Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau | Saúde e apoio social à espera de benefícios

O projecto que prevê a agregação entre Macau, Hong Kong e Guangdong leva o Governo a criar um mecanismo de cooperação interdisciplinar para várias áreas sociais. O deputado Ho Ion Sang defende a implementação de um modelo de integração entre as três regiões semelhante ao europeu

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]a sequência da consulta pública quanto ao Planeamento da Região Metropolitana da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, o Executivo reuniu com representantes dos sectores da saúde, segurança social e serviços sociais. A recolha de opiniões foi realizada pelo Gabinete de Estudo das Políticas, de forma a criar mecanismos de cooperação, fiscalização e implementação dos trabalhos, de acordo com um comunicado da entidade governamental.

Foram discutidas várias propostas, entre elas a aplicação de mega-dados entre serviços sociais das três regiões da Grande Baía, a digitalização de arquivos médicos, a acreditação profissional das especialidades médicas e dos profissionais de acção social. Neste aspecto, o Governo pretende internacionalizar os cuidados de saúde de Macau, nomeadamente no que toca à formação de pessoal de enfermagem, assim como dar relevo à indústria da medicina tradicional chinesa.

Na área da acção social foram debatidas as possibilidades de integrar serviços de lares de idosos transfronteiriços, partilha de recursos de saúde e assistência social, assim como a cooperação na área da protecção ambiental.

Na reunião foi sugerido ao Gabinete de Estudos das Políticas que pondere o estabelecimento de uma instituição que preste serviços de consulta jurídica para responder aos desafios legais surgidos da implementação dos planos da Grande Baía. Da mesma forma, foi proposta a criação de um mecanismo destinado a resolver disputas decorrentes do projecto de integração que garanta os direitos dos cidadãos de Macau.

Delta Unidos

Em declarações ao Jornal do Cidadão, Ho Ion Sang afirmou que os planos de construção da Grande Baía Guangdong – Hong Kong – Macau têm muitos pontos de concordância com o plano quinquenal para o desenvolvimento de Macau. Aliás, o deputado vê ambas as políticas de longo-prazo numa relação simbiótica com potencial para beneficiar a RAEM.

Ho Ion Sang considera que Macau se deve afirmar como centro de turismo e lazer da região. Para tal, deve-se reforçar a cooperação transfronteiriça e a integração regional de forma a ultrapassar barreiras existentes no fluxo de visitantes, bens, fundos e tecnologia.

O deputado acrescenta que a Grande Baía tem dois grandes centro financeiros do lado leste do Rio das Pérolas, Hong Kong e Shenzhen, e que o Governo procurar firmar Macau como o centro da finança no lado oeste. Em declarações ao Jornal do Cidadão, referiu que o estabelecimento deste centro financeiro pode ser um importante passo estratégico tendo em conta a interacção de Macau com os mercados dos países de língua portuguesa e os que integram a política “Uma Faixa, Uma Rota”. Nesse sentido, Ho Ion Sang acha útil a partilha de informação entre instituições financeiras das regiões que integram a Grande Baía.

No que toca à movimentação de pessoas, com o fim das obras da ponte Hong Kong – Zhuhai – Macau, o deputado considera que se devem aliviar as exigências burocráticas nas fronteiras e que se deve procurar uma aproximação ao modelo seguido pela União Europeia.

Ho Ion Sang sugere mesmo que se isente o visto de três a sete dias aos portadores de visto comercial de Hong Kong e do Interior da China, assim como a quem tenha visto dos Estados Unidos e Inglaterra proveniente do Interior da China. O deputado acha que esta medida pode atrair para Macau clientes de Hong Kong e Guangdong para o turismo de negócios, convenções e exposições.

19 Jun 2017

UM | Alunos reuniram com Marcelo Rebelo de Sousa

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m grupo de alunos da Universidade de Macau (UM) reuniram no passado sábado, em Lisboa, com Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República portuguesa. A visita realizou-se no âmbito de uma visita de estudo organizada pelo Programa Académico da União Europeia em Macau, onde estiveram também presentes representantes do Instituto de Estudos Europeus de Macau.

Segundo um comunicado oficial, Marcelo Rebelo de Sousa “salientou a mais-valia para os alunos de aprofundarem o seu conhecimento sobre a União Europeia (UE) no actual contexto internacional”.

A visita incluiu ainda encontros com a secretária de Estado dos Assuntos Europeus, Margarida Marques, e com deputados à Assembleia da República da Comissão Parlamentar de Amizade Portugal-China, entre os quais a líder da comissão, Ana Catarina Mendes. “O actual estado das relações Europa-China foi o tema destes dois encontros”, explica o comunicado.

Para além das viagens a outras cidades portuguesas, como é o caso de Coimbra e Porto, os alunos da UM estiveram ainda três dias em Bruxelas, Bélgica, onde foram recebidos por representantes da Comissão Europeia.

Na capital belga tanto alunos como professores “participaram numa conferência no Instituto de Estudos Europeus da Universidade de Livre de Bruxelas, sobre as implicações para a Europa e para a China da saída do Reino Unido da UE”.

19 Jun 2017

Há mais homens a pedir ajuda por conflitos familiares

Há mais homens a pedir ajuda por causa de problemas no seio familiar. Cerca de 30 por cento dos pedidos de ajuda recebidos pela Associação da Construção Conjunta de um Bom Lar o ano passado foram feitos por homens

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]m jeito de celebração do Dia do Pai, várias associações promoveram actividades este domingo para lembrar causas como a necessidade de implementar a licença de paternidade ou o papel do homem face a conflitos familiares.

Segundo o jornal Ou Mun, Loi Yi Weng, subdirectora da Associação da Construção Conjunta de Um Bom Lar, referiu que há mais homens que pedem ajuda, devido ao aumento das exigências junto da família. A responsável lembrou que, na maior parte dos casos, os pais deparam-se com várias dificuldades, mas optam quase sempre por não falar dos seus problemas.

Dados apresentados por Loi Yi Weng revelam que, só no ano passado, os homens foram responsáveis por 30 por cento dos pedidos de ajuda feitos à associação, todos eles relacionados com questões familiares.

A subdirectora da associação lamenta a insuficiência de serviços de apoio e actividades direccionadas para os homens. A pressão social e o lado mais tradicional da cultura chinesa faz com que os homens sintam mais restrições a pedir ajuda.

Loi Yi Weng defendeu também a criação de uma plataforma de informações online e serviços de apoio para os homens. Tudo para resolver o embaraço que muitos sentem.

Assinaturas mil

Também a Associação Geral das Mulheres de Macau (AGMM) decidiu sair para a rua para celebrar o Dia do Pai, tendo voltado a chamar a atenção para a necessidade de implementar cinco dias de licença de paternidade.

Segundo o jornal Ou Mun, Wong Kit Cheng garantiu que, nos últimos dias, a associação tem vindo a recolher assinaturas nas ruas em prol desta causa, tendo já sido recebidas um total de 20 mil assinaturas. Para a deputada, este número mostra o enorme desejo da população de implementar uma medida favorável às famílias.

Para Wong Kit Cheng, a licença de paternidade não só assegura os benefícios de quem é pai como também impulsiona o desenvolvimento saudável das famílias.

A deputada espera ainda que o Governo avance com a revisão da lei das relações laborais o mais depressa possível, para introduzir cinco dias de licença de paternidade pagos.

Zheng Kai, vice-director executivo do Banco Industrial e Comercial da China, disse, segundo o mesmo jornal, que a entidade bancária já atribui cinco dias de licença de paternidade aos seus funcionários desde 2003. Já Lo Peng, gerente de uma empresa ligada ao sector da aviação, garantiu que são atribuídos três dias pagos, apesar de não constar nos contratos dos trabalhadores.

19 Jun 2017

Músico João Caetano apresentou novo projecto

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] percussionista e cantor português João Caetano apresentou o seu projecto de estreia a solo no Fundão, território cuja tradição musical dos bombos o inspirou, e de onde saiu um bombo com o qual gravou em estúdio.

“Os bombos de Lavacolhos [freguesia do concelho do Fundão] estão, para mim, como a guitarra portuguesa está para o fado. Portanto apresentar-me no Fundão é algo que surge naturalmente, porque foi aqui que eu bebi a inspiração para a componente tradicional ligada aos bombos”, afirmou, em declarações à agência Lusa.

A poucas horas de actuar, João Caetano explica que os bombos portugueses são “uma das peças fundamentais” deste trabalho, sendo que, em palco, utilizará “bombos próprios”, inspirados nos de Lavacolhos. Não opta pelos “originais”, porque a sua dimensão torna “visualmente inviável” colocá-los de forma a poder usá-los ao mesmo tempo que canta.

“Ainda assim, haverá um bombo de Lavacolhos que estará no palco”, ressalva o músico e cantor, sublinhando que foi esse que utilizou nas gravações.

Mesa de mistura

Quanto ao projecto, assenta num cruzamento entre a música tradicional portuguesa e a música e sonoridades orientais, tudo com uma abordagem própria.

“É um projecto que tem o fado, que tem poemas portugueses, que tem a música tradicional portuguesa e que integra os sons do mundo e uma roupagem mais fresca e mais moderna”, resume.

Radicado em Inglaterra há dez anos, João Caetano nasceu e cresceu em Macau, mas foi em português que o seu “ADN” foi definido e é em português que escreve e apresenta este trabalho.

“Até no Ronnie Scott’s cantei tudo em português e tive pessoas que, apesar de não percebem uma palavra de português, vieram dizer-me que foi o melhor concerto de abertura que viram”, disse, referindo-se à sua estreia, em Abril, naquele famoso clube de jazz londrino.

Com um percurso musical amplo e variado, João Caetano reside no Reino Unido desde 2006, onde completou os estudos superiores, tendo depois sido convidado para integrar a banda de jazz britânica Incógnito, além de acompanhar artistas e grupos. Entre os músicos com quem tocou incluem-se Chaka Khan, Mario Biondi, Anastasia, Leona Lewis, Jessie J e Dionne Bromfield.

19 Jun 2017

Cinema | Britânico Mike Goodridge é o director do festival internacional

Depois da confusão do ano passado, com a desistência do director na fase da contagem decrescente, o Festival Internacional de Cinema de Macau tem o estreante Mike Goodridge como responsável pelo evento. A aposta vai para os novos talentos. O orçamento mantém-se
Mike Goodridge vai estrear-se como director artístico de um festival em Macau

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] britânico Mike Goodridge foi escolhido para o cargo

de director artístico da segunda edição do Festival Internacional de Cinema de Macau, que vai decorrer de 8 a 14 de Dezembro, anunciou a organização do evento.

Apesar de ligado há 27 anos à indústria cinematográfica, na qual desempenhou diferentes papéis, desde jornalista a crítico, a apresentador ou produtor, Mike Goodridge vai estrear-se como director artístico de um festival, um “desafio irresistível” que era o “próximo passo” na sua carreira que incluiu programar, ao longo dos últimos sete anos, a secção Kinoscope do Festival de Cinema de Sarajevo.

Mike Goodridge, que foi júri em mais de 25 festivais internacionais de cinema, vai contar com o apoio de uma equipa de cinco consultores internacionais, da Europa, da América e da Ásia, incluindo o produtor de cinema português Luís Urbano.

Sob o tema “Novas Vias para o Mundo dos Filmes”, o Festival Internacional de Cinema de Macau (IFFAM, na sigla em inglês) encontra-se dividido em diferentes categorias, entre as quais a de “Competição”, da qual vão fazer parte dez longas-metragens.

Nesta secção foram introduzidas ‘nuances’, com o foco apontado a realizadores com menos experiência, estando previsto um prémio máximo de 60 mil dólares.

“A parte da competição vai ser sobretudo para realizadores que têm um ou dois filmes, porque queremos incentivar mais os novos talentos”, explicou, por seu turno, a presidente da comissão organizadora do IFFAM, Maria Helena de Senna Fernandes.

