HK | ”Localistas” com 30 assentos no LegCo. Pequim reage

No dia seguinte a terem sido conhecidos os resultados das eleições em Hong Kong, o continente reagiu, e uma vez mais reforçou que a luta pela independência é inconstitucional face à lei da China

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]m reacção às eleições de domingo para o LegCo, Pequim reafirmou a sua “resoluta oposição” a qualquer tipo de movimentações que visem a “independência de Hong Kong”, após partidos pró independência terem ganho, pela primeira vez, espaço no parlamento daquela região. Em comunicado, o Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado lembra que a “independência de Hong Kong é contra a Constituição da China, a Lei Básica de Hong Kong e leis relevantes da Região Administrativa Especial (RAE)”.
Na maior votação desde que os protestos pró-democracia de 2014 falharam em conseguir as reformas políticas desejadas, os partidos que exigem maior autonomia em relação a Pequim conseguiram 30 assentos entre 70, contra os 40 da ala conservadora. Esta foi também a primeira vez que defensores assumidos da independência de Hong Kong conquistaram espaço dentro do Conselho Legislativo (LegCo, parlamento).
Para Pequim, o resultado “ameaça a soberania e segurança da China, prejudica a prosperidade e estabilidade de Hong Kong e vai contra os interesses fundamentais dos cidadãos” da região. “Apoiamos firmemente o governo da RAE de Hong Kong a definir penalizações, de acordo com a lei”, conclui o comunicado.

Chapéus há muitos

As eleições de domingo em Hong Kong ficaram marcadas pela entrada de 26 novos rostos na Assembleia legislativa, vindos do chamado grupo de “localistas”, nascidos durante a manifestação dos “chapéus de chuva”.
Em 2014, a Assembleia Nacional Popular chinesa concordou que o Chefe do Executivo de Hong Kong seja eleito por sufrágio directo já a partir de 2017, mas impôs que haja apenas “dois ou três” candidatos, previamente aprovados por um Comité de Nomeação, numa decisão que desencadeou os protestos.
De acordo com a fórmula “um país, dois sistemas”, adoptada em Hong Kong e Macau, as políticas socialistas em vigor no resto da China, não são aplicadas naquelas regiões. Excepto nas áreas da Defesa e Relações Externas, que são da competência exclusiva de Pequim, a antiga colónia britânica goza de “um alto grau de autonomia”, é “governada por pessoas de Hong Kong”, mantém a sua moeda, o HK Dólar e não paga impostos ao governo central chinês.

7 Set 2016

Bela e casta será a esposa do cavalheiro 美

O cisne crocita no banco de areia;
Bela e casta será a esposa do cavalheiro

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]ste poema de amor tem quase 3.000 anos e está incluído no Livro das Odes, um dos Quatro Livros e dos Cinco Clássicos editados (leia-se: censurados) por Confúcio. Confúcio dedicou a vida a explicar ao mundo a importância do carácter e da moralidade na vida do povo chinês. E no fim de contas, damos mesmo importância.
A China foi através dos séculos a casa de uma miríade de mulheres belas e, muitos e diferentes padrões de beleza foram eleitos pela amplitude dos seus conceitos estéticos. Algumas mulheres são louvadas pelos dons no canto e na dança, outras pela natureza virtuosa e ainda outras pela habilidade na intriga política.
Xishi 西施, Wang Zhaojun 王昭君, Diaochan 貂蝉 e Yang Yuhuan 杨玉环 são as chamadas Quatro Beldades, quatro mulheres ancestrais que se destacaram por terem sido “Beldades a Bem do Povo”.
Hoje em dia são ainda recordadas pelo papel significativo que tiveram na História. Quando o Estado de Yue estava na iminência de ser atacado pelo Estado de Wu, Xishi aceitou a missão de seduzir o rei de Wu e induziu-o a mandar matar o seu comandante. O seu patriotismo ajudou Yue a vencer Wu. Diaochan é uma personagem ficcional dos Três Reinos. Ela derrotou um senhor da guerra, um traidor, atraindo-o para uma armadilha e garantindo assim a salvação do seu povo. Wang Zhaojun ofereceu-se para casar no Norte com o bárbaro Khan para garantir a paz do seu povo e, finalmente, Yang Yuhuan enforcou-se para parar um motim.
Estas mulheres foram heroínas, mas acima de tudo, foram figuras trágicas. Os chineses choraram por elas e admiraram-nas por terem sido “boas mulheres”, e uma boa mulher chinesa caracteriza-se ou pelo seu heroísmo, ou pela sua amarga solidão.
A concepção estética chinesa privilegia, mesmo hoje em dia, a virtude sobre a aparência.
Não menos belas eram Daji 妲己e Baosi 褒姒. Mas estes dois nomes provocam aversão e não admiração. Daji, concubina e cúmplice do rei tirano Zhou de Shang, foi cruel para o seu povo. Baosi, foi concubina do rei You de Zhou, e ficou conhecida por raramente sorrir, o que despertava no rei o desejo de a fazer feliz. Um dia o rei ordenou que se acendessem fogos de alerta no cimo dos postos defensivos, enviando aos seus duques um sinal falso de invasão inimiga. Os duques, acompanhados dos seus exércitos, precipitaram-se para a capital onde acabaram por perceber o logro. Baosi estava muito divertida com o caos que tinha causado e, sorria. Mais tarde o inimigo lançou efectivamente um ataque, mas porque o rei, como Pedro, tinha gritado “lobo”, os duques ignoraram os fogos de alerta e o rei acabou por ser morto.
Estas duas mulheres são consideradas a escória das suas nações e dos seus povos. Não são certamente “Beldades a Bem do Povo” e nem chegam a ser uma boa diversão.
Do ponto de vista etimológico, o caracter chinês para beleza é 美 – que é composto por duas partes: 羊 + 大— que quer dizer literalmente “grande ovelha”. Este caracter na sua forma original poderia querer dizer “um sabor delicioso”. Confúcio não se deu ao trabalho de nos explicar.

7 Set 2016

A sede da vitória

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]ão gosto de escrever sobre futebol porque não acho que seja assunto. Escreve-se demais, fala-se demais e normalmente mal. Espreme-se um jornal desportivo e é como aquelas laranjas secas que nem que lhes passe um cilindro por cima deitam um pinga que seja de sumo.
Mas hoje vou falar (também) de futebol e de medalhas, e tentar reflectir sobre a razão de toda a esquizofrenia que roda à volta das vitórias desportivas que, em minha opinião, apenas conseguem subverter tudo aquilo que o desporto tem de bom. Ou seja, a saúde para quem o pratica – e não para os atletas de alta competição com tantos a acabarem em farrapos depois dos esforços sobre-humanos que são obrigados a fazer – e o prazer para quem desfruta das exibições dos atletas.
Portugal ganhou o campeonato da Europa mas, em boa verdade, isso serviu para quê? Para umas valentes bebedeiras, para um alucinação colectiva quasi opiácea, para quem quer que seja que fornece as medalhas a São Bento fazer mais uns cobres e para os portugueses, momentaneamente, acharem que são os maiores da cantadeira, para podermos ter o gozo de humilhar os franceses, depois de termos bastas vezes termos sido humilhados por eles. A velha história do “olho por olho” que apenas faz o mundo todo cego.
Mas somos mesmo os melhores da cantadeira? Somos, neste caso, melhores do que os franceses, ou que todos os outros que nos passaram pela frente? Não. Senão éramos mesmo e não tínhamos de andar de joelhos a pedir resgates. Não porque jogámos um futebol horrível que nem para entreter serviu. Não porque andamos a transformar o país num paraíso de férias para quem as pode pagar – que não são os portugueses – cegos pelos cobres fáceis que vão prostituindo as cidades para servir os visitantes.
Tal como a selecção se prostituiu para poder trazer a taça para casa. Disse e continua a dizer, o nosso seleccionador, que não lhe interessa que o jogo seja feio desde que ganhe. Criticá-lo? Não posso porque é isso que lhe pedem. Como profissional que é cumpre.
Como o caro leitor deve calcular, tendo este texto sido escrito ontem não faço ideia do que acontecerá com a Suíça mas tenho quase a certeza que vai ser um jogo feio. Em contrapartida, divulgava hoje o jornal Record, declarações de Jorge Jesus que alegava ter sido inspirado por Cruyff nos seus métodos fácticos porque, diz ele, e cito, “Para Cruyff, o futebol era arte e espectáculo e preferia ganhar por 5-4 do que por 1-0”, um pensamento que alega Jesus, e nós sabemos que é verdade, “ainda existe no Barcelona”. De facto as equipas de Jesus dão espectáculo mesmo que percam e é isso que o desporto de alta competição deve ser. Mas se não ganha vai ser considerado um animal como foi considerado no Benfica quando não o conseguiu apesar da equipa ter jogado do melhor futebol que se viu em Portugal e na Europa nos últimos anos, como o será no Sporting se não ganhar. Aliás, já foi por não ter ganho nada o ano passado. Mas eu, como sportiguista diverti-me a ver os jogos da equipa como não me divertia há anos. Mas isso não interessa para nada se a puta da taça não vier para o armário.
Vivemos na paranóia do vencer custe o que custar, mas a grande questão para mim é: isso faz-nos mais felizes?
Após a vitória no Europeu, seguiram-se mais umas quantas vitórias de equipas e atletas portugueses, mais uma taleigada de medalhas e povo entrou em histeria. Éramos mesmo os maiores da cantadeira.
Mas vieram os Jogos Olímpicos e com eles a depressão. Afinal só deu uma medalha quanto já se faziam contas às dezenas que viriam do Rio e não faltaram as críticas dos que se sentiram defraudados. Porque os atletas são máquinas, claro. Porque durante o ano, para além do futebol, toda a gente se preocupa com eles, claro. Acabaram-se os heróis apesar dos desempenhos brilhantes de grande parte dos atletas que constituíram a nossa comitiva.
Mas as medalhas valem o quê afinal? Nada. Na maioria dos casos valem apenas um micro segundo a menos do que o desgraçado que ficou em quarto e que entrará para as páginas do esquecimento.
O desporto, tal como é encarado nos dias de hoje, em vez de servir como exemplo, como forma de vida, como inspiração serve apenas para que políticos falhados sigam a carreira do dirigismo para continuarem na mó de cima e perto dos centros de decisão, para fomentar inimizades entre países e para que cada vez mais atletas recorram ao doping pois sem medalhas não há artigos de jornais, nem patrocínios, nem honras.
A China, por exemplo, anda em tournée provincial a mostrar os novos medalhados olímpicos para assim fomentar o orgulho nacional e mostrar ao mundo como o Império do Meio é uma potência. Mas esquece-se de duas coisas: a primeira, e a mais grave é a do destino de grande parte dos ex-atletas (mesmo medalhados!) que lutam para terem uma vida digna como Li Xiaopeng antigo campeão olímpico de ginástica e Liu Xiang, antigo campeão dos 110 metros barreiras, que têm de andar a fazer “reality shows” para sobreviver ou Zou Chunlan, medalha de ouro do levantamento de peso em 2006, recentemente descoberta na miséria a lavar gente numa sauna para sobreviver. Um escândalo que obrigou a federação a amanhar uns trocos para lhe abrir uma lavandaria…
Mas a China e os outros países coleccionadores de medalhas, como os Estados Unidos, que a cada quatro anos tentam mostrar ao mundo como são maravilhosos, esquecem-se de outro facto fundamental: a sua própria dimensão. Para perceber o que estou a falar aconselho vivamente o leitor a consultar este sítio: www.medalspercapita.com onde se prova que Granada, com uma medalha apenas, é realmente o grande campeão do Rio de Janeiro, tanto na análise per capita como por PIB.
E agora vou preparar-me para a utopia de ver um grande jogo de futebol entre Portugal e a Suíça.

