Receitas de jogo aumentam em Setembro

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s receitas brutas dos casinos aumentaram 7,4% em Setembro, relativamente ao mesmo mês de 2015, sendo esta a segunda subida consecutiva após mais de dois anos de contracção. O mês passado, os casinos facturaram 18.396 milhões de patacas, segundo dados revelados no sábado pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ).
As receitas dos casinos caíram consecutivamente, em termos homólogos, entre Junho de 2014 e Julho deste ano, tendo recuperado em Agosto, quando aumentaram 1,1%. Segundo os dados conhecidos esta semana, as receitas brutas acumuladas entre Janeiro e 30 de Setembro ascendem a 162.792 milhões de patacas, menos 7,5% do que nos mesmos meses de 2015.
Em 2015, o PIB caiu 20,3% e no primeiro semestre deste ano a contracção homóloga foi 10,3%. Analistas ouvidos pela agência Lusa no início de Setembro consideram precoce falar numa reversão da tendência de contracção verificada nos últimos dois anos e alguns deles associaram o resultado de Agosto, pelo menos parcialmente, à abertura de um novo casino (o Wynn Palace).
Assim, entre estes analistas, havia já uma expectativa de que o crescimento se mantivesse em Setembro, com a abertura no dia 13 de um novo espaço de jogo (o Parisian, da Sands China).

5 Out 2016

Ho Chio Meng | Viriato Lima é responsável pela instrução

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap]Viriato Lima quem vai decidir se há provas suficientes para levar Ho Chio Meng, antigo Procurador da RAEM, a julgamento. Dezembro deverá ser a data em que se sabe algo mais sobre o caso que tem um dos principais rostos da justiça como réu, já que o Presidente do Tribunal de Última Instância (TUI), Sam Hou Fai, confirmou no sábado que já foi deduzida acusação de corrupção no final de Agosto e, depois de ter sido requerida a abertura da instrução pelo arguido, esta já “entrou nos procedimentos”. Segundo a lei, o TUI tem dois meses para concluir a instrução, sendo que Sam Hou Fai não consegue apontar uma data possível para o início do julgamento.
Segundo o Jornal de Cidadão, à margem de uma actividade oficial para comemorar o Dia Nacional, Sam Hou Fai revelou que a instrução vai ser da responsabilidade do juiz Viriato Manuel Pinheiro de Lima e que esta, visto que o caso ainda está na fase de instrução e de segredo judicial, não vai ser aberta ao público.
Sam Hou Fai explicou que instrução serve para rever o recurso pedido anteriormente por Ho Chio Meng e, se durante o instrução se descobre que as provas não são suficientes, o juiz responsável pelo caso tem a autoridade para decidir o arquivamento do caso. Se assim for, Ho Chio Meng será libertado imediatamente. Se as provas forem suficientes, o TUI começa o julgamento.
Viriato Lima foi o juiz que recusou um recurso da sentença de prisão preventiva que foi decretada a Ho Chio Meng pelo tribunal superior. Interposto pelo antigo Procurador, e ainda que a decisão do TUI fosse irrecorrível, o recurso contestava a medida de coacção que lhe foi aplicada em Fevereiro deste ano e chegou depois de Ho ter feito um pedido de habeas corpus (quando se pede a libertação imediata devido a ilegalidade na detenção). A decisão de Viriato Lima, juiz de instrução no processo, baseava-se no facto de que, ainda que fosse Procurador à data dos crimes alegadamente cometidos, Ho Chio Meng não era magistrado quando foi detido, logo não poderia beneficiar do Estatuto dos Magistrados.
Todo o processo de Ho Chio Meng, da fase de inquérito ao julgamento, decorre de imediato no TUI porque arguido é acusado por crimes que terá cometido enquanto era Procurador. Ho Chio Meng está em prisão preventiva desde 26 de Fevereiro por suspeitas de corrupção. O arguido é suspeito de ter favorecido familiares na adjudicação de obras e serviços durante dez dos 15 anos em que foi Procurador, sendo que o caso envolve mais arguidos.
Sam Hou Fai reiterou que não sabe a data da abertura da sessão em tribunal, prevendo que a instrução só possa ser concluída depois do começo do ano judiciário, que acontece no dia 19 de Outubro.

5 Out 2016

STOMP actuam no Venetian até domingo. Falámos com quatro ‘stompers’

Vêm de diferentes backgrounds, mas é isso que os ajuda a tornar STOMP único. Phil Batchelor, Ian Vincent, Adrien Rako e Dominik Schad falam do espectáculo que já correu continentes com ritmos feitos de objectos comuns e que, asseguram, são contagiantes

[dropcap style≠’circle’]“S[/dropcap]TOMP” é uma celebração de música e movimento, usando objectos do dia-a-dia. É, pelo menos, assim que Ian Vincent explica ao HM o conceito por trás do espectáculo que decorre no Venetian até dia 9 de Outubro. De bolas de basquetebol a vassouras, STOMP junta dançarinos e bateristas com perfomers de todos os tipos de arte com a habilidade para criar música com tudo aquilo que não é um instrumento.
Actualmente, há cinco companhias STOMP em espectáculos à volta do mundo, mas numa entrevista exclusiva com quatro dos principais dançarinos que trouxeram o espectáculo a Macau – Ian Vincent, Phil Batchelor, Adrien Rako e Dominik Schad – o HM ficou a perceber um pouco mais sobre o espectáculo que, em 25 anos, foi visto por mais de 12 milhões de pessoas em seis continentes.
Cada pessoa tem um papel diferente e varia consoante o espectáculo, o que permite que “cada um traga uma diferente personalidade” para o palco. Algo que ajuda a transformar o espectáculo, especialmente se estiver parado num local por diversos dias, como é o caso de Macau.
“Todas as noites a estrutura do espectáculo é a mesma, mas a vibe é diferente por causa de haver diferentes pessoas encarregues de diferentes momentos e deixarem o seu próprio carácter mostrar-se. É, por isso, um sentimento diferente todas as noites.”
Phil Batchelor, director em tour, explica ao HM que o espectáculo não tem um guião, ainda que a ordem por que é conduzido seja a mesma. “Começamos sempre com vassouras e acabamos sempre com bidões. A música do espectáculo está escrita, cerca de 75% do show está planeado, mas o resto depende de nós e dos nossos momentos pessoais em palco. Há lugar para improvisar e fazer os nossos próprios solos.”
Se for ver os STOMP, fique a saber que quando vir um solo, tudo o que sai da pessoa naquele momento é inventado – ou sentido – na altura. “Permite ter movimentos únicos”, assegura Batchelor.
Para os shows, os ‘stompers’ praticam duas horas antes de cada espectáculo, como nos diz Dominik, mas esse ensaio mais a sério não é o que lhes dá exactamente a prática que precisam.
“É já parte de cada um dos ‘stompers’ estar sempre a tocar em algo, a usar objectos como bateria e a fazer barulho com tudo o que temos à nossa volta. Estamos constantemente a colocar em prática o ‘fazer barulho’ de uma forma harmoniosa, transformar esse barulho em música.”
É “inconvencional”, como acrescenta Phill Batchelor, que explica um pouco mais dos bastidores. Não fosse ele o manager em tour do grupo.
“Fazemos as audições por fases, estilo ‘Factor-X’ até conseguirmos ser seleccionados. Depois aprendemos entre oito a nove horas durante seis semanas todo o show”, diz, acrescentando que todos os que compõem os STOMP vêm de diferentes backgrounds, como dança e música, é há até quem não tenha formação em qualquer uma destas artes. “Basta ter um bom sentido rítmico.” E porquê?
“O show é a transformação de objectos que se tornam instrumentos, por isso não podemos assumir que é igual a um baterista sentar-se atrás de uma bateria. Não é igual a andarmos no palco a varrer com uma vassoura a um ritmo determinado e com mais sete outras pessoas, a fazer a nossa própria música.”
Todos eles sabem diferentes papéis no espectáculo, caso seja necessário substituírem-se, havendo no total 12 pessoas – oito delas em palco.

Arte pura

“STOMP” é também um caso onde aqueles que eram dançarinos se transformam em bateristas e quem andava a fazer barulho nas baterias, se transforma em dançarino. E, no fim, “todos se transformam em ‘stompers’”, como explica Batchelor. Pegando no seu próprio exemplo, o manager diz que bastou ver o espectáculo para ficar viciado.
“Achei que era uma loucura, vê-los a tocar bateria, mas sem ser com bateria”, partilha com o HM, admitindo que “a dança não era algo que saía naturalmente”, mas com a inclusão nos STOMP tudo mudou.
Já o caso de Adrien, acabado de integrar o grupo depois de ter tido um contrato em Amesterdão, é bem diferente. Algo que comprova a diversidade do grupo.
“Era dançarino e ainda sou. Trabalhei como dançarino, professor e coreógrafo e fiz as audições quando estava em Londres, à procura de trabalho. Vi uma publicidade que dizia ‘se não consegues evitar estar sempre a fazer ritmos, anda e experimenta’ e pronto. Achei super interessante a ideia de estarmos sempre a mexer-nos, que gosto realmente, ao mesmo tempo que fazemos música.”
O alemão Dominik confessa ao HM que conseguiu, com este espectáculo, subir ao palco de uma forma diferente daquilo que sempre fez e Ian, enquanto sorri, assegura ter encontrado as suas paixões.
“Eu era baterista, estudei Música e tinha até uma banda. Vi o espectáculo algumas vezes, porque os STOMP são muito populares na Alemanha e tinha até um vídeo do grupo, quando era criança. Era um fã e, por ser um baterista, sempre senti falta de estar à frente no palco. Sentar-me lá atrás, no canto a tocar bateria não era suficiente para mim, que sempre quis estar a mexer-me mais e a interagir com o público. E os STOMP são o local ideal para isso”, explica Dominik ao HM.
“Eu cresci como dançarino, mas também baterista. A minha família é muito musical e, apesar de estar a estudar dança, ouvi falar da audição. Mas a minha história é estranha, porque fiz a audição completamente sozinho na Sidney Opera House: fiz o que eles fizeram, mas sozinho”, diz Ian, enquanto ri. “Os STOMP para mim são basicamente os dois grandes amores da minha vida juntos como um trabalho.”
E, se tinha como hobby tocar bateria, a verdade é que Phil Batchelor está nos STOMP porque queria mais do que o que a vida lhe oferecia. “Adorava tocar bateria, mas fui para a universidade e tirei Business Management e Computer Science. Enquanto estava a tirar o curso fui ver os STOMP em Londres, quando trabalhava lá. Pensei logo que era espectacular e comecei a contemplar a hipótese de que, talvez, o curso que estava a tirar não era exactamente o que queria fazer. Candidatei-me depois de um espectáculo para fazer uma audição.”
Perguntaram-lhe se tinha sentido de humor, se trabalhava arduamente e se tinha ritmo. Respondeu a tudo que “sim” e, garante-nos, não mentiu.
“Não, sim, não [menti] (risos). Esqueci-me da audição, acabei o curso e fui-me embora de Londres. Um dia depois de chegar à minha terra natal chamaram-me para Londres. Fui para uma audição nova só porque sim e aqui estou.”
Dez anos depois, Phil Batchelor e Ian Vincent continuam nos STOMP, depois de terem começado ao mesmo tempo. Estão quase sempre em tour, mas asseguram que conseguem contornar bem o facto de não pararem num sítio apenas.
“Quando temos intervalos conseguimos ver as vistas, é fixe”, diz Ian. “É fixe, claro. Quando penso no trabalho de agente imobiliário que tinha em Londres, das 8h00 às 20h00, todos os dias, seis dias por semana. Eu tenho isso como referência: se achar que está difícil aqui e começar a ficar frustrado penso logo nesse tempo e obrigo-me a ver que este é o trabalho mais divertido que posso ter”, acrescenta Phil Batchelor.
Os tempos livres dos STOMP são cheios de criatividade, como confessa Ian, que conta ao HM algumas das peripécias depois das luzes do palco se apagarem.
“Eu adoro fotografia e consigo fazer isso. Conseguimos todos fazer coisas criativas, como filmes e música. Todos nós. Fizemos um filme em Pequim, só por divertimento. E pequenos projectos, como composição de música. Tentamos fazer algo sempre juntos, além dos espectáculos.”

Vai ficar à espera?

Descrito como “um espectáculo com ritmos contagiantes, rotinas espectaculares e inovadoras e quase telepatia entre os dançarinos”, STOMP é “o derradeiro encontro entre o urbano e o primitivo” no que à dança e ao ritmo diz respeito. Parados em Macau desde o dia 23 de Setembro, o espectáculo vai até dia 9 de Outubro – pelo que só tem até domingo para comprar os bilhetes, que vão desde as 180 às 780 patacas.
Esta é a primeira vez que estes ‘stompers’ estão em Macau, mas já sentem que o território está mais inclinado para o jogo, algo que os faz lançar um desafio ao público local: “há comédia, música e dança. Há tanta coisa de que as pessoas que vêm ver o espectáculo gostam e que experienciam. Se procuram algo que é fora do normal, do que pensa, venham ver-nos”, diz Phil Batchelor, logo ajudado por Ian Vincent: “É tão divertido.” E para todas as idades. No Venetian, até 9 de Outubro.

