sul-coreanos – incluindo 70 missionários e respectivos familiares – na província de Jilin, que faz fronteira com a Coreia do Norte, foram expulsos entre 10 de Janeiro e 10 de Fevereiro, disse à agência France-Presse o padre e activista Kim Hee-Tae. “As autoridades chinesas invadiram as casas dos missionários, com o pretexto de que o visto destes tinha irregularidades, e exigiram que saíssem”, afirmou Kim, acrescentando que a maioria estava no país com vistos de turista ou de estudante. Existem cerca de 500 missionários sul-coreanos registados na China. Activistas estimam que mais de 2.000 cristãos fazem trabalho humanitário no país, incluindo ajudar refugiados da Coreia do Norte a chegar à Coreia do Sul. Citado pela AFP, Kim disse que cerca de 20% dos missionários expulsos ajudavam refugiados da Coreia do Norte e que cerca de 40 refugiados foram repatriados em resultado da operação. Os refugiados norte-coreanos escapam primeiro para a China, a partir de onde tentam chegar à Coreia do Sul, passando por um terceiro país. Caso sejam apanhados e repatriados, sofrem castigos. Fraca tolerância O ministro dos Negócios Estrangeiros da Coreia do Sul avisou os grupos de missionários para que tenham “cuidados extra” quando trabalham no exterior. Apesar de a China proibir a permanência de missionários no país, as autoridades tinham alguma tolerância com os grupos que operam em regiões empobrecidas do nordeste do país. Seul e Washington concordaram no ano passado em instalar o sistema antimísseis Terminal High Altitude Area Defence (THAAD), após a Coreia do Norte realizar sucessivos testes nucleares e com mísseis. A decisão levou Pequim a protestar, devido aos receios de que o THAAD seja capaz de recolher informações sobre a sua capacidade de mísseis balísticos. Pequim adoptou o que Seul considera uma série de retaliações, incluindo novas restrições à actuação de celebridades coreanas no país e um reforço das normas aduaneiras para os produtos sul-coreanos. Na semana passada o grupo Lotte Group, a quinta maior empresa da Coreia do Sul, disse que foi forçada a suspender a construção de um parque de diversões avaliado em milhares de milhões de dólares, depois de as autoridades terem levantado questões de segurança.
Julie Oyang h | Artes, Letras e IdeiasO filme que os chineses vêem no Ano Novo Lunar (e será que gostam?) 乘何方风破何方浪 Foto: Selecção de raparigas para uma Escola de Artes chinesa [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] filme é uma comédia para animar os espíritos, chamada Cheng Feng Po Lang, 乘风破浪,Título em inglês: Duckweed (Lentilhas). Estreou no primeiro dia do Ano Lunar Chinês (28 de Janeiro) e atingiu recordes de bilheteira num período de apenas seis dias. No quinto dia de exibição já tinha ultrapassado o limite anterior de 70 milhões de RMB. Ah! pois, têm razão, vocês nunca devem ter ouvido falar deste filme, nem tão pouco do realizador Han Han, que faz parte de um grupo de chineses super populares devido a um fenómeno local chamado “o cancro do heterossexual”. Há alguns anos atrás Han Han revelou-se, a si e aos seus desprezíveis sintomas: “Quando uma rapariga aceita um convite para jantar e ir ao cinema, significa que quer sexo. Quando traís a tua namorada o melhor que ela tem a fazer é calar a boca.” O Cancro do Heterossexual 直男癌é um neologismo chinês para designar um grupo de homens obstinadamente sexistas. Foi inventado por utilizadores das redes sociais em meados de 2014 para nomear chineses do sexo masculino que por palavras e actos menosprezam os valores femininos, ofendem os direitos das mulheres e combatem o movimento para a igualdade de género. Destacam-se, não só pela retórica misógina, mas também pela promoção da homofobia, uma higiene duvidosa, fraco sentido estético e pela violência doméstica. O termo surgiu na China continental para designar um fenómeno que se pode dever a uma economia fechada, a tradições que continuam a persistir, a uma preferência por filhos rapazes e ainda a outros factores, tais como sentimentos de fracasso pessoal e desconhecimento do estatuto da mulher. Agora deixo-vos o início da letra da canção do filme tão popular de que já vos falei: Antes de casares comigo / Há umas coisas que tens de dizer a ti própria /Talvez não gostes do que vou dizer /Mas mesmo assim tens de me ouvir / Porque estas são palavras que me saem do coração / só quando estou um pouco bêbedo / À noite nunca vais para a cama antes de mim/ De manhã nunca te levantas depois de mim / Tens de cozinhar óptimas refeições / E tens de te vestir à maneira / Vais viver em harmonia com a minha mãe e a minha irmã (e comer as bodegas que elas te derem) … E por aí fora. A progressiva afirmação das mulheres, quer a nível académico quer a nível profissional, conferiu-lhes papéis cada vez mais importantes na sociedade. No entanto, alguns homens recusavam-se a aceitar a alteração do estatuto social feminino. De acordo com o índex sobre a desigualdade de género, elaborado pelo programa de desenvolvimento das Nações Unidas em 2013, a China ocupa a posição 91 entre 187 países, pior que a do Irão e da Ucrânia. Isto fez-me lembrar o conselho de uma mãe chinesa à sua filha: “Rapariga, lembra-te sempre que és uma convidada em casa dos teus pais e uma estranha em casa do teu marido.”