MÚSICA DA SEMANA

Cygnet Committee (David Bowie, 1969)

“We used him
We let him use his powers
We let him fill Our needs
Now We are strong

And the road is coming to its end
Now the damned have no time to make amends
No purse of token fortune stands in Our way
The silent guns of love
will blast the sky
We broke the ruptured structure built of age
Our weapons were the tongues of crying rage”

7 Set 2016

EcoAmigo, consultora ambiental: “Plantar é positivo para a vida”

Qual é a relação entre a engenharia e a protecção ambiental? Esta empresa sediada em Macau pode talvez, dar uma resposta

[dropcap style≠’circle’]“E[/dropcap]coAmigo é uma companhia de engenharia e consultoria ambiental, que quer melhorar o ambiente e a qualidade de vida da sociedade em Macau”, começou por explicar a secretária Karen Chan. Conhecemos a empresa porque tem uma loja na Rua da Tercena – atrás da Rua Cinco de Outubro – com uma porta de vidro que dá para ver o que se passa lá dentro: tudo é verde e branco. Karen explicou-nos que a empresa já tem quatro anos de existência mas o espaço onde está o “showroom” foi aberto há cerca de um mês.
Lawrence Tam, director executivo, explica que a empresa promove as novas tecnologias de poupança de energia como é o caso da solar. Mas ao lidar com este mercado, apercebeu-se que ainda é um assunto desconhecido e que muitos pensam ser complexo, por isso esclarece que, a protecção ambiental não tem de ser uma coisa complicada e tecnológica, mas sim uma coisa simples e que pode fazer parte da vida. Decidiu abrir a loja para “aproximar a população”, promovendo a ideia junto do público e do Governo.
“Green living” é o principal conceito da empresa. EcoAmigo quer que cada pessoa, cada família de Macau plante em casa ou no local de trabalho, tornando-se um interesse ou um hábito do dia-a-dia. Espera também que as crianças compreendam a ciência simples do ambiente e da agricultura.
Mas não só de plantas verdes, solo orgânico, mini-estufa, e sistema de purificação do ar interior, vive esta empresa. Painéis solares, design, consultoria e gestão de projectos de interior são outros serviços que a EcoAmigo oferece.
Além disso, Lawrence acrescentou que a empresa tenta também envolver-se na parte da Educação. Já elaborou programas e materiais didácticos para escolas primárias, com conteúdos como reciclagem e energia solar, para que os alunos aprendam mais sobre a protecção ambiental.
“Olhando à minha volta , 80% de pessoas não têm o hábito de plantar, mas eu espero criar esta tendência porque, primeiro; plantar é muito barato e segundo; é positivo para a vida. Se o Governo não promove, eu promovo. Sugiro também que os namorados não comprem ramos de flores para as namoradas, mas sim uma planta inteira, que é reproduzível.”
Durante a visita à loja, Lawrence salientou que todos os produtos que a EcoAmigo selecciona para vender são da Europa e têm boa qualidade, e por isso os preços são um pouco mais caros. O que o responsável quer trazer para Macau produtos de qualidade.
“Por exemplo, vendemos um vaso de plantas com preço de 150 patacas, muito mais caro do que um vaso normal, mas o nosso é especial porque se consegue regar a planta automaticamente e aumentar a taxa de sobrevivência da planta. Mesmo que se esqueça de regar a planta durante duas semanas, ela não morre,” acrescentou.
Outro produto que a secretária Karen recomenda, é de uma marca portuguesa, Minigarden, o “green wall”, que reutiliza materiais incluindo pneus abandonados para fazer uma parede, onde se pode plantar produtos hortícolas na varanda, com um sistema de rega automática e poupança de água. O produto tem garantia de fabricante de dez anos.
Em tom de orgulho, Karen acrescentou que esta loja não é só de venda de produtos. Porque caso haja algum problema com algum dos produtos aqui comprados, comprometem-se a resolver os problemas e a prestar a máxima ajuda.
Apesar de estarem abertos há pouco tempo, Karen explicou que a loja já conseguiu atrair a atenção dos moradores e recebeu bons comentários.
“Os clientes disseram-nos que não havia uma selecção de produtos como os nossos em Macau. Os pais também aceitaram bem estes conceitos, porque não querem que os filhos passem todo o tempo a jogar no smartphone ou a ver televisão. Querem também incutir-lhes o espírito de plantar legumes na varanda, em casa”, disse.
Para Karen, o que é preciso para a empresa nesta altura, é apostar mais na promoção e é por essa razão que a EcoAmigo participa na Feira da Taipa, todos os domingos, no Largo dos Bombeiros, onde espera poder promover os seus produtos ecológicos.
Como outras pequenas e médias empresas, EcoAmigo enfrenta a pressão da renda, mas também grandes custos de, por exemplo, transporte de produtos estrangeiros. Lawrence Tam revelou que o dinheiro investido na loja ainda não foi recuperado, mas os trabalhos paralelos de design e engenharia ajudam a equilibrar as despensas.
No futuro, Karen espera que empresa cresça e gostaria de aumentar a equipa, que agora é de apenas oito pessoas, mas tudo depende da situação que a EcoAmigo vai enfrentar no futuro.

7 Set 2016

Casa Amarela | Forever 21 sai do espaço

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] loja Forever 21 vai sair da Casa Amarela até ao final do mês. É o que indica um comunicado da Future Bright, empresa detentora do espaço e que o arrendava a mais de dois milhões de patacas por mês.
Um comunicado entregue à Bolsa de Valores de Hong Kong explica que ontem a loja pertencente à cadeia norte-americana anunciou à empresa, dirigida pelo também deputado Chan Chak Mo, que não iria ocupar mais a Casa Amarela. O contrato, iniciado em Dezembro de 2013 – logo depois do restaurante Lvsitanvs, da Casa de Portugal, ter sido obrigado a abandonar o prédio – vai ser terminado a 30 de Setembro.
A Forever 21 vai ter de pagar uma compensação à Future Bright, no valor de oito rendas mensais, algo como 20 milhões de patacas, se a loja se mantinha a pagar o estipulado inicialmente no contrato.
O contrato da Forever 21 indicava que a renda seria de 2,4 milhões de patacas, mas a empresa apresentou à Future Bright um pedido de renegociação do contrato, algo que o deputado Chan Chak Mo confirmou no ano passado, ao Jornal Tribuna de Macau, ter aceite. A diminuição seria de entre 10% a 15% nos valores médios das rendas deste ano. O contrato indicava ainda o pagamento de uma percentagem não especificada das receitas da loja, caso fosse ultrapassado determinado nível de vendas. No entanto, essa percentagem nunca foi divulgada publicamente, tal como nunca se soube se a loja chegou a ver as rendas mais baixas. O contrato com a loja de roupa acabaria em 2018. A indemnização tem de ser paga até 20 de Setembro.
No comunicado à Bolsa, a Future Bright nada adianta sobre o novo destino a dar ao espaço, realçando, contudo, que “vai envidar todos os esforços procurar um inquilino”.
O HM tentou contactar a Forever 21, mas sem sucesso. Não se sabe, por exemplo, se a empresa vai mesmo deixar Macau ou se vai instalar-se noutro local.

7 Set 2016

CPU | Fórum Macau a caminho dos Nam Van

Os três centros do Fórum Macau poderão ter casa nos Lagos Nam Van. A zona vai acolher escritórios, um pavilhão e uma sala de exposições de modo a também albergar serviços do Executivo e outras actividades para a população

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s três centros que integram a plataforma Fórum Macau irão ter casa nas margens do Lago Nam Van. A informação foi ontem adiantada pelo Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, no final da 9ª Reunião Plenária de 2016 do Conselho de Planeamento Urbanístico (CPU). Raimundo do Rosário afirma que “os terrenos C15 e C16 junto aos Lagos Nam Van estão destinados à construção de escritórios, um pavilhão, uma sala de exposições e poderão ainda albergar os três centros do Fórum Macau”. O Secretário para os Transportes e Obras Públicas adverte, no entanto, que esta iniciativa ainda não tem um carácter definitivo: “definitivo não sei, mas serão as instalações do Fórum e eventualmente escritórios associados e depois o Centro de Convenções que serve ao Governo e o Pavilhão” que poderá servir a população. No entanto “só quando tivermos o projecto é que se verá rigorosamente o que vai ser”.
Raimundo do Rosário não adianta, no entanto, se o Centro de Produtos Alimentares do Fórum Macau, que neste momento está na Praça do Tap Seac, irá mudar para as instalações nos Nam Van, sendo que “admite que sim, mas sem ser definitivo”.

Tectos baixos

O aproveitamento dos terrenos do Executivo não está isento de críticas que, na sua maioria, são dedicadas à pouca altura que está pensada para o edifício dos escritórios. Para o CPU, os 18 metros previstos ficam aquém das necessidades de instalações que o Governo tem. “O Executivo deverá pensar se, na escassez de terrenos e tendo em conta os montantes avultados destinados ao pagamento de rendas, não será melhor rever o limite de altura e ponderar para que seja mais alto?” questiona o CPU. Por outro lado a não previsão de construção de um parque de estacionamento também gera polémica no seio do Conselho.
Mak Soi Kun dá o exemplo: “Tóquio confrontado com a falta de espaço, é uma cidade agora construída em altura.” O membro do CPU aconselha o Executivo a ir pelo mesmo caminho.
Tendo sido os 18 metros previstos um valor que teve em conta a conservação da paisagem, Paulo Tse sugeriu que “a altura depende da perspectiva e da utilidade e estou de acordo que se pretenda preservar a paisagem mas também precisamos de calcular o que podemos construir pois Macau é uma cidade pequena, pelo que um prédio mais baixo poderá não ser suficiente visto que no futuro o Governo poderá precisar de mais instalações.”

Valores de referência

Em resposta a DSSOPT afirma que os 18 metros são “apenas um número de referência a partir do qual existe uma base para que o projecto possa ser discutido”. Quanto à questão do estacionamento a resposta veio directamente de Raimundo do Rosário que afirma que “também gostaria que cada fracção tivesse um lugar de estacionamento”, mas que tal não é possível. Perante os pedidos de um projecto de pormenor o Secretário reitera que “há uma lei de planeamento urbanístico e precisamos o plano director para depois ter o de pormenor”
O final dos trabalhos não se prevê num futuro próximo, “vai demorar alguns anos para se poder concluir este trabalho” conclui o Secretário.

6 Set 2016

Eleições HK| LegCo com novos rostos pró democracia, mas Pequim mantém maioria

As eleições para o Conselho Legislativo de Hong Kong tiveram uma participação histórica. Mais de dois milhões de cidadãos eleitores esperaram horas nas filas para exercerem o seu direito ao voto

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s urnas abriram às 7h30 e deviam ter fechado às 22h30 mas houve vários atrasos e algumas regiões encerraram as mesas eleitorais duas horas depois do previsto, o que vai prolongar o processo de contagem dos votos. Segundo dados divulgados pela Comissão para os Assuntos Eleitorais, 2,2 milhões de pessoas foram votar – num universo de 3,77 milhões, ou seja 58% do total dos inscritos. Nas anterior eleições, em 2012, o número foi de 53%.
Mais de 200 candidatos distribuídos por 84 listas concorreram para ocupar os 35 assentos dos cinco círculos eleitorais geográficos, os únicos eleitos por sufrágio directo. Ao todo são 70 os lugares disponíveis no LegCo, sendo que os restantes 35 lugares ficam reservados a membros designados pelo sistema de indirectos e de nomeados.
Entre vários movimentos que apareceram nos últimos tempos, alguns rostos são mais marcantes. É o caso de Nathan Law, líder estudantil do movimento ‘Occupy’ em 2014, que conquistou um dos três assentos no Conselho Legislativo a que concorreu com o partido Demosisto. Torna-se assim o mais jovem legislador alguma vez sentado neste hemiciclo. Em declarações à imprensa, Nathan Law disse que “os residentes de Hong Kong queriam realmente uma mudança”.
Eddie Chu Hoi-Dick, o candidato radical pró-independência que centrou a sua campanha sob o pressuposto da equidade do uso das terras nas zonas rurais de Hong Kong, foi um dos candidatos mais votados, conseguindo mais de 84 mil votos nas urnas.
“O resultado mostra que a sociedade de Hong Kong acredita que é precisa uma mudança do modelo dentro do movimento democrático”, disse o político, de 38 anos.
Outro activista eleito é Yau Wai-ching. Com apenas 25 anos recebeu 20,643 votos, garantindo assim um lugar na Assembleia Legislativa. Pertence ao partido “Youngspiration”.
Sixtus “Baggio” Leung tem 30 anos e pertence à facção mais radical, defendendo uma independência do território face à China. “Estamos a perder a nossa liberdade”, disse recentemente numa entrevista ao The Guardian. A frase valeu-lhe 31.344 votos, garantindo uma cadeira no centro de decisão. O Cheng Chung-tai, de 31 anos, foi eleito pelo partido Civic Passion. Leung Kwok-hung, conhecido como “Long Hair”, garantiu a sua reeleição com uma margem de apenas 1051 votos face ao penúltimo deputado a ser eleito, ocupando o último assento dedicado aos deputados directos.
Panorama
Estas eleições para o Conselho Legislativo acontecem num momento em que a sociedade está dividida e onde os movimentos pró-autonomia ganham maior dimensão. A par disso, existe nos cidadãos a ideia de que a China está a exercer uma maior pressão para controlar a antiga província inglesa.
Esta nova geração vem sobretudo dos grupos que em 2014 integraram o “Movimento dos Guarda-Chuva”, que durante dois meses conseguiram fechar bairros inteiros, mas em termos práticos não conseguiu mais do que chamar a atenção da opinião pública para aquilo a que chamam falta de democracia na região. A China manteve-se firme e não houve qualquer concessão em matéria de reformas políticas.
Mas os ventos de mudança começaram a soprar. E esses movimentos acabaram por polvilhar a ideia de que é possível mudar, acabando com as linhas políticas tradicionais e polarizando o debate. Depois disto, nada voltaria a ser como antes.
A registar essa alteração está a primeira manifestação pública alguma fez feita naquele território a defender a independência. Agora, com estas eleições, este é, para muitos, o início de um percurso irreversível que vai mudar a história na região, até porque há bem pouco tempo este era um assunto de que nem se falava. Mas a China não dá tréguas. Ainda recentemente cinco destes defensores da ruptura foram impedidos de se tornarem candidatos, com o argumento de que militar pela independência é ilegal.