5 Out 2016

Yuan entra no cabaz de moedas do Fundo Monetário Internacional

O Yuan faz finalmente parte do cabaz de moedas de reserva do Fundo Monetário Internacional, juntando-se ao dólar americano, yen japonês, euro e libra. A medida, que internacionaliza a moeda chinesa, terá poucos efeitos em Macau e Hong Kong, dizem economistas

[dropcap style≠’circle’]B[/dropcap]astou um ano apenas para a moeda chinesa dar um passo gigante na sua internacionalização e passar a fazer parte do cabaz de moedas de reserva do Fundo Monetário Internacional (FMI). O yuan está agora ao lado do dólar americano, do yen japonês, do euro ou da libra inglesa, o que faz com que a China deva, aos olhos dos analistas, assumir as rédeas em prol de maiores reformas económicas.
Em Novembro do ano passado, a directora-geral do FMI, Christine Lagarde, confirmava que o yuan já respeitava dois dos critérios para entrar no cabaz das moedas mais importantes do mundo. A moeda chinesa já era “largamento utilizada” e “livremente utilizada”. No dia em que se celebraram os 67 anos da República Popular da China, o país teve mais uma confirmação do sucesso das suas políticas económicas.
Citado pelo diário de Hong Kong South China Morning Post, Peter Wong Tung-shun, CEO do banco HSBC para a zona da Ásia-Pacífico, defendeu que a entrada do yuan para o cabaz de moedas do FMI “catapulta formalmente (a moeda chinesa) para o ranking das moedas de reserva mais importantes, o que dá grande confiança a empresas e instituições de todo o mundo para constituir negócios em yuan e investir em activos nesta moeda”.

Poucas consequências

O HM questionou dois economistas sobre eventuais consequências desta decisão para Macau e Hong Kong, mas Albano Martins e José Pãosinho não conseguem prever efeitos positivos ou negativos.
“A curto e médio prazo não vejo quaisquer consequências porque o movimento de internacionalização do yuan começou há alguns anos em Macau e Hong Kong. O impacto será maior noutros países do que nestas regiões. A entrada do yuan no cabaz de moedas do FMI vai tornar os empréstimos mais caros porque as taxas de juro da moeda chinesa são superiores às das outras moedas”, explicou José Pãosinho.
Quanto à entrada da moeda no cabaz do FMI, constitui “um acontecimento normal em termos da evolução da economia chinesa, que tem um maior peso na economia mundial”. Resulta ainda de um “processo normal na política de internacionalização”, referiu ainda o economista.
Também Albano Martins não denota grandes consequências pelo facto dos dois territórios terem a sua própria moeda, a pataca e o dólar de Hong Kong. “Não vejo qualquer tipo de efeito ou consequência benéfica ou não benéfica para Macau e Hong Kong. Primeiro porque o dólar americano está ligado à nossa moeda, e não me parece que haja outro tipo de consequência. A China passa a ter a terceira posição, a seguir ao Euro, e não me parece que tenha qualquer relevância em relação a Hong Kong ou Macau. Isso terá consequências positivas para a China porque internacionaliza mais a moeda chinesa, mas para Hong Kong e Macau não. Até termos moeda própria não haverá grandes consequências”, defendeu ao HM.
Apesar de se vislumbrar uma maior internacionalização para uma moeda que, até há poucas décadas atrás, estava confinada às fronteiras internas do país, a verdade é que a utilização do yuan sofreu uma quebra, tendo existido reservas quanto a uma depreciação. Analistas disseram ao South China Morning Post disseram que esta medida não vai provocar mudanças de imediato, graças às políticas de capital mais restritivas e a uma falta de transparência nas políticas monetárias.
“É um sinal positivo e um bom começo, mas não vai fazer grande diferença em termos de procura do yuan e a sua liquidez”, concluiu Heng Koon How, estratega monetário do banco Credit Suisse de Singapura.
Em 2003 o yuan transpôs fronteiras pela primeira vez quando Pequim autorizou o estabelecimento de negócios em yuan através dos bancos de Hong Kong. Em 2009 seria permitida a sua utilização por empresas e instituições internacionais. Em 2010 passou a ser permitido fazer investimentos em yuan.

5 Out 2016

Taiwan vai enviar delegação para cimeira climática apesar da oposição da China

[dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]aiwan vai enviar uma delegação para a 22.ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Novembro, em Marrocos, informou ontem o Ministério de Negócios Estrangeiros, citado pela agência de notícias Efe. Depois de ter sido excluída da reunião trienal da Organização de Aviação Civil Internacional (OACI) celebrada em Montreal (Canadá), Taiwan vai enviar uma delegação sob a bandeira do Instituto de Investigação em Tecnologia Industrial (IITI), como organização não-governamental, informaram as autoridades diplomáticas da ilha Formosa.
A COP22 terá lugar em Marraquexe, entre 7 e 18 de Novembro, e a representação não oficial de Taiwan já tinha sido excluída de participar em actividades complementares da conferência, devido à pressão da China, disseram funcionários sob anonimato.
Taiwan pretende participar como observador no encontro, mas devido à oposição da China e à deterioração das relações com Pequim desde a tomada de posse da actual presidente, Tsai Ing-wen, do Partido Democrata Progresista (PDP), não avança no pedido de adesão, apesar do apoio dos Estados Unidos e de outros países.
A ilha Formosa foi excluída da reunião da OACI, celebrada entre 27 de Setembro e 7 de Outubro, devido à frontal oposição da China. Taiwan foi convidada para anterior reunião trienal da OACI, em 2013, quando as suas relações com Pequim eram melhores e o então presidente, Ma Ying-jeou, aceitava o “Consenso 1992”, ao abrigo do qual as duas partes reconhecem que existe apenas uma China, mas cada uma delas faz a sua interpretação desse princípio.
Num evento académico realizado no sábado, a Presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen disse que a ilha não vai abandonar o objectivo de ampliar a sua presença internacional, apesar das dificuldades por parte da China.

5 Out 2016

Chefe do Executivo de Hong Kong apela à união com a China

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] chefe do Executivo de Hong Kong apelou à união sob o sistema político da cidade, durante um discurso para assinalar o Dia Nacional da China interrompido por protestos. CY Leung descreveu o sistema como o “mais benéfico e prático” para Hong Kong. Também encorajou os jovens de Hong Kong a visitarem a China, afirmando que há “profundos laços de sangue” entre os dois lados da fronteira.
Deputados pró-democracia interromperam o discurso de CY Leung, gritando palavras de ordem a pedir a sua demissão, antes de serem retirados pelos seguranças. Entre os deputados que protestaram estava James To, do Partido Democrático, que disse que CY Leung “causou divisões na cidade e fez com que os residentes sintam que não podem continuar (com Leung no poder)”.
Vários novos deputados que ganharam assento no Conselho Legislativo (LegCo) nas eleições de Setembro e que apelam à autodeterminação e mesmo independência de Hong Kong boicotaram o evento.
Nathan Law, que aos 23 anos se tornou o mais jovem membro do LegCo, foi um dos ausentes. “Enquanto eles não reconhecerem que o estão a fazer é errado, não devemos ir e celebrar este tipo de data”, disse Law, apontando a Revolução Cultural e o caso dos desaparecimentos de cinco livreiros em Hong Kong no ano passado como algumas das violações de direitos humanos cometidas pela China.
Desde as manifestações pró-democracia e ocupação das ruas em 2014 uma nova vaga de grupos designados ‘localists’ aumentou os pedidos de ruptura em relação à China. A jovem deputada Yau Wai-ching, do grupo Youngspiration, também não participou no evento. “Não é um dia nacional para os residentes de Hong Kong”, disse à AFP.
Longas faixas vermelhas com mensagens a apelar à independência de Hong Kong foram penduradas em edifícios de várias universidades na cidade.
Um grupo de manifestantes, liderado pelo deputado radical Leung Kwok-hung, conhecido como “Long Hair” (“Cabelo Comprido”), reuniu-se fora do centro de convenções onde decorriam as celebrações e pediu a libertação de presos políticos na China.

5 Out 2016

Don(ald), Hill(ary) e os clássicos chineses 希拉里.克林顿知道多少

[dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]êm ideia de quantas vezes os dois candidatos à Presidência dos EUA mencionaram a China durante o primeiro debate eleitoral? Pois é verdade, Pequim está sempre presente na mente dos americanos, se não mesmo nos seus corações.
Coração e mente. Estas duas palavras transportam-me para a literatura chinesa. Gostava de aproveitar a ocasião para falar sobre, ou melhor, falar em torno de um dos quatro clássicos: Os Três Reinos 三国志。
A 22 de Junho de 2015, durante a cerimónia de inauguração do Encontro Económico-Estratégico Sino-Americano, o Secretário de Estado John Kerry congratulou a China por se ter tornado um líder mundial, nomeadamente, por ter ajudado os EUA a combater o Ébola, pela intervenção diplomática no Irão, e pela colaboração conjunta no Afeganistão. Mas o Vice-Presidente americano Joe Biden fez umas declarações menos elogiosas. Afirmou que, se a China quiser verdadeiramente vir a tornar-se num “concorrente responsável,” terá de respeitar a lei internacional, garantir a liberdade das zonas marítimas e proteger os direitos humanos.
Como é que poderemos unir estes dois pontos de vista divergentes e compor uma imagem correcta da China?
Mesmo depois de mais de 200 anos de relações entre os dois países, a China permanece um enigma para os políticos americanos. Como explicar o comportamento contraditório da China? De uma forma geral, parece-me que os ocidentais, neste país, só conhecem Confúcio e a Arte da Guerra. O Ocidente tem prestado pouca atenção a outras eras importantes da história chinesa: o período do Três Reinos (220-280). A obra clássica da literatura Romance dos Três Reinos continua extremamente pertinente na sociedade chinesa actual. Este texto tem sido estudado e profusamente citado, e é uma referência de todos os dirigentes chineses desde Mao a Xi Jinping.
Romance dos Três Reinos decorre após a queda da dinastia Han, em 220. A China, até aí unida, divide-se em várias facções comandadas por temíveis senhores da guerra, cada um deles empenhado em reunificar o país sob a sua liderança. Por fim, os mais fortes conseguiram fundar três reinos: Wu, Wei e Shu.
O Reino de Wu simboliza a hegemonia regional. O Rei de Wu não tinha propriamente ambições imperialistas; só queria proteger o território que desde os tempos ancestrais pertencia à sua família, situado ao longo da costa leste. Mas isso não o impediu de lutar com todas as suas forças para defender a independência e a hegemonia dessa terra soberana. Quando o Rei Wei o defrontou na Batalha de Chibi (Falésia Vermelha), Wu uniu-se com Shu para proteger a hegemonia da sua região. Nos dias de hoje, a China está a posicionar-se pela hegemonia da Ásia. É líder na Organização para a Cooperação de Xangai e fundou o Banco Asiático de Investimento em Infraestruturas, para fazer frente aos ocidentais Banco Mundial e ao FMI. Está também a caminho de estreitar os laços com a Rússia, de forma a manter o alcance deste gigante fora da sua esfera de influência.
Wei era o segundo Reino e representa a tirania. O Rei de Wei, o celerado Cao Cao, um líder implacável que usava as alianças para tornar os estados vizinhos seus vassalos e que, mal podia, quebrava as alianças assim que via uma possibilidade de atacar. A frase mais célebre de Cao Cao foi, “prefiro trair o mundo inteiro antes que o mundo me traia a mim.” Por isso agora podemos juntas todas as peças do puzzle, América Latina e África, Mar do Sul da China e Japão e, por aí fora.
Finalmente, vem Shu, o terceiro Reino, que representa a autoridade humanitária. Liu Bei personifica o rei sábio, que se apoiava na sua reputação e na sua virtude. Benevolente, seguia escrupulosamente a lei e exercia a autoridade de forma humanitária. Liu Bei não se guiava só pelas suas próprias ideias; rodeou-se de um círculo de leais conselheiros. Para defrontar o terrível Wei, Shu teve de aliar-se a Wu. A China dos nossos dias ascende à cena internacional como o rei sábio que desejava representar a autoridade humanitária no mundo. Isto diz-vos alguma coisa? Claro que sim, estou a lembrar-me de uma ideia tão ancestral quanto moderna que tem mantido a China viva no imaginário ocidental através dos séculos. Três Reinos, três caminhos. Querem experimentar com pauzinhos, USA?