O programa inclui outras seções como “Gala”, em que vão ser exibidos “três dos mais importantes filmes do ano”; “Adagas Voadoras”, com “seis dos filmes mais inovadores e representativos do atual cinema asiático”; “Fogo Cruzado”, composta por “seis filmes recomendados por realizadores de peso” ou “Panorama”, com “oito películas premiadas nos principais festivais de cinema em 2017”.

Famílias e masterclasses

Uma das novidades no programa prende-se com a introdução de uma categoria “Para Toda a Família” e com um programa de formação em produção cinematográfica, a ser ministrado por profissionais do Instituto de Cinema Britânico, destinado a jovens de Macau interessados em enveredar pela sétima arte.

À semelhança da edição inaugural, realizar-se-ão fóruns de cinema e uma feira de investimento destinados a profissionais da indústria cinematográfica, além de ‘masterclasses’ com profissionais internacionais de renome.

O Festival Internacional de Cinema de Macau é organizado pela Direcção dos Serviços de Turismo (DST) e pela Associação de Cultura e Produções de Filmes e Televisão de Macau.

O IFFAM vai contar com um orçamento de 55 milhões de patacas, dos quais 20 milhões são assegurados pela DST, ou seja, o mesmo do da edição inaugural realizada no ano passado.


Director do IFFAM quer pôr certame no mapa dos festivais

O recém-nomeado director artístico do Festival Internacional de Cinema de Macau, Mike Goodridge, identificou uma indústria em crescendo no território, que vê como “porta de entrada” para a China, e quer colocar o certame no mapa dos festivais.

“Quero descobrir mais sobre a indústria e a audiência chinesa, que é imensa”, realçou o britânico Mike Goodrige, na apresentação da segunda edição do Festival Internacional de Cinema de Macau.

Destacando o seu “real conhecimento” do mundo do cinema, Mike Goodridge espera contribuir para colocar Macau no mapa, embora notando que o território, com pouco mais de 30 quilómetros quadrados e menos de 650 mil habitantes, é um lugar que considera “excitante”, e tem vindo a aparecer cada vez mais na tela.

“A questão está em criar um festival com significado no calendário dos festivais. Há tantos festivais no mundo que [o] queres fazer [é] algo à medida de Macau, que tenha valor para que as pessoas venham”, sublinhou o novo director artístico do IFFAM, para quem “parte disso passa por criar uma audiência que queira ver os filmes” que vão ser exibidos.

“Queremos casa cheia e as pessoas entusiasmadas em torno do cinema”, afirmou Mike Goodridge, que pretende conceber um cartaz com filmes “artísticos, mas acessíveis”.

O britânico afirmou ainda que acredita dispor de total autonomia editorial: “Tanto quanto sei, tenho. Absolutamente”.

Mike Goodridge respondia assim aos jornalistas, depois de a primeira edição Festival Internacional de Cinema de Macau ter ficado marcada pela saída do italiano Marco Müller, que esteve à frente de festivais de cinema como o de Veneza, Roma ou Locarno. Müller demitiu-se do cargo de director artístico do IFFAM a menos de um mês do arranque do evento, invocando divergência de opiniões.

Mike Goodridge, que deixou recentemente a produtora Protagonist Pictures, foi escolhido entre “cinco a seis candidatos”, entre recomendados e autopropostos, indicou a presidente da comissão organizadora do festival, Maria Helena de Senna Fernandes.

19 Jun 2017

EDP | China Three Gorges apela à colaboração na investigação

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] maior accionista da EDP, a China Three Gorges (CTG), apelou sábado a “todas as partes envolvidas” que “colaborem inteiramente” com a investigação aos contratos da empresa e referiu a necessidade de Portugal manter os apoios à produção existentes.

“A CTG Europa apoia todas as partes envolvidas a colaborarem inteiramente com os procedimentos da investigação”, afirma a empresa, num comunicado enviado à agência Lusa em Pequim, duas semanas depois de os presidentes da EDP e da EDP Renováveis, António Mexia e João Manso Neto, terem sido constituídos arguidos, no âmbito de um inquérito a eventuais crimes de corrupção activa e passiva e participação económica em negócios na área da energia.

Na mesma nota, o grupo diz acreditar que as autoridades portuguesas “continuarão a manter um quadro regulamentar estável para o sector energético” e que “espera que todas as partes se comprometam com o conteúdo de todos os acordos válidos, incluindo o dos CMEC”, isto é, os apoios à produção, conhecidos como ‘rendas’.

O inquérito em curso tem como objectivo a investigação de factos subsequentes ao processo legislativo bem como aos procedimentos administrativos relativos à introdução no sector eléctrico nacional dos Custos para Manutenção do Equilíbrio Contratual (CMEC), que ocorreu em 2004, com a sua regulamentação a decorrer três anos mais tarde.

Boas práticas

“A CTG vai continuar a promover a colaboração estratégica e industrial com a empresa [EDP], o desenvolvimento da economia portuguesa e o rigoroso cumprimento das leis e regulamentos da República de Portugal”, refere.

A empresa afirma ainda confiar que a investigação não interferirá na “relação técnica” entre a EDP e as autoridades e regulador do sector energético, que “deve ter como base o cumprimento de obrigações contratuais e boas práticas empresariais”.

Sem mencionar o nome dos arguidos, a CTG apela a que estes disponibilizem ao DCIAP acesso “ilimitado à informação” de forma a que a investigação decorra sobre os “princípios da abertura, transparência e objectividade”.

“[A CTG] é contra qualquer forma de corrupção e práticas de negócio impróprias”, sublinha a empresa, que em 2011 pagou ao Estado português 2,7 mil milhões de euros por 21,35% do capital da EDP, tornando-se o maior accionista da eléctrica portuguesa liderada por António Mexia.

No passado dia 6, quatro dias depois das buscas à sede da EDP, em conferência de imprensa, o presidente do Conselho Geral e de Supervisão da EDP, Eduardo Catroga, garantiu que os accionistas – nomeadamente a CTG – manifestaram “a sua solidariedade com a gestão da EDP”, na sequência do processo de investigação do Ministério Público.

Também na mesma altura, Eduardo Catroga lembrou que “aquilo que foi comprado não pode ser espoliado”, realçando que nenhum governo “quer um litígio jurídico com accionistas que compraram uma empresa com as receitas que integram este litígio”, referindo eventuais alterações aos apoios à produção de energia.

19 Jun 2017

Ataques de bilionário a líderes chineses atingem accionista da TAP

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s acusações de corrupção de um bilionário chinês, exilado nos EUA, a altos quadros de Pequim, atingiram o grupo HNA, accionista da TAP através do consórcio Atlantic Gateway e da companhia brasileira Azul.

Guo Wengui, que vive num apartamento de 68 milhões de dólares em Manhattan, deixou de ser visto em público em 2014, mas voltou recentemente a surgir nas redes sociais, afirmando ter informações comprometedoras para a liderança chinesa.

Entre os seus alvos consta Wang Qishan, director do órgão máximo anti-corrupção do Partido Comunista Chinês (PCC), que nos últimos anos puniu mais de um milhão de membros da organização, numa campanha lançada pelo Presidente chinês, Xi Jinping.

Segundo Guo, Wang detém secretamente parte do grupo HNA, um dos maiores conglomerados privados chineses, mas cuja “estrutura accionista é difícil de decifrar”, segundo escreve o jornal The New York Times (NYT).

Aos seus lugares

As afirmações do milionário surgem a poucos meses do XIX Congresso do PCC, durante o qual se definirá a liderança da segunda economia mundial durante os próximos cinco anos.

Durante a reunião irá decidir-se se Wang Qishan permanece no Comité Permanente do Politburo, a cúpula do poder na China. Observadores apontam-no mesmo como possível próximo primeiro-ministro do país, face à sua proximidade a Xi.

A alegada ligação da HNA a Wang Qishan explicará a rápida expansão do grupo, desde uma pequena companhia aérea até um conglomerado com importantes participações em empresas como a Hilton Hotels, Swissport ou o Deutsche Bank.

Este crescimento tem sido apoiado por bancos estatais, que segundo uma estimativa realizada pelo jornal NYT emprestaram já ao grupo 60.000 milhões de dólares, um valor geralmente reservado às firmas estatais que cumprem as directrizes de Pequim.

A empresa detém indirectamente cerca de 20% do capital da TAP, através de uma participação de 13% na Azul (companhia do brasileiro David Neelman que integra a Atlantic Gateway) e uma participação de sete por cento na Atlantic Gateway.

Uma das suas subsidiárias, a Capital Airlines, abrirá em Julho o primeiro voo direito entre a China e Portugal.

Sempre a crescer

A HNA foi fundada em 1993, quando a propriedade privada estava ainda a começar no país asiático.

O governo da província de Hainan, uma ilha no extremo sul da China, pediu então a Chen Feng, um antigo piloto da força aérea chinesa, para ajudar na formação de uma companhia aérea regional, cuja propriedade seria repartida entre o Estado e investidores privados.

A empresa criaria mais tarde uma ‘holding’ designada grupo HNA, permitindo a Chen transformar a sua pequena participação na companhia aérea numa participação de controlo na sociedade-mãe.

Seguindo o apelo de Pequim para as empresas do país procurarem negócios além-fronteiras, a HNA alargou os seus investimentos aos sectores transporte, logística e retalho, acumulando activos no valor de 145 mil milhões de dólares.

Num período em que outros grandes negócios de empresas chinesas no exterior têm sido adiados ou cancelados, devido às restrições impostas por Pequim à transferência de capital para fora do país, a HNA tem conseguido manter o fluxo de investimentos.

“No entanto, entender quem controla o grupo HNA é difícil”, escreve o NYT.

“Os seus accionistas estão ocultados por detrás de múltiplas camadas de empresas fictícias, subsidiárias e afiliados no exterior”, acrescenta.

19 Jun 2017

As eleições do nosso contentamento

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stamos em ano de eleições e a coisa promete alguma confusão. Trata-se de um momento especial na RAEM, não tanto por causa do acto eleitoral em si mas por desvelar algumas das características nem sempre à superfície deste território à beira do Rio das Pérolas pespegado.

Começaremos então, porque assim nos arrasta a mão, por desvalorizar as eleições enquanto tal, ou seja, como eleições cujo objectivo é, normalmente, a escolha dos representantes que nos governam. Aqui é precisamente o contrário. O povo escolhe os representantes que o desgoverna. Na realidade – pura, crua e fedorenta – quem governa serão outros ou, pelo menos, assim parece. Os nossos ilustres deputados, quando muito, na maior parte dos casos, governam-se a si mesmo. E isto que poderia parecer estranho ou até despropositado, aqui faz todo o sentido.

É que em Macau é difícil implantar o conceito de bem comum. Cada um puxa a brasa à sua sardinha e a ver se fica com o fogareiro. Cada família, cada clã, cada etnia, está fundamentalmente preocupada consigo e os outros pouco existem. A teoria (selvagem e não dita) é que cada um tome conta de si e ninguém de todos que isso – grunhem – é o comunismo e isso é lá para o continente e não serve para estes exemplares capitalistas que por aqui pululam e fazem fortuna entre o imobiliário e os derivados do jogo.

No acto eleitoral, a populaça vai votar para uma dúzia de lugares eleitos de forma directa (mais ou menos um terço da coisa), a ver se se entretém. Mas, nesta realidade de antanho, as pessoas só vão realmente votar porque são arrebanhadas, conduzidas, alimentadas e, finalmente, despejadas junto às urnas com indicações precisas e irrevogáveis. Por elas ficavam em casa ou no trabalhinho que é muito bonito. Mas o melhor é ir botar o voto, não vá o chefe zangar-se. Depois os resultados são o que se sabe. Enfim, adiante.

O que realmente interessa neste acto –  nos preliminares que tanta discussão acendem – é o que vem à tona, assim como que empurrado por anos ou décadas de omissão. É ver, por exemplo, a reacção impulsiva de Pereira Coutinho perante o discurso de Jorge Valente no jantar anual do Gabinete de Ligação. O homem forte da ATFPM não resistiu ao protesto, tal como o jovem empresário não resistiu ao apelo do palco e do microfone, ainda que certamente sabendo estar a cometer um acto passível de crítica. Ambos fizeram bem: a política é mesmo assim.

