MSCI adiciona acções de firmas chinesas

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] gestora de índices de referência globais MSCI anunciou ontem que vai acrescentar títulos cotados nas praças financeiras da China continental aos seus índices bolsistas. A MSCI vai incluir acções denominadas na moeda chinesa, o yuan, de 222 sociedades chinesas de elevada capitalização, ao Índice de Mercados Emergentes. O processo de adesão, que arranca em maio de 2018, vai ser dividido em duas fases e representará 0,7% do índice.

É um passo importante para a liderança chinesa, que tem vindo a promover uma maior integração dos mercados e moeda do país no sistema financeiro global. Os índices do MSCI são seguidos por gestores de fundos de investimento. A decisão poderá levar a mais investimento estrangeiro em empresas chinesas, apesar dos analistas afirmarem que não esperam uma entrada imediata de capital, visto que o processo só arranca no próximo ano.

Em três revisões do índice, feitas anteriormente, os títulos chineses não foram incluídos, devido ao acesso limitado que os investidores estrangeiros têm aos mercados do país.

Um outro ponto que levou a MSCI a adiar a decisão foi a volatilidade das praças financeiras chinesas, incluindo o colapso do mercado, no verão de 2015, que levou a que quase metade das ações fosse suspensa.

O índice incluirá apenas títulos disponíveis através das ligações estabelecidas, em 2014, entre a bolsa de Hong Kong e as praças de Xangai e Shenzhen.

Estas ligações entre mercados dão aos investidores estrangeiros um acesso mais amplo aos mercados da China continental, que estão restritos aos investidores locais.

Títulos que estiveram suspensos mais de 50 dias estão excluídos.

O Índice de Países Emergentes inclui 830 empresas, de 23 países. As empresas chinesas cotadas em praças financeiras além-fronteiras têm já a maior quota, de 28%, através dos títulos listados em Hong Kong, como a PetroChina, ou o grupo Alibaba, que está cotado em Nova Iorque.

22 Jun 2017

Aviação | Ofensiva contra gigantes do sector

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China, com seu C-919, e a Rússia, com o MC-21, desejam romper o oligopólio da Airbus e Boeing no mercado dos aviões de média distância, um primeiro passo da sua ofensiva contra os dois gigantes mundiais do sector.

“Há décadas, só havia duas famílias de aviões que competiam no sector dos aviões de corredor único (fuselagem estreita e de alcance intermediário), o A320 e o 737” da Airbus e da Boeing, lembra Stéphane Albernhe, sócio da consultora Archery. Agora há a concorrência de aviões como o CSeries da canadiana Bombardier, o C919 da chinesa Comac e o MS-21 da russa Irkut, dispostos a “atacar esse duopólio”.

“Estes novos actores têm por trás Estados que os apoiam e que não pararão por aí. Começaram no mercado do corredor único, mas é muito provável, pelo menos no que se refere à China, que o próximo modelo seja um avião de longa distância”, afirma.

O C-919, da empresa pública chinesa Commercial Aircraft Corporation of China (Comac), realizou seu primeiro voo no dia 5 de Maio. Segundo a companhia, já há 600 pedidos para essa aeronave com capacidade para 168 passageiros e que pode percorrer até 5.500 quilómetros.

O russo MC-21, construído pela companhia pública Irkut, foi lançado dia 28 de Maio na Sibéria e já recebeu 175 encomendas. O avião tem capacidade de 132 a 211 passageiros e pode percorrer até 6.000 quilómetros.

Segundo Gilles Fournier, o director-geral do salão aeronáutico de Le Bourget realizado nesta semana perto de Paris, “estes aviões ainda não estão prontos para ser expostos” nesta feira, a mais importante do sector, “mas acho que estarão dentro de dois anos”.

China e Rússia querem ir mais longe e em 22 de Maio anunciaram um ambicioso projecto para desenvolver juntos um avião de longa distância, o C-929. A aeronave terá capacidade de 280 passageiros para voos de até 12.000 quilómetros, o que a tornaria concorrente directo do 787 “Dreamliner” da Boeing e do A350 da Airbus.

O C-929, desenvolvido conjuntamente pela Comac e pela companhia pública russa United Aircraft Corporation (UAC), supõe um investimento de entre 13 e 20 mil milhões de dólares, segundo a imprensa chinesa.

A estratégia da China é adquirir primeiro o conhecimento técnico e testar seus novos aviões no mercado doméstico antes de lançar-se no mercado internacional. Segundo as estimativas da Airbus e da Boeing, nas próximas duas décadas o mercado chinês precisará de 6.000 novos aviões por um valor total de 1 bilião de dólares.

Stéphane Albernhe adverte que tanto o C919 como o MS-21 ainda não foram homologados pelas agências europeia e americana e que “demorará até que as fabricantes russas e chinesas tenham a maturidade técnica e industrial da Airbus e da Boeing”. É o caso do avião regional chinês ARJ-21 que, à espera do aval da Federal Aviation Administration (FAA), só pode voar em seu país.

O sector, no entanto, leva muito a sério a concorrência da China e da Rússia. “Não se pode subestimar nunca a concorrência”, adverte Randy Tinseth, vice-presidente de marketing da filial de aviação civil da Boeing.

“Dentro de quinze anos [os chineses] terão o maior mercado de aviação, por isso investem nesses produtos. Têm o maior mercado interno, isso os coloca acima de todos os outros”, assegura.

John Leahy, director comercial da Airbus, prevê que nos próximos cinco ou dez anos não haverá “ameaças” para os dois gigantes do sector. “Mas dentro de 20 anos acredito que [os chineses] serão uma das três grandes fabricantes de aviões” do mundo. “Actualmente, o duopólio formado por Airbus e Boeing não parece estar em risco pelos novos concorrentes russos e chineses”, segundo a consultora AlixPartners. Será preciso esperar a próxima geração de aviões.

22 Jun 2017

As móveis estradas de Eros

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]qui estamos como que filtrados e caídos na Terra, em cima dela, movendo-nos na horizontal, uma linha deitada nos traça os movimentos e só subidos vamos quando nas passagens aéreas descolamos os pés do solo. A linha do nosso electro alivia, mas desfazemo-la logo nas aterragens. Movidos nestes socalcos vamos tendo uma plasticidade maior em vários degraus da atmosfera, mas nada que se assemelhe à marcha e pés no solo que batido está pela gigantesca «Pegada Humana» e que, espalhado por todo o lado, roda em volta de si mesmo, sempre deitado, e assim por eternos caminhos vamos encontrando o amor do outro, que convida a uma horizontalidade instintiva: a tempestade da paixão é demasiado vertical para o nosso já tão desenvolvido hedonismo e há mortalhas que são ainda refinados locais que nos observam para leitos e neles depositamos um desejo melancólico de paragem, assim como um ultra-romantismo à Soares de Passos de uma prostração que nos tome, de ossos tilintando no osso que somos em solfejos de delícias estranhas.

Certo é que ando tudo muito magro, a carne está reduzida, e onde ela não abunda, a natureza se infiltra na sua essência mineral. Outrora os doentes de tuberculose ardiam nos vapores da sua libido que os descarnava e fazia belos com a luz de uma fixação ígnea, que era por vezes o estado de paixão em que se encontravam: quando não há alimento para fora temos essa tendência para nos auto-devorarmos, alimentados que estamos de um fogo interior, um ritual de canibalismo que passa pela paixão de si mesmo.

O tempo em que vivemos reduz, no entanto, a fixação. Diluímo-nos mais em vez de condensarmos, a falta de convicção não ajuda o Eros a abrir a altura remota das suas asas e os órgãos são para usar mas estão pouco disponíveis para assombros. Vemos tanta gente nua, morta, uns em cima dos outros, iguais por toda a parte, em partes iguais, que o laborioso deus nos dá “trincadas” em sugestivos desafios só para não esquecermos da sua inteira missão.

Protegemo-nos uns dos outros como se as pragas nos fossem conquistar e, impostos os venais apetrechos, apelamos à sua bondade para exercer os ritos de acasalamento. A carne que se multiplicara na carne está em queda contínua, vamos esvaziando-nos nela e, como não somos “tocados”, nada acontece além de andarmos em roda no solo da Terra, que também já fora germinal. Vem aí a altura: cidades, carros e o Eros alado tem fundições neste plasma, mas quer andar como que fugido dos escombros dos aterros. Ninguém nos educou para o Amor: fomos alicerçando alguns saberes na marcha e ela, de tão giratória e móvel, foi excluindo aspectos essenciais e nisso reside a incompetência para termos feito a aventura do deus em nós.

Sequazes e enlaçados, ainda urdimos desejos de vir a partilhar o impensável dessas coisas fugidias mas que depressa se esfumam quando compreendemos uma certa morte que é essa devastada essência humana impossível de ser reabilitada. Nós já somos os seres da aventura breve, do que apetece, do que esquece, do que deseja mas não abarca, nós somos os últimos seres do patamar das emoções e nelas já não temos lugar. Esgotámos o tempo na Roda, a Roda gira…. mas não nos devolverá nem as cinzas do amor perdido, nem um outro, que redentor e farto nos venha compensar de um funesto ensinamento. Não somos os românticos de olhos luminosos, anda tudo pouco mais que macilento num vaivém de sabores pois que há saberes que não escolhem hospedeiros tais.

Se cairmos não haverá um terno amor necrófilo perante a beleza do nosso provável cadáver, que numa espécie de doença rara o queira consubstanciar, uma qualidade inaudita do amor. É assim, segregados e sem guindastes futuros, que esperam talvez sorridentes o nosso gradual fim, fazemos uma esteira muito móvel onde nos deitamos num grande artefacto de coisas boas, os nossos pés não são os pés do outro “mas se ambos confundimos tanto os nossos pés, diz-me com que pés eu hei de seguir?”

Não ter tal interrogação é ser cativo. Fulminados desta prática somos urgentes na manutenção das nossas causas, que causam não raro um vazio estranho pois que dela só parte de nós fica elevada, e, nem mesmo chorar nos é permitido. Calcinados talvez pela vida que guiada nos conduziu a um secreto abismo, circulamos por toda a parte para que não notem tanto cansaço, talvez desolação, talvez uma secreta esperança… buscamos um sonho que insiste em não saber de nós.

Nós que fôramos unos, procuramos a metade dividida como uma leve lembrança , mas a nossa própria iniquidade nos separa do encontro, somos essa metade sinalizada e em risco, pior ainda que não encontrar o outro é a de vertermos a existência em coisa nenhuma. Exaltados e mais experimentais somos deixados no patamar das provas e dela saímos mais pequenos sempre que não compreendemos a beleza da tentativa.

Não duvidamos que a ordem das coisas impulsiona-as para a harmonia, seria preciso um “rasgão” cego na dobra para falharmos em todas as direcções, mas nos aspectos movediços a função da mobilidade se traduz por inércia, e sem o mínimo de sustentação nas coisas mais bonitas elas afastam-se de nós recusando a oferenda. Muitos contemplarão a sua face de eternos D. Quixotes e nada mais verão que supostas ruínas de moinhos cansados . Animou-os as fomes, que findaram, gerando mais fome, até ao terror dos manjares.

