Aviação | Ofensiva contra gigantes do sector

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China, com seu C-919, e a Rússia, com o MC-21, desejam romper o oligopólio da Airbus e Boeing no mercado dos aviões de média distância, um primeiro passo da sua ofensiva contra os dois gigantes mundiais do sector.

“Há décadas, só havia duas famílias de aviões que competiam no sector dos aviões de corredor único (fuselagem estreita e de alcance intermediário), o A320 e o 737” da Airbus e da Boeing, lembra Stéphane Albernhe, sócio da consultora Archery. Agora há a concorrência de aviões como o CSeries da canadiana Bombardier, o C919 da chinesa Comac e o MS-21 da russa Irkut, dispostos a “atacar esse duopólio”.

“Estes novos actores têm por trás Estados que os apoiam e que não pararão por aí. Começaram no mercado do corredor único, mas é muito provável, pelo menos no que se refere à China, que o próximo modelo seja um avião de longa distância”, afirma.

O C-919, da empresa pública chinesa Commercial Aircraft Corporation of China (Comac), realizou seu primeiro voo no dia 5 de Maio. Segundo a companhia, já há 600 pedidos para essa aeronave com capacidade para 168 passageiros e que pode percorrer até 5.500 quilómetros.

O russo MC-21, construído pela companhia pública Irkut, foi lançado dia 28 de Maio na Sibéria e já recebeu 175 encomendas. O avião tem capacidade de 132 a 211 passageiros e pode percorrer até 6.000 quilómetros.

Segundo Gilles Fournier, o director-geral do salão aeronáutico de Le Bourget realizado nesta semana perto de Paris, “estes aviões ainda não estão prontos para ser expostos” nesta feira, a mais importante do sector, “mas acho que estarão dentro de dois anos”.

China e Rússia querem ir mais longe e em 22 de Maio anunciaram um ambicioso projecto para desenvolver juntos um avião de longa distância, o C-929. A aeronave terá capacidade de 280 passageiros para voos de até 12.000 quilómetros, o que a tornaria concorrente directo do 787 “Dreamliner” da Boeing e do A350 da Airbus.

O C-929, desenvolvido conjuntamente pela Comac e pela companhia pública russa United Aircraft Corporation (UAC), supõe um investimento de entre 13 e 20 mil milhões de dólares, segundo a imprensa chinesa.

A estratégia da China é adquirir primeiro o conhecimento técnico e testar seus novos aviões no mercado doméstico antes de lançar-se no mercado internacional. Segundo as estimativas da Airbus e da Boeing, nas próximas duas décadas o mercado chinês precisará de 6.000 novos aviões por um valor total de 1 bilião de dólares.

Stéphane Albernhe adverte que tanto o C919 como o MS-21 ainda não foram homologados pelas agências europeia e americana e que “demorará até que as fabricantes russas e chinesas tenham a maturidade técnica e industrial da Airbus e da Boeing”. É o caso do avião regional chinês ARJ-21 que, à espera do aval da Federal Aviation Administration (FAA), só pode voar em seu país.

O sector, no entanto, leva muito a sério a concorrência da China e da Rússia. “Não se pode subestimar nunca a concorrência”, adverte Randy Tinseth, vice-presidente de marketing da filial de aviação civil da Boeing.

“Dentro de quinze anos [os chineses] terão o maior mercado de aviação, por isso investem nesses produtos. Têm o maior mercado interno, isso os coloca acima de todos os outros”, assegura.

John Leahy, director comercial da Airbus, prevê que nos próximos cinco ou dez anos não haverá “ameaças” para os dois gigantes do sector. “Mas dentro de 20 anos acredito que [os chineses] serão uma das três grandes fabricantes de aviões” do mundo. “Actualmente, o duopólio formado por Airbus e Boeing não parece estar em risco pelos novos concorrentes russos e chineses”, segundo a consultora AlixPartners. Será preciso esperar a próxima geração de aviões.

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