Orçamento 2018 | Parecer aponta falta de previsões macroeconómicas

Parecer da Comissão da Assembleia Legislativa, que analisa a lei do Orçamento de Macau para 2018, aponta a falta de previsões económicas a longo-prazo. A proposta orçamental não prevê a taxa de inflação ou o crescimento económico previsto para o ano que se avizinha

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] falta de previsões macroeconómicas figura como uma das lacunas da proposta de lei do Orçamento de Macau para 2018 sinalizadas no parecer da comissão da Assembleia Legislativa (AL) que analisou o diploma aprovado na generalidade em Novembro.

“Não se refere, nos documentos do orçamento apresentados pelo Governo, quais os pressupostos económicos (previsões) que foram adoptados na elaboração do orçamento para 2018. Por exemplo, a taxa do aumento económico ou a taxa de inflação para 2018, indicadores que estiveram em falta no decorrer da previsão económica”, refere o parecer da 2.ª Comissão Permanente da AL, datado de terça-feira.

O documento refere que cada serviço, após a avaliação interna do ano anterior, apresentou às Finanças o montante do seu orçamento para o próximo ano, “estando em falta uma base uniforme para a respectiva previsão, ou seja, qual foi a taxa do aumento económico em que se baseou a previsão”, quando, “para efeitos de uma avaliação racional, a elaboração do orçamento de cada serviço deve basear-se no mesmo pressuposto macroeconómico”.

“A previsão intercalar é um instrumento para o planeamento financeiro. Apesar de o orçamento ser de natureza anual, é indispensável, ao nível macroeconómico, a avaliação intercalar da previsão das receitas e despesas do Governo, no sentido de avaliar adequadamente a racionalidade do orçamento”, aponta o parecer. O documento realça ainda que o Fundo Monetário Internacional (FMI) propõe a inclusão de previsões intercalares de três anos.

Jogo imprevisto

“A previsão intercalar deve basear-se nos diversos pressupostos relacionados com as receitas e despesas do Governo, uns com a economia (isto é, os pressupostos económicos gerais), por exemplo, as variações reais do Produto Interno Bruto (PIB) ou a taxa tendencial do Índice de Preços no Consumidor projectadas para os anos seguintes”, diz o documento.

Em causa estão ainda “algumas actividades relacionadas com determinadas áreas do Governo”, refere aquela comissão permanente da AL, dando como exemplo as receitas de jogo, o número de visitantes ou o progresso das obras.

O parecer elabora um pouco mais sobre o caso concreto das receitas da indústria do jogo, principal motor da economia de Macau, apontando que “o Governo não esclarece a forma aplicada na respectiva estimação”, pelo que “desconhece-se os indicadores utilizados e as próprias hipóteses inerentes às previsões sobre o crescimento da economia no próximo ano”.

As receitas dos casinos “assumem um papel muitíssimo importante no que diz respeito à estabilidade financeira do Governo”, pelo que “a forma da sua estimação tem implicações relevantes nos orçamentos anuais” e “constituem mesmo factor decisivo com relação directa para a determinação do montante das despesas do Governo”, diz a comissão da AL.

“Por isso, há que uniformizar as previsões, sobre o crescimento económico, adoptadas para estimar as receitas do jogo e as respectivas previsões utilizadas na estimação das despesas do Governo, ou seja, efectuar a estimação das receitas e das despesas com base no mesmo indicador de crescimento económico do próximo ano, como por exemplo, 7 por cento, conforme resulta das previsões do FMI”, insiste a comissão da AL.

Elaborado o parecer, a proposta de lei do Orçamento de Macau para 2018 vai subir a plenário para ser votado na especialidade, não havendo ainda uma data para o efeito.

11 Dez 2017

Escondam o Courbet, eles vêm aí

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap]gora são os quadros. Não aqueles capazes de causar controvérsia e que, de modo mais ou menos feliz, fazem luz sobre as contradições da contemporaneidade. São obras perfeitamente integradas no cânone da história da arte ocidental e, por vezes, tão discretas e inofensivas que sobre elas recai unicamente a atenção dos especialistas. À partida, não há muito para dizer sobre Egon Schiele que já não tenha sido dito. E, ainda assim, consegue ser notícia, por razões que lhe são alheias e que configuram um quadro de puritanismo revisitado a que Schiele teria provavelmente respondido com muito mais ousadia do que aquela que a censura lhe descobre agora.

Reformulemos: não é de censura em sentido canónico de que se trata; não é um programa de estado ou sancionado por uma autoridade central com o intuito mais ou menos explícito de moldar a sociedade em função de um determinado programa político. É uma coisa muito mais anónima, volátil e caprichosa, disseminada em grande parte pelas redes sociais, posta em prática por activistas de sofá e ratificado por uma ou mais minorias que reclamam dores próprias ou alheias como pretexto e fundamento para a tomada de uma posição moral. E tudo se resume a isto: o mundo ideal é um lugar de onde toda a possibilidade de afectação negativa deve ser eliminada. O disparate desta tese pode ser visto de dois ângulos distintos. Em primeiro lugar, se pensarmos num mundo como uma imensa sala de estar cuja climatização depende das definições escolhidas para o ar condicionado, é fácil percebermos que será não somente impossível regular todos os parâmetros de forma a satisfazer toda a gente como a constante afinação milimétrica exige da sociedade a imposição de uma vigilância neurótica. Por outra parte, a tese referida parte do pressuposto ingenuamente epicurista segundo o qual tudo quanto é desagradável ou inquietante é moralmente condenável e pernicioso. Uma das características mais interessantes de uma obra de arte, a de ser desafiante e perturbadora, deixa de ser uma vantagem para a compreensão deste ou de outro tempo e desta ou de outras culturas para passar a ser uma obsolescência agressora que reduz a obra de arte a um insulto sem mérito. Não é difícil imaginar no que se transformariam os museus acaso a curadoria das exposições fosse entregue aos activistas da higiene.

Esta posição moral, de que os subscritores garantem o carácter justo, é tudo menos justa e tudo menos moral. É uma posição acrítica, sem qualquer fundamento teórico e absolutamente infantil. Rege-se pelo princípio da máxima subjectividade em duplo sentido: qualquer pessoa que se sinta afectada negativamente por qualquer coisa pode e deve exigir que a fonte desse desconforto seja eliminada ou escondida. Não visa uma ideia de uma sociedade mais equilibrada e madura – pois tal exige esforço e sacrifício – nem propõe qualquer alternativa que não seja a abolição – pois tal exige pensamento. Propõe banir coisas e, a reboque de tudo quanto as sociedades civilizadas lograram obter em termos de ganhos sociais – a abolição da escravatura, o sufrágio universal, o reconhecimento constitucional dos direitos de todos os cidadãos – o seu fim último, mesmo que o desconheça, é o de deitar fora o bebé com a água do banho. Veste progresso mas tresanda a retrocesso. Diz-se da liberdade mas age como o mais empedernido fascista.

Por isso quando surgem notícias como a censura dos cartazes publicitários da exposição de Egon Schiele pela empresa de transportes públicos londrinos ou o mais recente caso de petição asinina – relativa a um quadro de Balthus (Thérèse Révant) – exigindo a remoção de uma obra constante da exposição permanente do MET, apetece perguntar para que serviram guerras mundiais e cadafalsos quando o monstro, na verdade, aprendeu a caminhar incólume mesmo no meio de nós.

11 Dez 2017

Wong Kit Cheng contra salário mínimo para empregadas domésticas

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] deputada Wong Kit Cheng defende que as empregadas domésticas devem estar excluídas da proposta do salário mínimo, à semelhança do que acontece em Hong Kong. Numa interpelação escrita entregue ao Governo, a deputada entende que nos últimos anos o número de famílias cujos pais trabalham fora de casa tem aumentado, sendo necessário contratar um trabalhador doméstico.

A deputada revelou que, de acordo com os dados estatísticos, há actualmente cerca de 24 mil empregadas domésticas. Com a proposta de lei sobre o salário mínimo universal em consulta pública, muitos patrões têm receios que a inclusão dos trabalhadores domésticos no diploma possa levar a que haja uma pressão económica. Wong Kit Cheng concorda com esta visão e lembra que podem ocorrer impactos negativos que poderão pôr em causa a estabilidade do mercado laboral.

Na visão da deputada, o Governo deve rever as leis para regulamentar o trabalho doméstico, de acordo com as condições e o conteúdo de cada trabalho. No entanto, Wong Kit Cheng lamenta que, apesar de ter solicitado ao Governo essa revisão, nenhuma medida foi concretizada.

Falando do caso de suspensão de contratação de trabalhadores domésticos das Filipinas em Hong Kong, que afectou as famílias, Wong Kit Cheng salientou a importância de melhorar o regime de empregados domésticos em Macau, para que haja trabalhadores domésticos de diferentes nacionalidades no território e em número suficiente, de acordo com a procura.

Na visão de Wong Kit Cheng, o Governo deveria ainda criar um novo departamento destinado a dar seguimento às questões ligadas aos trabalhadores domésticos.

11 Dez 2017

Veículos eléctricos | Leong Sun Iok fala em pouca eficácia do Governo

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado Leong Sun Iok escreveu uma interpelação escrita ao Governo onde fala da falta de eficácia do Governo na promoção dos veículos amigos do ambiente, apesar dos trabalhos de divulgação que têm sido realizados nos últimos anos. O deputado citou dados estatísticos que mostram que, até final de Outubro, existiam apenas 209 carros eléctricos a circular no território, número que ocupa menos de 0,1 por cento do total de veículos motorizados registados.

Na visão de Leong Sun Iok, a pouca adesão a este tipo de veículos prende-se com a insuficiência na sua promoção, a falta de instalações complementares bem como a falta de lugares de carregamento de baterias. Como a maioria desses lugares de carregamento estão situados nos parques de estacionamento públicos, isso pode tornar-se um inconveniente para muitos condutores, lembrou Leong Sun Iok.

O deputado, número dois de Ella Lei na Assembleia Legislativa e ligado à Federação das Associações dos Operários de Macau, pediu ao Governo para explicar as razões que têm levado à pouca utilização de veículos verdes, exigindo a instalação de mais equipamentos nos edifícios para o carregamento de baterias.

Por outro lado, Leong Sun Iok acha que a participação dos serviços públicos é essencial para incentivar a que mais pessoas usem veículos ecológicos. Nesse sentido, o deputado questiona o Executivo sobre as medidas de fomento deste tipo de veículos por parte dos serviços públicos.

11 Dez 2017

Ella Lei preocupada com compra de blue cards

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]pesar dos dados estatísticos demonstrarem a queda de entradas ilegais no território, de permanência sem autorização e dos trabalhadores não residentes (TNR), Ella Lei não está satisfeita.

A deputada oriunda da família política da FAOM interpelou o Governo para prestar atenção a casos de compra de títulos de identificação de TNR que têm como finalidade a entrada no território.

