Joana Freitas Manchete SociedadeÁguias Voadoras | Instrutor condenado a seis anos de prisão por assédio sexual [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] instrutor da Associação das Águias Voadoras que foi acusado de assédio sexual a seis menores foi condenado a seis anos de prisão. A decisão foi dada a conhecer pelo Tribunal Judicial de Base, na segunda-feira. O caso remonta a Novembro do ano passado. Um instrutor do interior da China, de nome Jia Shiyu, molestou seis crianças durante a estadia destas num campo militar da Associação. O homem confessou o crime na altura, depois de um dos jovens ter denunciado os actos de abuso junto da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) e das autoridades. De acordo com declarações do jovem, o acto terá sido cometido durante a madrugada, no campo militar das Águias Voadoras de Macau, em Coloane no primeiro de três dias de actividades. De acordo com a Polícia Judiciária (PJ), o instrutor terá tocado nos pénis dos rapazes e feito sexo oral a dois deles. Os seis rapazes tinham entre 12 e 14 anos de idade. As câmaras de vigilância fora do dormitório também registaram o crime. O homem, que estava em Macau com Blue Card, foi condenado por cinco crimes de abuso sexual de crianças e um crime de abuso sexual de educandos e dependentes. Apenas os pais de uma das vítimas exigiu recompensa civil, pelo que o homem foi ainda condenado ao pagamento de 50 mil patacas por danos psicológicos. Sem dinheiro? A DSEJ cortou os subsídios à Associação das Águias Voadoras, sendo que esta recebeu para as actividades em que aconteceram os crimes um milhão de patacas do organismo. O organismo anunciou em Janeiro deste ano que iria suspender a atribuição de subsídios, decisão que foi tomada depois de terem sido ouvidas opiniões dos pais dos alunos da escola que participava nas actividades. Apesar do corte da DSEJ, contudo, a Fundação Macau continuou a dar dinheiro à Associação, que já tinha, contudo, despedido o instrutor. O vice-presidente e director da Associação Águias Voadoras, In Kam Seng, afirmou durante a participação de uma actividade que demitiu o instrutor acusado de abuso sexual de várias crianças no passado que espera que a DSEJ volte a entregar o subsídio, depois de garantir também que já reorganizou o interior da Associação, incluindo a substituição de todos os instrutores e assistentes sociais. Para aumentar a vigilância também já foram instaladas câmaras que funcionam durante 24 horas. O responsável pela Associação referiu que, este ano, como não recebeu financiamento da DSEJ, encontra-se com dificuldades de liquidez. Contudo, ao que o HM apurou em Boletim Oficial, a Associação continua a receber apoio da Fundação Macau, tendo tido 650 mil patacas em Abril deste ano para financiar o plano de actividades. Questionada sobre o assunto, a Fundação Macau não se esclareceu detalhadamente, referindo apenas que, na altura dos abusos não tinha apoiado a Associação. “O projecto da Associação das Águias Voadoras em que houve o alegado caso de suspeita de abuso sexual não compartilhou do apoio financeiro concedido por esta Fundação à dita Associação. Mas a Fundação Macau, na apreciação e autorização dos pedidos de apoio financeiro apresentados pela Associação em causa, cumprindo as formalidades administrativas necessárias, tem sempre analisado, de forma prudente e rigorosa, a qualidade dos projectos apresentados e os benefícios sociais projectados, assim como a segurança dos participantes e a razoabilidade do orçamento apresentado. Além disso, a Fundação Macau fez também apelo à Associação em causa para dar maior importância à protecção dos participantes.”
Hoje Macau EventosMacaense faz investigação sobre crioulo da terra [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]lisabela Larrea está a fazer um doutoramento sobre Comunicação Intercultural e que versa sobre a Identidade Macaense e o Patuá. Para a autora, esta recolha permite revelar muito da história deste crioulo que apareceu no século XVI e que está em risco. Para reunir informação sobre este passado cultural, a macaense tem feito entrevistas e pesquisa sobre o assunto. O objectivo é reunir informação para que o Patuá não desapareça. A autora acredita que cabe também à sua geração desenvolver este trabalho de recolha e compilação, por se tratar da identidade cultural de um povo. O objectivo: deixar um legado escrito, para as gerações futuras. A curiosidade despertou quando em 2007 Elisabela Larrea fez um documentário que se chama “Filhos da Terra” e que versa sobre a identidade de Macau. Depois disso, continuou a estudar o assunto e, como entretanto o Patuá foi classificado pela UNESCO como língua em risco de desaparecer, “uma coisa levou à outra”. Defesa de identidade “Acho que a minha geração também tem de ter responsabilidade de documentar e fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que não deixemos o Patuá desaparecer. Claro que nunca será uma língua para ser falada no dia-a-dia, porque é muito difícil de aprender, mas pelo menos devemos recolher toda a informação possível, para que fique documentado. Já há poucos a falar este dialecto, por isso temos de ser rápidos.” Importante também é não só perceber o que pode a população em geral fazer, mas o que pode e deve o Governo fazer para evitar o desaparecimento definitivo deste pedacinho de identidade cultural, diz Elisabela Larrea, que afirma ter ideias muito precisas sobre várias possibilidades. “Ceder um espaço ao teatro em Patuá, para que pudessem ter um sítio fixo para desenvolverem várias actividades, nomeadamente workshops de teatro. Uma peça por ano no Centro Cultural não chega para garantir a sobrevivência, é preciso mais”, diz, referindo-se ao grupo Dóci Papiaçam de Macau. Defender o Patuá, na opinião de Elisabela Larrea “não é defender uma língua, é muito mais do que isso”. “É uma maneira de ser, de estar. É a cultura, as raízes de um povo. É isto que dá a identidade cultural às pessoas, que lhe dá o sentimento de pertença e é isso que quero continuar a estudar e a documentar para que fique registado e nunca seja esquecido.” O inquérito está a ser levado a cabo online, em www.zh.surveymonkey.com/r/teatropatua. Os resultados deverão ser conhecidos para o próximo ano.
Andreia Sofia Silva Eventos MancheteYao Jingming | Nova obra sobre intercâmbio literário entre Portugal e China O mais recente livro de Yao Jingming, em Chinês, aborda a “História dos intercâmbios literários entre a China e Portugal”. Estão lá os primeiros portugueses, escritores ou missionários, que escreveram sobre a China e as suas gentes [dropcap style≠’circle’]Y[/dropcap]ao Jingming despiu a pele de poeta, tradutor e professor universitário para contar a história dos autores portugueses que, ao longo de 500 anos, escreveram sobre a China. Em a “História dos intercâmbios literários entre a China e Portugal” cabem os relatos de viagens e também os escritos literários sobre o País do Meio, feitos por escritores ou missionários. A obra foi apresentada o mês passado na Feira Internacional do Livro, em Pequim, estando apenas disponível em Chinês simplificado. Ao HM, Yao Jingming falou de um livro que aborda “o tempo primórdio dos contactos feitos entre chineses e portugueses, relatados em obras escritas por portugueses, que nem sempre são consideradas literárias”. Excertos da “Peregrinação”, de Fernão Mendes Pinto (obra do século XVI), ou de Álvaro Semedo, padre jesuíta que escreveu sobre o império chinês, podem ser encontrados. “Os portugueses sempre escreveram muito sobre a China, o carácter dos chineses, os seus usos e costumes. Mas os chineses deixaram poucas coisas sobre Portugal”, concluiu Yao Jingming. A importância de Macau Yao Jingming adianta ainda que Macau assume uma posição de destaque, por ser ponto de passagem de vários escritores. “Apesar de não existirem provas suficientes sobre a vida de Camões em Macau, este facto merece ser abordado e investigado. É uma passagem um pouco lendária, mas porque se tornou uma lenda? Falei então da passagem de Camões, falei da imagem da China na sua epopeia, onde falou da grande muralha e dos chineses, apesar de nunca ter estado na China.” Há ainda a análise a Camilo Pessanha e ao seu paradoxo. “Falei da sua tradução das elegias chinesas. Ele próprio adorava muito a língua chinesa e a tradução, mas desvalorizava a música. Também quis analisar esse aspecto paradoxal.” Faltam obras de chineses Olhando para a história, o poeta e tradutor não deixa de lamentar que ainda haja tanto por escrever e tanto por partilhar. “Queria abrir uma porta para que essa história de intercâmbio literário fique mais estreita. Mas intercâmbio não será talvez o termo mais ideal para esta relação, porque é uma relação um bocado estática, não é dinâmica. Cada um faz as suas coisas.” Macau “é uma prova disso”, considera o autor. “Chineses e portugueses convivem num espaço tão apertado, mas que ligação existe? É um intercâmbio bastante superficial entre as comunidades. Macau, a nível do país, é a mesma coisa. O intercâmbio ainda não é profundo.” Yao Jingming gostaria ainda de ver mais autores chineses a escreverem sobre Portugal. “Há mais escritores portugueses que escreveram sobre a China do que chineses a escreverem sobre Portugal e os portugueses. Uma coisa que lamento é o facto de, até ao momento, não ter sido publicado nenhum livro de um autor chinês a analisar como é Portugal e como são os portugueses. Não há um livro sério sobre este tópico.” Não há ainda planos para a tradução deste livro em Português, o qual poderá ser também publicado em Macau. A obra de Yao Jingming faz parte da colecção “História dos intercâmbios literários entre a China e países estrangeiros”, como é o caso do Reino Unido, Estados Unidos ou países de língua espanhola.
Angela Ka SociedadeCondomínios | Kaifong querem ajustamentos na proposta de lei Responsabilidades acrescidas para associações de condomínios, falta de apoio jurídico ou processos administrativos complexos estão na base das queixas que motivam uma reunião com Comissão Permanente que analisa o Regime Jurídico da Administração das Partes Comuns dos Condomínios. Os Kaifong querem esclarecer as polémicas [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s responsabilidades e obrigações das associações dos condomínios definidas pelo Regime Jurídico da Administração das Partes Comuns dos Condomínios, proposto pelo Governo, não é consensual e os Kaifong pedem uma reunião com a Assembleia Legislativa para entregar um conjunto de opiniões que receberam. Chon Chong, chefe do Centro de Recursos de Gestão Predial dos Kaifong, pede a revisão face à definição das responsabilidades impostas às associações de condomínios na proposta que está a ser discutida na 2.ª Comissão Permanente na AL. As declarações foram feitas no programa Macau Talk do canal chinês da Rádio Macau, em que o dirigente solicita ainda apoio jurídico para os membros destas associações. Em causa está uma recolha de opiniões que os Kaifong têm vindo a fazer acerca da referida proposta e que pretendem apresentar à AL. Para o efeito, tencionam agendar um encontro com a Comissão que tem em mãos a análise na especialidade de modo a esclarecer os assuntos que consideram mais polémicos. Voluntários e responsabilidades Um dos pontos a abordar é a sugestão advinda da proposta de lei para que sejam estabelecidas, de forma voluntária, as associações de gestão de condomínios pelos pequenos proprietários e as responsabilidades e obrigações que os seus membros poderão vir a ter que assumir. Chon Chong alerta ainda para a falta de apoio jurídico para as associações de condomínios na medida em que os seus membros são frequentemente confrontados com situações que envolvem disputas jurídicas. Burocracia a mais Outro aspecto de relevo para o chefe do desenvolvimento predial dos Kaifong é a redução necessária dos procedimentos administrativos no que respeita ao estabelecimento das associações. A sugestão deriva das queixas em grande número que têm referido as dificuldades em conseguir, por exemplo, listas de proprietários. No mesmo programa também teve a palavra Ao Ieong Kuong Kao, vice-director geral da Aliança de Povo de Instituição de Macau, e Mou Wai Hong, representante de um grupo independente que analisa a proposta dos condomínios. Ambos referiram que o trabalho gratuito e a falta de formação em gestão predial dos membros das associações de condomínios associado a novas responsabilidades que a presente proposta traz vão fazer com que não haja interessados em integrar as associações.
