Hoje Macau Internacional MancheteEUA | Senadores republicanos querem lei que puna a China Primeiro foi uma comissão do Congresso, depois dois senadores. Os dias conturbados que se vivem na antiga colónia britânica são motivo de preocupação em Washington. Pequim só já pensa em Trump [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s senadores norte-americanos Marco Rubio e Tom Cotton apresentaram esta semana uma proposta de legislação que visa punir quem tente restringir a democracia em Hong Kong. A Lei da Democracia e dos Direitos Humanos de Hong Kong irá “renovar o compromisso histórico dos Estados Unidos com a liberdade e a democracia em Hong Kong, numa altura em que a sua autonomia tem vindo a ser colocada cada vez mais em causa”, defendeu Cotton, num comunicado reproduzido pelas agências internacionais de notícias. Com esta proposta, pretende-se definir “medidas punitivas contra as autoridades de Hong Kong ou da China Continental responsáveis por atentarem contra a liberdade” na antiga colónia britânica, “especialmente no caso dos sequestros de certos editores e livreiros”. A legislação – que tem ainda de ser aprovada – irá, entre outros aspectos, servir para pedir ao Presidente norte-americano que identifique aqueles que foram responsáveis pela “vigilância, sequestro, detenção e confissões forçadas” de editores e jornalistas de Hong Kong. O objectivo é congelar bens que possam ter nos Estados Unidos e impedir que entrem no país. Tom Cotton considera que os Estados Unidos devem liderar o mundo no que diz respeito às exigências em relação à China: Pequim tem de cumprir o acordo supranacional sobre a autonomia de Hong Kong que firmou com o Reino Unido. “A lei irá dar poderes ao Presidente para que Pequim seja responsabilizado, e enviar uma mensagem forte às autoridades chinesas que tentam acabar com a liberdade em Hong Kong e violam os compromissos sem que haja quaisquer consequências”, sublinhou o republicano. Para o senador, as grandes vantagens da antiga colónia britânica estão a ser desperdiçadas pelo Governo Central: “A identidade única, a tradição de liberdade, o Estado de Direito e a economia de mercado podem ser um modelo para a China, para que seja um actor mais importante no mercado internacional”. Marco Rubio encontrou-se esta semana com o activista pró-democrata Joshua Wong (ver texto nestas páginas), nos Estados Unidos, e teceu elogios ao papel que o jovem de 20 anos tem desempenhado “na luta pela democracia”. “Joshua Wong é um jovem impressionante que, juntamente com os seus colegas activistas, representa o futuro de Hong Kong – um futuro que não pode seguir o caminho do autoritarismo falhado e do partido único de Pequim”, atirou o senador republicano. Rubio acrescentou que, nos últimos tempos, o Governo Central chinês tem colocado em causa o princípio “um país, dois sistemas” e violado a liberdade dos residentes da região administrativa especial, um direito que devia estar garantido. “Isto foi revelado no último ano através do sequestro dos editores de Hong Kong e com o que aconteceu com o juramento na sequência das eleições legislativas de Setembro”, apontou. “E culminou na semana passada, com a intervenção sem precedentes de Pequim no sistema legal de Hong Kong, que impede dois deputados democraticamente eleitos de ocuparem os seus assentos.” Mau para a economia A iniciativa legislativa dos dois senadores republicanos acontece na semana em que um painel do Congresso norte-americano apresentou um relatório sobre um “alarmante aumento” da ingerência da China em Hong Kong – o documento levanta mesmo questões sobre a continuidade do território enquanto plataforma financeira em termos mundiais. A comissão do Congresso responsável pela elaboração do relatório reflecte, sobretudo, o sequestro e detenção dos cinco livreiros que trabalhavam na antiga colónia britânica, dando ainda destaque ao que entende serem as pressões nos media e na liberdade académica. No documento de 33 páginas defende-se uma investigação do Departamento de Estado sobre a autonomia e a liberdade em Hong Kong, sugerindo-se ainda um acompanhamento da situação por parte do Congresso. “O posicionamento tradicional de Hong Kong enquanto centro financeiro tem implicações económicas importantes para os Estados Unidos, uma vez que as relações comerciais e os investimentos entre ambas as partes são substanciais”, salientam os autores do relatório. No que diz respeito aos livreiros, a comissão escreve que “o incidente ameaçou a manutenção do princípio ‘um país, dois sistemas’”, acrescentando que as eleições de Setembro passado para o Conselho Legislativo aconteceram num clima de receio em relação a uma “alarmante interferência do continente em Hong Kong”. O documento foi apresentado numa altura sensível das relações entre Pequim e a antiga colónia britânica. Esta semana, o Supremo Tribunal da região deu razão à reivindicação do Governo de C.Y. Leung sobre os dois deputados eleitos pró-independentistas que não cumpriram os requisitos do juramento – não vão poder tomar posse. A decisão do tribunal de Hong Kong vai ao encontro da interpretação da Lei Básica que já tinha sido feita pelo Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional. Hong Kong já reagiu ao relatório – as autoridades da região pedem que os países estrangeiros se abstenham de interferências nos assuntos internos do território. Mais amigos Entretanto, nos Estados Unidos, o embaixador chinês no país defendeu que Pequim e Washington devem evitar suspeitar das intenções estratégicas um do outro, numa mensagem que é já dirigida à presidência de Donald Trump. O republicano vencedor das eleições do passado dia 8 não foi meigo em relação à China durante a campanha eleitoral – os analistas entendem que será bem provável que mude de atitude quando chegar à Casa Branca. Para já, fica a declaração do diplomata Cui Tiankai: é importante construir o consenso e identificar prioridades comuns. “Temos de fazer esforços maiores para promover o entendimento mútuo e temos de ser cuidadosos para evitar suspeitas acerca das intenções de cada país”, vincou. “É inevitável que surjam problemas e desafios nos próximos quatro anos, mas acredito que, em termos gerais, no geral, a relação vai avançar de forma estável pelo caminho certo”, acrescentou o embaixador. Donald Trump e o Presidente Xi Jinping falaram no início desta semana ao telefone. O líder chinês defendeu que a cooperação é a única hipótese para as duas maiores economias do mundo, com Trump a comentar que ficou criado um “mútuo respeito claro”. Como terá acontecido um pouco por todo o mundo, a eleição do republicano gerou incertezas em Pequim, onde também se preparam mudanças ao nível da liderança política. Para já, e enquanto Trump não assume o cargo para se ver qual será a estratégia em relação ao país, os Estados Unidos vão mostrando a Pequim que há um lado da China que estão dispostos a contestar. O recado de Joshua a Trump O jovem activista pró-democracia de Hong Kong Joshua Wong instou o Presidente eleito norte-americano a apoiar os direitos humanos na antiga colónia britânica, com o argumento de que estão sob ameaça de Pequim. “Sendo um empresário, espero que Donald Trump possa conhecer a dinâmica em Hong Kong e saiba que, para manter os benefícios do sector empresarial em Hong Kong, é necessário apoiar plenamente os direitos humanos para manter a independência judicial e o Estado de direito”, afirmou. Wong falava num evento em Washington, no Capitol Hill, organizado pelo painel do Congresso norte-americano que monitoriza os Direitos Humanos na China. Em 2014, Joshua Wong, na altura com 17 anos, foi o rosto dos protestos em prol do sufrágio universal em Hong Kong, que culminaram na ocupação durante 79 dias de algumas zonas da cidade. Já este ano, foi co-fundador do partido Demosisto, que defende um referendo sobre a “autodeterminação” e o futuro estatuto da região. O jovem activista disse ainda que a comunidade internacional tem a responsabilidade moral de “manter os olhos em Hong Kong”, alegando que o Governo Central está a atacar as liberdades consagradas no acordo que sustentou a transferência de administração. Joshua Wong afirmou também que os sete milhões de habitantes de Hong Kong merecem a democracia.
Hoje Macau PolíticaAL | Aumento do subsídio de residência votado na segunda-feira [dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] já na próxima segunda-feira que os deputados à Assembleia Legislativa (AL) vão votar na generalidade a proposta de lei referente ao aumento do subsídio de residência para funcionários públicos, uma medida que foi revelada na passada terça-feira, no dia em que o Chefe do Executivo apresentou o relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2017. Actualmente o subsídio de residência é de 2472 patacas, sendo que a proposta de lei prevê um aumento de 33 por cento, o que significa que os trabalhadores da Administração poderão vir a receber um total de 3240 patacas de subsídio. O debate de segunda-feira vai ainda servir para votar na generalidade a proposta de lei do Orçamento para o próximo ano, que prevê uma diminuição de 0,29 por cento, ou seja, menos 300 milhões de patacas. Está ainda agendada a votação sobre o projecto de lei do deputado José Pereira Coutinho, sobre a protecção de Coloane. Tal como o HM noticiou, o debate tinha sido marcado para um dia em que o deputado não se encontrava no território, pelo que é agora de novo agendado. Na altura, Pereira Coutinho disse sentir-se “discriminado”, uma vez que tinha avisado previamente, por escrito, o presidente Ho Iat Seng quanto à sua ausência.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaGoverno tem 36 estudos em curso, DSPA lidera lista O relatório das Linhas de Acção Governativa para 2017 revelou, pela primeira vez, o número de estudos que estão a ser efectuados pela Administração. São 36 no total, sendo que alguns arrancaram há alguns anos. Os Serviços de Protecção Ambiental lideram, com oito projectos por concluir [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] população ficou finalmente a saber quantos estudos está o Governo a efectuar no total. O relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para o próximo ano contém uma novidade em relação ao documento de 2016: especifica quantos estudos estão a ser efectuados por todos os departamentos públicos. No total são 36 os estudos que faltam concluir, não tendo sido revelados os valores gastos com estas análises, muitas delas realizadas por empresas de consultadoria. Em primeiro lugar surge a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) com um total de oito estudos por finalizar, sendo que muitos deles dizem respeito a políticas a adoptar até 2020. A DSPA está a estudar a revisão intercalar do planeamento da protecção ambiental de Macau desde 2010, bem como a estudar a realização de um inquérito sobre a qualidade dos serviços de limpeza urbana e transporte de resíduos. Está ainda a ser estudada a viabilidade da expansão da central de incineração dos resíduos sólidos ou a viabilidade da construção de uma estação de tratamento de águas residuais com gorduras e óleos alimentares. Além do estudo ao tratamento do ambiente da zona costeira da areia preta e dos resíduos alimentares, a DSPA está ainda a realizar um “estudo complementar das fontes de poluição sonora e respectivas políticas de controlo”. Chutar para a frente Para o deputado José Pereira Coutinho, “criou-se uma cultura de estudos e pareceres externos, usando abusivamente o erário público, enquanto forma de atrasar a tomada de decisões ou de desresponsabilizar governantes pela tomada de decisões”. Ao HM, o deputado defendeu que, “no geral, e olhando também para a DSPA, são demasiados os estudos realizados neste momento, tendo em conta que não estamos a ver que Macau tenha aproveitado o melhor possível desses estudos e que haja melhorias em termos de qualidade ambiental”. Coutinho defende mesmo a criação de um portal, no âmbito dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP), que contenha todos os estudos em realização. “Muitas vezes há estudos concorrentes, estudos de diversas entidades para a mesma finalidade. Seria importante que o Governo publicitasse os estudos que foram encomendados e qual é o valor de cada um. Em termos de transparência governativa é importante que o Governo crie um portal para os estudos, no âmbito dos SAFP.” GIT em segundo lugar O Gabinete de Infra-estruturas de Transportes (GIT), que deverá ser extinto no próximo ano em prol da criação de uma empresa pública que venha a gerir o metro ligeiro, está em segundo lugar na lista de estudos por concluir, com um total de cinco. Todos eles dizem respeito ao metro ligeiro, estando a ser analisado o fluxo de passageiros, os benefícios socioeconómicos e a viabilidade da linha de Seac Pai Van, Hengqin e ligação leste entre Macau e Taipa. Na terceira posição surge o Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas (GDI), com quatro grandes estudos, que se debruçam sobre a quarta travessia entre Macau e Taipa e a sua viabilidade de construção, sem esquecer a ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau. Com igual número de estudos está a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), que está a analisar a “qualidade do serviço de táxis”, a optimização dos cruzamentos com semáforos nos bairros da Areia Preta e Iao Hon e a criação de um sistema de controlo do tráfego centralizado. Organismos como o Instituto de Habitação (IH), que está a pensar sobre as “necessidades de habitação”, os Serviços de Correios ou o Gabinete para o Desenvolvimento do Sector Energético estão no fim da tabela, com apenas um estudo por concluir. A Autoridade de Aviação Civil está a avaliar a “viabilidade de liberalização do transporte aéreo de Macau”, pedido há muito feito por vários sectores e deputados.