Novos rostos

Para Leong Wan Chang, professor no Instituto Politécnico de Macau, a afluência às urnas da região vizinha mostra que, “depois de 20 anos da prática ‘um país, dois sistemas e quatro assembleias’ as pessoas – quanto à eleição e ao aperfeiçoamento do regime político – têm uma preocupação racional”. Um dos marcos, diz, foi também a quantidade de rostos novos, sobretudo ligados à causa pró-independência.
“Isso é uma imagem positiva e também está a  seguir  as regras do desenvolvimento. Quer dizer que há mais pessoas e rostos novos a participarem nos assuntos políticos”, continua. Quanto a conselhos, o professor defende que devem ser firmes com os seus princípios e que não devem esquecer que, enquanto representantes da opinião pública, “devem ser objectivos, não podem tratar dos assuntos de forma leviana”.
Larry So, comentador político, também tem acompanhado as eleições de Hong Kong e refere que, apesar dos novos rostos na senda política, a verdade é que “no final do dia são as forças políticas de sempre que vão ganhar”.
Apesar de concordar que sopram ventos de mudança, So não acredita numa independência para breve até porque “essa não é a solução para Hong kong”. Nestas eleições assistimos ao surgimento daquilo a que se chama “uma terceira força política, que partilha a vontade com a já existente facção contra o Governo de Pequim, que é expulsar CY Leung”, Chefe do Executivo. Larry So reforça ainda que “há uma nova maneira de pensar em Hong Kong”, disso não há dúvida.
Apesar de saber que há muita expectativa nestas eleições, Scott Chiang, presidente da Associação Novo Macau, não alinha pelo mesmo passo.
“Há muitos rostos novos e muitos jovens que se candidatam pela primeira vez, mas a pergunta que se faz é ‘estarão eles à altura do desafio’?” E mesmo que estejam, a verdade é que serão uma minoria na assembleia. “Portanto, na minha opinião, as expectativas vão ser logradas.”
Apesar de as coisas estarem a mudar em Hong Kong, “disso não há dúvida, estará Hong Kong a caminhar na direcção certa?”, questiona. “No futuro veremos o que acontece, mas receio que não estejam a caminhar no bom sentido.”
Para Jason Chao, vice-presidente da Associação Novo Macau, o resultado massivo de afluência às urnas tem que ver “com a deterioração das políticas de direitos humanos e das políticas de protecção e apoio às mulheres em Hong Kong”.
A insatisfação política foi outro factor decisivo que levou as pessoas a saírem para a rua e em consciência escolherem os seus representantes. Em relação aos novos rostos, Jason Chao afirma que “muitos apareceram de repente nestes movimentos mais liberais e nem são conhecidos por actividades comunitárias”. De qualquer maneira, frisa, são a escolha do eleitorado. Há realmente uma mudança a acontecer e as eleições são a “expressão da vontade dos eleitores”, conclui.

6 Set 2016

Cinco anos depois, Governo lança novo programa de formação para Tradução

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oram ontem publicadas em Boletim Oficial (BO) as directrizes para a realização da segunda edição do “Programa de Aprendizagem de Tradução e Interpretação das Línguas Chinesa e Portuguesa”. A última vez que os Serviços de Administração e Função Pública (SAFP) organizaram esta iniciativa, em parceria com a União Europeia, foi em 2011, sendo que em 2009 foi a primeira vez que se realizou um programa do género, intitulado “Programa de Formação de Tradução e Interpretação das Línguas Chinesa e Portuguesa”.
O programa, composto por três fases diferentes de formação e selecção de candidatos, inclui uma estadia em Bruxelas, na Bélgica, e uma acção de formação em Xangai. Podem candidatar-se todos os residentes permanentes com uma licenciatura concluída, sendo que aqueles que não sejam funcionários públicos terão direito a uma bolsa mensal. As bolsas variam entre as 7.500 patacas para a estadia em Xangai e cerca de dez mil patacas mensais para a estadia em Bruxelas. Todos os que não cumprirem os requisitos do programa poderão ter de devolver o dinheiro atribuído.
Na primeira fase do programa, que terá a duração de dois meses, os alunos admitidos vão ter aulas dadas pela Direcção-Geral de Interpretação da Comissão Europeia, sendo esta entidade responsável pela selecção dos alunos para a deslocação a Bruxelas. Aí terão direito a uma formação em interpretação simultânea de conferência durante três meses. A terceira fase passa pela aprendizagem de conhecimentos básicos da Administração Pública e do Direito.
Segundo o despacho do BO, “os participantes que concluam o Programa de Aprendizagem com aproveitamento são admitidos para prestar serviço nos SAFP por um período de dois anos em regime de contrato administrativo de provimento, na carreira de técnico superior, 2.ª classe, 1.º escalão ou, caso detenha a habilitação académica adequada nos termos legais, na carreira de intérprete-tradutor, 2.ª classe, 1.º escalão”.

6 Set 2016

Ambiente | Governo estuda política de cobrança de lixo doméstico

Os Serviços de Protecção Ambiental vão gastar quase cinco milhões de patacas para a realização de um estudo que irá definir se é possível ou não cobrar a cada família pelo lixo doméstico que produz. O estudo vai demorar um ano a ser feito

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Hong Kong Productivity Council foi a entidade de consultadoria escolhida pelo Governo para a realizar o Estudo sobre o Regime de Cobrança do Lixo Doméstico de Macau. Segundo um despacho ontem publicado em Boletim Oficial (BO), serão gastos quase cinco milhões de patacas para a realização do estudo que vai definir, na prática, como é que o Governo pode cobrar às famílias pela produção do lixo doméstico.
Não há ainda um calendário para que o público saiba as conclusões. “Espera-se que o estudo comece no quarto trimestre deste ano e se prolongue por 12 meses. Após a sua conclusão os dados serão divulgados em devido tempo”, aponta um comunicado divulgado após as perguntas feitas por vários órgãos de comunicação social.
A DSPA garante que pretende “implementar as políticas do Governo para a gestão dos resíduos sólidos urbanos, nomeadamente com medidas de ‘redução na fonte, separação e reciclagem”, algo que já está a tentar fazer com os resíduos da construção
“A DSPA propõe a introdução de diferentes políticas e instrumentos económicos, nomeadamente o princípio de poluidor pagador, ou da responsabilidade do produtor, de forma a melhor promover os trabalhos de recolha e classificação de resíduos”, refere o organismo liderado por Raymond Tam.
A DSPA considera que a Hong Kong Productivity Council é uma empresa “com grande experiência em pesquisa, tendo em conta os métodos actuais de recolha de resíduos e recomendações sobre as várias opções e sobre a aplicabilidade de tal sistema considerando a situação actual”.
Com duas consultas públicas realizadas sobre os resíduos de construção e a redução do uso de sacos plásticos, a DSPA promete que vai considerar “a aplicação de outras medidas para que, no futuro, se possa promover o comportamento da classificação e redução dos resíduos”.

Primeiro as casas públicas

Ao canal chinês da Rádio Macau, Ieong Man Un, da Associação Nova Juventude Chinesa de Macau, disse que o sistema poderá ser testado, em primeiro lugar, nas habitações públicas: sem a cobrança da taxa, mas exigindo às famílias que usem os sacos especiais para diferenciar o lixo e fazer a separação. Após a habituação das famílias deverá ser cobrada a taxa.
Lam U Tou, vice-secretário-geral da Associação Choi In Tong Sam da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), referiu que a maioria das regiões começa a fazer a cobrança dos resíduos vindos da construção civil. Macau, que terminou a consulta pública sobre o Regime de Gestão de Resíduos de Materiais de Construção o ano passado, ainda não tem essa cobrança.
Lam U Tou disse ainda ser fundamental que o Governo promova em primeiro lugar a reciclagem de resíduos alimentares e aparelhos electrónicos. Explicando que todos os anos surgem sete mil toneladas de lixo electrónico, Lam U Tou defendeu que as fábricas de Hong Kong para o tratamento de artigos não perigosos podem ser tidas como referência.

6 Set 2016

Projecto preliminar da quarta ponte custa mais de 70 milhões

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] projecto preliminar da construção da nova ponte Macau – Taipa vai custar mais de 75 milhões de patacas. É o que indica um despacho ontem publicado em Boletim Oficial, que identifica a CCCC Highway Consultants como a empresa a quem foi adjudicado o serviço.
No total são 75,19 milhões de patacas a ser pagas à empresa que é uma das maiores empresas estatais chinesas, estando por exemplo encarregue de trabalhos como a Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau. Foi fundada nos anos 1950 mas como um instituto, tendo estado na alçada do Ministério dos Transportes chinês. A empresa já teve como accionistas Li Ka Shing, considerado o homem mais rico de Hong Kong, e Joseph Lau, empresário de Hong Kong condenado por corrupção em Macau.
Mais de 33 milhões de patacas são pagos este ano, sendo que as duas outras tranches chegam no próximo ano e em 2019. A ordem foi assinada pelo Chefe do Executivo, Chui Sai On, sendo a segunda deste género atribuída à CCCC em menos de dois meses.
Recentemente, o Governo indicou que, além da ponte, quer construir dois túneis entre Macau e a Taipa ao lado da Ponte Nobre de Carvalho. Também aqui, a CCCC Highway Consultants, ainda que a Macau Branch, é encarregue elaboração de um estudo de viabilidade para a construção dos dois túneis num estudo que custa 7,2 milhões de patacas.

6 Set 2016

Transportes | TaxiGo já tem cem motoristas ao seu serviço

Recusam a ligação à Uber por terem determinado, no início do ano, que o dia 1 de Setembro serviria para arrancar com as operações. A TaxiGo é a mais recente aplicação móvel que trabalha apenas com taxistas já licenciados pela DSAT. Kyle Ho, da empresa, garante total independência face a quem detém táxis e a grupos políticos

[dropcap style≠’circle’]K[/dropcap]yle Ho foi ele próprio um utilizador da Uber. Enquanto estudante de MBA em Boston, cidade norte-americana do Estado do Massachusetts, usou a aplicação móvel de transporte para apanhar um táxi após as festas com os amigos. O destino quis que se tornasse num dos responsáveis pela TaxiGo, uma nova aplicação móvel de transporte a operar em Macau e que, ao contrário da Uber, trabalha apenas com taxistas já licenciados pelo Governo.
Em entrevista ao HM, Kyle Ho garante que desde que começaram as operações, no passado dia 1 de Setembro, já contam com uma centena de profissionais ao seu serviço. “A TaxiGo é apenas para os taxistas licenciados, os taxistas individuais que gostam de servir a comunidade. Segundo os nossos termos de registo, não se pode fumar nos carros e também não aceitamos que os condutores andem por este ou aquele lugar só porque querem fazer mais dinheiro. Os condutores não podem ter cometido qualquer acto de violência. Cerca de 30% dos nossos condutores são falantes de Inglês e até de outras línguas”, referiu.
Para já a aplicação está apenas disponível em Chinês e Inglês, mas a TaxiGo pretende lançar o serviço em Português. Estando sob alçada da Sociedade de Turismo Yin Hai, a TaxiGo afirma-se totalmente independente de grupos de interesse no sector e até da política.
“Somos um grupo de jovens e queremos fazer melhor do que isso. Somos uma empresa independente, não estamos ligados a nenhuma associação de táxis, empresa, agências governamentais ou associações políticas”, frisou.
Kyle Ho prefere não comentar a saída da Uber, mas garante que quem usa a TaxiGo tem acesso a motoristas que apoiam os passageiros. “Eles são comerciais, nós não somos. Não sei se os condutores da Uber iriam, de forma pró-activa e espontânea, ajudar mães com crianças que precisam de ir ao hospital, mas nós fazemos isso. Se a Uber está no mercado ou não, não vamos comentar, porque isto já estava decidido há muito tempo. Queremos apenas dar às pessoas uma boa experiência com o transporte.”