Hoje Macau China / Ásia Minoria uigur responsável por ataque a embaixada no Quirguistão [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] ataque suicida contra a embaixada da China no Quirguistão, perpetrado na semana passada, foi organizado por militantes da minoria étnica chinesa de origem muçulmana uigur que combatem na Síria, segundo os serviços secretos daquele país. A mesma fonte detalha que o homem que conduziu o carro, que explodiu após embater contra o portão da embaixada chinesa, era membro do Movimento Islâmico do Turquestão Oriental, um grupo que reclama a independência da região de Xinjiang, no oeste da China. O ataque causou a morte do condutor e ferimentos em dois funcionários da embaixada e numa outra mulher. “A investigação concluiu que o acto terrorista foi ordenado por grupos terroristas uigures, que operam na Síria, e estão filiados com a organização terrorista “Frente al Nosra”, afirmaram os serviços secretos quirguistaneses, citados pela imprensa chinesa. A Frente al Nosra, que em Julho passado anunciou a sua separação da al-Qaeda, é considerada o segundo grupo ‘jihadista’ mais importante na Síria, a seguir à organização extremista Estado Islâmico (EI). A China reivindica que organizações extremistas recrutam membros na região autónoma de Xinjiang, onde vivem os muçulmanos uigures e culpa estas por fomentarem atentados no país, que causaram nos últimos anos centenas de mortos. Em Julho passado um estudo elaborado pelo instituto New America Foundation, com base em Washington, considerou que Xinjiang oferece um “alto potencial” para os recrutadores do EI, devido “às significativas disparidades económicas entre a etnia chinesa maioritária han e a população muçulmana local” e a “forte repressão estatal”.
Joana Freitas SociedadeIACM garante desinfestação no Cemitério de São Miguel [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais assegura que faz eliminação de mosquitos em locais que estão sob a sua alçada, nomeadamente em cemitérios. O esclarecimento surge em virtude da notícia publicada ontem pelo HM, onde uma cidadã dá conta da existência de mosquitos no Cemitério de S. Miguel Arcanjo, devido à “densa” vegetação que existe no local. “O IACM procede regularmente a medidas de controlo de desinfestação de pragas, entre os meses de Abril a Novembro, em vários espaços públicos sob a sua gestão, nomeadamente cemitérios.” O Instituto acrescenta ainda que “procede à eliminação química de mosquitos, aplicando inibidores potentes de metamorfose em lagoas e poços de captação de água para impedir que as larvas se transformem em mosquitos”. Este ano, e devido à “grave ocorrência da epidemia da febre de dengue, o IACM diz ter antecipado as medidas de eliminação de mosquitos para o mês de Março, “durante o qual procedeu à pulverização de insecticidas nos jardins, zonas de lazer e cemitérios”. Uma queixa formal sobre “descuidos” no Cemitério de São Miguel Arcanjo, que leva a que as plantas não sejam aparadas dando um aspecto de abandono ao local, foi entregue ao IACM, no dia anterior à publicação do artigo no HM. Ao que o HM apurou, há ainda outra queixa formal em forma de carta sobre um outro cemitério, o da Nossa Senhora da Piedade, pelo mesmo motivo: as ervas já cobrem as campas. O IACM confirmou que recebeu a carta a 19 de Agosto, estando a “acompanhar o caso”.
Hoje Macau China / ÁsiaConcorrência | Protocolo de cooperação assinado com Portugal Lisboa e Pequim assinaram ontem um protocolo bilateral que visa assegurar condições mais justas de concorrência entre os dois mercados. Esta medida pretende fomentar as trocas comerciais entre os dois países, facilitando as regras de penetração no mercado [dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]ortugal e China assinaram um documento que pretende fomentar a cooperação sobre segurança alimentar, defesa do consumidor e supervisão, para assegurar condições mais justas de concorrência entre os operadores económicos dos dois países. Este instrumento de cooperação bilateral foi assinado pelo secretário de Estado Adjunto e do Comércio, Paulo Alexandre Ferreira, em nome do Estado português, e o vice-ministro chinês, Ma Zhengqi, que tutela a Administração para a Indústria e o Comércio, entidade homóloga da Autoridade para a Segurança Alimentar e Económica (ASAE). Em declarações à imprensa o representante português realçou os benefícios do acordo. “Vejo, este protocolo, mais como um primeiro passo no estreitar de um diálogo que é benéfico para Portugal, na medida que cria proximidades relativamente a um mercado que tem 1,3 mil milhões de habitantes”, afirmou. Mais justiça O acordo prevê a implementação de um programa de actividades de interesse comum, sobretudo ao nível da segurança alimentar e da protecção dos direitos do consumidores vincula do lado português, a ASAE e, do lado chinês, a Administração para a Indústria e o Comércio. O objectivo é a troca de informações relacionadas com as disposições legais, regulamentares, documentos normativos, assim como boas práticas e outras informações que garantam a concorrência leal e a qualidade. Sobre o programa comum, o secretário de Estado português explicou que para a China “será muito importante o enquadramento legal da União Europeia”, tendo em Portugal “uma ponte com quem possa dialogar”. Da mesma forma, a Portugal “interessa fomentar o conhecimento do enquadramento legal da China”, de forma a passar esse conhecimento às empresas portuguesas para permitir “uma penetração mais rápida dos produtos portugueses no mercado chinês”. Reforçar laços Durante a celebração do protocolo, o vice-ministro chinês, Ma Zhengqi, sublinhou que “é preciso olhar para o futuro no sentido de reforçar a cooperação” com Portugal em áreas como a da energia, tecnologias de informação, agricultura, turismo e segurança alimentar. E Paulo Alexandre Ferreira reiterou, sem mais pormenores: “Confirmo que há uma vontade de ambas as partes em aprofundar o relacionamento entre Portugal e a China, no que diz respeito à cooperação económica. Mais investimento chinês em Portugal e a abertura do mercado chinês às empresas portuguesas”. A assinatura do protocolo foi precedida por uma reunião bilateral para reforçar as relações económicas e desenvolver a cooperação nas áreas da defesa do consumidor e dos mercados.
José Drummond h | Artes, Letras e IdeiasQue estamos nós aqui a fazer, tão longe de casa? | O homem sem rosto [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]aphne é tudo culpa minha. Tudo isto. Eu mereço isto. Abandonei a Xiaolian sem sequer olhar para trás. Sem fazer ideia nenhuma que o sofrimento não se apaga. Que o tempo não cura o amor. Daphne as tuas pinturas. Nas tuas pinturas tu foste feliz. Foste feliz? Daphne é tudo culpa minha. O ciúme que tive pelo teu envolvimento com o Chaoxiong. O ciúme cega. E fiz aquilo. Daphne já te podes ir embora. Liberto-te agora desta tua presença. Depois de ter calado as consonantes dos teus olhos enormes que harmonizavam os sons das tuas pinturas voltaste. Sei agora porque voltaste. Não foi uma escolha tua. Não és um fantasma. Voltaste porque eu vivi todo este tempo desde que deixei a Xiaolian sem face. Um homem sem face. Sem honra. Sem vontade própria. Um exemplo miserável da espécie. Um medíocre em todos os aspectos. Voltaste porque eu tinha que chegar a este ponto de te falar na Xiaolian. E de te falar no remorso. Na culpa. No arrependimento. Naquilo que deveria ter feito e não fiz. Naquilo que deveria ter dito e não disse. Naquilo que não deveria ter feito e fiz. Naquilo que não deveria ter dito e disse. É tudo culpa minha. Se eu tivesse sido mais homem. Mais pessoa. Mas não. Fui igual a todos os outros. Um falhado em tudo o que realmente tem importância na vida. Que não é a carreira. Que não é o dinheiro. Que não são as férias em lugares exóticos. Que não são os apertos de mão a pessoas consideradas importantes. Que não são as casas, os carros, as joias, os relógios, as roupas, e todo esse inferno de possessões que não significa nada. Porque quando nos vamos. Quando desaparecemos. Quando desaparecemos de que é que valem essas coisas. De que é que vale esse pavonear de riqueza? Essa falsa riqueza. De que é que vale. A felicidade que se pode comprar com o dinheiro não é real. É momentânea. E de nada vale se dentro de ti não tiveres espaço para perseguir uma vida com real significado. E todas estas vaidades não têm significado. Não escolhemos onde nascemos. Não escolhemos as pessoas que se cruzam connosco. Tu deverias ter sido feliz. Eu deveria ter-te deixado ir com o Chaoxiong. Estive quase para o fazer quando interceptei uma das tuas cartas. As cartas que lhe enviavas quase diariamente do Japão. As pessoas morrem quando não têm mais energia para viver. Quando perdem a esperança. Algo morre. Uma luz que se apaga. Daphne voltei a ter esperança. Passado tanto tempo. A dor não significa nada. A dor só nos retrai. Vi a Viúva torturar lentamente a Empregada do Bar que serviu de penso rápido para toda a minha estupidez. Vi a Viúva cozinhar o cérebro desta pobre pessoa que não tem culpa nenhuma de se ter cruzado comigo. Daphne eu sei, percebo agora, que realmente a culpa é toda minha. E que mereço isto. Mereço este último desafio. E que só eu posso travar tudo o resto de terrífico que possa acontecer às pessoas que eventualmente se cruzaram comigo. Sem amor. Como pode uma pessoa passar praticamente toda a sua vida sem amor? Mais vale a morte? Será o silêncio uma morte? As memórias do amor são agora vívidas. Será que vivi sem viver? Olho para trás. Aquilo que mais amei na minha vida, mais o destrui. “Each man kills the thing he loves”1. Daphne. Pode ser que este seja o único momento de lucidez na minha vida. Um homem sem face. Sem rosto. Redescubro-me. Existi apenas naquele caso de amor com a Xiaolian. E todas as minhas tentativas para encontrar um amor como o dela foram falhadas. Daphne. Tu também. Daphne. Derramei a minha vida sem significado e arrastei os outros. Envergonhado de mim próprio desapareci. A Viúva queria que eu acabasse com o Estripador. Seria essa a minha redenção quanto a ela. Matar-lhe o filho. Matar o teu Chaoxiong que enlouqueceu e que te procura em cada mulher que esfaqueia. À procura do bebé que trazias contigo quando os meus dedos foram os de um pianista no teu pescoço. Tenho apenas mais uma coisa para te dizer. Não o farei. Sei que não é esse o meu destino. Espera. A Viúva está mais nervosa que nunca. Aumentou o volume do som da televisão. “O misterioso criminoso apelidado como o Estripador foi encontrado morto esta tarde pela polícia. Os motivos que levaram este homem a fazer o que fez são completamente desconhecidos. A testemunha que encontrou o corpo do Estripador diz julgar ter visto o vulto de uma mulher a desaparecer.” Daphne não sei o que dizer. Mas o sofrimento dele seria horrível. Talvez agora a sua alma se encontre com a tua. É isso que desejo do fundo do meu coração. A Viúva está desolada. Completamente desolada. Todos os seus planos falham agora. O remorso. A culpa. O arrependimento. Daphne obrigado por tudo. Podes ir agora. Eu sei finalmente o que fazer. A campainha da porta. Quem será agora? Xiaolian? Oscar Wilde, “The Ballad of Reading Gaol” Fim da primeira parte