Contudo, se pensarmos estrategicamente no assunto, o que Pereira Coutinho fez foi algo contrário aos seus interesses, na medida em que Jorge Valente é praticamente um desconhecido nestas andanças e o protesto do deputado emprestou-lhe pública notoriedade. Aquele que era um jovem macaense, parceiro de Melinda Chan, transformou-se num político de futuro interessante, de quem se fala, que Coutinho teme (?!), eventualmente bem visto no Gabinete de Ligação, e até ficámos a saber que fala mandarim!

Mas o que é interessante neste caso é a emergência de um potencial debate, a esperança que luza uma ideia, que se destaque uma opinião, que se revele uma estratégia, quiçá uma visão.

Sim, queremos sangue e queremos pombas. Queremos a comunidade dividida nas opiniões mas unida num óbvio rumo. Queremos que se esgadanhem por nós. Que se empenhem na demonstração da extrema utilidade do nosso voto. E, acima de tudo, que nos falem ao coração. É disso que a malta gosta… quando não desgosta que esta gente é muito difícil…

Outro canto deste micro-universo eleitoral é aquele onde se desenrola o combate de boxe entre velhos e novos “democratas”. Ng Kuok Cheong e Au Kam San partiram definitivamente a bilha onde se acumulavam pessoas com agendas muito diferentes. Pelos vistos, pretender “directas já!” não chega para juntar os cacos. Poder-se-ia argumentar que o choque é geracional, mas o argumento cai por terra quando damos por homens como Paul Chan Wai Chi, um sexagenário, do lado dos jovens e os “tradicionais” do lado dos outros.

A questão é certamente outra. Os problemas de Hong Kong, as ligações específicas de cada membro e mesmo uma ideia diferente de sociedade estarão por detrás desta implosão da Novo Macau. É com alguma curiosidade que se aguarda por eventuais debates entre Scott Chiang, o homem a quem maltrataram o coração, e a dupla Ng-Au, de modo a compreendermos a dimensão da ruptura e o sentido de novas filiações.

Enfim, isto promete. Não o que devia prometer, mas promete. Dá para escolher o lugar, preparar o lanche e esperar para ver. O espectáculo promete ser divertido.

19 Jun 2017

Incêndios em Portugal | Número de mortos subiu para 62 pessoas

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] número de mortos no incêndio que atinge Pedrógão Grande e outros dois concelhos do distrito de Leiria desde sábado aumentou para 62, disse a ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa.

“Lamentavelmente temos mais uma vítima mortal a registar, portanto o número aumentou neste momento para 62”, afirmou Constança Urbano de Sousa, cerca das 23:00, num balanço efectuado no posto de comando operacional em Pedrógão Grande.

A ministra adiantou que a Estrada Nacional 2 “está cortada” à circulação e que o Itinerário Complementar (IC) 8 “foi reaberto embora tenha algumas dificuldades”.

A governante assegurou que os operacionais no terreno estão a fazer “tudo o que podem para debelar” o incêndio, mas admitiu que a baixa humidade relativa registada é um “factor adverso”. O balanço anterior era de 61 vítimas mortais.

O fogo, que deflagrou às 13:43 de sábado, em Escalos Fundeiros, concelho de Pedrógão Grande, alastrou depois aos concelhos vizinhos de Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pêra, no distrito de Leiria, e entrou também no distrito de Castelo Branco, pelo concelho da Sertã.

O último balanço dá conta de 62 mortos civis e 62 feridos, dois deles em estado grave. Entre os operacionais, registam-se dez feridos, quatro em estado grave. Há ainda dezenas de deslocados, estando por calcular o número de casas e viaturas destruídas.

Destruição quase total

Mais de metade da área florestal ardeu no concelho de Figueiró dos Vinhos, na sequência do incêndio que começou no sábado em Pedrógão Grande, distrito de Leiria, afirmou à agência Lusa o presidente da câmara.

“Seguramente, mais de metade da área florestal ardeu no meu concelho”, disse o presidente do município, Jorge Abreu, considerando que terá ardido mais de 65% da área florestal dos três concelhos até agora mais afectados pelo incêndio: Pedrógão Grande, Castanheira de Pêra e Figueiró dos Vinhos.

De acordo com o autarca, várias aldeias de Figueiró dos Vinhos foram afectadas pelo incêndio, mas na maioria dos casos terão ardido apenas os terrenos à volta das casas, como em Casal de São Simão, um ponto de atracção turística do concelho.

Em declarações à Lusa, Jorge Abreu referiu ainda que a situação “já não é tão grave como era” e que está “tudo mais ou menos controlado” no município que lidera.

“Não tenho conhecimento de alguma situação crítica”, vincou o autarca socialista.

Há ainda dezenas de deslocados e está por calcular o número de casas e de viaturas destruídas.

O Governo decretou três dias de luto nacional, até terça-feira.

19 Jun 2017

Análise | Campanha de Xi Jinping atinge com força o sector financeiro

Foi o caso da semana na China e vem demonstrar, uma vez mais, que a fortuna e o poder já não servem de escudo protector aos milionários do país. O multimilionário da Anbang, dono do nova-iorquino Waldorf Astoria, terá sido detido. É o homem que quis comprar o Novo Banco em Portugal

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]omo é prática no sistema judicial chinês, o caso ainda está envolto em mistério. Esta semana, a revista Caijing, uma publicação conceituada da área das finanças e da economia, avançou a notícia de que Wu Xiaohui, o presidente da seguradora Anbang, tinha sido detido pelas autoridades do país.

Poucas horas depois, a empresa anunciou que o seu líder estava impedido de exercer funções por “razões pessoais”, sem entrar em detalhes. Mas garantia que a Anbang iria continuar a operar com normalidade, uma vez que Wu Xiaohui tinha dado carta-branca aos executivos para continuarem a dirigir os negócios.

A notícia avançada pela Caijing acabaria por ser eliminada do site da revista, mas o South China Morning Post escreveu que Wu estava a cooperar numa investigação e que tinha deixado de ser visto no final da semana passada.

Os artigos na imprensa internacional sobre a detenção do homem forte da seguradora multiplicaram-se: a Anbang não é uma empresa doméstica e o seu presidente não é um homem qualquer. Criada em 2004, com sede em Pequim, a seguradora tem mais de 30 mil trabalhadores e activos no valor de 1,971 biliões de yuan. Tornou-se mundialmente famosa em 2013 com a aquisição de um edifício icónico em Nova Iorque: o hotel Waldorf Astoria custou na altura 1,95 mil milhões de dólares.

Em Portugal, o nome também é conhecido: há dois anos, a Anbang quis comprar o Novo Banco, mas não conseguiu chegar a acordo com o Banco de Portugal. Na corrida estava também a compatriota Fosun.

A nova oligarquia

A Bloomberg descreve Wu Xiaohui como um homem de negócios agressivo na abordagem a empresas estrangeiras. E classifica a detenção do presidente da Anbang como o exemplo mais recente da nova realidade da China de Xi Jinping: quase toda a gente pode ser afastada a qualquer momento, independentemente do dinheiro ou das ligações que tenha.

Desde que o actual secretário-geral do Partido Comunista Chinês (PCC) assumiu os comandos do país, em 2012, foram vários os milionários e os altos quadros da estrutura partidária que foram detidos por causa de corrupção, crimes financeiros e outras prevaricações.

Apesar de ainda não se saber o que terá feito Wu Xiaohui, o seu desaparecimento confirma a força de Xi Jinping, afirma a Bloomberg, que não se esquece que Pequim está apenas a alguns meses do evento político que vai marcar a próxima década na China: a reunião magna do PCC em que vão ser designados os futuros membros da cúpula.

“Estes milionários apresentam semelhanças a oligarcas: tudo isto dá a Xi Jinping a oportunidade de reunir provas contra os seus rivais políticos, controlando-os antes da reunião do partido”, apontou à agência Zhang Lifan, um analista e historiador de Pequim, que não afasta a possibilidade de haver efeitos contraproducentes para Xi. “Pode dar origem a um grande ressentimento entre os rivais do secretário-geral que coloque em causa a legitimidade do PCC”, avisa.

Em parte, a campanha contra a corrupção tem fins económicos. Há uma década, as autoridades olhavam sobretudo para funcionários que recebiam subornos. Hoje, o foco está sobretudo nos riscos financeiros que condutas indevidas podem causar à segunda maior economia do mundo.

Mas depois há também o aspecto político. A luta contra os corruptos é o grande cavalo de batalha da governação de Xi Jinping, que procura assim manter a sua autoridade e proteger a legitimidade do PCC, mesmo com o crescimento económico a abrandar. No meio deste processo, consolidou o poder como há muito não se via na China.

“Para um líder forte como é Xi Jinping, qualquer base de poder alternativa, seja política ou financeira, é suspeita”, comenta Arthur Kroeber, autor do livro “China’s Economy: What Everyone Needs to Know.” No ano passado, prossegue, “a manipulação dos mercados domésticos conduzida pelas seguradoras descarrilou claramente”.

A dívida chinesa disparou no rescaldo da crise financeira global, sendo que equivale a 264 por cento do PIB, de acordo com as estimativas da Bloomberg Intelligence. Em Abril, as autoridades começaram a apertar o cerco: Xiang Junbo, o então presidente da Comissão Reguladora de Seguros da China, foi destituído e colocado sob investigação.

Uns dias mais tarde, depois das maiores perdas registadas este ano na bolsa de Xangai, Xi Jinping presidiu a uma reunião do Politburo em que esteve presente o responsável máximo pelo banco central e os chefes das entidades reguladoras do mercado financeiro do país. Deixou uma mensagem: a segurança financeira é a base de uma economia saudável e estável.

Cuidados com as finanças

Voltando à Anbang: em apenas 13 anos de existência, conseguiu subir ao terceiro lugar das seguradas chinesas. Mas tem sido escrutinada nos últimos tempos por causa dos investimentos no estrangeiro. Deu ainda que falar o negócio falhado para o desenvolvimento de uma propriedade em Nova Iorque, detida pela empresa da família do genro de Donald Trump, Jared Kushner.

Os analistas ouvidos pelo South China Morning Post também alinham na teoria de que a detenção de Wu Xiaohui – casado com uma neta de Deng Xiaoping – tem que ver com a necessidade de controlar, de forma efectiva, o sector financeiro. E pode ser sinal de que há uma reforma efectiva a caminho.

“Os altos quadros do sector financeiro da China têm, por norma, patrocinadores [políticos] poderosos. A campanha contra a corrupção neste sector não é só acerca da corrupção – tem também como objectivo reduzir a interferência desses patrocinadores”, entende o académico Zhuang Deshui, da Universidade de Pequim.

“Se esses patrocinadores continuarem em actividade, qualquer tentativa de reforma financeira será em vão. Precisam de ser cortados os laços com quem lhes dá força”, acrescenta.

O professor de Economia Hu Xingdou, docente do Instituto de Tecnologia de Pequim, considera que o caso Anbang representa um “marco” na luta contra a corrupção no sector financeiro. Depois, é uma prova de que ninguém escapa, nem sequer os novos príncipes da economia do país.

Chen Zhiwu, docente de Finanças da Universidade de Hong Kong, recorda que as entidades reguladoras da China andavam assustadas com a fúria aquisitiva da Anbang, que investiu em vários bancos, entre eles o Delta Lloyd na Bélgica. Com Wu Xiaohui ao leme, a seguradora cresceu mais de 100 vezes em dez anos.

“As autoridades estavam na dúvida se deveriam lidar com os investimentos no estrangeiro ao abrigo das actuais regras ou se deviam deixar a Anbang continuar a fazer o seu percurso, devido ao seu contexto especial”, diz Cheng, referindo-se aos laços de Wu Xiaohui com a família Deng.

Até prova em contrário, as ligações privilegiadas do milionário da Anbang tinham um prazo de validade que já chegou ao fim.