João Paulo Cotrim h | Artes, Letras e IdeiasFormas de dizer Museu Picasso, Paris, 27 Janeiro [dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]rouxe lições desta riquíssima exposição, a primeira a cruzar olhares, obras e percursos, enfim, a amizade e os desencontros dos «monstros» Picasso e Giacometti. Não precisava, bastava o deleite de saltitar de uma forma para outra, da enormidade para o detalhe, do delírio para o pensamento, do mundo para o corpo. Esmagado percebi que artista será apenas aquele que tome por matéria-prima a energia e se deixe atravessar pelo raio do desejo. As vontades dionisíacas e primitivas destes colossos viraram as formas do avesso em vagas incessantes de criação. Nem a tristeza os travou. Em fundo, invariavelmente o eterno feminino abrindo-se em V de vitalidade, para se estender campo de batalha e principal soldado contra a morte, esse disforme enigma final. Na Baigneuse alongée, de Picasso, de 1931, braços e cabeça entrelaçam-se num nó que, abraçando o espaço, lança e recebe o resto do corpo feito mar. Na praia, onde o encontro incessante dos elementos sussurrará para sempre. Giacometti, em 1929, diz que uma Femme couchée qui rêve faz-se de ondas paralelas mantidas juntas e esvoaçantes um pouco acima da linha de terra por colunas, uma delas encimada por volume côncavo, talvez uma cabeça. O vazio, sempre ele a desafiar-nos, a conter-nos, a definir-nos. Como bem revela G. na série Femme (plate I) e depois sucessivamente (plate II) e (plate III): pelo nada somos definidos. Sublimes platitudes. Ainda bem que fui a tempo, mesmo contra o tempo e o cansaço, sendo este primeiro sintoma daquele outro a roer-me, apertando cada vez mais nós. Na barriga, afinal onde, como dizia Manuel António Pina, deve ser o lugar do coração já que aí sentimos tudo, nervos como alegria, preocupação como desejo. Sofro de falta de tempo para me perder nele. Santa Bárbara, Lisboa, 29 Janeiro Nos anos 1930, Alberto G. compôs pequenas esculturas em palcos de branca fragilidade e fundos de silêncio, nos quais desenhou tensões e equilíbrios com sensibilidade a rasgar feridas, dando-nos a ver o gesto de as retirar à informe paisagem do ar com x-acto. (Note-se a ajuda que esta estranha palavra oferece com o cruzamento em alvo, chaga que acolhe a potência. E como nos faz falta o c para acentuar carnes). Uma delas chama-se Pointe à l’oeil: longa e orgânica forma cónica, afia-se em direcção ao exacto meio dos vazios que olhos ocupariam naquele pequeno crânio e costelas, esboço de corpo, espetado em solo níveo riscado de quadrícula e sulcos. Um prego negro de cabeça branca atravessa e sustenta a massa. Depois a luz dança de mil modos para não prejudicar as sombras que repousam. Quanta dor aqui se encerra e desvela? Dirão que exagero, mas tant pis: incluo Paysage Après la Bataille, de Éric Lambé e Philippe de Pierpont, nesta bruta linhagem. Este P aponta-se-nos aos olhos, extraído ao branco com requintes de bisturi, P de paisagem e de perda. Com magistral gestão do ritmo, a batalha de uma mulher contra a morte da filha entrança-se, sob pesado manto de neve, com mão cheia de outras figuras a desfazerem-se no entorno. O pano de fundo sobre o qual evoluímos faz-se de amor e amizade e custa-nos negar à morte a possibilidade de fazer da paisagem beco sem saída. Corpos e fundos, nesta coreografia de encontrões se joga o essencial do labor de Éric. Nunca o silêncio foi tão bem desenhado. Nunca o branco foi tão negro. Mesmo quando a cor se junta à melodia com substância de personagem. Acontecem desenhos de estonteante pureza. Nada foi deixado ao acaso, basta conferir a rima entre a capa e as guardas, que alude à colecção de despojos que se diz vida. A narrativa longa estende-se sem perder, em momento algum, fulgores de verso. Algumas sequências agravam enigmas. E nunca deixam de brilhar as pequenas histórias de cada um dos actores, tratados com comovente ternura. Respira-se aqui humanidade. A leitura de «P» pode bem mudar-nos. Pena de quem não sabe. Horta Seca, Lisboa, 2 Fevereiro Perde-se no claro-escuro da desmemória o encontro com o trabalho de Jorge dos Reis, primeiro na sua qualidade de compositor de alfabetos, logo na de investigador atento das nossas artes tipográficas. Admiro muito o seu esforço de projectar atenção à obscuridade das oficinas quando a pele do mundo era de chumbo. E vibro com o divertido jogo com que faz das letras formas do olhar. A exposição, «Fragas Falantes», que celebra vinte anos e vinte tipos de letra, ergueu-se na faldas da serra, na Universidade da Beira Interior, mas veio ver o mar às paredes da abysmo galeria. O livro, com o mesmo título e grande formato, transpira saber e sabor. Foi feito em velhas máquinas, mas propõe mostruário de seres vivos, que outra coisa não são tais alfabetos. Cada página afirma-se poster, afirmação a um tempo subtil e gritada, útil e abstracta. Ajuntou-lhes pequenos comentários de gente do mesmo ofício, mas não apenas. Curiosa coincidência, vários dos convidados viram música nas suas composições. Também ouvi melodia na que me dedicou (na ilustração ao lado): Baco, que me surge inspirado em correntes de bicicleta. Percebo o deus desbragado, já as bicicletas… só se for metáfora para o esforço de locomover letras.