Foto: Richard Nixon experimenta comer com pauzinhos durante um banquete dado em sua honra, 1972

5 Out 2016

Ésquilo, Sófocles, Eurípides – Parte 1 (de 3)

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Oresteia, tragédia maior de Ésquilo que chegou até nós, e a sua última, é representada pela primeira vez em 458 a.C., dois anos antes da sua morte. Nesta altura, Sófocles tinha 37 anos e já arrebatara vários primeiros prémios nas competições, e Eurípides era um jovem adulto com 27 anos de idade. A estreia de Eurípides nas competições é em 455 a.C., com 30 anos de idade e, por conseguinte, por muito, muito pouco não chegaram a concorrer os três a um mesmo prémio.
Mas, seja como for, certo é que Eurípides viu muitas vezes Ésquilo em competição com as suas tragédias. Havia uma diferença de trinta anos entre Ésquilo e Sófocles e uma diferença de apenas 10 anos entre este e Eurípides, perfazendo uma diferença de 40 anos entre Ésquilo e Eurípides. A importância de ter bem presente a contemporaneidade deles deve-se a dois factores: 1) usualmente julga-se que eles fizeram parte de momentos históricos bem distintos, o que não poderia ser mais longe da verdade; 2) termos também bem presente esse esmagador período da história grega clássica, em particular, e da humanidade em geral. Werner Jager dirá mesmo que só a epopeia de Homero se pode comparar à tragédia, na capacidade de abarcar o todo humano. É como se o renascimento do génio poético da Grécia se tivesse mudado da Jónia para Atenas. A epopeia e a tragédia são como duas grandes formações montanhosas ligadas por uma série ininterrupta de serras mais pequenas.
Na sua primeira competição, em 468 a.C., com apenas 27 anos de idade, Sófocles derrota Ésquilo; e, sem dúvida, Eurípides assistiu a essa competição, com os seus 17 anos de idade. A primeira tragédia que chegou até nós, destes três génios, foi uma tragédia de Ésquilo, ainda da chamada primeira fase do autor, e a única dessa fase, levada a competição (e sagrando-se vencedora) em 472 a.C.: Os Persas. Sófocles com 23 anos de idade e Eurípides com 13. Mais: a primeira vitória de Ésquilo, nas competições, em 484 a.C., foi certamente assistida por Sófocles, se é que ele não fez mesmo parte do coro de crianças. Atribui-se a Ésquilo a criação da tragédia (ao introduzir o segundo actor), a Eurípides a criação da criação temática, da criação dos seus próprios temas para além da tradição, e a Sófocles, para além de se lhe atribuir a criação do terceiro personagem, atribui-se também “as tragédias mais tragicamente perfeitas”.
Apesar desta proximidade temporal, desta contemporaneidade dos autores, há factores históricos, acontecimentos que fazem com que eles cresçam em ambientes e expectativas muito distintas. Ésquilo foi combatente em Maratona, na guerra contra os Persas na defesa da liberdade do estado de Atenas, contra aquele que era o maior império nessa altura. Pouco tempo mais tarde, o seu irmão irá perecer na célebre e mítica batalha de Salamina, que Ésquilo irá cantar na sua tragédia Os Persas. Para Ésquilo, os heróis não era uma história que se contava, mas um facto ao qual assistira e mesmo vivera. O exército ático em inferioridade numérica de 1 para 10, destrói o exército persa, que até então era considerado indestrutível.
Para além da vontade, coragem e engenho dos gregos, aliaram-se também os deuses na defesa dos áticos, isto é, o destino esteve com eles nessa dura prova em defesa da liberdade. Em caso de derrota, provavelmente não haveria tragédia. Em caso de derrota em Salamina, a humanidade nos séculos imediatamente subsequentes, poderia ter sido outra, bem diferente. Pelo menos a arte e o pensamento seriam e isto marcaria seguramente a história da humanidade mais do que a história do povo ático.
Ésquilo vive um período histórico eufórico, um período em que os gregos eles mesmos, e ele fazendo parte deles, conquistaram com seus braços o direito à liberdade e a necessidade de agradecer aos deuses. Sófocles irá crescer neste ambiente, num ambiente em que o povo ático se sente um povo especial, um povo que merece o que tem, que merece os seus deuses e que a eles deve respeitar e aceitar as suas decisões, mas tendo a consciência de que ele, os homens gregos, foram e são grandes. Os gregos são heróis. Sófocles é, aqui, bastante diferente de Ésquilo. Sófocles respeita mais os deuses do que os homens, isto é, atribui mais importância aos primeiros no destino dos segundos do que a estes mesmos. Isto nunca aparece nas tragédias de Ésquilo que chegaram até nós. Parece curioso que Sófocles, mais jovem do que Ésquilo, seja mais conservador do que este. Mas não é sempre assim? A geração imediatamente a seguir a uma geração revolucionária e vitoriosa nas suas conquistas, não educa seus filhos de um modo mais abastado e em segurança, fazendo com que estes acabem por se tornar mais conservadores? Assim aconteceu com a geração de Sófocles e, mutatis mutantis, com ele mesmo. Se analisarmos as tragédias de Sófocles, vamos encontrar o destino, a vontade dos deuses como factor primordial do mal que atinge os humanos. É assim em Édipo Rei, é assim em Antígona, é também assim em Electra. Por outro lado, o grande heroísmo dos seus personagens não é outro senão a coragem e a determinação com que aceitam, caminhando mesmo para ele, o seu destino traçado pelos deuses e ao qual eles nada podem alterar. Para Sófocles, alterar, se assim podemos dizer, é aceitar. Aceitar não é uma resignação, mas um acto de coragem, um acto de heroísmo. As personagens de Sófocles atiram-se na direcção do seu próprio fim, pois o fim é não contradizer tudo aquilo por que viveram até ali. Aceitar é, para este autor, a expressão da coragem máxima, da andreia, como se dizia em grego, e que tinha o significado de capacidade de permanecer onde se está; capacidade de permanecer no ponto de vista que é o seu. É assim com Édipo, é assim com Antígona, é assim também com Electra. A cada instante vêem mais nitidamente o fim deles mesmos, mas continuam a precipitar-se para ele, pois a coragem de permanecer leal ao que deve ser feito é mais forte do que salvar as suas próprias vida. Este não é, de todo em todo, o heroísmo dos personagens de Ésquilo. Em Ésquilo, quem mais mal faz ao humano é o próprio humano. Os deuses são, ainda assim, menos responsáveis no desespero em que os humanos colocam e conduzem as suas próprias vidas. O que parece estar em causa em Ésquilo é a necessidade de dar ao humano o que é do humano. O modo como conduzimos as nossas vidas é o que mais importa em tudo o que nos acontece. Os deuses julgam-nos, afectando-nos má ou afortunadamente, consoante o nosso comportamento. Devemos querer o que é do humano e não o que não lhes diz respeito. Há aquilo que convém a um deus e aquilo que convém a um humano. Há, de facto, uma posição muito clara em relação a uma necessidade de traçar uma ontologia do humano, em Ésquilo, que não encontramos efectivamente em Sófocles. Pois esta posição mostra a necessidade de uma hermenêutica segura acerca do que é o humano; sem isso, incorremos no risco de nos desviarmos do que nos convém e cair em impiedade, afectando todo o nosso destino e os que de nós advêm.
Não é que os deuses não tenham poder sobre nós e de nossas vidas decidam, não é isso que está em causa em Ésquilo, o que verdadeiramente está em causa é que as acções dos deuses em relação à vida de cada um dependerá das acções de cada um enquanto humano, isto é, dependerá de uma boa ou má adequação à vida humana. Ou seja, as acções dos deuses sobre nós derivam menos das suas paixões do que das nossas. Saibamos nós controlar as nossas paixões e eles saberão recompensar devidamente a nossa conduta. Há aqui, obviamente, também uma posição ética marcante. É verdade que podemos ver, como o faz Werner Jaeger, que mais do que o humano, a grande guerra de Ésquilo é o destino, a moira, e que o humano é apenas o seu portador. Mas o destino que nos atinge, como um tsunami, não é apenas devido ao livre arbítrio ou às paixões dos deuses. A nossa conduta afecta, não só as nossas vidas, mas a vida da cidade, a vida de todos; os filhos herdam os males que os pais fizeram. A expressão portuguesa, pintada de fado, “cá se fazem, cá se pagam”, assume em Ésquilo uma força holística: se não nós, os nossos hão-de pagar as nossas faltas, mesmo que sejam inocentes, amplificando assim a dor do universo, e o horror a quem assiste. É o caso da trilogia Oresteia, por exemplo. Podemos ver aqui a força “tsunamíca” do destino ou o resultado de uma acção inadequada. Destino e acção estão intrinsecamente ligadas em Ésquilo. Por isso, e antes de mais, é preciso deixar claro, que há uma hermenêutica do humano que é necessária compreender, que é necessário auto-consciencializar. Pois sem isso, sem sabermos o que é conveniente a um humano e o que não é, não poderemos agir bem ou mal em relação às nossas próprias vidas. Sem se traçar primeiro uma ontologia – não necessariamente teórica, obviamente –, não há possibilidade de se erigir uma ética. E esta é a grande guerra de Esquilo. A acção humana, o desconhecimento da mesma, é a mão que segura a flecha no arco esticado. Evidentemente, e ainda hoje isso é válido, não se sabe onde começa e onde termina a relação entre acção e destino. (Continua na próxima semana)

5 Out 2016

A Revolução Digital

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]e já ponderei sobre o futuro do sexo em artigos anteriores, talvez fosse útil falar do sexo no presente, o presente altamente digital, electrónico e cheio de gadgets. Não me refiro a revoluções no sexo per se, apesar da pornografia online e de fácil acesso ter um papel importante na sexualização de muitos por ai, mas tem contribuído para a forma como as pessoas se conhecem e se relacionam.
Comecei a constatar (e julgo que muitos concordarão) que é difícil conhecer pessoas novas quando se é adulto. Antes andávamos na escola e na universidade, com pessoas diferentes a entrar e a sair e tínhamos a possibilidade de criar uma maior rede de conhecidos. Mas quando chegamos a uma idade onde as redes sociais estão mais estagnadas, pior ainda, quando decidimos migrar e começar novas amizades do zero, os maiores de idade encontram grupinhos de amizades já feitos e uma maior dificuldade em socializar com pessoas diferentes. Normalmente, procuram-se pessoas através de hobbies e outras actividades para encontrar possíveis amigos ou parceiros românticos com gostos similares aos nossos. E agora temos disponíveis outras estratégias.
As saídas à noite sempre foram um seguro veículo para encontrar uns beijinhos, uma ida para a cama com companhia, talvez para encontrar o amor e talvez para encontrar um relacionamento. O álcool, as luzes que piscam incessantemente e a música alta tem sido os facilitadores para uma ‘noite de sorte’. Agora existem aplicações para facilitar esta nossa ‘sorte’ possibilitando um tiro mais certeiro para uma noite de divertimento. As novas apps romântico-sexuais aproximam estranhos improváveis através de gostos pessoais, critérios de personalidade ou, simplesmente, o aspecto físico. As possibilidades são muitas dependendo do objectivo, seja uma noite de loucura até um relacionamento sério. Temos o Tinder, Grindr, Bumble, Happn, Siren, Hinge… Tudo para todos os gostos – e para todas as orientações sexuais.
As histórias dos utilizadores destas plataformas são mais que muitas. Para além das aplicações mais recentes que são utilizadas maioritariamente por um público mais jovem, os solteiros mais velhos já tinham começado a usar sites para encontrar o amor das suas vidas. Não há, ou pelo menos não deveria haver, estigma por usar estes facilitadores amorosos. Eles têm contribuído para histórias com finais felizes – que têm continuado com casamentos felizes.
Contudo, o potencial viciante destas aplicações fez-me pensar sobre como as pessoas passam a ser encaradas e como se começam a relacionar. Em relação a uma aplicação como o Tinder (as outras também são muito similares), aquele movimento do dedo para a esquerda e para a direita na ânsia de encontrar um ‘match’ única e exclusivamente através do aspecto físico de um tipo ou de uma tipa, por mais divertido que seja (porque o é), traz que consequências? A superficialidade do conceito faz-me lembrar uma ida ao supermercado com toda a mercadoria exposta e pronta a ser escolhida. A aplicação em si não é tão dramática, mas sinto que traz a sensação de que relações humanas são descartáveis – que depende de uma fotografia e do quão giro és – e se não resultar, há muito, mas muito mais, por onde escolher.
Usar o Tinder e outras aplicações que tais não é mau nem desaconselhado – pode ser mesmo muito divertido – mas deve ser ajustado às expectativas de cada um e usado com sensatez. O mundo digital romântico rege-se por normas que ainda não foram totalmente exploradas e onde homens e mulheres trazem esperança, desejos e pré-concepções que não se ajustam com a de muitos outros. Se há pessoas no Tinder à procura de amor verdadeiro, há outros que procuram uma one night stand. E tem que haver, acima de tudo, respeito pelo outro.
Mas como uma discussão sobre aplicações (e sites) de procura romântico-sexual é um assunto que traz pano para mangas, e porque ainda nem sequer tive tempo de me debruçar sobre women firendly apps – para a semana há mais.

5 Out 2016

Rui Rocha, fundador da Casa da Rocha: “Faço a convergência de duas tradições”

Rui Rocha deixou de ser apenas académico para se dedicar a um negócio seu. A “Casa da Rocha” abriu portas há cerca de uma semana no Centro Histórico e mostra o bom de dois mundos: chás chineses e doçaria conventual portuguesa. A loja poderá um dia ser palco de exposições e workshops

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] “Casa da Rocha” esteve quase para nascer em Lisboa, mas Rui Rocha, o seu fundador, decidiu que é em Macau que quer ficar para o resto da vida. Aberta há uma semana, na Calçada da Rocha, no Centro Histórico de Macau, esta loja tem uma panóplia de chás chineses, escolhidos pelo também director do Departamento de Português da Universidade Cidade de Macau (UCM), e doçaria conventual portuguesa, até então inexistente no território. Há ovos moles, suspiros e cavacas, entre outros doces. A corrida aos doces foi tanta que no segundo dia de funcionamento da “Casa da Rocha” estava praticamente tudo esgotado.
“Não vou morrer de barbas na universidade e isto dá-me uma certa liberdade e prazer, porque são coisas de que gosto. Permite-me também investigar um pouco mais sobre o chá”, contou ao HM Rui Rocha, enquanto à mesa se bebia um chá verde.
O antigo director do Instituto Português do Oriente (IPOR) explicou ainda que, com a Casa da Rocha, faz “a convergência de duas tradições, uma centenária e outra milenar”.
“Funcionava aqui a Futura Clássica (projecto de Ivo Ferreira e Margarida Vila-Nova), mas tivemos uma conversa e perguntaram-me se não queria ficar aqui porque fazia-lhes pena deitar fora toda a obra que fizeram e o investimento. Os móveis ficaram, as mesas foram adquiridas por nós com azulejos da Casa de Portugal em Macau”, contou ainda.