App com esperança

No momento em que a Uber se prepara para deixar o mercado local, no próximo dia 9 de Setembro, todos os olhos estão postos na TaxiGo. Mas esta diz não temer os problemas que a Uber teve com o Governo e com a polícia.
“O director da DSAT disse numa entrevista que o serviço de transporte por aplicação é legal se o taxímetro funcionar correctamente e se os veículos estiverem licenciados. Isso é o que fazemos. É sempre difícil a qualquer empresa os primeiros passos no negócio. Temos a nossa estratégia e queremos fazer melhor. Os condutores decidem vir ter connosco porque sabem que nós temos uma missão, sabem que a missão é mais importante do que ganhar dinheiro.”
Para Kyle Ho, seria importante que a revisão da lei dos táxis contemplasse as aplicações móveis de transporte. “Penso que a lei poderia incluir as aplicações móveis. Vamos sempre apoiar tudo o que possa ajudar as pessoas a viverem melhor.”
E destaca as vantagens desta aplicação. “Macau é uma área pequena e condensada, há muitos trabalhos de construção a serem feitos neste momento. A nossa aplicação é muito boa para o ambiente e também em termos de congestionamento.”
A TaxiGo garante que as “ovelhas negras” não trabalham com a empresa, sendo que Kyle Ho defende que nos próximos anos Macau vai ter um cada vez melhor serviço de táxis.
“Os problemas com os táxis em Macau têm crescido e mesmo os meus amigos na Finlândia dizem-me que os táxis em Macau não são bons. Mas penso que no futuro os taxistas vão melhorar devido à competição e também devido ao decréscimo da economia. Apenas os bons serviços se podem manter.”
Quanto ao futuro da TaxiGo, passa por uma maior penetração no mercado e por parcerias que ofereçam transporte aos que mais precisam. “Somos uma empresa independente com fins de responsabilidade social. Estamos a pensar fornecer serviços gratuitos para caridade, já estamos a trabalhar com algumas associações”, rematou.

Base de dados sem problemas

No grupo do Facebook “Macau Taxi Drive Shame” já há reacções quanto à nova aplicação, sobretudo em relação aos termos de utilização. Um ponto afirma que a TaxiGo poderá ceder dados pessoais a terceiras entidades com a instalação da aplicação, mas Kyle Ho negou essas informações ao HM, explicando que a pessoa não é sequer obrigada a usar o seu nome verdadeiro para aceder ao serviço.

6 Set 2016

CPU | Biblioteca Central não reúne consenso quanto à localização

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]roblemas de acesso, estacionamento e de trânsito foram algumas das questões levantadas ontem na nona Reunião Plenária do Conselho de Planeamento Urbanístico (CPU) quando abordado o projecto para a Biblioteca Central. Se por um lado as opiniões convergem no que respeita à importância de ter esta infra-estrutura na RAEM, a sua localização e as dificuldades de acesso que se levantam são fonte de divergências. O aproveitamento dos terrenos destinados à Fundação Macau foi uma das soluções apontadas.
Chan Chit Kit começa por levantar a questão da localização apontando que, pelo facto de estar numa zona assolada pelo trânsito e com ausência de estacionamentos, a Praia Grande não é o local “mais apropriado para uma infra-estrutura deste calibre”. O membro do CPU não desconsidera uma Biblioteca Central mas considera que “também a biblioteca da Universidade de Macau deveria estar aberta ao público até porque tem estacionamento”, afirma.

Local central

O Instituto Cultural, por seu lado não partilha da mesma opinião. Em resposta às vozes não convencidas Leong Wai Man, substituta do presidente do IC justifica que a escolha da localização “foi porque na altura tivemos que levar em conta o espaço (que o estudo da altura apontava que tinha que ser maior que 25 mil metros quadrados), e outro motivo foi para facilitar a população, porque todos os residentes têm fácil acesso a esta área e a Península é o sitio ideal”. Por outro lado este tipo de infra-estruturas ficam, normalmente situadas no centro de grandes cidades”.
A representante do IC continua, argumentando “o facto de vir a existir ali uma estação do metro ligeiro” é uma mais valia e admite a possibilidade de vir a ser construído um túnel de ligação entre o parque de estacionamento e a biblioteca para facilitar as entradas e saídas dos visitantes.
Uma alternativa de localização apontada por Chan Tak Seng, membro do CPU, foi o aproveitamento do terreno junto ao Centro de Ciência de Macau que tem prevista a ocupação do próprio Centro e de estruturas de apoio à Fundação Macau, como uma boa alternativa para a Biblioteca Central. O membro do CPU não deixa de considerar que é “bom que a FM tenha as suas próprias instalações mas a proximidade do Centro de Ciência e aquele local reúnem as condições para uma possível localização da Biblioteca também”, afirma Chan Tak Seng.

Números inflacionados

A previsão de cerca de oito mil visitantes diários àquele novo espaço também não reúne consenso e as dúvidas acerca da aproximação à realidade deste número são levantas sendo que “os hábitos de leitura têm vindo a mudar e cada vez mais jovens optam por leituras online”. Em resposta, Leong Wai Man refere que para além da vertente do leitor , a Biblioteca Central será um espaço de arquivo que prevê a preservação de mais de cem documentos históricos. Por outro lado, além da sua função normal esta “é uma infra-estrutura que será responsável pela coordenação das restantes bibliotecas do território”.

Concurso internacional

Tendo em conta o papel de coordenação Manuel Ferreira considera então que o projecto não deveria, como a semana passada foi anunciado pelo IC, ser restrito a candidatos locais,. Para o membro do CPU é necessário abrir o concurso “a empresas estrangeiras que ontem com experiência na construção de projectos idênticos”.
Falta ainda saber se a nova biblioteca Central está pensada de modo a conter meios de acesso e circulação para pessoas portadoras de deficiência.

6 Set 2016

Produtos farmacêuticos custam mais de 470 milhões ao Governo

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]ais de 470 milhões de patacas. É o valor que o Governo vai pagar pelo fornecimento de medicamentos e alguns produtos farmacêuticos para as farmácias que fazem parte da rede dos Serviços de Saúde (SS). Entre as empresas encarregues deste serviço há quem detenha mais do que uma.
Um despacho do Chefe do Executivo autoriza a celebração do contrato, que incide apenas em medicamentos e produtos farmacêuticos e deixa de fora, por exemplo, vacinas e material médico, que também é comprado – na sua maioria e de acordo com o Boletim Oficial – a estas empresas. No total, são 474,89 milhões de patacas a ser pagos desde este ano e até 2018.
A empresa que mais recebe é a Four Star Companhia Limitada, com 114,27 milhões de patacas. Segue-se a Agência Lei Va Hong Limitada, que é paga em 111,1 milhões de patacas. Esta empresa tem como sócios Chan Tak Meng, Lou Fok Kei, António Au Ieong e Ieong Man Cheong, este último membro do Gabinete de Estudos das Políticas.
Lou Fok Kei apresenta-se ainda como administrador de outras empresas na lista: é a The Glory Medicina Lda., cujos serviços estão orçados em 94,3 milhões de patacas.

Outros ganhos

Surge ainda a Firma Chun Cheong – Produtos Farmacêuticos, Lda. que recebe por estes serviços mais de 91 milhões de patacas. A firma tem como administradores três residentes locais (Kong Sui Ling, Au Ieong Tun e Chuen Kong), mas viu também parte da sua participação vendida a duas empresas registadas nas Ilhas Virgens Britânicas.
Outras das companhias não está registada, não sendo possível aceder ao seu registo comercial. É a Hong Tai Hong, que recebe mais de 31,6 milhões pelo fornecimento dos medicamentos.
Cheng San (11,6 milhões), Medreich Kali Macau (6,6 milhões) e Firma Welfare Instruments (6,2 milhões) também aparecem listadas, ao lado da Luen Cheong Hong (Macau) Limitada (2,25 milhões), da Yu Chun Lda. (2,6 milhões) e da Grupo Popular, a quem foram pagos 2,9 milhões de patacas.
A Grupo Popular — Companhia de Produtos e Serviços de Saúde, Limitada estava ligada a Henrique Nolasco da Silva e Susana Chou, ex-presidente da Assembleia Legislativa, que renunciaram aos cargos, de acordo com o registo comercial da empresa.

6 Set 2016

Feira de Turismo | Mais participantes e visitantes, mas é preciso “diversificar”

[dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]erminou este domingo a quarta Feira Internacional da Indústria de Turismo de Macau. A maioria dos participantes sente um aumento no número de pessoas que vieram à feira, mas segundo alguns ainda falta diversificação no público e nos profissionais.
Com a Direcção dos Serviços de Turismo (DST) a desempenhar, pela primeira vez, o papel de entidade organizadora, a feira contou com um Seminário e Bolsa de Contactos do Turismo China – Portugal e convidou oradores especialistas para abordarem as novas tendências do turismo individual na Ásia-Pacífico e o turismo inteligente, entre outros temas.
Cheong, participante cujo negócio se concentra principalmente no turismo local, referiu ao Jornal Ou Mun que este ano as pessoas que vieram à feira aumentaram e as suas trocas comerciais também cresceram cerca de 20%, sentindo o responsável que o plano e disposição gerais da feira melhoraram. Ainda assim, Cheong considera que faltavam mais compradores e representantes do sector estrangeiros, ao mesmo tempo que “faltava a participação de agências turísticas ou organizações estrangeiras”. Algo que leva o responsável a indica que o grau de representação e diversificação ainda não são suficientes. Por outro lado, Cheong sugeriu ainda uma maior promoção para atrair mais profissionais.
Um participante de Zhuhai disse à mesma publicação que os efeitos da feira foram parecidos aos do ano passado, ainda que tenha havido um aumento relativo no número de turistas. “Além dos da [indústria do] Turismo, havia ainda pessoas do sector imobiliário e das lembranças. Acho que os participantes eram diversificados, mas provavelmente havia menos profissionais.”
Já a senhora Leong afirmou que o negócio duplicou este ano. Também ela tentou melhorar os seus produtos e propôs bilhetes de avião de baixo preço para residentes de Macau, que “foram bem vendidos”.

Vamos partilhar

A Expo Internacional de Turismo de Macau, que se realiza anualmente, tem como objectivo “criar uma plataforma de intercâmbio e cooperação e de partilha de fontes de visitantes para a indústria turística e sectores relacionados da região e do exterior”, como relembra o Executivo.
Este ano estiveram presentes 370 expositores, num total de perto de 200 empresas e entidades de turismo, oriundas de 28 países e regiões. O evento atraiu cerca de 32 mil visitantes, segundo a DST, registando um aumento de 6,7% em comparação com o ano passado, a par com mais de 300 compradores profissionais oriundos dos principais mercados de visitantes de Macau, incluindo da Grande China, Japão, Coreia do Sul, Singapura, Malásia, Tailândia, Indonésia e Índia.
A DST ergueu um expositor de Macau com 144 metros quadrados sob o tema “Sentir Macau, ao seu estilo”, que divulgou a cidade aos operadores turísticos das diferentes partes do mundo e ao público. No stand esteve também em exibição a moto que o piloto britânico Michael Rutter conduziu na vitória alcançada no Grande Prémio de Motos de Macau de 2003, a par com simuladores de corridas, para introduzir elementos interactivos, que, assegura o Governo, “atraíram a atenção de muitos visitantes”.