Sérgio Fonseca DesportoMudanças no Campeonato de Carros de Turismo não agradam a pilotos locais [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] notícia de que o Campeonato de Carros de Turismo de Macau (MTCS, na sigla inglesa) irá sofrer esta temporada uma importante alteração na sua estrutura de classes foi recebida com bastante apreensão entre os intervenientes, neste caso, os pilotos de carros de turismo do território. Antes das férias do Novo Ano Lunar, a Associação Geral Automóvel Macau-China (AAMC) anunciou que a corrida da Taça de Carros de Turismo de Macau do 64º Grande Prémio de Macau vai ser composta por dois tipos de viaturas: 1,600cc Turbo e 1,950cc ou superior. Esta decisão terá igualmente reflexos no campeonato local, pois em vez de existirem duas classes, com duas corridas separadas, em 2017 teremos duas classes mas uma só corrida. “Não é uma boa notícia para nós”, afirma Filipe Clemente Souza, o bi-campeão da categoria “AAMC Challenge” (1,600cc Turbo) do MTCS, porque “em comparação com os carros da categoria Road Sport, os nossos carros são muito diferentes”. A diferença a que o experiente Souza se refere está na performance dos carros, fruto de dois regulamentos técnicos concebidos para campeonatos com filosofias bastante díspares. No circuito de Zhuhai, a diferença em pista entre os carros 1,600cc Turbo e os carros da Road Sport chegaram, nas corridas disputadas no ano transacto, a ser de nove segundos por volta. Outros contras O piloto macaense Álvaro Mourato levanta também outra questão: a menor visibilidade que vão ter os pilotos da classe 1,600cc Turbo a partir de agora. “O comum telespectador não percebe. Só sabe quem acabou em primeiro na televisão. Mesmo que venças a classe 1,600cc Turbo, o mais certo é que nem sequer sejas apanhado na TV. Assim, as pessoas não saberão sequer quem venceu a categoria”, explicou ao HM o piloto macaense. Ao mesmo tempo, Mourato realça o potencial perigo de estarem em pista dois tipo de viaturas com andamentos tão díspares. “Isto de ter duas classes numa só categoria poderá ser um grande perigo. Os carros da Road Sport têm mais 500 cavalos de potência e nós nos 1,600cc Turbo, mesmo se o regulamento for alterado, temos apenas 300 e poucos cavalos de potência”, afirma o ex-vencedor da corrida Troféu Hotel Fortuna, lembrando que será “o grande perigo nas curvas de alta velocidades”. O HM contactou vários pilotos, mas nem todos quiseram prestar declarações nesta altura. Há quem opte pela publicação dos regulamentos técnicos da classe por parte da AAMC antes de se pronunciar publicamente sobre o assunto. É esperado que o futuro regulamento da classe 1,600cc Turbo, a apresentar em breve pela AAMC, traga um incremento de performance para os carros elegíveis na categoria, mas, mesmo após as alterações nas viaturas, é do senso comum que dificilmente estas possam chegar ao andamento em pista dos actuais carros da classe Road Sport.
João Luz Ócios & Negócios PessoasRui Carreiro trouxe marca Fátima Lopes para Macau Fátima Lopes chega a Macau pela mão de um seu conhecido: o multifacetado Rui Carreiro. O açoriano vende pequenas quantidades de sapatos da estilista portuguesa, principalmente a clientes mais fiéis. Um negócio de proximidade a meio mundo de distância da linha de produção [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] venda dos sapatos da marca Fátima Lopes são como um pequeno rumor, que passa de boca em boca. É assim que funciona o negócio do açoriano de gema, “com sotaque”, Rui Carreiro. Relação directa com os clientes que, normalmente, são amigos, ou conhecidos. Quando interrogado sobre como caracteriza os fregueses, garante que “quem procura os sapatos da Fátima tem muito bom gosto”. A clientela é variada, um pot-pourri social. Tanto pode ser a senhora que trabalha num escritório, uma dona de casa, uma bailarina, passando pela empregada de bar e restauração. Por vezes, o boca a boca chega a desconhecidos. “Vendi três pares de sapatos a três australianas que estavam cá de passagem. Já me ligaram a perguntar quando tenho mais”, conta. Rui é um homem dos sete ofícios e a venda de sapatos não é algo que faça como fonte primária de rendimentos, assim como o acolhedor salão de cabeleiro onde corta cabelos, que encara como hobby. Trabalha principalmente como wigmaster em espectáculos que passam por Macau e que o levam a viajar mundo fora. Quando se soube que vendia sapatos de Fátima Lopes, o pequeno stock que tinha voou das prateleiras. Rui não tem uma sapataria, mas compra pequenas remessas de calçado da estilista portuguesa. Da mesma forma, não tem uma loja de roupa, mas é bem capaz de “daqui a uns meses ter dez camisas de homem para vender”. A ideia é colmatar pequenas necessidades dos clientes, até porque a oferta neste sector de negócio é limitada em Macau, na óptica do açoriano. Tesouros de nicho “O meu foco aqui é ter produtos portugueses, se for açoriano tem prioridade, como é lógico, via verde, não pára na portagem”, explica Rui. Como seria espectável, os sapatos tiveram grande aceitação. “Vendi-os logo na primeira semana, o que não é de estranhar porque já os trouxe a pensar no cliente final.” Neste momento, prepara-se