Hoje Macau PolíticaAlexis Tam | Governo apoia associações, mas sem gastos supérfluos [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, disse ontem que o Governo vai continuar a apoiar financeiramente as associações de cariz social, mas sem despesismos. À margem da inauguração do centro de serviços sociais para doentes do foro psicológico, Alexis Tam falou da “intenção do Governo de atribuir apoios e subsídios a associações, como forma de garantir a prestação de diferentes tipos de serviços e actividades junto da população”. Foi garantido que “o Governo apoia o desenvolvimento das associações e que irá continuar, através de apoios financeiros, a cooperar com as mesmas na organização de mais serviços e actividades, sem esquecer a importância de alocar recursos de forma adequada, nomeadamente, na área da assistência médica, ensino e entre outros serviços sociais”. Citado num comunicado oficial, Alexis Tam falou da necessidade de criação de um “mecanismo de apoio ao desenvolvimento da sociedade” nas áreas do ensino e assistência médica, sendo que estas “não podem sofrer quaisquer reduções de financiamento”. O Secretário garantiu que o Governo “possui ainda uma reserva financeira saudável, mas pretende gastar apenas o necessário sem cometer excessos inúteis”.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaMetro ligeiro | Travessia na orla costeira será mais fácil de executar Chui Sai On admitiu a construção do metro ligeiro na península apenas junto à orla costeira. Ainda que não haja uma decisão oficial, dois arquitectos defendem que seria uma solução mais fácil de concretizar [dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oi uma hipótese deixada em aberto na última conferência de imprensa após a apresentação do relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2017. O Chefe do Executivo, Chui Sai On, admitiu que o segmento do metro ligeiro na península de Macau poderá fazer-se apenas pela orla costeira e não pelo centro da cidade. Dois arquitectos contactados pelo HM consideram que esta até pode ser a solução mais viável, resolvendo igualmente os problemas de tráfego. Dominic Choi, presidente da entidade Arquitectos sem Fronteiras, esteve ligado à concepção de algumas estações de metro no segmento da Taipa e considera que “há algumas questões técnicas a ter em conta quanto à construção do metro ligeiro no centro da cidade”. “Penso que não será possível termos o percurso do metro ligeiro no centro da cidade, a não ser que seja subterrâneo”, adiantou. “No centro não é tecnicamente possível construir o metro ligeiro e isso iria trazer um grande congestionamento. Se olharmos para a península, a parte mais fácil para construir seria junto à orla costeira, porque existe a passagem de transportes públicos e serão desenvolvidos novos aterros. Do ponto de vista do planeamento, penso que as pessoas poderiam, no centro da península, usar outros meios de transporte, como autocarros ou até bicicletas, por forma a reduzir o tráfego e o congestionamento”, defendeu. Dominic Choi considera que a construção junto à orla costeira vai servir residentes e turistas. “Para muitos moradores de certas áreas será difícil chegar ao metro ligeiro. Em Hong Kong, por exemplo, o sistema do metro já chega a muitas áreas da cidade mais remotas, e aí as pessoas têm de lá chegar através de carro ou autocarro. Não será possível ter um sistema de metro ligeiro que possa chegar a todas as pessoas. Se os turistas utilizarem o sistema do metro ligeiro isso já vai aliviar a pressão do centro da cidade. Ainda assim, há muita gente a residir junto à orla costeira, então um metro ligeiro junto do rio não ficará assim tão afastado das pessoas.” Decisão “está tomada” Para o arquitecto Miguel Campina a decisão final, que está prometida até Dezembro, há muito que está tomada. “Nesta altura o Chefe do Executivo já sabe muito bem o que foi decidido, basta apenas escolher a melhor altura para o anunciar. É a chamada gestão do tempo em política. As questões técnicas já foram levantadas há muito tempo”, referiu ao HM. Miguel Campina considera que a construção junto à orla costeira “será mais fácil de executar do ponto de vista técnico”. “É estranho que se passe a usar um meio de transporte de massas com duas características distintas, mas é preferível encontrar uma solução mista, que melhor sirva os interesses dos residentes em termos de mobilidade, do que apenas uma que sirva os turistas.” O arquitecto lamenta que se tenha demorado tanto tempo com um projecto desta natureza. “Já é mais do que altura de tomarem uma decisão. Vão evocar novamente os constrangimentos que existem por via das características específicas do tecido urbano de Macau, sobretudo as dificuldades relacionadas com a falta de dimensão das vias, densidade de construção, qualidade do solo e subsolo. O que pensávamos é que já tivessem sido feitos os estudos suficientes para encontrar as soluções ideais em termos de mobilidade”, concluiu. Após a apresentação das LAG, Chui Sai On reuniu com os jornalistas e o metro ligeiro acabou por ser uma das grandes questões levantadas. “Não há um cancelamento total do metro em Macau. Em pormenor, depende das opiniões e dos estudos. Vamos finalizar a parte da Taipa e, depois, fazer a ligação a Seac Pai Van, à Ilha da Montanha. A partir daí vamos estudar: se é pela orla costeira, se é [seguindo] outras soluções”, disse o líder do Governo.
Sofia Margarida Mota SociedadeAcadémicos reticentes quanto aos novos manuais de história feitos com a China A produção de manuais de História uniformizados com os do interior da China é uma iniciativa prevista para o ano lectivo de 2019/2020 que suscita, desde já, reacções diferentes. Tereza Sena acha que é uma iniciativa “louvável”, desde que reserve espaço para as particularidades de Macau. Larry So considera que se trata de um acto político [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] uniformização da produção de materiais escolares para a disciplina de História com o interior da China, medida anunciada esta semana pelo Chefe do Executivo, é vista por académicos do território de forma diferente. Os novos livros deverão chegar às escolas no ano lectivo de 2019/2020, confirmou Chui Sai On no debate sobre as Linhas de Acção Governativa (LAG). Se para a historiadora Tereza Sena é uma iniciativa positiva, para o sociólogo Larry So trata-se de uma manobra política. “Faz sentido que a história da China seja ensinada em Macau, mas tem de existir uma parte reservada à história local”, afirma Tereza Sena ao HM. Macau é uma região administrativa especial e tem um passado diferente do da China e, mesmo com a uniformização dos manuais, “faz sentido que também tenha direito à sua própria história”. Os livros vão ser concebidos pela Direcção dos Serviços da Educação e Juventude (DSEJ) em conjunto com os serviços homólogos do Continente. “Apesar da concepção de livros de História de Macau ser um projecto recorrente no território, é louvável a iniciativa anunciada por Chui Sai On. Este é um projecto de que já se falou várias vezes e que, não se sabe porquê, acabou por não se concretizar”, explica a historiadora. No que respeita às equipas que poderão colaborar na produção dos manuais, com o conhecimento referente ao território, a historiadora considera que “hoje em dia há excelentes investigadores – tanto chineses como portugueses e de outras nacionalidades – no que respeita à investigação acerca da História local, pelo que há uma abordagem científica rigorosa”, sendo que um trabalho conjunto se afigura a melhor solução. Apesar de elogiar a iniciativa, não foi sem dúvidas que Tereza Sena recebeu a notícia. “Há conteúdos para fazer um manual. Agora, resta saber se o manual de que Chui Sai On fala será uma visão partilhada ou uma história direccionada”, lança, considerando que “a história de Macau já ultrapassa até mesmo as abordagens mais nacionalistas”. A historiadora sublinha que o trabalho feito em língua chinesa acerca da história do território “é muito interessante”, mas há outros, também de valor, e noutras línguas com outras origens. “Desde que seja uma visão partilhada de Macau, acho muito bem, até porque esta é uma terra que pertence a todos e representa um lugar de encontro mundial, em que não há só chineses ou portugueses”, explica. Para a investigadora, o ideal será um manual que conte com o contributo dos vários grupos identitários que têm passado pelo território. Recorda ainda que “já existe uma academia em Macau em que há diálogo e há troca de conhecimento”, sendo que espera que a iniciativa espelhe o trabalho conjunto que tem vindo a ser feito “com os melhores e mais recentes contributos”. Politiquices As directivas anunciadas por Chui Sai On representam, para o sociólogo Larry So, uma manobra política. “Penso que esta é uma orientação política porque o assunto pode ser crítico e é uma forma de manipulação”, defende ao HM. Para Larry So, o facto de as pessoas, desde pequenas, aprenderem as coisas de determinada maneira é algo que fica registado, e o modo como são dadas as informações pode fazer com que pensem que o que é bom e verdadeiro é o que lêem nos livros escolares: “Ficarão a pensar que é aquilo que se passou”. Para o analista, é claro que “com este tipo de iniciativa, os livros podem ser manipulados e isso é, de facto, um assunto político e não de conhecimento”. Larry So não entende porque é que a produção de um livro escolar tem de ser feita por um Governo. “Porque é que um Governo faz um manual?” questiona, considerando que “há pessoas na comunidade com formação em educação, com o conhecimento para o fazer e que podem realmente transmitir a história e não a afectar”. No entanto, não deixa de considerar que a história apresentada vai sendo mudada com o tempo. “Penso também que, de vez em quando, todos nós alteramos a história, até pela forma como a olhamos.” Larry So espera que os manuais anunciados “se cinjam à transmissão de factos sem terem associada uma interpretação ideológica”. No que respeita à história local, marcada pela presença portuguesa, Larry So considera que os conteúdos dos livros de História “não vão embaraçar as relações com os portugueses e que vão respeitar a sua presença de modo a promover promover uma amizade nova com o país, diferente da que existiu durante cerca de 400 anos”, na sequência das directrizes de Pequim dadas recentemente ao território, com a visita do primeiro-ministro Li Keqiang.