6 Set 2016

LMA | Haroula Rose apresenta hoje “Here The Blue River”

Tem temas que servem de banda sonora a séries como “How I Met Your Mother” ou a filmes como “Still Alice”. Haroula Rose está em Macau para apresentar o novo álbum. Hoje, na LMA

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]hama-se Haroula Rose e é tida como uma das bandas-sensação da música Indie, Folk e Ambient. A cantora e produtora que divide o seu tempo entre Los Angeles e Chicago chega a Macau para actuar hoje, na Live Music Association (LMA).

Haroula Rose é escritora e realizadora, além de se dedicar a tempo inteiro à música. Em 2009 lança o seu primeiro EP, “Someday”, seguido de dois álbuns: “These Open Roads” (2011) e “Here The Blue River”, este lançado este ano e que a cantora vem apresentar à LMA.

Haroula Rose é ainda conhecida pela sua participação em diversas bandas sonoras de filmes e séries. É o caso de “How I Met Your Mother”, a série cómica que conta com singles da norte-americana de ascendência grega, e “American Horror” ainda os filmes “Still Alice” e “For a Good Time”.

O seu novo álbum, “Here The Blue River”, cujo título é inspirado num poema de Ralph Emerson, incide sobre o facto de nada durar para sempre, como a própria cantora indica no seu website.

“É sobre como as nossas relações são também como nos relacionamos com eles próprios, com a natureza, como tentamos compreender os mistérios à nossa volta. Como é que, como seres humanos, o nosso impulso é criar e destruir coisas”, revela Haroula, que admite que o CD demorou a ser lançado, não só porque estava também a trabalhar em filmes, mas também porque a cantora tentava “encontrar que história queria contar”.

Boas notas

No álbum, colaboraram Jim White, Zac Rae e Luke Top, nomes que já se juntaram a Alanis Morisette, Gnarls Barkley, Cass McCombs, entre outros.

As críticas são positivas face ao trabalho de Haroula Rose, com Donald Gibson, da revista musical No Depression, por exemplo, a caracterizar a jovem como “alguém que canta com o espírito de uma alma cigana, sempre à procura de significado ou uma semente de verdade em cada momento”.

Haroula Rose esteve em Guangzhou e Xi’An e toca agora no território, num concerto marcado para as 21h30 na LMA. Os bilhetes estão à venda a cem patacas, se comprados antecipadamente na Livraria Portuguesa ou no Macau Design Center, ou 120 patacas à porta.

6 Set 2016

Cimeira | Xi Jinping em reuniões bilaterais resolve conflitos regionais

A cimeira do G20 tem permitido aos líderes de Estado reuniões bilaterais a fim de resolverem questões regionais. Foi o que aconteceu entre o Presidente chinês, Xi Jinping, e a sua homóloga da Coreia do Sul, Park Geun-hye

[dropcap style≠’circle’]X[/dropcap]i e Park reuniram à margem da cimeira do G20, que decorre na cidade de Hangzhou, costa leste da China, após Seul ter decidido instalar no seu território o THAAD, na sequência dos testes nucleares realizados pela Coreia do Norte. “Uma gestão inadequada do problema não propicia a estabilidade estratégica na região e pode intensificar os conflitos”, afirmou Xi, que considera que o THAAD tem como verdadeiro alvo a China. Durante a reunião, Xi reafirmou o compromisso da China na desnuclearização da península coreana, e insistiu que a única via para resolver a disputa é o diálogo.
O líder chinês pediu que as conversações a seis (China, Japão, Rússia, EUA e a duas Coreias), interrompidas em 2009, sejam retomadas, e que se considere os pontos de vista de cada um dos países implicados.”Os sintomas e a raiz do problema devem ser discutidos”, referiu Xi.
Segundo Washington e Seul, a instalação do THAAD na península coreana visa interceptar projécteis da Coreia do Norte, depois do regime de Kim Jong-un ter alcançado progressos nos seus programas nuclear e de mísseis.
Os Governos da China e Rússia consideram, no entanto, que a finalidade do sistema é aceder a dados das suas bases militares mais próximas, constituindo uma ameaça directa à sua segurança.

Encontro a dois

Xi Jiping tem-se desdobrado em negociações nesta cimeira, assinando acordos bilaterais e até levando a China a aceitar o Tratado de Paris, numa acção conjunta com o Presidente Barack Obama num momento que ficará registado para a história. Na senda dos encontros com os seus homólogos, fica o registo com Mariano Rajoy. Xi agradeceu ao primeiro-ministro espanhol pela sua presença na cimeira, apesar da situação política em Espanha. Os líderes reuniram-se antes do início do segundo dia da cimeira e ambos constataram as boas relações bilaterais, prometendo que continuarão a cooperar em todas as áreas. Reconhecendo que Espanha está bastante ocupada com problemas políticos, numa alusão à ausência de um governo em plenas funções no país, Xi Jinping agradeceu de forma especial a presença de Rajoy em Hangzhou.

Troca de galhardetes

Fontes do Governo espanhol revelaram ainda que o líder chinês felicitou Rajoy pela “evolução positiva” na economia de Espanha. Rajoy aproveitou a reunião para convidar o Presidente chinês a visitar Espanha, e Xi pediu-lhe para transmitir um convite ao rei Filipe VI, visto que Rajoy já visitou a China.
O primeiro-ministro de Espanha disse ainda que o seu Governo tem total disposição para colaborar no sentido de incrementar o ensino do espanhol na China, através, por exemplo, da formação de professores.

6 Set 2016

Coreia do Norte | EUA condenam lançamento de mísseis

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s Estados Unidos condenaram ontem o lançamento de três mísseis balísticos pela Coreia do Norte, considerando-o uma ameaça para os seus aliados e para os voos comerciais, e defenderam uma acção diplomática contra Pyongyang.
“Os lançamentos irresponsáveis da Coreia do Norte são uma ameaça para a aviação civil e para o comércio marítimo na região”, disse uma fonte oficial da administração norte-americana.
O responsável, que falava à margem da cimeira do G20 na China, disse que Washington irá “apoiar uma acção internacional para responsabilizar a Coreia Norte pelas suas acções provocadoras”.
A Coreia do Norte disparou ontem três mísseis balísticos a partir da sua costa leste, cerca de duas semanas depois de testar um míssil balístico a partir de um submarino, noticiou a agência sul-coreana Yonhap.
Os mísseis foram disparados para o Mar do Japão, a partir da região de Hwangju, pelas 04:00, segundo a Yonhap, que cita os chefes de Estado-maior sul-coreanos.
Ainda não se sabe de que tipo são os mísseis disparados, com um porta-voz do Ministério da Defesa de Seul a informar que o exército sul-coreano está agora a analisar o ensaio.

Acção contínua

A Coreia do Norte realizou uma série de testes de mísseis este ano, o mais recente a 24 de Agosto, quando foi lançado um míssil balístico a partir de um submarino que se deslocou 500 quilómetros na direcção do Japão.
Esse lançamento, amplamente condenado, marcou o que analistas de armamento descreveram como um claro passo em frente nas ambições nucleares da Coreia do Norte.
O lançamento de ontem surge horas depois de a Presidente sul-coreana, Park Geun-Hye, e o Presidente chinês, Xi Jinping, se reunirem, à margem da cimeira do G20 em Hangzhou.
A China é o único grande aliado de Pyongyang, mas os laços entre os dois países têm vindo a enfraquecer devido aos testes nucleares da Coreia do Norte, que causaram tensão na península.

6 Set 2016

Sem engordurar os dedos de vida

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]ela boca morre o peixe, pela palavra morre a vida. Pela palavra morre a miséria da vida e nasce a flor viçosa do esplendor humano. A palavra aponta a miséria para superá-la, para sará-la, curá-la. Só a palavra cura a vida, só a poesia cura a realidade. Esta é a poesia, o sentido primeiro da poesia de Mariana Ianelli, na grande tradição de Fernando Pessoa. Mariana acredita na palavra redentora. A palavra redentora é a palavra poética. A palavra que começa sem começo. Que acaba sem fim. A palavra que magicamente desconhece a vida.
Mariana Ianelli faz uma das coisas mais difíceis de serem feitas em poesia: com os materiais da miséria, com os materiais da história humana repleta de atrocidades, constrói um arranha-céus de optimismo. Mas não se pense que optimismo se identifica com lirismo caduco ou com pieguice de polichinelo. Melhor seria dizermos que, para além da beleza dos seus versos, há ainda a desgraça do optimismo. Desgraça bem maior do que o pessimismo é o optimismo. Acreditar na palavra apesar de tudo, contra tudo e contra todos, acreditar na palavra como transformação, como advento, como o que pode e vai salvar o mundo é mais miserável do que não acreditar. Quem acredita na palavra poética como redentora do humano e do mundo sofre mais do que um pessimista. O que dói é acreditar e carregar essa crença nas costas. Não acreditar em nada não dói sequer uma unha. O optimismo, e isso aprende-se nos poemas de Mariana Ianelli, é a maturidade da miséria. Ao invés de acusar a miséria, de lhe pôr as culpas em cima, estes poemas ordenam as misérias com palavras, e é com este movimento que acontece o inesperado. Este inesperado é o poema que nos faz ver o que já julgávamos ter visto. O pessimismo é a adolescência da miséria. e o optimismo a maturidade da mesma. E quando digo aqui miséria, não falo apenas da miséria humana, mas a miséria de todas as coisas, a miséria do tempo com tudo o que engole.
Embora se tenha dito atrás que Mariana usa os materiais da miséria e os transforma, não se quer com isso dizer que se trate de uma poética da reciclagem. Uma coisa é fazer uma estátua com o lixo da rua, outra bem diferente é ordenar o lixo da rua de modo a poder seguir em frente. Assim são os poemas de Mariana. Nem descreve a realidade, nem a recicla. Os poemas de Mariana ordenam a realidade, de modo a caminharmos melhor e seguirmos em frente. Não temos de ter vergonha do lixo, das nossas misérias, as palavras sabem delas melhor do que nós e ao seguirmos as palavras, seguimos em frente, seguimos acima da vida. Há na poética contemporânea muito de reciclagem, mas não é o caso dos poemas de Mariana Ianelli. Os seus poemas destacam-se radicalmente daquilo a que se usa chamar de poesia contemporânea, tanto na forma quanto no conteúdo, como se verá em seguida ao analisarmos de perto um dos seus livros. A poesia de Mariana é uma poesia apocalíptica, no sentido literal do termo, uma poesia da revelação, uma poesia ainda por vir. Aquilo que está por vir não é contemporâneo, obviamente, mas apocalíptico.