para fazer mais uma encomenda da próxima colecção, nos mesmos moldes, uma pequena remessa. “Como digo sempre, não é para massas, mas para um reduzido nicho de mercado, porque Macau é pequeno para um volume de negócio maior.” Não é essa a prioridade de Rui Carreiro, que vê na massificação uma perda de identidade, um “copy paste”, uma repetição ao estilo do fast food, o que poderia representar a “perda do nicho de mercado”. Além disso, a venda a retalho poderia retirar ao açoriano o prazer de “viajar e trazer algo novo, excitante”. Senhora de Fátima “Conheço a Fátima há algum tempo porque trabalhei em moda em Portugal.” Rui trabalhou como manequim, travou conhecimento com Fátima Lopes em Lisboa e também privou com a estilista enquanto produtor da Moda Açores. A relação nasceu daí, começou como profissional, mas tornou-se um pouco mais pessoal. “Normal quando dois ilhéus estão a viver em Lisboa. Não é como ser emigrado, estás dentro do mesmo país, mas tens falta das tuas raízes, falta-te também um bocadinho de colo e a Fátima, digamos, foi também um amparo”, recorda. Foi assim que nasceu o pequeno negócio dos sapatos, de uma forma casual e amigável. Na última vez que Rui esteve em Lisboa encontrou-se com a estilista, que tinha relançado a linha de calçado. Almoçaram, puseram a conversa em dia, e Rui regressou a Macau com dez pares de sapatos. “Achei-os muito bonitos, essa é uma característica que tenho, não vendo nada que não goste.” Quanto ao crescimento da marca Fátima Lopes em Macau, Rui não consegue prever o futuro. “Isso depende se fico em Macau, ou não. Estou cá há sete anos, que é aquele período em que a relação pode passar a ser ralação”, explica humorado. De qualquer forma, é uma marca que se vende a ela própria. A estilista tornou-se uma referência internacional, “até mais no exterior, do que propriamente em Portugal. Ela já está na China, conseguiu entrar agora, está na Austrália, Europa e nos Estados Unidos”. Vem aí a próxima colecção e Rui venderá, novamente, um número limitado de pares. A ideia do açoriano é ir adocicando os clientes com pequenas preciosidades, ir buscar modernidade à tradição lusa e trazer magia a um punhado de fregueses.
Hoje Macau China / ÁsiaPoluição | Índia iguala China no número de mortes prematuras [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] ar na Índia já rivaliza com o da China como o mais mortífero do mundo, sendo responsável por 1,1 milhões de mortes prematuras a cada ano, indica um novo estudo publicado ontem. O estudo conjunto de dois institutos de investigação sobre saúde norte-americanos indica que o nível anual de mortes prematuras na Índia é quase igual ao da China, resultado de uma subida abrupta e constante nos últimos anos. Já os números chineses têm vindo a estabilizar no mesmo período. As medições feitas ao “smog” (em termos genéricos, nevoeiro contaminado com fumos) nas cidades indianas passam muitas vezes os índices seguros de exposição. Entre 1990 e 2015, a Índia registou um aumento de quase 50% no número de mortes ligadas a partículas no ar (índice conhecido como PM2.5), conclui o relatório. Estas partículas microscópicas são tão leves que flutuam no ar e alojam-se dentro dos pulmões, sendo causadoras de bronquite crónica e doenças cardíacas. Também estão associadas a taxas mais altas de cancro nos pulmões. “A Índia agora aproxima-se da China no número de mortes atribuíveis ao PM2.5”, indica o relatório do Instituto dos Efeitos para a Saúde e o Instituto para as Métricas e Avaliação na Saúde. Sobe e desce Em conjunto, os dois gigantes asiáticos, Índia e a China, representam mais de metade de todas as mortes no mundo atribuídas à exposição a PM2.5, acrescenta o documento. Os esforços das autoridades chinesas para reduzir o “smog” nas cidades estabilizaram o número de mortes prematuras associadas a PM2.5 nos 1,1 milhões por ano desde 2005. Mas na Índia esse mesmo número subiu de 737,4 mil por ano 1990 (estimativa), para 1,09 milhões em 2015. A China e a Índia também surgem quase empatados na corrida ao título de país mais poluído do mundo. Confrontada com crescentes necessidades de energia, a Índia continua muito dependente do carvão para fornecer electricidade aos seus 1,25 mil milhões de habitantes. Ainda assim, as autoridades indianas fixaram metas ambiciosas para a produção de energia eólica e solar. “O carvão não vai desaparecer rapidamente. A poluição ambiental derivada do carvão será sempre muito significativa na Índia”, considerou Sumant Sinha, a presidente da ReNew Power, uma empresa indiana de energia limpa.