Wu Xiaohui, os casamentos e os negócios

É um investidor agressivo, um self-made man, mas é também um homem tão discreto que, num levantamento feito pelo Financial Times, não foi possível encontrar uma entrevista de Wu Xiaohui nem à imprensa chinesa, nem aos media internacionais.

Não se sabe muito sobre o que pensa este empresário que está na origem da Anbang e que soube transformar-se em milionário posicionando-se junto de famílias com poder. Nascido em 1966, Wu não nasceu no seio da elite política chinesa.

Apesar de ser considerado um pequeno príncipe e de ter sido colocado ao mesmo nível de outros nomes importantes do mundo das finanças do país, o presidente da terceira seguradora chinesa não contou com a sorte familiar de Levin Zhu, fundador da China International Capital Corp, e de Winston Wen, do fundo New Horizon, ambos filhos de antigos primeiros-ministros.

Wu cresceu no condado rural de Pingyang, nos subúrbios de Wenzhou, uma cidade da província de Zhejiang conhecida pelo empreendedorismo. Foi em Wenzhou que se fizeram grandes fortunas através da concessão de empréstimos a juros elevados, com donos de fábricas a aproveitarem-se das zonas cinzentas da legislação para enriquecerem rapidamente.

O sócio fundador e rosto da Anbang teve um trabalho como funcionário público no condado antes de se mudar para Wenzhou, onde chegou a deter, por pouco tempo, um restaurante. De acordo com o jornal Southern Weekend, é precisamente em Wenzhou que conhece a filha de um família com poder, de apelido Lu. O pai tinha sido vice-governador de Zhejiang, relata a revista Caijing. Lu passou a ser a segunda mulher de Wu Xiaohui – desconhece-se quem foi a primeira.

Sempre a China

A ascensão no mundo dos negócios começou na altura em que se iniciou o relacionamento com a família Lu. Em 1996, criou uma empresa ligada à indústria automóvel, que serviria, oito anos depois, para fundar a Anbang, juntamente com a Sinopec.

A Anbang começou com um capital social de 500 mil yuan e com sede em Ningbo, também em Zhejiang, onde Wu teria ligações familiares. À semelhança de Wenzhou, também Ningbo é famosa pela especulação financeira.

A relação com Lu terminou no ano em que nasceu a Anbang. Foi então que contraiu matrimónio com uma neta de Deng Xiaoping, que a revista Caijing diz chamar-se Zhuo Lian. O Southern Weekend cita uma fonte não identificada que relata que, antes do casamento, emissários de Pequim foram ao condado natal do empresário para investigarem o passado do noivo.

Em 2015, num discurso em Harvard, Wu Xiaohui falou da experiência dos chineses que vão para o estrangeiro mas continuam a sentir-se irremediavelmente chamados pelas suas raízes. “No dia em que nos tornamos famosos, não interessa de que aldeia, vila ou cidade se é, o desejo é voltar e fazer alguma coisa por esse sítio”, declarou. “Independentemente de se ir para longe, as raízes estão na China”, disse o homem que preferia manter-se na sombra e que viajava pelo mundo num avião particular, com partidas sem pré-aviso.

16 Jun 2017

Função Pública | Novo regime de queixas não permite anonimato

O Conselho Executivo concluiu a análise do regime da gestão de tratamento de queixas apresentadas por trabalhadores dos serviços públicos. Vai ser criada uma comissão independente, mas alguns membros poderão ser funcionários públicos. Não há espaço para queixas anónimas

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo vai implementar um novo regime de tratamento de queixas apresentadas por funcionários públicos que se pretende que venha complementar os sistemas já em vigor. O regime da gestão de tratamento de queixas apresentadas por trabalhadores dos serviços públicos foi ontem apresentado em conferência de imprensa do Conselho Executivo e não vai permitir queixas de forma anónima.

Kou Peng Kuan, director dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP), acredita que este facto não vai fazer com que os funcionários públicos tenham medo de apresentar queixa.

“As queixas não podem ser anónimas porque podem envolver apenas duas pessoas, o queixoso e o visado, e, para sabermos de que assunto se trata, temos de saber quem são essas pessoas”, explicou o responsável. “Mas isso não significa que, se existir uma queixa anónima, a comissão não possa acompanhar [o assunto]”, frisou.

Kou Peng Kuan deixou ainda claro que os trabalhadores da Função Pública não devem temer represálias nos seus empregos pelo facto de se queixarem do funcionamento do seu serviço ou de algum dirigente.

“Este regime tem como objectivo a garantia dos direitos dos funcionários públicos. A apresentação da queixa não vai afectar o direito ou a carreira desse funcionário”, acrescentou o director dos SAFP.

As queixas devem ser apresentadas por escrito, “devidamente assinadas”, nos serviços onde trabalham os queixosos. Caso seja uma reclamação contra os “dirigentes máximos dos serviços públicos”, deve ser entregue directamente à Comissão de Gestão de Tratamento de Queixas Apresentadas por Trabalhadores dos Serviços Públicos.

Cabe a esta comissão elaborar todos os anos um relatório, que será entregue ao secretário da tutela. Este relatório pode incluir “as opiniões destinadas ao aperfeiçoamento do funcionamento dos serviços públicos e do Governo”.

Leong Heng Teng, porta-voz do Conselho Executivo, disse ainda que “os serviços devem colaborar com a comissão e designar um subdirector ou equiparado para acompanhar as queixas”.

E a independência?

Cabe ao Chefe do Executivo a escolha, através de despacho, dos sete membros que vão compor a comissão responsável pela análise das queixas. Segundo explicou Leong Heng Teng, a comissão “está subordinada aos princípios da independência, justiça e imparcialidade”, mas não está garantido que nomes que desempenhem cargos públicos fiquem de fora.

“O princípio é o de que os membros da comissão devem ser escolhidos de entre individualidades de reconhecido mérito, com conhecimentos ou experiencia profissional adequados. Mas não há uma condição que garanta se são Função Pública ou não”, adiantou Leong Heng Teng.

De fora deste regime ficam organismos como o gabinete do procurador da RAEM e do presidente do Tribunal de Última Instância, o Comissariado contra a Corrupção, o Comissariado da Auditoria e os serviços de apoio da Assembleia Legislativa.

A separação de poderes a isso obriga mas, segundo Kou Peng Kuan, está também em causa a complementaridade de regimes de recepção e tratamento de queixas.

“Também são serviços públicos, só que o ordenamento jurídico é diferente. Como não se aplicam as regras gerais do regime jurídico da Função Pública, este regulamento não se aplica nestes serviços públicos”, explicou Kou Peng Kuan.

Além disso, “estas entidades fiscalizam o desempenho dos serviços públicos, e o CCAC tem competência para se pronunciar sobre as queixas que são feitas pelos funcionários públicos. Este é um regime complementar aos que já existem”, rematou.

16 Jun 2017

Condomínios | Quem vende tem responsabilidade sobre dívidas

O Governo mexeu na proposta de lei relativa ao regime jurídico da administração das partes comuns do condomínio. Apesar de ter mantido a possibilidade de os novos compradores de uma fracção terem de arcar com as despesas do condomínio dos dois anos anteriores à transacção, podem, contudo, exigir uma caução a quem vende

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) analisou ontem a nova versão da proposta de lei relativa ao regime jurídico da administração das partes comuns do condomínio.

Quem compra pode ter de arcar com as despesas de condomínio dos últimos anos, mas fica explícito que o vendedor do apartamento tem responsabilidade sobre essas mesmas dívidas até ao momento da venda. Manteve-se, assim, a chamada responsabilidade solidária em relação ao processo.

A nova versão da lei determina, contudo, a possibilidade de o comprador exigir uma caução para arcar com essas despesas. Tudo vai depender de cada caso e do acordo que seja estabelecido.

À margem do encontro, a secretário para a Administração e Justiça, Sónia Chan, garantiu que as alterações foram feitas no sentido de garantir uma maior transparência nesse processo.

“A melhoria visa uma melhor gestão do condomínio. Fizemos um reforço da transparência em relação à entrega de despesas como água e luz, definimos a responsabilidade sobre esta matéria”, apontou.

Sónia Chan disse ainda que “os proprietários terão a responsabilidade, mas os intermediários ou outras pessoas associadas devem fazer saber aos potenciais compradores das fracções da existência de dívidas. Ambas as partes devem ter informações”.

Maior consenso

A proposta reúne agora um maior consenso por parte dos deputados que compõem a 2.ª Comissão Permanente, à excepção de Mak Soi Kun. A informação foi dada por Chan Chak Mo, que preside ao grupo de trabalho. “Na reunião passada, muitos membros estavam contra, mas hoje só uma pessoa se manifestou contra a proposta”, explicou.

A proposta de lei passa, assim, a definir, preto no branco, que “o proprietário de uma fracção é responsável pelos encargos até à transmissão do direito de propriedade”, o que, na visão de Chan Chak Mo, “protege melhor os interesses do comprador”.

Não basta apenas ao vendedor alertar sobre a existência de dívidas, mas sim a todas as partes interessadas no processo de compra e venda. “Deve ser facultada a informação sobre as dívidas dos últimos dois anos, com cópia de documentos comprovativos, não só pelo proprietário, como pelo notário ou agente imobiliário”, acrescentou o deputado.

A responsabilidade solidária foi mantida no diploma porque, segundo o Governo, o facto de uma minoria não pagar as despesas de condomínio pode afectar a maioria dos que vivem no edifício em questão.

Apesar de a nova versão da proposta de lei prever o pagamento de uma caução, não está definido o montante que o comprador da casa pode ou deve pedir. “Se a dívida for de cinco mil patacas, por exemplo, o comprador da fracção pode exigir três mil patacas ao vendedor. Isso protege quem compra, mas tudo vai depender do acordo feito entre ambas as partes.”

Sem acordo, as duas partes podem sempre recorrer aos tribunais.

16 Jun 2017

Think-tank apresenta estudo sobre projecto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Centro de Pesquisa Estratégica para o Desenvolvimento de Macau divulgou um estudo que contém algumas sugestões sobre o futuro plano da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, dois dias depois de o Governo ter anunciado uma consulta pública sobre o projecto.

Davis Fong, vice-presidente do centro, disse que o Governo de Macau deve criar um fundo de investimento para incentivar a participação de empresas locais e atrair empresas do exterior, para garantir uma maior competitividade ao tecido empresarial local.

Em termos de apoio jurídico, o vice-presidente acredita que o Executivo precisa de resolver o problema da desactualização de algumas leis, para aumentar as vantagens da participação de Macau num projecto que visa uma integração regional dos três territórios.

Dominic Sio, presidente do centro e deputado à Assembleia Legislativa, considera que Macau está numa posição inferior em relação a Hong Kong e Guangdong, uma vez que a população não age de forma activa na política local, por achar que os planos nacionais não têm qualquer influência nas suas vidas.

Dominic Sio defende que Macau pode exercer, com precisão, um papel de ligação com os restantes territórios que integram a Grande Baía, por ser uma plataforma entre a China e os países de língua portuguesa, o que pode ser benéfico para as empresas. O também deputado acha que Macau tem condições para desenvolver o sector financeiro, focado nesse objectivo.

O presidente do centro pensa que, com o plano da Grande Baía, cabe à RAEM avançar com novos regimes que possam acompanhar o desenvolvimento chinês e a competitividade existente no país, para que seja um bom exemplo da política “Um País, Dois Sistemas”.

Mais comunicação

Na visão de Davis Fong, há vários desafios que Macau tem de enfrentar com a integração na Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. O vice-presidente do centro considera que Pequim deve estabelecer mais mecanismos de comunicação neste âmbito.

O estudo efectuado sugere que seja criado um mecanismo de reuniões e de conferências com os dirigentes dos três territórios envolvidos, sem esquecer uma comissão de consulta para o desenvolvimento do projecto. Deve também ser estabelecido um grupo de trabalho para as áreas de planeamento urbanístico, transportes, protecção ambiental ou tecnologia.