Manuel Afonso Costa Fichas de Leitura h | Artes, Letras e IdeiasUm Cântico Agónico e a Nostalgia do Tempo que Passa (continuação) [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]esde o princípio se percebe que Lampedusa não é socialmente neutro e que portanto a sua tipologia social — e não nos podemos esquecer que o romance é tipológico — se insere na linha da captação dos chamados ideal tipos weberianos embora o sociólogo de eleição para o autor seja Vilfredo Pareto, com a sua Teoria dos Resíduos e da Circulação das Elites. Em qualquer dos casos o romance é histórico no plano factual, no plano do cenário escolhido e no plano do enquadramento epocal, mas profundamente sociológico na medida em que aparece centrado sobretudo nas transformações sociais que se dão nessa época da história. Claro que o romance poderia continuar a ser considerado apenas histórico na medida em que foi escrito nos anos sessenta do século XX e portanto algumas décadas já depois da eclosão da Escola do Annalles que se manifestou muito sensível às durações, às conjunturas e estruturas mas ainda mais às oscilações de conjuntura por um lado e sobretudo às grandes mutações estruturais (A Escola dos Annalles é muito sociológica). Essas épocas de grande mudança são de uma enorme riqueza, pois os arquétipos na sua oscilação fazem oscilar tudo à sua volta. As transformações sociais e económicas entrelaçam-se com transformações culturais e de mentalidade e até com profundas revoluções no gosto e com as actividades estéticas. Lampedusa foi de uma enorme coragem ao escolher a época que escolheu, ao escolher o tema que escolheu, no enquadramento histórico em que o fez, ao escolher as personagens que escolheu, portanto na decisão que teve de elaborar um romance genuinamente tipológico. Claro que não é caso único na História da Literatura, e bastaria, sendo parcimonioso nos exemplos, referir apenas no mesmo século o Homem Sem Qualidades de Musil ou Os Sonâmbulos de Broch, ou mudando de século, O Vermelho e o Preto de Stendhal, e até As Ilusões Perdidas de Balzac. Embora o paradigma por excelência e o clássico dos clássicos do género, seja o Dom Quixote de la Mancha de Cervantes. No plano do conteúdo factual em sentido estrito o romance narra uma parte da vida de uma família aristocrática e em larga medida feudal, onde contudo se evidencia a personalidade fascinante de Fabrizio Corbera, Príncipe de Salinas. Na pena de Lampedusa, Fabrízio representa uma espécie de anti-herói ou de anti-clímax, na medida em que assiste de forma indolente à decadência do modelo social que protagoniza e da estrutura política que a suporta, a Monarquia Absoluta, embora anémica, dos Bourbons. O cenário é a Sicília, região italiana imobilizada no tempo e tão idiosincrática que todos ou quase todos, seja qual for a classe social, a pensam inviolável nos seus pressupostos socio-culturais. Uma espécie de inércia atávica que não é indissociável do clima e da história, mantém ou parece manter inalteráveis os quadros de referência mental, embora saibamos, historicamente falando, que o tempo esse grande escultor vai modulando lentamente outras realidades. Contudo Tancredi, sobrinho órfão do Príncipe Salinas, o Tiozão, é de facto certeiro e premonitório quando diz ao tio a frase mais célebre do livro: “Se queremos que tudo fique como está, é preciso que tudo mude“. A frase fica melhor invertida e foi talvez nessa forma mais incisiva que se imortalizou: “É preciso que tudo mude para que tudo fique como está”, quer dizer, que tudo fique na mesma. Com o tempo o primeiro tudo acabou por dar lugar ao mais moderado e sensato, “… que alguma coisa mude …”. E assim o apotegma gnómico acabou por cristalizar na forma: “É preciso que alguma coisa mude, para que tudo fique na mesma”. O tempo histórico é o abrasador período do Risorgimento e da Unificação Italiana tardia sob a liderança de um condottieri de nome Garibaldi, mas sob a égide da Republicana Jovem Italia de Mazzini e Cavour. Porém, no ambiente já de si abrasador mas indolente da Sicília nada parece mudar o que permite ao Leopardo continuar a mover-se com elegância entre os chacais. A personalidade olímpica de Fabrizio Corbera, a sua oposição de fundo à mudança, o seu conservadorismo aristocrático constitui o elemento chave do romance para o mal e para o bem. Passo a explicar-me melhor. Compreende-se que um aristocrata de meados do século XIX, membro de uma elite já completamente obsoleta e anacrónica se oponha a qualquer transformação que seria e representaria sempre o princípio do fim. Esta atitude contém um elemento de galhardia e grandeza, mas também de insensatez. Mais avisado e astucioso é o seu sobrinho, Tancredi Falconeri, que de resto não tem património próprio e vive a expensas da magnanimidade do tiozão, o Grande Predador solitário, o Leopardo. Daí que seja de Tancredi e não de Fabrízio a célebre frase citada que também, só por si, imortaliza o livro. No plano da estrutura narrativa a opção pelo narrador omnisciente com um pé fora e outro pé dentro dos factos e da época permite um realismo e uma verosimilhança muito ambivalente e nesse plano muito sedutora. E é esse estratagema que permite conferir ao mesmo tempo realismo e romantismo às personagens. No plano estilístico a obra de Giuseppe Tomaso di Lampedusa tem um poder descritivo arrebatador usando de uma forma inédita, penso eu, uma forma de intertextualidade entre os elementos físicos do décor e os elementos simbólicos, associados, para reconstituir a materialidade tridimensional da natureza da realidade e dos elementos artísticos decorativos e tudo isto através de um jogo tão sedutor que se torna por vezes abstracto e irrepresentável. Nesse domínio o autor logra uma obra quase inultrapassável no plano do esteticismo decadentista, aqui e ali com alguns desnecessários excessos barrocos. O início do romance em que o autor usa os murais dos seus salões como signos que pontuam o ritmo da descrição e do discurso é para mim sinceramente digno de figurar numa antologia de primeiros capítulos de todos os romances que conheço. Permitam-me um parágrafo só para estimular o desejo: “«Nunc et in Nora mortis nostrae. Amen.» Terminara a oração quotidiana do rosário. Durante meia hora, a voz pacata do Príncipe tinha evocado os Mistérios Dolorosos; durante meia hora, misturaram-se outras vozes tecendo um murmúrio ondulante em que se destacavam as florinhas de ouro de palavras invulgares: amor, virgindade, morte; e, enquanto durava aquele murmúrio, o salão rococó parecia ter mudado de aspecto; até os papagaios que abriam as asas irisadas na seda da tapeçaria tinham o ar de intimidados; a própria Madalena, no meio das duas janelas, mais parecia uma penitente em vez de uma bela louraça, distraída sabe-se lá com que devaneios, como se via sempre. Agora, tendo-se calado a voz, tudo reentrava na ordem, ou na desordem, habitual. Pela porta por onde tinham saído os criados, entrou abanando o rabo o alão Bendicò, magoado com a sua exclusão. As mulheres levantavam-se lentamente, e o oscilante refluir das suas saias a pouco a pouco ia deixando descobertas as nudezes mitológicas que se desenhavam no fundo leitoso da tijoleira. Só restou coberta uma Andrómeda a quem a batina do padre Pirrone, retardado pelas suas orações suplementares, impediu a visão do argênteo Perseu que sobrevoando as vagas acorria em seu auxílio apressado pelo antegozo do beijo. No fresco do tecto despertaram as divindades. As alas de Tritões e de Dríades, que dos montes e dos mares, por entre nuvens cor de framboesa e ciclame, se precipitavam sobre uma transfigurada «Concha de Ouro» para enaltecer a glória da Casa de Salina, pareceram de repente colmadas de tanta exultação, que se descuravam as mais simples das regras da perspectiva; e os deuses maiores, os Príncipes dos Deuses, Júpiter fulgurante, Marte carrancudo, Vénus lânguida, que haviam antecedido a turba dos menores, sustinham de bom grado o brasão azul-celeste com o Leopardo. Eles sabiam que, agora e durante vinte e três horas e meia, retomariam a posse da villa. Nas paredes, os macacos recomeçaram a fazer gaifonas às catatuas. Por baixo daquele Olimpo palermitano, também os mortais da Casa de Salina desceram à pressa das esferas místicas(…)”. Acima deixei passar impune a questão dos chacais, é chegada a hora de voltar ao tema. É Giuseppe Tommasi di Lampedusa, ele próprio um aristocrata, quem assim designa a classe ascendente, a burguesia, através de alguns dos seus membros, mais fáceis de caricaturar, como é o caso de Dom Calogero, pai da bela e sensual Angelica. Angelica que se virá a tornar a esposa de amor e conveniência do azougado, sedutor e pragmático Tancredi. Ora, esqueçamos lá agora por um bocado a figura altaneira e imponente do Príncipe de Salinas e o carácter rapace e agiota de Dom Calogero e centremo-nos momentaneamente no processo histórico real, tal como o conhecemos através de muitas narrativas quer no plano dos documentos da época quer no plano das reconstituições globais, analíticas, sintéticas e racionalmente compreensivas. Quem eram afinal os chacais!? Quem levou a exploração sobre o mundo camponês até ao patamar da mais torpe ignomínia. Quem é que abusou de forma tão imoral dos mais desprotegidos, destruindo-os nas suas capacidades vitais e atentando de modo infame contra a dignidade de seres humanos reduzidos a coisas sem préstimo e sem quaisquer direitos, ultrapassando até o limiar da racionalidade pois o excesso de exploração e de humilhação foi tão grave que amenizando os camponeses feriu de morte a fonte das suas próprias rendas. Isso foi algo que Marx teorizou muito bem: a sobrexploração torna-se contraproducente e irracional. Mas foi o que aconteceu um pouco por toda a Europa ao longo do Antigo Regime. Portanto quem foram os verdadeiros chacais senão essa aristocracia terratenente que asfixiou a própria fonte dos seus rendimentos levando o seu parasitismo até ao limiar da destruição do hospedeiro que o alimentava. E é por isso que o aristocrata Lampedusa ao construir como paradigma do fim de uma época uma figura tão