Ella Lei recorda que este ano a Polícia Judiciária (PJ) apanhou um grupo criminoso de agiotagem, que operava com uma companhia de logística para ocultar as actividades ilegais. O esquema incluía o pedido de vagas de TNR para colectar dinheiro emprestado. A deputada acrescentou que a Polícia de Segurança Pública revelou um caso de um estabelecimento de jogos electrónicos que comprou blue card para três indivíduos do Interior da China, após prestar falsas declarações às autoridades para obter vaga de TNR.

Ella Lei suspeita que devem haver mais casos deste género, o que demonstra a insuficiência do Executivo nos processos de apreciação e fiscalização de pedidos. Para a deputada, a segurança da população e gestão da cidade correm risco com esta situação. Como tal, Ella Lei exige ao Governo melhorias no processo de apreciação dos pedidos para vagas de TNR, assim como a implementação de um mecanismo de cooperação interdepartamental para descobrir e combater os casos de compra de blue cards.

11 Dez 2017

Piccini dominou Taça de Macau de Karting

Piloto transalpino venceu o Grande Prémio Internacional de Macau em Karting, com grande à vontade. João Afonso ficou no 11.º lugar na Taça de Macau e em 7.º na categoria X30 SR

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap]lessio Piccini triunfou ontem na Taça de Macau em Karting, após ter dominado por completo a prova, levando 19:41.651 a percorrer as 25 voltas ao traçado de Coloane. Já o piloto de Macau João Afonso terminou a competição no 11.º, depois de ter arrancado de 22.º.Em Coloane, Piccini, de 20 anos, começou a ganhar a corrida logo na qualificação, quando alcançou a pole-position. Atrás de si ficou o experiente Ma Qinghua, que conta no currículo com vitórias no Mundial de Carros de Turismo e participações a Fórmula E. Antevia-se, por isso, uma luta animada entre os dois pilotos.
No entanto, o golpe de teatro aconteceu ainda antes do arranque. Quando os pilotos se preparavam pela segunda vez para arrancarem para a corrida, Ma Qinghua teve problemas no seu karting e foi obrigado a abandonar, sem ter completado um volta cronometrada. Alessio Piccini ficou assim com o caminho totalmente livre para triunfar em Macau.
No final, o italiano de 20 anos ficou 22.146 à frente de Chan Kwok Ching, piloto de Hong Kong que foi segundo, ou seja quase meia pista de distância. No último lugar do pódio terminou Chan Cheuk Hin, a 25.052 do primeiro.
“Foi muito fácil, dentro do que são as corridas, que nunca são verdadeiramente fácil. O segundo qualificado teve um problema na partida e com isso a corrida ficou comprometida Estava à espera de ter tido uma luta animada com ele”, disse Alessio Piccini, no final da prova.
O piloto reconheceu também que o facto de haver menos pilotos da Europa a competir em Macau, este ano, contribuiu para que a concorrência não tenha estado tão forte. Ao contrário do que tinha acontecido no ano passado, Macau ficou de fora do Campeonato FIA da Comissão Internacional de Karting, principal competição do karting mundial.
“Acho que fiz a diferença em todas as partes do circuito, principalmente nas curvas rápidas e na chicane. A mina experiência na Europa faz diferença, porque a verdade é que o karting tem crescido muito na Ásia, mas na Europa o nível ainda é superior”, admitiu.

Fim-de-semana complicado

Por sua vez, João Afonso, de 48 anos, arrancou de 22.º para a corrida da Taça de Macau e acabou no 11.º lugar a uma volta do vencedor. No final, o local mostrou-se satisfeito com o resultado.
“Não foi uma prova fácil. Arranquei do 22.º lugar e consegui chegar a 11.º, o que me deixa satisfeito. Ao fim de 15 voltas, os pneus estavam com demasiada aderência, ou seja colavam demasiado e isso não me permitiu andar mais rápido. Não foi a afinação correcta”, disse João Afonso.
Além da Taça de Macau, Afonso competiu igualmente na classe X30 SR, que acabou com 7.º lugar, a 19.220 do primeiro, sendo o melhor piloto local na prova. O vencedor foi Eshan Pieris, do Sri Lank, que completou as 24 voltas ao traçado em 19:57.518.
“Infelizmente não tive uma boa qualificação, parti em 9.º e só consegui fazer um 7.º lugar. Foi uma corrida com lutas agressivas porque à minha frente estavam pilotos asiáticos muito bons. Tentei fazer o meu melhor”, explicou João Afonso, no final.

11 Dez 2017

Instituto Cultural | Cecília Tse é a nova presidente

Cecília Tse deixou a Direcção dos Serviços de Turismo para assumir a presidência do Instituto Cultural. Leung Hio Ming, até agora presidente do IC, deixa o cargo, após ter sido envolvido no caso das contratações ilegais, que já tinha levado à saída de Ung Vai Meng

 

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]ecília Tse, esposa de Lam Hin San, director dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), foi a escolhida para nova presidente do Instituto Cultural (IC). A ascensão da até agora vice-presidente dos Serviços de Turismo surge após a demissão do ex-presidente do IC Leung Hio Ming e do ex-vice-presidente Chan Peng Fai, ambos envolvidos no relatório Comissariado contra a Corrupção (CCAC) sobre a contratação ilegal de trabalhadores.

Leung e Chan são as vítimas mais recentes do escândalo sobre contratações ilegais com recurso a contratos de prestação de serviços, que já tinha levado à demissão do também ex-presidente Guilherme Ung Vai Meng, agora aposentado.

Além de subdirectora da DST, Cecília Tse desempenhava as funções inerentes a esse cargo, nomeadamente como de membro do Fundo do Turismo, Gabinete de Gestão de Crises do Turismo e Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau. A nova presidente do IC domina ainda o português.

Um casal e sete casas

Cecília Tse é esposa do actual director da DSAT, segundo o jornal Macau Concealers, e, na declaração de bens apresentada a 31 de Março do ano passado, afirmou ser proprietária de quatro casas, cinco lugares de estacionamento e uma loja.

Por sua vez, o marido declarou, a 13 de Outubro deste ano, ser proprietário de um escritório, três casas, das quais duas foram herdadas, duas fábricas com estacionamento e ainda duas lojas, também herdadas.

No total, o casal Cecilia Tse e Lam Hin San é proprietário de sete casas, cinco lugares de estacionamento, três lojas, duas fábricas com estacionamento e um escritório.

Chui nega interferência

Ontem, à margem da Marcha de Caridade por Um Milhão, o Chefe do Executivo, Chui Sai On, afirmou que não teve nada a ver com a escolha. O governante explicou “não ter sugerido nenhum nome e que esta opção foi ponderada cautelosamente por Alexis Tam [secretário para os Assuntos Sociais e Cultura]”.

Segundo o Chefe do Executivo, o nome de Cecília Tse “teve como base não só uma cautelosa ponderação como também as habilitações, experiência profissional e capacidade”.

Ao rejeitar qualquer envolvimento com a decisão, o Chefe do Executivo voltou a assumir a mesma posição que tinha adoptado quando Raymond Tam foi nomeado por Raimundo do Rosário para liderar os Serviços de Meteorologia e Geofísicos. Também na altura, Chui Sai On fez questão de sublinhar que não tinha emitido qualquer opinião sobre a escolha.

Quanto aos processos disciplinares que decorrem no âmbito das contratações ilegais no IC foi revelado que “foram finalizados”. Sónia Chan, secretária para a Administração e Justiça, frisou, no mesmo evento, que “o processo ainda se encontra em fase de recurso, pelo que o Fundo de Pensões irá aguardar o resultado final para analisar e adoptar as medidas necessárias”.

Elogios à nova presidente

Carlos Marreiros, arquitecto e ex-presidente do IC, diz reconhecer em Cecília Tse uma boa gestora com olho para as questões culturais. “Conheço-a, é uma gestora competente”, disse ao HM. “Julgo que na Direcção dos Serviços de Turismo tinha alguma relação com a parte cultural do turismo. Portanto não duvido das suas capacidades de gestão. Quanto ao futuro no IC, isso a Deus pertence.”

Para Carlos Marreiros, a luta pela preservação do património “não será só uma luta que ela tem de defender”. “A população de Macau está muito atenta às questões da defesa do património e a prova é que a sociedade civil após 1999 tem vindo a envolver-se muito mais na defesa destes valores do que antes”, frisou.

Marreiros disse ainda que “saúda quem saiu”. “Não foi uma decisão tardia, porque saiu o relatório que falava de irregularidades administrativas. Não falava de questões de corrupção, nem de outra ordem”, adiantou.

Francisco Vizeu Pinheiro, também arquitecto, deseja que a nova direcção de Cecília Tse preste “mais cuidado em relação à preservação do património e que não deixe apenas a fachada, o que tem vindo a acontecer com alguns edifícios. É o que está previsto um pouco para a Biblioteca Central”.

Vizeu Pinheiro espera também que “muitos edifícios que estão a ser usados pelo IC possam ser usados pelo público”. “O edifício-mãe do IC poderia ser aberto ao público, e outros em São Lázaro, como é o caso da academia de música, que poderia ser transferido para um edifício mais moderno, com mais capacidade, e esse local poderia ser libertado para as pessoas que passam ali. [A zona de São Lázaro] tem muito pouca coisa de museu, de comida macaense. Penso que tem de se virar um pouco para a cidade e para a cultura, e sobretudo para a cultura portuguesa, que está um pouco de lado”, considerou.

11 Dez 2017

O Segundo Renascimento

[dropcap]T[/dropcap]alvez esta reflexão pudesse começar com “era uma vez”. Porém, a história da China é demasiado longa e neste caso interessa-me revisitar o seu passado recente, quando por volta de 1977 Deng Xiaoping tornou ao poder, consolidando-o desta vez. O ex-estudante em França, agora solidamente sentado na cadeira do poder, trazia em si um olhar pragmático para a sua China. Para trás ficavam os dogmas e excessos da Revolução Cultural.

Deng queria uma China moderna, passo a passo. Primeiro permitiu que os camponeses viessem vender os seus produtos nas cidades. Com o crédito alcançado por esse sucesso, o pragmatismo desenvolve-se. Uns anos mais, diria que “o socialismo não significa pobreza”. Isso recorda-me quando, ainda nos finais do anos 70, para chegar a Guangzhou, tive de atravessar de jangada quatro ou cinco braços de rio. Hoje a viagem faz-se de comboio rápido.

Deng, fazendo uso de máximas chinesas, definiu as primeiras medidas de abertura interna que conduziriam à emergência de uma economia socialista de mercado. Nesse pragmatismo, em que o socialismo fica salvaguardado, afirmou que não lhe importava que um gato fosse branco ou preto, mas sim que caçasse ratos.

Citam-se frases deste líder da abertura da R.P. da China. Premonitoriamente afirmou:”quando os nossos milhares de estudantes regressarem a casa, irão assistir à transformação do País”. Crítico, comentou que “os jovens quadros sobem de helicóptero. Precisam de subir passo a passo”. Afirmaria também “procura a verdade nos factos”.