Davis Fong falou ainda da necessidade de coordenação jurídica entre os territórios e na necessidade de manutenção do fluxo de turistas, bens e informações, para que haja uma maior facilidade de acessos.

Dominic Sio referiu que, caso Macau mantenha o seu pensamento tradicional, sem que haja uma participação activa no projecto da Grande Baía, o território será marginalizado em relação às restantes cidades que terão um crescimento muito acelerado.

Davis Fong alertou ainda para o facto dos residentes de Macau poderem sofrer algumas restrições em relação aos diferentes modelos de vida e de trabalho. Contudo, essas barreiras podem ser ultrapassadas passo a passo, defendeu o vice-presidente, que apelou a que os residentes tenham uma visão mais ampla sobre o projecto, porque pode beneficiar as próximas gerações.

16 Jun 2017

Ensino | Proposta alteração que limita a repetição de anos escolares

Depois da consulta ao sector do ensino, as regras estão alinhavadas. Os alunos do ensino primário poderão não reprovar e, nos anos seguintes, será difícil ficarem retidos. A ideia foi discutida ontem na reunião do Conselho de Educação para o Ensino Não Superior

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] ensino primário pode vir a decorrer sem que se registem alunos reprovados. A ideia pode fazer parte da minuta para a criação de um regulamento administrativo, tendo em conta a recolha de opinião relativa ao “sistema de avaliação do desempenho dos alunos da educação regular do regime escolar geral”.

De acordo com a coordenadora da inspecção escolar, Wong I Lin, a consulta acerca da matéria, realizada entre Outubro e Dezembro do ano passado, reuniu 654 opiniões. O resultado foi uma demonstração de preocupações relativas à repetição de ano e à execução da avaliação dos estudantes.

Depois da reunião plenária de ontem, o Conselho de Educação para o Ensino Não Superior vai avançar com uma proposta de alteração relativa às preocupações demonstradas.

A ideia não é definitiva e pode passar pela passagem sem chumbos dos alunos do ensino primário. Poderão existir excepções, sendo que o professor terá de fazer um pedido a justificar a necessidade de retenção do estudante por mais um ano. Do pedido, disse Wong I Lin, pode constar uma apreciação da actividade do aluno em aula, ao seu comportamento, a assiduidade e a idade.

Já no quinto e sexto anos, os chumbos não podem ultrapassar os quatro por cento, enquanto os ensinos secundário e secundário complementar só vão poder reter no mesmo ano até oito por cento dos estudantes. Em números, “numa turma de 25 alunos do 5.º ano pode ser retido um, e numa turma do 8.º com o mesmo número de estudantes podem ser chumbados até dois alunos”, disse Wong I Lin.

Passagem controversa

A responsável manifestou ainda que “há alguma reserva por parte do conselho quanto à isenção de repetição de ano para os alunos da primeira à quarta classe”, na medida em que, refere, “há situações em que os alunos o querem fazer”. Estes casos também poderão ser submetidos a um pedido de autorização endereçado à Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), disse.

Ainda em relação aos estudantes do ensino não superior, a reunião de ontem tratou das divergências no que respeita aos conteúdos a serem alvo de avaliação.

Se há quem se manifeste a favor de uma avaliação diversificada que tem como objectivo diferentes actividades dos estudantes, há também, dentro do Conselho de Educação para o Ensino Não Superior, quem considere que a prova escrita deve ser o mais importante. A razão, apontou Wong I Lin, é ser “um método objectivo em que as respostas ou estão certas ou erradas”. “Já na avaliação diversificada podem existir casos de injustiça”, afirmou.

Formação docente

As horas investidas pelo pessoal docente em actividades de desenvolvimento profissional vão ser alvo de contabilização. A ideia vai ser levada a consulta pública e o objectivo é que, com uma quantificação objectiva e rigorosa, a participação neste tipo de actividades venha a integrar os critérios de subida na carreira.

De acordo com o chefe de departamento de estudos e recursos educativos da DSEJ, Wong Kin Mou, para a subida de escalão, além do tempo de serviço, será necessária a presença comprovada em acções de desenvolvimento profissional. Na prática, para subirem de escalão, além do tempo de carreira exigido, os docentes têm de ter frequentado 30 horas anuais de formação.

As actividades em causa estão agrupadas em duas categorias: as promovidas pela DSEJ e as promovidas pelas próprias escolas.

O conteúdo do texto elaborado pelo Conselho Profissional do Pessoal Docente foi discutido na reunião plenária e irá passar agora pelas escolas e demais sectores ligados à educação para recolha de opiniões.

Antes da reunião de ontem foi celebrada a assinatura do protocolo entre o Governo e a Diocese de Macau que prevê a integração das três escolas do Colégio Diocesano de São José no sistema de escolaridade gratuita. Actualmente, são 57 as escolas privadas que estão no sistema.

 

Escola Pui Tou com novas instalações

A Escola Pui Tou vai ter um terreno para novas instalações. A informação foi ontem tornada pública numa cerimónia que antecedeu a reunião plenária do Conselho de Educação para o Ensino Não Superior. No total, são mais de mil metros quadrados, na Taipa, para a construção de mais de 40 salas de aula. “A ideia é a construção de 45 salas de aula e a integração da escola primária e infantil”, disse a directora dos Serviços de Educação e Juventude, Leong Lai. As novas instalações vão poder receber até 945 alunos, e aumentar o número de turmas de 17 para 27. A acção integra o projecto “Céu Azul”, que visa retirar gradualmente as escolas que se encontram a funcionar em pódios. O projecto poderá demorar mais de dois anos a ser construído e ainda não tem orçamento.

16 Jun 2017

Crime | Operação Trovoada desmantelou rede transfronteiriça

Depois de mais uma acção Trovoada, o destaque das autoridades vai para o desmantelamento de uma rede transfronteiriça de apostas ilegais. A informação foi dada ontem na apresentação do balanço da operação deste ano. Os crimes associados ao jogo continuam a ter um lugar de relevo

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oi desmantelada uma rede de exploração ilícita de jogo transfronteiriço. De acordo com o comandante geral dos Serviços de Polícia Unitários, João Augusto Rosa, “as autoridades da China e de Macau, através da permuta de informação que teve início em 2016, começaram o processo de investigação”.

No passado mês de Abril, as autoridades levaram a cabo uma acção de detenção em simultâneo em que a polícia de Macau deteve oito residentes. Já as autoridades chinesas levaram para a esquadra um total de 51 indivíduos, dois deles residentes de Macau. O caso envolvia uma rede de apostas ilegais em jogos de futebol e parece concretizar um aumento deste tipo de criminalidade. “Estamos a enfrentar uma situação real em que a criminalidade é transfronteiriça”, disse o chefe do departamento de investigação criminal da Polícia Judiciária (PJ), Vong Chi Hong.

Mais uma vez, e à semelhança dos dados apresentado no ano passado, o crime associado ao jogo está em destaque. Foram detectados 219 casos de usura que envolveram 428 pessoas. Na sua maioria os detidos são provenientes do Continente somando mais de 300.

Dentro dos crimes de usura, 115 envolveram o sequestro e implicaram a participação de 218 pessoas.

No que respeita a estratégias direccionadas especificamente ao combate deste tipo de crimes, Vong Chi Hong afirmou que “tanto a PJ, como o Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) têm adoptado novas estratégias de combate que deram a conhecer novas formas de crime mas, no futuro, serão adoptadas novas medidas”.

As autoridades sublinharam ainda a identificação de um crime que envolveu a prostituição de uma menor de 14 anos. O caso foi detectado em Maio quando as autoridades identificaram a suspeita à procura de clientes no Cotai. Com a investigação, foi detida uma mulher de origem chinesa que confessou ter aliciado a adolescente para a prática do crime.

Operação mais longa

Dos dados apresentados sobressai também o elevado número de mulheres envolvidas em processos de expulsão do território. Das 170 pessoas expulsas “por não se coadunarem com a qualidade de turista”, 162 são do sexo feminino. As principais infracções estão relacionadas com prostituição e trabalho ilegal sendo que as envolvidas são, na sua maioria, residentes de Hong Kong e da China Continental, referiu Wong Chi Fai, segundo o comandante da PSP.

Os números este ano são superiores aos do ano passado; no entanto não significa que os crimes tenham aumentado. A razão, apontou Wong Chi Fai, tem que ver com o período de tempo em que a acção decorreu. A operação Trovoada 2017 teve lugar durante três meses, mais um do que no ano passado, e envolveu um maior número de agentes no terreno, num total de 13.055.

Dos 1782 indivíduos detidos durante a operação, 760 foram sancionados, sendo que a praticamente metade foi atribuído o termo de identidade e residência.

A operação Trovoada é uma acção realizada anualmente e que envolve as regiões de Macau, Guangdong e Hong Kong.

16 Jun 2017

Concerto | Marcel Khalife toca amanhã no Centro Cultural de Macau

O músico libanês toca em Macau pela primeira vez no sábado, apresentando ao público as sonoridades do oud, acompanhado por dois percussionistas e um baixo-duplo. Marcel Khalife destaca-se como um artista com elevada sensibilidade social, considerado por muitos como o Bob Dylan do Médio Oriente

[dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]alvez a arte salve o mundo. Este é o lema de muitos artistas com mensagem política e social. “Quero combater a brutalidade que se vive nos dias de hoje com música, é o que sei fazer melhor”, comenta Marcel Khalife.

O músico libanês usa o oud, um instrumento de cordas que se assemelha a uma viola, para veicular uma mensagem de forte cariz social. Tanto hoje, como há mais de 40 anos, quando começou a sua carreira, Marcel canta para os povos oprimidos, ao que são submetidos à violência. “A barbárie pode ser combatida com amor, música e poesia, talvez seja a forma de salvar o mundo”, um conceito transversal à mensagem do músico.

Olhando para a actualidade, o libanês não considera que a desumanidade se limita apenas ao Médio Oriente, estando espalhada por todo o mundo. Mas focando a região de onde é originário, Khalife é da opinião de que, “historicamente, os regimes que controlam o mundo fazem-no através da brutalidade, com violência que gera mais violência”. É assim que explica o aparecimento de grupos como o Estado Islâmico, efeito secundário dos actos desses regimes.

A selvajaria não se esgota no terrorismo e na guerra. Nesse sentido, o músico é sensível também às questões da miséria, opressão e falta de acesso à saúde e educação.

Apesar da fealdade que enche o mundo, a Marcel Khalife não lhe faltam oportunidades de deslumbre e inspiração. “Se olharmos para a vida, para o que nos rodeia, podemos encontrar beleza, é uma questão de visão”, explica, seja um olhar bonito, ou uma criança a brincar.

Com aclamação pela crítica, tanto no Médio Oriente como no resto do mundo, a obra de Marcel Khalife tem sido reconhecida também pela sua função social e humanitária. Como tal, o libanês foi nomeado em 2005 pela UNESCO como Artista pela Paz. Dois anos depois era distinguido pelo prestigiado Prémio Charles Cros, pela obra “Taqasim”, na categoria de música do mundo.

Alguns críticos consideram Marcel Khalife como o Bob Dylan do Médio Oriente, uma comparação que não entusiasma particularmente o libanês. “Esta similaridade tem que ver mais com o compromisso social e político, assim como com o conteúdo das letras”, comenta. Musicalmente, o mestre do oud considera que Dylan seguiu outro percurso.

Faz-se luz

Marcel Khalife nasceu na pequena cidade de Amchit, filho de um pai pescador que tocava flauta. O músico não consegue destacar o momento exacto em que se apaixonou pelo oud, porque “ninguém sabe quando se começa a amar algo, o amor é como a magia, simplesmente acontece”, comenta.

Certo é que desde pequeno se sentia atraído por instrumentos musicais. Aliás, até os pais lhe comprarem o primeiro oud, o músico fez-lhes a vida negra ao usar musicalmente tachos e panelas. Inspiravam-no cânticos religiosos e as melodias que ia ouvindo. A mãe achou que o jovem tinha algo dentro de si, um talento por explorar. Então, decidiram comprar um instrumento para que se pudesse expressar. Decidiram-se pelo oud por ser barato e aí começou uma festa que levaria o jovem Marcel a ser um dos mestre contemporâneos desta forma arcaica de alaúde.