A poesia desta jovem poeta tem a grandiloquência dos mitos, da autoridade do passado e o tom severo e encantatório da elegia. Não é por acaso que os seus versos começam todos em maiúsculas, quer sucedam a um ponto final, a uma virgula ou a nada. A vida é verso a verso e não uma correria até ao fim. Assim são os poemas da Mariana. Os poemas de Mariana Ianelli não falam da vida, não imitam a vida, não a descrevem. A vida é para quem não pode mais nada. Vejam-se exemplos. No seu livro Passagens, à página 31, escreve:
“Eu persisti,”
Neste início de poema, ainda antes de começarmos, paramos. Paramos por duas razões: pela forma e pelo conteúdo. Paramos porque pela primeira vez estamos a ver o sentido pleno e contraditório deste verbo, persistir, nesta primeira pessoa a dizer o verbo: Eu persisti, … a vírgula obriga-nos, aqui, a parar mais do que qualquer ponto final usualmente nos pára. Eu persisti só poderia ter ou vírgula ou nada, nunca um ponto final. E isto compreende-se pelo que falta, pelo que parece faltar à transitividade do verbo. Este verso faz-nos ver que persistir é parar. Persistir, que sempre tomamos por uma acção violenta de continuidade, aqui explode na nossa atenção como sendo o oposto. Eu persisti quer dizer “eu parei”, “eu fiquei”, “eu mantenho-me” “eu estou presente”, “eu sou”, ou como diriam os gregos antigos, “egw andreios eimi” (“eu sou corajoso”), eu mantenho-me no lugar onde sempre estive. Ou ainda, como ela escreve à página 23 do mesmo livro:
“Caiam todos sobre mim: eu subsisto.”
Trata-se em poucos versos de um projecto que depois será sustentado verso a verso ao longo do livro: o sentido de quem se mantém só, repleta de história. Porque a sua poesia não rejeita o conhecimento do passado, não rejeita mostrar-se como parte da miséria que assola o mundo desde o início dos tempos. Esta poesia está muito pouco preocupada com inovações formais. Isso é assumido de imediato pelos versos iniciados sempre por maiúsculas, mas não só, também há versos que no seu conteúdo nos dizem que é assim que esta poeta pensa, que esta poeta assume seu lugar no corpus poeticus, leia-se o verso à página 79:
“Os falsos poetas contemporâneos,”.
E, nesse mesmo poema, o primeiro verso diz: “Retorna para o Tártaro,” e, adiante: “E, depois, as Fúrias aprontarão”. Assim Mariana Ianelli assume a temporalidade, assume o mundo como seu objecto poético, e não apenas o seu lugar claustrofóbico: “Nós temos em comum este corpo que nos trai.” O corpo é uma prisão, viver no corpo e pelo corpo é recusar a totalidade do mundo, da história, da temporalidade. Viver para além da prisão do corpo é, para Mariana, a única possibilidade de fazer poesia. E, a tudo isto, se liga ainda um artifício muito bem conseguido: a voz desta mulher, desta poeta antiga construindo o seu passado, é a voz de um homem, a voz masculina. Por que faz ela isto? Veja-se como ela termina um dos seus poemas, à página 55:
“De um homem frente ao signo da morte, / Homem que eu jamais seria.”
Não se trata de uma imitação da heteronímia de Fernando Pessoa, mas sim de uma impossibilidade de nos aceitarmos, de aceitarmos que “passamos”, que estamos aqui de passagem, que “temos em comum este corpo que nos trai.” E com ele, com esta traição que nos habita, nesta traição que transportamos temos de defender as palavras. Rejeitar a sua própria voz, a voz com a qual responde pela manhã ao seu marido ou à tarde à rapariga da loja, é reconhecer que a vida não tem nada que entrar no poema. A vida não é p’r’aqui chamada. E, neste particular, sim, neste particular tem a ver com Fernando Pessoa. Não enquanto imitação, mas como profundo enraizamento numa estética que recusa que a vida entre poema adentro. Os poemas de Mariana Ianelli têm seus pés fortemente fincados aquém e além da vida, como podemos ver neste verso: “Com meus dedos engordurados de vida.” É assim que a poeta se vê ao chegar ao poema, ao debruçar-se sobre si mesma, sobre a página, sobre o poema: com os dedos engordurados de vida. E lembramos de imediato o verso final de um grande poema de Álvaro de Campos: “Raios parta a vida e quem lá ande.”
Nos poemas de Mariana, há a claridade quase ofuscante da vida não valer nada, da vida não valer senão o que se faz dela, o que se faz com ela. A vida existe para ser ultrapassada. Conhecer a vida é também fazer pouco mais que nada, saber pouco mais que nada, encantar nada. Leia-se outro verso de Mariana: “Com teu mágico desconhecimento da vida”. Desconheça-se a vida para conhecer a magia, a palavra, o mistério. Desconhecer a vida é existir sem engordurar os dedos de vida; é encantar, é ter o poder antigo da magia, o poder das palavras que abrem clareiras, que fazem ver, como se a cegueira fosse antes do poema a nossa única morada. Desconhecer a vida não é desconhecer a palavra. Desconhecer a vida não é desconhecer o que mais importa. Desconhecer a vida é a magia que hoje ainda nos é possível realizar. Mariana sabe que a nossa vida vale menos que um poema, menos que um verso. E esta é a sua guerra: contra a ausência de poesia que nos habita. A poesia dela não é pessimista, embora não nos faça rir, nem sequer ficar contentes. A poesia é de outra ordem. Da ordem da beleza, da ordem do que nos mostra a vida morrendo diante de uma palavra. E isto só pode fazer com que nós, humanos que vivemos nas palavras, tenhamos um esgar de esperança de que há Deus, o outro ou o nada para nos ouvir e compreender. Por fim, a beleza dos versos de Mariana Ianelli, avulso, como a própria poesia dela e a própria vida:
“Vivendo entre a espada, o luto e uma elegia. (…)”
“Esta dor voltou a ser (…)”
“O lugar santo visto à luz da chama, (…)”
“E os nossos iguais, que eram tantos, (…)”
“Que nos misturássemos aos mortos, (…)”
“Não fica o espaço transitório do nosso corpo, (…)”
“Todos nós caímos em desgraça. (…)”
“Desejei um tempo pela manhã (…)”

“Eu te quis vivo,
Transtornado, mas vivo. (…)”

“Contornada a margem fina
Do esquecimento,
Outra capital aparecerá
Sobre a antiga. (…)”

“Para as mão de quem eu nunca vi, (…)”
“Com teu mágico desconhecimento da vida (…)”
“Continuaste errando em nome da tua velha sensibilidade. (…)”
“E a mente padece como se arfasse, (…)”
“Estás muito bem guardado em tua alma. (…)

“O que por ti já passou, mas sempre retornará,
Carrossel do enforcados, profecia de tua desgraça,
Insânia nas alturas, e mais desgraça. (…)”

“Uma tarde cuja noite se tornou algum resíduo amortalhado. (…)”
“Nós temos em comum este corpo que nos trai. (…)”
“Tinha de ser o caos. (…)”

“Chovia no caminho de tabuas,
Ao pé da escada do pátio a lama cheirava bem
E a infância mostrava as suas vísceras. (…)”

“Ignoro se tu és capaz de voltar.”

“O desejo de que tu compareças
Não dura em mim do mesmo modo que tua imagem, (…)”

“Agora eu compreendo as tuas passagens.
Aos quinze tu pegaste corpo (…)

“Quantas vezes o pai te aturdiu no rosto e te cuspiu
Por cresceres apetecendo tanto aos outros… (…)”

“E verás em ti a emoção de uma outra face. (…)”

“E tudo o que amas com fervor
“Reside no absoluto esquecimento do passado. (…)”

“Chegamos ao extremo do caminho
Aonde ninguém vai sem antes dar-se por vencido. (…)”

“Diz que uma febre se esconde
No seio do próximo inverno, (…)”

“O inferno esteja contigo
No dia em que teu pai morrer (…)”

“Os falsos poetas contemporâneos, (…)”
“Atravessamos a época de um verão que faz sofrer, (…)”
“Estamos em ti sempre que te ausentas. (…)”
“Que a chuva descia pelos seus tentáculos d’água (…)”
“Era uma pepita de sangue (…)”
“Tudo o que era nosso nos foi tirado.”

“Mas algo ainda permanece, (…)”
“Penumbra da nossa própria sombra (…)”
“Derramada sobre o chão, (…)”

“Sentinela dos teus vários descendentes, (…)”
“As semanas despendidas à vara e a remo (…)”
“Um desvão onde guardar minha ansiedade. (…)”

Mariana Ianelli nasceu em 1979 na cidade de São Paulo. É autora de sete livros de poesia publicados pela editora Iluminuras, São Paulo – Trajetória de antes (1999), Duas Chagas (2001), Passagens (2003), Fazer silêncio (2005), Almádena (2007), Treva Alvorada (2010), Amor e depois (2012) – e um, o mais recente, Tempo de Voltar (2016), pela editora Ardotempo, Porto Alegre.

6 Set 2016

Na praia com o preconceito

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]orque ainda estamos nos meses de Verão, e porque muitos ainda se despem e se banham em praias paradisíacas, não podemos deixar de falar do que aconteceu ainda no nosso querido mês de Agosto, desta vez, no sul de França. O que é que aconteceu na praia no sul de França? Medidas um tanto ou quanto xenófobas.
E o que isso tem que ver com sexo? Tem muita coisa – especialmente com o género e o corpo feminino. Ideologias ditas democráticas e liberais ditam que a mulher não tem que esconder o seu corpo. Deve ir à praia despir-se o mais possível – as mais aventureiras mostram a barriga ou as maminhas – mas o que importa (supostamente) são as normas progressivo-europeias que permitem as mulheres tomarem controlo das suas decisões corpóreas.
Contudo, parece que é extremamente difícil perceber o que é liberdade de expressão e de que forma as mulheres se podem sentir empoderadas com o seu corpo: a fórmula não é aplicável a toda e a qualquer pessoa. Não é universal a ideia de que uma mulher só é emancipada quando se sente no direito e no à vontade de se despir – nunca é assim tão simples.
Refiro-me à parvoíce que foi quando o burkini foi proibido nas praias do sul de França. Eu ainda dou a mão à palmatória porque o ataque em Nice não foi há muito tempo e as pessoas estão com medo. Mas essa é só a reacção inicial – mentes que pensam rapidamente chegam à conclusão que a generalização religioso-racial de profundo preconceito não traz vantagem nenhuma à sociedade. Aliás, ódio e atitudes estigmatizadoras é tudo de bom para o Daesh, porque de alguma forma precipita processos de radicalização – mas não entrarei por aí.
O que foi verdadeiramente chocante foi a forma como a polícia de choque, equipados de metralhadora e com caras de mau, andava a patrulhar as praias e a multar mulheres, por estarem vestidas demais. Porque já houve o tempo quando a polícia andava a multar e a ridicularizar as pessoas que estavam vestidas de menos: voltámos a um tempo antigo demais, onde a liberdade de expressão é estrangulada pelos conservadorismos de muitos.
Diz a criadora do burkini que as vendas têm atingido níveis nunca vistos, por isso, pelo menos, a proibição fez com que esta peça de moda de praia tenha aumentado em popularidade. Nas várias entrevistas realizadas acerca do que se passou em França, a criadora Libanesa-australiana tem insistido que a peça deveria ser um símbolo de diversão, bem-estar e fitness. Oferecendo a flexibilidade de vestuário que a mulher muçulmana tanto necessitava para se mexer como quer e fazer o que quer.
Mas o ocidente gosta de contrariar as formas (criativas) que as pessoas arranjam para serem elas próprias e definirem a sua identidade. Para quem acha que usar um hijab, um niqab ou uma burka e, agora, um burkini é obrigatoriamente um sinal de uma mulher extremista, desengane-se, e sugiro muita calma nesses pré – conceitos. Estas são mulheres que querem ir à praia, tranquilamente, e que querem usar algo que as faça sentir bem. Repito: são diversas as formas de empoderamento: podes estar nua ou tapada da cabeça aos pés, depende de cada um.
Não foi há muito tempo que as mulheres chinesas começaram a moda do facekini, uma visão bem mais assustadora (tipo, Jason do Sexta-feira 13 a ir à praia), com o simples propósito de proteger a pele facial do tão indesejável sol. Totalmente legítimo, mas ainda bem que nenhuma desgraçada teve a feliz ideia de usá-lo nestas praias patrulhadas a favor de exposição solar! Acho que teria confundido o esquadrão de serviço.
O mais incrível é que este tipo de políticas discriminatórias não contribuem para absolutamente nada, só para irritar as pessoas e não permitir as mulheres muçulmanas de ir à praia. Vai parar a radicalização? Não. Vai parar com a repressão feminina? Não. Vai parar com a estupidez humana? Nunca.

6 Set 2016

G20 pede à OCDE uma lista negra de paraísos fiscais

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s dirigentes do G20 encarregaram ontem a OCDE de entregar ao grupo no próximo ano uma lista negra de países que não colaboram na luta contra a evasão fiscal, após a cimeira realizada na China.
“Pedimos à OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) para informar os ministros das Finanças e os governadores dos bancos centrais, até Junho de 2017, dos progressos alcançados em matéria de transparência fiscal”, indicou o G20 na declaração final da cimeira de Hangzhou.
A OCDE poderá “preparar até à cimeira de chefes de Estado e de governo do G20 de Julho de 2017 uma lista de países que não progrediram para atingir um nível satisfatório de aplicação de normas internacionais reconhecidas sobre a transparência fiscal”, indicaram os dirigentes do grupo das 20 principais potências mundiais.
“É uma estreia”, afirmou o ministro da Economia e Finanças francês, Michel Sapin, acrescentando que alguns dos elementos avançados nunca tinham sido mencionados nos comunicados de anteriores cimeiras.
“Mais do que nunca, a luta contra os paraísos fiscais é uma prioridade do G20”, disse à AFP o director do centro de política e de administração fiscal da OCDE, Pascal de Saint-Amans, também presente em Hangzhou.
Esta mensagem “bastante forte” do G20 significa que os países que não cooperam têm até Julho de 2017 “para ficarem em conformidade com os critérios da OCDE”, acrescentou.
“Estar na lista negra terá um impacto devastador na economia dos países citados”, previu, considerando que se trata de uma sanção “extremamente pesada”.