romanticamente concebida de algum modo falha o scopo da perfeição. Não se pode falhar tanto a realidade e a verdade histórica. De algum modo, é uma questão de decência. Claro que existiram os Príncipes de Salinas e claro que existiram também os Calogeros, mas como no romance só aparecem estes, eles tornam-se paradigmáticos dos grupos sociais que representam e é nesse sentido que o romance no plano tipológico fica empobrecido e algo maniqueísta. E em termos históricos, pode-se dizer que falseia a realidade. E é injusto! O mundo não era assim. O mundo de Antigo Regime era bem diferente e as relações entre os terratenentes feudais cobradores de rendas eram muito mais cruéis, desumanas e rapaces também à sua maneira e finalmente as relações entre os camponeses miseravelmente sobrexplorados e os seus senhores não eram nada idílicas como o romance faz subentender. Com todo o respeito pelos Príncipes de Salinas, que os havia, pululavam indivíduos pérfidos e prepotentes que exploravam de uma forma vergonhosa e ignóbil os camponeses e que os tratavam pior do que tratavam os animais. Lembrem-se dos mecanismos de tortura que esses senhores possuíam e utilizavam nos seus cárceres privados no exercício de uma justiça privada também. Lembrem-se de filmes como O Amante da Rainha onde um camponês é encontrado morto num instrumento de tortura e de morte, designado por O Cavalo, ou como no Rob Roy, os aristocratas ingleses abusam das mulheres de uma aldeia praticamente nas barbas dos maridos e do filhos. Lembrem-se do direito de pernada do qual há provas em França até 1789 e que na nossa querida Sicília terra de Leopardo, chegou até meados do século XIX. Será que dá para fazer uma pequena ideia para os camponeses sicilianos em pleno século XIX, a humilhação de terem de oferecer as filhas e futuras mulheres ao senhor feudal. Afinal quem eram os chacais? Claro que alguns autores têm vindo a procurar reduzir o alcance deste abuso monstruoso numa Europa já tão humanizada e civilizada e eu próprio admito que não fosse uma prática corrente, mas que há fundamentos factuais ao nível das fontes textuais, lá isso há. Mesmo que não fosse, no final do século XVIII e na primeira metade do século XIX, uma prática generalizada… seria sempre, como foi, infame. Volto no entanto a um ponto importante e faço-o para que estes últimos parágrafos não possam ser mal entendidos, O Leopardo de Giuseppe Tommasi di Lampedusa é uma obra prima e um dos meus livros preferidos. Pois que, com o senão de ser uma abordagem parcial, conta magistralmente o lado decadente de uma aristocracia moribunda a estrebuchar, no caso com dignidade, contra os ventos inexoráveis da História. Há sempre algum lirismo e alguma melancolia em todas as épocas que se confrontam com os seus demorados processos de agonia. Vem por vezes ao de cima a par do desespero um profundo sentimento da beleza que pode haver na fragilidade humana e também na sua grandeza caída. O Príncipe de Salinas irá prevalecer sempre, e Tommasi di Lampedusa é o responsável, como o que de melhor podem produzir as aristocracias e como um exemplo de como podem cair os gigantes. E por aqui me fico!
Leocardo VozesSopa de prédio [dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]ara o artigo desta semana pensei em falar na saída da Uber e na chegada “coincidente e oportuna” da sua irmã TaxiGo!, mas o assunto tem sido por demais escamoteado nas redes sociais e afins. Depois ponderei falar do tema dos uniformes da Escola Portuguesa de Macau, nomeadamente da polémica em torno da questão dos sapatos, mas isso requeria pesquisa para a qual me falta tempo, e sinceramente o assunto “cheira mal” – e nem é dos sapatos, uma vez que parece que ainda não estavam à venda, e a EPM já fazia finca-pé para que os alunos os usassem. Coisas de Macau. Assim no seguimento do artigo da semana passada, que versou sobre caixas de arroz, sopas de fitas e a escravatura a que o preço do imobiliário vetou a população, decidi debruçar-me esta semana sobre gastronomia. Nem de propósito, pois ainda na semana passada ficámos a saber que as futuramente renovadas Casas Museu da Taipa não vão ter um parque infantil – perdão, um “restaurante tipicamente português”. Isto apesar do entusiasmo inicial por parte de alguns (de alguém certamente, não sei ao certo quem), após ter sido prometido, “qué d’zer” que esse espaço seria um dos atractivos, “qué d’zer”, da zona do Largo do Carmo, agora pensada, “qué d’zer” para ser mais um, “qué d’zer”, pólo de atracção turística, “qué d’zer”. (Peço desculpa, mas agora quando falo de qualquer coisa relacionada com o Turismo, dá-me este tique de meter uns quantos “qué d’zer” no meio de cada frase. Se calhar pega-se). No fim de contas “mou ha”, não vai haver nada para ninguém, e se calhar até é melhor assim. É que no fundo este restaurante português ia ser apenas “Maizum” (podia muito bem ser esse o seu nome), e se a ideia era oferecer “algo especial e diferente”, tipo fadunchos ou algo que lhe valesse, a especialidade da casa seria “os olhos da cara”, a ser servida na altura de pagar a conta. E falando de contas, nunca se sabe se depois não acontecia a estes “lusitanos” o mesmo que aos outros da casa amarela aqui atrasado, e não eram corridos dali para fora à custa de algum pretexto economicista-empresarial, e o fado ia ser outro – o do costume, aliás. Pode-se dizer, portanto, que “estava escrito nas estrelas”. Era uma relação em que a moça ia acabar com magoar o cachopo, de tão castiça que leva de fama. O que eu propunha mesmo era um espaço que combinasse a vontade de comer com a fome da aquisição de suculenta posta do imobiliário. Um restaurante que necessitasse de dentes de leão, um estômago de ferro, e uma garganta bem larga para poderem passar alguns sapos. Não que os batráquios fizessem parte da ementa, pois essa seria, repito, algo completamente inédito, e que nem os chefes mais ousados da cozinha de fusão se atreveram a arriscar. Eis o “menu du jour” do restaurante…Sopa de Prédio! ENTRADAS Acabamentos sortidos: um “must”; estuque, tijolo, areia e pedaços de madeira dos acabamentos das habitações económicas de Macau. Seleccionado pelo próprio chefe, que foi “in loco” colher os ingredientes, com um firme pontapé numa esquina da sala-de-estar, garantindo assim não só os produtos mais frescos, mas também os mais amadurecidos. Au point! SOPA Sopa de Prédio: a especialidade da casa, e que também dá o nome ao restaurante. Não é o que se pode considerar uma sopa “enfarta-brutos”, ao contrário da sua congénere Sopa de Pedra, mas contém betão, tijolo e pedra escolhidos a dedo pelos operários mais brutos. PRATO PRINCIPAL Revestimenti con tutti: o nome em italiano não é por acaso, pois trata-se de um prato inspirado na transalpina lasagna. Uma argamassa servida em camadas de vigas e ripas de cimento pré-esforçado, “molto ai o dente”. Depois de algumas queixas de clientes que afirmam ter encontrado pedaços de caixas de esferovite tipo “ta bao” e garrafas de plástico vazias no seu “revestimenti”, o próprio chefe assegura a qualidade do betão, que assim é armado apenas, e não armado em parvo. SOBREMESA: Toucinho do chão: com escolha de soalho em azulejo, ou madeira de faia ou carvalho. A carta de vinhos inclui o afamado Chatêaux Dyrup, ou para quem prefere os vernizados, o Suvinil Reserva 2009. Não se aceita cartão de crédito, mas há uma tentadora oferta de um frasco de laxante na eventualidade de uma segunda hipoteca. Bon apétit!
Hoje Macau China / ÁsiaComércio entre China e PLP caiu 12,25% até Julho [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] comércio entre a China e os países de língua portuguesa caiu 12,25% nos primeiros sete meses do ano, face ao período homólogo de 2015, indicam dados oficiais ontem divulgados. Segundo estatísticas dos Serviços da Alfândega da China, publicadas ontem no portal do Fórum Macau, as trocas comerciais entre a China e os países de língua portuguesa totalizaram 51,50 mil milhões de dólares entre Janeiro e Julho. Pequim comprou aos países de língua portuguesa bens avaliados em 35,73 mil milhões de dólares – mais 0,44% – e vendeu produtos no valor de 15,76 mil milhões de dólares – menos 30,84% face aos primeiros sete meses de 2015. O Brasil manteve-se como o principal parceiro económico da China, com o volume das trocas comerciais bilaterais a cifrar-se em 38,23 mil milhões de dólares, valor que traduz uma queda de 9,36% em termos anuais homólogos. As exportações da China para o Brasil atingiram 11,60 mil milhões de dólares, menos 33,79%, enquanto as importações chinesas totalizaram 26,63 mil milhões de dólares, reflectindo uma subida de 8%. Com Angola, o segundo parceiro comercial da China no universo da lusofonia, as trocas comerciais caíram 27,69%, para 9 mil milhões de dólares. Pequim vendeu a Luanda produtos avaliados em 942,8 milhões de dólares – menos 60,64% face aos primeiros sete meses de 2015 – e comprou mercadorias avaliadas em 8,05 mil milhões de dólares, menos 19,84%. Com Portugal, terceiro parceiro da China no universo lusófono, o comércio bilateral ascendeu a 3,14 mil milhões de dólares– mais 23,13% –, numa balança comercial favorável a Pequim, que vendeu a Lisboa bens na ordem de 2,34 mil milhões de dólares – mais 41,21% – e comprou produtos avaliados em 799 milhões de dólares, menos 10,46%. Em 2015, as trocas comerciais entre a China e os países de língua portuguesa caíram 25,73%, atingindo 98,47 mil milhões de dólares (90,60 mil milhões de euros ao câmbio da altura), a primeira queda desde 2009. Os dados divulgados incluem São Tomé e Príncipe, apesar de o país manter relações diplomáticas com Taiwan e não participar directamente no Fórum Macau. Conferência a caminho China estabeleceu a Região Administrativa Especial de Macau como a sua plataforma para o reforço da cooperação económica e comercial com os países de língua portuguesa em 2003, ano em que criou o Fórum Macau (Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa), que reúne a nível ministerial de três em três anos. A próxima conferência ministerial – a quinta desde 2003 – vai realizar-se nos próximos dias 11 e 12 de Outubro. A conferência vai ter por base a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, estando o foco apontado ao desenvolvimento, “de modo a promover as relações económicas e comerciais entre a China e os países de língua portuguesa”, segundo anunciou na quinta-feira o governo de Macau. “Uma Faixa, uma Rota” é a versão simplificada de “Faixa Económica da Rota da Seda e da Rota Marítima da Seda para o Século XXI”, o projecto de investimento impulsionado pela China para reforçar a sua posição como centro comercial e financeiro da Ásia.