Os pais arranjaram-lhe um mestre que passados uns meses decretou não ter mais nada para lhe ensinar, tendo-os avisado que o filho possuía um dom inato para o instrumento.

Ainda teve outro professor até ingressar no Conservatório Nacional de Música de Beirute. Completou os estudos e, quando se preparava para iniciar a carreira musical, a vida intrometeu-se com violência. Rebentava a guerra civil libanesa.

Por esta altura, Marcel Khalife era um jovem idealista, revolucionário, com vontade de mudar o mundo. Por uma questão de divergência política com as forças que dominavam a sua região, votou-se a uma espécie de prisão domiciliária onde mergulhou no oud e na poesia de Mahmoud Darwish.

“Estava só a passar o tempo, a pegar na poesia e a transformá-la em música, nunca esperei que esse trabalho acabasse num palco em Macau”, recorda o músico. Quando sentiu que já não podia ficar mais tempo fechado na casa onde cresceu, Marcel saiu e partiu para Paris levando consigo o oud e a música que havia composto com base na poesia de Darwish.

As sonoridades do libanês chegaram aos ouvidos certos e a sua música nunca mais parou de se espalhar, tornando-se num fenómeno global. “De repente, algo que fiz às escuras chegou à luz”, interpreta.

A música luminosa de Marcel Khalife chega assim, 43 anos depois do início da sua carreira, a Macau. Amanhã, no Centro Cultural, pelas 20h, o músico libanês sobe ao palco ladeado por dois percussionistas e um baixista para um concerto que promete ser memorável.

16 Jun 2017

China é o maior investidor em equipas de futebol desde 2014

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China foi o país que mais investiu em equipas de futebol, entre 2014 e 2016, num montante total de 2.150 milhões de euros (ME), sete vezes mais do que o segundo maior investidor, os Estados Unidos.

Os dados, citados ontem pela imprensa chinesa, constam num estudo da firma britânica Thinking-Linking, que comparou os investimentos de firmas de 41 países e concluiu que a China investiu mais do que todas as outras nações juntas.

Entre as maiores operações constam a aquisição de participações nos clubes italianos Inter de Milão e AC Milan, nos ingleses do Manchester City, nos checos do Slavia Praga, nos espanhóis do Atlético de Madrid ou nos franceses do Olympique Lyon.

Segundo o estudo, os investidores chineses procuram equipas de topo e tentam adquirir participações maioritárias.

O caso chinês é também inédito na medida em que o país não investia nada, até 2014, e passou de súbito a ser o maior investidor mundial.

Em 2014, as empresas chinesas investiram 555 ME. No ano seguinte, 1.600 ME e, em 2016, o montante subiu para 1.796 ME.

“É o resultado da ambição da China em converter-se numa grande potência global do futebol, para levar para casa o conhecimento”, explicou o porta-voz da Thinking-Linking, Mark Dixon.

Em segundo lugar, surgem os Estados Unidos, com 313 ME investidos na modalidade, enquanto Singapura figura na terceira posição, com 256 ME.

Em quarto e quinto lugares, encontram-se o Irão e Reino Unido, com 253 ME e 182 ME, respectivamente.

Ambições a prazo

Apesar do ‘boom’ do dinheiro chinês no futebol mundial, o país figura em 81.º no ranking da FIFA e apenas conta uma participação num mundial, na edição 2002, disputada na Coreia do Sul e Japão.

Na fase final da zona asiática de qualificação para o Mundial de 2018, a selecção chinesa encontra-se no sexto e último lugar do Grupo A.

Pequim espera, no entanto, colocar a selecção chinesa entre “as melhores equipas do mundo até 2050”.

No ano passado, Pequim anunciou um “plano de reforma do futebol”, que prevê, entre outros pontos, a abertura de 20.000 escolas de futebol, até 2020, e que “mais de 30 milhões de estudantes do ensino primário e secundário pratiquem com frequência a modalidade”.

16 Jun 2017

Antevisão da 16ª jornada da Liga de Elite: Um poleiro para três

João Maria Pegado

[dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]oje às 21:00 no Estádio de Macau tem início a 16ªJornada, com as honras de abertura a pertencerem às equipas do Sporting De Macau Vs Kei Lun. Os leões do território vão tentar garantir pontos neste jogo para conseguir o mais cedo possível o grande objectivo desta época, a manutenção. Para isso vai defrontar uma das equipas que mais tem surpreendido pelo futebol positivo que pratica e com bons executantes na sua formação. A equipa de Josi Cler neste momento tem como objectivo garantir o 4ºlugar do campeonato.

Rota do título

Este fim de semana está reservado para rota do título. CPK, Benfica e Monte Carlo têm mais uma das três finais a disputar. As primeiras equipas a entrarem em campo, sábado às 20:30, são o CPK Vs Benfica de Macau, primeiro e segundo classificado respectivamente. Depois de todo o campeonato na frente os encarnados encontram-se em segundo lugar e logo quando faltam três jornadas para o fim. E quis o destino que na jornada seguinte o Benfica defronta-se o primeiro classificado, o CPK. Melhor não poderia ter acontecido à equipa de Henrique Nunes que assim só depende de si para voltar à posição que foi sua praticamente todo o campeonato. Mas não vai ser fácil. Pela frente terá um super motivado CPK que pela primeira vez na sua curta história está em primeiro lugar a três jornadas do fim e também só dependendo de si próprio.

A estatística está do lado do Benfica mas tradição de surpresas no futebol está com o CPK.  Atento a este desafio estará o Monte Carlo que em caso de empate dos primeiros dois classificados poderá subir ao primeiro lugar, para isso terá que jogar ao mesmo nível que jogou na altura que derrotou o Benfica, e assim infligir outra derrota à Policia que vai deixar tudo que tem dentro do campo ou então colocar-se em situação muito difícil de permanência no grande escalão de Macau. Monte Carlo vs Policia 18:30 de Domingo.

Aflitos e meio da tabela

Sábado às 18:30 Lai Chi Vs Development, vão lutar pela manutenção com a urgência de pontos a estar do lado do Lai Chi. Se não pontuarem neste encontro poderão começar a preparar a próxima época na 2ºDivisão.

O último jogo da jornada Cheng Fung Vs Ka I vai ser um desafio interessante entre equipas que lutam pelos lugares do meio da tabela. Enquanto Cheng Fung tenta alcançar o 4º lugar o Ka I ainda sonha em apanhar o próprio Cheng Fung.

16 Jun 2017

Riquexós, meio de transporte de Macau

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s jinrichshas surgiram em Macau na primeira metade do ano de 1883 (informação proveniente do jornal O Macaense de 12 de Julho) e dez anos mais tarde, em 1893 o assunto dos Jinrickshas estava na ordem do dia, pois o Leal Senado preparava-se para entregar a um monopólio os cerca de 280 carros de vinte proprietários então existentes. Puxado em cadenciada corrida por cules, vencida a conquista do cliente, o resto do dia era trabalhar para refeição e jogo. Envergando uma cabaia gasta, qual solas dos pés de calcarruar/percorrer travessas estreitas e íngremes ruas, faz o cule o transporte de pessoas e bens, agora ajudado por duas rodas.

Quando Adolfo Loureiro chegou a Macau a 15 de Setembro de 1883, já existiam, como se pode constatar, os riquexós, os carros japoneses ou jinrickshas. No entanto, durante a sua estadia de seis meses na cidade não os menciona no seu diário, que veio a dar o livro No Oriente – De Nápoles à China. Refere sim: “Ninguém em Macau anda a pé. Há as cadeirinhas de praça, com tarifas aprovadas pela Câmara, que em Macau se apelida de Leal Senado. Uma pessoa que se preze tem, porém a sua cadeirinha, com os seus dois cules uniformizados. A minha devia ser esplêndida, com vidraças e stores, e os meus culis teriam cabaias e calções brancos, orlados de azul e branco, com os seus grandes chapéus de palha de bambu também pintados de azul e branco”. (…) “Este serviço custar-me-ia: a boa cadeirinha 10 patacas; o fardamento dos dois culis, outras 10; e o salário destes dois homens não passaria também de 10 patacas por mês, e a seco!…”

No Projecto de postura municipal aprovado pelo Conselho de Província ao consultar o Boletim Oficial da Província de Macau e Timor n.º 42 de 20 de Outubro de 1883 demos conta terem os condutores de jin rik sha, ou riquexó, da praça de tirar uma licença no Senado para os conduzir, custando essa uma pataca. Tinham também de ter a tabela de preços em português e chinês e o número atribuído pela secretaria do Leal Senado afixado ou pintado num lugar visível. Na licença que se passar a cada jin rik sha será designado o local em que deverá estacionar, e a onde deverá estar colocado por modo que não cause embaraço ao trânsito público, alertando para as ruas que tenham menos de cinco metros de largura, nenhum jin rik sha, embora alugado, poderá estar postado à espera de alugado. Transitando dois em sentidos opostos, cada um dá a sua direita, mas de modo que se não toquem. Têm de se apresentar devidamente asseados, e todo o jin rik shas estando na estação, ou sendo encontrado na via pública desocupado, é obrigado a receber e transportar qualquer pessoa, que se apresentar para esse fim, a qualquer hora do dia ou da noite, pelo preço marcado na tabela, devendo circular à noite com uma lanterna acesa. O cule pode recusar transportar pessoas alcoolizadas.

No Boletim Oficial da Província de Macau e Timor n.º 2 de 12 de Janeiro de 1888 refere-se às alterações do regulamento de 1883, entre elas o aumento da licença para 5 patacas e terem os jin rik shas os números escritos tanto na forma portuguesa, como em chinês. Foi neste B. Oficial que ficou proibido os jinrikshas de subirem ou descerem ladeiras ou calçadas íngremes, a não ser se forem conduzidos por dois condutores e estes devem ser homens robustos, que se devem apresentar decentemente trajados. Já quanto à tabela de preços a praticar é a mesma de 1883, isto é, pela primeira hora $0,05 e por cada meia hora mais, $0,05, mas se o percurso de uma hora for para fora da cidade o preço é de $0,10. A única diferença que existe após cinco anos é no transporte de duas pessoas, que em 1883 era aberto mediante o entendimento entre as partes e em 1888, o preço para dois condutores é o dobro.

Para o Projecto do Liceu

Se a palavra jinricksha não chamou a nossa atenção ao passarmos uma vista de olhos por alto aos dez anos de jornais desse período, a partir de meados de 1893 ela tornou-se uma constante, continuando pelo ano seguinte os artigos sobre esse assunto. Aqui deixamos escrito o que neles recolhemos.

O semanário Luso-Chinês Echo Macaense, cujo proprietário e responsável era Francisco H. Fernandes, no dia 1 de Agosto de 1893 publica um artigo com o título Uma Explicação onde refere, “Apresentamos primeiro os motivos que levaram o Leal Senado a dar o passo que deu em monopolizar as licenças para este ramo de indústria que dá uma avultada verba para o orçamento municipal. Há também uns 4 meses o vereador Victorino propôs à câmara o monopolizar essa indústria, se assim se pode chamar, fundando-se nas seguintes razões: 1.º Os carros actuais já estão bem estragados, e a maior parte deles já deviam há muito ter sido condenados. 2.º Estando essa indústria à responsabilidade de um só indivíduo, o serviço de polícia seria mais bem feito. 3.º Os lucros serão o duplo do que actualmente.

Essa moção do ilustre senhor foi posta à discussão, e, sujeita à votação, foi julgada ainda inoportuna alegando o presidente que não via grande necessidade de aumentar os impostos, e por conseguinte que ficava essa moção para ser renovada quando fosse necessário. [O Leal Senado rejeitou a proposta para a concessão do exclusivo das licenças de jinrickshas, mas autorizou a elevação da taxa das mesmas, que passou a ser de $15 anuais, o que resultava o aumento da receita que o LS tinha em vista; era Presidente o secretário-geral Alfredo Lello, sendo o Delegado interino do procurador da Coroa e Fazenda Câncio Jorge, o secretário do Conselho Francisco Filipe Leitão e faziam parte também Domingos Clemente Pacheco e Pedro Nolasco da Silva.]