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteDireito | Ex-juiz diz que lei de contratações públicas “é permissiva” João Valente Torrão lança esta quinta-feira um livro que põe o dedo na ferida quanto à desactualização do regime de bens e serviços em vigor. A obra, intitulada “Regime jurídico da contratação pública da RAEM”, expõe as falhas de um diploma “desactualizado” e “permissivo”. O antigo juiz e formador de magistrados defende mais do que duas formas de contratação, com implementação do sistema online [dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]á muito que a adjudicação de bens e serviços por parte da Administração é o calcanhar de Aquiles de um Executivo que afirma governar em prol da transparência. Numa altura em que o ex-procurador da RAEM responde em tribunal por ter autorizado demasiadas adjudicações directas de bens e serviços para o Ministério Público, sempre às mesmas empresas, alegadamente de familiares, e sem concurso público, é lançado um livro que espelha os problemas do actual regime. João Valente Torrão, antigo presidente do colectivo de tribunais em Macau nos anos 90, formador de vários magistrados do território, lança esta quinta-feira a obra “Regime jurídico da contratação pública da RAEM”, na Fundação Rui Cunha (FRC). O livro será apresentado por Vasco Fong, ex-comissário contra a corrupção, actual director do Gabinete de Protecção dos Dados Pessoais. Em entrevista ao HM, João Valente Torrão defende a revisão do regime das despesas com obras e aquisição de bens e serviços, em vigor desde 1984. “A lei de Macau é uma lei que, em Portugal, já foi alterada várias vezes. A aquisição de bens e serviços é um diploma de 1985, o de Obras Públicas é de 1999. Mesmo o de 1999 não é um diploma muito vanguardista, digamos assim”, começa por apontar. Quais são, então, as maiores falhas? “Em primeiro lugar, a lei actual não obedece às regras internacionais, como a consagração de princípios como a transparência, imparcialidade, publicidade. Como digo no livro, o tribunal pode superar, e a Administração tem superado, através do Código do Procedimento Administrativo [a falta de uma lei actualizada]. O Código do Procedimento Administrativo é uma lei válida, que para mim tem o mesmo valor da Lei Básica. É possível ultrapassar essas questões.” João Valente Torrão defende ainda a criação de um sistema electrónico para as adjudicações feitas no seio da Função Pública. “Há o aspecto do uso electrónico da contratação. Em Portugal, e para que se tenha noção da importância disto, registaram-se em 2013 175 mil procedimentos electrónicos. Em Macau, entre 2000 e 2013, a contratação pública subiu de dois mil milhões para onze mil milhões de patacas. Em termos monetários, é muito importante.” João Valente Torrão defende ainda a criação de mais formas de contratação. “Há um atraso nos procedimentos, há apenas o concurso público e o ajuste directo. Em Portugal, na União Europeia e em toda a parte já existem vários procedimentos para a contratação pública.” Para além disso, a obra lançada pela FRC defende que a nova lei terá de apontar “as garantias dos interessados” no processo de contratação. “O principio da audiência prévia, antes da adjudicação, não está na actual lei mas está no Código do Procedimento Administrativo. A indemnização seria uma das garantias necessárias. “No caso da contratação pública, tem alguma gravidade, porque apenas se pode recorrer para o tribunal depois de estar adjudicado o serviço ou adquirido o bem. Em Portugal temos um serviço de contencioso que permite ir a tribunal logo enquanto o processo decorre. Tem alguns riscos, mas em Portugal está claramente identificada a possibilidade de indemnização. No livro também defendo que é possível uma indemnização.” China à nossa frente O antigo juiz, já retirado dos tribunais, não encontra uma explicação para a ausência de uma lei, quando a China já tem legislação avançada. “Essa importância é dada através das organizações internacionais, como a Organização Mundial do Comércio. A China já tem uma legislação mais avançada sobre esta matéria face a Macau.” “Se a própria China já tem esta legislação, não vejo porque é que aqui há-de continuar assim. Não garantem os direitos dos adjudicatários, porque não se conhecem melhor certos aspectos, e adoptar a contratação por via electrónica. Tudo isso é bom para garantir a imparcialidade, para diminuir as possibilidades de corrupção”, defendeu. Em Macau, muitas das adjudicações de bens e serviços acabam por ser feitas sem a realização de um concurso público. Não é ilegal, alerta o autor do livro, mas não está certo. “A lei é muito permissiva. A lei diz que se o concurso público não tiver êxito, vai-se para o ajuste directo. O ajuste directo exige a consulta de três entidades, mas isso pode ser dispensado ‘em caso de’. É provável que às vezes haja um abuso do ajuste directo.” A ausência de análise Para João Valente Torrão, o facto de só agora o Governo estar a elaborar um novo regime de aquisição de bens e serviços pode advir do facto de haver pouco debate sobre o assunto. “Este diploma é de 1985, já poderia ter sido actualizado pelo menos em 2000, no início da RAEM. Como não se levantam muitas questões, talvez seja por isso que o Governo não está pressionado a fazer alterações.” No geral, aponta, há falta de estudos na área do Direito. “A questão também não é levantada em tribunal. Sobre esta matéria encontrei apenas meia dúzia de artigos. Aqui não se estuda muita coisa porque as pessoas não têm o espírito de litigância [de levar casos a tribunal]. Como não aparecem muitos casos, os advogados não estudam e os tribunais não decidem.” O facto do Governo ter começado a reagir tarde a diversos relatórios do Comissariado da Auditoria e Comissariado contra a Corrupção não é, para o antigo juiz, uma