22 Jun 2017

Do fogo e da pressa

18/06/17

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]ste será o meu primeiro texto escrito num tablet que a minha mulher me trouxe de Lisboa e que manejo com superstição e paciência. Para já mantenho o particular ruído do teclado que me lembra os saltos na mesa alemã, aquele zumbido de fibras elásticas em tensão. E será o primeiro de vários, tal como a clareira no bosque nos reeduca o olhar que passa a vasculhar os intervalos entre as árvores.

Lembro-me dos primeiros textos que redigi para o JL, em 82, numa velha Hermes de teclas redondas, aonde entalava folhas para as arrancar em fúria, na sequência dos enganos. As laudas jaziam pelo chão, epitáfios que o vento havia amarfanhado antes de conhecer campa.

O artigo começava a ser desenhado no café, depois do jantar, e a lide taurina durava até às 6h da manhã, com os rascunhos e tropeços a tumultuarem o chão. Era uma luta titânica contra o sono, o destrambelhamento das ideias, contra uma sintaxe claudicante. No fim, o cansaço lá me fazia atalhar os processos, ser mais eficaz e menos precioso.

Às seis da manhã tomava um duche, após o que descia ao café para engordurar as laudas com a manteiga da torrada, fazia as emendas definitivas à mão, e ia então para o jornal, atordoar-me com o espectáculo supersónico do Assis Pacheco a aviar três laudas em meia hora, só com um dedo, enquanto trocava anedotas com o José Manuel da Nóbrega.

Um dia não consegui acabar o artigo a tempo e lembro o sentimento de derrota com que fui ao café telefonar ao Pedro Borges às oito da manhã para lhe dizer: não fui capaz! Ele estava siderado, mas eu ao engenho ainda não associava a responsabilidade e fui para casa dormir.

De outra vez foi mais grave. Ia apresentar a novela de uma francesa. Foram vinte e quatro horas no espaldar, enfiava a folha na máquina e arrancava-a três parágrafos depois, por inépcia e insatisfação, e ao lado fazia rascunhos à mão, de cuja insuficiência me dava conta assim que os transcrevia para a máquina. Mas ao fim de 24 horas lá consegui chegar a um texto capaz. E para não me embaralhar fui rasgando os rascunhos. Cheguei às dez da manhã do dia da apresentação com o cansaço benigno do dever cumprido. E então acorda a minha namorada da altura. A tomarmos o pequeno-almoço, uma má interpretação de um sonho que ela tivera deixou-a furibunda e a discussão foi subindo de tom; meia-hora depois ela corria para a minha secretária e rasgou-me a apresentação em fanicos. Então tudo era grave e vivíamos sobre a lâmina da intransigência. Foi o pânico, como explicar isto ao editor? Eu tinha vinte e cinco anos e não me portei com grande decência.

E tão grave como a quebra do compromisso era o horror da Hermes.

O Garcia Marquez declarou que se tivesse conhecido o computador mais cedo teria escrito o dobro dos livros. Hesito sobre se isso teria sido um benefício. Há uma densidade da escrita que já não se busca, preterida pela lisura da “inteligilidade ” que o ecrã nos dá. Quando pego no Debaixo do Vulcão, do Lowry, ou na Obra ao Negro, da Yourcenar, para os reler fico abismado com a soma inacreditável de informação por parágrafo aliada a uma respiração pletórica da frase que só pode surgir da resistência, do conquistar a frase à força do atrito. Levava-se o dobro, o triplo do tempo, mas a própria duração do processo sedimentava outras conexões – o que se ganhou em rapidez e comunicação directa perde-se em subtileza, em filigrana, em níveis de sentido. O estilo marmóreo de ambos os livros corresponde ao vagar com que foram urdidos até ao polimento final. E como em Proust vemos amalgamadas na mesma frase a descrição e a reflexão sobre o objecto descrito. Uma trança perfeita que só a lentidão executa.

Não creio que seja um ganho estarmos tecnicamente mais apetrechados para vomitar um romance por ano e mais alacremente satisfeitos com as nossas suficiências e as suas ilusões.

20/06/17

As pessoas pensam “pisicologicamente”, como se fossem algo de separado, alheias a que vivemos num eco-sistema que age como um organismo e que integra a dinâmica dos elementos. O fogo faz parte de nós, pertence à nossa natureza, e vice-versa.

Um homem divaga na sanita, olha pela janela o balanço do cedro que comprou com a moradia. Vem um raio e o cedro incandescente entra-lhe pela janela, pegando-lhe fogo num ápice, dos cabelos ao calcanhar de Aquiles. Ele sai da casa-de-banho como uma tocha e em desespero agarra-se à mulher, para que o ajude. Ela desapega-se mas tarde, e corre pela porta fora e sucumbe junto a um grande arbustro de folhas secas. O vento faz voar uma labareda para o renque de plátanos do outro lado do outro lado da estrada que margina a moradia – rolos de fumo frisam a cabeleira dos plátanos.

O fogo tem uma velocidade de contágio estonteante, de que o amor carece. Mas então por que não se previnem os homens? Porque o fogo é um não-dito. Os bombeiros são as vogais do que não se quer pensar e dizer sobre o fogo. Que o fogo não conhece a mortalidade infantil e se revela logo adulto e é imortal e disputa aos homens a sua presunção. O fogo é quem mais ordena, da siderurgia à floresta, ou a Pompeia e marimba-se na propriedade.

Por que não criamos as condições para o debelar? Não cremos ainda que a humanidade não tenha preço. Provavelmente por ser o amor vagaroso a propagar-se enquanto o fogo (e o dinheiro idem) não. Ainda que um incêndio nos espolie de todos os aspectos, julgamo-nos no controle, superiores. Até que um dia os dedos do fogo brincam com os caracóis das crianças.

Conheci um pirómano. Chamava-se Cândido.

22 Jun 2017

Rodolfo Ávila no Campeonato da China de Carros de Turismo

[dropcap style≠’circle’]R[/dropcap]odolfo Ávila continua este fim-de-semana a sua aventura no Campeonato da China de Carros de Turismo (CTCC), desta vez num palco que nunca visitou, o Circuito de Guizhou, situado no sul da República Popular da China.

O piloto português de Macau, que está pela primeira vez a disputar um campeonato de carros de Turismo a tempo-inteiro, é um dos poucos pilotos do campeonato que nunca competiu neste circuito erigido em 2016.  O circuito de Guizhou, situado na capital da província, Guiyang, tem catorze curvas e um perímetro de 2,198 km, tendo um desenho em forma “ruyi”, o ceptro dos imperadores chineses.

Nas duas provas anteriores, disputadas em Zhuhai e o no circuito de Guangdong, Ávila mostrou um excelente andamento nas corridas, o que lhe permite hoje ocupar o quinto lugar no campeonato.

“A minha maior dificuldade têm sido as qualificações e adaptar-me ao comportamento dos pneus. A qualificação vai ser muito importante nesta pista porque não será fácil ultrapassar nas corridas”, antevê o piloto da SVW333 Racing.

“Temos vindo a melhorar o VW Lamando GTS, mas a concorrência é forte e também não tem estado parada. Vou dar o meu melhor, sempre com o objectivo de ajudar a equipa a somar o maior número de pontos possível, mas tenho a consciência que vai ser um fim-de-semana tudo menos fácil, porque vou ter muito pouco tempo de pista para me familiarizar a um circuito que apenas irei conhecer no primeiro treino-livre de sábado”, conclui o piloto oficial da SAIC Volkswagen.

O dia de sábado será marcado pelas duas sessões de treinos-livres e pela sessão qualificação. As duas corridas realizam-se no domingo.

22 Jun 2017

Inflamáveis infames

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]ortugal esteve três dias de luto nacional, decretados no Domingo após o terrível incêndio que lavrou (e lavrava, até terça-feira à noite) nos distritos de Leiria e Coimbra. Esta figura do “luto nacional” não implica mais que colocar a bandeira a meia-haste, ou observar um minuto de silêncio no início de alguma cerimónia nacional ou evento desportivo. O presidente Marcelo Rebelo de Sousa veio de imediato apelar à união e à contenção, pedindo a todos que se combatesse aquele foco de incêndio, em vez de “se acenderem novos focos”, referindo-se à imprensa e redes sociais, onde se começou imediatamente a montar o circo. O prof. Marcelo é óptima pessoa e tem sido um presidente de consensos, mas por vezes dá a entender que conhece mal o povo que o elegeu. Não há tempo seco nem temperaturas de mais de 40º que impeçam o bom povo de sair à rua de tocha acesa, pronto para acender mais uma ou várias piras inquisitoriais.

O país e mundo acordaram em sobressalto no Domingo ao deparar com as notícias que davam conta de quase setenta mortos nos concelhos de Pedrógão Grande e Castanheira de Pêra, mortes essas em circunstâncias macabras e aterradoras, que deixaram para segundo plano as perdas materiais próprias desta estação. Em termos de área florestal ardida todos os anos nos incêndios de Verão, pode-se dizer que este foi só um “aperitivo”. As imagens de devastação e de morte falavam por si, e dispensavam qualquer tipo de comentário. Isto não impediu que uma escola muito “avant-garde” de jornalismo mandasse uma das suas mais celebradas profissionais fazer uma reportagem ao vivo junto de um cadáver que se encontrava na floresta, dentro de um saco próprio para o efeito. “Onde já se viu?”, bradava aos céus o povo incrédulo. Na CMTV, respondo eu, quando aqui há uns tempos transmitiram ao vivo o velório de uma criança que havia sido assassinada pela mãe. Foi aí que ficou a barra da decência.

Mas não vamos abrir só um foco de incêndio nos valores de ética jornalística, não. Sabiam que a companhia que gere as contribuições telefónicas para a ajuda das vítimas fica com 1/6 do valor das doações? Ah pois, isto é indecente, “fazer dinheiro com os mortos”, desta vez houve mortos à brava para poder fazer valer qualquer um destes argumentos. Mas alto e pára o baile, que a ministra da Administração Interna impediu a entrada de bombeiros espanhóis, carregadinhos de água, e nós ali sem saber fazer a dança da chuva. Ai alegou questões de logística? Incompetente! Demita-se e já! Ai a notícia “não foi bem verdade”? Demita-se na mesma – demitam-se todos! O que nos vai levar ao principal foco de incêndio, esse ainda maior que o de Pedrógão: de quem é a culpa? Agora é que o lixaram, ó sr. presidente Marcelo.