Joana Freitas Manchete SociedadeRádio-Táxis | Vice-presidente da Associação das Agências de Turismo ganha licenças. Chow fora da corrida Chama-se Companhia de Serviços de Rádio Táxi Macau, pertence ao vice-presidente da Associação de Agências de Turismo e vai ser a nova responsável pelos cem rádio-táxis que vão recomeçar a circular no território. O Governo escolheu esta empresa como a vencedora do concurso público, deixando de fora David Chow. A Companhia promete carros com internet, diversidade na forma de chamar os táxis e só cobra a chamada [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stá escolhida a nova empresa que vai liderar os serviços de rádio-táxi, substituindo a Vang Iek, e que vai trazer de volta os táxis amarelos. A Companhia de Serviços de Rádio Táxi Macau conseguiu vencer o concurso para a atribuição das chamadas licenças especiais, deixando para trás a outra única concorrente, uma empresa de David Chow. A concessão das licenças tem um prazo de oito anos, sendo que inicialmente entram ao serviço 50 carros, algo que deverá acontecer no primeiro semestre do próximo ano. O contrato não foi publicado em Boletim Oficial visto não ter sido ainda assinado, exige também que a Companhia de Serviços de Rádio Táxi Macau tenha os restantes 50 veículos em circulação “no prazo de um ano desde a data do início da operação”, como indica um comunicado do Executivo. Apesar de ter sido inicialmente excluída do concurso público por falta de documentos, a Companhia de Serviços de Rádio Táxi foi aceite depois de ter interposto um recurso. Na segunda-feira, e depois da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) ter indicado ao HM que os resultados saíram entre meados de Setembro e final de Novembro, Raimundo do Rosário foi encarregue de assinar o contrato com a empresa. Só ontem é que a DSAT anunciou que a empresa tinha vencido o concurso. Dos requisitos Uma vez que era uma das exigências do concurso, a empresa deve disponibilizar, pelo menos, cinco táxis adaptados para deficientes e dez táxis de grande porte. Parte dos custos de dez táxis acessíveis – assim chamados no caso dos que se adaptam a deficientes – comprados pela empresa pode ser retribuído pelo Governo, “desde que sejam aprovados pela DSAT os respectivos modelos, características e preços”, como indica o Governo. A empresa tem ainda de criar uma Central de táxis especiais que funcione 24 horas por dia para atender os clientes e, além de disponibilizar a marcação de serviços de táxi por telefone, tem de permitir esta possibilidade através de um site e de aplicações móveis. Mais ainda, indica o Governo, “deve-se explorar outras formas de marcação de táxis conforme o desenvolvimento social, a fim de possibilitar também a utilização do serviço por parte de pessoas com carências”. Em 2019, dois anos depois de iniciar operações, a empresa pode apresentar uma proposta para actualizar as taxas de serviços destes veículos, sendo que o Governo é quem tem a palavra final sobre esta actualização “tomando como referência as mudanças do Índice de Preços no Consumidor e a qualidade do serviço, a remuneração média dos empregados, o preço de venda de combustíveis para veículos e as tarifas dos táxis na altura”. A empresa tem de pagar ao Governo seis mil patacas por ano, estando, contudo, sujeita a multas no caso “dos padrões de serviço prestados não conseguir reunir os requisitos” exigidos pelo Governo. Requisitos que passam pela rácio de atendimento das chamadas e do número de carros em operação. A melhor A atribuição destas cem licenças especiais chega dois anos depois do Governo ter desfeito o contrato com a empresa Vang Iek, em Novembro de 2014, por esta não ter cumprido os critérios visados no contrato. Já a empresa queixava-se de não poder cobrar taxas especiais, algo que o Governo permitiu às novas concorrentes. E foi aqui que a Companhia de Serviços de Rádio Táxi marcou pontos. “A Lai Ou (de David Chow) sugeriu uma taxa de chamada e uma taxa de hora marcada de 15 patacas cada, bem como uma taxa de ausência de cinco patacas. A Companhia de Serviços de Rádio Táxi sugeriu que a taxa de chamada é de cinco patacas e não cobra a taxa de hora marcada, nem taxa de ausência”, indica a DSAT, que diz que, além disto, a empresa apresentou um conteúdo mais privilegiado do que as condições estipuladas no caderno de encargos, como por exemplo wi-fi nos carros, sistema de diagnóstico a bordo e um centro de serviços ao cliente. A decisão de aceitar esta empresa surgiu depois de um recurso da empresa, que tinha errado no preenchimento de um documento, permitindo que esta se juntasse à Lai Ou, empresa de David Chow – detentor da Macau Legend. O empresário, responsável por empreendimentos como a Doca dos Pescadores, constituiu a nova empresa especificamente para este investimento, que estava já delineado em 70 milhões de patacas e Chow tinha até 30 Mercedes prontos. O HM tentou obter uma reacção do empresário, mas até ao fecho desta edição não foi possível. A Companhia de Serviços de Rádio Táxi pertence a Cheong Chi Man, vice-presidente da Associação de Agências de Turismo de Macau, membro do Centro de Arbitragem do World Trade Center e presidente-executivo da Juvenil International Travel Lda. TaxiGo foi uma das candidatas Agora é uma aplicação móvel, mas a TaxiGo chegou a ser uma das candidatas às cem licenças especiais de táxis. Isso mesmo confirmou Kyle Ho, responsável da empresa, ao HM. A Companhia TaxiGo S.A. não foi admitida por “os documentos não reunirem os requisitos”, como indica um comunicado do Governo. Ontem, em explicações pedidas pelo HM, Ho frisou que, apesar de haver “diferenças” entre a empresa que se candidatou e a que agora lançou a aplicação móvel – ainda que com a mesma gestão – o objectivo era o mesmo. “A nossa visão era a mesma: criar uma boa experiência [do serviço] e transformar o serviço de táxis.”
Joana Freitas Manchete SociedadeRenminbi | Portugal e PLP “vão ajudar” à internacionalização da moeda chinesa A criação do sistema de liquidação imediata do renminbi foi o primeiro passo para a internacionalização da moeda chinesa e a utilização de Portugal e dos Países de Língua Portuguesa como via para esse objectivo é o segundo passo. A menos de um mês do renminbi entrar no FMI, a comunicação do presidente da AMCM em Lisboa incidiu sobre aquilo que é uma das formas de abertura da China ao mercado internacional [dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]á foi concluído no primeiro semestre o sistema de liquidação imediata de renminbi e agora o próximo passo é que os Países de Língua Portuguesa sirvam como meio para a internacionalização da moeda chinesa. É o que explica o presidente da Autoridade Monetária de Macau (AMCM) que relembrou, num seminário em Portugal, que o renminbi vai fazer parte do Fundo Monetário Internacional (FMI) (ver texto secundário). O organismo dirigido por Anselmo Teng frisa no seu relatório anual de 2015 que estavam em marcha os trabalhos para a construção do sistema de liquidação imediata em tempo real em renminbi de Macau, sistema que foi concluído dentro do calendário previsto, no primeiro semestre deste ano, em Março. Numa resposta mais detalhada ao HM, a AMCM explica que o sistema serviu para facilitar também os negócios entre o território e os países de expressão lusa, de uma forma que veio ajudar Macau a firmar-se ainda mais como plataforma. “Através da ligação com o China National Automatic Payment System (CNAPS), [este sistema] concretizou as facilidades de serviços de liquidação transfronteiriços em renminbi, alargando os meios de movimentação bilateral [da moeda]. Paralelamente, reforçou a ligação económica e comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa e elevou o papel de Macau como plataforma de serviços financeiros entre a China e [esses países], para consolidar as bases futuras”, indica o organismo numa resposta ao HM. No seminário onde esteve presente, em Portugal, o presidente da AMCM reiterou esta ideia. É o próprio continente quem quer usar não só os Países de Língua Portuguesa, mas também Portugal como meio para a internacionalização da sua moeda, sendo este um dos objectivos estratégicos do Governo Central. “A adesão formal, a partir do dia 1 do próximo mês, do renmimbi aos direitos de saque especiais do Fundo Monetário Internacional simbolizará um importante marco no caminho da internacionalização [da moeda]. Com o avanço contínuo desta etapa, estamos crentes de que o renminbi será cada vez mais procurado no mercado internacional e será uma moeda de ampla utilização (…)”, disse Anselmo Teng, no seminário”Serviços financeiros, estímulo e cooperação entre a China e os Países de Língua Portuguesa, com a RAEM como plataforma”, que contou com a Caixa Geral de Depósitos na organização. “Com base no volume de importações e exportações entre a China e os países de língua portuguesa, ascendendo a 98,5 biliões de dólares em 2015 (…), pode-se verificar que o espaço de desenvolvimento associado ao uso transfronteiriço do renminbi nas relações comerciais a desenvolver pela China e pelos Países de Língua Portuguesa será muito amplo”, frisou ainda. Foco das atenções Na resposta ao HM, a AMCM relembra que as Linhas de Acção Governativa sempre tiveram como objectivo “reforçar a plataforma de serviços comerciais entre a China e os Países de Língua Portuguesa, promover a cooperação com os serviços financeiros regionais, manter em geral o desenvolvimento estável da economia e aperfeiçoar continuamente as infra-estruturas financeiras de Macau”. Algo que está constantemente a ser falado, mas que ocupa, agora, um lugar mais elevado devido ao 13.