6 Set 2016

Venham mais 15

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O Hoje Macau publica-se na RAEM há 15 anos

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]etesto aniversários e ainda mais elegias em moto próprio. É assim: sou mal disposto, nos padrões contemporâneos. Aliás, compreendo-os pouco. Não percebo, por exemplo, como hoje existem reverências a deuses que se sabem falsos, como nos submetemos a ditames que julgamos, ainda que intuitivamente, abomináveis.

É, contudo, isso que vejo um pouco por todo o lado e, inclusivamente, neste jornal. É verdade: não somos imunes ao que classifico de universais da estupidez e da cupidez. Divulgamo-los, aceitamo-los, escrevemos inocuamente sobre eles. E tenho vergonha por isso mas não suficiente para fazer qualquer coisa, além de um suspiro, e evitá-lo.

Somos, como é óbvio, obrigados a sobreviver neste oceano de inanidade a que se chamava “comunicação social”. Hoje já deve ter outro nome, qualquer coisa esquisita e desculpabilizável do que não fazemos ou não podemos fazer.

Mas, sinceramente, Macau é um universo relativamente aparte. Daí ainda termos a convicção de que fazemos jornalismo – algo que no mundo real acabou no século XX – no limite da nossa capacidade de interpretar o local. Talvez seja mesmo essa nossa incapacidade que nos permite uma visão fresca do que encontramos e um dinamismo quantas vezes absurdo em relação ao que observamos.[/vc_column_text][vc_separator color=”custom” style=”dotted” border_width=”2″ el_width=”20″ css_animation=”fadeIn” accent_color=”#dd3333″][vc_column_text]Dezembro de 1999. Muitos auguraram o pior, em relação à sobrevivência do jornalismo em Português na recém-criada RAEM. Mas, desta vez, as cassandras não tinham razão. Ao invés de minguar, crescemos e ficamos mais fortes. Na verdade, talvez tenha sido a partir dessa altura que nos começamos a debruçar com outra vivacidade sobre a vida real desta terra. Até então talvez os jornais vivessem demasiado dependentes do que acontecia à volta da Praia Grande e pouco mais.

Com a transferência de soberania, muito mudou. E no nosso interior também. Por exemplo, as redacções passaram a com jornalistas chineses e a sua presença veio iluminar muitos dos disparates que fazíamos, como veio fortificar a nossa certeza a propósito do rumo tomado a nível editorial.

Não façamos confusões: isto é a China. A mesma China que nos acolheu pela nossa diferença no século XVI e que até hoje ainda não nos expulsou. Que nos abriga e nos embala. Entre portugueses e chineses sempre existiu a compreensão imediata do “vive e deixa viver” e isso é fundamental para a nossa meta-existência. Sem ela nada disto existiria.

Os portugueses são, de facto, tão insuportáveis que só os chineses, com a sua paciência (leia-se interesse prolongado e deferido) nos aturariam. Pior que nós só os ingleses, os franceses, os holandeses, os alemães, os russos e, ultimamente, os americanos e os australianos.

Macau, dizem, mudou muito nos últimos quinze anos. Não me parece. O meu Macau está ali onde o quiser encontrar. Nos erros sucessivos do governo – iguais a antes de 1999 –; na ambição desmedida dos recém-chegados – sobretudo dos que há pouco atravessaram a fronteira terrestre –; na euforia palerma dos portugueses – desembarcados há momentos do jetfoil. E existe, como sabemos, um outro Macau que nem de longe nem de perto se reconhece no que hoje ciframos como RAEM: a cidade verdadeira, egoísta, metida consigo, fantasmagórica, palmilhável, inesgotável, sorvida como uma sopa de fitas ou junto à boca como uma malga de arroz.

Há mais dinheiro. Vejo mais luzes. Há mais confusão. Vejo mais gente. Mas nada disto me interessa. Sou director de um jornal que pretende ver além do óbvio e informar além do sensível. E é este o nosso desafio: ler o ilegível, soletrar o indecifrável. Bem sei tratar-se de uma tarefa impossível por isso é digna de nós. Menos seria pouco, mais seria divino. Ficamos, portanto, por aqui. Pelo menos mais quinze anos.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

5 Set 2016

Hoje Macau 15 anos | 15 pontos (alguns negros, gordurosos)

1. O indizível
Na nossa primeira edição dizíamos o que ninguém queria ouvir: que o ex-Hotel Bela Vista (hoje excelentíssima residência consular) deixará de ser português em 2049. Bom… é verdade que isso hoje não interessa a ninguém, até porque nada do que se vai passar daqui a vinte anos interessa a alguém. Mas não deixou de ser uma bela manchete… assim para começar.

2. O improvável
Houve um tempo em que se queria destruir o velho mercado da Taipa para aí construir um centro cultural. Devia ser boa ideia mas por quê ali, onde haviam colunas portuguesas encimadas por um telhado chinês? Escrevemos muito contra isso e resultou. Olhando para o local, talvez estejamos um pouco arrependidos… ou talvez não.

3. O previsível
Quando a liberalização do Jogo estava prestes a abrir os diques do disparate e permitir que esta cidade fosse controlada por uma ganância irresponsável, bem que publicámos artigo atrás de artigo, avisando para a desarmonia vindoura. Social, ambiental, económica e quiçá política. Ela aí está, em todo o seu esplendor.

4. O imponderável
Como antecipar a maravilhosa vinda de magotes de neo-portugueses? Como futurar sobre a crise que assolou o petit pays, assim de repente? Impossível. Tão orgulhosos eles estavam, tão incertos da sua europeidade eles aqui chegaram. Como se conhecem mal a si próprios esses ditos portugueses… e como é bela a sua eventual transformação…

5. O inaudível
Centenas de artigos, de reportagens, de entrevistas. Para não falar de opiniões, escritas, gritadas, preto no branco. E, diga-se a verdade, poucos nos ouvem. Chovemos no molhado, é certo. Mas o pior é que, a maior parte das vezes, choramos sobre o leite derramado. Não deixaremos por isso de continuar. Afinal, a voz que fica é o insistente sussurro – e pouco mais somos do que isso – que insiste e não se cala.

6. O poucochinho
Temo-lo dito, uma, duas, cem, milhares de vezes: o Governo tem obrigação de fazer melhor. Há dinheiro, existem meios, confie-se nas pessoas. Macau merece mais, isto é poucochinho. Precisamos de arrojo, de vaidade, de confiança. Somos a cidade da China que menos confia em si mesma. Porque pouco conhece de si própria. E julga-se que anda tudo ao mesmo. Pois não anda.

7. Os glutões
É o poder, é o dinheiro, meus senhores e minhas senhoras, o que ele mais adorava. E dele não quer largar mão. E não é ele, mas eles, que por aqui ninguém alinhava sozinho. E dele não abre mão. Nem que custe a vida ou um milhão. É assim a RAEM: dos mesmos para os mesmos sem saciedade à vista. A fome é muita, demais e, por vezes, as indigestões são fatais.

8. Os benfeitores
Não fosse Pequim ter lançado a teta da ligação de Macau aos países lusófonos e estaríamos hoje a berrar como vitelos desmamados. Foi essa China do outro lado das Portas do Cerco que nos liberou, que nos justificou, além e aquém da História. Abençoados sejam por todos os deuses e mais um. Abençoado seja quem sabe realmente ler. Alguém percebeu Macau e não foi ninguém daqui.

9. Os insatisfeitos
Há muitos porque não fácil assistir ao deslizar do patacame sem molhar o bico nesse ribeiro de fortuna e excessividades. Não deixam, contudo, de ter alguma razão. Não conseguem, entretanto, descobrir o caminho que mais lhes convém. Para não servir, é preciso ser assumir os riscos. Para ter sucesso, é sempre fundamental ousar. Recado: queixem-se menos, façam mais. Não dá? Façam outra vez.

10. Os falhados
São os nossos favoritos: os que falham. Normalmente, fazem-no por razões verdadeiras e delas não querem abdicar. Temos assistido a inúmeros casos. Deles nada criticamos. Simplesmente não dá. Macau nunca foi fácil, a não ser para os que têm como assegurado o dia da partida. Nas razões dos falhados estão, na maior parte dos casos, os fantasmas do sucesso dos que ousam ficar.

11. Os intragáveis
Chegaram há dez anos de um sítio qualquer da China e, por terem obtido, sabe-se lá porque meios, o cartão de residente permanente julgam-se donos da cidade. Sentam-se na AL, discursam forte na Ou Mun Tin Toi. São mesmo os primeiros a pretender que mais ninguém obtenha o estatuto de cidadania. Dariam vontade de rir se, na realidade, não fossem tendo cada vez mais e mais poder. Perante a inércia dos que aqui nasceram. OK: continuam a dar vontade de rir.

12. A maltratada
É a língua, senhores, a lusa língua. A língua prometida, a língua oficial, essa mesma a que rebola por essas ruas, corrida a pontapés, varrida a sopapos, espancada pela ignorância e o desinteresse gerais: coitadinha. Deve ser por falta de jeito dos altos responsáveis ou então porque há para aí uns doutores que prometeram aos americanos fazer do inglês a língua primeira desta terra. E tudo isto sem um pingo de vergonha na cara. De quando em vez, passa Pequim, levanta-a do chão, sacode-lhe a poeira e tenta que Macau cumpra o seu histórico desígnio. E não, não é canalizar dinheiro para os candidatos quando das eleições nos EUA.

13. Os escandalosos
Que um Secretário das Obras Públicas meta a mão na massa indevida, não é bonito, mas compreende-se. Afinal, acontece ou pode acontecer um pouco por todo o lado. Em Macau, saiu-nos Ao Man Long, o pequeno homem de desejos enormes. E lá está em Coloane, a cumprir os seus 28 anos de sombra. Mas que o Procurador da RAEM tenha seguido o mesmo caminho e se pensarmos que esse mesmo senhor foi um putativo candidato a Chefe do Executivo, a coisa muda de figura e torna-se preta. Que raio de terra é esta em que o Justiceiro-mor, o defensor dos interesses do povo, garante da legalidade, é apanhado com a boca em botija alheia. Não é só triste: é, sobretudo, extremamente preocupante.

14. Os poderosos
Ao pé deles, o Governo treme, a polícia cora e os juízes encolhem-se. Estaremos a falar dos militares do EPL? Não, referimo-nos aos taxistas. Nesta cidade, eles fazem o que muito bem lhes apetece, pondo em causa a lei, a boa educação, o civismo e a imagem de Macau no exterior. E o que faz o Governo? Não licencia a Uber, faz o jogo de quem pesca pela cidade a seu bel-prazer: umas multinhas de vez em quando e pouco mais. É uma vergonha. O poder não está na ponta da espingarda. Aqui anda sobre rodas.

15. Os insípidos

Cada vez que vimos uma pessoa nova chegar ao poder em Macau, o nosso coração alegra-se, por julgar que algo de novo vai brotar, que muito vai ser corrigido e uma nova mentalidade poderá surgir. Cruel engano! Os novos governantes, com excepções (?), não passam de gente insípida com mais amor ao lugar do que à cidade ou mesmo ao seu próprio desempenho. Dos pais não herdaram a determinação e aos filhos não passam o sentido do dever e de servir a coisa pública. Enfim, na maior parte dos casos, são uma grandessíssima decepção.

5 Set 2016

Hoje Macau 15 anos | Jornalistas falam da profissão em Macau

Em dia de aniversário, o HM foi saber por quem cá anda, mais ou menos ao mesmo tempo, o que é isto de assinar notícias há década e meia. Uma actividade com várias fases e também uma profissão que tem vindo a desenvolver-se e a ficar mais bonita e mais próxima da comunidade

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s últimos 15 anos de imprensa em Macau trazem novidades e desenvolvimento. Apesar de “ter fases” a opinião de quem vive o jornalismo na pele e faz dele profissão é unânime: a actividade em Macau está diferente. Os últimos 15 anos são pautados com sangue novo, gente de fora e profissionais da área que vão revitalizando a profissão numa região que cresceu muito e com ela fez crescer o jornalismo.
Isabel Castro, jornalista da Rádio Macau, também há 15 anos na RAEM, aponta em primeiro lugar o crescimento de gente, “o jornalismo era feito por menos pessoas do que é hoje, em termos gerais as equipas eram bastante menores”. Na sua opinião pessoal e “ao contrário do que muita gente esperaria antes da transferência do território, começaram a vir mais pessoas de Portugal”, factor que veio influenciar as notícias de cá. Com elas veio uma outra forma de ver e pensar o jornalismo e mesmo Macau, considera. Este facto é apontado como positivo, até porque com o passar do tempo “é impossível que o nosso olhar não se vicie e esta renovação é boa”.
É a esta entrada de sangue novo que acontece há 15 anos que Gilberto Lopes, chefe de informação e programas portugueses da Rádio Macau, chama de “geração RAEM” e que terá contribuído para o desenvolvimento da actividade permitindo que, 15 anos depois, se faça o que se faz”.