O incêndio foi causado por um raio de trovoada seca que, por culpa das temperaturas altas e dos ventos, se espalhou rapidamente pela floresta. Houve inicialmente quem tivesse colocado a possibilidade de fogo posto mas, havendo mão criminosa, era mais complicado aos ordenadores do território feitos à pressão nas redes sociais darem o inevitável veredicto: a culpa é do Governo. De qual? De todos, e ainda se estava longe de saber ao perto a dimensão real da tragédia, e já “xuxas” e “pafiosos” apareciam de fósforo em riste, prontinhos a acender fogo na palhota da culpa alheia. Isto é tudo sem dúvida de uma relevância assombrosa. Com toda a certeza que a última coisa que passou pela cabeça das pobres pessoas que se viram subitamente rodeadas pelo fogo da morte não foi arrependimente de ter votado ou deixado de votar em A ou em B.

Talvez eu não esteja a abordar a situação da forma mais apropriada, sem a sensibilidade necessária. É que aqui em Macau (que já contribuiu para o alívio da tragédia, sem fazer perguntas ou tecer comentários, o que é de louvar) tem chovido todos os dias desde o fim-de-semana, e o calor é húmido e não há incêndios florestais – torna-se mais difícil relacionar-se com o drama. Ou talvez porque na China dá-se o abatimento de uma mina e morrem 200 operários, ou uma cheia custa a vida e as casas a milhares de pessoas de uma assentada, e não se faz da notícia um vendaval especulativo, não “vale tudo” para vender papel ou ter audiências, e não se atira a carniça aos abutres para que estes desatem a fazer campanha eleitoral. Em Portugal o luto terminou ontem (terça-feira), e agora já não fica mal falar-se à vontade de responsabilidades, de culpas e de todo o resto. Mas será que ainda ficou alguma coisa por dizer, bem ou mal.

22 Jun 2017

Quarto espaço de Macau envolto em sombras

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] projecto de construção de um quarto espaço do território pode vir a ser complicado. Em causa está a localização que não reúne, até agora, consenso.

De acordo com o consultor principal do Gabinete de Estudos das Políticas (GEP), Mi Jian, quando a ideia foi apresentada ao Governo Central, apesar de não ter sido recebida com entusiasmo, também não foi colocada de parte pelo que “o projecto ainda pode vir a ser realizado”.

Segundo o Jornal do Cidadão, as dificuldades estão relacionadas com a localização. A sugestão para que fosse construído entre Coloane e a Ilha de Huangmao apresenta, diz Mi Jian, várias dificuldades. A mais relevante, diz o consultor do GEP, é ficar fora da área de 85 quilómetros quadrados de área marítima do território.

A localização perto de Hac-Sá apresenta aspectos que, para Mi Jian, podem ser incontornáveis, entre eles consequências ambientais indesejáveis. Para que tal não aconteça, diz, “devem ser evitados os impactos negativos na zona de Coloane e de Hac-Sá e, assim sendo, o Governo deve escolher um local que fique o mais longe possível destas zonas”.

A ideia de criar um porto de águas profundas em Macau também é, de acordo com o consultor principal do GEP, um projecto difícil. Em causa estão os custos associados às obras e à falta de condições provocadas pela subida da maré.

22 Jun 2017

Luanda destrona Hong Kong como cidade mais cara do mundo

[dropcap style≠’circle’]L[/dropcap]uanda voltou ao primeiro lugar da lista das cidades mais caras do mundo para trabalhadores expatriados, destronando Hong Kong, segundo o estudo da Global Mercer sobre o custo de vida em 2017, divulgado ontem.

O estudo conclui que “algumas cidades africanas continuam a ocupar um lugar de destaque” no levantamento publicado em 2017, o que para a consultora Mercer “reflecte os altos custos de vida e preços dos bens para trabalhadores expatriados”.

Luanda ocupa o primeiro lugar “como a cidade mais cara para expatriados” em todo o mundo, “apesar de a sua moeda [kwanza] ter desvalorizado em relação ao dólar norte-americano”, mais de 40%, desde 2015.

A capital angolana, como todo o país, enfrenta desde finais de 2014 uma profunda crise financeira, económica e cambial decorrente da quebra nas receitas com a exportação de petróleo e só entre Janeiro e Dezembro de 2016 viu a inflação ultrapassar os 40 por cento, segundo números do Instituto Nacional de Estatística.

O estudo da Mercer analisa dados de 209 cidades mundiais e leva em conta o preço de mais de 200 produtos e serviços, nomeadamente alojamento, comida, vestuário, transportes, lazer ou telecomunicações.

A título de exemplo, um café em Luanda custa mais de dois euros, o pão de forma quase 18 euros e o aluguer de um apartamento com três quartos pode ultrapassar os 12.200 euros mensais.

Segundo a Mercer, este estudo anual sobre o custo de vida nas maiores cidades e capitais mundiais fornece, entre outra informação, elementos-chave para as empresas estabelecerem “subsídios justos de custo de vida” a trabalhadores expatriados.

22 Jun 2017

Carl Ching, candidato às eleições: “Em Macau não se fala muito sobre o sufrágio universal”

Entrou nas lides políticas em Hong Kong, há mais de três décadas, na sequência da participação activa num associação de cariz social. Membro de uma lista candidata às legislativas em 2013, Carl Ching é desta vez o cabeça-de-lista da Associação Sonho Macau. Tem o sufrágio universal como principal cavalo de batalha, mas também diz preocupar-se com as contas públicas, o património e a cultura

Entrou no mundo da política, não em Macau mas em Hong Kong, há já vários anos. Como é que surgiu esse interesse?

Fui para Hong Kong depois de ter concluído os estudos na Escola Secundária Pui Ching. Já depois de lá estar a viver, tentei candidatar-me às eleições distritais, mas não cheguei a ser oficialmente candidato, porque não consegui assinaturas suficientes. Tinha uma participação activa em associações da área dos serviços sociais e pensava que a candidatura poderia ser uma maneira de expressar a opinião dos cidadãos. Também participei na realização de actividades de luta pela democracia. Em Hong Kong, é relativamente fácil ser-se candidato aos conselhos distritais, mas claro que é difícil conseguir um assento. A situação é diferente em Macau.

E como foi essa experiência em Hong Kong?

A situação de Hong Kong é muito politizada. A política lá foca-se sobretudo na democracia, nomeadamente no Conselho Legislativo. Mas nos conselhos distritais a carga política é menor, porque os residentes votam e o resultado das eleições está directamente relacionado com o trabalho que viram ser feito na área social. É fácil para um membro de um conselho distrital conseguir a renovação do mandato, sendo difícil desafiar quem já lá está e conseguir um assento. Por exemplo, o Long Hair [Leung Kwok-hung, deputado ao Conselho Legislativo] desafiou um membro da Aliança Democrática para a Melhoria e o Progresso de Hong Kong, mas não conseguiu ser eleito. Faltavam-lhe mais de 200 votos. Ainda assim, foi um bom resultado. 

A sua intervenção política em Hong Kong tinha também como objectivo o sufrágio directo universal para o Chefe do Executivo e para o Conselho Legislativo?

Apoiei o sufrágio universal para ambas as eleições. Penso que existe esta necessidade, quer em Hong Kong, quer em Macau. A partir do momento em que me mudei para Hong Kong, deixei de prestar tanta atenção ao que foi acontecendo em Macau. Depois, em 2010, cheguei à conclusão de que as eleições aqui no território se assemelhavam ao referendo que, à época, houve em Hong Kong – o referendo que envolveu os cinco distritos, em que cada um deles solicitou a um deputado para deixar o cargo, para que os substitutos fossem eleitos por toda a população. Nesse mesmo ano obtive o Bilhete de Identidade de Residente Permanente de Macau e em 2013 participei nas eleições legislativas, juntei-me a uma lista. Pensei que seria uma oportunidade de representar as opiniões dos cidadãos e acreditava que em Macau era necessário lutarmos pelo sufrágio universal.

Como é que olha para o processo democrático em Macau, em comparação com o de Hong Kong?

Em Macau não se fala muito sobre o sufrágio universal. As pessoas pensam que não precisam de lutar por isso. Mas considero que se trata de uma forma de pensar incorrecta. Na Lei Básica não está previsto qualquer conteúdo relativo ao sufrágio universal, mas tal não representa que não possa existir. Os residentes de Macau têm direito a casar e a ter filhos. Mas a Lei Básica não diz quando é que as pessoas se podem casar e ter crianças. Será que os residentes precisam de esperar pela permissão do Governo Central para se casarem? Não, o casamento tem que ver com a decisão dos indivíduos. Segundo a lei, caso haja dois terços dos deputados de acordo, a metodologia das eleições pode ser alterada, o que significa que é possível alcançar o sufrágio universal. É óbvio que não é nada fácil que dois terços dos deputados estejam de acordo com essa ideia. Por outro lado, se continuarmos a adoptar os métodos utilizados durante a Administração portuguesa, o direito da população local de eleger e de ser eleito continuará a ser restringido. Por que tem o Chefe do Executivo o direito de nomear sete deputados? Durante a Administração portuguesa, esta medida dava jeito porque, na altura, se fosse implementado o sufrágio universal, os chineses teriam receio. Hoje em dia, dizemos que os locais não reagem de forma activa à política mas, naqueles tempos, as pessoas eram ainda mais passivas. Se fosse adoptado o sufrágio universal, os deputados seriam todos macaenses ou portugueses. Por isso, durante aquele período, justificava-se a nomeação.

Constata que, desde então, houve alterações no modo como a população lida com a política.

Hoje em dia há muitos estudantes universitários e a população queixa-se através do canal de rádio. O que se passou com o regime de garantia dos titulares do cargo de Chefe do Executivo e dos principais cargos permitiu-me perceber que os deputados eleitos pela via indirecta e os nomeados pelo Chefe do Executivo têm uma postura que se opõe às opiniões dos cidadãos. Em 2013, dos dez deputados eleitos por via directa, só três votaram contra esse regime. Esses três deputados têm coisa um aspecto em comum: defendem o sufrágio universal. A proposta levou 20 mil pessoas às ruas e sete mil manifestaram-se em frente à Assembleia Legislativa (AL). Os manifestantes pediam que a proposta fosse retirada, mas os deputados não o fizeram. Os seis deputados oriundos de três listas, que apoiavam o regime, tiveram menos votos do que o número total de manifestantes. Porque é que não apoiam o sufrágio universal? Porque o “avô” [o Governo Central] não gosta. Os programas políticos desses deputados não foram feitos com base nas necessidades dos residentes. Além disso, não fiscalizam bem os trabalhos do Governo e deixam engordar os funcionários dos principais cargos da função pública. Por isso, o objectivo da minha candidatura é fiscalizar a acção do Governo e mostrar as opiniões reais dos cidadãos. 

Ainda em relação ao processo democrático em Macau, entende que existem condições para se ir mais longe?