A China do século XIX trazia a todos os patriotas más recordações. Era preciso consolidar uma política de firmeza quanto ao território chinês. Deng Xiaoping formula a sua máxima de “Um País, dois Sistemas” com o intuito de, pacificamente e através de acordos, retomar os territórios de Hong Kong e de Macau, recebendo estes a classificação de “Segundo Sistema”. O intuito era de que, através de um fenómeno de capilaridade, e no período de meio século, o desenvolvimento das Regiões Administrativas Especiais pudesse contaminar o continente.

Não foi porém preciso, porque o pragmatismo de Deng virou-se para o interior onde aos poucos nascia um mercado produtor e consumidor interno.

Nas últimas décadas a prosperidade bateu à porta de muitos. Em 2002 a classe média era de apenas 3 por cento, mas uma década depois, em 2012, já correspondia a 31 por cento, ou seja, 420 milhões!!!

Se as assimetrias ainda existem, não estarão esquecidas e a solução vem com a emergência dos novos heróis, os milionários e bilionários chineses, homens como Wang Jianlin (31.3 mil milhões USD), Jack Ma (28.3 mil milhões USD) no topo de uma lista dos vinte mais ricos cuja mais baixa fortuna é de 6.3 mil milhões de USD.

É assim que, com visão a longo prazo, uma característica do Primeiro Sistema, os milionários se tornam também nos motores de desenvolvimento do País, em sintonia com o Estado.

Deng é já uma memória reverenciada. As novas lideranças seguem o trajecto. A afirmação política como potência internacional é importante. Em 2008 as Olimpíadas são o cenário ideal para uma dessas afirmações.

Zhang Yimou encena um espectáculo belíssimo de abertura que ficou na minha e terá ficado na memória de muitos.

Os tempos de Li Ning já vão longe. A afirmação da R.P. da China é total. 51 medalhas de ouro, 21 de prata e 28 de bronze.

A velocidade de transformação da China é enorme. A economia, nos anos 1990, tinha chegado a um crescimento inaudito de dois dígitos. O mundo assustava-se.

Aliás, a China actual tem mostrado, à semelhança do Renascimento dos Tang (618-904), uma ampla abertura ao exterior.

É assim que, tal como Deng regressou de França, milhares de quadros foram estudar na Europa Ocidental, municiando-se, bebendo do Ocidente, imperativo para a globalização, muito provavelmente inteiramente apoiados pelo Estado Chinês.

Mas se a excelência da apresentação e dos resultados olímpicos foram uma incontornável afirmação política que já vinha sendo preparada desde os tempos de Li Ning, cada vez com maior excelência, é fundamental que Macau aprenda não apenas com a China mas com o mundo, sem medo, sem preconceitos, porque os quadros locais estão longe de terem capacidades e abertura ao mundo, que só poderão adquirir lá fora. Mas, mais do que isso, é importante que o Governo de Macau lhes suporte por inteiro estudos de especialização e de línguas estrangeiras no exterior, e que estes se integrem , sem se acolherem na companhia de colegas, o que seria refúgio indesejável.

Os grandes projectos internos de arquitectura na China decorrem de concursos ou convites internacionais sem que se tenha de concessionar a arquitectos chineses, só porque sim.

Que o digam Siza Vieira, arquitecto Português prémio Pritzker, com o seu edifício sobre a água na cidade de Huai’an, província de Jinan.

Nunca a excelência, venha de onde vier, constitui um erro. Os líderes chineses sabem-no.

O desenvolvimento da China está em todo o lado e faz empalidecer as R.A.Especiais.

Com efeito, em Guangzhou, o Guangzhou Evergrande Taobao, verdadeiro gigante do futebol, assinou há anos com o Real Madrid um protocolo para se criar a maior academia de futebol do mundo, desporto tanto do agrado de Xi Jingping. E eis que, assim, em mais de 75 campos, se planeiam desde já as estrelas de amanhã, enquanto a importação de técnicos se faz descomplexadamente, porque um dos paradigmas do conhecimento é o reconhecimento das próprias limitações. A busca da excelência é total, e a Evergrande aliada à Tao Bao são um colosso financeiro. Trabalha-se, como se imagina, para o médio prazo.

No campo das Artes, há uma cidade que me tocou profundamente. Trata-se da histórica cidade de Hangzhou, próxima de Xangai, mas possuidora de uma Academia de Arte que mostra bem o nível de abertura cultural, cultura que se estende ao modus vivendi.

E desta Academia, sediada numa cidade conhecida pelo seu lago ocidental, o Shi Wu, pela sua placidez, pela proibição das buzinas dos automóveis, respira-se um ambiente propício a tudo o que é reflexão, estudo, criação. Tê-la visitado, constituiu para mim uma experiência enriquecedora da existência de outros mundos que não precisam da nossa circunstância, e que produzem coisas brilhantes.

E a cidadania é tudo isto, é a busca permanente da excelência que só existe com a abertura das mentes, com o recurso a quem sabe em alternativa à ignorância – esse não saber que não se sabe – independentemente da sua situação ou origem, para que se possam formular projectos credíveis para que a R.A.E.M. possa corresponder às expectativas que a Mãe Pátria tem, quando fala de diversificação, que não se fará nunca sem um suporte cultural, que urge ser dado aos quadros locais.

E porque a expressão cultural e artística são o espelho da vida de uma sociedade, aqui se deixam alguns exemplos provenientes de Hangzhou.

UM OUTRO RENASCIMENTO

Sendo o homem uma circunstância, perceber-se-á que o ambiente envolvente é de extrema importância, condicionador ou potenciador do desenvolvimento humano.

Mas para que tudo isto se realize com o nível de excelência que a R.P. da China nos habituou é preciso que se insira também no movimento integrador da Grande Baía traçado pelo Presidente Xi Jingping. Agora que o crescimento interno é uma realidade em contínua consolidação, Xi Jingping volta-se para o exterior, formulando pela política da Faixa e da Rota – a Faixa económica da Rota da Seda do século XXI – que propõe ao mundo em geral e aos países emergentes em particular, o usufruto da cooperação e do usufruto das vantagens da conectividade.

Curiosamente Portugal, país dito periférico, mas o mais antigo da Europa, tem vindo a erguer-se através de grandes personalidades, desde António Damásio, neurocientista autor do “Erro de Descartes” e director do Brain and Creative Institute da Universidade da Califórnia até Horta Osório, o salvador do Lloyds Bank, ou o recém-falecido Belmiro de Azevedo, que estimulava os seus subordinados a terem as suas próprias empresas. Do primeiro Secretário-Geral das Nações Unidas unânimemente eleito, António Guterres, até ao Presidente da República Portuguesa que está em todo o lado, conferindo com a sua presença a atenção aos mais necessitados, enquanto o Ministro das Finanças Mário Centeno, recém-eleito Presidente do Eurogrupo por unanimidade à segunda volta. Há ainda Cristiano Ronaldo, cinco vezes o melhor jogador do mundo e José Mourinho, o treinador especial e tantos outros que brilham por vários continentes, e diversos campeões mundiais, além de artistas, de Júlio Pomar a Paula Rego, provenientes de um país pequeno que é o primeiro destino turístico da Europa.

Por causa da memória portuguesa, Macau foi designado, como Plataforma para os países Lusófonos. A grande China não tem complexos com a história de Macau. Os grandes líderes caracterizam-se pela visão ampla e assim, o legado da portugalidade em Macau, os seus elementos conjugadores deveriam ser ainda mais valorizados pela sua inimitável singularidade.

É e será sempre através das capacidades de conjugação e articulação cultural que se procederá à transformação das mentalidades, sobretudo para quem precisa de substituír certezas por dúvidas. E a partir delas procurar a exigência em desfavor da ignorância, a excelência em alternativa à mediocridade.

Todo o desenvolvimento requer um trajecto. E todo o trajecto um ideário, uma linha de pensamento coerente, fundamentada, a curto e médio-prazo, expressa com os pés bem assentes na terra.

Numa cidade multi-milionária como a R.A.E.M., super-excedentária, apenas a excelência faz sentido, não a má tradução, por exemplo, para o termo “talentos”. É que qualquer tradutor (universalmente tradutore-traditore)precisa de vivenciar a cultura da língua que procura interpretar, porque é na interpretação que a tradução se clarifica. E sem verdadeira interpretação não há comunicação fiel.

É assim que em todo este contexto, emerge a consciência de que a fantástica biblioteca do distrito cultural de Binhai, em Tianjin ameaça tornar-se uma vulgaridade na China, à medida que o País progride cultural e civilizacionalmente neste novo Renascimento.

O meu receio porém é que, em certos lugares, a vulgaridade seja a pouca importância que certos protagonistas dão a bibliotecas, quanto mais à cultura ou a distritos culturais…

11 Dez 2017

Estudo | Singapura ultrapassa Estados Unidos a atrair investimento chinês

O índice China Going Global Investment de 2017 do jornal The Economist mostra que os Estados Unidos deixaram de ser o principal foco de investimento estrangeiro de Pequim. Singapura passou a ocupar o primeiro lugar, enquanto Hong Kong ocupa o terceiro lugar do pódio, num ano em que o investimento no estrangeiro caiu cerca de 40 por cento, sendo expectável que volte a subir no futuro

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]o longo dos últimos anos, a economia chinesa tem inundado uma multitude de mercados estrangeiros com investimentos milionários. Primeiro com empresas estatais a conquistarem sectores económicos estratégicos e a comprar dívida externa, mais tarde com o sector privado abrir os cordões à bolsa para comprar o que lhes aparecia à frente.

Independentemente da ajuda, ou da coordenação de interesses privados com a cúpula de poder de Pequim, as empresas chinesas investiram fortemente em economias estrangeiras. Que o diga Portugal, o país da União Europeia com maior peso de investimento chinês no PIB local, chegando aos 3,3 por cento em 2011 durante os dias da total sangria de privatizações movidas pelo resgate financeiro à economia portuguesa.

Ao dinheiro chinês estatal gasto nas privatizações da EDP e REN, juntaram-se os milhões privados para a aquisição da seguradora Fidelidade e de empresas do ramo da saúde como as unidades hospitalares da Luz Saúde. Já para não falar dos avultados investimentos na frágil banca portuguesa, com a aquisição da maioria do capital do BCP pelo grupo Fuson e da venda do BES Investimento e no BANIF.

Seguindo as directivas de Xi Jinping, no ano passado o investimento externo em interesses estrangeiros bateu todos os records, ultrapassando os 200 mil milhões de dólares, depois de fortes incentivos de Pequim para aumentar a influência chinesa nos mercados internacionais. Uma tendência que se inverteu este ano, com uma queda considerável do investimento. Portugal passou do lugar 32 em 2015 para 48 na lista dos países onde a China injectou capital.

Montanha chinesa

Entretanto, as aquisições de empresas e dívida abrandaram nos primeiros nove meses deste ano, com o Governo chinês a colocar água na fervura da sangria de capitais para fora do país que estava a colocar uma grande pressão sob o yuan.