forma de descredibilização destas entidades. “ O Governo tem as suas prioridades. O facto de responder tardiamente não significa menos respeito por essas entidades. Até vejo os órgãos do Governo dizerem que aceitam as conclusões. Talvez seja uma forma de actuação do Governo.” Caso Ho Chio Meng “denegriu a justiça” Convidado a comentar a detenção do ex-procurador do Ministério Público, João Valente Torrão assume que nem era preciso ir tão longe para denegrir a justiça. “Nem era preciso ser um antigo procurador, bastava ser um juiz ou alguém de categoria inferior. Basta isso para denegrir um pouco a justiça. Sei que ele está acusado de uma série de crimes, 1500, o que me impressiona um pouco, mas não sei quem fez a acusação. Claro que é uma mancha na justiça. Tudo depende do que se provar em tribunal.” Questionado sobre o facto de continuar a ser prática do MP a adjudicação directa de serviços, prática de que está acusado Ho Chio Meng, João Valente Torrão avisa que “não vê qualquer ilegalidade”, mas que, em “nome da transparência, para que não haja suspeitas de corrupção, talvez fosse bom não abusar muito dessa forma”. “Magistrados não escrevem em português” João Valente Torrão alerta para o facto de muitos dos magistrados em funções não utilizarem muita a língua portuguesa nos processos. “Todos esses magistrados [formados na década de 90] falavam e escreviam português. Mas agora o que se diz, e sei por experiência própria, é que nem se dão ao trabalho de escrever em português, e há apenas um mero despacho em chinês.” Sobre a falta de magistrados, João Valente Torrão não dá muitas sugestões. “Não tenho processos neste momento e os advogados estarão em melhores condições para avaliar a situação. Posso dizer que fui formador, juntamente com alguns colegas, e todos nós nessa altura demos o nosso melhor para formar magistrados e a ideia geral é que, todos aqueles que formámos, eram magistrados muito bons. Temos de saber se é possível formar cá magistrados. Sei que há um curso a decorrer agora, mas não tenho mais informações.” Sobre os actuais atrasos na Justiça, o antigo juiz prefere recordar o seu tempo. “Não sei detalhes, sei que o número de processos terá aumentado muito. Quando cá estive éramos quatro juízes portugueses e fazíamos todos os serviços atempadamente. Mas, não tenhamos ilusões, eram menos processos, e talvez menos complexos.” “Em Macau não interpretam a lei” O antigo presidente do colectivo de tribunais de Macau prefere não dramatizar em relação ao gradual desaparecimento do Direito de Macau. “O Direito é o mesmo em todo o lado. Há a tendência para os princípios serem gerais. O que noto em Macau é que, muitas vezes, não interpretam a lei, mas isso não é por ser português ou chinês, é porque não sabem as bases da interpretação. Uma lei interpreta-se pelo seu espírito e a sua história.” “Talvez o problema não esteja no Direito, porque o Direito é igual em toda a parte. Na China, em 1999, o sistema chinês tinha mais tendência para se aproximar do ocidental do que do inglês. Quando me dizem que isto pode acabar, penso que não acaba”, adiantou. Sobre a má qualidade dos cursos de Direito no território, João Valente Torrão prefere lembrar que “talvez os estudantes não aprendam bem os princípios do Direito, que são iguais em toda a parte”. Código do Procedimento Tributário “desactualizado” Especialista em legislação na área dos impostos, João Valente Torrão lança mais um alerta face à desactualização do Código do Procedimento Tributário. “Há uns anos que está para ser reformulado e ainda não foi, e esse é um dos casos em que há uma profunda desactualização. Não apenas ao nível dos impostos, porque a Lei Básica diz que se trata de um regime altamente favorável. É o procedimento. Dou um exemplo: caso se queira impugnar uma decisão da pessoa que liquida os impostos, a lei não é clara. Ainda temos as leis de há muitos anos, a execução fiscal data de 1951. Uma modernização não fazia mal, e que indicasse claramente os direitos dos contribuintes e dos adjudicatários.”
Andreia Sofia Silva PolíticaCódigo Penal | AL analisa dois novos crimes relativos a menores O Governo vai ter de mexer nalgumas penas previstas para os crimes sexuais que pretende aditar ao Código Penal. É que há molduras que não batem certo com a legislação já em vigor. Ontem, a Assembleia esteve a analisar dois novos delitos, ambos sobre menores [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s deputados da 3.a Comissão da Assembleia Legislativa (AL) estão “preocupados” com o desfasamento que existe entre as penas previstas, neste momento, pelo Código Penal para crimes de natureza sexual e aquelas que constam da proposta de lei que vem aditar novos delitos à codificação. O assunto vai ser o tema dominante de uma reunião agendada para a próxima quinta-feira, de acordo com as explicações deixadas por Cheang Chi Keong, presidente da comissão. “No artigo 166.o [abuso sexual de crianças] do Código Penal, a pena máxima prevista é menos grave do que no crime de pornografia de menor [sugerida na proposta de lei]”, exemplificou Cheang Chi Keong. “Vamos trocar ideias de modo a saber se as molduras penais vão ser definidas de uma forma