O processo democrático em Macau pode ser acelerado, porque aqui não há tanta polémica como em Hong Kong, onde existe uma grande divergência de opiniões. Há quem diga que isto se deve à administração de C.Y. Leung. Acredito que, se as pessoas de Macau não querem ver acontecer o que sucedeu em Hong Kong, devem caminhar o mais rapidamente possível para a democracia. O Governo Central não proíbe a implementação do sufrágio universal, só diz que o povo de Macau deve amar a pátria. Mas como é que definimos o conceito de amar a pátria? Por outro lado, as pessoas de Macau são muito inteligentes. Este ano realizam-se as primeiras eleições após o regime de garantia dos titulares dos principais cargos. Se o Governo não for composto por membros eleitos pelos votos da população, por melhores que sejam, as medidas não fazem sentido. Por isso, vamos tentar que mais de metade dos eleitores apoiem listas de candidatos com programas políticos relativos ao sufrágio universal, para que possam substituir os deputados que actuam contra as opiniões dos cidadãos. Apelo aos eleitores que votem pelas listas que apoiam o sufrágio universal.

Acredita que consegue ser eleito?

Não sei ainda. Mas fizemos bem os trabalhos de preparação. No entanto, as eleições deste ano são mais difíceis. Em primeiro lugar, por causa da privacidade, é difícil obter o número de bilhete de identidade dos eleitores para eles subscreverem o pedido de reconhecimento. Depois, as pessoas têm medo de arranjarem problemas e de serem acusadas de assinar em pedidos diferentes, pelo que respondem todas que já assinaram outra lista. Ouvi dizer que alguns candidatos tentam recolher mais assinaturas do que as necessárias, porque assim os outros candidatos têm menos assinaturas. E alguns candidatos decidiram candidatar-se em duas listas separadas. Quando olhamos para as eleições de 2009 e de 2013, constatamos que há apenas aqueles nove grupos de candidatos. Nas eleições, o resultado não muda. Uma vez que os programas políticos não envolvem o sufrágio universal, isto significa que esses candidatos só seguem as direcções do “avô”. Mas nós também amamos a pátria – só que amamos de um modo muito mais exigente. Expressar a nossa ideia através de manifestações não significa que não amamos a pátria. Se a minha comissão de candidatura não for aprovada, vamos ainda tentar, ainda temos várias coisas para fazer. Mas como já submetemos 340 assinaturas, estamos confiantes. Não sabemos se conseguimos ser eleitos. As pessoas dizem que nós apoiamos o sufrágio universal só porque queremos ganhar os votos dos eleitores. Se acharem que não vale a pena votarem em nós, não o façam. Mas não votem naqueles candidatos que estão contra as opiniões dos cidadãos, que apoiaram a proposta do regime de garantia dos titulares dos principais cargos.

Quem são os seus apoiantes?

São pessoas que, nestes anos, se têm manifestado nas ruas, sobretudo contra o regime de garantia dos titulares dos principais cargos. Não só aqueles que se manifestaram nas ruas, mas também os que não querem que os deputados contra a voz dos cidadãos continuem a desempenhar funções na AL.

Quais são as principais ideias políticas da Associação Sonho Macau?

As nossas ideias principais estão relacionadas com dois aspectos. Em primeiro lugar, a Associação Sonho Macau gostaria que as aspirações da população fossem correspondidas, sobretudo as dos novos eleitores, dos jovens e das pessoas que chegaram depois de 1999. Também prestamos atenção a questões como a arte e a cultura. O sufrágio universal é um dos nossos sonhos. Acreditamos que é difícil tornar os sonhos realidade por causa do sistema político, em que menos de metade dos deputados são eleitos por via directa. Muitas pessoas, sobretudo os jovens, acham que a participação nas eleições não tem qualquer significado. Porque é que temos de seguir as directrizes do Governo Central? Há várias coisas que podemos fazer. Por exemplo, a medida dos cinco dias de trabalho não se aplica a Macau.

Como é que descreve as pessoas que fazem parte desta associação? Tem quantos membros?

A associação só foi criada no ano passado, sendo que não temos muitos membros. Mas nunca contámos quantos membros temos. Quanto ao número de membros activos, são cerca de dez, são amigos que têm ideias semelhantes. Alguns deles são do sector de jogo, outros são estudantes, por exemplo.

Se for eleito, quais são os assuntos que gostaria de ver discutidos?

As despesas que envolvem montantes muito elevados devem ser aprovadas pela Assembleia Legislativa. Também defendemos a abertura do concurso para a habitação pública e a preservação do património cultural. Há pouco tempo, a UNESCO emitiu um alerta ao Governo de Macau, pelo que pedimos às autoridades que façam os devidos trabalhos de preservação do património.

21 Jun 2017

Habitação | Abertura de concurso para casas públicas até ao final do ano

Raimundo do Rosário anunciou que irá abrir concurso público para atribuição de 19 mil fracções de habitação pública no quarto trimestre deste ano. Quanto ao mecanismo permanente de candidatura, acusado de lentidão, o secretário admite debater o assunto quando a lei da habitação social for revista

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]pós congratular o Governo quanto à abertura do concurso para atribuição de habitação pública, o deputado Au Kam San perguntou a Raimundo do Rosário a razão para anunciar a medida no debate na Assembleia Legislativa (AL). O secretário para os Transportes e Obras Públicas explicou que “quando há pressão trabalha-se mais”. Dessa forma, o Executivo vai abrir concurso para atribuição de 19 mil fracções no último trimestre deste ano.

A deputada Ella Lei, que suscitou o debate sobre a habitação pública, comentou ao HM que espera que “a abertura do concurso aconteça o mais rápido possível”. A tribuna acrescentou que “as pessoas levam meses para entregar os documentos”, sendo ainda necessário um período de apreciação dos pedidos pelos serviços antes de se definir a lista de candidatos e se entregar a chave. A deputada refere que o Governo dispõe, actualmente, de 800 fracções sociais prontas para serem entregues, além de mais 300 que se encontram em manutenção. Ou seja, Ella Lei não encontra razão para que não avance com a abertura imediata de concurso para estas casas.

Processo moroso

A fluidez do processo foi uma das preocupações avançadas pelos deputados. Au Kam San enalteceu o pragmatismo de Raimundo do Rosário, mas deixou a ressalva para a morosidade resultante dos vários passos de apreciação dos procedimentos. O deputado pró-democrata sugeriu ao Governo que o processo seja simplificado com apenas um passo de avaliação.

Outra das propostas para agilizar os procedimentos foi avançada por Tommy Lau, que questionou Raimundo do Rosário se o Instituto de Habitação terá reforço de pessoal. A deputada Kwan Tsui Hang também se referiu aos recursos dos serviços como uma desculpa que tem sido dada noutras situações, realçando que é um desperdício construir e não atribuir as casas por ineptidão dos serviços em dar vazão aos pedidos. O secretário para os Transportes e Obras Públicas respondeu referindo que o orçamento para os seus serviços se mantém igual ao ano passado, ou seja, o IH não será reforçado.

Regime permanente

Por seu lado, Song Pek Kei interrogou os membros do Executivo se a acumulação de problemas será uma prática pontual ou parte da cultura governativa. A deputada referia-se ao facto de o Governo deixar ampliar a procura de habitação pública, para depois abrir um concurso com um número de fracções que impossibilita o IH de avaliar todos as candidaturas em tempo útil.

É de salientar neste domínio que desde 2013 que não é aberto um concurso para atribuir casas públicas. Song Pek Kei considera que o problema pode ser solucionado com a implementação de um regime permanente de candidatura, um mecanismo que pode “tranquilizar a população”. A solução mereceu consenso entre os deputados que intervieram no debate. Ella Lei, em modo de rescaldo, refere que “espera que o Governo reveja a lei tendo este aspecto em consideração, uma vez que a maioria dos colegas que falaram apoia o regime permanente”.

Neste domínio, Raimundo do Rosário referiu que os trabalhos para a revisão da lei que rege a habitação social está em curso e que a “proposta de revisão deve ser apresentada mais cedo, ou mais tarde”. O secretário para os Transportes e Obras Públicas acrescentou que quando for discutida a proposta de revisão, os deputados terão oportunidade para discutir a pertinência do regime permanente de candidatura. Ou seja, os cidadãos poderem-se candidatar a habitação pública sem necessidade de concurso.

Quanto à avaliação da procura de habitação pública, Raimundo do Rosário reiterou que será apresentado um estudo em Setembro para dar a conhecer a situação.

Os deputados Zheng Anting e José Chui Sai Peng sugeriram a entrega de candidaturas pela Internet como um passo significativo para a eficácia das políticas de habitação social. Por um lado, corresponderia à ideia do Governo electrónico, mais próximo da população. Por outro, traria pragmatismo, uma vez que em caso da candidatura não ser bem preenchida não seria recebida, evitando um passo de triagem por parte dos serviços.

21 Jun 2017

Função Pública | ATFPM contra novo sistema de apresentação de queixas

É a reacção da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau ao novo sistema de apresentação de queixas para os funcionários da Administração. Pereira Coutinho entende que a comissão de gestão e tratamento será apenas mais uma, sem qualquer utilidade

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) não está contente com o novo sistema de apresentação de queixas criado pelo Governo, publicado na passada segunda-feira em Boletim Oficial. O regime ainda não entrou em vigor – só em Setembro é que tal acontece –, mas o movimento liderado por Pereira Coutinho detectou já uma lista de problemas. Para o também deputado, não há dúvidas de que a comissão responsável pela análise das queixas “será mais uma das muitas comissões que já existem em Macau, pouco efectivas e de fraca utilidade”, que contribuirá para “o dispêndio do erário público”.

Em nota de imprensa, a ATFPM começa por destacar “a suposta vontade do Governo” de combater as ilegalidades dentro dos serviços públicos. Mas, para Pereira Coutinho, este desígnio do Executivo peca, desde logo, pela forma de apresentação das queixas, que terão de ser assumidas pelos seus autores.

“Alegam que ‘as queixas não podem ser anónimas porque podem envolver apenas duas pessoas’ deixando de fora situações em que mais de duas pessoas se comprometem a agir em conjunto para praticar ilegalidades”, observa a associação. Teme-se que as denúncias feitas resultem em “perseguição conjunta do grupo até o queixoso ser ‘escovado’ do posto de trabalho”.

O director dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP) garantiu, em declarações aos jornalistas, que as queixas anónimas poderão ser alvo de acompanhamento. Também aqui a ATFPM tem dúvidas, perguntando quais serão os critérios para a aceitação (ou não) de queixas não identificadas.

Confiança zero

O responsável pelos SAFP acredita que a obrigatoriedade de identificação do autor não fará com que as pessoas desistam da apresentação das queixas. “Esta afirmação é como querer “tapar o sol com a peneira’”, rebate Pereira Coutinho. Os anos de experiência da ATFPM dizem-lhe que, mesmo existindo um sistema paralelo no Comissariado contra a Corrupção (CCAC), “não tem sido fácil apresentar queixas por medo de represálias”. O presidente da associação vai mais longe: “Se o actual sistema no CCAC fosse fiável e merecedor da confiança dos trabalhadores, não haveria necessidade de implementar este novo regime”.