De acordo com o Ministro do Comércio chinês, o investimento no estrangeiro em países abrangidos pelo projecto “Uma Faixa, Uma Rota” cresceu 18,2 por cento para 14,8 mil milhões de dólares em 2015. Em 2016, esse valor contraiu 2 por cento, para 14,5 mil milhões de dólares. Entre, Janeiro e Setembro, os investimentos em países do projecto que recria a Rota da Sede caiu 13,7 por cento. No total, o investimento no estrangeiro caiu 40 por cento nos primeiros nove meses de 2017, de acordo com o China Going Global Investment.

A política de estabilização cambial fez com que algumas aquisições de grande montante fossem travadas, como por exemplo os investimentos da gigante Dalian Wanda Group em imobiliário e entretenimento em países como os Estados Unidos.

Outro dos factores de arrefecimento do investimento chinês no estrangeiro prende-se com algumas tensões que surgiram nas relações bilaterais e de comércio externo com países como os Estados Unidos, que perdeu o primeiro lugar da lista de investimentos, e a Índia, que caiu oito lugares. O caso indiano tem algum destaque no relatório do The Economist uma vez que é um dos países com melhores perspectivas de crescimento dentro do projecto “Uma Faixa, Uma Rota”. Além disso, os gigantes dos sectores da electrónica e comunicações Xiaomi e Huawei estabelecerem negócios bem sucedidos na Índia.

Noutro prisma, perspectivas negras de desenvolvimento económico e problemáticas políticas domésticas motivaram o abrandamento do investimento chinês em países como o Brasil e o Reino Unido na sequência do Brexit.

Este ano, Singapura passou a ser o primeiro destino estrangeiro do capital chinês, ultrapassando os Estados Unidos que caíram para segundo lugar. Hong Kong está em terceiro lugar, enquanto a Malásia (que subiu 16 lugares) e Austrália ocupam o quarto e quinto posto, respectivamente.

Pode-se ler no relatório que “Malásia e Singapura destacam-se como países atractivos do projecto Uma Faixa, Uma Rota, providenciando bom ambiente para investimento, assim como oferecendo oportunidades e baixos níveis de risco”.

Recolher as fichas

Um dos elefantes na sala financeira da segunda maior economia mundial é a enorme dívida acumulada desde o crise financeira global de 2007. Ao longo da década de grande crescimento económico chinês, Pequim acumulou uma quantidade considerável de dívida. Em particular a dívida empresarial, que no ano passado ascendeu a 234 por cento do PIB chinês, de acordo com dados do Fundo Monetário Internacional.

Aliás, como resultado desta tendência, duas das mais influentes agências de classificação de risco de crédito, Moody’s e S&P, baixaram o rating da China.

A descida dos investimentos chineses também se ficou a dever à política de Pequim para prosseguir uma campanha de aquisições estrangeiras com maior racionalidade. Em primeiro lugar, o Governo de Xi Jinping proibiu investimentos nas indústrias do jogo e sexo. Os sectores do imobiliário, hotelaria, cinema e desporto passaram a ser sujeitos a restrições impostas pelo Conselho de Estado chinês, em contrapartida encorajou-se o investimento em países do projecto “Uma Faixa, Uma Rota”.

Ao mesmo tempo, Pequim apontou como um dos objectivos para as companhias nacionais o investimento global em tecnologias de ponta, como carros eléctricos, tecnologia financeira e energias renováveis. Nesse aspecto importa referir que os gigantes Tencent e Alibaba têm investido bastante em start-ups espalhadas pela Ásia inteira.

Novas estrelas

Desde o último índice China Going Global Investment, de 2015, ficou demonstrado que apesar do investimento chinês dar primazia à estabilidade de mercados já desenvolvidos, este ano os países em desenvolvimento foram os que registaram maiores subidas de investimento, principalmente aqueles inseridos no projecto “Uma Faixa, Uma Rota”.

Daí as ascensões meteóricas no ranking de países como a Malásia, Cazaquistão, Tailândia e Irão.

O relatório elaborado pela equipa do The Economist aponta 2017 como um ano de acerto, principalmente tendo em conta o fortalecimento de supervisão e regulamentos aos investimentos estrangeiros. Assim sendo, o relatório indica que esta queda de investimento deve ver temporária, mantendo-se o desejo de conquistar novos mercados e adquirir marcas, patentes e tecnologia.

Dan Wang, analista chinês que participou na elaboração do índice, refere que “ainda é uma altura excitante para observar a expansão internacional da economia chinesa”. No entanto, o analista adverte que “as empresas precisam ser mais selectivas quanto às regiões e Estados onde investem”.

O caso do Japão é também de assinalar. Apesar da queda de sexto lugar no ranking para 14º, as relações diplomáticas entre Pequim e Tóquio têm melhorado, apesar de destabilizações episódicas. Ainda assim, uma sondagem do ano passado mostrava que apenas 11,3 por cento dos japoneses têm uma visão positiva da China.

Mas há sobretudo uma razão estrutural para a posição do Japão na lista de países que mais captam investimento chinês. Pode-se ler no relatório que “os Estados Unidos e Japão mantém as suas posições no ranking devido às oportunidades de aquisição de tecnologia e marcas que oferecem às empresas chinesas, através de fusões e aquisições”. Por outro lado, países como a “Índia e o Irão são mercados de desenvolvimento económico acelerado nos quais as empresas chinesas têm boas chances de serem competitivas”.

Apesar de Hong Kong estar entre as três regiões que mais investimento chinês conseguem captar, Macau não entra na lista do The Economist.

11 Dez 2017

Bloqueio marítimo é “declaração de guerra” para Coreia do Norte

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] Coreia do Norte advertiu ontem que um bloqueio marítimo seria “uma declaração de guerra”, numa referência a uma das novas sanções que os Estados Unidos planeiam impor a Pyongyang após o recente lançamento de um míssil balístico. “As movimentações dos Estados Unidos para impor um bloqueio marítimo nunca podem ser toleradas, porque constituem uma clara violação da soberania e dignidade de um Estado independente”, diz um artigo de opinião publicado ontem no diário oficial Rodong Sinmun.

 

Washington “tenta abertamente impor um bloqueio marítimo contra a RPDC [República Popular Democrática de Coreia, nome oficial do país] para estrangular a sua economia em tempos de paz”, algo que, realça o mesmo artigo, faz parte do plano que os Estados Unidos aplicam “há décadas” para “aumentar o isolamento” da Coreia do Norte. O artigo, também reproduzido pela agência de notícias estatal KCNA, assinala que os tratados internacionais estabelecem que o bloqueio económico de um país em tempos de paz configura “um acto ilegal” sendo, aliás, “considerado como invasão”.

As novas sanções que Washington promove e as manobras aéreas levadas a cabo esta semana na península coreana – as maiores até à data – representam “abomináveis actos criminosos que visam empurrar a actual situação para uma fase de catastrófica e incontrolável de guerra”, sublinha Pyongyang. Neste sentido, o artigo adverte o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o “seu gangue”, de que “até o mais pequeno movimento para pôr em prática um bloqueio marítimo terá uma resposta imediata e implacável de autodefesa por parte da RPDC”.

 

O pior é o outro menino

Entretanto, o secretário-geral adjunto da ONU para os Assuntos Políticos terminou sábado a visita à Coreia do Norte, durante a qual ambas as partes acordaram “manter contactos de forma regular a vários níveis”, segundo os ‘media’ norte-coreanos. Pouco depois de o emissário da ONU ter deixado hoje Pyongyang, com destino a Pequim, os ‘media’ estatais norte-coreanos fizeram um balanço da visita de cinco dias, destacando o “profundo entendimento” entre as partes, insistindo que a actual crise na península coreana figura como consequência da “hostilidade” dos Estados Unidos.

Durante os encontros, a RPDC “clarificou a sua posição relativamente à salvaguarda da paz na península coreana e sobre a legitimidade das Nações Unidas”, escreveu a agência de notícias KCNA. Para Pyongyang, “a tensa situação na península é da inteira responsabilidade da política hostil dos Estados Unidos e das suas ameaças nucleares contra a RPDC”. Washington “revelou o seu esquema para executar um ataque nuclear preventivo de surpresa contra a RPDC, através dos maiores exercícios aéreos realizados até à data, envolvendo todo o tipo de bombardeiros estratégicos”, enfatizou o regime liderado por Kim Jong-un durante as reuniões com o norte-americano Jeffrey Feltman, segundo os ‘media’ norte-coreanos.

A delegação da ONU, por seu lado, manifestou a intenção de “ajudar a reduzir as tensões na península da Coreia à luz da Carta das Nações Unidas, que estabelece a missão de manter a paz e da segurança internacionais”, ainda de acordo com a KCNA. Feltman protagonizou a primeira visita de um responsável de Assuntos Políticos da ONU à Coreia do Norte desde o seu antecessor, o também norte-americano Lynn Pascoe, em Fevereiro de 2010.

11 Dez 2017

IPOR publica “Guia de conversação vietnamita-português”

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Instituto Português do Oriente (IPOR) apresentou hoje o “Guia de conversação vietnamita-português” para responder ao crescente interesse pela língua portuguesa no Vietname. Além de noções básicas sobre língua portuguesa, o guia apresenta vocabulário, estruturas gramaticais próprias, sinalética e gestos e expressões não-verbais documentados com imagens, abordando temas como socialização, alojamentos, estudos, visitas, deslocações, sair e fazer compras, de acordo com um comunicado do IPOR.

 

A cooperação desenvolvida entre o Vietname e o bloco lusófono aumentou o interesse pela língua portuguesa e actualmente 180 alunos frequentam o curso de licenciatura em português na Universidade de Hanói, que conta com a presença de um leitor de língua e cultura portuguesa da rede de ensino de português no estrangeiro.

A apresentação da nova edição decorreu no âmbito do terceiro encontro de pontos de rede de ensino de português, a decorrer no IPOR até sexta-feira. O guia, editado pelo IPOR e que resulta da colaboração entre o instituto e a Universidade de Hanói, vai estar à venda em livrarias em Macau e na capital vietnamita, onde vai decorrer uma sessão de lançamento no início do próximo ano.

11 Dez 2017

Clínica TaivexMalo recebe ordem de despejo

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] empresa que detém a licença da clínica TaivexMalo recebeu na quinta-feira uma ordem de despejo do Venetian Macau, hotel-casino onde se encontram as instalações, que incluem o consultório dentário Malo. De acordo com a notícia avançada pelo ‘site’ do jornal Tribuna de Macau, a TaivexMalo tem 40 dias para abandonar as instalações.

Em 24 de Novembro, os Serviços de Saúde de Macau anunciaram a suspensão da licença da TaivexMalo por seis meses, devido à prática ilegal de procriação médica assistida, tráfico e contrabando de medicamentos de oncologia e falta de condições de higiene e segurança.

Além do encerramento das instalações, até 21 de Maio de 2018, foram aplicadas duas multas a quatro médicos e um enfermeiro, e outra à clínica. “A licença de um médico foi suspensa por um período de 90 dias. Não houve nenhuma vítima resultante desta situação, no entanto não está excluída a possibilidade de uma sanção penal já que o caso foi remetido ao Ministério Público para acompanhamento”, de acordo com o comunicado divulgado então pelos Serviços de Saúde.