Um gosto antigo

Rui Rocha começou cedo a visitar casas de chás e a estudar esta bebida que pode ter efeitos relaxantes e terapêuticos. “A minha mãe é de Macau e recebíamos regularmente chá verde. Quando cheguei a Macau, em 1983, fiquei alojado no Hotel Metrópole e fui tomar o meu almoço e pedi chá e deram-me ‘Tetley’. Aí disse: “estou na China ou no império britânico?”. O ‘Tetley’ é aquilo que os produtores de chá dizem ser a parte não utilizada do chá”, recorda.
Na “Casa da Rocha” existem sete variedades de chá verde, de entre mais de cem existentes. “Escolhi dois chás brancos, amarelos, pretos e depois há os chás florais, que conhecemos como chá de jasmim. Depois temos as tisanas, que são chás mais purificantes. Vou muitas vezes à China a lojas de chá e a mercados e desde que estou em Macau que gosto muito de chá. Venho sempre estudando coisas sobre o chá, porque para além do interesse cultural do chá, há a poesia, a estética, em termos de cerimónia do chá, que é mais simples do que a japonesa. A cerimónia chinesa não é tão cerimoniosa e a mim interessa-me mais. A cerimónia do chá do Japão acaba por menorizar um pouco o que é a estética do próprio chá”, referiu ainda o responsável pela loja.
Quanto aos doces, são importados de Portugal e vêm preencher uma lacuna no território que, ao contrário de outros países asiáticos, ainda não tinha doçaria conventual portuguesa à venda.
“O doce conventual português existe no Japão e existe em qualquer lado, as cavacas, o pastel de feijão, o pão de ló de Ovar, mas com nomes japoneses. E é curioso que aqui não temos. Quando houve a perseguição dos jesuítas e outras ordens religiosas, muitos deles eles fugiram para a Tailândia e hoje existe no país doçaria tradicional portuguesa”, explicou.

Um espaço para as artes

A “Casa da Rocha” pretende ser mais do que um espaço para beber chá e comer doces, sem esquecer aquela bebida tão portuguesa que é o café. Rui Rocha garantiu ao HM que a ideia é fazer da loja um espaço dedicado às artes.
“Este é um espaço de confluência de culturas de Macau e não se confina apenas a vender chá ou doçaria conventual portuguesa. Também pode ser um espaço interessante para que artistas de Língua Portuguesa possam expor aqui as suas peças. Poderíamos também fazer workshops sobre o chá ou cerâmica portuguesa. Sem fins lucrativos, isso não nos interessa muito.”
Mais do que o português que quer recordar o sabor dos ovos moles ou do chinês que quer beber um chá, a “Casa da Rocha” quer atrair as comunidades coreana e japonesa e preencher um vazio.
“Sem menosprezo pelas casas de chá que existem, não vejo que haja aqui grandes casas de chá. Sei que há uns clubes de chá, havia uma casa muito interessante na Taipa, que fechou. Era de uma associação, cheguei a ir lá duas vezes. Há depois uma iniciativa ou outra, mas eu queria fazer uma coisa que fosse efectivamente minha”, concluiu.

5 Out 2016

Yokohama perde exclusivo de pneus do GP ao fim de 33 anos

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Conselho Mundial da Federação Internacional do Automóvel (FIA) comunicou na madrugada de quarta-feira que a Pirelli será o fornecedor exclusivo de pneus da Taça do Mundo FIA de Fórmula 3. O construtor italiano de pneus irá ocupar o lugar até aqui da Yokohama que desde a primeira edição, em 1983, assumia esse papel. A Pirelli, que fornece em exclusivo os pneus para a Fórmula 1, não tem na sua gama de pneus um exemplar para a Fórmula 3, apesar de fornecer as “borrachas” que equipam os monolugares dos campeonatos GP2 e GP3 Series. A Pirelli terá levado a melhor nesta adjudicação sobre a Yokohama e sobre a sul-coreana Kumho, dois construtores com maior experiência na Fórmula 3. Dado que as equipas e pilotos de Fórmula 3 não tiveram qualquer contacto com estes pneus até hoje, o comportamento destes poderá ser um factor decisivo em termos de resultados na tarde do dia 19 de Novembro. Para além da Fórmula 3, a Pirelli também manteve a exclusividade da Taça do Mundo FIA de GT, mas no caso dos carros de Grande Turismos a empresa milanesa tem um vasto historial. A empresa transalpina é fornecedora oficial de pneus das Blancpain GT Series, a maior competição da especialidade na Europa e que é gerida pela empresa SRO Motorsports Group, que este ano assume uma vez mais o papel de relações com os concorrentes na prova de GT da RAEM. Em Março de 2015, a Pirelli foi vendida à China National Chemical Corp (ChemChina) por 7,7 mil milhões de euros. Desde ai o quinto maior fabricante de pneus do mundo tem reforçado a sua presença em termos desportivos no continente asiático, particularmente na República Popular da China.

30 Set 2016

Natacha Fidalgo, locutora

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]voz de Natacha Fidalgo não será estranha ao público de Macau. É ela que ocupa as tardes de sábado com o programa “Dois Dedos de Música” da Rádio Macau. Mas a cara por detrás da voz é iluminada por um sorriso que não significa facilidades na vida, mas antes uma força que lhe é intrínseca.
Esta menina da rádio está em Macau há cinco anos, mas a história é diferente da maior parte dos portugueses que vieram para a RAEM. “A minha história é tipo filipina”, ilustra ao recordar a sua chegada ao território.
A mãe de dois filhos (na altura com quatro e três anos) foi apanhada pela crise em terras lusas tendo deixado a família para trás. “Não era uma questão de opção, não havia alternativa se não pegar nas malas e ir em busca de sustento. Vim literalmente sem nada, aflita”, afirma com uma expressão que não esconde a forte memória.
O que lhe terá valido foi o bom acolhimento por parte de um casal amigo com quem viveu os primeiros meses. O início não foi fácil, já que Natacha “não tinha nada e passava os dias a bater de porta em porta”. Com formação em Recursos Humanos, mas com experiências de trabalho em várias áreas, “o que viesse à rede era peixe”.
Chegou no início de Junho para apanhar o final do ano escolar e tentar a sua sorte enquanto professora de Inglês. “Foi muito complicado”, recorda, enquanto fala das tentativas sucessivas e a distância dos filhos. O que fez “não foi um acto de coragem, foi sim um acto de desespero porque era a única alternativa”.
Ao mesmo tempo que lembra as saudades, Natacha Fidalgo conta uma história que não esquecerá e que acompanha a altura em que arranjou emprego e voltou a ter a prole perto de si.
“Fui a uma sapataria para comprar uns sapatos e consegui sair de lá com dois pares, um para cada um dos meus filhos. Lembro-me que, quando dei por mim, já na rua, as lágrimas abundavam por ter conseguido voltar a ter para as necessidades fundamentais, sem ter que decidir o que era mais urgente, estava feliz.”
Tinha arranjado emprego enquanto professora de Inglês numa escola chinesa e já “podia pôr o miúdo na bola e a menina no teatro”.
“Há muita gente que fala muito mal disto (Macau), mas eu não tenho nada que o fazer. Quando cheguei bati muitas vezes com a cara nas portas mas, agora, devo tudo a Macau”, afirma ao mesmo tempo que expressa que não entende o facto de outros cá estarem sem vontade. “Tenho um trabalho digno, tenho os meus filhos e faço o que gosto. Em Portugal, aos 35 anos, não me davam emprego por ser ‘velha’ e aqui senti que continuava a ter valor para ser digna e poder trabalhar. Estarei sempre grata por isso a Macau.”

“Portugueses tenho em Portugal”

A vida tem continuado e os projectos alargado. Até ao ano passado dava aulas de Inglês na escola chinesa de matriz cristã. Este ano mudou de rumo: está numa pequena escola chinesa de matriz confuciana e esta experiência com a comunidade local de origem chinesa só tem trazido “mais valias à vida”.
Quando refere que é professora, as pessoas presumem de imediato que está na Escola Portuguesa de Macau, ao que Natacha Fidalgo responde prontamente que “portugueses há em Portugal”, não lhe fazendo sentido que estar numa comunidade sem a entender, sendo este tipo de experiência fundamental.
Por outro lado, no ensino chinês, o professor é respeitado e a própria metodologia está a mudar. Não é contratada para “despejar e mais nada, as coisas estão a mudar e cada vez mais, dentro de alguns limites, uma das exigências que se fazem é mesmo que, por entre os conteúdos curriculares se ensinem estratégias de pensamento e de capacidade crítica por um lado, e por outro que se desenvolva a criatividade nas crianças. “Na comunidade chinesa não é fácil, mas é muito desafiante fazer parte desta mudança”, frisa.

Para além da rádio

Não contente em ser apenas a menina da rádio, mete-se em todo o tipo de projectos, desde a educação ambiental à sensibilização para a pobreza e a implementação de acções de solidariedade. São várias as áreas em que investe o seu tempo.
“As pessoas têm que fazer aquilo que gostam”, avança Natacha Fidalgo. Quando se fala na rádio relembra a “garota de 16 anos que animava uma pequena rádio pirata”. Com o passar do tempo, em Macau, quis encontrar este amor antigo.
“Não podia ser nada a sério porque não tenho formação e ninguém me aceitaria com um currículo cuja experiência era na adolescência em rádio pirata”, ilustra com uma gargalhada. “Para um programa de autor até podia dar”, confessou. Por gostar de pessoas e considerar que “todos são especiais” criou o “Dois Dedos de Música”, onde convida para cada edição alguém que fica encarregue de fazer a playlist do programa. “Com a música as pessoas ‘despem-se’ e acabamos por ficar a conhecer uma centelha da alma de cada um enquanto passamos uma boa tarde de sábado”, explica. Por outro lado, diz, esta é uma oportunidade para todos experimentarem “a magia da rádio”, da qual gosta tanto.

30 Set 2016

Da casa a caminho do tempo

[dropcap style=’circle’]G[/dropcap]osto de casas velhas. Gosto de casas velhas porque nas paredes das casas velhas está a memória do que desconheço. As casas velhas guardam silenciosamente nascimentos e mortes, beijos proibidos e abraços consentidos, jantares de mulheres e homens elegantes, velórios de lágrimas e carpideiras, homens a fumar nos jardins e donzelas perdidas em amores interditos. As casas velhas são o passado das cidades e o passado das pessoas: são o outro tempo colectivo que, nas vinte e quatro horas dos nossos dias, pouco importa.
Gosto ainda de casas velhas por razões de natureza arquitectónica. As casas velhas de que gosto são bonitas, mais bonitas do que a maioria das casas novas. Em Macau, as casas velhas são as mais bonitas de todas, porque são as únicas em que se respira, as únicas com portadas que protegem do calor, as únicas de paredes grossas, capazes de preservarem sussurros. Porque gosto de casas velhas, não gosto de casas a cair de podre.
Pouco tempo depois de ter chegado a Macau, percorria diariamente parte da cidade a pé, logo de madrugada, às vezes ainda de noite. No caminho de casa ao trabalho, passava por duas casas velhas abandonadas, quase mortas. Duas casas velhas fechadas sem pretexto, sem desculpa, sem qualquer justificação. Casas mais bonitas do que todas as outras em redor. Mas fechadas, sem sequer se poder adivinhar a cor do outro lado das paredes.
Uns anos mais tarde, uma das casas foi reconstruída: uma reconstrução mal-amanhada. As portadas de madeira foram substituídas por estruturas de alumínio e o chão, que imagino de madeira nobre, deu lugar a um pavimento em linóleo, uma coisa com um ar barato e vulgar. A casa velha, cor-de-rosa, manteve-se cor-de-rosa, apesar da mudança de tonalidade, e passou a ser o centro de tuberculose da cidade. Ainda hoje é cor-de-rosa, com um aspecto duvidoso.
A outra casa velha do meu caminho diário – a minha favorita – continuou a cair de podre. Durante alguns anos deixei de a ver todos os dias mas, sempre que por ela passava, pensava nas madrugadas, às vezes ainda sem luz, em que matei o tédio dos passos com as histórias que jamais me contaram sobre ela. E o futuro que imaginei que pudesse ter.
Há coisa de um mês, as alterações dos meus percursos diários levaram-me, de novo, a estas duas casas. Na casa velha esquecida, comecei a perceber alguma agitação. Janelas abertas, portas abertas, sinais de uma possível nova vida, que se veio a confirmar: a casa verde está a ser reconstruída e sabe-se já que não vai ter janelas com caixilhos de alumínio.
A casa verde a caminho da Guia é do Governo e vai acolher uma fundação. Não são os planos que tinha para ela, naquelas madrugadas de recém-chegada, ainda a lembrar-me de todas as casas velhas da cidade onde vivia, uma cidade em que o património é tão comum que as pessoas trabalham dentro dele, jantam dentro dele e bebem copos dentro dele – e com ele. A casa verde de Macau vai ter um destino que não é aquele que quero, mas isso não interessa: vai ter um futuro para poder continuar a ser parte de um outro tempo colectivo.
Era isto que gostava que acontecesse com o resto da cidade que está à espera: levante-se a cabeça e veja-se, bem no centro de Macau, a quantidade de edifícios que pedem ajuda, num lamento já muito perto do chão. São prédios sem o interesse da casa verde a caminho da Guia, mas são pedaços de outras vidas, que deviam ser mantidos. E depois temos o antigo tribunal, que não está a cair de podre, mas que corre o risco do desespero de quem espera por aquilo que lhe prometeram, sem que nada aconteça, depressa e bem.
Que não se ausculte mais, que não se esclareça mais. Que se faça: de acordo com as leis, de acordo com o bom senso, de forma transparente, com algum gosto, de preferência muito, sem esquemas que envolvam amigos, tios e padrinhos. Que se faça, já, depressa, antes que o velho morra de inseguro e o outro tempo colectivo, aquele em que raramente pensamos, deixe de ter qualquer significado.