As reservas de Pereira Coutinho estendem-se ainda ao sistema de gestão e tratamento de queixas, que estará a cargo de uma comissão. O deputado assinala que os membros deste grupo serão propostos pela secretaria da Administração e Justiça, pelo que estarão dependentes da tutela.

“Não acreditamos que essas pessoas escolhidas pela secretaria da Administração e Justiça possam inspirar confiança e credibilidade junto dos trabalhadores da sua tutela, muito menos dos trabalhadores das outras tutelas”, atira Coutinho. O presidente da ATFPM é peremptório na conclusão a que chega: “Os princípios invocados serão meros slogans como quase sempre fomos habituados no passado”.

21 Jun 2017

Melinda Chan pede calendário para obras viárias

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] deputada Melinda Chan interpelou o Governo quanto à necessidade de elaboração de um calendário para a realização de obras nas vias públicas. “O Governo deve desenvolver um calendário respeitante ao desenvolvimento de obras nas vias públicas da Taipa e efectuar uma fiscalização rigorosa para as obras serem concluídas a tempo, melhorando assim a rede rodoviária da Taipa em geral”, defende a deputada, que acredita que a situação piorou bastante desde que o metro ligeiro começou a ser construído.

“Desde o início das obras do metro ligeiro que a situação do trânsito nas ilhas piorou. Actualmente, estas estão praticamente finalizadas, mas ainda há muitas obras de grande envergadura e obras nas vias públicas, como flores a brotar, por isso não há melhorias quanto ao problema dos engarrafamentos.”

Melinda Chan alerta para o facto de “o ambiente do trânsito continuar muito complexo, levando a muitas inconveniências, tanto para os residentes que utilizam os transportes públicos, como para aqueles que conduzem a sua própria viatura”.

A interpelação oral que a deputada apresentou ao Executivo inclui ainda críticas ao sistema de parques de estacionamento. “O Governo deve criar mais zonas de estacionamento de duração limitada, oferecendo mais lugares, para satisfazer as necessidades da população relativamente ao estacionamento nocturno.”

Melinda Chan lembra ainda que, no parque de estacionamento do parque central da Taipa, continua a não existir um meio electrónico de pagamento, através do Macau Pass, apesar de este auto-silo ter 2600 vagas para veículos. A deputada entende, por isso, que deve ser melhorado o sistema de pagamento nos parques de estacionamento públicos.

Os membros do Executivo terão de ir à Assembleia Legislativa dar explicações sobre esta matéria. O debate que servirá para responder a esta interpelação oral ainda não está agendado.

21 Jun 2017

Si Ka Lon quer “quarto espaço” com dimensão igual à do território

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] ideia de criação de um “quarto espaço”, já apresentada pelo Governo, voltou a ser objecto de uma interpelação oral apresentada pelo deputado Si Ka Lon. O número dois de Chan Meng Kam na Assembleia Legislativa defende que o novo aterro deverá ter a mesma dimensão que a RAEM já possui.

“Vão efectuar uma avaliação global, partindo do desenvolvimento a longo prazo de Macau, para pedir ao Governo Central a construção de 30 quilómetros quadrados de terrenos no quarto espaço, para criar mais uma parte nova de Macau?”, questionou o deputado.

Si Ka Lon diz ainda serem necessários mais estudos para o planeamento deste futuro aterro. “Concordo plenamente com a criação de um Macau novo, para atenuar a grave contradição entre as pessoas e os terrenos. As autoridades já realizaram, em conjugação com a tendência do crescimento populacional e a exigência de criar uma cidade habitável e adequada ao turismo, alguma avaliação sobre os recursos de solos necessários para a concretização deste objectivo?”, lançou.

Ao nível das dificuldades existentes para a aquisição de habitação, Si Ka Lon pede que sejam criados incentivos para os jovens que queiram comprar a sua primeira casa.

“Em relação às dificuldades na aquisição de habitação por parte dos jovens com idade inferior a 35 anos, de entre os diversos estudos encomendados pelas autoridades, já foram apresentadas algumas sugestões específicas? Vão tomar como referência a prática da região vizinha, lançando em Macau o “plano de primeira aquisição de imóvel”, para que as famílias dos jovens e da classe média consigam suportar os encargos com a habitação?”, rematou.

21 Jun 2017

São João | Arraial com mais espaço em São Lázaro

A tradicional festa do São João esteve ameaçada, mas há arraial no próximo fim-de-semana no bairro de São Lázaro e, afinal, ocupa mais espaço do que nas edições anteriores. A organização também conta com mais uma entidade: a Associação dos Jovens Macaenses

[dropcap style≠’circle’]“Q[/dropcap]ue o arraial, um dia, ocupe o bairro todo”, são as palavras da presidente da Casa de Portugal em Macau (CPM), Amélia António, visivelmente satisfeita não só com a permanência da festa popular no Bairro de São Lázaro, como, dada a adesão, com o alargamento do próprio espaço para acolher mais uma edição do arraial.

O evento esteve ameaçado quando a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego quis impedir a sua realização naquela zona, mas o bom senso acabou por ganhar. “As pessoas acabaram por ponderar e perceber que era melhor continuar a ter esta festa e manter a atracção para os turistas que já vêm para o arraial, nomeadamente de Hong Kong”, disse ontem Amélia António na apresentação de mais uma edição do São João.

Valores mais altos se levantam e, neste caso, “o valor das coisas acaba por se impor”, sublinhou. Além de manter a localização, a festa vai ter, afirma a presidente da CPM, “um bocado mais de rua”. A razão, apontou a responsável, tem que ver com o cada vez maior número de interessados em participar através da exploração das barraquinhas que a organização coloca ao dispor, gratuitamente, de quem quiser.

A festa vai contar com cerca de 40 tendas comerciais, sendo que, admite o presidente da Associação dos Macaenses (ADM), Miguel de Senna Fernandes, os esforços vão continuar a ser por um crescimento constante e por, finalmente, o arraial de São João poder vir a ser considerado na agenda da própria Administração.

Já Amélia António pretende que, no futuro, “todas as casas estejam decoradas para a festa”. A razão, aponta, é este poder vir a ser um factor de diferenciação relativamente a outros eventos no território e mesmo na região.

Festa para todos

Mais do que uma festa portuguesa, o Arraial de São João pretende vir a ser a festa de todos e para todos. A comissão organizadora lamenta, no entanto, que a maior adesão, nomeadamente às tendas comerciais, seja feita por portugueses, sendo que o objectivo é de que, com o tempo, os pedidos comecem a vir das várias comunidades que integram o território.

Miguel de Senna Fernandes sublinha ainda o empenho que a organização tem tido em tentar fazer entender a população de que não se trata apenas de uma festa de portugueses. Para o responsável da ADM, os contactos são feitos anualmente com as associações de moradores. No entanto, se por um lado estas entidades não se mostram com vontade de fazer parte das actividades, por outro, afirma, “são cada vez mais os membros da comunidade chinesa que aproveitam este fim-de-semana para ir a São Lázaro e assistir a uma festa diferente”.

Foi também ontem assinado o documento de adesão da Associação de Jovens Macaenses ao protocolo da comissão organizadora do Arraial de São João. Para Amélia António, é mais “um novo fôlego de capacidade e trabalho” que se junta à iniciativa.

O Arraial de São João tem anualmente um orçamento fixo entre 400 mil a 500 mil patacas, um apoio dos Serviços de Turismo que se destina a assegurar as despesas básicas inerentes à logística do evento.

21 Jun 2017

Droga | ARTM destaca sucesso do programa de seringas

Augusto Nogueira, presidente da Associação de Reabilitação dos Toxicodependentes de Macau, diz que é cedo para avaliar o impacto da nova lei de estupefacientes, mas destaca o sucesso do programa de recolha de seringas

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]inda é cedo para avaliar os impactos práticos da nova lei de proibição da produção, do tráfico e do consumo ilícitos de estupefacientes e de substâncias psicotrópicas, que agravou as molduras penais para os consumidores.

Quem o diz é Augusto Nogueira, presidente da Associação de Reabilitação dos Toxicodependentes de Macau (ARTM), que organiza, no sábado, uma palestra sobre o consumo e tráfico de drogas, através do projecto Be Cool.

“A maior parte dos casos que estão a ser julgados baseia-se ainda na lei antiga. Vai demorar um certo tempo até termos uma ideia se a nova lei está a resultar ou não”, apontou ao HM.

Passaram apenas seis meses desde que a nova lei entrou em vigor, sendo que Augusto Nogueira destaca o sucesso do programa de recolha de seringas.

“Os programas de metadona e distribuição de seringas estão a ser bastante efectivos, e é por isso é que levámos quase com um ano e meio com zero novas infecções entre os consumidores de droga”, frisou.

Apesar do agravamento das penas implementado com a nova legislação, Augusto Nogueira nega que em Macau exista uma política de tolerância zero em relação aos consumidores de estupefacientes.

“Não falo da total descriminalização, porque seria utópico estar a falar nisso. Mas Macau apoia a redução de danos e por isso é que existe o programa de distribuição de seringas. Existem também outros programas de redução de danos levados a cabo por outras associações.”

Ainda assim, “se podem ser feitas mais coisas, ter outro tipo de abertura, ou uma estratégia diferente de encaminhamento, penso que sim, que haveria outros caminhos a seguir”, frisou Augusto Nogueira.

Debater dependências

Em Novembro a ARTM organiza a conferência mundial sobre a prevenção, tratamento e redução de danos no campo das dependências, que vai servir também para Augusto Nogueira assumir a presidência da Federação Internacional de Organizações Não-governamentais para a Prevenção das Drogas e Abuso de Substâncias (IFNGO), por um período de dois anos.

João Goulão, médico e director do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências em Portugal, será um dos oradores de um evento que pretende debater todo o tipo de dependências, não apenas da droga, mas também do álcool e do jogo. Davis Fong, académico da Universidade de Macau, irá falar sobre o jogo.

Augusto Nogueira lembra que esta será a primeira vez em que dois pólos diferentes se reúnem: o da criminalização e o do tratamento fora das prisões.

“Um dos meus objectivos é unir estes dois pólos para podermos procurar uma melhor solução para o problema da toxicodependência.”

Augusto Nogueira tem também este objectivo enquanto presidente da IFNGO que, explica, está mais posicionada para a criminalização. “Vou tentar modernizar essa entidade para aquilo que, de momento, se está a passar, que é uma maior tendência para a redução de danos, e está mais que provado que tem bons resultados”, rematou.

21 Jun 2017

Segunda Instância dá razão a réus do Sin Fong

Recorreram e foram ouvidos. Os processos vão ser apensados e decorrerá apenas um julgamento.