Em declarações à Lusa, o presidente da Malo Clinic, Paulo Maló, tinha afirmado que a ordem de encerramento das instalações da empresa PHC-Pacific Health Care, que detém a licença da TaivexMalo, não abrangia a sua empresa, mas afectou na prática o funcionamento, uma vez que partilhavam o mesmo espaço. O empresário esclareceu que a Malo Clinic detém apenas em Macau a actividade ligada à medicina dentária e não está relacionada com outras áreas médicas, responsabilidade de outras entidades.

11 Dez 2017

Laki sa layaw

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s filipinos são há muito um ingrediente da massa humana que compõe a região do delta do Rio das Pérolas, ou seja, Macau e Hong Kong. As ex-colónias do sul da província de Cantão são destinos de eleição para a massiva vaga migratória das Filipinas, pois a adaptação é mais fácil do que a outras paragens, como o Japão ou os países da peninsula arábica, onde existe também uma grande diáspora. Se considerarmos os chineses, tanto os de Macau como os do continente uma comunidade apenas, os filipinos serão a segunda maior comunidade da RAEM, com mais de dez mil elementos. Mas é difícil avançar com um número exacto, pois assim como as ilhas do seu arquipélago, que são mais quando a maré está baixa, é possível que habite no território uma quantidade significativa de filipinos em situação ilegal.

Tenho e sempre tive amigos filipinos praticamente desde que cheguei vai para mais de vinte anos. No entanto por alguns que tive sorte em conhecer, há outros que desejava nunca ter conhecido. Quer dizer, compreendo que estejam cá numa situação de inferioridade, e que precisem de se defender com as poucas armas que têm, mas podiam ser mais criativos nos “truques” que usam, e já agora menos descarados nas mentiras que contam. As empregadas domésticas, por exemplo “matam” a mãe e o pai uma ou duas vezes por ano para justificar ausências prolongadas ao trabalho, e se deixam alguém no seu lugar quando vão de férias, garantem ser “uma prima”, e “da máxima confiança”, mas na verdade é alguém que conheceram há quinze dias no Largo do Senado.

Espero que nas entrelinhas entendam que não estou a generalizar, de todo. Aliás os “maus” Filipinos são uma minoria, e de um modo geral são um povo simpático, acessível e trabalhador, contando que tenham o mínimo de motivação. A maioria só quer saber da sua vida, trabalha, manda o dinheiro para casa, vai à igreja no dia de folga e não chateia ninguém. As “más sementes” são por vezes indivíduos que até chegaram a Macau com as melhores das intenções, mas entretanto a vida correu-lhes mal, foram também eles enganados por outros, envolveram-se com más companhias, caíram nas malhas do jogo ou da droga, ou por outra razão qualquer, e infelizmente há um vasto leque de razões. Apesar de tudo não se portam assim tão mal.

É natural que tenham desenvolvido um mecanismo de defesa próprio, mesmo que por vezes vá para além dos limites do razoável. Imaginem que deixavam o vosso país em busca de uma vida melhor, e uma vez num país estranho eram explorados, enganados, maltratados e discriminados. Imaginem ainda que tinham que suportar estas humilhações e outras, pois lá na vossa terra natal há pessoas que dependem do dinheiro que mandam todos os meses. Compreende-se que tenham criado uma “rede” que os permita sobreviver, uma vez que o estatuto de trabalhador não-residente confere-lhes poucos ou nenhuns direitos. Mesmo que os métodos estejam já ultrapassados, têm que se desenrascar de algum jeito.

Mas nem só de TNRs é feita a comunidade filipina; existe ainda um número considerável de residentes permanentes naturais das Filipinas ou de etnia filipina. Não sei o número ao certo, mas penso serem por volta de dois mil, e o número tem aumentado, pois há quem se tenha fixado há muitos anos e produzido uma nova geração de filipinos.

E é ao falar desta segunda geração de filipinos com BIR que passo a explicar o título deste artigo, e se tiveram a paciência para ler até agora, devem estar com curiosidade. “Laki sa layaw” quer dizer em tagalog “mimado”, ou “menino/a mimado/a”. E de facto é mesmo assim. Não me canso de repetir que não quero generalizar, mas muitos destes jovens filipinos e Filipinas que conheci não fazem a minima ideia do que é a vida. A maioria nasceu em Macau, e outros vieram para cá ainda novos, e não imaginam sequer o que é emigrar, ganhar a vida, lutar pela próxima refeição, sujeitar-se a privações várias, como os seus compatriotas que aqui chegam numa condição muito pior do que a deles. Sentem-se filipinos, claro, e vão à terra dos pais de férias uma vez por ano. Gostam daquilo, acham piada, e têm resmas de parentes, primos, tios e tias, que olham para eles de baixo, sentindo uma ponta de inveja.

Não existindo em Macau escolas filipinas, estudam nas escolas chinesas ou nas internacionais, os que podem. Muitos falam cantonense, outros falam português (os que têm um pai ou mãe português, e nem todos), mas todos dominam o inglês. A maior parte deles fala tagalog, mas outros nem por isso, ou falam pouco, o que não deixa de ser lamentável. São uma juventude descontente, uma geração X. Nasceram cá mas não são chineses, e como não beneficiam do mesmo desconto que é dado aos portugueses, os chineses olham para eles como sendo “filipinos”, e pouco importa que tenham ou não BIR. O seu papel na RAEM do futuro é uma grande incerteza.

Aquele personagem na imagem em cima é Juan Dela Cruz, a personificação do espírito e da unidade do povo “pinoy”, o equivalente do Tio Sam para os americanos, ou do nosso Zé Povinho. O folclore filipino tem ainda um contraponto a este símbolo, um tal Juan Tamad, que era tão preguiçoso (“tamad” quer dizer “preguiçoso”) que se sentava debaixo da árvore à espera que a fruta lhe caísse na mão. Não considero que os filipinos sejam preguiçosos, antes pelo contrário – têm muito mais de Juan Dela Cruz do que de Juan Tamad. O que os leva a ser por vezes rejeitados pelo mundo “globalizado” é o facto de serem um povo singular, com uma cultura e uma identidade muito próprios, em suma, são especiais. Agora só precisam de decidir de que forma desejam ser considerados especiais. Tinham tudo a ganhar se fosse no bom sentido. Fazem-nos falta.

7 Dez 2017

52º Retrato do soldado desconhecido

01/12/2017

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]efendia Derrida, em 1998, que a transformação tecnológica é um dos factores essenciais da aceleração política e que um regime totalitário não sobreviveria a uma certa densidade da rede telefónica, a uma certa densidade de informação televisiva, de mails, etc. Vinte anos depois constata-se uma torção na aprendizagem dos valores e também a qualidade da democracia cede ao influxo da informação e à densidade das redes sociais. A democracia padece do seu sucesso.

Pelos motivos mais simples, o pendor dos meios de comunicação de massas para a nivelação da experiência, a) foi nublando a separação entre representação e realidade efectiva, e, dada a redundância informativa, b) instalou-se uma atmosfera de imediatez e esquecimento que favorece a ilusão apriorística, a qual tem na opinião o seu grande instrumento.

Eis o conhecimento preterido pelo espectáculo da opinião, pela flutuação das pertinências. E foi-se tornando claro que o meio é (mesmo) a mensagem, à medida que perdeu relevo a qualidade ou a substância das opiniões.

Ora, ao arrepio da ideia dominante é preciso afirmar: nunca fomos todos iguais. Esta ilusão que uma utópica e generosa cultura de esquerda propagou e o multiculturalismo cavalgou, ganhou metástases na esfera da razão comunicacional. Mas é preferível a lucidez de Bloch, ao elaborar o seu conceito de não-contemporaneidade: «Nem todos existem no mesmo presente. Estão só exteriormente, porque podem ser vistos no dia de hoje. Mas nem por isso vivem o mesmo tempo dos outros», ou seja, – a discriminação é de José Jiménez, cujos argumentos cito – há um desnível entre o tempo exterior, a época e o tempo interior.

Mesmo vivendo na mesma época, porque tiveram oportunidades cognitivas diferentes ou vêem de tradições distintas nem todos os homens vivem o mesmo tempo.

Daí que apesar do esplendor da tecnologia emergente o enxamear das opiniões, tão histericamente reclamadas, não reflicta uma pauta de valores satisfatórios.

E invertendo a lógica libertária que impulsionou as utopias da internet, hoje ao reinado da opinião, tão rés ao mundano, foi reservado o mesmo papel dos Silenciadores oficiais na corte dos imperadores bizantinos – cuja função era calar os perturbadores de toda a ordem, para que reinasse apenas o pensamento estabelecido. Hoje silencia-se com a algazarra da opinião e o hábito de postar sentenças em vez de debater argumentos ou com a arrogância performativa do ignorante.

Ainda julgo com Jerome Bruner, que só a educação pode transformar a sociedade. Porque, demonstrou ele, até as revoluções não são melhores do que as ideias que personificam e que os meios que estas mobilizam para realizar tais ideais.

É porém inescamoteável: temos de lidar com as patologias do sistema de ensino, que se demite do seu papel de transmissor de cultura humanística e cede à pressão mediática e à cultura de massas – a tal que nivela tudo por baixo.

Contemos um episódio com uma filha. No 12º ano a professora de português pediu aos alunos que escolhessem um autor português que não fosse contemplado pelo currículo escolar e redigissem um trabalho sobre ele. Passei-lhe uma dúzia de livros e ela, para minha felicidade, escolheu o Carlos de Oliveira. A surpresa veio depois: a professora não fazia ideia de quem fosse. A mesma professora que eu havia encontrado em férias com exemplares de Dan Brown e de Gonçalo Amaral nas mãos.

Fiquei boquiaberto, mas não devia. Tal como Trump esta professora era já um fruto transgénico, com código de barras, dos códigos e limites da cultura de massas, ao que se aliou o desacerto dos currículos pedagógicos.

Todorov escreveu um livro sobre esta situação: A Literatura em Perigo. Aí lembra que a missão da escola desde o Iluminismo reflectia a vocação do ser humano em aprender a pensar por si mesmo, «em lugar de se contentar com as visões do mundo previamente prontas, encontradas em seu redor». Esta missão foi desvirtuada desde que também a Escola visa alimentar o Mercado, como função primeira, vendo-se arredada dos seus corredores a formação de um pensamento crítico.

Paralelamente – o que, se não é de propósito, parece – o estudante deixou de estar em contacto directo com a literatura, remetida para um lugar periférico e substituída pela Teoria da Literatura e por métodos de análise, esquecendo-se que a literatura é, em primeiro lugar, «a encarnação de um pensamento e de uma sensibilidade» que interpretam o mundo. A literatura passou a ser não o lugar da fruição como «a ilustração dos meios necessários à sua análise». Será por isso que a professora da minha filha prefere a “literatura” que prescinde totalmente de crivo hermenêutico?