30 Set 2016

Início da dinastia Ming e os Holandeses

[dropcap style=’circle’]”[/dropcap]No século XIV, o vasto império chinês encontrava-se convulsionado por inúmeras revoltas, motivadas pela dissoluta existência que levava devasso Sân-Tái (Shun Di, 1333-1368), último imperador mongol da dinastia Un (Yuan)”, segundo Luís Gonzaga Gomes.
A dinastia mongol governava a China e discriminava o povo Han a tal ponto que este, já na miséria, se revoltou. Essa revolta iniciou-se no dia 15 do oitavo mês lunar de 1355, com uma mensagem no interior dos bolos lunares tradicionalmente trocados entre as pessoas a incentivar os han a pegarem em armas contra os invasores nómadas mongóis. A história da revolta dos camponeses contra a opressão dos imperadores mongóis da dinastia Yuan chegou-nos aos ouvidos em Bozhou, na província de Anhui.
Os mongóis encontravam-se com problemas desde 1328, devido a não terem regras para a sucessão dos khan (em português can ou cão), estando a corte Yuan em lutas internas. Mobilizando a população descontente, em 1351, Liu Futong conseguiu ocupar o Sul da província de Henan e o Norte de Anhui com um grande grupo de rebeldes, que usavam bandeiras vermelhas e turbantes da mesma cor. Em 1352, Zhu Yuanzhang (1328-1398) alistou-se nesse movimento, conhecido pelos Turbantes Vermelhos, que foi vencendo os exércitos do Imperador Shun, tendo em 1355 criado um governo em Bozhou.
Liu Futong (1321-1363) proclamou a nova dinastia Song em Bozhou e coroou o filho de Han Shantong (seu primeiro companheiro de luta que tinha sido capturado e morto), Han Liner como Pequeno Rei da Luz. O movimento, que contou com a ajuda da sociedade secreta daoísta do Lótus Branco, aumentou e alastrou-se tendo, depois de muitas peripécias, conquistado todo o Norte da China.

Mensagem dentro do Bolo Lunar

Zhu Yuanzhang, nascido em 1328 de uma família Han de camponeses, teve como primeiro nome Chongba. Ficou órfão ainda jovem, devido à peste que lhe levou toda a família e para sua sobrevivência, entrou no templo de Huangjue, onde se tornou monge budista. Como eram muitos a recorrer a esse estratagema, havendo pouco alimento no templo, teve que o abandonar. Vagueou alguns anos e, em 1352, juntou-se à revolta contra a dinastia Yuan, entrando no grupo chefiado por Guo Zixing. Este, vendo as qualidades e bravura de Zhu Yuanzhang, casou-o com a sua filha adoptiva, Ma. Combatiam a Norte do Rio Yangzté e após ocuparem Hezhou (Hexian, em Anhui) em 1355, Guo Zixing morreu. Como Zhu não quis ficar sobre as ordens de outros chefes, criou um grupo de guerreiros e foi combater os mongóis para Sudeste. É dessa altura a História do Bolo Lunar, que conta ter Zhu Yuanzhang um plano para atacar a dinastia Yuan e com a finalidade de informar todos os que com ele estavam nessa luta, já que os espiões mongóis se encontravam por todo o lado, escreveu alguns papéis com a mensagem dos pormenores do plano. Escondendo-as dentro dos bolos lunares, depois enviou-os aos seus homens.
Ao mesmo tempo que espalhava pela cidade servir o bolo para prevenir desgraças, passou a palavra para que quem apoiasse o movimento, dependurasse lanternas às portas de suas casas. Tudo isso ocorreu sem que os mongóis desconfiassem já que não sabiam ler chinês e a festividade era muito antiga. Quando os chineses comeram os bolos e leram as mensagens, mobilizaram-se e derrotaram os mongóis em Yingtian (Nanjing), conquistando-a em 1356 e toda a área circundante, onde fizeram a sua base. Nos doze anos seguintes prosseguiu-se a luta contra a dinastia Yuan pelo resto da China.
Bozhou caiu nas mãos dos mongóis em 1359 e Han Liner acompanhado por Lui Futong fugiram para Anfeng. Entretanto as divergências entre os chefes dos revoltosos levaram a que muitos deles procurassem, ao longo do Changjiang, criar reinos independentes.
Após a morte em combate de Lui Futong em 1363, Zhu Yuanzhang foi ajudar Han Liner e colocou-o em Chuizhou, ainda como Rei Song. Já em 1366, Zhu convidou o Rei Song para se estabelecer em Yingtian (nome que pouco depois passou para Nanjing), mas na travessia do Changjiang (Rio Yangtzé), aconteceu o naufrágio do barco que o transportava e assim morreu Han Liner. Logo Zhu Yuanzhang, mandou construir muralhas em torno da cidade, só terminada em 1386, altura em que as fronteiras dos Han deixaram de ser ameaçadas pelos mongóis.

Fundação da dinastia Ming

Em 1368, Zhu Yuanzhang ascendeu ao trono em Yingtian, mudando-lhe o nome para Nanjing, onde fez a sua capital e fundou a dinastia Ming (1368-1644), tornando-se imperador com o nome de Hong Wu (1368-1398). De salientar que Ming significa brilhante e este imperador, após a morte, ficou com o nome de Tai Zu.
“Desde a fundação da Dinastia Ming (1268-1644), que a grande preocupação era a defesa contra qualquer tentativa restauradora da dinastia derrubada, a Yuan. Por esta razão, toda a defesa militar chinesa se concentrou no Norte, nas fronteiras com os Mongóis”, segundo referem Jin Guo Ping e Wu Zhiliang.
“A partir de finais do século XIV, nota-se uma evolução nestas actividades piratas, que parecem estar agora sobretudo ligadas às lutas que opunham o fundador dos Ming aos seus rivais. Alguns dos adversários de Hongwu, refugiados nas ilhas nipónicas, associam-se aí a piratas japoneses. Entre eles encontravam-se, talvez, antigos partidários de Fang Guozhen (1319-1374), personagem misteriosa que tanto combateu os ocupantes mongóis como os movimentos de resistência e que incluíra nas suas tropas contrabandistas e piratas das costas do Zhejiang”, segundo Jacques Grenet. Já Gonzaga Gomes refere: “De entre os inúmeros cabecilhas de rebeliões, celebrizou-se um famigerado pirata de nome Fóng-Kuók-Tchân (Fang Guozhen) que, conforme o valor das peitas que lhe eram oferecidas, ora se submetia a um chefe mais poderoso ora tomava o partido de outro, quando não agia por sua própria conta, sendo campo principal das suas terríveis proezas as riquíssimas regiões da costa meridional da China”. E Jacques Grenet refere: “A ameaça faz-se sentir portanto desde o início da dinastia (Ming) e é dessa época que datam as primeiras medidas de defesa: formação de uma esquadra, unificação do comando naval, fortificação das costas do Shandong, do Jiangsu e do Zhejiang. Graças a estas disposições, à actividade diplomática dos Ming no Japão e ao seu domínio dos mares, os ataques dos piratas parecem ter-se reduzido ao longo das últimas décadas do século XV”.
Já no século seguinte, Qi Jiguang (1528-1587) foi um estratega ao serviço da dinastia Ming com serviços reconhecidos contra a pirataria japonesa nas regiões costeiras de Zhejiang e Fujian.

Ingleses no Pacífico

Segundo o Padre Manuel Teixeira, que foi buscar a informação a K.R. Andrew, diz que “em Maio de 1585 foram capturados vários navios ingleses nos portos espanhóis e confiscada a carga. Ergueu-se na Inglaterra um clamor dos comerciantes pedindo reparação. A 7 de Julho, o Governo instruiu o Almirantado para examinar estas relações e passou cartas de represália aos que provassem ter sofrido perdas. Estas cartas davam licença aos prejudicados para armar navios e capturar os navios espanhóis no mar. No verão de 1585, uma hoste de aventureiros – private men-of-war or mere pirates entre os quais Sir Francis Drake – lançou-se à caça de espanhóis. De 1589 a 1591, mais de 200 navios se empregaram nesta pirataria”. Mas, já desde 1579, circulavam em águas das Molucas e Java a soldo da Rainha Isabel I (1558-1603), os corsários ingleses, Francis Drake e Thomas Cavendish, como refere Beatriz Basto da Silva e prosseguindo pela sua Cronologia, em 1592 “o inglês James Lancaster ataca navios portugueses na carreira de Malaca” e em 1596, “A rainha Isabel I de Inglaterra tenta alcançar negociações com o Imperador da China. Escreve-lhe uma carta que não chega ao destino”.
A última do ramo dos Tudors, Isabel I (1533-1603), filha de Henrique VIII e Ana Bolena, apoiou as revoltas das Províncias Unidas contra a Espanha, que tinham começado lideradas por Guilherme de Orange em 1558. A independência dos Países Baixos foi declarada em 26 de Julho de 1581, mas só reconhecida depois da Guerra dos Oitenta Anos (1568-1648). De lembrar que a Armada Invencível foi derrotada em 1588, sendo a esquadra confiada a Álvaro de Bazán, marquês de Santa Cruz mas, devido ao seu falecimento, substituiu-o o inexperiente em coisas do mar duque de Medina Sidonia, informação de Joseph Walker na Historia de España, onde refere ainda ter Francis Drake saqueado as costas do Chile e Peru, assim como Cádis.

A VOC no Pacífico

Em 1579 é formada a República das Províncias Unidas, criada por um grupo de sete províncias, entre elas os Países Baixos (Holanda e Zelândia), que se tornou independente de Espanha.
O holandês Cornelius Houtman vai a Lisboa em 1592 para recolher informações sobre as viagens marítimas portuguesas à Índia. Em 1594, um grupo de nove mercadores de Amsterdão decide unir-se e formar uma Companhia de Navegação, a Van Verre. Com quatro barcos e 249 tripulantes, no ano seguinte meteram-se no Atlântico para chegar ao Oceano Índico, usando a rota encontrada em 1488 pelos portugueses. Levaram dois anos até regressar, tendo morrido dois terços da tripulação e o apuro feito com a venda dos produtos trazidos deu apenas para pagar o investimento feito. Não fosse o êxito de terem navegado até ao Oceano Índico e a viagem teria sido um fracasso, mas com a rota da Índia aberta, logo foram criadas pelos mercadores holandeses novas companhias que se aventuraram a enviar barcos para a Ásia. “De 1598 a 1603 saíram treze frotas com destino às Índias. Muitas sofreram naufrágios desastrosos. As que conseguiram retornar tiveram lucros que alcançaram até 265%”, segundo Mauro em Expansão Europeia (1600-1870). Foi grande o sucesso e a fortuna imensa.
Os Holandeses estabeleceram-se em 1598 no Oriente e no ano seguinte apareceram na costa de Macau. Já os ingleses, vendo-se a ficar para trás, criaram em 1600 a Companhia Inglesa das Índias Orientais. Passados dois anos apareceu a Companhia Holandesa das Índias Orientais (VOC – Vereenigde Oost-Indische Compagnie), Companhia Unida da Índia Oriental que data de 20 de Março de 1602, mas só em 1618 a sede passou para Batávia, como refere B. Basto da Silva. A VOC foi criada após terminada as gestões feitas por Oldenbarneveld e a fusão das diferentes companhias numa única, pois estas “eram concorrentes na compra de produtos na Ásia e na sua venda, na Europa”, segundo refere o brasileiro Mauro. E, terminando com António Manuel Hespanha, no livro Panorama da História Institucional e Jurídica de Macau: “No século XVII o Império holandês vai seguir o mesmo modelo, pela ocupação dos entrepostos anteriormente dominados pelos portugueses. Mas os holandeses criaram formas inovadoras, como as grandes companhias comerciais (Companhia das Índias Orientais, 1602; Companhia das Índias Ocidentais, 1621), concedendo à iniciativa privada um papel que, em Portugal, a Coroa desempenhava preferencialmente por si”.
A Companhia Holandesa das Índias Orientais (VOC), com sede em Amesterdão, onde em 1609 é criado o Banco de Amesterdão para apoiar o comércio colonial, criou o conceito actual de acções quando em 1610 dividiu o seu capital em quotas iguais e transferíveis em Bolsa. O seu objectivo era o de excluir os competidores europeus e substituí-los nas rotas comerciais pelos três oceanos.