equilibrada, para que haja compatibilidade entre os crimes.” Ontem, o grupo de deputados esteve a analisar dois novos crimes que dizem ambos respeito a menores: o recurso à prostituição de menor e o crime de pornografia de menor. O Código Penal prevê já a criminalização destes dois actos, mas apenas em situações em que a vítima tem menos de 14 anos. Com o articulado, o Governo pretende estender a protecção até aos 18 anos. “Uma pessoa que recorra ao serviço sexual prestado por um menor entre 14 e 18 anos vai ter de assumir responsabilidade criminal”, salientou Cheang Chi Keong. “Não está em causa uma ameaça, mas sim uma transacção sexual. Neste momento, os clientes não precisam de assumir qualquer responsabilidade criminal.” O crime tem natureza pública, não sendo preciso queixa da vítima para que o Ministério Público possa intervir. Na reunião de ontem, discutiu-se sobretudo a intenção legislativa. “O objectivo é reforçar a tutela penal para com os menores”, vincou o deputado. “A prostituição infantil existe, de facto. De acordo com os estudos e as recomendações internacionais, a melhor forma para combater este fenómeno e o consumo deste tipo de serviços é a criminalização deste acto”, assinalou ainda. Tal como Governo, a AL espera que a introdução deste novo crime “seja uma forma de eliminar a tendência da sua procura, contribuindo ao mesmo tempo para salvaguardar a saúde e o desenvolvimento das crianças”. Que os há, há O novo crime de pornografia de menor diz igualmente respeito a vítimas entre os 14 e os 18 anos. “Os menores que forem aliciados ou utilizados em espectáculos pornográficos ou em produtos pornográficos vão ter protecção reforçada”, explicou Cheang Chi Keong. “A pessoa que os alicia vai ser criminalizada. A moldura penal vai de um a cinco anos de prisão. A natureza do crime é igualmente pública.” O deputado destacou ainda um aspecto “muito importante” do artigo em questão: “Este crime está já incluído na lei da criminalidade organizada. É uma forma de reflectir a determinação do Governo na criminalização desses actos e na protecção dos menores.” Questionado sobre a existência de casos acerca das situações previstas nestes novos crimes, o deputado afirmou que o Governo não forneceu dados concretos, dando a entender, porém, que não há dúvidas sobre a existência deste tipo de delitos. “Na sociedade, temos acesso a este tipo de notícias, mas aqui não falámos de casos concretos”, resumiu.
Hoje Macau PolíticaGoverno pondera alterar Lei do Trânsito Rodoviário [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stá em análise a possibilidade de aumentar as penas para quem é apanhado a conduzir sobre o efeito de álcool ou drogas, de forma a tornar as estradas de Macau mais seguras. Outro assunto em discussão é a possibilidade de se avançar para um sistema de carta de condução por pontos Wong Dong, membro do Conselho Consultivo do Trânsito (CCT), divulgou em declarações ao Jornal do Cidadão que o Governo está a estudar uma alteração à Lei do Trânsito Rodoviário. “O tráfego é, nos dias de hoje, um dos problemas cruciais na sociedade de Macau, por isso é necessário alterar a lei para aumentar as penas”, afirmou o conselheiro. Wong acrescentou ainda que a população deve ser escutada nesta matéria e que o Executivo deve ser célere na alteração legislativa. Segundo Wong Dong, há uma sensação popular de impunidade, uma vez que quem é apanhado a prevaricar muitas vezes escapa apenas com pena suspensa. O membro do Conselho Consultivo do Trânsito é da opinião de que as penas devem ser aumentadas, “especialmente no caso de condução sob efeito de estupefacientes, porque envolve droga, o que faz com que seja um crime mais grave”. Quanto à questão das suspensões de penas, o conselheiro considera que estas não devem ser aplicadas nos casos de reincidência. Ng concorda O deputado Ng Kuok Cheong também afina pelo diapasão da mão pesada para os condutores que sejam apanhados ao volante embriagados ou drogados, frisando que as penas em Macau são mais leves do que noutras regiões. Por seu lado, Hong Weng Kwan, advogado, afirmou que “a execução da Lei do Trânsito Rodoviário não levanta problemas de maior mas, às vezes, os resultados da justiça nos casos relacionados com condução sob efeitos de álcool e de droga diferem das expectativas da sociedade”. O jurista considera que a aplicação das penas, como estão, carecem de poder preventivo. Hoje em dia, os automobilistas que sejam apanhados com álcool no sangue têm uma pena de prisão, no máximo, de um ano. O advogado acha que se a moldura penal aumentar para dois anos poderá ter um efeito preventivo. Carta aos pontos Seguindo uma tendência internacional, implementada também em Portugal, o membro do CCT acha que Macau também deveria implementar esta medida, uma vez que “é uma política que produz efeitos positivos noutros lugares”. Já Hong Weng Kwan não vê necessidade para a carta por pontos ir para a frente. Nesse domínio, o advogado acha que seria preferível chegar a um consenso social sobre como punir as violações ao código da estrada. Ng Kuok Cheong acha que é um assunto digno de discussão, que terá de passar por consulta popular e pela Assembleia Legislativa.