Mais gente, mais profissional
Não é só o aumento de jornalistas que pautam os últimos 15 anos da RAEM. É a profissionalização dos mesmos que destaca o desenvolvimento da história recente da imprensa. Terá sido após a transição que Rocha Dinis, administrador do Jornal Tribuna de Macau, assinou um protocolo com a Universidade de Coimbra e com isso os jovens recém licenciados do curso de comunicação social começaram a aceder ao território para estágios. “Alguns ficaram, outros não, mas foi, sem dúvida um marco para o desenvolvimento de profissionais no território” afirma.
Questões ligadas à ética e deontologia profissional também são de salientar para Marco Carvalho, director do jornal Ponto Final, “Outra questão relevante é a profissionalização das redacções dos jornais do território” revela, sendo que é “gente nova mas gente qualificada no mister do jornalismo e uma classe já mais ligada a questões de ética e deontologia profissional”.

Não há bela sem senão

Não chega só ter mais gente e mais profissionais. Para Rogério Beltrão Coelho, editor da Livros do Oriente, “se é certo que os jornais dispõem hoje, nas suas redacções, de maiores e melhores equipas de jornalistas, com formação académica específica e, como tem sido verificado, com muito talento e criatividade, a verdade é que nem sempre a exigência de qualidade se faz sentir”.
Conhecer a terra por dentro é factor essencial, porque “é natural que aos jovens profissionais, recém-chegados ou há poucos anos em Macau, lhes falte a memória para compararem, avaliarem, recolherem experiências e usarem o conhecimento do passado para compreender e interpretar o presente e perspectivar o futuro”. Por outro lado o esforço para o aprofundamento de conhecimento “nem sempre é feito e o ritmo a que se processa a vida num jornal diário propicia situações de jornalismo de menor qualidade e de algum facilitismo”, remata Beltrão Coelho”.

Uma questão de línguas

Falar de jornalismo em língua portuguesa não é falar de jornais de Portugal em Macau, mas sim de jornais da terra na sua língua oficial e que é fundamental para a “manutenção da língua portuguesa”. Num território que partilha linguagens, gentes e culturas cada vez são mais os alunos a aprender a língua de Camões e o facto de existir imprensa em português é fulcral “sobretudo para quem está a aprender o que também é o caso do território em que os estudantes podem usufruir deste tipo de ferramentas”, afirma Gilberto Lopes.
Um outro ponto a salientar nesta puberdade da imprensa em Macau foi a inserção de profissionais de língua chinesa numa aproximação à comunidade.
Para Marco Carvalho “os jornais não estariam completos sem estes interlocutores com a comunidade chinesa e, se há uns anos ter estes profissionais era uma excepção, neste momento é o que acontece”.
Gilberto Lopes partilha da mesma opinião, sendo que “no início da década (2001) não havia colegas chineses e agora há, o que é fundamental para que os leitores possam perceber a própria sociedade em que se inserem.
Em jeito de conclusão, Beltrão Coelho não deixa de frisar “a tranquila e promissora durabilidade dos jornais portugueses. É um caso de sobrevivência inédito na História da Imprensa em Macau.”

Por quem lê

Um jornal só se faz com leitores e Mário Duque, arquitecto, refere-se à imprensa de Macau como um “imprensa de fases”. É uma imprensa com flutuações em que há momentos particularmente interessantes em termos de opinião e conteúdos e há momentos de perfeito marasmo que também têm a haver com o marasmo da terra”. Ainda assim a imprensa em Macau não deixou de sofrer um desenvolvimento qualitativo. A opinião é de António Conceição Júnior, criativo, que aborda não só o conteúdo escrito mas também o trabalho gráfico que considera “fundamental para uma boa leitura”. A qualidade e a diversidade dos temas são também aspectos apontados, pelo artista local.

5 Set 2016

Hoje Macau, 15 anos | Barba e borbulhas

[dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]uando o director deste jornal tinha quinze anos, cometeu alguns erros não fundamentais mas fulcrais para a minha vida. Por exemplo, escolheu ser engenheiro químico e, devido a essa decisão, estudou ciências exactas durante dois anos quando o que lhe interessava mesmo eram as ciências humanas. Arrependeu-se? Não. Aprendeu muita coisa que não viria a aprender se, imediatamente, tivesse enveredado pelo caminho das humanidades. E isso hoje é importante para ele.
Aos quinze anos não sabemos bem para onde queremos ir e, sobretudo, ainda não sabemos o que somos. Existem pistas, indícios, uma plataforma cultural e civilizacional onde nos movemos, mas fazemo-lo dotados uma parca consciência e sem sequer dessa fragilidade nos damos conta. Nasce-nos a barba, ainda rala, mas vem coroada de borbulhas. Ou seja, cada coisa é, geralmente, um problema.
Felizmente, temos pais, gente mais velha, amigos, que nos desculpam, nos acarinham e permitem continuar a vida, apesar dos disparates que fazemos. Já não somos crianças a quem tudo é permitido. Já não temos a graça de quem começa, nem a inconsciência tolerada. Somos grandes. De repente, crescemos. Temos quinze anos e ocupamos imenso espaço, muitas vezes sem sabermos o que fazer dele.

*

Confessemos: a vida dos adultos é, aparte do sexo, fundamentalmente aborrecida. E isso, aos quinze anos, olhando à volta, é fácil de perceber. Não que com esta idade se julgue saber mais que os outros: o que se questiona é o valor dessa sabedoria. Afinal, o mundo não é propriamente um lugar idílico para viver. Serão os adultos um modelo a seguir? Parece que não. Tudo nos grita que não. Eu, Hoje Macau, não quero ser como os senhores que fazem o mundo arder sem se preocuparem com quem constantemente se queima nessa fogueira a que chamamos História.
Basta olhar. E não é para o passado, é para o presente e com os olhos postos nos futuro. O que vem aí? Que mundo nos entregam? Ainda há quem se lembre de quando a religião, o racismo, as diferenças de género, o direito do mais fraco à liberdade eram coisas resolvidas, que ninguém pensava poderem regredir, até que, de repente e inesperadamente, vivemos outra vez num mundo de idiotas. O movimento imprescindível que conduziu à educação obrigatória serviu de desculpa para baixar o nível geral da comunicação e isso foi um dos erros (talvez propositado) em que caiu a democracia ocidental.

*

E o que é isto de ser comunicação social? Devo ser informação ou entretenimento? Devo entreter enquanto informo ou deixar cair a informação que me apetece entre duas levas de emoção pura e dura? Caramba! Tenho quinze anos, o mundo é confuso, cada um puxa para o seu lado, nenhum para o meu, e não faço parte de nenhum clube. Nem Igreja , nem Maçonaria; nem Governo, nem Oposição. Não é essa a minha filiação, não foi assim que os meus pais me ensinaram.
Hoje, como há quinze anos, os meus donos são os mesmos. E não, queridos leitores, não sois vós. Não julgais que satisfaço os vossos desejos. Os meus verdadeiros donos são uma coisa que inventei, a que chamo população de Macau. E inventei-a porque ela só existe de forma ténue, mal definida, flutuante. Julgo, no entanto, servir os seus interesses. Quanto mais não seja por me dedicar a fazer jornalismo. A sério. Com o rigor possível e a imaginação impossível. Com a dedicação de quem não tem mais nada para fazer. Nasci para isto e nesta demanda me mantenho. O caminho nunca é óbvio: como ser um jornal numa cidade em que, de uma maneira ou de outra, somos todos primos? Experimentem e verão quantas vezes a vossa face será acometida de um súbito rubor, quantas vezes a consciência vos gritará horrorizada pelo trabalho bem feito e necessário; quantas vezes a emoção não vos obrigaria a tomar outro caminho.
Não sou nenhum herói, muito menos um cruzado. Como vos dizia, não sei exactamente o que sou para além de ser um jornal feito por jornalistas que, como eu, também têm muitas dúvidas sobre o mundo e ainda mais sobre Macau. Esta terra, onde orgulhosamente nasci a falar português, é mais complexa que um labirinto, mais indecifrável que um palimpsesto, mais difícil de ler que um romance do Lobo Antunes.
Talvez por isso ela seja o meu amor. Nós, que escrevemos em português, gostamos de mistérios, de coisas inenarráveis, complicadas, absurdas. Daquelas que só aos poucos vão sendo ditas, sendo despidas, com a lentidão de exasperar um monge. Adoro Macau. A cidade dá-me tudo, sobretudo esta energia estranha que ma faz palmilhar de um lado para o outro e nunca me cansar de nela encontrar novas formas, novas gentes, novas coisas. Por vezes é uma querida; doutras uma bruxa. Mas sempre a roçar o insuportável: impossível de viver com ela, impossível de a largar. É a vida…

*

Tenho quinze anos: peçam-me muito, exijam-me mais, que eu preciso. Ponham-me na ordem quando for necessário. Esperem por uma resposta pronta, talvez violenta, sempre que me atacarem. É que, além de mim, tenho muito a defender. A tal população, lembram-se… e, além dela, os magros princípios que me guiam.
Trouxe-os de um outro continente. Num caso, modifiquei-os.
Eu explico. Mantive, cimeiro a todos, a Liberdade. Não prescindi, nem prescindirei de um desejo de Igualdade, sobretudo de oportunidades, acima de tudo pelo mérito. Resolvi, entretanto, afinar a ideia de Fraternidade. Nunca, de facto, me havia agradado, dadas as suas ressonâncias maçónico-cristãs. Parece que se só destina aos que se consideram irmãos (frater).
E os outros? Os que ousam discordar da seita? Adoptei por isso, no seu lugar o conceito de Ren, aprendido em Confúcio, e que se destina a toda a Humanidade. Nele é vigente a regra de ouro, a saber: não faças aos outros, o que não queres que façam a ti próprio. Nele não admito separações étnicas, religiosas ou de qualquer outra espécie. Nele vivem todos os homens e nele imperará, nesta acepção, uma benevolência extensa a todos os seres humanos. Ele implica, fundamentalmente, educação e cortesia, algo importante para manter a civilidade e a distância.
Dos proletários aprendemos a autenticidade, a importância da luta; da aristocracia pretendemos o refinamento. Da burguesia nada queremos, além dos anúncios.
Sou, por isso, do lado que considera a existência do Outro fundamental para mim. É o caso da minha dita concorrência. Preciso da Tribuna e do Ponto Final; aplaudo a existência do Clarim e do Plataforma. Eles mostram-me como eu não quero ser – e não considerem isto uma crítica – mas uma afirmação de mim pela negativa. Todos a fazemos para existir, para garantir uma identidade, e eu, porque tenho quinze anos, tenho ainda o descaramento de o admitir.
Fossem estes quinze anos um sonho, uma fantasia, e valia a pena ter dormido. Felizmente, sou uma realidade diária, palpável, até legível. Tenho tido comigo gente excepcional. Muitos partiram para outras aventuras porque eu não sou o fim do mundo. Pelo contrário, considero-me um início, um ritual de aproximação, de iniciação. Através de mim, alguns tiveram e têm acesso a um certo Macau e outras coisas para além dele. Talvez não exista melhor mediador. Este é o meu lado ainda inseguro e, por isso, convencido.
Publico, logo existo. Disto eu tenho a certeza. Não tenho, no entanto, certezas quanto à veracidade da minha existência, apesar de publicar. Será que por duvidar, isso me garante que existirei? Adoro paradoxos, essas frases onde o óbvio se esvai e a verdade se insinua. Preciso, simplesmente, de ser publicado. Bem sei que isto é confuso. Talvez um pouco infantil. Só tenho quinze anos. Não sei ainda o que me espera. Nem exactamente o que vou ser. Depende, diria… da barba, das borbulhas e, finalmente, de vós, meus queridos e imprescindíveis leitores.

5 Set 2016