30 Set 2016

E depois o céu abre-se e caem os anjos

[dropcap style=’circle’]S[/dropcap]ão fases. Como as da lua. Que fazer quando chega esta estação que nos deixa de algum modo indecisos entre o sentido de queda, decadência e melancolia e o de colheita, harvest, outro nome para o mesmo tempo, como uma síntese do labor subterrâneo à consciência atravessando meses suaves e deparando-se com o desafio.
Como, como conseguir manter a esperança do tempo que há-de voltar com os primeiros ventos suaves, prenúncio de mudança. Como, como conseguir esquecer o frio que falta atravessar e corrói a temperatura ainda quente de hoje. O que sobra de Verão todos os anos. Como, mas como resistir ao nocturno a instalar-se como um sem-fim de tempo morto. E pensar que tudo volta e há-de voltar sempre enquanto se fôr possibilidade de gente. Não é mau ser-se lunar. Dou comigo a apreciar madrugadas novas. De novo, só o apreciar. E novas são sempre. Não consigo desfitar por momentos o mistério maravilhoso de subsistir estação após estação numa que é fuga para a frente sempre à espera das melhores. Revirar a sensação pesada de não querer e lembrar que sempre volta a acontecer conseguir. E que os ritmos, como na música, alternam cheios e vazios, cheias e secas, frio e calor na pele. E que é bom. Mas gostava de ser sempre tempo bom. Mesmo eu. É pena. Sempre tempo bom de levar. E chegam estes dias e a queda. Das penas, dos cabelos das árvores. Também. E sabe-se o que vem por aí mas é tempo de colheitas. Não há que ser menor que o natural. Como a síntese do tempo bom no seu labor subterrâneo. E da terra. Também. Talvez a trégua nos sentidos a preparar o desafio. E vem. E vai. E volta o tempo bom. E pelo meio flores de inverno e árvores de folhagem perene. Deve fazer sentido.
Como os dias. A lembrar como comecei a gostar das madrugadas. Talvez amanhã. A limpa transparência de tudo, ainda como antes as noites alongadas, algo entre os dias. Sim, é isso o algo indizível entre dias, a suspender o tempo num remanso que se sabe finito mas é bom fingir não ser. Finito mas a parecer não. O ser. Limpo do sono bom ou mau. Atirado para o silêncio das cores ainda amodorradas em tons quase neutros. Tudo suave e antes de ser. Passada a impressão de já não ser. Nada sobra do dia que foi. Interrompido pelo esquecimento dos lençóis puxados com força sobre o rosto e o silêncio da noite, como o cair do pano. Sem palmas. Ruído já houve demais. A acelerar horas adentro. E numa pressa de acabar com o cansaço inadiável de um dia. Mesmo como os outros. Sinto-lhe o limite. Aprendi a dormir nele. E a levantar-me. Devagarinho. Para o dia em branco a alvorecer. Indefinido mas distinto de tudo antes, muito antes de tudo depois. Assim. Ainda. E é nesse ainda que me suspendo até um momento qualquer em que o dia se revelou, nítido como um animal a sair detrás de uma névoa. E não é possível ignorá-lo. Até à noite. Mas entretanto habita-se a forma da luz leve nas coisas como mais uma velatura sobre velatura sem massa e sem peso ainda. Sem urgência. Sem depois. Ainda. A cidade limpa, os olhos temporariamente tolhidos do sono, extraídos do esquecimento. Lentamente. Para um nada ainda possível. Antes que o verdadeiro colorido se instale numa paleta demasiado veemente.
E dizer verdadeiro é como dizer aparente, irreprimível ou desnecessário. Seria bom um pouco mais mas resta o contraste a apaziguar. Com um silêncio entre notas musicais. Tão necessário como essas ao acontecer. Que é não sair do mesmo círculo, sítio, digo. E contudo não nos encontrarmos nunca no mesmo ponto do universo. Nada, nunca, igual. Outra ilusão como a de só o corpo envelhecer. Mas as ideias também. Algumas morrem até, afundadas na memória. Outras como botões de flor que caiem antes de chegar a abrir. E algumas, escassos instantes após uma passagem rápida pelo fundo dos olhos. E já não estão, como talvez nunca mais tenham estado. Resta por momentos uma perplexidade ante a memória de uma forma imprecisa que se teceu e desfez. Uma reverberação que o é em si e já sem forma. E adiante mesmo essa se distende suavemente noutras percepções. Outras, ideias, são árvores de crescimento lento e imperceptível, de folha persistente ou caduca, mas que acompanham com o fôlego intemporal de viajantes de longo curso. Tanto de subterrâneo como de aéreo a adejar a favor das intempéries. Há de tudo na variedade incontável da natureza. E na sua verdade. Na sua persistência cíclica. Não lhe quero querer ficar atrás. Se não tiver que ser.
Mas entretanto o Outono. Esta realidade temporal de apagamento. Ou de colheita como síntese. Mas, the fall. Em inglês com um sentido ímpar. E o uso. Cair no amar, cair no sono. Cair imparável em espaços amplos e conceptuais. Sem coordenadas. A queda. E o sem fundo abaixo. E “fall down”. Para baixo. Afinal. De algures. Que não sendo tempo nem espaço foi ascensão possível. Ou como retorno de aventuras e dinâmicas psíquicas em que nos aventuramos por imperativos de transcendência. Cair na realidade, na terra a que se pertence. Também. O território do meio, onde pertencem as árvores. E a queda dos anjos. Silenciosos por aí, antes, mas a trovejar no inverno. Nos intervalos das nuvens. Caiem despedidos. A afastá-las do caminho, quase se lhes vê os fios. Ou serão cabos eléctricos. E depois as asas enlameadas. Ou o que resta. As omoplatas, nas costas lisas, para encostar o ouvido.
Cair no tempo zangado e invernoso. Zangado com o corpo. Um tempo que reclama e o zurze violentamente, cortante, uivante, de uma fúria em crescendo de irracionalidade. Como alguém a deixar-se levar por emoções. A carpir, a ondular com veemência uma dor de elementos em desarrumação. Às vezes, temo que o inverno nunca pare de crescer em fúria. Auto alimentada de si, como se pudesse não terminar. Mas de súbito, também nos invernos, depois de uma chuvada violenta e ventosa a perder o norte, tudo pára. E rompe o sol. Assim. Também somos assim. Feitos de desassossegos e reacções físicas, descargas eléctricas que trovejam no silêncio da mente. Mas vertem. Por vezes. No descompasso da respiração das batidas cardíacas e do disparar da voz. Ondas. Elementos em fúria. Palavras. Mas ao contrário destes, que nunca se cansam e somente se reservam para outro crescendo e outra estação, em nós sobra, no esvair do desassossego, um outro. Um cansaço. Do difícil desalojar a alma das correntes do costume. A civilidade e a ética os sentimentos as contradições. Elementos em fúria, repito. Em choque. Mas há uma intensidade que nada deve ao silêncio do verão. O gotejar na folhagem quando serena a chuva. As cores reavivadas e como se a vencer a dificuldade da luz. A turbulência do mar e das marés. Os fios de água a abrir regos na terra, as nuvens bíblicas. Mesmo o assobiar do vento. Mesmo as chuvas a escorrer nos vidros. Aquelas que parecem tender a apagar a realidade da casa se persistirem. E tudo, de caminho. E o cinzento suave e suado de uma ténue tristeza de tudo, em que descansamos.
Mas algo se preparou lentamente como as despensas dos pequenos bichos da terra. Para a travessia. Talvez para o contraste que impede a habituação. A indiferença. E tudo se renova numa generalidade sempre idêntica. Nunca igual. Excepto naquele momento de equilíbrio entre dias e noites que breve se desfaz. E sobrevém a face escura do ano. Na expectativa de uma outra estação que estará sempre num ponto qualquer do percurso dos anos. Como dos dias. E voltamos. Mais fortes ou mais frágeis. Muitas vezes renovados. Nunca mais jovens. Isso não. Mas há ainda o que nos distingue do natural. Poder acontecer tudo sem ordem nem ritmo regular. Fora de tempo e em qualquer momento. Ao contrário dos elementos. Uma chuva a cair para cima. Sem lógica nem predestinação. É bom, o humano. Não há nada de mal em ser lunar e entristecer ainda assim quando chega o Outono. Porque haveria…Como flores que fecham ao entardecer como podem. No seu sono de flores simples guiadas pela luz. Ser lunar na melancolia e solar à luz do dia. Por exemplo. Ou o contrário, porque de humanos, nos queixamos ser.

30 Set 2016

Música | Clockenflap regressa com Chemical Brothers, Die Antwoord e George Clinton

Mais de um dezena de bandas vão subir aos palcos do Clockenflap este ano, num alinhamento que conta com nomes como os Chemical Brothers, Die Antwoord e Sigur Rós. A música reina durante três dias, num festival que se estende a todos os géneros

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]maior festival de música das redondezas está de volta a Hong Kong em Novembro. Este ano, o Clockenflap tem no alinhamento The Chemical Brothers, Die Antwoord e Sigur Rós, só para mencionar alguns. E o cartaz não está ainda fechado. transferir
Depois de um 2015 com “mais de 60 mil” festivaleiros, o Clockenflap promete mais música e arte no “Harbourfront” de Kowloon de 25 a 27 de Novembro, com bandas que vêm de todas as partes do mundo. A organização anunciou recentemente a presença dos The Chemical Brothers.
A banda do Reino Unido, que já cá anda desde os anos 1980, sobe ao palco principal do festival no último dia, domingo. Com seis álbuns e duas dezenas de singles no topo das preferências, Tom Rowlands e Ed Simons chegam ao Clockenflap para aquele que será “o único concerto” da banda na Ásia. O duo de música electrónica, “reconhecido em todo o mundo por sets ao vivo de cortar a respiração”, promete uma “performance a não perder”, onde a música vai fazer-se acompanhar de imagens psicadélicas e um festival de luzes.

De África com loucura

O Clockenflap apresenta ainda os Die Antwoord. Directamente da África do Sul, os “freaks” da cena musical que junta o Rap e as ‘raves’ sobem ao palco no segundo dia do evento. O bizarro duo toca pela primeira vez em Hong Kong, onde mostrará o que faz de melhor: a veneração e a paródia à contra-cultura Afrikaans. Com o quarto álbum a caminho e passados sete anos desde a sua estreia, Die Antwoord (“A Resposta”, em Português) afastam-se de tudo o que é comercial e comummente aceitável.
“Misturam rap com rave, visuais especiais e letras afiadas, são o antídoto perfeito para o veneno que é o ‘mainstream’”, escrevem na apresentação da banda. die_antwoord_insta
Da Islândia chegam os Sigur Rós, que regressam a Hong Kong e trazem consigo novo material. Classificados como uma banda de “post-rock”, prometem aquela que será “a sua mais épica performance de sempre”.

Do Hip Hop ao Funk

Blood Orange (Reino Unido), Fat Freddy’s Drop (Nova Zelândia), George Clinton and Parliament Funkadelic (EUA), Mad Professor (SFSF). Entre sexta-feira e domingo, o Hip Hop, R&B, Soul e Funk estará nas mãos de representantes internacionais destes géneros musicais.
É o caso de Blood Orange, que apresenta a mistura perfeita de R&B e electrónica. Sobe ao palco no sábado, depois de ter aparecido em 2004 e escrito músicas para bandas como os Florence and The Machine, Carly Rae Jepsen, Kylie Minogue e até Chemical Brothers. No mesmo dia é tempo para ver Fat Freddy’s Drop – numa combinação de Reggae, Dub, Blus e Jazz -, e o produtor de Dub-Reggae Mad Professor, que há mais de 35 anos faz novas adaptações a músicas de bandas como os Beastie Boys, Depeche Mode, Sade e Jamiroquai.
Um dia antes sobe ao palco “o rei do Funk”: George Clinton, lenda que inspirou nomes de Michael Jackson a Red Hot CHilli Peppers, está no topo desde há 50 anos e continua, ainda hoje, a fazer todos dançar. Preparados para o senhor que ainda hoje sobe ao palco com Mary J. Blige e Grandmaster Flash?

Da Ásia com talento

Sem esquecer onde acontece, o Clockenflap compromete-se todos os anos a trazer a Kowloon as bandas asiáticas do momento e este ano não foi excepção. images
De Taiwan vem Cheer Chen e o seu folk melódico, prontos para subir ao palco no sábado, um dia antes do rock dos japoneses Sekai No Owari. A Coreia é representada pela banda indie Hyukoh e há espaço para bandas da casa: …Huh?!, Juicyning, Fantastic Day, TFVSJS, Tux e CharmCharmChu.