Isabel Castro Eventos MancheteDocLisboa | O Chá Gordo de Catarina Cortesão Terra e Tomé Quadros Fazem documentários sobre Macau porque é neste exercício onde a realidade toca a ficção que vão, também eles, pensando na cidade onde vivem. Catarina Cortesão e Tomé Quadros encontraram no chá gordo a formação de uma comunidade de fusão, o tempo do território. Para que a memória, que ainda existe, se viva já. [dropcap]“C[/dropcap]há Gordo de Memórias” é apresentado hoje ao final da tarde no âmbito da extensão a Macau do DocLisboa, uma iniciativa organizada pelo Instituto Português do Oriente. Não é o vosso trabalho mais recente. Catarina Cortesão (C.C.) – Não, não é. Este documentário foi feito no âmbito do Macau DocPower, com o apoio do Centro Cultural, em 2013/2014. Pelo facto de haver tempos muito curtos para a apresentação da ideia, filmagem e edição, dentro dessas limitações e do apoio que nos deram, iniciámos o projecto sobre o chá gordo. Começámos a fazer a nossa pesquisa, começámos a falar com vários intervenientes da comunidade macaense para nos informarmos sobre quem eram os grandes cozinheiros. Munimo-nos do nosso conselheiro, Fernando Sales Lopes, que estuda a gastronomia macaense há vários anos – tem uma tese de mestrado, é um investigador ligado a essa área, na vertente da gastronomia macaense como sinal identitário da própria comunidade. Tivemos várias conversas com ele, foi-nos apontando caminhos, também construímos os nossos. Fomos vendo quem eram os cozinheiros mais emblemáticos – Aida de Jesus, Graça Pacheco Jorge, Rita Cabral, Carlos Cabral, Cíntia Conceição Serro. Destas conversas que fomos tendo, mais questões foram surgindo em relação à gastronomia macaense e o projecto cresceu. E cresceu numa determinada direcção. E que direcção foi essa? C.C. – Não queríamos fazer uma mera peça jornalística, esclarecedora do que é o chá gordo dentro da gastronomia macaense – pelo contrário, queríamos fazer uma narrativa fílmica a partir da mesa do chá gordo, onde estão os principais pratos da gastronomia macaense. Olhamos para a mesa do chá gordo, que é extensa, e nela vemos definidos não só o percurso e o que é a comunidade macaense, mas também o percurso dos portugueses até chegarem a Macau. Verifica-se o uso de ingredientes de Malaca, de Goa, de Angola, de Moçambique, e modos de confecção que, por sua vez, reflectem a aliança entre a cultura portuguesa gastronómica com a cultura chinesa, que também é bastante marítima. Daqui nasceu a primeira gastronomia de fusão, que é a gastronomia macaense. Dizia que, quando se olha para a mesa do chá gordo, vê-se a comunidade. C.C. – Vê-se a comunidade e a história de Macau dos últimos 300 ou 400 anos. Isso é muito notório logo na primeira percepção e mais ainda quando se tenta saber de onde vêm os pratos e se fala com as cozinheiras, quando elas apresentam os livros de receitas. São autênticos tesouros, na medida em que vão circulando entre as melhores cozinheiras ou são cedidos às pessoas da família com mais apetência para continuar esse espólio e dar bom nome à família através dessa mesa. Quando as pessoas achavam que não havia alguém que pudesse continuar com esse testemunho de uma forma destacada na comunidade macaense, levavam os livros de cozinha para a cova. Ou seja, não transmitiam as receitas, não as partilhavam. Há receitas da Graça Pacheco Jorge, do livro que era da tia, em que está escrito em baixo ‘não partilhar esta receita com qualquer pessoa’. Como é que se faz uma abordagem mais cinematográfica a um tema que facilmente pode cair, em termos de tratamento, num documentário do género jornalístico? Tomé Quadros (T.Q.) – Procuramos, de alguma forma, seguir a máxima de John Grierson, quando diz que o documentário deve ser abordado de uma forma criativa – isto dito no final da década de 20 do século passado. Significa que pretendemos fugir do documentário como uma peça jornalística e encará-la como narrativa fílmica tout-court. Procuramos com isso introduzir mecanismos da ficção no documentário, procuramos dirigir os nossos entrevistados, na medida do possível, como se de actores se tratassem, procuramos ter um cuidado estético bastante grande – e não só, em termos de continuidade, de racord também –, para que tudo faça sentido. Desta forma, introduzimos um narrador presente – a Nair Cardoso, uma jovem macaense – que, no fundo, conduz o espectador pelas diferentes estórias que fecham este todo que é a narrativa fílmica acerca do chá gordo. Temos um fio condutor, uma história, que coincide com a realidade: a Nair regressa a Macau passados alguns anos de ter ido para Portugal e vem à procura de um livro de receitas que era do avô macaense. O livro tinha sido escrito pela avó chinesa, que tinha aprendido para que toda esta gastronomia macaense existisse em casa. Há um dia em que encontra este livro no sótão da casa e guarda-o. Vai procurar, através do livro, as raízes da identidade, memória e cultura macaenses. Claro que houve uma transformação muito grande da simbiose homem-cidade, mas essa memória, a cultura e a identidade perduram. É um documentário para memória futura? T.Q. – No fundo, o que procurámos com o documentário é que sirva como um espelho, que a própria comunidade se veja ao espelho. Por exemplo, na questão das receitas, é muito complicado ter acesso e foi um dos maiores obstáculos, mais do que até ganhar confiança da parte dos intervenientes. Assistimos a um momento talvez único: a Cíntia Conceição Serro cedeu aos arquivos do Instituto Cultural todo o espólio que tinha herdado em termos de receitas e manuscritos escritos. Temos isso no documentário. É interessante ver que também há uma tomada de consciência por parte dos intervenientes, de que afinal esta memória deve ser mantida. Não são realizadores profissionais, na medida em que têm outras ocupações. Há vários anos que fazem documentários sobre a cultura de Macau. Como é que conseguem ir trabalhando nesta área, que exige todo um processo de pesquisa? Sentem muitas dificuldades? C.C. – Temos bastantes dificuldades pelo facto de sermos uma equipa muito pequena. Eu e o Tomé fazemos 80 por cento do trabalho. Depois contamos com o Daniel Saraiva para o som e agora temos uma nova pessoa que nos está a ajudar, o João Cordeiro. Temos ajuda nas filmagens e coloração. Nestes processos temos arranjado sempre alguém que nos ajuda por ser especialista na matéria. É muito difícil porque temos vidas profissionais exigentes e as nossas famílias. Isso faz com que exista alguma pressão, e de alguma forma, o tempo nos escape. O tempo que é dado aos projectos no Centro Cultural é muito pequeno, em seis meses temos de fazer tudo, o que cria muita pressão, mas são opções que fazemos. Temos de gerir muito bem o tempo. Somos bastante curiosos e gostamos de ter a percepção daquilo que acontece. Em Macau ainda não existe essa memória construída em termos de narrativas fílmicas. Sobre o chá gordo não há nada, apenas alguns episódios em que as pessoas descrevem o que poderá ser, mas algo muito insípido. O grande desafio é que adoramos filmar e editar, e apreciamos o produto final. Depois de estar feito, passamos para outro, porque queremos fazer cada vez mais. Já estou a pensar no projecto seguinte. T.Q. – O cinema foi o lugar que nos deu a conhecer um ao outro e foi onde a memória futura teve lugar. A Catarina tinha alguma formação e trabalho feito em fotografia, com uma grande base no teatro, e com grande desejo de desenvolver algo na área do cinema. Partilhávamos o mesmo olhar e as mesmas preocupações, e procurávamos fazer cinema em conjunto. Eu trazia a formação da Escola das Artes do Porto, em som e imagem. Se calhar trazia um olhar mais formatado e menos livre, e a simbiose com um olhar mais livre e outro mais técnico resultou. O documentário surgiu como o modelo de pensar o cinema mais apropriado porque nós, além da questão do cinema, tínhamos a vontade muito própria de falar de Macau, que nos apaixona. Sentimos que havia um vazio por preencher. Havia que começar a trabalhar sobre a memória, cultura e identidade de Macau, e encontrámos o formato certo. Já estão a pensar no próximo documentário? T.Q. – Temos o “Time of Bamboo”, que está quase terminado, foi o projecto deste ano, que vem na sequência da memória de Macau. Há um paralelismo com o chá gordo em termos do conhecimento que passa de geração em geração. Não há um livro do saber do bambu, como as estruturas são calculadas. Tentamos fazer uma ponte entre o legado e aquilo que pode vir a ser o futuro do bambu. C.C. – Em relação a projectos de futuro, ando interessada sobre a questão linguística. Ando a reflectir porque é que é difícil ao estrangeiro falar chinês e as crianças não têm acesso à aprendizagem da língua. Não são apenas os portugueses, mas os estrangeiros em geral. Porque é que isso não acontece nas escolas? Qual é a questão, o problema? Tem que ver com uma questão de vivência? Acho que seria um tema interessante para fazer um documentário. Apetece-me fazer um documentário sobre crianças e jovens dentro dessa questão linguística, das diferenças das línguas, o ‘lost in translation’. Comecei a escrever um guião, embora seja para uma curta-metragem, que reflecte essa faixa etária. Mas é uma história que tem algumas aventuras, à volta dos portugueses, chineses e macaenses. É sempre esse o meu ponto de reflexão.
Hoje Macau China / ÁsiaCorrupção | Fugitiva mais procurada regressou à China [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] fugitiva mais procurada pelas autoridades chinesas, Yang Xiuzhu, regressou na quarta-feira à China, no âmbito da campanha lançada por Pequim “Skynet”, que visa repatriar suspeitos de corrupção que escaparam para o estrangeiro. Yang, antiga vice-presidente da câmara de Wenzhou, na costa leste chinesa, aterrou em Pequim para se entregar às autoridades, depois de 13 anos evadida em países da Ásia, Europa e nos Estados Unidos da América. A mulher de 70 anos é acusada de ter desviado um valor equivalente a 37 milhões de euros. O seu nome aparecia afixado no topo da lista com os cem cidadãos da China mais procurados além-fronteiras, publicada pela secção chinesa da Interpol. Yang foi levada sob custódia, após ter sido acompanhada desde o avião por duas polícias, segundo imagens difundidas em directo pela televisão estatal. Trata-se do 37.º fugitivo que consta na lista dos 100 mais procurados por Pequim a ser repatriado, segundo a Comissão Central de Inspecção e Disciplina (CCID), o órgão máximo anti-corrupção do Governo chinês. A detenção de Yang é “um feito importante da cooperação entre a China e os EUA no reforço da aplicação da lei anti-corrupção”, anunciou em comunicado a CCID. No ano passado, o órgão anti-corrupção do Partido Comunista Chinês (PCC) conseguiu também a repatriação do irmão de Yang, Yang Jinjun, suspeito de corrupção e suborno e que integrava também a lista dos mais procurados. Batalha polémica A campanha “Skynet” tem sido também controversa, com alegações de que agentes chineses têm operado secretamente além-fronteiras, sem o consentimento das autoridades locais. Após ascender ao poder, em 2012, o Presidente da China, Xi Jiping, lançou uma campanha anti-corrupção que resultou já na punição de mais de um milhão de funcionários chineses. A campanha não inclui, porém, maior transparência, como exigir a declaração de bens aos membros do Governo ou a supervisão do PCC por um organismo independente. Na semana passada, um vice-ministro da Segurança chinês foi eleito presidente da Interpol, uma escolha inédita e que mereceu críticas por parte de advogados dos Direitos Humanos preocupados com os abusos e falta de transparência do sistema jurídico chinês.
Paulo José Miranda Em modo de perguntar h | Artes, Letras e IdeiasNuno Moura, poeta e editor: “Estamos na Dinastia Flang” [dropcap]A[/dropcap]lém do teu trabalho como poeta, desenvolveste recentemente um trabalho editorial, com a tua douda correria, onde tens publicado poetas tão diferentes como sejam o caso de Carla Diacov (brasileira) ou António Poppe, e de Raquel Nobre Guerra e Vasco Gato. Talvez os primeiros se enquadrem mais naquilo que tem sido a tua própria poesia, o que mostra uma elasticidade de gosto tão magnífica quanto rara, no nosso pequeno rectângulo encostado ao Atlântico. Por tudo isso, os meus parabéns! Quais os teus critérios para a edição de um livro? Obrigado. Primeiro ter dinheiro para pagar à gráfica e à nossa compositora Joana Pires. Depois o critério vem com o próprio texto. Aplicas os mesmos critérios aos teus livros, imagino. Estás a preparar um livro novo? Vou corromper a Adília “é preciso desentropiar o critério todos os dias”, e ando com o Cavalo Alucinado, mas nem sempre estou para longas caminhadas na mata. Hoje aceitarias editar em outra editora que não fosse tua, ou isso não faz sentido para ti? Mais do que aceitar, eu desejo. Gostava muito de ser editado na Medula do Manuel A. Domingos. Como chegaste a esta nova poesia brasileira? A Carla Diacov e o Diego Moraes li-os antes em revistas literárias de Curitiba, mas nunca pensei que pudessem ser editados tão depressa aqui. Nos anos 80, 90 do século passado eu esperava dois ou três meses por um livro. Ia sempre nervoso aos Pedidos Internacionais da Livraria Portugal. Com aqueles funcionários adeptos da descontra, entre máquinas de escrever e Madeira, em número suficiente para se criar logo ali um sindicato. Agora alguém te diz ‘tens que ver isto, este autor’ e tu olhas e lês. E falas. Começaste também muito recentemente uma colaboração entre a Douda Correria e a Demónio Negro, de São Paulo, com a edição de Senhor Roubado, de Raquel Nobre Guerra, no Brasil. Editar-se-ão de seguida Catar Catataus, de Paola D’Agostino, Fruta Feia, de Miguel Cardoso e o teu Canto Nono. Queres explicar melhor como funciona esta colaboração? Troca de autores e textos. Ele tomou a dianteira e enviou-me alguns exemplares. São belos. Para quê estar a fazer aqui, à maneira da Douda, se podemos ter os, digamos, originais-na-prensa? O Vanderley faz 50 exemplares a mais e envia-me. Recentemente afirmaste que consideras o António Cabrita o melhor poeta português vivo, e que isso causa muito espanto entre as pessoas. A mim, não me causa espanto, mas porque achas que as pessoas se espantam com isso? Porque se calhar pensam que é algum ministro ou dirigente desportivo, sem desprimor algum. O presente nunca chega a tempo da escola. Na China antiga, na época da dinastia Tang, o mundo mais poético que existiu na face da Terra, para se ser mandarim, isto é, empregado público, o teste final (entre outros) era escrever o seu próprio poema, embora os poetas pudessem não ser mandarins, como nos excelsos casos de Li Bai e Du Fu. Quão longe estamos hoje deste mundo? E achas que só pode melhorar, ou ainda vai piorar? Estamos na Dinastia Flang, ainda usamos parafusos. Eu não seria um mandarim e, como diz a minha mãe ‘filho, eu não trocava isto por nada’. Normalmente diz isto de uma série qualquer de televisão.