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s duas acções relacionadas com o edifício Sin Fong vão ser julgadas em simultâneo. É o que resulta da decisão do Tribunal de Segunda Instância (TSI), que decidiu conceder provimento a um recurso interposto por três réus, revogando um despacho de um juiz que considerava que os processos deveriam ser avaliados em separado. O TSI teve um entendimento diferente, pelo que serão apensados.

Em causa está uma acção instaurada pelo Ministério Público, em representação da RAEM, e outra da iniciativa do Instituto de Acção Social. Os dois processos não têm os mesmos réus, mas três são comuns. Foram precisamente estes réus – Ho Weng Pio, a Companhia de Engenharia e Construção Weng Fok (construtores do Edifício Sin Fong Garden) e Joaquim Ernesto Sales (responsável pela direcção de obras de estruturas e fundações do edifício) que interpuseram recurso.

Na acção, em que é autora a RAEM, pede-se a condenação dos primeiros três réus na restituição de mais de 12,8 milhões de patacas, valor gasto pelo Governo na consolidação de pilares estruturais e na protecção de paredes exteriores, de modo a prevenir o colapso do edifício Sin Fong Garden. Este montante inclui ainda a inspecção do edifício afectado e dos prédios nas imediações.

Quanto ao processo movido pelo IAS, pede-se que os três réus indemnizem o instituto pelos encargos e subsídios que assumiu para com os moradores afectados com a situação do edifício Sin Fong.

Avaliado o recurso, o TSI entendeu que em ambas as acções a causa próxima é a mesma: a situação perigosa do edifício Sin Fong. “Ou seja, numa e noutra haverá que discutir a questão central factual que levou à situação de perigo para os moradores do Sin Fong.”

O tribunal nota que o depoimento de testemunhas acabará por ser o mesmo em ambos os processos, “e da prova que assim se obtiver sairá a resposta central à causa de pedir de traço comum”. Assim sendo, “por razões de economia processual, de celeridade, de redução de custos e de uniformidade de julgamento, é aconselhável que se proceda à apensação, evitando-se assim decisões díspares para a mesma situação de facto essencial”.

Quanto ao facto de as partes não serem as mesmas em ambas as acções, o TSI realça que “na apensação cada uma das acções não perde a sua autonomia, o que quer dizer que os respectivos processos não se fundem num só”.

O Sin Fong Garden, um prédio com 30 andares, foi evacuado em Outubro de 2012 por perigo de derrocada, após a descoberta de fissuras.

21 Jun 2017

Encontro com os EUA para debater Coreia do Norte e Mar do Sul

Na sequência do encontro entre Trump e Xi, China e EUA realizam o seu primeiro encontro bilateral sobre segurança. Kim Jong-nan vai ficar com as orelhas a arder.

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] desenvolvimento armamentista da Coreia do Norte vai ser a prioridade do primeiro diálogo de segurança e diplomacia entre os EUA e a China, que se realiza em Washington hoje, quarta-feira, informou o Departamento de Estado norte-americano. A reunião é o primeiro resultado do acordo alcançado em Abril entre os presidentes norte-americano e chinês, para intensificar a cooperação de alto nível entre ambos países.

Em teleconferência, a encarregada em funções do Departamento de Estado para os Assuntos da Ásia-Pacífico, Susan Thornton, afirmou que “a Coreia do Norte vai ser uma prioridade nas conversações, com o objectivo de avançar na cooperação com a China para uma resolução pacífica da ameaça nuclear e de mísseis”.

Este primeiro encontro vai contar, do lado dos EUA, com os secretários de Estado, Rex Tillerson, e da Defesa, James Mattis, e, do lado chinês, com o conselheiro de Estado Yang Jiechi e o chefe do Chefe de Estado-Maior do Exército, general Fang Fenghui.

Os EUA esperam que, com ajuda da China, a Coreia do Norte pare com as violações flagrantes das resoluções da ONU que limitam seu programa de mísseis e o desenvolvimento de armas nucleares. A China deu sinais de colaborar para isolar em alguns aspectos o regime de Kim Jong-Un, que tem em Pequim seu maior aliado comercial e diplomático.

Thornton disse esperar que o diálogo sirva para somar a China ao “eco global” de pressão sobre a Coreia do Norte para que Pyongyang respeite as resoluções da ONU e desista da ideia de obter um míssil intercontinental nuclear. Além disso, os EUA esperam encontrar entendimento sobre as disputas no Mar do Sul da China. “A nossa postura é que todas as partes interrompam a construção ou a militarização nesta região para criar um espaço e as condições necessárias para a diplomacia”, indicou Thornton. “Não esperamos resolver todas as nossas diferenças com a China numa ronda de diálogo ou num dia, mas esperamos obter resultados concretos”, concluiu.

21 Jun 2017

China | Drones distribuem encomendas em zonas rurais

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Amazon foi a primeira companhia a mostrar a possibilidade de entregar pedidos através de drones, mas enquanto a companhia americana ainda investiga esse tipo de tecnologia, a JD.com, da China, já transformou a ideia em realidade. Desde o ano passado que, em algumas regiões do país, especialmente montanhosas e remotas, a imagem de um drone a transportar pacotes é algo habitual. E a companhia, a segunda maior do comércio electrónico chinês depois da Alibaba, planeia uma expansão.

“O nosso objectivo são as áreas rurais, onde a infra-estrutura não é boa e o sector de transportes não é tão desenvolvido. Por isso, é muito mais barato enviar drones para lá”, explicou o vice-presidente para Assuntos Internacionais da JD, Josh Gartner. “O grande desafio é o fornecimento de energia aos drones”, explicou o executivo na sede central da JD, um edifício nos arredores de Pequim no qual trabalham milhares de funcionários e onde muitos destes drones são exibidos.

Seis dos sete modelos de drone usados pela JD são eléctricos. Apenas o maior deles, um grande equipamento de quase dois metros de envergadura e capacidade para transportar até 30 quilos, é alimentado com gasolina. Os drones, por enquanto, não levam os pedidos ao comprador final. São recebidos por um encarregado da empresa na cidade mais próxima ou na qual vive o cliente, explicou Gartner. “Depositamos as entregas nas cidades, e ali temos o que chamamos de ‘promotor local’ que o recebe e o leva ao cliente nos últimos passos”, conta o vice-presidente.

O espaço aéreo é altamente controlado e o uso de drones é proibido nas cidades chinesas, o que limita o sistema de transporte a regiões rurais. A JD tem permissão para fazer entregas em quatro das 30 regiões administrativas do país. A empresa pode utilizar drones na província de Sichuan, uma das mais montanhosas do país, Jiangsu, Guizhou e as regiões não urbanas dos arredores de Pequim. Mas a JD quer mais. “Queremos expandir no futuro e actualmente temos 40 drones em operação”, explica Gartnet.

Não é acaso que o transporte por drones foi desenvolvido primeiro na China. O país lidera a produção desses equipamentos para uso civil e já possui 45 mil registados. O número real, porém, pode ser muito maior. Na próxima década, a estimativa é que o mercado de drones da China gere US$ 11 mil milhões por ano, segundo um estudo da iResearch.

Tanto a JD como sua principal rival, a Alibaba – que concentra 80% do comércio electrónico na China – estão a trabalhar para conseguir um maior avanço sobre as regiões rurais do país, nas quais vivem 650 milhões de pessoas. Enquanto a Alibaba focou na criação das chamadas “aldeias Taobao”, áreas que vivem quase integralmente do comércio electrónico, a JD trabalha na melhoria do serviço de entrega, que não só se limita ao uso de drones, mas também prevê a construção de mini-aeroportos para a utilização coordenada dos equipamentos. Os camponeses das regiões mais remotas do país é melhor prepararem-se a ver pacotes ser entregues pelo ar.

21 Jun 2017

Massive Attack e Feist no Clockenflap

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]inda faltam cinco meses para Hong Kong receber o maior festival de música que se realiza na região, mas a organização divulgou ontem alguns nomes do cartaz, incluindo aquela que será a principal atracção do evento: os Massive Attack vão tocar no dia 19 de Novembro. Entre os principais convidados para a edição de 2017 do Clockenflap estão ainda a cantora Feist, os Tinariwen e os The Dandy Warhols.

Formado em 1988 em Bristol, o trio que compõe os Massive Attack não teve de esperar para ver o trabalho reconhecido: o álbum de estreia, “Blue Lines”, foi lançado em 1991 e o single “Unfinished Sympathy” rapidamente conquistou o público e a crítica.

Em 1998, o álbum “Mezzanine” veio confirmar que o grupo de trip hop sabia o que andava a fazer. “Teadrop”, a música a que Liz Fraser empresta a voz, foi nomeada para vários prémios. O disco esteve no primeiro lugar da lista dos mais vendidos no Reino Unido, o que aconteceu em 2003 com “100th Window”, o quarto álbum em estúdio dos Massive Attack.

Tanto “Blue Lines”, como “Mezzanine” estão na lista dos melhores 500 discos de sempre da Rolling Stone. A banda recebeu vários prémios ao longo da carreira. Com apenas cinco discos de originais, vendeu mais de 11 milhões de cópias.

O concerto de Feist no Clockenflap está marcado para sexta-feira, dia 17 de Novembro, o primeiro dia do festival. A cantora canadiana, que se situa entre o indie e o pop, é também guitarrista e actua tanto a solo, como no grupo de indie rock Broken Social Scene.

O primeiro disco lançado a solo, “Monarch”, data de 1999. Foi com “Let it Die”, de 2004, e “The Reminder”, de 2007, que conquistou projecção internacional. A participação num dos discos dos noruegueses Kings of Convenience também ajudou à descoberta da voz doce de Feist. Conta com vários prémios no currículo.

Do Sahara para aqui

Quem for ao Clockenflap no sábado, pode assistir a um concerto num registo completamente diferente: os Tinariwen chegam do Norte do Mali com um misto de sonoridades que lhes permitiram fazer mais do que música do mundo. O grupo do deserto do Sahara surgiu em 1979, na Argélia, mas só em 2007 é que estes músicos tuaregues foram aclamados, com o disco “Aman Iman” e a presença na rota dos festivais internacionais.

Noutro registo completamente diferente, os norte-americanos The Dandy Warhols compõem o cartaz de domingo com o rock alternativo que fazem desde 1994. Oriundos de Portland, conquistaram um lugar na cena musical quando foram descobertos pela Capitol Records e lançaram o disco de estreia, “The Dandy Warhols Come Down”, em 1997. Em 2001, um dos temas da banda foi escolhido para um anúncio publicitário nos Estados Unidos, o que lhe deu uma projecção massiva. Até à data, The Dandy Warhols têm dez álbuns em estúdio, duas compilações, seis EPs e 27 singles.

21 Jun 2017

Jason Lei, fotógrafo: “Cabe à fotografia preservar a memória”

“A Glimpse of Macau” é a exposição de Jason Lei que está a partir de amanhã na galeria da Creative Macau. Os trabalhos são uma compilação de imagens obtidas em filme nos últimos dez anos. Na altura da inauguração da mostra, é lançado o livro homónimo, para que fique o registo de uma cidade que vai desaparecendo

O que vamos ver nesta exposição?