Eis a contradição: as escolas não preparam os alunos para lerem Alberto Pimenta ou Herberto Helder, ou António Franco Alexandre, ou Manuel Gusmão. Totamente desfa-sados os programas escolares e as novas sensibilidades e códigos. Esteve um poeta excelente quase a ganhar o Prémio Oceanos, o Helder Moura Pereira. Faça-se um inquérito aos professores: quantos conhecem?

Ademais, a heterogeneidade manifesta em poetas como Fernando Pessoa, Haroldo de Campos, Carlos de Oliveira, João Miguel Fernandes Jorge, ou Luís Quintais, torna difícil explicar a experiência da poesia a quem não a experimenta. Por isso a poesia perdeu leitores e os professores vão-se apegando às receitas que o mercado fornece. É o pronto-a-vestir. Embora no difícil é que esteja o ganho.

Dantes havia o pronto-a-vestir e os alfaiates, a escola agora é a primeira a admitir que o fast food alimenta da mesma maneira. É uma mentira, ou o novo hábito dos fake news, apenas o mecanismo perverso do celebrado poder das redes sociais, meras instâncias da informação em autototelia.

06/12/2017

Faço um ano de crónicas no Hoje Macau. Gramo maningue. Por isso, meu (caro) leitor, meu hipócrita, meu irmão (Baudelaire), só me resta dizer como ao smart guy que tentava quebrar a última resistência da miúda à sua sedução: «…se não nos viermos entretanto, então até à próxima!».

7 Dez 2017

Tabaco: Mais de 6000 fumadores multados até Novembro

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]ais de 6.000 pessoas foram multadas em Macau até ao Novembro por fumarem em locais proibidos, informaram hoje os Serviços de Saúde. Entre 1 de Janeiro e 30 de Novembro, foram efetuadas 300.870 inspecções a estabelecimentos, ou seja, uma média diária de 943, durante as quais foram sinalizadas 6.262 violações à Lei de Prevenção e Controlo do Tabagismo, incluindo 11 relativas a ilegalidades nos rótulos dos produtos de tabaco.

Um total de 47,7% das multas foi aplicada a residentes de Macau (2.979), e igual número a turistas, enquanto as infracções cometidas por trabalhadores não residentes corresponderam a 311 ou 5% do total.

De acordo com os Serviços de Saúde, em 168 casos foi necessário o apoio das forças de segurança.

Nos casinos, onde foram efetuadas, a par com a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos, 616 inspecções, 891 pessoas foram multadas, na maioria turistas (748 ou 84%).

Desde a entrada em vigor da Lei da Prevenção e Controlo do Tabagismo, a 01 de janeiro de 2012, foram multadas 44.204 pessoas, como resultado de mais de 1,5 milhões de inspecções, segundo os Serviços de Saúde.

A Lei da Prevenção e Controlo do Tabagismo tem vindo a ser aplicada de forma gradual, começando por visar a generalidade dos espaços públicos e prevendo disposições diferentes ou períodos transitórios para outros casos.

A 1 de Janeiro de 2015 entrou em vigor a proibição total de fumar em bares, salas de dança, estabelecimentos de saunas e de massagens.

Os casinos passaram a ser abrangidos dois anos antes, a 01 de janeiro de 2013, mas apenas parcialmente, dado que as seis operadoras de jogo foram autorizadas a criar zonas específicas para fumadores, que não podiam ser superiores a 50% do total da área destinada ao público.

Em Outubro de 2014, “as zonas para fumadores” foram substituídas por salas de fumo fechadas, com sistema de pressão negativa e de ventilação independente, passando a ser proibido fumar nas zonas de jogo de massas dos casinos e permitido apenas em algumas áreas das zonas de jogo VIP.

No verão do ano seguinte foi aprovada, na generalidade, uma proposta de lei que proibia totalmente o fumo nos casinos, mas o Governo viria, no entanto, a recuar na promessa inicial de “tolerância zero”.

A versão final da lei, aprovada na especialidade pela Assembleia Legislativa em meados de Julho e que entra em vigor em 1 de Janeiro de 2018, prevê a proibição de fumar em todos os recintos fechados, à excepção então dos casinos e dos aeroportos, os únicos dois locais onde as salas para fumadores são permitidas.

7 Dez 2017

Paraísos fiscais | China diz que decisão da UE sobre Macau é “inconsistente”

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China denunciou ontem a inclusão de Macau na lista de paraísos fiscais da União Europeia (UE) como “inconsistente com a realidade” do território, classificando a decisão de “unilateral e facciosa”.

Em conferência de imprensa, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Geng Shuang, frisou a inconsistência da decisão da UE, apoiando assim a resposta do Governo de Macau, que negou que o território seja um “ponto de fuga e evasão fiscal”.

“Quanto à notícia dada pela imprensa sobre a eventual inclusão de Macau na lista negra dos pontos de fuga e evasão fiscal pela UE, o Governo de Macau está a dar a maior importância ao assunto, reiterando que Macau não é absolutamente um alegado ponto de fuga e evasão fiscal ou um paraíso fiscal”, reagiu na terça-feira o gabinete do Secretário para a Economia e Finanças.

A lista negra dos pontos de fuga e evasão fiscal pela UE é o resultado final de meses de análise a vários países e territórios. As novas listas surgem no seguimento dos esforços europeus de combate à fraude e evasão fiscal, que receberam um novo fôlego depois de serem divulgadas extensas listas, como os Paradise Papers, que expõem a escala e abrangência dos esquemas de fuga ao fisco.

Em declarações ao jornal português Público, o fiscalista Nuno Sampayo Ribeiro disse que a reputação de Macau na Europa fica posta em causa, com eventuais consequências para a economia local e até para Portugal.

Esta decisão não é apenas “um facto grave para Macau, com o maior alcance político e económico”, mas também o é “para Portugal, em especial para o sector financeiro, particularmente agora que o país tem a presidência do Eurogrupo”.

Ricardo Mourinho Félix, secretário de Estado Adjunto e das Finanças de Mário Centeno, falou esta terça-feira sobre o caso de Macau, tendo dito que a inclusão na lista “não muda praticamente nada aquilo que é a relação entre os dois territórios, alegando que em questão estão unicamente os fluxos de capital” e que “quem quiser enviar dinheiro de Macau para Portugal terá apenas de justificar” de onde vem.

O grupo de países onde está inserido Macau, disse Sampayo Ribeiro, é considerado como “tendo deficiências graves, designadamente ao nível da transparência e da cooperação internacional. E é nesse grupo que fica Macau”. Está em causa uma “explosão reputacional” que “afectará severamente a reputação da economia local, em especial o sector bancário, e que terá expressão nos fluxos financeiros, incluindo com Portugal”, disse ao diário Público.

7 Dez 2017

Fragmentos de políptico

Centro Português de Surrealismo, Famalicão, 25 Novembro

Mário Cesariny

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]ndam aos trabalhões em mim, feito caixa de bolos classic nouveau da Confeitaria Moderna, as palavras de Cesariny dirigidas, em 1958, «Aos Escritores Por Causa do Que Se Lê», ditas em toada Precipício para a nação friorenta. E ausente, já agora. (A nação parece-me sempre ausente e resfriada.) «Viver o fragmento tem sido a condição sem qual não de todos nós, portugueses. Já temos o fragmento de editor, o fragmento de leitor e o fragmento de biblioteca. Herdámos (cito-o de opiniões abalizadas): o melhor fragmento de barroco, o melhor fragmento de freira, o melhor fragmento de políptico e o melhor fragmento de marquês, o fragmento de doutor e o fragmento de morto. Neste fragmento perpétuo, só mais um fragmento podia efectivamente introduzir-se, patentear-se, afirmar: o fragmento de liberdade.»

E continua em vórtice delirante até aos mais conhecidos versos de «Fragmento de Poema»: «Autoridade é do que é autor./ Só a autoridade confere autoridade./ A autoridade não é uma quantidade./ Todo o homem é teatro de uma inexpugnável autoridade./ (…) Liberdade/ A liberdade conhece-se pelo seu fulgor./ Quatro homens livres não são mais liberdade do que um só./ Mas são mais revérbero no mesmo fulgor./ (…) Ser-se livre é possuir-se a capacidade de lutar contra o que nos oprime. Quanto mais perseguido mais perigoso. Quanto mais livre mais capaz./ Do cadáver dum homem que morre livre pode sair acentuado mau cheiro – nunca sairá um escravo./ AUTORIDADE E LIBERDADE SÃO UMA E A MESMA COISA» Vendidas ou esquecidas as heranças, migalhas de doce conventual (jesuítas, barrinhas de freira, fidalguinhos e viúvas, são gonçalos), teimamos em não subir ao palco deste teatro de inexpugnável autoridade. Ainda que seja total a disponibilidade para selfies e entrevistas avulso. Sorriso sobre a mão (ver foto de Eduardo Tomé nesta página, mote visual dos encontros deste ano).

Tanoeiro, Famalicão, 25 Novembro

O animado grupo no qual pontificava o abade Perfecto [E. Cuadrado], oficiante dos mais prometaicos, órficos, dionisíacos, báquicos e minoritários cultos, escancarou com delicadeza esta conhecida porta pela qual se pode, em sabendo, aceder ao sagrado. Perfecto garantiu, por via de obscuros comércios com as divindades, uma eternidade de leituras e prazeres. Não disse que podia começar logo ali. O ritual como que começa com as papas de sarrabulho, embora haja por ali queijos e presuntos, além de outros despiciendos. Tudo preliminares, digo atrasos, para o esplendor que chega com os sublimes rojões à minhota. Pode a refeição prosseguir com mais detalhes, estes edulcorados, mas o fim de boca, digo, mundo, incendeia-se com velha aguardente Moura Basto. Surgindo das trevas e do frio em versão completa e sem variações (tarrenego!), com tripa enfarinhada e sangue cozido, rojões evoca como nenhum outro prato a terra. Em telúrica dimensão: esplendor e danação.

Metro, Lisboa, 28 Novembro

Jamais terei perdido autocarro, comboio, avião, enfim, hora de viagem marcada. Prazos, sim, mais que muitos, azarinho. Não por gosto, apenas pela sobreposição das urgências, bebinca seria, se fosse doce, com distendidas camadas de veludo amanteigado e canela e pitada de preguiça. Ou por redefinição de prioridades, afinal a liberdade que resulta da autoridade. Se, suspiro, fosse autor dos meus dias oferecia-me esta liberdade, inspiro. Ainda não foi desta que perdi comboio, mas por um triz. Da Horta [Seca] disto duas paragens de Apolónia, a Santa. Aplicava ao caminho a sacrossanta meia-hora, aquela que permite chegar minutos antes a qualquer lugar da minha casidade, Lisboa. Estava mais que bem, se não me tivera enganado e tomasse rumo ao Cais do Sodré. Ri-me, de tão cansado, atei paralelos e meridianos em nó. Voltei atrás, havia tempo. A voz altifalanta da nova carruagem insistia em dizer Cais do Sodré, não sei se com artigo, mas quem se lembra dos Sodré, bem que preferia Remolares, mas nem os lugares conservam os nomes, quanto mais os nomes vestirem lugares. Confirmada a asneira no cais de chegada, soltei palavrão feito altifalante. Não contente com falhar por virgem vez o metro que trago tatuado, dupliquei o engano em aposta de casino. Tive sorte, apanhei o comboio final, rumo ao norte, como convém. Mas ficou uma marca, traço de carril (embrulhado, para levar).