Anabela Canas de tudo e de nada h | Artes, Letras e IdeiasVariável dominante [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] que se é e não o que se faz, se diz. Essa realidade equívoca. Da obra e da representação. De si. Da imitação, de uma camada de sentido, sentida, eventualmente, mas uma segunda instância. De ser, parecer ser. Uma tangência pontual por definição geométrica. O que se é no que se faz, como um mal feito mesmo na perfeição alheia e distanciada do que é feito. Elaboração da mente mas a voar para longe. Do que é afinal anterior, subjacente, íntegro e absoluto. O que se é. Intangível nesse absoluto. Atingível por camadas. Fragmentos de se ser. O que está ao alcance do olhar. E nunca, quase nunca a totalidade no que nos deixamos fazer, ser visível. Revelados por partes. Como no papel da escrita. Branco, possível. A escurecer depois nuns pontos, pequenos nós, como grãos de terra, presos de letras avulsas de entre as infinitas possibilidades. Aquelas, por uma vez. Não outras. Todas as outras que não caem, presas numa outra página inalcançável. Como caminhos etéreos uns, visíveis outros, na disposição meticulosa das pedras e das ervas naturais. Das confinações físicas a fazer imperceptivelmente modular os passos até sem intensão, e a desembocar num sentido eventualmente imprevisto. Um caminho como texto escrito. Como este, menos óbvio do que se poderia querer ver. Mesmo depois. De onde se parte e onde se chega. Tudo variável. Como um caminho entre as árvores. Numa disposição indisciplinada de arbustos, ramos caóticos ou a viver a alturas imprevistas, a surgir de direcções que contrariam a ordem natural do crescer. Pequenos galhos e grandes braços caídos. Redes de folhagem que escondem depressões inesperadas do terreno, do lugar dos passos que afinal não são nunca a direito. O estalar das folhas secas, essa memória da infância a procurar distinguir ao olhar as que no chão produziam esse ruído, sabe-se lá porquê, apetecível. E aquelas que, menos secas, ou já húmidas frustravam esse ziguezaguear dos passos pela rua outonal, à procura de tão pequenino prazer. Como comer batatas fritas. Coisas talvez improdutivas do ser mas não do prazer. E um, como o outro, de tudo se faz. E no final a imagem. Uma de muitas. Uma pele de várias. E nela existimos? Na prova concreta do fazer, do caminhar, na forma passageira de tudo, o existir. Prévio mas já não palpável. Prova de ser ou de existir, não sei, de momento. Mas ser, é em geral uma existência impalpável embora inequívoca. Não sei onde. Mas ser encerrados nesse território irredutível de que só se manifesta um reflexo. O gesto temporal. Residual. Ser do corpo para dentro. Tem que chegar. Tudo me perturba às vezes. O olhar límpido e intencional, o olhar turvo e sem lugar. As pessoas que desviam o olhar. As que não ouvem. Os medos dos outros. As suas frágeis matérias desconhecidas e quebráveis. Não saber. Mais do que momentos. Pequenos, ínfimos mesmo, como rasgos de luz numa cortina-tempo. Por detrás da qual parece ser a realidade a ser. De passagem. Toldado momento-mundo. E passaram as palavras. E porque eram palavras-instante e não duraram, pensava-se que eram pouco verdadeiras mas é a alma que é plástica e o tempo que corre. E dos mesmos sentires se abeira de outros ângulos da mesma visão. Da mesma visão-palavra. De outro olhar-tempo. Prismático mas não oposto. Ou como organismo vivo, o olhar, as sensações, os sentimentos, agarrados a uma essência de núcleo escondido, mas em renovação epidérmica. Mesmo numa respiração descompassada, numa batida latejante nas têmporas a demonstrar que um órgão a ressentir-se, muito do metabolismo continua a sua rotina microscópica e arrumada. Gosto de arrumação. Gosto mesmo demais, de ordem e rigor. Objectos paralelos entre si. Linhas rectas de verticalidade e horizontalidade. Perturba-me a obliquidade da queda. Da composição. Tento adaptar-me à desarrumação do mundo, das ideias que não têm tempo para se organizar. De palavras e linhas demais para o tempo. Tento. E a tudo o que é maior e não tem arrumação possível. E às brumas que ocultam e desocultam. E a realidade como uma terra de montanha, na secura e humidade específicas. Ou em vasos, e os minerais a alimentar plantas, mesmo nesse pequeno mundo de brincar. Essa terra onde ponho as mãos em dias demasiado etéreos, a compor o que é possível. Percebo porque me dói. São os grãos mais ásperos. Torrões ressequidos. Q uando me viro para esse lado na cama. Dores finas. Dispersas. Ando a tomar palavras sem prescrição médica. É o que é. Algumas, amargas e amareladas, ou rosadas ou em branco, redondas ou alongadas. Algumas, a cair como pedras no estômago e que não há água que desfaça. Palavras e vitaminas, para fortalecer a insegurança. Mas tiram-me o sono. E associadas ao álcool, então, é melancolia a entornar o vazio instalado. Derramam-se-me na noite e acordam-me sem razão. Crescem, dão-me trabalho e tiram-me o sono preguiçoso. Fica ali a olhá-las exibindo-se nuas e perfeitas, em arabescos de coreografia invejável. Mas antes chamar-lhes pensamentos. Igualmente impróprios e intrometidos mas dentro do seu lugar como ocupantes de visita. Elas, mais convictas e arrogantes dançam exigentes e definitivas. Demais e a mais. Palavras-comprimido. Palavras que me colhem em jejum sem estômago para elas. Ando indisposta de palavras, pessoas e vidas. Ah…Às vezes eu penso mesmo que vamos todos enlouquecendo. Com aquela crueza com que viro os olhos sempre para tudo, mas para começar e acabar sempre e com a maior veemência para mim própria. Não me poupo e seguramente menos do que a qualquer outro – que não poupo, eu sei, dentro de mim, eu sei e não poupo – há um canal sempre desimpedido aí. Sempre limpo de máscaras e panos aquecidos. Um estreito que se atravessa a nado sem maior esforço do que o de uma respiração ofegante. E mesmo esta, sabe-se, pode advir de tantas emoções e tantas pequenas inseguranças, que não é de pregar susto de maior. Enlouquecendo de teatralidade, de experimentalismo sensitivo, de verdade no palco, de amoralidade. De imoralidade, de fantasia. De dispersão. De verdade. De cobardia. Enlouquecendo de coragem. De tudo. De desilusão e de ilusão feroz. De palavras demais e de palavras de menos. De não valer a pena. Nada. De tudo valer a pena, se a alma o suportar imaginar. De pensar os pensamentos e de pensar os sentimentos. Dos dilemas. Porque a certa altura tudo parece conduzir aí mesmo na mais escondida parte de cada um dos nossos olhares. Os antagonismos aparentes entre critérios e convicções, entre sintomas e verdadeiras causas profundas. E sempre um outro olhar a esculpir possibilidades de formas em nós. Penso. Penso mesmo. Mesmo naquela pontual euforia instalada no meio da maior perplexidade e impotência existencial. Coisa estranha. Em divergendo. Lírico, talvez. Descobridor. E um dia, abro a porta da rua, saio, e está ali o Batmobile. De certeza. E nos outros dias, alongo os passos para espaço mais amplo. Saio da minha rua–concha, da minha rua casulo e casa e da minha casa-pele, e caminho por lugares indistintamente só para depurar a respiração sem pensamentos de maior, naquela ocupação ligeira e ténue dos passos sobre passos que não dão muito espaço a espaços mentais. E caminho depressa, como sempre gostei de não caminhar devagar. Na rua. A lei das compensações. Deixar que o corpo adquira uma inércia firme e que seja o espaço a percorrer-me ligeiro como a vista numa janela de comboio. Em velocidade. A vertigem de caminhar em frente no tempo para não voltar atrás na memória. Por isso é vital a urgência do caminhar. Ou construir paisagens vazias. Caminhos de vazio. Daí a serem mortas, mortos, vai todo um apocalipse. Gosto dos vazios e da serenidade do que está vago. Vago para preencher pausadamente de todo o possível. De livros brancos e de páginas em branco. Como todas as horas vagas. Para caminhar.