º Plano Quinquenal do Governo chinês. Plano que tem, entre os seus objectivos, abrir o mercado de capitais do país e desenvolver a moeda chinesa, pelo que as várias autoridades do país estão a reforçar as relações com o exterior nesse sentido. Também o director-geral do Shanghai Municipal Financial Services Office, Zheng Yang, salientou em Lisboa a necessidade de reforçar as relações comerciais entre o mercado português e a China, considerando que “Portugal é o mais importante parceiro de negócios da China na União Europeia”, enquanto a “China é o décimo maior mercado das exportações e o sétimo maior mercado das importações de Portugal”. Zheng Yang defendeu que é altura de haver uma melhoria na “cooperação em serviços financeiros entre Xangai, Macau e Lisboa”. Xangai é um dos mais importantes centro de negócios e financeiro do continente. Também o responsável pela representação em Lisboa do Bank of China, Xiao Qi, afirmou que o banco está muito envolvido na internacionalização da moeda chinesa e oferece uma série de produtos e serviços em renmimbi nos 50 países e regiões em que está presente, incluindo em Portugal. Actualmente, o sistema de liquidação imediata em tempo real em renminbi de Macau tem 28 instituições financeiras. Presta serviços de liquidação aos clientes dos bancos, no âmbito dos câmbios da moeda chinesa e de transferências de fundos nessa moeda entre os bancos. Para a AMCM, o funcionamento do sistema traz também um aperfeiçoamento das infra-estruturas financeiras de Macau. “Não só beneficia a gestão do risco de liquidação em renminbi e eleva a eficácia da liquidação, como também promove o aprofundamento da cooperação financeira regional”, reforça a AMCM. O sistema demorou 15 meses para entrar em vigor, depois de testes e ensaios virtuais. Avaliações concretas sobre o sistema não as há, mas a AMCM assegura que este está “a funcionar estável e fluentemente”. O seminário em Lisboa contou com a presença de um membro da nova administração da Caixa Geral de Depósitos, Emídio Pinheiro, que frisou que o banco público quer ajudar nas ligações comerciais entre Portugal e a segunda maior economia do mundo. Moeda chinesa entra no FMI a partir de 1 de Outubro Foi no ano passado que o Fundo Monetário Internacional confirmou a inclusão do renminbi no seu cabaz internacional de divisas. A partir de Outubro, que é, coincidentemente, Dia Nacional, a moeda do continente vai servir para calcular o valor dos direitos de saque especial, que servem como referência para os empréstimos concedidos pelo FMI. A inclusão do renminbi vai fazer com que a moeda se junte ao grupo, que analistas económicos descrevem como restrito, de moedas com estatuto de reservas internacionais. São elas o dólar, o euro, a libra e o iene japonês. Mas, para que uma moeda possa integrar este cabaz de divisas tem de ser livremente utilizada, como relembrava o ano passado a imprensa especializada em Economia. Mais ainda, tem de ter “relevância global no sistema financeiro e nas trocas comerciais”. Algo que a China pretende, então, com a abertura do mercado ao comércio externo e que faz até parte do plano quinquenal do país (ver texto principal). Christine Lagarde, directora-geral do FMI, admitiu isso mesmo no ano passado, depois de anunciada a entrada da moeda no organismo no próximo mês. Aliás, essa abertura foi o que permitiu à China ver o renminbi no FMI. “A [decisão] de incluir o renminbi é também o reconhecimento do progresso feito pelas autoridades chinesas nos últimos anos nas reformas dos sistemas monetário e financeiro”, frisou na altura, acrescentando que, ainda que o renminbi seja controlado pelo banco chinês, “o FMI considerou que a divisa é livremente utilizada”. Antes do anúncio da inclusão da moeda no FMI, o Governo Central teceu críticas ao que considerava ser um sistema financeiro “demasiado dependente do dólar americano”. Que consequências? Ainda que a inclusão do renminbi como moeda de seja uma notícia positiva para a China, já que outros países poderão aceitar o renminbi como moeda de troca no futuro, um impacto a longo prazo ainda não é algo tido como certo. Analistas citados por agências internacionais não esperam um grande impacto no dólar, por exemplo, ainda que antevejam que a divisa possa ser, daqui a alguns anos, cada vez mais utilizada a nível global, ultrapassando mesmo as trocas internacionais a envolver a libra e o iene. Mas, tudo dependerá da forma como o continente usar esta oportunidade, como defendiam analistas citados pela imprensa da especialidade, no ano passado, sendo que apenas uma consequência já se prevê a curto-prazo: a China poderá ter mais voz nas decisões monetárias internacionais. No entanto, também Lagarde espera outra consequência: que o país seja incentivado a acelerar as reformas no sector financeiro. “A continuação e o aprofundamento daqueles esforços trarão um sistema financeiro e monetário internacionais mais robustos, o que ajudará à estabilidade do crescimento da China e da economia global”, frisou na altura. Anselmo Teng | Continente quer investir mais em empresas lusas O presidente da Autoridade Monetária de Macau (AMCM), Anselmo Teng, disse ontem que a China está interessada em fazer mais investimentos e aquisições em Portugal no sector financeiro e que as que já aconteceram são o início de uma tendência que será reforçada. “Cada vez mais entidades chinesas querem participar nos capitais de bancos portugueses e seguradoras e isto é uma tendência marcada, como mencionou o representante da Fosun, agora envolvida numa acção no BCP”, afirmou Teng num seminário, em Lisboa, sobre o reforço da cooperação nos serviços financeiros entre a China e os Países de Língua Portuguesa. Após questões de jornalistas sobre interesses de grupos chineses em bancos portugueses, o responsável da AMCM pediu a palavra para afirmar que a China não só apoia os movimentos que têm existido, como deseja que se reforcem. “Enquanto autoridades governamentais, temos gosto nesta tendência. Isto é só o início de aquisição de entidades chinesas em Portugal, haverá no futuro mais”, acrescentou. Este seminário contou com a presença de um representante do grupo chinês Fosun, que detém em Portugal a seguradora Fidelidade e a Espírito Santo Saúde, e quer comprar 16,7% do capital do BCP, podendo reforçar posteriormente a sua participação para entre 20% a 30% no banco, dependendo das limitações de votos dos estatutos. Também presente neste evento esteve o presidente do conselho de administração do Haitong Bank (ex-Banco Espírito Santo de Investimento), Hiroki Myiazato. De acordo com informação da imprensa, o Haitong propôs, à margem do concurso para a compra do Novo Banco, ao Fundo a aquisição parcial do Novo Banco pelo próprio banco assim como por outros investidores, ficando com cerca de 30% da instituição que resultou da resolução do BES. Com Agência Lusa
Joana Freitas PolíticaSegurança lança consulta pública sobre Estatuto dos Militares [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Secretário para a Segurança já começou os trabalhos de estudo sobre a revisão do Estatuto dos Militarizados das Forças de Segurança. Desde ontem e até 30 de Novembro, o Governo procede a uma auscultação pública, “com o objectivo de responder à necessidade de desenvolvimento das corporações”. “É nossa convicção que desta iniciativa resulte uma lei mais racional, que reflicta a afirmação da modernidade nas corporações e as adapte às efectivas demandas e necessidades de Macau, garantindo a segurança da região, da vida e o património dos cidadãos”, indica o Gabinete de Wong Sio Chak em comunicado. Já há uma proposta inicial, sendo que a nova lei vai alterar o sistema, criando uma carreira única, criação de melhores condições de acesso, por promoção, criação de um curso de aperfeiçoamento de oficiais, entre outros. “Tudo se fará para que o projecto entre em procedimento legislativo durante a primeira metade do ano de 2017”, indica ainda o Governo.
Angela Ka PolíticaAL | Habitação e Biblioteca Central são questões prioritárias Habitação pública, Biblioteca Central, gastos excessivos e renovação urbanística são alguns dos assuntos que devem marcar no próximo mês a abertura da AL. Pelo menos da parte de Au Kam San, Si Ka Lon e Song Pek Kei [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Assembleia Legislativa (AL) está de férias mas já há deputados atentos à reabertura. O HM foi saber quais seriam os assuntos prementes para dar início a mais uma sessão legislativa e a Biblioteca Central está em foco. A acompanhar o tema da actualidade está também a habitação pública, os gastos excessivos do Executivo, a renovação urbanística e a falta de um plano para um aproveitamento apropriado dos espaços de Macau. O primeiro debate que Au Kam San propõe para a chegada de férias da AL é a Biblioteca Central. O objectivo é pedir ao Governo explicações detalhadas acerca dos 900 milhões de patacas que estão destinados à construção da infra-estrutura. O Governo já confirmou que este debate vai acontecer. A aprovação e supervisão do orçamento do Executivo é também assunto importante para o deputado. Au Kam San relembra a anterior presidente da AL, Susana Chou, que terá afirmado que a AL tem autoridade para aprovar o orçamento financeiro do Governo. Este ano, o montante disponível é de 85 mil milhões de patacas e o deputado directo “não consegue perceber os detalhes de onde é que vão ser gastos”. De registo é também a necessidade de “debates frequentes no que respeita às finanças públicas para que a AL concretize um organismo de supervisão “necessário”. Cargo novo Au Kam San vai mais longe e, de entre os assuntos mais importantes a avançar no início de mais uma temporada legislativa, sugere a “criação de um cargo destinado ao acompanhamento das finança públicas”. Em causa está o que denomina de “despesa pública excessiva e falta de controlo no que respeita a grandes empreendimentos governamentais”. No dossiê de Au Kam Sam está ainda a habitação pública, nomeadamente no que toca à zona A dos Novos Aterros, e o aumento das infra-estruturas destinadas à habitação económica bem como o abrir de uma nova fase de candidaturas. Paralelamente, Au Kam San avisa ainda que vai “fiscalizar a caducidade dos terrenos concedidos pelo Executivo e estar atento aos prazos de caducidade”. “Os problemas de saneamento e infiltração estão sempre a incomodar os moradores”, junta-se ainda o deputado eleito directamente pela Aliança de Povo de Instituição de Macau, Si Ka Lon, queixando-se de que “desde a reconstrução das Zonas Antigas de há dez anos até à actual Renovação Urbanística, estes são assuntos recorrentes nos quais pretende continuar a investir todos os esforços”. Atenção à Lei Habitação Pública, terras, renovação urbanística e regime de bens são outros aspectos que integram o “foco principal” do número dois de Chan Meng Kam. De mangas arregaçadas, Si Ka Lon reafirma o empenho que vai ter no novo ano da AL no que respeita à análise dos “seis mil edifícios que já excederam os 30 anos de utilização”. O deputado relembra a advertência que dirigiu ao Chefe do Executivo, Chui Sai On, neste sentido e afirma que “depois do estabelecimento do Conselho de Renovação Urbanística (CRU), este ano, Chui Sai On propôs o alojamento temporário, que na minha opinião será um bom progresso, mas é necessário leis para o acompanhar”. Neste contexto fazem parte dos planos de Si Ka Lon prestar atenção à vertente jurídica que sustenta a Renovação Urbanística. “Neste momento é necessária unanimidade por parte dos proprietários dos edifícios para que se proceda à sua renovação e isso tem que mudar”, afirma. Na sua opinião faz parte das decisões de abertura da AL exigir um regime de recompensa aos proprietários afectados que pode constar de dinheiro ou “uma casa nova num outro local”. A sistematização da previdência e do regime de comparticipação é também assunto de urgência e para antes do final de 2017, frisa Si Ka Lon. À vontade do freguês Song Pek Kei, número três da Chan Meng Kam, considera que “é o planeamento urbanístico geral o que será realmente essencial”. Na base desta necessidade estão os projectos que têm vindo a ser alvo de vozes mais críticas. Entre eles e mais uma vez, está a Biblioteca Central, acompanhada pelo edifício para as doenças infecto- contagiosas. “O Executivo está a escolher localizações de obras sem seguir quaisquer regras”, afirma Song Pek Kei, pelo que considera urgente um planeamento geral capaz de impedir a “escolha segundo a vontade de cada um”.