Passado tempo, apareceu o projecto do Liceu, a câmara foi convidada a dar um subsídio, e o Leal Senado deliberou dar 5000 patacas; foi então que o ilustre presidente o Sr. Comendador Basto, disse numa das sessões que chegou a ocasião de apresentar a moção do vereador Victorino sobre os jinrickshas, e assim se fez. Nessa ocasião se espalhou por fora que o Leal Senado ia avançar as licenças dos carros jinrickshas e logo apresentou-se um requerimento pedindo a avença das referidas licenças oferecendo à câmara a quantia de $6000 por ano, por tempo de cinco anos, sob as condições que o Leal Senado apresentasse. O Leal Senado demorou ainda o despacho desse requerimento dando assim tempo para que se fizesse um estudo mais profundo sobre o pedido. Uma semana depois apresentou-se um outro requerimento dos actuais proprietários dos carros que são uns 20 indivíduos, alegando que lhes constava que a câmara ia monopolizar os carros jinrickshas e pedia que assim não fizesse, porque isso ia prejudicar os seus interesses, e alegou mais, que muitos para adquirir esses carros venderam e empenharam os seus filhos (chamo para esse período a atenção do delegado da coroa) e que conservassem os carros no statu quo; esse requerimento não chegou a ser apresentado por lhe constar que um dos vereadores sabendo desse requerimento tinha dito que o único despacho sério era mandar com visto ao ministério público.

16 Jun 2017

Karadeniz: “Na vingança não se tem remorsos!”

(continuação)

5. A MORTE

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] mediterrâneo é um vasto continente cheio de história e de rochedos com vegetação rasteira junto à água. Depois de Istambul, é o lugar onde Karadeniz se sente melhor. Tinha aí uma pequena, mas confortável casa junto a Kas. Os túmulos hititas no meio da vila, no meio dos passos das pessoas parecem dizer que a morte é bela, que a morte se transforma em pedra e em arte. Ao fim da tarde, costumávamos passear por entre as pessoas e por entre a morte como se fossem coisas separadas, como se não houvesse ligação nenhuma entre ambas, como se a morte fosse um lugar para se visitar e tirar fotografias. Depois, no porto, vemos os barcos dos pescadores a trazer a morte de um ou outro tubarão agarrada à popa, e que muito diverte o Karadeniz, por causa da usual reacção de pânico dos turistas. Acrescentava sempre: “este hoje não se pode comer, só amanhã”. A carne precisava ainda de horas para amaciar. Aproximávamo-nos então dos baldes onde vinham os peixes e ele acabava por perguntar ao pescador para que restaurante ia o peixe que ele queria, e apontava. A morte vinda do mar é que ditava sempre o lugar onde íamos jantar.

Qual é a sua relação com a morte? Ela foi mudando ao longo da vida, segundo o ponto de vista daquele que a sabia fazer, segundo o ponto de vista daquele que também sabia que um dia ela lhe iria acontecer e segundo o ponto de vista daquele que está próximo dela? Fale-me da morte, por favor!

No início a morte não era a morte. A morte era matar e matar era uma forma de ganhar a vida. Para quem, como eu, viveu da morte, e ainda vive dela, dos seus lucros, ela não assusta, Paulo. Por outro lado, sempre fui meio-morto, na minha vida cheia de segredos. Fui provavelmente o melhor assassino profissional do século XX e ninguém sabe disso. Quem soube, tão poucos, ou já morreram ou estão prestes a levar com eles para sempre o meu segredo, o testemunho da minha perícia. Imagina saberes que és um dos melhores escritores do teu tempo e ninguém saber disso! Isso sim, assusta mais do que a morte, meu amigo. Senti mais vezes o terror, que muitos atribuem à morte, em outras coisas da vida do que na morte propriamente dita.

Em que coisas?

Sabes o que é acordar a meio da noite alagado de terror, porque sonhaste com uma mulher que amaste no teu passado, com quem viveste, a fazer amor com outro homem, e isso estar a passar-se no tempo em que ainda viviam juntos? Um sonho acerca de um facto que nunca existiu, provavelmente, mas após tanto tempo como se pode realmente saber se não aconteceu? Ela já não vive contigo há anos e volta à noite por entre os sonhos para destruir, não só o teu descanso, mas também o teu passado. Alagar de dúvidas e de rancores e de mágoa e de desânimo toda a tua vida. Não é fácil perceber que facilmente se mata um homem à distância, mas que na distância do tempo não consegues sequer impedir que uma mulher faça de ti o que quiser. Só não te mata, porque seria pôr a sofrer-te de menos. Nunca sofri pesadelos pelos homens que matei e, no entanto, uma mulher tortura-me todas as noites, vinda de longe, vinda da morte. E esta morte que nos atormenta, que nos faz sangrar de infelicidade, cabisbaixos pelo dia fora, não se transforma num belo túmulo, para que apreciemos o passado. Para mim, a morte é aquilo que poderia ter evitado e acabou por se tornar inevitável. A outra, a do fim de tudo, não sei do que se trata, não me mete medo. A morte fez muito por mim, não tenho de que me queixar, Paulo! Mas o evitável a tornar-se inevitável é que me macera a existência toda.

É mesmo verdade que nunca sentiu pesadelos pela morte que fazia acontecer aos outros?

Completamente! Nunca senti remorsos pelo meu trabalho. Alguém tinha de o fazer e eu era muito bom a fazê-lo. Fosse eu crente e diria que a minha perícia tinha sido uma bênção de Deus.

Também nunca sentiu remorsos pelos gatos que matava, gratuitamente?

Não, porque estava apaixonado por esse ódio. Queria vingar-me da minha mulher, da falta de amor dela por mim, da falta de amor dela pelo filho, da falta de amor do meu filho por mim. Se não era falta de amor, pelo menos era falta de vivência desse amor. Na vingança não se tem remorsos! Nem por um momento deixei de dormir ou acordei alagado de suor e terror pelas balas que cravei nos gatos.

Não se arrepende de nada na sua vida?

Arrepender, não, mas se pudesse voltar atrás tinha começado a minha colecção mais cedo. Tinha começado a colecção antes da minha mulher se ter ido embora.

Alguma vez a deixou de amar, à sua mulher?

Nunca! Esse é que é o problema, essa é que é a morte. Uma mulher que diz que me ama, mas que não consegue fazê-lo, embora continue a dizê-lo e mesmo assim tu não consegues deixar de amá-la nem mandá-la embora. A minha morte é a minha mulher.

Tornou-se a sua morte desde que o deixou ou desde que morreu?

Não, Paulo, tornou-se a minha morte desde que a conheci. Foi o evitável a tornar-se inevitável. No fundo, a minha vida é uma história de amor.

Mas quando conheceu a B. já há muito que trabalhava, que havia tomado importantes decisões acerca do rumo da sua vida. Antes da B., já matava para viver.

Mas nunca havia amado antes, nem amei mais ninguém depois. E isso conta mais do que o modo como ganhava a vida. Matar não durou para sempre, mas o amor por ela durou para sempre. Provavelmente, não haverá muitas pessoas no mundo que possam dizer isso. Pois não, Paulo?

Hoje, provavelmente, nenhuma. Mas o seu amor só durou para sempre porque nunca se concretizou, não pensa assim?

Tens razão, Paulo! Durou para sempre porque nunca nos chegámos a ter um ao outro. Ela queria-me de um modo e eu queria-a de outro muito diferente. Nunca nos chegámos a encontrar no nosso amor.

O seu filho sabe desse seu grande amor pela mãe dele?

O meu filho não quer saber de nada que não seja dinheiro e poder. Herdou da mãe a distância em relação às pessoas e herdou de mim o pragmatismo em relação à vida. Para o meu filho, o amor é uma puta fina.

16 Jun 2017

André Silvério, engenheiro mecânico: “A Ásia é uma surpresa”

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]lfacinha, André Silvério está em Macau porque o destino quis. Uma vinda para a Ásia estaria fora de questão há cerca de dois anos, altura em que foi colocado no território dentro do programa de estágios Inov-Jovem.

Na altura, a terminar a tese de mestrado na área da termodinâmica e a pensar no envio dos primeiros currículos para encontrar emprego, André Silvério não equacionava uma vinda para Macau. “Nunca me passou pela cabeça vir para aqui”, diz. “Aliás, quando estava a fazer a entrevista para integrar o programa foi-me perguntado se havia algum local para onde não quisesse ir, ao que respondei que sim: a Ásia.”

Quando André Silvério soube da sua sorte, pensou de imediato na distância, ao mesmo tempo que se interrogava acerca das diferenças que poderia encontrar. Os receios que tinha relativamente a uma vinda para o continente asiático tinham que ver com “possíveis dificuldades de integração, porque são países muito diferentes”.

No entanto, a vinda para o território acabou por não ser difícil. “Não estava à espera de encontrar tantas pessoas da comunidade portuguesa”, sendo que, a identificação com quem cá estava proporcionou, desde o início, algum “conforto” ao engenheiro.

Foram seis meses de estágio, uma estreia na vida profissional que “correu muito bem”. O facto de ter estado numa empresa também portuguesa poderá ter ajudado, considera, e “a experiência acabou por ser incrível”.

Mas as diferenças também se sentiram. “Os cheiros, principalmente da comida” são ainda recordados apesar de, com o tempo, já não serem sentidos.

Saiu de Macau no final do estágio. Foi embora com agrado, porque “queria mesmo regressar a Portugal”, mas considerava que “talvez um dia ainda voltasse”. E assim foi. Depois de quatro meses à procura de emprego em Lisboa, sem respostas, apareceu a proposta de regresso ao território. Não hesitou.

A trabalhar na construção de um dos novos casinos, André Silvério afirma estar satisfeito: “Estou a trabalhar num projecto fantástico com uma dimensão muito grande o que me faz sentir que, sem dúvida, fiz a melhor opção.”

Macau, uma nova casa

De lugar distante, Macau é agora uma casa. A constatação foi feita recentemente quando, “ao regressar de Portugal, senti que estava a voltar para casa, o que nunca tinha sentido”.

No entanto, as ofertas do território podiam ser mais e melhores. “Tenho muita pena de não poder fazer coisas que faria noutros lugares. Tenho pena de não poder fazer mergulho e de não poder pegar num carro e fazer cem quilómetros para qualquer lado”, ilustra.

Ao recordar a prática de mergulho, André Silvério não deixa de explicar a escolha do hobby que aqui não é possível. “Mergulhar é estar num mundo completamente diferente onde as preocupações desaparecem. Não sei o que é ser astronauta, mas penso que será algo semelhante, aliás, penso que os mergulhadores são as pessoas que não podem ser astronautas”, refere.

Macau é um lugar pequeno e, como tal, as opções dadas aos que cá vivem acabam também por ser reduzidas. “Acabamos por ir sempre aos mesmos sítios. Até podemos tentar variar, mas o ambiente continua a ser muito o mesmo”, diz.

A possibilidade de viajar pelo continente é, no entanto, uma das grandes vantagens de viver no território. Para quem tinha a Ásia como um destino não desejado, as viagens de André Silvério têm mudado, em muito, a sua opinião. Depois de passar pela Indonésia e pela Tailândia, por exemplo, o continente passou a ser “mágico”. “Há aqui qualquer coisa que surpreende”, diz, sem conseguir definir ao certo o que é.

Uma logística complicada

O desenvolvimento do território não passa despercebido ao engenheiro. André Silvério considera que, se por um lado é positivo até pelas oportunidades de emprego que cria, por outro pode trazer alguns problemas à região. “Lembro-me de que, quando regressei a Macau, voltei para a mesma casa e o que vi à minha frente foi um boom enorme no que respeita à construção.”