“A Glimpse of Macau” apareceu por acaso, após o convite da responsável pela Creative Macau, Lúcia Lemos. Não tinha qualquer ideia acerca do que fazer quando me foi dito que havia um período de tempo em que poderia expor ali. O que fiz foi ir aos meus arquivos e tentar perceber o que poderia acontecer.

E o que é que encontrou?

Há dez anos que fotografo Macau. Saio para a rua para disparar por hábito, é algo que gosto de fazer. Pensei que poderia fazer alguma coisa com este trabalho contínuo. Peguei nas imagens do arquivo e resolvi ver o trabalho desenvolvido. Escolhi as minhas favoritas e achei que tinha material para a exposição e para o livro que também vai ser lançado amanhã. Eram mais de mil fotografias armazenadas.

Como é que fez a selecção tendo em conta tanto material?

Tive de ser criterioso. Além de optar por aquilo que emocionalmente mais me fazia sentido, por exemplo as imagens que demonstrassem algum calor humano, tive critérios mais técnicos. Fui buscar as fotografias que, para mim, apresentavam uma luz mais bem trabalhada, um preto e branco mais perfeito e uma escala de cinzentos de qualidade dentro do que mais aprecio. No entanto, a selecção também acabou por ir mudando. Um aspecto curioso que aconteceu neste processo foi ter verificado que algumas das imagens que tinha eram de espaços que já não existem. Há lugares que fotografei há anos que, agora, já não estão lá. Foram substituídos por prédios e outras construções. Ao ver estas fotografias, acabei por fazer também outro tipo de escolha para que parte da exposição integrasse fotografias de lugares que já não são mais do que memórias. Acabam por ser documentos. Com o registo em imagens, tenho uma forma de recordar e de fazer recordar aos outros este território que está sempre em transformação. Cabe à fotografia preservar a memória. Esta ideia só me surgiu com a preparação da exposição. Quando comecei a fotografar não pensava nestas coisas. Gostava de fotografar e era isso que fazia. Penso que é inevitável, com o desenvolvimento, que os espaços se modifiquem e acredito que, em breve, Macau venha a ser completamente diferente. 

Porquê a escolha do preto e branco?

Em primeiro lugar, porque gosto muito. Depois, as imagens foram todas feitas em filme e fui eu que revelei os rolos. Posteriormente digitalizei os negativos para poder fazer a escolha. Por outro lado, o preto e branco é um processo mais associado à memória. Penso que as memórias são a preto e branco. É mais fácil fazer as pessoas recordar com imagens monocromáticas. Um outro aspecto que considero importante é o facto de o preto e branco ter uma imagem mais limpa em que as pessoas se podem aperceber melhor dos detalhes.

São maioritariamente fotografias de rua.

Sim. Apesar de trabalhar profissionalmente como fotógrafo e, nesse âmbito, ir de encontro ao que me é pedido pelos clientes, quando faço o meu trabalho pessoal é isto mesmo que mais gosto de fazer. Pegar na câmara analógica e ir pelas ruas à procura dos momentos que vão acontecendo. Gosto de incluir tudo: lugares, pessoas e animais. 

Na inauguração de “A Glimpse of Macau” vai também lançar um livro.

Sim, e é também o meu primeiro livro. É uma publicação que reúne não só os trabalhos expostos, como muitos outros que não tinham espaço para o ser. Como já referi, foram muitas imagens as que recolhi ao longo destes dez anos. Para todo o trabalho, exposição e livro estive cerca de um mês para escolher as que mais se adequavam.

Quais são as expectativas relativamente a esta primeira exposição individual?

Nunca tinha pensado que seria tão difícil de fazer. Tive de ter um patrocinador e foi muito complicado. Por outro lado, é uma óptima oportunidade para mostrar o meu trabalho pessoal, em que acabei por compilar o que fiz ao longo dos últimos dez anos. Foi bom perceber que, depois de tanto tempo, tenho realmente alguma coisa para mostrar.

Vai continuar com este projecto contínuo?

Sim, sem dúvida, penso que este é um trabalho para a vida. Enquanto fotografar vou tentar sempre ir para a rua fazer os meus registos em filme.

Porque é que insiste na fotografia analógica, num tempo em que o digital domina a imagem?

No processo analógico não se podem ver as imagens que se tiram no momento. Temos de esperar. Temos de as pensar primeiro para que fiquem bem e depois temos de ter paciência: esperar muito tempo até as revelarmos e vermos efectivamente o que conseguimos captar. Gosto muito deste processo. Por outro lado, é um método que, com o tempo, nos dá mais confiança quando disparamos. Com a experiência, vamos vendo o que temos de mudar e melhorar e, passados uns anos, já disparamos com toda a convicção. Depois há outro factor: quando finalmente conseguimos ver a fotografia, a sensação é muito boa e acabamos por dizer com satisfação: eu fiz isto, um produto que envolveu um processo, um pensamento, tempo e técnica. Quando as pessoas fotografam com um telemóvel, por exemplo, disparam repetidamente e acabam por ter muitas imagens que nunca voltam a ver e muito menos a materializar em impressões. Com o processo analógico, pelo menos o negativo já é uma materialização e, depois de revelado o filme, fazemos uma escolha, imprimimos provas e temos sempre uma impressão. Depois acabamos por ampliar as que mais gostamos.

21 Jun 2017

Tempos e lugares

Setúbal, 10 Junho

[dropcap style≠’circle’]L[/dropcap]emos como se estivéssemos em pleno acontecer, mas não será nunca assim. A esta distância percebo que o dia maior da Festa da Ilustração, a segunda leva de inaugurações, será marcado pelos tempos, até os contratempos, além das geografias e dos lugares. Tem-se pouca noção da quantidade de trabalho exigido, do esforço envolvido, das horas perdidas, dos milhentos acertos e vontades que precisam coincidir para que o milagre aconteça. Este ano, por inúmeras razões, foi particularmente difícil. Justifica-se, também por isso, mais a festa.

Por coincidência, o país celebra-se em dia mítico, torturando Camões e torturado pelo calor, que se abate sobre nós com desejada brutalidade. A jornada começa pelo futuro, a meio da tarde, no Convento de Jesus, onde a metade ainda em obras se abriu para acolher a «Ilustração Portuguesa». Cenário apropriado, portanto. Ano após ano, continuo surpreendido com a biodiversidade nacional: paisagens, palcos, experiências, desenvolvimentos, cores e corpos, abstrações e perspectivas, gestos e retratos, reflexões e deslumbramentos. Estranho e maravilhoso país, este.

À beira-mar, no Cais 3, está ancorada uma fatia de passado, entre 1895 e 1969: grande selecção, feita pelo Jorge [Silva], a partir da sua ímpar colecção de publicações, de anúncios ilustrados pelos melhores artistas portugueses (de Lima de Freitas a Fred Kradolfer, de Alonso a Jorge Barradas, de Cottinelli Telmo a Roberto Nobre, de Carlos Botelho a Bernardo Marques, de Maria Keil a Piló, de Luís Filipe de Abreu a Lázaro e tantos outros). O armazém contém, em altas torres, «Anúncios Classificados», essas inúmeras variantes de que é feito o horizonte mirífico do desejo de saúde e bem-estar, de beleza e prazer, de comida e bebida, de cultura e progresso. O humor está omnipresente, bem como a ideologia. Além do delirante conjunto de imagens, testemunho gritante de outros tempos. Dá gozo ver quem vê a exposição, com os seus comentários e sublinhados, com as suas gargalhadas e indignações.

A tarde finda-se virada a sul. «O Alentejo do Espanto e do Sonho» será, muito provavelmente, a maior e mais animada das (poucas) retrospectivas dedicadas a Manuel Ribeiro de Pavia (ilustração ao lado), cujo centenário do nascimento se celebra, enquanto, ao mesmo tempo, se lamentam os 50 anos passados sobre a sua morte, no mesmo exacto dia 19 de Março. Fica bem vincado o carácter onírico do trabalho de Pavia, o seu olhar sobre o feminino e a paisagem, todas as formas irmanadas em ondas e massas, momento e movimento. Uma parede inteira de capas de livros, na sua grande maioria de autores neo-realistas, abrem curiosa janela. Não se consegue escapar à tragédia e ao mito criado, com a revista Vértice a celebrar na morte o que não soube fazer em vida. Diria Eugénio de Andrade: «Morreu o Manuel Ribeiro de Pavia. Levou-o uma pneumonia que o foi encontrar depauperado por uma vida quase de miséria. Passava fome! Tinha uma única camisa! Não pagava o quarto há imenso tempo! E nós a falarmos-lhe de poesia…»

Feira do Livro, Lisboa, 11 Junho

A Inês [Fonseca Santos] entrevistou dezenas de escritores em busca de resposta para a pergunta: «Vale a Pena?». O pequeno volume, da prolixa Retratos da Fundação, outra das preciosas colecções dirigidas pelo António [Araújo] para a Fundação Francisco Manuel dos Santos, contém afinal mais interrogações, mas que permitem retrato breve e dinâmico do panorama literário nacional, sobretudo nos seus aspectos mais funcionais. Pretexto para conversa, em tarde quente, com a autora, Mário de Carvalho e Paulo José Miranda, acerca dos lugares onde foi arrumando os criadores: começa pelo nevoento e disperso do intelectual na actual praça pública, com o desaparecimento do diálogo crítico, entra depois quarto adentro, sítio maior da indispensável solidão, avança pela aprendizagem, depois pelo dinheiro, sua importância e quase ausência, para chegar ao mercado, subtil tirano. Não haverá por aqui consensos, e estranho seria se assim fosse, mas há muitas concordâncias. Estará a vida literária ameaçada pela extinção, seja da voz activa do intelectual, de um lado, e a do olhar-leitor, do outro? A vocação, a impossibilidade de sobrevivência sem o uso da palavra e da imaginação, parece impor-se a cada vicissitude mais ou menos prática, mais ou menos filosófica. O resto, em ideia cara ao Paulo [José Miranda], terá que resolver-se com a leitura criativa, ao alcance de qualquer um: ler criticamente, partilhadamente, acaloradamente, cada vez mais livros, velhos ou novos. Mas afinal não se edita demais?