José Simões Morais h | Artes, Letras e IdeiasGincana de automóveis na Feira de Macau [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]m pleno Grande Prémio, escrevemos hoje sobre a primeira corrida de carros realizada em Macau, organizada por iniciativa do Sporting Club desta cidade, fundado dois meses antes, a 11 de Setembro de 1926 e inserida no programa das festas da Feira e Exposição Industrial. Às 14 horas de Domingo, 5 de Dezembro, com uma enorme assistência ocorreu a gincana de automóveis, presidida pelo Governador interino Almirante Hugo de Lacerda. Encontravam-se inscritos dezoito concorrentes, cuja lista era a seguinte: o carro número 1, conduzido por A. Luz trazia como acompanhante a Melle. A. Brandão; o n.º 2 por Lo Yam-Man (Lu-Ia-Pat), levava ao lado a Miss Choi; o n.º 3 por Dr. Pedro Lobato e damizela Amália Nolasco; o n.º 4 por Henrique Nolasco e D. Orlinda Leitão; o n.º 5 por Dr. Sousa Afonso e Melle. Luísa Ambar; o n.º 6 por F. Borralho e damizela B. da Silva. A única condutora feminina, Melle. Angelina Santos corria no carro n.º 7 acompanhada por Avelar Machado e ficou em segundo lugar. Já o carro n.º 8 guiado pelo Eng. Brandão de Vasconcelos trazia como pendura Melle. Maria Pacheco; o nº 9, conduzido por D. João Vila-Franca levava ao lado Melle. Beatriz Nolasco; o nº 10 com Elísio Mendes e damizela Alice Ribeiro; o nº 11 com Dr. António Leitão e Mme. Maria Gellion; o nº 12, Rui de Menezes e a sua esposa; o nº 13, Ten. A. Machado e Melle. A. Santos; o nº 14, Carlos Silva e Melle. Celeste Vidigal; o nº 15, M. Ribeiro e Melle. G. Silva; nº 16, M. Borges e Melle. B. Ramalho; nº 17, M. Contreiras e Melle. Si-Ling e o nº 18, L. Rodrigues e Melle. L. Rodrigues. No percurso foram colocados vários obstáculos para criar mais emoção e dar mais interesse à prova. Havia o serviço de fiscalização da pista e para a classificação dos concorrentes, sendo o júri composto pelos Srs., Capitão-de-Mar-e-Guerra Ivens Ferraz, Coronel J. A. dos Santos e Eng. C. Alves. “Os prémios foram seis e ganhos pela ordem numérica ascendente, pelos automóveis concorrentes números 10, 7, 12, 15, 3 e 11. Um dos concorrentes do carro nº 11 referiu que não quiseram aceitar o respectivo prémio, por não ter sido atendida uma reclamação feita ao júri”. Por ocasião da gincana houve apostas sobre os concorrentes, na forma de aposta proporcional (pari-mutuel), pelo sistema das corridas de cavalos. Esta iniciativa reverteu com 20% da importância dos bilhetes vendidos a favor do Asilo da Santa Infância e o produto líquido foi distribuído por três prémios, cabendo ao primeiro 60%, ao segundo 25% e ao terceiro 15%. Os bilhetes premiados, que não foram pagos nesse dia, vieram-no a ser na sede do Sporting, à Avenida Ferreira de Almeida. Se só a 11 de Outubro de 1914 circulou o primeiro carro em Portugal Continental, um Panhard et Levassor, de 1200 centímetros cúbicos e 3,75 cavalos, guiado entre o Barreiro e Santiago do Cacém pelo Conde Jorge de Avillez, já em Macau e ainda antes de 1906, o chinês Chân Fóng (陈芳, 1825-1906) foi o primeiro a importar um carro, um Chevrolet. Em 1907 existiam já sete automóveis e em 1911, apareceu o primeiro táxi. Os registos mais próximos que encontramos da data desta gincana são de 1928 e referem haver na cidade 134 carros ligeiros particulares. Outros divertimentos No dia anterior à gincana automóvel, a 4 de Dezembro, ocorreu às 21:30 no ringue, instalado no meio da Feira ou no cinematógrafo da Exposição, como noutro artigo de A Pátria vem referido, três combates de boxe entre jogadores de Hong Kong e Macau, tendo os últimos vencido em toda a linha. Nesse Sábado, despertando um enorme interesse entre o público, o programa tinha como ponto forte o combate de boxe a opor o mais afamado pugilista de Macau, o amador Sr. Pinto da Silva contra o Sr. Kid Raymond, profissional de Hong Kong e cujo palmarés era invejável, pois vencera por KO, ou aos pontos, os últimos dez combates que realizara, parecendo não haver rivais à altura. Ambos traziam dois dos seus alunos para complementar o programa e aquecer a plateia, jogando-se assim três combates de dez rounds cada um. O júri era composto pelo Tenente-médico João Rosa e o Tenente José Lopes Bragança por Macau e de Hong Kong, o Sr. Ligores e Noronha. O primeiro combate opôs João Conceição contra Batling Ilartino, tendo o representante de Macau vencido no segundo round. O seguinte foi entre Joaquim P. Góis e o representante de HK, J. Soares, que perdeu por pontos ao oitavo round. Por fim veio o combate mais esperado e o que trouxera toda aquela assistência ao recinto. Pinto da Silva venceu logo no segundo round Kid Raymond e se houve um certo desconsolo pela brevidade do combate, a vitória de Macau elevou os ânimos aos habitantes desta cidade, habituados nos desafios desportivos a perder para Hong Kong. O programa para o feriado de 1 de Dezembro e dia seguinte, propunha no Campo da Feira uma importante festa organizada pelas tropas terrestres da guarnição militar da cidade. Apresentava “divertimentos nunca vistos em Macau, tais como, o combate de galos pelos timorenses, dança de guerra pelos praças indígenas de Moçambique, com lanças e cutelos afiados”. Outras surpresas não específicas estavam programadas e constaram de saltos suecos, corrida de velocidade de 80 metros, lançamento de granadas, corrida de bicicleta (negativa), assim referia A Pátria, de onde retiramos grande parte das informações aqui registadas. Realizaram ainda, corrida de estafetas (com sarilhos), de obstáculos e de púcaros, assim como luta de tracção com equipa de oito praças. Na preparação destes praças, para a festa ter o melhor brilho possível, concorreram vários oficiais, sob a orientação do Coronel Joaquim dos Santos. No dia 2 fez-se um jogo de futebol entre as selecções da Marinha e do Exército. De referir que o preço da entrada geral no Recinto da Exposição Industrial e Feira de Macau custava 5 avos nota ou prata, ou 10 avos cobre. Nessa altura o jornal A Pátria custava 10 avos em prata. À venda havia também, para comodidade das famílias numerosas, ou colectividades, maços de dez e cem bilhetes, a custar respectivamente 50 avos e 5 patacas prata e podiam-se comprar antecipadamente na Direcção das Obras Públicas do Porto, na Livraria Portugália, na 1ª Secção à Praia Grande e na filial do Banco Nacional Ultramarino. Pelos 12 mil bilhetes de entrada para a Exposição, vendidos até ao fim da tarde do dia da inauguração, percebe-se o enorme interesse que esta teve na cidade e arredores, encontrando-se o recinto, com uma iluminação deslumbrante, até à meia-noite apinhado de visitantes.
Isabel Castro VozesAs minhocas [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]inguém estava à espera de novidades, eu não estava à espera de novidades, às tantas não é suposto haver novidades. No que toca a Linhas de Acção Governativa, já ficaria satisfeita se houvesse alguém dentro do Executivo com capacidade e força política para fazer cumprir metade dos grandes projectos anunciados no passado. É um estudo comparativo que devia ser levado a cabo: uma análise aos planos anuais de quem alegadamente manda na terra, desde a transferência de Administração, para se tentar chegar a uma taxa de execução de ideias. Trabalho chatinho e demorado, eu sei. E inglório. Ninguém estava à espera de novidades e todos nós sabemos, mais ou menos, do que é que a casa gasta. Ainda assim. Não consigo deixar de ficar incomodada com a incapacidade – ou a falta de desejo – de respostas concretas. Da conferência de imprensa onde fui, onde esteve o Chefe do Executivo, ficou-me a imagem do costume: muito gosta esta gente de adiar decisões (ou de não revelar decisões) com o pretexto dos estudos. O metro: não se compreende como é que, depois de se dar a volta às entranhas da Taipa, continua a não haver uma decisão final sobre o que vai ser o metro em Macau, por onde é que vai passar e a quem vai servir. Recordou Chui Sai On que os planos apresentados ao longo dos anos deram polémica. Faz parte, é assim em todos os lados. A falta de consenso – essência da democracia, diria eu – é, aqui, um grande obstáculo (ou uma excelente desculpa) para quem tem a obrigação de decidir. E porque não se decide, surgem ideias peregrinas, contestações mais profundas vindas de gente influente. Há umas semanas, três deputados à Assembleia Legislativa viram a luz: faça-se um metro só na Taipa, com ligação à Barra, e pronto, está feito, ou quase. Para evitar o caos na península, o melhor é um monocarril pela orla costeira, que os turistas vão achar piada. Se houver umas carruagens temáticas – sugiro eu – vão achar mais piada ainda. O Chefe do Executivo não comprou a ideia de um sistema de metro ligeiro para as ilhas, mas admitiu a possibilidade de um trajecto costeiro, sem entrada na cidade. Mas não sabe. Ou não diz. Também não diz ou não sabe – são os estudos, pá, são os estudos – o que vai acontecer ao Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) com a criação de um órgão municipal no próximo ano. Sei que, às vezes, não parece, mas o IACM – ou um organismo com as mesmas funções – é uma coisa muito importante numa cidade. Se já está a ser concebido um órgão municipal e o Chefe do Executivo não sabe – ou não diz – o que vem a seguir, é sinal de que há algo profundamente errado. O IACM é capaz de ter sido o maior erro concretizado no pós-transferência de administração. Decidiram acabar com as câmaras municipais, a de Macau e a das Ilhas, e criaram uma entidade com uma estrutura orgânica estranha. Acabaram com as assembleias municipais e assim se acabou com um bom mecanismo para ouvir as queixas das freguesias, que passaram a ser matéria com estatuto para o órgão legislativo. Acabou-se com a concorrência entre Macau e as Ilhas – a minha câmara faz melhor do que a tua –, coisa muito saudável a uma terra que se quer com algum brio. E o pior: o Governo assumiu problemas de gestão municipal que se transformaram em papões políticos. Já foi tudo inventado. Os grandes problemas de Macau são, sobretudo, questões do quotidiano. Mas os grandes pensadores do território complicam o que, não sendo simples, já foi resolvido noutros lados. E estudam aquilo que, noutras cidades, já deixou de ser matéria de reflexão há muito tempo. Não se copiam soluções com o pretexto da especificidade local, como se as pessoas daqui fossem especiais de corrida, diferentes de todas as outras. Às tantas são, dada a incapacidade de, como temos visto nos últimos tempos, se relacionarem com quem vem de fora e que não tem o cérebro à venda por meia dúzia de milhões de patacas. No meio do reboliço habitual de Novembro, este mês vai estranho. O ar está denso, está pesado, às tantas é melhor deixar tudo como está e não mexer muito, afinal habituaram-nos a isso e não temos nada que ver com as possibilidades de mobilidade do futuro ou com quem limpa o chão que pisamos.
Sofia Margarida Mota Perfil PessoasMarta Pereira, locutora: “A rádio fala para as pessoas” [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]esde pequena que a rádio ocupa grande parte da vida de Marta Pereira. Da infância, recorda que os pais trancavam a porta da sala para não aceder à aparelhagem. Para evitar os discos riscados, eram-lhe oferecidos rádios que “atirava para o chão para tentar ver as pessoas que estavam lá dentro”. Desde essa altura que a paixão pela rádio não a larga “porque é uma magia e continua a ser uma companhia, a rádio fala para as pessoas”. A locutora da Rádio Macau viu a vida mudar quando sentiu, na pele, o desemprego em Portugal e o avião rumo a Macau foi a solução, ao aceitar uma proposta de emprego no território. “Trabalhava como jornalista em Portugal e, em virtude da situação de crise económica que o país começou a atravessar, os órgãos de comunicação social começaram a definhar e acabei por ficar desempregada”, recorda ao HM. Incapaz de “ficar parada”, decidiu investir num projecto pessoal e integrar um curso no Cenjor na área de jornalismo digital quando surgiu a proposta para vir trabalhar para Macau. Em registo de surpresa, Marta Pereira decidiu arriscar. “A proposta para vir para cá apanhou-me desprevenida, é certo. As primeiras questões que coloquei foram o que vou fazer e quanto vou ganhar para saber se, realmente, compensaria vir”, explica. Com as respostas na mão, a decisão não durou mais do que uma semana a ser tomada e passado um mês estava a chegar ao território. “Não foi uma decisão difícil, até porque gosto de aventuras e de desafios, e esta oportunidade pareceu-me mais um desafio que poderia colocar na minha carteira”. Em vésperas de mudar de vida e de lado do mundo, Marta Pereira, que não conhecia Macau, tentou, pelos meios que podia, perceber o lugar que a esperava. “Quando aceitei a proposta comecei à procura de tudo o que dissesse respeito ao território mas não criei muitas expectativas, até porque já aprendi que o não devo fazer. Vinha com os pés relativamente assentes na terra.” A chegada, há cerca de um ano, foi um misto de sensações em que as questões eram, essencialmente, “que luzes são estas, que cheiro é este?”. Ninguém se entende A grande dificuldade que encontrou foi a linguagem. “Sou uma pessoa, se calhar fruto da minha profissão, que gosta de comunicar. Chego a Macau e, de repente, tenho a barreira intransponível da língua.” Ingenuamente, Marta Pereira estava à espera que a língua portuguesa se falasse mais no território. “Queria comunicar e não conseguia, e isso foi muito difícil para mim”. No entanto, o problema “já está devidamente ultrapassado”. A exigência do entendimento atalhou e desenvolveu outros caminhos. “Aprendemos a desenvolver outras formas de comunicação e muitas vezes recorremos à mímica para nos fazermos entender”. Mas Marta Pereira não cruzou os braços perante o muro linguístico e inscreveu-se na licenciatura de ensino da língua chinesa como língua estrangeira no Instituto Politécnico de Macau por achar que “poderia, de alguma forma, facilitar a comunicação e o conhecimento das vivências da comunidade chinesa, até porque é muito difícil entrar no meio deles, e o facto de falar a língua poderia abrir portas nesse sentido”. Por outro lado, e a pensar no futuro, o facto de conhecer a língua poderia ser uma mais-valia em termos profissionais futuros. A falta de tempo e a complexidade no estudo de um sistema linguístico muito diferente daquele a que estava habituada fazem com que “esteja a ser muito difícil a conjugação entre trabalho e aulas”. Questões de linguagem à parte, Marta Pereira não sentiu dificuldades de maior. Para a locutora, “o ser humano é camaleónico e adapta-se muito facilmente às circunstâncias”. Hoje, sente-se “perfeitamente aculturada” apesar de existirem ainda algumas diferenças culturais que a perturbam. Mas é também na diferença cultural que encontra o fascínio. “Acho incrível poder conviver com comunidades tão diferentes”, afirma, salientando as particularidades de Macau, “uma cidade que não dorme e de contrastes”. “Temos a cidade moderna, das luzes e dos casinos e, em contraponto, temos a Macau antiga, com prédios cinzentos, com os rituais de se comer na rua e dos mercados exteriores. Este contraste é absolutamente delicioso.” Entre um e outro, Marta Pereira não tem preferências: gosta de viver em ambos.