Lista que continua

Foals chegam pela primeira vez a Hong Kong depois de actuarem em festivais à volta do mundo, como o Coachella, para tocar no domingo. O último dia do festival recebe também Yo La Tengo (EUA), Crystal Castles, Sun Glitters, o “prodígio francês da electrónica” Fakear e os conterrâneos Birdy Nam Nam.
A electrónica mantém um lugar de topo no Clockenflap com outros nomes como Badbadnotgood (sexta-feira), 65daysofstatics (sábado) e Rodhad.
José González, Jimmy Edgar, Reonda e Pumarosa são outras das presenças, que partilham o festival com The Jolly Boys da Jamaica.
Mas o Clockenflap não se faz só de música e este ano marcam presença novos performers com o já tradicional Club Minky. Da comédia ao circo e artes performativas, há diversidade para todos os gostos. “All Genius, All Idiot”, da trupe Svalbard, “Yeti’s Demon Dive Bar” e “Ichi” são alguns dos convidados, que partilham o espaço do festival com a instalação The Blind Robot, que dá a oportunidade aos humanos festivaleiros de conhecer um lado doce e emocional que não se espera de uma máquina.
A segunda fase dos bilhetes já está à venda e permite a compra de ingressos a preços que vão desde 850 a 1620 dólares de Hong Kong. Estão disponíveis até 10 de Novembro, ficando mais caros depois. As portas do festival abrem às 17h00 do dia 25 de Novembro.

30 Set 2016

Homem mais rico da China diz que imobiliário é a “maior bolha da História”

[dropcap style=’circle’]W[/dropcap]ang Jianlin, o homem mais rico da China, disse na quarta-feira que o mercado imobiliário chinês é a “maior bolha da História”, numa altura em que os preços das habitações continuam a disparar nas principais cidades do país. Em entrevista à estação televisiva CNN, Wang lembrou que os preços do imobiliário continuam a subir nas grandes cidades chinesas, mas que estão em queda nas restantes, onde várias habitações continuam por vender.
“Eu não vejo uma solução viável para este problema”, afirmou o fundador do grupo Wanda, que começou por se impor no sector imobiliário, mas que nos últimos anos passou a investir também no cinema e no turismo. “O Governo adoptou todo o tipo de medidas, mas nenhuma funcionou”, disse.
O imobiliário é um sector chave para a economia chinesa, a segunda maior do mundo e o principal motor da recuperação global, mas que no último ano cresceu ao ritmo mais lento do último quarto de século. Segundo um relatório difundido este mês pelo Bank for International Settlements (BIS), entre Janeiro e Março, o desvio do rácio entre o crédito e o Produto Interno Bruto (PIB) do país atingiu 30,1%, o nível mais alto de sempre e bem acima dos 10%, o patamar que “acarreta riscos para o sistema bancário”.
O BIS alertou para os riscos iminentes no sistema bancário chinês, nos próximos três anos. A dívida da China tem aumentado à medida que Pequim tornou o crédito mais barato e acessível, num esforço para incentivar o crescimento económico. Analistas chineses e estrangeiros alertam, no entanto, que o rápido aumento da dívida e do crédito mal parado poderá resultar numa crise financeira.
Wang disse não estar preocupado com um súbito abrandamento da economia chinesa, afirmando que “o problema é que a actividade económica ainda não recuperou”. “Se retirarmos os estímulos muito rápido, a economia deverá ressentir-se. Por isso, temos de esperar até que a actividade económica recupere. Só então podemos reduzir os estímulos e a dívida”, disse.
O grupo Wanda está a negociar a compra da produtora Dick Clark Productions, a empresa que organiza os Globos de Ouro nos EUA, segundo um comunicado difundido pela empresa esta semana. O Wanda detém já a empresa norte-americana AMC Entertainment, proprietária da segunda maior cadeia de cinemas dos Estados Unidos. No início do ano, anunciou a compra da Legendary Entertainment, produtora de filmes como “Jurassic World” e “Godzilla”, por 3.500 milhões de dólares.

30 Set 2016

Receitas do Governo diminuem mas saldo mantém-se no verde

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s receitas da Administração caíram 12,9% nos primeiros oito meses de 2016, mas as contas públicas continuam a apresentar um saldo positivo equivalente a mais de 17 mil milhões de patacas.
De acordo com dados provisórios publicados no portal da Direcção dos Serviços de Finanças, a Administração arrecadou, até Agosto, receitas totais de 63.426 milhões de patacas. Os impostos directos sobre o jogo – 35% sobre as receitas brutas dos casinos – foram de 54.823 milhões de patacas, reflectindo uma diminuição de 11,8% face ao período homólogo de 2015.
Na despesa verificou-se um aumento de 3,9% face aos primeiros oito meses de 2015, para 45.555 milhões de patacas – impulsionado por um crescimento de 4,7% nos gastos correntes –, com a taxa de execução a corresponder a 56,8% do orçamentado autorizado para 2016.
Outro impulso deu também o PIDDA (Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração): foram gastos 2.490 milhões de patacas – mais 23,5% em termos anuais homólogos. Pese embora o aumento, o PIDDA encontra-se executado em apenas 22,5% face ao orçamentado para todo o ano.
Assim, entre receitas e despesas, a Administração de Macau acumulou um saldo positivo de 17,8 milhões de patacas, excedendo largamente o previsto para todo o ano (3,46 milhões de patacas), com a taxa de execução a atingir 515,1% do orçamentado, isto apesar da almofada financeira ter emagrecido 38,4% face aos primeiros oito meses do ano passado.
A Administração encerrou 2015 com receitas totais de 109.778 milhões de patacas, um valor inferior ao de 2014 que representou a primeira queda em pelo menos cinco anos.

30 Set 2016

IIM relança publicidade de livros sobre identidade de Macau

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]colecção de livros “Cidade Cristã”, lançada pelo Instituto Internacional de Macau (IIM), está a ser novamente divulgada pela instituição. O objectivo é divulgar a identidade de Macau com os três livros lançados em 2001 e que pretendem preservar a memória e a identidade do território sob três perspectivas diferentes: Macau de matriz portuguesa, Macau de referências ocidentais e Macau macaense.
Rufino Ramos, director-geral do IIM, explica por que se decidiu recordar as obras: é que na altura que estes livros foram editados influenciaram o aparecimento de outras obras sobre Macau.
“Havia muito pouca coisa sobre este assunto e as pessoas não tinham referências. Soube por exemplo de um livro de culinária lançado há pouco tempo por um luso descendente que tem por nome ‘Arroz Gordo’. Ora este é um prato típico de Macau. Quando as coisas são difundidas começam a dar mote para que mais coisas apareçam.”
Os livros, que foram editados em 2001 durante o encontro das Comunidades Macaenses, são novamente motivo de conversa porque o IIM considera que nunca é demais divulgar a identidade e a importância da cultura de Macau.
“O primeiro chama-se ‘Identidade Macaense’ e foi escrito pelo Coronel da Silva que foi funcionário dos correios e posso dizer que é um livro escrito com muito sentimento e que explica por palavras suas o que é ser macaense. É um conjunto de memórias que ficam registadas para o futuro.”
“Macau somos nós”, o segundo exemplar, reúne dezenas de testemunhos de macaenses que estão fora. “São os macaenses da diáspora. A sua grande maioria está, ou esteve, no Brasil, alguns já voltaram e outros entretanto morreram, mas fica o seu relato. As aventuras que viveram nessas terras e as saudades que deixaram em Macau”, diz.
Este volume tem também fotografias “preciosas” na opinião de Rufino Ramos, por se tratarem de “registos particulares de cenas antigas que de outra forma não teríamos acesso e ficariam esquecidas”.
Finalmente o último livro da colecção, que foi escrito por Miguel de Senna Fernandes, numa parceria com o linguista australiano e actual director da Universidade de São José e cujo nome é “Maquista Chapado”. Nele se encontram referências ao patuá, já que contém “um glossário de termos de patuá e respectiva tradução para português e ainda uma lista de alcunhas antigas cuja explicação, nalguns casos, é muito engraçada”, frisa Rufino Ramos.
Todos os livros foram editados em língua portuguesa mas no caso do terceiro exemplar existe também uma versão em inglês, que não é contudo da responsabilidade do IIM. Os livros podem ser encomendados no Instituto ou nas livrarias locais.

30 Set 2016

Offshore | Empresa perde recurso no TUI por não cumprir leis de Macau

A falta de elaboração de relatórios de contas e auditoria de uma offshore levou a que o antigo Secretário para a Economia e Finanças revogasse a autorização de funcionamento da empresa. Esta não gostou e recorreu, mas os tribunais superiores concordam com Francis Tam

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]ma offshore constituída em Macau está impedida de continuar a funcionar por não cumprir as leis do território e a decisão, que tinha sido emitida pelo anterior Secretário para a Economia e Finanças, foi ontem finalmente oficializada devido a uma sentença do Tribunal de Última Instância (TUI).
O caso remonta a 2011, quando a empresa – uma sociedade unipessoal detida por uma empresa de Hong Kong que é, por sua vez, indirectamente detida por outra sociedade – interpôs recurso de uma decisão de Francis Tam. O Secretário acusava a empresa de não ter cumprido o Decreto que permite a criação de offshore “por não dispor de contabilidade organizada”, e revogou a autorização de funcionamento da entidade, não identificada no processo, como instituição de serviços comerciais e auxiliares offshore.
A companhia levou o caso ao Tribunal de Segunda Instância (TSI) para pedir a anulação do despacho do então Secretário para a Economia e Finanças. Em Abril deste ano o tribunal negou provimento ao recurso, o que levou a empresa a recorrer ao TUI.
A offshore acusava Tam de ter agido ao “abrigo de poderes discricionários, representando o acto recorrido uma violação dos princípios da prossecução do interesse público, da adequação e da proporcionalidade”. Mas nenhuma das instâncias concordou.
“Um conjunto completo de demonstrações financeiras inclui um balanço; uma demonstração dos resultados; uma demonstração de alterações no capital próprio (…). É pacífico que uma instituição offshore que não elabore as demonstrações financeiras a que está obrigada, e que sucintamente descrevemos, não dispõe de contabilidade devidamente organizada”, pode ler-se no acórdão.
O Tribunal entendeu que “era indiscutível que a recorrente não cumpriu o dever imposto [pela lei] e que consiste em enviar ao Instituto de Promoção do Investimento de Macau o relatório e contas de cada exercício, acompanhado do correspondente relatório de auditoria.
“Não o fez no prazo legal nem posteriormente, tendo sido sancionada por tal incumprimento. É evidente que uma entidade poderia ter elaborado o relatório e contas de um exercício mas não o ter enviado no prazo previsto, por esquecimento ou outra razão. Haveria violação de um dever, punível com multa, mas não falta de contabilidade organizada. Não era este o caso da recorrente. Esta não só não enviou o relatório e contas do exercício em questão, como o não elaborou.”
O caso termina, assim, no TUI, já que a empresa não tem hipótese de recurso.

30 Set 2016

Governo sem progressos face ao Túnel da Taipa

[dropcap style=’circle’]”[/dropcap]Não há nenhum progresso.” Esta é a resposta do Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-Estruturas (GDI) quando questionado sobre os avanços na obra do Túnel da Taipa, cujo prazo de conclusão estava previsto para 2013.
O plano para desobstruir as artérias daquela zona continua a não passar do papel, depois de em 2009 o Governo ter apresentado uma proposta para aliviar o trânsito na zona da Taipa. Foi em Junho, quando apresentadas as Linhas Gerais do Planeamento para a Reforma e Desenvolvimento da Região do Delta do Rio das Pérolas, que o Executivo disse estar a proceder ao estudo do plano de abertura de um túnel no morro da Taipa Grande, no sentido de “proporcionar aos condutores de veículos que circulam entre a Península de Macau e as Ilhas passagens rápidas e aliviar a pressão do trânsito nas rodovias junto ao aeroporto e da Vila da Taipa”.
A conclusão da obra estava prevista para 2013, numa articulação com o Terminal Marítimo do Pac On, também ele fonte de sucessivos atrasos e que tem agora data de inauguração prevista para Fevereiro de 2017.
Se as questões de trânsito já existiam em 2009, com o desenvolvimento urbano e o aumento do fluxo de pessoas no território as coisas pioraram, como têm vindo a defender deputados. Recentemente, Chan Meng Kam frisou que com a aproximação da data da inauguração do Terminal Marítimo receia que o grande volume de turistas que poderão aceder ao território e o consequente aumento de veículos seja “um grande desafio para aquela zona da Taipa”. Foi neste sentido que o mesmo deputado dirigiu uma interpelação escrita ao Executivo onde questiona, face à ausência de informação sobre a referida obra, se o Governo já considerou algum plano de substituição da infra-estrutura ou se, por outro lado, está a tomar medidas no que respeita à avaliação do trânsito do local.
O deputado relembrava ainda que o Governo pretenderia com a criação do Túnel Rodoviário da Colina de Taipa Grande estabelecer uma interligação directa entre os acessos marítimos, como por exemplo a Ponte de Amizade e o Cotai.
Contudo, respostas a perguntas como em que fase se encontra a obra, se há nova previsão para a sua conclusão e as razões que levam ao seu atraso ficam sem resposta, bem como se existe um plano paralelo de desobstrução do trânsito naquela zona da cidade ou algum plano de substituição para a referida obra.