Largo de S. Sebastião, S. Brás de Alportel, 15 Junho

Temo que seja ignorado, este «Escrytos», volume que reúne os ensaios do Paulo Pires, programador e criador completo, tocando tão bem a escrita como o acordeão, sobre cultura contemporânea, com que inauguramos a colecção Doença Crónica, na Arranha-céus. Tenho pena, pois as suas reflexões, por exemplo sobre leitura ou programação cultural (autárquica), são muito desafiantes. Pensam a partir de uma prática quotidiana, cruzam-se com as leituras mais diversas, praticam a cultura como o fole vital do acordeão: respirando. Quase uma centena de pessoas enfrentaram a canícula em pleno Largo de São Sebastião, sob os auspícios das palavras de Roberto Nobre e à sombra mínima do busto de Bernardo Passos, cuja poesia tenho que visitar, para ouvir Ana Isabel Soares enquadrar com sabor e saber: «Escrever, fixar o vocabulário do pensamento, é uma atitude de resistência ao adormecimento cultural ou à aceitação das sucessivas crises (que sempre vêm). Paulo Pires, escrytor, oferece aqui o seu contributo para contrariar aquilo a que, em Vocabularies of the economy, Doreen Massey chamou a “hegemonia do neoliberalismo”, nas pérfidas consequências que impõe às várias formas de manifestação cultural dos povos.»

Feira do Livro, Lisboa, 17 Junho

Suo as estopinhas, na boa companhia do Pedro [Lourenço], para apresentar à sociedade uma senhora das sombras: Dona Antónia. Inclui-se na colecção Vidas Portuguesas, parceria da Imprensa Nacional, do Duarte [Azinheira], com a Pato Lógico, do André [Letria], modos de fazer que se unem, o do património ao de laboratório, passados e futuros. Foi custoso de processos, mas acabou sendo prazeroso nos finalmentes, com o Pedro a desenvolver metáforas visuais e cores que até no escuro deixam brilhar o lado solar das encostas do Douro. Sabemos pouco sobre a figura, quanto baste para acender o fascínio. Teremos chegado perto?

21 Jun 2017

As cores do arco-íris chinês 中国的颜色

[dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]uando um designer ocidental ou um produto querem agradar ao mercado chinês “vestem-se” de VERMELHO e toda a gente exclama imediatamente: uau fixe, isto é a China! Evidentemente os chineses aplaudem por simpatia, porque os chineses são pessoas educadas e nunca explicam que o vermelho é … bem, não é uma cor chinesa, nem o verde, ou o cliché da combinação verde/vermelho, a não ser na cozinha Sichuan que usa muitos pimentos destas cores.

De facto, a China tradicional não pintava tudo de vermelho. Durante milhares de anos os chineses colecionaram centenas de belíssimas cores. Espertos, não é verdade? Neste artigo vou falar-vos da sensibilidade cromática chinesa.

Por exemplo, estes nomes curiosos descrevem duas cores que vocês não vão conseguir adivinhar quais são:

竹月, literalmente “o mês do bambu”. Esta cor é descrita através da sensação que nos transmite um bambu erguido à luz de um luar prateado, metálico, com um toque de azul e violeta.

百草霜, literalmente “orvalho em cem plantas”. Pensei imediatamente num qualquer tom de branco, mas não. É cinzento escuro. O seu significado vem de uma mezinha da medicina tradicional, uma combinação cinzas com uma mistura de ervas. Estas cinzas resultavam da queima de certas plantas e são tão leves como o orvalho.

Na antiga China, o povo pintava toda a complexidade das suas vidas, incluindo a política e a religião, com cinco cores, que condensavam a visão chinesa do mundo.

Estas cinco cores eram: vermelho, amarelo, azul esverdeado, preto e branco. As cores apontam direcções e correspondem aos cinco elementos cósmicos. Os antigos chineses tinham uma imaginação cromática muito rica.

  • Por exemplo: o branco corresponde ao metal e aponta para Ocidente. É representado pelo tigre branco. O metal está associado às armas e à matança.

O preto é a cor do Norte, representa a água e o seu animal é a tartaruga negra.

O preto significa também “mistério” e “profundo”. É a cor que podemos divisar em torno de uma estrela cintilante num céu nocturno, profundamente misterioso e com um leve toque de vermelho.

E o azul esverdeado, como é que esta cor é percepcionada pelos chineses?

Cabelo azul esverdeado 青丝 significa cabelo negro. Céu azul, escreve-se青天 e relva verde, 青草。É por isso uma cor muito caprichosa. Mas imagine uma montanha coberta do viço verde de inúmeras plantas. Se olharmos de longe torna-se azul, mas quando colocada no horizonte longínquo veste-se de cinzento escuro.

A porcelana chinesa azul representa a cor do céu que se vislumbra entre as nuvens, depois da chuva torrencial. É um azul belo, delicado, nada berrante.

Os chineses coloriram o seu mundo com uma sabedoria muito peculiar.

Foto: Desfile da Victoria’s Secret em Xangai

21 Jun 2017

“I Want Coffee” | A arte do café latte

Porque o café não é todo igual e porque a arte pode estar associada à estética da apresentação do latte, Chris Ip abriu o “I Want Coffee”. Servir um produto bonito e saboroso, ter opções para comer e ainda poder dar formação na decoração dos latte são os objectivos deste recente café do território

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] “I Want Coffee” não é mais um café em Macau. É um espaço onde a perícia e a arte se juntam para decorar o café, nomeadamente o latte. O gosto pela actividade começou, para o proprietário Chris Ip, quando foi convidado, há cerca de dois anos, para dar uma ajuda a um amigo. Na altura, com funções administrativas, teve o seu primeiro trabalho em que lidava com café.

O contacto fez m que começasse a explorar os desenhos que poderiam ser feitos nas várias bebidas derivadas e, não tardou, estava tornar as chávenas “mais bonitas”. “Descobri um novo interesse”, diz.

Do interesse à profissionalização foi um pulo. Autodidacta, Chris Ip dedicou-se à visualização de tutoriais do You Tube e foi aperfeiçoando a sua arte. Pouco tempo depois era concorrente assíduo nas competições que se dedicam a destacar os melhores neste sector.

No entanto, ainda sem espaço próprio, e a trabalhar para outrem, os conflitos com a chefia começaram a surgir. “O meu chefe apoiava-me na participação de concursos, no entanto percebi que quando pedia autorização para ir não se mostrava satisfeito. O resultado foi tomar a decisão de abrir o meu próprio café”, conta.

Em Maio do ano passado materializou o desejo e abriu um pequeno espaço dedicado exclusivamente à venda de cafés e lattes para fora. “A ideia era que as pessoas que fossem passando aproveitassem para parar e comprar a bebida que depois levariam com elas”, refere.

Insatisfeito, o projecto que tinha em mãos ficava longe do que ambicionara. “Aplicar os conhecimentos que tinha naquilo a que chamo de arte do latte e desenvolvê-los não era possível”, diz, enquanto explica que “era muito difícil fazer os desenhos num copo de plástico que era de imediato fechado e levado”. Por outro lado, era um espaço com pouco conforto em que “as pessoas não tinham onde se sentar a saborear o seu café”.

Em conversa com amigos, o proprietário do “I Want Coffee” foi aconselhado a investir noutro tipo de espaço. “Resolvi aceitar as sugestões que me foram dando e em Março consegui abrir este”, afirma satisfeito.

Ir mais longe

Mas o “I Want Coffee” não se fica pelo menu de comidas e bebidas personalizadas. Dos serviços prestados, consta a realização de cursos de formação na “arte do latte”. Para o proprietário é uma área que representa uma grande vantagem e um investimento naquilo que considera uma actividade a ser desenvolvida.

A ideia do “I Want Coffee” é, para Chris Ip, ajudar no fomento da cultura do café e das suas bebidas associadas e, acima de tudo, desmistificar alguns preconceitos que encontra no território. “As pessoas pensam que os cafés com desenhos não são tão bons, tão deliciosos, mas acredito que sou capaz de fazer um café bonito e que, ao mesmo tempo, tenha todo o sabor que os clientes pretendem ter nesta bebida”, afirma.

Por questões de sobrevivência, o “I Want Coffee” aposta também em refeições e noutros bens alimentares, até porque “seria muito difícil manter a casa aberta se não tivesse este tipo de opções”.

A “obrigatoriedade” não significou, no entanto, limitações ao menu. Da carta constam saladas, pastas, muitas especialidades de pastelaria e sobremesas.

As maiores dificuldades que sente com o novo negócio têm que ver com algumas diferenças que o território tem relativamente a outras regiões vizinhas, nomeadamente no que respeita à cultura do próprio café. O proprietário explica: “Em Macau, as mudanças são muito lentas. As pessoas pensam que os cafés que fazemos são iguais àqueles que se vendem nos estabelecimentos tradicionais de comida chinesa e não percebem a diferença”.

Para o futuro, Chris Ip quer continuar a investir na área da formação para “atrair mais jovens para o sector e, desta forma, contribuir para um maior conhecimento do produto e da actividade de desenhar no latte”.

21 Jun 2017

Embaixador alemão apela à libertação de bispo católico

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] embaixador alemão na China apelou ontem às autoridades chinesas para que libertem um bispo católico, alegadamente sob detenção domiciliária, num caso de repressão da igreja no país oficialmente ateísta. Michael Clauss diz que o bispo Shao Zhumin estará detido em sua casa, depois de ter sido forçado a mudar-se por quatro vezes, para locais desconhecidos, no espaço de menos de um ano. Num comunicado difundido através da embaixada alemã, Clauss apelou a que a liberdade total de movimento de Shao seja restabelecida. O embaixador afirmou também que está preocupado com as emendas propostas aos regulamentos para os assuntos religiosos, que os activistas dizem que servirá para aumentar as restrições.

Shao é bispo na cidade de Wenzhou, no sudeste do país. Foi nomeado em Setembro passado pelo Vaticano, não sendo reconhecido pelas autoridades chinesas. Pequim e a Santa Sé não têm relações diplomáticas, divergindo sobretudo na nomeação dos bispos, com cada lado a reclamar para si esse direito. O portal noticioso AsiaNews, que está vinculado ao Vaticano, noticiou que a polícia deteve Shao em 18 de maio passado.

Na semana passada, Shao foi visto a chegar ao aeroporto de Wenzhou, na província de Zhejiang, acompanhado por funcionários do Governo, que depois o conduziram para um local desconhecido, detalhou o portal. O seu desaparecimento fará parte de uma tentativa para o persuadir a juntar-se à Associação Patriótica Católica da China, a igreja aprovada pelo Partido Comunista Chinês (PCC) e independente do Vaticano.

Nos últimos anos, as autoridades de Zhejiang removeram centenas de cruzes e outros símbolos exteriores de fé cristã, afirmando que estes violam as normas de construção. Associações cristãs denunciaram a campanha como inconstitucional e humilhante.

Clauss afirmou ainda que está preocupado com algumas regras novas, numa proposta de regulamento para os assuntos religiosos, sem especificar quais. “Se não forem alteradas, podem representar mais restrições no direito à liberdade religiosa e de crença”, afirmou o embaixador.

As alterações propostas, que foram tornadas públicas em Setembro, alarmaram os activistas, que afirmam que estas visam reprimir as manifestações católicas fora da igreja oficial. Estas incluem cláusulas que dizem que locais religiosos devem seguir os regulamentos de planeamento urbano, numa tentativa de remover símbolos religiosos, como cruzes, das igrejas.

21 Jun 2017