Hoje Macau China / ÁsiaFilipinas | Duterte ameaça abandonar Tribunal Penal Internacional À semelhança de Vladimir Putin, o Presidente das Filipinas ameaça repudiar o Tribunal Penal Internacional e juntar-se à China e à Rússia se estes “decidirem criar uma nova ordem” [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente filipino, Rodrigo Duterte, ameaçou ontem imitar a Rússia e abandonar o Tribunal Penal Internacional (TPI), na sequência das críticas internacionais contra a sua violenta guerra contra a droga. Na quarta-feira, Moscovo anunciou a intenção de retirar a assinatura do tratado fundador do TPI, que acusou de não ser “verdadeiramente independente” e de não estar à altura das expectativas suscitadas. “Talvez eles [russos] tenham julgado o TPI inútil, por isso se retiraram”, afirmou Duterte à imprensa, em Davao (sul), pouco antes da partida para o Peru, onde vai participar numa cimeira regional. “Talvez os imite. Porquê? Porque estes tiranos desavergonhados só atacam pequenos países como nós”. Toca a abater Rodrigo Duterte venceu, em Maio, por esmagadora maioria as presidenciais, com a promessa de matar milhares de criminosos e acabar com o tráfico de droga. Desde que tomou posse, mais de 1.800 suspeitos foram abatidos pela polícia, e continuam por explicar os homicídios de 2.600 pessoas, de acordo com estatísticas oficiais. Estes homicídios foram alvo de críticas dos Estados Unidos, grande aliado militar de Manila, e pela ONU. Duterte reagiu com insultos ao Presidente norte-americano, Barack Obama, e ao secretário-geral da ONU, mas convidou Ban Ki-moon a visitar o país para conhecer a campanha anticriminalidade, e garantiu que o governo nada tinha cometido ilegalidades. No mês passado, a procuradora-geral do TPI, Fatou Bensouda, afirmou estar “profundamente preocupada” com aqueles homicídios, acrescentando que os responsáveis podiam vir a ser julgados. Rodrigo Duterte denunciou estas ameaças e prometeu “arrastar na queda” quem o quiser prender, ao mesmo tempo que reiterou a ameaça de abandonar a ONU, que culpou de não ter conseguido impedir guerras que mataram “milhares de mulheres e crianças”. “Se a China e a Rússia decidirem criar uma nova ordem, serei o primeiro a aderir”.
Sérgio Fonseca Desporto Grande Prémio de MacauAntónio Félix da Costa: “A comunidade portuguesa faz-me sentir em casa” António Félix da Costa regressa este ano ao Circuito da Guia e à prova de F3 que venceu categoricamente em 2012. O piloto da linha de Cascais está confiante num bom resultado, mas sabe que tem pela frente uma concorrência fortíssima a todos os níveis. [dropcap]O[/dropcap]s olhos da comunidade portuguesa do território na prova de F3 vão estar em si e a torcer por um resultado igual ao de 2012. O que tem para lhes dizer? Que o apoio deles é fundamental e faz-me sentir verdadeiramente em casa, é uma corrida espectacular e todo aquele carinho pode fazer a diferença, por isso o que peço é que tragam a nossa bandeira de Portugal e encham as bancadas! Do meu lado, tudo farei para lutar pela vitória. A Prema PowerTeam – Theodore Racing tem dominado completamente a F3 nos últimos tempos. Acredita que a Carlin poderá ter um carro à altura para lutar pela vitória? Sim, Macau é uma corrida à parte onde a afinação base do carro é totalmente diferente dos circuitos convencionais, portanto acredito que poderemos lutar contra eles, que obviamente são uma excelente equipa. Mas em 2012 venci com a Carlin, pelo que vamos entrar em pista com esse objectivo em mente. Não fez qualquer corrida de F3 este ano, assim como o Felix Rosenqvist ou o Dani Juncadella. Acredita que a vossa experiência num circuito como este poderá fazer a diferença contra pilotos com menos experiência na Guia, mas que conduziram estes carros o ano todo? Sim, em Macau principalmente a experiência, conhecimento do circuito e a maturidade contam muito, mas há sempre roockies a andar bem e de certeza que vamos ter vários pilotos mais novos a andarem rápido em Macau. Vai ser entusiasmante ver a luta dos “velhos” contra os miúdos novos com sangue na guelra. Depois de ter estado cá, mais nenhum jovem piloto português veio ao Grande Prémio de F3. O que acha que está a faltar em Portugal para existir uma sucessão? Esta pergunta daria para estarmos um dia inteiro a falar deste tema, mas basicamente é preciso investir desde novo numa carreira. No meu caso, abdiquei de muitas coisas desde os meus 12 anos, não se pode querer ser piloto profissional aos 16 ou 17 anos, ai já é tarde, tem de haver um trabalho e uma preparação desde cedo, um foco, um objectivo em que se aposta tudo. Não falo especialmente do lado financeiro, mas sim de um piloto, toda a sua família e estrutura de gestão acreditarem e focarem-se num único objectivo – levar um jovem o mais longe possível.
Sérgio Fonseca Desporto Grande Prémio de MacauAndré Couto: “Vou dar o meu melhor, como sempre” André Couto vai ser, pela segunda vez consecutiva, o único representante da RAEM na Taça do Mundo FIA GT do Grande Prémio de Macau. Desta vez, o piloto português do território conduz um Lamborghini Húracan GT3, com apoio de fábrica, e que apenas conhece de um dia de testes em Adria. Mais uma vez, vai participar no Grande Prémio de Macau com um carro que praticamente desconhece. Desde os tempos que corri aqui de Fórmula 3 que não corro em Macau com o mesmo carro que competi ao longo do ano. Foi assim quando fazia a Corrida da Guia do WTCC, é agora assim com os GT. Claro que isto é uma desvantagem muito grande, mas é algo a que já me habituei a lidar ao longo dos anos e das minhas participações na prova. Mesmo assim ainda teve uma pequena oportunidade de ensaiar o carro em Itália. Tive a oportunidade de realizar um dia de testes em Itália, com o carro de testes da Lamborghini, mas falta-me conhecer melhor o carro. Gostei do Húracan. Achei-o bastante bom no que respeita ao estilo de condução. Pareceu-me um carro ágil. Conheço muito bem o Circuito da Guia, se me adaptar ao carro depressa acredito que é possível andar bem desde início. Que objectivos tem para esta corrida, sabendo de antemão que a concorrência são os melhores pilotos da especialidade? Vou dar o meu melhor, como sempre. Mas muito vai depender do BoP (balanço de performance, na sigla inglesa) que for atribuído (pela FIA) ao nosso carro este fim-de-semana. Se o BoP for bom, então acredito que vai ser possível andar lá na frente com os Audi e os Mercedes, mas se for menos bom, obviamente que vai ser mais complicado. O ano passado, com o McLaren, éramos muito bons lá em cima, na montanha, mas perdíamos muito tempo nas rectas para os nossos rivais. O que pensa da FFF Racing Team by ACM? É a equipa com quem correu o ano passado aqui e onde também fez uma corrida no GT Asia Series em 2015. Conheço muito bem a equipa e sei com o que posso contar. É uma equipa nova, mas com muita ambição e com visão a longo termo. Contam com bons profissionais, fazem um bom trabalho e têm aspirações de vencer. É para isso que cá estão em Macau. O apoio da Lamborghini vai dar-lhes uma motivação suplementar e dá-nos uma oportunidade para lutar pelos lugares da frente.