Este crescimento é encarado pelo engenheiro com algumas reticências, nomeadamente no que respeita à logística que implica. “Acho que vai ser difícil lidar não só com o desenvolvimento local, mas também com toda a transformação que está a acontecer aqui à volta do Rio Das Pérolas e que inclui as regiões vizinhas.” As obras que lhes estão associadas implicam, considera, um movimento de pessoas, tanto locais como de fora, que “envolve uma logística que nem sempre é fácil”.

16 Jun 2017

Uma viagem incompreensível

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]ronto. A medida de acesso livre de iates entre Macau e a cidade chinesa de Zhongshan está lançada, e o novo terminal marítimo da Taipa foi, finalmente, inaugurado. Macau parece ter ganho novas faces marítimas para mostrar ao mundo, em termos de sistemas e infra-estruturas.

Mas há que questionar: e depois? O número de pedidos para a entrada de iates é tão pouco, que até Maio deste ano apenas três iates chegaram ao território vindos de Zhongshan. A Direcção dos Serviços de Turismo admitiu que esta medida é dirigida para turistas com maiores capacidades económicas, pelo que o número de visitantes desta categoria não deve registar um grande aumento.

É incompreensível que, apesar de saber que os turistas serão, à partida, poucos, os Serviços de Turismo continuem a afirmar que vão fazer estudos sobre as “características de consumo” dos clientes nesse segmento, mas não estudam como podem atrair mais visitantes ou melhorar essa medida.

Este caso faz-me lembrar o comentário feito por um analista que referiu que o Governo sofre de uma espécie de doença de Parkinson, que estará a aparecer novamente. Assim que descobre um problema, o Executivo limita-se a encomendar estudos a diversas entidades, pois considera que são os melhores medicamentos para as suas doenças.

Fazer estudos não é, de todo, uma medida errada, mas deve ser adequado e ter efeitos práticos. Nesta iniciativa sobre a entrada livre de iates, o ponto essencial é como é que se podem diminuir as exigências a quem tem um iate, para que a medida possa beneficiar mais pessoas.

Levanta muitas dúvidas o facto dos Serviços de Turismo e a Direcção dos Serviços dos Assuntos Marítimos e da Água implementarem medidas sem terem uma comunicação permanente. Este é um velho problema de incoerência que existe nos diversos departamentos do Governo.

Para além da burocracia, há ainda a dificuldade relacionada com o facto do interior da China cobrar quase um milhão de renmimbi para que um iate fique estacionado na marina. Isso não ajuda os proprietários de iates que sejam, digamos, da classe média, ou classe média alta.

Além disso, as taxas de inspecção nas alfândegas são altas, e é algo que o Governo de Macau já disse que precisa de coordenador com as autoridades de Guangdong. Também foi falada a existência de um mecanismo de cooperação entre os dois territórios, mas será que está a ter efeitos?

Quando os iates chegam a Macau, podem ficar estacionados no cais de Coloane ou na marina da Doca dos Pescadores, mas as instalações em Coloane não são simples. Não há sampanas (embarcações asiáticas, com fundo de bambu) que façam a ligação para embarcações de recreio mais específicas. Os iates só podem atracar numa zona a cem metros de distância em relação ao cais, e os turistas precisam de usar o batel para fazer a ligação ao cais. Não deixa de ser uma viagem com um quê de assustador.

Quando os iates de Zhongshan chegam a Macau, não podem passear nas suas águas. Se eu fosse dona de um iate e chegasse ao território, e percebesse que não podia dar uma volta de barco, então ia pensar para que estava eu aqui com o meu iate. O Governo Central já atribuiu à RAEM quilómetros de águas marítimas, mas é estranho que os iates ainda não possam fazer visitas aqui à volta.

Não me assumo especialista. Mas tendo em conta que o terminal marítimo da Taipa já entrou em funcionamento, e tendo em conta a sua enorme dimensão (quatro vezes superior à do aeroporto), devem existir zonas por ocupar ali à volta.

As autoridades deveriam pensar em aproveitar esses espaços para o embarque de iates provenientes da China, e isso iria permitir um melhor acesso dos turistas ao Cotai, Taipa ou Coloane. Talvez fossem proporcionadas melhores condições do que o Cais de Coloane.

16 Jun 2017

Os coelhinhos

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]ensar sobre coisa nenhuma é um exercício tramado. Assim como é difícil escrever sobre coisa nenhuma, mesmo para quem está habituado à folha em branco e às ideias no vazio. Anos de desertos ideológicos não nos habituam necessariamente ao nada, à inexistência. Temos esta mania insuportável de querermos pensar em algo, de precisarmos de um objecto para inventarmos outro, de necessitarmos de um conceito para o podermos avaliar. Somos uns tontos.

Pois bem. Esta semana, o Governo de Chui Sai On lançou à população um desafio metafísico de elevado grau de dificuldade: quer o Executivo que a gente pense no que deverá ser a presença do território no megalómano plano da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. Sucede, porém, que não foi dado ao povo um ponto de partida para tamanha reflexão.

Na apresentação da consulta pública, que dura apenas 15 dias, não foi divulgado um plano, uma proposta ou meia dúzia de ideias. Foi lida a lista de chavões que todos conhecemos e que inclui palavras tipo plataforma, lazer, centro, mundial, lusófonos e afins. Ideias concretas: zero. Pensem vocês, dizem eles. Penso eu, respondo. Se tiver tempo, porém.

Reconheçam, senhores que mandam, que 15 dias é coisa nenhuma para se pensar sobre coisa nenhuma. Não chega para se sair da abstracção para a realidade. Quando nos encontramos mergulhados no alheamento colectivo, encontrar uma ideia por semana é tarefa árdua. O objecto da consulta é vasto, extraordinariamente gigante no tamanho e de natureza ultra-diversificada. Vós pedis o impossível.

Mas eu tento, dentro das minhas limitações. E isto apesar de não saber sequer se sou destinatário deste vosso pedido. Por certo quereis, senhores que mandam, que as opiniões a serem enviadas em correio rápido sejam redigidas por ilustres cabeças, cérebros mais iluminados do que o meu, uma humilde jornalista. São as elites pensantes do território que, em 15 dias, conseguem conceber um plano de integração económica, outro ao nível das infra-estruturas viárias, um terceiro sobre infra-estruturas rodoviárias e outro ainda sobre questões de harmonização jurídica, isto sem descurar, claro está, a sintonização das mais diversas manifestações culturais e linguísticas das três jurisdições em análise, os negócios, os negociantes e os negociadores.

Não obstante saber que há quem tenha disponíveis 15 vezes 24 horas pela frente para vos fornecer ideias a preço de desconto – que por aqui é caro, porque tudo custa os olhos da cara e outras partes do corpo –, agradeço o facto de me terem incluído, a mim e aos meus semelhantes, em tão nobre tarefa. Há dias em que sabe bem sentirmos que somos parte da engrenagem, e não a pedra que se afasta com a biqueira pontiaguda do sapato italiano.

Apesar de nos ser pedido o impossível e de, muito sinceramente, saber que não estais à espera do meu inútil contributo, aqui fica ele: há alturas em que mais vale estar calado do que atirar areia para os olhos de quem ainda vê para além do capacete local.

O projecto em análise é de nível nacional. Pequim, sabe quem lê os jornais, incumbiu as partes de dizerem o que pensam. Aqui ao lado, naquela China que achamos ser densa e opaca, há já algumas semanas que se fala publicamente dos estudos que foram encomendados e das propostas concretas que contêm. Aqui dentro, nada. Os senhores que mandam sentam-se a uma mesa e dizem: povo, pensai por nós, pecadores, para Pequim ver que estamos aqui todos ouvidos, todos olhos, todos receptivos às vossas ideias sobre coisa nenhuma. Entretanto, os amigos de sempre sacam da cartola um rolo com propostas e estudos preparados de anteontem para ontem, de tão geniais que são.

Eu quero uma grande baía cor-de-rosa. Uma Hello Kitty gigante que se visse da lua, mais expressiva do que a muralha. Cheia de ouro e diamantes, para respeitar a cultura transversal da província e das duas regiões. Macau deve afirmar-se pela diferença: passeios rolantes com ventoinhas penduradas em nuvens por causa do suor e dos maus cheiros, estradas revestidas a material fofo e absorvente para reduzir o barulho e amortecer as quedas em caso de acidente, hordas de turistas nipónicos com os telemóveis no silêncio e as gargantas em ‘mute’, livros a nascerem das árvores, árvores a nascerem dos livros, sofás imaculados espalhados pela cidade com música conforme o meu estado de espírito, crianças de uniformes brancos, bem-comportadas, velhinhos sorridentes a saltar à corda e coelhinhos aos pulos nos imensos jardins relvados do Leal Senado.

E também me apetece que 2049 não seja amanhã, porque amanhã é um sábado de 2017, e pode ser que, nos anos que faltam, apareça alguém que não queira apenas brincar aos políticos.

16 Jun 2017

Piloto macaense Filipe Clemente Souza vai correr no TCR China e no WTCC

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]ilipe Clemente Souza vai ter uma segunda metade do ano bastante preenchida. O piloto de Macau vai participar na temporada completa do novo campeonato TCR China e ainda irá dar uma perninha no Campeonato do Mundo FIA de Carros de Turismo (WTCC).

Neste novo desafio, o piloto macaense irá tripular um VW Golf TCR da equipa Teamworks, que é responsável técnica para a região dos carros TCR do Grupo Volkswagen Audi.

“Escolhi este campeonato é porque é um novo campeonato na China e é um novo conceito de corridas”, disse Souza ao HM sobre este desafio.

O TCR China obriga, por regulamento, a que haja dois pilotos por carro. O piloto da RAEM irá fazer equipa com Samuel Hsieh, um piloto de Hong Kong muito experiente neste tipo de carros e com várias participações nas corrida de suporte do Grande Prémio de Macau. Souza não esconde que a dupla tem como objectivo “lutar pelos lugares do pódio”.

O piloto da Song Veng Racing Team nas provas nacionais ainda não teve a oportunidade de testar o VW Golf TCR da equipa de Hong Kong, mas espera ter fazê-lo ainda antes do arranque da temporada. Contudo, o carro alemão, que este ano apresenta algumas novidades a nível aerodinâmico, é bastante familiar ao piloto de Macau, pois na época passada Souza conduziu um carro semelhante no campeonato TCR Asia Series, mas da equipa germânica Engstler Motorsport, e este ano participou na primeira ronda do mesmo campeonato em Zhuhai, onde terminou no terceiro lugar na segunda corrida.

O campeonato TCR China iria começar em Ordos este fim-de-semana, mas problemas com a pista da Mongólia Interior adiaram o arranque do campeonato para o mês de Agosto, em Xangai. Ao todo serão seis provas, cada uma com três corridas por fim-de-semana, ao longo desta primeira temporada, sendo que a competição chinesa tem uma jornada agendada para o Circuito da Guia no mês de Novembro em que Souza poderá não participar.

Nova aventura no WTCC

Este também será o ano em que Souza irá regressar ao WTCC, onde em 2014 conquistou o Troféu Asiático. O piloto do território tem um acordo com a equipa espanhola Campos Racing para conduzir um Chevrolet Cruze RML TC1 na prova chinesa do campeonato, que se disputa no novo circuito de Ningbo, e no Grande Prémio de Macau, apesar da ronda do Circuito da Guia não estar ainda cem por cento segura.

“Decidi participar porque tudo indica que este será o último ano destes carros TC1 no mundial de Turismo”, explicou Souza ao HM, que não esconde estar curioso para “experimentar um carro TC1”, que é bastante diferente dos carros que tripulou até aqui.

O campeão de Macau de carros de Turismo está consciente das suas limitações nesta sua participação pontual no WTCC, pois enfrentará uma concorrência muito experiente e que conduz estes carros há vários anos, alguns com apoio directo de grandes construtores. Por isso mesmo, os objectivos de Souza resumem-se “a terminar e fazer boas corridas”, gozando ao máximo a possibilidade de ombrear com os melhores do mundo.

16 Jun 2017