Hoje Macau PolíticaConferência Ministerial do Fórum Macau em Outubro [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] conferência ministerial do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa vai realizar-se nos próximos dias 11 e 12 de Outubro, anunciou ontem o Governo. A conferência ministerial do chamado Fórum Macau vai ter por base a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, estando o foco apontado ao desenvolvimento, “de modo a promover as relações económicas e comerciais entre a China e os Países de Língua Portuguesa”, refere um comunicado oficial. Esta conferência ministerial, que será a quinta desde 2003, vai contar com a participação de delegações oficiais da China e de sete países de língua portuguesa (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e Timor-Leste). São Tomé e Príncipe encontra-se excluído por manter relações diplomáticas com Taiwan em detrimento de Pequim. No entanto, São Tomé e Príncipe tem participado como observador nas reuniões do Fórum Macau. Aliás, na última conferência ministerial, realizada em 2013, enviou, pela primeira vez, um representante com a categoria de Ministro. Na conferência ministerial vai ser assinado, como tem sido prática, o plano de acção para a cooperação económica e comercial para o próximo biénio (2017-2019). O Fórum Macau tem, desde 11 de Agosto, uma nova secretária-geral: Xu Yingzhen, que era conselheira comercial para a América Latina do Ministério do Comércio da China, foi escolhida para suceder a Cheng Hexi.
Angela Ka Manchete PolíticaMuseu do Grande Prémio | Afastada hipótese de parceria público-privada O Governo não vai adoptar a gestão público-privada para o Museu do Grande Prémio, uma sugestão do deputado Si Ka Lon, que pretendia, com a medida, poupar custos. Mas admite a cooperação com empresas privadas para projectos internos [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]epois de construído o Museu do Grande Prémio continuará a ser gerido e operado unicamente pelo Executivo, afirma o director-interino da Direcção dos Serviços de Turismo (DST), Cheng Wai Tong, em resposta a uma interpelação escrita do deputado Si Ka Lon, que sugeria este modelo. Si Ka Lon referia o exemplo das regiões vizinhas e do estrangeiro em que é “habitual recorrer à gestão público-privada de infra-estruturas como teatros, salas de espectáculo ou museus”. O Metropolitan Museu ou o Centro de Arte de Fuzhou são alguns dos exemplos apontados pelo deputado para ilustrar o sucesso deste tipo de gestão. Por outro lado, caso o Executivo optasse por esta modalidade de gestão poderia rentabilizar o investimento pois caberia ao investimento privado participar na construção e manutenção do projecto, diz ainda. A ideia seria aproveitar esta contribuição para poupar montantes elevados nos gastos públicos. Outro aspecto apontado em defesa da participação privada é que, desta forma, poderia ainda usufruir-se de uma maior participação social para assegurar a eficiência final do investimento. Economia não ajuda Em contexto de recessão económica, Si Ka Lon questionou o Executivo se iria ponderar o uso deste modelo para a reconstrução ou manutenção do projecto do Museu Temático do Grande Prémio. Em causa está a reconstrução, que engloba um orçamento anunciado pelo Executivo de cerca de 300 milhões de patacas. O projecto de reconstrução prevê a reutilização total do Centro de Actividades Turísticas. O Executivo, apesar de afirmar que não considera adoptar este modelo de gestão para o investimento em causa, diz que planeia a cooperação com associações e empresas privadas para abordar os projectos que possam vir a ser desenvolvidos dentro da infra-estrutura, ou associados à promoção das suas actividades.
Sofia Margarida Mota SociedadeMacau inteligente com ajuda de versão do “We Chat” [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]plicações como o “We Chat”, dada a sua multifuncionalidade na China continental, não estão fora de questão para uma possível integração no conceito de Macau enquanto cidade inteligente. Segundo o vice-reitor da UM Rui Martins “a [UM] também está a pensar nessa linha”. “O We Chat é, provavelmente, uma das aplicações a ser utilizada porque é muito eficiente”, justifica. A aposta no conceito inteligente é o cerne de uma das subcomissões adiantadas ontem por Peter Lam, vice-presidente do Conselho de Ciência e Tecnologia e Ma Chi Ngai, presidente do Conselho de Administração do Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia e que tem a seu cargo este grupo de trabalho. Macau inteligente vai integrar vários serviços, nomeadamente públicos, e Ma Chi Ngai aponta para já a coordenação entre serviços de transporte, de saúde ou do turismo. O próximo mês de Novembro é a data escolhida “para apresentação de co-propostas por parte de instituições académicas para estudar os diferentes ramos que constituem uma cidade inteligente”, afirma Ma Chi Ngai. Rui Martins reitera que “vai ser lançada uma nova chamada para propostas só para a área da cidade inteligente. “Para o efeito podem candidatar-se as várias entidades interessadas com os seus projectos nesta área.” Para já, o campus da UM poderá servir de “protótipo”. A instituição está a implementar um conjunto de medidas de forma a colocar o campus na vanguarda de sistemas integrados. “Este smart campus poderá ser um dos primeiros passos para a cidade inteligente”, afirma Rui Martins. Já existe actualmente um mapa electrónico dos serviços do turismo e que já está implementado em Macau. O projecto foi feito pela UM e é dirigido ao objectivo inteligente.
Sofia Margarida Mota SociedadeCiência e Tecnologia | Conselho quer iniciar processo de rentabilização O Conselho de Ciência e Tecnologia quer rentabilizar patentes da UM. O projecto pretende associar doutorados e o seu trabalho a uma vertente comercial capaz de divulgar os resultados relativos à investigação científica [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma Subcomissão que virá a ser criada pelo Conselho de Ciência e Tecnologia dedicada ao fomento da investigação tem como objectivo uma futura rentabilização das patentes detidas pala Universidade de Macau (UM). A notícia foi dada ontem após a 14ª reunião ordinária do Conselho através de Rui Martins, o responsável pelo grupo a criar. O também vice-reitor da UM considera que “a ideia principal com a criação da Subcomissão é entrar numa nova fase de apoio à investigação”. O apoio do Fundo para a Ciência e Tecnologia a projectos de investigação não é novo e há 12 anos que apoia propostas das universidades, mas, e até à data, “são essencialmente projectos científicos de investigação básica”, como afirma Rui Martins. Agora, e provas dadas com os esforços por parte das instituições de ensino superior, é altura de rentabilizar o trabalho que já deu origem, no caso da UM, a cerca de 30 patentes. “Com o desenvolvimento efectuado nas universidades ao longo deste tempo é altura de ver quais são alguns dos projectos desenvolvidos e como é que se poderão explorar essas patentes comercialmente”, ilustra o vice-reitor. Laboratórios de renome O professor refere que a UM já é dotada de dois laboratórios que são referência na China. Um dos espaços tem desenvolvido trabalho de referência no que respeita à Medicina Tradicional Chinesa e um outro tem trabalho reconhecido e dedicado à investigação electrónica. “Já estamos numa fase em que depois de termos cerca de 30 patentes aprovadas temos de organizar a criação de empresas que, associadas a alunos que se tenham doutorado recentemente e que trabalharam nessas patentes, se possa explorar a sua actuação comercial.” Este salto do laboratório para a rentabilização dos resultados representa um objectivo maior, o de uma projecção “não só em Macau , como na China continental e mesmo a nível mundial”. Paralelamente, Rui Martins refere que foi criada recentemente a Faculdade de Ciências da Saúde que tem vindo a registar desenvolvimentos notórios na área da investigação. Da reunião plenária realizada ontem resultaram ainda a criação de mais duas subcomissões. Uma para a concretização de Macau enquanto cidade inteligente e uma terceira para a área da educação e popularização da ciência. A reunião contou ainda com a presença do Chefe do Executivo, Chui Sai On e com os Secretários Raimundo do Rosário, Lionel Leong e Alexis Tam.
Hoje Macau Manchete SociedadeSão Miguel Arcanjo cheio de vegetação. IACM diz nada poder fazer [dropcap style≠’circle’]“O[/dropcap] Cemitério de S. Miguel Arcanjo está em mau estado, cheio de grandes ervas e algumas campas estão cobertas de vegetação.” Estas são as palavras de Gina Rangel, que contactou o HM para dar conta de uma situação que considera “não respeitar a memória dos mortos e os sentimentos dos vivos”. Católica de nascimento, a cidadã costuma dirigir-se, todas as semanas, ao cemitério, para colocar flores e tratar da campa de família. “De há dois meses para cá, comecei a notar que a erva não era aparada.” Algo que comprova com fotografias que mostra ao HM. O tempo foi passando, “sempre na expectativa que a situação fosse ultrapassada. Mas não foi”. No sábado passado, quando se dirigiu ao cemitério, Gina Rangel deparou-se com o mesmo cenário. “Em cerca de dois meses ainda não conseguiram encontrar uma solução?”, questiona. Para a cidadã, esta é uma situação insustentável porque também “dá uma má imagem de Macau”. “Os cemitérios são locais visitados e fotografados por turistas. Será que ninguém pensou nisso?”, reforça, acrescentando outra preocupação. “Como a relva não é tratada nem aparada, há uma concentração de mosquitos que eu até tenho receio por causa do Zika. Já há tantos casos em Singapura que é aqui ao lado.” Contactado pelo HM, o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) explicou que o Cemitério de São Miguel Arcanjo tem um contrato com uma empresa que, duas vezes por ano, procede ao corte das ervas. “Isso acontece sempre na véspera dos dois feriados de homenagem aos finados.” O último foi a 4 de Abril e o próximo é no dia 9 de Outubro. Até lá a situação vai manter-se. Campas negligenciadas Gina Rangel explica ainda que “há muitas campas” velhas e em mau estado, partidas, tortas e sujas. “Isto certamente acontece porque muitas das famílias a quem pertencem foram-se embora e não há agora quem trate delas. Devia ser feito um levantamento para se saber a quem pertencem e tomar-se uma atitude. Eu não percebo como é que o IACM deixou o cemitério chegar àquele estado”, atira. Já o IACM diz não ter qualquer poder nessa matéria, uma vez que neste cemitério todas as campas são perpétuas e isto significa que são propriedade de alguém. “A manutenção e preservação é da responsabilidade dos donos”, conclui.