Sérgio Fonseca Desporto Grande Prémio de Macau50º Grande Prémio de Motociclismo: Jubileu de ouro de muita classe [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Grande Prémio de Macau de Motos sopra as 50 velas e continua muito bem de saúde. Com o passar dos anos, a prova deixou de ser de suporte do programa e afirmou-se, sendo considerada a favorita por parte do público, segundo estudos feitos pela própria organização do evento. A lista de inscritos está repleta da fina flor da modalidade e conta com, nada mais, nada menos, que cinco ex-vencedores da prova – Michael Rutter, Peter Hickman, Stuart Easton, Ian Hutchinson e John McGuiness. Todos eles fazem já parte da alma da corrida e todos eles são candidatos a mais uma vitória no sinuoso e imprevisível Circuito da Guia. Se perguntarem quem são os candidatos ao triunfo a Rutter, que este fim-de-semana vai tentar vencer pela nona vez no Circuito da Guia, batendo um recorde que a ele pertence, o britânico irá responder-vos que “são os seus dois companheiros de equipa Peter Hickman e Stuart Easton, o Ian Hutchinson e o Gary Johnson”. As BMW S1000RR, especialmente as três douradas da BATHAMS/SMT Racing, são sem dúvida as motos do momento. A BMW, que o ano passado se sagrou o primeiro construtor a vencer a Corrida da Guia e o Grande Prémio de Motos, tem “um claro pico de vantagem para as Honda e Kawasaki”, apesar de Rutter lembrar que “é preciso ter cuidado com a Ducati Panigale daquele jovem estreante irlandês Glenn Irwin”. Hickman foi a surpresa do ano passado, ao vencer à primeira, mas o britânico de 29 anos teve de trocar à última hora de equipa, pois a sua anterior equipa, a GBmoto Kawasaki, desistiu de correr em Macau. Felizmente Hickman arranjou poiso na BATHAMS/SMT Racing e até um teste em Portimão para se ambientar a uma moto que não tripulava desde Novembro passado. Easton e Hutchinson estão também no pico de forma, assim como Gary Johnson e Martin Jessopp, que terminou o ano passado no segundo lugar. E depois há a tal Ducati vermelha que é preparada pela Paul Bird Motorsport e que dispensa apresentações. Portugal tem a menor representação em décadas na prova, cingindo-se a André Pires. O motociclista de Vila Pouca de Aguiar vai para a sua terceira participação na prova, após ter sido 13º classificado em 2013 e 20º classificado em 2015. Desta vez, o representante luso vai tripular uma mais competitiva Bimota, que apesar de não ser suficiente de ombrear com a maquinaria dos homens da frente, dá-lhe argumentos que não teve à disposição em provas anteriores. Macau volta a não ter qualquer representante em prova, mas equipa local CF Racing Team 32 inscreve uma Yamaha para o sul-africano Allann-Jon Venter. Destaque ainda para a presença do engenheiro Carlos Barreto, um filho adoptado do território, que continua à frente da direcção de corrida da prova de motociclismo mais desafiante e perigosa do continente asiático. Ex-vencedores em prova Michael Rutter (BMW) – 1998, 2000, 2002, 2003, 2004, 2005, 2011, 2012 Stuart Easton (BMW) – 2008, 2009, 2010, 2014 Peter Hickman (BMW) – 2016 Ian Hutchinson (BMW) – 2013 John McGuiness (Honda) – 2001
Sérgio Fonseca Desporto Grande Prémio de MacauCorrida da Guia Macau 2.0: Um título em disputa e Monteiro à espreita [dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] o segundo e último ano da Corrida da Guia com os TCR. No ano passado tivemos duas corridas que foram inesquecíveis, com acidentes q.b. e a discussão do título do TCR International Series até praticamente à bandeira de xadrez. Este ano voltamos a ter a luta pelo título do TCR ao rubro, com quatro pilotos ainda habilitados a serem campeões. O inglês James Nash, em SEAT, tem 17 pontos de vantagem sobre o ainda campeão em título Stefano Comini, em Volkswagen. No terceiro lugar, mas com mais 16 pontos de atraso, está o espanhol Pepe Oriola, companheiro de equipa de Nash na já campeã de equipas, a Craft-Bamboo Racing. A 39 pontos do líder está o francês Jean-Karl Vernay, no outro Volkswagen da Leopard Racing, o que quer dizer que Oriola e Vernay irão ter como missão primordial ajudar os seus companheiros de equipa, maia do que tentarem correr por um ceptro já muito difícil de conquistar. No ano passado, Rob Huff provou que o Honda Civic é o carro a bater no Circuito da Guia. Gianni Morbidelli teve uma temporada de azares; caso contrário, hoje poderia estar a lutar pelo título. E ao lado do italiano vai estar o português Tiago Monteiro. “Macau é a minha pista favorita e quero cá voltar”, disse ao HM o portuense no final de 2014, quando o WTCC se despedia da RAEM. Monteiro cumpriu a promessa. “O carro é fácil de conduzir e muito divertido, tal como muito competitivo. Portanto, foi uma honra e um enorme prazer quando fui convidado para me juntar ao TCR International Series aqui em Macau”. O piloto chega a Macau sem compromissos e qualquer pressão em termos de campeonato. “Sei que o nível do TCR International Series é bastante alto. Conheço a maior parte dos pilotos da frente, pelo que estou ciente que a tarefa que tenho pela frente será dura. Se conseguir ficar nos lugares da frente, ficarei contente, pois é esse o meu objectivo. Mas também sei que há um título em disputa e não quero interferir”, realça o ex-piloto de F1 que tem contra ele o facto de não conhecer tão bem o Honda Civic TCR como conhece o Civic WTCC que usa durante o ano no mundial da especialidade. Monteiro detém o melhor resultado de sempre de um piloto português na Corrida da Guia, ao ter terminado na segunda posição na primeira corrida do WTCC em 2013, resultado que obviamente gostaria de superar. Se o conseguir, o piloto de 40 anos, que sempre se deu bem com os ares de Macau, tornar-se-á o primeiro piloto português a vencer esta corrida depois de, em 1993, Ni Amorim ter estado perto desse triunfo, se os pneus do BMW M3 que conduzia não tivessem sido cortados numa aparente manobra de sabotagem. Michael Ho, em Honda, Kevin Tse, em Volkswagen, e o estreante Lou Hon Kei, em SEAT, serão os pilotos de Macau nesta corrida, sendo que apenas poderão ambicionar resultados na segunda parte do pelotão e marcar pontos para o TCR Asia Series. Uma última nota para a presença controversa de seis carros provenientes do Campeonato Chinês de Carros de Turismo (CTCC) cujo verdadeiro andamento comparando com os 30 carros do TCR é uma incógnita a ser descoberta hoje às 11h25. TCR International Series – Campeonato: 1. James Nash – 262 pt. 2. Stefano Comini – 245 pt. 3. Pepe Oriola – 229 pt. 4. Jean-Karl Vernay -223 pt. 5. Mat’o Homola -175 pt. 6. Gianni Morbidelli – 174 pt
Sérgio Fonseca Desporto Grande Prémio de MacauTaça do Mundo de F3 da FIA – Um teste à velha guarda [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] agora rebaptizada Taça do Mundo FIA de Fórmula 3 (ex-Taça Intercontinental FIA de Fórmula 3 e que já se chamou ex-Taça do Mundo de F3) apresenta-se este ano com um figurino igual ao de anos anteriores, mas com uma áurea diferente. Barry Bland já cá não está e os pneus Yokohama foram trocados por uma incógnita que se chama Pirelli. A Federação Internacional do Automóvel (FIA) que tomou as rédeas da prova andou na Primavera a pregar que a F3 não era para graúdos, mas sim uma disciplina para formar jovens pilotos, mas acabou por se contradizer em Macau, abrindo a porta a uma série de “veteranos” e ex-vencedores que irão tornar este fim-de-semana ainda mais interessante. Pela primeira vez, vamos ter em pista três ex-vencedores da corrida e um deles – Felix Rosenqvist – pode bater o recorde de número de vitórias na prova. Na sua sétima participação, o sueco voltará a representar a super equipa Prema PowerTeam – SJM Theodore Racing e não esconde que, “apesar de não querer por nenhuma pressão, o objectivo é vencer”. António Félix da Costa e Dani Juncadella alinham pelo mesmo tom conservador com uma pontinha envergonhada de ambição. Nenhum dos três realizou qualquer corrida de F3 este ano, apenas dois dias de testes em Red Bull Ring. Em melhor posição estão outros dois “veteranos”, Nick Cassidy, que fez temporada completa do europeu da especialidade como escudeiro do campeão e grande ausente este fim-de-semana Lance Stroll, e Alexander Sims que fez uma corrida do europeu para preparar esta prova, depois de uma época a conduzir BMWs da classe GT. Como Stroll já começou a sua aventura na Fórmula 1, o estreante Maximilian Gunther, também ele piloto da Prema PowerTeam – SJM Theodore Racing, lidera a lista dos favoritos dos mais novos, onde consta uma série de esperanças do automobilismo britânico, como George Russell, Callum Ilott ou Lando Norris. Quando se fala da corrida de Macau, não se pode descurar a presença do primeiro e segundo classificados do campeonato japonês da especialidade: Kenta Yamashita, com a poderosa equipa TOM’S, e Jann Mardenborough, um piloto promovido do mundo dos videojogos pela Nissan e PlayStation. Apesar de Félix da Costa ser o único português em prova, o piloto de Cascais não é o único a falar português. O Brasil terá dois representantes em acção este fim-de-semana: Sérgio Sette Câmara e Pedro Piquet. Apoiado pela Red Bull e ao volante de um monolugar da equipa Carlin, como Félix da Costa, Câmara tem o recorde do Circuito da Guia ao volante de um F3. “A pista é sensacional, de rua com características de autódromo. Este fim-de-semana espero colocar em prática toda a experiência que adquiri em dois intensos anos de F3”, comenta o piloto de Belo Horizonte. O outro “canarinho” em pista é Pedro Piquet, filho do ex-campeão do mundo de Fórmula 1, Nelson Piquet. Para Piquet, este primeiro ano na Europa “foi um ano de aprendizagem” e espera terminar a temporada com um “resultado positivo” num circuito que lhe é desconhecido. Velha guarda Nº1 Félix Rosenqvist (Dallara-Mercedes) Nº3 Nick Cassidy (Dallara-Mercedes) Nº9 Daniel Juncadella (Dallara-Mercedes) Nº29 António Félix da Costa (Dallara-VW) Nº30 Alexander Sims (Dallara-Mercedes) Jovens lobos Nº2 Maximilian Gunther (Dallara-Mercedes) Nº8 George Russell (Dallara-Mercedes) Nº16 Joel Eriksson (Dallara-VW) Nº20 Callum Illot (Dallara-Mercedes) Nº27 Sérgio Sette Câmara (Dallara-VW) A difícil missão de Andy Pelo terceiro ano consecutivo, Andy Chang Wing Chung é o único representante de Macau nesta prova. Este ano, o piloto do território – que em 2105 terminou num honroso 14º lugar –, apenas teve orçamento para realizar duas corridas no Campeonato da Europa FIA de Fórmula 3, com um Dallara NBE da Threebond with T-Sport e com resultados muito modestos. Contudo, a prova de Macau pode salvar a temporada para o piloto de 20 anos. “O Andy competiu neste evento nos últimos dois anos e esta experiência irá ajudá-lo este ano”, diz Russell Eacott, o chefe-de-equipa da T-Sport. O piloto da RAEM testou os novos pneus Pirelli em Silverstone antes da pequena equipa inglesa enviar o equipamento para Macau.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaLAG 2017 | Habitação e classe média dominaram debate com deputados A maioria dos deputados directos questionou o Chefe do Executivo sobre a necessidade de mais medidas de apoio à classe média, além de mais e melhores habitações públicas. Chui Sai On admitiu que os actuais salários são incapazes de comportar a elevada inflação [dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] chamada a classe média ou a classe sanduíche. A ela pertencem as famílias com rendimentos de 20 mil a 40 mil patacas que, por auferirem esses salários, não têm direito a apoios sociais ou a uma habitação do Governo. Ainda assim, não conseguem comprar casas no mercado privado. Foi a essas famílias que a maioria dos deputados directos prestou atenção ontem no debate com o Chefe do Executivo, um dia depois da apresentação das Linhas de Acção Governativa (LAG) para o próximo ano. Chan Meng Kam deu o pontapé de saída. “Nos últimos anos os residentes [ao nível do agregado familiar] ganharam em média 50 mil patacas por mês e é uma classe sanduíche que não consegue aceder aos apoios sociais concedidos pelo Governo. Existe apenas o conceito de índice mínimo de subsistência. Tem medidas para apoiar os trabalhadores pobres?”, questionou. Zheng Anting foi outro dos deputados que questionou Chui Sai On sobre o assunto. “Os preços elevados da habitação são as grandes razões do descontentamento dos jovens. Os que vivem apenas dos seus rendimentos não conseguem comprar casa.” O líder do Governo admitiu as pressões financeiras sentidas pela maioria das famílias de classe média que arrendam uma casa e que estão sujeitas à mobilidade do mercado imobiliário. “O peso dos rendimentos destinados à habitação é elevado e é de facto uma grande pressão para as famílias. Os valores são superiores ao que esperávamos, pois cerca de 40 por cento dos rendimentos vão para uma casa”, disse o Chefe do Executivo que, no entanto, não apresentou novas medidas, tendo-se baseado na redução do imposto profissional, medida anunciada em 2012 e que se mantém inalterada para 2017. “O Governo vai fazer todos os esforços para reservar terrenos para a habitação pública e privada, espero que haja equilíbrio na procura e oferta. Espero que haja um maior equilíbrio e que os preços possam descer. Estamos a estudar a revisão da lei de habitação económica e temos de encontrar terrenos suficientes, fazer uma avaliação efectiva para resolver este problema a longo prazo.” Em resposta à deputada Melinda Chan, o Chefe do Executivo garantiu ainda uma revisão dos regulamentos sobre o imposto profissional e o imposto do selo. “A classe média está sujeita a estes impostos, mas o seu rendimento não é elevado. Vamos estudar como é que os trabalhadores da classe média podem ter acesso a alguns apoios com a redistribuição da riqueza.” O peso dos materiais Chui Sai On voltou a ser confrontado com os atrasos sentidos pelos candidatos a uma habitação pública, bem como com a falta de qualidade de muitos dos edifícios. Au Kam San falou do exemplo do Edifício do Lago, na Taipa, que tem elevadores que não funcionam e azulejos a cair das paredes. “Qualquer comerciante que tenha ética presta serviços pós-venda, nem vamos falar do Governo! Alguns residentes pediram-me para lhe entregar uma carta. A qualidade das habitações económicas é algo que merece a nossa preocupação”, lançou o deputado. O Chefe do Executivo lembrou que o peso dos materiais é algo a ter em conta na altura de construir casas públicas. “Queremos criar um bom ambiente de habitação e encontrar as soluções para reduzir os problemas. Quanto à queda de tijolos, há que ter em conta o peso e o tamanho desses materiais e vamos proceder aos testes de resistência. O Governo vai trabalhar nos materiais para melhorar as condições dos edifícios para que as obras sejam da melhor qualidade. Se se verificarem problemas com o empreiteiro vai ser imputada a responsabilidade nos termos contratuais”, concluiu.