Famalicão, 29 Novembro

A mais madrugadora inauguração está prestes a acontecer, pelas 9h40, com a manhã pendurada em alto frio e luz traçadora do mais ínfimo contorno, se não vemos montanhas, há que procurá-las. Trôpego, tropeço em grupo, soltando sussurros em ladainha, de olhos disparados às A4 devidamente coloridas, presas na parede abandonada. São folhas de mortos, distribuídas com parcimónia pelo comércio, mas também afixadas perto do informal mercado das hortaliças. As preces são mero reconhecimento dos que partiram, não vislumbrei surpresa, nem consolo, tão só constatação de recorrente normalidade. Mais um rio à beira do rio. Se adiante merecer campa, fica dito, preferia grelos na vez de lírios. Atenção: sonho-os postos à mão e viçosos, colhidos em hora certa, alimentícios e pouco decorativos. Adiante, ainda que o tema, não parecendo, pede frescura. Desafiado pelo António [Gonçalves], convocámos treze ilustradores treze para outros tantos pontos museológicos de interesse nesta Vila Nova, onde se morre e se nasce. Produzimos ferramenta em formato livro que usa a ilustração para recolher visões de temas tão díspares como o automóvel ou a cerâmica, o surrealismo ou Camilo para dizer que o conjunto compõe identidade. Frágil como o esquecimento ou elástica que nem rede, depende de cada qual. Empurrado pelo azul da Cristina Lamego, na capa e prolongado com gesto puxando fio do tecido da Bárbara R. na contracapa, falei de frescura. Os trabalhos continuaram, afinal a inauguração abria o encontro da rede de museus, mas que sentido para frescura ficou a ecoar, o minhoto de roupa branca, o de limpeza, vigor ou aragem fresca? Temo que tenha sido o abrasileirado. Azarinho, azarou.

Horta Seca, Lisboa, 30 Novembro

Chega. Basta de arrepios ao ver desfilar no telemóvel os números dos que já não atendem e que não consigo apagar. Digam lá que faz parte da vidinha, digam a ver se interessa, semana sim, semana sim, este obituar de braço amparando cabeça contra a parede para ver e esconder lágrimas escorrer na calçada. Digam. Que outro punk teve sorriso como este? O Zé Pedro (1956-2017) fez da raiva, de comum desviver, do supremo desatino uma forma de resistir, de subir ao palco e tocar. Contra tudo, contra ninguém. Desdobrou-se em generosidade, em acolhimento, em entrega ao domicílio. Dasse! Quem como ele? O Sérgio [Godinho] viu bem que só neste país se diz neste país. Ora só neste país se grita, verso fora, no funeral do próprio estadista: Soares é fixe! Só este país se revê em modo consensual no amargo sorriso do punk mais querido. Punk querido? Só neste país.

7 Dez 2017

Sete Medalhados Olímpicos Chineses visitam Macau

A partir de domingo, Macau recebe a visita de ex-atletas olímpicos chineses, numa iniciativa que tem como objectivo promover a prática desportiva e a educação

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ete ex-atletas chineses medalhados em Jogos Olímpicos vão realizar uma visita a Macau, entre 10 e 12 de Dezembro, onde vão ter a oportunidade de conviver com os fãs locais. O ex-atleta mais conhecido da comitiva é o ginasta Li Ning, de 54 anos, que nos Jogos Olímpicos de 1984, em Los Angeles, conquistou um total de seis medalhas olímpicas, entre as quais três de ouro, duas de prata e uma de bronze.

Em relação ao programa da visita, no próximo domingo, os atletas vão participar na Marcha da Caridade, por volta das 10h00 da manhã. Depois, na segunda-feira, segue-se uma visita à Escola Kwong Tai, na zona do Fai Chi Kei, que está agendada para as 09h40. Finalmente, no dia da despedida, os atletas visitam a Associação de Surdos de Macau, com um encontro marcado para as 11h00.

Outro dos nomes fortes da comitiva pertence ao ginasta Li Xiaoping, de 36 anos, que conquistou cinco medalhas olímpicas. O ex-atleta, que está retirado desde 2009, conseguiu nos Jogos Olímpicos de Sidney conquistar as medalhas de ouro em barras paralelas e por equipas. Em 2004, em Atenas, alcançou a medalha de bronze, em barras e, finalmente, em Pequim, no ano de 2008, voltou a conquistar o ouro em barras e por equipas.

Entre os sete atletas, três são ginastas, além de Li Ning e Li Xiaoping, também Li Shanshan vêm ao território. A atleta de 25 anos, que está retirada desde 2009, foi medalha de ouro em Pequim, na vertente de equipas.

Reencontro Guo e Wu

O outro nome forte da comitiva é Guo Jingjing, que ganhou notoriedade na vertente de saltos para a água. A ex-atleta de 36 anos conquistou quatro medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de Atenas e Pequim, nas vertentes saltos sincronizados e saltos da plataforma de três metros. Além disso conta no currículo com duas medalhas de prata, nas mesmas modalidades, conquistadas nos Jogos Olímpicos de Sidney, em 2000.

Guo Jingjing não vem sozinha a Macau e traz com ela a ex-colega, Wu Minxia, com quem conquistou algumas das suas medalhas no salto sincronizado. Wu Minxia soma quatro medalhas de ouro, uma de prata e uma de bronze, em saltos sincronizados e saltos da plataforma de três metros.

Os dois restante ex-atletas ganharam fama através das modalidades de desporto de inverno. Han Xiaopeng, de 34 anos, foi o primeiro chinês a ganhar uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Inverno, feito alcançado na vertente de esqui aéreo. Já Li Nina, de 34 anos, conquistou duas medalhas de prata, nas Olimpíadas de Turim e Vancouver, em 2006 e 2010, respectivamente, nas vertente de esqui aéreo.

A iniciativa é organizada pelo Comité Olímpico e Desportivo de Macau, China, em conjunto com o Instituto do Desporto. De acordo com Ma Chi Seng, deputado da família Ma e director do comité para a juventude do CODM, a iniciativa visa promover a prática desportiva e o gosto pela educação.

O comunicado do CODM não refere o montante pago aos ex-atletas pela visita, nem se vai haver sessão para entrega de cheques, como normalmente acontece quando as comitivas de atletas chineses se deslocam a Macau.

7 Dez 2017

IPM : Cinco novos prémios no concurso mundial de tradução chinês-português

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] atribuição de cinco menções honrosas a trabalhos que se distingam pela excelência são a novidade para a segunda edição do concurso mundial de tradução chinês-português, anunciou ontem o Instituto Politécnico de Macau (IPM). O objectivo de atribuir mais estes cinco prémios é encorajar “a participação de mais alunos” de todo o mundo e “não só de Macau, da China Interior, de Portugal e do Brasil”, como se verificou na primeira edição deste concurso, disse o presidente do IPM, Lei Heong Ieok.

“Queremos incentivar os alunos de todo o mundo, fortalecer e aumentar as suas capacidades e, através deste concurso, atrair mais equipas de outros países da Lusofonia”, sublinhou, numa referência aos países africanos de língua portuguesa.

O IPM “vai continuar a reforçar o ensino da língua portuguesa e manter a cooperação com Portugal”, disse Lei Heong Ieok, sublinhando o papel e a importância de Macau no ensino da língua portuguesa e na área da tradução chinês-português, fundamental na concretização da iniciativa chinesa “Uma Faixa, Uma Rota”.

As equipas concorrentes, compostas por dois ou três alunos e um professor orientador, terão três meses para traduzir um texto de português para chinês, contendo mais de cinco mil frases e sem ultrapassar as dez mil.

De acordo com o regulamento do concurso, organizado pelo IPM e pelo Gabinete de Apoio ao Ensino Superior (GAES) do Governo da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), no final de janeiro próximo terminam as inscrições e, a 01 de março os organizadores enviam o texto a traduzir para os concorrentes, que devem apresentar a 01 de junho o trabalho concluído. No final de julho são anunciados os vencedores do concurso.

O primeiro prémio é de 140 mil patacas, o segundo de 105 mil e o terceiro de 75 mil. Cada equipa que ganhar uma menção honrosa receberá 25 mil patacas. A organização vai atribuir um prémio especial para as equipas das instituições de ensino superior de Macau, de 68 mil patacas para o primeiro lugar e de 35 mil para o segundo.

A primeira edição do concurso contou com a participação de 48 equipas do interior da China, 27 de Macau, dez de Portugal e duas do Brasil.

7 Dez 2017

Concerto | Force Defender trazem o heavy metal de Shenzhen ao palco do LMA

Amanhã o LMA oferece uma noite de rock pesado aos aficionados do heavy metal e hard-core com o concerto dos Force Defender. A banda de Shenzhen faz parte de um movimento, relativamente recente, de grupos com sonoridades pesadas na cidade a norte de Hong Kong

 

[dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]uando se procura no Google “Heavy metal in Shenzhen” os resultados dão conta de acidentes por contaminação tungsténio e cobalto, resultado do crescimento rápido da cidade. Mas há mais do que contaminação ambiental a corroer a metrópole com cerca de 12 milhões de habitantes.

O heavy metal e o hard-core acrescentam dissidência ao panorama cultural da cidade imediatamente a norte de Hong Kong, para além do típico e delico-doce cantopop. Os Force Defender, uma das bandas de destaque no movimento alternativo pesado de Shenzhen, apresentam-se amanhã no palco do LMA para uma noite de rock pesado a partir das 21h.

O metal tem sido uma presença constante na subcultura dos últimos 50 anos do Ocidente. Porém, na China este tipo de música chegou tarde. “A cena heavy começou a estabelecer-se a sério em Shenzhen por volta do ano 2003, com bandas excelentes como os YiJiao e Zhaliewanou que tocavam frequentemente na cidade”, conta Cynric W, o vocalista dos Force Defender.

O cantor recorda que esse momento de explosão foi bastante importante para o desenvolvimento dos movimentos musicais independentes na cidade. “No entanto, a cultura de bandas atravessou uma fase de declínio por volta de 2010, com a comercialização dos espaços e cada vez menos espectáculos ao vivo”, contextualiza.

Situação que viria a alterar-se de novo por volta de 2013 com o influxo de concertos de bandas internacionais a apresentar a sua música ao vivo em Shenzhen. “Recomeçaram a surgir novas bandas locais de heavy metal e hard-core”, explica o vocalista dos Force Defender.