Hoje Macau PolíticaDSAT promete mais quatro auto-silos este ano [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) confirmou ao deputado Zheng Anting que o Governo tem vindo a procurar sítios adequados para a construção de novos parques de estacionamento, sendo que este ano há quatro auto-silos públicos que podem ser utilizados, confirmou o organismo. Para além disso, a DSAT disse que poderá instalar novos dispositivos nos parques de estacionamento públicos, mas que tal depende de vários factores. Em resposta à interpelação escrita do deputado, o Governo apenas afirma que a introdução de novos dispositivos em parques de estacionamento vai depender de várias condições, tal como o desenvolvimento da referida técnica, questões jurídicas e de localização. Apesar das condicionantes, a DSAT promete encorajar condutores e concessionários dos parques a utilizarem os novos dispositivos. A DSAT confirmou ainda que tem actualmente 41 parques de estacionamento, o quais oferecem um total de 14.618 lugares para automóveis ligeiros e 11.279 lugares para motociclos. Nas vias públicas, há 9.250 lugares de estacionamento com parquímetro para carros ligeiros e 2.112 para motociclos. Estão ainda instalados nas vias públicas 2.483 lugares de estacionamento gratuito para carros ligeiros e 37.361 lugares com parquímetro para motociclos. Dado o desenvolvimento económico de Macau, o crescimento de veículos motorizados já ultrapassou o número de lugares de estacionamento disponíveis, aponta o organismo. A DSAT mencionou que como o crescimento de veículos ultrapassou o número de vias em Macau de forma significativa, os automóveis já estão a atingir cada vez mais o limite em termos de utilização de estradas. Para isso, a DSAT vai avançar com medidas abrangentes para melhorar o trânsito, incluindo os trabalhos relativos à gestão racional de veículos particulares. A DSAT espera ser capaz de controlar o crescimento de veículos através de novas medidas, por forma a conseguir fixar as taxas de crescimento em 3,5 por cento até 2020. HM
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaMetro Ligeiro | Gestão poderá incluir empresas estrangeiras A posse é nossa mas os gestores poderão ser locais e estrangeiros. É que o Governo quer delegar a gestão do metro ligeiro: por um lado, cria-se uma sociedade de Direito privado com capitais de Macau; por outro, abre-se a possibilidade de empresas de fora participarem no projecto [dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]eve ontem início o processo de consulta pública para a criação da lei do sistema de transporte do metro ligeiro, a qual deverá durar 60 dias. Ng Keng Chung, coordenador adjunto do Gabinete para as Infra-estruturas de Transportes (GIT), referiu que é intenção do Executivo entregar a gestão do metro ligeiro a uma sociedade de Direito privado composta por capitais públicos de Macau, com a possibilidade de empresas estrangeiras poderem participar no estabelecimento da sociedade. “Esperamos encontrar empresas que tenham experiência de trabalhar com o metro ligeiro, mesmo fora de Macau, para aderirem a esse trabalho.” Apesar disso, o Executivo falou na importância de ter gestores de Macau. “Ainda estamos a fazer um estudo quanto à estratégia de funcionamento da sociedade. Pensamos como podemos dar mais oportunidades a pessoas de Macau para participarem neste meio de transporte. Queremos atrair os locais [para cargos de gestão]. Esta entidade tem de ter uma percentagem de locais para que possam aprender algo novo”. O coordenador-adjunto do GIT confirmou que concessionar a gestão do metro ligeiro a privados está fora de questão. “Pensámos nessa possibilidade [de fazer uma concessão a empresas], mas temos de pensar numa estratégia de como podemos fornecer um melhor serviço aos cidadãos. Se for através de uma concessão teremos de pensar na capacidade financeira e de gestão dessa empresa. Neste momento, achamos que criar uma sociedade com capitais de Macau é mais adequado”, explicou. Caberá a esta sociedade fazer a gestão e manutenção do metro ligeiro, sob fiscalização do Governo. O documento de consulta fala na fiscalização feita por um “organismo público”, mas Ng Keng Chung não conseguiu adiantar mais informações. Em Novembro de 2016, durante a análise na especialidade do orçamento de 2017, o Governo confirmou junto dos deputados que iria atribuir 1,4 mil milhões de patacas para a Macau Metro Ligeiro SA, “uma empresa sem accionistas e inteiramente participada pelo Governo”, a ser criada este ano. Taipa em 2019 O coordenador-adjunto do GIT confirmou ainda a inauguração do segmento da Taipa para 2019, afastando a possibilidade da lei de gestão do metro não estar pronta a tempo do funcionamento deste meio de transporte. “Vamos iniciar as obras dentro das estações e instalação de alguns equipamentos, bem como a construção da passagem superior. O tempo não é muito mas vamos tentar acelerar o processo e iremos em breve divulgar mais informação”, apontou Ng Keng Chung. Antes de entrar em funcionamento, o metro ligeiro será posto a circular sem passageiros. Fica ainda decidido que irá funcionar com operação automática, sem condutor, “por forma a garantir a prestação de um serviço público de transporte colectivo de passageiros de forma segura, rápida, fiável e pontual”, descreve o documento de consulta. Lei a metro A futura lei do sistema de transporte do metro ligeiro vai ainda prever a criação de um seguro obrigatório de responsabilidade civil, o qual deverá ser de 200 milhões de patacas, como limite mínimo, “tendo como base da estimativa a lotação dos futuros comboios do metro ligeiro”, lê-se no documento de consulta. O seguro será criado através de regulamento administrativo. São ainda previstas sanções administrativas para quem incorrer em actos que possam prejudicar a operadora e o funcionamento do metro ligeiro, as quais variam entre as 400 e as 5000 patacas. Como os crimes previstos no Código Penal na área dos transportes não se podem aplicar ao metro ligeiro, por se tratar de um sistema diferente, a lei vai determinar as molduras penais caso se verifiquem ocorrências criminais. Uma condução perigosa poderá originar um a oito anos de prisão, enquanto que a captura de um comboio por quem não tiver essa competência ou responsabilidade ganha uma moldura penal de cinco a 15 anos de prisão. Há ainda molduras penais de três a dez anos para quem atentar contra a segurança das operações ou causar desastres, sendo que o perigo causado por negligência incorre numa pena de prisão de um a oito anos. No que diz respeito à investigação técnica de acidentes, todos os relatórios de investigação, incluindo as conclusões e recomendações, “devem ser divulgados à população”.