30 Set 2016

Eleições | Democratas da RAEM aceitariam pré-aprovação de candidatos

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]possibilidade de Macau ter um sistema de eleição do Chefe do Executivo semelhante ao previsto no Livro Branco, que regula a política da vizinha Hong Kong, é vista pela ala pró-democrata da RAEM como um processo distante da realidade. Contudo, as figuras deste campo da política local dizem que poderia ser uma medida intermédia capaz de catapultar a região para a essência da democracia, começando pelo direito a uma participação activa na escolha do Chefe do Governo.
Jason Chao, vice-presidente da Associação Novo Macau (ANM), considera que um sistema idêntico ao da RAEHK – em que o Chefe do Executivo pode ser eleito por sufrágio directo desde que os candidatos sejam previamente aprovados por Pequim – não é opção quando se fala em democracia.
“Esta é a minha opinião pessoal e não enquanto dirigente associativo”, frisa enquanto adianta que “se falamos de sufrágio universal, devemos também ter direito a escolher o candidato”.
Para o activista, o que se está a passar em Hong Kong é apenas uma forma de manipulação do próprio sistema. “A partir do momento em que a escolha dos candidatos é condicionada à aprovação do Governo Central, já se está com limitações ao próprio conceito de democracia”, diz, acrescentando que tal confere, na prática, um carácter de farsa ao próprio processo eleitoral.
No entanto, enquanto dirigente da ANM, Jason Chao afirma a necessidade de ter mais cautela e considerar o assunto como tópico de discussão. “Nesse caso, como entidade, temos que discutir os contornos e o que se poderia pensar enquanto planos para o futuro”, frisa.

A meio caminho

“Uma medida intermédia e a ter em conta.” É a resposta de Scott Chiang, presidente da ANM, ao HM quando abordado por esta possibilidade. “De facto, estamos abertos a uma situação desse género, sendo que não é esse o nosso objectivo último”, diz, enquanto adianta que, no caso de existir aceitação de candidatos aprovados por Pequim, tal medida só faz sentido for pensada uma meta diferente e se for encarada enquanto uma situação de transição.
Já o deputado Ng Kuok Cheong concebe a possibilidade do Chefe do Executivo de Macau poder vir a ser eleito como uma espécie de “sonho”. Para o também pró-democrata, a situação actual de Macau é “muito estável e os poderes locais nunca vão permitir que os seus privilégios estejam, de alguma forma, limitados”. “As eleições não vão, com certeza, acontecer nem ser uma possibilidade a curto ou médio prazo.”
No entanto, tendo em conta um horizonte temporal mais distante, a adopção de um sistema idêntico ao de Hong Kong poderá “um dia vir a fazer parte da organização da RAEM”, defende. “Claro que as pessoas deveriam ter direito a votar e a escolher em quem votar. O que podemos imaginar, ainda num futuro longínquo, é a possibilidade de poder um dia ter um sistema que permita aos residentes votarem nos escolhidos de Pequim.”
Foi ontem assinalado em Hong Kong o segundo aniversário do movimento “Occupy Central”, que reuniu em 2015 milhares de manifestantes que se pronunciavam contra a limitação imposta por Pequim face aos candidatos às eleições para o cargo de Chefe do Governo da RAEHK.

30 Set 2016

UM | Projecto visa produzir energia renovável a partir do solo e água

Quatro investigadores da Universidade de Macau estão a desenvolver um projecto que visa a remoção de químicos do solo e água, para que daí possa ser produzida energia renovável. Os resultados “podem contribuir para a melhoria do meio ambiente em Macau”

[dropcap style=’circle’]F[/dropcap]oi um dos projectos de investigação vencedores dos Prémios de Ciência e Tecnologia de Macau 2016, atribuídos pelo Fundo de Ciências e Tecnologia (FDCT). O trabalho de Renata Toledo, Li Xue Qing, Lu QiHong e Hojae Shim, investigadores da Universidade de Macau (UM), visa a limpeza dos solos e água, para que daí se retirem os químicos e se possa posteriormente produzir energia renovável. O nome do projecto, que deverá estar concluído até final deste ano, intitula-se “Utilização de microrganismos para a degradação de águas subterrâneas e dos hidrocarbonetos de petróleo dos produtos orgânicos clorados, bem como a reutilização de águas residuais como fonte de energia renovável”. Uma das autoras explica ao HM a ideia por trás do projecto.
“A razão desta investigação reside no facto da intensa poluição dos recursos naturais, como a água, o solo ou o ar, devido a misturas de compostos orgânicos, incluindo derivados do petróleo e compostos clorados de carbono”, explicou ao HM Renata Toledo, química e uma das investigadoras. “O nosso laboratório desenvolve tecnologias biológicas e temos obtido resultados promissores ao reutilizar materiais considerados sem utilidade, como pneu, sílica ou gel”, acrescentou.
Na opinião de Renata Toledo, este projecto tem potencialidade para ser implementado no território. “Pensamos que os resultados obtidos podem contribuir para a melhoria do meio ambiente em Macau. O projecto pode ser implementado aqui, pois existem mais de vinte lavandarias de lavagem a seco e postos de gasolina, os quais são fonte potenciais de contaminação por compostos clorados de carbono e derivados de petróleo. Além disso, o lixo orgânico gerado em Macau pode ser reaproveitado para a produção de biogás”, explicou.

Seguir a tendência

Tudo começou na cabeça de Hojae Shim, investigador principal do Laboratório de Biotecnologia Ambiental, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UM. A candidatura para o financiamento do FDCT foi feita em 2013, mas até finais do ano há mais etapas por concluir.
“O nosso próximo passo é utilizar um reactor para investigar a eficiência da remoção dos poluentes em escala piloto. Este projecto premiado inclui também a possibilidade de produzir bioenergia ao tratar desses efluentes industriais, o biodiesel, e lixo orgânico, de onde poderemos ter biogás.”
Renata Toledo fala de uma tendência mundial para transformar os poluentes do dia-a-dia em energia, a qual Macau deve seguir. “Temos de reflectir sobre as possibilidades de gerar e produzir energia renovável no território. Não posso dizer quais seriam os entraves na aplicação deste projecto, mas gostaríamos de partilhar os nossos progressos tecnológicos com o Governo e entidades particulares”, afirmou.
A investigadora, que possui um doutoramento em Química Analítica, disse ainda que é a hora de nos preocuparmos seriamente com a escassez de água e recursos.
“Alguns estudos já têm mostrado que diferentes tipos de poluentes, incluindo compostos clorados de carbono e de derivados de petróleo, compostos farmacêuticos e produtos de higiene pessoal podem causar efeitos adversos em seres humanos e animais. É hora de pensamos seriamente como iremos lidar com a escassez hídrica e a provável reutilização das águas residuais. Tecnologias mais eficientes com o propósito de reutilizar a água para fins não potáveis têm sido alvo de constantes pesquisas para o uso sustentável e racional dos recursos hídricos”, concluiu.

30 Set 2016

RPC 67 anos | Que China é esta e que China vem aí?

Saída de uma guerra civil, a República Popular da China nascia em 1949 como um país onde só o socialismo imperava. Hoje, 67 anos depois, é a segunda potência mundial com um desenvolvimento económico invejável. Finalmente, transformou-se realmente num país que ocupa o centro do mundo

[dropcap style=’circle’]H[/dropcap]á 67 anos a China era aquele grande país em desenvolvimento na Ásia-Pacífico, como se fosse “um homem doente”, nas palavras de Wang Jianwei, docente de Ciência Política da Universidade de Macau (UM). Mao Zedong idealizou uma república socialista onde os intelectuais trabalhavam nos campos e tudo era feito no contexto do Grande Salto em Frente e da Revolução Cultural.
Em 1979, com Deng Xiaoping e a abertura económica, tudo mudaria. A China começava então uma escalada para ser potência mundial, algo que conseguiu. Amanhã celebram-se os 67 anos da República Popular da China (RPC), hoje liderada por Xi Jinping, um Presidente diferente dos seus antecessores, e com uma economia que dá sinais de abrandar.

Do zero ao 100

“A China é hoje um país muito mais desenvolvido e também mais unificado. É o país mais influente no mundo; naquela altura a China não tinha grande coisa a dizer. É um país mais forte em termos económicos e militares”, disse ao HM Wang Jianwei. Apesar da economia estar agora a dar sinais de abrandamento, após crescimentos anuais de 10%, a verdade é que as reformas foram um milagre.
“A China tem atingido todos os objectivos a que se tem proposto nestes 67 anos”, disse o académico Arnaldo Gonçalves ao HM. “Está concluído o processo de abertura ao exterior e a economia chinesa tem-se desenvolvido a um ritmo veloz. Nos últimos anos tem havido alguma desaceleração, mas é normal, porque nestes processos de crescimento há sempre uma primeira parte mais acentuada e depois uma parte mais reduzida. As taxas de crescimento do PIB revelam que esse crescimento está numa segunda fase”, frisou ainda o especialista em Relações Internacionais.
Arnaldo Gonçalves alerta para a existência de “estrangulamentos” económicos, os quais passam pela queda do investimento externo e interno. “Há um retraimento da parte dos investidores chineses na economia, o qual se tem acentuado nos últimos dois anos. A indústria chinesa, de bens essenciais, indústria pesada e de infra-estruturas precisa muito do investimento privado.”

Corrupção, essa praga

Uma das bandeiras de Xi Jinping tem sido o combate à corrupção e nunca, como agora, o país viu tantos líderes partidários serem presos e condenados. O caso Bo Xilai e da mulher Gu Kailai foi um dos mais mediáticos.
“Já Hu Jintao (anterior presidente) pretendia acabar com a corrupção, mas a liderança de Xi Jinping tem tido uma determinação sem precedentes a este nível. Não penso que vá desistir. A questão é como a China pode construir um sistema que pode prevenir a corrupção”, defendeu Wang Jianwei.
Jorge Morbey, historiador e docente da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST), alerta para o poder das elites políticas na China de hoje. “A corrupção é uma praga que penetra nos sistemas totalitários. Este esforço do presidente da RPC é no sentido de uma purificação do sistema. Até que ponto é que os equilíbrios existentes permitem a continuação ou inversão desta política anti-corrupção é algo que ainda não está claro que aconteça. Há o desejo de pôr fim à corrupção nas elites do Partido, mas a China é muito grande e não me parece que esteja antecipadamente garantida esta política de anti-corrupção.”
Arnaldo Gonçalves alerta para a existência de um duplo sentido nesta política, já que esta poderá servir para limpar a imagem do Partido, mas também para afastar os inimigos.
“Há uma continuidade da acção de Xi Jinping na consolidação do poder interno e na própria tentativa de prestigiar o Partido Comunista Chinês. Há sinais de situações contraditórias, em que é preciso saber se o projecto dele vem no seguimento de Deng Xiaoping e Hu Jintao, em que o PCC é responsável por este desenvolvimento, ou se pelo contrário ele vai fazer o reforço do poder pessoal contra os inimigos internos, e que a política anti-corrupção seja uma táctica para eliminar esses inimigos. Há uma divisão dos analistas nestas duas perspectivas mas teremos de ver próximos desenvolvimentos”, alertou.

Uma III Guerra?

O conceito de “Um país, dois sistemas” vigora hoje e trouxe a coexistência dos sistemas socialista e capitalista. Mas Jorge Morbey alerta para a pedra no sapato que permanece por resolver.
“A própria China acabou por desenvolver um sistema capitalista, embora não assumidamente, de forma a que hoje não sabemos se a evolução da China vai no sentido de uma de uma agudização do sistema comunista ou do aperfeiçoamento capitalista. Tanto mais que a questão de Taiwan continua sem uma solução política. Não será fácil encontrar aqui uma inversão do caminho daquilo que foi feito em 1997 e 1999 com as questões de Hong Kong e Macau.”
Olhando a nível internacional, Arnaldo Gonçalves não esquece as disputas no mar do sul da China e prevê mesmo a ocorrência de uma III Guerra Mundial. “Teremos de ver como a China se relaciona com os países da Ásia-Pacífico. Ao nível da defesa, o país tem uma relação ríspida com os EUA por causa do Mar do Sul da China. Os EUA nunca autorizarão que a China leve por adiante o controlo de 80% daquela bolsa marítima. Assistiremos neste século a uma III Guerra Mundial que se vai travar no Pacífico pelo controlo dos mares.”

Que Direitos Humanos?

A nível interno do país, o mandato de Xi Jinping tem sido marcado pela prisão de vários advogados ligados aos Direitos Humanos e pela implementação de uma lei que restringe a acção das organizações não-governamentais (ONG). Para Arnaldo Gonçalves isto parte de uma visão muito própria do presidente.
“Já percebemos o tipo de líder que ele é. É diferente de Deng Xiaoping ou Hu Jintao: é mais pró-activo, mais afirmativo, com uma visão própria do posicionamento das elites. É muito pouco sensível aos apelos ocidentais sobre os Direitos Humanos. Ele acha que o colectivo está acima da afirmação dos direitos individuais e tem uma visão muito restrita no que respeita [a esses direitos]”, concluiu.
Arnaldo Gonçalves prevê algumas mudanças ao nível dos ministros, que compõem o Governo Central, já que dois membros do Politburo deverão sair devido à sua idade avançada. Na sua óptica, Xi Jinping e Li Keqiang deverão continuar a liderar o país até 2022. Até lá os objectivos, frisados no último Plano Quinquenal, é de que a economia possa crescer 6,5% ao ano e que toda a sociedade possa viver confortavelmente, apesar das desigualdades sociais causadas pelos rápido desenvolvimento.
“A economia tem crescido 10% ao ano, mas não se pode continuar com esse crescimento para sempre. É normal uma desaceleração. O país tem sofrido vários desafios. Se o Governo conseguir manter um crescimento de 6,5% ao ano será bom, o país terá de apostar nas exportações, estimular a procura interna para mudar o modelo de desenvolvimento. Esses são os desafios mas não penso que a China não consiga manter um desenvolvimento estável”, rematou Wang Jianwei.

30 Set 2016