Andreia Sofia Silva PolíticaPearl Horizon | Governo à espera da decisão do TUI [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] caso do Pearl Horizon foi ontem abordado por vários deputados no debate sobre as Linhas de Acção Governativa (LAG). Enquanto isso, e pelo segundo dia consecutivo, os proprietários que adquiriram as fracções em regime de pré-venda manifestavam-se à porta da Assembleia Legislativa (AL), clamando por uma iniciativa por parte do Governo. Ainda assim, o Chefe do Executivo admitiu que o Governo só poderá adoptar medidas mais concretas após a decisão final do Tribunal de Ultima Instância. “O Governo tem acompanhado o caso desde a declaração de caducidade do terreno, que gerou um processo em tribunal. Este já se pronunciou sobre essa questão mas não sobre a decisão final sobre a caducidade. A nossa equipa solicitou um parecer ao procurador da RAEM sobre a lei de terras, a concessão caducou e nem o Chefe do Executivo tem o direito de a renovar. Antes de haver uma sentença como é que o Governo poderá ter condições para negociar ou mesmo dialogar com os compradores? Não estou a dizer que não nos preocupamos, o que não podemos é não seguir as leis. Não sou eu que quero ou não lidar com o problema mas tenho de lidar com as minhas próprias capacidades”, apontou Chui Sai On.
Hoje Macau Internacional ManchetePortugal | Orçamento para 2017 aprovado. País regista crescimento económico Bruxelas deu ontem luz verde para o orçamento português para 2017, numa altura em que Portugal regista o maior crescimento da zona euro e atinge níveis de recuperação económica de há três anos. A geringonça afinal funciona [dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]arecem ser bons resultados após um período de incerteza. O Governo português, de coligação entre o Partido Socialista (PS), o Partido Comunista Português (PCP) e o Bloco de Esquerda (BE), viu ontem seu o Orçamento de Estado para 2017 ser aprovado pela União Europeia. Na terça-feira, o Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou que a economia portuguesa cresceu 1,6 por cento no terceiro trimestre deste ano em termos homólogos e 0,8 por cento face ao trimestre anterior, acima das previsões dos analistas. Estes valores, de acordo com o Eurostat, para os 21 Estados-membros relativamente aos quais há dados disponíveis, colocam Portugal com o maior crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre do ano face ao trimestre anterior, juntamente com a Bulgária (0,8 por cento), enquanto o crescimento da economia portuguesa em termos homólogos esteve precisamente em linha com a média da zona euro (1,6 por cento). A Comissão Europeia disse ontem acreditar que os riscos de incumprimento que identificou no plano orçamental português para 2017 “não se materializarão” e saudou os dados sobre crescimento económico conhecidos na véspera. Na conferência de imprensa de apresentação dos pareceres da Comissão sobre os projectos de orçamento para 2017 dos Estados-membros da zona euro, o vice-presidente responsável pelo Euro, Valdis Dombrovskis, e o comissário dos Assuntos Económicos, Pierre Moscovici, congratularam-se também com a “boa notícia” que representa a decisão de Bruxelas de não propôr uma suspensão parcial de fundos a Portugal devido ao défice excessivo. Moscovici apontou que, de acordo com a análise da Comissão, o esboço orçamental de Portugal para o próximo ano “coloca um risco de incumprimento” tendo em conta as exigências para 2017 a que o país está obrigado, mas o desvio encontrado tem uma “margem muito estreita”. “E aí entram os dados que conhecemos ontem (terça-feira), que mostram claramente que os riscos parecem contidos, desde que as necessárias medidas orçamentais sejam tomadas. Em termos concretos, isso significa que Portugal não precisa de apresentar medidas adicionais para 2017 desde que os riscos identificados não se materializem, e temos hoje uma esperança razoável de que não se materializem”, declarou Moscovici. O comissário dos Assuntos Económicos acrescentou que, de resto, a evolução que vê “é mais no sentido ascendente, com bons números para o crescimento para o quarto trimestre” de 2016. Quanto à decisão da Comissão de não propor qualquer suspensão parcial de fundos (a Portugal e Espanha), Moscovici afirmou que, embora já fosse esperada, não deixa de constituir “boas notícias para ambos os países, nos quais o financiamento da UE desempenha um papel importante” para apoiar o investimento e ajudar a retoma económica. País dentro dos limites do défice A Comissão Europeia afirmou ainda que Portugal deverá “respeitar o valor de referência” para o défice orçamental de três por cento “este ano”, podendo encerrar o Procedimento por Défices Excessivos (PDE) se realizar uma correcção “atempada e sustentável”. Apesar de avaliar o esboço orçamental para 2017 como contendo um “risco de incumprimento” das regras orçamentais a que o país está obrigado, a Comissão Europeia refere, numa comunicação divulgada ontem, que o desvio encontrado tem “uma margem muito estreita” e admite que Portugal “respeite o valor de referência” para o défice orçamental, de três por cento do Produto Interno Bruto (PIB), “este ano, como recomendado”. O executivo comunitário defende ainda que Portugal, que está actualmente no braço correctivo do Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC) por ter um défice orçamental superior a 3%, “poderá ficar sujeito ao braço preventivo a partir de 2017, se for alcançada uma correcção do défice excessivo atempada e sustentável”. Na prática, isto quer dizer que a Comissão Europeia acredita que Portugal poderá encerrar o PDE com base na execução orçamental de 2016. Centeno vs. Gaspar Antes da aprovação do Orçamento de Estado para 2017, o ministro das Finanças português, Mário Centeno, tinha admitido que “foram e são enormes os desafios” orçamentais de 2016 e de 2017. Esta terça-feira admitiu que Portugal “sairia do Procedimento por Défices Excessivos” (PDE)”. Centeno reconheceu que “foram e são enormes os desafios relacionados com os exercícios orçamentais de 2016 e 2017” e sublinhou uma “responsabilidade acrescida” do Governo neste período: “retirar Portugal do processo de sanções e de cancelamento dos fundos”. “Conseguimos também esses sucessos para a nossa economia e para o nosso país. E o país sairá do Procedimento por Défices Excessivos, algo que almejávamos há tanto tempo”, reiterou o ministro. Numa intervenção pública, o ministro referiu-se, sem o nomear, a Vítor Gaspar para argumentar que a sua proposta orçamental para o próximo ano “consagra o princípio da estabilidade”. “Recentemente, um antigo responsável das Finanças concluía, talvez tarde demais, que não se consegue controlar a dívida com aumentos de impostos. Pois bem, este orçamento consagra o princípio da estabilidade que tantos vinham pedindo há tanto tempo, que visa a promoção do investimento e a criação de novos postos de trabalho”, afirmou. Num texto assinado com o economista Julio Escolano e publicado no final de Agosto deste ano, Vítor Gaspar, que foi ministro das Finanças do governo de Pedro Passos Coelho até Julho de 2013 e que é actualmente director do Departamento de Assuntos Orçamentais do Fundo Monetário Internacional (FMI), defendeu que, “após um elevado aumento do rácio da dívida, os impostos devem ser aumentados apenas na medida necessária para estabilizar a dívida”, uma vez que “aumentar a carga fiscal mais que o necessário, apenas para reduzir a dívida, não seria eficiente”. Coelho pessimista O líder do Partido Socialista Democrata (PSD) considerou ontem “positivo” que a Comissão Europeia tenha dado ‘luz verde’ à proposta de Orçamento para 2017, mas reiterou que existem “riscos de incumprimento que são efectivos”. “Isso é sempre positivo e deve-se saudar que seja assim”, afirmou o presidente social-democrata, Pedro Passos Coelho, quando questionado sobre a decisão da Comissão Europeia anunciada ontem. Contudo, acrescentou, apesar da ‘luz verde’, a Comissão Europeia chama a atenção para “alguns riscos de incumprimento que são efectivos” e que também já tinham sido apontados pelo Conselho de Finanças Públicas e pela Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO). “Mas o importante é que o projecto de orçamento não tivesse sido rejeitado, como poderia ter chegado a acontecer”, frisou o líder do PSD.
Andreia Sofia Silva PolíticaHong Kong | Angela Leong quer reforçar educação patriótica em Macau [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] deputada Angela Leong questionou ontem o Chefe do Executivo sobre a necessidade de reforçar os currículos escolares em prol de uma aposta na educação patriótica, por forma a evitar uma crise política como a que está a acontecer em Hong Kong. Recorde-se que dois deputados eleitos pró-independência foram impedidos de tomar posse no Conselho Legislativo após ter sido feita uma interpretação da Lei Básica pelo Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional, por terem feito discursos contra a China durante a tomada de posse. “A polémica originada pelos deputados de Hong Kong originou um debate sobre a formação dos jovens. Após vários anos a educação patriótica deve passar para outro patamar para além da sensibilização. Será feito um reforço do ensino primário ao superior? E para os jovens que já trabalham, como será feito?”, questionou. O Chefe do Executivo disse compreender que “temos de começar essa educação desde o ensino primário até ao universitário e fazer uma implementação efectiva da Lei Básica”. “Espero que haja uma maior divulgação da Lei Básica”, disse ainda.
Andreia Sofia Silva PolíticaLAG 2017 | Chui Sai On nega que se atribuam “rótulos políticos e judiciais” A deputada Song Pek Kei falou da ausência de responsabilização no Governo e lamentou que alguns governantes atribuam “rótulos políticos e judiciais” na resolução dos problemas. O Chefe do Executivo negou e disse tratar-se de acusações “graves” [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] segunda intervenção do debate de ontem sobre as Linhas de Acção Governativa (LAG) para o próximo ano ficou marcada por uma ligeira troca de palavras entre a deputada Song Pek Kei e o Chefe do Executivo. Ao questionar Chui Sai On sobre a ausência de um regime de responsabilização na Administração, a deputada acusou muitos dirigentes de atribuírem “rótulos políticos e judiciais” na hora de resolver os problemas. “Em relação à racionalização dos quadros e à simplificação administrativa, os residentes querem que o Governo pare de afiar as facas e comece a cortar. Querem ver melhorias nas acções, mas os resultados são decepcionantes. A acção arbitrária que dá origem a rótulos políticos e judiciais não é útil.” A número três da bancada de Chan Meng Kam defendeu a necessidade de começar a “aprofundar a reforma administrativa para haver uma maior eficácia”, para que se evite “afectar a sociedade”. “Como é que isso vai ser feito? Não há nenhum mecanismo de reformulação e muitos governantes continuam na mesma”. Na resposta, o Chefe do Executivo reagiu: “O que acabou de afirmar são coisas graves”. “A boa governança é a filosofia que temos vindo a desenvolver. Os meus colegas merecem elogios, mas se cometerem erros tenho de assumir responsabilidades políticas. A primeira parte que temos de fazer é concretizar o nosso plano de desenvolvimento quinquenal e as LAG. As acções governativas têm de estar de acordo com as opiniões da população, caso contrário estamos a afastar-nos das pessoas.” As acusações da deputada Song Pek Kei surgiram no seguimento de vários relatórios do Comissariado contra a Corrupção e Comissariado da Auditoria que apontaram a existência de derrapagens orçamentais ou actos ilegais. O último apontou o dedo à gestão danosa da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) em relação aos parques de estacionamento públicos. “Enquanto responsável máximo pela equipa devo ouvir todos e podem entrar em contacto comigo pessoalmente. Depois de ouvir as afirmações da deputada, determinados dirigentes podem ter o seu feitio para resolver os problemas, mas devem trabalhar em conjunto para resolver os problemas. Não nos podemos afastar dos factores não humanos. Todos nós estamos a comungar do mesmo objectivo para servir melhor toda a população”, garantiu Chui Sai On.