Vozes fortes

Apesar de terem surgido numa altura em que o panorama da música independente estava moribundo, os Force Defender persistiram e mantém-se no activo desde a sua data de formação em 2011. No ano em que começaram a tocar, o género musical em Shenzhen vivia um período negro, no mau sentido, mas a banda “defendeu a força da música” com toda a garra.

“Começámos por ser amigos, já nos conhecíamos uns aos outros há bastante tempo, pensámos que tínhamos algum talento musical e vontade de fazer algo especial”, revela Cynric W acerca do momento em que a banda começou a dar os primeiros passos.

Hoje em dia são uma referência num panorama em efervescência em Shenzhen em termos de metal e hard-core, apesar “da cena ser recente e de precisar de boa comunicação e mais público”.

Os Force Defender vão apresentar o seu disco de estreia “1118” em Macau no LMA. O título do álbum “é a data em que saiu, marca o dia de fim de uma Era e o início de um novo começo”, descodifica o baterista, Cyrus Chi Man Tse.

A sonoridade da banda é influenciada por aquilo que os membros ouvem em casa, como por exemplo Lionheart, Chimaira ,Dream Theater, Terror, Bullet For My Valentine e Madball.

As letras dos Force Defender não têm meias palavras, são fortes como os riffs de guitarra e a bateria pulsante. Em “USHL” o vocalista conta que nasceu numa família revolucionária que jamais será derrotada, que lutou na segunda grande guerra mundial e que marchou com o exército vermelho. O refrão é um grito onde Cynric W repete que é assim que o seu sangue flui, “unstoppable hardcore lineage”, sem hipóteses além de lutar sozinho.

Este tipo de mensagens fortes não se encontra apenas nas letras das músicas, mas também no seu site bandcamp, onde dizem lutar contra a “porcaria” que os rodeia. Cynric W descodifica essa mensagem ao explicar que os Force Defender lutar contra “a disputa, o confronto e o egoísmo da vida em Shenzhen”.

Apesar do carácter interventivo das letras, característico do rock mais pesado, a banda não teme represálias. “Tentamos constantemente levar positividade ao público, encorajar as pessoas a superarem-se, a darem a volta aos problemas que enfrentam e a acreditarem nelas mesmas, em vez de seguirem a via dos abusos e queixumes”, conta o vocalista.

Mesmo com a atitude de desafio à conformidade, Cynric W revela que “até ao momento não tiveram qualquer tipo de problema” com os poderes instituídos.

Amanhã sobem ao palco do LMA para continuar a defesa daquilo em que acreditam.

7 Dez 2017

Xi Jinping promete China mais aberta ao mundo

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, assegurou ontem que a China facilitará o comércio e investimento e estabelecerá um novo padrão de abertura ao mundo com novas alianças globais e maior liberalização económica.

Numa mensagem enviada ao Fórum Fortune Global, que arrancou ontem em Guangzhou, cidade do sul da China, Xi incitou as empresas estrangeiras a investir na China e a partilhar as oportunidades geradas pelas reformas e desenvolvimento do país.

“A China não fechará a porta ao mundo e continuará a forjar alianças globais, expandir interesses comuns com outros países e a impulsionar uma globalização económica mais aberta, inclusiva, equitativa e benéfica para todos”, afirmou.

Pequim tem assumido a defesa do livre comércio e da globalização, numa altura em que a liderança de Donald Trump, nos Estados Unidos, e o ‘Brexit’, na Europa, sugerem a emergência do proteccionismo nos países ocidentais.

No entanto, apesar da retórica da liderança chinesa, as empresas acusam a China, o maior mercado do mundo para vários bens de consumo e serviços, de interditar o acesso de capital externo a vários sectores, incluindo finanças e telecomunicações.

O país asiático ocupa o 59.º lugar, entre 62 países, do ‘ranking’ da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que avalia a abertura ao investimento directo estrangeiro.

Na mensagem difundida pela agência noticiosa oficial Xinhua, Xi Jinping disse que o país facilitará o comércio e investimento, visando maior integração da China no mundo e um ambiente de negócios mais aberto, transparente e regulado.

7 Dez 2017

Taiwan aprova lei para apagar símbolos de sua história autoritária

Chang Kai-chek e outros símbolos do regime nacionalista e do “terror branco” vão ser retirados

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s símbolos criados em homenagem ao ex-ditador nacionalista taiwanês Chang Kai-chek serão retirados da ilha após a aprovação de uma lei que pretende fechar um capítulo de seu passado autoritário. Os deputados taiwaneses aprovaram na terça-feira uma lei sobre a “justiça transicional”, que prevê a retirada obrigatória de todos os símbolos de homenagem e dos monumentos dedicados ao polémico dirigente. Estátuas serão derrubadas e os nomes de muitas ruas e escolas serão modificados.

A lei também abre o caminho para uma investigação exaustiva sobre o “terror branco” registado em Taiwan a partir de 1949, quando os nacionalistas do partido Kuomintang (KMT) fugiram da China continental após sua derrota às mãos das tropas comunistas de Mao Zedong. De 1949 a 1987, quando foi revogada a lei marcial, milhares de pessoas consideradas hostis ao governo foram torturadas e assassinadas sob o mandato de Chang e de seu filho.

Alguns taiwaneses lutam há muito tempo para limpar os nomes das pessoas que foram presas injustamente e das vítimas executadas, assim como para que os autores dos crimes sejam denunciados publicamente.

O governo autoritário de Chang Kai-chek deve ser “expurgado de toda legitimidade” porque viola a liberdade e a democracia, afirma a lei. “Com este objectivo, instituições, escolas, edifícios e espaços públicos não poderão contar com símbolos comemorativos do reinado autoritário”, destaca o texto. “Os símbolos e os sinais relacionados a este deverão ser retirados, renomeados ou eliminados”.

A presidente Tsai Ing-wen deverá ratificar a lei nas próximas duas semanas.

7 Dez 2017

Coreia do Sul : UE criticada por inclusão em lista de paraísos fiscais

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Ministério das Finanças da Coreia do Sul criticou ontem a União Europeia (UE) por incluir o país na lista negra de paraísos fiscais, argumentando que essa decisão “não está em conformidade com padrões internacionais”. Os ministros da Economia e Finanças da União Europeia (UE), reunidos na terça-feira em Bruxelas, adoptaram uma “lista negra” de 17 paraísos fiscais, por serem consideradas jurisdições não cooperantes, entre as quais figura a Coreia do Sul.

A inclusão da quarta economia da Ásia surge em resposta ao facto de ter “regimes fiscais preferenciais prejudiciais e de não se ter comprometido a corrigi-los ou aboli-los antes de 31 de Dezembro de 2018”, de acordo com o documento emitido pelo Ecofin.

Segundo um comunicado publicado hoje pelo Ministério das Finanças da Coreia do Sul, “a UE decidiu que o regime fiscal [de isenções] para empresas estrangeiras em zonas económicas especiais e outras zonas designadas” que se aplica na Coreia do Sul “entra dentro da classificação de regime tributário preferencial”.

Seul considera, no entanto, que “estas decisões da UE não se encontram em conformidade com padrões internacionais como os da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico] e também vão contra acordos internacionais”.

Entre outros, o executivo sul-coreano advoga que, segundo o projecto BEPS [sigla do Plano de Acção para o Combate à Erosão Tributária e à Transferência de Lucros da OCDE], o sistema de apoio ao investimento sul-coreano não cai na qualificação de ‘regime preferencial’”.

Também considera que o bloco dos 28 estendeu o foco de aplicação ao sector manufactureiro quando, segundo Seul, os critérios do BEPS geralmente apenas limitam sectores como o financeiro ou de serviços.

A “lista negra” inclui Samoa Americana, Bahrein, Barbados, Granada, Guam, Coreia do Sul, Macau, Ilhas Marshall, Mongólia, Namíbia, Palau, Panamá, Santa Lúcia, Samoa, Trinidad e Tobago, Tunísia e Emirados Árabes Unidos. Além da lista de 17 jurisdições consideradas não cooperantes, a UE elaborou uma lista “cinzenta” de 47 jurisdições que se comprometeram a cumprir os critérios exigidos e que serão reavaliadas, entre as quais se conta Cabo Verde.

7 Dez 2017

Trabalho | Salário mínimo continua a causar confusão ao patronato

Programa Ou Mun Tin Toi foi palco de mais uma discussão sem espaço para esclarecimento e lógica. A FAOM não quer não empregadas domésticas abrangidas pela lei, o Governo concorda e junta empregados deficientes à exclusão. O patronato entende já atribui se assistência social suficiente

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), uma força de peso na política local, entende que as empregadas domésticas devem estar de fora da proposta de lei do salário mínimo, seguindo a lógica de discriminação a trabalhadores não residentes defendida pela organização.

A discussão da lei do salário mínimo teve como palco a edição de ontem do programa “Fórum Macau”, Ou Mun Tin Toi, do canal chinês da Rádio Macau, que contou com a presença da directora substituta da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), Ng Wai Han.

De acordo com dados estatísticos, há cerca de 2800 trabalhadores locais a receber um salário inferior a 30 patacas por hora. Facto trazido para a discussão pelo vice-coordenador do conselho de direitos e interesses da FAOM, que recordou que Macau tem tentado implementar o salário mínimo há dezenas de anos. O representante dos operários entende que a proposta terá impactos reduzidos na sociedade e que será algo que pode garantir justiça social.

Do lado do patronato, Wang Sai Man, do Conselho Permanente da Concertação Social, acha que o Governo já disponibiliza apoios sociais suficientes e a vários níveis como, por exemplo, subsídios a quem tem rendimentos baixos. Como tal, o representante do patronato entende que o fardo dos salários mais baixos de Macau não deve ser suportado pelos patrões, mas sim pelos cofres públicos.

Aumento fantasma

Wang Sai Man é da opinião que a atribuição de apoios sociais pode ser a chave para terminar com a polémica que a discussão do salário mínimo tem suscitado.

Durante o programa, um ouvinte manifestou preocupação com o possível aumento dos preços nos consumidores após a entrada em vigor da proposta do Governo. Uma opinião totalmente alinhada com o representante do patronato, que argumentou que a fixação de um salário mínimo levará à subida dos ordenados dos funcionários de todos os sectores. Algo que terá como consequência inevitável a inflação.

Por seu lado, a directora substituta da DSAL, Ng Wai Han, confessou que o objectivo da legislação do salário mínimo é oferecer garantias básicas no âmbito de rendimentos aos funcionários, e que não terá impacto em rendimentos que não sejam tão baixos.

O representante dos empregadores sugeriu que as pequenas e médias empresas com poucos trabalhadores, empregadas domésticas e trabalhos em que seja difícil o cálculo de horas de trabalho estejam excluídos da proposta.

A representante da DSAL entende que além das empregadas domésticas, os trabalhadores deficientes não devem estar abrangidos pelo salário mínimo.

O fim da consulta pública para o caso está marcado para 27 de Dezembro, sendo que até agora o Governo recebeu até ao momento 41 opiniões por escrita relativas a esta matéria.

7 Dez 2017