Andreia Sofia Silva SociedadeMacaenses recordam Armindo Ferreira, fundador d’ “O Litoral” [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]os tempos em que havia rivalidade entre o Liceu de Macau e a Escola Comercial, Armindo Ferreira destacava-se nos bailes colegiais com a sua performance de bailarino. É assim que Luís Machado, presidente da Confraria da Gastronomia Macaense, recorda o fundador do restaurante “O Litoral”, célebre pela qualidade da comida macaense que confecciona para elites e turistas. “Conheci o Armindo nos anos 70, quando fazia parte de um grupo de danças e cantares de Macau. Encontrávamo-nos nessas festas. Tenho dele a imagem de um bom bailarino nas nossas danças folclóricas. É importante dizer ainda que ele e a sua mulher contribuíram para a divulgação da cultura portuguesa em Macau”, referiu Luís Machado ao HM. A partir daí, os afazeres da vida adulta afastaram os dois amigos de um contacto mais frequentes. “Encontrávamo-nos de vez em quando no ténis, mas isso há 30 anos. Sempre teve uma postura muito digna e correcta com todas as pessoas, sobretudo nas assembleias-gerais da Santa Casa da Misericórdia. Sempre foi um macaense disposto a ajudar os seus conterrâneos e um grande lutador dos direitos e garantias das pessoas de Macau”, acrescentou o presidente da Confraria da Gastronomia Macaense. Apesar da esposa, Manuela Ferreira, ser a alma d’ “O Litoral” em termos gastronómicos, Armindo Ferreira também contribuiu, com a sua capacidade administrativa, para o sucesso do espaço. “Recomenda-se sempre às pessoas para irem lá comer, qualquer prato macaense é muito bem feito lá. [O restaurante] vai ressentir-se um pouco, mas os filhos vão com certeza perpetuar a memória do pai, não vão deixar afundar o restaurante”, defendeu Luís Machado. O papel na SCM Armindo Ferreira foi funcionário público na Direcção dos Serviços de Turismo e chegou a ser director administrativo da Santa Casa da Misericórdia. António José de Freitas, provedor, não esquece “o amigo de todas as horas” em mais de 40 anos. “Posso dizer que a SCM perdeu um grande irmão e a comunidade perdeu um grande amigo. Com a transferência de soberania conseguimos levar a SCM para uma estratégia diferente e uma visão diferente. Mudou-se o contexto sociopolítico de Macau e ele deu a sua cara. Posso dizer que o Armindo deu um grande contributo para a imagem da SCM após [a transferência]”, concluiu o provedor da SCM.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeTelecomunicações | CTM baixa tarifas em vésperas de fim de contrato O contrato de concessão com a CTM termina em Dezembro e ainda não há decisão quanto à renovação ou rescisão. Mas já a partir do dia 1 de Outubro os preços dos serviços de internet baixam em média 24% e os serviços podem ser quatro vezes mais rápidos [dropcap style≠’circle’]“T[/dropcap]entámos de forma pró-activa reduzir os preços e torná-los mais razoáveis.” Foi desta forma que Vandy Poon, director-executivo da Companhia de Telecomunicações de Macau (CTM) justificou a redução dos preços de serviços de internet da empresa, anunciada ontem, confirmando que tal não se deveu a pressões do Governo. A partir do dia 1 de Outubro os preços dos serviços de internet poderão baixar em média 24%, existindo a promessa de que a velocidade das ligações poderá aumentar cerca de quatro vezes. Esta decisão chega no último trimestre do ano, antes da apresentação dos resultados e do Governo tomar uma decisão quanto à continuação ou rescisão do contrato. “O ano ainda não terminou e estamos a trabalhar arduamente para manter os lucros, mas também para providenciar serviços de qualidade junto dos clientes. Os lucros que obtemos com os serviços de internet rondam, em média, os 200 milhões de patacas, contamos ter uma redução de lucro em 20% (com a quebra dos preços)”, explicou ontem Poon, em conferência de imprensa. A empresa garante que tem vindo a analisar esta questão há alguns meses. “Não é a primeira vez que a CTM reduz as tarifas dos serviços de internet. Desde meados do ano que temos vindo analisar a redução dos preços e agora estamos em condições de a implementar.” A última reunião da Comissão de Acompanhamento dos Assuntos da Administração Pública da Assembleia Legislativa (AL) serviu para concluir que, caso o Governo rescinda contrato com a CTM poderá ter de pagar 700 a 800 milhões de patacas em vez dos previstas três mil milhões, devido a uma alteração do cálculo dos activos. O Secretário para as Obras Públicas e Transportes, Raimundo do Rosário, referiu que a avaliação de activos com a operadora de telecomunicações não é simples. “Se não ocorrerem infracções graves ou imperiosas motivações de interesse público, o contrato será automaticamente renovado”, sendo que os contactos para uma “melhoria do serviço, preços e para esclarecer a questão dos activos” com a CTM continuam. Que venha a liberalização Vandy Poon garantiu que nunca foram discutidas alterações nos valores da indemnização. “Não temos qualquer intenção de exigir isso [ao Governo]. Porque é que vamos gastar energias desnecessárias em algo que nenhuma das partes tem interesse em executar?”, questionou. “Temos o contrato de concessão, o Código Civil, o Código Comercial, a Direcção que regula as telecomunicações. Tudo isso serve de base ao fornecimento dos serviços de telecomunicações. Temos estado a trabalhar em conjunto com o Governo e com o Secretário Raimundo do Rosário. Tanto a CTM como a CITIC querem deixar claro que queremos executar tudo o que for necessário para preencher e apoiar todas as obrigações e responsabilidades no âmbito do papel que desempenhamos enquanto empresa do sector das telecomunicações e isso inclui também o contrato”, disse Vandy Poon, que recusou responder directamente às inúmeras críticas que os deputados têm feito na AL. “Não fazemos comentários. Politicamente não queremos estar envolvidos. Como fornecedores de um serviço público temos de ser neutros, mas em termos comerciais estamos dispostos a colaborar. Ouvimos cuidadosamente os comentários das várias partes.” O responsável da CTM lembrou ainda que a empresa nunca travou a chegada de outros concorrentes. “Sempre apoiamos a liberalização do mercado. Se olharmos para os serviços da CTM, mais de 90% não são exclusivos. Queremos focarmo-nos na revisão dos preços, fazer os funcionários trabalhar ainda mais arduamente, fazer com que se trabalhe em prol dos clientes e no desenvolvimento do mercado. Queremos provar que a CTM é a escolha certa para a sociedade e para o território”, concluiu.
Joana Freitas EventosFestival da América Latina continua com penúltimos dias de filmes [dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] a penúltima semana. O Festival da América Latina, da Association for the Promotion of Exchange Between Asia-Pacific and Latin America (MAPEAL), continua hoje, amanhã e sexta-feira com um filme por dia na Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST na sigla inglesa), depois de duas semanas em que diversos filmes foram parar ao grande ecrã. Antes do final, marcado para o dia 15 de Setembro, há ainda tempo para ver películas da Venezuela, México e Chile. Já hoje, às 19h00, é hora de “El Manzano Azul”. O filme da Venezuela é realizado por Olegario Barrera e conta a história de Diego, um miúdo de 11 anos que cresce na cidade, com sérias carências afectivas. Vai para a aldeia, onde passa algum tempo de férias com o avô Francisco, nos Andes Venezuelanos. Mas Diego só viu o avô algumas vezes e, a juntar-se a isto, o ambiente em que passa as férias é diferente do que está habituado: não há televisão, nem telemóvel. Não há luz eléctrica e está frio. Mas há um segredo, numa macieira, que pode mudar para sempre a vida de Diego. Mar e céu Amanhã, o cinema é dedicado ao México, com “En El Ombligo del Cielo”. Carlos Gomez Oliver conta, neste filme do qual é realizador, a história de dois estranhos que se cruzam no telhado de um edifício. Uma jovem empresária passa um fim-de-semana inteiro com um homem das limpezas no prédio onde trabalha. O terraço serve como mais do que um espaço físico e passa a ser também um local de partilha e de reflexão, com os dois estranhos a partilharem histórias de vida. Chega a vez, na sexta-feira, de “El Boton de Nácar”, directo do Chile e dirigido por Patricio Guzman. O oceano. A história da humanidade que ele contém. E uma viagem ao universo. “El Botond e Nácar” versa sobre dois misteriosos botões escondidos no fundo do mar, na fronteira com o Chile. Estes carregam uma memória consigo e até a voz de tantos que viveram antes de nós. Todos os filmes estão marcados para as 19h00 e têm entrada gratuita. O ciclo de cinema latino da MAPEAL estende-se até 15 de Setembro, com filmes do Brasil, Venezuela, Chile, Equador e Colômbia, entre outros.
Hoje Macau EventosMGM | Oitava edição do Oktoberfest chega dia 13 do mês que vem Os bilhetes para mais um festival tradicional do Oktoberfest alemão em Macau começam a ser vendidos no dia 12 deste mês. A Hogl Fun Band vai actuar no evento do MGM e promete lançar ao vivo a canção “Nei Ho, Macau!”. Haverá ainda um dia dedicado à família [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stá a chegar aquela altura do ano em que o MGM se transforma num Oktoberfest em ponto pequeno mas com tudo aquilo que existe no evento verdadeiro, que anualmente se realiza em Munique, na Alemanha. A oitava edição arranca dia 13 de Outubro, sendo que os bilhetes estão disponíveis a partir do dia 12 de Setembro. Para este ano a animação promete acontecer com a ajuda da banda Hogl Fun, que compôs o tema “Nei Ho, Macau!”, que significa “Olá Macau!”. Segundo as contas do MGM, os 11 dias do evento deverão contar com cerca de cem mil pessoas, mais de 96 mil litros de cerveja e ainda mais de 21 mil quilos de porco e outros tantos quilos de frango assado e pretzel. O evento realiza-se, como já é habitual, em colaboração com o Consulado-geral da Alemanha em Hong Kong e Macau e com a Associação Comercial Alemã, bem como com o Governo local. O dia da família Uma das novidades apontadas para este ano prende-se com a realização do Dia Especial para a Família, o qual decorrerá no dia 22 de Outubro, entre as 11h00 e as 15h00. Neste período vão ser disponibilizadas bebidas sem álcool e a tradicional música e comida. A Spaten, uma das mais conhecidas cervejas alemãs, será servida no The Vista, o espaço do MGM com panorâmica sobre o Delta do Rio das Pérolas. O Oktoberfest começou a ser organizado há cerca de 200 anos e no início servia apenas para os cidadãos de Munique se divertirem às portas da cidade aquando da realização dos casamentos reais, bem como para promover as cervejas típicas. Hoje é um dos eventos mais conhecidos em todo o mundo, que atrai milhares de turistas à cidade. Música tradicional, raparigas com saias coloridas e coletes justos, salsichas e enormes canecas de cerveja estão garantidas. O bilhete para o Oktoberfest no MGM terá tudo isso pelo preço de 160 patacas, o qual inclui uma cerveja ou outra bebida. Crianças até aos nove anos não pagam entrada. O evento decorrerá entre as 13h00 e as 20h00, sendo que o número de mesas disponível é limitado. O Festival encerra portas no dia 23 de Outubro.